Perguntas Sobre Dízimos
Perguntas Sobre Dízimos
Perguntas Sobre Dízimos
2008
3
O autor
Dedicatória
Este é o primeiro volume de uma série intitulada “Perguntas e Respostas - uma abordagem
bíblica e nos livros de Ellen White”. O segundo volume, sobre o entretenimento - cinema, televisão,
teatro e filmes – encontra-se também pronto e em breve estará publicado, com a graça de Deus.
Esta iniciativa surgiu a partir de muitas perguntas, recebidas pessoalmente e através de
mensagens via internet, sobre o tema deste trabalho e outros assuntos que despertam o interesse de
membros e oficiais da igreja. Questões dentro da temática deste primeiro volume já haviam sido
respondidas através de dois artigos por mim publicados em Revistas Teológicas do Seminário
Adventista Latino-americano de Teologia (SALT) do IAENE. Os artigos foram “Origem e
propósito do dízimo” e “A casa do tesouro” que se encontram aqui adaptados e ampliados,
juntamente com outras perguntas surgidas posteriormente.
O leitor perceberá que alguns aspectos tratados numa parte do trabalho são retomados em
outras questões. No entanto, devido ao estilo em perguntas e respostas, pareceu melhor repetir
algum conteúdo do que excluir uma pergunta que pareceu importante. Por outro lado, ao utilizar o
mesmo argumento para mais de uma questão, intencionamos ainda estar oferecendo uma resposta
específica com um novo enfoque, de acordo com a pergunta proposta.
Evidentemente, este trabalho não pretendeu esgotar o assunto e, sendo assim, algumas
perguntas e respostas ficaram de fora deste volume, mas permanece a possibilidade de serem
adicionadas, juntamente com correções e melhoramentos numa edição posterior.
A iniciativa deste trabalho baseia-se na convicção de que há muitas nobres causas neste
mundo, mas se há uma que sobrepuja a todas as outras é o privilégio de investir a vida e os recursos
na obra da igreja de Cristo. O Criador é o dono de tudo o que existe, inclusive de nossas vidas.
Reconhecer que toda oferta que damos vem de Sua própria mão ensina ao crente que a benção
prometida ao dizimista, e fiel ofertante, na verdade já foi concedida antes mesmo de se fazer
doações. A benção vem antes para que, depois, tenhamos o que dar e devolver ao Senhor. Sob a
influência do Espírito Santo o crente vivencia o amor e a alegria de administrar Suas dádivas de
acordo com Suas orientações.
Através das perguntas e respostas deste livro todos os filhos de Deus são convidados a
retornar ao modelo bíblico de liberalidade e administração dos recursos sagrados. Seja por parte de
nossas instituições ou individualmente, mediante a instrução pastoral e oração, ainda se faz
necessário em nossos dias um reavivamento nesta questão, como o foi algumas vezes no passado.
Num mundo onde a corrida pelo dinheiro tomou o lugar do amor a Deus, e à sua obra no
coração de muitos professos cristãos, certamente o exemplo dos israelitas fiéis do passado, às
determinações divinas, continua sendo um exemplo para se evitar considerar comum o recurso que
Deus disse ser sagrado. Por outro lado, as lições de liberalidade nos dízimos e nas ofertas que nos
legaram são dignas de serem imitadas hoje pelos verdadeiros adoradores que amam mais a Deus do
que a Mamom 1 e querem preparar o mundo para a breve volta do seu Senhor.
1
Mamon - palavra de origem aramaica utilizada para personificar a riqueza em oposição a Deus. Theological
Dictionary of the New Testament. Vol. 4, p. 388, 552. In: BUSHELL, M. S. Bible Works for Windows, 1996.
.
3
1 Quantas passagens bíblicas falam sobre dízimo e quantas vezes a palavra aparece nas
Escrituras?
2 O que significa a palavra dízimo? A palavra pode referir-se a uma doação qualquer sem se
referir a um percentual fixo?
3 Como se iniciou a compreensão bíblica sobre o dízimo na Igreja Adventista do Sétimo Dia?
4 Pregar sobre o dízimo não seria ruim para a espiritualidade da igreja?
5 O dízimo, como toda lei mosaica, não teria caducado quando Jesus morreu na cruz?
6 Poderia o dízimo ser usado para reformar e construir igrejas? A Bíblia não deixa livre para
o adorador aplicar o dízimo?
7 Em síntese, como era a doutrina e a prática do dízimo e das ofertas em Israel antigo?
8 Talvez os judeus da época do AT tivessem pouco para dar e dessem menos dízimo do que
nós e por isso eram fiéis. Não é mais fácil ser fiel quando se tem pouco?
9 Porque o Novo Testamento fala tão pouco sobre o dízimo? Não seria isso indicação de que a
doutrina era somente para o Antigo Testamento?
10 Em que sentido o exemplo de Melquizedeque recebendo o dízimo confirma a sua validade?
11 Há alguma evidência de que Jesus era dizimista ou apoiava esta prática?
12 O apóstolo Paulo não apoiava sua doutrina de manutenção do ministério em outro sistema
fora do dízimo?
13 Ellen White também menciona que Paulo se refere ao dízimo quando apela para o
pagamento dos ministros no Novo Testamento em 1 Coríntios?
14 No livro de Deuteronômio parece que o dízimo era usado pelo adorador. Trata-se do
mesmo ou de outro dízimo?
15 Onde se encontram as passagens que tratam dos diferentes dízimos e o que dizem?
16 Que outros estudiosos apresentam a interpretação de que há dois dízimos na Bíblia?
17 Ellen White fala alguma coisa sobre esse segundo dízimo?
18 Há comentaristas que discordam dessa interpretação do segundo dízimo? E o que dizem os
judeus ao interpretarem essa passagem?
19 Como poderiam ser sintetizadas as diferenças entre os dízimos na Bíblia?
20 O que Ellen White fala sobre a utilização do dízimo por pastores e membros?
21 Ellen White não falou sobre uma exceção para usar o dízimo para construir igreja?
22 Malaquias não ensina que o dízimo deve ser empregado para a manutenção da casa do
Senhor, podendo assim ser usado para as despesas das igrejas locais onde está a “casa do
tesouro”?
23 Os sacerdotes não recebiam o dízimo em suas cidades, pagos diretamente pelos crentes
locais?
24 Há alguma citação do Espírito de Profecia sobre a passagem de Malaquias esclarecendo
onde é e quem deve administrar a “casa do tesouro”?
25 Biblicamente, é o dízimo o plano para a manutenção dos ministros no NT?
4
26 Houve tempo, na história da igreja, em que o dízimo não era usado ou não se tinha
orientação suficiente sobre o seu uso adequado?
27 Mas, se todos os crentes são sacerdotes (1 Pedro 2:5) isso não significa que os irmão da
igreja podem usar o dízimo, quer dizer, o dízimo não é mais exclusivo para os ministros?
28 Ellen White fez uso irregular do dízimo? Não há uma carta a um pastor orientando usar o
dízimo de maneira diferente da que a igreja orienta?
29 Além da Bíblia, e das passagens já apresentadas, há alguma passagem do Espírito de
Profecia que normatize a questão do dízimo?
30 O dízimo não deveria ser usado no distrito que mais contribui em vez de ser enviado e
administrado uniformemente pela associação?
31 Apesar de ser uma mensagem bíblica, não seria melhor evitar pregar e ensinar sobre o
assunto para não despertar oposição?
32 Pode-se basear a doutrina do dízimo no texto de Números 18:21, 22 para a igreja hoje?
33 Às vezes o pastor parece ficar pouco na igreja local dividindo seu tempo entre várias
igrejas. Deveria receber do dízimo, visto o trabalho local ser desempenhado por membros
voluntários?
34 Como era o ministério dos levitas e quanto tempo trabalhavam?
35 De acordo com 1 Coríntios 9:14 “os que anunciam o evangelho que vivam do evangelho”
não é uma referência aos membros da igreja que trabalham como voluntários anunciando o
evangelho nas congregações?
36 Como entender a declaração de Ellen White de que não se deve usar o dízimo para os
pobres se Deuteronômio ensina o contrário (Dt 12, 14, 26)?
37 Por que o dízimo não é mencionado no NT para pagar pastores?
38 A declaração de Êxodo 23:15, “ninguém apareça perante mim de mãos vazias” não está
também em contexto cerimonial? Não é incorreto usá-la na igreja uma vez que a lei
cerimonial foi abolida?
39 Não é um erro Ellen White usar o termo “sacrifício pelo pecado” para se referir às ofertas
e dízimos uma vez que as leis cerimoniais cessaram com Jesus?
40 Alguém disse que Miquéias 7:5 ensina que não se deve apoiar pastores e igrejas
organizadas inclusive a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Estaria isso certo?
41 Deveríamos contribuir financeiramente com uma organização na qual os pastores podem
estar cometendo erros?
42 Por que Jesus não mandou os discípulos recolherem dízimos quando saíram a pregar? Por
que os orientou a não levarem ouro e nem alforje (Mt 10:9, 10)?
43 Em situação de crise e pobreza, ou se o coração da pessoa acha que não tem nada demais,
estaria correto devolver somente uma parte do dízimo?
44 Gostaria de ficar rico e por isso tenho dado o dízimo. Todo mundo que dá o dízimo fica
rico?
45 A Bíblia fala alguma coisa sobre devolver o dízimo e ofertas retidas?
46 O que a Bíblia ensina sobre as ofertas e o que isso significa para nós hoje?
Considerações finais
5
1 Quantas passagens bíblicas falam sobre dízimo e quantas vezes a palavra aparece nas
Escrituras? 2
1. Gênesis:
A palavra dízimo aparece na benção de Melquizedeque a Abrão séculos antes de se formar a
nação israelita, bem antes de existir a lei cerimonial levítica:
“e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos. E de
tudo lhe deu Abrão o dízimo” (Gn. 14:20).
Também é mencionada no voto de Jacó, de ser fiel às bênçãos que esperava receber do
Senhor. Esta referência à palavra também é anterior ao surgimento do sistema cerimonial
levítico, que somente existirá depois do cativeiro no Egito, durante o Êxodo dos israelitas:
“e a pedra, que erigi por coluna, será a Casa de Deus; e, de tudo quanto me concederes,
certamente eu te darei o dízimo” (Gn. 28:22).
2. Levítico:
Esta é a primeira citação da palavra dízimo já dentro do sistema cerimonial levítico, após a
saída do cativeiro Egípcio. Nesta passagem, o princípio é reafirmado de que, apesar de ser
direcionado para manter os sacerdotes, em última instância, o dízimo pertence ao Senhor:
Também todas as dízimas da terra, tanto dos cereais do campo como dos frutos das
árvores, são do SENHOR; santas são ao SENHOR. Se alguém, das suas dízimas, quiser
resgatar alguma coisa, acrescentará a sua quinta parte sobre ela. No tocante às dízimas
do gado e do rebanho, de tudo o que passar debaixo do bordão do pastor, o dízimo será
santo ao SENHOR (Lv 27:30-32).
3. Números:
Nesta passagem encontramos a declaração de que o Senhor deu aos sacerdotes levitas os
dízimos que Lhe pertencem, porque estes não receberam outra herança para sobreviver:
Aos filhos de Levi dei todos os dízimos em Israel por herança, pelo serviço que
prestam, serviço da tenda da congregação.
E nunca mais os filhos de Israel se chegarão à tenda da congregação, para que não
levem sobre si o pecado e morram.
Mas os levitas farão o serviço da tenda da congregação e responderão por suas faltas;
estatuto perpétuo é este para todas as vossas gerações. E não terão eles nenhuma
herança no meio dos filhos de Israel.
2
Todas as citações bíblicas nesta obra são da Bíblia Sagrada traduzida em português por João Ferreira de Almeida.
Edição Revista e Atualizada no Brasil. SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1997.
3
RONCAROLO, R. Perguntas sobre o dízimo. Brasília: DF. Divisão Sul Americana da IASD, 1984, p. 16. De acordo
com o Interlinear Greek New Testament, edição de 1998 (Bíblia Online, Sociedade Bíblica do Brasil, 1999) Hebreus
7:9 traz a menção grega ao dízimo duas vezes, conforme está traduzido na Almeida Revista e Corrigida, 1998: “[...] até
Levi que recebe dízimos, pagou dízimos [...]”. Na Almeida Revista e Atualizada, 1993, a palavra dízimo aparece
somente uma vez no verso: “[...] também Levi, que recebe dízimos, pagou-os [...]”. Dependendo da tradução o leitor
poderá contar nove em vez de dez ocorrências da palavra no NT.
6
Porque os dízimos dos filhos de Israel, que apresentam ao SENHOR em oferta, dei-os
por herança aos levitas; porquanto eu lhes disse: No meio dos filhos de Israel, nenhuma
herança tereis.
Disse o SENHOR a Moisés:
Também falarás aos levitas e lhes dirás: Quando receberdes os dízimos da parte dos
filhos de Israel, que vos dei por vossa herança, deles apresentareis uma oferta ao
SENHOR: o dízimo dos dízimos.
Atribuir-se-vos-á a vossa oferta como se fosse cereal da eira e plenitude do lagar.
Assim, também apresentareis ao SENHOR uma oferta de todos os vossos dízimos que
receberdes dos filhos de Israel e deles dareis a oferta do SENHOR a Arão, o sacerdote.
De todas as vossas dádivas apresentareis toda oferta do SENHOR: do melhor delas, a
parte que lhe é sagrada.
Portanto, lhes dirás: Quando oferecerdes o melhor que há nos dízimos, o restante destes,
como se fosse produto da eira e produto do lagar, se contará aos levitas
(Nm 18:21-30).
4. Deuteronômio:
Nestas passagens aparece a primeira orientação sobre o segundo dízimo que difere do
primeiro dízimo pelas suas características, origem e utilização:
Na segunda orientação sobre o segundo dízimo é informado que o adorador poderia vendê-
lo, quando em produtos e animais, e levar o dinheiro consigo para adquirir alimentos que seriam
consumidos juntamente com seus convidados. Este dízimo não era entregue aos sacerdotes no
Templo, como se deveria fazer com aquele destinado aos levitas:
Certamente, darás os dízimos de todo o fruto das tuas sementes, que ano após ano se
recolher do campo.
E, perante o SENHOR, teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu
nome, comerás os dízimos do teu cereal, do teu vinho, do teu azeite e os primogênitos
das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer o SENHOR, teu Deus,
todos os dias.
Quando o caminho te for comprido demais, que os não possas levar, por estar longe de
ti o lugar que o SENHOR, teu Deus, escolher para ali pôr o seu nome, quando o
7
SENHOR, teu Deus, te tiver abençoado, então, vende-os, e leva o dinheiro na tua mão, e
vai ao lugar que o SENHOR, teu Deus, escolher.
Esse dinheiro, dá-lo-ás por tudo o que deseja a tua alma, por vacas, ou ovelhas, ou
vinho, ou bebida forte, ou qualquer coisa que te pedir a tua alma; come-o ali perante o
SENHOR, teu Deus, e te alegrarás, tu e a tua casa; porém não desampararás o levita que
está dentro da tua cidade, pois não tem parte nem herança contigo.
Ao fim de cada três anos, tirarás todos os dízimos do fruto do terceiro ano e os
recolherás na tua cidade.
Então, virão o levita (pois não tem parte nem herança contigo), o estrangeiro, o órfão e a
viúva que estão dentro da tua cidade, e comerão, e se fartarão, para que o SENHOR, teu
Deus, te abençoe em todas as obras que as tuas mãos fizerem (Dt 14:22-28).
Quando acabares de separar todos os dízimos da tua messe no ano terceiro, que é o dos
dízimos, então, os darás ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que comam
dentro das tuas cidades e se fartem.
Dirás perante o SENHOR, teu Deus: Tirei de minha casa o que é consagrado e dei
também ao levita, e ao estrangeiro, e ao órfão, e à viúva, segundo todos os teus
mandamentos que me tens ordenado; nada transgredi dos teus mandamentos, nem deles
me esqueci.
Dos dízimos não comi no meu luto e deles nada tirei estando imundo, nem deles dei
para a casa de algum morto; obedeci à voz do SENHOR, meu Deus; segundo tudo o que
me ordenaste, tenho feito (Dt 26:12-15).
5. 1 Samuel:
Quando se estabeleceu a monarquia houve a previsão dos impostos a serem cobrados:
As vossas sementeiras e as vossas vinhas dizimará, para dar aos seus oficiais e aos seus
servidores.
Também tomará os vossos servos, e as vossas servas, e os vossos melhores jovens, e os
vossos jumentos e os empregará no seu trabalho.
