Parasitologia Clínica - Apostila I-1
Parasitologia Clínica - Apostila I-1
Parasitologia Clínica - Apostila I-1
PARASITOLOGIA CLÍNICA
APOSTILA 1
GLOSSÁRIO
Agente Etiológico - É o agente causador ou responsável pela origem da doença. Pode ser um
vírus, bactéria, fungo, protozoário, helminto.
Antropozoonose - Doença primária de animais, que pode ser transmitida aos humanos.
Exemplo: brucelose, na qual o homem é um hospedeiro acidental.
Fase Aguda - É aquele período após a infecção em que os sintomas clínicos são mais marcantes
(febre alta etc.). É um período de definição: o indivíduo se cura, entra na fase crônica ou morre.
Fase Crônica - É a que se segue a fase aguda; caracteriza-se pela diminuição da sintomatologia
clínica e existe um equilíbrio relativo entre o hospedeiro e o agente infecci oso. O número dos
parasitos mantém uma certa constância. É importante dizer que este equilíbrio pode ser rompido
em favor de ambos os lados.
Fômite - É representado por utensílios que podem veicular o parasito entre hospedeiros. Por
exemplo: roupas, seringas, espéculos etc.
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APOSTILA 1
Fonte de Infecção - "É a pessoa, coisa ou substância da qual um agente infeccioso passa
diretamente a um hospedeiro. Essa fonte de infecção pode estar situada em qualquer ponto da
cadeia de transmissão. Exemplos: água contaminada (febre tifóide), mosquito infectante
(malária), carne com cisticercos (teníase)
Hábitat - É o ecossistema, local ou órgão onde determinada espécie ou população vive. Ex.: o
Ascaris lumbricoides tem por hábitat o intestino delgado humano.
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APOSTILA 1
Parasito Acidental - É o que parasita outro hospedeiro que não o seu normal. Exemplo:
Dipylidium caninum, parasitando criança.
Parasito Facultativo - É o que pode viver parasitando, ou não, um hospedeiro (nesse último
caso, isto é, quando não está parasitando, é chamado vida livre).
Parasito Monoxênico - É o que possui apenas o hospedeiro definitivo para completar o ciclo de
vida. Exemplos: Enterobius vermicularis ou Ascaris lumbricoides.
Protozoários. São organismos unicelulares e eucarióticos, que podem ser de vida livre ou
parasitas.
Zooantroponose. Doença primária dos humanos, que pode ser transmitida aos animais. Ex.: a
esquistossomose no Brasil. O humano é o principal hospedeiro.
Zoonose. Doenças e infecções que são naturalmente transmitidas entre animais vertebrados e
os humanos. Atualmente, são conhecidas cerca de 100 zoonoses. Ex.: doença de Chagas,
toxoplasmose, raiva, brucelose (ver Anfixenose, Antroponose e Antropozoonose).
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APOSTILA 1
CONSIDERAÇÕES GERAIS
Para entender melhor o parasitismo é necessário o conhecimento das diferentes formas de
associação entre os seres vivos.
- Foresia: Do grego phoresis (que indica ação de levar), é a denominação que se dá à associação
onde uma das espécies fornece a outro suporte, abrigo e transporte. Ex: A relação entre o
mosquito e o vírus da dengue. O vírus utiliza o mosquito para o transporte, mas não o prejudica,
sendo uma relação neutra para o mosquito e positiva para o vírus da dengue.
- Mutualismo: É quando duas espécies se associam para viver, e ambas são beneficiadas. É uma
associação obrigatória. Ex: O caranguejo-eremita, diferentemente dos demais caranguejos,
não possui uma carapaça rígida na região de seu delicado abdome. Para se proteger, ocupa
conchas abandonas por caramujos que, comumente, estão fixadas as anêmonas-do-mar.
Abrigando-se nas conchas, os caranguejos protegem-se contra predadores, graças aos
tentáculos dotados de células urticantes das anêmonas, que podem queimá-los. As anêmonas,
por sua vez, são compensadas pela mobilidade do caranguejo e também se aproveitam dos
restos de alimento dele.
- Simbiose: É quando duas espécies se associam de tal forma que esses seres são incapazes de
viver isoladamente. As espécies realizam funções complementares, indispensáveis à vida de
cada um (simbiontes). Ex: Algumas bactérias que vivem no interior de protozoários de vida livre.
Os protozoários fornecem abrigo e fontes alimentares para as bactérias, que por sua vez,
sintetizam substâncias (complexo B etc.) necessárias ao protozoário.
Tipos de parasitos
Ectoparasitos
Podem obter o oxigênio diretamente do meio exterior, como o faz a Tunga penetrans
(bicho-de-pé), que parasita a pele do porco ou do homem e o “berne” que também é parasito da
pele, e mantém seus orifícios espiraculares voltados para fora, a fim de respirar.
Endoparasitos
São parasitos das cavidades naturais ou tecidos e dependem totalmente de seus
hospedeiros como fonte nutritiva (Enteroparasitos e Hemoparasitos).
Parasitos facultativos
Parasitismo ocasional ou acidental, como por exemplo o caso da Naegleria fowleri, ameba
de vida livre encontrada em algumas coleções de águas naturais, que eventualmente contaminam
a mucosa nasal de banhistas, invadindo o sistema nervoso através dos nervos oftálmicos.
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AÇÃO DOS PARASITOS SOBRE O HOSPEDEIRO
Nem sempre a presença de um parasito em um hospedeiro indica que está havendo ação
patogênica do mesmo. Entretanto, essa ausência de patogenicidade é rara, de curta duração e,
muitas vezes, depende da fase evolutiva do parasito. Em geral, os distúrbios que ocorrem são
pequenos, pois há uma tendência de haver um equilíbrio entre a ação do parasito e a capacidade
de resistência do hospedeiro.
"A doença parasitária é um acidente que ocorre em consequência de um desequilíbrio
entre hospedeiro e o parasito." "O grau de intensidade da doença parasitária depende de vários
fatores, dentre os quais salientam: o número de formas infectantes presentes, a virulência da
cepa, a idade e o estado nutricional do hospedeiro, os órgãos atingidos, a associação de um
parasito com outras espécies e o grau da resposta imune ou inflamatória desencadeada." Em
verdade, a morte do hospedeiro representa também a morte do parasito, o que, para este, não é
bom. Dessa forma, vê-se que a ação patogênica dos parasitos é muito variável, podendo ser
assim apresentada:
Ação Tóxica: Algumas espécies produzem enzimas ou metabólitos que podem lesar o
hospedeiro, como por exemplo as reações alérgicas provocadas pelos metabólitos do Ascaris
lumbricoides (Causador da Ascaridíase, também chamada de lombriga) e as reações teciduais
(intestino, fígado, pulmões) produzidas pelas secreções no miracídio dentro do ovo do
Schitosoma mansoni.
Ação Mecânica: Algumas espécies podem impedir o fluxo de alimento, bile ou absorção
alimentar, normalmente devido a sua grande quantidade na região em questão, como a obstrução
de alças intestinais por helmintos ou lesões severas que diminuam a nutrição dos tecidos
intestinais.
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Ação Traumática: É provocada, principalmente, por formas larvárias de helmintos, embora
vermes adultos e protozoários também sejam capazes de fazê-lo.
Ação Irritativa: Deve-se a presença constante do parasito que, sem produzir lesões
traumáticas, irrita o local parasitado. Como exemplo, temos a ação das ventosas dos Cestoides
ou dos lábios dos A. lumbricoides na mucosa intestinal.
Habitat adequado: Uma vez feita a penetração, o parasito deve encontrar em todos os
seus estágios evolutivos, um habitat adequado, isto é, condições fisiológicas para o
desenvolvimento. Em certos casos é necessário, para a instalação do parasito, que ele possua
certos mecanismos protetores específicos. Os parasitos do tubo digestivo, por exemplo, devem
de algum modo impedir ou neutralizar a ação de enzimas digestivas do hospedeiro, para
manterem-se em situação adequada no seu tubo intestinal.
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APOSTILA 1
larvas do Ancylostoma braziliense, parasito de cães e gatos e a “Larva migrans visceral”, causada
pela ingestão do ovo de Toxocara canis, nematóide parasito de cães.
Dieta: É sabido que indivíduos mal nutridos apresentam deficiência no sistema imune.
Outro fator importante é que quando a capacidade do hospedeiro de suprir as deficiências do
parasito fica comprometida, a relação parasito-hospedeiro pode ficar profundamente alterada.
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DOENÇAS PARASITÁRIAS E SAÚDE
As parasitoses estão distribuídas mundialmente, contudo sua prevalência é maior em
países em desenvolvimento sendo vista como reflexo das condições de saneamento e educação
sanitária precárias ou deficientes. O saneamento básico precário, educação sanitária deficiente,
uso inadequado do solo bem como a contaminação desse e de alimentos e o aglomerado
populacional estão dentre os fatores de risco para a infecção parasitária.
