Iniciação Esportiva - Atletismo

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METODOLOGIA DO

ATLETISMO

Fernando Guilherme Priess


Iniciação esportiva
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar as possibilidades de iniciação esportiva e competitiva em


ambiente escolar e não escolar.
„„ Descrever os parâmetros utilizados para detecção e seleção de talentos
esportivos.
„„ Discutir a especialização precoce no atletismo.

Introdução
Entre as diferentes modalidades esportivas, o atletismo pode ser consi-
derado uma das precursoras. Segundo registros históricos, as primeiras
atividades físicas registradas remontam aos movimentos naturais, como
o ato de correr, marchar, lançar, arremessar e saltar — habilidades que
são comuns às diferentes modalidades praticadas no atletismo moderno.
Neste capítulo, você vai estudar a iniciação esportiva no atletismo,
identificando as diferentes possibilidades de iniciação, além de conhecer
alguns parâmetros utilizados para a seleção de talentos. Por fim, vai
analisar aspectos relacionados à especialização precoce na modalidade.

Possibilidades de iniciação esportiva e


competitiva em ambiente escolar e não escolar
O atletismo é considerado por muitos o berço das práticas competitivas, por
meio dos Jogos Olímpicos da Antiguidade, na Grécia. Registros históricos
apontam competições esportivas com práticas de atletismo em 776 a.C., nas
quais já se praticavam corridas, arremessos, lançamentos, que são a base das
provas do atletismo moderno.
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As primeiras grandes conquistas esportivas registradas são das principais


provas de atletismo praticadas na Grécia Antiga, onde as competições faziam
parte de cerimônias para cultuar os deuses, principalmente Zeus. Os atletas
que se destacavam eram considerados celebridades; um dos prêmios era a
coroa de “louro”, dada somente para grandes conquistas, tanto no campo das
grandes batalhas da época quanto para os atletas vencedores das olimpíadas.
Apesar de o atletismo ser considerado uma prática esportiva pioneira
entre os esportes e popular, por ser praticada por pessoas de diferentes classes
sociais e pela maioria de suas modalidades não exigir grandes investimentos
em materiais e equipamentos para a sua prática, nos ambientes escolares seu
desenvolvimento ainda não é muito efetivo. Outras práticas esportivas cole-
tivas, como o futsal, o voleibol, o handebol e o basquete, exigem bem mais
investimentos e, mesmo assim, na grande parte das escolas estão presentes,
portanto, a justificativa de não oferecer o atletismo devido à falta de estrutura
e materiais acaba não sendo convincente.
Essa afirmativa é reforçada por Oviedo e Peres (2014), que afirmam que
os processos metodológicos utilizados por grande parte dos profissionais de
educação física nos ambientes escolares colaboram para o afastamento dos
alunos das práticas nas aulas de educação física, em especial da modalidade
de atletismo. O atletismo tende a ser esquecido pelos professores, que justifi-
cam não existir espaço próprio nem material adequado para essa prática no
ambiente escolar.
Tanto nos ambientes escolares quanto não escolares é importante que os
conteúdos sejam trabalhados de forma abrangente, englobando as dimensões
conceituais, procedimentais e atitudinais. Essas dimensões são conceituadas
por Barroso e Darido (2009) da seguinte forma:

„„ Dimensão conceitual: tem uma relação direta com o “conhecer”. Como


exemplo, podemos citar a importância de os alunos conhecerem o
contexto histórico do atletismo, saberem que foi uma das primeiras
modalidades esportivas praticadas nos Jogos Olímpicos da Grécia Antiga
e conseguirem relacionar as práticas antigas com as práticas atuais.
„„ Dimensão procedimental: tem uma relação direta com o “vivenciar”.
Como exemplo, tanto em ambientes escolares quanto não escolares,
temos as práticas das diferentes modalidades do atletismo, sejam rea-
lizadas de acordo com as regras e procedimentos técnicos, sejam como
atividades lúdicas e recreativas que trabalhem os diferentes aspectos
motores e físicos das modalidades.
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„„ Dimensão atitudinal: tem uma relação direta com o “comportamento”


dos participantes. Os aspectos atitudinais do jogo, o esporte, o respeito
às regras e ao adversário, o reconhecimento ao adversário, entre outras
atitudes que o esporte e o jogo trabalham em seus praticantes.

