Paredos e o Exu Pessoal

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 10

ARTIGO DO

CURSO DE FILOSOFIA OCULTA

O PAREDROS & O EXU PESSOAL


DA SÉRIE: O ESPÍRITO DE SÃO CIPRIANO

CIPRIANO O MAGO
Autor: Romario Romis
O desejo de se comunicar com os espíritos é mais antigo que a his-
tória; relacionado com princípios indeléveis da natureza humana
[...] e as tentativas de satisfazer esse desejo geralmente tomam
uma forma que traz um grande ultraje a razão. [...] A constância da
reiteração [da conjuração] feita com frequência aumenta sua au-
toridade e poder, e acomete o terror nos espíritos, submetendo-os
a obediência. [...] No Egito, na Índia e na Grécia, não se lidava com
diabos como no cristianismo; Typhon, Juggernaut e Hécate não
eram divindades inferiores, mas sim deuses absolutos, e o ofício
de Canídia era em sua maneira tão sagrado como os pacíficos mis-
térios de Ceres.1

O espírito assentado deixa de ser um mero «falangeiro» e torna-se


um Mestre pessoal, responsável pelo desenvolvimento do adepto.
[...] Um adepto não precisa ter muitas «linhas» para se desenvol-
ver e sim, um único e grandioso Mestre que corra todos os Reinos
e o ampare em sua jornada.2

Nas mais antigas versões de histórias sobre espíritos familiares,


nós somos orientados a não ouvi-los e segui-los cegamente, mas
ao invés disso, a estabelecer uma relação com os espíritos, o que
nos ajuda, com suas orientações, a estabelecer nosso compasso in-
terno.3

A história da magia no Ocidente é em grande medida uma história


focada na intervenção dos espíritos e dispositivos [mágicos]. A
maior parte de nossos registros históricos, dos grimórios a estu-
dos acadêmicos modernos, examina um tipo de magia que é ope-
rado abaixo do nível do adepto. Aqui encontramos o mago estabe-
lecido com lamens, anéis, sigilos e livros; seu corpo adornado com
vestimenta [cerimonial], ferramentas e toda uma parafernália que
possibilita a intervenção dos espíritos. Cada um desses dispositi-
vos é uma lição da arte. Quando criados pelo mago e trazidos a vi-
da por meio do contato com os espíritos podem se tornar podero-
sos artefatos com laços autênticos com os espíritos. [...] Se nós
começarmos a traçar o registro histórico da tradição ocidental de
magia ritual até os antigos reinos da Grécia, Caldeia ou Egito, rapi-
damente perceberemos que o poder do mago reside na sua versa-
tilidade e capacidade de se comunicar com uma quantidade varia-
da de criaturas espirituais. [...] A magia que ele opera é mais um
ato de mediação do que de desempenho próprio. Seja mediando
anjos, demônios ou deidades, o antigo ritual de magia requer uma
criatura espiritual trabalhando em função do mago no reino [da
geração]. [...] O mago e suas ferramentas nesse contexto são meros
portais das forças que passam através deles.4

Nos anos recentes a magia mudou. Nós tivemos uma explosão de


publicações de textos tradicionais da magia europeia. Muitos ma-
gistas tiveram acesso a tradições vivas da magia. Nós vimos as
tradições mágicas que foram obscurecidas pela tradição moderna

1 Arthur Edward Waite, O LIVRO DA MAGIA NEGRA E DOS PACTOS. Via Sestra, 2018. Os colchetes são meus.
2 Danilo Coppini, QUIMBANDA: O CULTO DA CHAMA VERMELHA E PRETA. Via Sestra, 2019.
3 Maja D’Aoust, FAMILIARS IN WITCHCRAFT. Destiny Books, 2019.
4 Frater Acher, CYPRIAN OF ANTIOCH. Quereia Publishing, 2017. Os colchetes são meus.
[da magia]. Com essa consciência nós nos descobrimos em um
mundo vivo repleto de espíritos; espíritos que têm vivido podero-
samente, seres independentes que dão vida, dinamismo e poder a
magia.5

