Sobre Rastilho (Por Kiko Dinucci)
Sobre Rastilho (Por Kiko Dinucci)
Sobre Rastilho (Por Kiko Dinucci)
Meu sonho era ser um violonista de choro, me amarrava nos bordões, mas, por conta
de limitação técnica, comecei a procurar minha própria onda, um modo de continuar
tocando. Apesar de gostar muito desta tradição do violão brasileiro, foi nos trabalhos
afros do Baden Powell e nos violões de Dorival Caymmi, João Bosco, Jorge Ben,
Rosinha de Valença e Gilberto Gil que pude vislumbrar uma maneira diferente de
aplicar o instrumento ao formato canção.
Minha procura pelo violão sempre teve um caminho ligado à rítmica, principalmente
na mão direita, que geralmente arpeja o instrumento ou faz os ataques. A ideia
sempre foi tocar o violão como um instrumento de percussão. O que o violão do
samba e do choro nos propõe, dividindo as cordas graves das cordas agudas, me
ajudou muito em torno da visão mais polirrítmica. Quase sempre, quando crio algo
no violão, estão presentes as linhas de baixo e os contrapontos agudos.
A vivência na cena punk rock/hardcore paulista dos anos 90, no samba e nas
atividades religiosas no Ilê Leuiwyato, dirigido pela sacerdotisa Iya Sandra Medeiros
Epega, moldaram de alguma maneira esse violão que toco hoje, a música se procura
também no chão que a gente percorre, nas pessoas, nas poeiras dos caminhos, não
só no mundo artístico.
Rastilho faz parte do desejo de revistar esses lugares. As músicas presentes foram
compostas basicamente no período de um mês. André Magalhães e Bruno Buarque
gravaram e mixaram em poucos dias em processo totalmente analógico, na fita.
Antes de montar o som, mostrei aos dois algumas gravações dos anos 60 de Sergio
Ricardo, Geraldo Vandré, Edu Lobo, Pedro Sorongo e notamos um uso muito
interessante dos efeitos de ecos, delays e reverbs. Buscamos em parte essa
ambiência no som do disco.
Cantiga tradicional muito cantada nas casas de candomblé Ketu, aprendi essa música
entre os atabaques do Ilê Leuiwyato.