Biossegurança em Práticas Integrativas e Complementares

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BIOSSEGURANÇA EM PRÁTICAS INTEGRATIVAS E

COMPLEMENTARES

1
Sumário
NOSSA HISTÓRIA ...................................................................................................... 3
BIOSSEGURANÇA EM PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES ..... 4
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 4
Embasamento Teórico Reflexivo .......................................................................... 6
Contexto histórico no resgate das práticas alternativas ................................. 7
Diferentes formas de cuidar centrando a atenção no usuário ..................... 10
Terapias alternativas e complementares: como a enfermagem pode
desenvolver seu empowerment diante dessa proposta? .............................. 13
COMO A SAÚDE INTEGRATIVA COLABORA NO ENFRENTAMENTO DA
ATUAL PANDEMIA ................................................................................................. 16
COMO A SAÚDE INTEGRATIVA COLABORA NO ENFRENTAMENTO DA
ATUAL PANDEMIA CENÁRIO CRÍTICO ............................................................. 17
EVIDÊNCIAS SOBRE PICS EM SÍNDROMES RESPIRATÓRIAS E NA
SAÚDE MENTAL ..................................................................................................... 18
FITOTERAPIA CHINESA E TRATAMENTO CONTRA ESTRESSE................. 20
PROTOCOLOS CLÍNICOS PARA GUIAR A HOMEOPATIA ............................ 21
O enfermeiro frente às práticas integrativas e complementares em saúde
na estratégia de saúde da família ....................................................................... 24
As práticas integrativas e complementares nos sistemas de saúde ................................ 26
Duas racionalidades médicas: a oriental e a ocidental .................................................. 28
Relações comunicativas entre as medicinas oriental e ocidental .................................. 32
Rompendo as barreiras ................................................................................................ 33
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 41

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empre-


sários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação
e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade ofere-
cendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a partici-
pação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação
contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos
e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber atra-
vés do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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BIOSSEGURANÇA EM PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMEN-
TARES

INTRODUÇÃO

Existe na atualidade, um crescimento exponencial do uso de medicinas


alternativas e complementares (MAC), principalmente, em países ocidentais de-
senvolvidos.

A literatura corrente indica que, também em países em desenvolvimento


e pobres, a medicina não convencional permanece como um elemento significa-
tivo no tratamento.

Assim, é necessário o resgate dos principais marcos histórico na saúde


que consolidaram a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
(PNPIC), sua relação e implicação na formação e atuação do enfermeiro como
instrumento de capacitação e maior alcance da resolutividade das ações em sa-
úde e da cidadania do usuário do serviço público de saúde.

O impacto da publicação da PNPIC alcança, dentre outros, os campos:


econômico, técnico e sociopolítico, pois promove a inclusão de práticas de cui-
dado subsumidas no discurso e na ação dominadora do complexo mercado de
produtos e serviços da racionalidade biomédica.

Essa política é entendida pelos gestores como uma das formas de garan-
tir a universalização da assistência em saúde, mediante a garantia de escolha
pelo usuário do seu tratamento.
Nos últimos vinte anos, o Sistema Único de Saúde (SUS) passou por ex-
tremas transformações em sua constituição política, jurídica e organizacional,
com expressiva expansão da assistência médica oferecida à população.

O baixo custo no tratamento e a pouca efetividade da medicina convenci-


onal têm sido citados como os principais motivos da progressiva inserção das

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práticas alternativas nos serviços públicos de saúde, sendo a homeopatia a prá-
tica terapêutica que mais se destacou nos últimos dez anos.

Dado o aumento crescente da utilização de medicinas alternativas e com-


plementares, há necessidade de que os profissionais de saúde estejam aptos a
informar e atender aos pacientes, reconhecer efeitos colaterais, interações me-
dicamentosas e praticar as medicinas complementares isoladas ou associadas
às medicinas convencionais com segurança.

Nesse sentido, a popularidade e o interesse pelas práticas alternativas e


complementares vêm aumentando, à medida que se verifica a incorporação
crescente dos sistemas terapêuticos alternativos nos serviços públicos de saúde.

Portanto, sugerem-se estudos e investigações que auxiliem a analisar a


relação entre formação e prática do enfermeiro.

A relação entre essas terapias e a enfermagem tem atraído crescente in-


teresse no campo da saúde no mundo. Alguns pesquisadores têm examinado
esse tópico explorando os contextos social, cultural, econômico e político, além
das afinidades específicas entre essas terapias e a enfermagem.

Contudo, a maior parte desse trabalho tem sido realizada no Reino Unido,
na Austrália, no Canadá e nos Estados Unidos.

Considerando a atual formação do enfermeiro, percebe-se que ainda


existe uma lacuna com relação às novas maneiras, centradas no sujeito, de pro-
porcionar saúde e prestar cuidados, conhecendo a cultura e valorizando os sa-
beres. Prevalece a construção do conhecimento científico, nightingaliano, frag-
mentado e desarticulado com essas práticas integrativas de saúde. Nessa ver-
tente acrescenta-se que "a forma excessivamente técnica de conhecer e cuidar
traduz a ausência de um compromisso mais coletivo com a desconstrução de
práticas opressivas no setor saúde".

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É imprescindível investir no exercício crítico-reflexivo para modificar prá-
ticas, mitos e conservadorismos, por meio do conhecimento inovador e da parti-
cipação coletiva, politizando a prática profissional e efetivando seu empodera-
mento nos espaços em que se insere.

Coadunando essa forma de pensar a prática da enfermagem, percebe-se


que pesquisas são necessárias para incrementar essas iniciativas e, também,
para explorar mais profundamente a relação entre as terapias alternativas e com-
plementares e a prática da enfermagem.

Diante desse contexto, o objetivo com este trabalho foi analisar a possibi-
lidade do empoderamento da enfermagem na Política Nacional de Práticas Inte-
grativas e Complementares (PNPIC), no SUS, quanto à inserção das práticas
integralizantes no ato de cuidar em enfermagem.

Embasamento Teórico Reflexivo

Trata-se de um estudo teórico-reflexivo, construído com base na leitura


crítica da PNPIC, no SUS, e em estudos científicos mais atuais, que referenciam
as práticas alternativas e complementares em saúde e enfermagem. Essa cons-
trução teórica aproxima-se da abordagem qualitativa, tendo em vista a interpre-
tação e a análise dos elementos teóricos obtidos por meio do levantamento bi-
bliográfico realizado.

Os pressupostos da revisão de literatura, cujo processo consistem em


uma forma de sistematizar informações sobre questões específicas em um ro-
busto corpo de conhecimento, com o intuito de avaliar e sumarizar as informa-
ções encontradas.
O percurso metodológico incluiu, primeiramente, o levantamento biblio-
gráfico, por meio do qual se realizou uma pesquisa exploratória e sistemática de
documentos em formato eletrônico presentes na Biblioteca Virtual em Saúde
(BVS), nas seguintes bases de dados: Organização Pan-Americana de Saúde

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(Opas), Scientific Eletronic Library Online (Scielo), Literatura Latino-americana e
do Caribe em ciências da Saúde (Lilacs) e Literatura Internacional em Ciências
da Saúde (Medline).

Foram utilizadas, também, outras fontes de informação, como livros, ma-


nuais, teses e dissertações, além de documentos oficiais do Ministério da Saúde.

As palavras-chave utilizadas foram: "terapias alternativas", "terapias com-


plementares" e "empoderamento da enfermagem", nas línguas portuguesa e in-
glesa.
Essa busca aconteceu em maio de 2011, quando foram encontrados 188
trabalhos, conforme descrição no QUADRO 1:

Contexto histórico no resgate das práticas alternativas

Sabe-se que as terapias alternativas e complementares são milenares, no


entanto perdeu a consistência com o desenvolvimento do capitalismo, quando
houve a valorização do conhecimento científico positivista, que exigia uma prá-
tica cada vez mais especializada, centrada no hospital e na manipulação de equi-
pamentos tecnológicos.

Dessa maneira, a formação dos profissionais da saúde enfatizava a as-


sistência curativa em detrimento das práticas alternativas, da cultura, e dos sa-
beres populares.

A Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, reunida


em Alma-Ata, em 12 de setembro de 1978, expressou, segundo a Organização
Pan-Americana de Saúde (Opas) a urgência de todos os governos, de todos os
que trabalham nos campos da saúde e do desenvolvimento, e da comunidade
mundial de promover a saúde de todos os povos. Nessa carta, foi abordado que
os cuidados básicos em saúde devem ser operacionalizados com métodos e
tecnologias práticas, cientificamente fundamentadas e socialmente aceitáveis, e,

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ainda, que esses cuidados devem ser acessíveis ao indivíduo, familiares e co-
munidade, que devem assumem uma participação ativa tanto no sistema de sa-
úde quanto no desenvolvimento social e econômico da comunidade.

