Estudo de Caso

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 41

0

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ


CENTRO DE HUMANIDADES
CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

JOSÉ DA SILVA OLIVEIRA NETO

UM ESTUDO DE CASO CLÍNICO NA PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL

FORTALEZA – CEARÁ
2019
1

JOSÉ DA SILVA OLIVEIRA NETO

UM ESTUDO DE CASO CLÍNICO NA PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Graduação
em Psicologia do Centro de Humanidades
da Universidade Estadual do Ceará, como
requisito parcial para a obtenção do grau
de licenciado em Psicologia.

Orientadora: Profa. Dra. Ana Ignêz Belém


Lima

FORTALEZA – CEARÁ
2019
2
3

JOSÉ DA SILVA OLIVEIRA NETO

UM ESTUDO DE CASO CLÍNICO NA PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Graduação
em Psicologia do Centro de Humanidades
da Universidade Estadual do Ceará, como
requisito parcial para a obtenção do grau
de licenciado em Psicologia.
4

RESUMO

A modernidade impõe novos horizontes e novos desafios para a constituição das


relações sociais e para a estruturação da subjetividade. A clínica psicológica, nesse
contexto, desdobra-se para pensar perspectivas teórico-práticas que sejam
apropriadas para novos arranjos subjetivos. A Psicologia Histórico-Cultural de Lev
Vigotski responde às necessidades clínicas contemporâneas, uma vez que pensa as
relações sociais e a subjetividade como processualidade histórica. Este estudo
baseou-se em uma persectiva qualitativa em psicologia e utilizou-se do estudo de
caso como caminho metodológico, tendo em vista que permite maior detalhamento e
aprofundamento do objeto em estudo. Objetivou-se apontar os caminhos clínicos
(manejo e intervenções) construídos e realizados junto a um paciente do Serviço de
Psicologia Aplicada (SPA) da Universidade Estadual do Ceará (UECE) durante
processo de psicoterapia de base histórico-cultural. Com isto buscou-se aprofundar
as contribuições teóricas dessa abordagem para a clínica psicológica contemporânea.
Destarte, conclui-se que mudanças na dinâmica subjetiva do paciente se efetivaram,
de maneira que a demanda evoluiu desde a aparência subjetiva (expressa na queixa
e nos sintomas) à essência das configurações subjetivas do paciente, havendo
mudanças significativas na personalidade e no modo de vida do sujeito em terapia.
Nota-se, por fim, que poucos são os estudos clínicos na psicologia histórico-cultural,
havendo necessidade de maior fomento e produção nessa área.

Palavras-chave: Estudo de caso. Psicologia histórico-cultural. Subjetividade.


5

ABSTRACT

Modernity imposes new horizons and new challenges for the constitution of social
relations and the structuring of subjectivity. The psychological clinic, in this context,
unfolds to think theoretical-practical perspectives that are appropriate for new
subjective arrangements. Lev Vygotsky's Historical-Cultural Psychology responds to
contemporary clinical needs, since he thinks of social relations and subjectivity as
historical processuality. This study was based on a qualitative persectiva in psychology
and it was used the case study as methodological path, considering that it allows
greater detailing and deepening of the object under study. The objective of this study
was to identify clinical pathways (management and interventions) constructed and
performed by a patient of the Applied Psychology Service (SPA) of the State University
of Ceará (UECE) during a process of historical and cultural psychotherapy. With this
we sought to deepen the theoretical co-contributions of this approach to the
contemporary psychological clinic. Thus, we conclude that changes in the subjective
dynamics of the patient have become effective, so that the demand has evolved from
the subjective appearance (expressed in the complaint and in the symptoms) to the
essence of the patient's subjective configurations, with significant changes in
personality and mood life of the subject in therapy. Finally, clinical studies in historical-
cultural psychology are lacking, and there is a need for further development and
production in this area.

Keywords: Case study. Historical-cultural psychology. Subjectivity.


6

SUMARIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 7
2 A CLÍNICA HISTÓRICO-CULTURAL: FUNDAMENTOS
TEÓRICOS E EPISTEMOLÓGICOS PARÁGRAFO
INTRODUTÓRIO................................................................................. 11
2.1 BREVE HISTÓRICO: DA URSS À CONTEMPORANEIDADE............ 11
2.2 A COMPLEXA RELAÇÃO HOMEM-MUNDO NA PSICOLOGIA
HISTÓRICO-CULTURAL: CONTEXTO PARA ENTENDER OS
DESAFIOS DA CLÍNICA CONTEMPORÂNEA................................... 13
2.3 ALGUNS CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA A CLÍNICA DE
VIGOTSKI: DA FILOGÊNESE À SUBJETIVIDADE............................ 16
3 OS CAMINHOS METODOLÓGICOS PARA INVESTIGAÇÃO E
DISCUSSÃO DO CASO CLÍNICO APRESENTADO......................... 21
4 O CASO CLÍNICO: SENTIDOS E DESDOBRAMENTOS NA
PRODUÇÃO DE NOVAS CONFIGURAÇÕES SUBJETIVAS........... 24
4.1 O CASO............................................................................................... 24
4.2 CONDUTAS E INTERVENÇÕES NA CLÍNICA HISTÓRICO-
CULTURAL: A EXPERIÊNCIA DE PSICOTERAPIA NO SPA DA
UECE................................................................................................... 25
4.2.1 A caracterização da demanda.......................................................... 25
4.2.2 A relação com o meio........................................................................ 26
4.2.3 Os novos delineamentos e configurações da queixa inicial......... 28
4.2.4 Intervenção na zona de desenvolvimento sexual........................... 30
4.2.5 A mudança na configuração subjetiva............................................ 31
4.2.6 O processo de alta......................................................................... 33
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................ 34
REFERÊNCIAS................................................................................... 36
7

1 INTRODUÇÃO

A modernidade impõe novos horizontes e novos desafios para a


constituição das relações sociais e, por conseguinte, para a (re) estruturação da
subjetvidade (PORTELA, 2008). Mészáros (2009), em uma leitura sobre as
transformações presentes na atualidade, aponta que, tendo em vista a
complexificação do capital em novas formas, as relações sociais, em resposta a essas
mudanças, têm se tornado mais alijadas e enrijecidas com relação aos aspectos da
genericidade humana, aqueles que definem o complexo de humanização do homem.
Para Portela (2008) pensar em novas condições de subjetivação é pensar em um novo
sujeito a contemporaneidade; assim, noções como intersubjetividade, dialogia e
ecologia precisam ser pensadas para o debate sobre o sujeito contemporâneo.
Giddens (2002) aponta para o fato de que a hiperglobalização tem gerado
processos antes jamais vistos, como: a) a separação tempo/espaço, a qual, segundo
o autor, promove o desenvolvimento de uma dimensão vazia de tempo/espaço; b) o
deslocamento dos sistemas de encaixe, que recombinam as possibilidades de relação
social para além da relação tempo/espaço e; c) a reflexividade, que, por sua vez,
traduz-se na subordinação dos amplos aspectos da vida humana ao conhecimento e
às informações. A clínica psicológica é, assim, tensionada a se desdobrar a fim de dar
conta das novas subjetividades e configurações em formação, sendo marcada por
crises paradigmáticas, estas sendo indicadas por Portela (2008) como constitutivas
da psicologia enquanto ciência. Thompson (2004), nesse mesmo fluxo de reflexão,
destaca que as amizades e as relações já não correspondem necessariamente a
tempo e a local determinados – alguns instrumentos de mediação, tais quais internet
e smartphones, ganham espaço no cotidiano dos sujeitos.
Novos arranjos exigem novas possibilidades de reflexão e de aplicação em
psicologia. Nunes et al (2014) esboçam que a psicologia histórico-cultural de Lev
Vigotski (1896-1934) é um sistema teórico em psicologia suficientemente forte para
dar conta da processualidade da vida material e concreta, tendo em vista que se
fundamenta no materialismo histórico-dialético de Karl Marx (1818-1883) e que
continua encontrando eco no interesse dos pesquisadores contemporâneos,
sobretudo devido ao seu rigor metodológico. Apesar de a psicologia histórico-cultural
ter sido silenciada por bastante tempo no Brasil e, assim, não devidamente estudada,
perspectivas teóricas sólidas têm se estruturado, como em Duarte e Rosália (2011),
8

por exemplo. Os autores atestam que movimentos como o da intersubjetividade e da


dialogia, apontados por Thompson (2014) como aspectos críticos da crise
contemporânea, são contemplados nessa perspectiva teórica em psicologia.1
Mas pode a psicologia histórico-cultural se constituir como teoria clínica?
Não só pode, como ela o é, conforme destaca Delari Júnior (2012) evidenciando que
Vigotski era também um clínico, desenvolvendo estudos sobre pedologia clínica, na
qual estudava o desenvolvimento de crianças com problemas de desenvolvimento
(defectologia). Além dos estudos clínicos pedológicos e defectológicos, cabe destacar
que Vigotski se dedicou ao estudo de outras temáticas do mesmo campo de atuação,
tais quais a esquizofrenia, a afasia e a histeria (SILVA, 2014; SILVA e TULESKI,
2015). A psicologia histórico-cultural é um sistema teórico em psicologia – e, sendo
um sistema, possui aplicação clínica – que se propõe a dar conta do psiquismo e da
subjetividade, tendo a consciência como seu objeto central; definindo-se, em
consonância com Vigotski (2006), como a psicologia das alturas, isto é, dos processos
e das condutas especificamente humanos.
Alguns estudos (AIRES, 2006; DIAS, 2005; ALMEIDA, 2011) já têm
proposto uma compreensão clínica histórico-cultural da subjetividade, indicando que
a dinâmica saúde-adoecimento pode ser percebida considerando tal teoria, contudo
com algumas limitações e em quantidade muito pequena, o que aponta para a
necessidade de sistematização e de aumento de produção nessa área. Apesar da
iniciativa clínica presente nesses trabalhos, há algumas limitações, a saber: 1) são
estudos de natureza eminentemente teórica, não se desdobrando sobre contextos
práticos de intervenção clínica; 2) são estudos denominados sócio-históricos,
expressão não utilizada por Lev Vigotski para se referir ao sistema psicológico criado
por ele. Segundo Luria (2011), o psicólogo bielorrusso cunhou a expressão histórico-
cultural por um propósito: ela expressa a dimensão dialético-processual e histórica da
constituição da subjetividade, incluindo o componente social em si, uma vez que um
sujeito que é histórico-cultural é necessariamente social (sócio), isto é, situado em um
contexto. Assim, é necessário, tendo em vista as razões apresentadas, que estudos
clínicos sejam desenvolvidos considerando uma correta relação entre os aspectos

