917
Eixo
Terapia Ocupacional nas Práticas
Clínicas
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Confecção de livros como recurso terapêutico ocupacional para pessoas com Esclerose
Lateral Amiotrófica
Tatiana Lins Carvalho
Gabriela Barza Lira
Brunna Matias Ribeiro Cabral
Yris Barbosa do Nascimento
A Esclerose Lateral Amiotrófica é uma doença neurodegenerativa complexa que atinge
progressivamente as células do núcleo motor dos nervos cranianos do tronco encefálico e
medula espinhal, resultando em uma paralisia motora irreversível e progressiva. O terapeuta
ocupacional é um dos profissionais que deve compor uma equipe multidisciplinar assistencial,
dentre suas atuações estão aprimorar independência e autonomia do paciente, realizar
adaptações nas atividades de vida diária e confecções de tecnologia assistiva. O objetivo deste
trabalho é apresentar a construção literária como um recurso terapêutico ocupacional com
pessoas que foram diagnosticadas com Esclerose Lateral Amiotrófica. Trata-se de um estudo
descritivo, do tipo relato de experiência, que ocorreu no Ambulatório de Terapia Ocupacional
em um Hospital Universitário do Estado de Pernambuco. O serviço para atendimento
interdisciplinar ambulatorial a pessoas diagnosticadas com Esclerose Lateral Amiotrófica e
seus cuidadores teve início em outubro de 2013. O espaço oferece atendimento individual e
grupal. Desde a criação do Serviço até o presente, foram detectadas a habilidade e o desejo,
durante as sessões de Terapia Ocupacional, de algumas pessoas com a doença de colaborarem
com suas experiências de vida para que a população conhecesse um pouco sobre a doença na
visão de quem convive com a limitação progressiva e diária. a confecção de livros trazida como
proposta de um recurso a essas pessoas, permite facilitar a expressão de sentimentos destas e
de seus familiares, fazendo com que compartilhem de experiências e, em conjunto, consigam
elaborar resolução de problemas advindos da sintomatologia progressiva da doença.
Palavras-chave: Doenças Neuromusculares,Esclerose Lateral Amiotrófica, Terapia
Ocupacional.
INTRODUÇÃO
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A Esclerose Lateral Amiotrófica é uma doença neurodegenerativa complexa, de
etiologia desconhecida e caracterizada pelo comprometimento do neurônio motor superior,
assim como do inferior. Atinge progressivamente as células do núcleo motor dos nervos
cranianos do tronco encefálico e medula espinhal, resultando em uma paralisia motora
irreversível e progressiva. Algumas pessoas podem apresentar ainda dificuldades cognitivas e
comportamentais (VAN ES et al, 2017; SILVA et al, 2018).
Devido à perda da habilidade de controlar os músculos do corpo, além de afetar a fala,
alimentação, movimentos de membros e eventualmente o sistema respiratório, é importante um
tratamento multidisciplinar incluindo neurologista, fisiatra, terapeuta ocupacional,
fisioterapeuta motor e respiratório, fonoaudiólogo, assistente social, nutricionista, enfermeiro e
psicólogo. É visto que esse tipo de tratamento tem um impacto positivo na qualidade de vida e
saúde mental das pessoas com Esclerose Lateral Amiotrófica, assim como em seus familiares
e cuidadores (DRISKELL et al, 2019).
Como citado acima, o terapeuta ocupacional é um dos profissionais que deve compor
uma equipe multidisciplinar assistencial. Dentre as atuações do profissional, como aprimorar
independência e autonomia do paciente, realizar adaptações nas atividades de vida diária e
confecções de tecnologia assistiva, dentre outras, é possível ver uma atuação também no nível
psicossocial. O seu trabalho pode ser desenvolvido utilizando-se de diferentes ferramentas,
através dos recursos terapêuticos (ALVES; EMMEL; MATSUKURA, 2012; DRISKELL et al
2012).
Dentre os diversos recursos, a construção de livros, a leitura e a expressão de desejos
através, por exemplo, da escrita e/ou da verbalização, fazem parte do processo terapêutico
ocupacional. Cladin (2001) considera que o uso de livros como recurso permite ao indivíduo
verificar suas emoções em paralelo às emoções dos outros, além de 919juda-lo a pensar na
experiência e proporcionar informações necessárias para a solução dos problemas. Durante a
confecção de livros e histórias, é possível observar a expressão de suas alegrias e sofrimentos
através da recordação da trajetória de vida do sujeito, funcionando, também, como um recurso
de reabilitação cognitiva. Assim, a elaboração desse tipo de material possibilita os indivíduos
a escolherem as informações e tomarem as decisões sobre o produto (ZANOTTI et al, 2010).
O objetivo deste trabalho é apresentar a construção literária como um recurso
terapêutico ocupacional com pessoas que foram diagnosticadas com Esclerose Lateral
Amiotrófica.
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METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, que ocorreu no
Ambulatório de Terapia Ocupacional em um Hospital Universitário do Estado de Pernambuco,
vivenciado por estagiárias, residentes e preceptora.
O estudo se propõe a expor os benefícios verificados na utilização da confecção de
livros, autobiográficos e de receitas, como recurso terapêutico, no processo de tratamento de
pessoas com Esclerose Lateral Amiotrófica.
A construção do livro ocorria de forma espontânea, através da identificação de atividade
de interesse. A partir disso, durante os atendimentos, as atividades desempenhadas eram:
idealização do livro; identificação dos tópicos que seriam abordados, construção dos capítulos;
sessão de fotos; edição e envio para editora.
Previamente à utilização do recurso, era realizada a avaliação das habilidades motoras
e cognitivas, sendo feitas, sempre que necessário, adaptações para que cada etapa da atividade
fosse concluída de forma satisfatória. O processo de construção ocorria gradualmente,
utilizando técnicas de conservação de energia, respeitando o processo de evolução da doença.
Esse recurso foi utilizado com as pessoas que apresentaram o desejo de escrever um
livro, com a cognição preservada e que estivessem em acompanhamento no ambulatório de
Terapia Ocupacional.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O serviço para atendimento interdisciplinar ambulatorial a pessoas diagnosticadas com
Esclerose Lateral Amiotrófica e seus cuidadores (formais e/ou informais) teve início em
outubro de 2013. O espaço oferece atendimento individual e grupal, além de ser também um
campo para a prática de estudantes de diversas graduações e Programas de Residências,
realização de pesquisas, publicações, projetos de extensão, organização de Simpósios e debate
com profissionais.
Desde a criação do Serviço até o presente, foram detectadas a habilidade e o desejo,
durante as sessões de Terapia Ocupacional, de algumas pessoas com Esclerose Lateral
Amiotrófica de colaborarem com suas experiências de vida para que a população conhecesse
um pouco sobre a doença na visão de quem convive com a limitação progressiva e diária.
921
Diante disso, foi sugerida a possibilidade da construção de livros relatando suas
histórias. Durante a elaboração, a tendência para o relato apenas do período do adoecimento se
destacava, porém as discussões para que pudessem enxergar que este seria um momento, mas
que a sua vida foi e é constituída de várias etapas fez com que despertassem para si e para tudo
o que já tinham conseguido.
No decorrer das consultas era pensado o que cada tópico poderia abordar, se haveria
possibilidade de fotos e feita uma revisão do que a pessoa tinha dado sequência no seu
domicílio. A construção era feita com prazos anteriormente combinados com cada paciente,
para estimular o cumprimento de metas, considerando a necessidade da conservação de energia
para a autoproteção. Adaptações no mobiliário e em utensílios para que fosse possível escrever
ou digitar e a confecção de pranchas de comunicação alternativa para quem não verbalizava ou
escrevia foram desenvolvidas para que participassem ativamente do processo.
O envolvimento dos cuidadores e amigos era fundamental para facilitar o
desenvolvimento desses projetos de vida. A eles cabiam ajustar o ambiente domiciliar de acordo
com as orientações da terapeuta e ir em busca de patrocinadores. Esta participação fazia com
que descobrissem que a pessoa podia estar presa em um corpo (limitação motora), mas livre em
pensamento. Assim se deparavam com a importância da preservação da autonomia,
repercutindo para as outras áreas e contextos ocupacionais.
O primeiro livro confeccionado foi intitulado “A descoberta com ELA” (SILVA, 2015)
e lançado no II Simpósio sobre Esclerose Lateral Amiotrófica do Hospital Universitário
Oswaldo Cruz. Esta obra teve grande repercussão na comunidade em que a autora morava e foi
levada para as Conferências de Saúde, tendo em vista que a mesma era agente comunitária de
Saúde e educadora popular. O segundo livro, “Simplesmente Eu” (FARIAS, 2018), foi lançado
no III Simpósio, mas não teve a presença da autora devido a progressão da sua doença e por
estar em home care. Um segundo lançamento foi organizado pela família, com a presença da
autora, para pessoas do seu convívio, a equipe de Saúde que lhe acompanhava no hospital e a
que lhe acompanha no domicílio. Para as situações supracitadas, o dinheiro arrecadado com as
vendas foi revertido para as necessidades das duas autoras. Um terceiro livro está em elaboração
e será finalizado pelos filhos devido a paciente ter ido a óbito durante a construção. Seu desejo
era montar um condensado de receitas (entradas, pratos principais e sobremesas). Ainda em
vida conseguiu definir capa, como o livro seria dividido e selecionar quais receitas que gostaria
que fossem publicadas. A família quis dar continuidade a este projeto e possivelmente será
lançado no IV Simpósio.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista os aspectos observados, é atribuição da Terapia Ocupacional além da
indicação e confecção de tecnologias assistivas para melhor independência nas Atividades de
Vida Diária, o resgate da autonomia e o favorecimento dos níveis psicossociais. Através do uso
de recursos terapêuticos, torna-se possível o aprimoramento de habilidades psicológicas, sociais
e de autocontrole em pessoas com Esclerose Lateral Amiotrófica, além do estímulo das funções
cognitivas.
Neste sentido, a confecção de livros trazida como proposta de um recurso a essas
pessoas, permite facilitar a expressão de sentimentos destas e de seus familiares, fazendo com
que compartilhem de experiências e, em conjunto, consigam elaborar resolução de problemas
advindos da sintomatologia progressiva da doença. Ainda, o favorecimento de sua autonomia,
sendo a pessoa com Esclerose Lateral Amiotrófica a própria autora do livro, de sua história e
de seus desejos durante todo o processo de confecção, resgata a percepção de si como um ser
funcional.
REFERÊNCIAS
ALVES, A. C. J; EMMEL, M. L. G; MATSUKURA, T. S. Formação e prática do terapeuta
ocupacional que utiliza tecnologia assistiva como recurso terapêutico. Revista de Terapia
Ocupacional da Universidade de São Paulo, v. 23, n. 1, p. 24–33, 2012.
CALDIN, C. F. A leitura como função terapêutica: biblioterapia. R. Eletr. Bibliotecon. Ci.
Inf, Florianópolis, n.12, 2001.
DRISKELL, L. D.; YORK, M. K.; HEYN, P. C. A Guide to Understanding the Benefits of a
Multidisciplinary Team Approach to Amyotrophic Lateral Sclerosis (ALS) Treatment.
Archives of Physical Medicine and Rehabilitation, v. 100, n. 3, 2019.
FARIAS, A. In: CARVALHO, T.; MELO, M.; MATOS, R.; SILVA, M. (Org.). Simplesmente
Eu. Recife: EDUPE, 2018.
SILVA, D. In: CARVALHO, T.; CABRAL, B. (Org.). A Descoberta com ELA. Recife:
EDUPE, 2015.
923
SILVA, L. P; GUSMÃO, C. A; PITHON, K. R.; GOMES, T; JUNIOR, E. Esclerose lateral
amiotrófica: descrição de aspectos clínicos e funcionais de uma série de casos numa região de
saúde do nordeste do Brasil. Journal of Health & Biological Sciences, v. 6, n. 3, p. 293–298,
2018.
VAN ES, M. A; HARDIMAN, O; CHIO, A; AL-CHALABI, A; PASTERKAMP, R;
VELDINK, J; BERG, L. Amyotrophic lateral sclerosis. The Lancet, v. 390, n. 10107, p. 2084–
2098, 2017.
ZANOTTI, S. V; OLIVEIRA, A. A. S; BASTOS, J. A; SILVA, W. V. N. Jornal do CAPS:
Construção de histórias em oficinas terapêuticas. PSICO, Porto Alegre, v.41, n.2, 2010.
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Territorialização: reflexões a partir da vivência na Residência Multiprofissional em
Saúde da Família
Mayelle Tayana Marinho
Thaynara Fernanda Soares da Silva
Marina Araújo Rosas
As residências multiprofissionais em saúde da família, oportuniza a inserção do profissional na
prática. Dentro dessa realidade, tem-se a experiência da territorialização como um processo de
reconhecimento territorial, epidemiológico, cultural e simbólico. Dessa forma o presente
trabalho tem o objetivo de relatar as experiências vivenciadas durante o período de
territorialização de um programa de residência multiprofissional em saúde da família. Este
trabalho trata-se de um relato de experiência vivenciado dentro do Programa de Residência
Multiprofissional em Saúde da Família do Centro de Ciências da Saúde da Universidade
Federal de Pernambuco, realizado de abril a julho de 2018 nas Unidades de Saúde da Família
de Vila União e Casarão do Cordeiro, ambas na cidade do Recife-Pernambuco. Neste processo,
foi possível vivenciar as características de duas comunidades, tão próximas, mas tão singulares.
Além disso, foi possível traçar o perfil epidemiológico. Finalizando na construção topográfica
do mapa. Desta forma, é possível observar a importância da territorialização para a realização
das práticas no cenário da atenção básica.
INTRODUÇÃO
A residência em Área Profissional da Saúde e a Residência Multiprofissional da Saúde
é uma modalidade de ensino de pós-graduação lato sensu, voltada para educação em serviço
(BRASIL, 2007). Dentre a diversidade de ofertas de residências e sendo a formação dos
trabalhadores de saúde um dos principais desafios para a efetivação de um sistema universal,
foram criadas parcerias entre Ministério da Saúde, Secretarias Municipais de Saúde e
Instituições de Ensino para a implementação da Residência Multiprofissional em Saúde da
Família.
Nesse sentido, com a expansão da rede de atenção básica do Recife em Pernambuco e
sabendo que a introdução de equipes de residentes que trabalham em conjunto com a equipe de
saúde da família reforça o cuidado aos usuários, consolidou-se uma pareceria entre a
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Universidade Federal de Pernambuco e a Secretaria Municipal de Saúde do Recife, instituindo
a Residência Multiprofissional em Saúde da Família do Centro de Ciências da Saúde.
A Atenção Básica é o conjunto de ações de saúde individuais, familiares e coletivas
envolvendo promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de
danos, cuidados paliativos e vigilância em saúde, desenvolvida através de práticas de cuidado
integrado e gestão qualificada, realizada com equipe multiprofissional e dirigida à população
em território definido, sobre as quais as equipes assumem responsabilidade sanitária. Essa será
a principal porta de entrada e centro de comunicação da Rede de Atenção à Saúde, coordenadora
do cuidado e ordenadora das ações e serviços da rede (BRASIL, 2017).
A territorialização surge como ferramenta fundamental para o planejamento das ações
de saúde, pois possibilita conhecer os aspectos ambientais, sociais, demográficos e econômicos
e os principais problemas de saúde da população de determinada área, permitindo desenvolver
intervenções epidemiológicas e atividades voltadas às necessidades da comunidade adstrita
(CAMPOS, 2008; CARVALHO, 2015 apud ARAÚJO, 2017). A territorialização é um dos
pressupostos básicos do trabalho da Equipe de Saúde da Família (BRASIL, 2017). Dessa forma,
permiti o planejamento, a programação descentralizada e o desenvolvimento de ações setoriais
e intersetoriais com foco em um território específico, com impacto na situação, nos
condicionantes e determinantes da saúde das pessoas e coletividades que constituem aquele
espaço e estão, portanto, adstritos a ele (BRASIL, 2017).
O processo de territorialização acaba funcionando como módulo inicial do residente
dentro do programa, para que assim esse vivencie a entrada no campo profissional como se
espera de qualquer profissional que venha a compor a equipe de saúde da família. A partir do
processo de territorialização, para que assim seja possível o estreitamento de vínculos com a
comunidade e a equipe, e, além disso, conhecer o perfil da população para assim seja possível
traçar as intervenções mediante as necessidades da população. Dessa forma o presente trabalho
tem o objetivo de relatar as experiências vivenciadas durante o período de territorialização de
um programa de residência multiprofissional em saúde da família.
METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência do processo de territorialização, vivenciado dentro
do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família do Centro de Ciências da
Saúde da Universidade Federal de Pernambuco. A experiência aconteceu entre março à julho
de 2018. A vivência ocorreu nas Unidades de Saúde da Família de Vila União e Unidade de
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Saúde da Família de Casarão do Cordeiro, em Recife/ Pernambuco. Antes da realização da
experiência em sala de aula, realizou-se duas disciplinas, territorialização e epidemiologia.
Estas, acabam servindo como base para a realização desse processo. No início do processo
realizou-se contato com as equipes para apresentação dos residentes, criação de vínculo e
estruturação do cronograma de atividades.
A experiência foi estruturada em três etapas: A primeira etapa, qualitativa. Teve o
objetivo de conhecer a realidade do território, sua história, singularidades, potencialidades e
dificuldades do território. Nessa fase, toda área de abrangência das unidades foi visitada. Na
Unidade de Saúde da Família de Vila União as visitas se deram nas 4 comunidades que
compõem o seu território de abrangência. Enquanto na Unidade de Saúde da Família do Casarão
do Cordeiro as visitas se deram por microáreas.
A segunda etapa, quantitativa, realizou-se a coleta de dados epidemiológicos a partir de
um instrumento que foi disponibilizado na disciplina de territorialização. Em decorrência do
tempo para realização dessa etapa e extensão dos territórios, na Unidade de Vila União optou-
se por trabalhar com apenas uma equipe. Sendo esta selecionada após reunião com as 4 equipes
em decorrência da desatualização de suas informações, pela dinâmica da área, e alto índice de
vulnerabilidade social. Já na Unidade do Casarão do Cordeiro toda sua área de abrangência
passou por essa etapa. Os dados coletados foram digitados em planilha e com o apoio do
programa EPI INFO (versão 3.5.4) foram analisados, servindo como base para a construção do
perfil epidemiológico da comunidade das Unidades de Saúde da Família.
A terceira etapa, cartografia, consistiu na construção do mapa das áreas seguindo como
base a mesma divisão da etapa anterior. Essa se dividiu em 3 subfases: a primeira consistiu na
construção dos croquis das áreas; a segunda na cartografia participativa, que consiste na
construção do mapa a partir da visão dos comunitários e profissionais. E a terceira etapa que
resultou na produção de dois mapas das áreas. Para finalizar, o trabalho foi apresentado na
universidade à comunidade acadêmica, aos profissionais envolvidos no processo e a
comunidade de maneira geral. Posteriormente foi apresentado nas unidades.
RESULTADOS
A partir dos subsídios resultantes desse processo, foi oportunizado observar que, apesar
das duas comunidades estarem em territórios tão próximos e na mesma cidade, apresentam
diferenças significativas relativas à sua configuração e construção. A partir da construção do
território observam-se duas comunidades ligadas a uma relação de luta e posse de terra, porém
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uma com característica de construção mais fortemente ligada a invasões, enquanto a outra
ligada a um processo de retirada de sua terra natal. A expressão cultural é algo que difere entre
esses espaços, muito atribuído pela organização de cada território.
Levando em consideração os aspectos de similaridade foi oportunizado observar um alto
índice de violência, vulnerabilidade social e tráfico presentes constantemente nessas realidades.
Além disso, muitos dos problemas e necessidades comunitárias identificados se atribuem a
vulnerabilidade social duas regiões, dentre esses fortemente observado, o alto índice de
adoecimento.
Essa experiência oportunizou ainda conhecer a localização geográfica dos territórios.
Reconhecendo suas barreiras e acessibilidades. O baixo nível de escolaridade da população,
com os moradores em sua grande maioria com o ensino fundamental. As condições de moradia
da população, pavimento e redes de esgoto. Assim como as condições ambientais, sendo
observado em ambos os espaços a forte presença de lixo em suas áreas. Foi possível reconhecer
os equipamentos urbanos, equipamentos públicos e sociais, potencialidade e as lideranças.
Além disso, foi observado e relatado por alguns moradores a existência de poucos espaços
para lazer nos dois territórios. O território coberto pela Unidade de Saúde da Família de Vila
União apresenta algumas pequenas praças, porém estas são pouco frequentadas como espaço
de lazer, pois são utilizadas como espaço para consumo de drogas. Já no território coberto pela
Unidade de Saúde da Família do Casarão do Cordeiro não apresenta espaços para lazer.
Foi observada ainda uma carência de equipamentos sociais. O território de Vila União
apresenta uma grande quantidade de igreja e algumas escolas. Já o território de Casarão do
Cordeiro apresenta o Centro de Referência em Assistência Social e o Centro de Referência
Especializado em Assistência Social.
DISCUSSÃO
Quando evocamos o processo de territorialização fortemente se voltamos à importância
que ele desempenha na organização das práticas a serem desenvolvidas pelas equipes, levando
em consideração as necessidades e realidades da população. Os dados epidemiológicos
encontrados nessa prática foram autorreferidos, estando sujeito ao viés de informações.
DaMatta (2003) citado por Arantes et al. (2017) levanta que nessas áreas é forte a presença das
questões culturais e históricas que são aspectos significativos para a vida de um povo e que
acabam refletindo em seu cuidado em saúde. Dessa forma se entende a interpretação de como
é o espaço social e seus códigos é relevante para analisar o comportamento e as ações dos
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sujeitos envolvidos. Sua interpretação também é válida para identificar o tipo de cuidado
prestado nos serviços de saúde (ARANTES et al., 2017).
Com relação à vulnerabilidade social, essa não é relacionada apenas ao indivíduo, mas
também aos aspectos coletivos e contextuais que envolvem questões sociais, políticas, culturais
e econômicos (ALVARENGA; OLIVEIRA; SILVA, 2012). Desse modo é importante que as
equipes de saúde estejam atentas para reconhecer os impactos gerados por essa desigualdade
social na condição de saúde e no processo de cuidado.
Ressalta-se, no caso brasileiro, o papel da saúde como propulsor de desenvolvimento na
sua dimensão regional, cuja importância pauta-se pelo acentuado corte local das iniquidades
socioeconômicas nacionais. A saúde, por ser central para o arranjo das redes urbanas,
influenciando a delimitação de escalas e limites territoriais, é estruturante da ocupação
territorial. Além disso, tem o potencial de definir novos fluxos de investimentos e, portanto, de
reverter tendências tradicionais de concentração da produção e renda no espaço. A saúde
formar- se, como um campo de particular relevância para a coesão social e econômica no
território nacional (BAPTISTA et al., 2011).
Nessa experiência não pode ser esquecido a importância dos Agentes Comunitários de
Saúde, pois esses representaram o elo entre os residentes e a comunidade. Sendo eles os
profissionais que juntamente aos residentes vivenciaram a experiência.
CONCLUSÃO
A experiência da territorialização é vista como um instrumento essencial para realização
de práticas dentro da atenção básica. Trabalho esse que deveria ser realizado por todos os
trabalhadores ao adentrar neste mundo. Pois esse acaba sendo um nível de atenção que se
encontra em contato direto com a realidade de vida e ao longo dos ciclos de vida da população.
Dessa forma, faz-se necessário compreender a realidade que cerca a história de vida desses
sujeitos para assim ser possível compreender o trabalho a ser desenvolvido.
Dessa forma, a vivência da territorialização para o residente enquanto membro que passa
a integrar a equipe acaba funcionando para o estreitamento de vínculos entre esse e a
comunidade, assim como também com a equipe que se faz presente nos serviços. Para assim,
facilitar o desenvolvimento das práticas após esse processo e condução da residência.
REFERÊNCIAS
929
ALVARENGA, M. R. M.; OLIVEIRA, M. A. C.; SILVA, T.M. R. Avaliação da
vulnerabilidade de famílias assistidas na Atenção Básica. Rev. Latino-Am. Enfermagem,
20(5):[09 telas] set.-out. 2012.
ARANTES, C. I. S. et al. Aspectos culturais e históricos na produção do cuidado em um
serviço de atenção à saúde indígena. Ciência & Saúde Coletiva, 22(6):2003-2012, 2017.
ARAÚJO, G. B. Territorialização em saúde como instrumento de formação para estudantes de
medicina: relato de experiência. SANARE, Sobral - V.16 n.01,p. 124-129, Jan./Jun. – 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017. Aprova a
Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização
da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília, DF: Ministério da
Saúde, 2017.
BRASIL, Portaria Interministerial n° 45, de 12 de janeiro de 2007. Dispõe sobre a
Residência Multiprofissional em Saúde e a Residência em Área Profissional da Saúde e Institui
a Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde, 2007.
BAPTISTA, T. W. F. et al. Saúde e territorialização na perspectiva do desenvolvimento. Ciênc.
saúde coletiva, vol.16 no.6 Rio de Janeiro June 2011.
CAMPOS, M. A. F.; FORSTER A. C. Percepção e avaliação dos alunos do curso de Medicina
de uma escola médica pública sobre a importância do estágio em Saúde da Família na sua
formação. Rev Bras Educ Méd [serial on the internet]. 2008 [cited 2017 May 12];29(1):83-9.
SÁNCHES, A. I. M; BERTOLOZZI, M.R. Pode o conceito de vulnerabilidade apoiar a
construção do conhecimento científico em Saúde Coletiva. Ciênc Saúde Coletiva, v.12,n.2, p.
319-24, mar./abr., 2007.
930
Um recorte das contradições das políticas na rede de cuidado aos usuários de drogas na
cidade do Rio de Janeiro
Solanne Alves
Naila Souza
Flávia Fasciotti
Este artigo apresenta parte dos resultados da pesquisa realizada nos serviços de saúde mental
da Área Programática 2.1, na cidade do Rio de Janeiro, entre setembro de 2013 a janeiro de
2014. Teve por objetivo averiguar o cuidado oferecido aos usuários de álcool e outras drogas.
Métodos: pesquisa qualitativa, do tipo descritivo-exploratória, realizada através da aplicação
de questionário e de entrevista semi-estruturada, analisada pela técnica de Análise do Discurso
de matriz pêcheutiana. Participaram deste estudo quarenta profissionais de ensino superior de
quatro serviços de saúde mental. Identificaram-se eixos de formação discursiva, dos quais será
apresentado: reflexão sobre as políticas públicas de álcool e outras drogas e seus efeitos ao
cuidado em saúde. Considera-se necessária uma organização dos profissionais de saúde mental
para atuarem como protagonistas antagônicos a este momento vivido de novas
institucionalizações, operadas na lógica higienista e desqualificadora das subjetividades dos
envolvidos, que atravessam o cuidado, bem como problematização das políticas vigentes e
práticas de cuidado agenciadas, a fim de refletir sobre essas últimas, divulga-las e fortalecê-las.
Palavras chaves: Usuários de Drogas; Saúde Mental; Redução do Dano; Saúde Coletiva.
INTRODUÇÃO
De acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) mais
de 29 milhões de pessoas apresentam dependência por alguma droga (ONU, 2016). Tais
números indicam a necessidade de investimentos nas políticas públicas intersetoriais voltadas
ao cuidado dessa clientela (BEDIN; SCARPARO, 2012). Neste estudo, objetivou-se averiguar
o cuidado cotidiano perpetrado aos usuários de drogas, nos serviços de saúde mental, no
município do Rio de Janeiro.
METODOLOGIA
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Pesquisa qualitativa (MINAYO; DESLANDES; GOMES, 2011) do tipo descritivo-
exploratória, com um questionário autoaplicado e uma entrevista (MARCONI; LAKATOS,
2009) semiestruturada para a coleta dos dados, com gravação de áudio e posterior transcrição.
Os resultados referentes às entrevistas foram analisados pela técnica de Análise de Discurso de
matriz pêcheutiana (ORLANDI, 2013). Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa, sob protocolo CAAE nº 19767413.5.0000.5263. Os critérios de inclusão foram:
profissionais de ensino superior dos serviços de psiquiatria/saúde mental da AP 2.1 do Rio de
Janeiro e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme
preceitos éticos preconizados (BRASIL, 2013). A coleta de dados ocorreu de outubro de 2013
a janeiro de 2014, com 40 profissionais identificados com a letra “a”, seguida de um número
variável de 1 a 40.
RESULTADOS e DISCUSSÃO
Apresenta-se peculiaridades da AP 2.1, bem como perfil dos trabalhadores relacionado ao
gênero, categoria profissional, temas discutidos na formação, carga horária e tempo no atual
serviço.
Políticas públicas de álcool e outras drogas
O Brasil tentou reorientar suas políticas proibicionistas e unilaterais, baseadas na
abstinência e redirecionar a abordagem ao sujeito, que necessita de cuidados em saúde, por
meio da territorialização (BRASIL, 2012b); ação comunitária (BRASIL, 2012a);
enfrentamento do estigma (BRASIL, 2009); atenção integral (BRASIL, 2011a);
intersetorialidade (BRASIL, 2012a); e na lógica da Redução de Danos (BRASIL, 2012c).
Porém, na cidade do Rio de Janeiro, observou-se operância de uma lógica higienista
para com os usuários de álcool e outras drogas e/ou moradores de rua, através de ações baseadas
pela Resolução nº 20, da Secretaria Municipal de Assistência Social (RIO DE JANEIRO, 2011).
Em 2013, houve uma intensificação de recolhimento, com posteriores internações
(SOUZA; LIMA, 2013) reflexo da necessidade de limpar a cidade, sobretudo devido aos
eventos esportivos internacionais previstos. As contradições entre as direções das políticas são
observadas nos discursos dos profissionais, como é possível observar na fala abaixo:
a17. “Não posso dizer que sou uma profunda conhecedora das políticas, mas pelo que eu vejo
principalmente aqui no Rio de Janeiro eu não concordo com as internações compulsórias, eu
sou contra. É importante a internação, mas tem um momento certo; não é simplesmente sair
932
limpando as ruas, internando todo mundo, eu não acredito num trabalho assim. Acho que todo
trabalho passa por um desejo, né? [...]”.
As falas coletadas no estudo problematizam o uso da internação e/ou acolhimento, assim
denominado nos Centros Regionais de Atendimento a Usuários de Álcool e outras Drogas -
CARE-AD -, instituições da assistência social, antigas Comunidades Terapêuticas, que se
encontram em processo de adaptação a esse novo modelo proposto pelo Governo do Estado.
Identifica-se uma tensão: a maioria dos profissionais referiu-se concordante às políticas de
criação de equipamentos de cuidado em liberdade, na perspectiva do cuidado territorializado,
integral, intersetorial e em equipe, apesar de reconhecer as dificuldades para tal.