Considerando as crescentes expectativas por uma nova saúde pública,


nas discussões da Carta de Ottawa, realizada no Canadá em 1986, focalizou-
se, principalmente, a promoção da saúde como o cerne da qualidade de vida da
população. Visava, assim, reforçar as ações populares, por meio da capacitação
e da participação da comunidade, para que esta fosse capaz de realizar ações
em saúde, identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravel-
mente o meio ambiente onde vivem.

Foi nesse momento de repercussão internacional sobre a promoção da


saúde, bem como de pós-ditadura e abertura democrática, que no Brasil acon-
teceu a 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, também conhecida como
a "Pré-Constituinte da Saúde", por conduzir e subsidiar os percursos que origi-
nariam o SUS e a Constituição de 1988.

Vale ressaltar que essa conferência foi o resultado do movimento sanitário


que denunciava o fracasso do sistema vigente e as péssimas condições de vida
da população. Foi a primeira vez que a população participou das discussões da
conferência.

As propostas foram contempladas tanto no texto da Constituição Fede-


ral/1988 como nas leis orgânicas da saúde, nº 8.080/90 e nº 8.142/90, que regu-
lamentam esses princípios, reafirmando a saúde como direito universal e funda-
mental do ser humano.

Contudo, o Brasil continuava enfrentando graves problemas socioeconô-


micos e uma situação crítica e fragilizada no âmbito da saúde, o que causava
descontentamento da sociedade em relação ao modelo assistencial oferecido
pelo SUS.

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Diante dessa inquietação, em 2003 foi realizada a 12ª Conferência Naci-
onal de Saúde, com o propósito de reafirmar o direito à saúde pública e de qua-
lidade para toda a população.

Nesse sentido, pretendeu-se adotar um modelo centrado na saúde, nas


capacidades da natureza e da ciência, e não na doença e nas conveniências do
mercado farmacológico e tecnológico.

Desde 1999, as consultas de homeopatia e acupuntura são oferecidas


pelo SUS, mas o elevado avanço ocorreu com a 12ª Conferência Nacional de
Saúde, quando foi discutida oficialmente a necessidade da implementação das
práticas alternativas e complementares em saúde nos serviços do SUS, tais
como fitoterapia, reflexologia, homeopatia, acupuntura e massoterapia.

Considerou-se o direito do cidadão de ter opções terapêuticas, bem como


o acesso a informações sobre sua eficácia e efetividade, comprovadas por meio
de métodos de investigação científica. O intuito é oferecer outras opções tera-
pêuticas, para melhor atender à população, que incorporassem os princípios da
cultura e saberes locais, facilitando e garantindo acesso e atendimento humani-
zado, integralizante e contínuo.

O Ministério da Saúde publicou, em 2006, a Política Nacional de Práticas


Integrativas e Complementares (PNPIC), que atende à necessidade de conhe-
cer, apoiar, incorporar e implementar experiências já desenvolvidas na rede pú-
blica de muitos municípios e Estados.

E, ainda, sugere que o desenvolvimento dessas práticas seja em caráter


multiprofissional e em consonância com o nível de atenção. Estudos têm de-
monstrado que tais abordagens contribuem para a efetiva corresponsabilidade
dos indivíduos pela saúde, contribuindo, assim, para a ampliação do exercício
da cidadania.1

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Ao analisar esse percurso histórico, verifica-se que a estratégia em busca
de ações mais integralizantes são cogitadas há décadas, mas sua efetiva ope-
racionalização ainda não aconteceu, ou seja, não está sendo construída de
forma ampla, profunda e permanente, uma vez que há casos isolados, superfici-
ais e pontuais, sem vínculo com a comunidade.

Portanto, a PNPIC é mais uma situação que requer mudanças profundas


do sistema de saúde, e para não se perder no tempo é preciso buscar parcerias
intersetoriais com a comunidade, capacitar profissionais nessa área e divulgar
amplamente essa modalidade de promoção à saúde.

Diferentes formas de cuidar centrando a atenção no usuário

Considerando a afirmação de que "as terapias alternativas diferenciam-


se muito do modelo de atenção hegemônico, na medida em que se contrapõem
completamente à especialização, tecnicização e padronização", surgiram alguns
questionamentos:

Por que essa dicotomia? Existem diversas formas de cuidar? Quem será
melhor?
Na tentativa de encontrar respostas para essas indagações ou simples-
mente compreender suas origens, explana-se o propósito das práticas alternati-
vas e complementares como modelos integralizantes das ações em saúde.

Observa-se que as diversas formas terapêuticas alternativas percebem a


doença como um distúrbio no equilíbrio energético do paciente, que antecede e
determina as manifestações mecânicas em nível orgânico.

Tal perspectiva exige uma aproximação que inclua dimensões sociocultu-


rais e emocionais, em um envolvimento direto do paciente na promoção da cura.
Trata-se de uma postura completamente diferente da adotada pela medicina alo-
pática, que percebe a doença, principalmente, como resultante de um agente
agressor externo.

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Embora seja inegável o progresso científico e tecnológico da medicina
moderna ocidental, genericamente denominada de "biomedicina", contraditoria-
mente, nota-se o crescimento exponencial do uso de práticas terapêuticas não
biomédicas. Se, por um lado, a biomedicina tem seu paradigma pautado no mo-
delo biomecânico, positivista e representacionista, por outro, as medicinas alter-
nativas e complementares (MAC) ampliam esse modelo, oferecendo novas pers-
pectivas para a doença e para o indivíduo: reposição do sujeito doente como
centro do cuidado médico; a relação médico-paciente como fundamental para a
terapêutica; a busca de meios terapêuticos simples como alternativa às práticas
dependentes de tecnologias caras; a construção da autonomia do paciente como
princípio; e a busca da saúde, e não mais a doença como centro do processo de
cuidado e cura.

A crise vivenciada pelas práticas médicas tradicionais desvela uma lacuna


em relação à integralidade da assistência prestada. Nas últimas décadas, a po-
pulação buscou novas terapêuticas para o restabelecimento da saúde, assim
como a prevenção e o bem-estar físico e mental.

Algumas hipóteses interpretativas são levantadas para explicar a grande


profusão de novas terapias e sistemas terapêuticos na sociedade contemporâ-
nea, dentre as quais a existência de uma dupla crise - sanitária e médica - , que
afeta as relações tradicionais existentes entre cultura e medicina, cuja ciência
das patologias é a base da racionalidade médica ocidental, excluindo outros sa-
beres.

Corroborando essa afirmação, verifica-se que as práticas terapêuticas al-


ternativas, complementares ou não convencionais são faces da vulnerabilidade
e desamparo de grande parte da população.

Tais terapêuticas estão sendo reivindicadas pela população e têm-se des-


tacado amplamente, ao iniciar mudanças em hábitos de vida e estimular a parti-
cipação ativa da pessoa diante da doença. Um dos principais fatores de trans-
formação dessas medicinas é a inversão do paradigma de doença para o de
saúde, buscando preservar a saúde, e não somente combater a doença.

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Além disso, buscam a continuidade do processo de implantação do SUS,
cooperam com o fortalecimento de seus princípios fundamentais e ainda favo-
rece a autonomia do indivíduo no cuidado com a própria saúde.

Outro ponto que deve ser considerado é cogitar como o SUS pode legiti-
mar, absorver, lidar ou incorporar essas práticas não hegemônicas, mas reco-
nhecidas pela sociedade civil como terapêuticas importantes para atender às
suas necessidades.

Verifica-se que será preciso estabelecer parcerias com os gestores, com


os setores envolvidos com a comunidade (como a escola), com a comunidade e
o usuário, a fim de viabilizar a operacionalização dessa estratégia.

Então, é possível relacionar a integralidade às diversas terapêuticas?

A integração das práticas alternativas e complementares nos sistemas


tradicionais de saúde tem sido tema de constantes debates, o que pode ser per-
cebido nos documentos da Organização Mundial da Saúde (OMS), como a "Es-
tratégia da OMS Sobre Medicina Tradicional 2002-2005", que preconiza: políti-
cas de integração entre a medicina tradicional e a medicina alternativa em nível
nacional; segurança, eficácia e qualidade dessas práticas, oferecendo orienta-
ção a respeito da legislação; acesso às práticas, aumentando a disponibilidade
e a acessibilidade, principalmente, da população mais pobre; e uso racional por
profissionais e consumidores.