Quando todas as dimensões dos conteúdos são abordadas, a iniciação


à prática esportiva pode contribuir de forma significativa com a formação
integral do jovem, nos mais diferentes aspectos.
A educação física pode e deve ser uma excelente ferramenta para que
crianças e jovens possam iniciar a prática esportiva nos ambientes escolares,
experimentando diferentes vivências motoras e ampliando seu repertório
motor por meio das práticas. Cabe aos profissionais de educação física buscar
estratégias diferenciadas e motivadoras para incluir o atletismo como conteúdo
das aulas e fazer com que seus alunos iniciem a prática da modalidade.
Por ser uma modalidade individual na sua essência, o aspecto motivacio-
nal muitas vezes é comprometido, já que o atleta, na maioria das sessões de
treinamento, realiza atividades individuais, buscando superar seus limites,
suas marcas. Assim, ele pode se sentir muito solitário e, em momentos que o
resultado esperado não chega, até impotente, diferente de outras modalidades
e esportes que são coletivos e têm outros elementos que facilitam a motivação
de seus praticantes.
Diante desses fatos, sugere-se que o processo de ensino-aprendizagem do
atletismo no ambiente escolar seja aplicado por meio de atividades lúdicas,
nas quais o brincar possibilite o desenvolvimento de diferentes capacidades
e habilidades motoras, proporcionando aos seus praticantes o aprendizado do
atletismo nas suas diferentes modalidades por meio das diferentes situações
que o “brincar” proporciona.
Para Costa (1992), o atletismo a ser utilizado na escola deve ser considerado
como o “pré-atletismo”, no qual, em uma primeira fase, são desenvolvidos
os gestos motores básicos de correr, saltar, lançar e arremessar e, em uma
segunda fase, os elementos da primeira fase são mantidos e tarefas que exi-
gem uma maior codificação dos gestos motores básicos são acrescentadas.
Com isso, é possível aproximar progressivamente a criança e o adolescente
do atletismo formal.
Na iniciação à pratica do atletismo no ambiente escolar, sugere-se que o
aluno seja ouvido em relação aos seus interesses e conhecimentos sobre a
modalidade, atuando como o centro das ações da aprendizagem; suas opini-
ões e interesses são consideradas na construção dos conteúdos e atividades
propostos. Colocando os alunos como protagonistas, o professor pode sugerir
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que eles pesquisem sobre as diferentes formas de praticar a modalidade, dos


primórdios até a atualidade, e solicitar que apresentem propostas de práticas
inovadoras no ambiente escolar, de acordo com a estrutura, materiais e equi-
pamentos disponíveis.
Outra possibilidade metodológica interessante é a de fazer com que os
alunos criem equipamentos e materiais similares aos utilizados nas diferentes
provas de atletismo para a realização de práticas das modalidades, como bastões
para corridas de revezamento; pesos para arremesso; discos; dardos; martelos,
entre outros. Essa estratégia estimula a criatividade da turma e, consequente-
mente, pode aumentar o aspecto motivacional para a realização das práticas.
Como, geralmente, boa parte das turmas em idade escolar nem sempre tem
habilidades físicas e atléticas ideais para a prática esportiva, a realização de
práticas com materiais alternativos e mais fáceis de manusear, devido ao seu
peso diminuído, pode estimular as práticas e motivar a iniciação esportiva.
Seguindo o viés metodológico anterior, outra forma de trabalhar é utili-
zando vídeos de práticas antigas da modalidade, que apresentem recriações
de provas do atletismo na Grécia Antiga, nos primeiros Jogos Olímpicos da
humanidade. Após o contato com esse material, o professor pode sugerir que
os alunos reconstruam uma competição, com as provas nos moldes e regras
utilizados nos Jogos Olímpicos da Antiguidade. Essa ação, além de estimular
a criatividade dos alunos, exige que eles pesquisem aspectos históricos e
analisem, de forma crítica, a evolução da modalidade até os dias atuais.
Como já vimos, o atletismo, muitas vezes, é considerado uma prática soli-
tária, pois, em diferentes momentos, o atleta treina sozinho ou na presença de
poucos atletas e seu técnico. Mas, mesmo com essa característica, esse esporte
pode desenvolver em seus praticantes muitas atitudes diferenciadas, que podem
ser levadas para o resto da vida (dimensão atitudinal dos conteúdos). Uma
delas, por exemplo, está na necessidade de o atleta ter um bom autocontrole e
um autoconhecimento muito apurado para a sua prática, sabendo identificar
os limites do corpo e superar dificuldades, a dor e muitos outros problemas
que podem ocorrer tanto nos treinamentos quanto nas competições. Essas
situações tornam os praticantes pessoas mais “fortes”, preparadas para superar
dificuldades comuns no nosso dia a dia.
Ainda sobre o autoconhecimento, outro aspecto importante é o atleta
reconhecer suas potencialidades e limitações, para que saiba valorizar as
vitórias, respeitando os adversários, e compreender as derrotas, aceitando
suas limitações e a superioridade do adversário. Esses aspectos, quando bem
trabalhados, evitam frustrações, abandono precoce na modalidade e até os
casos de dopping.
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O doping, uso de substâncias ilícitas para melhorar performance do atleta, é cada vez
mais comum e usado nas diferentes modalidades competitivas. Especificamente no
atletismo, o número de casos detectados é bastante elevado se comparado com
outras modalidades esportivas. Por exemplo, recentemente, a equipe russa teve sua
credibilidade colocada em xeque, após resultados de uma investigação criteriosa
da Agência Mundial Antidoping (Wada) que apontaram um grande esquema para
a dopagem de atletas envolvendo técnicos, atletas, dirigentes esportivos oficiais do
controle antidoping e até membros da Associação Internacional das Federações de
Atletismo (IAAF).
No Brasil, o atletismo também passou por uma crise profunda motivada por diversos
casos de doping descobertos em sequência, fato esse que fragilizou o esporte e
prejudicou a credibilidade da modalidade no país. Destaca-se o caso da medalhista
olímpica Maurren Maggi, que, mesmo alegando que a substância encontrada no teste
estava presente em um creme cicatrizante utilizado após uma depilação, foi suspensa
durante dois anos do esporte.
Portanto, o assunto doping deve ser muito bem debatido e trabalhado, principalmente
com profissionais que lidam com a formação e seleção de atletas, para que o futuro
esportivo de muitos atletas não seja interrompido ou comprometido com escândalos
conforme os relatados.