As parasitoses possuem alguns de seus sinais e sintomas inespecíficos, visto que estes
dependem das características do parasita e estado do indivíduo e ambiente em que estão
inseridas, e apesar de afetarem crianças e adultos de ambos os sexos, sua prevalência é mais
visível em crianças do gênero masculino, devido a maior atividade em ambiente externo e o
contato mais direto com o solo graças as ruas e quadras esportivas sem pavimentação.
Em países cuja prevalência de parasitoses é alta, o impacto sobre a economia é
considerável, pois os indivíduos parasitados comumente apresentam comprometimento de suas
habilidades e consequentemente de suas funções. Visto assim, o nível sócio econômico é visto
como indicador de qualidade de vida de uma determinada região, podendo influenciar de forma
positiva ou negativa a recuperação dos que sofrem com essa moléstia.
No ser humano os parasitos mais frequentemente encontrado por parte dos protozoários
são a Entamoeba histolytica/dispar e Giardia lamblia, e dos helmintos Ascaris lumbricoides,
Trichuris trichiura, Necator americanos, Ancylostoma duodenale, Enterobius vermiculares e
Strongyloides stercoralis. A contaminação por parasitoses ocorre em sua maioria pela ingestão de
cistos de protozoários ou ovos de helmintos presentes no alimento, na água ou no ambiente
contaminado com resíduos de fezes humanos ou animais (estes podem servir como reservatórios
de infecção por enteroparasitoses).
O ambiente muitas vezes favorece a infecção parasitária, já que há parasitos os quais suas
formas parasitárias se desenvolvem no solo, como por exemplo os denominados de geo-
helmintos, normalmente comuns em humanos e animais (este último pode atuar como
transportado dos parasitos para o ambiente domiciliar), e são 7 pertencentes a esse grupo o
Ascaris lumbricoides, Strongyloides stercoralisi, Ancylostoma duodenales/ Necator americanus e
Trichuris trichiura.
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ASPECTOS GERAIS DOS PROTOZOÁRIOS
Os protozoários são seres eucariontes, ou seja, possuem núcleo celular organizado dentro
de uma cariotéca, sendo a maioria heterótrofos, embora alguns sejam autótrofos, produzem
clorofila e com ela fazem fotossíntese, e assim conseguem produzir seus próprios alimentos.
De acordo com a locomoção no meio
aquático, os protozoários são classificados como:
(A) Rizópodos, que se rastejam com movimento
ameboide, um tipo de locomoção no qual os
microrganismos vão mudando a forma do seu corpo
pela emissão de pseudópodes (do grego pseudo,
que significa falso, e podo, pé; portanto, “falsos pés”);
(D) Esporozoários, que não possuem organelas locomotoras nem vacúolos contráteis; esses
microrganismos parasitas se disseminam pelo ambiente através da produção de muitos
esporos,que são levados pela água e pelo ar, ou são levados através de animais vetores
(moscas, mosquitos, carrapatos etc.), que se contaminam com esses protozoários patogênicos,
ficam doentes e transmitem essas doenças para outros animais.
A maioria dos protozoários apresenta vida livre e aquática, podendo ser encontrada na
água doce, salobra ou água salgada, leva vida livre também em lugares úmidos, rastejando pelo
solo ou sobre matéria orgânica em decomposição. No entanto, algumas espécies levam vida
parasitária nos organismos de diversos hospedeiros e, assim, passam a maior parte da vida
parasitando diversas espécies de seres vivos, causando muitas doenças.
A reprodução dos protozoários geralmente é assexuada, acontecendo por divisão múltipla,
onde o microrganismo apenas se divide em cópias dele mesmo. Alguns produzem esporos para
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APOSTILA 1
se disseminar pelo ambiente; outros, às vezes, também apresentam reprodução sexual, havendo
nítida troca de material genético entre um microrganismo e outro
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de invadir o epitélio (B) causando a amebíase (C) extra intestinal podendo afetar outros órgãos
como fígado, pulmão e até o cérebro.
Durante a sua multiplicação alguns dos trofozoítas diminuem o seu tamanho formando o
pré-cisto e posteriormente sofrem o encistamento sendo liberados nas fezes para reiniciar o ciclo.
Dentre as formas evolutivas da Entamoeba histolytica, temos pré-cisto, cisto (estrutura de
resistência), metacisto e trofozoíta (forma patogênica e invasiva), ambas as formas de resistência
e invasivas podem ser liberados nas fezes dos portadores, entretanto os trofozoítas não resistem
muito tempo no meio ambiente e se ingeridos perecerão diante do ambiente gástrico, a infecção
inicia-se unicamente pela ingestão de cistos que podem estar presentes na água ou alimentos,
entretanto a maioria dos quadros é assintomáticos e os sintomáticos podem variar de leves, onde
estão presentes sintomas como dor abdominal, diarreias, cólicas e náuseas, esses costumam
durar uma a duas semanas e muitas vezes são inespecíficos podendo ser confundidos com o de
outras patologias, os casos mais graves da amebíase ocorrem devido à alta carga parasitária,
baixa imunidade ou desnutrição do indivíduo parasitado, em quadros mais extremos os
trofozoítas podem invadir os tecidos ocasionando a amebíase extra intestinal, cuja a gravidade é
maior, por pode afetar órgãos como fígado, cérebro e pulmão.
Giardia lamblia
Isolada primeiramente por Anton van Leeuwenhoek em 4 de novembro de 1681 e descrita
em 1859 a Giardia lamblia (homenagem aos biólogos franceses Alfred Mathieu Giard e Vilém
Dusan Lambl) é a responsável por causar a giardíase, doença considerada pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) como zoonose devido a contaminação de água de rios e reservatórios
por animais infectados.
A ingestão de cistos de Giardia lamblia ocasionam a Giardíase, parasitose cujo os
sintomas são similares à da Amebíase, como tal pode se apresentar de forma assintomática ou
sintomática, sendo a maioria dos portadores assintomáticos, sua fase aguda é caracterizada pela
diarreia aquosa, edema, dor abdominal, irritabilidade e má absorção (este último quando em
crianças pode ocasionar intolerância a lactose devido as lesões nas mucosas intestinais gerando
a perda de atividade enzimática), durando de quinze a sessenta dias se não tratada pode evoluir
para a cura espontânea ou se tornar crônica assintomática.
O ciclo biológico da Giardia lamblia, que se inicia com a ingestão dos cistos (forma de
resistência assim como o da E. histolytica) que após chegar ao estômago desencistam diante a
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APOSTILA 1
ação dos ácidos estomacais, dessa forma liberando os trofozoítos que iniciam sua replicação por
divisão binária e colonizam a região do duodeno, podendo atingir o jejuno, condutos biliares e
vesícula biliar, e posteriormente sofrem o encistamento sendo liberados nas fezes para o meio
externo, ambos cistos e trofozoítas podem ser encontrados nas fezes, porem apenas os cistos
sobrevivem as condições externas.
A giardíase assim como outras parasitoses ocasionam a má absorção de nutrientes, no
caso desta principalmente açucares, gorduras e vitaminas (A, D, E, K, B12), água e eletrólitos,
causando quadros de desidratação.
Diferentemente da Entamoeba histolytica a G. lamblia não possui a capacidade de invadir
a mucosa intestinal e sua forma cística sobrevive meses em águas de rios, lagos e demais, além
do mais elas resistem a ação dos desinfetantes químicos, sendo que alguns destes também são
usados para o tratamento de água.
A alta resistência dos cistos da Giardia lamblia no meio hídrico faz com que a prevalência
da giardíase se deva ao tratamento ineficiente da água, dessa forma a transmissão hídrica
assume considerável importância epidemiológica em países subdesenvolvidos e em
desenvolvimento indicando graves problemas de saúde pública.
Balantidium coli
Pertencente à família Balantidiidae, do gênero Balantidium, o Balantidium coli é tido como
único protozoário ciliado e o maior capaz de acometer de forma patológica o homem, é o
causador da chamada balantidíase e apesar desse se distribuído mundialmente a frequência de
infecções humanas é baixa, sendo mais frequentes em suínos e mais raramente caninos e
roedores.
O B. coli possui duas formas, trofozoítos ciliados e cistos que são a sua forma infectante,
os trofozoítos vivem no lúmen do intestino grosso podendo invadir a mucosa e outros tecidos, os
cistos são raros em fezes humanas e mais comuns na de porcos parasitados.
