Dicas Direito Penal Analista Judiciario STM 01

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Prof.

Christiano Leonardo Gonzaga Gomes

Apresentação

• Promotor de Justiça na área criminal no Estado de Minas Gerais;


Mestre em Direito; Professor em diversos cursos preparatórios para
ingressos em cargos públicos; Professor convidado da Fundação
Escola Superior do Ministério Público do Estado de Minas Gerais;
Professor na graduação e pós-graduação na Faculdade de Direito
Milton Campos em Minas Gerais; Ex-Defensor Público do Estado de
Minas Gerais.

• Estimados alunos, estaremos juntos nessa caminhada que não é fácil,


mas lembrem que existem dois tipos de candidatos: os que passaram
e os que desistiram! Contem sempre comigo!

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VIGÊNCIA DA LEI PENAL

A lei penal deve, em princípio, vigorar por tempo indeterminado, devendo ser
aplicada a fatos ocorridos após a sua vigência.
O período entre a publicação da lei e o início de sua vigência é chamado de
vacatio legis, que serve para dar conhecimento a todos cidadãos da sua
existência.
Na prática as leis entram em vigor na data da sua publicação, por força de
disposição expressa nesse sentido, caso contrário, 45 dias após a sua
publicação – LICC.

REVOGAÇÃO DA LEI PENAL

A lei só cessa quando é revogada por outra lei, podendo a revogação ser
tácita ( lei revogadora disciplina a mesma matéria) ou expressa (declarada na
lei revogadora)
A revogação pode ser:
• parcial (derrogação)
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• total (ab-rogação)

TEMPO DO CRIME

É necessário saber quando deve ser considerado praticado um crime, para


se saber qual lei penal deve ser aplicada.
Pedro com 17 anos, 11 meses e 20 dias dispara 10 tiros contra José, que
vem a falecer quando Pedro estava com 18 anos e 15 dias. Se
considerarmos como dia do crime a data da ação, Pedro não será punido na
forma do Código Penal, aplicando-se o Estatuto da Criança e do
Adolescente. Mas, se considerarmos como dia do crime a data da morte de
João, Pedro será punido.

Existem 3 teorias para determinar o tempo do crime:

• Teoria da Atividade - o tempo do crime é o momento da conduta (ação ou


omissão).
• Teoria do Resultado – considera praticado o crime no momento da
ocorrência do resultado.
• Teoria Mista ou da Ubiqüidade – considera praticado o crime nos dois
momentos.

O Código Penal adotou em seu artigo 4º a Teoria da Atividade, in verbis:


“Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que
outro seja o momento do resultado.”

EXTRA ATIVIDADE DA LEI PENAL

Extra atividade é a capacidade que tem a lei penal de se movimentar no


tempo regulando fatos ocorridos durante a sua vigência, mesmo depois de ter
sido revogada, ou de retroagir no tempo, a fim de regular situações ocorridas
anteriormente à sua vigência, desde que benéficas ao agente, temos duas
espécies de extra atividade:
• Ultra atividade – quando a lei, mesmo depois de revogada, continua a
regular fatos ocorridos durante a sua vigência.
• Retroatividade – é a possibilidade da lei penal retroagir no tempo, a fim de
regular os fatos ocorridos anteriormente à sua entrada em vigor.