De acordo com Fernandes (1979), o objetivo da educação física nas escolas


não visa, diretamente, à formação de atletas, mas, se for realizado um trabalho
sério, a escola pode ser considerada a árvore dos frutos a serem consumidos
futuramente, porque nela trabalha-se com a quantidade, da qual se origina a
qualidade — e é por isso que as escolas podem formar também os grandes
campeões de amanhã. Portanto, o atletismo pode ser inserido de diferentes
formas como conteúdo das aulas de educação física no ambiente escolar. Sua
prática pode contribuir tanto para a melhoria no repertório motor e físico de
seus praticantes quanto para a detecção de futuros talentos na modalidade.
A prática do atletismo não deve ser resumida somente aos ambientes es-
colares, existem diversos espaços e possibilidades de iniciação esportiva
na modalidade fora do ambiente escolar. Nesses ambientes, é possível uma
iniciação esportiva mais focada no rendimento, possibilitando assim um
aprimoramento das habilidades motoras, físicas e técnicas da modalidade.
Fora do ambiente escolar, é possível também identificar as principais
habilidades motoras e físicas dos praticantes de forma mais aprimorada e, a
partir de um diagnóstico prévio, encaminhar o aluno para uma modalidade
que possa se adequar às habilidades do aluno.
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Para uma criança que, nitidamente, tem bastante velocidade, as provas mais adequadas
seriam as corridas de 100 e 200 metros e o salto em distância.

As atividades sistematizadas fora do ambiente escolar geralmente são


realizadas em ambientes públicos (projetos de iniciação esportiva), clubes,
associações, ONGs e em outras entidades onde são promovidas práticas
esportivas diversas. A iniciação esportiva nesses ambientes, além de propor-
cionar uma melhoria nos aspectos físicos e motores gerais dos praticantes,
possibilita a formação de novos atletas para uma prática visando ao rendi-
mento esportivo.
É muito importante, na iniciação esportiva, que a criança possa participar
de diferentes tipos de competições, por elas estimulam o treinamento da
modalidade e, aos poucos, vão preparando a criança para as pressões que
um atleta normalmente passa em seu meio. As competições podem iniciar de
forma interna, dentro do próprio local de treinamento, entre os praticantes
da modalidade, e irem evoluindo para competições municipais, regionais,
estaduais até chegar no nível nacional, para os praticantes que tiverem interesse
na prática atlética profissional.

Entre os diversos benefícios que a competição pode trazer, destacam-se:


„„ o aumento da motivação para a prática esportiva, já que as atividades competitivas,
por si só, têm vários elementos que, naturalmente, motivam o ser humano;
„„ a possibilidade de os praticantes aprenderem a lidar com diversas situações de
pressão, tornando-os mais preparados tanto para situações competitivas no esporte
quanto na vida pessoal;
„„ a necessidade de reconhecer a superioridade do adversário;
„„ a necessidade de superação constante;
„„ o respeito às regras das competições, aos jogos e ao adversário.
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O profissional que trabalha na iniciação desportiva deve realizar um traba-


lho visando à formação integral da criança, oportunizando o desenvolvimento
motor, físico, técnico, tático e psicológico para a modalidade. As provas do
atletismo têm características muito distintas, e o processo de preparação deve
ser bastante personalizado. Por exemplo, as capacidades físicas e habilidades
de um atleta que participa de competições de fundo, de longa duração, são
bem diferentes de atletas que participam de provas de velocidade ou de força,
como os arremessos e lançamentos.
Além da predisposição relacionada ao biotipo do praticante, as sessões de
treinamento devem levar em conta as principais valências físicas específicas
e importantes para cada prova, como força, resistência aeróbia, resistência
anaeróbia, potência, velocidade, flexibilidade entre outras. O trabalho es-
pecífico visando à melhoria nas condições físicas e motoras específicas da
modalidade potencializa o rendimento esportivo dos praticantes, facilitando
a formação de novos atletas e praticantes da modalidade.
O atletismo é um esporte que pode ser desenvolvido tanto nos ambientes
escolares, como forma de iniciação do aluno nas diferentes modalidades,
quanto em ambientes não escolares, onde a prática já pode ser feita de forma
mais direcionada e voltada para o desempenho mais específico nas diferentes
modalidades.

