Os Primeiros Troncos Paulistas - Ellis Júnior
Os Primeiros Troncos Paulistas - Ellis Júnior
Os Primeiros Troncos Paulistas - Ellis Júnior
Troncos Paulistas
BIB[IOTHECA PEDAGOGICA BRASIL E I RA
Serie .5.a BRASILIANA Yol . 59
OS f~IM~IROS
TRONCOS PAUJll,STAS
E O
CRUZAMENTO EURO-AMERICANO
1 9 3 6
COMPANHIA EDITORA NACIONAL
SÃO P AULO
IN DICE
Duas palavraH . 5
CAPITULO I - Preliminares 19
CAPITULO II - Introducção 27
CAPITULO IH -· o europeu 33
CAPITULO IV - o iudio - Anthropogenia Anthropologia
E thnographia 47
CAPITULO V - Etlmogenia o hybridação 59
CAPIT ULO VI - Mameluco - Genese e evolução da mestiçagem
do planalto - Ethnogcnia - Fecundidade, longe,·idade e
"aronilida<le do mameluco - Homogenesia eugencsica <lo
mameluco 69
CAPITULO VII - O negro - Influencia do negro na formação
ethnica elo p lanalto 85
CAPITULO VIII - O povoador - Selecções sociacs e pathologí·
cas na Iberia - Gcnese do pot'oa mcnto . 89
CAPI1'ULO IX - O povoador e o morador - Selecções migrato-
ria, mesologica, pathologica e sexual - Consanguinidade 117
CAPITUT,O X - O morador - Selecção tio bandeirismo - Se-
lecção religiosa 145
CAPITULO XI - O morador - Fecundidade - Longevidade -
Varonilidade - Selecção regr essiva por emigração do seculo
XVIII - Renascimento do planalto do seculo XIX 153
CAPITULO XII - Psychologia do paulist.a 189
lNDICE
*
* *
Antes desse seculo XIX, tudo foi muito differente.
Lá havia a grande propriedade com todos os signos
patriarchaes marcados por Gilberto Freyre no seu
"Casa Grande e Senzala". Lá havia o africano a tingir
de negro a escravaria. Lá havia uma organização so-
cial estribada na opulencia da cultura assucareira. Lá
o potentado tinha um poderio proprio derivado de sua
familiagem enorme e da sua propriedade latifundaria
propria. Elle era o mandão porque tinha forças para
o ser.
14 ALFREDO E u.is (J UN10Il)
*
* *
E' meu proposito estudar a sociogenia paulista e
mostrar como teve origem no nosso planalto e nelle
evoluiu o aggregado humano civilizado.
Passo cm revísta os seculos em que percorreu o
grupo paulista. O r eferente ao grupo humano nordes-
tino já foi feito com brilhantismo por Gilberto Freyre.
Nós tivemos origens bem diversas. No planalto
paulista se estabeleceu um grupo humano que nada
teve com os demais que a colonização lusa respingou
no litorl:!l oriental da America do Sul. Não nos ligava
com outros nucleos lusitanos qualquer laço de sangue,
como não evoluímos pelos seculos seguindo identicas
parallelas, como não tivemos interf erencias reciprocas
nas nossas trajectórias historicas. Na Europa, os grupos
humanos lá existentes, como o francez, o inglez;, o
allemão, o portuguez, o hollandez, o sueco, o hespanhol,
Hi ALFREDO ELLIS (JUNIOR)
PRELIMINARES
INTRODUCÇÃO
O EUROPEU
O INDIO
Anthropogenia Anthropologia - Ethnographia
Como ficou dito, maior do que á primeira vista
pó<le parecer, foi o influxo da raça americana na for-
maç~o das primeiras camadas de moradores do pla-
nalto paulista, essa gente bandeirante que nos propu-
zcmos estudar sob varios pontos de vista.
Bem razão tinham os chronistas castelhanos de cha-
mar aos moradores de São Paulo de "mamelucos, gente
bellicosa y atrevida", porque ..raro ei-a, no segundo
scculo, o sertanista que não tivesse entre os seus· pro-
xirno.s ascendentes um genuíno representante da raça
de bronze (1).
*
• *
Estudando com espírito de analyse essa mestiçagem
productora de mamelucos, podemos classificar os mo-
dos pelos quaes ella se operou, da seguinte fórma:
54 ALFREDO ELLIS (JUNIOR)
ETHNOGENIA E HYBRIDAÇÃO
MAMELUCO
Genese e evolução da mestiçagem do planalto - Ethno-
genia -- Fecundidade, longevidade e varonilidade
do mameluco - Homogenesia eugenesica
do mameluco.
"Todos os nossos historiadores e chronistas
aos quacs se juntaram as vozes a utorizadas de
a lguns publicistas alienigcnas, que se occuparam
da nossa evolução, encomiam os serviços inestima-
vois, prestados ao Brasil, pelo povo paulista, dClSdc
que se formou a primeira geração de mamelucos,
isto é, desde o meado do seculo XVI" - Basílio
de Magalhães - Rev. I nst. Hist. Bras.
*
* *
M cdia8 de
CRUZA MI~N'l'OS
f ecnnàiilail.