Não há dúvida de que existem os espíritos Bons e Maus; e que es-


tão em relacionamento com os homens; não há dúvida de que os
ditos espíritos estão dotados de uma inteligência soberana, posto
que a própria religião lhes dá o poder de tentar-nos, de induzir-
mos ao bem e ao mal; logo, se por meio da Magia pode o homem
pôr-se em relação com estes espíritos, esse homem logrará alcan-
çar a suprema sabedoria.6

Hécate, a deusa grega da feitiçaria, além de ser associada as en-


cruzilhadas, matas selvagens, espaços limiares, também está co-
nectada aos fantasmas, espíritos infernais e a necromancia. [...] A
diabolização da necromancia eventualmente levou-a a ser reno-
meada para nigromancia (divinação negra), posteriormente classi-
ficada como magia negra ou arte negra. Isso transformou a per-
cepção da arte, tornando-a sombria e relacionada ao diabo. [...]
Quando animais são sacrificados [cerimonialmente] [...] está práti-
ca atrai e alimenta os espíritos dos mortos, que vêm beber o fluído
da vida. [...] A arte da necromancia inclui o trabalho com ances-
trais, trabalho onírico, convocação de sombras, comunicação com
espíritos, e todas essas práticas combinadas para divinação, magia
e feitiços.7

A Magia é a arte de submeter às potências da natureza à vontade


humana. Entre essas potências há as entidades invisíveis, espíri-
tos, gênios e demônios evocados mediante fórmulas, orações, en-
cantamentos, talismãs, pantáculos, filtros e outros agentes natu-
rais.8

Qualquer definição acurada sobre magia deve envolver conceitos


como os de outros mundos, espíritos, daimones e deuses, porque
essa é a premissa pela qual muitos magistas operam.9

Cipriano deveria, em princípio, ser entendido como um guia para


aquela experiência maravilhosa quando o feiticeiro finalmente al-
cança o conhecimento e conversação com seu espírito patrono.10

Deve ser entendido que este [O LIVRO DE SÃO CIPRIANO], diferente de


outros grimórios, não é uma relíquia de um distante passado má-
gico, ele não é um livro antigo e morto que espera para ver a luz

5 BJ Swain, LIVING SPIRITS: A GUIDE TO MAGIC IN A WORLD OF SPIRITS. Publicação do autor, 2018. Os colchetes são
meus.
6 Jonas Sufurino em O LIVRO DE SÃO CIPRIANO: O TESOURO DO FEITICEIRO; veja THESAURUS MAGICUS, Vol. II. Humberto

Maggi, 2016, Clube de Autores.


7 Christopher Orapello e Tara-Love Maguire, BESOM, STANG & SWORD: A GUIDE TO TRADITIONAL WITCHCRAFT, THE SIX-

FOLD PATH & THE HIDDEN LANDSCAPE. Weiser Books, 2018.


8 Antônio Maria Ramalhete, O BREVIÁRIO DE SÃO CIPRIANO. Eco, 2016.
9 Stephen Skinner, TECHNIQUES OF GRAECO-EGYPTIAN MAGIC. Golden Hoard Press, 2014.
10 Humberto Maggi, SCIENTIA DIABOLICAM. Clube de Autores, 2018.
novamente através de um devotado magista. O LIVRO DE SÃO CIPRI-
ANO não se trata de um livro; ele não está localizado no tempo ou
no espaço. Como qualquer culto, ordem ou religião viva e ativa,
trata-se de um contínuo, uma corrente. Ele muda seu conteúdo
porque está vivo, porque é praticado e vivido em vários contextos
culturais, sociais e geográficos [...] [e] ele constantemente respon-
de as necessidades de seus leitores. Da costa da Catalunha a Al-
garve, da Ibéria rural ao nordeste do Brasil, dos terreiros de
Quimbanda e finalmente até as cidades, ele é em todo o sentido do
termo um livro de magia popular, um livro [de magia] para o povo.
[...] Ele vive a margem da sociedade, nas sombras, no limiar entre
religiosidade e heresia, virtude e vício. Como o próprio Santo, ele
vive naquela linha onde Deus e o Diabo se encontram. [...] Mas
como um contínuo, um ponto parece ser constante em suas edi-
ções, todas trazem a narrativa faustina.
[...] Este terceiro período [da tradição cipriânica] não pode ser
separado da efervescência mágico-religiosa da atmosfera Sul-
americana. Foi ali, num grande cadinho cultural de sangue branco,
negro e nativo-americano que as práticas da magia cipriânica fo-
ram revitalizadas e desenvolvidas para além dos princípios da
prática ibérica, afastando-se dos livros originais. Essa nova e im-
pressionante onda de práticas parece estar fazendo seu caminho
de retorno a Ibéria e Europa, seja através da imigração ou pelo in-
crível prestígio e reconhecimento das técnicas mágico-religiosas
Sul-americanas, colorindo e revitalizando antigos cultos cipriâni-
cos. Em teoria, devido a seu caráter altamente pragmático, estas
novas práticas revitalizadas poderão no futuro uma vez mais cris-
talizar uma nova ortodoxia cipriânica. Contudo, devido à possibi-
lidade de se estabelecer contato mediúnico com São Cipriano, um
constante fluxo de material novo e atualizado é estabelecido, fa-
zendo dele uma corrente viva, como uma vez o foi em um distante
passado da Ibéria.11

