São João, Teólogo e Apóstolo

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«Apóstolo São João, o Teólogo»

08 DE MAIO:

O Discípulo Amado São João, o Apóstolo Virgem, é sem dúvida um dos maiores santos
da Igreja, merecendo o título de “o discípulo a quem Jesus amava”. Junto à Cruz,
recebeu do Redentor Nossa Senhora como Mãe e, com Ela — como Fonte da
Sabedoria — a segurança doutrinária que lhe mereceu dos Padres da Igreja o título de
"o Teólogo" por excelência.
EPÍSTOLA: 1JO 1, 1-7

O que vimos e ouvimos, isto é o que nós vos anunciamos, para


que também vós vivais em comunhão.

EVANGELHO: JO 19, 25-37

Mãe, eis teu filho! Filho, eis tua mãe!


Jesus, na Cruz, entrega sua Mãe a João e este a Maria, sua Mãe,
como filho.

Tropários da Festa

KONDAKION - (4º TOM)

Quem jamais poderá narrar as tuas virtudes, ó virgem?


De ti jorram maravilhas, tu és a fonte de curas
e tu, ó teólogo e amigo de Jesus,
intercede por nossas almas.

APOLITIKION

Apóstolo predileto do Cristo Deus,


apressa-te em ajudar um povo sem defesa.
Aquele que te concedeu reclinar a cabeça sobre o seu peito
te acolha aos seus pés a fim de interceder por nós.
O Teólogo, suplica-lhe para que dissipe
a nuvem persistente do paganismo
e pede por nós a paz e uma misericórdia abundante.

PROKÍMENON
Os céus manifestam a glória de Deus
e o firmamento proclama as obras de suas mãos (Sl 19,1).
A toda terra chega a sua voz
e a todas as partes a sua mensagem (Sl 19,4).

ALELUIA

Aleluia, aleluia, aleluia

Cantarei para sempre o amor do Senhor


e anunciarei tua fidelidade de geração em geração.
Aleluia, aleluia, aleluia!

O céu proclama tua maravilha


e tua fidelidade proclamam os anjos.
Aleluia, aleluia, aleluia!

«São João, o Discípulo Amado»

ão João, o Apóstolo Virgem, é sem dúvida um dos maiores santos da Igreja,


merecendo o título de “o discípulo a quem Jesus amava”. Junto à Cruz, recebeu do
Redentor Nossa Senhora como Mãe, e com Ela - como Fonte da Sabedoria - a
segurança doutrinária que lhe mereceu dos Padres da Igreja o título de "o Teólogo"
por excelência.

Sabemos pelos Evangelhos que São João era filho de Zebedeu e


de Maria Salomé. Com seu irmão Tiago, auxiliava o pai na pesca no
lago de Genezaré. Pelos Evangelhos sabemos também que seu pai
possuía alguns barcos e empregados que trabalhavam para ele. Maria
Salomé é apontada como uma das santas mulheres que
acompanhavam o Divino Mestre para O servir.

Como seus outros dois irmãos Simão e André, também


pescadores, era discípulo de São João Batista, o Precursor. Deste
haviam recebido o batismo, zelosos que eram, preparando-se para a vinda do Messias
prometido.

Certa vez, estavam João e André com o Precursor, quando passou Jesus a alguma
distância. O Batista exclama: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo".
No dia seguinte repetiu-se a mesma cena, e desta vez os dois discípulos seguiram
Jesus e permaneceram com Ele aquele dia (Jo, 1, 35 a 39).

Algumas semanas depois estavam Simão e André lançando as redes às águas,


quando passou Jesus e lhes disse: "Vinde após mim. Eu vos farei pescadores de
homens". Mais adiante estavam Tiago e João numa barca, consertando as redes. "E
chamou-os logo. E eles deixaram na barca seu pai Zebedeu, com os empregados, e O
seguiram" (Mc 1, 16 a 20).

A partir de então passaram a acompanhar o Messias em sua missão pública. Logo


se lhes juntaram outros, que perfariam o número de doze, completando assim o
Colégio Apostólico.

«Preeminência de três Apóstolos sobre os demais»

O Apóstolo São João com sua cabeça reclinada sobre o peito de Jesus

Desde logo, Pedro, Tiago e João tomaram preeminência sobre os outros


Apóstolos, tornando-se os "escolhidos dentre os escolhidos". E, como tais, participaram
de alguns dos mais notáveis episódios na vida do Salvador, como a ressurreição da
filha de Jairo, a Transfiguração no Tabor e a Agonia no Horto das Oliveiras.
São João foi também um dos quatro que estavam presentes quando Jesus revelou
os sinais da ruína de Jerusalém e do fim do mundo. Mais tarde, com São Pedro, a
quem o unia respeitosa e profunda amizade, foi encarregado de preparar a Última
Ceia. São Pedro amava ternamente São João, e essa amizade é visível tanto no
Evangelho quanto nos Atos dos Apóstolos.

