Avaliação Do Conhecimento Nutricional e Comportamento Alimentar Após Educação Alimentar e Nutricional em Adolescentes de Juiz de Fora - MG

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Avaliação do conhecimento nutricional e

comportamento alimentar após educação


alimentar e nutricional em adolescentes de Juiz de
Fora – MG

Maíra Macário de Assis *


Letícia Ferreira Penna *
Cibelle Matias Neves*
Ana Paula Carlos Cândido Mendes*
Renata Maria Souza Oliveira*
Michele Pereira Netto*

Resumo
A adolescência é um momento oportuno para realização de atividades de educação alimentar e nutri-
cional. O objetivo do estudo foi avaliar a efetividade das ações de educação alimentar e nutricional
realizadas com escolares, comparando o conhecimento nutricional e comportamento alimentar antes e
após a intervenção. O conhecimento nutricional foi medido por um questionário previamente elaborado
com questões relativas à nutrição; já para o comportamento alimentar avaliou-se os estágios de mudança
de comportamento alimentar. Estas avaliações foram realizadas antes e após atividades de educação
nutricional. Sobre o conhecimento nutricional, a pontuação média da primeira avaliação foi de 14,02±
3,36 pontos, enquanto a média da 2ª avaliação foi de 17,82 ± 2,55 pontos, demonstrando-se melhora sig-
nificativa (p<0,05). Com relação aos estágios de mudança de comportamento alimentar, também foram
demonstradas melhoras após a intervenção educativa. Desta forma, observa-se a eficácia de ações educa-
tivas alimentares e nutricionais voltadas para a melhoria do conhecimento e comportamento alimentar.
Palavras-chave: Educação Alimentar e Nutricional. Adolescente. Comportamento Alimentar. Alimentação.

1 Introdução de doenças crônicas não transmissíveis, podendo


o consumo de dietas de má qualidade retardar
Segundo a OMS, a adolescência compreende a potencialmente o crescimento e a maturação sexual
faixa etária de 10 a 19 anos. Trata-se de um período nesse grupo populacional (ENES & SLATER,
de transição entre infância e vida adulta, marcado 2010; URBANO et al., 2002).
por intensas modificações físicas, psicológicas e Dados da Pesquisa de Orçamento Familiar
sociais (PRIORE et al., 2010). No Brasil verifica-se (POF) 2008/2009, a prevalência de excesso de
um processo de transição alimentar e nutricional, peso no país é de 20,5% entre os adolescentes,
que vem ocorrendo de forma cada vez mais rápida, sendo 21,5% do sexo masculino e 19,4% do sexo
simultaneamente aos processos de transição feminino. A prevalência da obesidade, no mesmo
demográfica e epidemiológica. É caracterizado por grupo é de 4,9% entre os meninos e 4% entre as
mudanças no padrão da dieta e atividade física que meninas. Comparando os resultados desta pesquisa
vêm refletindo em transformações na composição com inquéritos anteriores, observa-se um aumento
corporal e estatura dos indivíduos (BRASIL, 2009). na prevalência do excesso de peso em ambos os
Entre os adolescentes, a alimentação inadequada sexos (BRASIL, 2010).
é caracterizada pelo consumo excessivo de açúcares A educação alimentar e nutricional surge como
simples e gorduras, associada à ingestão insuficiente uma ferramenta para conter o avanço das doenças
de frutas e hortaliças, contribuindo diretamente crônicas não transmissíveis que devido a uma má
para o ganho de peso e uma maior prevalência alimentação tornam os indivíduos mais suscetíveis

*  Universidade Federal de Juiz de Fora, Departamento de Nutrição - Juiz de Fora, MG.

