Trabalho de Deontologia Profissional

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Tema: Os fundamentos Teoricos para uma Deontologia profissional

Cadeira:

Quelimane, Maio de 2021


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Tema: Tema: Os fundamentos Teoricos para uma Deontologia profissional

Cadeira:

Trabalho de caracter avaliativo a ser


apresentado no curso de Administracao
Publica, na cadeira de Ectica Profissional,
lecionado por:
Dr.

Quelimane, Junho de 2021


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Índice
1.Introdução ...................................................................................................................... 3
1.1.Natureza ética da profissão docente ............................................................................ 4
1.2.Deontologia da profissão docente ............................................................................... 4
1.3.Modelos de códigos deontológicos ............................................................................. 5
1.4.Formação ética dos professores: estratégias e perspectivas ........................................ 6
1.5.Investigação ................................................................................................................ 6
1.6.Problema e objectivos ................................................................................................. 7
1.7.Metodologia ................................................................................................................ 7
1.8.Os sujeitos ................................................................................................................... 7
2.Fundamentação das práticas docentes............................................................................ 8
2.1.Princípios orientadores das práticas do professores com os alunos ............................ 8
2.2.O código deontológico ................................................................................................ 8
2.3.Conteúdo e estrutura do código .................................................................................. 9
2.4.Autoria e proveniência do código ............................................................................... 9
3.Cnclusão....................................................................................................................... 10
4.Referências Bibliográficas ........................................................................................... 11
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1. Introdução
É já lugar-comum, nos dias de hoje, proclamar a crise da educação como um dos
sintomas da generalizada crise dos valores nas sociedades contemporâneas. A crise da
educação não se reflecte apenas nas atitudes e comportamentos dos alunos perante o
ensino e a aprendizagem; reflecte-se ainda na imagem da escola e no estatuto social dos
professores, de que são indicadores, entre outros, os níveis salariais em vigor para a
carreira docente. Tem repercussões, também, nas representações que os professores
criam da sua própria profissão, no modo como concebem a natureza, os fundamentos e
os objectivos da educação.
Se é certo que se encontram, neste domínio, opiniões muito díspares entre os
professores, não deixa também de ser verdade que algumas linhas de pensamento, das
quais sublinharei duas, sobressaem como mais fortes: a primeira afirma que, na sua
essência, toda a educação, por ser teleológica, traz consigo um compromisso ético. A
segunda, ao considerar que os actos ensinam mais do que as palavras, atribui ao
professor a enorme responsabilidade de ser exemplar para os seus alunos.
Mas naturalmente que se levantam, a este propósito, algumas dificuldades: dadas
a diversidade de perspectivas coexistentes na sociedade contemporânea e a tendência tão
difundida para tomar como equivalentes e indiferentes todas as formas de pensar, se não
de agir, que valores vamos ensinar ou estimular
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1.1. Natureza ética da profissão docente


Várias ciências, nas últimas décadas, têm procurado identificar e caracterizar as
especificidades da profissão docente e daqueles que a exercem, nas suas múltiplas
facetas. No entanto, muitos aspectos permanecem obscuros. É o caso do pensamento e
do comportamento moral do professor, cuja importância é inegável se se tiver em conta
a função eminentemente ética que a profissão desempenha, por força da sua própria
natureza.
Na obra intitulada “Os Usos da Filosofia”, Mary Warnock afirma a sua
convicção de que a educação deve ser orientada para a incrementação da liberdade das
pessoas, entendendo isto como uma espécie de elevação a partir de uma dada situação
sobre a qual, geralmente, se não reflecte. Tratar-se-ia, então, de possibilitar o
conhecimento da história e do desenvolvimento das instituições e da sociedade em que
se vive, bem como dos instrumentos conceptuais utilizados, como meios de
proporcionar essa elevação. E como a liberdade é um valor, continua a autora, então a
educação é intrinsecamente valorativa.
Salvas as devidas distâncias, não será difícil encontrar aqui ecos da metáfora
platónica da educação como libertação da ignorância - da ilusão - por meio de uma
dialéctica ascensional que é também um processo de crescimento intelectual, moral,
humano, em suma, que conduz da “caverna” para a luz; e do pedagogo como aquele
que, propriamente falando, nada ensina, a não ser o esforço da ascensão e a sua
simbólica libertadora (Platão, República, 514a- 517c).
No seu sentido mais amplo, Ética designa um conjunto de preocupações teóricas
concernentes à intencionalidade da vida humana e às razões pelas quais se age. Daí que
no seu contexto se fale de princípios e de valores com um alcance geral e que estes
princípios encontrem o seu fundamento no plano da racionalidade.

