ITA - Maria de Magdala
ITA - Maria de Magdala
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Nec Plus
Ultra
Igreja Templária
Antiga
ECCLÉSIA GNÓSTICA
UNIVERSALLIS
Maria Madalena,
a companheira do Salvador
2001
Igreja Templária Antiga Old Templar Church
“Maria, tu, a abençoada, a quem vou aperfeiçoar em todos os mistérios do alto, fala
com franqueza, tu, cujo coração está mais voltado ao reino de céu do que todos teus irmãos”
(Pistis Sophia, livro 1, cap. 17).
A vida de Maria Madalena só é possível ser traçada através das fontes que nos foram
deixadas pela tradição cristã. Estas fontes são os textos canônicos e os chamados apócrifos,
principalmente os de cunho gnóstico. Estas fontes eram orais e únicas desde os primeiros
tempos do cristianismo, até que no Concílio de Nicéia, em 325, houve a separação do o que
era oficialmente aceito pela Igreja de Roma, os textos canônicos.
Maria Madalena é, com certeza, uma das personagens mais enigmáticas do Novo
Testamento. Existem poucas citações diretas sobre ela nos quatro evangelhos, porém ela está
nominalmente presente nas passagens mais marcantes na vida do Cristo, como a Paixão e a
Ressurreição. Ela é a discípula que ama o mestre acima de tudo e é testemunha da Sua
Ressurreição, sendo a portadora da Boa Nova. Por isso ela pode ser considerada a primeira
apóstola.
Também dentro da tradição gnóstica ela possui um papel de suma importância como
transmissora da Gnose, como portadora da Luz e como símbolo do verdadeiro adepto. Para
muitas seitas cristãs originais, Maria Madalena era uma Mestra e seus ensinamentos eram
oralmente transmitidos.
Apesar disso, ela teve toda uma simbologia gerada em torno de si, que acabou velando
o verdadeiro significado de sua participação na vida e na obra de Jesus Cristo, e ocultando o
real arquétipo que ela representa.
A imagem que foi sendo formada através dos séculos foi a da mulher pecadora,
provavelmente uma prostituta, que foi purificada pelo Cristo, e como prova de seu amor
espiritual, lavou os pés do Senhor e os enxugou com os próprios cabelos. Como mulher cheia
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de pecados, ela representou o arquétipo feminino tradicional, a transmissora do pecado
original, que após ser curada, passou sua vida em penitência e arrependimento.
Uma das mais importantes figuras femininas dos evangelhos, Maria Madalena acabou
tendo adulterado o significado de seu papel e de sua obra, sendo relegada a um segundo plano
dentro da tradição cristã católica romana.
Contar a sua história é resgatar a profunda história de amor espiritual ao Cristo e aos
Seus ensinamentos, representado pelos atos de Sua discípula mais amada.
Apóstola Apostolorum1
A principal fonte canônica para traçarmos a história de Maria Madalena são os quatro
Evangelhos : os três sinópticos2 (Marcos, Lucas e Tadeu) e o de João. Ela é citada
nominalmente sempre nas mesmas circunstâncias, sendo que no de João, sua importância
como única testemunha da ressurreição do Cristo é mais relevante. A única diferença entre os
três primeiros evangelhos é uma citação que Lucas faz sobre as mulheres que acompanhavam
Jesus :
1
Apóstola dos Apóstolos
2
De acordo com a tradição eclesiástica, os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas tiveram uma única fonte, por
isso o termo sinóptico (mesmo ponto de vista), provavelmente com o de Mateus, ou uma versão anterior deste,
sendo o mais antigo.
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o procurador de Herodes, Susana e várias outras, que o serviam com seus
bens” (Lucas, Cap 8 v.1-3)3.
O seu segundo nome, Madalena, ou Magdalini em grego, significa que ela era natural
de Magdala, ou Mejdel. Escavações efetuadas na cidade e escritos de Flavius Josefus e outros,
a descrevem como uma rica cidade comercial, baseada na pesca, e com muito contato com o
mundo helênico, localizada no lado noroeste do lago da Galiléia. Maria (ou Mariam) é sempre
citada com seu segundo nome para diferencia-la das demais mulheres citadas no Novo
Testamento com o mesmo nome : Maria mãe de Jesus; Maria, mãe de Tiago e Maria de
Betânia, irmã de Lázaro.
Era permitido no judaísmo que mulheres ajudassem e servissem com seus bens à
rabinos e seitas, porém não lhes era permitido participar ativamente dos rituais e eram
separadas nas sinagogas. Essa atitude era devido ao status que as mulheres tinham nas
comunidades judaicas, e ao fato de serem consideradas impuras e portadoras do pecado
original.
No caso das mulheres que seguiam Jesus, não é dito claramente que papel tinham no
grupo, porém a palavra grega utilizada, diakonein, pode tanto significar “servir” como
“ministrar” , “ensinar”, e é a palavra que deu origem ao termo Diácono, que tinha um papel
relevante nas comunidades cristãs iniciais.
Jesus, com certeza, quebrou com várias regras estabelecidas pela comunidade judaica,
e dar um papel mais importante às mulheres dentro de seu grupo foi uma dessas regras. Cristo
conversava diretamente com elas, ministrando-lhes conhecimentos sagrados, tal como fez
com Maria de Betânia, irmã de Marta e com a Samaritana; e se deixava tocar por mulheres
consideradas impuras pelos judeus tradicionais. Com certeza, Paulo em suas epístolas, cita
algumas mulheres que tinham tarefas de evangelização dentro da comunidade, tais como
Febe, diaconisa da Igreja da Cencréia, Maria, “que muito fez pela comunidade romana”; e
Júnia chamada de “apóstola” (Romanos, cap16 v 1-8). Com certeza, Maria Madalena não é
citada, dentro dos evangelhos canônicos como um dos apóstolos, mas podemos inferir que era
uma discípula com preeminência, pois é sempre citada primeiramente, e não tendo nenhum
grau de parentesco assinalado.
