Narcisista
Narcisista
Narcisista
#DESAMPARO :
MÃE NARCISISTA
E OS DANOS
CAUSADOS
AO FILHO
Projeto editorial ilustrado
Orientador
Professor Luís Mendonça
M
2020
2
3
4
5
6
7
RESUMO
Os comportamentos dos progenitores narcisistas e os seus efeitos prejudiciais nos
filhos passam normalmente despercebidos nas pessoas que os rodeiam. O presente re-
latório e o projeto editorial ilustrado associado, pretendem abordar a Perturbação de
Personalidade Narcísica (PPN) nas mães, sendo este assunto referido coloquialmente
como “mãe narcisista”, assim como os danos desta relação para os seus filhos. De modo
a divulgar este tema e dar resposta à invisibilidade deste género de relações, procedeu-se
à criação de uma narrativa ilustrada através de um fanzine. Este trabalho pretende tam-
bém preencher uma lacuna relativamente a este tema que se encontra pouco promovido
no campo da ilustração. De modo a concretizar-se este fanzine, investigou-se bibliografia
e casos de estudos, e realizou-se diferentes estudos ao longo do processo. Por fim, foram
adquiridos conhecimentos num workshop de risografia, de modo a se utilizar esta técni-
ca na impressão final do objeto. Após conclusão do fanzine, apresentou-se o resultado a
um grupo de pessoas, algumas com progenitores narcisistas, de modo a se obter reações
e tentar-se perceber se a mensagem era transmitida conforme pretendido. As respostas
obtidas foram positivas por parte deste grupo de pessoas, sendo que houveram testemu-
nhos que se identificaram com a narrativa apresentada.
Palavras-chave
Narcisismo, Ilustração, Auto-edição, Fanzine
12
13
ABSTRACT
The behaviors and negative impact that narcissistic parents have on their children
usually go unnoticed by those around them. This report and the associated illustrated
editorial project intend to address Narcissistic Personality Disorder (NPD) in mothers,
with this subject being colloquially referred to as “narcissistic mother”, as well as the
damage they cause to their children. In order to publicize this theme and respond to the
invisibility of this type of relationship, an illustrated narrative was created, presented as
a fanzine. This work also intends to fill a gap in relation to this theme, which has not
been sufficiently addressed in the field of illustration. In order to create this fanzine,
bibliography and case studies were investigated, and different studies were carried out
throughout the process. Finally, knowledge was acquired in a risography workshop, in
order to use this technique in the final impression of the object. After the conclusion of
the fanzine, the result was presented to a group of people, some with narcissistic parents,
in order to obtain reactions and try to understand if the message was being transmitted
as intended. The responses obtained were positive, and the work presents testimonies
where people have identified with the narrative presented.
Keywords
Narcissism, Self Publishing, Illustration, Fanzine
14
15
16
17
ÍNDICE DE SIGLAS
INDICE
AGRADECIMENTOS -
RESUMO -
Palavras-chave -
ABSTRACT -
Keywords -
ÍNDICE DE SIGLAS -
1. INTRODUÇÃO 25
2. ENQUADRAMENTO TEMÁTICO 29
2.1 “A origem da doença”: Visita ao Museu da Farmácia 30
2.2 Narcisismo 31
2.2.1 Perturbação de Personalidade Narcísica, no DSM-5 32
2.2.2 Mãe narcisista 32
2.2.3 Danos causados aos filhos 33
2.2.4 Artigo: “Mães narcisistas: Despercebidas tanto na
ficção como na realidade” 34
2.3 O tema nos vários campos artísticos 35
2.3.1 Arte 35
2.3.2 Cinema 36
2.3.3 Animação 37
2.3.4 Teatro 39
2.4.5 Música 39
20
3. FUNDAMENTAÇÃO
CIENTÍFICA 43
3.1 43
Artigos e livros
3.2 44
A ilustração, o ilustrador e a autorrepresentação
3.3 Auto-edição: Fanzine 44
3.4 45
Livros ilustrados
3.5 Ilustradores 50
50
3.5.1 Moonassi
3.5.2 Malva 52
53
3.5.3 Tina Siuda
3.6 Técnica de impressão: Risografia 54
4. PROJETO 57
4.1 57
Contextualização na ilustração
4.2 58
Fase 1: Primeiros estudos
4.3 62
Fase 2: Uma abordagem editorial
4.3.1 Questionário: “Descrevendo um progenitor narcisista” 64
4.4 Fase 3: Uma abordagem pessoal 65
4.5 68
Fase final: Conclusão da Fase 3
4.5.1 Risografia: Workshop na Mago Studio 69
4.5.2 Pondo em prática o processo de impressão 71
4.6 Titulo e texto utilizado 73
4.7 Design do objeto 74
5. CONCLUSÃO 79
5.1 Análise crítica 80
BIBLIOGRAFIA 83
ANEXOS 87
21
22
23
24
1. INTRODUÇÃO 25
1. INTRODUÇÃO
A escolha do tema do presente projeto advém de uma experiência pessoal da au-
tora, na qual houve um contacto contínuo, durante mais de duas décadas com uma
progenitora narcisista. Sem perceber a relação com o que estava a lidar ao certo, após
feita pesquisa, o termo “narcisistic mother” - em português, “mãe narcisista” - aparecia
frequentemente nos resultados. Resumidamente, o termo refere-se a uma figura materna
sem empatia e sem respeito pelos limites pessoais dos filhos, acreditando que eles existem
apenas para atender às suas necessidades e desejos (Engelke, 2016). Quando o narcisismo do
sujeito afeta terceiros, pode-se estar a ser vítima de comportamentos associados a uma
perturbação mental, neste caso, a Perturbação de Personalidade Narcísica (PPN).
Ao participar em fóruns e grupos relacionados com este tema, percebeu-se que esta
é uma realidade ainda invisível. Por o tema em questão ser ainda pouco abordado e
discutido na atualidade, é bastante pertinente e importante abordá-lo, visto que, por ter
base em abusos psicológicos, pode causar danos (psicológicos) ao sujeito vítima de um
progenitor com esta perturbação mental. Sendo estes abusos de difícil perceção para os
demais, como consequência, o filho acaba por crescer sem apoio e segurança (mesmo
por parte dos outros que o rodeiam, como familiares próximos e amigos). Daí surgir a
necessidade de apelar à sensibilização do assunto, pois esta invisibilidade possibilita a
continuação dos maus tratos ao filho, mesmo em idade adulta.
A experiência pessoal da autora, a expectativa cultural de que a “mãe” é tudo o que
o filho precisa durante a sua vida (por dar cuidado e amor), quando na realidade esta
idealização nem sempre se verifica, e a aparente falta de discussão e abordagem do tema,
revelaram-se fatores relevantes para o interesse na realização deste projeto. Além disso,
através da investigação feita, também se percebeu que este é um tema pouco abordado
no que diz respeito ao álbum ilustrado. Por consequente, pareceu ser necessário abordar
este tema através de uma narrativa ilustrada, como meio de responder a essa carência no
campo da ilustração. Como objetivo deste projeto, procurou-se desenvolver um objeto
editorial ilustrado, cuja temática se centra na PPN, mais concretamente nos casos das
“mães narcisistas” e os danos que estas causam nos seus filhos.
Para o resultado, procurou-se uma forma de se explorar a relação a um nível pessoal e
científico, de maneira a transportar esses conhecimentos para o campo da ilustração. In-
vestigou-se também os variados campos artísticos que pudessem ter ligação com o tema
e analisou-se como o conceito do narcisismo era representado. Além da investigação na
área da ilustração, houve também um uso do tema na área da psicologia como guia e
inspiração no desenvolvimento do objeto. O objetivo principal seria então criar um ob-
jeto que pudesse apresentar uma realidade ainda invisível na sociedade, com o objetivo
de que a mensagem alcançasse o leitor principalmente através da ilustração. Pretende-se,
deste modo, não só transmitir uma experiência pessoal da autora, mas também a das
várias vítimas deste tipo de progenitores. Como também se pretende consciencializar o
26 #DESAMPARO : Mãe narcisista e os danos causados ao filho
público para o facto de que um progenitor ter um filho e assegurar a sua sobrevivência,
não o torna automaticamente num “pai” ou “mãe” se não forem garantidas as necessida-
des psicológicas básicas, como amor e respeito necessário para um desenvolvimento sau-
dável do filho criança, jovem ou adulto. Apesar de poder haver tratamento diferenciado
de uma mãe narcisista para com um filho homem em comparação para com uma filha,
esta possível distinção não foi investigada a fundo para a realização deste projeto. No en-
tanto, como forma de incluir qualquer género do filho, durante o decorrer do relatório
recorreu-se geralmente ao uso desta palavra no masculino para referir ao plural indife-
renciado, uma vez que não existe consenso académico para alternativas mais inclusivas.
Houve também a consciência de que esta é uma realidade de difícil perceção, sendo
comum que, mesmo quando adultos, os próprios implicados nesta relação não com-
preendam os contornos nocivos da relação em que se encontram envolvidos. Esta reali-
dade é agravada para as crianças, pois pode-lhes ser difícil conseguir distinguir o poder
do progenitor como educador e o progenitor como abusador psicológico. Partindo deste
princípio, desde o início do projeto que se definiu que o objeto criado seria direcionado
para um público mais jovem e adulto. Como finalidade, é pretendido alcançar não só
um público que se identifique com o género de relação abordada, como também quem
desconheça esta psicopatologia, incluindo pessoas que tenham crescido numa relação
vinculativa com um progenitor narcisista.
