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UNIDADE I

Ciência Política

Prof. Dr. Adilson Camacho


1. A política, o que é, como acontece e o porquê

 Nossa ideia condutora é a política, a arte e a técnica de alcançar aquilo de que se


precisa, o que se deseja.
 Destacamos o valor na política e vemos como ela se manifesta em situações
cotidianas e nas relações locais, regionais, nacionais e internacionais. Habitar o
mundo requer engajamento político; é a maior expressão da ética.

Para Hannah Arendt:


 A questão é apenas se desejamos usar nessa direção
nosso novo conhecimento científico e técnico – e esta
questão não pode ser resolvida por meios científicos: é
uma questão política de primeira grandeza e, portanto,
não deve ser decidida por cientistas profissionais nem
por políticos profissionais (ARENDT, 1981, p. 1-2).
1. A política, o que é, como acontece e o porquê

A política acontece, como expressão de poderes das pessoas e suas organizações,


nos comportamentos, nas práticas sociais e nas crenças nas instituições!
 Há uma dualidade básica nessa constatação da política. O grande problema
crítico, de nosso momento histórico, é que essa dualidade constitutiva vem se
qualificando como dualista, posto que o plano institucional se distancie,
progressivamente, da vida comum de todos nós...
 Há, por exemplo, um processo de abstração, mencionado por Bauman
(“Em busca da política”) e Généreux (“O horror político”).
 Devemos encontrar a unidade, as conexões entre a
política individual (interna), dos sujeitos privados, agentes
em busca de realização social, e a política coletiva
(externa) dos agregados de associações e interesses
convergentes, ou não, reunidos pela democracia.
1. A política, o que é, como acontece e o porquê

1.1 O fenômeno político: poderes, política e ciência política


 A aproximação do fenômeno político requer exame dos poderes que o alimentam,
expressos nas organizações.
 Vamos das nossas experiências comuns no plano existencial àquelas que temos
nas instituições; passando pelos grandes teóricos do assunto. Eis o nosso roteiro.
 Política como condição humana: tudo é decorrente de nossa relação com a Terra,
como criadores do mundo.
 Política como dimensão social ou indivíduo-sociedade: decorrente da diversidade
de posições, divergências e convergências, via de
realização social, instaurando-se no campo de interações
entre as pessoas.
1. A política, o que é, como acontece e o porquê

Estudar política e poder são coisas diferentes:

 Quando estudamos a política estamos diante das estruturas e das organizações


do poder, de experiência indireta.

 Quando estudamos as expressões de poder (que envolvem força, controle,


influência, autoridade), temos experiências diretas e caminhamos em
direção à política.

 Em comum, temos as intenções dos agentes (individuais


e coletivos), sempre definidoras das relações.
1. A política, o que é, como acontece e o porquê

 Zigmunt Bauman, “Em Busca da Política”, expõe o absurdo de nossa vida social
baseada em crenças contraditórias: 1. Na liberdade acima de tudo; 2. e daí na
inércia estrutural, pois liberdade para quê, se “as coisas são como são”!?

 Problemas de porosidade entre os âmbitos público e privado são fundamentais e


enquanto a arte da tradução de preocupações pessoais em questões públicas e,
inversamente, de discernir e apontar o que é público nos problemas privados, se
encontra no atual e lamentável estágio, as únicas queixas ventiladas em público
são um punhado de agonias e ansiedades pessoais que,
no entanto, não se tornam questões públicas... apenas por
estarem em exibição pública (BAUMAN, 2000, p. 10-11).
1. A política, o que é, como acontece e o porquê

1.2 Como o poder aparece: diferenças e desigualdade social


Paul Claval nos leva para bem perto do poder, do que chama poder direto e indireto:

 Poder alguma coisa é estar em condições de realizá-la. A análise do poder é, em


um primeiro sentido, a análise da gama de ações que se sabe aplicar à
modificação do meio, explorá-lo e dele retirar o que é necessário para a vida.
Raciocínio próximo ao da economia clássica.
 O poder não é apenas sobre poder fazer as coisas por
si mesmo, é também fazer com que sejam realizadas
por outros. Ao império direto sobre o mundo,
acrescenta-se, assim, um império indireto, que é ao
mesmo tempo um império sobre os outros
(CLAVAL, 1979, p. 11-12).
.
1. A política, o que é, como acontece e o porquê

 Para Paul Claval, as dificuldades em pesquisar e estudar as questões diretamente


ligadas ao poder dão-se porque assumem múltiplas formas:
 “para alcançar os mesmos resultados, as sociedades utilizam tipos de relação
muito diferentes, o que explica a variedade de organizações espaciais dos
grupos e a complexidade de sua arquitetura” (CLAVAL, 1979, p. 12).
 Afirma, desse modo, que as raízes do poder estão nesse duplo eixo:
submissão ecológica antropocêntrica (natureza à mercê dos interesses
humanos) e sujeição de outros seres humanos (contrariando as principais
máximas éticas de igualdade).