A Paixão
“A Crucificação”
de Perugino
3
Todas as citações aos evangelhos foram tiradas da versão conhecida como a Bíblia de Jerusalém.
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Existem várias citações sobre Maria Madalena e as mulheres que acompanhavam
Jesus durante os eventos da Paixão:
A Crucificação
Marcos Mateus
Lucas João
Fora a citação anterior de Lucas, é na Paixão que Maria Madalena aparece como uma
das testemunhas dos eventos principais da obra do Cristo. A descida do espírito na matéria, o
sofrimento advindo dessa queda, a superação da morte e a regeneração, são testemunhados
pelas mulheres no Gólgota (em hebraico, “o lugar da caveira”), como se fossem as únicas
capazes de perceber os eventos que se desenrolavam no mundo invisível.
O Sepultamento
Marcos Mateus
Marcos Mateus
João
“No primeiro dia da semana, Maria Madalena vai ao sepulcro, de madrugada, quando ainda
estava escuro, e vê que a pedra fora retirada do sepulcro. Corre então e vai a Simão Pedro e ao
outro discípulo, que Jesus amava, e lhes diz : “Retiraram o senhor do sepulcro”” (Cap 20 v.1-
12). Os dois encontram o túmulo vazio e João crê que Jesus ressuscitou.
Aparição a Maria Madalena: Maria acreditaram em suas palavras, menos Pedro que vai até o
túmulo.
Maria Madalena é citada nos quatro evangelhos, sempre em primeiro lugar, entre as
mulheres que vão até o sepulcro para preparar o corpo de Jesus. As demais variam de um texto
ao outro, sendo que em João, ela é a única que vai até lá.
Marcos, Mateus e João tem em comum o fato de que Jesus aparece a Maria Madalena
após a ressurreição, sendo que em Mateus, está presente também Maria mãe de Tiago. A cena
em João é a mais significativa, pois o Mestre aparece a Maria que chorava a desaparição de seu
corpo, sendo que , esta não O reconhece. Apenas quando ouve Ele pronunciar seu nome, é que
ela se apercebe de quem era e exclama “Rabbuni!”. Nesse momento o Cristo pede a ela que não
O toque pois ainda não havia subido até o Pai.
Muitos exegetas católicos viram no fato de Maria Madalena não ter reconhecido o Cristo
e não ter permissão para toca-lo, a comprovação de que ela, por causa de seus pecados e de sua
mente pequena, não estava preparada para receber o evangelho.
Porém, pelo uso que ela faz do termo Rabbuni, que é uma forma mais solene de se dirigir
ao mestre, usado quando os judeus se referiam a Deus, vemos que Maria compreendeu, antes de
todos, o papel que agora o Cristo estava exercendo. Ele não era mais apenas Jesus Cristo, mas
era a Segunda pessoa da Trindade manifestada e, portanto, Deus.
Maria Madalena, por ter sido escolhida como a mensageira da Ressurreição para os
discípulos, representa o fato de que, apenas pela Alma eles poderiam receber o Evangelho. Como
figura feminina arquétipica, ela representa a recuperação da via feminina, ou da Sofia, como
forma de reintegração à Divindade.
O Cristo passa a nascer, não mais numa alma concebida virgem, mas em toda alma que se
purifique e que se torne virgem. Conforme dizia Gustav Jung, a encarnação de Deus na
humanidade envolve a elevação do princípio feminino e seu retorno ao status divino ou
semidivino. Nesse contexto, a Virgem Maria e Maria Madalena representam os dois aspectos
encarnados pela Sofia dos Gnósticos, para que o Cristo pudesse se manifestar na matéria e na
alma de todos os homens : a mãe do Cristo e a noiva do Cristo.
A Transmissora da Gnose
Com essas palavras, o texto dos Provérbios se refere a Sabedoria, Chockmah em hebraico
e Sofia em grego. Ainda no livro de Sabedoria, temos :
Nesse livro, a Sabedoria é descrita como uma emanação da glória de Deus, o espelho
imaculado de sua energia e a esposa do Senhor, e foi essa imagem que os gnósticos tomaram
para si para criar o arquétipo da Sofia. É justamente nos apócrifos 5 de caráter gnóstico, em sua
maior parte escritos entre os séculos I e III, que Maria Madalena tem um papel preponderante
como encarnação terrestre da Sofia celeste, ou como está escrito no Dialogo do Salvador, “a
mulher que conhecia o Todo”.
Desejando encontrar seu esposo, Sophia segue uma falsa luz, que ela confunde com a do
Cristo, e que a retira do reino da Luz da mais alta esfera, o Tesouro da Luz. Através dessa falsa
Luz ela queria buscar uma maior grandeza, e como punição ela cai pelos planos espirituais, até
ficar presa no nível mais denso, sendo constantemente vilipendiada pelos Arcontes do plano
astral e pelo Autocentrado, ou o Ego encarnado.
Ela vive, então, em eterno arrependimento, clamando por ser libertada através da
redenção, do batismo e do perdão de Deus e a espera do seu Salvador.
É justamente após a sua Ressurreição, quando o Cristo ainda está ensinando aos
Apóstolos, que Ele ouve os clamores de Sophia, e a leva, através de todos os planos, envolta em
um corpo de Luz, para o plano que lhe corresponde. Durante esta viagem, o Cristo reorganiza o
mundo astral, para que os homens não sejam mais prisioneiros das influências dos Arcontes, e
possam seguir o caminho da libertação.
Pistis Sophia representa a Alma humana assediada pelas paixões e pelas tentações do
mundo material, representados no texto pelos regentes do mundo astral, que querem de todas as
maneiras roubar sua luz interior, pois esta é de origem divina. Pistis Sophia, deve então, lutar
contra todo o assédio dessas forças contrárias, para que , através do seu arrependimento, pudesse
encontrar seu par, o Cristo, e retornar para o seu lugar de origem junto a Divindade.
