NOVIDADES DA LEI #13.465 Condomio de Lotes, Urbano Simples e de Acesso Controlado
NOVIDADES DA LEI #13.465 Condomio de Lotes, Urbano Simples e de Acesso Controlado
NOVIDADES DA LEI #13.465 Condomio de Lotes, Urbano Simples e de Acesso Controlado
Consultor Legislativo do Senado Federal na área de Direito Civil, Processo Civil e Direito Agrário.
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Ilana Trombka – Diretora-Geral dos autores e não representa posicionamento
oficial do Senado Federal.
CONSULTORIA LEGISLATIVA
Como citar este texto:
Danilo Augusto Barboza de Aguiar – Consultor-Geral
OLIVEIRA, C. E. E. de. Novidades da Lei
nº 13.465, de 2017: o condomínio de lotes, o
NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS condomínio urbano simples e o loteamento
de acesso controlado. Brasília: Núcleo de
Rafael Silveira e Silva – Coordenador
Estudos e Pesquisas/CONLEG/Senado, Julho/
Ricardo Koiti Koshimizu – Revisão 2017 (Texto para Discussão nº 239).
Disponível em: www.senado.leg.br/estudos.
João Cândido de Oliveira – Editoração Acesso em 14 de julho de 2017.
Contato:
[email protected]
URL: www.senado.leg.br/estudos
ISSN 1983-0645
NOVIDADES DA LEI Nº 13.465, DE 2017: O CONDOMÍNIO DE
LOTES, O CONDOMÍNIO URBANO SIMPLES E O LOTEAMENTO
DE ACESSO CONTROLADO1
RESUMO
Aproveitando-se da oportunidade de ter acompanhado as discussões ocorridas
durante o processo legislativo que desaguou na Lei nº 13.465, de 2017, o autor
discorre sobre as duas novas espécies de condomínio criadas por essa lei
(o condomínio de lotes e o condomínio urbano simples) e sobre uma nova espécie de
loteamento, o de acesso controlado. O autor aproveita para apontar que, na
sistemática atual, há três espécies de loteamento: o tradicional, o de acesso
controlado e o condominial. O “loteamento fechado” não é uma espécie de
loteamento, e sim um modo como uma das últimas espécies de loteamento podem se
configurar.
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Averbo meu agradecimento ao amigo Consultor Legislativo Victor Carvalho Pinto, um dos mais
talentosos urbanistas que conheço e que brindou este estudo com uma revisão tão rica.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1
2 ESPÉCIES DE CONDOMÍNIO ................................................................................ 2
2.1. NOÇÕES GERAIS ........................................................................................ 2
2.2. CONDOMÍNIO TRADICIONAL...................................................................... 2
2.3. CONDOMÍNIO EDILÍCIO .............................................................................. 3
2.4. REALIDADE A EXIGIR NOVAS ESPÉCIES DE CONDOMÍNIO DIANTE DO
FENÔMENO DO LOTEAMENTO FECHADO ................................................... 5
Há, porém, outras inovações trazidas pela Lei 13.465/17 que merecem ser
tratadas por representarem novidades expressivas no Direito Civil.
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Disponível em: https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos-
para-discussao/td238. Acesso em 14 de julho de 2017.
2 ESPÉCIES DE CONDOMÍNIO
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Em Direito de Família, a concepção imperante é a de condomínio de mãos juntas, de origem
germânica, na qual cada condômino não é titular de uma fração ideal, e sim de toda a coisa ao mesmo
tempo.
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texto relativo ao direito real de laje4, a diversidade de projeto de vida de cada um dos
condôminos sempre é um tonel cheio de pólvora cujo ansioso pavio está à espera de ser
acendido por uma faísca de um pequeno desentendimento.
Alerte-se que essa vinculação da unidade privativa a uma fração ideal do solo e
das áreas comuns constitui uma situação jurídica propter rem. Isso significa que essa
situação jurídica não depende da pessoa que seja a proprietário do bem, e sim apenas da
própria existência do bem. Em outras palavras, quem adquirir a propriedade da unidade
privativa necessariamente adquire a propriedade da respectiva fração ideal do solo e das
áreas comuns.
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Disponível em: https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos-
para-discussao/td238. Acesso em 14 de julho de 2017.