Em termos metodológicos, a investigação não se limitou a bibliografia e a casos de
estudos, extravasando a própria linguagem da ilustração: criação de um artigo relacio-
nado com o tema; observação e casos de estudo que não se ficaram apenas pela área
do mestrado (cinema, música, entre outros); aquisição de conhecimentos e trabalho
prático realizado em workshop; visita a uma exposição relacionada com doenças; breves
entrevistas; criação de um questionário relacionado com tema e auscultação de terceiros
durante e após finalização do objeto, para obter reações e opiniões.
No presente relatório será então apresentado:
2. ENQUADRAMENTO TEMÁTICO
2.2 Narcisismo
relação ao filho, com o objetivo de se sentir apoiada no seu papel enquanto mãe, usando
os demais contra este. As suas ações tornam-se assim invisíveis para todos, exceto para as
suas vítimas, neste caso, o próprio filho. Nos casos em que tenham mais que um filho,
as mães narcisistas tendem a favorecer um em relação ao outro, manipulando o filho
favorito de forma a terem apoio no bullying sobre o filho que não corresponde às suas
expectativas. Estes comportamentos da mãe narcisista tornam-se cada vez mais evidentes
à medida que a criança atinge a puberdade ou a idade adulta, ao começar a procurar a
sua própria identidade e independência.
As mães narcisistas revelam-se, assim, possessivas em relação aos filhos, controlan-
do-os com ameaças, chantagens e abusos emocionais (e por vezes físicos), reclamando
que não são submissos o suficiente. Deste modo, negligenciam e desprezam também
a autonomia e as fases normais de crescimento dos filhos, sentindo-se ameaçadas pela
independência crescente destes, temendo deixarem de ser o centro das suas vidas. Estas
ocorrências ampliam a gravidade das circunstâncias do filho, que se vê preso nesta rela-
ção tóxica.
único desenlace possível para que o filho possa encontrar a sua liberdade, independência
e felicidade, apesar de poder não ser uma solução fácil de concretizar.
2.3.1 Arte
Na pintura são várias as representações feitas ao mito de Narciso, onde este se encon-
tra a contemplar o seu reflexo na água. A mais conhecida entre estas representações é a
do pintor Caravaggio, com a sua obra “Narcissus“. Outros pintores como Poussin, Tur-
ner, Dalí e Waterhouse também abordaram o mito nas suas obras. Estas e outra obras de
pintores onde houvesse a representação de sentimentos como dor e medo, poderiam ser
relevantes no estudo deste campo. No entanto, achou-se mais pertinente a procura pelo
artista que possivelmente teria experienciado uma relação com uma mãe narcisista, e os
danos que essa relação possa ter causado e contribuído para a sua abordagem artística.
Nessa referência mais a nível do próprio pintor em relação ao tema, temos o caso de vida
de Yayoi Kusama, artista contemporânea japonesa, nascida em 1929, onde o trauma de
infância provocado pela sua mãe, a levou ao resultado das suas criações. Em criança, a mãe
de Kusama mandava-a espiar os affairs do pai, onde ela assistiu a momentos de intimidade
que lhe desenvolveram uma obsessão e, ao mesmo tempo, medo do sexo durante toda a
sua vida. Acredita-se que devido à infância traumática que teve, a partir dos 10 anos come-
çou a ter alucinações de “campos de pontos”, que deu origem às suas famosas pinturas dos
anos 50, “Infinity Net” (telas monocromáticas preenchidas com milhares de pequenos
pontos) [FI G #2 ], que acabaram por ser a origem do seu estilo artístico. Com 11 anos che-
gou a fazer o retrato de sua mãe, que odiava, incluindo os característicos pontos [F I G# 3 ].
FI G #2
A arte acabou por se tornar numa forma de Kusama lidar com os traumas e alucinações. U m a das telas
No entanto, para além da sua mãe ser fisicamente abusiva com ela, também não aprova- “ I n f i ni t y Net ”, 1990
2.3.2 Cinema
No início do projeto foi revisto o filme “Seven” (1995), sugerido pelo orientador,
como meio de analisar como cada pecado era representado pela personagem do assas-
sino. A análise deste filme serviria para se tentar perceber como conseguir ilustrar cada
característica da mãe narcisista, tal como o assassino “ilustrou” cada cenário do relacio-
nado com um pecado mortal. Foi após a visualização e análise deste filme, que se passou
o foco para filmes onde houvesse a representação de uma mãe narcisista.
Como referenciado na SECÇÃO 2.2.4 do presente artigo, foram vários os filmes vistos
e analisados. Apesar de à partida todos esses filmes representarem este género de mães,
nem todos parecem conseguir transmitir os comportamentos destas como algo tóxico e
prejudicial para com o(s) filho(s), como também não pareceu haver foco nos possíveis
danos que os filhos poderiam sofrer ao lidar com as suas mães. Exemplos contrários desta
situação referida, são o filme “Ordinary People” (1980) e “Black Swan” (2010).
Em “Ordinary People” [FI G #4 ], a personagem da mãe, Beth, mostra ser uma pessoa
reservada, no entanto os seus comportamentos tóxicos são visíveis para o espectador
durante o filme, mesmo que possam não ser corretamente interpretados (sendo que,
segundo a análise feita no artigo anteriormente mencionado, Beth pode ser interpretada
como uma pessoa incompreendida). No que diz respeito às personagens com que Beth
interage ao longo da história, o conceito de mãe narcisista e da PPN não são
referidos e passam despercebidos dos demais. No entanto, a personagem do
psiquiatra que acompanha o filho de Beth, Conrad, faz algumas referências
para que este se imponha em relação à sua mãe. Por sua vez, Conrad apre-
senta os danos de não se sentir amado pela sua própria mãe e a luta para ser
tão validado por ela tal como era o seu falecido irmão. “Ordinary People” é
um filme de referência, nomeado e premiado no seu ano de estreia, sendo
FI G #4
B et h e Con rad uma representação fiel à realidade no que também diz respeito ao trabalho feito pela
( “O rdinar y Peo ple”)
personagem do psiquiatra, que ajuda o filho a lidar com os danos causados pela mãe
(Newman, 1996).
No filme “Black Swan” [FI G #5 ], seguimos o percurso de Nina, uma bailarina que
demonstra as pressões que a profissão requer, como também o conflito interno entre as
obrigações e as próprias vontades. Num filme de ambiente sombrio, a personagem da
mãe de Nina, Erica, pode parecer irrelevante no meio da obsessão de Nina para adquirir
o papel principal na peça de balé “Lago dos Cisnes”. Mas são exatamente os comporta-
mentos da mãe que desenvolveram as fragilidades de Nina, que apesar dos seus 28 anos,
é emocionalmente dependente da mãe, com quem ainda vive. Por sua vez, Erica mostra
ser uma mãe que projeta os seus sonhos e desejos na filha, impondo a Nina
alcançar os sucessos que a própria não conseguiu durante a sua juventude
(a sua carreira de bailarina teve que ser interrompida devido a uma gravidez
inesperada), controlando a vida emocional da filha e fazendo com que esta
passe a viver com os seus sonhos e receios: o objetivo de vida de Nina é então
esforçar-se para “ser a melhor” e realizar o desejo da mãe. Erica mostra-se
FI G #5
Eric a e Ni n a então ser uma mãe extremamente controladora e protetora para que a filha não cometa
(“B l a c k Swan”) os mesmos erros que a levaram a perder a sua carreira como bailarina. Com isto é possí-
vel assistir a Nina a ser tratada como uma criança através da forma como a mãe interage
2 . E N Q UA D R A M E N TO T E M ÁT I CO 37
com ela e na invasão ao seu espaço pessoal; na decoração infantil do seu quarto, cheio
de peluches; na sua festa de aniversário, que é comemorada como a mãe imaginou e não
como Nina desejava. Este género de relação, onde impera o controlo da mãe, impediu
que Nina tivesse um crescimento psicológico saudável, o que, como consequência, não
permite que Nina saiba dançar com a paixão necessária para obter o papel principal na
peça, apesar da sua técnica perfeita. E assim, após ser confrontada pelo diretor artístico
da companhia de balé, Nina começa a explorar a sua própria paixão e a criar uma iden-
tidade separada da mãe, como meio de ter sucesso como bailarina e na própria vida. É
então ao querer mudar esta forma de viver que surge a tensão dessa separação entre Nina
e a mãe, mostrando a verdadeira dependência de uma para com a outra. Apesar de outras
perturbações psicológicas poderem estar associadas a estas personagens, “Black Swan”
consegue assim ser um bom exemplo de representação de uma relação tóxica entre uma
mãe narcisista e a sua filha.
2.3.3 Animação
tempo, que Gothel é a sua mãe biológica. Tal como em “Coraline”, Gothel
transmite a Rapunzel ser uma mãe atenciosa e amiga, que a protege na torre
porque o mundo lá fora é extremamente perigoso. No entanto, é sabido que
Gothel só cuida de Rapunzel por interesse, sendo possível perceber ao longo
do filme que Gothel nunca chegou a desenvolver uma relação materna para
com a filha adotiva. Em vários momentos, Gothel mostra não ter empatia
FI G #7
Mother G oth el
para com a filha, alimentando uma relação superficial para ganho pessoal [F I G# 7 ]. Estes
e R ap un zel comportamentos de Gothel começam a ser mais evidenciados quando Rapunzel, após
(“ Tan g led ”)
fazer 18 anos, foge da torre com a ajuda de um jovem, para conhecer o mundo para
além das paredes em que viveu toda a sua vida. Gothel começa então a fazer de tudo
ao seu alcance para encontrar Rapunzel, chegando mesmo a magoar os sentimentos
da filha para que esta volte para a torre. Por sua vez, Rapunzel não tem noção de estar
a ser abusada e manipulada por Gothel, amando e confiando na sua mãe, que a trata
cuidadosamente enquanto a filha cumprir exatamente as suas regras e desejos. É na letra
da música cantada por Gothel, “Mother Knows Best”, que é possível encontrar a fiel
representação do discurso característico de uma mãe narcisista. Ao longo da música Go-
thel chama Rapunzel de “pet” (animal de estimação) e a insulta com vários adjetivos de
forma passivo-agressiva. No mesmo discurso, Gothel faz manipulação psicológica ao dar
liberdade a Rapunzel ao mesmo tempo que a critica de abandonar a mãe, como intenção
de fazer a filha sentir-se mal com a sua própria vontade, para assim a manter na torre. No
decorrer da música, Gothel afirma várias vezes que “a mãe é que sabe” (“mother knows
best”), uma frase que remete para o seu sentimento de grandiosidade, ao mesmo tempo
que tenta induzir admiração na filha ao realçar o seu conhecimento superior em relação
ao mundo exterior (o que não corresponde à realidade, sendo que a filha pouco expe-
rienciou do mundo exterior). Apesar de Rapunzel não manifestar danos provocados por
esta relação com a mãe adotiva, ela é de facto uma prisioneira tanto fisicamente como
psicologicamente, que serve Gothel sem receber algo em troca.
