Lógica Proposicional Crítica
Lógica Proposicional Crítica
Lógica Proposicional Crítica
Ver também:
Lógica proposicional
Álvaro Nunes
Introdução
A lógica enquanto ciência que estuda as condições de validade dos
argumentos foi fundada por Aristóteles (384-322 a. C.). Paralelamente ao
estudo da noção de validade e de outras noções centrais da lógica, Aristóteles
desenvolveu a teoria do silogismo — um tipo de lógica dedutiva em que os
elementos fundamentais são os termos e em que a validade de um argumento
depende da disposição desses termos no argumento. Embora Crisipo (279-206
a. C.), um dos fundadores do estoicismo, tenha, ainda na Antiguidade,
desenvolvido uma lógica em que os elementos fundamentais eram as
proposições, a lógica de Aristóteles dominou esta disciplina quase
incontestavelmente durante mais de dois mil e duzentos anos. A sua influência
foi de tal modo grande que, no século XVIII, Kant afirmava que a lógica tinha
começado e acabado com Aristóteles. No entanto, tudo isto mudaria na
segunda metade do século XIX, altura em que começou um período de rápido
desenvolvimento da lógica que dura até hoje. Filósofos e matemáticos como
George Boole (1815-1864), Charles S. Pierce (1839-1914), Gottlob Frege
(1848-1925), Bertrand Russell (1872-1970) e Kurt Gödel (1906-1978),
inspirados no rigor das matemáticas, desenvolveram várias linguagens lógicas,
entre elas a lógica proposicional, que vamos agora estudar.
1. Noções básicas
A lógica proposicional permite, por intermédio de tabelas de verdade,
determinar o valor de verdade de proposições complexas e a validade de
argumentos a partir do valor de verdade das proposições simples que entram
nessas proposições complexas e nesses argumentos. Há, no entanto, algumas
noções que temos de conhecer e dominar antes de podermos utilizar os
instrumentos que a lógica proposicional põe à nossa disposição para
determinar as condições de verdade de proposições e avaliar argumentos.
1.1 Operadores de formação de frases
Os operadores de formação de frases são palavras ou sequências de palavras
que servem para originar frases a partir de outras frases e podem ser de dois
tipos: verofuncionais ou não-verofuncionais. Os operadores
verofuncionais têm a propriedade de determinar o valor de verdade das frases
a que dão origem e, por isso, têm um papel central na lógica proposicional.
1.2 Operadores verofuncionais
Os operadores, ou conectores, verofuncionais são a negação, a conjunção,
a disjunção (inclusiva e exclusiva), a condicional e a bicondicional.
Operadores verofuncionais
Designação Símbolo Exemplo Leituras
Negação ¬ ¬p não; não é verdade que; é falso que
Conjunção ∧ p ∧ q e; mas; no entanto; embora
Disjunção
∨ p ∨ q ou
inclusiva
Disjunção
⊻ p ⊻ q ou ... ou ...
exclusiva
Condicional → p → q se ..., então ...
Bicondicional ↔ p ↔ q se e só se; é condição necessária e
Operadores verofuncionais
suficiente
O valor de verdade de uma proposição complexa gerada por intermédio de um
operador verofuncional depende do valor de verdade da proposição ou das
proposições que a compõem e do operador usado. Por exemplo, a proposição
complexa expressa pela frase «Lisboa é uma cidade e Beja é uma vila», que
resulta da ligação das proposições simples «Lisboa é uma cidade» e «Beja é
uma vila» por intermédio do operador conjunção, só seria verdadeira caso
estas proposições fossem ambas verdadeiras. Como não é esse o caso, a
proposição é falsa. Mas a proposição expressa pela frase «Lisboa é uma
cidade ou Beja é uma vila», que resulta da ligação das mesmas proposições
por intermédio do conector disjunção inclusiva, é verdadeira, uma vez que
neste caso basta que uma dessas proposições seja verdadeira para que a
proposição resultante também o seja. Repare-se que apenas o conector mudou.
Onde antes se encontrava uma conjunção a fazer a ligação entre as
proposições passou a estar uma disjunção inclusiva. Isso, no entanto, foi
suficiente para que o valor de verdade da proposição mudasse.
A cada um destes conectores verofuncionais corresponde uma tabela de
verdade, que especifica as condições de verdade desses operadores e, por
consequência, o valor de verdade das proposições originadas usando esse
operador.
