Araujo
Araujo
Araujo
O CANTOR E O DESENVOLVIMENTO
EXPRESSIVO:
estudos labanianos aplicados ao processo de construção da
performance cênico-musical
Belo Horizonte
Escola de Música da UFMG
2016
Ficha catalográfica
Inclui bibliografia.
CDD: 784.932
A Cristo,
“Pois nele vivemos, nos movemos e existimos” Atos 17:28a
À minha mãe Cacilda e a meus irmãos Alisson e Adler, juntamente com suas esposas
Stéfanie e Michele;
Ao Adrian, meu irmão querido que sabe, como ninguém, compreender as leituras das
situações cotidianas, sempre com sinceridade e carinho;
Aos sobrinhos, Mariana, Gabriel e Elisa, que compartilham seus mundos de dragões,
aventuras e fantasias;
À vó Conceição (in memorian), por ter me dado o privilégio de estar com ela durante sua
transição... Com quem aprendi que é quando não suportamos mais a dor que renascemos...
Aos tios e aos primos, em especial à Tia Beatriz, que tem aprendido a seguir sempre em
frente, respirando calmamente e ao Gleydson, meu eterno amigo e confidente;
Aos Professores que, gentilmente, participaram das bancas de avaliação: Profa. Dra.
Luciana Monteiro, Profa. Dra. Andrea Adour, Prof. Dr. Luiz Otávio, Prof. Dr. Marcus
Medeiros, Prof. Dr. Fausto Borém, Prof. Dr. Felipe Amorim;
Aos meus colegas do Departamento de Música da Universidade Federal de Sergipe,
Eduardo Conde Garcia, Priscila Gambary, Mackely Borges, Christian Lisboa, Fabiano
Zanin, Rejane Harder, João Liberato, Fred Andrade, Daniel Nery, Alessandro Pereira, James
Bertisch, Marcus Ferrer, Thais Rabelo e Guilherme Manis;
Aos meus queridos alunos da Universidade Federal de Sergipe com os quais tanto aprendo a
cada dia e que, com amor, entregam-se à arte, às novas propostas, que ousam e, sedentos,
buscam por conhecimento e inovação;
À Sônia Molero, que me ajudou a encontrar, dentro de mim mesma, a força necessária para
prosseguir diante das situações nas quais o medo parecia paralisante. Ela que me acompanha
há 16 anos e que, exatamente, neste ano, percebeu em mim o nascimento da expressão, o
aumento da emotividade, da subjetividade, da humanidade;
A Lukas D’Oro, por ter me guiado sabiamente nos primeiros passos do Canto Lírico;
A Leo Ortiz e Luciana Antunes, pelos importantes conhecimentos transmitidos, pelos vídeos
dos exercícios, pelas fotos e, principalmente, por sempre transformarem minhas pequenas
ideias cênicas em árvores frondosas;
A Tim Bagatelas, letrado amigo que muito admiro, pelo incentivo de sempre para que eu
continuasse na arte e pela revisão carinhosa desse trabalho;
A Filipe Siqueira, pelas competentes, precisas e caprichosas ilustrações;
A Saullo Hipolito, pelas sensíveis fotos e pelos vídeos da oficina;
À Kamille Dantas, que espalha luz e bondade por onde passa, pela digitalização das
partituras;
Aos tantos amigos, representados aqui por Juliana e Fábio, Nathalie, Laércio, Luiz, Alison
Leal, Tim, Denis Sales e Isabel, Victor Martins, Lucas Viana, Lucas Ellera, Deborah
Burgarelli, Flavinha, Rafaela, Márcia Coimbra, Joseph, Felipe Massote, Ihzar Poncelis,
Iliana Paola, Vinícius Abreu, Pedro Lucas, Isadora Boucherville, Alysson;
À Flavia Fonseca, novamente, e a toda sua família que me acolheram em sua casa no último
mês de estudos, minha eterna gratidão;
À Cristina Gusmão, cantora e fonoaudióloga, que cuidou de mim com amor e generosidade
nas semanas antes da apresentação final, toda a minha gratidão e admiração;
À Geralda e Alan, da secretaria da pós-graduação que sempre com agilidade, presteza e
amor pelo que fazem nos ajudam em cada passo do curso;
A todos os Professores e Funcionários da Escola de Música da UFMG;
Ao meu querido primo Vinícius e aos amigos Felipe Massote e James Bertisch pela ajuda
com o Abstract;
Ao querido amigo Ihzar pela ajuda com o Resumen;
À Najla Sandersen, minha mãe Drag;
À Gabriela Dominguez pela ajuda com o figurino;
A Will Soares e Gabriel Freitas pela ajuda com a coreografia;
Ao Fábio Janhan, Alysson Rodrigues e Mateus Lustosa pelos registros de áudio, vídeo e
fotos;
À CAPES, que proporcionou o meu acesso ao estudo com bolsas durante o curso de
mestrado e primeiro ano de doutorado, contribuindo para o aumento das pesquisas no país,
mas também para a diminuição da desigualdade social, mesmo que de forma indireta;
A todos os mestres que, de alguma forma, participaram da minha caminhada.
RESUMO
Palavras-chave:
Keywords:
Palabras clave:
Canto, Teatro, Laban, Expresividad, Performance
LISTA DE QUADROS E FIGURAS
INTRODUÇÃO ................................................................................................ 21
1
Nessa afirmação partimos das considerações sobre Intermidialidade de Irina O. Rajewsky, em seu texto
Intermidialidade, Intertextualidade e “Remediação”, traduzido para o português por Thaïs Flores Nogueira
Diniz e Eliana Lourenço de Lima Reis, do qual reproduzimos uma pequena parte no Anexo 1.
21
A afirmação inicial, de que o cantor precisa ser um multiartista, nos faz repensar
nossas trajetórias quer sejamos cantores, artistas em geral ou espectadores-ouvintes. Mesmo
um cantor que está, aparentemente, imóvel necessita de uma carga expressiva que ultrapasse o
simples emitir de sons e, para tanto, é muito importante trabalhar seus potenciais expressivos
juntamente com os musicais. Não se pretende dizer que todos os artistas ditos fenomenais
possuem formação acadêmica tradicional, por outro lado, sua formação pode ter se dado de
uma maneira quase imperceptível por influências dos gostos e vivências de seu meio social,
por exemplo.
Profissionais da arte do canto têm se deparado cada vez mais com a necessidade de
serem capazes de atuar de forma polifônica, ou seja, o contexto de trabalho no qual estão
inseridos exige deles muito mais que uma bela voz. Espera-se, de modo geral, que eles
tenham domínio da técnica vocal, consciência das diferenças estilísticas de repertório,
compreensão das interfaces literárias das canções ou árias que executam, uma compreensão
dos diferentes tipos de escrita musical (contemporânea, tradicional), presença e
desenvolvimento cênicos, capacidade de representar personagens e outras inúmeras
demandas. Além desses pontos citados, o artista, e deste modo o cantor, deve ser, por vezes,
capaz de, associando esses e outros elementos, transmitir o indizível, ou seja, expressar, por
meio de seu subtexto ou outro recurso, as nuances que não estão escritas e que nem sempre
podem ser verbalizadas.
Para uma melhor compreensão, podemos ainda dizer que o cantor pode, não somente
lidar com as diferentes mídias, mas incorporar em si e em sua atuação alguns aspectos
basilares de tais mídias. Assim, considerando certas artes como mídias, o cantor pode instruir-
se nos princípios delas. Como sugere Maletta em relação ao ator, pensamos que o cantor
poderia ser um artista de atuação polifônica. Dentre os vários usos do termo polifonia, a
significação comentada por Maletta é a que indica o uso de várias vozes simultaneamente
executando duas ou mais linhas melódicas. Vozes independentes, mas de igual importância
(MALETTA, 2005, p. 45). Para ele:
Assim, a nosso ver, o cantor poderia absorver variados discursos artísticos, várias
vozes, realizando uma fusão e uma metamorfose de tais princípios, pelos quais ele poderia
construir (e ensinar) sua arte de uma forma mais completa, mais fluida. É importante deixar
claro que não buscamos aqui um ideal do cantor-ator-bailarino-pintor, mas uma adição
gradual de conhecimentos em outras artes de forma a ampliar o potencial expressivo do
cantor. Também em consonância com Maletta:
Entretanto, muito antes disso, o artista múltiplo a que me refiro não será
necessariamente aquele que desenvolveu as diversas habilidades na sua máxima
expressão de virtuosismo, mas o que conseguiu incorporá-las em seus elementos
fundamentais, conceito que merece, agora, uma especial atenção. As formas de
expressão artística (linguagens artísticas) inerentes ao fenômeno teatral – a literatura,
a música, as artes corporais e as artes plásticas – possuem, cada uma delas,
elementos, conceitos, parâmetros que são os fundamentos essenciais para que as
habilidades a elas relacionadas sejam desenvolvidas. No caso da Música, por
exemplo, poderíamos citar, entre outros, três elementos fundamentais: ritmo, altura e
intensidade. Quanto ao trabalho corporal, são essenciais as noções de equilíbrio,
força, direção. Já as Artes Plásticas têm, entre seus fundamentos, os conceitos de
espaço, forma, cor. Por sua vez, a Literatura fundamenta-se no conhecimento da
língua e na prática da leitura e da escrita. (...) Além disso, para que o ator,
cenicamente, consiga cantar ou tocar um instrumento com sensibilidade e
musicalidade, não é imprescindível que isso seja feito com absoluto rigor técnico e
virtuosismo, se ele tiver se apropriado da essência do universo musical. (...) Cabe
ressaltar que não se fala dessa incorporação apenas para que as habilidades
sejam adquiridas isoladamente, mas, principalmente, para se estabelecer uma
relação dialogal entre elas e para que o artista seja capaz de conviver com a
simultaneidade de ações cênicas, aprimorando sua coordenação física e motora para
executá-las integradamente, de forma que cada uma, ao invés de dificultar,
facilite e estimule a outra. (MALETTA, 2005, p. 22-23) (Grifos do autor)
Ao retomarmos, mais uma vez, a primeira afirmação deste texto, de que o cantor
precisa ser um multiartista, um pequeno filme retrospectivo pode passar na mente do leitor.
Nesse filme, as associações podem ser diversas: lembrar-se de uma performance na qual se
sentisse satisfeito ou insatisfeito por conseguir ou não expressar com exatidão o que queria;
lembrar-se das lacunas ou das oportunidades de associações artísticas existentes em sua
formação; lembrar-se da maturidade (ou imaturidade) artística e suas diversificadas
exigências; lembrar-se até mesmo do medo e da culpa que, por vezes, sentimos por não
estarmos com as ferramentas necessárias em punho para o trabalho.
23
Sim, em menor ou em maior grau, ainda pode existir uma lacuna na formação do
cantor no Brasil (no que diz respeito ao aprendizado extramusical), embora ano após ano haja
um esforço no sentido de resolver as dificuldades. Não pretendemos sanar essa lacuna, mas
contribuir para o encorajamento de cantores, educadores, performers, por meio da exposição
de nosso processo de pesquisa e resultados. Em toda arte encontram-se os que parecem ser
privilegiadamente dotados de talento2, mas e em relação aos que não o são? Acreditamos que
grande parte das habilidades artísticas, senão todas, podem ser aprendidas, quer depreendam
pouco ou enorme esforço.
2
“Aptidão natural ou adquirida.” Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/talento - Acesso em 14 de Agosto
de 2016.
3
“1.Ato ou efeito de exprimir;2. Maneira de exprimir; frase, palavra; 3. Manifestação de um sentimento;
4. .Caráter, sentimentos íntimos, manifestados pelos gestos ou pelo jogo da fisionomia.” Disponível em:
https://www.priberam.pt/dlpo/express%C3%A3o - Acesso em 14 de Agosto de 2016.
4
“Qualidade do que é expressivo.” Disponível em: https://www.priberam.pt/dlpo/expressividade - Acesso em 14
de Agosto de 2016.
24
Todavia, é preciso deixar claro que uma dificuldade expressiva não significa,
necessariamente, uma dificuldade de sentir, de ter desejos, mas sim a dificuldade de tornar
tais sentimentos perceptíveis (às vezes compreensíveis) para o outro, dentro da cultura e da
sociedade em que se está inserido. Também, a expressão não compreendida pode estar
relacionada, muitas vezes, às diferentes perspectivas, ou pontos de vista, presentes na relação
de comunicação.
Em tempo, ressaltamos que o ato de se expressar pode acontecer não somente diante
de outras pessoas, mas em solidão e, muitas vezes, quem se expressa com dificuldade quando
está em grupo, se expressa mais facilmente quando sozinho. Não nos cabe aqui adentrar nas
razões psicológicas e puramente emotivas da expressão. Como já frisamos, iremos nos ater à
corporeidade expressiva percebida (não necessariamente compreendida) pelo outro, pelo fato
de que o artista do palco realiza sua arte, grande parte das vezes, diante de um público. Por
corporeidade expressiva, compreendemos a atividade corporal que participa do ato
expressivo, ou seja, diferentes graus de tensão muscular, utilização do corpo no espaço,
diferentes velocidades de movimentação, etc.
Nesse sentido, buscando expandir nossa capacidade expressiva, é que surgiu o tema
central dessa pesquisa, ou seja, por meio dela buscamos confirmar ou refutar a hipótese de
25
que é pela associação e dialogicidade dos princípios básicos de certas artes (nesse caso Teatro,
Música, Canto e Dança) que o cantor pode adquirir mais ferramentas para revelar-se,
exprimir-se de maneira satisfatória.
Outros trabalhos importantes voltados para a voz e para o cantor que podemos listar
são: 1) Bel Canto: a history of vocal pedagogy, de James Stark (1999); 2) On the art of
singing, de Richard Miller (1996); 3) The Science of Vocal Pedagogy, de Ralph Appelman
(1986); 4) Higiene Vocal para o canto coral, de Mara Behlau (1997); 5) Higiene Vocal,
26
cuidando da voz, de Mara Behlau; 6) Voz e arte lírica: técnica vocal ao alcance de todos, de
Edilson Costa (2001); 7) La voix chanteé, de Raoul Husson (1960); 8) Il canto e le sue
tecniche, de Antonio Juvarra (1987); 9) How to sing, de Lilli Lehmann (1952); 10) Voz: o
livro do especialista, de Mara Behlau (2013), dentre outros.
Ainda, para termos um panorama mais amplo sobre a produção da bibliografia vocal
no Brasil e no exterior, realizamos uma busca5 nos portais da CAPES, do SCIELO e do
Google Acadêmico. No portal da CAPES, utilizamos o filtro “Artes e Humanidades”.
Primeiramente, utilizamos na busca as palavras “voz e corpo” e, depois, “voz e cena”. Das
correspondências exibidas, respectivamente, 7 e 46, nenhuma era voltada para o cantor. No
portal do Scielo, também realizamos a pesquisa com os verbetes “voz e corpo”. Para esta
busca foram exibidas 41 correspondências, das quais dois títulos nos chamaram a atenção. O
primeiro título, Os corpos que dançaram suas vozes, de Gisela Reis Biancalana (2016), é um
trabalho voltado para a dança. O segundo título, Entre corpo e linguagem: a voz na ópera, de
Maurício Eugênio Maliska (2012), apesar do que o nome possa sugerir, é voltado para a área
da psicanálise. Para os verbetes “voz e cena”, foram exibidos 7 resultados, repetindo-se os
dois anteriormente citados. Também para a busca com os verbetes “canto e cena”, “canto e
corpo”, “canto e teatro” e “canto e dança”, em ambos os portais, não foram encontrados
trabalhos que abordassem a formação teatral para o cantor, nem a interação entre teatro e/ou
dança na formação e/ou na performance do cantor. Para os verbetes “canto e Laban”, não
foram encontrados trabalhos sobre esse tema.
5
Busca realizada no dia 14 de Agosto de 2016.
6
Este artigo de Gayotto, possui ideias semelhantes às nossas dos Fatores Sonoros (ver página 76), que ela chama
de Dinâmicas de Movimento da Voz. Entretanto, só tomamos conhecimento deste trabalho de Gayotto no dia 14
de Agosto de 2016, após a data da defesa da tese. Deste modo, as citações do referido artigo, que serão aqui
inseridas, foram colocadas somente para a versão final da tese.
27
Para os verbetes “canto e Laban”, foram exibidos, aproximadamente, 5000 resultados, dos
quais consultamos as 5 primeiras páginas de exibição e encontramos o supracitado trabalho de
Gayotto e o artigo Postura corporal, voz e autoimagem em cantores líricos, de Ênio Lopes
Mello et al (2015), que fala sobre a formação do cantor, mas não está diretamente relacionado
a Laban.
Sobre o Sistema de Ações Físicas, foi dele que tentamos nos aproximar na pesquisa de
mestrado, embora na continuação deste caminho de doutoramento tenhamos sido advertidos9
pelo Professor Luiz Otávio Carvalho (especialista em Stanislavski) sobre a profundidade e
complexidade do Sistema de Ações Físicas de Stanislavski. Ressaltamos que foi uma
tentativa de aproximação, visto que, apesar de estarmos sedentamente buscando um diálogo
com a área teatral, nossa formação é na área musical. Ficamos, então, instigados por este
Sistema, pelo fato de que ele parte do exterior para o interior, ou seja, por meio das ações
7
“Na primeira fase, ele teria trabalhado a expressividade partindo do interior para o exterior e na segunda fase,
teria feito o percurso inverso, partindo das ações físicas exteriores para alcançar o interior expressivo do
performer. Contudo, após uma leitura atenta de seus relatos, percebe-se que todos os fatores ligam, em menor ou
em maior grau, a parte interna e a parte externa, pois elas são indissociáveis. Na primeira fase, há relatos da
importância do trabalho físico, externo, e na segunda fase também é relatada a importância dos sentimentos,
embora eles não estejam no cerne da questão.” (ARAÚJO, 2012: 88)
8
A grande distância entre as datas das publicações dos livros de Stanislavski (devido à Segunda Guerra
Mundial) e também as possíveis diferenças nas traduções, provavelmente trouxeram prejuízos no entendimento
das técnicas de Stanislavski. Nesse sentido, os artigos “The Stanislavski System – Growth and Methodology” de
Perviz Sawoski e Um elo perdido: Stanislavski, música e musicalidade, teatro, gesto e palavras dos autores
Michel Mauch, Adriana Fernandes e Robson Corrêa de Camargo trazem alguns esclarecimentos.
9
Observação realizada pelo Prof. Dr. Luiz Otávio Carvalho durante a banca de avaliação da defesa da tese em 02
de Agosto de 2016.
28
físicas exteriores que se alcançam as características interiores do personagem. Segundo
Stanislavski, os sentimentos não podem ser fixados10, mas as ações físicas que evocam ou
demonstram esses sentimentos podem sim ser fixadas, repetidas.
As redes são muitas e elas interagem de modo a que nenhuma possa suplantar as
demais; esse texto é uma galáxia e não uma estrutura de significados; ele não tem
começo, ele é reversível; se ganha acesso a ele através de diversas entradas e
nenhuma delas pode ser autoritariamente declarada como principal; os códigos que
ele mobiliza se estendem tão longinquamente quanto a vista pode alcançar e são
indeterminados (...); os sistemas de significação podem controlar esse texto plural,
mas suas possibilidades nunca são fechadas, pois são baseadas na infinidade da
linguagem. (BARTHES apud DUTRA, 2009, p. 31 e 32)
O hipertexto não se apresenta como uma estrutura ou como uma organização, mas
como uma configuração em rede que pode ser redesenhada a cada leitura que dele se
faça. Sua dinâmica é ditada por funções associativas, que fornecem ligações entre os
diversos nós da rede, permitindo o deslocamento dos “sentidos” pelas trilhas que o
próprio leitor escolha ou por caminhos que, ainda que inconscientemente, seu
pensamento venha a conduzi-lo. (DUTRA, 2009, p. 39 e 40)
À medida que o performer reconhece os elementos intrínsecos e assimila ou
compreende os novos ou renovados elementos extrínsecos, ele passa a se deslocar na
rede com maior desenvoltura. (DUTRA, 2009, p. 40 e 41)
13
Partitura Global foi o nome dado em 2012, por ocasião de nossa pesquisa de mestrado, a uma partitura cênica
que é acoplada à partitura musical.
30
ao cantor, de tal maneira que ele possa ter resultados tanto nas construções interpretativas nas
quais tenha tempo para criar seus percursos, quanto nas situações de improvisos e jogos em
que precise saber articular tal linguagem mais prontamente14; 4) descobrir meios que
potencializem as ações físicas e vocais dos cantores; 5) transpor as descobertas para outros
artistas (instrumentistas, atores, artistas plásticos, etc.).
Considerando-se tudo que foi exposto e a partir da inquietação “De que maneira o
cantor pode, cada vez mais, aprimorar suas possibilidades expressivas?”, pode-se gerar a
seguinte hipótese: “É por meio da incorporação (assimilação) de princípios artísticos15 de
artes distintas e por meio da capacidade de realizar um diálogo facilitador entre tais princípios
que o cantor pode desenvolver seu potencial expressivo.” Pretendemos trabalhar,
primeiramente, com a noção de liberdade expressiva, o que representaria uma liberdade de
desejos e emoções, cujas formas são delineadas pela técnica, especialmente, pela técnica
vocal.
14
Muitas vezes, a construção de uma cena leva bastante tempo, entretanto, criando o chamado “repertório”
corporal o cantor fica mais hábil para lidar com situações inesperadas ou de improviso. Ou seja, um dos
objetivos é que ele consiga articular melhor a interação música-teatro, por exemplo.
15
Nos referimos aos princípios artísticos tais quais os comentados por Ernani Maletta (expostos no início deste
trabalho), por exemplo, espaço, forma, cor, altura, intensidade, equilíbrio, força, direção, etc.
31
de estudantes-artistas que puderam vivenciar os caminhos por nós propostos por meio de uma
oficina. A partir da demonstração do alinhamento dessas referências com nossas próprias
ideias, organizamos um percurso de desenvolvimento expressivo desde os estudos
preliminares até a performance final apresentada pelo cantor. Esse percurso teve duas etapas
básicas. A primeira, diz respeito à fase de treinamento e experimentação e visa compreender e
estruturar o movimento, seus principais fatores e sua relação com o som, com o espaço, etc.
Essa etapa foi apoiada pelos exercícios sugeridos, principalmente, por Laban e incluiu as
séries de exercícios que criamos e/ou adaptamos no capítulo 1. A segunda etapa partiu da
criação de uma partitura de ações e, então, foram aplicadas nossas adaptações à peça musical
propriamente dita. Nesse caso, o corpus escolhido para demonstrar a aplicação de tais
percursos16 foi a canção brasileira, de Heitor Villa-Lobos, Lune d’Octobre, da coleção
Historietas17. Utilizamos pequenos trechos para exemplificar nossas ideias, culminando em
uma construção para a canção completa, ao final do capítulo 2, de modo a aprimorar e
arrematar o trabalho expressivo que parte do cantor em direção ao espetáculo. A escolha dessa
canção foi baseada, principalmente, em sua forma breve, facilitando uma exemplificação
detalhada e, também, num nível não muito alto de dificuldade técnica, visto que esta canção
não ultrapassa uma oitava de extensão, não utilizando extremos graves nem agudos da voz,
não possui longas frases que exigissem alta capacidade respiratória e nem tem contrastes
muito grandes de dinâmica. Acreditamos que essa dificuldade técnica moderada, possibilitaria
uma maior facilidade durante a experimentação corporal e cênica, por não termos que manter
nossa atenção tão voltada exclusivamente para os ajustes vocais, o que poderia ocorrer em
uma canção com alto grau de dificuldade técnica.
Neste momento, algumas dúvidas podem surgir para o leitor, por exemplo: 1) A
canção de câmara, tradicionalmente, não é apresentada sem cena? 2) Qual é a proposta
cênico-musical deste trabalho e o que é ela? 3) Este trabalho é voltado para um cantor que
16
Posteriormente, foram aplicadas todas as canções do recital final aos percursos de preparação e construção
cênica.
17
“As "Historietas" foram compostas em 1920 por Heitor Villa-Lobos e possuem seis canções que integram o
ciclo: Solidão, Lune D'Octobre, Novelozinho de Linha, Hermione et les Bergers, Jouis sans retard, car vite
s’écoule la vie..., Le Marché. As poesias são de: Ribeiro Couto, Ronald de Carvalho, Manuel Baneira, Albert
Samain, Ronald de Carvalho e Albert Samain, respectivamente. Solidão e Novelozinho de Linha (Debussy), os
únicos poemas escritos originalmente em português, possuem versão em francês, mas os poemas em francês não
possuem versão em português. As Historietas foram estreadas no Rio de Janeiro, em 1921, antes mesmo da
Semana de Arte Moderna. Aliás, Villa-Lobos não chegou a compor nenhuma peça para essa ocasião. Durante a
Semana, canções dessa coleção foram executadas por Frederico Nascimento (canto) e Maria Emma (canto),
sendo a pianista Lucília Villa-Lobos. Cabe lembrar que todos os poetas brasileiros envolvidos neste ciclo eram
amigos e estavam envolvidos (diretamente ou pela apresentação de suas obras) no evento em questão,
excetuando-se o poeta simbolista francês Albert Samain, cujas obras foram influências para os poetas
brasileiros.” (LOPES SOBRINHO et ARAÚJO, 2015, p. 58)
32
atua ou para um ator que canta? 4) Qual o papel da voz neste trabalho? 5) A canção de câmara
é o objeto principal deste estudo ou apenas um pretexto, um meio para execução desse
processo?
O papel da voz neste trabalho é integrar a totalidade do cantor, ou seja, o cantor não é
resumido apenas à sua voz. Por este motivo, toda vez que falamos do corpo neste trabalho,
estamos falando sobre a voz, porque consideramos não apenas as características sonoras da
voz, mas, principalmente, as corpóreas (musculares, articulares, etc). Embora o leitor possa
18
“A transição do Liedspiel para o Ciclo de Canções é expressada claramente com “Die schöne Müllerin” de
Schubert, que nasce como uma peça musical criada por jovens membros de um salão de Berlim na casa do
vereador Friedrich von Stägemann: Wilhelm Müller foi o jovem moleiro, a filha de Stägerman interpretou a
jovem moleira, Wilhelm Hensen foi o caçador e outros membros do círculo interpretaram papéis secundários. Os
participantes pediram ao compositor Ludwig Berger para agrupar e musicar alguns poemas selecionados, o que
resultou no ciclo entitulado [sic] “Gesänge einem gesellschaftlichen Liederspiele ‘Die Schöne Müllerin’” op. 11.
Wilhelm Müller depois revisou e aumentou os poemas como um monólogo na voz do jovem moleiro. Foi esta
versão que Schubert musicou em 1823, omitindo 5 poemas.” (PEREIRA, 2007, p. 3 e 4)
19
“Liederspiel significa, literalmente, “peças de canções”. É um tipo de encenação dramática desenvolvida na
Alemanha no século XIX, na qual as canções são introduzidas em uma peça teatral.” (BRANSCOMBE apud
PEREIRA, 2007, p.3)
20
“Liederkreis significa, literalmente, “círculo de canções”. É um círculo ou clube de pessoas que se dedicavam
ao cultivo da canção popular. As atividades dos Liederkreise eram variadas, tanto recreativas como criativas.
Incluíam cantar simples grupos de canções e jogos com canções, além de apreciar performances de canções
encenadas com figurinos ou living pictures.” (PEAKE apud PEREIRA, 2007, p. 3)
33
pensar que não estamos falando diretamente sobre a voz neste trabalho, o que procuramos foi
evitar a dissociação corpo/voz. Assim, o intuito não foi trabalhar o corpo e a voz
separadamente, mas, sim, trabalhar o corpo e a produção vocal gerada por este corpo, a fim de
contribuir para a expressão. Por fim, esclarecemos que a canção, juntamente com suas
peculiaridades poéticas e musicais, não é o objeto de estudo deste trabalho. Antes, ela é um
veículo, um meio pelo qual poderemos testar e executar nossas ideias.
34
CAPÍTULO 1 – RUDOLF LABAN
Por vontade da família, a qual objetivava que Laban seguisse a mesma profissão de
seu pai, ele foi matriculado em uma escola para cadetes aos dezoito anos, em 1897. De acordo
com Lenira Rengel, após abandonar o curso para ser artista (estudando pintura, escultura e
arquitetura21), ele perdeu a ajuda financeira proveniente de seu pai por ter esse ficado muito
contrariado com a nova decisão do filho (RENGEL, 2005, p. 98-100).
Contudo, a esse respeito, Helena Katz oferece uma informação divergente. Segundo a
autora, no período subsequente à saída de Laban do curso de oficiais e quando de sua
permanência em Paris (que veremos adiante), ele viveu como um estudante boêmio,
recebendo mesada da família de 1900 a 1907 (KATZ, 2006, p. 51).
Antes de sua ida para Paris, porém, em 1899, ele estudou com Herman Obrist
(também professor de Kandinsky), tendo sido o interesse pelas artes plásticas mais um motivo
21
“(...) decidindo estudar pintura, escultura e arquitetura, em vez de dança e teatro – pelo fato de aquelas artes
serem mais bem conceituadas.” (GUIMARÃES, 2006, p. 41)
35
para que Laban estudasse a “postura e o comportamento humano” (KATZ, 2006, p. 51). Em
1900, Laban instalou-se em Paris, onde viveu por, aproximadamente, sete anos e estudou
arquitetura, desenho, balé clássico, conheceu artistas de diversas áreas, teve conhecimento dos
princípios de Delsarte22 e trabalhou como ilustrador. Também em Paris foi que ele conheceu
sua primeira esposa, a artista plástica Martha Fricke. Em 1910, Rudolf retorna para a
Alemanha e foi lá que ele “tomou contato com a ginástica de Mensendieck23, de Lohelando24
e com a eurritmia de Jaques Dalcroze25” (GUIMARÃES, 2006, p. 41).