1
Um maior aprofundamento dos nortes e dos elementos epistemológicos e conceituais da psicologia histórico-
cultural de Lev Vigotski será feito na sessão 2: “A clínica histórico-cultural: aspectos teóricos e epistemológicos”.
Por hora, o objetivo se restringe à introdução à clínica vigotskiana como resposta aos arranjos subjetivos
contemporâneos.
9

teórico-práticos (práxis); respondendo, inclusive, à necessidade de produção e de


sistematização da clínica histórico-cultural. Urge que estudos atuais mostrem como
transcorre um processo psicoterápico vigotskiano, apontando intervenções e manejo
clínicos associados a um complexo teórico-metodológico denso.
Para tal, no presente estudo, será utilizado como caminho metodológico o
estudo de caso, especificamente referente a um acompanhamento psicoterápico
realizado junto a um paciente do Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) da
Universidade Estadual do Ceará (UECE). De acordo com Serralta et al (2011), como
qualquer outro recurso metodológico, apresenta potencialidades e limitações, como a
dificuldade para a generalização dos dados ou a possibilidade de maior detalhamento
do objeto psicológico em questão. Nesse mesmo sentido de compreensão, Ventura
(2007) considera que o estudo de caso permite olhar acurado sobre o objeto em
estudo, captando os sentidos e as contradições que se desenvolvem durante um dado
processo. No que diz respeito à psicologia clínica histórico-cultural, afirma-se que o
estudo de caso é um caminho que possibilita uma correta articulação entre os
aspectos teóricos e os aspectos práticos, evidenciando o processo psicoterápico em
si como também intervenções e manejos adotados, servindo de assoalho para futuras
práticas clínicas em psicologia histórico-cultural; além disso, quanto à sua relevância,
contribui para o desenvolvimento de uma área que está apenas engatinhando em solo
brasileiro, a saber: a psicologia clínica histórico-cultural.
Quanto à estrutura do trabalho, escolheu-se partir dos aspectos teóricos
aos aspectos práticos, a fim de que se possa ter um olhar acurado e responsável, do
ponto de vista da psicologia histórico-cultural, sobre o objeto em questão. Assim, em
um primeiro momento, na sessão “A clínica histórico-cultural: fundamentos teóricos e
epistemológicos”, o olhar se voltará sobre os elementos históricos que constituem a
psicologia de Lev Vigotski como também sobre os elementos conceituais, isto é, a
visão de homem e de sociedade proposta pelo autor e os principais conceitos que dão
corpus à psicologia histórico-cultural. Em seguida, passa-se aos caminhos
metodológicos percorridos para a compreensão do caso em questão, situando a
natureza do estudo de caso em questão, como também detalhamentos éticos,
situando a dialética como lente para a compreensão das contradições e dos fluxos de
desdobramento do caso em questão.
Na quarta sessão deste estudo, intitulada “O caso clínico: sentidos e
desdobramentos na produção de novas configurações subjetivas”, será detalhado o
10

processo psicoterápico em si, destacando demanda e contextualização do caso


escolhido para análise e discussão como também será feita a apresentação das
principais sessões de psicoterapia que configuraram o processo, os usos técnicos e
os seus resultados. Por fim, serão retomados os principais aspectos do presente
estudo, indicando os principais ganhos e dificuldades e as principais noções da clínica
histórico-cultural vigotskiana; assim, 1) serão indicados os principais avanços do
paciente em suas zonas de desenvolvimento; 2) será evidenciada como a metodologia
do estudo de caso favoreceu a compreensão do objeto em questão, como também as
maiores problemáticas que emergiram durante o processo psicoterápico; 3) serão
considerados aspectos relativos à produção e à sistematização na área da psicologia
clínica histórico-cutural como também a caminhos para investigações e pesquisas
futuras, considerando os vazios e os questionamentos que surgiram durante este
estudo.
11

2 A CLÍNICA HISTÓRICO-CULTURAL: FUNDAMENTOS TEÓRICOS E


EPISTEMOLÓGICOS PARÁGRAFO INTRODUTÓRIO

2.1 BREVE HISTÓRICO: DA URSS À CONTEMPORANEIDADE

A Psicologia histórico-cultural é uma corrente de pensamento psicológico


cunhada na antiga Rússia soviética pelo psicólogo bielorrusso Lev Semenovich
Vigotski, juntamente com alguns colaboradores, sobretudo Alexander Romanovich
Luria e Alexei Nicolaevich Leontiev – esse grupo de trabalho/ficou conhecido como
Troika, do qual Vigotski era líder, de maneira que todos os que se associavam a esse
grupo assumiam a líder teórica de Vigotski, aplicando suas compreensões e os seus
postulados em suas próprias pesquisas (LURIA, 2001; MARTINS ET AL, 2016). De
acordo com Braga (2018), a psicologia histórico-cultural surge da insatisfação de
Vigotski com os modelos teóricos hegemônicos em psicologia na sua época, os quais
ora se direcionavam a compreensões reducionistas/mecanicista (reflexologia), ora a
compreensões eminentemente abstratas e funcionalistas (psicanálise e
fenomenologia); entendimento esse expresso por Vigotski em seu famoso texto “O
significado histórico da crise da psicologia: uma investigação metodológica”
(VIGOTSKI, 2004).
A psicologia de Vigotski também surge como resposta ás necessidades que
se colocavam com o estabelecimento do estado soviético unificado, isto é, da
construção da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), sob a égide do
comunismo marxiano; exigindo, portanto, bases teóricas que pensassem o homem, a
educação e a vida em sociedade a partir de referências convergentes a esse novo
modelo de relação social implementado (TULESKI, 2008). De acordo com Delari
Júnior (2012), Vigotski construiu um sistema teórico em psicologia complexo e
completo, não podendo ser subsumido a uma única área de aplicação da ciência
psicológica, como o que acontece ao se associar a psicologia histórico-cultural à
educação. O autor afirma, inclusive, que a perspectiva Vigotskiana é também clínica,
sendo efetiva diante das problemáticas clínicas da subjetividade.
Note-se que Lev Vigotski era também um clínico, conduzindo atividades de
intervenção clínica ao modelo de sua época, as quais tinham como enfoque as
problemáticas da pedologia e da psicopatologia clínica, como pode ser observado em
alguns de seus estudos (VIGOTSKI, 1997; 2008). Contudo, em consonância com o
12

apontado por Tuleski (2008), os estudos da psicologia histórico-cultural, sobretudo os


de Vigotski2, ao entrarem no Ocidente, encontraram algumas problemáticas, a saber:
a) resistência à sua entrada por Vigotski ser acusado de comunista – durante as
décadas de 60 e 70, a América Latina estava vivenciando governos ditatoriais, sendo
qualquer sinal da teoria marxiana imediatamente rejeitado e perseguido; b) tradução
enviesada por parte das editoras tendo em vista o contexto repressor anteriormente
apresentado, assim construiu-se um Vigotski não marxista, sendo retirado de seu
texto aquilo que caracteriza o método dialético apropriado pro Vigotski de Karl Marx.
Conforme aponta Fino (2001), possibilitou-se em toda a América uma
leitura descaracterizada de Vigotski, a qual era bastante funcional para o momento de
crise que os Estados Unidos estavam encontrando quanto às teorias da educação
vigentes, sobretudo a teoria piagetiana. Havia uma forte necessidade de valorização
da figura do professor nesse instante, o que impossibilitado pelo empirismo que
caracteriza a teoria de Jean Piaget. Com os propósitos e com as configurações
contextuais apresentadas, a psicologia histórico-cultural de Lev Vigotski chega ao
Brasil; esse movimento despersonalizador da obra de Vigotski também é denunciado
por Zanella (1994).
No Brasil, no campo clínico da psicologia histórico-cultural, têm-se
destacado os estudos do psicólogo cubano, naturalizado brasileiro, Fernando Luis
González Rey, falecido recentemente, que atuou como professor titular do Centro
Universitário de Brasília (UniCEUB) e professor visitante do Programa de Pós-
graduação em Educação da Universidade de Brasília (UNB), onde coordenava o
grupo de pesquisa “A subjetividade na saúde e na educação”, desenvolvendo uma
compreensão vigotskiana nesses dois campos. Alguns de seus estudos (GONZÁLEZ-
REY, 2007; 2011) têm servido de assoalho para a reflexão clínica em Vigotski na
contemporaneidade, sobretudo no que se refere ao seu conceito de configuração
subjetiva, o qual encadeia diversos outros, como: modo de vida, núcleo de sentido,
sentido pessoal, sentido subjetivo etc.
No Ceará, em específico, o Laboratório de Estudos da Aprendizagem,
Subjetividade e da Saúde Mental (LADES-UECE) também tem se configurado como

2
Os estudos de Alexander Luria e Alexei Leontiev encontraram maior eco na produção científica, porquanto,
respectivamente, encontram lugar com o diálogo médico e se afastaram da linguagem marxiana presente em
Vigotski, tornando-se asséptica quanto ao materialismo histórico-dialético, talvez o sistema filosófico de mais
importância na obra do psicólogo bielorrusso.
13

um espaço potencialmente forte para o desenvolvimento da psicologia histórico-


cultural nos âmbitos da saúde clínica e da educação. Sob a orientação da professora
Dra. Ana Ignez Belém Lima, adjunta da Universidade Estadual do Ceará (UECE), o
LADES têm desenvolvido compreensões teórico-práticas em torno da psicologia de
Vigotski e seus colaboradores; produzindo, por exemplo, recursos e intervenções
clínicos para a prática psicoterápica feita pelos estudantes do curso de psicologia da
UECE na perspectiva clínica histórico-cultural. O referido laboratório se encontra
articulado ao Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE) da UECE, associado
à linha “Formação e desenvolvimento profissional em Educação”, especificamente ao
“Núcleo 3 – Aprendizagem e subjetividade no percurso de formação e prática
docente”.
Envolvendo estudantes da graduação em psicologia e do mestrado e
doutorado em educação, as práticas clínica sob o enfoque da psicologia histórico-
cultural acontecem junto ao Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) da UECE;
constituindo-se sobre o seguinte tripé: a) prática clínica, durante a qual os estudantes
acompanham os usuários do SPA; b) supervisão clínica, que se configura como
espaço de expansão da aprendizagem sobre os processos de psicoterapia
conduzidos pelos estudantes e; c) estudos dirigidos e grupos de estudos, durante os
quais leituras com posteriores discussões são efetivadas pelos estudantes (graduação
e pós-graduação) sobre temáticas referentes à psicologia histórico-cultural. Dessa
maneira, passa-se à compreensão dos aspectos teóricos relacionados a relação
homem-mundo na teoria de Vigotski e colabores; elementos caros ao entendimento
clínico nessa abordagem.