Para além destas conhecidas animações, que se tornaram boas referências para a ca-
racterização dos comportamentos de uma mãe narcisista, a animação que influenciou de
certa forma o projeto, foi a curta metragem “The Cord” (2019), de Olexandr Bubnov
[F IG #8 ]. Segundo o resumo apresentado no IMDB, “[The Cord] Is about blind mater-
nal love, over care, that doesn’t let the son grow into a man, but makes his inner child stay
helpless and infantile forages.”, que traduzindo por outras palavras, apresenta o amor
sufocante de uma mãe, desenvolvendo um filho dependente. Sabendo-se que à partida
as mães narcisistas não têm capacidade de amar, e que o sufoco que o filho sente não é
por um amor em exagero, mas sim falta dele, mesmo assim, esta animação representa
belissimamente um dos grandes problemas na relação com uma mãe narcisista: que é a
FI G #8
mãe prender o filho e este não poder desenvolver a sua própria independência.
Ca pa da a n i m aç ão Todas estas animações são exemplos que apresentam comportamentos característicos
“ The Co rd ”, de
O l ex a ndr B ub n ov de uma mãe narcisista, estando presente os abusos psicológicos, a imposição de barreiras
para manter o filho por perto, a deturpação da realidade e o uso do filho para realizar os
seus próprios desejos e necessidades.
2 . E N Q UA D R A M E N TO T E M ÁT I CO 39
2.3.4 Teatro
Apesar de não parecer ter uma relação direta com o narcisismo, uma peça de teatro
recomendada para análise durante a investigação, foi a peça “No Exit”. Esta é uma peça
francesa, escrita pelo critico, argumentista e filosofo Jean-Paul Sartre, em 1944. Ao se
investigar o enredo da peça, sabe-se que esta tem apenas três personagens: Joseph, Inès
e Estelle. Após a morte, os três encontram-se pela primeira vez numa simples sala, que
é o Inferno. Ficam surpreendidos pois aguardavam um Inferno com equipamentos de
tortura, mas acabaram numa sala acolhedora. No entanto, a porta da sala está fechada e
eles, presos na sala, são forçados a conviver uns com os outros. Após o desenrolar de si-
tuações de medo de revelarem os seus pecados e de discórdia, Inès conclui que foram ali
colocados para se fazerem miseráveis uns aos outros, e que são eles próprios os elementos
de tortura. Joseph acaba por sugerir que fiquem todos em silêncio para não se incomo-
darem, mas as outras personagens continuam com os seus comportamentos, levando a
situações conturbadas.
Numa das situações, Estelle chega a procura por um espelho para ver a sua aparência
e Inès oferece-se para ser o “espelho” de Estelle, dizendo-lhe o que vê, o que significa
que só se conseguem ver através dos outros. Várias situações vão gerando um ambiente
tóxico, que mais tarde, em desespero, leva Joseph a forçar a porta para poder sair, mas
em vão. Momentos depois, a porta do inferno abre-se, e Joseph tem então a oportu-
nidade de sair. Só que ao contrário do que se espera, nem Joseph nem as outras duas
personagens saem da sala. Isto acontece não só por já não conseguirem ser felizes sem
gerar infelicidade no outro (dependência), como também por orgulho de se afirmarem
uns aos outros e mostrarem que não são aquilo que o outro diz ver. No meio da loucura,
acabam todos a rir-se histericamente, com Joseph a concluir com “Bem então, vamos lá
aguentar com isto…”.
A frase “o inferno são os outros” é uma referência às ideias de Sartre, sobre o conflito
constante de nos vermos como alguém que é visto por outras pessoas (Danto, 1975). Isto
é, a maneira como o sujeito acha que os outros o veem, influencia a maneira como se
vê a ele próprio, criando uma luta eterna ao não conseguir estar bem só por si, estando
dependente de como os outros o percecionam. Esta influência é visível na mãe narcisista,
na sua constante procura por uma imagem que seja bem refletida e elogiada pelos que a
rodeiam. Ademais, é visível no filho, que tendo a sua autoimagem e autoconceito dimi-
nuídos pelas sucessivas críticas da progenitora, procurando a aprovação do progenitor e
dos outros que o rodeiam.
2.3.5 Música
narcisista. Esta música era “Amor Combate”, dos portugueses Linda Martini:
Na letra da música, sendo pessoalmente interpretada pela a autora como uma men-
sagem do filho dedicada ao progenitor, pode-se encontrar a referência à negligência e ao
não poder devolver o que nunca recebeu (do progenitor, como por exemplo, o amor e
respeito). As ruínas deixadas, neste caso ao filho, podem-se relacionar às marcas deixadas
pelo abuso do progenitor e os danos que este lhe causou. A luta (emocional) entre duas
pessoas, pela sobrevivência do filho, numa necessidade de preservar a sua saúde mental
e “matar” essa ligação com o progenitor, seguindo um caminho diferente e deixar assim
de estar sobre esta relação de abuso de poder.
Segundo a pesquisa realizada a entrevistas à banda Linda Martini, percebeu-se que
a letra desta música não foi dedicada a alguém em particular, mas sim, escrita como se
a contar a história de uma outra pessoa qualquer. Como forma de se poder entender
melhor o verdadeiro pensamento de quem compôs a letra, foi feito um pequeno questio-
nário, enviado por email à banda Linda Martini, no dia 15 de novembro, 2019. As res-
postas foram enviadas por André Henrique, vocalista e guitarrista da banda, e também
compositor da letra de “Amor Combate”. Em resposta à pergunta sobre o que o inspirou
ao escrever a letra, André Henrique responde que “Não me recordo exatamente. Há dias
em que acordas feliz e outros em que tens aquela nuvenzinha que te persegue. Talvez estivesse
num dia menos bom e a imaginação fugiu-me para isto. A música é muito terapêutica, tanto
para quem ouve como para quem a compõe.”. E após ser lhe apresentada esta abordagem
pessoal, e de lhe ser questionado sobre o que lhe pareceu esta diferente interpretação, o
músico respondeu que “É uma das muitas leituras possíveis. Acho que cabe aqui. Não há
certos nem errados, há o que cada pessoa retira dali quando ouve.” [ANEXO A ].
2 . E N Q UA D R A M E N TO T E M ÁT I CO 41
42
3. FUNDAMENTAÇ ÃO CIENTIFIC A 43
3. FUNDAMENTAÇÃO CIENTÍFICA
Para a fundamentação científica, questionou-se que imagens e objetos existem rela-
cionados com o tema estudado. É, com isto, importante perceber o papel do ilustrador
e do objeto, como também o que já foi feito no âmbito da ilustração e do livro ilustrado
e que pudesse vir a ser uma mais valia para o desenvolvimento deste projeto.
Dos vários artigos, teses e relatórios lidos, tanto na área da psicologia como na área
de ilustração e design, houve uma dissertação que se mostrou importante durante de-
terminada fase do desenvolvimento do projeto (fase 3, SECÇÃO 4.4 ). A dissertação em
questão tem como titulo “O meu pai (já) morreu - narrativas visuais sobre morte, luto e
o sentimento de perda na adolescência”, publicada em 2018, por Raquel Cabral Pereira
Boavista Carvalho.
Após a leitura desta dissertação, percebeu-se que o rumo que se estaria a tomar no
projeto não seria o mais indicado para a autora do presente relatório. Inicialmente hou-
ve um processo de distanciamento da autora com o tema e o objeto a ser criado, para
que fosse possível encontrar-se uma abordagem e linguagem visual que representasse
as características da mãe narcisista e os danos causados ao filho de uma forma geral. A
intenção seria alcançar um certo público alvo, numa abordagem possivelmente mais co-
mercial ou, pelo menos, mais informativa em relação ao tema. Posteriormente à leitura
da dissertação de Raquel Carvalho, numa fase em que a autora (do presente relatório) se
sentia desconectada com o seu projeto, percebeu-se a necessidade de seguir um caminho
de representação mais pessoal. Isto, pois a dissertação em questão aborda um tema extre-
mamente pessoal, de luto, com um processo de procura pela representação de memórias
e sentimentos (muito próprios) através da ilustração.
Ao se observar o processo de criação de Raquel Carvalho - que transmitiu uma sen-
sação de liberdade (pessoal) - e a sua investigação no campo da autorrepresentação, rede-
finiu-se o que faria sentido de se desenvolver neste projeto. Definiu-se a partir daí o de-
senvolvimento de uma autoedição, fanzine, como forma de se poder não só abordar algo
pessoal, como social, sem as preocupações de se alcançar o que faria sentido não só para
o público, mas também, o que faria sentido para a própria autora. Também os capítulos
em que aborda “o ilustrador enquanto personagem, intérprete e autor”, “as narrativas
autobiográficas” e “autoedição” foram importantes no entendimento para a investigação.
