Desenvolvimento Vocacional

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Psicologia e Educação 109

Exploração e desenvolvimento vocacional na adolescência:


Contributos para uma abordagem sistemática e colaborativa
Maria do Céu Taveira*

Resumo: A promoção do desenvolvimento vocacional emerge, a partir dos anos setenta,


como uma estratégia de eleição efectiva para preparar os jovens para os novos contextos
de experiência de uma carreira. Neste texto, começaremos por analisar o significado
da expressão desenvolvimento vocacional, revisaremos em mais pormenor as carac-
terísticas do desenvolvimento vocacional na adolescência-anos de exploração e de ensaio-
com uma síntese das ideias mais actuais sobre o tema para, seguidamente, passarmos
a discutir o papel dos profissionais de orientação, dos professores e dos pais na promoção
do desenvolvimento vocacional na adolescência. Procuraremos defender que a pro-
moção do desenvolvimento vocacional exige dos profissionais de orientação, o pla-
neamento de intervenções precoces, uma abordagem educativa deliberada, de carácter
sistemático e, uma estratégia lata e de responsabilidade partilhada e colaboracionista.
Recomenda-se o alargamento progressivo da participação nos programas a outros agentes
do desenvolvimento vocacional, de modo a que os professores, pais e comunidade
partilhem da responsabilidade dos resultados da aprendizagem vocacional dos alunos
e as escolas aumentem o impacto das suas intervenções de educação e desenvolvimento
vocacional.
Palavras-chave: Desenvolvimento vocacional, educação para a carreira, facilitadores
do desenvolvimento vocacional.
Key-words: Career development, career education, career development facilitators.

Introdução ção que pode ser feita isoladamente, quer


do sistema escolar, quer das experiências
Recentemente, na literatura vocacional, da comunidade. A tarefa de apoiar as nossas
desenvolve-se a ideia de que as práticas crianças, jovens e adultos a explorar,
tradicionais e mais conhecidas da orien- identificar, articular, antecipar e preparar
tação, ainda que fundamentais para ajudar possíveis futuros já não é um exclusivo
a resolver problemas vocacionais, sobre- institucional ou profissional. Requer o
tudo em fases de eminência de tomada de envolvimento dos vários agentes do de-
decisão, não são porém suficientes quando senvolvimento vocacional-profissionais de
a preocupação dos profissionais passa a orientação, pais, professores e empregado-
ser também a prevenção dos problemas e res-através do exercício de diferentes
das dificuldades, ou a promoção do de- papeis e responsabilidades. Requer também
senvolvimento dos indivíduos (cf. Brown que o movimento da orientação vocacional
& Krane, 2000). se torne parte integrante do movimento de
Com efeito, torna-se cada vez mais difícil reforma educativa, já que acreditamos que
encarar a orientação como uma interven- a educação escolar pode servir propósitos
de exploração vocacional e oferecer opor-
_______________
* Instituto de Educação e Psicologia. Univer- tunidades para que os alunos aprendam,
sidade do Minho. de modo progressivo e sequencial, aspec-