Dizimará o vosso rebanho, e vós lhe sereis por servos (1 Sm 8:15-1)
6. 2 Crônicas:
Na reforma religiosa de Ezequias é dito que o dízimo destinado aos levitas (o primeiro
dízimo) era recolhido em depósitos do Templo. Neste caso, percebe-se a diferença entre o
primeiro dízimo que era entregue no Templo e o segundo que era consumido pelo adorador,
conforme as passagens anteriores. As ofertas também eram depositadas no templo, o
adorador não fazia uso pessoal e nem determinava a sua destinação em projetos particulares,
mesmo religiosos:
Então, o sumo sacerdote Azarias, da casa de Zadoque, lhe respondeu: Desde que se
começou a trazer à Casa do SENHOR estas ofertas, temos comido e nos temos fartado
delas, e ainda há sobra em abundância; porque o SENHOR abençoou ao seu povo, e
esta grande quantidade é o que sobra.
Então, ordenou Ezequias que se preparassem depósitos na Casa do SENHOR.
Uma vez preparados, recolheram neles fielmente as ofertas, os dízimos e as coisas
consagradas; disto era intendente Conanias, o levita, e Simei, seu irmão, era o segundo.
(2 Cr 31:5-12)
7. Neemias:
Quando Neemias retornou de Babilônia com os cativos ele restaurou o sacerdócio e os
sistema de dízimos e ofertas. Nesta reforma espiritual, Neemias apela e determina que os
dízimos e as ofertas sejam entregues e depositados no Templo:
e fizera para este uma câmara grande, onde dantes se depositavam as ofertas de
manjares, o incenso, os utensílios e os dízimos dos cereais, do vinho e do azeite, que se
ordenaram para os levitas, cantores e porteiros, como também contribuições para os
sacerdotes.
Então, ordenei que se purificassem as câmaras e tornei a trazer para ali os utensílios da
Casa de Deus, com as ofertas de manjares e o incenso.
Também soube que os quinhões dos levitas não se lhes davam, de maneira que os
levitas e os cantores, que faziam o serviço, tinham fugido cada um para o seu campo.
Então, contendi com os magistrados e disse: Por que se desamparou a Casa de Deus?
Ajuntei os levitas e os cantores e os restituí a seus postos.
Então, todo o Judá trouxe os dízimos dos cereais, do vinho e do azeite aos depósitos.
(Ne 13:5-12)
8. Amós:
Este profeta aparece advertindo contra a falsa experiência religiosa entre os israelitas.
Dízimo e ofertas não devem substituir uma vida santificada:
9. Malaquias:
Este profeta chama o povo à reconsagração, evidenciada, entre outras coisas, pela fiel
devolução dos dízimos e ofertas:
Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos
dízimos e nas ofertas.
Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda.
9
Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha casa; e
provai-me nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e
não derramar sobre vós bênção sem medida (Ml 3:8-1).
10. Mateus:
Jesus aprovando a prática dizimista sincera. Nesta passagem o Senhor adverte para o
erro de pensar que os dízimos e ofertas substituem a espiritualidade. Ele ensina que a
prática dizimista deve vir juntamente com a espiritualidade:
11. Lucas:
Repetindo a mensagem de Jesus no evangelho de Mateus:
jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho (Lc 18:12).
12. Hebreus:
Nos textos seguintes encontra-se o relato de Melquizedeque, já citado em Gênesis 14:20,
que mesmo não sendo levita recebeu dízimo de Abraão. Aqui são enfatizados dois aspectos:
(1) que o dízimo é anterior ao sistema levítico de Israel antigo e (2) pertenceria ao
sacerdócio que Deus escolhesse para recebê-lo, neste caso o sacerdócio pré-levítico de
Melquisedeque, tipo do Cristo que viria:
para o qual também Abraão separou o dízimo de tudo (primeiramente se interpreta rei
de justiça, depois também é rei de Salém, ou seja, rei de paz;
sem pai, sem mãe, sem genealogia; que não teve princípio de dias, nem fim de
existência, entretanto, feito semelhante ao Filho de Deus), permanece sacerdote
perpetuamente.
Considerai, pois, como era grande esse a quem Abraão, o patriarca, pagou o dízimo
tirado dos melhores despojos.
Ora, os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm mandamento de recolher,
de acordo com a lei, os dízimos do povo, ou seja, dos seus irmãos, embora tenham estes
descendido de Abraão; entretanto, aquele cuja genealogia não se inclui entre eles
recebeu dízimos de Abraão e abençoou o que tinha as promessas.
Evidentemente, é fora de qualquer dúvida que o inferior é abençoado pelo superior.
Aliás, aqui são homens mortais os que recebem dízimos, porém ali, aquele de quem se
testifica que vive.
E, por assim dizer, também Levi, que recebe dízimos, pagou-os na pessoa de Abraão.
(Hb 7:2-9).
2 O que significa a palavra dízimo? A palavra pode referir-se a uma doação qualquer sem se
referir a um percentual fixo?
10
A palavra dízimo literalmente significa dez por cento das rendas de alguém tanto no Antigo
quanto no Novo Testamento. 4 De acordo com Russel Champlim 5 a palavra dízimo significa a
décima parte de alguma coisa. Em outros dicionários e enciclopédias especializadas da Bíblia o
conceito, em geral, é a “décima parte de uma produção ou propriedade para a manutenção do
sacerdócio ou outros objetivos religiosos” 6 ou “o ato religioso de dar um décimo para manutenção
de um propósito religioso”. 7
Por outro lado, conceitos diferentes sobre o sistema do dízimo, sua origem, aplicação,
administração e validade são diferentes em algumas denominações. O conceito evangélico em geral
entende tratar-se de dez por cento das rendas, mas parece não restringir seu uso ao pagamento de
pastores. As testemunhas de Jeová não o praticam. O conceito católico apresenta o dízimo como um
percentual escolhido facultativamente pelo doador, acerca do qual a igreja faz apenas uma proposta
sugestiva de 1% (um por cento) das rendas do fiel, podendo ser mais que isso, menos, ou nada, em
casos extremos de pobreza. O curioso é que juntamente a esse conceito é admitido que o sentido da
palavra dízimo é “a décima parte de alguma coisa”. 8
Por outro lado, a idéia expressa por Ellen White mostra a importância do dízimo como fundo
sagrado não facultativo: “Se os meios entrassem no tesouro exatamente de acordo com o plano de
Deus - um décimo de toda renda - haveria abundância para levar avante a Sua obra”. 9
Concordando com o sentido literal de dez por cento para a palavra dízimo a Enciclopédia
Judaica declara que a palavra dízimo significa “a décima parte” das rendas do adorador. 10
3 Como se iniciou a compreensão bíblica sobre o dízimo na Igreja Adventista do Sétimo Dia?
A sugestão para doações proporcionais e sistemáticas ocorreu numa classe de estudos
bíblicos dirigida pelo pastor J. N. Andrews em 1858, na qual o grupo reunido sugeriu o que ficou
conhecido como o plano de Benevolência Sistemática.
Como resultado desse estudo da Bíblia o plano foi adotado na igreja de Battle Creek em
1859, com base no argumento de que o ministério deveria ser mantido de acordo com as orientações
da Bíblia, com doações sistemáticas e proporcionais, dentro do princípio do dízimo. 11 Tal plano,
tendo sido aceito pela igreja desde o início e após haver passado por algumas modificações e
arrazoados bíblicos, apareceu como sugestão na Review and Herald em 1863, para se adotar “um
décimo” como a minimum de contribuição.
Nas décadas de 1860 e 1870 a idéia de dez por cento sobre as entradas foi se fortalecendo
progressivamente. Em março de 1876 um voto na Associação Geral oficializou o dízimo como tal
(dez por cento das entradas do adorador), porém somente foi adotado amplamente a partir de
providências tomadas efetivamente em 1879. A partir de 1901, a sucessiva remessa de uma parte
dos dízimos desde o campo local até a Associação Geral foi adotada e é praticada até hoje. 12
Portanto, percebemos que da necessidade para manter o ministério os pioneiros foram
levados à Bíblia de onde, progressivamente, surgiu e se consolidou o ensino e a prática da entrega
do dízimo como feita até os nossos dias.
4
BUSHEL, M. S. Bible Works for Windows, 1996. Sobre o significado da palavra hebraica Maaser (dízimo) em
Malaquias 3:8-10 e da grega dekate e em Hebreus 7.
5
CHAMPLIM, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia (EBTF), vol. 2, p. 201-203
6
The Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible (ZPEB). Grand Rapids, MI: Zondervan Publishing House, 1976,
“Tithe”.
7
The Anchor Bible Dictionary (ABD). New York: Doubleday, 1992. “Tithe”.
8
RONCAROLO, R. Perguntas sobre o dízimo. Brasília: DF. Divisão Sul Americana da IASD, 1984, p. 21 e 22, no
qual cita a revista A Família Cristã, novembro, 1976, p. 47; PILOT, R.. A Pastoral do dízimo. SP: Edições Paulinas,
1982, p. 24-26.
9
WHITE, E. G. Evangelismo. SP: Casa Publicadora Brasileira, 1959, p. 252.
10
ROTH, C. Enciclopédia Judaica. RJ: Editora Tradição S/A, 1967. “Dízimo”
11
Seventh Day Adventist Bible Encyclopedia (SDABE). Washington, DC: Review and Herald Publishing Association,
1980. “Systematic Benevolence”.
12
Seventh-day Adventist Bible Dictionary (SDABD). Washington, DC: Review and Herald, 1960. “Tithe”.
11
Alguns deixam de educar o povo a cumprir com todo o seu dever. Pregam parte de
nossa fé que não cria oposição ou desagrada aos ouvintes, mas não declaram toda a
verdade. O povo aprecia-lhes a pregação, mas há falta de espiritualidade porque os
reclamos do Senhor não são atendidos. Seu povo não lhe dá em dízimos e ofertas o que
lhe pertence. Esse roubo a Deus, praticado tanto pelos ricos como pelos pobres, traz
trevas às igrejas; e o ministro que com elas trabalha, e não lhes mostra a vontade de
Deus claramente revelada, é condenado com o povo, por negligenciar seu dever. 13
Portanto, pregar sobre a fidelidade à Palavra de Deus, em qualquer área, é bom para a
espiritualidade da igreja.
5 O dízimo, como toda lei mosaica, não teria caducado quando Jesus morreu na cruz?
Não. Sabemos que o dízimo é anterior 14 à lei mosaica (Gn 14:20; 28:22; Hb 7:5-10), e
independente do sacerdócio levítico, por isso foi reconhecido e praticado mesmo por Abraão, 15 o
maior dos patriarcas, o pai da fé. Aliás, fé é o elemento chave, para a fidelidade a Deus,
especialmente neste assunto. A fidelidade requer confiança total na promessa de Deus (Ml 3:10-13).
Foi somente após a saída dos israelitas do Egito que o dízimo foi regulamentado e aplicado
ao sistema levítico. Ele era dado ao levita, devido a não ter “herança na terra”, isto é, ele vivia
exclusivamente para o serviço religioso e isso lhe dava direito a todos os dízimos (Lv 27:30-34).
Por outro lado, é dito na Bíblia que o dízimo pertence realmente a Deus e que Ele o deu
como herança para os que vivem exclusivamente para o ministério. Trata-se, pois, de uma porção
sagrada que não devia ser trocada sob pena de multa de um quinto, ou seja, vinte por cento, e em se
tratando de dízimos de animais a sua troca implicava na perda do trocado, isto é, multa de cem por
cento, para quem tentasse obter lucro trocando um dízimo gordo por uma substituição mais magra.
A lei fazia clara proibição, que desestimulava as artimanhas do coração egoísta enfatizando:
“não esquadrinharás entre o bom e o ruim.” Sua entrega deveria ser feita somente na tesouraria do
Templo para posterior pagamento aos levitas, que atuavam como sacerdotes e que dariam à família
de Arão o dízimo dos dízimos (Nm 18:20-26; Ne 10:37-38; 12:44; 13:5-12).
Neste sentido, Ellen G. White repudia a ação de um homem, entre outros, que proclamava a
não devolução do dízimo. Suas palavras ainda definem o assunto como “terra santa” e apela com
sensibilidade: “Como ousa então o homem até mesmo pensar em seu coração que uma sugestão
13
WHITE, E. G. Review and Herald, 8 de abril de 1884. Advertência publicada por Ellen White, nos primórdios da
igreja, para amplo conhecimento da irmandade. Citado em: WHITE, E. G. Conselhos sobre mordomia, 1979, p. 87
(grifo suprido).
14
The International Standard Bible Encyclopedia (ISBE). Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1988.“Tithe”; doravante ISBE.
Muitos povos do Antigo Oriente Próximo devolviam dízimos, como os sírios, egípcios, lídios, babilônios, assírios,
cartagineses, etc... Apesar da prática similar, os motivos entre os hebreus eram mais teológicos do que meramente
políticos, humanitários e econômicos como no caso desses outros povos antigos e algumas denominações hoje. Tal fato
revela uma idéia comum entre povos que viveram no berço da civilização e que não era exclusiva dos israelitas. Cf.
também CHAMPLIN, EBTF, p. 201-203.
15
WHITE, E. G. Conselhos sobre mordomia, p. 69. A hipótese de as referências ao dízimo no livro de Gênesis serem
meras atualizações de uma legislação dada posteriormente a Moisés não é apoiada pela The International Bible
Enciclopaedia (IBE). Wilmington, Delaware: Associated Publishers and Autors, 1980. “Tithe”.
12
para reter o dízimo e ofertas vem do Senhor? Onde, meu irmão, vos desviastes do caminho? Oh,
ponde vossos pés de novo no caminho reto!” 16
Assim, sendo anterior a Moisés e proclamando o princípio de que Deus é o verdadeiro dono
de tudo, exercendo um convite à liberalidade e denunciando o coração egoísta e avarento, nutrindo
a obra de Deus com dádivas altruístas de um coração convertido, pode-se dizer que o “sistema
especial do dízimo baseia-se em um princípio tão duradouro como a lei de Deus”. 17
6 Poderia o dízimo ser usado para reformar e construir igrejas? A Bíblia não deixa livre para
o adorador aplicar o dízimo?
O relato bíblico diz que não. Não há um único texto da Bíblia que oriente ou dê exemplo de
uso indiscriminado do dízimo do sacerdote, especialmente para construção e reforma mesmo do
Templo. É um sagrado depósito que precisa ser aplicado dentro dos princípios fornecidos pela
Escritura para operacionalizar o ministério de dedicação exclusiva.
Os exemplos bíblicos seguintes nos ajudarão a compreender que o dízimo, mesmo em
tempos de crise, não pôde ser usado para reconstrução ou reforma do Templo e que as verbas para
estas finalidades eram outras:
1. Durante o reinado de Joás.
A reforma de Joás, (cerca de 835 a 796 a.C.) 18 foi uma reforma do Templo e dos seus
serviços. Essa empreitada de arrecadação de fundos, para usar uma linguagem bem atual, foi
encomendada pelo rei aos sacerdotes. Estes deveriam sair pelas cidades de Judá e levantar dinheiro
de todo Israel com o objetivo de reparar “a casa do vosso Deus de ano em ano” (2Cr 24:1-14).
Também cobrou ação dos levitas quanto ao “imposto de Moisés” que havia sido instituído para esse
fim (v.6). Após haverem conclamado a nação, os levitas receberam esse dinheiro dos israelitas até
que a obra foi concluída (v. 9-10). Esse imposto anual foi estabelecido no deserto com o objetivo
específico de manter e reformar o Templo e correspondia a metade de um siclo “segundo o siclo do
santuário” (Êx 30:11-16).
O dicionário diz que o siclo era uma moeda dos judeus, de prata pura e que pesava seis
gramas. 19 O shekel ou siclo, era uma moeda de prata pura (meio siclo) que cada um pagava para os
gastos de “reparação do Templo e para os sacrifícios, para o perdão do povo. O prazo do pagamento
era do dia primeiro ao dia quinze do mês de Adar. Este costume continua até nossos dias,...” 20
Todo judeu adulto era obrigado a recolher anualmente este imposto e, especificamente nesta época
de Joás, estava sendo depositado numa arca de ofertas no Templo (2Cr 24:8).
Além do imposto do Templo, Joás usou para as despesas da reforma o dinheiro do resgate
das pessoas (Lv 27:1-15), as ofertas voluntárias (2Rs 12:4) e a arrecadação feita pelos sacerdotes
(2Rs 12:5). Os dízimos continuavam exclusivos para o sacerdócio.
2. Durante o reinado de Ezequias.
Mentor de uma reforma espiritual que chamava todo o povo para um reavivamento, o rei
Ezequias (729 a 686 a.C.) tomou medidas financeiras para restaurar o Santuário à atividade 21 (2Cr
31:2-21). O rei custearia as cerimônias diárias da manhã e da tarde, dos sábados, luas novas e festas
fixas, conforme a lei do Senhor (2Cr 31:3 e Nm 28:1-29). O povo contribuiria com a parte devida
aos sacerdotes e levitas, que eram os dízimos e as ofertas (2Cr 31:4-6 e Nm 18) e o fez com tal
abundância que foi necessário preparar novos depósitos (2Cr 31:11), e ali recolher fielmente as
ofertas, os dízimos e as coisas consagradas (2Cr 31:12).
16
Ibid., p. 83, 84.
17
WHITE, E. G. Conselhos sobre mordomia, p. 67.