HIPÓTESES DE CONFLITOS DE LEIS PENAIS NO TEMPO

• Abolitio criminis – quando a lei posterior deixa de considerar como crime


um determinado fato praticado antes da sua vigência, alcança inclusive
os fatos definitivamente julgados, desaparece o delito e a condenação,
permanecendo somente os efeitos civis (reparação de dano) A abolitio
criminis é causa extintiva da punibilidade (art. 107, III, do CP), sendo esta
a sua natureza jurídica. Reza o art. 2º, caput, do Código Penal “Ninguém
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pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime,
cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença
condenatória.”
• Novatio legis in mellius – lei nova, que não exclui a incriminação, mas
abranda o crime, portanto, mais benéfica para o agente, retroage sempre,
em função do princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica. Ex.:
diminui grau máximo da pena cominada, cria uma atenuante, elimina uma
agravante. Esta lei retroage sempre, como esclarece o parágrafo único do
artigo 2º do Código Penal “a lei posterior, que de qualquer modo favorecer
o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença
condenatória transitada em julgado.”
• Novatio legis in pejus – quando a lei nova piora a situação do sujeito,
agravando-a de alguma maneira, em caso algum retroage, em função do
princípio da irretroatividade da lei penal gravosa. A Lei 8072/90 não foi
aplicada aos fatos etiquetados como delitos hediondos, cometidos antes
de sua vigência. Aplica-se aos crimes continuados, permanentes e
habituais.
• Combinação de leis (lex tertia) – quando o julgador extrai de dois
diplomas legais, um revogado e um em vigor, os dispositivos que
beneficiam os interesses do agente, desprezando aqueles outros que
prejudicam. Pergunta-se: O julgador estaria legislando? A maioria da
jurisprudência e doutrina entendem que não, está apenas fazendo valer
os princípios da ultra-atividade e retroatividade benéfica. Ex.: Lei
11343/06, art. 33, parágrafo quarto, em que se prevê a causa de
diminuição de pena para o traficante privilegiado ou chamado de “primeira
viagem”. Muito se discutiu se tal causa de diminuição de pena poderia ser
aplicada para o art. 12 da revogada Lei 6368/76 (cuja pena era inferior ao
atual art. 33), que também previa a figura da tráfico, mas sem a aludida
causa, para os crimes ocorridos durante a sua vigência, mas julgados
quando já estava em vigor a Lei 11343/06. Alguns doutrinadores
entendem que tal permissão era criar a chamada lex tertia, ou terceira lei,
uma vez que se estaria construindo uma lei com a parte benéfica da
primeira com a parte benéfica da segunda lei, o que estaria invadindo a
competência do Poder Legislativo em criar leis, ato esse defeso ao Poder
Judiciário. Todavia, para fins de concurso público, ficar com o
posicionamento permissivo do Supremo Tribunal Federal. Ver
Informativo 644, STF.
• ATENÇÃO! Exceção à regra da retroatividade ou ultra-atividade
benéficas: súmula 711, STF: “a lei penal mais grave aplica-se ao
crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é
anterior à cessação da continuidade ou permanência”.

LEIS EXCEPCIONAIS E TEMPORÁRIAS


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As leis excepcionais e temporárias encontram previsão no artigo 3º do


Código Penal: “ a lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período
de sua duração ou cessadas as circunstâncias que determinaram, aplica-se
ao fato praticado durante a sua vigência”

• Lei excepcional – é aquela cujo período de vigência fica subordinado à


cessação das circunstâncias anormais que a determinaram. Ex.:
situações de calamidade pública.
• Lei temporária – é aquela que possui vigência previamente fixada pelo
legislador, início e fim.

Elas são sempre ultrativas, ou seja, têm eficâcia mesmo depois de cessada
sua vigência, regulando os fatos praticados durante seu tempo de duração,
ainda que sejam mais graves.

Discussão: art. 5º, XL, CF: a Constituição não prevê a possibilidade de


ultratividade da lei excepcional ou temporária, pois seria uma exceção à
retroatividade da lei penal mais benéfica.
Seriam elas então constitucionais?
Sim, são constitucionais, pois a regra geral é a do tempus regit actum. O
artigo 3º do CP obedece a regra geral, logo é constitucional. A regra da
retroatividade é exceção, não tendo cabimento a Constituição fazer uma
exceção da exceção, que seria o mesmo que afirmar a regra geral.

LUGAR DO CRIME

Três teorias buscam explicar o lugar do crime:


1. Da atividade: considera praticado o crime no lugar onde foi efetivada a
ação ou omissão.
2. Do resultado: considera praticado o crime no lugar onde houve a
consumação do mesmo.
3. Da ubiqüidade: considera praticado o crime tanto no local da ação ou
omissão, quanto o lugar do resultado.
O Código Penal adota a teoria da ubiqüidade, em seu art. 6º :” considera-
se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou
em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir o resultado.” Esta
teoria evita que um crime fique sem punição, como por exemplo em um pais
A, vigora a teoria da atividade e no pais B, a teoria do resultado. Cláudio, no
país B, dispara um tiro contra Antônio, que, ferido, é transportado para o país
A, onde vem a falecer. Onde ocorreu o homicídio? O crime não teria
acontecido em nenhum lugar, logo não houve crime, o que é um absurdo.

APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO


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A lei por ser expressão de soberania de um país, em seu território é aplicada.


Contudo, em matéria penal esta regra não se reveste de caráter absoluto,
pois houve necessidade de alargar o âmbito de aplicabilidade da lei criminal,
face a interesses sociais vinculados à política de repressão dos delitos.
Assim sendo, surgiram no seio da doutrina penal vários princípios
construídos para permitirem a correta aplicação da lei penal no espaço. São
os seguintes:

• Princípio da territorialidade – a lei penal do Estado aplica-se ao crime


ocorrido dentro do território do referido Estado. A legislação brasileira
acolheu este princípio como regra, no artigo 5º, caput, do Código Penal.
Por este princípio a lei penal de um Estado nunca seria aplicada a um fato
ocorrido no território de outro Estado. Ex.: crime no Brasil, praticado por
um italiano, contra um americano, aplica-se a lei brasileira, pouco
importando se a lei italiana ou americana é mais favorável ou severa para
o infrator da norma penal.
• Princípio da nacionalidade – permite a aplicação da lei penal do país de
origem do agente, pouco importando o local onde o delito foi cometido.
Subdivide-se em duas espécies: nacionalidade ativa que aplica a lei do
Estado do delinqüente, onde quer que ele se encontra, adotado na
legislação brasileira no art. 7º, II, ‘b’ do Código Penal e nacionalidade
passiva que exige que, além de ser nacional o sujeito ativo do crime, seja
nacional também o titular do bem jurídico atacado ou ameaçado de lesão.
• Princípio da defesa – a lei penal de um país será aplicada a fatos
delituosos ofensivos a bens jurídicos que considera relevantes. O que
importa neste princípio é a importância do bem jurídico para o país,
independentemente da nacionalidade do sujeito passivo do crime,
adotado na legislação brasileira no art. 7º, I, e § 3º do Código Penal.
• Princípio da justiça penal universal – aplica-se a lei penal de um país a
qualquer crime, independentemente do local onde foi praticado, do bem
jurídico ofendido e da nacionalidade dos sujeitos ativo e passivo. O
fundamento desse princípio é ser o crime um mal universal, que deve ser
combatido por todos os países, adotado na legislação brasileira no art. 7º,
II, ‘a’ do Código Penal.
• Princípio da representação – aplica-se a lei penal de um país aos crimes
cometidos em aeronaves e embarcações privadas, quando estiverem
localizados em territórios estrangeiro e aí não venham ser julgados,
adotado na legislação brasileira no art. 7º, II, ‘c’ do Código Penal.

DA EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL BRASILEIRA

A lei penal brasileira pode ser aplicada a fatos praticados fora do território
nacional, em evidente complementação ao princípio geral previsto no artigo
5º do Código Penal. Tal previsão consta do artigo 7º do Código Penal. A
extraterritorialidade subdivide-se em duas espécies:
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1. Incondicionada: prevista no inciso I do artigo 7º do Código Penal, tendo o


legislador acolhido o princípio da defesa. Tal extraterritorialidade é
incondicionada porque a aplicação da lei penal brasileira não se subordina
a qualquer condição. O disposto no § 1º do artigo 7º do Código Penal é
atenuado pelo princípio da reserva legal constante no artigo 8º do mesmo
diploma legal, evita o bis in idem, possibilidade de alguém sofrer duas
condenações pelo mesmo fato.
2. Condicionada: é aquela cuja aplicação da lei penal brasileira se subordina
à ocorrência das condições previstas na própria legislação. Engloba todas
as hipóteses do inciso II do artigo 7º do Código Penal, além da prevista no
§ 3º do mesmo dispositivo, bem como ocorrer o concurso das condições
previstas no § 2º do artigo 7º do Estatuto Repressivo.

APLICAÇÃO DA LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS

A lei penal possui o princípio da obrigatoriedade, ou seja, ela é aplicada a


todos que estão no território, sem distinção pessoal. Porém, ela não é
aplicada a determinadas pessoas que exercem funções públicas, face a
tratados, convenções internacionais ou regras de direito público internacional,
em obediência ao princípio da reciprocidade.