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O condomínio edilício pode ser horizontal ou vertical. Embora haja certa
controvérsia nessa classificação, parece-nos que a concepção de Caio Mário da Silva
Pereira é a mais adequada. O condomínio horizontal é aquele em que as unidades
autônomas são separadas por planos virtuais horizontais, razão por que também pode
ser chamada de condomínio em planos horizontais. Isso significa que os famosos
condomínios em prédios de apartamentos de vários andares representam um
condomínio horizontal, pois os andares são separados por planos virtuais horizontais.
Por outro lado, o condomínio vertical ou em planos verticais é aquele cujas unidades
privativas são separadas por planos virtuais verticais. Trata-se dos famosos condomínios
de casas.
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2.4. REALIDADE A EXIGIR NOVAS ESPÉCIES DE CONDOMÍNIO DIANTE DO
FENÔMENO DO LOTEAMENTO FECHADO
O Direito nasce dos fatos, diziam os romanos (ex facto oritur ius). A realidade
fática é que impulsiona o Direito. E, para lembrar o jurista francês George Ripert,
“quando o Direito ignora a realidade, a realidade se vinga, ignorando o Direito”.
A sabedoria popular não é diferente quanto à inevitabilidade de alguns fatos concretos
diante da omissão do Direito e está expressa até em músicas, como neste excerto da
música “O que será (a flor da terra)”, de Chico Buarque:
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desmembramento. Quando, porém, se criam vias de circulação, o parcelamento é
designado de loteamento (art. 2º, Lei 6.766/1979).
Daí decorre que, por exemplo, a Lei de Loteamentos veda criação de lotes em
tamanho inferior à fração mínima de parcelamento (art. 4º, II), a fim de evitar imóveis
sem adequado potencial de aproveitamento.
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circulação. As cidades não podem ser compostas por vários “feudos murados” que
dificultem o trânsito de veículos e de pessoas.
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O fato é que a linha conceitual divisória entre essas figuras realmente não é clara
no texto da legislação, o que fez com que, em diversos casos, a figura do “loteamento
fechado” recebesse ares de juridicidade por meio da utilização indevida das regras do
condomínio horizontal (de casas). Houve até mesmo a edição de leis municipais
autorizando esse tipo de solução jurídica precária.
3.1. DEFINIÇÕES
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mais é do um desdobramento do condomínio edilício vertical (o de casas) de que tratava
o art. 8º da Lei 4.591/2017. O Código Civil disciplina a matéria em apenas um artigo, o
art.1.358-A.
Lembre-se de que condomínio edilício vertical (o de casas) não cria lotes, e sim
unidades imobiliárias vinculadas a uma fração ideal do solo e das áreas comuns. Essas
unidades autônomas consistem necessariamente em construções existentes, e não em
meros lotes avulsos. Observe-se que a alínea a do art. 8º da Lei 4.591/64 estabelece que
o condomínio edilício vertical envolve “unidades autônomas que se constituírem em
casas térreas ou assobradadas”.
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3.3. OBRAS DE INFRAESTRUTURA
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É evidente que abusos de direito na convenção devem ser tidos por nulos.
Assim, se a convenção proíbe que os condôminos hospedem crianças e até mesmo
animais de estimação, estaremos diante de regras que excedem os limites da boa-fé, dos
bons costumes e dos fins sociais e econômicos do direito, a configurar um abuso de
direito e a atrair a nulidade da cláusula convencional (arts. 166 e 187 do CC).
O lote continua sendo um imóvel próprio, com direito a uma matrícula própria
no Cartório de Imóveis, em observância ao princípio da unitariedade matricial. Todavia,
o conceito de lote se ampliou.
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Seja como for, entendemos que a Lei 4.591/64 deve ser aplicada para suprir
lacunas da Lei de Loteamentos. Em outras palavras, a sua aplicação deve ser
subsidiária. Por exemplo, a Lei de Incorporação prevê o “patrimônio de afetação” no
seu art. 31-A como um modo de proteção aos adquirentes de futuras unidades
autônomas, figura essa que deve ser admitida para suprir lacunas da Lei de
Loteamentos. Igualmente, ao tratar dos documentos obrigatórios a serem apresentados
pelo incorporador, o art. 32 da Lei 4.591/64 lista documentos não previstos no catálogo
de documentos a serem apresentados pelo loteador na forma do art. 18 da Lei de
Loteamentos, a exemplo da “futura Convenção de condomínio que regerá a edificação
ou o conjunto de edificações” (alínea j do art. 32 da Lei 6.766/79). Convém que a Lei de
Incorporação supra essa lacuna da Lei de Loteamentos.
