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Resumo:
Neste artigo, visamos analisar como a política pública é encenada a partir das relações entre as
dimensões contextuais da atuação de políticas de Ball: contextos situados, culturas profissionais,
contextos materiais e contextos externos; que estão presentes no Projeto Professor Diretor de
Turma (PPDT). A análise foi feita a partir de dois documentos do referido projeto: o folder de
apresentação do PPDT e o Manual de Orientações das Ações do Professor Diretor de Turma. Para isso
utilizamos a metodologia de análise documental, no qual dispusemos esses dois documentos
orientadores para situar o PPDT e o contrapor com as definições das dimensões contextuais. O PPDT
foi criado a partir do Projeto Director de Turma, que teve sua origem em Portugal, essa nova versão é
adotada por escolas públicas no estado do Ceará; assim o processo de tradução dessa política foi
recontextualizado tendo em vista esse novo cenário. O artigo está dividido em uma breve
contextualização sobre o ciclo de políticas, explanação sobre o PPDT e, posteriormente, análise dos
documentos. Verificamos que o PPDT, quanto às propostas de currículo, metodologias, tempo e ações
voltadas para alunos e professores, estão ligados às formas como as políticas são atuadas e traduzidas
nas escolas, apesar de algumas lacunas no que se refere ao processo burocrático do preenchimento de
fichas de acompanhamento das salas e do tempo escasso destinado aos professores para os
planejamentos das atividades do projeto. São sugeridas, aqui, algumas modificações no que se refere à
sessão de Formação para a Cidadania do projeto em questão.
Palavras-Chave: Políticas educacionais. Dimensões de contexto. Contexto escolar. Projeto
Professor Diretor de Turma.
Introdução
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Devido ao histórico de crescimento do PPDT em território brasileiro e dos seus índices
de aceitação das escolas, esse artigo busca analisar o folder de apresentação do PPDT
juntamente com o seu respectivo Manual de Orientações das Ações do Professor Diretor de
Turma a partir dos conceitos de ciclo de políticas e das dimensões contextuais da atuação da
política, ambos definidos por Stephen Ball.
Metodologia
A metodologia utilizada aqui é a pesquisa bibliográfica. Para isso, o presente artigo
divide-se da seguinte forma: primeiro, apresenta-se uma abordagem sobre as definições dos
conceitos de ciclo de políticas e do contexto de atuação de uma política pública. Em seguida,
traz-se uma breve explanação sobre o que é o PPDT e sua forma de atuação dentro e fora da
escola. Após isso, há uma análise do folder de apresentação do PPDT utilizando os conceitos
abordados anteriormente. Por fim, o último tópico traz as conclusões obtidas com a análise.
Resultados e discussão
2. O ciclo de políticas de Ball: uma perspectiva contextual
Tratar as políticas públicas educacionais no Brasil pode ser algo bastante desafiador,
haja vista os múltiplos usos que se fazem do termo. Aqui, nos interessa situar como uma parte
do processo de política pública é pensada pelo autor e teórico inglês Stephen Ball.
Conforme se pode perceber na construção teórica exposta por Ball; Bowe (1992), a
política, processo ou atuação de políticas, é essencialmente intrincado, labiríntico e comporta
interferências múltiplas tanto em níveis micro quanto macro. Assim é preciso que se
conheçam as fraquezas e potencialidades da política pública em questão, a fim de superá-las,
pois, do contrário, essa continuará sendo apenas mais uma proposta de governo.
Para identificar essas respostas de superação das políticas, Ball; Maguire; Braun
(2016) veem o contexto como um fator de grande importância para as ressignificações de
políticas, e, possivelmente, evitar “medidas genéricas
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e não apenas adaptadas para todas as áreas tão chamadas de desfavorecidas, mas também
sensíveis às diferenças entre e dentro dessas áreas” (BALL; MAGUIRE; BRAUN, 2016, p.
36).
A dimensão dos contextos materiais é categorizada por Ball; Maguire; Braun (2016) e
refere-se ao que é físico na/dentro da escola, como a infraestrutura, os funcionários, os
aparatados tecnológicos que a escola dispõe, seus orçamentos etc. A partir dessa dimensão
contextual, é possível identificar como essas escolas são operacionalizadas, pois, dependendo
do porte da escola, ela pode dar mais conforto e oportunidades aos alunos que outras teriam
mais dificuldades, por exemplo.
A última das dimensões discutidas é a dos contextos externos. Esses são aspectos
situados em fatores que rodeiam a escola, como a comunidade, relações com outras escolas,
apoio de autoridades locais etc. Os fatores externos, neste caso, poderiam gerar pressões e
expectativas em relação à escola, influenciando na tomada de decisões como, por exemplo, as
escolhas de adoção, de interpretação e de reinterpretação de políticas públicas.
