Dezembro-2010 Site
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CONCERTO
Um tributo à soprano Joan Sutherland, La Stupenda
ROTEIRO MUSICAL
LIVROS • CDs • DVDs
ATRÁS DA PAUTA
por Júlio Medaglia
PALCO
Audi Coelum
ENTREVISTA
Rafael Garcia
R$ 11,90
Nelson Freire
ISSN 1413-2052 - ANO XVI - Nº 168
TEMPORADAS 2011
VIDAS MUSICAIS
Mozarteum Brasileiro e Sociedade
Ludwig van Beethoven
de Cultura Artística divulgam atrações
CONCERTO Dezembro de 2010 nº 168
24 58 2 Carta ao Leitor
4 Cartas
26 6 Contraponto
Notícias do mundo musical
10 Memória
Sidney Molina escreve sobre o extraordinário trabalho
do professor e violonista Henrique Pinto
12 Atrás da Pauta
60 Coluna mensal do maestro Júlio Medaglia
13 Temporadas 2011
Sociedade de Cultura Artística e Mozarteum Brasileiro
16 Música Viva
João Marcos Coelho reflete sobre populares e eruditos
18 Palco
Audi Coelum toca Monteverdi sob direção de Roberto Rodrigues
8 20 20 Em Conversa
Entrevista com o maestro Rafael Garcia
22 Opinião
Eliana Monteiro da Silva escreve sobre Clara Schumann
24 Vidas Musicais
Ludwig van Beethoven, por Leonardo Martinelli
26 Capa
Nelson Freire, Liszt, Chopin e suco de açaí
30 Roteiro Musical
51 10 Destaques da programação musical no Brasil
Ainda neste número você lê a coluna do maestro Júlio Medaglia (em homenagem FALECIMENTOS
ao violista Perez Dworecki que completará 90 anos em dezembro), e artigos de Clóvis Alban Berg, compositor
Marques (sobre Fábio Martino, o pianista vencedor do II Concurso BNDES de Piano), 24 de dezembro de 1935
da pianista Eliana Monteiro da Silva (sobre Clara Schumann) e do crítico e violonista Clara Haskil, pianista
Sidney Molina (que presta tributo póstumo ao professor Henrique Pinto). E, como todos 6 de dezembro de 1960
os meses, acompanha todas as atividades musicais clássicas em nosso roteiro ilustrado Benjamin Britten, compositor
(em São Paulo tem Osesp, New Classic Ensemble Vienna, Osusp, Sinfônica de Santo 4 de dezembro de 1976
André, A viúva alegre no Teatro São Pedro, Solistas Interarte, Richard Wagner no Espaço Aaron Copland, compositor
É Realizações e muito mais). 2 de dezembro de 1990
Desejamos a todos um ótimo dezembro musical e boas festas de fim de ano! ESTREIAS
Sinfonia nº 6 Pastoral, de Ludwig van
Beethoven, em 22 de dezembro de 1808
Sinfonia nº 9 Do novo mundo, de Antonin
Dvorák, em 16 de dezembro de 1893
La Fanciulla del West, de Giacomo
Puccini, em 10 de dezembro de 1910,
Metropolitan Opera Nova York
Nelson Rubens Kunze Choros nº 10, de Heitor Villa-Lobos,
diretor-editor em 15 de dezembro de 1926
Compositor Almeida Prado faleceu Purcell, no Teatro Municipal. Em Curitiba, foi chefe do se-
tor de ópera e depois diretor artístico do Teatro Guaíra.
em São Paulo aos 67 anos Já No Rio Grande do Sul fundou o Liceu Riograndense de
Artes Líricas e a Associação Lírica Porto-Alegrense (Alpa).
Um dos maiores criadores de nossa música, José Antônio Rezende de Em 1978 assumiu a função de Diretor do Centro de Cultura
Almeida Prado, faleceu no último dia 21 de novembro, em São Paulo. Musical (atual Instituto de Cultura Musical), da Pontifícia
De saúde frágil, Almeida Prado sofria de diabetes. Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), posto
Nascido em Santos em 1943, Almeida Prado estudou com Dinorah de que ocupava até hoje. O maestro, que era também com-
Carvalho, Osvaldo Lacerda e Camargo Guarnieri. Após vencer o Festival da positor, regeu mais de 60 montagens de ópera.
Guanabara em 1969, mudou-se para a Europa onde foi aluno de Olivier A convite do Governador Teotônio Vilela, o maestro Flo-
Messiaen e Nadia Boulanger. O compositor retornou ao Brasil em 1974, rentino Dias foi homenageado em Maceió com a maior
tornando-se professor da Unicamp. Comenda do Estado de Alagoas: a Medalha do Mérito Ma-
Almeida Prado é considerado um dos maiores compositores brasileiros de rechal Deodoro da Fonseca. O maestro, nascido naquele
nosso tempo. De ampla cultura em diversos campos do conhecimento, foi estado na cidade de Traipu – uma das mais pobres do
um criador que trabalhou sem preconceitos com linguagens tonais e atonais, Brasil –, entrou
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para a Banda de Música do Corpo de Fu-
com o folclore e a música serial. Em entrevista ao crítico Lauro Machado zileiros Navais chegando, através de concurso, ao posto
Coelho publicada na Revista CONCERTO em setembro de 2000 – na época de Oficial Regente. Florentino Dias estudou com célebres
foi homenageado com o Troféu Guarany do Prêmio Carlos Gomes – Almeida mestres, como Francisco Mignone, Eleazar de Carvalho,
Prado disse: “Não rejeitei nada [de minha formação], acabei fazendo uma Robert Wykes, e Harold Blumenfeld, e concluiu mestra-
síntese de tudo, do nacionalismo de Camargo Guarnieri às ideias ‘ecológicas’ do em regência pela Washington University, nos Estados
de Messiaen, que era profundamente ligado à natureza. Isso rendeu as Cartas Unidos. Ao longo de sua carreira o maestro Florentino Dias
Celestes (de 1974), por exemplo, que é música universal, sem se preocupar fundou diversas orquestras, entre elas a Orquestra Filar-
em saber se o tema é nordestino ou seja lá o que for.” mônica do Rio de Janeiro, da qual é regente titular. No
Em 2009, Almeida Prado estreou com a Osesp a sua música para o filme Brasil já se apresentou à frente da Orquestra Sinfônica
silencioso Études sur Paris, realizado em 1928 por André Sauvage. Brasileira, Orquestra da Universidade Federal Fluminense,
O compositor também apresentava o programa “Caleidoscópio” da Rádio Orquestra Sinfônica de Brasília e Orquestra Sinfônica do
Cultura FM, em que difundia a música de nossos dias. Estado de São Paulo.
O compositor Marlos Nobre participou do Congresso Lati-
José Eduardo Martins torna-se no-americano de Piano, que se realizou em Buenos Aires
entre os dias 18 e 21 de novembro passado. Duas obras
4 de setembro
domingo, às 17h
2 de outubro
domingo, às 17h
30 de outubro
domingo, às 17h
4 de dezembro
Linda Bustani Ligia Amadio domingo, às 17h
A
consagração do jovem pianista paulista Fabio Martino, Nascido na cidade de São Paulo, Martino iniciou seus es-
de 22 anos, como vencedor do II Concurso Internacio- tudos de piano aos 5 anos. Bolsista durante dez anos da Fun-
nal BNDES de Piano, realizado no Rio de Janeiro no fim dação Magda Tagliaferro, como aluno de Armando Fava Filho,
de outubro, coroa uma carreira já longa, para sua idade, em desde 2008 se aperfeiçoa na Universidade Superior de Música
que a participação brilhante e não raro vitoriosa em concursos de Karlsruhe, Alemanha, sob a orientação de Sontraud Speidel.
chama a atenção. Martino destacou-se, na prova final com a Entre outros, venceu o Grande Concurso Magda Tagliaferro, o
Orquestra Sinfônica Brasileira, sobre o russo Evgeny Brahkman, VI Concurso Internacional da Cidade do Fundão, em Portugal,
que ficou em terceiro lugar, e o japonês Kotaro Fukuma, que e o X Concurso de Piano Dr. Büttner, tendo-se aperfeiçoado com
ficou em segundo. nomes como Lylia Zilberstein, Akiko Ebi, Joaquín Achúcarro e
Coordenado por Lilian Barretto e Luiz Fernando Benedini, Joaquín Soriano.
este que já se tornou o principal concurso de piano brasileiro de O pianista brasileiro apresentou-se na final, com a OSB re-
projeção internacional, pela afluência e qualidade de participan- gida por Joseph Giunta, um dos membros do júri, no Concerto nº 2
tes brasileiros e estrangeiros, a seriedade da organização e do de Rachmaninov, enquanto Evgeny Brahkman – nitidamente o
júri e o valor dos prêmios, homenageou nossa grande Guiomar favorito do público – tocava o Concerto nº 3 do mesmo com-
Novaes, assim como fora dedicado no ano passado a Jacques positor e Kotaro Fukuma interpretava o Concerto nº 1 de Liszt.
Klein. Dezoito jovens pianistas com idade entre 17 e 30 anos Perguntei ao pianista Caio Pagano, brasileiro radicado nos
participaram das semifinais. Presidido pelo britânico Leslie Estados Unidos e também integrante do júri, como ele avaliou
Howard – que se destacou internacionalmente por uma gra- as qualidades de Martino. “O que chamou particularmente
vação da obra completa para piano de Liszt, em uma série de a atenção não só de mim, mas do júri de forma geral, foi a
algumas dezenas de CDs para o selo Hyperion –, o júri também qualidade orgânica de suas execuções”, diz Pagano. “Tudo me
outorgou o prêmio de melhor intérprete de música brasileira soava natural, fluente e sincero. Enquanto outros poderiam ter
(o compositor focalizado foi Edino Krieger) a Fabio Martino. O tantas qualidades que nos deixavam surpresos, as execuções
Prêmio Guiomar Novaes, de incentivo, foi para a chinesa Wai do Fabio eram límpidas e sinceras. O som, cuidado e natural,
Yin Wong, de apenas 17 anos. provinha de uma disposição física proporcional; o candidato
russo, que ficou em terceiro lugar, tinha ao contrário um som
forçado, desejando impressionar, e, digamos assim, “calca-
va” o instrumento. Como resultado, acentos desnecessários
e inoportunos, com o objetivo de impressionar. Impressionar
ele conseguiu, pois o público pendeu para ele. Mas nenhum
membro do júri votou nele para o primeiro lugar. O primeiro
lugar foi disputado pelo Fabio (que teve mais votos na primeira
e única rodada) e o japonês (que teve menos, e por isso ficou
em segundo lugar.)”
“Concurso é sempre um tema muito discutido na carreira
de um músico”, pondera Martino, quando lhe pergunto sobre a
importância do prêmio. “Lembro-me que ao entrar para a Fun-
dação Magda Tagliaferro em 1997, já no mesmo ano prestei
três concursos nacionais. E todo ano que passava, participava
de aproximadamente três a quatro concursos nacionais. É um
desafio e um incentivo para nós, para aprender repertório e tam-
bém controlar o nervosismo, a ansiedade e tudo que uma apre-
sentação em público suscita. Não saberia dizer se eles são peças
fundamentais na vida de um artista. É importante participar e
ganhar experiência com eles. Mas também ter em mente que,
no caso de ser um vencedor, as obrigações normalmente serão
muitas e, no caso de não ganhar o concurso, isso não o faz pior
nem melhor do que ninguém.”
E Fabio Martino conclui: “O meu sonho é ter uma carreira
estável, da qual eu possa me orgulhar e me sentir feliz ao olhar
DIVULGAÇÃO
Fabio Martino, vencedor do para trás, sabendo que tudo aquilo que conquistei honestamen-
II Concurso Internacional BNDES de Piano
te foi por mérito, por esforço e trabalho sério.”
A
os 69 anos, faleceu Henrique Pinto (1941-2010), profes- Apesar de ter reunido em método as principais combina-
sor de violão de algumas das principais escolas de músi- tórias da mão direita do violonista, Henrique evitava trabalhar
ca de São Paulo – como a Escola Municipal, a Faculdade técnica pura. Preferia ordenar peças idiomáticas progressivas,
Cantareira e a Uni Fiam/Faam – e de pelo menos três gerações nas quais o elemento técnico-sonoro se harmoniza melhor com
de concertistas com projeção internacional. A notícia correu, e a fraseologia, a rítmica e o estilo.
logo o principal fórum de violão brasileiro na internet marcava Uma de suas maiores qualidades era a escolha de um re-
quase duzentos depoimentos, com mais de 18 mil acessos. pertório para cada aluno. Evitava cair na rigidez dos programas
Em uma época em que o violão clássico paulista era domi- genéricos, que considerava “pretensamente acadêmicos”. Tra-
nado pelo trabalho do uruguaio Isaías Sávio (1900-77), funda- balhando na sala ao lado dele durante mais de dez anos, não can-
dor da cátedra de violão do Conservatório Dramático e Musical, sei de admirar a maneira como resolvia, com cada estudante, a
Henrique ousou buscar referências em outro nome da didática difícil equação entre definição de repertório, abordagem sonora
violonística latino-americana, o também uruguaio Abel Carleva- e desenvolvimento orgânico.
ro (1916-2001). Mas não se tornou um “carlevariano”, afinal, Outro ponto a ser destacado é seu total envolvimento com
ao lado de outros professores, como Sérgio Scarpiello, Guido a didática do violão. Henrique atendia carinhosamente a todos
Santórsola, Mário Ficarelli, José Thomaz, Manoel São Marcos que o procuravam, disponibilizava seu magnífico acervo e faci-
e o próprio Sávio, sempre destacou como elemento formativo o litava o contato com diferentes luthiers. Com frequência, atra-
impacto recebido de sua convivência com o Duo Abreu. vessava a cidade depois de um dia cansativo para assistir a um
Assim, o conceito sonoro dos irmãos cariocas Sérgio e Edu- recital de alunos ou colegas em uma remota escola da periferia.
ardo – cuja meteórica carreira internacional foi interrompida no Para completar o desenho de sua didática, criou séries de con-
auge – parece ter se impregnado na didática do professor paulista, certos, concursos e seminários de grande longevidade. Ao morrer,
passando a ser parte essencial de seu trabalho ao longo da vida. no último dia 26 de outubro, as séries “Violão no MASP” e “Violão
Sinfônico” estavam em pleno andamento, e as inscrições para “XXI
Concurso Nacional de Violão Souza Lima” estavam abertas.
