E-Book - Sociologia e Antropologia

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SOCIOLOGIA E

ANTROPOLOGIA
Unidade 1

E-Book
SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

SUMÁRIO

Apresentação .............................................................................................................. 3

PARTE I ........................................................................................................................ 5
Antropologia ............................................................................................................. 6
Conceito e objeto .................................................................................................. 6
Ramos da Antropologia .......................................................................................... 7
Antropologia biológica ou física ............................................................................. 8
Arqueologia ........................................................................................................... 8
Antropologia social (ou cultural) ou etnologia ......................................................... 9

PARTE II ..................................................................................................................... 10
Formação da identidade cultural .............................................................................. 11
Cultura ................................................................................................................. 11
Etnocentrismo .........................................................................................................15
SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Apresentação
A presente apostila foi produzida para constar como um dos instrumentos de
aprendizagem da modalidade Educação a Distância do Centro Universitario Fametro, em
Manaus – Amazonas.
A Antropologia e a Sociologia são áreas do conhecimento estranhas a quem com
ela não tem proximidade e nem com ela convive na dimensão acadêmica. Porém, são
sistemas de conhecimentos que tratam de nossa vida enquanto seres históricos com
racionalidade objetivas e concretas.
A Antropologia é uma ciência que se encarrega do estudo da diversidade cultural
encontrada entre os seres humanos e estuda a relação entre indivíduos, e a relação de
indivíduos com os seus meios envolventes, tendo como foco o conceito de cultura.
A antropologia foi reconhecida recentemente (em termos históricos) como uma
ciência autônoma. Todavia, antes disso, era identificada como um ramo da história
natural e narrava a evolução do homem de acordo com o conceito civilizacional.
Além disso, podemos dizer que este saber foi um instrumento de dominação
(principalmente europeia, à época), uma vez que legitimava a dominação das metrópoles
colonialistas sobre os povos conquistados.
Esse fenômeno, chamamos de "Etnocentrismo Eurocêntrico", pois tinha a
civilização europeia como medida para todos os aspectos civilizados. Destarte, foi assim
que surgiu a classificação “primitivo, bárbaro e civilizado” para determinar os estágios
evolutivos das civilizações.
Em termos historiográficos, podemos supor o nascimento da antropologia
propriamente dita com o advento das "Regras do Método Sociológico", em 1895,
de Émile Durkheim, o qual define o “Fato Social” e os métodos para sua apreensão.

Curioso notar que foi com o surgimento da sociologia que tivemos definido o
campo antropológico. Ao definir o campo de atuação sociológico, Durkheim delineia
também, por exclusão metodológica, o que seriam os objetos de pesquisa da
antropologia.
Ou seja, enquanto na sociologia se estudaria o “Fato Social” como um atributo da
grande coletividade, outros métodos teriam de surgir para estudar o homem numa
posição mais subjetiva e menos coletiva.
A sociologia no contexto do conhecimento científico surge como um corpo de
ideias voltadas para a discussão do processo de constituição e consolidação da
sociedade capitalista. Neste mundo de grandes transformações sociais, políticas e
econômicas diferentes perspectivas teóricas são elaboradas para compreender e
interferir de algum modo nesta sociedade. O objeto de estudo da disciplina de Sociologia
são as relações que se estabelecem no interior dos grupos na sociedade, como se
estruturam e atingem as relações entre os indivíduos e a coletividade. Na diretriz, a

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Sociologia é apresentada como “fruto do seu tempo” (DCE Sociologia, 2008, p. 38) que
surgiu “com os movimentos de afirmação da sociedade industrial e toda a contradição
deste processo” (DCE Sociologia, 2008, p. 41) e com o tal, expressa às condições
socioculturais de sua época. Se como afirma a diretriz, a Sociologia é fruto de seu tempo,
tempo este de grandes transformações, também a disciplina passou por
transformações. O surgimento da sociologia como disciplina se deu a partir das
revoluções política, social e científica ocorridas nos séculos XVIII e XIX “a Revolução
Francesa de 1789; a Revolução Industrial e uma revolução na ciência.”
Para efeito de organização, esta apostila está organizada de acordo com a
cronologia e a sequência histórica da construção do conhecimento Antropológico e
Sociológico ao longo da História ocidental.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

PARTE I

ANTROPOLOGIA: CONCEITO E
OBJETO

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Antropologia

Conceito e objeto
O termo antropologia deriva das palavras gregas “anthropos” (ser humano) e
“logos” (ciência, estudo, conhecimento) e significa o estudo do ser humano. O objetivo da
Antropologia é buscar um entendimento amplo, comparativo e crítico dos seres
humanos, seus conhecimentos e formas de ser.
A antropologia abrange o estudo do ser humano como ser cultural, fazedor
de cultura. Investiga as culturas humanas no tempo e no espaço, suas origens e
desenvolvimento, suas semelhanças e diferenças. Tem seu foco de interesse voltado
para o conhecimento do comportamento cultural humano, adquirido por aprendizado
social. A partir da compreensão da variedade de procedimentos culturais dentro dos
contextos em que são produzidos. A antropologia, como o estudo das culturas, contribui
para erradicar preconceitos derivados do etnocentrismo, fomentar o relativismo
cultural e o respeito à diversidade.
Apesar da grande variedade dos seus campos de interesse, a antropologia se
constituiu como um campo científico específico, que se articula teórica e
metodologicamente com outras áreas do saber (como a história, filosofia, sociologia,
psicologia, biologia e direito), mas conserva sua unidade, uma vez desenvolveu métodos
particulares para investigar o ser humano e suas diversas formas culturais,
comportamento e vida social.
A etnografia é o método próprio de trabalho da antropologia. O objetivo da
etnografia é o de descrever as vidas das pessoas, com precisão e profundidade, através
da observação detalhada, obtida principalmente através do trabalho de campo. A partir
da observação de fatos e fenômenos in loco, o antropólogo coleta, analisa e interpreta
dados e aspectos culturais com o intuito de examinar como se dá a vida social na
realidade cotidiana de determinados indivíduos e grupos. O método etnográfico é então
um estudo e registro descritivo das características culturais de um determinado grupo
social.
Todas as sociedades humanas passadas e presentes, extintas ou existentes,
interessam ao antropólogo. Nesse sentido, algumas divisões apontam para a existência
de subáreas da Antropologia, como a arqueologia (estudo das culturas extintas), a
etnografia (descrição das sociedades humanas), a etnologia (comparação entre as
culturas existentes), a linguística (estudo das linguagens) e o folclore (manifestações
culturais tradicionais). Os antropólogos se interessam tanto pelos grupos sociais mais
simples, culturalmente diferenciados, quanto por grupos culturais que existem dentro
da sua própria sociedade. Atribui-se ao antropólogo a tarefa de formular princípios
explicativos da formação e desenvolvimento das culturas humanas.
A antropologia surgiu como ciência no início do século XX, com a sistematização
dos estudos sobre culturas consideradas “exóticas”. No Brasil, a antropologia se

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

desenvolveu através dos estudos de pesquisadores europeus sobre as sociedades


indígenas no território brasileiro. A partir da década de 1960, os antropólogos passaram
a se dedicar ao estudo de outros grupos culturais e identitários de nossa sociedade, no
âmbito da antropologia urbana. Assim, os temas antropológicos saíram das margens e
passaram a ter visibilidade e reconhecimento do seu papel político. Atualmente, a
antropologia está inserida nos debates das grandes questões nacionais e é importante
em diversas frentes, como por exemplo, na mediação da relação entre povos indígenas
e populações tradicionais com o Estado brasileiro.

Ramos da Antropologia
Para analisar e compreender melhor todas as dimensões do Homem (que são
muito vastas e complexas), a Antropologia geralmente é subdividida em diferentes áreas
ou ramos de estudo:
Antropologia Física ou Biológica – consiste no estudo das variações dos
caracteres biológicos do homem (fisionomia, cor da pele, estatura, fisiologia, etc.) no
espaço e no tempo. Sua problemática é a das relações entre o patrimônio genético e o
meio geográfico, ecológico, social. Procura explicar a evolução humana a partir de
estudos de fósseis e adaptação, analisa as particularidades morfológicas e fisiológicas
ligadas ao meio ambiente, bem como a evolução destas particularidades. Exemplo:
adaptação do homem a regiões de elevadas altitudes, zonas frias, etc.
Antropologia Linguística – procura entender a vida do homem, seus
pensamentos e sentimentos, através do estudo da sua linguagem (literatura escrita e da
tradição oral). Dado que a linguagem é uma ampla parte constitutiva da cultura, os
antropólogos linguistas se interessam pelo desenvolvimento das línguas. Assim mesmo,
ocupam-se nas diferenças das linguagens vivas, como se vinculam ou diferem e, em
certos processos que explicam a difusão da informação.
Antropologia Pré-histórica (ou arqueologia) – é a encarregada de estudar os
vestígios materiais (os utensílios, as artes, as construções…) das culturas
desaparecidas, tanto em suas técnicas e organizações sociais quanto em suas
produções culturais e artísticas.
Antropologia Psicológica – estuda os comportamentos conscientes de cada
indivíduo para compreender o homem na sua totalidade e diversidade.
Antropologia Social e Cultural – estuda a cultura de um grupo social tanto na sua
dimensão material, que se refere às coisas que os homens produzem e com as quais
intervêm na natureza, quanto na sua dimensão imaterial, que abrange os sistemas de
ideias e de valores, através dos quais se organiza a percepção do mundo. Esta dimensão
diz respeito aos elementos ideológicos que compõem a definição de cultura (que
posteriormente estudaremos), a saber, a língua, a religião, o sistema de direito, etc.
Em outras palavras, a Antropologia Social e cultural diz respeito a tudo que
constitui uma sociedade: seus modos de produção económica, suas técnicas, sua

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

organização política e jurídica, seus sistemas de parentesco, suas crenças religiosas,


sua língua, suas criações artísticas, suas normas de conduta, seus artefatos
(ferramentas, utensílios…) seus pensamentos, suas formas de manifestar sentimentos.,
etc. Importante observar que, apesar de intrinsecamente interligadas, muitas vezes,
separa-se a Antropologia Social da Cultural.
Antropologia Cultural – estuda as manifestações culturais que caracterizam um
povo (ou uma comunidade) e o diferenciam dos outros povos. Investiga, analisa e
descreve os elementos de uma cultura, como língua, religião, costumes, valores,
crenças, produções artísticas. O conceito chave da Antropologia Cultural é a cultura.
Além disso, a Antropologia cultural concentra seu enfoque na forma como a cultura é
aprendida e transmitida pelos indivíduos na sociedade e estuda o homem como
«fazedor» da cultura.

Antropologia biológica ou física


Conhecida também como antropologia biológica, ou bioantropologia, a
antropologia física tem como objetivo estudar a evolução do homem, em uma
perspectiva física, biológica e natural. Ela procura analisar e entender todo o processo
de evolução do homem, desde sua origem até os desenvolvimentos de seus traços, por
exemplo. Como foi possível perceber, seus estudos explicam as questões biológicas
envolvendo o ser humano. Para chegar às respostas que eles buscam em seus estudos,
os profissionais dessa área procuram mesclar os conceitos utilizados nos estudos
sociais e nos estudos biológicos.