1.2. Deontologia da profissão docente


Dada, então, a natureza ética da profissão docente, atestada por vários
pensadores desde a antiguidade até à contemporaneidade, é legítimo que se pergunte de
que modo - ou modos - será possível passar do nível da normatividade ideal para o da
conduta prática; isto é: como passar dos princípios éticos, válidos para a acção em geral,
para uma deontologia específica da profissão que encontre neles o seu fundamento.
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No momento presente, parece justificar-se plenamente o crescente interesse da


investigação educacional pelos assuntos de natureza deontológica. Estrela (1993)
justifica este interesse não só pelas perspectivas teóricas que tal reflexão abre, mas
também pelas aplicações práticas que pode vir a ter. E dada a multiplicação e
complexificação dos problemas que afectam as sociedades contemporâneas, cuja
repercussão a escola não pode deixar de sentir, a reflexão deontológica não só se
justifica como se mostra realmente necessária. Ao mesmo tempo, determinados
conflitos gerados na escola, relacionados com práticas menos correctas por parte de
alguns professores, parecem exigir que algo seja feito para minorar, se não prevenir, os
seus efeitos.
Lembra ainda a autora que entre os vários aspectos que permitem caracterizar o
profissionalismo se conta o “ (...) exercício correcto e autónomo de uma função
socialmente reconhecida como altruísta, de que o código ético constitui uma
expressão”, como se fosse uma espécie de “imagem de marca da profissão.” (p. 188) As
principais vantagens de um código adviriam da incrementação de uma identidade
profissional, que se reflectiria na imagem interna e externa da profissão e na afirmação
de autonomia relativamente à heteronomia dos regulamentos provenientes das instâncias
governamentais.

1.3. Modelos de códigos deontológicos


Em vários países, associações profissionais de professores tomaram a iniciativa
de elaborar códigos de deveres; em Portugal, contudo, nunca as associações de
professores deram corpo a qualquer código deontológico que fosse expressão de luta
pela autonomia ou de um ideal de profissionalismo.
Reflectindo sobre este tema, D’Orey da Cunha (1996) começa por comparar o
estado da reflexão deontológica em vários grupos profissionais, colocando de um lado
médicos, juristas e jornalistas e, do outro, professores. Enquanto os primeiros terão
desenvolvido reflexões sistemáticas em torno da deontologia e, na sequência desse
processo, elaborado códigos deontológicos, os segundos, reconhecendo embora a
natureza ética da profissão docente, não consubstanciaram os princípios éticos numa
deontologia codificada.
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Quanto à estrutura, propõe cinco pontos organizadores: (1) Preâmbulo; (2)


Deveres para com os alunos: na ordem do seu desenvolvimento integral, do saber, da
relação pedagógica e da isenção; (3) Deveres recíprocos dos docentes; (4) Deveres dos
docentes para com a comunidade educativa e (5) Deveres para com a sociedade.

1.4. Formação ética dos professores: estratégias e perspectivas


Dada a responsabilidade moral e social inerente ao trabalho educativo, não seria
desejável dotar os professores de competências que os habilitassem a resolver
fundamentada e eficazmente os dilemas e conflitos profissionais que, certamente,
encontram? “Todos os dias, nas nossas escolas, há professores que cometem actos
deontologicamente discutíveis (...). Todos os dias, nas salas de aula, há professores que
revelam princípios morais diferentes conforme se trate de avaliar a sua conduta ou a
conduta dos alunos.” - são afirmações de Estrela (1991: 585) que justificam plenamente
a necessidade de uma cuidada formação ética dos professores, se não de formação
moral, sobretudo se se atender à transformação dos valores sociais no sentido de uma
crescente indiferenciação.
Este ponto de vista está longe de ser pacífico e a autora recorda, a propósito, as
posições tradicionais da Psicologia, que parecem corroborar o senso comum, segundo as
quais as aprendizagens se fazem num tempo próprio, o sujeito estabiliza e torna-se cada
vez mais difícil mudar comportamentos e hábitos. Porém, as novas correntes
desenvolvimentistas da Psicologia desafiam este conceito de estabilidade e mostram que
o adulto também é um aprendente e também se desenvolve como pessoa, abrindo as
portas à possibilidade da formação contínua dos professores, nela incluindo a formação
ética.