Há ubiquidade da política, como quer e acerta Dahl (p. 13).


1. A política, o que é, como acontece e o porquê

 Paul Claval expõe 4 níveis de poder: do poder puro, autoridade legítima,


dissimetria com dissimulação e inconsciência da dominação.
 Paul Claval (1979), ao tratar o que chama de “geometria das formas elementares
de poder”, apresenta os dois tipos básicos de relação de poder, o que se submete
ao “poder puro” e o que se conforma à “autoridade”.
 O poder puro: caracterizado pela ação da força no alcance dos objetivos de uns
sobre os outros, o que também define a escala necessária ao estabelecimento
das estruturas e dos instrumentos de aplicação.
 A autoridade: de base ideológica e econômica, aceita,
portanto, sob efeito de acordos quanto à delegação e à
representatividade, bem como de discursos indutores
das ações.
1. A política, o que é, como acontece e o porquê

 Claval (1979, p. 14) caracteriza o contrato social como “metáfora” ou “mito”


fundador do pensamento sobre o social da modernidade. Assevera que “a
aceitação de regras comuns facilita a vida social, libera o indivíduo da obsessão da
má-fé: ele sabe que será tratado com justiça enquanto as convenções forem
respeitadas pelas partes. Isso permite ampliar a esfera da vida de relação” (p. 128).
 Já nos domínios do estado de sociedade, Paul Claval abriu as trilhas
antropológicas e geográficas (estatuto do humano e de sua territorialidade) da
reflexão e espacialização do poder.

Muito próximo ao esvaziamento de Bauman:


 “atrás das retroações que limitam aparentemente o
poder dos indivíduos, desmascara-se a ideologia que
oculta os mecanismos reais e leva a esquecer o peso
desigual dos participantes” (CLAVAL, 1979, p. 129).
1. A política, o que é, como acontece e o porquê

 O problema maior é que se comuns são alguns, não há comunicação que unifique.

 Claval está sempre à procura dos “aspectos concretos da vida social, pela
articulação espacial dos grupos, pelas redes que os unem, pelas fronteiras que os
separam, pelos domínios por onde se estendem” (CLAVAL, 1979, p. 7).

 Então, surge a questão: como ser povo além da artificialidade de nação? Para ele:
o poder surge, assim, como um elemento de explicação indispensável, que é,
porém, mais invocado do que analisado: denunciam-se os
modelos clássicos de equilíbrio para ressaltar a existência
de conflitos e tensões onde antes só se viam harmonia e
entendimento (CLAVAL, 1979, p. 7).
1. A política, o que é, como acontece e o porquê

1.3 Política no plano da existência


 Para Aristóteles, a “política” pertence ao grupo das ciências práticas, que buscam o
conhecimento como um meio para a ação, em contraposição às ciências teóricas
(a metafísica e a teologia, por exemplo), cujo conhecimento é um fim em si mesmo.

 As ciências práticas são em dois grupos: as ciências “poiéticas” (ou seja,


produtivas, com profissões e ofícios), que nos ensinam a produzir coisas, e as
ciências no sentido mais estrito (cujo fim é o próprio conhecimento, abrangem as
chamadas “belas-artes”), que nos mostram como agir.
1. A política, o que é, como acontece e o porquê

Então, como vimos


 A política nasce da diversidade e se encaminha em busca da felicidade, é uma
premissa ao modo aristotélico e confirmado por Hannah Arendt. Então, fazemos
política porque somos diferentes. Assim, se fôssemos idênticos, algo bastante
chato, não haveria política. Política é o resultado de nossa condição humana,
como bem afirma Hannah Arendt em seus livros “A Condição Humana” e
“O Que é Política?”.

Somos diferentes, logo, fazemos política. Parece muito simples.