Laban, como artista e pedagogo, não visava apenas o desenvolvimento corporal, mas,
principalmente, a formação artística mais completa do indivíduo. Nesse sentido, em 1913 e
1914, ele ofertou cursos no Monte Verità (Ascona, Suíça), onde os alunos estudavam ao ar
livre, cumprindo um currículo que contemplava as seguintes artes: 1) a arte do movimento; 2)
a arte da palavra; 3) a arte do som; 4) a arte da forma.
22
Francês estudioso da expressão e do gesto humano, do teatro, ginástica rítmica, entre outros.
23
“Bess M. Mensendieck (1866–1959) foi um médico alemão que desenvolveu séries de exercícios para
remodelar, reconstruir, revitalizar o corpo e aliviar a dor.” Tradução nossa. Disponível em:
https://en.wikipedia.org/wiki/Mensendieck_system - Acesso em 15 de Agosto de 2016.
24
Não foram encontradas informações sobre esse autor.
25
“Émile Jaques-Dalcroze (1865-1950) – Suísso [sic] realizou seus estudos em Paris e no Conservatório de
Genebra. No período em que lecionou Harmonia no Conservatório de Genebra (1892-1910), ele desenvolveu o
sistema que ficou conhecido como Dalcroze Eurhythmics de treinamento musical que tinha por objetivo criar,
através [sic] do ritmo, uma corrente de comunicação rápida, regular e constante entre o cérebro e o corpo,
transformando o sentido rítmico numa experiência corporal, física. Músico e compositor fluente, sua obra inclui
algumas óperas, dois concertos para violino, três quartetos de cordas, peças para piano e muitas canções.
Escreveu também livros pedagógicos.” Disponível em:
http://www.dianagoulart.com/Canto_Popular/Educadores.html Acesso em: 28 de Agosto de 2015.
36
Lenira Rengel (2005, p. 31) relata que Laban utilizou em suas aulas o piano,
instrumentos de percussão, a voz e o canto, mas, além desses recursos, ele explorou a
percepção que os alunos tinham de si mesmos e dos outros em relação a “toques,
relacionamento, sensibilização”, bem como treinou os alunos a ouvirem seus ritmos internos.
Ela também nos conta um pouco sobre o trabalho de Laban na Ópera de Berlim:
Logo após, Kurt Joss (colaborador de Laban e professor de Pina Bausch26) levou
Rudolf Laban para a Inglaterra. Foi lá que Laban lecionou no Dartington Hall e conheceu
Maria Duschenes27 (introdutora do método no Brasil) e Lisa Ullmann (colaboradora de Laban
e revisora de alguns de seus livros). Em 1940, Laban mudou-se para Londres, após o início da
Segunda Guerra Mundial e o fechamento da escola de Dartington Hall. Em 1942, a convite de
um industrial, Laban começou a “aplicar seus princípios às formas de trabalho dos operários,
a fim de favorecer um melhor rendimento com menos esforço físico (...) [aprimorando] seu
sistema de notação de movimento (...)” (GUIMARÃES, 2006, p. 48 e 49). Foi também na
Inglaterra que Laban fundou o Laban Art of Movement Centre, embora ele tenha lecionado
também na Alemanha, Suíça, Itália e suas ideias tenham se espalhado pela Europa, Estados
Unidos, Chile, Argentina e Brasil (AMADEI, 2006, p. 32). Laban faleceu em Weybridge, na
Inglaterra, em1º de Julho de 1958.
Maria Cláudia Guimarães lista as obras escritas por Rudolf Laban, são elas:
1. Die Welt des Tänzers: Fünf Gedankenreigen. (O mundo dos bailarinos: Cinco
pensamentos) Stuttgart: Walter Verlag, 1920.
26
“Pina Bausch nasceu em 1940 em Solingen e morreu em 2009 em Wuppertal. Ela recebeu seu treinamento de
dança na Folkwang School em Essen sob orientação de Kurt Jooss, onde ela alcançou a excelência técnica. (...)
Sua combinação de poética com elementos do cotidiano influenciou o desenvolvimento internacional da dança
decisivamente. (...) Retirado de: http://www.pina-bausch.de/en/pina_bausch/ - Acesso em 09 de Agosto de 2016
– Tradução nossa.
37
2. Choreographie: Erstes Heft. (Coreografia: primeiro volume) Jena: Eugen
Diedereichs, 1926.
3. Gymnastik und Tanz. (Ginástica e Dança) Oldenburg: Gerhard Stalling Verlag,
1926.
4. Des Kindes Gymnastik und Tanz. (A dança e a ginástica das crianças) Oldenburg:
Gehard Stalling Verlag, 1926.
5. Schrifttanz: Methodik, Orthographie, Erläuterungen. (Dança escrita: Metodologia,
Ortografia, Explicações) Wien: Universal Edition, 1928.
6. Schrifttanz: Kleine Tänze mit Vorübungen. (Dança escrita: Pequenas danças com
exercícios preliminares) Wien: Universal Edition, 1930.
7. Ein Leben für den Tanz. (Uma vida para a dança) Dresden: Carl Reissner Verlag,
1935.
8. Lawrence industrial rhythm/and lilt in labour. (Ritmo e canto no trabalho nas
indústrias Lawrence) Manchester: Paton Lawrence & Co. 1942.
9. Effort. (Esforço) London: Macdonald & Evans, 1947.
10. Modern educational dance. (Dança Educacional Moderna) London; Macdonald &
Evans, 1948.
11. The mastery of movement on the stage. (O domínio do movimento no palco)
London: Macdonalds & Evans, 1950.
12. Principles of dance and movement notation. (Princípios para notação de dança e
movimento) London: Macdonalds & Evans, 1956.
13. Choreutics. (Corêutica) London: Macdonalds & Evans, 1966.
14. A vision of dynamics space. (Uma visão do espaço dinâmico) Compilado por Lisa
Ullmann. London: Falmer Press in association with Laban Archives, 1984.
(GUIMARÃES, 2006, p. 50)
1.2 Contribuições
Após a consulta da bibliografia, podem ser expostos alguns dos principais objetivos
que levaram Rodolf Laban às suas escolhas de vida, escolhas profissionais e, como resultado,
contribuições artísticas. Laban não ensinava apenas uma técnica de dança, mas estava
interessado em que seus alunos pudessem ser capazes de improvisar e de usar o corpo para se
expressar por meio do treinamento corporal voltado “às questões estruturais do movimento”
(GUIMARÃES, 2006, p. 43 e 44) e à conscientização sobre as relações entre o corpo, espaço,
38
ritmo e fluência. Além disso, é importante ressaltar que ele tinha uma visão não apenas
voltada para o dançarino profissional, mas para a função social da dança, voltando seus
exercícios, inclusive, para amadores.
Assim, é uma constante no pensamento de Rudolf Laban a afirmação de que os
movimentos usados no cotidiano são exatamente os mesmos utilizados na expressão e na arte,
porém, sua significação é distinta a partir das escolhas de construção e de intervenção do
artista. Então:
Mas o que são ações simbólicas? Certamente não se trata de meras imitações ou
representações das ações comuns da vida cotidiana. Executar movimentos de serrar
madeira, de abraçar ou ameaçar a alguém pouco tem a ver com o verdadeiro
simbolismo do movimento. Essas imitações dos atos do dia-a-dia podem ser até
significativas, mas não são simbólicas. O homem, por via daqueles silenciosos
movimentos, cheios de emoção, poderá executar movimentos estranhos que parecem
sem significação, ou, pelo menos, aparentemente inexplicáveis. O curioso, contudo,
é que ele se move de acordo com as mesmas ações por ele empregadas para serrar,
carregar, consertar, amontoar ou fazer qualquer uma das demais operações
cotidianas; tais ações, porém, surgem em sequencias específicas dotadas de ritmos e
formas próprias. As palavras que exprimem sentimentos, sensações, emoções ou
certos estados espirituais e mentais não são capazes de fazer mais do que arranhar de
leve a superfície das respostas interiores que as formas e ritmos das ações corporais
têm condições de evocar. O movimento, em sua brevidade, pode dizer muito mais
do que páginas e páginas de descrições verbais. (LABAN, 1978, p. 140-141)
Outro dado demonstrado por ele é que, assim como a fluência das ideias é expressa em
sentenças, também as sequências de movimentos formam sentenças que são consciente ou
inconscientemente (na maior parte das vezes) recebidas e interpretadas pelas pessoas de nossa
convivência e também pelo público. Essa leitura é realizada não só em relação aos
movimentos amplos, mas também pelos movimentos de “sombra” (tiques, movimentos
indesejados, etc.) (LABAN, 1978, p. 35).
Miranda comenta que as ideias de Rudolf Laban já demonstravam o movimento como
sendo elemento integrador de “corpo, mente, sensação e tensão espacial” (2008, p. 12 e 13) e,
sobre a origem das representações espaciais labanianas terem partido da geometria
euclidiana28, bem como sobre a evolução de tais representações, elucida:
28
Ver: http://www.im.ufrj.br/~risk/diversos/gne.html Acesso em 28 de maio de 2016.
39
representação espacial, já apontava outras intensidades espaciais e integrava corpo,
mente, sensação e tensão espacial pelo movimento. (MIRANDA, 2008, p. 12 e 13)
Ao revisitar os conceitos de Laban à luz dos discursos da contemporaneidade,
tornou-se necessário articulá-los a sistemas geométricos desvinculados dos cânones
espaciais euclidianos e pertencentes a uma cultura não mais regida por verdades,
mas liquefeita em transformações e incertezas. Nesse diálogo, o discurso labaniano
se desdobrou, permitindo novos sentidos e novas versões. (MIRANDA, 2008, p.15)
40
1.2.1 O corpo
29
“Na teoria labaniana, o movimento é a fundação, a primeira marca que estabelece a disposição do
corpo/máquina, o substrato do corpo, seu estímulo vital. Ninguém existe em qualquer momento fora do
movimento. Mesmo em um nível quântico, não há existência sem movimento. E este movimento fundamental,
na Análise Laban de Movimento, é orientado pelas relações e articulado como linguagem. Nesta perspectiva, o
Sistema oferece uma rede com diferentes intensidades e direções, que abre a possibilidade, para quem lê, de
recriar a experiência do original de forma diferente e novamente original.” (MIRANDA, 2008, p. 70)
41
Laban utilizava esse esquema tanto para auxiliar na análise do movimento, quanto
para ajudar nos exercícios corporais (partes separadas e em conjunto, gestos, passos, etc.,) e
nas utilizações dos fatores de movimento30 (peso, espaço, tempo e fluência). Vejamos as
explicações dele:
Após esse trecho, Laban passa a sugerir exercícios para o treino de diferentes
movimentações. Assim, exercício para os pés, pernas, ombro e, além disso, diferentes modos
de iniciar e cadenciar o movimento, por exemplo, começando pelo ombro, passando pelo
movimento do cotovelo, pulso, mão e dedos das mãos. Ou começando pelos dedos das mãos,
pulso, cotovelo, ombro, etc. Nos exercícios, as partes do corpo são trabalhadas separadamente
e em conjunto e os movimentos são divididos em, basicamente, passos, gestos31 (mãos e
braços) e expressões faciais. Laban afirma que o controle da fluência do movimento está
intimamente relacionado ao controle dos movimentos das partes do corpo (LABAN, 1978,
p.48).
30
Ver página 64.
31
Para Laban, os gestos são ações das extremidades, que não envolvem nem transferência nem suporte de peso.
(LABAN, 1978, p. 60) “Outra consideração extremamente esclarecedora sobre a relação entre gesto e postura
feita por Lamb é a de que a postura é algo que se tem e o gesto é algo que se faz; e que, o que nós fazemos
depende daquilo que nós temos, dessa forma, o gesto depende e deriva da postura. E, apesar da postura ser algo
inerente à nossa existência e constituição corporal, ela pode ser modificada ou ajustada ao longo da vida,
conforme isso se mostre necessário.” (FERNANDES, 2006, p. 113)
42
Adaptação32 - Considerando o esquema corporal da figura 1, sugerido por Laban,
pensamos nas principais partes envolvidas em iniciar e alterar o movimento vocal. Listamos
então: pregas vocais e demais músculos intrínsecos da laringe, responsáveis pelo fechamento
e outros ajustes glóticos, articulação têmporo-mandibular (abertura da mandíbula), músculos
responsáveis pelo levantamento do véu palatino, músculos extrínsecos da laringe,
responsáveis por seu levantamento e abaixamento, músculos responsáveis pela movimentação
dos articuladores móveis (língua, lábios, etc), músculos responsáveis pela movimentação
costodiafragmática-abdominal, incluindo o conjunto de músculos conhecido como “cinta
abdominal”. Propomos então um novo esquema, no qual pontuamos os locais sobre os quais
geralmente voltamos nossa atenção durante a produção do movimento vocal.
Para chegarmos a esse novo esquema, fazemos o Esboço 1 (figura 2) que, assim como
o esquema Laban, prioriza uma visão estrutural – o esqueleto humano. No Esboço 2 (figura
3), iniciamos uma mescla de visão estrutural e funcional – esqueleto e musculatura, realizando
uma ampliação dos dados sobre a face e o trato vocal. Contudo, não vamos entrar na questão
de qual musculatura específica realiza o movimento, citando apenas as partes que são
movimentadas. Por exemplo, citaremos o movimento dos lábios (em todas as suas
possibilidades), mas não especificaremos as contrações do músculo orbicular da boca ou do
músculo risório, porque tais especificações necessitariam de um tempo para estudarmos
detalhadamente toda a musculatura corporal. Assim, no Novo Esquema (figura 4),
consideramos a simetria articular exposta por Laban, mas também certas ações musculares,
estejam elas proporcionando ou não um deslocamento da estrutura ósseo-articular no espaço.
Mantemos a estrutura Laban, mas sobrepomos os principais pontos para o movimento vocal.
32
Os parágrafos iniciados com a abreviação “Adapt.” Indicam nossa voz, ou seja, nossas ideias entremeadas nas
de Laban, no que diz respeito às correlações vocais e musicais possíveis.
43
Figura 2: Esboço 1 – articulações corpóreo-vocais.
44
Figura 3: Esboço 2 - principais movimentações da face e do trato vocal.
45
Figura 4: Novo esquema33.
33
Esse esquema leva em consideração todas as informações detalhadas pelos números dos esboços 1 e 2.
Entretanto, para manter a clareza da imagem, mantivemos nesta legenda somente as informações que não
apareceram nas anteriores.
46
Sugerimos, então, alguns exercícios para treinamento dessas regiões, primeiramente,
pensando em cada parte e depois exercitando-as conjuntamente, de acordo com a releitura do
esquema Laban. Não pretendemos, de modo algum, que as séries de exercícios sugeridos se
tornem um tipo de “receita” infalível, mas que sejam apenas um painel de sugestões com
peças e conteúdos variáveis para instigar um treino do performer.
- Esticar a língua para fora o máximo possível e depois retorná-la para dentro da boca,
abaixando-a (como se fosse realizar a deglutição) e observar os movimentos de levantamento
e abaixamento da laringe.
- Realizar o chamado vocal fry36 “relaxado” (na região grave), alternando-o com o
vocal fry “tenso” (na região aguda) em glissandi37 com as vogais “ô” e “a”, respectivamente,
no grave e no agudo, realizando os movimentos de abaixamento e levantamento da laringe.
Tentar inverter38 o movimento laríngeo com o movimento sonoro, ou seja, abaixar a laringe
ao glissar para o agudo e levantar a laringe ao glissar para o grave (Vídeos 3 e 4)39.
34
Alguns dos exercícios sugeridos são exercícios que foram aprendidos oralmente ao longo de nossas
experiências didáticas e artísticas e/ou adaptações que criamos com base nessa aprendizagem e para os quais não
sabemos apontar uma origem.
35
Exercício comumente utilizado por fonoaudiólogos para abaixamento da laringe.
36
“É um som pouco usado no canto, mas visto com frequência na fala, principalmente nos filmes americanos.
(...) Nele o músculo CT [cricotireóideo] (lembre-se, o que estica as pregas vocais e deixa o som mais leve e
agudo) está quase totalmente relaxado, apenas com ação do TA [tireoaritenóideo] (músculo vocal, que encurta e
aproxima as pregas vocais) e o som é grave (de baixíssima frequência) e se assemelha ao estouro de bolhas ou
óleo fritando, daí o apelido vocal fry.” Disponível em: http://www.estudiodevoz.com.br/2012/08/os-registros-
vocais-parte-2.html Acesso em 28 de Maio de 2016.
37
Glissando, do italiano, significa literalmente deslizar ou escorregar.
38
O executante não precisa, necessariamente, conseguir realizar essa inversão, mas apenas tornar-se consciente
do controle da movimentação laríngea.
39
Esse exercício não deve ultrapassar um ou dois minutos ao dia, pois a realização de fry tenso, em certos casos,
pode ser prejudicial para a saúde vocal.
47
esse exercício, começar com a laringe baixa ou médio-baixa e tentar manter o posicionamento
laríngeo o mais estável possível enquanto realiza a movimentação sonora.
- Realizar lentamente a articulação “ha-ha-ha”, como se fosse uma risada sutil, para
perceber a movimentação de coaptação glótica.
- Realizar um glissando descendente (em oitava) alternando as vogais “a” [a], “é” [Ɛ],
“ê” [e], “i” [i], “ó” [ɔ], “ô” [o], “u” [u], observando o abaixamento ou relaxamento do fundo
da língua e da laringe, mesmo quando a parte médio-anterior ou médio-posterior da língua
estiver mais alta para articular as vogais41.
40
Exercício comumente utilizado por fonoaudiólogos para exercitar a articulação têmporo-mandibular.
41
Para elucidar essas informações, recomendamos o vídeo disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=GCluRCd2YuM e acessado em 12 de Junho de 2016, que mostra a
movimentação interna do trato vocal do barítono Michael Volle, cantando Oh, du mein holder Abendstem de
Richard Wagner.
42
Posteriormente eles serão utilizados para demonstrar as relações entre a musculatura do trato vocal, tronco e
membros inferiores, que comentaremos mais adiante na página 95.
48
Cont. Ressaltamos que é importante, desde o início, conscientizarmo-nos sobre a
conexão que existe entre o movimento exterior e a vida interior, que é o que dá origem ao
movimento. Ou seja, de acordo com Laban, essa função que parte da vida interior para iniciar
o movimento seria como uma “excitação interna dos nervos, causada por uma impressão
imediata dos sentidos (...) que resultaria em um esforço interno ou impulso, voluntário ou
involuntário para o movimento” (LABAN apud MIRANDA, 2008, p. 19 e 20). Os esforços
são classificados em visíveis, audíveis e imagináveis. Por exemplo, o esforço (impulso) é
visível nos movimentos de um trabalhador, de um bailarino e é audível no canto e discursos.
“Em um grito de desespero, pode-se visualizar, na imaginação, o movimento que acompanha
o esforço audível” (LABAN, 1978, p.52) e, ainda, um esforço de um instrumentista que
produz um som, pode ser audível e visível.
Adapt. Sobre a ligação entre a vida interior e exterior, isto é, entre as intenções e sua
expressão física, vale lembrar que o músculo vocal responde rapidamente aos comandos
cerebrais. Outro fato interessante sobre essa conexão é o de que, a depender de nossa
intenção, o próprio tônus43 do músculo vocal se altera, fazendo, juntamente com a
movimentação da musculatura facial e consequente alteração da nossa caixa acústica, com
que seja possível ter um resultado sonoro diferenciado para interpretação de raiva ou doçura,
por exemplo, mesmo que o ritmo e a entonação da fala sejam os mesmos.
A classificação dos esforços em audíveis, visíveis e imagináveis, trouxe-nos uma nova
perspectiva sobre o porquê de em nossos estudos e em nossa cultura eurocentrista o par corpo-
44
voz ter sido dissociado. Talvez essa dissociação se deva ao equívoco de considerarmos a
voz mais em seu aspecto sonoro do que muscular, negligenciando que toda produção sonora é
43
“As emoções parecem interferir no controle da respiração, no posicionamento vertical da laringe, no
relaxamento relativo das pregas vocais, no posicionamento e no relaxamento dos músculos da faringe e da
língua. Dessa forma, vários distúrbios de voz são atribuídos a excessos afetivos.” (SOUZA et HANAYAMA,
2005, p. 388) Para maiores informações sugerimos a leitura do artigo Percepção e cognição da expressão da
emoção em performance musical de António Salgado, de 2011.
44
“Na contemporaneidade, a relação entre a voz e o corpo tem recebido diversos tratamentos, desde o meio
científico ao meio teatral. Os modelos científicos vigentes na cultura influenciam o modo de pensar e agir da
sociedade, assim, no que se refere ao corpo, durante muito tempo (principalmente no século XIX) alguns
paradigmas mecanicistas influenciaram na dicotomia da voz ao corpo e de suas relações bio-psico-sociais.
Dentre eles, na visão instituida por René Descartes o corpo humano era visto como uma máquina e sua dimensão
era reduzida ao conhecimento de suas partes, não levando em consideração a sua totalidade. Esse paradigma
influenciou os estudos a respeito do corpo a partir do século XIX. Desta forma, a voz era estudada de forma
fragmentada, sendo pesquisada apenas suas partes, sem a conexão com o todo bio-psico-social que a envolve.
Ainda hoje, grande parte da vida contemporânea continua influenciada de acordo com a física cartesiana quando
o corpo e a voz são experimentados de maneira mecânica, dissociado de sua totalidade física-emocional-
mentalenergética. Essa acepção está sendo transformada a medida que as pesquisas científicas estão se
desenvolvendo.” (MARTINS, 2005, s.p.) Este capítulo do livro está disponível em:
http://poeticasdavoz.ufsc.br/files/2011/04/Integra%C3%A7%C3%A3o-corpo-voz-na-arte-do-ator
considera%C3%A7%C3%B5es-a-partir-de-Eugenio-Barba.pdf Acesso em 12 de Junho de 2016.
49
resultado de movimento corporal. Esse equívoco reforça-se, ainda, por não podermos
visualizar todo o movimento de produção vocal sem a ajuda de aparelhos específicos.
Acredita-se, muitas vezes, que um cantor canta parado. Ora, lembremo-nos de que o
movimento ocorre mesmo que não haja deslocamento visível no espaço. Nesse sentido,
quando um cantor canta sem se deslocar no espaço, não significa que não esteja consciente de
seu corpo, mas que, talvez, esteja apenas focado em movimentações que nem sempre são
visíveis. Assim como Laban sugere exercícios para somente um lado do corpo e depois o
outro; e em seguida a junção de ambos os lados, o estudo vocal, por exemplo, também está
concentrado em utilizar uma determinada musculatura e não negligenciando o corpo (como
algumas vezes pode-se equivocadamente julgar). A partir disso, podemos retomar a unidade
do nosso corpo-voz. Interessante, ainda, é pensar na retroalimentação movimentacional que
acontece na produção vocal, ou seja, não somente o movimento faz o som, como a própria
vibração sonora perpassa o corpo e o movimenta, ainda que minimamente.
Assim, acreditamos ser incompleto o pensamento labaniano de que o canto é um
esforço exclusivamente audível. Pensamos que o ato de cantar envolve, ao mesmo tempo, um
esforço visível (em parte pode ser visto pelas contrações musculares do pescoço e da face, em
parte com a ajuda de aparelhos para laringoscopia), um esforço audível (por seu resultado
sonoro) e um esforço imaginário. O esforço imaginário é exemplificado por Laban trazendo à
tona a correlação que fazemos entre a corporeidade que uma pessoa assume para determinado
resultado sonoro como, por exemplo, um grito, um sussurro, uma voz chorosa. Ao ouvirmos
um grito, imaginamos, por exemplo, uma boca bem aberta, veias túrgidas no pescoço, etc. Ao
ouvirmos um sussurro, imaginamos uma pessoa produzindo-o sem abrir muito a boca,
geralmente, com o corpo encolhido, etc. Do mesmo modo, ao ouvirmos uma voz chorosa,
mesmo sem ver o falante, imaginamos alguém com os olhos cheios de lágrimas, etc. Contudo,
ressaltamos o esforço imaginário que o cantor faz durante todo o ato de produção vocal, seja
imaginando sua movimentação glótica (que ele sente, mas não visualiza), por exemplo, ou
utilizando recursos metafóricos45 que o fazem assumir a corporeidade que trará o resultado
sonoro necessário.
Cont. Para o treinamento corporal, Laban sugere três centros gravitacionais. O
primeiro seria na região do umbigo que estaria entre os dois outros centros, a região do tórax
(osso esterno) e a região pélvica (no quadril). Enquanto o primeiro centro serve de referência
para o início da orientação no espaço, o centro torácico seria denominado “centro de leveza”
45
Indicamos a leitura do artigo O uso de metáforas como recurso didático no ensino do canto: diferentes
abordagens de SOUSA et al, de 2010.
50
(juntamente com ativação dos braços) e o centro pélvico denominado “centro de gravidade46”
(juntamente com ativação das pernas).
Todavia, o coreógrafo Willian Forsythe ampliou a noção dos centros do corpo, como
nos conta Rengel:
Uma vez que todos os nossos movimentos e, principalmente, a postura corporal são
influenciados pela lei da gravidade, referir-nos-emos nesse sentido também ao
“centro de gravidade” que, no corpo humano, está situado na zona pélvica e, na
modalidade normal da postura está situado acima do ponto de suporte. A postura
ereta do ser humano coloca em destaque as ações do peito e, neste caso,
46
“A cintura pélvica é composta de dois ossos ilíacos, cada um constituído pela fusão de três ossos primitivos –
o ílio, o ísquio e o púbis – e pelo sacro. Este último, formado da fusão de cinco vértebras, é responsável pela
estabilidade da cintura pélvica, e da sua capacidade de sustentar o peso do corpo. Já a cintura escapular é
composta pelas clavículas na frente e as escápulas atrás, sem nenhuma ligação óssea entre elas. Além disso, os
ligamentos da cintura pélvica são mais fortes e em maior número que os da cintura escapular. Os ossos das
extremidades também diferem em estrutura: os pés têm maior capacidade de suportar peso, enquanto as mãos,
com suas longas falanges, maior mobilidade e habilidades finas. Por esses motivos, a cintura escapular é bem
mais instável e funcionalmente mais móvel do que a cintura pélvica. Segundo esta constituição, cabe à parte
inferior do corpo o suporte e a locomoção, enquanto à parte superior, a mobilização e atividade muscular fina,
como escrever, gesticular, etc. No entanto, essas funções são constantemente invertidas ou temporariamente
alternadas, criando interessantes formas de expressão artística. Devido à constituição e função diferenciadas, a
cintura pélvica e a cintura escapular são também tratadas como Centro de Peso e Centro de Levitação,
respectivamente, com referência à Transferência do Peso Corporal, outro Princípio de Movimento de Bartenieff
(...).” (FERNANDES, 2006, p. 59)
51
apercebemo-nos em especial do esterno, ao qual podemos nos referir como “centro
de leveza”. Os ombros podem movimentar-se ao redor da coluna, do centro de
leveza e entre si com bastante independência e também independentemente um do
outro. (...) Execute um movimento trêmulo com os ombros, ou seja, uma série de
rápidas ações que não envolvam o tronco e parem finalmente de modo tenso, tendo
como consequência um porte assimétrico (...). Depois de uma pausa, traga
lentamente seus ombros de volta à sua posição simétrica normal, erguendo a cabeça
ao alto. (...) Execute a mesma sequência (...) envolvendo agora uma ação definida a)
da parte superior do tronco; b) da parte inferior do tronco; c) de todo o tronco.
(LABAN, 1978, p. 92 e 93)
47
“Segundo a literatura, o apoio denominado inferior contribui para uma voz mais estável, com melhor projeção
e controle da hiperfunção laríngea e, para o canto, pode promover uma emissão de voz cantada livre de tensões
cervicais. Pode-se verificar que os cantores que utilizam dos músculos inferiores tais como os abdominais,
diafragma e intercostais inferiores adquirem uma emissão mais controlada Em contrapartida, aqueles que
trabalham apenas a musculatura intercostal superior (torácica) durante o canto, promovem uma elevação da parte
torácica, anteriorização do esterno, tendem a uma captação menor de ar e um aumento das tensões cervicais e
laríngeas no ato de cantar.” (GAVA JÚNIOR et al, 2010, p. 552)
52
- Priorizar respiração costodiafragmática-abdominal48, principalmente, pensando na
ação dos músculos da cinta abdominal, caminhar flexionando os joelhos e com a planta dos
pés tocando o solo em toda a sua superfície, depois, repetir essa respiração caminhando
normalmente (Vídeo 7).
A função49 principal desses exercícios é associar os centros de leveza e gravidade com
diferentes padrões de respiração e experimentar como esses centros podem ser utilizados
durante o canto que, quase sempre, utiliza a respiração costodiafragmática-abdominal.
Cont. Sobre o movimento expressivo, Laban argumenta que
48
“Na literatura estudada, por exemplo, afirma-se que o padrão de apoio costodiafragmaticoabdominal é o ideal,
por determinar uma fonação mais adequada e proporcionar um melhor equilíbrio na emissão do ar para a voz
cantada. Também é feita referência ao diafragma e à musculatura abdominal como de apoio na emissão vocal
tanto falada quanto cantada. Outros autores, por sua vez, afirmam que a denominada coluna de ar, responsável
pelo apoio, é formada pela musculatura abdominal-diafragmática e/ou intercostal, de modo conjunto.” (GAVA
JÚNIOR et al, 2010, p. 552)
49
Posteriormente, eles serão utilizados para demonstrar as relações entre a musculatura do trato vocal, tronco e
membros inferiores, que comentaremos mais adiante na página 95.