-
Europeu com inclio ........ .. . •. • ..... 8,5
*
* *
Não era, porém, apenas a fecundidade acima de-
monstrada o unico resultado eugenesico do cruzamento
do iherico com o homem americano. A longevidaQe
tambem foi seu apanagio, assim como a extraordinaria
varonilidade é delle patente. Assim o mameluco Bal-
thazar Fernandes, o fundador de Sorocaba, com 1/ 4
de sangue, falleceu, com mais d e 85 annos, em 1661.
Izabel da Costa, trineta de Tibiriçá, viveu 90 annos;
sua irmã tinha 80 em 1680.
· Fernão Ortiz de Camargo, mameluco, com 1/32 de
sangue de Tibiriçá, tinha mais de 75, quando falleceu,
em 1690; Francisco de Camargo Santa Maria tinha 79
em 1714; Francisco de Camargo Pimentel tinha 84 e 18
filhos, um dos quaes, .Jeronymg, apurei ter chegado a
mais de 76, e Lourenço, outro filho, viveu 78 annos.
O Anhanguera, o velho, com 50 annos, em 1682 foi
a Goyaz, e aos 65 se casou pela segunda vez; seu filho,
do mesmo appellido, contava 52 em 1722, ao effectuar
a celeberrima peregrinação, fallecendo com 70, e o
filho deste, ca.ronel Bartholomeu Bueno, nascido em
1700, casou, pela segunda vez, com 67 annos, e morreu
aos 76, depois de uma vida agitadissima. Amador Bue-
no, o moço, d escendente de Tibiriçá e de P equeroby,
falleceu em 1683, com mais de 75 annos, e sua irmã,
Izabel da Ribeira, falleceu em 1698 com 85 annos; seu
filho, Domingos da Silva Bueno, tinha 63 quando, em
Os Pm:r.rErnos TnoNcos PAULISTAS 83
O NEGRO
Mulatos e
Brancos me.~tiços Preto.~
A mazonas '32 %
Pará 37 %
Mara nhã o 40 <frc
.Pia u hy 25 %
Cear{, 38 %
R. G. do Nort.o 39 o/,;
Para!,yba 32 %
Pernambuco 55 o/,,
Alagoas 34 %
Sergipe 39 %
B ahia 83 %
Bspirito Santo 52 %
Hio de ,Janeiro 48 %
Dist.r id.o 'J<'cd1•r:1 1 64 %
São Paulo. 82 %
P araná 72 %
Santa Catharina 85 %
R. G. do Sul 79 %
Minas Ger nes !i2 %
Goyaz 39 %
]\fatt.o Grosso 4(3%
Média g eral do paiz ()0 %
CA PIT IJ LO VIII
O POVOADOR
*
* *
Em Portugal, o meio social, por occasiao da colo-
nização do planalto, havia soffrido uma rapida evolu-
ção, determinada pelos varios acontecimentos histori-
cos, fructos parallelos da evolução da raça, taes como
o periodo aureo da navegação, ,conquista da India, o
fanatismo religioso, advento e reacção á Reforma reli-
giosa, expulsão dos judeus, e tc ..
Essas circumstancias, agindo sobre o meio social e
delle recebendo a influencia, actuaram da maneira
mais sensivel sobre o elemento que a lberia teria de
nos enviar a colonizar. Assim, para se poder estudar
o povoamento, é preciso passar em revista o meio so-
cial peninsular, no momento em que esse phenomeno
teve lugar.
Os PmMErnos TnoNcos PAuusTAs 91
Quando os reis catholicos, no fim d o quinhentismo,
reunia m a s coroas hispanicas em um só es lado, e o
príncipe P erfeito regia com m ão ferrea os destinos da
patria lusa, a península, como aliás, todo o r esto da
Europa occidental, se achava apenas emer gid a da
Edade Média, com todas as minucias ainda dessas so-
ciedades medievaes, imperando em seu auge, os sulcos
profundos, delimitadores das classes sociaes, os quaes
como ahysmos insonda veis e intransponiveis separa-
vam e alargavam desmedidamente as distancias e os
planos em que se achavam as camadas populares.
De um lado a aristocracia bordando os degraus do
throno, com todos os seus preconceitos e prosapias.
capeando uma origem mais que duvidosa naquelles
cavalleiros primevos das guerras aa r econquista p e-
ninsular, não sem passar por um emmaranhado inex-
tricavel de galhos gcnealogicos. Muitos de stes iam
originar-se em bastardias e ligações adulterinas dos
nobres e monarchas dos primeiros tempos néo-gothicos,
temperados muitos n a m estiçagem candente com o
sangue africano <lo fanatico mussulmano e na mistura
com judeus, "Oll outra qualquer inf e ela nação ". Disso
n ão escaparam nem mesmo as testas coroadas da dy-
nastia org ulhosa de Aragão.
Abaixo dessa aristocracia de estrondo e de appara-
lo estava a burgu ezi a pa cifica, a par da qual se nive-
lavam os ricos sectarios de .Moysés. Estes, todavia,
eram os m enos afortun ados dos que, á custa do ouro que
a ganancia avida da sua estir p e accumulara, haviam
conseguid o galgar os degraus das m ais elevadas cama-
das pe ninsulares, nellas penetrando por infiltração, in-
jcctando o sangue semítico nas veias dos mais afidal-
ALFHEDO ELLJS (JUNIOR)
* *
Oliv. }Iartins, "flist. 1le Portugal", diz que as pestes, as guer-
nis, etc., haviam feito a população de P ortugal cahir a menos de um
milhão depois de .A leacer-Kihir .