Efeitos das políticas públicas ao cuidado
Assiste-se a um reordenamento higienista segundo a lógica da “ordem pública”
(SOUZA, LIMA, 2013), na qual usuários de drogas em situação de rua são tratados como casos
de (in) segurança, e não de saúde pública. A partir de um discurso de proteção, produzem-se
práticas excludentes, baseadas na lógica de instituições totais, asilares, reeditando-se a lógica
do confinamento dos indesejáveis, novamente contando com saberes técnico-científicos para a
legitimação de tais práticas e discursos, como o discurso médico-jurista na junção droga-
violência-perigo para a validade do abrigamento e submissão dos indesejados a um circuito de
exclusão e esquecimento (CUNDA, 2011), para “manutenção da ordem”.
A abordagem da assistência social da prefeitura do Rio de Janeiro vem repercutindo
negativamente na rede de cuidado ao usuário, tais como: fragilização do vínculo, a partir da
indiscriminalização dos dispositivos e suas condutas, que confunde a população quanto aos
recursos da saúde disponíveis ao cuidado; desinvestimento em outros recursos pertencentes à
Rede de Atenção Psicossocial - RAPS -, tais como CAPS AD III, Unidade de Acolhimento, e
na formação dos profissionais, como é possível observar:
a23. “Considero que essas políticas afetam minha prática de todas as maneiras. Tem pessoas
que demoram a vir ao serviço porque achou que seria internado; E ainda tem pessoas que
querem internação, um remédio que vai te limpar e nem precisa pensar nas atitudes, na vida,
perceber a relação que tem com a droga que estão usando. E isso acaba ficando de lado, nessas
outras políticas.”
a36. “Eu acho que essas políticas são pouco efetivas, não tem muito objetivo,
não tratam muito a singularidade do trabalho com cada um e acabam não dando
muito resultado...”
933
O cuidado – um agir com o outro - deve ser contextualizado ao modo de vida do usuário,
pois ele não padece do corpo ou da mente separadamente (MERHY, 2014; 2005). Considerando
que as condições ambientais, sociais e mentais são ecologias inter-relacionadas (LANCETTI,
2002). Logo, os processos de produção de saúde devem ocorrer em diálogo com o universo
existencial dos envolvidos. Dessa forma, as equipes devem conhecer os sistemas que estruturam
a vida dos usuários, os interlocutores invisíveis com os quais dialogam e os modos daquela
cultura explicar e lidar com o sofrimento, com o uso da droga.
A subestimada complexidade da questão do uso de drogas, cujas raízes se encontram
em problemas sócio-históricos, em contraposição à falsa solução midiática do recolhimento
compulsório, tem promovido violência, exclusão e desrespeito (SOUZA; LIMA, 2013); em
detrimento de discussões do processo saúde-doença e necessidade de cuidado aos usuários.
Dessa forma, a necessidade de qualificar o cuidado por meio de inovações produtoras de
integralidade da atenção, da diversificação das tecnologias de saúde e da articulação da prática
dos diferentes profissionais e esferas da assistência, torna-se operante (FEUERWERKER;
MERHY, 2008).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Devido às contradições da rede quanto às políticas públicas vigentes, constatou-se a
necessidade de os profissionais se articularem, através dos seus múltiplos saberes, enquanto
atores do cuidado. Pois, os movimentos de encontros - com outros profissionais, políticas e
usuários -, desencontros também com outros profissionais, políticas vigentes e usuários, para a
ratificação da luta de movimentos sociais passados, cujas conquistas não podem ser perdidas
em detrimento do capital e interesse, minoritários dominadores.
Desta forma, faz-se operante uma organização em prol do desempenho dos profissionais
para atuarem como protagonistas antagônicos a este momento vivido de novas
institucionalizações, e que sejam contrárias à lógica higienista, desqualificadora da
subjetividade dos usuários. Assim como problematizarem suas práticas, que apesar de ser o
cotidiano dos profissionais, percebe-se que interrogá-las ainda causa estranhamento. Ainda que
o objetivo desta pesquisa era indagar sobre o cuidado, as dificuldades para realizá-lo foram
sobressalientes no discurso dos profissionais. Além da problematização com os profissionais
quanto à importância da divulgação e reflexão sobre suas intervenções, a fim de refletirem sobre
934
o cotidiano do cuidado em saúde mental e oportunizar mudanças/ melhorias, fortalecendo as
práticas do cuidado.
REFERÊNCIAS
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da experiência de Porto Alegre/RS-Brasil. Pensamiento Psicológico, Pontificia Universidad
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funcionamento e habilitação do Serviço Hospitalar de Referência para atenção a pessoas com
sofrimento ou transtorno mental e com necessidades de saúde decorrentes do uso de álcool,
crack e outras drogas, do Componente Hospitalar da Rede de Atenção Psicossocial, e institui
incentivos financeiros de investimento e de custeio. Brasília-DF, 2012c.
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REFORMULA A POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO ÀS URGÊNCIAS E
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936
Descrevendo Estratégias Terapêuticas Ocupacionais como Promotoras de Saúde em
Ambiente Hospitalar: Relato de Caso
Flávia dos Santos Coelho
Josenilson de Jesus Rodrigues Brandão
Cláudia Márcia Lima da Costa
O Hospital configura-se como um espaço, no qual permeiam diversas práticas e saberes,
conhecimentos e tecnologias a fim de garantir a efetivação dos cuidados e dos serviços
prestados. A Terapia Ocupacional, em contexto de hospitalização, atua, não somente a partir
das características técnico-clínicas de assistência a um paciente, mas também nas experiências
e expectativas frente o processo de internação hospitalar, bem como nas demandas psicossociais
e afetivas deste e de seus familiares/cuidadores. o trabalho tem como objetivo relatar as
estratégias terapêuticas ocupacionais para ressignificação da rotina hospitalar de uma paciente
internada em um hospital público universitário. Pesquisa do tipo estudo de caso de caráter
interventivo, descritivo e utilizando-se da abordagem qualitativa com método narrativo com a
cliente L.B, 36 anos, sexo feminino, admitida ao hospital por complicações de uma Estenose
Subglótica, e estava internada no setor de neuro ortopedia de um hospital universitário. A
estruturação de rotina hospitalar mais próxima a realidade do cliente torna-se relevante, uma
vez que estimula-se o engajamento em ocupações diárias, minimiza-se os impactos negativos
decorrentes da quebra do cotidiano habitual, trabalha-se no enriquecimento de repertório
ocupacional por meio de inclusão de atividades significativas e valoriza-se o protagonismo do
mesmo frente o processo de tratamento. A atuação da Terapia Ocupacional junto a cliente
favoreceu consideravelmente o seu processo de hospitalização e tratamento pois,
primeiramente, esta encontrava-se dependente na maioria de suas ocupações diárias, com
engajamento insatisfatório, influenciados por uma rotina restrita e pobre de ocupações
preferências.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional, Hospital, Reabilitação.
INTRODUÇÃO
O Hospital configura-se como um espaço, no qual permeiam diversas práticas e saberes,
conhecimentos e tecnologias a fim de garantir a efetivação dos cuidados e dos serviços
937
prestados. Essa instituição é marcada por estigmas sociais associando-o ao sofrimento, ao pesar,
a dor e, muitas vezes, a morte, potencializando sua complexidade (DE CARLO; MARTINS;
PALM, 2018).
No entanto, práticas de cuidado integral e ampliado são importantes para a qualidade na
recuperação de indivíduos em situação hospitalar, ratificando a relevância de saberes não
apenas biologicistas (JOAQUIM; SILVESTRINI; MARINI, 2013; MASSA; MENDES;
SERRANO, 2016).
A Terapia Ocupacional, em contexto de hospitalização, atua, não somente a partir das
características técnico-clínicas de assistência a um paciente, mas também nas experiências e
expectativas frente o processo de internação hospitalar, bem como nas demandas psicossociais
e afetivas deste e de seus familiares/cuidadores (DE CARLO; MARTINS; PALM, 2018;
JOAQUIM; SILVESTRINI; MARINI, 2013).
A necessidade de hospitalização pode impactar, significativamente, o sujeito adoecido,
pois, além do sofrimento de “estar doente”, tem-se o rompimento dos seus contextos habituais
de vida, alterações de sua rotina ocupacional com seus padrões e hábitos de desempenho,
alterações nos componentes de desempenho, bem como o distanciamento dos papéis
ocupacionais (DE CARLO; MARTINS; PALM, 2018; NOIA. Et al, 2015).
Logo, o trabalho do terapeuta ocupacional fundamenta-se não apenas na estimulação ou
favorecimento de componentes de desempenho físico para o envolvimento em ocupações, mas
também, na minimização de situações negativas com o enriquecimento de repertório
ocupacional por meio de atividades terapêuticas de interesse do indivíduo, focando nas
necessidades de ocupações significativas, expressões da individualidade, de suas preferências
e potencialidades para ressignificação da rotina hospitalar (DE CARLO; MARTINS; PALM,
2018; AOTA, 2015).
Dessa forma, o trabalho tem como objetivo relatar as estratégias terapêuticas
ocupacionais para ressignificação da rotina hospitalar de uma paciente internada em um
hospital público universitário.
METODOLOGIA
Pesquisa do tipo estudo de caso de caráter interventivo, descritivo e utilizando-se da
abordagem qualitativa com método narrativo com a cliente L.B, 36 anos, sexo feminino,
admitida ao hospital por complicações de uma Estenose Subglótica, e estava internada no setor
de neuro ortopedia de um hospital universitário. Foram realizados 17 atendimentos diários em
938
média de 45 minutos. Ao final de cada atendimento, análise das intervenções foi realizada por
meio da técnica em pesquisa narrativa denominada Diário de Campo. A partir do olhar crítico
e sensível dos pesquisadores, foi traçado uma ordem vivencial dos fatos em que se demonstram
as possíveis transformações na rotina hospitalar da cliente mediante as intervenções
terapêuticas ocupacionais e o que elas influenciaram na ressignificação ambiental, no processo
de tratamento da participante, bem como na transformação de um sujeito protagonista de suas
experiências vividas.
RESULTADOS
Na avaliação terapêutica ocupacional a cliente encontrava-se semi independente nas
atividades de vida diárias, com as habilidades de desempenho motor, cognitivo e sensorial
preservadas, no entanto, identificou-se alterações nas habilidades de interação social,
principalmente relacionadas a socialização e conversação.
Durante identificação de histórico ocupacional, a mesma relata que, antes de
desenvolver dificuldades leves para deglutir alimentos (início de disfagia) proveniente de uma
estenose subglótica, seu cotidiano era preenchido por ocupações significativas de maneira
saudável e com independência. Após internação hospitalar pelo motivo supracitado, na primeira
semana L.B mostrava-se resiliente e esperançosa com o desfecho do caso clínico e cura da
doença, porém, devido a procedimentos da rotina hospitalar e o não desfecho do quadro, o
desempenho e o engajamento nas ocupações básicas diárias ficaram comprometidos, atribuindo
a cuidadora principal a tarefa de assistência total nas atividades diárias como, alimentação,
banho, vestir-se e despir-se e cuidados com o corpo e assistência parcial as atividades de higiene
pessoal. Dessa forma, elaborou-se como planejamento terapêutico ocupacional, estimular as
habilidades de interação social, reestruturar e enriquecer a rotina ocupacional e estimular a
independência nas AVD’s.
Processo de Tratamento Terapêutico Ocupacional
Os atendimentos terapêuticos ocupacionais ocorriam diariamente e, geralmente, duas
vezes ao dia. Primeiramente, por meio de atividades manuais, objetivou-se estimular a
independência nas AVD’s. Nessas atividades, a cliente tinha contato direto com os benefícios
do engajamento em suas ocupações diárias no ambiente hospitalar, levando-a a refletir sobre
suas potencialidades para desempenhá-las com independência. Diante disso, ao longo dos
939
atendimentos, a mesma demonstrou total compreensão sobre os benefícios das AVD’s, porém,
ainda se sentia desmotivada para realizar tais atividades, sobretudo viver a vida ativamente,
pois, acreditava que se encontrava em processo de terminalidade diante a não conclusão do
quadro clínico.
Com base nisso, destaca-se, como estratégia terapêutica, a construção de uma tabela de
atividades da vida diária no hospital em conjunto com a cliente, na qual continha,
primeiramente, atividades ligadas a alimentação, higiene pessoal e banho, que deveriam ser
realizadas no final de semana. Essa tabela foi graduada em níveis de independência, na qual a
paciente deveria realizar as atividades de alimentação e higiene pessoal com independência e a
atividade de banho deveria ser realizada com a ajuda mínima do cuidador. A cada atividade,
realizada ou não conforme a prescrição da tabela, a paciente deveria marcar com “Sim” ou
“Não”.
Com essa estratégia, percebeu-se que a rotina hospitalar começara a ficar melhor
estruturada com metas reais e possíveis de realização independente de suas AVD’s com
compreensão satisfatória diante da realização dessas atividades. A medida que a cliente
conseguia desempenhar as ocupações segundo as prescrições da tabela, graduou-se a atividade
por meio da inclusão de mais AVD’s a ser desempenhadas com independência e, na tabela,
também fora incluídas atividades significativas da paciente que lhe davam prazer, bem-estar e
satisfação. Essas atividades referiram-se a “Pintura em tela” e “Passeios terapêuticos”.
Essas últimas atividades foram inseridas na tabela com metas a serem desempenhadas
no período vespertino com horários pré-estabelecidos, contemplando o objetivo traçado no
plano terapêutico ocupacional de enriquecimento ocupacional.
Após os atendimentos, percebeu-se, por meio da tabela de atividades, dos relatos da
cuidadora e sobretudo da cliente que seu desempenho e engajamento nas AVD’s melhorou, na
qual a paciente demonstrou maior nível de independência na maioria das atividades expostas,
bem como, identificou-se uma rotina hospitalar mais enriquecida e potencializadora frente ao
processo de tratamento.
DISCUSSÃO
A hospitalização tende a modificar a performance do sujeito em agir no mundo,
atribuindo-lhe, muitas vezes, uma condição passiva frente o processo de tratamento, a qual e
estimulada pela rotina, muitas vezes repleta de procedimentos invasivos e complexos, os quais
dependem de terceiros para a sua efetivação. Logo, a autonomia, engajamento e desempenho
940
da pessoa adoecida nas ocupações diárias pode tornar-se enfraquecida, estressante e
negligenciada (ALMEIDA; SOUSA; CORRÊA, 2017; NOIA. Et al, 2015).
Na pesquisa realizada por Almeida, Sousa e Corrêa (2017), o afastamento da rotina
diária e das preferências ocupacionais, a situação de adoecimento e necessidade de
hospitalização, geraram impactos nas atividades da vida diária dos participantes da pesquisa
em situação hospitalar, evidenciando alterações importantes na forma e no significado das
ocupações.
Logo, a avaliação e o trabalho do terapeuta ocupacional, em contexto de hospitalização
deve identificar o grau de engajamento e desempenho nas atividades diárias e os fatores
limitantes para a realização das ocupações, considerar as dificuldades vivenciadas na rotina
hospitalar e pela rotina hospitalar (TREVISSIANA et al, 2019).
A estruturação de rotina hospitalar mais próxima a realidade do cliente torna-se
relevante, uma vez que estimula-se o engajamento em ocupações diárias, minimiza-se os
impactos negativos decorrentes da quebra do cotidiano habitual, trabalha-se no enriquecimento
de repertório ocupacional por meio de inclusão de atividades significativas e valoriza-se o
protagonismo do mesmo frente o processo de tratamento (AOTA, 2015; MARTINS;
CAMARGO, 2014).
Ainda que a hospitalização promova a ruptura de rotinas próprias de cada indivíduo,
levando a quebra no engajamento em ocupações significativas, justificando-se pela necessidade
o cuidado a “saúde”- no âmbito físico-, em que o afastamento dos contextos habituais de vida
são toleráveis e não passíveis a estratégias de reflexão e mudanças, deve-se compreender a
saúde em sua dimensão ocupacional a qual age, diretamente, na qualidade do viver, no bem
estar e na satisfação com a vida (MARTINS; CAMARGO, 2014; ALMEIDA; SOUSA;
CORRÊA, 2017).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A atuação da Terapia Ocupacional junto a cliente favoreceu consideravelmente o seu
processo de hospitalização e tratamento pois, primeiramente, esta encontrava-se dependente na
maioria de suas ocupações diárias, com engajamento insatisfatório, influenciados por uma
rotina restrita e pobre de ocupações preferências. Posteriormente, após os atendimentos de
Terapia Ocupacional, com as estratégias terapêuticas, a cliente conseguiu, gradativamente
tornar-se independente em suas atividades diárias, por meio de estruturação de rotina
ocupacional, a qual assumiu uma característica mais próxima possível a realidade da paciente,
941
favorecendo assim a qualidade do viver em ambiente hospitalar. Envolver-se em ocupações é
garantir a construção de papéis e identidades no mundo, atribuindo sentido ao viver a vida.
Ocupar-se é, também, preencher a vida de significados pelo fazer humano, condição necessária
para o estabelecimento da saúde.
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943
Participação de terapeutas ocupacionais no processo de alta de crianças e adolescentes em
Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenis
Raíssa Herold Matias Richter
Maria Fernanda Barboza Cid
Embora a saúde mental seja um campo tradicional de atuação dos terapeutas ocupacionais,
observa-se escassez de estudos nacionais e internacionais que abordem a alta no campo da
saúde mental infantojuvenil e a participação de terapia ocupacional. Assim, o objetivo da
presente investigação foi compreender como se dá a participação de terapeutas ocupacionais no
processo de alta de crianças e adolescentes em Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenis.
Participaram 15 terapeutas ocupacionais que atuam em CAPSij no município de São Paulo. Os
dados foram coletados por meio de entrevista semiestruturada e analisados a partir da técnica
do Discurso do Sujeito Coletivo. Foi possível observar que a contribuição das(dos)
participantes no processo de alta está relacionada a sua atuação enquanto profissional do
“campo” da saúde mental e enquanto do “núcleo” da terapia ocupacional, se concretizando a
partir de avaliação mais ampliada e contextualizada da criança/adolescente candidata à alta, ao
fortalecimento das famílias, à atuação como referência técnica dos usuários e buscando a maior
participação dos sujeitos no processo de alta, bem como seu empoderamento na apropriação
dos espaços sociais extramuros do Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil. A discussão
do “campo” e “núcleo”, presente na saúde mental, permitiu constatar que a especificidade
das(os) terapeutas ocupacionais tem relevante contribuição na promoção dos processos de alta
de crianças e adolescentes, sendo que elas(es) têm atuado possibilitando a condução de
processos de alta condizentes com as demandas dessa população e com o trabalho preconizado
na política de saúde mental infantojuvenil brasileira.
Palavras-chave: Saúde Mental Infantojuvenil; alta do Paciente; Terapia Ocupacional; Sistema
Único de Saúde.
INTRODUÇÃO
Idealizar e executar um plano de alta é considerado uma atuação clínica importante, que
compõe o processo de cuidado da Terapia Ocupacional, profissão que tem o campo da saúde
como um importante contexto de intervenção (RICHTER, 2019; TICKLE-DEGNEN, 2011).
944
Para o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, dentre outras funções,
“é competência do terapeuta ocupacional […] dar alta nos serviços de terapia ocupacional,
utilizando o critério de reavaliações sucessivas que demonstrem não haver alterações que
indiquem necessidade de continuidade destas práticas terapêuticas […]” (COFFITO, 1987,
p.2).
No entanto, observa-se, na literatura nacional e internacional, que são escassos os
estudos que exploram a visão ou a participação de profissionais terapeutas ocupacionais no
processo de alta, de forma geral e especialmente no contexto da saúde mental, sendo que os que
existem, demonstram que o maior enfoque está na atenção à população adulta em contextos
hospitalares, os quais, por meio de avaliações ou ações da profissão, têm investigado as
possibilidades dos sujeitos para lidarem com a saída do hospital e o retorno ao seu cotidiano
(MARIOTTI et al., 2014; RICHTER; 2019).
Sabe-se que terapeutas ocupacionais integram as equipes multi/interdisciplinares dos
Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenis (CAPSij), equipamentos estratégicos de
cuidado em saúde mental 944nfanto-juvenil (SMIJ) existentes em todo o território nacional e
que pesquisadores da área de terapia ocupacional têm estudado temas que se aproximam da alta
neste contexto de atuação, tal como Bueno (2013), que, ao objetivar caracterizar a atuação de
terapeutas ocupacionais em CAPSij no estado de São Paulo, obteve, como um dos resultados,
a existência de um baixo número de altas em tais contextos, referindo que isso pode estar
relacionado à carência de serviços e à fragilidade da rede intersetorial ou à alta complexidade
do sofrimento psíquico vivenciado pelos usuários.
No entanto, evidencia-se a ausência de estudos que problematizem sobre como se dá o
envolvimento do profissional terapeuta ocupacional nos processos de alta de crianças e
adolescentes em sofrimento psíquico intenso (RICHTER; 2019). Assim, o objetivo da presente
pesquisa foi compreender sobre a participação de terapeutas ocupacionais no processo de alta
de crianças e adolescentes vinculados a CAPSij da cidade de São Paulo/SP.
METODOLOGIA
945
Trata-se de uma pesquisa de campo descritiva e exploratória, de abordagem qualitativa,
realizada com 15 terapeutas ocupacionais trabalhadoras(es)1 de CAPSij do município de São
Paulo, com pelo menos 1 ano de experiência neste equipamento.
O projeto de pesquisa referente a este estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa (CEP) em seres humanos da Universidade Federal de São Carlos, (parecer
nº 2.363.458) e pelo CEP da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, (parecer nº
2.455.921) e, somente após sua aprovação os procedimentos para a coleta de dados foram
iniciados. Ressalta-se que a participação no presente estudo foi condicionada à assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
A identificação e localização das(os) participantes aconteceu por meio das
Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS) do município de São Paulo. Dentre as 17 unidades
CAPSij contatadas, 9 autorizaram a realização da pesquisa e 15 terapeutas ocupacionais
aceitaram colaborar. Quanto às(aos) 15 participantes, identificou-se que 12 possuem entre 26 a
35 anos e 13 são mulheres. Doze possuem a média de idade entre 26 e 35 anos e se formaram
entre 2006 e 2015. Nove participantes possuem de dois a cinco anos de experiência na área de
SMIJ, e, também nove possuem de um a três anos de experiência no CAPSij que estão
trabalhando atualmente.
A produção de dados se deu por meio de um roteiro de entrevista semiestruturado
elaborado pelas autoras. As entrevistas foram gravadas e transcritas integralmente e o seu
conteúdo foi analisado por meio da técnica do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), que objetiva
revelar as diferentes formas e conteúdos de opiniões referentes a um determinado tema, por
meio de representações sociais (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005), as quais se dão por meio de
discursos de um sujeito que fala em nome do coletivo e expressa as diversas ideias centrais (IC)
de um determinado assunto.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observou-se que, de forma geral, todas(os) as(os) terapeutas ocupacionais
envolvidas(os) nesta pesquisa participam de processos de alta nos CAPSij em que trabalham,
sendo que, na ótica das(os) mesmas(os) esta participação acontece ou por meio de uma atuação
Ressalta-se que toda referência feita aos participantes desta pesquisa está no plural-feminino
seguido da identificação masculina entre parênteses, objetivando destacar a população-alvo de
maior representatividade (13 mulheres), mas também validar a participação das minorias (2
homens) neste trabalho.
946
advinda do fato de serem profissionais da saúde mental ou relacionada à especificidade de
serem terapeutas ocupacionais.
Considerando a primeira situação, a participação das(os) terapeutas ocupacionais
acontece das seguintes formas: na conversa com a família e usuário; nos contextos grupais
abordando a questão da alta; em casos de usuários que são acompanhados em grupos que as
(os)terapeutas ocupacionais estão envolvidas(os); nas discussões em equipe; nas reuniões de
matriciamento; e no exercício da função de referência técnica especificamente; conforme
observa-se no seguintes DSC:
“Eu participo como referência técnica, onde eu vou fazer o
acompanhamento da criança ou adolescente como uma funcionária CAPS.
Então aqui eu não sou a TO que estou dando alta pra ele, eu sou a técnica
de referência da equipe multi […]”.
Na sequência, apresentam-se os DSCs relativos à segunda situação, ou seja, à
participação das(os) profissionais no processo de alta, nas quais são focalizadas ações
consideradas no nível do núcleo da profissão, portanto, que partem da singularidade de serem
terapeutas ocupacionais. Nesse sentido, foi possível verificar nos relatos que a participação se
concretiza: na alta de atendimentos individuais de terapia ocupacional; na avaliação do
desenvolvimento psíquico-biológico da criança/adolescente; na avaliação da autonomia e
funcionalidade da criança/adolescente no cotidiano; no desenvolvimento da ampliação do
repertório de atividades da criança/adolescente, apresentando recursos e possibilidades
existentes na rede; e nas reuniões de equipe, argumentando aspectos específicos da terapia
ocupacional que justifiquem ou não a necessidade da alta. Segue DSC ilustrativo:
“Eu participo dessa ampliação de repertório, de apresentar recursos e
possibilidades, de trabalhar essa questão do sair daqui, de trabalhar o local
em que eles serão recebidos, de ir lá com a criança, dessa coisa do caminhar
junto, de ajudar eles a chegarem até esse outro espaço que estamos
pensando. Então eu tento trabalhar bastante as possibilidades que tem na
rede, a questão do empoderamento mesmo […]”.
A partir dos discursos apresentados, nota-se que as(os) terapeutas ocupacionais, ainda
que mantenham a defesa e reafirmem a vivência do trabalho na saúde mental enquanto um
947
trabalho que extrapola as especificidades e especialidades advindas dos campos profissionais,
dizem suas contribuições nas situações de alta das crianças e adolescentes sob a luz da terapia
ocupacional enquanto profissão e campo de saber.
Os discursos demonstram um sentido de compor o objetivo maior de que a
criança/adolescente consiga efetivar sua participação social em outros espaços e desenvolver
seus próprios interesses, o que se coloca de forma especial nas situações de alta, em que se
espera que estes aspectos já tenham sido trabalhados durante seu acompanhamento no CAPSij.
Observa-se que ações como estas, compreendidas aqui enquanto possibilidades de participação
da terapia ocupacional, considerando seu núcleo profissional, mostram-se de grande valor no
processo de alta, pois tendem a viabilizar que esta aconteça efetivamente e de forma mais
participativa pelas pessoas envolvidas neste processo.
Nesta direção, Fernandes e Matsukura (2016), afirmam que é compromisso da terapia
ocupacional no campo da SMIJ realizar ações que busquem a garantia da inclusão social, das
possibilidades de relações sociais, de cidadania, de expressão e de transformação dos usuários,
as quais impliquem na condução de suas vidas cotidianas. E Juns e Lancman (2011) pontuam
que a atuação dos terapeutas ocupacionais nas políticas públicas de saúde mental vem
avançando quanto ao modelo técnico-assistencial, e consideram que a especificidade da terapia
ocupacional tem caminhado junto às necessidades dos objetos de sua intervenção, trazendo
ganhos aos usuários atendidos no contexto dos CAPS.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A discussão do “campo” e “núcleo”, presente na saúde mental, permitiu constatar que a
especificidade das(os) terapeutas ocupacionais tem relevante contribuição na promoção dos
processos de alta de crianças e adolescentes, sendo que elas(es) têm atuado a partir da vida
cotidiana, do engajamento, do desenvolvimento de interesses, da descoberta de outros espaços,
da aproximação dos usuários a estes novos locais, possibilitando a condução de processos de
alta condizentes com as demandas dessa população e com o trabalho preconizado nos CAPSij
e na política de saúde mental 947 infanto-juvenil brasileira.
REFERÊNCIAS
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revelando as ações junto aos Centros de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil
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306.
949
Repertório de Habilidades Sociais de estagiários do curso de Terapia Ocupacional
Marcela Doescher Dias
Kelli Cristina Corrêa
Meire Luci Da Silva
Possuir habilidades sociais é importante para os estudantes da área da saúde não só para sua
vida socioafetiva, acadêmica, mas principalmente como futuro profissional, terapeuta
ocupacional, que deverá realizar contato com o paciente, familiares e/ou cuidadores, equipe
multiprofissional, para ofertar boa pratica de cuidado humanizado, manejo do paciente e
discussão clínica dos casos. Este estudo tem como objetivo investigar o repertório de
habilidades sociais de estagiários de Terapia Ocupacional de uma universidade pública do
interior de São Paulo. Para coleta de dados foi utilizado um questionário socioeconômico e o
Inventário de Habilidades Sociais. A análise dos dados foi realizada através de cálculos de
estatística descritiva e protocolo do instrumento. Participaram 37 estagiários com idade média
de 21,9 anos, prevalência do gênero feminino e solteiro. Os resultados evidenciaram repertório
de habilidades sociais satisfatório de parte expressiva amostra, porém não invalida a
necessidade de olhar mais cuidadoso e criterioso para os estagiários com déficit, apontando
assim, para que a formação profissional na área da saúde, não seja somente embasada em
conhecimento técnico-científico, mas também voltados ao treinamento e/ou aperfeiçoamento
das Habilidades Sociais, pois estas são fundamentais como estratégia e instrumento para a
promoção da boa qualidade das práticas de cuidado.
Palavras-chave: Estágio Clínico; Habilidades sociais; Terapia Ocupacional; Universidade.
INTRODUÇÃO
A presença de um bom repertório de habilidades sociais em estudantes universitários é
importante durante suas vidas acadêmicas, uma vez que podem auxiliar na resolução de seus
problemas, desempenho sócio, afetivo e acadêmico e, consequentemente ser um fator de
proteção ao aparecimento de sintomas de transtornos relacionados às suas condições de saúde
mental (TEIXEIRA et al.,2008; SOARES & DEL PRETTE, 2015). Por outro lado, o déficit
no repertório de habilidades sociais poderá trazer ao indivíduo consequências como: reduzido
ou inexistente círculo de amizade, dificuldade no enfrentamento de situações de risco, baixa
950
autoestima, dificuldades na resolução de conflitos cotidianos podendo levar ao
desenvolvimento de Transtornos Mentais relacionados ao humor, ansiedade e fobia, bem como
ao uso abusivo e/ou dependência de substâncias psicoativas (RIBEIRO; BOLSONI-SILVA,
2011).
A Terapia Ocupacional como profissão da área da saúde que tem como objetivo a oferta
do cuidado aponta que os profissionais, devam possuir bom repertório de habilidades sociais
para prática profissional através de relações interpessoais satisfatórias com os atores envolvidos
no processo do cuidado (usuário, familiares, cuidadores e equipe técnica), pois somente
habilidades técnicas e procedimentais na área não são suficientes para a oferta do cuidado
humanizado e integral, manejo do paciente e discussão clínica dos casos. Mediante o exposto
e considerando que uma das etapas finais do curso de Terapia Ocupacional, é a realização do
estágio supervisionado, que exige do futuro terapeuta ocupacional, bom repertório de
habilidades sociais e, também pela preocupação com a saúde, bem estar e qualidade de vida do
estagiário, este estudo visa investigar o repertório de habilidades sociais destes futuros
terapeutas ocupacionais, uma vez que dificuldades relacionadas a esta variável pode acarretar
em prejuízos significativos não só no seu desempenho acadêmico, social e qualidade de vida,
mas também da qualidade na oferta do cuidado.
