PEARSON - O Heroi Interior

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OHEROI

INTERIOR
Seis Arquétipos que Orientam
a Nossa Vida

CAROL s. PEARSON

Este livro trata das histórias .que nos ajudam a encontrar o sentido
de nossas vidas. Nossa experiência é deftnida literalmente pelas con-
cepções que temos da vida. Criamos histórias sobre o mundo e, de um'
ponto de vista mais amplo, vivemos segundo as suas tramas. Nossa-vida
depende, em grande medida, do script que adotamos, conscientemente
ou, o que é mais provável, inconscientemente.
Todos os--mitos do herói, culturais ou individuais, indicam-nos"os'
atributos que são considerados deftnidores do bem, do belo e da v~rdade, .
e assim nos ensinam aspirações valorizadas culturalme.nte. Muitas dessas
histórias são arquetípicas. Os arquétipos,. como postulava Carl Jung, são
padrões permanentes e profundos da psique humana que se mantêm
poderosos e atuantes ao longo do tempo. '.
O Herói Interior combina literatura, antropologia e psicologia para
deftnir com clareza e compreensão profunda os seis arquétipos que
existem dentro de nós (o Inocente, o Órfão, o Mártir, o Nômade, o
Guerreiro e o Mago). Este livro contém também exercícios destinados a
despertar e iluminar esses arquétipos de modo a nos tornarmos mais
íntegros e conscientes da nossa jornada interior.

EDITORA CULTRIX
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CAROL S. PEARSON

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o HEROI INTERIOR
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Seis Arquetipos que Orientam
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Traduf{iio
TEREZINHA BATISTA SANTOS
;
.;

EDITOR A CULTRIX
, Sao Paulo
l)5A 1~c6
e, t~ 4'iq~
Titulo do original:
The Hero Within
Six Archetypes We Live By

Copyright © 1986,1989 by Carol S. Pearson.


Publicado mediante acordo com a Harper & Row Publishers Inc.

yom amor e gratidao,


pela profundidade da sua f6
e a for<;a do seu exemplo,
EdiC;iio
dedico este livro a meu pai,
Ano
1"2-3-4-5-6-7-8-9-10-11-12 92-93-94-95--96-97
.John A. Pearson
Direitos de tradu~ao para 0 Brasil
adquiridos com exclusividade pela
EDITORA CULTRIX LTDA.
Rua Dr. Mario Vicente, 374 - 04270 - Sao Paulo, SP - Fone: 272 1399
quese reserva a propriedade literana desta tradu~ao.
Impresso em nossas oficinas graficas.
Agradecemos pela pennissao detranscrever trechos das seguintes obras:
Re-Visioning Psychology, de James Hillman. Copyright © 1975 by James
Hillman. Transcrito com permissao de Harper & Row, Publishers, Inc. The
Complete Poems and Plays, 1909-1950, de T. S. Eliot. Copyright © 1971 by
Esme Valerie Eliot. Transcrito com pennissao de Harcourt Brace Jovanovich,
Inc. The Search, de Tom Brown, Jr. e William Owen. Copyright © 1980 by
Tom Brown, Jr. e William Owen. Transcrito com permissiio de Prentice-
Estamos nos abrind6 para a "religiao da psicologia", sugerindo . Hall, Inc. At the Edge of the Body, de Erica Jong. Copyright © 1979 by Erica
que a psicologia 6 uma variedade de experiencia religiosa. Jong. Transcrito com permissao da Sterling Lord Agency, Inc. The Collected
Poems of Wallace Stevens, de Wallace Stevens. Copyright © 1954 by Wallace
I
Stevens. Transcrito com permissao de Alfred A. Knopf, Inc. The Wind in the
A psicologia enquanto religiao implica imaginar todos os even-
Door, de Madeleine L'Engle. Copyright © 1973 by Crosswicks, Ltd. Trans-
tos psicol6gicos como efeitos de Deuses na alma, e todas as ativida- crito com permissao de Farrar, Straus and Giroux, Inc. The Fool and His
des relativas a alma, tais como a terapia, como a<;~s do ritual, em Scepter, de William Willeford. Copyright © 1969 by William Willeford.
rela<;ao a esses Deuses. . . Nao 6 que a religiao se transfonne em Transcrito com permissao de Northwestern University Press. The Mists of
psicologia - nao, 6 simplesmente a psicologia voltando para a casa Avalon, de Marion Zimmer Bradley. Copyright © 1983 by Marion Zimmer
que 6 sua. Bradley. Transcrito com permissao da autora. Energy and Personal Power, de
James Hillman, Re-Visioning Psyclwlogy Shirley Gehrke Luthman. Copyright © 1982 by Shirley Gehrke Luthman.
Transcrito com permissao de Mehetabel and Co. Whee! We, Wee All the Way
Home, de Matthew Fox. Copyright © 1981 by Bear and Company, Inc.
Transcrito com permissao de Bear & Co. The Realms of Gold, de Margaret
Drabble. Copyright © 1976 by Margaret Drabble. Transcrito com permissiio
de Alfred A. Knopf, Inc. The Color Purple, de Alice Walker. Copyright
© 1982 by Alice Walker. Transcrito com permissao de Harcourt Brace Jova-
novich, Inc. Women and Nature, de Susan Grifim. Copyright © 1978 by Su-
san Grifim. Transcrito com permissao de Harper & Row, Publishers, Inc. The
New English Bible, Copyright © 1961, 1970 by the Delegates of the Oxford.
University Press and the Syndics of the Cambridge University Press. Usado
com permissao.

7
id6ias de Patricia Sun e do Movimento da Nova Era, e ao "Grupo de
Milagres" de Charlotte, Carolina do Norte, por tudo 0 que me ensi-
nararn a respeito do Mago, especialmente a Carol Rupert, Judy Bil-
lman, Fan Watson e Mary Dawn Liston.
Meus agradecimentos a Josephine Withefs, Dorothy -Franklin,
A GRADECIMENTOS Carol Robertson, Bud Early, Sharon Seivert, Laurie Lippin, Mary
Leqnard e a outros de minha comunidade espiritUaI, por me ensinarem
a reivindicar a abundfulcia e a prosperidade e pelo arnor e apoio que
me deram. J~ nao consigo imaginar-me vivendo sem essa comunidade
tao arnorosa. A meu marido, David Merkowitz, e a meus f"J.1hos, Jeff,
I Steve e Shanna, minha p~ofunda gratidao pelo arnor, apoio e tolemn-
cia para 'com minhas longas horas no microcomputador e para com
Meu padrao de "verdade" ao escrever este livro nao foi uma minha abstra~ao geral durante a elabora~ao deste livro.
medida extema, mas 0 meu conhecimento pn1tico. Tudo 0 que disse Tarnb6m sou profundarnente reconhecida pelo encorajamento e
tem sido de grande utilidade na minha vida. Apliquei e testei aquilo cnticas de colegas e alunos que leram e f"lZerarn comentmios sobre 0
que descobri em minhas leituras, obseiva~6es, pesquisas e ouvindo manuscrito: Sharon Seivert foi particularmente util e generosa com
meus amigos, colegas e alunos, no meu relacionarnento com as pes- seu tempo, fazendo sugest6es editOlriais especfficas, passando inu-
8Oas. Compartilho aqui as verdades que sobreviveram a esse teste. meros almo~os discutindo id6ias potenciais e formas de estruturar os
Gostaria que voces conhecessem certas pessoas e grupos que capftulos do livro, de modo a tomar sua leitura mais agra~vel. Tive
causararn urn profundo impacto sobre 0 meu pensamento e a minha a sorte de fazer 0 seminmo de David Oldfield, "A Jomada do
vida, sem os quais. eu nao teria escrito este livro. A Katherine Pope, Her6i", quando estava concluindo a revisao do manuscrito, e suas
com quem escrevi dois livros, agrad~o a estimula~ao de minhas id6ias e sugestoes forarn valiosfssimas para a reorganiza~ao de Ulti-
. id~ias e a experiencia de colabora~ao de irmas. ma hora e a harmoniza~ao I dos conceitos. Meus agradecimentos
Meus sinceros agradecimentos a Anne Schaef, a coisa mais pr6- tamMm a orienta~ao do especialista David Merkowitz na edi~ao fi-
xima de um mentor que tive. Nos seis anos em que trabalhei na nal e na revisao do manuscrito.
eqliipe de auxiliares de seu "Intensivos para Mulheres Profissio- Dentre outras pessoas que leram e comentararn 0 manuscrito,
nais" ~ minhas id~ias a respeito da vida foram profundarnente modifi- cujas id6ias foram fundamentais, incluem-se Lee Knefelkamp, Jose-
cadas. As id~ias de Anne Schaef acerca das diferen~as entre siste- phine Withers, Deborah Marstellar, Dorothy Fra.nitin, Gary Ferraro.
mas masculinos e femininos, sua. articula~ao das formas de sat1de Jessy Leonard, Judy Touchton e os alunos de meu curso de outono
mental e emocional quando aprendemos a "viver em progressao" e a de 1984, "Cultura Feminina e Mudan~a Social". na Universidade
experiencia de trabalhar com ela transformaram radicalmente minha de Maryland.
vida e meu trabalho. Sou igualmente grata a outras pessoas de sua Finalmente. gostaria de expressar minha gratidiio ao Prograrna
equipe, sobretudo a Liv Estrup, Deborah Carver Marstellar, Rose- de Estudos da Mulher da Universidade de Maryland, por ter propi-
mary Rocco, e Jill Schumacher, que muito me ensinararn sobre a vi- ciado urn arnbiente de trabalho desafiador e sustentador, a Universi-
da em progressao e sobre a responsabilidade e espiritualidade pes- dade pela licen~a que me proporcionou tempo para escrever este li-
8Oal.. vro e aos alunos do meu curso "Mulheres. Arte e Cultura", pela mo-
Agrade~o tamb~m a Mami Harmony, que me introduziu nas tiva~ao para escreve-Io.

8 9
I
,

Sumario

Pref~cio a edi<;ao ampliada .......................••... 13


Pref~cio a primeira edi<;ao. . . ...•...................•.. 16
Introdu<;ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . . . . . . . . . . . 21
1 - A Jornada do Her6i. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2 - De Inocente a 6rfao .....•........................ 53
3 - 0 Nomade..... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
4 - 0 Guerreiro.................................. 109
5 - 0 M~ir . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
6 - 0 Mago . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . . . . • . . 157
7 - 0 Retorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • • . 197
8 - Como usar (e nao usar) este livro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 203
Exerc!cios para 0 Her6i Interior ..•..................•. 215
Apendices . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . 250
Notas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 200
Prefacio a Edieao Ampliada

Inicia1mente, foi a preocupa<;ao com a possibilidade ~ nao con-


seguirmos solucionar os grandes problemas politicos, sociais e fi-
los6ficos de nosso tempo, caso muitos de n6s persistfssemos em ver
o her6i ulai fora" ou ulai em cima", longe de n6s mesmos, que me
inspirou a escrever 0 Her6i Interior. 0 livro pretendia ser urn cha-
mado a busca, desafiando ·os leitores a reivindicar seu pr6prio he-
ro{smo e empreender sua pr6pria jomada. Esse chamado nao implica
tomar-se maior ou melhor ou mais importante do que qualquer outra
pessoa. Todos somos importantes. Todos n6s temos uma contri-
bui<;ao fundamental a dar, 0 que s6 poderemos fazer assumindo 0
risco de sermos n6s mesmos e Unicos.
TOOos sabemos que, sob a busca fren~tica de dinheiro, status,
pOOer e prazer, bern como as atitudes obsessivas e viciadas comuns
nos dias de hoje, encontra-se a sensa<;ao de vazio e a Wlsia de ir
mais fundo, comum aos seres humanos. Ao escrever 0 Her6i Inte-
rior, pareceu-me que tOOos n6s queremos e precisamos encontrar, se
nao 0 "sentido da vida", ao menos 0 sentido de nossas pr6prias vi-
das individuais, para que possamos descobrir formas de viver e de
ser fecundas, efetivas e aurenticas.
No entanto, mesmo sabendo disso, a maci<;a resposta culturalls
entrevistas de Joseph Campbell a Bill Moyers na ~rie PBS "0 Po-
der do Mito", juntamente com a entusia1stica resposta dos leitores

13
r
a 0 Her6i Interior, foi uma surpresa agradavel para mim. Mais pes- I nho em atravessar a dor e encontrar 0 significado e I;llegria de viver.
soas do que eu jamais ousara im~ginar pareciam prontas e at6 mesmo Esta nova edi~ao ampliada de 0 Her6i Interior foi estimulada
ansiosas para responder ao chamado da busca her6ica com urn entu- .', pela pergunta mais freqiientemente feita pelos leitores: "E possfvel
siastico "sim". I
I
fazer algo para incentivar 0 desenvolvimento de urn arquetipo na vi-
A primeira edi~ao de 0 Her6i Interior esgotou-se quase inteira- da de uma pessoa?" A resposta e "sim", e os exerc!cios que foram
mente apenas com a propaganda verbal. Fiquei encantada ao saber acrescentados a edi~ao ampliada visam exatamente a isso. Voce po-
que muitos leitores compraram vanos exemplares para dar aos ami- de fazer apenas os exercfcios de urn arquetipo especffico que deseja
gos e colaboraq.ores, como forma de convoca-Ios para a busca e, ao desenvolver ou tOOos os exercfcios, como fonna de encorajar a tota-
mesmo tempo, criar a sensa~ao de comunidade capaz de sustentar lidade. Voce pOOe trabalhar nesses exerc!cios sozinho, mas faze-los
suas pr6prias jomadas. InUmeros leitores se queixaram de que com outras pessoas, se for conveniente, e uma excelente maneira de
exemplares do livro desapareciam de seus escrit6rios e salas, imagi- criar amizades e comunidades que possam sustentar a jomada her6i-
no que levados por amigos, amantes, parentes, clientes e colabora- ca de cada urn.
dores. A segunda pergunta mais freqiiente foi a seguinte: "0 que voce
Muitos leitores tambem escreveram ou telefonaram para contar aprendeu desde que escreveu 0 Her6i Interior?" Embora a resposta
como 0 Her6i Interior foi 0 titulo que de:fmiu suas pr6prias expe- mais ampla a esta questao dependa da conclusao de dois livros em
riencias ou, de algurna outra forma, ampliaram suas possibilidades. andamento, a resposta mais simples e que agora eu ressaltaria, ainda
Comoveu-me particularmente urn homem de Perth, Australia, que me mais fortemente que na primeira edi~ao do livro, a natureza c!clica
telefonou tres vezes, em liga~ao intemacional, para me agradecer da jomada e a igualdade fundamental dos arquetipos. Se reescreves-
por ter escrito 0 livro, aparentemente sem deixar-se desanimar pela se 0 Her6i Interior hoje, eu ampliaria a discussao acerca da contri-
secret8ria eletronica, que sempre atendia. Acima de tudo, porem, bui~ao positiva do arquetipo do Inocente e dos reveses do MagQ,
sensibilizaram-me as hist6rias de transfonna~ao pessoal. Urn jovem sobretudo os perigos de causar estragos como faz 0 Aprendiz de Fei-
do Pacffico Norte contou-me que era viciado em drogas e perdera ticeiro, quando assumimos algo que esta alem de nossas for~as, ou
tudo. Quando urn amigo the deu de presente 0 Her6i Interior, ele de fazer 0 mal, como 0 Feiticeiro Mau, quando usamos 0 poder do
estava morando sozinho na floresta. Ele leu 0 livro, acreditou no que Mago para :fms egocentricos e desumanos.
leu e mudou de vida. Quando me trouxe seu esfarrapado exemplar Finalmente, os leitores indagaram sobre 0 impacto que a publi-
para que eu autografasse durante uma palestra, ele ja era 0 executivo ca~ao deste livro teve em minha pr6pria vida. 0 impacto sobre mi-
de uma pequena empresae estava se saindo muito bern nessa fun~ao. nha vida exterior foi consideravel, afastando-me das aulas e da ad..,
Tal e 0 pOOer do mito. ministra~ao na Universidade e levando-me a assumir a presidencia
Naturalmente, nao estou querendo dizer que tOOo leitor de 0 de uma organiza~ao educacional e de consultoria. Nessa fun~ao, es-
Her6i Interior tenha adquiridopoderes ou mesmo gostado do livro. crevo, falo, realizo seminanos e sessOes de treinamento, e fa~o con-
Uma mulher, por exemplo, repreendeu-me por ter escrito 0 capftulo sultas a organiza~Oes de tempo integral acerca das fonnas de ouvir
do "Mago", perguntando-se como a autora de urn livro, sob outros os her6is interiores ao assurninnos nossas jomadas individuais e
aspectos tao uti!, pode escrever semelhante refugo! Outra mulher, coletivas. 0 impacto sobre minha vida interior nao foi menor. Saber
explicando por que nao conseguira penetrar na essencia do livro, que tantas pessoas mergulharam na perspectiva m!tica de suas vidas
disse-me: "Para mim ficou claro que voce quer aprofundamento es- incentiva 0 meu trabalho e acentua meu otimismoquanto ao futuro
piritual. E eu quero apenas parar de sofrer", resposta ditada por ta- da nossa sociedade~ Por tudo isso, e por muito mais, sou profun-
manha sensa~ao de perda e vulnerabilidade que nao pude deixar de damente grata.
simpatizar com seu ponto de vista, nao obstante todo 0 meu empe-
15
14
ninos na literatura americana e inglesa 1 (McGraw-Hill, 1976). Ao
explorar esses retratos, eu e Katherine Pope identificamos tres ima-
gens femininas her6icas: afoia,a-artj.§!I,t:_~~Ul:,.guen:ei:r.a.
Escrever esse livro ajudou':mea'compreender nao s6 que muitos
de nossos padrc5es de socializa~ao baseiam-se eb estere6tipos li-
mitantes, mas tamb6m que eS imposslvel simplesmente decidir que
eles nao sao bons para n6s e ignor~-los. Os estere6tipos sao ver-
Pre facio sc5es domesticadas dos arquetipos dos quais retiram seu poder. 0
estere6tipo superficial parece controMvel e seguro, mas ele reduz,
e nao amplia, a vida. 0 arqueStipo que es~ por trM dele eS pleno
de vida e poder.
Quando Katherine Pope eeu atravessamos os estere6tipos limi-
tantes e chegamos aos arqueStipos que esmo por trM deles, descobri-
mos uma tradi~ao rica e ateS enmo inexplorada de herolsmo feminino.
Ao escrever a minha disserta~ao, jamais me ocorreu ques~onar se os
Escrever este livro foi, em parte, uma homenagem aos arqueSti-
padrc5es que identificava como caracterlsticos do herolsmo humane
pos que me t!m ajudado a crescer como pessoa e como estudiosa. E
no mundo contemporaneo poderiam ser diferentes, caso 0 her6i fos-
foi tamb6m urn exerc!cio de smtese, utilizando conhecimentos de
se mulher. Decidimos explorar hist6rias com protagonistas femininas
indmeras tradf~c5es, aleSm da psicologia arquetlpica, que tanto tem in-
e delinear 0 padrao do herafsmo feminino. Descobrimos que, embora
fluenciado meu trabalho e minha vida. Entre estas encontram-se a
no n!vel arquetfpico os padr6es de hero!smo masculino e feminino
teoria feminista (incluindo formula~c5es acerca dos sistemas femini-
fossem bastante parecidos, eles diferiam profundamente nos deta-
nos), a terapia, a psicologia evolutiva e as ideSias do movimento da
lhes, no car~ter e no significado de hist6rias an~ogas sobre homens
Nova Era. Este trabalho eS tamb6m meu quarto estudo em forma de
livro sobre os padrc5es da jornada her6ica, continua~ao do meu tra- ~de~s, a jomada da herolna er.a m:l0timlsta, ~~~~r~tic~ ~igua~
li~a do que a de sua contrapartida sculma. .-,------ I
balho anterior.
Essa pesquisa levou a publica~ao de The Female Hero in Ame-
. Minha tese enfocava os her6is e os tolos na fic~ao contempora-
rican and British Literature. 2 Desde enmo, as respostas dos leitores
nea, e nela busquei dermir uma mudan~a de paradigma cultural, pas-
ao livro me convenceram do poder de tomar expl{citos os mitos que
sando da consciencia her6ica ao anti-her6i e deste ao tolo, ou em-
gove~~_.a-~~ vida. Enqu~!o ~~_()_~_ c.li_a:rn3filos~lo-::no_l1l~, so-
busteiro, que fomece uma altemativa, uma visao c6mica e otimista
_rnes-~~_~~!~reSIl:s e)lada podemos fazer aleSm de viver segundo suas
para as possibilidades de plenitude da vida, mesmo no mundo mo-
iiamas a16 0 fini~:-Quand~_p~es-aamos ,- nornes, pod~m()s'escolher a
demo. M~s tarde, influenciada pelo movimento feminista, passei a
nossa resposta. Podemos libertar-nos de mitos indesej~veis (como 0
me interessar pelas imagens de mulheres na literatura. Explorei par-
mito da Cinderela, recentemente identificado como criador do Com-
ticularmente a intera~ao entre as hist6rias culturais que retratavam
plexo de Cinderela) e/ou podemos respeitar 0 padrao arquetfpico
as mulheres como virgens, prostitutas, esposas e maes, bem como I que controla nossas vidas, aprendendo a li~ao que ele tem a ensinar.
a forma~ao da identidade feminina. Como n6s, mulheres, podemos j
Quando iniciei 0 estudo das jomadas femininas, pouca coisa ha-
saber quem somos? A16 que ponto as histbrias de que dispomos sao I via side realizada - ao menos pouca coisa que levasse em conside-
sadias? 0 resultadodessa pesquisa foi uma antologia, coeditada com ~
ra~ao uma perspectiva feminista. as grandes livros sobre 0 her6i,
Katherine Pope e intitulada Quem sou eu desta vez? Retratos femi- t
16
~ 17
{ "

tais como 0 Her6i de Mil Faces, de Joseph Campbell, supunham i'\·

que 0 her6i era homem .ou que os herofsmos masculino e feminino Shirley Luthrnan, juntarnente com outros pensadores da Nova
eram essencialrnente a rnesrna coisa. 3 Agora, corn 0 desenvolvirnento Era, tais como Gerald G. Jampolsky (Love Is Letting Go of Fear)9 e
dos estudos fernininos e 0 aurnento do interesse pela cultura feminis- W. Brugh Joy (Joy's Way),l0 ajudou-me a compreender que, sob
ta, muitos te6ricos com~am a estudar os padrOes da jomada femini- muitos aspectos, n6s pr6prios escolhe11.los 0 mundo em que vivemos.
na e 0 modo como e~s diferem da jomada masculina. A rnaioria Ao escrever este livro, percebi que cada arquetipo traz consigo urna
desses trabalhos, contudo, enfatiza exageradarnente as diferenc;as. fo~ de ver 0 mundo. 0 mundo exterior tende a agradar-nos, refor-
Existe hoje a necessidade de explorar os padroes· da jom~da c;ando as convicc;Oes que nutrirnos a seu respeito. Por exempl0, as
ferninina' e rnasculina ern conjunto, atentando seriamente para as pessoas que se consideram v(tirnas acabam sendo v!tirnas. Alem dis-
foanas ern que somos iguais e as forrna.8 ern que somos diferentes. so, mesmo quando 0 mundo nao nos serve de espelho, enxergamos
Ainda somos rnembros da mesma esp6cie; contudo, nossa biolo- nele aperias os aspectos que se ajustarn aos nossos scripts atuais,
gia e nosso condicionamento sao diferentes, bern como as oportwri- a nao ser que estejamos evolutivamente aptos para avanc;ar.
dades que nos sao oferecidas pela sociedade. Ern conseqiiencia, Fac;o, contudo, certas restric;6es a urna parte do pen&amento da
a estrutura e 0 torn de nossas jomadas diferem, assirn como os enre- Nova Era, como, por exemplo, a certas afmnac;Oes contidasem li-
dos que representarnos. vros como /lusOes, de Richard Bach. 0 mundo exterior existe e Iiao
Pelas conceituac;Oes inovadoras acerca das diferenc;as entre os esta inteiramente sob 0 controle de uma unica pessoa. Vma coisa e
sexos, sou agradecida aos trabalhos te6ricos de Carol Gilligan (In a' . acreditar que somos totalmente, responsaveis pela nossa vida e, no
Different Voice: Psychological 'Theory~and Women's Develop- n!vel da alma, escolher os eventos que nela hao de ocorrer, e outra,
ment),4 Jessie 1¥rnard (The Female World)5 e Anne Wilson Schaef bern diferente, ever como ilus6rio tudo. 0 que nos e exterior. E fun-
(Women's Reality: An Emerging Female System in the White Male damental para 0 desenvolvi?tento de urn ser hurnano responsavel
Society)6. Agradec;o tarnbem a Anne Schaef,.com quem trabalhei du- perceber a existencia das outras pessoas, assirn como da pobreza., da
rante muitos anos, por proporcionar-me a compreensao dos princf- enfermidade e do sofrimento. Ademais, assusta-me a possibilidade
pios que se encontram por trtis da terapia de progressao, e sobretudo de urn detenninado pensamento da Nova Era estirnular as pessoas a
pela :flnne convicc;ao de que podeIllos confiar em nossos pr6prios acreditarem que podem dar saltos em suas jornadas e regressat ao
processos. As obras publicadas de Shirley Gehrke Luthman (sobre- Eden sem ter completado suas tarefas evolutivas fundamentais.
tudo Collections and Energy and Personal Power)7 foram irnpor-: Este livro. nao poderia ter sido escrito sem os conceitos dos te6-
tantes para 0 meu aprimoramento dessa compreensao, especialmen- ricos p6s-jungJianos - James Hillman e Joseph Campbell. l1 Alem
t:e no tocante ao conceito' de espelho discutido no CapItulo 6. 0 desses estudiosos dos arquetipos, agradec;o aos psic610gos evoluti-
Mago. 0 trabalho de Starhawk sobre a espiritualidade feminista vos que trabalham na area do desenvolvirnento cognitivo e moral,
(The Spiral Dance e Dreaming the Dark) tamMm influenciou tais como William Perry (Forms of Intellectual and Ethical Deve-
o meu trabalho. 8 . lopment in the College Years: A Scheme),12 Lawrence Kohlberg
Meu trabalho difere de muitos estudos te6ricos sobre as diferen- (The Philosophy of Moral Development)13 e novamente Carol Gilli-
c;as entre os sexos porque enfatiza as semelbanc;as btisicas entre eles? gan, bern como meus colegas da .~versidade de Maryland, em
bern como suas diferenc;as. Espero que, ao ressaltar algumas seme- especial Faith Gabelnick e Lee Knefelkamp, por tudo 0 que apren-
lhanc;as e diferenc;as. meu livro nao s6 tomara a jomada mais facil e di com eles.
menos dolorosa para homens e mulheres como tarnbem melhorara ,a Os conceitos da psicologia evolutiva fundamentais para este
comunicac;ao entre eles. livro sao a crenc;a de que todos os seres hurnanos passam por fases e
estagios e a de qllte a conclusao vitoriosa de urn estagio possibilita a
18
19
passagem para 0 es~gio seguinte, embora homens e mulheres cos-
tumem viv8-los em ordens diferentes e desempenhar distintamente os
seus pa¢is. Embutida em cada es~gio encontra-se uma tarefa
evolutiva. Os es~gios sao portanto curnulativos, e nao estritamente
lineares. A medida que. eresce· e muda, voc8 acreseenta novos pa¢is
e sua vida toma-se mais plena. Essa teoria diverge de muitas teorias
referentes ao ~st4gio, porquanto. 0 dissocia da idade eronol6gica,
reduz a neeessidade de se abordar eada tarefa de aprendizado
em seqii8ncia e reconhece, pelo menos nos moldes ressaltados nes-
te pref4cio, a relatividade cultural. Ela nao pretende ser a verda-
de universal.
Na verdade, embora este livro seja 0 resultado de muitos anos
de estudo sobre a literatura e 0 mito e da observa~ao cuidadosa da
vida das pessoas que me cercam, ele ~ urna oferenda bastante pes-·
soal e subjetiva. Urn amigo sugeriu-me intitul4-10 "Carol Pearson
aos Quarenta", j4 que foi escrito com 0 intuito de reeonhecer 0
fim de uma fase da minha vida. Escrevi-o no momenta em que dei-
xava as aulas de tempo integral como algo a oferecer a meus alu- Este livro trata das hist6rias que nos ajudam a encontrar 0 senti-
nos, como uma s11mula do que sei da vida e do que mais desejo do de nossas vidas. Nossa experi8ncia ~ definida literalmente pelas
compartilhar com eles. conee~Oes que temos da vida. Criamos hist6rias sobre 0 mundo e,
Tenho consci8ncia das limita~Oes de meu conhecimento e expe- i( de urn I ponto de vista mais amplo, vivemos segundo as suas tramas.
ri8ncia. 0 que eonsegui Perceber e os padr6es que logrei identifiear Nossa vida depende, em grande medida, do script que adotamos,
sofrem a influ8ncia de minha experi8neia enquanto mulher branca, eonsciente ou, 0 que ~ mais prov4vel, inconscientemente.
membro da elasse m!dia, de forma~ao crista. feminista, esposa e Todos os mitos do her6i, eulturais ou individuais, indicam-nos
mae, al~m de aead8mica. Tenho certeza de que 0 leitor. cuja vida e os atributos que sao consideradok definidores do bern, do belo e da
experi8ncia podem ser inteiramente diferentes das minhas, e que por verdade, e assim nos ensinam aspira~Oes valorizadas culturalmente.
conseguinte conheee verdades urn poueo ou totalmente diferentes Muitas dessaS hist6rias sao arquetfpicas. Os arqu~tipos, como postu-
das minhas, usarn este livro como ponto de referencia· num diaIogo lava Carl Jung, sao padr6es pennanentes e profundos da psique hu;..
em progressao e reservar4 algum tempo para ponderar 0 que sabe mana que se manrem poderosos e atuantes ao longo do tempo. Para
acerca dos deuses e deusas que orientam nossas vidas. Sem duvida, usar a terminologia junguiana, eles podern existir no "inconsciente
6 0 que continuarei fazendo. Se por acaso YOre me encontrar daqui a eoletivo", na "psique
.
objetiva" ouI
podern at~ mesmo ser eodifiea-
vmos anos, nio me ~a para defender as id6ias eontidas neste li- dos na constitui~ao do c~rebro humano. Podemos perceber clara-
vro. Muito provavelmente eu terei ampliado os meus conhecimentos mente esses arqu~tipos nos sonhos, nas artes, na literatura e no mito,
e talvez j4 nao eoncorde com 0 que eu mesma disse. Diga-me 0 que que nos parecem profundos, tocantes, univetsais e por vezes a~
pensa e pergun~-me, se quiser perguntar-me algo, 0 que aprendi de- mesp10 aterrorizantes. TamMm podemos reconhece-Ios ao contem-
pois que 0 escrevi. pIaI' nossas vidas e as de nossos amigos. Observando 0 que fazemos
e· como interpretamos 0 que fazernos, podemos identificar os arqu~-

20 21
depois que 0 adulto completa a tarefa de desenvolvimento de urn ego
tipos que orientam nossas vidas. Vez por outra podemos inclusive forte ~ que seus limites podem expandir-se, abrindo caminho para
reconhecer os arqu~tipos predominantes na vida de algu~m, atrav~s o self. Inclui-se a! (em cada urn de n6s) nao somente 0 self inteira-
da linguagem corporal dessa pessoa. Vma pessoa que se arrasta en- mente consciente como tamb~m 0 inconsciente pessoal e 0 acesso as
curvada, como se cada passo fosse uma tarefa w-dua, es~ dominada imagens arquetCpicas que emergem do inconsciente coletivo. Como
pelo arqu~tipo do McU-tir, enquanto outra, cuja vida ~ controlada pe- . ; resultado, aflora nao apenas a sensa~ao renovada de admira~ao e
10 arqu~tipo do Guerreiro, caminha resolutamente, 0 queixo projeta- unidade com 0 cosmos, mas a recupera~ao e a redef1ni~ao do pen-
do agressivamente para diante, 0 corpo inclinado para a frente como samento ~gico.l
se lutasse para atingir urn objetivo. A jomada aqui descrita ~ antes circular ou espiral do que linear.
Os arqu~tipos sao bastante numerosos. Entao, como escrevi urn Inicia-se com a confian~a total do Inocente, passa a ilnsia de segu,:,
livro falando de apenas seis deles? Nao obstante a existencia de uma ran~a do 6nao, ao auto-sacrif!cio do McU-tir,a explora~ao do Noma-
ampla variedade de tramas arquetCpicas, a maioria delas nao exerce a de, a competi~ao e triunfo do Guerreiro e por run a autenticidade e
influencia desses seis arqu~tipos sobre 0 nosso'desenvolvimento. totalidade do Mago. Num grMico simplificado, a abordagem da vida
Para q1:l~ ..t!m;:t,rqu~tipo exer~a uma ~fluenci~_pr:e~~<!~r:.aDte__ em segundo os arqu~tipos seria esta:
nossa-vida, deve haver uma duplica~ao ou refor~9 exteOlu_.do
Inocente 6rfao Mlirtir Nomade Guerreiro Mago
__ padr~~Qotecim~m(u:!~ yida da pessoa ou hist6rias recontadas
Objetivo Nenhum Seguranga Bondade Autonomia Forga TotaIidade
nacUltura, capazes de jativar 0 padi-~o. por--conseguil1.te~--tantO-nossas Tarefa Queda Esperanga Capacidade Identidade Coragem Alegria/fcS
hist6rias pessoais como nossa culfura determinam os arqu~tipos que dedoagiio
serao dominantes em nossa vida. Embora os arqu~tipos, segundo Medo Perdado Abandono Egofsmo Conformismo Fraqueza superfi-
, Parafso cialidade
'Jung, pdssam constituir uma cultura eterna e transcendente, este li-
(Urn quadro mais detalhado encontra-se nas paginas 46 e 47.)
vro trata mais especificamente da cultura, pois nele descreY!lJllguns
padr6es ouhist6riasarquet!picas.q9~__ pr~&iQ~!!L.Q __~s.e.nYQlv@~l!to Os arqu~tipos identificados. aqui nao sao tCpica e habitualmente
individual na cultura ocidental. Se escrevesse sobre 0 hero!smo na considerados por junguianos como fundamentais no processo de in-
cultura africana ou japonesa, este livro seria bastante diferente (em- dividua~ao. A maioria das obras sobre psicologia junguiana utiliza
bora muitas de suas '\(erdades, devido a influencia exercida pela cul- sonhos e textosm!ticos bastante, e~6ticos para chegar a formula~Oes
tura ociderital sobre essas sociedades, possam ter relevilncia contem- psico16gicas. Nosso prop6sito consiste em, explorar os· 8rqil~tipos
porfulea para elas). ativos em 'nrissa vida c01l$ciente. A maioria-dosjungu[anos'eDfOca
A16m disso, os arqu~tipos discutidos neste trabalho sao os ar- O;-sonhos, porque n~~sa culiciii'e, conseqiientemente, nossos mode-
qu~tipos importantes ~ara a jornada do her6i, isto ~, a jom~~a__da __ in- los de socializa~ao definiram grande parte do material arquet!pico
.~vidua~ao. Sao, os arciu~tipos manfrestacios·e~-~osso·m~~do dimo, como bom ou mau. Na verdade, mergulhar nas profundezas do in-
os quais nos ajudam a definir um ego forte e expandir os seus lirni- <;:onsciente 6, via de regra, uma tarefa desencorajadora porque signi- ,
tes, perrnitindo 0 desabrochar pleno da personalidade e sua abertura fica, segundo a geografia m!tica·cultural,mergulhar no mundo infe-
, para a experiencia da unidade com outras pessoas e com os mundos rior""-'·o_mundo-dodiabo. Assim, reprimimos e censuramos 0 que
espiritual e natural. acontece a! para impedi-lo de aflorar em nossa mente consciente.
Farei uso da terminologia de Gfrl Jung, segundo a qual_~~o Este livro pode esquadrinhar as manifesta~Oes mais conscientes·
~ a parte da psique que. ex~rimentaa_~p~~~i9. A princ!pio a dos arqu~tipos, em parte porque se dirige aqueles que sao coerentes
crian~a sente pouca ou nenhuma separa~ao com respeito ao seu com 0 atual ponto de evolu~ao da nossa cultura e em parte porque a
ambiente, e nenhuma, especialmente, em rela~ao a sua mae. S6
23
22
.
"

cultura em que vivemos hoje 6 menos repressora. Explorar 0 incons-


Ciente tomou-se culturalmente aceitavel e at6 mesmo desejavel. As
abordagens mudam de acordo com a 6poca em que sao feitas. Jung
i
escreveu durante uma '6poca e num local que encorajavam a re- !
pressao psico16gica. A maioria das pessoas pouco ou nada compre-
endia de suas motiva<;6es interiores. Nossa 6poca, contudo, 6 pro-
fundamente influenciada pela psicologia, e grande parte da popu-
la<;ao tern urn born conhecimento do funCionamento da psique. Por-
taIltO, nem sempre precisamos analisar os sonhos ou outras fonnas i!' Capitulo 1
de expressao nao-censurada para descobrir 0 que 6 verdadeiro para "

n6s. Simplesmente, .Ymlos.-..hojfLIIlaiQo,\~~~~~O materiiil, inconscien-


i I
I A JORNADA DO HEROI
te, maior habilidade para lidar ~~i!i~i~e-mai~~~Pe~i~~i~--cul~1iral
para experiment31--'aiferentes sentimentoseformas(fe' sere'-'~gff~,z:t0
mWido--do--que~~<isp_~~l~rit~i:(j~:Jung. Nossa psique nao preCisa es-
conder~e-tanto de n6s, e os arqu6tipos nao precisam ser tao bizarros
e amea<;adores. Na verdade, foi por esse motivo que utilizei palavras
comuns e conhe~idas para descrev~-los, em lugar dos nomes ex6ti-
cos de deuses e deusas ancestrais, ou ainda de tetmos psico16gicos
como anima ou animus, que para alguns poderiam parecer intimi- Os her6is empreendem jomadas, enfrentam drag6es e descobrem
dantes. o tesouro de seus verdadeiros selves. Embora possam sentir-se muito
o importarlte 6 que podemos sentir-nos seguros e a vontade em sozinhos durante a busca, ao finalta recompensa 6, urn sentimento de
nossa pr6pria psique, e nao precisamos de anos de estudo de psico- comunhao: consigo mesmos, com outras pessoas e com a Terra. Ca-
logia para'conseguir conversar com n6s mesmos. Conhecemos a lin- da vez que enfrentamos a morte em vida, depaIflmos com urn dragao,
~guagemA<?!.~g'\!~tipos porque eles '\Ti_vem_~~tro de n_Q~. Os-antigos escolhemos a vida em troca da nao-vida e mergulhamos mais pro-
tamb6m conheciam essa linguagem. Para eles, os arqu6tipos eram os fun~amente na descoberta de quem somos, derrotamos 0 dragao; in-
deuses e deusas que se ocupavam de tudo em ruas vidas, do mais fundimos vida nova em n6s mesmos' e em nossa cultura. Mudamos 0
banal ao mais profundo. A psicologia arquet{pica, em certo sentido, mundo. A necessidade de empreender a jomada 6 inerente a esp6cie.
recupera as verdades de antigas teologias politelstas, as quais nos t Se nao corremos, riscos, se representamos os pap6is sociais estabele-
ensinam a natureza maravilhosamente multipla da psique humana; cidos, em vez de fazer nossas jomadas, sentimo-nos entorpecidos;
mesmo ~Q_e.s,sas-div:indades .. Qtl~qu~tipos,~,aOJ:H~g~, el8:S nao experimentamos uma sensa<;ao de aliena<;ao, urn vacuo, urn vazio in-
.~~C?_ ~Il1b()ra., ,Ao,.Go.lltr~o, ,el~sJ)Q_sposS1JeIll~__ ~.~~rimentamos,.Jl.,e,~­ terior. As pessoas que se desencorajam no momenta de matar os
cravidao, ~ nao a libera<;ao ,que, em ultima analise, elas nos ,ofere- drag6es interiorizam 0 seu {mpeto e matam a si pr6prias, declarando
cern. AS-slm, cuidado com 0 desprezo aos deuses, pois, ironicamente, guerra a sua gordura, a seu ego{smo ou a algum outro atributo que
,sao exatamente as nossas tentativas de negar e reprimir os deuses nao consideram satisfat6rio, ou adoecem e ~m de lutar para ficarem
que provocam suas manifesta<;6es destruidoras. boas. Esquivando-nos a busca, exp~rimentamos a nao-vida e, con-
Os arqu6tipos sao fundamental mente amistosos. Estao aqui para seqiientemente, nao oferecemos tanta vida a cultura.
ajudar-nos a evoluir, coletiva e individual mente. Se os respeitarmos, o tema primordial da ·literatura modema 6 essa experi~ncia de
poderemos crescer. aliena<;ao e desespero. 0 a~ti-her6i substituiu 0 her6i come) fig~~..

24 25
o arqu~tipo do Guerrerro € trunMm urn mito elitista, Que em sua
~ntr~L!!~ Jil~ratura, precisamente porque 0 mito do her6i, que dp':" origem personifIes a id~ia de'que 'certas" as
peS-so empree~dem suas
,mina a visao da nossa cultura quanto aQ,sJg,l1Jfic;a.d().E~_I!()~~~~j_orna­ jornadas her6icas enquanto ~outras simplesmente 0 servem e se sa-
das, tornou-se anacronico. 0 que imediatamente imaginaJDos quando crificam Contudo, todos somos apenas urn; enquanto nao realizar-
pens amos no her6i 6, na verdade, apenas urn arg~6tiQQ..herQjco: 0 mos todos n6s as nossas jornadas, nao encontrarmos as nossas vo-
Guerreiro. 0 Guerreiro empreende tipicamente uma longa jornada, zes, os nossos talentos, nao ofereceremos a nossa contribui9ao unica
em geral solitWia, aproveita 0 dia e salva a donzela-em-perigo, ao mundo, enos sentiremos cada vez menos vivos - mesmo os mais
extenninando urn dragao ou derrotando de alguma outra mane ira
I,
privilegiados dentre n6s. Ningu6m pode beneficiar-se verdadeira-
I
o inimigo. I mente e durante muito tempo as custas d~ outra pessoa.
Quando comecei a analisar esse mito, concluf que virtualmente-
todo 0 sofrimento moderno se deve a predominancia do arqu~tipo do
,Sexo e Red~rmi~ao do Heroismo
Guerreiro. Sem duvida 0 paradigma de "matar 0 dragao~' para a so":
Na nossa cultura, 0 ideal her6ico do Guerreiro tern sido reserva- lU9ao dos problemas nao iria trazer-nos a paz mundial nem eliminar
do aos homens - em geral, apenas aos homens brancos. Nes~a trama, a fome no planeta. Mais tarde, comecei a perceber que 0 arqu6tipo
as mulheres cumprem -0 papel de donzelas-em-perigo que sao salvas, ! do Guerreiro nao 6 0 problema per se, pois ele ~ fundamental para 0
I
de feiticeiras que sao assassinadas ou de princesas que, junto com desenvolvimento da consciencia humana. Sem duvida ele 6 tao pri-
i
metade do reino, sao a recompensa do her6i. Os hoinens das mino- mordial para as mulheres e os homens das minorias quanta para os
rias, pelo menos na literatura americana, sao relegados tipicamente homens brancos, embora 0 arqu6tipo de certa forma seja redefinido
ao papel de companheiros Ieais (por exemplo, Huck e Jim, na obra quando todos 0 vivem, e nao -apenas uns poucos privilegiados. 0
de Mark Twain, Huckleberry Finn, ou Zorro e Tonto). problema 6 que concentrar-se -!!-nicamente nesse arqu6tipo her6ico
Em 0 Her6i de Mil Faces, Joseph Campbell escreve que 0 her6i !i.mita a~ opg6eS 'de iod(?s:-Muitos hoiiiens· i)raricos~'POr·-exempIo,
6 0 "senhor do mundo".l Sao os senhores g() Il)1,lndo - reis, prfnci- caem no t6dio porque precisarn crescer al6m da modalidade do Guer-
pes e seus poetas - .9.!!~_.Q~fillem pa.ra,nQs.. quqL¢.'l,.~ de_quem ~_()jdea.l reiro; no entanto, ficarn aprisionados nesse arqu~tipo nao s6 porque
her6ico. Naturalmente eles 0 criam -a sua pr6pria imagem e veem 0 ele 6 definido como 0 ideal heroico, mas tamMm porque 6 equipara-
hero{smo como privil6gio de poucos. Com a ascensao da democracia do a masculiriidade. Os homens, conscientemente ou nao, nao se
e 0 desenvolvimento do ideal de uma sociedade igualitWia, os pri- julgam capazes de abandonar essa definigao de si mesmos sem
meiros homens brancos da classe trabalhadora e depois as mulheres tamb~m abandonar a SenSa9aO de superioridade em rela9aO aos ou-
e os homens das minorias come9ararn a reivindicar 0 arqu6tipo do tros - sobretudo em rela9aO as mulheres.
her6i. Por ocasiao das pesquisas que fiz para Who Am I This Time? e
Ironicamente, no momentoem que mulheres, homens da cl~..sse mais tarde para The Female Hero in American and British Literatu-
trabalhadora e homens das minorias abra9arn 0 l;I,I'qu~tipQdo,6uerrei~ re, 2 percebi que a cren9a na inexistencia de verdadeiras herofuas na
ro, muitos homens brancos das classes m6dia e alta se distanciam literatura moderna simplesmente nao 6 correta. As mulheres, por
profundamente desse papel. Em parte, creio que isso acontece por- exemplo, como eu e Kath~rine Pope demonstrarnos em The Female
que, embora esse arqu6tipo seja urn mito que preside a capacidade Hero, em geral sao retratadas heroicamente. Encorajadas pelo femi':'
saud~vel de afirma9ao e comando, em sua forma usual ele tamb6m nismo, muitas mulhen(s desempenharn 0 arqu6tipo do Guerreiro.
se baseia na Separa9aO I no afastamento <las outras pessoas e da ter- Mas nao 6 s6 isso. Elas tamMm estao explorando QaM.Oe£-~."ge,.
--rao;,-Muitos homens descobrirarn que, apesar de satisfat6rio a curto J:.~ue.- a princfpio, me parecem ~specffico~ das mulhere~! Essa
prazo,o impulso de ser melhor, de dominar e controlar, traz apenas
vazio e desespero. 27

26
..........------------------~
forma de herolsmo, diferente da forma masculina, baseia-se .llil.-.lme- muito semelhantes uns aos outros nos estligios de nossas jornadas.
gridade, e. nao noextermmio de drag6es. Em geral, as-heromas ate Na verdade, existe uma seqiiencia bastante previs(vel do desenvol-
10gem do~drag6es!-,Enquanto=~os~her6I~, como Virginiano Owen vimento humano, presidida respectivamente pelos arquetipos do Ino-
Wister (em The Virginian), deixariam ate mesmo sua noiva no dia do cente, do 6rrao, do Nomade" do Guerreiro, do Mlirtir e do Mago,
casamento a fim de duelar em prol da honra, as mulheres consideram embora nossa cultura incentive homens e mulheres a identificar-se
de born senso fugir do perigo. Ademais, elas nao acham muito pn1ti- diferentemente com eles.
ca a ideia de exterminar drag6es, jli que as pessoasque costumam
ludibrili-las sao os maridos, as maes, os pais, os filhose os amigos-
Os Arquetipos e a Evolu~ao Humana
, os quais insistem na ideia de que as boas mulheres abandonem suas
jornadas para servir aos outros. Por esse motivo, raramente surgem
verdadeiros vil6es em hist6rias de herolnas, ou pelo menos nao
r 0 Inocente e 0 6rrao dao infcioa a<;ao: 0 Inocbnte vive no esta-\
1\ do de gra<;a anterior a queda; 0 6rTao enfrenta a realidade da Queda. .
ocorre, ao her6i a ideia de exterminli-los. Os pr6ximos estligios constituem estrategias para viver no mundo
Alegiou"-me descobrir que as mulheres haviam desenvolvido j depois do pec'ado original: 0 Nomade inicia a tarefa de se perceber
uma alternativa para a trama do her6i-mata-o-vilao-e-liberta-a-vlti- I separado dos outros; 0 Guerreiro aprende a lutar para se defender e '/
rna, sem verdadeiros vil6es nem vltimas - apenas her6is. Essa fonna ' mudar 0 mundo segundo sua pr6pria imagem; e 0 Mlirtir aprende -yl
de herolsmo parece oferecer a esperan<;a de que exista urn modelo de dar, a confiar e a sacrificar-se pelos outros. Assim, a progressao vai
herolsmo capaz nao s6 de trazer vida nova a todos n6s mas de faze- ( do sofrimento para a autodefini<;ao, para a luta, para 0 amor.
10 de urn modo igualithio. Essa forma de herolsmo, contudo, jamais Para mim ficou claro que 0 herofsmo do Nomade nao e definido
poderia florescer se apenas urn dos sexos a conhecesse. Embora ob- pela luta. A a<;ao her6ica do Nomade - homem ou mulher - e 0 pr6-
serve a minha volta mulheres muito otimistas representando 0 script prio ato de deixar uma situa<;ao opressiva e partir sozinbo para en-
do her6ilher6ilher6i, a maioria dos homens do meu conhecimento frentar 0 desconhecido.
representam 0 velho papel de her6ilviHio/vltima. Os homens que nao Entretanto, a prindpio nao percebi 0 herofsmo do Mlirtir, por-
podiam ser her6is segundo a antiga de:fmi<;ao descobriam que 0 uni- quanto a literatura mais modern a celebra ~ liberta<;ao relativamente
co . papel disponlvel para eles era 0 de vltima ou 0 de anti-her6i. ao antigo ideal do sacriffcio. 0 sentimento do antimlirtir e particu-
Entao, identifiquei na literatura alguns homens e personagens mas- larmente forte- na literatura sobre as mulheres, po is a socializa<;ao
culinos que tambem haviam descoberto a trama do her6ilher6ilher6i feminina e as normas culturais refor<;aram 0 martfrio e 0 sacriffcio
e que se sentiam inteiramente vivos, felizes e her6icos representando feminino ate boa parte do seculo XX. As mulheres foram mais limi-
esse papel. tadas pelo papel de Mlirtir do que os homens brancos 0 foram pelo
Comecei a reconhecer que ~~.E:s_,~ _~~~heres .passam, pelos papel de Guerreiro. Analisando novamente 0 arquetipo do Mlirtir,
mesmos estligios fundamentais, .embora sob f0rJIll:1s alg(>diferentes, e comecei -a respeitar a sua for<;a e a perceber por que 0 cristianismo,
em
i~-:ve:z:es 'ordem ligeiram~~~_diY~~I:1,<:!~_,~_~_~c:i~ento, na a:f~­ por exemplo, que tern como imagern central 0 Cristo martirizado na
ma<;ao do seuherolsmo. Em ultima anlilise, 0 h~!:Q!~_l!l9"para ambos, Cruz, atrafa tanto as mulheres e as minorias, e tambern por que 0 so-
-~6u~-guei~Q._de in~eWdl:1<le,__<:!e, se tornarem cada vez mais eles frimento e 0 martlrio tern sido tao importantes no judafsrno, sobretu-
mesmos em cada estligio do seu desenvolvimento. Paradoxalmente, do nos muitos l~ais e epocas marcados pelo anti-semitismo.
eXlstem padroes--arqiiettplcos que governam 0 processo que todos Descobri 0 surgimento de urnarquetipo rernoto, ate entao reser-
n6s atravessamos para descobrir a nossa singularidade, de modo que vado a urn nurnero ainda menor de pessoas do que 0 do Guerreiro, 0
somos sempre ao mesmo tempo n6s mesmos, de maneira unica, e qual agora estli sendo redefinido como fonna de herolsmo ao alcance

28 29
de todos. Nessa forma, 0 her6i 6 urn Mago ou Xama. Quando apren-
a
de mudar seu proprio ambiente mediante rigorosa disciplina, for~~ analise, estamos todos na mao de Deus. Da mesma maneira, os Ma-
de vontade e esfor~o, 0 Mago aprende a movimentar-se com a ener- gos consideram que a aten<;ao desequilibrada na doa<;ao cria 0
.'gia do universo e a atrair aquilo de que precisa pelas leis da sincro- -',; . I
ego(smo. A tarefa nao consiste em cuidar dos outros, em vez de pen-
nicidade, de modo que a facilidade da intera~ao do Mago com 0 sar em si mesmo, mas sim em aprender a amar e a cuidar de si mes-
universo parece nmgica. Aprendendo a confiar no self, 0 Magd com- mo e do nosso pr6ximo.
pleta 0 cicIo e, assirp como 0 Inocente, descobre que pode confiar. Os Magos enxergam al6m da concep~ao de individualismo ver-
Cada arqu6tipo apresenta uma visao do mundo, bern como dife- sus conformismo, perce ben do que cada urn de n6s 6 unico e que so-
rentes objetivos de vida e teorias sobre aquilo que da significado a· mos todos urn. Al6m da for<;a versus "-fraqueza, eles compreendem
existencia. Os 6rtaos buscam Seguran~a e temem a explora~ao eo que a determina<;ao e a receptividade sao yang e yin - urn ritmo de
abandono. Os Martires querem ser bons e veem 0 mundo como urn vida , e nao uma dualidade. Finalmente, sabem que 6 impossfvel
, nao
conflito entre 0 bern (cuidado e responsabilidade) e 0 mal (ego(smo ser autentico, porquanto s6 podemos ser quem somos. E inevitavel:
e explora~ao). Os Nomades querem a independencia e temem 0 con- temos de assumir 0 nosso legftimo papel no universo.
formismo. Os Guerreiros lutam para ser fortes, para causar impacto Cada arqu6tipo nos leva para a16m da duaUdade; para 0 parado-
no mundo, e evitam a incapacidade e a passividade. Os Magos pro- xo. Ha em cada urn de n6s urn continuum que vai de urna expressao
cui-am s,er fi6is a sabedoria interior e buscam 0 equilibrio com as primitiva para uma expressao mais requintada e comple?Ca de nossa '
energias qo universo. Inversamedte, tentam evitar 0 que nao 6 auten- energia essencial. Os cap(tulos subseqiientes descrevem 6S arqu6ti-
. tico, 0 que 6 superficial. pos e os estagios de consciencia encontrados peJo ~er6i na explo-
Cada arqu6tJ.po projeta no mundo sua pr6pria tarefa de aprendi- ra<;ao de cada urn.
zado. Pessoas govemadas por determinado arqu6tipo consideram seu o padrao descrito, contudo, 6 esquematico; assim, 6 importan-
objetivo enobrecedor e seu maior medo a origem de todos os pro- te reconhecer, durante a leitura, que as pessoas nao passam por
: blemas do mundo. Queixam-se da crueldade, do conformismo, da esses esutgios em file ira cerrada. Cada pessoa traga a sua rota lini-
! fraqueza, do ego(smo ou da superficialidade dos demais. Muitos .ca atrav6s desses "esutgios", e existem diferen<;as previsfveis no
mal-entendidos surgem dar. Em geral, a independencia do Nomade modo como elas os encaram. Isto se aplica de maneira geral aos
parece, aos olhos do Martir, 0 ego(smo que este abomina. A agressi- inumeros grupos culturais - grupos 6tnicos ·ou· raciais, pessoas de
vidade do Guerreiro pode parecer crueldade a,os olhos do Ortao. E pafses ou de regi6es diferentes· -, mas neste trabalho, em razao da
quando 0 Mago proclama que, se a resposta 6 verdadeira, entao ela 6 minha pr6pria forma<;ao e experiencia, enfocarei as diferen<;as entre
perfeitamente satisfat6ria para qualquer tipo de situa~ao, incluindo homens e mulheres.
todas as formas que anteriormente voce temia ou rejeitava (egofsmo, Por exemplo, os modos masculino e feminino de herofsmo Sao
. pregui~a, etc.), isso parece aos olhos de quase todos os outros 0 pior / diferentes porque os homens se demoram mais em. ~eterminados
'tipo de licenciosidade! // esutgios e as mulheres em outros. Como as mulheres sao socializa-
No nfvel do Mago, contudo, as dualidades com~amadesl:lpare-: das para alimentar e servir, e talvez tamb6m porque elas dao a luz,
cer. 0 medo da dor e do sofrimento do 6rtao 6 visto como 0 lado in- suas vidas costumam ser excessivamente dominadas pelo arqu6tipo
ferior e ineviutvel de uma defini~ao de seguran~a que sUpOe deva ser do Martir, antes mesmo de terem a oportunidade de explorar as pos-
a vida apenas agradavel e facil. Os Magos acreditam que na verdade sibilidades personificadas pelo Nomade e pelo Guerreiro. Os ho-
estamos em seguran~amesmo quando experimentamos freqiiente- mens, por outro lado, sao incentivados a assumir 0 controle de suas
mente a dor e 0 sofrimento. Ambos fazem parte da vida e,· em ultima J'
vidas e adqqirir poder sobre os demais, a serem Guerreiros antes de
saberem quem sao. Eles chegam rapidamente ao esutgio do Guerrei-
30
31
ro, mas estacionam af - e nao somente af, mas em geral nos nIveis A mulher tradicional, por outro lado, passa do es~gio de 6rIa
mais prlttritivos desse es~gio. Costumam receber pouco ou nenhum para 0 de Mmtit, no qual poder~ permanecer pelo resto da vida, a
incentivo, e poucos modelos do papel masculino para 0 desenvolvi- nao ser que alguma coisa a estimule a crescer. Vez por outra, quan-
mento de seu potencial de sensibilidade, zelo e compromisso. do os filhos partem ou 0 marido vai embora, 0 amor-pr6prio da mu-
Freqiientemente, as mulheres naogostam do es~gio do Guerrei- lher desaparece, ou ela encontra id6ias liberadas, e a crise de identi-
ro e, por conseguinte, recusam essa jomada ou, se resolvem empre- dade resultante for~a-a a perguntar-se quem ela 6, e a partit dal ela
end~la, atravessam-na rapidamente. at6 se tomarem Magos. Creio aprende a ser mais agressiva. Eis 0 modelo feminino:
ser esta a razao pela qual as mudan~as por mim descritas como es~­
gios do N6made e do Guerreito aparecem no trabalho pioneiro de Ona Mmtir Nomade Guerreira Maga
Carol Gilligan - In a Different Voice: Psychological Theory and
Women's Development - como urn simples es~gi~ de "transi~ao" A mulher que tern uma carreira e lutk para ser independente
entre uma moralidade baseada no cuidado dos outros (sacriflcio) e, desde 0 come~o da vida pode trabalhar simultaneamente os est~gios
em nIvel superior, a moralidade na qual 0 self 6 reposto no quadro de Guerreito e de M~rtir, mostrando-se dura no escrit6rio e generosa
(interdependencia). 3 em casa. Muitos homens tamb6m organizam suas vidas dessa forma.
Ao que' parece, as mulheres demoram-se nos es~gios que enfati- Seja homem ou mulher, 0 padrao fica assim:
zam a a:filia~ao (Mmtir e Mago), e os homens nos es.agios que enfa-
tizam a separatividade e a oposi~ao (Nomade e Guerreiro). Como
mostra Gilligan, as mulheres costumam ver 0 mundo em termos de , /M~rtir~
redes e teias de liga~ao; os homens,O veem em termos de escadas e ,OrIao, ' Nomade------~~ Mago
hierarquias, onde as pessoas competem pelo poder•. Qu.~ndo analisa-
mos 0 local,onde se encontra grande parte dos homens e mulheres,
, ~ Guerreito ~
sem atentar para 0 padrao evolutivo geral, podem parecer que exis-
tern caminhos masculinos e femininos diferentes e distintos. Ou Neste caso, as quest6es de identidade afloram quando a divisao
entao, se analisarmos somente os caminhos e nao 0 tempo e a inten- se' toma insustent~vel e os valores conflitantes do Mmtit e do Guer-
sidade de compromisso com cada arqu6tipo, parecem que homens e rein> se integram 0 suficiente para que nos sintamos novamente
mulheres sao evolutivamente a mesma coisa. Nenhuma dessas possi- . completos.
bilidades 6 real. Homens e mulheres sao evolutivamente 0 mesmo; e Importa, contudo, reconhecer que nao 6 sempre e inevitavelmen-
sao diferentes. te que homens e mulheres passam por esses estagios em ordens dife-
o pa,driio masculino tIpico de desenv9lvimento nesta cultura rentes. As diferenc;;as individuais sao bastante amplas. Ademais,
consiste em passar diretamente do est6gio de Onao para 0 de Guer- existe uma varia~ao no modelo aqui descrito segundo 0 tipo de per-
reito, al permanecendo. 0 movimento, se ocorre, d~-se durante a sonalidade. Na teoria tipol6gica de Jung, algumas pessoas sao domi-
crise da meia-idade, quando 0 homem se ve 'for~ado a" enfrentar nadas pelo pr6prio processo de reflexao analltica e 'outras pelos seus
quest6es de identidade. 0 resultado costuma ser a preocupa~ao mais modelos de sentimento emp~tico. Os tipos "sentimento" possuem
instigante do que antes com quest6es de intimidade, zelo e compro- atinidade maior com 0 arqu6tipo do Mmtit, e os tipos "pensamento"
misso. A seqiiencia tIpica costuma ser esta: com 0 modo do Guerreito. Em geral, desenvolvemos primeito aquilo
de que mais gostamos, deixando para mais tarde a explorac;;ao dos
,6rtao Guerreito N6made Mmtit Mago atributos que menos apreciamos. Assim, tanto as mulheres que pre-
I
I

32 33
deremos 0 poder, seremos substitu!dos, pelo novo her6i e morrere- '
ferem 0 pensamento quanto OS homens que preferem 0 sentimento mos. Nossos ultimos instantes nesta Terra serao marcados pela dimi-
costumam trabalhar 0 M~rtir e 0 Guerreiro simultaneamente, por- nuigao do controle sobre n6s mesmos,sobre as outras pessoas, sobre
quanto urn impulso e reforgado pelo coridicionamento do papel se- " o futuro, e ate mesmo sobre as fungoes de nosso corpo, do que em
j, /
xual e 0 outro pelo tipo da personalidade. 4 ' , qualquer outroperfodo da vida - exceto talvez no nascimento. Eo
~parentemente, no enta11fo, ainda persistem certas generali- final da, hist6ria que tradicionalmente determina se a trama e comica
zagoes acerca do sexo. Nesse momento, em particular, a. maior parte ou tr~gica. ~ao e de admirar que a literaturae a filosofia modernas
dos valores masculinos e definida em grande medida pela etica do sejam tao desesperadoras!
Guerreiro. 0 caminho da mulher contemporiinea, con~do, dividiu- Mas e se simplesmente modificarmos urn pouco nossas expecta-
see Em sua maioria, as mulheres sao Mrutires ou atravessaram rapi- ,f
tivas? E se 0 objetivo da vida nao for 0 triunfo, mas apenas 0 apren-
,damente os es~gios de Nomade e d~ Guerreiro e comegam ehtao a dizado? Nesse caso, 0 final da' hist6ria poden~ ser bern diferente, as-
passar pelo es~gio de Mago. Dependendo do grupo feminino obser- sim como 0 perfodo entre 0 nascimento e a morte. 0 hero!smo e re-
vado, pode-se argumentar que 0 arquetipo do Mrutir e nitidamente " def'mido nao apenas como montanhas em movimento, mas como
feminino, em contraste com 0 modo do Guerreiro, distintamente montanhas inteligentes: ser inteiramente voce mesmo e enxergar,
masculino, ou entao que 0 modo do Mago constitui 0 novo sistema sem negagao, 0 qJe voce e, mantendo-se aberto para 0 aprendizado .
(eminino emergente, em contraste com 0 velho feitio patriarc~ do das Jig6es que a vida nos oferece.
Guerreiro. A primeira posigao foi adotada pelos conservadores, e a A autobiografia de Bertha, Sister of the Road, termina com a au-
segunda por muitas feministas; nenhuma delas es~ errada, mas tam- tora recordando uma vida que incluiu 0 abandono da mae em tema'
pouco nos oferece toda a hist6ria. . idade; as necessidades desumanizantes de sua vida de prostituta
Na mente cultural, as feminiftas costumam ser associadas ao ar- (culminando com urn caso de s!filis); e a experienc~a de desamparo
quetipo da Amazona; no entanto, as mulheres v~rdadeiramente libe- quando urn amante foi enforcado e outro atropelado por urn trem.
radas parecem ter uma armidade particular com a forma de atuagao Ela 'dec1ara: '''Descobri que eu jl1 havia sobrevivido a tudo 0 que eu
do Mago e estao liderando a exploragao doarquetipo que preside a lutava por conseguir•.. eu havia realizado 0 meu objetivo - tudo 0
atual transformagao da consciencia, humana - transformagao tao iro- que decidi fazer na vida, eu consegui. Eu queria saber como era ser
portante quanta aquela realizada pelos homens ao explorar as possi- vagabunda, radical, prostituta, ladra, reformadora, assistente social e
bilidades de agao positiva (yang) e agressividade como forma de revolucionana. Agora eu sabia. Estremeci. Sim, tudo valera a pena.
melhorar 0 mundo. A descoberta <jle que ocetro e 0 cajado do Mago Nao qavia tragedias em minha vida. Sim, minhas preces haviam side
sao instrumentos apropriados' para 0 mundode hoje e profundamente atendidas."5 Bertha nao se ve como Martir sofredora nem como
auspiciosa, tanto para os homens como para as mulheres, prometen- Guerreira, mas como Maga que recebeu tudo 0 que pediu. Ela ao
do 0 restabelecimento da energia de paz e amor entre eles ~ entre" a mesmo tempo assume a responsabilidade de suas escolhas e sente-se
humanidade e a Terra. ' grata pela dl1diva de sua vida.
Da mesma maneira, Annie Dillard, em Pilgrim at Tinker Creek,
sup6e que a vida, "embora costume ser cruel, e sempre bela•.. 0
Urn Novo Paradigma Heroico
mfnimo que podemos fazer e tentar estal' aqui", estar integralmente
A vida do Guerreiro, que enfoca 0 poder sobre outras pessoas e na vida. Ela imagina que "0 moribundo reza, nao 'pedindo', mas
a Terra, e solitmia e, em ultima amllise, trc1gica. Podemos concluir 'agradecendo', tal como urn h6spede agradece ao anfltriao na por-
nossas jomadas, receber a recompensa ao sermos feitos reis ou rai- ta". • . "0 universo", ela explica, "nao foi feito de brincadeira, mas
nhas, mas todos sabemos que a hist6ria continua. Sabemos que per-

34
..,
seIiec:lac:le, solene e incompreens{vel. Por uma forc;a inescruta- quando a famnia precisou de dinheiro, foi 10 de que ela nao ~onse­
~ml~nte:··~;ecreta, sagrada e ef~mera. Nada h~ a fazer a esse respeito, guiria encontrar expressao correta para 0 rosto de Cristo. No fmal
··:!!.excc~to. ignor~-Ia ou percet>e-Ia.,,6 do romance, ela diz: "Existem milhc5es e milhc5es de caras legais ...
Os Magos v&m a vida como uma d~diva. Nossa tarefa aqui uns vizinhos daqui d~ beco... eles 0 teriam feito".
consiste em oferecer 0 nosso proprio dom e comprometer-nos intei- Da posiC;ilo vantajosa do M~ir, Gertie pode ter sido considera-
ramente com a vida e com as outras pessoas, dando e recebendo al- da admir~vel, j~ que quase nada faz alem de sacrificar-se pelo mari-
guns dons e, naturalmente, assumindo certas responsabilidades e re- do e pelos fllhos ou satisfazer sua mae. 0 que torna esse romance
cusando outras. Segundo essa visao, a tragedia est~ na perda dq co- diferente das hist6rias convencionais sobre mulheres e 0 fato de Ar-
E!tecimento de quem v~~v~<!o-Q.~nao contrib1!~_(!()IIl_ agui!o now retratar os sacrif{cios dela como desnecesstirios e destrutivos.
JIll.e.::d~~mrr~~!.~@:gui. Ii· Noentanto, embora Gertie nao proclame sua pr6pia sabedoria nem 0
Por exemplo, Gertie, em The Dollmr:zker7, de Harriette Arnow, e poder de mudar sua pr6pria vida, Arnow tampouco a caracteriza
uma camponesa de dois metros de altura, extremamente s~bia, mas como urn anti-her6i. Gertie ainda e uma hero{na. Nilo obstante ficar
que costuma desprezar a pr6pria sabedoria. Por esse motivo, aos claro, no romance, quantas forc;as - extern as e intern as - atuam so-
poucos ela vai perdendo quase tudo 0 que ama. Ela perde Tipton bre ela, reforc;ando-lhe a incapacidade de confiar em si mesma, ela
Place (fazenda que planejava comprar) porque ouve sua mae, que nao e retratada como vCtima indefesa, mas como alguem respons~vel
af'trma que 0 dever de uma mulher e estar ao lade do marido, e abre pelas escolhas que faz. Sua vida e tr~gica porque ela j~ nao pode
mao da fazenda para juntar-se ao marido em Detroit; perde a filha agir de acordo com seu hero{smo. Naturalmente, esse retrato asseme-
favorita porque d~ ouvidos a urn· vizinho que a aconselha a proibir Iha-se ao de Hamlet ou ao do rei Lear, de Shakespeare. A grande di-
Cassie de brincar com a boneca que e sua amlga imagin'aria (Cassie . ferenc;a e que Gertie nao morre no final; por conseguinte, fica-nos a
foge sorrateiramente para brincar com a boneca e e atropelada por sensac;ao da vida como urn processo que continua. •
urn trem); naosegue sua vocac;ao de escultora com seriedade, deno- Da perspectiva do Guerreiro, a hist6ria de Gertie e tr~gica. Mas
minando-a de. "tolice de entalhar", e seu ultimo ate de desrespeito a e 0 Mago? E se supusessemos, como 0 faz Shirley Luthman em
si mesma consiste em cortar em pedac;os 0 bloco de uma linda cere- Energy and Personal Power, que nossos seres atraem para n6s aqui-
jeira no qlial estava entalhando urn "Cristo Sorridente" e fazer ima- 10 de que precisamos, que todos estamos realizando exatamente
gens e crucifixos baratos. 0 "Cristo Sorridente" e a imagem visual aquilo que precisamos aprender nesta vida, em prol de nosso cresci-
de sua filosofia de vida, contrastando com 0 puritanismo mortal que mento e evoluc;&0?8 De acordo com esse ponto de vista, postularCa-
a mae the inculcara. Cortar aquele bloco de madeira em pedacinhos mos que Gertie se envolveu em situac;c5es nas quais poderia aprender
equivale a matar-se ou mutilar-se. Para que fique bern claro, logo no a confiar em si mesma. Assim, em primeiro lugar ela teria de apien-
comec;o do romance, Cassie ordena que ela termine a es~tua e "dei- der - com· toda a dor daC resultante - 0 que acontece quando nao se
xe que el~ saia". Naturalmente, ela e Gertie. confia em si mesmo.
o momento em que ela corta a cerejeira em pedac;os e verdadei- Para ela, a questiio nao con~iste em provar seu hero{smo, como
ramente trngico, porquanto com esse ato ela nega a si mesma e a sua sucede com 0 Guerreiro, mas sim em afirmA-lo. A ~deia de provar 0
pr6pria visao, mas ainda assim nao perde a esperanc;a. Todos n6s hero{smo es~ ligada a conce~ao de que ele e urn artigo raro e de
temos momentos de covardia em que negamos a nossa sabedoria, a que existe uma hierarquia entre as pessoas. Quando compreendemos
nossa integridade e divindade. Embora 0 romance termine aC, perce- que nossa verdadeira tarefa nso consiste em trabalhar com afinco pa-
bemos que 0 gesto de autodestrui~ao de Gertie for.~a-a a entrar num ra nos afrrmar, mas sim em permitir-nos ser quem somos, as coisas
novo n{vel de compreensao. 0 pretexto para cortar a madeira, parecem completamente. diferentes. Ao longo do romance, Gertie

36 37
.
sempre tenta, com . todas as suas for9as. fazer a coisa certa ou vez
pOT outra. simplesmente aprender qual c! a coisa certa. No final ela cfrculo. Cada est~gio tern sua pr6pria li9aO a ensinar e reencontra-
compreend~ que, se houvesse permitido a si mesma ser quem ela 6 e mos situa90es que nos lan9am de volta a es~gios antefiores, para
fosse em busca daquilo que desejava honestamente, seus sonhos po_ que possamos 'aprender e reaprender as li90es, em novos nfveis de
deriam ter-se tornado realidade. Provavelmente, ela teria side pro- complexidadee'sutileza intelectual e emocional. Em nossas primei-
prietruia de Tipton Place, estaria cercada pela famflia e teria tenni- ras tentativas no Guerreiro, por exemplo, podemos apresentar-nos
nado sua escultura. Em retrospecto, ela percebe que tinha inclusive como Atila, 0 Huno, mas posteriormente poderemos aprender a
apoio suficiente para permanecer na fazenda, mas, com sua falta de afirmar nossos desejos de forma tao apropriada e delicada que nos
confian9a em' si mesma, ela ouviu as vozes que a limitaram. At6 possibilite negociar 0 que queremos sem nenhum conflito digno <;Ie
mesmo 0 marido explica que the teria dado seu apoio se ela ao me- nota. E nao e que a espiral se tome mais elevada, mas ela se faz
nos confiasse nele 0 bastante para contar 0 que estava fazendo. mais ampla, conforme conseguimos dar respostas mais amplas a ~ida
"'Nos est~gios iniciais, 0 M~ir supOe que 0 sofrimento 6 sim-> e, assim, ter mais vida. Temos cada vez mais escolhas.
plesmente 0 que 6. Tem de ser suportado por algu6m; portanto, 0 A tabela da p~gina 40 resume os est~gios de cada arquetipo. Na
MMtir sofre para que os outros possam ser mais felizes, ou para al- primeira volta em tome do cfrculo, muitas pessoas vao por duas ve-
can~ar a felicidade mais tarde. 0 Guerreiro descobre que com cora- zes ate 0 cfrculo central, at6 que possam sair com 0 dominio do se-
gem e trabalho mduo as pessoas podem tomar uma posi9aO e realizar gundo e terceiro nlveis de aprendizado. Embora esse esquema seja
mudan9as - para si mesmas e para os outros. 0 Mago aprende que; util do angulo conceitual, a evolU9ao humana raramente e tao orde-
nem 0 sofrime~to. n~m a luta 6 0 fundamento da vida. A alegria ( nada e met6dica. Contudo, os arquetipos sao inter-relacionados e ge-
tamb6m ~ um dlrelto mato nosso. Podemos atrair a alegria tao facil-i ralmente nao e poss{vel solucionar <> dilema p'~i(;016gico o1l;'cogll:~!!~
mente quanto atralmos 0 sofrimento, e nao precisamos martirizar-nos ., voembutido em urn deles semtraoalhaf 9~.QUtro.~~.QjGueiieiro'- e ..~,
,nem lutar arduamtmte para atingir uma vida de abundancia para n6s' Mmtir s§odoi~ 'hldosde'uril1i' "foiiiiiila~50 dual!~~~a vida 'n~t-qiial
ou para' aqueles a quem amamos.
·~voc~·oiI -t~~a -O:~-(:lii." ~m:jW:znto'_!iiY!.pi«Jer fazer CUJ1.'6:ii#,::f!!~?o.Zs.as,
Esse novo modo - personificado na jomada do Mago - constitui voc'e 'ntkJ sera livre. Por conseguinte, vamos a escola com cada ar-
o fio da navalha da consciencia na cultura contemporanea, e foi a qU6tipo im1meras vezes ao longo de nossas vidas. Ademais, os even-
consciencia de que 0 arqu6tipo do Mago 6 hoje urn modelo apro- tos em nossas vidas influenciam a ordem e a intensidade de nosso
priado, disponlvel e poderoso para a vida humana comum que me aprendizado. Qualquer mudan9a ou crise importante exige arecon-
motivou J escrever este livro. Tamb6m 0 escrevi por uma necessida- sidera9aO das questOes de identidade. Qualquer novo compromisso
de de homar 0 M~ir, 0 Nomade e 0 Guerreiro. Aprendemos li90es suscita questOes acerca do sacriffcio. Cada vez que encontramos 0
fundamentais com cada forma de herolsmo - Ii90es que jamais es- mesmo arquetipo, temos a oportunidade de faze-Io num myel de
queceremos.
compreensao mais profundo. ,
As virtudes que 0 her6i aprende em cada procedimento jamais \
o 'Crescimento como Espiral Rumo a Totalidade sao perdidas ou superadas - tomam-se simplesmc:ntemais sutis.:
Como Inocente, 0 her6i aprende a confiar; como Orfiio, a chorar. \
Essas formas her6icas sao evolutivas, mas na verdade nao sao Como Nomade, 0 her6i aprende a encontrar sua pr6pria verdade e a:'
vivenciadas em passos Iineares e progressivos. Eu iIustraria a pro-
dar-Ihe nome; como Guerreiro, aprende a af'trmar essa verdade de'
gressao tfpica do her6i como urn cone ou espiral tridimensional no
modo que esta afete e modifique 0 Mundo; e como Mmtir aprende 8/
qual 6 posslvel ,van9ar e retroceder freqiientemente ao longo do amar; a comprometer-se e a renUDciar. ~

38 Todas essas virtu des envolvem urn certo grau de dor ou luta. A

39
virtude acrescentada pelo Mago 6 a capacidade de reconhecer e re...
Tres Voltas no Cfrculo do Her6i ceber a abundancia do universo. Com a amplia~ao do cfrculo, 0 Ma-
go obt6m aquilo por que 0 Mao anseia, 0 retorno ao Parafso perdi-
do, primeiro no mvel microc6smico, depois no mvel mais c6smico;
mas, em vez de experimentar a plenitude de uma posi~ao infantil e
dependente, 0 Mago adentra 0 Jardim do Eden alicer~ado na inter-
dependencia - com outras pessoas, com a natureza e com Deus. As-
sim, a ultima li~ao a ser aprendida pelo her6i 6 a felicidade.
Transportamos a li~ao de cada esU1gio para 0 esU1gio seguinte, e
. assim seu significado 6 transformado, mas a li~ao em si nao se perde
nem se torna superada. Por exemplo, no primeiro nfvel do martfrio,
os her6is sacrificam-se para conquistar as gra~as dos deuses ou de
alguma figura possuidora de autoridade. Mais tarde eles 0 fazem
simplesmente para ajudar os outros. Ao tornar-se Guerreiro, 0 her6i
transforma 0 sacriffcio em disciplina; certas coisas sao sacrificadas
para que outras possam ser alcan~adas. Como Magos, os her6is
compreendem
I
que
_
0 essencial jamais se perde: 0 Sacriffcio torna-se
a renuncia organica e suave daquilo que 6 velho, abrindo caminho
para novo crescimento, nova vida.
Para as pessoas que. entram no esU1gio que lhes 6 apropriado, 0
·oson~A~
tl1oql~'B
.'"''
mito' vivifica~Quando'a'pessoa' eliiest~gio ariteti()r~de'evblU'~a(f salta
'trZ~nlU~~ nO O,!!!i .prenialuramentepara'oetenninado papel, 0 mesmo arqu6tipo tende a
_llm:>UO:> ~ op'BQ apatia, uma vez que seu verdadeiro crescimento nao est~ af. Homens
ou mulheres evolutivamehte prontos para deixar 0 estagiodo Guer-
reiro, por exemplo, podem nao ser cap~es de empreender a mudan-
~a porque nao sabem da existencia de outra coisa: Sentir-
se-ao ap~ticos, claustrof6bicos, encurralados, do mesmo modo que
as mulheres presas ao papel do Mhtlr podem ficar encurraladas por-
que lhes disseram que os arqu6tipos do Nomade e do Guerreiro sao
reservados apenas aos homens. Muitas mulhents expressaram seu en-
tusifismo com The Female Hero in American and British Literature
porque 0 livro recupera 0 herofsmo - sobretudo as jornadas do NO-
made e do Guerreiro ~ como aspira~ao apropriada as mulheres, auxi-
liando-as assim a empreender suas jornadas. Espero agora que, re-
I cuperando 0 que h~ de valioso no arqu6tipo do MID1:ir e descrevendo
o arqu6tipo do Mago, eu ajude a tomar a jomada mais f~cil e menos
dolorosa tanto para os homens quanto para as mulheres.