Os PRIMEIROS THONC.OS PAULI STAS 113
O POVOADOR E O MORADOH
Se/ecçôes migraloria, mcsologica, pathologica e se.1:ual
- Consanguinidade .
"II cst p roha hle que lcs unious cou sagui11 es a ux dcgrés
aujourd 'hu i prohibés sou t unes !lcs ca uses de Ju grall(i c
stabili t é !l cs civilisa t ious a 11 t ir1 u es.
A vcc cc reg ime l'Egy p tc n dcmcu ré r.inqua nt c si écles
H:t.11 s fl cchír .
T out es lcs donnés de l:t bi olo gic pormcttcut d 'affirmc r
q ut> Jes rnariagcs entre freres ct soeurs dovaie nt a bout ir à
f i xer les raecs ct appo rtaicnt pl us vi t e les f a rnill cs tarécs
<"t stl-re(ltypan t. lcs a utrcs--: (Lupougc , "Sele<'tirrn s ·•, 3~9 ).
* *
" .J consanguinidade elci·a a herança <Í .ma mn is 11/ta
potencia (Sa11sn,1.).
Total Norte 43
do Algarves 5
do Alémtejo . 16
da Extremadura 21
Total - Sul 42
do Centro . 5
, dos Açores 16
da Madeira 7
Total h espanhoes 28
Estrangeiros . 10
Eis, com aproximação, quantitativamente, como, em
média, se poderão conhecer as origens dos colonizado-
res da capitania vicentina, que tão razoavelmente Oli-
veira Vianna qualifica d e elite d as populações ibericas,
por lerem buscado, nas selvas da America, a aventura
tenebrosa e os ideaes doura dos, de prefer encia á seden-
Os PmMEmos TRoNcos PAULISTAS 127
* *
Ao chegar á colonia vicentina, esse nucleo selec-
cionado de povoadores teria logo de entrar em lucta
com o novo meio physico.
Se é certo, como affirmou. Broca no seu "Remarques
du revivre sur la seleccion sociale", que· uma sociedade
que se aperfeiçoa attenua progressivamente os effeitos
brutaes da selecção natural ordinaria, caminhando, por
outro lado, por augmento correspondente de intensida-
de de selecções sociaes, ternos que os colonizadores pe-
ninsulares trazidos de um meio civilizado da Europa,
onde as selecções sociaes deveriam pesar em maior es-
cala na lucta pela vida e outras vicissitudes decorrentes
128 ALFREDO ELLIS (J UN IOH)
*
* *
O MORADOR
*
* *
*
* *
A emmoldurar essa sociedade primitiva havia uma
religiosidade que, sem se embrenhar profundamente
pelas sendas do fanatismo, corria entretanto pela via
de uma ingenuidade verdadeiramente infantil, muito
propria de gente que não dá ao intellccto a importancia
de uma vida intensa. Ao lado desta face da psycholo-
gia paulista havia uma profunda moralidade. Era o
que imbuia esses velhos patriarchas de uma dose abun-
dante de fatalismo proprio da época. Era isso lambem
que dava ás matronas paulistas um sentimento muito
desenvolvido de ternura maternal, virtude que é facil
se conhecer, através da historia, entre as muitas que
cngrinaldam a austera mulher paulista.
Eis o que teria sido o elemento moral, agindo a fa-
vor do instincto natural, concorrendo com os f actores
acima apontados para a fecundidad e da gente paulis-
ta, á medida que esta· se ia fixando no decorrer dos
seculos.
alors même qu 'ils mourraicnt de fairu, fuyant lcs oeuvres servilcs
comme la derniere des hontes, vivaut dans lo celibat .. .
Moine, g entilhomme ou soldat, mais en tout cas celi bataire,
tel fut l 'Espagnol. On peut parler sana craintc que la nuptialitó
fut tres faible dans l 'Espagne de Charles Quint, ct que e 'cst
ainsi que se produisit cette efroyablc depopulation qu i nous
est attesté par 1'histoiro".
*
* *
E' bem interessante de comparar esse quad ro deseripto pelo dcmo-
grapho Arsene Dumont, e bem verosímil, dada a pouca densidade de
população na Hespanha, em relação ao resto da Europa, com o que se
nos depara no planalto paulista, onde o elemento hcspanhol acompa-
nhou os demais nas elevadas médias de fecundidade .
