Os Sermões de Padre Antônio Vieira
Os Sermões de Padre Antônio Vieira
Os Sermões de Padre Antônio Vieira
OS SERMÕES
DE PADRE ANTÔNIO VIEIRA
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FICHA TÉCNICA
1. BIOGRAFIA DO AUTOR
2. OBRAS PUBLICADAS
- Cartas
- Histórias do futuro
- Esperanças de Portugal
- Clavis prophetarum
- Sermão de Santo Antônio aos Peixes
- Sermão da Sexagésima
- Sermão da Quinta Dominga da Quaresma
- Sermão do Bom Ladrão
- Sermão do Mandato
- Sermão do Espírito Santo
- Sermão Pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal, contra as da Holanda
- Sermão de Nossa Senhora do Rosário
3. ESCOLA LITERÁRIA
a) A arte da contrarreforma
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b) Conflito entre corpo e alma
O homem barroco assume consciência integral no que se refere à fugacidade da vida humana
(efemeridade): o tempo, veloz e avassalador, tudo destrói em sua passagem. Por outro lado,
diante das coisas transitórias (instabilidade), surge a contradição: vivê-las, antes que terminem,
ou renunciar ao passageiro e entregar-se à eternidade?
d) Forma tumultuosa
O estilo barroco apresenta forma conturbada, decorrente da tensão causada pela oposição
entre os princípios renascentistas e a ética cristã. Daí a frequente utilização de antíteses,
paradoxos e inversões, estabelecendo uma forma contraditória, dilemática. Além disso, a
utilização de interrogações revela as incertezas do homem barroco frente ao seu período e a
inversão de frases a sua tentativa na conciliação dos elementos opostos.
e) Cultismo e conceptismo
Ao braço do Menino Jesus de Nossa Senhora das Maravilhas, A quem infiéis despedaçaram
(Gregório de Matos)
Para um homem se ver a si mesmo são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem
espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelhos e olhos, e é de noite,
não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister¹ luz, há mister espelho e há mister olhos. (Pe.
Antônio Vieira)
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5. FIGURAS DE LINGUAGEM NO BARROCO
As figuras de estilo mais comuns nos textos barrocos reforçam a tentativa de apreender a
realidade por meio dos sentidos. Observe:
a) Metáfora: é uma comparação implícita. Tem-se como exemplo o trecho a seguir, escrito por
Gregório de Matos:
b) Antítese: reflete a contradição do homem barroco, seu dualismo. Revela o contraste que o
escritor vê em quase tudo. Observe a seguir o trecho de Manuel Botelho de Oliveira, no qual é
descrita uma ilha, salientando-se seus elementos contrastantes:
6. GÊNERO DA OBRA
O vocábulo latim sermo chegou ao nosso idioma como sermão. De acordo com a primeira
acepção do termo, um sermão é uma predicação que realiza um clérigo cristão para ensinar
algo aos fiéis.
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É importante destacar que, de acordo com a tradição cristã, o próprio Jesus-Cristo pregava
sermões. Um dos sermões mais conhecidos que pregou Jesus é o Sermão da Montanha e
o Pai Nosso.
O SERMÃO DA SEXAGÉSIMA foi um dos mais famosos, entre tantos. Foi proferido na Capela
real de Lisboa em março de 1655. Através dele, o pregador esmerou-se na retórica, contando
com sua memória prodigiosa e rara habilidade no domínio da palavra.
No Sermão, seu autor interessava saber o motivo de a pregação católica estar surtindo pouco
efeito entre os cristãos. Sendo a palavra de Deus tão eficaz e tão poderosa, pergunta
ele, como vemos tão pouco fruto da palavra de Deus? Depois de muito argumentar, Vieira
conclui que a culpa é dos próprios padres. Eles pregam palavras de Deus, mas não pregam a
palavra de Deus, afirma. Dito de outra maneira, o jesuíta reclama daqueles que torcem o texto
da Bíblia para defender interesses mundanos. No sermão proferido, o Padre também procura
criticar a outra facção do Barroco, logo a utilizar o púlpito como tribuna política.
Padre Antônio Vieira, um mestre da persuasão, ensinava que “o sermão há de ser duma só
cor, há de ter um só objeto, um só assunto, uma só matéria”. É a regra da unidade do discurso
persuasivo.
Pe. Antônio Vieira empregava diversos elementos de retórica no sermão analisado e podemos
afirmar que sua palavra produziu muito fruto, visto que sua obra se mantêm como pensamento
válido depois de 300 anos de sua morte.
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Em O SERMÃO DA SEXAGÉSIMA, Vieira expôs o método que adotava nos seus sermões:
Nota:
O contexto histórico da época do Padre, uma época onde várias atitudes tomadas pelo
catolicismo eram apoiadas inclusive pelo próprio poder temporal - já que não é simples separar
a Igreja e o Estado português neste momento da história -, como converter almas ao
cristianismo.
Nessa época, o mundo assistia a Santa Inquisição atuando a pleno vapor, que inclusive fez
visitações ao Brasil colonial nas regiões Nordeste e Norte, além de em outras terras
pertencentes ao Império Colonial Português como Angola, Madeira e Açores, e que Goa
possuía o seu próprio tribunal do Santo Ofício; também assistia-se à imposição do cristianismo
para muitos índios no Brasil; além dos negros africanos que para cá foram trazidos e também
foram-lhes imposto o catolicismo.
Trechos da Obra
Para conhecer melhor a linguagem utilizada no Sermão da Sexagésima, segue abaixo alguns
trechos.
E se quisesse Deus que este tão ilustre e tão numeroso auditório saísse hoje tão
desenganado da pregação, como vem enganado com o pregador! Ouçamos o
Evangelho, e ouçamo-lo todo, que todo é do caso que me levou e trouxe de tão longe.
II
O trigo que semeou o pregador evangélico, diz Cristo que é a palavra de Deus. Os
espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa em que o trigo caiu, são os diversos
corações dos homens. Os espinhos são os corações embaraçados com cuidados, com
riquezas, com delícias; e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pedras são os corações
duros e obstinados; e nestes seca-se a palavra de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os
caminhos são os corações inquietos e perturbados com a passagem e tropel das coisas
do Mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que atravessam, e todas passam; e
nestes é pisada a palavra de Deus, porque a desatendem ou a desprezam. Finalmente, a
terra boa são os corações bons ou os homens de bom coração; e nestes prende e
frutifica a palavra divina, com tanta fecundidade e abundância, que se colhe cento por
um: Et fructum fecit centuplum.