2.2 A COMPLEXA RELAÇÃO HOMEM-MUNDO NA PSICOLOGIA HISTÓRICO-


CULTURAL: CONTEXTO PARA ENTENDER OS DESAFIOS DA CLÍNICA
CONTEMPORÂNEA

A psicologia histórico-cultural pressupõe uma relação dialética e dialógica


entre o organismo (homem) e o meio (mundo), de maneira que o ser humano se
modifica à medida que entra em contato com o contexto em que está inserido, e isso
ao modificá-lo. De acordo com Vigotski (2010), é na sua relação com o meio que o
homem se depara com eventos que, gradualmente, exigem comportamentos e formas
de conduta cada vez mais complexos, mobilizando o ser humano para uma
14

desorganização psíquica que gera organização, autorregulação e complexificação da


conduta (crise). Nesse movimento dialético com o mundo, novas formações psíquicas
tomam forma, dando novos contornos e delineamentos à dinâmica da personalidade
humana (neoformações).
Para Vigotski (1994), a constituição da subjetividade e da consciência
humanas se dão em um movimento que vem do interpsicológico para o
intrapsicológico, o que significa que toda e qualquer função psicológica humana é
primeiramente do campo das relações sociais, sendo forjada na comunicação e no
contato com o outro, somente depois constitui a vivência interna do sujeito. A esse
processo de apropriação dos aspectos interpsicológicos dá-se o nome de
internalização, aquilo que é externo torna-se interno. Contudo, essa relação com meio
não se dá de maneira direta, mas de forma mediada. O autor esclarece que a
mediação acontece basicamente através de dois aparatos: os instrumentos e os
signos. Os primeiros são aparatos concretos utilizados como elo entre o sujeito e um
objetivo – tome-se como exemplo uma criança (sujeito) que utiliza um lápis
(instrumento) para fazer sua atividade de casa (objetivo). O segundo é referente ao
campo semiótico, à linguagem; são os instrumentos psíquicos, os sistemas de
linguagem, os quais basicamente compostos por significantes, significado e sentido.
Nesse sentido, Vigotski (2008) aponta o fato de que, nessa relação com o
meio (físico e/ou pessoal), aparece, tendo em vista as exigências colocadas pelas
problemáticas externas, a necessidade da comunicação sistematizada, a qual tem seu
ponto máximo de expressão na linguagem, sendo ela verbal ou não. Para o autor, a
linguagem como função psicológica permite que o ser humano construa formas
especificamente humanas de condutas, superiores; porquanto permite que o homem
regule a ação de seus pares por meio dos signos como também regule sua própria
ação (autorregulação), executando processos metacognitivos – afirmações ratificadas
por Luria (1979b). De acordo com Vigotski (1926), tendo em vista a relação mediada
com o mundo, a consciência e a consciência de si (autoconsciência) não podem ser
uma cópia da realidade, mas um reflexo dela, embebido pela vivência e ciclo vital do
organismo.
Conforme esclarecido nos parágrafos anteriores, a relação do homem com
o mundo se dá de maneira mediada e com mútua intervenção homem-mundo. Sendo,
assim, o sujeito para Lev Vigotski é ativo na sua relação com o mundo como também
é contextualizado em relação ao lócus e ao tempo em que habita, havendo
15

configurações próprias da concretude em que se vive. Luria (1979a) destaca que a


evolução da espécie se dá sobre as bases históricas e materiais pelas quais o homem
se encontra envolto, não sendo aquelas definidoras e limitadores do desenvolvimento
deste, mas um assoalho para sua constituição, evolução e projeção como
espécie/sujeito. Sobre a constituição histórica do psiquismo e o carácter participante
do meio e o papel ativo do homem na constituição de sua consciência, Luria (2010)
descreve experimento realizado com pessoas durante a Rússia revolucionária, pós
forma agrícola do estado soviético: assim, Luria e sua equipe de pesquisa,
apresentavam para sujeitos com diferentes graus de escolarização formas
geométricas, ao passo que tais pessoas davam resposta sobre o que viam. Pessoas
com grau de escolaridade muito baixo tendiam a dar mais respostas relacionadas ao
seu contexto prático de vida, por exemplo: ao verem um círculo, chamavam-lhe de lua
ou prato; ao passo que aqueles com maior grau de ensino, associavam as formas a
conceitos mais abstratos como círculo, cone, retângulo etc.
De acordo com Engels (2009), a transformação do mundo pelo Homem se
dá eminentemente pelo processo do trabalho, definido como a atividade em direção à
natureza com vias de sua transformação. Caracterizado como a protoforma da
atividade humana, é no trabalho que o hominídeo passa a ser homem; modificando-
se ao modificar o mundo. O autor ainda descreve que a ação de transformação do
homem sobre a natureza foi possibilitada pelas mudanças ambientais, estabelecendo-
se como uma nova problemática e necessidade modificar a natureza – Martins et al
(2016) definem a aparição de condutas centrais como neoformações. Engels (2012)
narra que os primeiros aglomerados humanos eram nômades, sobrevivendo de coleta
de raízes e frutos; acabando-se os recursos os aglomerados moviam-se em direção
a novos territórios. Paralelos a esse movimento, deu-se a descoberta e domínio do
fogo, o qual permitiu uma série de avanços como proteger-se de animais perigosos e
contra o frio durante os invernos rigorosos como também assar a carne dos animais
caçados, o que causou mudanças químicas no sistema nervoso, possibilitando novas
formas de consciência da realidade.
O Homem (sujeito psicológico) é um ser histórico-cultural para Lev Vigotski
e seus colaboradores. Histórico pelo fato de seu desenvolvimento se expressar sob
as possibilidades engendradas até então pelo movimento de construção da herança
cultural e material. Herança que é processual e inacabada (história) e cultural tendo
em vista que sua constituição se dá na e pela interação com o outro, apreendendo
16

nessa relação e internalização – com ressignificação – processos psicológicos do


âmbito das relações interpessoais. Nesse fluxo de pensamento, Vigotski e Luria
(1996) apontam para a importância do componente cultural para a constituição do
sujeito na psicologia histórico-cultural. Sendo assim, na relação com a alteridade o
sujeito aprende a ser “eu”, incluindo aqui suas delimitações e seus contornos, o que é
corroborado por Alencar Segundo Júnior (2016). É nesse sentido que Vigotski (2006)
afirma o desenvolvimento da consciência do Homem nas seguintes etapas: 1) em si;
2) para o outro e; 3) para si. Por conseguinte, como veremos no seguinte item, toda
a ideia acerca da constituição humana nessa teoria, fundamenta-se no pressuposto
da dialética indivíduo e cultura.

2.3 ALGUNS CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA A CLÍNICA DE VIGOTSKI: DA


FILOGÊNESE À SUBJETIVIDADE

Molon (2003) define que Vigotski elaborou sua teoria da gênese e da


natureza social dos processos psicológicos considerando que a subjetivação e a
individuação do homem se dão com este inserido na cultura. A autora explicita que as
questões centrais envolvidas na constituição da psicologia histórico-cultural estavam
centradas na necessidade de delinear um caminho para a psicologia através da
criação de uma psicologia geral, a qual se identificava com o método histórico-dialético
preconizado por Marx. Assim, o autor bielorrusso, analisando origem do problema da
psicologia, concebeu a relação intrínseca entre os conceitos psicológicos e a realidade
concreta, de maneira que o sistema psicológico subjetivo é sedimentado pela
realidade concreta, havendo uma intensa conexão entre os fatos empíricos, a
materialidade e as abstrações.
Sobre a gênese e o desenvolvimento dos processos psicológicos, Vigotski
e Luria (1996) esclarecem que existem estágios iniciais do psiquismo que se traduzem
pela expressão de formas básicas de comportamento como os instintos e os reflexos,
sendo estes mais complexos do que aqueles. Os reflexos, nesse sentido, conforme
os autores, possuem maior plasticidade ao longo do ciclo do desenvolvimento,
podendo ser identificadas formas mais complexas de reflexos (os condicionados) em
animais como o macaco antropóide, sendo este o mais próximo do ser humano na
escala evolutiva. Vigotski (1926), em um outro momento, mostra que os reflexos
condicionados vão dando lugar cada vez mais a formas mais complexas de
17

comportamento, reflexos mais complexos da realidade material e concreta, de


maneira que para o autor a consciência/autoconsciência se torna o reflexo dos
reflexos nesse processo de desenvolvimento, pois possibilita, como preconizam
Muszkat e Mello (2009), novas formas de apreensão semiótica da realidade.
Martins (2011) coloca que o principal atributo que diferencia o homem das
outras espécies existentes é a capacidade para a representação mental, de maneira
que tal representação é definida como a imagem subjetiva da realidade objetiva,
sendo a subjetividade, portanto, a apreensão pessoal das condições concretas
colocadas diante da humanidade. A autora considera que os processos psicológicos
são a base para o estabelecimento da representação mental, isto é, da consciência.
Nesse sentido, Vigotski (1994) separa os processos psicológicos em grupos,
considerando a sua complexidade: os processos psicológicos superiores e os
processos psicológicos inferiores. Estes se configuram como o aparato biológico com
que o ser humano nasce, são os aparatos imediatos com os quais os seres humanos
podem contar quando nascem, dentre eles: linguagem simprática, memória mecânica,
sensações, atenção difusa etc. – todas funções ainda não culturalizadas, como
observou Luria (2010) em seus experimentos na Rússia soviética.
Os processos psicológicos superiores, por sua vez, são aqueles que se
desenvolvem à medida que interagimos com o mundo e com o outro, havendo um
direcionamento sobre os processos psicológicos inferiores. Eles são mediatizados
pela cultura e não podem identificados qualitativamente com os inferiores, porquanto
se inserem em uma rede de abstração e generalização favorecida pela linguagem
(signos psicológicos). De acordo com Vigotski (2008) há um momento – por volta dos
2 anos e meio/3 anos de idade – em que a linguagem cruza o caminho genético das
funções psicológicas, conferindo-lhes a possibilidade da palavra, microcosmo da
consciência humana. Assim, as funções anteriormente inferiores são superadas por
formas superiores de funcionamento psicológico, como exemplo dessas funções:
linguagem abstrata e generalizadora, memória lógica, percepção, atenção
concentrada (DELARI JÚNIOR, 2011). Contudo, deve-se notar que tal superação não
se dá por exclusão das antigas funções, mas por incorporação delas às formas
psicológicas superiores, constituindo-se aquelas em base para estas.
É no estabelecimento da consciência/autoconsciência como forma
especificamente humana de conduta onde se abrigam a subjetividade, expressão
máxima da complexidade genética da humanidade. Todavia, antes de este nível se
18