METODOLOGIA
Esta é uma pesquisa de caráter quantitativa e de corte transversal, aprovado pelo Comitê
de Ética e Pesquisa. Participaram estudantes em estágio supervisionado, de um curso de Terapia
Ocupacional de uma universidade pública localizada no interior de São Paulo. Para critérios de
inclusão, este deveria aceitar participar voluntariamente e estar realizando estágio
supervisionado. Como critérios de exclusão: não responder a todas as questões e não aceitar
participar voluntariamente. O período de coleta foi do terceiro ao quinto mês do ano letivo de
2018.
Como instrumentos investigativos foi utilizado um questionário socioeconômico para
caracterizar o perfil dos participantes e o Inventário de Habilidades Sociais (IHS) (DEL
PRETTE; DEL PRETTE, 2001), instrumento composto de 38 itens sobre habilidades sociais
que são divididos em cinco fatores: Enfrentamento e Autoafirmação com Risco (F1);
Autoafirmação na Expressão de Sentimento Positivo (F2); Conversação e Desenvoltura Social
(F3); Autoexposição a Desconhecidos e Situações Novas (F4); Autocontrole da Agressividade
(F5). Para análise das respostas do questionário socioeconômico fora utilizados cálculos básicos
951
de estatística descritiva (média, desvio padrão e porcentagem) e para análise das respostas do
IHS foi utilizado o protocolo pré-estabelecido pelo instrumento.
Para coleta de dados foi solicitado a autorização do coordenador do curso e após autorização,
os estagiários foram contatados. No primeiro contato, foi exposto o objetivo da pesquisa e
solicitado a colaboração voluntária. Depois do aceite, foi agendado data, horário e local para
aplicação dos instrumentos pelo pesquisador. A coleta de dados foi realizada no ambiente
acadêmico durante os intervalos das aulas ou horários vagos e com a presença do pesquisador
para que pudesse sanar possíveis duvidas do voluntário durante o preenchimento dos
questionários.
RESULTADOS
Foram convidados 41 estagiários de Terapia Ocupacional, porém 37 estagiários
aceitaram participar e quatro recusaram, justificando a indisponibilidade de tempo. Os
participantes apresentaram idade média de 21.9 (DP±1.7), sendo em sua maioria do gênero
feminino e solteiras.
Em relação às habilidades sociais, a análise dos escores médios possibilitou a classificação dos
repertórios geral da amostra (Tabela 1) e por fatores (Tabela 2).
Tabela1. Classificação geral do repertório de habilidades sociais da amostra.
Altamente Bastante Bom Médio Abaixo
elaborado elaborado repertório inferior média
Total 4 (10,8%) 2 (5,4%) 24 (64,8%) 3 (8,2%) 4 (10,8%)
Tabela 2. Classificação dos repertórios por fatores
Fatores Altamente Bastante Bom Médio Abaixo da
elaborado elaborado repertório repertório média
F1 2 (5,4%) 4 (10,8%) 17 (45,9%) 4 (10,8%) 10 (27,0%)
F2 3 (8,1%) 5 (13,5%) 21 (56,7%) 5 (13,5%) 3 ( 8,1%)
F3 13 (35,1%) 5 (13,5%) 8 (21,6%) 3 ( 8,1%) 8 (21,6%)
F4 5 (13,5%) 5 (13,5%) 13 (35,1%) 6 (16,2%) 8 (21,6%)
F5 0 (0,00%) 6 (16,2%) 23 (62,1%) 5 (13,5%) 3 ( 8,1%)
952
Considerando a presença de déficit ou não, os resultados apontaram que 30 (81,1%)
estagiários apresentaram repertório de habilidades satisfatório (variando de bom a altamente
elaborado) e sete (18,9%) apresentaram déficit no repertório (variando de médio a abaixo da
média), conforme Tabela 3.
Verificou-se que os fatores que mais apresentaram prejuízos foram: F1 (Enfrentamento
e Autoafirmação com Risco) e F4 (Autoexposição a Desconhecidos e Situações Novas) seguido
de F3 (Conversação e Desenvoltura Social).
Tabela 3. Classificação geral dos repertórios com ou sem déficit por fatores.
Repertório Repertório
Fatores
(Bom a Altamente elaborado) (médio a abaixo da média)
F1 23 (62,2%) 14 (37,8%)
F2 29 (78,4%) 8 (21,6%)
F3 26 (70,3%) 11(29,7%)
F4 23 (62,2%) 14 (37,8%)
F5 29 (78,4%) 8 (21,6%)
DISCUSSÃO
A presente pesquisa evidenciou que 81,0% (30) dos estagiários apresentaram repertório
de habilidades sociais satisfatório com destaque para os fatores F2 (Autoafirmação na
Expressão de Sentimento Positivo) e F5 (Autocontrole da Agressividade). O repertório de HS
satisfatório também foi resultado de pesquisa realizada por Penha et al. (2016) ao avaliar as HS
de 35 residentes médicos e multiprofissionais em saúde de um hospital universitário. Em
relação ao gênero Penha et al. (2016) apontou a necessidade de treinamento do Fator 1
relacionado ao enfrentamento e auto afirmação com risco para os homens e, sugeriu o
treinamento em relação ao F2 autoafirmação na expressão de sentimento positivos para as
mulheres.
O presente estudo verificou que repertório de HS satisfatório em F2 (expressão de
sentimentos positivos) e F5 (autocontrole da agressividade). Nesse sentido, Sartori et al. (2018)
em estudo que avaliou as HS de estagiários de psicologia, refere que as associações positivas
entre habilidades de autocontrole da agressividade e expressão de sentimentos positivos podem
estar relacionadas à boa relação entre estagiário e supervisor. Lima et al. (2016) em pesquisa
ação referentes às HS em estudantes de medicina verificou que após a intervenção houve
953
expressiva redução de níveis de estresse e melhora nas habilidades sociais em geral, mais
acentuadamente nos fatores F2 e F5, o que subentende-se que o estresse pode ser uma variável
de risco se mal administrado pelo estagiário, bem como sinal de alerta para os gestores e
docentes/supervisores para a atenção e manejo de situações estressores.
Este estudo evidenciou também fatores que apresentaram déficit sendo estes: F1
(Enfrentamento e Autoafirmação com Risco) que influencia na assertividade do estagiário
frente à tomada de decisões em relação ao tratamento, no compartilhamento de informações e
discussões com equipe, muitas vezes comprometendo sua atuação; já o déficit em F4
(Autoexposição a Desconhecidos e Situações Novas) e F3 (Conversação e Desenvoltura Social)
pode comprometer o contato inicial com o paciente, criação de vínculo e ainda dificultar o
relacionamento e comunicação com colegas e supervisores (KOGA, ARAÚJO, RODRIGUES,
2018). Entretanto, há uma relativa escassez de pesquisas que investigue a relação entre
habilidades sociais e estagiários da saúde, devido a isso houve uma limitação no
aprofundamento da discussão dos resultados.
CONCLUSÃO
Os resultados evidenciaram repertório de habilidades sociais satisfatório de parte
expressiva amostra, porém não invalida a necessidade de olhar mais cuidadoso e criterioso para
os estagiários com déficit, apontando assim, para que a formação profissional não seja somente
embasada em conhecimento técnico-científico, mas também relacionais. Nesse sentido, aponta
para a necessidade de treinamento e/ou aperfeiçoamento das HS, como ítem a ser abordado
durante o período de formação profissional nos cursos da área de saúde, pois as HS são
fundamentais como estratégia e instrumento para melhora da qualidade das relações
interpessoais necessárias para a promoção da boa qualidade das práticas de cuidado. Como
fatores limitantes, destaca-se o aprimoramento estatístico das variáveis (em processo) e também
a escassez de estudos com estudantes da área da saúde em fase de inserção na prática
profissional, a fim de subsidiar a discussão dos resultados.
REFERÊNCIAS
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Depressão em Estudantes Universitários. Psicologia: Teoria e Pesquisa, [s.l.], v. 32, n. 4, p.1-
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SOARES, A. B., MOURÃO, L., SANTOS, A. A. A., & Mello, T. V. S. Habilidades sociais e
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TEIXEIRA, M.A.P., et al. Adaptação à universidade em jovens calouros. Psicologia Escolar e
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http://dx.doi.org/10.1590/s1413-85572008000100013.
955
A abordagem lúdica como estratégia de promoção de saúde com adolescentes escolares:
um relato de experiência
Lucas de Paiva Silva
Mariana Faustino de Oliveira Almeida
Sémares Genuíno Vieira
Adriana Lobo Jucá
Daniela Tavares Gontijo
O terapeuta ocupacional pode atuar com o público adolescente em diferentes contextos, um
deles é no âmbito da educação em saúde. Entre as atividades que podem ser desenvolvidas
destacam-se os jogos educativos. Este trabalho tem por objetivo relatar a experiência vivenciada
no campo da promoção de saúde sexual e reprodutiva com adolescentes mediadas por jogos
educativos. Relato de experiência junto a grupo de adolescentes escolares do ensino médio de
uma escola estadual do Recife. Os grupos ocorreram semanalmente e foram desenvolvidos pela
Equipe de Saúde da Família e do Núcleo Ampliado de Saúde da Família do território,
totalizando oito encontros entre os meses de outubro e novembro de 2018. Quatro turmas do
ensino médio participaram do projeto, com média de 20 adolescentes por classe. Os recursos
lúdicos utilizados, desde jogos de tabuleiro, dinâmicas de participação ativa, até os serious
games eletrônicos, foram elaborados pelos profissionais e estudantes participantes do projeto.
Os jogos constituem-se como mediadores das relações dos profissionais e adolescentes.
Observou-se que dar relevância às falas trazidas pelos jovens os faz perceber que eles
pertencem ao grupo e por este são respeitados, sentindo-se confiantes a esboçarem dúvidas e
expor sua própria experiência. Preconizando o diálogo como forma fundamental da relação
horizontalizada, as turmas mostraram-se receptivas. A partir da potencialização do vínculo com
os jovens, através do recurso lúdico, foi possível a construção de experiências de aprendizagem
que contribuam para a autonomia dos atores envolvidos, especialmente no que se refere a sua
vida sexual e reprodutiva.
Palavras-chave: Adolescência; Promoção da Saúde; Saúde Sexual e Reprodutiva; Terapia
Ocupacional.
INTRODUÇÃO
956
O terapeuta ocupacional pode atuar com o público adolescente em diferentes contextos,
um deles é no âmbito da educação em saúde. Suas ações são subsidiadas através de atividades
mediadoras do processo de intervenção, desde o reconhecimento de demandas até a construção
de reflexões conjuntas (GONTIJO et al., 2015).
A educação em saúde caracteriza-se como uma significativa ferramenta na promoção
da saúde da comunidade, respaldada na escuta e respeito às experiências prévias dos indivíduos.
Ações nesse sentido devem, portanto, considerar a construção coletiva do saber junto com os
sujeitos, de forma contextualizada e significativa na vida destes, tal como acontecem com o
público adolescente ao se refletir sobre a saúde sexual e reprodutiva (CAMARGO; FERRARI,
2009; CARNEIRO et al., 2015).
Ao considerar tais ações com jovens, ressalta-se a escola como lócus potencial para
profissionais da saúde desenvolverem estratégias educativas participativas no âmbito da saúde
sexual, abordando, entre outras temáticas, métodos de prevenção de infecções sexualmente
transmissíveis (IST’s), conhecimento do próprio corpo, responsabilidade na vivência da
sexualidade segura, gênero e violência (BARBOSA et al., 2010; CARNEIRO et al., 2015).
Na condução de grupos com adolescentes, observa-se que a utilização de jogos pode ser
potencializadora na construção de espaços de diálogo (BARBOSA et al., 2010). Esse,
norteando-se pela Pedagogia Paulo Freire, é priorizado entre os sujeitos numa relação
horizontalizada, ética e amorosa. Por se tratar de assuntos contextualizados às vidas dos jovens
através de um momento lúdico, esses tendem a apresentar maior interesse na participação das
atividades, enxergam-se motivados a refletir sobre sua realidade, se veem protagonistas de suas
escolhas, tornando as ações significativas (GONTIJO et al., 2015; SOUZA et al., 2017;
MONTEIRO, et al., 2018). Deste modo, o recurso lúdico torna-se uma potencial estratégia de
mediação das intervenções da terapia ocupacional que tenham como horizonte a construção da
autonomia no cotidiano de vida (GONTIJO et al., 2015).
Assim, o presente estudo tem como objetivo relatar a experiência vivenciada no campo
da promoção de saúde sexual e reprodutiva com adolescentes mediadas por jogos educativos.
METODOLOGIA
As ações de promoção de saúde fizeram parte do projeto de extensão “BrincanTO -
Terapia Ocupacional na Promoção de Saúde na Adolescência”, do Departamento de Terapia
Ocupacional da Universidade Federal de Pernambuco e ao Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Vulnerabilidade e Saúde na Infância e Adolescência da mesma instituição, em parceria com
957
Equipes de Saúde da Família e Núcleo de Ampliado de Saúde da Família do município do
Recife. O BrincanTO tem como pressupostos teórico-metodológicos o referencial do educador
Paulo Freire e utiliza como instrumentos de mediação jogos educativos desenvolvidos pela
equipe .
O projeto tem como objetivos promover ações que estimulem a conscientização de
adolescentes sobre seus direitos sexuais e reprodutivos, a vivência da sexualidade de forma
segura, desenvolver ações de prevenção de IST’s, gravidez indesejada, além de contribuir na
promoção do respeito à diversidade sexual.
Este relato refere-se às experiências vivenciadas junto a grupo de adolescentes escolares
do ensino médio de uma escola estadual do Recife. Os grupos ocorreram semanalmente, com
duração de 50 minutos cada encontro, totalizando oito encontros entre os meses de outubro e
novembro de 2018. Participaram do projeto profissionais e estudantes da área da saúde, como
a Terapia Ocupacional, Nutrição e Psicologia.
A cada encontro eram realizadas reflexões acerca das temáticas listadas na Tabela 1.
Após cada encontro era realizada discussão em equipe sobre a intervenção, sendo as reflexões
gravadas e posteriormente transcritas como registro em diário de campo. Material que também
subsidia este relato.
Tabela 1: Recursos lúdicos utilizados para as respectivas temáticas abordadas.
Temática Recurso/Jogo utilizado
Corpo Humano Quebra cabeças do corpo humano
Sexualidade Se Liga na Música
Gênero e Violência Quiz de Gênero
Gravidez na adolescência Decidix (serious games eletrônico)
Infecções Sexualmente Transmissíveis Previnix (serious games eletrônico)
Responsabilidades da Adolescência Responsix (serious game eletrônico)
Métodos Contraceptivos Escolhendo métodos contraceptivos
RESULTADOS
Participaram quatro turmas do ensino médio, com uma média de 20 adolescentes por
classe. Durante os encontros os alunos eram questionados sobre a divisão da turma,
normalmente optando pela divisão por sexo.
958
Os primeiros momentos com os grupos foram marcados pela apresentação da proposta
do projeto e da Unidade de Saúde da Família do território. Desde o primeiro contato as ações
do projeto foram construídas juntamente aos alunos, uma vez que esses contribuem com
sugestões e relatos de sua experiência de vida, proporcionando subsídio para as discussões.
Os adolescentes foram estimulados a refletirem acerca das mudanças observadas por
eles durante a puberdade, notando-se uma importante desinformação em relação ao seu próprio
corpo e do sexo oposto. A partir de músicas, os jovens conceituaram sexualidade e trouxeram
reflexões sobre namoro, relações afetivas, e as diferenças culturais em relação aos gêneros nesse
contexto começaram a se destacar.
Durante a temática sobre gênero, orientação, identidade e expressão sexual e violência
foi interessante observar a reflexão que os meninos trouxeram ao relacionar as discriminações
que pessoas que não são heterossexuais sofrem com as discriminações raciais e sociais que os
próprios alunos são vítimas. Puderam refletir sobre empatia em momentos como este,
priorizando o respeito ao próximo.
Ao abordar a gravidez na adolescência através de um serious games percebe-se que os
adolescentes compreendem a responsabilidade que esta situação envolve, o quanto ela está
presente eu seu cotidiano, a sobrecarga para as mulheres e como suas decisões variam de acordo
com o grau de intimidade com os parceiros.
De um modo geral, a utilização dos recursos eletrônicos estimulou uma maior interação
dos alunos, eles costumavam solicitar estes para jogarem em casa ou com outros amigos. As
ações do projeto BrincanTO encerraram-se com as atividades acerca da prevenção de IST’s e
os métodos contraceptivos, nas quais observou-se que os adolescentes possuem informações
superficiais sobre o conteúdo, trazendo dúvidas mais direcionadas ao assunto. Foi importante,
nesse sentido, construir com os jovens conhecimentos quanto à forma de prevenir, identificar e
explorar estratégias de enfrentamento de algumas situações que poderiam vir a interferir em
sua saúde.
DISCUSSÃO
Observou-se que dar relevância às falas trazidas pelos jovens os faz perceber que
pertencem ao grupo e por este são respeitados, sentindo-se confiantes a esboçarem dúvidas e
expor sua própria experiência. Preconizando o diálogo como forma fundamental da relação
horizontalizada, as turmas mostraram-se receptivas e mais participativas.
959
As vivências evidenciaram o potencial da utilização dos jogos educativos na promoção
da saúde sexual e reprodutiva com os adolescentes escolares. O recurso lúdico, nesse sentido,
facilita o exercício do pensamento crítico de sua realidade, favorecendo, assim, a criação de
estratégias de enfrentamento das situações problemas (MONTEIRO et al., 2018). Gontijo et al.
(2015) apontaram que o compartilhamento do saber proporciona uma maior interação entre os
jovens, assim como melhor envolvimento nas atividades. Demais benefícios observados com o
uso de jogos no âmbito educacional também foram relatados por Souza et al. (2017), tais como
o aspecto atrativo e a ludicidade do recurso, que favorecem a expressão da criatividade e
partilha do conteúdo.
Consonante aos objetivos do BrincanTO, identificou-se a prática dos pressupostos do
educador Paulo Freire, ao se priorizar a relação horizontalizada entre profissionais e educandos,
não prevalecendo um saber verdadeiro ou superior ao outro. Diante desta metodologia de
participação ativa, cabe ao terapeuta ocupacional atuar como um mediador do processo de
reflexão crítica para com os jovens, por meio da atividade, problematizando questões cotidianas
de modo significativo ao público adolescente (GONTIJO et al., 2015).
Assim como apontaram Camargo e Ferrari (2009), percebeu-se que os jovens se
interessam pela busca do conhecimento acerca do próprio corpo e do sexo oposto, fazendo-se
necessária a continuidade do incentivo aos jovens quanto ao autocuidado e decisões
responsáveis nas relações interpessoais.
Os adolescentes passaram a compreender que sexualidade caracteriza-se por uma
construção social e cultural, muitas vezes relacionadas às relações sociais. Nesse aspecto estão
envolvidos os desejos, prazeres, sentimentos, assim como os tabus, mitos e preconceitos
(BECHARA et al., 2013). De acordo com Carneiro et al. (2015), o exercício da sexualidade,
pelos adolescentes refletem diretamente na saúde do jovem. Deste modo, abordar a temática
pode colaborar na redução de eventuais problemas, principalmente na vida sexual e reprodutiva
insegura.
CONCLUSÃO
A partir da potencialização do vínculo com os jovens, através do recurso lúdico, foi
possível a construção de experiências de aprendizagem que contribuem para a autonomia dos
atores envolvidos, especialmente no que se refere a sua vida sexual e reprodutiva além dos
aspectos biológicos. As ações educativas do BrincanTO, portanto, vão além da simples
960
transmissão dos conteúdos, estimulando a potencialidade dos jovens quanto suas decisões,
responsabilidade e autonomia.
REFERÊNCIAS
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adolescentes: reflexões teórico-metodológicas. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília,
v. 70, n. 2, p. 376-383, 2017.
961
Tecnologia Assistiva para crianças com paralisia cerebral: uma revisão integrativa da
literatura
Gerusa Ferreira Lourenço
Thais Breternitz Lino
Buscando conhecer a produção científica atual sobre seu uso, o objetivo deste estudo foi
identificar os diferentes dispositivos descritos na literatura nacional e internacional para
crianças com Paralisia Cerebral. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura cuja fonte de
dados foram artigos publicados na base de dados MedLine, no periódico Brazilian Journal of
Occupational Therapy e na Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, nas
línguas portuguesa, espanhola e inglesa, nos últimos cinco anos. Os descritores usados foram:
paralisia cerebral, tecnologia assistiva, cerebral palsy e assistive technology. As buscas
apresentaram 124 artigos. Após a seleção dos artigos, restaram o total de 16 artigos
considerados como amostra final. Foram identificados diferentes recursos que auxiliam nas
atividades de vida diária, mobilidade, comunicação, acesso a computadores, adequação
postural, entre outros; revelando o impacto significativo de seu uso. Ressalta-se a necessidade
do investimento em estudos sobre esse tipo de recurso de modo a favorecer o acesso e
participação da população com paralisia cerebral.
Palavras-chave: Tecnologia Assistiva; Paralisia Cerebral; Criança.
INTRODUÇÃO
A Tecnologia Assistiva (TA) é um grande aliado na reabilitação, na independência, na
autonomia e na inclusão de pessoas com deficiência. O qual consiste em uma vasta área de
conhecimento, que visa auxiliar as pessoas a desempenharem suas funções, proporcionando a
funcionalidade e englobando recursos, produtos, metodologias, estratégias, práticas e serviços
que promovam a autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social (BRASIL,
2009). Diante dos diferentes públicos da Tecnologia Assistiva, o presente estudo volta-se para
o seu uso na infância e mais especificamente por criança com paralisia cerebral, uma vez que
vários recursos de tecnologia assistiva podem ser utilizados em seu processo de reabilitação,
favorecendo a realização de atividades e participação social (TROMBLY; RADOMSKI, 2005).
962
Atualmente, tem-se observado um crescente aumento de pesquisas objetivando
desenvolver tecnologias que buscam auxiliar e otimizar a vida das pessoas com paralisia
cerebral, por este motivo, desperta-se o interesse em fazer um levantamento de estudos
internacionais e nacionais existentes que aborde a temática de implementação e uso de
dispositivos de tecnologia assistiva por crianças com paralisia cerebral.
OBJETIVO
Identificar os diferentes recursos de Tecnologia Assistiva implementados para crianças
com Paralisia Cerebral presentes na literatura nacional e internacional dos últimos 5 anos, a fim
de mapear e classificar os dispositivos existentes e os contextos em que são utilizados.
MÉTODO
Pesquisa do tipo revisão integrativa de literatura (MENDES et al., 2008). Foram
incluídos estudos empíricos sobre o uso, implementação e/ou desenvolvimento de recursos de
Tecnologia Assistiva para crianças com Paralisia Cerebral em diferentes contextos da vida,
publicados no período de março de 2013 a março de 2018, nas línguas portuguesa, inglesa ou
espanhola, e disponíveis gratuitamente na íntegra. Foram excluídos artigos que tratavam de
revisão de literatura e artigos que a população-alvo criança com paralisia cerebral se mesclavam
entre adultos e idosos.
Os termos indexados para as buscas foram: Tecnologia Assistiva, Assistive technology;
paralisia cerebral e cerebral palsy. As bases de dados de pesquisa consultada foram MedLine
(via PubMed); e os periódicos Brazilian Journal of Occupational Therapy e Revista de Terapia
Ocupacional da Universidade de São Paulo, durante o período de março de 2013 a março de
2018. Por meio da busca da base de dados MedLine, foram encontrados no total 85 artigos,
sendo que todos os resultados pertenciam ao descritores Assistive technology e cerebral palsy.
Já no periódico Brazilian Journal of Occupational Therapy, foram encontrados 32 artigos no
total e na Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 7 artigos totais, com
o descritor Tecnologia Assistiva. Após a aplicação dos critérios de seleção, compôs a amostra
final 16 artigos, os quais foram lidos, analisados e as informações pertinentes aos objetivos
foram categorizadas.
RESULTADOS
963
No que se refere ao ano de publicação, dos 16 estudos, três foram publicados em 2013
e 2015, dois em 2014, quatro em 2016 e quatro em 2017. Diferentes métodos e dispositivos
foram adotados: em quatro estudos (SANTOS et al, 2015; BORGESTING et al, 2017;
ADAMS; COOK, 2016; STASOLLA et al.; 2013) foram utilizados recursos de comunicação
alternativa, sendo eles uma ferramenta de hardware e software denominada CA²JU; um sistema
de acesso pelo olhar e um Lego robô controlado por um dispositivo gerador de fala (SGD). Um
dos estudos encontrados (STASOLLA et al.; 2013) buscou proporcionar uma nova
configuração de TA para permitir a escolha do sujeito entre três categorias (alimento, bebida e
lazer) minimizando as escolhas não intencionais e verificando a satisfação ao controle adequado
do ambiente.
Foram citados em três estudos recursos de tecnologia assistiva focados na acessibilidade
ao computador (STASOLLA et al, 2015; DHAS, 2014; LEUNG; CHAU, 2016), apresentando
um microswitch e dispositivos de acessibilidade implementados para favorecer o uso do
computador na substituição da escrita com um single-switch. Análises de uso de órteses
apareceram em dois estudos (OLIVEIRA; PRAZERES, 2013; PAUK et al, 2016), na análise
de marcha com crianças diplégicas usuárias de órtese de pé e tornozelo fixo (AFOs), e outro
estudo que desenvolveu uma órtese dinâmica, denominada de roupa biocinética.
Quanto à adequação postural, um dos trabalhos apresentou uma análise do impacto
funcional de intervenções adaptativas em assentos recomendado para crianças com PC por meio
de três estudos com diferentes tipos de métodos de pesquisa, abordagens de mensuração e
período de follow-up, correlacionando a melhora da performance decorrente a adequação
postural propiciada pelo uso dos recursos (RYAN, 2016). Outro estudo examinou a adequação
postural em crianças PC espásticas bilateral durante a condução de um cadeira de rodas
motorizadas utilizando um joystick unilateral e uma interface bimanual (LIU et al, 2014).
Foram retratados também dispositivos que auxiliam na mobilidade apresentados por
três estudos (KENYON et al, 2017; RODBY-BOUSQUET et al, 2016 ; FERGUS, 2017), entre
os recursos são Upsee associado ao uso de kinesio taping, cadeiras de rodas motorizadas e
manuais, e uma proposta de dispositivo de mobilidade de energia alternativo.
Ainda, o desenvolvimento de um robô LekBot, que auxilia na comunicação e interação
entre as crianças e seus pares no contexto escolar (FERM et al, 2015).
Finalmente tem-se os recursos de auxílio para vida diária, as adaptações de baixo custo
confeccionadas com objetivo de promover a atividade de escrita em uma escola de rede regular
de ensino no interior de São Paulo como meio para melhorar o desempenho escolar por parte
964
dos alunos (PLOTEGHER et al., 2013).
DISCUSSÃO
Os resultados alcançados pela revisão da literatura indicam que diversos recursos de
tecnologia assistiva têm sido desenvolvidos no sentido de promover a funcionalidade para
crianças com paralisia cerebral em diversas atividades, com destaque de achados para recursos
de comunicação alternativa, acesso ao computador, além de auxiliares de mobilidade e
posicionamento. Estudos que se debruçam em descrever o desenvolvimento e uso de recursos
favorecem a produção de evidências que devem ser buscadas para melhores práticas a atuação
terapêutica ocupacional junto às crianças com paralisia cerebral (CURY; BRANDÃO, 2011).
No entanto, cabe destacar que ainda se considera incipiente o volume de artigos nacionais
publicados sobre essa temática nos principais veículos de divulgação do país, o que pode trazer
dificuldades para os profissionais se manterem atualizados em achados científicos recentes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se que os objetivos propostos para a revisão foram alcançados, uma vez que
se mapeou e identificou pesquisas com resultados relacionados a recursos implementados para
favorecer o desempenho de atividades da vida diária; a comunicação e interação social, o acesso
ao uso do computador, possibilidade de controle de ambiente, órteses, adequação postural e
mobilidade, demonstrando o impacto significativo no uso do recurso por crianças com paralisia
cerebral em seu desempenho ocupacional em diferentes contextos. Ainda, compreende-se os
limites da revisão quanto ao período de busca e os critérios de seleção aplicados e sugere-se
novos estudos com ampliação das bases de dados e periódicos e dos descritores empregados.
Por fim, ressalta-se a necessidade de investimentos em estudos que evidenciem boas práticas
em tecnologia assistiva e a população com Paralisia Cerebral.
REFERÊNCIAS
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measurement using robots controlled via speech-generating devices: three case studies. Disabil
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BORGESTING, M. et al. Gaze-based assistive technology used in daily life by children with
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TROMBLY, C. A.; RADOMSKI, M. V. Terapia Ocupacional para disfunção física. 5ª
edição. São Paulo: Livraria Santos Editora, 2005.
967
Tecendo saberes, compartilhando vivências sobre a criança com cardiopatia e os cuidados
parentais
Andreya Araujo Gomes
Miguel Paranhos Melo de Melo
Airle Miranda de Souza
Karla Maria Siqueira Coelho Aita
A cardiopatia congênita é uma anormalidade estrutural do coração e/ou da função
cardiocirculatória que pode ou não ser identificada ao nascimento, a qual é responsável por alto
índice de mortalidade infantil. Diante disso, os pais podem experimentar angústias e constroem
suas compreensões acerca da doença, inspiradas pelos sintomas manifestos, pelas narrativas e
simbologias que cercam o coração. Tais compreensões podem repercutir sobre as ocupações
dos pais, que as reestruram a fim de que o filho receba os cuidados necessários para a
manutenção da vida. Este estudo tem por objetivos desvelar as compreensões que os pais
possuem acerca das cardiopatias de seus filhos e compreender o impacto dos cuidados
demandados pela criança na rotina desses pais. O trabalho é o resultado parcial de um projeto
de pesquisa de natureza qualitativa realizado em um hospital de referência em cardiologia na
Região Norte, e teve como participantes 5 pais acompanhantes de crianças com cardiopatia
submetidas ao tratamento hospitalar. Os resultados foram obtidos por meio das respostas à
entrevista semiestruturada, cuja análise ocorreu por meio da técnica de Análise do Conteúdo, a
partir da qual emergiram as seguintes unidades de significado: “medo do desconhecido”,
“perspectivas sobre o estado de saúde” e “cuidar como ocupação principal”. Foi identificado
que o desconhecimento sobre a doença pode agravar o sofrimento dos pais, assim como
compreendeu-se que, quando se tem um filho com cardiopatia, a própria vida pode esperar pois
a manutenção da vida do filho mostra-se inadiável.
Palavras-chave: Cardiopatias Congênitas; Criança; Pais; Terapia Ocupacional.
INTRODUÇÃO
A cardiopatia congênita é a anormalidade na estrutura do coração e/ou na função
cardiocirculatória presente desde o nascimento que pode ser ou não identificada nos primeiros
dias de vida. Dentre as malformações congênitas, as cardiopatias congênitas encontram-se entre
968
as mais comuns e respondem por alto índice de mortalidade ainda nos primeiros anos de vida
(BELO; OSELAME; NEVES, 2016).