III
Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo, pode proceder de um de três princípios:
ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se
converter por meio de um sermão, há de haver três concursos: há de concorrer o
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pregador com a doutrina, persuadindo; há de concorrer o ouvinte com o entendimento,
percebendo; há de concorrer Deus com a graça, alumiando.
IV
V
Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo tão empeçado, um
estilo tão dificultoso, um estilo tão afectado, um estilo tão encontrado a toda a arte e a
toda a natureza? Boa razão é também esta. O estilo há-de ser muito fácil e muito natural.
Por isso Cristo comparou o pregar ao semear: Exiit, qui seminat, seminare.
VI
Será pela matéria ou matérias que tomam os pregadores? Usa-se hoje o modo que
chamam de apostilar o Evangelho, em que tomam muitas matérias, levantam muitos
assuntos e quem levanta muita caça e não segue nenhuma não é muito que se recolha
com as mãos vazias. Boa razão é também esta. O sermão há-de ter um só assunto e uma
só matéria. Por isso Cristo disse que o lavrador do Evangelho não semeara muitos
géneros de sementes, senão uma só: Exiit, qui seminat, seminare semen. Semeou uma
semente só, e não muitas, porque o sermão há-de ter uma só matéria, e não muitas
matérias.
VII
VIII
Será finalmente a causa, que tanto há buscamos, a voz com que hoje falam os
pregadores? Antigamente pregavam bradando, hoje pregam conversando. Antigamente
a primeira parte do pregador era boa voz e bom peito. E verdadeiramente, como o mundo
se governa tanto pelos sentidos, podem às vezes mais os brados que a razão. Boa era
também esta, mas não a podemos provar com o semeador, porque já dissemos que não
era ofício de boca. Porém o que nos negou o Evangelho no semeador metafórico, nos
deu no semeador verdadeiro, que é Cristo.
IX
As palavras que tomei por tema o dizem. Semen est verbum Dei. Sabeis, Cristãos, a
causa por que se faz hoje tão pouco fruto com tantas pregações? É porque as palavras
dos pregadores são palavras, mas não são palavras de Deus. Falo do que
ordinariamente se ouve. A palavra de Deus (como diria) é tão poderosa e tão eficaz, que
não só na boa terra faz fruto, mas até nas pedras e nos espinhos nasce. Mas se as
palavras dos pregadores não são palavras de Deus, que muito que não tenham a eficácia
e os efeitos da palavra de Deus?
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Dir-me-eis o que a mim me dizem, e o que já tenho experimentado, que, se pregamos
assim, zombam de nós os ouvintes, e não gostam de ouvir. Oh, boa razão para um servo
de Jesus Cristo! Zombem e não gostem embora, e façamos nós nosso ofício! A doutrina
de que eles zombam, a doutrina que eles desestimam, essa é a que lhes devemos
pregar, e por isso mesmo, porque é mais proveitosa e a que mais hão mister .
O sermão do Padre Antônio Vieira, intitulado PELO BOM SUCESSO DAS ARMAS DE
PORTUGAL CONTRA AS DE HOLANDA, trata-se de um texto religioso redigido pelo
sacerdote, com vistas à pregação que realizou no Brasil, no ano de 1640, na Igreja de Nossa
Senhora da Ajuda, na Bahia.
Pela leitura do sermão, observa-se que seu tema se relaciona com a época da turbulência
social vivida pelo país. Era em 1640; a Baía estava a ponto de cair sob o jugo holandês.
Arrebatado por uma inspiração patriótica, Vieira quis reanimar os brios dos Brasileiros e fazer
ao Céu uma santa violência. Num sublime transporte de génio compôs essa obra-prima,
verdadeiramente única no seu género, repleta das sublimes audácias de Moisés e dos
Profetas. Seja qual for a ideia que façamos da pregação, é impossível não sentir a grandeza e
a originalidade de tal eloquência.
Motivado pelo firme propósito de tentar impedir o jugo holandês, o Padre Antônio Vieira
constrói seu sermão e dirige-o ao povo que fomentou o projeto expansionista, povo católico,
impregnado de religiosidade, fiéis dominados pelas virtudes da fé, em nome da qual ampliavam
suas conquistas e, consequentemente, suas riquezas.
Convém observar que a pretensão de dominar o desconhecido vigorou em sua plenitude por
ocasião das grandes navegações. O temor de navegar por mares "virgens" foi superado pela
audácia dos portugueses. Corajosos, ambiciosos, arrostaram perigos e não hesitaram em pôr
em risco suas vidas, conforme as próprias palavras de Vieira:
Se esta havia de ser a paga e o fruto de nossos trabalhos, para que foi o trabalhar, para
que foi o servir, para que foi o derramar tanto e tão ilustre sangue nestas conquistas?
Para que abrimos os mares nunca dantes navegados? Para que descobrimos as regiões
e os climas não conhecidos? Para que contrastámos os ventos e as tempestades com
tanto arrojo (...).
Mas a primazia ora alcançada pelos desbravadores estava sob ameaça. À fartura suceder-se-
ia, devido à falta da infraestrutura necessária para a manutenção do império conquistado, uma
perda inominável: o Brasil se vê na iminência de passar à propriedade dos holandeses. Eis o
motivo que propicia a alegação de Vieira de estar o Brasil passando para as mãos dos
"hereges", ao redigir seu sermão.
(...) Pequei, que mais Vos posso fazer? E que fizestes vós, Job, a Deus em pecar? Não
Lhe fiz pouco; porque Lhe dei ocasião a me perdoar, e perdoandome, ganhar muita
glória. Eu dever-Lhe-ei a Ele, como a causa, a graça que me fizer; e Ele dever-me-á a
mim, como a ocasião, a glória que alcançar. (...). Em castigar, vencei-nos a nós, que
somos criaturas fracas; mas em perdoar, vencei-Vos a Vós mesmo, que sois todo-
poderoso e infinito. Só esta vitória é digna de Vós, porque só vossa justiça pode pelejar
com armas iguais contra vossa misericórdia; e sendo infinito o vencido, infinita fica a
glória do vencedor. (...). (VIEIRA, 1959, p. 322-323).