Ball; Maguire; Braun (2016, p. 14) afirma que “os textos de políticas são tipicamente
escritos em relação à melhor de todas as escolas possíveis”. Em um processo de fazer da
política, colocado de forma “linear, de cima para baixo e indiferenciado” (BALL;
MAGUIRE; BRAUN, 2016, p. 16), esses estudos, muitas vezes, não fazem um
reconhecimento pormenorizado das diferentes culturas
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e tradições da comunidade participante da escola. As experiências profissionais dos
professores, sua qualificação e preparação também são colocadas à margem. O mesmo
acontece com o contexto material, onde não há reconhecimento adequado dos edifícios e dos
recursos disponíveis para a política ser colocada em prática.
Assim, defendendo que cada instituição, intencionalmente ou não, faz seu processo
individual de tradução das políticas adotadas, a contextualização dos autores citados aqui
ganha forma, pois, apesar de a “implementação” ser um processo de execução de tarefas que
já vieram predispostas, nem sempre podem ser praticadas tal qual são solicitadas pelos
documentos orientadores.
O PPDT teve sua primeira versão em Portugal, em meados dos anos 60, no qual
também recebeu nomenclaturas como Professor Diretor de Classe. Devido à boa recepção do
projeto e seus bons índices em território europeu, em 2007, uma proposta de tradução dessa
política pública foi apresentada no XVIII Encontro da Associação Nacional de Políticas e
Administração da Educação (ANPAE) sobre as experiências das escolas portuguesas, que
ocorreu no estado do Ceará. Segundo Ceará (2011), em 2008, os municípios cearenses de
Canindé, Eusébio e Madalena, foram os primeiros a aderirem à proposta de contextualização
do projeto.
Assim, o professor diretor de turma, a partir das suas atribuições pode agir como uma
espécie de mediador de conflitos, atuando nas resoluções de problemas do cotidiano escolar,
pois, tendo em vista a aproximação e o conhecimento maior da vida de cada um dos seus
alunos, essa interação coopera para intervenções que poderiam ajudar os alunos a superarem
suas dificuldades, tanto individuais como coletivas.
O professor diretor de turma não recebe nenhuma gratificação por desempenhar esse
papel. O que vai permitir o exercício desta função, segundo Ceará (2011), é a disponibilidade
em quatro horas de sua carga horária semanal, onde uma hora é utilizada para as aulas de
formação para a cidadania e as outras três horas são disponíveis para organização dos
documentos instrumentais como o dossiê e portfólio solicitados pela SEDUC, atendimento a
pais e/ou responsáveis e estudo orientado (CEARÁ, 2011). O Professor Diretor de Turma
(PPD) fica encarregado de
Segundo Machado (2017, p. 31), “O Projeto Professor Diretor de Turma deve tornar-
se parte constituinte do projeto político-pedagógico da escola, de forma que possa
potencializar as ações educativas”. Isso vai ocorrer
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por meio de tarefas incumbidas a ele para serem realizadas, são essas:
I Dossiê de Turma
O dossiê é feito durante todo o ano letivo e são reservados ao PDT duas horas
semanais para integrar o dossiê de turma. Cada documento instrumental é preenchido
digitalmente por meio do Sistema Integrado de Gestão Escolar (SIGE-Escola)1, nele contém
instrumentais para comunicados aos pais, fichas de frequência, perfil socioeconômico dos
alunos da turma alvo, delineamento do perfil comportamental da sala, e formulários diversos.
II Mapeamento de Sala
O mapeamento da sala de aula é feito após a quarta semana do ano letivo no dia da
primeira reunião entre os professores da escola. As duas primeiras semanas de aula são
resguardadas para observação de como os alunos se comportam sem o mapeamento. A partir
dessa observação são escolhidos os locais em que cada aluno irá sentar, resguardando os
1
O SIGE-Escola é uma plataforma on line desenvolvida pela SEDUC para auxiliar e acompanhar a gestão escolar, abrangendo aspectos
administrativos e pedagógicos. Nele constam informações sobre matrícula, lotação de professores, quantidade (83) 3322.3222
de turmas, merenda e
transporte escolar, registros de avaliação e frequência de alunos, estrutura curricular e horários, além do PPDT. (MACHADO, 2017, p. 33)
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alunos de têm alguma necessidade especial, esses devem estar sentados nas primeiras cadeiras
de cada fileira.
Feito isso, são impressas cópias dos lugares reservados para cada aluno e distribuídas
entre os professores e na sala de aula para os alunos, além de uma cópia ser arquivada no
dossiê de turma. O mapeamento da sala não é algo inflexível, podendo sofrer alterações, se
necessário e conveniente.
