Happily Letter After - Vi Keeland & Penelope Ward
Happily Letter After - Vi Keeland & Penelope Ward
Happily Letter After - Vi Keeland & Penelope Ward
SADIE
1 Desejos de Natal
assento, curiosa sobre essa pessoa que estava impaciente
demais para esperar mais alguns meses.
Querido Papai Noel,
Meu nome é Birdie Maxwell e tenho dez anos e meio.
A primeira linha me fez sorrir. Com que idade parei de
dizer e meio? Tecnicamente, eu tinha 29 anos e meio. Mas
certamente não queria me aproximar mais dos trinta do que o
necessário. Hoje em dia, preferia dizer final dos vinte anos do
que minha idade real. Birdie, por outro lado, provavelmente
queria parecer mais madura. Eu também fazia isso nessa
idade. Voltei a ler, curiosa para saber qual era o desejo da
menina.
Embora esteja escrevendo esta carta, não tenho certeza se
acredito mais em você. Sei que parece idiota, já que estou
escrevendo e tudo. Mas tenho meus motivos. Você me
decepcionou. Se realmente existe um você. Talvez esta carta
nunca seja aberta porque você não existe. Eu não sei.
Enfim, há quatro anos, escrevi uma carta para você e pedi
para fazer minha mãe melhorar. Ela estava com câncer. Mas ela
morreu em 23 de dezembro. Quando chorei e disse que você não
existia, papai me disse que o Papai Noel era só para crianças e
não dava certo pedir coisas para adultos. Então, no ano
seguinte, pedi uma Schwinn azul com uma cesta branca com
flores rosa, um sino que emitia um som de grasnido e uma placa
de carro com meu nome. Nada nunca vem com o nome Birdie.
Não ímãs, ou canecas de café, e, definitivamente, não placas de
bicicleta. Mas você conseguiu. Minha bicicleta é super incrível,
mesmo que papai diga que minhas juntas estejam começando a
se arrastar no chão quando ando nela.
Então, no ano passado, pedi um cachorrinho. Eu realmente
queria um Dogue Alemão chamado Marmaduke, com um olho
azul e outro castanho. Mas você não trouxe um
cachorrinho. Papai tentou me dizer que Papai Noel não traz
presentes vivos. Ele não sabia que Suzie Redmond, a garota
mais chata da minha classe, pediu um porquinho-da-Índia e
ganhou um do suposto Papai Noel. Enfim, como eu disse, não
tenho certeza se você é real. Ou se alguma das regras que papai
me falou que o Pai Noel tem de seguir são verdadeiras. Mas
achei que essa seria uma boa forma de enviar minha lista deste
ano. Bem, não é realmente uma lista, mas quero uma grande
coisa...
Se você for realmente o Papai Noel, pode trazer uma amiga
especial para meu pai e para mim? Meio como uma mãe, mas
não uma mãe porque eu só tenho uma mãe, e ela se foi. Mas
talvez alguém que faça papai rir mais. E se ela souber fazer
tranças, seria muito legal. Papai é muito, muito ruim com elas.
Obrigada!
Birdie Maxwell
P.S.: Eu sei que é verão. Mas achei que demoraria um
pouco para encontrar a amiga especial certa.
P.P.S.: Se você for real, papai precisa de algumas meias
pretas. As que ele está usando hoje tinham um buraco no dedão
do pé.
P.P.P.S.: E se você for real, pode me mandar azeitonas? As
grandes negras que vêm em lata. Não temos mais e papai
finalmente me deixou usar o abridor de latas. Gosto de colocar
uma em cada dedo e comê-las na frente da TV.
Pisquei algumas vezes, absorvendo tudo. Foi a carta mais
doce e altruísta que já passou pela minha mesa. O fato de que
a menina perdeu sua mãe com apenas sete anos fez meu
coração doer. Eu tinha seis anos e meio quando minha mãe
morreu de câncer. E, oh meu Deus… Eu tinha acabado de
pensar na última vez que vi minha mãe e percebi que me
lembrava da minha idade – seis anos... e meio.
Oh, Birdie. Eu te entendo totalmente. Nos anos após a
morte da minha mãe, meu pai raramente sorria também. Meus
pais foram namorados no ensino médio. No Dia dos
Namorados na nona série, ele lhe deu um anel de brinquedo
de diamante enquanto estava na frente da pizzaria no final do
quarteirão da escola. Cinco anos depois, ele a levou de volta ao
local exato e propôs com um anel de verdade. O amor deles era
do tipo que as meninas sonham. Embora inspirador, o
romance deles tinha um lado negativo. Meus pais
estabeleceram um padrão tão alto de como deveria ser um
relacionamento que me recusei a aceitar.
Suspirando, reli a carta. Na segunda vez, tinha lágrimas
nos olhos quando terminei. Eu não tinha certeza do que
poderia fazer por Birdie, mas tive o desejo repentino de ligar
para meu pai. Então fiz isso.
Como uma nova-iorquina típica, eu não fazia compras de
alimentos, mas visitava o minúsculo mercado da esquina no
caminho para minha casa todos os dias. Cairo, o cara que
trabalhava atrás do balcão, se mudou de Bahrein para cá com
o sonho de se tornar um comediante de stand-up. Ele tratava
seus clientes como se fôssemos seu público-teste.
Comecei a descarregar os itens da minha cesta no balcão.
— Ontem à noite, eu disse à minha esposa que ela estava
franzindo muito as sobrancelhas. Ela pareceu surpresa.
Eu ri e balancei a cabeça. — Fofo, Cairo. Mas você me
conhece, eu gosto das sujas.
Cairo olhou em volta e fez sinal para que eu me
inclinasse. — Uma menina notou que começou a crescer
cabelo entre suas pernas. Sem saber o que era, ela ficou
nervosa e perguntou à mãe se era normal. A mãe dela
respondeu: ‘É normal, querida. Isso é chamado de macaco.
Significa que você está se tornando mulher’. A garota ficou
animada. Naquela noite, no jantar, ela se gabou disso para a
irmã. ‘Meu macaco tem cabelo agora!’ Sua irmã sorriu. ‘Grande
coisa. O meu já comeu uma dúzia de bananas’.
Eu ri. — Mantenha essa no número.
Cairo apontou para o corredor atrás de mim. — Você
viu? Encomendei mais daqueles biscoitos de chocolate que
você gosta tanto.
Eu gemi. Biscoitos de wafer Pirouline com recheio de
avelã era meu ponto fraco. Tinha sorte que a maior parte do
meu peso ia para a minha bunda, e traseiro grande estava na
moda agora. — Eu disse para você parar de encomendá-los.
Ele sorriu e acenou com a mão. — Vá. Por minha conta.
Suspirei. Mas, ainda assim voltei pelo corredor. Por que…
bem… biscoitos. A pequena loja local de Cairo não tinha lógica
para a colocação do produto. As esponjas estavam empilhadas
ao lado do espaguete e do outro lado estavam os biscoitos.
Peguei a caixinha da frente e, quando me afastei, notei uma
pilha de latas perto de onde eu tinha acabado de pegar os
biscoitos wafer. Azeitonas pretas. Sorri, pensando em Birdie, e
comecei a voltar para o caixa. Dei apenas três passos antes de
me virar e pegar duas latas de azeitonas da prateleira.
Cairo começou a me contar três piadas terríveis sobre
azeitonas enquanto eu acabava de pagar minhas compras. Saí
com dois sacos de mantimentos e não tinha ideia do que diabos
faria com as azeitonas, mas por alguma razão, cantarolei Jingle
Bells todo o caminho para casa.
CAPÍTULO 2
SADIE
*-*-*
SADIE
SADIE
*-*-*
SADIE
2 Birdie em inglês.
curiosa. — Ela mencionou em uma de suas cartas que se
levantou no meio da noite e flagrou seu pai conversando com
uma mulher em seu laptop. Ela disse que se assustou e voltou
correndo para a cama. Fiquei pensando se você namorava
quando eu era pequena. Sempre achei que você não teve
nenhuma mulher na época, porque não fez isso na minha
frente. Suponho que fui ingênua.
Meu pai olhou para sua xícara e acenou com a cabeça. —
Eu nunca vou amar ninguém como amei sua mãe. Você sabe
disso. Nenhuma quantidade de namoro naquela época
apagaria isso. — Ele olhou para mim novamente. — Mas a
solidão pesa eventualmente. E havia momentos em que eu
dizia que ia jogar pôquer com os caras ou que ia para a casa
do seu tio Al quando realmente me encontrava com uma
mulher.