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tos relacionados com o contexto social, processo que promove a aquisição dos
histórico e cultural do mundo do trabalho conhecimentos, atitudes e comportamen-
e das profissões bem como os requisitos tos necessários para lidar, ao longo da vida,
necessários para as desempenhar. com os acontecimentos e os não aconte-
Diferentes escolas têm diferentes grupos cimentos, com as mudanças e com as
de alunos, com distintas necessidades de transições da carreira (Herr & Cramer,
educação e desenvolvimento vocacional. 1996).
Seria importante que os profissionais de Para esta mudança de perspectiva têm
orientação procedessem regularmente à contribuído, quer o avanço na teoria e
análise dessas características e necessida- investigação da Psicologia Vocacional, quer
des e praticassem uma abordagem as mudanças sofisticadas que se têm vindo
psicoeducacional da orientação. a operar no mundo do trabalho, da edu-
Além disso, torna-se necessário, também, cação e da família. Na discussão teórica
adoptar um modelo misto na organização desta problemática, a ênfase tem sido
da intervenção, mais centrado em progra- colocada na preparação dos indivíduos para
mas e não apenas em serviços, que pos- a vida de trabalho num sentido genérico
sibilite, na prática, uma visão mais e, menos, na tradicional preparação para
integradora e alargada da intervenção uma profissão ou tipo de emprego espe-
vocacional. Referimo-nos ao desenvolvi- cíficos. Conclui-se que a escola deve
mento de programas planeados de raiz para contribuir mais significativamente para a
os vários ciclos e níveis de ensino, desde preparação e inserção na vida profissional;
a educação pré-escolar até ao ensino que é necessário aos profissionais de
superior ou até ao mundo profissional, de orientação contar com todos os educado-
modo a possibilitar oportunidades para: res e com elementos da comunidade para
(a) a exploração orientada para o self e prosseguir essa tarefa; e, ainda, que é
para o meio circundante; pertinente integrar, de modo natural e
(b) a compreensão do mundo do trabalho, significativo, a promoção do desenvolvi-
das profissões e do emprego; mento vocacional no currículo escolar (exs:
(c) a aquisição de competências de toma- Brown & Brooks, 2000; Gibson &
da de decisão; Mitchell, 1999; Herr & Cramer, 1996;
(d) o desenvolvimento de uma ética de Miller-Tiedeman, 1999).
trabalho; Com efeito, vão sendo muitos os empre-
(e) a elaboração e execução de planos gadores, sobretudo nos domínios da Ci-
vocacionais e de vida realistas. ência e Tecnologia, que consideram que
Para isso teremos que ser inconformados os diplomados do ensino superior, de um
e continuar a demonstrar o valor das modo geral, estão muito pouco preparados
intervenções de carácter preventivo e para o tipo de trabalho que seria desejável
promocional como meio privilegiado de desempenharem (exs: AIP, 1997; Socieda-
ajudar os indivíduos a resolver os seus de e Trabalho, 2000, nº10).
problemas vocacionais. Deste modo, con- Por outro lado, para os jovens que aban-
correremos para que a orientação deixe de donam o ensino Básico ou Secundário, o
ser perspectivada apenas como uma inter- mercado de trabalho oferecido é de natu-
venção e passe a ser encarada como um reza precária, caracterizado por fracas
processo, que responde não só a proble- remunerações, ausência de benefícios ou
mas existentes, mas também como um regalias sociais significativas, exigindo

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poucas competências e, inseguro, sem de sistemas de colaboração. Nesta maté-


grandes oportunidades de avanço ou de ria, consideramos que compete, mais uma
desenvolvimento. Muitas vezes a estraté- vez, aos profissionais de orientação, a de-
gia mais frequente dos empregadores para safiadora tarefa de sensibilizar os diver-
lidar com este problema é esperar, não se sos agentes do desenvolvimento
comprometendo em termos de contratação vocacional- pais, professores, e emprega-
até que estes jovens adquiram alguma dores- para projectos de acção conjunta
experiência profissional noutro contexto. no domínio do desenvolvimento
Ou então, proporcionar um contexto de vocacional dos jovens.
experiência profissional e, só depois, Outro vector de acção importante é pro-
oferecer oportunidades de formação e de curar que os alunos compreendam a
actualização profissional. importância, para o seu desenvolvimento
Na terminologia vocacional, poderemos vocacional, da aprendizagem das compe-
comentar estes fenómenos dizendo que, em tências académicas básicas e de resolu-
muitos casos, os jovens que estão nestas ção de problemas bem como de hábitos
circunstâncias gostariam de facto de ter um de trabalho positivos e produtivos, dentro
trabalho e de se sentirem verdadeiros e fora da sala de aula.
trabalhadores. No entanto, o que acontece Nesta perspectiva psico-educativa, a inter-
é que são forçados a ter apenas um venção vocacional não se destina tanto a
emprego e a tornarem-se progressivamen- apoiar as pessoas a lidar com situações de
te aquilo que na linguagem da educação tomada de decisão, mas antes, a ensinar
vocacional ou educação para a carreira se e a desenvolver o tipo de atitudes e de
designa por “escravos do trabalho”. Dado comportamentos que serão úteis, quer para
que este mercado de trabalho secundário os momentos de tomada de decisão, quer
tenderá a persistir, o importante é que ele para as situações de adaptação aos con-
não se torne no mercado de emprego textos de trabalho, quer ainda para se ser
primário para os jovens portugueses que capaz de evoluir nos papeis pré-profissi-
abandonam os estudos. onais (ex. estudante), profissionais e não
Em países mais desenvolvidos, este tipo profissionais.
de situações tem desencadeado esforços
conscienciosos para evitar a colocação
neste tipo de mercado laboral de jovens Desenvolvimento Vocacional: assunções
menos qualificados. Incentiva-se e obtém- quanto à sua natureza
se a colaboração entre empregadores e
educadores para poder oferecer mais expe- Como encaramos, numa abordagem
riências de trabalho e de educação formal psicoeducacional da carreira, o desenvol-
bem como formação profissional na em- vimento vocacional? Como o definimos?
presa, possibilitando mais e melhores O desenvolvimento vocacional é encarado
oportunidades de desenvolvimento como um aspecto do desenvolvimento
vocacional aos jovens trabalhadores. É individual global e como um processo de
claro que isto exige que os próprios carácter longitudinal, que se rege pelos
empregadores e educadores aceitem a princípios da Psicologia do Desenvolvi-
responsabilidade de ajudar os jovens a mento. Considera-se que os comportamen-
realizar transições mais eficazes da es- tos e atitudes vocacionais desenvolvem-se
cola para o mercado de emprego, através ao longo do tempo, através de mecanis-