Como detectar e selecionar talentos esportivos


A busca por atletas talentosos é algo comum nos mais diversos países que
têm o esporte como prática formalizada e organizada. O êxito esportivo está
muito relacionado ao condicionamento físico, técnico, tático e psicológico
dos atletas. A possibilidade de identificação precoce de talentos esportivos
auxilia, de forma significativa, na organização e estruturação esportiva para
o rendimento.
Quando se visa ao rendimento esportivo, a detecção e seleção de talentos
esportivos é imprescindível. Para que possamos debater esse assunto de forma
mais aprofundada, vamos primeiro definir o que é “talento esportivo”.
Para Weineck (1999), “talentoso” é aquele que, com disposição, prontidão
para o desempenho e possibilidades, apresenta um desempenho acima da
média comprovada para aquela faixa etária (desempenho comprovado por
competições). Ou seja, aquele que tem um potencial, uma aptidão que poten-
cializa o desempenho esportivo, fazendo essa pessoa se sobressair à grande
maioria dos praticantes na modalidade.
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Dantas et al. (2004) reforçam essa ideia quando afirmam que o indivíduo
talentoso deve somar um conjunto de capacidades genéticas e experiências
vivenciadas. O verdadeiro “campeão” nasce com uma carga genética di-
ferenciada, que o beneficia para a prática de esportes específicos, mas o
desenvolvimento e o ápice das potencialidades só ocorre se houver condições
favoráveis de treinamento e desenvolvimento.

Os casos de doping envolvendo atletas de ponta no Brasil nos últimos anos acabaram
passando uma imagem negativa dos programas de detecção de talentos e da formação
de novos atletas. Essa situação refletiu de maneira direta nos resultados das principais
competições mundiais e olímpicas dos últimos anos.

O processo de detecção e seleção de talentos está cada vez mais organizado


e baseado em estudos e critérios científicos. No passado, era muito comum
a detecção por “sorte” ou pela simples observação de profissionais da área,
que buscavam selecionar atletas no “olhômetro”. Atualmente, essas práticas já
estão em desuso; equipes organizadas se utilizam de um processo mais bem
elaborado, organizado e com critérios científicos para a detecção e seleção
de atletas.
Existem estudos mais aprofundados relacionados ao mapeamento genético
de atletas, que buscam encontrar características comuns no código genético
de atletas de destaque, com o objetivo de detectar algum diferenças entre a
genética dos atletas de alta performance e das pessoas “comuns”. Pessoas
“comuns” e atletas de elite têm absolutamente os mesmos genes. O que o
genoma de atletas pode apresentar de diferente, em comparação ao genoma das
pessoas “comuns”, são variantes no código dos genes específicos envolvidos
na modulação dos fenótipos de performance física. Os estudos apresentaram
algumas evidências de que atletas de alta performance podem ter algumas
características específicas na modulação dos fenótipos que podem interferir
no desempenho diferenciado para algumas provas específicas (por exemplo,
maratonistas e velocistas).
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Com a evolução dos estudos na área da genética, é muito provável que, em


pouco tempo, será possível detectar um atleta em potencial logo após os seus
primeiros anos de vida, por meio do mapeamento genético. Isso pode trazer
aspectos positivos, como a detecção e seleção de atletas com maior eficácia, e
também negativos, como a iniciação muito precoce ao treinamento esportivo
para o rendimento.

A formação de um “fenômeno” esportivo está diretamente ligada à estrutura e formação


do potencial genético, de estímulos externos, como o treinamento físico e a dieta,
somados à adequação e preparação mental — um conjunto de fatores que influenciam
diretamente na formação de um atleta de destaque superior.

O atletismo, diferentemente da maioria dos esportes, principalmente dos


coletivos, tem, na maioria de suas modalidades, ações cíclicas, movimentos
repetitivos e o número de gestos técnicos e táticos muito inferior à outras
modalidades esportivas. Dessa forma, a aptidão e performance física é ex-
tremamente relevante para o desempenho superior. Quando comparamos
com outra modalidade, como, por exemplo, o futebol de campo, os aspectos
técnicos e a habilidade superior do atleta pode amenizar alguma deficiência
de performance física do atleta; nessa modalidade, a maioria das posições
não exige um biotipo ideal, fato que é diferenciado no atletismo. Para a mo-
dalidade de 100 m rasos, por exemplo, se o atleta não tiver um biotipo com
predominância de fibras musculares de contração rápida e força explosiva
diferenciada, nunca será um atleta de destaque na modalidade.
No Brasil, infelizmente ainda existem poucos investimentos na estrutu-
ração e organização de programas de formação de atletas nas mais diversas
modalidades esportivas, sendo o atletismo uma delas. O país tem a riqueza
de ter entre sua população uma mistura de raças, fato que não ocorre em
muitos países asiáticos ou africanos, por exemplo. Essa diversidade favorece
a predisposição atlética para todos os tipos de modalidades esportivas.
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Segundo Bojikian et al. (2007), para que ocorra a formação de atletas de