Eu balancei a cabeça, absorvendo essa revelação por um
momento. — Que idade eu tinha então?
— Provavelmente foi cerca de quatro anos depois que
mamãe morreu, então talvez dez? Nos primeiros anos, eu não
fui capaz de sequer considerar olhar para outra mulher. Mas
assim que alcancei a marca de três anos, bem, passou a ser
sobre um homem ter necessidades. Não tinha nada a ver com
querer seguir em frente de sua mãe. Você sabe o que eu quero
dizer?
Era difícil imaginar meu pai fazendo sexo, mas,
infelizmente, eu sabia exatamente o que ele queria dizer. —
Claro. Eu entendo isso agora. E não é como se você pudesse
ter explicado o sexo casual para mim naquela época. Se eu
tivesse te visto com uma mulher, teria presumido que estava
tentando substituir minha mãe. Isso teria me chateado.
— Bem, foi isso que imaginei. Então… Tentei não abrir
uma lata de minhocas. Mas, honestamente, se eu tivesse
encontrado alguém especial, poderia tê-la trazido
eventualmente, porque teria sido bom para você ter uma
influência feminina positiva em sua vida.
Eu o encarei, pensando no fato de que eu definitivamente
ansiava por uma influência feminina quanto mais velha ficava.
— Chegou um momento, quando entrei na minha
adolescência, que realmente desejei que você encontrasse
alguém… não só por você, mas por mim.
— Não estava escrito. Tive o grande amor da minha vida,
mesmo que não por muito tempo. E agora… Não preciso de
ninguém além de você. — Ele sorriu e bateu algumas vezes na
mesa com os nós dos dedos. — E venci o câncer. O que mais
posso pedir?
Quando eu era adolescente, meu pai foi diagnosticado
com câncer de cólon. Lembro-me de pensar que o diagnóstico
dele seria o fim da minha vida, porque se eu perdesse meu pai
além de minha mãe, como poderia continuar? Ele era tudo
para mim. Graças a Deus, por algum milagre, os tratamentos
funcionaram e meu pai permanece em remissão até hoje.
Papai se levantou e foi até o bule quase vazio, depois o
ergueu. — Quer outra xícara?
— Não. Ao contrário de você, não posso beber um bule
inteiro de café sem repercussões. Tenho certeza que se
enfiassem uma agulha na sua veia, tudo o que sairia é Maxwell
House3.
Maxwell House.
Maxwell.
Isso me atingiu em cheio.
A lata esteve no balcão o tempo todo, mas só agora fiz a
conexão entre o sobrenome de Birdie e a marca de café que
meu pai sempre usou.
Maxwell House.
Eu me perguntei como seria a verdadeira casa dos
Maxwell. Então, é claro, minha mente vagou para Sebastian
Maxwell – seu lindo rosto e cabelo. A maneira como ele cuidava
de sua filha no parque. Birdie disse que ele era dono de um
restaurante – me perguntei como seria.
— Você ainda está comigo? — Meu pai perguntou, me
tirando do meu devaneio.
— Sim. Eu só estava pensando...
— Sobre Birdie?
— Indiretamente, sim. — Bebi o último gole de café e
suspirei. — De qualquer forma, espero que ela não responda.
Por mais que eu ame realizar esses pequenos desejos, não
posso continuar fazendo isso para sempre – brincando de
Deus.
Ele sorriu. — Por falar em Deus, não oro por muito além
da saúde hoje em dia, mas oro para que um desses perdedores
que você leva para passear no trabalho acabe te
SADIE
Eu digitei.
Restaurante Sebastian Maxwell.
As teclas clicaram quando eu imediatamente deletei as
palavras.
Não, eu não posso fazer isso.
Depois de alguns segundos olhando para o Google, digitei
novamente.
Sebastian Maxwell restaurante em Nova York.
Desta vez, em vez de deletar, pressionei — Enter.
A seção ‘Sobre nós’ de um site apareceu nos resultados
da pesquisa.
Bianco's Ristorante.
Eu li.
O Bianco's Ristorante foi fundado em 2012 por Sebastian
Maxwell, um empresário de Nova York e sua esposa, Amanda,
um máster chef. Os Maxwells foram fortemente inspirados pela
avó paterna de Sebastian, Rosa Bianco, que emigrou do norte
da Itália em 1960. Ao longo dos anos, Sebastian salvou todas
as receitas de sua nonna e hoje, junto com o chef Renzo
Vittadini, elaborou um dos menus mais prazerosos de toda a
área tri-state4, ostentando receitas do velho mundo com um
toque moderno. A cozinha top de linha do Bianco, combinada
com seu ambiente rústico e pouco iluminado, tornam sua
saída noturna mais do que apenas uma refeição – é uma
experiência culinária.
De jantares íntimos a eventos privados, contate-nos para
fazer uma reserva.
Cliquei na guia do menu.
Cada entrada recebia o nome de uma pessoa. Torta de
Ricota Renzo, Frango Parmesão Nonna Rosa, Massa à
Bolonhesa Birdie, Manicotti Mandy.
Mandy.
Amanda.
Saltimbocca de Sebastian.
Eles tinham uma extensa lista de vinhos.
— O que você está fazendo?
Eu pulei ao som da voz de Devin atrás de mim. — Você
me assustou.
— Por que você mudou para outra tela agora?
— Por nada. Você sabe… Eu realmente não deveria estar
brincando.
Ela sorriu. — O que é Bianco?
Ótimo. Ela notou o nome no topo da guia.
Soltei um longo suspiro, mas tentei ao máximo soar
indiferente. — É o restaurante do pai de Birdie.
4 Área de três estados é um termo informal no leste dos Estados Unidos contíguo para
qualquer uma das várias regiões associadas a uma cidade ou metrópole específica
que, com subúrbios adjacentes, se estende por três estados.
— Legal! — Ela riu, muito satisfeita com minha aparente
fraqueza. — Você sabe que sou a favor da perseguição –
especialmente a perseguição daquele espécime de aparência
incrível.
— Eu sei que você apoia totalmente. Mas me sinto uma
idiota fazendo isso.
— Mas uma parte de você não pode evitar, certo?
Dei de ombros. — Ele é intrigante.
Seus olhos se encheram de entusiasmo, como uma
criança tonta que acabara de descobrir que a feira estava
chegando à cidade. — Então, quando iremos? De repente,
estou com desejo de uma grande travessa de massa al dente.
— Ah não. É aí que eu traço a linha. Perseguição online é
uma coisa. É um passatempo. Inocente, até. Mas aparecer
pessoalmente? Não. — Eu balancei a cabeça. — Não, não, não.
— É um restaurante público. Como seria perseguição?
Mexendo em alguns papéis em minha mesa, eu disse: —
Devin… deixe isso para lá.
— Você se importaria se eu desse uma olhada, então?
Armando e eu estamos procurando um novo lugar para
experimentar.
— Você vai dizer ao seu noivo que o verdadeiro motivo de
leva-lo lá é para verificar a gostosura do dono?
Ela acenou com a mão em desdém. — Ele não tem que
saber disso. Ele adora comida. Ele ficará emocionado. — Devin
se inclinou para o meu computador. — Dá para fazer uma
reserva online?
— Eu não sei. Não verifiquei porque não tinha intenção
de ir.
— Deixe-me ver, — disse ela, pegando meu mouse e
maximizando a tela antes de examinar o site. — Ah. — Ela
sorriu.
— O que você está fazendo, Devin?
Ela começou a digitar todas as suas informações. — A
única vaga é às 17 h do sábado. Parece que tudo, além disso,
está ocupado. Ainda bem que amo jantar cedo como uma
pessoa idosa, de qualquer maneira.
Balançando a cabeça, eu disse: — Você é louca.
Ela piscou. — Eu avisarei, se eu o encontrar.
*-*-*
*-*-*
Já fazia muito tempo que eu não visitava minha
psiquiatra, Dra. Eloisa Emery. Seu consultório dava para a
Times Square, o que sempre achei irônico, já que a vista de
sua janela era a coisa mais caótica que eu poderia
imaginar. Definitivamente, não era uma atmosfera relaxante
para terapia. Durante minhas sessões, eu olhava para o
enorme outdoor digital em constante mudança enquanto
tentava organizar meus pensamentos.
