Responsabilidade Civil
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Professor Hamid
RESPONSABILIDADE CIVIL
Artigos 927 a 954 CC
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 – CULPA - e 187 – ABUSO DE
DIREITO), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Vínculo jurídico por meio do qual o credor pode exigir do devedor uma prestação,
decorrente de uma fonte, ou seja, há um acontecimento que gera uma obrigação (exemplo:
contrato).
Análise do prejuízo que uma pessoa suporta, gerando prejuízo, estabelece-se uma
obrigação.
Classificações
Objetiva
Subjetiva
Contratual
Extracontratual
Artigo 405 CC
Os juros de mora, em geral, são calculados desde a citação.
1. AÇÃO: não há responsabilidade civil sem uma ação (nem sempre humana)
2. DANO: sem dano, não há que se falar em responsabilidade civil
3. NEXO DE CAUSALIDADE: o dano precisa ter sido causado pela ação/omissão
4. VARIÁVEL: há culpa? É proprietário do imóvel (937)?
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Conceito de obrigação - Relação jurídica por intermédio da qual o credor pode exigir do
devedor uma determinada prestação, sob pena de invasão no patrimônio do devedor para
compelir este a cumprir o que não foi cumprido.
As fontes da obrigação são várias, tais como os contratos (exemplo: de compra e venda). A
fonte da obrigação estudada na disciplina é constituída de uma relação jurídica que surge
de um dano causado. Ou seja, o elo entre credor e devedor surge do próprio dano.
Aqui, a origem da relação jurídica não é mais contratual, mas sim extracontratual. Como
afirma Silvio Venosa em seu Código Civil Interpretado (2013, p. 1107), "quando em
doutrina é feita referência singela à responsabilidade civil, devemos entender que se trata
de responsabilidade extracontratual."
O ônus da prova também muda. Na relação contratual, o ônus da prova é daquele ao qual
se imputa a responsabilidade pelo prejuízo; já na relação extracontratual, o ônus da prova
é transferido para a vítima.
O conceito clássico de responsabilidade civil, que vem do Direito Romano, está baseado no
conceito de culpa, pois a ideia era punir quem causasse dano. No panorama da
responsabilidade civil atual, a responsabilidade civil sofreu uma modificação de
perspectiva. Antes, havia uma intenção punitiva na responsabilidade civil. Hoje, o enfoque
deixou de ser sancionador da culpa, passando pela ideia de evitar que alguém tenha
um prejuízo injusto ou injustificado.
Requisito Variável:
A culpa é um dos possíveis requisitos variáveis, mas há outros. Na relação de consumo, a
responsabilidade civil é objetiva, conforme Art. 12, do CDC. O fabricante deve indenizar
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Conforme Art. 186 do CC, haverá ato ilícito na ação ou omissão voluntária (alguém agiu
voluntariamente para produzir o resultado lesivo, agindo com dolo), imprudência ou
imperícia. O art. 186, do CC, dispõe sobre a responsabilidade subjetiva.
O incapaz não tem discernimento. Quem responde pelos atos praticados pelo incapaz é seu
representante legal, mas sua responsabilidade é subsidiária. O CC criou uma regra, em seu
artigo 928, segundo a qual, se o responsável pelo incapaz não tiver patrimônio ou não for
obrigado a indenizar, o patrimônio do incapaz poderá ser atacado pela vítima que deseja ser
indenizada. Também se pode atacar o patrimônio do incapaz quando este for rico e o
responsável pelo incapaz for pobre. Portanto, a responsabilidade do artigo 928 é subsidiária
e por equidade. Exemplo de equidade: um incapaz causa um prejuízo de 1 milhão de reais,
e seu patrimônio é de 1 milhão de reais. O juiz poderá obrigá-lo a indenizar a vítima em
500 mil reais, para que o incapaz não fique sem condições de sobrevivência.
13 de fevereiro de 2017
CULPA
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.
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CULPA (STRITO SENSO): Negligência, alguém deixa de ter uma conduta que evitaria o
dano.
Para haver culpa, a consequências da ação/omissão deve ser previsível ao “homem médio”,
que em tese, tem como prever o resultado.
Há casos em que o “homem médio” não serve de referência. Em algumas hipóteses não é o
comportamento padrão médio que vai estabelecer o requisito "previsibilidade".
Exemplo: homem simples vai pescar / médico vai pescar e para ajudar o amigo que se
machucou utilizou um pano sujo para estancar o sangue, agravando a lesão. Neste caso, o
que era previsível para um, não era para o outro.
1º - Identificação da culpa
2º - Gradação da culpa, onde culpa equipara-se ao dolo, gravíssimo e culpa leve.
Artigo 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele
responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes.
928: nos casos em que o responsável pelo dano for incapaz não tiver obrigação de indenizar
ou não tiver patrimônio, pode-se buscar indenização no patrimônio do próprio incapaz
(regra de responsabilidade subsidiária, supletiva).
ABUSO DE DIREITO
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Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
pela boa-fé ou pelos bons costumes.
A ilicitude está no modo como exerço um direito, ao causar dano maior que o direito que
possui.
Exemplo:
Século XVIII – Inglaterra
Dois vizinhos de terras agrícolas brigaram, vale lembrar que nesta época a propriedade era
absoluta, não podendo ninguém restringir, um dos vizinhos usavam dirigíveis, enquanto o
outro colocou em seu terreno lanças pontiagudas, impedindo que o primeiro utilizasse os
dirigíveis.
O primeiro procura a justiça e narra os fatos, e o juiz defende o direito de propriedade
absoluto do vizinho 2. Até chegar na corte superior, onde os juízes, pela primeira vez,
trazem a ideia que o direito não pode ser exercido só com o propósito de prejudicar,
tornando ilícito (1228 CC).
O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-los do
poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
Com o passar dos anos, passou-se a adotar uma posição que colocou em conflito o espírito
emulativo [= inveja; rivalidade] do direito em relação a uma constatação objetiva. Ou seja,
mudou-se o enfoque do abuso de direito, chegando ao que é disposto no CC atual o qual se
afasta do espírito intencional.
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Exemplo: Mariana é locatária há cinco anos, onde exerce sua profissão. Seu fiador é muito
rico. Nesses cinco anos, ela sempre cuidou do imóvel e nunca atrasou o pagamento do
aluguel. Depois desse tempo, o locador decidiu despejar a locatária. Ele está no seu direito,
mas a questão é saber qual será o benefício recebido pelo locador com esse despejo. Se o
locador não tiver vantagem alguma e apenas causar prejuízo à sua locatária que perderia
diversos clientes, ele se encaixará no artigo 187, do CC. Segundo a jurisprudência, o
exercício de despejar será ilícito se causar grande dano ao locatário, sem vantagem ao
locador.
27 de fevereiro
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as
circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites
do indispensável para a remoção do perigo.
"Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não
forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram."