1. A política, o que é, como acontece e o porquê

 O raciocínio complexo de Hannah Arendt sobre a política nas escalas e nas


circunstâncias individual e planetária.

 Há contradição entre a liberdade política e a vida, que se manifesta,


principalmente, em suas exigências de sacrifício da vida dos homens que
nela participam.

 O tema lhe é muito caro: o da preservação da vida, procedente da tensão entre os


imperativos da política interna (ações que dependem do
indivíduo) e as ameaças da política externa (relações que
tomam o indivíduo), coletivas, nacionais e internacionais.
1. A política, o que é, como acontece e o porquê

 Para José Arthur Giannotti (2014), a contradição é a maior expressão da filosofia


política: seja nos idealismos, materialismos, como nos demais caminhos em
direção ao ser social.

 Para Giannotti (2014, p. 4), “a política é muito mais que disputa pelo poder”. Afirma
que “disputa é entendida de diversas maneiras, mas, tanto à esquerda como à
direita, principalmente como contradição”.

 A política somente é importante porque está na vida


diária, no cotidiano de todos. Ela está em toda parte, em
qualquer passo dado. Assim, precisamos levar esse
conteúdo vital para a política profissional,
institucionalizada.
Interatividade

Tomar a política nos níveis existencial e institucional implica visar às ações


cotidianas e abstratas, portanto:
a) São dissociadas.
b) No dia a dia, a política é parte integrante das ações mais elementares e até
mesmo inconscientes de manutenção da vida e inclui também os aspectos
institucionais.
c) No nível institucional somente há políticos profissionais, sem relação alguma
com as práticas sociais.
d) As práticas sociais desenvolvem apenas formas
concretas para lidarmos com os problemas surgidos
com o convívio humano.
e) A política prescinde do poder.
Resposta

Tomar a política nos níveis existencial e institucional implica visar às ações


cotidianas e abstratas, portanto:
a) São dissociadas.
b) No dia a dia, a política é parte integrante das ações mais elementares e até
mesmo inconscientes de manutenção da vida e inclui também os aspectos
institucionais.
c) No nível institucional somente há políticos profissionais, sem relação alguma
com as práticas sociais.
d) As práticas sociais desenvolvem apenas formas
concretas para lidarmos com os problemas surgidos
com o convívio humano.
e) A política prescinde do poder.
2. Ciência do poder e da política

 Institucionalismo e comportamentalismo competiram e dominaram o


desenvolvimento da Ciência Política durante o século XX; o que deu origem ao
hoje hegemônico neoinstitucionalismo (PERES, 2008).

Como já vimos, há na formação da ciência política uma dualidade (própria a todas as


ciências humanas modernas), degenerando, por vezes, em visões dualistas (de
antagonismo irremediável) em suas bases:

 Dualidade nas práticas individual-coletivas em busca de sobrevivência e melhorias.

 A ciência que busca explicar a unidade complexa por meio


de concepções, modelos e instrumentos mecânicos
simplórios, reproduzindo a realidade de modo a
transfigurá-la, por vezes até mesmo inconscientemente.
2. Ciência do poder e da política

 Definir ciência política é entrar no plano do pensamento sobre a política que vimos
na prática; é preciso, então, trazê-la, como ação, viva e histórica.
Ou melhor:
 As buscas cotidianas dependem de disposições concretas, podendo tanto perder
potência no senso comum, quanto poderem alcançar um nível colaborativo.

 No plano teórico-abstrato há elaborações institucionais, projetos para administrar


as ações individuais. Apresentam certa dubiedade: a institucionalização da vida
social tem por retórica e panaceia o projeto político e a
melhoria da vida coletiva, e há imenso descrédito do
aparato institucional (estatal), dificilmente público.
2. Ciência do poder e da política

 Isto é, viver é um fenômeno existencial precípuo e, em decorrência disso,


organizamos de modo dissimétrico nossas próprias ações, com a permissão
da cisão social.