forma organizada e adequada, o processo de treinamento a longo prazo
(TLP) deveria acompanhar os atletas desde a iniciação esportiva até o alto
rendimento. Esse fato é pouco observado no Brasil, principalmente na mo-
dalidade do atletismo.
Para a iniciação esportiva visando ao alto rendimento, é preciso proporcio-
nar uma boa preparação psicológica do atleta, pois é necessário muita disciplina
e dedicação para superar as dificuldades da árdua rotina de treinamento. No
caso do atletismo, também é necessária muita força de vontade e dedicação,
por ser uma modalidade individual, o que muitas vezes torna a prática mais
monótona e repetitiva.
E uma visão geral, o processo de seleção de talentos esportivos resume-se
à escolha de alguém ou alguns entre vários sujeitos a partir de um critério de
qualidade superior. Deve-se elencar os principais aspectos que precisam ser
avaliados de acordo com os objetivos e necessidades para a atuação na moda-
lidade. Alguns indicadores de desenvolvimento e de desempenho esportivo,
baseados em parâmetros comparativos com atletas da mesma idade, sexo e
nível competitivo, podem ser importantes para uma seleção mais adequada
de um talento esportivo. Aspectos como informações psicológicas, dados
antropométricos, do somatótipo, da aptidão física e da habilidade motora são
fundamentais em um processo de seleção de atletas.
Assim, o processo de seleção de atletas fica cada vez mais criterioso e base-
ado em características específicas que são fundamentais para o desportista. A
compreensão das exigências técnicas e morfológicas do esporte são essenciais
para a detecção de talentos nas categorias de base, possibilitando melhores
condições de seleção a fim de suprir as necessidades de atletas na categoria
adulta, ampliando as possibilidades de profissionalização desses atletas.
Um protocolo com testes físicos e motores que pode ser utilizado como
referência para a seleção de atletas é o PROESP–Br (Projeto Esporte Brasil).
Trata-se de um sistema de avaliação da aptidão física relacionada à saúde e
ao desempenho esportivo de crianças e adolescentes, que pode ser utilizado
no âmbito da educação física escolar e no esporte educacional.
São inúmeras as valências físicas e motoras consideradas importantes em
atletas do atletismo. Vejamos as mais importantes:

„„ Velocidade: existem diferentes modalidades e provas do atletismo em


que a velocidade é primordial. Ela é importante em provas como as
corridas de 100 e 200 m, mas também nas provas de salto em distância.
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Destaca-se também a velocidade de movimentos, tanto de membros


inferiores quanto superiores, que são importantes para impor potência
ao movimento, como nos lançamentos de dardo e disco. Exemplo de
teste: corrida de 20 metros.
„„ Resistência: a resistência pode ser aeróbia (em provas de média a
longa duração) e anaeróbia (resistência à velocidade), como em provas
de 400 e 800 m de distância. O condicionamento cardiorrespiratório é
muito importante e considerado como uma base da preparação física
para muitos atletas. Exemplos de teste: teste de Cooper (corrida de 12
minutos) e teste de Balke (corrida de 15 minutos).
„„ Agilidade: a agilidade é uma habilidade bastante associada à velocidade
e muito importante em muitas provas de atletismo. Trata-se da capaci-
dade de locomoção de forma rápida e eficiente em diferentes direções.
Exemplo de teste: teste do quadrado (corrida em um quadrado de 4 ×
4 com cones em diferentes direções.
„„ Flexibilidade: uma boa flexibilidade possibilita a execução de exercícios
diversos com grande amplitude articular, característica que é muito
importante nas mais diversas provas do atletismo. Exemplo de teste:
sentar e alcançar (Banco de Wells).
„„ Habilidades motoras: coordenação motora geral, noção espacial e
temporal, lateralidade, entre outras, são habilidades imprescindíveis
nas diversas provas do atletismo. Exemplo de teste: teste KTK.
„„ Força explosiva de membros inferiores: a força explosiva é uma
valência de muita importância, principalmente em provas que exigem
grande velocidade e nos saltos. Exemplo de teste: salto horizontal.
„„ Força explosiva de membros superiores: nas provas de lançamentos
e arremessos, essa é uma valência física fundamental para o sucesso
esportivo. Exemplo de teste: arremesso de medicineball.

Segundo Serafim (2011), os procedimentos de testes e avaliações físicas


têm apresentado um crescente interesse por parte dos profissionais de edu-
cação física e outras áreas afins, assim como vêm se modificando de forma
significativa influenciados pelo desenvolvimento científico e tecnológico
nesse campo, levando em consideração as especificidades de cada modali-
dade. Portanto, para uma detecção criteriosa e eficiente de possíveis atletas, é
necessário selecionar testes que tenham validade, fidedignidade, objetividade
e normas, para que possam ter resultados confiáveis e diversificados para as
diferentes modalidades.
12 Iniciação esportiva

Ao selecionar algum teste, é importante que o profissional, primeiramente,


tenha conhecimento aprofundado do teste, seus objetivos, características,
aplicação. O profissional também deve analisar se o teste se aproxima das
atividades que são desenvolvidas na modalidade ou se exige valências físicas
similares. Os critérios para avaliar um teste, segundo seu valor científico, são:
fidedignidade, objetividade, validade e normas (MATHEWS, 1980).
A quantidade de testes físicos e motores que podem ser utilizados é bastante
grande. Cabe ao profissional selecionar testes que realmente atendam às suas
necessidades e que estejam de acordo com as características que se esperam
de atletas para a modalidade. Outro aspecto importante na seleção dos testes
é a disponibilidade de tempo, local e materiais — assim, o avaliador deve
verificar os tipos de teste que são adequados para a sua realidade.