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Mas isso não deve ser confundido com a legítima defesa putativa. Legítima defesa
putativa caracteriza-se pelo erro justificável pelas circunstâncias; ocorre quando o
agente repele aquilo que lhe parece ser uma agressão injusta e atual. Aquele que for
penalmente absolvido pela legítima defesa putativa ainda poderá ser obrigado a indenizar
na esfera cível. A legítima defesa real, que deve ser exercida no limite do necessário para
afastar o ataque, pode ser reconhecida, mas o que ultrapassar essa violência, ou seja, o
excesso, deverá ser indenizável.
"Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra
este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao
lesado.
Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o
dano (art. 188, inciso I)."
A legítima defesa real de terceiro também é ato lícito que decorre do dever de solidariedade.
06 de março
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O Art. 932 traz uma hipótese de responsabilidade de outra pessoa, ou seja, alguém
responde por ato alheio. O rol do artigo 932 é taxativo. As cinco hipóteses previstas no
dispositivo são as seguintes:
Inciso I
O pai ou a mãe que responde pelo ato lesivo praticado por seu filho menor. Os dois
requisitos são: o filho menor deve estar sob sua autoridade parental e companhia. Há uma
corrente doutrinária para a qual essa companhia deve ser lida de modo amplo (corrente não
majoritária), ou seja, mesmo sem a companhia física, haverá responsabilidade dos pais pelo
ato lesivo do filho menor.
Há outra corrente doutrinária (majoritária) para a qual a responsabilidade dos pais não
depende de culpa, mas decorre do dever de zelar pela conduta dos filhos, evitando que essa
conduta seja prejudicial a terceiro. Portanto, para essa corrente, companhia significa,
necessariamente, presença física.
Exemplo: se o filho estiver na escola, o pai não responderá pelo ato lesivo praticado por seu
filho.
O problema se dá nas hipóteses em que o casal é separado, pois, nesse caso, um dos pais
tem o dever de cuidar (dever de zelo) e o outro não. Alguns doutrinadores entendem que os
dois respondem, pois, se não fosse assim, o pai ou a mãe que não respondesse seria
premiado.
A ideia predominante é: só responde aquele com quem o filho está quando pratica o ato
lesivo.
Existem a emancipação legal, que dispensa a manifestação de vontade dos pais (exemplo:
casamento; colação de grau em ensino superior; quando o filho provê o seu próprio
sustento por meio de estabelecimento comercial de sua propriedade ou relação de
emprego), e a emancipação voluntária (dada pelos pais aos filhos com 16 anos completos).
No caso da emancipação legal, os atos do emancipado saem do artigo 932, visto ser
considerado maior é capaz.
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ex.: quando o pai tinha razões para saber que não poderia emancipar o filho).
Inciso II
Curador/tutor por ato praticado pelo incapaz (curatelado/tutelado).
Aqui, a incapacidade decorre de desenvolvimento mental incompleto. Hoje, não se usa mais
o termo "interdição", termo considerado inadequado porque dá a ideia de limitação, sendo
substituído por curatela ou tutela. A responsabilidade civil do curador e do tutor (arts. 3o e
4o, do CC) ocorrem nas mesmas condições do inciso referente aos pais.
O processo de "interdição" tem por objeto gerar proteção para o incapaz. A sentença é
levada ao registro civil para dar publicidade à nomeação do curador/tutor cujo dever é o de
cuidar do curatelado/tutelado. Quando isso é tornado público, é possível pedir uma
certidão de nascimento do causador do dano na qual constará o nome do curador/tutor.
Mas e se o incapaz deveria, mas não foi colocado sob curatela/tutela? Quem responderá é
aquele que teria o dever de se fazer nomear curador/tutor. Se não existir a figura do que
deveria se fazer nomear curador/tutor, ninguém responderá pelo ato lesivo praticado pelo
incapaz.
Inciso III
Empregador que responde pelo ato lesivo praticado por seu empregado.
No Direito Civil, a relação de emprego passou a depender cada vez menos da relação de
subordinação. Por isso, os dois responderão. Essa é uma discussão intensa e pouco
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E se o médico não for nada do hospital, mas apenas efetuar cirurgias no hospital por força
de uma Resolução do Conselho Federal de Medicina?
Essa Resolução volta-se contra o hospital que impede que médicos não pertencentes a seu
quadro clínico utilizem a infraestrutura hospitalar para realizar procedimentos cirúrgicos.
Nesse caso, aplicar-se-ia a Teoria dos Contratos Coligados que é o reconhecimento de que
alguns contratos, embora autônomos, têm vínculo inexorável. Por isso, em um contrato
coligado, haveria, sim, uma obrigação solidária de reparação do dano praticado pelo
médico.
Exemplo: O motorista de uma empresa era proibido de usar o carro da empresa fora do
horário de trabalho. Mas, em um final de semana, o motorista se embebedou, pegou o carro
da empresa, saiu com ele da garagem da empresa e causou um acidente. O Tribunal
condenou o empregador, por entender que tudo que o empregado fizer em razão do
emprego gera dever de indenizar. Mas, nesse caso, houve uma ruptura do nexo causal, pois
foi a conduta ilícita do empregado e não o emprego que ocasionou o acidente perpetrado
pelo empregado. O limite deve ser sempre o nexo de causalidade.
Inciso IV
Quem hospeda pelos atos praticados por seu hóspede.
Aquele que estiver hospedado e causar dano, o fundamento jurídico por esta
responsabilidade encontra-se no CDC que traz uma regra mais segura para se pedir
indenização. Bastando provar que há um defeito (exemplo: um hóspede bateu no seu carro,
te ofendeu, furtou seu celular) e a responsabilidade pela indenização será de quem
hospeda.
Esta previsão do inciso IV, é de pouca utilidade, pois é muito mais fácil discutir este tema a
luz do CDC.
O fato de haver relação de consumo entre o hotel e seus hóspedes caracteriza, pois, uma
relação de consumo. Se um hóspede causar dano a outro hóspede do mesmo hotel, o hotel
deverá indenizar, pois a responsabilidade do hotel é objetiva. Além disso, aplica-se ao caso
o Código de Defesa do Consumidor (CDC). Mas, nesse caso, o hotel poderá exercer ação de
regresso contra o hóspede que praticou o ato lesivo contra o outro hóspede.
13 de março
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Inciso V
Prevê a responsabilidade de alguém que recebeu gratuitamente o produto de um crime, ou
seja, alguém que se beneficiou gratuitamente do produto de um crime.
Esta regra é chamada pela doutrina de "Regra Heterotópica", ou seja, uma regra fora do
lugar onde deveria estar.
Pois quando se diz que quem recebe um produto de crime gratuitamente terá que devolver,
não se trata de dever de pagar indenização, está fora da responsabilidade civil. Esta regra
simplesmente diz: não fique com uma vantagem à custa de uma pessoa que teve um
prejuízo injusto.
Portanto, esta regra estaria melhor colocada na parte que trata de enriquecimento sem
causa.
A pessoa que recebeu o bem não cometeu crime algum, se houvesse crime, seria o de
receptação que pode ser:
Dolosa: quando alguém compra ou recebe sabendo ser produto de crime.
Culposa: quando poderia saber, e não tomou os cuidados necessários.