 Conforme Matheus Passos (2017), ciência política é o estudo do fenômeno


político, tanto no sentido amplo quanto naquele mais estrito. Enquanto no primeiro
plano trata-se da análise do fato propriamente dito, no outro, o objeto de interesse
volta-se para os aspectos institucionais, do Estado, de seu aparelho e das relações
estabelecidas em torno dele.
2. Ciência do poder e da política

 Matheus Passos (2017) define esse nível dos fatos com tudo o que é ligado à cidade,
ao urbano, ao civil, ao público e que é pertinente às dinâmicas sociais. É a arte do
governo de uma maneira geral, assemelhando-se à política no plano da existência do
modo como destacamos há pouco. Já no sentido estrito, a política remete aos termos
de referência polis e Estado, isto é, política institucional, profissional.
 Ambos os planos baseiam-se em relações de poder, agentes atuando e afetando-se
mutuamente, seja no plano da vida social prática, seja nas relações com o Estado.
 E, mesmo soando de modo óbvio, o saber sobre a política,
tanto o clássico como o contemporâneo, é bastante
politizado, pois pensa com propósito, é político, representa
setores da sociedade, é motivado por ideias. Por isso,
greves, manifestações e atos políticos em geral, devem
causar comoção e interferir na vida social em geral; por
definição.
2. Ciência do poder e da política

A política é prática, mas devemos refletir sobre suas intenções e direções.

A filosofia política nasce como reflexão sobre o poder e o dever-ser, normalmente,


associada a Aristóteles, Platão, Santo Agostinho, Maquiavel, Hobbes, Locke e tantos
outros.

A ciência política é disciplina acadêmica e científica, debruçada sobre o fenômeno


político, como uma área do conhecimento que se institucionalizou nas universidades.

Matheus Passos (2017) expande o sentido da política para


o plano da existência. A diferença entre filosofia política e
ciência política, segundo ele, é que a filosofia trata do que
deve ser, a ciência, do que é.
2. Ciência do poder e da política

2.1 A política e sua institucionalização: das formas elementares de poder aos


arranjos sociais de Estado
 Para Paul Claval (1979, p. 14), a vida social limita-se, quando não
institucionalizada, a sistemas estreitos [...]. Em tal escala, os benefícios do grupo
são modestos, embora indispensáveis para a aculturação.
 As pessoas, geralmente, querem tirar mais proveito da comunidade; elas querem
se beneficiar da exploração eficiente do meio ambiente, o que é permitido pela
maior especialização e pelo uso de equipamentos e materiais mais poderosos.
 Para conseguir isso, elas devem quebrar as cadeias do
universo limitado de interações espontâneas. A
institucionalização das relações empurra os limites do
universo acessível, mas abre a porta para as formas
sociais de poder: é o outro lado da moeda.
2. Ciência do poder e da política

 A política pode ser tomada em dois planos, mas nos interessa, agora, considerá-la
sob a ótica da unidade. Assim, as práticas individuais e sociais (as ações e os
“fatos”) sofreriam transformações com os impactos do campo jurídico-institucional,
adaptando-se a estes ao mesmo tempo em que os fosse criando (claro que isso é
mais verdadeiro para aqueles mais próximos do poder decisório).
 De qualquer forma, os planos do comportamento e das instituições seriam
complementares e mutuamente conversíveis, tornando-se necessário explicar
como a vida comum se formaliza, institucionaliza, como ela se mundaniza ao
pautar, ao determinar as ações individuais.
 Na unidade da ação, estariam o indivíduo e as
estruturas conceituais e teóricas formalizadas como
instituições (campo contratual, para os contratualistas).
Tal unidade é a saída para que o pensamento científico
dê conta da diversidade humana.
2. Ciência do poder e da política

 Também é preciso procurar no tempo os princípios longínquos de organização,


como diz Luiz Fernando da Silva Pinto (2012, p. 49-50) em “O Trigo, a Água e o
Sangue” em sua busca das raízes estratégicas do Ocidente, investigando o mundo
sem referências escritas; além do fato de que por vários milênios vão operar
conjuntamente as comunidades, as polis, a Suméria, os povos mesopotâmicos, os
hititas, o Egito, os fenícios, os gregos ásperos, os gregos micênicos e Creta;
providenciando todos eles as suas respectivas soluções de equilíbrio estratégico,
os ambientes estratégicos. Trocando experiências, mas não necessariamente
todos unidos. Aliás, de fato, desunidos.
Interatividade

Assinale a alternativa correta sobre filosofia política e ciência política:

a) O plano do comportamento e da vida cotidiana apresenta a política mais


primeira, no sentido da urgência e da ubiquidade.

b) As políticas institucional e cotidiana são dissociadas.

c) A política institucional, dos profissionais da política, é desnecessária.

d) Os comportamentos individuais não sofrem influências


dos processos políticos instituídos.