Para além dos aspectos biológicos, o coração é repleto de símbolos. Aita e Souza
(2016) exemplificam que o coração, nas falas populares, pode fazer alusão ao caráter (pessoa
de bom coração ou de coração mau), assim como pode personificar o amor, quando se diz que
“alguém dá o coração a outro”. Dessa forma, as compreensões dos pais acerca da doença que
repousa no coração de seus filhos são envoltas não só pelos sintomas apresentados, mas também
por narrativas e crenças consolidadas pela cultura.
À vista disso, a partir do diagnóstico dos filhos, os pais podem experienciar
inúmeras emoções e sentimentos, como o medo, ansiedade, tristeza e desemparo (PAVÃO;
MONTALVÃO, 2016). A fragilidade da criança evidenciada nos sintomas e instabilidade
clínica leva ao entendimento de que a vida pode ser abreviada. Neste sentido, pode repercutir
na forma e no sentido das ocupações dos pais e deixar marcas na existência pelas vivências da
cardiopatia congênita do filho.
Nesse sentido, este estudo propõe desvelar as compreensões que os pais possuem
acerca das cardiopatias de seus filhos, assim como compreender o impacto dos cuidados
demandados pela criança na rotina desses pais.
METODOLOGIA
O presente estudo é o resultado parcial de um projeto de pesquisa de natureza
qualitativa, realizado em um hospital de referência em cardiologia da Região Norte.
Após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Fundação Pública
Estadual Hospital de Clínicas Gaspar Vianna (FPHCGV), sob o parecer de número 2.979.410,
foram convidados a participar do estudo pessoas acima de 18 anos de idade, que concordassem
em colaborar com o mesmo, cujos filhos possuíam cardiopatia, encontravam-se em tratamento
hospitalar e na faixa etária entre 0 e 12 anos de idade. Foram excluídos pais de etnia indígena,
uma vez que a pesquisa envolvendo indígenas traria a linguagem enquanto barreira para a coleta
dos dados.
A amostra foi composta por 05 pais (04 mães e 01 pai), que acolheram a proposta
e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE. Durante a coleta de dados,
foram aplicadas entrevistas semiestruturadas, as quais foram gravadas em áudio e transcritas na
íntegra. A análise dos dados deu-se por meio da técnica de Análise do Conteúdo de Bardin. Os
969
nomes dos participantes do estudo foram substituídos pelo prefixo “P” seguido pelo número de
inscrição para a coleta.
RESULTADOS
Dentre as unidades de significado que emergiram da Análise do Conteúdo
encontram-se: “medo do desconhecido”, “perspectivas sobre o estado de saúde” e “o cuidar
como ocupação principal”. Sobre o “medo do desconhecido”, a semelhança entre as falas
residiu no medo em comum, contudo interditado, acerca da morte prematura do filho, assim
como no desconhecimento sobre o que pode causar essa morte. Nas “perspectivas sobre o
estado de saúde”, observou-se que as percepções sobre a gravidade da doença dos filhos
sofreram influência positiva a partir da convivência com outros pais, ou mesmo no contato com
crianças com cardiopatias mais complexas e instáveis clinicamente. Acerca do “cuidar como
ocupação principal”, observou-se que esta ocupação tende a suprimir todas as demais áreas da
vida do cuidador e colocar em detrimento do investimento nas terapêuticas clinicas que
garantem a vida do filho.
DISCUSSÃO
Medo do desconhecido
Através das falas das participantes, observou-se que a doença no coração é
interpretada como grave e ameaçadora da vida. A vida e a morte são igualmente possíveis a
partir deste órgão e, com o manifestar da doença, a morte parece sobressair-se. Os sintomas na
criança causam grande sofrimento nos pais, que temem serem estes o prenúncio do fim.
Essas apreensões fundamentam-se nas falas de P2 e P3, que, ao serem questionadas
sobre como consideram o estado de saúde dos filhos, responderam: “Eu considero grave. Eu
nunca me dei com isso, nunca nem tinha visto falar nesse problema de coração com criança,
em já nascer com problema” (P2). “Às vezes ela sente algum problema e eu já fico nervosa,
preocupada. Olha, eu vim para cá [hospital] porque ela estava se reclamando de dor de
cabeça, vomitando” (P3).
Com base em Arantes (2016), percebe-se que a expressão da dor e sofrimento
resultantes do adoecimento é singular, tanto para o paciente quanto para seus familiares.
Quando o desconhecimento sobre aquilo que aflige a pessoa amada é somado a este sofrimento,
970
a dor parece amplificar-se: há sofrimento pela possibilidade da morte, conhecida embora
interditada, e por não saber o que pode 970vita-la; como (e se é possível) 970vita-la.
A esse respeito, nota-se que as bases teóricas da terapêutica ocupacional em
Contextos Hospitalares e Cuidados Paliativos podem contribuir no cuidado a estes pais. De
acordo com Melo, Aita e Farias (2019), o trabalho do terapeuta ocupacional em Cuidados
Paliativos busca o alívio e prevenção de sofrimento assim como a promoção de conforto, não
só do paciente, mas também da família. Nesse lugar, recursos plásticos de apelo ocupacional
são potentes ferramentas, pois possibilitam o resgate de sentidos e significação de fazeres.
Acerca do desconhecimento sobre as patologias identificado nas falas das
entrevistadas, o terapeuta ocupacional pode proporcionar educação em saúde e consequente
conhecimento e manejo das doenças, pois ao longo de sua formação, este profissional é
instrumentalizado para promover a integralidade do cuidado, em que também estão inseridas
as ações de promoção e prevenção em saúde (BRASIL, 2002).
Perspectivas sobre o estado de saúde
Nas falas das entrevistadas também foi identificado que quando a referência é
apenas a doença do filho as noções de gravidade são intensificadas, em contrapartida, ao
conhecer outras histórias, os sofrimentos são amenizados. Isso é observado nas falas de P2 e
P4, que refletem: “agora que eu vi outras crianças aqui, né?! (...) Eu acho que ela está bem”
(P2). “Agora, chegando aqui, (...) eu estou achando que está boa [a condição de saúde], né?
Comparando às outras crianças que eu estou convivendo, estou vendo, né? Em situações mais
graves do que a dela, né?” (P4).
A partir dessas falas, depreende-se a relevância dos trabalhos de grupo, consagrados
na Terapia Ocupacional. De acordo com Ballarin (2007), essas abordagens estão imbuídas de
interdisciplinaridade, contudo, o atendimento grupal em Terapia Ocupacional, aplicável em
diversos contextos, difere-se quando a experimentação do fazer humano, objeto de estudo da
profissão, é compreendido e proposto como terapêutico.
Nesses termos, ao lançar mão dos grupos terapêuticos ocupacionais junto a
familiares de pessoas com esquizofrenia em contexto hospitalar, Araujo e Kebbe (2014)
identificam que o contato dos participantes com histórias de vida similares às suas possibilitou
a resolução de dúvidas sobre a doença e das possibilidades de cuidado, assim como despertou
reflexões sobre a importância de cuidar de si.
Cuidar como ocupação principal
971
Acerca da relação entre a vida extra-hospitalar e os cuidados ora demandados pelo
filho, identificou-se que as participantes deixam suas vidas em suspenso e privilegiam aquilo
que se mostra inadiável, que é a busca feroz pela vida do filho. A esse respeito, P4 discorre:
“Tenho orientado por telefone aqui, né? Meu filho, meu esposo, na
questão das minhas coisas lá [em casa] para entregar (...). Eu vou me
preocupar, eu vou me agoniar? Não! Tenho que esperar, tenho que ter
a paciência de esperar, né? Se eu (...) não tiver a paciência de cuidar
da minha filha, da saúde dela, quem vai ter? Eu que sou mãe, né?” (P4)
De modo semelhante, P3 conclui: “vou esperar o tempo que for preciso para
resolver a situação da minha filha” (P3).
A autotranscendência é a capacidade do ser humano em superar o individualismo e
ir ao encontro da necessidade do outro. Viktor Frankl considera que o homem encontra sua
realização quando transcende às suas próprias vontades em função de uma causa em específico
ou no amor a outra pessoa, por exemplo (FRANKL apud ZAMULAK, 2015). Tal atitude está
evidente na fala das entrevistadas.
Lima e Aita (2014), em estudo qualitativo realizado com mães de crianças com
cardiopatia, desvelam que as mães dedicam suas vidas ao cuidado do filho e que mesmo em
meio a sentimentos desagradáveis estavam determinadas em seguir em frente, pois os
sacrifícios ora realizados trariam a vida do filho. Assim, as autoras concluem a necessidade de
a Terapia Ocupacional inserir-se nesse contexto a fim de resgatar ou facilitar o desempenho de
outras ocupações no cotidiano das mães em contexto hospitalar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir deste estudo, foram desveladas compreensões que os pais possuem sobre as
cardiopatias de seus filhos. Identificou-se que, além do medo da morte, o desconhecimento
acerca da doença pode amplificar o sofrimento dos pais, que também sofrem por não saberem
o que pode causar a morte. Observou-se que as noções de gravidade são proporcionais ao
contato com problemas semelhantes, em que temores são apaziguados à medida em que trocam-
se experiências com pais em mesma situação. Por fim, compreendeu-se que, quando se tem um
filho com cardiopatia, a própria vida pode esperar, pois a busca pela manutenção da vida do
filho mostra-se inadiável.
REFERÊNCIAS
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973
Suporte Social e Saúde Mental em universitários: tecendo reflexões
Fabiola da Silva Costa
Helder Clay Fares dos Santos Júnior
Miguel Paranhos Melo de Melo
Enise Cássia Abdo Najjar
A saúde mental ocorre com o equilíbrio das esferas que compõem a vida do sujeito, tais como
os aspectos físicos e sociais. Assim, o suporte social e a satisfação com este configuram-se
como potentes colaboradores da saúde mental do jovem universitário, observando-se que
quanto maior a satisfação com o suporte recebido pelo acadêmico, menor é a incidência de
desordens emocionais. À vista disso, este estudo teve por objetivo analisar a satisfação com o
suporte social recebido pelos universitários. A amostra foi composta por 60 acadêmicos da área
da saúde provenientes dos cursos de Terapia Ocupacional, Fisioterapia e Medicina, sendo 20
participantes de cada curso. Os dados foram obtidos por meio de respostas à entrevistas
semiestruturadas, cuja análise deu-se de modo quanti-qualitativo, sendo a análise quantitativa
realizada por meio do programa Microsoft Excel 2010® e a qualitativa, pela técnica de Análise
do Conteúdo. Através dos resultados obtidos foi identificado que os estudantes reconhecem a
importância da manutenção de um bom relacionamento com sua rede de suporte para a
consolidação do bem-estar emocional e da saúde mental, contudo, alguns entrevistados
indicaram dificuldades neste relacionamento devido ao distanciamento físico e/ou emocional
da rede de suporte social, o que pode colaborar para o desenvolvimento de problemas
emocionais, assim como depressão e ansiedade.
Palavras-chave: Estudantes de Ciências da Saúde; Apoio Social; Saúde Mental.
INTRODUÇÃO
De acordo com Ribeiro (2011), a saúde mental é parte integrante da saúde e pode
ser caracterizada por um completo estado de bem-estar do indivíduo. É estabelecida quando há
um equilíbrio das interfaces que compõem o sujeito, uma vez que a saúde mental, física e social
é interdependente.
Por sua vez, o suporte social pode se constituir como potente colaborador da saúde
mental, à medida que ampara o sujeito e contribui para que ele administre eventos novos em
974
sua vida. (SOUZA; BAPTISTA; BAPTISTA, 2010). Seiça e Vitória (2017) identificam que a
incidência de acometimentos psíquicos, como a ansiedade e depressão, por exemplo, é
inversamente proporcional à satisfação com o suporte social, quanto mais o jovem acadêmico
estiver satisfeito com o suporte recebido, menor a incidência de desordens emocionais.
A família, na maioria das vezes, se constitui a primeira rede de suporte social para
o indivíduo. A rede de suporte também pode ser formada por amigos, relacionamentos
amorosos e outros. Portanto, a satisfação com o suporte social é importante ferramenta para a
diminuição do estresse psicológico (SEIÇA; VITÓRIA, 2017).
À vista disso, este estudo teve por objetivo analisar a satisfação com o suporte social
recebido pelos universitários.
METODOLOGIA
O presente estudo é parte dos resultados de um projeto de Iniciação Científica de
natureza quanti-qualitativa. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade do Estado do Pará, parecer de número 2.746.615, em (mês) de 2018. Para o seu
desenvolvimento, foram selecionados os dados relacionados ao suporte social dos
universitários participantes. A amostra foi composta por 60 acadêmicos da área da saúde de
uma universidade pública da Região Norte, provenientes dos cursos de Terapia Ocupacional,
Fisioterapia e Medicina, sendo 20 participantes de cada curso. Os critérios de inclusão foram
acadêmicos regularmente matriculados nos referidos cursos. Foram excluídos os estudantes dos
campi localizados no interior do Estado.
Para a coleta de dados, foi aplicada uma entrevista semiestruturada, objetivando
identificar a percepção dos acadêmicos em relação ao suporte social recebido. As entrevistas
foram gravadas em áudio e posteriormente transcritas. A análise quantitativa dos dados obtidos
ocorreu por meio do programa Microsoft Excel 2010®, enquanto a análise qualitativa deu-se
por meio da técnica de Análise do Conteúdo, identificando-se o tema e as características
relacionadas ao tema (BARDIN, 2011). Foram definidas três unidades de significado:
distanciamento de relações significativas, dificuldades em expressar-se e relacionar-se com a
rede de suporte, e suporte social como promotor de saúde mental e bem-estar emocional.
Para identificação dos participantes utilizou-se o prefixo correspondente ao curso
que pertencem: TO, para o curso de Terapia Ocupacional; FISIO, para o curso de Fisioterapia
e MED, para o curso de Medicina, seguido pelo número representativo da ordem em que os
dados foram coletados.
975
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em relação a com quem moram os universitários, verifica-se que 90% (n=18) dos
estudantes dos cursos de Fisioterapia e de Medicina moram com a família composta pelos pais
e/ou parentes próximos, enquanto 80% (n=16) dos acadêmicos do curso de Terapia
Ocupacional moram com a família.
No que se refere à satisfação com o suporte social recebido, 55% (n=11) dos
universitários do curso de Medicina estão satisfeitos com o suporte recebido e não percebem a
necessidade de melhorias. 60% (n=12) dos acadêmicos do curso de Terapia Ocupacional
consideram-se satisfeitos com o suporte social que possuem, mas acreditam que pode melhorar.
Destaca-se que 15% (n=3) dos participantes dos cursos de Fisioterapia e Terapia Ocupacional
igualmente, encontram-se insatisfeitos com o suporte social que recebem, enquanto nenhum
entrevistado do curso de Medicina referiu insatisfação com o suporte social recebido, conforme
a Tabela 1.
Tabela 1: Sobre a satisfação dos universitários com o suporte social (n=60)
Terapia Ocupacional Fisioterapia Medicina
%(n=20) %(n=20) %(n=20)
Satisfeito e sem necessidade de melhorias 25% (5) 30% (6) 55% (11)
Satisfeito mas pode melhorar 60% (12) 55% (11) 45% (9)
Insatisfeito 15% (3) 15% (3) 0% (0)
Total 100% (20) 100% (20) 100%
(20)
Fonte: banco de dados do estudo.
Comparativamente observa-se que o maior número de estudantes que residem com
os pais e/ou parentes próximos são provenientes do curso de Medicina e Fisioterapia. A maioria
dos estudantes do curso de Medicina encontra-se satisfeita com o apoio social recebido.
Entretanto, a maioria dos estudantes do curso de Fisioterapia e de Terapia Ocupacional
encontra-se satisfeita, mas afirmam que o suporte social pode melhorar.
No que tange a percepção dos acadêmicos acerca do que pode melhorar em relação
ao suporte social, os participantes apontaram alguns aspectos relevantes.
Distanciamento de relações significativas
976
Com o ingresso no ensino superior, há uma tendência do jovem universitário a
afastar-se da sua rede de suporte social, em virtude do grande volume de atividades relacionadas
à universidade:
“De uns tempos para cá, principalmente com os meus amigos e, às
vezes, com os meus pais, eu perdi um pouco o contato (...) por causa de
coisas que eu tenho que fazer (...), por conta dessas coisas (...) sobra
pouco tempo ou um tempo menor para eu fazer (...) qualquer coisa fora
da [universidade]” (TO-09)
“Eu não sou tanto de tirar um momento para conversar, porque a vida
está muito corrida e eu não posso ficar conversando horas e horas
como o pessoal está acostumado” (FISIO-07)
Estudos de Vizzotto, Jesus e Martins (2017), afirmam que este distanciamento da
rede de suporte social em função das atividades acadêmicas constitui-se importante fator de
risco para o desenvolvimento de sofrimentos mentais. O afastamento da rede de suporte,
especialmente da família, pode causar medo e insegurança, o que predispõe à ansiedade e
depressão. Em contrapartida, jovens universitários que mantêm contato frequente com sua rede
de suporte social estão menos propensos ao sofrimento.
Dessa forma, considera-se que a participação regular do universitário em uma rede
de suporte social coesa é fundamental para a promoção e cuidado da Saúde Mental, assim como
para a prevenção de agravos nesta esfera. Achados de Seiça e Vitória (2017), que discutem que
o suporte social possui caráter protetor na Saúde Mental de universitários ao passo que a
presença de pessoas significativas com quem o jovem possa compartilhar sobre sua vida previne
o desenvolvimento de ansiedade, depressão, estresse e distúrbios afetivos em geral.
Dificuldades em expressar-se e relacionar-se com a rede de suporte
Alguns dos acadêmicos entrevistados demonstraram percalços nas relações com as
pessoas que fazem parte da rede de suporte social. Estas dificuldades, segundo os relatos dos
participantes se manifestam seja por falta de compreensão e acolhimento nas relações com as
pessoas significativas, seja por dificuldades do universitário na expressão de suas necessidades
e sentimentos, como por exemplo, bloqueios para expressar seus medos, angústias e, até
mesmo, alegrias com as pessoas que compõem o seu dia-a-dia.
977
“(...) Para eu confiar em alguém é (...) muito difícil, eu não consigo
confiar em qualquer um. Então... acho que uma interação mais íntima
com as pessoas com quem eu já conheço (...) seria mais ideal para
poder superar esses... problemas [do dia-a-dia]” (TO-07)
“Eu acho que, às vezes, eles [os pais] precisam entender que certas
coisas que acontecem comigo, (...) não necessariamente vai acontecer
igual ao que acontecia com eles antigamente, entendeu?!” (FISIO-11)
“Talvez eu tenha um déficit com a minha família, (...) eles não
apoiavam muito eu fazer medicina, todos eles fizeram direito, então,
queriam que eu fizesse direito, não medicina. E, às vezes, eu me sinto
só porquê não tem ninguém pra falar da minha realidade” (MED-18)
De acordo com Guadalupe e Cardoso (2018), as redes de suporte social informal,
que compreendem familiares, amigos e demais pessoas da comunidade, são comumente
fortalecidas. No entanto, isso não significa que estas sejam indestrutíveis e pouco maleáveis,
uma vez que as diversas circunstâncias do cotidiano, como o distanciamento físico, podem
acarretar o enfraquecimento desse tipo de suporte. Isto pode ser comprovado pelos discursos
dos acadêmicos que narram o distanciamento de pensamentos e convicções, o que prejudica a
criação de um sentimento de confiança e, por conseguinte, a elaboração de processos de
expressão de dificuldades e de fortalecimento das relações afetivas.
Suporte Social como promotor de saúde mental e bem-estar emocional
Por outro lado, alguns participantes reconhecem a necessidade de preservar e
manter uma boa relação com a rede de suporte social para a promoção da saúde mental e do
bem-estar emocional. Estas apreensões baseiam-se nas narrativas que seguem, resultantes do
questionamento sobre quem eles percebiam como facilitador do apoio advindo do suporte
social:
“A minha família, eu acho que me faz muito bem. Eu gosto muito de
conversar com os meus colegas, a gente ri bastante e eu vejo isso
realmente como terapêutico, como preventivo” (TO-06)
“Eu acredito que se envolver em grupos (...) de algo em comum é uma
forma de melhorar.” (MED-16)
978
“A minha família me dá muito apoio, em todos os aspectos, dentro da
universidade, em relação à orientação sexual, eu sempre tive muito
apoio dentro de casa. Nunca fui de sofrer por conta disso.” (FISIO-05)
Estes aspectos podem ser compreendidos de acordo com a proximidade que se
mantém com a rede de suporte social, haja vista que as pessoas que permanecem nutrindo os
vínculos, mesmo em pequenos gestos diários, são as que mais se sentem fortalecidas e
encorajadas em sua rotina, como afirmam Cortes, Hunt e McHales (2014) quando referem que
o suporte social está relacionado aos afetos positivos que são construídos nas relações humanas.
Assim, é favorecida a compreensão de que o fortalecimento do suporte social colabora com a
saúde mental e o bem-estar emocional, visto que as pessoas que usufruem das suas formas de
suporte conseguem adquirir forças que podem facilitar a sobrevivência humana (CORTES;
HUNT; MCHALES, 2014).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo analisou a satisfação com o suporte social em universitários da área da saúde
de uma instituição pública de ensino. Evidenciou-se que os estudantes reconhecem a
importância da manutenção de um bom relacionamento com a rede de suporte social para a
consolidação do bem-estar emocional e da saúde mental. Alguns entrevistados encontram
dificuldades neste relacionamento, seja pelo distanciamento físico e/ou emocional, que pode
colaborar para que se sintam suscetíveis ao desenvolvimento de problemas emocionais assim
como depressão e ansiedade. Por fim, ressalta-se a necessidade de maior exploração do tema,
assim como da ampliação da produção científica na área, pois o suporte social é um fator
protetivo da saúde mental, o que torna esta temática relevante no momento atual.
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980
Análise do perfil epidemiológico de acadêmicos da área da saúde de uma universidade
pública e sua relação com os determinantes saúde mental e suporte social
Helder Clay Fares dos Santos Junior
Fabíola da Silva Costa
Miguel Paranhos Melo de Melo
Enise Cássia Abdo Najjar
O ingresso no Ensino Superior pode desencadear transtornos mentais em virtude da rotina
acadêmica, por vezes caracterizada por auto cobranças, má qualidade do sono e lazer assim
como excesso de atividades e elevada competitividade. Estudos indicam que condições
socioeconômicas favoráveis e uma rede de suporte saudável podem favorecer os aspectos da
saúde mental e qualidade de vida e associam-se ao sucesso acadêmico. À vista disso, este estudo
propõe-se a identificar a relação entre os fatores sócio demográficos e as características de
saúde mental e suporte social de universitários, cuja amostra constituiu-se de 60 acadêmicos da
área da saúde de uma universidade pública da Região Norte. Os dados foram obtidos através
das respostas ao Inventário de Saúde Mental (IMS), Critério de Classificação Econômica Brasil
(CCEB) e uma entrevista semiestruturada. Por meio destes, observou-se que a maioria dos
entrevistados está satisfeita com seu suporte social, assim como apresenta condições
socioeconômicas favoráveis, entretanto, em dois terços dos participantes foram observados
quadros sugestivos de sintomas depressivos graves ou moderados. Tais achados sugerem que a
saúde e/ou sofrimento mental do universitário não dependem apenas de fatores econômicos e
sociais, mas envolvem outras esferas que compõem a vida do sujeito, dentre as quais destaca-
se a acadêmica.
Palavras-chave: Estudantes de Ciências da Saúde; Apoio Social; Aspectos socioeconômicos;
Saúde Mental.
INTRODUÇÃO
Segundo Tassini et al. (2017), o ingresso do jovem na universidade é marcado por
mudanças, conquista de autonomia e responsabilidades. Em contrapartida, esse período
também é marcado por cobranças emocionais e pessoais, que trazem consigo grandes
adversidades no decorrer da vida acadêmica. Além disso, as autoras também afirmam que o
981
dia-a-dia de universitários é estressante e marcado pelo cansaço, em decorrência, dentre outros
fatores, da má qualidade do sono e do lazer.
Acredita-se que os fatores que interferem na saúde mental dos estudantes
universitários podem ser caracterizados em dois aspectos. O primeiro aspecto relacionado ao
ambiente da vida acadêmica, ou seja, às demandas que perpassam pela vida do indivíduo neste
momento, como grades curriculares extensas e competitividade por estágios e bolsas. Já o
segundo aspecto está relacionado com a questão subjetiva do indivíduo, como a saída da cidade
natal e afastamento da família e amigos (DIAS, 2012).
Benavente et al. (2014) apontam que grande parte dos estudantes tem dificuldades
para relacionar de forma saudável as atividades referentes à universidade com suas demais
atividades no contexto pessoal, emocional e social. Diversas vezes, a maioria dos estudantes
troca os seus períodos disponíveis, que poderiam ser dedicados ao sono, para dedicar-se as
questões acadêmicas ou demandas sociais.
Portanto, objetiva-se com este estudo identificar a relação entre os fatores sócio
demográficos e as características de saúde mental e suporte social de universitários.
MÉTODO
Esta pesquisa é parte de um Projeto de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq) de caráter
quanti-qualitativa. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da
Universidade do Estado do Pará sob o parecer de número 2.746.615, em junho de 2018. Para
sua realização, foram selecionados os dados quantitativos correspondentes aos aspectos
sociodemográficos, saúde mental e suporte social. Para compor a amostra foram entrevistados
60 acadêmicos de uma universidade pública da Região Norte, distribuídos entre os cursos de
Medicina, Fisioterapia e Terapia Ocupacional de maneira equinâme. Os critérios de inclusão
foram acadêmicos regularmente matriculados nos referidos cursos. Foram excluídos os
estudantes dos campi localizados no interior do Estado.
Para a coleta de dados foram utilizados o Inventário de Saúde Mental (IMS),
Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) e uma entrevista semiestruturada com
questões referentes à saúde mental, suporte social e espiritualidade, que buscava compreender
a percepção dos participantes acerca destes itens. A análise dos dados foi realizada por meio
dos programas Bioestat (5.3) e Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 24.0
RESULTADOS
982
O presente estudo foi desenvolvido com 60 acadêmicos, em que 20 (33,33%)
participantes eram do curso de Terapia Ocupacional, 20 (33,33%) do curso de Fisioterapia e 20
(33,33%) do curso de Medicina. A faixa etária apresentou-se entre 18 e 27 anos, em que 63,33%
(n=38) provinham do ensino particular e 66,66% (n=40) tinham residência na capital do Estado.
70% (n=42) dos participantes eram do sexo feminino.
Estes dados foram obtidos a partir do Critério de Classificação Econômica Brasil
(CCEB), onde foi possível também mensurar e classificar o estrato socioeconômico dos
indivíduos. Este obteve média de pontuação entre os mesmos de 36,03, que, segundo o critério,
coloca-os na classificação socioeconômica B2, que representa renda média domiciliar de
5.363,19 reais.
Quanto ao Inventário de Saúde Mental (ISM), este apresentou como maior
pontuação 80,85 e menor 18,61. A média pontuou 53,11, o desvio padrão 1,72 e a mediana
52,38. Vale ressaltar que, neste instrumento, valores inferiores a 60 pontos podem indicar
sintomas depressivos moderados, enquanto escores abaixo de 52 apontam para sintomas
depressivos graves.
DISCUSSÃO
A partir desses dados, pode-se inferir que os acadêmicos, em sua maioria,
apresentam situações socioeconômicas favoráveis. Estes números corroboram com os achados
de Alves et al. (2017), que verificaram que 36% (n=72/200) dos participantes de seu estudo
possuía renda familiar de 5 salários mínimos ou mais.
Ainda, afirma-se que com esta classificação econômica o componente de suporte
social demonstrou-se presente, onde 95% (n=57) dos estudantes referiu possuir, enquanto 80%
(n=48) indicou estar satisfeito com o suporte recebido. Este apoio deu-se essencialmente pelas
categorias família e família e amigos, que representam as respostas de 66,66% (n=40) dos
entrevistados. Esse auxílio mostrou-se pertinente tanto às questões financeiras quanto
emocionais.
Esta análise acerca do suporte social reitera o que é visto no estudo de Feitosa et al.
(2005), pois o nível socioeconômico elevado da família promove um ambiente mais propício
ao diálogo e ao entendimento parental para com os filhos. Esses dois fatores também estariam
associados ao maior sucesso acadêmico e qualidade de vida, porém, não se pode generalizar
estes ocorridos, pois existem lares com condições financeiras menos favoráveis e ainda assim
promovem um suporte valoroso e de qualidade à prole.
983
No entanto, boa parte das famílias que possuem condições contrárias podem
ocasionar a inexistência de espaços adequados para o lazer, para os estudos, bem como a
preocupação familiar volta-se à manutenção da sobrevivências, não a estabelecer um ambiente
propício ao desenvolvimento dos mesmos. Isto pode interferir no melhor desempenho
acadêmico e saúde mental (FEITOSA et al., 2009).
Em se tratando dos aspectos de saúde mental, as questões sociodemográficas e
socioeconômicas não obtiveram majoritariamente determinância positiva no bem-estar
positivo. Isto é confirmado pela média apresentada nas pontuações do IMS, onde, segundo
Ribeiro (2011), valores inferiores à contagem de 60 podem apontar sintomas depressivos
moderados e abaixo de 52 sugerem sintomas depressivos graves.
Ainda, os resultados de 48,33% (n=29) de 100% (n=60) dos inventários aplicados
pontuaram menos de 52 pontos e representaram, aproximadamente, metade do total de escores.
Além disso, 18,33% (n=11) placares ficaram inferiores a 60, os quais, se somados aos
anteriores, produzem um montante de 66,66% (n=40) das pontuações totais. Essas informações
obtidas revelam aspectos alarmantes que predizem o declínio de saúde mental e podem estar
relacionados com o decorrer da vida acadêmica.
Estes dados são congruentes às pesquisas de Almeida (2014) que utilizou o referido
instrumento com 1968 estudantes e obteve como percentagens o montante de 18,3% de
acadêmicos com saúde mental negativa. Ainda, 17,7% 983lcool983m sintomas depressivos e
15,6% sintomas ansiosos, demonstrando a repetição estatística apresentada em ambos os
estudos.
Assim, pode-se afirmar com estes achados que as características negativas de saúde
mental favorecem, ou maximização, o surgimento de transtornos mentais, além de disfunções
alimentares, problemas com abuso de 983lcool e outras drogas. Desta maneira, torna precário
o desenvolvimento acadêmico e a qualidade de vida (ROYAL COLLEGE OF
PSYCHIATRISTS, 2011).
CONCLUSÃO
Esta pesquisa analisou a relação entre os fatores sócio demográficos e as
características de saúde mental e suporte social de universitários. Evidenciou-se que a maioria
dos entrevistados está satisfeita com seu suporte social e apresenta condições socioeconômicas
favoráveis. Todavia, em alguns dos participantes notou-se quadros sugestivos de sintomas
depressivos graves ou moderados. Dessa forma, depreende-se que a saúde e/ou sofrimento
984
mental do universitário podem associar-se a outras esferas que compõem a vida do sujeito,
dentre as quais, neste estudo, destaca-se a acadêmica. Por fim, ressalta-se a necessidade de
pesquisas semelhantes em outras Regiões do país, visto que a população participante desta
insere-se na Região Amazônica, de aspectos econômicos, históricos e culturais próprios, que
podem não refletir a realidade de outros universitários do Ensino Público ao redor do Brasil.