Embora tenha abdicado de uma carreira própria como con-
certista, mantinha-se em atividade regular, sempre a degustar as
qualidades de algum novo violão que descobria ou encomenda-
va. Com a violoncelista Gretchen Muller, integrou o duo Violão-
cellando, realizou importantes estreias em duo com o flautista
Jean-Noel Saghaard e criou o Violão Câmara Trio, com o qual
registrou um interessante repertório em LP e CD.
É temerário fazer qualquer lista de alunos importantes de
Henrique Pinto. Cada violonista brasileiro deve ter uma lista
própria, até porque sua atuação migrou para outros estados,
assumiu proporções nacionais e passou, nos últimos anos, a ser
respeitada também no exterior. No entanto, é impossível não ten-
tar um esboço, considerando que passaram por suas mãos Gia-
como Bartoloni, Edelton e Everton Gloeden, Paulo Porto Alegre,
Clemer Andreotti, Fábio Zanon, Paulo Martelli, os integrantes do
Quaternaglia, Brasil Guitar Duo e Duo Siqueira-Lima.
Há poucos meses, em nosso tradicional cafezinho no meio
da tarde, às quartas-feiras – perto da Faam, na esquina da Rua
Brigadeiro Tobias com a Senador Queiroz –, após contar que
teria mesmo de fazer aquela cirurgia séria, resumiu em poucas
palavras sua visão de música e vida: “o desafio é conquistar a
atitude impecável do profissional sem perder a paixão e a dispo-
nibilidade típicas do amador”.
DIVULGAÇÃO
O
utra noite, esperando o sono chegar, liguei a televisão na
DIVULGAÇÃO
Globo e assisti, em meio a cochilos intermitentes, o pro-
grama do Jô Soares. Em um dado momento, chamou-
me a atenção uma das entrevistas, na qual era relembrado um
momento áureo da TV brasileira: os primórdios da TV Excelsior.
Implantada por Álvaro Moya no início dos anos 60, essa emis-
sora, sediada no Teatro Cultura Artística, praticamente lançou
as bases de uma moderna e digna TV para o Brasil – bases essas,
infelizmente, não seguidas com o passar do tempo. Ela unia a
ética, o vigor e a criatividade dos pioneiros da TV Tupi com uma
geração de intelectuais paulistas, e provou que era possível fazer
uma TV popular e inteligente. Um dos programas mais famosos
e populares da Excelsior era o “Simonetti show”. Enrico Simo-
netti foi um músico italiano que viveu no Brasil contratado pela
Companhia Cinematográfica Vera Cruz, onde fez ótimas trilhas
sonoras para filmes memoráveis. O programa tinha excelentes
redatores e o humor, de natureza musical, era fornecido pelos
próprios músicos da orquestra.
Pois um desses músicos era o entrevistado daquela noite e
Jô se referia a ele como “Sándor”. Identificando o timbre de voz
do entrevistado, me dei conta de que se tratava de um dos mais
importantes instrumentistas da música de nosso país, o violista
Perez Dworecki. Arregalei os olhos e passei a acompanhar com
atenção a entrevista, tomando conhecimento de fatos inusita-
dos de sua vida que dariam, com a maior facilidade, um filme
spielberguiano. Perez Dworecki em foto da década de 1980
Sándor Herzfeld era, na realidade, o nome original de
Perez Dworecki. Ele nasceu em uma aldeia chamada Tamási,
na região de Tolna, sul da Hungria, onde seu pai era sapateiro. os passaportes de um casal polonês e assim, Sándor e Katalin
Tornando-se amigo de instrumentistas ciganos, Perez começou passaram a se chamar Perez e Sonia Dworecki.
a tocar violino “de ouvido”. Apaixonado pela música, foi a Bu- Na viagem à América Latina, resolveram ficar em São Pau-
dapeste em 1942 e, vivendo de favores na casa de uma família lo. Naquela segunda metade de anos 1940 e início de 1950, inú-
judia, estudou no famoso Conservatório Franz Liszt, no qual meras entidades musicais estavam sendo reorganizadas. Havia a
teve aulas com Sándor Vegh e Zoltan Kodaly. sinfônica do Teatro Municipal, a da Rádio Gazeta, iniciavam-se
Em 1944 a Hungria foi invadida pelos nazistas e a perse- as gravações e surgia a televisão, que também contava com uma
guição a judeus foi o horror que conhecemos, criando inúmeras orquestra. Um bom violista como Perez foi logo solicitado.
dificuldades para Perez. Com a derrota dos nazistas, porém, as Assim, casado com “Sônia”, pais de Carla e Mariane e natu-
coisas não melhoraram muito. Os soviéticos tomaram a capital ralizado brasileiro com a ajuda de Villa-Lobos, Perez inicia uma
e o levaram, com muitos de seus amigos, para um campo de longa e brilhante carreira como spalla, por décadas, do Teatro
concentração na Rússia. Muitos foram depois libertados, mas Municipal; como professor da USP por 15 anos, onde formou
os judeus foram enviados para a Sibéria e obrigados a trabalhos uma grande geração de instrumentistas; como solista, gravando
forçados. A maioria não resistia aos maus tratos e morria. Perez 14 discos acompanhado pelos mais expressivos instrumentis-
foi poupado a fim de tornar mais divertidos, com sua música, os tas brasileiros. O músico também se apresentou em recitais em
momentos de lazer de seus algozes. “A música salvou minha diversas cidades e países. Compositores como Guerra-Peixe,
vida!”, dizia ele. Camargo Guarnieri, Radamés Gnattali e outros dedicaram-lhe
Libertado algum tempo depois, Perez voltou à terra natal e inúmeras obras. Radamés escreveu para Perez uma sonata e um
soube que seus parentes haviam sido mortos no campo de con- concerto que ele gravou com a antiga Filarmônica de São Paulo
centração de Auschwitz. Reencontrando uma amiga, estudante dirigida por Simon Blech.
de medicina de nome Katalin, que tinha morado com ele de Comentando há pouco sobre a grande e importante cola-
favor na casa daquela família judia, Perez propôs a ela que aban- boração que Perez havia dado à música brasileira, ele disse que
donassem o país. Fugiram, então, para a Áustria e depois para a tinha trabalhado com todo empenho por ser grato ao Brasil pela
Itália, onde se fixaram na cidade de Cadorna. Como o clima de receptividade obtida e pela vida feliz que pode construir entre
perseguições e demais confusões daquele imediato pós-guerra nós. Muito ao contrário, respondi. No próximo dia 8 de dezem-
ainda não havia cessado, resolveram aceitar uma proposta: tro- bro vou cumprimentá-lo pelos seus 90 anos e dizer: Köszonon,
car de identidade e viajar para o Paraguai. Compraram, então, Sándor Herzfeld – obrigado, Perez Dworecki!
A
abertura da temporada internacional
da Sociedade de Cultura Artística TEMPORADA 2011
acontece no Teatro Municipal de São
Paulo, como parte das comemorações de seu SOCIEDADE DE
centenário e reabertura, nos dias 6 e 7 de maio. CULTURA ARTÍSTICA
No palco, uma parceria entre o violinista József
Salvo menção em contrário, todos os
Lendvay, o pianista Dejan Lazic e a Orquestra concertos acontecem na Sala São Paulo
do Festival de Budapeste, sob regência e direção
musical de seu fundador, o renomado maestro
Iván Fischer. O Emerson String Quartet, com 6 e 7 de maio
mais de trinta anos de carreira, será atração nos (Teatro Municipal de São Paulo)
Orquestra do Festival de Budapeste
dias 21 e 22 de maio, na Sala São Paulo – local
Iván Fischer, regente
onde se dará todo o restante da temporada.
DIVULGAÇÃO
József Lendvay, violino
A competência com a qual contempla os re- Dejan Lazic, piano
pertórios clássico, barroco e contemporâneo fez Emerson String Quartet
da Orquestra de Câmara de Munique uma das 21 e 22 de maio
mais admiradas da Alemanha. Criada em 1950 A atração seguinte é outro dos pontos Emerson String Quartet
e atualmente dirigida por Alexander Liebreich, altos da temporada: aos 73 anos e reunindo
apresenta-se nos dias 9 e 11 de junho, com a entre seus trabalhos sinfonias, concertos, ópe- 9 e 11 de junho
ras e participações em álbuns de rock e músi- Orquestra de Câmara de Munique
participação da soprano alemã Christiane Oelze.
Alexander Liebreich, regente
Um dos grandes destaques da tempora- ca eletrônica, o pianista Philip Glass é um dos
Christiane Oelze, soprano
da 2011 da SCA são as apresentações que a compositores mais influentes do final do século
Orquestra Simón Bolívar faz dias 20 e 21 de XX. Nos dias 13 e 14 de setembro, Glass apre- 20 e 21 de junho
junho sob direção de seu regente titular Gus- senta parte de seu repertório ao lado da violon- Orquestra Simón Bolívar
tavo Dudamel, sensação da cena clássica atual. celista norte-americana Wendy Sutter. Princi- Gustavo Dudamel, regente
Fruto de um projeto educativo, a Simón Bolívar pal orquestra de câmara francesa, o Ensemble
é a mais celebrada formação orquestral jovem Orchestral de Paris estará ao lado do excelente 27 e 28 de junho
Coro Accentus nos concertos dos dias 30 de Orquestra Filarmônica de Roterdã
da atualidade. Em seu repertório aborda obras
Leonard Slatkin, regente
venezuelanas e latino-americanas. setembro e 1º de outubro. Dirigida por sua re-
O reconhecimento mundial obtido pelas gente titular, a maestrina Laurence Equilbey, o 6 e 13 de agosto
mãos do maestro Valery Gergiev marca os quase conjunto possui mais de vinte álbuns lançados. Britten Sinfonia
cem anos de história da Orquestra Filarmônica A temporada se encerra nos dias 18 e 19 Pekka Kuusisto, regente
de Roterdã, quinta atração da temporada, nos de outubro com a apresentação da Orquestra Allan Clayton, tenor
dias 27 e 28 de junho. Notável por sua tradi- Filarmônica de Liège. Pela segunda vez no
ção operística e pela ambição em cultivar novos Brasil, a formação belga de língua francesa es- 23 e 24 de agosto
tará sob comando do venezuelano Domingo Filarmônica de Câmara de Bremen
públicos através de concertos educativos e para
Christian Tetzlaff, regência e violino
crianças, o grupo estará no palco sob a batuta do Hindoyan e ainda terá participação do pianista
norte-americano Leonard Slatkin. francês Jonathan Gilad. Com meio século de 13 e 14 de setembro
Já a Britten Sinfonia acumula críticas elo- história, a Filarmônica conquistou reconheci- Philip Glass, piano
giosas pela qualidade de suas performances e mento da crítica internacional através de suas Wendy Sutter, violoncelo
inteligência de seus programas. As apresen- interpretações de obras francesas.
tações em São Paulo acontecem nos dias 6 e 30 de setembro e 1º de outubro
13 de agosto com regência do finlandês Pekka ASSINATURAS Ensemble Orchestral de Paris
Os atuais assinantes tem entre os dias 1º Coro Accentus
Kuusisto e participação do jovem tenor britâni-
Laurence Equilbey, regente
co Allan Clayton. Também figurando entre as e 17 de dezembro e 3 a 7 de janeiro de 2011
principais formações camerísticas do mundo, a para renovar suas séries. Já a partir do dia 21 18 e 19 de outubro
Filarmônica de Câmara de Bremen se apresen- de janeiro poderão ser feitas novas assinaturas. Orquestra Filarmônica de Liège
ta nos dias 23 e 24 de agosto, trazendo consigo Maiores informações podem ser obtidas pelo Domingo Hindoyan, regente
o ótimo violinista Christian Tetzlaff, que tam- telefone (11) 3258-3344 ou no site www.cul- Jonathan Gilad, piano
bém atuará como regente. turaartistica.com.br.
A
temporada internacional do Mozar- soprano Angelika Kirchschlager, presença
teum Brasileiro tem início nos dias 12 marcante nos principais palcos do mundo, TEMPORADA 2011
e 13 de abril com a apresentação da ca- fazem recital nos dias 2 e 3 de agosto, com
merata L’Arte del Mondo, na Sala São Paulo. A Antje Weithaas no violino e direção. O con- MOZARTEUM BRASILEIRO
orquestra de câmara alemã é especializada no junto suíço foi fundado em 1963, quando Salvo menção em contrário, todos os
repertório que vai do barroco até o início do ro- o grande pedagogo do violino Max Rostal concertos acontecem na Sala São Paulo
mantismo. Além disso, tem uma proposta que passou a dar aulas no Conservatório de Ber-
visa dialogar com outras artes, como a litera- na e alguns de seus alunos mais avançados 12 e 13 de abril
tura e a dança, bem como abordar repertórios resolveram se unir e fundar um conjunto. Camerata L’Arte del Mondo
Baiba Skride, violino
crossover. Para estas apresentações, L’Arte del Embora seu repertório vá do barroco à con-
Mondo terá como solista convidada a jovem temporaneidade, ela é reconhecida por suas 1º (ao ar livre), 2, 3 e 4 de maio
violinista lituana Baiba Skride. interpretações especiais da música do século (este último no Rio de Janeiro)
Em maio, a Sinfônica de Bamberg retorna XVIII. Também em agosto, nos dias 16 e 17, Sinfônica de Bamberg
ao Brasil com o excelente maestro Jonathan apresenta-se o grupo Berlin Philharmonic Jonathan Nott, regente
Nott, nome em evidência no cenário mun- Octet. O tradicional conjunto surgiu há mais Till Fellner, piano
dial. A prestigiada orquestra foi fundada em de 70 anos e foi o primeiro grupo de câmara
1946 por músicos alemães vindos da antiga da Filarmônica de Berlim a desenvolver car- 17 e 18 de maio (Teatro Alfa)
Concilium Musicum de Viena
Checoslováquia e que haviam sido membros reira de destaque em toda a Europa.