50
“Se o aluno tem uma movimentação que consideramos “caricata”, “artificial”, “manipulada”, destituída de um
certo grau de livre arbítrio, de nada adianta criticá-lo e tentar mudar seu movimento (aí eu, ou você, leitor (a),
estaríamos sendo autoritários, impositivos). É preciso respeitar seus movimentos, aceitar o que este aluno ou
colega traz. Ele apresenta o repertório de movimentos que tem. Leva um tempo até o corpo (a pessoa) adquirir e
implementar novos movimentos e ter consciência de que ele não é um “recipiente”, onde tudo é “enfiado” sem
processamento, e leva um tempo, também, para ele ter uma visão crítica e saudável do que é ficar repetindo
movimentos que, na grande maioria, nada tem em relação ao próprio corpo.” (RENGEL, 2008, p. 12-13)
51
“Na incorporação dos conceitos labanianos por Bartenieff observa-se que as múltiplas oscilações entre
preparação, ação e recuperação, em conjunto e em diversas gradações, criam um fraseado. E percebemos que
cada pessoa possui uma certa maneira de frasear, o seu modo próprio de dizer em movimento.” (MIRANDA,
2008, p. 43 e 44) Bartenieff foi uma alemã aluna de Laban, bailarina, pesquisadora, que viveu muitos anos nos
Estados Unidos da América contribuindo em suas pesquisas amplamente com os estudos de fisioterapia.
53
integrará Esforço, Forma e Espaço, ou seja, os impulsos interiores direcionarão o traçado do
corpo e a subsequente constituição da forma em um relacionamento fluido com um espaço
que, como o movimento, é plástico.
Esse controle pode ser treinado, iniciando-se também por movimentos simples de
cromatismos e graus conjuntos em uma tessitura mediana, por exemplo, e depois por
movimentos mais complexos tais quais saltos intervalares, alterações de dinâmica, messa di
54
voce, etc. As possíveis dificuldades para realizar os movimentos vocais também podem ser de
ordem física ou mental. Não apenas um problema vocal (disfonia, por exemplo) pode causar
impossibilidade de realizar o movimento, mas também falta de treino adequado ou falta de
resistência muscular. Sobre as inibições de ordem mental, temos observado que a imagem que
a pessoa faz de si mesma e com a qual ela tenta parecer sua voz, pode não ser adequada ao seu
tipo vocal. Para exemplificar, podemos citar o caso de mulheres que, muitas vezes, mesmo
tendo características físicas de voz bem aguda, por quererem demonstrar certa força
psicológica, tendem a conversar no extremo grave da voz e a acreditar que sua voz não é
capaz de produzir frequências agudas, ao contrário do que o corpo fornece. Este é um assunto
delicado, pois, na grande maioria das vezes, o professor de canto ou alguém que esteja
instruindo o cantor (maestro, professor de música de câmara, vocal coach) não tem meios
para trabalhar com o aluno sobre a interferência de sua autoimagem em sua voz. Nesse ponto,
existe um contrassenso entre a identidade psicológica do indivíduo e sua identidade vocal,
cujas características ele tenta mascarar. Falaremos um pouco sobre isso mais adiante, quando
abordarmos a antitécnica52 mencionada pelo professor Ernani Maletta.
- Deslizar (utilizando os planos baixo, médio e alto), juntamente com glissando, até a
terça maior correspondente, em movimento ascendente e descendente. Repetir realizando a
escala cromática, até a terça maior, ascendente e descendente.
52
Ver página 59.
55
- Torcer (utilizando os planos espaciais baixo, médio e alto), juntamente com
glissando, até a quinta justa correspondente, com movimento ascendente e descendente.
Repetir realizando a escala cromática, até a quinta aumentada, ascendente e descendente
(Vídeo 8).
- Sentar (utilizando os planos espaciais baixo, médio e alto), juntamente com escala
diatônica, até terça maior correspondente, ascendente e descendente.
- Caminhar (utilizando os planos espaciais baixo, médio e alto), juntamente com escala
diatônica, até a quinta justa correspondente, ascendente e descendente.
56
- Pontuar (utilizando os planos espaciais baixo, médio e alto), realizando staccato na
mesma nota, com a mesma vogal ou vogais alternadas. Repetir o exercício com escala
cromática, até a terça maior correspondente, ascendente e descendente em staccato.
57
“esvaziamento”, mas a pensar em irradiá-los para seis extremidades, a saber: cabeça, cóccix
(cauda), membros superiores e inferiores, trabalhando assim a noção de Centro-Periferia.
(...) Também o bebê, aos poucos move-se a partir de seu umbigo, como se a cabeça
não fosse mais importante do que qualquer uma das outras extremidades; estas, num
total de seis – cabeça, duas mãos, dois pés, e cauda – são iguais, com o centro de
controle no umbigo. (...) A partir da Irradiação Central, gradualmente diferenciam-se
a cabeça e a “cauda” – termo usado para valorizar o prolongamento imaginário e
dinâmico do cóccix como ponto de referência em diversos movimentos de iniciação
pélvica. Aos poucos, as duas extremidades diferenciadas movem-se, criando a
ligação entre elas: a coluna, com movimentos como os de uma serpente. Este estágio
desenvolve a atenção, estabelece a noção de individualidade, de Cinesfera pessoal, e
de movimento em todos os planos do espaço. Um bebê neste estágio move a cabeça
e a cauda alternada ou simultaneamente, ainda sem conseguir levantar a cabeça e
peito totalmente do chão quando colocado de bruços. As baleias e golfinhos são
exemplos de organização corporal Espinhal. Os gatos possuem uma grande ênfase
nessa organização, mas são de um estágio bem mais complexo. (FERNANDES,
2006, p. 57 e 58)
(...) Pode-se observar os bebês nesta fase deitados de bruços, apoiando o peso no
abdômen (estabilizando a parte inferior) e tentando levantar o peito do chão
(mobilizando a parte superior), ou vice-versa. (FERNANDES, 2006, p. 58)
(...) Ou seja, a partir da coluna (fase Espinhal), o corpo divide-se no lado direito da
cabeça, pescoço, tórax, abdômen, braço, perna, e seu homolateral esquerdo. Este
estágio clarifica a intenção e estabelece as bases para a integração das funções
laterais do cérebro. Atraída por estímulos auditivos, a criança tende a contrair-se
para um dos lados, expandindo o outro, semelhante a uma lagartixa ao locomover-
se. (...) (FERNANDES, 2006, p. 60)
58
No estágio Contralateral, faz-se uma junção dos controles das divisões anteriores
realizando o entrecruzamento entre os lados “Superior Direito-Inferior Esquerdo e Superior
Esquerdo-Inferior Direito”. Sobre o desenvolvimento neurológico dessas etapas, a autora
comenta:
59
As possibilidades que tem a criança recém-nascida de sempre manifestar corporal e
plenamente seus desejos, suas necessidades, independentemente do lugar, do
momento e das circunstâncias em que se encontra, diminuem de forma progressiva a
partir do momento em que é considerada “apta” a obedecer regras sociais – em
especial quando aprendemos a falar e a andar, pois deve-se a todo custo evitar que
alguns desejos, necessidades e ideias sejam expressos no momento errado, no lugar
errado, da forma errada ou para as pessoas erradas. Na verdade, passamos a conviver
com uma contradição que nos acompanha pelo resto da vida: à medida que o nosso
potencial expressivo cresce continuamente com a aquisição de habilidades que nos
permitem manifestar mais plenamente os nossos desejos e necessidades, perdemos
em igual ou maior proporção a nossa liberdade expressiva, em nome das convenções
sociais que ditam quando, como ou se podemos manifestá-los. Paradoxalmente,
quando aprendemos a falar, começamos a perder a nossa voz, em seu sentido mais
amplo. Muitas pessoas sofrem repressões de forma tão contínua, intensa e por vezes
assustadora que acabam até mesmo se privando de manifestações expressivas que
lhes seriam permitidas. Isso porque passamos a habitar um espaço que Della Monica
chama de histórico, predominantemente apolíneo, no qual aprendemos a nos
expressar de uma forma convencional e equilibrada, não perturbada pelos afetos e
emoções. Os pontos de vista particulares e as individualidades são geralmente
reprimidos pelas regras massificadoras da vida em sociedade e os possíveis
transgressores são quase sempre punidos, suas expressões são identificadas como
pecados ou incivilidade, nos quais é inculcada a culpa por tê-los cometido. Assim, as
ações (gestos) vocais ficam restritas a espaços reduzidos. A conquista da liberdade
vocal e da possibilidade de manifestar as individualidades, independentemente das
noções apolíneas de certo e errado, significa o alcance do espaço mítico, dionisíaco e
polifônico. Nesse espaço, segundo Della Monica, a voz de cada indivíduo, em meio
ao terremoto das emoções, das paixões, preserva o seu poder expressivo.
(MALETTA, 2014, p. 49 e 50)
Não é nosso objetivo, na presente pesquisa, abrir mão por completo das técnicas
apolíneas, visto que este é um trabalho realizado com grande influência do canto lírico,
utilizando um repertório de música erudita e envolvendo profissionais da música erudita.
Contudo, nas aulas em que tivemos o privilégio de presenciar a atuação docente do professor
Ernani Maletta, pudemos maravilhar-nos com o processo e os resultados de suas descobertas
ao que ele chamou de antitécnica e, posteriormente, pudemos aplicar algumas de suas teorias
em nossa própria prática educadora, (tanto para música popular, quanto mesclando com a
técnica do canto erudito) obtendo também resultados incríveis. Voltaremos às riquíssimas
pesquisas de Maletta e Della Monica mais adiante53. Entretanto, neste momento, gostaríamos
de frisar a importância da liberdade da criança, de sua ainda não convencionabilidade social e
de seu intrínseco desenvolvimento vocal.
53
Ver página 65.
60
Quadro I: Desenvolvimento da linguagem. Fonte: SCHIRMER et al, 2004, p. 96.
- Irradiação central – abrir os braços e as pernas como que imitando o formato de uma
estrela, executar sons graves, médios e agudos como se fossem irradiados para as
extremidades do corpo55. Mover a cabeça e a cauda do corpo separadamente, como uma
serpente. Podem ser feitas expressões vocais de choro.
54
Ver página 95.
55
Exercício similar a esse foi realizado pela professora Jussara Fernandino em 2013 na disciplina Música e
Cena, da qual fui aluna.
61
- Superior-Inferior – imaginar o corpo dividido pela cintura e realizar movimentos
apoiando-se no peito ou no abdômen. Experimentar expressões vocais de riso.
Esperamos que estes exercícios beneficiem o cantor, à medida em que retornam a tipos
rudimentares de expressão vocal (primeiramente, explicitando o uso inicial de certas
movimentações vocais), sobre os quais nos tornamos desatentos durante nosso
desenvolvimento para a fase adulta. Em segundo lugar, por uma tentativa de reencontrarmos a
liberdade social e vocal de criança pequena que possui, geralmente, uma projeção e uma
espacialização vocal mais livre.
De acordo com Ciane Fernandes (2006, p. 37), esse método não descreve puramente o
movimento, mas características da personalidade vinculadas a ele, assim o performer pode
estar mais atento aos seus próprios “padrões corporais” para não confundi-los
despropositadamente com os do personagem.
62
Conquanto os parâmetros labanianos utilizados na Análise Laban de Movimento
possam parecer opostos (força-leveza, interior-exterior, etc.), seria reducionista encará-los
dessa maneira. A proposta não é de oposição, mas de gradações diversas em um mesmo
elemento. Nesse sentido, a figura do Anel ou Fita de Moebius é utilizada como ícone
explicativo do pensamento labaniano. Assim:
63
dizer que existe uma infinidade de gradações entre o fechamento glótico muito firme e
abertura glótica, por exemplo; entre uma pressão subglótica muito forte ou menos forte, entre
o fechamento da mandíbula e sua abertura exagerada, etc. Refletindo-se isso nos resultados
sonoros, fortíssimo ou pianíssimo, som limpo ou soproso, etc. É, a propósito, o equilíbrio de
forças duais como essas que nos fornece elementos fundamentais para o canto como os
chamados apoio e vibrato56.
Por último, o que Laban coloca sobre a caracterização de Deuses e Mortais pode
trazer-nos um elemento de criação para as vozes de nossos personagens. Se com esforços e
dualidades complexas temos nossas vozes humanas, talvez para representarmos uma
personalidade divina, pudéssemos utilizar esforços vocais mais simples, sem tantas
contraposições musculares.
Cont. Para Laban, há quatro fatores que estarão presentes em todo movimento e dizem
respeito à qualidade deste, a saber: Fluência, Peso, Espaço e Tempo. Justamente, por estarem
presentes em todo movimento, serão também necessários à análise do movimento. Sobre a
sensação do movimento que ocorre nas ações, Rudolf Laban, em seu livro O Domínio do
Movimento, ressalta que tais sensações são de extrema importância nas situações expressivas,
embora não o sejam nas ações meramente funcionais. Isso se dá porque, pela variação dos
fatores Peso, Tempo, Espaço e Fluência, altera-se a sensação do movimento e também as
qualidades da experiência psicossomática.
Fluência
A Fluência57 trata da maneira global como atuam as partes do corpo, ou seja, sua
unidade e sua integração. A maneira como modulamos de um movimento a outro, se é
contida ou livre, fragmentada ou contínua. Ela demonstra a relação entre os músculos que
contraímos, visto que “todo movimento requer tensão muscular, seja em que grau for”
(RENGEL, 2005, p. 64).
56
Sobre isso indicamos a leitura dos capítulos Appoggio e Vocal Tremuslousness do livro Bel Canto: a history of
vocal pedagogy de James Stark, de 1999.
57
“É o primeiro fator observado no desenvolvimento do agente. Ao se observar um bebê, é possível ver seus
movimentos de expansão e contração; é a fluência se manifestando com qualidades de esforço liberadas e/ou
controladas. Ele apenas “flui”, sem muito domínio deste fluir do movimento.” (RENGEL, 2005, p. 64)
64
Adapt. Falando em Fluência Vocal, podemos considerá-la, então, como sendo a
atuação das partes do corpo que produzem a voz. Nesse sentido, ela se refere ao próprio fazer
vocal, como um todo, corpo, respiração, emissão, articulação, fonação, fraseado, intenção, etc.
Todavia, sublinhamos o fato de que quanto mais contida (fragmentada) for a movimentação
da produção vocal, ou seja, principalmente, das pregas vocais, mais ruídos podem aparecer no
resultado sonoro. Do mesmo modo, consideraremos a Fluência Musical como uma
movimentação mais ou menos contida ou livre dos elementos que configuram o som musical,
a saber: melodia, ritmo, dinâmica, fraseado, etc. Por exemplo, geralmente, nossa execução
musical tende a ser fluida, livre, contínua. Entretanto, podemos imaginar uma situação na qual
começássemos a fragmentar a fluidez rítmica (perdendo a noção de proporção), ou a fluidez
harmônica (executando a harmonia em locais inapropriados da música), etc.
Espaço
Outras possibilidades sobre o Espaço Vocal, em sua essência discursiva, são trazidas
por Maletta e Della Monica como veremos abaixo:
58
“É o segundo fator observado no desenvolvimento do agente. Por volta do terceiro mês de vida, o bebê já tem
seus órgãos perceptivos mais desenvolvidos; ele manifesta esforço para focalizar sua mãe e objetos.” (RENGEL,
2005, p. 65)
65
Della Monica identifica diversos espaços que a voz deve ocupar, para que ação
comunicativa seja plenamente efetivada:
- espaço físico visível – espaço concreto do ambiente no qual se está, e que pode ser
fisicamente percebido por intermédio da visão. Corresponde à dimensão do presente,
do imediato, do real;
- espaço físico possível – aquele também concreto, mas que não podemos ver: o
espaço posterior e todos os outros que estão fora do nosso campo visual, mas que
podemos enxergar por intermédio da memória. Corresponde a uma dimensão remota
e da possibilidade;
- espaço relacional – espaço não concreto e que existe na medida em que
estabelecemos uma relação de comunicação com o nosso interlocutor, incluindo-o
como participante do discurso que estabelecemos e agindo de forma que a
comunicação seja a mais efetiva possível, isto é, que o nosso interlocutor perceba
com clareza o que queremos comunicar;
- espaço lógico-projetivo – aquele, também não concreto, que se refere à construção
do discurso verbal, musical ou coreográfico, envolvendo a lógica interna daquilo
que se pretende comunicar (...).
Com base nessas definições, Della Monica analisa a problemática do que se costuma
chamar de projeção vocal de forma peculiar e bastante esclarecedora. Projetar a voz
não deveria ser, em hipótese alguma, uma questão de volume, de força, mas uma
questão de espaço. (...) Della Monica se refere a quatro dimensões espaço-
relacionais:
- íntima – quando há grande proximidade física entre emissor e pouquíssimos
interlocutores, não se pretendendo incluir outros. Nesse caso, a ação vocal se limita
a espaços restritos;
- privada – a ação vocal é direcionada a um grupo um pouco maior de
interlocutores, que ocorre geralmente nas reuniões familiares, profissionais ou de
amigos. O espaço relacional da voz se amplia e, consequentemente, provoca um
aumento de extensão e de intensidade corporais;
- pública – a ação vocal é direcionada a grandes grupos, própria das salas de aula,
auditórios, plateias teatrais, assembleias e comícios. O espaço vocal cresce
consideravelmente e, como consequência, utilizam-se grandes extensões e
intensidades;
- mítica – refere-se à necessidade de manifestação vocal que vai além das
convenções, para se expressarem afetos, emoções e desejos que fogem do controle
das regras sociais. Usam-se extensões e intensidades extremas. (MALETTA, 2014,
p. 45-47)
As proposições desses dois pesquisadores, que dizem que a projeção vocal é uma
questão de espaço e não apenas de “ressonância frontal”, testifica a ideia que sempre nos
permeou de que o uso de metáforas (quando for o caso) de caráter mais espacializador pode
contribuir para o desenvolvimento vocal. A resposta corporal a essas imagens metafóricas
poderá auxiliar a aumentar nossas vibrações nas cavidades internas de amplificação e, desse
modo, também ampliarão nosso espectro de harmônicos e nossa projeção vocal,
consonantemente às referências trazidas pelo artigo de Maletta (2014).
66
Peso
Cont. Esse fator informa como sustentamos a nós mesmos, aos movimentos e a
objetos (reais ou imaginários). Para definir o fator peso59 de um movimento, observamos se
ele é leve ou firme. Para Rengel (2005, p. 67 e 68), esse fator “traz ao movimento um aspecto
mais físico da personalidade”, demonstrando intenção, sensação e afirmação da vontade. A
autora fornece quatro elementos a serem considerados:
1- Forças gravitacionais.
2- Força cinética – força (energia) necessária para mover o corpo no espaço.
3- Força estática – a força (energia) que é exercida quando uma posição é mantida em um
estado de ativa tensão muscular.
4- Resistência externa – a resistência oferecida por objetos ou pessoas.
59
“Este fator auxilia na conquista da verticalidade. É possível observar como o bebê deixa cair objetos várias
vezes, “descobrindo” a força da gravidade. Depois ele a experimenta em si mesmo, até ficar de pé sustentando
seu corpo.” (RENGEL, 2005, p. 67)
60
Na amplificação vocal, as cavidades maiores e tecidos mais moles proporcionam valorização dos harmônicos
graves e cavidades menores e tecidos mais rígidos proporcionam valorização dos harmônicos agudos. Por isso
quando queremos mais harmônicos agudos (uma voz brilhante, metálica) utilizamos mais “ressonância” nasal e
quando queremos mais harmônicos graves (uma voz mais escura/aveludada) utilizamos mais “ressonância” oral.
67
depender de outras múltiplas variáveis que não somente o tensionamento e relaxamento das
pregas vocais.
Quando pensamos, por outro lado, em Peso Musical, a primeira ideia que nos vem à
mente é a de modificação de andamento, de tempo. Geralmente, as peças musicais com
caráter pesado ou pesante, são executadas em andamento mais lento. Essa associação,
todavia, não deveria ser intrínseca, de modo que conseguíssemos executar algo pesado e
rápido, ou seja, não necessariamente uma execução musical precisa ser leve para ser rápida.
Outra associação possível é a que está diretamente ligada à intensidade. Aumentamos, certas
vezes, a intensidade para indicarmos peso, o que seria reflexo direto do aumento de tensão
muscular. Ainda este ponto é paradoxal, pois utilizando o próprio peso do corpo (sua massa
com ação da gravidade), relaxadamente, em certos casos, podemos conseguir maior
intensidade do que se utilizarmos tensão muscular (criando resistência à ação gravitacional).
Tempo
• Tempo Mágico: motor que tem um movimento contínuo, implacável (que não se
pode abrandar); acentuação igual; atitude de consciência para libertar-se de uma fase
de identificação com a natureza, agir contra, emancipar-se. É a primeira dimensão
61
“A noção de tempo, na vida do agente, começa a surgir por volta dos cinco ou seis anos de idade. Antes desta
época é vaga a ideia de tempo. É muito comum frases como: “Eu vou ontem”. Nessa idade (cinco ou seis anos) é
que as brincadeiras começam a ter começo, meio e fim. (...). Em termos de atitudes internas, o treino e domínio
das qualidades do fator tempo ajuda, por exemplo, a que os limites não sejam tão rígidos. Auxilia, ainda, a maior
mobilidade e tolerância em relação às frustrações; se o agente não tem algo agora, talvez seja possível obtê-lo
depois.” (RENGEL, 2005, p. 70)
68
para um conceito básico de preservação da vida. Ex.: candomblé, danças primitivas,
jazz.
• Tempo Psíquico: infindo; grandeza cujo modelo é arbitrário mas duradouro; de
acentuação irregular; predominância de uma afinidade que se realiza por meios
mecânicos da intuição e do inconsciente; atitude de consciência que globaliza a
unidade homem-Deus. É a segunda dimensão, para um conceito que se estende a
tudo. Ex.: música gregoriana, música oriental.
• Tempo Automático: cronométrico; grandeza de medida quantitativa; acentuação
métrica regular; predominância do ritmo; atitude de consciência racional que mede e
calcula. É a terceira dimensão. Ex.: música ocidental.
• Tempo Acrônico: conceito de tempo baseado na astronomia, em que cada um
estabelece um sistema de comunicação particular e divisões de tempo próprias; livre
impulso motor da ideia do infindável e da medida tendo por base uma escala fixa;
grandeza qualitativa e contínua; estrutura quadridimensional; atitude de consciência
integradora, que integra e globaliza. É a quarta dimensão.
Falando com rigor, o tempo em si não é uma dimensão propriamente dita, uma vez
que por dimensão entende-se uma relação que se considera suscetível de medida e
análise racional. Somente o tempo de relógio, como tempo medido, poderia ser
qualificado como dimensão. (....) Todas as medições de tempo são, de fato,
medições no espaço e estas dependem daquelas: segundo, minuto, hora, dia, semana,
mês, estação e ano são medidas de posições da Terra no espaço em relação ao Sol, à
Lua, às estrelas. (...) Em 1907, Einstein, com o espaço absoluto – que não depende
de outrem ou de outra coisa -, aboliu o conceito do tempo absoluto, ou seja, de um
fluxo constante, invariável e inexorável, o tempo que flui do passado infinito ao
futuro infinito. (....) Uma grande parte de nossos interlocutores tem dificuldade em
compreender essa verdade, que resulta da recusa do homem a entender que o
fenômeno tempo – assim como o da cor e o do som – é uma forma de percepção.
(...) (PETRELLA, 2006, p. 205 a 208)
62
“(...) nas delineações e tendências emocionais, interiores, complicadas e contraditórias, apenas um tempo-
ritmo não nos pode servir. É preciso combinar vários.” (STANISLAVSKI, 2001, p.284-285)
“Stanislavski traz em suas experiências alguns exemplos sobre o treino e utilização do Tempo-Ritmo, ou seja, o
Tempo-Ritmo pode ser exercitado primeiramente de forma externa, como, por exemplo, executando-se
fisicamente um ostinato de determinada célula rítmica, por meio de palmas, ou passos, ou produção de sílabas,
tentando demonstrar a um colega, pela execução rítmica, certo clima ou circunstância, tentando adivinhar qual
situação alguém está tentando demonstrar ritmicamente, etc. Posteriormente, este trabalho será apenas interior,
invisível, semelhantemente a contagem do tempo feita pelos músicos durante a execução de uma sinfonia,
todavia, sempre que o ator tiver dificuldade no trabalho interior, poderá recorrer à expressão física do Tempo-
Ritmo. (...) Entendemos que o Tempo em cena é equivalente à pulsação em música, determinada pelos
andamentos estipulados. Por exemplo, um compasso de quatro tempos em um andamento Presto fornece uma
sensação de tempo mais acelerado, ao passo que um mesmo compasso de quatro tempos em um andamento
Adagio fornece uma pulsação e consequente sensação de tempo mais lenta. Deste modo, o Tempo deve ser
preenchido por diferentes durações de movimentos, pausas e outros elementos que constituirão o Ritmo da
melodia de ações, do mesmo modo que as diferentes durações de notas musicais formam melodias em um pulso
de andamento pré-estabelecido." (ARAÚJO, 2012, p. 59 e 60)
69
preencher com energia (de respiração, de tensão, de vibração, etc), tal sustentação.
Metaforicamente, podemos pensar em “preencher um cilindro sonoro e/ou discursivo”. Por
outro lado, se necessitamos executar uma passagem em grande velocidade, o nosso
pensamento interno rítmico deve ser lento, possibilitando assim um relaxamento muscular que
propicie a execução rápida. Geralmente, tendemos a nos contrair quando estamos andando
apressados e a reação deveria ser inversa63. Metaforicamente, poderíamos pensar em criar um
“cilindro para canalizar o preenchimento que produzimos”.
Tais pensamentos também podem pertencer ao que chamaríamos de Tempo Vocal, por
exemplo, se dissermos que o vibrato indica já em si uma polirritimia, visto que não está
diretamente proporcionalizado ao ritmo musical escrito na partitura. Por último, no Tempo
Vocal, temos o próprio ritmo realizado pelas pregas vocais em sua vibração para produção das
frequências. Além disso, podemos incluir nesse ponto as subvariações de tempo, como as
usadas para os portamenti, o já comentado vibrato, ornamentos etc.
Cont. Para Laban (1978), a pesquisa e a análise da linguagem de movimentação
devem apoiar-se no conhecimento e na prática dos elementos do movimento, suas
combinações, sequências e significações, estando atentos para a formação do mundo interno e
externo da pessoa (personagem). Ele cita, então, as quatro fases de esforço mental que podem
ser observadas em movimentos expressivos, a saber: Atenção/Espaço (quando se examina o
objeto da ação), Intenção/Peso (que varia de forte a leve dependendo do tipo de tensões
musculares produzidas e que oferece a informação referente à determinação da pessoa para
agir), Decisão/Tempo (relativa ao tempo envolvido para se realizar a ação),
Precisão/Fluência (um momento de antecipação da execução da ação amplamente controlado
por um esforço de fluência controlada ou livre).
Adapt. Embora, como discutimos anteriormente em cada tópico, esses elementos
estejam estreitamente relacionados e embora haja paradoxos, pensamos em realizar uma
correspondência de cada fator de movimento labaniano para um fator64 sonoro. O objetivo
principal dessa correspondência é facilitar e incentivar exercícios de controle desses fatores
juntamente com os demais movimentos corporais. Nesse sentido, escolhemos: 1)
63
Isto é o mesmo que acontece, em geral, por exemplo, se estamos atrasados para algum compromisso: tendemos
a correr com o corpo tenso, associando tempo acelerado e fluxo controlado. E isto é o que fascina nos dançarinos
avançados: logram realizar os exercícios nas velocidades mais rápidas, sem apressar-se nem tensionar-se. Ao
longo dos anos, aprenderam a separar “fluxo” de “tempo”, e podem ser rápidos com fluxo livre, em uma
expressividade facial tranquila e espontânea. Isto difere de faces tensas que tentam expressar leveza ou bem-
estar, enquanto a mente ainda preocupa-se em realizar os complexos exercícios no tempo exato. (FERNANDES,
2006, p. 322 e 323)
64
Decidimos chamar de fatores sonoros e não “parâmetros” sonoros, porque incluímos também a projeção que
não é convencionalmente inserida na categoria de parâmetro sonoro.
70
Espaço/Timbre/Atenção; 2) Peso/Altura e/ou Intensidade/Intenção; 3) Tempo, Duração,
Decisão; 4) Fluência/Projeção/Precisão.
A escolha de agrupar o Timbre ao Espaço deu-se, em primeiro lugar, pela relação
entre espaços de amplificação vocal e sua alteração no timbre, ou seja, as modificações que
realizamos em nosso espaço acústico por meio dos ajustes físicos. Em segundo lugar, pelo
espectro de harmônicos anteriormente mencionado e, em terceiro lugar, porque a Projeção
Vocal65 é resultante dos demais fatores, incluindo o Timbre, e não o contrário. Altura e
Intensidade, que podem ser trabalhadas em conjunto ou separadamente, foram agrupadas ao
fator Peso, porque estão diretamente relacionadas à tensão muscular de adução e estiramento
das pregas vocais. Vale lembrar que consideramos Intensidade e Projeção elementos
completamente distintos, pois se pode conseguir Projeção mesmo em um som executado em
dinâmica pianíssimo. Compartilhamos, a seguir, alguns exercícios para treinamento desses
fatores.
65
Recomendamos a leitura do artigo O formante do cantor e os ajustes laríngeos de Cristina Gusmão, Paulo
Henrique Campos e Maria Emília Oliveira Maia, de 2010.
71
Figura 15: Arpejo ascendente de dó maior com sétima maior e descendente de si diminuto com sétima menor e
nona menor66.