O PROESP–Br é um protocolo criado para a avaliação de parâmetros motores e físicos


de futuros atletas ou de aspectos relacionados à saúde. Sua possibilidade de aplicação
é bastante ampla, podendo ser desenvolvido de forma completa ou em partes, de
acordo com os objetivos dos aplicadores. Pode ser uma excelente ferramenta auxiliar
de professores, tanto no ambiente escolar quanto no não escolar ou na detecção e
seleção de atletas. Para ver o protocolo completo, acesse:

https://qrgo.page.link/DN8u

Para que se tenha o êxito e o rendimento esportivo diferenciado, a detecção


e a seleção de atletas de maneira precoce é muito importante, permitindo a
realização de um trabalho minucioso e de uma preparação completa do atleta,
nos aspectos motores, físicos, técnicos, táticos e psicológicos. O processo de
iniciação esportiva e o treinamento no atletismo deve ser realizado de forma
muito bem organizada e estruturada, respeitando as diferentes fases de de-
senvolvimento da criança e sua maturação, evitando assim uma desistência
precoce na prática da modalidade.
Iniciação esportiva 13

Especialização precoce no atletismo


Já é bastante discutido e sabido que a prática esportiva é muito importante e
benéfica para o bom desenvolvimento de crianças e adolescentes. A iniciação
esportiva pode ser considerada um marco na vida da criança; se realizada
de forma adequada, oportuniza o desenvolvimento e o aprimoramento de
inúmeras valências físicas e motoras, além de relações sociais, cooperativas,
integrativas e outros aspectos comportamentais que o esporte proporciona.
Um problema que ocorre na maioria das modalidades esportivas voltadas
para o rendimento esportivo é a especialização precoce. Não existe um consenso
na literatura quanto à idade ideal para a iniciação esportiva especializada.
Grande parte dos autores estipulam a idade entre 12 a 13 anos como a ideal
para o ensino sistematizado de alguma modalidade esportiva.
Algo ainda muito recorrente no processo de iniciação esportiva da criança é
a prática intensa de diferentes esportes de forma precoce, muitas vezes realizada
de maneira “forçada” pelos pais ou responsáveis das crianças, podendo causar
um abandono ou afastamento das modalidades pelo acúmulo de estímulos
e atividades no cotidiano da criança. É sabido, principalmente no meio da
educação física, que o acesso aos esportes e práticas físicas de maneira geral
é altamente benéfico tanto para crianças quanto para adultos. A questão a ser
observada é a quantidade, a “dose”, ou seja, a criança, em pleno processo de
desenvolvimento, a criança não deve ser sobrecarregada de atividades, nem
mesmo das esportivas.
Então, o que seria o ideal? Como saber se a quantidade de atividades é
excessiva? Como evitar a especialização precoce no esporte? Todas essas
perguntas infelizmente não têm respostas prontas ou “receitas”. É necessária
muita atenção de pais, professores, dirigentes esportivos, educadores em geral,
para que diferentes aspectos possam ser respeitados e observados no processo
de iniciação esportiva.
O primeiro passo é permitir que a criança “experimente” tudo que queira
na área motora. A ela devem ser oferecidos diferentes estímulos, para que o
processo de desenvolvimento motor possa ser completo e integral. Isso pode
ser desenvolvido por meio de experiências lúdicas diversificadas, brincadeiras,
atividades de educação física no meio escolar e não escolar, jogos em casa,
entre outras vivências.
Em um segundo momento, podem ser apresentadas práticas esportivas
específicas, nas quais a iniciação ao esporte é desenvolvida de forma mais
sistematizada. Nesse caso, o papel do profissional de educação física é fun-
damental, primeiro para o acolhimento à criança e, na sequência, para pro-
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porcionar experiências diversificadas para que ela possa gostar e aproveitar


ao máximo a prática. Nesse momento, cabe ao professor observar se a criança
já apresenta algumas características ou habilidades para a prática esportiva
que está sendo desenvolvida ou para outro tipo de esporte, no qual seu perfil
físico, motor e comportamental poderá melhor se adequar.
Tomando alguns desses cuidados, dificilmente uma criança será afetada
de maneira negativa pela especialização precoce no esporte. Uma forma de
detectar, tanto no ambiente esportivo quanto na própria casa, se a criança
está sobrecarregada nas atividades de iniciação esportiva é observar seu
comportamento e conversar frequentemente com ela.
A motivação que a pessoa apresenta na realização de uma atividade é
um dos parâmetros para analisar se aquele exercício/jogo/esporte está sendo
agradável ou maçante. Quando comportamentos de pouca motivação são
observados com frequência durante as práticas, é importante que a criança
seja ouvida e possa falar dos motivos para ela não estar gostando das práticas.
Queixas constantes de dor muscular, cansaço, sonolência, desculpas para não
ir treinar são sintomas que podem indicar que algo errado está ocorrendo no
processo de iniciação esportiva.
Entre os diferentes motivos para o abandono das práticas esportivas estão:

„„ início muito precoce na modalidade: muitas práticas esportivas são


oferecidas de forma especializada muito precocemente. Isso é comum
em esportes como a ginástica e o futsal, nos quais as crianças iniciam
a prática esportiva a partir de 4 ou 5 anos de idade;
„„ carga muito intensa de treinamentos: a alta carga de treinamento
especializado pode acarretar na desmotivação do aluno para a prática
esportiva. Sintomas como faltas às sessões de treinamento, queixas
frequentes de dores musculares ou articulares, lesões, baixa imunidade,
diminuição do desempenho esportivo, podem ser sinais de alerta aos
professore e pais de atletas;
„„ baixo desempenho esportivo: o baixo desempenho nos resultados
alcançados em competições da modalidade ou em testes durante o
treinamento pode desmotivar o aluno para a sequência das etapas. Os
fatores motivação, autoconfiança, determinação, trabalho em equipe
e outros que podem servir como estímulo para o aluno devem ser re-
forçados constantemente.
Iniciação esportiva 15

Tanto o atletismo quanto outras modalidades esportivas devem ser trabalhados de


maneira muito organizada e estruturada, para que possam contribuir de forma sig-
nificativa para o desenvolvimento das crianças e, quando possível, possam revelar
futuros atletas no esporte.

O atletismo como prática esportiva profissional para muitas crianças é


visto como uma oportunidade de ascensão financeira e social. Como exemplo
podemos citar crianças na Etiópia e no Quênia, que se espelham nos gran-
des atletas do país e iniciam de forma bastante precoce os treinamentos, na
busca do profissionalismo e do sucesso no esporte. No Brasil, o esporte é um
fenômeno cada vez mais presente na sociedade e na vida de muitas crianças;
influenciadas pelos seus pais, buscam um possível profissionalismo e o sucesso
por meio do esporte, ou buscam uma mera prática voltada ao bem-estar e à
melhoria da qualidade de vida.
Normalmente, o primeiro contato da criança com o esporte de forma mais
sistematizada é nas escolas, por isso a grande importância de um bom trabalho
dos profissionais de educação física. Após a iniciação escolar, muitos buscam
outros locais para a prática mais sistematizada, como clubes, associações,
departamentos de esporte da prefeitura, academias, escolinhas privadas e
até nas praças, onde, por meio de atividades lúdicas, brincadeiras e jogos,
aspectos técnicos (como correr, saltar, arremessar) e físicos (como potência,
velocidade, agilidade) do atletismo são estimulados constantemente.
Machado (2008) destaca a importância de a iniciação esportiva ser feita
respeitando a criança em sua totalidade, ou seja, considerando suas limita-
ções, desenvolvimento físico, psíquico e social. Só assim ela proporcionará
diversos benefícios aos praticantes. Entretanto, na prática, o que se observa
nem sempre segue os padrões e critérios que seriam considerados ideais para
a iniciação esportiva.
Debater sobre a especialização precoce é muito importante, não para
apontar o que é certo ou errado nas práticas, mas sim para que se possa ter uma
reflexão aprofundada, analisando os mais diferentes aspectos que envolvem a
situação, identificando os aspectos positivos e negativos e, à partir daí, ter uma
opinião formada sobre o assunto e ações práticas de acordo com as conclusões.
16 Iniciação esportiva

De maneira geral no cenário mundial, o esporte se tornou um negócio


muito rentável envolvendo cifras altíssimas de investidores e patrocinadores.
Isso modificou algumas características das práticas que, em muitos períodos
da história, serviam simplesmente para “medir forças e habilidades” entre os
oponentes e também como forma de união e confraternização de diferentes
povos. Na atualidade, também se observa uma grande influência política no
esporte, que utiliza seus atletas para demonstrar a força da nação e seu poder,
conseguindo, por meio do esporte, visibilidade e atenção mundial, sendo
também um objeto de manipulação da classe dominante.
Kunz (1994) apresenta em seus estudos uma análise crítica do esporte de
rendimento, colocando como principais problemas o treinamento especializado
precoce e o uso do doping. De acordo com o autor, esses aspectos podem,
inclusive, levar à autodestruição do esporte e de seus praticantes, perdendo
sua essência principal.
Referente à especialização precoce no esporte, destacam-se o atletismo,
a natação e a ginástica, nos quais, em diferentes partes do mundo, a prática é
iniciada de forma sistematizada com crianças em idade de formação básica do
repertório motor. Muitas à partir dos 4 anos de idade iniciam uma prática de
forma mais especializada, e essa prática pode trazer efeitos nocivos tanto para o
processo de desenvolvimento da criança quanto para aspectos psicológicos, caso
a criança seja submetida a competições de forma prematura, sendo colocada
em situações de pressão não adequadas para a faixa etária. Isso pode gerar
frustrações e sensação de derrota, que podem ser levadas para a vida toda.
Sobre a especialização precoce no atletismo, o professor Kunz (1983) fez
um estudo sobre a duração da vida atlética de praticantes de atletismo e os
efeitos da especialização precoce. Entre os resultados, destacam-se:

„„ formação escolar deficiente, devido à grande exigência em acompanhar


com êxito a carreira esportiva;
„„ unilateralização de um desenvolvimento que deveria ser plural;
„„ reduzida participação em atividades comuns às crianças, como jogos,
brincadeiras e atividades do mundo infantil;
„„ influência negativa na saúde física e psicológica, devido às grandes
pressões comuns no esporte de rendimento.