158 ALFREDO ELLIS (Jmnon)
• *
SECUL O XVII (Seiscent iRmo-bandeirismo de eaça ao indio) - 16(ll
a 1699:
Casacs estercis 39 0,33 %
Casacs com um fiÚJO 138 ) Pequenas ia-
Casacs com 2 filhos 136) mi lias - 288
Casaes com 3 filhos 109) casacs 27,35 %
Casaes com 4 f ilhos 133) Familias me-
Casaes com 5 filhos· 96) dianas - 340
Casacs com 6 fil hos 121) casaes 27,35 %
* *
SECULO XVIII (Setecentismo-bandeirismo de exploração e mineração do
ouro) - 1701 a 1790:
Casaes estereis . . . . 44 . . 0,086 %
Casaes com 1 filho 736) Pequenas fa-
Casaes com 2 filhos 644) milias 1960 :i8,5 %
Casaes com 3 filhos 580) Familias me-
Casaes com 4 filhos 569) dianas 1587 31,1 %
Casacs com 5 filhos 497)
Casaes com 6 filhos 521) Grandes fa-
Casaes com 7 filhos 402) milias 1007 10,i %\
Casaes com 8 filhos 367) 1
Casacs com 9 filhos 241) 1
Casaes com 10 filhos 187) 1
Casaca com 11 filhos 152) 1
Casacs com 12 filho s 80) 1
Casaes com 13 filhos 39) ) 29.84 %
Casaca com 14 filhos 16) 1
Casaes com rn filho s 16) 1
Casacs com 16 filhos 15) Familias pa- 1
Casaes com 17 filhos 3) tria rchaes - 1
Casacs com 18 fill,os 3) 516 10,14 %/
Ü S PRIMEIROS TRONCOS PAULISTAS 165
Casacs com 19 filhos 1)
Casacs com 20 filhos 1)
Casaes com 21 filhos 1)
Casaes com 22 filhos 1)
Casacs com 23 filhos - )
Casacs com 24 f ilhos - )
Casacs com 25 fi lhos 1)
Em synthese:
Média geral
Média de Nu.mero de Numero de de todo o
periodo do
fecun didade casaes filhos bandei-
rismo
!'!'ALIA
De 1862 a 1870 . . . . . . . . . . . . . . 5,0
De 1871 a 1880 . . . . . . . . . . . . . . 4,9
De 1881 a 1885 . . . . . . . . . . . . . . 4,7
HUNGRIA
De 1853 a 1860 4,4
De 1861 a 1870 4,6
De 1871 a 1880 4,0
De 1881 a 1885 4,0
BAVIERA
De 1830 a 1850 . . . . . . . . . . . . . . {,6
De 1851. a 1870 4,7
De 1871 a 1880 4,8
D u 1881 a. 188!i 5,5
T<'RANÇA
De 1800 a 1830 3,82
D l' 1831 a 1860 3,20
De J861 a 1870 3,09
De 1871 a 1880 2,08
HOLLANDA
De 1841 a 1860 . . . . . . . . . . . . . . 4,6
De 1861 a 1880 4,5
De 1881 a 1885 4,8
])(' 1800 a 1000 4,8
AUSTRIA
De 1853 a 1860 . . . . . . . . . . . . . . 4,9
De 1861 a 1870 4,4
De 1871 a 1880 4,6
.De 1881 a 1885 4,8
nc 1800 a 1900 4,1
BELGICA
De 1831 a 1840 4,57
De 1841 a 1850 4,50
De 1851 a 1860 4,08
De 1861 a 1870 4,26
De 1871 a 1880 4,42
De 1881 a 1887 4,43
NORUEGA
De 1801 a 1825 3,7
lJe 182H a 1845 . . . . . . . . . . . . . . 4,2
De 1846 a 1800 . . . . . . . . . . . . . . '4.,2
Os PRIMEIRos TRoNcos PAULISTAS 169
De 1861 a 1870 . . . . . . . . . . . . . . 4,7
De 18 71 a 1880 4,3
De 1881 a 1885 4,7
DINAMARCA
De 1840 a 1860 . . . . . . . . . . . . . . 4 ,0
De 1861 a 1870 4,1
De 1871 a 1880 4,0
De 1881 a 1885 4,2
SUISSA
De 1876 a 1880 . . . . . . . . . . . . . . 4,3
De 1881 a 1885 . . . . . . . . . . . . . . 4,0
De 1.890 a 1900 . . . . . . . . . . . . . . 2, 7
*
* *
174 ALFREDO ELLIS (Ju:moR)
Paris . . . . . . . . . . . . . . . . . 13,3
B erlim . . . . . . . . . . . . . . . 12,8
Rio àc Janeiro . . . . . . . . 11,3
•
• *
*
* *
Estudei apressadamente os diversos elementos da
anthroposociologia paulista, e vi como a raça européa,
que da Iheria, nos primeiros seculos, procurou o nosso
territorio, viera seleccionada, de modo que os elemen-
tos que deixaram a Europa para emigrar para o novo
continente foram sem duvida grande porção da Euge-
nia iberica. Chegada á nova patria, essa gente soffreu
ainda os embates dolorosos de novas selecções, que a
depurara ainda mais, adaptando-a ao meio americano,
cuja benefica mesologia a aperfeiçoou. O cruzamento
com o indio foi de grande felicidade, delle resultandç>
(10) O p apel do c·ahoclo ria abertura ila lavoura do café, foi dos
mais preeminentes, sendo de notar principalmente os celebres santarna-
rist.as, caboclos do Santo Amar o, das redondezas paulistas, que demom -
trnra111 durante a cxpa11são do scculo passado um coefficicnte espantoso
de cfficicncia, não obstante o seu physico resequido e depauperado, eon-
sequencia ele alimentação sobria e pouco ealcarea, cm vista da pobreza
extrema ,1as terras dessa região plànaltina. Eram os ,·aboclos de olhos
azues: e resultado da mestiçagem do paulista de Sta. Amaro com os co·
lonas allemiies, ali localizados nos primordios do secu lo.
Os santamarist as foram inf:ttigaveis andarilhos dos sertões, dotados
de uma prodigiosa rcsistcncia physica e, não obstante a sua apparencia
df' atrophiados, se impuicram por essas virtudes e pela sua bcllicosidade,
1cm brando os seus vetustos antepassados ( Informaçõc8 da tradição quP
nos ministraram os nossos maiores, que viveram nessr seculo XIX, palco
da epopéa. ela planta(lfio da lavoura de café).