O Pistis Sophia é composto de cinco livros, sendo que nos dois primeiros, o Cristo conta
a queda de Sofia, os seus treze cantos de arrependimento, sua ascensão para à Luz, e sua
reintegração ao seu Esposo. Durante todo o texto, Jesus pede constantemente que os discípulos,
dentre aqueles que sejam tocados pelo Espírito (costume dos antigos gnósticos), dêem sua
avaliação do que foi exposto por Ele. Quase sempre o discípulo avalia o ensinamento de Jesus
através de um Salmo ou um Cântico, para provar que tudo o que o Cristo fez, estava escrito no
Testamento. Tantos os homens como as mulheres discípulos participam livremente do dialogo
como Jesus. Maria Madalena é o discípulo que mais interroga o Mestre, é o que melhor
compreende seus ensinamentos, e é em quem, Ele deposita a maior confiança e amor. Tanto que
chega a deixar Pedro irritado com as intervenções constantes de Madalena.
5
Do grego apokryphos ou “oculto”, em alguns casos, podem ser mais antigos que os canônicos, e tem um texto mais
livre e sofreram menos censura e acabamento no decorrer dos anos. Não são reconhecidos pela igreja católica,
principalmente os que tratam da infância de Jesus. Foram banidos pelo concílio de Nicéia em 325.
6
Fé e Sabedoria, ou Sabedoria da Fé
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A abençoada
Maria Madalena era considerada pelos gnósticos, como o protótipo do perfeito adepto.
Ela amava o Cristo sobre todas as coisas, tinha Fé, foi a testemunha de sua Ressurreição e tinha
uma capacidade plena para receber a Gnose, ou o Conhecimento Divino. Através do arquétipo
feminino que Maria representa, a Alma é plena para receber a Gnose Divina, bastando se
purificar para receber e reconhecer o Cristo.
O antagonismo de Pedro
Livro 2 cap. 70 : Maria Madalena diz a Jesus que tem medo de Pedro :
“Meu Senhor, minha mente está sempre pronta para todo momento adiantar-
me e apresentar a interpretação do que Pistis Sophia proferiu. Mas tenho
medo de Pedro, porque ele ameaçou-me e odeia nosso sexo”.
Eva, a Virgem Maria e Maria Madalena representam aspectos diferentes da Sofia. Pelo
calendário Gnóstico, a descida da Santa Sophia cai no dia 8 de Setembro. No Calendário
romano, esta data celebra a Natividade da Virgem Maria e antecipa o sagrado nascimento de
Jesus. A Assunção da Santa Sophia ao Pleroma é comemorada em 15 de Agosto. Esta data tem
correlação, na igreja ortodoxa, com a Assunção corporal da Virgem Maria. De acordo com os
textos Gnósticos, em seu retorno ao Pleroma, uma parte de Sofia continua com a humanidade,
dentro de cada homem, para nos guiar e orientar.
Eva representa a Sophia caída, que por sua pretensão de conhecer o Bem e o Mal, seguiu
a luz errada, deixando-se seduzir pelos ardis da serpente. A mãe do Cristo representa o aspecto
divino da Sofia, que retorna ao Criador após ter dado à luz ao Cristo Divino. Maria Madalena
representa a centelha anímica que existe em cada ser humano, a parte da Sofia que ficou em nós,
e que é única capaz de se comunicar com os planos espirituais e receber a verdadeira Gnose
libertadora. Diz a lenda, que após os anos de penitência que passou em uma gruta, finalmente
Maria Madalena também ascendeu aos céus, levada pelos Anjos à sua morada junto ao Cristo.
Tanto ela como a Virgem Maria são a Eva redimida, e novamente o ser andrógino original tem a
possibilidade de se tornar Uno.
Outros textos gnósticos também a citam como uma discípula preferida, como no Proto-
Evangelho de Tomé e no Evangelho de Felipe. Neste último aparece a seguinte citação sobre
Maria Madalena:
Nesse Evangelho gnóstico, Maria Madalena também é tida como a “discípula mais amada
do senhor”, simbolizando a importância dos mistérios divinos femininos para a reintegração da
Alma ,e também porque o Cristo/Espírito “ama” nossa alma mais do que a qualquer coisa, e
deseja seu regresso ao seu seio, a fim de reconstituir o Ser original. O beijo na boca, que é
utilizado aqui alegóricamente, representa a recepção do Logos ou da Palavra, como diz mais
adiante o mesmo Evangelho :
Ela é descrita então, como “aquela que vê”, que é capaz de discernir a Luz no escuro, e
que é a Companheira de Jesus, sua Consorte. É a Sofia Celeste, que através do casamento
alquímico, é capaz de transmutar seu corpo material em um corpo de glória, e que é preparada
pela Gnose para ascender ao Reino Eterno.
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O Evangelho de Maria
Neste evangelho, mais do nunca, ela é a portadora da Gnose, sendo a única que recebeu
determinados ensinamentos do Senhor. E como tal, tem uma autoridade inquestionável sobre os
demais discípulos, apesar de que, também neste texto, Pedro e outros homens não aceitam de
bom grado sua ascendência sobre o grupo. É ela que envia os apóstolos para o mundo,
representando novamente a consciência interior de cada um deles, lembrando a todos as palavras
do Cristo para que pregassem o Seu evangelho.
A santa pecadora
Hipólito, bispo de Roma (170-235 D.C), escreveu em sua análise sobre o Cântico dos
Cânticos, que Maria Madalena era a representação da noiva no poema de Salomão. Para ele, o
amor representado no poema, era o amor espiritual de Maria por seu mestre Jesus, que buscou
por ele no sepulcro, e não o encontrando lá, consternada acabou encontrando-o em um jardim.
Para Hipólito, ela representava a restauração do pecado de Eva. Da mesma maneira que Eva
tentou Adão em um jardim, e foi a causa da queda do homem, Maria Madalena encontrou o
Cristo em um jardim e foi a testemunha de sua transformação na Divindade, abrindo o caminho
de reintegração do homem ao Adão original. Ele a chama então de “Apóstola dos Apóstolos” 8.