44 #DESAMPARO : Mãe narcisista e os danos causados ao filho
de uma revista. Este género de publicações pode conter textos, fotografias, tiras de banda
desenhadas, ilustrações, entre outros, sendo o foco na apresentação visual.
Os fanzines são então considerados um meio de expressão do autor, trabalhados ge-
ralmente de forma experimental. Através deste suporte, o autor pode abordar e expressar
a sua opinião sobre diversos temas, sem receios, sendo possível o uso de linguagens pro-
vocatórias e temas polémicos que não têm oportunidade de serem expressados em outros
meios convencionais. Alguns dos temas mais comuns de serem retratados e manifestados
em um fanzine, estão relacionados com perspetivas ideológicas, sociais e políticas.
Para além dos temas de opinião, crítica, manifesto e luta de causas, há também a ma-
nifestação de pensamentos e ética pessoal. Foi na procura por esta liberdade de expressão
de um tema pessoal e socialmente pouco abordado, que a autora do presente relatório
definiu o seu objeto em desenvolvimento como um fanzine [SECÇÃO 4.4 ].
Desde o início do projeto que se fez investigação de livros ilustrados em lojas e atelier
do orientador [FI G #1 1 ]; como também questionou-se, via email, outros professores da
área da ilustração e banda de desenhada - Prof. António Modesto, Prof. Rui Vitorino,
Prof. Júlio Dolbeth, Prof.ª Sofia Neto, Prof. Pedro Moura -, se tinham conhecimento
de livros ilustrados que abordassem este tema em concreto ou outros temas relacionados
com bullying ou abuso (físico e/ou psicológico), negligência e doenças mentais.
Sobre progenitores narcisistas em concreto, não se encontrou nenhum livro ilustrado
em específico. Já na banda desenhada foi sugerido o livro “Are You My Mother?”, de
Alison Bechdel, que faz um retrato da relação com a sua mãe tóxica, usando a autor-
representação e a representação da sua mãe. As imagens apresentadas nas vinhetas são
de linha preta, com uso de cores de tons cinzento e vermelho, evocando um ambiente
pálido. Uma das versões da capa do livro (capa mole) ilustra uma fotografia da filha,
aparentemente cabisbaixa, ao lado de sua mãe em pose matriarcal, enquanto olha para
folhas [FI G #1 0 ]. Sob a fotografia vê-se um espelho, que é também um elemento repre-
sentativo do narcisismo. Embora estes elementos relevantes para referência, a narrativa
em vinhetas não seria o género de abordagem que se pretendia para este projeto, man- FI G #10
Versão c apa mo le
tendo-se a procura pelo livro ilustrado e a relação do tema com a representação através d o li v ro “Are Yo u
da ilustração. M y Mo t her ”
Entre os vários livros sugeridos pelos os Professores anteriormente referidos, houve
resposta a livros ilustrados que abordavam os outros temas pedidos e que poderiam ser
apropriados nesta investigação. Entres eles, podemos destacar:
- “O Corpo de Cristo”, de Bea Lema, sobre a perspetiva de uma filha
que acompanha a doença mental da mãe, que não reconhece a doença.
46 #DESAMPARO : Mãe narcisista e os danos causados ao filho
FI G # 1 1
Alg un s d os vá r i os li v ros n ã o m e n c i on a d os n o p re s e nte re latór i o,
a n a li s a d os n o ate li e r d o or i e nta d or, Prof. Luí s M e n d on ç a
3. FUNDAMENTAÇ ÃO CIENTIFIC A 47
Outros livros ilustrados sugeridos tinham elementos que foram significativos, embo-
ra que por um curto período do desenvolvimento, principalmente no que diz respeito
aos elementos de texto, narrativa e ilustração:
F I G #16 - “The Little Men Book”, de Andrea e Lorenza Branzi, e “The Perfect Mat-
I l u s t raç ão do li v ro
“ The Z Wa s Zapp ed ” ch”, de Wayne Anderson. No primeiro livro é possível interagir com as páginas,
através de elementos rotativos que alteram a expressão do rosto ilustrado. E
em ambos os livros há páginas dividas em tiras, para que seja possível fazer-se
diferentes combinações, o que chegou a ser uma particularidade pensada para
o objeto deste projeto.
Vale a pena referir também alguns dos livros observados na primeira fase do trabalho,
onde se procurou livros ilustrados com peculiaridades. Entes eles estão:
3.5 Ilustradores
3.5.1 Moonassi
Daehyun Kim é artista gráfico sul coreano, também conhecido por Moonassi, nome
que atribui à sua série de trabalhos aqui analisados [F I G # 2 5 ]. Essa série, iniciada em
2008, remete à arte do desenho asiático tradicional, limitada ao uso de linha e tinta pre-
ta. Este seu trabalho aparenta não ter um fio condutor em termos de narrativa, apresen-
tando diferentes estados e emoções de um jeito quase apático, onde Moonassi pretende
tranquilizar os seus pensamentos através do desenho, transportando para as suas perso-
nagens emoções difíceis de explicar (Kim, 2010). O facto de as suas personagens não terem
características que as definam, sendo todas desenhadas com as mesmas características,
permite espaço para a interpretação e para que o observador possa projetar as suas pró-
3. FUNDAMENTAÇ ÃO CIENTIFIC A 51
FIG#24
Alguns do s vário s il u st rado re s de inspiraç ão a o lon g o d o p roce s s o,
n ão m e nc io nado s no pre se nte re l ató rio :
An a B isc aia, Al e ssandro Le c is e Al e ssandra Pa n ze r i , I n g r i d G od on , Kouki Ts uruta n i , J oa n n a Con ce jo
52 #DESAMPARO : Mãe narcisista e os danos causados ao filho
F I G #25
Par te da ser i e
de il ustrações
de Moon assi ,
intitu l ad as com
o mes mo n o m e
3.5.2 Malva
sobre a ansiedade. “Falo sobre mim e sobre a ansiedade, falo sobre como é carregar um
gigante que ninguém vê.” [ANEXO B ]. Foi neste trabalho que a autora do presente rela-
tório procurou inspiração desde o início do projeto, sendo mais evidente no trabalho
realizado durante a última fase [SECÇÃO 4.5 ]. Inicialmente focou-se a análise desta série
de ilustrações na mensagem de cada uma delas, onde foi possível encontrar, em cada
uma, elementos e sentimentos que podiam ser associados às representações do sofrimen-
to de um filho de mãe narcisista. Entre estes elementos estavam a “máscara”, que remetia
para a forçada aparência do filho, exigida e/ou criada pela mãe, para que os outros não
percebam a realidade; o “isolamento” e “solidão”, que foi associado ao isolamento do
filho, só, entre os que o rodeiam; o “sufoco” do filho para com a mãe, submergindo a
sua cabeça esgotada; e o “peso” que a mãe tem sobre o filho, limitando-o e levando-o ao
esgotamento.
Já na última fase do projeto, o foco nesta série de ilustrações foi dado ao seu estilo e
à técnica que Mariana usou. Do seu trabalho, tentou-se retirar a sua sensibilidade e co-
municação da mensagem através da simplicidade. Numa procura por o uso de técnicas
analógicas, experimentou-se o lápis, tentando perceber como ela o trabalha nas linhas
e mancha. Apesar de esta série da Mariana ser impressa em risografia, não foi o que
inspirou a autora do presente relatório a procurar por esta técnica, no entanto, poste-
riormente serviu para se tentar perceber como os elementos eram trabalhos, procurando
pelo enriquecimento do resultado final.
FI G #26
Pa r te da seri e
d e i lu st raçõ es de
M a lva, sem t i t u lo
na ilustração um ambiente que remete a esse universo, com representações surreais e abs-
tratas. Através da análise desse ambiente e elementos representativos, tentou-se perceber
como ilustrar a relação entre a mãe e o filho seguindo uma direção menos realista, e mais
abstrata e metafórica.
F I G #27
Par te da ser i e
de il ustrações
de Tina S i uda,
na s u a fan zi n e,
“ Z i n e5”
4. PROJETO
O objetivo principal deste projeto passou por criar um objeto que sensibilizasse o
leitor para a realidade de que nem todas as mães proporcionam amor, afeto e respeito
ao filho. Uma das áreas de interesse da autora deste projeto incide na ilustração, e daí a
procura pelo objeto editorial ilustrado como resposta ao objetivo do projeto.
Antes de se passar ao processo propriamente dito, talvez seja relevante fazer uma bre-
ve apresentação da autora e contextualizar o seu trabalho na área do desenho e ilustração.
Embora esta seja uma área de grande interesse para a autora, nem sempre foi uma área
por ela explorada. Enquanto que há dez anos atrás havia por esta um hábito de desenho
diário, com o uso do lápis grafite ou lapiseira, foi também nessa década passada que
deixou de desenhar. Ironicamente, o motivo dessa desistência estava relacionado com a
sua progenitora.
Os seus desenhos costumavam ser a rara forma de receber elogios da sua progenitora.
Quando os elogios se converteram em críticas negativas, a autora, saturada da constante
negatividade, eliminou assim uma maneira de as receber, colocando esta atividade de
lado (que ao mesmo tempo era o hobbie que a ajudava a ultrapassar o ambiente em que
vivia).