Os PmMEmos TnoNcos PAULISTAS 185
*
* *
Eis a phase attingida pelo paulista no auge do seu
potencial eugenico, quando a superpopulação das na-
ções mediterraneas, na segunda metade do seculo XIX,
iniciou as correntes emigratorias para o nosso planalto,
movimento esse intensificado pelas consequencias de-
correntes da libertação dos escravos em 88, o que occa-
sionou a substituição do br,aço negro pelo do colono
italiano e hespanhol.
Cerca de 50 annos de intensa immigração saturou
o Estado de estrangeiros de origem principalmente ita-
liana que, munidos das suas qualidades particulares,
mantêm uma intensa lucta com a velha gente paulista,
188 ALFHEOO ELUS (JO N IOII)
(1) Por tugal não desfructou por muito tempo as riquezas que
o monopolio do commercio com a I ndia lhe proporcionava. O norte da
península italica, onde se engastavam, rutilantes, as republicas de Ge-
nova, de Veneza e tantas outras cuja opulencia material e intellectual
se originava no activo commercio com o Oriente, do qual t inham o
monopolio no Meditcrraneo, antes do poderio rapace dos t urcos lhes
ter impossibilitado, havia mantido durante muito mais tempo à riqueza
que. produzira eonsequencias de immenso vulto .
Portugal não soube manter e tirar proveito da grande fortuna
que lhe bafejava. Não durou sequer um seculo o período aureo do com-
meréio com a India. Logo Portugal vira afundar-se exgottada a mina
que não soubera explorar convenientemente.
Os PRIMEmos TnoNcos PAULISTAS 191
Sohre a pobr eza do intelleeto no p lanalto, assim ·se expr ime o cru·
tlito mest re .Affonso 'l' aunay, no seu c:<celleute "S. P aulo no.~ primeiros
A n,io.ç ", 2 :
"Na primitiva e miuuscula alde iola quinhent ista, semi-
ilhada da civilização, cellula-mater da grande capital hodier-
n a, não podia flo r escer uma cultura que nas actas da edilida·
de se t r ad uzisse por meio de prolixas narrath·a~ ou complica-
das dissertações, arroubnda estylistica ou minuciosa r eporta-
gem de factos.
Outros lhe fossem os asperos habitantes, empolgados pelas
necessidades im mediatas e imperiosas do primo vívere, alheios
pela força das circumstancias ao mund o ext erior .
Os Pnn,rnrnos TnoNcos PAULISTAS 195
* *
"As artes porém 11ão florescem entre elles, sendo o gosto e a elegan-
cia, em mobilias e equipagens, coisas completamente desconhecidas." -
"Cartas sobre a Bahia" por 11rs. Kindersley - Trad . <lo Dr. Vicente
de Sousa Queiroz.
196 ALFIIEDO E LLIS (JUNIOR)
.. *
A maior quantidade de livros que achei pelos documentos de inven-
t.arios, foi no acervo deixado por llfat hias Rodrigues da Silva, fallecido
em 1710, no que appa receram 18 livros, todos de caracter religioso.
Foi este Mat hias, aliás, o homem que maior fortuna (11 :754$000
rHs, ou sejam, cerca de 29 . 380 cr uzados) deixou dentre os inventaries
ctJjos document.os fora m publica dos.
*
" J ustifica-se <le algum modo a importancia que se dão os pa dres,
pois :1 pouca inst rucçã.o e saber existent es no paiz só podem ser encont ra-
dos ent r e elles" . - " Cartas s.obre a Bahia" por Mrs. K indersley, 1764 -
T rad. do· Dr. Vicent e de Souza Queiroz, 20.
( G) E' nota vel o afastamento da lusitanidade em que se viram os
paulistas, nesse 1641. Dom João IV, o B ragança, acclama do em P or t ugal
e em todas as colonia s lusas na Amcrica, não encontrou unanimidade em
S. Paulo. Isso accent ua a existencia no plana lto de um espírito regional
que fazia falta alhures. O facto de ser escolhido um paulista como
.A mador Bueno, descendente de chefes indígenas, ligado ás estirpes
regias de Tibfriçá e de P equer oby, bem o evidencia. Ent re tantos hespa-
Os PRIMEIROS TnoNcos PA:ULISTAS 203
• •
* *
* -:1-
* ,.
Os PRIMErnos TnoNcos PAULISTAS 223
Engenhos 1 Proporção d~
Capitanias População cngcu hos por
de canna
1 100 habitantes
(*) Southoy, vol. II, 688, diz qnc S. Paulo em fins do q11i11Len·
tismo tinha 700 lmbitantcs. Iss o é referente aos europeus naturalmente.
Pernambuco 12:528$417
Itamaracá 398$660
.Parabyba 2:255$070
Sergipe 296$000
.Rio Grande 3:255$180
Bahia 19:732$600
Espírito Santo 353$120
llhéus 40$000
Porto Seguro 40$000 ( O planalto não
Rio ele J á neiro 2:015$000 absorveria nem a
S. Vicente e Sto. Amaro 1:467$820 metade desse nu-
mero referente a
2 capitamas.)