Há algum tempo suspeitava que precisasse examinar
minha cabeça, e hoje estava fazendo isso literalmente,
compartilhando a história de Birdie e esperando que a Dra.
Emery pudesse me ajudar a superar tudo.
Eu tinha acabado de lhe contar sobre nossas cartas e
terminei na mais recente que recebi.
— O tom desta parecia mais em pânico, — eu disse. —
Ela estava realmente preocupada que tivesse feito algo para
manter o espírito de sua mãe longe. Não houve o PS normal no
final, também, então o tom geral foi um pouco curto. Isso me
fez perceber que eu realmente piorei as coisas armando para
ela encontrar aquele cavalo, mesmo que tenha sido a borboleta
que finalmente a levou até lá.
Ela tirou os óculos e os colocou na perna. — Então você
está se sentindo culpada.
— Sim, claro. Agora há uma expectativa por mais de sua
mãe quando não há mais nada. Eu comecei uma bagunça. Sua
mãe está morta e qualquer implicação de que Birdie ainda
poderia se comunicar com ela é enganosa.
Dra. Emery colocou os óculos novamente e rabiscou
algumas coisas em seu caderno antes de olhar para mim. —
Sadie, acho que será importante para você aceitar o fato de que
não pode mudar nada que fez até agora. Você sabe agora que
brincar com o destino do jeito que você fez, por mais
encantador que fosse, não foi realmente a ideia mais sábia.
Então, acho que você realmente precisa arrancar o Band-Aid
agora.
Minhas mãos estavam suadas quando as esfreguei ao
longo das minhas pernas. — O que exatamente você quer dizer
com isso?
— Você parece incapaz de não se envolver sempre que ela
entra em contato com você. Eu acho que em algum nível, está
tão envolvida porque ela lembra de você mesma, então é quase
como se tivesse recebido esta oportunidade de fazer por outra
pessoa o que não fizeram por você. E é difícil resistir a
isso. Você também está se conectando um pouco com sua
criança interior. Mas agora sabe que se envolver é prejudicial.
E quanto mais se envolver, mais difícil será parar. Então,
talvez, se ela entrar em contato com você novamente, não deva
abrir a carta.
Balançando a cabeça repetidamente enquanto olhava
pela janela, eu disse: — Não posso fazer isso.
— Por que não?
— Porque tenho que, pelo menos, saber que ela está
bem… mesmo sem me envolver.
— Ela não sabe que você existe. Ela não sabe que você
desenvolveu sentimentos por ela. Portanto, seus sentimentos,
por mais fortes que sejam, não a afetam. Se você não se
comunicar com ela e se comprometer a não interferir mais
fingindo ser o Papai Noel, não deve se envolver de forma
alguma na vida dela. Isso inclui ler as cartas. — Ela inclinou a
cabeça. — Você pode fazer isso? Você pode cortar todos os
laços para o seu próprio bem e, em última análise, o bem desta
menina?
Olhei para o outdoor e o observei mudar cerca de três
vezes antes de finalmente dizer: — Vou tentar.
CAPÍTULO 7
SADIE
SADIE
— Bleib.
Ruff
— Bleib.
Ruff!
— O que diabos você está ouvindo? — Devin mais uma
vez me pegou vadiando no trabalho. — Isso é alemão… e
latidos?
Pressionei o botão ‘Pause’ o mais rápido que pude. Eu
estava assistindo a outro tutorial no YouTube sobre
adestramento de cães na língua alemã. Era tudo que eu
assistia ultimamente sempre que tinha algum tempo livre. Na
verdade, o adestramento de cães em alemão estava me
consumido, a ponto de na noite passada eu sonhar que estava
sendo julgada por algum crime, e todo o tribunal estava cheio
de cães gritando comigo em alemão.
— Não. — Eu balancei minha cabeça e menti. — Não é
alemão. Não sei o que você acha que ouviu.
— Não? O que era então?
Não havia nenhuma maneira de eu sair dessa.
Eu admiti. — Ok, era.
— Eu sei que era… porque minha avó Inga é alemã. Você
viajará em breve? — Ela sorriu com a perspectiva de eu viajar
para o exterior. — Um artigo de namoro internacional! Eu
estaria totalmente pronta para ser sua assistente nisso!
Devin não tinha ideia da bagunça em que me meti. Mas
eu ia explodir se não contasse a alguém. Se alguém entenderia
e não me internaria, seria Devin. Só Devin.
— Nenhum artigo de namoro internacional. — Suspirei.
— Mas tenho que te contar uma coisa, e é melhor você sentar
para isso.
*-*-*
6 Em inglês, hymen remover, o que soa parecido com Heimlich maneuver (manobra de
Heimlich).
Ela acabou de dizer ‘removedor de hímen’? Claramente,
ela se referia à manobra de Heimlich. Eu teria rido se ele não
estivesse me lançando um olhar mortal.
Sebastian estreitou os olhos em confusão. — Quem é
Sadie?
Ela apontou para mim e começou a falar muito rápido. —
A adestradora! Ela só usa Gretchen para trabalhar. O nome
verdadeiro dela é Sadie, e Marmaduke engoliu a bolinha que
eu tirei da máquina de chicletes no supermercado outro dia.
Sadie fez essa coisa com ele e saiu. Eu estava tão assustada.
Achei que ele ia morrer.
— Foi realmente incrível, Sr. Maxwell, — disse
Magdalene.
Sebastian olhou para mim e depois de volta para Birdie
antes de se abaixar para esfregar a cabeça do cachorro,
parecendo um pouco abalado agora que absorveu totalmente
o que tinha acontecido.
Ele olhou para mim. — Você usou a manobra de Heimlich
com ele?
Deus, eu nem sabia o que fiz. Simplesmente me lembrei
das etapas daquele vídeo e entrei em ação.
— Algo do gênero, sim.
Ainda ajoelhado, Sebastian colocou os braços em volta da
filha.
— Você está bem?
Ela assentiu. — Sim.
Meus olhos focaram em suas mãos fortes enquanto ele
esfregava as costas dela.
— Por que você não vai para a cozinha com Magdalene e
pede alguns biscoitos e leite. — Ele olhou para mim enquanto
se endireitava. — Posso falar com você, por favor?
— Eu? — Falei estupidamente.
— Sim.
Quem mais?
— Claro. — Eu me virei para Birdie. — Caso eu não volte
a vê-la antes de partir, foi ótimo conhecê-la, Birdie.
— Vejo você na próxima semana, Sadie. Não beije
nenhum garoto feio.
Não tive coragem de lhe dizer que talvez não a visse na
próxima semana.
Espere… ‘talvez’? Agora eu duvidava se cortaria as coisas
depois de hoje?
Eu segui Sebastian até seu escritório. Era tão intimidante
quanto ele, de madeira escura e uma cadeira de couro marrom
escuro atrás de sua grande mesa.
Ficamos alguns metros um em frente ao outro e, antes
que ele pudesse dizer qualquer coisa, comecei a gaguejar.
— E-ela estava apenas… Escrevo para uma coluna de
namoro. Eu disse isso a ela. Ela... Foi por isso que ela disse
aquilo sobre beijar meninos. — Eu me encolhi com minhas
próprias palavras.
— Você é uma escritora?
— Sim. O adestramento de cães é… extra.
Extra, certo.
Ele assentiu e contemplou minha admissão por um
momento antes de esfregar os olhos.
— A última coisa que preciso nesta casa é aquele
cachorro. Eu bati o pé por anos sobre não ter um. Trabalho
horas demais e dificilmente consigo manter minha filha viva e
saudável, muito menos trazer o que está mais perto de um
cavalo para esta casa.
— Compreendo. É muita responsabilidade.
— Minha filha vinha pedindo um Dogue Alemão chamado
Marmaduke há nem sei quanto tempo. Eu não tinha nenhuma
intenção de tornar esse sonho realidade. Mas, algumas
semanas atrás, por algum motivo, ela se convenceu de que sua
mãe falecida estava com raiva dela por algumas coisas que ela
tinha feito. Sinceramente, não sei de onde ela tirou algumas
dessas ideias. Tudo o que sei é que a única coisa que ela
realmente desejava, mais do que um cachorro, mais do que
qualquer coisa… Eu nunca vou ser capaz de lhe dar. E isso é
ter sua mãe de volta.