11 José Leitão, THE BOOK OF ST. CYPRIAN: THE SORCERER’S TREASURE. Hadean Press, 2014.
O PAREDROS & O EXU PESSOAL

P ara iniciarmos a presente discussão vamos começar pelas defini-


ções: 1. o paredros é qualquer espírito assistente (tutelar), seja um
espírito da natureza, a alma de um morto deificada (como os Exus
e Pombagiras da feitiçaria tradicional brasileira) ou deidades di-
versas, que inclui deuses e demônios; 2. o exu/pambagira pessoal (ou mes-
tre) é um ancestral, a alma de um morto deificada, dotada de sabedoria e
poder de magia; 3. o sagrado anjo guardião na tradição moderna da magia
trata-se de um anjo de Deus que acompanha a alma humana no curso de sua
encarnação no reino da geração; trata-se de uma evolução do conceito ou
ideia do paredros dentro de uma visão neoplatônica-cristã.
No Curso de Filosofia Oculta, no nosso primeiro ano de estudo, Módulo
1: Magia na Antiguidade, nós estamos nos debruçando sobre os primórdios
da magia goécia como compreendida e praticada na Antiguidade tardia e
cujo epicentro foi a magia hermética dos PAPIROS MÁGICOS GREGOS. Nas pri-
meiras lições nós chamamos atenção para a grande similaridade que existe
entre a magia dos papiros e a cabala crioula da África Setentrional. Nos pri-
meiros séculos de nossa era, a região do Mediterrâneo tornou-se um caldei-
rão fervilhante onde as culturas mágico-religiosas do Egito, Grécia e Roma se
encontraram com as culturas da Suméria, Babilônia, Acádia e Assíria. Todas
essas culturas e cultos mágico-teúrgicos influenciaram profundamente a
magia hermética dos papiros, que apresenta uma feitiçaria tipicamente goé-
tica: a conjuração de espíritos para diversos fins.
Nesses artigos que compõem a série O ESPÍRITO DE SÃO CIPRIANO, sempre
que toco no assunto defendo a feitiçaria tradicional brasileira como uma
herdeira genuína da feitiçaria dos PAPIROS MÁGICOS GREGOS. E como vimos em
A Influência Cipriânica na Quimbanda Brasileira, esse estilo de vida goético
que culminou na feitiçaria tradicional brasileira brasileira chegou ao Brasil
via Portugal no Séc. XVI, quando as primeiras feiticeiras condenadas e exila-
das pelo Santo Ofício começaram a aportar em nossas terras. A magia ibérica
daquele período já trazia uma grande influência da magia dos papiros, que
cruzava sistemas e tradições livremente, onde vemos cristianismo, judaísmo
e paganismo greco-egípcio misturados em feitiços diversos.