42:351$867
*
* *
Gabriel Soa1·es, o velho chronista, diz que na Bahia, em 1587, havia
"mais de cem moradores que tom cada anuo de mil cruzados até cinco
mil de renda" (de 400$000 a 2:000$000 reis), "e outros que têm mais;
cujas 'fazendas valem até cinéoenta e sessenta mil cruzados e davanta-
gcm" (10:000$000 reis até 20 :000$000 reis e 25:000$000 reis e mais ).
F ernão Cardim tliz que havia, em Pernambuco em 1590, "homens
muito grossõs do 58 e 80 mil cl'uzados de seu" ( de. 25 contos 'a 40 contos
mais ou menos).
Emquanto isso, nesse mesmo ()uinhcn tismo, no planalto, encontrarnos,
ao morrer:
Per o Leme, o velho, deixando só 36$900 reis (100 cruzados); João
do Prado, o velho, 144$660 reis ( 400 cruzados) ; Clemente Alvares,
329$880 reis (800 cruzados); Fernão Dias, o velho, 313$000 reis (750
cruzados ) ; o estes foram os mais ricos.
Os PmMEmos TRoNcos PAcLiSTAS 227
*
* *
(20) As bandeiras set ece11t istas já não são mais a quellc:1 verda
deiros exerci tos dos seculos anteriores. São apena s uma ou duas cent ena~
de l1omens, quando muito, que se cmbrcnhâm nos rnattaga es dos sert õoo
brasilicos, nã o com o fim aggrcssivo de prear índios e combater jesuítas
e <'.:tstelhanos, mas sim de explorar riquezas, tendo como unieo desidera
t um bcllico defender-se dos ataques que porventura f ossem vietimas no
decorrer das suas immcnsas caminhadas por invias r egiões .
E mquant_o qne as menores bandeiras seiscentistas,. que marchamn•
contra o Guayrá, Tape e Urug uay, contavam com milhares de compo
nentes ( dizem os j esuítas chr onistas), os paulistas set ecen t istas reduzi
ram de muito o p oder bellico de suas bandeiras .
.Assim é que Bartholomeu Bueno, o A nhanguera, q1i.ando em 1721!
1725 se poz á frent e de uma das mais mcmoraveis expedições que o ban
<lei rismo de exploração jamais t eve no seu activo, só contava com 30ll
homens, segundo n os relata o er udito historiador Washington Luís, na
sua magnifica memoria sobre o gover no de D . Rodrigo Cesar de Me·
nezes ("Capitania àe 8. Paulo") .
Os PRI.MEmos . TnoNcos PAULISTAS 243
vcl. . . E' o salvc ,sc quem puder! F eijó, calmo, sereno, firme
em seu posto voluntario, debruçado na janella da rua das Fio·
r es, residcncia do alferes João N epomuccno do Souza Freire,
como uma sentinella perdida no meio daquelle deserto cm
que Sorocaba se convertera, gritava aos que fugiam numa
ancia indescriptivel:
" Correi, correi, cambada de sem vergonhas! Eu aqui fico
para vos defender! . . . "
"Rev. Inst. Hist. S. Paulo", XIII, 117.
Foi o ultimo lampejo do passado tangendo no bronze de que era
a tempera do grande paulista.
Felizmente não foi esse quadro reproduúdo em 1932.
Os PHIMEmos TRoNcos PAULISTAS 247
*
• •
Sobro as fazendas em Minas e no Rio de Janei ro, Oliveira Vianna
diz no seu "Populações Meridionaes", 128:
"Nas fazendas agricolas de Minas em que a agricultura e o pastoreio
em regra se misturam, o tamanlio médio de cada uma, segundo Eschwege,
é de duas leguas de largura por tres de comprimento, ou sej am seis
leguas quadradas para cada domínio ( 10 . OdO alqueires). Nas fazendas
de creação a •medida corrente segundo o mesmo informante é de "nove
leguas em, quadra". No Rio, no t empo de Pizarro, os engenhos de riba-
mar são de pequena extensão, mas ainda assim abarcam mais de uma
legua de terra."
Por ahi se vi} o flagra nte contraste ent re as fazendola s pau-
listas, que se mediam ús braças, sendo as maiores de "uma legua em
qua dra'', com as f a zendas mineiras e fluminenses que são os verdadeiros
latifundios de 10 mil alqueires ou mais.
Os PmMEmos TnoNcos PAULISTAS 253
ultimo seculo são identicas Íls <lo seculo XIX, a inda obser vaveis em
umHas fazendas do i nt erior paulista, datando dos pri mordios da la-
vc.ura de café no oéste .
As casas das fazendas que foram abertas ·pelo Visconde da Cunha
Bueno, um dos pioneiros do café na zona da Paulista, filho do citado
Francisco Mariano da Cunha, tacs como a fazenda do l\Iorro P elado,
datando de 1850, e da fazenda Sta. Eudo:da, datando de 1870, são
ausolutament o derivadas da casa da fazendinha da Ca ntarcira, com a
qual apresentam muitas analogias .