E em qualquer das duas hipóteses teria praticado ato ilícito e assim, praticou ato criminoso
definido e não necessita desta regra para que deva indenizar.
Embora não tenha praticado o ilícito, ela se beneficiou do ilícito praticado por outrem. Além
disso, praticou um ato de boa-fé (sem saber e sem poder saber) e de modo gratuito. E o
produto recebido criminosamente deu prejuízo a alguém, por isso deve ser devolvido. Entre
proteger quem deixa de ganhar ou proteger quem teve prejuízo, o legislador optou por
proteger quem teve prejuízo (nada mais justo!).
O sujeito de que trata o inciso V, do artigo 932, só devolve aquilo que recebeu de boa-fé e
de modo gratuito, mas não indenizará os lucros cessantes os quais deverão ser indenizados
pelo autor do crime de apropriação indébita.
Exemplo: Um fornecedor rouba uma máquina e fala para o seu comprador que ganhou a
máquina e não tem interesse nela e doa para este, que aceita.
O comprador não praticou crime algum.
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Responsabilidade Objetiva
Art. 933 - Aqui, consagra-se a responsabilidade objetiva das pessoas indicadas nos incisos
de I a V do Art. 932.
"Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja
culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos."
Ou seja, o Art. 933 trata dos sujeitos previstos nos incisos de I a V do Art. 932.
As pessoas do artigo 932 respondem objetivamente: não precisam ter culpa. Essas pessoas
têm obrigação sem culpa. Respondem pelo ilícito alheio, este sim deve ter culpa.
Essas hipóteses tiveram origem na hipótese de culpa (código de 1916), porque tanto os pais
quanto os empregadores só indenizavam quando tinham culpa. Em um primeiro momento,
a culpa era presumida, e a presunção era relativa. Em um momento posterior, com o
surgimento da sociedade industrial, a quantidade de danos causados. Pela ação dos
empregados aumentou muito e a jurisprudência e a doutrina acharam interessante que os
empregadores pagassem, pois "quem obtém o bônus tem que suportar o ônus". Passaram a
entender que se tratava de presunção absoluta da culpa.
Dizer que a responsabilidade é objetiva é dizer que independe de culpa, e não dizer que os
agentes não precisarão indenizar. Ou seja: dizer que a responsabilidade é objetiva é dizer
que independe de culpa e que os agentes precisarão indenizar.
Direito de Regresso
Art. 934 - "Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago
daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou
relativamente incapaz."
Ou seja, quem paga pode voltar-se ao causador direto do dano? Sim, pode, desde que
respeitada a ressalva presente na segunda parte do dispositivo. Ou seja, ascendente não
pode cobrar do descendente na via regressiva.
Se o causador do dano for descendente, o legislador entende que o pai não exerceu seu
dever de cuidado (aqui, é importante ver o Art. 928). Nesse caso, há uma corrente
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(minoritária) que defende a possibilidade de o filho contra o qual o pai não pôde voltar-se
poder ser colacionado pelos seus irmãos quando da partilha (exemplo: "despesas com o
processo crime do filho").
Lembrando que colacionar significa restituir o herdeiro com os valores anteriormente
recebidos pelos demais herdeiros, para que haja igualdade nessa divisão. - Ou seja, os
irmãos poderiam colacionar as despesas com o processo crime do irmão contra o qual o pai
não pôde voltar-se quando da partilha, desde que este tivesse um grau de discernimento do
fato ilícito que cometeu.
O fundamento da exclusão é: o pai deve tomar conta dos atos do incapaz. Mas e se o filho
for empregado do pai, pois aqui não há conexão lógica com o argumento da exclusão. Nesse
caso, o pai poderia cobrar na via de regresso, só não podendo cobrar do filho na via de
regresso nos incisos I e II, do artigo 932.
No caso do filho ser curador do pai incapaz, tutor ou curador, poderá regressar contra este.
Quem é pai, é pai porque quis e tem o dever de cuidar de seus filhos.
Art. 935 - "A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar
mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se
acharem decididas no juízo criminal."
Pode haver sentença penal que reflita no processo civil ou não (c/c Art. 91 do CP).
Quem pode executar ou impor o cumprimento de sentença é quem dispuser dos títulos
executivos judiciais, dentre os quais está a sentença penal condenatória, pois essa
sentença reconhece a existência do fato, bem como da autoria. Portanto, essa sentença, no
processo civil, constitui título executivo judicial.
Exemplos: Quem mata uma pessoa, fica obrigado a pagar alimentos para os filhos de sua
vítima. Só poderá discutir no processo civil o "quantum", mas não mais poderá discutir o
dever de indenizar (Liquidação de sentença, pois já a título executivo gerado pela
condenação na esfera penal).
Tendo sido absolvida no processo penal por falta de prova, não havendo decisão de
materialidade e autoria, poderá ser condenada no cível.
Sendo absolvida por atipicidade da conduta, não merecendo sanção, mas poderá ser
condenada no cível, pois não há decisão sobre materialidade e autoria.
Ficando provado que outra pessoa matou, nesse caso, não poderá ser condenada pois não
ocorreu a materialidade.
Absolvição por Legítima Defesa ou Estado de Necessidade (faz coisa julgada no cível):
Se em sua defesa, atinge outrem, esse terceiro pode ajuizar ação indenizatória.
Se houver uma sentença penal contra o empregado que matou alguém, essa sentença
poderá fazer coisa julgada contra o empregador que não se defendeu? Não, pois o
empregador não pôde exercer o contraditório.
Quem for absolvido por falta de provas no processo penal poderá ser condenado no
processo civil? Sim, em razão da independência existente entre o processo penal e o
processo civil.
É preciso analisar se o fato delituoso e a autoria foram ou não decididos. Quem for
absolvido por legítima defesa ou por estado de necessidade (Art. 91 do CP) praticou ato
lícito; portanto, sendo lícito, se a vítima requerer indenização na área cível certamente
perderá a ação.
Exemplo: Um fazendeiro foi assassinado por seu vizinho. A família do morto ajuizou ação
contra o suposto assassino que foi condenado a pagar indenização à viúva e aos filhos na
área cível. Mas, tempos depois, na esfera penal, foi absolvido por legítima defesa real. O
STJ, em face do conflito de duas coisas julgadas, entendeu que a legítima defesa deveria
prevalecer e afastou o dever de indenizar, privilegiando o direito material. A legítima defesa
e o estado de necessidade, no processo civil, são indiferentes.
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20 de março
Exemplo: dono de vacas de raça entrou com ação de indenização contra dono de touro de
raça ruim o qual quebrava a cerca e cobria suas vacas de raça. Ou seja, só se exonera da
obrigação de indenizar, se provar força maior ou culpa da vítima.
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"Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua
ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta."
Necessidade Manifesta: o legislador quer dizer que, por necessitar de reparos, ruiu.
Exemplo:
Ao cair um prédio, não se isenta de responsabilidade aquele proprietário que provar que
cuidava da estrutura do imóvel. Pois, não se trata de responsabilidade subjetiva, mas
responsabilidade objetiva.