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Entretanto, não se pode perder de vista que esse sermão se destinava a "reanimar os brios dos
brasileiros", entendidos aqui como os brasileiros nascidos no Brasil, os colonos portugueses e
o corpo de milícias que defendia a Bahia de todos os Santos.
Estes são, pois, o auditório universal de Vieira. Contudo, havia um auditório "intermediário"
composto por um único ser e interlocutor virtual: Deus, pois Vieira não fala diretamente aos
fiéis; ao contrário, dirige-se a Deus, que é seu "interlocutor": “Não hei-de pregar hoje ao povo,
não hei-de falar com os homens, mais alto hão-de sair as minhas palavras ou as minhas vozes:
a vosso peito divino se há-de dirigir todo o sermão.” (VIEIRA, 1959, p. 301).
No Sermão da Sexagésima, Vieira pretendia ensinar aos colegas sacerdotes um meio eficaz
de seduzir os fiéis e atraí-los para a seara do Cristo e no sermão Pelo bom sucesso das armas
de Portugal contra as de Holanda, Vieira pretende seduzir Deus e atraí-lo para a sua própria
“seara”, a dos portugueses.
No sermão Pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda, as Sagradas
Escrituras são o meio de prova dos argumentos arrolados por Vieira e também o veículo que
aproxima o orador do seu auditório real para assegurar a fidelidade deste, pois a Bíblia, por
representar a palavra de Deus, consubstancia os anseios do orador e do seu auditório, naquele
momento histórico.
Como pode-se observar, a tese a ser defendida por Vieira está explícita no próprio título do
sermão; o sacerdote advoga que Deus retome a aliança com os portugueses para que estes
possam derrotar os holandeses.
Notas importantes
1. A formação discursiva, por excelência persuasiva, se faz presente no referido texto, pois o
contexto deixa claro que Portugal está perdendo o Brasil para os holandeses e Vieira pretende
incitar os brasileiros à luta armada; para isto, prega o sermão Pelo bom sucesso das armas de
Portugal contra as de Holanda. Para persuadir os brasileiros, Vieira dirige-se diretamente a
Deus e “repreende-O” pelo que Ele está “permitindo” que aconteça com os portugueses.
3. O texto se caracteriza como um discurso exclusivista por não haver espaço para mediações
ou ponderações. Assim, os signos são fechados e o discurso fixa-se em um jogo parafrásico.
Repete-se uma fala já sacramentada pela instituição, neste caso a Igreja, e é à sua
interpretação da Bíblia Sagrada que Vieira recorre para compor o seu discurso. Nele não há
espaço para mediações ou ponderações porque a voz da Bíblia é universalmente aceita como
o fundamento do pensamento cristão e o instrumento de acesso a Deus e a Seu Filho.
Qualquer “ponderação” que se fizesse, conforme demonstramos no decorrer desta tese, seria
considerada herética, já que, por ser fruto do raciocínio, discordaria do discurso do sacerdote.
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5. O"tu" se transforma em mero receptor e, por conseguinte, não tem nenhuma possibilidade
de interferir ou modificar o que está sendo dito. Essa característica pode ser comprovada pelo
fato de ninguém poder se insurgir contra a “palavra de Deus”. Para os receptores reais do
discurso de Vieira, isto é, os brasileiros, o padre intermedeia a mensagem divina e, portanto, é
um representante de Deus, o que bloqueia as comunicações desses fiéis e cria uma “ilusão de
reversibilidade”.
O SERMÃO DE SANTO ANTÔNIO AOS PEIXES foi pregado em 13 de junho de 1654 em São
Luís do Maranhão, em 1654, três dias antes de embarcar escondido para Portugal no auge da
luta dos jesuítas contra a escravização dos índios pelos colonizadores, procurando o remédio
da salvação dos Índios. O sermão revela toda a ironia, riqueza nas sugestões alegóricas e
agudo senso de observação sobre os vícios e vaidades do homem, comparando-o, por meio de
alegorias, aos peixes.
Critica a prepotência dos grandes, que, como peixes, vivem do sacrifício de muitos pequenos,
os quais "engolem" e "devoram". O alvo são os colonos do Maranhão, que no Brasil são
grandes, mas em Portugal "acham outros maiores que os comam, também a eles".
1. Antíteses
"(...) deu-lhes dois olhos, que direitamente olhassem para cima (...) e outros dois que
direitamente olhassem para baixo (...)"
"(...) António (...) o mais puro exemplar da candura, da sinceridade e da verdade, onde nunca
houve dolo, fingimento ou engano."
"Oh que boa doutrina era esta para a terra, se eu não pregara para o mar!"
2. Comparações "Certo que se a este peixe o vestiram de burel e o ataram com uma corda,
parecia um retrato marítimo de Santo António."
"O que é a baleia entre os peixes, era o gigante Golias entre os homens."
"(...) com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos,
parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura (...)"
"As cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia (...)"
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"(...) e o salteador, que está de emboscada (...) lança-lhe os braços de repente, e fá-lo
prisioneiro. Fizera mais Judas?"
"Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é menos
traidor!"
3. Paralelismos e anáforas "Ou é porque o sal não salga, e os pregadores...; ou porque a
terra se não deixa salgar, e os ouvintes... Ou é porque o sal não salga, e os pregadores...; ou
porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes... Ou é porque o sal não salga, e os
pregadores...; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes..."
"Quantos, correndo fortuna na Nau Soberba (...), se a língua de António, como rémora (...)
"(...) com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos,
parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura (...)"
"Se está nos limos, faz-se verde; se está na areia, faz-se branco; se está no lodo, faz-se pardo
(...)"
4. Ironia Mas ah sim, que me não lembrava! Eu não prego a vós, prego aos peixes."
"E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o
maior traidor do mar."
5. Metáforas "Esta é a língua, peixes, do vosso grande pregador, que também foi rémora
vossa, enquanto o ouvistes; e porque agora está muda (...) se veem e choram na terra tantos
naufrágios."
"(...) pois às águias, que são os linces do ar (...) e aos linces que são as águias da terra (...)"
"(...) onde permite Deus que estejam vivendo em cegueira tantos milhares de gentes há tantos
séculos?!"
" (...) vestir ou pintar as mesmas cores (...)"
6. Trocadilhos "Os homens tiveram entranhas para deitar Jonas ao mar, e o peixe recolheu
nas entranhas a Jonas, para o levar vivo à terra."