As ações básicas de esforço têm uma relação com termos originários do balé
clássico, como frappé, jetté, battu, etc. Essas ações se remetem também à Teoria das
Cores – as ações de esforço básicas fazem analogia às cores primárias. Se o agente
fizer combinações com as qualidades de esforço dos três fatores, ESPAÇO, PESO e
TEMPO condicionantes para a ação básica, notará que são oito as combinações
possíveis, portanto são oito as ações corporais básicas:
66
Esse arpejo nos foi ensinado pela professora Raquel Gaboardi nas aulas particulares de solfejo.
67
Esse vídeo demonstra variações de tempo, espaço, timbre, peso, intensidade, etc.
68
“(...) são necessárias em ações cotidianas sem o envolvimento da emoção (fluxo), como abrir um ovo
semicozido (direto, leve, acelerado – “Pontuar”), empurrar um objeto pesado (direto, forte, desacelerado –
“Pressionar”), secar uma toalha supermolhada (indireto, forte, desacelerado – “Torcer”), tirar a poeira dos
móveis (indireto, leve, acelerado – “Espanar”). Uma variação do fator fluxo nestas ações poderia atrapalhar e até
impedir a realização das mesmas. Por outro lado, a associação de espaço, peso e tempo facilita o êxito funcional.
O ovo precisa de um leve e acelerado golpe no local exato (foco direto) para abrir sem espalhar-se. A toalha
molhada precisa de força (peso forte) numa torção indireta para secar, gradualmente oferecendo mais resistência
e desaceleração à ação, e assim por diante. (FERNANDES, 2006, p. 153)
72
1- Torcer: sua qualidade de espaço é flexível; sua qualidade de peso é firme, sua
qualidade de tempo é sustentada.
2- Pressionar: sua qualidade de espaço é direta; sua qualidade de peso é firme; sua
qualidade de tempo é sustentada.
3- Chicotear: sua qualidade de espaço é flexível; sua qualidade de peso é firme; sua
qualidade de tempo é súbita.
4- Socar: sua qualidade de espaço é direta; sua qualidade de peso é firme; sua
qualidade de tempo é súbita.
5- Flutuar: sua qualidade de espaço é flexível; sua qualidade de peso é leve; sua
qualidade de tempo é sustentada.
6- Deslizar: sua qualidade de espaço é direta; sua qualidade de peso é leve; sua
qualidade de tempo é sustentada.
7- Pontuar: sua qualidade de espaço é direta; sua qualidade de peso é leve; sua
qualidade de tempo é súbita.
8- Sacudir: sua qualidade de espaço é flexível; sua qualidade de peso é leve; sua
qualidade de tempo é súbita. (RENGEL, 2005, p. 24)
Sobre os impulsos:
O Impulso Mágico (...) combina os fatores de peso, fluxo e espaço, excluindo o fator
tempo. Ou seja, ao mover-se em Impulso Mágico, o corpo mantém seu tempo
constante (...) e parece prender a atenção dos espectadores, como se os hipnotizasse.
Como o nome indica, “mágico” refere-se a esta combinação de sentimento (fluxo),
sensação (peso) e atenção (espaço), instalando uma atmosfera da eternidade, onde o
tempo parece ter parado. (FERNANDES, 2006, p. 149)
Adapt. Ficamos intrigados para saber se seria possível, também, desenvolver espécies
de Estados Expressivos, Impulsos Expressivos e Ações Básicas de Expressividade para os
movimentos Musicais e Vocais. Com intuito de realizarmos uma experimentação, nesse
sentido, desenvolvemos os exercícios expostos abaixo.
69
“Experimentações com o espaço teatral é uma das ramificações dos estudos de Laban. Sempre que possível,
Laban fazia suas apresentações criando um lugar como teatro de arena. Para ele, uma arte tridimensional não
poderia acontecer num espaço que parecia bidimensional. Criou praticáveis de diferentes níveis e formas,
colocando-os tanto no palco como na plateia. Explorou diversos modos de relacionamento; muitas vezes, seus
74
(RENGEL, 2005, p. 100). Aqui, reproduzimos um quadro-resumo fornecido pelo próprio
LABAN, seguido por outro quadro-resumo das nossas próprias adaptações dos Fatores
Sonoros:
performers misturavam-se às pessoas da plateia. Não era muito a favor de cenários, preferia apresentações ao ar
livre.” (RENGEL, 2005, p. 63)
75
Quadro III: Quadro-resumo relacionando os Fatores Sonoros70 aos Fatores de Movimento labanianos.
Essa associação que fizemos é apenas uma das formas que o performer pode utilizar.
Uma outra utilização dos Fatores de Movimento para a voz é feita pela fonoaudióloga Lúcia
Helena Gayotto, principalmente, voltada para o trabalho de ator. Entretanto, não partimos das
ideias dessa pesquisadora, pois só tomamos conhecimento do trabalho dela após a elaboração
e escrita de nossas próprias ideias71, o que assegurou uma variedade de pensamentos. Para
exemplificarmos outra maneira de relacionar os Fatores de Movimento à voz, citamos aqui o
trabalho de Gayotto, que o intitulou Dinâmicas de Movimento da voz:
70
Por Timbre padrão, Timbre agudo e Timbre grave, queremos dizer, respectivamente, um timbre com
balanceamento de harmônicos agudos e graves, um timbre com valorização de harmônicos agudos e um timbre
com valorização de harmônicos graves. Também incluímos na categoria Tempo, variações de articulação vocal,
ou seja, uma execução mair articulada ou menos articulada.
71
A defesa da presente tese ocorreu no dia 02 de Agosto de 2016 e só tomamos conhecimento deste trabalho
de Gayotto em 14 de Agosto de 2016, quando, então, inserimos as citações de Gayotto para a versão final da
tese.
76
No corpo – flexível e direto.
A espacialidade da voz é expressa principalmente nas modificações de altura e nos
movimentos que alterem, conseqüentemente, as curvas melódicas, a entoação, como
também a qualidades de ressonância.
D-Fluência
No corpo – contínua e entrecortada.
A fluência da voz diz respeito a variações respiratórias, de pausas, de
encadeamento articulatório, e também de duração (Gayotto, 200472).
Cada um desses fatores do movimento, energia, espaço, tempo e fluência, será
classificado aqui em categorias. Como o termo sugere, esses fatores são dinâmicas
que se tocam, se implicam: o que se considera como energia na voz, por exemplo,
uma articulação sobrearticulada, implica, também, alterações em outras categorias,
como as de tempo e fluência. A presença de uma ressonância muito baixa, de peito e
laringo-faríngica, recurso vocal ligado à categoria espaço, certamente gera sensações
e modificações de energia. (GAYOTTO, 2005, p. 405)
Planos
72
A autora menciona outro trabalho dela sobre as adaptações dos fatores de Laban, provavelmente,
Fonoaudiologia no teatro: estados da voz (2004), ao qual não tivemos acesso. Acreditamos ser este o trabalho
mencionado, porque a outra referência a um trabalho de 2004 é sobre Expressão no teatro, o qual havia sido
anterioremente conhecido e citado por nós e que não aborda os aspectos labanianos.
73
"Os movimentos nos planos originam-se na infância, a partir dessa relação com as dimensões. Segundo Cohen
(1993a), cada plano corresponde ao desenvolvimento de habilidades psicomotoras. O Plano Horizontal é o da
atenção, da receptividade, da busca e da comunicação. O Plano Vertical é o da análise, da determinação,
intenção e apresentação. O Plano Sagital é o da recordação, planejamento, ação e locomoção.” (FERNANDES,
2006, p. 214)
77
Plano horizontal ou Mesa
78
Figura 16: Plano da porta – Fonte: RENGEL, 2001, p. 106.
79
Figura 17: Plano da mesa – Fonte: RENGEL, 2001, p. 107.
80
Figura 18: Plano da roda – Fonte: RENGEL, 2001, p. 108.
81
Além dos planos, dispõem-se como auxílio para o treinamento a Cruz Diagonal,
Cruz Diametral e a Cruz Tridimensional. Nesse sentido, para compreendermos a Cruz
Diagonal, devemos considerar direções diagonais que vão do centro do corpo em direção aos
oito cantos de um cubo, demonstrando amplitude (largura), comprimento (altura) e
profundidade com equidade. Para a compreensão da Cruz Diametral, consideram-se doze
direções partindo do centro do corpo para os doze cantos dos planos (Mesa, Roda, Porta). Por
último, na Cruz Tridimensional, pensa-se em seis direções emanando do centro do corpo.
82
Figura 20: Cruz diametral – Fonte: RENGEL, 2001, p. 44.
83
Figura 21: Cruz tridimensional – Fonte: RENGEL, 2001, p. 45.
84
Formas Cristalinas
Lacava (2006, p. 174 e 175), ao citar Lawor, informa que os poliedros regulares já
eram utilizados antes de Platão, com sinais de que “eram conhecidos pelos povos neolíticos da
Grã-Bretanha”, e também na tradição hindu, entre outros. Entretanto, foi por meio do trabalho
Timaeus que Platão delineou “uma cosmologia através da metáfora dos planos e sólidos
geométricos regulares, por isso, chamados platônicos: o cubo, que associou à terra; o
tetraedro, ao fogo, o octaedro, ao ar; o icosaedro, à água, o dodecaedro (....) [ao] prana (...)”.
Laban, por sua vez, utilizará para o estudo do movimento no espaço algumas formas, a saber:
cubo (hexaedro), tetraedro, octaedro, dodecaedro e icosaedro74, embora tenha se concentrado,
principalmente, nas formas do cubo (seis faces), octaedro (oito faces) e icosaedro (vinte
faces).
Sendo que:
74
“Este é um poliedro que não está entre os cristais inorgânicos. O primeiro a descrevê-lo foi o filósofo grego,
Platão. Apenas recentemente a ciência descobriu a aparição do icosaedro em certas relações estruturais dentro do
mundo orgânico. Pesquisas recentes têm feito mais descobertas nesta direção, especialmente em conexão com a
estrutura de certos vírus.” (LABAN apud FERNANDES, 2006, p. 216)
85
Figura 22: Cubo – Fonte: RENGEL, 2001, p. 46.
86
Figura 23: Octaedro – Fonte: RENGEL, 2001, p. 102.
87
Figura 24: Icosaedro – Fonte: RENGEL, 2001, p. 8575.
75
As siglas HL, HR, FH, BH, RB, RF, LB, LF, FD, BD, DL e DR, indicam em inglês, respectivamente, as
direcionalidades HighLeft (alto-esquerda), HighRight (alto direita), ForwardHigh (frente-alto), BackHigh (trás-
alto), RightBack (trás-direita), e assim por diante.
76
“TITZE (2001) ressalta que as sensações vibratórias percebidas na face nada mais é do que a conversão de
energia aerodinâmica em energia acústica; e não um som ressoado na cavidade nasal e seios paranasais como
erroneamente se faz referência. Ou seja, para este autor a voz na cavidade nasal e paranasal nada mais é do que
uma sensação sonora.” (GUSMÃO et al, 2010, p. 48)
88
bochechas), 3 na parte inferior e frontal (lábios e queixo), 3 na parte superior e medial, 3 na
parte central e medial, 3 na parte inferior e medial, 3 na parte superior e posterior (occipital),
3 na parte central e posterior, 3 na parte inferior e posterior (nuca). Esse pensamento foi
iniciado com base no clássico “leque” de ressonância demonstrado por Lili Lehmann77, o
qual, inclusive, despertou o interesse de cientistas como Raoul Husson78 para o estudo mais
cuidadoso de aspectos anatômico-acústicos da voz humana, como a amplificação,
harmônicos, teorias de produção vocal, etc. Por que não pensamos apenas em linhas ou setas
direcionais? Porque os cubos trazem a ideia de preenchimento, de espacialização e não apenas
de direção, ou seja, eles representam um direcionamento preenchido.
77
Informações disponíveis no livro Aprenda a cantar, de Lilli Lehmann.
78
Informações disponíveis no livro La voix chantée, de Raoul Husson.
79
Este tipo de trabalho foi por nós conhecido, pela primeira vez, ao participarmos das aulas do Prof. Ernani
Maletta em 2013.
89
Figura 25: 27 direções de orientação espacial – Fonte: RENGEL, 2001, p. 29.
90
Figura 26: Legenda das direções – Fonte: RENGEL, 2001, p. 30.
91
Figura 27: Octaedro deslocado.
92
Série 9 de exercícios sugeridos
- Sugerimos que o executante tente realçar a vibração em cada um dos 27 cubos
ressonantais. A localização da parte de vibração mais intensa pode ser feita colocando-se as
mãos nos pontos estratégicos da cabeça. Em geral, notas mais agudas e vogais, as quais
requerem maior levantamento da parte medial da língua, fazem com que vibremos mais as
regiões no topo da cabeça (testa, occipital, etc). Notas médias e vogais, as quais requerem
levantamento médio da língua, fazem com que vibremos mais a região central (nariz,
bochechas e cubos paralelos a esses). Notas mais graves e abaixamento posterior da língua
fazem com que vibremos mais os cubos da região inferior da cabeça. Essas são apenas dicas80
para auxiliar o início do exercício, mas o executante pode conseguir vibrações no topo da
cabeça com notas graves, vibrações na parte inferior com notas agudas e assim por diante.
- Outro jogo interessante para os cubos ressonantais pode ser realizado em duplas. O
sujeito “A” realiza qualquer som em bocca chiusa81 (humming), enquanto o sujeito “B”
precisa identificar pelo toque qual parte da cabeça de “A” vibra mais. Após identificação, o
sujeito “B” sugere, por meio do toque, novos pontos sobre os quais o sujeito “A” deve
alcançar maior vibração.
80
É importante ressaltar que os sons mais graves fazem vibrar mais a cabeça como um todo, inclusive no topo.
Assim, as considerações feitas no texto não querem dizer, por exemplo, que os sons graves não vibram o topo da
cabeça, mas apenas indicam modos pelos quais o executante pode iniciar a experimentação das vibrações.
81
Literalmente, significa “boca fechada”, em italiano.
93
corporal. Uma correlação entre a tensão da musculatura do braço e a do pescoço já foi
estudada (DOMANICO, 1997, p.11), contudo, essa ligação com a movimentação de membros
mais distantes ao trato vocal, principalmente, inferiores, muito nos intrigou.
A primeira consideração sobre isso a que tivemos acesso veio também dos professores
Maletta e Della Monica, conforme transcrevemos abaixo:
Outras considerações similares são feitas por Frederick Matthias Alexander (1869–
1955) e citadas por por Paulo Henrique Campos em sua dissertação de mestrado:
Como o uso de um órgão do corpo está ligado ao uso de outros, existe uma
“influência recíproca exercida pelos diversos órgãos [que] muda incessantemente, de
acordo com a modalidade de uso dos mesmos”. Portanto, no processo de
reeducação, quando mudamos o uso de determinada parte do corpo, “o estímulo para
a nova modalidade de uso é fraco em comparação com o estímulo para o uso dos
outros órgãos do corpo, que estarão sendo empregados indiretamente nessa
atividade, segundo a modalidade antiga habitual” (CAMPOS, 2007, p. 59)
Para Alexander, “o uso de qualquer órgão específico, como o braço ou a perna,
implica necessariamente no acionamento dos diferentes mecanismos [...] do
organismo, cuja atividade conjunta ocasiona o uso do órgão específico”
(ALEXANDER apud CAMPOS, 2007, P. 60).
Talvez por isso, intuitivamente, nas aulas de canto exercitamos realizar as notas mais
agudas durante um agachamento ou um simples dobrar de joelhos, porque, de fato, nosso
corpo sente-se mais confortável para fazê-lo abaixando a laringe, o que facilitaria a produção
dos sons agudos. O que muitas vezes é feito com o corpo de maneira intuitiva pode ajudar-nos
a resolver as questões vocais, porque, na maioria das vezes, as pessoas demoram a conseguir
controlar conscientemente os ajustes milimétricos necessários para a movimentação do trato
vocal. Por outro lado, incentivar uma conscientização gradual de tais ajustes, pode auxiliar as
pessoas que não os conseguiram fazer de maneira intuitiva. Pode-se repetir a última parte da
primeira série de exercícios, observando-se, agora, as conexões que propomos na figura
híbrida do trato vocal, tronco e membros do corpo. Para auxiliar na visualização dessa
conexão, fornecemos a figura 28. Nela, tentamos demonstrar, por exemplo, que o
abaixamento da laringe (e do fundo da língua) pode ocorrer junto com o abaixamento
diafragmático e com o relaxamento da musculatura do assoalho pélvico, bem como com as
flexões de joelhos e cotovelos. Por outro lado, a contração exacerbada de músculos do
abdômen pode gerar tensão na região do pescoço, etc. Ao retomar a última parte da primeira
série de exercícios e, também, a segunda série (vídeos 6 e 7), o performer poderá perceber em
sua experimentação como, certas vezes, inspirar torna-se mais difícil se mantivermos todos os
membros do corpo esticados, ao passo que será mais fácil se mantivermos as principais
articulações corporais flexíveis.
82
“A função esfincteriana na laringe é ser protetora das vias aéreas inferiores pela ação de dois conjuntos de
esfincteres: o superior, constituído pela epiglote, pregas ariteno- epiglóticas e aritenóides; e o inferior, formado
pelas bandas ventriculares ou cordas vocais verdadeiras [pregas vocais]. Ambas, em conjunto, desempenham
pontos de apoio aos músculos abdominais, intercostais e diafragma, correlacionando com os esforços da
defecação, do trabalho de parto, da tosse, do espirro e de suporte para os membros superiores (bacia escápulo-
umeral).” (VIEIRA, 2003, p. 62)
95
Figura 28: Híbrido do trato vocal, tronco, membros superiores e inferiores.
96
Ainda sobre o trabalho de Maletta, gostaríamos de sublinhar sua consideração sobre a
identidade vocal:
Na vida cotidiana, usa-se a voz até uma certa altura. A partir daí, tem-se medo de
enfrentar um novo espaço. Della Monica, a respeito disso, é categórica, afirmando
que não se atinge o agudo por falta de espaço. Segundo ela, o agudo, de uma forma
antropológica, exige mais espaço, jamais força. O mesmo vale para outras tantas
dificuldades na emissão, especialmente à falta de precisão na afinação e ao que se
costuma chamar de quebras da voz, isto é, o rompimento do fluxo contínuo do som
vocal. Sair do nosso conhecido recinto pode ser tão assustador que, mesmo quando
nossos desejos expressivos não cabem nele, preferimos nos espremer, apertar.
Assim, o receio do desconhecido impede o movimento sonoro da voz em direção à
região dos agudos – o que também vale para as extremidades graves –, levando-nos
a abrir mão da própria identidade vocal e mascarar tecnicamente a voz para
alcançar essas regiões de acordo com as regras sociais ou com determinadas
estéticas por estas legitimadas. Esse é um bom exemplo de como a técnica pode ser
limitadora. Para a preservação da identidade vocal do sujeito fonador deve-se buscar
uma qualidade sonora que seja própria da sua pessoa vocal, que verdadeiramente o
identifique e que seja mantida em toda a sua extensão, não se alterando na passagem
da fala para o canto. (MALETTA, 2014, p. 50)
Logo após esse trecho, no artigo original, são expostas questões que Della Monica
utiliza para fornecer auxílio a essa manutenção da identidade vocal, as quais não nos cabe
comentar aqui. Voltando ao tópico da identidade vocal e de seu papel na expressividade,
concordamos que certas técnicas, especialmente aquela voltada para o canto lírico, podem
mascarar a identidade do cantor. Especificamente no canto erudito, não é completamente
possível para o cantor manter toda sua identidade vocal em todo o tempo. Isto se dá pela
produção do Formante do Cantor83 que é uma junção do terceiro, quarto e quinto formantes,
sendo os três primeiros responsáveis pela identidade das vogais e o quarto e quinto pela
identidade do emissor.
Não obstante, acreditamos que o cantor lírico pode manter sua identidade vocal,
embora não como na voz falada, devido ao fenômeno supracitado. Por outro lado, pensamos
que a técnica, usada de maneira consciente, pode possibilitar ao emissor criar o que
chamamos de voz “neutra” padronizada (assim como trabalhamos o corpo neutro no teatro) e,
não sendo encarcerado por ela, ele pode conseguir transitar entre o modo neutro vocal, sua
própria identidade e possíveis identidades de personagens. É de suma importância clarear que
o que entendemos aqui por voz neutra diz respeito a um balanceamento de harmônicos que,
além de tudo, possibilite boa projeção. Não estamos nos referindo, nesse caso, à chamada voz
neutra utilizada em algumas técnicas de canto popular, na qual um pouco de ar é adicionado à
emissão.
83
Vide artigo de Cristina Gusmão et al, de 2010.
97
O ponto da(s) identidade(s) vocal(is) levanta outra reflexão que é a seguinte: se nossas
expressões corporais/faciais, ou seja, nossos movimentos musculares, interferem no nosso
resultado sonoro, até que ponto conseguimos tornar independentes a expressão corporal/facial
e a expressão vocal? Acreditamos que certa independência entre as partes diretamente
envolvidas na produção da voz e os músculos faciais seja possível e desejável. Por exemplo,
na realização de uma entonação ou timbre vocal alegre e brilhante associado a uma expressão
facial/corporal triste e pesarosa. O que parece um contrassenso, poderia ser muito útil para
enriquecer a vida interior/exterior de um personagem ou de uma performance de obra
musical. Nesse sentido, o domínio consciente e independente dos grupos musculares pode
ajudar. Por exemplo, com maior levantamento de laringe, podem-se conseguir mais
harmônicos agudos para o som, mesmo que o músculo zigomático esteja relaxado (a
contração desse músculo é uma das responsáveis pela expressão de sorriso e alegria). Esse
controle permite-nos realizar passagens, como no balé e no teatro, que podem parecer
extremamente leves, mas que exigem extremo esforço e vice-versa.
Retornando à relação entre os músculos do trato vocal e demais partes do corpo
(tronco, braços, pernas, etc.), conforme comentamos ao falar da figura do híbrido (figura 28),
gostaríamos de abrir um diálogo com OIDA (2007), a fim de ampliarmos nosso entendimento
sobre as possibilidades de conexões entre a produção vocal e o restante do corpo. Para isso,
abordaremos as falas de Yoshi Oida84 sobre os orifícios do corpo e, então, sobre a imagem da
Kundalini.
“Segundo a tradição japonesa, o corpo tem nove orifícios: dois olhos, duas narinas,
duas orelhas, uma boca, um orifício para a passagem de água e um outro para defecação.
Todos precisam de atenção.” (OIDA, 2007, p. 27). Além de limpar o corpo, devemos cuidar
dele partindo da atenção pelos nove orifícios. Com relação aos Olhos, o autor indica que
devem ser lavados e também exercitados, para cima, para baixo, para as laterais, com
movimentos circulares e massageados, pois, segundo ele, o público está atento aos olhos do
84
Yoshi Oida é um ator japonês e diretor, nascido em 26 de Julho de 1933, em Kobe. Ele atuou na televisão, no
cinema e no teatro contemporâneo. Esteve envolvido com o tradicional Teatro Nô japonês, o Kabuqui e, ainda,
atuou como contador de histórias. Foi a maneira repleta de mesclas de traços ocidentais e orientais que se tornou
a grande característica teatral de Yoshi Oida. Em 1968, aos 35 anos de idade e sem falar nenhum idioma
europeu, ele deixou o Japão para ir à França, onde conheceu Peter Brook, com quem trabalhou também, em
1970, no Centro Internacional de Criações Teatrais. Sua convivência com Peter Brook permitiu-lhe apresentar-se
em importantes espetáculos em diversos países. De seu legado teórico, constam três livros: L’acteur invisible (O
ator invisível), L’acteur flottant (O ator errante) e L’acteur rusé (O ator astuto/hábil). A partir de 1975, ele
trabalhou também com ópera e dança. – Informações formuladas com base no livro O ator invisível de Yoshi
Oida, de 2007.
98
ator. Ele ressalta a importância dos olhos para a expressão das emoções e para o trabalho de
ator e diz que:
(...) precisamos saber escolher o me-sen (linha d’água). Isso inclui foco (desfocado,
nitidamente focado, próximo ao foco) e também direção. Existem outros truques,
como o da convenção “olhando para a lua”. Embora a sensação para o público seja a
de que nossos olhos estão focados na lua estamos, na realidade, usando o queixo
para olhá-la. Isso torna a ação maior e mais verdadeira. Sendo capazes de usar bem
os olhos não ficamos confinados ao mundo físico. Os olhos podem ver tanto as
coisas concretas quanto as invisíveis. (OIDA, 2007, p. 28).
Sobre o Nariz, ele diz que o melhor é inspirarmos pelas narinas e não pela boca e cita
uma crença japonesa de que as narinas estão conectadas à terceira visão e de que ficar com o
nariz entupido afetaria a “capacidade de perceber com clareza e de pensar com inteligência”
(OIDA, 2007, p. 30). Oida instrui o leitor a fazer massagens nas laterais do nariz com os
dedos em direção ao cavalete do nariz.
Em sequência, ele instrui outra massagem para as Orelhas. Segundo ele, deve-se
começar apertando suavemente a cartilagem da orelha que se encontra com o contorno do
rosto e, após isso, com o polegar e o indicador realizar movimentos circulares no lobo da
orelha e, ainda, expandi-lo puxando-o levemente para fora. Outro exercício, indicado por
Oida, consiste em cobrir uma orelha de cada vez com a palma das mãos por alguns segundos
e, depois, afastar a mão rapidamente. Na sequência, podem-se dobrar as cartilagens em
direção ao rosto e com os dedos que estão livres dar “leves batidinhas na cabeça”.
Para o cuidado com a Boca, Yoshi indica, novamente, massagens nas gengivas, da
seguinte maneira:
Com a boca fechada, posicionam-se as pontas dos dedos no lábio superior, logo
abaixo do nariz. Suavemente, damos umas batidinhas nessa parte (base das
gengivas) com as pontas dos dedos e continuamos o movimento, que será circular,
num caminho entre a boca e o osso da face. Vamos então com os dedos em direção
ao queixo, continuando a massagear as gengivas – atingindo o maxilar inferior, do
mesmo jeito. (OIDA, 2007, p. 31)
O autor alega que, devido à fração de dentes caninos que possuímos ser de um oitavo
em relação aos demais (incisivos e molares), essa deveria também ser a quantidade de carne
correspondente em nossa alimentação.
Sobre o Ânus, Yoshi Oida expõe que “no Japão, todas as artes marciais e as tradições
teatrais ressaltam vivamente a importância de manter o ânus contraído quando se está
99
trabalhando” (OIDA, 2007, p. 32), especialmente, nas partes em que se necessita de mais
energia corporal ou vocal. Ele comenta sobre figuras existentes nas crenças tibetanas, taoístas,
africanas e iogues que partem do ânus levando energia em direção à coluna. Especialmente,
citaremos a Kundalini, da ioga indiana, que é a figura de uma serpente de energia,
endireitando a coluna e intensificando a energia espiritual.
Sobre os primeiros sete orifícios, também podemos treinar sua movimentação e dos
músculos ao redor, ou seja, orelha, olhos (pálpebras, sobrancelhas, etc), nariz (e abas do
nariz), boca (bochechas, lábios, mandíbula), etc., com o intuito de obter maior controle do
movimento dessas regiões. Nessa movimentação, podem-se aplicar os fatores de movimento
Laban (Peso, Espaço, Tempo, Fluência) e suas variações.
Quanto aos orifícios da Musculatura do Assoalho Pélvico, a primeira observação que
fazemos é que mais um orifício deveria ser incluído, a Vagina. A Vagina, na musculatura
feminina, também participa das contrações do assoalho pélvico, musculatura essa que sustenta
nossos órgãos pélvicos e que se contrai em atividades como rir, tossir, fazer esforço físico,
etc. Se considerarmos que ao rirmos e ao tossirmos existe uma acentuada contração do
diafragma, perceberemos que a Musculatura do Assoalho Pélvico85 também pode se contrair
ao retesarmos nosso diafragma durante a expiração. Assim como Oida relata que a contração
anal é importante para momentos nos quais necessitamos de mais força (nas artes marciais ou
outras atividades), muitos professores de canto sugerem esse recurso, principalmente, para
alcançarmos notas agudas. Particularmente, não consideramos que essa contração deva ser
feita em todas as notas agudas, mas que pode, sim, ser útil em alguns momentos.
Falaremos um pouco agora sobre a imagem da serpente energética Kundalini e os
Chakras alinhados nela. Freitas et al (2012), fazem uma interessante revisão bibliográfia e
científica, citando estudiosos da biologia, medicina, física, etc., sobre os centros energéticos
chamados Chakras e as atuais comprovações científicas que integram energia, fisiologia e
psicologia. Para a presente pesquisa, separamos apenas o trecho que relaciona os Chakras aos
nossos aspectos físicos (glândulas, nervos, órgãos, etc.).
85
Disponível em: http://perineo.net/conteudo/index.php Acesso em 03 de Janeiro de 2016.
100
com que estimulem ou inibam a produção de hormônios. Para JUDITH (2004, p.
56), no corpo físico, os Chakras correspondem aos gânglios nervosos, glândulas do
sistema endócrino e vários processos corporais, influenciando os estados mentais e
físicos. Os chakras podem nos dar pistas importantes sobre nossas forças e
fraquezas, sublinhando áreas que precisamos trabalhar em nós mesmos. (...)
Segundo alguns autores ocidentais, incluindo as pesquisas do Dr. Motoyama, já
citado, a ligação hormonal entre os chakras e as glândulas endócrinas sugere novas e
complicadas possibilidades quanto à maneiras pelas quais um desequilíbrio no
sistema energético sutil pode produzir alterações anormais nas células de todo o
corpo, apresentado através de um diagrama por GERBER (2007, p. 106), que nos
demonstram as associações neurofisiológicas e endócrinas dos chakras. (FREITAS
et al, 2012, p. 56)
Quadro IV: Os chakras e o corpo humano. Fonte: FREITAS et al, 2012, p. 56 e 57.