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mos de crescimento e de aprendizagem, gem vocacional progressiva que, de acor-


em tudo semelhantes às restantes formas do com Law (1996), pode ser descrita em
de aprendizagem humana (Bailey, 1971; quatro fases, a saber:
Herr, 1970; Law & McGowan, 1999). (a) a Sensibilização- que consiste na
Trata-se de um processo de desenvolvimen- observação, recolha e enquadramento
to humano que prossegue, mal ou bem, de impressões sobre as vidas de tra-
independentemente da nossa intervenção balho das pessoas;
no mesmo e que descreve a carreira em (b) a Significação- ou seja, a construção
termos de papéis, contextos e acontecimen- de significados, a comparação de
tos que se desenrolam ao longo da vida ideias, o uso de conceitos e a cons-
e nas suas diversas arenas (Gysbers & trução de padrões relacionados com as
Moore, 1973). Engloba os projectos de vidas de trabalho;
acção relacionados com a vida de trabalho (c) a Focagem- que implica ser capaz de
das pessoas (trabalho remunerado e não
desenvolver os seus próprios pontos
remunerado), com a educação e com a
de vista sobre as vidas de trabalho das
família, encarados como fenómenos rela-
pessoas e apreciar pontos de vista
cionados (Gysbers, Heppner & Johnston,
alternativos;
1998).
(d) a Compreensão – que envolve ser
Nesta concepção, a carreira refere-se a algo
que é vivido pela pessoa ao longo do ciclo capaz de compreender e explicar os
vital e não tanto a algo que se pode efeitos da acção passada no presente
escolher. É um conceito centrado na pessoa e de antecipar futuras consequências
e não tanto nas profissões (Super, 1976). da acção presente, no domínio
Envolve quer o que a pessoa faz, quer os vocacional.
significados que a pessoa atribui ao que Neste contexto, as características do de-
faz, em termos de planos futuros, reali- senvolvimento vocacional dos alunos tor-
zações passadas ou fracassos e competên- nam-se a base fundamental do planeamen-
cias e atributos no presente (Raynor & to e da organização das intervenções. Além
Entlin, 1982). disso, mais recentemente, o estudo e a
Adoptando estas noções e concepções da promoção do desenvolvimento dos adul-
carreira e do desenvolvimento vocacional, tos envolvidos pelos psicólogos nos pro-
uma das finalidades principais dos profis- gramas de educação para a carreira- pais,
sionais de orientação, pode ser, então, professores e empregadores- podem ser
desenvolver programas compreensivos, de encarados, também, como condições essen-
educação e desenvolvimento da carreira, ciais para o sucesso de uma abordagem
destinados a ajudar os alunos a valorizar psicoeducacional da intervenção na carrei-
todas as formas de trabalho, a realizar uma ra.
aprendizagem progressiva sobre o self, o Nos próximos dois pontos deste texto,
trabalho e os papeis de vida e a estabe- caracteriza-se, em termos gerais, o desen-
lecer relações explícitas e mais estreitas volvimento vocacional na infância e ado-
entre aquilo que aprendem nas suas dis- lescência e apresentam-se algumas suges-
ciplinas e aquilo que necessitarão para as tões para o incremento de práticas de
suas vidas de trabalho futuras através das desenvolvimento da carreira com jovens
várias disciplinas de um currículo. Deste e de uma participação mais adequada dos
modo, pode favorecer-se uma aprendiza- adultos naquele processo.