"E porque nem aqui o deixavam os que o tinham deixado, primeiro deixou Lisboa, depois
Coimbra, e finalmente Portugal."
"(...) o peixe abriu a boca contra quem se lavava, e Santo António abria a sua contra os que
se não queriam lavar."
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PRIMEIRO REMÉDIO:
O TEMPO
“Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo
a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera! São as afeições como as vidas, que
não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as
linhas que partem do centro para a circunferência, que, quanto mais continuadas, tanto menos
unidas. Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino, porque não há amor tão
robusto, que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza o
desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não tira, embota-lhe as setas, com que já
não fere, abre-lhe os olhos, com que vê o que não via, e faz-lhe crescer as asas, com que voa
e foge. A razão natural de toda esta diferença, é porque o tempo tira a novidade às coisas,
descobre-lhes os defeitos, enfastia-lhes o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as
mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor? O mesmo amar é causa de não
amar, e o ter amado muito, de amar menos.”
SEGUNDO REMÉDIO:
AUSÊNCIA
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“Muitas enfermidades se curam só com a mudança do ar; o amor com a da terra. E o amor
como a lua que, em havendo terra em meio, dai-o por eclipsado. E que terra há que não seja a
terra do esquecimento, se vos passastes a outra terra? Se os mortos são tão esquecidos,
havendo tão pouca terra entre eles e os vivos, que podem esperar, e que se pode esperar dos
ausentes? Se quatro palmos de terra causam tais efeitos, tantas léguas que farão? Em os
longes, passando de tiro de seta, não chegam lá as forças do amor. Os filósofos definiram a
morte pela ausência: Mors est absentia animae a corpore. Despediram-se com grandes
demonstrações de afeto os que muito se amavam, apartaram-se enfim, e, se tomardes logo o
pulso ao mais enternecido, achareis que palpitam no coração as saudades, que rebentam nos
olhos as lágrimas, e que saem da boca alguns suspiros, que são as últimas respirações do
amor. Mas, se tomardes depois destes ofícios de corpo presente, que achareis? Os olhos
enxutos, a boca muda, o coração sossegado: tudo esquecimento, tudo frieza. Fez a ausência
seu ofício, como a morte: apartou, e depois de apartar, esfriou.”
TERCEIRO REMÉDIO:
INGRATIDÃO
“Assim como os remédios mais eficazes são ordinariamente os mais violentos, assim a
ingratidão é o remédio mais sensitivo do amor, e juntamente o mais efetivo. A virtude que lhe
dá tamanha eficácia, se eu bem o considero, é ter este remédio da sua parte a razão. Diminuir
o amor o tempo, esfriar o amor a ausência, é sem-razão de que todos se queixam; mas que a
ingratidão mude o amor e o converta em aborrecimento, a mesma razão o aprova, o persuade,
e parece que o manda. Que sentença mais justa que privar do amor a um ingrato? O tempo é
natureza, a ausência pode ser força, a ingratidão sempre é delito. Se ponderarmos os efeitos
de cada um destes contrários, acharemos que a ingratidão é o mais forte. O tempo tira ao amor
a novidade, a ausência tira-lhe a comunicação, a ingratidão tira-lhe o motivo. De sorte que o
amigo, por ser antigo, ou por estar ausente, não perde o merecimento de ser amado; se o
deixamos de amar não é culpa sua, é injustiça nossa; porém, se foi ingrato, não só ficou
indigno do mais tíbio amor, mas merecedor de todo o ódio. Finalmente o tempo e a ausência
combatem o amor pela memória, a ingratidão pelo entendimento e pela vontade. E ferido o
amor no cérebro, e ferido no coração, como pode viver? O exemplo que temos para justificar
esta razão ainda é maior que os passados.”
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QUARTO REMÉDIO:
O MELHORAR DE OBJETO
“Dizem que um amor com outro se paga, e mais certo é que um amor com outro se apaga.
Assim como dois contrários em grau intenso não podem estar juntos em um sujeito, assim no
mesmo coração não podem caber dois amores, porque o amor que não é intenso não é amor.
Ora, grande coisa deve de ser o amor, pois, sendo assim, que não bastam a encher um
coração mil mundos, não cabem em um coração dois amores. Daqui vem que, se acaso se
encontram e pleiteiam sobre o lugar, sempre fica a vitória pelo melhor objeto. É o amor entre os
afetos como a luz entre as qualidades. Comumente se diz que o maior contrário da luz são as
trevas, e não é assim. O maior contrário de uma luz é outra luz maior. As estrelas no meio das
trevas luzem e resplandecem mais, mas em aparecendo o sol, que é luz maior, desaparecem
as estrelas. Em aparecendo o maior e melhor objeto, logo se desamou o menor.”
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12. RESUMO DO SERMÃO DO BOM LADRÃO
O SERMÃO DO BOM LADRÃO foi escrito em 1655, pelo Padre Antônio Vieira. Ele proferiu
este sermão na Igreja da Misericórdia de Lisboa (Conceição Velha), perante D. João IV e sua
corte. Lá também estavam os maiores dignitários do reino, juízes, ministros e conselheiros.
Observa-se que em num lance profético que mostra o seu profundo entendimento sobre os
problemas do Brasil – ele ataca e critica aqueles que se valiam da máquina pública para
enriquecer ilicitamente. Denuncia escândalos no governo, riquezas ilícitas, venalidades de
gestões fraudulentas e, indignado, a desproporcionalidade das punições, com a exceção óbvia
dos mandatários do século 17.
Vieira usou o púlpito como arauto das aspirações públicas, à guisa de uma imprensa ou de
uma tribuna política. Embora estivesse na Igreja da Misericórdia, disse ser a Capela Real e não
aquela Igreja o local que mais se ajustava a seu discurso, porque iria falar de assuntos
pertinentes à sua Majestade e não à piedade.
O padre adverte aos reis quanto ao pecado da corrupção passiva/ativa, pela cumplicidade do
silêncio permissivo. O sermão apresenta uma visão crítica sobre o comportamento imoral da
nobreza, da época.
Fragmento 1
“Levarem os reis consigo ao paraíso os ladrões, não só não é companhia indecente, mas
ação tão gloriosa e verdadeiramente real, que com ela coroou e provou o mesmo Cristo
a verdade do seu reinado, tanto que admitiu na cruz o título de rei. Mas o que vemos
praticar em todos os reinos do mundo é, em vez de os reis levaram consigo os ladrões
ao paraíso, os ladrões são os que levam consigo os reis ao inferno”.