Embora essa pesquisa tenha sido realizada na década de 1980, os resul-


tados ainda são muito atuais e representam o efeito do treinamento precoce
em muitos aspectos.
Iniciação esportiva 17

Oliveira (1994) alerta para o fato de que a criança moderna está frequen-
temente exposta à um excesso de atividades no seu cotidiano, muitas vezes
impostas pelos seus pais, como esportes, inglês, violão, computador, ballet,
catequese, tarefas escolares entre outras. Dessa forma, as crianças assemelham-
-se mais a “mini executivos”, que não conseguem administrar seu dia nem
escolher suas próprias atividades. A sobrecarga emocional como consequência
da cobrança que pais, professores ou treinadores fazem para a performance
positiva na prática esportiva de resultado tem sido grande fonte de estresse
em crianças.
Um dos principais aspectos motivadores, principalmente do atletismo, são
os resultados, tanto nos treinos quanto nas competições (vitórias, medalhas).
Quando o atleta não consegue “enxergar” esses resultados de acordo com
suas expectativas, a possibilidade de abandono da prática é muito grande. Isso
acontecendo, outras situações podem ocorrer, como a sensação de frustração,
impotência, derrota, incapacidade. O praticante, ao perceber que dedicou
grande parte de sua vida para a prática esportiva, frequentemente deixando
de lado coisas importantes, como estudos, lazer, relacionamentos, família,
profissão, sem, no entanto, ter os resultados esportivos esperados, tem muitas
vezes a sensação de derrota total. Isso, se não for bem trabalhado, pode oca-
sionar muitos problemas emocionais e comportamentais nos atletas.
O profissional que trabalha na iniciação esportiva deve ter um conhecimento
muito aprofundado da modalidade e também acompanhar, de maneira muito
próxima, o desenvolvimento do atleta, analisando não somente o desempenho
físico e técnico do atleta, mas também seu comportamento, aspectos sociais
e emocionais.

Diferentes estudos sugerem que a prática esportiva especializada de forma competitiva


deve ocorrer somente a partir dos 12 anos de idade, principalmente quando se refere
à busca de rendimento esportivo e da vitória a todo custo. Antes dessa idade, a prática
massiva pode acarretar uma sobrecarga nas inserções musculares e nas epífises ósseas,
podendo impedir o crescimento normal da criança, por muitas vezes de maneira
irreversível (MALINA; BOUCHARD, 1991).
18 Iniciação esportiva

A especialização precoce não pode ser analisada somente sobre os seus


aspectos negativos. Existem muitos fatores positivos que, quando levados
em consideração, proporcionam diferentes benefícios aos seus praticantes.
A prática precoce e especializada de uma modalidade esportiva permite ao
atleta o aprimoramento de valências físicas, técnicas e táticas do esporte de
forma a facilitar o desempenho esportivo e, consequentemente, os resultados
positivos na modalidade. Outro aspecto importante e destacado por muitos
incentivadores do treinamento esportivo precoce é o aprendizado que a pressão
das competições pode trazer, preparando o atleta para a sua vida pessoal.
A prática esportiva precoce ainda proporciona ao atleta uma disciplina e
rotina na sua vida pessoal. O atleta precisa seguir à risca um planejamento
para que os resultados possam ocorrer de forma positiva e essa habilidade
pode ser levada para a sua vida pessoal.

A IAAF, com o objetivo de promover a prática do atletismo e difundir a modalidade,


criou o miniatletismo, um programa de desenvolvimento do atletismo que visa a
oferecer às crianças um atletismo atraente, acessível e instrutivo. O programa se baseia
em atividades consideradas apropriadas às crianças de várias categorias de idade e
também às instituições que o implementam.

O atletismo é uma modalidade esportiva que envolve diferentes aspectos


para a sua prática e pode ser desenvolvida desde a idade escolar até a terceira
idade, sem restrições. Pode ser trabalhado nos ambientes escolares, como
conteúdo das aulas de educação física, e possibilita o desenvolvimento de
valências físicas, motoras e técnicas diversificadas. Por ter uma diversidade de
provas no rol de suas práticas, como, corridas, saltos, lançamentos e arremesso,
oportuniza, de forma democrática, a prática de todos que tiverem interesse.
Sua prática muitas vezes não exige materiais ou equipamentos específicos,
fato que facilita o seu acesso por qualquer pessoa que queira iniciar a prática.
Pode ser desenvolvido como uma mera prática esportiva voltada ao lazer ou
à saúde ou também de forma mais sistematizada, voltada para o rendimento
esportivo.
Iniciação esportiva 19

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