Em que consiste a ruína de edifício? Queda de parede, queda de telhado, constituem ruína
de edifício. Mas a expressão ruína teve seu conteúdo ampliado pela doutrina e
jurisprudência, com sentido finalístico, procedendo a um deslocamento do foco da
responsabilidade civil: primeiro, visava-se punir quem causou o dano; depois, passou-se a
olhar sob o ponto de vista da vítima.
O defeito em escada rolante passou a ser admitido como ruína. Esta escada machucou
alguém, responderá o proprietário do imóvel, ou o fabricante da escada rolante, bem como
aquele responsável pela manutenção.
Quem responde pela ruína do edifício, será sempre o proprietário, esse dever de reparar o
dano é do dono do imóvel.
O inquilino do edifício que ruir, com base na responsabilidade objetiva, o inquilino, não
presente no artigo 937 mas que tinha conhecimento do problema que causou o dano,
poderá responder pela regra da responsabilidade subjetiva (fundamento jurídico: 927 e
186) e então caberá prova de reforma para se isentar da culpa.
"Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das
coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido."
Trata-se de coisas não aderidas à construção. Quem pagará pelo prejuízo não poderá ser o
proprietário, pois não necessariamente é o proprietário quem habita o imóvel.
Objeto
Objeto colocado e não inerente ao imóvel. Algo que não aderiu à construção.
Responsabilidade Objetiva:
O responsável pelo imóvel (ocupante), indeniza.
Responsabilidade Coletiva
O problema surge quando não é possível identificar de onde caiu o objeto (Teoria da
Responsabilidade Coletiva).
O Direito Romano usava a ideia da responsabilidade coletiva para a corrida de bigas. Como
era impossível identificar qual dos corredores fora responsável pela morte do animal, todos
os participantes da corrida seriam devedores solidários, exatamente como ocorre nos
chamados "rachas" de carros, e ainda, no jogo de futebol de rua, por exemplo.
Na impossibilidade de identificar o responsável, ou ninguém indenizaria, ou todos
responderiam. Surgindo a responsabilidade coletiva. Se há uma atividade coletivamente
realizada, é um dos membros causam um dano, todos respondem solidariamente.
Nesse caso, o condomínio, que é parte passiva ilegítima, é que deverá pagar pelo dano, pois
é caso de responsabilidade coletiva.
O condomínio terá direito de regresso, desde que consiga identificar quem foi o causador
direto do dano. Se o condomínio fosse divido entre lado ímpar e lado par, e o vaso (ou outro
objeto) tivesse caído do lado ímpar, somente os condôminos que habitassem o lado ímpar
pagariam pelo dano causado contra a vítima da queda do vaso.
"Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as
empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos
em circulação."
- Trata de responsabilidade pelos danos causados pelas coisas (artigo deslocado no CC). Quem
coloca um produto em circulação (o fabricante e o comerciante) fica obrigado a pagar pelos
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@priscilaridade
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danos causados pelo produto. Mas o dispositivo não estabelece complemento algum, faltando-
lhe a palavra "defeito" (vide o Art. 12, do CDC):
Voltando ao Código Civil, o artigo 931 não é inútil porque ele socorre, por exemplo, uma
compra de máquina por uma indústria. O Art. 12 do CDC diz que o fabricante responderá,
independentemente de culpa, pelos danos causados pelo defeito no produto (aqui, também é
caso de responsabilidade objetiva). A diferença entre o Art. 931, do CC, e o Art. 12, do CDC, é
que o Art. 12 não colocou o comerciante, colocando-o no Art. 13 e criando as hipóteses
previstas nos três incisos do Art. 13, que dispõem sobre a responsabilidade supletiva do
comerciante:
"I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;
II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou
importador;
III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis."
Voltando ao CC, neste, a responsabilidade não é supletiva. O Art. 931, do CC, revogou o Art.
13, do CDC? O entendimento majoritário é o de que revogou.
O legislador pune quem cobra a dívida em juízo antes do vencimento. Este artigo não exclui
a possibilidade de mandar pagar indenização. Indenização cabe.
Este artigo se destina a criar uma punição, uma pena civil. Duas penas haverá para a
hipótese de cobrar antes do vencimento:
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"Art. 940. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as
quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no
primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele
exigir, salvo se houver prescrição."
Aquele que cobrar dívida em juízo, que já foi paga, fica obrigado a devolver o valor que já foi
pago, em dobro.
- Exige que haja uma cobrança judicial, ou seja, cobrança mediante ação distribuída. Aqui,
a regra tem natureza de punição de quem cobra uma dívida indevida com a intenção de
lesar quem já pagou-a. A sanção é devolver o valor pago pela segunda vez em dobro. É uma
punição bastante intensa, razão pela qual a jurisprudência resiste na aplicação desse
dispositivo, entendendo que essa regra só será cabível em caso de dolo ou má-fé.
O Código de Defesa do Consumidor não requer propositura de ação (Art. 42, § único). No
CDC, o legislador não previu má-fé, mas a jurisprudência passou a adotar a mesma regra
prevista no Art. 940, do CC. No Código Civil, a possibilidade de se aplicar a regra está
ligada apenas ao prévio pagamento. No CDC, a ilegalidade do segundo pagamento não
necessariamente decorre do primeiro pagamento.
Exemplo: pagamento de taxa indevida. Aqui, a ilegalidade está na própria cobrança da taxa
que não deveria ter sido cobrada. Portanto, no CDC, qualquer pagamento indevido está
sujeito à aplicação da regra do pagamento em dobro.
Nos dois casos, precisa haver má-fé, mas no CC precisa haver ajuizamento de ação, e no
CDC não precisa haver ajuizamento de ação. Ser "negativado" (palavra horrível!) por uma
dívida já paga enseja danos morais, o que não exclui as penas dos artigos 939 e 940 do CC.
Art. 941. Se o autor cobrou dívida já paga, o réu contesta provando que pagou e o autor
desistir da cobrança, está liberado da punição.
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@priscilaridade
Responsabilidade Civil
Professor Hamid
Existe uma regra paralela à esta, no artigo 42 do CDC, que só se aplica às relações de
consumo.
Diferenças:
1. Só se aplica a consumidores
2. Não depende do ajuizamento da ação de cobrança
3. Ao contrário do que ocorrendo no artigo 940, é obrigatório que o consumidor tenha
pago o que não deve (duas vezes a mesma dívida, fraude no cartão de crédito,
cobrança de empréstimo não contratado, por exemplo)
4. Pelo que pagou a mais, o fornecedor te pagará em dobro.
5. O fornecedor não pagará: se provar engano justificado. (Justificado engano ≠ Má-fé)
27 de março
Até agora, foram vistas as hipóteses de responsabilidade civil. Os arts. 942 e 943 trazem as
regras de fechamento do capítulo.
Responsabilidade Solidária
"Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam
sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos
responderão solidariamente pela reparação. Parágrafo único. São solidariamente
responsáveis com os autores os coautores e as pessoas designadas no art. 932."
Se o dano tiver mais de um causador, todos serão solidários para a sua reparação. Atenção!