41
Acredito tamb6m que todos n6s sempre temos acesso a cada
forma. 0 "est~gio" em que nos encontramos esta relacionado com 0 dem ser terminados enquanto voce nao trabalhar urn pouco o(s) co-
ponto onde mais nos demoramos, onde passamos a maior parte de modo(s) adjacente(s). Embora as pessoas explorem suas tarefas de
nosso tempo. A v(tima mais dprimida ter~ momentos de trans- aprendizado nas seqiiencias mais diversas, os arqu6tipos sao inter-
cendencia. E nenhum de n6s esta tao adiantado que consiga deixar relacionados e interdependentes. Em ultima an~lise, nao con~lll~~~
de sentir-se, vez por outra, uma crian~a 6rfii. Na verdade, cada esta- nenJ1_um,Q~J~~ enquanto nao conclu(mos t<?Cios.Ademais, assim como
gio tern uma d~diva para n6s, algo fundamental a ensinar-n,os sobre 'ac(;ntece na refortn3de uma-'casa;"a'iarefa nuncachega realmente ao
como sermos humanos. tim. Sempre que voce pensa ter completado a decora~ao, percebe
inevitavelmente que 0 sof~, primeiro objeto comprado, esta surrado,
Sugestoos para 0 Leitor ou que 0 papel de parede esta rasgado, e l~ vai voce de novo!
Assim, a maioria das pessoas trabalha suas tarefas de aprendiza": .
Como indiquei a existencia de uma es¢cie de ordem previs(vel do durante a vida inteira. No entanto, a semelhan~a de uma deco-
na qual as pessoas se dedicam a determinadas tarefas evolutivas, ra~ao de interiores, 6 mais f~cil trabalhar, digamos, 0 quarto do M~­
apresso-me a enfatizar mais uma vez quei}uW deixamos uma tarefa tir quando voce j~ fez esfor~os continuos ao longo do tempo, tor-
para tras, de maneira linear, e passai/ios para outra. Os n(veis nando seu esse quarto. V oce come~a a pegar 0 jeito. Da mesma ma-
a
mais profundos de compreensao e atua~ao, associados quaisquer neira, @pg.!~,gu~ aprende as li~c5es" ~e ~~da arq1l6tipo" voce pode
arqu6tipos, condicionam-se tamb6m ao 'aprofundamento do nosso in- "desempenhar" esse -arqu~iipo' coiiielegancia. Nao importa se voce
vestimento nos outros. Estamos continu~ente afiando e aprimoran- se'enc:onira 'no' es~gio do M~ii"~do--N6made, do Guerreiro, etc. -
do habilidades em cada categoria, porquanto na verdade essa joma- suas rea~c5es serao graciosas e adequadas a situa~ao. Se voce apren-
da 6 uma questao de desenvolvimento de habilidades em alto n(vel. deu a discri~ao, as respostas que escolher~ combinam com quem
Em ultima an~lise, adquirimos urn repert6rio de poss(veis respostas a voce 6 no momento e na situa~ao presentes. V oce saber~ que esta no
vida; portanto, temos 'cada vez mais possibilidades de respostas em caminho, pois ir~' sentir-se consciente e lucido~,Q!l~<!~. se ..§~.!!!~_~m
determinada situa~ao. p6ssimo estado.e-desorientado, ~JneIJtor: ir com calma e.J?~!'(;.~ber
Na verdade, 0 encontro com esses arqu6tipos assemelha-se 1,lm qual resposta teria side mais aute.IlJ!C,ll ou apropriada'i>arafaze-Io're-
pouco ao ate de redecorar uma casa. Come~amos mudando para uma -, ,corihecer mais integrilJm~I1te__ §!Hl~~lidllde e a do~ demai~.
casa parcial mente mobiliada com atitudes, cren~as e h~bitos transmi- Talvez voce descubra que as teorias deste livro podem ajud~-lo
tidos pelas nossas famflias e pela nos sa cultura. Certas pessoas ja- a pros~eguir quando se sentir num impasse. Por exemplo, as vezes
mais tomam sua a casa; por conseguinte, nao desenvolvem uma vale a pena lembrar que, quando se sentir incapaz e 6rIao, esta na
identidade ou estilo pr6prio. Os que realizam suas jornadas e (conti- hora de buscarajuda. Quando se sentir alienado e isolado das pes-
nuando com a metMora) rnobiliam suas pr6prias casas 0 fazem em soas, provavelmente voce estar~ envolvido com questc5es do NOma-
diferentes ritmos e ordens. de. Em vez de se preocupar em ser mais (ntimo, dedique-se as suas
Certas pessoas mobiliam urn quarto por vez, terminando-o e pas- questoes de identidade. Quando as trabalhamos de modo a tomar-
sando ao seguinte. Outras podem fazer urn pouquinho em cada cO- nos mais auteriticos. os relacionamentos costumam assumir 0 ,lugar
modo, pintam a casa inteira e entao colocam todas as cortinas. etc. que lhes compete. Da mesma maneira, se se sentir MMtir e puder'
Algumas pessoas termiham rapidamente. enquanto outras sao mais perceber que esta dando continuamente, na esperan~a de corrigir
calmas em seu trabalho. Naturalmente, essa casa psicol6gica 6 urn uma situa~ao, abandone a imagem do que 6 "certo" para voce e
tanto difq-ente da maioria das casas, pois alguns cOmodos nao po- concentre-se na sua jomada. ,
Se voce esta tornado pela compulsao de transformar 0 mundo ou
42
43
fazer com que outra pessoa concorde com voce, a questao ~ sempre seu repert6rio e experimentar novas atitudes para velhas situa~6es.
o medo de que 0 seu ambiente nao mude e voce nao possa ser ou ter Ser agressivo em sua vida particular ~ diferente, em estilo e essen-
o que deseja. Voce sente a sua sobrevivencia amea~ada, mas a atitu- cia, de se-lo na vida publica, por exemplo. Voce aprende novos as-
de correta· nao consiste em -fazer com que os outros mudem, e sim I, pectos de cada arqu~tipo segundo 0 contexto em que se encontra.
em trabalhar a sua pr6pria coragem. E 0 momenta de dar urn saIto de -I

~
Observe tambem que as versoes mais primitivas de qualquer
f~, agir autenticamente agora e contribuir com sua pr6pria verdade estagio 1;6 chocam as pessoas porque sao grosseiras, ainda nao refi-
para 0 mundo, sem insistir que os outros concordem com voce. nadas. Lembre-se de que, em suas formas mais aprimoradas e sutis,
f>
_QJ.:l@dos_~ ageassim, a mudan~a ~ quase inevitavel (embora voce nenhuma das abordagens ~ diffcil de ser tratada pela maioria das
1
!!!<:>Y-9ss~contro~ar 0 resultado dessa mudan~a). i,/pessoas. Se existe dificuldade, pOfsivelmente as pessoas estao ape-
•!
Confiar em voce e no seu processo significa acreditar que sua : nas desorientadas com algum tipo de mudan~a. A medida que voce
tarefa consiste em ser inteiramente voce mesmo e, assim, alcan~ar muda e cresce, algumas pessoas sempre se afastam mas, em compen-
tudo aquilo de que realmente precisa para 0 crescimento da sua al- sa~ao, voce atraira gradual mente para .si pessoas que dominam as
ma. Se se achar por demais apegado a urn resultado qualquer, ten- habilidades que voce possui, e assim havera maior compreensao e
tando fazer com que as coisas saiam do jeito que voce deseja e so- reciprocidade entre voces.
frendo com 0 insucesso da sua tentativa, esta na hora de cultivar a f~ ~ 0 grafico que se segue resume as diversas maneiras de abordar a
do Mago no uni'verso, no mist~rio, na capacidade de 0 desconhecido vida, caractensticas das vis6es de QlUndo mais habituais, associadas
prover as suas necessidades. Reconhe~a que aquilo que voce quer e a cada arqu~tipo. Perceba como em determinado mes - ou semana -
_aquilo de que precisa nao sao, em geral, a mesma coisa, e 6 bas'taiiie voce pode ter todas as rea~6es registradas. Ao refletir sobre esses
- racional coiifiar-iia universo, em Deus ou no seu Eu superior e dei- arqu~tipos, vale a pena admitir que todos n6s o~ conhecemos. Quan-
xar que as coisas aconte~am. do II1e sinto urn 6riao, quero que 0 mundo me seja entregue numa
A aplica~ao dessas teorias exige a consciencia de que somos bandeja de prata e me aborre~o por nao ser assim. Quando me sinto
criatmas---iriultidfrriensi()nrus~ --X- mroaria das - pe~oas tratia:lha:--com urn Nomade, desconfio das rela~6es e tenho necessidade de agir so-
(fiferenfesarc[u~tlposiiasaiferentes ru-eas de suas vidas. Por exem- zinho.
plo, algumas sao altamente influenciadas pela consciencia do Mago I Depois de ler- 0 livro, utilize 0 quadro seguinte e fa~a 0 teste no
I'
quando pensam em quest6es espirituais, mas nao quando se trata Apendice para refrescar a mem6ria. Voce vera qual ~ a abordagem
I
da pr6pria saude. Explorar as possibilidades inerentes a cada ar- que assume com maior freqiiencia e assim tera algumas indica~{)es
qu~tipo em diferentes areas da sua vida pode ser uma forma de ) das liC;6es primordiais nesse ponto da sua vida. A consciencia de
ampliar suas habilidades ou urn esforc;o im1til. Voce podera desco- onde voce esta podera ajuda-Io a avan~ar, se assim 0 desejar. Por
brir que simplesmente esta preso a pa¢is definidos pelo contexto. I exemplo, caso se sinta bastante experiente em determinada aborda-
no qual suas respostas nao refletem, ou deixadio de refletir. seus gem da vida, experimente passar Rara outro n(vel e tente novas
verdadeiros sentimentos. )
respostas, para ver como elas sao. Observe que o. quadro mostra
Talvez voce tenha medo de que as pessoas sejam derrubadas se, as caractensticas mais tfpicas de cada arqu~tipo,\"e nao 0 seu as-
tligamos: voce experimentar certas habilidades do Guerreiro em ca- I ~to--m::.a.rs-desenvolvido. No--enianto~osesilglos--m8is-av~aaos
sa, ou sua forma Martir de atuar no trabalho. Ou pode temer a perda de todas as modalidades, reunidos, constituem uma receita para a
de poder se deixar de lado habilidades altamente desenvolvidas e I boa saude mental.
experimentar outras nas quais possa ser inabil e inseguro a princ!pio. t
I
Todos n6s estamos tao acbstumados a pensar linearmente (e este
Mas podera ser interessante, desafiador e at~ mesmo divertido variar quadro ~ bastante linear) que desejo lembrar: nao ~ necessariamente
I 45
44
I
Resurno das Abordagens de Cada Arquetipo*

6rfiio Martir Nomade Guerreiro Mago

Prop6sito Seguran<;a Bondade, zelo, Independencia, For<;a, eficiencia A utenticidade,


responsabilidade autonomia totaJidade,
equilibrio

PiorMedo Abandono, Egofsmo, Conformismo Fraqueza, SuperficiaJidade


explora<;ao insensibilidade incompetencia deseentrada,
aliena<;lio do Self
edosoutros

Reaf;iioao Nega sua existencia Aplaca ou sacrifica 0 Fuga Extermfnio Incorpora e afirma
Dragiio ou espera salvac;iio Selja fim de
salvar os outros

Espiritualidade Quer a divindade que Agrada a Deus Busea Deus sozinho Evangeliza, converte Celebra a experiencia
salva e urn conselheiro sofrendo, sofre para os outros, regimes de Deus em todos,
espiritual para ajudar os outros espirituais, disciplinas respeita as diferentes
permissiio formas de vivenciar 0
sagrado.

lntelecto/ Procura respostas Aprende ou renuncia Explora novas ideias a Aprende atraves Permite a curiosida-
Educariio da autoridade ao aprendizado a fim sua pr6pria maneira da competic;lio, da de; aprendizado em
de ajudar os outros realizas:iio, da grupo ou sozinho
motivac;lio porque e divertido

Relacionamentos Busea o(s) Cuida das outras Avanc;a sozinho, Muda as outras pessoas Aprecia a diferen<;a,
guarda(s) pessoas, sacrifica-se torna-se indivfduo a fim de satisfazer 0 busea relasiena-
Self, assume projetos mentos iguais
de pigmalilio

---~ ----:-~.~~ ------ ---.-~ --- -~ - ~. _._) -..",... ~ -·....--'f· -:--'-.. -., +----.:"'.~., ,. ·-~~~-·~·,,::-->~'-c.,

Emof;oes Deseontroladas Negativas, reprimidas, Vivenciadas a s6s, Controladas, repri- Slio' permitidas e
ou embotadas para nilo magoar as est6icas midas para realizar aprendidas em si
outras pessoas ou triunfar mesmo enos demais

SaMe Ffsica Busea do alfvio Despojamento do Self, Deseonfia de'especia- Adota regimes, disei- Cuida da sa~de,
rapido, gratifica<;lio dietas, sofrimento !istas. Faz tudo sozi- plina, gosta de esportes exercita 0 corpo, boa
imediata para ser bela nho, cuidados de saude em.equipe aIimenta<;lio
alternativos, gosta
de esportes isolados

Trabalho Deseja a vida facil, Considerado diffcil e "Fac;o-o sozinho", Trabalha com afinco Trabalha a verda-
preferiria niio desagradavel,mas busca da vocac;iio para atingir 0 obje- deira vocac;iio, ve 0
trabalhar necessario; trabalha tivo, espera trabalho como
para os outros recompensa a recompensa em si

Trabalha com afinco Sente-se pr6spero


Universo Sente-se pobre, quer Considera mais aben- Torna-se urn homem
ou mulher que venceu para triunfar, faz 0 com pouco ou mmto,
Material ganhar na loteria, <;oado dar do que confia que sempre
herdar dinheiro receber, mais virtuoso por si mesmo; pode sistema trabalhar para
sacrificar 0 dinheiro si, prefere ser rico ter' necessidades,
ser pobre do que ser
niio entesoura 0
rico pela independencia
dinheiro

Tare/a/ Superar a rejei<;lio; Capacidade de zeIar, Autonomia, Agressividade~ Alegria, abundancia,


ReaJizariio esperan<;a e inoc8ncia de renunciar. e identidade, confianc;a, coragem, aceitac;iio, fe
abandonar vocacrilo respeito

* 0 Inocente nlio foi inclufdo neste quadro porque nlio 6 urn arquetipo her6ico. Quando vivemos no Parafso, nlio M necessictade de prop6si-
tos, medos, tarefas, trabaIho, etc. 0 Inocente e ao mesmo tempo pre- e p6s-her6ico.
.... '.'.

melhor ser Mago em vez de ser Ortao. Tanto 0 Mago quanto 0 Guer-
reiro se arriscam a incorrer na vaidade quando, com 0 real cresci- formas de relacionamento entre as pessoas, sem tentar mudar as pes-
mento do poder e da autoconfian~a, se esquecem de que em dltima soas ainda nao preparadas.
an~1ise, somos todos dependentes uns dos outros e da Terra para a A questao 6 que nenhuma dessas respostas, por si s6, 6 adequa-
nossa pr6pria sobrevivencia. Nao faz muito tempo eu estava me sen- da nem, tampouco, m~. Existe 0 momenta para se reconhecer que
tindo. Particul~nt~ orgulhos~ule::minhas-'1'eal~~Oes (Guerreiro) e outra pessoa sabe mais. ou 6 urn lfder melhor, e segui-la. Existe 0
<Je,,'~~.g~~,t~q:c.t~;~no.~entanto, certa manha acordei perguntan- momenta para retirar-se da a~ao e assegurar os valores pr6prios.
d?-me: "Por que eu?", quando ~ma s6rie de desafios, inconvenien- Existe 0 momenta para 0 engajamento pol{tico e 0 momento para
Clas e ca~strofes me atingiram de uma s6 vez. Experimentei todas as concentrar-se naquilo que se pode criar exatam'1nte onde ~ es~. .
rea~6es cl~ssi~as do Orfao: fazer-se de vftima, desejo de ser salva, Nem sempre. contudo. somos assim tao tolerantes e compreensl-
a~toc:nsura e Impulso de fazer os outros de bodes expiat6rios. Esta vos.IVez por outra, quando entramos em de~~~~!!~_~s_~~,~?!_s~mo~,
sItua~ao, contudo, acabou advertindo-me de minha real vulnerabiIi- urn tanto dogm~ticos eovemos--coIl!tJdillcQ ~~1l?j~~~. Q1Ei!ldQ"dei-
dade.e interdependehcia, e fui for~ada a pedi~ ajuda aos amigos, a -'''''''''''''''''--''''''''-

xamos essa-posl~~o~ c"()stumamosrejeitar a posi~ao anterior.


famflta e ~os. colegas. Tenho a tendencia da autoconfian~a excessi- . Para as pessoas'qti~-;;;-~b~~d~ -~a~'-do'es~giO lnldal do Mmtir,
v~, e preCIseI ~o .Iembrete, atrav6s de sua ajuda amorosa, de que eu
nao estava sozmha.
~ualquer declara~ao categ6rica acerca do valor do sacriffcio prova-
velmente parecer~ masoquista. E naturalmente elas esmo certas - se-
. 0 importante ~ ser mais completo, inteiro, e possuir urn repert6- gundo a visao delas. Se estamos saindo do est~gio de Mmtir e pas-
no de escolhas maIS amplo - e nao estar no degrau mais alto na es- sando para b de Nomade. a tenta~ao de interromper a jomada e de-
cada evolutiva. (Imagine que rasgou 0 quadro e uniu as partes de dicar-se aos outros 6 uma amea~a real e constante. E como terminar
cima e de baixo, formando urn cfrculo.) Na verdade. 0 Inocente 6 urn caso de amor. Poucos de n6s conseguimos simplesmente dizer ao
apenas urn Mago que ainda nao encontrou os outros arqu6tipos nem parceiro que estamos prontos para Iseguir adiante e agradecer os
aprendeu as li~oes destes. Se voce concluir que ser Mago 6 melbor momentos bons. Ao contrmo, gastamos urn born tempo fazendo uma
do que ser Guer:e~o ou Mru-t:k__~ _tentar}imitar_suas f6rmas ~e reagir lista dos erros de nosso(a) antigo(a) amante e provando a n6s mes-
ao ~und~, restrtngmdo-as as '!,o arqu6tipo escolhic;io. vocf; :L :-11 tao mos como 0 relacionamento era ruim. Em geral produzimosum
parcIal e mcompleto quanto 0 OrIao que ainda nao adquiriu destreza grande drama com 0 fito de desviar nossa aten~ao do medo do des-
em outra modalidade. conheeido, ou porque nao nos, consideramos no direito de abandonar
Nao se supera nenhuma li~ao. Urn born exemplo disso 6 a pollti- alguma coisa, a nao ser que ela seja decididamente terrlveI.
ca. Cada arqu6tipo tern sua pr6pria contribui~ao a dar. Os Ortaos Podemos tamMm rejeitar os es~gios para os quais ainda nao es-
querem seguirum grande l{der que os salvar~. Os Nomades identifi- tamos preparados, aqueles nos quais temos pouca ou nenhuma expe-
,cam~se como forasteiros e veem pouca ou nenhuma esperan~a na riencia. Ou enta~ podemos redefini-Ios nos termos conhecidos por
p~lltI:a. ,sobr~tudo na pol{tica cQnvencional. (Eis por que as pessoas n6s e assim compreende-Ios erroneamente. Nao h4 problema, porque
sao tao apolltIcas atualmente.) Muitas pessoas antes envolvidas com l
nesse ponto a verdade que nao compreendemos ain<1;a nao 6 relevan-
a pol{tica reagem a grande mudan~a cultural retirando-se e levantan- te para a nossa evolu~ao. Por exemplo, para uma pessoa que es~ en-
do quest6es de identidade e valores que possam ajudar a criar uma frentando a queda do Eden, que mal come~ou a ter alguma cons-
nova pol{tica. Os Guerreiros, envolvem-se com a pol{tica e as causas ciencia rudimentar da realidade, a declara~ao do Mago de que 0 uni-
convencionais, e tentam realizar mudan~as. Os Magos costumam en- verso 6 seguro parecer4 0 pior exemplo de nega~ao!9
, t
fatizai a cria~ao de novas comunidades aItemativas. institui~6es e Recentemente, compartilhei essas id6ias com uma turma de alu-
nos e ficou claro para mim que muitos alunos queriam saltar para 0
48

'[
~
49
da pobreza. R9deadas de outras pessoas, elas sao levadas ~ com~r~
estag~o do Mago sem pagar 0 tributo aos outros arqu~tipos. Nao este e aquele produto para serem amadas. Conforme exphca Philip
ac:redlto que isso se~a poss{vel - ou, caso aconte~a, essa situa~ao
Slater em The Pursuit of Loneliness, em nosso sistema social a pu-
nao podera ser manuda pqr muito tempo. Temos de pagar 0 tributo,
blicidade acentua a cren~a cultural na escassez, criando necessida-
~rmanecendo em cada estagio durante algum tempo. Nesses casos,
des artificiais. IO Em vez de temerem a pobreza per se, as pessoas
minha esperanga ~ que, sabendo para onde provavelmente estamos
tern medo de nao poderem adquirir urn carro fantastico ou urn jeans
in~o, de alguma maneira nos Iibertaremos do medol que costuma pa-
rahsar-nos ao enfrentannos os nossos drag6es. de boutique.
Os detentores do poder refor~am a escassez artificial, porque ela
Ocorre .uma mudan~a de paradigma quando as pessoas deixam
vende produtos e mant~rn a for~a de trabalho submissa. 0 restante
de ser Guerre~os e passam a ser Magos; sua percep<;ao da realicjlade
de n6s nao rejeita nem descarta a convic~ao de que recursos e taIen-
muda verdaderramente. Elas percebem que a visao do mundo como'
tos sao escassos porque precisamos acreditar que sao. Todos n6s te-
um loc~ repleto de perigos, sofrimento e isolamento nao correspon-
mos de empreender jomadas arriscadas, e precisamos acreditar que
de aqutlo que 0 mundo ~, mas somente a percep~ao que tinham do
noSsos medos sao reais. Se nlio sentirmos fome, carencia, isolamento
mundo durante as partes formativas de sua jomada. Essa nbva per-
e desespero, como aprenderemos a enfrentar os nossoS medos? Nao
cep<;ao podeser bastante Iibertadora.
estaremos preparados para a abundttncia, para um universo ~guro,
Embora a inJioria das pessoas se con centre nas not{cias tr~smi­
enquanto nlio fonnos postos a prova - por n6s mesmos -, r:al~ando
tidas pelos meios de comunica~ao - as quais enfocam basicamente
nossas jomadas. Nao importa quantas pessoas nos a!nam, nao unpor-
desastres, guerras e disputas,-, algo de transformador esta aconte- .
. ta quanta riqueza possamos ter a disposi~ao; atr~emos pro~lemas e
cendo na cultura e voce s6 se da conta disso quando come~a a mu-
nos sentirernos sozinhos e pobres enquanto conslderarmos ISSO ne-
dar' Conhece~ essa ~udan~a ~ como conhecer uma nova palavra que
A
cessario. Voce ja conheceu algurn rico semelhante a Scrooge, perso-
voce nunca tmha VIStO antes; de subito, para sua surpresa, voce a
nagem de Dickens, que vivia aterrorizado ante a possi~i1idade de
escuta em toda parte. Provavelmente ela sempre esteve presente em
perder dinheiro e, como resultado, se tomou urn verdaderro e~ravo,
alguma parte de seu ambiente, mas voce nao a percebia. Quando
produzindo e armazenando dinheiro? De igual modo, por mms que
aprende urna· nova forma de ser e de relacionar-se no mundo, de re- venhamos a ser arnados, haverernos de sentir-nos sozinhos enquanto
pente voce come~a a conhecen gente como voce, e logo passa a vi-
nlio estivennos prontos para receber 0 amor.
ve.r nu~ ~ova sociedade, num novo mundo, que atua segundo , Em ultima analise, nlio existe uma fonna de evitar a busca do
prmc{plos dlferentes do antigo. A pr6pria leitura deste Hvro sugere her6i. Se nao tivennos a coragem de empreende-Ia, ela vira ao nosso
ser este 0 momento de voce saber nO mfnimo que 0 muntlo existe - encontro. Embora possamos ernpenhar-nos em evitar 0 sofrimento,
se ~ que voce ja nao esta vivendo nele. as afligOes e contendas inevitaveis, a vida acabara por conduzir-nos
As pessoas que precisam ter poder sobre as demais para se senti- a Terra Prornetida, e ali poderernos ser verdadeiramente pr6speros,
rem seguras costumam temer a passagem dos outros para 0 reino. do amor-osoS efelizes. A unica salda ~ atravessar todos esses estagios.
Mago, porque os Magos nao podem ser controlados e manipulados
com. facilidade. ':~r pode!~.0t:>!~" depende do . me~o e dCl."~!"~!!~a n~
e~c~s,sez -acr~!t~que nao existe 9S1,lt19.!~nte, portanto todos pr~­ . I
cIsamos .competlr. Esse medo t01"l!~_~pessoas d6ceis, dependentes,
~onfomnsta~, na esperan~a de pe~~c~re~.Q.as boas m:~~_~~:.d;q~e­
les. qu~_ ~~~n:!_9._pO®rd~Lou.lutaLelas-1l1esmas._pelo~PQd.er. No pals
mals nco do mundo as pessoas sao motivadas a trabalhar pelo medo
51
50
I
)

Capitulo 2
DE INOCENTE A ORFAO
Heaven lies about us in our infancy!
Shades of the prison-house begin to close
Upon the growing Boy. ..
At length the man perceives it die away,
And fade' into the light of common day.

o ceu rodeia-nos em nossa infancia!


As sornbras da casa-prisao se fecham
Sobre 0 Menino que cresce...
Por rllD 0 hornern as ve desvaneqerern-se,
Dando lugar a luz de urn dia cornurn.
William Wordsworth, Ode: Intimations of
Immortality from Recollections of Early ChildhoOd"
,... --".- ---- ----., ~ , 0"

q Inocente vive no mundo anterior a queda, urn Eden verdejante (

r
I
~
a'
onde vidii6 )bela e todas as "necessidades sao satisfeitas numa at- .
mosfera de desvelo e arnor. Os equivalentes mais pr6ximos dessa
experiencia ocorrem no come~o da infancia - para aqueles que tive-
ram infancias felizes - ou nos primeiros es~gios de urn romance, ou \
ainda em experiencias mlsticas de Unidade com 0 cosmos. Para mui-)
tas pessoas esse mito 6 0 ideal de como as coisas deveriam ser.
A hist6ria infantil de Shel Silverstein, a prem,iada The Giving
Tree (A A.rvore Doadora), fala-nos desse anseio de ser totalmente
cuidado. Urn menino brinca nos galhos del uma more e come suas
ma~as. Quando cresce, a more lhe d4 seus galhos para que ele
construa uma casa. Muitos anos depois, quando ele 6 tornado peto
impulso de navegar os sete mares, ela Ihe d4 0 tronco para que ele

53
faqa urn barco. Finalmente, quando volta para ela, ja idoso, a lirvore
esta triste, porque nada mais tern a the dar, mas ele explica que s6 toda a capacidade de dar e receber, por si. s6, .nos fara. alcan9ar es~
precisa de 9m lugar para sentar-se. Assim, ele senta sobre 0 cepo da 'estado. Os Inocentes, que se defrontam com a necessldade de abnr
arvore e, como em todas as outras vezes em que ela se deu, "ele esta seu pr6prio caminho na vida, sentem-se abandonados, trafdos e at~
feliz e ela esta feliz". 1 mesmo ultrajados, sem saber que na verdade essa e uma queda a.us-
'------ hl~t§QP s6
Essa -~.
.. .
~ considerada bela
_ -._-----,,----
...
e ideal
-.- ---- se 0 lei
.. --.~-.-.-.-.---
...
tor identifi-
_._.-.
'- . .,
piciosa. No nfvel mais profundo do seu ser, eles querem prossegUlr.
car-se_SQ..~_.~Un~!l!.,I1_~.!..~y~~..f:O~~~! Para os Inocentes, as ou-
tras pessoa,s, 0 m~.ncl<.>_ natQr~J, JUljo existe 'para servi-Ios e satisfaze- , A Queda
.los. A drilca raziio de ser de Deus ~ atender as preces. Qualquer dor,
qualquer sofrimento ~ uma indica9ao de que algo esta errado _ com Muitas culturas possuem mitos que recontam a e:a d?ura~a da'
eles (Deus os esta pun indo) ou com Deus (talvez Deus esteja morto.) qual a humanidade veio a cairo Em nossa cu~tura; a hl~t6na pnmor-
Para os Inocentes, a Terra existe para seu prazer. Eles tern todo 0 di- dial que nos fomece este significado ~ 0 mlto de Adao e Eva, se-
reito de pilhli-Ia, espolia-Ia, poluf-Ia, ja que ela existe apenas para gundo 0 qual (1) 'a Queda resultou do pecado humano, (2) ~sse pe-
eles. Para os Inocentes do 'sexo masculino, todo 0 papel de uma mu- cado foi antes culpa da mulher que do homem e, (3).0 castlgo para
lher consiste em cuidar dos homens, dar-Ihes apoio e satisfaze-Ios. tal pecado foi 0 sofrimento. (Para Adao, ganhar a VIda com 0 suor
Para os Inocentes do sexo feminino, 0 papel do hOIDFm ~ protege-las de seu rosto; 'para Eva, dar a luz; e, em ultima analise, para ambos ~
e prover-Ihes a subsistencia. Para nenhum dos dois 0 outro ~ intei- a morte.) A partir desse mito, surge a convic9aO de que 6 ~ss~vel a
ramente humano. humanidade reentrar no parafso, mas somente atrav6s daexpla9ao do
A Inocencia ~ urn estado natural da infancia, mas quando se sofrimento e do sacriffcio. . . .
estende at~ a idade adulta exige uma dose espantosa de nega9 o e
ff o mite da Queda possui elementos arquetfplcoS eVldentes, polS
narcisismo; contudo, ~ com urn os adultos acreditarem que os outros nao apenas existem vers6es desse mito na maio~a das .culturas e ~e­
tern 0 dever de tomar sua vida edenica. E aqueles que nao 0 fazem, Jigioes como, em Inossa cultura, at6 mesmo OS nao-pratlcantes do JU-
seja Deus, a mae e 0 pai, conjuges, amantes, amigos, p a 6es ou tt dafsmo ou do cristianismo vivem algo semelha~te a Q~eda. g~a
empregados, sao uma fonte con stante de aborrecimento" de raiva ou muitos 0 mito surge na f~1!D~_<:!~_ u~a ~~~i!usa?cOm_o~J)a..s. Os palS
ate de cinismo. I J.. devenam-ser-como-a- "arvore dadivosa". Se ISS0 nao ocorre, OS fi-
A promessa de urn retorno ao ;. estado edenico mftico e uma das lhos sentem-se ludibriados, como se 0 mundo nao fosse como deve-
for9 a s mais poderosas da vida humana. Grand~ parte do que fazemos .
na ser.
Os pais podem ter side 6timos quando os filhos eram peque-
, ' ' ; ' ' . '_ _ rfeitos
- e do que nao conseguimos fazer - ~ defihida por essa promessa. nos; mas estes acabam por desco~rir que seus pats nao sao ~ .
Objetivamos a Terra e 0 outro, na tentativa fren~tica de permanecer, De repente, aquelas pessoas que deveriam cuidar deles delxam de
ou tomar-nos saos e salvos, protegidos, dentro do Eden. A ironia ser confiaveis. . . r .
aqui reside no fato de que podemO:S retornar, e de lato retornamos, A Queda assume tamb6m a fQan~. ?~ desilusao.PQlft!~~,1~ 19IQ.$a
a segurarlfa, ao·amor e a abundiincia, mas apenas como resultado "
oope~. I Os Inocentes tomam-se_ Orfaos quando descobrem que~
de nossas jornadas. E compreensfvel que a maioria das pessoas ~~s'esta morto ou os abandonou, que 0 govemo ~em s~mpre
queira saltar suas jomadas e ir diretamente a recompensa! born, que as leis nem sempre sao justas ou que os tnbunat~ talvez
Apesar de tudo, 0 Eden nao' e uma questiio de satisfazer a todos nao os protejam. Os homens' tradicionalistas podem expenmen~
os caprichos narcisistas; e urn estado de gra9a que requer profundo profunda desilusao ao descobrir que as mu~heres n7~ sempre ~ao
reconhecimento e reverencia para com voce mesmo e os outros. Nem "arvores dadivosas", mas tern desejos sexualS e ~mbl90es profi.ssIO-
, nais. As mulheres podem ficar igualmente desapontadas e funosas
54
55
r' 0 arquetipo do 000 e assaz espinhoso. A realiza~ao do Orflio
ao descobrir que os homens, alem de nao protege-las, ainda promo- \ consiste em sair da Inocencia e da nega~ao e aprender que 0 so-
,vern a opressao feminina e se beneficiam dela. A desilusao acontece c{ frimento a dor a carencia e a morte sao parte inevi~vel da vida.
E~,JLtodos n6~l:!Od~~rcebemos ~~!1~m sem~alvez nunca -
omundo e COW...9JlOS e1.1sinaram que devenaser.=t>ara alguns, a desi-
I A raiva 'e 0 sOfnmento da( decorrentes serao proparcionais as ilu-,
'-soes iniciais. I
lusao acontece ao descobri~e~-que'-a-vrda reaI'nao e como a vida re- A hist6ria dos OOos fala de impatencia, de anseio pela volta,ao
tratada na televisao. estad~ primordial de inoc8ncia, inocencia' puramente infantil, onde
o Orflio e urn idealista desiludido, e quanta maiores os ideais do , 'toClas 'as necessidades sao satisfeitas par uma figura materna ou pa-
mundo:'plo'tlhes parece a reajid~de. Sentir-se Onao ap6s a Queda e terna amorosa. Esse anseio justap6e-se a sensa~ao de abandono, a
_~~_~_Il1oD.e.19, ~2E~c?~~.l1~~m~Ilte.,...dif!cil. ,0 mundo e considerado peri- sensa~ao de que, de certa forma, dev(amos viver npm jardim, prote-
goso; vil6es e ciladas estao por toda parte. As pessoas sentem-se gidos e bem-cuidados, mas em vez disso somos lan~a~os, .como
como donzelas-em-perigo, obrigadas a enfrentar urn ambiente hostil 6rflios, no vasto mundo, presa de vi16es e monstros. A hlst6na dos
sem poder nem habilidade adequados. 0 mundo assemelha-se ao Maos fala da busca de pessoas que cuidem deles, de remlncia a au-
cao-comendo-cao, onde as pessoas sao vCtimas ou algozes. Ate tonomia eA independencia a fim de assegurar esse cuidado; e fala
mesmo '0 comportamento do vilao pode ser justificado pelo Mao ate IIlesm() da tentativa de ser 0 pai amoroso - para os amantes, os
como algo simplesmente realista, j~ que voce deve «fazer aos outros filhos, os clientes ou 0 eleitorado, tudo para provar que essa segu-
antes que eles 0 fa~am a voce". A eJll~ao dominante nessa visaq de ran~a pode existir, ou efetivamente existe. Depois da Queda so-
mundo e 0 medo, e sua motiva~ah'b~sica, a sobrevivencia.
~, " , ' " ,
"'., " brevem a longa e as vezes lenta escalada de volta, 0 aprendizado da
Esse' estligio e tao doloroso que nao raro as pessoas re~orrem confi,n~a e da esperan~a. A tarefa ultima do 6rflio consiste em ad-
a v~lvulas de escape,utiliz~do-se de narc6ticos diversos: drogas, quirir 'a autoconfian~a, mas em geral ele s6 0 consegue qu~do ~o­
~lcool".,;tra:9aih'a;~8oiisuinisnio; .prazeres inferiores. Ou enta~ podem me~a a buscar a u~ore dadivosa": uTalvez no momentd nao eXlsta
viciar:se'e utilizar mal os relacionamentos, 0 trabalho e/ou a religiao alguem capaz de zelar por mim, maS quem sabe se ~ao encontroesse
como forma de amortecer a dor e obter uma falsa sensa~ao de segu- alguem!" Certas pessoas procuram urn Gr~de Pal; algu~s homens
ran~a. Ironicamente, esses v(cios tern 0 efeito colateral de aumentar procuram 0 Uanjo da casa", as mulheres que l~es oferecerao urn san-
nossa sensa~ao de impotencia, nossa negatividade e ate mesmo, no tu~rio, protegendo-os desse mundo cruel; mUltos procuram ~ ~ande
caso das drogas e do ~lcool, favorecer a desconfian~a e a paran6ia. Hder poHtico, 0 movimento, a causa ou 0 neg6cio de urn mtlhao de
Essas v~lvulas de escape sao defendidas por aqueles que a elas d6lares que sed a solu~ao de tudo. ,
recorrem como as unicas estrategias razo~veis para se suportar a ~a.origem,<:l~ tu<:lojssoen~Qntra-:se 0 fi.1edo que 0 OrIao sente da
condi~ao humana: HClaro que tomo alguns tragos/pflulas/etc. A vida i~J!J.!£~~..~,,'.!?,~!'IlIl~OJ.l~' mede: tao ~ai~ado que n~o costu~a ser
e dura. De que outra maneira eu conseguiria agiientar?" E nao con- vivenciado diretamente. A em~ao malS vls(vel e a ralva - seJa yol-
sideram muito realista esperar mais da vida. Uma pessoa pode quei- tada para dentro, na convic~ao de que a Queda, de alguma man~ira,
xar-se de que 0 trabalho e enfadonho. HDetesto 0 meu trabalho, mas IS culpa nossa, ou ~ntao. v~ltacla para fora, ,para Deus, para 0 umver-
tenho que alimentar as crian~as. Assim e a vida." Nos relacionamen- so, para os pais, as institui~6es - para qualquer coisa ou pessoa que
tos, uma mulher pode simplesmente supor que os homens unao sao possa ser considerada uma falha nos cuidados que lhes dispensaram.
legais" e permanecer numa rela~ao onde ela e emocional ou ate No patriarcado, essa raiva costuma ser projetada nas mu~eres, co-
mesmo fisicamente maltratada, porque uele e melhor do que a maio- mo, par exemplo, nas hist6ri~ de Eva e de Pandora. Posslvelmente,
ria dos homens". Urn homem ,pode reclamar que a esposa 0 apo- isso acontece, como sugere Dorothy Dinnerstein em The Mermaid
quenta, mas d~ de ombros e diz: Uas mulheres sao assim mesmo".
57
56
II
_ ' o d n6s. A experiencis. ~
rotegao concedida a t as r"" ~~'-'.'--::-f"-
and the Minotaur, porque na infancia fomos cuidados por nossas quica asseg ura a P '''Eu uero eu sofro, eu preclso e a
maes. que nos par-eciam onipotentes. Nao somente nos desiludimos ()ueda e 0 sentiroento do ttpo .... q , oder~ faze-Io, a esse
~escoberta .de' queninguert\ far~ algo, nem P "
80 perceber' que eJas nao poderiam tomar "tudo melhor", mas essa .
desilusao se conjuga tamMm com 0 terror infantil primordial de que '{espeH:o. ' e constrangedor para a maioria
a Mite possa ir embora, e nesse caso seria a morte certa para a crian- Naturalmente, este sentlm~nt~ . s ser maduros independentes,
s:a.2 Existe em nossa cultura urn profundo 6dio as mulheres, a ponto dos adultos. Afmal de contas, ev arn~ , das pess~as neste es~gio
de serem consideradas pessoas separada~, com necessidades pr6- auto-suticientes; por isso a grande mruonasi pr6prias Em gersl, tais
prias, e nao apenas "ruvores dadivosas". Araiva pode explodir so- nao consegue a· d1ll1'ti-10 , nem mesmo
"
para '.
a verdade sentem-'se mUlto
,
. "estao bem mas n '"
bre a mulher liberada, por sua ambis:ao e independencia, ou sobre a pessoas dlzem que de ' das Os pap6is que represen-
mulher trsdicional, por sua dependencia. Ambas sao culpadas por perdi~as, v~ias e a~ ~e:~~s a:~::as ~ue caracterizarn o,s es~-
quererem e necessitarem de algo para si mesmas. tam sao arnu1de VarlW;oe & .< correta mas nao a essencla.
. d' ada' a 10Tm8 ~. -
Jl~~_.~.__,g.~~Sa!Ld(L.6rtao consiste em tentar .. ape~ar-se a gios segumtes a Jom '-rdOM'mt"iij serao incapazes - nao
inocencia, ou seja, mostrar-se narcisista e cego em relagao ao sofn- Se forem atrafdas pelol£~~..2---... ' 1'do de sacrificar-se
. d" tr balho realizado nesse sen I -
men to dB'; outraspe'ssoas,'"3I6m~denegar·siia· pr6pna dOor. Urn ho- obstante to 0, 0 a 0 sacriffcio eventualmente
" t r arnor aos outros, e
mem arrogante senta-se para ler 0 -Jomal -enquanto -a esposa est~ so- verdaderramen e po d C 0 se sacrificarn pelos fllhos,
brecarregada fazendo 0 jantar e cuidando de tres filhos exigentes, realizado nao sera transforma or. o~mostrando-se gratos, levando
cansados e famintos. Uma jovem despreocupada passa 0 dia fazendo estes terao de pag:u, e tom,::: ~:g: vivido; em suma, sacrificando
compras, esquecida de que 0 marlda" detesta 0 seu trabalho mas per- a vida que os palS gostarl d 'dados que receberam. Esse
6 ' 'das em troca os CUI ,
siste porque tern de prover-Ihe a subsistencia. 0 tipo de raiva geral-
I
suas pr pn~s ~l rdade constitui uma fOrrpJi ..9,~. .Jll~IPll-
mente enderegado as mulheres que buscam a independencia aparece pseu90-sacnffclo, que na ve "'d""'" .. portnoy em Portnoy's Com-
. xemplo 0 caso a sra. 'b f
sempre que pessoas narcisistas sao fors:adas a defrontar-se com de- !aga<:>. . ,(ver, por e , 'f~' a m~ acep<i ao que the e atn u-
clarag5es de humanidade independente, vinda de pessoas que ante- p. la'znt) , conferiu a palavra sacn lCIO
riormente lhes pareciam existir apenas para a sua conveniencia. Ve- da na nossa cu~tura. mo a mae que se sacrificap<>4~J~.e,r
mos esse 6dio nos brancos do Sui, no comes:o do movimento pelos Hoje em dla, todos sabe~ c~ almente pemiciosa e a do homem
mampu , 1ad ora,'mas outra versaoA. IgU I d' aceitar esse encargo pe1a es-
direitos civis; em homens de, neg6cio que enfrentam as exigencias do ". d prego detest~ve, IZ
trabalho; em homens no princ!pio do movimento de liberagao das que, ten 0 urn em ' p a g a obrigando-oS a serem
1 filhos mas 1hes eXlge a . d
mulheres; e talvez ate mesmo antes, em mulheres, quando os homens poss e pe os :. d al uer CrItica ou ressentimento, e mo-
comes:aram a deixar as esposas a tim de se encontrare'm a si mesmos. submissos, a protege-l0 e qu q 't 10 Quase sempre esse homem
Detectamos esse 6dio atualmente entre os conservadores, quando os do a sentir-se sao e sa1v~ em seu ~: ~a : omada em prol do martfrio
pobres afirmam 0 direito a uma vida decente - sem nem ao menos exige que a esposa sa~nfique a ~ Pco~o em outros, amensagem
terem feito por onde merece-la! , do marido. Nesses dOiS cas?S, em 'fi uel' nnr vl'V"A' portanta...nao
. t . ~u....me....sacnJ lID -¥-=---..,.,....... .
A essencia da inocencia e a cren~a numa hierarquia benevolen- subjac~nte e a srgUl~ e, . , ente' minha~i1usoes, aju~:~.,~_,~~n-
~ delxe, fique C()~lgO?~~~"_._.,,, ___ . ._,.__....._,._,,"_ ........ ,.,--
te, na qual nao apenas os que detemc;>poder - Deus, os brancos, os
capitalistas, os poI!ticos, os pais - proveIIl,a subsistencia dps que . .tir~~:ii~iiO~;. pel de pseudo-M~ir, 0 6rf80 pode op-
.estiio sob os seus cuidados como tambem estes (a humanidade, as Em vez de escolher ~J~a _ ntar 0 seu medo d~ tentar
. 1 ,. '~r do."Ouerreu:o:J,para nao afro ....... ---'-' rta
pessoas de cor, os opernrios, 0 populacho, as crian~as)_ devem mos- tar pe 0 tpa.~, " ' o s outTOS, ele se compo
criar urn IDundo_llle1hor para SI, ,~_..~~"".."'-,.- ..- . - - - - - - -
trar sua gratidao, sbrvindo-os e sustentan4~o$.. Essa ordem hier~-
I

\ • A '
59
,I
58
!,
1i;,como.,~~}(>uco furioso. Eo caso dos espoliadores, dos estupradores, / plo, matricular-se na faculdade ou sair de casa. e arranjar urn empre-
;:' do8"'11ome'ns viol~ntos, dos negociantes que exploram e poluem em go para sustentar-se -, mais tarde, pode assumrr a forma de u~a tr~­
ii' troca de lucros. Eo macho classico que diz: "~_~~,!:1~~g<?_,t_t,I,q,(),o ql!,e I ca de emprego, do t6rmino de urn relacionamento ou da desllusa~
com determinado partido pol!tico, grupo religioso ou filosofia de VI-
, g~"~~o,e~lhe _~9~~_,¥ar?t~'_~~_9u.:~ro voce", papel representado pelas
~,~,S.()~~,91l~ s6 veem a si mesmas'e~nao percebem a dor e a des-
I da buscando-se novas respostas. Em qualquer idade, se fomos de-

l pe~dentes dos m6dicos, vendo-os como autoridades. na saude, de


,'I

• _trtIi9ao que -provOc8m. Naturalmente, nao sao apenas os homens que


: agem assim, mas utilizei 0 pronome masculino porque esse compor- professores ou de quaisquer outras figuras de autondade q~e nos,
mostram ""a Verdade", a desilusao estimula-nos a buscar autonda~es /
tamento 6 socialmente tao inaceitavel para as mulheres que se torna
mais raro. Urn dos problemas de ser homem na nossa cultura 6 que,
I mais adequ'adas ou a aprender que podemos ser as nossas pr6pnas'
por ser essa forma de' comportamento considerada masculina, muitos autoridades.4 I

homens ficarn presos a ela. _ Pessoas criadas em lares onde ha seguran9a e arnor, onde apren-
Uma x.~I~~().JeminiDJL~I~~u.?!l~,~!:J~~e.~cl()~~~,~~iro 6 a ~~nquis­
dem que podem confiar em si mesmas e no mundo, nao precisam
~!!.':§~~.9!o. Numa cena de for colored girls who have conside-
permanecer nos estagios pseudo-her6icos,l.mas podem ~~ol';lir orga-
red suicide/when the rainbow is enuj, de Ntozake Shange, uma mu- nicamente atrav6s deles. Por terem vivenclado a expenencla de se-
Iher escolhe urn homem, faz arnor com ele de maneira sensual e de- g uran 9a e desvelo elas sabem que podem confiar. (0 6rIao 6 urn ~­
senfreada, acorda-o de manha cedo e 0 expulsa de sua casa. E a des- qu6tipo poderoso; ningu6m esta intei~amente livre d~le,. por malS
forra. Ela antecipa-lhe a rejei9ao e rejeita-o primeiro. A semelhan9a afortunado que se possa ter sido.) MUltOS, contudo, nao tlveram na
do homem de neg~6cios inflex!vel, "ela 0 faz antes que ele possa infancia urn lar seguro, ou sofreram algum trauma (como, por exem-
faze-Io com ela". Eo jogo do "que$ fere primeiro".3 ' plo, violencia sexual ou alguma fOrD1a de maus:tratos), ou e~mo as
Embora muitos Ortaos queirarn sacrificar-se abnegadamente fam!lias, escolas, igrejas ou sinagogas Ihes ensmararn que nao po-
pelos filhos, participando de urn movimento, da Igreja, etc., ou diam confiar nem em si mesmos nem no mundo.
queirarn lutar em batalhas que realmente modifiquem 0 mundo, nao Inumeros grupos crismos, por exemplo, incentivam as ~ri~<;as a
conseguem faze-lo. A dor os leva a absOr9aO quase total em si mes- se considerarem pecadoras e a desconfiarem de seus pr6pnos lmpul-
mos. Todo 0 drama dos Ortaos se concentra em torno de si mes- sos ' atribu!dos ao demonio. Da mesma maneira, elas veem 0 "mun-
t . • "-

, mos. ~nao'--acredltan:liia' Possf6Hldiide de ter arnor e carinho ou de do" como urn lugar de pecados e pengos, em contraste com a l~-
-proinovera nlUcian~a~ dedicam:se' a controlar"os'iermos "de' sua pr6- ja". Os judeus, traumatizados com 0 ~oloc~~sto, podem. ensmar

r: -"pria infelicidade. " , -, ,- seus filhos a tomarem cuidado com 0 antl-semltlSmO ease Julgarem
Em muitos casos, contudo, os 6rtaos sao simples e honestamen- sempre sob 0 perigo de uma sociedade opressora e crism. De fato,
\ ~e Ortaos que desconfiarn de suas pr6prias capacidades e enviarn a qualquer grupo oprimido, no seu empenho d: alertar os ?lhos contra
a opressao bastante real da socieda~e, se n~o tomar cUld.ado com a
mens~gem~ ;e.?,-,~~~,~~i ~~~~mim". Durante a nossa juventude,
em sltua90es novas e aeseonhecidas e em nossas areas nao-desen- forma de expressar esse alerta, pode madvertldamente ensmar aos fi-
} lhos uma atitude de desconfian9a que favorece a paran6ia, retendo-
\ volvidas, somos todos 6rtaos e, por conseguinte, dependentes dos
\ outros. No desenvolvimento humano normal e saudavel, a fase do os na mentalidade de 6rIaos. .
I 6rfiio 6 branda. A desilusao com os pais, com as institui90es e com
Na tentativa de proteger os filhos da ameac;a real de seqiiestro e
danos f!sicos, muitos pais exageram 0 perigo de conversar com es-
1a autoridade s6 faz motivar-nos a deixar a dependencia segura e a tranhos. Grupos dominantes podem transmitir aos filhos a cren9ade
\. empreender nossas pr6prias jomadas em busea de novas respostas.
que podem confiar nos membros desse grupo, mas nao nos de outros
\,0 que pode ser simples no final cia adolescencia - como, por exem-
61
j
I
o mito do' amor romantico e os enredos do tipo da-pobreza-
gropos "inferiores"; as mulheres sao histericas e indignas de con- para-a-riqueza estao geralmente interligados. Na hist6ria de a~or
~an~a, os ne~os sao pregui~osos e indolentes, os judeus sao ganan- romantico tradicional, a herofna encontra nao apenas 0 verdaderro
c~osos. os as~liticos sao sinistros, etc. Certas pessoas chegam a acre- amor mas tarnbem uma pessoa capaz de susten~-la. Em romances
dltar, e 0 ensmam aos fllhos, que nao se deve confiar em ninguem. como 0 Grande Gatsby. de F. Scott Fitzgerald, 0 her6i e levado
: Aquele.s que se sentem impotentes e nao sabem para onde se a fazer fortuna visando conquistar· 0 afeto de Daisy, a garota dou-
iVO~t~ p~clsa~ aprender a pedir ajuda e, naturalmente, precisam ad- rada. Em ambos os casos, 0 :Eden significa a obten~ao de riquezas
qU1?r dlscermmento. para saber onde obter respostas seguras. Fi-··
fara~ presos ,as .mamfesta~Oes mais primitivas do arquetipo do Ortao e de amor. .
As vezes a esperan~a de que 0 arnor ou a riqueza (ou ambos) se-
/se nao consegU1re~ reconhecer, para si mesmas e para os outros, jarn possfveis leva 0 Orf3o a iniciar uma busca. Af 0 "~ijlvador" po-
. q~ando se ~entem Impotentes ou incapazes, ou quando precisam de de ser urn amante ou urn neg6cio, urn trabalho ou 0 tremarnento pro-
ajuda, ~u amda quando sao tao desconfiados que acreditam que os fissional que possibilite ganhar dinheiro suficiente para a obten~ao
outros tlram vantagerh dessa dificuldade para em seguida oprimi-Ios. de total seguran~a e controle sobre a pr6pria vida. E a promessa ga-
Nesse es~gio primitivo, os ortaos quase sempre desconfiam de si rante que nunca mais 0 ortao terli de experimentar essa terrfvel sen-
mesmo~ e acreditarn fundamentalmente que nao merecem a seguran- sa~ao de impotencia diante de suas necessidades - necessidades de
~a por que tanto anseiam, ou que 0 mundo Iii fora e hostil - ou am-
sobrevivencia profundamente arraigadas - as quais e incapaz de sa-
bas as possibilidades.
tisfazer.
Como estudantes, os Maos querem professores que conhe~arn
Ajuda todas as respostas; como pacientes, querem medicos ou terapeutas
oniscientes, que "tomem tudo melhor"; como amantes, querem
,?pro!:>!~~a ~.() .~~?_~-2_~~~es~~(~LE~.!l}:!~9.~~~11~~~ .Q~a. 0 companheiros c6smicos e perfeitos, e n,ao simples mortais.· A unica
mO~lme~~()"~_.~_.:~~~~.~a. Nao adianta dizer aos ortaos que eles de- teologia que parece relevante para os ortaos e aquela que promete
vern crescer e assumir a responsabilidade de suas vidas, se nao se que Deus s6 cuidarli deles se forem bons. A unic~ pol(tica que ~s
acham capazes d~sso ~ Em primeiro. lugar, precisarn ter alguma espe- ortaos desejarn e a do grande l(der, do grande movtmento, do partI-
ran~a . de que ~uldarao deles. Asslm, as hist6rias de que a cultura
do que vai consertar tudo, de modo que eles estara~ seguros e serao
e~olu~u a partl~ do ortao sao em redor do tipo "de-pobre-a-rico" e cuidados para sempre. Como consumidores, os Orfaos I;ldquirem
hlst6nas de arnor muito convencionais. 0 subtema desses enredos e produtos que prometem resultados rnpidos: "Use este deter~ente e
que 0 sofrimento redime e trarli de volta 0 genitor ausente. Nos ro- voce sera uma boa mae", "Dirija este carro e mulheres maravllhosas
mances de Charles Dickens, por exemplo, urn 6rfiio sofre a pobreza choverao em cima de voce", "Experimente este bombom dietetico e
e os maus-tratos ate se descobrir que ele e 0 herdeiro de uma imensa
os homens acharao voce irresistfvel". .
fort~na. Ele. entao s~ re~ne ao pai, que cuidarli dele para sempre. Na Seja 0 salvador urn terapeuta, urn assistente social, uma religiao
versaoTrcllisslca da hlst6na de amor romantico (por exemplo ' P arnela , ou urn movimento pol(tico, qualquer crftica dirigida a ele afigura-se
profundamente amea~adora, porquanto toda esperan~a - a barreira
ou A y zrtude Recompensada, de Samuel Richardson), a herofna so-
fre muito - as vezes com a pobreza, quase sempre com as investidas contra 0 desespero - estli investida af. As mulheres que buscam a
contra a sua virtude. Se consegue sofrer sem perder a virgindade, ela salva~ao atraves do arnor romantico podem ser ativamente hostis ao
e rec?mpens~da desposando vm homem rico, urn paizinho amoroso, feminismo. Pessoas que procuram a salva~ao numa religiao ou mo-
sub~tttuto eVldente do verdadeiro pai. 0 final feliz promete que cui-
vimento polftico podem evitar ouvir qualquer coisa que possa abalar
darao dela pelo resto da vida.
63
62
a.sua f6, ou tentar silenciar aqueles que pensam de modo diferente. torna evidente com a ideia de que, se 0 namorado ou 0 marido real-
Naturalmente, os que buscam a salva<;ao atrav6s do dinheiro se enfu- mente te ama, ele sentira chime; alem disso, ele punira qualquer
recem com qualquer crltica ao capitalismo, enquanto os que buscam r
quebra da fidelidade total de pensamentos a<;Oes - quer por maus-
a seguran<;a perfeita no socialismo ficam igualmente enraivecidos tratos f{sicos ou emocionais, quer pela simples frieza. Os OrIaos nao
e sao ate mais insistentes em silenciar os que criticam 0 marxismo. confiam em sua pr6pria bondade e consideram urn sinal de desvelo
Vale lembrar tambem que, nao obstante toda a poss{vel sofisti- os salvadores criticarem suas mas a<;Oes.
ca<;ao do pensamento em outras areas de suas vidas, na area que .QEs.~rv_e-se que, .E.,?~!~.~st~sio, ()s Orfiios se sentem extremamen-
promete 0 resgate as pessoas se encontram num n{vel de desenvol- te indignose' dependentes. Parece nao s6 16gico mas tranqiiilizador
vimento cognitivo bastante rudimentar e se caracterizam pelo abso- -amore .de
q~'e~' '~tro'ca' de cuidados, eles deem a vida e sirvam seus
lutismo e pelo pensamento dualista. Acreditam na existencia de au- salvadores - urn baixo pre<;o a ser pago. 0 problema e que essa con-
toridades que conhecem a verdade. A proeza consiste em descobri- fian<;a pode ser mal-empregada, 0 que freqiientemente acontece, vis-
las e seguir-Ihes os conselhos, pois elas as salvarao da impotencia, to que a necessidade de os salvadores se sentirem seguros, necessa-
da ignorancia e do erro. rios e valiosos exige que as v{timas continuem dependentes, passi-
Para 0 verdadeiro adepto, tudo aquilo que nao e a sua verdade vas, cativas e agradecidas. Se essa necessidade e forte, os supostos
libertadora e falso e ate mesmo malefico. Assim, nesse estagio do salvadores dependem arraigadamente da sujei<;ao cont{nua das pes-
cristianismo, tudo 0 que se afasta da verdade e considerado obra do soas a quem salvam.
demonio. Nos neg6cios e na poHtica, pode ser 0 comunismo. Para Isso e freqiiente em gurus espirituais e em evangelistas, nos
mulheres e homens que acreditam que as mulheres devem encontrar "grandes Hderes pol{ticos", em maridos possessivos ou violentos,
a salva<;ao atrav6s da uniao com urn homem, as mulheres que nao em esposas rabugentas, e constitui urn perigo ocupacional nas pro-
se esfor<;am nesse sentido sao consideradas prostitutas ou inimigas fiss6es de ajuda. Em todos os casos, 0 salvador aproveita-se dos
dos homens. medos do dependente: sem aquela religiao, terapia ou movimento
~mais, ...9...1.!~gll~:r::.j1}Qi~~<;~~u!~~g.. teJ'l!p~uta, 0 professor, 0 poHtico, nossas vidas estarao perdidas nQ pecado, estaremos irreme-
rabino,o-p;dre
~'C ...••.. . .... ... . . . . . .
ou.. . .0• . .amante nao .e",p~~feito
. . . . . • __._ ••..
,..'"--~ ..
J<lm.a.;se. p;oliiii<iamente diavelmente enfermos ou seremos dominados pelos comunistas (ou
~mea<;~d.ora. Talvez por isso terapeutas e educadores em geral prefe- pelos capitalistas imperialistas). Os homens convencem suas esposas
rem nao revelar muita coisa sobre suas vidas aos clientes ou alunos. e namoradas de que ninguem mais ira ama-Ias e de que jamais con-
Talvez por isso os homens gostem de ser vistos como 0 tipo forte e seguirao sustentar-se, consertar 0 carro ou a maquina de lavar ou
calado, e as mulheres prefiram ser misteriosas. Contudo, quando al- cuidar de si mesmas no mundo. As mulheres convencem os maridos
guem se sente inteiramente descontrohido, a simples decisao de de- e namorados de que ninguem mais os amara e de que jamais conse-
positar confian<;a em outrem pode ser libertadora. Alem disso, a dis- guirao fazer seu pr6prio jantar, organizar sua pr6pria vida social ou
ciplina de. ser fiel a essa decisao refor<;a diariamente a capacidade de satisfazer suas necessidades emocionais.
escolher com acerto 0 que a vida esta afIrmando nesse estagio. Est~ problema e natural porque muitos salvadores nao se encon-
Sejam os salvadores amantes, maridos, terapeutas, assistentes tram tao a frente'das pessoas a quem ajudam; geralmente, depois de
sociais, feministas, religiosos, etc., a_clifi~uldadesurge.com a con- depositar a confian<;a numa pessoa, num movimento ou numa for<;a
<~9.~..9., Orfao de _9~~.~~.Y~. s~~J)r6pria vida-ao·seu~alvador. Em espiritual, 0 pas so seguinte consi~te em confiar na pr6pria capacida-
termos teol6gicos, tal fato torna-se evidente na ~~~Ip.,,90- "Deus. de de ajudar os outros (na forma de M8ftir ou de Guerreiro). 0 dif{-
,"~i,!.J,me1.ltO", 0 qllal demonstra sua preocupa<;ao punindo as mas cil e ajudar as pessoas a se encontrarem, sem apanha-Ias em uma
a<;oes, sobretudo a idolatria. Na teologia do amor romantico, isto se armadilha. Esse fenomeno explica 0 relativo fracasso tanto do mar-

64 65
xismo como do. Estado liberal. Nenhum dos dois desenvolveu es- sem manipulac;:aQ" at6 ser~m capazes de faze-lo eles mesmos. Sen..
trat6gias capazes de levar as pessoas a assumirem a resPQnsabilidade -iein~se cada vez menQS Maos a medida que conseguem deixar de
de sua pr6pria vida - estrat6gias que afastariam as pessoas da prQ- buscar seguranc;:a e dar sem pensar em retribuic;:ao. Como veremos no.
te~ao do EstadQ, possibilitandQ a eventual retra~ao do. mesmo. Os cap(tulQ sobre 0 Martir, 9~ ..Qrtaos.iDt~ir~m-se de que pode haver al-
detentores do poder tern urn interesse velado em manter 0 cQntrole, guma seguranc;:a e amQr' no. mundo depois que aprendem a d~ lI:~go
PQis sentem muitQ medo de enfrentar 0 descQnhecido, 0. novo. , ...------, .de si as outras pessQas e zelar p~~C!~as.
o salvadQr precisa encontrar QU Qbter fonnas de ajudar 0. OrfiiQ . Osm~caI1ismos de negac;:ao dos 6rtaQS protegem-nos da CQns-
a atra~essar~e'sse 'estagi6' de manipulagao, adotando uma fQnna mais cie~~ia de sua pr6pria irilpoten~~~:~: cai"encia~E.!!l,g~t~e1:~§;;:~~~b~~l1.i
saudavel e produtiva de desvelo que inclua 0 desenvQlvimentQ da .
r~m is so em retrospecto, quando. com~5.!l~,..!l()E!~E_mais ,suc~,~~~. A
cQnsciencia de autonomia. No entanto, para se avan~ar 6 preciso an- medida que aprendem aamar, come~arn a ser capazes de discernir 0.
tes de tudo estar inteiramente no estagio de 6rtao, 0. que significa amor verdadeiro e os fracassQs diarios do. arnor: as ocasioes em que
enfrentar a pr6pria dor, desespero e cinismQ; e is so implica chorar a simplesmente naQ PQdemQs dar; as ocasioes em que damos de manei-
perda do Eden, tomar consciencia de que nao existe seguran~a, de ra manipuladora; as ocasi6es em que nao cQnseguimQs ver 0. outrQ,
que Deus (pelo menos a nQc;:ao infantil de urn "Papai do. C6u") esta devidQ as nossas projec;:6es. Entao eles conseguem lamentar esses
. Il!Qrto. Naturalmente, os Orfiios nao cQnseguem iSSQ de imediatQ. A ; lapsQs sem abandonar a crenc;:a no. poder dQS cuidadQs hurnanQs. Do.
negac;:ao constitui urn mecanismo de sobrevivencia muitQ menQspre- mesmQ modo.; quando aprendem a lutar por si mesmos e comec;:arn a
zado. Os 6rtaos s6 podem enfrentar 0 sQfrimento em prQPQrc;:ao a sentir 0 poder de modificar seus universQs ern alguma medida, QS
sua esperanc;:a. A primeira vez que enCQntram algu6m que prQmete a 6rtaos cQnseguem diferenciar as situac;:oes nas quais 0 poder pode
salvac;:aQ, eles pod em sofrer urn PQUCO, mas tern de agarrar-se a esse ser exercidQ e os exemplos genu(nos - como. a mortalidade - nQS
sofrimentQ, devidQ a id6ia inevitavel de que a salvac;:aQ tern seu pre- quais a aceitac;:aQ da impotencia 6 uma resposta mais· adequada e rea-
c;:o. E tamb6m ficarao inevitavelmente desiludidQs CQm QS salvado- lista do que a luta. Assim, podem dar vazaQ aQ sentimentQ de im-
res, porque eles nao ~aQ perfeitos, nao tern tQdas as respostas e naQ potencia que OCQrre nessas ocasi6es, e tamb6m retroceder e permi-
podem prQPorcionar seguranc;:a aos 6rtaos. tir-se sentir, em retrospecto, todQ 0 impacto do. desesperQ, ansia, so-
A primeira vez em que QS 6rtaos conhecem algu6m disPQstQ frimento e 6diQ anteriQres.
a arna-IQs e ajuda-Ios, eles cQnsideram essa pessQa como unica Na verdade, 0. Orfiio e 0. Inocente sao arqu6tipos pr6-lier6icos>~ ~
e preferem morrer a deixa-Ia - mesmo quando 0 relaciQnamentQ se vida inevitavelmente libertara os InQcentes de suas ilusoes, mas os
tQrna extremamente destrutivQ. Se nao a abandonarn, apegam-se a
ela. A maiQr parte das pessQas, cQntudo, volta a esse estagiQ numa
Orfiios ' .mais, .do.
, .
que
.
qualquer -Qutro
-" '.,
tipo, precisam
. .. -
_ ".. ~
de ajudapara
. . ...
~...

attavessar a porta e iniciar sua jQrnada he~6~c:~;,./\queles que nao ,se


-
s6rie de relaciQnamentos e passam a considera-Ios de urn modo. cada 'demoram nesse' estagiQ sao os que 6btiveram ajuda aQ lQngQ do. per-
vez mais realista, em tennos daquilo que 0 relaciQnarnentQ pode cursQ. As pessQas que naQ tem ou naQ recQnhecem nem aceitaID a
prQPorciQnar-lhes. A medida que vao ganhando mais experiencia, ajuda quando. ela 6 Qferecida cQstumariificar apri&ionaCfas-emsua
lenta mas seguramente a confianc;:a passa a basear-se naQ no. salva- pr6pria impQtencia.~Para se libertarem, os Orfii6s·t~~~:~~~~~~r
dor, mas sim no. universQ, e eles comec;:am a cQnfiar que sempre que a Q~~da, ~~,. alguma maneira, e culpa deles C! 8:~s.~_~.!!1::r~.!~s­
existirn algu6m capaz de arna-IQs. sar' e' ultrapassar as no~6es de culpa~ d~_C!t.!~~_ £<?_~a~Q. NQssa
CQmQ a m~ior parte de nQssas cQncepc;:oes acerca do. mundo naQ 'cultura tern usadQ a culpa e a vergQnha CQmo meiQs basicQS para
passa, na verdade, de projec;:aQ, eles nao podem acreditar verdadei- motivar as pessQas a ser bQas segundo. seus padr6es; PQrtanto, nlQ ~
ramente na existencia de outras pessQas capazes de dar:"lhes algQ de admirar que as pessQas se sintarn culpadas e precisem expiar suas

66 .... 67
;!raltas -ou as vezes arranjar algu6m para expia-Ias em seu lugar. No sido diferente em qualquer momento, se ela simplesmente tivesse
tnstianismo, 6 0 Cristo. Muitas vezes os homens tentaram trans- pedido 0 que queria.
forma-Io em mulher. Durante a conversa, aprendi muito. Por urn lado, aprendi que
Entretanto, ha at urn outro fator. Dutante. aexperiencia da Que- certas pessoas pedem 0 que querem reclamando. Nao conhecem
9!!. 9 s Qr@Qs.".~~9.,el?e.m, Q_.J;jgplfi~~dQ dessa,~]Cp'eriel!cia e,t~!:l_~am outra maneira de faze-Io. Eu nao havia entendido a forma de comu-
~;q!!r:.~~"P.()"c()ntrole da situ~~~9?, acre~itando que a Queda ocorreu, nica~ao da garota. Tamb6m aprendi a respeito da "culpa". Ela
~w~!~~,,~~_~fU11. A 16gica 6 simples: se a culpa 6 nossa, entiio explicou sua raiva afirmando que; a prindpio, pensara ter sido
talvez possamos fazer algo a respeito dela. Caso contrano, nosso so- "culpa" sua 0 fato de nao estar aprendendo, mas entiio ela percebeu
frimento parece voh1vel, e nesse caso onde estamos? Sem esperan~a! que a "culpa" era minha - eu nao estava ensinando bern. Con versa-
A estrat6gia psiCo16gica que a prindpio oferece aos Orfiios urn mos durante algum tempo e eu me sentia cada vez mais frustrada.
certo adiamento da pena acaba por aprisiona-los. As pessoas nao Finalmente, percebi que para ela a situa~ao tinha de ser culpa de
querem incorrer em erro e farao praticamente tudo para nao adniitir algu6m, e era melhor que a culpa fosse minha e nao dela. Nao podia
seu pr6prio erro. Estabelece-_se assim uma esp6cie de nega~ao ma,ci- ser apenas urn caso de desentrosamento entre urn m6todo de ensino
~a no nivel consClente, enquanto no nivel inconsciente eles conti- e uma aluna.
~rl.Uam opumdo ~lo sofnmento como forma de expia~ao. Eu gostaria de ensina-Ia a responsabilizar-se por sua pr6pria vi-
~ A nega~ao 6 0 grande impedimento para se embarcar na jomada da - responsabilidade que poderia leva-Ia a abandonar aquela aula
her6i~~: provententeda cren~-a'-profundamente arraigada no pr6prio ou a pedir 0 que precisava. 0 que eu ainda nao havia compreendido
'~~~merecimento e no sofrimen,to como culpa n()ss.,~. Em detetminado' - e 0 motivo pelo qual nao conseguira ajuda-Ia - 6 que a afirma~ao
niveI:-por~exemplo,muiheres brancas e minorias raciais costumam "voce 6responsavel por seu pr6prio aprendizado" - quando a res-
ver 0 sexismo e 0 racismo como 0 resultado de sua pr6pria inferiori- ponsabilidade 6 equiparada a culpa e a falta - s6 pode ser ouvida
dade. Homens brancos se sentem pessoalmente ineptos por nao vive- como dma acusa~ao de que era culpa dela 0 nao estar entendendo.
rem a altura da imagem superior que fazem de si mesmos. Todas as Ela ainda nao era capaz de assumir tal responsabilidade. Simples-
pessoas criadas nas religioes ocidentais dominantes costumam sen- mente, precisava de mais ajuda de minha parte.
tir-se ineptas porque nao correspondem a imagem'da pessoa boa Cis- () quepode produzir 0 moviI¥ento em pessoas imo1?,ilizadas pela
to 6, altruista). insegurafl~a ou pela auto-recrimina~ao? Amor~ espenm~a
. ... _.
."
e a mensa-
......

Embora. Q, her9..(sPJ.Q sig!1Jf!q~e aprender a~er!"esponsliyel por 'gent de que, na verdade,o sofiimento Iiao 6 culpa delas, e que outra
~,~!:l~~j~!£ii!i~ y!~,~~,j"7~~<?!l1!apt:()9-~t!,y? dizer ,aos oriaos q~e eles podem pessoa'menos-importante, perdida e carerite ira'sjUda-Ias. Depois de
assumir a responsabilidade de slla pr6pria vida, pois is so equivalera explorar'-es'se processo durante algum tempO, passei a acreditar que
acHzer 'que 0 sofrimento 6 culpa deles. uma variedade de conte11dos para essa mensagem 6 11tH para diferen-
. " Nadfaz muito tempo, estava eu dando aula a urn grupo de alu- tes pessoas ou' para as mesmas pessoas em situa~oes diferentes.. 0
nos adiantados, que nao acolheram bern as dificuldades manifestadas importante ... aqui 6 0 . processo.
..,......"....-~--~ "-" .
"". _..
Ppr exemplo, pessoas do modelo
por uma das alunas. Mais ou menos na metade da aula, a aluna Orfiio sentir-se-ao atraidas pel as formas de cristianismo que enfati-
tomou-se hostil, e por isso tivemos uma longa conversa. Conio 0 zam 0 pecado e a reden~ao. Para elas, 0 que lhes da autoriza~ao 6 a '
curso visava iI;lcentivar a responsabilidade nos alunos, 0 modo de id6ia de que seu sofrimento 6 causado pelo ddmonio e pode set ali-
ministra-Io mudou significativamente durante 0 semestre, no sentido via40 por Cristo; por mais indignas que sejam, Cristo as ama, e em-
de enfocar as preocupa~6es Areveladas pela flasse. Conver~ando bora elas sejam impotentes, 0 sacriffcio de Cristo pode salvl1-las e
com a aluna, eu esperava faze-Ia perceber que 0 curso podena ter reconduzi-Ias ao estado de gra~a.