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O desenvolvimento vocacional na infân- A análise da literatura vocacional e os


cia e adolescência: anos de fantasia, resultados de investigação que realizamos
exploração e ensaio com crianças em idade pré-escolar permi-
tem verificar que, quando entram no Ensino
Como se caracteriza o desenvolvimento Básico, muitas crianças têm já noções mais
vocacional durante os anos do ensino ou menos claras sobre a existência de
Básico e Secundário? Os primeiros dez a diferentes tipos de trabalho ou empregos
doze anos de vida têm sido caracterizados, e são já capazes de descrever aspectos
do ponto de vista do desenvolvimento relativos às vidas de trabalho das pessoas,
vocacional, como um período de Fantasia em especial no que se refere aos entes mais
ou de Crescimento que inclui elementos significativos (Araújo & Taveira, 1999).
de exploração, de orientação para o futu- Durante os primeiros anos de escolarida-
de, muitas crianças podem expressar já
ro, de autonomia e de auto-estima (Super,
escolhas profissionais, em geral, coinciden-
Savickas & Super, 1996, p.131-132). As
tes com as profissões dos seus familiares,
tarefas desenvolvimentais mais típicas
vizinhos ou conhecidos ou com as acti-
deste estádio são:
vidades dos seus heróis. Os trabalhadores
(i) formar as primeiras imagens ou vi-
que são poderosos, habilidosos, corajosos
sões sobre si próprio como pessoa;
e orientados para a acção, por exemplo,
(ii) compreender o significado do traba- são particularmente desejados e emulados
lho; pelas crianças (Taveira, 1999, p. 176).
(iii) desenvolver uma orientação para o Nesta fase da vida e do desenvolvimento
mundo do trabalho-adquirir hábitos e vocacional, as escolhas assentam, num
atitudes de trabalho; primeiro momento, não num processo de
(iv) aprender a organizar o tempo de modo análise reflexiva de si mesmo, nem tão
a terminar uma tarefa e, se necessá- pouco na apreciação de gostos ou outras
rio, pôr o trabalho à frente da brin- características pessoais, mas tão somente
cadeira; na fantasia, nos símbolos de poder, de
(v) acreditar na realização através da autoridade e de prestígio reflectidos nas
escola e do trabalho; actividades desempenhadas pelos adultos
(vi) tornar-se capaz de perspectivar o significativos ou por heróis reconhecidos
futuro (a curto e médio prazo). e, naquilo que parece excitante e agradá-
A participação nas actividades escolares e vel. Por este motivo, é importante que os
de lazer ajudam as crianças a observar adultos encorajem, nas crianças, a fantasia
vários aspectos da vida de trabalho das e a exploração e evitem ajuizar a
pessoas, a tomar consciência dos seus adequabilidade das suas escolhas ou in-
pontos fortes e fracos, das suas preferên- troduzir elementos realistas prematuros
cias e das suas características de perso- sobre o mundo profissional, porque as
nalidade e, a incorporar este tipo de preferências expressas durante este está-
conhecimento no seu auto-conceito. É nesta dio são, geralmente, instáveis e perenes.
fase da vida, também, que os alunos têm Como consequência, a intervenção
mais oportunidade para tentar ensaiar, em vocacional durante a infância e os primei-
imaginação ou no jogo e nas suas acti- ros anos da adolescência deve caracteri-
vidades, muitos dos papeis da vida dos zar-se pela oferta intencional e sistemáti-
adultos. ca, através do currículo do ensino Básico,