Arqueologia
Arqueologia é o estudo das sociedades humanas antigas através dos vestígios
materiais encontrados pelos arqueólogos. Com a arqueologia, o ser humano consegue
aprender sobre a cultura e costumes dos seus antepassados. Os arqueólogos,
pesquisadores que estudam a ciência da arqueologia, são responsáveis por identificar,
estudar e pesquisar por objetos que pertenceram aos povos antigos, ajudando a
compreender a estrutura sociocultural das sociedades primitivas e o processo de
evolução e transformação dos grupos sociais ao longo dos anos. As informações
arqueológicas obtidas pelos pesquisadores podem ser extraídas a partir de qualquer tipo
de material construído (ou destruído) pelo ser humano, como vasos, pinturas, utensílios
de cozinha, ferramentas, armas e etc.
Etimologicamente, a palavra "arqueologia" surgiu da junção de dois termos
gregos: archaios, que significa "passado" ou "antigo"; e logos, que quer dizer "ciência" ou
"estudo"; assim sendo, arqueologia significa "ciência que estuda o passado" ou "ciência
que estuda o antigo". Os objetos antigos são encontrados principalmente através de
escavações, nos chamados "sítios arqueológicos".

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Antropologia social (ou cultural) ou etnologia


A antropologia Social analisa o comportamento do homem em sociedade, a
organização social e política, as relações sociais e instituições sociais. Difere
da sociologia no objeto da investigação: enquanto a sociologia se dedica a entender os
movimentos e estruturas sociais de uma forma macro, a Antropologia Social é voltada à
relação que o homem estabelece com estes fenômenos em uma busca mais centrada no
ser, em um "olhar para dentro".
A divisão norte-americana da antropologia não usa o conceito de Antropologia
Social e, sim, a chamada Antropologia Cultural. Esta investiga as questões culturais que
envolvem o homem, sendo seus costumes, mitos, valores, crenças, rituais, religião,
língua, entre outros aspectos, fundamentais na formação do conceito de cultura
antropológico. São conceitos trabalhados pela antropologia social as noções
de cultura e de alteridade. Dentro do escopo da antropologia cultural, ainda há os
estudos da linguística e a etnografia como campos de especialização.
A etnografia é o método de pesquisa próprio da antropologia e corresponde à
também chamada observação participante. O antropólogo, ou que nesta função também
pode ser chamado de etnógrafo, acompanha de perto o grupo que está estudando,
vivendo como eles, dentro da comunidade. A partir deste trabalho de campo o
antropólogo realiza suas análises em seu diário de campo, para aí então reunir a sua
percepção prática as teorias vistas na revisão de literatura e então desenvolver o
trabalho etnográfico. O polonês Bronislaw Malinowski é considerado o pai da
Antropologia Social por seus escritos sobre sociedades do Pacífico Sul e Melanésia.
Outros antropólogos como Evans Pritchard, Franz Boas e Radcliffe-Brown também se
destacam em suas pesquisas de campo e diários de viagens sobre diferentes
sociedades.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

PARTE II

FORMAÇÃO DA IDENTIDADE
CULTURAL

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Formação da identidade cultural

Cultura
Cultura é o conjunto de tradições, crenças e costumes de determinado grupo social.
Assim, a cultura representa o patrimônio social de um grupo e a soma de padrões dos
comportamentos humanos. É a gama do comportamento de um grupo de pessoas
envolvendo seus conhecimentos, experiências, atitudes, valores, crenças, religião,
língua, hierarquia, relações espaciais, noção de tempo, conceitos de universo. Tudo isso
é repassado por comunicação ou imitação às gerações seguintes.
Também pode ser definida como o comportamento por meio da aprendizagem
social. Essa dinâmica faz da cultura uma poderosa ferramenta para a sobrevivência
humana e se tornou o foco central da antropologia desde os estudos do britânico Edward
Tylor (1832-1917). Segundo ele, a cultura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento,
as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades
adquiridos pelo homem como membro da sociedade.

No senso comum, cultura adquire diversos significados: grande conhecimento de


determinado assunto, arte, ciência, “fulano de tal tem cultura”. Só o homem possui
cultura. Seja a sociedade simples ou complexa, todas possuem sua forma de expressar,
pensar, agir e sentir, portanto, todas têm sua própria cultura, o seu modo de vida. Não
existe cultura superior ou inferior, melhor ou pior, mas sim culturas diferentes. As
funções da cultura são satisfazer as necessidades humanas e limitar normativamente
essas necessidades.

Cultura Material e Imaterial


A Cultura Material e Imaterial representam os dois tipos de patrimônio cultural, e
que juntos constituem a cultura de determinado grupo. A cultura material está associada
aos elementos materiais e, portanto, é formada por elementos palpáveis e concretos,
por exemplo, obras de arte e igrejas. Já a cultura imaterial está relacionada com
os elementos espirituais ou abstratos, por exemplo, os saberes e os modos de fazer.
Ambas possuem aspectos simbólicos, posto que carregam a herança cultural de
determinado povo, ao mesmo tempo que promovem sua identidade.

Cultura Material
Associada aos elementos concretos de uma sociedade está a cultura material ou
o patrimônio cultural material. Esses elementos foram criados ao longo do tempo e,
portanto, representam a história de determinado povo. Diversas edificações, objetos
artísticos e cotidianos, fazem parte da cultura material, os quais são classificados de
duas maneiras:

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

 Bens móveis: podem ser transportados e reúnem os acervos e coleções.


 Bens imóveis: são estruturas fixas e representam os centros históricos,
sítios arqueológicos, etc.
Em 1972 ocorreu em Paris, França, a “Convenção para a Proteção do Patrimônio
Mundial, Cultural e Natural”. O evento alertou para a importância do tema, bem como da
salvaguarda do patrimônio mundial. Veja o seguinte trecho da convenção que define o
conceito de patrimônio cultural material:
ARTIGO 1.º Para fins da presente Convenção serão considerados como patrimônio
cultural:
 Os monumentos: obras arquitetônicas, de escultura ou de pintura
monumentais, elementos de estruturas de carácter arqueológico,
inscrições, grutas e grupos de elementos com valor universal excepcional
do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;
 Os conjuntos: grupos de construções isoladas ou reunidos que, em virtude
da sua arquitetura, unidade ou integração na paisagem têm valor universal
excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;
 Os locais de interesse.
 Obras do homem, ou obras conjugadas do homem e da natureza, e as
zonas, incluindo os locais de interesse arqueológico, com um valor
universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou
antropológico”.
Associada aos hábitos, comportamentos e costumes de determinado grupo
social está a cultura imaterial ou patrimônio cultural imaterial. Este representa
os elementos intangíveis de uma cultura. Sendo assim, ele é formado por elementos
abstratos que estão intimamente, relacionados com as tradições, práticas,
comportamentos, técnicas e crenças de determinado grupo social. Diferente do
patrimônio material, este tipo de cultura é transmitida de geração em geração.
Vale notar que a cultura imaterial está em constante transformação, uma vez que
seus elementos são recriados coletivamente. Isso faz com que o patrimônio intangível
seja muito vulnerável. Por esse motivo, muitos programas e projetos vêm sendo
desenvolvidos no Brasil e no mundo com o intuito de levantar e registrar essas práticas.
Em outubro de 2003, na cidade de Paris, França, ocorreu a “Convenção para a
Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial”. Esse evento representou um grande
avanço para o entendimento e importância desse conceito.
“Entende-se por “património cultural imaterial” as práticas, representações,
expressões, conhecimentos e competências – bem como os instrumentos, objetos,
artefatos e espaços culturais que lhes estão associados – que as comunidades, grupos
e, eventualmente, indivíduos reconhecem como fazendo parte do seu património
cultural. Este património cultural imaterial, transmitido de geração em geração, é

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função do seu meio


envolvente, da sua interação com a natureza e da sua história, e confere-lhes um sentido
de identidade e de continuidade, contribuindo assim para promover o respeito da
diversidade cultural e a criatividade humana.” (Artigo 2.º, Definições)

Relativismo Cultural
Relativismo cultural é uma perspectiva da antropologia que vê diferentes
culturas de forma livre de etnocentrismo, o que quer dizer sem julgar o outro a partir de
sua própria visão e experiência. A perspectiva do relativismo cultural é uma construção
da Antropologia, idealizada por nomes como Franz Boas, e também utilizado na
Sociologia. Como conceito científico, o relativismo cultural pressupõe que o
investigador tenha uma visão neutra diante do conjunto de hábitos, crenças e
comportamentos que, a princípio, lhe parecem estranhos, que resultam em choque
cultural.
Relativizar é deixar o julgamento de lado, assim como se afastar da sua própria
cultura, a fim de entender melhor o outro. Um exemplo de aplicação do relativismo
cultural em pesquisas antropológicas pode ser visto no estudo de sociedades
tradicionais isoladas de influências ocidentais. Digamos que em uma tribo da Oceania,
as relações de parentesco sejam pela linha matriarcal, e o irmão da mãe, ou seja, o tio
faça o papel que o pai executa nas sociedades ocidentais.
De forma etnocêntrica, o antropólogo poderia interpretar estes laços como
disformes e criticar em seu trabalho as possíveis consequências sociais e familiares
desta ação. Mas, ao relativizar durante seu trabalho de campo, o pesquisador percebe
que estas relações são apenas diferentes, pois possuem outros sistemas e processos
anteriores que precisam ser levados em consideração.
A fim de fazer uma investigação científica, é indispensável que o pesquisador se
livre de preconceitos e julgamentos, por isso, a prática do relativismo cultural na
Antropologia. Porém, o exercício de relativização também pode ser utilizado pela
sociedade como um todo, no dia a dia, para entender melhor a posição e
comportamentos dos outros, e estabelecer melhores relações sociais mais
compreensivas. O conceito de relativismo cultural passa também pela compreensão da
ideia de alteridade, que é o pressuposto da existência do outro e da diferença em
sociedade.

Diversidade Cultural
Diversidade cultural são os vários aspectos que representam particularmente
às diferentes culturas, como a linguagem, as tradições, a culinária, a religião, os
costumes, o modelo de organização familiar, a política, entre outras características
próprias de um grupo de seres humanos que habitam um determinado território. É
culturas formam a chamada identidade cultural dos indivíduos ou de uma sociedade;

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

uma "marca um conceito criado para compreender os processos de diferenciação entre


as várias culturas que existem ao redor do mundo. As múltiplas " que personaliza e
diferencia os membros de determinado lugar do restante da população mundial.
A diversidade significa pluralidade, variedade e diferenciação, conceito que é
considerado o oposto total da homogeneidade. Atualmente, devido ao processo de
colonização e miscigenação cultural entre a maioria das nações do planeta, quase todos
os países possuem a sua diversidade cultural, ou seja, um "pedacinho" das tradições e
costumes de várias culturas diferentes. Algumas pessoas consideram a globalização um
perigo para a preservação da diversidade cultural, pois acreditam na perda de costumes
tradicionais e típicos de cada sociedade, dando lugar a características globais e
"impessoais".