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985
Vivências práticas da intervenção terapêutica ocupacional infantil: um relato de
experiência
Mariana da Silva Acácio
Maria de Fátima Pessoa Tenório Mascarenhas
Ana Tereza de Vasconcelos Aquino e Silva
Kássia Fernanda Pereira da Silva
Maria Aparecida de Souza
Millena Vanusa Cavalcante de Macêdo
Através do brincar a criança pode externalizar suas emoções e lidar com as situações do
cotidiano a qual são expostas. É por meio do brincar que a criança pode participar socialmente,
pode construir suas relações sociais e onde também, sua criatividade aperfeiçoa. Porém o
Terapeuta Ocupacional não intervém com crianças com o brincas, mas também com o treino
das atividades de vida diária. Este resumo tem por objetivo retratar um relato de experiência
das vivências praticas do módulo de Intervenções na Criança e Adolescente do curso de Terapia
Ocupacional. Foram realizadas reavaliações em todas as crianças que seriam atendidas e ao
final do semestre percebeu-se que as mesmas obtiveram resultados satisfatórios em suas
evoluções. Os docentes devem incentivar ainda mais que os discentes vivenciem a prática, pois
é a partir dela que se aperfeiçoa as intervenções para com as crianças. Sendo assim, as vivências
práticas preparam os discentes para sua futura atuação assim como também para os estágios.
Portanto, é valido salientar a importância das mesmas para uma melhor formação acadêmica.
Palavras-chaves: Intervenção; Terapia Ocupacional; Criança e Brincar
INTRODUÇÃO
O brincar se constitui como a principal ocupação da criança o qual se faz necessário
para se obter um bom desempenho ocupacional no seu cotidiano (AOTA, 2015). A Associação
Americana de Terapia Ocupacional (AOTA) traz uma definição para o brincar, que aborda o
seguinte: “Qualquer atividade espontânea e organizada que ofereça satisfação, entretenimento,
diversão e alegria”.
É por meio do brincar que a criança pode participar socialmente, pode construir suas
relações (fora família) e onde também sua criatividade aperfeiçoa, experimentando assim do
mundo da fantasia. É tão importante que as Nações Unidas considerou o brincar como sendo
986
direito de todas as crianças do mundo. Para os profissionais da saúde o brincar também pode
advir como uma estratégia de promoção e prevenção de saúde para as crianças, pois dessa
forma, construirá vínculos e esse se fortalecerá para a disseminação da informação para todos
da família (GOMES, MAIA e VARGAS, 2018).
O modelo lúdico é um exemplo de teoria que aborda a importância do brincar
para o desempenho da criança e que essa ocupação não deve ser retirada por causa da criança
possuir algum tipo de limitação, e sim, de que deve influenciá-la para que possa atingir maior
nível possível de autonomia e criatividade que cada criança possa ter (SANT’ANNA,
BLASCOVI-ASSIS e MAGALHÃES, 2015).
Através do brincar a criança pode externalizar suas emoções e lidar com as situações do
cotidiano a qual são expostas. Conseguem, a partir da brincadeira, aprender novos saberes e
fazeres, conseguem ainda viver em seu próprio mundo, não como uma fuga da realidade mas
como uma estratégia de lidar com seus sentimentos (ROLIM, GUERRA e TASSIGNY, 2008).
Quando se refere a uma criança com alguma limitação, os pais quando encaminhado,
geralmente vão em busca da Terapia Ocupacional, não com o objetivo de “fazê-los brincar”,
mas dos mesmos realizarem suas atividades do cotidiano de forma mais independente. Não
percebendo assim, que o brincar é tão importante quanto aos seus desejos. Então, o Terapeuta
Ocupacional busca intervir de forma que abranja ambas as necessidades da criança, utilizando
muita das vezes o brincar como estratégia para o fim (GUERZONE e et.al. , 2008).
Não só o brincar se configura nas intervenções infantis, mas também o treino de
Atividades de Vida Diária (alimentação, vestuário, higiene e outros). Para tornar os indivíduos
mais autônomos e independentes. E dessa maneira se configura nas intervenções da
especificidade da Terapia Ocupacional nos atendimentos da área infantil. (MANCINI e et.al.,
2002).
METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência, do tipo descritivo, relacionado às práticas do
módulo de Intervenções na Criança e Adolescente em Terapia Ocupacional, em um Centro
Especializado em Reabilitação da capital Alagoana. As práticas ocorreram uma vez por semana,
e os discentes que realizaram a mesma são do terceiro ano do curso de Terapia Ocupacional.
As práticas aconteciam às terças- feiras pela manhã, eram atendidas cinco crianças e
supervisionadas pela professora do módulo, sendo a mesma, a Terapeuta Ocupacional
responsável pelos atendimentos.
987
Nos atendimentos cada criança tinha seu horário pré-determinado e o grupo de
discentes, que também era composto por cinco, realizava as atividades. Dessa forma, por
possuir cinco discentes e cinco crianças, cada acadêmico ficava responsável por uma criança,
mas todos interviam de forma coletiva, junto com a docente. Os materiais obtidos para a
realização de todas as atividades se encontravam no Centro de Reabilitação.
RESULTADOS
As crianças que correspondem a este relato de experiência já estavam em atendimento
há algum tempo então todas já possuíam um prontuário e em consequência disso, os discentes
só precisariam fazer a reavaliação.
As reavaliações se fazem necessário para que se possa haver um controle sobre os
resultados obtidos com os atendimentos que são realizados. Por isso que de seis em seis meses
os discentes que entram na prática realizam a mesma.
As crianças que vão para os atendimentos têm patologias diversas como,
mucopolissacaridose; Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade; Hipermetropia;
Indício de Paralisia Cerebral e Microcefalia. Portanto os discentes se encontravam em frente
com a realidade, que antes era vista somente na teoria e nos livros.
Encontrou-se certos obstáculos no envolver das práticas, como a construção do vínculo
e a adaptação das crianças com o novo grupo de acadêmicos. A família que acompanha seus
entes aos atendimentos também relata a situação da seguinte forma “toda vez que a gente se
acostuma com um grupo, aí entra outro”. Por se tratar de um centro de Reabilitação que recebe
universitários, há uma alta rotatividades dos mesmos, ocasionando certa dificuldade na relação
dos novos acadêmicos que chegam.
Após uma reavaliação de uma das crianças, foi percebido os ganhos que já tinha e que
já podia receber alta Terapêutica Ocupacional, sendo assim, a docente e Terapeuta Ocupacional
da instituição avaliou a reavaliação realizada e concedeu a alta. Então uma nova criança entrou
no lugar da qual recebeu alta. E enfim, foi efetuada pela primeira vez com o grupo em questão
uma avaliação inicial. Apesar de todos os discentes intervirem juntos no momento de
reavaliação, não foi possível contemplar a todos, visto que a criança era muito sensível e muita
gente ao redor faria com que a mesma se mantivesse mais irritada.
Foram perceptivos os resultados das crianças no semestre em que os discentes
permaneceram na prática. Uma delas não explorava o brincar, não se interessava caso alguém
retirasse o brinquedo e também não emitia nenhum som. Na reavaliação ficou sabido que a
988
criança em casa conversava e que interagia com os outros. Percebe-se então que precisaria criar
um vínculo mais forte para que ela pudesse confiar e com isso conversar, e começou-se a brincar
livremente e com músicas da qual ela se interessava, nesse caso ela começou a emitir sons,
algumas vezes falava e brincava de forma exploratória.
Ao fim de cada atendimento, colocava-se no prontuário o que se havia realizado com
cada criança, documento esse que pertencia a instituição. Assim como também foram feitas as
reavaliações e que ficava no prontuário, foram também feitos alguns relatos de caso,
confeccionados pelas docentes do módulo, que tiveram como base o documento da Associação
Americana de Terapia Ocupacional (AOTA, 2015), com intuito dos discentes se apropriarem
ainda mais de como se fazer as avaliações e dos termos que são utilizados, assim como o
estabelecimento das metas e dos objetivos a serem alcançados.
Com as práticas percebeu-se a importância para um bom desempenho dos discentes na
área Infantil quando forem para o estágio e consequentemente, para os que optarem, para a
futura vida profissional. Assim como também é perceptível, que quando se trabalha com o
Desempenho Ocupacional de crianças, que por algum motivo ou patologia necessitam de
reabilitação, tem-se que se fazer presente conhecimentos de diversas áreas do saber. Como por
exemplo a cinesioterapia, para assim poder dar uma função ao movimento que está sendo
realizado dentro da atividade que é proposta.
DISCUSSÃO
Se faz importante e indispensável as vivências práticas proporcionadas pelos docentes
do curso para a formação do profissional de ensino superior na área da saúde, assim como
também são incentivados a realização de pesquisas para o desenvolvimento dos dados
científicos da profissão (FREITAS e et.al.,2016).
As vivências práticas possibilitaram diversos pensamentos clínico de como intervir com
crianças consideradas atípicas. Sendo necessários os conhecimentos teóricos, como também a
criatividade de planejar atividades para realizar com as crianças. Com o passar dos
atendimentos as atividades foram se aperfeiçoando e acontecia de forma mais eficaz.
Se faz necessário que os discentes que vivenciam as práticas estejam dispostos a
aprender também com a crianças, elas ensinam a ter mais paciência e que as atividades nem
sempre vão sair como planejadas, mas não importa como a atividade será realizada, terá que ter
sempre em mente os objetivos que foram traçados.
989
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível perceber através das vivencias práticas o quanto se pode trabalhar com
crianças as Atividades de Vida Diária a partir do brincar, e como essa ocupação se faz
importante para um bom desempenho ocupacional. Além de desvendar o mito de que crianças
atípicas não podem brincar livremente e tudo tem que ser para estimular, e o brincar se
configura assim como algo espontâneo e próprio da criança.
Conclui-se que as práticas dos módulos de Intervenção na Criança e no Adolescente, no
curso de Terapia Ocupacional, são de suma importância para o bom desempenho das futuras
atividades profissionais dos discentes do curso. Assim como também prepara para o estágio
que acontece no ano conseguinte.
REFERÊNCIAS
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Terapia Ocupacional: domínio & processo-traduzida." Revista de Terapia Ocupacional da
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sistemática da literatura." 2008.
FREITAS, D. A., et al. Saberes docentes sobre processo ensino-aprendizagem e sua
importância para a formação profissional em saúde. Interface - Comunicação, Saúde,
Educação [online]., v. 20, n. 57, 2016. [Acessado 12 Julho 2019], pp. 437-448. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/1807-57622014.1177>. Epub 22 Jan 2016. ISSN 1807-5762.
https://doi.org/10.1590/1807-57622014.1177.
GOMES, N.R.R.; MAIA, E.C.; VARGA, I.V.D. “Os benefícios para saúde das crianças: uma
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com desenvolvimento normal e crianças com paralisia cerebral." Arquivo Neuropsiquiatria,
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ROLIM, A.A.M.; GUERRA, S.S.F. e TASSIGNY, M. M. "Uma leitura de Vygotsky sobre o
brincar na aprendizagem e no desenvolvimento infantil." Revista Humanidades v.23, p. 176-
180, 2008.
990
SANT’ANNA, M.M.M.; BLASCOVI-ASSIS, S.M. e MAGALHÃES, L. "Modelo lúdico:
favorecendo o brincar da criança com deficiência física.” Revista da Sociedade Brasileira de
Atividade Motora Adaptada v.16, 2015.
991
Grupos terapêuticos ocupacionais na promoção da saúde do músico: um relato de
experiência
Lucas de Paiva Silva
Karolyne Monteiro Borba
Juliana Ferreira Mendonça
Sarah Ferreira Neves dos Santos
Stella Maízia Urbano dos Santos
Danielle Carneiro de Menezes Sanguinetti
A Terapia ocupacional atua na saúde do músico analisando a atividade, que muitas vezes
constitui-se como fonte de prazer e adoecimento, fazendo-se necessário conhecê-la para
transformá-la. Este trabalho tem por objetivo relatar a vivência em um grupo terapêutico
ocupacional com estudantes do curso de bacharelado em Música. Relato de experiência
vivenciado com um grupo de estudantes do curso de Música da Universidade Federal de
Pernambuco, no qual foram realizados cinco encontros no período de novembro a dezembro de
2018. As ações tiveram como ponto inicial a análise da demanda de estudantes e profissionais
de Música partir de respostas de avaliações laborais. As respostas apontaram que as rotinas
semanais de todos os respondentes eram preenchidas por obrigações relacionadas aos estudos
ou trabalho ligado à música, com escassos momentos de descanso e/ou lazer. Queixas de dor
também foram relatadas em diferentes áreas corpóreas. Tendo como foco a ocupação humana
e considerando o trabalho como importante área de desempenho na vida adulta, a atuação
terapêutica ocupacional para o músico se faz importante pela especificidade da profissão, no
que se refere à análise da atividade de trabalho, com respaldo na análise ergonômica, a
identificação e possibilidades de eliminação de fatores de risco à saúde do trabalhador. A
experiência demonstrou o potencial das ações da terapia ocupacional em grupos, favorecendo
a criação de espaços para a reflexão conjunta de questões pertinentes para a saúde do músico,
considerando as atividades como mediadoras deste processo, subsidiadas pela escuta e
construção compartilhada do conhecimento.
Palavras-chave: Grupo terapêutico; Saúde do Músico; Saúde do Trabalhador; Terapia
Ocupacional.
INTRODUÇÃO
992
O completo bem-estar associado à saúde é dependente do contexto em que o indivíduo
está inserido, sendo assim, Buss e Filho (2007) apontam que o ambiente de trabalho é um
determinante social de saúde e que o mesmo pode trazer adoecimento ao trabalhador.
Entretanto, no caso dos músicos, tal ambiente não é encarado como causador do adoecimento,
visto que a música é associada ao equilíbrio emocional, lazer e bem estar. Então, em oposição
a tal pensamento, levantamentos epidemiológicos estudados por Oliveira e Vezzá (2010)
indicaram que os músicos estão frequentemente expostos a riscos ocupacionais causados pela
sobrecarga de trabalho, problemas ergonômicos e inadequação do mobiliário e iluminação.
Desta maneira, as queixas mais frequentes estão relacionadas aos distúrbios
musculoesqueléticos e à sobrecarga emocional. As lesões tendem a ocorrer em decorrência de
movimentos repetitivos em posturas inadequadas, ocasionando um desempenho insatisfatório
na atividade de trabalho (TRELHA et al., 2004). Isto posto, a Terapia Ocupacional atua na
saúde do músico através de intervenções de educação em saúde, proporcionando a reflexão dos
profissionais acerca dos riscos relacionados ao trabalho e oferecendo estratégias de
enfrentamento, a fim de empoderá-los sobre a relação saúde-doença e impulsionar mudanças
para tornar o trabalho e seu ambiente mais saudável (LANCMAN; GHIRARDI, 2002).
Nesse sentido, o objetivo deste estudo é relatar a vivência em um grupo terapêutico
ocupacional com a temática central “Saúde no Cotidiano dos Músicos”.
METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência vivenciado com um grupo de estudantes do curso
de bacharelado em Música do Centro de Artes e Comunicação (CAC), da Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE). O grupo, conduzido por alunos da graduação do curso de Terapia
Ocupacional da mesma Universidade, com supervisão da docente coordenadora da disciplina,
teve como temática central “Saúde no Cotidiano do Músico”, o qual propôs atender as
principais demandas relacionadas ao cotidiano do trabalhador de música.
Essa vivência fez parte da disciplina de Terapia Ocupacional na Saúde do Trabalhador,
do curso de Terapia Ocupacional da UFPE. A disciplina propõe abordar a intervenção da
Terapia Ocupacional nas situações de riscos e agravos a saúde dos trabalhadores, nas
perspectivas da promoção, prevenção, inclusão e reabilitação profissional, nos diversos
contextos de intervenção.
Foram realizados cinco encontros semanais, no período de novembro a dezembro de
2018, no qual o primeiro foi específico para recolher as principais demandas e características
993
dos músicos, através de uma Avaliação Laboral dos Músicos. Nos seguintes foram
desenvolvidos grupos, categorizados em diferentes temáticas relacionadas com a literatura
acerca da saúde no cotidiano dos músicos, abordando diversos conteúdos, intitulados:
“Autoestima do músico: reflexões intra e interpessoais”, “Consciência corporal na saúde do
músico”, “Organização da postura e da rotina dos músicos” e “Importância do lazer na saúde
do músico”. Os encontros duravam em média duas horas, enaltecendo reflexões e discussões a
respeito da saúde no cotidiano dos participantes músicos por meio de atividades.
RESULTADOS
As ações da Terapia Ocupacional tiveram como ponto inicial a análise da demanda dos
estudantes e profissionais (docentes) de Música partir das respostas das avaliações laborais,
aplicadas no primeiro momento da vivência, totalizando 9 questionários respondidos. O
questionário abordou questões físicas, sociais e organizacionais do trabalho dos músicos. Todos
os respondentes (9) eram do sexo masculino, variando entre estudante e profissional (docente)
de Música.
As respostas apontaram que as rotinas semanais de todos eram preenchidas por
obrigações relacionadas aos estudos e/ou trabalho ligado à música, com escassos momentos de
descanso e/ou lazer. Queixas de dor também foram relatadas em diferentes áreas corpóreas.
Os grupos e as reflexões através das atividades propostas subsidiaram-se por textos com
enfoque na saúde do músico, na área da Terapia Ocupacional e por outras áreas do
conhecimento. O número de participantes por grupo variou entre 1 e 9, sendo estes estudantes
ou profissionais músicos. Houve predominância do sexo masculino durante os encontros, com
faixa etária jovem-adulto.
DISCUSSÃO
Diante das avaliações respondidas foi possível observar alguns pontos importantes.
Uma delas diz respeito às queixas de dores e/ou desconforto em determinadas regiões corporais,
tais como região lombar e dorsal da coluna, ombros, mãos, quadril e pés. Estudos de Oliveira e
Vezzá (2010), Frank e Mühlen (2007) também apontaram tais regiões corpóreas como umas
das mais referidas na questão de desconforto.
Outro aspecto analisado corresponde à rotina dos músicos, uma vez que esta se
apresentava completa e com pouco ou nenhum momento de descanso e lazer. Uma rotina
994
complexa pode se justificar pelo constante treino das habilidades, a fim de atingir o grau
crescente de expertise (LIMA; SIMONELLI, 2014). Conforme apontaram Pereira et al. (2010),
uma elevada carga horária dedicada ao aperfeiçoamento técnico de sua área, assim como
ensaios e apresentações em horários tardios, pode se caracterizar como fatores de risco para o
aparecimento de doenças, e consequentemente a diminuição da qualidade de vida e sono desses
profissionais.
No primeiro momento de atividades no grupo foram propostas dinâmicas facilitadoras
no desenvolvimento de discussão e reflexão do eixo central, a autoestima. Para Lüders e
Gonçalves (2013) a música pode ser corriqueiramente associada ao lazer e ao ócio pela
sociedade, a qual não vê a música como atividade produtiva e de trabalho. Desse modo,
observa-se no cenário musical o discurso de alguns profissionais acerca dessa questão, do não
reconhecimento de sua profissão. Apenas um músico compareceu ao grupo da primeira
temática, pois ocorreu um evento específico do curso na mesma data, não sendo possível a
realização das atividades por estas necessitarem de um número maior de participantes. Devido
a situação, as atividades planejadas para o primeiro dia de grupo foram reorganizadas e
distribuídas nos demais encontros, de acordo com a afinidade dos objetivos propostos.
O segundo encontro teve como foco as questões físicas presentes no processo de
trabalho do músico. Foi possível abordar aspectos relacionados à consciência corporal a partir
de atividades de expressão corporal, estímulos proprioceptivos, dinâmicas lúdicas e de
relaxamento. Assim como ressalta Costa (2015), ao se referir à saúde do músico, é necessária
a ampliação dos aspectos físicos pertinentes às outras dimensões implícitas na atividade
musical. Nesse encontro compareceram 7 estudantes, sendo possível observar altos níveis de
cansaço por parte dos estudantes de música. De acordo com Mondardo e Pedon (2005), o
estudante universitário frente às exigências acadêmicas tende a abrir mão de determinadas
atividades, em detrimento de outras obrigações. Considera-se que a graduação de Música
demanda grande dedicação, devido ao contínuo treino para aprimoramento de sua prática, faz-
se justificável o alto nível de exaustão exemplificado na vivência.
O encontro seguinte teve como foco a abordagem da organização da rotina do estudante
e profissional de música, assim como explanou questões ergonômicas da postura de trabalho.
Participaram 9 músicos, os quais mostraram-se interativos. Com base na Ergonomia do
Trabalho, Costa (2005) argumenta que um bom posto de trabalho deve permitir ao músico suas
variações posturais, o que facilitará a diminuição da tensão causada pela constante contração
muscular em posição estática. Como também, uma das medidas preventivas útil é a preparação
física corretamente orientada. Para Lima e Simonelli (2014), muitos músicos acabam
995
negligenciando a presença de dor, justificado pelo argumento de que a dor faz parte do tocar,
consequente de práticas intensas e desgastantes.
O último encontro abordou a temática da importância do lazer e suas implicações no
processo de saúde-doença. A atividade trouxe consigo um cunho prático e reflexivo acerca da
importância, significado e relação do ser humano com o lazer. Nesse encontro 8 músicos
compareceram. Para Martinelli (2011) o terapeuta ocupacional deve estimular a capacidade de
reflexão, tendo como meta a transformação das pessoas. Para Azevedo e Brêtas (2017) a
importância da realização de atividades de lazer no cotidiano pode ser uma forma de prevenção
de problemas relacionados tanto à saúde física quanto mental nos indivíduos.
Deste modo, a atuação terapêutica ocupacional para o trabalhador músico se faz
importante pela especificidade da profissão, no que se refere à análise da atividade de trabalho,
com respaldo na análise ergonômica do trabalho, a identificação e possibilidades de eliminação
de fatores de risco à saúde do trabalhador (LIMA; SIMONELLI, 2014).
CONCLUSÃO
Diante do exposto, observou-se que a experiência demonstrou o potencial das ações da
Terapia Ocupacional em intervenção em grupo, favorecendo a criação de espaço para a reflexão
conjunta de questões pertinentes para a saúde do músico, sendo ele estudante ou profissional.
Considerando as atividades como mediadoras deste processo, subsidiadas pela escuta e
construção compartilhada do conhecimento, estimulou-se a reflexão sobre temáticas implícitas
no processo de trabalho do músico, fazendo-se necessária a criação de estratégias de melhorias
para o bem-estar biopsicossocial desses trabalhadores.
REFERÊNCIAS
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Saúde, Licere, Belo Horizonte, v.20, n.2, jun. 2017.
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997
Terapia Ocupacional na motivação ao tratamento e prevenção de recaídas ao usuário de
substância psicoativa
Meire Luci Da Silva
Maria Eduarda Araujo
Roberta Julie Souza De Lemos
Giovana Fonseca Lopes
Nilson Rogério Da Silva
O Transtorno relacionado ao uso de substância psicoativa é um grave e importante problema
de saúde pública, sendo este multifatorial, repercute em todos os aspectos da vida do usuário e
por ser complexo é permeado por recaídas. Este estudo tem como objetivo investigar as
contribuições da Terapia Ocupacional na prevenção de recaídas ao uso de substâncias
psicoativas e na motivação para o tratamento de usuários, participantes de um grupo terapêutico
realizado por terapeutas ocupacionais em uma cidade do interior paulista. Foi aplicado um
questionário de autopreenchimento com questões abertas e fechadas sobre: caracterização do
perfil socioeconômico do participante, motivação para o tratamento e importância da Terapia
Ocupacional no tratamento. A análise das respostas fechadas foi por cálculos de estática
descritiva e as respostas abertas por análise de conteúdo. Os resultados parciais apontaram para
a eficácia da terapêutica ocupacional grupal enquanto recurso intercessor e potencializador na
motivação para o tratamento relacionado ao uso de substância e também como recurso na
prevenção à recaída facilitando ao usuário a identificação, percepção e conscientização de
fatores e situações que podem conduzi-lo à recaída, bem como de alternativas de enfrentamento
ao risco.
Palavras-chave: Transtorno Relacionado ao Uso de Substâncias; Tratamento; Prevenção;
Terapia Ocupacional.
INTRODUÇÃO
O Transtorno relacionado ao uso de substâncias é caracterizado e classificado como um
Transtorno Mental (OMS, 2008). É um transtorno multicausal, o que dificulta seu tratamento,
tornando um processo complexo para todos os atores envolvidos no transtorno (usuário, família
e profissionais) sendo de difícil manejo. As consequências do uso abusivo, descontrolado e da
dependência da substância repercutem em todos os aspectos da vida do usuário (físico, psíquico,
998
emocional, social, cultural e laboral). Durante o tratamento e, por não conseguir identificar e
administrar situações de ordem emocional, social, financeira e até mesmo ocupacional, o
usuário apresenta dificuldades em manter a abstinência da substância, sendo frequentes altos
índices de recaída (SILVA, 2018).
Atualmente no Brasil, através do Sistema Único de Saúde (SUS), o tratamento deste
transtorno é ofertado em Centros de Atenção Psicossocial para usuários de Álcool e outras
Drogas (CAPSad), porém existem também outras modalidades de tratamento como as
Comunidades Terapêuticas e Grupos de apoio, sendo que são utilizados diferentes e variados
tipos de abordagens e intervenções junto à este público, devido ao caráter multifatorial
recomenda-se que o tratamento seja realizado por equipe multiprofissional (FIGLIE, 2010).
Como parte integrante desta equipe de profissionais, encontra-se o Terapeuta
Ocupacional (TO) que através da atividade pode auxiliar o usuário na identificação e
conscientização de dificuldades relacionadas ao uso, bem como na elaboração de alternativas
de manejo no enfrentamento de situações de risco e descobertas de potencialidades perdidas ou
esquecidas devido e em detrimento ao uso da substância. Neste sentido, esta pesquisa teve
como objetivo investigar as contribuições da Terapia Ocupacional na prevenção de recaídas ao
uso de substâncias psicoativas e na motivação para o tratamento de usuários, participantes de
um grupo terapêutico realizado por terapeutas ocupacionais.
METODOLOGIA
Esta é uma pesquisa de caráter quantiqualitativa de corte transversal, aprovado pelo
Comitê de Ética e Pesquisa.
Amostra composta por usuários de uma ou múltiplas substâncias psicoativas,
participantes de um grupo de prevenção de recaídas a usuários de substâncias, realizado por
terapeutas ocupacionais em uma cidade localizada no interior paulista. Como critérios de
inclusão, os participantes deveriam ser maiores de 18 anos, aceitar participar voluntariamente
e apresentar-se abstinente.
Para coleta de dados, foi aplicado questionário de autopreenchimento com questões
abertas e fechadas referentes caracterização do perfil socioeconômico do usuário, motivação
para o tratamento e importância da Terapia Ocupacional no processo de tratamento e na
prevenção da recaída. Ressalta-se que o instrumento era respondido após as intervenções
grupais para verificar a motivação após as atividades terapêuticas ocupacionais.
999
Para análise dos resultados das respostas fechadas foram utilizados cálculos básicos de
estatística descritiva (média, desvio-padrão e porcentagem) e a análise das respostas abertas foi
realizada utilizando o método de análise de conteúdo.
Para coleta de dados, primeiramente foi solicitado a autorização do coordenador do
grupo e, depois da autorização, os pesquisadores compareciam aos grupos, explicavam o
objetivo da pesquisa, realizavam o convite aos usuários e solicitavam sua participação
voluntária. Somente após a concordância e assinatura do termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, os instrumentos eram aplicados. A coleta ocorreu entre os meses de maio de 2018
a maio de 2019, sendo o instrumento aplicado após cada intervenção grupal. O tempo para
aplicação foi de aproximadamente cinco minutos
RESULTADOS PARCIAIS E DISCUSSÃO
O grupo de Terapia Ocupacional do qual os usuários participavam caracterizava-se
como grupo aberto e temático. Durante o período de coleta foram realizadas 48 intervenções
por Terapeutas Ocupacionais formados e em formação (estagiários e residentes) sendo
oferecido uma vez por semana, tendo duração de aproximadamente duas horas. O enfoque do
grupo foi na prevenção de recaídas e as atividades são elaboradas de acordo com as demandas
apontadas pelos usuários, o que é fator positivo uma vez que o transtorno é multifatorial e exige
um olhar específico ao contexto e dificuldades do usuário (SILVA, 2018).
A estrutura do grupo era constituída por três momentos, sendo o momento inicial e de
recepção ao usuário norteado pelo acolhimento das demandas e sentimentos deste,
posteriormente a aplicação e desenvolvimento de atividades voltadas às temáticas que
permeavam a recaída e como finalização, a discussão dos assuntos abordados durante o grupo.
O grupo era conduzido sempre por uma TO e por uma co-terapeuta.
Participaram da pesquisa 31 usuários de substâncias psicoativas diversas, com idade
média de 40,2 anos (dp±9,4), sendo 29 (93,5%) do gênero masculino. Todos os usuários
referiram já terem realizados um ou mais tratamentos anteriores, o que corrobora com outros
estudos que apontam a frequência de recaída (SALLES, SILVA, 2017; SILVA, 2018).
Quanto à motivação para o tratamento, do total de participantes, 11 (35,4%) referiram
estar motivados e 20 (64,6%) muito motivados.
Em relação à importância da TO como auxiliar no tratamento, a maioria apontou que as
atividades foram importantes para a expressão de sentimentos negativos, explanação de
dificuldades, reflexão do processo da dependência e fonte de informação sobre o transtorno e
1000
riscos inerentes ao uso. Também apontaram que pelas atividades terem sido realizadas em
grupo, estas possibilitaram a troca de experiências e reflexão dos assuntos que surgiam no
grupo.
CONCLUSÃO
Até o presente momento foi possível verificar que as intervenções terapêuticas
ocupacionais grupais são importantes, enquanto recurso de atenção a este público, sendo
possível evidenciar a potência das atividades estruturadas, pois permitiram e
instrumentalizaram os usuários na detecção de fatores de risco e de proteção ao uso, bem como
(ré)pensar em estratégias de enfrentamento à situações que podem levar à recaída.
REFERÊNCIAS
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 4. ed. Lisboa: Edições 70, 2010. 280p.
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SILVA, MEIRE LUCI DA. Addiction and relapse process. Integrative Clinical Medicine,
2018, v.2, n.1, p.1-2.