configurar na realidade com o mundo, outros planos genéticos do desenvolvimento se


estabeleceram. Conforme Leontiev (1978b), existem basicamente quatro níveis de
constituição da experiência da espécie humana, a saber: filogênese, ontogênese,
sociogênese e microgênese. A filogênese se configura em toda a herança disponível
à espécie humana em seu sentido anátomo-fisiológico, dizendo a respeito a tudo
aquilo possível de se executado tendo em vista a herança genética acumulada ao
longo da história da espécie. A ontogênese se expressa enquanto o ciclo vital da vida,
o qual todas as espécies possuem; é na ontogênese em que ocorre a modelação dos
reflexos (incondicionados e condicionados); assim, pode ser dito que os instintos
estão para a filogênese assim como os reflexos estão para a ontogênese.
A sociogênese é a história cultural de um povo, na qual o sujeito está
inserido, sendo modificado por ele e a modificando. Ela se traduz nos hábitos,
costumes, língua e peculiaridade da totalidade que é um dito grupo social. A
microgênese, por sua vê, é a expressão do salto qualitativo definido por Leontiev
(1978b). Conforme apontam Moura et al (2016), a microgênese diz respeito àquilo que
é peculiar e microscópico no indivíduo. Entende-se aqui a microgênese como o plano
genético do desenvolvimento onde ocorre a ruptura dos comportamentos definitivos,
abrindo-se as portas da experiência humana para a complexidade da diversidade
comportamental da contemporaneidade – é a subjetividade propriamente dita.
Em uma acepção histórico-cultural do desenvolvimento, Facci (2004)
explica que a evolução do indivíduo passa por períodos caracterizados por atividades
dominantes, as quais reconfiguram a relação do sujeito com o meio. Para Leontiev
(1978a) atividade é definida como uma determinada ação direcionada para a
realização de um objetivo, a qual converge com as necessidades e os motivos3
presentes na dinâmica psíquica de um sujeito em específico. As atividades
dominantes dizem respeito à aprendizagem efetivada até então, orientado a energia
do indivíduo para a resolução de problemáticas interpostas entre ele e o meio
(MARTINS ET AL, 2016). Leontiev (1978a) afirma que, com a mudança da atividade

3
Silva (2014), em sua tese “Compreensão do adoecimento psíquico: de L. S. Vigotski à Patopsicologia
Experimental de Bluma V. Zeigarnik”, define que a psicopatologia histórico-cultural (patopsicologia) parte da
compreensão que o desequilíbrio da personalidade se traduz na desestruturação da hierarquia dos motivos e
das necessidades; dessa maneira, ações como o alcoolismo, por exemplo, podem se configurar prioritárias na
dinâmica de vida de um sujeito; havendo, portanto, necessidade de intervenções que mobilizem os sentidos e
os significados em torno das atividades centrais/dominantes de um determinado período do desenvolvimento
do sujeito. Para maior detalhamento da periodização do desenvolvimento histórico-cultural do psiquismo,
consultar Martins et al (2016).
19

principal do indivíduo durante os períodos do desenvolvimento, acontece uma


mudança qualitativa nas funções relacionadas à consciência e à personalidade, as
quais, quando preservadas e saudáveis, caminham no sentido de expressão
sincrética para uma compreensão abstrato-científica da realidade concreta. A
dinâmica conceitual modifica a estrutura e a expressão da personalidade,
possibilitando novos delineamentos da subjetividade e das suas configurações.
Vigotski (2006), no que tange à função psicológica superior “formação de
conceitos”, expõe que a linha de desenvolvimento dos conceitos – estruturantes para
a compreensão do tipo de nível da representação mental da realidade – se expressa
em três níveis: conceitos sincréticos, conceitos por complexos e conceitos científicos.
É comum encontrar na literatura um outro nível que se localizaria entre os complexos
e os conceitos científicos, a saber: os pseudoconceitos, que, apesar de terem
características muito específicas, assemelhando em sua estrutura aos conceitos
científicos, são o último substágio dos complexos. É necessário, contudo, que se
tenha em vista que a maturação/evolução dos conceitos é estimulada pelo processo
formal de educação, durante o qual haverá orientação das funções psicológicas, base
do psiquismo e da subjetividade.
Já se sabe que a linguagem é uma função psicológica superior com papel
fundamental na regulação do comportamento e da conduta, tendo a palavra como sua
unidade de análise, uma vez que reúne os aspectos da consciência humana em seu
microcosmo, como bem pontua Vigotski (2008). É, contudo, necessário lembrar que a
palavra é forjada mediante o processo de elaboração de conceitos, os quais, por sua
vez, carregam em seu movimento os significados e os sentidos oriundos do contato
do Homem com o mundo. Os conceitos são, assim, importantes do ponto de vista
clínico, pois neles operam alguns dos processos reguladores da conduta e do
comportamento
Os conceitos, conforme sua linha genética de desenvolvimento e de
estimulação para evolução, são a unidade de análise utilizada para lidar com os
conflitos que se interpõem na relação do indivíduo com o mundo; os conceitos
sintetizam nas palavras tanto os significados historicamente construídos como os
sentidos individuais e emocionais que emergem da microgênese humana. De acordo
com Marangoni e Ramiro (2012), os conflitos ou simplesmente crises são momentos
agudos dos períodos que marcam o desenvolvimento humano, sendo as crises as
seguintes: crise pós-natal, crise do 1° ano de idade, crise dos 3 anos, crise dos 7 anos,
20

crise dos 13 anos e crise dos 17 anos. Alguns estudos, como o de Martins et al (2016),
apontam para novos períodos críticos do desenvolvimento: a crise da vida adulta e a
crise da velhice.
Conforme Marangoni e Ramiro (2012), durante esses momentos, há uma
reestruturação do self e da dinâmica da personalidade, de maneira que a qualidade
do desenvolvimento será uma implicação da maneira como se lidou com um período
de crise. Dessa maneira, o mau manejo de um momento agudo do desenvolvimento
pode acarretar estranhamento e adoecimento nas esferas de desenvolvimento
humano, tais como os campos afetivo-emocional, cognitivo e motor, conduzindo à
cristalização dos aspectos saudáveis do self e à promoção de elementos
adoecedores. Conforme Almeida (2011), instaura-se um processo de alienação na
vida psíquica, onde determinadas funções psicológicas se sobrepõe em relação à
outras, descompensando a representação mental, isto é, a imagem subjetiva da
realidade objetiva (concreto-material). Nessa configuração, o indivíduo passa a ter
dificuldade para lidar com as questões/problemáticas do meio e da vida prática.
À Psicologia Histórico-Cultural é eminentemente cara a noção de dialética,
a qual, segundo Tuleski (2008), permitiu Lev Vigotski assentar as bases de sua
psicologia na materialidade, fugindo de compreensões ora idealistas, ora
mecanicistas. Dessa maneira, o autor percorreu caminhos metodológicos específicos
para a compreensão do objeto de estudo de sua psicologia, a consciência (VIGOTSKI,
2004). Dessa maneira, em consonância com a postura do psicólogo bielorrusso,
passa-se à compreensão dos caminhos trilhados para a compreensão do caso clínico
posteriormente apresentado.
21

3 OS CAMINHOS METODOLÓGICOS PARA INVESTIGAÇÃO E DISCUSSÃO DO


CASO CLÍNICO APRESENTADO

O presente estudo se insere dentro do espectro das pesquisas qualitativas


em psicologia, de maneira que verte seu olhar sobre o processo de psicoterapia em
si e sobre os detalhamentos dos recursos utilizados e dos resultados obtidos. De
acordo com Minayo (2014), a pesquisa qualitativa permite ao pesquisador um maior
detalhamento do objeto em questão pesquisado; evidenciando, assim, suas
características particulares/singulares. É um tipo de pesquisa que se coloca para além
da generalização dos dados, tendo em vista que sua estrutura não permite processos
generalização, objetivando contribuir para a compreensão da totalidade a partir das
partes, as quais, apesar de não traduzirem o todo, comportam elementos de sua
constituição e dinâmica (MINAYO, 2017).
O estudo de caso se configura como uma possibilidade dentro das
perspectivas qualitativas de pesquisa em psicologia; entendendo, contudo, que
existem expressões quantitativas suas também. De acordo com Ventura (2007), o
estudo de caso possibilita investigação acurada sobre os processos e os resultados,
permitindo compreender aspectos como os efeitos provocados pelos usos
(instrumentos) em psicoterapia, como também variáveis dificilmente mensuráveis
como o vínculo terapêutico. O estudo de caso se caracteriza ainda como um subtipo
de pesquisa de caso único, que se configura como uma estratégia de investigação
naturalística e flexível (SERRALTA ET AL, 2011).
O estudo de caso aqui efetivado se deu através da investigação de um caso
clínico (psicoterapia) acompanhado ao longo de um ano no Serviço de Psicologia
Aplicada (SPA) da Universidade Estadual do Ceará (UECE), sob o formato das
disciplinas: “Estágio I: processos clínicos e intervenções em saúde” e “Estágio II:
processos clínicos e intervenções em saúde”. As análises feitas neste estudo foram
documentais, tendo como fonte para análise do objeto os relatórios, as sínteses dos
atendimentos, as fichas de triagem do paciente como também documentos outros
referentes ao registro do paciente junto ao SPA da referida instituição.
No tocante ao caso clínico, trata-se de um sujeito do sexo masculino, de 23
anos de idade; o paciente foi atendido ao longo de um ano no SPA da UECE,
totalizando 26 sessões de psicoterapia, com aproximadamente 50min de duração
cada. Para efeitos éticos de sigilo, o paciente será chamado no presente estudo de C.
22