Qualquer que seja o ponto de vista a respeito das medicinas alternativas,


estas não podem ser ignoradas, sem que de alguma maneira se possa "experi-
mentar" a contribuição dessas práticas e, ao mesmo tempo, resgatar a empatia,
o tempo dedicado ao paciente e o uso racional das tecnologias, pois se tenderia
a uma única medicina, sem necessidade de optar por apenas uma. É possível
pensar nesse encontro progressivo entre as diversas formas de cuidar, e para
isso é necessário discutir de que forma os enfermeiros e os outros profissionais

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da saúde poderão incorporar as práticas não convencionais de saúde às suas
atividades com os pacientes e suas comunidades.

Terapias alternativas e complementares: como a enfermagem pode


desenvolver seu empowerment diante dessa proposta?

A enfermagem vivencia um conflito de base ao tentar desenvolver práticas


diferenciadas, construir novas teorias sobre o corpo e maneiras de cuidar. No
entanto, permanece mergulhada no "corpo do hospital", com quase nenhuma
flexibilidade na forma de pensar e de agir. Daí surge o grande questionamento:
Até onde a enfermagem conseguirá realizar algo diferente dos padrões estabe-
lecidos, uma vez que a clínica ainda é que define as ações de cuidado e de
intervenção?

Com a expansão das terapias alternativas e complementares (TACs),


surge a necessidade de discutir a formação do enfermeiro, uma vez que é pre-
ciso despertar a maneira "dormente" de cuidar, inserindo conteúdos e capacita-
ções nessa área, até então absorvidos parcialmente pelos profissionais de sa-
úde. É notória a relação que existe entre as terapias e a enfermagem, e isso tem
atraído crescente interesse no campo da saúde mundial.

Estudo realizado em 2002, com 96 graduandos de enfermagem, eviden-


ciou que 93,73% conhecem as TACs, contudo esse conhecimento não foi adqui-
rido durante a graduação, mas, principalmente, por meio do senso popular, e
que, embora a maioria (86,46%) recomende seu uso, sobretudo por acreditar na
sua eficácia, apenas cerca de um terço as utiliza.

Embora o conhecimento teórico forneça subsídios para a elaboração do


conceito de integralidade entre os estudantes, contudo, algumas dúvidas pode-
riam ser dissipadas na prática profissional, com a inserção do estudante no con-
texto das atividades que estimulem a exploração de conteúdos com base em
situações-problema. É impossível pensar em saúde sem pensar em educação
no sentido mais amplo do conhecimento, em sua epistemologia, ou seja, na
construção de suas implicações.

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Dessa forma, observa-se a necessidade de inserir disciplinas teórico-prá-
ticas sobre terapias alternativas e complementares ainda na graduação, a fim de
estimular o interesse dos estudantes por novas áreas de atuação como essa,
que está em expansão e permite um cuidado diferenciado, capaz de identificar
outras necessidades de saúde do usuário, além de reforçar os princípios SUS.

Considerando essa aproximação entre a enfermagem e as práticas tera-


pêuticas, é fundamental que o enfermeiro assuma a condição de apropriação de
algumas práticas alternativas legalmente instituídas e cientificamente aprova-
das, como a acupuntura. Para que isso aconteça, é preciso desenvolver seu em-
powerment, processo que promove o poder, isto é, a capacidade de executar,
de decidir, nos povos em geral, para o uso na própria vida, nas comunidades e
em sociedade, atuando nas situações definidas como importante.

Nessa perspectiva, o enfermeiro possui o respaldo legal do Ministério da


Saúde, quando em premissa afirma que o desenvolvimento da medicina tradici-
onal chinesa-acupuntura é de caráter multiprofissional, para as categorias pro-
fissionais presentes no SUS e em consonância com o nível de atenção. Está,
também, amparado pela Resolução Cofen nº 197/97, que estabelece e reco-
nhece as terapias alternativas como especialidade e/ou qualificação do profissi-
onal de enfermagem, desde que este conclua e tenha sido aprovado em curso
reconhecido por instituição de ensino ou entidade congênere, com uma carga
horária mínima de 360 horas.

Por conseguinte, torna-se fundamental ampliar os horizontes conceituais


dos benefícios da técnica da acupuntura, com expansão da terapêutica para o
enfermeiro nas universidades e instituições de saúde, públicas e privadas, para
que se torne uma prática multiprofissional, compartilhada, ética, em benefício da
população brasileira.
A enfermagem deve inserir-se nesse novo espaço e participar da forma-
ção nessa área. A população tem utilizado muito as terapias alternativas e com-
plementares para recuperação da sua saúde e, cada vez mais, tem buscado
outros terapeutas que não são profissionais da saúde.

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Os enfermeiros mostram-se interessados nas TACs, e ainda, acreditam
que estas podem auxiliar na melhoria da saúde, porém o desconhecimento da
legislação e a falta de capacitação teórico-prática os limitam para atuação nessa
área.

A enfermagem é capaz de ampliar seu campo de atuação e assumir al-


gumas práticas integrativas e complementares como componentes do cuidado.

No gerenciamento das práticas integrativas, faz-se necessária a partici-


pação dos enfermeiros na divulgação das possibilidades terapêuticas e preven-
tivas aos usuários.

Todavia, há que se estimular essa discussão como responsabilidade de


todos os envolvidos: docentes, enfermeiros dos serviços e dos próprios gradu-
andos, visto ser o cenário das práticas integrativas um novo aspecto do mercado
de trabalho, na área da saúde, promissor e em expansão.

Ante a formação acadêmica, a atualização técnico-científica e a afinidade


com as TACs, aliadas às questões éticas que norteiam a profissão, o enfermeiro
estará preparado e respaldado para assumir efetivamente essa nova perspectiva
de atuação profissional, com possibilidade de exercer suas ações de forma au-
tônoma, tanto no ambiente hospitalar, quanto na atenção básica de saúde ou até
mesmo em seu próprio consultório.

O enfermeiro precisa conhecer essas práticas alternativas, confrontar


com a estagnação das terapêuticas existentes e emancipar-se, de modo a ocu-
par esse espaço, transformando a assistência em um cuidado mais amplo, hu-
mano e capaz de potencializar a autonomia do outro.
É mister analisar sobre as possibilidades de mudanças, benefícios e de-
safios inerentes a essa interação, que necessita ser experienciada tanto pelas
práticas hegemônicas quanto pelas outras formas de cuidar que têm como nú-
cleo o ser humano. Essas práticas devem se comunicar, permitindo a integração

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e a inter-relação entre os sistemas oficiais e alternativos de saúde. Na realidade,
elas se complementam e, dessa forma, conseguirão aproximar-se do atendi-
mento e do cuidado tão almejado pelo usuário, além de favorecer a criação de
vínculos efetivos na relação profissional-usuário.

A enfermagem deve construir seu empowerment nessa nova perspectiva


de integração e complementaridade entre o cuidado convencional e os cuidados
alternativos. Para isso, percebe-se que será preciso, ainda, incluir na graduação
disciplinas teórico-práticas de métodos alternativos, e, quando egressos, os en-
fermeiros devem buscar cursos de capacitação e/ou pós-graduação em TAC,
além de orientações na Associação Brasileira de Terapias Naturais em Enferma-
gem (Abraten), para adquirir subsídios necessários para a prática e o desenvol-
vimento de pesquisas nessa área.

COMO A SAÚDE INTEGRATIVA COLABORA NO ENFRENTAMENTO


DA ATUAL PANDEMIA

Desde o aparecimento dos primeiros casos do novo coronavírus no


mundo, no final de 2019, a comunidade científica internacional se volta a conhe-
cer o inimigo emergente, tentar desenvolver vacinas para interromper sua pro-
pagação ou descobrir remédios que curem a doença. Profissionais e pesquisa-
dores do campo das práticas integrativas e complementares em saúde se junta-
ram ao desafio de decifrar o Sars-CoV-2, causador da Covid-19, e de buscar
terapias complementares mais apropriadas ao alívio de sintomas físicos e psí-
quicos que acompanham o fenômeno coletivo.

As iniciativas, no Brasil, vão desde o mapeamento de evidências sobre o


uso de práticas integrativas em situações similares à da Covid-19, estudos de
casos clínicos, protocolos, à orientação on-line e ações de educação em saúde
com foco na saúde integrativa.

Resolução Nº 041, de 22 de maio deste ano, do Conselho Nacional de


Saúde, recomenda ao Ministério da Saúde, estados e municípios que divulguem
informações sobre PICS para ajudar a população no autocuidado.

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Na perspectiva integrativa, são considerados o agente biológico que ado-
ece o organismo, aspectos emocionais e ambientais, observando o modo de vida
de quem adoece.