Ele fez uma pausa. Lágrimas estavam começando a se
formar em meus olhos, mas fiz o meu melhor para lutar contra
elas enquanto ele continuava.
— Então fiz algo que provavelmente em retrospecto foi
uma coisa muito estúpida. Eu comprei exatamente o cachorro
que ela queria. Eu procurei em todos os lugares exatamente
pelo Dogue Alemão de pintas pretas e brancas – sem os olhos
de cores diferentes – que ela queria. Eu disse a ela que sua
mãe veio até mim em um sonho, que me disse para comprar o
cachorro, mas avisar Birdie que só porque não estava
recebendo sinais, não significava que sua mãe está brava. —
Ele olhou para longe e balançou a cabeça. — Eu basicamente
menti para minha filha para tirar sua tristeza. De alguma
forma, me convenci de que mentir pelo bem de fazer alguém
feliz anula a mentira.
Uau.
E é exatamente por isso, Sr. Maxwell, que estou diante de
você neste exato momento.
— Eu entendo isso mais do que você imagina, — eu disse,
engolindo.
— De qualquer forma, as coisas estão melhores com ela
desde que esse maldito cachorro chegou, além do fato de que
ele me acorda com a cara pegajosa todos os dias. Mas isso é
problema meu. O meu ponto é… Não posso imaginar o que
faríamos se alguma coisa tivesse acontecido com esse animal
hoje. Não só pelo cachorro, mas pela minha filha. Estou muito
grato por você estar aqui.
Minhas bochechas ficaram quentes enquanto ele olhava
nos meus olhos. A força de suas emoções era quase demais
para eu aguentar.
Eu limpei minha garganta. — Como eu disse à Birdie,
qualquer um teria feito o mesmo.
Seus olhos queimaram nos meus, parecendo desafiar
minha tentativa débil de minimizar o que tinha acontecido.
— Duvido que Magdalene soubesse o que fazer. O fato de
você estar aqui salvou a vida daquele cachorro.
— Bem, estou realmente feliz por estar… aqui, então.
Ele mordeu o lábio inferior um pouco e acrescentou: —
Também quero me desculpar por ter sido rude com você
quando chegou na semana passada. Eu estava em um mau dia
por mais de um motivo. Mas isso não é desculpa.
— Bem, eu estava… atrasada, então entendo.
Ele não disse nada enquanto enfiava as mãos nos bolsos
e continuava olhando para mim. Seu pedido de desculpas foi
uma surpresa. Provou que Sebastian definitivamente não era
o idiota insensível que pareceu durante nosso primeiro
encontro. Ele tinha um lado vulnerável. Eu podia ver isso
agora. Ele era um homem que queria proteger sua filha de ter
que passar por outra tragédia.
Tive o desejo de confortá-lo, de assegurar-lhe que
entendia como era difícil para um viúvo assumir a
responsabilidade de ser pai solteiro. Afinal, eu vivi essa vida
pelos olhos do meu pai.
Mas não disse nada. Porque, neste momento, eu estava
simplesmente dominada pela força do seu olhar e senti a
necessidade de fugir.
— De qualquer forma, é melhor eu ir andando.
Ele assentiu. — Enviarei seu pagamento para o endereço
do PayPal que você me forneceu.
— Obrigada.
Quando saí do seu escritório, ainda não tinha ideia de
como contaria a eles que não voltaria. Antes de sair pela porta,
no entanto, senti-me compelida a me virar e dizer uma última
coisa a ele. — Só para constar, Sr. Maxwell, pelo pouco tempo
que o vi e conheci sua filha, posso dizer que acho que você está
fazendo um trabalho incrível. Não estou falando da boca para
fora. Você tem uma filha incrível, e isso é, sem dúvida, pelo
tipo de pai que você é.
Ele piscou algumas vezes e não pensei que ele fosse
responder, então continuei saindo pela porta.
Sua voz me parou.
— Sadie.
Eu me virei. — Sim?
— Me chame de Sebastian. — Ele fez uma pausa e deu
um sorriso genuíno. — E... danke.
CAPÍTULO 9
SADIE
*-*-*
7 “The Tell - Tale Heart” de Edgar Allan Poe é um conto escrito no gênero de
terror. Descreve o cometimento de homicídio e depois a confissão devido a ser
atormentado por um culpado consciente.
— Eu estava começando a achar que você fugiu com meu
cachorro.
Eu meio que ri dessa ideia. Quem diabos em sã
consciência fugiria com este animal fora de controle? Apenas
uma pessoa maluca, obviamente. Oh. Espere. Talvez eu me
qualifique, então. Acho que entendia seu ponto de vista. —
Desculpe. Ficarei um pouco mais para que você tenha sua hora
completa de treinamento, se quiser.
Sebastian deu um passo para o lado, e notei que ele tinha
novamente uma folha de papel branca dobrada na mão. Só que
desta vez, não deixaria minha imaginação tirar o melhor de
mim achando que o que quer que fosse, continha alguma coisa
maligna e sinistra para me expor como uma fraude. Então
levantei meu queixo e ignorei sua mão enquanto entrava.
De volta à sala de estar, senti a presença de Sebastian ao
meu redor. Era desconfortável, mas estranhamente excitante
ao mesmo tempo. Eu limpei minha garganta.
— Há algo específico em que você gostaria de trabalhar
hoje?
Ele me observou atentamente. — Sim. Pular sobre as
pessoas.
Minhas sobrancelhas franziram. — Perdão?
— Seu site diz que é um dos truques que você ensina.
Achei que minha filha gostaria desse tipo de coisa, então queria
que você ensinasse o cachorro a pular sobre as pessoas
enquanto elas ficam de quatro.
— Você quer que eu ensine Marmaduke a pular sobre
pessoas de quatro?
Sebastian olhou em volta. — Há um eco aqui?
— Não. Mas eu só… Parece que um melhor uso do nosso
tempo de treinamento pode ser gasto ensinando Marmaduke
alguns comandos básicos. Não algo assim… avançado.
— Você não é capaz de ensinar-lhe um truque avançado?
Uh… não… Eu ainda não cheguei tão longe no YouTube. —
Claro que sou.
Sebastian deu um sorriso cínico e se sentou no sofá. Ele
esticou os braços na parte superior e chutou a mesa de centro
à sua frente. — Bom. Agora de quatro, Srta. Schmidt.
— Schmidt?
— Oh, esse não é o seu sobrenome verdadeiro? Seu site
dizia Gretchen Schmidt. Mas ainda assim você disse à minha
filha que seu nome verdadeiro é Sadie? Então, o que é agora?
Você é Sadie Schmidt ou existe outro nome?
Comecei a sentir minhas bochechas esquentando. —
Umm. Não, é Schmidt. Como disse à sua filha, só uso Gretchen
para fins de trabalho.
— Certo. Porque soa mais alemão.
— Certo.
— Tudo bem então, Srta. Schmidt. Por que você não
começa? Qual é a palavra alemã para ‘pular’?
Oh, Deus. Eu entrei totalmente em pânico e disse as
primeiras sílabas confusas que consegui tirar da minha boca.
— Flunkerbsht.
As sobrancelhas de Sebastian arquearam. — Flunkerbsht.
— Correto.
Eu poderia jurar que detectei a sugestão de um sorriso
nos cantos de seus lábios. Mas então desapareceu
rapidamente.
CAPÍTULO 10
SADIE
*-*-*
*-*-*
SEBASTIAN
*-*-*
*-*-*
SADIE
SEBASTIAN
SADIE
*-*-*
SEBASTIAN
Jesus Cristo.
Engoli em seco. O que diabos ela estava vestindo?
— Uhh. Oi. Eu não esperava que você estivesse em
casa. Birdie disse que você estava no trabalho.
Minha atração incontrolável por Sadie me irritou, e joguei
minha frustração nela. — É por isso que você está
atrasada? Quando o gato sai, o rato vem brincar?
— Não. Liguei para Magdalene e lhe avisei que meu trem
parou. Eu estava planejando ir para casa tomar banho depois
da minha aula de ioga. Mas, como o trem me atrasou uma
hora, vim direto para cá para não atrasar Birdie ainda mais
para a festa de aniversário que ela tem esta noite.
Ela tem um piercing no umbigo. Tão brilhante...
Porra. Forcei meus olhos a encontrar os de Sadie e a
encontrei olhando para mim com expectativa. Ela acabou de
dizer algo? Tentando retroceder os últimos dez segundos na
minha cabeça, acho que ela pode ter... algo sobre um trem?