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a doenças. Além de funcionar como estratégia de devolução do mesmo assinado pelos pais ou
ação, tem a função de socializar conhecimentos responsáveis. O projeto foi elaborado conforme
técnicos nivelando aqueles já existentes na Resolução 196/96, submetido e aprovado pelo
população (CAMOSSA et al., 2005). Comitê de Ética em Pesquisa HU/UFJF.
Através de atividades de educação alimentar e A escola foi selecionada por conveniência,
nutricional que abordem representações sobre o seguindo os critérios de localização geográfica;
comer e a comida, conhecimento, atitudes e valores presença de cantina; professores e gestores
da alimentação para a saúde, busca-se a autonomia interessados em participar do programa,
do sujeito. Uma maior consciência sobre seu papel disponibilizando espaço físico e horário em sua
com relação à própria saúde possibilita que o grade curricular para o desenvolvimento das
indivíduo possa melhorar seu hábito alimentar a atividades.
médio e longo prazo (MANÇO & COSTA, 2004). Inicialmente determinou-se o conhecimento
Assim, as intervenções voltadas para o nutricional dos alunos. Além disso, as condições
conhecimento em nutrição têm como objetivo socioeconômicas, estilo de vida, freqüência
não somente fornecer informações sobre alimentar, consumo de bebidas alcoólicas, uso de
recomendações nutricionais, mas sim promover cigarro e prática de atividade física foram avaliados
uma mudança de comportamento (VAN WELL, por meio de um questionário. Foi determinado o
1999; TORAL E SLATER, 2007). Por tratar-se estágio de mudança de comportamento alimentar
de uma etapa onde muito dos hábitos e estilo de quanto ao consumo de frutas e verduras através
vida são consolidados, a adolescência caracteriza- de algoritmo adaptado por TORAL et al.,
se como uma fase estratégica para a promoção de (2006), classificando-os em pré-contemplação,
hábitos alimentares (PRIORE et al., 2010; WHO, contemplação, decisão, ação e manutenção.
2003). Em um segundo momento foram desenvolvidas
O comportamento alimentar é influenciado atividades de educação nutricional durante o ano
por fatores como idade, sexo, etnia, escolaridade e letivo, com atividades dentro da sala de aula e
estado civil. Por meio do modelo transteórico é extraclasse. Tais atividades foram realizadas com
possível compreender em que estágio de mudança o alunos, professores, pais e funcionários da cantina
adolescente se encontra e assim auxiliar no melhor da escola visando sempre à saúde do adolescente.
método a utilizar para que a educação nutricional
Com os alunos as atividades foram voltadas para
seja eficaz (PROCHASKA et al, 1992; TORAL et
educação alimentar e nutricional com temáticas
al., 2007).
de interesse e incentivo a prática de hábitos
Para que o individuo avance de estágio, fazem-se
saudáveis de vida e atividade física. As atividades
necessárias estratégias que permitam a compreensão
foram aplicadas a cada turma separadamente para
de práticas alimentares inadequadas. A avaliação do
garantir a maior participação. Os temas escolhidos
consumo alimentar aliada ao modelo transteórico
para serem abordados bem como as atividades
possibilita a identificação de diferenças entre a
que abordaram cada tema, foram baseados no
percepção da própria dieta e o que realmente é
ingerido (OLIVEIRA et AL., 2006). diagnóstico inicial sobre conhecimentos de nutrição
Diante do apresentado, o presente estudo teve e nos resultados de interesses, obtidos nos grupos
como objetivo avaliar a efetividade das ações de focais. Foram utilizadas técnicas como debates,
educação alimentar e nutricional realizadas com dinâmicas e gincanas adequadas à faixa etária e ao
escolares, comparando o conhecimento nutricional tempo disponibilizado pela escola.
e comportamento alimentar antes e após a Diversos temas foram abordados durante os
intervenção. oito encontros realizados com os alunos, dentre
as atividades estão a apresentação da pirâmide
alimentar, explicações sobre o que é alimentação
2 Material e Métodos saudável, a importância do consumo de frutas,
Trata-se de um estudo de intervenção realizado legumes e verduras, informações sobre o consumo
com adolescentes matriculados no ensino moderado de óleos e gorduras, açúcares e doces e
fundamental I e II de uma escola da rede privada por fim os alunos foram convidados a levarem de
do município de Juiz de Fora - MG. casa para a escola um lanche saudável.
Todos os alunos dos 5º e 6º anos que O trabalho de educação nutricional também
manifestaram interesse em participar do trabalho foi realizado com os responsáveis pela cantina
receberam o Termo de Consentimento Livre e através de orientações práticas sobre os seguintes
Esclarecido e foram incluídos na amostra após temas: “Higienização de utensílios e de alimentos”,