Como foi então, que de “Apóstola dos Apóstolos” e encarnação da Sofia Celestial, Maria
Madalena se tornou a prostituta de cabelos longos, curada de seus pecados pelo Cristo e que
ungiu seus pés , já que não existe, em nenhum texto canônico ou apócrifo, qualquer referência
direta sobre ela, que faça alguma alusão a esses fatos ?
Quanto mais ela era reverenciada pelas comunidades gnósticas, mais a igreja de Roma a
transformava no epíteto da mulher caída. De mensageira do evangelho ela se tornou, então, o
símbolo da mulher que a sociedade da época adotava : do século III em diante, as mulheres já
não tem participação ativa na comunidade cristã sob o domínio de Roma, e esta passa a se basear
em um triunvirato masculino de bispos, sacerdotes e diáconos. Elas estão marcadas pelo pecado
original e são exemplos de impureza. Apenas Maria, a mãe de Jesus, tem o seu status inalterado,
passando a englobar em si todas as características positivas dos mistérios femininos.
7
Migdol ou Magdal significa “torre” em hebraico
8
Este conceito será melhor abordado mais adiante nas análises dos Evangelhos de Felipe e de João.
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Mas como foi que essa imagem de pecadora foi formada para Maria Madalena ? Na
verdade, criou-se para ela um amálgama de dois, ou três, personagens bíblicos femininos
diferentes.
A pecadora perdoada
Em Lucas temos a descrição de Jesus com a mulher que lava seus pés na casa do fariseu :
“Um fariseu convidou-o a comer com ele. Jesus entrou, pois, na casa do
fariseu e reclinou-se à mesa. Apareceu então uma mulher da cidade, uma
pecadora. Sabendo que ele estava à mesa na caso do fariseu, trouxe um
frasco de alabastro com perfume. E ficando por detrás, aos pés dele.
Chorava; e com as lágrimas começou a banhar-lhe os pés, a enxugá-los com
os cabelos, a cobri-los de beijos e ungi-los com o perfume“ (Lucas, Cap 7
v.36-38).
O fariseu acha estranho que um profeta se deixe tocar por uma pecadora, porém Jesus
conta a parábola do credor, para provar que quem tem mais pecados, mais merece ser perdoado.
Cristo diz que a mulher ama mais porque deve mais, e seu amor a salva.
Em nenhum momento o texto se refere a uma prostituta, e sim a uma pecadora. Este
termo pode ser utilizado para qualquer pecado moral, não necessariamente um pecado “da
carne”. Por traz da afirmação de que era uma prostituta, temos um preconceito e um fato
histórico. Um preconceito por achar que um pecado de uma mulher só poderia estar ligado ao
sexo, e um fato histórico porque, naquela época, apenas as prostituas usavam seus cabelos soltos,
e os lavavam na frente dos outros, na rua. As demais mulheres usavam seus cabelos presos em
sinal de respeito, e não os exibiam em público. Para os historiadores bíblicos, apenas uma
prostituta soltaria seus cabelos para poder lavar os pés do Cristo. Isto foi um erro de
interpretação, pois Jesus quebrou com o relacionamento de inferioridade que as mulheres tinham
dentro da comunidade, e o que o texto representa na verdade, é o profundo amor e respeito de
uma alma sedenta por paz, e que se deleita e se humilha perante a Luz.
As irmãs de Betânia
Em Lucas , Cap 10 v.38-42, vemos que em Betânia moravam Marta e Maria, que
recebem Jesus quando Este certa vez entra no povoado. Enquanto Marta se ocupa dos afazeres
da casa, Maria fica aos pés do Mestre ouvindo-O. Quando Marta reclama disso a Jesus, Este lhe
diz que ela se inquieta e se agita com muitas coisas, sem perceber que apenas uma coisa é
necessária, e que Maria escolheu a melhor parte.
O que o Cristo quis ensinar a Marta, é que, o que importa na verdade não é se ocupar do
mundo, preocupando-se em agradar e em seguir convenções e regras; e sim se ocupar das coisas
do espírito, pois só o Reino dos Céus é eterno. Durante muito tempo esse texto foi utilizado pela
igreja, para distingir as duas formas de adoração à Deus : a forma operativa e a contemplativa.
O que percebemos porém, é que, ao contrário de Maria Madalena e outras mulheres que
eram discípulas e seguiam o Cristo ajudando-o no ministério, Maria e Marta de Betânia eram
discípulas ocasionais do Mestre, que as encontrava apenas quando ia até a cidade delas.
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A associação de Maria de Betânia com a pecadora de Lucas se deu através de João :
Também em João, Cap 12 v.1-8, vemos que seis dias antes da páscoa, Jesus vai a Betânia.
Lá em um jantar, enquanto Marta e Lázaro servem, Maria unge os pés do senhor com perfume e
os enxuga com os cabelos. É então admoestada por Judas por causa do preço do perfume. Jesus
então diz para este deixa-la em paz, para que ela conserve o perfume até o dia de Sua morte.
A unção de Betânia
A mesma história é contada em Mateus, porém com outra personagem feminina, dessa
vez não nomeada, e em outra circunstância :
Os discípulos ficam indignados pelo desperdício. Jesus então adverte os discípulos para
não a aborrecerem, pois sempre terão os pobres consigo e Ele um dia irá embora.
“Derrubando este perfume sobre o meu corpo, ela o fez para me sepultar.
Em verdade vos digo que, onde quer que venha a ser proclamado o
evangelho, em todo o mundo, também o que ela fez será contado em sua
memória “ (Mateus, Cap 26 v.12-13).
A conexão com Maria Madalena então estava feita. Se ela foi até o sepulcro para ungir o
corpo do Senhor; se em João e Mateus está escrito que a mulher que ungira Jesus durante a ida à
Betânia seria lembrada por ungi-lo, preparando-o para a morte futura; e se a mulher que lhe
lavara os pés em Lucas também O ungira, então todas são a mesma pessoa : Maria Madalena era
também Maria de Betânia e era a prostituta do texto de Lucas.