101
Figura 29: Os chakras. Disponível em http://www.shurya.com/chakras/ Acesso em 03 de Janeiro de 2016.
86
Tópicos escritos com base nas informações encontradas em http://antakaranamajadahonda.com/tag/chakras/ e
http://sanando-gillianleyva.blogspot.com.br/2014/10/las-ruedas-de-la-energia-los-chacras.html. Acesso em 03 de
Janeiro de 2016.
102
Propomos, então, que esses pontos e suas correlações psicofísicas, podem ser pensados
de maneira coincidente com os principais pontos nos quais concentramos nossa atenção na
hora de cantar. Assim:
87
Ver página 106.
88
Jerzy Marian Grotowski, nasceu em Rzeszow na Polônia, em 1933. Ele já era um admirador de Stanislavski e
de seu Sistema de Ações Físicas, quando foi para Moscou em 1955 estudar o Sistema Stanislavsky. Por mais de
vinte anos, Grotowski trabalhou discretamente, longe da fama. Desde a metade da década de 1980, ele aparecia
de tempos em tempos para entrevistas e alguns pronunciamentos. Para Schechner (1997, p. 25), Grotowski “era
bem conhecido e obscuro ao mesmo tempo, sua fama, em vez de projetá-lo aos olhos do público, mascarou-o”.
Grotowski e Thomas Richards estiveram no Brasil, em São Paulo, em 1996 para realizar uma programação junto
ao SESC-SP (MIRANDA, 2010, p. 10). Grotowski faleceu na Italia em 1999.
89
Embora hoje seja conhecido que o que chamamos de registro de peito e registro de cabeça são, na verdade, as
ações de diferentes grupos musculares durante a produção vocal de sons graves e agudos, e que as cavidades de
amplificação vocal são, principalmente, boca e nariz (embora haja outros locais de sensação de vibração),
durante muito tempo, acreditou-se que a “ressonância” (amplificação) vocal ocorria no peito (para os sons
graves) e na cabeça (para os sons agudos). Sobre esse assunto, recomendamos a leitura do capítulo Registers:
some tough breaks do livro Bel canto: a history of vocal pedagogy, de James Stark (1999).
90
“Grotowski insisted that an actor should never observe his/her own voice. If an actor, while working, put his
attention on his vocal instrument, he begins to listen to himself. Perhaps he likes what he hears or perhaps he
begins to doubt himself. In either case, when he listens to himself, his larynx closes, not entirely, but sort of half-
closes. The closure causes him to struggle for fullness and so he begins to force his voice and becomes hoarse.
104
Grotowski insistiu que um ator nunca deveria observar sua própria voz. Se um ator,
enquanto trabalha, coloca sua atenção no seu instrumento vocal, ele começa a ouvir
a si mesmo. Talvez ele goste do que ouve, mas talvez comece a duvidar de si
mesmo. Em ambos os casos, quando ele ouve a si mesmo, sua laringe fecha, não
inteiramente, mas permanece algo como “meio-fechada”. O fechamento causa uma
luta por plenitude e, então, o ator começa a forçar sua voz e fica rouco. O ator viola
o instrumento vocal podendo criar, depois de um longo período, problemas
fisiológicos como nódulos ou laringite crônica. Observar o próprio instrumento
vocal e interferir no processo orgânico deve ser evitado a cada passo do trabalho
vocal. (...) A maneira com a qual Grotowski evitou esse problema foi pelo trabalho
com o eco do ator. [Atenção voltada para o exterior e não para si mesmo] (...) Então,
Grotowski começou a estimular os atores partindo do exterior, encorajando-os a
manter um diálogo com o teto (para o ressonador occipital), com a parede (para os
ressonadores de peito e da espinha dorsal), e com o chão (para o ressonador do
estômago). Ele procurou por diferentes associações com o espaço e animais,
relações com o meio. Ele determinou que a voz deve sempre procurar fazer contato,
em direção a um local preciso no espaço e procurar por retorno, objetivando ajustar
e fazer novo contato.
(SLOWIAK et CUESTA, 2007, p. 149 e 150) [Tradução nossa]
Cremos que assim como Grotowski desenvolveu uma série de exercícios, nós também
podemos criar uma série de estudos para o aumento das vibrações corporais. O ponto
The actor violates the vocal instrument, which can create, after a long period, physiological problems like vocal
nodes or chronic laryngitis. Observing one’s own vocal instrument and interfering in the organic process must
be avoided at each step of working on the voice. (…) The way that Grotowski avoided this problem was to work
with the actor’s echo. (…) So Grotowski began to stimulate the actor from the outside, coaxing him to engage in
dialogue with the ceiling (for the occipital resonator), with the wall (for the chest or spine resonator), and with
the floor (for the stomach resonator). He looked for different associations of space and animals, relationships
and environment. He determined that the voice must always be seeking contact, directed toward a precise place
in the space, and listening for feedback, in order to adjust and make new contact.” (SLOWIAK et CUESTA,
2007, p. 149 e 150)
105
principal de nossas séries serão os movimentos vibratórios, ou seja, movimentos com treino
de vibração vocal simultânea. Como já demonstramos anteriormente, alguns pontos dos
ressonadores de Grotowski coincidem com locais de concentração fundamentais para a
produção vocal. Queremos, então, fazer com que os ressonadores de Grotowski não sejam
apenas imaginativos, mas que consigamos vibrar, de fato, essas regiões do corpo até a parte
inferior da coluna, conforme demonstraremos nos próximos exercícios.
Essa série visa retomar a ideia de que a voz é nosso próprio corpo, por meio da
extensão do alcance de vibração corporal durante a fonação. Para auxiliar a compreensão
desse processo, fornecemos as figuras 30 e 31, cujas cores indicam as vibrações do agudo ao
grave (vermelho ao violeta).
- Depois, pode-se tentar controlar a vibração em toda a coluna vertebral e fazer essa
vibração deslizar pela coluna, para cima e para baixo, com um controle consciente. Alterações
no posicionamento da língua (como se fosse articular diferentes vogais) e nas alturas
(frequências) emitidas facilitarão esse processo.
- A seguir, tenta-se experimentar vibrações na parte das costas um pouco acima dos
quadris e na frente, no tronco, na região do baixo ventre.
- Por último, sugerimos que o executante tente sentir as suaves vibrações que podem
ocorrer nos membros superiores e inferiores, especialmente, braços e pernas.
106
Figura 30: Mapa de vibrações corporais propiciadas pela produção vocal. Ilustração: Filipe Siqueira
107
Figura 31: Mapa de vibrações corporais propiciadas pela produção vocal. Ilustração: Filipe Siqueira
108
A partir de tal percepção, pretendemos utilizar as informações sobre os aspectos
fisiológicos e emocionais dos Chakras e dos Vibradores de Grotoski para enriquecer nosso
trabalho muscular e expressivo na performance do canto, o qual é um processo psicofísico
complexo. Essa relação direta, entre tais pontos de vibração corporal e os principais pontos
que pensamos na técnica vocal durante a produção do canto, começa a permitir-nos conectar
mais amplamente a produção vocal com a parte inferior do tronco, até a inserção pubiana do
retoabdominal e o cóccix. Para demonstrar melhor os aspectos relacionais que propomos para
os assuntos que foram expostos, oferecemos o quadro abaixo:
Escalas
Cont. Voltaremos agora aos estudos labanianos. Assim como temos um modelo da
escala musical ocidental formada de 12 sons, Laban desenvolve escalas de exercícios
corpóreo-espaciais, nas quais o corpo, ao passar pelos pontos que coincidem com os vértices
das formas cristalinas, vai desenhando no espaço. A seguir, expomos as escalas espaciais
trabalhadas por Laban, que objetivam fornecer uma base para um movimento mais decisivo,
acurado em sua orientação no espaço tridimensional. As escalas91 podem ser executadas com
91
“As Escalas do Icosaedro podem incluir todos os doze pontos, ou incluir apenas parte dos pontos, em escalas
com apenas seis ou três pontos. Uma regra é comum a quase todas as Escalas do Icosaedro: elas seguem uma
ordem nos planos, indo sempre do Plano Vertical ao Sagital ao Horizontal, e de volta ao Vertical.”
(FERNANDES, 2006, p. 217)
109
diferentes partes do corpo, sejam membros inferiores, superiores, separadamente ou ao
mesmo tempo.
Escalas do Octaedro
92
“The dimensional scales consists of simple pathways along the cardinal axes of up/down, left/right, and
forward/back. Because each of its movements consists of a single spatial pull, the scale feels stabilizing and
uncomplicated. Many rituals with movement components contain portions of the dimensional scale. Laban saw
the dimensional scale as representing efficiency, ease, and economy of effort. Use this scale when you want to
practice simple clarity, centeredness, and grounded power. It can serve as a useful recuperation or warm-down
after practicing the more disorienting scales.” Texto do Moving Space App.
93
“The defense scale is a variation on the dimensional scale, inspired by the primary actions in the martial art
of fencing. It consists of three movement phrases, each of which extends out from center, sweeps through space
in an arc-like path, and reutrns to center. For exemple, imagine performing the version of the scale whose fist
phrase spokes upward and then sweeps to the right and down, led by the right arm. In that case… The first
phrase defends the head and then the right flank. The second phrase defends the left side of the neck and then
sweeps across, protecting the right side of the neck. The third phrase defeds the left flank via a parry across the
body and backward and then protects the abdomen by a rising thrust forward. Notice how this scale features
quick, unpredictable directional changes and a rhythm of alternating linear and arcing movements. Use this
scale to prepare for situations in wich readiness, initiation, and setting of boundaries are called for. Like the
110
Escala do Cubo
Escala do Icosaedro
A escala diametral, sistematicamente, explora cada um dos 3 planos que compõem
internamente a estrutura do icosaedro. Geralmente, os movimentos dessa escala são,
portanto, planos, contendo apenas 2 tensões espaciais. Depois de explorar um plano,
vai-se para o próximo e, finalmente, para o terceiro. Devido ao fato de essa escala
abordar apenas 2 dimensões por vez, ela pode ser uma maneira simplificadora de
explorar a estrutura interna do icosaedro em comparação à uma escala que se move
entre três dimensões simultaneamente. Essa escala deve ser usada para trazer ordem
sistemática a uma questão complexa, situar a estrutura oculta do icosaedro, ou para
focar nas partes que compõem um todo. Essa escala também serve para praticar
localizar e tocar os vértices do icosaedro com precisão, estabelecendo confiança nos
planos antes de passar para os volumes. – Disponível no ícone de informação –
Tradução nossa.95
dimensional scale, the defense scale holds the power of simplicity, but it also contains a few surprises.” Texto do
Moving Space App.
94
“There is a deceptive simplicity to the diagonal scale. The crystalline solid that contains it is the familiar
cube, and its diagonal pathways are merely connections between the cube’s corners. Yet because every segment
of the scale starts and ends at a point containing 3 spatial pulls, each movement sends you off into another
extreme corner, and half the time you’re traveling from one corner to its complete diagonal opposite. For this
reason, the diagonal scale is considered to be one of the most mobilizing scales. Laban felt the diagonal scale
contained extreme dynamic changes that, while rare in the movement of everyday life, represented the fullness of
human potential, in all its different aspects. Use this scale when you want to practice big changes in dynamic,
such as preparing for a debate or running parkour. It does not touch as many points in space as the icosahedral
scales, but the changes are more extreme. Laban-trained actors sometimes assign emotional dynamics to each
corner of the cube and run the scale in order to warm-up their expressive range. You can also assign vocal
sounds or tones to each corner and explore modulating between them as you do the scale.” Texto do Moving
Space App.
95
“The diametrical scale sistematically explores each of the 3 planes which make up the inner scaffolding of the
icosahedron. Generally, its movement is therefore flat, containing just 2 spatial pulls. After exploring one plane,
it then moves on to the next, and finally to the third. Because it only tackles 2 dimensions at a time, it can be a
simpler way to explore the inner structure of the icosahedron than tackling a scale which moves along three
dimensions simultaneously. Use this scale when you want to bring systematic order to a complex issue, locating
its underlying structure, or when you want to focus on the parts that make up a whole. It also serves as a way to
practice locating and touching the vertices of the icosahedron with precision, establishing confidence in the
planes before moving on to volumes.” Texto do Moving Space App.
111
Adapt. Nossa ideia é desenvolver uma série de exercícios para que o performer se
acostume a coordenar a ação de sua musculatura de produção vocal juntamente com a ação
dos demais grupos musculares como, por exemplo, músculos dos membros inferiores. Assim,
associamos exercícios vocais às escalas Labanianas, utilizando escalas cromáticas e
diatônicas, arpejos e demais sequências intervalares.
Exemplos de padrões possíveis: dó, ré, mi, dó, fá, sol, dó, lá, si, dó / dó, mi, ré, dó, fá,
sol, dó, lá, si, dó/ dó, si, la, dó, sol, fa, dó, mi, ré, dó.
112
Figura 32: Primeira possibilidade de padrão musical para escala Dimensional I.
Exemplos de padrões possíveis: dó, ré, mi, fá, sol, lá, dó/ dó, si, lá, sol, fá, mi, dó. Ou
podemos manter as mesmas notas que utilizamos para os vértices no exercício anterior: ré, mi,
fá, sol, lá, si, ré/ si, lá, sol, fá, mi, re, si.
Figura 36: Primeira possibilidade de padrão musical para escala Dimensional II.
113
Figura 37: Segunda possibilidade de padrão musical para escala Dimensional II.
Figura 38: Terceira possibilidade de padrão musical para escala Dimensional II.
Figura 39: Quarta possibilidade de padrão musical para escala Dimensional II.
Exemplos de padrões possíveis: dó, ré, mi, fá, dó, sol, lá, mi, dó, si, fá, lá, dó / dó,
si, lá, sol, dó, fá, mi, lá, dó, ré, sol, mi, dó.
114
Escala Diagonal – primeiro formato: 1- direita-frente-alto (vértice direito-anterior-
superior); 2- esquerda-atrás-baixo (vértice esquerdo-posterior-inferior); 3- esquerda-frente-
alto (vértice esquerdo-anterior-superior); 4- direita-atrás-baixo (vértice direito-posterior-
superior); 5- esquerda-atrás-alto (vértice esquerdo-posterior-superior); 6- direita-frente-baixo
(vértice direito-anterior-inferior); 7- direita-atrás-alto (vértice direito-posterior-superior); 8-
esquerda-frente-baixo (vértice esquerdo-anterior-inferior); 9- direita-frente-alto (vértice
direito-anterior-superior).
- Para essa escala, uma mesma nota em oitava diferente da anterior indica outra
localização no espaço.
Exemplo de padrões possíveis: dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, si, dó/dó, mi, sol, si, lá, fá, ré,
sí, dó.
115
Exemplos de padrões musicais: dó, mi, sol, dó, si, re, dó, lá, fá, dó ré, si, dó, lá, sol, dó,
dó, mi, dó / dó, dó#, ré, dó, ré#, ré, dó, mi, fá, dó, fá#, sol, dó, sol#, lá, dó, lá#, si, dó.
- Nesse formato, uma mesma nota em oitava diferente da anterior indica outra
localização no espaço, no caso da escala diatônica. Esse parâmetro não se aplica à escala
cromática.
96
Informação encontrada no texto não publicado de Roberta Jorge Luz, disponível em
http://spcd.com.br/downloads/seminario_publicacoes/Reflexoes_Sobre_a_LinguagemdaDancanasAulasde%20A
rte_RobertaLuz.pdf. Acesso em 07 de Julho de 2015.
116
Tema de movimento I – consciência corporal (RENGEL, 2005, p. 101 e 102):
• Corpo em movimento e imobilidade97;
• Uso simétrico e assimétrico do corpo;
• Ênfase em partes do corpo;
• Liderando o movimento com partes específicas do corpo;
• Transferência do peso e gestual;
• Relações entre partes do corpo.
• Esticar, dobrar, torcer98.
97
“Importante perceber que imobilidade tem movimento. É apenas aparentemente, a olho nu, que estamos
imóveis. Melhor dizendo, podemos estar parados, porém não imóveis. Imagine se tivéssemos aquela visão de
raio X ou de ultra som, etc., daria para ver que tudo está se mexendo dentro do corpo, bem como fora. O
movimento não se dá só “fora” do corpo.” (RENGEL, 2008, p. 20)
98
“Este Tema trata de como coordenar as bases mecânicas constituintes do movimento, as quais são dobrar,
esticar e torcer e de funções cinéticas elementares.” (RENGEL, 2008, p. 19)
99
“Com relação ao tempo, Laban chamou a atenção para algo muito importante que ocorre. Trata-se do ritmo
métrico e não-métrico.” (RENGEL, 2008, p. 33)
100
“Também criamos traçados com fitas, barbantes e elásticos. Esses caminhos podem ser retos ou sinuosos,
deste modo experienciamos as qualidades espaciais de DIRETO e FLEXÍVEL.” (RENGEL, 2008, p. 40)
101
“Laban disse que quando não conseguimos “parar” um movimento rapidamente, a fluência é livre, quando
paramos um movimento e recomeçamos sem dificuldade a qualquer momento, a fluência é controlada.”
(RENGEL, 2008, p. 48)
117
• Dançando para o parceiro (observação de movimentos).
• Dançar em duos, trios, quartetos, etc.
Tema de movimento VII – consciência das oito ações de esforço básicas102: 1-Torcer 2-
Pressionar 3- Chicotear 4- Socar 5- Flutuar 6- Deslizar 7-Pontuar 8- Sacudir.
102
“É como se as ações completas fossem as cores primárias e, a partir delas, existissem “cores incompletas”:
vinho, azul-piscina.” (RENGEL, 2008, p. 74)
103
“Pesquise, observe os múltiplos movimentos que são feitos em cada tipo de trabalho, ou na rua, no ônibus,
entre outros. Nada disso é uma mera imitação e, lembre-se do que falamos sobre cópia e/ou imitação. Ficar
mimetizando movimentos de trabalho, os do dia a dia ou de técnicas de danças específicas é para transformá-los
e também entender seus propósitos e qualidades. E, a partir deles criar dança!!!” (RENGEL, 2008, p. 85)
104
“Originalmente este Tema correspondia a aprender a compor a partir de canções e de sons produzidos no
trabalho.” (RENGEL, 2005, p. 105)
118
Tema de movimento X – relacionado com os ritmos dinâmicos e as transições das oito ações
básicas.
Tema de movimento XIII – relacionado com a elevação do solo (RENGEL, 2005, p. 108).
• Saindo do chão.
• Partes específicas do corpo, levando o peso em direção ao ar.
• Formas e elevação.
• Esforço e elevação.
• Volta ao chão.
• Elevação sem pulo.
• Jogos com parceiros e grupos.
• Música e elevação.
119
Tema de movimento XVI – relacionado com significado, expressão, comunicação e
implementação no corpo (RENGEL, 2005, p. 109).
105
Ver página 66.
120
1.2.6 Kinesfera
122
CAPÍTULO 2 –Caminho para Lune d’Octobre
Neste capítulo, propomos um caminho de performance, com base em exercícios
expostos nos capítulos 1, que aplicaremos à canção-corpus Lune d’Octobre, integrante da
Coleção de Canções Historietas106, de Heitor Villa-Lobos. A escolha desse corpus levou em
consideração, principalmente, a forma breve da canção, que conta com 53 compassos, e
também o fato de considerarmos que, dentre as canções escolhidas para o recital, ela é a que
tem menor grau de dificuldade técnica por ter sua extensão dentro do limite de uma oitava,
não utilizando partes nem do extremo agudo nem do extremo grave da voz e, ainda, não
possuir grandes dificuldades de capacidade respiratória. Deste modo, consideramos que a
execução vocal tecnicamente mais simples poderia favorecer a movimentação cênica, no
sentido de que a produção da voz não exigiria uma atenção demasiada por parte do cantor.
Não pretendemos que essa metodologia seja fechada em si mesma, mas que funcione como
um mosaico de opções móveis, no qual a ordem das partes pode ser alterada e mesmo o
conteúdo substituído por alguns exercícios semelhantes com os mesmos propósitos. É uma
sugestão de um caminho com múltiplas variáveis, mas que, ainda assim, constitui uma
estrutura auxiliar ao performer. Esse percurso está dividido em duas partes: a primeira voltada
para um momento de preparação e a segunda para a construção cênica, propriamente dita.
Todavia, sugerimos que os exercícios da primeira fase sejam executados, sempre que
possível, em consonância com a contextualização (circunstâncias dadas) ou o enredo no qual
ocorrerá a cena.
106
Ver nota de rodapé página 17.
107
Ver página 146.
123
canções em português e quatro em francês. Embora desse total de seis canções, apenas cinco
tenham sido apresentadas em nosso recital. Propusemo-nos, então, a criar um enredo que
colocasse as canções em uma temática comum e, também, que possibilitasse, cenicamente, a
execução de canções em português e em francês. Tomando por base inicial a canção
Novelozinho de Linha, cujo poema, originariamente, tem o nome de Debussy, lembramo-nos
de um depoimento de Manuel Bandeira, em uma carta a Mário de Andrade, no qual ele diz:
No que respeita à técnica o ‘Para cá, para lá’ são os primeiros compassos da Rêverie
ma à rebours, que na Rêverie as notas oscilam do grave para o agudo e do agudo
para o grave. Mas se houvesse no meu Debussy apenas essa onomatopeia
afetuosamente satírica eu não o teria publicado. Há ainda que um dia vi naquela
atitude uma meninazinha de três anos, que então acreditávamos inapta para a vida
por uma lesão cardíaca precoce, e isto despertou-me uma ternura profunda misturada
à lembrança da Jeune fille aux cheveux de lin. E aquele novelozinho de linha que
oscila umas três vezes e cai pareceu-me a imagem da vida daquele anjinho e depois,
por uma colossal ampliação e sucessão de círculos, a imagem da minha vida, da vida
de todos nós, e dos mundos e dos universos. (BANDEIRA, 2001, p.66)
A partir disso, pensamos em criar uma história na qual uma criança que gostava de se
fantasiar com as roupas da mãe, perdesse a vida, vítima da homofobia do pai. O irmão que
presenciaria tudo, decidiria, mais tarde, tornar-se uma Drag Queen, em homenagem àquele
que gostava de se fantasiar e que havia, precocemente, falecido. Para justificar a utilização
dos poemas em francês, a Drag Queen apresenta-se na França, quando seu intérprete vai para
lá em busca da mãe, que era francesa.
108
O hara compreenderia o centro de equilíbrio e de força espiritual de todo o ser. Fisicamente é a região situada
abaixo do umbigo, na barriga ou baixo ventre, muito observado nas artes marciais, teatro e meditação japoneses.
Oida sublinha que um paradoxo existente é o de que um hara forte é, fisicamente, macio e maleável (OIDA,
2007, p. 35 e 36). O que temos observado na prática docente e na observação de demais cantores é que o
abdômen muito rígido, realmente, dificulta nossa flexibilidade e capacidade respiratória, sem contar na rigidez
de músculos do pescoço que pode iniciar-se e progredir, por vezes, com certos exercícios físicos, como, por
exemplo, a musculação. A tonificação muscular é desejável, mas sua rigidez exacerbada pode, na grande maioria
das vezes, restringir os movimentos. Desse modo, o comentário de Oida de que um hara forte é,
paradoxalmente, macio e maleável, vem ao encontro das nossas necessidades vocais e expressivas.
125
de exercícios 5,6,7 e 8. Com relação ao fator Espaço, podem-se experimentar as
espacialidades vocais propostas Della Monica e Maletta, embora suas ideias sejam distintas
do conceito de Timbre que inicialmente atribuímos ao Espaço Vocal. Também propomos que
esse exercício seja repetido com algumas partes musicais referentes ao canto ou ao piano,
observando-se as dinâmicas sugeridas na partitura, etc. Logo após, podem-se exercitar as oito
ações básicas de expressividade: Torcer, Pressionar, Chicotear, Socar, Flutuar, Deslizar,
Pontuar e Sacudir, experimentando-se os fatores de movimentos característicos de cada uma
delas, como foi exposto no capítulo 1109.
Escalas: Aqui podem ser feitas algumas das escalas corpóreo-vocais sugeridas na
série de número 11. Escolhemos para o estudo dessa canção, a Escala Diametral I, por ser a
escala realizada dentro de um icosaedro imaginário (para o qual foi pensada toda a cena das
Historietas) e por utilizar os três planos espaciais, vertical, horizontal, sagital. O executante
poderá, ainda, associar as direções de seus movimentos a partir da melodia musical, conforme
as notas correspondentes para cada direção, associadas na Escala Diametral I. 110
Sugerimos que durante toda a primeira parte, a melodia da canção seja executada
primeiramente em uma só vogal, porque o cantor teria que se preocupar somente com a
emissão e não teria que realizar ajustes articulatórios para produzir diferentes vogais. Depois,
sugerimos que a melodia seja feita somente com as vogais do texto, mas não com as
consoantes, porque assim o cantor preocupa-se com a emissão e com os ajustes articulatórios
das vogais, mas mantém suas pregas vocais vibrando sem interrupção. Isto porque, se o cantor
já cantasse o texto com as consoantes, certamente, realizaria consoantes vozeadas111 e não
vozeadas112, interrompendo, certas vezes, a vibração vocal. Quando forem inseridas as
consoantes, talvez seja melhor que o executante esteja mais atento à sonoridade do texto e aos
movimentos que ela provoca, ou dos quais resulta, e não ao seu significado, porque isso
poderia gerar uma tendência a realizar movimentos ilustrativos para os significados textuais,
reduzindo, muitas vezes, o potencial criativo espontâneo e expressivo.
109
Ver página 73.
110
Ver página 115.
111
Consoantes durante as quais as pregas vocais estão em vibração.
112
Consoantes durante as quais as pregas vocais não estão em vibração.
126
3.2 - Parte 2: construção cênica
127
cabeça e o pescoço para a esquerda e para baixo. Retorna-se à posição inicial. Agora,
retiram-se os óculos para frente e para cima (sobre a testa), virando-se a cabeça e o
pescoço para a direita e para cima. Retorna-se à posição inicial. O movimento do
tronco segue o do pescoço e da cabeça, enquanto que o do quadril é oposto a eles.
3- Sentar: a) Sentar-se em uma cadeira, passando os braços por detrás do corpo para
segurar a cadeira, realizar o movimento sem flexionar os joelhos. b) Agachar para
limpar a cadeira. Levantar-se, encostar a parte posterior de uma das pernas para
certificar-se da localização da cadeira, depois a outra perna e, então, se sentar. c)
Sentar-se lateralmente de modo que o encosto da cadeira fique do lado esquerdo do
corpo. Enquanto a perna esquerda está voltada para frente, a perna direita fica voltada
para o lado direito, formando ângulo de 90 graus. A mão e o antebraço esquerdo
apoiam-se sobre o encosto da cadeira e a mão e o braço direitos apoiam-se no assento
da cadeira, entre o ângulo de 90 graus formado pelas pernas. Após sentar-se, cruza-se
a perna direita sobre a esquerda e também o braço direito sobre o esquerdo, tronco vai
para trás, cabeça para direita-trás (diagonal).
4- Desarrumar: a) Sentar-se utilizando movimentos mais retos e rígidos. Retirar da
composição do personagem elementos de composição de uma Drag Queen, cílios
postiços, vestido, enchimentos, apliques, maquiagem etc.
5- Tirar o sapato: a) Colocar o pé esquerdo em cima da cadeira e, ali, tirar o sapato. b)
Antes de tirar o outro sapato, caminhar tentando manter o equilíbrio, ou seja, com o pé
descalço na ponta dos pés e, depois, sem equilíbrio, com um pé descalço e outro com
sapato de salto. b) Agachar, apoiar a mão esquerda atrás do corpo, esticar a perna
direita para diagonal frente/direita do corpo e, então, tirar o sapato do pé direito.
Apesar de termos relatado ações simples, essas ações podem ser executadas de
maneira cada vez menos convencionais. Por exemplo, pode-se levar a cadeira ao corpo e não
o corpo à cadeira, como se a cadeira se tornasse um grande casco do corpo. Ou, então, o
executante poderia ir se arrastando até a cadeira como se fosse realizar uma escalada sobre
ela.
Como não poderíamos utilizar todas essas variações de ações em uma mesma canção,
dividimos a canção em 7 partes e escolhemos uma ação básica para cada parte dessa. Da
seguinte maneira:
128
Parte Compassos Ações
Escalas de Movimento
129
Cantamos, lentamente, a melodia movendo-nos pelas direções espaciais
correspondentes, gerando, a partir da melodia musical, uma melodia de movimentos.
Exemplificamos abaixo por meio da associação que fizemos entre a notação das direções
espaciais utilizadas por Laban e a notação musical tradicional.
Figura 46: Planos espaciais e notação das direções. Fonte: RENGEL, 2001, p. 28.
130
Figura 47: Melodia de movimentos/direções a partir da melodia musical.
Para essa canção, as direções ficaram assim definidas: Dó (C) , Dó# (C#) , Ré
(D) , Mi (E) , Fá# (F#) , Sol (G) , Sol# (G#) , Lá (A) , Lá# (A#) , Sib (Bb) ,
Si (B) . Entretanto, se esse exercício fosse aplicado dessa forma na criação da performance,
ela assumiria mais um caráter de dança do que de cena. Por isso, escolhemos momentos
específicos para mudar os direcionamentos.
132
Figura 51: Segunda possibilidade de combinação dos fatores de movimentos vocais.