Christoph Angerer, regente
da Orquestra Filarmônica Alemã de Praga. O A temporada segue com uma atração es-
conjunto realiza concerto ao ar livre no domin- pecial: a Orquestra Juvenil da Bahia, conjunto 7 e 8 de junho
go, dia 1º, e em seguida, com a participação do criado e dirigido pelo pianista Ricardo Castro, Gershwin Piano Quartet
pianista Till Fellner, toca na Sala São Paulo, dias que se apresenta dias 26 e 27 de setembro
2 e 3, e no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, (com solista internacional a confirmar). A agru- 2 e 3 de agosto
dia 4. Ainda em maio, nos dias 17 e 18, o Con- pação é o núcleo principal do Neojibá, versão Camerata Bern
cilium Musicum de Viena, grupo orquestral brasileira do projeto venezuelano El Sistema, Antje Weithaas, violino e direção
Angelika Kirchschlager, mezzo soprano
especializado no repertório do século XVIII, se que busca inclusão social e excelência musical.
apresenta no Teatro Alfa, com Christoph Ange- Os russos da Orquestra Sinfônica de St. Peters- 16 e 17 de agosto
rer na direção. burg encerram a temporada 2011 do Mozar- Berlin Philharmonic Octet
Já em junho, dias 7 e 8, a atração é o teum Brasileiro nos dias 25 e 26 de outubro,
Gershwin Piano Quartet, que realiza recital na com regência de Alexander Titov e a presença 26 e 27 de setembro
Sala São Paulo. O conjunto é formado por qua- do solista Maxim Mogilevski ao piano. Orquestra Juvenil da Bahia – Neojibá
tro pianistas que fazem uma nova abordagem Ricardo Castro, regente
da música de George Gershwin, sejam canções ASSINATURAS
25 e 26 de outubro
ou obras orquestrais. Até o dia 28 de dezembro, quem já é assi-
Orquestra Sinfônica de St. Petersburg
A temporada prossegue no segundo se- nante tem prioridade na escolha dos assentos Alexander Titov, regente
mestre com todas as apresentações na Sala e desconto em torno de 12% para aquisição Maxim Mogilevski, piano
São Paulo. A Camerata Bern e a mezzo- do pacote de oito atrações. Novas assinaturas
também podem ser adquiridas por um valor
cerca de 20% mais econômico do que os in-
gressos avulsos.
A venda de assinaturas será retomada a
partir de 1º de fevereiro, mas aí com o mesmo
valor para todos os interessados.
Para maiores informações ou aquisição de
assinaturas ligue para o telefone (11) 3815-6377,
DIVULGAÇÃO / PEUSERDESIGN
C
iscar em terreiros alheios é empreitada perigosa. Em geral,
DIVULGAÇÃO
os resultados não costumam ser animadores. Foi com esse
argumento que Nadia Boulanger, a mestra francesa de dez
entre dez compositores por mais de 50 anos em sua famosa escola
particular parisiense, conseguiu convencer dois nomes estreladís-
simos da música do século XX a desistirem de aventuras “erudi-
tas”. O norte-americano George Gershwin e o argentino Astor
Piazzolla, ambos talentosíssimos na prática da música popular
refinada, ouviram dela que é melhor ser um Gershwin ou um Pia-
zzolla de primeira do que um compositor erudito de quinta classe.
Em todo caso, ambos são casos emblemáticos dessa mis-
tura que quase sempre desanda. Gershwin, obcecado em fazer
a “grande música”, recorreu ao orquestrador Ferde Grofé para
“compor” suas obras “eruditas”: a Rhapsody in Blue e o Concer-
to em fá, entre outras. A primeira, sobretudo, é popularíssima,
mas os especialistas eruditos torcem o nariz para composições
que são frouxas mesmo do ponto de vista formal. Já Piazzolla
foi mais inteligente: fez incursões de fôlego curto no mundo
erudito. Os movimentos de suas “Cuatro estaciones porteñas”
não ultrapassam a minutagem de encorpados temas populares.
O suficiente para impactar, mas não se enrolar prolongando des-
necessariamente a obra só para que ela tenha a aparência de
“grande música”. Confira a inteligência de Piazzolla no recente
CD “Fronteiras” do Duo Graffiti (selo Clássicos).
Essa inteligência Francis Hime e Tom Jobim – desculpem- Astor Piazzolla George Gershwin
me seus fãs – não tiveram. Primeiro Tom: dono de um song-
book que se ombreia com Cole Porter e George Gershwin, ele
se meteu a compor sinfonias que soam fracas. O CD “Jobim célebre CD “The Köln Concert”, ECM, 1975). Trinta anos depois,
Sinfônico” é prova provada dessas deficiências estruturais. Tom Jarrett gravou música dita erudita (concertos de Mozart, a obra de
nasceu para encapsular obras-primas em poucos minutos – seu Bach para teclado, os Prelúdios opus 87 de Shostakovich) e con-
gênio é comparável ao de um Schubert ou Schumann no do- quistou um nível altíssimo de execução nos recitais improvisados
mínio do Lied. O mesmo acontece com Francis Himes e seu (veja o álbum triplo “Paris/London: Testament”, ECM, 2009).
Concerto para violão recentemente lançado pela Biscoito Fino Brad Mehldau, aos 40 anos, tem atrás de si a dupla forma-
(com Fábio Zanon e Osesp). Hime é quase tão bom quanto ção clássica e jazzística. Fez a série de CDs intitulados “The Art
Tom na criação de belas canções. Tanto que a mezzo soprano of the Trio”, com contrabaixo e bateria, entre 1995 e 2001. De
Measha Brueggergosman, em seu CD “Nights and Dreams” lá para cá, tem explorado o recital-solo e permanece com o trio.
(selo Deutsche Grammophon, importado, 2010), incluiu sua Entre suas parceiras “eruditas” estão as cantoras Renée Fleming
canção “Anoitecer” ao lado de Lieder e melodias de Richard (CD Nonesuch, 2006) e Anne Sofie Von Otter (álbum duplo
Strauss e Henri Duparc. Já o seu Concerto para violão é difi- Naïve, outubro/2010). Em ambos, suas canções soam como
cílimo para o solista, mas pouco consistente na escrita sinfôni- Lieder para o século XXI. E no recital solo recente na Sala São
ca. A fraqueza, como em Jobim, localiza-se na ausência de um Paulo, improvisou de modo erudito: isolava pequenas células
desenvolvimento temático consistente. Episódios empilham-se motívicas (rítmicas, harmônicas ou melódicas), explorava-as,
ao acaso. A mesma impressão fica com a outra obra do CD, o retornava ao tema e apanhava uma nova célula para mais uma
Concertino para percussão e orquestra, de Nelson Ayres. viagem improvisatória.
Mas, então, é impossível fazer boa música sinfônica se você Tudo isso quer dizer o seguinte: apesar de o crossover estar
é um compositor popular? Não, claro que não. Basta entender na moda, de se dizer que os muros dividindo popular e erudi-
as especificidades de cada domínio. Mais do que isso: transpor to caíram por terra, os músicos só deveriam ciscar em terreiro
esses limites deve constituir uma evolução imperativa de um alheio se esse gesto significar mesmo, do ponto de vista criativo,
itinerário criativo. uma evolução lógica e necessária de seu desenvolvimento. Ou
Dois exemplos. O pianista de jazz Keith Jarrett foi o primeiro, seja, pulem os muros, mas só por necessidade interior genuína.
nos anos 1970, a enfrentar um recital de música improvisada sem Aí terá valido a pena – como comprovam Piazzolla, Jarrett e
nenhum tema conhecido. Improvisou por uma hora (confira no Mehldau. Caso contrário, são meras operações caça-níqueis.
N
os dias 5 e 8 deste mês, o público de São Paulo poderá
Maestro Roberto Rodrigues
conferir mais um programa do Audi Coelum, conjunto
vocal e instrumental dedicado à música sacra e que re-
aliza um criterioso trabalho de recuperação e interpretação de
obras antigas. No repertório das récitas, o Vespro della Beata
Vergine, de Claudio Monteverdi. As apresentações têm um as-
pecto significativo para o grupo, pois o Vespro traz o concerto
sacro cujo nome foi escolhido para batizar o grupo – Audi Coelum
(do latim: “Ouvi, ó céus!”) – e, além disso, a obra completa
quatrocentos anos de composição.
O trabalho é fruto de um esforço do músico Roberto
Rodrigues. Regente formado pela USP, sempre cantou em corais
Rafael Garcia
monumentos Gustavo García Martinez, que gostava muito
de ópera italiana. Ele nos obrigava a ouvi-las todas as noites –
enquanto jovens de minha idade estavam na rua jogando fu-
tebol ou andando de bicicleta. Minha mãe estudou balé; não
foi profissional, mas nos incentivou muito. Éramos três irmãos:
Por Carlos Eduardo Amaral Gustavo, o mais velho, violinista aposentado e radicado em Ma-
dri; Julio, pianista e pintor; e eu, o menor.
E
le mora no Brasil há mais de 40 anos, mas seu sotaque terremoto no Chile (1960) e que lembranças você guarda
hispânico permanece – evidenciado pelo vocabulário daquele episódio?
portunhol, que, por exemplo, o faz usar o verbo olvidar em Eu estava com dezesseis anos. Por sorte, o pessoal da classe média
vez de esquecer. Mesmo assim, o chileno Rafael Fernando Garcia no Chile tem residências construídas contra sismos – nelas, a única
Saavedra sente-se brasileiro e torce pela seleção canarinha desde coisa que poderia cair era o teto, de gesso. Minha preocupação era
que viu Garrincha jogar em seu país natal, na Copa de 1962. Mas com meu pai, que estava em uma reunião do Clube 24 da Maçona-
a principal razão para o violinista e maestro ter criado laços com ria, composto por grandes intelectuais do Chile radicados em San-
o país foi uma pianista que conheceu em 1966, em uma escala tiago. Peguei o carro e fui atrás dele. Logo que o vi na rua, parecia
que fez de navio no Rio de Janeiro quando se dirigia à Alemanha esses filmes antigos que não tinha música: fui correndo, como em
para estudar violino: a recifense Ana Lúcia Altino. Com ela, uma catástrofe em um filme de Charles Chaplin, sem som.
formaria um duo durante a viagem, iniciaria um namoro e se
casaria antes de voltar ao Brasil. Dos seis filhos que tiveram, a O que o levou a deixar o país?
única mulher, Aninha, comanda um dos maiores festivais de Naquela época, o Chile era considerado um país isolado na
indie rock da América Latina, o Coquetel Molotov, e outros três América Latina. Foi essa falta de espaço que me fez deixá-lo em
tornaram-se músicos: o violista Rafael, residente na Dinamarca; o 1966, graças a uma bolsa de estudos do governo alemão (do
violoncelista Leonardo, que mora nos Estados Unidos; e Marcelo, DAAD, Deutscher Akademischer Austauschdienst). Na escala
baixista não profissional de jazz contemporâneo em São Paulo. do navio no Rio, Ana Lúcia embarcou e fomos juntos até Gêno-
Rafael Garcia, que recebeu o título de cidadão pernambucano va. A viagem durou 17 dias. Deu para fazer muita música e co-
em 2006, concedeu esta entrevista à Revista CONCERTO em meçar um namoro, que se transformou em casamento e rendeu
seu apartamento à beira-mar em Jaboatão dos Guararapes, ao sul seis frutos. Na Alemanha, tive a oportunidade de ter aulas com
do Recife. Na sala de estar, uma rica coleção de artesanato e arte Tibor Varga. E, junto com Ana Lúcia, estudei música de câmara
sacra ultrapassa duas mil peças, incluindo obras de Samico e João com Günter Weissenborn, acompanhante de Dietrich Fischer-
Câmara, além de uma iluminogravura de Ariano Suassuna. Em Dieskau. Foram momentos inesquecíveis que tivemos em uma
pouco mais de uma hora, antes de abandonarmos as formalidades cidade muito pequeninha, chamada Detmold.
da conversa para comentarmos blu rays de concertos, Rafael
Garcia falou de sua vida no Chile, da carreira no Brasil e, claro, Em que ano você veio para o Brasil e quais atividades
do Virtuosi que realiza junto com sua esposa e que, neste mês desenvolveu?
de dezembro, completa treze edições na condição de festival de Prestei um concurso em 1969 para a Filarmônica de Estocol-
música clássica de maior destaque no Nordeste. mo, para trabalhar com o maestro Antal Dorati, e Ana Lúcia
recebeu um convite para ser assistente do pianista Klaus Schil- que, na vida, a dor do parto sempre é passageira e se esquece
de. Logo depois surgiu outro convite para Ana, do ex-professor facilmente. É o que acontece com o Virtuosi, que apesar do
dela, Edson Bandeira de Mello, para atuar na TV Universitária reconhecimento nacional e internacional, a cada ano é um
como secretária da divisão de música. Trabalhamos aqui por três novo parto!
anos. Eu era produtor na TVU, tinha convite para ser spalla da
Sinfônica do Recife, lecionava na UFPB e tocava no Trio da Pa- O Virtuosi apresenta mais obras de câmara que
raíba, além de ser violino assistente da Orquestra Armorial, ao orquestrais. O que seria preciso para dar mais equilíbrio
lado de Cussy de Almeida. Eleazar de Carvalho, passando pelo à programação?