Só há cerca de quatro anos atrás é que a autora sentiu vontade de reentrar no mundo
da ilustração. No entanto, o excesso de autocrítica e a falta de um estilo característico
não ajudou a desenvolver novamente um processo diário no desenho. Também a admi-
ração por diversos estilos na ilustração, fez com que não conseguisse arranjar um modo
de focar o seu investimento pessoal num único estilo e técnica. O uso de programas
digitais passou a ser o principal meio de criação da autora, onde investiu no design de
personagens, através de formas simplificadas e cores planas [F I G# 2 8 ]. Esta abordagem
acabou por se tornar limitada ao longo do tempo, tanto em técnica como em processo
criativo.
Como forma de encontrar um novo percurso na área, em 2017, a autora frequentou
a Pós-Graduação em Ilustração, na FBAUP, o que se revelou uma mais valia na expe-
riência com diferentes técnicas analógicas, apesar da dificuldade que autora sentiu para
se expressar através do desenho. Após este processo de procura por voltar a entrar na
ilustração de uma forma que lhe fosse satisfatória, e de tentar encontrar uma linguagem
característica, a autora optou por fazer o presente projeto de ilustração com a finalidade
de dar também continuidade a esse objetivo.
58 #DESAMPARO : Mãe narcisista e os danos causados ao filho
F I G #28
S e rie de il ustrações
d a a u tora do relatór i o,
J oana F. B asto s
Após a fase de investigação do tema nos diversos campos artísticos, procurou-se defi-
nir o que se pretendia desenvolver no presente projeto a nível da ilustração, e qual seria
o formato e dimensão do objeto (livro). Relativamente ao formato em livro, surgiu uma
solução que pareceu resultar logo à partida. Essa solução consistia na criação de dois
livros diferentes: o primeiro teria 148mm de largura e 297mm de altura ou mais, e seria
para ilustrar as características da mãe narcisista (Livro Mãe). O segundo livro, de dimen-
sões reduzidas, menor que um A6, apresentaria o sofrimento causado ao filho (Livro
Filho). A diferença de tamanhos serviria para refletir o estatuto e personalidade das duas
personagens. O Livro Mãe seria comprido e estreito, mostrando superioridade,
enquanto o Livro Filho seria pequeno, mostrando fragilidade. Ambos os livros
estariam unidos nas lombadas através de fios emaranhados, representando a
ligação complicada entre as duas figuras. O Livro Filho estaria no interior do
Livro Mãe, descaído [FI G # 2 9 ]. Tencionava-se desta forma provocar uma sensa-
ção de desconforto ao leitor, que ao tentar segurar no pequeno livro (do filho),
poderia ter vontade de os separar para um melhor manuseamento do pequeno
objeto.
F I G #29
Prime iro estudo Estabeleceu-se o objetivo de se trabalhar a ilustração como forma de o público con-
do obj eto (p ara
o Liv ro Mãe e
seguir perceber o tema abordado. Para tal, definiu-se quais as características da mãe
Livro Fi lh o ) narcisista e do tipo de sofrimento do filho que seriam representadas. Foi feita uma inves-
tigação de imagens e fotografias que ilustravam cada uma dessas características listadas
e a partir destas criaram-se tabelas (para a mãe e para o filho) com estudos para se des-
crever situações para cada uma das característica e imagens selecionadas. A partir daqui
surgiram os primeiros storyboards para o livro da mãe e para o livro do filho, com oito a
dez ilustrações.
Deu-se foco ao estudo das ilustrações, onde se fez a recolha de livros ilustrados como
forma de observar diferentes estilos de ilustração e com o objetivo de se criar um moo-
dboard de inspiração. Foi também feita a procura de livros com peculiaridades [SECÇÃO
3.4 ], principalmente porque na altura, havia a possibilidade de fazer uso de celofane
vermelho como meio de ocultar traços na ilustração [F I G # 3 0 e # 3 1 ], sugerindo a ideia
de máscara (que é um elemento que pode caracterizar a mãe narcisista). Para isso anali-
saram-se livros com esta peculiaridade para se perceber melhor a técnica. Foram depois
4. PROJETO 59
ção de alguns ilustradores para o exercício, tentou-se recriar essa primeira ilustração nos
respetivos estilos dos ilustradores de referência [F I G# 3 3 # 3 4 # 3 5 # 3 6 e # 3 7 ].
Nessa altura, um dos estilos que melhor se parecia enquadrar no ambiente do tema
era o de Marriette Tosel [SECÇÃO 3.5 ]. Para a recriação da ilustração no estilo de Tosel,
procedeu-se ao estudo repetido da trama a ser usada no fundo da imagem. Sendo esta
uma técnica com a qual a autora não tinha prática, após o estudo feito, optou-se pela
procura de um estilo que estivesse dentro das capacidades e conhecimentos da autora,
até ao momento.
Numa nova experiência, recorreu-se à técnica de monotipia na qual, fazendo uso de
um cotonete, se desenhou sobre uma prancha de vidro coberta com tinta Aqua Wash,
preta. Com o objetivo de se alcançar uma aparência fotográfica, criaram-se duas imagens
de detalhes abstratos, que pretendiam evocar a ideia de “preso” e “medo” para o livro do
filho [FI G #3 8 #3 9 #4 0 e #4 1 ]. Dada a conclusão dos desenhos com o cotonete sobre a
prancha com tinta, adicionou-se, em seguida, uma folha de papel branca sobre a prancha
e esta foi prensada com um rolo. Após a tinta secar, um dos resultados foi digitalizado
e editado no Photoshop para ser convertido em negativo (invertendo as cores), criando
um especto mais fotográfico [FI G # 4 0 ]. O resultado estético pareceu revelar-se positivo,
tendo sido obtidas imagens fortes, embora demasiado abstratas para representar o tema
(tendo em conta o objetivo referido anteriormente para com a ilustração). Ainda que
não tivesse sido planeado trabalhar tintas com uso do pincel, foram feitas, a título de FI G #32
curiosidade, pequenas experiências com tinta guache, para se perceber a facilidade ou I lu st raç ão a
re trat ar o
dificuldade em manusear a técnica [F I G# 4 2 # 4 3 e # 4 4 ]. Embora o estudo tenha revelado e s tar preso ao
resultados que poderiam funcionar caso se investisse na técnica, manteve-se a decisão de cordão (u mbi li c a)
q u e li ga o f i lho
não se trabalhar a partir de pincéis. à mãe
Relativamente às ilustrações para o livro do filho, desenhou-se de forma rápida uma
representação para cada uma das dez ilustrações (indicadas no storyboard), fazendo-se
uso de uma mesa de desenho digital. Com este resultado, imprimiu-se o primeiro pro-
tótipo caseiro, em booklet [FI G #4 5 e # 4 6 ]. Mais tarde, tentando-se uma diferente abor-
dagem na técnica, foram feitos novamente os desenhos anteriores, desta vez recorrendo
a fotografias tiradas à autora, com o propósito de serem usadas na ilustração. Após as
fotografias serem editadas para tons preto e branco, foram impressas e recortadas. Como
forma de se experimentar outros materiais, usou-se a colagem, fios e desenho feitos a
lápis de cera [FI G #4 7 ]. O resultado revelou-se mais próximo de uma linguagem artística.
60 #DESAMPARO : Mãe narcisista e os danos causados ao filho
FIG#45 #46
Prime iro pro to ti p o
impres s o, co m o s
es u tod o s d as
il u s t raçõ es para
o Livro Fi lh o
4. PROJETO 61
Embora tenha sido um estudo interessante a nível pessoal, segundo indicação do orien-
tador, esta linguagem não pareceu funcional para o objetivo pretendido.
A realização destas experiências com técnicas analógicas encontra-se relacionada com
a intenção de que as ilustrações para o livro do filho representassem o seu sofrimento
de uma forma mais emotiva e sofrida, sendo que são técnicas que tendem a transmitir
mais sensibilidade. Já as ilustrações do livro da mãe representariam as suas características
de forma mais fria e perfeccionista, o que talvez fosse alcançável recorrendo ao desenho
digital. Esta solução de se desenvolver os dois livros com linguagens diferentes, parecia
ser um bom caminho para evocar de imediato uma discrepante diferença entre as duas
figuras (mãe e filho). No entanto, o orientador indicou que esta poderia não ser uma boa
solução, pois poderia confundir o leitor durante a visualização de dois objetos unidos,
com linguagem completamente diferentes. Esta opção foi então colocada de lado.
Deste modo, continuou-se a procura pela abordagem que fosse mais ao encontro do
objetivo do projeto, mantendo-se a investigação ao trabalho de diferentes ilustradores.
Contudo, toda a informação visual acabou por interferir com o processo criativo, pois
a procura por se alcançar algo com que a autora não se revia como sendo seu, foi come-
çando a criar um distanciamento para com o objeto.
FI G #47
S eri e de resu lt ado s
fe i to s a par t i r
d e di ferentes
te cni c as (L i v ro Fi lho )
62 #DESAMPARO : Mãe narcisista e os danos causados ao filho
FIG#48
S e gu ndo e stud o d o
o bj e to (para o L i v ro
Mãe e Livro Fi lh o ),
e ex pe riên ci a co m
c a r t ã o reflec to r
(esp elh o )
Após feita uma pausa no desenvolvimento das ilustrações para o livro do filho, deci-
diu-se então seguir para as ilustrações do livro da mãe. Inicialmente foram usadas como
referência as publicidades dos anos 40 a 60, onde se vê representada a figura feminina
com um olhar direcionado para o observador, e quase sempre de sorriso no rosto, de
expressão e pose forçada, que pode passar ao leitor uma sensação de falsidade. As repre-
sentações da mulher nas publicidades dessas épocas apresentavam ter um estilo adequa-
do para a representação das ilustrações da mãe narcisista, por esta “vender” aos outros
uma imagem de mãe perfeita. Assim, desenvolveu-se um storyboard a partir do conceito
dessas antigas imagens publicitárias [ANEXO C ]. No entanto, no seguimento de estudos
dentro deste estilo, concluiu-se que os resultados não estavam a ser satisfatórios. Com
isto, a autora de imediato procurou uma solução que permitisse continuar a trabalhar a
partir de um estilo característicos dos anos 50-60.