• Imunidades diplomáticas: a pessoa do agente diplomático é inviolável,


não pode ser preso, só pode ser processado e julgado pelo Estado que
representa, as imunidades se estendem aos familiares, não obstante não
se estendem aos cônsules, que exercem funções meramente
administrativa.
• Imunidades parlamentares: os parlamentares possuem imunidades, são
prerrogativas destinadas a assegurar a maior liberdade de atuação, que
podem ser materiais, os parlamentares não comentem os chamados
delitos de palavra ou de opinião, quando em razão do exercício do
mandato parlamentar, causa funcional de isenção de penal e formais, que
são prerrogativas processuais, os parlamentares só podem ser presos em
flagrante delito, crime inafiançaável, ocasião em que o APF deve ser
remetido dentro de 24 horas à Câmara ou Senado, que, então pelo voto
secreto da maioria de seus membros, decidirá sobre a prisão: manterá ou
a relaxará. O processo irá tramitar perante o STF, que, ao receber a
denúncia, deverá comunicar à casa respectiva, que pode ser sustado,
desde que a requerimento de um partido representado na Casa
parlamentar, aprovado pelo voto da maioria dos membros da Casa.
Concedida a sustação suspende o curso da prescrição enquanto durar o
mandato. Este procedimento não alcança crimes cometidos antes da
diplomação. Os vereadores só gozam da imunidade material.
• Presidente da República: somente pode ser processado, após licença da
Câmara dos Deputados, mediante o voto de, pelo menos, dois terços de
seus membros, em votação aberta. Em se tratando de crime comum, o
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Presidente será julgado pelo STF e se crime de responsabilidade pelo


Senado Federal.
• Obs.: as embaixadas seriam para efeitos penais territórios? Não, a
embaixada argentina no Brasil é território brasileiro, o único detalhe é
que a embaixada é inviolável, impenetrável, somente podendo ser
penetrada com a permissão do chefe da embaixada inglesa, sob pena de
violação indevida de um país no outro.

OUTRAS DISPOSIÇÕES SOBRE APLICAÇÃO DA LEI PENAL

EFICÁCIA DA SENTENÇA PENAL ESTRANGEIRA: matéria disciplinada no


art. 9º do Código Penal. A sentença penal condenatória proferida no
estrangeiro precisa ser homologada pelo STJ para produzir os seguintes
efeitos: ser executada no Brasil; obrigar o condenado à reparação do dano, a
restituições e a outros efeitos civis; sujeitá-lo à medida de segurança, na
esteira do art. 105, I, i, CR. Todavia, quanto aos demais efeitos que possa
produzir, como reincidência, o sursis e o livramento condicional, não há
necessidade de homologação da sentença condenatória estrangeira pelo
STJ.

DO PRAZO EM DIREITO PENAL: em Direito Penal conta-se o prazo


computando o dia do começo e excluindo o dia do término. O calendário
utilizado é o comum ou gregoriano, e não o civil, ou seja, conta-se os dias de
cada mês do ano, 28, 30 e 31 dias. Segundo menciona o artigo 11 do Código
Penal, as frações de dia e de reais não são computáveis. Assim sendo, as
horas devem ser desprezadas, contando-se o dia por inteiro, e os centavos
devem ser desprezados, tomando-se apenas o todo existente.

Principais aspectos sobre a contagem do prazo penal:

a) Conta-se o primeiro dia do prazo e descarta-se o último dia. Ex.


um prazo penal de dois anos, para fins de prescrição, inicia dia
02/09/10 e vai até o dia 01/09/12; (no prazo de processo penal
exclui-se o dia do começo e conta-se o último, art. 798, §1º, do
CPP.

b) Na contagem do prazo penal são descartadas as frações de dia,


de hora e de minutos. Ex. crime cometido no dia 04/03/10
consumado às 23h59min (considero que o crime foi cometido dia
04/03/10, nada mais). A prescrição será dia 03/03/12, às 24h.