Por entender o ser humano e o ambiente físico e social como insepará-


veis, extensão do universo e merecedores de um cuidado integral, as racionali-
dades das diversas práticas nesse campo se preocupam não só com a saúde
do corpo, mas com o ser em todas as dimensões, em relacionamento com outras
pessoas e com o meio onde habita.

As contribuições diante da pandemia do novo coronavírus se dão indivi-


dualmente e por meio de redes colaborativas que agregam entidades, associa-
ções e profissionais em diferentes lugares.

O Mapa de evidências em MTCI no contexto da Covid-19 é um dos resul-


tados de ações assim, cujos resultados serão apresentados na próxima página.

COMO A SAÚDE INTEGRATIVA COLABORA NO ENFRENTAMENTO


DA ATUAL PANDEMIA CENÁRIO CRÍTICO

Avançando rapidamente desde março no território brasileiro, a pandemia


está fortemente presente em grandes metrópoles do Sudeste, Norte e Nordeste
e avança para o interior, o que fez governos locais decretarem isolamento social
em diferentes níveis para não levar ao colapso do SUS e da assistência funerá-
ria.

Considerado por epidemiologistas provável epicentro da catástrofe neste


final de primeiro semestre, o Brasil fica atrás somente dos Estados Unidos, nas
Américas. São mais de 1,6 milhão de casos confirmados por testes de laborató-
rio, com mais de 66,8 mil mortes, até o fechamento desta edição.

No país, a Covid-19 se expressa com múltiplas faces: é uma doença afe-


tando principalmente famílias inteiras, mais pobres, evidenciando e agravando a
superlotação de UTIs no SUS, infectando profissionais de saúde, causando bai-
xas constantes nos serviços.

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O cenário agrega o medo de ser infectado e o isolamento social forçado,
única arma para deter o contágio até o momento. As consequências do Sars-
CoV-2 vão além do adoecimento físico.

A OMS tem apresentado preocupação com as consequências na saúde


mental pós-pandemia.

EVIDÊNCIAS SOBRE PICS EM SÍNDROMES RESPIRATÓRIAS E NA


SAÚDE MENTAL

Quais os benefícios das práticas tradicionais, integrativas e complemen-


tares em saúde nas síndromes respiratórias e prevenção do sofrimento mental
em tempos de Covid-19? O Mapa de evidências em Medicinas Tradicionais,
Complementares e Integrativas (MTCI) no contexto da Covid-19 tenta responder
essa pergunta.

Disponível desde maio na web, é resultado da união de esforços entre o


Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (CABSIn) e a Rede MTCI
Américas, com apoio da Bireme/Opas/OMS. Sistematiza evidências científicas
acerca de diferentes modalidades de cuidado integrativo.

Apoia profissionais de saúde, tomadores de decisão e pesquisadores, fa-


cilitando acesso a resultados de estudos e identificando lacunas no conheci-
mento, explicam os organizadores do mapeamento.

Segundo eles, o mapa “apresenta uma visão geral das possíveis contri-
buições das MTCI na pandemia da Covid-19 organizadas em três categorias:
imunidade e efeito antiviral contra vírus respiratórios; tratamento complementar
de sintomas de infecções respiratórias; e saúde mental em consequência do iso-
lamento social, estresse laboral e situações de trauma”.

Há estudos sobre uso de plantas medicinais e fitoterapia, medicina tradi-


cional chinesa, terapias mente-corpo como meditação, tai chi chuan e ioga, pro-
bióticos e suplementos nutricionais, além de medicamentos dinamizados, home-
opáticos e antroposóficos.

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Nesta primeira versão, o quadro agrega 126 trabalhos científicos elabora-
dos em diferentes países.

As publicações estão classificadas em três grupos: revisões, estudos clí-


nicos randomizados (em seres humanos e com grupo controle para compara-
ções) e estudos clínicos não-randomizados.

Sobre a Covid-19 propriamente, foi selecionada uma revisão e mais dois


estudos, todos publicados no primeiro trimestre de 2020 em destacados periódi-
cos científicos.

O mapeamento engloba o projeto Vitrines do Conhecimento criado pela


Rede MTCI Américas, envolvendo vários países com o objetivo de contribuir
para o enfrentamento da pandemia.

“O levantamento rápido de evidências foi realizado por 21 pesquisadores


voluntários do CABSIn e da Rede MTCI Américas.

Com a experiência prévia na elaboração de mapas de evidências conso-


lidadas, quatro coordenadores desse grupo promoveram treinamento e acompa-
nhamento das ações junto aos voluntários”, explica Mariana Cabral Schveitzer,
membro do CABSIn e professora do Departamento de Medicina Preventiva da
Escola Paulista de Medicina, vinculada à Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp). Além dela, coordenam o projeto o médico antroposófico Ricardo Ghel-
man, professor colaborador do Departamento de Pediatria da Faculdade de Me-
dicina da Universidade de São Paulo (USP) e presidente do CABSIn; e o natu-
rólogo Caio Fábio Schlechta Portella, vice-presidente do Consórcio.

O mapa pode ser acessado da Biblioteca Virtual de Saúde BVS MTCI


Américas: http://mtci.bvsalud.org/pt/mapas- -de-evidencia-2/ e por meio do site
do CABSIn, na seção destinada à Covid-19.

Lá também estão listados materiais e recursos úteis no momento atual de


pandemia, produzidos pelo Consórcio ou em parceria com outros órgãos https://
consorciobr.mtci.bvsalud.org/publicacoes-covid19/.

O QUE SÃO ESTUDOS CLÍNICOS RANDOMIZADOS?

19
São estudos prospectivos em seres humanos, por um determinado tempo
de avaliação, possibilitando comparar efeitos e resultados de uma ação profilá-
tica ou terapêutica, a partir de dois grupos de usuários formados aleatoriamente
(um que participa da experiência, sendo alvo de um fármaco ou de outro proce-
dimento) e outro que não recebe o tratamento, chamado grupo controle.

Dessa forma é possível verificar se as pessoas tratadas por uma determi-


nada terapia foram beneficiadas mais do que outras não submetidas a ela.

FITOTERAPIA CHINESA E TRATAMENTO CONTRA ESTRESSE

Dos três estudos que tratam diretamente da Covid-19, publicados em


março de 2020, um, Intervenções potenciais para novos coronavírus na China:
uma revisão sistemática, faz revisão geral, relatando as terapias experimentais
convencionais em uso e o suporte oferecido aos pacientes graves.

Na segunda publicação, Características clínicas e procedimentos tera-


pêuticos para quatro casos de pneumonia pelo novo coronavírus tratados pela
combinação das medicinas ocidental e tradicional chinesa, os autores relatam
sobre tratamento de suporte e uso de antivirais como lopinavir e ritonavir (inibi-
dores de protease, usados contra o vírus da aids), associados à arbidol, medi-
camento aplicado contra gripe por influenza, e Shufeng Jiedu Capsule, combi-
nação de ervas da Medicina Tradicional Chinesa (MTC).

Três pacientes apresentaram melhora significativa dos sintomas associa-


dos à pneumonia e o quarto, com pneumonia grave, também teve evolução po-
sitiva, conforme a publicação.

O terceiro estudo, Covid-19: uma atualização sobre as evidências e dire-


trizes epidemiológicas, clínicas, preventivas e terapêuticas da medicina ocidental
chinesa integrativa para o tratamento do novo coronavírus de 2019, abordou po-
tenciais benefícios da medicina chinesa no alívio de sintomas.

“Dada a escassez de regimes fortemente baseados em evidências, os


dados disponíveis sugerem que a medicina chinesa pode ser considerada uma
opção terapêutica adjuvante no tratamento da Covid-19,” conclui.

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Há ainda estudos evidenciando resultados, com formulações diversas,
para sintomas respiratórios presentes na Covid-19 (febre, dor no corpo, coriza e
outros), dentre os quais, “revisões sobre a fitoterapia chinesa com achados rele-
vantes para o manejo de sintomas em síndromes respiratórias agudas”, comple-
tam.

O mapeamento reúne também publicações sobre práticas utilizadas no


tratamento do estresse pós-traumático, fenômeno esperado em situação de pan-
demia e de isolamento social. Seis trabalhos destacaram o uso de práticas cor-
porais, ioga, técnicas de meditação e acupuntura.

Recursos da aromaterapia são descritos para a aplicação em casos de


ansiedade, informam os organizadores do mapa.

Quanto à atividade antiviral e imunoestimulante, os organizadores cha-


mam atenção “para uma revisão sistemática, apontando relevância do uso de
probióticos na prevenção de agravos respiratórios em pacientes internados e
melhora da condição imunológica evitando agravamento da doença”.