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“Quantidade de óleo e sal das preparações”, média de idade foi de 10,6 ± 0,85 anos. A tabela 1
“Conservação dos alimentos” e “Opções de lanches mostra alguns dados sobre as características gerais
saudáveis”. da amostra. Os alunos faziam parte de quatro
Ao final de um ano de atividades educacionais turmas, 49,5% (46) eram do 5°ano e o restante do
os alunos passaram por uma nova avaliação 6° ano. A maioria dos alunos relatou não fazer uso
de conhecimento nutricional para que fossem de qualquer tipo de medicamento, todos relataram
identificadas as mudanças do comportamento
nunca terem fumado e apenas 1,1% já haviam
alimentar e conhecimento sobre alimentação.
consumido bebida alcoólica.
Os dados encontrados foram digitados no
software Excel e as análises estatísticas foram Grande parte dos adolescentes, respondeu
processadas no software SPSS, versão 15.0. praticar ou ter praticado algum tipo de atividade
física, contudo 26,9% deles passa 3 a 5 horas ou
mais na frente do computador, televisão e /ou
3 Resultados
videogame.
Participaram das atividades do projeto 93 alunos,
sendo 48 (51,6%) meninas e 45 (48,4%) meninos. A

Tabela 1
Caracterização das variáveis comportamentais de adolescentes de uma escola privada de Juiz de Fora, MG.

Variáveis N %
Uso de medicamentos
Sim 15 16,1
Não 73 78,5
Não respondeu 5 5,4
Prática de Atividade
Física
Sim 77 82,8
Não 10 10,8
Não respondeu 6 6,4
Tempo gasto
em frente à TV/
computador e/ou
videogame
Menos de 1 hora 22 23,7
1 a 2 horas 38 40,9
3 a 5 horas 17 18,3
5 horas ou mais 8 8,6
Não respondeu 8 8,6

Fonte — Os autores.

As características acerca dos hábitos alimentares Com relação às práticas alimentares o consumo
estão descritas na tabela 2. Dos adolescentes de alimentos integrais foi encontrado em 59,1%
avaliados destaca-se que 38,7% não têm horário para dos escolares, sendo os alimentos mais citados pão,
se alimentar, 37,6% costuma substituir a refeição arroz e biscoito. Já fizeram ou estão fazendo dieta
por lanches e 30,1% não costumam alimentar-se de atualmente 28,7%, sendo este mesmo percentual
três em três horas, 76,3% relataram modificar os verificado em adolescentes que usam adoçantes e
hábitos de consumo no final de semana e 95,3% alimentos “light” ou “diet”. Ressalta-se que a refeição
compram lanche na cantina. mais omitida foi a colação (39,5%) seguida do jantar
(23,3%) e desjejum (18,6%).

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Tabela 2
Descrição dos hábitos alimentares dos adolescentes avaliados em uma escola privada de Juiz de Fora, MG.

Variáveis N %
Refeições realizadas diariamente
Desjejum
Sim 70 81,4
Não 16 18,6
Colação
Sim 52 60,5
Não 34 39,5
Almoço
Sim 88 100
Não 0 0
Lanche
Sim 82 93,2
Não 6 6,8
Jantar
Sim 66 76,7
Não 20 23,3
Horário para as refeições
Sim 52 55,9
Não 36 38,7
Realiza refeições com intervalos de 3 horas
Sim 60 64,5
Não 28 30,1
Substituição das refeições principais por lanches nos dias da semana
Sim 35 37,6
Não 52 55,9
Não respondeu 6 6,5
Modificação do hábito alimentar no final de semana
Sim 71 76,3
Não 17 18,3
Não respondeu 5 5,4
Já fez ou está fazendo algum tipo de dieta
Sim 25 26,9
Não 62 66,6
Não respondeu 6 6,5
Consumo de adoçante ou algum tipo de alimento “light” ou “diet”?
Sim 25 26,9
Não 62 66,7
Não respondeu 6 6,5
Consumo de alimentos integrais
Sim 55 59,1
Não 30 32,3
Não respondeu 8 8,6
Realiza lanche na escola
Sim 81 87,1
Não 4 4,3
Não respondeu 8 8,6
Fonte — Os autores.