Esta pequena introdução serviu para que Vieira manejasse os seus dardos contra aquele
auditório repleto pela nobreza. E continuou enfático:
Fragmento 2
“A salvação não pode entrar sem se perdoar o pecado, e o pecado não se perdoa sem se
restituir o roubado: Non dimittitur peccatum nisi restituatur ablatum.
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pequenos, e comprova essa afirmação narrando de uma passagem histórica com
Alexandre Magno:
Fragmento 3
Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo mar Eritreu a conquistar a Índia; e
como fosse trazido à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os
pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício: porém ele, que
não era medroso nem lerdo, respondeu assim: Basta, senhor, que eu, porque roubo em
uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? Assim é.
O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os
piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as
qualidades e interpretar as significações, a uns e outros definiu com o mesmo nome:
Eodem loco ponem latronem, et piratam quo regem animum latronis et piratae habentem.
Se o rei de Macedônia, ou de qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão,
o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.
Quando li isto em Sêneca não me admirei tanto de que um estóico se atrevesse uma tal
sentença em Roma, reinando nela Nero. O que mais me admirou e quase envergonhou,
foi que os nosso oradores evangélicos em tempo de príncipes católicos e timoratos, ou
para a emenda, ou para a cautela, não preguem a mesma doutrina.
Fragmento 4
“O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas
levam, de que eu trato, são outros ladrões de maior calibre e de mais alta esfera; os
quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento distingue muito bem São
Basílio Magno. Não só são ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os
que se vão banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente
merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões ou o
governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com mancha, já
com forças roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem
temor nem perigo: os outros se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam.
Diógenes que tudo via com mais aguda vista que os outros homens viu que uma grande
tropa de varas e ministros da justiça levava a enforcar uns ladrões e começou a bradar:
lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos... Quantas vezes se viu em Roma a
enforcar o ladrão por ter roubado um carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo, um
cônsul, ou ditador por ter roubado uma província?... De Seronato disse com discreta
contraposição Sidônio Apolinário: Nom cessat simul furta, vel punire, vel facere.
Seronato está sempre ocupado em duas coisas: em castigar furtos, e em os fazer. Isto
não era zelo de justiça, senão inveja. Queria tirar os ladrões do mundo para roubar ele
só! Declarando assim por palavras não minhas, senão de muito bons autores, quão
honrados e autorizados sejam os ladrões de que falo, estes são os que disse, e digo
levam consigo os reis ao inferno”.
Fragmento 5
(...) aquele que tem obrigação de impedir que se furte, se o não impediu, fica obrigado a
restituir o que se furtou. E até os príncipes que por sua culpa deixaram crescer os
ladrões, são obrigados à restituição; porquanto as rendas com que os povos os servem
e assistem são como estipêndios instituídos e consignados por eles, para que os
príncipes os guardem e mantenham com justiça.
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Imprimindo uma faceta satírica e anedótica, Vieira comenta o seguinte episódio:
Fragmento 6
Escreveu Vieira:
Fragmento 7
“O que eu posso acrescentar pela experiência que tenho é que não só do Cabo da Boa
Esperança para lá, mas também da parte de aquém, se usa igualmente a mesma
conjugação. Conjugam por todos os modos o verbo rapio, não falando em outros novos
e esquisitos, que não conhecem Donato nem Despautério (a). Tanto que lá chegam
começam a furtar pelo modo indicativo, porque a primeira informação que pedem aos
práticos, é que lhes apontem e mostrem os caminhos por onde podem abarcar tudo.
Furtam pelo modo imperativo, porque, como têm o misto e mero império, todo ele
aplicam despoticamente às execuções da rapina. Furtam pelo modo mandativo, porque
aceitam quanto lhes mandam; e para que mandem todos, os que não mandam não são
aceitos. Furtam pelo modo optativo, porque desejam quanto lhes parece bem; e gabando
as coisas desejadas aos donos delas por cortesia, sem vontade as fazem suas. Furtam
pelo modo conjuntivo, porque ajuntam o seu pouco cabedal com o daqueles que
manejam muito; e basta só que ajuntem a sua graça, para serem, quando menos,
meeiros na ganância. Furtam pelo modo permissivo, porque permitem que outros
furtem, e estes compram as permissões. Furtam pelo modo infinito, porque não tem fim
o furtar com o fim do governo, e sempre lá deixam raízes, em que se vão continuando os
furtos. Estes mesmos modos conjugam por todas as pessoas; porque a primeira pessoa
do verbo é a sua, as segundas os seus criados e as terceiras quantas para isso têm
indústria e consciência. Furtam juntamente por todos os tempos, porque o presente (que
é o seu tempo) colhem quanto dá de si o triênio; e para incluírem no presente o pretérito
e o futuro, de pretérito desenterram crimes, de que vendem perdões e dívidas
esquecidas, de que as pagam inteiramente; e do futuro empenham as rendas, e
antecipam os contratos, com que tudo o caído e não caído lhes vem a cair nas mãos.
Finalmente nos mesmos tempos não lhes escapam os imperfeitos, perfeitos, plusquam
perfeitos, e quaisquer outros, porque furtam, furtavam, furtaram, furtariam e haveriam de
furtar mais, se mais houvesse. Em suma, o resumo de toda esta rapante conjugação vem
a ser o supino do mesmo verbo: a furtar, para furtar. E quando eles têm conjugado assim
toda a voz ativa, e as miseráveis províncias suportado toda a passiva, eles, como se
tiveram feito grandes serviços, tornam carregados e ricos: e elas ficam roubadas e
consumidas... Assim se tiram da Índia quinhentos mil cruzados, da Angola, duzentos, do
Brasil, trezentos, e até do pobre Maranhão, mais do que vale todo ele”.
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Fragmento 8
Onde encontrar, a não ser num Santo Ambrósio, num São Bernardino de Sena ou num
Savanarola, outra voz que terrivelmente assim bradasse perante el-rei conivente de
algum modo com as malversações de seus súditos, registrando o pregador, noutro
sermão, não se haver sem motivo observado que enquanto os magnetes atraem o ferro,
os magnatas atraem o ouro?
