Desenvolvimento Vocacional
Desenvolvimento Vocacional
Desenvolvimento Vocacional
tos relacionados com o contexto social, processo que promove a aquisição dos
histórico e cultural do mundo do trabalho conhecimentos, atitudes e comportamen-
e das profissões bem como os requisitos tos necessários para lidar, ao longo da vida,
necessários para as desempenhar. com os acontecimentos e os não aconte-
Diferentes escolas têm diferentes grupos cimentos, com as mudanças e com as
de alunos, com distintas necessidades de transições da carreira (Herr & Cramer,
educação e desenvolvimento vocacional. 1996).
Seria importante que os profissionais de Para esta mudança de perspectiva têm
orientação procedessem regularmente à contribuído, quer o avanço na teoria e
análise dessas características e necessida- investigação da Psicologia Vocacional, quer
des e praticassem uma abordagem as mudanças sofisticadas que se têm vindo
psicoeducacional da orientação. a operar no mundo do trabalho, da edu-
Além disso, torna-se necessário, também, cação e da família. Na discussão teórica
adoptar um modelo misto na organização desta problemática, a ênfase tem sido
da intervenção, mais centrado em progra- colocada na preparação dos indivíduos para
mas e não apenas em serviços, que pos- a vida de trabalho num sentido genérico
sibilite, na prática, uma visão mais e, menos, na tradicional preparação para
integradora e alargada da intervenção uma profissão ou tipo de emprego espe-
vocacional. Referimo-nos ao desenvolvi- cíficos. Conclui-se que a escola deve
mento de programas planeados de raiz para contribuir mais significativamente para a
os vários ciclos e níveis de ensino, desde preparação e inserção na vida profissional;
a educação pré-escolar até ao ensino que é necessário aos profissionais de
superior ou até ao mundo profissional, de orientação contar com todos os educado-
modo a possibilitar oportunidades para: res e com elementos da comunidade para
(a) a exploração orientada para o self e prosseguir essa tarefa; e, ainda, que é
para o meio circundante; pertinente integrar, de modo natural e
(b) a compreensão do mundo do trabalho, significativo, a promoção do desenvolvi-
das profissões e do emprego; mento vocacional no currículo escolar (exs:
(c) a aquisição de competências de toma- Brown & Brooks, 2000; Gibson &
da de decisão; Mitchell, 1999; Herr & Cramer, 1996;
(d) o desenvolvimento de uma ética de Miller-Tiedeman, 1999).
trabalho; Com efeito, vão sendo muitos os empre-
(e) a elaboração e execução de planos gadores, sobretudo nos domínios da Ci-
vocacionais e de vida realistas. ência e Tecnologia, que consideram que
Para isso teremos que ser inconformados os diplomados do ensino superior, de um
e continuar a demonstrar o valor das modo geral, estão muito pouco preparados
intervenções de carácter preventivo e para o tipo de trabalho que seria desejável
promocional como meio privilegiado de desempenharem (exs: AIP, 1997; Socieda-
ajudar os indivíduos a resolver os seus de e Trabalho, 2000, nº10).
problemas vocacionais. Deste modo, con- Por outro lado, para os jovens que aban-
correremos para que a orientação deixe de donam o ensino Básico ou Secundário, o
ser perspectivada apenas como uma inter- mercado de trabalho oferecido é de natu-
venção e passe a ser encarada como um reza precária, caracterizado por fracas
processo, que responde não só a proble- remunerações, ausência de benefícios ou
mas existentes, mas também como um regalias sociais significativas, exigindo
pelos alunos e, ao mesmo tempo, as re- até ao momento é reduzida. Além disso,
presentações, as crenças e a motivação dos verifica-se que os alunos possuem visões
mesmos face a opções menos conhecidas pouco diferenciadas do mundo do traba-
e prestigiadas (ex: ensino superior lho, não distinguindo, por exemplo, os
politécnico e formação profissional), sen- conceitos de curso, profissão, emprego,
sibilizando-os para a importância da ela- carreira, posição profissional, quando se
boração de projectos realistas que permi- referem ao mundo do trabalho. Quando se
tam a sua satisfação e realização pessoal. analisam estes resultados em função de
Os resultados de uma linha de investiga- características individuais e do contexto de
ção sobre a educação e o desenvolvimento vida dos alunos, como o sexo, a idade,
vocacional de jovens, a frequentar o ensino o ano escolar e o estatuto sócio-económi-
Básico e Secundário e Superior, que te- co de origem, regista-se um padrão de
mos vindo a desenvolver, na Universidade
resultados significativamente menos favo-
do Minho, de há alguns anos a esta parte,
rável nas raparigas, nos alunos mais ve-
evidenciam, além disso, que muito embo-
lhos e em anos escolares mais avançados
ra os jovens estudados registem percep-
e de estatuto sócio-económico mais baixo
ções relativamente positivas face ao
(Taveira, 2000b).
mercado profissional e de emprego na sua
área vocacional preferida e atribuam muita Trata-se de um padrão de resultados que
importância aos seus objectivos evidencia, sem dúvida alguma, o papel das
vocacionais, estão pouco seguros de con- expectativas de resultados nas atitudes e
seguir atingi-los, ou seja, têm expectativas comportamentos vocacionais dos jovens,
de resultados negativas no domínio mas também as necessidades específicas
vocacional, o que gera estados de ansie- de educação e de desenvolvimento
dade antecipatória face às próximas deci- vocacional dos jovens portugueses ao longo
sões (Afonso & Taveira, 2001; Soares, do sistema educativo.
1998; Taveira, 2000a; Taveira, Silva,
Rodríguez & Maia 1998). Verifica-se,
ademais, que este tipo de resultados é Comunidades e ambientes de aprendi-
menos favorável no grupo das raparigas, zagem propícios ao desenvolvimento
quando comparadas com o dos rapazes vocacional
(Taveira et al., 1998) e, à medida que
diminui o nível sócio-económico de ori- O modelo de intervenção vocacional que
gem dos alunos (Afonso & Taveira, 2001). temos vindo a defender ao longo deste
Refira-se, também, que a maioria dos texto consiste numa abordagem
alunos dos diferentes níveis de ensino psicoeducacional da carreira (cf. Taveira,
apresenta planos vocacionais pouco defi- no prelo; Savickas, 1996), baseia-se na
nidos e, apesar de estar relativamente perspectiva da educação psicológica deli-
motivada para a exploração vocacional, berada (Sprinthall & Sprinthall, 1993) e,
possui fracas competências nesse domínio assenta na criação de ambientes educativos
e necessidades específicas de informação. poderosos, de escolas relevantes do ponto
Os amigos e os familiares constituem os de vista do desenvolvimento vocacional
recursos preferenciais para obter informa- dos seus alunos e de comunidades propí-
ção sobre o mundo do trabalho. No en- cias ao desenvolvimento vocacional das
tanto, a satisfação com a informação obtida suas populações (Bell, 2000).
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