A maioria dos métodos e técnicas usados pelas bruxas dos tempos antigos tem pouca
semelhança com aqueles usados pelas bruxas neopagãs de hoje. Muitas vezes o povo
astuto praticava a observância da fé dual e os encantos, amuletos, orações e encanta-
mentos que eles usavam invocavam Jesus, a Virgem Maria, a Trindade e a companhia
dos santos. Os salmos eram usados para propósitos mágicos como feitiços e ainda es-
tão em alguns círculos de feitiçaria tradicionais modernos. Com a chegada da nova fé
do cristianismo e a supressão das antigas religiões pagãs, objetos como crucifixos,
medalhões dos santos, a hóstia e a água benta foram amplamente usados pelos magos
populares porque acreditavam possuir «virtude» ou energia mágica e poder de cura
inerente. O simbolismo cristão era usado em rituais de magia popular envolvendo pro-
teção psíquica, contra-magia e cura. Muitos dos antigos encantos pagãos foram cristi-
anizados e alguns dos santos assumiram os atributos anteriores de deuses e deusas
pagãos. As nascentes sagradas, anteriormente dedicadas às deusas, por exemplo, eram
voltadas para a Virgem Maria ou para as mulheres, como Winefrede ou Bride. Os en-
cantos de cura substituíram os nomes das divindades pagãs, como Woden, Loki e
Thor, pelos de Deus, de Jesus e do Espírito Santo. Muitos dos grimórios [medievais]
usados pelas bruxas e praticantes da magia popular também continham inevitavel-
mente o simbolismo judaico-cristão.
Algumas bruxas tradicionais modernas ainda seguem a observância da fé dupla u-
sando os salmos para propósitos mágicos, trabalhando com a companhia de santos e
empregando imagens cristãs, simbolismo e liturgia, muitas vezes de maneira herética
e subversiva. A bruxa neo-pagã fala de maneira que não prejudique ninguém, enquan-
to que a bruxa tradicional moderna – em comum com as astúcias das bruxas do passa-
do – pode tanto curar quanto amaldiçoar quando surgir a necessidade. Aqui a magia,
enquanto cristã, é indubitavelmente autêntica, e não um renascimento romântico. Prá-
ticas semelhantes podem ser encontradas no Vodu, Hoodoo, Santeria, Macumba, Ju-ju
e Obeah nas Américas e na África. Um modelo católico do universo, incluindo o céu, o
purgatório e o submundo, influenciou a aceitação congolesa e o uso do catolicismo em
suas práticas mágicas, como Palo Mayombe. É tão útil na necromancia ocidental.12

Mesmo tendo se apartado completamente da tradição judaico-cristã seguin-


do por uma via sinistra demoníaca e luciférica, a feitiçaria tradicional brasi-
leira veio deste berço e essa é a linha tênue através da qual a conecto com a
feitiçaria goética da Idade Média e Antiguidade tardia. Um dos fatores de e-
quivalência entre a feitiçaria dos papiros e a feitiçaria tradicional brasileira
está na doutrina do paredros, o espírito assistente. Nos PAPIROS MÁGICOS GRE-
GOS são listados tipos distintos de espíritos assistentes, dentre eles o paredoi,
o espírito assistente da alma de um defunto, quer dizer, um ancestral.
Na genuína tradição da magia, uma das etapas preliminares da carreira
mágico-iniciática é o conhecimento e a conversação com o espírito assisten-
te, pois é dele que provem todo poder e conhecimento que o mago apresenta
possuir. Ao mesmo tempo que ele é um instrutor espiritual, também é um
guardião, agente de destruição, de prosperidade material e, principalmente,
de salvação: o feiticeiro da Antiguidade era profundamente preocupado com
a deificação de sua alma. Obter o conhecimento e a conversação com o espí-
rito assistente, portanto, resolveria todos os seus problemas. Nós temos nos
debruçado profundamente na doutrina do paredros e aqui não é necessário
repetir as etapas do treinamento magístico que levam ao contato com ele.
Por agora, vamos comparar o papel do paredoi, o espírito assistente da alma
de um defunto com o Exu Pessoal (ou Exu Mestre) do feiticeiro-kimbanda.
Na feitiçaria tradicional brasileira o feiticeiro almeja alcançar por me-
recimento admissão na legião de Exus que compõem as colunas de V.S. Mai-
oral, Chefe Império dos Reinos Infernais de Exu. O feiticeiro-kimbanda solici-
ta a V.S. Maioral que lhe conceda um Exu Mentor que tanto lhe admite como
aluno, é agente de magia e guardião. Com seu auxílio, o feiticeiro almeja con-
quistar admissão às hordas de Exus e Pombagiras através de um trabalho de