Outra revisão, destacada por eles, “demonstra que o uso de prebióticos


(fibras não solúveis) e probióticos (reposição da flora intestinal) pode melhorar a
eficiência de vacinas contra os vírus da família influenza, fator de grande rele-
vância para pesquisas futuras”.

Na categoria das plantas medicinais destacam-se estudos clínicos sobre


atividade imunoestimulante de Echinacea purpurea, Viscum album, fitoterapia
chinesa individualizada e Wolfberry.

“Em geral as pesquisas sobre a suplementação vitamínica utilizando vita-


mina C, vitamina D, selênio e outros nutrientes para a eficiência imunológica,
apresentam relevância apenas em casos de carência nutricional”, alertam.

PROTOCOLOS CLÍNICOS PARA GUIAR A HOMEOPATIA

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“A aplicação profilática ou terapêutica em larga escala de medicamentos
homeopáticos na pandemia de Covid-19 deve ser sustentada por protocolos clí-
nicos prévios que demonstrem a eficácia, a efetividade e a segurança desses
medicamentos”.

O alerta é do médico Marcus Zulian Teixeira, coordenador da disciplina


optativa fundamentos da homeopatia da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (FMUSP) e do Departamento Científico de Homeopatia da Asso-
ciação Paulista de Medicina (APM).

Segundo ele, é importante que “a eficácia, a efetividade e a segurança se


confirmem, para que o medicamento seja utilizado de forma generalizada e co-
letiva no tratamento e na prevenção da atual epidemia”.

Os estudos clínicos, guiados por critérios éticos e científicos, devem ser


realizados previamente, antes da indicação de medicamentos homeopáticos
para uso indiscriminado pela população.

Preconiza-se, na homeopatia, o tratamento individualizado, ou seja, pres-


crito especificamente para cada indivíduo, em consonância com as suscetibili-
dades individuais.

Mas o uso de um mesmo remédio em grupo populacional tem se mostrado


uma estratégia com resultados positivos ao longo de diferentes epidemias,
desde a gripe espanhola, no século 19, até os recentes surtos de dengue, em
que medicamentos homeopáticos foram prescritos como profilaxia, conforme re-
sultados obtidos no Brasil e em outros países, descritos em periódicos científi-
cos.

Além do tratamento individualizado, a homeopatia considera o princípio


da similitude curativa, com medicamentos que estimulam o organismo a reagir à
doença.

A escolha terapêutica leva em conta, portanto, a semelhança com o con-


junto de sintomas característicos do doente e da enfermidade. Outro princípio é
o uso de substâncias dinamizadas ou potencializadas (ultradiluídas). Não há, até
o momento, medicamento alopático ou homeopático capaz de prevenir a doença
ou curar o infectado pelo novo coronavírus.

22
A Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB) criou um banco de
dados agregando informações sobre as manifestações clínicas observadas no
decorrer da pandemia, com o objetivo de conhecer melhor a doença e orientar
os estudos clínicos.

Três protocolos relacionados à Covid-19 já foram disponibilizados a partir


de abril, no Brasil: um do próprio Marcus Zulian Teixeira, outro de Flávio Dantas
e um terceiro assinado por Rubens Dolce Filho, Rosana Ceribelli Nechar e Ario-
valdo Ribeiro Filho.

São trabalhos que reúnem informações sobre sintomas da Covid-19 pu-


blicados em estudos com pacientes chineses e observações de casos brasilei-
ros, com lista de possíveis medicamentos homeopáticos que poderiam contriu-
buir com o tratamento da doença, segundo os médicos.

Marcus Zulian Teixeira lembra que os protocolos devem estar em “conso-


nância com as premissas da metodologia científica e os aspectos éticos da pes-
quisa clínica envolvendo seres humanos”.

Ele explica que no tratamento e na prevenção das doenças epidêmicas,


a homeopatia tem “uma metodologia semiológica e terapêutica específica, a ser
seguida e respeitada, com o risco de não apresentar a eficácia e a segurança
desejadas”. Citando precursores da homeopatia, como o alemão Christian Fre-
derich Samuel Hahnemann, que viveu nos séculos 18 e 19, e o norte-americano
James Tyler Kent, nascido em 1849, Zulian explica que “o medicamento home-
opático ‘individualizado’ do gênio epidêmico deve apresentar semelhança com o
conjunto de sinais e sintomas característicos dos pacientes acometidos nos di-
ferentes estágios de cada surto epidêmico”.

O ‘gênio epidêmico’ são as manifestações sintomáticas peculiares obser-


vadas no adoecimento coletivo.

Os três protocolos de pesquisa clínica para o emprego de medicamento


homeopático do gênio epidêmico na atual epidemia de Covid-19 estão indexados
na Base de Dados BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), englobando estudos in-
tervencionais e observacionais.

23
O enfermeiro frente às práticas integrativas e complementares em
saúde na estratégia de saúde da família

As práticas integrativas de saúde paulatinamente se tornaram uma reali-


dade na rede de atenção à saúde pública em São Paulo. Se no início dos anos
2000 havia cerca de seis unidades da Secretaria Municipal da Saúde de São
Paulo que adotavam as Práticas Integrativas e Complementares em saúde
(PICS), a partir de 2002, com o uso continuado de novos referenciais de educa-
ção, a SMS-SP deu início ao processo de expansão maciça dessas modalidades
em toda a rede de saúde. É um prazer constatar que atualmente mais de 520
unidades de saúde praticam pelo menos uma das distintas modalidades que in-
tegram o rol dessas práticas, como as medicina tradicional chinesa, a homeopa-
tia, a medicina antroposófica, além de recursos terapêuticos como a fitoterapia,
as práticas corporais e meditativas.

Esse avanço pode ser entendido como expressão de um movimento que


se identifica com novos modos de aprender e praticar a saúde, já que essas
práticas caracterizam-se pela interdisciplinaridade e por linguagens singulares,
próprias, que em geral se contrapõem à visão altamente tecnológica de saúde
que impera na sociedade de mercado, dominada por convênios de saúde cujo
objetivo precípuo é gerar lucro e fragmentar o tratamento do paciente em espe-
cialidades que não dão conta da totalidade do ser humano em busca de remédio
para seus males.

O crescimento da população, o aumento da expectativa de vida, a multi-


plicação de técnicas, disciplinas e novas especialidades médicas que proliferam
de modo alucinante são ao mesmo tempo a riqueza e o drama maior do setor
saúde, especialmente por afetarem as relações comunicativas, a ação coorde-
nada dos novos conhecimentos e a integração do conjunto imenso de informa-
ções que se produz. Quando se leva em conta a necessidade de tomar decisões
complexas, a integração entre as distintas disciplinas é o desafio mais premente
da saúde, que é obrigada a enfrentar a diversidade e a multiplicidade de forma-
ção dos profissionais para conceber projetos de trabalho integrados, que contri-
buam para o intercâmbio de informações tão diversificadas, de modo a dar sen-
tido às intervenções sobre a saúde e seus sucedâneos.

24
Atualmente muitos pesquisadores vêm corroborando essa visão, e entre
tantos outros, pode-se mencionar Patrik , que, ao enfatizar a importância da sub-
jetividade nas práticas e nos cuidados médicos, afirma ser a pluralidade discipli-
nar o caminho para uma visão mais ampla e global do ser humano.

É nesse panorama que o repertório de práticas integrativas, com seu


vasto arsenal de recursos, pode contribuir para a integração disciplinar, pois des-
cende de uma tradição milenar de uso continuado e praticamente inalterado dos
mesmos recursos tecnológicos, pautados por natureza interdisciplinar.

A importância dessa característica permite afirmar que se trata de algo


absolutamente sustentável e de extrema importância para as práticas que se
valorizam no trabalho de saúde pública.

O uso dessas "práticas integrativas e complementares" no Sistema Único


de Saúde merece reflexão, especialmente quando se investiga o sentido de sua
adoção na política nacional de um país como o Brasil, uma sociedade complexa
que tem incorporado recursos tecnológicos cada vez mais sofisticados e dispen-
diosos.

Nesse contexto, o que justifica a luta pela implementação e expansão das


práticas integrativas? Talvez a melhor resposta venha dos trabalhadores de sa-
úde engajados na prática das PICS. Tentar perceber o sentido dessas práticas
no dia a dia de trabalho, vivendo-as e utilizando-as, sem dúvida é a melhor forma
de avaliar sua importância para a saúde coletiva. Pois aqueles que as praticam
o fazem não simplesmente porque aprenderam outra técnica de saúde e dese-
jam aplicá-la, mas movidos pela vontade de afirmar uma identidade de cuidado
oposta ao modelo dominante.