A contaminação pelo B. coli ocorre pela ingestão de água ou alimentos contaminados com
fezes de suínos parasitados, neste ele aparenta não ser patogênico, já em humanos ele vive na
luz do intestino grosso e apesar de normalmente se assintomático, caso haja lesões anteriores a
sua chegada esse pode se aproveitar invadindo assim o epitélio intestinal levando a qua dros
similares a da amebíase causada pela Entamoeba histolytica.
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Diferentemente da Giardíase e da Amebíase, a Balantidíase pode ocorre pela ingestão de
cistos ou trofozoítas (este último consegue atravessar o estomago sem ser destruído) de
Balantidium coli, assim de acordo com a figura 3 ao chegar no intestino grosso, mais
especialmente na região cecal e no sigmoide (lugar onde se alimenta de bactérias, fungos, outros
protozoários, grãos de amido, hemácias, células e outros detritos) o parasito inicia a sua
multiplicação por divisão binária e posteriormente inicia a formação dos novos cistos que também
são liberados nas fezes.
O B. coli vive normalmente na luz do intestino grosso de seu portador e a princípio não é
capaz de adentrar a mucosa intestina, contudo, este pode se aproveitar de lesões anteriores. Os
portadores da balantidíase podem ser assintomáticos, sintomáticos disentéricos ou crônicos com
surtos de diarreia, normalmente os indivíduos parasitados queixam-se de diarreia, meteorismo e
dores abdominais, acompanhadas de indisposição e fraqueza, podendo apresentar também
anorexia, náuseas, vômitos, cefaleia e febre. A sintomatologia é similar à da amebíase, em casos
mais graves pode ocorrer hemorragias intestinais, desidratação, febre e a morte.
Trichomonas vaginalis
A Triconomíase é a doença causada pelo Trichomonas vaginalis, estes são organismos
polimorfos, elipsoides, ovais ou esféricos. Não possuem forma cística, só a forma trofozoítica. Ele
costuma habitar o trato geniturinário do homem e da mulher, onde produz a infecção, não
sobrevivendo fora do sistema urogenital.
A divisão se dá por divisão binária longitudinal. O parasito é um organismo anaeróbico
facultativo, que cresce em pH entre 5 e 7,5 e em temperaturas entre 20 °C e 40 °C. A
tricomoníase é uma doença venérea, sendo transmitida através da relação sexual e pode
sobreviver por mais de uma semana no prepúcio do homem sadio, após a relação sexual com
mulher infectada. O homem é o vetor da doença.
O T. vaginalis tem-se destacado como um dos principais patógenos do trato urogenital
humano e está associada a sérias complicações de saúde. Publicações recentes mostraram que
T. vaginalis promove a transmissão do HIV e causa baixo peso, bem como nascimento
prematuro, predispõe mulheres à doença inflamatória pélvica atípica, câncer cervical e
infertilidade.
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Na mulher, o espectro clínico da tricomoníase varia de forma assintomática ao estado
agudo. O período de incubação varia de 3 a 20 dias. O T. vaginalis infecta, principalmente, o
epitélio do trato genital.
A tricomoníase provoca uma vaginite que se caracteriza por um corrimento vaginal fluido,
abundante, de cor amarelo-esverdeada, bolhoso, de odor fétido, e mais frequentemente no
período pós-menstrual. O processo inflamatório é acompanhado de prurido e irritação
vulvovaginal de intensidade variável e dores no baixo ventre. A mulher apresenta dor e
dificuldade para as relações sexuais, desconforto nos genitais externos, dor ao urinar e aumento
na frequência miccional. No homem, é comumente assintomática ou apresenta-se como uma
uretrite com fluxo leitoso ou purulento e uma leve sensação de prurido na uretra.
A tricomoníase é a IST não viral mais comum no mundo, com 170 milhões de casos novos
ocorrendo anualmente. O controle da tricomoníase é constituído das mesmas medidas
preventivas que são tomadas no combate a outras ISTs. Preconizam-se estratégias de prevenção
como: prática de sexo seguro, uso de preservativos, abstinência de contatos sexuais com
pessoas infectadas e limitação das complicações com uso de tratamento imediato e eficaz,
envolvendo os parceiros sexuais, mesmo assintomáticos.
Toxoplasma gondii
O Toxoplasma gondii é um esporozoário que infecta grande número de vertebrados de
sangue quente, inclusive o homem. O parasito invade as células do hospedeiro, onde se
multiplica. Nos adultos, causa infecção crônica assintomática, que pode atingir 15% a 60% ou
mais da população. Pode também gerar um quadro agudo febril com linfadenopatia.
Nas crianças, produz uma infecção subaguda com encefalopatia e coriorretinite que, nos casos
congênitos, é particularmente grave. Os imunodeprimidos com sorologia positiva desenvolvem
uma encefalite. É um parasito endocelular obrigatório, que invade de preferência as células do
sistema fagocítico mononuclear, os leucócitos e as células parenquimatosas. Endocitado, ele
permanece no vacúolo parasitóforo sem ser digerido e aí se multiplica por um processo de
brotamento interno ou endogenia.
O ciclo do parasito tem uma fase sexuada na mucosa intestinal dos hospedeiros definitivos
e outra assexuada nos hospedeiros intermediários. O ciclo de transmissão inclui gatos, onde
ocorre a fase sexuada dos toxoplasmas; oocistos por eles eliminados nas fezes podem
contaminar também outros animais, como roedores e gado, que se infectam. O consumo de
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APOSTILA 1
carne mal cozida de animais infectados também é outra via de infecção. As crianças infectam-se
brincando na areia poluída por fezes de gatos.
O período de incubação varia de uma semana a meses, a maioria dos casos de infecção
adquiridos na infância e idade adulta é assintomática. Alguns casos podem apresentar formas
subclínicas, com adenopatias e quadros febris. Pode durar semanas a até vários meses, de forma
irregular, com mal-estar, cefaleia, mialgia e anorexia.
A toxoplasmose congênita é a forma mais grave da doença, mulheres grávidas com
infecção crônica não contaminam seus filhos no útero, nem abortam por isso, mas, se contraírem
a infecção durante a gestação, o risco é grande, principalmente se for durante o primeiro
semestre, causando lesões disseminadas no sistema nervoso e na retina
Leishmania sp.
As leishmanioses acometem cerca de 1,5 milhão de pessoas por ano. Atualmente, 12
milhões de pessoas apresentam alguma forma da doença e 350 milhões estão expostas a ela em
todo o mundo. As previsões para o seu controle, mesmo em longo prazo, são pessimistas, existe
uma forma potencialmente mortal de leishmaniose - a leishmaniose visceral (LV), cuja incidência
tem aumentado consideravelmente no Brasil nos últimos anos.
Existem também formas cutâneas chamadas de leishmanioses tegumentares (LT); dessas,
algumas não têm gravidade, mas outras, embora não letais, podem causar extensas mutilações
de lábios, palato, nariz e orelhas. As leishmanioses são causadas por espécies diferentes de um
mesmo gênero - o gênero Leishmania. Todas as espécies de leishmanias são parasitos de
vertebrados, mas apresentam consideráveis diferenças entre si em vários aspectos. Algumas são
parasitas exclusivas de animais de sangue frio, outras, de homeotermos. Algumas leishmanias
não se adaptam ao homem, muitas o incluem entre seus hospedeiros.
A leishmaniose tegumentar americana (LTA) é caracterizada pelo surgimento de lesões na
pele (geralmente, úlceras profundas) únicas ou múltiplas, principalmente nas áreas expostas do
corpo. Esta forma é causada por várias espécies de Leishmania, sendo transmitida por uma
grande variedade de espécies de flebotomíneos. Algumas formas de LTA são bastante graves. É
o caso da espúndia ou úlcera de Bauru, causada pela L. braziliensis. A lesão inicial é discreta,
uma pequena pápula apenas, em geral em um dos membros. Nelas, os macrófagos estão
apinhados de leishmanias, com o tempo, linfócitos e plasmócitos vêm cercar a lesão tentando
controlá-la. Se não conseguirem, a lesão se expande e a epiderme espessada necrosa, abrindo
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uma úlcera em que as leishmanias começam a escassear. A úlcera não sara e pode produzir
metástases na mucosa nasal e oral, com eventual destruição da arquitetura do nariz e do palato,
não tratadas ou tratadas, mas não curadas, as lesões da face podem ser absolutamente
mutilantes e fétidas. O sofrimento dos pacientes é indescritível.
Outra forma grave da infecção é a forma visceral (LV), também presente no Velho Mundo,
particularmente na Índia sob o nome de Kalazar. No Brasil, a LV deve existir há séculos, mas
somente no século XX foi identificada entre nós. A LV é uma doença imunossupressora.