Rei dos reis e Senhor dos senhores, que morreste entre dois ladrões para pagar o furto
do primeiro ladrão; e o primeiro a quem prometeste o paraíso foi outro ladrão; para que
os ladrões e os reis se salvem, ensinai com vosso exemplo e inspirai com vossa graça a
todos os reis, que não elegendo, nem dissimulando, nem consentindo, nem aumentando
ladrões, de tal maneira impeçam os furtos futuros e façam restituir os passados, que em
lugar de os ladrões os levarem consigo, como levam, ao inferno, levem eles consigo os
ladrões ao paraíso, como vós fizestes hoje: Hodie mecum eris in paradiso”.
Neste sermão nos vemos diante de um diagnóstico que parece mesmo atemporal, desnudando
os desmandos e a mistura dos interesses públicos e privados que infestam a administração
pública brasileira desde o início da colonização, contexto em que os Sermões são escritos, até
os dias que correm. Note:
Fragmento
O ladrão que furta para comer, não vai, nem leva ao inferno; os que não só vão, mas
levam, de que eu trato, são outros ladrões, de maior calibre e de mais alta esfera. (...) os
ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis
encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração
das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. - Os
outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e reinos; os outros furtam
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debaixo do seu risco: estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são
enforcados: estes furtam e enforcam.
Grande lástima será naquele dia, senhores, ver como os ladrões levam consigo muitos
reis ao Inferno: e para esta sorte se troque em uns e outros, vejamos agora como os
mesmos reis, se quiserem, podem levar consigo os ladrões ao Paraíso. Parecerá a
alguém, pelo que fica dito, que será cousa muito dificultosa, e que se não pode
conseguir sem grandes despesas; mas eu vos afirmo e mostrarei brevemente que é
cousa muito fácil e que sem nenhuma despesa de sua fazenda, antes com muitos
aumentos dela, o podem fazer os reis. E de que modo? Com uma palavra; mas a palavra
de rei. Mandando que os mesmos ladrões, os quais não costumam restituir, restituam
efetivamente tudo o que roubaram.
Vieira foi um autor barroco e pode-se encontrar em suas obra as características desse
movimento, tais como o uso de contínuas antíteses, comparações, hipérboles etc. Seu texto é
essencialmente persuasivo e, enquanto tal, os jogos de palavras obedecem a uma finalidade
prática, isto é, a retórica em função de seu discurso crítico. Vieira colocou-se contra o uso da
palavra num sentido apenas lúdico, para provocar prazer estético.
Percebe-se que o autor preocupava-se com temas de caráter social e de dimensão política.
Neste sermão, ele aproxima e compara a figura de Alexandre Magno, grande conquistador do
mundo antigo, com a do pirata saqueador, evidenciando assim sua crítica aos valores morais e
sua visão ideológica.
Em seus sermões Vieira mostrava certa independência nas palavras, atitude completamente
contrária ao dogma fundamental da Companhia de Jesus, que era o da obediência cega às
ordens superiores. Ele trabalhava por conta própria, e pensava mesmo em introduzir reformas
na Companhia, coisa que os mais antigos viam com muito maus olhos. Daí resultou que seus
superiores lhe ordenassem positivamente que partisse para as missões do Maranhão.
"Se gostas de afetação e pompa de palavras e do estilo que chamam culto, não me leias.
Quando esse estilo florescia, nasceram as primeiras verduras do meu; mas valeu-me tanto
sempre a clareza, que só porque me entendiam comecei a ser ouvido. (...) Esse desventurado
estilo que hoje se usa, os que querem honrar chamam-lhe culto, os que o condenam chamam-
lhe escuro, mas ainda lhe fazem muita honra. O estilo culto não é escuro, é negro (...) e muito
cerrado. É possível que somos portugueses e havemos de ouvir um pregador em português e
não havemos de entender o que diz?!"
Padre Antônio Vieira, nesse trecho, faz uma crítica ao estilo barroco conhecido como
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a) conceptismo, por ser marcado pelo jogo de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio
lógico.
b) quevedismo, por utilizar-se de uma retórica aprimorada, a exemplo de seu principal cultor:
Quevedo.
c) antropocentrismo, caracterizado por mostrar o homem, culto e inteligente, como centro do
universo.
d) gongorismo, ao caracterizar-se por uma linguagem rebuscada, culta e extravagante.
e) teocentrismo, caracterizado por padres escritores que dominaram a literatura seiscentista.
2. (Ufrgs 2018) Leia o segmento abaixo, retirado do Sermão da Sexagésima, de Padre Antônio
Vieira, e assinale a alternativa que preenche corretamente a lacuna.
Supostas estas duas demonstrações; suposto que o fruto e efeitos da palavra de Deus, não
fica, nem por parte de Deus, nem por parte dos ouvintes, segue-se por consequência clara que
fica por parte do pregador. E assim é. Sabeis, cristãos, por que não faz fruto a palavra de
Deus? Por culpa dos pregadores. Sabeis, pregadores, por que não faz fruto a palavra de
Deus? Por culpa nossa. [...] Mas como em um pregador há tantas qualidades, e em uma
pregação tantas leis, e os pregadores podem ser culpados em todas, em qual consistirá esta
culpa? No pregador podem-se considerar cinco circunstâncias: __________.
Leia o excerto do “Sermão do bom ladrão”, de Antônio Vieira (1608-1697), para responder
à(s) questão(ões) a seguir.
Navegava Alexandre [Magno] em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar
a Índia; e como fosse trazido à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os
pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício; porém ele, que não
era medroso nem lerdo, respondeu assim: “Basta, Senhor, que eu, porque roubo em uma
barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador?”. Assim é. O roubar
pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar
com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades, e interpretar
as significações, a uns e outros, definiu com o mesmo nome: [...] Se o rei de Macedônia, ou
qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo
lugar, e merecem o mesmo nome.
Quando li isto em Sêneca, não me admirei tanto de que um filósofo estoico se
atrevesse a escrever uma tal sentença em Roma, reinando nela Nero; o que mais me admirou,
e quase envergonhou, foi que os nossos oradores evangélicos em tempo de príncipes
católicos, ou para a emenda, ou para a cautela, não preguem a mesma doutrina. Saibam estes
eloquentes mudos que mais ofendem os reis com o que calam que com o que disserem;
porque a confiança com que isto se diz é sinal que lhes não toca, e que se não podem ofender;
e a cautela com que se cala é argumento de que se ofenderão, porque lhes pode tocar. [...]