Tanto faz.
Eu me afastei. — Entre. Magdalene acabou de trazer
Marmaduke de volta de uma longa caminhada, então ele está
esparramado no chão da sala de estar.
Entramos na casa e Marmaduke ergueu os olhos. Ele
avistou Sadie, e sua língua começou a sair da boca.
Sim, eu conheço a sensação, amigo.
Birdie saiu correndo de seu quarto e abraçou Sadie, que
se curvou enquanto se abraçavam, dando-me uma visão na
primeira fila de sua bunda. Cristo. Ela parecia tão bem indo
quanto vindo. Meus olhos ainda estavam grudados naquela
bunda quando ela se virou para falar comigo, e quase fui pego.
— Você conseguiu o clicker de treinamento que mencionei
na semana passada? — Ela perguntou.
Minha filha correu até a mesa de centro, pegou a
engenhoca do inferno e começou a clica-la.
Clique-clique. Clique-clique. Clique-clique.
Esse som estava me dando nos nervos por quase uma
semana desde que o trouxe para casa da loja de animais. Olhei
para Sadie, ainda me sentindo irritado, embora estivesse me
enganando se achasse que meu humor atual tinha algo a ver
com esse clicker de treinamento.
— Talvez da próxima vez você possa escolher algo um
pouco menos irritante para treinar.
As mãos de Sadie voaram para seus quadris. Seus
quadris bem torneados. — Há algo de errado?
Passei a mão pelo cabelo e resmunguei. — Estarei no meu
escritório se precisar de mim.
Felizmente, meu escritório tinha álcool. Hoje foi um longo
dia para começar. Meu gerente havia me dado o aviso prévio
de duas semanas, o que significava que teria que encontrar um
substituto e passar muito mais tempo no restaurante até que
treinasse um novo. Então, um pequeno incêndio com graxa
estourou na cozinha, inutilizando uma de nossas fritadeiras e,
finalmente, nosso carregamento de vegetais foi trocado com
outro restaurante que aparentemente planejava fazer milho
como acompanhamento em todas as refeições. Voltei para casa
mais cedo, imaginando que não teria muitas chances de fazer
isso de novo em duas semanas. Além disso, eu não tinha
dormido bem nos últimos dias por algum motivo. Então, abri
uma garrafa de vinho de onde mantinha o álcool trancado em
um aparador e me servi de uma taça bem cheia de cabernet
enquanto me sentava na cadeira.
Deus, ela é sexy pra caralho.
Eu tomei um gole do líquido roxo.
Tive a vontade mais louca de apertar os dentes em volta
daquele diamante em seu umbigo e dar um belo e forte puxão.
Tomei outro gole.
E aquela bunda. Talvez ela pudesse ensinar Duke a saltar
novamente. Aposto que seria uma visão ela de quatro com a
roupa que estava usando hoje.
Outro gole.
Como ela chamava mesmo? ‘Flunk shit’. ‘Flukerbutt’.
‘Flunkerbsht’. Era isso. ‘Saltar’ era ‘flunkerbsht’. Comecei a rir.
O som era quase maníaco.
Flunkerbsht.
Eu quero Flunkerbsht na falsa adestradora de cães.
Eu balancei a cabeça e tomei outro gole.
Na última semana, não consegui parar de pensar nela. Na
noite em que ela pegou seu iPad, estava tão vulnerável e aberta
quando perguntei sobre seu pai. Seus grandes olhos azuis
estavam cheios de emoção e sinceridade. Já fazia muito tempo
desde que conheci uma mulher que abriu seu coração para o
mundo ver. Sem mencionar que havia muitas outras partes
dela que valia a pena ver. A pequena roupa de treino que ela
usava hoje acertou em cheio esse ponto, isso era certo.
Deus, aquela roupa.
Eu bebi o resto do meu vinho.
Durante a hora seguinte, acabei com metade da
garrafa. O som de Sadie e Birdie rindo na outra sala se tornou
tão perturbador que coloquei a música no volume alto e fechei
os olhos. Então, não ouvi a batida na porta quando elas
terminaram.
— Ei. — Sadie abriu a porta o suficiente para enfiar a
cabeça dentro. — Desculpe. Você não estava respondendo.
Terminamos. Birdie só foi pegar sua mochila para a festa do
pijama. Você gostaria que eu a acompanhasse até a casa onde
é a festa do pijama? — Seus olhos se voltaram para a garrafa
de vinho e minha taça vazia. Ela sorriu. — Vejo que você está
muito ocupado.
Meus lábios franziram. — Não, está tudo bem. Sou
perfeitamente capaz de levar minha filha. Obrigado.
Os olhos de Sadie se estreitaram. Olhamos um para o
outro por trinta segundos inteiros e então ela abriu a porta e
entrou. Fechando a porta atrás dela, ela perguntou: — Está
tudo bem? Você parece… chateado. — Não a olhe.
Mantenha seus olhos no rosto dela.
— Está tudo bem.
Ela inclinou a cabeça e me avaliou.
— Você tem certeza?
Meus olhos caíram para seu estômago. Eu simplesmente
não pude evitar.
Deus, você é um idiota, Maxwell.
Olhos para cima.
Levante-os.
Vamos. Você consegue.
Sadie ficou quieta. Não podia nem dizer se ela estava
olhando para mim. Porque meus olhos estavam sobre ela…
traçando a curva de sua cintura, salivando sobre sua barriga
lisa… fantasiando sobre aquele diamante brilhante em seu
umbigo.
Ela deu alguns passos e começou a caminhar em direção
à minha mesa.
Talvez fosse o vinho, mas meu coração começou a bater
forte no peito. Tentei erguer meus olhos para o rosto dela, e
desta vez funcionou. Bem, mais ou menos.
Eles subiram, mas infelizmente, se fixaram em seu peito.
Eles são o que, tamanho C?
Agradável.
Muito agradável.
Aposto que seu decote fica muito suado fazendo ioga.
O suor quente escorrendo de seus peitos redondos
deliciosos até o umbigo.
No momento em que consegui arrastar meus olhos para
cima o suficiente para encontrar os dela, Sadie estava bem na
frente da minha mesa.
Ela balançou para frente e para trás levemente. — O que
você está fazendo, Sebastian?
Nossos olhos se encontraram, e a sugestão perversa de
um sorriso me fez pensar que ela acabara de ouvir todos os
meus pensamentos. Engoli em seco. — Nada.
— Nada, hein? Você está apenas sentado aí... olhando em
volta, então? — O canto de seus lábios se inclinou para cima.
Que espertinha.
Ela sabia exatamente o que eu estava fazendo.
Eu me endireitei na cadeira e limpei minha garganta.
— Se você terminou. Sabe onde fica a saída.
— É nisso que você está pensando sentado aí? Que você
quer que eu... saia?
Uma batida na porta do meu escritório me fez piscar
algumas vezes.
Fiquei completamente confuso quando olhei e vi Sadie
colocar sua cabeça em meu escritório.
O que...?
Ela não estava...?
Eu olhei para onde podia jurar que ela estava
parada. Demorei alguns segundos para sair disso e perceber
que devo ter cochilado por causa do vinho e estava sonhando.
Jesus.
Sadie sorriu. — Terminamos. Por que não acompanho
Birdie até sua festa do pijama para você, já que irei embora de
qualquer maneira?
— Umm. Sim. Isso seria bom. Obrigado. Deixe-me dar
boa noite para ela.
Saí para a sala de estar. Birdie já estava parada com a
mochila, um travesseiro e um saco de dormir nas mãos. —
Parece que você está pronta. — Eu me agachei até o seu
nível. — Que tal um abraço no seu velho.
Minha filha jogou os braços em volta do meu pescoço com
um sorriso enorme. — Eu te amo, papai.
— Eu também te amo querida.
— Marmaduke foi muito bem hoje! Quando Sadie clica no
botão, ele se senta agora.
— É verdade?
Ela assentiu.
— Tudo bem. — Eu dei um puxão suave em seu rabo de
cavalo. — Por que você não vai para a sua festa.
Birdie se virou começando a se afastar, mas voltou
correndo até mim. Sua pequena mão segurou minha
bochecha. — Estou bem no final do quarteirão se você precisar
de mim.