Observação: É evidente que os prazos referentes aos institutos de natureza


exclusivamente penal são contados da forma como determina o CP, mas
também os prazos referentes a institutos de natureza mista ou híbrida devem
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ser contados da forma determinada no art. 10 do CP, de forma a beneficiar o


réu.

Ex.: Perempção (art. 107, IV, CP – natureza penal; e art. 60 do CPP,


natureza processual penal) ocorre na ação penal privada. Assim, quando o
querelante ficar por 30 dias sem movimentar o processo, a ação será
declarada perempta, extinguindo a punibilidade do querelado. Logo, os 30
dias devem ser contados conforme determina o CP, art. 10, ou seja, a
partir do dia em que o juiz intimou o querelante, e não a partir do outro dia ou
do próximo dia útil.

CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇAO PUBLICA

Corrupção passiva

Art. 317. Lembrar que corruptor enquadra-se no art. 333. Lembrar que não
se necessita da bilateralidade necessária em tal tipo, ou seja, para haver a
corrupção passiva não deverá existir a corrupção ativa, podendo subsistir um
sem o outro. Ex: policial militar solicita certa quantia para não multar o
motorista, mas este não aceita o pedido de propina. Ocorre, assim, apenas o
tipo do art. 317, CP.

Obs: Para que ocorra o crime em tela, necessário se faz que haja correlação
entre o ato almejado pelo corruptor e a função que o funcionário público
“comprado” exerça, isto é, de fato o corrupto possua competência para
praticar o ato de ofÍcio almejado pelo corruptor.

Verbos:

Solicitar- Diferente da concussão em que o agente exige. Crime formal.


Não exige o recebimento da propina, consumando-se com a simples
solicitação. O recebimento constitui mero exaurimento.

Receber- O corruptor entrega a vantagem sem que o funcionário solicite,


apropriando este da vantagem e praticando o ato de ofício correspondente.

Aceitar promessa de vantagem- O funcionário público consente em praticar


o ato de ofício sem receber a vantagem de imediato, vindo a recebê-la
posteriormente. Crime formal. Não exige o recebimento da propina.
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Corrupção própria- agente solicita, recebe ou aceita a vantagem para a


prática de ato ilícito. Recebe propina para aceitar numa licitação um licitante
que não tem as condições necessárias para ganhar o certame.

Corrupção imprópria- agente solicita, recebe ou aceita a vantagem para a


prática de ato lícito. Recebe propina para acelerar um procedimento que
está parado na comissão de licitação, não havendo a prática de nenhum ato
ilícito, pois a demora no procedimento é algo que normalmente não poderia
acontecer.

Natureza da vantagem indevida. A lei não afirma ser necessária a


vantagem de natureza econômica, pois usa o termo “indevida”.

Parágrafo 1º. Exaurimento penalizado. O agente cumpre o prometido


(pratica ato de ofício) e por isso recebe uma reprimenda com a pena
aumentada.

Parágrafo 2º. Tipo penal privilegiado em que inexiste a citada vantagem


indevida. São os chamados “favores” administrativos, que não deixam de
constituir crime. Cede a pedido ou influência de terceiros, sem que receba
qualquer vantagem.

Prevaricação

Art. 319. Diferente do art. 317, parágrafo 2º, pois no presente tipo o agente
satisfaz interesse ou sentimento próprio. São os casos em que o Delegado
de Polícia deixa de instaurar o inquérito contra o filho do Prefeito, que é seu
irmão ou amigo, por um crime de tráfico de drogas, por exemplo. Não atender
aos ofícios do Juiz e MP porque não gosta de ambos também configura
sentimento pessoal. Deve ser analisado o sentimento ou interesse pessoal.
Expedição ilegal de alvará para determinada indústria funcionar, pois o dono
é seu amigo.

Os verbos são retardar, praticar ou deixar de praticar.

Consumação. Crime formal em que não se exige que o agente de fato


satisfaça o interesse ou sentimento pessoal, bastando a prática dos verbos
acima assinalados. Se for alcançado o sentimento almejado, trata-se de mero
exaurimento do tipo penal.