Essas possibilidades que acabamos de sugerir, não são uma escolha finalizada, mas
apenas demonstrações de como o executante pode variar os fatores de movimento. Do mesmo
modo, as escolhas das combinações de fatores sonoros e de movimento realizadas para a
Partitura Global (que demonstraremos a seguir) e para os Quadros Sinópticos113 da
Performance (no capítulo 3) não foram definidas antes das ações, mas a partir das
experimentações. Portanto, o que demonstraremos nas próximas estruturações são maneiras
de registrar o trabalho que experienciamos na prática. Nossas escolhas, a partir da prática,
deveram-se a diversos fatores como, por exemplo: intenções das ações, ou seja, se aquela
qualidade de movimento representava para nós o que gostaríamos de expressar, significado
texto cantado no momento da ação, exequibilidade da qualidade de movimento em conjunto
com a parte vocal, etc. Contudo, gostaríamos de dizer que o caminho inverso ao que fizemos
também poderia ser percorrido, assim, tais qualidades de movimento poderiam ter sido
definidas, primeiramente, nas estruturações escritas, para depois serem implementadas no
trabalho prático.
113
Ver página 141.
133
Indicação
ppp/pp/p/mf/
delicatement
rubato
crescendo/decrescendo
plus animé
doucement soutenu
toujour
un peu lent
sfz
rallentando
Quadro IX: Indicações presentes na parte pianística.
Antes da exposição da Partitura Global, precisamos deixar claro que essa partitura é
apenas uma demonstração de composição da performance, não constituindo um resultado em
si mesma. Primeiramente, porque ela apresenta apenas algumas linhas dessa composição
(ações, fatores de movimento, etc.,), visto que escolhemos não aglutinar essas informações
com outras que poderiam ser adicionadas como, por exemplo, subtexto, tradução do texto,
objetivos do personagem, etc. Outro esclarecimento importante é que essa é apenas uma das
várias formas que a canção pode ser apresentada, pois, inclusive, no capítulo 3, sugerimos
outra forma de execução para a mesma canção.
134
D (Direto) Tp (Timbre padrão)/ Ta (Timbre com mais harmônicos agudos)/ Tg
(Timbre com mais harmônicos graves)
F (Forte) mf (mezzo-forte)
Sb (Súbito) A (Articulado)
St (Sustentado) L (Ligado)
135
136
137
138
139
140
141
Figura 52: Partitura Global de Lune d’Octobre
142
CAPÍTULO 3 – Voz: substantivo feminino
A partir daí, tratamos com cinco personagens que passam por três momentos do
contexto feminino e compartilham suas histórias de repressão e libertação. A primeira, Mara,
aborda questões da opressão por parte da família e da religião, passa por pensamentos sobre a
liberdade, o aborto, o casamento e outras convenções sociais. O processo de experimentação,
para chegarmos às qualidades de movimento, partiu das qualidades de movimento da água,
114
A construção cênica para a canção: princípios de Stanislavski numa proposta de expressão cênico-musical,
de Aline Soares Araújo, de 2012.
115
Ver página 28.
116
Ver tese: A formação do ator para uma atuação polifônica: princípios e práticas, de Ernani de Castro
Maletta, de 2005.
117
Ver http://www.priberam.pt/dlpo/substantivo - Acesso em 12 de Junho de 2016. Esse dicionário é bastante
respeitado por dicionaristas e lexicógrafos.
143
em seus diversos estados (líquido, gasoso, sólido). O segundo personagem, irmão de Felício, e
o terceiro, a Feliciana Hermione (Drag Queen), partem de pensamentos sobre homofobia,
violência e expressão artística do gênero feminino. Os processos de criação partiram das
qualidades de movimento do urubu e do cisne, ou seja, como esses animais se movem, quais
suas posturas, etc. A quarta personagem, Maria, e a quinta, a Morte, tiveram suas histórias
desenvolvidas com base no machismo praticado pelas próprias mulheres, passando por
momentos sobre o suicídio e a luta de classes. Maria foi trabalhada a partir da qualidade de
movimento de animais como o carrocho e o lagarto e a Morte a partir da imagem de uma
nuvem de chuva.
Mara é filha de um pai falso moralista e de uma mãe muito religiosa. Seu pai envolvia-
se com prostitutas frequentemente, com drogas e batia na mãe de Mara, mas fingia ser
homem de bem e todo domingo eles iam à igreja rezar. Quando Mara fez 18 anos,
colocaram-na num convento, contra sua vontade, num sistema de clausura, onde viveu
toda sua vida carregando uma grande culpa que nunca compartilhou com ninguém.
Figurino: Blusa preta e saia longa preta, véu branco
Adereços: Cadeira
118
Poemas de Mathilde Wesendonck musicados por Richard Wagner.
119
Disponível em: http://www.rtp.pt/antena2/letras-de-cancoes/letra-w/richard-wagner_1384_1385 - Acesso em
25 de Maio de 2016.
120
Ver página 33.
121
Preferimos apresentar a estrutura nessa tabela resumida, porque o trabalho ficaria demasiado extenso se
colocássemos partituras globais (com todos os elementos escolhidos para a execução) de todas as canções.
144
de ações físicas em conjunto com o texto, números de compassos e fatores de movimento122.
Consideramos ser apenas um “esqueleto” por acreditarmos que a performance contempla
muito mais elementos dos que os que estão representados e, principalmente, por esse esquema
ser apenas uma sugestão passível de alterações, jamais encerrada em si mesma.
122
As letras nas duas colunas da direita são as iniciais dos Fatores de Movimento (Peso, Espaço, Tempo e
Fluência) e dos Fatores Sonoros (Timbre, Intensidade, Tempo e Projeção).
123
Ver tabela de legendas na página 135.
145
Os mesmos procedimentos adotamos para as demais personagens, que tiveram suas
cenas pensadas, respectivamente, nas escalas do Icosaedro e do Cubo. Os textos integrais das
Cenas 2 e 3 encontram-se nos Anexos 4 e 5. Por serem as canções da coletânea Historietas
constituídas de textos em português e francês, fornecemos também uma tradução que foi
elaborada sob a supervisão da Profa. Dra. Margarida Borghoff. Ainda sobre essa obra, por se
tratar de uma coletânea e não de um ciclo124, entremeamos textos entre as canções para
conectá-las em uma temática comum125.
Cena 2 – Historietas
Felício é filho de um líder de uma seita religiosa. Embora houvesse boatos de que o
pai de Felício mantinha relações homossexuais, durante sua infância, seu pai
mostrava-se homofóbico, machista e sempre repetia em casa: Mulier taceat, fazendo
referência à mulier taceat in ecclesia126. Felício sempre se lembra de seu irmão que
faleceu ainda criança e que era frequentemente espancado pelo pai. Felício está agora
com 40 anos e foi morar em Paris, onde se tornou uma Drag Queen francesa, a Felícia
Hermione, drag lírica.
Figurino: Corselet, capa, sapato de salto, maquiagem, calça, gravata, camisa, chapéu,
sapato masculino.
Adereços: Mesa, cadeira, espelho, maleta, álbum de fotos.
124
Indicamos a leitura do artigo A canção de câmara brasileira – reflexão sobre o termo ciclo de canções de
Marcus Vinícius Medeiros Pereira.
125
Ver página 123.
126
Do latim: A mulher deve se calar quando estiver na igreja.
146
Compassos Texto Ações P–E–T–F Ti – I – Te -P
147
Cena 3 – Balada do Desesperado
Mara tem 55 anos e é uma catadora de papelão que está padecendo de uma grave
doença não diagnosticada pelos médicos. Sua mãe era prostituta e elas sempre foram
recriminadas pelas mulheres da vizinhança do cortiço.
Figurino: Roupa preta e capa preta
Adereços: Bastão
148
Apresentaremos, agora, registros do processo de criação das personagens, que ocorreu
sob supervisão do Professor Leonardo Ortiz. Inicialmente, foram feitos alguns exercícios
priorizando os movimentos articulares e a conscientização da cinesfera, bem como exercícios
de alteração dos fatores de movimento. Na sequência, foram trabalhadas corporeidades
inspiradas nas qualidades materiais do elemento água (em seu estado líquido, sólido e
gasoso); na qualidade de movimento do urubu e do cisne; na imagem de um dragão e na
qualidade material de uma nuvem carregada de chuva. Essas experimentações dizem respeito
aos personagens da primeira cena (beata), da segunda cena (Felício e Drag) e da terceira cena
(Maria e Morte), respectivamente.
149
Figura 54: Trabalho de expansão da cinesfera. Foto: Luciana Antunes.
150
Figura 56: Processo para Cena 1 – Beata. Foto: Luciana Antunes.
151
Figura 58: Processo para Cena 2 – Felício. Foto: Luciana Antunes.
152
Figura 60: Processo para Cena 2 – Felício. Foto: Luciana Antunes.
153
Figura 62: Processo para Cena 2 – Drag. Foto: Luciana Antunes.
154
Figura 64: Processo para Cena 3- Maria. Foto: Luciana Antunes.
155
Figura 66: Processo para Cena 3 – Morte. Foto: Luciana Antunes.
156
CAPÍTULO 4 – Expressividade em pauta: vozes externas
5.1 Pré-expressividade
Tentando manter a sequência de exercícios sugeridos (esboço no Anexo 8) e
posteriormente sua aplicação para a performance (como demonstrado no capítulo 2), foram
realizados um breve alongamento corporal e aquecimento vocal. Em seguida, após uma
sucinta exposição do esquema corporal de Laban, passamos aos exercícios de Respiração
Celular, Irradiação Central, Superior-Inferior, Homolateral, Contralateral e unimos esses
exercícios à conscientização sobre as articulações corporais, incluindo as do crânio e pescoço.
157
Figura 67: Alongamento corporal – Foto: Saullo Hipolito.
158
Figura 69: Explicação sobre o esquema corporal Laban e sobre o novo esquema corporal- Foto: Saullo
Hipolito.
159
Figura 71: Início da utilização dos planos baixo, médio e alto – Foto: Saullo Hipolito.
Figura 72: Utilização dos planos baixo, médio e alto e deslocamento em quatro e dois apoios – Foto: Saullo
Hipolito.
160
Em seguida, realizamos novamente os exercícios de articulações corporais em pé e
incluindo expressões vocais básicas como riso, choro, sílabas, etc. Passamos, então, para
alguns exercícios ligados aos sentidos, exercícios para olhos, nariz, orelhas, boca e
movimentos de laringe, incluindo os já citados (nas séries de exercícios) com glissandi em fry
e em vogais. Após esse momento, experimentamos a respiração chamada torácica, com todas
as articulações esticadas e também a articulação costodiafragmática-abdominal com
articulações flexionadas. Outro exercício realizado foi o de agachamento com laringe alta e
baixa para a percepção do alongamento da musculatura peitoral e, consequentemente, da
maior dificuldade de agachar com a laringe alta.
161
Figura 74: Articulações esticadas e inspiração torácica – Foto: Saullo Hipolito.
Figura 75: Agachamento com laringe alta e baixa – Foto: Saullo Hipolito.
162
Em um segundo momento, mas ainda no primeiro dia, foram explicados os fatores
Laban de movimento, sua associação com fatores sonoros e a imagem do híbrido do trato
vocal com o tronco e membros do corpo. Após as explicações, realizamos corporalmente e
vocalmente as mudanças de qualidades de movimento (peso, tempo, intensidade, timbre,
espaço, fluência, projeção, etc.), bem como as ações básicas de expressividade. Os exercícios
sonoros ocorreram tanto em uma única nota (no caso da alteração de um fator por vez) como
em uma pequena melodia de um arpejo de dó maior com sétima. Os participantes foram
convidados a fazer escolhas de qualidades vocais para um trecho musical da música Garota
de Ipanema e também a fazer escolhas de qualidades de movimento para uma ação física que
haviam criado. Posteriomente, eles realizaram a composição expressiva sonora em conjunto
com a composição expressiva da ação. Chamamos, neste trabalho, de composição expressiva
a fusão das escolhas conscientes de fatores objetivos que são determinadas pelo performer.
163
Na sequência, houve uma explanação breve sobre os planos Horizontal, Vertical e
Sagital, comentados por Laban e sobre as formas cristalinas (Cubo, Icosaedro, Octaedro) e
suas respectivas escalas, bem como sobre as adaptações vocais que partiram dessas ideias, tal
como os cubos ressonantais. Foram, então, realizados alguns exercícios de direcionalidades. O
primeiro foi o da estrela de oito direções127 fornecido por Yoshi Oida em seu livro O ator
invisível. O segundo foi um exercício direcional feito em pequenos “cardumes128”, ou seja,
pequenos grupos onde os partipantes vão mudar de direção conjuntamente. A partir disso,
executamos as escalas Dimensional I, Diagonal e Diametral I sem sonorização e,
posteriormente, com melodias vocais. Antes de finalizar, foram demonstradas as relações
entre os pontos da Kundalini, os ressonadores de Grotowski e os principais pontos que
pensamos durante o canto. Os participantes vivenciaram a possibilidade de fazer a vibração
vocal percorrer toda a coluna. Por fim, cada aluno desenvolveu uma partitura de uma
sequência simultânea de três ações físicas e vocais (fazendo escolhas dos fatores de
movimento e dos fatores sonoros) e, após mostrar sua partitura aos colegas, em duplas, eles
realizaram pequenas improvisações, diálogos sonoros e de movimento.
127
“Fiquemos em pé, em frente à plateia, com os pés paralelos, separados, tomando como base a largura do
quadril. O pé direito dá um passo à frente, numa só investida, e o corpo todo o acompanha. Confomre damos o
passo, os braços também balançam para a frente até que alcancem a altura dos ombros. Quando chegamos, nossa
perna direita estará dobrada, enquanto que a esquerda estará quase que totalmente esticada. O peso ficará
principalmente na perna da frente, enquanto a coluna permanece estirada e reta. Então o corpo inteiro gira 180
graus em direção às costas, sem alterar a posição dos pés. Apenas giramos, no lugar, em torno do nosso próprio
eixo, virando o corpo inteiro, sem tirar nenhum dos pés. Acabamos ficando voltados para o fundo do palco, de
costas para a plateia, com o pé esquerdo virado para “frente”. Conforme giramos, transferimos o peso para a
perna esquerda, terminando numa posição de ataque, com o joelho esquerdo dobrado. Durante essa volta, os
braços balançam para trás e para frente se posicionando de novo para essa nova “frente”. Então a sequência
inteira recomeça a partir desta posição: o pé direito marca o passo de novo, agora se dirigindo ao nosso lado
direito. (...)” (OIDA, 2007, p. 47)
128
Esse exercício foi realizado pela professora Gláucia Vandeveld em uma aula, do curso livre de teatro do
Galpão-MG, da qual a pesquisadora participou.
164
Figura 77: Exemplificação do plano horizontal – Foto: Saullo Hipolito.
165
Figura 79: Escalas de Movimento – Foto: Saullo Hipolito.
Figura 80: Exercícios, em duplas, dos cubos ressonantais – Foto: Saullo Hipolito.
166
Figura 81: Vibrações percorrendo a coluna – Foto: Saullo Hipolito.
167
5.2 Performance da canção
129
Ver página 125.
168
Figura 84: Diálogos no Listening – Foto: Saullo Hipolito.
169
A última atividade consistiu em duas seções de “antes” e “depois”. Os participantes
apresentaram um pequeno trecho de uma canção. Depois de todos apresentarem, foi pedido a
eles que criassem alguns pontos para contextualizar sua performance, com base em alguns
dos doze princípios de Stanislavski elencados por esta pesquisadora para a construção cênica
em sua pesquisa de mestrado130. Assim, na oficina, os alunos criaram seus personagens
especificando o nome, idade e o tempo no qual os personagens estavam falando o texto da
canção (lembrando-se do passado, no momento presente ou prevendo o futuro), para quem
estavam falando e porque estavam falando, as chamadas circunstâncias dadas. Depois, eles
deram nomes às seções das músicas (unidades) e traçaram objetivos para cada seção. Em
seguida, observaram uma demonstração de improviso de ações a partir de verbos e a
consecutiva escolha de uma linha de ações com base nas que haviam sido improvisadas.
Os discentes tiveram, então, um tempo para criar sua linha de ações e, feito isso,
demonstrá-las aos colegas em conexão com o trecho musical anteriormente cantado. Após a
realização da performance ampliada, deu-se espaço para a transformação desta em
performance reduzida131. Antes de prosseguirmos para a visualização das imagens desses
momentos, entretanto, é importante ressaltar, mais uma vez, que não é nosso objetivo medir a
performance mais ou menos expressiva, mas demonstrar que a expressividade pode ser, pelo
menos em parte, construída, partiturizada. Nesse sentido, acreditamos que uma apresentação
espontânea, pode sim ser expressiva, contudo, com as várias repetições que se fazem
necessárias em ensaios e apresentações, existe um risco de que a expressividade dita
espontânea, muitas vezes, se perca, enquanto que aquela partiturizada, escolhida,
conscientizada pelo performer pode ser não apenas repetida, mas enriquecida com variações
que tragam para ela um novo brilho.
130
Ver a dissertação Construção cênica para a canção: princípios de Stanislavski numa proposta de expressão
cênico-musical.
131
Performance ampliada e performance reduzida foram os nomes que utilizamos, desde a pesquisa de
mestrado, para indicar uma redução no espaço utilizado para o movimento.
170
Figura 86: Antes e depois de um mesmo trecho da canção.
171
Figura 88: Antes e depois de um mesmo trecho da canção.
172
Figura 90: Antes e depois do início da canção.
173
Figura 92: Antes e depois de um mesmo trecho da canção.
132
Neste caso, utilizou-se a versão reduzida de ações.
174
Figura 94: Antes e depois de um mesmo trecho da canção133.
133
Neste caso, utilizou-se a versão reduzida de ações.
134
Neste caso, utilizou-se a versão ampliada de ações.
175
Por fim, os envolvidos deram suas opiniões sobre os resultados expostos, por meio do
questionário que foi distribuído a eles, explicitado no Anexo 10 e cujo gráfico de síntese das
respostas apresentamos aqui, sendo que as alternativas A e B eram referentes a respostas
positivas e as alternativas C e D referentes a respostas mais negativas sobre o trabalho.
Impressões Externas
100
80
60
40
20
0
Figura 96: Gráfico sinóptico das impressões externas sobre os resultados obtidos.
“Acredito que todas as formas e movimento que foram aqui trazidas e apresentadas,
foram bastantes contribuintes para a minha ampliação e [de] demais colegas.
Gostaria imensamente de poder, quem sabe, participar de atividades como esta. Para
mim e [para] o âmbito artístico, isso com certeza é e foi de uma suma importância.”
Depoimento de sujeito A, fornecido em 16 de Maio de 2016135.
“Foi uma oficina bastante produtiva e enriquecedora. A conexão entre a voz e o
corpo foi um processo muito importante para a construção da interpretação e da
performance do cantor/ator/instrumentista.” Depoimento de sujeito B, fornecido em
16 de Maio de 2016.
“Trabalho muito bem desenvolvido, que auxilia o cantor na compreensão de
diversos elementos corporais unidos ao canto. Sendo assim, melhora a performance
do artista.” Depoimento de sujeito C, fornecido em 16 de maio de 2016.
“É de extrema importância os artistas que se apresentam em palco passarem por
exercícios como esses e estarem treinados para entender como melhor podem
135
As transcrições aqui expostas já passaram pelas correções textuais necessárias.
176
realizar sua performance e conhecer seu corpo, ajudando no seu desenvolvimento
nas apresentações.” Depoimento de sujeito D, fornecido em 16 de Maio de 2016.
“Achei o trabalho importante para o desenvolvimento da interpretação. Os
exercícios propostos serviram para mostrar muitas possibilidades que passam
desapercebidas.” Depoimento de sujeito E, fornecido em 16 de maio de 2016.
177
CONCLUSÃO
Outro ponto de destaque são os Fatores de Movimento, que não apenas enriquecem as
possibilidades de movimento corporal, mas nos fazem experienciar diferentes sensações
psíquicas por meio de suas variações, ajudando, assim, a compor a expressividade. A
associação de tais fatores a Fatores Sonoros (musicais e vocais), partiu de elementos já
utilizados na execução vocal para construção expressiva. Entretanto, a maneira como as
adaptações foram aqui sugeridas, defendem um modo consciente de fazer tais ajustes e mais,
uma maneira que pode ser aprendida. Não apenas um cantor já dotado de “sensibilidade” ou
“talento” pode conseguir se expressar bem. Mesmo os cantores iniciantes, por meio da
técnica, do domínio do controle muscular, das escolhas, podem realizar suas composições
expressivas.
Além disso, foram sobrepostas considerações sobre dez orifícios, muitos deles tão
ligados aos sentidos e à expressão facial, complementando mais uma vez a conscientização
sobre movimentos envolvidos na formação expressiva. Por fim, a conexão vibratória do
corpo-voz foi experimentada pelo alinhamento entre a imagem da Kundalini e os intrigantes
Vibradores de Grotowski que podem ser experimentados não apenas como estímulos
metafóricos, mas físicos. Perpassando a vibração vocal por todo o corpo, passamos a encará-
la não apenas centrada na região do pescoço, como imagina a maioria das pessoas, mas
constituída do corpo em sua totalidade.
179
propiciem um desenvolvimento expressivo e cênico-performático na formação e na atuação
do cantor, por meio da capacitação técnica (mas não apenas técnica) deste para uma atuação
na qual consiga integrar em seu corpo-voz princípios de múltiplas artes, tornando-se apto para
incrementar e registrar com objetividade seu trabalho.” Nesse sentido, as próprias séries de
exercícios, as adaptações vocais que foram feitas dos preceitos de Laban e as metodologias de
elaboração da cênica, demonstram categorias objetivas que podem ser tanto decodificadas e
apreendidas de outrem, quanto produzidas e transmitidas. Especificamente sobre isso, citamos
as Escalas, os Fatores de Movimento, etc.
Por fim, compreendemos que este trabalho não somente responde a algumas questões,
mas, ao mesmo tempo em que o faz, suscita outras inúmeras. Esperamos ter contribuído para
o acesso a novas informações, mas, sobretudo, para o embasamento e o florescimento de
novas pesquisas que sejam continuações desta. Que a subjetividade nos alimente, sempre,
com o desejo pelo desafio de desvendá-la, nunca se entregando por completo, porém.
180
BIBLIOGRAFIA
Partituras
BARROS, Anna Maria. A arte da percepção na arte. In: Reflexões sobre Laban, o mestre do
movimento. MOMMENSOHN, Maria; PETRELLA, Paulo. (Orgs.) São Paulo: Sumus, 2006.
p. 61-76.
181
BELO, Sara. A voz na criação cênica – Reflexões sobre a vocalidade do actor. European
Review of Artistic Studies. vol.2, n.1, pp. 17- 44, 2011.
BIAGINI, Mario. Seminario a “la sapienza”, ovvero della coltivazione delle cipolle. In:
ATTISANI; Antonio e BIAGINI, Mario. (org.) Opere e Sentieri: il workcenter of Jerzy
Grogtowski and Thomas Richards. Bulzoni Editore: Roma, 2007.
BORIE, Monique; SCHERER, Jacques; ROUGEMON, Martine de. Estética teatral: textos de
Platão a Brecht. Tradução: Helena Barbas. 2ª ed. Fundação Calouste Gulbenkian: Lisboa,
2004.
BORNHEIM, Gerd Alberto. Brecht: A estética do teatro. Rio de Janeiro: Graal, 1992
BRECHT, Bertolt. Estudos sobre teatro. Tradução: Fiama Pais Brandão: [textos coletados por
Siegfried Unseld]. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005. 210 p.
CAMPBELL, Patrick George Warburton. A Voz Integrada: uma análise das proposições de
Grotowski, Barba e Staniewski para o treinamento vocal e sua aplicação na prepapração do
ator. 112f. Dissertação. Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal da Bahia.
Salvador, 2005.
CARVALHO, Sérgio de. Ações físicas segundo Stanislavski e Brecht. In: Introdução ao
teatro dialético: experimentos da Companhia do Latão. URBINI, Lia. (Org.). São Paulo:
Expressão Popular, 2009.
COIMBRA, João Paulo Valadares. O ator antes da cena: procedimentos de criação através da
linha de ações físicas em Stanislavski e Grotowski. 131f. Dissertação. Escola de Belas Artes
da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2011.
CROYDEN, Margaret. “I said yes to the past” – Interview with Grotowski – Tradução do
francês para o inglês por Helen Klibbe. In: SCHECHNER, Richard;WOLFORD, Lisa. (org.)
The Grotowski Sourcebook. Routledge, USA and Canada, 1997.
182
CUNHA, Juliana Carneiro da. Lembranças e reflexões. In: Reflexões sobre Laban, o mestre
do movimento. MOMMENSOHN, Maria; PETRELLA, Paulo. (Orgs.) São Paulo: Sumus,
2006. p. 9 e 10.
DAMASCENO, Mikaelly; MARÇAL, Mônica. A importância do centro de força para a
preparação física ator-bailarino. In: Anais do IV Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede
Norte e Nordeste de Educação Tecnológica. Belém, 2009.
DOMANICO, Cristina Toloza. Quais os tipos de exercícios físicos que podem causar
prejuízos à voz? Monografia. CEFAC. São Paulo, 1997.
DUTRA, Luciana Monteiro de Castro Silva. “Crepúsculo de Outono” op.25 n.2 para canto e
piano de Helza Camêu: Aspectos analíticos, interpretativos e biografia da compositora. 214f.
Dissertação (Mestrado em Música) – Escola de Música, Universidade Federal de Minas
Gerais, 2001.
FERREIRA, Melissa da Silva. Mitologia e Ascese: Jerzy Grotowski “Além do Teatro”. 120f.
Dissertação. Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina, 2009.
183
FLASZEN, Ludwik. O teatro condenado à magia. In: FLASZEN, Ludwik; POLLASTRELLI,
Carla; MOLINARI, Renata. (Org.) O Teatro Laboratório de Jerzy Grotowski 1959-1969/
textos e materiais de Jerzy Grotowski e Ludwik Flaszen com um escrito de Eugenio Barba.
Tradução para o português Berenice Raulino. – São Paulo: Perspectiva: Edições SESC SP;
Pontedera, IT: Fondazione Pontedera Teatro, 2010.
FREITAS, João Carlos de; BERGER, Andrea Simone Schaak; ADDOR, Ana Maria. O
encontro da psiconeuroimonologia com a filosofia milenar oriental: indícios de um novo
paradigma? In: BERGER, Andrea Simone Schaak; TINOCO, Denise Hernandes; CHAHINE,
Marien Abou. A psicologia e o novo paradigma da ciência. p. 53-58. Londrina: EdUniFil,
2012.
FUMAROLI, Marc. External order, internal intimacy – Interview with Grotowski. Traduzido
do francês para o inglês por George Reavey. In: SCHECHNER, Richard;WOLFORD, Lisa.
(org.) The Grotowski Sourcebook. Routledge, USA and Canada, 1997.
GROTOWSKI, Jerzy. Da companhia teatral à arte como veículo. In: FLASZEN, Ludwik;
POLLASTRELLI, Carla; MOLINARI, Renata. (Org.) O Teatro Laboratório de Jerzy
Grotowski 1959-1969/ textos e materiais de Jerzy Grotowski e Ludwik Flaszen com um
escrito de Eugenio Barba. Tradução para o português Berenice Raulino. – São Paulo:
Perspectiva: Edições SESC SP; Pontedera, IT: Fondazione Pontedera Teatro, 2010.
GROTOWSKI, Jerzy. Holiday [Swieto] – The day that is holy. In: SCHECHNER,
Richard;WOLFORD, Lisa. (org.) The Grotowski Sourcebook. Routledge, USA and Canada,
1997.
GUIMARÃES, Maria Cláudia Alves. Rudolf Laban: uma vida dedicada ao movimento. In:
Reflexões sobre Laban, o mestre do movimento. MOMMENSOHN, Maria; PETRELLA,
Paulo. (Orgs.) São Paulo: Sumus, 2006. p. 39-50.
GUSMÃO, Cristina de Souza; CAMPOS, Paulo Henrique; MAIA, Maria Emília Oliveira. O
Formante do Cantor e os ajustes laríngeos utilizados para realizá-lo: uma revisão descritiva.
In: Permusi, n. 21, p. 43-50. Belo Horizonte, 2010.
HUSSON, Raoul. La voix chantée. Paris: Gauthier-villars Editeur, 1960.
JONER, Vicente Mahfuz. Influências do Yoga no Sistema Stanislavsky: uma análise dos
elementos práticos e filosóficos do yoga presentes no discurso e nas técnicas de Konstantin
Stanislavsky. Trabalho de Conclusão de Curso. Área de concentração: Artes Cênicas. Centro
de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina, 2007.
KATZ, Helena. O corpo e o meme Laban: uma trajetória evolutiva. In: Reflexões sobre
Laban, o mestre do movimento. MOMMENSOHN, Maria; PETRELLA, Paulo. (Orgs.) São
Paulo: Sumus, 2006. p. 51-59.
KOUDELA, Ingrid Dormien. Brecht: um jogo de aprendizagem – 2.ed. São Paulo:
Perspectiva, 2010.
KRÜGER, Cauê. Brechtianismo circense: tradição ou modernidade? R.cient./FAP, Curitiba,
v.4, n.2 p.17-37, jul./dez. 2009
SOUZA, Luiz Augusto de Paula; GAYOTTO, Lucia Helena da Cunha. Expressão no teatro.
In: KYRILLOS, Leny Rodrigues (Org). Expressividade: da teoria à prática. Rio de Janeiro:
Revinter, 2005.
LABAN, Rudolf. Domínio do Movimento. Organizado por Lisa Ullmann. Trad. Anna Maria
Barros de Vecchi e Maria Sílvia Mourão Netto; São Paulo: Summus, 1978.
LACAVA, Maria Cecília P. (Cilô). Você vai viver o que você vai vier: reflexões sobre a arte
da improvisação de movimentos na dança. In: Reflexões sobre Laban, o mestre do movimento.