18
Sobre a cronologia de Judá e Israel, cf. THIELE, E. R. The Misterious Numbers of the Hebrew Kings. Chicago: The
University of Chicago Press, 1951.
19
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, Novo dicionário brasileiro da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1986, p. 1582.
20
SCHLESINGER, H. Pequeno vocabulário do judaísmo. São Paulo: Edições Paulinas, 1987. “Shekel”.
21
Comentário Bíblico Adventista del Septimo Dia (CBA). Sobre 2Cr 31:2-21.
13
7 Em síntese, como era a doutrina e a prática do dízimo e das ofertas em Israel antigo?
22
Ibid.
23
Ibid.
24
ISBE, vol. 4, p. 861-864.
25
WHITE, E. G. Conselhos sobre mordomia, p. 102, 103.
26
WHITE, E. G. Patriarcas e profetas, 559 (grifo suprido).
14
Podemos entender que o dízimo do sacerdote levita era a décima parte das rendas do
adorador, obrigatória, que não podia ser trocada ou resgatada, no todo ou em parte, era consagrada
ao ministério, não podendo ser utilizada para nenhuma outra finalidade ou serviço.
Essa restrição se estendia mesmo ao Santuário, e sua administração não era feita pelos
sacerdotes individualmente e nem pelo adorador, mas por uma equipe designada dentre os próprios
levitas; além do mais, é dito pertencer a Deus e por isso deve ser devolvida (Lv 27; Ml 3:8-10).
Por outro lado, quanto às ofertas, elas pertencem ao homem (Dt 16:10), o critério de quanto dar é
do homem (Dt 16:17) e podem ser usadas para várias finalidades (Êx 30:12, 13; 2Cr 31:14; 24:6, 9;
Ne 10:32), por isso damos. 27
Foi a liberalidade e obediência dos israelitas ao princípio desses usos adequados nas diversas
ofertas que possibilitou toda a construção, manutenção e reformas do Templo em várias épocas sem
lançar mão do dízimo, conforme Deus prescrevera.
8 Talvez os judeus da época do AT tivessem pouco para dar e dessem menos dízimo do que
nós e por isso eram fiéis. Não é mais fácil ser fiel quando se tem pouco?
Ao contrário, eles tinham bastante e davam mais do que imaginamos. Vejamos essa citação:
Acaso você já parou para calcular, em moeda atual, as ofertas feitas pelos israelitas para
a construção daquele grande edifício religioso? Ao ler 1 Crônicas 29, tenha em mente
que um talento de ouro equivale a 27.000 dólares, e um talento de prata a cerca de 630
dólares. O povo de Israel levou a mais e acima de seus dízimos, várias centenas de
milhões de dólares em valores de metais preciosos, pedras preciosas, e materiais menos
custosos, como cobre e ferro, em ofertas voluntárias ao Senhor. (...) Seriam os israelitas
mais devotos do que os cristãos de hoje? Penso que não. O segredo está no fato de eles
reconhecerem que ‘tudo vem de ti e da tua mão te damos’. Quando cem milhões de
cristãos na América possuírem a mesma grande verdade, pelo menos 20 bilhões de
dólares entrarão anualmente no tesouro de todas as igrejas dos Estados Unidos. E o
princípio é válido para qualquer parte do mundo. 28
As contribuições dos hebreus para fins religiosos e caritativos, montavam a uma quarta
parte completa de suas rendas. Uma taxa tão pesada sobre os recursos do povo poder-se-
ia esperar que os reduzisse à pobreza; mas, ao contrário, a fiel observância destes
estatutos era uma das condições de sua prosperidade (...) Ml 3:11-12. 29
Em outra obra a mesma autora também diz que o percentual referido é de “Nada menos que
um terço de suas rendas...” 30 A variação é compreensível em vista das oscilações naturais das
outras ofertas, além do dízimo do sacerdote e do segundo dízimo. Nunca é demais lembrar que
Deus não requer menos de nós do que requeria do Seu povo na antiguidade. Suas
dádivas a nós não são menores, mas maiores que as concedidas ao antigo Israel. Seu
serviço exige agora e sempre exigirá recursos. A grande obra missionária para a
salvação de almas deve ser levada avante. 31
27
SMITH, P. O Ministério adventista, março-abril, 1983, p. 9.
28
REBOK, D. E. O ouro de Deus em Minha Mão. Tatuí, SP: Casa publicadora Brasileira, 1988, p. 42.
29
WHITE, E. G. Patriarcas e profetas, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1976, p. 560.
30
WHITE, E. G. Testemunhos seletos. Vol. 1. SP: Casa Publicadora Brasileira, 1985, p. 546.
31
WHITE, E. G. Conselhos sobre mordomia, p. 71.
15
Por outro lado, a fidelidade independe das posses das pessoas: a viúva pobre foi fiel dando
tudo o que tinha, mas os ricos davam grandes somas de dinheiro do que lhes sobrava (Mc 12:42, 43;
Lc 21: 2, 3); Zaqueu doou metade dos seus bens para os pobres e devolveu quatro vezes mais
àqueles que tinha defraudado (Lc 19:8) e os primeiros discípulos, sentindo a importância da
implantação da igreja cristã, entregavam tudo o que podiam aos apóstolos (At 4:34). Assim, a
liberalidade depende mais da ligação com Deus do que da quantidade de dinheiro ou bens que
alguém possui.
9 Porque o Novo Testamento fala tão pouco sobre o dízimo? Não seria isso indicação de que a
doutrina era somente para o Antigo Testamento?
O NT falava o suficiente sobre o dízimo. Há outros temas que são pouco abordados, mas
isso não significa que não sejam importantes. A doutrina do milênio, por exemplo, é mencionada
apenas uma vez no Apocalipse 20 e nem por isso a doutrina é menos importante ou inválida. O
relato da criação não aparece integralmente no NT e isso não o torna irrelevante.
Por outro lado, no que se refere ao dízimo, a palavra grega dekate (décima parte) aparece
várias vezes em Hebreus 7:2-9 e apodekato encontra-se nos evangelhos (Mt. 23:23; Lc. 11:42;
18:12) e em Hebreus 7:5 isoladamente ou como parte da expressão “dar o dízimo”. Dekate é
equivalente à palavra maaser (dízimo) em hebraico. 32
Assim, o dízimo está presente no NT, mas não precisa ser integralmente repetido nos
escritos neotestamentários para ser válido como doutrina. Além disso, a anterioridade do dízimo
(veio antes de Moisés) e a falta de um “ato de revogação” dele na Bíblia, além das citações
afirmativas do NT são argumentos suficientes. Por outro lado, uma vez que os apóstolos ensinam
que “toda a Escritura é inspirada por Deus” (2Tm 3:16) exigir a repetição de “todas as doutrinas” do
AT no NT para que sejam válidas ou validadas é impróprio e desnecessário.
Aliás, o Antigo Testamento era a Escritura usada pelos apóstolos e na qual respaldavam seus
ensinos, pois naquele tempo ainda não existia o NT como o temos hoje. Assim, no NT o ensino do
dízimo é abordado lembrando os argumentos em favor do direito que o ministério cristão tem de
uma justa remuneração.
Pode-se concluir, então, que o NT está lidando com um “ponto pacífico” já estabelecido no
AT, aceito por todos, e é nesse contexto que reaparece em 1Coríntios 9:1-14 onde o apóstolo Paulo
trata apenas de disputar a legitimidade de receber salário das igrejas, uma vez que esse direito já era
desfrutado pelos outros apóstolos. Sem este questionamento feito pelos coríntios o assunto nem
viria à tona.
Ainda, segundo o apóstolo Paulo (1Co 9:13, 14), esse direito apostólico de receber
pagamento se baseava na ordem do Senhor, o qual já havia antes estabelecido que os que serviam
no templo e no altar vivessem dos recursos que vinham daquele sistema (dízimos e ofertas). Assim,
era ordem do Senhor Jesus que os apóstolos recebessem pagamento na mesma base que os levitas
tinham recebido no passado. Portanto, o dízimo é uma doutrina do AT reafirmada no NT para
manter o ministério como “ordenou o Senhor” (1Co 9:14).
Na epístola aos Hebreus, capítulo sete, menciona-se a exclusividade dos levitas para recolher
o dízimo dentro do sistema Mosaico. O autor de Hebreus aproveita a oportunidade para chamar a
atenção de que em Abraão, Levi, seu bisneto e antepassado de todos os sacerdotes, havia dado os
32
Sobre as palavras originais utilizadas na Bíblia para dízimo Russel N. Champlin dá as seguintes informações: 1) Asar
(dez) aparece sete vezes no AT. 2) Maaser (décima parte) 32 vezes no AT. 3) Apodekatóo (dar uma décima parte)
aparece nos evangelhos e em Heb. 7:5 três vezes. 4) Dekáte (décimo) aparece apenas nas passagens de Hb 7:2, 4, 8, 9.
Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia (EBTF). Vol. 2. SP: Editora Candeia, 1995, p. 201-203.
16
dízimos para um sacerdócio superior instituído por Deus. Este sacerdócio de Melquizedeque, que
representava o sacerdócio de Cristo, era superior ao aarônico e levita.
Assim, embora não seja a intenção principal da passagem, mais uma vez o dízimo é
mencionado em sua anterioridade ao sistema levítico e é declarada a sua natureza sagrada e
exclusiva para o ministério, servindo, inclusive, para identificar a importância do ministério não
levítico de Mequizedeque, pois que esse recebeu dízimos do próprio Abraão.
Por outro lado, parece que a passagem em questão, ao mencionar os dízimos dados a
Mequizedeque, aponta para o princípio da manutenção sacerdotal que passa por Moisés, chega ao
NT e permanece até os dias atuais, indicando que o atual ministério é uma extensão, na Terra,
daquele que está sendo desenvolvido pelo Salvador no Santuário do Céu.
Assim, o dízimo dado a Melquizedeque é evidência de que um ministério terrestre,
independente de ser levítico ou não, e ligado a Cristo, é o beneficiário dos dízimos para sua
manutenção. Portanto, há uma ligação entre Melquizedeque, Cristo e aqueles que o representam na
Terra. Não é o ministério da igreja, especialmente por meio dos que “vivem do evangelho”, uma
extensão do ministério salvador de Cristo? 33
12 O apóstolo Paulo não apoiava sua doutrina de manutenção do ministério em outro sistema
fora do dízimo?
Não. A defesa de Paulo, para a remuneração dos ministros do evangelho, tem sua base
argumentativa no AT, que se refere às entradas de dízimos e ofertas especiais que mantinham os
sacerdotes (1Co 9:6-14). Segundo o apóstolo Paulo:
1. Havia outros apóstolos que não trabalhavam secularmente como ele (v. 6).
2. Pagar ministros era uma prescrição da lei (v. 8 e 9) e esta se cumpria pelo sistema do dízimo
(Nm 18).
3. 1Coríntios 9:13 é uma referência direta ao dízimo, pois baseia seu apelo para o pagamento
de ministros da igreja no direito dos sacerdotes aarônicos, que recebiam parte das ofertas do
altar e do dízimo, e no direito dos sacerdotes levitas que tinham seu sustento também
garantido pelo dízimo, a principal de suas entradas. Afinal, eram os sacerdotes e levitas os
únicos que se podiam achegar ao altar e prestar o serviço sagrado no Templo e por isso
tinham direito ao dízimo (Nm 18:20-26).
4. Essa parte, devida aos sacerdotes, é um direito que outros apóstolos já estavam fazendo uso
(1Co 9:10 e 12).
33
CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo (NTI). Vol. 4. São Paulo: Editora
Candeia, s/d, p. 136-137.
17
5. O mesmo sistema deve ser usado para os ministros do evangelho (v. 14).
6. Um direito do qual Paulo abriu mão (1 Co 9:12, 15) entre os coríntios (2Co 11:7) por causa
da contestação do seu apostolado (2Co 11:5, 6) e para não dar ocasião aos falsos apóstolos
(2Co 11:8 a 13). No entanto usou desse direito aceitando salário de outras igrejas (2Co
11:8).
7. Esse é um direito tão natural, segundo Paulo, como de alguém que planta uma vinha (1Co
9:7; Dt 20:6) e dela cuida (Pv 27:18) e por isso merece comer do seu fruto.
8. Além disso, pagar os pastores é justo, especialmente aos que servem na pregação e no
ensino (1Tm 5:17-18).
9. Deve ser feito de tal maneira que não desperte ganância (1Pe 5:2).
10. Afinal, o objetivo é que o pastor, pago pela igreja, não se embarace com as coisas desta vida
e, assim, sirva bem à causa de Deus (2Tm 2:4).
Vê-se pois, que, mesmo antes de Moisés, o sistema de manutenção dos ministros de Deus
era basicamente pelo dízimo; assim foi durante a teocracia em Israel para a manutenção dos levitas
e sacerdotes do Templo de Jerusalém; foi sancionado por Jesus; a manutenção dos ministros do
evangelho foi defendida por Paulo usando a linguagem e as idéias do sacerdócio levítico do AT; e,
uma vez que a Bíblia não apresenta nenhum outro sistema, parece lógico concluir que esse é o plano
que deve ser usado hoje em dia na igreja. 34
Assim, Paulo baseia sua compreensão do pagamento dos ministros no sistema de
manutenção levítico (dizimista) e qualquer outro sistema aparece como criação meramente humana
tentando substituir o plano de Deus.
13 Ellen White também menciona que Paulo se refere ao dízimo quando apela para o
pagamento dos ministros no Novo Testamento em 1 Coríntios?
Sim. Segundo Ellen G. White, 1 Coríntios 9:7-14 refere-se aos levitas que recebiam os
dízimos e Paulo estaria aplicando o mesmo princípio aos ministros do Evangelho no NT, sendo isso
válido até hoje. 35 Outra citação declara:
Deus não tem mudado; o dízimo ainda deve ser usado para o sustento do ministério. O
começo da Obra em vários campos requer mais eficácia ministerial do que a que temos
agora, e tem que haver fundos na tesouraria. 36
Outros comentaristas como William F. Orr e James Arthur Walther sustentam a mesma
posição de Ellen White. Eis um trecho:
Paulo está em dores para estabelecer ambos os princípios como ele prossegue: ele tem o
direito a manutenção física, mas ele não fez uso desse direito. Sua função é derivada da
dos servos do templo Levítico no que respeita a essa manutenção. O Senhor Jesus
validou a aplicação disto para os servos do evangelho. 37 (grifo original).
14 No livro de Deuteronômio parece que o dízimo era usado pelo adorador. Trata-se do
mesmo ou de outro dízimo?
34
ORR, W. F. e WALTHER, J. A. The Anchor Bible Dictionary (ABD). Vol. 6. New York: Doubleday, 1992. p. 578-
580 “Tithe”. Na igreja primitiva alguns “pais da igreja” se manifestaram contra e outros a favor do dízimo. Encontra-se
também a posição extra-bíblica de que o dízimo seria uma base mínima para o doador.
35
WHITE, E. G. Conselhos sobre mordomia, p. 69, 70.
36
WHITE, E. G. Testimonies for the Church. Vol. 9. Moutain View, CA: Pacific Press Publishing Association, 1948. p.
248 – 251. Ver WHITE, E. G. Testemunhos para a igreja. Sp: Casa Publicadora Brasileira, 2006, mesma paginação.
37
ORR, W. F. e WALTHER, J. A. The Anchor Bible Dictionary (ABD). Vol. 12. New York: Doubleday, 1992. p. 242.
18
15 Onde se encontram as passagens que tratam dos diferentes dízimos e o que dizem?
As passagens, já citadas anteriomente, que falam de outro dízimo diferente do registrado em
Números e Levítico estão em Deuteronômio 12:6-18; 14:22-28 e 26:12-14. Vejamos cada uma
delas:
1. Deuteronômio 12:5-18.
Promovendo a adoração em família. A ênfase destas passagens está no uso de uma décima
parte das rendas para a adoração em família. Os servos e o levita estariam presentes, como
participantes. O lugar mencionado nesta passagem é uma referência ao tabernáculo, o Templo
israelita, para onde a família deveria ir com o recurso desse dízimo especial. O levita não
recebia esse dízimo, pois era apenas um convidado ao banquete religioso da família.
2. Deuteronômio 14:22-28.
Estes textos referem-se ao cuidado dos pobres, viúvas e órfãos. Basicamente o mesmo
conteúdo da passagem anterior com algumas informações adicionais. O banquete seria realizado
a cada terceiro ano, evidentemente dentro do cíclo sabático, isto é, ao terceiro e sexto anos. 39
Caso o adorador morasse longe e fosse dificultoso transportá-lo, esse dízimo poderia ser
vendido, se fosse de produtos agro-pecuários, e trocado por dinheiro (o que não era permitido
fazer com o dízimo dos sacerdotes), depois levado ao local do templo e, no lugar determinado, o
adorador faria a festa. Nos outros anos o banquete deveria ser realizado em casa e a lista de
convidados, desta vez, seria aumentada estendendo-se aos pobres, viúvas e órfãos.