Cultura Híbrida
A ideia de culturas híbridas está ligada ao processo de globalização. Com o
desenvolvimento de tecnologias de comunicação cada vez mais ágeis, as “trocas”
culturais ocorrem em uma dimensão praticamente impossível de registrar, dada sua
magnitude. O termo “troca” aqui empregado deve ser visto com cautela, já que a
distribuição de bens e influência culturais segue o padrão determinado pela
hierarquização econômica e de poder, sob a qual os países dividem-se entre
“desenvolvidos” e “em desenvolvimento”.
Desse modo, os países cuja produção cultural ocupa posição dominante
exportam seus padrões, costumes e produtos com uma intensidade desproporcional
àquela com que o fazem, os chamados países em desenvolvimento. De todo modo, o
termo culturas híbrido se refere a uma mescla entre expressões culturais locais e
globais, sem que, necessariamente, haja um quadro de dominação – ainda que seja de
suma importância problematizar essa possibilidade. Em uma cultura híbrida, o que é
local e o que é global coexistem, formando uma nova configuração cultural, um novo
conjunto cultural que não é igual ao que havia antes do recebimento de “influências
externas”, mas também não é mera reprodução cultural daquilo que se recebe.
Ainda que nem sempre o movimento Bubble Up esteja vinculado à apropriação,
no sentido acusatório do termo, é importante salientar que mesmo que o uso de
determinado objeto de fato emerja das camadas populares em direção ao topo da
pirâmide, para que ele circule no chamado mercado de luxo, sofrerá adaptações para que
pareça “exclusivo”, além de ser comercializado com preço mais alto, mecanismos que
mantêm a ideia de consumo como meio de distinção.
De todo modo, os conceitos Trickle Down e Bubble Up, como muitos outros que
tornam a Sociologia uma ciência dissonante, serão pensados como complementares,
posto que coexistem nas relações sociais. O mais relevante é que o aluno compreenda a
existência e o funcionamento de mecanismos de consumo e como nossas escolhas e
gostos estão sempre sendo construídos por diversas influências sociais, que estão fora
do nosso “eu particular” e que, ao mesmo tempo, contribuem para a formação de uma

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

configuração, no sentido do conceito apresentado por Norbert Elias, que une o mundo
social e a nossa individualidade.

Etnocentrismo
Etnocentrismo é um conceito da Antropologia definido como a visão
demonstrada por alguém que considera o seu grupo étnico ou cultura o centro de tudo,
portanto, num plano mais importante que as outras culturas e sociedades. O termo é
formado pela justaposição da palavra de origem grega "ethnos" que significa "nação, tribo
ou pessoas que vivem juntas" e centrismo que indica o centro. Um indivíduo etnocêntrico
considera as normas e valores da sua própria cultura melhores do que as das outras
culturas. Isso pode representar um problema, porque frequentemente dá origem a
preconceitos e ideias infundamentadas.
Uma visão etnocêntrica demonstra, por vezes, desconhecimento dos diferentes
hábitos culturais, levando ao desrespeito, depreciação e intolerância por quem é
diferente, originando em seus casos mais extremos, atitudes preconceituosas, radicais
e xenófobas. Este fenômeno universal pode atingir proporções drásticas, quando
culturas tecnicamente mais frágeis entram em contato com culturas mais dominantes e
avançadas. Alguns exemplos de etnocentrismo estão relacionados ao vestuário. Um
deles é o hábito indígena de vestir pouca ou nenhuma roupa; outro caso é o uso
do kilt (uma típica saia) pelos escoceses. São duas situações que podem ser tratadas
com alguma hostilidade ou estranheza por quem não pertence àquelas culturas.

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Unidade 4
SOCIOLOGIA E
ANTROPOLOGIA
Unidade 2

E-Book
SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

SUMÁRIO

PARTE I ........................................................................................................................ 3
Sociologia ................................................................................................................. 4
Origem da Sociologia ............................................................................................. 4
Fatos históricos que marcaram o advento da sociologia ......................................... 5

PARTE II ....................................................................................................................... 6
Os teóricos da sociologia .......................................................................................... 7
Augusto Comte (1798-1857)..................................................................................... 7
SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

PARTE I

FATORES HISTÓRICOS DA
SOCIOLOGIA

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Sociologia
Em termos simples, a sociologia é a ciência que se debruça sobre a própria
sociedade e todas as suas ramificações, componentes e integrantes. Ela se dedica a
compreender as formas de interação que temos uns com os outros, nossas organizações
e os fenômenos sociais observados na realidade dos indivíduos. O olhar sociológico nos
traz sempre uma nova perspectiva sobre situações que aparentemente são de natureza
individual, mas que acabam por atingir uma gama muito maior de nossa realidade
coletiva. Podemos tomar como exemplo o desemprego que, embora seja uma terrível
tragédia na vida do indivíduo, ecoa em toda cadeia social, afetando nossa realidade
econômica e acentuando a desigualdade social e, possivelmente, agravando outros
problemas como a violência, a fome e a precarização da educação.

A Sociologia é uma Ciência?

A sociologia é, para todos os fins, uma ciência. Está intimamente ligada ao


método científico, embora se divirja em certos pontos e se propõe a compreender
processos e fenômenos, direta ou indiretamente, observáveis. Muito embora não seja
possível colocar uma sociedade ou uma interação social sob a lente de um microscópio,
é possível que se abordem partes específicas de nossa realidade para que possamos
observá-la e, a partir dessas observações, tentar traçar explicações, teorias e
conclusões sobre esses “objetos” que também são concretos em sua própria forma.

Origem da Sociologia
Como matéria única, a sociologia é relativamente “nova”. Ela se inicia como ideia
em meados do século XIX, com o filosofo francês Augusto Comte, que propunha uma
nova área de estudo que reunisse as principais áreas do conhecimento das ciências
humanas em uma única, que se proporia a compreender todos os aspectos do homem
social e os fenômenos que se manifestariam nas diversas realidades sociais.
Para tanto, essa nova área de conhecimento, de acordo com Comte, deveria
propor-se a ser universal e aplicável a toda e qualquer sociedade que exista ou venha a
existir. Com esse objetivo, Comte se volta para a forma de observação das demais
ciências anteriores à nova Sociologia, argumentando que os estudos dessa nova matéria
deveriam se pautar em fenômenos observáveis e mensuráveis para que fosse possível
apreender as regras gerais que regem o mundo social do indivíduo. Essa perspectiva é
chamada de “positivismo” e é a forma dominante de observação do mundo em meados da
Revolução Industrial (séculos XIX - XX).

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Fatos históricos que marcaram o advento da sociologia


A sociologia, ciência que tenta explicar a vida social, nasceu de uma mudança
radical da sociedade, resultando no surgimento do capitalismo. O século XVIII foi
marcado por transformações, fazendo o homem analisar a sociedade, um novo “objeto”
de estudo. Essa situação foi gerada pelas revoluções industrial e francesa, que mudaram
completamente o curso que a sociedade estava tomando na época. A Revolução
Industrial, por exemplo, representou a consolidação do capitalismo, uma nova forma de
viver, a destruição de costumes e instituições, a automação, o aumento de suicídios,
prostituição e violência, a formação do proletariado, etc. Essas novas existências vão,
paulatinamente, modificando o pensamento moderno, que vai se tornando racional e
científico, substituindo as explicações teológicas, filosóficas e de senso comum.
Na Revolução Francesa, encontram-se filósofos, a fim de transformar a sociedade,
os iluministas, que também objetivavam demonstrar a irracionalidade e as injustiças de
algumas instituições, pregando a liberdade e a igualdade dos indivíduos que, na verdade,
descobriu-se mais tarde que esses eram falsos dogmas. Esse cenário leva à constituição
de um estudo científico da sociedade.
Contra a revolução, pensadores tentam reorganizar a sociedade, estabelecendo
ordem, conhecendo as leis que regem os fatos sociais. Era o positivismo surgindo e, com
ele, a instituição da ciência da sociedade. Tal movimento revalorizou certas instituições
que a revolução francesa tentou destruir e criou uma “física social”, criada por Comte,
“pai da Sociologia”. Outro pensador positivista, Durkheim, tornou-se um grande teórico
desta nova ciência, esforçando-se para emancipá-la como disciplina científica. Foi
dentro desse contexto que surgiu a Sociologia, ciência que, mesmo antes de ser
considerada como tal, estimulou a reflexão da sociedade moderna colocando como
“objeto de estudo” a própria sociedade, tendo como principais articuladores Auguste
Conte e Émile Durkheim.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

PARTE II

OS TEÓRICOS DA SOCIOLOGIA

6
SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Os teóricos da sociologia

Augusto Comte (1798-1857)


Nascido na França em 1798, onde viveu até 1857, o filósofo Auguste Comte é
considerado um dos grandes precursores da Sociologia, tendo exercido influência direta
em muitos pensadores que o sucederam, entre os quais, faz-se necessário destacar o
clássico Émile Durkheim. A importância de Comte se deu sobretudo pela criação da
corrente filosófica do positivismo, que alcançou relevância mundial, deixando, inclusive,
grandes marcas na formação histórica da república brasileira. Apreensivo, Comte
observava a decadência do sistema feudal e a emergência da sociedade moderna e
urbana na Europa. Tal transição não foi serena, mas marcada por grandes conflitos
relativos à adaptação dos indivíduos e instituições às novas formas de organização do
trabalho e da vida coletiva.
Comte acreditava que o núcleo de uma sociedade era a unidade alcançada a partir
de um mesmo pensamento e forma de ver o mundo. Portanto, a crise que testemunhava
nesse período de transição para o mundo moderno, era, para ele, uma crise causada pela
falta de um consenso coletivo – que anteriormente teria existido em torno de formas
religiosas de organizar a vida social. A solução seria acelerar a formação de um novo
consenso baseado no pensamento científico, que naturalmente se tornaria homogêneo
na sociedade que despontava. Essa nova forma de pensar seria denominada por Comte
como forma positiva, isso é, como o positivismo.

Lei dos Três Estados


O positivismo era visto por Comte como uma evolução inevitável da natureza
humana. Para ele, todas as sociedades – de diferentes épocas e territórios – passariam
necessariamente por três estados consecutivos, cada um caracterizado por uma forma
de pensar predominante. No primeiro estado, o teológico, os fenômenos sociais e da
natureza seriam explicados enquanto resultados das ações divinas. No segundo estado,
o metafísico, a busca por explicações recorreriam a uma reflexão sobre a essência e o
significado abstrato das coisas. Por fim, no estado positivo, as explicações sobre o
mundo natural e social seriam fabricadas através da observação dos fenômenos, da
elaboração de hipóteses e da formulação de leis universais. Ou seja, basicamente
utilizando as regras do método científico.
Levando essa percepção em conta, a missão de Comte se torna a elaborar uma
ciência positiva capaz de explicar os fenômenos sociais através da aplicação da
metodologia científica em busca de leis universais que fossem válidas para as dinâmicas
humanas em todos os tempo e sociedades. O nome que Conte deu a essa ciência, a “física
social”, revela que, para os positivistas, seria possível estudar a sociedade e formular
suas leis de funcionamento com a mesma precisão e objetividade que se estuda o efeito
da gravidade sobre os corpos ou o movimento dos astros no sistema solar. Uma vez

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

conhecidas essas leis universais, a expectativa de Comte era de que os conflitos sociais
pudessem ser eliminados através de reformas e intervenções comandadas pelo Estado.
O positivismo de Comte se apresenta, portanto, não apenas enquanto teoria, mas
também como projeto político para a gestão da sociedade.