Recife certa vez, ouviu a mim e a Ana Lúcia em um recital e O festival infelizmente não consegue manter uma orquestra
me fez uma oferta irrecusável: ganhar na Osesp o dobro do que sinfônica todos os anos, mas, a cada vez que isso acontece, a or-
eu ganhava em todos aqueles empregos juntos, com Ana Lúcia questra toca mais obras que algumas sinfônicas estáveis do Nor-
recebendo o mesmo que eu. Em São Paulo, tornei-me spalla em deste. Quando não tem sinfônica, temos de câmara, e sempre
menos de um ano e ficamos de 1972 a 1977. procuramos oferecer um repertório diferenciado. Obviamente,
um festival como esse não mereceria só uma semana, mereceria
Por que então a mudança para a Paraíba? ser como Campos do Jordão. Não estou amargurado com a falta
Na época, tínhamos um trio com o qual rodávamos por todo o de apoio, encaro como um desafio: o de transformar um sonho
Brasil e passamos por João Pessoa. O então secretário de Edu- em um festival de sete dias. O Virtuosi expandiu-se, apesar de
cação e Cultura, Tarcísio Buriti (que viria a ser governador em todos os empecilhos. Hoje temos o Virtuosi Brasil, o Virtuosi
1979), estava presente e nos convidou para participar da Orques- na Serra e o Virtuosi em Gravatá, este, se depender das atuais
tra de Câmara do Estado da Paraíba. Com a ida para João Pessoa, lideranças culturais e políticas, será o futuro Campos do Jordão
veio o convite de Lynaldo Cavalcanti, reitor da UFPB, para en- do Nordeste. Mesmo assim, vivemos de momentos musicais du-
sinarmos na universidade. Aceitamos e ganhamos carta branca rante o ano e não uma vida musical. Tudo isso obviamente traz
para chamar professores de todo o país e do exterior. Foi o início transtornos: eu e minha esposa nos dedicamos dia e noite a esses
de um sonho que durou nove anos (de 1977 a 1986). Depois dis- projetos. Poderíamos morar nos Estados Unidos, mas decidimos
so, nos transferimos para a Universidade Federal de Pernambuco, ficar aqui e dizer o que deve ser feito, pois acredito muito em
para então nos darmos conta de que era como está até agora: uma uma política de choque. E com os artistas convidados criamos
espécie de cemitério musical. Em pouco tempo, Ana Lúcia disse: uma família, em que todos foram importantes e se sentiram va-
“Temos de ir embora”, e conseguiu uma bolsa de estudos para lorizados. Este ano, como outras vezes, alguns músicos vêm por
fazer doutorado na Boston University, onde então ficamos por amor à arte, sem cobrar cachê: só por um bom teatro, um públi-
outros nove anos. Foi quando tivemos contato com a colônia de co interessado, uma boa orquestra, um hotel confortável e essas
asiáticos, russos e nórdicos que faria parte do Virtuosi. condições que não se encontram em qualquer lugar.
O Virtuosi começou como encontro de família, em Nesses anos todos de carreira, o que você gostaria de ter
1998, e transformou-se no único festival estável e feito, mas não teve chance?
totalmente dedicado à música clássica no Nordeste. Uma escola de música de excelência. É um sonho que, com
Como isso aconteceu? nossa experiência, estou seguro de que poderíamos fazer aqui
O Virtuosi tornou-se um festival estável devido principalmente em Pernambuco. Mas as portas hoje estão fechadas. Como dizia
à calorosa receptividade do público, à nossa perseverança e Nietzsche: “Sem a música, nossa vida teria sido um erro”.
à maravilhosa participação de artistas nacionais e internacio-
nais que adoram vir para o Recife. Minha esposa sempre fala Obrigado pela entrevista.
N
CLARA SCHUMANN E FRÉDÉRIC CHOPIN
este ano de bicentenários, muito tem sido dito e ouvi-
Clara foi ouvida por Chopin muitas vezes, antes e depois
do sobre Robert Schumann e Frédéric Chopin (ambos
da visita do compositor a Leipzig. Este admirava sua perfor-
nascidos em 1810). Mas um fato tem sido esquecido,
mance e certa vez enviou-lhe um manuscrito de seu Concerto
apesar de sua fundamental importância: como a música desses
em mi menor com a nota: “Mal posso esperar para ouvi-lo por
compositores chegou ao nosso conhecimento após esses dois
um talento tão maravilhoso quanto o seu”. James Methuen-
séculos?
Campbell considera Clara Wieck Schumann e Franz Liszt “os
Quanto a Chopin, a resposta é mais óbvia. O compositor
dois intérpretes que mais estrearam músicas de Chopin no início
era também excelente pianista; frequentava os salões nobres em
da carreira do compositor”. Além de ter colaborado com corre-
que tocava, improvisava e esbanjava seu charme diáfano (pela
ções na edição alemã de toda a obra de Chopin pela Breitkopf &
aparência frágil que resultava de sua saúde sempre débil), arre-
Härtel, pelo menos uma peça do compositor constou nos reci-
batando os corações das moças da aristocracia e fazendo delas
tais de Clara Schumann em toda a sua longa carreira.
futuras alunas de piano – que, juntamente com suas famílias,
consumiam sua música. Chopin morreu antes da metade do
CLARA E ROBERT SCHUMANN
século XIX, vítima de tuberculose.
Em relação à música de Robert Schumann, Clara teve uma
Já com Robert Schumann a coisa era bem mais difícil. Como
postura ainda mais determinante – autorizada e delegada pelo
se sabe, o compositor teve sua carreira de intérprete abreviada
próprio compositor no início de sua trajetória: assim que come-
por uma terrível paralisia nos dedos indicador e médio da mão
çou a sentir dificuldades com sua mão direita, Robert escreveu
direita. Seu temperamento oscilava entre a euforia – quando se
à então colega pianista: “Agora você é minha mão direita e deve
tornava meigo, sociável e carismático – e a profunda depressão.
cuidar para que nada lhe aconteça...”.
Se dependesse de sua própria performance, sua música jamais
Segundo Reich, “um dos grandes feitos de Clara foi trazer
teria atravessado a linha do tempo.
a obra de Robert Schumann ao conhecimento do público de
Mas tanto Schumann quanto Chopin contaram com uma
concerto europeu. Não há dúvida de que sem suas apresenta-
ajuda inestimável na divulgação de suas composições – espe-
ções em turnês, teria demorado muito mais tempo para que essa
cialmente na Alemanha, mas também no resto da Europa –,
música fosse tocada e aceita”.
colocando-as ao alcance do mais variado público e garantindo o
Mesmo Clara, que tocou praticamente todas as composições
lugar das mesmas na história da música ocidental: serem apre-
de Robert Schumann, considerava o público em geral pouco recep-
sentadas em primeira audição pela maior virtuose do século
tivo para peças tão ousadas. Por essa razão, algumas dessas obras
XIX, Clara Wieck Schumann.
esperaram certo tempo para serem introduzidas em seu repertório.
A pianista, que aprendeu com o pai a mesclar obras ligeiras de salão
A VIRTUOSE CLARA SCHUMANN
a outras de caráter mais sério ou inovador, avaliava a cada concerto
Clara Schumann, nascida Wieck em setembro de 1819, foi
quantas e quais obras do marido poderia dar a conhecer.
criança-prodígio e deu seu primeiro recital solo aos 11 anos de
As obras sinfônicas e os concertos de Schumann tiveram,
idade, na Gewandhaus de Leipzig. Ao contrário da maioria das
quase todos, sua estreia em recitais nos quais Clara era a solista
Wunderkinder de sua geração, manteve-se entre os principais
ou fazia uma parte solo. E, tal como fez com a obra de Chopin,
pianistas da Europa até sua morte, aos 76 anos. Dividiu o palco
a virtuose divulgou as peças do marido sempre e em todos os
com alguns dos mais consagrados intérpretes do romantismo,
palcos por onde passou.
entre os quais o violinista Joseph Joachim, o pianista Franz Liszt,
Clara Schumann considerava não só sua obrigação tocar a
o barítono Julius Stockhausen, a soprano Pauline Viardot e os
obra de Robert, mas também seu direito. Quando outro pianista
regentes Felix Mendelssohn e Robert Schumann – este último,
estreava alguma obra do marido – o que era raro – ela ficava
seu marido. Foi convidada por ninguém menos que Nicolò
enciumada. De qualquer modo, criou-se um consenso geral de
Paganini para apresentar-se em Paris, mas o concerto foi cance-
que a sua interpretação era sempre uma referência imbatível.
lado em razão da enfermidade do violinista.
Afinal, após tantos anos em total sintonia, não era de estra-
Clara recebeu a visita de Chopin quando tinha 16 anos.
nhar que o poeta falasse por meio dos dedos ágeis de sua musa...
Seu pai Friedrich Wieck, renomado professor de piano, não per-
dia a oportunidade de trazer a sua casa os artistas e compositores
em voga na ocasião, para apresentar-lhes sua jovem estrela. Mas Eliana Monteiro da Silva é pesquisadora, mestre e doutoranda
a pianista já divulgava a música do polonês desde os doze: suas em música pela ECA-USP, sob orientação do Prof. Dr. Amílcar Zani
variações sobre Là ci darem la mano eram presença obrigatória Netto. Autora do livro “Clara Schumann: compositora x mulher de
em seus programas de concerto. compositor”, a ser lançado em breve (Ficções Editora).
A
virada do século XVIII para o XIX foi um momento con- mentos da teoria e introduzi-lo na prática do fortepiano (instru-
turbado e cheio de transformações. Por um lado, a Re- mento que precedeu o piano moderno). Historicamente é um
volução Francesa e seus desdobramentos começaram a consenso que desde tenra idade Ludwig tenha se revelado um
chacoalhar as estruturas sociais vigentes. Pelo outro, a expansão verdadeiro prodígio ao teclado e que desta forma o pai vislum-
da Revolução Industrial alterava de forma definitiva a cena eco- brou, no talentoso filho, um meio de aumentar os rendimentos
nômica. A aristocracia europeia iniciara sua franca decadência e domésticos. O paralelo entre o prodígio Beethoven e Mozart
paulatinamente seria suplantada pela cultura burguesa, ao mes- foi já então inevitável, mas ao contrário do que ocorrera com
mo tempo em que o Iluminismo fincava bases mais sólidas em o compositor austríaco, o pai de Beethoven jamais impingiu ao
diferentes camadas da sociedade. O dinheiro começava a trocar filho uma desgastante rotina de viagens. Isso, contudo, não foi
de mãos e, com ele, trocava-se quem determinava os rumos da suficiente para livrá-lo de uma provável injusta fama de carrasco:
arte. Foi em meio a esse turbilhão sociocultural que emergiu a por muito tempo diferentes biografias de Beethoven afirmaram
figura de Ludwig van Beethoven. que o pai o fazia estudar “até as lágrimas”, mas concretamente
não há base documental confiável sobre isso (por exemplo, um
A MANHÃ* relato do próprio Beethoven).
Batizado em 17 de dezembro de 1770 (é muito provável Fora algumas viagens – em 1787 ele teria viajado a Viena
que tenha nascido no dia anterior), Ludwig integrava a segunda para ter aulas com Mozart, mas o plano foi abreviado devido à
geração alemã de uma tradicional família de músicos flamengos morte de sua mãe –, Beethoven viveu parte considerável de sua
(da região que hoje se localiza na Bélgica) que no início do sé- juventude em Bonn, onde aumentou sua fama como pianista,
culo XVIII havia se mudado para Bonn, à época pertencente ao estudou com outros mestres locais e conheceu o compositor
principado eclesiástico de Colônia. Seu avô, Lodewijk (a quem Joseph Haydn, que esteve de passagem pela cidade a caminho
deve seu nome), chegou mesmo a atuar como mestre-de-capela de uma de suas viagens a Londres. Foi com o pretexto de estudar
na corte, e seu pai Johann – já nascido na Alemanha – foi cantor com o famoso compositor da corte de Esterházy que Beethoven
na mesma instituição. De todos os seis irmãos que teve, apenas conseguiu o apoio para se mudar para Viena, naquele tempo um
Caspar Anton Carl e Nikolaus Johann sobreviveram. Ambos dos principais polos musicais do mundo.
atuariam como empresários em diferentes momentos da vida
do célebre irmão. A FEIRA NA PRAÇA
As bases da educação musical de Ludwig ocorreram no seio Apesar da cidade de Bonn muito se orgulhar de seu mais
familiar, e coube ao pai ensinar ao jovem Beethoven os funda- célebre filho, Beethoven só foi o que foi porque Viena se mis-
1770
Beethoven
aos 1� anos 1792 1796 1808
idade Mudança definitiva Em carta endereçada a Conclui sua famosa Sinfonia nº 5 e o
Ludwig van
Beethoven nasce para Viena. um amigo admite estar Concerto para piano e orquestra nº 5,
em Bonn. sofrendo os primeiros “Imperador”. No ano anterior termina seu
sintomas de surdez. relacionamento com Josephine von Brunsvik.
Antonie Brentano,
a amada imortal
1814
Perda praticamente total da audição e abandono
1824
Sua Sinfonia nº 9 estreia em Viena,
1827
de Beethoven Morre em Viena.
das atividades como concertista. No mesmo ano em um longo concerto que incluiu Seu cortejo fúnebre é
o poeta e crítico E.T.A. Hoffmann publica um ainda a abertura A consagração da seguido por milhares
ensaio que dá início ao “mito” Beethoven. casa e trechos da Missa solene. de pessoas.