Meu coração apertou e sorri. — Obrigado. Vou me
lembrar disso. — Ela me beijou mais uma vez e então saiu em
direção à porta.
— Algo que você quer que eu diga aos pais? — Sadie
perguntou.
— Não. Vou mandar uma mensagem para Renée e checá-
la mais tarde.
— OK. — Aparentemente, aquele cochilo e minha fantasia
subsequente me fizeram bem. Consegui ter uma conversa
civilizada com Sadie e não a fodi com os olhos como naquele
sonho. Embora, quando ela se virou para seguir Birdie até a
porta da frente, eu simplesmente não pude deixar de olhar sua
bunda naquelas calças de ioga novamente. Quer dizer, estava
bem ali, na minha cara. Que homem em sã consciência não
daria uma olhada?
— Oh, quase esqueci... — Sadie se virou e meus olhos
pularam para encontrar os dela.
Foda-se.
Ela me pegou.
Se eu não tivesse certeza de que acabara de ser pego, o
sorriso de Sadie teria confirmado que ela sabia o que eu tinha
feito.
Ela nem se preocupou em tentar esconder. Estendendo a
mão, ela estendeu o clicker. — Isso é seu.
Eu desviei o olhar enquanto o pegava da mão dela. —
Ótimo. Obrigado. — Depois que ela saiu, baixei minha cabeça
atrás da porta fechada.
Deus, você é um idiota, Maxwell. Você precisa transar.
Já que teria a noite toda para mim, talvez seja exatamente
o que eu deva fazer. Estive conversando com essa mulher Irina
por um tempo, uma ocupada executiva de publicidade que
conheci online e que estava procurando o mesmo tipo de
arranjo que eu. Mas a tinha ignorado nas últimas
semanas. Talvez fosse hora de entrar em contato novamente.
Enquanto voltava para o meu escritório, onde mantinha
meu laptop, tentei me preparar psicologicamente.
Irina.
Ela era sexy.
Cabelo ruivo comprido.
Uma mulher que sabia o que queria.
Isso era exatamente o que eu precisava.
Sim, é isso.
Verei definitivamente o que Sadie está fazendo esta noite.
Irina. Quero dizer, Irina.
Chegando à minha mesa, decidi servir outra taça de vinho
antes de entrar na internet para ver se Irina estava disponível.
Sentei-me e bebi, mas decidi fechar os olhos mais uma
vez. Eu precisava de um momento para limpar minha cabeça.
Mas em vez de ganhar clareza, visões de Sadie inundaram
minha mente.
Novamente.
Ela era tão sexy.
Aquela bunda.
Aquela barriga lisa.
Aquele diamante cintilante.
Seus grandes e lindos olhos.
E aquela boca. A maneira como os cantos se curvaram
quando ela me pegou olhando sua bunda... Jesus... o que eu
não daria para foder aquela boca.
Eu ri de mim mesmo e abri meus olhos.
Que bom que ela se foi. Porque Deus sabe que coisa
estúpida eu teria feito esta noite. A mulher me fazia perder a
cabeça.
Tomei outro grande gole do meu vinho e abri meu laptop.
Exatamente quando a campainha tocou...
CAPÍTULO 16
SADIE
SEBASTIAN
*-*-*
SADIE
Falamos em breve.
Isso era o que dizia seu último texto. Mas,
aparentemente, tínhamos definições diferentes de breve.
Cinco dias e ainda sem contato.
Como se tivesse sofrido uma perda, passei pelos estágios
de luto. No começo estava em negação sobre Sebastian não
entrar em contato comigo novamente. Verifiquei meu telefone
a cada vinte minutos, embora tivesse deixado no volume
máximo e meu toque também configurado para vibrar... você
sabe, apenas no caso de ele me enviar uma mensagem ou ligar
quando eu estivesse dormindo ou algo assim. Eu sabia que
Sebastian e eu procurávamos coisas diferentes, mas até
mesmo uma conexão merecia uma conversa gratuita depois do
fato.
Depois dos primeiros dias de silêncio, comecei a ficar com
raiva. Como ele ousa não telefonar ou enviar mensagem depois
daquela noite? Eu sabia que tinha iniciado as coisas, mas ele
foi mais do que um participante voluntário. A ereção
cutucando meu quadril era uma prova positiva disso.
Então, no sexto dia, o contato finalmente aconteceu. O
número de Sebastian apareceu no meu celular, e fiquei tão
animada que o peguei nas mãos e o derrubei no chão – o que
resultou na quebra da tela. Mas ei… pelo menos ele finalmente
ligou.
Só que a voz do outro lado quando atendi não era de
Sebastian. Era de Magdalene. Ela ligou para combinar minha
próxima sessão de adestramento porque Birdie estava
perguntando quando eu apareceria. Aparentemente, o homem
da casa estava ocupado demais para ligar por si só.
Depois disso, passei pelos próximos estágios… aqueles
que deveriam vir após a negação e a raiva. Acho que são
barganha, depressão e aceitação. Mas não tenho certeza,
porque, a quem estou enganando? Não fui para qualquer
próximo estágio. Bem, a menos que ainda mais irritada fosse a
etapa após a raiva.
Agora, aqui estava eu, sábado de manhã, em frente à casa
de pedra dos Maxwell, pronta para tomar uma grande atitude
ao bater para o meu adestramento semanal.
Exceto quando a porta abriu, não era Sebastian.
Ou Birdie.
Ou mesmo Magdalene.
Era uma mulher de roupão de banho com o cabelo
enrolado em uma toalha.
Ela sorriu para mim e estendeu a mão. — Você deve ser
Sadie. Sou Macie. Seb me disse que você estaria aqui às onze,
mas parece que perdi a noção do tempo no chuveiro. A pressão
da água dele é incrível.
Seb? Chuveiro? Eu senti como se tivesse levado um chute
no estômago. Toda a minha raiva subitamente desapareceu e
pulei o estágio três e fui direto para o estágio quatro:
depressão.
— Uh. Oi.
A mulher escancarou a porta. — Entre. Sinta-se em casa
enquanto corro e visto algumas roupas.
Eu balancei a cabeça e a segui para dentro, embora tudo
que quisesse fazer era me virar e sair. A mulher seguiu pelo
corredor… em direção ao quarto de Sebastian. Em estado de
choque, fiquei ali olhando para a porta fechada e não consegui
me mover até que ela saiu.
— Pronto, assim está melhor. — Ela saiu usando jeans
justo com uma camiseta e tirou a toalha de seu cabelo. Longas
mechas vermelhas caíam em cascata ao redor de seu lindo
rosto.
— Birdie e Magdalene devem voltar a qualquer segundo.
Pisquei algumas vezes, percebendo que nem tinha notado
que elas não estavam aqui. — Oh. OK. Você está… hospedada
aqui?
— Só até amanhã. Eu não tinha planejado vir. Mas foi
uma surpresa tão boa quando Seb ligou e me convidou que
simplesmente não pude dizer não. — Ela sorriu. —
Normalmente sou eu quem me empurro sobre ele.
O ciúme pulsou em minhas veias e cerrei os dentes. Esta
mulher obviamente não tinha ideia de que, apenas uma
semana atrás, eu estava dormindo exatamente no mesmo
quarto em que ela tinha acabado de se vestir. Eu não pude me
impedir de deixá-la saber desse pequeno fato.
— Espero que ele tenha lavado os lençóis antes de vocês
dois... — Fiz um gesto com a mão em direção ao quarto de
Sebastian. — Antes de vocês dois fazerem o que quer que
tenham feito. Porque minha bunda nua esteve sobre eles
menos de uma semana atrás.
As sobrancelhas da mulher franziram. Ela começou a
dizer algo quando a porta da frente se abriu. Birdie e
Marmaduke entraram correndo, fazendo uma confusão
gigante. Magdalene entrou alguns segundos depois, sem
fôlego. Ela sorriu. — Eles correram o último quarteirão. Não
sou páreo para uma criança de dez anos e um corredor de
quatro patas.
A ruiva da cama de Sebastian se aproximou e ajudou
Birdie com o casaco. Assim que saiu de seus ombros, ela
correu para me abraçar. Eu me senti um pouco vingada. Pelo
menos Birdie gostava mais de mim.
— Sadie, podemos trabalhar em rolar hoje?
— Claro. O que você quiser.
— A tia Macie pode ajudar?
Minha sobrancelha franziu. — Quem?
— Tia Macie.