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Unidade 4
SOCIOLOGIA E
ANTROPOLOGIA
Unidade 3

E-Book
SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

SUMÁRIO

PARTE I ........................................................................................................................ 3
Émile Durkheim (1858-1917) ........................................................................................ 4
Weber (1864-1920) ..................................................................................................... 5
Ação Social para Max Weber .................................................................................. 5

PARTE II ....................................................................................................................... 7
Karl Marx (1818-1883) .................................................................................................. 8
Contexto e Influências ........................................................................................... 8
Materialismo Histórico: Infraestrutura, Superestrutura e Classes Sociais ............. 12
SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

PARTE I

O PENSAMENTO SOCIOLÓICO DE
ÉMILE DURKHEIM

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Émile Durkheim (1858-1917)


Considerado por muitos, como o grande fundador das Ciências Sociais, Émile
Durkheim nasceu na França em 1858 e lá viveu até sua morte, em 1917. Diretamente
influenciado pelo positivismo de Auguste Comte, dedicou sua trajetória intelectual a
elaborar uma ciência que possibilitasse o entendimento dos comportamentos coletivos.
Sua grande preocupação era explicar os elementos capazes de manter coesa a nova
sociedade que ia se configurando após a Revolução Industrial e a Revolução Francesa.
Durkheim determina o fato social como objeto central de investigação deste novo
campo científico. Entende-se o fato social como uma “coisa” que exerce força de
coerção sobre os sujeitos, independentemente de sua vontade ou ação individual.
Impõe-se na direção da sociedade para o indivíduo e se estabelece de forma a
homogeneizar e padronizar os comportamentos particulares, garantindo que sejam
coletivos. Propositalmente, Durkheim chama o fato social de “coisa” para ressaltar que
ele é um objeto no sentido científico, isso é, algo que pode ser observado, definido e
explicado pelo cientista social.
Em seu importantíssimo estudo O Suicídio, publicado em 1897, Durkheim observa
que as taxas de morte voluntária são constantes em diferentes períodos. O autor trata,
portanto, o suicídio como um fenômeno que não age unicamente sob o indivíduo, mas
cujas forças se encontram atuantes em todo o corpo social. Logo, Durkheim passa a
considerar o suicídio como um fato social que deve ser estudado e analisado por ele
enquanto cientista social. Seguindo esse raciocínio, o suicídio, ainda que não possa ser
considerado como algo benéfico, é considerado normal do ponto de vista sociológico.
Durkheim nota que em momentos de crise econômica ou política, as taxas de suicídio
elevam-se, fugindo dos padrões. Para ele, esse é um fenômeno anômico, isto é, que foge
da normalidade.
Como um bom positivista, Émile Durkheim têm uma visão harmoniosa da
sociedade e, por conseguinte, os desvios de padrões são sempre vistos como anomalias
que podem ser corrigidas pela organização das forças sociais. Para Durkheim, as
sociedades tradicionais – pré-modernas e pré-industriais – mantinham a sua coesão
através da chamada solidariedade mecânica, uma vez em que as mudanças não eram
comuns e os indivíduos não se diferenciavam muito entre si e entre as gerações e as
atividades profissionais. Numa sociedade como a nossa, em que as mudanças são
rápidas e as atividades de trabalhos são muito variadas, a unidade social é dada pelo que
ele denomina solidariedade orgânica. Esse conceito traz a ideia de que a sociedade
industrial se mantém em um funcionamento relativamente harmonioso, possibilitado
pelo fato de que cada grupo ou indivíduo ocupa uma função diferente, cumprindo cada
um seu papel na sociedade através da divisão social do trabalho.
O Estado aparece na obra de Durkheim como a instituição responsável por
organizar essa divisão do trabalho, exercendo uma força capaz de garantir sua unidade.
A educação, tema muito discutido pelo autor, também tem para ele um papel importante
na função de preparar o indivíduo para integrar-se harmoniosamente no corpo social. A

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

colaboração de Durkheim para o entendimento da sociedade é crucial. Entretanto, o


excessivo apagamento do indivíduo – que só ganha valor quanto útil a sociedade – fez do
pensamento durkheimiano alvo de muitas críticas posteriores.

Weber (1864-1920)
Nascido em Efurt, na Alemanha, Max Weber (1864-1920) é um dos principais
pensadores que colaboraram para a construção da Sociologia. Entretanto, assim como
Karl Marx, Weber enveredou-se por uma gama gigantesca de assuntos e colaborou para
o desenvolvimento da Filosofia, Política, Economia, História e Direito. Weber foi
fortemente influenciado pelas ideias de Karl Marx e Émile Durkheim, sendo também
crítico das obras desses grandes pensadores.
Max Weber se alinhava à visão de Marx em relação ao tratamento do
desenvolvimento do capitalismo no mundo moderno e às investigações em torno dos
sistemas anteriores de produção e das lógicas de relações sociais que se estabeleciam
em volta deles. No entanto, contrariamente ao pensamento de Marx, Weber não dava a
mesma importância ao conflito de classes e também não submetia suas análises
comparativas à noção de materialismo histórico dos trabalhos marxistas.
Weber buscava, assim como seus predecessores, entender as mudanças sociais
advindas da Revolução Industrial que ainda se desenrolavam em seu tempo. No entanto,
sua linha de pensamento dava a mesma importância tanto para os fatores econômicos
do mundo social quanto para o espectro mais individual, relacionado com o sujeito, que
enxergava como o principal ator no processo de mudança social, possuindo, portanto,
enorme relevância no estudo do contexto dos fenômenos sociais. Weber acreditava que
as motivações das ações dos indivíduos em seu convívio diário eram os principais fatores
que determinariam os rumos dos processos de mudança social. Partindo desse
princípio, Weber elaborou o conceito de “ação social” que nortearia os seus trabalhos.

Ação Social para Max Weber

O conceito de “ação social” foi concebido por Weber como qualquer ação realizada
por um sujeito em um meio social que possua um sentido determinado por seu autor. O
processo de comunicação estaria, portanto, intimamente ligado ao conceito de ação
social. A manifestação do sujeito que deseja uma resposta é feita em função dessa
resposta. Em outras palavras, uma ação social se constitui como ação que parte da
intenção de seu autor em relação à resposta que deseja de seu interlocutor. Weber
estipulou quatro tipos ideais de ações sociais: a ação racional com relação a fins, a ação
racional com relação a valores, a ação afetiva e a ação tradicional.
Percebe-se, portanto, que Weber se afastou dos determinismos sócio-históricos
de Karl Marx e do fatalismo da noção de um sistema externo e independente do indivíduo

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

que Émile Durkheim propôs, elaborando, assim, a noção de um ser humano livre para
agir, pensar e construir sua realidade. Para Weber, as estruturas sociais estavam em
contato direto com o poder de ação dos indivíduos, o que significa que os sujeitos, seus
valores e ideias possuem força de ação direta sobre essas estruturas. A tarefa da
Sociologia seria, então, segundo o teórico, apreender os significados que norteiam
essas ações.
Weber demonstrou esse princípio em seus estudos comparativos sobre as
distinções entre religiões Ocidentais e Orientais. Em seu livro, “A ética protestante e o
espírito do capitalismo”, o autor buscou esclarecer como a lógica cristã foi responsável
pelo desenvolvimento do sistema de produção capitalista. Nisso estaria inserido o
contexto cultural e valorativo das sociedades cristãs, e não apenas seu modelo ou
situação econômica.

Os “tipos ideais” para Weber


Outro ponto importante da teoria weberiana é a busca pela construção dos “tipos
ideais” no processo de construção do conhecimento teórico. O estabelecimento de tipos
ideais não busca construir tipologias fixas nem mesmo busca classificar de maneira
inflexível o objeto em questão. Eles servem como parâmetro de observação, um “boneco”
com características delineadas que serve apenas como ponto de comparação entre o
observado e sua obra teórica. Trata-se de modelos conceituais que nem sempre, ou
quase nunca, existem. Apenas alguns aspectos ou atributos são observáveis.

Racionalização do Mundo Social


Weber ainda faz referência a um fenômeno de grande importância do mundo
moderno e que está relacionado com as mudanças estruturais, culturais e sociais que as
sociedades modernas passaram no decorrer do tempo: “a racionalização do mundo
social”. Esse fenômeno se refere às mudanças profundas, como a gradual construção do
capitalismo e à monstruosa explosão do crescimento dos meios urbanos, que se
tornaram as bases da reordenação das organizações tradicionais que predominavam até
então.
Ampliando nossa explicação, devemos dizer que a preocupação de Weber estava
em tentar apreender os processos pelos quais o pensamento racional, ou a racionalidade,
impactou as instituições modernas, como o Estado, os governos e, ainda, o âmbito
cultural, social e individual do sujeito moderno. Em sua denominação das diversas
formas de racionalidade, Weber fez distinção de quatro principais formas: a
racionalidade formal, a racionalidade substantiva, a racionalidade meio finalística e a
racionalidade quanto aos valores.
A obra de Max Weber é incrivelmente diversa e amplamente utilizada em esforços
de compreensão dos fenômenos sociais contemporâneos. A sociologia weberiana
influenciou e ainda influencia grandes teóricos, que enxergam na visão de Weber uma
ferramenta para desvendar os mistérios das relações humanas.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

PARTE II

KARL MARX

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Karl Marx (1818-1883)


Karl Heinrich Marx nasceu no dia 5 de maio de 1818, em Trier, cidade localizada
numa região que nesta época pertencia ao Reino da Prússia e atualmente é parte da
Alemanha. Filho de judeus, em 1835 foi estudar direito na Universidade de Bonn,
transferindo-se mais tarde para Berlim, onde estudou filosofia e criou laços com grupos
políticos de esquerda, como os neo-hegelianos. Obteve seu doutorado em 1841, mas foi
impedido de seguir carreira como professor universitário por causa da perseguição do
governo.
Como alternativa, em 1842, Marx conseguiu trabalho como editor no jornal “Gazeta
Renana”, na cidade de Colônia. Contudo, o jornal não tardou a ser fechado por causa do
seu viés radical contra vários problemas da sociedade alemã, o que não agradou as
autoridades. Casou-se com Jenny von Westphalen e se mudaram para Paris em 1843 (o
casal teve seis filhos). Em Paris, Marx teve contato com os socialistas franceses e foi um
dos fundadores da revista “Anais Franco-alemães”. Também conheceu o alemão
Friedrich Engels, que se tornou um grande amigo e coautor de várias de suas obras,
como “A sagrada família” e “A ideologia alemã”.
Também perseguido em Paris por envolvimento em movimentos políticos, Marx
muda-se para Bruxelas (Bélgica) em 1845, onde ajuda a fundar a Liga dos Comunistas e
escreve, em 1848, o famoso “Manifesto do Partido Comunista”. Neste mesmo ano,
acompanha as revoluções que estouraram na Europa e retorna para a sua terra natal,
mas o fracasso da revolução alemã força-o para o novo exílio e, em 1850, muda-se para
Londres, Inglaterra.
Na capital inglesa, Marx decide paralisar suas atividades políticas para poder se
dedicar a um grande projeto acadêmico na Biblioteca Pública: estudar a fundo o modo
de produção capitalista. O resultado dessa extensa pesquisa aparece em 1867, com a
publicação de “O Capital”, considerada por muitos dos marxistas a sua maior obra. Mas já
em 1864 a atividade política retorna a sua vivência com a fundação da I Internacional, que
seria uma organização responsável por articular o movimento comunista em nível
internacional e que veio a se dissolver em 1872, devido a divergências com os
anarquistas, como Mikhail Bakunin. Marx faleceu em Londres, no dia 14 de março 1883, um
ano após a morte da esposa e com a saúde já debilitada, aos 64 anos.

Contexto e Influências
Marx viveu durante o século XIX e viu a Revolução Industrial mudar o mundo que o
cercava. Os ideais do iluminismo e da Revolução Francesa também ecoavam na realidade
de sua época e aparecem em sua obra, valorizando a crença no poder da ciência e da
razão humana rumo ao progresso. Ele também desenvolveu um intenso diálogo com as
principais correntes de pensamento da sua época, herdando uma grande bagagem

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

teórica. Destacam-se três dessas correntes que tanto o influenciaram e como foram
influenciadas por ele:

 A Filosofia Alemã:
Marx, como já dito anteriormente, era filósofo de formação e estudou os grandes
nomes da filosofia germânica, como Kant e Hegel. Também foi integrante dos neo-
hegelianos, grupo do qual faziam parte figuras como Moses Hess, Max Stiner, Bruno
Bauer, e Ludwig Feuerbach. Embora fossem estudiosos da obra de Hegel e utilizassem
seu método dialético como forma de apreender o mundo, esses filósofos desenvolveram
posturas críticas para com o pensamento do mestre.