IMAGENS: REPRODUÇÕES
E
m 2010, foi Chopin. Em 2011, será Liszt. O caprichoso Liszt é um compositor que está com Freire “desde sem-
calendário das efemérides musicais acabou fazendo caírem pre”: já seu primeiro recital, aos cinco anos de idade, em Minas
em anos consecutivos os bicentenários de aniversário dos Gerais, incluía a Rapsódia húngara nº 2, “em versão facilitada”,
compositores-pianistas que, além de amigos, foram os antípodas ele faz questão de sublinhar, quase se desculpando.
e as antíteses de sua atividade no mundo musical da primeira me- Depois, ao se mudar para o Rio de Janeiro, ele foi aluno de
tade do século XIX: o intimista polonês Frédéric Chopin (1810- Lúcia Branco, que havia estudado com o belga Arthur de Greef
1849), rei dos salões parisienses, e o extrovertido húngaro Franz (1862-1940), quem, por sua vez, havia sido discípulo de Liszt
Liszt (1811-1886), inventor do recital de piano solo. por dois anos. “Era como se eu fosse bisneto musical do Liszt”,
Nome de proa no cenário internacional do piano, Nelson compara. “Essa tradição é muito importante, e eu gostaria de
Freire se fez ativo no Ano Chopin, com uma alentada integral fazer parte dela.”
dos noturnos. Agora já está se preparando para gravar, pela O primeiro concerto para piano e orquestra do compositor
Decca, um álbum Liszt, em janeiro do ano que vem, na Alema- húngaro foi, assim, um dos itens iniciais do repertório do pianis-
nha. O repertório? Mistério... ta, que o executou em público aos 13 anos de idade. “Escolhen-
“Prefiro não dizer, porque muda todo dia. Vai ser surpresa”, do agora o que entra no disco é que percebi quanto Liszt eu já
conta o pianista. O que ele já pode anunciar é que não incluirá toquei na vida”, afirma.
a ambiciosa Sonata em si menor. “Acho que, por causa do Ano
Liszt, muita gente fará a sonata em 2011”, afirma. “Além disso, CHOPIN E OS CONCURSOS
eu já gravei essa obra, mas nunca saiu em CD. Então, quem Por mais eclético que seja, contudo, Nelson Freire jamais
sabe, podem finalmente lançar nesse formato.” deixa de voltar a Chopin, um compositor com o qual sua ligação
O álbum, contudo, deve trazer a Balada nº 2 em si menor, independe de qualquer efeméride musical. O coração de Freire
que ele jamais apresentou em público e que quer incluir em ainda está inebriado com as recordações do 16º Concurso Inter-
seus recitais do ano que vem. “Andaram me pedindo programas nacional de Piano Frédéric Chopin, que teve lugar em Varsóvia,
100% Liszt, mas isso eu não quero fazer. Devo tocar bastante a em outubro, e de cujo júri ele foi membro, ao lado da amiga
balada e uma das rapsódias húngaras – o difícil está sendo deci- Martha Argerich e de pianistas como Philippe Entremont, Bella
dir qual delas”, conta. Davodovich, Adam Harasiewicz e Dang Thai Son.
Apesar do foco atual em Liszt, Freire já tem outros discos Junto a Argerich, Freire fez o concerto de abertura do even-
em mente para a sua carreira fonográfica. Um deles seria de mú- to. Com transmissão pela internet, o certame foi vencido pela
sica brasileira, trazendo não apenas Villa-Lobos, mas também russa Yuliana Advedeeva. Em seguida, vieram Lukas Geniusas
Camargo Guarnieri, Lorenzo Fernandez, Francisco Mignone e (Rússia/Lituânia) e Ingolf Wunder (Áustria), empatados; o tercei-
Claudio Santoro. Outra ideia levada com carinho é um álbum ro posto ficou para Danil Trifonov (Rússia), o quarto para Evgeni
dedicado a Mozart, incluindo alguma sonata e peças soltas. Bozhanov (Bulgária) e o quinto para François Dumont (França).
“Com os discos, quero uma coisa eclética. Não gostaria de ter “Todo mundo disse que nunca houve um nível tão alto”,
uma linha só. E a gravadora parece que está gostando disso tam- festeja Freire. “Os finalistas eram todos extraordinários. Era
bém”, lembra o pianista. como se a idade de ouro do piano estivesse voltando.” E segue
narrando, em tom divertido: “A Martha ficava ‘colando’, que-
FREIRE NA TRADIÇÃO DE LISZT rendo ver minhas anotações o tempo todo. E, depois, queria
Mas voltando a Liszt, como ele o vê em relação a Chopin? manipular meus votos. Mas eu sou macaca velha nessas coisas”.
“Ah, Chopin é outro patamar, não se pode comparar”, diz, reve- Ele não hesita em comparar o entusiasmo do público com
lando sua veneração pelo compositor polonês, emendando em o certame com o envolvimento dos brasileiros em uma Copa
seguida, contudo, uma série de elogios ao seu contemporâneo do Mundo: “Em qualquer banco de praça, o assunto era o con-
magiar. “Liszt era fascinante, um homem maravilhoso, bonito, curso. E Varsóvia é uma cidade encantadora, na qual você pode
inteligente, aventureiro, poeta, que ainda virou padre no fim da caminhar às 2 horas da manhã que não acontece nada. Os po-
vida”, afirma. “Liszt admirava muito Chopin. Na partitura dos loneses são charmosos e sedutores, e a educação no trânsito é
Funérailles está escrito outubro de 1849, que foi o mês da mor- exemplar.” Além disso, visitar a terra natal de Chopin sempre
te de Chopin. E as oitavas lembram a Polonaise op. 53. Agora, traz novos insights sobre o compositor: “Ele era um desenhista
fora essa influência, ele foi um compositor bastante inovador, fabuloso e, aos sete anos de idade, sua caligrafia já era incrível.
que abriu muitas portas na história da música”. Aprendi muito sobre a personalidade de Chopin.”
Osesp, Yan Pascal Tortelier – regente e Nelson Recife, PE / XIII Virtuosi – Festival Internacional
Freire – piano (9 e 10/21h e 11/16h30) de Música de Pernambuco (de 13 a 19 de
dezembro)
Ópera Iolanthe, de Gilbert e Sullivan
(10 e 11/20h30 e 12/18h) Salvador, BA / Orquestra Sinfônica da Bahia e
Pino Onnis – regente (17/20h)
Ópera Amahl e os visitantes da noite, de Gian
Santos, SP / Coro da Osesp e Naomi Munakata
Carlo Menotti (10 e 11/21h e 12/19h)
– regente (12/19h30); Coral Municipal de
Sinfônica Heliópolis e Edilson Ventureli – Santos e Orquestra Sinfônica Municipal de
regente (11/11h30) Santos (21/20h30)
Quarteto de Cordas da Cidade de São São José dos Campos, SP / Gabriella Pace
Quarteto de Cordas da Paulo(11/17h) – soprano, Adriana Clis – mezzo soprano e
Cidade de São Paulo Gilberto Tinetti – piano (4/18h)
Orquestra Sinfônica de Santo André,
Tatuí, SP / Orquestra Sinfônica e Coro do
Coro de Santo André e Coro de Volta Redonda
Conservatório de Tatuí e Roberto Tibiriçá –
(11 e 12/20h)
regente (18/20h30)
Prelúdio (12/11h)
Vitória, ES / Orquestra Filarmônica do Espírito
Osesp e Yan Pascal Tortelier – regente Santo, Helder Trefzger – regente e Marcelo
(16 e 17/21h e 18/16h30) Verzoni – piano (2/20h)
Laudate Dominum
A música sacra com Amaral Vieira
Domingo, às 9 horas.
DIVULGAÇÃO
2008, a ideia se tornou intérprete: Bach – Cinco criações sobre Capela do Colégio Sion.
realidade com o New o prelúdio nº 1 BWV 846; Villa-Lobos –
Três criações do trenzinho do caipira; 20h00 ORQUESTRA DE CORDAS
Classic Ensemble Vien- LAETARE e CORAL CANTICORUM
na, última atração dos concertos Masp Internacional em 2010. Homenagem a Chopin – criação sobre
o tema “Se essa rua fosse minha”; 2ª JUBILUM
Além da solista Lisa Smirnova, o grupo é formado pelo violinista Regente: Muriel Waldman. Solistas:
parte – O compositor: peça executada
Andres Mustonens, considerado um dos maiores músicos da Estônia na Salle Pleyel (Paris) em homenagem Milton Vito – saxofone. Programa:
por suas qualidades tanto como instrumentista quanto como regente; a Schaeffer. Villa-Lobos – Fantasia para saxofone
pelo violinista Werner Neugebauer, também membro da Camerata Salz Centro Cultural São Paulo – Sala Adoniran e pequena orquestra; Grieg – Suíte
burg e do Hyperion Ensemble; pelo violista Firmian Lermer, solista de Barbosa. Entrada franca. Retirar ingressos Holberg; e Anônimos – Músicas fol-
uma hora antes. clóricas israelenses para a época de
renome internacional e diretor de arte da Wildthurner Kunsttage; pelo
Hannukah.
violoncelista Detlef Mielke, membro fundador do Hyperion Ensemble; 12h00 CORO DE PIRACICABA e Círculo Macabi. R$ 2.
e pelo contrabaixista Herwig Neugebauer. Os músicos são reconhecidos CAMERATA MAHLE
pela sua precisão e homogeneidade, sem perder o frescor da criatividade.
O repertório do New Classic Ensemble Vienna é baseado em concer-
Música em Cena. Série Programa
de Natal. Regente: Ernst Mahle.
6 SEGUNDA-FEIRA
tos para piano de Bach, Haydn e Mozart. Estes concertos são executa- Programa: Händel – Trechos de O
Messias; e Mahle – Noite de Natal 12h30 DUO VERLAINE
dos em pequena formação combinados com música de câmara de várias Música no Masp. A ilha flutuante.
e Canções tradicionais de Natal.
épocas. Além de se apresentar no Masp, dia 9, o grupo toca também nos Com Sarah Hornsby – flauta transversal
Teatro do Sesi. Entrada franca.
Concertos Internacionais de Guarulhos, no dia 8. e Paola Barone – harpa. Programa:
16h00 PRELÚDIO obras de Fauré, Saint-Saëns, Nino Rota
2ª semifinal da 6ª edição do progra- e Piazzolla.
Dia 10, Escola Municipal de Música / Dia 11, Galeria Olido / Dias 10, 11, 12, 17, 18 e
ma. Direção artística: Júlio Medaglia. Masp – Grande Auditório. Entrada franca.
19, Teatro João Caetano / Dias 17, 18 e 19, Auditório Ibirapuera
Apresentação: Estela Ribeiro.
Municipal finaliza ano com balé e Transmissão pela TV Cultura.
7 TERÇA-FEIRA
ópera, entre outras atrações 16h00 CORAL JOVEM DO ESTADO e
ORQUESTRA BARROCA 12h30 DIVA EVELYN REALE e EMMA
O ótimo Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo abre a progra- Regente: Naomi Munakata. SOUZA LIMA – pianos
Música no Masp. Programa: Händel
mação dos corpos estáveis do Teatro Municipal neste mês. Betina Steg- Programa: Vivaldi – Beatus vir;
Pergolesi – Magnificat, Et misericor- – Chegada da rainha de Saba; Chopin
mann e Nelson Rios (violinos), Marcelo Jaffé (viola) e Robert Suetholz – Variações sobre um tema nacional;
(violoncelo) mostram obras de Mozart e Schumann em concertos na dia, Deposuit, Suscepit Israel, Sicut
locutus est e Sicut erat in principio; Schubert – Fantasia D 940; Liszt –
Escola Municipal de Música, dia 10, e na Galeria Olido, dia 11. Rapsódia húngara nº 2; e Debussy –
Mendelssohn – When Jesus, our Lord;
Já a longeva série Vesperais Líricas finaliza a temporada em que co- Tomze – Natal; Gruber – Noite feliz. Rêverie, Valse Romantique e Clair
memorou 30 anos de atividades com Amahl e os visitantes da noite. Leia mais na pág. 32. de Lune.
Ópera de Natal escrita em um ato por Gian Carlo Menotti, a obra será Masp – Grande Auditório.
Masp – Grande Auditório. Entrada franca.
apresentada na íntegra dias 10, 11 e 12, com entrada franca, no Teatro
21h00 ARTIS ENSEMBLE, ANCUZA
João Caetano. A montagem tem direção musical e regência de Juliano 16h00 ORQUESTRA DE CORDAS APRODU – piano, ORQUESTRA ARTE
Suzuki, que estará à frente da Camerata Municipal, formada por músicos Grupo Infanto-juvenil do Guri Santa DO SOM FILARMÔNICA e ÊNIO
da Sinfônica Municipal. João Malatian responde pela direção cênica e as Marcelina. ANTUNES – regente
CEU Parque São Carlos – Teatro.
récitas ainda contam com a pianista Karin Uzun, o Coral Lírico Munici- Noturnos. IV Festival Internacional
pal regido por Mario Zaccaro e o Corpo de Baile da Escola Municipal de de Música Arte do Som. 1ª parte:
17h00 Ópera A VIÚVA ALEGRE, de Ancuza Aprodu – piano, Ênio Antunes
Música. Entre os solistas estão Dênia Campos, Paulo Queiroz, Sandro Lehár
Bodilon e Eloisa Baldin, coordenadora da série. – violino, Emerson de Biaggi – viola
Veja detalhes dia 1º às 20h30. e Raiff Dantas Barrreto – violoncelo.
Também no João Caetano se apresenta o Coral Paulistano, sob re- Teatro São Pedro. R$ 20.
Programa: Oswald – Quarteto op. 26
gência de Tiago Pinheiro, nos dias 17, 18 e 19. O repertório é formado e Villani-Côrtes – Cinco miniaturas
por canções natalinas. 17h00 ORQUESTRA SINFÔNICA e brasileiras. 2ª parte: Orquestra Arte
A última atração do Municipal é o balé Giselle, que será interpretado CORAL INFANTO-JUVENIL DA ESCOLA do Som Filarmônica. Regente: Ênio
MUNICIPAL DE MÚSICA
pelo Balé da Cidade de São Paulo e a Orquestra Experimental de Reper- Antunes. Santoro – Ponteio; Widmer
Regente: Daniel Cornejo. Regente – Rondó op. 140; e Ronaldo Miranda –
tório, regida por seu titular Jamil Maluf. Trata-se de uma abordagem do Coral: Mara Campos. Solistas –
nova do coreógrafo e diretor assistente do Balé da Cidade, Luiz Fernando Concertino para piano e orquestra de
Vencedores do Concurso Jovens Solistas cordas. Leia mais na pág. 40.