D., nome fictício utilizado para preservação da identidade do paciente. O referido caso
foi escolhido tendo em vista o paciente ter sido bastante assertivo durante todo o
processo de psicoterapia quanto ao tempo e compromisso para com a psicoterapia,
tendo ínfima taxa de absenteísmo às sessões, o que possibilitou se conduzir um
processo bastante contínuo com o paciente. Todas as intervenções e condutas se
deram respeitando a saúde e integridade do paciente, conforme prescreve a resolução
nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.
No que tange ao processo psicoterápico oferecido no SPA, fica a critério
do paciente autorizar (ou não) o uso de seus dados clínicos para futuros estudos, não
lhe sendo imputado nenhum tipo de prejuízo quanto ao acesso ao serviço de
psicoterapia caso a resposta seja negativa. Assim, o Serviço de Psicologia Aplicada
elabora documento referente à autorização do uso dos dados, conforme a resolução
supracitada. Tendo sido dada a autorização, o referido documento (Anexo A) fica
arquivado junto ao prontuário do paciente no SPA. Conforme a resolução nº 510/16,
informações clínicas previamente autorizadas para uso por paciente podem se
configuram como material de pesquisa-estudo, possibilidade sobre a qual este estudo
se alicerça.
Este estudo se encontra ancorado na Psicologia histórico-cultural de Lev
Vigotski, compreendendo-se, portanto, que o objeto clínico só pode ser pensado em
um processo de constituição externo-interno, havendo continuidades e
descontinuidades quanto à representação subjetiva do mundo objetivo; no seio desse
movimento de construção dos delineamentos da subjetividade aparecem contradições
e empobrecimentos (alienação) da dinâmica psicológica, a qual corresponde aos
componentes somáticos e aos componentes psíquicos – ou simplesmente,
psicofisiológicos (VIGOTSKI, 2000). Compreende-se, assim, que a imagem mental
refratada na relação com o mundo concreto e objetivo é unificada pela consciência e
autoconsciência e pelos processos psicológicos superiores (MARTINS, 2012;
VIGOTSKI, 2004)
23

A dialética marxiana também se constitui como perspectiva de análise


neste estudo, especificamente no sentido de se compreender o movimento das
contradições presentes na subjetividade, o que é próprio do modo de relação social
que está colocado no capital e no capitalismo (MARX, 2007). Entendendo-se que o
homem se constitui na história apropriando-se dos instrumentos e das bases
materiais, compreende-se que o processo histórico humano não se configura como
uma linha reta, mas como uma espiral que se traduz em unidade de contrários, nos
quais processos ditos antagônicos contrapõem-se e sintetizam totalidades
mediatizadas eminentemente novas do gênero humano, como bem aponta Mészáros
(2013).
24

4 O CASO CLÍNICO: SENTIDOS E DESDOBRAMENTOS NA PRODUÇÃO DE


NOVAS CONFIGURAÇÕES SUBJETIVAS

O processo psicoterápico aqui apresentado, conforme já descrito, deu-se


no Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
Considerando-se as diretrizes relacionadas às pesquisas com seres humanos, foram
selecionadas algumas sessões conduzidas ao longo do ano em que transcorreu a
psicoterapia junto ao paciente. Essas sessões foram disponibilizadas em seis blocos
significativos em seguida descritos. Em um primeiro momento, será apresentado o
traço geral do caso clínico acompanhado (seu resumo). Posteriormente, a discussão
dos casos será feita mediante o fluxo narrativo das sessões apresentadas, sendo
estas articuladas a aspectos teórico-interpretativos da psicologia histórico-cultural de
Lev Vigotski e colaboradores, como também de produções contemporâneas de
autores na área.

4.1 O CASO

O paciente C. D., nome fictício utilizado neste estudo para discriminar o


paciente e para resguardar sua identidade, é um sujeito masculino, de 23 anos de
idade, estudante do curso de Geografia de uma universidade pública de Fortaleza.
Procurou o SPA da UECE, em período de abertura para inscrição no serviço, à procura
de psicoterapia individual, descrevendo como queixa inicial dores na região dorsal
(costas) relacionadas a momentos de intenso conflito, isto é, ligadas às situações em
que tinha que lidar com elementos estressores, como na sua vida familiar e
universitária. Apresentou também demanda articulada a autoconceito e à autoestima,
caracterizando-se como disfunções em sua dinâmica subjetiva, comprometendo o
campo das suas relações interpessoais.
25

4.2 CONDUTAS E INTERVENÇÕES NA CLÍNICA HISTÓRICO-CULTURAL: A


EXPERIÊNCIA DE PSICOTERAPIA NO SPA DA UECE

4.2.1 A caracterização da demanda

Era uma manhã de sexta-feira, a primeira sessão de psicoterapia de C. D.


havia sido agendada previamente junto à recepção do SPA da UECE com início às
8h, com duração de uma hora (1h). Tendo sido feitas as últimas conferências quanto
à organização do setting terapêutico e à temperatura/iluminação do ambiente, o
paciente foi conduzido à sala para a sessão de psicoterapia. Essa sessão se destinou
ao estabelecimento do contrato terapêutico, de maneira que foram acertadas junto ao
sujeito as questões referentes ao horário e ao dia da psicoterapia. Em seguida, foram
explicitados os seus direitos e deveres, destacando-se a necessidade de
comparecimento às sessões e implicação no processo terapêutico. Por fim, foi frisado
junto ao sujeito que o setting terapêutico é um espaço sem julgamentos morais e
caracterizado por sigilo, sendo este quebrado somente em situações em que o
conteúdo psicológico trazido ameace sua integridade ou a integridade de outrem.
Ao ser perguntado sobre o que o trazia ao SPA, C. D. destacou que estava
tendo dificuldade para lidar com as cobranças do contexto universitário, sobretudo no
que se referia a um laboratório de pesquisa do qual fazia parte. Relatou problemas
também com seu núcleo familiar, tendo em vista tensionamentos com seus irmãos e
irmãs por ele ser filho adotivo. Na sessão seguinte, avaliamos os núcleos de saúde
do sujeito em terapia e percebemos que algumas funções psicológicas de C. D., tais
quais a linguagem e a percepção estavam bem íntegras. González-Rey (2011) define
como núcleos de saúde o potencial saudável do psiquismo de um sujeito, isto é, os
aspectos que se mantém saudáveis na atividade de um indivíduo. No caso de C. D.,
percebeu-se uma forte articulação entre as funções psicológicas linguagem e
percepção, permitindo-o utilizar síntese e abstração na análise de sua história de vida
(VIGOTSKI, 1996).
Na sessão seguinte, com a finalidade de perceber como os eventos da vida
do paciente se articulam e são narrados por ele, aplicou-se a técnica da Dinâmica do
Tempo4. Vigotski (1999) considera que a ontogênese humana é semelhante a um

4
A Dinâmica do Tempo é uma técnica psicológica desenvolvida no LADES-UECE. Essa técnica objetiva captar
como o paciente narra sua história de vida, indicando os principais eventos que a compõe; assim, é possível
26

drama, constituída em um cenário, com vários personagens e marcada por elementos


emocionais e cognitivos, os quais se articulam formando um todo único. Alguns
significados e sentidos emergiram com a aplicação da Dinâmica do Tempo: o paciente
se narrou em um fluxo mais o menos contínuo, começando pela infância, passando
pela adolescência, chegando à vida adulta e, por fim, retornando à adolescência;
havendo, assim, na vida psicológica do sujeito muita proximidade entre as duas
últimas duas fases do desenvolvimento.
O paciente relatou que, já na infância, foi submetido a cobranças e a
exigências intensas por parte de sua família, apesar de nunca ter tido notas baixas na
vida escolar; tendo passado também por episódios de bullying por seus pares
escolares devido sua aparência; o que afetou negativamente a consciência de si. Na
adolescência, essa sensação de desagrado consigo se aprofundou tendo em vista
forte problema com acne., o que contribuiu para seu isolamento em relação a grupos.
Tendo em vista a necessidade de reorganização que a vida adulta lhe trouxe,
sobretudo quanto à universidade e a vida laboral, o paciente identificou melhoras na
sua capacidade de comunicação e trabalho em grupo. Contudo, em função do maior
número de cobranças e tensionamentos, destacou o aparecimento de sensações
identificadas por ele como ansiedade, sentindo necessidade de roer as unhas até
sangrar e também arrancar fios de cabelo, por exemplo5. Tais informações
apareceram à medida que o paciente era perguntado sobre os eventos escolhidos por
ele para construção de sua Linha do Tempo.