Nessa altura, e ao pesquisar o ilustrador John Holcroft, percebeu-se que a ilustração
editorial poderia ser uma boa alternativa ao estilo da publicidade dos anos 50. Foi através
do trabalho de Holcroft que surgiu a base de inspiração para o trabalho desenvolvido
nesta segunda fase. A partir dos storyboards desenvolvidos para o livro da mãe, fez-se no-
vos estudos no desenho, com o objetivo de representar as características da mãe narcisis-
ta [FI G #4 9 ]. Tentou-se representar estas características através de um estilo de ilustração
que pudesse funcionar em publicações de revistas da área da psicologia, mantendo-se a
intenção de criar uma representação clara da situação ilustrada. Para a criação das ima-
gens, através da fotografia, a autora usou-se novamente como modelo para as poses a
serem ilustradas. Os rascunhos foram desenhados, no Photoshop, sobre as silhuetas das
fotografias tiradas e mais tarde fez-se a versão final de alguns desses estudos [F I G # 5 0 ].
Como peculiaridade no objeto, estudou-se uma página em fole para representar a forma
4. PROJETO 63
como a mãe vê o seu filho, como “extensão” dela própria. A paleta de cores uti-
lizada foi inspirada no conceito de “fantasia”, que se pode associar às mães nar-
cisistas por viverem numa realidade própria e deturpada, onde tudo é perfeito
enquanto as coisas funcionarem como pretendem. Para a autora, os resultados
obtidos pareciam finalmente ir ao encontro da representação da mãe narcisista
e o ambiente que estas podem transmitir ao filho.
Após uma primeira versão dos estudos das ilustrações para esta abordagem,
o orientador indicou que esta poderia não ser a mais indicada para o tipo de FIG#49
E s tu do s da
projeto. O orientador sugeriu então uma nova abordagem: ilustrar as características da s e g u nda f ase
mãe narcisista através de personagens que estivessem de alguma forma relacionadas com d o pro jeto
determinada característica da mesma (como por exemplo, ilustrar a característica de
“controladora”, representar-se a mãe narcisista como uma domadora de leões). Sugeriu-
-se então a hipótese de se desenvolver um livro de páginas divididas em tiras, onde se
poderia combinar diferentes partes das personagens da mãe, criando uma nova (como
exemplo do livro “The Perfect Match”, mencionado na SECÇÃO 3.4 ). Tentou-se assim
criar um estilo mais fluido, fazendo-se novos estudos inspirados noutros ilustradores que
serviriam de referência neste novo tipo de livro. No entanto, a criação de um objeto mais
lúdico, parecia distanciar-se do objetivo inicial proposto. Por não conseguir identificar
a sua experiência com esta nova abordagem, a autora descartou o trabalho desenvolvido
até ao momento, recomeçando o trabalho numa tentativa de conseguir desenvolver algo
mais pessoal. Este novo objetivo surgiu após a leitura da dissertação mencionada na
SECÇÃO 3.1 .
FIG#50
S éri e de i lu st raçõ es
d a segu nda f ase
( L i v ro Mãe)
64 #DESAMPARO : Mãe narcisista e os danos causados ao filho
Para além da investigação necessária para se perceber como retratar a mãe narcisista
e o sofrimento do filho nas ilustrações, realizou-se um questionário como forma de se
perceber como outras pessoas com progenitores tóxicos e/ou narcisistas os descreviam a
partir de palavras, objetos e cores. Os resultados, em anonimato, vieram a servir de apoio
para o estudo das ilustrações a serem feitas, pois os filhos deste género de progenitores
são parte do público-alvo do projeto.
Fizeram-se ao todo 13 questões, sendo metade delas de escolha múltipla, e as res-
tantes de resposta por extenso. Das 60 participações submetidas até dia 14 de maio, de
2020, resultaram numa amostra de respostas curiosas e significativas. Dá-se aqui desta-
que às respostas da questão 5, onde foi pedido para descrever pelo menos três sentimen-
tos vivenciados com o progenitor tóxico/narcisista [F I G# 5 1 ]:
Ao dar-se inicio a um novo rumo no projeto, fez-se uma retrospetiva dos objetivos
da autora para com o objeto e que técnicas poderiam vir a ser uma mais valia. Como
forma de impulsionar este novo rumo, definiu-se trabalhar o objeto de forma a que este
fosse impresso posteriormente em risografia – técnica que a autora tinha curiosidade
em experimentar, tal como mencionado na SECÇÃO 3.6 deste relatório. Foi através dos
trabalhos da ilustradora Joohee Yoon que esta vontade emergiu, podendo vir a ser uma
mais valia no resultado final. Também se definiu que o objeto se trataria de um fanzine,
como forma de a autora ter maior liberdade na representação de um tema pessoal e social
e na forma como o ilustrava, sem se preocupar em ir ao encontro de certos padrões mais
comerciais. Esta nova abordagem acabou por fazer mais sentido à autora, pois mesmo
tendo evitado não fazer uma autorrepresentação, foi quase impossível não o fazer nas
situações ilustradas.
Ao visualizar a animação “The Cord” (mencionado na SECÇÃO 2.3.3 ), houve indica-
ção do orientador de que este seria um bom caso de análise de enredo para transportar
para o storyboard do fanzine. Tratava-se de uma história com início, meio e fim, em
que as personagens envelhecem juntamente, em oposição ao storyboard de imagens que
separavam a mãe e o filho em dois livros. Após a análise feita aos momentos-chave da
animação, para se perceber como é representada a relação (entre mãe e filho), fundiu-se
o Livro Mãe com o Livro Filho, criando um único objeto, cuja narrativa ia desde a ges-
tação da criança até à liberdade da mesma (momento este em que corta a ligação com
a progenitora). Definido o novo storyboard, inspirado a partir de cada característica da
mãe narcisista, deu-se início aos primeiros estudos para as ilustrações.
Inicialmente, como forma de estudo para a composição da ilustração, trabalhou-se
diretamente no digital ao mesmo tempo que se fazia o estudo dos tons da paleta escolhi-
da (vermelho e preto) [FI G #5 2 ]. Durante esse processo, logo após uma primeira versão, a
autora sentiu a necessidade de refazer os estudos [F I G # 5 3 ], distanciando-se do estilo de-
senhado no storyboard. Manteve-se os cenários e mudou-se o desenho das personagens,
continuando a trabalhar com padrões como conceito. Neste caso, desenhado a mãe com
uma camisola às riscas, fazendo alusão a grades (de prisão), enquanto a filha tinha um
padrão de círculos, referência a bolhas de sabão, para um conceito de liberdade.
FI G #52
Pr i mei ro s est u do s
n o di gi t al (séri e)
FI G #53
S egu nda versão do s
e s tu do s no di gi t al
( s éri e)
66 #DESAMPARO : Mãe narcisista e os danos causados ao filho
FIG#56
Alguns do s e st u do s re al iz ado s du ranto o de se nvolv i m e nto d a s i lus tra çõe s d a ve r s ã o f i n a l
68 #DESAMPARO : Mãe narcisista e os danos causados ao filho
o público pudesse sentir mais as emoções, o que levou a que se refizessem algumas das
ilustrações já concluídas. Porém, por não representar o sentimento pessoal da autora,
manteve-se a apatia das expressões e das poses, pois uma representação mais animada e
dinâmica não ia ao encontro da sua relação pessoal com o tema. A certo ponto, fizeram-
-se ainda estudos de fundos para a ilustração, trabalhados com caneta de álcool e salpicos
de tinta ou através de lápis grafite [F I G # 5 5 e # 5 7 ]. Como forma de manter uma lingua-
gem consistente, o estudo desse elemento foi excluído. Foi também recomendado pelo
orientador para que não houvesse ilustrações onde o desenho fosse limitado pela folha,
mantendo a consistência de todo o foco da ilustração ao centro, sem cortes. Os estudos
desta fase fizeram-se repetidamente até o resultado se tornar pessoalmente satisfatório.
F I G #57
Pr i m ei ros
estudos
d e cor
Todos os estudos foram trabalhados a lapiseira 0.5mm sobre folha branca A4, di-
vidida em dois A5 para poupar papel. Ao longo do processo os rascunhos foram foto-
grafados com o objetivo de criar simples protótipos do booklet em estudo, de modo a
facilitar a avaliação e análise do resultado. Após selecionados os estudos finais a serem
trabalhados, passou-se para o desenho da versão final de cada ilustração. Para este pro-
cesso usou-se uma mesa de luz, que permitiu redesenhar os rascunhos na sua versão
final. Tendo em conta que o trabalho seria impresso em risografia, onde seria necessário
a separação das cores em diferentes elementos, separou-se esses elementos recorrendo
a diferentes folhas como se representassem as diferentes camadas do Photoshop. Cada
ilustração foi assim dividida entre 5 a 7 folhas, incluindo alguns elementos extra, dese-
nhados para adicionar posteriormente nas ilustrações [F I G# 5 8 ]. Como materiais para o
resultado final, usou-se principalmente lápis grafite 4B, e por vezes 2B ou 8B, esfuminho
4. PROJETO 69
FI G#59
Algu ns do s est u do s de
cor para a i mpressão
e m ri so graf i a
Visto que a autora se propôs a fazer impressão em risografia sem qualquer contacto
prévio com a técnica, o workshop online “Aprender a criar e exportar ficheiros a duas
cores para impressão em riso”, da Mago Studio, em Lisboa, revelou-se uma mais valia.