 Socialismo Utópico Francês


Foi na França que Marx teve contato com os trabalhos dos socialistas franceses,
como Charles Fourier, Pierre-Joseph Proudhon e Saint-Simon, aos quais chamou de
socialistas utópicos. Marx acreditava que esses faziam boas críticas ao sistema
capitalista, mas falhavam em não estudar como esse sistema funciona, bem como
pecavam por não reconhecer na classe trabalhadora o potencial de transformação da
sociedade. Por isso, Marx pretendia desenvolver um socialismo científico para lidar com
as lacunas do socialismo utópico.

 Economia política
Foi na Inglaterra que Marx se aprofundou nos estudos de economia, buscando
entender como o capitalismo funciona. Para realizar esse objetivo, ele se baseou em
importantes economistas ingleses como David Ricardo e Adam Smith.

 Teoria sociológica
Marx procurou compreender a sociedade moderna focado em sua dimensão
econômica, e embora não fosse sociólogo, o seu trabalho foi incorporado, debatido e
ampliado por grande parte da Ciências Sociais desde o seu desenvolvimento até os dias
de hoje, tornando-se um marco incontornável. É nesse sentido que podemos falar de
uma teoria social em Marx. Essa teoria social começa a ganhar forma na elaboração do
seu pensamento filosófico, que teve início num acerto de contas com toda a filosofia de
Hegel e com os neo-hegelianos de esquerda. Abordar-se-á primeiro Hegel para depois
falar dos neo-hegelianos e então retornar a Marx.

 Materialismo e Dialética
O primeiro ponto a destacar de Hegel é a sua redescoberta da dialética como
método para se compreender a realidade e a história da humanidade, estabelecendo
assim o idealismo dialético. Hegel, tal qual Heráclito, não acreditava que o mundo era
estático, que as coisas eram imutáveis e que os seres carregavam consigo uma essência

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

fixa. Pelo contrário, o mundo seria dinâmico, conflituoso, contraditório, em constante


transformação, num eterno devir, pois todas as coisas carregariam consigo a sua própria
negação. Para Hegel, “a ideia de que todos os seres são contraditórios é um princípio que
governa toda a realidade. É o fato que todo ser é contraditório que explica a causa do
movimento ou devir contínuo” (SELL, 2009, p. 42).
Heráclito percebeu esse movimento no mundo natural e Hegel percebeu que o
mesmo movimento se dava no mundo social. Para captar esses processos, Hegel
desenvolveu o método dialético, que consiste em considerar que todos os seres e entes
passam por três momentos primordiais, que são: tese, antítese e síntese. Tudo que é
afirmado (tese) choca-se com o seu oposto, sua negação(antítese), e deste embate surge
uma coisa nova (síntese). A síntese se torna uma nova tese e o ciclo dialético continua
indefinidamente.
Para Hegel, um idealista por excelência, são as ideias (consciência humana), que
constituem o fator primário da realidade e da história, e a matéria seria reflexo dessas
ideias. O mundo material não possui significado algum, e sim nós, com as nossas
consciências, que damos sentido a tudo que nos cerca. Portanto, a matéria surge através
da alienação do pensamento, que sai de si e se transforma em matéria, negando a
consciência. A superação dessa contradição levaria ao que Hegel chamou de “Espírito
Absoluto”, que superaria a dicotomia entre pensamento e matéria.
Em suma, para simplificar algo já bastante abstrato:

1. TESE: A realidade é pensamento


2. ANTÍTESE: A realidade é matéria
3. SÍNTESE: A realidade é pensamento e matéria

Podemos dizer que, para Hegel, enquanto filósofo idealista, a história consiste
numa retomada da consciência que fora colocada de lado, mas que com o auxílio da razão
retornará para sua morada. Assim sendo, temos uma guinada rumo ao progresso, numa
evolução da história humana que caminha em direção a esse “Espírito Absoluto”.
Depois da morte de Hegel, os neo-hegelianos iriam se basear em suas teorias para
elaborar críticas ao seu pensamento. Um dos integrantes desse grupo era Ludwig
Feuerbach, filósofo radical que sustentava que toda a alienação do homem provém dos
fenômenos religiosos. Hegel teria errado ao apostar no idealismo como base e assim
reforçava crenças religiosas, que afirmavam ser Deus o criador do homem, quando na
verdade o homem é que teria criado Deus. Para Feuerbach, o homem se aliena da sua
consciência e a submete a forças divinas que ele mesmo criou, virando o mundo de
cabeça pra baixo. Não seria o idealismo a recuperar a consciência do homem, mas sim
uma base materialista, fundamentada no mundo sensível, que proporcionaria uma visão
consistente e uma crítica da religião destruidora. Só assim, o homem abdicaria da
alienação a qual se submete.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

É neste cenário que Marx e Engels entram, capturando elementos do pensamento


de Hegel (idealismo hegeliano) e de Feuerbach (materialismo) e desenvolvendo o
chamado materialismo dialético na obra “A ideologia alemã” (1846), pretendendo superar
tanto as teorias de Hegel como as dos neo-hegelianos. Marx não discordava do método
dialético de Hegel, de que tudo era movimento e contradição, mas sim do seu
fundamento metodológico idealista: Não é consciência que determina a matéria, mas a
matéria que determina a consciência. Como assim? Marx sintetiza em alguns
pressupostos.
(…) o primeiro pressuposto de toda a existência humana e também, portanto, de
toda a história, a saber, o pressuposto de que os homens têm de estar em condições de
viver para poder “fazer história”. Mas, para viver, precisa-se, antes de tudo, de comida,
bebida, moradia, vestimenta e algumas coisas mais. O segundo ponto é que a satisfação
dessa primeira necessidade, a ação de satisfazê-la e o instrumento de satisfação já
adquirido conduzem a novas necessidades — e essa produção de novas necessidades
constitui o primeiro ato histórico. E a terceira condição que já de início intervém no
desenvolvimento histórico é que os homens, que renovam diariamente sua própria vida,
começam a criar outros homens, a procriar — a relação entre homem e mulher, entre pais
e filhos, a família.
“Segue-se daí que um determinado modo de produção ou uma determinada fase
industrial estão sempre ligados a um determinado modo de cooperação ou a uma
determinada fase social. Somente agora, depois de já termos examinado quatro
momentos, quatro aspectos das relações históricas originárias, descobrimos que o
homem tem também “consciência””. Marx e Engels (2007, p. 33–34)
Aqui Marx e Engels deixam evidente que, para eles, a consciência surge da
necessidade e da existência de intercâmbio entre os seres humanos, tratando-se de
produto do meio social. Marx inverte o pensamento de Hegel, alegando que não será
possível compreender a história partindo do mundo das ideias, e sim dos próprios seres
humanos, das suas ações e suas condições materiais. São os seres humanos que,
procurando transformar a natureza e em relação e atrito com outros seres humanos,
criam contradições e transformam a realidade e a sociedade, mantendo assim o fluxo
dialético.
Se nos atentarmos, podemos ver que Marx captou elementos do materialismo de
Feuerbach e os aplicou ao idealismo hegeliano para criar o seu materialismo dialético.
Marx afirmava que o materialismo de Feuerbach não era suficiente, pois se concentrava
no fenômeno religioso como raiz da alienação. Fracassava em perceber que, na verdade,
as relações materiais que os seres humanos estabelecem e o modo como produzem seus
meios de vida são as verdadeiras causas da alienação e somente através da
transformação destas é que se consegue libertar a humanidade da alienação pelo
sistema. Combater a religião seria promover uma “guerra de frases”, algo completamente
ineficaz, já que sem mudanças na base material e nas relações de produção, a realidade
social não muda e a alienação persiste.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Marx defende que se deve unir teoria e prática, numa práxis que vá além da mera
abstração ou da ação política sem fundamento teórico, promovendo mudanças reais na
base da sociedade. Teoria e ação política isoladas são incapazes, mas, juntas, tornam-
se a chave para uma ação concreta. É por isso que o pensamento de Karl Marx está
orientado para uma posição política revolucionária, que não se baste em conhecer como
o mundo é, mas que procure também, torná-lo algo diverso do que é. Não é à toa que
temos a 11° tese sobre Feuerbach, bastante popularizada, onde Marx diz que os filósofos
se limitaram a interpretar o mundo de diversas maneiras; o que importa é transformá-lo.
Veremos mais sobre esses pontos na segunda parte desse texto.

Materialismo Histórico: Infraestrutura, Superestrutura e Classes


Sociais
Tendo erguido as bases filosóficas do materialismo dialético, Marx o aplicou para
estudar a sociedade e a história humana. A essa aplicação do materialismo dialético
damos o nome de materialismo histórico. Marx via a sociedade como um todo, como um
sistema em que as instituições, os elementos econômicos, as ideias, as representações,
a política, as relações sociais etc., estão interligados. Contudo, como vimos
anteriormente, para Marx são os seres humanos, interagindo para satisfazer suas
necessidades materiais, que acabam por condicionar todos os outros elementos desse
sistema. Para ele, “o estudo da sociedade tem seu fundamento na economia (vida
material do homem), que é o elemento que condiciona o desenvolvimento da vida social”
(SELL, 2009, p.50).
Na obra “Contribuição à crítica da economia política” (1859), Marx atribui a esse
elemento condicionante, a base material da sociedade, o nome de estrutura, mas que na
sociologia brasileira ficou mais conhecida por infraestrutura, que é composta
pelas forças produtivas e pelas relações de produção. Já os outros elementos desse
sistema, como o Estado, o direito, a política, a ideologia e demais formas sociais
determinadas de consciência, responsáveis por justificar e reproduzir a base material,
recebem o nome de superestrutura.

As forças produtivas são o conjunto formado pelos meios de produção (matéria-


prima, instrumentos, maquinário, fábricas, armazéns, transporte etc.) e a força de
trabalho (trabalhadores), ou seja, tudo aquilo que é utilizado pelos seres humanos no
processo de produção. No entanto, esse processo não se dá de forma isolada, pois os
indivíduos trabalham em conjunto, coletivamente, e desenvolvem relações que Marx
chama de relações de produção. Essas relações correspondem à divisão do trabalho feita
na produção e elas mudam necessariamente com a mudança e o aumento das forças de
produtivas. Unidas, forças produtivas e relações de produção formam um modo de
produção, a infraestrutura do sistema que, na época de Marx (e na nossa), trata-se
do modo de produção capitalista.

12
SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Enquanto analisava as relações de produção, Marx concluiu que estas acabam por
dividir a sociedade em classes sociais (embora ele não tenha sido o primeiro a afirmar
isso). As classes sociais aparecem quando um grupo de indivíduos assume o controle dos
meios de produção e se torna seu proprietário, segmentando a sociedade em dois
grupos principais: os proprietários dos meios de produção e os não proprietários, ou as
classes dominantes e as classes dominadas. É o surgimento da propriedade privada,
segundo Marx, que origina as classes e o processo de exploração sobre o outro.
Para garantir o controle dos meios de produção e, consequentemente, o controle
das demais classes, as classes dominantes precisam de instrumentos apropriados que
estão localizados na superestrutura do sistema. Marx vê no Estado uma dessas
ferramentas criadas pelas classes dominantes para suprir essa necessidade de dominar
as outras classes, já que as leis (direito)e decisões do Estado (política) beneficiam
diretamente os proprietários, em detrimento dos não proprietários. Em último recurso,
o Estado ainda possui o monopólio da força (polícia, forças armadas) para assegurar os
interesses dos proprietários caso esses corram risco.
A ideologia, ou a força das ideias, compõe o segundo instrumento para assegurar
a dominação. Marx defende que as ideias mais difundidas numa sociedade são as ideias
das classes dominantes, pois são elas que conseguem, através de todo o aparato que
possuem, transmitir suas “visões de mundo”, seus princípios e seus valores para as
outras classes. Sintetizando, a ideologia compõe um agrupamento de representações da
realidade que consolidam e reproduzem o poder dos proprietários.
Na segunda parte deste texto veremos os seguintes pontos: como Marx vê a
evolução da história humana a partir dos modos de produção do passado, até o modo de
produção capitalista; as teses da exploração (mais-valor/mais-valia)
e alienação (fetichismo da mercadoria); a teoria da crise do sistema capitalista; e por
último as suas teorias políticas sobre revolução e comunismo.