4.2.2 A relação com o meio

Vigotski (2010) esclarece que é na relação com o meio (físico e/ou pessoal)
em que a dinâmica das necessidades e dos motivos ganha contornos eminentemente
diferentes, uma vez que se coloca na dinâmica psíquica do sujeito necessidade de
reorganização e reestruturação da atividade. A queixa inicial do paciente, nas quatro
primeiras sessões, mostrou-se bastante relacionada aos recursos criados pelo

verificar que lugar o paciente se atribui na constituição de tais eventos. A técnica consiste em pedir ao paciente
que registre da maneira que preferir (com datas, frases, desenhos, esquemas etc.) os eventos que considera
atualmente importantes de sua vida, construindo uma linha do tempo.
5
Nas sessões seguintes, como estratégia para contenção das situações de estresse intenso e para a reelaboração das
sensações e emoções identificados pelo paciente como ansiedade, adotou-se o Caderno da Psicoterapia. Assim,
era comum se pedir ao paciente atividades que focalizavam a expressão escrita das suas vivências
despotencializadoras. Esse recurso tem encontrado eco na psicoterapia histórico-cultural feita no SPA da UECE.
27

paciente para lidar com os elementos estressores – possíveis desorganizadores –


encontrados por ele na relação com o meio, por exemplo quanto ao seu lugar em sua
família.
Conforme anteriormente exposto, C. D. é filho adotivo; tal fator, gera
tensionamentos na sua relação com seus irmãos, todos mais velhos, porquanto
atribuem para ele a maioria das atividades para com seus pais já idosos. Lembrando-
lhe do seu lugar de adotivo, os irmãos e irmãs delegam os cuidados da mãe, com
quadro de Alzheimer, para C. D. Nesse aspecto, ele relata emoções contraditórias em
sua vivência, porque ao mesmo tempo em que sente o dever de cuidar dos pais, não
acha justo tomar conta da maior parte dessas responsabilidades. Toassa (2009),
quanto à discussão sobre a dinâmica afeto-consciência apresentada em Vigotski
(2004), reforça a idéia do autor sobre o afeto íntegro, estado subjetivo saudável em
que os aspectos somáticos e psíquicos estão integrados.
Com o objetivo de investigar a maneira como os afetos e as emoções
estavam interferindo na vida psíquica de C. D., conduziu-se junto a ele uma atividade
chamada Cenário de Vida6. Tendo em vista o conteúdo que emergia de sua relação
familiar, pediu-se que o paciente, durante a sessão, desenhasse seu ambiente
familiar, posicionando os principais personagens dessa trama. Para tal, disponibilizou-
se folhas sulfite, caneta e lápis comum. Contudo, convém notar que o Cenário de Vida
pode ser executado de outras formas, como com o uso de pintura (tinta e quadro) ou
figuras (representando os elementos do drama da sua vida) dispostas em cartolinas,
por exemplo – para a escolha dos recursos, é necessário que se verifique,
anteriormente, com o sujeito ou se é possível perceber nele, ao longo das sessões,
qual seu estilo predominante de atuação no mundo – cognitivo, afetivo ou cognitivo-
afetivo. Na ocasião da atividade, o sujeito apresentou capacidade satisfatória de
reflexão sobre como se sentia em relação a seus familiares, reconhecendo a
necessidade de serem repensados os limites entre si e o outro, definindo novas
fronteiras entre seu eu e o meio (aqui, especificamente pessoal).

4.2.3 Os novos delineamentos e configurações da queixa inicial

6
O Cenário de Vida é um recurso psicoterápico de base histórico-cultual desenvolvido no LADES-UECE; esse
recurso objetiva perceber como se configura a relação do sujeito com o meio, identificando as redes de relação e
de conexão entre o sujeito e os elementos trazidos por ele e/ou entre os próprios elementos.
28

Após três meses de intenso trabalho psicoterápico, por volta das 13°
sessão, novos arranjos subjetivos começaram a tomar forma e a ocupar o cenário da
psicoterapia. Até então, a atuação se deu sobre os aspectos emergenciais e
sintomáticos da demanda de C. D., uma vez que se entende serem necessárias
algumas condições básicas de organização e sistematização da vida psíquica,
objetivando que condições mínimas de saúde sejam fortalecidas para um equilíbrio
psíquico do paciente. De acordo com Martins (2012) a vida subjetiva se dá mediante
a representação subjetiva da vida objetiva. Vigotski (2008) já apontara que é na
internalização das relações sociais que essa imagem se forma. Para a autora
anteriormente citada, as funções psicológicas precisam estar íntegras a fim de que se
forme uma imagem fiel dessa realidade. Por conseguinte, até a 11° sessão a
psicoterapia girou em torno de promover condições saudáveis para a produção da
representação mental mais íntegra acerca de si e do mundo. Avanços foram
percebidos, sobretudo no que tange ao nível de consciência e de reflexão do paciente
sobre si, construindo novas maneiras de realizar seu fluxo narrativo. Também houve
mudanças significativas no que diz respeito ao estabelecimento de limites e
demarcações na sua relação com os outros, seja no âmbito universitário, seja em seu
núcleo familiar.
A 13° sessão foi importante no que concerne ao aparecimento de novas
questões relacionadas ao estado e movimento subjetivo do paciente. C. D. colocou
como nova questão central a relação que mantinha com uma garota, sua namorada.
Havia, conforme relatado por ele, duas dificuldades centrais na relação com sua
namorada: a) a dificuldade em permanecer em uma relação com alguém que estava
apresentando baixa volição para construir uma vida profissional e pessoal próprias,
de maneira que C. D. se negava a “namorar o consigo mesmo do passado” (sic); b)
dificuldade para manter relações sexuais com sua namorada, envolvendo vergonha
do corpo durante a atividade sexual.
Quanto à primeira questão posta pelo paciente sobre a dinâmica com sua
namorada, C. D. relatou durante esse momento da psicoterapia que, durante sua
adolescência, era um sujeito bem introspectivo e isolado, o que empobrecia a
qualidade das suas relações pessoais. Para ele, tal tendência ao isolamento se devia
a uma baixa autoestima e a um conceito empobrecido de si. Em meio a
tensionamentos e cobranças em sua vida escolar, ele relata baixa volição para atuar
nas suas relações sociais, preferindo arranjos de vida em que não precisava estar
29

com o outro, contato este feito em momentos estritamente necessários. Fazendo uma
avaliação dos prejuízos tidos durante esse período de seu desenvolvimento, compara
a situação atual de sua namorada à sua situação passada, mostrando
indisponibilidade para relacionar-se com alguém assim.
Quanto à segunda questão, C. D. relatou que, no decorrer de quase um
ano de relacionamento, houve tentativas de estabelecer relações sexuais com sua
namorada; todas elas, contudo, fracassadas, tendo em vista sensações e emoções
descritas por ele como medo e nervosismo. O sujeito em terapia relatou ter interesse
em manter relações sexuais com sua namorada, porém afirmava um interesse bem
maior por parte dela, cobrando-lhe que acontecesse. C. D. relatou também dificuldade
quanto a terem momentos de privacidade para tal, uma vez que ambos estão a
graduação e moram com seus pais. Na 15° sessão de psicoterapia, organizou-se uma
atividade afim de tematizar com maior aprofundamento os sentidos e os significados
adjacentes à sua vida sexual e à sua sexualidade. Essa atividade gerou bastante
resistência, no início, com posterior relaxamento e envolvimento de C. D. a saber: criar
uma linha do tempo de sua vida sexual. Foi pedido qe ele organizasse em casa, sendo
a atividade trazida na sessão seguinte. O paciente, contudo, na sessão seguinte não
a trouxe e relatou bloqueios para a realização da atividade, fazendo-a durante a
sessão. A atividade da linha do tempo trouxe novos elementos para a composição do
seu movimento subjetivo.
Quanto aos novos elementos que apareceram destacam-se: a) uma
experiência de abuso sexual por pares escolares quando tinha por volta de onze anos
de idade; b) experiências sexuais do campo da homossexualidade, tanto na
adolescência como na vida adulta. Tais elementos serão discutidos na próxima
sessão articulados ao manejo clínico adotado e ao conceito vigotskiano de Zona de
Desenvolvimento Próximo (ZDP).
30

4.2.4 Intervenção na zona de desenvolvimento sexual

Para Lev Vigotski, em sua proposta histórico-cultural do desenvolvimento


psíquico, há uma mudança na maneira como relaciona a aprendizagem e o
desenvolvimento, diferindo-o das propostas de Stern e de Piaget do desenvolvimento.
Como bem pontua o autor – Vigotski (2008) –, tais autores condicionam os potenciais
de aprendizagem às predisposições e às conquistas anátomo-fisiológicas, de maneira
que não se poderia aprender determinados processos sem antes atingir níveis
específicos de maturação biológica. Para o autor, aprendizagem e desenvolvimento
são linhas da ontogênese humana que se cruzam e se influenciam mutuamente.
Então, o desenvolvimento promove aprendizagem, e aprendizagem,
desenvolvimento. Ao conjunto de habilidades já internalizadas pelo sujeito Vigotski
(1994) dá o nome de nível de desenvolvimento real (NDR), ao passo que ao conjunto
de habilidades/aprendizagem passível de aprendizagem com ajuda do outro nomeou
nível de desenvolvimento potencial (NDP). À distância entre esses dois níveis,
Vigotski chamou zona de desenvolvimento proximal (ZDP).
Por que essa discussão é importante para o caso? O sujeito chega ao
espaço terapêutico com potenciais de aprendizagem e possibilidades de saúde não
operacionalizados por não dispor de recursos psíquicos e mediadores (como o outro)
para sintetizar e elaborar determinadas experiências que cruzam o seu
desenvolvimento. Assim, como nem sempre dispõe desses instrumentos, elabora e
internaliza essas vivências de formas adoecedora, isto é, alienante. Com a ajuda e
mobilização do espaço dialógico e dialético da psicoterapia histórico-cultural e da
figura do psicoterapeuta, aprendizagens formais e não formais são veiculadas.
No caso de C. D. determinadas experiências invadiram seus núcleos
vivenciais e afetivos de forma despotencializadora, como a vivência do abuso, por
exemplo. Ao relatar a experiência vivida com seus pares escolares, ele destacou que
a situação se deu durante o intervalo de aula em meio a uma brincadeira, durante a
qual foi obrigado a ter experiências sexuais com uma garota e um menino, gerando
nele medo para compartilhar com seus pais, o que não aconteceu. Nessa situação,
eram ao todo quatro garotos (incluindo-o) e uma garota; os pares o obrigaram a
penetrar a garota como também, na ocasião, foi tocado por um garoto em sua região
genital, o que, conforme seu discurso, foi desagradável. Convém destacar que,
31

durante o relato do episódio de abuso, o paciente se mostrou bastante nervoso,


apresentando tremores e sudorese.
Quanto às suas outras vivências sexuais, C. D. destacou atividade sexual
pontual com uma garota no Ensino Médio e com um garoto de sua família por três
anos. Além dessas experiências, teve envolvimento sexual com um garoto na
universidade, o qual destacou como não significativo para ele. Nesse momento, o
paciente relatou que aquela era a primeira vez em que falava sobre sua vida sexual
com profundidade e era a primeira vez que estava elaborando sobre o abuso e suas
experiências homossexuais. C. D. se mostrou hesitante e confuso sobre como
sintetizar sua vivência sexual, questionando-se sobre sua orientação sexual. Nesse
sentido, na sessão posterior, realizamos uma atividade que potencializasse
consciência sobre sua vida sexual, utilizando instrumentos mediadores a saber: um
conjunto de cartões com palavras relacionadas à temática sexualidade/vida sexual, e
isso com o intuito de perceber o processo de elaboração de conceitos sobre sua
identidade sexual.
Na 17º sessão, foram construídos seis cartões para discussão com o
sujeito. Foram cartões com as seguintes palavras-sentido: heterossexualidade,
homossexualidade, bissexualidade, assexualidade, monogamia, poligamia. Além do
carácter de entendimento da dinâmica conceitual do paciente, a atividade também
tinha propósito psicoeducativo, de veiculação de informação sobre as identidades
sexuais e suas vicissitudes. Assim, pediu-se que ele, primeiramente, destacasse os
significados e os sentidos captados por ele em torno das palavras-sentido. Em
seguida, pediu-se para que selecionasse os cartões com os quais se identificava;
nesse momento, C. D. escolheu, conforme sua experiência, três cartões:
heterossexualidade, monogamia e bissexualidade. Após o exercício da atividade, o
paciente percebeu que, apesar de se sentir mais identificado com uma performance
sexual ligada à heterossexualidade monogâmica, havia possibilidades futuras de
construir relações fora desse padrão.