Só existe solidariedade no caso em que a lei definir, ou se expresso em contrato.
O Art. 942 dispõe que os participantes do ato lesivo terão responsabilidade solidária pela
indenização. Ou seja, mesmo que haja vários participantes do ato lesivo, isso não significa
que haverá uma divisão de valores entre eles, quando o tema for considerado sob a
perspectiva da vítima. A obrigação solidária está regida nos arts. 264 a 285 do CC. Deve-se
olhar para qualquer um dos devedores solidários como se ele fosse o único, com o devedor
solidário devendo pagar a integralidade do prejuízo e restando-lhe, apenas, contestar isso
na via de regresso. Se há solidariedade, ela existe para ampliar a via de crédito para o
credor. Nesse caso, normalmente, o credor acionará o devedor com maior patrimônio.
21
@priscilaridade
Responsabilidade Civil
Professor Hamid
"Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e
reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista
neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o
quarto grau."
As ações poderão ser propostas por cônjuge, ascendentes, descendente, colateral até o 4º
grau.
No entanto, o que o legislador quis foi anotar a Teoria do Risco Criado: basta ter criado o
risco.
Dano
Teoria da Equivalência das Condições
Qualquer fato que tenha interferido no resultado teria nexo de causalidade com o
resultado. Exemplo: fabricante das facas amontoando, teria responsabilidade em qualquer
crime causado com o uso faça. Teoria não aceita!
"Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e
atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de
advogado."
23
@priscilaridade
Responsabilidade Civil
Professor Hamid
As perdas e danos devem considerar: danos emergentes (o que o credor perdeu; valor
necessário para voltar ao "status quo ante" [= situação anterior]) e lucros cessantes (o que o
credor deixou de ganhar/lucrar). Os lucros cessantes precisam ser diferenciados dos lucros
hipotéticos. No estudo da responsabilidade civil, é preciso estabelecer limites para o valor
indenizatório, sobretudo agora em que a culpa ficou em segundo plano. Os lucros
cessantes são aqueles que o sujeito vinha tendo, mas foram interrompidos. Os lucros
hipotéticos podem ser exemplificados com a situação de um sujeito que teve seu carro
destruído antes de começar a trabalhar como taxista.
Correção monetária, aqui, significa a correção do valor da moeda; os juros, que são frutos
civis, são a remuneração de algo que é de minha propriedade e está sendo usado por
outrem. Os juros, que são frutos civis, na relação entre iguais (art. 406, do CC), têm como
taxa a SELIC (que afasta a correção monetária porque já a contém) ou têm como taxa 1%
ao mês (com correção monetária), correspondente ao Código Tributário Nacional. Qual dos
dois é melhor? Depende da época.
A última verba que aparece no Art. 389, do CC, são os honorários de advogado. Para uma
corrente, esses honorários correspondem à verba de sucumbência. Para o professor, essa
posição é equivocada, porque esses honorários foram colocados no CC para remunerar os
honorários contratuais, e não os honorários de sucumbência. Portanto, para o professor,
esses honorários são os contratuais. No entanto, esse tema não foi pacificado até hoje.
Se não houver nexo de causalidade entre a conduta e o dano, não haverá o dever de
indenizar.
Dano Emergente: valor que você precisa para retornar à situação anterior. Exemplo:
patrimônio de R$ 100, após o dano passa a valer R$ 80,00, assim o dano será de R$ 20,00.
A jurisprudência com o apoio da doutrina tem indenizado alguns casos de lucro hipotético,
por estar muito perto de se realizarem.
Antes da CF/88 não havia danos Morais, considerava-se aviltante, desrespeitoso parear e
quantificar o sofrimento de alguém.
24
@priscilaridade
Responsabilidade Civil
Professor Hamid
A jurisprudência aceita o lucro hipotético no caso da família quer tem filho menor que sofre
dano.
No caso do atraso da entrega do imóvel: dano moral pelo atraso e o aluguel.
Abre o estudo dos danos. A vítima nunca receberá além do valor do prejuízo. Essa regra
não se aplica aos danos morais porque esses não têm mensuração, não se podendo dizer
qual é o seu limite. Ou seja, a culpa pode ser pequena, mas o prejuízo decorrente dela pode
ser grande. Equidade = justiça. Portanto, o juiz tem aqui a possibilidade de mandar pagar
menos, abaixo do prejuízo.
Trata de dano material, só pode ser aplicada esta regra da desproporção nos casos de
responsabilidade subjetiva.
Essa regra existe para estimular a cautela das pessoas. Trata-se de uma regra de exceção,
pois há dever de indenizar, vai pagar indenização, mas há um bônus para quem te vê
pouca culpa.
E se aquele que tem uma culpa pequena for milionário? Nesse caso, deve-se ou não aplicar
a regra da equidade? Não, pois a regra da equidade deve ser aplicada apenas em face
daquele que ficará em situação de penúria econômica em razão do pagamento pelo dano
provocado por ele. A culpa é sempre ligada à ideia da previsão, bem como à
negligência, imprudência e imperícia. Ser negligente é prever o resultado e deixar de
tomar medidas que poderiam evitar o dano. Segundo Silvio Venosa, "culpa é a
inobservância de um dever que o agente devia conhecer e observar" (CC Interpretado, 2013,
p. 1108).
08 de maio
25
@priscilaridade
Responsabilidade Civil
Professor Hamid
Exemplo: ao matar um pai de família, seus filhos e cônjuge é que ficaram sem meios de
sustento. O artigo 948 propõe um critério para fixação da indenização a ser paga a família
do morto.
O artigo 948 é usado como critério para o pagamento da indenização à família do morto.
"Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a
duração provável da vida da vítima."
Lógica Geral
- A verba alimentar, disposta no Art. 948, inciso II, não é igual aos alimentos do Direito de
Família. Não se aplicam aos valores de natureza alimentar os mesmos critérios de fixação e
regras do Direito de Família (possibilidade de quem paga é necessidade de quem recebe),
não estando essa verba alimentar sujeita à prisão nem à ação revisional de alimentos.
É uma verba alimentar de natureza indenizatória que é fixada no momento da morte e paga
em uma única vez. Não está sujeita aos critérios de indenização do Direito de família, que
são: possibilidade de quem paga é necessidade de quem recebe, aqui, na verba
indenizatória não se utiliza esse critério, pois aqui calcula-se o máximo de ganho do
falecido e mandar pagar apara quem tem o direito de receber a verba.
Uma vez que o valor máximo será pago, não haverá melhora neste valor.
Essa verba será paga para quem o falecido devia alimentos. Basicamente: cônjuge,
descendentes, ascendentes e ainda, colaterais (irmãos).
Mera Liberalidade
Não se trata de custear a sobrevivência.
Exemplo: Avô assassinado que pagava a escola de natação do neto. Esse valor não é
juridicamente exigível, porque não é uma verba compulsória, mas sim ligada à liberalidade
do avô. Se o falecido pagasse alimentos aos filhos menores e à ex-mulher, a ex-mulher
poderia pedir verba de indenização ao homicida do ex-marido. Se o falecido tiver
ascendente cujo sustento era provido por ele, o ascendente também poderá pedir a verba de
indenização ao homicida.