68 69
!
Para as mulheres, a id~ia de que 0 feminismo pode levar a esse mesmo. - urn poder superior, 0 terapeuta, 0 analista, 0 grupo, 0 mo-
eswgio decorre da concep~ao de que as mulheres sao vftimas indefe- vimento, a igreja - come9a a Ievar as ssoas para al~m do dualismo
sas do patriarcado (ou dos homens). Individualmente elas, sao impo-"
da dependencialin epen enCla, porquanto, a menos que tenham
tentes, mas juntas, trabalhando como urn movimento, sacrificando- a rna sorte de se apegar a algu~m que queira usar sua dependencia,
se, elas podem agir e mudar 0 mundo. Para os homens, a id~ia ~ a elas serao encorajadas a responsabilizar-se por suas pr6prias vidas -
mesma. Nao ~ culpa deles 0 fato de terem reprimido os pr6prios sen- gradativamente e com 0 devido apoio. Nao precisam fazer tudo so-
timentos. Eles tamb~m sao v{timas do. sistema patriarca!. Para as zinhas, nem tampouco devem aguardar passivamente a salva~ao ou
pessoas viciapas em substAncias qu{micas, 0 programa dos Alc06li- simplesmente receber ordens. Elas aprendem a ser capazes de res-
cos Anonimos, no qual as pessoas reconhecem sua pr6pria imporen- ponsabilizar-se por suas vidas e tamb~m a obter ajuda adequada - de
cia, ensina fundamentalmente que 0 v{cio nao ~ culpa deles, mas re- especialistas, de amigos, de Deus. Podem abrir-se par~, receber 0
sultado de uma doen~a, e apesar de, como indiv{duos, eles nao se- amor e a gra~a. ;"
rem fortes 0 bastante para fazer algo a respeito, poderao ser salvos Os Ortaospodem acreditar que puseram suas vidas nas maos do
se tiverem f~ num poder superior e naquele grupo. terapeuta, do sacerdote ou do guru, e essa convic~ao proporciona a
. Na t~rapia ou analise, o. m~todo mais eficaz consiste em encora-; .seguran~a para eles come~arem a movimentar-se e colocar a vida em
Jar os chentes a contar sua pr6pria hist6ria, de modo a ajuda-Ios a \ ordem; no entanto, ~ fundamental que tomem suas pr6prias decisoes
perceber que seu sofrimento prov~m de algum lugar fora deles, co- ! a
e as levem ca.bo. Mais tarde, pocter§oolllar"paraias"econtemplar
mo resultado de u~ trauma infantil, das condi~oes sociais dos pais, \ a-que fizeram. Glinda, a Feiticeira Boa de 0 Mdgico de Oz, diz
etc. - em suma, JlL~ulp~Jnao ~ deles. AI~m disso, a terapia estabelece . a Dorothy, ao termo de sua jomada, que ela poderia ter ido para
ue 0 terapeuta os ajudara a lidar com 0 sofrimento e a supera-Io. casa a qualquer momento que quisesse. Dorothy pergunta por que
~ocen.~YI."~ ~ uma forma de mutila~ao nao s6" porque toma ela nao tinha dito isso antes, e Glinda explica que Dorothy nao teria
JIllPoss{vel para os 6rtaQ_~ cpnfiarem em si mesmos como tEi:mb~m acreditado nela. Primeiro ela precisara convence-Ia de que era uma
por ser"contr~p~oducente, p.ois incentiv~ -~p;~j~~§o livre. Para nao Grande e Poderosa Magica, que poderia consertar as coisas para ela.
se sentirem tao maus, os Orlaos costumam projetar a culpa nos ou- . Na jomada para encontra-Ia, Dorothy desenvolveu e sentiu sua
tros; pes so as mais pr6ximas (amantes, companheiros, amigos, pais, pr6pria competencia, at~ tomar-se capaz de compreender que ela
patroes ou professores), Deus ou a cultura como urn todo. Como re- matara a Bruxa Malvada e que seu pr6pno poder a levaria para casa.
suItado, aumenta a sensa~ao de que habitam urn mundo perigoso. Contudo, at~ experimentar tais coisas, ela se teria sentido por de-
Ademais, na medida em que culpam as pessoas que os cercam POl' mais indefesa para ir adiante, exceto sob a ilusao de que estava
todo 0 sofrimento de suas vidas, os 6rtaos afastam as demais, tor- prestes a ser salva.
nando suas vidas mais isoladas e desesperan~adas. Nao s6situando . Estabelecendo a liga~ao entre os exemplos do cristianismo, dos
a culpa fora de si mesmos, mas tamb~m fixando-a fi~emente em de- Alc06licos Anonimos, do feminismo e da analise ou terapia, de mo-
teiIiifrlad;-l;c;l~ eleslse libertam desse processo geral deculpar 0 do aIgum quero sugerir uma falta de respeito pela integridade e valor
mundo. AI~m disso, identificando os meios de lidar com a causa, de de cada urn, nem tampouco insinuar quesejam permui4veis. Quero
estabelecer que nao precisamos estar a merce do mal, da nossa en- sugerir que cada urn deles utiliza urn processo que funciona, ajudan-
fermidatle, do patriarcado, do capitalismo, etc., eles podem come~ar do a pessoa na transi~ao do desespero para a esperan~a, para a rei-
a acreditar na possibilidade de se tomarem responsaveis por suas vindic~ao de alguma auto-estima e atua~ao. Qa instrumentos essen-
pr6prias vidas. £!ais para ajudar o~_Q~o~ _!ij9.l....!)~~~_::- uni indiv{duo ou grupo
Nesse eswgio, a confian~a temporana em algo exterior a si ' 911e demonstre desvelo e. preoc~p'~~,"Q;:7) -.QiX>mmiCf~~~ 0 Qf!!o I

70 71
contar e recontar sua hist6ria, de modo a superar a rejei~ao (relatan-
do' como foi doloroso"o perlodo -antenor"li" sua"salva~ao, quandoele que discutem sobre quem sofre mais. Presu!!!~:se que a pessoa que
paroocte beber;·tornou:s(rremfiiista~etc:); 3) 'ifm~Uiii~mse que trans- _menos sofreu d~'y'~ ...satisfazer. ase~ig~Q'(;i.a.i"d~quela q~"~d~ft:c;m.!pai~.
"!"t.ia"·~.~l£!p~j!~,i~~~f~§.. ~~t~ij~r-aolndivfduo, situarido-a em outro'l_u- ~ isso aco~te~.~!._0__ ~~~~e!1t2 6 es.t!~u.I~d{), po!:qll~.tr~ "c.o'ns~go"
_o_E.~er. Naturalmente, a questao consiste em nao deixar as pes-
gar; e 4) uma vezestabelecido que ele nao 6 culpado, encoraja-Io a
SOaS presas ao sofrimento, mas libe~-las para que aprendam a
·assii~r.a·!.:~~p?~~~ bili4~(:te_R9i~1l~J~~lSpria vid~~.i··
-""" Em muitas reiigi6es, nos Alc06latras Anonimos, na terapia ou ter alegria, eficacia, produtividade, abundancia e libera~ao. Elas
na analise enos' grupos de conscientiza~ao feminista, as pessoas precisam ouvir suas pr6prias hist6rias, bem como as hist6rias dos
permitem-se entrar em contato com suas dores. Embora suas vidas outros, e reconhecer qual 6 a sua dor, para que possam abrir a por-
possam ter sido extremamente diffceis, em geral elas temem tanto 0 ta do Gfescimento e da mudan~a - e nao se tornem uma amea~a
sofrimento que 0 bloqueiam. Na seguran~a do grupo, elas podem para 0 outro. .!:!E1.. gr!l!lQ~" Plis.s_op!!!a os Orfiios consiste em abap-
sentir essa dor mais conscientemente ao relatar sua hist6ria, em vez d0E..~ ..li...EE~.~~!()~~_.E!~<?UI?~~ac:>.·consigo· mesmos-e'. apn~nder a
de vive-Ia. Tambem podem tomar emprestada a coragem do terapeu- ~ud.~ os ()utrQs. Em muitas reli,roes,' grupos de Alc06latras' Ano-
ta, do analista, do ministro ou do grupo, permitindo-se sentir todo 0 mmos, grupos de conscientiza~ao feminista, grupos de terapia e
horror de. suas vidas. Ou ainda, se tiveram vidas comuns, podem analise, as pessoas sao ativamente encorajadas a faze-Io. As vezes 0
precisar da' permissao para compreender que tem direito a sua pr6- contexto utilizado e 0 evangelismo - sair em busca de novos con-
pria dor, embora esta nao tenha sido tao avassaladora quanto a de vertidos -, mas 0 importante, em termos de desenvolvimento, 6
outras pessoas que conhecem. que essa pressao ajuda as pessoas a iniciarem 0 aprendizado das
Anos atras, por exemplo, 0 meu pr6prio sofrimento era forte e li~6es representadas pelos arquetipos do Martir e do Guerreiro.
persistente, mas eu 0 rtegava por ele nao ser tao intenso quanto 0 de Elas afirmam sua pr6pria verdade a tim de melhorar 0 mundo e
outras pessoas que eu conhecia. Para mim, reconhecer que eu sofria, doam-se aos outros. I

embora vlesse de uma famflia de classe m6dia relativamente feliz, Essas mesmas estrat6gias podem ser usadas na sala de aula. Na-
constituiu uma, ruptura. A medida que reconheci e legitimei minha turalmente, os Ortaos veem os professores qomo especialistas ou
pr6pria dor, consegui superar a nega~ao e agir no sentido de mudar autqridades que conhecem "a Verdade", com V maiusculo. Caso
de vida. S6 consegui tornar minha vida melhor quando reconheci contrario serao impostores, fraudadores, incompetentes. Ou, 0 que e
onde as coisas n~o estavam funcionando para rnlm. pior, estarao abandonando injustamente os alunos aos seus pr6prios
Certas pessoas no es~gio do 6rrao, cOJ].tudo,·aprendera.tt1 a usar recursos. Assim, os professores podem dizer aos Orfiios 0 que fazer
, "sua pr6pria dor de maneira manipuladora - levrui"do"os'outros a- I e, se estes os considerarem autoridades, farao 0 que eles disserem.

compadecer-se delas, ou a se sentirem culpados, fazendo assim 0 Os professores podem explicai- que na verdade nada sabem, mas tal-
que elas querem. Os membros de um grupo oprimido podem tirar vez nao sejam ouvidos por alguns alunos do modo como gostariam.
proveito da culpa liberal de outrem e desse modo adquirir 0 contro- Numa <Jas minhas aulas introdut6rias aos Estudos das Mulheres,
Ie. Utilizando a dor como vefculo para a manipula~ao, podem evitar apresento um projeto no qual as pessoas relatam su~s hist6rias e de-
o confronto total com seu 6dio e a sensa~ao de impotencia justitica- pois as compartilham com seu pequeno grupo. 0 grupo se re6ne se-
veis. Em ultima analise, esse estratagema os mant6m estacionados. mana~mente, ~~r~te todo 0 semes~ c~m 0 tito de partilhar suas
E fundamental tanto nos grupos mais privUegiados quanto nos pr6pnas expenenclas e estabelecer rela~oes entre 0 conte6do do cur-
mais oprimidos ouvir a dor do outro, sem fazer 0 jogo de quem 6 so e suas vidas. 0 curso tem dois objetivos: fornece modelos de es-
mais oprimido. Observamos a mesma coisa em famllias ou casais peran~a e supera a nega~ao da opressao feminina. Esse enfoque po-
de ser utilizado em muitos campos das artes, das humanidades e das
72
73
ciencias sociais, dd fonna que a tunna possa promover ativamente 0 chegue a ser relatada numa fonna mais verbal, compreens{vel para
seu crescimento. os demais; no entanto, pode ser codificada na estampagem de uma
Fomecendo uma estrutura que pennite aos estudantes atravessa- colcha, num trabalho de tecelagem, no formato de uma pe9a de
rem todas as etapas para superarem a negagao, compartilharem suas ceramica. 0 mais importante IS que as pessoas envolvidas possam ver
hist6rias e desenvolverem a confian~a no grupo de colegas, 0 pro- ou ouvir sua pr6pria verdade e, em conseqiiencia, agir no sentido de
fesso~ pode lan~ar mao da autoridade proporcionada pela institui~ao mudar suas vidas.
e proJetada pelos alunos em busca da "Verdade" a run de ajudci-Ios E igualmente importante reconhecer que, embora muitas pessoas
a af"mnar a p,r6pria autoridade. Inicialmente, alguns estudantes se estejam atualmente presas a modalidade do 6rtao, existe uma ativi-
sub~etem ao processo porque algulSm os aconselhou a faze-Io ou pa- dade maci~a na cultura que as ajuda a enfrentar seus problemas e a
ra mar boas notas, e s6 mais tarpe percebem 0 que ganharam com a realizar suas jomadas. Existem grupos de apoio, baseadosna cons-
experiencia. Alunos mais complicados e cognitivamente autonomos ciencia feminista ou em modelos dos Alc06latras Anonimos, desti-
passam pelo processo de decidir se querem ou nao envolver-se nessa nados a tratar todos os tipos de problema, desde comer demais atlS
atividade. 0 ato de escolha incentiva 0 desenvolvimento ~s alunos violencias sexuais contra crian~as, para promover 0 conhecimento
em outro n{vel. da sexualidade individual e a compreensao do impacto causado pela
socializa~ao de cada pessoa sobre suas pr6prias identidades sexuais,

Auto-ajuda e Transforma~ao Cultural raciais ou IStnicas. Nota-se urn renascimento de interesse pela reli-
giao oriental e ocidental e uma prolifera~ao de fonnas de terapia e
As pessoas que nao dispc5em do beneffcio de algum desses sis- ancilise, assim como a cria~ao de muitos grupos de Potencial Huma-
temas de apoio fOIjam inconscientemente situa~c5es por conta pr6- no e movimentos de Nova Era. AtlS mesmo os movimentos polfticos
pria, nas quais os sistemas de nega~ao sao atacados. Em geral colo- contemporaneos - movimento de direitos civis, feminismo, movi-
c~-se em circunsmncias tao amea~adoras a suas pr6prias vidas que mentos ecol6gicos e antinucleares - enfatizam 0 crescimento pessoal
d~lxa~ de perceber que tern problemas e precisam' de ajuda. Essas e a libera~ao de seus proponentes. Toda essa energia visa ajudar as
sltua~oes podem assumir a fonna de toxicomania, enfennidade, per- pessoas a assumirem a responsabilidade por suas pr6prias vidas, pa-
da de emprego ou relacionamentos pessoais cada vez mais desttuti- ra que possam nao apenas salvar 0 planeta mas tomar 0 mundo mais
vos, mas em todos os casos 0 indiv{duo chega ao fundo do po~o e IS humano e livre .
.fo.t:'9ado a ultr~passar a nega~ao e a reconhecer a dorque estci na raiz De resto, isto significa que estamos saindo de urn meio cultural,
. do v{cio irracional causador do comportamentoautodestrUti~~.' ..... "- no qual existem poucos her6is, para entrarmos em outro, onde se es-
Para as pessoas que experimentam foimas menos"e~tremas de pera que todos nOs empreendamos nossas jomadas e iniciemos a vi-
sofrimento e nega~ao, modelos menos dolorosos de auto-ajuda sao da her6ica e responscivel. Grande parte da filosofia e da literatura
de grande valia. AIgllmas delas relatam suas hist6rias em dimos. modemas buscam ajudar-nos a superar nossa nega~ao cultural e nos-
Aqu~las cuja linguagem'''IS' visual'podem"-pfntru-; 'outras c'ompoem so apego a inocencia infantil. A heran~a do pecado, a crenga de que
mUslca. Algumas podem sentir uma necessidade premente de tra- o sofrimento, de alguma maneira, IS "culpa nos sa" , tern sido tao de-
balhar, de esculpir, pintar ou compor, pois estao encontrando sua bilitantes e interferem a tal ponto em nos sa necessidade cultural de
verdadeira voca~ao. E/ou podem sentir uma compulsao igualmente assumir a responsabilidade por nossas vidas e por nosso futuro que a
forte por ser esta a ~E~ fonna de lidal' com a nega~ao, contando sua grande maioria das artes e filosofia se dedica a divulgagao dessa
hist6ria para que elas mesmas possam ouv~-ia~'No caso de pe;s~~s idlSia. 0 naturalismo e 0 existencialismo do slSculo XIX e inlcio do
que expressam sua sabedoria com as maos, a hist6ria talvez nunc a slSculo xx abordaram intensamente esses temas. E fundamental,
74
.75
I
I

~p~ essas tradic;oes, a declarac;ao de que Deus esta morto; a na- ~~~~p-r~~iJHm!'Q~_imagiruu:. e .manteccom a _d.i~i!ldade urn rela~~.Q­
tureza IS inerte ou pelo menos indiferente, e a vida carece de sig- Eat.!l~_fl!Q}~l~nOS i l1 fan!i!e roais de iguaLparajgual.'·'· . ... ..
nificado. 0 sofrimento nao nos acontece por algum motivo, ou por- Em vez de considerar a vida dualisticamente (isto e, conseguir
que Deus estli descontente conosco. Acontece simplesmente por tudo 0 que se deseja ou viver no Para{so Perdido), podemos encarar
acaso - acaso desumano e indiferente. Nada do que acontece tern o sofrimento apenas como parte de urn processo - processo de liber-
urn significado alem de si mesmo. Essas convic~Oes filosoficamente ta~ao: do Eden, da infancia, dos pais, dos amantes, dos fllhos, de
niilistas, assim como a arte e a literatura delas resultantes, funcio- nossas vidas tal como as conhecemos e, por tim, da morte e da pr6-
nam como uma espcScie de terapia coletiva que nos ajuda a supe- pria vida. Nossas vidas serao transformadas a medida que abando-
rar a nossa n~gac;ao. Elas contam a hist6ria humana concentran- narmos nossas convicc;oes e confiarmos em nossas novas orien-
do-se na nossa dor - na falta de sentido, na perda, na alienac;ao, ta~Oes, nao obstante todo 0 medo que possamos sentir do desconhe-
na dificuldade dos relacionamentos humanos; 0 mundo economico cido e a tristeza por tudo 0 que deixainos para trlis.
tornou-se uma mliquina da qual somos mera engrenag~m, a vida Alem ,?O dualismo que considera a vidacop1o "sofrimento" ou
perdeu seu encanto e significado e basicamente ninguem pode cuidar como "0 Eden", podemos encarar 0 sofrimentolcomo parte do fluxo
de n6s. Elas se opoem a negac;ao que nos mantem na inocencia da vikIa. Na verda de, a dor e a perda trazem a transforma~ao pessoal,
e afirmam que nao somos culpados pela nossa, dor e, por fim, nos nao como urn modo de vida cont{nuo, mas como parte de urn proces-
melhores casos,forc;am-nos a enfrentar a urgencia de agir. A lite- so dinfunico por meio do qual abandonamos 0 que nao nos serve
ratura e a filosofia modernas nos impelem a deixar de procurar sal- p1ais ou aqueles a quem amamos e mergulhamos no desconhecido.
vadores, a crescer e a assumir a responsabilidade pelas nossas vi- Noss~,dore.sofrimento seriam grandes demais se todo 0 nosso cres-
das e pelo nosso fut1.Jro. Talvez n6s, como seres humanos, tenha- c1mento acontecesse de um~s6 vez. Abandonamos as coisas pouco a
mos criado a ameac;a que ronda atualmente 0 planeta - na forma pou~o~,E~sJ!_e_~.xazao psicolqgica. dru:~)... .ela nqs .PI"()tege,do
do holocausto nuclear ou da catastrofe ambiental - para for~ar­ P:>nf!2!!!99Q!1:lJ99:Q~;Qspr9.l?~~!D:ascl.~.. ~Illa s6 vez!
nos a matucidade. JIi nao podemos negar a necessidade de assu- ~ossas estruturas de nega~ao impedem-nos de conhecer a ex-
mirmos a responsabilidade por nossas vidas - individual ou co- tensao do nosso s()frlmento precisamente porque nao estamos prepa-
letivamente. rados para lidar com ele de uma s6 ~z. Sempre que tomamos cons-
Isso requer crescente complexidade cognitiva e a capacidade de ~ienciade n<?~_a dO!j.~~,i~~l. de que e;tamos-proiiiospara seguirem
discernir entre 0 sofrimento prejudicial, que deve ser aliviado, e !!ente e efetll.8! .1llu~.MS@~.~ .{\i~fiii~"'n9~-sa"larefa consiste'em .explorar
aquele que faz parte inevitavel do crescimento e da mudan~a. A in- ~" softj.p1en!.<>.? tomar consciencia dele e afirmar total mente que de fa:'
tenSidade da dor experimentada pelo 6rtao depois da Queda resulta '. to estamos sofrendo. Contudo, isto s6 IS poss{vel se pelo menos vIs':'
parcialmente de uma cren~a pueril. A crenc;a na existencia de urn Iumbramos' a esperan~a de que nosso sofrimento e desnecessWio, de
Papai do Ceu para cuidar de n6s e proteger-nos e que torna tao dolo- que ele pode ser aliviado, de que nao e simplesmente a condi~ao
roso 0 confronto contemporaneo com a ideia de que "Deus esta mor- humana - nem tampouco 0 nosso destino de homens e mulheres.
to"~ Afinal de contas, quem disse que a vida seria 0 Eden? De onde Dessa forma, 0 sofrimento passa a ser considerado vma dlidiva.- Ele
veio aideia de que alguem deveria cuidar de n6s? Quando come~a­ atrai a nossa aten~ao e indica que jli e hora de agir, de aprender no-
mos a aceitar a responsabilidade adulta pelas nossas vidas, podemos vos comportamentos e enfr~ntar novos desafios.
aceitar urn certo grau de sofrimento e· sacrif{cio, tao essenciais a vi- o sofrimento pode ser uma dlidiva tambem sob outros aspectos.
da, sem definir 0 sofrimento como a vida. Nao e que Deus esteja Particularmente, num estligio mais adiantado da busca, nosso pro-
morto;mas 0 peus Pai estli morto. Para queahuniaiiida3e veolia a blema talvez nao seja tanto a sensa~ao de impotencia quanto a sen-
- -..'-'''''...... .•
-,.~., --.~' "._- "., ..... ,,<-.

76 77
sa~ao inflada de poder, a cren~a de que temos tudo, de que somos Algumas pessoas bloqueiam essas pequenas mortes. _~~~In~e.,gt-,
melhores, mais competentes, mais merecedores do que os outros. 0 dizer adeus. Concluem 0 segundo grau ou a faculdade e nao come-
sofrimento ~ 0 nivelador que nos faz le~1:>E~!!_~~Os~BmortalicIade --'~mora; nem choram a vida que ficou para tras. Fingem que 0 dia do
comum, de que nenhum de n6s esta livre das dificuldades da vida aniversario ~ igUfll a tOOos os outros. E como se nao houvesse perda,
humana. Quando 0 sofrimento e 0 desespero chegam juntos,eles nos porque nao a reconhecem. Essas pessoas sempre saem de urn rela- .
dao a oportunidade de afrrmar a esperan~a, de amar a n6s mesmos e cionamento atrav~s de uma briga ou fin gem que 0 relacionamento
de dizer, apesar de tudo: "Mesmo assim amarei, mesmo assim terdi nunc a foi importante para elas. As pessoas que bloqueiam 0 t~rmino
esperan~a". E. nesse momento que alcan~amos a transcendencia; ~ de suas experienci~s, tornam-se tao obstru!das emocionalmente que
entiio que conhecemos a beleza da unidade, a beleza de ser parte da nelas nao resta espa~o para mais nada, razao pela qual come~am a
trama da uniao mortal, de ser fundamentalmente - em todas ~ nos- sentir-se embara~adas e entorpecidas.·
sas realiza~c5es - c0¥10 as outras pessoas. Outras pessoas, que adquiriram mais sabedoria, sabem que as
o mais importabte de tudo ~,g~e 0 sofrimento nos ajuda a en- vezes precisam deixar algu~m, urn lugar ou urn trabalho, porque esta
frentar nossos piores medos e assim ~osin:;erta da estagna~ao das na hora de crescer, de seguir adiante. Sabem que <> amadurecimento
-f~rIDasiiiciteis, nas quais 0 000 procura a seguran~a. Em geral, nas trat novas oportunidades, mas que tamb~m significa amorte da ju-
pessoas que "passaram pelo pior" ha uma liberdade quase transcen- ventude. Elas podem celebrar 0 futuro e sua nova area de crescimen-
dente, porquanto elas enfrentaram 0 "pior" e sobreviveram. Elas to, embora reconhe~am inteiramente a importancia da rela~ao com
sabem que podem enfrentar tudo. A vida nao precisa ser somerite determinada pess<>a, trabalho, escola ou lugar. Podem tamb~m sen-
assim, nao precisa ser 0 Eden, para que eles a amem. Conforme tir-se gratas pelo que pas sou e chorar ~uas perdas durante algum
Cristo nos ensinou, at~ mesmo a morte pela crucifica~ao foi seguida tempo. Essa gratidao e esse lamento como que as esvaziam e abrem
da ressurrei~ao. Da mesma maneira, Elisabeth Kubler-Ross, em caminho para 0 novo. Vivendo integralmente esses sentimentos, tais
Death: The Final Stage of Growth, fala-nos a respeito da paz e da pessoas estao prontas para sentir a emo~ao do novo crescimento.
liberdade experimentadas por pessoas declaradas clinicamente mor- Tal ~ 0 significado da "queda auspiciosa", que nos faz abando-
tas e que voltam a vida - como suas experiencias de amor e luz nar a dependenci~ e empreendernossas jornadas.~NQ.c~inh()!a,ex:­
as libertaram do medo da morte, que tanto interfere na vida'pa maio- ~riencia _!l.Q§__,?!!~!P-_~_ que a dor_~~2,--~_!l~,~!?sap.~.rn~n.~~ aflt~ao sem
ria das pessoas. 5 'sentido:ma§ p.og~......seTO cQrobustlyeLde urn crescimentoe .de, uma
Naturalmente, 0 modo como encaramos a morte ~sta Iigado ao "--n;~d~~a ~ont!nuos. A partir dos modos temerosos e carentes como
modo como reagimos a todas as' pequ~n.!l~mQrtes . em .!!9ssas vidas - 'vivenciamos 0 arqu6tipo do 6rfiio, podemos experimentar quaisquer
a perda de amigos, da famflia,de milantes, de ~pocas e locais parti- outros arqu~tipos em seus estagios iniciais~lim1Q§~q.l!~~<Ulr­
cularmente especiais, de trabalhos ou oportunidades, de esperan~as e qu~tipo do Nomade aflore em possa conscienciH, el~R()ger~.!l~~!l_p'ir
" '.. , ' .. ··1' .. ··"'-, .. ",---'-'··,· -- " .-.- . - - , ' .
sonhos ou de sistemas de cren~a. Para mim, 0 interessante ~ que pa- a forma (como ja vimos) da Qusca de salva~ao, a.qualcome~amos a
ra muitas pessoas nao parece importante sofrer em larga escala se teiconfian~a ern n6s' mesmos e nas'-nossashahilidad~_~_s.,sim, nossa
elas aprendem as formas simples e diarias de doar aos outros e de sensa~ao de culpa e inadequa~ao' serao ,eq!lmQr~das pelo orgulh<Yde
abandonar 0 presente a fim de ir ao encontro do desconhecido. Cer- Perceber nossa capacidade de 1?0JireY!Y~i,~Q~~I).hos, sem necessidade
tas pessoas precisam passar pelo "pior" para aprender essa li~ao. 'ge algu6m para cui<iar de n6s. '
Outras nao. A doa~ao e a entrega de todo dia lhes proporcionam Se encontrarmos primeiro 0 nosso Martir interior, sem duvida
for~a necessaria para suportar a morte de urn ente querido ou uma sacrificaremos mais do que 0 necessario a servi~o dos outros. Con-
enfermidade grave. tudo, agindo assim tornamo-nos a figura paterna/materna da "arvore

78 79
jamos ou nao conscientes des sa rea~idade aItemativa ao longo do
.' . " pela qual hav{amos esperado e, representando 0 arqueti-
po, desenvolveremos a fe gra\;as a qual, por sermos bons e dadivo- caminho, ao termo da jomada do her6i voItamos a vivencia-Ia.
Durante a jomada, 0 arquetipo do Inocente faz-nos lembrar,
80S para com os outros, e mais provavel que nOs sejamos objeto de
cuidados. Se passarmos inicialmente para a consciencia do Guerrei- em mome~tos cnticos, a esperan<;a e a confian<;a, enquanto 0 arque-
ro, aprenderemos a defender-nos das amea<;as e a controlar nossos tipo do Orffio nos continua ensinando que, nao obstante todo 0
medos, de modo que estes deixem de nos imobilizar. Na verdade, desenvolvimento que possamos alcan<;ar, continuamos de.pendentes.
tomamo-nos a figurapoderosa que esperavamos pudesse salvar-nos. Dependemos da terra para a nossa sobrevivencia. do ar que respira-
E com isso iniciamos 0 processo do res gate de n6s mesmos. mos e do aIimento que ingerimos. Dependemos uns dos outros.
Hnalmente, se permitirmos 0 surgimento da consciencia do Ma- Nenhum de n6s detem todos os dons necessanos para a cria<;ao de
go, na qual come<;amos a ampliar nossas oP<;Oes, experimentaremos vidas plenas e abundantes, que a combina<;ao de nossos talentos
crescente confian<;a no universo, depositando nossos medos nas tom a poss{veis.. . I
maos deuma divindade benevolente e dizendo: "Seja feita a tua Retomando ao Eden, nao somos dependentes infantis e impoten-
vontade", ou mediante a cren<;a proposta em livros da Nova Era, tes, mas pessoas que tambem assumetn a responsabiIidade em re-
como A Course in Miracles. 6 segundo a qual 0 sofrimento e a dor la<;ao as outras pessoas e 80 planeta. Esse retorno exige interde-
. sao 'iJ us6rios , e nao reais. pendencia, que implica nao apenas a declara<;ao de responsabilidade
Podemos percorrer inumeras vezes esses arquetipos e os estagios pessoal para a manuten<;ao do nosso para{so terrestre e a convic<;ao
queeles representam ate reaIizarmos 0 milagre aIqu{mico: de certa de que urn pouco de dor e sofrimento fazem parte ate mesmo da vida
forma tanto a nossa inferioridade quanto a do m:undo e transmutada edenica, mas tambem, em ultima' amUise, uma atitude de ingenua
em ouro. Nesse ponto retomamos ao :Eden e a Inpcencia, compreen- confian<;a e gratidao por tudo' 0 que nos e dado. Isso requer 0 nasci-
dendo que podemos confiar em n6s mesmos, no outro e no universo. mento da consciencia de que,' por mais dolorosas que nossas vidas
Aoaprender que somos confiaveis, percebemos que podemos con- possam parecer, sempre estivemos na palma da mao de Deus. Como
fiar nos outros. escreve T. S. Eliot em "Four Quartets":
Neste ponto, parece-nos importante fazer uma pausa para recon-
siderar 0 arquetipo do Inocente. Assim como Dom Quixote e outros We shall not cease from exploration
"tolos sabios". 9.J!!Q£~!1J~__ PQQ~Le.$tar em contato com urn universo And the end of all our exploring
.5l1,1.e_tr~I1:~£~!1de a realidade comum. A Iiteratura da Nova Era veste Will be to arrive where we started
com uma rotipagem-mOdem;-~;'aniigas tradi<;oes mfsticas (do bu- And know the place for the first time . ..
dismo, do juda{smo e do cristianismo), as quais consideram ilus6rio A condition of complete simplicity
(Costing no less than everything)
o mundo da consciencia usual, aMm da qual se acredita existir urn
And all shall be well and
mundo 'J>erfeito onde todos n6s estaremos sempreseguros e felizes. All manner of things shall be well
Nessas tradi<;oes, a tm-efa consiste em evitar asedu<;ao das iIusoes e When the tongues offlame are in-folded
viver inteiramente nesse outro mundo, born e "real". Into the crowned knot offire .
No entanto, nao e preciso fugir a vida diana. Abra<;ar a iIusao And the fire and the rose are one.?
acaba por fazer-nos retomar a uma condi<;ao de inocencia. Para mui-
tos, porem, a existencia de outra esfera espiritual persiste atraves da [N ao devemos cessar a busca
jomada e suaviza-Ihes 0 fardo. Outros podem sentir-se extraviados Eo tun da nossa exploragao
ou irremediaveImente ingenuos, se nao Ioucos. Apesar disso, este- Sera chegar ao ponto onde ccimegamos

80 81
r .'
l·~ \ /j

E conhece-Io pela primeira vez ...


Em condi~ao de completa siroplicidade
(Que custara nada menos que tudo)
E tudo dara certo
Todas as coisas darao .certo
Quando as lfuguas de chamas forem envolvidas
Pelo amago do fogo coroado Capitulo 3
E 0 fogo e a rosa forem urn.] ~ .' " .
o NOMADE
I fear me this - is Loneliness -
The Maker of the soul'
Its Caverns and its Corridors
/llumiTUlte - or seal -

[Algo me assusta - a Solidiio -


Criadora da alma
Suas Cavemas e Corredores
Iluminam- ou vedam-]

'Eprily Dickinson, 318

o arquetipo do Nomade e exemplificado pelas hist6rias do cava-


leiro, do cowboy e do explorador que partem sozinhos para conhecer
o mundo. Durante suas viagens, eles encontra!n urn tesouro que re-
presenta simbolicamente 0 dom de seu verdadeiro ser. Iniciar cons-
cientemente a pr6pria jornada, sair e enfrentar 0 desconhecido. mar-
ca 0 come~o da existencia vivida num novo nlvel. Antes de mais na-
da, 0 Nomade faz a declara~ao ,radical: a vida nao e fundamental-
,mente-sofii~e£i9.i:~~:!i'i!i~;;ventura.-~"·'--""- ""~' ", ' .
'. Seja a jor:nada dos N6mades:apenas interior ou tambem ex~erior,
eles dao, ul!l~l!.C?,..cle_ feL descartando a~_,yel1!~~~~._sOQi!,,~~-,)ls
'quais obedeceram com ofito de, agradar e garantir sua seguran~a, e
,, P!o.c:;.1l~~.4~~Qbrir...quem.,.s~:o=e::<Lqu.e.:qjiei~rri:-'Muitas·-vezes toma-'"
mos conhecimento dos Nomades que externalizam suas jornadas e
viajam literalmente ou experimentam novos comportamentos, mas
existem tambem os her6is cuja conduta exterior parece bastante con-
82
83
I
vencional, embora suas explora~oes do mundo interior e sua inde- .~ar a verdadeira visao: declarar ou reconhecer que a gaiola e uma
pendendamental na explora~ao de seus relacionamentos no univer- gaiola e que 0 c~ptor. e 11m .v:ilao. a que e especial mente difi'cil, poi-
so sejam profundas. Urn exemplo disso foi Emily Dickinson. Nos uI- quanto -()'her6i pode nao apenas temer a busca como desaprova-Ia, e
timos anos de sua vida, ela mal se aventurava a descer as escadas de esses sentimentos e julgamentos provavelmente serao refor~ados pe-
sua casa; no eiltanto, quem Ie a sua poesia nao deixa de perceber a los das outraswssoas.
singularidade, a importancia oua intensa vitalidade de sua busca. Para 0 M8rtir.' a ansia da busea pode p..!!~ce!_~.&~C~!a e, por con-
as Nomades podem ser homens ou mulheres .de neg6cios que se seguinte, eqitivo~ada, ja que implica virar as costas para os cuidados
fizeram por si mesmos, ou ainda hippies que vivem a margem da so- e obriga~Oes na procura da autodescoberta e da auto-realiza~ao. Para
ciedade; todavia, ~~_$,_S~o,J!~fi!l~~..£}an~,m~.nte ~_QRm;.l~.~Q_ft~ta a o.Guerreiro., ela pode afigurar-se escapista e fraca. Se os Nomades
uma norma ~~r:lfQtmi~ta. Na filosofia, na pol!tica, na saude e na edu- d~cidem realizar suas jornadas, pOdeiii'seIiti-r~se at~niesmo.culpados,
ci~ao-:'-eIes' 'costumam desconfiar de soIu~Oes ortodoxas, preferindo, "pois oato de decrarar'apr6pria--ide~tidade e desenvolvet urn ego ~
ao contrano, ser bastante conservadores, radicais ou apenas idios- retratado classicamente como urn insulto aosdeus~~.. Pense-se, por
sincniticos. Na gimistica, costumam escolher exercfcios solitanos, exemplo, em Eva comendo a ma<;a ou em rrometeu roubando 0 fo-
como corrida ou nata~ao. No aprendizado, desconfiani das respostas go. Para 0 Orflio, a busca afigura-se indescritivelmente perigosa!
dadas por autoridades e buscam suas pr6prias verdades. A identida- Como em geral tememos as grandes mudan~as, tanto nas outras
de dos Nomades .prov~m de sua condi~ao de forasteiros. Na vida es- pessoas quanto em n6s mesmos, podemos desencorajar os her6is ini-
piritual, "eles podem experimentar a duvida, sobretudo porque em ge- ciantes, dissuadindo-os de empreender suas jornadas. Queremos que
ral lhes ensinaram que Deus recompensa urn certo conformismo e eles permane~am como sao. Em primeiro lugar, podemos ter medo
moralidade tradicional ...;. qualidades provavelmente divergentes das de perder nossos amantes, conjuges, amigos e ate mesmo pais, se
necessidades desuas psiques experimentadoras e em desenvolvimen- eles parecem estar mudando demais. Talvez possamos senti~~nos
. to. No entanto, a noite escura da alma que eles experimentam leva- particularmente amea~ados, se alguem que vivia para nos satisfazer
os fleqiientemente a uma fe mais amadurecida e adequada.· ou servir de subito recusa-se a faze-Io!
A pres sao no sentido de ajustar-se, de cumprir os deveres, de
fazer 0 que os outros querem e forte tanto nos homens como nas mu-
Cativeiro
lheres; no entanto, e mais intensa nas mulheres, porquanto 0 papel
Se a hist6ria do Ortao come~a no para1'so, a do Nomade temjJ}C- destas tern sido definido em termos de devet: e de prover a nutri~ao.
_£!~.~~_~...~~tivt(i.t:0' Nos contos de fadas, 0 Nomade pode estar encerra- Em geral, as. mulheresevitam iniciar. suas jornadas porque temem
do numa torre ou caverna e costuma ser prisioneiro de uma bruxa, magoar seus_mart4~~, p~is, maes, filhos ou aI11ig()s; todavia, as mu-
de urn ogro tirano, de urn dragao ou de alguma outra fera temCvel. ]heres -magoam as outras pessoas diariamente quando niio 0 fazem.
Via de regra, o__c,aptor simbol_~ao statUs qUQ-, 0 conformismo e a POrexemplo, uma das-pfores' coisas'qu~ uma muHler pode fazer a
falsa iden~idade impostos"pel(;s '{;a¢ls cUlturais'preclom'hlaDtes. au alma de urn hQrPe-D:i-~onsiste em penriitir queele a ()P!iIl1{l. Se a mu-
~en~o-o~her6i-':' sobretudo se for iriuiher ~ pode ser imaginado como lher amaum homem, eiadeve reverenciar a. alma deste 0 suficiente
alguem eIicantado por Urn espelho, que sugere uma.preocupa~ao com para saber que, nao importa 0 que 0 menino assustado dentro dele
Sua aparencia e 0 desejo de agradar, e nao com 0 que ela ve e com 0 possa querer, a essencia mais profunda do seu ser - a parte saudavel
que lheda praier. Costuma-se' dizer ao her6i que a gaiola e 0 &ten e do homem - quer apenas 0 bern para si mesmo e os outros. Se isso
que a fuga acarretara inevitavelmente a priva~ao da gra~a; isto e, a nao e verdadeiro, entiio ela precisa deixa-Io. Se e verdade, entao ela
gaiola eprefenvel. A p,rimeira tarefa do Nomade consiste em alcan- esta sendo condescendente para com ele quando satisfaz 0 ser menos
. 0"'·<"·~-------- _________ .. __ ......

84 85

I
I
evolufdo do homern; na verdade, ela est~ agindo com desprezo, su- li~Oes da renuncia quando 0 ponto crftico do seu desel!1volvimento
pondo que ele e mais mesquinho do que ela. esta em descobrir 0 que querem!
Da mesma maneira, muitos homens sao aprisionados por seu pa-, lnsisto qu~. i)em tooos sabem 0 que desejam. Sem duvida, os
pe] de protetores. e nao ousam empreender suas jornadas devido ao 6rtao;~arcisi~t~s "parecem vlvers6'para-o "desejo: Quero isto, que-
senso de responsabilidade nao s6 em rela~ao aos filhos como as es- ro aquilo! Mas se\,s desejos nao sao desejos verdadeiros, educa-
,posas, que the parecem frageis e incapazes de cuidar de si mesmas. dos, mas sobretudo formas de yfcio que mascaram urn vazio basi-
Se urn homem ama sua parceira, ele deve fortalecer-Ihe 0 ladd que co e a fome do ,real. Os narcisistas ainda nio pos~uem 0 verdadei-
pode ser independenle, competente, aventureiI:o. Todas as vezes que ro senso de auto-identidade, e por isso sentem esse vazio. Suas
detem ~ua pr6pria jomada por causa da aparente incapacidade e de- vontades sao programadas pela cultura, e eles dizem: "Quero urn
pendencia da mulher, ele refor~a tal atitude, contribuindo assim para cigarro", "Quero urn carro novo", etc. Acreditam que a obten-
incapacita-Ia. 0 ser mais forte e sabio da mulher quer cresGer e quer gao de tais coisas os ajudara a sentir-se melhor. Mesmo as estra-
que ele cres~a tambem. tegias de cresCimento pessoal podem nao emergir de urn verdadei-
A vantagem dos Nomades que empreendem suas jornadas reside ro self, mas da compulsao de satisfazer desejos viciosos: "Quero
em seu efeito, instigante, permitindo que os amantes iniciem suas perder dez libras para atrair mais homens e ter uma vida sexual
pr6prias jomadas. Talvez a princfpio eles se sintam amea~ados ou melbor." ~'Quero ingressar na faculdade, pois assim poderei ganhar
furiosos; mais cedo ou mais tarde, contudo, terao de abandonar 0 muito dinheiro e ter urn 6timo aparelho de som e causar inveja aos
parceiro ou segui-Io. Se 0 abandonarem, os Nomades podem sentir a meus amigos."
dor da solidiio por algum tempo, mas cedo ou tarde, se assim 0 dese- Quando ainda nio desenvolveram a consciencia de uma perso-
jarem, desenvolverao relacionamentos melhores, verdadeiramente nalidade'sepai-aoa~autonoma~'~ispessoas'sa:obiu.ic~ent~'dirigicias
satisfat6rios. porque baseados no respeito a essa jornada. Natural- por aquila que acreditam ser a opiniao 'dos outros. Acabo de chegar
mente, quando saem da realidade de consenso e come~am',a ver 0 d()encontfo comemorativo dos 25 anos da formatura colegial de meu
mundo e a si mesmos com seus pr6prios olhos, sempre enfrentam 0 marido, no qual uma mulher me ,disse que vanos convidados expli-
medo de que a puni~ao por essa atitude seja 0 isolamento perpetuo caram que nio queriam comparecer porque estavam gordos ou ve-
ou, no sentido mais extremo. a morte desamparada e na pobreza. lhos demais, e/ou nao eram suficientemente bem-sucedidos! Sem
Nao obstante esse medo - que se prende ao terror infantil de nao so- duvida, essas pessoas, embora estejam na casa dos quarenta, nao de-
breviver a nao ser que se agrade os outros (primeiro os pais, os pro- senvolveram a consciencia de si mesmas como seres independentes
fessores, os chefes, as vezes ate mesmo os companheiros) -, os No- dessas considera~6es externas.
mades tomam a decisao de abandonar 0 universo conhecido em prol Urn dos maio~~ vfcio~cl;lE.0ssa cultura sao os papeis sexuais
do desconhecido. tradicioiials: Estes funcionam ~rquea cultUra'''converteu''o sexo'e 0
Nao importa 0 quanto as pessoas tenham aprendido acerca da ~()r e~. merc,a.Q.~t1~s .x. aE~s,e..,~.ri:ffic!8iS;ftesseqmodO-:-as pessoas-des-
doagao e da renuncia, seus sacriffcios de nada servirao enquan~o pendem horas intermim1veis tentando manipular 0 mundo para obter
elas nao aprenderem a saber--quem's§o. Nao adianta dizer-Ihes que o que precisam. Aprendemos que precisamos ajustar-nos a determi-
~m'o e'go enquanto elas nao tiverem desenvolvido urn ego. nadas imagens de comportamento feminino e masculino a f1m de
Nao adianta dizer-Ihes que transcendam 0 desejo enquanto nao tive- sermos amados e considerados sexualmente atraentes. Mas enquanto
rem resolvido buscar resolutamente aquilo que querem. Por esse mo- ~presentamos diferentes papeis· em vez geu~mpL~pder nQ.ssas j~rn,~­
tivo, nao concordo com a ideia budista de que se deve transcender 0 . das, jamais nos sentimos amados pelo que somos nem tampouco ex-
desejo, porque isso pode levar as pessoas a se concentrarem nas perimentamos a forga de urn relacionamento sexual verdadeiramente

86 87
{ntinio., Assim, podemos ter vl1rios arnantes e continuar a sentir-nos o 6rIao e 0.--Ml1rtir. em seus primeiros nfveis de compreensao, e -::u::>
vazios, carentes e insatisfeitos. as vezes at6 mesmo no segundo, acreditam que, para obter amor : "("
Como se isso nae> bastasse, nosso sistema econ<>mico e, antes precisam transigir naquilo que sao. Em algumnfvel, 8:creditam que,'
deste, nosso sistema educacional resultarn dessa escassez de arnor. se fossem totalmente eles mesmos, acabariarn sozinhos, sem ami-
Aprendemos a trabalhar wduamente para ter as coisas que nos tor- EQs'e-'pobres.
narao amados, tespeitados ou admirados. Essas coisas incluem com- Muitas mulheres nao gostam do estl1gio de N<>made. Como mos-
prar belas roupas e carros, 'morar em locais agradl1veis, ter dinheiro tra Carol Gilligan no livro In a Different Voice: PsYchological
para desfrutar de boa saude e de cuidados dentruios e talvez at6 Theory and Women's Development, enquanto oshoJllens t~m _m~clo
mesmo fazer parte de urn clube de saude - tudo isso para atrair urn da intimidade, as mulheres temem,_a_solidao.J1 Vejo aqui duas'rea~6es
parceiro. Esta 6 sem duvida uma forma muito eficaz para motivar a ' diferentes·' ao'mesmo'·sistema 'd~ cren~~s. Em nossa cultura, costu-
for~a de trabalho. Em ultima anl1lise, contudo,tal estrat6gia 6 inca- mamos acreditar que podemos ter intimidade ou autonomia e indivi-
paz de atender aos intetesses mais profundos das pessoas. dualidade. Assim, as mulheres tendem a escolher a intimidade e os
)
Em primeiro lugar. as pessoas motivadas por seus v{cios nao t~m homens a independ~ncia. A ironia esta em que, ao fazer essa esco-
tempo nem inclina~ao para desenvo]ver a consci~ncia de si mesmas. ! lha, nenhum dos dois consegue realmente 0 que quer. Primeiro por-
Ao con!t"l1rio, buscam a pseudo-independ~ncia em yoga, adquirem I que, na verdade, as pessoas querem arnbas as coisas, e depois por-
toalhas com monograrna,' pastas ou bonecas personalizadas, utilizan- \... que 6 impossfvel obter uma delas sem a outra. '
do produtos destinados a satisfazer sua ansia de ser diferentes e ico- Se escolhemos a intimidade em detrimento da independ~n-
" noclastas da moda. Os pseudo-N<>macl~s., mesmo em sua ansia de pe-
,)~)'~:J; : cia, nao podemos ser inteirarnente nOsmesmos num relacionarnen-
';",~r.ambular, ,~ao levados a confonnar-se com aquilo que 6 considerado II to, porquanto investimos demais para mant~-lo; fingimos que ele
" ~___~od~_de-'-ser~Hin·'. Sem 0 self, 6' absolutamente imposs(vel dar I 6 •'seguro" , representamos tim papel e tentamos descobrir por
muito-=-~or-ouj~~~b~~I<:>~.:N~ ultimo caso, ~andQ.Jl~~ssollS.-repre­ que nos sentimos tao sozinhos. Por outro lado, se escolhemos a
sentam urn papel no qual recebem arnor ou r~~peito - e dis_siD.l~lam independ~ncia, nossa necessidade de intimidade nao desaparece.
q~~n:tI~!1.l!1_~!i~-sio (0 -qiie-pode perleriamellte slgnificar um conjun- Na realidade, como essa necessidade estl1 reprimida e, por conse-
"" to de car~ncias), '~Ia.!.~t.t!!£~_~~!~lI1. yerdflc:!~~l"~ente a~das pelo guinte, nao 6 reconhecida nem analisada, ela se manifesta em fm-
i"f .~~ .9!!'~, sao,-, mas sim~lo J~~~I "gue re~~.~J)J{lIl1. petos e atividades compulsivos e descontrolados. A maioria dos
Adema!!l_..m~.§pl()_<>'_s~u amor pode ser. em ultima,anl1lise,J:.tQ~iyo homens ou mulheres que acredita no estoicismo do tipo "nao
,as outras pessoas, porqueliovavetiiiente-elC;-sen1-co~p~;ivo, pro-' preciso de ningu6m" sao terrivelmente solitruios. Muitos - em-
gressivo, contr0i8dor-e-dePendel:iie:-~Comoseu-seriso" deidentlrlade bora mantenham a ilusao de auto-sufici~ncia - tem absoluto pa-.J
prov~m da posse daquele'-fllho:<i8quele namorado ou namorada, tais , vor do abandono. '
pessoas ,tern necessidade de que essas criaturas sejam de determi- Homen~ desse tipo infantilizam as mulheres; desse modo (pen-
nada maneira. T~m necessidade de que elas estejam por perto, mes- sam" ~ies)- eias-nao terao coragem de deixa-Ios. Querem manter as
mo que suas pr6prias jomadas as chamem para longe. Os atores esPosas,- se"-r;§~-descal~ase'-gravidas~-peIo menos' sern as habilidades
desses pa¢is podem precisar da aprova~ao de outras pessoas para e a confian~a necessarias a uma carreira que as pudesse sustentar.
agir de determinada maneira. Podem tambcSm deter seu pr6prio cres- Da mesma maneira, no trabalho eles definem 0 papel da secretruia
cimento para nao amea~ar urn relacionamento, oupor medo de que, como parte de mae e parte de esposa, de forma a serem sempre cui-
caso nao sacrifiquem seu bern em favor do outro,algo de mal acon- dados por elas. Finalmente, sao tao dependentes do respeito de cole-
tecerl1 ao ser amado. gas, phtr6es e, com freqii~ncia, aleS mesmo de subordinados, que

88 89
preferem ate violar 0 seu pr6prio senso de etica a correrem 0 risco independencia nos homens tern uma aura de martIrjo;£ como se eles
de nao serem "urn dos garotos". tivessem sacrificado sua necessidade de amor emprol do desejo de
Esses homens sao particularmente vulnen'iveis se os acusam de ser independente e inteiro. 0 que explica a constata~ao de Daniel
frouxos; assim, eles jamais dirlam, por exemplo, que nao querem dar Levinson, em seu famoso estudo sobre 0 desenvolvimento masculi-
fim ao lixo qUImiCO da forma mais barata - pois nao gostariam que no, The Seasons of a Man's Life, de que muitos homens bem-suce-!i
os acusassem de alguma preocupa~ao idealista com 0 meio ambiente. dido-~'-~§o-conseguiarijdes-crevet·~uas esposas!2 '.
Eles podem ser control ados - chegando mesmo a atitudes imorais _ ·~·-·-6estoicis~o ~asculino nega a necessidade de rela~ao e elimina
pelo medo de .parecerem zelo~os - em rela~ao a Terra, as mulheres, nao apenas a consciencia integral da necessidade de relacionamento
as outras pessoas. As mulheres que adotam essa etica machista agem como tambem, e inevitavelmente, a consciencia dos outros como
da mesma forma, com a agravante de que elas tambem procuram ob- pessoas. Esse bloqueio em rela~ao as outras pessoas explica por que
ter a aprovagao dos homens agindo como "urn dos garotos". tantos homens tratam os demais como objetos.
<?eneraliza~6es acuradas acerca das diferen~as sexuais sao pro- .___ Nao estou sugerindo, porem, que tal atitude e urn fenomeno ex-
flJDdamente importantes para ajudar-nos a conipreender uns aos ou- clusivamente masculino. As mulheres tambem agem assim. Quando
tros, mas quase sempre fazem com que os homens e as mulheres pa- negamos a necessidade que temos de outras pessoas, n6s-"as-bfo-
re~am· mais diferentes do que sao. Embora 0 medo da solidao seja qu~irios~io menos parcial mente. Assim:'quando 'riegamosessa ne~
fundamental em muitas mulheres, ao lado deste esta 0 medo corres- ---cessidadeperman¢cemos nareisistas. (pel'o-menos-na"~re;--qi:ie-ei~:
pon~ente da intimidade. Assim, os homens mais conscientes y mais mos negando)~ Eo-resultado4e~~J~loqueio de nossos anseiosde re-
lacionamento e a SQlldao.- ...... . ' -- ... "" -..-.--.-- .... - ....... -- ... ,
6bvIOS em seu medo da intimidade tambem tern medo da sdlidao.
Enquanto 0 problenjla for definido (como 0 e pela nossa cultura) co-
mo uma situa~ao do tipo ou isto ou aquilo, na qual e possIvel ser I A1iena~ao e Fuga
autonomo e independente ou ter amor e participar, todos teremos
medo de ambos. I Varias sao as formas de estannos sozinhos. Uma del as consiste
Nao sairemos dessa formulagao dualista do dilema enquanto nao em viver sozinho, viajar sozinho, passar 0. tempo sozinho. Relativa-
o solucionarmos em seus pr6prios termos. Os Nomades enfrentam 0 mente, poucas pessoas adotam essa forma por muito tempo. Existem
~edo de serem incapazes de sobreviver soziimos e decidem que: se- outras maneiras - .algumas delas com a vantagem de mascarar a nos-
Ja qual for 0 .prego da solidao-, do isolamento e ate mesmo do ostra- sa solidao, as vezes ate para n6s mesmos. Urpa forma de estar sozi-
.cismo social, haverao de ser eles mesmos. E fundamental realizar nbC, consiste em nao fazer caso do gue ;~~timbs equerenios 'e'em
ambas as coisas em determinado momento da vida. As mulheres co~- "dar 'aos-otitros aquHo ·que"perisamos'<'q~~·eles q~~rem:~sei<o_'gue 'nOs
. ,~mam temer tanto a solidao que 'permanecem tempo demais no esta- j~~ns.~inOS queHeJe~-91lerem"que_ ~J~2~~ 'Outra. e trat;"as"Pe~s~as
do do Martir; le, naturalmente, esse medo e acentuado pela con- .c;o~? o.\>jetos p~a 'Ii 'gi-atificag.a9:::ae:.Iig,~~~9~~prQPIi9Sdesejos~ Aqtii, e
cep~ao cultural de que estar sozinha e ser mulher significa ser urn fundamental nii,o tomarmos consciencia da sua identidade humana,
fracasso (esta claro que voce nao conseguiu urn homem)~, '0 desejo separada. Na veidade-;-sempre que algti6iD'representalllnpapel eIIl-
de estar sozinha e inconceb{vel, ou nada materna; por conseguinte, ---re1a§acra-oufra 'pessoa, ocorre uma intera~ao solitaria.
nao e feminino. .Qu1:fci....fum~tA!L~star sozinho, como vimos nos papeis sexuais
Os homens, por outro lado, sao tao _apaixonados pela inde- tradiciomrls, consiste ~!!i;~i~~~~~P~.YII;t.12!!~.l- a mulher ou
i.. " pendencia que fic8IJ) ~prisio,r;ladps, at porque,ilanossa- cuifuii~'mde- o homem pe~ mae ou 0 pai perfeitos, 0 patrao ou 0 emprega-
·i.' '·\'pendeneia e praticamente sinonimo'de" mascuimldade~-Ademars-:a- do perfeitos. Ou enmo podemos continuar vivendo com a nossa

90 91
famflia mesmo quando nao nOs damos bern com ela; podemos manter p!u"a evitar nossas j.Q.~~da.LPQ.d~wacabar sendo P~.rte cielas - se
urn ¢ssimo casamento; podemos ter companheiros de quarto com ---nvermos sorte! .' -,'
quem temos pouca coisa em comum. Uma mulher pode convencer-se . Quapdo chega ~.. hora de iniciar a j()m~da, 0 Nomade se sentir,~
d~ que todos os homens sao chauvinistas, e urn homem convencer-se _soziiiho~ seja'oo nao casado:-ienha'ou'niofllhos'emmgos,-tenFia"ou
de que todas as mulheres sao prostitutas ardilosas. Se queremos nao urn trabalho prestigioso. ,Na()_h~ como evitar essa experiencia.
~ -~ • • .. .' ....... • , ••• c> •• - •• , . . . . . . ".,................

realmente ficar sozinhos, podemos convencer-nosde que todos que- Todas as. tentativas nesse sentilio 'siniplesmente reprimem a cons-
rem atingir-nos ou desejam algo de n6s. ciencia de onde ele es~, de forma que ele demora mais no aprendi-
Para que is so nao pare~a excessivamente negativo, seja-me per- zado das li~oes e, assim, permanece mais tempo solitWio. Embora
mitido
. .
acrescentar que, na verdade, todas
, ------_._,
. essas estrat6gias demons-
tram como somos~4~Jps.,>de_i~g4t~9ao para a~s,egurar a .r~aliz~~~o
certas pessoas iniciem sua busca com elevado senso de aventura,
muitas passam por ela como por algo que lhes 6 impingido, pelo sen-
Qtrnossas' jQmadas.. 0 pr6prio vazio e vulnerabiliaade resultantes timento de aliena~ao ou claustrofobia, pela morte de urn ente queri-
·dessas·sbordagens·;iciosas da vida motivam muitos de n6s a empre- do, pelo abandono ou trai~ao.·' ,:~ "
ender nossas jomadas e a descobrir ou a criar uma personalidade. Al6m disso, provavelmente nossas tentativas de aproximar-nos . ,.::
Sem d6vida, muitas pessoas conseguem ser alienadas e soIitmias du- de pessoas que se encontram neSseestagioe-aemaiiter ·umaverda- ., .
rante .toda a vida sem jamais crescer ou mudar, mas outras utilizam ~~~~~. :~~t.i~~~~~ -C'?~~l~,~-ri~o'-darao res~lt~d,o •.ElascoIitm~arao a t ~:
essas ocasiOes' para serem "her6is secretos", acalentando novas levantar barrelras.~. .Jll!:IJll1d~cle, porquanto . sua tarefa evolutlva est~" v~~l
id6ias e imaginando novas' altemativas, enquanto na superffcie con- 'em enfrentar asolidao. M~ito
,<-.-._' ,~.r.~". "
poucas~pessoas estao sufiCientemente
............"-.. -..... ..... __ .... _'-'"" ._....... __.. __._..____ ___ ._....
" .•,,' .. <"t..........~ _.~ ~ ~_, .......• -
~~.'\..
_~_._

tinuam levando a vidinha de sempre. Uma mulher que conhe~o re- £fu!§£iaJLcl~".. se.us .. pr.6.PJJPs'·pjiOr®~. . <.!E:~.:~e,~1!l1,ent9 para r:ev.ela~Jos
lembra urn casamento de onze anos, extremamente convencional e hone.sJamente. A maior parte dir~: "Claro que quero a proximida-
superficial, como urn porto seguro, urn casulo no qual ela se ocultou de", mas na verdade sabotam essa intimidade. A unica coisa que
enquanto se preparava para voar. Durante 0, casamento, por6m, ela realmente as estimula consiste em tomar cQnsciencia de que estao de
nao sabia disso. Na "erdade, foi a intensifica~ao do vazio do papel fato sozinhas.
tradicional e a solidao desse relacionamento, pelo seu desagrado, Na realidade, 0 abandono 6 de grande ajuda nesse es~gio.
q.ue .a levou ~ b~sca. ~ar~ ~u.i;~~~J)e~soas:. a a,lie~&: dentro do c~~ Q~ando -2~}'f§1l!~4~.~.}1.~()~~!~m. a aproxjJlla~ao de outre.m, seja 0
~tiv,!!!?:..Q__C.Ons.tj,1YlJ?esttiglO lfllgzCl,l. do Nomade, ~eguldo da escolha genitor, 0 amante, 0 terapeuta, 0 analista ou 0 professor ,_~iI!1portan­
/ .consciente no sentido de empreender a jomada.' ... te que11apessoa que estti ajudando se afaste, para que 0 fllho, cliente
,.e~ " .,. . ?' her6i americ~o arquetrpi~o deixa. a cidade pequena e infcia a 'ou aluno p~sa viver inteiramente a solidao que cnou para 0 seu
,-I to! sua Jomada; 0 her61 beat e, malS tarde, 0 hippie caem na estrada; pr6prio crescimento. Caso contrmo, ela ser~ impedida de reconhe-
f/., . fio h:r~i dOd~ste cava~ga em dire~ao ao por-do-soI. A nova herofna 'cer sua pr6pria solidao e repelini os ataqties de outras' pessoas aos
,(If. emmlsta elxa os palS, 0 marido ou 0 amante e tamb6m se poe seus muros. Certas pessoas simplesmente nao crescem at6 serem
\~ a caminhb. Para as mulheres, deixar 0 marido, 0 amante ou a famfiia abandonadas. Lucy Snow, personagem de Charlotte Bronte em Vil-
'i~) constitui uma forma tao repetida do arqu6tipo do Nomade contem- lette, 6 urn exemplo. Ela es~ disposta a dar a pr6pria vida para ser
poraneo que Erica Jongescreve em How To Save Your Own Life: utH a quase todo mundo. No entanto, todas as vezes que Lucy se
"Deixar 0 marido 6 0 tema c6smico linico."3 Contudo, a pessoa dispoe a faze-Io, Bronte mata as personagens.
que nao deixa a cidade .pequena ou 0 conjuge que nao deixa 0 H~ quem inicie sua jomada por nao encontrar a pessoa "certa"
casamento linrltado nao estao menos sozinhos do que 0 Nomade. Pa- pela qual possa,sacrificar-se. Como a sociedade nos ensina que as
radoxalmente, todas as estrat6gias de adiamento que empregamqs "boas" mulheres vivem para servir, muitas delas explicam seu esta-
~----.~.-.-.-.-~--~" ...,....---'-""'- ........... .

92 93
do de iflld~pendencia lamentando a escassez de homens livres. Vez
por outra ISS0 e real, mas as vezes trata-se de uma racionaliza~ao A me~ar a requintar cada vez mais as estrategias de conquista para no
mae de uma amiga minha defendeu certa vez a fiIha recem-divordia- fim descobrir que as mulheres, como os homens, sao expressivas em
da explicando: "Ela queria urn homem que cuidasse dela (e de seus sentimentos. Dentro em breve, ele estara tao apaixonado pela
quem ela pudesse cuidar), mas ninguem quis". As vezes a mulher sinceridade e pela honestidade que esquecera as conquistas e se
encontra 0 homem, mas percebe que, enquanto ela se sacrifica por abrira para 0 amOT.
ele, a1c:m de ele nao se sacrificar em retribui~ao, ainda a despreza e Mesmo quando nO$SOS desejos sao programados pela cuItura, .
deprecla. Talvez fa~a ate comentarios sobre como ela se tomou de- eles podem, em ultima analise, ajudar-nos a crescer, sobretudo se
sinteressante. 0J talvez se interesse apenas pelo tipo de mulher que nos mantivennos atentos ao feedback. Por exemplo, se urn de meus
trabalha e e livre e "egoIsta", a qual, na sua defini~ao, nao e uma desejos e urn cigarro a cada cinco minutos. preciso come~ar a prestar
mulher de verdade. aten~ao as advertencias impressas no ma~o e a tosse ,crescente.

Urn dos legados do ~ovimento feminista foi 0 impulso dado as Aprendemos em parte mergulhando resolutamente nas coisas e des-
jomadas de muitos homens, assim como 0 fato fie os homens terem cobrindo 0 que realmente traz a sensa~ao de realiza~ao e 0 que nao
iniciado suas buscas e deixado suas mulheres sozinhas, levando-as a traz. Assim, as vezes podemos evitar longos desvios refletindo a
reivindicar sua pr6pria autonomia. Muitos homens dermem suas vi- respeito de urn caminho e sentind;o-o antes de enveredarmos por ele .
das em tennos de seu papel de provedores. Lembro-me de urn ho- de vez: "Bern, eu poderia ir atras daquele cara, mas, se tivesse exito,
mem que me procurou para falar da esposa que ia voltar a trabalhar. provavelmente acabaria com meu casamento. Na verdade,prezo mais
~ara. ele, isso era uma crise. Ele explicou que nao sabia mais qual 0 o meu casame;nto do que essa aventura." Ou: "Estou 10uCa por esse
slgmfic~do da sua vida. Dete~tava 0 seu trabalho, mas nao 0 deixa-' cara e quero me envolver com ele~ sejam quais forem as conseqiien-
va, exphcou ele, por causa da mulher e dos filllos. Se ela ia traba- cias. Alem do mais, talvez esta possa ser a crise que levara meu ma-
lhar. ele nao via raziio para continuar trabalhando. Pensei, ingenua- rido ate 0 c<l)flselheiro matrimonial comigo." Ou: "Estou venda que
mente, que ele devia estar entusiasmado - agora ele era livre para outros homens me atraem. Talvez isto signifique que algo esta erra-
explorar outras op~Oes, outras carreiras quepudesse co'nsiderar mais do no meu casamento. Talvez; seja melhor explorar isso primeiro."
sati~fat6?as -. mas eu estava subestimando 0 n!vel em que seu senso Ou: "Eu nao nasci para a monogamia. Mais cedo ou mais tarde eu e
de l~ent1dade (na verdade, 0 significado da sua vida) dependia de Jim teremos de enfrentar isso. Por que nao agora?" Ou: "Nao apro-
sacnficar-se daquela fonna pela familia. Sem isso, ele nao sabia vo 0 adulterio: Se fizer isso, poderei olhar-me no espelho?"
quem era. A atitude da mulher lan~ou-o - embora chorando e esper- Naturalmente, a vida nao se~~_.9Sl1()_SS()~ §qripts• ..R,ecebemos
/~<, neando - em sua jomada. . t~~~~!'__ ~~,~!~§'Lq~~ rea~i~ie'~~_.~~.?~!e~~,. ? .9~.e . ~~~'i~.'~·~~Q~io
/ !g2Q~ !,re.pi~aIIl,~s.c:t~uIIlP7nodo qe solidaop~a d~scObriq(~.u~m p~~cIp!()d~~~~!i~~~t?, de modo que da pr6ifina vez poderemos pen-
_somos. AClma de tudo, necessltamos de alguma solidao diana a rIm sar melhor sobre os fatos. A questao e: fazemos ~lgumas op~Oes ou
'\ '
9!LJ;!!8~!lllO.S-.aJ~~.z. Alem disso, todas as ~~~tegias de que nos imaginamos 0 nosso caminho atraves dos outros. Em ambos os ca-
(./ ~alemos Para evitar essa.tar.efa - a busca do Sr. ou--Sra~-'Certinha~o sos, aprendemos 0 que queremos e 0 que nao queremos, aquilo em
trabalho perfeito que nos revehy-a a nossa identidade. etc. -:- acabam que acreditamos e quais sao os nossos valores. As vezes aprendemos
P?~ ajudar-nos a aprend~r () que precisamos' aprender. Elas nospro- que nao quenamos realmente aquilo que pensavamos que quenamos,
porcionrun pnitica na& ~sp-ira~()es e nas reivindica~Oes. . mas nao existe outra maneira de aprender 0 que queremos, exceto
. Uma mulher pode ingressar na faculdade apenas para conse- confiar no nosso conhecimento enquanto avangamos. A nao ser que
guir urn diploma e acabar levando-se a serio. Urn homem pode co- consigamos adniitir que nao sabemos verdadeiramente quem somos e
o que queremos, jamais saberemos quem somos e 0 que queremos se
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ficarmos sentados sem nada tentar. Por isso, as vezes pre~j~~os_~­ ponto, ~".,?ontinuamos .. a .crescer, comec;amos a diferenciar-nos. dos
rambular urn pouco em nossas jomadas a fim de crescer. "'pap6is que repreSentariios.·· Em geral, isso acontece quando os piip6is
--- Esse processo de ~-iloSsos"-pr6prio;-·desejos e de agir no. inicialmenU;-bons'"come~am a parecer vazios. Na pmtica, isso costu-
sentfdo de realiz~-los 6 fundamental paraa·conSfruc;ao-de·iimilideii~ -"-;;;-s!g~it!~~ que. debcamos de fazer escolhas e comec;amos a decla-
tldade. Chegamo·s-;-eSte-mundocom"""unia "ldentfdade;"s6que"se far 9~"que quererP~~..: Por exemplo, umamulher.pereebe que tudoque
tratade Urria id~mtidade antes potencial do que plenamente desen- ela faz agora foi predeterminado pelos pa¢is escolhidos por ela no
vol vida. Descobrimos quem somos atrav6s daquilo que queremos, ano anterior, h~ dez ou mesmo h~ trinta anos. E mais: ela podem
daquilo que fazemose daquilo que sentimos e .pensamos. As pes- comec;ar a entender que at6 mesmo essas escolhas foram tao influen-
soas inais felizes sao sempre. aquelas quese arriscam 0 suficiente ciadas pelas expectativas da cultura, ou pela famflia, ou pelos ami-
para serem plenamente elas inesmas, aquelas que representam 0 me- gos, que nao foram escolhas livres. Talvez ela tenha se casado, te-
nos possIvel os pa¢is prescritos, mas tampouco se empenham parti- nha tido t1lhos e abandonado 0 tra~alho s6 porque todas as suas co-
cularmente em ser rebel des. Elas nao s6 tern uma consciencia mais legas faziam 0 mesmo.
forte de· quem sao como tamMm ·podem receber e dar mais amor do Na verdade, quando ela fez essasescolhas, nao tinha muita ex-
que outras pessoas, porquanto acreditam que 0 amor com que depa- periencia nem clareza para perceber 0 que realmente queria. Essas
ram em seu caminho 6 verdadeiro, e nao apenas uma resposta aos escolhas ajudaram-na a tomar-se algu6m capaz de escolhas melho-
paptSis que representam. res. c'ontudo, as expectativas de que escolhesse quem era aos 21
Eu gostaria de dizer que ~ovavelmen!~.nao ~i&.te_.uma""forma de anos e agisse de acordo pelo resto da vida, pesam contra a sua liber-
construirmo~~.P'Q"~_s..~"pr.9pria .J4eJ).tidade sem _representarmospap~i~. dade de fazer novas escolhas. Naturalmeilte, em ultima an4lise, nao
Nosso:-prlmeiro sentimento de orgulho provtSm da boa representac;ao 6 difIcil reparar 0 erro. Ela pode decidir que a cultura, as outras pes-
.de pa¢is, e a escolha desses pa¢is j~ constitui uma tentativa rudi- soas ou suas pr6prias vozes interiores estao erradas ao decretar-:-lhe
mentar de escolher uma identidade. Por exemplo, uma mulher pode "prisao perp6tua"por mM decis6es anteriores, e podem comec;ar a
optar por representar a loura tola, 0 tipo competente e confi~vel, a tomar novas decis6es. Mas sua situac;ao continua complicada. Talvez
aventureira destemida e leviana ou 0" tipo maternal e zeloso. Ela ela decida que nao quer ser mais uma esposa, porque se casou antes
tamMm decide se ten~ ou nao ser uma boa aluna, agradar aos pais de experimentar a vida e de adquirir 0 sentimento de sua competen-
ou ser rebelde. ·Ela escolhe se vai seguir uma carreira ou ser dona- cia no mundo. Provavelmente, ela ainda nao sera capaz de deixar 0 .
de-casa, e decide se yai estudar arte, ciencia ou qualquer outra coi- casamento e salvar 0 relacionamento. E, se for mae, 6 muito prova-
sa. At6 mesmo quando nao escolhe ela faz uma opc;ao a sua revelia. vel que mantenha essa responsabilidade, quer se sinta pronta ou nao
A. me~id~q\le faz sua opc;ao e passa a viver ess~~_"pa¢is,.ela c011;!~a para a matemidade. (Neste particular, conhFci pessoas rea1mente
;ter. alguma noc;ao de ~ua identiCia-de. ........... - -"- inovadoras que encontraram Iillgu6m para cuitlar dos filhos durante
-'~' _ ~e .r.~PI~s~!ltar bern os pap6is,. poder~ comec;ar a adquirir con- urnl ou dois anos, por exemplo; mas em geral as pessoas se sentem
.J1~"C;~._s"~fi~!~!l!~. para fazer as'perguntas "mais7unctamentals--acerca aprisionadas pelas escolhas que fizeram.)
dtLqllem ela 6, fora desses" pa¢is. OU' poder~ te~ padroes tao eleva- !'t:: sO£.~~~g~.~~<>.~~~"~,:: .<>'~. J:.1c:>~ns" 9u.~do ·estes abandonam
dos que'-ir' seiiirr'::se Inaaequada em tudo que faz, e nesse caso po- as responsabilidades e cuidados patemos para empreender sua jor-
der~ mergulhar em s6ria depressao. Aind~ assim, se urn terapeuta ou I nada:-Contuao,-os -Iiomensque-coirtinuiiil-a""sustentar'seiisfilhos,
amigo tiver sensibilidade para perceber a natureza b~sica da si- ·tantO"" flnanceira como emociona1mente, enquanto tamMm procuram
tuac;ao, a crise podem ser utilizada para ajud~-la a encontrar 0 senti- "se encontrar" na experiencia de N6made, assim como muitas mu-
do de si mesma, fora dos pa¢is que representa. Em determinado lheres - dq,aram com urn fragil equilibrio entre os cuidados de pai e

96 97
roubar, sempre parecendo magoar e decepcionar aqueles que ama.
a _reallza9aO. ~e sua jomada. ParadoxaImente, em geral 6 qa resolu- Naturalmente, essas pessoas agem assim porque 0 pre<;o de tal arnor
9ao da opo~19ao, que as vezes parece intolernvel, que as pessoas des- e ser born, 0 que costuma significar, nesses cfrculos, renundar a
cobrem matS plenamente quem sao. Elas passam a se conhecer de mo- pr6pria busca a fim de satisfazer aos outros. Infelizmente, esse rna-
mento em momento pelas decisOes que tomam, na tentativa de conci- delo po de ser catastr6fico porque as pessoas presas e ele se conven-
liar 0 de~velo pelos outros e a responsabilidade para consigo mesmos. cern cada vez mais de sua pr6pria inutilidade. Elas poderao ser aju-
A matundade surge dessa curiosa mistura de assumir a responsabili- dadas, se forem encorajadas a ver que, embora seus entes queridos
dade pelas escolhas anteriores e ser ao mesmo tempo tao criativo possam parecer momentaneamente amea~ados e desaprovadores, na
quanto poss(vel'na descoberta de formas de continuar a sua jomada. verdade essas pessoas tern a responsabilidade de empreendersuas
Os Nomades nao aprendem sua li9ao de uma s6 vez. A~sim co- jomadas e descobrir quem sao. '.
mo todos,o~, a.rqu6tipos,el~s~p~~J.1.<!e..mll.ma li~ao inicial e entao pas- Outro modelo semelhante pode surgir quandq nao somoS Noma-
,sam ,a m<:)v:er.~~.:IIl.cfrcul<:>~~ !alvez sua primeira a9ao independente des [.10 momento necessario - as enfermidades. Podemos adoecer
ac~nte~a na mfancla, ao expressar uma opiniao mal-acolhida entre
como forma inconsdente de interromper 0 cfrculo em que estamos.
amt~OS ou professores. Eles podem ser muito influenciados pelo ar- A medida que adquirimos mais pnitica em ficar com n6s mesmos,
qu6tipo ao se afastarem dos pais para explorar 0 significado de ser descobrimos que deixamos de ter crises nas quais somos obrigados a
adulto e nao crian9a. Podem vivenciar essa experiencia muito mais abandonar dramaticamente' as situa~Oes a fim de salvar-nos ou nas
vezes quando adultos, ao obedecerem ao seu cora~ao ou as suas quais quase temos de nos matar para reconhecer nossa necessidade
convic~Oes, arriscando-se a perder casamentos, trabalho, amizad~s
de mudan~a. De fato, em ultima an4lise, 0 Nomade nos ensina a ~j(~
ou a popularidade entre amigos. Esse 6 um processo de toda uma vi- sermos n6s mesmos - a sermos verdadeii6s coin n6s riiesmos, de t9-'
da que por v'ezes exige mais do que um simples risco.
~Orhen.to em momento. Isso.. req~::..:~~~~. ~~.~ip!~~ ~ji?~~~~-~~~ ~'"
A.ssim como as primeirasescolb~, dOB Mrutirese dos Guer- em contato com 0 nosso corpo, com 0 nos sO cora9ao, com a nossa s.. 'f,:
~iros, ~ o~Oes que. psNQrn,ades faze~ p~. si pr6prios sao ima~ 'mentee'coin" a' nossa alma' end~~.?.~~~s.IJ:l(jmentos e 'rela~Oes. Se fi": ,./ .~
,_ ~r.as:.m4bels. Em geral, eles concordam com os outros por muito zermos isso, nao haver4 necessidade de grandesexplosOes. . '/.
tempo, passando por cima de seus pr6prios desejos; seu ressenti- , r-.. .-, ,~, .;
~":'N (~ I':L.
,:": f , i ,~ .. r)::::-c1·:-"> VI i c:~t) ;, '-e.~f1.,.u}Dt11..1\A.A ''Y
J
mento j4 6 profundo quando agem em seu pr6prio interesse. Como
resultado, .~.1.e.s. escolhem sua pr6pria identidade em meio a uma Fuga ao Captor . \~:.Ct;':>(l\'" t;t:.i'·1.'J f.A.<)l/t:r;'#I,";;<f.··, :,.»!V ,'1
I c,·...o tJ.. '1 t·j \ Of'; ot; !-I.., (.Q.,)7v. "'-.M'> CA.~fJ
ve~<ll1deira explosao de 6dio. Ou enta~ podem adiar a tomada de No primeiro nivel do Nomade, a argucia nao 6 9_.Problema. A
~ decisao'dif(cil em sua mente consciente, de forma que 0 incons-
grande questao est4 em agir ou nao. Embora, para d.Orta6, a pessoa
cI~n~ assume ()~ontrole e leva-os a romper alguma regra, 0 que os ili-iid'amental's;;j~-'o si!Lv1!99r, a pessoa ou 0 conceito transformador,
expulsa ~como Eva foi expulsa do para(so, em vez de decidirem para ~_~om~,~~ 6 oyiJ~Q.._9.~.cap!.or. Na verdade, 6 a identifica~ao do
explorar 0 novo mundo. vilao como amea~a real que motiva a jomada. o.s Nomades, no mi'-
Quando as pessoas crescem num ambiente que glorifica 0 mart(-
~~IDO, identifi~am uma pessoa •. tl1!>,m~!.~!~LQ!!~if!;~~~~~E~?9.~cOJl:l~
rio, a excelencia de ser bom e fazer os outros felizes, 0 desejo de au- o causador do seu infortunio e com-isso,po.de.m evitar a causa ou
tonomia e independencia sern interpretado, inclusive por elas mes- ~bandon4-ia. .' ......_... --..... .........-.......... ,.. , ,. '" ..... ....... ....... ,..-_... ......._,
~as, como um en-o. As primeiras incUISc5es no nomadismo, como se-
:J:!S~~§.(? ~_~~,g..iQ. cl8, s(fp.a,r~.9.ig:. As feministas que identificam as
na de esperar, consistirao em 890es aparentemente incontrol4veis homens como opressores, as pessoas de cor que consideram os bran-
visivelmente infelizes! fJ'alvez se tomem freqiientadoras de bares' cos como inimigos, a classe trabalhadora e os pobres que nunc a
passem a ingerir drogas, tomem-se prom(scuas ou cheguem meSmo ~
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confiam nos capitalistas lutam para viver 0 mais separadamente Q ~9 qu~r ser cu~dada,.o-,MmtirJidar~_<;Qm_JL~!t.~,~'i~<?~!ll­
poss{vel dos grupos opressores. Na medida em que as identidades do cada vez mais de si a rIm de s\lstentar 0 rei e/ou~jJJQara, me-
dos gruposoprimidos sao, ou parecem ser, dermidas por valores in- Thorar __
0 reino. Mais ~,4g'~~~ ma,is' ~d~,colltuci~::'Q9~~o)acl<;>,.,N°­
teriorizados dos grupos opressores, ~so~!!!DentQ_~l1.to-imposto 'made passara a cOllsiderar"nassos "reis" e «rainhas" - pessoas
oferece tempo e eSI>a~o para, a defini~ao da identidade do grupo. As a quemJ'servimos ou que acreditamos poder salvar-nos - CQma..yil~s
~lheres, por-e~empio,' fazem---a'sI mesmas a' segumte' pergunta: e tiranos. Assim, nossa tarefa consisteem, abanq(}I.!~:::-!9~., _~!1.!lplC?\s­
"Qual 0 significado de ser mulher fora da defini~ao de feminilidade mente'~dist8nciando-nos deles 0 sl1.-ri~i~nte'paia~nos_af~~ E
imposta pela cultura patriarca!?" , '(ul:u::lan1ental, em ambos os casos, deixar de adiar a nossa jomada por
No estagio do Nomade~ homens ou mulheres que se sentem apri- causa deles.
sionados em seus casamentos a princfpio s6 conseguem justificar Vma amiga minha queixava-se recentemente de uma mulher que
o div6rcio se ficar estabelecido. que 0 conjuge e um viUio. Natural- a procurou para aconselhamento matrimonial. Apesar de 0 marido
mente, esta foi a base de todas as leis de div6rcioate ser introduzido 0 ser urn companheiro bondoso, disposto a fazer tudo para mante-la e
div6rcio modemo sem culpas. A altemativa para 0 div6rcio, como ve- toma-la feliz, essa mulher insistia em ve-lo como urn viUio. A con-
remos no pr6ximo cap{tulo, consistiu em prender oconjuge, toman- sultora pcou muito irritada com a mulher, porque esta tivera a opor-
do-o melhor peia conversao religiosa, instilando nele um complexo de tunidade perfeita para desfrutar de um casamento extremamente fe-
culpa ou talvez fazendo uso de terapia ou de aconselhamento. liz. 0 que minha amiga nao percebeu foi que a sua cliente nao pode-
Nos antigos mitos her6icos, 0 jovem her6i e motivado a prosse- ria ter um casamento feliz porque seria incap,z de empreender sua
guir em sua jOn;tada solitaria porque 0 reirio se tomou uma terra in- pr6pria jornada enquanto permanecesse com olmarido. Enquanto es-
culta. Nessas hist6rias, 0 velho rei e visto como a causa desse de so- tive~se casada com ele, estaria comprometida, tentaria agracta-Io e
lamento e aliena<;ao; talvez ele fosse impotente ?u houvesse cometi- fazer tudo para frustrar sua pr6pria busca. Por mais maravilhoso que
do um crime. Em hist6rias mais realistas, ele se toma um tirano. 0 seu marido pudesse ser" ele era um captor para essa mulher e ela
her6i aspirante parte rump ao desconhecido, enfrenta ,0 dragao, en- I precisava deixa-lo - pelo menos, ate desenvolver limites suficientes

contra um tesouro (0 Graal, um peixe sagrado)e retorna trazendo para estar ao mesmo tempo com ele e consigo mesma.
consigo 0 necessario para proporcionar vida nova ao reino. E entao Naturalmente, e por esse mesmo motivo que os adolescentes se
ele e feito rei. 4 persuadem de que seus pais sao muito convencionais ou opressores,
Ora, 0 interessante nessas hist6rias e a sua natureza dclica im- ou de que simplesmente nao os entendem. ~~t.(}p<?~cas~,~~,Q.ll.s_. se
plfcita; nem todos partem numa busca. Quando alguem 0 faz e ad- sen~m justificadas p~~" al?!Uld()J:lat.: ~lg]lem - um genitor, um filho,
quire alguma sabedoria e 'poder, 0 her6i e feito rei e todos fazem 0 "'urn amante:'um"'r.nen1:or: um trabalho, urn modo de vida -:. seQL~!!.~g~
que ele diz. Naturalmente, alga acaba saindo errado tambem com 0 a conclusao de que aquilo que estiio deixando e mau. E inconceb{-
novo reh 0 mundo continua mudando, e elenao e incentivado a ~verquererrr'efubora' SQ~P-Q~gP.~_~__E~£!~_£!~~~!~,A consciencia de
continuar sua jomada, mas a abandona-la para que possa govemar 0 que 0 pr6prfosalvador sempre se toma urn opressor se nao for aban-
reino. Assim, e como se ele morresse um pouco. Todas as outras donado na hora certa aflora mais tarde, quando afloFa.
pessoas 0 seguem, em vez de buscarem sua pr6pria sabedoria e po- Como metoda emp!rico, se outra pessoa de subito se toma hostil
der. Entao, todos estao em cativeiro. Quando 0 jovem desafiador e a voce ou se formas de comportamento que costumavam agrad~-la
bem-sucedido, ele se ve face a face com a morte, mas, em vez de in- nao funcionam mais, vale a' pena reconhecer que, se voce nao mu-
terpretar 0 problema como algo inerente aD sistema, ele decl¥a que dou radicalmente, enta~, provaveimente 0 outro esut mudando, e 0
o velho rei e 0 vilao. relacionamento de voces j~ nao se justifica. Seu velho amigo ou

