Na Baixa Do Sapateiro

Na Baixa do Sapateiro – a história e
a abordagem às gravações dos Anjos

do Inferno e de João Gilberto.
ANÁLISE DE MÚSICA POPULAR I JOÃO PEDRO

RIBEIRO
ALMIR CÔRTES JOSÉ MIGUEL
GUEDES
1. ARY BARROSO
Ary de Resende Barroso nasceu em 7 de Novembro de 1903 em

Ubá, Minas Gerais. Ficou órfão de pai e mãe aos 8 anos e pouco tempo
depois começou a estudar piano. Aos 12, já trabalhava como pianista num
cinema de sua cidade; três anos depois fez sua primeira canção. Antes de
abraçar definitivamente a música, fazia o curso de Direito no Rio de
Janeiro, para onde tinha se mudado aos 17 anos.
Em 1929, recém-formado, o colega de faculdade Mário Reis gravou
duas canções de Ary: “Vou à Penha” e “Vamos Deixar de Intimidades”. O
sucesso foi tanto que mandou o diploma de advogado para a gaveta e
apresentou ao Brasil um de seus maiores compositores.
Um dos responsáveis pela consolidação do samba urbano e moderno,
o mineiro Ary também vinha sendo um dos inventores do imaginário
popular da Bahia, que conheceu e pela qual se encantou também em 1929,
quando atuava como pianista na orquestra de Napoleão Tavares e seus
Soldados Musicais.
Sua paixão pela cultura e pelos sabores afro-brasileiros foi cantada
também em grandes músicas como “No Tabuleiro da Baiana”, “Os
Quindins de Iaiá” e “Faixa de Cetim”. Curiosamente e por linhas tortas,
“Na Baixa do Sapateiro” acabou abrindo caminho para o verdadeiro baiano
Dorival Caymmi, com quem gravaria um disco em 1958, pela gravadora
Odeon, no qual um interpretaria as canções do outro.
2. A BAIXA DOS SAPATEIROS
A Baixa dos Sapateiros é um bairro do Centro Histórico de Salvador,

situado no antigo vale do Rio das Tripas. Em 1612, o cartógrafo português
João Teixeira Albernaz identificou a região como “um brejo cheio de
hortas que cerca a cidade”. Até o início do século XIX, boa parte da região
ainda era composta por pântanos.
Por volta de 1830 começou a ser urbanizada e, desde sempre, foi um
local de vasto comércio, atraente sobretudo para a população com baixo
poder aquisitivo. Assim permanece até hoje, sendo visto inclusive como
um dos maiores símbolos de resistência do comércio popular.
Diz-se que a origem do nome “A Baixa dos Sapateiros” vem da
instalação de uma fábrica de sapatos, cujos donos eram imigrantes
italianos. Além disso, lá sempre se viu muitos sapateiros de rua e artesãos
de calçados, assim como armarinhos que vendiam para os próprios artesãos
artigos primários de couro.
A região também era conhecida pelos vários cinemas, maior
entretenimento da população local. Dentre eles, destacam-se o “Tupi”, o
“Aliança” e o “Jandaia”.
3. SOBRE A CANÇÃO
Gravada por Carmen Miranda em 1938, “Na Baixa do Sapateiro” é

uma das músicas brasileiras mais executadas no mundo; é também a
segunda mais conhecida de Ary Barroso, atrás apenas de “Aquarela do
Brasil”, lançada um ano depois.
É identificada por partituras antigas como samba-jongo. Suas
inúmeras interpretações e releituras, no entanto, viriam a transitar por
variados gêneros e ritmos. Uma das gravações mais notáveis foi feita em
1947, pelos “Anjos do Inferno”, grupo vocal e instrumental formado nos
anos 30, cujas formações foram muitas e cujo auge se deu nos anos 40, na
época de ouro do rádio.
A formação do grupo à época era Aluísio Ferreira, Harry Vasco de
Almeida, Roberto Medeiros, Walter Pinheiro, Léo Vilar e Russinho.
https://www.youtube.com/watch?v=DDR4fKpPUTw
Existem relatos de que Carmen Miranda cantaria a canção no filme
“Banana da Terra”(1939), dirigido por Ruy Costa; no entanto, não houve
acordo financeiro, o que fez o produtor Wallace Downey procurar outras
alternativas e encontrar Dorival Caymmi, jovem recém-chegado de
Salvador, que lhe apresentou “O Que É Que A Baiana Tem” e o
conquistou.
Cena de “Você Já Foi á Bahia?”, 1944.
Cinco anos após perder para Caymmi a vaga no filme de Carmen,

“Na Baixa do Sapateiro” teve outra chance, dessa vez em Hollywood, na
trilha sonora de “Você Já Foi à Bahia?”, uma animação de Walt Disney.
A presença da canção no filme fez com que ela rodasse o mundo.