Mais uma vez é o adorador quem faz uso desse dízimo ao seu bel-prazer e o levita não o
recebe, ele é, novamente, apenas mais um convidado como os demais, visto não ter “herança na
terra”. Não se trata, portanto, do mesmo dízimo mencionado em Números 18 e em Malaquias 3.
3. Deuteronômio 26:12-14.
Nesta passagem tem-se a última referência sobre este dízimo especial ou segundo dízimo,
sendo que a ênfase recai no seu uso a cada terceiro ano. Mais uma vez o adorador usa e administra
este dízimo como quer, sendo o pobre e o levita apenas convidados para a festa. Mais uma vez o
levita não o recebe, apenas dele participa.
38
ISBE, Vol. 4, p. 861-864.
39
POOLE, M. A Commentary on Holy Bible. Carlisle, Pensylvania: The Banner of Trust, 1974. Dt 14:28. “Todo
dízimo. Estes eram devidos no terceiro e sexto ano do período sabático em lugar do segundo dízimo. Naqueles anos o
que teria sido o segundo dízimo era guardado em casa para o pobre comer”. Também, neste particular, conforme
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia: (1) Havia três dízimos sendo um para os levitas, um
para as festas religiosas e outro para os pobres (pago adicionalmente no 3º e 6º ano do ciclo sabático) e aqui ele cita
Flávio Josefo e Tobias 1:7, 8. (2) Havia dois dízimos, sendo um dos levitas e outro para festas religiosas e os pobres, ou
seja, o terceiro dízimo seria apenas uma aplicação diferente para o segundo dízimo no terceiro e no sexto ano do ciclo
sabático, e aqui ele se refere ao comentário do destacado rabino judeu Moisés Maimônides.
19
Além disso, se o dízimo dos levitas fosse este de Deuteronômio isto levaria a tribo de Levi
ao empobrecimento, deixando-a ao nível dos pobres mendicantes. Também, se os dízimos
devessem ser usados pelos adoradores desde a época deuteronômica, como querem alguns, não teria
sentido apelar para trazer os “dízimos à casa do Tesouro” (Ml 3:8-10), ao Templo em Jerusalém,
com sua tesouraria específica (Ne 12:44).
Diante da diferença de aplicação e administração entre o dízimo dos levitas em Números 18
e o segundo dízimo de Deuteronômio 12, 14 e 26 a única solução convincente é a existência de dois
dízimos distintos. Seria uma incoerência insistir que os levitas deveriam receber dízimos da
tesouraria centralizada do Templo, onde estariam todos os dízimos arrecadados das cidades,
conforme a lei prescrevia (2Cr 31:2-21) e, ao mesmo tempo, determinar que o dízimo fosse usado
pelo adorador para que o gastasse em atividades religiosas.
Se os levitas já houvessem recebido o dízimo diretamente do adorador, ou se estes o
usassem como bem quisessem, para que, então, tesouraria de dízimos no Templo? Ou o pensamento
deuteronômico trata de um segundo dízimo, conforme vimos, ou então, esta é uma questão
irreconciliável.
Conclui-se, portanto, que na Bíblia aparecem dois dízimos diferentes e separados. Um
destinado anteriormente aos levitas e sacerdotes e, hoje, ao pagamento de ministros do evangelho, e
o outro, no período mosaico, enquanto vigorou o ciclo sabático em Israel, destinado à adoração em
família e atendimento aos necessitados.
Este segundo dízimo, entre outras doações do sistema mosaico, apresenta-se como um
referencial básico para as ofertas que, segundo Paulo, devem ser dadas “não com tristeza nem por
necessidade”, mas com “alegria” (2Co 9:6 a 12), lembrando a alegria que, segundo Deuteronômio,
deveria acompanhar a sua entrega (Dt 12:6, 7, 12, 18; 14:26; 26:14), a qual, enfatiza a Bíblia , não
deveria ser feita com “tristeza” (Dt 26:14). 40
De acordo com Colin Brown, além do segundo dízimo havia um terceiro:
uma exceção seria 1Sm 8:11ss que indica que os dízimos deveriam ser dados ao rei. No
entanto, este uso da palavra dízimo simplesmente indica a inexistência de termos
técnicos fixados para a tributação de impostos. De qualquer modo, não seria uma
alteração das leis dos dízimos dada no Pentateuco. 41
Cobrar dízimos como imposto ou dedicá-los a algum deus também era comum entre povos
pagãos. Isso fala de uma tradição antiga, remontando ao tempo de Melquizedeque e talvez anterior
a ele, herança comum de muitos povos que devem ter aprendido tal prática no berço da civilização.
42
trata-se do segundo dízimo que eles deviam comer, v. 23. Havia um primeiro dízimo
que era dado aos levitas do qual pagavam a décima parte aos sacerdotes. Nm 18:24 a
28; Ne 10:37 a 38. Então, do restante, o proprietário separava um segundo dízimo, que
ele comia perante o Senhor no primeiro e no segundo ano; e no terceiro ano era usado
para os levitas e os pobres, Dt 14:28 a 29. No quarto e quinto anos ele era comido
40
CARPENTER E. E. ISBE, Vol. 4, p. 263. “dízimo”.
41
BROWN, C. Editor. O Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento. Vol. 1, p. 79.
42
Ibid., p. 676.
20
novamente pelos proprietários, e no sexto era dado aos pobres. O sétimo ano era um
Sábado, para a terra, e então todas as coisas eram comuns. 43
Assim é para ser entendido do segundo dízimo, que parece ser o mesmo dízimo do
terceiro ano mencionado logo abaixo, v. 28 e Dt 26:12, o qual pode ser visto acima no
capítulo 12:17 (...) deste dízimo é dito ser um ato do povo, Dt 26:12, e os levitas não
são mencionados em ambos os lugares como recebedores, mas apenas como
participantes juntamente com os proprietários. 44
Quando Moisés falou estas palavras o princípio do dízimo já era bem aceito em Israel.
(...) Para assinalar a sacralidade do todo, um percentual definitivo era colocado de lado
e dedicado no Santuário. Este é o chamado ‘segundo dízimo’, em contraste com o
dízimo dos produtos dados para manter os levitas (ver Nm 18:26 a 28). 45
A fim de promover a reunião do povo para o serviço religioso, bem como para se
fazerem provisões para os pobres, exigia-se um segundo dízimo de todo o lucro. Com
relação ao primeiro dízimo, declarou o Senhor: ‘Aos filhos de Levi tenho dado todos os
dízimos em Israel’. Nm 18:21. Mas em relação ao segundo ele ordenou: ‘Perante ao
Senhor teu Deus, no lugar que escolher para fazer ali habitar o seu nome, comereis os
dízimos do teu grão, do teu mosto, e do teu azeite, e o primogênito das tuas vacas e das
tuas ovelhas: para que aprendam a temer o Senhor teu Deus todos os dias.
Deuteronômio 14:23 e 29; 16:11 a 14. Esse dízimo, ou o seu equivalente em dinheiro,
deviam por dois anos trazer ao lugar em que estava estabelecido o Santuário. Depois de
apresentarem uma oferta de agradecimento a Deus, e uma especificada porção ao
sacerdote, os ofertantes deviam fazer uso do que restava para uma festa religiosa, da
qual deviam participar os levitas, os estrangeiros, os órfãos e as viúvas. Assim
tomavam-se providências para as ações de graças e festas, nas solenidades anuais, e o
povo era trazido à associação com os sacerdotes e levitas, para que pudessem receber
instrução e animação no serviço de Deus. A cada terceiro ano, entretanto, este segundo
dízimo devia ser usado em casa, hospedando os levitas e os pobres, conforme Moisés
dissera: ‘Para que comam dentro das tuas portas, e se fartem’. Dt 26:12. Este dízimo
proveria um fundo para fins de caridade e hospitalidade. 46
43
The Holy Bible Containing the Old and New Testament with a Commentary and Critical Notes by Adam Clarke. New
York, Nashville: Abingdon-Cokesbury press. Dt 14:22.
44
The New Bible Commentary. Inter-Versity Press: Leicester, England, 1970. Dt 14:22.
45
POOLE, M. A Commentary on Holy Bible. Dt 14:22, 28.
46
WHITE, E. G. Patriarcas e profetas. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1993. p. 530. Capítulo 51 “O cuidado de
Deus para com os pobres”. Aqui se percebe dois propósitos para o segundo dízimo: (1) Promover reuniões religiosas em
família e associando os levitas e sacerdotes com os pobres e estrangeiros, proporcionando oportunidades para instrução
e animação no serviço de Deus (Dt 12:5-7); 14:23), e (2) prover auxílio material aos pobres e desafortunados (Dt 14:29;
26:12-13).
21
“Maaser Sheni, heb., 2º. Dízimo. Oitavo tratado (7º em alguns códigos) na ordem
mishnaica de Zeraim, contendo cinco capítulos. (...) Trata, principalmente, dos dízimos
comidos em Jerusalém (Dt 14:22 a 27) e a maneira de resgatá-los em dinheiro.” 48
Declara ainda:
Maaserot ou Maaser Rishon (em heb., ‘dízimo’ ou ‘1º. dízimo’ (...). Trata do dízimo dado ao
levita (Nm. 18:21).
Maaser (dízimo). Uma décima parte da produção. Esta costumava ser separada como oferenda
religiosa. Esse costume tem origem antiga como, por exemplo, Abraão dando o dízimo ‘um
décimo de tudo’ a Melquizedeque (Gn 14:18 a 20). A lei judaica relaciona vários dízimos
obrigatórios. (1) Primeiro dízimo (Nm 18:24) dado aos levitas, depois da separação da terumah
(oferenda retirada) para os sacerdotes; no tempo do segundo Templo este dízimo também era
dado aos sacerdotes. A Mishnah em seu tratado Maaserot trata desse dízimo. (2) Segundo
dízimo (Lv 27:30 a 31; Dt 14:22 a 26), isto é um décimo adicional tomado depois do 1º. dízimo.
Este era consumido pelo próprio dono em Jerusalém. Usava-se apenas durante os 1º., 2º., 4º., e
5º. ano do ciclo sabático. Os pormenores estão no tratado do Maaser Sheni. (3) Dízimo dos
pobres (Dt 14:28 a 29 e 26:12) dado aos pobres e substituindo o segundo dízimo no 3º. e 6º. ano
do ciclo sabático. (4) Dízimo dos animais (Lv 27:32) escolhidos na contagem feita três vezes no
ano e oferecidos em sacrifício pelo dono (Veja tratado Bekhorot). Os levitas tinham que pagar
um dízimo que eles próprios recebiam (Núm. 18:26). 49
O sistema do primeiro dízimo subsiste nas Escrituras como parte do plano divino para a
manutenção do ministério. Como já foi visto, tal prática antecede a Moisés e subsistia antes do
Santuário e do próprio Israel. Não acontece o mesmo com o segundo dízimo. Ele está intimamente
ligado (conforme Dt 12, 14, 26) ao siclo sabático da teocracia judaica que ocorria de sete em sete
anos.
Portanto, tanto uma leitura atenta da Bíblia, quanto de comentaristas de outras
denominações, da interpretação judaica e de Ellen White indicam claramente a existência de dois
47
Beacon Bible Commentary. Vol. 1. Beacon Hill Press of Kansas City: Kansas City, Missoury. Dt 26:12. “As
diferentes ênfases sobre a destinação dos dízimos em Números e Deuteronômio podem ser explicadas pelas diferentes
situações históricas e audiências dos dois livros. Números dá diretrizes para a religião oficial frente à apertada situação
do deserto. Deuteronômio dá orientação para os adoradores estabelecidos frente a mais ampla situação da Terra
prometida”. O artigo de E. E. Carpenter, porém, (ISBE, vol. 4, p. 263), admite que, em Deuteronômio temos (a) um
segundo dízimo (como defende os mais modernos estudos), (b) mais dois dízimos (muito provável pelo montante fixo
de 30% fora as ofertas especiais) ou (c) um outro uso para o dízimo levítico (Nm 18 e Lv 27), uso esse não admitido no
deserto, mas ampliado, conforme essa suposição, em Canaã. No entanto, o comportamento histórico de Israel, em
relação ao dízimo dos levitas, conforme relatado na Bíblia, foi de usá-lo exclusivamente para o sacerdócio, restando
para Deuteronômio a interpretação de um segundo dízimo.
48
ROTH, C. Enciclopédia Judaica. “Dízimo”.
49
Ibid., “Maaser”, “Maaserot” (1º dízimo).
22
dízimos com natureza e finalidades diferentes. Um deles é o do sacerdote, o qual permanece como
fundo de manutenção dos ministros de dedicação exclusiva no NT. O outro dízimo é o descrito em
Deuteronômio 12, 14, 26 e que se destinava a formar um fundo para a promoção da caridade e
adoração em família no contexto da religião judaica. A diferença entre esses dois dízimos pode ser
identificada através da destinação, aplicação e de quem os administrava.
20 O que Ellen White fala sobre a utilização do dízimo por pastores e membros?
O sistema do dízimo, como a guarda do Sábado, não se constitui um fardo entre os que
aceitam o plano de Deus. “Em vez de haver perdido agora o seu vigor, deve ser mais plenamente
cumprido e dilatado, pois a salvação de Cristo unicamente deve ser apresentada em maior plenitude
na era cristã”. 50
50
WHITE, E. G. Conselhos sobre mordomia, p. 75, 76.
23
Valendo-se da autoridade de alguém que foi orientada por Deus a esse respeito, e citando as
Escrituras, ela apela para que o dízimo não seja retido pelos irmãos e nem mesmo pelos pastores,
que não devem se sentir no direito de aplicá-lo segundo seu próprio juízo. 51
Alguns se têm sentido mal-satisfeitos, e dito: ‘Não pagarei mais o dízimo; pois não
confio na maneira por que as coisas dirigidas na sede da obra’. Roubareis, porém, a
Deus por pensardes que a direção da obra não está direita? Apresentai vossa queixa
franca e abertamente, no devido espírito, e às pessoas competentes. Solicitai em vossas
petições que se ajustem as coisas e ponham em ordem; mas não vos retireis da obra de
Deus, nem vos demonstreis infiéis porque outros não estejam fazendo o que é direito. 52
Advertindo tratarem-se de formas de desviar o dízimo, ensina que não deve ser usado:
1. para fazer caridade e nem dado como oferta; não deve ser usado para cuidar da casa de culto
nem para fins escolares; 53
2. Não deve ser usado para sustentar colportores nem para despesas ocasionais da igreja, ou
quaisquer outros fins que pareçam bons em si mesmos mas não sejam o que Deus
determinou. Tais aplicações constituem erro, são alvo do julgamento divino e levam o
homem a pôr em risco seu tesouro eterno, a menos que se arrependa. 54
51
Ibid., p. 101.
52
Ibid.; WHITE, E. G. Obreiros evangélicos. SP: Casa Publicadora Brasileira, 1993, p. 226-227. Um exemplo notável
de liberalidade, apesar das ostentações de riqueza no mundo evangélico, é dado por Champlin ao tratar desse assunto.
Apesar de não defender a base neotestamentária para a entrega e uso do dízimo ele declara: “O próprio fato de que há
crentes disputando sobre se devem contribuir ou não com uma miserável parcela de dez por cento mostra o baixo nível
de espiritualidade em que se encontram”. (grifo no original). No mesmo lugar confessa que dava mais que o dízimo e
que às vezes chegou a dar 90% de seus rendimentos, para a obra que considerava evangélica, ficando apenas com os
dez restantes. DBTF, vol. 2, p. 201-203.
53
WHITE, E. G. Conselhos sobre mordomia, p. 102.
54
Ibid., p. 103.
55
Ibid. Evangelismo, p. 492.
56
WHITE, E. G. Obreiros evangélicos, p. 458, 463.
57
Ibid., p. 426, 427 e 430.
58
Ibid, WHITE, E. G. Testimonies for the Church. Vol 9, p. 248-251.
59
WHITE, E. G. Obreiros evangélicos, p. 449.
60
Ibid., p. 50.
24
8. Seu trabalho não é medido por uma jornada de oito horas, pois deve manter prontidão
sempre. Deus ama esses obreiros e quer que seus direitos sejam respeitados. 61
9. Mesmo quando houver crise financeira o obreiro deve ser consultado se pode viver com
menos. 62
10. É justo que seja pago, pois difícil é a tarefa do ministro de Deus, afinal, considerar o
trabalho do pastor como tarefa fácil é para aqueles que “nunca suportaram o encargo de tal
obra”. 63
11. O princípio é o mesmo de todos os tempos: “Assim ordenou também o Senhor aos que
anunciam o evangelho, que vivam do evangelho” (1Co 9:14).
21 Ellen White não falou sobre uma exceção para usar o dízimo para construir igreja?
A “exceção” de Ellen White sobre o uso do dízimo para “assegurar o lugar mais humilde de
culto” no que ela chamou de “casos excepcionais de grande pobreza” tem sido usada
inadequadamente.
