Geografia Da Percepção

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e por considerarem a unicidade metodológica e da l i n g u a g e m entre

as ciências sociais e naturais. A Geografia Teórico-Quantitativa so-


brevive, todavia, sem o apogeu da década de 1960 e 7 0 . Atualmen-
te, os geógrafos que trabalham sob essa orientação têm realizado
u m a renovação nas abordagens e voltado os estudos, também, para
problemas ambientais e sociais, afastando-se do tecnicismo a servi-
ço do Estado, como foi rotulada.

5.2 Geografia da Percepção e do Comportamento


Corrente de pensamento que também surgiu no fim da década
de 1960 e início da de 1970. Caracteriza-se por realizar estudos
para explicar como o indivíduo tem a percepção do lugar. Objeti-
va compreender a percepção e o comportamento das pessoas em
relação ao lugar. Para cada indivíduo ou grupo humano, o lugar é
aquele em que ele se encontra ambientado. O lugar faz parte de seu
mundo, sentimentos e ações.
A Geografia da Percepção e do Comportamento busca estudar
como os homens percebem o espaço por eles vivenciado, como re-
agem às condições da natureza ambiente e como esse processo se
reflete na ação sobre o espaço. Os seguidores dessa corrente tentam
explicar a valorização subjetiva do território, a consciência do espa-
ço, o comportamento em relação ao meio. As pesquisas abordam
temas como: o comportamento do homem urbano em relação ao
espaço de lazer e as atitudes diante das novas técnicas de plantio,
numa determinada comunidade rural (MORAES, 1987, p. 106).
As idéias defendidas por geógrafos do mundo anglo-saxão, como
David Lowentahal, Yi-Fu Tuan e Anne Buttimer, tiveram repercus-
são em diversos países.
Amorim Filho ( 1 9 9 9 ) esclarece que a atividade geográfica, des-
de as origens mais pretéritas, foi realizada pela percepção ambiental
dos praticantes. A partir do final dos anos 1960, buscou-se um res-
gate e u m a nova valorização dessa maneira de explorar os lugares
e paisagens da Terra. Os estudos de percepção foram incluídos em
um grande movimento que recebeu, na década de 1970, o nome de
"Geografia Humanística".
Na Geografia da Percepção e do Comportamento, trabalha-se,
principalmente, com a fenômenologia, a cultura e a psicologia para o
entendimento do lugar, da relação entre o homem e o ambiente.
Ela visa à compreensão do homem no ambiente, experiências de
vida e ações e realizações individuais ou coletivas.
Assim, para um melhor esclarecimento sobre essa corrente, é
necessário entender que:

A fenomenologia husserliana chega à Geografia também nos


anos 1970. Porém não como uma fenomenologia das essên-
cias, mas como uma fenomenologia existencial (Buttimer,
1985; Holzer, 1996; Nogueira, 2004), uma visão da fenome-
nologia mais aperfeiçoada à filosofia de Maurice Merleau-Pon-
ty (1908-1962). Perfilam no seu terreno a Geografia da Per-
cepção (Corrêa, 2001), a Geografia Humanista (Mello, 1990;
Holzer, 1993) e a Geografia Cultural (Corrêa, 1999), além da
Geografia Histórica (McDowell, 1995), quatro versões deriva-
das das matrizes norte-americanas criadas por Sauer, aprofun-
dadas por David Lowenthal nos anos 1960 e dimensionadas
por Yi-Fu Tuan nos anos 1970, com estes últimos chegando
à matriz fenomenológica. Há uma dificuldade na empreitada
de localizar-se em cada uma e no conjunto dos seus entrelaça-
mentos o enfoque husserliano {...}. É a percepção ambiental
- a matéria-prima do espaço vivido - a porta de entrada inicial
dessas correntes de Geografia no universo da fenomenologia
husserliana, numa seqüência que da Geografia da Percepção
vai para a Geografia Humanista e desta para a Geografia Cul-
tural — embora não numa relação linear -, o fundamento fe-
nomenológko vindo a aparecer mais como um projeto que
como um fato efetivado (MOREIRA, 2006, p. 42).

Pode-se dizer que, atualmente, as principais vertentes nesta cor-


rente são: a Geografia da Percepção, a Geografia Humanística e a
Geografia Cultural, estando, principalmente, sob influência ou fun-
damentação da fenomenologia, no estudo do lugar, a partir das expe-
riências vividas. Essas Geografias estão em pleno desenvolvimento,
produzindo diversos trabalhos e buscando cada u m a a própria iden-
tidade teórico-metodológica.
Os geógrafos dessas correntes valorizam a percepção, o pensa-
mento, os símbolos, a cultura, os sentimentos e a ação do homem
em seu "mundo vivido". Buscam compreender o homem no am-
biente, a experiência de vida e as realizações individuais ou coleti-
vas. E necessário entender a importância do vivido, do sentido dos
lugares, das representações simbólicas. Assim, o "lugar" representa
as experiências e aspirações dos seres humanos, o que é fundamen-
tal para sua identidade:

A resposta ao meio ambiente pode ser basicamente estética:


em seguida, pode variar do efêmero prazer que se tem de uma
vista, até a sensação de beleza, igualmente fugaz, mas muito
mais intensa, que é subitamente revelada. A resposta pode ser
tátil: o deleite ao sentir o ar, água, terra. Mais permanentes e
mais difíceis de expressar, são os sentimentos que temos para
com um lugar, por ser o lar, o locus de reminiscências e o meio
de se ganhar a vida (TUAN, 1980, p. 107).