MOMMENSOHN, Maria; PETRELLA, Paulo. (Orgs.) São Paulo: Sumus, 2006. p. 155-180.
186
LEECHE-WILKINSON, Daniel. Portamento e significado musical. Tradução de Fausto
Borém. Permusi: Revista de Performance Musical. Belo Horizonte: Pós-Graduação da Escola
de música da UFMG. N. 15, p. 7-25, 2007.
LEHMANN, Lilli. Aprenda a Cantar. Tradução: Editora Tecnoprint S.A. Rio de Janeiro:
Ediouro, 1984.
LOPES, Thelma. Luz, arte, ciência... ação! História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 12
(suplemento), p. 401-18, 2005.
MALETTA, Ernani de Castro. A formação do ator para uma atuação polifônica: princípios e
práticas. 370f. Tese. Área de Concentração: Artes e Educação. Faculdade de Educação da
universidade Federal de Minas Gerais, 2005.
MALETTA, Ernani de Castro. A dimensão espacial e dionisíaca da voz com base nas
propostas de Francesca Della Monica: resgatando liberdade expressiva e identidade vocal.
Urdimento, v.1, n. 22, p. 39-52, julho de 2014.
MARTINS, Janaina Träsel. Movimento sonoro: a ação da palavra na dança-teatro. s.l. s.d.
187
MIRANDA, Regina. Corpo-Espaço: aspectos de uma geofilosofia do movimento. Rio de
Janeiro: 7Letras, 2008.
MOMMENSOHN, Maria. Apresentação. In: Reflexões sobre Laban, o mestre do movimento.
MOMMENSOHN, Maria; PETRELLA, Paulo. (Orgs.) São Paulo: Sumus, 2006. p. 15-22.
MOMMENSOHN, Maria. Corpo trans-lúcido: uma reflexão sobre a história do corpo em
cena. In: Reflexões sobre Laban, o mestre do movimento. MOMMENSOHN, Maria;
PETRELLA, Paulo. (Orgs.) São Paulo: Sumus, 2006. p. 105-118.
MOTA, Júlio. Rudolf Laban, a coreologia e os estudos coreológicos. Repertório, Salvador, n.
18, p. 58-70, jan. a jul. 2012.
NEVES, Renata M. S. Dança é para todos. In: Reflexões sobre Laban, o mestre do
movimento. MOMMENSOHN, Maria; PETRELLA, Paulo. (Orgs.) São Paulo: Sumus, 2006.
p. 235-242.
OGAWA, Felícia Megumi; KUSUNO, Takao. A ideia do físico-corpóreo em transformação.
In: Reflexões sobre Laban, o mestre do movimento. MOMMENSOHN, Maria; PETRELLA,
Paulo. (Orgs.) São Paulo: Sumus, 2006. p. 181-190.
OIDA, Yoshi.O Ator Invisível.São Paulo: Via Lettera, 2007.
OIDA, Yoshi. Um ator errante. Tradução: Marcelo Gomes. São Paulo: Beca Produções
Culturais, 1999.
OLIVEIRA, Antônio Ricardo Fagundes de. Corpo subjetivado: a categoria expressividade do
sistema Laban/Bartenieff na formação do ator contemporâneo. 121f. Dissertação.
Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2006.
PACHECO, Claudia. BAÊ, Tutti. Canto – equilíbrio entre corpo e som: princípios da
fisiologia vocal. São Paulo: Irmãos Vitale, 2006. 102p.
PÁDUA, Mônica Pedrosa de. Imagens de brasilidade nas canções de câmara de Lorenzo
Fernandez: uma abordagem semiológica das articulações entre música e poesia. 276f.
Tese. Doutorado em Estudos Literários. Área de Concentração: Literatura Comparada.
Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, 2009.
PEIXE, Sarah Petrykowski. Interfaces entre o sonoro e o visual: uma investigação sobre a
sinestesia. 39f. Monografia. Escola de Música e Belas Artes do Paraná, 2011.
188
RAJEWSKY, Irina. Intermidialidade, intertextualidade e “remediação”: uma perspectiva
literária sobre a intermidialidade. Tradução: Thaïs Flores Nogueira Diniz e Eliana Lourenço
de Lima Reis. In: Intermidialidade e estudos interartes: desafios da arte contemporânea.
DINIZ, Thaïs F. N. (Org.) Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012, p. 15 a 45.
RENGEL, Lenira. Dicionário Laban. 146f. Dissertação. UNICAMP. Campinas, 2001.
RENGEL, Lenira. Dicionário Laban. 2ª ed. São Paulo: Annablume, 2005.
RENGEL, Lenira. Os Temas de Movimento de Rudolf Laban (I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII):
modos de aplicação e referências. São Paulo: Annablume, 2008.
RENGEL, Lenira. Fundamentos para análise do movimento expressivo. In: Reflexões sobre
Laban, o mestre do movimento. MOMMENSOHN, Maria; PETRELLA, Paulo. (Orgs.) São
Paulo: Sumus, 2006. p. 121-129.
RICHARDS, Thomas. Trabajar com Grotowski sobre las acciones físicas. Tradução de
Thomas Richards: Marc Rosich/ Tradução de Grotowski: Elena Vilallonga Barcelona: Alba
Editorial, 2005.
RICHARDS, Thomas. Riconoscere. In: ATTISANI; Antonio e BIAGINI, Mario. (org.) Opere
e Sentieri: il workcenter of Jerzy Grogtowski and Thomas Richards. Bulzoni Editore: Roma,
2007.
RICHARDS, Thomas. Maestro di nessuna scusa. In: ATTISANI; Antonio e BIAGINI, Mario.
(org.) Opere e Sentieri: il workcenter of Jerzy Grogtowski and Thomas Richards. Bulzoni
Editore: Roma, 2007.
RICHIE, Donald. Asian Theatre and Grotowski. In: SCHECHNER, Richard; WOLFORD,
Lisa. (org.) The Grotowski Sourcebook. Routledge, USA and Canada, 1997.
ROBATTO, Lia. Dança em processo: a linguagem do indizível. In: Reflexões sobre Laban, o
mestre do movimento. MOMMENSOHN, Maria; PETRELLA, Paulo. (Orgs.) São Paulo:
Sumus, 2006. p. 131-154.
RODRIGUES, Leticia Maria Olivares. Dança-teatro: estímulos transdisciplinares para o
intérprete-compositor. s.l. s.d.
189
SALGADO, António. Percepção e cognição da expressão da emoção em performance
musical. Performa – Encontros de Investigação em Performance, Universidade de Aveiro,
Maio de 2011.
SILVA, Gabriela Teles da. A voz como unidade do sistema expressive do ator. Linguagens -
Revista de Letras, Artes e Comunicação ISSN 1981-9943 Blumenau, v. 5, n. 2, p. 167-183,
mai./ago. 2011.
SOUSA, Joana Mariz de; SILVA, Marta Assumpção de Andrade e; FERREIRA, Léslie
Piccolotto. O uso de metáforas como recurso didático no ensino do canto: diferentes
abordagens. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. 2010. p. 317-328
SOUZA, Luiz Augusto de Paula; GAYOTTO, Lucia Helena da Cunha. Expressão no Teatro.
In: Expressividade – da teoria à prática. KYRILLOS, Leny R. (Org.). Rio de Janeiro:
Revinter, 2005.
SOUZA, Ozana Clara de; HANAYAMA, Eliana Midori. Fatores psicológicos associados a
disfonia funcional e a nódulos vocais em adultos. Revista Cefac, São Paulo, v. 7, n. 3, p. 388-
397, Julho a Setembro de 2005.
STARK, James. Bel Canto: A history of vocal pedagogy. Toronto: University of Toronto
Press, 1999.
190
VIEIRA, Júlio Doin. Laringe: falsas cordas vocais e as cordas verdadeiras. In: Arquivos
Catarinenses de Medicina, v. 32, n.1, p. 59-65, 2003.
VOGEL, Daisi I. Revista, imagem e anacronismo. In: VIII Encontro Nacional de
Pesquisadores em Jornalismo. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em
Jornalismo, Universidade Federal do Maranhão, São Luiz, Nov. 2009.
191
ANEXO1
“Nos Estudos Literários, e também em áreas como História da Arte, Música, Teatro e
Estudos de Cinema, existe um foco recorrente numa enorme quantidade de fenômenos
qualificados como intermidiáticos. Entre os exemplos, incluem-se aqueles fenômenos que, por
muito tempo, foram designados por termos como transposition d’art, escrita cinematográfica,
écfrase e musicalização da literatura, assim como fenômenos como adaptações
cinematográficas de obras literárias, romantizações (transformações de filmes em romances),
poesia visual, manuscritos com iluminuras, arte sonora, ópera, quadrinhos, shows
multimídias, hiperficção (ficção em hipertexto), “textos” multimídias em computador ou em
instalações etc. Sem dúvida todos esses fenômenos têm algo a ver, de alguma maneira, com o
cruzamento das fronteiras entre as mídias, caracterizando-se então por uma qualidade de
intermidialidade em sentido amplo. Entretanto, fica evidente que a qualidade intermidiática de
uma adaptação fílmica, por exemplo é comparável apenas no sentido mais amplo à qualidade
intermidiática da chamada escrita cinematográfica, diferenciando-se das ilustrações de livros
ou de instalações de arte sonora. Para uso da intermidialidade como categoria para a descrição
e análise de fenômenos particulares ser produtivo, nós deveríamos, portanto, distinguir grupos
de fenômenos de modo que cada um exiba uma qualidade intermidiática distinta.
É dessa maneira, retornando às três distinções que fundamentam concepções diferentes de
intermidialidade, que minha abordagem a fenômenos intermidiáticos segue uma direção
sincrônica, pois procura distinguir manifestações diferentes de intermidialidade e desenvolver
uma teoria uniforme para cada uma delas. Entretanto, essa abordagem não exclui uma
dimensão histórica. Ao contrário, presume que qualquer tipologia de práticas intermidiáticas
precisa ter uma base histórica. De fato, o critério de historicidade é relevante de várias
maneiras: em relação à historicidade de uma configuração intermidiática particular; em
relação ao desenvolvimento (técnico) das mídias em questão; em relação às concepções
historicamente mutantes das artes e mídias por parte dos receptores e dos usuários das mídias;
e, finalmente, em relação à funcionalização das estratégias intermidiáticas de um determinado
produto de mídia. Na presente abordagem, portanto, a intermidialidade não é uma função fixa
uniforme. Ela analisa exemplos individuais em relação à sua especificidade, levando em
consideração possibilidades historicamente mutantes para a funcionalização das práticas
intermidiáticas.
Como se pode facilmente perceber, minha abordagem complementa o segundo dos dois polos
que estruturam o debate sobre a intermidilalidade: focalizo a intermidialidade como uma
categoria para análise concreta de textos ou de outros tipos de produtos das mídias. Minha
ênfase, então, não é nos desenvolvimentos gerais históricos da mídia, nem nas relações
genealógicas entre mídias, nem no reconhecimento de mídias (Medienerkenntinis) – que
Schröter chama de intermidialidade “ontológica” – ou na compreensão das várias funções das
136
Trecho de: RAJEWSKY, Irina. Intermidialidade, intertextualidade e “remediação”: uma perspectiva literária
sobre a intermidialidade. Tradução: Thaïs Flores Nogueira Diniz e Eliana Lourenço de Lima Reis. In:
Intermidialidade e estudos interartes: desafios da arte contemporânea. DINIZ, Thaïs F. N. (Org.) Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2012, p. 15 a 45.
192
mídias. Tampouco estou preocupada com o processo de midialização como tal. Em vez disso,
eu me concentro nas configurações midiáticas concretas e em suas qualidades intermidiáticas
específicas. Essas qualidades variam de um grupo de fenômenos a outro e, portanto, exigem
concepções diferentes e mais restritas da intermidialidade. Isso permite fazer distinções entre
subcategorias individuais de intermidialidade, bem como desenvolver uma teoria uniforme
para cada uma delas. Proponho, então, as seguintes três subcategorias:
4. Intermidialidade no sentido mais restrito de transposição midiática (por exemplo,
adaptações cinematográficas e romantizações): aqui a qualidade intermidiática tem a
ver com o modo de criação de um produto, isto é, com a transformação de um
determinado produto de mídia (um texto, um filme etc.) ou de seu substrato em outra
mídia. Essa categoria é uma concepção de intermidialidade “genética”, voltada para a
produção; o texto ou o filme “originais” são a “fonte” do novo produto de mídia, cuja
formação é baseada num processo de transformação específico da mídia e
obrigatoriamente intermidiático.
5. Intermidialidade no sentido mais restrito de combinação de mídias, que abrange
fenômenos como ópera, filme, teatro, performance, manuscritos com iluminuras,
instalações em computador ou de arte sonora, quadrinhos etc.; usando-se outra
terminologia, esses mesmo fenômenos podem ser chamados de configurações
multimídias, mixmídias e intermídias. A qualidade intermidiática dessa categoria é
determinada pela constelação midiática que constitui um determinado produto de
mídia, isto é, o resultado ou o próprio processo de combinar, pelo menos, duas
mídidas convencionalmente distintas ou, mais exatamente, duas formas midiáticas de
articulação. Cada uma dessas formas midiáticas de articulação está em sua própria
materialidade e contribui, de maneira específica, para a constituição e significado do
produto. Assim, nessa categoria, a intermidialidade é um conceito semiótico-
comunicativo, baseado na combinação de, pelo menos, duas formas midiáticas de
articulação. O alcance dessa categoria vai desde a mera contiguidade de duas ou mais
manifestações materiais de mídias diferentes até uma integração “genuína”, uma
integração que, em sua forma mais pura, não iria privilegiar nenhum de seus
elementos constitutivos. O conceito de, por exemplo, ópera como gênero único
demosntra que a combinação de diferentes formas midiáticas de articulação pode levar
à formação de gêneros de arte ou de mídias novos e independnetes, em que a estrutura
plurimidática do gênero se torna sua especificidade. Do ponto de vista histórico, então,
essa segunda categoria de intermidialidade enfatiza processos evolutivos e dinâmicos,
descritos por Aage Hansen-Löve como um processo de desgaste seguido por uma
nova constituição.
6. Intermidialidade no sentido mais restrito de referências intermidiáticas, por exemplo,
referências, em um texto literário, a um filme, através da evocação ou da imitação de
certas técnicas cinematográficas como tomadas em zoom, dissolvências, fades e edição
de montagem. Outros exemplos incluem a musicalização da literatura, a transposition
d’art, a écfrase, referências em filmes a pinturas ou em pinturas à fotografia e assim
por diante. As referências intermidiáticas devem, então, ser compreendidas como
estratégias de constituição de sentido que contribuem para a significação total do
produto: este usa seus próprios meios, seja para se referir a uma obra individual
específica produzida em outra mídia (o que na tradição alemã se chama
Einzelreferenz, “referência individual”), seja para se referir a um subsistema midiático
específico (como um determinado gênero de filme), ou a outra mídia como sistema
(Systemreferenz, “referência a um sistema”). Esse produto, então se constitui parcial
ou totalmente em relação à obra, sistema ou subsistema a que se refere. Nessa terceira
193
categoria, como no caso das combinações de mídias, a intermidialidade designa um
conceito semiótico-comunicativo, mas, neste caos, por definição, é apenas uma mídia
que está em sua própria materialidade – a mídia de referência (em oposição à mídia a
que se refere). Em vez de combinar diferentes formas de articulação de mídias, esse
produto de mídia tematiza, evoca ou imita elementos ou estruturas de outra mídia, que
é convencionalmente percebida como distinta, através do uso de seus próprios meios
específicos.
Em relação a essa divisão tripartida, é importante notar que uma única configuração midiática
pode preencher os critérios de dois ou até de todas as três das categorias intermidiáticas
apresentadas. Como filmes, por exemplo, as adaptações cinematográficas podem ser
classificadas na categoria de combinação de mídias; como adaptações de obras literárias, elas
podem ser classificadas na categoria de transposições midiáticas; e, se fizerem referências
especificas e concretas a um texto literário anterior, essas estratégias podem ser classificadas
como referências intermidiáticas. Pois é claro – e isto é, de fato, o que quase sempre acontece
– que o produto resultante de uma transposição midiática pode exibir referências à sua obra
original, além e acima do próprio processo de transformação midiática, obrigatório em si.
Assim, no caso da adaptação fílmica, o espectador “recebe” o texto literário original ao
mesmo tempo que vê o filme, recebendo especificamente o texto literário em sua diferença ou
em sua equivalência à adaptação. Essa recepção ocorre não (apenas) devido a um
conhecimento anterior ou à bagagem cultural que o espectador possa ter, mas por causa da
própria constituição específica do filme. Abrem-se, assim, camadas adicionais de sentidos que
são produzidos especificamente pelo ato de se referir, ou de relacionar, filme e texto. Em vez
de ser simplesmente baseada numa obra literária original preexistente, uma adaptação
cinematográfica pode, então, constituir-se em relação à obra literária, caindo assim também na
categoria de referências intermidiáticas.
A subdivisão de práticas intermidiáticas em transposições midáticas, combinações midiáticas
e referências intermidiáticas não é, de modo algum, exaustiva, e não faz justiça nem à grande
quantidade de fenômenos nem à grande variedade de objetivos que caracterizam o debate
sobre a intermidialidade como um todo. Essa subdivisão associa-se particularmente às
análises da intermidialidade nos campos de estudos literários e interartes, em que os
fenômenos cobertos por todas as três categorias constituem o foco da discussão. Como nem
todas estas podem ser expostas aqui em detalhe, as considerações seguintes irão se concentrar
na terceira categoria, isto é, nas referências intermidiáticas, que são de interesse particular
devido ao seu modo específico de relacionar um determinado produto de mídia a outras
mídias, e devido a seu significado para os processos de constituição de sentido.”
(RAJEWSKY, 2012, p. 22 a 27)
194
ANEXO 2
Escalas do Octaedro
• Escala Dimensional
137
“The dimensional scales consists of simple pathways along the cardinal axes of up/down, left/right, and
forward/back. Because each of its movements consists of a single spatial pull, the scale feels stabilizing and
uncomplicated. Many rituals with movement components contain portions of the dimensional scale. Laban saw
the dimensional scale as representing efficiency, ease, and economy of effort. Use this scale when you want to
practice simple clarity, centeredness, and grounded power. It can serve as a useful recuperation or warm-down
after practicing the more disorienting scales.” Texto do Moving Space App.
195
• Escala de Defesa
Escalas do Cubo
• Escala Diagonal
Há uma simplicidade ilusória na escala diagonal. O sólido cristalino que a contém é
o familiar cubo, e os seus percursos diagonais são simplesmente conexões entre os
138
“The defense scale is a variation on the dimensional scale, inspired by the primary actions in the martial art
of fencing. It consists of three movement phrases, each of which extends out from center, sweeps through space
in an arc-like path, and reutrns to center. For exemple, imagine performing the version of the scale whose fist
phrase spokes upward and then sweeps to the right and down, led by the right arm. In that case… The first
phrase defends the head and then the right flank. The second phrase defends the left side of the neck and then
sweeps across, protecting the right side of the neck. The third phrase defeds the left flank via a parry across the
body and backward and then protects the abdomen by a rising thrust forward. Notice how this scale features
quick, unpredictable directional changes and a rhythm of alternating linear and arcing movements. Use this
scale to prepare for situations in wich readiness, initiation, and setting of boundaries are called for. Like the
dimensional scale, the defense scale holds the power of simplicity, but it also contains a few surprises.” Texto do
Moving Space App.
196
vértices do cubo. Ainda, porque cada seguimento da escala começa e termina em um
ponto que contém 3 tensões espaciais, cada movimento direciona você para o vértice
da outra extremidade e, rapidamente, você está viajando de um vértice para a sua
diagonal completamente oposta. Por essa razão, a escala diagonal é considerada uma
das escalas mais mobilizadoras. Laban considerou que a escala diagonal continha
mudanças extremamente dinâmicas que, embora raras nos movimentos da vida
cotidiana, representavam a plenitude do potencial humano, em todos os seus
diferentes aspectos. Essa escala deve ser usada para praticar grandes mudanças na
dinâmica, tais como preparar para um debate ou o atual (corrente) parkour. Essa
escala não aborda tantos pontos no espaço quanto os pontos das escalas do
icosaedro, mas as mudanças são mais extremas. Os atores treinados com os
princípios labanianos, algumas vezes, atribuem dinâmicas emocionais para cada
vértice do cubo e executam a escala com o objetivo de “aquecer” seu âmbito
expressivo. Você também pode atribuir sons vocais ou notas para cada vértice e
explorar as modulações vocais entre eles enquanto você executa a escala. –
Disponível no ícone de informação – Tradução nossa.139
139
“There is a deceptive simplicity to the diagonal scale. The crystalline solid that contains it is the familiar
cube, and its diagonal pathways are merely connections between the cube’s corners. Yet because every segment
of the scale starts and ends at a point containing 3 spatial pulls, each movement sends you off into another
extreme corner, and half the time you’re traveling from one corner to its complete diagonal opposite. For this
reason, the diagonal scale is considered to be one of the most mobilizing scales. Laban felt the diagonal scale
contained extreme dynamic changes that, while rare in the movement of everyday life, represented the fullness of
human potential, in all its different aspects. Use this scale when you want to practice big changes in dynamic,
such as preparing for a debate or running parkour. It does not touch as many points in space as the icosahedral
scales, but the changes are more extreme. Laban-trained actors sometimes assign emotional dynamics to each
corner of the cube and run the scale in order to warm-up their expressive range. You can also assign vocal
sounds or tones to each corner and explore modulating between them as you do the scale.” Texto do Moving
Space App.
197
Escalas do Icosaedro
• Escala Diametral
140
“The diametrical scale sistematically explores each of the 3 planes which make up the inner scaffolding of
the icosahedron. Generally, its movement is therefore flat, containing just 2 spatial pulls. After exploring one
plane, it then moves on to the next, and finally to the third. Because it only tackles 2 dimensions at a time, it can
be a simpler way to explore the inner structure of the icosahedron than tackling a scale which moves along three
dimensions simultaneously. Use this scale when you want to bring systematic order to a complex issue, locating
its underlying structure, or when you want to focus on the parts that make up a whole. It also serves as a way to
practice locating and touching the vertices of the icosahedron with precision, establishing confidence in the
planes before moving on to volumes.” Texto do Moving Space App.
198
medial (vértice direito anterior e medial); 18- esquerda-atrás-medial (vértice esquerdo
posterior e medial); 19- centro medial.
Escala Diametral II – primeiro formato: 1- direita-alto (vértice direito superior); 2-
esquerda-baixo (vértice esquerdo inferior); 3- direita-baixo (vértice direito inferior); 4-
esquerda-alto (vértice esquerdo superior); 5- frente-baixo (vértice anterior inferior); 6- atrás-
alto (vértice posterior superior); 7- atrás-baixo (vértice posterior inferior); 8- frente-alto
(vértice anterior superior); 9- esquerda-atrás-medial (vértice esquerdo posterior e medial); 10-
direita-frente-medial (vértice direito anterior e medial); 11- direita-atrás-medial (vértice
direito posterior e medial); 12- esquerda-frente-medial (vértice esquerdo anterior e medial);
13- direita-alto (vértice direito superior).
Escala Diametral II – segundo formato: 1- esquerda-alto (vértice esquerdo
superior); 2- direita-baixo (vértice direito inferior); 3- esquerda-baixo (vértice esquerdo
inferior); 4- direita-alto (vértice direito superior); 5- frente-baixo (vértice anterior inferior); 6-
atrás-alto (vértice posterior superior); 7- atrás-baixo (vértice posterior inferior); 8- frente-alto
(vértice anterior superior); 9- direita-atrás-medial (vértice direito posterior e medial); 10-
esquerda-frente-medial (vértice esquerdo anterior e medial); 11- esquerda-atrás-medial
(vértice esquerdo posterior e medial); 12- direita-frente-medial (vértice direito anterior e
medial); 13- esquerda-alto (vértice esquerdo superior).
• Escala Axial
A escala axial (do eixo) é como um percurso de rodeio (cavalgar em um rodeio). Ela
tem apenas 6 segmentos, mas a cada mudança de direção, você reverte todas as 3
tensões (direções) espaciais do segmento anterior. Você pode imaginar uma linha
diagonal descendo do centro da escala. Note como todos os 6 segmentos são ligeiras
deflexões (desvios) dessa diagonal, resultando em uma forma de traçado tubular
com um centro oco. A linha diagonal “fantasma” que parte (desce) do meio é o eixo
da escala. Cada escala axial tem uma escala circular correspondente que a circula
como um cinto. Juntas, uma escala axial e sua escala circular tocam todos os 12
pontos do icosaedro. Laban considerou que a escala axial estava associada com
movimentos inconscientes ou involuntários, incluindo aqueles feitos quando
adormecemos. Use essa escala para praticar mudanças extremas, tais como aquecer
para movimento dinâmico ou preparar para pensamentos radicais. Devido aos
traçados de deflexões em volta de um único eixo diagonal, ela também é boa para
trazer muitas ideias que podem ser variações de uma ideia central, ou coletar dados
diversos com o objetivo de tomar uma decisão entre 2 escolhas opostas. –
Disponível no ícone de informação – Tradução nossa.141
141
“The axis scale is a rodeo ride! True, it’s only 6 segments long, but at each change of direction, you are
reversing all 3 spatial pulls of the previous segment. You can imagine a diagonal line running down the center of
the scale. Notice how all 6 segments are slight deflections off this diagonal, resulting in a tubular trace form
with a hollow middle. The phantom diagonal line running down the middle is the scale’s axis. Each axis scale
has a corresponding girdle scale that circles it like a belt. Together, an axis scale and its girdle scale touch all
12 points of the icosahedron. Laban felt that the axis scale was associated with unconscious or involuntary
199
Escala Axial – primeiro formato: 1- direita-alto (vértice direito superior); 2- atrás-
baixo (vértice posterior inferior); 3- direita-frente-medial (vértice direito anterior e medial); 4-
esquerda-baixo (vértice esquerdo inferior); 5- frente-alto (vértice anterior superior); 6-
esquerda-atrás-medial (vértice esquerdo posterior e medial); 7- direita-alto (vértice direito
superior).
Escala Axial – segundo formato: 1- esquerda-alto (vértice esquerdo superior); 2-
atrás-baixo (vértice posterior inferior); 3- esquerda-frente-medial (vértice esquerdo anterior e
medial); 4- direita-baixo (vértice direito inferior); 5- frente-alto (vértice anterior superior); 6-
direita-atrás-medial (vértice direito posterior e medial); 7- esquerda-alto (vértice esquerdo
superior).
Escala Axial – terceiro formato: 1- direita-baixo (vértice direito inferior); 2- atrás-
alto (vértice posterior superior); 3- direita-frente-medial (vértice direito anterior e medial); 4-
esquerda-alto (vértice esquerdo superior); 5- frente-baixo (vértice anterior inferior); 6-
esquerda-atrás-medial (vértice esquerdo posterior e medial); 7- direita-baixo (vértice direito
inferior).
Escala Axial – quarto formato: 1- esquerda-baixo (vértice esquerdo inferior); 2-
atrás-alto (vértice posterior superior); 3- esquerda-frente-medial (vértice esquerdo anterior e
medial); 4- direita-alto (vértice direito superior); 5- frente-baixo (vértice anterior inferior); 6-
direita-atrás-medial (vértice direito posterior e medial); 7- esquerda-baixo (vértice esquerdo
inferior).
• Escala Circular
movements, including those done when falling asleep. Use this scale when you want to practice extreme chantes,
such as warming up for dynamic movement or preparing for radical thinking. Because it traces deflections
around a single diagonal axis, it is also good for brainstorming variations of a central ideia, or gathering
diverse data in order to make a decision between 2 opposing choices.” Texto do Moving Space App.
200
para adquirir diferentes perspectivas sobre uma questão. – Disponível no ícone de
informação. – Tradução nossa.142
A escala primária é, literalmente, uma junção das escalas axial e circular. Seus
segmentos saltam dos pontos da escala axial para aqueles da escala circular e de
novo para a escala axial, em constante alternação, resultando em um imprevisível,
mas suave passeio sobre a face do icosaedro, tocando todos os seus 12 vértices.
Assim como nas escalas axial e circular, a escala primária também tem um eixo
diagonal passando por seu meio e seu formato contém tanto elementos parecidos
com os de um anel (arredondados) da escala circular, quanto as oscilações
longitudinais da escala axial. Laban descobriu que essa escala representa a moção
142
“The girdle scale provides a gently varying circular orbit around a diagonal axis. Because its axis is tilted on
a diagonal, this is no simple ring! And mastering it requires mastering movement in three-dimensional space.
Each girdle scale has a corresponding axis scale, whose segments run perpendicularly through its center.
Together a girdle scale and its axis scale touch all 12 points of the icosahedron. Laban associated the girdle
scale with conscious or voluntary movements, which nevertheless could have an underlying unconscious drive.
He frequently saw portions of girdle scales in human gestures and in nature. Use this scale when you need
something a little smoother or gentler, such as a more restorative warm-up, or when you are preparing for an
activity which requires nuanced movement or thinking. The way it orbits a central axis also makes it good for
acquiring differente perspectives on an issue.” Texto do Moving Space App.
201
entre o consciente e o inconsciente, entre estar desperto e adormecido. Ela
apresenta-se como balanceamento entre muitas das polaridades da natureza humana.
Essa escala deve ser usada na preparação para atividades que necessitam acessar
tanto o consciente quanto o inconsciente de maneira igualitária, também para fazer
um trabalho criativo ou negociações complexas. As mudanças de direção nessa
escala acontecem gradualmente e na periferia, de modo que ela auxilia sutileza e
nuance e pode parecer expansiva. Ao mesmo tempo, sua imprevisibilidade de
direção provê prática para acuidade mental. – Disponível no ícone de informação. –
Tradução nossa.143
144
“If the axis scale is a rodeo ride, then the A and B scales are roller coasters! Consisting of 12 transversal
segments touching every vertex of the icosahedron, these scales slingshot through the interior of the icosahedron
without ever passing through its center. Each scale segment has 3 spatial pulls, and the fact that the scale
segments never cross the center means that you never have a chance to completely stabilize, even momentarily.