12 Jake Stratton-Kent, THE TESTAMENT OF CYPRIAN THE MAGE. Scarlet Imprint, 2014. Os colchetes são meus.
profunda transformação espiritual. Para tal propósito o feiticeiro produz
uma alquimia em seu ochēma (corpo astral) de tal modo que ele se torna um
Ovo Negro. Essa alquimia quem opera é Exu com as vibrações emanadas do
Trono de V.S. Maioral e dos Sete Reinos Infernais da feitiçaria tradicional
brasileira: encruzilhadas, cruzeiros, almas, matas, cemitérios, lira e praias. O
Exu Pessoal do feiticeiro-kimbanda é o agente de comunicação e transmuta-
ção entre o ochēma do feiticeiro e as poderosas forças dos Sete Reinos de
Exus e Pombagiras. O glifo que representa essa alquimia negra da alma é a
imagem de Baphomet.

Baphomet por Asenat Manson.

Essa alquimia negra sobre a alma desperta suas potências. Como temos es-
tudado, um genuíno praticante do Caminho da Mão Esquerda não depende
das virtudes dos deuses em planos de luz e perfeição para agregar a sua al-
ma uma quantidade considerável de luz para torná-la um augoeides, quer
dizer, um Ovo de Luz luminoso e resplandecente. Através do veneno da ser-
pente o feiticeiro arranca das covas de sua alma suas potências inatas. Ele
caminha, portanto, sobre suas próprias pernas. Por outro lado, Exu é puro
dinamismo. Se há algo que Exu é inimigo, é a estagnação. É este dinamismo
que o Exu Pessoal compartilha com feiticeiro-kimbanda. Para cavar as pro-
fundezas obscuras da própria alma o feiticeiro-kimbanda precisa de intenso
ímpeto dinâmico. Compartilhando do poder dinâmico de seu Exu Pessoal, o
feiticeiro-kimbanda cava mais fundo as profundezas da alma, buscando o
despertar de sua Chama Negra.
A feitiçaria tradicional brasileira é, portanto, uma medicina para alma.
Através do contato com Exus e Pombagiras é possível despertar as potências
inatas da alma através de um processo de cura espiritual. Diferente da igno-
rância generalizada, a feitiçaria tradicional brasileira é uma Arte Negra que
opera uma alquimia na alma através da feitiçaria. Exus e Pombagiras podem
ser convocados para aniquilação de medos e traumas, para organização da
mente e cultivo da vontade, para libertação de vícios e maus hábitos, além de
agentes de magia para todos os fins, ataque, defesa, energização ou purifica-
ção.
Assim, na busca pela sabedoria e poder de seu Exu Pessoal o feiticeiro-
kimbanda se coloca na mesma jornada do feiticeiro dos papiros gregos; uma
jornada, no entanto, universal, típica da tradição da magia em culturas di-
versas. E como temos estudado, o mito de São Cipriano expressa essa busca
genuína de todo mago. Ao avaliarmos as funções do paredros e sua relação
com o feiticeiro nos papiros (I.42-195), temos:

1. Poder de causar invisibilidade.


2. Poder de libertar uma pessoa de amarras na prisão e abrir portas.
3. Poder de mudar a forma do mago para animais que voam, quadrúpe-
des e répteis.
4. Poder de elevar o mago aos céus.13
5. Poder de conferir ao mago riquezas.
6. Poder de ser adorado como um deus caso o mago tenha com esse
deus certa intimidade.
7. O paredros torna-se o companheiro do mago, vive, come e dorme com
ele.
8. O paredros revela com clareza tudo o que o mago precisa saber.
9. O paredros executa qualquer tarefa que o mago lhe apontar.
10. O paredros é um espírito aéreo, deslocando-se de um canto ao outro
da Terra.
11. O paredros é capaz de se manifestar como um animal aéreo ou aquáti-
co, réptil ou quadrúpede.
12. O paredros se apresenta com daimones para auxiliar o mago.

Muitas dessas funções atribuídas ao paredros como espírito assistente po-


dem ser relacionadas tanto a Exu quanto a Pombagira nos Sete Reinos da
feitiçaria tradicional brasileira.