Segundo Andrade (1987, p. 114-115), a Geografia da Percepção


e do Comportamento, apesar de apresentar divergências entre os vá-
rios grupos que a compõem, encontra-se em ascensão. Essa corrente
tem grande campo de ação, participando da luta em defesa do meio
ambiente, defendendo a criação de parques e reservas florestais, a pre-
servação de bairros históricos; desenvolvendo-se campanhas de orien-
tação que mostram a importância dessas medidas.
Ainda segundo o autor, essa corrente dedica-se especificamente
ao papel do indivíduo no ambiente "como ser independente, não
com a sociedade na forma como ela se apercebe do espaço. E, assim,
profundamente subjetivista" (ANDRADE, 1987, p. 112).
Nesse sentido, há u m a questão sobre a qual se deve refletir:

As bases essenciais de trabalho da chamada Geografia do Com-


portamento são essencialmente duas: a) os comportamentos
individuais são resultados de volições e decisão pessoais, indivi-
duais; b) são os comportamentos pessoais que contribuem para
modelar o espaço. {...] Existe aí uma tentativa de considerar a
liberdade humana como absoluta e não como condicionada.
O que constitui um ideal ou mesmo um objetivo a atingir, o
do homem inteiramente livre em uma sociedade de homens
livres, é tomado como se fosse uma realidade. A Geografia do
Comportamento estabeleceu-se sobre uma confusão entre a
margem, diferente segundo os casos, deixada a cada indivíduo
para escolher entre as formas possíveis de atuar e a possibili-
dade de atuar arbitrariamente, sem levar em conta condições
reais de renda, de posição social, de oportunidades permanen-
tes ou ocasionais, e mesmo de lugar. Em uma palavra, o tato
de que a situação do indivíduo na produção é determinante
não é reconhecido. [...}. Existem práxis sociais. Mas o próprio
nome de "sociedade organizada" supõe a precedência das práxis
coletivas, impostas pelas estruturas da sociedade e às quais se
subordinam as práxis individuais (SANTOS, 2002, p. 95).

Portanto, há um grande enfoque sobre o sujeito, e, muitas vezes,


esquece-se de que as liberdades individuais são influenciadas pela
estrutura social. Todavia, não seria correto afirmar que o indivíduo
seria determinado pela sociedade, num determinismo social.
As novas tendências da Geografia Contemporânea (Geografia
da Percepção, Geografia Humanística, Geografia Cultural), embo-
ra sejam ricas de promessas e já tenham sido elaborados diversos
trabalhos de pesquisas nessas áreas, há a necessidade de u m a dis-
cussão profunda sobre suas bases teórico-metodológicas.
Atualmente, muitos são os temas trabalhados por essas novas
orientações geográficas, nas linhas de: qualidade ambiental; pai-
sagens valorizadas; riscos ambientais; representações do mundo;
imagens de lugares distantes; história das paisagens; relações entre
artes, paisagens e lugares; espaços pessoais; construção de mapas
mentais; percepção ambiental e planejamento (AMORIM FILHO,
1999)- E outras, como cultura e paisagem além de religião.

5.3 Geografia Ecológica


O crescimento desordenado e os problemas sociais, decorren-
tes do capitalismo, começaram a preocupar os geógrafos no início
da década de 1970, quando ficou evidenciado que, no contexto
mundial, o avanço do capitalismo não havia beneficiado os países
subdesenvolvidos, não havia resolvido o problema das desigual-
dades sociais e da pobreza. Os programas desenvolvimentistas
e os avanços do capitalismo a u m e n t a r a m a desigualdade entre
países ricos e pobres, fazendo crescer a pobreza e a miséria, prin-
cipalmente no Terceiro Mundo. A utilização, cada vez maior, de
tecnologias avançadas fazia crescer a renda das grandes empresas
capitalistas e o processo de exploração e destruição do meio a m -
biente (ANDRADE, 1 9 8 7 , p. 1 1 1 ) .

A realização da primeira Conferência Mundial do Desenvol-


vimento e Meio Ambiente, em 1972, em Estocolmo, consti-
tuiu-se em importantíssimo evento sociopolítico voltado ao
tratamento das questões ambientais; se aquele evento signifi-

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