100 101
,
amante precisarn certamente de alguma distfulcia de voce. Se voce
nao pennite esse distanciamento, a outra pessoa come~ara a brigar e
,
o Caminho das Prova~Oes
fara de voce 0 viliio a fim de consumar a separa~iio. o romance best-seller de Jean Auel, Clan ojt~ Cave Bear,S re-
No entanto, se voce pennitir a separa~ao e decidir libertat com- trata 0 dilema do Nomade. Ay]a, uma das primeiras homo sapiens,
pletamente a outra pessoa, e bem provavel que ao f'mal voce seja re- esta nadando um dia quando um terremoto extermina toda a sua tri-
compensado com um relacionamento novo, mais profundo e honesto boo Ela tem apenas cinco anos. Perambula sozinha durante vanos
com ela ou, na pior das hip6teses, com a consciencia de que, dei- dias, ate que final mente e recolhida por Iza, a Feiticreira do CIa. So-.
xando que 0 afastamento acontecesse, voce agiu com acerto - para mos infonnados de que 0 CIa se comp6e de seres humanos, pOl-em
ambas as partes. Se voce tem pavor de ser abandonado e quer con- de diferentes esp6cies. Eles possuem mem6rias fenomenais, mas nao
trolar aqueles a quemama, tentando assim frustrar suas jornadas, sao muito bons ~o pensamento abstrato nem na solu~ao de p~oble­
voce e um verdadeiro dragiio, com sua disposi~iio para devora-las e mas. Tambem obedecem a modelos sexuais absolutamente ngldos e
assim alimentar seus pr6prios medos e inseguran~as. Nesse caso, patriarcais. 0 desvio em pontos cruciais e puni~o com a mo~e, mas
esta na hora de fazer urna pausa, retroceder, enfrentar seus medos e naquela altura os modelos ja se acham tao genetlcamente codificados
sua solidao, trabalha-los e libera-los. que ninguem do CIa pensa em desobediencia. .
Para a maioria de n6s, a oposi~iio e fundamental na fonna~iio da A tensao entre 0 desejo de cresci mento, de conhecImento pro-
identidade. E a pressiio da cultura como urn todo e de nossas fam{- fundo, de amplia~ao dos limites da capacidade de n:aliza~ao ~ndivi­
lias, escolas, etc., no sentido de nos ajustar a detenninado compor- dual versus 0 desejo de agradar e ajustar-se e 0 dtlema baslco do
tamento, que nos for~a a enfrentar nossas diferen~as e a agu~ar nos- Nomade. A hist6ria de Ayla ilustra esse dilema. Ela e completamen-
sa consciencia de identidade. Quando niio mais conseguimos adap- te diferente das pessoas que a cercam, e estas temem a difere~~a. ~a
tar-nos - e cedo ou tarde nos encontraremos num ponto onde niio tambem a teme, porquanto a diferen~a amea~a sua ~obrevlvencla,
conseguiremos adaptar-nos -, estamos na crise da escolha, seja para que depende - durante a infancia - de satisf~er 0 CIa. Para e~con­
nos tornarmos camaleOes ou assumirmos o· risco de nos afastarmos trar-se, ela tera de deixar as pessoas que mms ama a f'lID de nao se
das outras pessoas. comprometer a satisfaze-los. . .
Se optamos pelo ultimo caminho, ele nos for~a a entrar ein nossa A diferen~a :mais importante sentida por Ayla e a sua capac~-
"estrada das prova~Oes", que e a inicia~ao no hero{smo, a qual e dade de andtoginia. Ela con segue realizar tanto as tarefas mascuh-
sempre solitaria. Quase todos n6s paSs-amos por essa iriicia~ao vanas nas quanto as femininas, e e curiosa 0 bastante !,ara qu~rer apren-
vezes ao longo de nossas vidas - todas a~ vezes que ficamos dividi- der tudo .quanto puder. Ela soluciona 0 seu dllema aJustando-se
dos entre 0 desejo de pennanecer com 0 mundo conhecido, seguro, e quando esta com 0 CIa, mas, quando esta sozinha, ela aprende secre-
nossa necessidade, aparentemente conflitante, de crescer e correr tamente a ca~ar. ..
riscos, enfrentando 0 desconhecido. Essa tensiio e respbnsavel pela Quando, como era inevitaveI, a habiIidade de Ayla na ca~a vem
dor inerente ao crescimento e pela salda de casa vivida pelos adoles- a ser descoberta, sua puni~ao consiste em ser declarada morta. Em
centes ou jovens adultos; pela dificuldade da crise de meia-idade, geral, os membros do CIa considerados mortos. realmente .~orre~,
que nos desafia a deixar para tras 0 senso de identidade baseado tao forte e sua cren~a em tal declara~iio. Mas eXlste uma estlpula~ao
num papel, nas realiza~Oes ou nos relacionamentos com outras pes- na mitologia do CUi segundo a qual, se a pessoa voltar da morte
soas para enfrentar profundas questOes psicol6gicas e espirituais ap6s um certo nume!O de "Iuas", ele (ela).podent.ser aceito(a) na
acerca de qUem somos; e ate mesmo, para os mais espirituais e con- tribo. Isto significa que Ayla tern de sobrevlver sozinha por urn ,Ion-
fiantes, pela luta psicol6gica em tomo da morte. go tempo - e no inverno. Sozinha significa nao apenas a sobre-

102 103
viv~ncia f{sica mas tamMm lidar com a crise emocional, decorrente as mulheres que ca~am bern -, ela nao consegue acreditar nele e
do aprendizado, de confiar em sua pr6pria consci~ncia da realidade continua agindo como se ele fosse urn macho sexista do CIa.
do CUi.: eles aflrmam que ela estaria morta; ela acha (mas nao tern o importante aqui tS que originalmente a amea~a era real. Ela
certeza) que esta viva. dependia inteiramente do CIa para sua sobreviv~ncia [{sica e emo-
Quando regressa, ela e aceita. Ela deseja arclentemente voltar a cional. Precisava ajustar-se a fim de agrad~-los. Ela aprendeu gran-
fazer parte do CIa, pois sentiu-se terrivelmente solitaria; no entanto, des li~6es disciplinando-se para agrad~-los - sobretudo ao faz~-lo
a experi~ncia de arrumar-se sozinha tornou-a ainda mais autocon- por amor aos seus genitores, Creb e Iza - e tambtSm optando por si
fiante e, por conseguinte, menos male~vel e mais independente dos mesma ns medida do possfvel e desafiando os costumes. Aqui, po-
costumes do CIa. Ayla tern urn filho e foge para que ele nao seja demos ver a passagem da infancia para a adolesc~ncia - as li~Oes
condenado a morte como mutante. Ayia acha que a crian~a nao tS de- dualistas da obedi~ncia e da rebeliao. AyIa, portSm, assim como qua-
formada. E apenas metade CIa, metade Outro (0 termo usado por se todos n6s, transfere essas li~Oes para situa~Oes nas quais elas dei-
eles para designar 0 homo sapiens) e por isso tern a aparencia com- xam de ser relevantes.
pletamente distinta da dos outros beb~s do CIa. Embora esta situa~ao A convic~ao de que temos de comprometer partes cruciais de
seja resolvida atravtSs da combina~ao da esperteza de Ayla e da nosso ser a fim de ajustar-nos pOe de manifesto tanto a nossa ne-
compaixao do lfder, 0 choque entre Ayla, cada vez mais indepen- cessidade de artior quanto a nos sa necessidade, igualmente forte,
dente eaventureira, e 0 CIa, cada vez mais desorientado, tS crescen- ""de explorar quem somos. A tensao entre esses impulsos inacredita-
teo Contudo, nao parece existir uma soIu~ao poss{veI, porquanto ela vehnente fortes e aparentemente conflitantes no~ leva em ~~c?u:o
os amamuito, assim como eles a amam. Praticamerite, ningutSm quer I"ug~_._~._ ~Ql:Il)clo.nar partes importantes de nossa personalidade a fim
por termo a esse relacionamento - exceto uma pessba. de nos ajustarmos e, dessa forma, aprendermos 0 quanto 0 arnor e 0
Entra 0 vilao: Broud, dnico membro do CIa que realmente odia- -sentir-se ajustado significam para n6s e, por firh, dptarmos radical-
va Ayla (porque invejava a aten~ao que esta recebia), torna'::'se en- mente por n6s mesmos e nossas jornadas como coisas ainda mais
carregado do caso. Seu primeiro ate consiste em declarar Aylano- importantes do que os cuidados com outrem ou attS mesmo nossa
. vamente morta. Ela parte ao encontro dos Outros, pessoas como ela, pr6pria sobreviv~ncia.
rem saber se os encontrar~. Na seqii~ncia de AueI, The Valley o/the Como a cultw-a glorifica excessivamente a jornada solitma e
Horses6, sabemos que Ayla acaba passando ~s anos - incluindo Mdua do her6i cl~ssico, e como a cultura precisa muito de pessoas
tr~s duros invernos - distante da sociedade humana, acompanhada capazes de colaborar, houve muito desencanto com 0 ideal her6ico
apenas de urn Ieao soli~rioe de urn cavalo. tradicional do Nomade. 0 problema do Nomade, assim, como 0 90
Ela deixa 0 CIa, mas leva consigo a cren~a de que 0 pre~o da martfrio, nao tS 0 arqutStipo em 81, mas sim a confusao acerca do
.solidao tS abandonar partes fundamentais de seu verdadeiro ser. Eia significado do arqutStipo para cada pessoa. Assim como 0 mart{-
pode teramor ao pre~o do confonnismo ou ficar sozinha pelo resto no tS°··desiriiiIvo"quando 0 sOfnmento se justifica por si mesmo, a
da vida. 0 Cla~ por exelDpIo, nao chora nem rio Sozinha no vale, ela §.olidao p~<i~~~r "~!!'.!l_"fu._g;;ta comunidade - portanto destrutiva -
analisa 0 que esta disposta a ceder de si mesma a Inn de sentir-se se ela tambtSm se afigura como urn valor em si mesma. Por exem-
menos solitaria.· Eia se dispOe a deixar de ca~ar, mas nao de rir. Nao plo~·s~··a-maturiaaae ·6equiparada a independ~ncia ...:.. definida co-
Ihe ocorre· a possibilidade de encontrar uma com~nidade na qual pu- mo a nao-necessidade de outrem -, ela pode interromper 0 cresci-
desse ser inteiramente eia mesma. Mesmo quando urn homem de sua mento de urn indivfduo.
pr6pria es¢cie a, encontra e apaixona-se por eia - urn homem que Contudo, optar absolutamente por n6s mesmos e por nos sa inte-
simplesmente sup6e que todos riem e choram e que prefere e admira gridade, mesmo se isto significar solidao e aus~ncia de amor, cons-

104 105
titui urn pr~-requisito do hero{smo e, em ultima analise, da capacida- meia-idade que deixou urn emprego seguro para iniciar seu pr6prio
de de amar outras pessoas e ao mesmo tempo permanecer autonomo. neg6cio, desenvolvendo urn produto por ele inventado; e varios h<:
1880 e fundamental para a criac;ao de limites adequados, para que mens e mulheres que se arriscaram a perder seus empregos e a carr
possarnos perceber a diferenc;a que existe entre n6s e 0 outro - dessa no ostracismo social tomando publico 0 ainor por alguem do mesmo
forma, nao teremos de objetirar as outras pessoas a fim de nos co- sexo. Eu tarnbem incluiria uma mulher que abandonou um emprego
nhecermos e sabermos 0 que queremos. S6 en tao e poss{vel ao mes- de status elevado, como cientista, para abra<;ar 0 sacerd6cio, sem ao
mo tempo ter empatia para com 0 outro e respeitli-Io e ainda assim menos saber se alguma igreja de sua seita iria aceitar uma mulher
fazer por n6s 0 que precisamos. , como ministro.
Os limites' sao igualmente fundamentais para a descoberta de Nem todo Nomade toma decis6es tao drasticas; mas todos n6s -
nossas vocac;6es. Parte do ser humane deve ser 0 criador, que pro- se queremos c.rescer alem de certo ponto - preci~_os ..E~~..P!~~~­
duz coisas anteriormente inexistentes. Tal e 0 significado da afir- ter-nos total mente com n6s mesmos. Assim como no caso do Martir,
ma<;ao de que fomos criados a imagem de Deus. Ayla, em seu v~­ 1880 6 feiio"pore~p;s~-No--come~o ficamos furi~~~~J~?-~__!~~. <le..,!~r
Ie solitario, produziu e inventou utensflios; domou urn cavalo e esCoIhas-tAo dii{c~is. Agimos"iriiCial"meniecomo os Orfiios, choran-
urn leao de cavema; experimentou novas receitas medicinais, no- ,do 'e-esperneanao'porque alguem deveria estar cuidando de n6s! Ou
vas formas de trajar e de pentear os cabelos. A simples des~ober­ podemos queixar-nos de que ninguem nos ama pelo que somos, de
ta de que podia sobreviver sozinha liberou-a para ser tao criativa que gostar{amos de fazer isso e aquilo, mas nao existem empregos
e competente quan~o ela era capaz. Explorando 0 seu potencial nesse campo. Em suma, reclamamos que a vida e dura e aceitamos
dessa forma, ela nao apenas criou coisas e experiencias fora de um emprego segura que nao eo que queremos fazer, QU perm~ece­
si mesma como tambem se descyobriu como alguem digno de orgu- mos em relacionamentos que parecem seguros, mesmo que nao se-
lhar-se de si mesmo. jam muito satisfat6rios para n6s.
o trabalho ajuda-nos a encontrar nossa identidade, primeiro ..
A{, urn dia a solidao e a sensa<;iio de um vazio existencial, senti-
porque e a forma das pessoas .sobreviverem - na labuta. Quando
~
do as vezes no plexo solar, sao aceitos simplesmente como 0 Jelto
aprendemos que podemos sustentar-nos, ja nao precisamos depender que as coisas sao: "Todos n6s caminhamos sozinhos." Aceitar e
dos outros. Alem disso, quando encontramos urn tral;>~lho - pago ou sentir totalmente alguma coisa sempre nos impele para outro lugar.
como urn p;ss~te;npo'-"qtie e~pr.esSa:,nossaS::a1mas, n6s nos e~con­ S6 a luta contra 0 nosso cr~sc:im~!l:!9 n()~ aprisiona. Nesse caso,
tramos .atraves daquilo que cr~c~Q,s.,.... Assim, a busca do Nomade e ~-a-soiidiC; .leva .a rebeliao: aquelas experi~ncias secretas ou
-'tamb~~ esfor~o, prodt.lti~idad~, criatividade. publicas de agir segundo aquilo. que voce realmente quer, amar a
Por mais que as pessoas queirarn ser amadas, apreciadas e parti- quem voce realmente ama, realizar 0 trabalho de que gosta, desco-
cipantes, sempre persistira uma solidao no fundo de suas almas , . ate brir quem voce e. Entao, a sensa<;ao de contentamento descoberta
que elas se comprometam consigo mesmas, compromisso este tao to- por Ayla em sua pr6pria companhia, onde estar sozinha se transfor-
tal que elas desistirao da comunidade e do arnor, se necessano, para ma em algo bem diferente da solidao, come<;a a aflorar. Quanto m~
que possarn ser total mente elas mesmas. Talvez por isso, algumas (SOmos n6s mesmos, m~nos sozinhos nos sentimos. Porquanto, nun,
das pessoas mais seguras que conhec;o - e as pessoas conscientes de ~os realmente sozmhos quando temos a n6s mesmos. -
seu verdadeiro ser - correrarn gran des riscos. Nessa lista eu coloca-
ria vanos amigos: uma mulher que sabia no fundo de sua alma que
tinha de ser artista e abandonou urn casamento com urn homem rico Comunidade
para trabalhar num bar e ir ao encontro de sua arte; urn homem de Paradoxalmente, 0 mgyj...me11~9_para 0 isolamento e a solidao
...... '.'~~ - '..,,,",,- ._ ....-.. "."". . .

106 107
acaba por levar-119.$... de ,volta, ~ 'co..rnun!d.@c::t~:, Ayla finalmente pode
Seramada e ser quem ela 6, e viver com :pessoas como ela - sua ver-
dadeira famfiia. Assim, 0 N6made arquet{pico sai da dependencia
para a independencia, para uma ,autonomia definida segundo o con-
texto da interdependencia. Muitos daqueles que aprenderam a aco-
lhee a independencia e a~ mesmo a solidao descobrem mais tarde
que sentem falta das rela~Oes humanas. Tornaram-se capazes de ex- Capitulo 4
perimentar a intimidade num novo n{vel, porque desenvolverarn uma
consciencia suficientemente forte' de seu pr6prio sec e nao temem ser 1
o GUERREIRO
engolidos pelo outro. Para sua surpresa, eles costumani desc~brir, ,,
Lives of great men all remind us
quando esmo prontos, que existem pessoas e comunidades que irao We can make our lives sublime,
arm1-los exatarnentepelo que eles sao. And, departing, leave behind us
I;:'" Quando solucionarn 0 conflito entre arnor eautonomia, optando Footprints on the sands of time: ..
por ~i mesmos sem negar 0 desejo de relacionamento, 0 conflito,

~
Let us, then, be up and doing,
: aparentemente, insoldvel, se resqlve. Nessa nova maneira de ver 0 With a heart for any fate;
i mundo, a recompensa por sermos inteiros e tota]mente n6s mesmos e Still achieving, still pursuing,
Learn to labour and to wait
10 arnor, 0 respeito e acomunhao. Mas, para a maioria, 0 gozo inte-
fi gral dessa recompensa s6 acontece quando adquirimos a hS,bil.1.. dade As vidas dos grandes homens nos fazem lembrar
do Guerreiro, de declarar nossos pr6prios desejos no relacionarnen- que podemos tomar nossas vidas ~ublimes,
E, partindo, .deixar atnis de n6s
] to, a capacidade do Mmtir de dar e comprometer-se com os outros e
; Pe'gadas nas areias do tempo ...
1.:
! 0 conhecimento do Mago , . '
de que nao existe escassez, de que .
pode- I Ajamos, pois,
~l mos ter tOOo 0 arnor que precisarnos como nosso direito inato. Nao De cora~ao, nao importa 0 destino;
I
!

\ temos de pagar por isso privando-nos de nossas vidas. A van~ando sempre, realizando sempre,
Aprendendo a labutar e a esperar;
I Henry Wadsworth Longfellow
"A Psalm of Life"
I ,
o N6made identifica 0 dragao e foge; 0 Guerreiro pefIl:ll:lIlece e
II luta'-'O~.aiqu~i1po-do' Glierretroe' a'defmi~ao' de hero{smo 'Cia' nossa
cultuii. Pedi a mUltas tuimas~-'e-pfaf61aSque -iiie--dlssessem-qu8is os
) pefsonitgens centrais da hist6ria do, her6i. A resposta 6 sempre a
mesma: 0 her6i, 0 viUio (ou Odragao que deve ser morto) e a vltima
)
(ou donzela-em-perigo que deve ser ,salva). Todos conhecemos essa
trama e esses personagens. A moral subjacente dessa hist6ria 6 que 0
I bern pode e vai triunfar sobre 0 rna], porem, ainda mais fundamental
6 0 fato de a hist6ria nos mostrar que, .,g~@c::tQ,..,M~pessoas tern a co-
I rage.1J:!,c::te.h,ltar_PQL~t~~n:lf,ls, elas podem mudar ~u$mun.~~s.,
"", Qualquer rmal onde 0 bem nao triunfa, portanto, parece funda-

108 109
assimHac;ao de id6ias que os insultem. Se nao se .valorizrun 0 sufi~
men~mente desabonador, porque isso nos parece significar qU~ so- j
j
ciente para dizer nao aquilo que lhes 6 prejudicial ou danoso, suas
mos lDlpotentes e po~que reforc;a 0 cinismo. a alienac;ao e 0 desespe- oPC;6es pelo sacrif(cio e doac;ao em nome do arnor de outrem po-
t
ro, abalando 0 principal' sistema de crenc;as da cultura. Quando 0
her6i triunfa sobre 0 vilao, contudo, nossa f6 na possibilidade nao
apenas de iden~ficar 0 dragao mas tamb6m de mani-Io 6 reforc;ada:
podemos as~umrr 0 controle de nossas vidas, eliminar nossos pro-
,1
derao ser antes covardia do que transformac;ao.
As mulheres, os homens das minorias e a classe .tfabalhadora sao
culturalmente definidos como inferiores e, como tais, seu papel 6
b~emas e cnar um mundo melb~r. E assim salvamos a donzela apri-
servir. Na medida em que esses gropos interiorizaram tais id6ias,
slonada, que 6 0 6rtao em todos n6s. 0 Guerreiro diz ao Ortao inte- grande parte de sua doac;ao e de seu servic;o est6 ligada inconscien-
rior: "Voce naa precisa procurar sempre algu6m fora de si mesmo temente a crenc;a de que eles nao tern 0 direito de estar aqui a nao
para salv6-10; posso cuidar de voce." , ser servindo - que eles nao tern 0 direito de existir para seu pr6prio
,I
.§§~ arqu6tipo ajuda-nos,J~,declarar.().n()sso poder e a afInnar a bern. Muitas mulheres, por exemplo, 56 admitem realizaras suas as-
.Ilossa identidade nOlDundo~ Esse poder pode,$er fisico, pSicol6gico, pirac;6es depois de atenderem as necessidades e desejos dos filhos,
intelectual e espiritual. No nivel 'I!sico, 0 arqu6tipo do Guerreiro maridos, patr6es, amigos e assim, por diante.' Como essas exigencias
preside a atirmac;ao de que temos o"drreito de estar vivos. A cons- nunca sao inteiramente satisfeitas, qualquer coisa que fac;am para si
ciencia do Guerreiro inclui a autodefesa, a disposic;ao e a capacidade mesmas 6 acompanhada de urn sentimento de culpa - mesmo que a
de lutar I?a~ defen~e~-~. No n{v~l ,P~!~W2~~~9 ele esni relaeionado atitude consista em satisfazer a necessidades de saude b6sicas, co-
com a cnac;ao de hmltes saud6vels, para que saibamos onde termi-
mo, por exemplo, correr. Vma grande amiga minha contou-me como
namos e onde comec;am as outras pessoas, al6m da capacidade de fa-
zer valer nossos direitos. o seu novo limite consistia simplesmente em dar uma caminhada en-
~!!!.el~tualmen~, 0 Guerreiro nos ajuda a aprender a discemir, a
quanto 0 marido e os enteado,s ficavam esperando por ela, se nao pa-
ver qual caminho, quais id6ias, quais valores sao mais uteis e fa- ra fazer 0 jantar, ao menos para supervisionar 0 trabalho e manter 0
vor6veis a vida, em detrimento de outros. No myel ~tllal, ele animo de todos elevado. Embora ela ainda nao pudesse usufruir de
significa aprender a diferenciar energias e teologias espirliUaIs:a sa- seu passeio - sentia-se culpada demais -, pelo menos j6 conseguia
ber, as que trazem mais vida e as que matam ou mutilam a forc;a vital faze-lo. Naturalmente, este 6 urn passo al6m da tentativa, ainda mais
den!I'0 de n6~. 0 Guerreiro tamb6m nos ajuda a falar alto, a lutar por rudimentar. de muitas mulheres que se queixarn ou resmungarn por-
aquIlo que ahmenta nossas mentes, nossos corac;6es e nossas almas e que nao tern confianc;a suficiente para atirmar sua pr6pria visao do
a veneer os fatores que eofraquecem e esgotam 0 espfrito humano, mundo e reivindicar uma verdadeira mudanc;a.
reconheeendo a verdade a seu respeito e recusando-nos a apoi6-10s Os homens que nao trataram suas questOes de identidade mais
ou a permitir que entrem em nossas vidas. profundamente encontram seu sentimento de autoya!()rt~~~~o. b,~~i­
o desenvolvimento das capacidades do Guerreiro 6 fundamental camente ~~r~xe~ . 9.i! d~clara9ao,~!l..~.syp~noridade. Por conseguin-
para uma vida plena, complemento necess6rio as virtudes associadas
te, s~~s atividades de guerreiros caracterizam-se' sobretudo pela luta
ao ~6rtir. Inicialmente, os M6rtires veem a si mesmos como pessQas
que se sacrificam pelos outros, ao passo que os Guerreiros num ni- para vencer - no trabalho, no lazer e a16 mesmo com os amigos e pa-
vel r~lativamente primitivo, assumem a necessidade de ma~ os oii- rentes mais chegados. Urn homem reconheceu os problemas nessa
,!fos a IlDl de se protegerem. E a disposic;ao de faz8-1oconstltuCim- Mea quando descobriu que nao podia deixar a filha derrot6-lo nem
portante 'declarac;ao de compromisso consigo pr6prios e com seu mesmo no jogo de damas!
pr6prio valor; 6 a declarac;ao fundamental de que eles tern 0 direito Sob tensao, at6 mesmo mulheres e homens que tern uma visao
de estar aqui, de serem tratados com respeito e dignidade. Isto signi- adequada de si mesmos retomam, respectivamente, aos desvelos e
fica que eles tern 0 direito de ser respeitados pelos entes queridos, apaziguamentos em relac;ao aos homens e as atitudes competitivas,
pelos professores e patrOes, e de recusar urn trabalho aviltante ou a
111
110
her6i/vilao/vltima orienta 0 sistema de crenc;as secular e fundamen-
dotninador~s e dOgm~t~~,,~;~',i?~~¢~··".homem ou mUlhe:~ __~9, uele, qU,eem-
preende a omada 'senr~fel;4i " '. 0';< uQ!~~,~l:>_~tutela do a~- tal de nossa cultura. Evidentemente, 0 ritual subjacente ao mito do
f Guerreiro 6 encontrado na guerra, mas tamb6m les~ representado
I 2~tipo ~ Nomadeso p2d~r,:iurri E~~d2::-g~C?g~Jro. Como j~ fi-
cou dito, 0 Guerreiro gue'·l:i.it'i'aa~;nab se submeteu aos ensinamentos culturalmente em nossos esportes, neg6cios, religi6es e at6 mesmo
do.---.M~ir
-
_..
est;;ionar~
_. . .
num!nlvel':bastant~'~di~~~t;.' '. .. em nossas teorias econotnicas e educacionais. Na esfera dos espor-
tes, assistimos ao longo dos s6culos a uma progressao que vai das
"';~

disputas gladiat6rias, nas quais 0 perdedor 6 morto, ao futebol ame-


Vma Cultura Guerreira ricano, ao beisebol ou ao futebol, nos quais 0 advers8rio simples-
Os Guerreiros mudam seus mundos pela afirmac;ao de sua von- mente perde.
tade e por sua imagem de urn mundo melhor. Seja nas famfiias, nas o tipo de religiao que es~ nas manchetes resulta do m6todo de
escolas, nos ambientes de trabalho, nas amizades, nas comunidades soluc;ao dos problemas do Guerreiro, das Cruzadas as guerras trava-
ou na cultura como urn todo, esse arqu~tipo orienta as exigencias das pelos fundamentalistas modemos contra 0 pecado, 0 mal e 0
dos Guerreiros no senti do de mudar 0 seu ambiente a fim de satisfa- demonio. A abordagem da espiritualidade pelo Guerreiro consiste
,_?~~r. as s~as necessidade's-e harmoJiiz~::iocom -~~;~l?r6prio~' ~aior~s~ _~~_~~!l!ill£ar_(),~~_~~!i~~:!()()u tom~-lo ilegal. Tal 6 ~ incentivo
No entanto, agueleg -que 'chegam a fase do Guerreirosem antes subjacente a campanha destinada a trazer a orac;~o de volta as esco-
lidar com suas identidades nao podem ser verdadeiros Guerreiros las, eliminar a pomografia, a educac;ao sexual e negar empregos aos
-- ..~.----~ .. ---.-
porquanto ainda nao sabem por que estao lutando ou entao lutam
' homossexuais. 0 passo seguinte consistirn em converter os pecado-
,sohretUcio paraprovar sua supenondade - mecanismo para 0 desen- res. Eles nao precisarao ser destruldos se puderem ser transformados
volviirtento cIa auiocorifian~aque' Ja~ais substitui realmente 0 co- de modo a deixarem de ser vil6es: poderao ser salvos mediante a
nhecimento de quem somos. adoc;ao do mesmo sistema de crenc;as do her6i.
( g_~_ indiv{d!!<!.~_".c~~S.,,_~l!J!~!"as) precisam defrontar-se com as Na .pol!~!l' igualmente, temos uma interessante progressao. No
'.
''J.
i
\ I ~q~_~st6es ~o!'!?,rn.a~~_s~IllP!:e q':l~ passam por grandes transic;o.'?s . ,a modelo mais primitivo, 0 her6i elimina 0 velho rei (0 tirano) e, ao
{' menos teoricamente, salva 0 povo. Assim acontece a mudanc;a. Tais
L~~fi:1_~~,Ee..sl'~~~.er ,~peE!?untt:l_::_'Quem sou eu neste momento?" Nao
: tendo solucionado tal questao, eles mantem a enfase na trama~­ pr~ticas prosseguem na era modema, em diversas partes do mundo,

"t8r=6-:-(fraga6~ mas a forma 'estli presente sem 0 significado. Desta onde a mudanc;a ainda 6 realizada por meio de golpes sangrentos ou
\"manelia~muitas pessoas"engajiiiii:::seem pseudoiuta~ ~~~quais 0 mito de revoluc;6es. Nos Estados Unidos, descobrimos uma forma de evi-
;ivalonzao6 por snnesmo71ffiiS"eles· de'sc6brem que 0 ritual em si tar tais camificinas. 0 velho rei nao 6 ritual mente eliminado, como
. naopooe tiiUislonnar'nem' oher6i nem 0 rein.o. Ironicamente, aque- em algumas culturas primitivas, nem morto durante 0 sono, nem
lesque--fepresentaii1'os"velhos"valores culturais'1em menos conflitos tampouco julgado e executado por seus crimes. Mas, como somos
?o-que,as'~ssoas -engajadas-profundamente na luta com' questOes de lembrados a cada ano de eleic;ao, permanece a ret6rica que serve de
!g~!1tic!~_cl.~__~~~~~tad_~s~_~!~~,_~ildan~a dos' tempOs.. Os conservadores, fundamento para essas velhas pr~ticas.
por exemplo, sentem-se mais a' vontad'e iiiataiioodrag6es do que os o desafiador - seja na pol!tica eleitoral, seja t;ta pol!tica intra-
progressistas, para quem a batalha 6 complicada tanto por quest6es organizacional - explica como ir~ salvar 0 pars ou a organizac;ao, e
de identidade nao-solucionadas quanto pelo desejo de conciliar seus como a situac;ao 6 respons~vel por todos os prejulzos. Naturalmente,
pr6prios valores, com preocupac;ao pelas necessidades alheias. a situac;ao revida, mostrando as grandes melhorias que fez no
Quer se trate de urn ritual v~io, profundamente satisfat6rio ou pals/Estado/organizac;ao e como a oposic;ao arruinaria tudo, caso es-
vistocomo a redefinic;ao necessma a mudanc;a dos tempos, 0 mito tivesse no poder. E a linguagem da guerra: falamos em derrotar a

112 113
oposi~ao nas elei~6es, mas poderfamos dizer: ·'N6s os massacra-
mos!" Evidentemente, essa'linguagem belicosa tambem e fundamen- em determinado cargo - equivale a uma desgra~a. As pessoas nao
tal nos neg6cios, onde 0 objetivo e sair vitorioso na competi~ao. A querem nem falar nisso. Ou, se falam, das duas formas uma: ou a
cren~a central do capitalismo baseia-se no conhecimento dessa mo- culpa e sua (isto e, voce e 0 vilao), ou voce foi injusti~ado (voce e a
dalidade: a competi~ao, uma versao da luta, trani uma boa vida para v{tima). Mas claro esta que voce nao e 0 her6i, a nao ser que trave
todos - produtos melhores, pre~os mais baixos. A metMora dos es- uma batalha para ser reintegrado.
portes, nesse caso, e a corrida. A vitalidade dos Estados Unidos de- Nossa cultura refor~a de tal maneira esse arquetipo basico, ao
pende dessa corrida, da competi~ao. Ate mesmo 0 sistema jurf<ilico menos para aqueles que detem 0 poder, que 0 modelo matar-o-
baseia-se no modelo da luta. dragao lhes parece ser a unica realidade - assim como 0 6rrao con-
Embora 0 derrotado nos esportes, na polftica ou nos neg6cios ja sidera 0 sofrimertto sem sentido como inerente a natureza das coisas.
nao seja visto como vilao per se, a persistencia dessa ideia torna-se Os Guerreiros costumam concentrar-se nos "fatos", ml tentativa
evidente pel<;> modo como a derrota traz a vergonha para 0 ~rdedor sle serem mental~ente dur6es: ~m marxista insistin{que"a-re8iid;..d~
- rea~ao mais aptopriada ao reconhecimento de que se e mau, e nao material e a realidade. Qualquer outra considera~io - sobre a reali-
de que simplesmente se perdeu uma competi~ao. Quando Richard dade interior, subjetiva, sobre a espiritualidade, etc. - e falsa. Urn
Nixon ganhou a presidencia, George McGovern foi retratado pela cristiio fundamentalista, segundo 0 mesmo espfrito, insistira em con-
imprensa como arruinado - embora tenha realizado uma campanha siderar a Biblia literalmente como urn projeto de a~ao. Nos esportes,
incrivelmente corajosa, em condi~6es de inferioridade. A sensa~ao fazemos a contagem, marcamos os pontos; nos neg6cios, considera-
de que ele fora humilhado era tao disseminada que anunciar sua mos os lucros; na educa~ao, quantificamos cada vez mais e procu-
candidatura pela segunda vez foi considerado uma tarefa embara~o­ ramos metodologias irrefutaveis; na economia, catalogamos 0 Produ-
sa. Provavelmente, ap6s uma vit6ria tiio esmagadora do adversario, to Nacional Bruto. Em todos os casos, uma aten~ao excessiva ao
ele deveria esconder 0 rosto, nao obstante constitu{sse uma vit6ria impacto causado por esses fatos sobre as pessoas ou os anseios des-
surpreendente, para alguem tiio liberal, 0 fato de ter sido indicado. tas por urn mundo melhor, uma sensibilidade, uma esperan~a igual-
Por conseguinte, quando ele donseguiu recuperar urn pouco do res- mente excessivas sao consideradas inadequadas, ingeiluas e impro-
peito dos outros esperan~osos democratas, a imprensa retratou 0 fato dutivas. Segundo essa visao, 0 pensamento correto e linear, hierar-
como uma grande "vit6ria". quico e dualista.
Causa vergonha ser 0 time ou 0 candidato derrotado, ser pobre Assim, os Guerreiros precisam ser e_-"_duros
~. . ... .e
. ,. __ ..realistas
. .
_'f,.J .......... _~~~' ..•
para.• . ,....
que
.,-""""-,.,..,-~., .".-,~~ ,.,.~.- ~, '~'"

e, por conseguinte, ter perdido a disputa do livre mercado. Tais su- possam mudar 0 munao,exterminando os dr~:-:oevem Ser capa-
posi~6es podem explicar por que parecemos incapazes, enquanto
zes~ae-eiicaiii--os>olhos"do-aavers4rioe~di~r: "Voce e urn dragao e
cultura, de elaborar um sistema de prosperidade que nao humilhe os eu YOU mata-lo." Ou: "Nao me interessa como voce se sente, quero
beneficiarios. Muitos educadores veem 0 processo de" aprendizado vencer, e para is so tenho que derrota-lo." Os Guerreiros tambem
como uma disputa (em geral uma corrida) com alguns alunos rotula- ~Y..~~~~_!!U!!~!l~"P...~_~ill!~_SU~~~~adM.~~f;ll!U?k
dos desde 0 primeiro grau como "vencedores" e outros como "per- !!!Pi'i,g1;!"~_Q1!"""~..P"rtmj,g,@!!.
dedores". Essas expectativas podem converter-se em profecias de No modelo do Guerreiro - por exemplo, para uma feminista -, a
auto-realiza~ao. OJ) "per4edores" interiorizam a consciencia de se- ques."~~".f~~q~J~~""£pm~i§~~~,_~!C?rm!!t.!L.~~I!!~J!..9!!!R!,. do
.r~mjn<:lignos, ~nqUanto os "vencedores" sa~--;;-~t:imulados a esfor~~s ~o. Se sao os homens, entao eles sao 0 inimigo. Se e urn

sempre maiores, temendo igualmente ofracasso. Ser"expulso do sistema patriarcal, entao, este tern de ser derrubado. Ou (no caso de
"co16gio - ou, no caso de professores uriiversi~os, nao ser admitido certas feministas socialistas), se for 0 capitalismo, entiio esse siste-
ma, ou talvez mesmo todos os capitalistas, tern de ser derrotados. Os
114
115
·sentimeIitos mais brandos de uma feminista, como, por exemplo, a Guerreiro costuma ser atribu(do ao homem branco. As mulheres sao
compaixao e 0 zelo, seu desejo de amar um homem ou usar roupas relegadasa condi<;aoaeaonzelas'=-eiii=pefigc)qUe--servent-comore-
bonims, sao considerados opressao interiorizada que urge superar. _-~2~i1_~~J~niaineiite-com metiide do reino, ou, -se-iiao correspon-
Para 0 cristao Guerreiro, a questio c! 0 dem6nio interno e externo. dem as expectaiivas'tradicionais, de 'bru¥s, criaturas tentadoras,
Para 0 homem de neg6cios ou os estudantes, nao se trata apenas de megeras ou outras varia<;6es femininas do arqu~tipo do vilao. De fa-
chegar ao topo das vendas ou da curva de c1assifica<;ao, mas tambc!m to, a fase inicial do arqu~tipo do guerreiro define uma forma patriar-
de superar as tendencias a pregui<;a - a vontade de simplesmente cal depefceber"'C;'orgaruzar 0 muna6~ visto dualisticamente - como
sentar-se para aproveitar 0 dia. um-'cIl0que' entre questOes, id~ias ou for<;as conflitantes - e hierar-
Os Guerreiros partilham com os Mrutires 0 sentimento de que quicamente, de mO<io que a principal preocupa<;ao e sempre quem e
podemos sofrer por nossas transgressOes. E comurn entre os conser- o que e superior ou mais valioso. A tarefa do her6i consiste em der-
vadores considerar natural que os perdedores de uma disputa sofram; rot~_.Q!I:_}~Jlje..it¥ tudo que ~ inferior:-por dentroou'Porfora, a sua
assim, para eles c! coerente que 0 pobre, que perdeu' a disputa -;-~~tade. Esta fase,' Hptcamente, costuma ser nao apenas .§.c?~~(ll!~ti'l
econ6mica, e as mulheres, que segundo eles perderam a batalha dos ~QJncL~ciSlgl."~£l~~is~. .
sexos, nao devem ter tanto quanto os vitoriosos. E igualmente ne- Embora a trama her6i/vilao/v(tima exer<;a enorme poder em nos-
cess~rio que os vitoriosos sejam recompensados por sua superiorida- sa cultura, 0 9.e,~(lfl~51tle,.def~ontamos,enquanto Guerreiros, depende
de, j4 que 0 esp6lio dos vitoriosos, assim eles pensam, inspira supe- de l1()ssa capacidade de imaginar e deClarar outras verdades, 'outras
rioridade. Caso contmno, tocies senamos indolentes, jamais reali- vers6esdo IIllto'ClOGuerreiro. A coriseqiH~ncia 16gica da insistenchi
zarfamos algo. ~ definir a vida ~fuO-Wii8 luta e a fome mundial, a devasta<;ao
Os liberais costumam concentrar-se mais na culpa dos opresso- ambiental, a desigualdade racial e sexu'al, a guerra nuclear e, no m(-
res que de fato estabeleceram os termos da disputa em seu pr6prio nimo, 0 desperd(cio dos talentos de quantos se consideram perdedo-
favor, ou na tentativa de garantir que a disputa seja honesta, desen- res. Felizmente~ embora a cultura' seja dominada pelo Guerreiro, esse
volvendo programas, etc; Contudo, raramente eles questionam a arquetipo abrange outros poss(veis estagios e formas.
idc!ia de que a vida ~ uma disputa - ao menos nao se atrevem a suge-
rir publicamente que talvez nao seja assim!
Estagios da Jornada do Guerreiro
Na verdade, a cren<;a na trama her6i/vilao/v(tima c! urn dogma
em nossa cultura, cujo poder c! tio grandioso que sua invoca<;ao tor- ..R~'!'Q~~<!9~_~Ql;!~~~~.s.._a~Y~.~.9:0._at:qu~tip() depende do
na irrelevantes quaisquer evidencias em contrmo. 9,~an~9,.(*~~ ap!'~FQ.~~::un
em outros arqu~tipos. Por exemplo, pseu-
Os academicos, por exemplo, equacionam competi<;ao com .do-Guerreiros (homens au
mUlheres -machlstas) na verdade sao
qualidade de educa<;iio, embora a maioria dos dados de pesquisa Orffios mascarados de Guerreiros que acobertam seus temores com
sustentem a visao de que as abordagens cooperativas do aprendi- bravatas. Se eles vivenciarem 0 N6made antes de desenvolver sua
zado sao na realidade mais eficientes. 1 Muitos administradores capacidade de desvelo ou a consciencia de seu verdadeiro ser, irao
continuam tentando levar os empregados a uma maior produtividade, lutar sobretudo para provar sua coragem, sem no eritanto ter a menor
criando uma atmosfera de competi<;ao feroz; 'embora novamente id~ia de por que estio lutando, exceto talvez para veneer. Quando
as pesquisas sugiram que as empresas comerciais. mais bem-sucedi- fizerem algumas ineUfSOes pelo caminho que conduz a descoberta de
das criam atmosferas de confian<;a, nas quais os empregados se aju- quem sao e do que querem, p()(jlerao lutar por si proprios, e quando
dam mutuamente. 2 tiverem desenvolvido alguma capacidade de cuidar dos outros po-
E fundamental ~ordarq~C? em. nossa cultura 0 papel de her6i
_ . _ " _ _~, ....... , .... ""., .. -.-_ • ..<.,,-,, ""_.• ,r<," ___ ~.':.w<'_ .•"':....J:. _ ....... " . , ' ~ .• ,. .,,_",:.~ " " •.••. ".',
derao lutar por eles.

116 117
~411
1"
mente reais: 0 medo de perder. de nao ser 0 melhor. de ser inade-
Alem disso. se OS Guerreirossaltam as li~6es do Nomade, sen- quado, inferior, urn perdedor.
tir-se-ao muAo solitarl()s-como'dii-erreiros. Se nao tiverem as simi-
'lado adequadamente as li~6es do Martir, serao dominados por es- ser ~~~::~~~6~d~:oJ!d~~~aIl~;!;~~~~~o.s~g~!~~@~~::
se arquetipo e iraQ martirizar-se pela causa, pelo neg6cio ou pe- her6L'(j" vilAo6red~fi~ido··como·"umavliliiia'a·sersatva. Seja no ca-
10 time, em prol do qual lutam enquanto Guerreiros. (Assirn, se so doGtisp.ariismo·~ast:rii:2:iaas:-cyomarx'ismo~·'do'feininismo ou do
nao passarem
. pela li~ao do Guerreiro,
, tomar-se-ao controladores capitalis~0'suba~por-seus-pr6prios-esfor~os, os Guerreiro~~ a
e mampuladores.) verdade que Ihe~ po.~sibJJi.~g~,~nY91!~~yro,£~!!q~~~J:I~ ..espe-
Q~Qu~r.re!,:"~~ ,9U.~ integram a solicitude ea supremaci~l1!tam "-·-'-·--···-"';'" .. ···fi~~do·em suas vidas_e.. ,saem nara converter 0 mundo ..
ran~a e Slgnl ...,......., .. " ....... ' ...... ,......._.,~"'_"._......._ . ~~, __..~ .. '".~. .,.... . . .. ...... .. ' ..... " .
por si mesmos e pelos outros. Os soldados lutam por seus entes que- . De'maneira ail41oga, na vida privada os Guerreiros assumem proJe-
ridos, 'pelopa(s epara tomar 0 mundo melhor. Os l{deres pol{ticos, tos de Pigrnaliao a fim de promover melhorias nos entes queridos e
os ativistas sociais e os voluntanos dedicados lutam para melhorar nos amigos.
as vidas daqueles que os c~rcam. Aqui, e possCvel perceber como as o problema da diferen~a humana e difCcil de afrontar quando
li~6es do sacrifCcio e da supremacia trabalham juntas. A aquisi~ao de voce anseia por criar urn mundo humano e ideal. U rna das maneiras
urn nCvel de habilidade mais requintado em urn possibilita 0 desen- basicas pelas quais os Martires tentam melhorar omundo consiste
volvimento de urn nlvelde habilidade mais requintaqo no outro. em abandonar partes de suas personalidades que parecem nao ajus-
Os efeitos colaterais pemiciosos do Guerreiro afloram em suas tar-se aquilo que os outros querem. ~~~!!~s".E12~~.. ~,,<?~~~
formas mais primitivas, tal como acontece no sacriflcio. Quando esta
pessoas. Em~~~(?~ c~~s.?_.~"i.~~..~_~~.~~~~~~~<ill pr~r~9.t1i.~i­
livre dessas formas rnais dualistas e absolutistas, 0 Guerreiro (assim iO-par~ .llcri~~io;:de....uma.cO'lllll11.i_~~.. _~Q!Q~. Ou mudamos a n6s
1
como 0 Martir) tern urn procedimento humano saudavel, uti! e posi- 'mes~os, ou livramo-nos deles, ou ainda os transformamos!
tivo. Eo procedimento basico que consiste em agir a fim de se pro- Recentemente, conversei com urn cristao carismatico que me
teger, bern como aqueles a quem se ama, do perigo. Seja matando descreveu urn procedimento tCpico daquele movimento. 0 jubilo com
animais predadores, enfrentando 0 grupo invasor ou identiJ1cando a a conversao, a sensa~ao de reriascer, renovado pela comunidade da
chuva acida ou q prolifera~ao nuclear como amea~a a humanidade, igreja. em geral e seguida pelo evangelismo. A cren~a inicial artmla
os Guerreiros prebisam exercer uma a~ao forte para proteger-nos. que basta fal~ de Jesus com as pessoas e elas serao salvas. Contu-
Em cada modalidade explorada ate agora, nosso her6i aprendeu do, muita gente nao demonstra interesse pela "boa nova" e tambem
a liaarco~'-umaexperlerici~dif{ci!: 0 6rliio' corn 'a impot~ncia;- 0 a pr6pria vida pode nao estar indo tao bern. A euforia inicial da sal-
Mfutir,com a dor;o N6made~c'6fif'asoliCllio;e agora'o~Guerreiio va~ao passa e a vida ainda tern as mesmas lutas, os mesmos altos e
entr6nta' o'medp.' A~s-i;:'-~s'" n{veis <hi" experiencia do Guerrei'ro baixos. Al a tenta~ao e voltar ao dogmatismo, na tentativa de impor
tambem se relacionam com a maestria com que aprenderam a enfren- - por legisla~ao ou pressao social - nossas pr6prias ideias as outras
tar 6 medo. Nos sstagio s jni.ci!:!t~ =}~9~~~,~,?_S.,5J~~~~a _~~~car.~.~pos­ pessoas. Esse impulso surge da convic~ao de que a comunidade
.
ta_p~e~e ser 0 ,e,~JermfI1~9_,!!!~!"al,f!(L!.~_~go _-=~_~~<?_~ yj21~n~Q. 0 crista ideal nao pode concretizar-se com tantos pecados flagrantes.
general que nao consegue imaginar armas"suficientes para conter a Quando a conversao nao transforma a vida de alguem, tomam-se ne-
amea~a comunista simplesmente e controlado pelo medo. Seu uni- cessanas verdadeiras obediencia e disciplina militares.
;1 verso e definido por uma visao de amea~a per¢tua na qual 0 vilao e Desconfio que a mesma coisa tenha acontecido com 0 marxismo
'I
11
"
imaginado como totalmente irracional, disposto a destruir tudo 0 que na Russia e na China. Como uma verdade libertadora foi posta em
'I
"
I ele e ou estima. A disputa simb6lica na pol{ticaJneg6~ios/espor­ a~ao e a comunidade edenica parecia ainda muito distante, 0 antCdo-,
tes/escola e comparativamente branda, mas seus medos sao igual-
119
118
to para 0 cinismo e a falta de f6 foi 0 dogmatismo e a repressao. A
mesma frustra~ao produziu 0 macartismo nos Estados Unidos. E, como jli vimos, 0 pr6prio conteudo se modifica. As disputas
Embora 0 processo do Guerreiro, por si s6, nao erie um mundo gladiat6rias sao substitu{das pelo futebol americano. Gosto de pen-
ut6pico, ele ensina um processo muito importante, que contribui pa- sar que a guerra estli sendo substitulda pela atitude contra a cons-
ra construir um mundo meJhor para todos n6s. 0 que os q!!~:rreiros tru~ao de armas. A mulher que hit alguns anos teria surrado um ho-
f!P!ende_m? Em primeiro lugar, aprendem a conflar em suas I>.~p~as mem por uma observa~ao sexuaIista comenta hoje, um tanto entedia-
verdades e a agir de acordo com elas, com uma convic~ao absoluta da e desinteressada: "Ora, pare com isso". E deixa de existir a
aDte~operrgo~~P8raisso, eles preCisam tarnoem'assumfr'0 'controle e exigencia de tanta violencia. Quanto mais fortes e confiantes se tor-
it responsabfiidade por suas pr6prias vidas. Os &Bos veem-se como n~,..()§g,1:1~rr~,~s~ }~~J}qsm:t;9s.~!!iuiarvoe 'violencia, mals"paC:fflc()s
, v{timas, e os Nomades como estranhos. Definindo-se como pessoas "podem ser- consig(), ,mesm()~.~ qOrn OS outros. Finalmente,eIes nao
destitu{das de poder na cultura, nao 6 preciso assumir a responsabi- "pre'Cisamdefinir 001ltrp como vilao, adversmo ou convertido po-
lidade por esta. Identificar-se como Guerreiro implica dizer: "Sou tencial, mas como OUtrO her6i, semelhante a eles.
,~esponslivel peloqueaoonteceaqui'''-e' "Devo-fazef O"pOssIVel paia
"tomar'e'sti-iiiiirido'melhoi-'·p"ara'"'inim e para os outros". 0 que
tamb6m exige que os Guerreiros declarem sua pr6pria autoridade,
A Atitude Masculina e Feminina do Guerreiro
seu direito de dizer 0 que quiserem para si e os demais. Os Guerrei- As experiencias masculina e feminina do arqu6tipo do Guerreiro
ros aprendem a confiar em seu pr6prio julgamento acerca do que 6 Qife;~m' srgnificativanie~'te. Os homens sao socializados, praticamen-
pemicioso e, talvez ainda mais importante, desenvolvem a coragem te desde '0 nascimento, para"serem Guerreiros; portanto, a quesmo
de lular por aquilo que querem ou em que acreditam, mesmo que es- para eles 6 se podemdesenyolver outros lados de sua personalidade,
se feito exija grandes riscos - perda de um emprego, de amigos, do , ou mesmo aprofundar e crescer em sua experiencia do arqu6tipo, se
respeito social ou mesmo da pr6pria vida. para tal dependem da resolu~ao satisfat6ria dos dilemas do Orfiio, do
Finalmente, se nao retrocederem, buscando refUgio no dogma- 'Nomade e do Mlirtir. Para as mulheres, a questao 6 se terao a auda-
I · .' :_. ~ __",_ ._ ...... ,:

tismo e tomando-se tiranos, eles tamb6m desenvolvem a flexibilida- cia para entrar na disput8 culturalmente definida como masculina e,
de e a humildade. Todas as verdades libertadoras, por si s6s, fracas- nesse caso, se aprenderao a falar com suas pr6prias vozes e expres-
saram! Em parte porque cada uma delas 6 apenas parte da verdade; sar sua pr6pria sabedoria. Comq, em geral, as mulheres ingressam
todos n6s assemelhamo-nos aos cegos proverbiais, cada qual sentin- no estligio do Guerreiro ap6s 0 do Mlirtir, elas costumam ingressar
do uma parte do elefante e tentando descreve-Io por inteiro! num nlvel mais elevado e complexo. If\slj'\~t()
o her6i aprende, em ultima anlilise, nao 0 conteudo per se, mas Livros como Games Mother Never Taught You: Corporate
um processo que se inicia com a consciencia do sofrimento, passan- Gamesmanship for Women, de Betty Harrangan 3 explicam as regras
do entao ao relata da hist6ria e ao reconhecimento, para si e os de- da cultura masculina para as mulheres, porque embora se possa
mais, de que alguma coisa 6 dolorosa. Surge assim a identifica~ao da afirmar, de maneira geral, que a consciencia do Guerreiro orienta a
causa da dor e a a~ao apropriada para dete-la. 0 her6i substitui a nossa cultura, isto se dit apenas Ror ser ela uma ct,Jltura patriarcal.
cren~a absolutista de que 0 exterm!nio do dragao solucionarli todos As mulheres nao sao estimuladas a entrar na batalha. Esses livros
os problemas para sempre pela convic~ao de que continuamos a ma- ensinam as mulheres a entrarem na disputa e a aprenderem as regras
tar dragcSes pelo resto da vida. Ele aprende que, quanta mais exter- masculinas. Livros como 0 de Anne Wilson SChaef, Women's Rea-
minamos, m~s confiantes nos tomamos e, por conseguinte, menos lity:1 The Emerging Female System in a White Male Society, ou 0 de
\
violentos precisamos ser. Carbl Gilligan, In a Different Voice: Psychological Theory and
Women's Development, vao al6m e desafiam a concep~ao de que a
120
121
ceram que a batalha ou a disputa visam tornar 0 mundo melhor. Por
cultura masculina e uma reaHdade, definindo, respectivamente,
, uma outro lado, os homens. se apa'yQ!~!!t,<;9.m.Q,.ln1lIldo feminino porque
cultura feminina emergente e os esUigios do desenvolvimento moral veem nele o"1aCrific1<?~e"~iii~iU£!J!~g~(;iC?s p~r'eie;'''Como''as mriJhe..
das mulheres. A cultura masculina, tal como e definida em cada ca- res sao mmspropensas a explorar 0 zelo e 0 sacriffcio de preferencia
so, equivale aquilo que denomino a modalidade guerreira. a a~ao, elas costumam deplorar a matan~a, a derrota de outrem - to-
A trama her6i/v(tima/vilaq e. a forma tipicamente machista de dos os aspectos da batalha que magoam outras pessoas. Por conse-
conf~rir significado ao mundo. Da mesma maneira, existe uma certa guinte, ~~s...~C?__g_~.!~1~!l~<!~~_J2.~~_._~.!>a~.1l~_~~~~,
aliena~ao nas mulheres quando a enfrentam pela prime ira vez. Natu-
J~~~.-~~~~~.. ()s. <>1:!!!os.Foram as mulheres que emprestaram grande
ralmente, isto se deve ao exclusivismo da cultura masculina. De fa- parte de sua energia aos movimentos de reforma do seculo dezeno-
to, tanto 0 exercito quanta 0 futebol americano - institui~6es que ve, e hoje sao elas que infundem muita energia aos movimentos am-
dramatizam 0 mito em suas formas mais primitivas e basicas - foram bientais e pacifistas. Inversamente, muitos homens passam prematu-
definidos como redutos exclusivamente masculinos. Embora hoje ja rainente para 0 estagio de Guerreiro quando na verdade ainda se en-
se encontrem mulheres no exercito (mas ainda nao no futebol ameri- contram no esUigio narcisista do 6rtao, e s6 mais tarde come~am a
CanO profissional), nem as mulheres nema sociedade como ~m todo perceber a importiincia de cuidar das outras pessoas.
consideram a modalidade do guerreiro urn atributo feminino. g~ndo "~p~~(j,a cjo .. ~lQ" . .!l~a~q.jg,ml=.~,y'Qp.~g~ e."Q~wi,~~~jQ..",.
Todavia, nao creio que esta aliena~ao signifique que as mulhe- Este e 0 pengo fundamental, para os homens, da fase do Guerreiro.
res nao queiram nem devam aprender a modalidade do guerreiro. As Em A Wizard oj Earthsea, de Ursula Le Guin, Gaviao, jovem
mulheres precisam aprender a lutar, por si mesmas e pelos outros, e aprendiz de magia, lan~a alguma coisa malefica e temvel sobre 0
o padrao arquetlpico e que lhes vai ensinar como faze-lo. Uma vez mundo quando, s6 para exibir-se, convoca os mortos. Seu pecado,
que ele foi definido como destinado apenas aos homens, 0 arquetipo tipicamentemasculino, e 0 orgulho. Em seu egocentrismo, Gaviao
do guerreiro e a nova fronteira para as mulheres. A_.Y~r.~~deira realiza umapoderosa magia apenas para sua pr6pria g16ria, embora
questao para estas e para todos os Guerreir()~"~~Il~~~.~~_~prender a saiba que isso amea~ara 0 equilIbrio do mundo e podera trazer efei-
Sa.Ir--(ie-seu··fimago-·e··a'>riitar·pot·aquiroem"qll~.Y~rQfld~~~.r.n~.l:!t.~~c:r~- tos imprevistos para tOOos. Contudo, ele esUi tao empenbado em
. 'dham ecc:mfiam. Os homens sao tao fortemente socializados para se- pOr-se a prova-que pouco the importa 0 resultado, .qual seja, uma
rem Guerreiros que nao apenas sao impedidos de desenvolver outros Sombra que emerge dos infernos e amea~a possuir 0 seu corpo e
aspectos de si mesmos como tambem tendem a promover uma certa aterrorizar 0 mundo. 4
confusao na qual a luta ou a disputa se justificam por si s6s. A socializ~ao das mulheres para a receptividade Ihes traz uma
A disputa afigura-se tao importante para os homens porque ~~­ dificuldade analoga. Elas pOOem ser capazes de lutar pelos outros e
ne sua7tientidade masculina: 0 homem ca~ador atravessa todas essas nao por si pr6prias, por acreditarem que faze-lo seria ego{smo. Neste
pse~batalhas. 'Ni ~~~~~'cultura, asupremacia e 0 zelo sao defini- caso, 0 atrito pode ser simplesmente outra forma de martfrio. 0
dos como opostos. As mulheres. fi<::~ enc~~~~~~.~.~_~~_~s mesmo ocorre com alguns homens. Aqueles que integraram 0 zelo e
homeps da supremB:ci~. '-As'mulheres temem arealiza~ao, ~ atua~~o e o sacrifCcio em suas vidas podem lutar por seu pals, sua empresa ou
a supremacia precisamente porque 0 mundo que exalta tals quallda- sua famnia, mas vez por outra nao conseguem lutar realmente por si
des - 0 mundo masculino - Ihes e profundamente doloroso, nao s6 pr6prios. Na verdade, 0 fato de 0 her6i ser tradicionalmente homem
·d porque nao valoriza as mulheres como tam bern porque costuma des- e a vltima mulher acarreta perigos tanto para homens quanto para
ii valorizar 0 zelo. mulheres. Enquanto as mulheres podem temer a possibilidade de en-
!
:.\' As mulheres sao magoadas ~lQ_!.1!I,l.I1~o masculil1Q. porque veeqt trar no papel do her6i, os homens podem identificar seu pr6prio
.1 1 ,-
_9~S.-PQ.llE2_~_~ or De fata, muito freqiientemente os homens esque-
;.!
I'.
I: 123
122
hero{smo apenas em tennos de proteger e salvar os outros - sobretu- volvimento moral - baseia-se numa forma masculina de pensar. As
do mulheres e crian~as -, negligenciando a v{tima que esui aprisio- mulheres encaram diferentemente as quest6es morais e, por conse-
nada dentro de si mesmos; segundo eles, os homens nab precisam de guinte, estavam respondendo a outra pergunta: em vez' de "Heinz
salva~ao! Nem homens nem mulheres podem lutar por si pr6prios de deve roubar 0 medicamento?", elas indagavam: "'Heinz deve roubar
maneira inteligente se nao pennanecerem algum tempo como Noma- o medicamento?" As mulheres levaram em conta a necessidade de
des, para descobrirem quem sao e '0 que querem. ~ao para salvar a vida da esposa. Suas perguntas buscavam deter-
Em seu trabalho inovador sobre 0 desenvolvimento moral dos minar a a~ao mais eficaz.
homens e das mulheres, In a Different Voice, Gilligan argumenta AI6m do aspecto prntico e da qualidade narrativa das respostas
que homens e mulheres
~-.-.--.~~~'--
solucionam seus dilemas
.. -.----""'...--"--"""'- , .... .......... .
' " ~,.

difererite porque sua visao domuiiop'6 diferente~ A autora exempli-


morais de
" .. .
"
maneira
.. ,..
,,~~ ....,.,....,-.:.......""-~- - femininas (se roubasse a droga, ele poderia ser preso; se ela adoe-
cesse novamente, quem iria roubar para ela?), havia um modo dife-
nca com·'o··famosodilema"-H~i~~:<"deMr;;;.~~~~ Kohlberg, no qual rente pe considerar os problemas. Em vez de v~r.9mundo hierarqui-
homens e mulheres sao desafiados a solucionar um dilema hipot6ti- camente, como uma escada, as mu)'tleres: oconsideravam como uma
co: a esposa de Heinz est~ muito doente e morrern se nao receber um r~tle'oU' tela d.eiriier,:,refa~ao humana. Assim, em vez de def'Uili-'aba-
certo medicamento. Sucede que esse medicamento 6 extremamente ~"da'm8iorparte cio'sp~~blemas como uma diferen~a irreconcili~vel
caro, e Heinz nao disp6e de dinheiro suficiente para adquiri-Io. entre duas pessoas/pafses/valore~, as mulheres consideravam os pro-
Heinz tenta, sem exito, conseguir um empr6stimo, e 0 farmaceutico blemas provenielll~s, ,QeJ.~~.J]JPtu'i:a}l.~ .red~, do, relacionamento hu-
nao esui disposto a vender-Ihe 0 rem6dio por um pre~o menor. Ele iPinci~,A.~91l!!,.~9.,1?J:!r~..~~sft.~",rnpw.ra., resi<:lia na comunica~ao: Algu6m
deve roubar 0 rem6dio? Segundo Lawrence Kohlberg, no esuigio falou com os vizinhos? Ele explicou a questiio ao fan:naceutico? A
mais elevado de evolw;ao moral as pessoas solucionam esse proble- outra abordagem consistia em criticar 0 problema: Que es¢cie de
ma apoiando-se nos princfpios morais universais: especificamente, mundo 6 este, onde 0 farmaceutico pode ter urn medicamento e no
elas discutem os m6ritos relativos dos direitos de propriedade versus entanto deixa uma mulher morrer,? '
a vida hum~a. Se a vida 6 mais. importante, ele Cleve roubar 0 medi- Em Women's Reality, Anne' Wilson Schaef ve uma diferen~a
camento. Se os direitos de propriedade sao mais lmportantes, ele nao an~loga entre 0 que ela denomina "modos de negocia~ao do sistema
deve roubar e provavelmente deve deixar a esposa morrer. Ora, dos homens brancos" e 0 "sistema 'f'!miH~~o;'Umne­
cumpre notar, que essa argumenta~ao moral 6 nao aperias hier&quica V;>?iioor'"arguio" reconhece que"'; 'SiiUii~a() .~ de conflito. 0 objetivo
- valorizar 0 mais importante - como tamb6m dualista. Na verdade consiste em obter 0 mhimo poss{vel para si, para 0 seu lado. 0 que
ela equivale, em terinos de reflexao moral, a precipitar-se para fora se faz pedindo ou exigindo mais do que se quer, escondendo 0 jogo
do curral. Que ven~a 0 melhor. e depois "negociando" at6 conseguir 0 mhimo daquilo que se dese-
Gilligan observa que poucas mulheres contaram pontos nos n{- I ja. No sistema feminino, os negociadores sao vistos essencialmente
veis mais altos de Kohlberg. A16m disso, do ponto de vista da evo- como pertencendo ao mesmo lado. 0 objetivo consiste em ser sufi-
lu~ao moral, as mulheres aparentemente evitavam as perguntas, pe- cientemente imaginoso para que ambos os lados possam obter 0 ~­
dindomais informa~6es (ele realmente explicou ao farmaceutico que ximo possfvel daquilo que desejam. Assim, a estr~t6gia consiste em
sua esposa ia morrer, e algu6m tentou falar com os vizinhos ou le- por as cartas na mesa e mostrar c1aramente 0 que voce quer, qual 0
vantar 0 dinheiro?), ou ainda, para contrariedade dos entrevistado- significado disso para voce, e depois unir as cabe~as, para descobrir
res, fazendo dec1ara~Oes do tipo: "Ele nao deve roubar 0 rem6dio ,0
como ambos os lados podem obter que desejam.6 Naturalmente, a
nem deve deixar a mulher morrer." Gilligan percebeu que a fonnu- abordagem anterior 6 a base do nosso sistema legal, da maioria das
la~ao da: questiio por Kohlberg - e, portanto, sua escala de desen- negocia~Oes trabalhistas, etc., e a ultima 6 a base da media~ao.

124 125
I
Embora provavelmente seja verdade que mais mulheres do que
homens negociam segundo 0 modelo do '·sistema feminino", muitos de n6s. Mas nao posso deixar de observar 0 grande numero de
tambem e certo que muitos .Homens aprendem a faze-Io quando pas- homens que consideram esse nfvel machista de a~ao limitante e ina-
sam da compreensao n6s/eles, mais primitiva, legado do Guerreiro, dequado para suas vidas. Para esses homens, a questao e an~loga
para abordagens mais requintadas (isto e, cognitiva e afetivamente a das mulheres: 0 desafio de falar claramente, com uma voz que ainda
integradas) para a resolu~ao de problemas. Quando tra~ou 0 desen- nao foi inteiramente validada e articulada na cultura como urn todo, 0
volvimento do raciocfnio moral masculino e feminino ao longo do que pode confundir, alienar ou mistificaf as pessoas mais convencio-
tempo e atraves de muitos nfveis de compreensao da realidade, Gil- nais que os cercam. Como j~ vimos, os homens parecem evitar as
ligan consta'tou que, ~.m1.!2.~g~.~. mulheres ainda guardem dife- lig6es do M~ir e por isso se defrontam com grandes dificuldades na
e
ren~as vislveis n~!!~ID1.~gem nas metMorasutiliia<fas~eles'c~~e­ transigao para os nfveis mais sutis, mais compJexos e mais afiliativos
.~am 'a'parecer'cada vez mais sc;ii:i~Ih~~(t(~)':l¥~<iida'em' que'o~n- do Guerreiro. Para muitos homens, e preciso uma crise para hnpeIi-Ios
_~~@~~~-~e'~~.~~JQm2~.~!li~c,Qmp-lei"o..e.~&i~I:"·"·'~",' ... ,,,,., a avangar - como urn ataque cardfaco, ulceras ou 0 reconhecimento
Compreendl que, embora a enfase na associa~ao e nbs redes de de que 0 prego de sua Juta est6ica foi a perda de uma esposa, amante
uniao mantenha as mulheres, por urn tempo demasiado longo, na ou filhos. Essa crise, de urn modo geral, exige 0 reconhecimento da
mentalidade do Mmtir, em geral elas conseguem conservar urn modo necessidadede cuidados - para si e para os outros. Para outros, 0
de pensar 0 ~undo associativamente - sobretudo ao definirem exa- movimento no sentido do modelo her6i/her6ilher6i, a partir do mo-
tamerite 0 que estao buscando - mesmo quando optam pela inde- deJo her6i/vilao/vftima, requer apenas a experiencia completa da
pendencia em detrimento da rede de rela~ao, com 0 fito de se encon- mentalidade do Guerreiro, de modo que sua necessidade interior de
trarem e matar os dragc5es. Elas percorrem os mesmos estagios dos crescimento os impulsione para diante.·
homens, embora sua tecnica e sistemas de cren~a b~sicos possam en-
trar em conflito com a mentalidade nos/eles do NOmade e do Guer- Alem do Exterminio do Dragao
reiro. Entao elas avan~am rapidamente, impulsionadas pela necessi-
dade de conciliar a discrepfulcia entre suas cren~as e a a~ao motiva- As tramas do Guerreiro, entretanto, evoluem de her6i/vilao/vl-
da pela urgencia de seu proprio desenvolvimento. Desse modo elas tima para her6i/her6i/her6i, tanto para os her6is masculinos quanta
nao tardam a redefinir 0 Guerreiro e aprendem a causar impacto no para os femininos. 0 fato de a verdade dos Guerreiros ser apenas
mundo atraves da comunica~ao e da liga~ao de pontes, em vez de uma dentre muitas nao impede, hoje, 0 compromisso - com ideais,
exterminar dragc5es ou vencer disputas. pessoas, causas, crengas. Os Guerreiros abragam suas compreensoes
Nos dias de hoje, 0 desafio mais importante a afirma~ao femini- de todo cora~ao, mesmo num mundo relativista. Nesse ponto, al-
na nao reside em entrar na disputa dermida pelos homens, mas na guem que declare uma verdade aparentemente antitetica-poder~ ser
disposi~ao de falar por sua propria voz e com seu pr6prio conheci-
saudado nao como urn inimigo, mas como urn amigo potencial: "Eis
mento. Os homens declararam apropriadamente suas verdades ao a minha verdade. Eu lha explicarei 0 melhor que puder, e voce po-
mundo, mas a supressao da voz feminina deixa a cultura perigosa- dem explicar-me a sua." Assim, a tarefa do her6i....-..consiste......em cons-
~---------....--. -~- ,---~~,~ ~---

mente desequilibrada. trYir Eontes, e na<Lem l!1:atar ou converter.


Alem disso, a excessiva importfulcia atribufda a voz do Guerrei- Na hist6ria da justi~a, vemos a evolugao de urn ditador que in-
ro nos homens retarda 0 pr6prio desenvolvimento destes em outras flige puni~6es ate ao nosso sistema de justi~a, no qual uma pessoa
Meas, relegando-os, assim como a cultura, a uma Mea de pensamen- perde e outra ganha, para urn sistema de media~ao que nao considera
, to mais primitiva e a afirma~ao daquilo que seria desej~vel para nenhum dos lados como 0 vilao e no qual se envidam todos os es-
I'

ii for~os no senti do de satisfazer a ambos os lad os.