Em si, essa associação, em nada desmerece o nome de Maria Madalena, pois todas essas
mulheres possuem um papel edificante e de profundo amor ao Cristo, apesar de não serem o
mesmo personagem. Todas as cenas narradas são de devoção ao Senhor. O que ocorre, é que
essas personagens também tiveram seus significados adulterados nos anos seguintes, marcadas
pela onda de ascetismo que varreu a Igreja de Roma.
Essa vinculação ficou mais forte a partir do século IV, quando a virgindade passa a ser
encarada pela igreja, não mais apenas no seu aspecto espiritual, mas principalmente no aspecto
físico. Maria, mãe de Jesus, passa a ser então o paradigma da perfeição espiritual, e Maria
Madalena um exemplo de mulher portadora do pecado, necessitando portanto de eterna
penitência.
A partir deste século, o celibato passa a ser cada vez mais exigido do clero. O Concílio de
Elvira, em 305, instruiu que, todos aqueles que participassem do cerimonial do altar,
mantivessem total abstinência de suas esposas. Em 325, o Concílio de Laodiceia proibiu as
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mulheres de servirem como sacerdotes e de possuírem paróquias; e em 425, o Concílio de
Cartago, que contou com a presença de Sto. Agostinho, decretou que todo o alto clero deveria se
separar de suas esposas, sob pena de perder seus direitos sacerdotais.
Os Padres da Igreja
De qualquer maneira, no ocidente, a confusão já estava feita. Santo Agostinho era um dos
poucos a encara-la como a mulher mais importante dos evangelhos, separando-a das demais
personagens femininas, em seu escrito “A Harmonia dos Evangelhos”. Em Liber de vita
eremítica ad sororem, Sto. Agostinho diz o seguinte sobre o Noli me Tangere no evangelho de
João:
“Mas por que, ó Jesus amável, rejeitas desta maneira dos teus santíssimos e
desejabilíssimos pés aquela que te ama ? Que palavra dura ! Ele diz : Não
me tocar. Mas por que, Senhor? Por que não deveria tocar aqueles teus pés
tão desejados, por mim transpassados pelos pregos e cobertos de sangue?
Não deveria tocá-los, não deveria beijá-los? Ou talvez é menos amigo
porque mais glorioso? E Ele: Não me tocar. Não temas; esta alegria não lhe
é tirada, mas postergada: no entanto, vá e anuncia a meus irmãos que
ressuscitei. Ela corre depressa, desejosa de voltar”.
Era porém, do interesse da igreja de Roma cada vez mais expansionista, caracterizar a
necessidade de se combater o pecado, principalmente o que grassava nas terras consideradas
pagãs. O Papa Gregório (540-604 D.C.), em cujo pontificado a Inglaterra foi convertida ao
cristianismo, utilizou muito esse conceito como forma de justificar o trabalho da Igreja nesses
países, e como forma de mostrar que as mazelas do mundo eram causadas pelos pecados dos
homens. Dessa maneira, apenas a Igreja Católica de Roma seria a portadora da salvação. Foi em
um sermão seu para o povo de Roma, que passava por enormes dificuldades devido à fome, à
guerra e à peste, que ele utilizou o exemplo de Maria Madalena como a prostituta que se
arrependeu, e só por isso foi curada, passando o resto da vida em penitencia. Esse exemplo foi
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utilizado como forma de demonstrar que o povo necessitava de fé e penitência. Foi também
nesse sermão que Gregório pontificou que Maria Madalena, Maria de Betânia e a pecadora de
Lucas eram a mesma mulher.
Maria Madalena perdeu então, sua posição de Apóstola dos Apóstolos, e se tornou o
exemplo da perdição do mundo.
O problema era ajustar o fato de Maria ser denominada através de duas cidades
diferentes: Magdala e Betânia. Esse problema foi resolvido no século XII, quando Iacopo de
Varazze, em seu Legenda Áurea, diz que ela era oriunda de uma família rica de Betânia, que
morava em um castelo chamado Magdala. Com a morte dos pais, Marta teria herdado a vila de
Betânia e ela o castelo, daí o seu nome.
Esta visão de Maria Madalena irá persistir até o século XX, quando os teólogos católicos
passam a enxergar o seu papel de maneira puramente espiritual e simbólica, e também
beneficiada pelo aumento da importância do papel da própria mulher na sociedade
contemporânea. Madalena passa a ser vista novamente como a noiva simbólica do casamento
alquímico com o Cristo.
A Câmara Nupcial
O Senhor realizou todo um mistério : um batismo, uma unção, uma eucaristia, uma redenção e
uma câmara nupcial (Evangelho de Felipe v.68).
A Câmara Nupcial é o sacramento mais misterioso deixado pelo Cristo, pois ele não
ocorre no mundo da matéria, mas apenas no espiritual. É o local sagrado onde só podem entrar
os puros de coração. Os Evangelhos de Felipe e de João tratam magnificamente este sacramento
oculto.
“A câmara nupcial não é feita para as bestas nem para os escravos nem para
as mulheres sem honra, e sim para os homens livres e para as virgens”
(Evangelho de Felipe v.73).
“Enquanto Eva estava dentro de Adão; não existia a morte, mas quando se
separou dele sobreveio a morte. Quando esta retornar e ele a aceitar, deixará
de existir a morte” (Evangelho de Felipe v.71).
A morte não existia no mundo enquanto Adão e Eva, Espírito e Alma eram um único ser
e se alimentavam da árvore da Vida no Éden. Quando provaram da árvore da morte, perderam
sua integridade original e se vestiram de carne. Desde então o Noivo busca a sua Noiva, para
que, na Câmara Nupcial, possam novamente se unir.
“Aqueles que se vestiram da luz perfeita não podem ser vistos pelas
Potências nem detidos por elas. Pois bem, podemos revestir-nos desta luz no
sacramento, na união. Se a mulher não se houvesse separado do homem,
não teria morrido com ele. Sua separação tornou-se o começo da morte. Por
isso veio Cristo, para anular a separação que existia desde o princípio, para
unir a ambos e para dar a vida àqueles que haviam morrido na separação e
uni-los de novo” (Evangelho de Felipe v.77-78).