Violação de sigilo funcional


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Art. 325. Trata-se de qualquer violação de sigilo praticada pelo


funcionário público (crime próprio) no exercício da função e que deveria
ficar em segredo. O tipo é bem amplo e permite a punição, inclusive,
daqueles que violam dados sigilosos relativos a inquéritos arquivados e
sentenças absolutórias emitidos contra terceiros e que deveriam ser mantidos
de forma sigilosa nos registros criminais apenas, sem divulgação a terceiros.

Lembrete: O fornecimento de senha para acesso a banco de dados da


Administração Pública também configura o crime, como está previsto no
parágrafo 1o. Essa questão já foi muito cobrada em provas de 1a etapa,
porque é difícil de o candidato lembrar-se dessa hipótese específica prevista
neste artigo.

Resistência

Art. 329. Evitar que o agente público cumpra a sua função. Necessária a
violência ou ameaça ao funcionário público. Ex: agente briga com o
Policial Militar que está prendendo-o por algum crime; agente diz que ser for
preso vai matar a família do Policial Militar. Ela é chamada de resistência
ativa porque exige uma conduta comissiva do agente.

Consumação. Crime formal que se consuma com a simples ameaça ou


violência praticada contra o funcionário, restando o ato a que se quer evitar,
caso consiga tal fim, como mero exaurimento.

Crime comum. Pode ser funcionário público o sujeito ativo, desde que esteja
em outra função e resista a um funcionário público no exercício da função.

Obs: Se o ato a ser resistido for ilegal, não há crime, por atipicidade penal
(princípio da taxatividade).

Exaurimento penalizado (parágrafo 1o), como qualificadora. Aqui também


existe tal figura quando o agente consegue evitar que o ato legal se realize.

Desobediência

Não há violência ou ameaça. Pode ser na forma ativa ou omissiva. Ex: Se


agente foge, agarra-se a um poste ou fica deitado no chão, configura-se o
crime do art. 330. Chamada de resistência passiva.
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Cuidado: Ordem legal, porque se for ilegal o fato torna-se atípico (princípio
da taxatividade).

Tentativa é possível na forma ativa. Ex: policial mostra o mandado de prisão


para o agente e este sai correndo, tendo sido alcançado momentos depois.

Desacato

Desacatar é humilhar, desprezar ou ridicularizar funcionário público no


exercício da sua função. Faz-se necessária a presença do funcionário
público no momento da conduta.

Nexo funcional. No exercício da função ou e em razão dela.

Corrupção ativa

Primeira observação que muitos se esquecem é de que tal crime é


praticado pelo particular (crime comum) que quer comprar um ato de
ofício do funcionário público.

O verbo “dar” não foi previsto, sendo isso uma omissão do legislador.
Na prática, quando ocorrer o “dar”, o agente responde porque, em última
análise, teve que antes passar pelo verbo “oferecer”.

Crime formal, sendo que a consumação não exige a entrega efetiva da


vantagem ou a prática do ato de ofício que se almeja.

Vantagem tem que ser oferecida antes da prática do ato. Depois não é
crime, podendo ser mero presente dado a funcionário público, respondendo
este por eventual ato de improbidade administrativa em virtude de presentes
recebidos.

Natureza da vantagem indevida. A lei não afirma ser necessária a


vantagem de natureza econômica, pois usa o termo “indevida”. Assim, a
maioria da doutrina entende que a vantagem quase sempre será de
natureza econômica, mas isso não impede vantagens de outras
naturezas como sexual, vingança ou por vaidade (mostrar que
consegue comprar o funcionário público apenas).

Obs: Também não é crime quando o sujeito ativo oferece vantagem para
evitar que o funcionário público pratique algum ato ilegal contra ele, uma vez
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que o tipo penal exige que o ato seja de ofício, supondo, por óbvio, que este
seja lícito. Ex: oferecer dinheiro para o Policial Militar não prendê-lo, sendo
que esta prisão era motivada pelo fato de o P.M. ter “plantado” uma droga
dentro de seu carro. Fato atípico.

Parágrafo único. Exaurimento penalizado. O agente cumpre o prometido


(pratica ato de ofício) e por isso recebe uma reprimenda com a pena
aumentada.

Pena. É mesma prevista para o crime de corrupção passiva, uma vez que,
por questões lógicas, não seria proporcional que o corruptor tivesse uma
pena diferente do corrupto.

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