I·1
"I'
I!
126
127
I
I

AS ve~~_~ ,~~.!!!!?_~"~Q!lflitQ~ J~!"!!ffi~b,t1Js.c_Qs_._yiolentos e primiti- re, de Susan Griffm, onde ela escreve a respeito de "uma velha mu- '
vos. Cada vez mais, foram sendo substitu{dos por ouiros~ m~ssiia~'
........... ~--- _ _ ••• _" •• ~ _._ " ,~~ •.. ".A .~ .. ' _ .. r -,_.", . • " ... " .•.. ~ •• :, .• ,."",-, • .....,...., ___ . __ . • _ - ..•.• .. .•.•.. ,,-.... . - •• :':: •. -,-,.- •• .• • - • .
Iher que era maliciosa em sua honestidade" e que fazia perguntas ao
,ves ~h~Ipl9l!lQ.!!g~ ..... Da situa~ao de duas pessoas que se masSacram espelho. Quando ela pergunta poJj que tern medo do escuro, 0 espe-
passamos para duas pessoas que debatem e depois perguntam quem lho responde: "Porque voce tern razao para ter medo. V oce ~ peque-
venceu; e final mente chegamos a duas pessoas suficientemente con- , na e pode ser devorada." A mulher decide tornar-se tao grande que
fiantes para utilizar suas diferen~as como forma de encontrar verda- nao possa ser devorada. Mas entao ela descobre que tern medo de
des mais adequadas e completas. Elas debatem id~ias e depois com- ser tao grande e 0 espelho explica: "Nao ~ dif{cil ver quem voce
partilham aquilo que aprenderam com a permuta. ~. E, para voce, nao ~ f6cil esconder-se." A mulher entao p6ra de
Tenho uma fantasia na qual imagino os representantes da Uniao esconder-se. Durante 0 'pr6ximo acesso de medo, 0 espelho lhe
Sovi~tica reunidos com os representantes dos Estados Unidos. as explica que ela tern medo "porq~. . . ningu~m ve 0 que voce ve,
representantes da UnHio Sovi~tica comec;am explicando que pen- ningu~m pode dizer se 0 que voce ve ~ verdade". Entao ela decide
savam ter realizado urn grande trabalho ao proporcionar a igual- confiar em si mesma.
dade economica entre seu povo, mas preocupavam-se com 0 pre~o Muitos anos depois, ela percebe que tern nkdo de aniversmos e
pago, qual seja, a repressao pol{tica e a vida urn tanto mon6tona. o espelho the diz: "Existe algo que voce sempre quis fazer mas tern
as embaixadores dos Estados Unidos replicam afirmando que medo, e voce sabe que 0 tempo est6 acabando." A mulher se afasta
tamb~m eles se sentem apenas parcialmente vitbriosos. Nos Estados imediatamente do espelho a fim de "aproveitar 0 tempo".
Unidos existe muita liberdade pessoal, divertimentos e variedades,
mas permanecem os grandes extremos da riqueza e da pobreza humi- Com 0 tempo, ela e seu espelho tornam-se amigos e 0 espelho chora por
lhante. as dois poderes juntam suas mentes, compartilham sua pr6- ela, tornado de compaixao, quando seus medos sao reais. Finalmente, 0 refle-
pria verdade e tentam elaborar urn plano capaz de combinar 0 me- xo da mulher no espelho the faz uma pergunta: "0 que voce ainda teme?" E a
lhor de ambos os sistemas. velha responcde: "Ainda temo a morte. Ainda temo a mudanga." Eo espelho
Natural mente , minha fantasia nao ~ realista nos dias 'de hoje. concorda. "Sim, ambas sao assustadoras. A morte e uma porta fechada", .
Esse intercambio nunca acontece quando as pessoas agem moti- floreia 0 espelho, "e a mudanga e uma porta aberta." "Sim, mas 0 medo e ~~.
vadas pelo medo - entre parses, entre pais e filhos e entre homens chave", diz a velha maliciosa, rindo, "e ainda temos os nossos medos." 'E
l
e mulheres. ela sorri. 7
a ganho evolutivo proveniente do confronto' com os drag6es
mais aterrorizantes - seja matando-os ou simplesmente enfrentan- Quandoperdem urn pouco de seu medo, os Guerreiros relaxam e
do-os e iniciando urn di610go - ~ a coragem e a respectiva liberta~ao podeiD- afiifr"opensament<f'para -a-'complexidade;--entiio; fica Claro
da escravidao relativa aos pr6prios medos.' Na melhor das hip6teses, -como-'a"formula¢ao' da·tea1idade -em- termos·de her6ilviHio!v{tima ~
o Guerreiro acaba aprendendo a fazer amigos a despeito do medo, 'limitada. a nlaravilh6so fuIrlance de Tom RobbirisEven CoWgirls
gra~as a urn longo conhecimento. Em vez de ser imobilizado por ele, . Get the Blues ilustra esse fato. As vaqueiras do Rancho Rubber Ro-
ou de agir como Atila, 0 Huno, ou ainda de aprisionar-se num modo se combatem a mentalidade do cowboy do Oeste sem lei. Estao se
paran6ide e simplista de analisar os problemas ou at~ mesmo repri- preparando para combate-Ia com os agentes da polfcia federal. Estes
mi-Ios, 0 her6i come~a a perceber que 0 medo ~ sempre urn convite foraro en vi ados ostensivamente pelo governo americana para salvar
ao crescimento. os grous abrigados na propriedade Rubber Rosel, mas na verdade
Urn de meus exemplos prediletos de urn her6i que desenvolve planejam matar aqueles p6ssaros. As vaqueiras consideraro-se defen-
essa rela~ao positiva com os seus medos est6 em Women and Natu- soras dos p6ssaros (e, com eles, da natureza), contra as agress6es da

128· 129
acontece nao somente porque os problemas atuais parecem tao es-
civiliza~ao patriarca]. No ultimo instante, a lfder das vaqueiras tern magadores tamb6m para os homens brancos e tao refratmos a so-
uma visao da Grande Deusa, que as aconselha a flIgir. Em primeiro lu~6es violentas, mas tamb6m porque a antiga donzela-em-perigo se
lugar, nao disp6em de meios para derrotar os agentes federais. A lu- redefiniu e iniciou sua pr6pria jomada.
ta 6 muito desigual, mas ela tamb6m questiona todo 0 conceito de Vma das maiores experiencias formativas para 0 protagonista de
vil6es e her6is. 0 inimigo das mulheres, explica ela, nao sao os ho- Hotel New Hampshire, de John Irving, 6 0 estupro de sua irma por
mens, assim como 0 inimigo dos negros nao sao os brancos. d ini- uma gangue. Ele nao 6 capaz de protege-la, pois aind~ 6 adolesce~te
migo 6 a "tirania da mente obtusa". 8 quando isso aco~tece, mas depois ele come~a .a pratlcar alterofibs-
A visap interrompe 0 modo habitual de enxergar 0 mundo em mo. Est~ firmemente decidido a tomar-se suficlentemente forte para
termos de her6i/vilao/vi'tima. Observe-se que a l?a~lha aq~6 c()ntra defende-la no futuro. Contudo, muitos anos depois, quando ele en-
UJ:na abstra~ab, ~ nao contra pessoas, e esse tipo de luta exige uma contra 0 iniciador do estupro, nao sabe 0 que fazer, em parte porque
,trama diferente.T 1.I~,ij)_~§..ta nao esU1 em matar quem quer que seja, nao sabe 0 que sua irma Franny gostaria que ele fizesse. Num mo-
mas em criaralguma coisa nova - nesse caso, novas formas de for- mento de raiva, ele agarra 0 agressor da irma, Chipper Dove, mas
Il}ular qti~~t6ese buscar respostas. Ademais, quando 0 pensamento acaba soltando-o. '
se toma relativamente complexo, todo 0 elenco de personagens 6 re- Ele toma essa atitude porque nao considera Franny a cl~ssica
definido. Que faz 0 her6iquando 0 vilao 6 redefinido nao como urn donzela-em-perigo, mas uma igual, uma herofna com seus pr6prios
dragao a ser morto, mas como "0 tirano de mente obtusa"? Nem a m6ritos. Assim, em vez de salv~-la ele recua, para que ela se vingue
violencia nem a conversao servem. Ao contn1rio, necessitamos de de Chipper Dove. Ele percebe que a hist6ria, a trag6dia e em ~ltima
imagina~ao suficiente para atacar a diferen~a, sem impor a esta an~lise a luta sao dela, e nao dele. Contudo, como a ama, declde-se
no~6es de bern e mal, de melhor ou pior.
a ajud~-la. .
A motiva~ao para pensar, com mais complexidade e imagina~ao Ele aprende que ainda assim a vingan~a nao 6 a resposta. A vm-
na solu~ao do conflito prov6m de vmas fontes. As vezes 0 desafio gan~a nao elimina a dor, e ele fica com a sensa~ao etema de im-
nos 6 impingido quando consideramos 0 vilao grande demais para potencia, a sensa~ao de que nao pode proteger a~ pessoas qu: ama -
ser enfrentado. Talvez seja por is so que as mulheres nap, se dedicam uma das li~oes mais difi'ceis para os homens, tremados que sao para
particularmente ao combate: os homens sao fisicamente mais fortes! encontrar seu senso de estima e identidade mediante 0 papel de pro-
Para Iibertar a india, Gandhi elaborou urn meio mais complexo e efi- tetor. Ele explica: "Pelo resto da vida eu iria sentir-me ainda segu-
caz do que a tradicional convoca~ao as armas, j~ que os ingleses de- rando Chipper Dove pelas axilas - os ¢s alguns centi'metros acima
tinham uma incrlvel vantagem militar. 0 combate nao era uma forma da cal~ada da S6tima Avenida. Na verdade, nada havia a fazer com
vi~vel de vencer a batalha. ele, exceto coloc~-lo no chao; nunca poderia fazer nada com ele -
O. for.asteiro qUase sempre compr~!!4~... 9!l~. os ,deteQ!Qre§.:.ckq:Ul- nossos Chipper Doves s6 podemos levant~-los e coloc~-los no c~ao,
der, consciente 911 incons(;i<;~nten:tente, provocam a luta. A a~ao posi- para sempre:'9 0 her6i de Irving abandona ~ modelo do .Guerre~o e
tiva, -till"como'~ostu~a .ser praticada~slgnHlca-qiie'as --mulheres e as passa para urn modelo mais produtivo, dedlcando sua Vida a CUldar
minorias, para serem consideradas dignas de respeito, devem corres- do pai, a sustentar 0 abrigo da esposa p~a .vi'timas de estupr~ e
ponder a urn modelo elaborado pelos homens brancos a sua pr6pria violencias e, por fim, a criar a filha de sua rrma Franny. P~ ~UltOS
imagem. Em ultima an~lise, aqueles que sao alvo de disputa perdem homens, aprender a cuidare apoiar e, dessa fo~, adqumr u~
a f6 na disputa - mesmo que existam alguns sinais visi'veis que a fa- identidade menos Jimitada pelas imagens estereotlpadas da mascub-
zem. Nao sao apenas as mulheres e as minorias que estao perdendo a nidade, ditadas pela cultura, possibilita 0 aces so a modelos mais
confian~a no m6todo O.K. Corral, mas tamb6m os homens. Isso
131
130
complex os do Guerreiro, proporcionando urn dos pre-requisitos para fazer senao aceit~-lo. As vezes, 6 apenas a maturidade e 0 conheci-
tomar-se Mago. "ffiento-'a'e'-'queneii'huma das habilidades do GIJerreiro sao eficazes
o fracasso da habilidadee. da coragem do Guerreiro tamb6m contra a morte, que for~a 0 Guerreiro a "ceder't a vida maior.
l?ode"ievar-i-moilientosde tran~C-en.-denc;ia e rendi~ao-~;pi-ritu~-~T~m bs Guerreiros se consomem porque vivem a vida como uma luta
B~wnTr:""descreveeIIl The Search su~ iclapra-'a floresta apenas contra os outros e contra partes' de simesmos que consideram in-
com as roupas do corpo e uma faca e all permanecendo urn ano. Ele -aignas. J~ vi muitos homens e mulheres finalmente perceberem
fora preparado para aquele ano por Lobo Matreiro, urn mestre indf'- ";~omo a luta para elevar-se, ern ultima ammse, os estava matando -
gena' norte-americano que 0 ensinou a ser urn rastreador. Ele conse- matando suas almas e seus corac;6es, e as vezes tamb6m seus corpos.
guiu nao apenas sobreviver - at6 mesmo a urn invemo frio e penoso (Talvez as mulheres vivam mais do que os homens porque passam
- mas tamb6m divertir-se 0 tempo tOOo. menos tempo de sua vida guerreando.) Os Guerreiros, que antes
A experiencia mais gratificante acontece quase ao final de sua senti am orghlho e exuberancia justificaveis diante da capacidade de
temporada na floresta, quando ele se submete a prolongado jejum. cuidar de suas pr6prias vidas e fazer as coisas acontecerem, anos
Ap6s doze dias, ele estava prestes a recome~ar a comer quando algo mais tarde comec;am a sentir-se exaustos e esgotados. Para muitos
estranho aconteceu. Nenhuma de suas habilidades Ihe serviu. Duran- deles, a transformac;ao acontece quando passam a analisar todas as
te mais sete dias, todo animal de que ele tentava aproximar-se esca- 'estrat6gias que costumam usar apenas para continuar avanc;ando:
pava, e ele sentiu medo de morrer de fome. Estava muito fmco, ele cafefna, anfetaminas, alcool ou simplesmente mobilizando 0 pr6prio
come~ou a sofrer desmaios eater visOes, quando deparou com a medo do fracasso, a fim de faze-los correr para a frente e para cima.
oportunidade de matar urn pequeno animal; no entanto, sua mao se .Neste ultimo caso, 0 desejo saudavel de realizac;ao tomou-se obses-
deteve e imobilizou-se. Naquele momenta ele desistiu e capitulou: sivo e vicioso. Assim, eles precisam admitir sua vulnerabilidade
humana:, sua necessidade de amor, de outras pess6as, de amparo
Alguma coisa, alguma outra for~a, tomou conta de meus membros. Ou espiritual e f{sico. ,
nao? Talvez urn nfvel mais profundo de minha consciencia estivesse agora Os Guerreiros desenvolvem em prirneiro Iugar a confian~a~ pro-
con~olando 0 meu corpo, 0 qual sabia e percebia mais do que minha cons-
vando sua superioridade em relac;ao aos demais, porque tern mais
ciencia 16gica e treinada jamais poderia compreender: que eu nada tinha a te- controle sobre suas vidas do que a maioria e podem fazer com que
mer. Que eu tinha de esperar e entregar-me a terra que me cercava. Entre-
gar-me aquilo que eu era e sempre fora - nao urn pioneiro conquistador. Eu as coisas aconte~am. Assim, urn dos resultados Ja falha nesse con-
nao precisava desistir, apenas ceder. Fluir com 0 espfrito do ambiente a minha trole 6 0 reconhecimento inicial de que nao somos fundamentalmente
volta. Ser diferente, e no entanto ser parte da terra. Ceder. Ceder. Tomar- diferentes uns dos outros. Estamos todos no mesmo barco e, em ul-
, se.•. ,Voce 6 isto e isto 6 voce, e todos somos uma entidade (inica. Como a tima analise, somos todos interdependentes. Precisamos das outras
e
, fonillga 0 passaro. Como as folhas e a palha. Como a terra. 10 pessoas, precisamos da Terra; precisamos de Deus.

~~,,<~~~J?~!i~~~1.~_~~_,~~c:i~L.!-~,L mesmo ~ ao conhecimento, da


.J.JnJ4,a4eJ1..ie..,pr..opgrcionLime.tw!,.J'1~,gria.
No instante seguinte, urn
o Amante Guerreiro
cervo caminha em dire~ao a ele. Ele mata 0 animal e faz urn banque- Quando os Guerreiros abandonam 0 controle - como faz Tom
te de a~ao de gr~as. Brown em The Search - eles transcendem a visao da vida ern termos
Es§~~m~~nt!;L<!~_-i;I,Q~qQ..I!Q._!lJ~m sempre 6 tao tr~I1,~c:endente. As, de altos e baixos. 0 unico motive que os leva a querer ~star no alto
~y,ezes,~.~ausad.9.peJlI,jlJlRm~nfj~",p~r,~umataqli~c8!df'aco, pela p~rda "6 a convicc;ao de que nao 6 born ser apenas comum. Antes.'.Il~~.~r
... ~.~ JlllJ,.. ente;queri.do, "pQr J:l~,.~C:>Il~!rriento~~~~=o-, ..~ na~a se pode especial ou diferente equivalia aimpoten~ia do ,Mao e, por conse-

132 133
guinte, afigurava-se desprez[vel aos olhos dos Guerreiros Ao reco-
o

nhecer a unida?e corn a Terra e a interdependencia das pessoas, eles , dem a ser mais sutis e pol{ticos, conseguindo com mais freqiiencia 0
passarn a respeltar a hurnanidade nas pessoas que controlam suas vi- aquilo que desejam. No entanto, em ultima analise os Guerreiros !
das e ,tarnbem naquelas que abandqnaram 0 controle ou 0 de quem abandonam 0 controle do resultado e af'mnam-se como parte da dan- !
ele fOl arrebatado. Q~uando abandonam a necessidade de ser melho- <;a da vida. 0 processo de af'rrmac;ao toma-se entao a pr6pria rec~-' I
.r.es , os her~is param de por-se a prova 0 tempo todo e pod~m, ao pensa, porque lhes permite serem mais eles mesmos, diariamente.::-J
rnen~s ocaslOnalmente, apenas ser. . . E entao que 0 milagre comega a acontecer. Em geral, depois que
~ import~nte, §imbQli~am~nte, que ao termo do velho mito abandon am 0 apego a determinado resultado, quando se esquecem
her61co, ~epOls que 0 her6i enfrentou 0 seu medo matando 0 dragao, de si e de seus desejos, sem 0 conseqiiente desejo de manipular as
o Guerrerro volte para casal e se case. A recompensa por sua luta pessoas nem fazer com que estas os satisfac;am, os Guerreiros des-
.es~~ no fato de finalmente tomar-se urn amante,. Sem as habilidades cobrem que os resultados sao melhores do que eles ousariam espe-
.ge a~rma<;ao, e estabelecimento de limites, na~ pode haver urn v:er- rar. Neste ponto, as concepc;6es budistas de desapego e as crenc;as
dadelfO relaclOnamento arnoroso de igual para igual. Caso contnirio rn!sticas judaico-cristas acerca da transcendencia do ego comegam a
uma pessoa simplesmente conquista e a outra satisfaz. Tais habilida~ fazer sentido e ser uteis ao her6i.
des permitem a cria<;ao de urn relacionamento positivo com outro ser Os Guerreiros que provam sua capacidade de defender-se e lutar
hum~no, co~, ~s institui<;6es e com 0 mundo em geral, e em ultitpa por aquilo que querem costumam ser respeitados e respeitar a si
anahse posslbIlIta amar e saborear a pr6pria vida.
Muitos dos grandes amantes da literatura come<;am brigando urn
com 0 outro - por exemplo, Beatrice e Benedict de Shakespeare
mesmos e com 0,
mesmos. Podem negociar uma forma de serem verdadeiros consigo
amantes, amigos, colegas e instituigc5es. A vida,
neste ponto, deixa de ser tao sofrida quanta antes. Agora os Guerrei-
(Mu: h Ado Abouth Nothing), Darcy e Elizabeth de Jane Austen ros estao prontos para suspender a Iuta e tomar-se amantes, bem
(P~l~ and PrejudiFe~. Cada qual possui a for<;a, 0 amor-pr6prio e a como saborear a vida que construrram, respeitando e amando a si
facIlldade de afl1'Il1agao, 0 que lhes permite estabelecer urn relacio- mesmos, as outras pessoas e a Terra. "'i
nament~ rnutu~ente satisfat6rio. A intimidade saudavel exige a i-"'-Quando experimentamos pela primeira vez 0 poder do arquetipo '
afi~~<;ao contmua de quem voce e e do que quer, bern COmo a dis- I do Guerreiro, pega~os em armas para defender-no,? e lutar por aqui- /
~oslgao para analisar como os desejos confiitantes podem ser conci- 10 que queremos. A medida que formos aprendendo as ligc5es do!
hados, proporcionando uma vida mutuamente enriquecedora. Guerreiro mais integralmente, tudo isso nos parecera distante e pro-;
o mesmo acontece com os neg6cios ou com os amigos. Voce vavelmente af'mnaremos, como vi num adesivo de para-choque: ':,g~
te:a apenas metade da equa<;ao se inventar uma ratoeira melhor mas l?rac;os
.
~....
sao para
..-
abrac;ar." *
.. ~.
....)
nao conseguir comercializa-Ia. Ser eficiente no· trabalho con~titui
' ",

apenas Urn passo em diregao a satisfagao profissional. 0 pr6ximo


passo e perceber que voce e respeitado, valorizado e recompensado
por seu trabalho, 0 que exige habilidade para negociar com seu
mun~o ~ i~fi~encia-lo - estabelecer a relagao com as outras pessoas
e as.mStItUlgoeS. I

~as primeiras vezes que os Guerreiros procuram afrrm~ os se~'~


d~seJos,~ eles se envolvem inevitavelmente em matanga e por isso
nao obtem bons resultados. No pr6ximo estligio, porem, eles apren-
* Em ingles, arms tern 0 sentido de br~os e tarnb6m de annas. (N. da T.)
134
135
O'«',~) -~~ \,\,,~;Vt("""':\_;>
./ t·
<~. f'f'{'{)1..AJ),}.

Capitulo 5
o MARTIR
Perhaps the dress offlesh
is no more than a familiar garment
that grows looser as one diets
on death, & perhaps we discard it
or give it to the poor in spirit,
who have not learned yet
what blessing it is
to go naked?
Quem sabe a roupagem de carne
nao passe de uma veste familiar
que afrouxa quando
se faz a dieta da morte, & quem sabe
nos desfa~amos dela
ou a demos aos pobres em espmto,
.os quais ainda nao aprenderam
que e uma ben~ao
ir nu?
I
Erica Jong, "Is Life the Incurable Disease?"
/'
./

o enredo b~sico do arqu~tipo do M~it ~ desempenhado em an-


tigos rituais de sacrii!cio nas religiOes da fertilidade. Assim, ele nos
fala do cielo da natureza, que vai do naseimento na primavera ao
amadurecimento no vedio, a colheita do outono e a desola~ao e a
morte no invemo, Os antigos ritos dionisiacos, por exemplo, in-
cluiam a mutila~ao do deus e a dispersao de suas partes a~ que nada
restasse. Na base de toda religiao da fertilidade es~ 0 conhecimento
de que a morte e 0 sacriflcio sao pre-requisitos para 0 renascimento: -
Essa ~ a lei b~sica dos mundos natural e espiritual.
Enquanto 0 6rtao busea ser salvo do sofrimento, 0 Mmtiro acq-
--que' 'ele
,.!he, . na c~~vic~ao de trar~ a reden~ao~ Os enredos de po-

137
F
bres-a-ricos e as hist6rias de amor romantico discutidos anterionnen-
te, os romances g6ticos, as vidas dos santos e outros generos simiIa- los cuidados e carinhos no l~. A criac;ao do santuario particular,
res, todos dramatizam e reforgam esta crenga. 0 mesmo sucede com
"
'J'
:longe"' das" tormentas, "rlependia do sacrif{cio - ,Ila()", sOIllent~ ".()~ '".~~­
as nossas grandes reIigiOes. Carol Ochs demonstra, em Behind the criffcios necessanos eXlgidospelit criac;ao de mhos como tambem
Sex of God, que as hist6rias centrais do juda{smo e cristianismo - a de algo mais. Como os homens trocaram 0 mundo dos' cUiclados
disposigao de Abraao em sacrificar Isaac e a disposigao de Deus Pai f pelo mundo das conquistas, as mulheres ficaram encarregadas de
em sacrificar Cristo - dramatizam 0 poder de cura do mart{rio. 1 cuidar de ambos.
Se 0 amor ao filho 6 grande, sacrificar esse filho constitui 0 sa- f
crif{eio mrudm,o, maior ainda do que a pr6pria morte. Considerada
o sacriffcio da evolugao f~minina nesse esquema tern constitu(-
metaforicamente, a disposigao de sacrificar urn "filho" tamb6m pode I do at6 recentemente uma redenc;ao tanto masculina quanto feminina.
Naturaimente, esse arranjo mutHou as mulheres porque, em vez de 0
r~presentar urn tpovimento para al6m do egocentrismo nareisista do
Orfiio, 0 que exige de n6s aprender a dar e zelar nao apenas quando I sacriffcio ser apenas uma tarefa evolutiva, ele definiu toda a vida
6 isso facil, mas tambem quando 6 dif(cil, quando 6 preeiso dar a feminina. Ademais, os mitos do amor e do sacriffcio tern sido usados
pr6pria custa de nosso pr6prio sacrif{cio. I para manter as mulheres em pap6is tradicionais e limitados. Por con-
o sacrif{eio e 0 martfrio foram alvo, nos ultimos tempos, de uma seguinte, 0 movimento feminista nao foi muito respeitoso, em sua
propaganda muito negativa, tanto no modelo masculino como no fe- I ret6rica, para com 0 sacrif{cio; ainda assim, 0 martfrio orientbu
minino; no en4mto, dificilmente uma' alma deixa de acreditar neles grande parte da atuagao nesse movimento - assim como em muitos
de alguma forma. Em sua base esta 0 reconheeimento de que "Nao
sou a unica pessoa no mundo". As vezes deeido fazer algo nao tanto
I outros movimentos revolueionarios.
Por exemplo, Eleanor Smeal, presidente da NOW, armnou em
porque quero, mas porque sera born para outrem, ou porque acredito I entrevista ao Cincinnati Enquirer (18/3/83) que compreendia as
que isso 6 0 certo. Algum sacriffeio 6 necessario no relaeionamento
~moroso com outras pessoas. obreiras do movimento feminista porque era uma delas: "Sei por que
as pessoas fazem 0 100.0009 telefonema, embora estejam tao cansa-
o Sacrificio como Ren6:ncia das que s6 pensam em parar. Conhego a lealdade. Sei por que esse
movimento representou e representa a vida delas. A energia do mo-
Existem duas grandes razOeS para nossa desconfian<;fl do mart{rio vimento 6 0 zelo das pessoas. Quando isso acabar, 0 movimento das
- al6m da aversao tipicamente humana ao sofrimento. Grande parte do
mulheres cheg~a ao fim." 0 rep6rter observa que algo naquela mu-
mart{rio que vemos a nossa volta 6 de urn n{vel de desenvolvimento
bastante rudimentar - na verdade, 6 0 pseudomart{rio. 0 estere6tipo lher "de voz perp~tuamente cansad a tocava as pessoas " .
da mae americana ou da mae judaica reflete de forma exagerada os' Percebemos aqui mulheres sacrificando-se segundo ~modelo do
~f~it9s destrutivos de ser designado prematuramente para 0 papel de Martir mais tipj~mn~nte masculinQ~-::::..,!tc!Q.~!.~~ l~.~~!?a;y,~~meu!~~o
Martir, sem permissao para encontrar a si mesmo nem tampouco para p;e~"adapr6pria saUde ou f~Uc~Q.~Q~",,~J(Lpa(s,pela.emp(esa..Q1LP-e..-
lutar por aquilo que se deseja.. Da( resultam a amargura; a maqipu- ~la 'causa. E natiirijmente, as mulheres correm 0 risco de deparar
'I " .. ' . ,

)ac;ao e 0 sentimento geral de culpa e desassossego. I com os mesmos problemas dos homens, ou seja, dar.. se por uma cau-
As mulheres, par;ticularmente, desconfiam da glorificagao do sa- sa ou uma abstragao sem atentar especificamente para 0 impacto de
crif{cio porque fizeram mais do que Ihes cabia verdadeiramente, em seus atos sobre os indiv{duos. Por exemplo, 0 genitor trabalha 0 dia
detrimento do seu pr6prio crescimento em outras areas. Em determi- inteiro a run de proporcionar urn born futuro para seu filho, mas
nado ponto, as tarefas da culturfl foram divididas. Os homens de- nunca chega a conhece-Io realmente; urn polftico frabalha para 0
viam competir com urn mercado, definido metaforicamente como
"povo", mas na verdade despreza as pessoas comuns, que nao tern
uma "selva", e lutar, quando necessario, a fim de proteger 0 lar e a
poder nem relac;6es.
famfiia. ~s mulheres deviam' criar urn universo caracterizado pe-
Para as mulheres da nossa cultura, 0 sacriffcio passou a ser valo-
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rizado por si mesmo. Nao apenas 0 sacrif{cio por algu6m ou alguma I sua obediencia e castidade se Ele fizer dele um grande compositor.
coisa~ mas 0 sofrimento em si, sobretudo por amor, sao redentores.
A literatura tradicional estimula essa atitude. A paciente Griselda de
I Ele se tom a um bom compositor e esffi satisfeito consigo mesmo e
com Deus - aM conhecer Mozart. Mozart 6 desobeyiente, irreveren-
Canterbury Tales, de Chaucer, por exemplo, 6 retratada como a per-
feita esposa medieval. Ela continua sendo amorosa com seu senhor
I te, indisciplinado e nada casto, e no entanto compoe sem nem mes-
mo precisar fazer corre~6es. Salieri conclui que Deus fez do infame
(seu marido) mesmo quando ele a rejeita, arranja nova esposa e si- I Mozart um instrumento divino, em vez do virtuoso Salieri. A injusti-
mula 0 assassinato de seus filhos. Todo 0 tempo ela 0 serve pacien- ~a vai al6m do que Salieri pode suportar, e assim ele declara guerra
temente~' Por fnn ele percebe seu valor, proclama-a a esposa ideal, I a Mozart e a Deus.
manda embora a outra mulher, traz os filhos de volta e eles vivem Essa mentalidade, que orienta 0, primeiro est~gio do martmo pa-
felizes para sempre. 2 I ra a maioria das pessoas, 6 na verdade 0 pseudom~rt:{rio. Os atos sao
Contudo, para muita gente na vida real 0 sacrif{cio nao 6 recom- sacrificiais, a forma 6~()I!~!~,ml:!§ 0 objetivo 6 0 mesmo visado pelo
pensado como nessa hist6ria. A esposa pode sacrificar-se continua- I '6rlao -:'-'encontraruma maneira de ser salvo. Nesse modelo! ,os M&-
mente na esperan~a de obter a aprova~ao e 0 amor do marido ou dos tires nao somente se sentem destitu{dos a maior parte do tempo, ~r­
filhos, e no entanto, descobre que seu valor 6 cada vez menos reco- I que estilo sacrificando partes de si mesmos, no empenhode receber
nhecido. 0 empregado pode sacrificar seus fins de semana e suas yalida~ao de Deus ou de outras pessoas, como tamb6m, a semelhan-
noites pela empresa, sem receber qualquer recompensa. Na verdade, I ga de Salleri, em geral .""
sao colericos. Para eles, e fundamental .,que' os
I ~"".,,,-,,,,-,,,,

n~o.,:r~o as ~ssoas consideram 0 M~rtir que se sacrifi~a pelo~ 'ou- outros obede~amas me~mas regras por eles seguidas, porque s6 con-
lrQ.!U!!l1 indi~iduo desp;~~id~ 'd~«~~r~pr6prio e otratam co'rna tal. ' I seguem acreditar inteiramente que seus sacrif{cios funcionarao para
M~tO;-'reli'giosos 'tent8m' serverdadeiramente "bons" para agra- eles se 0 mesmo sistema funcionar para os outros. Eles precisam do
dar a Deus:'" Supg';~que, agindo assim, serao poupados dos sofri-
I sofrimento da mulher solteira e gravida (podem declarar 0 aborto
mentos e da afli~ao experimentados pel as outras pessoas ao longo da
vida. Quando percebem que issonao acontece~ eles sedesiludem ou
I ilegal, por exemplo), pois do contrano sua castidade parecera menos
virtuosa; precisam que os trapaceiros sejam punidos, caso contrano
perdem a f6 - declarando que Deus esffi morto - ou entao intensifi- I todo 0 ~rduo trabalho por eles realizado parecera sem sentido. Sua
,cam seus esfor~os na tentativa de converter as outras pessoas, elimi- ira mais feroz recai, a semelhan~a de Salieri, ~9bre aqueles que
nando 0 pecado interior e exterior - tudo isso na esperan~a de sub- I zombam das regras -e continuam prosperando. E dedic:am~seainipe­
trair-se aos sofrimentos da vida. Os Mmtires aprenderam que ~ vi- dir que estes nao possam prosperar multo. Neste n{vel, eles precisar,n
'da reCJ.uer mais, do, que esperar passivamente a- saiva~ao. Acreditam I
I presenciar a punigao de outrem para acreditarem qu~ suapr6pria
'p-a-
qu~asalva~a()precisa ser'obi1(ji:i"ittritv6s do sofrimento' 'e de urn bondade lhes trar~ iS~l!~ao." " ' ,
balho'&duo.Ness'a etapa~ osM~"tires trabalham artluamente p~ra I E, 0 que e pior, 0 martCrio costuma ser usado paracamuflar a
~ag~adar ~' 6~ils,aos'patroes~aos-""companheiros. Eles querern arnor e covardia. OsMartires podem ocultar-se atras dessa mas~~ d~'b()p­
estima. Seus esfor~os constituem uina tentativa, consciente ou in- I d;de;'''e '''abne'ga~a~~ evitando empreender suas jomadas,' des90bpr
~6iiseiente, de obter 0 que quer que seja de que necessitam tao de- quem sao QU tomar umaposi~ao~ Grande parte do atrativo dos papeis
sesperadamente. Sentindo-se assim, jamais Ihes ocorre que talvez I sexuais tradicionais esffi na necessidade de os parceiros nao saberem
mere~am amor e respeito pelo simples fato de estarem vivos e por is- quem sao. Alem disso, como os pap6is sao tao completamente elabo-
so fazem barganha~."Q.filme(~~leva essa tendencia a urn ex-
I rados pela cultura, nlio 6 necessario tomar-se realmente (ntimo com
trettlo patoI6gico(:,~ali,~)j, protagonista do filme, faz uma barganha o outro e conhece-lo. Tudo e muito born e seguro, e fatal para 0 pro-
com Deus quando'menino, prometendo-Ihe todos os seus esfor~os,
t cesso de individua~ao.
~, _ _ -,,,,~,,,,,_, _ _ _ _ _ . _ ••••••• ~-'- • .:...,, _ _ _ .~ •• '< ".. .., • h - . v · '",_ , ' . ~ •.•.... ~'. .~.'"

140 I 141
I
mesma maneira, Deus amava tanto 0 mundo que Jesus - (}I pr6prio fi-
omartfrio 6 uma armadilha tao perigosapara as mulheres por- lho de Deus - foi sacrificado da forma mais brutal para expiar 0 pe-
que ele as engodam com a desculpa do crescimento pessoal e de ofe- j cado humano enos abrir as portas do reu. Assim, tamMm os propo-
nentes do pensamento existencialista modemo, nao encontrando um
recer uma contribui~ao significativa ao mundo. Quando temem nilo
estar a altura ou ser punidas pela cultura caso tenham a audlicia de
se decl ararem herofnas com jomadas a realizar, as mulheres podem
I significado inerente ao sofrimento na vida, em geral incentivam a
a~ao social, pondo de lade a gratifica~ao instantanea dos caprichos
refugiar-se na aparente virtude do auto-sacriffcio. em favor do trabalho, a fim de tomar 0 mundo melhor para todos
Se uma mulher enfrenta problemas em sua carreira - se teme 0 n6s. Esse mesmo impulso aflora nos pais que veem poucas esperan-
fracasso, por exemplo, ou se tern dificuldades com a cultura do ~as de melhmar suas pr6prias vidas mas se sacrificam para propor-
Guerreirq, que ela encontra no mundo masculino do trabalho, ou cionar aos filhos uma vida melhor. ,
ainda se estli exausta porque faz todo 0 trabalho de casa al6m do A decisaode zelar pelos outros mesmo ao custo do pr~Eri() sa:
profissional - ela pode optar pela fuga aparentemente virtuosa, deci- crifiCio 6 uxnaes~ollla. ern prql d~LYida.e c()~trana ao de,~,e~pe~o ..,. E
dindo abandonar a carreira e permanecer em casa com os filhos. tamb6m' ~ p~l~~~l'.~.}i~~O eSl'~~~~".~~~re_"~ qu~l a~ pessoas tr~ba~ham
Embora em alguns casos, sem duvida, seja acertado escolher 0 lar e hli milhares de anos e que constltul, como Jli Vlmos, a. essencla d()~
os filhos, ou ainda cuidar dos idosos ou enfermos, nao 6 honesto cristianismo e do judafsmo, assim como de grand~.B~: ~.p'ol~ti.9~
usli-los como desculpa para 0 medo do fracasso, a fim de nao afir- esquerdista eliberal. . .., . .
mar suas pr6prias necessidades e val ores no local de trabalho, de Recentemente, conversava eu com urn amigo sobre este livro e
nao insistir para que 0 parceiro ou a famnia divida a responsabilida- ele me disse que, na sua opiniao, 0 her6i 6 algu6m que suportou as
de das tarefas dom6sticas. Da mesma maneira, em Washington, nos afli~Oes e adversidades da vida. Instado por mim, ele explicou que
ultimos tempos, praticamente todo homem que se demite de algum queria dizer algo a16m disso. Os her6is, prosseguiu ele, nao somente
importante cargd publico, anuncia 0 desejo de retomar a vida par- suportam as dificuldades como conservam 0 arnor a vida, a coragem
ticular e passar mais tempo com a famflia. Embora em alguns ca- e a capacidade de cuidar dos outros. Nao obstante todo 0 sofrimento
sos isso possa ser verdade, 6 igualmente certo que essas declara- que experimentam, eles nao 0 transferem para outrem. Eles 0 absor-
~Oes "lar-doce-lar" 0 poupam de revelar os verdadeiros motivos vern e declaram: 0 sofrimento plica aqui.
da demissao, sejam eles discordancias polfticas com a Casa Branca, Para algumas pes~oas, 0 movimento que visa ao sofrimento gra-
desagrado diante de determinada situa~ao ou incapacidade de de- tuito, ao sacriffcio em nome da responsabilidade, encerra 0 sentido'
clarar que os homens do govemo tamb6m tern 0 direito a usufruir maior do orgulho e do amor-pr6prio, constituindo 0 ponto de tran-
de suas farnnias. si~ao do estligio do ortao. Uma mulher poderia explicar a si mesma
ou aos outros que nao faria abortos, nao deixaria os filhos em cre-
ches nem negligenciaria 0 marido para seguir egoisticamente uma
Sacrificio Transformador carreira: 0 marido poderia explicar que nao trai a mulher, como fa-
Nem sempre 0 sacriffcio ~ uma forma de manipular Deus ou ou- zem outros homens, nao trapaceia nos neg6cios nem negligencia os
tras pessoas, levando-as a dar aquilo que voce quer, ou ainda uma filp-os, embora tal atitude 0 tenha feito perder muitas oportunidades
forma de evitar 0 desafio, 0 risco e a dor; ele tamb6m ~de ser dado de prazeres e lucros.
livremente, como expressao de genuino arnor e desvelo. Num nfvel Na primitiva moralidade do Mlirtir, 6 apropriad().~ ~~:~_~a.~~~
elevado, 0 Mlirtir nao est<1 tentando fazer uma barganha para saiv~ carem:"se pelos:fi,l.}:),9~., As filhas, por sua vez, frao sacrificar-se por
"o"ser:-"masacredifa'que 0 sacriffcio do ser salvarli os outros. E 0 que 'seusfilh()s~ . Pais e :nIhos devem dar suas vidas de born grado, se
mostra a-hisi6na"Cle Cristo: sacrificar-se para s8Ivar os o~tros. Da
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c6nvocados, por seu pals. Todos sacrificam-se por Deus ou, mais
quais as pessoas decidem arriscar suas vidas para salvar a de outros.
precisamente, sacrificam as partes de si mesmos consideradas pe-
Por exemplo, alguns anos atras, urn passageiro de urn aviao que caiu
cadoras ou impr6prias a servi~o do bern. Nao existe muita coi-
no Potomac durante uma tempestade de neve permaneceu na agua e
sa ~~E.!.._~~..sacrif{cio, que se tornou urn fi~~-sf e desse"-modo
ajudou a salvar as vidas de varios passageiros. Ele acabou sucum-
nada faz para"melh-orar 6munao. De fato,~ni geral ele aumenta
bindo de exaustao e hipotermia e morreu afogado.
~~~d()r:..~~,J:llundo. .,
Vemos esse tipo de sacriflcio nobilitante nao apenas em pessoas
Esta e a situa~ao de Catch 22, de Joseph Heller. Yossarian, per-
que morrem para salvar outras mas tambem naquelas que passam a
sona~em central, toma-se conscio do sistema social em que vive (0
vida inteira ajudando-as. Lembro-me de exemplos famosos, como,
exe~clto durante a II Guerra Mundial), definido inteiramente pelo
por exemplo, Madre Teresa da india; mas pen so tamb6m nas inume-
sofnmento e onde cada vltima vitima outrem: "Alguem tinha de
ras pessoas que se dedicam a trabalhos nao muito recompensadores
fazer algo em algum momento. Toda vltima era urn reu, todo reu
economicamente ou com oportunidade de promo~ao em nossa socie-
uma vltima, e alguem tinha de levantar-se em algum momento para
dade, simplesmente porque se preocupam com outras pessoas. Po-
tentar romper a corrente repugnante de habitos herdados, que colo-
dem trabalhar em creches, lares para idosos, na organiza~ao da co-
cava todos em perigo."3 Embora the tenham dito que ele jogava
munidade ou em muitos outros locais que fazem muita diferen~a pa-
bombas de avioes, para salvar 0 lar e 0 pals, ele reconhece que na
ra as vidas das pessoas. Talvez poucas pessoas saibam quem eles
verdade faz aquilo para salvar os interesses comerciais internacio-
sao, mas essas pessoas tomam 0 mundo, diariamente, urn lugar me-
nais de Milo Minderbinder. E assim ele deixa de pilotar. Yossarian
lhor para se viver. .
sab~ que nao pode necessariamente ser livre, pois 0 exercito pode
Embora a recompensa possa nao ser traduzida em riqueza ou
envla-lo para a corte marcial. Contudo, em vez de sentir a va afli~ao
poder material no. mundo,o
. sacriflcio sincero
----~.-~-.-.. _,._ ..- --- -._-" ..e- transformador e nao '
-- ....... - .. - .... -.~- ... --"'-~"'----,
de .fazer ?~tros vOos ~e bombardeio, essa recusa pode ter algum
.!!!utilad~~.t;:o.~2'Hy~.e rode saber se esta dando 0 suficiente? Quan-/"
efelto POSlt1VO. No mlmmo, ele esta vivendo segundo seus pr6prios
val~res e recupera s~a integridade. No maximo, outras pessoas po-
~~".~~~~"ns~~ ati~l:!.de_¢_co~pat(veCcom sua Identldade,'resuitado ·d~­
_qllgo.. _qll~.,vQc::e e. Em ultima an6lise, sabemos quem'somos"ao'co-
derao recusar-se a pllotar bombardeiros. E assim a corrente de so-
,,?.11~~rmos aquilo por' que morrenamgs. "Grandes-m~it=~~co~~ Mar-
frimento pode ser rompida.
tin Luther King, Jr., por exemplq, ac~~ditavam tanto em si mesmos e
Y ossarian compreende que os sacriflcios que foi for~ado a em sua causa ou prindpios que se arriscavam conscientemente a
fazer, alem de nao serem transformadores, sao ativamente destruti-
morte, em vez de optarem pela morte em vida, prejudicial a alma,
vo~_ para si mes~o e para os outros. Enquanto continuar pilotando
que consiste em ser menos do que se pode ser. Para muitos de n6s,
, aVloes bombardelros, ele age de acordo com as for~as que estiio ma-
,!?J:ll~!decisoes acerca de quando e como sacrificar-nos ajuda-nos a
tando pessoas desnecessariamente de ambos os lados. A escolha de
conscientizar-nos quem somos.
dizer "nao" tambem exige sacriflcios - talvez uma baixa honrosa e,
por conseguir:tte, 0 respeito e a oportunidade de carreira na volta ao
lar; porem, esse sll2.x:i~Icio e transformador porque constitui uma Sacrificio e Identidade
.::~J'0sta ap~~priadae corajosa as necessidades r~ais .de sua situa- A .capacidade de sacriflcio" assim como qualquer outra capaci-
~a(n!spec{fica.
dade, ,~eml'r~ exige uma certa sintonia superior. Vma coisa e sacrifi-
Esse e 0 ,sacriflcio transformador de nossos grandes martires car jbrevemente 0 sono para consolar' uma crian~a que teve urn pesa-
polIticos e religiosos, que sinceramente dao suas pr6prias vidas para delo; outra, bern diferente, e uma mae que sacrifica toda a sua car-
tornar 0 mundo melhor. Igualmente nobilitan1'jes sao os atos pelos reira por urn filho. Vma coisa e urn pai sacrificar hoje seu desejo de
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ir pescar porque precisa trabalhar para alimentar a famflia; outea, acham que dar e mais virtuoso do que receber, provavelmente nao
bem diferente, e trabalhar dW'ante quarenta anos num emprego que sabem dar de manerra correta e bloqueiam os dons que recebem, pa-
ele odeia. Naturalmente, existem epocas, locais e situa~6es nas quais ra que se sintatn sempre perdendo. '
esses sacrif!cios extremos sao necessmos - e quando (raramente) Na melhor das hip6teses, nao nos; sacrificamos pelos outros:
sao verdadeiramente necess3rios, podem ser enobrecedores. Mas ajudamos as outras pessoas enos aprimoramos e definimos ao fazer
com freqiiencia tais sacriffcios maci~os, se nao resultam da covardia" escolhas. Sacrificamos certas coisas que podeclamos ser em prol de
pro vern de uma incapacidade de discemir entre dar 0 necess3rio ~ outras e dessa forma criamos, entalhamps urn ser, uma identidade.
'dar a vida e f~zer a .doa~ao que traz it pr6pria morte ao Mru-tir e, por. Se vo~ a uma loja e vejo urn objeto, que tanto eu quanta minha ami-
conseguinte, aqueles que 0 cercam. ga Elisa gostarlamos. e compro p~ n6~, isso.e .dar, mas nao e sa-
Existe urn tenue limite entre dar e "facilitar" doentiamente (isto criffcio. Mas e se eu disponho de dinheuo suficlente ~ara. comp~
e, sustentar a dependencia ou a irresponsabilidade de outrem). ~.~ s6 urn? Neste caso, defronto-me com urna escolha dif!cil.. Sacn-
vezes insistimos em dar a pessoas que utilizam nossa doa~ao e ener- fico minha pr6pria vontade de ter 0 objeto e 0 compro para Elisa,ou
gia s6 para continuarem' em seu comportamento destrutivq. Tal com-' o compro para mim? De todo modo, tenho que desistir de algo - do
portamento e demonstrado mais claramenie pelo relacionamento objeto ou da experiencia de agradar minha amiga. Fazer uma escolha
simbi6tico e vicioso no qual uma pessoa parece totalmente altru!sta, em situa~ao de escassez - seja de dinheiro, de bens ou de tempo -
auxiIiando a outra, quando na verdade esta permitindo ao outro per- me ajuda a definir 0 que e mais importante para mim .naquel~ mo-
sistir num habito fatal, como, por exemplo, viciar-se em alguma mento e desse modo me conhecer melhor. Neste sentldo, smo ga-
substancia qufmica oJ outras atitudes autodestrutivas. Isto tambem nhand~, nao importa a escolha, se a decisao e honesta e nao ditada
pode ocorrer, de forma menos extrema, com pais que continuam sus- por aquilo que eu deveria fazer.
tentando financeiramente os filhos muito depois da epoca em que es- Muitos conceitos 'acerca do sacrif!cio em nossa cultura sao con-
tes deveriam ter alcan~ado a independencia. Facilitar torna-se evi- fusos, porque nossa linguagem e nossa aten~ao se concen~ nas
dente na situa~ao, tantas vezes repetida, da dona-de-casa que cuida formas 'extemas das coisas. Tomemos 0 exemplo de duas maes que
de tudo para que 0 marido possa continuar trabalhando. Tal situa~ao decidem abandonar suas carreiras para se dedicarem a cria~ao dos fi-
tambem e caracterlstica dos maridos tradicionais que desencorajam lhos. Aparentemente, ambas sacrificaram uma carreira em prol da
as esposas a trabalharem ou mesmo dirigirem - prometendo cuidar maternidade. Mas, quando analisamos melhor, percebexpos que 0
delas e tolhendo-Ihes, assim, 0 desenvolvimento. processo foi muito diferente para cada uma delas. ..... .
Urn teste facil do papel de tornassol pode determinar se alguem Suzanne era estat!stica. Adorava 0 seu trabalho e come~ava a
esta dando ou facilitando. Se, quando doamos, nos sen!!m9.~.~'§~~Qs desenvolver sua capacidade e reputa~ao. Quando soube que estava .
ou presun~osamente superlores;'esti-riithora-deanaiIs8r 0 que re~­ gravida, sentiu-se dividida por acreditar que a mae deve ficar em'
~mente esta acontecendo. A doa~ao saud~vel respeita tanto 0 dOli<:l<?r casa com 0 filho; mas na verdade ela queria 0 emprego. Por fim,
.
quanto..
aquele que iecebe~S~-os .,..
F~'-""
M4itIres
.. ...... - ...
nao reconhecem....que ,.,ou- ela decidiu optar pelo bem-estar do filho, em detrimento do se~,
tros adultos sadios sao capazes de cuidar de si mesmos, eles os esmo e permaneceu em casa, ansiando pelo momenta em que' podena
mutilando. Se usam a doa~ao para que possam sentir-se superiores, voltar a trabalhar.
~na"verdade eles esmo mascarando sua pr6pria inadequa~ao e preci- Madeleine, por outro lado, era urna jornalista em ascen~ao. As
sam ficar atentos. Caso contr3rio, temo urn interesse velado na de- pessoas surpreenderam-se quando ela abandonou uma carrerr~ pro-
pendencia de outras pessoas, para satisfa~ao pr6pria ou para que se missora para ficar em casa com 0 filho. Na verdade, ela sentia ~r
sint8m necess3rios e importantes. E, rmalmente, se os Martires conclu(do 0 jornalismo, sentia que ja aprendera tudo 0 que podla.

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De fato, em sua fonna de analisar as coisas, ela desenvolvera seu la- Lembro-me, de uma recente notlcia de jomal que me comoveu
do "masculino" e queria desenvolver 0 lado "feminino", provedor. profundamente. Um casal perdera 0 filho adolescente. Entrevistados,
Sabia que era muito durona. Agora queria aprender a ser mais suave. eles enfatizaram nao a inacreditlivel perda, mas a gratidao por terem
Alguns' anosdepois, quando voltou a trabalhar,suas hist6rias ha- estado com 0 filho durante 16 anos. Nao precisaram ve-Io crescer
viam ganhado em profundidade, e sua inflexibilidade misturava-se a e ser bem-sucedido para sentir que seus esforc;os, e provavelmente
uma humartidade lllais plena, a uma compaixao mais profunda. seus sacriflcios consider4veis, tinham "valido a pena". A experi8n-
E evidente que 0 sacriflcio relativamente f4cil de Madeleine cia de ter'sido pais dele era a pr6pria recompensa.
6 coerente com seu processo de individuac;ao. Mas 0 de Suzanne A prop6sito, h4 pouco tempo eu conversava com uma amiga,
tamb6m 6. Ela descobriu, de forma mais sofrida, que acredita na uma terapeuta massagista. Ela contou que em certo momento tomara
importancia de ficar em casa com 0 filho, em detrimento da car- consciencia de que enviava sinais para as pessoas, demonstrando a
reira. Se ela assume a responsabilidade dessa escolha, esse fato satisfac;Ao com seu trabalho, dizendo-lhes como elas eram 6timas.
tamb6m pode constituir urn grande passo evolutivo em sua vida. Sentia que estava dando tanto ao seu trabalho que queria uma res-
Ou, se mais tarde ela descobre que nao foi uma livre escolha, mas posta para a16m de seus honormos. Entao, ela persuadiu-se de que
simplesmente uma decisao condicionada, ela ter4 aprendido e poder4 amava 0 seu trabalho. Era 0 traBalho de seu corac;ao. Fazer massa-
fazer novas escolhas. Contudo, se nao assumir a responsabilidade, gem era a sua recompensa. Mais tarde, ela percebeu que tamb6m ti-
nos dois casO's, de sua decisao e das conseqiiencias desta, ela podem nha tOOo 0 direito de querer e receber elogios. A medida que sua au-
tomar-se destrutiva, para si e para os outros, tomando-se amarga, toconfianc;a foi aumentando, ela passou a encontrar demonstrac;6es
culpando 0 marido (em vez de tomar posic;ao diante dele, se necess4- de respeito por toda parte. Seu medo original de nao set' cuidada era
rio, para sustentar sua nova escolha), ou culpando 0 filho. Entao, o causador de sua tentativa de controlar 0 resultado de seus esfor-
ambos iraQ pasar. c;os. Quando sua f6 em si mesma e seu universo cresceram, ela pade
o sacriflcio apropriado propor~i()l1a!l()s",.}4~rtires 0 conheci- ao mesmo tempo dar apenas pelo kto de doac;ao e saber que sempre
meni<) mats profundo de seus valores e. compromissos-com 0 tra- teria tudo de que necessitasse-. dinheiro suficiente, amigos, amor e
)alno-e-'as .outras pe~~()~"e,,~~iiw. ~s torna ~~i~, e ~aomenos, 'eles elogios. I
mesmos. inversamente, 0 sacriflcio impr6prio os fai' perder 0 conta- Quando analisamos 0 profundo impacto que m4rtires como Cris-
. :1.0 consigo niesmos e co'IIi sua_~apacidade de amor, intimidade' ou to Ju Gandhi causaram no mundo, torna-se compreens{vel que al-
IllesmQ a aIegria da relac;ao, 0 que resulta nllfl¥l tendencia para ex- gumas pessoas reajam glorificando 0 martfrio em si. Num n{vel de
Pet1encias' sUbstitutiVa's~'trocanaO-'a'-loeritiaade' de' outrem pela pro.. an41ise mais complexo, contudo, nao 6 preciso concluir que seu
·pria.As~i!n, 6. fundari1entalqu~,' as outras pessoas lhes correspondatn I exemplo exige nosso pr6prio martfrio. Existem muitas missoes dife-
as expectativaS. ." '' - rentes, muitos caminhos diferentes. Para 0 Cristo, morrer volunta-
Porexemplo, os pais que abandonam suas vidas pelos filhos riamente em -prol do amor foi a realizac;ao de sua vida. Para outra
quase sempre exigem tributo - que a crianc;a de sua pr6pria vida pa- pessoa, 0 rpartlrio poderia ser uma v41vula de esc~pe para as duras
ra validar ou justificar 0 sacriflcio do pai/mae, sendo bem-sucedido, exigencias da vida. 0 princlpio da sabedoria consiste em sec capaz
atencioso, obediente. Dessa forma, os filhos nao podem ser eles de distinguir entre 0 sacriffcio transformador e 0 simples sofrimento
mesmos. Mas. se a doac;ao dos pais foi apropriada, refletindo aquilo causado por nossa covardia ou fallf de imaginac;ao, que nos impe-
que eles tamb6m precisavam fazer por si mesmos, eles nao necessi- dem de imaginar uma forma mais aIegre de viver. '
tam de tributo, embora, sem dl1vida alguma, apreciemo amor e a A vida exige algum sacrif{cio: 0 nascimento de toda crianc;a 6
gratidao dos filhos.
"-------------,~ . . ,,'" ........
'. .
acompanhado de dor. Para-a: mae, 6 a dor do parto; para a cnanc;a, a

148 149
!I
.1

jomad~ tortuosa atrav~s do canal do parto para emergir num mund'o donnir e conteR=lhe uma hist6ria, Eu ainda nao tivera tempo para
estranho. Nao podemos tomar-nos adultos sem deixar a infancia pa- comer ou tirar as roupas do trabalho .
ra tras, e nao podemos transcender este mundo sem morrer. 0 pr~o
.' :,:"
".,- Por fim, quando ela exigiu com voz chorosa que eu tamMm
de comprometer-se com outra pessoa, com uma causa ou com urn cantasse para ela dormir, respondi mal-humorada: "Estou cansada.
trabal?o ~ a perda da liberdade de tOOas as escolhas que poderiam As vezes voce tamb~m tern de pensarem mim." Ela virou-se para
ser feltas. Como cantava Janis Joplin em "Me and Bobby U"""" ". dormir, estendeu a maozinha e tocou meu rosto, dizendo: "Mae,
"L·b d "'-Tee .
.1 er ade. ~ apenas outra palavra para quem nada tern a perder." A eu sempre ,penso em voce." Havia tanto amor na vozdela qJ.le eu
,tlI11~1l maneIra de ser total mente livre ~ 0 descompromisso, mas nesse me senti total mente amada por minha filha. Sem duvida? este foi
~aso nada temos. ' urn presente tao valioso quanta leva-la para as aulas e f~er:-lhe 0
Po~ ~as de grande parte do ascetismo encontra-se a convic~ao jantar. Mas se eu estivesse apegada a id~ia de meu martfrioconi~ '"
s~perstlcl0sa de que, se nao vivermos realmente esta vida, nao pre- mae, nao teria permitido sentir 0 seu amor e sua forma simples e ha- "
cIsaremos morter. Beleza, sensualidade, paixao sao todos suspeitos, nesta de da-Io a mim. Continuaria a sentir-me vazia, em vez de re-
porque nos levam a esquecer a beleza intemporal de Deus e apaixo- pentinamente plena.
nar-n~s pela beleza terrestre. Os ascetas e tOOos n6s que tememos A cria~ao de minha filha levou-me a ressinton~zar-me com a ga-
experunentar verdadeiramente a vida nao a acolhemos enos mante- rotinha que existe dentro de mim, a reaprender a brincar e a sentir 0
mos a margem de suas ben~aos.' N~s profundezas da psique humana prazer e 0 amor dimos. Quando periniti que tudo isso me penetras;..
encontra-se o. me~o de qu~ possamos pagar caro por nossos praze- se, reconheci que ela me deu tanto quanta eu lhe dei. Os terapeutas
res. Sem duvlda, ISto ~ eVldente no protestantismo e no catolicismo aprendem com seus clientes; professores, com seus alunos; padres,
fun~amentalistas, nos quais os prazeres da came podem resultar po- com suas congrega~Oes. Quando a energia nao flui em ambos os
tenclalmente na dana~ao eternal sentidos, algo esta errado. Se " dare receber acontece sem bloqtieio,
Ensinaram-nos que precisamos devolver, e devolver de maneiras 'ambas as partes recebem mais do que dao ...,. conquanto 0 processo
predeterminadas. Ou entao ~alhamos e nao conseguimos receber tu- "i~tensifique e enriqu~a a energia permutada. Aprender,a qa,r e a sa-
do 0 que nos ~ dado porque definimos 0 ato de dar como virtuoso e crificar-se adequadamente 6 sem qtiyj<;la ta9 dif{cil quanta aprender a
o de receber como ego{sta e caractenstico do 6rtao. Nosso amor- Jogar beisebol. Nossas primeiras tentativas sempre sao bastante de-
pr6prio prov~m da atitude virtuosa e altru{sta:, e assU;<t,loqueamos sajeitadas. As pessoas interpretam mal as coisas e pensam que dese-
nossa . consciencia do quanto recebemos
, " diariamente:" Para dar be m, jamos algo em troca. Ou, a semelhan~a da mae que abandona sua
preclsamos receber bern. Nao pOOemos ter uma coisa sem a outm. carreira ou do pai que trabalha em urn emprego que detesta para sus-
. U~a vez que .nos definimos como aquele que da em determinapa tentar a famfiia, exageramos. A medida que evolu{mos nessa tarefa,
sltua~ao ou relaclOnamento, pOOemos nao perceber 0 quando rece- o dar e receber toma-se 0 jogo de apanhar a bola, praticado sem es-
bemo.s. 0 que acontece particularmente Com os pais. Lembra-me de for~os. Tudo parecf facil - atirar e pegar a bola, joga-Ia novamente:"\,
urn dla em que ultrapassei meu limite de dar para minha filha. Voltei , Nossos primeiros sacriffcios parecem ter sido arrancados de n6s, i
para c~a ap~s urn dia no trabalho particularmente puxado, fit algu- como se estiv6ssemos abandonando partes fundamentais de n6s (,
rna cOIsa. ntpl?a para ela comer e corti para leva-Ia com a amiga a mesmos. Depois aprendemos que jamais se deve abandonar 0' que~ (
~ula de gmastIca. Gomo a academia era muito longe de casa, nao va- essencial. As coisas que sacrificamos adequadamente sempre devem , '
lIa a pen a voltar e assim a esperei, faminta e cansada durante uma ser aquelas que estamos prontos a abandonar. Para a maioriadas )
hora e meia; mordendo a Ungaa, ela saiu ca1mament~ de sua aula pessoas, 0 sacrif{cio 6 doloroso porque elas se sent:em na obriga~a~/
voltei para casa apressadamente, dei~lhe urn banho e vesti-a par~ '/Je controlar ou manipular tudo, para que a bola retome a elas. E se

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elas acham que, por terem atirado a bola para a prime ira base, de- ao receber, sejamos obrigados a retribuir aqueJe que deu. Essa es-
vern recebe-la de volta da primeira base, podem sofrer profunda pecie de doac;ao contratual pode ser uma forma de manipulac;ao.
decepc;ao. Mais tarde, contudo, a bola retoma - da terce ira base Podemos usar nossa intuic;ao e recusar presentes que trag am con-
ou da esquerda do campo. De fato, quando abandonam a ideia de sigo condic;6es inadequadas, mas tambem devemos ter consciencia
que as benC;aos devem vir de detenninada maneira, afirmando ao de que vez por outra simplesmente projetamos os nossos medos
contrano que aceitarao 0 que necessitarem, as pessoas sao assedia- naquele que da.
das por muitas bolas. A comunicac;ao nos relacionamentos melhora muito quando dei-
Quanto mais. damos d~sta fonna livre, mais recebemos - porque xamos claras as nossas expectativas em relac;ao aos entes queridos.
a natureza abomtna 0 vazlO; ela nos preenche. Isto e, se nao enten- Como quase todas as pessoas dao aquilo que gostariam de receber,
demos mal 0 sacriflcio e consideramos 0 estado de esvaziamento urn sem perceberem que 0 outro pode desejar algo muito diferente, e
bern estatico e nao apenas urn estagio do processo. Nesse caso re- bastantb uti! falar de nossas expectativas. Certa vez, tive urn relacio-
cebemos aquilo que pedimos - vazio e exaustao. ' namento com urn homem que achava que eu nao 0 amava porque
Quando aprendemos. a dar e receber, podemos mergulhar no flu- nao fazia pequenas coisas para ele, como, por exemplo, pregar
~,?~~~~r e receber, que constitui a ~ssencia do amor - a reclproci- botoes em sua camisa. Quando qle me revelou isso, fiquei furiosa,
da<!e:.....Qessa fonna, 0 fluxo de energia nao segue urn unico sentido achei que ele estava sendo urn macho chauvinista. Mais tarde, per-
mas ambos. Eu the dou e voce me da, e ambos recebemos plenamen~ cebi que ele nao queria exatarnente que eu fosse uma mulher con-
te a energia. Cristo disse: "Ama ao teu pr6ximo como a ti mesmo." vencional, mas que sua ideia de como demonstrar amor consistia em
Con~udo'f sac~ff~~~~eIIl.si~<>...SQnfundido comamar ao pr6ximo em fazer pequenas coisas,como pregar botoes. na camisa do outro. Co-
, detrimento--aesfrrlesmo. mo minha ideia de como demonstrai amor conslste em dizer "eu te
Para que 0 sacriflcio ou 0 que quer que seja possa ser transfor- amo" e compartilhar os segredos do corac;ao, eu me senti desamada
~dor, deve":se pennitir sua entrada. Por isso Cristo pediu aos seus - nao reconhecendo que ele demc.>nstrava seu arnor por mim. devol-
dlSCf'pulos, antes da crucificac;ao, que celebrassem a comunhao "co- venda meus livros atrasados da biblioteca! Para ficarmos juntos, ti-
mo uma lembranc;a de mim". Por isso tambem, se prescreveram aos vemos de aprendero vocabulano de clo~c;ao
.... , .- .... " .... _......"'" . ,........,. . . .....
dooutro;-
. "··.
,.." ., .." . >···..--".... ·· . ··.... ·~··..r-·"~··.,·
. '.. .
hebre~s alime~tos especiais da Pascoa, em comemoraC;ao ao Exodo
'~-""'"

do EgltO. A alimentac;ao e urn sf'mbolo poderoso do recebimento de


uma dadiva, pois nenhuma dadiva pode ser fonsiderada como tal Colnpromisso
enquanto nao for recebida. Para muitos, a simp.!~~_.. jcleia de estabelecer urn comproDli~~o
Assim como na doaC;iio, para receber e preciso uma certa habili- I _'E:~?r.~.2!!L al&!!~~=:~~jciU!_p!"QfitndQi]..~m.ore.s.Por-exenipio, . seria
dade e discriC;~o . .ce~_~_~~~oa~_?lo~ueiam a.s dadivas embora sejam born casar com esta pessoa, mas e se depois eu conhecer alguem de
por elas assedladas,. porque .Oesconhecem sua pr6pria voritadciae-ie- quem goste mais? Ou se ele me deixar? E se ele for urn fracassado?
ce~r. Elas acreditam que, s6 porque algo lhes e oferecido, devem E se ela acabar igual a mae? E se ela tiver cancer e eu precisar
,acelta-Io e, por conseguinte, sentem-se mais seguras ignorando a cuidar dela? Comprometer-se e arriscar-se ao desconhecido, mas,
,. oferta. Formas requihtadas de"'receber levantam a diflcil questao da acima de tudo, e dizer, como George deixa impllcito a Martha em
escolha e da responsabilidade pela escolha de receber uma coisa Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, de Edward Albee: "Sim, esta
e nao outra. Sim, ace ito ca$ar com voce, mas com voce nao. Sim, serve."4 E sacrificar a ideia do qompanheiro perfeito por urn ser
YOU ~abalhar com voce, mas COIl) voce nao. humano real e com todos os seus defeitos. Quando fazemos isso ho-
As vezes nao somos capazes de receber porque tememos que, nesta e Iivremente, por uma preferencia real, 0 resultado pode ser
152
153
jamos verdadeiramente e que j4 possu{mos, e ao mesmo tempo ceder
tra~sformador. Se 0 compromisso ~ recfproco, ele pode trazer urn re- tudo que nao mais necessitamos. Nossa ca~qcidgE!LJiJ:,_!!!!!!£i!!!,~
lac~onamento m4gico, de alegria e intimidade. Caso contr4rio, ainda rrumica ao universo
....cr" ''
nossa disposif!iOpa:ra:r~gQ~r.
' ..-'-'''' . " , ' '. ".' " "''' .., . _. ,," ...,."..
Nao precisamos
aSSlm pode ser pessoalmente transformador, pois atraves dele apren- aga'lTar4ios ~s-coisas protegendo-nos contra urn dia de chuva. :.:~~.~c;~
~~~s a capacidade de amar plenamente e a nao fugir des sa expe- demos de livre vontade, tambem receberemos livre e e:xat01!"!":!.~f!
ne~cla. E aprendemos que e poss{vel sobreviver a perda daquilo que
qUe precisarlWs . ,."" "
matS amamos. ~, No com~o da decada de 70, a escassez de gasolina era uma
Assim tambem e a vida. 0 compromisso de viver esta vida sign i- amea~a. J4 se cogitava da falta de ga,solina, embora ainda houvesse
fica abandoI,lar ideias rfgidas de como 0 mundo deve ser e am4-10 wna reserva adequada. Temerosas, as pessoas come~aram a armaze-
como ele e. Naturalmente, isso nao significa ser desnecess4rio tornar nar. Ironicamente, esse medo de que nao houvesse gasolina suficien-
o mundo melhor ou trabalhar nossos relacionamentos. Mas sim, que te constituiu uma profecia que acabou por concretizar-se. Quando as
~odemos abandonar a .!'ostura de idealistas desapontados e permi- pes~oas acreditam h~ver 0 suficiente e assim compartilham livremen-
trr-nos Fo.n~ecer a ben~ao de estarmos encarnados neste planeta. N6s
A

te, h4 de Jato 0 bastante. 0 que J='ranklin Roosevelt disse em 1933 e


n~s ~rmltlrmos receber tudo isso. 0 que tambem implica abandonar
verdade:"A unica coisa que devemos temer e 0 medo."
a ~~ela d~ .,es,c:,asse~: nao existe 0 suficiente para todos e eu nao sou Nossa capacidade de receber a vida plenamente' relaciona-se
suficiente~' voce nao e suficiente e 0 mundo nao e suficiente. Acei- psicologicamente com nossa disposi~ao de dar 0 que ela nos pede:
tand~ ~. Vida, podemos acreditar na abundancia de amor e bens, na amar 0 mais completamente, embora saibamos, que isso nos exp6e ao
posslblhdade de ser feliz. sofrimento e a'dor; viver segundo nossa voca~ao, realizar, no~so tra-
balho, nao obstante 0 risco de fracasso, de pobreza ou de receber
Capacidade de Doa~o pouco ou nenhum reconhecimento; e por fim morrer, pois esse eo
pre90 que pagamos por ter vivido.
.. Quando aprendemos a dar e receber de maneira adequada e ha-
blhdosa, 0 re.sultado e milagroso. Alguns anos atr4s, tive a oportuni-
dade. de parttcIpar de uma Cerimonia de Doa~ao dos fndios norte- Aceita~ao da Mortalidade
amencanos que me permitiu perceber como 0 processo de abandonar o Nomade, 0 Guerreiro e 0 Mago aprendem li~Oes cad~, ~ez
o que voce nao mais ~ecessita e dar aos outros aquilo de que preci- mai~ requintadas sobre as f0rJD~, de controlar suas vidl:iS e seus des-
sam pode acontecer slmultaneamente, de maneira m4gica e simples "{mos': Ironicamente, somente quando esse controle e alcan~~do, q
An~es da .cerimonia, disseram-nos Ji>ara levar algo que nos pareci~ he~§i,po_d.e a~~!1~()!14::1~,~~prelldera}~9ao fin~
d<.) In~,fri? -,Il~ei.t~~
mUlto Vall~SO (nao nec~ssariamente de valor monet4rio), algo que a
--ilmortalidade. A morte e fundamental natureza. As folhas caem da
, tambem esttvessemos pSlcologicamente prontos a abandonar e deixar '~o~~ a cada outono, tornando poss(vel a flora~ao ,da primavera.
para tras. D~verfamos depositar 0 artigo no altar. Entao, todos cami- Toda vida animal, incluindo os seres humanos, vive alimentando-se
~ar{amos dlante do altar e pegarfamos 0 objeto que nos atra{sse. 0 de outras formas de vida. Por mais que tentemos neg4-10, os seres
~la~e, co~o descobrimos mais tarde, ao compartilhannos as expe- humanos fazem parte da cadeia alimentar. Comemos plantas e ani-
nencla~, f01 que tod~s recebqram 0 presente certo. Essa experiencia mais,.e excretamos substancias que fertilizam 0 solo, de modo que
me. ensmou que os mtlagres da sincronicidade (coincidencias signifi- mais plantas possam crescer. Toda respira~ao vital depende de nossa
catlvas) acontecem - e regularmente! rela~ao simbi6tica com as plantas, com as quais permutamos oxige-
.IQdol!i"podemos t~r 0 suficiente senao armazenarmos. Nosso nio e di6xido de carbono. Por ocasiao da morte, nossos corpos
trabalho consiste em p;ezar'toiaimente e guardar 'aquila "que dese-
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154
j
j

entram. em decomposigao e fertilizam 0 solo. Esta e a sabedoria que


as religioes da fertilidade nos ensinam.
Essa danga c6smica de nascimento e morte, amor e sacrif{cio,
pode estar ligada as pr4ticas asceticas que nos afastam da vida. Tal
danga nos fala de Eros - paixao. Ele nos exige 0 abandono de nos so
.'. medo da perda (incluindo 0 medo da morte) e 0 mergulho no extase Capitulo 6
da vida. Afrodite, Eros, Dioniso exigem nossas vidas de n6s, mas
oferecem 0 prazer terreno ~ divino, sexual e espiritual, temporal e OMAGO
etemo. Nesse drama da fertilidade, todos os nossos amores, e ate.
mesmo nossas luxurias, sao parte do processo de transformagao e She was the single artificer of the world
renascimento c6smico. Os deuses nos amam nao a despeito de nos sa In which she sang. And when she sang, the sea, ,
mortalidade, mas apaixonadamente, por causa dela. Whatever self it had, became the self
That was her song,for she '/'Vas the maker. Then we,
Nossasvidas sao a nossa contribui~ao ao universo. Podemos As we beheld her striding there alone,
oferecer esse qom livre e amorosamente ou entao rete-lo, como se Knew that there never was a world for her
isso fosseposs{vel, recusando a vida para evitar a morte. Mas nin- Except the one she sang and, singing, made.
.. ;..
guem pode faze-lo. E muito pior morrer sem punca ter vivido! A Ela era 0 (inico artifice do mundo
ligao ·final do ·M4rtir consiste em optar por doar sua pr6pria vida pe- Onde ela cantava. E, quando cantava, 0 mar,
10 bem da doagao, sabendo que a pr6pria vida e a recompensa e Qualquer que fosse seu ser, transformava-se no ser
Que era a sua can~ao, pois ela era a. autora. E n6s,
lembrando que todas as pequenas mortes, todas as perdas em nossas Vendo-a andar a passos largos, sozmha,
vidas sempre trazem consigo a transformagao e uma nova vida, e Soubemos que jamais houve urn mundo para :la
que as mortes reais nao sao 0 rnn, mas simplesmente uma passagem Exceto aquelc que ela cantava e, cantando, cnava.
mais dr4stica para 0 desconhecido. Wallace Stevens, "The Idea of Order
. Enquanto nao estivermos dispostos a dar nossas vidas a vida, ' at Key West"
. sempre estaremos possu{dos pelo martfrio. Podemos rejeitar 0 sa- I
crif{cio filosoficamente, mas descobriremos que inevitavelmente nos Toda cultura tem uma hist6ria sobre a cria~ao. U~a deus~ pOe 0
" martirizamos ao viver 0 Nomade, 0 Guerreiro e ate mesmo 0 Mago. ovo c6smico ou um deus pronuncia as palavras m~glcas, cnando a
1 Quanto mais livre e destemidamente damos, menos isso nos parece luz. 0 arqu6tipo do Mago nos ~!l.~i~a .~~?~~_.~ ~r~~~<>.,._~?.?~c:._~~~sa
__
; um sacrif{cio e mais uma simples expn~ssao de quem somos. Desse i capacidade de· criar-aql:1ilo que jam~ls"e:"-ls~nl, s66rea af"trma~ao ~e
I modo aprendemos que, em ultima an4lise, todos somos um e aquilo ) riosso papel de co-cI:!~dores do un~verso~ Contudo, ~.s~~.I'-~pel.na~
\ que nos une e 0 amor.
". . .
. nos' to~~j~~~9j.ais.. ou.iIl~?mp~4vels, P?:':9.u.:~!O 116s.~ c~.~~~~lh~
moinaoapenas com os deuses mas tambem com 0 malS um e ser
hU~8nO, com as plantas, animais, montanhas, estrelas - ~.do e
com tOOos. No entanto, embora grande parte de noss~ co-cna~ao. se-
ja -interciependente de todos esses outros atores c6s~cos, em ultima
an41ise n6s criamos noss~ mu?do e, por conregumte, somos res-
I
pons4veis por nossas pr6pnas vldas. . .
Quando adentramos 0 terreno do Mago em nossa Jomada, depols
I
I 157
156 I
I
que come<;arnos a responsabihzar-nos '
a<;80 no mundo, descobrimos que 0 M:: :~;~~;ldas :. ~o~ ~o~sa nossas identid8:d~~ ~m oposi<;iio a urn universo concebido como' hosl
;~~£~~~ ~u:U=~~';:S~:'6ii~u~~~: :o~:';u~::!~.:r: tifeperrgo-~C;. EnqllantQ _Magos~"
..-- _. . _-_._-'--'-'" ._-._-......c-onsideramos'--o-Wiiverso-u~~
~!~~y.~l-e ~qll:yi~ativ() e as_si~ _~~?~ra:no~~_inoce~~. Aprende-
----=----- ------------
~sco~ri Esta 6 uma maglCa segundo 0 ponto de vista do 6r:tao mos que nosso relacionamento com a vida assemelna-se a rela<;ao
mos que n 6 s mesmos somos 0 M N .
passam a acreditar que 0 '