Uma sensação de pavor tomou conta de mim. A ruiva se
aproximou e colocou as mãos nos ombros de Birdie, olhando
para ela. — Eu não tive a chance de explicar quem eu era
ainda, querida. — A mulher olhou para mim. — Como minha
sobrinha disse, eu sou tia dela.
Eu fechei meus olhos. Deus, isso não pode estar
acontecendo. Por favor, diga que ela é irmã de Sebastian. Isso é
o mínimo que você pode me dar, aqui.
Engolindo, abri meus olhos. — Irmã de Sebastian?
A mulher balançou a cabeça de um lado para o outro. —
Não. Da esposa dele.
*-*-*
*-*-*
SEBASTIAN
*-*-*
SADIE
*-*-*
11 Aqui a personagem fez a troca de palavras. Usou lay, mas o correto seria day
(Como foi seu dia?).
Terça e quarta-feira, não tivemos interação, então ontem
a noite fiquei esperançosa quando meu telefone vibrou com a
chegada de uma mensagem:
Sebastian: Você está ocupada no sábado à noite?
Imanginei... jantar... um filme... sexo talvez?
Sadie: Estou livre depois das sete!
Mas meu coração afundou ao ler sua resposta.
Sebastian: acho que podemos fazer uma seção de
adestramento às 19:30 h ou 20:00 h? Birdie está me
incomodando. Aparentemente, ela ensinou um novo
truque a Duke e mal pode esperar para mostrar a você. Ela
nem quer me mostrar primeiro.
Sorri pelo entusiasmo de Birdie. Porém, novamente,
fiquei desapontada porque o texto não mencionava nada sobre
nós dois. Mesmo assim, não disse nada. Em vez disso,
respondi:
Sadie: Isso parece bom. Mal posso esperar!
Meia hora depois, ainda me irritava quão inócuas nossas
mensagens tinham sido. Então decidi ver se talvez eu podia
irritá-lo. Foi idiota, uma reação repentina aos meus
sentimentos feridos, e me arrependi logo depois de apertar
‘Enviar’.
Sadie: Pode ser mais perto das 20:00 h, mas vou logo
depois de uma... coisinha do trabalho.
Mastiguei minha unha, esperando para ver como ele
responderia. Ele sabia que tipo de trabalho eu costumava fazer
depois do horário comercial. Desta vez, tinha uma combinação
de happy hour e seis minutos de encontro com um
amigo. Depois de tudo o que aconteceu entre Sebastian e eu
nas últimas duas semanas, a verdade é que me sentia estranha
em ir. Oito encontros de seis minutos com homens
consumindo grandes quantidades de álcool não soavam
atraente, mesmo se eu não tivesse conhecido Sebastian
Maxwell. Mas me inscrevi há dois meses porque a parte com
um amigo me intrigou, e achei que seria um artigo divertido.
Nos encontros rápidos regulares, você passava de cinco a dez
minutos conversando com um estranho e depois passava para
o próximo. No final de uma sessão de seis ou oito mini
encontros diferentes, você anotava se estava interessada em
um encontro real com qualquer um dos homens. Se eles
também escrevessem seu nome, então suas informações de
contato eram fornecidas a cada um de vocês pelo anfitrião. Era
tudo real neste evento também. Só o evento de amanhã à noite
teve uma reviravolta. Tanto o homem quanto a mulher que
buscavam os encontros levariam um amigo, e eram os amigos
que falariam nos encontros de seis minutos. Cada um deles
faria perguntas sobre o possível encontro ao amigo do encontro
em potencial. Parecia meio maluco, mas eu sabia que levar
Devin o tornaria interessante. Além disso, meses atrás, não
fazia ideia que os Maxwell estariam na minha vida. O que
era muito surreal de se pensar agora, já que eu sentia que os
conhecia há muito mais tempo.
Observei meu telefone enquanto meu texto ia
de Enviado para Entregue para Lido. Os pontinhos começaram
a pular e prendi a respiração, esperando para ver a resposta
de Sebastian.
Sebastian: Coisinha de trabalho?
Eu sorri para mim mesma. Eu chamei sua atenção, mas
quando comecei a digitar de volta, fiquei nervosa. Por quê? Eu
não sabia. Não era como se estivéssemos em um
relacionamento exclusivo ou algo assim. Embora para mim, as
coisas com Sebastian não fossem exatamente casuais
também. Eu me arrependi de ter cutucado o urso, mesmo
depois de ter conseguido exatamente o que estava
procurando. Como eu me sentiria se Sebastian me dissesse
que tinha um encontro? Ugh. Eu precisava recuar um pouco…
rebobinar e colocar Jack de volta na caixa.
Sadie: Sim. Apenas algumas pesquisas para um artigo.
Mas Sebastian não caiu nessa.
Sebastian: Um encontro?
Bem, tecnicamente eu teria oito encontros. Embora não
achasse que precisava esclarecer esse pequeno ponto no
momento.
Sadie: Tecnicamente, sim. Embora não seja
realmente. Apenas um novo tipo de encontro rápido para
um próximo artigo.
Eu me preparei, esperando pela resposta. Apesar de
estarmos trocando mensagens de texto no estilo bate e volta,
de repente Sebastian silenciou. Passaram-se dez minutos
inteiros antes que meu telefone tocasse novamente. E quando
isso aconteceu, meu coração parou enquanto eu lia suas
palavras:
Sebastian: Divirta-se.
— Então. O que Tyler faz para viver? — Devin disse,
tomando seu segundo Cosmo.
Ethan, amigo de Tyler, respondeu. — Ele é um piloto. Faz
viagens longas entre aqui e Sydney.
— Uau. É um trabalho legal. Tyler consegue descontos
para amigos e família? Nesse caso, posso estar disposta a
contornar as regras e dar-lhe o número de Sadie agora.
Todos nós rimos. Era nosso quinto encontro da noite, e
Devin tinha realmente entrado em seu papel de vetar possíveis
encontros. Embora a diversão da noite não tivesse nada a ver
com nenhum dos homens, porque vamos encarar os fatos, eu
não tinha interesse em nenhum deles. A diversão era a merda
bizarra que saia da boca de Devin. Talvez se eu estivesse mais
interessada na noite, teria notado como Tyler era fofo.
— Seu amigo tem algum apelido? — Devin perguntou.
Tyler lançou a Ethan um olhar de advertência ameaçador.
— Ah, não, você não, — ela disse. — Desembucha. Agora
precisamos saber.
Ethan sorriu. — O apelido dele é Tink.
— Tink? Como em Tinker Bell12?
Ethan balançou a cabeça. — Não, Tink, porque a primeira
vez que ele ficou bêbado, nós tínhamos cerca de treze anos, e
ele ficou tão bêbado que molhou a cama depois de desmaiar.
Todos nós rimos enquanto Tyler socava o braço do amigo.
— Você deveria estar me ajudando a conseguir um encontro,
não as assustando, idiota.
*-*-*
SEBASTIAN
*-*-*
SADIE
*-*-*
*-*-*
— É melhor eu ir.
Birdie acordou com um barulho fora de sua janela e nos
pegou nos beijando no sofá. Se isso a incomodou, ela
definitivamente escondeu bem. Sebastian a subornou com um
biscoito para voltar para a cama e ela perguntou se eu a
colocaria na cama, o que eu fiz.
Sebastian gemeu. — Eu odeio isso.
— Eu também. Mas temos que dar o exemplo para ela.
— Não podemos simplesmente te tirar daqui antes que
ela levante?
Eu fiquei na ponta dos pés e dei um beijo em seus
lábios. — Ela é uma garota inteligente. Não acho que
demoraria muito para ela descobrir as coisas.
Sebastian baixou a cabeça e fez beicinho. — Ok. Vou ligar
para o maldito Uber.
— Obrigada.
— Mas eu quero uma noite inteira. Uma em que posso
adormecer com você em meus braços e acordar, rolar e deslizar
para dentro de você. Eu vou perguntar à Magdalene se ela pode
ficar uma noite em breve.
Eu sorri. — Eu gosto do som disso.
Poucos minutos depois, o Uber chegou e Sebastian abriu
a porta.
— Ei, — ele disse, agarrando minha mão enquanto eu
saía.
Eu recuei. — Sim?
— Sou louco por você.
Minhas entranhas derreteram em um monte de
mingau. — Eu também sou louca por você.