1.5. Investigação
Foi a questão acima formulada que presidiu à realização deste estudo e para cuja
resposta se recolheram, analisaram e interpretaram opiniões de alguns professores;
resultou, então um trabalho de natureza empírica e exploratória que pretende fornecer
um contributo para a caracterização do pensamento dos mesmos no campo da Ética e
Deontologia da Profissão Docente.
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1.6. Problema e objectivos


Este estudo tem como objectivos compreender quais os fundamentos das regras
de conduta adoptadas no exercício da profissão, conhecer a opinião dos professores
sobre a eventual necessidade de um código deontológico e o possível conteúdo do
mesmo e saber o que pensam sobre a pertinência do treino de competências éticas no
âmbito da formação profissional.
A investigação teve como ponto de partida o seguinte problema: haverá
diferenças, quanto à concepção da prática docente e dos deveres profissionais, entre
professores em fases distintas da carreira (início e meio /fim)?
Pensou-se que, a haver tais diferenças, elas seriam reveladas, no discurso dos
docentes, pela discrepância da frequência dos indicadores, principalmente nas áreas da
concepção dos deveres e da dimensão axiológica da prática docente e foi esta a hipótese
orientadora do trabalho, objecto da verificação empírica para a qual foi criado um
instrumento de recolha de opiniões.

1.7. Metodologia
Atendendo às características e aos objectivos do trabalho, a adopção de uma
metodologia qualitativa impôs-se como a mais acertada. Uma vez que aquilo que se
pretende é compreender e interpretar os diferentes pontos de vista dos sujeitos
inquiridos, reduzir estes dados a números não fará muito sentido, ainda que o recurso
aos números (como, por exemplo, na contagem de unidades de enumeração e
respectivas frequências) possa ser um auxiliar precioso para a interpretação. Mas o
procedimento consiste em “analisar os dados em toda a sua riqueza, respeitando, tanto
quanto o possível, a forma em que estes foram registados ou transcritos” (Bogdan e
Biklen, 1994, p.48).

1.8. Os sujeitos
Os sujeitos cujas opiniões se recolheram são professores do ensino oficial, níveis
básico e secundário, de vários grupos disciplinares, com percursos académicos e
profissionais diferentes e pertencentes a duas escolas do concelho de Lisboa, a uma
escola do concelho de Loures e a outra do concelho da Amadora.
Dado que se pretende comparar opiniões de professores em duas fases distintas da
carreira, foi este o critério de selecção utilizado. Assim, no campo relativamente restrito
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dos contactos pessoais e profissionais do investigador, entre os professores que


manifestaram a sua disponibilidade para colaborar nesta investigação foram escolhidos
4 em fase inicial - pré-carreira, em formação ou recém-formados - com um tempo de
serviço não superior a 5 anos e outros 4 com tempo de serviço igual ou superior a 15
anos.

2. Fundamentação das práticas docentes


São quatro os tópicos de análise desta categoria: (1) Princípios orientadores das práticas
dos professores com os alunos; (2) Princípios orientadores das práticas dos professores
com os colegas e a instituição; (3) Ofensas aos princípios que devem orientar os
professores e (4) Dimensão axiológica da prática docente

2.1. Princípios orientadores das práticas do professores com os alunos


No trabalho diário com os alunos e nas relações extra-aulas que com eles
mantêm, o que é que regula os comportamentos dos docentes? Como é que eles próprios
concebem essa regulação? No tema que lhes foi proposto, a totalidade dos inquiridos
salientou o temperamento, o pensamento e a mundividência do professor como o que,
em primeiro lugar, orienta os seus comportamentos e as suas práticas.
A maioria refere também a consciência do dever e valores como razoabilidade e
equilíbrio; as regras básicas de convivência; as reacções dos alunos como feed-back; as
directrizes da política educativa e respectiva legislação.

2.2. O código deontológico


Caberá agora perguntar se, do reconhecimento da omnipresença de deveres nas
práticas docentes e da função orientadora que possuem, os professores inferem a
necessidade de proceder à organização formal dos mesmos num código que vincule as
acções às regras estabelecidas.
A grande maioria dos docentes inquiridos manifesta-se a favor da criação de um
código deontológico da profissão e a razão que todos consideram, mais ou menos
explicitamente, é a vantagem de ficar na posse de um critério uniforme que permita
aferir a correcção dos actos dos professores.
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Procedeu-se à análise da categoria segundo quatro dimensões: (1)Conteúdo e


estrutura do código; (2) Autoria e proveniência do código; (3) Efeitos do código; (4)
Utilidade do código