13 Neste caso, elevar no ar significa levar a alma do mago para longe do cativeiro do submundo após a morte.
1. Poder de causar invisibilidade. O Exu Pessoal (ou outros Exus Patro-
nois) protege o feiticeiro-kimbanda com sua capa e tridente, escon-
dendo-o e protegendo-o de seus inimigos e desafetos.
2. Poder de libertar uma pessoa de amarras na prisão e abrir portas. O
Exu Pessoal protege o feiticeiro-kimbanda de prisões físicas ou psico-
sociais, libertando-o. Há muitas rezas de Exu para esse tipo de pro-
blema.
3. Poder de mudar a forma do mago para animais que voam, quadrúpedes
e répteis. Exu pode se metamorfosear em muitas formas. Por exemplo,
Exu Panteira Negra é um caboclo da mata que às vezes se manifesta
como uma pantera. Esse é um poder licantrópico de Exus e Pombagi-
ras. Este poder pode ser transferido ao feiticeiro-kimbanda que pode
a partir disso metamorfosear seu ochēma, tomando a forma de seus
animais de poder.
4. Poder de elevar o mago aos céus. Era uma crença na Antiguidade que o
paredros poderia auxiliar o mago na deificação de sua alma. Exu auxi-
lia na deificação da alma do feiticeiro-kimbanda, quando ele passa a
fazer parte das legiões de V.S. Maioral.
5. Poder de conferir ao mago riquezas. Os Exus e Pombagiras do reino da
lira (ou qualquer reino) podem auxiliar o feiticeiro-kimbanda a obter
conforto financeiro.
6. Poder de ser adorado como um deus caso o mago tenha com esse deus
certa intimidade. Essa é uma crença baseada na ideia de que o pare-
dros compartilha de seus poderes com o mago. Na Antiguidade, feitos
taumatúrgicos conferiam notoriedade, daí ser adorado como um deus.
Exus e Pombagiras compartilham de suas virtudes com o feiticeiro-
kimbanda.
7. O paredros torna-se o companheiro do mago, vive, come e dorme com
ele. Ao assentar Exus e Pombagiras em casa ou no templo, o feiticeiro-
kimbanda traz o espírito da legião para morar com ele. O espírito tor-
na-se, portanto, um familiar.
8. O paredros revela com clareza tudo o que o mago precisa saber. O Exu
Pessoal trabalha diretamente com o feiticeiro-kimbanda através de
oráculos como búzios, ossos e cartas.
9. O paredros executa qualquer tarefa que o mago lhe apontar. O Exu Pes-
soal ou outros Exus e Pombagiras patronos auxiliam e socorrem o fei-
ticeiro-kimbanda quando este necessita, seja para fins de alquimia na
alma ou magia de ataque e defesa.
10. O paredros é capaz de se manifestar como um animal aéreo ou aquáti-
co, réptil ou quadrúpede. Novamente, o poder licantrópico do Exu. Veja
no. 3 acima.
11. O paredros se apresenta com daimones para auxiliar o mago. Exus e
Pombagiras se apresentam com uma legião de espíritos para auxilia-
rem as demandas do feiticeiro-kimbanda.
Soldo: O Exu Pessoal da feitiçaria tradicional brasileira é o típico paredoi,
espírito assistente ancestral dos PAPIROS MÁGICOS GREGOS. Muito bem! Agora,
como estreitar laços com o Exu Pessoal? Através do treinamento e da prepa-
ração mediúnica, que pode conter elementos diversos trazidos de iniciações
anteriores. Por exemplo:

1. A construção de um terreiro astral metapsíquico dedicado a feitiçaria


tradicional brasileira e ao contato com o Exu Pessoal por meio da pro-
jeção e construção psicocriativa;
2. Através de práticas espirituais psicofisiológicas que purificam a qua-
lidade do ochēma;
3. Através de feitiçaria onírica para que o Exu Pessoal se manifeste em
sonhos;
4. Através de sacrifícios e arriamento de oferendas no templo, nas en-
cruzilhadas, nas matas etc.;
5. Através de giras de desenvolvimento;
6. Por meio do Caminho da Serpente ou Caminho do Veneno que consiste
na utilização de medicinas sagradas como a Jurema, Ayahuasca, Rapé
etc.

Laroyê Exu é Mojuba!

Fernando de Ligório
Curso de Filosofia Oculta

Você também pode gostar