4.2.5 A mudança na configuração subjetiva

Após a identificação das raízes genéticas do comportamento de C. D., os


sintomas iniciais começaram a se dissolver. Os episódios de psicossomatização
passaram a acontecer em raras ocasiões – antes as crises na região dorsal eram
32

semanais. Além disso, na sua relação com a sua família e com a universidade
(especificamente em relação ao laboratório de pesquisa de que fazia parte), passou a
ter posicionamentos mais ativos, passando a se implicar nas decisões que o
envolviam. González-Rey (2007) cunha dois conceitos centrais para a realização
dessa discussão: modo de vida e configuração subjetiva. Configurações subjetivas
são os delineamentos/contornos da subjetividade de um sujeito, são a síntese dos
padrões comportamentais internalizados pelo indivíduo na sua relação com o meio,
de maneira que conduzem a ações mais ou menos fixas considerando contextos
específicos. O conjunto dessas configurações é chamado de modo de vida.
Quanto aos novos posicionamentos indicadores de mudança na
configuração subjetiva de C. D. eminentemente caracterizada por passividade quanto
a problemáticas que se interpunham em sua relação com o meio e por estima negativa
de si, ele passou a atribuir novos sentidos à posição nas relações. Como exemplo
disso, destaca-se uma reunião marcada por ele com seus familiares, onde expôs
como se sentia na relação com eles e qual, de fato, era o papel dele nessa dinâmica;
interessante também foi o fato de dividir as funções naquela reunião com os irmãos e
o falar para a sua mãe sobre seu compromisso para com o seu papel, não podendo
arcar com as funções dos demais, sobretudo quanto à sua condição de adoecimento:
o Alzheimer.
Para Vigotski (2004) não faz sentido pensar o homem como um ser
estratificado, mas sim como uma totalidade na qual se encontram conjugados
aspectos biológicos, afetivos, cognitvos etc. Lev Vigotski se propôs a pensar,
inclusive, o psicológico nesse sentido, ou seja, a perspectiva do homem integral é tão
forte na psicologia histórico-cultural, que se falar em psicológico é identificá-lo com a
totalidade dos fatores que compõem os planos genéticos do desenvolvimento
(VIGOTSKI, 2006). Pensar a subjetividade na psicologia soviética é repensar a própria
psicologia, como aponta Dafermos (2018).
No caso de C. D, é possível observar um estado de cisão da vida psíquica,
de modo que complexos afetivos e complexos cognitivos se encontravam separados,
alijados. Nesse sentido, Fleer et al (2017) afirmam sobre o aspecto fundamental que
ocupa a vivência (perejivânie) para se pensar a integralidade do homem na psicologia
histórico-cultural; emoções são funções psicológicas de carácter superior que dão
contornos significativos para a representação da imagem mental, de maneira que
configurações psicopatológicas- próprias do embotamento afetivo-emocional – se
33

formam sem o colorido emocional. Nesse sentido, é importante afirmar que, ao sentir
tais aspectos entrando em harmonia, o sujeito evidenciou certo estranhamento,
porquanto não havia mais necessidade de estar hipervigilante o tempo todo.

4.2.6 O processo de alta

Das 26 sessões que compuseram o processo de psicoterapia de C. D. no


Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) da UECE, as três últimas foram destinadas para
a condução do processo de alta. Conforme já visto, o ser humano sob o enfoque
histórico-cultural é eminentemente ativo quanto à sua constituição e quanto aos
papéis que desempenha nas relações sociais. Como destaca Dias (2005), a
psicoterapia histórico-cultural é dialógica e dialética, pressupondo a participação e a
decisão ativa do paciente quanto aos seus desdobramentos. Assim, à medida que o
esvaziamento das demanadas se configurou mais constante, a possibilidade de alta
foi apontada para o paciente, que concordou. Dessa forma, levantou-se junto a C. D.
arestas ainda soltas em seu drama psicológico a fim de que fossem incorporadas nas
últimas sessões de psicoterapia.
O paciente destacou algumas questões que gostaria que fizesse parte das
intervenções finais de seu processo psicoterápico, a saber: a) o futuro e; b) “com quem
posso falar?” Nesse sentido, as sessões seguintes tomaram o delineamento das
questões adjacentes indicadas pelo paciente. Por fim, a última sessão, destinou-se à
avaliação por ambas as partes da psicoterapia. Como recursos para o trabalho nas
sessões de alta, foram utilizados: a) a complementação de frases, a fim de possibilitar
um movimento de projeção sobre o futuro; b) o cenário de vida, enfocando os aspectos
das relações vivenciadas no presente, montando uma rede de relações. A última
sessão destinou-se à síntese dos principais avanços, destacando-se a dimensão
relacional da psicoterapia.
34

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A psicologia histórico-cultural de Lev Vigotski é um sistema complexo e


completo em Psicologia, o que a faz possuir aplicabilidade nas mais variadas áreas
de atuação psicológica, dentre elas a clínica contemporânea, que exibe desafios
característicos da modernidade. Assim, é um erro ingênuo subsumir a psicologia
Vigotskiana a campos restritos do saber psicológicos, tal como o vem sendo feito no
que tocante a essa teoria com relação à psicologia educacional e escolar – conforme
apontam Duarte e Freire (2011) e Tuleski (2008). A clínica psicológica corresponde a
um espaço frutífero para se pensar os postulados e as considerações da psicologia
soviética, dando conta dos novos arranjos e possibilidades subjetivos (GONZÁLEZ-
REY, 2007).
O estudo de caso como modalidade de pesquisa é bastante comum à
psicologia histórico-cultural, fato observado nos estudos longitudinais de Luria (1973;
2008). Convém lembrar que essa modalidade de pesquisa dentro de uma perspectiva
qualitativa permite olhar com mais atenção para o objeto psicológico, entendendo as
diversas conexões, as quais, em seu movimento, compõem-no. Assim, o estudo de
caso permite o desvelamento do processo e dos usos que constituem a psicoterapia;
neste caso, de base histórico-cultural. Nesse sentido, algumas iniciativas como as de
Arrais (2005) e Oliveira et al (2017) são percebidas.
Quanto ao caso clínico conduzido, nota-se que o sujeito em terapia C. D.,
durante o processo, mostrou-se bastante implicado com a psicoterapia, apresentando
baixa taxa de absentismo às sessões como também alta responsividade no que tange
às atividades propostas durante todo o curso psicoterápico. A demanda/queixa do
paciente evoluiu no sentido de sair da psicossomatização de elementos estressores
em dores dorsais para a vivência de uma vida sexual e um maior autoconhecimento,
expandindo o potencial de aprendizagem sobre si, isto é, expandindo as funções
psicológicas consciência e autoconsciência. Portanto, houve uma maior integração
dos aspectos cognitivos e afetivos. Conforme já considerara Vigotski (1994), as zonas
de desenvolvimento são espaços psicológicos passíveis de expansão saudável
quando as situações de aprendizagem são bem manejadas – o espaço terapêutico se
estrutura como lócus dialógico de uma aprendizagem que conduz à integralização dos
elementos psíquicos antes alienados
35

Com vias conclusivas, aponta-se a necessidade de maiores produções


sobre a psicologia histórico-cultural no campo da clínica, privilegiando para isso
modalidades empíricas de pesquisa, porquanto se reconhece no movimento
harmonioso entre teoria e prática o próprio método de trabalho do psicólogo
bielorrusso Lev Vigotski, como também de seus colegas de trabalho: Alexander Luria
e Alexei Leontiev. Nesse ínterim, destacam-se os estudos e as pesquisas realizados
no Laboratório de Estudos da Aprendizagem, Subjetividade e da Saúde Mental
(LADES-UECE), uma vez que tais propostas acontecem sob o enfoque histórico-
cultural em Psicologia. Como encaminhamento para futuras pesquisas, fica a
investigação de configurações subjetivas envoltas em outras condições de
adoecimento-saúde; além disso, convém que estudos sobre usos técnicos sejam
realizados a fim de instrumentalização dessa prática clínica.
36

REFERÊNCIAS

AIRES, Joaquim Maria Quintino. A abordagem sócio-histórica na psicoterapia com


adultos. Psicologia para América Latina, n. 5, 2006.

ALENCAR SEGUNDO JÚNIOR, Eudes Basílio de. A constituição do eu e a


alteridade: diálogos entre a perspectiva histórico-cultural de Vigotski e a psicologia
psicogenética de Henri Wallon. 2016. 123f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) –
Universidade Federal do rio Grande do Norte, Natal, 2016.

ALMEIDA, Melissa Rodrigues de. Psicopatologia e Psicologia Sócio-Histórica:


notas preliminares. [S.l.:s.n.], 2011.

ARRAIS, Alessandra da Rocha. A configuração subjetiva da depressão pós-


parto: para além da padronização patologizante. 2005. 158 f. Tese (Doutorado em
Psicologia) - Universidade de Brasília, Brasília, 2005.

BRAGA, Elizabeth dos Santos. A constituição social do desenvolvimento. In: ____.


Lev Vygotsky: precursor da teoria histórico-cultural: a importância da cultura e da
linguagem na constituição do psiquismo. [S.l: s.n.], 2018.

CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Resolução n° 466, de 12 de dezembro de


2012. o uso de suas competências regimentais e atribuições conferidas pela Lei nº
8.080, de 19 de setembro de 1990, e pela Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990,
Brasília, 2012.