e) O plano legal ou jurídico das ações é independente dos


acontecimentos do mundo da vida, do dia a dia.
Resposta

Assinale a alternativa correta sobre filosofia política e ciência política:

a) O plano do comportamento e da vida cotidiana apresenta a política mais


primeira, no sentido da urgência e da ubiquidade.

b) As políticas institucional e cotidiana são dissociadas.

c) A política institucional, dos profissionais da política, é desnecessária.

d) Os comportamentos individuais não sofrem influências


dos processos políticos instituídos.

e) O plano legal ou jurídico das ações é independente dos


acontecimentos do mundo da vida, do dia a dia.
3. O fenômeno político: poderes, contratos, regras e normas

 Neste momento da aula, o fenômeno político do primeiro bloco (e os poderes que o


alimentam) volta como exame das formas, ou normas, que a política assume em sua
institucionalização.
 Paul Claval trata dos fundamentos ideológicos do mundo contemporâneo. Examina
ideologias sociais, iniciando pela Reforma e sua influência no contrato social. O traço
comum entre elas é um certo igualitarismo. O mito fundador é o do pacto “celebrado
entre todos os membros do povo de Deus” (CLAVAL, 1979, p. 129).
Vejamos Claval sobre o influente contratualismo moderno:
 “É possível fazer sobre esse mito do contrato social toda
uma série de interpretações e de filosofias políticas. Elas
têm certos traços comuns. Elas despem as hierarquias
religiosas tradicionais de sua influência política: já não é
mais em um além transcendente que a autoridade
encontra suas raízes” (CLAVAL, 1979, p. 130).
3. O fenômeno político: poderes, contratos, regras e normas

Do contrato, podemos, então, retomar a ideia de unidade, algo próximo da síntese


anunciada por Paulo Sérgio Peres (2008) quando anuncia seu interesse pelo
desenvolvimento teórico e metodológico do paradigma neoinstitucionalista da Ciência
Política, que envolveu dois processos sucessivos, sendo um deles de oposição e o
outro de síntese:

 Oposição radical à abordagem comportamentalista que floresceu nos anos 1920-


1930 e se tornou hegemônica ao longo das décadas de 1940-1950-1960.

 Articulação sintética de elementos do próprio


comportamentalismo, com elementos do que se
convencionou chamar de antigo institucionalismo
(PERES, 2008).
3. O fenômeno político: poderes, contratos, regras e normas

 Há uma crise profunda na explicação exclusiva da política dos fenômenos políticos


pela via individual ou comportamental, assim como os modelos racionalistas de
escolha (na economia e na política) também sofrerão seus desgastes. Daí, a
referida síntese.
 Os contemporâneos, tanto os de linhagem crítica como os liberais clássicos,
retomam e fundam seus raciocínios necessariamente nos contratos, no contrato
social moderno, com seus desdobramentos jurídicos e políticos. E, mesmo soando
de modo óbvio, o saber sobre a política, tanto o clássico como o contemporâneo, é
bastante politizado, pois pensa com propósito, é político,
representa setores da sociedade, é motivado por ideias.
Por isso, greves, manifestações e atos políticos, em geral,
devem causar comoção e interferir na vida social em geral
por definição.
3. O fenômeno político: poderes, contratos, regras e normas

Liberdade leva-nos à ideia de República, de democracia e seus agentes são os


recebedores do destino das ações.
A ideia de contrato é um recurso muito parcial, mas didático, para expressar o jogo
de obrigações e deveres dos agentes associados. A alternativa seria uma história
minudente das construções institucionais (societais) dos acordos baseados na moral,
no medo da dominação, nos desafios momentâneos dos grupos...
O contrato social ou o grande acordo de obrigações entre as partes, para Norberto
Bobbio (1896, p. 61), é “o princípio de legitimação das sociedades políticas”
estabelecido sobre consenso. O autor desenvolve essa
ideia demonstrando de que modo os direitos dos contratos,
do natural ao civil (público e privado), desenrolam-se
historicamente.
3. O fenômeno político: poderes, contratos, regras e normas

3.1 Classificações de grupos políticos


 “E o colecionador do museu, como o administrador colonial e o nosso antropólogo
vitoriano evolucionista, tem uma verdadeira mania classificatória [...]. O problema
não é colocar os objetos lado a lado (como fazem os museus modernos hoje em
dia), mas situá-los um atrás do outro, dentro de um eixo temporal, revelador do
progresso” (LEACH, 1983, p. 8-9).