Suponho, finalmente, que os ladrões de que falo não são aqueles miseráveis, a quem a
pobreza e vileza de sua fortuna condenou a este gênero de vida, porque a mesma sua miséria
ou escusa ou alivia o seu pecado [...]. O ladrão que furta para comer não vai nem leva ao
Inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são os ladrões de maior calibre e de
mais alta esfera [...]. Não são só ladrões, diz o santo [São Basílio Magno], os que cortam
bolsas, ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa; os ladrões que mais
própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os
exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já
com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um
homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem
temor, nem perigo: os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam.
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(Essencial, 2011.)
Palavras “em fronteira com o seu contrário”, contudo, também foram empregadas por Vieira,
conforme se verifica na expressão destacada em:
a) “Navegava Alexandre [Magno] em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a
Índia” (1º parágrafo)
b) “O ladrão que furta para comer não vai nem leva ao Inferno: os que não só vão, mas levam,
de que eu trato, são os ladrões de maior calibre e de mais alta esfera” (3º parágrafo)
c) “Saibam estes eloquentes mudos que mais ofendem os reis com o que calam que com o
que disserem” (2º parágrafo)
d) “Quando li isto em Sêneca, não me admirei tanto de que um filósofo estoico se atrevesse a
escrever uma tal sentença em Roma, reinando nela Nero” (2º parágrafo)
e) “Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos” (3º parágrafo)
4. (Unesp 2018) Verifica-se o emprego de vírgula para indicar a elipse (supressão) do verbo
em:
a) “Basta, Senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em
uma armada, sois imperador?” (1º parágrafo)
b) “O ladrão que furta para comer não vai nem leva ao Inferno: os que não só vão, mas levam,
de que eu trato, são os ladrões de maior calibre e de mais alta esfera [...].” (3º parágrafo)
c) “O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os
piratas, o roubar com muito, os Alexandres.” (1º parágrafo)
d) “Se o rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o
pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.” (1º parágrafo)
e) “Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam
debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo: os outros, se furtam, são enforcados:
estes furtam e enforcam.” (3º parágrafo)
7. (Unesp 2018) No segundo parágrafo, Antônio Vieira torna explícito seu descontentamento
com
a) o filósofo Sêneca.
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b) os príncipes católicos.
c) o imperador Nero.
d) a doutrina estoica.
e) os oradores evangélicos.
8. (Ufpr 2017) Com base na leitura integral do “Sermão de Santo Antônio” aos peixes”, de
Antonio Vieira, assinale a alternativa correta.
a) O texto se estrutura através de uma rede de analogias em que os peixes são equiparados à
própria palavra de Deus.
b) A palavra de Deus é comparada ao sal da terra, mas nunca consegue fertilizá-la, porque
falta à terra a leveza dos peixes.
c) Depois de ser lançado ao mar pelos homens, Santo Antonio foi reconduzido à praia pelos
peixes, tornando-se exemplo da conduta cristã.
d) O sal da terra é a palavra de Cristo e, segundo a parábola citada no sermão, ele preferiu
pregar para os peixes a pregar para os homens.
e) A terra, mesmo infértil, poderia ser melhor cultivada, caso houvesse pregadores que
soubessem semear a boa palavra.
9. (Ufrgs 2017) Assinale a alternativa correta sobre o Sermão do bom sucesso das armas e
o Sermão de Santo Antônio, do padre Antônio Vieira.
a) No Sermão do bom sucesso das armas, o orador constrói argumentos para desqualificar o
interlocutor e, então, provar seu erro em proteger os holandeses.
b) No Sermão de Santo Antônio, o orador dirige-se aos peixes, a fim de destacar suas virtudes,
inexistentes nos homens.
c) No Sermão do bom sucesso das armas, o orador simula uma interpelação a Deus para
conclamar os maranhenses a lutarem contra os holandeses.
d) No Sermão de Santo Antônio, o orador, simulando dirigir-se aos peixes, repreende, entre
outras coisas, a tendência dos homens a se entredevorarem.
e) No Sermão do bom sucesso das armas, o orador simula a vitória dos holandeses, a fim de
destacar a necessidade de os brasileiros abandonarem seus pecados.
Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal
da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção;
mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício
de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou
porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam
a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, sendo verdadeira a
doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores
dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem
antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os
pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes,
em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal!
10. (Ufpr 2017) O texto trabalha fundamentalmente com duas metáforas: o sal e a terra, que
representam, respectivamente, os pregadores (aqueles que deveriam propagar a palavra de
Cristo) e os ouvintes (aqueles que deveriam ser convertidos). O tema central do texto é a
reflexão sobre as possíveis causas da ineficiência dos pregadores. Para tanto, o autor levanta
algumas hipóteses. Tendo isso em vista, considere as seguintes afirmativas:
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5. Os pregadores promovem a si mesmos na pregação ao invés de promover as palavras de
Cristo.
11. (Ufrgs 2016) Leia as seguintes afirmações sobre o Sermão de Santo Antônio aos peixes,
de Padre Antônio Vieira.
I. O Sermão apresenta a estratégia de se dirigir aos peixes, e não aos homens, estendendo o
alcance crítico à conduta dos colonos maranhenses.
II. O Sermão apresenta elogios aos grandes pregadores, através de passagens do Novo
Testamento.
III. A sardinha é eleita o símbolo do verdadeiro cristão, por ter sido o peixe multiplicado por
Jesus.
Leia o excerto do “Sermão de Santo Antônio aos peixes” de Antônio Vieira (1608-1697) para
responder à(s) quest(ões).
A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros.
Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos
outros, senão que os grandes comem os pequenos. [...] Santo Agostinho, que pregava aos
homens, para encarecer a fealdade deste escândalo mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego
aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é, quero que o vejais nos homens. Olhai,
peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos para os
matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só
os tapuias se comem uns aos outros, muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os
brancos. Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às
praças e cruzar as ruas: vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair
sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão de
comer, e como se hão de comer.
[...]