, Baoa p.9<:iemos
, - -- -- -- - ser
-niio
_ ago. ~ste ponto, os her6is
umverso nao e estatlco Ele
~~~on~s::~~~:;o::~:s~: !~~~rS~:::SoM~~:~~ n6s·estam~s :~~~~~~
- e--M~~o_~.t'-------
1\o.T-
l.31aO podemos ,
Vlver
I com um arnante potencial. Entramos no relacionamento no limiar de'
nosso medo - Estarei em seguran<;a? Serei amado? Estou cometendo
um erro? Esta 6 a pessoa certa? - ate que pouco a pouco descobri-
mos que podemos confiar, abandonar a defensiva e realizar a dan<;a
alustar VIda Contudo -- --------- - sem ordenar e
____ t da vida juntos.
--d~_Ql:ffio- de q~e 0 Mage: 6 ~Iq~a;mO nao aband<:>nannos a conce~ao­ o Mago aprende que nao somos vltimas da vida; somos parte
capaz de vitima ----- -- g ---_ ~-':l~_!~z_ magla para voce ou 0 mal
"cn-----'" - d- -- - -10" nao poderemos assurnir a- responsabilidade pela
a~ao e nossas vldas Enq t I
I da expansao de Deus. A resolu<;ao da dualidade Guerreiro/Martir,
identidade e voca ao·
a-cr-----;----- -- uan 0 utarrno~ Corn nossas gue~t6es ,de
9 , sempre havera 0 pengo de usarrnos nosso
II segundo a qual ou tomamos(la-vIda -ou damos, esta na compreen-
sao de que cada urn de n6s contribui para a expansao divina, nao
er estruttvamente. E enquanto nao solucionarrn-", - , ~- ocultando nossas naturezas para viver segundo algum ideal de per-
dO Guerreiro, correre,mos 0 risco de utilizar 0 p~;e~~:a~;uestoes fei<;ao, mas pennitindo-nos ser quem somos, amar quem e aquilo que
d emonstrar nossa supe' 'd d go para
id6ia sedutora de quenopon d:::o~u t~n~ controlar outras pessoas. A amamos e realizar 0 trabalho que traz contentamento aos nossos
mei d ' so UClonar nossos problemas por cora<;6es e mentes.
, 0 a magi a, ern vez de empreender nossas jomadas deu ao
Vlmento da Nova Era (0 qual articulou ', mo- No entanto, .isso implica abandonar a ilusao de que podemos
de ver 0 mundo do Ma 0) uma co no ,_em gr~de ~edlda, 0 modo fOr<;ar a vida a ajustar-se a nossos scripts~de que podemos moldar as
pessoas - sobretudo porque alguns ta~ao, ndegattva Junto a algumas pessoas segundo a nossa id6ia do companheiro, amigo ou empregado
, aSSOCla os ao movim t
garam-se a certos conceitos do M
mente P , ,
en 0, ape-
ago sem compreende-Ios inteira- peneito, ou m~smo. de que p<>ctemos ajustar-nos as nossas pr6prias
bilizw-"-n~I exemplo, ele~ utihz~ erroneamente a id6ia de responsa- imagens daq~ilo-que deverlambs"ser.Para os Magos e os Nomades,
para atr'b ,por nossas vldas, equlparando responsabilidade e culpa , a vida e uma aventura de descobem.... Mas os Magos assumem a res-
1 Ulr aos outros a culpa de seus problemas Al ' ponsabilidade pelomundo que criam~'-aimla que inadvertida e cega-
encontram-se evolutivamente no estagio do 6r:ta· gumas pessoas
mente, apenas vivendo suas vidas.
~os conceitos relativos ao Mago na esperan<;a ~o, mas apedgam-se
Jomadas e nao promove-Ias. e escapar e suas Eles sao duros consigo mesmos, mas nao tern a dureza do Guer-
I
( , ~e ~ao resolvennos totalmente nossas quest6es Ii ada ,I reiro. Os Guerreiros aprendem a obrigarem-se a farer aquilo que te-
\ tIr, dlfictlme~te poderemos vivenciar intei,&:amente 0 p~der ~:~Mar-l mem e lutam em condi<;'6es de in feriori dade. Os Magos descobrem

~ :r~~~v~r~: ~~~fi=;~samos
aquilo de '
entregar nos~as vidas destemidam:~~~
que nossos d~ns sao os corretos, que somos
> I que a for<;a, num n(vel mais profundo, nao funciona;' que~ se nao
flufrem com 0 universo, mas lutarem contra ele, nem toda a perseve-
ran<;a, habilidade, coragem ou sabedoria do mundo os ajudarao a
, que os outros, 0 umverso e n6s mesmos p
CIsamos . Se nao
- ttvennos
, urn conhecimento I d' re- conseguir 0 que querem. ,Eles percebem que uma nova fonna de di~­
poremos nosso tr~balho a perder, oferecendo ~:r~ad~sso, sempre ciplina 6 exigida, a c1areza e a for<;a devontade para agir sempre de
baseando-nos nao ern lvas erradas, JicQrdo com seu ser interior mais s~!:>i~!._·· . - ---
,quem dever(arnos ser. quem somos, mas numa id6ia a respeito de~/
Neste n(vel, a disciplina necessaria ao contato consigo mesmos
Enquanto 6rfaos N~ d M.I:-' sem duvida nao 6 menor do que a exigida pelos Guerreiros. Todavia~
" - .-____ " ,o,~~ e~-',!:'l,~~~,~__e,g~~~in?s, percebernos
essa '"':i_.
disciplina funciona nurn contexto de humildade e de um certo
158 ___ ... ' '_.. _,_. ','_'_ •..... ,., .. _ _ _ _ _ _..._..... I._,..-.<;t$~

159
fatalismo P9sitjvo. Nao importa 0 que queiramos, se nao tiver de ser, coisa m~gica ou mlstica, mas conhecem aqueles momentos em que
~";;'+senr"Os Magos sabem que nao sao 0 centro do universo; contu- se sentem fluindo com 0 universo e tudo corre xyagicamente bern.
do, esse conhecimento nao os perturba. Eles sabem que sao impor- Os Magos lutam para viver em harmonia com os mundos super-
tantes, que suas 'escolhas e atos individuais se acumulam para codi- natuiaI e natural, 0 que exige totalidade e equilibrio interiores. Os
ficar () universo e, assim como 0 Mrutir, eles sabFm que apenas ofe- Magos tern de aprender nao somente com 0 arquetipo do Mago mas
recendo seu dom unico ao universo e que a verdadeira felicidade e tambem com todos os outros discutidos neste livro. E fundamental a
satisfa~ao poder~ ser alcan~ada. resolu~ao do dilema do Ortao, 0 que permite aos MagoS conflarem
Enquanto _~s (Juel!~iIvs.aptend~m as leis de causa e efeito, os nurn poder superior a si mesmos e submeterem-se a ele, afirmando:
.Magos aprendem as da magia. A magia funciona sem causa. Com- ~'Seja feita a Tua vontade." Naturalmente, os Magos compreendem
preendemos quando urn medico receita urn medicamento para com- isso nurn myel diferente do dos 6rtaos. Estes sup6em que fazerem a
bater urna infec~ao, porque isso constitui urn exemplo claro de causa vontade de beus significa abandonar sua pr6pria vontade, def'mida
e efeito, e tambem porque conhecemos e acreditamos na trama ar- como comportamento egocentrico e ignorante, contrmo ao plano di-
quetfpica de matar-o-dragao. Contudo, nao dispomos necessariamen- vino. Quando alcan~amos urn myel mais profundo de autoconheci-
te de urn modelo conceitual para entender tao prontamente 0 Mago, mento, solucionando muitas questOe~ do Nomade, tomamo-nos me-
que, a semelhan~a de Cristo,diz simplesmente: "Levanta-te e an- nos dualistas. Como somos parte de Deus, nossa vontade e nosso
da." 0 Mrutir, 0 Nomade e 0 Guerreiro costumam desconfiar de tais bern, no n!vel mais profundo, fazem parte da manifesta~ao divina.
curas, e talvez por isso a cura espiritual ou pela, fe em geral e evita- Embora os Magos possuam uma forma de humildade na compre-
da ou mesmo desprezada pelas pessoas respei~veis (exceto, natu- ensao de que somos apenas uma pequena parte da grande e contfnua
ralmente, os grandes santos, que via de regra s6 sao respeitados atividade da cria~ao" af'n'mar, a co-cria~ao com Deus e urn ato de
, quando j~ estao devidamente mortos). grande auto-af'mna~ao~Como nenhurn de n6s e'perfeito, corremos 0
A Magia e perigosa em determinados mveis de consciencia por- 'risco de, em vez de melhorar nossas vidas, trazer inadvertidamente
que mexe com 0 desejo do Ortao de solu~aor~pida e salva~a<;> ex- mais sofrimento e dor pam elas e para as dos outros. Assurr,rlr a
tema. O. M~ir, 0 Nomade e 0.. Guerreiro tern modos diferentes de
~
responsabilidade pela co:cti~~a() do universo exige assuminnos
taml?6m a .!~EQ~~~lidac:ie dOB resultados .ap~e~temente indesej~­
, ,

aprender que precisam fazer algo para serem curadps. Eles devem
softer, buscai e trabalhar duro, res~tivamente. Vels. Ate mesmo Deus, segundo a Genese, criou Sam no processo
, , , ' . . .. ,," , - ' .. ..
de'e],iwora~ao do universo e depois enviou seu filho para mitigar os
I'N~'.",,-,,

Mas '0 Mago compreende a gra~a - nao como uma ocorrencia


extraordinma, mas simplesmente como urna forma de energia a nos- resultados. Esses' equ!vocos aparentes sao parte in~vi~vel da
sa disposi~ao. H~ ocasiOes em que nossas energias dec linam, nossas cria~ao,. E~ra possamos imagmar que os deuses sabemo que
habilid~es falham (como acontece com Tom Brown e seu jejurn) ou estao fazendo no processo da cria~ao, via de regra niio 0 fazemos e,
os meios normais e dimos de solucionar os problemas de nada va- por conseguinte, pode~<?~ ,atI:1:,1.ir monstros ,que f'malmente reconhece-
lem. Isso requer a habilidade de permanecer em equiHbrio com a remos como noss8sombra. ," ",. ".,,' ,
, ..•.....•. ~....--....-.-.
fonte de energia ultima do universo. Os religiosos podem chamar a
isso viver em harmonia com Deus. Pessoas de mentalidade mais se- Dando Nome a Sombra
cular diriam simplesmente que aprenderam a libertar-se de sua es~­
tica intema para estar receptivos e receber a energia extema. Exis- Como j4 vimos,~p_ru;.s~gem ~o 6rIao e, do M~ir paI1a 0 Noma-
tern muitos nomes para essas energias. No filme Guerra nas Estrelas de. exige~,qJ.le
os her61S delxem de culpar-se POC~Esproblemas e ve-
ela e denominada A F~a. Algumas pessoas nao a consideram uma 1~~ a So~bra fora de si mesmos.1paradm~almente~-a P~~~g~~_<!..~J

160 161
,2u.erreiro para 0 Mago exige que os her6is reconhe9arn sua respon- demos a enfrentar 0 dragao e a reconhecer que ele e perigoso - para
sabiIidade em rela~ao a Sombra - percebendo que ela e de fato uma n6s e para os outros - e entao transformamos 0 monstro, reconhe-
. part~ deles mesmos., Todavia; tal reconhecimento nao os obriga ao ce,ndo sua existencia e 0 fato de ele fazer parte de n6s.

--
sentxmento de culpa, mesmo que eles matem ou reprimam uma parte A violencia e causad~_~E1_~ande parte pela repressao ~~res­
de si mesmos. sividade_. Aprendemos a' ser agradaveis, a"ceder; aprendemos que
Os Magos transcendem as concep<;oes dualistas e esUiticas do nao temos 0 direito de pedir 0 que desejamos. Muitos de n6s nao
bern e do mal para ver a vida como urn processo."A parte de nosso aprendemos a reconhecer e a afirmar nossas pr6prias necessidades.
ser que repritpimos e impedimos de florescer e crescere tolhida e Por isso as emogoes acumulam-se, como uma bomba-rel6gio interna.
manifesta~se como negatividrde ou mesmo como 0 mar As Pessoas o resultado e uma explosao - 0 6dio e talvez a violencia emocional
ou mesmo flsica infligida a n6s mesmos ou aos outros. Paradoxal-
que estaclOnararn no come<;o do estagio do 6rIao, por exemplo, po_
dem tornar-se criminosos ou v£timas comuns porque suas qualidades mente, 0 ant{doto contra a violencia nao e 0 autocontrole e a re-
positivas nao encontram formas de desenvolvimento. Ou, no caso do pressao, masoaUtOC(;nh~~imento,~_~_capac<idade.,g~._ ;.tJ,ltQ~~p-:r~~~Q
.e arIririac;ao. ..- ' ., .
Guerreiro ou do Martir, certas qualidades podem florescer em detri-
me?to de outras, consideradas fracas ou ego{stas, suscitando perso- , , -'()s M;gos compreendem a coragem e a audacia necessarias a au-
nalIdades desequilibradas e parciais. to-afirma<;ao e a aIIrma<;ao de sua vontade sobre 0 universe quando
pssas qualidades nao-desenvolvidas podem possuir-nos de for- eles ainda nao sao inteiros. Para isso, precisam liberar seus demo-
~a monstruosa. Por exemplo~"ri6ssa,~~1t:ri.ra acaba de sair dopurita~ ~nio§.....illL!!l.!lndo-!.. Na verdade,' como todos somos co-criadores, quei-
Dlsmo para lidar com a ,Sombr~~da sexualidade. Assim, esta costuma ramos ou nao, de_-¥ID_~(I.Q_2u outro sempre correremosesse rj§.co.
manifestar-se sob formas pervertidas, embora extremamente Ilodero- Porem os Magos assum~_I!l,I!.!e..§ponsabilid!!de desse...processo..e-COn-
sas. 0 sexo e usado na propaganda para vender de tudo, de c'arros a fiam fundarnentalmente nele. Se os drag6es nao passam de suas
ferramentas eficaz~, seja por meios subliminares, seja por meio de §ombra-s~-de-"siias'p3rtes sem nome, sem vida, se~ arnor, entaQ a
mulheres seminuas postadas junto ao objeto que se tenciona vender. E..I!ic~" maIleira de transf<?.!!Il_~:,I~s consiste ~m agir e,_~g!g_~.<?.L.l£~~:J!!~
Tal justaposi<;ao s6 tern urn scrntido 16gico quando compreendemos para a luz,d()c:lia.
q~e estamos simplesmente dominados por nossa sexualidade repri- ---TOdaVia, e necessaria u~a certa discri<;ao na li~rdade de, a~,
mlda. Em geral, nossa sexualidade emerge de formas distorcidas e a fim de evitar 0 surg!!!l~~~.<?4~-'~emonlos ~d~Q~iPaIs-para.§Y.e,lll
p~rvertidas. Nos filmes contemporaneos (e na vida contemporanea), _Q.omados. Em A Wizard of Earthsea, 0 Gaviao de Ursula Le Guin
via de regra a sexualidade e acompanhada de violencia. Estupro, se- acredita, em sua arrogancia juvenil, ser suficientemente poderoso
du<;ao violenta, abuso sexual de crian<;as, pornografia, ascensao do para convocar os mortos. Ele consegue faze-Io, mas tambem liberta
sado-masoquismo, t~dos atestarn a realidade da possessao de nQssa urn monstro dos infernos, bastante poderoso para destruir 0 mundo.
cul~ur~ pela .Sombra, assim. cOlIlo a imagem mais sutil, embor~ ainda Embora jovem e inexperiente, Gaviao compreende que sua respon-
mals dlssemmada, de relaclonamentos sexuais nos quais urn parceiro sabilidade e capturar esse demonio, enfrenta-Io e desarma-Io. Ele
(ou ambos) e transformado em objeto.l passa anos nessa jornada soliUiria. Quando finalmente captura 0
Algumas pessoas com a mentaIidade do Guerrerr.o SUp6eID que a monstro e 0 enfrenta, ele compreende que 0 meio de ter poder sobre
r~s..p..<:>~~ ~. esse.dil~m~ esta em matar 0 dragaO=)fwar-se Cia sexuali- ele consiste em dizer 0 verdadeq-o nome do demonio. De frente para
3lfid e. interior e exterior, bani-lao Nesse caso, po~m,h~aIliaa'IDals o demonio, ele 0 chama Ged (v~rdadeiro nome de Gavia~) e, ao re-
repressao, os dragoes tornarn-se maiores e a possessao mais acen- conhecer sua Sombra como uma; Sombra, as duas partes dele me sino
tuada. Quando a resolu<;ao do GuerreirolMartir e alcan<;ada, apren- sao unificadas e a arnea<;a desaparece.

162 163
I

Escreve Le Guin: "Ged nao perdera nem vencera, mas, dando a agitadores culturais nas mais diversas tireas, tais como a music a, a
sombra de sua morte seu pr6prio nome, tomou-se inteiro: urn homem sexualidade, as rela~Oes familiares e ate mesmo a pr6pria imagem da
que, conhecendo seu verdadeiro ser total, nao pode ser usado nem Am6rica como uma sociedade justa f amante da paz. Vez por outra
possufdo por nenhum poder a16m dele mesmo e cuja vida, por con- os Magos respondem ao caos criado por outras pessoas, embora nao
seguinte, 6 vivida por si mesma e jamais a servi~o da rufna, da dor, possam nem queiram assumrr essa responsabilidade. Entao os Magos
do 6dio ou das trevas." Depois desse triunfo, Gaviao canta uma me- restauram 0 equilibrio da psique ou da sociedade dando nome a
lodia sagrada que celebra 0 paradoxo: "Apenas no silencio a pala- nova realidade e domesticando-a ou transformando-a. A16m disso
vra, apenas nas trevas ,a luz, apenas na morte a vida: que 0 voo do eles promovem a evolu~ao contfnua do universo ajudando as outras
falcao brilhe como urn c6u vazio."2 -i>essoas a encontrarem seus verdadeiros nomes (isto 6, suas identi-
o Mago passa a compreender 0 precioso equiHbrio existente no dades), pois assim 0 universe evolui - a medida que nos toi:namos
universe e 0 modo como as pessoas ajudam a promover ou perturbar cada vez mais n6s mesmos e mais dispostos a responsabilizar-nos
esse' equiHbrio com as escolhas q~e fazem em suas vidas. Em The pelo mundo que criamos para n6s. Por esse motivo, na dec ada de
Farthest Shore, terceiro volume da trilogi~ TerraMar deLe GuInl 70, nossos maiores pens adores concentraram-se em quest6es de
Gaviao corrige novamente 0 equiHbrio. Cob, urn grande sifblo que se consciencia e crescimento pessoal como forma de integrar 0 novo
tomou perverso, decide usar seu poder para conquistar a Terra e material em nossas psiques. (0 reaparecimento do convencionalismo
conferir a imortalidade as pessoas. Naturalmente, como resultado na d6cada de 80 pode ser necesstirio a reaf"rrm~ao do equiHbrio
disso, as pessoas sao possuidas pela Sombra da Morte. Em toda par- cultural e servir de intervalo para que os indivfduos assimilem as
'te Gaviiioencontra mortos-vivos: alienados, apliticos, viciados em -inudanc;as culturais da d6cada de 60 e as mudan~as de consciencia
drogas, ningu6m que se orgulhe de seu trabalho ou arne ao pr6ximo. dos anos 70.) ,
Ele explica que a causa do problema 6 0 desejo das pessoas de -,,' -- Muitas pessoas, sobretudo quando jli esmo no estligio do Guer-
terem "poder sobre a vida", que ele denomina "cobi~a". Ele obser- reiro ou perto dele, temem dar nomes honestamente, seja a re~ida­
va que 0 ~~.9~er que v~_J2~J)~.l1&Q _¢Q_,~~g~!e" !..E?-~~ 0 des culturais negadas ou a nossas pr6prias qualid~<;les reprimidas e
"poder de" aceitar a vida e permitir que ela e.e~~tr~ __Q,~Qs~Q,_s.~. A rejeitadas. Para 0 Guerreiro, chamar 0 dragao de vilao 6 urn preh1dio
-conseqiie;}cla do desejodecont.rolara--vicia'ea morte para alcan~ar a \ eto ataque. Ser honesto 6 tomar-se vulnerlivel na hierar~uia social.
imortalidade 6 0 vlicuo interior. Gaviao explica a Cob que "nem to- Especialmente porque em geral as pessoas tentam parecer mais'do
das ascan~oes da terra, nem todas as estrelas do c6u poderiam pre- que sao, para que possaro ascender na hierarquia, a honestidade 6
encher este vazio", pois Cob, ao buscar 0 "poder sobre", perdeu muito amea~adora. Significa expor nossas pr6prias imperfei~6es. No
tanto a si mesmo como ao seu verdadeiro nome. 3 Assim, os Magos entanto, nas maos do Mago a honestidade pode ser transformadora.
permitem que a vida flua em si mesmos enos demais. No maravilhoso livro infantil de Philip Ressner, Jerome the
9s'Magos tamb6m sao aqueles que dao~e. Geralmente, 0 Frog, uma bruxa briilcalhona diz a Jerome que ela 0 transformou em
equilibrio e estabilid8de pSlco16gica-ecuitural sao assegurados man- principe.4 Ele ainda tern a aparencia de uma ra, mas a popula~ao da
tendo-se grande parte da realidade fora de nossa consciencia.~­ cidade co~e~a a envili-Io em expecii~6es, caso ele seja realmente urn
do urn indiviIDlO--.lli!JLsociedade estli pronta par.a crescer, aJ~!!!~la do principe. Ele consegue muitas vit6rias e finalmente 0 mandam matar
Mago consiste ~1ll_q.est~ir-aeStise-aoentIa,'permltindo- que--efe~en­ o dragao, que estli sempre cuspindo fogo e destruindo vilarejos. Je-
'-"'-tos anteriOrIDente repnmidos--ou-iiegados aflo~~iJ:l:-~ssa'at{tucle 6 rome encontra 0 dragao e saca a espada, mas 0 dragao the pergunta
iV~Qiilci.i,~eH:pro.d~Z:-o.._~~~:.~.tulturaimente, a d6cada de 60 6 urn' por que. Af'mal de contas, sua natureza 6 cuspir fogo e queimar viIa-
exemplo de urn periodo assim. Nossos grandes, te6ricos culturais sao rejos. Jerome reflete sobre 0 assunto e eles discutem durante algum

164 165
tempo, ate final mente encontrarem uma soluc;ao conveniente para Torna-se claro que urn lYomeador e alguem que da nome as cois~s,
todos. ° dragao queimara 0 lixo da cidade todas as terc;as e quintas-
feiras, e durante 0 resto da semana ficara contando mentiras. Jerome
~J.tdando-as a saber quem sao. Eles explicam que 0 amigo de Meg,
Calvin, e urn nomeador para ela, porque ela se sente mais ela mesma
nao tenta converter 0 dragao nem convence-lo a ser "born", mas, ao quando esta com ele do que em qualquer outro momento. .
i. A origem do problema sao os Echthroi, os "Nao-Nomeadores',',
contrario, 0 ajuda a ser mais proveitosamente ele mesmo, ja que os I
drag6es nao apenas adoram cuspir fogo e queimar como tambem ser responsaveis pel os buracos negros no universo, pela alienac;ao, pelo
admirados e apreciados. desespero, pelo crime, porque impedem as pessoas, as estrelas, as
A forma de Jerome solucionar 0 problema, sem que haja v{timas arvores, etc. de bradar suas verdadeiras identidades e, portanto, de
nem viloes, baseia-se na suposic;ao de que nenhum de n6s esta erra- dar sua contribuic;ao ao universo. Depois de praticar, dando nome a
do ou e mau. Cdntudo, podemos estar reprimindo quem somds e re- algumas pessoas, Meg entra na mitocondria e fala com as farandolas.
presentando nossa Sombra, ou talvez simplesmente nos falte a habi- Acaba sabendo que os Echthrois estiveram ali e convenceram as
lidade para nos afinnarmos de maneira socialmente responsavel. Em farandolas de que elas nao precisavam empreender suas jornadas; de
ambos os casos, podemos trazer dificuldade para n6s e para os ou- que eram as melhores coisas que existiam. Quando as farandolas
tros. Nadaexiste de inerentemente errado nos drag6es quando suas empreendem suas jornadas, elas cantam com as estrelas. Se nao fa-
verdadeiras naturezas sao descobertas, desenvolvidas e canalizadas zem suas jornadas, todo 0 organismo de que sao parte morre.
de forma util! Meg cons~gue dar nome as farandolas, mas entao percebe que
Assim, nao apenas a honestidade e importante mas tambem a precisa enfrentar os pr6prios Echthroi para libertar a si me~ma e
energia que a cerca. Se a honestidade provem de urn deseJo de re- aos seus amigos. Ela 0 faz, mas nao tenta mata-Ios, como fana urn
baixar, ela pode ser muito destrutiva. No entanto, ligada ao amor Guerreiro. Em vez disso, inicia uma litania de dar nomes que ter-
ela produz urn efeito bern dif~rente.,O objetivo do her6i nao e ma- minacom:
tar, mas dar nome ao dragao - reintegrar a comunidade atraves
da comunicac;ao. Eu te sustento! Eu te arno, eu te dou urn nome, eu te dou urn nome, Ech-
. A hist6ria infantil de Madeleine L'Engle, The Wiruf in the Door, throi. Tu MO es nada. Tu es... eu te preencho com urn Nome. Seja! ... Ech-
ilustra bern essa questao. A herofua da hist6ria e Meg, uma adoles- throi. J a tens urn nome! Meus br~os te envolvem. J a nao es 0 nada. Tu es.
cente filha de familia feminista: seus pais sao ambos medicos bem- Estas pleno. Tu es eu. Tu es Meg.5
sucedidos. 0 problema e que seu irmao mais jovem e querido, Char-
les Wallace, esta morrendo. A mae descobriu que algo saiu erradb Nessa visao do munkJ~ '~) trabalho dos her6is consiste em ilumi-\
em suas farandolas. No interior de toda celula humana existe urn or- nar 0 mundo atrayes do amor - a comegar por eles mesmos. Sua ta- '
ganismo com seu pr6prio RNA eDNA, chamado mitocondria, sem 0 refa nao e matar 0 dragao - interior ou exterior -, mas a:fmnar 0 n{-
qual nao podemos processar 0 oxigenio. Dentro da mitocdpdria, vel mais profundo da verdade relativa a ele: isto ~, que todos somos
pressupOe a mae dt'1 Meg, existe uma farandola que esta para a mi- urn. Tais drag6es sao apenas nossa Sombra, nossas partes sem nome )
/
tocondria assim como n6s estamos para a farandola. e sem amor.
,

.
A visao da interdependencia de toda a vida permeia 0 romance. Ocorre urn conflito inevitavel entre a concepc;ao evolutiva do
Meg e visitada por seres do espac;o e por urn querubim que Ihe ex- universo, do Mago, e 0 perfeccionismo do Guerreiro. Vivemos numa
plica que 0 tamanho nao faz diferenc;a. Tudo no universo e igual- cultura que nao confia no processo e nao tolera a diversidade. Por,
mente fundamental e tudo esta interligado. Explicam-Ihe tambem conseguinte, espera-se que todos n6s sejamos perfeitos, e alem dissp
que ela pode salvar Charles Wallace, porque e uma Nomeadora. que sejamos· perfeitos de maneira similar - se nao igual. Devemos

166 167
"'corresp,onder" aos padroes de virtude, realizac;ao, inteligencia e

I
nem nega-Ios - este e 0 significado da transcendencia -, mas siro revela-Ios
atrac;ao ffsica. Caso conti-mo, devemos arrepender-nos, trabalhar mais plenamente, exaltar sua realidade, buscar seu significado latente. Nao
com·mais afinco, estudar, fazer dieta, exerdcios e usar roupas me- consigo detectar urn unico iropulso saudavel na tentativa covarde de transcen-
Ihores ate que possamos ajustar-nos a imagem predominante de uma der 0 mundo fisico. Por outro lado, transformar uma ex,ste~cia flsica modifi-
I, pessoa ideal. Assim, nossas unicas qualidades provavelmente sao cando 0 clima circundante atraves da forma como ela e donslderada e urn em- .
i definidas como "0 problema" q.ue precisamos solucionar para estar- preendimento maravilhoso, criativo e corajosoJ
\ mos cern por cento. Nesse caso,. 0 papel do Mago consiste em dar
nome e reconhecer essas diferenc;as como fontes de nossa forc;a in- Sissy modifica tanto a vida do Dr. Robbins que ele se retira e
e
\~ividual coletiva. nunca mais retoma a clfnica.
Urn dos melhores exemplos do her6i que compreende essa si- Segundo essa visao, todas as pessoas sao her6icas e fundamen-
tuac;ao e Sissy Hankshaw em Even Cowgirls Get the Blues, de Tom tais para a evoluc;ao humana. N()~a tarefa consist~ ~i~~le,sI?~llte_ e~
Robbins. Sissy nasceu com polegares grandes demais. Praticamente alJ.l1llar por completo quem somos! Naoprecisamos 'perder todo 0
todos a consideram portadora de defeito ffsico, mas ela resiste a essa hosso tempo~'oumesmo--argiim-tempo, tentando provar que es~amos
forma de encarar a situac;ao. Contudo, na adolescencia ela se posta bern. Por isso a campanha "Black is beautiful" (0 neg6cio e ser ne-
diante do espelho e percebesua beleza. Se fizesse uma cirurgia p13s- gro) e tao fundamental para os negros americanos. Por jsso 0 femi-
tica para reduzir 0 tamanho dos polegares, poderia levar uma "vida nismo e tao transformador para as mulheres. E por isso a boa saude
normal". A medida que contempla essa alternativa, seus polegares mental, emocional e ffsica para todos exige 0 aprendizado do amor-
comec;am a contorcer-se e incentivam-na a •'viver a vida em algum pr6prio, total e incondicionalmente. I
outro nfvel. . . se ela ousasse". 6 Em vez de submeter-se a cirurgia
plastica, Sissy torna-se a maior caroneira do mundo. Ela e 6tima,
pode pedir carona aos carros postada do outro lado de uma rodovia .0 Fazedor de Chuvas
de'quatro pistas. Na verdade, ela leva a carona ao nfvel de uma ex- Em vez de lutar contra a impotencia, a solidao, 0 medo ou a dor,
periencia Zen. o Mago~acena::oS-conio'parte d~ vi~a e_~sslm seabre para a desco- ~
No entanto, assim como as outras pessoas, Sissy tern seus mo- .- berta-daiT~oesque'avida nos tefIl a e.rlsin~. A imagem do Deus
mentos de duvida, e durante urn desses momentos ela se casa e aban- -enador fahinclo para 0 vacuo a fim de criar a vida e uma imagem
dona sua "carreira". Todavia, quando ela liberta 0 passaro de esti- profundamente ativa da criac;ao, que parece indicar no mfnimo que 0
mac;ao do marido, ele a leva a uma clfnica psiquhitrica. Urn dos psi- ato da criac;ao acontece sob total controle consciente. A imagem da
quiatras (xara do autor) a compreende. Ele explica ao Dr. Goldman, Deusa dando a luz em geral e mais pr6xima da ideia de criatividade
psic6logo freudiano, seu entusiasmo por Sissy relatando 0 impressio- para muitas pessoas. Quando a Deusa cria algo do nada, sua criac;ao
nante fato de ela ter-se tornado a melhor caroneira do mundo. Ela en- sai de seu corpo, e nao de sua mente. Quando criamos dessa forma,
controu verdadeiramente a vida que Ihe era destinada. 0 Dr. Goldman talvez seja diflcil dar a luz alguma coisa sem saber ao certo 0 que
nao entende nada e pergunta se ele quer dizer que ela transcendeu sua estamos dando a luz. A criac;ao pode parecer-nos }lao alguma coisa
aflic;ao. 0 Dr. Robbins diz que nao. Ele explica que a transcendencia , ~1!!cJ:~£Q!:_nf5~,,~~:Si§-~llmil COISB. "que'ii'osescol,he, e tememos
cheira a hierarquia, a sistema de classe, a urn modo de pensar que nao -que 0 bebe nasc;a morto ou deformado. Poucas sao as certezas nesse
permite perceber 0 valor inato de Sissy. E prossegue: caso. E, uma vez iniciado 0 processo, ele ganha sua vida pr6pria. Se
a interrompemos, colocamos em risco nossa pr6pria vida.
~ proeza nao e transcende-lo~, mas transjorrrui-ios. Nem degrada-los Na base da vida encontra-se eros, a paixao, a energia sexual. A

168 169
!,
cria~ao surge da abertura para essa energia e da pennissao para que plical? que saopobres e nao podem se dar ao luxe .de mimar os aDi~ .
o processo natural de cria~ao espontfulea ocorra. Para isso, precisa- mais. S6 querem que 0 asno chegue ao topo da colma antes de ~o~~
mos estar corajosamente abertos. No entanto, as vezes somos atingi- rer. Finalmente, exasperada, ela compra 0 animal a· urn pre~o ndl-
dos por verdadeiras tragedias. Continuando a metMora,"£'E?-Y9.nfiS- culamente alto e comec;a suas ferias levando urn as~o moribundo a
chnento come~a nao com arnor, mas com s~!l,!~~~s qqe mais par~- quem chama Ulysses. . .
pem urn estupro. Embora a dor e <> sofrlmento daf decorrentes nao Ulysses 'representa para Joanna seu lado artfstlco" famlnto, ne-
. sejam convidados n~fD merecidos - pode ser simplesmente 0 pre~o gligenciado e maltratado.. Ela 0 chama de Ulysses po~que reconhece
que todos nqs pagamos por viver num mundo cujo nfvel evolutivo seu pr6prio potencial para 0 herofsm~, mas_ta~bem.n ao pe?sar que
ainda e muito primitivo -, mesmo essas can1strofes podem ser usadas sua Sombra tomaria a forma de urn anllDal tao 19n6bd, especlalmente
pela psique a IlID de promover 0 crescimento· e assim, Imalmc:mte, por considerar silas aspirac;6es tao ridfculasque teme reV'ela-l~., ..
trazer-nos tesouros - se permitirmos que 0 crescimento dar resultante Ela come~a a pintar e cuida de Ulysses, que recupera' a saude.
venha a ocorrer. Quando relata a hist6ria ao menino, -espe~a q,~e este fiq~e chocado
A personagem Joanna, em Joanna and Ulysses, de May Sarton, ou triste mas ele se mostra exultante e diz: Tenho mUlto orgulho
compreende isso quando decide comemorar seu aniversario de t:riD.ta de sua ~ae. Tenho muito orgulho de seu irmao." A rea~ao do meni-
anos viajando sozinha pela prime ira vez na vida. Embora sempre no a surpreende e faz com que ela veja as coisas de urn angulo dife-
acalentasse 0 sonho <;Ie ser artista, ela e funcionaria e parte para a rente, lembrando como sua mae era apaixonada, comoamava as
i1ha de Santorini, saindo de Atenas, na esperan~a de conseguir pin- flores e a Iiberdade, a. ponto de morrer por eIa. Na verdade, con-
tar. Seu objetivo e realmente ver os objetos como eles sao para que / tar a sua hist6ria e ouvir a resposta libertadora do menino fizerarn
possa pinta-los. Para sua surpresa, com isso ela rompe com seus· sis- com que ela se sentisse "finalmente retirada de uma cela ~sc~ae
temas de negaWio e ve alem daquilo que conscientemente pedira. Em umida, onde s6 conseguia pensar no sofrimento, na cadela mter-
Santorini, ela faz amizade com urn menino, que the pergunta por que minavel de sofrimento".
ela nunca se casou, e em resposta ela conta uma hist6ria que nunca Mais tarde, em Atenas, quando Ulysses, que ela escondera no
contara a ninguem. Sua mae lutara na Resistencia. Capturada pelos porao, corta a corda com os dentes e a surpr:end~ com seu pai no
fascistas, a mae foi obrigada a assistir os guardas enfiarem cigarros terreo, pela primeira vez desde a morte da mae pal e filha se falam
nos ouvidos do filho ate deixa~lq sqrdo. 0 tempo todo 0 filho grita- honestamente. Ela the mostra suas pintl,lras; os dois conversamsobre
va: "Mae, nao fala." Entao eles a torturaram ate a morte, mas ela· a mae e ela exclama: "Se voce rejeita a dor, voce rejeita tudo, pa-
nao falou. 8 - pai 1••.• nao percebe como tudo parou - minha pintura tomou:se ba-
o filho foi posto em liberdade e contou a hist6ria a famflia. n~l minha vida tambem. Nao conseguia lembrar como mamae era.
Joanna renunciou a esperanc;a de ser artista e pas sou a cuidar da N6s, a exclufmos ... assim como exclufmos apr6 ' VI'd a.I"
pna
famnia. 0 pai passava a maior parte do tempo sentado sozinho num !'I~~~J_gp:if.i_~~v~_<::star ap~~~. Apenas enfrentan-
II quarto escuro, e ela ingressQu num emprego mon6tono. Todos pas- do-a, perrnitindo que entrasse, sentindo-a, falando sobre ela, Joann~
'i saram pela vida entorpecidos pela tragedia e mal-cando passo. Aos pode aprender coma dor e sentir renovada a!egria .e f~rga. 0 her61
trinta anos, recem-chegada em Santorini, a prime ira coisa que ela que realiza tal feito e recompensado com mUlto malS ~u1a do. que 0
avista e urn asno cheio de feridas carregando uma elj).orme pilha de machao est6ico que se afasta a cavalo ou, 0 que e malS classlco,. se
bagagens e sendo espancado. Esta cena e a gota d'agua para ela. encastela na posic;ao de "pader sobre" do rei, jamais conhecendo a
Nao consegue mais suportar a desumanidade e precipita-se gritando intensa vulnerabilidade do amor verdadeiramente humano.
na direc;ao dos donos do animal, mandando-os paraI', mas eles ex-
t
Igualmente importante para 0 respeito e a afirma~a() tanto do

170 171
sofrimento quanta da alegria de Joanna 6 0 seu compromisso com a este sa be que Orr partiu sem permissao oficial e foi de barco para a
arte e 0 significado desta para ela. Na realidade, a arte significa Su6cia. Embora a atitude de Orr seja considerada absurda, Y ossarian
aprender aver 0 real, pois de que forma 0 Mago pode ajudar a equi- decide, baseando-se nela, ter f6 e recusa-se a pilotar outros jatos
librar 0 mundo se ela nao esta disposta aver 0 que 6 0 equiHbrio ou bombardeiros.lO
(usando a metMora de Madeleine L'Engle) ouvir a Can9aO das estre- A mundivisao do Mago 6 simplesmente absurda seguhdo qual-
las? Afora 0 fato de que a ~pressa<:>__ ~~!:>at~L_QQ~~_~_ v~l:l~s, _el_a quer forma de pensamento convencional, linear, de causa e efeito;
tamb6m nos aprisiona em nossas ilusoes e por isso nao sabemos 0 para a mentalidade comum, os Magos parec€1m tolos. E de fato sao,
, ~e l. reaLJoannaofereceos
"'"--,
don-i'do .arti;t~-q~~do mostra a~ pai no sentido mais chissico, porquanto 6 o.!.olo.s4bio._9.!!..~~Q!?:~<:>~~_!!!:
suas pinturas e tamb6m quando the explica 0 que aprendeu. Expres- . gumenta Willeford, estabereS-~!!~ssaiiga9ao com os poderes numi-
sando sua verdade, ela modifica nao somente sua pr6pria realidade nos~s. Assim, reivindicar esse pensamento magicopara si costuIIla
como tamb6m a do pai. Ela 6 urn verdadeiro Mago. redundar em risos eI1~ti:la- coiisCi~ncia profundadeesclarecimento.
as Magos precisam ser parcialmente artistas em seu compromis- Nesse ponto 0 Mago aprende que a vida nao precisa ser tao dif{-
so com 0 ato de ver, ouvir e conhecer 0 real de todas as maneiras; e cil. Em primeiro lugar, quando as pessoas integram a maior parte de
tamb6m precisam ser parcialmente bufOes. Nos tempos antigos, 0 rei suas Sombras, despendem menos energiana repressao e nega9ao de
era complementado pelo bufiio, que nao somente fazia pilh6rias, sua realidade intema. Em segundo lugar, perdem menos tempo em
mantendo a honestidade do rei ao apontar suas fraquezas, mas prin- batalhas extemas, pois deixam de projetar com tanta freqii~ncia suas
cipalmente mantinha uma es¢cie de equiHbrio c6smico no reino. Sombras sobre os outros.
Como escreveu William Willeford em The Fool and His Sceptor: Elas assemelham-se ao fazedor de chuvas de Claremont De Cas-
tillejo, em Knowing Woman. Quando uma aldeia na india passa por
o bufao tagarela e 0 prot6tipo de nosso relacionamento com os poderes uma seca, eles mandam buscar 0 fazedor de chuvas. as fazedores de
numinosos ... 0 bufao se coloca ao lado do rei de certa forma refletindo-o, chuvas nada fazem para produzir a chuva: simplesmente vao para a
mas tambem sugerindo urn elemento M muito perdido do rei que, podemos aldeia e ali permanecem -:-. e entao chove. Eles nao fazem chover,
imaginar, teve de ser sacrificado na construgao do reino e sem 0 qual nem 0 mas permitem que chova ou, mais exatamente, sua atmosfera interior
reino nem 0 rei sao completos.9 de permissao e afirma9aO do que e cria urn clima no qual 0 que deve
ser acontece. Talvez voc~ ja tenha conhecido pessoas assim. Nao 6
A trans_~~_!'I~~9~() cIo _Qu~~.k<?!Rei em Magq e acompanhada pe- que elas fa9am 0 sol brilhar, fa9am chover ou fa9am as pessoas tra-
10 retorno a ~oc~~ci~_pers_ol!i!:i<::~c:l.o_p~la !!!E':g~mQ() bufao. Quando balharem mais no escrit6rio, mas quando elas estao presentes as co i-
iniciamos a jornada, deixamos a simplicidade da inoc~ricia para tras sas funcionam - aparentemente sem esfor90s.11
a fim de adquirir as habilidades exigidas por urn mundo inflexfvel. a Ser urn fazedor de chuvas exige muita f6. Vez por outra, depois
ser inocet;lte e confiante que deixamos para tras parece tolo e deve de envidar grandes esfor90s, os Magos precisam ser lembrados de
ser evitado, mas sob certos aspectos ele esta sempre conosco - quer que nao esmo lutando sozinhos para equilibrar 0 universo. Por
lhe demos ouvidos ou nao.E claro que quanta mais racionais formos exemplo, Morgana, herofna de As Brumos de Avalon, de Marion
mais tolos e tagarelas nos parecerao os bufOes. Todavia, 0 reapare- Zimmer Bradley, dedica toda a sua vida a tentativa de preservar a
cimento do Inocente nos possibilita amiude agir como Magos, quan- adora9ao a deusa na Inglaterra, na 6poca do rei Artur e da Tavola
do 0 racionalismo nao v~ safda para determinado dilema. Redond~, a medida que· a crescente influ~ncia crista abala a posi9ao
Em Catch 22, de Joseph Heller, Orr, considerado por todos urn das. mulheres e declara 0 aspecto masculino de Deus como a unica e
idiota grotesco e sorridente, cura Yossarian de sua paralisia qu~do verdadeira divindade.

172 173
No run de sua vida, Morgana sente que tanto ela quanto a Deu- Nessa abordagem ~ fundamental a rIrme convic<;ao da autora de
sa foram tra{das pelo rei Artur e teme que tenham perdido a batalha ,que, em algum nIvel de nossos seres, escolhemos 0 que nos acontece
c~m ? hist6ria. Ela visita um convento na Inglaterra, pr6ximo a - incluindo a escolha de nossas enfermidades e de nos-
hlst6nca .Avalon (onde fora treinacla para ser sacerdotisa), e ve jo- sas mortes. F~ essas e~has, af"rrma ela, nao por masoquis-
yens dedlcando-se a adora<;ao em uma capela de Sta. Brlgida. Mor- mo, mas RQt0ue elas nos ensinar~~-a~ilo
""fi'":~-"'-"""'--"" ..........~--------- .--
que preas-amos apreIi<!er".
"--~ ..... ~-.--..--.--.,~. ---~ - -
gana percebe que Brlgida, na realidade, nao 6 uma santa crista; a rortanto~ 6 importante respeitar tudo 0 que nos acontece-como forma
estatua representa a "Deusa como era adorada na Irlanda". Morgana de honrar nossas escolhas enquanto professores de li<;6es necessa-
constata que ~'embora pensem 0 contrano, essas mulheres conhecem rias.
o poder do imortal. Mesmo exilada, ela triunfa. A Deusa jamais se Ora, 0 Or:ffio nao pode nem ouvir falar nisso, pois para ele esco-
a~astam da humanidade". Morgana pede perdao a Deusa por sua du- lha significa culpa: se decido ser uma mulher ultrajada, isso significa
VIda e amargura, dizendo: "Pensei que tinha de fazer 0 que, vejo-o que a culpa de meu sofrimento 6 minha. Mas para 0 Mago a culpa 6
agora, voce fez por si mesma." Ela compreende que nem tudo estava irrelevante, e a busca de um culpado urn desvio inutil. As quest6es
em suas maos e, por conseguinte, podia relaxar; "Realizei 0 trabalho proveitosas nao sao "Quem 6 0 culpado?", mas sim "0 que posso
cia ~ae em Avalon at6 que, rmalmente, nossos sucessores puderam ~~~c~~, ,~~~~_,~~~ri~£!~!~2,. __e. "C~.<?D;l,,~~~,.?, .9':!~-~~f~n(fC~o,m
tr~e-Ia para este mundo. Nao fracassei. Fiz 0 que ela mandou. Nao ~-~~9. •. () _m!e.. q.u~r.Q.J~§9QLh.~L.~gQ!.a?"
.
~~~_~!~,_~~ . fm, com meuorgul~o, que pensavadever fazer mais."12 Olhando para tras, do ponto de observa<;ao do Mago, uma mu-
Morgana reconhepe que estivera aprisionada na grandiosidade lher pode reconhecer que por muito tempo algu6m em sua cabe<;a a
do Guerreiro. Nao precisava ter feito tudo aquilo, bastava sua pe_ maltratou, dizendo-Ihe que estava gorda demais, que era egoIsta de-
quena parte. Dessa forma, ela nao seria fundamental, mas co-criado- mais, atrevida demais. Ela entra numa situac;ao na qual 6 ffsica ou
~~a com a Deusa de seu pr6prio destino e do mundo. emocionalmente maltratada por outrem, at6 chegar finalmente ao
\ Os Mag~s tem muita f6 em si mesmos, em Deus e no universo: 1 ponto de dizer: "Basta: posso ser ma, mas nao sou tao rna assim para
i) Essa f6 permtte as vezes apenas aguardar a lucidez quando sobrevem' merecer esse tipo de tratamento." Assim ela encontra ajuda, deixa 0
Cfatos aparentemente ruins. relacionamentq,,~ por fim trabalha seu amor-pr6prio a16 deixar de
desperdic;ar tanto tempo submetendo-se ao seu carrasco interior.
Embora a situac;ao externa seja difICil, ela produziu uma crise que
"Pedi e Obtereis"
suscitou aoportunidade de optarpelo crescimento, pela JDudanc;ae
. Em Collections, Shirley Luthman pondera sobre qual seria sua finalmente pela reduC;ao do sofrimento em sua vida. Dessa forma, 0
atItude se descobrisse que tinha um tumor no c6rebro. Naturalmente fato de atrair urn relacionamento desrespeitoso a longo prazo trou-
~caria ~uito. abalada. No entanto, nao obstante permi- xe-Ihe a sanidade.
tIT que talS sentIFentos aflorassem, ela af"rrma que nada faria at6 vol- Num capItulo autobiogn'ifico, "Minha Jornada - Nova Vida", de
tar-se para dentro e ter a lucidez suficiente para compreender Energy and Personal Power, Luthman fala de sua dor quando per-
o que estava ocorrendo. 0 seu ser se teria convencido de que es- deu 0 marido. 0 relacionamento de ambos era profundo esatisfat6-
tava na hora de morrer? Ou, entao, 0 que 0 tumor estaria tentando rio, e quando ele morreu ela foi tomada pelo sofrimento. Nao obs-
lhe dizer? Somente depois de perceber para onde estava indo ela de- tante tudo 0 mais em que ela acreditava sobre a vida e 0 fato de es-
cidiria 0 que fazer. 0 que poderia significar a convic<;ao de que es- colhermos 0 que nos acontece, ela sentiu-se vltima. Mais tarde, .ela .
tava na hora de morrer. Ou ainda a busca de algum tratamento alter- se confrontou com sua convicC;ao de que "num nIvel profundo de
nativo.1 3 minha consciencia talvez soubesse que estava desposando um ho-

174 175
'mem 'quema morrer e deixar-me, embora nao tivesse consciencia resistia:.- eu_~e"IEp~~!~ri~,~_~~~~9,ao de que n_eEe~~~~s~:.,~~~,J2!...~va
cognitiva de talpossibilidade". Entao ela se pennite indagar por que ~r:!!l~.~<;~r numa relaC$ao in~dequada por medo deficar sozinha.
teria feito isso; e recebeu duas respostas: Ora, se ningu6ro"jamals houvesse sugerido que epe:i'feit'iiffiente
razoavel esperar que 0 universe) proporcione aquilo de que precisa-
Aprofundei 0 myel de energia-consciencia com meu marido erne sentia mos (e nao raro ate mesmo 0 que queremos), ele poderia ter apareci-
una com ele, sem perder minha pr6pria identidade e consciencia do ser... se do e conversado agradavelmente e eu nao me teria dado conta da
nosso relacionamento tivesse continuado a expandir-se naquela profundidade dadiva. Se estivesse no meu espaC$o do Orfao, poderia considerar a
e intensidade, eu teria vinculado minha capacidade de ter essa experiencia a p~ida rapida do desconhecido como urn pressagio de que todos
ele e ao nosso relacionamento, e nao a mim. 0 que experimentei desde entao sempre iriam deixar-me. Seestivesse me sentindo como urn Martir,
ensinou-me que sou eu quem cria a fonna atraves da qual surge alguem que poderia ter pen a de mim, pois mesmo quando eu caminhava tentando
combina -oonugo"oo' ruvel'qif6'sou'capaz de experimentar.Mfuliacapaddacte
elite estar Viva;-ae"~er:iDiensa:e'teffera~oes'profundas'esla'ligada a mim e nao resolvergrandes questoes de minha vida alguem sempre queria algo
, depende de uma pessoa ou lugar particulares, de nada exterior a mim.14 de mim. No modele do Guerreiro, poderia ate mesmo ofender-me
com aquele es~anho que tinha a audacia de abordar-me na rua!
A Magia baseia-se numa sincronicidade do macro e do micro- Recebemos pequenos presentes 0 tempo todo, mas a forma de re-
mundos. A palavra Sincronicitiade, criada por Carl Jung, significa cebe-Ios varia.
f....--Sob certos aspectos, 0 Ortao, 0 Martir e 0 Guerreiro habitam r
--"coincidencias expressivas" ou conexoes acausais. 15 Enquanto 0
Guerreiro aprende
' .. ,."-"
.~ '"
as li~6es da causalidade, 0 Mago aprenaea" sin-
'" ,,'.. "''''''',','' , , '

crOlllcloade. Voce conhece aquelas ocasioes em que vai a rima livra-


. nae"exatamente 0 livro de que precisava (mas do qual nunca ouvira
'
luniversos semeihantes porque ambos acreditam na escassez. ~m'i
:,lcontraste, 0 Mago vive num universo onde todas as pessoas podem /
\ler 0 que precisam porque existe 0 suficiente. ,~""--- :
falar) praticamente the cai nas milos? Ou quando voce encontra exa- ----0 espelho e uma forma de pensar na sincronicidade. 16 0 mundo
tamente a pessoa de que precisava, aparentemente por coincidencia? ,exterior espelha 6 mundo interior. Ein parte, como vimos n'o"exem-:
Na verdade, muitas "coincidencias" realmente milagrosas acontece- 'pio' damulner 'ulirajada, 0 mundo exterior costuma dramatizar o ,que
ram em minha vida, mas yOU relatar aqui urn exemplo bastante co- esta acontecendo em nosso universo interior para que nos conscien-
mum e prosaico de urn evento aparentemente acidental e fortuito. tizemos,. Exemplo: Urn dia, no ano passado, eu estava saindo da ci-
Eu estava pensando em deixar urn relacionamento e sat para uma dade. A semana fora bastante movimentada e eu estava muito orgu-
caminhada de manha cedo, lembrando-me de algo que eu dissera aos lhosa de mim mesma por ter feito tudo 0 que devia e ainda sobrar
outros, mas em que nao, acreditava verdadeiramente. Isto e, assim tempo para uma corrida nipida antes de dirigir-me ao aeroporto.
como 0 dinheiro, a riqueza e 0 tempo, 0 amor nao e escasso. Se nos Comecei acorrer perto de casa,' congratulando-me por meu ritmo,
abrimos para a vida, podemos abrir-nos para a abundancia de saude, bastante born para mim, que nao corria ha uma semana. '
prosperidade, tempo e amor. Eu caminhava pensando nisso, mas na , De sdbito, 0 carteiro acenouamigavelmente e gritou: "Voce po-
verdade me sentia muito sozinha e temia sentir..,me assim para sem- de fazer melhor! Mal esta se mexendo!" Bern, senti-me imediata-
pre, quando urn homem se aproximou e conversou comigo durante mente p6ssima. Continuei correndo e percebi como estava furiosa
cerca de urn minuto e depois foi embora. Naquele instante percebi com aquele sujeito que estragara meu born humot. Entretanto, ima-
que, embora ~u nao quisesse que aquele homem em particular ficas- ginei que provavelmente ,
ele estavaI tentando estabelecer urn contato,
se, mais tempo, sua presenC$a afavel me dera exatamente 0 que eu mas naofora·muito habilidoso, e assim fiz a volta do quarteirao e re-
precisava naquele momento. Dessa forma, tornou-se real para mim 0 tornei ate 0 lugar onde ele mastigava 0 seu almo~o. Parei e disse-
que minha necessidade estava me dizendo, mas todo 0 resto em mim lhe: "Sei que' provavelmente voce queria ser dtil, mas eu estava

176 177

r
,
correndo no ritmo certo para mime Seu comentmo foi urna ~erdadei­
ra afronta. Espero que nao fa~a isso com sua esposa ou namorada." I somos cercados a cada passo POI' pessoas necessitadas de arnor e
Ele ?eu uma resposta meio desconcertada: HTalvez seja por isso que ~ados.
eu nao tenho narnorada." Quando as pessoas atlnnam que todos desejarn pega-Ias, cuida-
Trata-Io como urn amigo em potencial era apenas parte de minha do quando estiver com elas! Certas pessoas estao sempre comentan-
tarefa, a qual the permitiu responder com honestidadee vulnerabili- do como sua vida e roim e sem duvida sucede-Ihes uma catastrofe
~ade. A outra parte consistia em verificar se aquele incidente pode- atrns da outra. Ou, inversamente, vez por outra atrafmos para n6s
na espelhar al~o dentr~ de mime ~ntrei em casa para trocar de roupa aquilo que negarnos. Assim, uma pessoa que anda por af, sempre
~n~ando no comentano do cartelro e percebi que passara a' semana otimista, pode.atrair certos problemas a tim de ganhar em conscien-
mtelra pensando: HCorra, voce pode ir mais rapido." Nao percebi tal cia. Alguem na fase do Guerreiro pode acreditar que a vida e uma
fato,. mas sem ~uvida tomei consciencia do comentario do carteiro! guerra ou uma disputa. Para eles, qualquer outra maneira de ver 0
Ouv~-lo e enra~vecer-me tinha-me ajudado a reconhecer que eu nao mundo e escapista e ingenua. Experimente falar-lhes de abundancia,
preclsava presslonar-me daquele jeito. A semana inteira eu mantive- comunhao e arnor: eles pensarao que voce perdeu 0 ju(zo. Como
ra urn born ritmo para mime Nao havia necessidade de esfor~ar-me acreditam nisto e por conseguinte 0 vivem, tudo em suas vidas e
mais ou julgar esse esfor~o. l;lma disputa ou uma guerra.
o espel~o tambem funciona de outra maneira. Isto e, em geral, Em geral, as· pessoas com as quais temos mais. dificuldades re-
quando modI fico meu universe interior, 0 mundo exterior tarn~m presentamumtado-de-nossa Sombra:Se"ri§.oco~~eg~imOsiOler8r os
muda. Por exemplo, conhe~o mulheres que veem os homens como -rifaIc6es;;"pomrcos"oiI 'os ge~~;;iS" do Pentagono, talvez descubra-
salvadores ou viIoes em potencial, e por isso a maioria dos homens mos que a intensidade de nosso sentimento diminui a medida que lu-
que elas conhecem costumarn recair nesta ultima categoria. As mu- tarnos por urn mundo livre da arnea~a nuclear. Se as pessoas depen-
lheres querem ser salvas porque nao sabem que podem salvar-se a si dentes e chorosas nos exasperam, poderemos descobrir que, ao re-
mesmas. Quando empreendem suas jomadas e desenvolvem aquilo conhecermos nossa pr6pria dependencia e impotencia, teremos mais
que ela~ Ae a. cultura considerarn seu lado mais masculino (isto e, au- simpatia por elas. A medida 9U~ expandillJQ~_!l.Q§§..Q..~!!~t.1:Q. 4~.!!.t!­
t~-su~clencla e coragem), elas descobrem subitamente homens que tudes e_nos ~~timos.._se.r mais inteiroi...Jltr~!!!~~_J?~!l_.!!.9.-s...~~~as
na~ sa? salvadores nem viloes, mas simples pessoas como elas, alias J!l~!~ ...~!eres.santes -::- ou podelllQ§_ ~.x.:~~~~r"" ~9~Q ..~ .Q1Jtrf!!;t~£SQas
mUlto mteressantes! Em outras palavras, quando as mulheres desen- ~r~ jnteressantes. 0 tempo .todo. Muitas mulheres, por exemplo, so-

vol vern 0 homem interior e travarn amizade com ele, como por um cializaram-se para competir com outras mulheres, considerando as
passe de magica 0 equlvalente extemo aparece - embora vez por ou- outras tipicamente competitivas, maledicentes e nada confiaveis.
tra demore urn pouco! Da mesma maneira, quando os homens se Quando come~arn a perceber 0 valor de sua pr6pria feminilidade, a
permit~Ill integrar total mente sua pr6pria intui~ao, vulnerabilidade e maioria das mulheres que as cercam, de subito e milagrosarnente,
neces~ldade de arnor e intimidade, nao raro se surpreendem com a tomam-se irmas e honestas. Se isso nao acontece, elas podem assu-
quantldade de mulheres interessantes e admiraveis que repentina- mir a responsabilidade de atrair mulheres da Sombra, indagando:
~te aparecem em c~na. '.:Qu~~ de ;~~s~.~~!!~!~.. ~~~o2.::",~~".9~li~i,~~~.~.~~'¥~!iv~~~<?­
/:: . Quando estamos no esUigio do Nomade, 0 mundo e cheio de s~· clada~. estereotlpadamentel:!<?~ .!1..Q.m~Q~. e .pluJhe~ssaQ .~~~mp!.2§_do
U frimento;. quando passamos para 0 estagio do Guerreiro, 0 mundo q~e~:()ntece quando nao peI111i!~~~"9,1!e nos~~_total feminilidade ou
!D8sculinidade aflorem, e entiio somas possu.(dos·"~hl"S6mbra~de
\\muda . mllagros~ente junto conosco, e nao enfrentamos tantas
nossa identidade sexual., '" . "-' ,~,~-.~
tragedlas, mas Slm desafios. Ao entrarmos no estagio do Martir,
As vezes nao conseguimos suportar pessoas que exibem as qua-
178
179
lidades que acabarnos de deixar para tms. Quando abandonamos ca 0 processo do Mago. A personagem central. Frances Wingate, re-
os primeiros est~gios do Martir, por exemplo, em geral queremos por corda sua vida com consciencia e humildade diante de todas as ma-
fiill ao sacrii{cio. Nossa irrita~ao e raiva com as pessoas que ainda ravilhas recebidas. Frances possui a capacidade incomum de. coilfiar
se mutilarn por causa de outras nos levarn a explorar outros arque- em si mesma e em sua visao e, por conseguinte, em gera1 pedia 0
tipos mais agressivos. Em ultima, an~ise, porem~os Magos reco- que queria. . . e recebia. E1a tern consciencia de que jamais fez as
nhecem que, se l!J:l'la....manifesta~ao do ar.qu,¢tip,o..Jis '. incomoda. tanto,. coisas acontecerem; elas simplesmente aconteceram. E arque610ga e
eles ainda te~~o"]'~§:Ei~1i1~ at"!,;, rea~ao a manifesta~ao de' qual- tomou-se bastante famasa 30 descobrir as ru{nas de uma antiga ci-
.quef'arqu6tii>o, por si mesma,'6 urn chamado a busca e a compre- dade perdida no' deserto. De fato, certo dia, no aeroporto, ela sim-
en sao do arqu6tipo num n(vel diferente da verdade. Em essencia, plesmente soube onde se localizava a cidade. Naturalmente, esse co-
todos os arqu6tipos nos proporcionarn tesouros, assim como todas nhecimento intuitivo fundava-se em todo 0 seu estudo da antiga cul-
as experiencias de vida - boas e m$ -, se as vivenciamos e apren- tura dos fenCcios, mas 0 lampejo mtuitivo foi fundamental. Al6m
demos com elas. disso, ela seguiu seu pressentimento, apesar das duvidas, mas encon-
Enquanto os. Mrutires aprendem a aceitar a dor, os N6mades a trou 0 s{tio e procedeu a escava~ao. Ela pondera:
solidao e os Glleireifos::";o--medo~"·os-·Mii"·OS·se··"··-·irii.itemviver a f~ , ., ,
-"-." ...- .....--...... .... ....... . g pe
o arnor e· a alegna. Quanto mais se abrem para eles, mms atraem Se nao houvesse imaginado a cidade, ela nao teria existido. Durante tOOa.
-esses sentimentos para si. Mattew Fox, em Whee! We Wee All the a sua vida, as coisas haviam acontecido dessa forma. Ela se imaginara sain-
Way Home, declara que a ora~ao suprema consiste em acolher a do-se bern na escola, e isso acontece~a. Imaginara-se casando, e casara. Ten-
vida plenarnente: do mhos, e tivera. Tomando-se rica, e tornara-se rica. Sendo livre, e ela era
livre. Encontrando 0 verdad,eiro amor, e encontrara. Perdendo-o, eo perdera.
I· Urn amigo que me da urn disco fica satisfeito com 0 meu praz~r
ao ou- Que mais de via imaginar? 18
i vir 0 disco. Afinal de contas, meu prazer era 0 objetivo que ele visava ao

r Jpresentear-me. 0 Criador nao pode ser diferente. Nosso agnidecimento pela


cria~a~, nossa ora~ao _fundamental, por conseguinte, Aesta em nossa alegria
e· delelte com acna~ao. Esse prazer e chamado de extase quando alcan<;a
A enormidade do poder assusta-a. A possibilidade de imaginar
alguma coisa temvel e ve-la acontecer a preocupa. Assirn. ela se ve
face a face·com a responsabilida<jle de sua pr6pria vida e suas con-
\. uma.::erta culminallcia, e tambem e uma ora<;ao. Assin1 como todas as preces, tribui~oes 80 mundo; Frances recorda sua vida com a consciencia do
\ oextase toca 0 Criador e somos por Ele tocados naquele ato de extase e
Mago. Os fatos nao parecem tao fortuitos e f~ceis quando aconte-
i agradecimento. 17
cern. Contudo, se nao houvesse aprendido a~ li~oes do Guerreiro,
elal nao poderia ter seguido tao confiantemente seu pressentimento,
Contudo, 0 processo do Mago nao consiste na simples recep-
organizado uma expedi~ao e iniciado as escava~Oes. Da mesma ma-
~ao passiva. Trata-se tarn bern de pedir e as vezes de rejeitar. A
neira, nao teria a independencia mental e a coragem para levar sua
Escritura crista que mais se aproxima da con~ciencia do Mago 6
carreira a serio, numa 6poca em que nao se esperava das mulheres
. a de Mateus 7:7-9:
I que cohseguissem combinar a carreira, 0 marido e uma famnia.
"Pedi e recebereis; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-a. Pois todo
Sua vida. a16m de muito humana, 6 urn exemplo interessante
aquele que pedir, recebera, 0 que.buscar, achara, e aquele que bater, a porta da consciencia do Mago. Frances nao 6 "perfeita". Na verdade,
sera aberta." ela bebe d~mais e sob outros aspectos e propensa a auto-indulgen-
cia. Mas isso faz parte do processo. Ela niio 6 melhor do que a~
o romance The Realms of Gold, de MargaretDrabble, exemplifi- outras pessoas, e e urn Mago. Ela visualiza aquilo que deseja e toma

180 181
? atitude necessWia para obte-Io, confiante no que aconteceni, sem sorriso para suas rela90es durante 0 dia. Felicidade gera felicidade,
mcorrer na nega~ao ou no escapismo, Por exemplo, elaenvia urn de forma que a felicidade - assim como a prosperidade e 0 arnor -
carma-postal a urn amante de quem se separou, pedindo-Ihe pode irradiar-se para 0 exterior, benef'tciando outras peSsoas.
para voltar. 0 postal custa a ser entregue e a rea~ao de Frances As af'trma~6es sao apenas uma das muitas estrategias de abertura
quando nao recebe resposta, e de perplexidade. Afinal de contas: e o~ao pelo que e bom, bela e verdadeiro. Operanqo essas esco-
ele sempre afirmara que vol tapa se ela pedisse, e ela acreditava Ihas, tomamo-nos fazedores de chuva,permitindo que 0 que deve
nele. Finalmente, ele recebe 0 postal, corre ao encontro dela e seu ser venha ate n6s e ~judando aqueles que nos, cercam a tamb6m~e-"
desejo ~ sat~sfeito - urn relacionamento verdadeiramente satisfa- ceherem 0 que lhes cabe. So para 0 nosso crescimento preciS~
t6rio e profundo.
rrealmente desenvolver as habilidades do Guerreiro~ ~mos atrair ~m
Tenho uma amiga que ultimamente come~ou a intere~'sar-se por ! grande desafio; se nao aprendemos plenamente as h~oes d() martfrio,
afirmac;Oes. Como Ortaos aprendemos, ao nos defrontarmos com \ podemos invocar a oportunidade de dar urn grande presente 0
nossa impotencia, a orar pela intercessao divina e/ou a pedir as pes- . .L~prender a aceitar uma grande perda. A felicidade perfeita ~mpre
s.o~s que nos ajudem. Como Magos, conservamos es~a importante ; '''oos da aquilo de que precisarnos para crescer. No entanto, aqudo de
hc;ao, mas acrescentamos algo mais - a capacidade de afirmar que 0 que precisamos sempre inclui uma boa porcentagem de alegria,
~~~__~xiste~m~?"~~a.svid.as neste mo~. N§~-p;e~is-~o"Ss~pHC;ar abundancia e prosperidade, se deixarmos de lutar contra a vida enos
e nem mesmo pedir as coisas que precIsamos desenvolver, basta-nos abrirmos para toda a amplitude da experiencia humana.
a.2~~.:~Q~-R~~Lel~~ Tudo 0 que porventura poderiamos escolher ja E igualmente fundamental lembrar que sempre temos escolhas a
eXlste no UOlverso: dor, aflic;oes, soIidao, alegria, bem-estar, amor. fazer. Dizer sim a.:vigJu6..t_~i&1if'tcatiX9~na.medid~~..ew.us'
A .afirma~~o de que temos 0 que queremos atrai essa coisa para n6s. que p~d~~~~' ~~~~!,~,!!,~9.! As vez;~ queremos dizer nao a algo que ou-
Mmha amtga me deu a af'trma~ao da "felicidade perfeita" (de urn li- trapessoa'considera um presente para n6s. Outras vezes as pesSoas
vro. de Marion Weinstein, Positive Magic),19 expIicando que eu po- nos dao presentes como forma de manipular-nos ou pelo senso do
~ena fazer af'trmac;OeS praticamente a respeito de tudo, como prospe- dever, quando nao lhes competeverdadeiramente faze-Io. Ou, ainda,
ndade, 0 amante perfeito ou a ocupa~ao adequada, mas nunca deve- talvez eles devam dar-nos algo mas nao nos caiba receb8-lo.
ria pedir 0 dinheiro, a alegria, 0 marido ou 0 amante de outrem. Isto Aceitar tais presentes pode trazer danos para ambos. Na conhe-
~, nunca devo afirmar 0 que quer que seja' a custa de outrem. Para cida hist6ria do "Principe Sapo", uma jovem princesa deixa sua bo-
ajudar-me a manter essa mentalidade, ela me lembrou a abundancia la dourada cair no lago e fica inconsolavel. Um sapo aparece e diz
~o universo, gra~as lLqllaLe.u_jamai~pJ.~isaria tomar d~ que pegara a bola se ela prometer deixa-lo comer em seu prato e
ter 0 que e~~ci.s.a..v..a,. __
dormir em seu travesseiro. Ela concorda e ele pega a bola. Entao,
, '--':feDtei afirmar a
felicidade perfeita e inicialmente me senti rid{- para horror da menina, seu pai insiste que ela mantenha a palavra.
cuI a e presunC;osa. Para come¢ar, proferir af'trmativas _ que tolice! Na versao que ouvi quando crian~a, 0 sapo transforma-se em princi-
Alem dis so, quem eu pensava que era para afirmar a felicidade? Sa- pe quando a princesa 0 beija. Muitas piadas circularam sobre a for-
bedoria, talvez. For9a. Compaixao. Mas felicidade, parecia tao ma como muitas mulheres beijam sapos na esperan~a de que um de-
ego{sta. Entao refleti sobre a questao e percebi como funciona 0 les se transforme em principe, mas pouca atenc;ao foi dada a forma
efeito propagador. Se estou infeliz, triste, mal-humorada, com certe- como a princes~ suprime 0 seu asco. A princesa sente repulsa pelo
za pas so essa atitude para meus filhos, meu marido, meus amigos, sapo, e na hist6ria esta impHcita a mensagem de que uma princesa
meus alunos e meus colegas. Se estou feliz e sorrio, as pessoas a correta deve reprimir esses sentimentos., , '
minha volta provavel~nte retribuirao com urn sorriso e levarao esse Vale a pena estabelecer 0 contraste com uma hist6ria semelhan-
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te; , "A Bela e a Fera", prot6tipo de uma hist6ria de Mago. Aqui pessoas. Lan<;afl!Q iQgQ,E<?~titui tamb6m, uma declar~<;,ao de.a.IEoF::"
tarnb6m a Fera 6 transformada em prIncipe pelo beijo da princesa, pr6prio aa:'-prlncesa. Ela se respeiiava 0 bastante para nao obrigar-se
por6m as circunstancias sao completarnente diferentes daquelas de -8 beijw 1 sapos - nao obstante 0 que seu pai dissera! Nao obstante
"0 PrIncipe Sapo". A Fera comporta-se como urn prIncipe em re- o que elaprometera!
la<;ao a Bela: mostra-se sempre boridoso e generoso para com ela. E A Fera 6 transformada pelo amor da Bela, e 0 sapo s6 e trans-
verda de que a pede em casamento todas as noites, mas eta mant6m formado quando lan<;ado ao fogo. Isto significa que as duas mulhe-
seussentimentos e sempre diz nao. Ele respeita seu dire ito de re- res sao Magos quando confiarn ek sua pr6pria integridade e a afir-
cusa-lo, embora saiba que para ele essa recusa significa permanecer mam plenamente. Ora, esta nao e a visao de integridade do Guerrei-
uma Fera para sempre, porque apedas 0 arnor pode desfazer 0 encan- ro - a qual exige manter a pr6pri'a palavra, custe 0 que custar -, mas
tamento e torna-lo humano. Finalmente, quando a Bela concorda em a integridade que implica viver plenarnente, segundo seu ser mais
desposa-lo, ela est6 sendo sincera. Ela 0 ama realmente. Entiio, e s6 profundo. (Embora manter a palavra tambem seja importante para os
entao, ele 6 transformado. Magos. Eles nao confiarao em sua capacidade de dar nome e "co-
"A Bela e a ,Fera" sugere que podemos transformar na,Q _ap~na_s criar-se", se falarem descuidadarnente.) A jovem princesa de "A Be-
a n6s mesmos, mas taI!ll?~m_,~jt$ ..9utroS:- arrla.Ilc:iO:os~~o~o _~~o -:- so- la e a Fera" recusa a Fera noite a¢s noite, enquanto nao esta total-
~!u,!~, __~~~[~~:~~_~im!!~m,~~~Qer: e,s~e am9;~~~'~O-Prfncipe S~po", mente preparada para ser sua noiva. Ela nao se obriga a realizar urn
no entanto, 6 uma hist6ria diferente. 0 sapo tira proveito da prince sa numero de salva<;ao piegas. 0 que salva a Fera 6 a sinceridade do
e eia 6 emocionalmente mais jovem e ~nos sensata do que a Bela, amor da Bela, e, do mesmo modo, Q sapo se sente muito melhor de-
nao 6 tao capaz de amar 0 sapo enquanto sapo. Todavia, Madonna pois que toma conhecimento doasco honesto da princesa.
, Kolhberischlag,"em Kiss Sleeping Beauty Goodbye, encantou-me ao Surpreendem-me as pessoas que sup6em, por ser eu favon1vel a
explicar que na Y~~_9.Jjg}~~ da hist6ria do Principe Sapo, 0 sapo libera<;ao feminina, que odeia os homens. Explico-lhes que, se uma
nao 6 transformado por urn beijo, mas apenas quando a princesa re- I mulher esta de pe e urn l)Omem esta pisando em seu pe, 0 melhor e
conhece seu asco, apanha-o e lan<;a-o ao fogo.20 (Gosto de pensar dizer: "Voce esta pisando no meu pe." Se ele nao se mexe, entao e
que ela grita "Argh!" ao faze-lo.) coerente dizer: "Solte 0 meu p6!" Depois que ele para de pisar no
pe e este o~o esta mais doendo, toma-se possIvel uma conversa cor-
dial. No entanto, se a mulher mantem uma con versa cordial (e as
o Amor Sabio Transforma fmulheres sao incentivadas a faze-Io) - ou at6 mesmo sedutora - en-
Sem duvida, conheci pessoas que foram transformadas por- I quanto ele continua pisando no seu, pe, em p~uco t~mpo ela estani
que algu6m as amava apenas pelo que erarn, com todos os seus ! sentindo muita dor. E quando ela come<;a a odlar a SI mesma e a ele
defeitos. Mas sei tarnb6m que muitas vezes, em nossa cultura, amor I Esse 6dio bloqueia 0 amor. Assim como 0 medo, a raiva tambem
significa: ser indulgente com as pessoas, permitindo que elas nos \ uma dadiva. Ela nos ensina"O'qiieprecisamos para mudar e ser' Ii \
destratem. Creio ja ter visto mais homens mudarem quando suas l~_~~_§ue p.!~£!~~!ilQim!!g_~,_p~a._~m~IJ]Jp.is.
.. '. '"
esposas param de suportar seu chauvinismo do que quando 0 acei- Ser uma dama ou urn cavalheiro e negar nossa pr6pna raiva re-
tam. 1a vi crian<;as mudarem quando seus pais se pr:eocuparn 0 sufi- 8ulta 'simplesmente em sabotagem inconsciente do relacionamento.
ciente para exigir que elas mantenham sua sabedoriainterior, ou pe- Permitir que a ira aflore 6 uma atitude transformadora, porque possi-
10 menos 0 born senso. Na verdade, isso para mim nao 6 urn dualis- Oihtl[ umarefa~ao fiiUlcade hones~. Poi" consegiiiitte, pemuie' 0
rilO. Creio que 0 amor, 0 amor sab!g-,_,y~z_pm:,_QJ!tt1'L~xig~ !;;_~Llan9.ado. I "&mor. Margaret Atwood escreve em Lady Oracle a respeito de uma
,~-(;'Lf2,g() transforma<.l2rJniO--~for<;ar a bestialidade, 0 sapo das
"

protagonista que vive varias vidas, todas elas versoes dos papeis que
~ '":," <~" • .",.- -- ~

I
184 185
foi ensinada a representar. Somente a explosao de sua raiva, ao rmal estarao esfor~ando-se por ser melhores do que sao e desse modo
do romance, toma possIvel urn verdadeiro relacionamento. Ela atip- sempre serao urn tanto desonestas. Ser capazde "viver em pro-
ge urn rep6rter na cabe~a com uma garrafa de vinho (confundindo-o gressao" exige uma vi sao de mundo na qual tudo e todos sao iguais,
com 0 marido). Vai visita-lo no hospital e percebe que se tomararn pois todos sao funpamentais para a evolu<:;ao humana.
grandes amigos. Armal de contas, ele e a unica pessoa que sabe algo Como as mUlheres valorizarn muito a rela~ao e a intimidade e
sobre ela. 21 , como, em geral, foram socializadas para serem abertas, aItrmativas e
Uma das mel~ores coisas que homens e mulherespodem fazer receptivas, elas chegam ao estagio do Mago como ~s patos chegarn a
urn pelo outro atualmente e a grande pane ada liberadora (metaf6rica) ligua (isto e, se, e somente se, ousarem primeiro aItrmar suas identi-
na eabe~a, que os for~a a sair dos velhos papeis sexuais, aborreeidos dades como Guerreiras).
e gastos, e descobrir qual 0 verdadeiro significado de ser homem ou Para os homens, a situa~ao e mais complicada e menos 6bvia:
mulher - ou humano. Se tentamos adotar a perspectiva do Mago sem aterrorizados com a intimidade e acreditando em sua superioridade,
nUllea ter aprendido as li~6es do Guerreiro, acreditaremos inevita- eles acham que tern muito a perder simplesmente se forem iguais.
velmente que a transfonna~ao da Bela e da Fera pode acontecer Talvez relutem em abandonar 0 estagio do Guerreiro por ser este
atraves de. urn julgamento indiscriminado e que nao denota muito igualado a pr6pria masculinidade.
amor-pr6prio. Sem duvida a Fera nao seria transfonnada se a acei- o que sou eu, pode perguntar urn homem, se nao 0 homem ca-
ta~ao da Bela fosse 0 resultado de uma convic~ao de que ela nada c;ador? Em geral, durante a transi~ao de Guerreiro para Mago, 0 ho-
desejava alem da qualidade de 'Fera. Tampouco serviria se ela sim- mem pode afastar-se temporariamente da masculinidade (ao menos
plesmente acreditasse que tudo na vida era maravilhoso e arnasse a das concep~6es tradicionais desta) e dedicar-se ao desenvolvimento
tudo igualmente. Estar aberto para a vida e 0 amor nao significa de seu lado mais carinhoso, fratemo e sensIvel. Neste processo,
abandonar a capacidade de escolher a pessoa com quem ',voce quer porem, ele pode sentir uma perda profunda e questionar 0 significa-
ficar e 0 que deseja fazer. -....-...---_.---............
0 Mago nao e sentimental .... ...... ....nem
--"
romantico, . . . ..
do de ser homem. E aI que homens pioneiros como Tom Brown (em
mas busca reconhecer 0 que e verdadeiro em si mesmo enos outros. The Search) sao tao importantes, redefinindo 0 significado de ser
Embora, em essencia, sejarnos todos unos no arnor, existem '~~i~s ca~ador, retomando o antigo amor pela Terra e 0 orgulho de si mes-
camadas sobre essa realidade - as quais talvez nao seja adequado mO, sem embargo do conhecimento de que ser ca~ador nao significa
fazer vista grossa. ser superior - os ca~adores tambem sao presa.
E preciso
~ -" tanta coragem _ e disciplina
.._............... -
para viver com
......._....... '.
.'
real __inte-
........................
." ...._.. 'Alguns homens come~am a perceber que;se a sua natureza e ca-
gridade-iCcaaa-instante que nao .c.onseguimos tal fetto sem tennos ~ar, devem ca~·ar. Se a sua nature?:8 e proteger, devem proteger. Isto
pas-sado-pelo'estagi6 do Guerreiro~ Tcidos aprendemosas H~~s nao significa que nao POSSanl tambem amparar ou'·ter sensibilidade e
-de-Doni''' comportamento'ou . Cia manipula~ao a run de podennos con- empatia. Em tennos junguianos, depois q,u£ intw~m.!. anima os
trOlar a situa~ao. ,ser honesto e franco a cada momento implicaJ homens precisam retroceder no clrculo e integrar 0 anim';:;;-it- COD,s-
ser profundamente vulnenivel. Nao permite a manipula~ao e 0 con~ -Ci~nda .profQnda'~da maSGPl!iii.qade. Todavia:~tadO-ali&-6gino
trole, mas a intimidade, 0 arnor e ocasionalmente momentos m.!d daI resultante ~~~~uli11:~.~~~J1ID1i.a.. de..!i,igQW£.~.2"m~~.~.;9: e possI-
[]
.cos de transcendencia. vel ser homem e respeitar integral mente as mulheres, abandonando a
. E 0 que Anne Wilson Schaef denomina '~.ellL~', Husao de superioridade em prol da realidade da comunhao humana.
ou seja,_~...~:t>~Q~utam~n~ .~~t.:<:l~_~e.it:'o para com seu ser de momen!o A maior parte dos homens que passararn por tal processo descobriu
enLmomento.2~ EUI!ll.iJQrmade heroIsmo que esta fora do alcance que esse e urn born neg6cio.
-dss'i>essoas'que"-procurarn prov8i "o"'seu
valor, porque elas sempre Da mesma maneira, --~-."~gumas mulheres rejeitarn ou reprime~
_
..""-.......~- ...------..-------...-... .....-
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·/~ua preocup~.a.~.!u.n._~.~_.~.:..~ta. . ~.~_.~_.~mparo e a relaC;ao,. cOIll fito de
obter quahdades de mdependencla e afmnac;ao. Mais tarde, depois
0
Celie comega a valorizar-se porque Shug gosta dela e as duas aca-
bam se tomando .amantes. Shug ajuda Celie a aprender a amar, a va-
i ~~]!~'?I~~iii·· seup?~~ie-~ii~opomia, podem sentir falta de algo, e lorizar sua pr6pria feminilidade e a descobrir suas pr6prias qual ida-
I ~~~. _ ~~_ y'~z_~9.o1he~-_as __qua1idades. assoc~adas a feminilidade que des. Ela faz calc;as maravilhosas, cpnfortl:1veis e sob medida. Final-
! verdadelramente combmam com elas. Inevltavelmente, 0 feminino, a
mente, Celie aprende amar sem dependencia quando descobre que
! nessa conjuntura, passa a significar algo muito mais poderoso e em- pode sobreviver e ser feliz mesmo quando Shug vai embora.
! polgante do que a feminilidade convencional.---~-'-
{-CJ..,:. . - . . ",-
() destino de Albert assemelha-se ao do sapo. Primeiro Shug 0
". Cada sexo comec;a definindo seu papel sexual em oposic;ao ao enfrenta e 0 rejeita, quando sabe que ele espanca Celie, depois Celie
. outro, reprimindo .as qualidades que se associ am ao sexo oposto. o enfrenta e 0 abandona, amaldic;oando-o e dizendo que tudo 0 que
J
{ Quando' se desenvolvem essas qualidades banidas - e integrando ele Ihe fizera recairia carmicBmente sobre ele. Contudo, ele e curado
I respectivamente anima e animus -. ocorre urn movimento no qual 0 grac;as ao amor e aos cuidados do filho.
j velho papel sexual e rejeitado em prol do novo crescimento. Final- Ao termo da hist6ria os tres - Celie, Shug e Albert - estao preo-
I mente,a medida que 0 indiv(duo se toma mais andr6gino e ambos os cupados urn com 0 outro. Albert abandona suas pretensoes a patriar-
J ladospodem aflorar. 0 masculino e 0 feminine sao redefinidos. E, , ca e Shug volta para Celie. Quando as mulheres reivindicam' suas
como os her6is reprimem cada vez menos suas quaJidades, tomam-se : pr6prias vidas, elas criam uma comunidade em c!J.ue todos se ampa-
mais lucidos e equilibrados' e, por conseguinte, mais capazes de \, ram e se valorizam. as homens se consolam entre si. Em conseqiien-
ILJransformar seus mundos. ~' cia, os homens tamb6m decidem abandonar suas ilusoes de poder e
Shug, em A Cor Purpura, de Alice Walker, e urn exemplo notl:1- permitem-se zelar uris' pelos outros. Como recompensa, recebem
,! 'vel do Mago andr6gino que vive com uma fidelidade quase total ao permissao para participar da comunidade amorosa.
que ela e. Como resuItado, ela transformaum ambiente patriarcal, de Em ultima an~lise, Shug, 0 Mago, redefine nao _somentea cQ;-
poder-sobre, no qual existe pouco ou nenhum amor e felicidade, em munhao humana mas!amb6m areaI(~!i;t~~_esprdt~<~l. As religioes pa-
uma verdadeira comuriidade. Ela' nao planeja mudar as coisas. Elas --tnarca."is"defi~iram ~be'~rPar~c;n;~ "l~ em cima" e as pessoas como
mudam por ela ser quem e - incluindo-se a( qualidades como inde- escadas, com urn deus branco e masculino no topo. Shug explica a
, pendencia, agressividade, suavidade e zelo. Celie, personagem prin- Celie que Deusnao e nem homem nem branco. Deus, afirma ela, 6
cipal,comec;a como uma crianc;a violentada e maltratada, casada urn Isto e voce nao precisa apaziguli-Lo e satisfaze-Lo. Naverdade,
,com urn homem que nao a ama e quer alguem apenas para cuidar de Deus estli em tudo, incluindo Celie e -ela mesma. Ela afaga a coxa de
seus filhos. Ele a espanca, furioso, porque ela nao e Shug, a quem Celie e explica:
,ele amaya, embora nao tenha tido coragem de desposl:1-la. Celie sabe I
comoShug e livre e honesta e, em vez de sentir-se ameac;ada por ... Deus ama a todos com sentimento. Essa foi uma das melhores coisas
ela, criacoragem apenas contemplando a foto de Shug. que Deus fez. E quando :voce sabe que Deus ama a todos, voce gosta muito
mais deles. Voce pode relaxar, viver tudo queesta acontecendo e louvar a
Celie j~ adquirira algum amor-pr6prio ap6s optar pelo mart(rio
Deus gostando do que gosta. Deus nao acha isso indecente?, eu pergunto.
quando, aindaadolescente, se arrumou para atrair 0 pai a fim de que
Nao, ela responde, Deus fez isso. Escuta. Deus ama tudo que voce ama e mui-
este nao abusasse de sua irma menor. Ela decide sacrificar 0 pr6prio ta coisa que voce nao ama. Mas, acima de tudo, Deus ama a admira~ao. Voce
corpo pelo bern de sua irma querida. Mais tarde, com Shug, ela diz que Deus e vaidoso?, eu pergunto. Nao, ela responde. Nilo e vaidoso, s6
aprende a se defender. A princ(pio Shug mostra-se hostil por ela ser quer compartilhar uma coisa boa. Achd que Deus fica chateado se voce passa
casada com Albert, mas, depois que Celie cuida dela durante uma pela cor purpura em alguin campo e nao a percebe. 0 que ele faz qu¥ido fica
enfemiidade, Shug passa a amli-la. Nesta situac;ao de a bela e a fera, irritado?, eu pergunto. Oh, ele faz outra coisa. As pessoas pensam' que Deus

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s6 quer ser agradado. Mas qualquer idiota que vive no mundo pode ver que
ele est! sempre tentando agradar-nos em retribui<;iio.0 Sim, Celie, diz ela.
•• Movimento em Dire~ao ao Novo Mundo
Tudo quer ser amado. A gente canta e dan<;a, faz caretas e dei buques de flo-
res,. te~tando ser amados. Voce jei percebeu que as mores fazem de tudo para Assim como existem nrveis de verdade viv.enciados pelo M~ir,
retnbwr a aten<;iio que lhes damos, menos andar?23 pelo Nomadee pelo Guerreiro, existem est~gios para se chegar a.o
Mago. A jornttda do Mago,na veF~~~_e~ .c,()t:D~~ _~0!D 0 arquetipo do
o que vem~s aqui, e.x~libado de forma tao elegante por Shug, e Inocente:c"'"qrn'areflexi'io' m~gica- c:aracterfstica das criarl~as:-Em' nos':'
urn novo paradlgma espmtuaJ. Os Magos nao buscam satisfazer a sa culturaoese"ticofajamos' esse' Tfpo" de pensamellto"e-Tncentivamos
Deus, considerado superior, nem tampouco tentam trabalhar ardua- formas mais racionais de ver 0 mundo. Quando iniciamos nossas
mente. para seren'l iguais. a Deus. Nao h~ necessidade disso porque jomadas, precisamos aprender a distinguir entre fato e ficc;ao, entre
Deus nao e considerado melhor. Sem urn Deus em cima e ; inferno aquilo que inventamos e aquilo que real mente vivenciamos, e deve-
embaixo, nao h~ nada a provar e nem culpa a expiar. As pessoas de- mos aprender a nao esperar sohlc;6es m~gicas. Contudo, embora te-
vern ser apenas pessoas, tal como as flores sao flores - e nada mais. nha sido ensinada desde tenra idade a desconfiar desse tipo de pen-
Nosso trabalho consiste em viver e ao mesmo tempo ser integral- samento, a maioria das pessoas j~ passou por alguma experiencia
mente n6s mesmos e ter relac;6es de amor com nossos semelhantes m~gica - perceP'lao extra-sensorial, urn momento de grac;a ou aquela
com a Terra e com Deus. . , ocasiao em que simplesmente sabia estar na hora de partir. No en-
P.ara muitas mulher~s e alguns homens, 0 paradigma rehgioso tanto, a maior parte das pessoas compartimenta)iza essas ocasi6es
~:scnto por Shug!6 mats ~il d~~~similar quando eles imaginam por consider~-las extemas a categoria do real, separadas do resto da
~-J:IE1_~_~.~~,IIUls.uma Deusa_. As mulneres nao precisam ser supe- vida. Na verdade, nenhum desses fenomenos - incluindo a sincroni-
n~res ~em ter ~oder sobre n.6s~ portanto a imagem nao evoca as im- cidade e 0 espelhamento - sao real mente m~gicos. Eles obedecem a
phcac;~~ e os Julgamentos hgaClos ao Deus Pai. Como a imagem de leis tao demonstr~veis quanto a causalidade ou a gravidade. 0 Mago
uma dlvmdade masculina tambem tern sido usada como apologia da simplesmente aprende essas outras leis, alem das leis de causa e
d?~inac;ao masculina, e como certas mulheres experimentam uma efeito, e assim adota uma nova fonna de ver, assaz diferente da rea-
d~vmdade como 0 Outro - e nao feminino -, em geral as mulheres lidade consensual de nossa cultura.
~ao fortalecidas ao imaginarem uma Deusa. A Deusa e como n6s. A Historicamente, poucas pessoas em nossa cultura chegaram a es-
Imagem tambem nos ajuda a compreender e a respeitar 0 divino em se est~gio. Atualmente, contudo, m~itas pessoas do movimento de
n6s. Outras mulheres talvez nao evoquem a imagem de uma Deusa Nova Era, do movimento feminista e dos movimentos de liberac;ao
mas enfatizarao os atributos femibinos de Deus. ' dentro do cristianismo e do juda!smo estao pensando dessa forma.
o mesmo acontece com alguns homens, porque identificam co- Muitas outras simplesmente vivem como se tais ideias fossem verda-

f:!;'2~h~;~;~ ~a;.~U~S:~i;:;~~;;~ . :~P.~~=~i)=d:ij!~~·~~~8·


mo feminina, uma forma nao-hierMquica e associativa de ver 0
.
mu~~o. ::m£:'~~~ ?~ ~~Jo~as andr6g~~.~,~_e "~IJ:laginar Deus podem
0£.!l~~_~.r.elvmdlcac;ao de certas partes deles quepreferem 0 amor a dificilmente imaginarii 0 que \feiii' a ser urn Guerreiro se nao tiver
,,?(),n':lu~.sta. Assim, via de regra Deus preside a transic;ao do Guerreko visto pessoas que foram atms do que desejavam, lutaram por isso e
~ara ? .Ma~?, bern como a integrac;ao resultante do amor e amparo venceram.
femmmos e da coragem e disciplina "masculinas". Importa reco- Todavia, 0 _.E.odt?!:'.s!Q_..Mj!.gQ._.naO-deY~..._~.LJ.uU!QQ,~1!9~an!<>. as
nhecer, contudo, queembora os homens prefiram guerrear e as mu- lic;6es do MMtir ~.~() NOIDad.,~c_~~g!!.~~k9 A~() f<?~t!L~p'rel!Qi.gas.
Iheres, amar, 0 Mago e urn andr6gi~0 que integrou ambos os lados. Sem :cfoesej'o' de usai' 0 pr6prio poder em favor dos outros, bern co-
mo em proveito pr6prio, sem urn compromisso com a pr6pria inte-·
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191
::;":.I;;.'·~It;;.JIlJ
a coragem e a disciplina necessl1rias para a afirma~ao do-o, isto sedeve a necessidade ~d~s.eI\YQly~r~~bilidades associa-
verdade no mundo, 0 poder do Magoserl1 inevitaveImente das a.~81guns .. out:r.~~.~q\i~tip(js. Talvez precisem a:fmnar:Se---mrusno
~rilOI·egado .. Pode-se usl1..,Io para alcan~ar a isen~ao da dor, para mundo .... Tal~ez precisem aprender "outra!> --1i~oes"-'soDfe ·. dat:~_o.u.. .
. . o s outros quando a ajuda 6 reaImente necessl1ria, para aIcan- explorar. .. I _, .. .
.\~ar,os pr6prios fins egocentricos. Por isso 6 melhor que a rnaioria ;..--- Vez por outra eles tambem precisam atentar para a interde- _..--,
'das pessoasnao acredite nessepoder. E por isso muitas pessoas se ipendencia. A capacidade de conseguir 0 que precisam depende nao 1
r~cusam a. acre<:!itar
- . ,. . -...... ..Y.<-•.
nele,
s .•.
mesmo -~
quand'Ojl1 (, eXEerimen-ia;~;:--Ih{!s
... ........" ..... ........·... •.•
;>; ...... ' " ' - . , ....... "'.:"w'rw~ ~ ~ v.. .... ,.,.''" .• ~··'1 ;' .. -.• ..,.,.,-:wv· .."..""_,...t")I;~_""'.,~".".....o:"'" __ .... ~.""""w·h'i>,~>-""":,..p.~"
.' apenas de seu pr6prio desenvolvimento como do desenvolvimento ;
~poderiarn usl1-lo erroneamente~ Essa id6ia as assusta.
. '.' - ·,.._.:._..,:<-r.....,:"""-'V....-.I>i... ...' ' <' . . ..' '. .' ;'. .
--'~i"_""~'.';~\"""~,.,."''''''':.r.'''''''F"~>;,-;,\""~,,,~,,,,,," '';''''''''_<'''''''''",~'~~fl'~~',,'.,.,> "">!.-<'
...... "" . . ' ..... ~''i"~~.~''",.''t·,.~r._ ~
(das outras pessoas. 24 '
. Asslm, para a ~aJ<?E!~5!~s pessoas, 0 pnmelro estl1gio do ~ago '-- Interpelado sobre se as pessoas realmente escolhem seus pais,
_,sen~ separado do restante de suaexperf~ncia e durante algum tempo Starhawk (autor de Dreaming the Dark) respondeu: "Sim, mas e urn
~ l~r~.~:p<jU¢Q_Qll_:nenhumefeTto 'soore 'suas conce~oes do mundo~ A pouco como pedir urn carro japones. A oferta e Iirnitada. Talvez
semelhan~a do impacto causado-pot Shug eiriCelie'e Albert~o modo voce nao consiga 0 estilo e a cor de sua preferencia." Em outras pa-
de o,Mago ~acionar-se com 0 mundo 1?~<!~.£.Q..x:ne£:g.J?~la influencia lavras, ~~~~~!i~~ _ !1,~9__~.i!~~Q!15~· . y ~§.. !1~9.._P5?<l~ .~er._Q,_que-p.e:
sobre a vida de algu6m que conhece urn Mago ou Ie livros que tor- de a nao__ ~.~_q~~: i~.sC:>..E~~~~~~.~e~.~~i~~~ - ou que voce estej~dispQ.s,tQ.
narn acesslveI essa visao do mundo. 0 pr6ximo passo pode ser sim- iCcn!=ro' ou inventl1-lo.
. pl~~}Ee~~~.:E2!!!~S~..~t~r~~E~!~~.s~m!~_cj~ent2.s. ..!;!!ii£!-~iiTcos·o~-i~c~~~ "---<i;;";q~il;;-q~~'-~~~e deseja ainda nao exista ou seja escasso,
:~~fu:~§,l!~t"m:Q:eti~".. ~ida, indagando: "E se eu escolhesse (nurn~i~-el pode ser necessmio inventl1-lo ou simplesm,ente esperar. As vezes 0
profundo de minha aIma) tudo 0 que me aconteceu? E se eu tiver fe parceiro que· voce quer existe, mas nao ainda no lugar certo, em sua
em minha escolha acertada?" 0 resulta,do Serl1 a compreensao de jomada para conhece-Io. Talvez a cultura onde voce vive nao ofere-
que,mesmo sem 0 saber,' todo 0 tempo fomoscO-cniiaores:'Cr'~stl1- ~a urna fonna-padrao de emprego que combine com sua voca~ao.