Manifesta-se por febre pouco elevada, diária e constante, marcado emagrecimento e grande
aumento do baço e fígado, é particularmente grave em crianças, caso em que quase sempre
evolui para a morte. No Brasil, a LV é causada pela Leishmania chagasi; no Velho Mundo, pela
Leishmania donovani.
As leishmanias são transmitidas entre animais silvestres ou de animais silvestres para o
homem por meio de mosquitos hematófagos Phlebotominae do gênero Lutzomyia. Os flebótomos
são pequenos mosquitos de aproximadamente 0,5 cm de comprimento, com pernas longas e
delgadas, e o corpo densamente piloso. Voam aos saltos e mantêm as asas eretas mesmo em
repouso, ao contrário de outros dípteros, o que facilita a sua identificação.
Apenas as fêmeas são hematófagas, os machos se alimentam dos sucos de flores e
plantas. Em cada região do Brasil, os flebótomos recebem um apelido: mosquito palha, asa dura,
asa branca, tatuquira, birigui etc. Seus ovos e larvas desenvolvem-se em áreas úmidas, ricas em
matéria orgânica em decomposição; daí a sua preferência por florestas e sombra, algumas
espécies se alimentam sobre várias espécies de vertebrados, inclusive o homem. Não existe
nenhuma que seja exclusivamente antropofílica, isto é, que se alimente apenas sobre o homem.
A rigor, as leishmanioses são zoonoses, isto é, doenças infecciosas propagadas entre
animais, das quais o homem não é um elo obrigatório, mas eventual. Dessa forma, as
leishmanioses têm um ciclo natural que não depende do homem, mas, ao se intrometer nesse
ciclo, o homem pode adquirir a moléstia. Por isso, a doença é particularmente frequente entre
trabalhadores e habitantes das florestas e mesmo entre invasores esporádicos das florestas,
como pescadores, turistas, soldados. É muito frequente, ainda, em agentes de desmatamento e
madeireiros, visto que, derrubada a floresta, os flebótomos, privados de seu repasto habitual
(animais silvestres que fugiram), vêm alimentar-se no homem.
A LV é causada pela Leishmania chagasi e transmitida ao homem por um mosquito de
hábitos domésticos, a L. longipalpis. Este se cria no peridomicílio do homem entre arbustos e
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APOSTILA 1
plantas domésticas. O mosquito se alimenta tão bem sobre o homem como sobre o cão
doméstico, enquanto as raposas são o reservatório silvestre da L. chagasi, cães são seu
reservatório próximo do homem.
Do cão, a leishmania pode passar facilmente ao homem, assim, a doença tem-se
expandido pelo país, visto que os elos de seu ciclo estão em toda parte: cão-mosquito-homem. A
LV é considerada uma parasitose reemergente, cujos exemplos clássicos são a ocorrência da
doença na área urbana de Araçatuba (SP) e São Luiz (MA). Outro grande problema com relação
às leishmanioses, tanto tegumentar quanto visceral, é o seu diagnóstico, o encontro de parasitos
em raspados das lesões de pele ou em punções da medula óssea confere diagnóstico de certeza,
mas nem sempre esses exames são conclusivos. Métodos complementares imunológicos e
moleculares, particularmente os métodos de amplificação gênica por PCR, vêm mostrando-se
cada vez mais úteis tanto no diagnóstico quanto na identificação das espécies de leishmanias.
Todavia, o sistema público de saúde não está capacitado para a utilização desses métodos, seja
pela falta de treino dos profissionais da saúde seja pela falta de reagentes e equipamentos.
Trypanossoma cruzi
A Doença de Chagas, ou tripanossomíase americana, é uma zoonose que afeta 16 a 18
milhões de pessoas na América Latina, onde mais de 100 milhões estão expostos ao risco da
infecção. O agente etiológico da doença de Chagas, o Trypanossoma cruzi, é um protozoário
flagelado, seu ciclo evolutivo inclui a passagem obrigatória por hospedeiros de várias classes de
mamíferos, inclusive o homem, e insetos hemípteros, hematófagos, comumente chamados
barbeiros, pertencentes à família Triatomidae.
Nos vertebrados, o T. cruzi circula no sangue e multiplica-se nos tecidos, nos barbeiros,
multiplica-se no tubo digestivo; as formas infectantes são eliminadas com suas fezes e urina. A
transmissão da infecção ocorre, principalmente, pela deposição de fezes do vetor sobre os
tecidos cutâneos e as mucosas do homem.
O processo de adaptação dos triatomíneos ao domicílio humano dependeu de dois fatores
que se complementaram: a necessidade alimentar do barbeiro e suas mutações genéticas ao
longo do tempo. Com o desmatamento e rareamento dos animais silvestres (suas fontes naturais
de alimentação), os triatomíneos passaram a alimentar-se dos animais domésticos e do homem,
adaptando-se ao peridomicílio e ao domicílio.
20
BIOMÉDICOS EM CONSTRUÇÃO
PARASITOLOGIA CLÍNICA
APOSTILA 1
Tudo indica que a presença do T. cruzi e de seus vetores neste continente ocorre desde
longa data, entretanto, a doença humana, pelo menos em sua forma endêmica, parece
relativamente recente. Ela passou a ocorrer nos ciclos da agricultura e da pecuária, períodos de
desmatamento intenso. Somente encontramos triatomíneos adaptados ao domicílio em áreas
desmatadas e em cerrados, não há adaptação em áreas de mata fechada, como na Amazônia,
embora ali existem dezenas de espécies de triatomíneos.
A distribuição geográfica da doença de Chagas endêmica ocorre em todas as áreas onde
há triatomíneos antropofílicos adaptados ao domicílio humano, do México ao sul da Argentina.
Para que a infecção chagásica ocorra em condições naturais é necessário, em primeiro lugar, que
haja o contato das pessoas suscetíveis com triatomíneos infectados com o T. cruzi, a transmissão
da infecção é feita pelas fezes e pela urina dos triatomíneos, que defecam imediatamente após
ou durante a picada, como o T. infestans, depositando as fezes no local da picada.
A infecção chagásica apresenta duas fases bem distintas: a fase aguda ou inicial,
assintomática ou com poucos sintomas (maioria), ou sintomática, com febre, adenomegalia,
hepatoesplenomegalia, conjuntivite unilateral (sinal de Romaña), miocardite e meningoencefalite.
Ela pode ser fatal em até 10% dos casos graves, a grande maioria com meningoencefalite, quase
sempre fatal nos menores de dois anos de idade, segundo observações do próprio Carlos
Chagas e de seus contemporâneos. Essa fase caracteriza-se pela presença do T. cruzi no exame
direto do sangue.
Aproximadamente dois meses após o início da fase aguda, o T. cruzi desaparece da
corrente sanguínea, podendo ser detectado somente por exames especiais (xenodiagnóstico,
hemocultura ou PCR). Após um período de latência de 10 a 15 anos, chamado de forma
indeterminada, os pacientes podem evoluir para 3 tipos principais da doença:
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BIOMÉDICOS EM CONSTRUÇÃO
PARASITOLOGIA CLÍNICA
APOSTILA 1
c. forma mista, com cardiopatia e “megas” simultaneamente. Cerca de 50% dos casos,
dependendo da área endêmica, permanecem na forma indeterminada, sem manifestações
cardíacas ou digestivas.
Plasmodium sp.
A malária sempre foi, desde a Antiguidade, um dos principais flagelos da humanidade.
Atualmente, pelo menos 300 milhões de pessoas contraem malária por ano em todo o mundo.
Destas, cerca de 1,5 milhão a 2 milhões morrem. Na África, quase 3 mil crianças morrem de
malária por dia.
A malária está presente, também, em mais de 90 países, embora com prevalência
diferente. Os mais comprometidos são a Índia, Brasil (cerca de 300 mil casos/ano), Afeganistão e
países asiáticos, inclusive a China. A malária é tipicamente uma doença do mundo
subdesenvolvido, também conhecida como maleita, impaludismo, paludismo e febre terçã ou
quartã, a malária apresenta sintomatologia típica, quase inconfundível. Manifesta-se por episódios
de calafrios seguidos de febre alta, que duram 3 a 4 horas. Esses episódios são, em geral,
acompanhados de profundo mal-estar, náuseas, cefaleias e dores articulares.
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BIOMÉDICOS EM CONSTRUÇÃO
PARASITOLOGIA CLÍNICA
APOSTILA 1
Passada a crise, o paciente pode retomar sua vida habitual, mas, depois de um ou dois
dias, o quadro calafrio/febre retorna e se repete por semanas até que o paciente, não tratado,
sare espontaneamente ou morra em meio a complicações renais, pulmonares e coma cerebral,
tratado a tempo, só excepcionalmente se morre de malária.
O intervalo entre os episódios, a gravidade da doença e o seu grau de mortalidade
dependem de muitos fatores, mas, principalmente, da espécie de parasito causador da malária.