Por sua pureza de vida, inocência e virgindade, João tornou-se logo o discípulo
amado, e isso de um modo tão notório, que ele sempre se identificará em seu
Evangelho como "o discípulo que Jesus amava". Apesar de os Apóstolos não estarem
ainda confirmados em graça, isso não provocava neles inveja nem emulação. Quando
queriam obter algo de Nosso Senhor, faziam-no por meio de São João, pois seu bom
gênio e bondade de espírito tornavam-no querido de todos.

"Mas esta serenidade, esta doçura, este caráter recolhido e amoroso [de João] são algo
diferente da inércia e da passividade. Os pintores nos acostumaram a ver nele um não
sei quê de feminino e sentimental, que está em contraste com a energia varonil e o
zelo fulgurante que se descobre em algumas passagens evangélicas" 1.

Se Nosso Senhor amava particularmente São João, também era por ele amado de
maneira especialíssima. Com seu irmão Tiago, recebeu de Cristo o cognome de
"Boanerges", ou "filhos do trovão", por seu zelo. Indignaram-se contra os samaritanos,
que não quiseram receber o Mestre, e pediram-Lhe para fazer descer sobre aqueles
indóceis o fogo do céu.

Foi por esse amor, e não por ambição, que ele e o irmão secundaram a mãe,
Salomé, solicitando que um e outro ficassem à direita e à esquerda do Redentor, em
seu Reino (um tanto equivocadamente, pois imaginavam ainda um reino terreno).
Quando Nosso Senhor perguntou-lhes se estavam dispostos a beber com Ele o mesmo
cálice do sofrimento e da amargura, com determinação responderam afirmativamente.

Entretanto, uma das maiores provas de afeição de Nosso Senhor a São João deu-
se na Última Ceia. Quis o Divino Mestre ter à sua direita o Apóstolo Virgem,
permitindo-lhe a familiaridade de recostar-se em seu coração. Diz Santo Agostinho que
nesse momento, estando tão próximo da fonte de luz, ele absorveu dela os mais altos
segredos e mistérios que depois derramaria sobre a Igreja.
A pedido de Pedro, perguntou a Jesus quem seria o traidor, e obteve a resposta.
São João teve, porém um momento de fraqueza — e das mais censuráveis — quando
os inimigos prenderam Jesus, tendo então fugido como os outros Apóstolos. Era o
momento em que Nosso Senhor mais precisava de apoio! Logo depois o vemos
acompanhando, de longe, o Mestre ao palácio do Sumo Sacerdote. Como era ali
conhecido, fez entrar também Simão Pedro. Pode-se supor que ele tenha permanecido
sempre nas proximidades de Nosso Senhor durante toda aquela trágica noite, e que
não saiu senão para ir comunicar a Maria Santíssima o que se passava com seu Filho.
Acompanhou-A então no caminho do Calvário e com Ela permaneceu ao pé da cruz.
Era o sinal evidente de seu arrependimento.

«Custódia da Mãe de Deus ao Apóstolo virgem»

Foi então que, recebendo-A como Mãe, obteve o maior legado que criatura
humana jamais podia receber. Diz São Jerônimo: "João, que era virgem, ao crer em
Cristo permaneceu sempre virgem. Por isso foi o discípulo amado e reclinou sua
cabeça sobre o coração de Jesus. Em breves palavras, para mostrar qual é o privilégio
de João, ou melhor, o privilégio da virgindade nele, basta dizer que o Senhor virgem
pôs sua Mãe virgem nas mãos do discípulo virgem" 2. Ensinam os Padres da Igreja que
esse grande Apóstolo representava naquele momento todos os fiéis. E que, por meio
de São João, Maria nos foi dada por Mãe, e nós a Ela como filhos. Mas João foi o
primeiro em tal adoção.

Foi ele também o único dos Apóstolos a presenciar e a sofrer o drama do Gólgota,
servindo de apoio à Mãe das Dores, que com seu Filho compartilhava a terrível Paixão.

Quando, no Domingo da Ressurreição, Maria Madalena veio dizer aos Apóstolos


que o túmulo estava vazio, foi ele o primeiro a correr, seguido de Pedro, para o local. E
depois, estando no Mar de Tiberíades, aparecendo Nosso Senhor na margem, foi o
primeiro a reconhecê-Lo.

«Uma das três colunas da Igreja nascente»


Nos Atos dos Apóstolos, ele aparece sempre com São Pedro. Juntos estavam
quando, indo rezar no Templo junto à porta Formosa, um coxo pediu-lhes esmola.
Pedro curou-o, e depois pregou ao povo que se reuniu por causa de tal maravilha.
Juntos foram presos até o dia seguinte, quando corajosamente defenderam sua fé em
Cristo diante dos fariseus. Mais adiante, quando o diácono Felipe havia convertido e
batizado muitos na Samaria, era necessário que para lá fosse um dos Apóstolos a fim
de os crismar. Foram escolhidos Pedro e João para a missão.

