Por Dentro Leptospirose Canina
Por Dentro Leptospirose Canina
Por Dentro Leptospirose Canina
Mitika&K.&Hagiwara&
Professor&Senior&&
Departamento&de&Clínica&Médica&d&FMVZ@USP&
Introdução
A leptospirose é uma doença infcciosa causada por leptospiras, bactérias finas, flexíveis,
filamentosas (0,1 a 0,2 µm de largura e 6 a 12 , a qual µm de comprimento), espiraladas,
com extremidades em gancho, pertencentes à Familia Leptospiraceae, gênero Leptospira.
São conhecidas na atualidade oito espécies de leptospiras patogênicas, isto é, aquelas que
são capazes de colonizar os rins dos mamíferos: Leptospira interrogans senso strictu,
Leptospira kirschneri, Leptospira borgpeterseni, L. santarosai, L. noguchi, L.weilii , Leptospira
alexanderi e Leptospira alstoni . Essas espécies são geneticamente distintas e englobam
múltiplos sorovares , que diferem entre si na composição da membrana externa, composta
de lipopolissacarídeos (LPS) e proteínas (Greene et al, 2011). (Ciceroni, 2002.) A variação
da composição de carboidratos que compõe os LPS é responsável pela diferença antigênica
entre os sorovares. Os sorovares que apresentam antígenos em comum e que se
superpõem compõem os sorogrupos (Evangelista e Coburn, 2010). São conhecidos na
atualidade mais de 200 sorovares de leptopiras patogênicas, distribuídos em 24 sorogrupos
pertencentes majoritariamente a espécie Leptospira interrogans e em menor escala as
epécies Leptospira grippotyphosa, e Leptospira borgpeterseni
A leptospirose no cão .
O cão pode ser infectado por diversos sorovares de leptospiras como os sorovares
Icterohaemorrhagiae e Copenhageni, em geral associados ao desenvolvimento de icterícia e
grave comprometimento renal e o sorovar Canicola, cuja infecção pode resultar em doença
renal aguda ou crônica. Outros sorovares como Grippotyphosa, Pomona, Bratislava,
Pyrogenes causando nos cães infectados síndromes clínicas semelhantes ou em alguns
casos grave hemorragia pulmonar associada a infecção leptospírica,
O isolamento e a caracterização sorológica e molecular de leptospiras a partir de fragmentos
de rim ou da urina dos cães doentes constitui-se no modo de comprovar de forma
inequívoca a etiologia da doença. No Brasil foram isolados os sorovares Copenhageni,
Icterohaemorrhagiae, Canicola e Pomona de cães doentes ou de cães de rua,
aparentemente hígidos. Mais recentemente, foi relatado o isolamento a partir de um cão
doente que havia desenvolvido icterícia e doença renal aguda a espécie Leptospira
noguchi, caracterizado sorologicamente como pertencente ao sorogrupo Australis.
Evidencias sorológicas da infecção de cães por leptospiras patogênicas
Apesar de haver poucos isolamentos de leptopspiras, comprovando a infecção de cães,
existem evidências de infecções por outros sorovares patogênicos fornecidas pela reação
de SAM, utilizada nos inquéritos sorológicos. Diversos inquéritos sorológicos realizados no
Brasil nos últimos anos, revelam a presença de anticorpos aglutinantes contra uma ampla
variedade de sorovares, com maior prevalência dos sorogrupos Icterohaemorrhagiae,
(Sorovar Icterohaemorrhagiae e Copenhageni) Canicola e Pyrogenes nas regiões sul e
sudeste. Em menor proporção, também foram encontrados cães reagentes a outros
sorogrupos como, Bratislava, Autumnalis, Grippotyphosa, Tarassovi, Australis, Cynopteri,
Butembo . Já nas regiões norte, nordeste e centro oeste foram encontrados reagentes aos
sorogrupos Autumnalis, Pyrogenes, Canicola, Hardjo, Grippotyphosa, Copenhageni,
Pomona.
O amplo espectro de sorovares de leptospiras contra os quais há o desenvolvimento de
anticorpos aglutinantes, ainda que em títulos baixos (100 a 400, na maioria dos casos),
indica a exposição dos cães a diversos sorovares de leptospiras no meio onde vivem, sem
que necessariamente adoeçam, já que na maioria das vezes, tratavam-se de cães
aparentemente sadios. Nos cães doentes, os principais sorovares envolvidos são,
aparentemente os sorovares Copenhageni, Icterohaemorrhagiae e Canicola, porém também
foram encontrados reagentes a Grippotyphosa, Pomona, Autumnalis, Bratislava e
Pyrogenes.
Considerações finais
• Na dependência do estilo de vida, local onde vive e da presença de roedores
silvestres ou peridomiciliares que albergam leptospiras patogênicas no tecido renal,
os cães podem ser infectados por leptospiras eliminadas por esses roedores para o
meio ambiente. Podem também adquirir a infecção pelo hábito predatório de caça. A
infecção pode ser benigna, resultando na produção de anticorpos aglutinantes
detectados por meio da reação de SAM. Nos inquéritos sorológicos, as reações
sorológicas positivas, em baixos títulos, podem sugerir apenas infecção passada.
• O isolamento e identificação do sorovar infectante a partir de animais doentes ou de
portadores de leptospiras patogênicas é a forma mais concreta de se comprovar a
relação causal entre o agente e o hospedeiro, no caso o cão
• A reação de SAM não permite identificar o sorovar infectante, indicando apenas o
sorogrupo ao qual pertence o sorovar infectante. As reações cruzadas entre os
sorogrupos e reações paradoxais, em que títulos maiores de anticorpos nem sempre
correspondem ao sorovar infectante muitas vezes não permitem concluir pelo
sorogrupo infectante.
• A vacinação anual dos cães contra a leptospirose ainda se constitui uma
necessidade para todos os cães no Brasil (vacinas bivalentes sorovares
Icterohaemorrhagiae/Copenhageni e Canicola). A real necessidade dos
componentes Grippotyphosa e Pomona ainda não foi comprovada de forma
inequívoca.