Existe um espectro enorme de formas clínicas da malária, umas mais graves, outras mais
brandas e algumas até sem sintomas. Quando sintomática, a característica principal da maleita é
a sua notória intermitência.
A malária é causada por protozoários, que se multiplicam nos glóbulos vermelhos do
sangue do homem. As espécies causadoras da malária humana são quatro: P. falciparum, P.
malariae e P. ovale. O P. falciparum é responsável por uma forma muito grave de malária, outrora
chamada de terçã maligna. Das mortes anuais devidas à malária, mais de 95% são causadas
pelo P. falciparum. O P. vivax causa uma doença mais branda, a terçã benigna, que, no entanto,
tem o inconveniente de retornar após ter sido aparentemente curada e isso porque, nas células
do fígado do homem infectado, podem permanecer algumas formas em hibernação.
O ciclo da malária humana é homem-anofelino-homem, geralmente, é a fêmea que ataca,
porque precisa de sangue para garantir o amadurecimento e a postura dos ovos. Depois de picar
um indivíduo infectado, o parasita desenvolve parte do seu ciclo no mosquito e, quando alcança
as glândulas salivares do inseto, está pronto para ser transmitido para outra pessoa.
O plasmódio desenvolve um ciclo sexuado dentro do organismo do mosquito e um
assexuado no organismo humano, depois de 30 minutos da entrada na circulação sanguínea do
homem, alcança o fígado e vai se multiplicando dentro das células hepáticas até que elas
arrebentam. Então, espalham-se no sangue e invadem os glóbulos vermelhos, onde se
reproduzem a tal ponto que eles se rompem também. Neste momento se desenvolvem os
sintomas mais comuns, que são febre alta, calafrios intensos, que se alternam com ondas de
calor e sudorese abundante, dor de cabeça e no corpo, falta de apetite, pele amarelada e
cansaço. Dependendo do tipo de malária, esses sintomas se repetem a cada dois ou três dias.
O homem é o único hospedeiro, em natureza, das espécies de plasmódio, que são
transmitidas de homem para homem pela picada de mosquitos hematófagos (pernilongos,
carapanãs) que albergam as formas infectantes do plasmódio em suas glândulas salivares. A
ocorrência de malária está intimamente associada à presença e proliferação de mosquitos do
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BIOMÉDICOS EM CONSTRUÇÃO
PARASITOLOGIA CLÍNICA
APOSTILA 1
gênero Anopheles. São muitas as espécies de Anopheles, cada uma com suas preferências
evolutivas e alimentares, todas elas põem seus ovos em coleções d’água, mas alguns preferem
águas paradas, outras preferem águas limpas de fluxo lento, ou sujas ou de fluxo rápido, algumas
exigem muito calor, muitas gostam de temperaturas amenas.
As fêmeas alimentam-se sempre de sangue e podem ser permissivas ou exigentes quanto
ao fornecedor desse sangue, picando todo tipo de animal ou um tipo de animal apenas. Os
machos alimentam-se de fluidos de plantas e flores e, portanto, não transmite a malária.
Hymenolepis nana
Pertencente à família Hymenolepididae, a Hymenolepis nana também conhecida como
tênia anã é um parasito do intestino delgado de humanos, cuja doença é chamada de
himenolepíase, é uma espécie cosmopolita, podendo atingir tanto homens quanto primatas e
roedores (esse último pode ser parasitado ainda pela Hymenolepis diminuta).
Apesar de distribuída por todo o mundo, a H. nana é mais frequente em regiões de clima
temperado ou subtropical, sendo mais presentes nas crianças do que nos adultos. Além do mais
ela pode apresentar dois ciclos, um monoxênico ocorrendo completamente em hospedeiros
mamíferos (humanos ou roedores) e o heteroxênico, utilizando hospedeiros intermediários
(insetos).
O ser humano se infecta ao ingerir os ovos presentes nas fezes dos doentes ou insetos
portadores das larvas. A H. nana pode apresentar dois ciclos, um monoxênico ocorrendo
completamente em hospedeiros mamíferos (humanos ou roedores) e o heteroxênico, utilizando
hospedeiros intermediários (insetos).
A longevidade do helminto é bastante curta, sua viabilidade é entre 14 e18 dias, após esse
período morrem e são eliminadas pelas fezes, caso não ocorra reinfecção, o parasitismo se
encerra. O ser humano se infecta ao ingerir os ovos presentes nas fezes dos doentes ou insetos
portadores das larvas, e a transmissão inter-humana é decorrente de maus hábitos higiênicos,
promiscuidade e é considerada uma das doenças de mãos sujas.
As manifestações clínicas são raras, sendo a maioria dos infectados assintomáticos, e os
que apresentam sintomatologia é decorrente do número de parasitas e normalmente são em
crianças menores de 10 anos, que apresentam manifestações gastrintestinais, anorexia, perda de
peso, inquietação, prurido, insônia, dor abdominal, sendo raros os casos de sintomas nervosos.
Ascaris lumbricoides
Pertencente a Classe Nematoda, Ordem Ascaridida, Superfamíli a Ascaridoidea, Família
Ascarididae e Subfamília Ascaridinae o Ascaris lumbricoides conhecido popularmente como
“lombriga” é o causador da moléstia chamada de ascaridíase, cuja prevalência está relacionada
principalmente as baixas condições sócio econômicas. A literatura informa que o Ascaris suum,
também infectam o homem, porém o seu desenvolvimento limitado causando algumas alterações
pulmonares.
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BIOMÉDICOS EM CONSTRUÇÃO
PARASITOLOGIA CLÍNICA
APOSTILA 1
O parasito possui duas formas principais, ovos férteis e verme adulto. Sua prevalência é
alta podendo ser encontrada em todas as regiões do mundo e é endêmica em países tropicais e
subtropicais principalmente aqueles cujas condições sanitárias e econômicas sejam baixas. O
homem é a única fonte do parasito e a população infantil a mais gravemente afetada, pois o poder
espoliativo de nutrientes do parasito é grande podendo levar a problemas de desenvolvimento.
Seus ovos podem se manter viáveis até por um ano ou mais em condições favoráveis sendo
resistentes a algumas técnicas de tratamento de esgoto, fazendo com que eles possam ser
encontrados viáveis nos efluentes lançados nos rios, além do mais ele possui duas fazes de
infecção a pulmonar e intestinal.
Os portadores sintomáticos da ascaridíase podem queixar-se na fase pulmonar de tosse
produtiva, febre e síndrome de Lõfler e na fase intestinal (cuja sintomatologia dependera da
quantidade de larvas presentes) podem apresentar magreza, tristeza, fraqueza (decorrentes da
espoliação de nutrientes como proteínas, lipídios, vitaminas e carboidratos), enjoo, asma, diarreia,
convulsões, dores e aumento da região abdominal.
Em casos mais graves o parasito pode se enovelar no intestino delgado causando o dito
“abdome agudo” o que exige intervenção cirúrgica ou ainda causar lesões hepáticas com focos
hemorrágicos e necrose evoluindo para uma fibrose.
Strongyloides stercoralis
Encontrado primeiramente em 1876, presente em soldados franceses que retornaram da
Conchinchina (atualmenteo Vietnã), integrante do Filo Nematoda, Classe Sercenetea, Família
Strongyloididae o Strongyloides stercoralis está presente em todos os países principalmente nos
de clima quente, e é o responsável por causar a estrongiloidíase em humanos, é endêmica em
países tropicais, sua ocorrência depende do número de parasitos e estado imunológico do
indivíduo, contudo, aqueles que tenham a sua imunidade diminuída por doença ou quaisquer
outros fatores ele pode gerar consequências graves podendo levar a morte.
Sua patogenia apresenta três etapas, cutânea relacionado a penetração ativa da larva
infectante gerando uma dermatite, eritema e prurido, pulmonar onde pode-se apresentar tosse
com expectoração, febre baixa, edema, dispneia entre outros, e intestinal decorrente da presença
das fêmeas na mucosa duodenal o que pode gerar enterite catarral, edema, anemia, ulceração,
dor no hipocôndrio esquerdo e em quadros mais graves pode ocorrer a perda da capacidade de
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BIOMÉDICOS EM CONSTRUÇÃO
PARASITOLOGIA CLÍNICA
APOSTILA 1
absorção da parede intestinal com fibrose, perfuração e infecções podendo levar o paciente a
óbito.
Em pacientes soropositivos pode ocorrer a autoinfecção interna bem como pacientes que
tenham prisão de ventre, onde as larvas rabdtoides se tornam filarioides infectantes dentro do
intestino grosso agravando o quadro.