You are always deflecting to one side. In the A scale, there is a slight preponderance of movement upward
toward the front and downward toward the back. Laban found that this dynamic gave the scale a softer quality
and associated it with inspiration, receptivity, and spirituality. Each A scale is matched by a corresponding B
scale, which can be done face-to-face in lockstep. Use this scale when you want a complete spatial work-out,
testing your hability to maintain connected and stable while swimging through the icosahedron. It also cultivates
an ability to handle complex life circumstances without falling apart. Because it remains constantly deflected
from center, you my want to warm-up and/or warm-down with something more stabilizing, like a dimensional
scale. The A scale can also be done as a practice of opening to the muse, allowing whatever arises to inspire
your next endeavors.” Texto do Moving Space App.
203
Escala A – primeiro formato: 1- direita-alto (vértice direito superior); 2- atrás-baixo
(vértice posterior inferior); 3- esquerda-frente-medial (vértice esquerdo anterior e
medial); 4- direita-baixo (vértice direito inferior); 5- atrás-alto (vértice posterior
superior); 6- direita-frente-medial (vértice direito anterior e medial); 7- esquerda-baixo
(vértice esquerdo inferior); 8- frente-alto (vértice anterior superior); 9- direita-atrás-
medial (vértice direito posterior e medial); 10- esquerda-alto (vértice esquerdo
superior); 11- frente-baixo (vértice anterior interior); 12- esquerda-atrás-medial
(vértice esquerdo posterior e medial); 13- direita-alto (vértice direito superior);
Escala A - segundo formato: 1- esquerda-alto (vértice esquerdo superior); 2- atrás-
baixo (vértice posterior inferior); 3- direita-frente-medial (vértice direito anterior e
medial); 4- esquerda-baixo (vértice esquerdo inferior); 5- atrás-alto (vértice posterior
superior); 6- esquerda-frente-medial (vértice esquerdo superior e medial); 7- direita-
baixo (vértice direito inferior); 8- frente-alto (vértice anterior superior); 9- esquerda-
atrás-medial (vértice esquerdo posterior e medial); 10- direita-alto (vértice direito
superior); 11- frente-baixo (vértice anterior inferior); 12- direita-atrás-medial (vértice
direito posterior e medial); 13- esquerda-alto (vértice esquerdo) superior.
• Escala B
145
“(...) In the B scale, there is a slight preponderance of movement upward toward the back and dowanward
toward the front. Laban found that this dynamic gave the scale a more active, initiatory quality and associated it
with work, getting things done, and the material world. (…)The B scale can also be done as a preparation for
clearing out your to-do list or taking charge.” Texto do Moving Space App.
204
Escala B – segundo formato: 1- direita-alto (vértice direito superior); 2- frente-baixo
(vértice anterior inferior); 3- esquerda-atrás-medial (vértice esquerdo posterior e
medial); 4- direita-baixo (vértice direito inferior); 5- frente-alto (vértice anterior
superior); 6- direita-atrás-medial (vértice direito superior e medial); 7- esquerda-baixo
(vértice esquerdo inferior); 8- atrás-alto (vértice posterior superior); 9- direita-frente-
medial (vértice direito anterior e medial); 10- esquerda-alto (vértice esquerdo
superior); 11- atrás-baixo (vértice posterior inferior); 12- esqueda-frente-medial
(vértice esquerdo anterior e medial); 13- direita-alto (vértice direito superior).
Escalas do Dodecaedro
146
“The dodecahdron is considered the “dual form” of the icosahedron. If you connect the centers of each of its
faces, you will get an icosahedron, and vice versa. This scale is an icosahdron-based scale, translated to the
vertices of the dodecahedron. (…) Notice how the dodecahedron vertices have the opposite dominant spatial
pulls from the icosahedron. How does it feel different to do this scale with dodecahedron spatial pulls?” Texto
do Moving Space App.
205
centro-medial; 8- frente-alto (vértice anterior superior); 9- atrás-baixo (vértice
posterior inferior); 10- centro-medial; 11- atrás-alto (vértice posterior superior); 12-
frente-baixo (vértice anterior inferior); 13- centro-medial; 14- esquerda-frente-medial
(vértice esquerdo anterior e medial); 15- direita-atrás-medial (vértice direito posterior
e medial); 16- centro-medial; 17- direita-frente-medial (vértice direito anterior e
medial); 18- esquerda-atrás-medial (vértice esquerdo posterior e medial); 19- centro-
medial.
Escala Diametral II – primeiro formato: 1- direita-alto (vértice direito superior); 2-
esquerda-baixo (vértice esquerdo inferior); 3- direita-baixo (vértice direito inferior); 4-
esquerda-alto (vértice esquerdo superior); 5- frente-baixo (vértice anterior inferior); 6-
atrás-alto (vértice posterior superior); 7- atrás-baixo (vértice posterior inferior); 8-
frente-alto (vértice anterior superior); 9- esquerda-atrás-medial (vértice esquerdo
posterior e medial); 10- direita-frente-medial (vértice direito anterior e medial); 11-
direita-atrás-medial (vértice direito posterior e medial); 12- esquerda-frente-medial
(vértice esquerdo-anterior e medial); 13- direita-alto (vértice direito )superior.
Escala Diametral II – segundo formato: 1- esquerda-alto (vértice esquerdo
superior); 2- direita-baixo (vértice direito inferior); 3- esquerda-baixo (vértice
esquerdo inferior); 4- direita-alto (vértice direito superior); 5- frente-baixo (vértice
anterior-inferior); 6- atrás-alto (vértice posterior superior); 7- atrás-baixo (vértice
posterior inferior); 8- frente-alto (vértice anterior superior); 9- direita-atrás-medial
(vértice direito posterior e medial); 10- esquerda-frente-medial (vértice esquerdo
anterior e medial); 11- esquerda-atrás-medial (vértice esquerdo posterior e medial);
12- direita-frente-medial (vértice direito anterior e medial); 13- esquerda-alto 9vértice
esquerdo superior).
• Escala Axial (do dodecaedro)
Escala Axial – primeiro formato: 1- direita-alto (vértice direito superior); 2- atrás-
baixo (vértice posterior inferior); 3- direita-frente-medial (vértice direito anterior e
medial); 4- esquerda-baixo (vértice esquerdo inferior); 5- frente-alto (vértice anterior
superior); 6- esquerda-atrás-medial (vértice esquerdo posterior e medial); 7- direita-
alto (vértice direito superior).
Escala Axial – segundo formato: 1- esquerda-alto (vértice esquerdo superior); 2-
atrás-baixo (vértice posterior inferior); 3- esquerda-frente-medial (vértice esquerdo
anterior e medial); 4- direita-baixo (vértice direito inferior); 5- frente-alto (vértice
206
anterior superior); 6- direita-atrás-medial (vértice direito posterior e medial); 7-
esquerda-alto (vértice esquerdo superior).
Escala Axial – terceiro-formato: 1- direita-baixo (vértice direito inferior); 2- atrás-
alto (vértice posterior superior); 3- direita-frente-medial (vértice direito anterior e
medial); 4- esquerda-alto (vértice esquerdo superior); 5- frente-baixo (vértice anterior
inferior); 6- esquerda-atrás-medial (vértice esquerdo posterior e medial); 7- direita-
baixo (vértice direito inferior).
Escala Axial – quarto formato: 1- esquerda-baixo (vértice esquerdo inferior); 2-
atrás-alto (vértice posterior superior); 3- esquerda-frente-medial (vértice esquerdo
anterior e medial); 4- direita-alto (vértice direito superior); 5- frente-baixo (vértice
anterior inferior); 6- direita-atrás-medial (vértice direito-posterior e medial); 7-
esquerda-baixo (vértice esquerdo inferior).
• Escala Circular (do dodecaedro)
Escala Circular – primeiro formato: 1- direita-atrás-medial (vértice direito posterior
e medial); 2- direita-baixo (vértice direito inferior); 3- frente-baixo (vértice anterior
inferior); 4- esquerda-frente-medial (vértice esquerdo anterior e medial); 5- esquerda-
alto (vértice esquerdo superior); 6- atrás-alto (vértice posterior superior); 7- direita-
atrás-medial (vértice direito posterior e medial).
Escala Circular – segundo formato: 1- esquerda-atrás-medial (vértice esquerdo
posterior e medial); 2- esquerda-baixo (vértice esquerdo inferior); 3- frente-baixo
(vértice anterior inferior); 4- direita-frente-medial (vértice direito anterior e medial); 5-
direita-alto (vértice direito superior); 6- atrás-alto (vértice posterior superior); 7-
esquerda-atrás-medial (vértice esquerdo posterior e medial).
Escala Circular – terceiro formato: 1- direita-atrás-medial (vértice direito posterior
e medial); 2- direita-alto (vértice direito superior); 3- frente-alto (vértice anterior
superior); 4- esquerda-frente-medial (vértice esquerdo anterior e medial); 5- esquerda-
baixo (vértice esquerdo inferior); 6- atrás-baixo (vértice posterior inferior); 7- direita-
atrás-medial (vértice esquerdo posterior e medial).
Escala Circular – quarto formato: 1- esquerda-atrás-medial (vértice esquerdo
posterior e medial); 2- esquerda alto (vértice esquerdo superior); 3- frente-alto (vértice
anterior superior); 4- direita-frente-medial (vértice direito anterior e medial); 5-
direita-baixo (vértice direito inferior); 6- atrás-baixo (vértice posterior inferior); 7-
esquerda-atrás-medial (vértice esquerdo posterior e medial).
207
• Escala Primária (do dodecaedro)
Escala Primária – primeiro formato: 1- direita-alto (vértice direito superior); 2-
direita-atrás-medial (vértice direito posterior e medial); 3- atrás-baixo (vértice
posterior inferior); 4- direita-baixo (vértice direito inferior); 5- direita-frente-medial
(vértice direito anterior e medial); 6- frente-baixo (vértice anterior inferior); 7-
esquerda-baixo (vértice esquerdo inferior); 8- esquerda-frente-medial (vértice
esquerdo anterior e medial); 9- frente-alto (vértice anterior superior); 10- esquerda-alto
(vértice esquerdo superior); 11- esquerda-atrás-medial (vértice esquerdo posterior e
medial); 12- atrás-alto (vértice posterior superior); 13- direita-alto (vértice direito
superior).
Escala Primária – segundo formato: 1- esquerda-alto (vértice esquerdo superior); 2-
esquerda-atrás-medial (vértice esquerdo posterior e medial); 3- atrás-baixo (vértice
posterior inferior); 4- esquerda-baixo (vértice esquerdo inferior); 5- esquerda-frente-
medial (vértice esquerdo anterior e medial); 6- frente-baixo (vértice anterior inferior);
7- direita-baixo (vértice direito inferior); 8- direita-frente-medial (vértice direito
anterior e medial); 9- frente-alto (vértice anterior superior); 10- direita-alto (vértice
direito superior); 11- direita-atrás-medial (vértice direito posterior e medial); 12- atrás-
alto (vértice posterior superior); 13- esquerda-alto (vértice esquerdo superior).
Escala Primária – terceiro formato: 1- direita-baixo (vértice direito inferior); 2-
direita-atrás-medial (vértice direito posterior e medial); 3- atrás-alto (vértice posterior
superior); 4- direita-alto (vértice direito superior); 5- direita-frente-medial (vértice
direito anterior e medial); 6- frente-alto (vértice anterior superior); 7- esquerda-alto
(vértice esquerdo superior); 8- esquerda-frente-medial (vértice esquerdo anterior e
medial); 9- frente-baixo (vértice anterior inferior); 10- esquerda-baixo (vértice
esquerdo inferior); 11- esquerda-atrás-medial (vértice esquerdo posterior e medial);
12- atrás-baixo (vértice posterior inferior); 13- direito-baixo (vértice direito inferior).
Escala Primária – quarto formato: 1- esquerda-baixo (vértice esquerdo inferior); 2-
esquerda-atrás-medial (vértice esquerdo posterior e medial); 3- atrás-alto (vértice
posterior superior); 4- esquerda-alto (vértice esquerdo superior); 5- esquerda-frente-
medial (vértice esquerdo anterior e medial) 6- frente-alto (vértice anterior superior); 7-
direita-alto (vértice direito superior); 8- direita-frente-medial (vértice direito anterior e
208
medial); 9- frente-baixo (vértice anterior inferior); 10- direita-baixo (vértice direito
inferior); 11- direita-atrás-medial (vértice direito posterior e medial); 12- atrás-baixo
(vértice posterior inferior); 13- esquerda-baixo (vértice esquerdo inferior).
• Escala A (do dodecaedro)
Escala A – primeiro formato: 1- direita-alto (vértice direito superior); 2- atrás-baixo
(vértice posterior inferior); 3- esquerda-frente-medial (vértice esquerdo anterior e
medial); 4- direita-baixo (vértice direito inferior); 5- atrás-alto (vértice posterior
superior); 6- direita-frente-medial (vértice direito anterior e medial); 7- esquerda-baixo
(vértice esquerdo inferior); 8- frente-alto (vértice anterior superior); 9- direita-atrás-
medial (vértice direito posterior e medial); 10- esquerda-alto (vértice esquerdo
superior); 11- frente-baixo (vértice anterior inferior); 12- esquerda-atrás-medial
(vértice esquerdo posterior e medial); 13- direita-alto (vértice direito superior).
Escala A – segundo formato: 1- esquerda-alto (vértice esquerdo superior); 2- atrás-
baixo (véritice posterior inferior); 3- direita-frente-medial (vértice direito anterior e
medial); 4- esquerda-baixo (vértice esquerdo inferior); 5- atrás-alto (vértice posterior
superior); 6- esquerda-frente-medial (vértice esquerdo anterior e medial); 7- direita-
baixo (vértice direito inferior); 8- frente-alto (vértice anterior superior); 9- esquerda-
atrás-medial (vértice esquerdo posterior e medial); 10- direita-alto (vértice direito
superior); 11- frente-baixo (vértice anterior inferior); 12- direita-atrás-medial (vértice
direito posterior e medial); 13- esquerda-alto (vértice esquerdo superior).
• Escala B (do dodecaedro)
Escala B – primeiro formato: 1- esquerda-alto (vértice esquerdo superior); 2- frente-
baixo (vértice anterior inferior); 3- direita-atrás-medial (vértice direito posterior e
medial); 4- esquerda-baixo (vértice esquerdo inferior); 5- frente-alto (vértice anterior
superior); 6- esquerda-atrás-medial (vértice esquerdo posterior e medial); 7- direita-
baixo (vértice direito inferior); 8- direita-alto (vértice direito superior); 9- esquerda-
frente-medial (vértice esquerdo anterior e medial); 10- direita-alto (vértice direito
superior); 11- atrás-baixo (vértice posterior inferior); 12- direita-frente-medial (vértice
direito anterior e medial); 13- esquerda-alto (vértice esquerdo superior).
Escala B – segundo formato: 1- direita-alto (vértice direito superior); 2- frente-baixo
(vértice anterior inferior); 3- esquerda-atrás-medial (vértice esquerdo posterior e
medial); 4- direita-baixo (vértice direito inferior); 5- frente-alto (vértice anterior
superior); 6- direita-atrás-medial (vértice direito posterior e medial); 7- esquerda-baixo
209
(vértice esquerdo inferior); 8- atrás-alto (vértice posterior superior); 9- direita-frente-
medial (vértice direito anterior e medial); 10- esquerda-alto (vértice esquerdo
superior); 11- atrás-baixo (vértice posterior inferior); 12- esquerda-frente-medial
(vértice esquerdo anterior e medial); 13- direita-alto (vértice direito superior).
210
ANEXO3
147
Texto de Mathilde Wesendonck traduzido para o português por Adriana Latino.
211
2.Stehe still! (Pára)
Sausendes, brausendes Rad der Zeit,
Roda o tempo, que ruges e murmuras,
Messer du der Ewigkeit;
medidora da Eternidade,
Leuchtende Sphären im weiten All,
esferas luzentes no vasto todo
Die ihr umringt den Weltenball;
que rodeais o Mundo;
Urewige Schöpfung, halte doch ein,
criação eterna, pára,
Genug des Werdens, lass mich sein!
basta de devir, deixa-me ser!
212
3.Im Treibhaus (Na Estufa)
Hochgewölbte Blätterkronen,
Coroas de folhagem em elevadas abóbadas,
Baldachine von Smaragd,
baldaquins de esmeraldas,
Kinder ihr aus fernen Zonen,
filhos de remotas zonas,
Saget mir, warum ihr klagt?
dizei-me, porque vos lamentais?
4.Schmerzen (Sofrimentos)
214
5.Träume (Sonhos)
215
ANEXO 4
148
Tradução nossa sob supervisão da professora Margarida Borghoff.
149
Uma dança sulamericana originada do ritmo de bolero - “a dance of South American origin in bolero
rhythm” Disponível em: http://dictionnaire.reverso.net/anglais-definition/beguine Acesso em 28 de novembro de
2015. Informação fornecida por Adriano Lopes Sobrinho.
216
O luar sobre os lagos,
Danse dans l’eau
Dança sobre a água
150
Tradução nossa sob supervisão da professora Margarida Borghoff.
217
O oboé lentamente casa-se com a flauta,
5- Jouis sans retard, car vite s’écoule la vie151 (Aproveite sem demora, que a vida passa
depressa) - Poesia de Ronald de Carvalho
151
Tradução nossa sob supervisão da professora Margarida Borghoff.
218
Poussière impalpable emportée par le vent,
Poeira impalpável levada pelo vento,
Parfum que la brise subtilise
Perfume que a brisa rouba (subtrai)
Fruit qui tombe
Fruta que cai
Feuille qui s’envole
Folha que voa
152
Tradução da professora Margarida Borghoff.
219
Aux appels trop pressants parfois tourne la tête,
Aos chamados muito apresssados às vezes vira a cabeça,
Soupèse quelque fruit, marchande les primeurs
Pesa algumas frutas, negocia as primeiras hortaliças,
Ou s’éloigne au milieu d’insolentes clameurs.
Ou se afasta em meio aos clamores insolentes.
220
ANEXO 5
153
Disponível em: http://www.carcasse.com/letras/obra.php?obra=342 Acesso em 25 de Maio de 2016.
221
— Se tu não abres teus lares
Senão a quem diz seu nome
Sou a morte! Trago alívio
P'ra cada dor que consome!
Eu te esperava, eu te sigo...
Vamos... arrasta-me... assim...
Mas deixa o meu cão na terra
P'ra eu ter quem chore por mim!
154
Os trechos sublinhados não foram mantidos na composição musical de Edino Krieger.
222
ANEXO 6
Autorização
Diante disso, declaro que participei da oficina e que autorizo a divulgação das opiniões e
dados surgidos durante a oficina ou em consequência dela, em caráter anônimo. Autorizo,
ainda, o registro de áudio e imagem das atividades, bem como sua divulgação, desde que
expressamente solicitada a mim pela pesquisadora.
______________________________________________________________________
Assinatura e RG
223
ANEXO 7
AUTORIZAÇÃO
Local e Data:
E-mail:
______________________________________________________________________
Assinatura e RG ou CPF
224
ANEXO 8
1- Limpeza e Silêncio
2- Alongamento e Vocalize
3- Esquema do Corpo Laban
4- Respiração Celular, Irradiação Central, Superior-Inferior, Homolateral, Contralateral,
com articulações e movimentos da face.
5- Levantar
6- Deita novamente – repete o exercício (série 4) com expressões sonoras (choro-riso-
liptrill-sílabas)- Articulações Há há há, mandíbula e glissando (laringe)
7- Em pé articulações
8- Orifícios –
8.1 Olhos: cima-baixo-laterais-circulares-massagens.
8.2 Desfocado-nitidamente focado-próximo ao foco
8.3 Olhar com o queixo
8.4 Nariz: inspiração terceiro olho – Massagem laterais. mexer
8.5 Orelhas: Massagem cartilagens, lobos, batidinhas, mexer.
8.6 Boca: massagem, mexer (simétrico, assimétrico)
9- Série 1- Espaguete – Deglutição – Língua (fora dentro) – Fry relaxado e tenso Ô-A
(inverter) – Mesma cosia sonorizado com A (laringe alta, baixa, invertida, estável)
10- Movimento de mandíbula
11- Movimento de palato mole (bocejo) K.
12- Inspirar flexionando e expirar esticando (Inverter)
13- Movimento de laringe oposto ao de joelhos (mão no peito)
14- Respiração Torácica – Centro de Leveza e Diafragmática (centro de força) (Caminhar
ponta dos pés e base aberta, caminhar normal mantendo respiração).
15- Deslizar (glissando e cromática e terça) Torcer – Glissando e cromático em quinta.
Pontuar (staccato repetido e cromático até terça) em todos os planos. (junto com o
ritmo musical, contrários e independentes.)
225
Parte 2 – Início de composições em movimento
1- Explicar o Híbrido
2- Explicar os Fatores de Movimento
3- Exercícios de Fatores de Movimentos
Torcer: sua qualidade de espaço é flexível; sua qualidade de peso é firme, sua
qualidade de tempo é sustentada.
Pressionar: sua qualidade de espaço é direta; sua qualidade de peso é firme; sua
qualidade de tempo é sustentada.
Chicotear: sua qualidade de espaço é flexível; sua qualidade de peso é firme; sua
qualidade de tempo é súbita.
Socar: sua qualidade de espaço é direta; sua qualidade de peso é firme; sua
qualidade de tempo é súbita.
Flutuar: sua qualidade de espaço é flexível; sua qualidade de peso é leve; sua
qualidade de tempo é sustentada.
Deslizar: sua qualidade de espaço é direta; sua qualidade de peso é leve; sua
qualidade de tempo é sustentada.
Pontuar: sua qualidade de espaço é direta; sua qualidade de peso é leve; sua
qualidade de tempo é súbita.
Sacudir: sua qualidade de espaço é flexível; sua qualidade de peso é leve; sua
qualidade de tempo é súbita. (RENGEL, 2005, p. 24)
226
Parte 3
1- Explicação sobre chakras e vibradores de Grotowski.
2- Exercícios para a coluna (gatinho) e o hara.
3- Exercíos das vibrações de todo o corpo (Série 10)
4- Listening:
5- Sons externos ao espaço
6- Sonos do espaço
7- Sons do próprio corpo
8- Vibração com A – Acordar o corpo, enviar a vibração para diferentes partes do corpo.
9- Com o corpo em vibração e com U, A U, direcionar a vibração para o espaço tentando
fazer um local ou elemento vibrar.
10- Ouvir o eco de outro colega.
11- Diálogo de vibração com sonoridade Why.
12- Em Grupo com I – começa-se a criar harmonias e ritmos e timbres
13- Surge a melodia
14- Quando todos estiverem cantando, um participante vai ao centro do círculo para
improvisar.
15- Improvisação em grupo
16- Duetos
17- Desconstrução da canção no espaço
18- Vibração da canção no corpo vai desconstruindo
19- Sons no próprio corpo, sons no espaço e sons externos ao espaço.
227
ANEXO 9
155
“Grotowski admitted that in terms of voice work he knew much more about what not to do, than what to do.
He often said that the best vocal exercise is just to sing. The actor should sing at every opportunity. Sing while
driving, while doing the dishes, cleaning the house, or walking to class.” “Grotowski admitia que, em termos de
trabalho vocal, ele sabia muito mais sobre o que não fazer, do que sobre o que fazer. Ele frequentemente dizia
que o melhor exercício vocal é simplesmente cantar. O ator deve cantar em cada oportunidade. Cantar enquanto
está dirigindo, enquanto está cozinhando, limpando a casa ou andando para a aula.” (SLOWIAK et CUESTA,
2007, p. 155) [Tradução nossa]
228
• Surge a canção. A- O grupo canta a canção. B- Quando a canção está sendo cantada
bem, em uníssono, um dos participantes vai para o centro do círculo e começa a
improvisar.
• Enquanto um participante improvisa, os demais mantém o ritmo, andamento, melodia,
etc. Outros participantes podem ir para o centro e improvisar.
• Surge uma improvisação em grupo da canção. As interações permanecem e são
guiadas pela canção.
• Os participantes começam a realizar duetos com um parceiro.
• Quando os duetos são finalizados, cada participante inicia a desconstrução da canção
no espaço.
• Os executantes começam a observar onde é a fonte de vida da canção no próprio
corpo, até que a canção se torna apenas vibração e a vibração respiração.
• Voltamos ao início. Assim, o participante observa os sons em seu próprio corpo,
posteriormente, os sons no espaço e, na sequência, os sons externos ao espaço.
229
ANEXO 10
1- Você considera que os estudos labanianos em associação ao canto, como propõe esta
pesquisa, podem ser úteis para o desenvolvimento expressivo do cantor?
2- Você acredita que a associação dos fatores de movimento com os fatores sonoros
pode, de certo modo, trazer características mais objetivas para a construção da
expressividade?
( X ) Certamente → 90,9%
( X ) Em muitos casos → 9,09%
( ) Em alguns casos → 0%
( ) Não → 0%
( X ) Certamente → 90,9%
( X ) Em muitos casos → 9,09%
( ) Em alguns casos → 0%
( ) Não → 0%
( X ) Certamente → 81,81%
( X ) Em muitos casos → 18,18%
( ) Em alguns casos → 0%
( ) Não → 0%
230
5- A ideia dos cubos ressonantais aliada às 27 direções espaciais trabalhadas por Laban,
propiciou novas possibilidades de utilização vocal?
( X ) Certamente → 72,72%
( X ) Em muitos casos → 27,27%
( ) Em alguns casos → 0%
( ) Não → 0%
( X ) Certamente → 90,9%
( X ) Em muitos casos → 9,09%
( ) Em poucos casos → 0%
( ) Não → 0%
7- A junção das escalas de movimento Laban, dentro das formas cristalinas imaginárias,
com melodias vocais e a ideia de composição (cinética e melódica) baseada nos
fatores de movimento e nos fatores sonoros (ritmo, espaço, timbre, etc.), facilitaram
uma conscientização sobre a utilização espacial/vocal bem como sobre sua integração
nos espaços de performance?
( X ) Certamente → 90,9%
( X ) Em muitos casos → 9,09%
( ) Em poucos casos → 0%
( ) Não → 0%
8- Você acredita que os exercícios, como os que foram feitos, para os olhos, orelhas,
nariz, boca e outras regiões que exijam contração de músculos faciais, podem
contribuir para uma maior conscientização voltada aos recursos das expressões
faciais?
( X ) Certamente → 72,72%
( X ) Em muitos casos → 27,27%
( ) Em poucos casos → 0%
( ) Não → 0%
231
9- Sobre sua própria performance da canção, observando a execução antes e depois da
construção cênica, você acredita que os exercícios sugeridos no primeiro dia e agora
aplicados diretamente à construção cênica, juntamente com princípios de Stanislavski,
facilitaram a construção da performance e sua melhora expressiva?
( X ) Certamente → 54,54%
( X ) Muito → 45,45%
( ) Um pouco → 0%
( ) Não → 0%
10- Ainda sobre sua performance da canção, você acredita que todo o trabalho
desenvolvido contribuiu para deixá-lo mais seguro artisticamente durante sua
apresentação?
( X ) Certamente → 54,54%
( X ) Muito → 45,45%
( ) Um pouco → 0%
( ) Não → 0%
11- Sobre a performance da canção realizada pelos colegas, observando a execução antes
e depois da construção cênica, você acredita que os exercícios sugeridos no primeiro
dia e agora aplicados diretamente à construção cênica, juntamente com princípios de
Stanislavski, facilitaram a construção da performance e a melhora expressiva?
( X ) Certamente → 63,63%
( X ) Em muitos casos → 36,36%
( ) Em poucos casos → 0%
( ) Não → 0%
12- Ainda sobre a performance da canção realizada pelos outros participantes, você
acredita que todo o trabalho desenvolvido contribuiu para deixá-los mais seguros
artisticamente durante suas apresentações?
( X ) Certamente → 72,72%
( X ) Em muitos casos → 27,27%
( ) Em poucos casos → 0%
( ) Não → 0%
232
13- Diante de tudo que foi estudado e demonstrado, na sua opinião, este trabalho contribui
trazendo ferramentas mais objetivas e facilitadoras para o desenvolvimento expressivo
do cantor?
( X ) Certamente → 100%
( ) Em muitos casos → 0¨%
( ) Em poucos casos → 0%
( ) Não → 0%
14- Você acredita que essas ideias podem ser transpostas para artistas de outras áreas? Por
exemplo, atores e músicos instrumentistas?
( X ) Certamente → 100%
( ) Em muitos casos → 0%
( ) Em poucos casos → 0%
( ) Não → 0%
15- Na sua opinião, essas ideias e exercícios, além de contribuírem para a performance
podem contribuir também para uma pedagogia da performance?
( X ) Certamente → 100%
( ) Em muitos casos → 0%
( ) Em poucos casos → 0%
( ) Não → 0%
16- Você acredita que alguns dos exercícios aqui sugeridos, por exemplo as escalas de
movimento e o listening de Grotowski, podem também contribuir para performances
em grupo?
( X ) Certamente → 100%
( ) Em muitos casos → 0%
( ) Em poucos casos → 0%
( ) Não → 0%
233
ANEXO 11
Recital de Doutorado
Voz: substantivo feminino
Orientadora: Profa. Dra. Margarida Borghoff
Aline S. Araújo – Mezzo-Soprano
Adriano Lopes – Piano
Direção Cênica: Leonardo Ortiz
01 de Agosto de 2016 às 20:00h
234