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@priscilaridade
Responsabilidade Civil
Professor Hamid
Decreto de Prisão
A verba tem natureza alimentar, mas tem cunho indenizatório, ou seja, embora tenha
natureza alimentar, por não ser verba de alimentos de família não autoriza decreto de
prisão.
Mas nada impede que o juiz impeça o devedor de usar meios coercitivos para o fim de obter
o pagamento, inclusive de verbas pecuniárias (Artigo139).
Valor da Indenização:
Se a renda for variável, deve-se obter a renda média dos últimos três anos;
Se não ganhava nada (trabalhador informal), o valor será calculado sobre o salário mínimo.
Quem recebe
A verba alimentar indenizatória será dividida entre os filhos menores e os credores
(cônjuge, ascendente).
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@priscilaridade
Responsabilidade Civil
Professor Hamid
SEMPRE Podem exigir alimentos: cônjuge (dever recíproco de prover sustento) e filhos
menores (porque o poder familiar obriga o pai a sustentar os filhos menores).
O pagamento será feito na proporção do valor que ganhava. Não será o valor inteiro que
ganhava que será pago aos cônjuge e descendentes, pois supõe-se que ele iria gastar
consigo parte deste valor. Esta despesa que consome com sua sobrevivência é estimada em
1/3 do que ganhava, assim, o valor da pensão devida será de 2/3 do valor da renda do
falecido.
Se estava separado do cônjuge, continua a pagar o valor fixado e o restante vai para os
filhos menores.
Se o cônjuge sobrevivente vem a falecer, sua metade não deixa de ser paga, pela regra do
"direito a acrescer", significa que o valor que deixa de ser utilizado por um passa a acrescer
a pensão dos demais.
Até quando?
Cônjuge:
1. Até a morte
2. Novo casamento (união estável), pois não se admite ao adultério no Brasil, de modo
que, se surge outra pessoa com o dever de prover o sustento desta, não pode manter
o anterior.
3. Prazo máximo: data em que se supõe que o falecido morreria de morte natural:
A verba alimentar indenizatória deverá ser paga até a data em que se supõe que o falecido
viveria se não tivesse sido assassinado. Hoje, a expectativa de vida gira em torno de 73
anos de idade.
Filhos Menores:
1. Até os 24 anos, pois supõe que os filhos viveriam por conta própria Ou até a
conclusão da faculdade.
2. Casamento
3. Expectativa de vida
Art. 533, § 3o, do CPC/2015, dispõe que, presentes determinadas circunstâncias, o juiz
poderá alterar a sentença, a qual não faz coisa julgada apenas e tão somente em relação ao
valor.
Se sobrevier modificação após a sentença, pode reclamar uma revisão da sentença.
28
@priscilaridade
Responsabilidade Civil
Professor Hamid
Pensão do INSS
Qual é a segunda figura que deve ser estudada? A figura da mãe de família. A mãe de
família encaixa-se na mesma situação do pai de família.
Se a mãe não trabalhar fora nem dentro de casa, a perda dessa mãe não gerará prejuízo
material, mas poderá gerar dano moral. Pode-se, inclusive, pensar em dano moral periférico
(ex.: gastos com psicólogo), mas não será verba de natureza alimentar, porque ela não tinha
renda.
Já para uma mãe que faz o trabalho doméstico, a perda material será o custo de uma
empregada doméstica, embora também enseje dano moral. Nesse caso, pode ter algo a
mais? Sim, pois essa mãe podia fazer outras coisas além do trabalho doméstico.
Aqui, a remuneração é integral para os filhos até que eles saiam de casa (situações
presumíveis). Para o marido, a pensão pela morte da esposa que não trabalha fora é
indenizável até o momento em que o marido se casar novamente, podendo durar até a
morte efetiva do marido que não voltar a casar-se. Vale aplicar aqui o direito de acrescer,
ou seja, o serviço que era remunerado para o pai, passa a ser para os filhos. Aqui, não se
aplica o raciocínio geral. Lembrando que tudo o que se disse sobre o casamento é válido
para a união estável.
Em relação ao filho com menos de 18 anos, a morte do filho tem dano moral e, em regra,
corresponde ao maior valor que se arbitra. Antes de 1988, não havia pagamento de dano
moral no Brasil a não ser para crimes contra a honra. Matar uma criança não ensejava
indenização por dano moral nem por dano material, porque a criança não trabalhava
(e lucro hipotético não é indenizável).
29
@priscilaridade
Responsabilidade Civil
Professor Hamid
Isso incomodava a jurisprudência que fez uma espécie de "gambiarra" que se sustenta até
hoje: aos 14 anos a criança começaria a trabalhar e ganharia um salário mínimo até os 24
anos, dando 2/3 desse salário para os pais.
Com a previsão expressa do dano moral pela CF/1988, isso começou a ser questionado.
Hoje, o STJ não tem dado dano material para morte de criança nos casos de família de
classe média para cima, porque a suposição de que a criança de classe média começaria a
trabalhar aos 14 anos de idade é absolutamente falsa.
Mas diante da hipótese de família de baixa renda, o STJ continua a aplicar essa lógica, pois
as famílias de baixa renda geralmente contam com o dinheiro ganho pelas crianças. O STJ
determinará o pagamento dessa pensão (2/3 da renda do filho morto) até que o filho morto
completasse 24 anos e 1/3 da renda daí em diante até a morte dos pais do filho morto ou
até a data em que ocorreria a morte presumida do filho morto (teoria inviável, pois a data
presumida da morte do filho ultrapassa em muito a data da morte dos pais). Essa é a lógica
em relação à morte do filho. Relativamente aos ascendentes e parentes colaterais, só haverá
dever indenizatório se surgir uma ação jurídica (previsão de pagamento de verba alimentar).
Mas a obrigação indenizatória só tem sentido mediante o reconhecimento de um dever
jurídico. Se for por liberalidade, não haverá dever indenizatório.
Até 24 anos
Trabalha: tem o dever de colaborar , esse auxílio, 2/3 até a data quando completaria 24
anos.
A jurisprudência: aos 24 anos sairá de casa. Mas não é possível dizer que deixaria de
ajudar os pais. Logo, pagará 2/3 até 24 anos e reduzirá para 1/3.
Até 14 anos
Não tem indenização por dano material (classe média).
15 de maio
"Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das
despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum
outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido."
30
@priscilaridade
Responsabilidade Civil
Professor Hamid
Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou
profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas
do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão
correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que
ele sofreu.
Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada
e paga de uma só vez.
Jurisprudência:
Elevação da lesão – eleva-se a indenização.
Diminuição da Lesão – (CPC - artigo 533, §3º): prevê a possibilidade de modificação da
mesma maneira que prevê para a elevação. A jurisprudência não admite a utilização desta
regra, pois presume-se que a vítima faz um esforço extra para se recuperar, e o esforço da
vítima não pode beneficiar quem indeniza.