Enterobius vermiculares
Dentre as várias espécies pertencentes a Família Oxyuridae a única espécie que parasita o
homem é o Enterobius vermiculares que pertence ao Gênero Enterobius. Este possui duas
formas principais os ovos e larvas (macho e fêmea), sendo sua incidência alta em países de clima
temperado.
A infecção humana pode ocorrer de quatro formas diferentes, pela heteroinfeção, quando
os ovos infectantes presente na poeira, alimentos ou presentes nas mãos sujas infectam outro
hospedeiro, a autoinfecção externa, oral quando os ovos presentes na região anal são levados à
própria boca, autoinfeção externa, retal situação rara em que as larvas infectantes eclodem ainda
dentro do reto e depois migrariam até o ceco transformando-se me vermes adultos e por último a
autoinfecção externa, anal ou retro infecção situação em que as larvas eclodem na região
perianal, penetram pelo ânus e migram pelo reto até a região cecal, onde se transformam em
vermes adultos.
Os ovos podem ser encontrados na roupa de cama, pijamas e similares das pessoas
parasitadas, devido a isso vale ressaltar que a enterobíase é caracterizada como uma endemia
de caráter focal, assim não é incomum que integrantes de uma mesma casa apresentem esse
parasito quando apenas um membro é diagnosticado.
Na infecção pela ingestão dos ovos contendo a larva infectante atravessam o estômago e
chegam ao intestino delgado, local em que as larvas eclodem, e se dirigem para o ceco. Durante
o percurso sofrem duas mudanças e transformam-se em machos e fêmeas, que se fixam na
região cecal e iniciam a cópula e cerca de dois meses depois as fêmeas desprendem-se do ceco
e se dirigem para a região anal, local em que depositam os ovos.
Normalmente a enterobiose é assintomática, não sendo visto alterações na região cecal ou
anal. Em casos sintomáticos, o que é relatado é a presença de dor na região do ceco similar a
apendicite, náuseas e vômitos. Em quadros de infecção maciças pode ocorrer um desconforto
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BIOMÉDICOS EM CONSTRUÇÃO
PARASITOLOGIA CLÍNICA
APOSTILA 1
abdominal, sendo o sintoma patognomônico da enterobiose o plurido anal, causado pela
presença das fêmeas grávidas.
Ancilostomídeos
Na Família Ancylostomidae, há duas subfamílias com elevada importância, a
Ancylostomidae cujas espécies possuem dentes na cavidade bucal e a Bunostominae que
apresenta placas cortantes, respectivamente os helmintos que comumente parasitam o homem
são o Ancylostoma duodenale e o Necator americanus, popularmente conhecida como amarelão
ou apilação. O primeiro é predominante em países do Hemisfério Norte, enquanto que o segundo
principalmente na África tropical, nas Américas e ilhas do Pacífico, sendo o homem a única fonte
de infecção para a ancilostomíase, contudo no sudoeste da Ásia existe o A. ceylanicum, parasito
comum em cães e gatos podendo eventualmente acometer humanos.
Os ancislostomídeos apresentam uma morfologia similar, apresentando três formas
evolutivas, os vermes adultos, ovos e larvas (rabditoide e filarioide) esses dois últimos vivem na
mucosa do intestino delgado, normalmente no duodeno e as porções iniciais do jejuno, sendo a
longevidade do Necator cerca de 4 a 5 anos e a do Ancylostoma de 6 a 8 anos.
A infecção pode ocorrer de duas formas, pela penetração ativa das larvas filarióides na
pele ou na mucosa bucal (causando o ciclo pulmonar e intestinal) ou pela ingestão oral junto a
alimentos e água, assim desenvolvendo-se apenas ao nível intestinal, sem ocorrer o ciclo
pulmonar.
Assim como o T. trichiura e o A. lumbricoides os agentes causadores da ancilostomíase
necessitam de uma fase em solo, como mostrado na figura 7 os ovos são liberados nas fezes
contendo uma massa de células, que mais tarde em condições favoráveis irão formar a larva L1
dentro do ovo, posteriormente haverá a eclosão do mesmo liberando a L1 para o meio que irá
mutar para larva rabditoide (L2) e em seguida a larva filarióide infectante (L3).
Após esse ponto, a infecção humana pode ocorre por duas formas, a primeira a
penetração ativa da larva L3 através da pele ou mucosa, caindo na corrente sanguínea ou
linfática, então sendo levadas para o coração direito e de lá para os pulmões, passando de forma
ativa para os brônquios e bronquíolos, onde sofrem a terceira muda, tornando-se em L4 que
migram em direção a traqueia e laringe, chegando à faringe, neste ponto assim como outros
helmintos podem ser expelidos junto com a secreção mucoide ou deglutidas, assim chegando ao
intestino delgado ondem iniciam a hematofagia e cerca de duas semanas depois sofrem a quarta
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BIOMÉDICOS EM CONSTRUÇÃO
PARASITOLOGIA CLÍNICA
APOSTILA 1
transformação, tornando-se larvas de L5 já com as características de larvas adultas
posteriormente iniciando a cópula e a postura dos ovos.
Caso a infecção ocorra pela via oral, as larvas filarióides atravessam o estômago e se
dirigem para o duodeno, local em que sofrem a terceira mudança, tornando-se L4, estas
penetram a mucosa do intestino, e permanecendo por três a quatro dias no local, retornam à luz
intestinal e após períodos similares transforma-se em L5, dando sequência aos eventos já
descritos.
Ambos os parasitos realizam uma grande espoliação após se fixarem na parede do
intestino, principalmente de sangue, devido a isso são os parasitas mais associados com a
anemia ferroprivia, desnutrição, e problemas de desenvolvimento.
Trichuris trichiura
Pertencente a Ordem Trichurida¸ Família Trichuridae e Subfamília Trichurinae o Gênero
Trichuris recebeu esse nome por originalmente se acreditar que esse possuía a cauda em forma
de cabelo (tricho = cabelo e uris = cauda), contudo posteriormente observou-se que na verdade
ele possuía a cabeça em forma de cabelo dessa forma passou-se a denominar Trichocephalus
(tricho = cabelo e cephalus = cabeça), assim gerando uma confusão quanto ao seu nome, porém
de acordo com a lei da prioridade, o nome correto do gênero é Trichuris sendo a espécie que
atinge o homem a Trichuris trichiura.
Esse helminto apresenta três formas evolutivas, machos e fêmeas, ovos e larvas, sendo os
ovos a forma de infecção. Seu habitat é o intestino grosso humano, especialmente o ceco e o
colo ascendente, em casos de infecções massivas, podem ser achados no colo descendente, reto
e até no íleo. Vivem com a porção anterior mergulhada na mucosa, que é de onde retiram seus
nutrientes, representados por glicose e pelos produtos de digestão enzimática das células locais.
Machos e fêmeas vivem mergulhados na mucosa em posições próximas para permitir a
fecundação. As fêmeas liberam enorme quantidade de ovos: alguns cálculos dizem que a
ovoposição alcança o número de 7000 ovos por dia por fêmea.
Os ovos são eliminados nas fezes para o ambiente externo contendo apenas uma massa
de células, que estando em condições adequadas inicia a embriogênese, se se completa em
torno de 14 a 30 dias. Esses ovos contendo larvas denominadas de L1 permanecem infectantes
por até um ano ambiente (em laboratório são viáveis por até cinco anos), estes ovos podem ser
disseminados por moscas, poeira, etc.
31
BIOMÉDICOS EM CONSTRUÇÃO
PARASITOLOGIA CLÍNICA
APOSTILA 1
Como em muitas helmintoses, a trichuríase na maioria dos pacientes é assintomática,
podendo haver lesões mínimas e discretas, onde não se observa resposta inflamatória
significante além de ser restrita a região em que se encontra o parasito. Em paciente
sintomáticos, as manifestações clínicas corriqueiras podem ser discretas e indiferentes, mas
geralmente são diarreia, nervosismo, insônia emagrecimento, podendo agravar em quadros de
infecção massiva. Pode ser encontrado altas carga parasitárias em crianças e casos crônicos,
onde apresentam má nutrição, desidratação, anemia e retardamento do desenvolvimento
corporal.
Schistosoma mansoni
Helminto trematódeo causador da esquistossomose, popularmente conhecida no Brasil
como "Barriga d'água", "Xistose" ou "Bilharziose". A Esquistossomose é um indicativo sócio -
econômico importante, estando relacionada à pobreza. No Brasil, ocorre nas regiões Norte,
Nordeste, e no norte das regiões Sudeste e Sul. Há aproximadamente 150 milhões de infectados
por esquistossomatídeos no mundo, sendo 5 milhões só no Brasil.