Não se teria alt erado nas suas linhas basicas a moradia rural
paulista desde o seiscentismo até o seculo passado, conservando sempre
o mesmo feitio de velho casarão colonial, representado por um blóco,
crivado nos dois dos seus flancos longitudinaes de grande numero de
Os PmMEmos TnoNcos PAULISTAS 255
fazendas tinham ainda uma outra qu e talvez servisse
de senzala para os escravos, ou moradia para os forros,
pois que era designada nos documentos como "casa dos
negros", "quadrados", com seus dois lanços, etc . .Não
achei nos documentos casas para feitores, ajudantes,
administradores, etc., os quaes deveriam compôr o pes-
soal superior de uma propriedade agrícola, por menor
que fosse ella, a menos que esses encarregados não
existissem na organização rural paulistana, ficando to-
das essas attribuições a cargo exclusivo do fazendei-
janellas, com seu indef ectivel terraço, de o.ndo com a vista o fazendeiro
abarcava todo o organismo da pequena industria rural.
Essas casas eram sempre construidas cm terreno íngreme, de forte
plano inclinado, protegido do vento sul, de modo que do lado de baixo
o predio t inha um andar terreo, o que lhe dava desse lado apparencia
de sobrado. Nos quartos desse andar tcrrco eram localizadas as accom-
modações dos empregados, os almoxarifados, as despensas, os deposites,
a cafúa, et!).
O isolamento em que viviam os prwlistas, durante esses tres
seculos, segr egados no planalto, onde se conservavam quasi immunes
do contacto com o mundo civilizado, que a sua falta de cultura intel-
lectual <lelle mais ainda imper meabilizava, foi a ca1,rna de haver a ha-
bitação paulista percorri do esso grande lapso de tempo sem soffrer a
evolução modificadora das idéas novas e progressistas que regiam os
<lifferentes povos na Europa.
• •
Veja-se ainda Mrs . Kinderslcy, que presta o seu depoimento sobre
os interiores bahianos setecentistas, "Um cimelio do llluseu Paulista";
- Cartas sobre a Bahia" - Traducção do Dr. Vicente de Souza Queiroz.
2í6 ALFREDO ELLIS (JUNIOR)
*
*
Phenomeno muito interessante se passou com a
gente do planalto.
Vimos como clla evoluiu da formação communita-
ria para a particularista, depois <le soffrer a influencia
de elevado numero de causas.
O seu estado patriarchal, trazido da lberia pelos
povoadores, e o qual acabamos de analysar, não passou
pela mesma evolução que originou o individualismo.
Se o paµiarchado fôra no quinhentismo dos po-
voadores c no seiscentismo dos preadores de índio uma
instituição arraigadíssima ao povo do planalto, não con-
seguiu a mineração dos setecentos, com todas as suas
consequencias no caracter da gente paulista, desenrai-
zai-o, nem tão pouco a transformação soffrida pelo pau-
lista com a lavoura de café foi de molde a alterar esse
signal indelevel que marcou os nossos antepassados
nté o seculo XX. Mau grado a diversificação completa
do systema de vida, em regiões as mais v ariadas, cor-
rendo parallelamente a mutação do regimen de divisão
rural, ou a transformação do caracter semi-nomade do
bandeirante para o de sedentário cultivador, ou ainda
n. transfiguração do typo accentuado do communitario,
para o de evidente individualista, em muito pouco foi
no seculo XIX alterado o feitio p atri archal do paulista.
Esse traço na formação social paulista, sempre eviden-
ciado de modo notavel, passou pelas idades para che-
gar empallidecido ao seculo XX, que está sendo teste-
munha da fallencia do regímen patriarchal.
284 ALFREDO ELLIS (JUNIOR)
Sem_i-nomadismo in-
dustrial e commercial
Semi-nomadismo - aven-
tureiro - bellicoso - Tendencia no Planalto pa-
commercial ra o sedentarismo Sedentarismo
U tili ta rismo
310 ALFREDO ELLIS (JUNIOR)
CLIMATOLOGIA - N UTRIÇÃO
"Se nós procurarmos quaes são os agentes
physicos que exercem a influen cia mais poderosa
sobre a ra<;a humana, a charemos que elles podem
ser dividid os em quatro classes:
o clima
a nutrição'
o solo
e o npecto geral da natureza ".
(Buckle, "Historia da Civilização na Inglaterra" ,
vol. I, pg. 45.)
* *
A influencia climaterica, considerada sob o ponto
de vista indirecto, isto é, através <las selecções, já exer-
ce surprehenclentes effeitos sobre a ruça, quando esta
é transplantada de um clima para outro. Sobrevem,
então, intensa mortalidade entre os mais fracos, etc.
(Lapouge "Seleclions", 133).
Os immigrantes de maior debilidade e menor re-
sistencia morrem, degeneram e não se reproduzem, só
se perpetuando os mais resistentes, que se acclimaram
no novo meio (3).
(3) O erudito sabio Professor Roquette Pinto, citando Bertillon,
na su a "L1.nthropologia", 53, diz que os accidcntes provocados pela accli-
mamento subito são classificados em 4 grupos:
Os PRIMEmos TnoNcos PAULISTAS 317
I - Doenças immediatas.
II - Enfraquecimento individual consecutivo, facilitan-
dó doenças accidentaes e senilidade precoce.
III - Doenças da primeira infancia dos descendentes.