Bongiovanni, que retrabalha alguns pontos para tornar a obra um “conto da EMM. Programa: Trechos de Mahler Centro Cultural São Paulo – Sala Adoniran
de fadas para adultos”. O espetáculo acontece no palco do Auditório – Sinfonia nº 1; Telemann – Concerto Barbosa. Entrada franca. Retirar ingressos uma
Ibirapuera dias 17, 18 e 19. para quatro violinos; Vivaldi – Concerto hora antes.
DIVULGAÇÃO
Zocca – clarinete, Francisco Amstalden
21h00 Balé O QUEBRA-NOZES, de porada da Orquestra do Teatro São Pedro
– fagote e Evandro das Neves – trompa.
Programa: Danzi – Quinteto de sopros op. Tchaikovsky acontece entre os dias 1º e 5 deste mês.
56 n° 2; Debussy – La fille aux cheveux Temporada de Dança do Teatro Alfa. A opereta A viúva alegre, de Franz Lehár,
de lin e Golliwogg’s cake walk; Calado Cisne Negro Cia. de Dança. Solistas: será apresentada com regência de Emi-
– Flor amorosa; Nepomuceno – Suíte Marcelo Gomes, Denise Siqueira, liano Patarra, direção cênica de William
Anna Scherbakova e Dmitry Kotermin.
antiga; e Lefebvre – Suíte. Pereira e figurino de Olintho Malaquias.
Masp – Grande Auditório. Entrada franca.
Direção artística: Hulda Bittencourt.
Leia mais na pág. 40. Dois elencos se revezarão nos papéis, e
Teatro Alfa. R$ 60 e R$ 90. Reapresentação entre os solistas estão Marcia Guima-
16h00 ORQUESTRA SINFÔNICA DE
SANTO ANDRÉ
até dia 19. De segunda a quinta-feira às 21h00, rães, Edna D’Oliveira, Sebastião Teixeira
sextas-feiras às 21h30, sábados às 17h e 21h,
Regente: Carlos Moreno. Programa: e domingos às 16h e 19h.
e Miguel Geraldi.
Beethoven – Sinfonia nº 9 op. 125 Escrita em 1905, A viúva alegre se
(1º, 2º e 3º movimentos); e Bruckner
– Sinfonia nº 5 (2º movimento). Leia
9 QUINTA-FEIRA passa em Pontevedrino, país tão pequeno Emiliano Patarra
que não existe em mapa algum. O gover-
mais na pág. 37. no local teme que a viúva em questão gaste sua fortuna em Paris ou caia
Igreja Matriz de Santo André. Entrada franca. 12h30 DUO KRUG-VANZELLA
Música no Masp. Com Maria Fernanda nas mãos de um usurpador. Para que o dinheiro permaneça no país, é pre-
19h30 EUDÓXIA DE BARROS – piano Krug – violino e Patrícia Vanzella – ciso que um pontevedriano seduza e se case com ela – tarefa perfeita para
Programa: Debussy – La plus que lente; piano. o charmoso conde Danilo. A temporada de ópera do Teatro São Pedro é
Fauré – Improviso op. 31 nº 2; Chopin – Masp – Grande Auditório. Entrada franca. uma realização do governo do Estado de São Paulo com produção da Apaa.
Sonata op. 58; Schumann – Tocata op. 7;
20h00 CIA. MAURÍCIO DE OLIVEIRA E
Cupertino – Tocata; Tacuchian – Vitrais;
SIAMESES Dias 9, 10 e 18, Espaço Cultural É Realizações
Lacerda – Estudos nºs 8 e 9; Nazareth
Espetáculo Fragile. Direção e
– Elegantíssima e Fon-fon; e Guarnieri –
Valsa nº 9 e Dansa brasileira. coreografia: Maurício de Oliveira. É Realizações promove eventos
Galeria Olido – Sala Paissandu. Entrada franca.
Igreja Nossa Senhora da Saúde. Entrada
franca. Reapresentação dias 10 e 11 às 20h00 e dia
12 às 19h00.
dedicados à obra de Wagner
20h00 CORAL EVANGÉLICO DE SÃO O espaço cultural É Realizações promove uma Semana Richard
20h30 CORO DE CÂMARA DA OSESP
PAULO Regente: Naomi Munakata. Programa: Wagner intitulada “Tristão e Isolda: perspectivas musicais, filosóficas e
Concerto de Natal. Regente: Dorotéa Bach – Komm süsser Tod; Tavener – literárias”. Serão três atividades com diferentes abordagens da obra do
Kerr. Órgão: Nelson Silva. Programa: Hymn to The mother of God e The lamb; compositor alemão. A primeira delas, dia 9, é o recital “As canções de
obras de Purcell, Gauntlett, Rutter, Duruflé – Ubi caritas; Byrd – Ave verum Richard Wagner e algumas árias”, com a mezzo soprano Angela Diel e o
Adam, Cruger e Händel, entre outros. corpus; Pärt – Da pacem Domine; Ligeti pianista Paulo Gazzaneo.
Hospital Santa Catarina – Teatro. Entrada
franca.
– Éjszaka; Rheinberger – Abendlied; Gil/ Dia 10 acontece o lançamento da edição brasileira do livro “Coração
Caymmi – Bom dia; Escobar – Flora, cinco devotado à morte”, de Roger Scruton, filósofo e escritor inglês que é au-
20h30 AUDI COELUM canções de amor; Ronaldo Miranda –
tor de numerosos livros sobre filosofia, além de romances e duas óperas.
400 anos do Vespro de Monteverdi. Suíte nordestina; Bruckner – Virga Jesse;
Regente: Roberto Rodrigues. Canção alemã – In dulci jubilo; Caldas/ O evento contará com uma palestra de João Cezar de Castro Rocha.
Programa: Monteverdi – Vespro della Cavalcanti – Noite azul; Gruber – Noite Finalmente, no dia 18, um curso de quatro horas ministrado por
beata vergine. feliz. Sergio Molina promoverá uma análise da ópera Tristão e Isolda, uma das
Capela do Colégio Sion. Entrada franca. Instituto Tomie Ohtake. Entrada franca. grandes obras de Wagner.
DIVULGAÇÃO
20h30 BRECHT & BRASIS Sala São Paulo. De R$ 40 a R$ 50.
Com Leonardo Fernandes – direção cional concerto de Na-
musical e piano, Luciene Weiland – 16h00 CORAL tal que encerra a tempo-
concepção geral e soprano, Martins Grupo Infanto-juvenil do Guri Santa rada musical da Funda-
Willy – sopros, Sandro Bodilon – ba- Marcelina. ção Maria Luisa e Oscar
rítono, Adriano Honoráti – coreógrafo Igreja São Luís Gonzaga.
Americano traz como
e bailarino, e Ibeiji Weiland, Sophia
Vlieger e Ana Carolina – atrizes mirins. 16h30 ORQUESTRA SINFÔNICA DO atração a Sinfônica He-
Programa: canções escritas por Brecht e ESTADO DE SÃO PAULO liópolis. Sob regência de
musicadas por Kurt Weill e Hanns Eisler; Regente: Yan Pascal Tortelier. Edilson Ventureli, a sin-
e obras de Chico Buarque, Mignone, Programa: Bruckner – Sinfonia nº 9 fônica mostrará obras
Tavares e Villa-Lobos. Direção artística e WAB 109, Inacabada. Leia mais na de Leonard Bernstein,
iluminação: Arnaldo D’Ávila. Coreografia: pág. 32. Villa-Lobos e uma suíte de obras natalinas orquestradas pelo maestro
Luiz Anastácio e Daiane Ciríaco. Sala São Paulo. R$ 36 a R$ 122.
Roberto Tibiriçá, titular e diretor artístico do grupo.
Oficina Cultural Amácio Mazzaropi. R$ 10.
17h00 COLLEGIUM MUSICUM DE SÃO Criada e mantida pelo Instituto Baccarelli, a Sinfônica Heliópolis
21h00 ORQUESTRA SINFÔNICA DO PAULO promove a prática orquestral e o conhecimento do repertório sinfônico
ESTADO DE SÃO PAULO Veja detalhes dia 17 às 21h00. a jovens da comunidade de Heliópolis, onde está sediada, bem como a
Regente: Yan Pascal Tortelier. Auditório Ibirapuera – Foyer. Entrada franca. interessados de outras regiões. Ao mesmo tempo em que aprimora seu
Programa: Bruckner – Sinfonia nº 9 nível artístico, a orquestra vem conquistando apoio e admiração nacio-
WAB 109, Inacabada. Leia mais na 17h00 Balé O QUEBRA-NOZES, de
nal e internacional e tem se apresentado em palcos do Brasil e da Europa,
pág. 32. Tchaikovsky
Veja detalhes dia 8 às 21h00. de onde acaba de retornar de uma importante turnê.
Sala São Paulo. R$ 36 a R$ 122.
Reapresentação dia 18 às 16h30. Teatro Alfa. R$ 60 e R$ 90. Reapresentação
às 21h00. Dias 2, 3 e 4, Masp
21h00 Balé GISELLE, de Adam
Balé da Cidade de São Paulo e 20h00 TRIO IMAGES e REGINA ELENA USP promove Festival Comunicantus
Orquestra Experimental de Repertório. MESQUITA – mezzo soprano
Sesi Música. Série Poemas e com- O Comunicantus, laboratório coral do Departamento de Música da
Regente: Jamil Maluf. Coreógrafo
posições. Com Achille Picchi – piano, ECA-USP, completa 10 anos em 2011. Mas as festividades já se iniciam
e diretor assistente: Luiz Fernando
Bongiovanni. Leia mais na pág. 34. Cecília Guida – violino e Henrique neste mês, com o Festival Comunicantus de Corais 2010, promovido pe-
Auditório Ibirapuera. R$ 30. Reapresentação Muller – viola. Programa: Bartók – los professores Marco Antonio da Silva Ramos e Susana Igayara.
dia 18 às 21h00 e dia 19 às 19h00. Cinco danças para violino e viola; O evento acontece dias 2, 3 e 4 no Masp com apresentações de
Arutiunian – Suíte Dança armênia; dez coros da cidade de São Paulo. Diversificado, o repertório desta edi-
21h00 CORAL PAULISTANO Khachaturian – Valsa da suíte ção inclui peças de Johannes Brahms, música popular brasileira, música
Concerto de Natal. Regente: Thiago Masquerade; Martin – Trio sobre
Pinheiro.
japonesa com instrumentos tradicionais e grandes obras do repertório
melodias irlandesas e Giga; Matos
Teatro João Caetano. Entrada franca. Rodrigues – La cumparsita; Piazzolla internacional, como o Glória de Vivaldi e o Réquiem de Fauré.
Reapresentação dia 18 às 21h00 e dia 19 às – Milonga; e De Falla – El amor brujo. Entre os grupos convidados estão o CoralUSP, que apresenta música
19h00. espanhola no dia 4, o Coral do Tribunal de Contas do Município de São
Teatro do Sesi de São Bernardo do Campo.
Cimarosa – Magnificat; e canções Igreja São João Batista. Reapresentação dia última apresentação da série Violão
tradicionais natalinas. Leia mais 19 às 11h00 na Igreja São Luís.
Sinfônico. Dia 8, no Sesc Santana,
na pág. 40.
Memorial da América Latina – Auditório 21h00 Balé GISELLE, de Adam a Orquestra Metropolitana, sob di-
Simón Bolívar. Entrada franca. Reapresentação Veja detalhes dia 17 às 21h00. reção de Rodrigo Vitta, acompanha
dia 18 às 17h00 no Auditório Ibirapuera – Foyer. Auditório Ibirapuera. R$ 30. Reapresentação Alvaro Pierri, violonista uruguaio
dia 19 às 19h00. radicado em Viena e que é conside-
21h30 Balé O QUEBRA-NOZES, de
rado um dos grandes nomes do ins-
Tchaikovsky 21h00 CORAL PAULISTANO
Veja detalhes dia 8 às 21h00.
trumento na atualidade. O programa
Concerto de Natal. Regente: Thiago
Teatro Alfa. R$ 60 e R$ 90. Reapresentação será dedicado a obras do compositor
Pinheiro.
até dia 19.
Teatro João Caetano. Entrada franca. mexicano Manuel Ponce, incluindo Alvaro Pierri
Reapresentação dia 19 às 19h00. o famoso Concierto del sur.
Com curadoria do professor Henrique Pinto – recentemente faleci-
18 SÁBADO 21h00 Balé O QUEBRA-NOZES, de do e um dos maiores mestres do violão no Brasil (leia matéria de Sidney
Tchaikovsky Molina na página 10) – a série Violão Sinfônico levou ao palco do Sesc
11h00 ESPECIAL DE NATAL Veja detalhes dia 8 às 21h00. artistas de destaque como Fábio Zanon e Mario Ulloa. A direção musical,
Aprendiz de Maestro. Sinfonieta Tucca Teatro Alfa. R$ 60 e R$ 90. Reapresentação
Fortíssima e Andréa Bassitt – atriz. dia 19. arranjos e regência são do maestro Rodrigo Vitta.
DIVULGAÇÃO
– soprano, Ivone Assis Campos – con-
tralto, Michel Maluf – tenor, Leonardo
12h30 IVANA MARIJA VIDOVIC – Correia – baixo e Regina Tatagiba
piano – piano. Programa: obras de Adolph
Música no Museu. Programa: obras Adam, Gounod, Irving Berlin, Keith
de Chopin, Albéniz, Schumann e Ferguson e Bruce Gree, Händel, entre
Pejacevic. Leia mais na pág. 44. outros.
Museu da República. Entrada franca. Lagoa – Jardim de Alah. Entrada franca.
Roberto Minczuk
18h30 CORO DE CÂMARA DO CEIM 20h00 JOSÉ STANECK – gaita e
Dia 8, Sala Baden Powell / Dia 15, Auditório BNDES / Dias 18 e 19, Teatro Municipal
Série UFF – Ação Musical. Regente: FLÁVIO AUGUSTO – piano
OSB finaliza temporada 2010 Luiz Carlos F. Peçanha. Programa:
Padre José Maurício – Sepulto e
Série Melhores de Baden. Programa:
Villa-Lobos – Trechos das Bachianas
com Mahler e Beethoven Domine tu mihi lavas pedes; Gastoldi
– Viver lieto voglio e L’inammorato;
brasileiras nºs 4, 5 e 2.