Trata-se de mostrar que existem práticas alternativas capazes de fazer a


diferença e se tornar parte de um processo renovado de implementação de mo-
dos alternativos de promover saúde, não lucrativos, menos onerosos e mais ap-
tos a cuidar do ser humano em sua totalidade.

25
As práticas integrativas e complementares nos sistemas de saúde

A origem das práticas integrativas nos sistemas públicos de saúde vem


de longa data. No final dos anos 1970, com a Primeira Conferência Internacional
de Assistência Primária em Saúde (Alma Ata, Rússia, 1978), as primeiras reco-
mendações para a implantação das medicinas tradicionais e práticas comple-
mentares difundiram-se em todo o mundo. No Brasil esse movimento ganhou
força a partir da Oitava Conferência Nacional de Saúde (1986), e desde então
somente se expandiu.

A partir de Alma Ata a Organização Mundial de Saúde criou o Programa


de Medicina Tradicional, objetivando a formulação de políticas em defesa dos
conhecimentos tradicionais em saúde. Em vários de seus comunicados e reso-
luções, a OMS firmou o compromisso de incentivar os Estados-membro a formu-
larem políticas públicas para uso racional e integrado das Medicinas Tradicionais
e das Medicinas Complementares e Alternativas nos sistemas nacionais de aten-
ção à saúde, bem como para o desenvolvimento de estudos científicos para me-
lhor conhecimento de sua segurança, eficácia e qualidade.

Tais sistemas e recursos envolvem abordagens que buscam estimular os


mecanismos naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde por
meio de tecnologias eficazes e seguras, com ênfase na escuta acolhedora, no
desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o
meio ambiente e a sociedade. Outros pontos compartilhados pelas diversas prá-
ticas abrangidas nesse campo são a visão ampliada do processo saúde-doença
e a promoção global do cuidado humano, especialmente do autocuidado.

O documento "Estratégia da OMS sobre Medicina Tradicional 2002-2005"


reafirma os princípios de Alma Ata. E destaca a organização dessas práticas em
nosso país:

No Brasil, a legitimação e a institucionalização dessas abordagens de


atenção à saúde iniciaram-se a partir da década de 80, principalmente, após a
criação do SUS. Com a descentralização e a participação popular, os estados e

26
municípios ganharam maior autonomia na definição de suas políticas e ações
em saúde, vindo a implantar as experiências pioneiras.

A partir da Oitava Conferência Nacional de Saúde, por meio de Relatórios


e Portarias, diversos documentos e eventos nacionais passaram a fazer parte
da trajetória de implantação das práticas integrativas, destacando-se o esforço
de regularizar a homeopatia, a acupuntura, o uso de plantas medicinais, a fitote-
rapia, a adoção de práticas corporais e meditativas, entre outras, viabilizadas
pela criação de convênios e por diversos grupos de trabalho dedicados a elabo-
rar projetos e políticas para a área.

Coerente com as necessidades e as demandas em sua área de abran-


gência, a Atenção Básica da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, a
partir de 2002, procurou fortalecer as ações de promoção da saúde ainda não
praticadas nesse setor, de modo a enriquecer o arsenal de recursos já existentes
e ampliar o campo de ação para incluir outros modos terapêuticos de atuação
em benefício das políticas públicas e da comunidade. Desde então, a oferta das
práticas integrativas e complementares vem aumentando e contribuindo para
ampliar a integralidade da assistência, de forma humanizada e acolhedora.

Os principais objetivos que, a partir de 2002, nortearam o movimento de


expansão das Práticas na SMS do município de São Paulo foram os seguintes:

 1 - Desenvolver e consolidar as Práticas Integrativas e Com-


plementares nas Unidades e Serviços da Secretaria Municipal da Saúde,
na perspectiva da prevenção de agravos e da promoção e recuperação
da saúde, com ênfase na Assistência Primária em Saúde, voltada para o
cuidado continuado de forma integral e interdisciplinar.
 2 - Contribuir para aumentar a resolubilidade da rede assis-
tencial da SMS-SP, com o uso de técnicas simples, de baixo custo, arte-
sanais, sustentáveis e comprovadamente eficazes.
 3 - Desenvolver ações planejadas com as demais áreas e
redes assistenciais da SMS-SP, com outras secretarias municipais e com
setores sociais interessados na promoção da saúde.

27
Deve-se ressaltar que essa inovação tecnológica não é privilégio apenas
da cidade de São Paulo, uma vez que muitos estados e municípios brasileiros
vêm incorporando essas modalidades de atenção e renovação do cuidado na
saúde. É importante sublinar, também, que a expressão "cuidado na saúde" vem
merecendo estudos e reflexões por parte de diversos acadêmicos de grande im-
portância na área, como é o caso do estudo de J. R. C. M. sobre a reconstrução
das práticas de saúde.

Duas racionalidades médicas: a oriental e a ocidental

Quando nos perguntamos de onde vieram as sementes do pensamento


moderno ocidental não hesitamos em concordar com quando afirma que tiveram
origem na Grécia Antiga, em particular no período compreendido entre os sécu-
los IV e VI a. C. O início dessa aventura intelectual é definido pelo aparecimento
dos filósofos pré-socráticos que, segundo o estudioso, foram os primeiros pen-
sadores a tentar responder questões sobre a natureza usando a razão e não a
mitologia ou a religião.

O interesse pelo saber racional, instigado pelo mistério que sempre moti-
vou o pensamento religioso está na raiz de toda ciência. Segundo Aristóteles,
Tales foi o primeiro filósofo a postular que a substância fundamental do Cosmo
seria a água, o que revela uma visão profundamente orgânica da natureza. Foi
também com Tales de Mileto que nasceu, no mundo ocidental, a ideia de buscar
uma estrutura material unificada do Universo, algo que ainda motiva boa parcela
do trabalho de cientistas de todas as partes do planeta, da física de partículas
elementares à biologia molecular e genética.

De acordo com Tales e seus discípulos, a natureza é uma entidade dinâ-


mica, em constante transformação, que se renova indefinidamente em formas e
criações (ibidem). Essa visão foi criticada por outra escola pré-socrática, a de
Parmênides, que defendia ideias opostas às de Tales, afirmando que o essencial
nunca pode se transformar. O que "é" simplesmente é. Talvez se possa identifi-
car nessa ideia o germe da concepção de uma entidade eterna, transcendente,

28
que está além das transformações, e que considera a mudança menos funda-
mental que a essência primeira. A partir dessa constatação, é possível afirmar
que o debate entre o eterno e o novo, o Ser e o Vir-a-Ser, já havia começado no
Ocidente há cerca de 2.500 anos.

Mas é preciso recuar mais tempo quando se levam em conta os pensa-


dores e os filósofos do mundo oriental. Uma grande quantidade de textos cos-
mológicos legados ao taoísmo informa-nos sobre um Sopro primordial, denomi-
nado Qi (ou Ch´i), preexistente à formação do Céu e da Terra. O Tao Te King,
organizado por Lao Tsé (s. d.), é considerado o mais importante livro a respeito
do Taoísmo. Em seu capítulo 42 diz o seguinte:

O Tao gera o Um

O Um gera o Dois

O Dois gera o Três

O Três gera todas as coisas

Todas as coisas dão as costas ao escuro,

Dirigindo-se para a luz.

A energia que entre eles flui lhes fornece a harmonia.

Enquanto o pensamento ocidental foi a base da chamada medicina cien-


tífica moderna, a essência da filosofia oriental foi o alicerce das chamadas me-
dicinas tradicionais orientais, em especial a chinesa. No entanto, recentemente,
vimos observando que a tendência da medicina ocidental é incluir em seu "arse-
nal terapêutico" procedimentos oriundos das medicinas tradicionais, especial-
mente aquelas praticadas no Oriente, como a acupuntura, o moxabustão, a prá-
tica da meditação, o tai-chi, as artes marciais, a fitoterapia, a dietoterapia, entre
outras modalidades terapêuticas (Portaria 971 - PNPIC). A esse respeito, é pre-
ciso reconhecer o enorme esforço de pesquisadores do país em comprovar ci-
entificamente os conhecimentos milenares, no sentido de legitimá-los e inscrevê-
los no campo das especialidades médicas ocidentais.

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Apesar de trabalharem com paradigmas médicos distintos, orientados por
cosmologias conflitantes, as racionalidades médicas oriental e científica têm al-
guns pontos de confluência. Percebe-se que tanto a medicina ocidental quanto
a oriental compartilham o mesmo objeto, o ser humano doente, além de visarem
ao mesmo objetivo de cura do indivíduo, restabelecendo-lhe a saúde, ou, até
mesmo, buscando expandi-la. Além disso, baseiam-se na mesma cosmologia
integradora da natureza e do ser humano e, em relação à intimidade humana,
defendem o equilíbrio fisiológico, psicológico e postural. O meio ambiente, natu-
ral e social, bem como as circunstâncias do processo de adoecimento têm, para
ambas, grande importância no estabelecimento de diagnósticos.