Nossa Alma se separou de sua centelha divina, por isso vaga pelo mundo da matéria sob
o domínio das potências astrais. Se o pecado original não tivesse sido cometido pelo desejo de
Eva, ou pelo de Pistis Sophia em seguir o ser privado da luz em vez do Ser Pleno de Luz, ainda
teríamos nosso corpo de glória e habitaríamos o Pleroma.
Maria Madalena simboliza a Noiva a espera de seu Noivo, o Cristo. Ela é a Alma, sua
Companheira, purificada e pronta para se reunir ao Espírito. Ela se preparou para se tornar Una
com Jesus.
“Simão Pedro disse à Jesus : “Que Maria saia de nosso meio, porque as
mulheres não são dignas da Vida!” Disse Jesus : “Vede, eu me encarregarei
de fazê-la homem, para que também ela se torne um espírito vivo,
semelhante a vós homens. Pois cada mulher que se fizer homem entrará no
reino dos Céus” (Evangelho de Tomé v.114).
E será através da Câmara Nupcial que a alma poderá buscar sua liberação. Só quando
conseguir ser aceita pelo Cristo, e se dedicar totalmente ao seu Consorte, que o Adão original
poderá ser refeito e o Espírito habitará novamente no Reino dos Céus.
A Água recebemos pelo batismo, quando entramos para a egrégora Cristã; o Fogo
recebemos na Crisma, quando somos abençoados pelo Espírito Santo; e a Luz recebemos na
Câmara Nupcial, quando nos unimos em Cristo, realizando a comunhão final com o Salvador. As
Marias representam a terra onde será plantada a videira que dará como fruto a Vida Eterna. Ou
ela já é purificada, ou deverá ser tornada pura, para que possa dar a Luz à Criança Sagrada. Na
Câmara Nupcial de Maria, sua mãe, o Cristo veio aos Homens, e na de Madalena, sua noiva, Ele
ensinou um Mistério aos homens.
O Evangelho de João
No primeiro dia da nova criação, o Alfa e o Ômega se tornam unos. Assim como no
início Deus criou o céu e a terra, a ida de Madalena ao sepulcro será para receber o anuncio da
nova criação, da nova aliança entre Deus e os homens.
Ainda está escuro pois o mundo ainda está nas trevas, e as trevas não conseguem
compreender a Luz. O coração de Maria ainda não se apercebeu que o Vivo triunfou sobre a
morte. Talvez por isso ela não consiga reconhece-Lo da primeira vez. A Fé está dentro dela, mas
ainda não se manifestou, pois ela não reconheceu o primeiro sinal : o selo estava aberto, a pedra
não lacrava mais o sepulcro.
“Vou levantar-me,
vou rondar pela cidade,
pelas ruas, pelas praças,
procurando o amado de minha alma...
Procurei-o e não o encontrei!...
(Cântico dos Cânticos cap. 3 v.2).
A Alma amada se desespera quando não consegue perceber onde está o seu amor: é sua
Noite Escura, quando vaga pelo mundo em busca da Luz de seu Espírito. Madalena corre em
busca dos demais discípulos e encontra Pedro e João. Ela lhes conta que “levaram o corpo do
Senhor”. Não reconhece o sinal de Vida Eterna que o símbolo representava. Como a Alma
perdida sob o julgo dos Arcontes, Madalena ainda não se apercebeu que a Câmara Nupcial está
aberta para ela, faltando apenas que a reconheça.
“(João) inclinando-se, viu os panos de linho por terra, mas não entrou. Então
chega também Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro; vê os panos
de linho por terra e o sudário que cobrira a cabeça de Jesus. O sudário não
estava com os panos no chão, mas num lugar à parte” (Evangelho de São
João cap. 20 v.3:8).
João vê os lençóis dispostos com em um leito nupcial. Ele distingue o sinal mas não o
compreende. Pedro adentra o sepulcro e vê como João, porém descobre o sudário. O símbolo da
morte estava jogado à parte, pois Cristo triunfara e a vencera. A Câmara Nupcial estava pronta, o
local de morte se transformara em local de Vida e Fecundidade. O Novo Homem poderia nascer
então, mas nem João e nem Pedro estavam ainda preparados para a boda sagrada : a escolhida foi
Maria Madalena. Cristo trouxera ao mundo novamente o mistério feminino do Amor e da
Misericórdia.
“Encontraram-me os guardas
que rondavam a cidade:
“Vistes o amado da minha alma?”
(Cântico dos Cânticos cap. 3 v.3).
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“Maria estava junto ao sepulcro, de fora, chorando. Enquanto chorava,
inclinou-se para o interior do sepulcro e viu dois anjos, vestidos de branco,
sentados no lugar onde o corpo de Jesus fora colocado, um à cabeceira e
outro aos pés” (Evangelho de São João cap. 20 v.11).
Maria ainda não compreende que o momento é de alegria e que a Câmara já está aberta
para ela. O caminho já foi aberto para nós : é através do Cristo que iremos ao Pai. Ela vê, porém
não enxerga. Os anjos são seus guardiões, assim como no Pistis Sohpia, Jesus envia Miguel e
Gabriel para ajudarem a sua ascensão. Os dois seres de luz estão ali para ajudarem a
Alma/Madalena a encontrar seu esposo Espírito/Cristo. A Alma, no entanto, ainda não está
preparada. Ela ainda se apega ao sofrimento da matéria e não sente que seu momento de
reintegração está próximo. Os anjos perguntam a Maria porque ela chora, e ela insiste em dizer
que está a procura do corpo do seu Senhor. Os anjos tentam indicar a Madalena, a esposa da
nova aliança, que a velha aliança foi substituída pelo Amor e pela Misericórdia.