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Com relação à avaliação do conhecimento com pontuação mínima de 11 pontos, verificando-
nutricional, a prova foi dividida em dois blocos, se assim melhora significativa da pontuação com
sendo o bloco I relativo às questões sobre p<0,05.
alimentação saudável e o bloco II sobre o Com relação ao número de acertos do bloco I
conhecimento da pirâmide alimentar. O bloco I da prova, a média de acertos foi estatisticamente
pontuava 14 pontos, já o bloco II correspondeu maior na segunda avaliação, com média de acertos
a oito pontos. Dessa forma a escala de pontuação na avaliação I de 10,49 ± 1,98 e de 11,58 ± 1,35
poderia variar de 0 a 22 pontos. pontos na avaliação II.
Na primeira avaliação, responderam a A média de acertos da questão relativa à pirâmide
esse questionário 90 alunos, utilizando seus alimentar também apresentou diferença depois
conhecimentos prévios sobre nutrição e das aulas de educação nutricional, aumentando
alimentação. Com relação às perguntas do bloco a média de número de acertos de 3,53 ± 2,36
I apenas cinco (5,6%) responderam corretamente pontos para 6,24 ± 2,10 pontos, sendo a diferença
todas as questões. A pontuação média encontrada
estatisticamente significante (p<0,05).
na amostra total foi de 10,73 ± 1,98 pontos.
A tabela 3 apresenta a classificação dos
Quando estratificados por sexo a média de acertos
adolescentes em categorias de conhecimento
das meninas foi de 11,10 ± 1,82 pontos e dos
meninos de 10,34 ± 2,09 pontos. nutricional adquirido ou não após a intervenção,
A questão que abordava sobre quais alimentos estratificados por sexo. A categorização foi feita após
deve-se evitar comer no dia-a-dia foi a que subtração da pontuação obtida na avaliação II pela
teve maior percentual de acerto (97,8%). Em verificada na avaliação I, resultado negativo indicou
contrapartida, apenas 30% dos alunos acertaram diminuição, resultado igual a zero manutenção e
a pergunta sobre o número de refeições que um positivo aumento do conhecimento em nutrição.
indivíduo deve fazer por dia. Observa-se aumento do conhecimento na maior
Sobre as questões que tratavam sobre a pirâmide parte do grupo estudado.
alimentar, a maioria dos adolescentes 77,8%,
afirmaram já terem tido algum contato anterior Tabela 3
com a pirâmide, sendo a média encontrada de 3,63
± 2,31 acertos em oito pontos. Classificação dos adolescentes em categorias de conhecimento
O gráfico 1 mostra que o conhecimento prévio
sobre a pirâmide alimentar foi discretamente maior nutricional adquirido ou não durante uma intervenção de
entre as meninas. educação nutricional em uma escola privada, Juiz de Fora, MG.

Pontuação Total (%)


Gráfico 1 —
­­ Número de adolescentes estudados que conheciam
previamente a pirâmide alimentar separados por sexo. Diminuiu o conhecimento 11
Não houve alteração 6,7
Aumentou o conhecimento 82,3
TOTAL 100
Fonte — Os autores.

Com relação ao questionário de comportamento


alimentar, foram avaliados 21 adolescentes que
Fonte — Os autores.
responderam nos dois momentos ao questionário,
destes 14 (66,6%) eram meninas.
A tabela 4 apresenta a distribuição dos
Para a avaliação da aquisição de conhecimento, adolescentes nos dois momentos de avaliação, com
45 alunos foram avaliados, pois fizeram a avaliação relação ao estágio de mudança de comportamento
antes e após a intervenção nutricional. A pontuação no consumo de frutas e verduras.
média da primeira avaliação foi de 14,02± 3,36
pontos, com valor mínimo de seis pontos, enquanto
a média da 2ª avaliação foi de 17,82 ± 2,55 pontos,

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Tabela 4
Distribuição de adolescentes com relação a seu estágio de mudança de comportamento no consumo de frutas, legumes e verduras
comparando as duas avaliações, Juiz de Fora, MG.
Consumo de Frutas
1ª. Avaliação 2ª. Avaliação
Estágio de mudança N % N %
Pré-contemplação 1 5 0 0
Contemplação 0 0 5 23,8
Decisão 9 45 7 33,3
Ação 2 10 3 14,3
Manutenção 8 40 6 28,6
Total 20 100 21 100
Consumo de Verduras
Estágio de mudança N % N %
Pré-contemplação 3 15 1 5
Contemplação 2 10 1 5
Decisão/preparação 4 20 5 25
Ação 0 0 1 5
Manutenção 11 55 12 60
Total 20 100 20 100
Fonte — Os autores.