No que diz respeito à concepção do termo saúde, para as duas racionali-


dades médicas a saúde não constitui uma ciência em si ou mesmo um campo
separado de outras instâncias da realidade social. Por isso, tanto no que con-
cerne à problemática teórica quanto à metodológica, a promoção e o restabele-
cimento da saúde estão submetidos a mesmas vicissitudes, avanços, recuos,
interrogações e perspectivas integradoras, seja da óptica ocidental, seja da ori-
ental.

A partir das semelhanças apontadas, pode-se concluir que a especifici-


dade do setor saúde é dada por inflexões socioeconômicas, políticas e ideológi-
cas relacionadas ao saber teórico e prático sobre saúde e doença, além de recair
sobre a institucionalização, a organização, a administração e a avaliação dos
serviços e, especialmente, sobre a clientela dos Sistemas de Saúde. Nesse ca-
ráter peculiar e diferencial reside sua abrangência multidisciplinar e estratégica.

O reconhecimento da realidade complexa que diz respeito ao campo da


saúde demanda conhecimentos distintos, integrados e interdisciplinares, e co-
loca de forma imediata o problema da intervenção, seja sobre o indivíduo, seja
sobre a coletividade. É nesse sentido que a saúde requer uma abordagem dia-
lética, que compreende para transformar, e cuja teoria é permanentemente de-
safiada pela prática, e surge a partir dela.

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Na história das medicinas ocidental e oriental as questões relativas à com-
preensão do ser humano também apresentam analogias. Para ambas, é evi-
dente que o homem não pode ser resumido a certo número de recortes orgâni-
cos, por exemplo. Não é suficiente adicionar determinada quantidade de órgãos
para criar uma vida.

As noções de integralidade e complexidade estão no cerne das discus-


sões da área médica e devem nos interrogar permanentemente. Com efeito, a
perda da abordagem do ser humano enquanto globalidade em benefício de um
olhar técnico e único, próprio da medicina ocidental, cria mal estar no sujeito
doente, que se sente despossuído de seu estatuto de sujeito.

A abordagem da medicina oriental, ao contrário, busca justamente pre-


servar a globalidade do sujeito, e o processo vital e social em geral. Procura a
causalidade da doença dentro de um contexto mais amplo, multifatorial, e é con-
trária à hiperespecialização. Resta-nos investigar os modos de articular e inte-
grar os dois saberes.

Não é difícil constatar que a medicina científica moderna trabalha essen-


cialmente com a doença. Na verdade, o conceito de fisiopatologia permite um
distanciamento entre o sujeito e sua saúde/doença. A afirmação corriqueira da
Clínica de que "não existem doenças e sim doentes" é desmentida pela insistên-
cia em uma prática fragmentada e instrumentalista, que cumpre a função de as-
sinalar e reforçar a distância entre o sujeito integral e a especificidade de sua
doença. Nesse sentido, é inegável que o objeto da fisiopatologia, hegemônico
na formulação da Clínica Médica, é a doença e não o doente. Já para o campo
das práticas de Saúde Pública nunca será possível um recorte desse tipo. Ao
contrário, cabe à Saúde Pública lidar com o doente, mas sempre no plural, res-
taurando a cada passo o caráter social de seu objeto fundamental, o coletivo
população.

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Relações comunicativas entre as medicinas oriental e ocidental

A dimensão integradora do homem e da natureza numa perspectiva de


macro e microuniversos, que postula a integralidade do sujeito humano, consti-
tuída de aspectos psicobiológicos, sociais e espirituais, embasa as dimensões
das racionalidades médicas oriental e ocidental. No entanto, há diferenças no
que concerne aos aspectos relativos à presença ou não de elementos cosmoló-
gicos, e especialmente quanto ao diagnóstico e ao modelo terapêutico.

Os diferentes fenômenos que levaram a modificações sucessivas da vi-


são da medicina científica moderna não atingiram as medicinas tradicionais nas-
cidas no Oriente. Para essas medicinas, os elementos cosmológicos desempe-
nham um papel importante na determinação das constituições individuais, en-
quanto para a racionalidade médica ocidental o elemento cosmológico é descon-
siderado, já que desprovido de base científica. Portanto, não tem valor algum. E
não constitui objeto de investigação da ciência médica, na medida em que o
objeto epistemológico desse sistema é a doença, sua identificação, etiologia e
classificação macro ou microanatômica. Ou seja, somente o que pode ser visto,
sentido e medido matematicamente pelo homem é considerado pela medicina
ocidental.

A medicina moderna(Luz, 1993) desde seu início, com a criação das es-
colas médicas, procurou afastar-se da explicação mítica para os problemas de
saúde. A visão de Deus, dos espíritos e toda doutrina ligada aos ensinamentos
judaicos e cristãos foram afastados da ciência médica moderna .

Na perspectiva das medicinas orientais, ao contrário, toda doença é de-


corrente de um desequilíbrio em que interagem forças naturais (materiais) e cos-
mológicas (imateriais). Esse desequilíbrio é visto como uma ruptura de harmonia
biológica, social e cósmica, e inclui o ser humano ao mesmo tempo enquanto
expressão e partícipe. De acordo com as medicinas orientais, absurdo seria não
considerar a harmonia e a relação entre os elementos do micro e do macrocos-
mos.

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A partir desse prisma, é possível entender porque alguns pensadores con-
sideram a Medicina Tradicional Oriental, em sua origem, não uma medicina em
sentido estrito, já que não tem a intenção de tratar as doenças, mas um apren-
dizado de como viver a vida.

Á medida que nos aproximamos da época moderna surge um outro modo


de tratar as doenças, pois "o homem adoece ou é propenso a adoecer porque
não sabe viver e desfrutar a vida, porque perdeu essa conexão, esse intercâmbio
com seu Universo.

Essa falta de conexão e interrelação com o meio é o que o faz enfermar,


é o que hoje em dia se chama entorno: a relação com meu universo, a relação
comigo mesmo, a relação com os demais" .

Diante do exposto, é possível concluir que trabalhamos com o pressu-


posto da existência de duas racionalidades distintas para explicar a realidade de
saúde e intervir sobre ela: a que se assenta sobre a ciência médica moderna, de
caráter hegemônico em nossa sociedade, e a que se apresenta como medicina
tradicional, ligada à tradição oriental, e que vem sendo considerada válida pelo
sistema oficial de saúde pública.

Pode-se dizer que os conceitos das medicinas tradicionais integram, cada


vez com maior assiduidade, as práticas sociais em curso, participando ativa-
mente da realidade social brasileira. Portanto, hoje as medicinas tradicionais são
parte integrante do conjunto de forças vivas presentes nos sistemas de saúde.

Rompendo as barreiras

O diálogo entre as duas racionalidades médicas já existe entre nós. Per-


cebe-se que o avanço das medicinas tradicionais nos países ocidentais tem cri-
ado condições para favorecer a troca entre as duas correntes de pensamento. É
interessante realçar que uma das práticas que caracterizam a complexidade dos
problemas sociais, em especial no campo da saúde pública, é o enfoque inter-
disciplinar das pesquisas científicas e tecnológicas. Pode-se constatar que a

33
pesquisa de caráter interdisciplinar vem ganhando espaço no campo da saúde
pública. Nos anos recentes, todas as áreas da saúde têm merecido estudos
transversais que aliam diversas especialidades, empenhadas na busca continu-
ada de transferência de tecnologias e de incremento do processo educativo vi-
sando à aquisição de novos hábitos por parte da população.

O objetivo é alcançar um mínimo de soluções para as contradições que


estruturam e garantem a complexidade investigada. O processo pode levar a
uma "medicina plural", mais apta a responder aos desafios da complexidade e à
riqueza antropológica da medicina, a despeito de nossas próprias representa-
ções, que ainda resistem como forma de obstáculos à comunicação entre as
duas racionalidades.

O encontro e a comunicação entre as duas correntes de pensamento mé-


dico, promovidos no campo da saúde pública, poderiam constituir um sólido ali-
cerce antropológico, fundamental para manter a continuidade da tensão criativa
entre essas diferentes bases filosóficas.