_____. Resolução n° 510, de 07 de abril de 2016. no uso de suas competências


regimentais e atribuições conferidas pela Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990,
pela Lei no 8.142, de 28 de dezembro de 1990, pelo Decreto no 5.839, de 11 de
julho de 2006. Brasília, 2016.

DAFERMOS, Manolis. Rethinking cultural-historical theory: A dialectical


perspective to Vigotski. [S.l.]: Springer, 2018.

DELARI JÚNIOR, Achilles. Quais são as funções psicológicas superiores?


Anotações para estudos posteriores. 2011. Disponível em:
<https://docplayer.com.br/75197462-Quais-sao-as-funcoes-psiquicas-superiores-
anotacoes-para-estudos-posteriores-achilles-delari-junior.html>. Acesso em: 03. mar.
2019.

DELARI JÚNIOR, Achilles. O sujeito e a clínica na psicologia histórico-cultural:


diretrizes iniciais. 2012. Disponível em: <http://www.delari.net/clinica-ufms.pdf>.
Acesso em: 08 mar. 2019.

DIAS, Maria Helena Soares Souza Marques. A psicologia sócio-histórica na clínica:


uma concepção atual em psicoterapia. Revista da Sociedade de Psicologia do
Triângulo Mineiro–SPTM, v. 9, n. 1, p. 67-77, 2005.
37

DUARTE, Nietsnie; FREIRE, Rosália. Aspectos epistemológicos e históricos da


Psicologia Histórico-Cultural. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE
INVESTIGACIÓN Y PRÁCTICA PROFESIONAL EM PSICOLOGÍA, 3., 2011.
Buenos Aires. Anais... Buenos Aires: [s.n.], 2011.

ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado.


São Paulo: Expressão Popular, 2012.

ENGELS, Friedrich.O papel do trabalho na transformação do macaco em


homem. São Paulo: Expressão Popular, 2009.

FACCI, Marilda Gonçalves Dias. A periodização do desenvolvimento psicológico


individual na perspectiva de Leontiev, Elkonin e Vigotski. Cad. Cedes, v. 24, n. 62, p.
64-81, 2004.

FINO, Carlos Nogueira. Vigotski e a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP): três


implicações pedagógicas. Revista Portuguesa de educação, v. 14, p. 273-291,
2001.

FLEER, Marilyn; REY, Fernando González; VERESOV, Nikolai (Ed.). Perezhivanie,


Emotions and Subjectivity: Advancing Vigotski’s Legacy. [S.l.]: Springer, 2017.

GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

GONZÁLEZ-REY, Fernando. Psicoterapia, subjetividade e pós-


modernidade. São Paulo: Thomsom, 2007.

GONZÁLEZ-REY, Fernando. Subjetividade e saúde: superando a clínica da


patologia. São Paulo: Cortez, 2011.

LEONTIEV, Alexei Nicolaevich. Atividade, consciência e personalidade. 1978a.


Marxists Internet Archive. Disponível em: <http://www. propp. ufms.
br/ppgedu/geppe/leontiev>. Acesso em: 19. mar. 2019.

LEONTIEV, Alexei Nicolaevich. O desenvolvimento do psiquismo. São Paulo:


Centauro, 1978b.

LURIA, Alexander Romanovich. A mente de um mnemonista. [S.l.]: Taller de


Ediciones JB, 1973

LURIA, Alexander Romanovich. Curso de Psicologia Geral: Introdução


Evolucionista à Psicologia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979a.

LURIA, Alexander Romanovich. Curso de Psicologia Geral: linguagem e


pensamento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979b.

LURIA, Alexander Romanovich. Desenvolvimento cognitivo: seus fundamentos


culturais e sociais. 6. ed. São Paulo: Ícone, 2010.
38

LURIA, Alexander Romanovich. Vigotskii. In: VIGOSTKII et al. Linguagem,


desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2001.

LURIA, Alexander Romanovich. O homem com um mundo estilhaçado. Petrópolis,


RJ: Vozes, 2008.

MARANGONI, Simone; RAMIRO, Vanda. Neuropsicologia clínica sócio-histórica:


a compreensão do desenvolvimento cognitivo e socioemocional do humano. São
Paulo: IPAF, 2012.

MARTINS, Lígia Márcia. O desenvolvimento do psiquismo e a educação escolar:


contribuições à luz da psicologia histórico-cultural e da pedagogia histórico-
crítica. 2011. 156f. Tese (Doutorado em Psicologia da Educação) – Universidade de
São Paulo, Bauru, 2011.

MARTINS, Lígia Márcia; ABRANTES, Ângelo Antonio; FACCI, Marilda Gonçalves


Dias. Periodização histórico-cultural do desenvolvimento psíquico: do
nascimento à velhice. Campinas: Autores Associados, 2016.

MARX, Karl. Ad Feuerbach. In: MARX, Karl; FRIEDRICH, Engels. A ideologia


alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.

MÉSZÁROS, István. A crise estrutural do capital. 2. ed. São Paulo: Boitempo,


2011.

MÉSZÁROS, István. O conceito de dialética em Lukács. São Paulo: Boitempo,


2013.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. Amostragem e saturação em pesquisa qualitativa:


consensos e controvérsias. Revista Pesquisa Qualitativa, v. 5, n. 7, p. 1-12, 2017.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa


em saúde. Revista Eletrônica Inter- Legere, n. 14, jan./jun. 2014.

MOLON, Susana Inês. Subjetividade e constituição do sujeito em Vigotski.


Petrópolis: Vozes, 2003.

MUSZKAT, Mauro; MELLO, C. B. Neurodesenvolvimento e linguagem. Temas em


dislexia, v. 1, p. 1-15, 2009.

NUNES, Sandro Adriano Neves; FERNANDES, Marcos Gimenez; GUTIERREZ,


Arsênio José Carmona. Fundamentos teórico-epistemológicos da Teoria Histórico-
Cultural: implicações para a psicologia do desenvolvimento infantil. Psicologia
Argumento, Curitiba, v. 32, n. 76, p. 161-172, 2014.

OLIVEIRA, Andressa Martins do Carmo de; GOULART, Daniel Magalhães;


GONZÁLEZ-REY, Fernando Luís. Processos subjetivos da depressão: construindo
caminhos alternativos em uma aproximação cultural-histórica. Fractal: Revista de
Psicologia, v. 29, n. 3, p. 252-261, 2017.
39

PORTELA, Marco Antônio. A crise da psicologia clínica no mundo


contemporâneo. Estudos de Psicologia, v. 25, n. 1, p. 131-140, 2008.

SERRALTA, Fernanda Barcellos; NUNES, Maria Lúcia Tiellet; EIZIRIK, Cláudio


Laks. Considerações metodológicas sobre o estudo de caso na pesquisa em
psicoterapia. Estudos de Psicologia, v. 28, n. 4, p. 501-510, 2011.

SILVA, Maria Aparecida Santiago da. Compreensão do adoecimento psíquico: de


L. S. Vigotski à Patopsicologia Experimental de Bluma V. Zeigarnik. 2014. 189f. Tese
(Doutorado em Psicologia) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes,
Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2014.

SILVA, Maria Aparecida Santiago da; TULESKI, Silvana Calvo. Patopsicologia


Experimental: abordagem histórico-cultural para o entendimento do sofrimento
mental. Estudos de Psicologia, v. 20, n. 4, p. 207-216, 2015.

THOMPSON, Jhon B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia.


Petrópolis: Vozes, 2004.

TOASSA, Gisele. Emoções e vivências em Vigotski: investigação para uma


perspectiva histórico-cultural. 2009. 125f. Tese (Doutorado em Psicologia) -
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.

TULESKI, Silvana Calvo. Vygotski: a construção de uma psicologia marxista. 2. ed.


Maringá: Eduem, 2008.

VENTURA, Magda Maria. O estudo de caso como modalidade de pesquisa. Revista


SoCERJ, v. 20, n. 5, p. 383-386, 2007.

VIGOTSKI, Lev Semenovich.A formação social da mente. São Paulo: Martins


Fontes, 1994.

VIGOTSKI, Lev Semenovich. A questão do meio na pedologia. São Paulo: USP,


2010.

VIGOTSKI, Lev Semenovich. A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca. São


Paulo: Martins Fontes, 1999.

VIGOTSKI, Lev Semenovich. Diagnóstico do desenvolvimento e clínica pedológica


da infância difícil: esquema de investigação pedológica. In: VIGOTSKI, LS. Obras
Escogidas. Madrid: Visor, 1997. p. 275-338.

VYGOTSKI, Lev Semenovich. El desarrollo de los procesos psicológicos


superiores. Barcelona: Crítica, 1996.

VIGOTSKI, L. S. Paidología del adolescente. In: _____. Obras escogidas. Tomo 4 –


Paidología del adolescente y problemas de la psicologia infantil. Madrid: Visor, 2006.
40

VIGOTSKI, Lev Semenovich. O pensamento na esquizofrenia. Tradução didática


de Achiles Dellari Junior. 2008. Disponível em:< http://www. 4shared.
com/file/50287419/9ebb7f5b/Traduo_de_Vigotski
_O_Pensamento_na_Esquizofrenia. html, 1931>. Acesso em: 10 dez. 2018.

VIGOTSKI, Lev Semenovich. O significado histórico da crise da psicologia: uma


investigação metodológica. Teoria e método em psicologia, v. 3, p. 203-417, 2004.

VIGOTSKI, Lev Semenovich. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins


Fontes, 2008.

VIGOTSKI, Lev Semenovich. Psicologia concreta do homem. Manuscrito de


1929. Educação e Sociedade, Revista quadrimestral de Ciência da Educação,
Ano 20, jul. 2006.

VIGOTSKI, Lev Semenovich. Psicología del arte. Barcelona: Paidós, 2006.

VIGOTSKI, Lev Semenovich. Teoría de las emociones. Madrid: Ediciones Akal,


2004.

VIGOTSKI, Lev Semenovich; LURIA, Alexander Romanovich.Estudos sobre a


história do comportamento: símios, homem primitivo e criança. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1996.

ZANELLA, Andréa Vieira. Zona de desenvolvimento proximal: análise teórica de um


conceito em algumas situações variadas. Temas em psicologia, v. 2, n. 2, p. 97-
110, 1994.

Você também pode gostar