Entendida corretamente no contexto original a frase não foi feita para recomendar o uso do
dízimo em construção ou despesas da igreja local, ao contrário, ela estava combatendo seu uso para
estes fins e reafirmando a exclusividade do dízimo para os ministros de dedicação exclusiva.
Assim, ao advertir as igrejas de Battle Creek e Oakland para não fazerem outro uso do
dízimo, a não ser para o ministério, ela utilizou a exceção hipotética “se” fosse em situação de
“grande pobreza”, o que não era o caso. Por outro lado, entendemos que a condição de pobreza não
existiria nas congregações sem que fosse superada diante das prometidas bênçãos de Malaquias 3:8-
12. Além disso, a desobediência não é o caminho para resolver os problemas da igreja.
Finalmente, as declarações de Ellen White, para os encarregados de administrar o dízimo,
são sempre para que o façam criteriosamente como fundo sagrado para o ministério e para não o
aplicarem em construção. A exceção hipotética não foi feita para anular, mas confirmar a regra e
repreender os desobedientes. 64
22 Malaquias não ensina que o dízimo deve ser empregado para a manutenção da casa do
Senhor, podendo assim ser usado para as despesas das igrejas locais onde está a “casa do
tesouro”?
Não. Malaquias não ensina isso. Tal interpretação é uma violação do texto e do contexto
para, assim, fornecer pretexto para a infidelidade. “Malaquias refere-se ao décimo de toda a
produção bem como dos rebanhos e gado, que pertenciam ao Senhor e foi por Ele destinado para o
serviço dos levitas.” 65 De acordo com a Bíblia, a casa do tesouro em Malaquias é a mesma descrita
em Neemias, Esdras e nos livros de Crônicas que também exemplificam quem e em que os
recursos sagrados deveriam ser utilizados. 66
Essa “casa do tesouro” 67 de Malaquias refere-se à tesouraria centralizada no Templo, 68
para onde todos os dízimos e ofertas consagradas ao Senhor deveriam ser levados. Somente depois
61
Ibid., p. 451.
62
Ibid., p. 452.
63
Ibid., p. 451, 452.
64
RONCAROLO. Perguntas sobre o dízimo, p. 100-102 e WHITE, E. G. Conselhos sobre mordomia, p. 101-103.
65
BARKER, K. L. and KOHLENBERGER III, J. NIV Bible Commentary. Vol 1. Grand Rapids, Michigan: Zondervan
Publishing House, 1994. p. 1547-1548 (grifo suprido).
66
Para uma abordagem da localização histórica do livro de Malaquias e sua relação com I e II Crônicas, Esdras e
Neemias ver Seventh-day Adventist Bible Commentary. Vol. 4. Whashington DC, Review and Herald Publishing
Association, 1976. p. 1121. Também Vol. 3, p. 73-79. Que Malaquias e Neemias lidavam com o mesmo problema ver
também BARKER, K. L. e KOHLENBERGER III, J., p. 1547-1548 e SMITH, R. L. in: Word Biblical Commentary.
Vol. 32. Waco, Texas: Word Books Publishers, 1984. p. 333.
67
HARRIS, R. L.; ARCHER, G. L. e WALTKE, B. K. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento.
SP: Vida Nova, 1998, p. 113. A expressão hebraica usada em Malaquias 3:8 para “casa do tesouro” é beht otsar que
25
de contabilizadas e armazenadas elas eram redistribuídas por equipes de sacerdotes para dar a
manutenção dos levitas em todas as regiões de Israel.
De acordo com o Comentário Bíblico Adventista, na introdução ao livro de Malaquias, este
profeta foi contemporâneo de Neemias, apesar dos livros estarem em seções diferentes da Bíblia.
Quando Neemias conduziu a reforma espiritual do povo e restauração do sacerdócio na Judéia no
ano 444 AC instituiu as “Câmaras do tesouro da casa de Deus” (Ne 10:37-39) e uma taxa à parte
para o serviço de manutenção da Casa (Ne 10:32). A seguir, precisou regressar a Babilônia e lá
permaneceu por alguns “dias”, isto é, anos (Ne 13:6). Nesse intervalo o povo decaiu em
espiritualidade e fidelidade nos dízimo e ofertas, prejudicando os recursos para manutenção das
despesas do Templo.
Em conseqüência, pela falta de condições, os sacerdotes desviaram-se do ministério e
buscaram outras atividades para sobreviver (Ne 13:10). Nessa ocasião é que surge Malaquias (425
AC), durante a ausência de Neemias, conclamando o povo a voltar a ser fiel (Ml 3:8-12). Assim,
haveria mantimento em ofertas na Casa de Deus para que não deteriorasse e dízimos para que o
sacerdote não abandonasse o ministério. Mas o que isso significa? Neemias havia restaurado o
sacerdócio e as tesourarias separadas, uma para os dízimos e outra para as ofertas e as coisas
sagradas (Ne 12:44), mas tudo centralizado no Templo.
Percebe-se que essas ofertas eram guardadas em depósitos separados e usados para
finalidades diferentes. Portanto, Malaquias está apelando para trazerem os dízimos e ofertas para as
tesourarias distintas estabelecidas por Neemias, mas centralizadas no Templo em Jerusalém. Essas
tesourarias, numa única casa do tesouro, proviam a manutenção de todas as famílias sacerdotais das
diferentes regiões de Israel. Malaquias não estava ensinando a desviar os dízimos e contrariando o
ensino de Números e Levítico. Ele apenas apelava para a fidelidade total dentro do plano já
estabelecido por Deus e reestabelecido através de Neemias.
Para que não se aplicasse indevidamente os recursos sagrados, segundo Malaquias, a
fidelidade não devia ser apenas nos dízimos, mas também nas ofertas. Assim fazendo, nos dias
atuais, haveria recursos para atender aos projetos da igreja local e na contratação de mais ministros.
O apelo de Malaquias preparou o povo para que, ao Neemias retornar, o povo voltasse à
fidelidade (Ne 13:12). Portanto, Malaquias não ensina que o dízimo deve ser usado para
gastos locais, ao contrário, ele está no contexto de Neemias quando se usava tesourarias separadas e
centralizadas no templo para a administração dos dízimos e ofertas para toda a nação israelita como
hoje o fazemos para toda a igreja.
Finalmente, se Malaquias ensina uma lição sobre a “casa do tesouro,’ quando comparado
com os demais livros da Bíblia que tratam do assunto (Neemias, Esdras e Crônicas) é que a casa do
tesouro era centralizada para toda a nação e isso contraria a aplicação do texto que alguns tentam
fazer de utilizar Malaquias para justificar o uso congregacionalista dos dízimos. Além disso, as
verbas para edificação e reparos no Templo eram outras diferentes do dízimo (2Rs 12:4, 5; 2Cr
34:8-13; Esd 2: 68, 69; Ne 7:70-73).
23 Os sacerdotes não recebiam o dízimo em suas cidades, pagos diretamente pelos crentes
locais?
Não. Conforme já abordado nas respostas anteriores, os dízimos dedicados aos levitas eram
todos levados ao Templo de “todas as terras das cidades” (Ne 12:44; 13:12) e de lá eram
aparece cerca de 80 vezes no AT e significa literalmente tesouro, estoque, depósito. Outras palavras são utilizadas para
tesouro além de otsar.
68
VANGEMEREN, W. A., editor. New International Dictionary of Old Testament Theology and Exegesis. Vol. 1.
Grand Rapids, Michigan: Zondervan Publishing House, 1997, p. 448. “ôtsar” [tesouro] “Está especialmente em
conexão com o segundo templo para o qual o povo era exortado a ‘trazer todo o dízimo à casa do tesouro’(Ml 3:10).
Para outras referências sobre o colocação dos dízimos nos depósitos do Templo, ver Neemias 10:37-40; 12:44; 13:12-
13.
26
“distribuidos” para todos os levitas pelos tesoureiros especialmente designados (Ne 13:13). Mas o
segundo dízimo, de Deuteronômio, que tinha outra finalidade, esse sim, era recebido e usado em
casa ou levado para ser gasto pelo adorador numa visita ao Templo, jamais entregue à tesouraria do
Santuário como já demonstrado.
Assim como se fazia nos dias de Ezequias (2Cr 31:19), para agilizar a distribuição do
“pagamento” dos levitas no caso específico dos produtos da agricultura (Ne 10:37), Neemias
instituiu que ali mesmo se pagasse aos levitas “arrolados” na relação dos sacerdotes, então os
mesmos levitas traziam a diferença para a “casa do tesouro” centralizada em Jerusalém. 69 Essa
equipe que fazia os pagamentos dos levitas era supervisionada por um sacerdote da família de
Aarão (Ne 10:37-39). De qualquer forma, o controle do recebimento dos dízimos da agricultura e o
pagamento aos levitas era centralizado a partir do Templo, através da supervisão do sacerdote da
família de Arão que servia em Jerusalém. 70
No que diz respeito ao dízimo levítico, pelo ensino da Bíblia percebe-se que ele era um
fundo que destinava-se à manutenção da obra ministerial de modo uniforme em todo Israel. Este
recurso sagrado não era usado pelos adoradores locais, nem utilizado para outra finalidade a não ser
a manutenção do ministério.
Neste sentido, a mesma concepção aparece em Ellen G. White ao abordar o uso do dízimo
na igreja. Apelando aos administradores da organização, declara que os dízimos são para a obra
como um todo: “Devemos compreender mais e mais que os meios trazidos ao tesouro do Senhor
nos dízimos e ofertas de nosso povo, devem ser empregados para a manutenção da obra, não
somente na pátria, mas nos campos estrangeiros”. 71
Sim. Seguindo a mesma concepção bíblica, a passagem de Malaquias 3:10 é citada por Ellen
G. White várias vezes. E algumas delas, após citar Malaquias, ela diz que os presidentes das
associações são responsáveis pela fidelidade das igrejas e administração dos dízimos, como nos
textos seguintes.
Ellen White tinha em mente a estrutura da igreja em associações e uniões, especialmente
conforme organizada em 1901, e da qual ela mesma participou. Esta concepção aparece na seguinte
declaração: “Deus conhece o futuro. Ele é aquele a quem devemos contemplar em busca de
orientação [...]. A divisão da conferência Geral em uniões foi plano de Deus.” 72
Neste sentido, ela tinha uma visão global e unificada da igreja como uma organização e
considerava o divisionismo congregacional um desvio do plano original de Deus para o movimento
adventista, conforme as seguintes declarações: “Alguns têm apresentado a idéia de que, ao
aproximarmo-nos do fim do tempo, cada filho de Deus agirá independentemente de qualquer
organização religiosa. Mas fui instruída pelo Senhor de que nesta obra não há isso de cada qual ser
independente.” 73
69
Neemias usa três palavras hebraicas para depósitos: liska (10:37-39) conf. 2 Cr 31:11; Niska (12:44); e Otsera (13:12,
13).” O dízimo aqui referido é o destinados aos levitas conforme Nm 18, diferente do “segundo dízimo” mencionado
em Dt 12, 14, 26 que era retido pelo adorador e usado para festas religiosas e para atendimento especial aos pobres e os
que não tinham “herança na terra” como era o caso do estrangeiro e dos levitas (uma referência à partilha dos territórios
das tribos).
70
VANGEMEREN, W. A., editor. New International Dictionary of Old Testament Theology and Exegesis. Vol. 1.
Grand Rapids, Michigan: Zondervan Publishing House, 1997. p. 448. “ôtsar” [tesouro]. “Há apenas uma imaginária
contradição entre versos como Neemias 10:38-39 que declaram que os levitas devem trazer os dízimos aos depósitos e
os versos 12:44; 13:12 e Malaquias 3:10, os quais falam dos leigos trazendo os dízimos aos depósitos. É o povo quem
faz as contribuições enquanto o pessoal do templo é quem as transporta para dentro das câmaras, uma prática
apoiada pela tradição rabínica.” (grifo suprido)
71
Ibid. WHITE, E. G. Testimonies for the Church. Vol. 9, p. 248-251.
72
WHITE, E. G. Testimonies for the Church Vol. 8, p. 236, 237.
73
WHITE, E. G. Obreiros Evangélicos, p. 487.
27
“Todos devem ser unidos como parte de um grande organismo. A igreja do Senhor é composta
de agentes trabalhadores, que derivam de Seu poder para agir partindo do Autor e Consumador de
nossa fé”. 74
Referindo-se às associações e seus administradores, ela menciona a tarefa da sede da obra
para o direcionamento dos recursos para essa causa unificada:
Aqueles que se encontram à testa dos negócios na sede da causa, têm de examinar
detidamente as necessidades dos vários campos; pois eles são os mordomos de
Deus, destinados a estender a verdade a todas as partes do mundo. Eles são
inescusáveis, se permanecerem em ignorância com respeito às necessidades da
obra...”. São esses mordomos que “têm que destinar às necessidades da obra do
Senhor os meios de Seu tesouro [...]. 75
As igrejas locais são vistas por ela como responsáveis de recolher esses dízimos e ofertas
no seu “tesouro” e transferirem ao “tesouro” da igreja “como um grande todo” que são as sedes
das associações, para as despesas pastorais nos campos locais e destas para outras organizações
da igreja para pagar pastores e missionários em campos mundiais. O recursos não devem ser
acumulados num lugar só. 76
Portanto,
1. Para Ellen White a “casa do tesouro” de Ml. 3:8 a 10 está sob a responsabilidade
dos presidentes de Associações, orientando os anciãos e diáconos a trazerem os
dízimos ao tesouro “para a sua obra em todo o mundo” e que Ele “nunca mudou os
planos que Ele próprio ideou.” 77
2. Os ancião e oficiais são desafiados a cumprir a missão que Deus lhes deu de levar o
povo a ser fiel nos dízimos ofertas e votos. 78
3. Segundo Ellen White os presidentes de Associação, evidentemente em união com
os demais administradores, têm como responsabilidade: “...ver que anciãos e
diácono das igrejas nelas realizem seu trabalho, cuidando de que um fiel dízimo seja
trazido para o tesouro.” 79
4. O dízimo não é uma propriedade egoísta de alguma igreja local, mas é o recurso para
enviar mensageiros de Deus “às partes mais distantes da Terra.” 80
Assim, a gerência dos dízimos, de acordo com Ellen White, deve estar com a associação que
congrega as igrejas para uma ação organizada de evangelização do campo.
74
WHITE, E. G. Testimonies for the Church, Vol. 8, p. 174
75
WHITE, E. G. Obreiros Evangélicos, p. 454, 455. (grifo suprido)
76
Ibid., p. 456, 457.
77
WHITE, E. G. Testemunhos para Ministros. SP: Casa Publicadora Brasileira, 1993, p. 305, 306.
78
WHITE, E. G. Conselhos Sobre Mordomia, p. 106, 107.
79
WHITE, E. G. Testemunhos para Ministros, p. 305.
80
WHITE, E. G. Conselhos Sobre Mordomia, p. 71; Testemunhos para Ministros, SP: Casa Publicadora Brasileira, p.
306.
28
26 Houve tempo, na história da igreja, em que o dízimo não era usado ou não se tinha
orientação suficiente sobre o seu uso adequado?
Sim. Como todas as doutrinas a luz sobre o dízimo também foi crescendo aos poucos até a
sua plena compreensão. Não é justo usar o período em que não se compreendia bem o assunto para
justificar hoje práticas que naqueles idos estavam de acordo com a luz que tinham, mas hoje são
completamente erradas em face da luz que temos sobre o assunto. 81
27 Mas se todos os crentes são sacerdotes (1 Pedro 2:5) isso não significa que os irmão da
igreja podem usar o dízimo, quer dizer, o dízimo não é mais exclusivo para os ministros?
Realmente todos os crentes são sacerdotes, mas essa não é uma idéia nova criada no NT, ela
já existia no AT. Os israelitas também eram uma nação santa de sacerdotes (Êx. 19:6), mas o
dízimo era, como hoje, apenas para os que se dedicavam exclusivamente ao ministério.
A passagem de 1 Pedro 2:5 apenas fala do dever que todos os crentes têm de levar a
mensagem ao mundo por palavra e exemplo como sacerdotes espirituais de Deus. Seu contexto não
se refere ao pagamento dos crentes e muitos menos autoriza o desvio do dízimo nem no AT nem no
NT. Os crentes no AT são chamados sacerdotes e nem por isso recebiam pagamento dos dízimos
como os levitas. O mesmo acontece no NT. Apenas aqueles que não se embaraçam com os negócios
desta vida e se dedicam exclusivamente à obra do evangelho é que devem viver do evangelho (1 Co
9:14).
28 Ellen White fez uso irregular do dízimo? Não há uma carta a um pastor orientando usar o
dízimo de maneira diferente da que a igreja orienta?
Não. Ela fez uso do dízimo de acordo com o princípio bíblico, porém usou sua autoridade de
profetiza para redistribuir melhor o dízimo e acudir emergências específicas de campos carentes,
mesmo assim sem fazer do seu procedimento uma regra para ser seguida por ninguém.