~~~~!!~c;:;e~JO~9:t=~~~==~:~~:~~~~~·
Urna mulher que conhe~o sentia-se completamente sem objetivo e
procurou urn m6dium, 'que the disse que seu problema estava em ser
conSClente. Tal atltude eXlge a a do Guerreiro aud~clae confian~a por natureza urna guardia de templo num mundo sem templos. as
para que,:s,,~, pos~a_-~~:.·E~~t?=,!Qi:ili:~g~§, .~_~ri~ritl1~12~.,J,>.~a~!lgir jomais nao oferecern anuncios de empregos para guardiaes de tem-
'~e~ ,e. com respons_~bQ~~~~~~","Ln..s~§,~.!!i~_.~ .habilidade'do Ml1rtir de plos. Naturalmente, a resposta para ela consistia em construir tem-
. a,~~d?~ar7~>~~~q uniy~~o, I:ilrrmando os'-~rag&s como':Som- plos ou em redermir 0 significado de ser urna guardia de templo no
-fu.
as. Paradoxalmente, a medi<la<.q~e os Magos assumem e. aQru:!90- mundo de hoje. Vale a pena lembrar a sincronicidade. Raramente as
""ham-esse--mesmo coniroie eles se abrexn para a aventura de ir ~onde pessoas ~ encontram tao a frente de sua cultura que deixarn de ser,
Cl'eVeniequereril ._~;-:com ft!"eruegrla. . pelo men os sob certos aspectos, urn rnicrocosmo dessa cultura. as
",. -Naptd'tica,isso signiflc-a ter f6 em que, quando estiverem pron- guardiaes de templo precisarn descobrir 0 que reverenciam como sa-
. tos para urn novo arnor, eles 0 encontrarao. Quando estiverem pron- grado e enta~ proteger 0 que para eles e sagrado.
tos para urn novo trabalho, este aparecer~. Eles viverao num reino Reconhecer nossa interdependencia pode parecer Iirnitador, por-
tao. transformado quanto sua capacidade de ali viver. Estar pronto que s6 podemos ir at6 urn novo mundo ou ate uma nova era sozi-
para algo noyo significa imaginar 0 que querem, pedindo-o ao uni- nhos. No entanto, em primeiro lugar 6 importante reconhecer quao
verso, embora sabendo que, se naoreceberem 0 quepediram, seu ser profundamente nossas vidas podem ser modificadas, mesmo na so-
rnais. pr~:m!t[:s.:@,W:~jf_@~~~§t:,~pJQ~~4Q~_·tiilma, ':Or~~p1 ciedade de hoje. Observei pessoas de urn mesmo pals que parecem
~ferente:'"Eii1> geral,q':l~!}g~.,,!}~~L!"~seQ~m 0 que querem imaginan-
""~'''''~ •• I.,,,.;.,_ , '~'''''';''_ "~_._ .•• 0.>,•.•. ,." ".-;, '-.. . . •
viver em universos muito diferentes. Existem aquelas cujas vidas sao

192 193
definidas pelasensa~ao de escassez, de falta, de sOlidao! medo, de incrementa-Io. Embora possam ou nao liderar detenninado movimt:
~obreza (de espfrJito, 0 que faz com que mesmo as pessoas ric as se to intelectual, polftico ou religioso, eles agem como fazedores
smtam pobres) e de fealdade; e existem as que sao cercadas de arnor chuva. Basta a sua presenga para 0 crescimento acontecer.
~e beleza e de abunda~cia, q~e se sentem amparadas, pr6speras e fe~ Como grande parte daquilo em que acreditamos acerca do mu
hzes. Da mesma manelra, certas pessoas vivem no seculo XIX, en- do e na verdade uma projegao, os Magos conseguem infundir a eSf
quanto outras estao no seculo XXI. Sob diversos aspectos, habita- ranga nas outras pessoas porque sabem que e poss{vel ter urn mUD!
mos mundos verdadeirarnente diversos. pacffico, humanitario, justo e zeloso: aprenderarn a ser pacfficos, c
o Guerreiro acredita que precisarnos for~ar as pessoas a entra- rinhosos e a respeitar os outros e a si mesmos! Ademais, atra<:
rem no novo mundo, mas 0 Mago sabe que s6 precisamos ser pre- aquilo que sao e por isso tambem dispoem de muitas areas em su
senteados com uma op~ao. As pessoas sao atrafdas pela vida eleva- vidas nas quais vivenciam esse mundo como sua realidade.
,,- Eles sabem que, quando abrimos nossos corag6es, sempre tern,
da. Sozinhas, gravitarao ate ela. Existe muito mais coisas a nossa ,r"

disposigao neste momenta do que a maioria jamais tera a oportuni- f amor suficiente. Quando paramos de entesourar - talentos, ideia
dade de usufruir plenamente. Existe hoje mais do que 0 suficiente e . bens materiais -, sempre somos pr6speros. Sabem que criamos
. ' I
quanta mms pessoas se tornam livres para ser mais criativas, mais j escassez atraves de nossos medos, mas, quando oferecernos inteit
havera a sua disposigao. " I mente os dons de nossas vidas ao universo e ao outro, encoi
o classico de fic~ao cientffica de Mary Staton, From the Legend ! trarnos nosso verdadeiro trabalho, nossos verdadeiros amores
of Biel, descreve uma civiliza~ao que cresce gradativamente, abran- ~ experimentarnos a plenitude de nossa verdadeira natureza - que
gendo a maior parte do universo, sem nunca travar uma batalha. A I se~pre bondosa.
civiliza~ao e pacffica, igualitaria e complexa. Outros grupos jun- ' - - Desse modo os Magos passam a acreditar que a vida pode s~
tam-se a ela, nao porque sao forgados a isso, mas porque a curiosi- alegria e abundancia, a partir da' experiencia real de suas vida
dade sempre acaba por leva-los ate ela. Chegando la, eles se encon- Shevek, em The Dispossessed, de Ursula Le Guin, fala da consciel
tram no Salao de Mil Camaras, onde vivem imimeras aventuras. cia do Mago quando afirma: ',~V Q&e~_nao pode fazer a revoluga~
Dessa forma eles evoluem e descobrem quem sao num nfvel profun- Voce s6 pode ser a,Revolugao!'26"O'Mago sabe que, agindo assitJ
do. Nesse processo, eles abandonam uma consciencia patriarcal seu inundo muda - como por urn passe de .magica.
hierarquica. dualista, linear e primitiva por uma forma de ver ~
mundo mais igualitaria, multidimensional e complexa. 25 Chegados a
esse n{vel, nao conseguem pensar em retroceder ao antigo modo de
agir. Seria 0 mesmo que rastejar depois de ter aprendido a andar-
ou a voar.
.9~ Magos nao tentam forgar a mUdanga social, pois reconhecem
,9~~,as,pessoas precisam empreender'suasjorna~as para que poss~
Vlver ~m urn mundo humanitario e pacffico. Por outro lado, reconhe-
cern que muita coisa na cultura retarda artificial mente as pessoas,
man tendo-as desnecessariamente estacionadas. Os Magos atuam co-
mo fmas, que atraem e galvanizam energia positiva para a mudanga.
Podem faze-Io identificando ,os lugares onde 0 crescimento pode
acontecer em indivfduos, institui~Oes ou grupos sociais, para enta~

194 19!
Capitulo 7
o RETORNO
Sao necessarios
Milhares de anos para despertar,
Mas ira voce despertar por piedade?
Christopher Fry, "A Sleep of Prisoners"

No princ!pio do mite cl4ssico do her6i, 0 reino 6 urn deserto. A


safra nao cresce, a doenc;~ impera, os be~s nao nascem, a aIieiuic;ao
e 0 desespero estao portoda parte. A fertilidade, 0 sentido cIa, vida
desapareceram do reino. 0 dilema 6 associado a algum fiasco do' rei,
que 6 incapaz, malvado ou desp6tico. 0 jovem 'desafiador empreen-
de uma jomada, enfrenta um dragao e ganha urn tesouro, que pode
ser compostode riquezas ou um objeto mais simb6Iico, como por
exemplo 0 graal, nos mitos do GraaI, ou um peixe sagrado, nos mi-
tos do Rei Pescador.1 0 her6iretoma (como j~ vimos, ele 6 classi-
camente um homem), e 6 coroado rei, mas, mais importante que isso,
com sua volta 0 _remo _se_t:r~sforma magicame!lU:: chove, a safra
cresce, os bebes nascem, a praga 6 debelada e as pessoas voltam a
ter esperanc;a e a sentir-se vivas.
Assim, os ..her6is _.nao sao apenas
. ' __ as..__pessoas
,... _, _.. _._. ___
_~~:''l';'''''''''~ ." ".. ., ..._ .....que
~ __...... ....crescem,
.. __.. - ,--_ mudam
..... - ..'-.
e empreendem suas jomadas, mas _tttll!9.~(Il Jlqqe.las ___ que. aJ1Jdam) a
~iisformar -0 -i:efPo~-Err;The--iier~.~ Myth/Image/Symbol, Dorothy
Nonnan af'rrma que "os Mitos dos her6is falam mais eloqiientemente
da busca dohomem que escolhe a vida, e nao a morte".2 Joseph
Campbell, em 0 Her6i de Mil Faces, define 0 her6i como "0 cam-
peao nao das coisas transformadas, mas das coisas em transfor-
mac;ao: 0 dragao que deve ser exterminado por ele 6 precisamente 0

197
monstro do status quo: Gancho, aqueJe que mant~m 0 passado". 3 A
tarefa do her6i ~ sempre a I de infundir vida nova numa cultura ago-
nizante.
·l.
. l.
"
.• .

/1;·',.
nadaspara nos conhecerm~s€?~_a~~£Il!<:>s.5>..g.~~pensamos e ~~~im
qia.i~_Q~B(?S'S()~~:v~I.<:>re~_~ ,?onviC90es, co~~~~~~~~~t~__~__
-vistos. Dessa forma atra{mos·pessoassemelhantes. ~_~~s~.9..~~_d.~
Os her6is desta nova era tern exatamente a mesma fun9ao, mas -j~ vive~no mesmQ_re~~tr~sforma~o.·Foimamos ~inirreinos, I
diferem pela natureza essencialmente igualit3ria da'busca e do reino. ··munidades de pessoas que pensam como n6s e expenmentamos 1
Em vez de uma pessoa - em geral urn hornem branco - empreender a 1 vas formas de ser e crescer no mundo. Esse processo parece mi
busca e levar uma nova verdade ou reaIidade para 0 reino, todos n6s groso - assim como 0 reino milagrosamente transfonnado ao ter
precisamos faze-Io. 0 hero{smo nesta era exige que empreendamos f da jornada do her6i.
nossas jornadas para enc<>ntrainio!i otesour<> de nosso verdadeiro ser Na maiora dos ~asos, n~m se~uer sab{amos que to~as,essas p
e compartilhannos esse tesouro com a comunidade como urn todo· - soas, movimentos, hvros - smtoruzados nas mesmas falxas de on4
1
agindo e sendo plenamente n6s mesmos. A medida que fazem~s, _ existiam. E como conhecer uma nova paI~vra. Voce jamais ou~
nossos reinos sao transformados. falar dela antes, mas depois que a conhece passa a ouvi-Ia por t<
Se voce Ie ~ jornais, pode parecer-Ihe que pouca coisa esta parte. Naturalmente, ~l.~ sempre existiu, Illas n~~_pwa voce.V(
mudando - ou que as coisas na verdade estao piorando, e nao me- nao a notava porque ela-n~~_~~isiiaeinseu mund~.:.. Da mesma r
lhorando. De fato, em tempos de transforma9ao social maci9a como -neira~riocoIne90 da nossa buscasenfimo:.:'t16s~·s()litarios e separad
este, as coisas sempre melhoram e pioram simuItflDeamente. As se- na suposi9ao de que, para nos ajustarmos, temos de adaptar-]
mentes do novo mundo sao plantadas nas ru{nas do velho mundo, aquilo que acreditamos ser a "realidade". Contudo, ao longo
mas ainda ~ 0 velho mundoque ocupa as manchetes. I;:m tempO~ de nossa mudans:a, a realidade tamb~m muda. Quanto mais temos a 4
transi9ao, na verdade nao existe urn reino, mas urn m.tmero infinito ragem de sern6s rnesmos,riimscfiances temos de viver em cornu
de reinos. E uma ~poca altamente experimental, at~ que seja forma- dades que combinem conosco. .
doum-riovo consenso. Outra fonna arquetfpica de considerar esse progresso cons]
Entrementes, 0 surgimento exterior do reino transformado pouco em pensar na trama chissica na qual 0 her6i ~ 6rfiio, <?u op~mid
tern a ver com quem ~ 0 pre~idente ou com as leis aprovadas no desprezado pela famnia, e busca seu verdadeiro lar. A rnedlda (
Congresso (embora essas atividades sejam sem duvida importantes, nos torn amos quem realmente somos, relacionando-nos com pessl
para 0 bern ou para 0 mal, para a qualidade de vida da maior parte com as quais sentimos profunda Iigas:ao, adquirimos uma intimid;
das pessoas do pals e absolutamC:mte fundamental para as pessoas cada vez mais satisfat6ria. Assim, a recompensa da jornada inevi
que vivem a margem). Enquanto a comunidade macroc6smica se vel mente solitaria do her6i ~ a comunhao - comunhao com 0 t
apega aos velhos modelos e reage a crescen~e fragmenta9ao tentando com outras pessoas e com os universos natural e espiritual. Ao :
impo-Ios aos demais, as comunidades microc6smicas estao mudando: da jornada, 0 her6i sente que esta em casa, no mundo.
Iocais c}e trabalho, vizinhan9as, associa90es, redes. Os processos Isso nao significa 0 fim dos problemas. A reaIiza9ao de' nos
po]{ticos dos movimentos feministas, ambientais e de paz, 'por exem- jornadas nao nos exime da vida; enfermidades, mortalidade, de
pIo, sao radicalmente diferentes dos da poJ(tica convencionaI; da IusOes, trai90es e at~ mesmo fracassos fazem parte da condi9ao J
mesma maneira, as suposi90es subjacentes as praticas do movimento mana. Mas, se temos f~ em n6s mesmos e no universo, torna-se m
do bern e da educa9ao alternativa estao a anos-Iuz dos movimentos to mais facil suportar tudo isso. Ademais, como os her6is enfrent
de educa9ao e saude vigentes. seus medos, nao sao tao limitados por eles. Podemos agir sem pn
Hoje temos O}>9Oes, em muitas areas de nossas vidas, acerca dos cupar-noscontinuamente sobre se estamos agindo corretamente,
universos que queremos habitar. Quando empreendeID()s .1l()s~~.Jgr- outra pessoa nos desaprovara au se algu~m vai surpreender-nos

198 1
a.Como explica Gerald Jampolsky em Love Is Letting Go of para 0 mundo, tomamo-nos buracos negros, vacuos que tragam a
rr, todas essas camadasde medo 6 que nos impedem de experi- vida, e, por mais que tentemos dar, minamos a energia vital daqueles
1ta(..0 amor que se encontra nas profundezas. Quanto mais conse- que nos cercam, reduzimos nossos mundos e ps tom amos menos vi-
tnOS Iibertar-nos de nossos medos, mais pooemosxneigulh;' ~a vos.
~ __ y{[af:-=Quando . receamos perinanentemente nao estarmos bern, A jomada do her6i nao 6 urn caminho linear, mas, como sugeri
podemos usufruir da energia espiritual fundamental, ao alcance anteriormente, uma espiral. Circulamos atrav6s de suas manifes-
odos n6s. ta~Oes arquet(picas em diferentes n(veis de profundidade, amplitude
Se tememos a natureza e a consideramos inferior ao espfrito, urn e altura. Nao 6 tanto uma questao de ir a toda parte, mas de expan-
tl de perigos onde animais selvagens ou insetos nos devoram, dir-se. Voce sabe como certas pessoas nos parecem superficiais, co-
poderemos ser nutridos por ela. Se receamos as outras pessoas, mo se nao tivessem muito conteudo. Suas almas sao fracas e anor6-
ememos ser rejeitados, ridicularizados ou magoados por elas, nao xicas, por falta de nutri~ao. A jomada as preenche e lhes confere
emos experimentar a profundidade do amor e da entrega. Em substancia. As pessoas que· empreendem suas jomadas sentem-se
la, empreendemos nossa jomada solitaria para que possamos vi- maiores - ainda que sejam franzinas oubaixinhas. Sentimo-nos do
em amor e harmonia conosco mesmos e com os outros, para que tamanho de nossas almas.
;amos ser banhados pelo fluxo de energia amorosa que sempre A medida que avan~amos na espiral, os "estagios" de nossa jor-
,~ircunda. Essa energia prov6m de dentro de n6s, de outras pes- nada tomam-se partes hannonio,sas de urn processo de intera~ao com
I, dos mundos natural e espiritual. Esta sempre dispon(veI. A ta- o mundo. Todas as vezes que experienciamos algo que nos deixa de-
her6ica consiste em desenvolver 0 self 0 suficiente para recebe- siludidos e/ou impotentes, usamos as li~oes aprendidas no estagio do
~em receio de perder-se nela ou ser esmagada por seu poder. 6rIao - choramos nossa perda e, reconhecendo que nao temos· a ha-
No contexto classico antigo, oher6i tomava-se rei - ou rainha. bilidade ou 0 conhecimento para lidar com determinada situa~~o so-
)ora no modelo her6ico iguafffim:oisso---n§o--co~tume acontecer, zinhos, procuramos ajuda. Quando nos sentimos alienados, volta,.
pouco encontramos graais ou peixes sagrados. Talvez tomar-se mo-nos para dentro e pergllntamOS: quem sou eu neste momento?
ou rainha signifique responsabilizar-se - nao apenas 'por nossa Temos que ter calma para adaptar-nos as nossas identidades em
idade interior, mas pela forma como nossos universos exteriores muta~ao.
elham. esta realidade. Assumimos a responsabilidade de gov~mar Quando nos sentimos amea~ados ou furiosos, sabemos que nao
~ino. 0 que tamb6m s1gnlfica-:-qliando-no-Ssos-idnos'~e'~~em~~ estamos vivendo exatamente como gostarramos ou de acordo com 0
i'f'1i' desertos, que sabemos estar na hora de partir e continuar que acreditamos. Entao, afinnamos nosso pr6prio ser e nossos valo-
sa busca. Talvez nos tenhamos acomodado em demasia e cessado res, arriscando-nos a sair do convencional e a levar a vida que esco-
:rescer. lhemos - e, portanto, a assumir as conseqiiencias dessa escolha.
Como explica James Hillman em Re-Visioning Psychology, nos- Quando nos sentimos mutilados por estarmos dando demais ou ina-
jomadas e sobretudo nossos encontros com os arqu6tipos falam dequadam€mte, ou ainda assoberbados pelas exigencias das outras
"forma~ao da alma". 4 Empreendemos nossas jomadas para de- pessoas, esta na hora de explorar quais os dons que devemos real-
~olver nossas almas. CoT~te:---estamoscnruiaoa-aTma-ao mente oferecer. Temos de perguntar: que e que devo dar a esta vida
;dO:Ofemo macroc6smico onde vivemos reflete 0 estado dessa e 0 que 6 que serve apenas para sati~fazer aos outros?
a do mundo. Nao importa o que fa~amos com 0 fito de melhorar Finalmente, e quando sentimos medo e duvida que abrimos nos-
undo em que vivemos, nossa tarefa fundamental consiste em rea- sos cora~oes para a f6 e 0 amor, acolhendo e afinnando as sombras
rnossas jomadas. Caso contrarlo, em vez de trazer mais vida que rastejam nas margens de nossas vidas. expandindo assim os

201
limites do lugar que nos parece seguro e feliz. Desse modo 0 Mago
se funde com 10 lnocente e retornamos ao come~o, s6 que mais
conscientes .e, por conseguinte, mais capazes de fazer livres esco-
lhas. Agora 0 Eden e mais abrangente, e nao limitador. Existe espa-
<;0 para mais verdade acerca de n6s mesmos e de nossos mundos.
As primeiras voltas atraves da espiral exigem tempo e energia.
Sao experimentadas como trabalho, arduo. Todavia, e mais ou menos Capitulo 8
como andar de bicicleta; depois que pegamos 0 jeito, a coisa aconte- COMO USAR
ce naturalmenfe. A medida que aprendemos as li<;oes que sao os
dons de cada arquetipo, eles se tomam parte natural de nosso ser. (E NAO USAR) ESTE LIVRO.
Nao abandon amos a jomada do her6i, mas ela se toma a tal ponto
uma parte de n6s que deixamos de ter consciencia dela. C;oncentra- Ainda que eu fale a lingua dos homens e dos an-
mo-nos no desafio seguinte I- jomadas que podem ser bastante dife- jos, se nao tiver arnor serei como 0 bronze que soa,
rentes, na substancia e na forma, da jomada do her6i. ou como 0 cfmbalo que retine. Ainda que eu tenha 0
dom de profetizar e conhega todos os misterios e to-
Embora a jomada do her6i, tal como e descrita aqui, seja t{pica,
da a ciencia; ainda que minha fe consiga remover
ela pode ou nan descrever a experiencia de qualquerr pessoa. Apesar montanhas, se niio tiver amor nada serei. E ainda que
de tais esquemas servirem como mapa geral e generico de nossas eu distribua todos os meus bens entre os pobres, e
jomadas, em ultima am~lise cada uma de nossas jomadas e diferente. entregue 0 meu pr6prio corpo para ser queimado, se
Como nao existem mapas para mostrar-nos 0 caminho, devemos ,con- niio tiver arnor nada disso me aproveitara. Assim,
fiartotalmente em nosso pr6prio processo. Seja qual for 0 caminho pois, permanecem estes tres: a fe, a esperanga e 0
escolhido, conforme explica Don Juan a Carlos Castaneda em A Se- arnor; porem 0 maior deles eo arnor.
parate Reality, ele nao leva a parte alguma. Nao e uma vergonha I Corintios 13: 1-3, 13
experimentar urn deles quantas vezes forem necessarias, pbis s6 ha... ,
urn criterio
.. nara 0ierdadeiro
_'-"_"._ •._ "._ "..
_~_._·_" u,_....,.J-._w~_,.,,_,._~, ¥.,_
caminho - aquele que Ihe traz alegria.
' ___ '''_'''_'_>_'_~_~'._''-'~ __ ' __ ' > ' ' - ' ' ' ' _ _ ' ' _ ' . ' _ ' ' " •. _ " . ._ E importante utilizar todo 0 conhecimento de maneira etica,hu-
Sua busca po e ou nao seguir este modelo. Siga seu pr6prio ca- mana e amorosa. Este livro foi esciito visando ajudar as pessoas, de-
minho, seja ele qual for. Em primeiro lugar, a jomada do her6i e signando para elas muiios dos modelos que p?dem estar na base da-
apenas .urn dos caminhos possfveis. Talvez voce precise explorar ou- quilo que vivenciam. como seus "problemas". Em razao das impo-
tra jomada primeiro, ou talvez tenha deixado de encarar 0 hero{smo si<;Oes da nossa cultura, segundo as quais devemos agir "normal-
como foco principal de sua evolu<;ao, ao menos temporariamente. mente", mostrando-nos sorridentes, bem-ajustados e felizes, as pes-
Perguntam-me 0 que acontece ap6s a jomada do her6i. Naturalmente so as se sentem pessimas quando estao pessimas. Alem de sofrerem
esse tema encontra-se fora do ambito deste livro, mas cabe dizer que com a dor e a confusao de suas vidas, elas se sentem ineptas por te-
os her6is se tomam reis e rainhas, assumindo a responsabilidade por rem dificuldades. Qu, no mfnimo, sentem que deviam conseguir su-
seus reinos. E/ou tomam-se amantes e estudam aos pes de Afrodite portar melhor as dificuldades.
ou Eros. E/ou exploram 0 carnihho da liberdade e da espontaneidade Quando consideramos nossas dificuldades como partes de uma
com 0 arquetipo do bufao. jomada evolutiva, a dor pode ser parcial mente abrandada. Podemos
Seja qual for .a sua jomada, con fie totalmente nela, po is os ar- respeitar esse processo e respeitar-nos como seres em evolu<;ao, em
quetipos estao aqui para ajuda-Io. Abra-se e deixe-os entr;ar. vez de recearmos que, algo esteja errado conosco devido a nossa
202 203
insatisfac;ao. AI~m do mais, a medida que conseguirmos tespeitar empecilhos ao creScimento resultantes da pobreza, da dependencia e
a n6s mesmos e as Ilossas jomadas, poderemos avanc;ar, mais facil- da alienac;ao que degradam e mutilam uma sociedade, que nao res-
mente e com urn sentimento maior de aventura e enipolgac;ao. Sem peita nem acolhe a sua pr6pria individualidade ou cultura. Isto ~
duvida, ~ mais digno passar por urn momento diffcil e consider~-lo mais evidente entre os indios americanos, mas ocorre tamb~m, em
como 0 nosso "caminho das provac;6es", her6ico, uma forma de ini- graus variados; com todos os grupos oprimidos, quer essa opressao
ciac;ao, em vez de encar~-lo como uma prova da nossa incapacidade se baseie na rac;a, em quest6es ~tnicas, na orientac;ao sexual ou ainda
geral ou de como a vida sempre ~ injusta e miser~vel. nas diferenc;as de classes.
Por conseguinte, essas teorias devem set usadas respeitando-se a A opres~ao costuma aprisionar-nos no model0 do Ortao porque ~\
jomada individual, seja a nos sa ou de outrem. Jamais devem servir quajji~ 'mais oprimidose"irialtratidos soinos, mais oprimidos nos sen-
para censurar algu~m por estar, por exemplo, no local "errado" da timos. Prestamos urn desservic;o a n6s mesmos e aos outros quando
jomada. Melhor seria nem ler este livro, se for para criticar a si 'encobrimos essas realidades. Particularmente, se interiorizamos ou
mesmo ou aos outros, usando-o como mais munic;ao. reforc;amos nos outros 0 mito social de que todos tern oportunidades
,As questoes ~ticas relativas a poss{veis preconceitos culturais iguais de competir na sociedade (e que a culpa de nosso fracasso ~
sao pertinentes. Vmos colegas e alunos meus leram este livro em toda nossa), irnpedimos a n6s mesmos e aos outros de reconhecer e
sua forma manuscrita e levantaram quest6es como, por exemplo, aM aceitar a dor de nossa opressao. Ver 0 rnundo como ele ~ e lamentar
que ponto empreender a pr6pria jomada pode ser uma esperanc;a pa- sua desumanidade ~ urn pr~-requisito para se enveredar por outros
ra pessoas privilegiadas. mas possivelmente irrelevante para os me- caminhos.
nos'afortunados. Tive alguns problemas ru." A elaborac;ao da alma Da mesma maneira, naa 'devernos romantizar 0 privil~gio. Mui-
naose restringe apenas aos abastados. Na verdade, a relac;ao do de- tos homens brancos da classe alta foram criados de, maneira t,ao
'senvolvimento humano com questoes de c1asse, rac;a, etc. ~ bastante egocentrica' ,que seu desenvolvimento estaciona no estagio do Ino-
complexa. cente. Se nao reconhecerem como tarnb~rn eles sao limitados, e co-
Conhec;o pessoas que tern mais' dinheiro, mais privil~gios e
maior acesso aeducac;ao e a uma carreira bem-sucedida do que a I mo as vantagens de que' usufruem sao alcanc;adas as custas de outras
pessoas, eles nao poderao avanc;ar m¥itoern suas jomadas.
grande maioria, mas sua penuria espiritual ~ tamanha que elas nao
evoluem. Assim, tamb~m entre os negros mais pobres e depreciados
I Nao existem verdadeiras hierarquias na elaborac;ao da alma. A
evoluc;ao da alma humana coletiva depende igualrnente de cada urn
ou na comuriidade hispanica e nas reservas ind{genas voce encon- de n6s, e nenhuma pessoa ~ mais importante do queoutra. Existern
trar~ inevitavelmente homens e mulheres idosos tao s~bios e evolui- muitos caminhos, e nem todos sao her6icos. Algumas pessoas que
dos quanta em qualquer outra parte. Nao estou dizendo somente que voce conhece podem inclusive estar explorando seu lado sombrio-
os individuos podem vencer as desigualdades (ou resistir ao cresci- urn caminho que muitos desaprovariam. Quem pode dizer que essa
ment<;) mis melhores circunstartcias), mas tam~m que a abundancia forma de elaborac;ao da alma ~ meno!f irnportante do que 0 caminho
nao ~ apenas uma questao de riqueza e poder. Existe uma tendencia her6ico aqui descrito? De fato, ~ necessma uma certa recondliac;ao
entre a c1asse m~dia branca em perceber 0 valor de nossa pr6pria ! com a Sombra, assim como sua arrrmac;ao, para se tomar 0 caminho
cultura materialista, mas nao 0 de muitas subculturas de nosso meio,
I do Mago. I
especialmente quando 'essas culturas nao sao materialmente bem-su- Assijrn, ~ssas id~ias tampouco devern ser usadas para fins mani-
cedidas. puladores. E verdade que seu neg6cio poderia ser mais lucrativo se
" ,Por outro lado, as vezes romanceamos as cultura$ minoritmas e I
seus empregados estivessem no es~gio do Mago, mas isso nao lhe
com isso noseximimosa necessidade de reconhecer os verdadeiros
I d~ 0 direito de tentar forc;~-los a tomar esse caminho. Recentemente