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de informação e actividades que promo- A investigação sobre os jovens portugue-


vam a aprendizagem vocacional e, ainda ses tem demostrado que, na sua maioria,
pelo envolvimento dos pais, professores e consistente com as aspirações que os pais
outros agentes educativos nas práticas do têm para si, os alunos aspiram o prosse-
desenvolvimento vocacional. O objectivo guimento de estudos no ensino superior,
principal não é, refira-se, iniciar mais cedo em especial, no ensino público e univer-
a orientação para uma escolha escolar ou sitário, mesmo quando a sua história
profissional mas, pelo contrário, evitar o escolar e pessoal sugere que essa não deve
compromisso precoce com opções de vida ser considerada como a única via ou a via
e oferecer oportunidades para a explora- de eleição para o futuro próximo (exs:
ção e o ensaio de opções e papeis de vida. Abreu, 1996; Afonso & Taveira, 2001;
A adolescência, por sua vez, tem sido Azevedo, 1991; Cabral & Pais, 1998;
caracterizada, do ponto de vista do desen- Ministério da Educação, 1997; Taveira et
volvimento vocacional, como uma fase de al., 1994).
transição da Fantasia para o Realismo ou É importante ajudar estes jovens e estas
como um estádio de Exploração, propício famílias a desenvolver expectativas
à experimentação, ao teste de hipóteses, vocacionais mais realistas e também aju-
ao ensaio e, à definição e concretização dar os pais e professores a criar ambientes
de escolhas-tentativa, baseadas cada vez educativos e de ensino-aprendizagem que
menos na fantasia e cada vez mais em motivem os jovens a desenvolver os es-
factores de carácter mais realista, como a forços necessários para obter uma forma-
apreciação dos seus interesses e capaci- ção e qualificações escolares e profissio-
dades e o nível de aspirações (Ginzberg,
nais adequadas aos seus objectivos e
Ginsburg, Axelrad & Herma, 1951;
aspirações.
Gottfredson, 1981; Super, 1957). Trata-se,
Estar orientado/a para o futuro, ou seja,
além disso, de um período propício à
para os próximos objectivos e actividades,
emergência de valores e em que as
implica, entre outros aspectos, ter uma
mudanças, tanto no self como no mundo,
atitude positiva, de confiança, face a esse
podem ser utilizadas como um aspecto
fundamental do planeamento vocacional mesmo futuro. Ajudar os professores e os
(Drummond & Ryan, 1995). Os adoles- pais dos alunos do ensino Básico e Se-
centes necessitam de adquirir autonomia cundário a criar ambientes que favoreçam
e independência não só dos pais como os sentimentos de competência pessoal e
também dos seus professores e dos seu de autonomia, importantes para o desen-
grupo de amigos e colegas, desenvolver volvimento da auto-confiança e motivação,
um sentido positivo de identidade pessoal pode ser, a nosso ver, uma das vias efi-
e um auto-conceito, bem como mecanis- cazes para criar as bases de uma orien-
mos para lidar com os problemas do dia tação para o futuro naqueles alunos e,
a dia. Para que se tornem cidadãos res- consequentemente, promover o desenvol-
ponsáveis, é necessário que explorem bem vimento vocacional na adolescência.
os seus papeis de vida e as suas respon- Para este mesmo efeito, seria pertinente
sabilidades na sociedade e que antecipem também que ao longo do ensino Básico
e pensem no seu estilo de vida preferido e Secundário, os profissionais de orienta-
bem como nas implicações de um futuro ção procurassem começar por abordar, nas
emprego nesse mesmo seu estilo de vida actividades de exploração vocacional,
(Ibid.). informação relativa às opções preferidas