Sala Baden Powell. R$ 30.
Encerrando sua temporada 2010, a Orquestra Sinfônica Brasileira Schumann – Der Traum; entre outros.
apresenta-se no Teatro Municipal dias 18 e 19. Sob regência do ma- Centro Cultural Justiça Federal. Entrada 20h00 MARCOS LEITE – piano
franca. Programa: obras de Nazareth.
estro titular Roberto Minczuk, a OSB homenageia Gustav Mahler, por
Clube Canto do Rio. Entrada franca.
ocasião dos 150 anos de seu nascimento, interpretando o ciclo de can-
ções Lieder eines fahrenden Gesellen, bem como duas canções do ciclo
2 QUINTA-FEIRA
Des Knaben Wunderhorn. A última peça do programa, no entanto, é de 4 SÁBADO
12h30 MARINA CONSIDERA –
Beethoven: o quarto e último movimento da Sinfonia nº 9, que conta soprano e ELIARA PUGGINA – piano
com a participação de coro e solistas e é uma das mais conhecidas do 09h00 SEMIFINAL DO CONCURSO
Música no Museu. Programa: obras de JOVENS MÚSICOS
repertório sinfônico. A soprano Eiko Senda, a mezzo Denise de Freitas, Brahms, Villa-Lobos, Mozart, Puccini Música no Museu.
o tenor Atalla Ayan e o baixo-barítono Russell Braun são os solistas con- e Verdi. Museu de Arte Moderna. Entrada franca.
vidados, ao lado do Coro Sinfônico do Rio de Janeiro. Museu Nacional de Belas Artes. Entrada
franca.
Além desse grande concerto de encerramento, a Sinfônica Brasileira 16h00 ORQUESTRA PETROBRAS
faz dois concertos de câmara. Dia 8 um quarteto de cordas formado SINFÔNICA
18h00 ORQUESTRA DE CORDAS DA
por músicos da orquestra interpreta obras de Juan Crisóstomo Arriaga e Série Mestre Athayde VIII. Regente:
GROTA
Ernani Aguiar. Solista: Quarteto
Alexander Borodin. E, no dia 15, outro grupo de músicos interpreta Till Série Sessão de Música. Programa:
Radamés Gnattali. Programa:
Eulenspiegel, de Strauss, e o Octeto D. 803 de Franz Schubert. canções natalinas.
Mendelssohn – Sinfonia nº 8; Santoro
Centro Cultural Justiça Federal. R$ 1.
– Concerto para quarteto de cordas e
Dias 7 e 21, Centro Cultural Banco do Brasil 19h30 DANIEL GUEDES – violino e orquestra; e Ernani Aguiar – Abertura
MARIO ULLOA – violão quarta. Leia mais na pág. 44.
CCBB fecha série sobre piano Série Música de Primeira. Participação:
Igreja da Ressurreição.
DIVULGAÇÃO
Entrada franca.
ORSSE. Programa: canções natalinas.
tro oportunidades de assistir à Orques- Palácio Olímpio Campos – Tel. (79) 3198-1461.
tra Filarmônica de Minas Gerais em 04/12 15h00 QUINTETO DE CORDAS
apresentações variadas. A temporada 22/12 20h30 ORQUESTRA SINFÔNICA DA ORQUESTRA FILARMÔNICA DE
MINAS GERAIS
2010 se encerra no dia 16 em concer- DE SERGIPE
Regente: Guilherme Mannis. Solistas: Concerto de Câmara. Com Ayume
to da série Allegro, no Grande Teatro Shigeta – piano, Byron Hitchcock e
do Palácio das Artes. Sob regência de Gabriella Pace – soprano, Marconi
Araújo – contratenor, Sebastião Eliseu Barros – violinos, Nathan Medina
Fabio Mechetti, o programa homena- – viola e Matthew Rian-Kelzenberg
Teixeira – barítono e Amaral Vieira –
geia o nascimento de três grandes com- piano. Participação: Coro Sinfônico da – violoncelo. Programa: Schumann –
positores celebrados ao longo do ano: ORSSE. Programa: Mozart – Concerto Quinteto op. 44 e Brahms – Quinteto
Händel, com a abertura da obra Bere- para piano nº 23 e Carl Orff – Carmina op. 34.
Museu e Jardim Botânico Inhotim – Tel. (31)
nice, Schumann, com a Sinfonia nº 4, Burana. Leia mais na pág. 48. 3227 0001. Entrada franca.
e Mahler, com a Sinfonia nº1, “Titã”. Teatro Tobias Barreto – Tel. (79) 3179-1491.
Antes disso, três diferentes apre- Fabio Mechetti 05/12 11h00 ORQUESTRA
sentações envolvem a orquestra mi- ARARAQUARA, SP FILARMÔNICA DE MINAS GERAIS
neira. Dia 2, quatro jovens regentes brasileiros selecionados para par- Concertos para a Juventude. Regente:
ticipar do Laboratório de Regência dividem a direção da orquestra com 10/12 20h00 TRIO IMAGES Marcelo Lehninger. Programa:
Sesi Música. Série Poemas e Tchaikovsky: Suíte nº 1 de O Quebra-
obras de Brahms, Beethoven, Berlioz e Ravel. Iniciativa inédita, o projeto
Composições. Com Cecília Guida – vio- Nozes e Marcha Eslava e Glinka –
dá a jovens regentes a oportunidade de lidar com uma orquestra profis- Abertura de Ruslan e Ludmila.
sional, sob orientação do regente titular da Filarmônica, Fabio Mechetti. lino, Henrique Müller – viola e Aquile
Picchi – piano. Programa: Bartók – Cinco Teatro Klauss Vianna – Tel. (31) 3229- 3131. R$ 5.
O ano de 2010 marcou também a estreia dos Concertos de Câmara, danças para violino e viola; Arutiunian
uma iniciativa que tem o objetivo de fortalecer os diversos núcleos da – Suíte Dança Armênia; Khachaturian
13/12 20h30 Oratório O MESSIAS,
orquestra. O encerramento da série será com o Quarteto de Cordas com de Händel
– Valsa da Suíte Masquerade; Frank
Piano, dia 4, no Museu e Jardim Botânico Inhotim, em Brumadinho. Série de Concertos Tim. Coral Lírico de
Martin – Trio sobre melodias irlandesas
Minas Gerais e Orquestra Sinfônica
Já no dia 5, a Filarmônica de Minas volta a se apresentar nos Con- e Giga; Matos Rodrigues – La cumpa-
de Minas Gerais. Regente: Roberto
certos para a Juventude. Sob a direção do regente assistente Marcelo rista e Piazzolla – Milonga e As quatro
Tibiriçá. Leia mais ao lado.
Lehninger, os músicos interpretam um repertório russo. estações portenhas.
Palácio das Artes – Grande Teatro – Tel.
Teatro do Sesi – Tel.(16) 3337-3100.
(31) 3236-7400. Reapresentação dia 14.
Entrada franca.
R$ 10 e R$ 20.
Todos os textos e fotos publicados na seção “Gramophone” são de propriedade e copyright de Haymarket.
www.gramophone.co.uk Notas Sonoras
EM CONVERSA COM...
VLADIMIR JUROWSKI
O regente russo fala de como foi interpretar pela primeira
vez o épico britânico Os planetas
Qual é sua relação com Os planetas? rápidos que o usual.
É o meu primeiro contato com a obra – não tive a experiência Quis evitar que tocás-
de ouvi-la na infância ou de tocá-la em uma orquestra jovem. Eu semos do jeito que as
ouvia coisas completamente diferentes, que seguiam os passos orquestras britânicas
de Holst ou o precediam. Ele escreveu Os planetas com pleno vêm fazendo nos úl-
conhecimento da música escrita naquela época, particularmente timos 30 anos. Levou
da francesa e da russa. Sinto um forte sabor antigermânico em ter- tempo, mas a Filar-
mos artísticos, e há também cores que aproximam a obra do mun- mônica de Londres
do de Debussy e Ravel e, ao mesmo tempo, de Rimsky-Korsakov e foi absolutamente re-
Scriabin. Nunca pensei em fazer essa peça por causa daquilo que ceptiva. Eles acharam a velocidade difícil, contudo, fascinante.
chamam de tradições de performances – o que, aliás, afastou meu Disseram-me ter recebido a peça com ouvidos diferentes.
interesse durante muito tempo. Por ser tão popular, foi só quando
a Filarmônica de Londres me pediu para regê-la que eu a levei a Qual é sua opinião sobre a obra?
sério – e está sendo uma verdadeira revelação. Os planetas têm um lugar indubitavelmente firme no repertó-
rio. Não acho que seja uma grande obra – mesmo Holst não gos-
Como você abordou a obra? tava particularmente dela –, mas é colorida e excepcionalmente
Pode ser vantajoso não estar limitado por tradições, ao mesmo bem escrita, e sua importância na música britânica é comparável
tempo, é bom conhecê-las. Ouvi a gravação do próprio Holst, à de músicas de Rimsky-Korsakov como Sheherazade ou o Ca-
que foi uma experiência inspiradora. É uma abordagem muito priccio espagnol.
prática e bastante estimulante – os andamentos são bem mais (Leia comentário sobre o CD na próxima página.)
Plácido Domingo permanece como Graças a uma doação de quase 600 mil
diretor-geral da Ópera de Los Angeles libras, do Arts and Humanities Research
até 201�, com previsão de que, Council, um gênero de música medieval
depois disso, o contrato seja renovado não interpretado desde o século XIII
automaticamente, por consenso mútuo. será ressuscitado pela Universidade de
“Como artista comprometido com o Southampton. Conductus, estilo vocal
crescimento e o desenvolvimento que mescla poesia latina e música, estará
da Ópera de Los Angeles desde seus disponível na internet, pela Universidade
primeiros dias, acho minha posição aqui de Sydney, em forma de manuscrito e será
profundamente gratificante”, declarou. lançado em disco pela Hyperion.
SIM CANETTY-CLARKE, MARK HARRISON, OLAF HEINE/DG, MATHIAS BOTHOR/DG, NICOLAS RUEL
SZYMANOWSKI
Violin Concerto No 1. Symphony No �
Steve Davislim ten Christian Tetzlaff vn
Filarmônica de Viena / Pierre Boulez – DG
Já faz tempo que há uma curiosa falta de ligação entre a
imagem popular de Pierre Boulez – polêmico, inflexível, o
homem que um dia, celebremente, sugeriu que os teatros
de ópera deveriam ser explodidos – e a experiência que
dele tem a maioria das pessoas. Todos o descrevem como
uma pessoa charmosa e solícita. E não há nada de brutal
em seu fazer musical. Bem longe disso, como é atestado BARTÓK
por esse lançamento maravilhoso. Violin Concertos Nos 1 & 2
O 8�º aniversário de Boulez coincidiu com uma série de Arabella Steinbacher vn
cartas de amor gravadas para Szymanowski. Christian Orquestra da Suisse Romande / Marek Janowski
Tetzlaff é o solista no Primeiro concerto para violino, Pentatone
combinado com a Terceira sinfonia. O milagre dessas realizações é que elas conseguem ser a um Quando nosso crítico e editor contribuinte Rob Cowan
só tempo instigantes e inefavelmente ternas. Ambos os solistas de Boulez, Tetzlaff e o tenor Steve louva uma gravação nova desse repertório como
Davislim, refletem isso (apesar do estranho momento de tensão vocal de Davislim). O violinista se estando no mesmo nível de nomes como Gil Shaham
cobre de glória com uma leitura tecnicamente brilhante e profunda. e Thomas Zehetmair, a gente repara imediatamente.
Mas Boulez e a Filarmônica de Viena é que são o centro desse mundo. Essa orquestra, que às vezes É um disco deslumbrante. Steinbacher, sucessora
pode ser errática, encontra-se em um estado de espírito no qual parece ser capaz de produzir sons que de Julia Fischer no selo Pentatone, apresenta
ninguém mais poderia tentar. Seu jeito de tocar é de uma imaginação de tirar o fôlego. interpretações de poder detalhado e concentrado.
Trata-se de uma versão estimulante e Talvez você tenha que economizar A Naïve nos tem dado muitas des- sop Desdemona Orquestra Sinfônica
interessante. Jurowski é um regente para comprá-lo, mas um valioso cobertas. Aqui, um dos regentes que de Londres / Sir Colin Davis – LSO Live
que pensa, e você só precisa ouvir a conjunto de �2 discos contendo 11 regularmente atua na Vivaldi Edition, Talvez seja por eu ter estado no
maneira intrincada como ele relacio- performances ao vivo e inéditas do Rinaldo Alessandrini, nos introduz concerto, mas acho esse Otello tre-
na as seções em, digamos, “Júpiter” Met regidas por James Levine vai à obra até então negligenciada de mendamente empolgante. Enquanto
(antecipando momentos, depois deixar os fãs de ópera salivando. As Alessandro Melani. Trata-se de uma nosso crítico John Steane acha Davis
tomando longas pausas musicais) para minhas favoritas são um Wozzeck com descoberta que vale a pena de um muito duro, eu o considero uma força
compreender que vale uma escuta José Van Dam/Anja Silja e um Moses dos mais prolíficos e admirados inexorável da natureza. Simon O’Neill
atenta. A Filarmônica de Londres está und Aron com John Tomlinson e Philip compositores italianos do século XVI. canta lindamente e cresce em estatu-
incandescente em cor e energia. (Leia Langridge. Ah, e, se você quiser, tam- E esses tesouros musicais recebem ra, enquanto o Iago de Gerald Finley é
entrevista na página anterior.) bém foi lançada uma caixa de DVDs! performances dignas deles. magnificamente convincente.