Numa primeira fase, os ilustradores Bina Tangerina e Marcos Martos, mentores deste
workshop, fizeram uma breve introdução à técnica de impressão, ao equipamento usado,
o tipo de grão criado no resultado da impressão (graintouch e halftone), as percentagens
usadas para criar os diferentes tons da mesma cor e o esquema da paginação para impres-
são (conhecimentos adquiridos referidos na SECÇÃO 3.6 ).
70 #DESAMPARO : Mãe narcisista e os danos causados ao filho
FI G # 6 0
I lus tra çõe s f i n a i s
4. PROJETO 71
definida, fundem-se então num só ficheiro os elementos que irão ser impressos na master
com a mesma cor. Cada ficheiro equivalente a uma cor, terá que ser salvo num ficheiro
em escala de cinzento e em formato PDF (Portable Document Format). Na conclusão
da terceira fase, passou-se para as demonstrações da criação do ficheiro a ser impresso
em risografia. Na primeira demonstração foi criado, por Marcos, um desenho digital
com o intuito de apresentar as diferentes opções que existem para se criar uma ilustração
em Photoshop, tendo já em conta a separação das cores e sobreposição das mesmas. Na
segunda demonstração, foi usado uma ilustração de Bina, criada a tinta, lápis e recortes
e posteriormente digitalizada, para ser trabalhada em Photoshop [F I G# 6 1 ]. Os diferen-
tes elementos foram criados de forma separada (exemplo, o elemento a recorte estava
numa folha, enquanto o elemento do fundo estava feito numa outra folha) e após as
digitalizações serem abertas em um ficheiro de Photoshop, foram trabalhadas para que
os elementos encaixassem corretamente uns nos outros. Após concluída a montagem,
também foi feita uma simulação de cor para se poder perceber como ficaria o resultado
após a sua impressão. Como exercício após a aula, o aluno poderia fazer a sua própria
ilustração para ser impressa em risografia, folha A3, a duas cores.
F I G #62
I mpressão das
il u s t rações em
risog rafi a
F I G #63
R es u l t ad o fi n al
da ilustraç ão
impressa em
risog rafi a
4. PROJETO 73
Desejava-se desde início, que a imagem tivesse capacidade de passar a mensagem sem
o auxílio de texto. Porém, na terceira fase do projeto [SECÇÃO 4.4 ] adicionou-se, em cada
ilustração, uma palavra referente a uma caraterística da mãe narcisista. Mais tarde, numa
procura para que o tema ilustrado fosse devidamente entendido - objetivo do projeto -,
sentiu-se a necessidade de adicionar texto narrativo que acompanhasse a ilustração. Para
isso, durante o estudo das ilustrações, usou-se um texto escrito pela autora do presente
projeto, em 2015, dedicado a este género de relação com a mãe narcisista.
Como a autora não tem prática no género de escrita do texto, tentou-se me-
lhora-lo procurando a ajuda de uma pessoa relacionada com a área. O texto foi
sendo ligeiramente corrigido e posteriormente enviado a um professor da área
da escrita, para se obter sugestões de como o melhorar. Como após o envio não
foi recebida resposta, manteve-se o texto sem muitas mais alterações, tendo
permanecido as frases que surgiram naturalmente quando foi escrito pela pri-
FI G #64
meira vez (coluna e. do ANEXO D ). Com isto, ocorreu um género de processo incomum,
E s tu do
onde primeiramente se criou o storyboard e os desenhos, e posteriormente se adicionou d o tex to
o texto de forma a que encaixasse em cada uma das ilustrações finais [F I G# 6 4 ].
Para o texto, não só se fez um estudo de possíveis fontes tipográficas como
também um estudo da caligrafia a partir de canetas e lápis 2B e 4B [F I G # 6 5 ].
Com o uso de caligrafia pretendia-se aproximar o trabalho à identidade da
autora, ao mesmo tempo que se transformava visualmente o elemento de tex-
to para algo mais próximo da estética da ilustração, ao se utilizar o mesmo
material para a escrita (lápis 4B). A acompanhar o texto e a ilustração, man-
tiveram-se as palavras soltas referentes às características da mãe narcisista. No
entanto, foi sugerido pelo orientador que se mantivesse a versão do objeto
FI G #65
sem texto, para que este não influenciasse a interpretação das ilustrações e lhes tirasse a E s tu do s
devida importância. Voltou-se ao desenvolvimento de uma versão sem texto, mantendo c a l i graf i a
como por exemplo o título “Amparo” - por, ironicamente, ser uma referência ao nome
da progenitora da autora. No entanto, deixou-se essa escolha para quando o conteúdo
do objeto tivesse concluído. Com o uso das palavras soltas referentes às características da
mãe narcisista e do símbolo “#”, no final optou-se pelo título “#DESAMPARO”. Com
isto, manteve-se de certa forma uma das hipóteses que ligava a autora ao objeto, conver-
tendo para uma palavra que remete à possível situação em que o filho (desamparado) é
submetido na relação com uma mãe.
luz, revelasse uma boca de dentes espetados por detrás da delicada máscara, obtendo a
mesma intenção explicada anteriormente. Embora se tenha feito este estudo, no final
decidiu-se manter a simplicidade, onde se usou unicamente a capa do rosto delicado,
sem a aplicação da segunda capa. Todas estes diferentes estudos mencionados na fase
final do processo foram sendo impressos [F I G# 6 7 ], geralmente na versão booklet, com
o intuito de se poder observar o resultado dos estudos para as ilustrações, do texto, da
dimensão, formato e capa.
Para a encadernação final do booklet foi pensado o acabamento singer (aca-
bamento costurado à máquina) [FI G# 6 8 ], por ser não só uma forma de manter
a representação dos fios pensados inicialmente para a encadernação do objeto
[SECÇÃO 4.2 ], como também por ser um acabamento simples, de baixo custo
e que permite as páginas se abrirem na sua totalidade. A dimensão do objeto
final, fechado, é de 135mm de largura por 210mm de altura. Imprimiu-se
uma simulação do fanzine a ser impresso em risografia, em papel Munken Pure
no miolo e na capa, ambos de diferentes gramagens, pelo seu tom e textura FI G #68
[F IG #6 9 ]. Ac abamento si nger.
Fi o i dealmente em
ve r melho
F IG #69
O bjeto f i nal.
S i mu laç ão de
i mpressão em
ri so graf i a
76 #DESAMPARO : Mãe narcisista e os danos causados ao filho
FI G # 7 0
Vá r i o d o m ate r i a l re a li za d o d ura nte o d e s e nvolv i m e nto d o p roje to
4. PROJETO 77
78
79
5. CONCLUSÃO
5. CONCLUSÃO
Ao se ter definido o objeto como sendo um fanzine, permitiu que a autora sentisse
que havia espaço para criar e errar - algo que a mãe narcisista não permite que aconteça
e que normalmente o filho tem que aprender por si só. Considera-se que houve um
crescimento pessoal da autora nesse sentido, por conseguir evitar que a exigência para
consigo própria dominasse o processo, tendo assim se permitido a criar e apresentar um
objeto em que reconheceu limitações e dificuldades, permitindo conseguir encontrar
um caminho pessoalmente satisfatório para o resultado deste projeto.
Desta forma, o objeto final não é algo “perfeito” ou comercial, mas sim um bocado
da própria autora, com o intuito não só de ilustrar a sua experiência, como a de outros
que tenham passado por essas mesmas vivências e que se possam identificar ou percebe-
rem que não estão sós nestes casos de abuso. O resultado final foi um objeto simples, de
ilustrações delicadas que representam o percurso de um filho que cresce com uma mãe
narcisista [FI G #6 9 ].
No que diz respeito a limitações, não foi possivel fazer-se o acabamento com linha
vermelha (associada à linha da vida e cordão umbilical). Além disso, considera-se que
o texto do objeto é ainda um problema em aberto. Há ainda a intenção de se fazer
melhorias no desenho da capa, na disposição do texto final e no design da ficha técnica
(mudando a tipografia).
Pretende-se continuar a trabalhar este tema. Além de ser uma vontade que
existia antes do mestrado, este projeto acabou por alimentar essa vontade de
se querer continuar a explorar o tema, não só por dizer muito à autora, como
também para informar e envolver pessoas que se relacionem com o assunto
ou que o queiram entender. Para essa continuidade, criou-se uma página de
Instagram dedicada aos progenitores narcisistas, para se poder abordar o tema
através de ilustrações e textos referentes. Chegaram a ser feitos alguns estudos
[F IG #7 1 ], no entanto, não foram publicados até ao momento por ser ainda
um projeto em estudo. FI G #71
M ocku p I nst agram
Considera-se que este tema deva continuar a ser trabalhado e investigado, como for-
ma de alerta para algo que parece invisível para a sociedade, apesar de não ser um género
de abuso incomum. Para isto, entre as várias áreas possíveis, a ilustração parece ser um
dos meios com potencial para o apoio e sensibilização do tema, por ser uma forma de se
transmitir situações difíceis que o leitor não experienciou, mas que pode vir a entender
através da ligação que cria com a imagem. É também possível explorar outros aspetos
que não foram abordados neste projeto, como por exemplo: o “pai narcisista”; a possível
diferença de relação da mãe narcisista para com o filho homem e filha mulher e os res-
petivos danos; e a diferente relação do progenitor narcisista para com o filho favorecido
em comparação para com o filho que não corresponde às suas espectativas, são algumas
das sugestões para se continuar a explorar o tema.
80
#DESAMPARO : Mãe narcisista e os danos causados ao filho
Este testemunho citado foi importante para a autora do presente relatório, pois, para
além do peso das palavras citadas, mostrou que o objeto pode chegar a determinado
publico de forma emotiva, principalmente se tiverem passado por este género de relação
com o progenitor.