O ciclo é do tipo heteroxênico. O ovo (1) do S. mansoni mede 150 micrômetros e é
eliminado nas fezes do homem, sendo a forma diagnóstica de esquistossomose encontrada no
Exame Parasitológico de Fezes. Eliminados e alcançando a água, os ovos eclodem originando
miracídios (2), que medem 0,15 mm, e vão parasitar o hospedeiro intermediário: um caramujo do
gênero Biomphalaria (3). No caramujo, o miracídio se desenvolve, dando origem a cercárias (4).
Um miracídio pode dar origem a 100.000 cercárias. Na água, as cercárias parasitam o homem,
penetrando-lhe a pele. Depois da penetração, as cercárias passam a se chamar
esquistossômulos. Esses ganham a circulação venosa, chegam ao pulmão, coração, artérias
mesentéricas e sistema porta.
A maturação sexual ocorre nesse local após cerca de 30 dias da penetração, originando
machos (5) e fêmeas (6) de 1 a 1.5 cm de comprimento. Há reprodução e ovipostura. Os ovos,
após passarem da submucosa para a luz intestinal, são eliminados nas fezes. O tempo entre a
penetração cutânea e o aparecimento dos ovos nas fezes é de 3 a 4 semanas.
Na fase aguda da infecção, ocorre a dermatite cercariana (inflamação aguda da pele no
local da penetração da cercária). Na fase crônica, ocorre embolia pulmonar; hepatite
granulomatosa (7) (infiltrado mononuclear, gigantócitos, eosinófilos) provocada pela presença dos
ovos; fibrose do sistema porta, com consequente ascite e hepatoesplenomegalia.
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BIOMÉDICOS EM CONSTRUÇÃO
PARASITOLOGIA CLÍNICA
APOSTILA 1
Provou-se que evitar banhos em locais onde possa existir o hospedeiro intermediário
(especialmente no crepúsculo), erradicar o caramujo hospedeiro, elaborar campanhas de
conscientização, investir em saneamento básico, destinar adequadamente as fezes, além de
tratar corretamente os doentes é suficiente para controlar tanto a proliferação como a cronificação
da doença.
MÉTODOS PARASITOLÓGICOS
DIAGNÓSTICO HEMATOLÓGICO
Diversas doenças parasitárias que apresentam formas ou estágios no sangue circulante
podem ser diagnosticadas com precisão por meio do exame de sangue. Assim, a malária, a
filariose brancroftiana, a babesiose e a doença de Chagas em sua fase aguda são diagnosticadas
parasitologicamente por esse exame. Em verdade, o exame parasitológico de sangue consiste
em se examinar ao microscópio uma gota de sangue do paciente colocada sobre uma lâmina. A
partir daí, conforme será mostrado em seguida, podemos realizar um dos seguintes
procedimentos: observar o parasito vivo ou observar o parasito fixado e corado, a partir de
"esfregaços delgados" ou "esfregaços espessos" (gota espessa).
Os métodos adotados para evidenciação do parasito devem ser executados imediatamente
após a colheita do sangue. Caso isso não possa ser feito, há possibilidade de colher o sangue em
vidros contendo anticoagulantes (heparina ou citrato) e então, quando for possível, executar os
métodos de exame indicados.
Coleta Do Sangue
Os locais mais usados são a polpa digital do anular esquerdo ou lóbulo da orelha, onde a
pele é fina e há boa irrigação sanguínea. Com algodão molhado em álcool iodado ou álcool puro,
limpa-se a superfície escolhida. Com um alfinete ou agulha de estilete, previamente esterilizada,
faz-se uma pequena picada na pele. Por compressão, sai pequena gota de sangue, a qual poderá
ser examinada por um dos processos a seguir. Um detalhe importante: ao se fazer a picada, o
dedo ou o lóbulo da orelha devem estar bem secos. Caso estejam molhados pelo desinfetante ou
pelo suor, haverá hemólise das hemácias.
MÉTODOS DE EXAME
Direto
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BIOMÉDICOS EM CONSTRUÇÃO
PARASITOLOGIA CLÍNICA
APOSTILA 1
A gota é coletada no centro de uma lâmina, coberta com lamínula e examinada
imediatamente após, pois a coagulação é rápida. Caso queira retardar a coagulação, pode
adicionar uma ou duas gotas de salina. Levando-se essa preparação ao microscópio, poderão ser
vistos os parasitos porventura existentes. Esse exame direto ou a fresco permite visualizar os
parasitos vivos, movimentando-se.
Em Esfregaços
Existem dois tipos fundamentais de esfregaços - o esfregaço em camada delgada e o
esfregaço em camada espessa. São conhecidos também, por gota estirada e gota espessa
respectivamente. Ambos são muito utilizados, sendo o primeiro mais usado para identificação da
forma e espécie de vário parasitos, pois, quando é bem feito, os mesmos aparecem nitidamente.
Já o segundo é mais utilizado em diagnóstico epidemiológico. É um método de enriquecimento,
isto é, a gota de sangue é disposta numa pequena área e então examinada, então os parasitos
presentes podem ser diagnosticados com muita economia de tempo, mas a sua identificação
específica é dificultada.
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BIOMÉDICOS EM CONSTRUÇÃO
PARASITOLOGIA CLÍNICA
APOSTILA 1
Entre seis e 36 horas (não ultrapassar esse período), corar pelo Giemsa (uma gota de
solução-estoque por mL de solução-tampão);
Deixar em repouso por 30 minutos;
Lavar e examinar. Caso o esfregaço tenha secado por mais de 36 horas, deve-se então
proceder assim: colocar a Iâmina com a gota espessa numa vasilha com água destilada;
Deixar em repouso por dez minutos, para desemoglobinizar;
Retirar a lâmina cuidadosamente;
Deixar secar por alguns minutos;
Fixar pelo álcool metílico (dois minutos) e corar pelo Giemsa (30 minutos).
DIAGNÓSTICO PARASITOLÓGICO
O exame parasitológico de fezes (EPF) tem como objetivo diagnosticar os parasitos
intestinais, por meio da pesquisa das diferentes formas parasitárias que são eliminadas nas
fezes. O exame macroscópico permite a verificação da consistência das fezes, do odor, da
presença de elementos anormais, como muco ou sangue, e de vermes adultos ou partes deles. O
exame microscópico permite a visualização dos ovos ou larvas de helmintos, cistos, trofozoítos ou
oocistos de protozoários. Pode ser quantitativo ou qualitativo.
Os métodos quantitativos são aqueles nos quais se faz a contagem dos ovos nas fezes,
permitindo, assim, avaliar a intensidade do parasitismo, costumam ser pouco utilizados, pois a
dose dos medicamentos antiparasitária não leva em conta a carga parasitária e sim o peso
corporal do paciente. Todavia os mais conhecidos são o Método de Stoll-Hausheer e o Método de
Kato-Katz, sendo o último mais empregado e, portanto, descrito mais adiante.
Os métodos qualitativos são os mais utilizados, demonstrando a presença das formas
parasitárias, sem, entretanto, quantificá-las. Muitas vezes o número de formas parasitárias
eliminadas com as fezes é pequeno, havendo necessidade de recorrer a processos de
enriquecimento para concentrá-las.
Os principais processos de enriquecimento são:
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BIOMÉDICOS EM CONSTRUÇÃO
PARASITOLOGIA CLÍNICA
APOSTILA 1
- Sedimentação por centrifugação: método de Blagg (também conhecido por método de MIFC),
método de Ritchie, Coprotest. Usados para a pesquisa de ovos e larvas de helmintos, cistos e
alguns oocistos de protozoários;
Escolha Do Método
As formas parasitárias variam quanto ao seu peso e sobrevida no meio exterior. Assim,
não existe um método capaz de diagnosticar, ao mesmo tempo, todas as formas parasitárias,
pois, enquanto alguns métodos são mais gerais, permitindo o diagnóstico de vários parasitos
intestinais, outros são métodos específicos, indicados para um parasito em especial. Entre os
métodos gerais, podemos citar o método de Hoffman, Pons e Janer e o os métodos de
centrifugação.
Na maioria dos pedidos de EPF, a suspeita clínica não é relatada, e o exame é feito por um
dos métodos gerais, acima citados. Quando é solicitada a pesquisa de um parasito que exige a
execução de um método específico, tanto este como o método geral devem ser executados.
Desta forma, o EPF ficará mais completo, pois será feita a pesquisa dos vários parasitos
intestinais e não apenas daquele solicitado. Tal conduta se justifica pelo fato de vários parasitos
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BIOMÉDICOS EM CONSTRUÇÃO
PARASITOLOGIA CLÍNICA
APOSTILA 1
intestinais determinarem sintomas semelhantes. Se for executado apenas o método específico,
outros parasitos intestinais porventura presentes, não serão diagnosticados. Um método será
mais ou menos utilizado na rotina do EPF, quando, além de permitir o diagnóstico de vários
parasitos intestinais, é também de fácil execução e pouco dispendioso.