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pelos alunos e, ao mesmo tempo, as re- até ao momento é reduzida. Além disso,
presentações, as crenças e a motivação dos verifica-se que os alunos possuem visões
mesmos face a opções menos conhecidas pouco diferenciadas do mundo do traba-
e prestigiadas (ex: ensino superior lho, não distinguindo, por exemplo, os
politécnico e formação profissional), sen- conceitos de curso, profissão, emprego,
sibilizando-os para a importância da ela- carreira, posição profissional, quando se
boração de projectos realistas que permi- referem ao mundo do trabalho. Quando se
tam a sua satisfação e realização pessoal. analisam estes resultados em função de
Os resultados de uma linha de investiga- características individuais e do contexto de
ção sobre a educação e o desenvolvimento vida dos alunos, como o sexo, a idade,
vocacional de jovens, a frequentar o ensino o ano escolar e o estatuto sócio-económi-
Básico e Secundário e Superior, que te- co de origem, regista-se um padrão de
mos vindo a desenvolver, na Universidade
resultados significativamente menos favo-
do Minho, de há alguns anos a esta parte,
rável nas raparigas, nos alunos mais ve-
evidenciam, além disso, que muito embo-
lhos e em anos escolares mais avançados
ra os jovens estudados registem percep-
e de estatuto sócio-económico mais baixo
ções relativamente positivas face ao
(Taveira, 2000b).
mercado profissional e de emprego na sua
área vocacional preferida e atribuam muita Trata-se de um padrão de resultados que
importância aos seus objectivos evidencia, sem dúvida alguma, o papel das
vocacionais, estão pouco seguros de con- expectativas de resultados nas atitudes e
seguir atingi-los, ou seja, têm expectativas comportamentos vocacionais dos jovens,
de resultados negativas no domínio mas também as necessidades específicas
vocacional, o que gera estados de ansie- de educação e de desenvolvimento
dade antecipatória face às próximas deci- vocacional dos jovens portugueses ao longo
sões (Afonso & Taveira, 2001; Soares, do sistema educativo.
1998; Taveira, 2000a; Taveira, Silva,
Rodríguez & Maia 1998). Verifica-se,
ademais, que este tipo de resultados é Comunidades e ambientes de aprendi-
menos favorável no grupo das raparigas, zagem propícios ao desenvolvimento
quando comparadas com o dos rapazes vocacional
(Taveira et al., 1998) e, à medida que
diminui o nível sócio-económico de ori- O modelo de intervenção vocacional que
gem dos alunos (Afonso & Taveira, 2001). temos vindo a defender ao longo deste
Refira-se, também, que a maioria dos texto consiste numa abordagem
alunos dos diferentes níveis de ensino psicoeducacional da carreira (cf. Taveira,
apresenta planos vocacionais pouco defi- no prelo; Savickas, 1996), baseia-se na
nidos e, apesar de estar relativamente perspectiva da educação psicológica deli-
motivada para a exploração vocacional, berada (Sprinthall & Sprinthall, 1993) e,
possui fracas competências nesse domínio assenta na criação de ambientes educativos
e necessidades específicas de informação. poderosos, de escolas relevantes do ponto
Os amigos e os familiares constituem os de vista do desenvolvimento vocacional
recursos preferenciais para obter informa- dos seus alunos e de comunidades propí-
ção sobre o mundo do trabalho. No en- cias ao desenvolvimento vocacional das
tanto, a satisfação com a informação obtida suas populações (Bell, 2000).

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Neste contexto, começa a defender-se, por comunicação e de trabalho, a aprender a