Verifica-se que 95% dos adolescentes Gráfico 2 —­ Distribuição percentual dos adolescentes nos estágios
encontravam-se em estágios de decisão/ação/ de mudança de comportamento com relação ao
manutenção com relação ao consumo de frutas na
1ª avaliação, já na segunda avaliação esse percentual consumo de frutas nas duas avaliações realizadas
diminuiu (76,2%). Observou-se migração de antes e depois de intervenção nutricional de uma
adolescentes que antes não reconheciam a
escola privada de Juiz de Fora, MG.
importância do consumo de frutas e que estavam
em pré-contemplação (5%), para estágios de
mudança mais avançados.
Quanto ao consumo de verduras, a maior
parte dos alunos nas duas avaliações, estava em
estágios de mudança mais avançados (decisão,
ação ou manutenção), sendo que na 1ª avaliação
encontrava-se em decisão/preparação/ação/
manutenção 75% dos adolescentes e na avaliação
2, 90%, o que indica melhora no comportamento.
Com relação à distribuição dos adolescentes
Fonte — Os autores.
comparando-se o estágio de mudança em que
estavam na 1ª avaliação e foram para a 2ª avaliação
temos uma diminuição de alunos em estágio iniciais
de mudança com relação ao consumo de verduras
(pré-contemplação e contemplação) e aumento
naqueles em que já se considera a mudança ou ela
já é efetiva (decisão, ação e manutenção). Quanto
ao consumo de frutas essa tendência não é tão
claramente observada (Gráficos 2 e 3).

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Gráfico 3 — Distribuição percentual dos adolescentes estágios de associada à independência dos jovens face à família e à
adesão a grupos de iguais (GAMBARDELLA, 1999;
mudança com relação ao consumo de verduras nas VIANA, 2008)
duas avaliações realizadas antes e depois de intervenção Como os hábitos alimentares têm seu início em fases
nutricional de uma escola privada de Juiz de Fora, MG. precoces, e estes mudam pouco ao longo da adolescência
até a idade adulta, é importante considerar os aspectos
relacionados e que ocasionam cada um desses hábitos
a fim de compreender e minimizar problemas futuros
(FARIA et al., 2010; VIANA et al., 2008).
Dessa forma, a adoção de atividades voltadas para a
educação alimentar e nutricional tornam-se estratégicas
nessa etapa da vida. CUNHA et al. (2013) em estudo com
559 adolescentes com idade média de 11 anos verificaram
que o incentivo a adoção de hábitos alimentares
saudáveis promoveram mudanças, entretanto não houve
uma redução no ganho de IMC. Porém, COSTA et al.
(2009) em estudo com crianças verificaram resultados
significativos quanto ao conhecimento de nutrição entre
Fonte — Os autores.
os alunos, mesmo em um período curto de intervenção
alimentar e nutricional. Segundo os autores, as atividades
de educação em longo prazo podem modificar não só o
conhecimento, mas também diminuir o excesso de peso
4 Discussão e consumo alimentar.
O rápido crescimento corporal e a necessidade de Em revisão sistemática, SILVEIRA et al., 2011
reserva para puberdade influenciam as necessidades fizeram um levantamento de ensaios controlados
nutricionais na adolescência. Assim, uma alimentação que visassem a prevenção da obesidade por meio de
apropriada é de grande importância para que o educação nutricional nas escolas. Foi verificado que oito
adolescente possa expressar, de forma adequada, dos nove estudos que avaliaram IMC não obtiveram
seu potencial genético em termos de crescimento e sucesso na redução deste. Entretanto observou-se
desenvolvimento (CHAVES, 2008). diminuição da prevalência de excesso de peso quando
Entretanto, estudos recentes têm revelado a intervenção teve duração entre um a três anos. Quatro
hábitos alimentares pouco saudáveis entre os jovens, estudos verificaram eficácia das intervenções na redução
principalmente entre aqueles de classes econômicas mais dos índices de obesidade nas populações analisadas,
favorecidas, que possuem maior acesso à informação. variando a Odds ratios de 0,61 a 0,69, com diminuição
Como características da dieta têm-se alto consumo de no risco entre 31 e 39%.
gorduras, açúcares e sódio e baixa ingestão de frutas e Com relação à mudança de comportamento,
legumes (TORAL et al., 2009). verificou-se que a aplicação do modelo transteórico para
A mídia televisiva, juntamente com a publicidade, conhecimentos dos estágios de mudança de consumo vêm
tem participação ativa e majoritária nas atividades como uma ferramenta útil para ampliar o conhecimento
comuns às crianças e adolescentes, dessa forma, os sobre os determinantes do comportamento e assim
meios de comunicação acabam por desempenhar permitir que ocorra transformação das informações
papel estruturador na construção e desconstrução de em mudanças reais nos hábitos alimentares (TORAL &
hábitos e práticas alimentares. Em geral, a maioria dos SLATER, 2007).
alimentos veiculados em propagandas de televisão é de No presente estudo foi observado, como esperado,
alta densidade energética favorecendo a má alimentação avanço no estágio de mudança de comportamento
entre os jovens (PONTES et al., 2009) alimentar avaliado através do modelo transteórico.
Atualmente, o comportamento social do adolescente Verificou-se aumento no percentual de indivíduos em
favorece a prática de hábitos e estilos de alimentação que estágios mais avançados de mudança após a intervenção,
podem ser nutricionalmente inadequados. Eles tendem com relação ao consumo de frutas, verduras e legumes,
a associar a comida a um conjunto de situações com o que indica sucesso nas ações de educação alimentar e
diferentes significados emocionais. Assim, os vegetais nutricional.
cozidos, saladas e alimentos por eles classificados como Em estudo transversal, TORAL et al.(2006) ,
saudáveis, são associados às refeições com os pais, a “ficar verificaram alta prevalência de indivíduos em estágios
em casa” e a maior autocontrole. Já a “junk food” estaria de pré-contemplação e contemplação com relação ao