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Unidade 4
SOCIOLOGIA E
ANTROPOLOGIA
Unidade 4

E-Book
SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

SUMÁRIO

PARTE I - A .................................................................................................................. 3
Trabalho e modo de produção ................................................................................... 4
Modo de produção primitivo ................................................................................... 4
Modo de produção escravista ................................................................................ 5
Modo de produção asiático .................................................................................... 5
Modo de produção feudal ....................................................................................... 5
Modo de produção capitalista ................................................................................ 5
Modo de produção socialista .................................................................................. 6

PARTE II - A ................................................................................................................. 7
Neoliberalismo e globalização ................................................................................... 8
Neoliberalismo no Brasil ........................................................................................ 8
Neoliberalismo e Globalização ............................................................................... 9
Neoliberalismo e Educação .................................................................................... 9

PARTE I – B ................................................................................................................ 10
Poder e Estado ........................................................................................................ 11
Regime de Governo .............................................................................................. 14

PARTE II – B ................................................................................................................18
DESIGUALDADE SOCIAL ...........................................................................................19
Causas da desigualdade social ..............................................................................19
Referências ............................................................................................................ 21
SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

PARTE I - A

TRABALHO E MODO DE PRODUÇÃO

3
SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Trabalho e modo de produção

Quando vamos a um supermercado e compramos gêneros alimentícios, bebidas,


calçados, material de limpeza, etc., estamos adquirindo bens. Da mesma forma, quando
pagamos a passagem do ônibus ou uma consulta médica, estamos pagando um serviço.
Ao viverem em sociedade, as pessoas participam diretamente da produção,
da distribuição e do consumo de bens e serviços, ou seja, participam da vida econômica
da sociedade. Assim, o conjunto de indivíduos que participa da vida econômica de uma
nação é o conjunto de indivíduos que participa da produção, distribuição e consumo de
bens e serviços.
Exemplo: operários quando trabalham estão ajudando a produzir, quando, com o
salário que recebem, compram algo, estão participando da distribuição, pois estão
comprando bens e consumo. E quando consomem os bens e os serviços que adquiriram,
estão participando da atividade econômica de consumo de bens e serviços. O modo de
produção é a maneira pela qual a sociedade produz seus bens e serviços, como os utiliza
e os distribui. O modo de produção de uma sociedade é formado por suas forças
produtivas e pelas relações de produção existentes nessa sociedade.
Modo de produção = forças produtivas + relações de produção

Portanto, o conceito de modo de produção resume claramente o fato de as


relações de produção serem o centro organizador de todos os aspectos da sociedade.

Modo de produção primitivo

O modo de produção primitivo designa uma formação econômica e social que


abrange um período muito longo, desde o aparecimento da sociedade humana. A
comunidade primitiva existiu durante centenas de milhares de anos, enquanto o período
compreendido pelo escravismo, pelo feudalismo e pelo capitalismo mal ultrapassa cinco
milênios. Na comunidade primitiva os homens trabalhavam em conjunto. Os meios de
produção e os frutos do trabalho eram propriedade coletiva, ou seja, de todos. Não
existia ainda a ideia da propriedade privada dos meios de produção, nem havia a
oposição proprietários x não proprietários.
As relações de produção eram relações de amizade e ajuda entre todos; elas eram
baseadas na propriedade coletiva dos meios de produção, a terra em primeiro lugar.
Também não existia o estado. Este só passou a existir quando alguns homens
começaram a dominar outros. O estado surgiu como instrumento de organização social
e de dominação.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Modo de produção escravista


Na sociedade escravista os meios de produção (terras e instrumentos de
produção) e os escravos eram propriedade do senhor. O escravo era considerado um
instrumento, um objeto, assim como um animal ou uma ferramenta. Assim, no modo de
produção escravista, as relações de produção eram relações de domínio e de sujeição:
senhores x escravos. Um pequeno número de senhores explorava a massa de escravos,
que não tinham nenhum direito. Os senhores eram proprietários da força de trabalho (os
escravos), dos meios de produção (terras, gado, minas, instrumentos de produção) e do
produto de trabalho.

Modo de produção asiático


O modo de produção asiático predominou no Egito, na China, na Índia e também
na África do século passado. Tomando como exemplo o Egito, no tempo dos faraós,
vamos notar que a parte produtiva da sociedade era composta pelos escravos, que eram
forçados, e pelos camponeses, que também eram forçados a entregar ao Estado o que
produziam. A parcela maior prejudicando cada vez mais o meio de produção asiático. Os
fatores que determinaram o fim do modo de produção asiático são a propriedade de terra
pelos nobres, o alto custo de manutenção dos setores improdutivos e a rebelião dos
escravos.

Modo de produção feudal


A sociedade feudal era constituída pelos senhores x servos. Os servos não eram
escravos de seus senhores, pois não eram propriedade deles. Eles apenas os serviam em
troca de casa e comida. Trabalhavam um pouco para o seu senhor e outro pouco para
eles mesmos. Num determinado momento, as relações feudais começaram a dificultar
o desenvolvimento das forças produtivas. Como a exploração sobre os servos no campo
aumentava, o rendimento da agricultura era cada vez mais baixo. Na cidade, o
crescimento da produtividade dos artesãos era freado pelos regulamentos existentes e
o próprio crescimento das cidades era impedido pela ordem feudal. Já começava a
aparecer às relações capitalistas de produção.

Modo de produção capitalista


O que caracteriza o modo de produção capitalista são as relações assalariadas de
produção (trabalho assalariado). As relações de produção capitalistas baseiam-se na
propriedade privada dos meios de produção pela burguesia, que substituiu a propriedade
feudal, e no trabalho assalariado, que substituiu o trabalho servil do feudalismo. O
capitalismo é movido por lucros, portanto temos duas classes sociais: a burguesia e os
trabalhadores assalariados.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

O capitalismo compreende quatro etapas:


 Pré-capitalismo: o modo de produção feudal ainda predomina, mas já se
desenvolvem relações capitalistas.
 Capitalismo comercial: a maior parte dos lucros se concentra nas mãos
dos comerciantes, que constituem a camada hegemônica da sociedade; o
trabalho assalariado se torna mais comum.
 Capitalismo industrial: com a revolução industrial, o capital passa a ser
investido basicamente nas industrias, que se tornam à atividade
econômica mais importante; o trabalho assalariado se firma
definitivamente.
 Capitalismo financeiro: os bancos e outras instituições financeiras
passam a controlar as demais atividades econômicas, através de
financiamentos à agricultura, a indústria, à pecuária, e ao comércio.

Modo de produção socialista


A base econômica do socialismo é a propriedade social dos meios de produção,
isto é, os meios de produção são públicos ou coletivos, não existindo empresas privadas.
A finalidade da sociedade socialista é a satisfação completa das necessidades materiais
e culturais da população: emprego, habitação, educação, saúde. Nela não há separação
entre proprietário do capital (patrão) e proprietários da força do trabalho (empregados).
Isto não quer dizer que não haja diferenças sociais entre as pessoas, bem como salários
desiguais em função de o trabalho ser manual ou intelectual.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

PARTE II - A

NEOLIBERALISMO E GLOBALIZAÇÃO

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Neoliberalismo e globalização

Neoliberalismo é uma redefinição do liberalismo clássico, influenciado pelas


teorias econômicas neoclássicas e é entendido como um produto do liberalismo
econômico clássico. O neoliberalismo pode ser uma corrente de pensamento e uma
ideologia, ou seja, uma forma de ver e julgar o mundo social ou um movimento intelectual
organizado, que realiza reuniões, conferências e congressos. Esta teoria, que foi
baseada no liberalismo, nasceu nos Estados Unidos da América e teve como alguns dos
seus principais defensores Friedrich A. Hayeck e Milton Friedman.
Na política, neoliberalismo é um conjunto de ideias políticas e econômicas
capitalistas que defende a não participação do estado na economia, onde deve haver
total liberdade de comércio, para garantir o crescimento econômico e o
desenvolvimento social de um país. Os autores neoliberalistas afirmam que o estado é o
principal responsável por anomalias no funcionamento do mercado livre, porque o seu
grande tamanho e atividade constrangem os agentes econômicos privados.
O neoliberalismo defende a pouca intervenção do governo no mercado de
trabalho, a política de privatização de empresas estatais, a livre circulação de capitais
internacionais e ênfase na globalização, a abertura da economia para a entrada de
multinacionais, a adoção de medidas contra o protecionismo econômico, a diminuição
dos impostos e tributos excessivos etc. Esta teoria econômica propunha a utilização da
implementação de políticas de oferta para aumentar a produtividade. Também
indicavam uma forma essencial para melhorar a economia local e global era reduzir os
preços e os salários.

Neoliberalismo no Brasil
No Brasil, o Neoliberalismo começou a ser seguido de uma forma aberta nos dois
governos consecutivos do presidente Fernando Henrique Cardoso. Neste caso, seguir o
neoliberalismo foi sinônimo de privatização de várias empresas do Estado. O dinheiro
conseguido com essas privatizações foi na sua maioria utilizado para manter a cotação
do Real (uma nova moeda na altura) ao nível do dólar.
A estratégia de privatização encorajada por ideais neoliberais não foi seguida por
todos os países. Ao contrário do Brasil, a China e Índia (países que têm mostrado um
crescimento enorme nas últimas décadas) adotaram tais medidas de forma restrita e
gradativa. Nesses países, o investimento de grupos econômicos foi feito em parceria
com empresas nacionais.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Neoliberalismo e Globalização
Os conceitos de neoliberalismo e globalização estão ligados porque o
neoliberalismo surgiu graças à globalização, e mais concretamente à globalização da
economia. Depois da Segunda Guerra Mundial, o aumento do consumo e o avanço da
tecnologia da produção lideraram a sociedade para o consumismo. Essa sociedade
consumista fomentou a globalização da economia, para que os capitais, serviços e
produtos pudessem fluir para todo o mundo, um claro pensamento neoliberal.
Desta forma, o neoliberalismo abriu a liberdade econômica ordenada pelo
mercado, sendo que em algumas ocasiões o Estado tem que intervir em algumas
negociações para evitar desequilíbrio financeiro. Apesar disso, a doutrina neoliberal visa
que a economia e política atuem de forma independente uma da outra e, por isso, não
aprecia quando havia uma intervenção política na economia.