A busca de relações entre elas sem dúvida contribui para a construção de


um novo modelo de representação das ações no campo da saúde, mais apto a
enfrentar os desafios ligados à complexidade da vida moderna. Diante desse
deslocamento de olhares da ciência, precisamos de conhecimentos que revelem
as ligações, as articulações, a solidariedade, as interdependências, as implica-
ções e as complexidades de nosso objeto de estudo, de modo a podermos con-
tribuir para a aproximação entre a visão holística das medicinas tradicionais e o
dualismo cartesiano que está na raiz do pensamento e da ciência moderna. Em-
bora os paradigmas constitutivos das duas práticas médicas sejam diferentes e
contraditórios, pois enquanto um enfoca a doença o outro prioriza a saúde, a
comunicação entre eles pode renovar as intervenções na saúde pública, que tem
se esforçado por garantir seu diálogo.

É preciso garantir a posição da saúde pública como um lugar de debate


de ideias. Sem dúvida, ela ainda preserva um espaço onde se pode pensar a
saúde, espaço permanentemente aberto para refletir sobre a transformação das

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práticas, para que tenhamos mais comprometimento com as necessidades de
saúde da população.

Nesse sentido, as Práticas Integrativas e Complementares em saúde fun-


cionam como uma das respostas a esse debate de ideias, na medida em que
fomentam práticas estratégicas e pensamentos renovados sobre a saúde pú-
blica. Renovados porque reivindicam a diversidade interdisciplinar. Pois para as
Práticas não há fronteiras e nem interdições entre os saberes, entre as distintas
disciplinas e áreas de conhecimento, ainda que elas se caracterizem, indiscuti-
velmente, por linguagens próprias, regidas por códigos de expressão diferenci-
ais, que pouco se aproximam das atividades da medicina científica. No entanto,
cada vez mais as linguagens seculares da medicina tradicional vão sendo incor-
poradas pelo setor saúde.

Na realidade, não se trata aqui de discutir de que modo a interdisciplina-


ridade e as ações intersetoriais atuam como fatores de mudança da cultura do
trabalho na saúde. No entanto, mesmo sem essa intenção específica, o simples
fato de trabalhar com as Práticas acaba levando à promoção de ações interse-
toriais e interdisciplinares. Pois as Práticas vão muito além das disciplinas espe-
cíficas. Atualmente, na Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo há grande
número de voluntários, muitos deles sem qualquer formação ou especialização
em saúde, que conduzem grupos de práticas corporais e meditativas junto às
unidades de saúde. São pessoas comuns da população que trabalham, inclu-
sive, na construção de canteiros de plantas medicinais, resgatando seu uso po-
pular e tradicional no combate a inúmeros problemas de saúde, especialmente
aqueles ligados à assistência primária em saúde. Há hoje na SMS-SP mais de
150 hortas de plantas medicinais, muitas delas construídas e mantidas por vo-
luntários.

Além disso, a SMS vem estreitando suas relações com outras secretarias
municipais, como as secretarias da Educação, Cultura, Esportes, do Verde e
Meio Ambiente e das Subprefeituras. Um dos canais mais favoráveis a esse di-
álogo intersecretarial são as Práticas.

35
Nos últimos anos, mais de duas dezenas de cursos de fitoterapia e plan-
tas medicinais foram realizados em estreita parceria entre as secretarias da Sa-
úde e Verde e Meio Ambiente.

Cerca de 1.500 pessoas participaram, incluindo desde agentes comunitá-


rios de saúde e proteção ambiental até profissionais mais graduados, como mé-
dicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e farmacêuticos. Processo seme-
lhante vem ocorrendo em outras secretarias municipais. O exemplo mais recente
é o Programa Saúde na Escola (PSE), no qual as secretarias da Educação e da
Saúde atuam em estreita parceria. Dentre as diversas atividades desenvolvidas
na comunidade escolar destacam-se os canteiros com as hortaliças e plantas
medicinais e as práticas corporais e meditativas.

Na Figura 1 pode-se observar o trabalho que um agente do Programa


Ambientes Verdes e Saudáveis (PAVS), ligado à Estratégia de Saúde da Família
da SMS-SP, vem desenvolvendo junto aos alunos de uma escola municipal lo-
calizada na zona norte da capital.

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Figura 1 - Agente de saúde do PAVS ensinando o cultivo de hotaliças
com alunos de escola municipal da zona norte da capital.

O Programa Ambientes Verdes e Saudáveis é reconhecido como um dos


programas da Secretaria Municipal da Saúde que mais promovem articulações
intersetoriais e intersercretariais em busca de proteção do meio ambiente e da
vida. Seu campo de atuação abrange, especialmente, a poluição da água e do
ar, a erosão da terra, as agressões sistemáticas à biodiversidade e a degradação
da vida social.

Desenvolvido no período entre 2005 e 2008 por iniciativa da Secretaria


Municipal do Verde e do Meio Ambiente, em articulação com o Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente, a partir daí o Programa vem enfrentando
uma série de problemas decorrentes da situação de degradação do meio e da
vida. A ideia básica do programa foi implementar ações intersetoriais para a pro-
teção ambiental, que pudessem, em curto prazo, ter reflexos positivos sobre a
saúde da população. Três secretarias municipais comprometeram-se a desen-
volver essas ações de forma integrada: a Secretaria da Saúde, a Secretaria do
Verde e Meio Ambiente e a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvi-
mento Social. Foi apenas no final de 2008 que o Programa foi incorporado à
Secretaria Municipal da Saúde, sendo incluído na Estratégia da Saúde da Famí-
lia.

Para atingir os diversos objetivos a que se propõe, o Programa desen-


volve centenas de projetos junto às Unidades Básicas de Saúde, em consonân-
cia com os principais problemas dos territórios locais, agrupados em sete eixos
de intervenção: biodiversidade e arborização; água, ar e solo; gerenciamento de
resíduos sólidos; agenda ambiental na administração pública; horta e alimenta-
ção saudável; revitalização de espaços públicos; cultura e comunicação.

É importante mencionar alguns exemplos entre os muitos projetos desen-


volvidos a partir dos eixos de intervenção mencionados. Um dos casos mais bem
sucedidos é, sem dúvida, o Gerenciamento de Resíduos Sólidos, onde as equi-
pes do Programa orientam os profissionais das UBS e a comunidade local sobre
os riscos e os agravos decorrentes do descarte inadequado de resíduos.

37
É possível verificar, a partir de acompanhamento realizado pela própria
Secretaria, como os Pontos de Entrega Voluntária de materiais recicláveis e as
ações de Cata-Bagulho vêm sendo incentivados, assim como os processos de
compostagem dos resíduos orgânicos. Outra experiência de interesse são as
ações voltadas para o cuidado com a água, o ar e o solo, três recursos naturais
cada vez mais sujeitos à degradação.

Trabalhando junto às equipes de saúde da Atenção Básica, as equipes


do PAVS apoiam programas para despoluição, limpeza e manutenção de rios e
córregos, incentivam a utilização de transporte público não motorizado e solidá-
rio, além de estimularem o uso racional da água e apoiarem ações de vigilância
em saúde ambiental.

Os Gráficos 1, 2 e 3 mapeiam a evolução de algumas das práticas corpo-


rais desenvolvidas nas unidades de saúde SMS-SP e exercidas pelas distintas
categorias profissionais, no período compreendido entre 2004 e 2015.

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Gráficos 1, 2 e 3 - Número de Unidades de Saúde com algumas das
práticas corporais realizadas na SMS. Período de 2004 a 2015.

Não é por necessidade de saúde que milhares de pessoas vêm procu-


rando as Práticas como forma de recuperação da saúde.

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Afinal, temos o que há de mais moderno e avançado na medicina, tanto
no SUS como no sistema privado. Não é por falta de procedimentos diagnósti-
cos, médicos, medicamentos ou outros recursos que estamos resgatando o valor
das medicinas tradicionais.

É por vontade de afirmar uma identidade de cuidado oposta à prática de


cuidado feita de forma muitas vezes desumana, que infelizmente prepondera
entre nós. As PICS expressam o desejo de mostrar que é possível implementar
outras práticas de saúde.

O que move as pessoas envolvidas no projeto é, antes de tudo, o impulso


de participar ativamente de um processo capaz de mostrar que são possíveis
outras formas de aprender, praticar e cuidar da saúde, de si e dos outros.

O movimento que trabalha pela ampliação das práticas integrativas e


complementares na SMS-SP brota da aspiração de abandonar a passividade,
de deixar de ser um sujeito subjugado ao sistema dominante, hegemônico, para
inventar novos espaços, pequenos que sejam, para a produção de uma prática
alternativa de saúde.

Seguindo os imperativos da sensibilidade e da emoção, e não apenas da


razão, esse movimento rejeita a feiura generalizada, a pobreza sofrida da grande
maioria da população brasileira, e vislumbra uma beleza possível no campo da
produção de saúde.

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