exemplo, que os profissionais de orienta- apresentar-se e a explorar as necessidades
ção devem adoptar meios e métodos de e os discursos relevantes em cada domínio
intervenção para desenvolver ambientes ou grupo profissional e, ensinar como se
poderosos de aprendizagem, orientados pode combinar os resultados desses dis-
para o significado, que têm como objec- cursos com os desejos e necessidades
tivo promover competências no indivíduo individuais, são aspectos a ter em conta
para que ele vá sendo capaz de inserir- na intervenção vocacional. Trata-se de
se e desenvolver-se adequadamente nos ensinar os indivíduos a traduzir os seus
contextos actuais de trabalho. E o que valores em acção, de oferecer oportunida-
significa isto? Mais em concreto, significa des de experiência mas também de refle-
que devemos apostar no desenvolvimento xão, de expandir as suas visões e pers-
de “competências da carreira” que inclu- pectivas e de activar as suas motivações.
em quer a competência de autoria, quer Consiste, além disso, em ensinar às cri-
as competências de transição e de trabalho anças e aos jovens a adquirir, a reconhecer
(cf. Meijers & Wijers, 2000). e a construir certo tipo de atitudes que
A competência de autoria é a capacidade permitem que cada um se torne mais apto
para estabelecer uma relação significativa na identificação quer dos sinais de mu-
e útil entre os investimentos realizados na dança quer dos sinais de oportunidade e
educação ou formação, o papel de traba- o faça com sentido, propósito, e de modo
lhador desejado e, a biografia ou estilo de envolvido, com espírito, uma atitude que
vida pretendido. Nesta perspectiva, o entretanto tem desaparecido bastante das
indivíduo é encarado como um actor, com arenas de trabalho (Bezanson, 2000).
capacidade e competências para determi- Por último, as competências de trabalho
nar um curso de vida no sistema laboral. referem-se à capacidade para se manter
Ao desenvolvermos métodos concretos empregado numa dada organização em cir-
para a promoção da competência para ser cunstâncias de mudança, baseado num sen-
actor da sua própria carreira, estamos a tido fundamental de direcção e identidade.
contribuir para a clarificação do auto- A nosso ver, as intervenções psico-educa-
conceito dos indivíduos e para alargar os cionais destinadas à promoção de tais
seus horizontes no que respeita a carreira. competências seguramente tornarão as
O desenvolvimento das competências de escolas mais relevantes do ponto de vista
transição tem sido também bastante valo- do desenvolvimento vocacional dos seus
rizado. Consiste na capacidade de quem alunos, evitando aquilo que Herr (2000)
procura um emprego ou trabalho para quis evidenciar, quando refere que estar
comunicar com potenciais empregadores desenvolvido do ponto de vista académico
acerca do seu valor acrescentado, para o sem o estar do ponto de vista vocacional,
empregador em questão, quer no presente é como estar muito bem vestido sem ter
quer no futuro e, se necessário, realizar lugar para onde ir.
compromissos e negociar finalidades e Outra ideia que nos parece importante
objectivos, sem perder a direcção pessoal quando pensamos em tornar o desenvol-
nem a sua identidade. Os modelos de ajuda vimento vocacional uma prioridade do
são importantes para este efeito. Apoiar sistema educativo é contribuir para a
quem procura emprego a conhecer pesso- criação de comunidades propícias ao desen-
as e organizações, a formar redes de volvimento vocacional de jovens (Bell,

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2000). Consiste em construir um círculo de vimento. Outras vezes, ainda, os pais e os


forças a nível da comunidade em que os professores podem necessitar de informa-
educadores, os trabalhadores jovens e os pais ção para identificarem acções que não são
contribuem e apoiam as escolhas e o de- apropriadas ou desejáveis do ponto de vista
senvolvimento vocacional dos mais novos. desenvolvimental. Do mesmo modo, se os
É a cultura da infusão do desenvolvimento empregadores puderem compreender me-
vocacional nos contextos educativos. Todos lhor em que consiste o desenvolvimento
na comunidade têm um papel. As escolas vocacional, mais fácil será poder compre-
e os centros de formação e de apoio a jovens ender qual pode ser o seu papel como
oferecem ligações, encaminham os jovens agentes desse processo nos jovens em geral
para serviços de informação, de educação e, nos seus empregados, em particular.
e de aconselhamento de jovens. Os pais, pro- A promoção do desenvolvimento
fessores e outros educadores são alvo eles vocacional dos adultos com quem os
próprios de acções de informação, de psicólogos trabalham pode ser outra es-
aconselhamento e de formação e passam a tratégia profiláctica de excelência na
possuir recursos e ferramentas para ajudar construção de comunidades propícias ao
os jovens a explorar informação sobre o self, desenvolvimento vocacional. Requer a
sobre o trabalho e sobre os papeis de vida. consciência de que, quer os pais, quer os
É uma estratégia especialmente importante professores com quem trabalhamos estão,
para os grupos de alunos que apesar de também eles, em diferentes pontos e com
poderem ter expectativas elevadas quanto ao diferentes trajectórias de desenvolvimento
prosseguimento de estudos, não prosseguem vocacional e global. O modo como com-
estudos após o 9º ou 12 º ano de escola- preenderão a informação desenvolvimental
ridade. relativa aos jovens e a sua actuação
Os psicólogos têm um papel fundamental educativa para com aqueles dependerá,
na construção deste tipo de comunidades. também, do tipo de desenvolvimento
Podem trabalhar com os professores e pais profissional e pessoal que estão a viver.
dos jovens e com os restantes agentes da O que significa isto para os psicólogos?
comunidade, a partir de uma perspectiva Que necessitam de considerar nas suas in-
desenvolvimental, pelo menos, de dois tervenções, as características do desenvol-
modos distintos (Paisley & Hubbard, vimento dos adultos com quem trabalha-
1994). Um deles é partilhar informação rão e também agir no sentido de promover
desenvolvimental sobre as crianças e os o desenvolvimento pessoal e vocacional de
jovens com os adultos. Outro é procurar tais educadores, quer sejam os pais, quer
avaliar e influenciar o próprio desenvol- sejam os professores, quer sejam os em-
vimento da carreira dos adultos. pregadores. Consequentemente, necessitam
A partilha de informação relativa ao de considerar no planeamento das suas in-
desenvolvimento vocacional pode ajudar tervenções oportunidades para tal.
os pais e os professores a compreender
melhor os jovens e as suas vidas e pro-
mover expectativas mais realistas para eles. Conclusão
Muitas das vezes os adultos ficam bastan-
te preocupados com certos comportamen- Existe uma sensibilidade crescente para as
tos dos adolescentes que no fundo são bem necessidades de desenvolvimento vocacio-
normais para o seu estádio de desenvol- nal dos indivíduos e não apenas para as