Uma exceção não estabelece norma e nem anula a norma estabelecida. A exceção confirma a
regra. Isso significa que uma exceção basta a si mesma não devendo ser prolongada além dos seus
limites de tempo, lugar e indivíduos envolvidos. Além do mais, em assuntos revelados, como é o
caso, é necessário que, para que a exceção se repita, deva haver uma autorização profética
específica para cada caso.
O relato da exceção foi como segue: Quando se apelou à associação do Colorado para
socorrer os pastores que estavam idosos ou mal remunerados e que não recebiam suficiente para se
manter o Pr. Watson reagiu contra a coleta de 400 dólares entre ofertas e dízimos em uma igreja
para os ministros negligenciados. Nessa situação E. G. White escreveu-lhe uma carta em 22 de
janeiro de 1905 declarando a necessidade de não esquecer aqueles ministros.
Essa atitude de E. G. White, além das razões já apresentadas, justificava-se naquela ocasião
(1905), pois o sistema de jubilação para manutenção de aposentados somente existiria em 1911 por
solicitação dela mesma (mesmo o governo dos EUA somente implantou o Seguro Social em 1935).
Além disso, não havia ainda o sistema de auditoria interna da igreja que reduziria muito os erros no
manejo dos fundos da igreja, implantado em 1914. 82 Mas, mesmo durante aquele período em que
ela agia como mantenedora dos pastores carentes, no que ela chamou de “minha obra especial” (não
é para outros fazerem o mesmo), sua ação, ajudada por seu filho continuava coerente com seus
conselhos sobre o uso do dízimo, conforme declara seu filho J. Edson White:
81
Conforme a história sobre o dízimo e a benevolência sistemática na SDABE e no SDABD em inglês.
82
HOLBROOK, F. B. Revista Adventista. “Preguntas acerca del diezmo y de las ofrendas”. Mayo, 1993, p. 14
29
“Mantemos uma conta separada das pequenas somas de dízimos que nos chegam dessa forma
e as usamos inteiramente para sustentar os ministros que trabalham em favor das pessoas de cor.” 83
Quando surgiu o seguro social da igreja em 1911, e as deficiências de atendimento aos
pastores foram sanadas, desaparecendo a necessidade original de 1905, ela respondeu ao ser
procurada para aceitar dízimos:
“Vocês me perguntam se aceitaria dízimo de vocês para usá-lo onde mais se necessita na
causa de Deus. Em resposta direi que não recusaria fazê-lo, mas quero dizer que há um caminho
melhor. É melhor depositar confiança nos ministros da associação onde vocês vivem, e nos
dirigentes da igreja onde vocês freqüentam. Aproximem-se dos seus irmãos.” 84
Aqui analisaremos a carta escrita por Ellen White ao Pr. G. F. Watson, presidente da
Associação do Colorado acerca do dízimo, uma vez que tem sido considerada um aval para
procedimento contrários à prática da igreja:
Meu irmão, desejo dizer a você: seja cuidadoso com o modo como age. Você não está
agindo sabiamente. Quanto menos você falar sobre o dízimo que é destinado para o
mais necessitado e aos Campos mais carentes no mundo, mais sensível você será.
Durante anos tem sido mostrado a mim que meu dízimo deveria ser remetido para
ajudar os ministros brancos e negros que eram negligenciados e não recebiam o
suficiente, necessário para sustentar a família. Quando minha atenção se voltava para os
ministros idosos, brancos ou negros, era minha especial tarefa investigar suas
carências e suprir suas necessidades. Esta deveria ser minha obra especial, e tenho
feito isto em inúmeros casos. Nenhum homem deveria dar notoriedade ao fato de que
em ocasiões especiais o dízimo é usado desta maneira.
Com respeito à obra entre os negros no Sul, aquele Campo foi e ainda está sendo
roubado dos meios que deveriam chegar até seus obreiros. Se têm existido casos nos
quais nossas irmãs têm destinado seus dízimos para o sustento de ministros que
trabalham por pessoas negras no Sul, conserve-se cada homem, se for sábio, calado.
Tenho destinado meu dízimo para os casos mais necessitados que são trazidos ao meu
conhecimento. Fui instruída a fazer assim; e com o dinheiro não é retirado da
tesouraria do Senhor, não é um assunto que deveria ser acompanhado por
comentários, pois tornaria necessário meu envolvimento com essas coisas, o que não
desejo fazê-lo, porque não é o melhor.
Alguns casos têm sido mantidos diante de mim durante anos, e tenho suprido suas
necessidades do dízimo, conforme Deus me instruiu a fazer. E se qualquer pessoa me
disser: irmã White, você poderá destinar o meu dízimo para onde você sabe que ele será
mais necessário, eu direi: sim, farei; e tenho agido assim. Elogio essas irmãs que têm
aplicado seu dízimo onde é mais necessário para ajudar a realizar uma obra que está
sendo negligenciada, e se a esse assunto for dado publicidade, fortalecerá um ponto de
vista que seria melhor se fosse deixado como está. Não tenho interesse em dar
publicidade a essa obra que o Senhor me indicou realizar, e a outros também.
Envio-lhe essa explicação para que você não cometa nenhum erro. As circunstâncias
alteram os casos. Não aconselharia ninguém a realizar uma prática de arrecadação
do dinheiro do dízimo. Mas durante anos e ainda hoje, há tantas pessoas que perderam
a confiança no método da aplicação do dízimo e têm colocado seu dízimo em minhas
mãos, e dito que se não o pegasse, eles mesmos o encaminhariam para as famílias de
ministros mais carentes que encontrassem. Tenho recebido dinheiro, dado um recibo
por ele, e dito a eles como foi aplicado.
83
WHITE, J. Edson. Carta a Arthur G. Daniels, 26 de março de 1905.
84
WHITE, E. G. Manuscripts Releases, Vol. 1, p. 196.
30
a) Ela declara que o dízimo de outras pessoas, recolhido por ela, e o seu próprio dízimo, eram
dirigidos ao pagamento de pastores e aos campos mais carentes (associações, missões) e não
para ser usado pela igreja local em suas despesas de trabalho missionário o que seria uma
distorção de todo o seu ensino.
b) Evidentemente ela estava sendo coerente com o seu ensino geral sobre o tema, de que as
associações da época não deveriam acumular recursos em prejuízo de outros campos mais
necessitados de “outras partes do mundo”, exatamente contrariando os que pensam que o dízimo
deve ser usado localmente. 86
c) Existia, o que não é o caso hoje, uma distorção no cuidado com os pastores, “ministros brancos
e negros” e “ministros idosos” que estavam sem receber sua manutenção enquanto trabalhavam
para a obra em outros campos, pois “eram negligenciados e não recebiam o suficiente para
sustentar suas famílias”.
d) apesar de o dinheiro estar indo para pastores e campos (associações), ela “não aconselharia
ninguém a realizar uma prática de arrecadação do dinheiro do dízimo.” Isto é, não era um
procedimento a ser seguido pelos membros igreja.
e) Ela não queria que fosse dada “publicidade” e nem que se fizesse “estardalhaço” para não
reforçar “o ponto de vista que seria melhor que fosse deixado como está”, para que outros não
fizessem exploração desse fato e lhe desse divulgação como, infelizmente, tem algumas vezes
acontecido.
f) Esse dízimo estava indo diretamente do adorador, o irmão, para o campo e o pastor necessitado.
Não tinha sido nem mesmo entregue na igreja local para aplicá-lo como desejasse. Não estava
havendo nenhum problema de retenção ou desvio do dízimo do seu propósito original. Seria
como qualquer membro, em uma situação especial de crise, enviar excepcionalmente seu dízimo
de um campo para outro que acha mais carente. Sempre respeitando o princípio bíblico e do
Espírito de Profecia, de entregar ao campo para pagamento de pastores.
g) Quanto a seu envolvimento pessoal numa “irregularidade”, é interessante mencionar que ela
declarou que “fui instruída a fazer assim” e não era para ser dada “publicidade” a algo que era
uma orientação particular de Deus para ela, “essa obra que o Senhor me indicou a realizar, e a
outros também”, que a ela confiavam seu dízimo.
Concluímos dizendo, a respeito da carta de Ellen White ao Pr Watson, que se alguém recebesse
1) instrução específica de Deus 2) para enviar seu dízimo para um campo (associação/missão da
igreja) para manter famílias de ministros que estivessem passando necessidade em função de
alguma crise, estaria de acordo com o que diz a carta. Não há nenhuma base para usar tal carta
como pretexto para fazer o contrário da orientação inspirada por Deus.
85
WHITE, Arthur. Ellen G. White: The Early Elmshaven Years. Whashington, DC: Review adn Herald Publishing
Association, 1981, p. 396, 397. (grifos supridos).
86
WHITE, E. G. Obreiros Evangélicos, p. 455, 456.
31
1. Sobre a validade e a aplicação - “Deus não tem mudado; o dízimo ainda deve ser usado para
o sustento do ministério. O começo da obra em vários campos requer mais eficácia
ministerial do que a que temos agora, e tem que haver fundos na tesouraria.” 87
2. O dízimo não acabou - “O sistema do dízimo baseia-se em um princípio tão duradouro
como a lei de Deus”. 88
3. Conselho a um homem que declarava não ser preciso devolver o dízimo
“Como ousa então o homem até mesmo pensar em seu coração que uma sugestão para reter o
dízimo e ofertas vem do Senhor? Onde, meu irmão, vos desviastes do caminho? Oh, ponde vossos
pés de novo no caminho certo.” 89
4. Conselho aos que percebem erros na obra e por isso decidem não dizimar
Alguns se têm sentido mal-satisfeitos e dito; ‘Não pagarei mais o dízimo; pois não
confio na maneira por que as coisas são dirigidas na sede da obra.’ Roubareis, porém, a
Deus por pensardes que a direção da obra não está direita? Apresentai vossa queixa
franca e abertamente, no devido espírito, e às pessoas competentes. Solicitai em vossas
petições que se ajustem as coisas e ponham em ordem; mas não vos retireis da obra de
Deus, nem vos demonstreis infiéis porque outros não estejam fazendo o que é direito. 90
5. Segundo Ellen G. White o dízimo destina-se a manter os que atuam diretamente na obra
evangélica: 91
a) pastores. 92
b) missionários em campos estrangeiros. 93
c) médicos missionários. 94
d) professores de Bíblia. 95
e) irmãs que sejam obreiras bíblicas. 96
f) um fundo de aposentadoria para pastores. 97
g) assistência em eventual invalidez de obreiros. 98
h) um plano de saúde para obreiros. 99
i) despesas de mudança dos obreiros. 100
a) Não usar naquilo que “pareça justo, mesmo no que possam considerar como obra do
Senhor.” 101
87
WHITE, E. G. Testimonies for the Church, vol. 9. p. 248-251.
88
WHITE, E. G. Conselhos sobre Mordomia, p. 67.
89
Ibid., p. 83, 84.
90
WHITE, E. G. Obreiros Evangélicos, p. 226, 227.
91
WHITE, E. G. Conselhos sobre Mordomia, p. 102, 103 e Obreiros Evangélicos, p. 492.
92
WHITE, E. G. Testimonies for the Church, vol. 9, p. 52; WHITE, E. G. Obreiros Evangélicos, p. 455.
93
WHITE, E. G. Testimonies for the Church, vol. 9, p. 52; Conselho Sobre Mordomia, p. 71; e Obreiros Evangélicos,
p. 455.
94
WHITE, E. G. Medical Ministry. Moutain View, California: Pacific Press Publishing Association, 1932, p. 245.
95
WHITE, E. G. Conselhos Sobre Mordomia, p. 103.
96
WHITE, E. G. Evangelismo, p. 492.
97
WHITE, E. G. Obreiros Evangélicos, p. 430. Semelhantemente, nos dias de Jesus os trabalhadores do Templo
deveriam ter suas necessidades supridas em caso de desemprego. Ver JEREMIAS, J. Jerusalém no Tempo de Jesus. SP:
Edições Paulina, 1983, p. 4.
98
WHITE, E. G. Obreiros Evangélicos, p. 426.
99
Ibid.
100
Ibid., p. 450.
32
Algumas citações de Ellen White tratam da necessidade que a obra de Deus tem de
recursos em geral, mas sem discriminar a aplicação do dízimo ou das ofertas. Uma dessas
passagens é a que se encontra a seguir:
Esta passagem, porém, estabelece apenas que as “instituições” devem ser “sustentadas com
dízimos e ofertas”, mas sem entrar no mérito de como serão aplicados tais recursos nessas mesmas
instituições, o que é feito em outros textos citados anteriormente. É lógico entender, para ser
coerente com o pensamento mais amplo da autora sobre a temática em questão, que as construções
e outras necessidades seriam mantidas pelas ofertas, mas os ministros o seriam pelo dízimo.
Outra passagem, que possui um sentido geral, aparece quando Ellen White indica que os
membros deveriam dizer: “mandaremos nossas ofertas para manter os obreiros nos campos mais
necessitados e destituídos de auxílio.” 108 Evidentemente, conforme muitas citações suas, a fonte
para a manutenção de obreiros pastores deveria provir do dízimo. Assim, a palavra “ofertas” estaria
sendo utilizada em sentido geral de “entradas” podendo referir-se a dízimos e ofertas.
Seria incoerente utilizar citações como as acima para confundir a diferença de aplicação do
dízimo, daquela atribuída por Ellen White às ofertas, uma vez que ela é cuidadosa em fazer essa
distinção.
Como ela mesma declarou, ao condenar o desvio do dízimo para outro uso, diferente do
pagamento de pastores: “Mas estais roubando a Deus cada vez que pondes a mão no tesouro a fim
de tirar fundos para atender às despesas correntes da igreja.” 109
Assim, Ellen White tinha clara compreensão sobre a utilização do dízimo, com aplicação
separada das ofertas e a expressou em forma de orientação à igreja.
A pergunta 6 mostra que o dízimo é exclusivo para o ministério e que construções e
despesas locais da igreja devem ser feitas apenas com ofertas fixas e voluntárias.
30 O dízimo não deveria ser usado no distrito que mais contribui em vez de ser enviado e
administrado uniformemente pela associação?
mas as necessidades de manutenção dos indivíduos e da obra em Israel como um todo. Assim que,
todos os levitas recebiam sua manutenção de acordo com as necessidades de suas famílias (2Cr
31:17-19).
É neste sentido que Ellen White, repreendendo as associações na administração do dízimo e
ofertas, por acumularem sem consideração para outros campos, afirma: “Em algumas associações
tem-se considerado louvável o economizarem-se meios, e apresentar um grande excesso no
tesouro. Deus não tem sido honrado com isso.” 110 Mesmo o “tesouro” das instituições é para
ajudar os campos missionários também. 111
31 Apesar de ser uma mensagem bíblica, não seria melhor evitar pregar e ensinar sobre o
assunto para não despertar oposição?
O ensino bíblico sobre o dever de todo pastor é pregar “a palavra” sempre (2Tm 4:1, 2) pois
chegará tempo em que alguns “não suportarão a sã doutrina e se recusarão a dar ouvidos à verdade,
entregando-se às fábulas” (v. 3, 4)), por isso ao pastor é dito ser necessário ter “cuidado de ti
mesmo e da doutrina” para salvar a “a ti mesmo e aos teus ouvintes” (1Tm 4:16). A citação seguinte
é oportuna:
Alguns deixam de educar o povo a cumprir com todo o seu dever. Pregam parte de
nossa fé que não cria oposição ou desagrada aos ouvintes, mas não declaram toda a
verdade. O povo aprecia-lhes a pregação, mas há falta de espiritualidade porque os
reclamos do Senhor não são atendidos. Seu povo não lhe dá em dízimos e ofertas o que
lhe pertence. Esse roubo a Deus, praticado tanto pelos ricos como pelos pobres, traz
trevas às igrejas; e o ministro que com elas trabalha, e não lhes mostra a vontade de
Deus claramente revelada é condenado com o povo por negligenciar seu dever. 112
Portanto, a mensagem sobre o dízimo e as ofertas, como todas as doutrinas, deve ser pregada
com amor, mas precisa ser anunciada, mesmo quando alguns desejariam evitar a Palavra. Todos
merecem ser abençoados com a experiência que vêm dessa mensagem.
32 Pode-se basear a doutrina do dízimo no texto de Números 18:21, 22 para a igreja hoje?
A base para a sustentação do ministério evangélico na Igreja Adventista não se baseia
apenas em Números 18:21 e 22 e nem apenas no sistema levítico localizado no período pós-Êxodo.
O sistema do dízimo, semelhante ao sábado (relato da criação) e à doutrina da justificação pela fé
(história da Queda e da experiência de Abraão), por exemplo, antecede ao sistema levítico.
Assim, antes e depois do período levítico o dízimo foi adotado por ser o único modo de
sustentação do ministério biblicamente recomendado. Mesmo a alegação de que ele não é prescrito
no NT se baseia apenas no argumento de que falta uma repetição ampla da doutrina, mas esse
argumento não pode ser conclusivo por si só, ou teríamos que somente aceitar “o que foi repetido”
no NT. Isso equivale a dizer que ao AT falta autoridade inspirada o que não corresponde ao ensino
do próprio NT.