Alguns autores preconizam a execução de vários métodos com cada amostra fecal, entre
eles um método geral, um específico para larvas de helmintos e outro específico para cistos de
protozoários. No entanto, na maioria das vezes, tal procedimento é inviável, seja por quantidade
insuficiente de fezes, ou pelo elevado número de exames a serem realizados por dia. A maior
interação entre o médico e o laboratório muito contribuiria para que o EPF fosse o mais exato
possível.
Apesar da automação ser uma realidade em vários setores de um laboratório de análises
clínicas, está ainda não chegou ao EPF, exigindo uma atenção individual a cada amostra. A fim
de obter mais qualidade no EFP, devemos sempre ter em mente que:
2. Um exame isolado, onde o resultado é negativo, não deve ser conclusivo, sendo recomendável
a sua repetição com outra amostra;
3. A produção de cistos, ovos ou larvas não é uniforme ao longo do dia ou do ciclo do parasito.
Coleta E Conservação Das Fezes
A coleta, armazenamento e conservação das fezes são de fundamental importância na
qualidade do EPF. E preciso orientar o paciente, dizendo-lhe que a evacuação deve ser feita em
recipiente limpo e seco e parte das fezes transferida para um frasco próprio, de boca larga, bem
fechado e identificado.
A identificação deve conter o nome do paciente, idade, data e, se possível, a hora da
coleta. No caso de fezes frescas (sem conservador) a remessa para o laboratório deve ser
imediata. As instruções sobre como coletar as fezes devem ser claras e passadas ao paciente por
escrito.
É importante verificar se o paciente as entendeu, pois é na coleta adequada da amostra
fecal que se inicia a qualidade do EPF. Quando solicitada pela clínica médica poderá ser feita a
coleta de amostras múltiplas. O mais recomendado é a coleta de três amostras em dias
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BIOMÉDICOS EM CONSTRUÇÃO
PARASITOLOGIA CLÍNICA
APOSTILA 1
alternados. Para isso o paciente recebe um frasco com o conservador, onde ele irá colocar, a
cada dia, uma porção de fezes, homogeneizando-as. Finda a coleta, o frasco é enviado ao
laboratório para a realização do EPF. Quando não há possibilidade de remeter as fezes frescas
rapidamente ao laboratório ou então examiná-las logo que cheguem, estas deverão ser mantidas
a baixas temperaturas (5" a 10" C), para evitar a putrefação, devendo ser examinadas o mais
rapidamente possível ou no máximo dois a três dias após a emissão.
As fezes poderão também ser mantidas em conservadores, permitindo que o exame seja
realizado semanas após a coleta. O ideal é que as fezes sejam colocadas no conservador logo
após a evacuação. Para tanto, o paciente deve receber, do laboratório, o frasco contendo o
conservador. Qualquer conservador deve ser usado na proporção de três partes deste para uma
parte de fezes, sendo estas bem homogeneizadas. Os mais empregados são: Formol 10%:
conserva por mais de um mês os ovos ou larvas de helmintos e os cistos e oocistos de
protozoários.
MIF: é a sigla de um conservador muito difundido, cujas iniciais significam Mertiolato (ou
mercurocromo), Iodo e Formo.
SAF: são as iniciais dos componentes de um fixador usado para conservar cistos e trofozoítos,
sendo útil para fezes formadas ou diarréicas. Por essa característica substituiu o fixador de
Schaudinn (bicloreto de mercúrio), que é extremamente tóxico, na coleta das fezes para a
execução do método da hematoxilina férrica, no diagnóstico de amebas e Giardia. Usa-se na
mesma proporção citada anteriormente.
Coloração De Lugol
Os cistos de protozoários e as larvas de helmintos necessitam ser corados para uma
correta identificação na microscopia.
OBS 1: Todos os parasitos encontrados no EPF deverão ser relatados, sejam eles patogênicos
ou não. Deverão ser citados a forma parasitária observada (ovo, larva, cisto, trofozoíto, oocisto,
verme adulto) e o nome científico do parasito, incluindo o gênero e espécie, sempre que possível.
Também deverá constar o (s) método (s) executado (s) e a consistência das fezes, tendo em vista
que os métodos rotineiramente empregados não permitem o encontro de trofozoítos de
protozoários em fezes diarréicas.
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BIOMÉDICOS EM CONSTRUÇÃO
PARASITOLOGIA CLÍNICA
APOSTILA 1
Exame Direto A Fresco
• Colocar duas a três gotas de salina a 0,85% em uma lâmina de microscópio;
• Tocar, com a ponta de um palito, em vários pontos das fezes, transferindo uma pequena
porção destas para a lâmina;
• Espalhar as fezes, fazendo um esfregaço e examinar com as objetivas de 10x e/ou 40x. A
espessura do esfregaço não deve impedir a passagem de luz;
• Para a identificação de cistos de protozoários e larvas de helmintos, corar a preparação
com lugol. O uso de lamínula é facultativo.
OBS 2: Esse método apresenta baixa sensibilidade, pois não utiliza um processo para a
concentração das formas parasitárias, a quantidade de fezes empregada é muito pequena e o
excesso de detritos pode mascarar as formas parasitárias. Estas serão detectadas quando
presentes em grande quantidade. Entretanto, este método pode ser útil para a pesquisa de
trofozoítos de protozoários em fezes diarreicas recém-emitidas (no máximo 30 minutos após). E
aconselhável examinar, no mínimo, três lâminas de cada amostra.
Estão corretas:
(A) todas.
(B) apenas I, II, IV e V.
(C) apenas I, II, e V.
(D) apenas II, III, e V.
(E) apenas I, III, IV e V.
2 - Qual das alternativas abaixo apresenta uma doença causada por protozoários?
(A) Ascaridíase.
(B) Amarelão.
(C) Amebíase.
(D) Ancilostomíase.
(E) Teníase.
3 - As parasitoses são doenças provocadas por parasitas e são muito comuns no Brasil.
As parasitoses mais comuns são provocadas pela ingestão de água e alimentos
contaminados. Uma medida profilática simples é o melhoramento do saneamento básico e
higiene pessoal. Sobre o parasito que elimina cistos nas fezes humanas, assinale a
alternativa correta.
(A) Taenia solium.
(B) Ascaris lumbricoides
(C) Schistosoma mansoni
(D) Entamoeba histolytica
(E) Necator americanus
11 - Existe uma frase popular usada em certas regiões relativa a lagos e açudes: “Se nadou
e depois coçou, é porque pegou”. Essa frase se refere à infecção por:
(A) Plasmodium vivax.
(B) Trypanossoma cruzi.
(C) Schistosoma mansoni.
(D) Taenia solium.
(E) Ancylostoma duodenalis.
20 - Qual dos seguintes parasitos NÃO pode ser pesquisado através do parasitológico de
fezes?
(A) Ascaris lumbricoides.
(B) Trichuris trichiura.
(C) Taenia solium
(D) Ancylostoma duodenale
(E) Trypanosoma cruzi.
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BIOMÉDICOS EM CONSTRUÇÃO
PARASITOLOGIA CLÍNICA
APOSTILA 1
GABARITO
1–B 13 – D
2–C 14 – A
3–D 15 – B
4–B 16 – C
5–A 17 – B
6–E 18 – C
7–B 19 – C
8–B 20 – E
9–E 21 – B
10 – B 22 – B
11 – C 23 – C
12 – C 24 – C
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BIOMÉDICOS EM CONSTRUÇÃO
PARASITOLOGIA CLÍNICA
APOSTILA 1
FACILITADOR – LUCAS A. FERREIRA (BIOMÉDICO)
Graduação em Biomedicina pelo Centro Universitário FIBRA (2016). É Sócio Fundador da Rede
Paraense de Parasitologia. Possui experiência na área de Análises Clínicas, com ênfase em
Parasitologia, Imunologia, Bioquímica e Hematologia. Na pesquisa desenvolve trabalhos nas
áreas de: Genética Humana, Parasitologia Ambiental e Parasitologia Veterinária. Atualmente é
colaborador externo do Laboratório de Biologia Celular e Helmintologia do Instituto de Ciências
Biológicas da UFPA. Docente do Sapiens Educacional, ministrando as disciplinas de
Biossegurança, Citologia/Histologia e Parasitologia para turmas de Técnico em Enfermagem e
Técnico de Laboratório. Docente no Instituto de Educação Integrada Albert Einstein, ministrando a
disciplina de Anatomia e Fisiologia Humana. Pós-Graduação concluída em Hematologia Clínica
com Ênfase em Citologia Hematológica pelo Centro Universitário FIBRA (2019). Mestrando do
Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários pela
Universidade Federal do Pará (PPG-BAIP/UFPA).
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