1001
Revisão integrativa sobre a utilização de práticas integrativas e complementares no
contexto hospitalar
Cristiane Paiva Alves
Camila Aparecida Gravatin
A hospitalização se constitui em um evento de ruptura na vida cotidiana, fazendo com que a
incapacidade de realizar as atividades cotidianas, gere alterações significativas no estado de
saúde. Neste período os indivíduos demonstram sentimentos de angustia, raiva e medo, em
alguns casos podem tornar-se agressivos e arredios. As Práticas Integrativas e Complementares
em Saúde - PICS, regulamentas na Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares, pode ser uma alternativa para intervenções que amenizem as dificuldades
vivenciadas neste contexto. A pesquisa teve por objetivo realizar uma revisão integrativa sobre
a utilização das PICS no contexto hospitalar. Foi realizada busca bibliográfica sobre o tema,
nas bases de dados Scientific Eletronic Library Online (Scielo), Literatura Latino-americana e
do Caribe em ciências da Saúde (Lilacs) e Literatura Internacional em Ciências da Saúde
(Medline). Foram encontrados 23 artigos, destes foram selecionados 09 artigos. Os resultados
dos estudos encontrados mostram que as PICS utilizadas no contexto hospitalar são variadas,
sendo acupuntura, reiki, homeopatia, musicoterapia, fitoterapia, chás e plantas, florais, yoga,
espiritualidade, quiropraxia, e meditação, utilizadas por enfermeiros, terapeutas ocupacionais e
doulas. Houve relevância satisfatória na aplicação dessas práticas. Entretanto, a hegemonia do
modelo biomédico na formação e atuação dos profissionais de saúde dificulta a aplicação no
contexto hospitalar. Concluiu-se que utilização das PICS é importante no contexto hospitalar,
porém, apesar dos bons resultados constatados, houve resistência para implantação neste
contexto.
Palavras-chave: Práticas integrativas; Práticas Complementares; Contexto Hospitalar.
INTRODUÇÃO
Estar hospitalizado em um ambiente estranho com pessoas desconhecidas e submeter-
se a procedimentos muitas vezes desconhecidos, gera dor, ansiedade, sentimento de hostilidade,
e medo; dificultando o tratamento oferecido, cujas consequências poderão agravar ainda mais
1002
o seu estado, de saúde, causando assim, o aumento do tempo de internação (FREITAS et al.
2007).
Por isso, a atuação no contexto hospitalar, precisa ser interdisciplinar, com foco na
saúde integral. A ‘integralidade’ é um dos princípios doutrinários do Sistema Único de
Saúde (SUS), que se destina a conjugar as ações direcionadas à materialização da saúde como
direito. Dentro desta perspectiva, as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS),
são denominadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como Medicinas Tradicionais,
Complementares e Integrativas e foram incorporadas no Sistema Único de Saúde (SUS) por
meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). As PICS não
competem com os tratamentos convencionais apenas complementam e proporcionam um olhar
mais integrativo na saúde.
Segundo Carlo (2004), em programas de assistência integral a saúde o Terapeuta
Ocupacional é responsável por analisar e promover a vida ocupacional do paciente em seus
diferentes aspectos, definindo ações de prevenção e/ou desenvolvendo programas de tratamento
que possibilitam a melhora do estado de saúde e da qualidade de vida do paciente, capacitando-
o para alcançar maior grau de independência funcional, autonomia e independência, necessárias
a manutenção de uma vida ativa, buscando eliminar, reduzir ou evitar os processos de exclusão
(CARLO, 2004). Percebe-se necessária a ampliação dos cuidados para que o tratamento se torne
mais efetivo e a experiência da doença seja menos devastadora para os pacientes e seus
familiares. Neste sentido, as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) podem
se constituir uma ferramenta para a atuação com o paciente hospitalizado.
OBJETIVO
Realizar uma revisão integrativa sobre a utilização das PICS no contexto hospitalar.
MÉTODO
Utilizou-se como método de pesquisa a revisão integrativa da literatura (SOUZA,
2010). Investigou-se nos últimos 12 anos, a utilização das Práticas Integrativas e
Complementares (PICS) no contexto hospitalar e seus desdobramentos para o estado de saúde
de pacientes neste contexto. Foi realizada a busca bibliográfica utilizando os descritores
“práticas complementares” “práticas integrativas”; “contexto hospitalar”. As buscas foram
realizadas nas bases de dados Scientific Eletronic Library Online (Scielo), Literatura Latino-
1003
americana e do Caribe em ciências da Saúde (Lilacs) e Literatura Internacional em Ciências da
Saúde (Medline). Foram encontrados 23 artigos, os critérios de inclusão das publicações foram
os estudos em que abordavam aspectos relacionados ao tema.
RESULTADOS
Após leitura e análise dos títulos e resumos, e a exclusão dos artigos não elegíveis,
foram selecionados 19 artigos, e após esta seleção por pares, foram utilizados 09 artigos para
compor a revisão integrativa. Os resultados mostram uma inconstância no número de
publicações e um baixo número de pesquisas sobre o assunto no período selecionado. Os dados
dos artigos analisados, foram autores, ano de publicação, tipo de estudo, objetivos, práticas
utilizadas/resultados e idioma.
Ferreira, et al. (2017) abordam as aplicações das PICS pelos familiares em pacientes
hospitalizados em setores altamente complexos, tais como unidades de terapia intensiva (UTI).
As PICS utilizadas no estudo foram plantas medicinais, fitoterapia, massoterapia, homeopatia,
Reiki, quiropraxia e musicoterapia. Em ambientes críticos, há uma grande importância da
interação entre a família e os pacientes, isto pode ser visto como uma forma de humanização
da assistência que fortalece laços. No entanto, ainda se pode notar uma falta de preparo dos
profissionais de saúde na implementação de terapias alternativas em todos os níveis de cuidados
de saúde (FERREIRA, et al. 2017)
Os estudos de (MELO, et al 2013; ANDRADE, 2010) destacaram que um dos
princípios que sustentam as PICS é o da integralidade, os sujeitos foram enfermeiros que
aplicavam pelo menos uma das PICS (Reiki, shiatsu, acupuntura, fitoterapia, musicoterapia,
florais e cromoterapia), foram averiguados resultados positivos para os pacientes analisados e
desafios da aplicação das PICS em novos contextos, como no hospitalar. (MELO, et al 2013;
ANDRADE, 2010).
Segundo Paranagua (2006) todos os enfermeiros participantes da aplicação de PICS
na pesquisa mostraram-se satisfeitos com a atividade que exerceram e relataram a aceitação das
práticas integrativas por parte do cliente. Porém, houve insatisfação com as relações
interpessoais entre as categorias profissionais e a predominância do modelo biomédico no
processo de cuidar no contexto hospitalar (PARANAGUÁ, 2006). A aplicação de PICS por
mães em seus filhos no contexto hospitalar teve grande adesão e a maioria das mães relatou
melhora dos sintomas de seus filhos com as PICS (GENTIL et al, 2010). E No estudo de Aguiar,
2011 sobre as PICS, o principal recurso alternativo utilizado foi a fitoterapia, na forma de
1004
banhos e chás. No entanto, houve piora do prurido em 80% dos usuários, a partir do estudo foi
recomendado aos médicos e profissionais de saúde que questionem rotineiramente os pacientes
quanto ao uso das PICS, já que interações medicamentosas e piora do quadro cutâneo podem
ocorrer. A pesquisa de Silva, 2016 descreve a utilização das PICS em maternidades públicas e
privadas nos municípios de Fortaleza-CE e de Campinas-SP, com intuito de repensar o modelo
de parto vigente no Brasil, resgatando elementos de humanização e o uso de PICS para o
atendimento integralizado, para que a mulher tenha mais autonomia, apropriando-se de seus
desejos e subjetividades. Os resultados evidenciaram a contribuição da utilização de PICS por
Doulas para a retomada do ambiente natural do parto, satisfazendo assim as mães participantes.
Um estudo com terapeutas ocupacionais canadenses mostrou que 31,2% dos
entrevistados usaram pelo menos uma forma de PICS, 5,5% já utilizaram mais de uma forma e
os propósitos para uso são focados no tratamento dos sintomas, portanto, não focando em
prevenção. Concluiu-se que os terapeutas ocupacionais na região canadense utilizam as PICS
a uma taxa semelhante a outros profissionais, e também relataram desafios para a utilização das
práticas nos meios de saúde.
A partir dos artigos analisados foram identificadas as práticas mais utilizadas no
contexto hospitalar sendo elas: acupuntura, reiki, yoga, florais, chás/plantas, homeopatia,
quiropraxia, musicoterapia, espiritualidade, meditação, e fitoterapia. As práticas utilizadas nos
artigos selecionados foram 18% de acupuntura, 16% de reiki, 11% de homeopatia, 9%
musicoterapia, 7% fitoterapia, 7% chás e plantas, 6% florais, 5% yoga, 5% espiritualidade, 4%
quiropraxia, e 2% meditação. Sendo aplicadas por Enfermeiros, Doulas, Terapeutas
Ocupacionais e outros não especificados. Em todos os artigos analisados, os resultados foram
de relevância significativa e satisfatória na aplicação das PICS, portanto, é um desafio constante
para o cuidado no âmbito hospitalar, cenário em que geralmente a saúde está sob o domínio
biomédico, sendo vista como mera ausência de doença.
CONCLUSÃO
A presente revisão teve por objetivo identificar a utilização PICS no contexto
hospitalar. Nessa perspectiva, os resultados desta pesquisa reiteram alguns desafios que se
apresentam à aplicação de PICS no cuidado, em especial, no hospital, centrados nas
características do modelo biomédico que sustentam a atuação acadêmico-profissional.
Tais resultados indicam, ainda, a necessidade da ampliação da disponibilização das
PICS no âmbito intra-hospitalar. Bem como, a importância de profissionais de Terapia
1005
Ocupacional se apropriarem das PICS no contexto hospitalar, visando a integralidade em saúde,
já tão difundida pela profissão.
Constatou-se também, que gradativamente as PICS vem sendo inseridas no atual
cenário da saúde como uma proposta terapêutica alternativa e eficaz visando a integralidade e
a humanização da assistência. Entretanto, há uma escassa literatura sobre a temática,
influenciada pela falta de publicações referentes a esse contexto, e os desafios na incorporação
dessas práticas no ambiente hospitalar.
REFERÊNCIAS
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1006
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1007
Trajetória de uma comunidade de prática de terapeutas ocupacionais: dos dilemas à
invenção de soluções práticas
Tais Quevedo Marcolino
Angélica da Silva Araújo
Ana Júlia Arnoni Thomaz Pereira
Sandra Maria Galheigo
Sabrina Helena Ferigato
Elizabeth Anne Kinsella
A inserção de terapeutas ocupacionais em serviços da atenção básica em saúde (ABS) tem
aumentado e espera-se que esses profissionais possam se envolver em processos de reflexão
crítica sobre as práticas desenvolvidas neste novo contexto. Este trabalho tem por objetivo
descrever a trajetória de uma Comunidade de Prática (CoP) formada por terapeutas
ocupacionais que trabalhavam em serviços da ABS. Nos moldes da pesquisa-ação participativa
foi formada uma CoP da qual participaram seis terapeutas ocupacionais. Entre 2013 e 2018
foram realizados 20 encontros presenciais, interações por mídias eletrônicas e entrevistas. A
análise de dados foi realizada de forma processual e colaborativa para construção de uma linha
do tempo do grupo. Foram identificados três momentos distintos na trajetória desta CoP: 1) “A
prática narrativa favorecendo identificar dilemas e dificuldades”: as participantes explicitaram
dilemas de identidade profissional a serem trabalhados neste espaço; 2) “Investigando a
prática”: as participantes investigaram o processo de identificação de necessidades dos usuários
da atenção básica e a construção do raciocínio diagnóstico em terapia ocupacional neste
contexto; 3) “Invenção de soluções para os dilemas da prática”: foram desenvolvidos três
instrumentos, sendo um para coleta de dados sobre o sujeito-alvo e dois para auxiliar na
sustentação do raciocínio clínico. Os processos reflexivos impulsionaram as terapeutas
ocupacionais a se tornarem mais conscientes do que é tácito, avaliarem suas ações e produzirem
novos conhecimentos e instrumentos tanto para sustentar o raciocínio diagnóstico quanto para
fortalecer a identidade profissional.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional; Atenção Primária à Saúde; Conhecimentos, Atitudes e
Práticas em Saúde; Pensamento; Criatividade.
1008
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos a atenção primária tem estado no topo da agenda da Organização
Mundial de Saúde e muitos países têm passado por uma mudança na lógica de cuidados,
ampliando o número de serviços comunitários. Dado que a atenção primária é um contexto de
atuação novo para terapeutas ocupacionais brasileiros, espera-se que esses profissionais possam
se envolver em processos de reflexão crítica sobre a prática profissional, principalmente para
evitar o risco de repetir saberes e práticas de serviços secundários (SILVA; OLIVER, 2019).
Pesquisas que investigam a prática reflexiva em profissões da saúde têm sido embasadas na
epistemologia da prática de Donald Schon (1983), o qual postula que a maior parte da prática
ocorre em zonas indeterminadas, tais como situações inesperadas, confusas e que causam
surpresas, e que essas estas são fontes valiosas de aprendizagem por meio da reflexão.
A Comunidade de Prática e Identidade (CoP), proposta por Etienne Wenger (1998), vem
sendo utilizada por terapeutas ocupacionais como uma ferramenta apropriada para investigar a
prática profissional e produzir conhecimentos por meio de diálogos e de reflexões colaborativas
(GALHEIGO et al., 2017; KNIGHTBRIDGE, 2019; MARCOLINO, 2017; WIMPENNY et al.
2010).
Cada CoP carrega uma história singular de seu desenvolvimento que culmina em
diferentes resultados, atrelados às necessidades da prática em questão. Assim, o objetivo deste
trabalho é descrever a trajetória de uma CoP formada por terapeutas ocupacionais brasileiras
que trabalhavam no contexto da atenção básica à saúde (ABS).
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa-ação, em formato de CoP (WENGER, 1998), que ocorreu
entre 2013 e 2018, da qual participaram seis terapeutas ocupacionais atuantes na ABS de um
município do interior do Estado de São Paulo.
Foram realizados 20 encontros presenciais e utilizadas outras ferramentas formativas-
investigativas para produção de dados, como mídias eletrônicas (e-mail e WhatsApp) e
entrevistas (audiogravadas e transcritas). A análise de dados foi realizada de forma processual
e colaborativa, e para análise das transformações do trabalho na CoP utilizou-se a linha do
tempo do grupo, proposta por Grossman, Winenburg e Woolworth (2001).
1009
RESULTADOS
Primeiro momento: A prática narrativa favorecendo identificar dilemas e dificuldades
O primeiro momento ocorreu nos oito primeiros encontros, em 2013, e foi parcialmente
relatado em Marcolino et al. (2016). Nesses encontros iniciais, o foco do trabalho manteve-se
na explicitação da tensão essencial para essa CoP: desejo de reconhecimento e de
desenvolvimento da profissão, centrado em um dilema de identidade profissional. Esse dilema
foi reconhecido pela constante explicitação da dificuldade de nomear procedimentos a partir de
referenciais próprios, sem utilizar palavras provenientes de outros campos profissionais, que
não oferecem clareza conceitual e explicativa às suas práticas; e do reconhecimento da falta de
palavras para descrever o que se faz (MARCOLINO et al, 2016).
Segundo momento: Investigando a prática
O segundo momento abarcou os encontros de 9 a 16, realizados entre 2014 e 2015.
Diante da tomada de consciência do dilema da identidade profissional e da dificuldade em dar
nome às suas ações, o grupo escolheu dedicar-se à investigação da prática das participantes,
consolidando estratégias para lidar com essa tensão essencial. A CoP trabalhou na investigação
do processo de identificação de necessidades dos usuários da ABS e da construção de seu
raciocínio diagnóstico em terapia ocupacional.
A análise do material produzido resultou em uma lista com 32 sentenças que explicitava
as ações das terapeutas ocupacionais relativas ao processo de identificação de necessidades e o
processo de raciocínio clínico em torno das necessidades dos sujeitos.
Terceiro momento: Invenção de soluções para os dilemas da prática
O terceiro momento da CoP ocorreu entre 2016 e 2017, com mais quatro encontros
presenciais (17 ao 20). Na medida em que o grupo foi ganhando consciência sobre quais
aspectos eram considerados importantes no processo de identificação de necessidades, a CoP
optou por desenvolver três instrumentos: um para coleta de dados sobre o sujeito-alvo e dois
para auxiliar na sustentação do raciocínio clínico.
O instrumento desenvolvido para coleta de dados não se diferencia qualitativamente dos
instrumentos de anamnese aprendidos na formação inicial, mas como seria anexado ao seu
prontuário, almejava-se dar maior visibilidade ao escopo da prática dos terapeutas
ocupacionais. Já os dois instrumentos para sustentação do raciocínio clínico demandaram mais
discussão e negociação de significados para transportar as sentenças afirmativas, produzidas
anteriormente, para um formato que pudesse ser prático e compreensível. Um deles possuía a
função de organizar as informações sobre o sujeito-alvo e seu cotidiano, envolvendo: valores,
1010
crenças e desejos tanto do sujeito-alvo das intervenções como das pessoas que convivem com
ele; avaliação das atividades do cotidiano e das relações interpessoais. O outro foi construído
para que o profissional pudesse realizar uma análise mais integrada entre as informações
coletadas e outras informações provenientes de suas observações e da análise dos afetos
presentes na relação terapêutica. A proposta foi levantar de hipóteses sobre o que impele o
sujeito-alvo a paralisar-se em seu cotidiano.
DISCUSSÃO
A dificuldade de nomear procedimentos a partir de referenciais próprios da Terapia
Ocupacional e o reconhecimento da falta de palavras para descrever o que se faz, foram as
questões centrais do primeiro momento da CoP. Vários estudos apontam para as dificuldades
que terapeutas ocupacionais têm em encontrar palavras capazes de expressar a complexidade
de suas ações e em assumir publicamente um discurso narrativo em contraposição ao discurso
biomédico (MARCOLINO, 2017; MATTINGLY; FLEMING, 1994; PIERRE, 2001;
TURNER; KNIGHT, 2015).
É possível que essa dificuldade de colocar em palavras o que se faz, esteja relacionada
aos problemas de identidade profissional que, segundo Hooper e Wood (2002), têm sido
históricos na profissão. Turner e Knight (2015) identificaram que a falta de uma identidade
profissional forte entre terapeutas ocupacionais contribui para que eles tenham dificuldade de
dizer o que fazem, indo ao encontro dos nossos resultados. Por outro lado, quando os
profissionais se dedicam a descrever a prática a partir de referenciais voltados para a ocupação,
há maior satisfação entre o que se faz e o que se diz que se faz (WIMPENNY et al. 2010).
Nesse sentido, por meio da trajetória desta CoP foi possível compreender que ao colocar
a prática profissional como objeto de estudo, há necessidade de construir estratégias
investigativas a partir das necessidades identificadas pelos participantes – todos investigadores
da prática. Nossa hipótese era que explicitar aspectos implícitos da prática poderia favorecer
com que a especificidade profissional levasse a CoP a, mais do que eliminar dilemas, solucionar
problemas característicos da prática.
A invenção dos instrumentos de coleta de informações e de sustentação do raciocínio
clínico foi uma resposta criativa do grupo, que buscou oferecer soluções a duas tensões
dilemáticas vivenciadas na prática: maior divulgação da profissão e exercício de pensar sobre
o que lhe é específico, colocando em palavras o que se faz, mantendo a característica narrativa.
1011
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na CoP aqui estudada, os processos reflexivos impulsionaram as terapeutas
ocupacionais a se tornarem mais conscientes do que é tácito, perceberem melhor suas práticas,
avaliarem suas ações, redefinirem significados das práticas e produzirem novos conhecimentos
e instrumentos tanto para sustentar o raciocínio diagnóstico no contexto da atenção básica
quanto para fortalecer a identidade profissional nesse contexto.
REFERÊNCIAS
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FINANCIAMENTO: Esta pesquisa obteve financiamento FAPESP número OMITIDO PARA
NÃO IDENTIFICAÇÃO DOS AUTORES.
1013
A Terapia Ocupacional na saúde materno infantil da atenção primária em saúde: um
relato de experiência
Adriele Cristine Jimenes Pereira
Rosane Maria Carneiro dos Santos
O Sistema Único de Saúde estabelece dentro de seus pilares, os direitos à saúde da mulher que
tangem o planejamento familiar e a humanização do atendimento durante a gravidez, o parto
e o puerpério. A Terapia Ocupacional também atua no processo de saúde materno-infantil,
desenvolvendo suas práticas, desde a educação em saúde até a vigilância ao desenvolvimento
infantil. Nesse sentido, este estudo busca relatar experiência vivenciada por acadêmicos de
terapia ocupacional na saúde materno-infantil com enfoque na atenção básica. O presente
estudo se trata de um relato de experiência vivenciado por acadêmicos, do segundo ano, de
Terapia Ocupacional dentro das práticas do componente curricular de Clínica em Terapia
Ocupacional I, entre os meses de fevereiro e abril de 2019. As práticas ocorreram, em uma
Unidade Básica de Saúde de referência no estado do Pará. A prática foi dividida em 3 etapas:
ambientação ao setor materno-infantil da unidade, sala de espera e consultas de terapia
ocupacional. As práticas ocorreram com crianças individualmente com aplicação do Teste de
Triagem do Desenvolvimento Denver II, para análise precoce de possíveis atrasos. Na atuação
com as gestantes as intervenções ocorreram tanto individualmente, quanto em grupo o que
comprovadamente traz pontos positivos para a mãe e para o bebê. Assim, os graduandos ao
receberem arcabouço teórico e prático na prática clínica puderam perceber o quão é essencial a
atuação da terapia ocupacional na atenção primária em saúde, uma vez que é um profissional
importante dentro da equipe multiprofissional.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional; Atenção Primária em Saúde; Gravidez;
Desenvolvimento Infantil.
INTRODUÇÃO
O Sistema Único de Saúde estabelece dentro de seus pilares, os direitos à saúde da
mulher que tangem o planejamento familiar e a humanização do atendimento durante a
gravidez, o parto e o puerpério. Além disso, esse mesmo sistema cerca as políticas da criança
1014
que estão pautadas no direito a nascer sem riscos e a possibilidade de crescimento e
desenvolvimento saudável.
A partir desse cenário, uma das redes criadas para garantir, com eficiência, dignidade
e humanização, a qualidade de vida no pré-natal, parto e puerpério é a Rede Cegonha, criada
pelo Ministério da Saúde, que além de atender os direitos da gestante, também garante a
atenção integral à saúde da criança, apresentando como o objetivo estruturar e organizar a
atenção voltada a saúde materna, proporcionando qualidade de vida durante as fases da
gestação e após o nascimento, assim como incentivar a amamentação e a vacinação (BRASIL,
2017).
A Terapia Ocupacional passou a estar presente no nível da Atenção Primária em Saúde
após a criação do Núcleo de Apoio a Saúde da Família, em que as práticas estavam voltadas
para o desempenho ocupacional das atividades de vida diária dos usuários, ou seja, com foco
na autorrealização do indivíduo e nas esferas ocupacionais que o circunda (CABRAL,
BREGALDA, 2017).
Além disso, a Terapia Ocupacional também atua no processo de saúde materno-infantil,
desenvolvendo suas práticas, desde a educação em saúde, aconselhamentos, vigilância ao
desenvolvimento infantil, orientação para estimulação da criança, apoio às equipes de saúde da
família na abordagem de crianças com doenças crônicas, em sofrimento psíquico e com
deficiências, e ações em escolas, creches e outras instituições que atendam o público infantil
(REISA; GOMES; AOKI, 2012).
Nesse sentido, este estudo busca relatar experiência vivenciada por acadêmicos de
terapia ocupacional na saúde materno-infantil no componente curricular Clínica em Terapia
Ocupacional I com enfoque na atenção básica.
METODOLOGIA
O presente estudo se trata de um relato de experiência vivenciado por acadêmicos, do
segundo ano, de Terapia Ocupacional dentro das práticas do componente curricular de Clínica
em Terapia Ocupacional I, entre os meses de fevereiro e abril de 2019. As práticas ocorreram,
em uma Unidade Básica de Saúde de referência no estado do Pará.
O foco desta prática na atenção primária estava voltado para a saúde da mulher no
período gravídico e da criança. A prática foi dividida em 3 etapas: ambientação ao setor
materno-infantil da unidade, sala de espera e consultas de terapia ocupacional.
1015
RESULTADOS
Para que houvesse uma rotatividade eficiente do grupo dentro do setor materno-infantil,
houve a divisão em dois grupos que se alternavam nas consultas do pré-natal e do setor de
crescimento e desenvolvimento. A primeira etapa vivenciada na prática de Clínica em Terapia
Ocupacional I foi a ambientação, a qual os acadêmicos criaram um folder apresentativo a todos
profissionais do setor, demonstrando as principais competências e habilidades dos profissionais
de Terapia Ocupacional, assim como as principais funções desse membro da equipe
multiprofissional, na Atenção Primária em Saúde.
Em seguida, o grupo foi apresentado a população alvo do setor materno-infantil, nesse
momento, os acadêmicos elaboraram uma dinâmica para compreender um pouco sobre os
principais obstáculos e fragilidades no setor sob a visão dos usuários.
A etapa a qual corresponde a sala de espera teve extrema importância à equipe de
discentes, uma vez que ela ocorria antes das consultas de Terapia Ocupacional e tinha com
intuito a dinâmica interativa.
Dentre os diversos temas debatidos na sala de espera, os assuntos sobre tabagismo,
alcoolismo e automedicação na gestação foram altamente explanados, principalmente, a
respeito dos riscos para a gestante e para a criança, somado a isso foi apresentado pelo grupo
também, temas como gravidez na adolescência e os direitos trabalhistas e educacionais na
gestação, com o intuito de conscientizar as mães adolescentes e seus familiares sobre os direitos
e deveres.
Essas ações buscavam a participação mais ativa das usuárias no pré-natal, uma vez que
o setor estava sofrendo com o absenteísmo das grávidas nas consultas, pois a busca de
atendimento ocorria, em geral, por parte dos familiares das gestantes. Já no ambiente da criança,
foram elaborados temas sobre o crescimento e desenvolvimento infantil para que os cuidadores
ficassem atentos aos principais marcos do desenvolvimento durante a infância e, por fim, um
tema bastante importante debatido na sala de espera foi sobre a fenilcetonúria, visto que era um
dos exames feitos na unidade e que era desconhecido e incompreendido por alguns usuários.
As temáticas foram expostas de forma dinâmica, por exemplo, com jogo de perguntas e
respostas envolvendo verdadeiro ou falso para que os usuários que estivessem assistindo
pudessem participar. Após a sala de espera, ocorriam as consultas de Terapia Ocupacional, no
setor de vigilância do desenvolvimento infantil com crianças encaminhadas pela pediatra da
unidade. Inicialmente, acontecia a anamnese com o responsável e a criança presente para que
pudesse ser analisado brevemente o comportamento do infante antes da sessão terapêutica, após
1016
essa etapa acontecia-se a aplicação do Teste de Triagem do Desenvolvimento Denver II, que é
um instrumento avaliador de como está acontecendo o desenvolvimento da criança e detecta
precocemente possíveis atrasos, sendo este teste aplicado em crianças de 0-6 anos, com intuito
de avaliar quatro áreas.
Com o responsável acontecia a aplicação da Medida Canadense de Desempenho
Ocupacional, sendo este um instrumento que avalia como está a satisfação do usuário em
relação ao seu desempenho ocupacional ao longo do tempo.
A partir dos resultados e demandas demonstradas na anamnese e na triagem era
montado um plano terapêutico semanal, pautado nos pontos do teste Denver II. Enquanto isso,
o grupo que estava em atuação no setor do pré-natal possuía duas vertentes de atendimento,
tanto a nível individual, quanto como grupal, as usuárias eram encaminhadas para o setor de
terapia ocupacional pela enfermeira da unidade. Inicialmente, acontecia a anamnese e em
seguida a triagem a qual possuía critério de seleção pautado na mensuração da vulnerabilidade
das gestantes, em que os pontos principais levados em conta para as sessões individuais eram
as gestantes em situação de gravidez de risco, fatores emocionais que geravam ansiedade e
início de depressão.
Nas sessões individuais o foco estava em dar escuta às gestantes e orientações com
técnicas de relaxamento e sobre o desempenho ocupacional, enquanto que as sessões em grupo
buscavam, principalmente, as grávidas que se sentissem abertas a compartilhar sentimentos e
que possuíssem dores diárias e também as que necessitavam de orientações sobre suas
atividades diárias, a fim de que os acadêmicos atuassem auxiliando no posicionamento mais
adequado para se realizar as atividades de vida diária e controle e ritmo no desempenho
ocupacional.
DISCUSSÃO
Durante a prática dentro da unidade, os acadêmicos puderam perceber que as ações de
educação em saúde tiveram pontos positivos, pois houve compreensão por parte do público
alvo o que contribuiu na criação de vínculo entre o usuário e a equipe, uma vez que as gestantes
e os usuários passaram a ter papel ativo e participativo nas dinâmicas propostas durante a sala
de espera, como corrobora Santos et al. (2012), afirmando que as ações durante a sala de espera
possibilitam a interação dinâmica entre profissional-usuário-sistema proporcionando assim
maior qualidade durante o acolhimento e os atendimentos, pois na pratica da sala de espera é
1017
onde acontece um cuidado indireto com o usuário, em que os temas discutidos de forma simples
e clara promovem a prevenção e promoção de saúde.
Por outro lado, se tratando da atenção voltada para a vigilância do desenvolvimento
infantil, as aplicações dos protocolos foram importantes para o acadêmico visto que tiveram
um direcionamento melhor sobre quais as condutas que deveriam tomar diante do paciente. Um
dos recursos utilizados foi o Teste de Triagem do Desenvolvimento Denver II, que trouxe
pontos relevantes para análise do perfil da criança, e possibilitou que o plano terapêutico fosse
planejado de acordo com os déficits que a criança apresentava e que foram destacados no
resultado do teste.
Segundo Coelho et al (2016), Denver II é mais indicado para utilização, pois é um teste
de fácil aplicabilidade e que não demanda muito tempo, o que torna possível que seja feito,
mesmo sem um vínculo ainda não estabelecido com a criança.
Além disso, as consultas com as grávidas em grupo oportunizaram aos discentes
perceberem como é importante a inclusão social, a troca de ideias e compartilhamento de
experiências, uma vez que, nos atendimentos aconteciam, principalmente, o esclarecimento de
dúvidas, auxílio para posicionamento adequado durante as atividades de vida diária e trocas de
conhecimentos entre as gestantes mais experientes com as mães adolescentes. Domingues
(2015) confirma o fato de que ações feitas, mesmo individualmente, com as gestantes trazem
pontos positivos à terapêutica, a partir do momento em que se há vínculo entre o usuário e o
profissional, assim como consultas terapêuticas em grupos com gestantes se mostram
apropriadas pois fomentam a construção de saberes, ameniza as dúvidas e reduz a ansiedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O componente curricular Clínica em Terapia Ocupacional I ao proporcionar a prática
na atenção primária, possibilitou aos graduandos a percepção de que a atuação terapêutica neste
nível de atenção é essencial, uma vez que este é um profissional importante dentro da equipe
multiprofissional e que pode atuar no setor de educação em saúde, no pré-natal, no setor de
vigilância do desenvolvimento infantil, possuindo habilidade adequada para aplicação de
protocolos que são de suma importância em diversas avaliações de caso.