Com o título de “Bahia”, foi muito gravada por artistas estrangeiros;
chegou aos ouvidos de Coltrane, supremo saxofonista do jazz moderno
que em 1965 batizou um disco em homenagem a Ary Barroso, que havia
falecido um ano antes.
- Em 1957, Elizeth Cardoso gravou arranjo orquestrado em seu disco

“Noturno”;
https://www.youtube.com/watch?v=-8519TrSG0s
- Dorival Caymmi a gravou em 1958, no disco “Ary Caymmi e Dorival
Barroso”, absolutamente à vontade e trazendo à tona seu inconfundível
transe em sintonia de voz e violão;
https://www.youtube.com/watch?v=AE-PoJDk7vQ
- Em 1961, Baden Powell interpreta belo arranjo de voz, violão e
percussão, no qual canta o baixo da introdução enquanto um assovio faz a
melodia principal;
https://www.youtube.com/watch?v=JUBvnIXZv18
- Elis Regina a cantou em Montreux, no Festival de Jazz, em 1979;

https://www.youtube.com/watch?v=5AMwn2YXl6M
- Em 1980, Gal Costa gravou um disco só com composições de Ary
Barroso, chamado “Aquarela do Brasil”, do qual naturalmente a canção
abordada também faz parte;
https://www.youtube.com/watch?v=4awM3TJsoho
- Caetano Veloso a gravou no disco “Livro”, em 1997, num arranjo
esteticamente bastante contemporâneo – embora ainda muito fiel à ideia
inicial da composição.
https://www.youtube.com/watch?v=mdoUcoX9ySE
Francisco Alves, Wagner Tiso, Toquinho e Novos Baianos foram

outros que também fizeram suas interpretações da canção.
4. JOÃO GILBERTO
Desde a data em que foi composta por Ary Barroso, “Na Baixa do
Sapateiro” foi gravada por muitos artistas e transitou por diferentes
concepções estéticas.
Em 1958, ano em que foi gravada por Dorival Caymmi, João Gilberto,
baiano de Juazeiro, estava prestes a lançar o “Chega de Saudade”, disco
que para muitos deu vida e voz ao movimento da Bossa Nova.
Históricamente, Caymmi tem importância gigantesca na transição entre o
período do surgimento do samba, do qual Ary fez parte, e o da Bossa nova.
Em 1973, pela Polydor, João Gilberto lançou um disco popularmente
conhecido como “álbum branco”. O disco tem instrumentação mínima,
com a voz e o violão de João e a discreta percussão de Sony Carr, além da
participação de Miúcha na faixa “Izaura”.
De acordo com o intuito do disco, “Na Baixa do Sapateiro” passa por
uma releitura e é feita de forma inédita: solada ao violão do início ao fim.
https://www.youtube.com/watch?v=RatV3LsQzPw
5. BIBLIOGRAFIA
- “101 canções que tocaram o Brasil” – Nelson Motta

- http://www.salvador-antiga.com/baixa-sapateiros/antigas.htm
- https://www.youtube.com/watch?v=7Cp1ehjULWI
- https://www.youtube.com/watch?v=REpaL164NxM
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Anjos_do_Inferno

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A Baixa dos Sapateiros é um bairro do Centro Histórico de Salvador,

Gravada por Carmen Miranda em 1938, “Na Baixa do Sapateiro” é

Cinco anos após perder para Caymmi a vaga no filme de Carmen,

A presença da canção no filme fez com que ela rodasse o mundo.

- Em 1957, Elizeth Cardoso gravou arranjo orquestrado em seu disco

- Elis Regina a cantou em Montreux, no Festival de Jazz, em 1979;

Francisco Alves, Wagner Tiso, Toquinho e Novos Baianos foram

- “101 canções que tocaram o Brasil” – Nelson Motta

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