Resenha Na Encruzilhada Do Império
Resenha Na Encruzilhada Do Império
Resenha Na Encruzilhada Do Império
O capítulo do livro mencionado acima tem por objetivo elencar as mudanças ocorridas
na economia da cidade-porto do Rio de Janeiro e esboçar um retrato de sua sociedade,
destacando o período que se estende de 1650 a 1750.
Seja pelos conflitos bélicos, seja pela contaminação dos indígenas por microrganismos
introduzidos na região pelos europeus, o fato é que vários deles foram dizimados, o que,
com o tempo, acabou resultando na busca pela mão de obra alternativa africana. Apesar
disso, o baixo custo laboral facilitava o uso agrário da terra. Em consonância com as
afirmações de JUCÁ, FRAGOSO nos aponta um aumento exponencial no número de
engenhos de cana-de-açúcar no Rio de Janeiro no período de 1583 a 1629, no que seria
o prenúncio da atividade agrária escravista e exportadora do Rio de Janeiro no período
colonial.
No que diz respeito à análise demográfica das famílias senhoriais ou elites da época,
tema caro tanto a JUCÁ quanto a FRAGOSO, cabe ressaltar que a distribuição das
terras era desigual, reforçando o surgimento de uma hierarquia, embora os latifúndios
não chegassem a atingir as mesmas dimensões daqueles da Bahia. Contudo, o domínio
sobre a terra aliado ao modo de produção escravista consolidava o surgimento de uma
elite colonial na capitania do Rio de Janeiro.
Nesse aspecto, FRAGOSO ressalta que eram muitas vezes as mesmas famílias
agraciadas com concessões múltiplas, além do fato de seus membros frequentemente
casarem entre si – casamentos esses que davam direito não só a um dote, mas também
a uma série de benesses próprias da elite colonial. Podemos, assim, concluir que a
economia local cresce por meio da prática da exclusão social.
O sistema agrário do Rio de Janeiro, entretanto, era bem diferente daquele da Bahia, já
que aqui abundavam alimentos como milho, algodão, frutas cítricas e banana que
muitas vezes supriam as carências da Bahia. A farinha de mandioca era exportada para
Angola em troca de escravos, de modo que se pode dizer a partir do texto de JUCÁ que
os fundos obtidos no RJ foram decisivos para o tráfico de escravos africanos.
Voltando ao tema da população local, FRAGOSO nos mostra que ao longo do século
XVII a primeira elite senhorial do Rio descendia de pessoas ligadas à administração da
vida pública, por vezes até de ministros ou oficiais do rei, os quais acabavam por se
tornar senhores de engenhos. Por outro lado, somente pessoas ricas e influentes, em
geral grandes proprietários de terras, integrantes da elite colonial, podiam exercer
cargos políticos, numa dinâmica que caracterizava uma clara promiscuidade entre o
público e o privado, além de evidentes conflitos de interesses:
“O Ser Senhor de Engenho é título a que muitos aspiram, porque traz consigo o ser servido,
obedecido e respeitado de muitos. E se for, qual deve ser, homem de cabedal e governo,
bem se pode estimar no Brasil o ser senhor de engenho, quanto proporcionalmente se
estimam os títulos de fidalgos do Reino.” (ANTONIL, 1982)
FRAGOSO apresenta ainda uma tabela de escrituras públicas que expõem como eram
investidos os recursos no período de 1800 a 1816: em imóveis rurais (23,8% do valor
total, uma vez que os valores eram relativamente baixos), em lojas e navios (37,8%),
enquanto JUCÁ, em tabela semelhante referente ao período de 1650 a 1750, conclui
que a partir da segunda metade do século XVII a prioridade da sociedade fluminense
era investir em bens agrários, notadamente em engenhos. Na virada do século XVII
para o XVIII, contudo, percebe-se um processo de urbanização e consequente
valorização dos imóveis urbanos.
REFERÊNCIAS
ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. Belo Horizonte, Itatiaia, São
Paulo, Edusp. 1982.