REFERÊNCIAS
1018
BRASIL, Ministério da Saúde. Rede Cegonha. 2017. Disponível em:
http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/rede-cegonha/sobre-o-programa. Acesso em:
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n. 1, p.179-189, jun. 2017.
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v. 37, n. 3, p. 141, 2015.
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reflexões sobre as populações atendidas. Cad. Ter. Ocup. UFSCAR, São Carlos, v. 20, n. 3,
p.341-350, maio 2012.
SANTOS, D; ANDRADE, A; LIMA, B et al. Sala de Espera para Gestantes: uma Estratégia de
Educação em Saúde. Rev. Bras. Educ. Méd. Maceió, 36 (1, Supl. 2): 62-67; 2012.
1019
A utilização de grupo terapêutico de terapia ocupacional em um CAPS da cidade do
Recife: um relato de experiência
Bruna Vaz De Castro Leal
Hanna Joane De Araújo Souza
Paulo André De Souza Sales
Weldma Karlla Coelho
Isabelle Moises Melo Sá
Iranilda Maria Yonoã Da Silva
As psicoses são definidas por anormalidades em um ou mais dos cinco domínios a seguir:
“delírios, alucinações, pensamento/discurso desorganizado, comportamento motor
grosseiramente desorganizado ou anormal (incluindo catatonia) e sintomas negativos”. O
Centro de Atenção Psicossocial é um serviço de referência para quem sofre com transtornos
mentais, e dentro desse serviço o profissional de Terapia Ocupacional pode intervir, inclusive
com grupos terapêuticos que colaboram com o desempenho ocupacional das pessoas com
transtornos psicóticos. Este trabalho tem por objetivo apresentar a prática acadêmica de uma
subturma da disciplina de Terapia Ocupacional e Saúde Mental, em uma intervenção realizada
num Centro de Atenção Psicossocial da cidade do Recife. Os grupos de Terapia Ocupacional
aconteceram das 9h às 10h entre os dias 09/10/18 e 20/11/18, acontecendo na sala de grupos,
com supervisão de 2 terapeutas ocupacionais do serviço, 3 discentes e 1 terapeuta ocupacional
docente. As atividades do grupo terapêutico foram: pintura, relaxamento, jogos, dinâmicas. As
atividades lúdicas são um caminho para o acesso do inconsciente reprimido que ao ser acessado
permite ao indivíduo liberdade criativa o que possibilita uma construção individual mais
saudável. É de extrema importância a atuação da Terapia Ocupacional nesse contexto e a
necessidade de continuidade de intervenção que permite troca de experiências e a construção
do conjunto do ser social.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional; Saúde Mental; Sistema Único de Saúde.
INTRODUÇÃO
As psicoses são definidas por anormalidades em um ou mais dos cinco domínios a
seguir: “delírios, alucinações, pensamento/discurso desorganizado, comportamento motor
1020
grosseiramente desorganizado ou anormal (incluindo catatonia) e sintomas negativos”. Delírios
são crenças fixas, difíceis de mudar após apresentação de fatos, pode se apresentar em diversos
temas, como: persecutório, de referência, somático, religioso, de grandeza; já as alucinações
são percepções sensoriais distorcidas do mundo externo, podendo ser divididas em
hipnagógicas, ao adormecer, e hiponopômpicas, ao acordar; desorganização do pensamento
e/ou discurso, respostas ambíguas ou totalmente sem sentido. (DSM V, 2017).
Após a reforma psiquiátrica no Brasil, foi implantada a Lei Nacional Nº 10.216/01, onde
esclarece os direitos da pessoa com transtorno mental e regulamenta os serviços substitutivos.
O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é um serviço de saúde aberto e comunitário do
Sistema Único de Saúde (SUS), lugar este, de referência e tratamento para pessoas que sofrem
com transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e outros quadros, incluindo também os
transtornos relacionados às substâncias psicoativas (álcool e outras drogas), crianças e
adolescentes com transtornos mentais (BRASIL, 2004).
Para Cirineu (et. Al.,2013) as atividades grupais colaboram com o desempenho
ocupacional das pessoas com transtornos psicóticos, e a prática de intervenção em grupo
contribui para as habilidades sociais e exploração de sentimentos e ideias, além de estimular as
Atividades de Vida Diária (AVD’s) como de autocuidado e automanutenção, trabalhadas pela
Terapia Ocupacional, a AOTA (2015) reforça e afirmativa ao declarar o terapeuta ocupacional
o profissional hábil a intervir nesse âmbito. A Terapia Ocupacional tem como definição o uso
terapêutico de atividades diárias, visando a habilitação, reabilitação e promoção de saúde, com
o intuito de melhorar e/ou possibilitar a participação de um sujeito, grupo ou população em
papéis, hábitos e rotinas em variados ambientes, favorecendo assim as habilidades de processo
e habilidades de interação social. (AOTA, 2015; CUNHA; SANTOS, 2009).
Este trabalho tem por objetivo apresentar a prática acadêmica de uma subturma da
disciplina de Terapia Ocupacional e Saúde Mental, em uma intervenção realizada num Centro
de Atenção Psicossocial (CAPS) da cidade do Recife.
METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência acerca das intervenções terapêuticas- ocupacionais
realizadas num CAPS da Cidade do Recife por alunos do 5° período do curso de Terapia
Ocupacional da Universidade Federal de Pernambuco. O estudo se caracteriza como qualitativo
e descritivo, elaborado a partir de observações registradas durante os encontros. Utilizou-se de
uma pesquisa bibliográfica nas bases de dados: Scielo, Google Acadêmico, Revistas de Terapia
1021
Ocupacional da USP, Revistas de Terapia Ocupacional da UFSCar e Redalyc para a
caracterização e fundamentação teórica do presente estudo. As abordagens aconteceram em um
CAPS na cidade do Recife, cujos encontros ocorreram nas terças-feiras, e os grupos, intitulados
por “Grupo de Terapia Ocupacional” aconteceram das 9h às 10h entre os dias 09/10/18 e
20/11/18. O grupo era rotativo e aberto, tendo prevalência de alguns usuários, o grupo se
categorizava como misto, tanto no sexo, idade e patologia, os usuários eram selecionados pelas
terapeutas ocupacionais do serviço de acordo com os usuários que se encontravam no CAPS
no momento da atividade, tinha em média uma frequência de 15 sujeitos presentes por dia em
que era realizado. Foram realizados sete encontros, nos quais destes, três aconteceram por
coordenação das Terapeutas Ocupacionais do serviço; e os outros quatros encontros, um se deu
com a coordenação dos três discentes da subturma, e dos três, cada discente pôde coordenar sua
própria atividade, todos os grupos ocorreram em uma sala de grupos terapêuticos que o local
disponibilizava, sendo apenas um ocorrendo na área externa por dificuldade de instalação física.
RESULTADOS
Buscou-se através dos grupos terapêuticos o resgate de experiências de vida a fim de
possibilitar a construção de uma nova história, fortalecimentos dos laços afetivos, novos laços,
resolução de problemas e confiança entre os participantes.
As atividades do 1º dia de pintura e relaxamento que fizeram com que os usuários
relembrassem e objetivassem alguma lembrança de sua infância fez com que fosse possível
perceber um dos integrantes que estava desorganizado, já que em sua folha trouxe uma escrita
intimidadora e desconexa a realidade; e outra usuária que nas semanas anteriores se apresentou
dispersa, desorganizada e desconexa a atividade, realizando essa com foco e entusiasmo,
alcançando todos os objetivos propostos.
As atividades lúdicas do 2º encontro utilizando balões com frases dentro, fez com que
os usuários se observassem diante de seus problemas e fizessem reflexão quanto a quantidade
de vezes que eles ficam tendo que “cuidar” das dificuldades dos outros. Além dessa atividade,
foi feita outra com um doce em que alguns tiveram dificuldade de seguir a regra simples de não
poder dobrar o braço, mas depois um usuário resolveu o problema, e esse mesmo refletiu quanto
a importância do CAPS e das pessoas na vida deles para ajuda-los a resolver suas dificuldades.
No 3º dia foi feita uma apresentação de forma diferente, onde cada integrante do grupo
teve que apresentar o outro, todos ficaram entusiasmados e ansiosos pela apresentação, assim
foi possível perceber a importância dos papeis de cada sujeito, depois foi feita uma dinâmica
1022
com o jornal em que tinham que atravessar um rio, e juntos resolverem o problema, que só foi
possível após a facilitação da terapeuta ocupacional.
O último encontro, teve por atividades a “Dinâmica do Mestre” e a “Dinâmica da teia”,
onde foi possível perceber a adesão do grupo e um feedback quanto as atividades que foram
propostas pelo condutores, com comentários benéficos e saudosos os usuários puderam
compartilhar o que foi a vivencia e se despedir dos alunos, que por fim observou-se a formação
de uma grande rede de apoio entre os participantes.
DISCUSSÕES
As atividades expressivas são um modo de acolher o sujeito em seu sofrimento psíquico
e que extrapolam a palavra falada. A arte abre brecha para a contraposição ao modo hegemônico
de ser sujeito e de acolher as singularidades. As atividades lúdicas têm função importante na
atenção psicossocial, levando em conta que partindo dela é possível perceber diversos sinais da
“loucura”, podendo utilizar o projeto como meio e como fim terapêutico (ASSUNÇÃO, et. Al.
2018). Em reforço que as atividades lúdicas são grandes facilitadores da intervenção terapêutica
ocupacional, possibilitando a utilização e reconhecimento de uma linguagem já conhecida, para
que através dela o indivíduo possa expressar sentimentos ao mundo externo, transmitindo e
acessando memórias da infância (SILVA, et. Al. 2014).
Seria o lúdico um caminho a ser trabalhado com adultos? Para (LUCKESI, 2005) as
atividades lúdicas para os adultos são um caminho para o acesso do inconsciente reprimido que
ao ser acessado permite ao indivíduo liberdade criativa o que possibilita uma construção
individual mais saudável.
O processo de formação de vínculo permite aos sujeitos o compartilhamento de
experiências entre os usuários e a equipe que o assiste. Portanto, a realidade no contexto do
CAPS se apresenta acolhedora, visto que nesse local são formados novos vínculos tanto com a
equipe profissional quanto entre os usuários. Fora desse ambiente os usuários encontram um
local que não possui um caráter acolhedor em sua maioria, tendo que enfrentar situações de
desprezo e preconceito com sua condição (BENEVIDES, et. Al. 2009). Para a abordagem
psicodinâmica na concepção de Ballarian o grupo de Terapia Ocupacional é composto por
diversas atividades, dentre elas os jogos. Deste modo, a utilização de jogos na intencionalidade
terapêutica tem o poder de resgate de lembranças significativas para o sujeito e o induzindo ao
maior engajamento na atividade, dando a sua execução um caráter prazeroso (CUNHA;
SANTOS, 2009).
1023
CONCLUSÃO
A partir das experiências no CAPS, foi possível observar a Terapia Ocupacional atuante
dentro do serviço de atenção básica, e a relevância da intervenção grupal para as relações sociais
dos indivíduos. Além disso, o grupo apresentou como principal barreira a dificuldade de lidar
com sentimentos, mas o destaque vai as dificuldades físicas do serviço; já como potencial a
participação dos sujeitos possibilitava as intervenções e a crescente mudança do grupo. Nessa
perspectiva é possível ressaltar a importância da atuação da Terapia Ocupacional nesse contexto
e a necessidade de continuidade de intervenção que permite troca de experiências e a construção
do conjunto do ser social.
REFERÊNCIAS
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BENEVIDES, D; PINTO, A; CAVALCANTI, C; JORGE, M. Cuidado em saúde mental por
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1024
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LUCKESI, C. Ludicidade e atividades lúdicas – Uma abordagem a partir da experiencia
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SILVA, M; COSTA, S; KINOSHITA, T. A interação na construção do sujeito e da prática da
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1025
Abordagem cognitiva na intervenção terapêutica ocupacional em idosos com demências
Barbara Luíse Da Silva Pina
Érica Verônica De Vasconcelos Lyra
Marcela De Santana Silva
Maria Cecília Lima Cavalcanti De Cerqueira
Mariana Celestina Xavier
Yanne Lira Sobel
O crescimento das doenças crônicas entre elas as demências, traz limitações que refletem no
desempenho ocupacional dos idosos, afetando os componentes cognitivos, levando a
necessidade de intervenções multiprofissionais, entre elas, a terapêutica ocupacional. O
presente trabalho tem como objetivo descrever a experiência da atuação da terapia ocupacional
em pacientes idosos com demência. Trata-se de um relato de experiência das aulas práticas da
disciplina Terapia Ocupacional e Envelhecimento 2, em um Hospital Universitário. Para
identificar o uso das abordagens cognitivas em idosos com demência Frontotemporal e Doença
de Alzheimer, foram realizados doze atendimentos individuais que ocorreram no primeiro
semestre de 2019, supervisionados pela docente do curso de Terapia Ocupacional e uma
monitora. Nos atendimentos iniciais, pontuaram-se as principais demandas dos pacientes e em
seguida utilizados alguns recursos terapêuticos que estimulassem os aspectos cognitivos e que
fizessem parte do seu contexto. As estratégias terapêuticas ocupacionais em pacientes idosos
com demência permeiam entre os níveis de prevenção e reabilitação e a potencialização das
habilidades e desempenho remanescentes a doença. O terapeuta ocupacional além do
tratamento das limitações cria possibilidades para que os idosos com demência e sua família,
tenham uma melhor qualidade de vida. Ressalta-se, portanto, a importância da Terapia
Ocupacional em idosos com doenças crônicas não transmissíveis, na perspectiva de estimular
e manter os componentes cognitivos e o melhor desempenho ocupacional e funcional.
Palavras-chave: Cognição; Demência; Idoso; Terapia Ocupacional.
INTRODUÇÃO
No Brasil, houve um crescimento expressivo da expectativa de vida, levando ao
aumento do número de idosos, que vem acompanhado do crescimento das doenças crônicas
1026
não transmissíveis, e entre elas, as demências (MOTTA, FERRARI, 2004). A Doença de
Alzheimer (DA) é a mais comum, ocasionando prejuízo na memória; declínio na orientação
espaço-temporal, no pensamento, na concentração e na linguagem; transtornos de humor;
alterações na mudança de apetite; delírios e alucinações; apatia e indiferença; desinibição e
distúrbios de atividade psicomotora e do sono (NITRINI et al., 2005)
A Demência Frontotemporal (DFT) é caracterizada por mudanças de comportamento,
julgamento e personalidade, como desinibição, apatia, condutas antissociais, labilidade
emocional, entre outras. Outras características são as alterações de personalidade: as
impulsividades, comportamentos repetitivos e prejuízo na linguagem, sendo preservada a
compreensão até os estágios avançados (MARINHO, 2006)
Ambas as demências afetam o desempenho ocupacional do idoso em suas atividades de
vida diária (AVD) e atividades instrumentais da vida diária (AIVD), devido à perda progressiva
de suas funções cognitivas (MACHADO, 2011; NITRINI et al., 2005).
Devido ao impacto ocupacional da doença, faz-se necessário a intervenção terapêutica
ocupacional com enfoque cognitivo, juntamente com o tratamento farmacológico, para retardar
os sintomas e progressão, além de melhorar a qualidade de vida do idoso com demência
(ENGELHARDT et al., 2005).
Sendo assim o presente trabalho tem como objetivo descrever a experiência da atuação
da terapia ocupacional em pacientes idosos com demência.
METODOLOGIA
O estudo trata-se de um relato de experiência das aulas práticas da disciplina Terapia
Ocupacional e Envelhecimento 2, ocorridas no Hospital das Clínicas da UFPE, em Recife-PE.
Foram realizadas doze intervenções com os pacientes, que ocorreram no primeiro semestre de
2019, sendo supervisionados por uma docente e uma monitora da disciplina e sete discentes.
Serão relatados os atendimentos individuais de dois pacientes, com duração média de
quarenta e cinco minutos, realizados uma vez por semana.
RESULTADOS
Nos atendimentos iniciais, identificou-se as principais demandas dos pacientes, Tirado
(2005) refere que é através da avaliação terapêutica ocupacional junto ao idoso com alteração
1027
cognitiva, obtendo dados para a intervenção, identificar o desempenho ocupacional e funcional
do indivíduo.
As intervenções realizadas tiveram como foco a estimulação cognitiva, fazendo uso da
base metodológica da Terapia Ocupacional, a ocupação. O termo ocupação de acordo com a
Estrutura e Prática da Terapia Ocupacional (AOTA, 2015), corresponde às atividades que os
indivíduos se envolvem no seu cotidiano, com propósito e significado, e sendo influenciadas
pela necessidade, contexto e interesse dos mesmos.
Para alcançar, os objetivos propostos, foram utilizados recursos terapêuticos como jogos
de associações, perguntas e respostas, bingo e jogos de memória adaptados, música, imagens
de objetos usados no dia a dia e de alimentos mais do cotidiano, entre outros.
A paciente 1 era uma idosa, 80 anos, com DA. A intervenção teve os objetivos de
estimular a memória, orientação espacial e temporal e a atenção, instigando o reconhecimento
através do nome e funções, papéis de pessoas, objetos, alimentos e lugares que fazem parte do
cotidiano, relacionadas às AVD, AIVD, participação social e lazer.
O paciente 2 era um idoso de 69 anos, diagnosticado com DFT. As atividades realizadas
tinham o objetivo de estimular a cognição, atenção, capacidade de abstração, percepção visual
e auditiva, memória de longo prazo, de curto prazo e imediata.
O último atendimento foi planejado por todas as discentes e realizado com os idosos e
familiares, trabalhando a temática de São João, com o objetivo de estimular a memória
declarativa, trabalhar a atenção, percepção e planejamento de ações, favorecer orientação
temporal, estimular sequenciamento e percepção de figura-fundo. Os recursos terapêuticos
utilizados foram de decoração junina e comidas típicas da época.
DISCUSSÃO
Os resultados obtidos corroboram com os estudos de estimulação cognitiva, tendo em
vista que os distúrbios cognitivos ocasionados por quadros demenciais não têm cura, porém,
através da reabilitação neurocognitiva e dos tratamentos farmacológicos, pode haver uma
redução do nível de dependência, tornando o desempenho nas atividades de vida diária melhor
e impedindo, temporariamente, o avanço rápido da demência (BERTAZONE, et al, 2016).
Através da organização das rotinas de ambos os pacientes, priorizando a realização de
atividades prazerosas, observa-se uma melhor interação com o ambiente, cuidadores e
familiares, fato observado e relatado pelos familiares. Tirado, Barreto e Assis (2011) referem
que tanto nos atendimentos individuais como grupais alguns procedimentos devem ser
1028
adotados, estimulando o envolvimento e a participação dos idosos, entre eles, a organização da
rotina.
É importante ressaltar que a família, em todos os atendimentos, é convidada a verbalizar
suas dificuldades e dúvidas ao lidar com as demandas e alterações comportamentais do seu
familiar doente. É feito o acolhimento, escutando e orientando os familiares, sugerindo
condutas adequadas de acordo com as situações que vão ocorrendo. Segundo Caixeta, Peleja e
Lopes (2012), a educação e orientação sobre as características da doença pode promover algum
alívio, minimizando o estresse diário. Também são sugeridas alterações ambientais, após visita
domiciliar com o objetivo de prevenção de acidentes, principalmente as quedas. A adaptação
ambiental é fundamental e é um processo realizado com a adaptação interna do idoso, que
define seu desempenho funcional (TIRADO, BARRETO, ASSIS, 2011),
A intervenção terapêutica ocupacional atua nos níveis de prevenção e reabilitação dos
idosos com demências, potencializando as habilidades do desempenho ocupacional destes, que
se apresentam prejudicadas, devido ao progresso da doença. Desse modo, a intervenção do
terapeuta ocupacional visa além do tratamento de limitações, oferecer adaptações para que os
idosos com demência e suas famílias tenham uma melhor qualidade de vida (SANTOS, 2016)
CONCLUSÃO
Ressaltamos a importância da intervenção terapêutica ocupacional para minimizar as
alterações cognitivas, dos indivíduos com demência que afeta o desempenho ocupacional e
funcional.
As atividades podem contribuir para retardar os sintomas e progressão, fazendo
mantendo o nível mais elevado de habilidades e funcionamento, por um maior período, além
de melhorar a qualidade de vida. Os recursos terapêuticos foram utilizados como mediadores
desta intervenção, buscando a promoção da independência e melhora da funcionalidade dos
idosos.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE TERAPIA OCUPACIONAL (AOTA). Estrutura e Prática
da Terapia Ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo; v.
26; p. 6; São Paulo, 2015.
1029
BERTAZONE, T. M. A. et al. Ações multidisciplinares/interdisciplinares no cuidado ao idoso
com Doença de Alzheimer. Revista Rene, jan-fev; 17(1): 144-53, 2016.
CAIXETA, L.; PELEJA, A.; LOPES, D. B. Demência de Alzheimer Grave – Diagnóstico e
Manejo Terapêutico. In: CAIXETA, L. et al. Doença de Alzheimer. Porto Alegre: Editora
Artmed, p.311-333, 2012.
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Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira
de Neurologia. Arquivo Neuro-Psiquiatria, v. 63, n. 4, p. 1104-1112, 2005.
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e gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 288–318, 2011.
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Transtornos Cognitivos em Idosos. 1ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, v. 1, p. 196-212,
2006.
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com comprometimento no processo de envelhecimento. In: DE CARLO, M. M. R. et al. Terapia
Ocupacional: Reabilitação Física e Contextos Hospitalares. São Paulo: Roca; p.293-303,2004.
NITRINI, R. et al. Diagnóstico de doença de Alzheimer no Brasil: avaliação cognitiva e
funcional. Recomendações do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do
Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia. Arquivo Neuro-Psiquiatria., v. 63,
n. 3a, p. 720-727, 2005.
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demência: Uma revisão integrativa. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Terapia
Ocupacional) - Universidade de Brasília, Brasília, 2016.
TIRADO, M. G. A. Intervenção terapêutica ocupacional junto ao idoso com distúrbios
cognitivos. In: TAVARES, A. Compêndio de neuropsiquiatria geriátrica. 1° edição. Editora:
Guanabara Koogan, p. 571 - 577, 2005.
TIRADO, M. G. A.; BARRETO, K. M. L.; ASSIS, L. O. Terapia Ocupacional em Geriatria e
Gerontologia. IN: FREITAS, E. V. et al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; p. 1; p. 1976- 1984, 2011.
1030
A oficina de horticultura terapia no Centro de Atenção Diária da Unidade Integrada de
Saúde Mental
Fernanda Soares Dias
Bruna Gusmão Matos Costa
Renato Marques
Fernando Carvalho de Souza
Valcir Santos da Silva
Trata-se de um relato de experiência desenvolvido a partir da vivência profissional de equipe
que atua em um Centro de Atenção Diária (CAD), localizado no Rio de Janeiro, na Unidade
Integrada de Saúde Mental. Neste cenário, a equipe desenvolve a oficina de Horticultura
Terapia, também conhecida como oficina de Horta Terapêutica, espaço de reprodução de
práticas preconizadas pela Reabilitação Psicossocial. A atividade de horta é desenvolvida por
membros da equipe de enfermagem, com formação em horta ou jardinagem e por Terapeuta
Ocupacional. A oficina de horta está consolidada como recurso terapêutico na instituição em
tela, desde 1992, sendo incorporada às ações do CAD no ano de 2002, quando da inauguração
do hospital dia. Nesse contexto, o presente trabalho objetiva descrever a oficina de Horticultura
Terapia, enfatizando os benefícios desta prática.
INTRODUÇÃO
No Brasil, a Lei 10.216, de 06 de abril de 2001 dispõe sobre a proteção e os direitos das
pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em Saúde Mental,
propondo modelo de tratamento aberto e comunitário. Desta forma, a lei abriu caminho para
oficializar dispositivos de saúde mental como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
Neste contexto, o Centro de Atenção Diária (CAD), da Unidade Integrada de Saúde
Mental (UISM) da Marinha do Brasil, foi inaugurado em 2002 e presta atendimento clínico e
multidisciplinar, em regime de atenção diária, garantindo cidadania e autonomia de pessoas
com transtornos mentais, ancorados nos referenciais teóricos da Reabilitação Psicossocial. O
público alvo do CAD são usuários do Sistema de Saúde da Marinha acima de 18 anos,
portadores de transtornos mentais. O referido serviço tem como principal ferramenta de
trabalho as oficinas terapêuticas, dentre elas está à oficina de Horticultura Terapia.
1031
Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo descrever o funcionamento da
oficina de Horticultura Terapia, dentro de uma instituição militar. A Horta da referida
instituição foi implantada no ano de 1992 (FOTO 1). Atualmente a oficina faz parte das
atividades desenvolvidas no CAD.
FOTO 1: Implantação da Horta em 1992.
A Horticultura Terapêutica é um processo de terapia que usa as plantas tendo como
instrumento atividades horticulturais e o mundo natural a fim de promover melhorias por meio
dos sentidos. (RIGOTTI, 2011). ARRUDA (1962) aponta que a atividade em horta para fins
terapêuticos viabiliza ao público expressão pessoal, espontaneidade, conhecimento das
potencialidades ou limitações, além de promover o desenvolvimento em vários aspectos
(emocional, físico, intelectual e social) e possibilitar a aquisição de maior independência e
autonomia.
METODOLOGIA
Trata-se de relato de experiência que visa descrever o trabalho desenvolvido no Centro
de Atenção Diária (CAD), situado na Unidade Integrada de Saúde Mental (UISM), instituição
da Marinha do Brasil, localizada no Rio de Janeiro. A oficina é realizada por meio da
Horticultura Terapia, por quatro técnicos de enfermagem com formação em Horta e Jardinagem
e coordenada por uma Terapeuta Ocupacional. Atualmente o serviço do CAD é coordenado por
uma Enfermeira. O público-alvo são pacientes com transtornos mentais a maioria com
diagnóstico de esquizofrenia.
RESULTADOS
1032
Os atendimentos são realizados diariamente, de segunda a sexta, no turno da manhã,
com a participação dos pacientes do Centro de Atenção Diária (CAD) e os pacientes de
internação da UISM, semanalmente cerca de 20 pacientes participam da oficina. O espaço físico
conta com um terreno de 625 m2 e uma estrutura de apoio de 28,4 m2. A horta possui área de
produção de hortaliças: alface (crespa, roxa, mimosa, americana e lisa), couve (roxa e
manteiga), cebolinha, salsa, agrião, aipo, rúcula, pimenta, aipim, babosa, quiabo, tomate cereja,
hortelã, manjericão, alecrim, louro, alho poro, berinjela, bertalha, limão galego, abacate e
acerola. O espaço também é utilizado para o cultivo de outras plantas, como suculentas e cactos.
Em 2018, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), uma Empresa
Pública de pesquisa vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do
Brasil, realizou um treinamento com os envolvidos na horta e na cozinha da instituição para
reciclar lixo orgânico produzido, o qual era descartado como lixo comum. Esta parceria resultou
em uma coleta seletiva a fim de facilitar a montagem da leira de compostagem que foi
implantada em julho de 2018 (FOTO 2).
O composto orgânico é de grande importância para a horta, estufa e jardins, sendo
utilizado no preparo dos canteiros, por possuir todos os nutrientes necessários para a
germinação das sementes, proporcionando um crescimento sadio, cobrindo e protegendo as
raízes das plantas, deixando-as mais resistentes às pragas até a colheita final. Além de menor
impacto econômico, social e ambiental descritos na literatura, com a implantação da
compostagem, observamos prazer e satisfação do paciente, melhora da autoestima, maior senso
de cooperação e concentração, ao participar do processo do lixo sendo transformado em força,
vitalidade, cores e sabores (FOTOS 3 e 4).
Não obstante aos benefícios da utilização do composto, na prática, algumas dificuldades
são encontradas, dentre elas está à falta de conscientização de alguns envolvidos no processo
da separação dos resíduos orgânicos.
1033
FOTO 2: Parceria com a Embrapa
FOTOS 3 e 4: A Horta antes e depois da Compostagem
DISCUSSÃO
A Horticultura se consolidou de fato, enquanto terapia, nos anos de 1900. No ano de
1919, Dr. Charles Frederick Menninger inaugurou, no Kansas, uma fundação que abriu as
portas para os estudos com plantas, jardins e natureza como parte integrante do dia a dia dos
pacientes (SHAPIRO & KAPLAN, 1998).
As atividades – práticas integrativas e complementares e oficinas terapêuticas – por
meio da utilização de hortas surgem “tanto como elemento terapêutico, quanto como
1034
promotoras de reinserção social, por meio de ações que envolvem o trabalho, a criação de um
produto, a geração de renda e a autonomia do sujeito.” (CAMARGO et all, 2015, p. 3636).
A Horticultura enquanto oficina terapêutica tem como objetivos colaborar no cuidado
com o meio ambiente, estimular a cooperação em trabalhos coletivos, proporcionar resgate da
autonomia e independência, melhorar a autoestima, desenvolver interesse pelo cuidado com as
plantas, projetando assim, este cuidado para o outro e para si, melhorando assim, a qualidade
de vida dos pacientes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A equipe do Centro de Atenção Diária da Marinha do Brasil utiliza os conceitos da
Reforma Psiquiátrica e busca melhorar o atendimento aos usuários do CAD por meio de
oficinas terapêuticas com grupos abertos e heterogêneos. Criamos um espaço mútuo de trocas
e aprendizados, onde o paciente tem a oportunidade de aprender, aprimorar suas habilidades e
interagir criando vínculos, melhorando assim sua socialização, autoestima, independência e
autonomia.
A Horticultura Terapia mostra-se eficiente como recurso terapêutico, auxiliando no
processo de reabilitação de pacientes portadores de transtornos psíquicos. Constatou-se que a
Horticultura Terapia contribui para agregar conhecimentos acerca dos processos de semeadura,
adubação e colheita, possibilitando construção de um senso de responsabilidade social e
ambiental, colaborando com a preservação do meio ambiente, por meio do cultivo de espécies
variadas de plantas. No decorrer das atividades, estimula à cooperação em trabalhos coletivos,
melhora a qualidade de vida dos pacientes, por meio do estímulo ao interesse pelo cuidado com
as plantas, com os outros e consigo mesmo.
REFERÊNCIAS
ARRUDA, E. Terapêutica ocupacional psiquiátrica. Rio de Janeiro: [s.n.]. 23-38p, 1962.
BRASIL, Lei nº 10.216, de 06 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das
pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental.
CARVALHO, R.; LUCAS, E.; CARVALHO, J.C; GONDIM, D.P; MOREIRA, J.G;
MARQUES, M.G. Uso da Hortoterapia no tratamento de portadores de sofrimento mental
grave. Enciclopédia Biosfera. Goiânia: 2015.
RIGOTTI, M. Horticultura Terapia. Botucatu: 2011.
1035
SHAPIRO, B. A., & KAPLAN, M. J. (1998). Mental Illness and Horticultural Therapy Practice.