82
83
BIBLIOGRAFIA
Applin, Jo, & Kusama, Yayoi. (2012). Infinity Mirror Room-Phalli’s Field. In: Cambridge:
MIT Press.
Ash. (2020). Narcissistic Parents as Depicted in Film and Television. Retrieved from www.
reelrundown.com/misc/Narcissistic-Abuse-As-Depicted-in-Film-and-Television
Back, Mitja D, Schmukle, Stefan C, & Egloff, Boris. (2010). Why are narcissists so charming
at first sight? Decoding the narcissism–popularity link at zero acquaintance. Journal of personality
and social psychology, 98(1), 132.
Brown, Nina W. (2008). Children of the self-absorbed: A grown-up’s guide to getting over
narcissistic parents. New Harbinger Publications.
Bryan, Kim. (2018). 7 Movies Every Daughter of a Narcissistic Mother Will Relate To.
Retrieved from https://hubpages.com/family/daughters-narcissistic-mothers-movies#
Connelly, Laura. (2016). Moonassi: Melancholy illustrations react to the musings of everyday
life. Retrieved from https://www.creativeboom.com/inspiration/moonassi-melancholy-
illustrations-react-to-the-musings-of-everyday-life-/
Dingfelder, Sadie F. (2011). Reflecting on narcissism - Are young people more self-obsessed than
ever before? Retrieved from www.apa.org/monitor/2011/02/narcissism
Engelke, Michele. (2016). Prisioneiras do Espelho: Um guia de liberdade pessoal para filhas de
mães narcisistas: Smashwords Edition.
84
FFMS. (2013). Portal de Opinião Pública da Fundação Francisco Manuel dos Santos - Secção
“Família” Retrieved from https://www.pop.pt/pt/grafico/a-familia/dever-de-amar-e-respeitar-
pai-e-mae/pt-dk-no-se/?colors=se-2%7Cno-3%7Cdk-1%7Cpt-0%20#
Guerra, Paula, & Quintela, Pedro. (2014). God save the Portuguese fanzines.
Hyler, Steven E. (1988). DSM-III at the cinema: Madness in the movies. Comprehensive
psychiatry, 29(2), 195-206.
Lee, Soojin. (2015). The Art and Politics of Artists’ Personas: The Case of Yayoi Kusama.
Persona Studies, 1(1).
Lino, Geraldes. (2019). Fanzine: O que é, e qual a origem da palavra. Retrieved from https://
bandasdesenhadas.com/2019/02/20/fanzine-o-que-e-e-qual-a-origem-da-palavra/
McCloud, Scott. (1993). Understanding Comics: The Invisible Art: Tundra Publishing Ltd.
Newman, Kenneth M. (1996). Winnicott goes to the movies: The false self in ordinary people.
The Psychoanalytic Quarterly, 65(4), 787-807.
Ni, Preston. (2019). Difference Between a Narcissist vs. Narcissistic Behavior. Retrieved
from https://www.psychologytoday.com/us/blog/communication-success/201908/difference-
between-narcissist-vs-narcissistic-behavior
85
Sagacious News Network. (2017). Movies about narcissism and narcissistic personality
disorder.
Silva, Rebecca Araújo Soares da. (2019). Mães narcisistas patológicas à luz dos direitos das
crianças e dos adolescentes.
Twenge, Jean M, & Foster, Joshua D. (2008). Mapping the scale of the narcissism epidemic:
Increases in narcissism 2002–2007 within ethnic groups. Journal of Research in Personality,
42(6), 1619-1622.
Van Meerbergen, Sara. (2012). Play, parody, intertextuality and interaction: Postmodern
Flemish picture books as semiotic playgrounds. Nordic Journal of ChildLit Aesthetics, 3(1),
20075.
Ventura, Diogo Alexandre Delgado Neto, Pedro, Ana, Alvarez, Mestre Nuno, & da
Purificação Horta, Maria. Perturbação Narcísica Da Personalidade: Descrição E Compreensão.
86
87
ANEXOS
ANEXO A 89
ANEXO B 90
ANEXO C 91
ANEXO D 92
88
89
ANEXO A
Entrev i sta ao s Linda M ar t in. R e spo ndido po r André He n r i q ue s, a outub ro d e 2 0 1 9
1- Na minha pesquisa às entrevistas que deram, 4- Estão familiarizados com este assunto sobre
li que a letra desta música não foi dedicada a progenitores narcisistas? Têm alguma opinião, ou
alguém em particular. Que foi escrita como se a algum caso que conheçam (sem necessidade de
contar a história de uma outra pessoa qualquer fazer referência ao caso)?
(o que é interessante, sendo que qualquer pessoa AH : Não sou entendido no tema mas acho
que a oiça vai “contar” a sua própria história). Que que todos já fomos testemunhas desse tipo de
interpretação retiram da letra da vossa música e comportamentos em maior ou menor grau.
que mensagem queriam passar com ela? Lembro-me de um jogador de futebol de bairro
AH : Na verdade a letra fala de uma relação que (em ex colega de trabalho) que queria que o seu
não está a resultar. O narrador sente que não filho aos 8 anos fosse o craque que ele nunca foi,
está a ter o retorno do seu amor na medida certa. e lembro-me também de uma mãe elegante muito
Não é auto biográfico e se queres que te diga já envergonhada porque a sua filha tinha excesso de
não sei precisar exactamente qual foi o rastilho peso. Ambos são casos em que os pais projectavam
para escrever a letra. Não há propriamente uma os seus desejos e anseios para cima das criancinhas.
mensagem, há a ideia de partilhar ou expressar Tento não o fazer com os meus filhos, acho que
uma emoção. Acho que a nossa música é mais isso. me estou a safar mas só o futuro o dirá.
A existir uma mensagem, ela é pessoal e é mais de
quem ouve do que de quem escreve. 5- Assim por alto, conseguem-se lembrar de outra
música, vossa ou de outro autor, que possa encaixar
2- Foi o André Henriques que escreveu a letra? neste tema (de uma relação de abuso)?
Embora tenha lido que não foi escrita a partir AH : Nossa, talvez o “quase se fez uma casa”. Tem
de uma experiência pessoal, o que o inspirou a uma temática semelhante ao amor combate.
escreve-la?
AH : Fui eu, sim. Não me recordo exactamente. 6- Neste meu projecto, pretendo vir a desenvolver
Há dias em que acordas feliz e outros em que tens um suporte ilustrado sobre este assunto. Conhecem
aquela nuvenzinha que te persegue. Talvez estivesse algum outro projecto (ilustração, filme, livro, B.D.,
num dia menos bom e a imaginação fugiu-me ou outro suporte) sobre este tema?
para isto. A música é muito terapeutica, tanto para AH : Não me recordo de nada em específico.
quem ouve como para quem a compõe.
6.1- Se tivessem de ilustrar este tema, que
3- O que vos parece esta interpretação que aqui características privilegiariam?
apresento? Alguma vez tiveram contactos com AH : Como disse atrás, não estou por dentro do
abordagens deste género? tela mas desejo que chegues ao fundo das respostas
AH : É uma das muitas leituras possíveis. Acho que que procuras.
cabe aqui. Não há certos nem errados, há o que
cada pessoa retira dali quando ouve. __
90
ANEXO B
Entrev i sta a M ariana B e nto ( M al va) , a o u t u bro de 202 0
O teu trabalho que usei como referência foi esta série de ilustrações em risografia:
ANEXO C
E xem p lo d e um do s sto r y bo ard c riado s, ne ste c aso, pa ra a f a s e 2 d o p roje to ( S E CÇ ÃO 4 .3 )
92
ANEXO D
Tab elas co m as de sc riçõ e s e re fe rê nc ias u sadas para o e s tud o d a s i lus tra çõe s. Na r rati va e tex to uti li za d o d ura nte o p roce s s o.
- Mãe grávida, - Animação “The Mãe narcisista aprecia “Imagina uma flor.
sobre o seu Cord” (cordão o filho dentro dela, Imagina que és essa flor,
próprio planeta, umbilical) enquanto este a presa pelo pé à terra que te
apreciando o seu - Flor narciso na observa esperançoso fez nascer. Imagina que és
filho enquanto cabeça da mãe para a conhecer. essa flor e que gostas de
este observa (elemento assim o ser.”
a sua mãe constante na
personagem)
- Cachecol com
riscas
(simbolizando
barras de prisão)
1. gestação
- Mãe sob a “pride - Filme “Rei Leão”: Após o nascimento do (E) Que por baixo do pé
rock” a elevar o sob a “pride rock”, filho, a mãe eleva-o que te sustenta está a terra
filho nas suas o mandril Rafiki nas suas mãos, que te alimentou durante
mãos, como a batiza e exibi o exibindo-o com a vida para cresceres.
exibir com filho de rei Mufasa, orgulho (como se de
orgulho o seu Simba, aos outros um troféu de “mãe” se
troféu de “mãe” animais da savana tratasse) sob a “pride
- Os planetas à rock”.
volta representam
os outros que
observam
2. exibição
3. contemplação
- Filho rodeado - Olhos: observado, Ao longo do tempo, E insiste para que assim
por quem a mãe julgado, pressão, com a manipulação acredites que é na verdade
contaminou. solidão que a mãe vai fazendo a tua vida. Que és reles,
- Os planetas, à às outras pessoas para insuficiente, uma flor sem
medida que a ficarem contra o filho, cor, sem brilho, sem algo
mãe os estas começam a para dar ao que te rodeia.
contamina, julga-lo. O filho
começam a sente-se inferior e
tornar-se em isolado (sem apoio) no
olhos (que meio da pessoas que
observam e o rodeiam.
julgam)
9. isolamento/
julgamento
12. prisão
95
14. revolta/
recuperação
16. liberdade/
felicidade
96
97
98