São Paulo, em sua terceira ida a Jerusalém, narra em sua Epístola aos Gálatas (2, 9)
que lá encontrou "Tiago, Cleofas e João, que são considerados as colunas", e que eles,
"reconhecendo a graça que me foi dada [para pregar o Evangelho], deram as mãos a
mim e a Barnabé em sinal de pleno acordo".

Depois disso os Evangelhos se calam a respeito de São João. Mas resta a Tradição.
Segundo esta, ele permaneceu com Maria Santíssima durante o que restou de sua vida
mortal, dedicando-se também à pregação. Depois da intimidade com o Filho, o
Apóstolo virgem é chamado a uma estreita intimidade de alma com a Mãe [...]. Que
grande virtude deveria ter alguém para ser o custódio da Rainha do Céu e da Terra!

Assim, teria ele permanecido com Ela em Jerusalém e depois em Éfeso. "Dois
motivos principais deveriam ter ocasionado essa mudança de residência: de um lado, a
vitalidade do cristianismo nessa nobre cidade; de outro, as perniciosas heresias que
começavam a germinar. João queria assim empenhar sua autoridade apostólica, quer
para preservar quer para coroar o glorioso edifício construído por São Paulo; e sua
poderosa influência não contribuiu pouco para dar às igrejas da Ásia a surpreendente
vitalidade que elas conservaram durante o século II" 3.

Após a dormição de Nossa Senhora — que é como a Igreja chama o fim de sua
vida terrena — e a Assunção d'Ela aos Céus, fundou ele muitas comunidades cristãs na
Ásia menor.

«Vivo após o martírio»

Ocorre então o martírio de São João [...]. O Imperador Domiciano o fez prender e
levar a Roma. Na Cidade Eterna, ele foi flagelado e colocado num caldeirão de azeite
fervendo. Mas o Apóstolo virgem saiu dele rejuvenescido e sem sofrer dano algum.
Domiciano, espantado com o grande milagre, não ousou atentar uma segunda vez
contra ele, mas o desterrou para a ilha de Patmos, que era pouco mais do que um
rochedo. Foi ali, segundo a Tradição, que São João escreveu o mais profético dos livros
das Sagradas Escrituras, o Apocalipse.

Após a morte de Domiciano, o Apóstolo voltou a Éfeso. É lá que, segundo vários


Padres e Doutores da Igreja, para combater as doutrinas nascentes de Cerinto e de
Ebion — que negavam a natureza divina de Cristo — escreveu ele seu Evangelho 4.
Ordenou antes a todos os fiéis um jejum que ele mesmo observou rigorosamente, para
em seguida ditar a seu discípulo Prócoro, no alto de uma montanha, o monumento
que é seu Evangelho. Transportado em Deus, com um vôo de águia, ele o começa de
uma altura sublime: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava em Deus, e o Verbo
era Deus". Este Evangelho, dos mais sublimes textos jamais escritos, é tido em tanta
veneração pela Igreja, que figura [como o Evangelho da celebração das Festas das
Festas, a Páscoa], pela fundamental doutrina que contém.

Segundo São João Crisóstomo, os próprios Anjos aí aprenderam coisas que não
sabiam. São João escreveu também três Epístolas, sempre visando estabelecer a
verdadeira doutrina contra erros incipientes que se infiltravam na Igreja.

Segundo uma tradição, o discípulo que Jesus amava teria morrido em Éfeso,
provavelmente [...] no ano 101 ou 102. [...]

José Maria dos Santos

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NOTAS:

1. Frei Justo Pérez de Urbel, OSB, Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo IV, p. 614.
2. Apud Frei Justo Pérez de Urbel, OSB, op. cit., p. 612.
3. Abbé L.Cl. Fillion, La Sainte Bible avec commentaires, Évangile selon S. Jean, P. Lethielleux, Libraire-
Éditeur, Paris, 1897, Prefácio.
4. Les Petits Bollandistes, Vies des Saints d'après le Père Giry, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris,
1882, tomo XIV, p 489.
OUTRAS OBRAS CONSULTADAS:

1. Pe. M.-J. Lagrange, Évangile selon Saint Jean, Librairie Lecoffre, Paris, 1936, 6a. edição, Introduction,
pp. VI a XII.
2. Pe. Jean Croisset, SJ, Año Cristiano, Saturnino Calleja, Madrid, 1901, tomo IV, pp. 963 a 969.
3. Edelvives, El Santo de Cada Día, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoza, 1949, tomo VI, pp. 573 a 581.
4. Pe. José Leite, SJ, Santos de Cada Dia, Editorial A. O., Braga, 1987, pp. 490 a 495.

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