 Se Leach (1983) nos lembra dos perigos das


classificações baseadas em modelos
instrumentalizados, como o evolucionista, Giddens nos
remete ao jogo ideológico entre direita e esquerda.
3. O fenômeno político: poderes, contratos, regras e normas

 Leach (1983) segue a linha crítica que explicita as intenções subjacentes na


utilização dos termos, nunca neutros, como primitivos ou subdesenvolvidos (por
causa do parâmetro europeu), estratos de renda (neutralizando a concentração),
índices e indicadores (manipuláveis), além das referidas esquerda e direita
(servindo ao maniqueísmo eleitoreiro).
Bobbio atribui à classificação esquerda e direita papel fundamental:
 Não obstante ser a díade seguidamente contestada por muitas partes e com vários
argumentos – e de modo mais intenso, mas sempre com os mesmos argumentos,
nestes tempos recentes de confusão geral – as expressões
“direita” e “esquerda” continuam a ter pleno curso na
linguagem política. Todos os que as empregam não dão
nenhuma impressão de usar palavras irrefletidas, pois se
entendem muito bem entre si.
3. O fenômeno político: poderes, contratos, regras e normas

Para Dahl (1988, p. 70-1), as classificações de Weber (que limitou sua atenção aos
sistemas em que o governo era aceito como legítimo, cujos líderes desses sistemas
poderiam defender sua legitimidade perante os membros, que lhes aceitariam com
base em três critérios: 1. Tradição; 2. Qualidades pessoais excepcionais; 3.
Legalidade) e de Aristóteles (com base no critério de governo: se de “interesse
comum” ou de “interesse próprio”) foram quase postas de lado pelas novas
tipologias da análise política.
3. O fenômeno político: poderes, contratos, regras e normas

Alguns estudiosos sugerem que os sistemas políticos podem ser classificados como
autocráticos, republicanos ou totalitários; outros, como sistemas de mobilização,
teocráticos, burocráticos ou de reconciliação; outros, ainda, como oligarquias
modernizadoras, totalitárias, tradicionais e tradicionalistas, além de democracias
tutelares e políticas, ou então como sistemas anglo-norte-americanos, europeus,
pré-industriais ou parcialmente industriais e totalitários; como sistemas políticos
primitivos, impérios patrimoniais, impérios nômades ou de conquista, cidades-Estado,
sistemas feudais, impérios burocráticos centralizados e sociedades modernas
(democráticas, autocráticas, totalitárias e “subdesenvolvidas”) (DAHL, 1988, p. 71).
E continua expondo os problemas advindos da explosão de
informações, bem como as soluções combinatórias da
informática... (DAHL, 1988, p. 71).
Interatividade

Assinale a alternativa correta sobre o contrato social:


a) O contrato social é uma figura jurídica que deve ser compreendida
historicamente, pois se transformou de acordo com os contextos culturais.
b) Denominar as formas de contrato social de mitos é uma maneira de desacreditá-
los, de não reconhecer algo de poder explicativo da realidade política.
c) A única maneira de explicar as associações humanas, ainda hoje, é pela via do
contrato, como fizeram os pensadores da Antiguidade.
d) As filosofias contratualistas baseiam-se em teorias
econômicas com vistas à manutenção da
propriedade privada.
e) O contrato social é uma norma jurídica sem relação,
qualquer que seja, com outras formas históricas.
Resposta

Assinale a alternativa correta sobre o contrato social:


a) O contrato social é uma figura jurídica que deve ser compreendida
historicamente, pois se transformou de acordo com os contextos culturais.
b) Denominar as formas de contrato social de mitos é uma maneira de desacreditá-
los, de não reconhecer algo de poder explicativo da realidade política.
c) A única maneira de explicar as associações humanas, ainda hoje, é pela via do
contrato, como fizeram os pensadores da Antiguidade.
d) As filosofias contratualistas baseiam-se em teorias
econômicas com vistas à manutenção da
propriedade privada.
e) O contrato social é uma norma jurídica sem relação,
qualquer que seja, com outras formas históricas.
4. Origens e conceitos do Estado

 “À base do critério histórico, a tipologia mais corrente e mais acreditada junto aos
historiadores das instituições é a que propõe a seguinte sequência: Estado feudal,
Estado estamental, Estado absoluto, Estado representativo”
(BOBBIO, 1994, p. 114).