Uma alegação feita por alguns é a de que o dízimo estaria ligado à lei cerimonial e, por isso,
não teria mais validade. Mas, se seguíssemos esse raciocínio, vários princípios bíblicos que
aparecem no NT seriam desprezados unicamente por se encontrarem relatados junto com as
cerimônias a eles ligados. Como exemplos podem ser citados: a lei de alimentos imundos e não
110
WHITE, E. G. Obreiros evangélicos, p. 456. (grifo suprido)
111
Ibid., p. 183.
112
WHITE, E. G. Conselhos Sobre Mordomia, p. 87.
34
33 Às vezes o pastor parece ficar pouco na igreja local dividindo seu tempo entre várias
igrejas. Deveria receber do dízimo, visto o trabalho local ser desempenhado por membros
voluntários?
O plano de Deus é que os membros consagrados que não recebem salário da igreja, por não
serem ministro de dedicação exclusiva, dirijam as igrejas como anciãos e oficiais. Os pastores
devem estar livres para supervisionar a obra e avançar com planos de expansão com irmãos que são
chamados para a evangelização juntamente com os pastores. Isso fica claro ao ler 1 Coríntios 12
onde se declara que todos os membros têm dons para a edificação da igreja, embora nem todos
sejam mantidos por ela. O texto de Ellen White vai nessa mesma direção, indicando a tarefa que o
Senhor espera que seja desempenhada pelos membros das igrejas:
Devem [os membros das igrejas estabelecidas] ser ensinados a dar fielmente o dízimo a
Deus, para que os possa fortalecer e abençoar. Devem ser postos em ordem de
trabalho... Em vez de conservar os pastores trabalhando pelas igrejas que já conhecem a
verdade, digam os membros das igrejas a esses obreiros: Ide trabalhar pelas almas que
perecem nas trevas. Nós mesmos levaremos avante os trabalhos da igreja. Nós
realizaremos as reuniões, e, estando em Cristo, manteremos vida espiritual.
Trabalharemos pelas almas que estão ao nosso redor, e elevaremos nossas orações e
mandaremos nossas ofertas para manter os obreiros nos campos mais necessitados e
destituídos de auxílio. 113
No sentido acima, permanecer estacionado numa igreja não garante seu progresso e nem é
este o plano inspirado por Deus. Portanto, a manutenção dos pastores está ligada ao seu trabalho
como um todo em favor da obra do evangelho, independente de sua presença fixa em alguma igreja
local.
113
WHITE, E. G. Evangelismo, p. 381, 382 (grifo suprido).
35
faziam no Templo, mas na dedicação total e exclusiva como ministros dedicados ao Senhor para
toda a vida. Eram um símbolo espiritual para a nação. Ensinavam o povo, administravam,
representavam o seu Deus, eram guardiões da doutrina.
Esse é o tipo de ministério que Deus espera conforme descrito no Espírito de Profecia e na
Bíblia. Apesar das imperfeições, inerentes ao ser humano, seria um equívoco perder de vista o valor
simbólico e espiritual do ministério do pastor que não pode ser medido nem julgado com os
mesmos critérios de funções comuns.
35 De acordo com 1 Coríntios 9:14 “os que anunciam o evangelho que vivam do evangelho”
não é uma referência aos membros da igreja que trabalham como voluntários anunciando o
evangelho nas congregações?
Não. Como já foi dito anteriormente, a passagem de 1 Co.9:14 deve considerar o contexto,
que no caso, refere-se ao ministério de Paulo e Barnabé em seu trabalho pastoral e o direito dos
apóstolos a pagamento (9:1-6) e não se refere aos membros da igreja em geral, embora todos
preguem e sejam responsáveis pela igreja juntamente com o pastor. Essa passagem nem de longe
intenta justificar o pagamento pelo trabalho voluntário de membros da igreja. Ao contrário, insiste,
isso sim, que os que dedicaram a vida para somente viver do evangelho, uma vez treinados,
nomeados e ordenados pela igreja, como foi o caso dos apóstolos, é que devem ser pagos.
36 Como entender a declaração de Ellen White de que não se deve usar o dízimo para os
pobres se Deuteronômio ensina o contrário (Dt 12, 14, 26)?
114
WHITE, E. G. Patriarcas e Profetas, capítulo 51.
36
38 A declaração de Êxodo 23:15, “ninguém apareça perante mim de mãos vazias” não está
também em contexto cerimonial? Não é incorreto usá-la na igreja uma vez que a lei
cerimonial foi abolida?
A frase “ninguém apareça perante mim de mãos vazias” em Êxodo 23:15, embora se
encontre no mesmo versículo que prescreve a Festa dos Ázimos não deveria ser classificada de erro
quando usada para estimular a liberalidade do adorador. É preciso entender que o NT também faz o
mesmo tipo de aplicação de princípios morais que são descritos junto a cerimônias e leis civis. Se o
NT fosse lido com mais cuidado se perceberia muitas referências que são apenas destaques de
aspectos morais tirados de leis cerimônias e civis de Israel. Portanto, não foram dados inéditos do
NT e nem foram invalidados por estarem unidas às cerimônias (leia também a resposta na pergunta
32).
Aqueles que rejeitam a lei de Deus e o sábado também confundem cessação das leis
cerimoniais com a lei moral ou os princípios que eram ensinados nas mesmas leis. Também
confundem cerimônias do AT com as Escrituras do AT e querem abolir a validade da própria
Escritura do AT juntamente com as leis cerimoniais.
Do mesmo modo é a confusão entre os três dízimos (dois religiosos e um civil) mencionados
na Bíblia: o dízimo para a manutenção do ministério; o dízimo de Deuteronômio e o do rei.
Certamente que todos os princípios e valores redentivos e morais envolvidos mesmo em leis
cerimoniais continuam em vigor e isso pode se perceber claramente nos argumentos do NT em prol
do evangelho, especialmente destacados na epístola aos Hebreus. Outros exemplos são:
1) as leis contra o homossexualismo que não são aceitas pelos gays, pois, segundo eles,
estão na mesma seção de leis cerimoniais;
2) as leis de Levítico 11 não são aceitas pelos que “comem de tudo” pois estão em um
bloco de leis (Lv. 17-21) cerimoniais (segundo eles).
3) comer sangue, para outros, é cerimonialismo, pois estão juntas às cerimônias (Lv.
17)
4) as leis contra o sacrilégio, pecados ocultos e por ignorância também são ligadas aos
sacrifícios de animais (Lv 1-6), só para mencionar alguns casos que são às dezenas.
Finalmente, na mesma sessão de Êxodo onde aparece a frase que não se deve aparecer diante
do Senhor “de mãos vazias” ao lado de atividades cerimoniais também se menciona o sábado,
proíbe-se ser falsa testemunha, torcer o direito, apropriar-se de bens alheios, aceitar suborno,
oprimir o estrangeiro e praticar a idolatria (Lv. 23:1-15). Seria incoerente com o evangelho acreditar
que todos esses valores morais e espirituais estão abolidos porque foram mencionados juntamente
com as leis cerimoniais.
39 Não é um erro Ellen White usar o termo “sacrifício pelo pecado” para se referir às ofertas
e dízimos? As leis cerimoniais não cessaram com Jesus?
Embora todas as leis cerimoniais tenham cessado, os termos e expressões ligados a eles são
usados freqüentemente tanto no NT como por Ellen White para representar a fé e a entrega do
crente no exercício da adoração. Por exemplo: a Bíblia fala em sacrifício de nossos corpos
referindo-se ao culto a Deus quando não se faz mais sacrifícios de animais; fala de sacrifícios de
37
louvor de nossos lábios; fala de incenso para se referir às nossas orações; etc. Ellen White e a
literatura cristã estão repletas de frases utilizando-se figuras das leis cerimoniais e civis para retratar
nossa devoção.
Ellen White utiliza a expressão “sacrifício pelo pecado” para as ofertas e dízimos ilustrando
o espírito como devemos entregar nossas ofertas, dentro do mesmo estilo usado no NT, “tendo
consciência” de que elas são um “reconhecimento” do que Cristo fez por nós. Nossas ofertas,
louvor e serviços ao evangelho são uma expressão de nossa gratidão e reconhecimento pelo
sacrifício de Cristo por nossos pecados. No AT o pecador trazia uma oferta (um animal) que era
oferecido pelo pecado, mas aquele animal não pagava pecado algum, apenas representava a
aceitação do plano de Deus.
O próprio NT utiliza também uma linguagem relacionada aos sacrifícios e ofertas
cerimoniais de animais para descrever a experiência espiritual cristã embora despida das formas do
passado. No contexto do que já foi dito até aqui, eis alguns exemplos, sem que signifiquem a volta
ao cerimonialismo do AT e nem salvação pelas obras:
1. Jesus é chamado de nossa “oferta e sacrifício a Deus em aroma suave” (Ef. 5:2), embora a
lei de sacrifícios haja terminado.
2. Nossos corpos são, espiritualmente, sacrifícios vivos, santos e agradáveis a Deus (Rm 12:1).
3. I Pedro 2:5 manda oferecer sacrifícios espirituais a Deus mediante Jesus (sacrifícios = gr.
tusias = animal sacrificado no altar, ou o ato de oferecer tais sacrifícios). 115
4. Hebreus 13:16 chama a beneficência e a comunicação com os irmãos de sacrifícios que
agradam a Deus (gr. tusias)
5. Em Filipenses 2:17 – Paulo se considera a “libação sobre o sacrifício” – linguagem de
cerimônia abolida.
6. Em Filipenses 4:15-18 – Paulo, ao referir-se às ofertas para suas despesas recebidas dos
Filipenses, chama tais ofertas de “suavidade e sacrifício agradável a Deus”. (sacrifico aqui
também é a palavra grega tusias usada para os sacrifícios/ holocausto oferecido ou pelo
pecado ou em gratidão). De qualquer forma é uma linguagem direta das leis cerimoniais.
Portanto, nossas ofertas, dízimo, serviço e louvor continuam representando a verdade
espiritual de que ainda dependemos de Deus para a remissão dos pecados, o que expressamos
através desses “sacrifícios” de amor. Trata-se apenas de uma forma de expressar a experiência
espiritual sem querer dizer que o sistema cerimonial está de volta.
40 Alguém disse que Miquéias 7:5 ensina que não se deve apoiar pastores e igrejas
organizadas inclusive a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Estaria isso certo?
O texto de Miquéias 7:5 refere-se à crise moral e espiritual entre os judeus. Essa passagem
fala que naquela situação as pessoas não iriam confiar umas nas outras. Mas a passagem não trata
do dízimo e nem de organizações religiosas ou de qualquer igreja específica.
Por outro lado, o NT ordena respeitar, obedecer e honrar os líderes e pastores da igreja em
passagens como, por exemplo, Hebreus 13:17 e 1 Tessalonicenses 5:12, 13. Se a Bíblia manda
respeitar as autoridades mundanas, a despeito de suas falhas, por que não deveríamos respeitar as da
igreja, apesar também de suas imperfeições?
Quanto à organização, é importante lembrar que diante dos desafios que o mundo oferece
para se manter uma ação organizada para a evangelização, manutenção de pastores e de
propriedades, conservação da doutrina, unidade do corpo de crentes e resistência a falsas doutrinas e
líderes dissidentes a organização da igreja é uma necessidade que o povo de Deus não pode
dispensar: “Alguns têm apresentado a idéia de que, ao aproximarmo-nos do fim do tempo, cada
filho de Deus agirá independentemente de qualquer organização religiosa. Mas fui instruída pelo
Senhor de que nesta obra não há isso de cada qual ser independente.” 116
115
Léxico do grego do Novo Testamento. EUA: Zondervan, 1977, p. 198
116
WHITE, E. G. Obreiros Evangélicos, p. 487.
38
Segundo Ellen White, mesmo que ministros indignos venham a receber parte de nossos
dízimos e ofertas não devemos deixar de contribuir para a causa de Deus. 117 Seu conselho é: “não
deixes de dar à causa de Deus, e seja achado fiel, porque outros não estão agindo corretamente.” 118
Um exemplo importante ocorreu em 1870 quando administradores foram advertidos por ela: “Os
fundos nem sempre têm sido empregados como designaram aqueles que doaram com grande
sacrifício. Homens ambiciosos e egoístas, faltos de espírito de sacrifício e renúncia têm
administrado infielmente os meios trazidos à tesouraria.”
E apesar disso ela disse sobre os doadores:
As pessoas sacrificadas, consagradas, que devolvem a Deus o que lhe pertence, como
ele exige, serão recompensadas de acordo com suas obras. Ainda que os meios assim
consagrados sejam mal utilizados de modo que não realizem o objetivo que o doador
tinha em vista – a glória de Deus e a salvação das almas – os que fizeram o sacrifício
com sinceridade de alma e com sinceridade de propósito para a glória de Deus não
perderão a sua recompensa. 119
Se os assuntos da associação não são manejados de acordo com a ordem de Deus, isso é
pecado dos que cometem o erro. O Senhor não culpará ninguém que faz o que está ao
alcance para corrigir o mal. Mas você não cometa o pecado de reter de Deus o que é Sua
propriedade. 120
Esta posição, apesar dos desvios da administração naquela época, permaneceu a mesma até
1909, próximo ao fim de sua vida, quase vinte anos mais tarde:
Alguns se têm sentido malsatisfeitos, e dito: "Não devolverei mais o dízimo; pois não
confio na maneira por que as coisas são dirigidas na sede da obra." Roubareis, porém, a
Deus, por pensardes que a direção da obra não é correta? Apresentai vossa queixa
franca e abertamente, no devido espírito, e às pessoas competentes. Solicitai em vossas
petições que se ajustem as coisas e ponham em ordem; mas não vos retireis da obra de
Deus, nem vos demonstreis infiéis porque outros não estejam fazendo o que é correto.
121
Ela assim falou e assim procedeu como declarou seu filho: “Desde minha conexão com os
assuntos de minha mãe em 1881, a maior parte do tempo, um dizimo completo de seu salário era
colocado nas mãos do tesoureiro da igreja ou da associação.” 122
Os sacerdotes e escribas não eram bons exemplos nos dias de Jesus e a população como um
todo estava espiritualmente decadente e prestes e deixar de ser a nação teocrática e até deixar de
existir como tal. No entanto, Jesus ordenou a respeito do dízimo: “fazei estas coisas” (Mt 23:23).
Ellen White advertiu severamente a igreja por seus erros, no entanto, jamais considerou as
falhas individuais dos seus membros, líderes ou instituições um motivo para a infidelidade nos
dízimos e ofertas. Por exemplo, mesmo na época em que a igreja era repreensível a ponto de ser
117
WHITE, E. G. Special Testimonies, Serie A, n º 1, p. 52, 53.
118
WHITE, E. G. Testimonies for the Church, vol. 9, p. 249
119
Ibid., vol. 2, p. 518 e 165.
120
WHITE, E. G. Special Testimonies, Serie A, n º 1, p. 27
121
WHITE, E. G. Obreiros Evangélicos, p. 227.
122
Citado por WHITE, Arthur L. Ellen G. White: The Early Elmsheaven Years, 1900-1905, p. 393.
39
dito por ela que a Associação Geral não era mais a voz de Deus, num testemunho dirigido à igreja
de Battle Creek (1896) ela insistia para não se desviar os dízimos. 123
Os erros da igreja ou seus líderes e membros não devem ser desculpa para a infidelidade a
Deus. As palavras seguintes são apropriadas: “Solicitai em vossas petições que se ajustem as coisas
e ponham em ordem; mas não vos retireis da obra de Deus, nem vos demonstreis infiéis porque
outros não estejam fazendo o que é direito.” 124
42 Por que Jesus não mandou os discípulos recolherem dízimos quando saíram a pregar? Por
que os orientou a não levarem ouro e nem alforje (Mat. 10:9, 10)?
A missão dos doze em Mateus 10 era uma missão restrita ao território dos israelitas (versos
5, 6); os quais ainda viviam sob a validade do sistema levítico a quem pertenciam os dízimos por
determinação divina (Nm. 18:21).
O sistema levítico somente cessaria com a morte de Jesus, quando o véu do Templo “rasgou-
se pelo meio” (Lc. 23:45) indicando o fim dos serviços no santuário terrestre o qual era símbolo do
santuário celestial (Hb. 8 e 9).
Porém, apesar de todos os erros humanos nos seus dias, Jesus acatava o sistema levítico,
seus sacrifícios, festas e mandamento, inclusive o dízimo: Jesus ordenava o sacrifício prescrito no
sistema levítico para pessoas curadas de lepra (Mt. 8:4); ordenava àqueles que foram curados por
ele a mostrarem-se aos sacerdotes, de acordo com a lei de Moisés (Lc. 5:14); Jesus obedecia ao
calendário judaico comendo a Páscoa (Lc. 22:7, 8); Jesus, apesar da infidelidade dos sacerdotes,
ordenava devolução do dízimo sem hipocrisia (Mt. 23:23). Por isso Jesus não poderia liberar aos
discípulos adotar o recolhimento dos dízimos que, por direito, ainda pertenciam aos levitas, num
sistema ainda em vigor, conforme as Escrituras.