Neoliberalismo e Educação
O neoliberalismo vê a educação de forma específica, e estes são alguns itens
fulcrais na área da educação: qualidade total, modernização da escola, adequação do
ensino à competitividade do mercado internacional, nova vocacionalização,
incorporação das técnicas e linguagens da informática e da comunicação, abertura da
universidade aos financiamentos empresariais, pesquisas práticas, utilitárias,
produtividade.
É importante que de acordo com a vertente neoliberal, a educação não é incluída
no campo social e político, passando a ser integrada no mercado. Assim, alguns dos
problemas econômicos, sociais, culturais e políticos abordados pela educação são
muitas vezes transformados em problemas administrativos e técnicos. Uma escola
modelo deve conseguir competir no mercado. O aluno passa a ser um mero consumidor
do ensino, enquanto o professor fica conhecido como um funcionário treinado para
capacitar os seus alunos a se integrarem no mercado de trabalho.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

PARTE I – B

PODER E ESTADO

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Poder e Estado
Há algum tempo, fala-se sobre as várias turbulências que ocorrem principalmente
em países do Oriente. O poder de muitos de seus governantes ultrapassa e muito, o que
chamamos de Democracia. Este texto tem por objetivo estabelecer a relação que ocorre
entre Poder e Estado, para procurar entender tais conflitos. Quando se fala em Poder e
Estado, deve-se entender o que são e como atuam ambos os conceitos interligados, pois
é inconcebível falarmos sobre as relações de poder sem mencionarmos Estado. Na visão
de Thomas Morus, o Estado seria somente uma forma de alguns homens mostrarem seu
poder de dominação.
Mas, para entendermos o conceito atual de Estado, é preciso estabelecer suas
dimensões constitutivas básicas, mais especificamente, a dimensão formal ou
organizacional e a dimensão funcional. O poder centralizado do Estado nasceu na época
da queda do absolutismo. As duas instituições mais típicas dessa máquina
governamental são a burocracia e o exército permanente. Marx e Engels falam várias
vezes, em suas obras, das inúmeras ligações dessas instituições com a burguesia. A
experiência, com vigor e relevo surpreendentes, faz com que se compreenda tão
facilmente e assimile tão bem a ciência que proclama a inevitabilidade dos laços no
Estado.
Porém, devemos saber que o Estado é a organização especial de uma força, que
pode mudar de tempos em tempos. Nele, cada governo arquiteta suas leis de modo a
servir seus próprios interesses: uma democracia, fazendo leis democráticas; um
autocrata, leis despóticas, e assim por diante. Desta forma, tais governos declaram que
o que é de seu interesse é justamente do interesse de seus eleitores e, quem quer que
se afaste disso, é por eles castigado, sob acusação de ilegalidade e injustiça. A força
superior, segundo se presume, deve encontrar-se do lado do governo. De modo que a
conclusão a que se chega, através de um raciocínio lógico, é a de que a mesma coisa, isto
é, o interesse do mais forte é, em toda a parte, justa.
É “o mecanismo administrativo colocando acima dos homens, embora s cidadãos
possam, ainda que eles não o façam sempre, exercer sobre ele um controle periódico”
(Rosenfield). Sempre que esta opinião é geralmente aceita, os governantes deixam de
estarem sujeitos a restrições morais, pois o que fazem a fim de conservar o poder não é
considerado chocante, exceto por aqueles que sofrem diretamente as consequências de
seus atos. Os rebeldes, igualmente, só se contêm por temor do fracasso; se puderem ter
êxito através de meios implacáveis, não precisam temer que a sua implacabilidade os
tornasse impopulares.
O Estado, em si, como se conhece, não existiu sempre. Houve sociedades que
passaram sem ele e que não tinham a menor noção de Estado, nem de poder
governamental. A certo grau do desenvolvimento econômico, implicando
necessariamente na divisão da sociedade em classes, o Estado se tornou uma
necessidade, em consequência dessa divisão. Tal Instituição, como é constituída, deve
ser organizada de tal maneira, que todos os objetivos possam ser alcançados. Afinal “[...]

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

o Estado e seu agente, o governo, são o objeto principal da disputa de todas as


orientações políticas, de todos os partidos, incluindo as oposições e a situação, que tem
como papel principal manter-se onde está: no poder” (Maar).
A partir daqui será feita uma abordagem de modo a qualificar o Estado de modo
amplo e pertinente. Do ponto de vista organizacional, a concepção de Estado aparece
intrinsecamente associada à emergência do Estado-Nação: fenômeno que se manifesta
na Europa Ocidental e se dissemina gradativamente em escala mundial. O Estado, na
democracia clássica, supõe todos iguais perante a lei, razão por que deixa que os
indivíduos, por acordos expressos ou tácitos, disponham sobre os seus interesses.
Limita a sua intervenção a quanto baste para assegurar a liberdade jurídica. Em tal
estrutura e por força das relações entre os fatores da produção, certos homens dispõem
de larga margem de liberdade, cujo reverso é a limitação ou a coação, que se impõe à
maioria.
É preciso, no entanto, dissociarmos dentro do conceito Estado, a política e a
administração, “pois a política não é apenas tarefa de profissionais que se dedicam ao
serviço do Estado, mas ela ocorre na própria sociedade civil” (Rosenfield). Há desta
forma, políticos de carreira, em todo o Ocidente, criando, assim, dois corpos distintos
para que o Estado funcione: o corpo burocrático (juízes, policiais, soldados, fiscais) e o
corpo temporário (políticos que estão no cargo temporariamente, mas que possuem o
poder de criar as leis).
Assim, há que se entender que o Estado possui uma perspectiva funcional, pois
possui capacidade de atribuir e alocar valores e exercer controle social, ancorado no
recurso, direto ou indireto, à sanção coercitiva. É ele que nos remete, desta forma, à
noção de política pública, e aos desdobramentos da intervenção estatal para o conjunto
do grupo social. Desta forma, a distinção ou separação dos poderes é uma garantia
notável da moderação do poder e, consequentemente, da liberdade dos cidadãos. Assim,
“[...] quer-se ressaltar a existência, na origem do poder político, da necessidade de
assegurar proteção, de permitir o bom funcionamento e a regularidade do crescimento
social” (Mafessolli).
Efetivamente, se foi o Estado que institucionalizou as bases incorretas de uma
ordem econômica iníqua, a ele cabe modificá-las, até mesmo para criar condições de
segurança em proveito do exercício de uma liberdade eficaz e atualizada, que não se
coloque a serviço da sagacidade, para enganar os menos favorecidos.
Aqui surge o que se conhece como política pública: sistema de regras atribuindo
autoridade social à promoção de fins coletivos, com a instituição de agentes para a
intervenção e regulação coletiva. Tal enunciado se baseia nos processos decisórios e
nas funções que o Estado desempenha, ressaltando a relação estreita que se estabelece
entre governar e o aparelhamento estatal para o exercício da autoridade, no qual se
destacam questões relacionadas à capacidade de programar as decisões tomadas na
esfera pública e de garantir adesão a elas.
Vale ressaltar que o Estado não toma compromisso exclusivista com qualquer
ideia de direito, pois a vontade popular é instável, podendo variar a cada momento, para

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

poder indicar uma nova linha de ação governamental. Para manter um poder público
separado da sociedade e situado acima dela, são necessários os impostos e uma dívida
pública. Investidos do poder público e do direito de cobrança dos impostos, os
funcionários, considerados como órgãos da sociedade, são colocados acima da
sociedade.
Há que se observar a assimetria entre os grupos, envolvidos, interessados no
desenvolvimento econômico, em que ao Estado cabe considerar as necessidades
impostas pelo processo de acumulação capitalista, que atua no sentido de reduzir a
amplitude das opções políticas governamentais. Em termos mais específicos, o capital
privado cria certas exigências que caberão ao Estado fazê-las ativas.
É imprescindível salientar que o Estado, como concepção básica, visa,
primordialmente, a ação estatal, com a qual procura responder às preferências dos
cidadãos (perfeitos agentes do público), demonstrando serem instituições autônomas
em relação à sociedade (refletindo os valores e interesses dos administradores estatais).
Também, agindo segundo o interesse dos que possuem riqueza produtiva (são tão
constrangidos pela economia, que não podem empreender quaisquer ações contrárias a
tais interesses).
Desta forma, criam-se pontos de convergência determinados pelo bem comum,
que a todos atrairia, formando-se uma vontade comum. Mas, é preciso tomar cuidado,
pois não existe bem comum, inequivocamente determinado a um todo e, sim, há um bem
comum para diferentes indivíduos e grupos, criando uma vontade individual em uma
camuflada vontade geral. Assim, cria-se a liberdade de iniciativa – se não é essencial para
produzir lucro, que poderia ocorrer através de uma economia dirigida ou planificada, em
que o Estado, se interfere na iniciativa privada – cria, entretanto, condições necessárias
para que o lucro possa vir a aumentar o bem comum, mas de um grupo específico.
Por outro lado, a livre-empresa, as formas societárias, os monopólios, tudo deixa
o campo aberto para quem, já tendo melhores condições, não necessita senão de que o
Estado se mantenha neutro depois de haver estruturado e institucionalizado o sistema.
A neutralidade do governo é o suporte da liberdade de iniciativa e de desenvolvimento da
economia privada.
É interessante, desta forma, averiguarmos, dentro do processo histórico, como
muitos cidadãos (privado) tornam-se efetivos sobre assuntos pertinentes, fazendo valer
o micro poder. Assim, chega-se ao ponto de poder, que nasce no momento em que a
violência, muitas vezes, é usada para suplantar a vontade de um grupo. Então, será
preciso empregar o poder para que a vontade da maioria possa ser efetivada. No entanto,
é preciso estar atento e distinguir força de violência.
O que se quer fazer entender é que todo o povo, qualquer grupo, possui poder de
decisão, de persuasão, pois em diversas situações, para se ter ou manter o poder é
melhor que haja conflitos, mostrando que se consegue dominar a situação através de
vários mecanismos: medo, chantagem, expectativas, sonhos. E, como estes conflitos
são marcados, efetivamente, ao longo do processo histórico das sociedades, é preciso
entender que saber e poder se completam, nas práticas sociais.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Outro ponto que se percebe é que todo poder distribuído dentro da rede social
possui uma resistência também em rede. Afinal vivemos “democracias”, muitas delas – é
correto afirmar – demagogas; para tanto precisamos da ação e da reação. É preciso um
“Estado Forte” voltado para a Unidade Nacional, capaz de organizar o meio de forma a
solucionar problemas que emperram o desenvolvimento onde este mesmo Estado está
localizado. Dessa forma, percebe-se que os conceitos de Estado, Governo e Poder estão
permeados por interesses de grupos específicos, em que, frequentemente, ultrapassava
o bem comum, mas este mesmo pode ter sido usado como subterfúgio para disputas
políticas, de poder, particulares.
Neste ponto, precisamos parar e analisar um aspecto muito importante, que
influenciou, e muito, no processo como um todo: a economia. Que tipo de economia
existe nas regiões hoje em conflito? Quem são os grupos detentores do poder econômico
neste período e nesta região? Fazem-se necessários conflitos armados para amparar um
Governo Demagogo, ou há outras formas mais sutis de violência que permeiam os vários
Estados formados de fato?
Mas estas questões servem para outro texto e para que todos possam refletir um
pouco no que vemos por aí.

Regime de Governo
Democracia
Regime democrático pode ser entendido como aquele em que o poder é emanado
do povo, um regime que proporciona voz e ação à população através na criação de leis,
fiscalização (remédios constitucionais), escolha dos representantes, direta ou
indiretamente e etc.