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consumo de frutas, legumes e verduras, atentando-se pré-contemplação e contemplação, estágios mais
para a importância de intervenções que visem motivá- avançados mostram maior consumo de frutas e verduras
los, fornecendo informações básicas sobre hábitos e representam comportamentos diferentes em relação
alimentares saudáveis e os benefícios que o consumo aos estágios iniciais.
desse alimentos acarretam. Assim, verifica-se a importância das ações de
ANDERSON et al., (2004), após ações de educação alimentar e nutricional como forma de motivar
intervenção verificaram aumento, mesmo que modesto o individuo para uma alimentação saudável, aumentando
sobre o consumo de frutas e vegetais. CUNHA et al., não somente o seu conhecimento em nutrição, mas
(2013) também relataram que o incentivo de hábitos considerando a importância da tomada de consciência
alimentares saudáveis promoveu mudanças importantes do indivíduo e conseqüente modificação de estilo de
na dieta dos adolescentes. Dessa forma, observa-se que vida.
intervenções de educação nutricional têm se mostrado
efetivas para mudanças no consumo alimentar.
5 Conclusão
Ao avaliarem o comportamento e o consumo de
frutas e verduras entre adolescentes, TORAL et al. Diante dos dados apresentados observa-se que as
2006, não encontraram diferenças significativas entre ações educativas alimentares e nutricionais voltadas
estágios de mudanças e o sexo ou estado nutricional dos para a conscientização dos jovens com relação à prática
participantes. Porém foi observada associação entre os alimentares saudáveis fazem-se primordiais nessa faixa
estágios e o consumo de frutas e verduras. Observou- etária, sendo estas eficazes em ampliar o conhecimento
se que 79,7% e 83,7% dos adolescentes estavam nutricional dos adolescentes e promover mudanças
errados ao acreditar que possuíam consumo adequado importantes relacionadas ao comportamento alimentar
de frutas e verduras respectivamente. Sendo este um dos alunos.
obstáculo aos programas de educação nutricional, uma O melhor conhecimento de nutrição pode repercutir
vez que os adolescentes tornam-se desmotivados para de forma positiva na alimentação do individuo, fazendo-o
modificações dietéticas. Houve associação entre os repensar sua alimentação e assim capacitando-o a realizar
estágios de mudança de comportamento e o consumo escolhas mais saudáveis que poderão implicar em
de frutas e verduras. Evidenciou-se que quando práticas alimentares adequadas, melhorando seu estado
comparado consumo observado em indivíduos em nutricional e prevenindo doenças futuras.

Evaluation of nutrition knowledge and feeding behavior after food and nutrition education among adolescents
in Juiz de Fora – MG
Abstract
Adolescence is an ideal place for education activities and nutritional food moment. The aim of the study was to
evaluate the effectiveness of the actions of food and nutrition education conducted with schoolchildren, comparing
the nutrition knowledge and eating behavior after the intervention. Nutritional knowledge was measured by a
questionnaire developed with nutrition issues; already to their feeding behavior was evaluated stages of change
of feeding behavior. These evaluations were performed before and after nutrition education activities. On the
nutritional knowledge, the average score of the first assessment was 14.02 ± 3.36 points, while the average of the
2nd evaluation was 17.82 ± 2.55 points, demonstrating a significant improvement (p <0.05 ). Regarding the stages of
change eating behavior, improvements were also demonstrated after the educational intervention. Thus, we observe
the effectiveness focused on improving the knowledge and dietary behavior dietary and nutritional educational
activities.
Keywords: Food and Nutrition Education. Adolescent. Feeding Behavior. Feeding.

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