CAPÍTULO 23
SEBASTIAN
*-*-*
SADIE
SEBASTIAN
*-*-*
*-*-*
*-*-*
Eu me senti um ladrão.
Uma mecha de cabelo e uma escova de dente usada
podem não ter nenhum valor monetário, mas o que fiz foi roubo
mesmo assim – roubei o direito de Sadie à privacidade. E me
senti um merda desde o momento em que fiz isso.
De pé no saguão do correio, abaixei minha cabeça
enquanto me inclinava no balcão e soltei um suspiro
trêmulo. Eu tinha acabado de enviar as amostras de teste de
DNA que coletei e não podia voltar para casa ainda. Minha
cabeça latejava, meu peito estava apertado e estava com uma
sensação de afundamento na boca do estômago. Normalmente,
tomaria Motrin para dor de cabeça, mas não merecia nenhum
alívio. Eu era um pedaço de merda que merecia sentir como se
alguém tivesse esculpido suas têmporas.
Mesmo que eu estivesse enojado com o que tinha feito
desde ontem, isso ainda não me impediu de ser o primeiro na
fila do correio quando abriu esta manhã.
Quando Sadie me contou sobre sua doação de óvulos, ela
disse que nunca quis saber quem eram os destinatários de sua
generosidade. Na verdade, ela se certificou de que todo o
processo fosse anônimo antes de prosseguir com ele. E por
alguma razão, não acho que ela já teve contato com seus
próprios pais biológicos. Pelo menos ela nunca mencionou
isso. Então, eu tinha certeza de que ela não queria saber se
tinha filhos.
Mas eu precisava saber.
Além disso, quais eram as chances de Sadie ser nossa
doadora? O centro de fertilidade nunca nos disse de qual
estado a pessoa era, apenas que era uma cidadã americana.
Existem mais de trezentos milhões de pessoas neste país. Eu
teria mais chance de ganhar na maldita loteria. Sadie
provavelmente acharia que enlouqueci por imaginar que era
uma possibilidade dentre trezentos milhões de pessoas no
país, de minha filha resolver escrever uma carta à sua mãe
biológica. Quanto mais eu pensava sobre isso, mais percebia
que ela provavelmente estava certa – eu estava um pouco
maluco por considerar que isso poderia acontecer.
O pior é que nunca me perguntei quem poderia ser a mãe
biológica da minha filha antes do outro dia, mesmo sabendo
que ela estava por aí em algum lugar. Pensei muito sobre isso
nas últimas quarenta e oito horas. Por que estava tão
compelido a saber agora, quando não estava nem um pouco
interessado em saber apenas alguns dias atrás? A resposta era
óbvia – porque era Sadie. Mas, o que eu esperava com esses
resultados?
Eu queria que Sadie fosse a mãe biológica de Birdie?
Ou queria voltar a não saber quem era a doadora do
óvulo?
Eu lutei demais com essas questões. No fundo, embora
não quisesse admitir, acho que uma parte de mim queria que
Sadie fosse a mãe de Birdie. Minha filha perdeu a mãe muito
jovem, e eu daria tudo para que ela pudesse ter sua mãe
novamente. Mas esse tudo que eu daria incluía forçar uma
mulher que amava a reconhecer uma criança que ela nunca
planejou conhecer?
Pisquei algumas vezes.
Uma mulher que amava.
Eu amo Sadie?
Meus ombros caíram e deixei escapar um forte suspiro de
derrota.
Porra.
Eu amo.
Eu estava apaixonado por ela.
Ótimo. Simplesmente ótimo. Eu traí uma mulher que
amo.
Eu tinha certeza que nunca me perdoaria. Mas está tudo
bem. Eu merecia me punir pelo que tinha feito… e mais um
pouco. Isso nem era uma questão. O mais importante agora
era, Sadie algum dia me perdoaria?
CAPÍTULO 26
SADIE
*-*-*
*-*-*
SEBASTIAN
*-*-*
SADIE
*-*-*
Na manhã seguinte, pode ter parecido um começo normal
do dia, enquanto nós três estávamos sentados na cozinha
tomando café da manhã juntos. Mas parecia longe do normal.
Eu não conseguia parar de olhar para ela. Seu cabelo loiro…
ela herdou de mim? O nariz dela… não era exatamente como o
de Sebastian. Parecia o meu?
— Fiquei surpresa em vê-la aqui, — disse Birdie para
mim. — Você nunca está aqui para tomar café conosco.
Sebastian pigarreou. — Sadie passou a noite aqui. Como
você se sente sobre ela fazer isso com mais frequência? Talvez
todo fim de semana?
Birdie encolheu os ombros e sorriu. — Duh.
Sebastian e eu sorrimos um para o outro enquanto ele
estendia a mão sobre a mesa.
Eu estava totalmente atordoada. Por mais que quisesse
que esse dilema sumisse, sabia que a decisão não viria fácil ou
em breve.
Birdie e eu acabamos levando Marmaduke ao parque
depois do café da manhã, apreciando a beleza da cidade no
final do outono.
Quando voltamos para casa, estávamos sozinhas, já que
Sebastian ficaria no restaurante a maior parte do dia. Depois
que Birdie se retirou para seu quarto para ler um livro para
um trabalho escolar, vaguei pela casa sem rumo até cair bem
na frente de uma das fotos de Amanda no quarto de Sebastian.
Eu levantei a moldura e encarei seus olhos sorridentes.
Parecia natural falar com ela, embora eu soubesse que
ela não estava realmente aqui para ouvir. — O que você
pretendia? Por que você guardou aqueles artigos? Você estava
tentando me encontrar ou esperava deixar um rastro? Você
estava apenas curiosa sobre mim? — Suspirei. — Ou talvez
tenhamos entendido tudo errado. Eu queria poder perguntar o
que você gostaria que eu fizesse agora. — Uma lágrima
escorreu pela minha bochecha.
Se a intenção de Amanda era me encontrar, por que ela
não me contatou? Ela sabia que estava morrendo. Ela
aparentemente sabia onde me encontrar. E nunca o fez. Então,
por que guardar meus artigos? Eu jamais saberia o que ela
queria. Sebastian deixou a decisão para mim. Por um lado,
apreciei que ele tivesse feito isso. Por outro lado, seria muito
mais fácil se alguém simplesmente me dissesse a coisa certa a
fazer.
— Sinto muito, Amanda. Eu sinto muito. Espero que você
esteja em um lugar melhor. Prometo que cuidarei de Birdie.
Vou protegê-la e garantir que ela tenha um modelo feminino.
Obrigada por trazê-la ao mundo. E obrigada por me trazer até
Sebastian. Sei que é estranho eu agradecê-la por me trazer até
seu marido. Mas prometo amá-lo e tratá-lo com carinho e
nunca tentar tomar o seu lugar. Eu realmente sinto que você
gostaria que ele fosse feliz, mesmo que ele pareça inseguro
disso. De mulher para mulher, eu sei em meu coração que você
não gostaria que ele ficasse triste e sozinho.
— Ei.
Eu pulei quando Sebastian entrou na sala.
— Você voltou mais cedo, — eu disse enquanto largava a
foto.
— O que você estava fazendo? — ele perguntou.
— Eu estava... conversando com Amanda. Pedindo
orientação a ela. Isso é louco?
Ele sorriu. — Eu faço isso o tempo todo. Todo o maldito
tempo.
— Isso ajuda?
— Às vezes eu a ouço me xingando, me dizendo para ser
homem e parar de reclamar com ela. — Ele deu uma risadinha.
— Não estou... nem perto de uma decisão sobre o que
fazer. Acho que realmente preciso de algum tempo para pensar
sobre isso.
— Leve o tempo que precisar.
— Acho que preciso visitar meu pai.
— Seu pai sabe que você doou seus óvulos?
Eu assenti. — Sim. Eu falei com ele antes de fazer isso.
Ele não ficou exatamente feliz, mas entendeu. E no final, ele
apoiou minha decisão.
— Seu pai é um cara ótimo. Talvez ele possa ajudá-la a
decidir o que é melhor. Acho uma boa ideia falar com ele.
Assentindo, eu limpei meus olhos. — Provavelmente irei
para lá no próximo fim de semana.
Ele deu um beijo suave na minha testa. — Soa como um
plano. Ficamos assim até então.
CAPÍTULO 29
SADIE
SADIE
*-*-*
SEBASTIAN
SADIE
Fim.