Com o mapeamento de turma, segundo Ceará (2014, p. 7), torna-se mais prático
realizar de pequenas a grandes atividades, como a identificação nominal dos alunos,
combatendo a massificação do ensino; a percepção dos ausentes, tornando o processo de
preenchimento da lista de chamada mais eficaz; e combater as conversas paralelas,
incentivando uma aprendizagem significativa e dando mais atenção ao conteúdo das aulas.
Este é composto pelo presidente que é o PDT da turma em questão; um secretário, que
é um professor da escola; representantes do grupo gestor; pelos outros discentes da turma; por
representantes de alunos da turma selecionados pelos alunos para ser líder e vice-líder da
classe; e por representantes dos pais ou responsáveis dos estudantes.
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Estabelecido um dia e horário semanal para o atendimento aos pais ou responsáveis,
que são estabelecidos e divulgados previamente pelo PDT, essas reuniões tratam-se de “um
conjunto de ações que visa estabelecer e incentivar mecanismos de estreitamento dos laços
entre a família e a escola, como meio de fortalecer o sucesso escolar” (CEARÁ, 2014, p. 10).
Machado (2017) diz que esse atendimento ao PDT uma regularidade com o contado às
famílias dos estudantes, no qual são disponibilizados a eles relatórios orais e documentais
sobre questões relativas ao comportamento dos alunos, assiduidade, aproveitamento escolar,
dentre outros. Essa ligação mais próxima do projeto com as famílias pretende que os pais ou
responsáveis junto aos PDT criem uma rede colaborativa para redução da infrequência e
melhore o desempenho dos alunos integralmente.
IV Estudo Orientado
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O estudo orientado compreende a formação de um grupo de estudos de uma hora
semanal, mediado pelo PDT ou por alunos monitores, para repassar e refletir sobre atividades
sobre conhecimentos pertinentes ao crescimento pessoal, profissional, social e acadêmico dos
orientandos, e “que oportunizem, principalmente, o aprender a aprender e o aprender a
conviver” (CEARÁ, 2014, p. 13).
Fonte: http://www.seduc.ce.gov.br/images/professor_diretor_turma/projeto_professor_diretor_de_turma.pdf
Fonte: http://www.seduc.ce.gov.br/images/professor_diretor_turma/projeto_professor_diretor_de_turma.pdf
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http://www.seduc.ce.gov.br/index.php/projetos-e-programas/87-pagina-inicialservicos/desenvolvimento-da-escola/3257-diretor-de-turma
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estruturações a preocupação em acolher as dimensões dos contextos de atuação, mas não
explicitam como esses objetivos seriam analisados na prática de sala de aula para que os
documentos solicitados sejam construídos.
A dimensão das culturas profissionais é abordada nos textos, mas não de forma
completa. Apesar do PDT ter certa autonomia para evitar e resolver adversidades que
poderiam surgir no decorrer do projeto, quando o contexto da prática é colocado em ação,
algumas dessas adversidades não conseguem ser resolvidas apenas pelo educador,
necessitando, assim, da ajuda de outro(s) especialista(s), e essa ajuda especializada não é
disponibilizada pelo projeto em questão.
É possível perceber que, o PPDT não disponibiliza material pedagógico, nem tem
propostas de ementa curricular para que os PDT possam se embasar e preparar suas aulas. O
que o projeto salienta, segundo Machado (2017), é que sejam trabalhados temas que abordem
“as dimensões escolar, humana, cultural, religiosa, social, ambiental e política, direcionando
as abordagens e intervenções para a resolução dos problemas que afetam tanto o desempenho
dos educandos como o da turma” (MACHADO, 2017, p. 36-37).
Conclusões
Dentro desta breve análise podemos perceber que o PPDT apesar de suas lacunas,
contempla alguns aspectos das definições sobre o
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contexto, o que pode ser um dos fatores que levou à grande aceitação dessa política no seu
país de origem, Portugal, e na sua adesão por várias escolas no estado do Ceará.
Alguns fatores podem ser considerados e revistos em relação a como essa política é
traduzida pelos professores, visto as poucas horas disponíveis para a execução de várias
tarefas objetivadas, algumas delas que podem necessitar o acompanhamento de outros
profissionais, como psicólogo ou assistente social, que não são disponibilizados pelo projeto.
As aulas de Formação para a Cidadania também podem ter uma atenção mais especial,
pois, como não há nenhum material disponível para as aulas ou, pelo menos, um cronograma
da disciplina. Como não há essas orientações mais detalhadas, o PDT gasta mais tempo para
elaborar suas aulas, tornando esse processo lento e menos eficaz.
Referências
BALL, S.J.; MAGUIRE, M.; BRAUN, A. Como as escolas fazem as políticas: atuação em
escolas secundárias. Tradução de Janete Bridon. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2016. 220 p.
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