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necessidades da estrutura de oportunida- Referências


des de trabalho. A partir do que ficou Bibliográficas
referido no presente texto, podemos con- Abreu, M.V. (1996). Pais, professores e
cluir que é cada vez mais necessário, no psicólogos. Coimbra: Coimbra Edito-
contexto das actividade de orientação, ra.
adoptar uma abordagem profiláctica e Afonso, J.M. & Taveira, M.C. (2001).
psico-educacional das questões relaciona- Exploração vocacional de jovens.
das com a carreira, proporcionando aos Condições do contexto relacionadas
clientes- crianças, jovens e adultos, am- com o estatuto socioeconómico e com
bientes de aprendizagem poderosos e sig- o sexo. Relatório de Investigação.
nificativos, do ponto de vista do desen- Braga: Universidade do Minho.
volvimento vocacional. Para isso, será Araújo, S. & Taveira, M.C. (1999). De-
necessário apostar na intervenção senvolvimento vocacional na infância:
vocacional baseada num programa com- estudo exploratório com crianças do
preensivo, destinado a todos os alunos de pré-escolar e do 1º ciclo do ensino
uma escola ou comunidade, planeado com Básico. Estudo para apresentação de
base numa análise prévia das caracterís- provas de mestrado em Psicologia
ticas e necessidades de desenvolvimento Escolar. Braga: Universidade do Minho
(Policopiado).
vocacional dos diversos grupos de jovens
Associação Industrial Portuguesa (1997).
e, sempre que possível, inscrito de um
Os empresários e o mercado do 1º
modo intencional, no processo de ensino-
emprego. Estratégias de recrutamento.
aprendizagem decorrente. O envolvimento
Leça da Palmeira: AIP.
dos psicólogos neste tipo de intervenção
Azevedo, J. (1991). Educação tecnológica.
é uma necessidade. Em muitos casos, a
Anos 90. Porto: Edições Asa.
colaboração de outros agentes facilitadores
Bailey, L.J. (1971). A curriculum model
do desenvolvimento vocacional, como
for facilitating career development.
sejam os pais e os professores dos jovens,
Career Development for Children
é uma condição essencial do sucesso de
Project. Department of Occupational
uma abordagem preventiva e promocional Education. Southern Illinois University
na orientação. A criação de escolas e of Carbondale.
comunidades propícias ao desenvolvimen- Bell, D. (2000). The edge: building «career
to vocacional das crianças e jovens passa friendly» communities for youth. The
também por envolver os restantes agentes Career Counselor, 12, 1-2.
da sociedade na educação e desenvolvi- Bezanson, L. (2000). Alley Cat wisdom-
mento vocacional dos mais novos. No moving beyond domesticity in career
trabalho com os diferentes adultos, os counselling practice. Proceedings of the
psicólogos beneficiam da adopção de uma International Conference for Vocational
perspectiva desenvolvimental da carreira Guidance, Berlin 2000, «Guidance for
e podem recorrer a várias estratégias de Education, Career and Employment.
intervenção indirecta. Duas delas foram New Challenges». Berlim:
recomendadas no presente texto: a partilha Bundesanstalt fur Arbeit.
de informação desenvolvimental e a pro- Brown, S. D. & Krane, N.E.R. (2000). Four
moção do desenvolvimento vocacional e (or five) sessions and a cloud of dust:
pessoal dos adultos envolvidos. old assumptions and new observations

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