 A antropologia política traz seu importante arcabouço para entendermos a


diversidade das organizações sociais, deslocando o foco da análise linear “viciada”
e de racionalidade ultrapassada.

 “Ao dissociar o entendimento da política da presença de


instituições baseadas nos modelos da sociedade
ocidental, a antropologia reafirmava a importância da
pesquisa etnográfica para um entendimento mais
profundo da vida social [...]” (KUSCHNIR, 2007, p. 10).
4. Origens e conceitos do Estado

 Essas aproximações antropológicas, ao tema da institucionalização dos processos


psicossociais, encontram eco em Paul Claval (1979, p. 95), quando ele afirma o
papel da “invenção da escrita” no “progresso das instituições políticas”, discorrendo
sobre o protagonismo dos detentores dos saberes letrados (escribas) na
organização da memória, do espaço e na reprodução social. Ele trata das redes de
mudanças (ou famílias de inovação) engendradas pelos copistas e pela imprensa,
mencionando as formas tradicionais de organização societal, chegando ao Estado.
4. Origens e conceitos do Estado

Quanto às formas tradicionais, Claval afirma que:

 Não desapareceram, portanto, como as sociedades históricas: na Grécia clássica,


não se perdeu a lembrança das tribos entre as quais a humanidade helênica se
dividia inicialmente. Os grandes reformadores, como Clisteno, empenham-se em
remover os obstáculos que essas estruturas herdadas opõem à evolução social
(CLAVAL, 1979, p. 95).
4. Origens e conceitos do Estado

Sobre o Estado, acentua o seguinte:


 No escalão superior da vida social, as formas políticas são de dois tipos: o Estado,
ou o regime feudal. Trata-se de sistemas há muito complementares e que se
reclamam mutuamente, o que dá à história das civilizações intermediárias um
aspecto cíclico – na China, por exemplo, ou nas civilizações
islâmicas medievais [...].
 A sorte do Estado depende de suas dimensões: quando a autoridade que permite
o exercício do poder é de essência universalista, nada limita de direito a
construção política, mas os meios de administração de que
ela dispõe são insuficientes para assegurar sua
perenidade. Se é limitada a um território exíguo, o domínio
do espaço e dos homens é mais perfeito: cidade-Estado
constitui a forma mais completa de construção política do
mundo tradicional (CLAVAL, 1979, p. 96).
4. Origens e conceitos do Estado

O autor prossegue sua análise qualificando os princípios de organização:

A. Sujeições ecológicas e dados econômicos.


B. Transporte, moeda e troca.
C. Informação, comunicação e escrita.
D. A autoridade, a ideologia e as estruturas de comunicação
(CLAVAL, 1979, p. 105).

Culmina sua digressão no Estado, assunto que


estudaremos na próxima unidade.
Interatividade

Assinale a alternativa correta quanto às bases de formação do Estado nacional.


a) A antropologia política é a via de abertura à diversidade, por excelência, posto
que traga da investigação arqueológica e histórica as formas as mais diversas e
intrigantes de organização.
b) O estado-nação tem uma evolução necessariamente linear.
c) As visões antropológicas corroboram as estruturas de dominação ao negar que
se imponham a conceituação europeia a sociedades desconhecidas.
d) Ao associar o entendimento da política da presença de
instituições baseadas nos modelos da sociedade
ocidental, a antropologia reafirmava a importância da
pesquisa etnográfica nos moldes europeus.
e) As inovações de cada grupo social em nada interferem
nas estruturas e organização da política no plano
institucional.
Resposta

Assinale a alternativa correta quanto às bases de formação do Estado nacional.


a) A antropologia política é a via de abertura à diversidade, por excelência, posto
que traga da investigação arqueológica e histórica as formas as mais diversas e
intrigantes de organização.
b) O estado-nação tem uma evolução necessariamente linear.
c) As visões antropológicas corroboram as estruturas de dominação ao negar que
se imponham a conceituação europeia a sociedades desconhecidas.
d) Ao associar o entendimento da política da presença de
instituições baseadas nos modelos da sociedade
ocidental, a antropologia reafirmava a importância da
pesquisa etnográfica nos moldes europeus.
e) As inovações de cada grupo social em nada interferem
nas estruturas e organização da política no plano
institucional.
ATÉ A PRÓXIMA!

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