Totalitarismo
É um sistema político caracterizado pelo domínio absoluto de uma pessoa ou
partido político sobre uma nação. Dentro do totalitarismo, a pessoa ou partido político
no poder controla todos os aspectos da vida pública e da vida privada por meio de um
governo abertamente autoritário. O totalitarismo também é marcado pela forte presença
de um militarismo na sociedade e é acompanhado por ações do regime com o objetivo de
promover sua ideologia por meio de um sistema de doutrinação da população. Os
regimes totalitários se utilizam do terror como arma política para conter e perseguir seus
opositores políticos, e a propaganda política é usada de maneira consistente para que a
população seja convencida das medidas extremas tomadas por esses regimes.
O totalitarismo foi um sistema político que esteve no auge durante as décadas
de 1920 e 1930. Seu surgimento aconteceu após a Primeira Guerra Mundial e é
considerado pelos historiadores como um reflexo causado por toda a destruição
causada por esse conflito. Assim, o autoritarismo começou a ganhar força como solução

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

política para as crises que o mundo enfrentava no pós-guerra, conseguindo adeptos


mundo afora.
A ascensão do autoritarismo marcou a queda dos valores do liberalismo, que são
definidos da pelo historiador Eric Hobsbawm como valores da desconfiança da ditadura
e do governo absoluto; o compromisso com um governo constitucional com ou sob
governos e assembleias representativas livremente eleitos, que garantissem o domínio
da lei; e um conjunto aceito de direitos e liberdades dos cidadãos, incluindo a liberdade
de expressão, publicação e reunião.
O termo “totalitarismo” surgiu durante a década de 1920 para se referir ao
fascismo italiano. Esse sistema político, inclusive, surgiu com o próprio fascismo italiano,
regime que alcançou o poder na Itália em 1922, quando Mussolini se tornou primeiro-
ministro do país. Ao longo da década de 1920, a tendência política mundial pendia para o
autoritarismo, e o totalitarismo ganhou considerável força após a ascensão
do nazismo ao poder na Alemanha.

 Características dos regimes totalitários

O consenso entre os historiadores determina que as características básicas do


totalitarismo se inspiram em três regimes: fascismo, nazismo e stalinismo. Existe um
intenso debate entre esses profissionais sobre se outros regimes, como o Khmer
Vermelho, no Camboja, e o atual regime norte-coreano, encaixam-se dentro do conceito
de totalitarismo. Apesar desse debate, neste texto levaremos em consideração apenas o
nazismo, o fascismo e o stalinismo.
As características básicas do totalitarismo são:

 Culto ao líder: os três regimes possuíam um forte culto ao líder, e sua


imagem era espalhada em todos os locais possíveis, como escolas, por
exemplo.
 Unipartidarismo: todos os totalitarismos suprimiam a existência dos
partidos, e somente o partido do governo tinha a permissão de funcionar.
 Doutrinação: a população dos regimes totalitários era alvo de intensa
doutrinação, que se iniciava com o ensino infantil. Essa doutrinação visava
propagar a ideologia do governo.
 Centralização do poder: o poder político no totalitarismo é centralizado no
líder e/ou no partido.
 Uso do terror: o terror era uma arma dos regimes totalitários para
amedrontar seus opositores e perseguir grupos enxergados como
“inimigos do Estado”.
 Censura: a censura era uma prática comum a jornais e à população em
geral. Regimes totalitários não aceitavam críticas, denúncias e não
aturavam a existência de uma oposição.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

 Militarização: exaltação do exército e militarização da sociedade.


 Criação de inimigos internos e/ou externos: esse mecanismo era utilizado
como distração ou justificativa para explicar as ações e o autoritarismo do
regime.
 Nacionalismo exacerbado: o nacionalismo no totalitarismo assumia um viés
extremista que pregava a exclusão e perseguição de outros povos ou
etnias.

Ditadura Militar na América Latina


As ditaduras na América Latina se estabeleceram no período em que a ordem
internacional sofria pelos enfrentamentos da Guerra Fria. Na época, os Estados
Unidos desenvolveram uma série de mecanismos de combate ao expansionismo
comunista. Já nos anos 1950, fora estabelecida pelas autoridades do país a Doutrina de
Segurança Nacional, cujas diretrizes procuravam combater o “perigo vermelho” dentro e
fora do território norte-americano.
Neste contexto e, notadamente, a partir da Revolução Cubana e da ascensão do
governo comunista de Fidel Castro, os EUA viriam a intensificar a vigilância sobre a
América Latina. Tal preocupação originou, por exemplo, a Aliança para o Progresso,
programa instituído por Washington conjuntamente a diversas lideranças latino-
americanas, através do qual se buscava melhorar os índices socioeconômicos da região
e, concomitantemente, frear o crescimento das alternativas socialistas.
No entanto, a despeito de tais esforços, grupos de esquerda e simpatizantes da
causa comunista floresceram em diversas nações do continente. Frente a isso, e não
raramente com auxílio estadunidense, forças conservadoras se mobilizaram nessas
regiões e, atendendo a demanda de diversos setores da sociedade civil, apoiaram a
instituição de governos militares. Através de golpes de Estado sucessivos, a América
Latina assistiu nos anos 60 e 70 a ascensão de inúmeras ditaduras militares.
Se por um lado são evidentes as relações entre tais golpes militares e os
interesses do capitalismo norte-americano, por outro, é igualmente inegável o apoio
despejado por boa parte da população latino-americana à chegada ao poder desses
governos. Acreditava-se que somente através de administrações fortes, comandadas
pelo ímpeto dos militares, estaria garantida a urgente defesa contra a ameaça
comunista.
Neste sentido, podemos verificar um espantoso número de movimentos civis que
se proliferaram em favor das intervenções militares em boa parte do continente. Muitos
desses foram arquitetados por setores da classe média, do empresariado nacional, das
oligarquias locais e até mesmo da Igreja Católica, temerosos que o exemplo de Cuba
viesse a se espalhar por nações vizinhas.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

 Operação Condor e repressão

Os governos militares latino-americanos mantinham entre si uma poderosa rede


de comunicação, de modo que os contatos eram tecidos com o objetivo de expurgar todo
tipo de oposição. É justamente nesses termos que podemos localizar a criação da
Operação Condor, uma aliança instituída por tais regimes com a intenção de perseguir
esquerdistas, antipatriotas e subversivos nos países do Cone Sul, independente da
nacionalidade do “criminoso”. Contra esses “inimigos da ordem”, as ditaduras se
utilizavam de tantos outros expedientes. A repressão fora instituída nas suas mais
diversas facetas, sendo a censura aos meios de imprensa oficializada e a tortura
legitimada juridicamente. Exílios, prisões e desaparecimentos de perseguidos políticos
também se fizeram cotidianos em países como Chile, Uruguai, Argentina, Bolívia e Brasil.

 Crescimento e crise

A grande popularidade obtida por alguns desses governos esteve relacionada ao


relativo crescimento econômico que alcançaram em determinados períodos. Vinculadas
ao grande capital internacional, destacadamente às diretrizes norte-americanas, as
ditaduras latino-americanas obtiveram os investimentos necessários ao fortalecimento
de suas economias. Assim, a pujança financeira parecia legitimar os autoritarismos
estatais. No entanto, a inserção desses países na ordem neoliberal não garantiu
necessariamente a melhoria dos índices sociais, notadamente daqueles referentes aos
grupos menos abastados. Ao contrário, o Estado cada vez mais se distanciou da tarefa
de garantir os mínimos parâmetros sociais, subjugando as parcelas mais humildes
desses países.
Em fins dos anos 70, com a inflamação dos movimentos de oposição, essas
ditaduras começaram a dar os primeiros sinais mais evidentes de fragilidade.
Internacionalmente, havia igualmente um cenário favorável à redemocratização das
instituições políticas. Nos EUA, com a derrota do país na Guerra do Vietnã e ascensão do
governo Jimmy Carter, cresceu a pressão por um posicionamento mais claramente
contrário às experiências autoritárias na América Latina. A própria Igreja Católica, em
muitos casos entusiasta dos golpes militares, passara a criticar de modo mais veemente
os abusos cometidos por tais governos.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

PARTE II – B

DESIGUALDADE SOCIAL

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

DESIGUALDADE SOCIAL

Desigualdade social é um conceito que afeta principalmente os países não


desenvolvidos e subdesenvolvidos, onde não há um equilíbrio no padrão de vida dos
seus habitantes, seja no âmbito econômico, escolar, profissional, de gênero, entre
outros. O fenômeno da desigualdade social é marcado principalmente pela desigualdade
econômica, ou seja, quando a renda é distribuída heterogeneamente na sociedade;
sendo uns detentores de muitos bens, enquanto outros vivem na extrema miséria.
Configura-se pela falta de educação básica de qualidade, poucas oportunidades de
emprego, ausência de estímulos para o consumo de bens culturais, como ir ao cinema,
teatro e museus; entre outras características.

Causas da desigualdade social


Entre os fatores que proporcionam a desigualdade social estão a má distribuição
de renda, a concentração de riqueza e a falta de investimentos em políticas sociais. A
má distribuição de renda é a desigualdade entre ricos e pobres, ocorre quando a maior
parte da população vive com pouca renda e poucas pessoas concentram grandes
fortunas (concentração de riqueza). Já a falta de investimentos em políticas sociais
acontece quando os governos não fazem investimentos suficientes para atender às
necessidades da população. Quando o investimento social é pouco, os serviços
oferecidos à população são insuficientes ou de baixa qualidade.

Crescimento da desigualdade social


Alguns estudiosos dizem que o crescimento da desigualdade social começou com
o surgimento do capitalismo, com a acumulação de capital (dinheiro) e de propriedades
privadas. O poder econômico ficou concentrado nas mãos dos mais ricos, enquanto as
famílias mais pobres ficaram "à margem" ("marginalizadas") na sociedade. Hoje em dia o
crescimento econômico insuficiente de um país também é apontado como uma das
causas do crescimento da desigualdade social.

Consequências da desigualdade social


A desigualdade social é uma porta para outros tipos de desigualdades, como
a desigualdade de gênero, desigualdade racial, desigualdade regional, entre outras.
Como consequência da desigualdade social, surgem vários problemas sociais que
afetam a sociedade:
 Favelas (favelização),
 Fome e miséria,

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

 Mortalidade infantil,
 Desemprego,
 Baixa qualidade de ensino público,
 Aumento da criminalidade,
 Surgimento de diferentes classes sociais,
 Atraso no desenvolvimento da economia no país,
 Dificuldade de acesso aos serviços básicos, como saúde, transporte
público e saneamento básico,
 Diminuição do acesso a atividades culturais e de lazer.

Desigualdade Social no Brasil


No Brasil, a desigualdade social é marcante e afeta a maioria dos brasileiros, o que
se confirma pelos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). De
2016 a 2017 o índice de pobreza extrema no país cresceu pouco mais de 11%. Já em
comparação com outros países o Brasil está em décimo lugar ranking da desigualdade
social mundial, documento organizado pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Causas da desigualdade social no Brasil


Além da má distribuição de renda e da concentração de riqueza, também são
causas para a desigualdade social no Brasil: falta de acesso à educação de qualidade, os
baixos salários, a política fiscal injusta e a dificuldade de acesso aos serviços básicos
(saúde, transporte público e saneamento básico, por exemplo).

Consequências da desigualdade social no Brasil


A desigualdade social é causadora do surgimento e crescimento de diversos
problemas, sendo os principais:
 Aumento dos níveis de desemprego,
 Crescimento da fome,
 Evasão escolar,
 Dificuldade de acesso a serviços como atendimento de saúde de
qualidade, educação e moradia,
 Aumento da mortalidade infantil,
 Pouco crescimento econômico,
 Elevação das taxas de criminalidade.

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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

Referências
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2000.

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INGOLD, Tim. Antropologia não é Etnografia. In: Ingold, Tim. Estar Vivo - ensaios sobre
movimento, conhecimento e descrição. Petrópolis: Ed. Vozes, 2015.

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Unidade 4

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