Maria vê Jesus de pé, mas não o reconhece. Seu Noivo está presente, mas ainda falta algo
para a Alma poder sentir Sua presença. Ele lhe diz “Mulher, por que choras ? A quem procuras
?” Maria continua sem reconhecê-lo, até que Jesus a chama pelo seu nome : “Maria!”. Quando é
nomeada a Alma descobre a si mesma, e descobre o Cristo ao seu lado. O nome lhe traz à
lembrança a Raiz/Espírito a qual pertence, e a comunhão com o Cristo pode ser realizada. A
Câmara Nupcial está pronta para as Bodas Alquímicas.
A Egrégora foi formada. O caminho foi aberto. Mas à Madalena foi dada uma missão.
Ela não podia tocar o Cristo, pois ainda não podia subir com seu Amado para o Céu. Como uma
centelha da Divina Sofia, ela deveria ser o mensageiro a todos os cristãos/discípulos/irmãos, da
Boa Nova, do Evangelho, dizendo a todos o que o Cristo lhe disse. Sendo o Mercúrio que
necessita ser volatilizado, ela também é um caminho para o Cristo : o Amor Divino, A Fé e a
Misericórdia.
As "Madonas" Negras
9
Mateus
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contrário do que se imagina, elas não estão apenas associadas à Virgem Maria, mãe de Jesus,
mas também à Maria Madalena, chamada de "a outra Maria".
Com certeza, muitos santuários ligados à Virgens Negras foram erigidos sobre antigos
lugares de culto de deusas pagãs, atitude corroborada pelo próprio Papa Gregório, que exortava
os padres a permitirem que os aldeões de províncias pagãs convertidas, pudessem celebrar suas
antigas festas e erguer imagens em antigos sítios em que foram erguidas igrejas cristãs. Esta era
uma forma de cooptação dos povos recém convertidos à fé cristã.
Podemos encontrar vários pontos em comum entre os mitos cristãos e o mito de Osíris.
Assim como o dividido Adão Kadmon , o corpo de Osíris foi espalhado pelo Egito, aqui
claramente representando o mundo material. Da mesma maneira podemos lembrar do corpo de
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Cristo sendo repartido entre Seus apóstolos. Como o Cristo que morre e efetua Sua ressurreição,
Osíris também voltou dos mortos, sendo cultuado como um deus da fertilidade, pois assim como
o Cristo, representava a natureza, onde tudo nasce, morre e volta a renascer. Isis procurou e
remontou o corpo de ser esposo, e era venerada pelos antigos como uma deusa da morte e dos
ritos mortuários. Da mesma maneira, Maria Madalena procurou pelo corpo de seu mestre
amado, para efetuar os ritos de sepultamento.
Era natural que, com o passar dos anos, as comunidades pagãs convertidas efetuassem o
sincretismo das duas figuras. Como Isis era comumente representada com seu filho Hórus no
colo, figuras de madonas negras com o Cristo no colo foram erigidas para lembrar os antigos
santuários da deusa Isis e de demais deusas. Além disso, Valentiniano, o principal autor
gnóstico, era claramente influenciado pela mitologia grega e egípcia, fazendo o sincretismo das
características fertilizadoras femininas através de Sophia/Maria Madalena. Outra fonte de
imagens de Virgens Negras seriam os Cavaleiros Templários, que as teriam trazido da Terra
Santa para a Europa. A entrarem em contato com as culturas do Oriente Médio, principalmente
no Egito, os cavaleiros do templo encontraram várias similaridades entre os diferentes cultos
religiosos do Ocidente e do Oriente. Além disso, sabiam que essas imagens representavam as
diferentes manifestações do mundo divino nas diversas culturas. Curiosamente, na regra que São
Bernardo criou para a Ordem do Templo, constava a obediência à Betânia, aos castelos de Maria
e Marta, num alusão ao castelo de Maria Madalena mencionado nas Lendas Áureas. Foram os
Templários que associaram o culto das virgens negras à Maria Madalena, e também Bernardo foi
o primeiro a associa-la à noiva morena dos Cânticos de Salomão.
O que é inusitado é que existem várias imagens de Virgens Negras associadas à Maria
Madalena que estão com uma criança no colo, o que sempre intrigou os historiadores e os
especialistas em religião comparada.
A busca por uma linhagem sagrada do homem Jesus animou a mente de várias pessoas ao
longo dos séculos, mas não há nenhum escrito da época sobre o assunto. A necessidade que
anima esta esperança é a mesma que animava os judeus da época do Cristo, quando esperavam
um Messias rei e guerreiro. Os homens procuram a solução de seus problemas no mundo da
matéria e esquecem que a verdadeira linhagem do Cristo, Seu Sangue e Seu Corpo, são doados a
todo momento na Eucaristia, e pertencem a todos os homens. Este é o Sangue Real que
Madalena poderia ter levado junto consigo em sua peregrinação, e ele é mais forte e
transformador do que qualquer objeto.
De qualquer modo, as Virgens Negras são uma manifestação legítima e poderosa de Fé,
na medida em que sabemos que Deus se manifestou à todos os homens, em todos os tempos, de
acordo com a capacidade de entendimento de cada cultura. E a cada um deu, sua parte da Gnose
Sagrada. E Maria, como a Apóstola dos Apóstolos, e a noiva sagrada dos Cânticos dos Cânticos,
também se manifesta através deste poderoso símbolo. E a criança sagrada que traz junto de si, é
o Cristo Oculto que fez nascer dentro de seu coração purificado.