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do interesse público. O referido dispositivo, no seu afã didático, deu exemplos, como a
possibilidade de instituição de servidão de passagem, direito real de usufruto ou a
imposição de restrições à construção de muros.
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alguma associação de moradores. Cumprirá ao Município regulamentar esse
procedimento de seleção do representante dos moradores, mas é certo que uma
associação que reúna parcela substancial dos moradores deve ser admitida como
legitimada a receber a autorização municipal para promover o controle de acesso.
O que o art. 2º, § 8º, da Lei 6.766/79 deixou claro é que jamais poderá ser
bloqueado o acesso de veículo algum ou de pessoa alguma, se o condutor ou o pedestre
se identificar e autorizar o seu cadastramento. Há o interesse público de impedir a
feudalização das cidades e o atordoamento do fluxo de veículos e de pessoas por conta
de bloqueios indevidos à circulação em vias públicas.
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A figura do “loteamento fechado” não é uma categoria jurídica autônoma, mas
apenas uma nomenclatura didática e popular para designar os loteamentos que são
murados e que impõem controle de acessos a pedestres e a veículos. Portanto, o
loteamento de acesso controlado é um loteamento fechado e o loteamento condominial
poderá vir a ser considerado um loteamento fechado, caso os condôminos assim
decidam coletivamente e caso inexista restrição imposta pelo Município.
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4 CONDOMÍNIO URBANO SIMPLES
Uma nova forma de condomínio foi criada e, por atecnia topológica, não foi
inserida no Código Civil. Trata-se do condomínio urbano simples, cuja disciplina está
nos arts. 61 a 63 da Lei 12.465/2017.
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Como se trata de um condomínio, cada construção constituirá uma unidade
imobiliária autônoma e, portanto, terá uma matrícula própria no Cartório de Imóveis.
Além do mais, cada unidade autônoma deve ficar vinculada a uma fração ideal das áreas
comuns, à semelhança do que sucede no condomínio edilício.
Apesar da omissão legal, mas em atenção à simplicidade desejada para esse tipo
de arranjo espacial, o registro desses acordos no Cartório de Imóveis (não na matrícula,
e sim no Livro 3) é dispensado. Todavia, terceiros adquirentes que não tenham ciência
desses acordos por outro meio estarão exonerados de observá-los. Em outras palavras,
esses acordos escritos serão oponíveis a terceiros apenas se eles tomarem ciência deles
antes da aquisição de uma unidade autônoma. Entendemos que, apesar de não ter sido
feita nenhuma previsão expressa no art. 178 da Lei de Registros Públicos
(Lei 6.015/1973), esses acordos escritos devem ser equiparados às convenções de
condomínio com fundamento no parágrafo único do art. 61 da Lei 13.465/2017, de sorte
que, com base nesse fundamento, seria admitido o seu registro de modo facultativo no
Livro 3 do Cartório de Imóveis para, se for interesse dos condôminos, produzir efeitos
perante terceiros (art. 178, III, da Lei de Registros Públicos).
Não havendo acordo entre os condôminos, aí será o caso de valer-se das regras
de condomínio edilício previstas a partir do art. 1.331 do CC para que, em assembleia, a
decisão observe o quorum de votação.
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Por fim, externamos nossa crítica ao nome de batismo utilizado, pois o mais
adequado teria sido designar essa nova espécie de condomínio como “condomínio
edilício simples”. Dever-se-ia empregar o verbete “edilício”, pois, na realidade, essa
figura é o condomínio edilício com simplificações legais. Também não achamos
adequado valer-se do verbete “urbano” na composição do nome, pois o instituto
poderia, no futuro, ser aproveitado para áreas rurais também, se sobrevier lei expressa.
Aliás, não enxergamos motivos para o legislador ter restringido essa figura a áreas
urbanas. Talvez seja o caso de a doutrina, por analogia, admitir essa figura mesmo em
áreas rurais.
5 CONCLUSÃO
A Lei nº 13.465, de 2017 está a desafiar os civilistas com novas ferramentas e
concepções de Direito das Coisas. No presente texto, cuidamos especificamente das
novas espécies de condomínios e dos seus desdobramentos no regime de parcelamento
do solo.
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POSNER, Richard. Para Além do Direito. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.
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