�2 Dezembro 2010 CONCERTO Ouça trechos desses CDs no player da Gramophone em www.gramophone.co.uk
Diário
Tasmin Little
A violinista fala da realização do sonho de gravar o Concerto para violino de Elgar mais
de vinte anos depois de ouvir a obra pela primeira vez
C
resci em uma casa Ouvi falar de uma versão
em que muita música, da cadenza com harpa, que o
especialmente clássica, próprio Elgar havia gravado
era tocada, e grandes discos com a violinista Marie Hall, em
negros de vinil de Locatelli, uma época em que a engenharia
Delius e Szymanowski eram de gravação era bem mais
regularmente colocados na rudimentar e não permitia que
bela peça de mobiliário que detalhes como os pizzicatos
consistia no toca-discos da da cadenza fossem ouvidos.
família. Considerando isso e o Para celebrar o centenário da
fato de eu ter dez anos de Escola existência da obra, achei que
Yehudi Menuhin, fico surpresa seria um tributo adequado gravá-
de não ter ouvido o Concerto la e espero que as pessoas gostem
para violino de Elgar antes dos de ouvir esse pequeno “extra”.
vinte anos de idade. Hoje em
dia, ele está no repertório de Ouvi o concerto pela primeira
muitos violinistas, mas, no final vez em meados dos anos 1980
da minha adolescência, esse (como estudante, sem programa),
concerto simplesmente não era eu não sabia nada sobre a
tocado com regularidade nas peça nem sobre a inscrição
salas de concertos, e havia poucas espanhola secreta que se refere
gravações. “Há muitas encruzilhadas nas à alma feminina consagrada no
concerto. Contudo, o sensação
Já no começo da performance quais é fácil virar para o lado errado.” por trás da música foi tão óbvia
fiquei arrepiada e me faltou a para mim, que imediatamente
respiração. A dimensão da peça, senti a ânsia e a jornada que
por si, já era surpreendente paixão e sentido de unidade da demais e achava que tinha que havia. O primeiro movimento
– o mais longo concerto para interpretação de Sammons. conviver um bom tempo com chegou à selvagem conclusão,
violino que eu conhecia era o a obra antes de colocar minha o intimismo do movimento
de Beethoven, que dura cerca Fui convidada a tocar o interpretação em disco. Agora as lento se dissipou, e começou o
de 45 minutos. A apresentação concerto pela primeira vez em circunstâncias exatas coincidiram terceiro movimento. Quando o
ao vivo de Elgar que eu ouvi 1988, com a Royal Philharmonic e, neste ano, gravei o concerto concerto se aproximou daquilo
durava quase uma hora! Na Orchestra, regida por Yan Pascal em Glasgow, com Sir Andrew que eu sentia que devia ser a
verdade, hoje sou da opinião Tortelier. Comecei a prepará-lo Davis e a Royal Scottish National “reta final” – eu estava na ponta
de que aquele Elgar de uma muitos meses antes – eu sabia Orchestra. da cadeira –, ouvi, de repente, a
hora foi um exagero. Quando, que o Elgar seria um desafio obra dando um giro inesperado.
alguns anos mais tarde, fui para tocar, além de difícil de As sessões foram de alegria O som fantasmagórico de
apresentada à gravação de Albert decorar. Atualmente, embora absoluta. Mesmo em uma ponticello, violinos tremolando
Sammons, experimentei uma já o tenha tocado umas setenta sala vazia, com a pressão dos e estranhos “arranhões” de
performance completamente vezes, já o tenha decorado, há microfones e do relógio, o tempo pizzicato emergiam do palco à
diferente em estilo e duração. muitas encruzilhadas nas quais pode ser suspenso pela atmosfera medida que a linha do violino
Com 43 minutos, mais ou menos é fácil virar para o lado errado; de uma obra imortal. Conheço solo ondulava dentro e em volta
como Beethoven, o concerto soa então uma boa concentração é Andrew há muitos anos e, à da orquestra. A reaparição de
emocionante e mais satisfatório. fundamental. medida que trabalhamos juntos, material musical anterior da
As desvantagens são que algumas a espontaneidade cresceu e a obra deu-me a impressão de uma
passagens acabam tocadas em Sempre foi meu sonho peça se transformou. Nós não ideia fixa lutando para encontrar
velocidade arriscada e nem gravá-lo. Contudo, no começo calculamos antecipadamente paz. Finalmente a atmosfera se
sempre saem caprichadas. da carreira declinei de todas cada pequena frase – o fluxo e o elevou, e a obra precipitou-se
PAUL MITCHELL
Contudo, esses equívocos são as ofertas que tive para fazer a refluxo que são tão essenciais à na direção de sua triunfante
mais que compensados pela gravação. Eu me sentia jovem obra evoluíram naturalmente. conclusão. Que épico!
Em 17 de fevereiro de 1959,
Joan Sutherland fez sensação
como Lucia di Lammermoor,
no Convent Garden.
À direita, Sutherland com o
seu marido e regente favorito,
Richard Bonynge.
A mulher, a voz
Foi depois do papel de Lucia di Lammermoor que Joan Sutherland ficou marcada como La Stupenda.
Mas, como recorda John Steane, houve muitas outras performances no Covent Garden
que revelaram sua grandeza e o espírito humano, que fez dela, de acordo com Edward Greenfield,
que a conhecia bem, uma das sopranos mais amadas de todos os tempos
I
nicialmente, a conhecemos como um perfil, um queixo reto. Ela oscilante até que, lá no fim, Sutherland, no papel da Mulher Israelita,
estava lá em cima, com as ruidosas filhas de Wotan, sacudindo uma desequilibrou a balança com sua incandescente “Let the bright sera-
espada, e era a mais alta de todas. O queixo: mesmo sem a voz, phim”. Mas a Lucia di Lammermoor foi sensacional.
chamava a atenção (nenhuma das outras Valquírias ficaram na memória, Depois daquela noite, encontrei-me com Ted Greenfield que (a ser-
embora, consultando os livros, soube que eram Constance Shacklock, viço para o The Guardian em Westminster) não pudera comparecer. Ele
Edith Coates e Monica Sinclair). Os livros lembram-me também de que estava junto com um grupo de críticos que tinha acabado de sair do te-
essa não foi sua estreia. Tinha havido numerosas Aidas, nas quais, no atro. Oh, tinha sido “um sucesso”, sem dúvida, mas as aspas pesavam.
primeiro intervalo, alguns achavam que valia a “Moderado” era o veredito geral, e “aquela peruca
pena olhar no programa para prestar atenção no vermelha não parecia absurda?” foi uma das ob-
nome da Sacerdotisa que tinha entoado tão bem, servações. Depois, pude dizer a Ted que não le-
dos bastidores, tal canto místico. Um nome ainda vasse aquilo em conta. Tinha sido deslumbrante!
pouco familiar. Toda a caracterização fora de tocante dignidade. A
O queixo não assinalava a presença nessas beleza do som de Sutherland havia sido coroada
ocasiões, mas o fez quando ela apareceu como Lady com agudos gloriosos e, em termos de plenitude e
Rich em Gloriana. Sua voz carecia da agudeza de pureza, não consigo imaginar que alguém presen-
caráter que Jennifer Vyvyan trouxe ao papel, mas, te naquela noite tivesse ouvido alguma vez algo
meu Deus, que dó agudo! Aquilo, com certeza, era equivalente.
uma prova do que estava por vir. Foi o nascimento de La Stupenda. Um pou-
E mesmo essa não foi a primeira grande noi- co mais tarde, o primeiro recital pela Decca foi
te. Uma vez eu vim para a cidade e, cerca de uma testemunha fiel disso – exceto em um aspecto
hora antes de as cortinas subirem, comprei um importante. Não acho que qualquer gravação te-
ingresso para as galerias, por cerca de uma libra. nha feito justiça à intensidade daquela voz, seja
A ópera era Norma, e Norma era Maria Callas. naquela época ou mais tarde. E gravações pos-
Durante uns, digamos, 10 ou 15 minutos, ela teriores começaram a exagerar algumas caracte-
compartilhou o palco com a empregada Clotil- rísticas que incomodavam muito menos ao vivo.
de, que era Joan Sutherland. Lembro-me de duas As vogais arredondadas, frases com excessos de
coisas a respeito de meus sentimentos: uma foi inflexões e (eventuais) vibrações frouxas eram
minha grande indignação ao ler, na revista Opera
do mês seguinte, uma menção aos “sons trêmulos emitidos pela aten- “Fiquei surpreso com a ideia da Decca de escalar
dente em contraste com os sons firmes de sua patroa”. Minha impressão Joan Sutherland no papel-título de minha gravação
não tinha sido a mesma. Havia muita coisa para pensar naquela noite
(tinha sido a primeira vez em que eu ouvia tanto a ópera quanto sua hero- de Turandot, de Puccini. Eu tinha feito a ópera no
ína). Mas lembro-me de ter pensado, em determinado instante: “Nome teatro com Birgit Nilsson, então o que tinha em
famoso, nome desconhecido… será que a diferença é tão grande?”. mente era uma voz metálica. Contudo, embora
Da mesma maneira, alguns anos mais tarde, em 1955, em uma das
primeiras performances (talvez na estreia) de Midsummer Marriage, de Sutherland nunca tivesse cantado isso, eu sabia que
Tippett, perguntei-me, durante o solo de Jenifer no Ato 1, se eu já havia sua voz não era pequena e tinha uma característica
escutado coloratura cantada daquele modo. Em minha memória, cheguei dolce, então concordei. Ela estudou a parte com
até a estender a pergunta para gravações. Tetrazzini, Melba, Sembrich…
Mesmo com esses nomes sagrados em mente, eu achava difícil acreditar Richard Bonynge e, embora tenha sido um caminho
que frescor, plenitude e liberdade de som equivalentes aos da jovem Joan longo, conseguiu chegar lá. O dueto do último
Sutherland pudessem ter sido experimentados ou ultrapassados dentro ato foi o mais difícil – o estilo expressionista, pós-
dos limites daquela que eu ainda via como a Era de Ouro. Naquele tempo,
creio também tê-la ouvido como Pamina em A flauta mágica, Micaëla em romântico, não era natural para ela. Mas ela não
Carmen e Antonia em Os contos de Hoffmann. demonstrou medo. A única vez que a vi temerosa
Ela certamente já tinha se tornado uma cantora familiar e altamente foi anos antes, quando presenciei Sir John Barbirolli
JIMMY SIME/GETTY IMAGES
1926 Nascida em 7 de 1951 Deixa Sydney e vai 1952 Estreia no Covent Garden 1954 Casa-se com o regente 1955 Cria o papel de Jenifer em
novembro, em Sydney para Londres como a Primeira-Dama em australiano Richard Bonynge The Midsummer Marriage, de Tippett
A flauta mágica, de Mozart
1959 Causa sensação no papel- 1979 Recebe a ordem de cavalaria de 1988 Faz suas últimas performan- 1990 Despede-se dos palcos em 1991 Vence o primeiro
título da Lucia di Lammermoor, de DBE (Dame Commander of the British ces completas de ópera em Londres, O morcego, de Johann Strauss II, Gramophone Award pela
Donizetti, no Covent Garden Empire – Dama do Império Britânico) em Anna Bolena, de Donizetti no Covent Garden Realização da Carreira
Helio Mattar
T
enho 63 anos e sou viciado desde a mais tenra idade. Vício ainda que apreciadíssimos, a beleza para mim sempre esteve
em música, geneticamente herdado de minha mãe pianis- mais perto de um Concerto para violoncelo de Elgar tocado por
ta. Como todos os viciados, ao longo da vida tenho feito Jacqueline du Pré; das Variações Goldberg de Bach interpreta-
loucuras pela música. Quando adolescente, em vez de gastar das por Glenn Gould; dos Improptus de Schubert tocados por
minhas economias com namoradas ou com roupas da moda, eu Maria João Pires ou das canções de Chico Buarque na voz de
comprava discos. As grandes “bolachas” de vinil, que guardo até Mônica Salmaso.
hoje, aos milhares, à custa de muito espaço em minha casa. Minhas lembranças mais queridas, além das de pessoas
Na fase adulta, eu não trocava de carro todo ano, mas tro- amadas, estiveram sempre relacionadas à música: a ópera São
cava com frequência de aparelho de som. Não me contentava Francisco de Assis de Messiaen e Jessye Norman cantando
com os modelos nacionais, que pareciam medíocres aos meus Frauenliebe und Leben de Schumann em Salzburg; Nata-
ouvidos, cada vez mais sensíveis, mais exigentes da perfeição. lie Dessay em A filha do regimento no Metropolitan; Renné
Eu precisava de tecnologia de ponta. Fleming na Traviata; Arthur Rubinstein em São Francisco, em
Quando minha mulher me convidava para uma viagem uma de suas últimas apresentações; Alfred Brendel tocando a
romântica, para acampar na natureza selvagem, sem luz elétri- Sonata 960 de Schubert; Nelson Freire tocando o Concerto
ca, iluminados à noite apenas pela luz das estrelas, eu sempre nº 2 de Brahms; Sarah Vaughan cantando Misty em Montreal;
recusava. Se fico algum tempo sem a possibilidade de ouvir mú- o Réquiem de Mozart ouvido na Madeleine; a Pequena Missa
sica com um bom aparato tecnológico, sofro o que todo viciado Solene de Rossini com a Osesp na Sala São Paulo; Carmen
sofre: os terríveis efeitos da abstinência. Nas viagens que fiz pelo McRae cantando no Blue Note em Nova York; Oscar Peterson
mundo, o critério de escolha do país ou da cidade destino foi na Salle Pleyel em Paris.
sempre a qualidade da sala de concerto e da programação mu- Em vez de me aceitar dependente para me tratar do vício,
sical. Ir a Nova York fora da temporada de ópera, nem pensar! me confesso viciado e feliz. Sem a música, minha vida teria sido
Milão era uma cidade sempre incluída nas viagens à Itália, não um equívoco, como dizia Nietzsche, além de muito mais chata,
por ser minha preferida, mas para ouvir alguma ópera de Verdi muito menos emocionante e muito mais distante do sublime.
no maravilhoso Scala. Mais do que a Capela Sistina, a Vênus
de Milo, uma peça de Shakespeare ou um filme de Bergman, [Depoimento concedido a Marcos Fecchio.]