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Os reis de cabelos longos - O fundador da dinastia merovíngia teria sido Merovech, supostamente filho
de dois pais : sua mãe grávida do rei franco Chlodio, foi seduzida enquanto se banhava nas águas do mar por um ser
mitológico conhecido por Quinotauro. Portanto, nas veias de Merovech corria o sangue franco misturado com o de
uma figura aquática. Os reis merovíngios, considerados então como reis-sacerdotes, tinham o costume de nunca
cortar o cabelo, e tinham como característica uma marca de nascença : uma cruz vermelha entre os ombros. Sua
vestimentas reais eram ornamentadas com pendões que tinham poderes mágicos e curativos, e eram tidos como
adeptos do oculto, reis mágicos. Os merovíngios consideravam-se descendentes de Noé, a quem reverenciavam
como a fonte de toda a sabedoria bíblica, e do troianos (o que explicaria, segundo alguns historiadores, os nomes
troianos de algumas cidades francesas : como Troyes e Paris). Alguns escritores os consideram oriundos da região
da Arcádia grega (Homero considerava os troianos descendentes dos arcadianos). A palavra Arcádia vem de Arkas,
deus patronal dessa área da Grécia, o filho da ninfa Calisto, irmã da caçadora Artêmis. A constelação de Calisto é
também conhecida como a Ursa Maior (curiosamente o nome Artur vem do celta Arthus, ou Urso).O mais famoso
dos reis merovíngios foi Clóvis, que além de um grande conquistador, fez por volta de 496, um pacto com a então
enfraquecida igreja católica, para construção de um novo Império Romano, como um novo Constantino. Submeteu à
fé católica, além dos francos, os visigodos e os lombardos. A conversão e o batismo de Clóvis iniciaram a criação do
Sacro Império Romano, o braço secular da igreja católica.
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Simbologia de Maria Madalena
O Jarro
Este símbolo dispensa maiores comentários do porque estar associado à Maria Madalena,
já que ela foi associada à várias passagens da bíblia sobre mulheres que ungiram o corpo do
Senhor, com um liquido que estava em um jarro. Além disso, o Jarro nos lembra o cálice
sagrado, também era representado por uma cornucópia, que dispensava alimento espiritual à
todos o que o tocassem.
O Crânio
O crânio também está associado à ressurreição por ser um símbolo da morte física. É o
arquétipo da renovação espiritual, do abandono da vida anterior ligada ao mundo da matéria, da
renovação da natureza. Como ela foi testemunha da ressurreição do Cristo, foi associado à ela
este símbolo.
Outra associação possível é com o nome do lugar onde o Cristo foi crucificado : o
Gólgota, ou "lugar das caveiras". De acordo com o tradição mística cristã, Cristo foi crucificado
no mesmo lugar onde o corpo de Adão havia sido enterrado. Quando o sangue de Cristo foi
derramado, ele penetrou no solo sagrado e purificou o Adão original, abrindo caminho para sua
absolvição e reintegração. Ali, no centro anímico da Terra, o fogo renovou a natureza, e por ser
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uma das testemunhas da Sua crucificação, Maria Madalena, assim como a Virgem Maria, são
associadas ao símbolo.
O Livro
Maria Madalena também é muitas vezes representada juntamente a um livro aberto, sobre
o qual ela medita sobre os conhecimentos deixados pelo Mestre. O Livro é a Gnose, é o Novo
Testamento, ou Aliança deixada pelo Cristo aos seus discípulos. Como principal discípula de
Jesus, Madalena continua como a portadora do Conhecimento que abre o espírito ao Espírito
Divino. Ela decifra o verdadeiro conteúdo e simbologia das escrituras, buscando o sentido
interior da palavra escrita. Pode ser também a representação do fato de que, à Maria Madalena,
foi associado o quarto evangelho, senão como sua escritora, mas como sua inspiradora, pois é o
evangelho que mais fala do amor e do espírito. Além disso, há o fato de que o quarto evangelho
foi atribuído ao "discípulo mais amado" do Cristo, epíteto este utilizado pelas comunidades
cristãs primitivas mais à Maria Madalena do que à João. Outro detalhe é que, em sua cruz, Jesus
pede ao "discípulo mais amado" que cuide e vele por sua mãe, Maria. Como sabemos pela
descrição da cena pelo próprio autor do quarto evangelho, ao redor da Cruz só estavam as três
mulheres, e entre elas Madalena. Isto poderia representar que era a ela que Cristo se dirigia, e
não a nenhum outro discípulo.
O Ovo Vermelho
Diz a tradição que, após partir para a Europa, Maria Madalena conseguiu uma audiência
em Roma com o imperador Tibério César, por ser considerada uma patrícia romana (assim como
Paulo). Sua intenção era denunciar o crime cometido pela negligência de Pilatos, e para isso
contou-lhe a vida do Cristo, Sua morte e Ressurreição. Ao terminar seu relato, ela pegou sobre a
mesa de jantar um ovo branco para ilustrar seu ponto de vista sobre a ressurreição. Ao ver isso,
César replicou que era mais fácil um ovo branco se tornar vermelho do que existir alguém que
retornou dos mortos. No mesmo instante, o ovo nas mãos de Maria se tornou vermelho como
sangue. Até hoje os cristãos ortodoxos trocam ovos vermelhos na Páscoa para comemorar esta
estória.
O ovo é o símbolo do nascimento, de tudo o que está em germe para ser gerado e dar à
vida. É o símbolo da unidade primordial, que trás em si o que irá emanar. É a gestação do Novo
Homem, símbolo da unidade da qual viemos e para qual iremos retornar.
Cultuar seus símbolos é uma forma de evocarmos os auspícios de Maria, e meditar sobre eles é
uma forma de penetrar em seus mistérios.
Santa Maria Madalena
Cripta em Jerusalém
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Desde o início da idade média, Santa Maria Madalena tem fervorosa devoção,
principalmente na Europa, de todos os destituídos, prostituídos, pecadores e despossuídos, que
estão em busca de um verdadeiro arrependimento. Várias instituições foram criadas levando o
seu nome, para o acompanhamento e orientação, principalmente, de mulheres vítimas da
prostituição.
Diz a lenda, que após a volta do Cristo para junto de Seu Pai, Maria Madalena partiu em
busca do isolamento, passando o resto de sua vida em penitência e adoração ao Cristo, habitando
em uma gruta. Como não se alimentava, anjos vinham constantemente em seu socorro, até que
veio a falecer e sua alma foi levada por um cortejo de anjos, para o céu, junto ao seu Salvador.
O fato da lenda nos contar sobre a penitência de Madalena em uma gruta, nos lembra,
mais uma vez, do simbolismo de nossa Alma presa em eterna penitência em nosso corpo
físico, em busca de sua reintegração com o Cristo.
Bibliografia
FIM