É possível cumular, assim como no caso da morte, com o auxílio acidente do INSS (pode,
pois quem custeia é a própria vítima).
Parágrafo Único: quando se pede o pagamento a vista, o juiz vai nesse caso, arbitrar o
valor. Não há um critério tecnicamente previsto.
Para os casos de indenização por morte:
1. O parágrafo único está ligado ao caput, e este, só se refere à indenização pela perda
de capacidade para o trabalho. Do ponto de vista sistemático, só se aplica para esses
casos. Porém este, é um ponto de vista arriscado. O STJ passou a dizer que em
alguns casos, pagar à vista para vítima de indenização por perda de capacidade que
não tem capacidade para administrar o dinheiro, fazendo falta para o seus sustento
ao longo dos anos. Hoje, pode aplicar o p.único do 950 para os casos do 948 como
uma regra de aplicação analógica para situações equivalentes. Levando em conta a
perspectiva da garantia sobrevivência de quem recebe.
31
@priscilaridade
Responsabilidade Civil
Professor Hamid
O Art. 950, parágrafo único, dispõe sobre o pagamento à vista e por equidade. Verificando
quantos meses seriam pagos para a vítima, o juiz calcula um valor a ser pago à vista que
será arbitrado por equidade.
Quando a perda da capacidade o incapacitar para o trabalho, ainda que não perdendo
100% da sua capacidade, paga-se 100%. Deve-se analisar cada caso específico.
Exemplo: Cai um vaso no braço de um transeunte que leva a uma perda de sua capacidade
de trabalho de 20%. O responsável pelo acidente deverá pagar 20% sobre o valor do salário
do acidentado até a morte deste.
Aqui, não haverá expectativa de vida que só é válida para quem está morto. Esse valor é
pago para a própria vítima e não para sua família (dano direto). Mas se o acidentado não
mais conseguir trabalhar, a indenização deverá ser de 100%.
Imaginando que o sujeito acidentado perdeu 20%, mas que depois essa perda se agravou,
subindo para 40%, o que aconteceria? Nesse caso, dever-se-á aumentar para 40%, nos
termos do Art. 533, § 3o, do CC (fato superveniente que altere a situação existente à época
da prolação da sentença).
Ofensa à Honra
952, 953 e 954
Lesão pela perda de bem material, perda da liberdade e ofensa à honra (Arts. 952 a 954).
Perda da liberdade - Exemplo: cárcere privado. O CC dispõe que haverá indenização
correspondente aos lucros cessantes por conta desse fato.
A indenização por injúria, difamação ou calúnia consistirá na reparação do dano que delas
resulte ao ofendido.
Parágrafo único. Se o ofendido não puder provar prejuízo material, caberá ao juiz fixar,
eqüitativamente, o valor da indenização, na conformidade das circunstâncias do caso.
Nem toda ofensa à honra tipifica um crime, nesses casos, pode haver indenização também.
Essa lesão pode ser que provoque dano material.
32
@priscilaridade
Responsabilidade Civil
Professor Hamid
Como uma ofensa à honra poderá gerar dano material? Digamos que um veterinário
comece a ser difamado por ex-cliente e consiga provar que essas ofensas lhe ocasionaram
prejuízos econômicos. Nesse caso, as duas verbas serão cumulativas, pois uma não exclui
a outra.
O parágrafo diz: se o bem não puder ser recuperado, a vítima poderá receber o valor do
bem mais o preço de afeição (= valor afetivo), se este não se avantajar ao valor material. Ou
seja, o preço não poderá ultrapassar o preço do valor material.
Esse parágrafo deve ser lido levando-se em conta a época em que esse artigo nasceu.
Exemplo: Um rapaz tinha uma única foto em companhia de seu pai. Levou essa foto a uma
empresa para fazer uma reprodução, mas a empresa perdeu a foto. Quanto vale essa
perda? Esse parágrafo hoje não pode mais ser aplicado por duas razões: ou porque a CF
passou a permitir danos morais para tudo; ou porque é uma regra de natureza punitiva,
nada impedindo que haja punição e dano moral.
33
@priscilaridade
Responsabilidade Civil
Professor Hamid
resposta for "sim, estava", haverá nexo de causalidade. O elemento aqui é a previsibilidade,
mas, atenção, porque essa previsibilidade é diferente da previsibilidade da culpa. Outro
exemplo: um atropelado foi para o hospital e morreu em decorrência de erro médico. Nesse
caso, o Acórdão decidiu que não havia nexo de causalidade. Mais um exemplo: um rapaz
que ficara muito tempo internado em clínica de desintoxicação, tempos depois da alta,
brigou no trânsito, ficou internado por um período, devido à surra que levara do
caminhoneiro e seu ajudante, e, seis meses depois desse incidente, suicidou-se. Nesse
caso, não há nexo de causalidade jurídico, porque não está no desdobramento lógico do
fato, ou seja, foi um fato imputado exclusivamente ao suicida que lhe ocasionou a morte.
Último exemplo: um preso fugiu do presídio e, 10 meses depois, na companhia de três
comparsas, praticou crime de estupro seguido de morte. A família da vítima ajuizou ação
contra o Estado, ganhou a ação, mas o Estado não pagou. No entanto, um famoso civilista
- Moreira Alves - entendeu não ter havido nexo de causalidade devido ao surgimento de um
fato externo que interferiu na ruptura do nexo (presença de outros comparsas e distância
temporal). A prognose retrospectiva deve estar ligada ao desdobramento natural do fato
causador do dano. Portanto, o chamado dano remoto não é indenizável nem se indenizam
"esperanças desfeitas, nem danos potenciais, eventuais, supostos ou abstratos" (Op. cit, p.
363). As principais excludentes da responsabilidade civil são: estado de necessidade,
legítima defesa, culpa da vítima, caso fortuito ou força maior e cláusula de não indenizar.
As concausas preexistentes, que já existiam quando da conduta do agente, não eliminam a
relação causal. Exemplo: condições de saúde preexistentes da vítima, ainda que agravem o
resultado, em nada diminuem a responsabilidade do agente. Ocorre o mesmo em relação à
causa concomitante e à causa superveniente. Esta só terá relevância quando, rompendo o
nexo causal anterior, erigir-se em causa direta e imediata do novo dano.
954
.....
34
@priscilaridade
Responsabilidade Civil
Professor Hamid
A primeira causa excludente é a culpa da vítima. Pela teoria dos danos diretos e imediatos,
o fato que surge entre a conduta e o dano capaz de romper o nexo é a atuação da vítima .