1.2.1 Tabelas de verdade dos operadores verofuncionais
Chama-se variáveis de fórmula às letras usadas para representar espaços
vazios que podem ser ocupados numa fórmula por uma qualquer proposição
simples ou complexa. Usaremos para esse fim as letras minúsculas p, q, r, etc.
As variáveis de fórmula são particularmente úteis para percebermos que
fórmulas com níveis diferentes de complexidade têm a mesma estrutura
lógica. Por exemplo, tanto a fórmula P ∧ Q como a fórmula (P ∨ Q) ∧ (R →
S) têm a mesma forma lógica, p ∧ q. Usá-las-emos também para representar a
forma dos argumentos, como veremos em seguida. Dá-se o nome de variáveis
proposicionais às letras usadas para representar proposições simples. Iremos
usar as letras maiúsculas P, Q, R, S, etc., para este fim, e as letras V e F para
significar ‘verdadeiro’ e ‘falso’. Deste modo, usaremos as variáveis de
fórmula quando quisermos representar a estrutura das fórmulas e a forma dos
argumentos e as variáveis proposicionais quando o objetivo for representar as
próprias fórmulas ou os argumentos.
É possível apresentar graficamente, usando tabelas de verdade, o modo como
os conectores determinam o valor de verdade das proposições nas quais
entram.
Negação
p ¬p
V F
F V
Conjunção
p q p∧q
V V V
V F F
F V F
F F F
Disjunção inclusiva
p q p∨q
V V V
V F V
F V V
F F F
Disjunção exclusiva
p q p⊻q
V V F
Disjunção exclusiva
V F V
F V V
F F F
Uma disjunção é exclusiva se apenas uma das disjuntas puder ser verdadeira.
Por isso, a disjunção p ⊻ q, como a tabela mostra, é verdadeira apenas quando
uma das disjuntas é verdadeira e é falsa caso as duas disjuntas sejam ambas
verdadeiras ou ambas falsas. A proposição «O João ou frequenta o primeiro
ou o segundo ciclo» é uma disjunção exclusiva, dado que não é possível, no
sistema de ensino português, um aluno frequentar ao mesmo tempo estes dois
ciclos.
Condicional
p q p→q
V V V
V F F
F V V
F F V
p q p↔q
Bicondicional (ou Equivalência)
V V V
V F F
F V F
F F V
P Q (P → Q) ∧ (Q → P)
VV V V V
VF F F V
FV V F F
F F V V V
P Q R (P ∨ (Q ∧ R)) → (¬R → P)
VVV V V V V F V V
VV F V V F V V V V
VFVV V F V F V V
VF F V V F V V V V
FVV F V V V F V F
FVF F F F V V F F
F FV F F F V F V F
F F F F F F V V F F
P Q R (P → ¬Q) ∧ (¬Q → R)
VVV V F F FF V V
VV F V F F FF V F
V F V V V V VV V V
VF F V V V FV F F
F VV F V F VF V V
F V F F V F VF V F
F F V F V V VV V V
F F F F V V FV F F
P QP↔Q
VV V
VF F
P QP↔Q
FV F
F F V
P Q (P → Q) ∧ (Q → P)
VV V V V
VF F F V
FV V F F
F F V V V
P P ∨ ¬P
V V
P P ∨ ¬P
F V
P P ∧ ¬P
V F
F F
P QP∧Q
VV V
VF F
FV F
F F F
P QP∧Q
P Q R (P ↔ ¬Q) → ¬R P ∧ Q ∴ P ∨ R
VVVV F F V F V V
VV F V F F V V V V
VFVV V V F F F V
VF F V V V V V F V
FVV F V F V F F V
FVF F V F V V F F
F FV F F V F F F V
F F F F F V V V F F
P Q R P → ¬Q ¬Q → ¬R Q ∴ R
VVVV F F F V F V V
VV FV F F F V V V F
V F VV V V V F F F V
VF FVV V V V V F F
FVVF V F F V F V V
FVF F V F F V V V F
P Q R P → ¬Q ¬Q → ¬R Q ∴ R
F FVF V V V F F F V
F F F F V V V V V F F
P QP∧QP∴Q
VV V V V
VF F V F
FV F F V
F F F F F