IV - Degeneração physica e psychica das primeiras ge-
rações_
318 ALFREDO ELLI S (JUNIOR )
* •
Os PHIMEmos Tno~cos PA ULISTAS 319
Corn ejo (" Sociolugie Gímérale", 261) diz a esse respeit o: Os amcri,
t'~•nos formam uma raça que se distiugue dos inglezes e dos allemiiu~.
sc,us progenitor es, pelos <liffcr entes caracteres, segundo To<lds, pela fór -
ma a ng ular da physionomia a qual, pa r ticularmente na pa rte i nferior rlo
rosto <[Uasi quadrado, <lifferc do o,·al i11g lcz; segundo Ka ox pelo te< ic1o
a ilipoHo e os apparel hos glandula res menos desenvolvidos; cmfim se;,:un -
d 1o Dclsor pelo a ugmcnto d o pescoço, a csphericiilade <la cabeça, a pal-
lidez da pel lc, a cor escura ilos cabellos, todos os caraetcrcs que desde
a p rimeira geraç.ão transformam o <lolicoecphalo louro cm um bra<·hy-
ccphn lo palliclo. ·
320 ALFREDO ELJ...IS (JUNIOR)
" N u111 meio ús vezes rico, veg eta o ser tanojo ua miscria,
idi otitado pela molestia de Chagas ou cachct iza do pela mala-
ria ou pela a nkylostomiase, in teira mente aba ndona do {i sua.
t rn gica sorte". - Dr. Bclisario P e11 11 a .
* ·.l-
•
* ..
Já em 1787 Joseph Braga escrevia:
"E ' constante que a atniosphera entre os tropicos é quenie e hu-
mida e que estes paizes são regados de innumeraveis e caudalosos rios.
Elles são cobertos de altíssimos an>oredos, e pela maior parte tão es-
pessos que quasi sempre não se deixam penetrar, tanto dos ra ios de
sol, como da quantidade de ar, que é capaz de sacudir e ventilar os
miasmas podres, de que a atmosphera se acha carregada. Quanto mais
se remonta á sua origem, tanto menos espaçosos se vão elles fazendo,
menos .vadea1,eis e adhercntes a altas e rusticas montanhas, quando por
ov.fra parte, á proporção que elles se dilatam, inundam com as suas·
aguas 1,astas campinas, subindo a alturas consideraveis. Vêem todos que
viajam que, pelas suas margens, lhes ficam terras mais baixas e fossos
prof11ndos, onde se conserva a agua todo o anno. Esta recebe annual-
1r<ente durante a enchente innumeros cadaveres de quadrupeclcs, aves,
peixes, amphibios, inseeto.~ e vermes, os quaes ali ficam misturados com
as raízes, troncos, ramos e folhas das arvores que caem ou apodrecem,
cncarc,;rados at é que o calor do sol lhes volatize as partes mais subtis,
e as espalhe pela atmosphera. Emquanto não se volatilizam fica o
336 ALFnr-:oo Eu,1s (.J uN ,on)
a-r demasia cla me.n te denso privado de sua elasticidade, incapaz de etk
trar 110s pulmões, o que veni rausar diversas enfermidades.
A.~ enantrradas dos r ios que escorrem das serras, das cabeceiras dos
r ios arrastam comsigo as <11:.,ersas substa11cias terreas cah idas que com-
sigo lct'am as correntezas, r. os qu6 as bebem por costmne logo qiie a
tiram dos r-íos, sem es21erar que assentem. nos potes, de um para 011tro
dút depõem no ventrículo, de cada vez q1w as bebem, um sedimento
viscoso, o qual obst ruindo os ol"ificios dos pequenos vasos, annuncia pela
chlorosis a ob str1tcção que todo o 111undo sabe, que é um como smnina-
rir, de outras queixas em q11e degenera, co-mo são as palpitações de co-
ração, as cardialgias, a ictcric·ia, a hydropsia, 11 cachexia, etc." (Rocha
Pombo, Joe. eit. , 432).
* *
Cunha 1\f a t tos, "Chorographia H istorica de Goyaz", affirrnn a ni eR-
nta eoisa:
"D esde o anno de 1819 as chuvas têm diminuído consideravelmente
e por isso os ribeirões, corregos e mesmo os rios arenosos ficam de todo
seccos 0 1i pelo meno,ç cortados, e logo as ag11as dos poços 01i peiráus,
corrom pendo -se por m o_tivo da putrefacção da f olhagem das arvores e
dos p eix es qu e ali morr6m, eximiam vapores ou niiasmas tão pestilen-
ciaes que de rep ente corrompem a at,m osphera e produzem f ebres teri;ãs,
malig11as e outras enfermidades".
*
* *
Roeha Pombo, loe. cit., 449, citando D ' Alineourt (" A nnaos da Bi-
o liotheca Nac-ional") , Barão de Melgaço, Joaquim da Costa Siqueira e
outros, diz :
Os PmMmRos TRoNcos PAuLISTAs 337
inoculadora das maleitas não podia penetrar e proli-
ferar.
O planalto, já o fazia notar Elisée Reclus (" La Ter-
re "), é o accidente geographico de mais importancia
na. h istoria humana. Os planaltos da Ethiopia e de
Madagascar na Africa, os platós andinos dos Incas, as
(~) "A flor esta, como o mar, é educadora de energia", diz Jean
Brunhes em collaboração com Camille Vallaux, no seu "Geographie de
l'Histoire", 171; - 1'emquanto que, na estep pe, o homem se contenta
do menor esforço em vida semi-contemplativa , o terreno ganho á floresta ,
á C'lt Rta de duros esforços, recompensa o pioneiro".
Os P111MEIIIOS TnoNcos PAULISTAS 345