204
I 205
~~~i,oesem que as pessoas precisam enlouquecer, ser pobres. $oli~­
ouvi faJar de urn homem muHo bem-intencionado que colocava fitas
gravadas com mensagens sUbliminares em seu local de trabalho para rias ou m~ para-que ocorra apropna-evofii~iio:·Em6ora-se.Ja]'1~mda-
1iieiitat ajiia~ar'as--pessoas com~pToblemas dessa eS¢Cle (e proteger-
que os empregados pudesscm aprender subliminarmentb a confiar no
universo e a acreditar na prosperi dade e na abundancia. Ele nao pre- nos ao faze-lo, se necessario), 0 ,I.J:l~Il:J.~orq~~_~PQ.Q~mos fazer 6 ajud~­
cisa desrespeitar as pessoas dessa forma. Ao contr~rio, basta que ele ~ aprend~r_~~_~~~~.!~.s }i9oe~,~.~~~~Il1.,~!>.~~~_~~, c~~~_ ~~r~to, e
mesmo se tome urn Mago para atrair mais pessoas como ele. nao Impeli-Ias a aglr de uma maneira que se ajuste as 'nossas COD-
o que apresentamos aqui 6 apenas a descri~ao de uma forma de cepc;6es de como essas pessoas devem sere
A singularidade de cada indivf'duo complica a quesmo, mas nao
progr~~so. - n~o u~a prescri~ao. Nao se deve us~-la para elaborar
expenenclas que VIsem ajudar as pessoas a percorrer os mesmos nos isenta das responsabilidades resultantes do conhecimento - ain-
esUigios. Embora os model os me pare~am adequados para as pessoas da que muito limitado. Por urn lado, nao 6 muito 6tico tentar mani-
em geral, as psiques individuais sao muito diversas e sua autonomia pular ou forc;ar 0 crescimento. Por outro, quando compreendemos a
e. singularidade precisam ser respeitadas. ,Tais modelos podem importancia da elaborac;ao da alma e de algumas generaliza~6es
acerca dos modelos de nossas interac;6es com os deuses e deusas que
_~JucI.~=!~"porque, ao dar nome as experi~nci~s'Pelas quais-voce ou
,~~_~r~s~ pessoas estao passando, voce pode acelerar 0 apiendizado e
nos auxiliarn nesta tarefa, temos a responsabilidade de ser as partei-
tomar a experiencia mais f~cil e menos amea~adora. Mas nao se de- ras do desenvolvimento do outro, de todas as formas (respeitosas)
,~~ . :0n.sidet~-los normativos, como est~gios que cada urn tem de
que pudermos.
atravessai se nao quiser ser para sempre incompetente. Muitas de nossas institui~Oes e relacionamentos pessoais impe-
Em suma, basta lembrar que 0 importante 6 a jomada individual dem as pessoas .de empreenderem suas jomadas. Por meio da propa-
- .e ~ao quaisquer teorias a seu respeito - e sentir-se livre para ser ganda, 0 com6rcio joga com a inseguranc;a e 0 medo humanos com 0
cnatJvo na elaborac;ao dos modos de usar as id6ias deste livro. Elas fito de vender produtos. Educadores, padres e psic610gos em geral
visam proporcionar as pessoas jomadas tranqiiilas e lembrar-nos de nao conseguem ensinar-nos as habilidades necessmas ao nosso de-
que a busca 6 uma func;ao sagrada. Ela pode ser descrita e incenti- senvolvimento porque precisarn de nosso retorno para garantir sua
vada, mas nao deve ser indevidamente contida e manipulada, forc;a- subsistencia, e desse modo se mant6m urna dependencia doentia.
da ou apressada. Em geral, 0 melhor caminho pode ser tortuoso e Amantes, conjuges e os pais muitas vezes desencorajarn a mudanc;a e
talvez parec;a que, n6s estamos tomando urn caminho oposto aqueie, o crescimento pelo receio de serem deixados para tr~s.
que acabaremos por trilhar. As jomadas nao sao eficientes, previs(- _,SomQ.~L!~~Il9J1S~Y~~, pela elabora~ao de nossos medos - 0 medo
veis nem lineares. de que ningu6m compreo nossopr{)drifo-se"rilioCrlannos-uma neces-
. A ps~cologia arquetf'pica tern urn modo de abordar a vida que va- sidade artificial, de que ningu6m procure os nossos servi~os se
lonza aClma de tudo a evoluc;ao da alma individual. A tentativa de aprenderem a ter autoconfian~a ou de que ningu6m nos arne se nao
encerrar esse desenvolvimento dentro de alguma id6ia preconcebida dependerem de n6s. Nao 6 6tico frear 0 crescimento das pessoas
de virtude, saude mehtal, born ajustamento, atuac;ao adequada ou 0 porque nao podemos ou nao queremos lidar com os nossos medos.
que 6 necess~rio para vencer numa cultura materialista 6 nociva Na verdade, ~senada temos a oferecer que algu6m possa querer ou
.. .
pOlS Imp~ICa a formac;ao de mortos-vivos na cultura. Nao que a sau-
' ~~~,_~_~~~~_'<i~.'~!Dpr~!l:~~~~s-iiossa pr6pria jomada -epere-e-
de mental, a virtude, as realiza~6es e 0 sucesso material e social nao E.~!- In~lhor qu~ a. ~ossa voc.a~a~"e.~-Iaentid~ide--dos--iunantes, amigos
sejam importantes; simplesmente, eles nao sao val ores absolutos. .9P,traps,I1!<?s, _~ais apropriados para n68. - - - ----,
Sem duvida, nao valem 0 sacriff'cio da individuac;ao, da individuali- Com 0 coilheaiiiento - vern aresponsabilidade pela cria~ao de
dade e do desenvolvimento de uma alma incompar~vel. .E~istem ambientes que estimulam 0 crescimento e a evoluc;ao. Aqueles de

206 207
•...~;:;o;t·.,;":·.soin6s l(deres poUticos, intelectuais ou organizacionais po- pessoas precisam de ajuda e sua necessidade mais premente e 0 re-
,',,' . facilmente que somos respons~veis pelo ambiente em nossa conhecimento de sua alma eo respeito por ela .
. 1it6..ganiza~ao. Contudo, todosajudam a criar ambientes. Nenhum H- Se voce sente que progrediu ate urn ponto no qual deseja pensar
"derfaZisso sozinho. No m(nimo, ainda que voce se sinta impotente em como essas ideias podem ser usadas para ajudar os outroS (em
no trabalho, na escolaena maioria de seus ambientes institucionais, vez de simplesmente fugir quando a necessidade se apresentar) e,
'vOCe tern urn papel fundamental na cria~ao de uma atmosfera na sobretudo, se essas ideias sao importantes para seu trabalho, voce
.famnia, em suas rela~oes dimas com seus amigos e colegas de pode interessar-se pelas breves sugest6es abaixo, dirigidas aos pro-
trabalho. fissionais, sobre como usar os conceitos deste livro em seu trabalho.
As pessoas precisam de ambientes seguros e estimulantes nos
quais se sintam valorizadas com9' indiv(duos .singulares, nos quais
Sugest6es )lara Profissionais
suas almas sejam respeitadas ~. nao sejam consideradas objetos a se-
. rem usadose descartados. Esses ambientes tambem precisam I'ro- Se voce tern uma profissao de auxOio, pode usar este livro como
porcionar urn n(vel realista d~ desafio - 0 suficiente para que as pes- urn instrumento de diagn6stico, que 0 ajudara a identificar onde
soas nao se sin tam entediadrui·ou "empacadas" em seus caminhos, estao seus clientes, paroquianos ou I alunos,e a fonnular uma inter-
mas nao demais a ponto de impossibilitar 0 sucesso. Alem disso, as ven~ao apropriada, capaz de intensificar seu crescimento e eficien-
pessoas devem viver em ]ocais onde a honestidade e uma certeza e cia. Este livro tambem pode ser usado como ponte entre diferentes
onde a integridade e a agressividade adequada sao esperadas e re- escolas de pensamento. Por exemplo, os poHticOs conservadores
compensadas. As. pessoas precisam receber cuidados suficiehtes para costumam considerar os pobres como Nomades (isto e, se nao os ve-
que nao possam ser impunemente desonestas, manipuladoras, irres- em como salafrmos) e por isso sUpOem que a melhor atitude consis-
"l'"

pons~veis e passivo-agressivas. Os ambientes saud~veis incluem te em abandona-Ios a pr6pria sorte. as liberais costumam considerar'
,cuidados, mas tamb6m 0 confrontoenergico e as conseqiienciasde os pobres como Orfaos que precisdm de ajuda. Ambos podem ter
urn comportainento nocivo aos outros ou ao grupo. razao em deterininadas circunstancias. Atarefa consiste em desco-
Finalmente, as pessoas precisam de ambientes caracterizados pe- brir qual a abordagem necessma para cada iridi~(duo ou grupo dife-
10 compromisso mutuo em prol do crescimento pessoal e que pro- rente, crm base no ponto onde eles realmente estao. Esse reconhe-
porcionem uma boa educa~aoe a discussao dos problemas atuais. cimento pode ajudar a articular polfticas que permitam as pessoas,
Quem nao lan~aria uma corda para alguem que se ~tivesse afogan- em ultima analise, tomar-se produtivas, felizes e pr6speras.
do? Quem, .ao ver uma· mulher sendo estuprada, nao tentaria intervir Diferentes abordagens do desenvolvimento da fe tambem sao
ouajudar? Ninguem com urn pouco de integridade e compaixao! apr"priadas aos varios estagios. E uti I aconselhar 0 Orfao a sim-
As Pessoas estao-se afogando em sua ignorancia e estao sendo plesmente orar e ter fe em Jesus, mas para alguem que acaba de en-
esmagadas pelos estere6tipos e mitos destrutivos que elas interiori- trar no estagio do Guerreiro faz mais sentido estimular a disci pI ina
zaram. Se voce e terapeuta, sua responsabilidade significa nao sem- espiritual (medita<,;ao, estudo ou ate mesmo jejum) e/ou esfor~ar-se
I
pre uma estaca. As vezes as pessoas precisam ser instru(das sobre para obter 0 que ele(s) deseja. Enquanto 0 indivfduo, nao desenvolve
outras ideias e modos de pensar a respeito das coisas. Se os profes- uma certa disciplina e agressividade, nao faz muito sentido falar de
sores, l(deres e patroes possufrem todas as respostas, os alunos, abundancia aqui e agora.
membros de grupos e opermos nao aprenderao a encontrar suas E util pedir as pessoas que Ihe relJtem as hist6rias de suas vidas
pr6prias respostas. Por outro lado, deix~-los lutar inteiramente sozi- em qualquer desses estagios, mas 0 que elas valorizam em epocas di-
nhos e irresponsabilidade; eles podem nao sobreviver ao desafio. As ferentes revelara as habilidades que ja dominam. Pdr exemplo, na

208 209
priIneira vez qU9 contarem sua hist6ria, as pessoas poderao enfatizar As pessoas prontas para entrar no estligio do. Mago po.dem sel
sua qualidade de vrtimas; mais tarde. poderao real~ar a sensac;ao de detidas por formas racionais e anaHticas de terapla, as quaIs talve2
isolamento; mais tarde ainda, pOOerao falar das coisas que realiza- considerem escapista, se nao completame~te louco, 0 intere~sed(
ram e da luta que isso exigiu. Por fim, esses mesmos indivfduos - Mago pela realidade transcendente, pela intui~ao e pelas reahdad~~
nao obstante os muitos anos de terapia ou amilise - poderao avaliar alternativas. Para ajudar esses grupos, os terapeutas tambem precl'
todas as dlidivas que receberam e como, afinal de contas, foram sam ser Magos; do contrario nao conseguirao auxiliar esse proce~so
afortunados. Fantasia conduzida, analise de sonhos, meditac;ao e outras tecm~a:
Em tOOos os estligios as pessoas precis am ser incentivadas a vi- valiosas para os clientes tern acesso direto as vozes de suas pr6pna:
venciar plenamente seus sentimentos e a aprender as liC;6es indis- almas e sao fundamentais. E neste ponto qu~ as pessoas come~am l
pensaveis que eles encerram. No entanto, os pr6prios sentimentos assumir a responsabilidade consciente por sua pr6pria.evolu~ao, (
mudam, mesmo que se reIlra'm aos mesmos acontecimentos de suas que exige essa forma de acesso direto as mensagens de nossos seres.
\ vidas. Muitas pessoas que lutam para enfrentar e acolher a dor, 0 so- . A cria~ao de rituais tambem pode facilitar 0 processo. Grande
\frimento e 0 medo poderao descobrir, para sua surpresa, que tern a i parte de nossas vidas e oprimida por dtuais institucionais e pe~soais
mesma dificuldade quando se trata de sentir plenament~ a alegria. j hlibitos e formas convencionais de agir, os quais sao anacromcos e
Sofremos os problemas de nossa cultura porque nossas mentes quando nao analisados, nos oprimem. 0 desenvo~vimento de rituai:
nao esmo em comunhao com nossas almas. Par~ restabelecer 0 cOJ;l- individuais e comunitarios, resultantes das necessldades espontftnea
_,ta!o_com nossas almas, precisamos liberar vdhos~e.ntjr;n~Jltos repri- e presentes de nossas almas, nos ajuda a reprogr~ nossas mente:
niidps e compriinidos que bloqueiam esse aces so. A tenlp~~ ~at~ica conscientes de modo a vivermos segundo 0 prop6s1to de nossa alma
d.e._,A.nn~ Schaef, a mais eficiente que ja encontrei, ajuda as pessoas Esses rituais podem incluir cerimonias espirituais ou as fo~ com(
a remover os--bloqueios e abrir-se para a verdade de seus seres. Sua interagimos em nossos locais de trabalho e com nossas famfbas, ben
eficacia e maior ainda quando combinada com 0 trabalho corporal, como 0 que fazemos quando acord~os pela manha ou quando .vol
destinado a liberar as emo~oes retidas em nossos corpos. Algumas tamos para casa ap6s 0 trabalho. E importante saber ~ nosso ntua
pessoas aprendem a ouvir a si mesmas atraves da medita~ao ou ana- de voltar para casa consiste em entrar correndo e gntando com a
Iisando seus sonhos, ou atraves da arte-terapia. A forma pode variar, crianc;as, ou em abra~li-Ias e sentar-se para saber como foi 0 ~ia de
mas 0 objetivo e 0 mesmo - estabelecer a ]jga~ao com nosso ser in- las; se fazemos 0 jantar as pressas ou conscientes de que cozmhar I
terior. Outros indivfduos, que nao sao tao prejudicados quanto a urn processo sensfvel; ou se reservamos algum ~mpo para nos con
maior parte das pessoas em nossa cultura, pod em estabelecer esta li- centrarmos ou simplesmente preparamos urn dnnque forte par~ no
gac;ao simplesmente apreIidendo a prestar aten~ao a suas mentes, acalmar. Todos esses hlibitos ritualizados nos informam da qualldad
corpos e sonhos, desde que ten ham aprendido a arte de faze-lo. diaria de nossas vidas, assim como, sem duvida, os ritos religioso
Formas diferentes de terapia sao melhores para pessoas que tra- que praticamos ou inventamos.
balham com modelos arquetfpicos particulares. Por exemplo, aqueles Quando aprendem a concretizar 0 arquetipo do. Mago, as pes
que esmo entrando na fase do Guerreiro precisam de agressividade e soas estao pronta~ p~a responsabilizar~se. c.onsclentement~. p~
outras estrategias comportamentais a fim de aprenderem a agir efi- ( suas vidas, 0 que lmphca' fazer escolhas JudlclOsas. de seus ntual
cientemente no mundo. Necessitam tambem elaborar sua raiva. Os \ e hlibitos. , v
FeIizmente, quer sejamosterapeutas ou professores., costu~o

t
Nomades beneficiam-se com as estrategias catlirticas anaHticas e
emocionais destinadas a remover velhos modelos e a faze-los desco- atrair pessoas semelhantes a n6s, e desse modo ajudamos mats a
brir quem real mente sao. pessoas, seja qual for 0 estligio que estamos abandonando. Percebe

210 21.:
j
I

(que tipo de pessoas voce atrai e quais sao os problemas dessas pes- bilidades e id6ias com seus colegas. Se for possfvel faze-Io aprender
{ soas 6 uma boa forma de identificar a passagem que voce esta pres- a ser sincero e agir segundo suas p,r6prias convic<;6es. respeitando
tes a completar. Ensinamos inevitavelmente 0 que estamos tentando ao mesmo tempo as outras pessoas, 'seu neg6cio, organiza<;ao ou sa-
""----- '-...-_.__ .•-_......- ....-..-
. ' .

\ ~1}9.£r.:. . la de aula, ele fiorescera. E tamb6m nesse ponto que estruturas


J:>rofessores, patroes e Hderes de grupo podem usar 0 conheci- nao-hierarquicas e altemativas podem funcionar bern.
mento desses modelos arquet(picos para serem mais eficientes na sa- Finalmente, se voce quer que sua organiza<;ao, empresa ou sala
la de aula, no local de trabalho ou na organiza<;ao. Por exemplo, os de aula seja magica, incentive todos os envolvidos a ouvir suas vo-
6rfaos precisam de regras, regulamentos, estrutura e do sentimento zes interiores e aver 0 que estas aconselham, a eles e ao grupo, a
de que algu6m estii c,uidando deles. Tamb6m necessitam da impo- fazer, voce se surpreendera com os resultados.
I
Quando todos livre-
si<;ao rigorosa dessas regras e responsabilidades. Beneficiam-se com mente compartilham seus conhecimentos e id6ias, torna-se possIvel
situa<;6es de equipe, nas quais sao motivados a assumir a responsabi- maior sanidade, sabedoria, felicidade e prosperidade do que se ima-
lidadede cui dar de outras pessoas. ginava possIve\' I
As pessoas habitualmente responsaveis, que realizam seu traba- Ad9mais, se desenvolvermos em nossos filhos a consciencia
lho confonne 0 prometido, qualquer que seja 0 pre<;o a pagar, sao desses arqu6tipos, poderemos estimular neles, desde 0 come<;o, 0 de-
confiaveis. Contudo, podem tornar-se Martires confitmados se nao senvolvimento em todas as tarefas de aprendizado relevantes.
forem estimulados a buscar maior autonomia e a dar contribui<;6es Atualmente, a sociedade na verdade retarda 0 desenvolvimento das
originais ao aprendizado, a organiza<;~o ou ao grupo. Os Martires cri~n<;as ao formular questoes dualistas (dependencia versus contro-
precisam ser incentivados a tornar-se ambiciosos e a galgar a escada Ie; amparo versus autonomia e liberdade) e fomecer imagens cultu-
do sucesso. (0 que 6 especialmente importante para as mulheres, rais apenas dos modelos mais primitivos dos arqu6tipos do Martir,
que costumam estacionar no papel de leal funcionaria ou membro de do Nomade e qo Guerreiro. AI6m disso, nao conseguimos mostrar as
clube, confonnada mas insatisfeita, ou de aluna exemplar, conscien- crian<;as que elas podem ser Magos. Elas nao conhecem Magos, ex-
ciosa, mas sem imagina<;ao, porque nao se espera mais dela.) ceto na fic<;ao escapista, que nos esfor<;amos por descartar como
Os Nomades, por outro lado, nao devem ser pressionados a par- fic<;ao, e nao realidade. Oferecer as c1an<;as imagens e his~6rias dos
ticipar de trabalhos em equipe. Precisam de amplitude para encontrar modelos mais evolufdos e aprimorados de todos os arqu6t1pos pede
sua pr6pria voz vocacional ou estudar 0 que lhes interessa. Quando ajuda-Ias a perder menos tempo. Acredito que a pr6xima gera<;ao
encontram alguma coisa que os entusiasma, 6 util faze-los lutar, isto nao precisara passar por todos os estagios de crescimento de cada
6, vender sua id6ia (ou ensina-Ia) aos outros. arqu6tipo. Ela podera beneficiar-se com nossas jomadas e dar urn
Os Guerreiros reagem ao perigo e a competi<;ao (que poderia passo significativo em dire<;ao a urn mundo mais equilibrado e
dissuadiras pessoas que se acham em outros estagios), mas em de- saudavel.
tenninado ponto poderao ser destruIdos se nao forem expostos a ou- Como essa jornada nao 6 linear, podemos desenvolver todas es-
tra maneira de agir. A energia das pessoas que estao no estagio ini- sas habilidades simultaneamente. 0 her6i interior nao 6 apenas urn
cial do Guerreiro pode ser utilizada para 0 trabalho em conjunto Mago, mas algu6m que aprendeu iniegralmente as H~6es de todos os
contra urn inimigo comum ou rival. Isso as impede de descarregar arquetip6s-aqur-descriios:' A dadiva suprema de 'cada: urn dos est~'::'
sua raiva umas sobre as outras. Mais tarde, por6m, esse grupo pode gios-ajuCla'o her6ia--ter-uma rela<;ao amorosa com ~odas as coisas. A
benefiCiar-se ao aprender a habilidade de ouvir, as t6cnicas de medi- medida que aprendemos as li<;oes de cada arqu6tipo, adquirimos
ta<;ao e outras estrat6gias capazes de ajuda-Io a solucionar 0 proble- muitas habilidades que nos ajudam nesse sentido: pedir respeitosa-
ma em conjunto, assim como partilhar sentimentos, medos, vu]nera- mente aquila de que precisamos, a Deus, ao outro e ao mundo natu-

212 213
ral; dar ao outro e ao universo como afirma~ao de nossa disponibili-
dade de re:eber; escolhermos e valorizarmos a n6s mesmos porque,
enqu~t~ nao 0 fizermos, amar ao pr6ximo como 'a n6s mesmos pou-
eo sl~~mficarci; e Iutar por n6s mesmos, pelos que amarnos, pela
especle e pelo planeta, contra tudo (ou todos) que arneace reduzir a
vida e a vitalidade para todos n6s. Finalrnente, quando apreQdermos
a celebrar e afinnar tudo 0 que somos, tudo 0 que recebemos diaria-
Inente, quan90"aprendermos a arnar a n6s mesrnos e aos outros, ao
planeta, a Deus e ao potencial de vida do universo, ingrejsarernos na
Nova Era. Exercicios para 0 Her6i Interior *

Em resposta as indaga~6es dos leitores da primeira edi~ao de 0


Her6i Interior, os exerclcios abaixo foram elaborados a fim de
ajudci-Io a ter acesso aos her6is que existern dentro de voce e a co-
Iher as recompensas decorrentes. do eneontro com cada urn desses
arquetipos em: diferentes nf'veis de elabora~ao e profundidade. Mui-
I tos dos exerclcios aqui incluf'dos devem ser registrados, portanto se-
I
ria lltiI, antes de inicici-Ios, providenciar urn dicirio ou cademo de no-
tas. Escreva as respostas no dime e utilize-o para registrar suas ex-
periencias durante os exerclcios experimentais. Se a escrita nao for 0
meio de expressao de sua preferencia, voce pode responder atraves
de imagens, de movirnento, registrando as experiencias no gravador
ou faIando diretarnente para urn amigo, ou qualquer outro meio que
Ihe ocorrer naturalmente.

* Seria imposs!vel agradecer ou mesmo citar todas as pessoas, livros e semiruirios que
influi'ram no desenvolvimento dos exerc!cios aqui inclufdos. Contudo, quero agradecer
especialmente a David Oldfield, Diretor do Centro Midway delmagin~iio Criativa, da
Fun~iio Instituto Psiquititrico de Washington, D.C., cujos metodos de. lmagina~iio Cria-
tiva influenciaram profundamente estes exerc!cios. Tambem gostaria de agradecer aos
p~cipantes do curso de certific~iio, onde hoje leciono, pelosJeedbacks, apoio e incenti-
vo geral quanto aimportincia desta abordagem.
214 215
exerc{cios devem ser partilhados com um amigo ou con-
··""u .... ..,"'· desses gropos. Se voce quiser co~e<;ar um !fUpo de apoio aos
ideal seria ,se dois ou mais de voces concordassem em Her6is Jnteriores, 0 melbor 6 convldar outras pessoas - com quem
os mesmos exercfcios e compartilhar os resultados. No en- voce go~taria de estar - para um encontro. Diga-lhes 0 que voce pre-
'tanto, se isso nao for poss{vel, uma outra forma igufllmente v~lida tende fazer - e quem planeja convidar. Deixe claro se voce pretende
c6Iisiste em partilhar suas experiencias com algu6m que nao esteja liderar 0 gropo ou formaT uma lideran<;a altern ada (cada pessoa lide-
fazendo os exercfcios. Certas pessoas preferem recorrer ao terapeu- ra 1Ilma sessao) ou uma lideran<;a compartilhada (alguns ou todos os
ta, padre, rabino ou outro profissionaI, em vez de a um amigo. Isto membros dividem a responsabilidade pela manuten<;ao da hannonia
tamMm 6 vliHdo. Se nao quiser partilhar suas experiencias com nin- do gropo e da agenda.) Ao final dos exercf.cios encontra-se umapau-
gu6m, anote no di~rio os· devaneios, as fantasias e as medita<;6es, ta 11til aos membros do grupo.
l
bern como as atividades que puderem ser adaptadas para uso indivi- Quer voce esteja realizando os exercfcios sozinho ou com um
dual. Voce pode partilhar suas experiencias com um amigo imagin~­ amigo, professor ou gropo, 0 objetivo consiste em obter 0 tesouro
rio, como fazem tantas crian<;as. associado a cada um dos seis arqu6tipos descritos em 0 Her6i Inte-
Para a realiza<;ao de suas fantasias, devaneios e medita<;oes, es- rior. Sinta-se livre para modificar oll substituir os exercfcios, ou
colha um lugar onde nao seja interrompido e onde possa estar a von- ainda acrescentar outros. Nao 6 preciso fazer todos os exercfcios.
tade durante cerca de trinta minutos. Seme-se numa cadeira con- Realize aqueles que mais the agradarem. 0 importante nao 6 obede-
fortlivel ou deite-se. Voce pode usar uma m11sica de fundo ou per- cer exatamente as instru<;oes, mas sim obter acesso aos seus her6is
manecer em total silencio. Respire lenta e profundamente durante interiores.
algum tempo e em seguida reI axe 0 corpo, contraindo e descontrain-
do'seqiiencialmente cads parte, come<;ando pelos dedos dos ¢s e
subindo at6 0 couro cabeludo. Quando estiver completamente rela-
xado, leia todo 0 exercfcio at6 memorizar ospontos principais. Seja
omais criativo possIvel durante a reaIiza<;ao do exercfcio. Voce po-
. de.' tomar todas as liberdades, e seguramente precisarli preencher to-
dos os detaIhes. Ap6s completar 0 exerc{cio, relaxe profunda e es-
pontaneamente durante alguns minutos, antes de retomar as ativida-
des dimas.
A maior .parte das atividades incluldas (sozinho,em grupo ou
com outra pessoa) destina-se a pessoas de qualquer n{vel de evo-
lu<;ao. Contudo, cada sessao inclui uma atividade avan<;ada espec{fi-
ca para aquelas que desenvolveram todos os seis arqu6tipos em certo
grau e que esmo altamente evolu{das no arqu6tipo em questao.
Alguns leitores, que j~ discutem 0 Her6i Interior nas salas de
aulas ou em pequenos gropos, poderao achar 11til a realiza<;ao dos
exercfcios em conjunto. Outros leitores poderao preferir formar gru-
pos de apoio de Her6is Interiores, gropos de tres a sete membros,
que se comprometam a apoiar as jornadas her6icas de cada um. Os
exerc{cios subseqiientes podem fOrmaT a base para os componentes
,. li~,
216
it . 217
.'.1.;'
,
. Devaneio I

Hora cia Sesta


Imagine que voce 6 uma crian~a - digamos, no jardim-de-infan-
cia - preparando-se para tirar uma soneca. Talvez voce brinque urn
pouco - colorindo, por exemplo - at6 ~ professora manda-Io deitar.
Contudo, como toda crian~a, voce nao quer dormir efantasia as
grandes coisas que vai ser, fazer e vivenciar quando crescer. Fa~a
como se fosse uma crian~a. Nao censure sua imagina~ao s6 porque
10 inocente
esta pen sando em alguma coisa inadequada ou impossive}.. Se quer
devanear sobre sua fuga para ir ver 0 circo ou outra coisa qualquer,
abandone-se a esse devaneio. Permita que ele seja 0 mais real e cria-
tivo possive!.

Devaneio n
A Infaneia Perfeita
I
Exercicios do Diario Em seu devaneio, permita-se vivenciar uma infancia perfeita,
onde voce recebeu tudo de que precisava: arnor, bens materiais, se-
1. Fa~~ uma lista Idas pessoas e coisas de quem voce depende e nas guran~a, incentivo, estimulo ao seu crescimento de todas as manei-
qUaIS ~onfia - aquelas que nao costumam decepciona-Io. A lista ras· possiveis. Dedique algum tempo para elaborar seus sentimentos.
pode In:luir os fomecedores de servi~os basicos que costumam Perceba que, nao importa qual tenha sido a realidade de sua verda-
ser conslderados garantido~ (por exemplo, os correios e 0 carreiro deira infancia, voce pode dar a si mesmo' uma infancia perfeita,
que entrega a correspondencia pontualmente), bern como amigos sempre que 0 quiser, em sua vida de faz-de-conta.
colaboradores, familiares e outras pessoas pr6ximas. '
2. Onde e com quem voce se sente mais seguro?
3. Quando e onde voce 6 mais digno de confian~a e honesto? Fantasia
4. R~corde as situa~6es mais idilicas de. sua vida. Para as pessoas
cUJas familias sao felizes, P?dem ser os anos da infancia. Ou ain- Meu Lugar Seguro
da uma 6poca em que voce estava amando algu6m. Pode ter sido Imagine-se viajando no tempo e no espa~o, utilizando a forma
Uma situa~ao terapeutica ou uma experiencia de crescimento pes- de transporte de sua preferencia - urn cavalo, urn camelo, urn carro,
so~l especialm~nte seguras. Ou 0 periodo partilhll;do com urn uma espa~onave. Imagine-se fazendo uma viagem. Perceba 0 am-
amt.go, 0 entuslasmo de urn novo emprego, ou simplesmente estar biente que 0 cerca, visualize a voce· mesmo, 0 que esta vestindo,
~oz~nho em algum local predileto. Descreva urn ou mais desses qual a sua aparencia. (Voce pode assumir a aparencia que desejar.)
mCldentes em sua vida.
Seu destlno 6 urn lugar totalmente seguro. Quando chegar la, per-
218
219
I
ceba como ~ 0 lugar. Tome consciencia (na fantasia) das sensa~Oes e . 4. V ~ ao zoo16gico ou ao parque, solte uma pipa, sopre bolinhas de
aromas do lugar, bern como de todos os sons. Veja se est~ sozinho sabao, compre urn sorvete de casquinha, cante musicas tolas,
ou com pessoas ou animais. Quem sao as outras pessoas (se as hou- brinque de jogos infantis e fa~a trflvessuras. Permita-se realizar
ver)? Usufrua desse lugar por aJgum tempo. Quando estiver pronto todas as atividades que fazem lembrar prazerosamente a inocen-
para partir, vo]te da mesina forma como foi. cia da infancia.
5. Fa~a uma caminhada de confian~a com urn parceiro. Feche os
olhos e permita que seu parceiro 0 guie pela mao. A outra pessoa
Medita~ao deve tomar cuidado para que voce nao tropece, nem colida com
algo, transmitindo-lhe seguran~a e a garantia de que nao h~ peri-
A Beleza da Cri~iio go. 0 guia tamb~m pode produzir experiencias agrad~veis, tais
Medite sobre a beleza da cria~ao. Permita-se recordar 0 milagre como colocar ¢talas de rosa em sua mao, para que voce Ihes sin-
de urn regato na montanha, de urn p~ssaro pairando nas alturas, de ta a maciez. Essas experiencias destinam-se a ampliar a sensa~ao
uma crian~a inocente. Concentre-se sucessivamente naquilo que ]he de seguran~a e apoio.
parece belo, inspirador e feliz. 6. Participe de brincadeiras, como, por exempl0, fapai-mandou ou
Siga-o-lfder, onde tOOos fazem sem questionar aquilo que 0 lfder
manda. (Lembre-se: 0 lfder deve ser confi~vel.)
Atividades
1. ' Partilhe osexercfcios acima com outras pessoas. Atividade A van~ada
2. Em geral, supomos simplesmente que os outros devem ser justos,
bondosos, competentes e at~ mesmo generosos. Quando isso nao Imagine 'que voce vive num mundo perfeito onde todas as difi-
acontece, ficamos profundamente desapontados. A fim de con- culdades~ tOOos os males, todas as dores sao ilus6rios - a esp~cie
centrar-se no elemento positivo da vida e esquecer as desilusOes humana os criou apenas para proporcionar dramaticidade e interesse
da vida, pat;'e de considerar 0 que ~ positivo como coisa garanti- a vida. Se quiser, voce pode voltar ao Eden e viver num mundo on-
da. Crie 0 h~bito de agradecer pelas coisas que de outro modo de tudo e todos sao seguros e confi~veis. Isso nao signi'fica passar
voce poderia considerar garantidas. Agrade~a 0 sorriso do ven- na frente de urn carro ou saltar de urn penhasco. Mesmo no Eden, as
dedor, 0 servi~o do gar~om, 0 trabalho bem-feito de seus colegas, leis naturais precisam ser respeitadas. Isso significa que voce passa a
o apoio de sua esposa. Refor~ar 0 comportamento positivo nao urn nivel mais profundo de atua~ao, onde reconhece que todos, no
apenas estimula aquiJo que ~ born nas outras pessoas como fundo, lutam para amar e realizar 0 bern. Por esse motivo, passe urn
tambc!~ concentra sua aten~ao nos aspectos positivos da vida. dia sem julgar nada nem ningu~m por sua aparencia superficialmente
3., Com '0 mesmo espirito t lembre-se de agradecer a voce mesmo por amea~adora. Responda ao nivel de rela~ao amorosa mais profunda, e
todas as coisas certas que faz, por sua competencia e bondade, nao ao n(vel de aparencia, e veja 0 que acontece.
eto. Agrade~a antecipadamente a si mesmo pelas coisas boas que
pretende fazer. Quando estiver em dificuldades, nao secensure.
Agradec;a a si mesmo por suas boas inten~6es. Pense em como
fazer melhor da pr6xima vez e depois agrade~a a si mesmo por
ter-se permitido urn tempo para pensarem como melhorar.

22(} 221
maioria das pessoas tem consciencia de que sao viciadas em dro-
gas ou ~lcool, e muitas tambem se dao conta de serem viciadas
em urn relacionamento ou em alimentos. Contudo, fazer compras,
preocupar-se, falar sem parar, trabalhar demais e ate mesmo ati-
vidades virtuosas como sacrificar-se e meditar, podem ser vicio-
sas ou obsessivas se forem usadas para evitar a dor, a depressa(J
ou a raiva. Fa~a uD;l,a !ista dos compo~e~tos qlJe voce conside-
ra viciados ou obsessivos.
OOrfio 6. Quando e onde voce pediu ajuda? Que aconteceu depois?
7. Especifique 0 modo como 0 mundo a sua volta e in~guro e/oll
injusto. Fa~a uma lista das amea~as que voce percebe ao sell
bem-estar e a sociedade como um todo.

Devaneio

\ . Salvafiio
Exercicios do Di8rio Permita-se fantasiar a salva~ao, seja na forma de "algum di~
I meu principe (ou princesa) vir~", ou de sonhos: urn terapeuta perfei.
1. Fa~a uma !ista de pessoas e coisas (convic~Oes, causas, organ i- to, 0 grande patrao ou 0 Hder poHtico que restaurarn 0 Camelot
za~Oes, institui~Oes) que rtrafram, abandonaram, desapontaram ou
Deixe que essa pessoa poderosa, benevolente e atenciosa cuide de
magoaram voce. voce. ~m seguida imagine voce mesmo tomando-se essa pessoa
2. Onde e com quem voce se sente mais poderoso? Descreva a si-·
tua~ao e como voce se sente. , Como se sente?
3. Fa~a uma !ista de pessoas que se sentiram tra{das, abandonadas,
desapontadas, magoadas ou prejudicadas por voce. Voce concor-
da com elas? Fantasia
4. Quando e onde voce traiu, abandonou, prejudicou, desap~ntou
ReveruJo 0 Passado
ou magoou a si mesmo? Por exemplo,quando voce deixou de vi- I A

ver segundo seus pr6prios ideais e valores? Quando voce preferiu Imagine urn enorme arco-fris entrando no quarto onde voce est
nao seguir os ditames de seu cora~ao? Quando voce sel negou a total mente calma e relaxado. Voce est~ ~ao relaxado, que se sent
pedir ajuda qUWjldo is so se fazia necessm-io? Quando voce abusou leve como uma pluma e come~a a flutuar em cada cor do arco-fri~
de drogas, ~lcodl, relacionamentos, alimentos, etc. sendo sucessivamente banhado pela luz vermelha, laranja, amareh
5. Quais sao os seus v{cios ou obsessOes? Qualquer comportamento verde, azul e por fim pUrpura.· 0 arco-fris coloca-o delicadament
que nos desvia do confronto com uma circunstancia, percep~ao sobre uma nuvem branca, na qual voce pode viajar no tempo. RetOI
ou emo~ao desagrad4veis pode ser viciosa ou obsessiva, sobretu- ne a algum incidente de sua vida no qual se sentiu 6rfiio, abandona
do se temos pouco ou nenhum controle sobre essa em~ao. A do, maltratado, trafdo ou magoado. Mantenha uma certa distancia, s

222 22:
puder, como se estivesse assistindo a urn filme, mas identifique-se imaginar essa for~a como feminina, deixe que assim seja. Se prefere
liVI'emente com 0 personagem principal (voce) e solidarize-se com que nao tenha sexo nem presen~a personificada, imagine-a como
ele· (0 que poder~ faze-Io chorar ou expressar de outra maneira a uma for~a de energia, como a natureza, como uma for~a cientlfica
emo~ao emp~tica). por exemplo, a evolu~ao - ou como 0 que quer que ,he pare~a corre-
Em seguida, ap6s terminar, imagine que voce acabou de receber to e crivel. Alguns preferem imaginar essa for~a como seu pr6prio
o poder de refazer 0 filme ou atualizar a trama. Voce pode refazer 0 Eu interior, superior ou profundo.
filme da maneira como gostaria que tudo tivesse acontecido. Mude Imagine que essa for~a superior ou profunda possui uma sabedo-
tudo 0 que desejar: 0 modo como voce agiu, como as outras pessoas ria que vai muito a16m da sua sabedoria human a ou de qualquer ou-
agiram e assim por diante. Voce pode inventar uma figura que venha tro ser humano. Por conseguinte, se voce sentir raiva dessa for~a,
salv~-lo. Refa~a 0 filme at6 ficar completamente satisfeito com ele. simplesmente abandone-a, sabedor de que desconhece as raz6es
Entao v~ a filmoteca e jogue fora a versao anterior, substituindo-a mais profundas que esrno por tr~s dos acontecimentos. Finalmente,
pelo novo filme. Retome pela nuvem e pelo arco-Iris, mas desta vez reconhecendo a sabedoria maior e 0 poder dessa for~a superior,
permita que cada cor 0 inunde, curando todo resIduo de sofrimento permita-se entregar 0 controle de sua vida a ele(a) ou a isto, e des-
que voce sentiu na recorda~ao inicial. Percorra a luz purpura, azul, cansar, seguro de que agora sua vida est~ sob os cuidados de urn ser
verde, amarela, laranja e vermelha, permitindo que a cura seja total. superior, mais s~bio e poderoso, do que seu eu consciente, bomum.
Uma vez concluldo esse exercfcio. lembre-se de que voce 6 livre
par~ voltar e assistir ao novo fHme sempre que quiser. Quando se
sentir tentado a retroceder a versao antiga e dolorosa, lembre-se de Atividades
queela foi substitulda por uma versao atualizada e assista a essa
versao. Recordar repetidamente decep~oes passadas refor~a as con- 1. Partilhe os exercIcios acima com uma outra pessoa ou com· urn
vic~oes negativas acerca do mundo. Fazendo uma nova filmagem, grupo.
voce cria urn circuito mental altemativo e, por conseguinte, novas 2. Sempre que nos sentimos 6rfiios, precisamos de apoio. Inumeros
cren~·as sobre 0 mundo e aquilo que ele tern a oferecer. Voce pode a
grupos de apoio dedicam-se problemas relacionados com a for-
repetir esse exercfcio com outra lembran~a, mas nao 0 fa~a mais de ma como nos tom amos OU fomos tornados 6rfaos. Por exemplo,
duas vezes por semana. grupos de doze passos (tais como os Alc06latras Anonimos, AI-
Anon, grupos de Alc06latras Adultos-Crian<;as, Grupo Anonimo
de Pessoas que Comem Demais, Pais Anonimos), grupos de
Medita~ao conscientiza<;ao feminina, grupos masculinos ou grupos terapeu-
Entregando a Vida a uma For~a Superior ticos. Verifique quais grupos podem servi-Io em sua Mea, dan-
do-l he 0 apoio necessmo. Junte-se ao grupo mais adequado ao
Reflita sobre sua sensa~ao de impotencia - todas as coisas que seu caso e permita-se receber a ajuda que todos n6s merecemos
tentou fazer e que falharam; as vezes em que foi decepcionado ou se para a solu<;ao de nossos problemas.
decepcionou consigo mesmo. Permita-se real mente sentir e reconhe- 3. Os doze passos, que originalmente se destinavam aos alc06latras,
cer a extensao de sua vulnerabilidade e desamparo. Em seguipa ima- funcionam bern com todas as questoes ligadas a sensa~ao de im-
gine que existe uma for~a superior ou interior no universo. Permita- potencia diante de nosso pr6prio comportamento ou de outras
se abrir a imagem que the for mais satisfat6ria. Se paraYOCe 6 me- pessoas. Veja a reprodu<;ao dos doze passos no Apendice C. No
lhor a imagem. de urn velho, permita que assim seja. Se 6 melhor primeiro passo, que 0 aconselha a admitir sua impotencia diante

224 225
do liIcool, substitua 0 iilcool pela palavra que melhor descreva beneficiar-se com 0 feedback da pessoa ou grupo ou de suas pr6-
sua impotencia. Fa~a a medit~ao acima para ajurlli-Io a encontrar prias observa~6es enquanto se olba ao espelho. Repita a repre-
sua for~a superior, caso jli nao participe de algum sistema de ;senta~ao at~ ficar satisfeito como que estlidizendoe como estli
cren~a religioso. Se a sua for~a superior nao ~ "ele", substitua-o . se apresentando. Enmo voce pode desejar 0 confronto com a(s)
pelo pronome adequado. Em seguida, acompanhe os passos con- pessoas(s) que 0 magoou(aram). (Observ~ao: E muito mais flicil
fonne indicado, lembrando que no d~imo segundo passo, que 0 enfrentar,de modo apropriado ou direto algu~m que 0 magoou se
aconselha a ajuda{ os necessitados, voce estarli ajudando a1gu~m primeiro ,voce expressar toda a dor na forma <iescrita na terceira
necessitado,ou aqueles que se sentem vulnerliveis e impotentes da a
atividade, para enmo realizar representa~ao.)· .
mesma maneira que voce. Se sua sens~ao de 6rfiio ~ muito forte, 7. Aconselha-se realizar este exerdcio apenas depois de tentar vli-
o melhor ~ trabalhar com 0 auxfiio de urn grupo, se poss{vel. rias vezes as atividades anteriores, para que ele nao constitua
4. AI~m de todos os outros passos destinados a lidar com sua sen- simplesmente uma forma de encobrir sua dor. Depois que tiver
sa~ao de impotencia e sua consciencia de v{tima, 0 fundamental ~ express ado seu sofrimento e encontrado maneiras construtivas de
realmente sentir e expressar sua dor, dece~ao e raiva. U rna das enfrentar a situa~ao causadora do sofrimento, este ultimo exerd-
fonnas mais eficazes de faze-Io ~ a catarse direta. Voce pode rea- cio constitui uma experiencia catartica fundamental.
lizli-Ia sozinho, mas a grande maioria das pessoas sente-se mais Relate os incidentes que causaram tanta dor e. a sensa~ao de
segura na presen~a de pelo menos uma outra pessoa que possa ser v{tima como hist6rias engra~adas ou anedotas .. Conte-os. a
estimular 0 processo. Escolha urn local retirado e segura e penni- amigos, ao seu grupo, a seu dimo ou a si mesmo no espelho. Se
ta que suas emo~6es se expressem. As vezes, 0 simples ato de for dif{ciI, talvez voce nao tenha expressado totaImente sua dor,
respirar fundo (pois a maioria reprime seus sentimentos retendo ou talvez nao tenha lidado realmente com ela; portanto, volte aos
de alguma rpaneira a respira~ao) jli ~ suficiente para colocar-nos exerdcios anteriores. Se isso for relativamente flicil, permita-se
em contato com nossos sentimentos. Sinta-se livre para solu~ar rir alto e divertir-se com a hist6ria absurda que voce estli contan-
alto, para gritar, para esmurrar travesseiros ou uma cama. F~a do. Em geral, a essencia do humor ~ apenas 0 absurdoda con-
tudo 0 que for preciso para a catarse (contanto que voce nao se di~ao humana, faJ{vel e vulnerlivel. Rir de n6s mesmos ~ uma
machuque, nem a outrem). Permita que a dor aflore e se demore 0 maneira de aprendennos que ~ nonnal cometer erros ou ser vul-
tempo que for necesslirio. Pe~ita-se experimentar mais de uma nerlivel num mundo as vezes muito dif{cil.
emo~ao, se 0 primeiro sentimento levar a outros. (Cuidado: Certi-
fique-se de que a(s) pessoa(s) que estli(ao) ao seu lado durante a
catarse, nao sao as causadoras de seu sofrimento.) Exercicio Adiantado
5. Expresse sua dor e raiva atrav~s de alguma expressao art{stica:
urn poema, uma can~ao, urn quadro, urn trabalho de tecelagem, Durante sua caminhada pelo mundo, perceba as ocasi6es em que
uma escultura, uma anota~ao bern elaborada no dilirio, uma dan~a voce se fecha ao sofrimento alheio - culpando as pessoas, por
ou qualquer meio de expressao criativa que afIore naturalmente. exemplo, por seus apuros. Se perceber que estli agindo assim, este ~
6. A represent~ao - com seu grupo ou com outra pessoa, ou ainda urn sinal claro de que voce ainda estli reprimindo, em a1gum grau,
sozinho, diante do espelho - permite enfrentar aJIgu~m que 0 ma- seu pr6prio 6rtao interior. Mergulhe em seu ser e veja 0 que aquela
goou ou decepcionou. Tente encontrar modos de expressar toda a pessoa que voce tern dificuldade de aceitar em seu cora~ao estli es-
sua mligoa sem culpar a pessoa. (Nao dizer a1go como "Voce ~ pelhando. 0 sinal de que voce reconheceu adequadamente seu 6rIao
mau ... ", mas "Quando voce. .. Eu me senti... ") Pel"l1l\ta-se interior ~ a bran dura para com aquele indiv{duo ou tipo de pessoa.
226 227
',I:

I \

· ........ :,,1stonao significa que voce deixarli de exercitar os limites ra- l


"
..• zp~yeis com esta pessoa, nem tampouco que voce precisa sentir-se
vecessariamente na obriga~ao de ajudli-Ia. Significa, sim, que voce
irli recuperar a capacidade de sentir empatia e compaixao naquela si-
tua~ao,o 'que lhepermitirli determinar se a sua ajuda 6 necessruia ou
apropriada. )

o Nomade

Experiencias do Diario

1. Quando e onde voce se sente isolado e solitlirio? Descreva a


situa~ao com 0 maior numero de detalhes, procurando entender
que parte de voce se sente a margem da situa~ao ou do relacio-
namento.
2. Onde, quando e com quem voce esconde ou dissimula aspectos
de sua personalidade? Por que voce hesita ou teme que as pes-
soas 0 conhe~am? 0 que imagina que possa acontecer se permitir
que esses aspectos sUIjam em tal lugar, em tal momento ou com
tais pessoas?
3. Como voce explora 0 mundo e as possibilidades que ele lhe ofe-
rece? Voce viaja, Ie ou estuda, voce "entrevista" as outras pes-
soas? 0 que procura aprender?
4. Neste momento de sua vida existem pessoas e sirua~6es que voce
deve deixar a fim de ser verdadeiro para com voce mesmo? Em
caso positivo. quais sao essas situa~6es e quem sao essas pes-
soas? Como elas 0 esmo limitando ou prejudicando?
5. A reveIa~ao inicial do que 6 correto para n6s costuma surgir do
'\
I reconhecimento daquilo que nao 6 correto. Que sabe voce das
!

229
o~Oes que nao lhe sao adequadas? Fa~a uma lista de todas que de seu proprio cora~ao e, como parte des~ processo, c~me~ar a
Iembrar. Em seguida, tente fazer uma !ista dos opostos, ou das al- .ouvir verdadeiramente aquilo que se esta dizendo. Fa~a livres as-
ternativas mais provaveis em rela~ao as coisas que lhe parecem socia~6es com suas. atitudes viciosas ou obsessivas, para ver que
erradas. Por exemplo, se colocou entorpecentes como algo erra- tipo de busca 0 esta convocando.
do, voce pode escrever sobre urna vida livre das drogas como seu 8. Relacione as coisas que voce sempre quis fazer. Escolha um ou
oposto. No entanto, se colocou em sua lista viajar a Europa como dois itens para maior analise e elabora~ao. Como voce se sentiria
algo errado para voce, talvez voce queira anotar como correta a se realizasse essas coisas?
op~ao ficar em casa ou viajar a Asia ou outro lugar. Oepois de 9. Voce acha correto ser especial, incomparavel, importante? Caso
completar' a segunda lista, verifique quais opostos e altemativas ,p contrano, que coisas precisariam ser mudadas para que voce fos-

Ihe parecem genu{nos. Com aqueles que nao Ihe parecem ade- se correto?
quados, experimente outras altemativas - mesmo que algumas
pare~arn absurdas ou incomuns - e veja se pode encontrar uma
que se ajuste ao caso em apre~o. Se nao conseguir encontrar com DevaneioI
razoavel facilidade uma altemativa que combine com voce, aban-
done a tarefa, reconhecendo que esta area pode ser uma das dif{- Minha Vida Peifeita
ceis de sua vida. Ou as vezes precisamos abandonar as coisas . Imagine urn dia, hora ou semana perfeita em al~m momento d~
sem substitui~aor e dessa fonna criarnos mais espa~o e abertura futuro, em que voce esteja fazendo tudo 0 de que mms gosta. I..ma~l­
em nossas vidas. ne 0 cenano, a companhia e suas atividades. Imagine sua aparencla,
6. Fa~a uma nova Iista de tudo 0 que sabe a respeito de voce - como esta vestido e como se sente. Seja 0 mais minucioso possivel,
quais as suas preferencias, as coisas de que voce gosta, quais os e inclua todos os dados sensoriais dispon{veis (qual a aparencia,
seus anseios e quais as coisas por que luta. qual a sensa~ao, qual 0 sabor, qual 0 aroma, qual 0 som?).
7. Tome consciencia dos comportamentos viciosos ou obsessivos
identificados durante os exerclcios de diano do Orrao. Muitas
vezes nossos v{cios ou obsesscx$ nos fomecem pistas, de forma
simb6lica, acerca da busca que podemos estar evitando. Por Devaneio II
exemplo, 0 alcoolismo e as drogas sao chamados a jomada espiri-
A Busca no Seculo Vin:te
tual e tarnb6m podem convocar 0 indiv!duo para integrar apro-
priadarnente 0 elemento dionis{aco em sua vida, encontrando Comece imaginando que voce 6 urn cavaleiro modemo, partindo
fonnas saudaveis de transcende-Io, como corrida de longa distan- em sua busca. Mas 6 preciso atualizar tudo, jaque os cavaleiros mo-
cia, medita~ao, rituais, dan~as ou tocar tarnbores. A obsessao pe- demos nao costumarn usar annadura, levar espadas e escudos e ca-·
10 trabalhd 6 uma convoca~ao do ser para que ele pare de traba- val gar corc6is leais. Na verdade, poucos reconhecem publicarnentea
Ihar demais, dependa menos do trabalho e encontre sua pr6pria busca do :graal. Reconhe~a por6m que em essencia voce 6 urn cava-
voca~ao. 0 arnor ou um relacionarnento obsessive mascara 0 leiro que :parte para sua busca com roupagem modema~ pennita-se
chamado de Eros e Afrodite para que nos tomemos sacerdotes ou devanear livremente sobre aquilo que constituiria sua annadura. 0
sacerdotisas do arnor e 0 canalizemos livremente, sobretudo, ini- que voce utiliza como escudo? Qual a sua anna? Por e~emplo,tal­
cialmente, por si mesmo. Falm demais convoca 0 indiv{du.o para vez voce use urn certo modo de vestir como armadura, ou talvez se
a jomada destinada a encontrar e expressar a verdade profunda feche emocionalmente e se cubra com urna coura~a. Sua arma pode

230 231
I.
I.'
t
· :.~ :.

ser verbal. on voce pode usar a lei ou as nonnas. ou ainda a tenden- e reconhecer a paisagem. Explore 0 quanto desejar esse ambiente,
cia a explodir-. Seu escudo -pode ser- urn certo papel social ou ernpre- mas retorne pelo caminho que 0 conduziu a16 ali e nao traga nada
go que arrrma seu status e sua identidade no rnundo. protegendo-o com voce.
de ataques. Certas pessoas utilizarn at6 rnesmo suas enfermidades
como escudos ou defesas contra as exigencias dos outros.
Qual 6 0 seu cor-cel? Que 6 que sustenta e auxilia sua busca? Medita~ao
Sua resposta pode ser literal-urn carro, urn avUio, urna rnotocicleta,
por exernpio. A resposta tamb6rn pocle assurnir formas rnetaf6ricas: Atendendo ao Chamado dos Deuses
talvez voce seja sustentado em suas viagens por urn determinado sis-
tema de cren~a ou caminho profissionaI. Vma forma proveitosa de reagir a qualquer patologia (doen~a ou
Iimita~ao mental e f(sica. v!cios e obsessoes) e a qualquer aconteci-
Qual 6 0 graal que voce procura? Imagine como ele '6. E a ri-
queza? 0 sucesso? A paz interior? A sensa~ao rnais forte de identi- mento tr~gico de uma vida (mortes, abandonos, infortunios) consiste
dade ou voca~ao? 0 que 6 0 graal para voce? Permita-se imaginar em considera-Ios chamados dos deuses, que n6s convocamos para
obtendo 0 seu graal. Permita-se ve-Io, ouvi-Io, senti-lot sabore~-lo. uma nova busca. Medite durante alguns minutos, tome consciencia
cheira-Io - saber num n(vel mais sensorial como seria encontrar 0 das patologias, trag6dias ou outras dores de sua vida e como elas
seu graal. Depois voce pode querer jurar lealdade a sua busca do podem constituir urn chamado dos deuses. Pe~a ao deus ou a deusa
graal- que deseja. que the fez 0 chamado para comunicar-se com voce e pennitir-Ihe
discernir 0 caminhoque deve tomar a tim de reencontrar a si mesmo,
bern como a sua identidade, num n!vel profundo.
Fantasia

o Chamado a Busca - Atividades


Imagine que voce es~ realizando 0 seu trabalho Dum ambiente
diario e habitual. quando ouve de repente 0 "chamado a busca". 1. Partilhe, os exercfcios acirna com urna pessoa ou grupo.
Talvez. como acontecia com os cavaleiros de antigamente. apare~a 2. Reveja sua lista (exercfcio do diano n 2 8) das coisas que queria
urn graal que apenas voce ve. Talvez voce ou~a a voz de uma divin- fazer mas nao fez. Permita-se realizar algumas delas. Fa~a a via-
dade falando-lhe. Talvez ou~a 0 chamado de urn animal (que pode gem que sernpre quis. Inscreva-~ para aquele curso que parece
ser urn animal totemico). de uma pessoa (que pode ser seu guia ou convidativo. Experimente novas maneiras de relacionar-se com
mentor nessa busca) ou qualquer outra coisa. Seja qual for a fo~ os outros.
do chamado. pennita-se imaginar que VOCe abandona a realidade 3. Cornece a eliminar objetos. pessoas e atividades de sua vida que
diaria e mergulha num mundo imaginano onde espfritos e animais nao rnais Ihe servem. Crie espa~o para bens. amantes. amigos.
totemicos e drag6es e graais sao reais e voce pode ve-Ios e ouvi-Ios. trabalhos ou hobbies mais satisfat6rios e realizadores.
Permita que aquele ou aquilo que 0 es~ chamando the mostre 0 ca- 4. Pennita-se descobrir rnais sobre si mesrno. Voce pode manter urn
minho neste mundo e siga-o. Per-ceba se voce foi chamado para as di~rio regularmente. participar de; seminanos de crescimento pes-
rnontanhas. 0 litoral. as - entranhas da terra. se foichamado para soal, desenvolver 0 h~bito de fazer longas caminhadas. praticar
uma floresta ou urn castelo. para 0 espa~o ou qualquer outro Iugar rnedita~ao ou aquietar-se e praticar a autoconternpla~ao. Voce
ou 6poca. Concentre-se ao maximo para que possa estar presente pode considerar dtll submeter-se a urn ou rn4is dos indrneros tes-

_232 233
I ,
tes psico16gicos que podem ajud4-10 a conhecer as preferencias, realizando ou nao.) Nao podemos compensar as pessoas que nao sao
os interesses profissionais, etc., de seu tipo psico16gico. verdadeiras para com seu ser interior e, por conseguinte - ainda que
5. Fa~a 0 jogo do espelho com outra pessoa. Primeiro, coloquem-se elas estejam trabalhando arduamente em outras tarefas -, nao pode-
frente a frente, de 1'6; voce se movimenta e seu amigo age como mos dar a contribuic;ao que <5 incumbencia exclusiva delas. S6 po-
urn espelho, tentando fazer exatamente 0 que voce esUi fazendo - demos fazer a nossa parte. Se essa verdade faz sentido para voce,
nos mfnimos detalhes. (Nao tente enganar 0 seu amigo. Fac;a mo- dedique algum tempo a esta experiencia - no mfnimo urn dia, talvez
vimentos relativamente Ientos, para que possam ser seguidos.) uma semana, 0 tempo que estiver disposto a despender. A cada pos-
Depois in;vertam os papeis. Seu amigo faz os movimentos e voce sibilidade de a~ao que deparar durante esse periodo, pare urn instan-
60 espelho. te para refletir: "Cabe a mim fazer isto?" Se a resposta for positiva,
6. Desta vez, seja urn espelho para seu amigo servindo-se das pala- fa~a. Caso contrario, resista ao desejo de agir. Ou, se sQuher a quem
vras. Experimente dizer-lhe 0 mrudmo de coisas positivas a res- cabe essa tarefa, podera alerta-lo delicadamente para esta oportuni-
peito dele. Incluem-se a{ qualidades ou atitudes f{sicas, emocio- dade de ac;ao.
nais e mentais, bern como a qualidade da rela~ao de seu amigo
com as outras pessoas. Tamb6m pode ser inclufdo aquilo que
voce imagina esteja ele esperando ou lutando por alcan~ar - qual
6 a busca de seu amigo. Este pode responder confirmando, agra-
decendo ou com uma pergunta, mas nao pode dizer que 6 mentira
ou autocriticar-se. Deixe que seu amigo responda e em seguida
troquem de papeI. Seu amigo the diz suas qualidades.
7. Decida com toda a sua habilidade 0 que voce quer da vida neste
momento e partilhe essa decisao com uma pessoa ou grupo. Sugi-
ra urn debate, a fim de ajuda-lo a pensar nas formas de conseguir
o que deseja. Resista a tenta~ao de responder com urn "sim,
mas" e simplesmente aceite suas sugestoes e id6ias. Leve adiante
as id6ias que quiser coIocar em pratica.

II
Exerclcio Adiantado
I
Este exerc(cio destina-se as pessoas que possuem forte cons-
ciencia de sua identidade e vocac;ao e que desejam aprimorar e apro-
. fundar a percepc;ao daquilo que lhes cabe fazer neste momento de
suas vidas. Contemple por algum tempo a verdade simples de que, t
se cada urn de n6s fizer 0 que realmente deve fazer, ningu<5m tera
necessidade de trabalhar com tanto afinco. Se buscru:mos nossa sa-
bedoria mais profunda, saberemos 0 que devemos fazer fundamen-
!
f
talmente equal 0 trabalho das outras pessoas (quer elas 0 estejam

234 235
6. Em prol de que ou de quem vOCe esta disposto a lutar? E mais f~­
cil para voce ser urn Guerreiro que luta por seu pr6prio bern ou
pelos outros?

Devaneio

Alca~ando 0 Objetivo
o Guerreiro Imagine algo muito valioso, que voce quer muito. Pode ser urn
objeto, urna pessoa, fama ou posi~ao, ou qualquer coisa que exer~a
forte atra~ao sobre voce. Imagine-se realizando urna campanha para
conseguir 0 que deseja, lan~ando mao de todo 0 poder de fogo de
que disp~. Esse poder de fogo tanto pode ser d, armas, tanques e
granadas porno de palavras, influencia poHtica, fazer com que os ou-
trosse smtam culpados, etc. Seja ele qual for, imagine-se lutando
longa e arduamente, tanto quanto for necess8.rio para a realiza~ao de
seu objetivo. Se sentir resistencia a essa luta sem limites, lembre-se
Exercicios do Diarlo de que se trata de urn simples devaneio, e nao da realidade. Quando
conseguir alcan~ar 0 seu objetivo, permita-se usufruir essa sensa~ao
1. Fa~a uma lista de seus objetivos e prop6sitos atuais. 0 que voce
e elaborar os sentimentos que possam aflorar.
deseja alcan~ar e que coisas the sao necessanas, na pn1tica, para
" ser bem-sucedido?
2. Observe 0 que ou quem 6 urn advers8.rio. obstaculo ou urn dragao Fantasia
em sua vida. Esses obstaculos, adversanos ou drag6es 0 esmo
impedindo de atingir seus objetivos? Como super~-los? Que es- Enjrentando 0 seu Dragoo
trat6gias voce poderia usar para aproximar-se de seus objetivos?
3. Voce tern alguma resistencia interIm a afinna~ao de sua vontade, Retome a paisagem her6ica que voce descobriu na Fantasia do
valores e desejos ou a lutar para conseguir aquilo que deseja da Nomade: A Chamada a Busca. V ~ at6 l~ e volte pelo mesmo cami-
vida? Em 'Caso positivo, qual 6 a natureza desses drag6es ou nho que voce percorreu antes, exceto se sentir 0 impulso para adotar
obst~culos interiores? Que estrat6gias voce pooeria usar para ex- outro modo de viagem ou tomar outro caminho. Nessa paisagem
termin~-los ou dom~-los? voce enfrentar~ 0 seu dragao, masprimeiro deve tomar consciencia
4. Em qual(ais) situa~ao(Oes) voce esta lutando? Como se sente? da arma e do escudo que voce porta e do tipo de armadura que voce
Esta Be. sentindo amea~ado ou amedrontado, ou alguma outra esta usando, se tiver uma armadura. Retina toda a sua coragem e de-
em~ao aflora em voce? termina~ao.
5. Quem ou 0 que voce est~ tentando resgatar com seu comporta- Quando estiver pronto, tome consciencia do dragao que esta a
mento? E outra pessoa ou uma parte sua? Por que 0 resgate pare- sua frente, a uma certa distancia. Observe a aparencia do dragao - 0
ce necessario? tamanho, a cor, a fonna. A medida que ele se aproxima, perceba

237
os sons e aromas do dragao, bern como a impressao que ele the cau- um esporte competitivo, como tenis, futebol americano, beisebol.
sa, ~ procure atentamente algum sinal de vulnerabilidade. En tao , softball, luta mmana. volei ou corrida; adote urna atitude compe-
reunmdo toda a sua coragem e perfcia, enfrente 0 dragao e extenni- titiva em seus exercfcios diarios - seja na corrida, calistenia ou
ne-o ou tome-o ~ofensivo de alguma outra forma. Demore 0 tempo ioga - estabelecendo objetivos e anotando suas realizag6es; ou
que for necessario. Como quase sempre os drag6essao os guardi6es estudando uma arte marcial como 0 judo, 0 aikido ou 0 carate.
de urn tesouro, depois de edfrenta-Io procure 0 tesouro, que esta ali 3. A ansia de auto-aperfeigoamento e essencial ao espIrito do Guer-
para ser tornado por voce. 0 tesouro pode ser tradicional - j6ias, urn reiro. Decida-se por determinados objetivos em sua vida e estabe-
pote de ~Uro, - ou algo bern diferente. Seja 0 que for, voce pode lega urn plano para realiza-los, 0 que pode significar uma dieta,
leva-Io quando voltar a sua realidade diaria. Se nao conseguir en- urn plano de carreira ou uma estrategia disciplinada para acabar
frentar 0 dragao satisfatoriamente, retorne outro dia. Continue ten- com urn mau habito. Se possbrel, pega 0 auxflio de urn amigo, de
urn profissional ou de urn grupo para ajuda-lo a controlar os seus
tando (com interval os) ate ficar satisfeito com 0 que aconteceu em
sua fantasia. progressos.
4. Jogue xadrez ou outro jogo de estrategia com urn amigo, com sua
famflia ou com seu gropo. Desenvolva estrategias em casa ou no
Medita~ao trabalho para tonseguir 0 que deseja. Voce pode ler livros que
falem de estnhegia (nos esportes, na agao militar, na carreira, na
Corrigindo Erros I poHtica.)
5, Desenvolva 0 habito da auto-af'rrmagao. Perceba com que
. . M~ite durante algum tempo sobre os grandes problemas so- freqiiencia voce fala e age de modo a af'rrmar 0 que quer, aquilo
CIalS, tais como a ameaga de uma guerra nuclear, problemas ambien- em que acredita e aquilo que valoriza. Represente com urn amigq.
tais, a alienagao, a fome mutidial ou 0 que quer que aos seus olhos ou grupo a fim de melhorar sua habilidade de af'rrmagao. Lem-
represente urn grande problema. Em seguida, tome consciencia dos bre-se de estabelecer urn born contato visual, adotar uma postura
gr~des ~roblemas de sua comunidade, das organizag6es com as ff'sica vigorosa e declarar claramente aquilo que voce deseja da
quaIs voce mantem relagao e de sua famflia e amigos. Entao, analise outra pessoa, da maneira maisconcisa e direta possIve!. Se tiver
essas tres perguntas: 1) Se tivesse 0 poder de fazer alguma coisa dificuldade em auto-af'rrmar-se, freqiiente uma classe de treina-
consistente para ajudar a encontrar a solugao de pelo menos urn des- mento de afirmagao.
ses ,!'roblem.as, voce 0 faria? 2) Existe alguma coisa significativa que 6. Estabelega urn perfodo de tempo espedfico _. talvez uma semana
voce podena fazer? 3) Em caso positivo, imagine uma estrategia - e nao cometa deslizes nem erros. Se voce recebe uma multa de
via vel de agao. trMego indevida, lute para nao paga-l~. Se for desrespeitado, de-
fenda-se. Se vir outra pessoa sen do insultada ou maltratada, nao
I
fique impassIvel, faga algo. Se for seguro faze-Io, intervenha.
Atividades I
Caso contrario, chame as autoridades competentes. Escreva urna
carta para s~u representante estadual ou nacional. Organize· os
1. Partilhe os exerdcios acima com uma pessoa ou gropo. vizinhos oucolegas de trabalho para corrigir urn erro. Comece
2. A fim de aprender a sentir a atitude do Guerreiro em seu pr6prio com uma posigao simples e facilmente alcangavel e passe para
corpo, e uti! incorporar 0 Guerreiro de alguma forma ffsica. outras que exijam mais coragem e riscos. Convoque aajuda de
Experimente uma ou mais das sugest6es abaixo como forma de urn amigo ou de urn grupo para auxilia-Io, seja controlando seus
obter forga, confianga, coragem e realizagao: Comece a praticar progressos, seja ajudando-o realmente a atingir seu objetivo.

238 239
E'Xercicio Adiantado

Identifique alguma pessoa de suas rela<;6es que se assemelha a


um adversmo, ou atcS mesmo um inirnigo. De preferencia algucSm
com quem voce nao tenha aprendido a lidar. Pe<;a a uma pessoa ou
gropo para ajud6-10 a estabelecer empatia com essa pessoa, a 11m de
experimentar integral mente seu ponto de vista, suas idcSias e senti-
melltos .. Entao declare claramente sua posi<;ao, seus sentimentos,
suas idcSiase, acima de tudo, 0 que gostaria que acontecesse com es- o Martir
sa pessoa. Por fim,. juntamente com a pessoa ou 0 grupo, imagine
possibilidades de vit6ria nao baseadas em concessao.
Vma verdadeira solu<;ao de vit6ria cS encontrada quando as duas
pessoas conseguem 0 que querem, passando a um n(vel mais profun-
do de consciencia de suas reais necessidades e desejos. Por exem-
plo, Nan era novata em seu cargo de executiva e tentava mostrar 0
seu valor. Hank sentiu-se amea<;ado com a aten<;ao que ela estava
recebendo e come<;ou a atac6-la com 0 fito de promover-se, pois ele
tambcSm almejava uma promo<;ao. 0 gropo de Nan ajudou-a a encon- Exerct'cios do Diario
trar a estrattSgia mais adequada para tirar os dois daquela situa<;ao.
a
Ajudou-a tambcSm a encontrar linguagem capazde fazer Hank ou- 1. Quais sao os cuidadose as responsabilidades de sua vida? Quais
. vi-la, Ela tentou e deu certo. Em vez de competirem, Hank e Nan sao as pessoas sob os seus cuidados? Voce se sente realmente
conscientizaram-se de que faziam parte da mesma equipe e de que responsiivel por algutDas pessoas? Neste caso, quem sao elas?
deviam concentrar-se em realizar os objetivos dessa mesma equipe. Voce decidiu dar a algumas pessoas ou cuidar delas? Se a respos-
Hank passou a ajud6-la a conhecer 0 trabalho; embora continuasse a ta for positiva, quem sao elas? As vezes voce d6 apenas porque
debater com ela as quest6es profissionais, passou a faze-Io de um algucSm lhe pede algo?
modo que sugeria 0 respeito por sua capacidade. Nan, por sua vez, 2. 0 que the ensinaram, quando crian<;a, a respeito de zelo e sacrif(-
embora corttinuasse a debater com ele, concordou em traUl-Io com 0 cio? Que mensagens voce recebe hoje de seus pais, filhos, ami-
respeito devido a urn colega mais antigo. A vit6ria, aqui, estii em gos, de seu parceiro, de seu ambiente de trabalho e da cultura
que ambos conseguiram mais do que se tivessem continuado com como um todo? Que mensagens voce transmite aos outros no que
sua estratcSgia inicial de conflito, a qual estava solapando 0 moral da se refere a sacrif(cio e doa~ao?
equipe e tomando ambos nao-profissionais. 3. Algum sacrif(cio que voce tenha feito resultou mutilante e preju-
Fa<;a a experiencia durante nao menos de um dia e nao mais de dicial a voce ou as outras pessoas? Algum foi tr~sformador, elu-
uma semana, em que voce irii lutar por soIu<;6es vitoriosas (nao por cidativo ou bencSfico? Descreva as duas situa<;6es com 0 prop6si-
simples concess6es) em todas as situa<;6es onde 0 conflito se apre- to de identificar que circunstfulcias produziram tal resultado.
sentar. 4. 0 que ou quem vale 0 seu sacriffcio? AtcS que ponto vale a pena
sacrificar-se? Em qual situa<;ao 0 sacriffcio parece justific~vel?
t 5. Voce consegue dizer nao aos pedidos de outras pessoas que nao

I 241
.~' :

r
lhe conv6m atender? E capaz de assumir a responsabiliJade de
optar pelo sacqffcio ou por doar. para que nao se sinta vftima Tome consciencia da aparencia dessa criatura. bem como de todos
e nao precise fazer com que os outros se sintam culpados? Gosta- os sons. odores e sensa~6es ligadas a ela. Esse ser venenivel obede-
ria de fazer mudan~as no modo como voce cIa aos outros? Quais ce a urn .impulso e revela que voce possui uma qualidade particular a
sao elas? I dar. a qual 6 muito importante para 0 bem-estar'do planeta. De certa
6. Voce 6 capaz de reconhecer e aceitar presentes ou mesmo sacriff- forma. ele comunicara - por palavras ou sfmbolos, por urn presente
cios dados por outrem. quando the 6 oferecido algo de que voce ou de algum outro modo - a contribui~ao que voce precisara dar.
precisa ou .que voce quer verdadeiramente (sem compromissos)? Ap6s receber a mensagem. volte a realidade comum pelo mesmo
Voce con segue recusar presentes e sacriffcios que nao deseja ou caminho de ida.
que implicam compromissos inadequados e indesejaveis? Gosta-
ria de promover mudanc;as no modo como voce reage aos presen-
tes e sacriffcios que the sao' ofertados? Nesse caso. quais seriam Medita!;ao
elas?
,, o que Merece meu Sacrijfcio
Medite, como fez com 0 Guerreiro. acerca dos grandes proble-
Devaneio
mas que 0 cercam - os problemas do planeta. de seu· pals, de sua
comunidade, das organiza~Oes com as quais voce se relaciona. das
Muito a Compartilhar
pessoas a quem ama. Se algum desses problemas pode ser solucio-
Imagine que voce disp6e de recursos ilimitados a compartilhar: nado com a realiza~ao de um grande sacrif{cio - de sua vida. de seu
tempo. dinheiro. sabedoria. Voce nao precisa trabalhar e por isso tempo ou de seus bens -.voce estaria disposto a faze-Io? Considere
voce pode passar 0 tempo vagando pelo mundo e ajudando os neces- seriamente que sacriffcio poderia ser pedido de voce e qual voce es-
sitados. Imagine as situac;6es com as quais voce se defronta. 0 taria disposto a fazer, se tivesse a relativa certeza de que exerceria
auxflio que pode dar. a gratidao daqueles que sao alvo de sua gene- um efeito verdadeiramente transformador e positivo.
rosidade.

Atividades
Fantasia
1. Partilhe as experiencias acima com uma pessoa ou grupo.
Concedendo sua Dadiva , 2. Organize um ritual de entrega do tipo descrito na pagina 154 do
L
capftulo do Martir.
Retome pelo caminhQ. agora habitual. que leva a paisagem
3. Participe ativamente de uma igreja, templo, organiza~ao de cari-
her6ica descoberta por voce nas fantasias do Nomade e do Guerrei-
. roo Desta vez voce se sente em casa nesse universo e mais seguro. dade ou outro grupo que lute pela realiza~ao do bem no mundo
porque, almal de contas, voce enfrentou seu dragao. Olhe em tomo atrav6s da doa~ao as outras pessoas.
4. Pratique pedir aquilo que deseja dos outros, mas esteja disposto a
e perceba as mudan~as na paisagem ou em seu pr6prio aspecto ou
conduta geral. Desta vezvoce vai conhecer uma pessoa muito idosa receber um nao como resposta. Se voce tem partilhadoestes
e sabia. Abra-se para encontrar esse guia e saber onde ele(a) reside. .e~ercfcios e atividades com uma pessoa ou grupo. comece a pe-
dlr-Ihes 0 que quer. Al6m disso. pec;a ajuda da pessoa ou do gru-
242
243
paraperceber melbor 0 que deseja e aprender a pedir de ma-
";')Fneira·nso-manipuladora e clara.
5.· ,Pratique assumir a responsabilidade por aquilo que voceS d~ e sa-
critica. S6 deS e se sacrifique quando achar isso apropriado e
quando sentir que realmente aju~am. 0 que signjtica adquirir a
habilidade de dizer. nso ~ exigeSncias alheias que nso lbe pare-
~8m pertinentes e tamb6m dizer sim, sem compromissos, quando
voceS realmente quer ajudar algu~m. Ainda aqui, 0 ideal ~ voceS
com~ar com a pessoa ou 0 gropo com quem tern partilhado suas OMago
experieSncias e convocar a ajuda do gropo para que possa esten-
der suas novas atitudes ao mundo como urn todo.

Exercicio Adiantado

Pense seriamente, com outra pessoa, com urn gropo ou sozinho,


sobre aquilo que voceS quer dar e 0 modo como deseja contribuir pa-
. ra 0 bern dos outros e para 0 bern social como urn todo. Tome cons- Exercicios do Diario
cieSncia dos sacrif!cios (de tempo, dinheiro, etc.) necessmos e se tais
questOes sao importantes 0 bastante para que voceS fa~a esses sacrifC- 1. Fa~a urna breve descri~so de sua vida atual e de como voceS, com
cios. Neste caso, planeje 0 que precisa' fazer e ponha seu plano em a sabedoria de seu ser, criou essa vida. Se nso gosta de certos
pmtica. elementos de sua vida, descre.va 0 bern que, f'maImente resultar~
f'
at~ mesmo dessas partes menos desej~veis de sua realidade.
2. Qual ~ a sua Sombra ? VoceS pode ter uma pista dela nas qualida-
des que voceS abomina nos outros.· 0 que voceS poderia fazer para
come~ar a integrar a Sombra em sua psique?
3. Quando voceS experimentou a sincronicidade (coincideSncia acau-
sal mas significativa) em sua vida? 0 que voceS disse a si mesmo
i acerca de tais acontecimentos? Falou a esse respeito com outras
! pessoas? Caso contmrio, por que nso?
4. Descreva urn perlodo de sua vida no qual teve uma,visso ou ima-
I gem daquilo que queria ver acontecer com voceS,' e de fato acon-
teceu, sem que fosse preciso fazeS-lo acontecer. O-que voceS disse
a si mesmo a respeito do fato? Como se sentiu?
5. Quem e 0 que voceS ama? 0 que faz seu cora~ao bater mais forte?
·,1·
o que Ihe parece mais diflcil de amar em si mesmo enos outros?
L Existem maneiras de expandir esses limites?

245
Ir.'.:. .
I
6. Se voce fosse totalmentelautentico e verdadeiro com seus senti-
mentos e perce~Oes mais profundos ou elevados, em todos os
momentos, voce agiria de maneira diferente de sua atitude hoje? Criando sua Vida
7. Se voce fosse completamente fiel aos seus sonhoSf, para sua vida 'Imagine-se sendo total mente verdadeiro com seus desejos mais
e a dos que 0 cercam, 0 que faria? i'ntimos criando assim urn magnetismo que atrai para si tudo 0 que
voce p;ecisa. Observe sua pr6pria liberta~ao dos vfcios e desejos
superficiais ou men ores, abrindo espa~o para anseios mais profun-
Devaneio
dos. Com 0 crescimento de sua fidelidade aos apelos mais profun-
Criando Minha Propria Vida dos, imagine a-mudan~a de seus atos e a presen~a daquilo que voce
passa a atrair. Se algum medo, desespero ou cinismo emergirem du-
Imagine que voce tem uma varinha m~gica e pode mudmt tudo 0 rante este exercfcio, simplesmente 0 abandone para que surja a sen-
que quiser, para v~e e os outros. Imagine qual seria a mudan~a e, sa~ao genufna: de poder. Abra-se para receber maior apoio c6smico
sempre em estado (Ie devaneio, deixe que 0 drama se desdobre em em tudo que fizer. Por fim, imagine que suas mudan~as exercem urn
sua mente, para que voce possa testemunhar os efeitos de seu traba- impacto positivo sobre aqueles que 0 cercam e" antes de. voltar a
lho m~gico. Demore-se algum tempo elaborando os resultados - para consciencia normal, f~a a si mesmo esta pergunta: Estou disposto a
usufruir suas vit6rias e lamentar as cria~oes inadequadas. ser completamente verdadeiro para com meu ser interior e s~bio, se
isto ou algo ainda melhor for 0 resultado?
Fantasia

Adquirindo Poderes Magicos Atividades

Mais uma vez, retorne a sua paisagem her6ica pelo caminho ha-
1. Partilhe os exercfcios acima com uma pessoa ou grupo.
bitual e preste aten~ao ao ambiente que 0 cerca e em voce mesmo.
2. Crie uma visao, 0 mais clara e detalhada possivel, daquilo que
Voce ou a paisagem mudaram desde sua ultima visita a esse mundo?
voce deseja manifestar em sua vida. Partilhe esta visao com um
Desta vez voce visitar~ um grande Mago que the ensinar~ Efeus pode-
grupo. Pergunte se ele pode aprovar inteiramente essa visao. Ca-
res m~gicos. Voce precisa aprende-Ios, porque ser~ enviado para li-
so contrmo, descubra por que nao e fa~a os ajustes adequados,
bertar um reino da maldi~ao lan~ada por um feiticeiro perverso. De-
se forem justific~veis. Quando todos concordarem em apoiar sua
vido a essa maldi~ao, 0 reino e um deserto: as safras nao crescem, os
visao, ~a a todo 0 grupo para imaginar fortemente a concreti-
bebes nao nascem, as pessoas sentem-se alienadas e deprimidas e a
za~ao dessa visao. Supondo-se que 0 universo tenha em mente
economia es~ em frangalhos.
algo que seja ainda melhor para voce do que a sua visao, e me-
Deixe sua imagina~ao voar livremente. Imagine 0 castelo, ou a
lhor dizer, a medida que vai imaginando a consecu~ao de seu de-
torre, ou a cabana do Mago. Imagine a aparencia do Mago. Imagine
sejo: "Isto, ou algo melhor". Enmo agrade~a pelo fato de, em al-
o que e como 0 Mago the ensina. Finalmente, deixe a fantasia livre e
gum n{vel, j~ ter sido capaz de produzir essa visao.
experimente sua pr6pria jornada ao reino desertico e observe 0 modo
3. Conserve uma visao clara daquilo que voce quer x.nanifestar em
como anula a maldi~ao do feiticeiro perverso. Permita-se sentir sua
sua vida. Represen~-lo de forma concreta - um quadro, um sfm-
frustra~ao com quaisquer contratempos iniciais e usufruir 0 sucesso
" .,. l«' . ou uma
bolo metMora -, assim como iqlagin~-lo mentalmente,
:fmal. Enreo volte a realidade normal pelo caminho habitual. .

247
246
ir~tom~-lo mais real. Enrno, comece a agradecer diariamente pe- pressao de todo 0 seu poder e criatividade no mundo, na pr6xima fa-
'la manifesta~ao dessa visao. Nao se preocupe se nao houver si- se de sua vida. voce pode celebrar esse ritual sozinho, m. 0 melhor
nais tang{veis da visao em sua vida. Afirmando j~ ter aquilo de 6 convocar outras pessoas, em parte porque 0 ritual coletivo 6 mais
que precisa, voce instrui seu inconsciente no sentido de atrair a poderoso, em parte porque ajuda a obter 0 1apoio de outras pessoas
-,' visao para voce. para seu novo modo de ser. Confie em sua intui~ao, que indicar~ 0
4. P~a a uma pessoa ou grupo para ajud~-lo a trabalhar com as que deve ser inclufdo como parte do ritual. Nao existem regras. Fa~a
questOes relativas a sua Sombra. Ap6s identificar sua Sombra, o que Ihe parecer correto.
observando 0 que voce abomina nos outros, comece a abrir-se
para apreciar essas qualidades, para perceber 0 que as outras pes-
soas podem arrancar delas. Enrno, envie amor conscientemente
para as pessoas que agem assim e para a Sombra reprimida que 6
uma parte sua. Abra-se para testemunhar e reverenciar a trans-
fonn~ao resultante. Pennute com os outros.
5. Comece a ouvir seu di~ogo interior. Se perceber que es~ fazen-
do comen~os negativos sobre voce mesmo, sobre os outros ou
, sobre os acontecimentos, pare e transfonne-os numa frase positi-
va. Por exemplo, se surpreender a si mesmo pensando: "Nunca
atrairei 0 tipo de pessoa que quem amar; sou baixinho, gordo e
medIocre", transfonne a frase para: "Sou atraente de corpo e
mente, e atraio as pessoas igualmente atraentes." Sinta livremen-
te as emo~Oes negativas que envolvem a primeira declara~ao e as
emo~Oes positivas que envolvem a segunda. Se a prinC£pio voce 6
'demasiado c6tico para ter bons sentimentos em rela~ao a sua fra-
se positiva, pense sobre elaat6 encontrar uma forma que 0 fa~a
sentir-se bem. Por exemplo, se ainda nao es~ pronto para consi-
derar-se atraente, voce pode dizer: "Como pequenas quantidades
de alimentos saud~veis e estudo bons livros, portanto atraio 0
amor de pessoas que tamMm se preocupam com a saude e a inte-
ligencia. "
6. Permita a pessoa ou ao grupo que 0 desafiem caso' voce esteja
utilizando os instrumentos do Mago para exaltar 0 ego e evitar
outras partes da jomada. Ou~a atentamente 0 desafio e veja se 0
que eles percebem 6 real. Esteja sempre pronto a curvar-se a sa- I
I
bedoria maior, Bem afastar-se de seu pr6prio poder.

Exercfcio Adiantado

Estabele~a um ritual para celebrar seu compromisso com a ex-

248 249
4. Esfor~o-me para por-me a prova e ser bem-sucedido.
5. 0 mundo e born e estou segura e protegido.
6. Sinto-me muito sozinho, mas isso me <M a satisfa~ao de
ver que posso arranjar-me sozinho.
7. o mais importante e 0 amor ..
8. Em geral sinto-me desapontado ou trafdo por outras
Apendice A pessoas.
9. - - Todos os problemas na verdade sao ilus6es. PQSSO afirmar
o amor de Deus/a perfei~ao do universo e verificar mais
uma vez que tudo es~ bern.
10. Sou muito competitivo e gosto de vencer.
11. Os tempos esmo difCceis, mas aprendi a lutar.
12. Descubro rninha pr6pria sombra atraves daquilo que detes-
AUTOTESTE to nos outros.
13. - - Fa~o uso de drogas/6lcool para cobrar animo, sentir-me
Descubra os Arquetipos Dominantes em sua Vida melho~. (Ou: Utiliz~ as compras, 0 trabalho ou a atividade
frenetica a fim de esquecer os meus pr~blemas.)
Indique a freqiiencia com que as declara~6es abaixo ~efletem
14. Espero das pessoas que conh~o que sejam confi6veis.
suas atitud~s, atrl1:luindo-Ihes urn valor de 0 a 4. Nunca=O; Rara-
mente=l; As vezes=2; Freqiientemente=3; Sempre=4. Ap6s reaIi- 15. Quando desafiado, enfrento a situa~ao e, se necess6rio, lu-
zar 0 teste, verifique as colunas abaixo, que categorizam as decla- to para me defender.
ra~6es em arquetipos. Conte seus pontos em cada categoria. Nove
ou mais em cada uma indica que 0 arquetipo e ativo em sua vida; 16. Estou em urn novo trabalho/fazendo meu trabalho de ma-
quinze ou mais indica que ele e muito ativo. neira diferente/fazendo ~m novo curso.
17. Quero ser amado e cuidado.
1. - - E irnportante tomar cuidado. As pessoas 0 enganam sem-
18. Luto com todas as for~as por causas/ideias/valores em que
pre que podem.
acredito e sou contra aqueles que sao errados ou nocivos.
2. - - Acho que, quando rnodifico minhas atitudes, meu ambiente
Em geral dou as pessoas mais do que recebo.
muda.
Quero realmente alguem que cuide de mim, mas nao existe
3. - - Neste momenta 0 mais importante para millP sao as
ninguem que possa faze-Io.
quest6es de identidade. Nao sei quem sou.
251
250
• - - Quando sou traCdoou tratado injustamente, procuro esfor- 35. - - Farei tudo 0 que a vida exigir de mim. Quero dar todas as
~ar-me para ser justo com os outros. contribuic;6es que estiverem ao meu alcance.
22. Adoro viajar/estudar/ter experiencias porque assim conhe- 36. - - As vezes evito ou saboto a intimidade com oUtras pessoas
~o amim mesmo e 0 Mundo. para manter minha liberdade.
23. - - Nao vejo 0 mal, nao ou~o 0 mal, nao falo 0 mal.
24. - - Sinto-me eu mesmo quando estou criando algo novo.
25. - - Quero que minha vida tenha importancia, deixe uma marca
no Mundo.
26. Quando estou calma e concentrado, os outros tamb6m pa-
recem pacificados.
27. - - Se as outras pessoas pudessem ver a luz, elas teriam a vida
maravilhosa que eu vivo.
28. Desde que mudei, meu Mundo mudou radicalmente. Anos
atr4s eu nao teria imaginado que as coisas dariam tao
certo.
29. - - Sinto-me no direito de julgar-me superior as outras pes-
soas; sou mais esperto, ou mais educado, ou mais forte, ou I
I

mais disciplinado, ou n1ais trabalhador, ou tenho valores


melhores, ou por causa de meu sexo, de minha heranc;a ra-
. cial ou c!tnica, de minha classe social, de minhas reali-
zac;6es, de minhas crenc;as.
30. As tragc!dias (acidentes, doenc;as) costumam abater-se so-
bre mim e aqueles que me cercam.
31. - - Trabalho com armco, mas nao espero ser recompensado ou
.elogiado adequadamente por aquilo que fac;o.
32. - - Se eu garihasse aquelepremio, todos os meus problemas
seriam resolvidos.
33. - - Sinto-me feliz comigo mesmo e agradecido por minha
vida. I

34. - - Gostaria de ser mais estimado pelas pesscpas. I


'1

,I 253
i
Inocente Orfao Nomade Guerreiro
n!! 5 n!! 1 ng 3 n2 4 ,
9 8 6 10
,
14 13 11 15
17 20 16 18
23 30 22 25
27 32 36 29
Total Total Total Total
ApendiceB
Martir Mago
n2 7 n2 2
19 12
21 24
31 26
34 28
35 33
Total Total

Para verificar a impormncia relativa de cada arqucStipo em sua Pauta para os Membros de Grupos do Her6i Interior
vida, anote seus resultados no gn1fico abaixo.
1. Assuma a responsabilidade integral por sua pr6pria jomada. A~
24
23
outras pessoas podem lorienta-lo e ajud~-lo, mas s6 voce pode
22 encontrar seu pr6prio graal, sua pr6pria verdade.
21
20 2. Tenha ou nao 0 grupo urn lfder, aSsuma sua pr6pria cota de res-
19 ponsabilidade pela eficiencia e sanidade do grupo. 0 que signi-
18
17 fica ajudar a manter 0 grupo concentrado em sua tarefa e
16
15 tambcSm prestar aten~ao ao processo do grupo, certificando-se
14
13 de que a tarefa nao seja realizada a custa dos relacionamentos
12
11 saud~veis do grupo.
10 I 3. Respeite seu pr6prio processo e 0 dos c;>utros. Permita· que os
9
8 I membros estejam em locais cIlferentes e percebam verdades dife-
7
6 , rentes. Lembre-se: seja qual fora verdade, ela sem ddvida se
5
4
3
I encontra.. al6m de quaisquer de nossas verdades subjetivas. So-
mos to40s como os cegos proverbiais; cada qual toea uma parte
2
1 l
'.
diferente do elefante e por ela tenta descrever todo 0 animal.
Precisamos de todas as nossas percep~Oes.
Inocente 6rflio N6made Guerreiro M4rtir Mago
4~ Use declara~Oes "Eu" ("Quando voce diz .•. Eu sinto••. "

254 ,.'\

255
t
e nao "Isso esta errado/6 tolice" , ou pior, "Voce 6 despre- cordAncia) ou de sua incapactidade de ser suficientemente per-
'. dvel ••• "). suasivo para modificar a decisao (caso is so tenha ocorrido). Em
5. Tente ser cuidadoso com as rea~Oes ou sentimentos proviiveis s{ntese, assuma a responsabiIidade de ser parte do processo de
das outras pessoas. 0 que nao significa que se deva evitar 0 tomada de decisao. Se quer que as coisas sejam diferentes, nao
conflito. Contudo, pode-se garantir aos outros respeito, aten~ao fique apenas reclamando. Apresente sua id6ia ao grupo da ma-
ou mesmo afei~ao ao cornpartilhar uma perspectiva que possa neira mais persuasiva e construtiva poss{vel.
ser recebida de maneira hostil a postura do outro. Ou simples- 11. Assuma a responsabiIidade de sua pr6pria participa~ao ou nao-
mente lembre-se de ser diplomiitico. Caso voce se sinta magoa- participa~ao. Fa~a 0 que Ihe 6 1 conveniente, e nao 0 que nao 6.
do, zangado ou furioso por causa de alguma coisa que algu6m Use sua criatividade para elaborar exerclcios ou atividades se-
disse ou fez, fale claramente, mas tamb6m 0 mais enfaticamente gundo seu pr6prio estilo, prioridades e nrcessidades. Quando
poss{vel. Nunca fale de mernbros do grupo pelas costas. Se al- precisar, pe~a aux{Jio aos outros.
gu6m 0 incomqda, seja direto e levante a questao no grupo. 12. ¥antenha-se em contato com seu ser interior e sabio pani saber
6. As vezes nao vale a pena ser diplomatico. Talvez voce esteja se deve participar desse grupo ou hao. Se achar que sim, entao
experimentando uma nova maneira de agir - Wr exemplo, voce esteja 0 mais presente poss{veI. Se nao, vii aonde seu cora~ao
quer romper urn tabu familiar, contrMio a mostrar-se furioso ou mandar.
provocante. Enmo, conte ao grupo 0 que voce estii fazendo para
que as pessoas nao fiquem desnecessariamente desconcertadas
com as suas atitudes.
7. Conversem entre voces, e nao somente com 0 Hder (se houver
urn); de sua ajuda quando sentir ,que algu6m precisa de consolo
e apoio ou ser tranqiiilizado, desafiado ou encorajado a ser mais
honesto ou corajoso.
8. Assuma a responsabilidade pela satisfa~ao de suas necessidades.
Nao suponha que os outros (incluindo qualquer Hder) possa ler
os seus pensamentos. Diga 0 que quer e precisa, mas tamb6m
esteja consciente de que nern sempre voce obterii tudo 0 que pe-
dir (embora sem duvida 0 ato de pedir aumente as possibilidades
de sucesso).
9. Todos aqueles que empreendem a jomada sao iguais. Mesmo
que seu grupo tenha indicado urn Hder, leve todo 0 seu conhe-
cimento para 0 grupo. Nao reduza seu poder, esperando que ou-
tra pessoa saiba 0 que voce sabe ou veja 0 que voce vee Em ge-
ral, aquilo que percebernos faltar em qualquer grupo 6 aquilo
que somente n6s podernos dar.
10. Assuma a responsabilidade pelas decisoes do grupo. Se 0 grupo
decidiu fazer algo que voce nao aprova, assuma a responsabili-
dade. de sua omissao (caso voce nao tenha expressado sua dis-

256 257
10. Continuamos a fazer nosso inven~o pessoal, e quando erra-
mos admitimos prontamente 0 nosso erro.
11. Buscamos, atrav6s da orac;ao e da meditac;ao, aumentar 0 nosso
contato consciente com Deus segundo 0 compreendemos, pe-
dindo-Lhe apenas 0 conhecimento de Sua vontade em relac;ao a
n6s eo poder de cumpri-Ia.
12. Tendo experimentado 0 despertar espiritual decorrente desses
passos, tentamos levar essa mensagem aos alc06latras e praticar
esses princ!pios em todas as nossas atividades.
Apendice C

,,
f
I

Os Doze Passos dos A.A.

1. Admitimos nossa impotencia diante do ~lcool - nossas vidas


tomaram-se incontrol~veis.
2. Passamos a acreditar que um Poder superior a n6s poderia res-
taurar-nos a sanidade.
3. Tomamos a decisao de reunir nossa vontade e nossas vidas em
tomo de Deus segundo 0 compreendemos.
4. Fizemos um inven~o moral, rigoroso e destemido, acerca de
n6s mesmos.
5. Admitimos perante Deus, perante n6s mesmos e perante os ou-
tros seres humanos a natureza exata de nossos erros.
6. Estamos totalmente prontos para que Deus remova todos esses
defeitos de car~ter.
7. Humildemente pedimos a Ele que remova nossas imperfeic;Oes.
8. Fizemos uma lista de toclas as pessoas que prejudicamos e dis-
pusemo-nos a corrigir todos os nossos erros.
Extra! de Alco6licos' Anonimos, copyright 1939, Alcoholics Anony-
9. Sempre que poss{vel, pedimos desculpas diretamente a essas
mous World Services, Inc. Reproduzido com permissao de A.A. World
pessoas, exceto quando tal atitude poderia magoar a elas ou Services, Inc.
outros.
259
258 ':';"
10. W. Brugh Joy, Joy's Way: A Map for the TraJormational Journey (Los
~ngeles: J. P. Tarcher, Inc., 1979).
11. Ver James Hillman, Re-Visioning Psychology (Nova York:
Harper Colophon Books, 1975), para uma discussao mais ampla acerca
das premissas da psicologia arquetfpica.
~2. William Perry, Fonns of Intellectual and Ethical Development in the Col-
lege Years: A Scheme (Nova York: Holt, Rinehart e Winston, 1970).
13. Lawrence Kohlberg, The Philosophy of Moral Development (San Francis-

NOTAS ,
co: Harper & Row, 1981).

Introdm;ao
1. Para uma introdu~ao a psicologia junguiana, ver Edward C. Whitmont,
The Symbolic Quest: Basic Concepts hf Analytical Psychology (Princeton,
N. J.: Princeton University Press, 1969). [A Busca do Sfmbolo - Concei-
tos Basicos de Psicologia Analrtica, Editora Cultrix, Sao Paulo, 1990.]

Capitulo 1
1. Joseph Campbell, The Hero with a Thousand Faces (Nova York: World
Publishing Co., 1970), p. 136.1
Pref4cio 2. Carol S. Pearson e Katherine Pope, orgs. Who Am I This Time? Female
1. Carol Pearson e Katherine Pope, orgs., Who Am 1 This Time? Female Portraits in American and British Literature (Nova York: McGraw-Hill
Portraits in American and British Literature (Nova York: McGraw-Hill Book Co., 1976) e Pearson e Pope, The Female Hero in American and
Book Co., 1976). British Literature (Nova York: R. R. Bowker and Co., 1981).
2. Pearson e Pope, The Female Hero In American and British Literature 3. Carol Gilligan, In a Different Voice: Psychological7;heory and Women's
, (Nova York: R. R. Bowker and Co., 1981). Development (Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1982),
3. Joseph Campbell, The Hero with a Thousand Faces (Nova York: World passim.
Publishing Co. 1970). [0 Heroi de Mil Faces, Editoras CultrixlPensa- 4. Ver Isabel Briggs Myers, Gifts Differing (Palo Alto, Calif.: Consulting
mento, Sao Paulo, 1988.] Psychologists Press, 1980), para umadiscussao mais ampla sobre as dife-
ren~as de tipo.
4. Carol Gilligan, In a Different Voice: Psychological Theory and Women's
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Row, 1937), p. 280.
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6. Annie Dillard, Pilgrim at Tinker Creek (Nova York: Bantam Books,
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Dark: Magic, Sex & Politics (Boston: Beacon Press, 1982). ·1
1 in the White Male Society (Minneapolis, Mipn: Winston Press, 1981),
9. Gerald G. J ampolsky, Love Is Letting Go ofFear (Millbrae, Calif.: Celes- pp~: 146-160, para uma discussao completa do conceito de "ni'veis de ver-
tial Arts, 1979). \ dade".
t
/

260 261
10. Philip Slater, The Pursuit of Loneliness: American Culture and the Brea- 3. Betty Harragan, Games Mother Never Taught You: Corpo:ate Games-
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6. A Course in Miracles encontra-se a disposi~ao na Funda~ao para a Paz 10. Tom Brown, Jr, The Search (Englewood Cliffs, N.J.: Prentice- ,
Interior, P.O. Box 365, Tiburon, Calif6mia, 94920. 1980), p. 171.
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(Nova York: Harcourt, Brace & World, Inc., 1962), pp. 145. Capitulo 5 . . .
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3. Erica Jong, How to Save Your Own Life (Nova York: Holt, Rinehart e Books, 1973), p. 191.
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4. Ver Jessie Weston, From Ritual to Romance (Garden City, N.Y.: Dou-
bleday, 1957), para uma discussao mais abrangente sobre este modelo. Capitulo 6 0 11 1968)
1. Ver Carl G. Jung, Man and His Symbols (Nova York: e, ,
5. Jean M. Auel, Clan of the Cave Bear (Nova York: Bantam Books, 1980), pp. 1-94, para uma discussao da psicologia junguiana e a Sombra.
passim. 2. Ursula Le Guin, A Wizard of Earthsea (Nova York: Bantam Books,
6. Auel, Valley of the Horses (Nova York: Bantam Books, 1982), passim. 19(8), p. 180. . .. . 2 . 180'
3. Le Guin, The Farthest Shore (Nova York: Bantam Books), 1,97 ,p. . '
Capitulo 4 4. Phillip Ressner - Jerome the Frog (Nova York: Parent s Magazme,
1. David W. Johnson e Frank P. Johnson, Joining Together: Group Theory 1967). )
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2. Thomas J. Peters e Robert H. Watennan, Jr, In Search of Excellence: p. 205. h M'fflin
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262
263
7. Robbins, p. 239. Capftulo 7 I
8. May Sarton, Joarma and Ulysses (Nova York: Norton, 1968),passim. 1. Jessie Weston, From Ritual to Romance (Garden City, N.Y.: Doubleday,
9. William Willeford, The Fool and His Sceptor: A Study of Clowns and Jes- 19157), passim. "
ters and Their Audiences (Chicago: Northwestern, University Press, 2. Dorothy Norman, The Hero: Myth/Image/Symbol (Nova York: New
1969), pp. 156-157. ." I American Library, 1969), p. 12.
10. Joseph Heller, Catch-22 (Nova York: Dell, 1955), p. 342. 3. Joseph Campbell, The Hero with A Thousand Faces (Nova York: World
11. Claremont De Castilejo, Knowing Woman: A Feminine Psychology (Nova I Publishing Co., 1970), p. 12.
York: C. J. J ung Foundation, 1973), p. 178. 4. James Hillman, Re-Visioning Psychology (Nova York: Harper Colophon
12. Marion Zimmer Bradley, The Mists of Avalon (Nova York: Alfred A. Books, 1975), p. ix.
Knopf, 1983), pp. 875-876.
13. Shirley Gehrke Luthman, Collections 1978 (San Rafael, Calif.: Meheta-
bel and Co., 1979), p. 14.
14. Luthman, Erzergy and Personal Power (San Rafael, Calif.: Mehetabel and
Co., 1982), pp. 33-34.
15. Jung, Synchronicity: And Acausal Connecting Principle (Princeton, N.J.:
Bollingen Paperback Edition, 1973), passim.
16. Ver Luthman's, Collections 1978, para uma discussao mais completa so-
bre 0 funcionamento do espelhamento.
17. Matthew Fox, Whee! We, Wee All the Way Home: A Guide to a Sensual
" Prophetic Spirituality (Santa Fe: Bear & Co., 1981).
18. Margaret Drabble, The Realms of Gold (Nova York: Alfred A. Knopf,
1976), p. 29. -
19. Ver Marion Weinstein, Positive Magic (Custer, Wash.: Phoenix Pub,
, 198"1),para uma discussao sobre as af"rrmrusoes e para 0 texto da afir~
", ma~ao de "felicidade perfeita".'
20. Madonna Kolbenschlag, Kiss Sleeping Beauty Goodbye (Nova York:
Bantam Books, 1981), p. 218.
21. Margaret Atwood, Lady Oracle (Nova York: Simon & Schuster, 1976),
passim.
22." Vei "AnDe" Wilson Schaef, "Living in Pr~cess", em andamento, para
uma discussao abrangente do significado de "viver em processo". Fitas a
venda no Learning Center for Healing Process, 8 Wild Tiger Lane, Sugar
Loaf"Star Rt., Boulder, Colo., 80303.
23. Alice Walker, The Color Purple (Nova York: Harcourt Brace Jovanovi-
ch, 1982), pp. 167-168.
24. Starhawk, in "Workshop de Rituais de Cria~ao", Institute in Culture and
Creation Spirituality, Philadelphia, Penn, agosto de 1984.
25. Mary Staton, From the Legend of Biel (Nova York: Ace Books, 1975),
passim. "
26. Le Guin, The Dispossessed (Nova York: A von Books, 1975), p. 242.

264 265
o HER61 DE MIL FACES ALQUIMIA

Joseph Campbell ,i

Marie-Louise von Franz

Emboni apresentem amplas varia<;6es em termos de in-


cidentes, de ambientes e de costumes, os mitos de todas as
civiliza<;6es ofere cern urn mimero limitado de respostas aos
misterios da vida.
Em 0 heroi de mil faces, Joseph Campbell - reconheci- Foi a genialidade de C. G. Jung que descobriu, na "tecnica
damente, urn dos maiores estudiosos e mais profundos inter- sagrada" da alquimia, urn paralelo com 0 processo de indivi-
pretes da mitologia universal - apresenta 0 heroi composito: dua<;ao psicol6gica. Este livro, ricamente ilustrado, foi escrito
Apolo, Wotan, Buda e numerosos outros protagonistas da re- por uma velha amiga e colaboradora de Jung e funciona, ao
ligifio, dos contos de fada e do folc1ore representam simulta- mesmo tempo, como urn guia pnitico para 0 que esta ocorrendo
neamente as varias fases de uma mesma historia. 0 relaciona- no laboratorio do inconsciente e como uma introduc;aoaos
mento entre seus simbolos intemporais e os sfmbolos detectados estudos que Jung dedicou ao assunto.
nos sonhos pela moderna psicologia profunda e 0 ponto de Mais uma vez, a Dra. Marie-Louise confirma 0 seu dom
partida da ihterpreta<;ao oferecida por Campbell. 0 ponto de excepcional para transcrever material esoterico, simbolico, para
vista psicologico e, entao, comparado com as palavras proferi- a experiencia do cotidiano, mostrando que as imagens e os mo-
das por grandes lideres espirituais, como Moises, Jesus, Mao- tivos que tanto interesse despertavam nos alquimistas eram .de
me, Lao-Tzu e os Anciaos das tribos australianas. Oculto por natureza· arquetfpica e, como tais, aparecem constantemente
tras de urn milhar de faces, emerge 0 heroi por excelencia, ar- em nossos sonhos enos desenhos modernos. .
quetipo de todos os mitos.
Este e urn livro importante, de valor inestimavel para a
Sem dzivida - afirma 0 Autor na introdu<;ao a este vo- compreensao dos sonhos e para os interessados no born relacio-
lume - , hd diferen<;as entre as diversas mitologias e religiOes namento e comunica<;ao entre os sexos.
da humanidade, mas este e um livro a respeito das semelhan9as.
Uma vez compreendidas as diferen9as, descobriremos que sao
bem menores do que popularmente (e politicamente) se supoe. ***
Minha esperan9a e a de que essa cOmpara9aO possa contribuir Na Colec;ao "Estudos de Psicologia Junguiana por analistas
para a causa das for9as que atualmente trabalham pela unifi- junguianos", a Cultrix ja publicou, da mesma autora, Adivinha-
Ca9aO, nao em nome de algum imperio politico ou eclesidstico, ~ao e sincronicidade e 0 significado psicologico dos motivos de
mas no sentido dJ um entendimento mi:ttuo entre os homens. reden~iio nos contos de fadas.
Pois, como dizem os Vedas: "A Verdade e uma so; os sdbios
se reJerem a ela por muitos nomes."

CUL TRIX/PENSAMENTO
COMPLEXO, ARQUETIPO, SfMBOLO A JORNADA MITICA DE CADA UM
na psicologiade C. G. Jung
Sam Keen e Anne Valley-Fox

Jolande Jacobi
Num sentido estrito, a palavra mite se aplica a urn intrincado con-
junto de hist6rias, rituais, ritos e costumes ligados entre si que informam e
<lao si?nificado e senso de direyao basicos a uma pessoa, familia,
comumdade ou cultura.
Freqiientemente, os que se iniciam na obra de C. G. Jung C!s que nao se lembram da hist6ria estao condenados a repeti-Ia. Se
deparam com dificuldades em rela<;ao a alguns de seus princi- nao flzermos urn esfotyo para, gradativamente, innos tomando cons-
pais conceitos - de arquetipo, complexo e slmbolo - funda- ci~n~ia de n~ssos mitos pessoais, acabaremos dorninados pelo que os
mentais para a compreensao da Psicologia AnaHtica. pSlColog,,?s dlferentemente denorninam de cornpulsao repetitiva, com-
A obra da Dra. Jacobi e ·extremamente oportuna para sanar plexos autonomos, engramas, rotinas, enredos, jogos. Quem e autor da
essas dificuldades, dada a c1areza com que examina 0 sentido propria hist6ria confere autoridade as suas ayOes. Adquirimos autoridade e
e 0 conteudo desses conceitos~ analisando minuciosamente as ~er pessoal na rnedida em que que~tionamos 0 mito mantido pelas auto-
formas de manifesta<;ao e os aspectos do complexo, a essencia ndades e criamos urn mito pessoal que nos ilumine atraves da nossa' ver-
e a atua<;ao do arquetipo ·e as peculiaridades, 0 papel e a diversi- dadeira forma. .
dade do simbolo, ao mesmo tempo em que esc1arece as signifi- Voce sabe que mito esta vivendo?
cativas rela<;5es entre complexo e arquetipo e entre. arquetipo e Para manter nossa vibrayao ao longo de toda a existencia temos de
slmbolo. estar sempre nos inventando, compondo ternas novos para nossas narrati-
A forma pela qual a autora aborda esses temas permite vas de vida, lembrando-nos do passado no presente, visionando 0 futuro e
uma aproxima<;ao mais compreensiva da teoria junguiana, pro- dando de novo legitimidade ao mite p~lo qual vivernos.
piciando concomitantemente 0 estabelecimento, nao so de seus A lornada Mitica de Cada Um oferece ao seu leitor os rneios adequa-
limites em rela<;ao a outras disciplinas, como tambem de suas dos para detectar seus mitos pessoais, escreve-Ios e conta-Ios a outros.
posslveis liga<;5es com ela. Este.livro inclui ainda inumeros exercicios, acornpanhados de exemplos
,
de hl~t6rias pessoais e citayoes inspiradas que visam estimular a jomada
Escritoem linguagem acesslvel e de forma didatica, 0 livro
de calla urn para 0 centro de seus objetivos, abrindo as portas de urn uni-
traz ainda urn exemplo de como os arquetip?s e os slmbolos verso de autodescobertas e significados.
aparecem no material do inconsciente, atraves da interpreta<;ao
dos conteudos de urn sonho infantil, utilizando 0 metodo de 1:
amplifica<;ao elaborado por Jung.

EDITORA CULTRIX EDITORA CULTRIX


EGO E ARQUcTIPO
A Individua9<Io e a Fun<;ao Religiosa da Psique
ANIMA -- Anatornia de uma Noc;ao Personificada
Edward F Edinger,
James Hillman
C. G. Jung demonstrou que a psique tern uma funyao religiosa. Se-
gundo ele, os arquetipos do inconsciente coletivo equivalern aos nossos . / Em latim, ."anima" quer dizer alma OU pSiqlle. ~ 0 termo que Jung
dogmas religiosos, que estio sendo esquecidos. Assim, atraves da formu- ·'.utilizou ao deparar-se com a interioridade feminin&. do hdrnem.
las:ao das verdades religiosas da psique de urn modo que se ajuste a mente Anima 6 aquilo pelo que os homens se "paixonarn; ela os possui er~~
modema, }ung criou uma nova visao de mundo que fazjusti¥a tanto a ati- .'i"~"'''' hum ores e desej()s, rnotivando suas ~rnbi~Oes, confundindo seus ra-
tude cientffica e empirica como a necessidade humana de urn sentido do ;'::~LOC1JlI0S. Na extensao que hJlrnan faz da psicologia de Jung, a anima tarn-
suprapessoal. Esse sentido e 0 que mais falta no homem modemo. Por- pertence a interioridade das rnulheres, e ntio sornente aquilo ,que toca
tanto, segundo lung, "a principal tarefa de toda educac;ao (de adu~tos) e relacionarnet:ltos com os hornens. Anima refere se, _iuma s6 palav a, a
levar 0 arquetipo da irnagem de Deus, ou de suas emana90es e efeitos, a
Mente Consciente". Em dez capitulos, que sa:o acompanhados, nas paginas pares, de to-
Este livro esta volta do para esse prop6sito. A exemplo de lung, 0 . ~ relevantes citayOes da obra de Jung, 0 ensaio de Hillman,. que apa-
autor tern a convicc;ao de que 0 sucesso de uma psicoterapia depende fun- ..' nas paginas irnpares, aprofunda;.se na clarifica~~o dos hurno;res, das
damentalrnente do encontro entre 0 ego e a imagern arquetfpica de Deus. }t:j,:'per~olnalidades, das defini~oes e das irnagens de an.inla:
o dililogo que resulta entre 0 ego e 0 arquetipo e a caracterfstica essencial ANIMA E CONTRASSEXUALIDADE
da individuac;ao, que oferece uma nova forma de vida para 0 homem con- ANIMA E EROS
temporaneo. o. ANIMA E SENTIMENTO
E 0 FEMININO
E PSI QUE
.E, DESPERSONALIZA<;AO
EDWARD F. EDINGER, presidente do Institut '. DA ANIMA
of the C. G. Jung Fundation de Nova York, . DO DESCONHECIDO
recebeu seu titulo de M.D. em Yale em 1946, .~~.lY"'V T:JNlPERSONALIDADE
tendo anteriormente side psiquiatra superin- '·'·······'·'····:·'···~~rGIA

tendente no Rockland State Hospital, de Oran- ...:".:......,_. i~questionavel para todos aqueles que, profissionahnen.
geburg, N. Y. Psicoterapeuta praticante, atuou aproximar-se do conhecimento e das aplica~oes da
como presidente da Association for Analytical eSte livro posiciona-se roais pr6xirno da literatura
Psychology de Nova York e proferiu palestras I~tiv,oi.,.'tiin. ',queda ciencia. Seu estilo, suas cores, sua profundidade e
sobre esse tern a no New School for Social '. de forma surpreendente pelos subtenaneos dos
Research and Union Theological Seminary. e fantasias que a n~a:o da anima nos proporciona.
o dr. Edinger e autor de inurneros escritos
Foto de Edwin Snyder sobre 0 assunto, e membro da Associac;ao Gustavo Barcellos
Internacional de PSicologia Analftica, alem LUcia Rosenberg
de membra fundador do Instituto da Fundac;ao C. G. Jung de Nova
York.

--T'rT"'I'"""\T"\ A r"TTT TDTY

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