Ou seja, quando o evento danoso acontecer por culpa exclusiva da vítima, desaparecerá a
responsabilidade do agente. Aqui, o fato que interveio foi oriundo do comportamento da
própria vítima. A culpa exclusiva da vítima exclui o dever indenizatório; já a culpa
concorrente da vítima não exclui, mas diminui o valor a ser indenizado. Ou seja, quanto
maior for a culpa da vítima, tanto menor será o valor a ser indenizado. Isso porque o
partilhamento dos danos deve ocorrer na proporção da gravidade da culpa da cada agente,
nos termos do artigo 945, do CC. Olhando para o caso concreto, muitos percentuais
poderão ocorrer. Existem vários Acórdãos que tratam de acidentes com motociclistas que
são atropelados e machucam a cabeça por estarem sem o capacete. Não tendo o capacete, o
dano é maior. Em casos como esses, a jurisprudência deduz 20% do montante gasto com o
tratamento, porque houve culpa concorrente. Segundo Carlos Roberto Gonçalves:
“Quando a vítima do atropelamento for criança, que sobrevive ao acidente, não há como
falar-se em concorrência de culpas, se os autos revelam alguma parcela de culpa do
condutor do veículo. A culpa de terceiro, no caso, culpa ‘in vigilando’, dos pais da criança,
não pode opor-se aos direitos desta.” (In: Direito Civil Brasileiro. Vol. IV. p. 475.)
Atenção - Quando se fala em culpa da vítima, deve-se fazer uma ligação com o Código de
Defesa do Consumidor no qual há dois artigos que tratam de Responsabilidade Civil, o Art.
12 e o Art. 14. Uma das hipóteses do CDC fala em culpa exclusiva da vítima, nos termos do
art. 12, § 3º, inciso III. Mas mesmo nas relações de consumo, quando o dano for
proveniente de defeito, a culpa da vítima reduzirá o dever de indenizar. Isso ocorre porque
não se pode permitir que o consumidor use o produto com total negligência ou
imprudência.
A segunda hipótese de excludente é a que trata de culpa de terceiro e força
maior. Conforme disposto nos arts. 929 e 930, do CC, e segundo Carlos Roberto Gonçalves,
“predomina o princípio da obrigatoriedade do causador direto em reparar o dano. A culpa
de terceiro não exonera o autor direto do dano do dever jurídico de indenizar” (Op. Cit., p.
476). Caberá, no entanto, ação de regresso contra o terceiro que criou a situação de perigo,
para reaver a importância gasta no ressarcimento do dano. O agente somente se eximirá da
responsabilidade de indenizar quando o ato de terceiro for causa exclusiva o prejuízo, pois,
nesse caso, desaparecerá a relação de causalidade entre a ação ou omissão do agente e o
dano. Carlos Roberto Gonçalves afirma:
“A exclusão da responsabilidade se dará porque o fato de terceiro se reveste de
características semelhantes à do caso fortuito, sendo imprevisível e inevitável. (...) somente
quando o fato de terceiro se revestir dessas características, e, portanto, equiparar-se ao
caso fortuito ou à força maior, é que poderá ser excluída a responsabilidade do causador
direto do dano.” (Op. cit., p. 476).
Se um motorista estava em alta velocidade em via que lhe era preferencial e foi abalroado
por outro veículo que desrespeitou o sinal de "Pare", a culpa do primeiro só será excludente
quando a culpa do segundo for integral; quando a culpa for concorrente, não haverá
ruptura do nexo de causalidade nem exclusão do dever de indenizar. O que é força maior?
O Código Civil define, no parágrafo único do Art. 393, o que é força maior e caso fortuito. A
doutrina não faz mais a distinção entre caso fortuito e força maior, pois essa classificação é
inútil para o sistema jurídico. Ser imprevisível não é o marco da definição; o marco da
35
@priscilaridade
Responsabilidade Civil
Professor Hamid
definição é ser inevitável. A ação humana também pode ser inevitável, a exemplo dos
roubos a empresas de transporte de valores. Fortuito interno é quando algo é inevitável em
determinadas atividades, a exemplo de saques feitos por hackers em contas
correntes. Logo, fortuito interno é o inevitável usado em uma determinada cadeia
produtiva. Esse fortuito interno não exclui o dever de indenizar. Em regra, o fortuito
interno ocorre em atividades de risco. Existe um fortuito interno que está fora da atividade
de risco, mas que, ainda assim, não exclui o dever de indenizar: acidente de trânsito
ocasionado por defeito mecânico do carro. Isso decorre de não haver regra específica pela
guarda do bem móvel inanimado. Há regra para bens imóveis, mas não para bens móveis.
Por isso, a jurisprudência entendeu haver presunção de culpa absoluta, mesmo que o
motorista prove ter feito a revisão do carro na semana anterior. Esse é o entendimento
atual da jurisprudência. Há uma excludente em razão de ter havido prescrição. A
prescrição está no Art. 205 e Art. 206 do CC, os demais dispositivos tratam da decadência.
Qual o prazo de prescrição para a responsabilidade civil decorrente de dano? É de três
anos. Mas há uma "pegadinha". A "pegadinha" diz respeito ao fato de que se pode ter dano
de relação extracontratual ou contratual. A prescrição de três anos só se aplica aos casos
de dano extracontratual, porque a jurisprudência e a doutrina consideram que, para dano
proveniente de relação contratual, o prazo é de dez anos que corresponde ao prazo geral do
Art. 205 (lembrar que o acessório segue o principal). Pela teoria do dever de mitigar o dano,
quem foi vítima de dano tem o dever de agir para não fazer com que o causador do dano
pague mais do que o necessário, para estabelecer o "status quo ante". Exemplo: dono de
carro envolvido em acidente que deixa o carro abandonado por uma semana antes de tomar
as providências devidas.
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@priscilaridade
Responsabilidade Civil
Professor Hamid
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@priscilaridade
Responsabilidade Civil
Professor Hamid
de caso a caso. Para se chegar ao teto, é preciso ter havido culpa intensa, com grande
sofrimento para a vítima. O dano moral por morte não permite que se reestabeleça o
"status quo ante". O que o dano moral por morte faz é uma compensação. É por isso que
ninguém pode enriquecer por meio do dano moral. O último critério é o caráter punitivo do
dano moral. Essa é a questão mais polêmica, porque, pelo princípio da legalidade, não se
pode punir sem prévia previsão legal (ver artigo de Maria Celina Bodin). O caráter punitivo
do dano moral considera que, assim, a vítima se sente mais compensada.
Dano moral provocado pelo descumprimento de contrato - O mero descumprimento
contratual não gera direito de indenizar. Exemplo: atraso em entrega de produto ou de
imóvel. Isso porque, quando se faz um contrato, existe a possibilidade de descumprimento
do contrato pactuado. No entanto, há que se avaliar o caso concreto. Depois de 30 dias de
internação em hospital psiquiátrico, se o plano de saúde se recusar a pagar, estará
procedendo a um exercício de direito, visto que, depois desse período, os contratos mais
recentes estabelecem que haveria obrigação de coparticipação. Mas a cláusula que limita a
internação em UTI é abusiva, conforme a jurisprudência. Cabe indenização por dano moral
a pessoas jurídicas, sempre que forem compatíveis os direitos de personalidade das pessoas
físicas e das pessoas jurídicas, embora uma corrente doutrinária critique isso, por
considerar que essa indenização deve ser por danos patrimoniais que não podem ser
provados. Para essa corrente, a dignidade da pessoa humana não se equipara à pessoa
jurídica.
38
@priscilaridade