Diz Deus que comem os homens não só o seu povo, senão declaradamente a sua
plebe: Plebem meam, porque a plebe e os plebeus, que são os mais pequenos, os que menos
podem, e os que menos avultam na república, estes são os comidos. E não só diz que os
comem de qualquer modo, senão que os engolem e os devoram: Qui devorant. Porque os
grandes que têm o mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer
os pequenos um por um, poucos a poucos, senão que devoram e engolem os povos inteiros:
Qui devorant plebem meam. E de que modo se devoram e comem? Ut cibum panis: não como
os outros comeres, senão como pão. A diferença que há entre o pão e os outros comeres é
que, para a carne, há dias de carne, e para o peixe, dias de peixe, e para as frutas, diferentes
meses no ano; porém o pão é comer de todos os dias, que sempre e continuadamente se
come: e isto é o que padecem os pequenos. São o pão cotidiano dos grandes: e assim como
pão se come com tudo, assim com tudo, e em tudo são comidos os miseráveis pequenos, não
tendo, nem fazendo ofício em que os não carreguem, em que os não multem, em que os não
defraudem, em que os não comam, traguem e devorem: Qui devorant plebem meam, ut cibum
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panis. Parece-vos bem isto, peixes?
12. (Unifesp 2016) Em “Cuidais que só os tapuias se comem uns aos outros, muito maior
açougue é o de cá, muito mais se comem os brancos.” (1º parágrafo), os termos em destaque
foram empregados, respectivamente, em sentido
a) literal, figurado e figurado.
b) figurado, figurado e literal.
c) literal, literal e figurado.
d) figurado, literal e figurado.
e) literal, figurado e literal.
13. (Unifesp 2016) “Diz Deus que comem os homens não só o seu povo, senão
declaradamente a sua plebe” (2º parágrafo)
15. (Unifesp 2016) O primeiro parágrafo permite identificar o lugar em que o pregador profere
seu sermão, a saber,
a) o mar.
b) o sertão.
c) a floresta.
d) a aldeia.
e) a cidade.
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Gabarito:
Resposta da questão 1:
[D]
Resposta da questão 2:
[E]
Resposta da questão 3:
[C]
A referência a palavras “em fronteira com o seu contrário” sugere a presença de antítese, figura
de linguagem que consiste na exposição de ideias opostas. Como acontece em “eloquentes
mudos” na frase da opção [C].
Resposta da questão 4:
[C]
No último segmento da frase, “O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar
com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres.”, a vírgula assinala a
elipse do termo verbal “faz”: o roubar com muito faz os Alexandres. Assim, é correta a opção
[C].
Resposta da questão 5:
[A]
Resposta da questão 6:
[B]
Segundo Vieira, o pirata tinha características e qualidades (“não era medroso nem lerdo”) que
justificavam a resposta ousada com que rebateu a admoestação do imperador Alexandre.
Assim, é correta a opção [B].
Resposta da questão 7:
[E]
No segundo parágrafo, Vieira critica o silêncio dos oradores evangélicos (“eloquentes mudos”)
que, ao contrário de Sêneca que denunciava crimes praticados tanto por piratas como por
imperadores, se abstêm de falar sobre os dos reis católicos. Assim, é correta a opção [E].
Resposta da questão 8:
[E]
Padre Antonio Vieira, em Sermão de Santo Antônio aos peixes, dirige-se alegoricamente aos
peixes, pretendendo atingir os homens, a respeito da ganância e da corrupção. Na Introdução,
ao afirmar aos pregadores “Vós sois o sal da Terra”, indica a necessidade do papel dos
pregadores para a correção da sociedade.
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Resposta da questão 9:
[D]
[A] Incorreta. Em Sermão do bom sucesso das armas, o orador não pretende proteger os
holandeses; ao contrário: critica a falta de ação de Deus a respeito da invasão ocorrida no
nordeste brasileiro.
[B] Incorreta. Em Sermão de Santo Antônio, o interlocutor são os peixes; porém, tanto os
peixes quanto os homens apresentam defeitos e virtudes.
[C] Incorreta. Em Sermão do bom sucesso das armas, o orador interpela Deus para que Ele
impeça o avanço holandês contra os católicos.
[D] Correta. Em Sermão de Santo Antônio, um dos comportamentos criticados por Vieira é o
combate dos homens contra eles mesmos, assim como os peixes se entredevoram.
[E] Incorreta. Em Sermão do bom sucesso das armas, o orador simula o ataque dos
holandeses, profanando e violentando todos os pilares defendidos pelos valores católicos.
Todas as hipóteses foram levantadas por Padre Antônio Vieira, como indicam os trechos a
seguir:
[1] Verdadeiro, como se verifica em: “Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não
pregam a verdadeira doutrina (...)”.
[2] Verdadeiro, como se verifica em: “ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes,
sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber”.
[3] Verdadeiro, como se verifica em: “os pregadores dizem uma cousa e fazem outra”.
[4] Verdadeiro, como se verifica em: “os ouvintes querem antes imitar o que eles [pregadores]
fazem, que fazer o que dizem”.
[5] Verdadeiro, como se verifica em: “os pregadores se pregam a si e não a Cristo”.
A única afirmação correta é a [I]. O Sermão, ao contrário do que afirma a proposição [II], é uma
advertência aos pregadores vaidosos, que não pregam a verdadeira doutrina e dizem fazer
uma coisa e fazem outra, e à prepotência dos grandes. Ademais, diferentemente do que é
declarado na proposição [III], a sardinha é eleita como símbolo dos pobres, dos pequenos, que
devem ser o alvo da atenção de todos.
Na primeira ocorrência, o termo verbal “comem” foi usado em seu sentido literal, aludindo aos
rituais antropofágicos dos “tapuias”. Já na segunda ocorrência, o verbo “comer” é usado de
forma figurada, no sentido de obter proveito, explorar. Como “açougue” adquire, no contexto, o
significado de carnificina ou matança, é correta a opção [A].
Em vários excertos do Sermão de Santo Antônio aos peixes, é evidente a critica de Vieira à
ganância excessiva dos poderosos, como no seguinte: “os grandes que têm o mando das
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cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um”.
Assim, é correta a opção [C].
Alguns excertos do primeiro parágrafo, “Para cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar”,
“vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas: vedes aquele subir e descer as calçadas”,
permitem deduzir que Vieira proferiu esse sermão em ambiente urbano, como se afirma em [E].
Na verdade, o “Sermão de Santo Antônio aos peixes” foi proferido em São Luís do Maranhão,
no ano de 1654, período no qual a colônia portuguesa tentava se impor e se expandir pelas
terras brasileiras.
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