Por outro lado, a ordem de não levar dinheiro ou alforge refere-se possivelmente à
dependência da hospitalidade que os apóstolos e discípulos desfrutariam entre os judeus piedosos,
conforme prescrita no Pentateuco em relação mesmo aos estrangeiros e peregrinos (Dt 10:18, 19).
Eles deveriam se sustentar provisoriamente a partir da generosidade dos que fossem tocados ao
ouvir a Palavra.
Portanto, Jesus não poderia ordenar que os apóstolos recebessem o dízimo do sistema
levítico porque este ainda estava em vigor. Na igreja cristã, no entanto, o sistema dos dízimos
permaneceu, pois outro modelo de manutenção não foi apresentado. O serviço do Templo, porém,
foi indicado como parâmetro de manutenção dos ministros, para que os que servem em dedicação
exclusiva vivam, como lhes cabe o direito, do próprio evangelho (1Co 9:13, 14). Dessa forma
podem servir à igreja sem embaraço dos negócios seculares.
43 Em situação de crise e pobreza, ou se o coração da pessoa acha que não tem nada demais,
estaria correto devolver somente uma parte do dízimo?
Não. O dízimo devolvido apenas em parte é um dízimo não devolvido. De acordo com
Levítico 27:30-34 os que retinham parte dos dízimos da lavoura deveriam pagar um quinto (20%)
como acréscimo e se tentasse trocar o dízimo de gado a multa seria a entrega do que seria dizimado
123
WHITE, E. G. Conselhos sobre mordomia, p. 103.
124
WHITE, E. G. Obreiros evangélicos, p. 226-227. Um exemplo notável de liberalidade no mundo evangélico é dado
por Champlin ao tratar desse assunto, apesar de não defender a base neotestamentária para a entrega e uso do dízimo,
este autor declara que o “espetáculo de missionários evangélicos que constroem para si mesmos grandes mansões, lares
luxuosos, etc.”, revelam o egoísmo humano e, logo adiante: “O próprio fato de que há crentes disputando sobre se
devem contribuir ou não com uma miserável parcela de dez por cento mostra o baixo nível de espiritualidade em que se
encontram”. (grifo no original). No mesmo lugar confessa que dava mais que o dízimo e que às vezes chegou a dar 90%
de seus rendimentos, para a obra que considerava evangélica, ficando apenas com os dez restantes. DBTF, vol. 2, p.
201-203.
40
e mais do animal que seria trocada (100%). Esta medida era uma advertência contra a ambição e
falta de liberalidade, ao mesmo tempo em que mostrava a santidade do dízimo (v. 30).
De acordo com comentaristas, no contexto de Malaquias 3:8-10, a advertência “vós me
roubais” refere-se também ao expediente de devolver um “pseudo-dízimo” abaixo da décima parte
de todas as rendas. Muitos devolviam o dízimo nos dias de Malaquias, porém, não integralmente, o
que se constituía em roubo para com Deus. 125 O mesmo se pode dizer dos que não devolvem uma
oferta fiel, conforme sua “prosperidade” (1Co 16:2).
Outro aspecto muito importante é o pecado de mentir ao Espírito Santo e à igreja, cometido
quando as ações são incompatíveis com a profissão de fé. No exemplo de Ananias e Safira
percebemos que o Senhor Jesus leva muito a sério a sinceridade e verdade nesta questão. Ao
mentirem contra a igreja o faziam contra Deus e a punição do casal foi a morte (At 5:1-11).
Outro argumento comum é de que os pobres não deveriam ser convidados a serem fiéis nos
dízimos e ofertas. O texto abaixo mostra que a fidelidade não é circunstancial:
Portanto, nem a infidelidade e nem a falsa fidelidade são aceitáveis diante de Deus. Deus
espera que todos, ricos e pobres em crise ou na prosperidade sejam fiéis. É preciso que os dízimos e
as ofertas sejam dadas de acordo com as prescrições divinas.
44 Gostaria de ficar rico e por isso tenho dado o dízimo. Todo mundo que dá o dízimo fica
rico?
Não. Nem todos os que dão o dízimo ficam ricos, embora sejam abençoados de várias
maneiras. Não se deve dar o dízimo com a intenção de ficar rico como se fosse uma loteria ou mero
investimento financeiro. Deus abençoa a pessoa fiel antes e depois de devolver o dízimo. Jesus e os
apóstolos não foram ricos e a riqueza não é a marca da espiritualidade de ninguém. A riqueza é um
dom: assim como há pessoas que tem dom para cantar, pregar, etc., há os que recebem a habilidade
para adquirirem riquezas. É um entre outros dons de Deus com o fim de serem usados para Sua
glória. Porém, muitos usam os dons de Deus apenas visando a satisfação própria esquecendo de
devolver a parte que lhe pertence. Algumas observações mais podem ser apresentadas sobre a
pergunta acima na tentativa de esclarecer melhor o assunto:
1) Malaquias 3:8-10 lembra que Deus abençoará os que são fiéis, mas deixa claro que
somente há dízimo porque houve uma benção anterior. Como dar dízimo para ser
abençoado se Deus não desse uma benção inicial? Quem devolve o dízimo já foi
abençoado.
2) O dízimo não é para comprar a benção de Deus. O dízimo pertence a Deus e, assim,
não é coerente esperar uma relação de troca porque se “devolveu” a Deus a parte que
lhe pertence. Afinal, Ele pediu uma parte de tudo que a Ele pertence e já deixou
“nove partes” com o crente.
3) Tentar comprar o dom de Deus com dinheiro é um pecado condenado nas Escrituras
(At 8:18-23) quando um indivíduo tentou comprar o dom do Espírito Santo. Mas
essa condenação se estende não somente às bênçãos espirituais. Toda vez que se quer
125
CBA, vol. 4, p. 1153.
126
WHITE, E.G. Obreiros evangélicos, p. 222, 223.
41
Apressai-vos, meus irmãos e irmãs, a levar ao Senhor dízimo fiel e levar-Lhe, também,
voluntária oferta de gratidão. Muitos há que não serão abençoados enquanto não
restituírem o dízimo que retiveram. O Senhor espera que redimais o passado. A mão da
santa lei repousa sobre toda alma que desfruta as bênçãos de Deus. Façam, todos os que
retiveram o dízimo, perfeito ajuste de contas, trazendo ao Senhor aquilo de que haviam
privado Sua obra. Fazei restituição, e levai ao Senhor ofertas pacíficas: "Que se apodere
da Minha força e faça paz comigo; sim, que faça paz comigo." Isa. 27:5. Se
127
DBTF, vol. 2, p. 201-203.
128
WHITE, E. G. Testemunhos para Ministros, p. 306.
42
Não haverá evidência de genuíno arrependimento a menos que ele promova uma
reforma. Se confirmar o que foi prometido, devolver o que foi roubado, confessar seus
pecados e amar a Deus e ao próximo, o pecador poder estar certo de que passou da
morte para a vida. 130
No contexto bíblico, esta lei se aplicava a qualquer bem que Deus reservou para si no
Templo. Assim, a retenção dos dízimos e das ofertas se constitui pecado de sacrilégio e a pessoa se
torna responsável de fazer um plano para devolver a Deus o que foi retido, seja o dízimo, as ofertas
prometidas como pactos e aquelas relacionadas à prosperidade concedida pelo Senhor.
46 O que a Bíblia ensina sobre as ofertas e o que isso significa para nós hoje?
Em geral, as ofertas no AT poderiam ser divididas em duas categorias: as determinadas pela
lei e as voluntárias. Todas elas refletiam a espiritualidade do povo. Havia, entre as ofertas
determinadas pela lei, as que eram levadas pelo adorador ao templo. Por exemplo, havia aquelas
referentes à expiação pelo pecado que deveriam ser feitas de acordo com as prescrições registradas
no Pentateuco. Ainda, entre as que eram levadas ao Templo, havia aquelas em reconhecimento
pelas bênçãos ou por algum acontecimento especial como decorrente de uma cura ou nascimento de
uma criança ou para purificação após o parto ou algum contato com alguma impureza.
Ao Templo também se levava a oferta do arrolamento dos homens de mais de vinte anos que
deveriam dar uma moeda de prata ao Templo, como imposto anual. Este imposto, uma oferta
obrigatória, destinava-se a restaurar sua estrutura e foi utilizado nas reformas físicas feitas no
Templo por Joás, Josias e Ezequias. Algumas ofertas obrigatórias deviam ser feitas e entregues no
Templo nos dias de festas, outras eram destinadas à expiação do pecado coletivo ou individual.
Também havia as ofertas de gratidão e as comemorativas, para serem consumida em família
como, por exemplo, a Páscoa ou o segundo dízimo (um tipo de oferta para fins de adoração e
caridade). Havia as ofertas que eram obrigatórias devido a votos individuais ou coletivos e havia as
ofertas voluntárias de várias naturezas que também eram entregues no Templo e colocadas nas
câmaras do tesouro. Para exemplificar a prática espiritual e generosa de ofertar prevista na Bíblia
listamos 16 importantes palavras hebraicas para oferta no AT: 131
129
WHITE, E. G. Conselhos sobre mordomia, p. 87.
130
WHITE, E. G. Esperança para viver (novo título do Caminho para Cristo). SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007,
p. 52.
131
O significado das palavras foram encontrados em BUSHELL, M. S. Bible Works for Windows, 1996 e na Bíblia
Online. Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
43
“A esse lugar fareis chegar os vossos holocaustos [olah], e os vossos sacrifícios [zebach], e os
vossos dízimos [maaser], e a oferta [terumah] das vossas mãos, e as ofertas votivas [neder], e as
ofertas voluntárias [nedabar], e os primogênitos das vossas vacas e das vossas ovelhas. ”
O texto acima diz que a doação dos primogênitos dos animais era parte das ofertas
obrigatórias mencionadas juntamente com o segundo dízimo em Deuteronômio 12:6. Também
aparece a palavra hebraica terumah, que é a mesma que se usa em Malaquias 3:8-10 quando
Deus reclama que está sendo roubado nas ofertas. Seu significado abrange tudo o que temos
obrigação ou alegremente damos a Deus à parte do dízimo, desde ofertas obrigatórias como
votos até as ofertas voluntárias de gratidão, por isso terumah é muitas vezes traduzida como
“oferta das vossas mãos”. A palavra terumah podia se aplicar a quase qualquer oferta e podia
ser dada em animais, grãos ou dinheiro.132
3. Em Levítico 7:11 aparece outra expressão para “ofertas pacíficas” ligada a situações que
normalmente não envolviam pecado voluntário. Demonstravam desejo de aproximação,
purificação, reafirmação do concerto com Deus como as ofertas (heb. Zebach) da Páscoa e
de certos sacrifícios anuais.
4. Em Números 18:11 uma nova palavra aparece: são as “ofertas movidas” (heb. Tanufah) que
eram levantadas perante o Senhor nos sacrifícios e ofertas em geral. Essas ofertas
pertenciam aos sacerdotes.
5. Em Números 18:9 também aparecem duas outras ofertas pertencentes aos sacerdotes: a
oferta pelo pecado (heb. Chatah) e as ofertas pela culpa (heb. Asham). Estas eram ofertas
obrigatórias no ritual do perdão.
6. Em Êxodo 28:38 aparece a palavra “ofertas das coisas santas” (heb. Mattanah) que os
sacerdotes recebiam e comiam para “levarem a iniqüidade do povo de Israel”.
7. Em Levítico 2:3 aparece a expressão “ofertas queimadas” (heb. Ishshah) que eram todas as
ofertas que passavam pelo fogo ou precisavam ser queimadas. Estas também pertenciam ao
sacerdote.
8. Em Levítico 2:13 a expressão “todas as tuas ofertas” (heb. Corban) refere-se a qualquer
oferta dedicada ao Senhor e que, por isso, o adorador não poderia utilizá-la para si. Jesus
falou sobre a interpretação equivocada da corban em Mateus 15:5 e Marcos 7:11, traduzida
em algumas Bíblias com “oferta ao Senhor”, alertando que as ofertas não devem ser usadas
como desculpa para não obedecer a outros mandamentos de Deus.
9. Em Deuteronômio 16:10 aparece a expressão “ofertas voluntárias” no contexto das festas.
A palavra hebraica é miccah e refere-se a uma oferta de acordo com “o que o Senhor teu
Deus te houver abençoado”. Era uma oferta decorrente das bênçãos, dadas em resposta às
dádivas abundantes do Senhor que deu o suficiente para viverem com fartura.
Assim, por esses exemplos, se pode perceber que as ofertas eram consideradas com seriedade e
com significados especiais. Cada uma expressava uma experiência espiritual particular do adorador.
A destinação e a ligação com cada aspecto da vida, fosse em momento de pecado, doença,
impureza; em ocasiões de alegria, perdão, gratidão, fartura, nascimento de um filho; ou nas festas
de fraternidade, caridade e em eventos oficiais, as ofertas retratavam a experiência espiritual do
povo. Talvez pareça muita oferta sobrecarregando a população, no entanto, a história da Bíblia
mostra que a generosidade dos israelitas, quando se encontravam próximos do Senhor, chegou a
superar as expectativas dos próprios líderes (Êx 36:3-7).
Na Bíblia, as ofertas não eram um mero fundo para fazer frente a projetos e despesas. Como o
dízimo elas retratavam o reconhecimento do Senhorio de Deus na experiência do povo. Eram a
expressão e o retrato da relação real com o Criador de tudo. Toda doação era o sintoma da vida
espiritual. Mantinha o Templo e os sacerdotes, mas a principal finalidade era manter a comunhão
com o Senhor. Não é de admirar que em Malaquias 3:8-10 a retenção das ofertas é igualmente
ofensiva a Deus como era reter o dízimo.
132
Bíblia Online. Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
44
Mesmo não estando obrigados aos detalhes do cerimonial do Pentateuco, devemos vivenciar a
generosidade e a espiritualidade do ofertar em cada momento de nossa vida. Como dizia o Senhor
Jesus “mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (At 20:35) e como enfatizado pelo apóstolo
Paulo em 2 Coríntios 9:7: “Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza
ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria. ”
45
Considerações finais
Como vimos, através das respostas às várias perguntas deste livro, a prática de devolver o
dízimo e as ofertas são anteriores e independentes do sistema israelita. Esta experiência espiritual
não está limitada a tempo e lugar, porque representa o reconhecimento universal da soberania de
Deus.
No contexto adventista, o dízimo e as ofertas devem ser geridos dentro de uma visão
organizacional, semelhante ao que acontecia no antigo Israel, respeitando-se sua aplicação dentro
dos limites previstos na Escritura, uma vez que são considerados como sagrados. No entanto, alguns
parecem perceber nessas dádivas apenas o sentido financeiro para operacionalizar as atividades da
igreja e a manutenção de ministros de dedicação exclusiva. O seu sentido, contudo, está mais além.
A devolução do dízimo e das ofertas subsiste na experiência da conversão e na relação de fé em
Deus e confiança em Sua igreja, a despeito de quantas imperfeições possam ser apontadas em seus
membros e dirigentes. Afinal, ainda estamos num mundo de pecado.
Estes recursos, pelo que se entende das mensagens bíblicas, pretendem estabelecer um elo
entre o ser humano e Deus. No ato do dar o dízimo e as ofertas, como descritas no Antigo
Testamento, encontram-se os sentidos de conversão, expiação e perdão que, de alguma forma,
sempre acompanhavam as dádivas. Estes significados espirituais aparecem também no ministério
do Santuário de Israel antigo e na manutenção dos sacerdotes em sua obra de intercessão. Neste
sentido, mais do que sustentar a obra do evangelho, pelo dizimar e ofertar Deus é reconhecido como
Criador e mantenedor de todas as coisas e identificado como o Redentor da humanidade.
O dízimo e as ofertas também apontam para o aspecto do relacionamento entre Deus e o ser
humano como o que se estabelece entre o servo e o Senhor; entre o mordomo e o Proprietário de
todas as coisas, o qual um dia voltará para pedir contas a cada um. Neste aspecto, outro significado
emerge, indicando uma relação de obediência e recompensa ao fiel mordomo. Assim, nos sentidos
indicados anteriormente, dizimar e ofertar, na percepção da Escritura, apontam para o Criacionismo
bíblico e constituem-se num forte apelo à devoção e à entrega para o serviço à causa de Deus.
Na fidelidade nos dízimos e ofertas fé e obediência se encontram, entrega e recompensa se
completam. Quebram-se os grilhões do egoísmo e o coração se abre, a visão estreita se amplia e os
projetos do corpo de Cristo, da igreja, organizada para a redenção de almas, agora estão no coração
do remido: Deus e o homem se tornaram sócios e somente a eternidade mostrará os resultados dessa
sociedade na grande colheita dos salvos.
46
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