2.3. Conteúdo e estrutura do código


Maioritariamente, os professores entrevistados consideram que um código
deontológico, a ser criado, deveria estruturar-se em torno de princípios muito gerais,
sem entrar na enunciação de deveres específicos. Quando solicitados no sentido de
explicitarem esses princípios, referem os direitos humanos fundamentais, os
consignados na Constituição e as regras comuns de convivência. 50% dos inquiridos, no
entanto, pensam que o código deveria estabelecer claramente quais as práticas docentes
julgadas correctas e quais as incorrectas - consequentemente condenáveis; 25%, ainda,
julgam que o código deveria organizar-se segundo áreas deontológicas distintas: alunos,
colegas e instituição, encarregados de educação.
A primeira opinião é manifestada igualmente pelos dois grupos de professores;
os que pertencem ao grupo de início da carreira são os principais defensores das duas
últimas, o que vem ao encontro das diferenças já encontradas na área da enunciação dos
deveres.

2.4. Autoria e proveniência do código


Supondo que a criação de um código deontológico era não só pertinente, mas
mesmo necessária para a profissão docente, caberá agora discutir a questão da sua
autoria e das suas fontes. A este propósito, o ponto de vista de todos os inquiridos é o de
que ele deve ser a expressão de um consenso entre os professores e a manifestação de
uma vontade colectiva, embora alguns se mostrem cépticos relativamente à
possibilidade de tal consenso, atitude que não será injustificada, se se atender à natureza
do assunto, por um lado, e à heterogeneidade do próprio corpus profissional, por outro.
Ainda no que concerne à autoria e à proveniência do código, outras sugestões
são apresentadas, embora por um número menor de entrevistados: o código deve
resultar de um “núcleo duro” de deveres já respeitados, isto é, deve nascer das práticas
já existentes; deve ter em conta o que a sociedade espera dos professores e deve
beneficiar de experiências já realizadas, nomeadamente em códigos de outras profissões.
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3. Conclusão
Os dados recolhidos por meio de entrevistas semidirectivas revelaram-se
bastante ricos e permitiram, uma vez submetidos a análise, obter uma perspectiva
multifacetada das concepções dos professores inquiridos acerca do tema em
investigação. Assim, em cada categoria destacam-se as seguintes conclusões:
Fundamentação das práticas docentes As referências aos valores e à consciência do
dever são feitas pelos dois grupos de professores, mas são mais numerosas entre os que
estão em fase avançada da carreira; os que estão em fase inicial parecem mais
preocupados com os programas das disciplinas e os conhecimentos teóricos de
pedagogia e didáctica específica, o que poderá justificar-se pela proximidade temporal
da formação profissional e do que nela habitualmente se valoriza.
As prioridades dos docentes parecem ter sofrido um deslocamento e ao longo da
carreira, acompanhado de uma crescente consciência da natureza ética da profissão,
consciência essa que não deixa nunca de estar presente, mesmo no início, quando parece
submetida ao peso da heteronomia.
Uma maior experiência profissional, provavelmente acompanhada de reflexão, parece
ter conduzido à convicção de que um bom exemplo vale mais do que muitas palavras,
como se pode depreender das afirmações de um dos entrevistados (e 6): “ Ser educador
é ser exemplar (...) não vale a pena eu dizer isto, dizer aquilo...não tenho que dizer
coisa nenhuma; eu tenho que fazer, tenho que ter atitudes. (...) eu posso estar a
defender teoricamente muitas coisas mas, de facto, os miúdos têm uma grande
percepção disto: «Ah, está bem, dizes isso mas não é o que tu fazes!»”.
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4. Referências Bibliográficas

Billington, R. (1988). An introduction to moral thought. London and NewYork:


Routledge.

Blázquez, N. (1986). Deontologia de la educacion. Revista Española de Pedagogía,


XLIV (174), 483-500.

Bogdan, R., & Biklen, S. (1994). Investigação qualitativa em educação. Porto: Porto
editora.

Braga da Cruz, M. et al. (1988). A situação do professor em Portugal. Análise Social,


XXIV (4 e 5), 1187-1293.

Cordero, J. (1986). Ética y profesion en el educador: su doble vinculation. Revista


Española de Pedagogía, XLIV (174) 463-482.

Cunha, P. O. da (1996). Ética e educação. Lisboa: Universidade Católica.

Estrela, A. (1994). Teoria e prática de observação de classes. Porto: Porto editora.

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