In: Simson, S. P., Straus, M.C (Eds.). Horticulture as therapy: principles and practice (Cap.
7, pp. 157-169). Londres: FPP
1036
Aplicação de questionário ocupacional em um paciente com esquizofrenia: relato de caso
Julliana Alves Leão
Naianna Ribeiro Mocelin dos Santos
Babuska Navacho
Marina Araújo Rosas
O espectro da esquizofrenia é caracterizado por um conjunto de transtornos, sendo a
esquizofrenia o mais comum entre eles podendo apresentar em seu desenvolvimento alguns
sintomas como de delírio, alucinação, comportamento desorganizado e sintomas negativos. É
comum a apresentação de prejuízos cognitivos durante o curso da doença, onde a perda do
desempenho ocupacional é significativo para a continuação da vida. Diante do exposto, o
presente trabalho tem por objetivo avaliar e discutir os resultados obtidos a partir da aplicação
do Questionário Ocupacional em um paciente com esquizofrenia. Trata-se de um relato de caso
experienciado por uma estagiária do curso de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de
Pernambuco, onde foi aplicado o Questionário Ocupacional em atendimento individual. Entre
as categorias das atividades atribuídas, duas se sobressaem com mais de vinte horas de duração,
sendo elas o lazer e o repouso. Lazer voltado exclusivamente para o uso de eletrônicos (tv, rádio
ou vídeo game) e grande carência nas atividades de rotina e autocuidado realizadas de modo
parcialmente dependente. As ocupações podem influenciar de modo direto o bem-estar do
sujeito, dão significado e sentido à vida e auxiliando a encontrar seu sentido. A potencialização
do desempenho ocupacional pode atribuir ao paciente psiquiátrico mais autonomia e sua
integração social mais participativa na sociedade.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional; Saúde Mental; Esquizofrenia.
INTRODUÇÃO
O espectro da esquizofrenia é composto por um conjunto de transtornos psicóticos
incluindo a esquizofrenia, transtorno psicótico breve, transtorno de personalidade esquizotípica,
transtorno esquizofreniforme, transtorno esquizoafetivo, entre outros transtorno psicóticos.
Todos eles apresentam em sua maioria um quadro onde ocorre a perda da realidade, sendo
possível observar diversos sintomas, entre os principais estão: alucinações e delírios,
pensamento e comportamento desorganizado e alterações da afetividade, onde o seu
1037
diagnóstico é feito por exclusão ou aproximação de algum destes transtornos de acordo com o
preenchimento dos critérios e a duração de tempo que são apresentados. A esquizofrenia tem
seu diagnostico baseado na observação e constatação de sinais e sintomas relacionado ao
prejuízo profissional ou social. Dentre os sintomas, é fundamental que a apresentação de um
desses seja constatado: alucinações, delírios ou discurso desorganizado, a presença de
comportamento desorganizado e sintomas negativos também podem ser percebidos. O
surgimento da esquizofrenia pode ocorrer mais comumente entre o período final da
adolescência e durante os trinta anos de idade, o que difere em partes do aparecimento do
primeiro episódio psicótico que pode surgir em torno dos vinte anos de idade (DSM – V, 2014;
DALGALARRONDO, 2008).
O diagnóstico da esquizofrenia, vem atrelado a alguns prejuízos, sendo mais frequente
o prejuízo cognitivo que pode ser notado durante o desenvolvimento da doença e pode perdurar
até mesmo durante a remissão dos sintomas. O afeto é outra alteração que pode expressar
prejuízo, quando alterado tem-se a perda da capacidade de demonstrar e sintonizar afetivamente
com o outro, não apresentando reações ainda que seja estimulado, ou apresentando reações sem
a presença de um estímulo. Outra perda importante e significativa para o paciente que pode ser
observada é a rotina, sujeitos que anteriormente eram produtivos e participavam ativamente de
atividades sociais e de trabalho passam a ficar mais recolhidos quando comparados a antes da
manifestação da doença. (JUNIOR et al, 2010; DALGALARRONDO, 2008).
Todos esses prejuízos e alterações afetam de modo direto o desempenho ocupacional e
a funcionalidade do indivíduo, onde o desempenho ocupacional está relacionado com os papeis
assumidos pelo sujeito (REZENDE, 2009). A rotina diária, a execução de tarefas, a
produtividade e o lazer, são atividades que necessitam de um bom desempenho ocupacional
para realiza-las de modo satisfatório (ZANNI; BIANCHIN; MARQUES, 2009).
O Questionário Ocupacional (Kielhofner and Watts) é um instrumento de avaliação
onde o participante registra suas atividades detalhando tarefas exercidas de um dia comum. Este
instrumento pode ser usado para avaliar o quanto de tempo é necessário para realizar alguma
atividade, o modo como é feita e como ela é caracterizada pelo paciente. Diante do exposto, o
presente trabalho tem por objetivo avaliar e discutir os resultados obtidos a partir da aplicação
do Questionário Ocupacional em um paciente com esquizofrenia.
METODOLOGIA
1038
O presente trabalho trata-se de um relato de caso experenciado por uma estudante do
curso de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE durante o
período de agosto a novembro do ano de 2018, onde foi aplicado o questionário ocupacional
para fins de cumprimento de estágio curricular, sobre preceptoria da Terapeuta Ocupacional do
local, na enfermaria de saúde mental do Hospital de alta complexidade da RMR. Uma revisão
da literatura foi realizada para fins de fundamentação do corrente trabalho.
RESULTADOS
H. F. Atualmente com 23 anos de idade, solteiro, com núcleo familiar composto por pai,
mãe e dois irmãos, residente da cidade de Recife – PE onde mora com sua genitora e seu irmão
mais novo. Genitora relata que percebeu mudança no comportamento do filho no ano de 2015
enquanto trabalhava, resultando em seu afastamento. Com o caso ficando mais grave, os
genitores optaram pela sua internação na enfermaria de saúde mental de um hospital de alta
complexidade da RMR onde teve acesso a atendimentos diários com a equipe multiprofissional
do setor. H.F. não sai de casa desacompanhado e permanece grande parte do dia em pé olhando
pela janela, diz que gosta de escutar rádio e assiste televisão quando algum time de
Pernambucano joga, não tem redes sociais e relata que atualmente não tem amigos, nunca
namorou. Quando questionado sobre a realização de alguma atividade física relatou que tem
vontade de praticar algum esporte e que gostaria de voltar a trabalhar. Após realização da
entrevista com o paciente, foi percebido que o mesmo é parcialmente dependente em suas
atividades de vida diária, onde o banho é totalmente dependente, o vestir/despir é parcialmente
dependente, a alimentação é parcialmente dependente, e o cuidado com equipamentos pessoais
é totalmente dependente. Durante entrevista paciente apresenta expressão emocional
diminuída, falta de sociabilidade, avolia e alteração na afetividade. H. F. foi indicado a realizar
atendimentos individuais com a Terapia Ocupacional.
O segundo contato foi aplicado do questionário ocupacional. O instrumento é composto
por cinco colunas e dividido em duas etapas, a primeira é representada pelo registro de
atividades realizadas durante dias da semana, detalhando o que é realizado a cada meia hora,
especificando a hora exata ou aproximada. Para o segundo momento é pedido que classifique
a atividade como trabalho, atividade de vida diária, lazer ou repouso. Após isso, o indivíduo
deverá assinalar a sua percepção sobre o modo que realiza as atividades, em seguida indicará a
importância que essas atividades atribuem na sua rotina diária e por fim apontará o quanto essa
atividade o agrada quando realizada. Ao final da aplicação foi obtido os seguintes índices:
1039
5h às 12h: dormir; 12h às 12:30h: almoçar; 12:30h às 14h: eletrônicos (lazer); 14h às 16h:
atividade de descanso ou eletrônicos (lazer); 16h às 18:00h: faxina (trabalho); 18h ás 18:30h =:
AVD banho; 18:30h às 22:30h: eletrônicos (lazer); 22:30h às 5h: dormir
Curva apresentada: 2h de trabalho, 1h de atividade de rotina, 7:30 de lazer e 13:30 de descanso.
Gráfico:
Rotina Ocupacional
Trabalho
Atividades
de Rotina
Lazer
Descanso
Análise:
Excesso de Descanso e Lazer/Déficit de Atividades de Rotina.
- Mais que a metade do dia vinculado ao descanso/dormir.
- Lazer exclusivamente voltado ao uso de eletrônicos (tv, rádio ou vídeo game).
- Carência de dedicação às atividades de rotina e de autocuidado, como refeições, banho,
escovar os dentes e outras.
Considerando para curva esperada:
1. Trabalho Ação laboral, remunerada ou não, ou ação voltada aos estudos. De modo geral,
são ações voltadas à produtividade 6-8h.
2. Atividades de Rotina Alimentação padrão, atividades de autocuidado e demais atividades
do cotidiano 4h.
3. Lazer Atividades com propósito de divertimento 3h.
4. Descanso Repousar ou dormir 9h.
DISCUSSÃO
Entre as categorias das atividades atribuídas por H.F. duas se sobressaem com mais de
vinte horas de duração, sendo elas o lazer e o repouso. Considerando o repouso como o
momento de dormir, onde é gasto mais de catorze horas e o lazer onde o paciente refere que
passa esses momentos olhando a janela e ouvindo rádio são gastos seis horas diárias. O grande
tempo de inatividade observado pode ser prejudicial, causando possíveis alterações cognitivas.
1040
O desempenho ocupacional para Zanni, Bianchin e Marques (2009), faz relação ao
seguimento de uma rotina diária onde papéis sociais são desempenhados com objetivo da
automanutenção, levando em consideração o período de desenvolvimento, cultura e ambiente
do sujeito.
As ocupações podem influenciar de modo direto o bem-estar do sujeito, favorecendo a
carência humana do fazer, proporciona sentido ao viver, estimula a organização de tempo e
espaço, promove autoestima e contribui para a construção da identidade. Sendo assim, as
ocupações dão significado e sentido a vida e auxilia o sujeito a encontrar seu sentido
(TAYLOR, 2008).
Podendo-se utilizar de atividades com significado que melhoram o desempenho
ocupacional e favorece a qualidade de vida, objetivando a autonomia e a independência de
quem a projeta (PONTES; POLATJAKO, 2016).
De frente com todas essas demandas observadas, o paciente recebeu
encaminhamento para terapia familiar onde serão realizados atendimentos semanais em família.
Sendo um pedido do próprio paciente a realização de algum esporte, está sendo programado
visita ao núcleo de educação física da universidade para que o mesmo possa conhecer os
esportes que estão sendo realizados pela equipe e poder ingressar em qual se interessar.
Continuará a ter atendimentos semanais com a Terapia Ocupacional com o objetivo de inseri-
lo de volta a comunidade de modo ativo exercendo sua autonomia e independência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo foi possível observar como a aplicação do Questionário Ocupacional pôde
ajudar a refletir sobre os prejuízos que podem ser atribuídos devido à falta de uma rotina diária
com expressões de atividades ativas em um paciente psiquiátrico com alterações cognitivas,
onde a maioria das atividades estão associadas ao lazer e descanso. Quando um grupo
equilibrado de ocupações é realizado, pode-se perceber os resultados de modo satisfatório,
promovendo bem-estar e maior qualidade de vida para o indivíduo, conferindo sentido a sua
vida. A potencialização do desempenho ocupacional pode atribuir ao paciente psiquiátrico mais
autonomia e sua integração social mais participativa na sociedade.
REFERÊNCIAS
1041
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual diagnóstico e
estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014.
DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Sâo Paulo:
Artmed, 2008.
JUNIOR, B. C. F.; BARBOSA, M. A.; BARBOSA, I. G.; HARA, C.; ROCHA, F. L. Alterações
cognitivas na esquizofrenia: atualização. Revista Psiquiátrica Rio Grande do Sul, v. 32, n. 2,
p. 57-63, 2010.
PONTES, T.; POLATAJKO, H. Habilitando ocupações: prática baseada na ocupação e
centrada no cliente na Terapia Ocupacional/Enabling occupation: occupation-based and client
centred practice in Occupational Therapy. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, v.
24, n. 2, 2016.
RESENDE, M. J. P. Desempenho ocupacional e fibromialgia: intervenção em equipa
multidisciplinar, contributo da terapia ocupacional. Tese de Doutorado. Lisboa, 2009.
TAYLOR, J. A. The construction of identities through narratives of occupations. Tese de
Doutorado. University of Salford. United Kingdom, 2008.
ZANNI, K. P.; BIANCHIN, M. A.; MARQUES, L. H. N. Qualidade de vida e desempenho
ocupacional de pacientes submetidos à cirurgia de epilepsia. Journal of Epilepsy and Clinical
Neurophysiology, v. 15, n. 3, p. 114-117, 2009.
1042
Oficina de inclusão digital: percepções sobre aprendizagem para o uso do telefone celular.
Sarah Johanna Dantas Bastos
Julia Sant'Ana
Giovanna Silva
Larissa Amaral
Lilian Dias
Taiuani Marquine
A sociedade contemporânea aponta desafios para adultos de meia idade para utilizarem
dispositivos tecnológicos. Com isso, na perspectiva da Terapia Ocupacional gerontológica,
oficinas de inclusão digital podem se configurar como um espaço de promoção da
independência para o uso das tecnologias, ao adotar um olhar diferenciado sobre o processo de
aprendizagem. Este trabalho tem como objetivo descrever a percepção das acadêmicas de
Terapia Ocupacional sobre as estratégias de aprendizagem utilizadas por adultos maduros e
idosos em um projeto de inclusão digital. Trata-se de um estudo descritivo, longitudinal e
qualitativo. A amostra foi composta por sete discentes de terapia ocupacional. Os dados foram
coletados por meio de diários de campo reflexivos. Em relação à aprendizagem, os aspectos
que foram observados como influenciadores deste processo eram relacionados ao ambiente, o
aprendiz, a tecnologia e as metodologias de ensino. DISCUSSÃO: Estudos sobre as questões
ambientais advindas da ergonomia, assim como abordagem centrada no cliente e metodologias
ativas de aprendizagem se configuraram como os subsídios para planejar os encontros com os
participantes da Oficina de Inclusão Digital, a fim de considerar as necessidades de cada
aprendiz e promover o aprendizado para o uso das tecnologias. As percepções das acadêmicas
apontam que os aspectos ambientais, do aprendiz, da própria tecnologia e as estratégias de
ensino utilizadas têm impacto direto no processo de aprendizagem, tendo sido demonstrado
então, que ao se olhar para esses fatores numa oficina de inclusão digital, adultos de meia idade
e idosos possuem total capacidade de adquirir novas habilidades para o uso das tecnologias.
Palavras-chave: Aprendizagem, envelhecimento, inclusão digital, oficina e tecnologia.
INTRODUÇÃO
1043
A sociedade contemporânea é representada por um crescimento acelerado das
tecnologias e um envelhecimento crescente da população, com desafios para a população de
meia idade e idosa em utilizar esses dispositivos e garantir a sua infoinclusão (THE GLOBAL
INFORMATION TECHNOLOGY REPORT, 2014; IBGE, 2016). As pessoas mais velhas por
não terem convivido, quando mais jovens, com muitas tecnologias que atualmente fazem parte
de suas rotinas, ao manuseá-las, podem se deparar com obstáculos ou dificuldades de ordem
pessoal (medo, receio, insegurança, alterações biológicas), contextual (acessibilidade,
idadismo, cultura) e advindas da própria tecnologia (design, idioma, funcionalidade), que
podem impedir ou restringir a inclusão desses dispositivos tecnológicos em suas vidas
(SANTANA; LESSON, 2015; MITZNER et al., 2010).
Apesar das barreiras, sabe-se que as pessoas – independentemente da idade – possuem
capacidade permanente para adquirir novas habilidades e aprender novas tarefas, incluindo as
competências necessárias para o uso das novas tecnologias (VAN DER WART; BANDELOW;
HOGERVORST, 2012). Ao considerar esse panorama e com o objetivo de incluir os idosos no
mundo digital, a Terapia Ocupacional gerontológica, tem oferecido oficinas de inclusão digital,
pois acredita-se que esses são os espaços legítimos para proporcionar o engajamento de pessoas
mais velhas em ocupações que exigem o uso de dispositivos tecnológicos, pois estes serviços
buscam promover a independência para o manejo financeiro, gerenciamento de comunicações,
mobilidade, gerenciamento da saúde ou outras atividades do cotidiano. Assim, esse estudo tem
como objetivo, descrever a percepção de acadêmicas de Terapia Ocupacional sobre as
estratégias de aprendizagem utilizadas por adultos maduros e idosos em um projeto de inclusão
digital.
METODOLOGIA
Estudo descritivo, longitudinal e qualitativo o qual ocorreu em um projeto de extensão
intitulado Inclusão Digital para Adultos e Idosos (IDAI) no Instituto Federal do Rio de Janeiro
– Campus Realengo. O projeto visa promover a inclusão digital acerca do uso de telefones
celulares e, consequentemente, a autonomia no uso desta tecnologia. Os participantes do
projeto, no recorte temporal em que esse estudo foi realizado, foram 21 pessoas, sendo 12 do
sexo feminino e nove do sexo masculino, com idades entre 51 e 83 anos de idade (média= 68,7;
DP=± 9,20). A adesão ao projeto foi alta e somente dois participantes tiveram ausência em mais
de dois encontros. No período foram realizadas oficinas compostas por oito encontros semanais
1044
de 90 minutos cada. A cada grupo de três participantes, uma estudante de Terapia Ocupacional
era a mediadora do processo de aprendizagem. Após cada encontro, as acadêmicas de Terapia
Ocupacional (n=7) elaboravam o diário de campo reflexivo, realizado na forma de banco de
dados em uma planilha do Excel com base na Metodologia da Problematização com o arco de
Maguerez preenchidos com as percepções sobre o processo de aprendizagem dos participantes
durante as aulas. Os diários serviram como base para a análise de conteúdo. Para esse estudo,
houve busca por relatos das monitoras que tivessem relação com as estratégias de aprendizagem
utilizadas. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sob parecer de nº
3.438.431.
RESULTADOS
Os diários de campo reflexivo apontam que em relação à aprendizagem, os aspectos que
influenciaram este processo foram: o ambiente, o aprendiz, a tecnologia e as metodologias de
ensino.
No que se refere à questão do ambiente, todas as monitoras relataram que, no primeiro
dia de encontro o ruído foi uma barreira para a comunicação efetiva, pois os grupos estavam
muito próximos uns dos outros o que acarretou em uma dificuldade na compreensão dos
assuntos abordados. Por esse motivo, as aulas passaram a ser realizadas em duas salas, o que
gerou um maior espaçamento entre os grupos e um menor número de pessoas em cada sala,
reduzindo o ruído, melhorando a comunicação monitora-idoso e a manutenção da atenção.
No que tange às características do aprendiz, muitos, ao utilizar os dispositivos
tecnológicos demonstraram-se, na percepção das monitoras, ansiosos, preocupados ou
impacientes, pois essas tecnologias se apresentavam como produtos novos em seus cotidianos,
com dificuldades para o uso pelo não contato anterior. Outros possuíam também o receio de
estragar os aparelhos, pois não se consideravam com habilidades suficientes para manuseá-los.
O respeito às características individuais com encorajamento para aumentar a confiança no uso
dos celulares era adotado constantemente pelas monitoras.
Nos relatos dos diários de campo, as monitoras ainda sugeriram que a própria tecnologia
era uma barreira para o aprendizado dos participantes. Dessa forma, na oficina, na perspectiva
de oferecer uma otimização do uso do aparelho, eram utilizadas estratégias que pudessem
superar as limitações impostas pelo design dos telefones celulares. Para isso, foram ensinadas
as funções como aumentar o tempo da luz de tela e regular o tamanho das letras.
1045
No processo de aprendizagem, os relatos indicaram a importância de múltiplas
estratégias pelas monitoras para atender às necessidades de cada aprendiz. Assim, foram
consideradas as particularidades de cada participante (estilos de aprendizagem) e utilizadas as
estratégias de ensino que favoreciam a compreensão dos conteúdos, como a abordagem
personalizada e individualizada para cada participantes e o uso de linguagem simples.
Adotou-se também, como recurso para fixar a aprendizagem, o uso de apostilas
personalizadas confeccionadas pelas próprias monitoras referente aos conteúdos escolhidos
pelos participantes a cada oficina, onde, era feito o print da tela, de cada passo a passo e
entregue na aula seguinte. Nos encontros, além de estimular o uso desse material instrucional,
as monitoras utilizavam do próprio participante na função de “professor” para ensinar a um
colega que apresentava dificuldade na compreensão dos novos aprendizados. Nessa
solidariedade, ocorriam trocas de saberes de forma efetiva.
Ademais, as monitoras relataram que a adoção de exercícios a distância durante a
semana sobre o conteúdo passado, assim como a oferta de plantões de dúvidas e dúvidas pelo
WhatsApp® também se constituíam como recursos que favoreciam a aprendizagem. Nas
vivências das monitoras, os caminhos que se apontaram para favorecer o processo de inclusão
ao mundo digital, deram-se através de uma abordagem centrada no participante, considerando
as necessidades e características individuais de cada aprendiz.
DISCUSSÃO
Os resultados encontrados no presente estudo apontaram a questão ambiental e as
influências deste espaço físico na aprendizagem. Estudos mostram que aspectos como a
luminosidade, a temperatura, a distribuição dos alunos e os ruídos da sala influenciam
positivamente ou negativamente no aprendizado (MIRANDA, 2016). Ao notar a interferência
do alto ruído, as monitoras intervieram para que o ambiente ficasse livre desses ruídos o que se
mostrou favorável para melhorar a atenção e consequentemente, a efetividade do aprendizado
dos idosos.
Pôde ser notado também a aparição de sentimentos como receio e ansiedade dentre os
participantes. Relacionado a isso, a literatura mostra que esses sentimentos são habituais entre
pessoas com idade mais avançada que fazem uso de tecnologias, tendo como justificativa o
menor senso de confiança deles em si mesmos em serem capazes de realizar tarefas
relacionadas ao universo digital, o que é esclarecido pelo fato dessas tecnologias serem recentes
1046
em suas vidas. O receio pode ser acerca de causar danos ao aparelho celular ou até mesmo à
não conseguir memorizar as funcionalidades (RAYMUNDO, 2013).
A própria tecnologia acabou se mostrando como uma barreira para o aprendizado. A
adaptação, dentro do possível, do design dos aparelhos celulares, por meio das configurações,
foi uma forma de tentar combater as limitações impostas pela própria tecnologia a esse público
e dar acesso a públicos com necessidades específicas. No entanto, a construção da interface
desses aparelhos deve considerar diversos públicos que não sejam só o jovem, levando em
consideração suas especificidades (ZANELA, 2010).
Em relação ao processo de ensino, foram utilizadas diversas metodologias que atendiam
às necessidades de cada participante, pois na literatura verifica-se que metodologias
diversificadas e voltadas para as particularidades do aluno servem para gerar satisfação das
necessidades do aprendiz e, consequentemente, para despertar a utilidade das funções de seu
aparelho celular, de forma que promova o favorecimento da aprendizagem e contribua para a
incorporação dos equipamentos no cotidiano (WANG, 2011).
CONCLUSÃO
Na análise da percepção das monitoras sobre o processo de aprendizagem dos
participantes do IDAI, os relatos apontam para a compreensão de que, em qualquer fase da vida,
há uma capacidade permanente em aprender. No entanto, para que se obtenha êxito neste
processo, há de se considerar as características de cada aprendiz, do ambiente, as possibilidades
de acessibilidade no uso dos dispositivos tecnológicos e a adoção de inúmeras metodologias de
ensino. Ao considerar esses aspectos, os ambientes de inclusão digital se tornam potentes para
o efetivo aprendizado, de adultos maduros e idosos, e possibilitam o despertar de um sentimento
de pertencimento ao mundo globalizado.
REFERÊNCIAS
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Síntese de
Indicadores Sociais: Uma análise das condições de vida da população brasileira. Rio de Janeiro,
2012.
MIRANDA, P. V.; PEREIRA, A. R.; ROSSETTI, G. A influência do ambiente escolar no
processo de aprendizagem de escolas técnicas. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE PESQUISA
1047
EM EDUCAÇÃO, IV. 2016, Rio Grande do Sul. Anais...Rio Grande do Sul: USCS, 2016. p.
1-14.
MITZNER, T. L. et al. Older adults talk technology: Technology usage and attitudes.
Computers in human behavior, v. 26, n.6, p. 1710-1721, 2010.
RAYMUNDO, T. M. Aceitação de Tecnologia por idosos. 2013. 89 f. Dissertação (Mestrado
em Ciências) - Universidade de São Paulo, São Carlos, SP, 2013. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/82/82131/tde-27062013-145322/pt-br.php>.
Acesso: 16 Jul. 2019.
SANTANA, C. S.; LESSON, G. Elderly Users’ Perspective on the Use of Technology in Daily
Life: A Comparative Study of a sample in the UK and Brazil. Inteligência Artificial, v. 18, n.
55, p. 35-49, 2015.
THE GLOBAL INFORMATION TECHNOLOGY REPORT. Rewards and Risks of Big Data:
World Economic Forum’s Global Competitiveness and Benchmarking Network and the
Industry Partnership Programme for Information and Communication Technologies, 2014.
UNIVERSAL ACCESS IN HUMAN-COMPUTER-INTERACTION, 5., Berlin, 2009.
Proceedings... Berlin: Springer, 2009. p. 39-48.
VAN DER WARDT, V.; BANDELOW, S.; HOGERVORST, E. The relationship between
cognitive abilities, well-being and use of new technologies in older people. Gerontechnology,
v. 10, n.4, p. 01-21, 2012.
WANG, L.; RAU, P. L. P.; SALVENDY, G. Older adult’s acceptance of information
technology. Educational Gerontology, v. 37, n. 12, p. 1081-1099, 2011.
ZANELA, F. B.; JUNIOR, B.; NAVEIRO, R. S. Análise do uso de telefones celulares: o caso
da população idosa. XXX Encontro Nacional de Engenharia de Produção: Maturidade e
desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho,
meio ambiente. Anais, p. 1-14, 2010.
1048
A atuação da Terapia Ocupacional no Ambulatório de primeiro episódio psicótico
Manuella Fernandes Ferreira de Macêdo
Naianna Ribeiro Mocelin dos Santos
Charleny Mary Ferreira de Santana
Julliana Alves Leão
Bruna Olívia Santos da Silva
O adoecimento psíquico causa grande impacto no cotidiano das pessoas, prejudicando sua
funcionalidade e consequentemente, afetando sua qualidade de vida. A psicose é o estado
mental em que o indivíduo apresenta perda do contato com a realidade a partir de manifestações
de delírio, alucinações, desorganização do pensamento e discurso, e comportamentos
inadequados. O tratamento realizado durante o primeiro episódio traz um importante diferencial
na vida dos indivíduos acometidos. A Terapia Ocupacional participa da prevenção e tratamento,
agindo não apenas na administração do mal estar psíquico, também estimula o indivíduo a
enxergar a vida em sociedade e a existência pessoal. O presente estudo trata-se de um relato de
experiência das atividades desenvolvidas no Hospital das clínicas da Universidade Federal de
Pernambuco, no ambulatório de Primeiro Episódio Psicótico (PEP), durante o período de março
a junho de 2019. O ambulatório tem como objetivo oferecer suporte aos indivíduos que estejam
manifestando sintomas psicóticos pela primeira vez, com tratamento adequado no momento de
crise e prevenindo o agravamento do quadro. Os pacientes atendidos no serviço chegam por
demanda espontânea ou encaminhados de outros serviços de emergência. Quando admitidos,
os pacientes passam por avaliação cognitiva e ocupacional realizada pela terapeuta ocupacional.
O diagnóstico e a intervenção precoce no primeiro episódio psicótico são pontos cruciais para
definir bom prognóstico ao paciente. As ações desenvolvidas no ambulatório de PEP buscam
oferecer tratamento especializado no manejo da crise, manutenção das habilidades cognitivas e
o retorno as ocupações significativas para os pacientes em acompanhamento.
Palavras-chave: Saúde Mental; Sofrimento psíquico; Terapia Ocupacional.
INTRODUÇÃO
O adoecimento psíquico causa grande impacto no cotidiano das pessoas, prejudicando
sua funcionalidade e consequentemente afetando sua qualidade de vida (ARAÚJO; GODOY;
1049
BOTTI, 2017). A psicose é o estado mental em que o indivíduo apresenta perda do contato com
a realidade a partir de manifestações de delírio, alucinações, desorganização do pensamento e
discurso, e comportamentos inadequados. O primeiro episódio psicótico (PEP) pode ser
caracterizado por três fases, sendo elas, “Fase Prodrômica”, ou seja, o adoecimento prévio,
decorrente de estressores psicossociais, clínicos e/ou psiquiátricos. “Fase aguda”, onde surgem
os sintomas psicóticos propriamente ditos. Geralmente é na fase aguda que os indivíduos
procuram ajuda. E “Fase de Recuperação”, onde ocorre um processo gradual de retorno as
atividades que exercia antes do adoecimento, podendo haver remissão completa dos sintomas
(GOUVEA, et al, 2014). O PEP pode ocorrer em qualquer fase da vida, contudo, acomete mais
os adolescentes e as pessoas no início da vida adulta (FENDRICH, et al, 2018).
O tratamento realizado durante o primeiro episódio traz um importante diferencial no
curso de vida dos indivíduos acometidos, onde a demora em examinar e avaliar determinados
sintomas influencia diretamente o prognóstico. O tratamento inicial deve ser desempenhado de
forma produtiva e eficaz, objetivando a diminuição dos riscos de uma evolução negativa da
doença e a estimulação da volta ativa desse sujeito a sociedade. O tratamento farmacológico e
psicossocial são peças fundamentais e deve ser exercido em conjunto (LOUZÃ NETO, 2000).
A Terapia Ocupacional participa da prevenção e tratamento, agindo não apenas na
administração de mal estar psíquico, como também estimula o indivíduo a enxergar a vida em
sociedade e a existência pessoal de forma mais significativa e dinâmica, facilitando o curso
dessa transformação. A atuação na reabilitação psicossocial objetiva retomada da identidade
social, de vínculos, da autonomia e projetos de vidas anteriormente interrompidos pelo
adoecimento (RIBEIRO, 2008).
METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de um relato de experiência das atividades desenvolvidas no
Hospital das clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, no ambulatório de Primeiro
Episódio Psicótico (PEP), vinculado a disciplina de Estágio Supervisionado 1, do departamento
de Terapia Ocupacional- UFPE. Os dados utilizados para este estudo foram coletados através
da vivência prática do estágio supervisionado que ocorreu entre os meses de março a junho de
2019 e da leitura dos prontuários de 31 pacientes, dentre eles, 16 eram do sexo masculino e 15
eram do sexo feminino, com idades entre 8 anos a 65 anos.
O ambulatório de Primeiro Episódio Psicótico tem como objetivo oferecer suporte aos
indivíduos que estejam manifestando sintomas psicóticos pela primeira vez, com o objetivo de
1050
oferecer o tratamento adequado no momento de crise e prevenir o agravamento do quadro,
fornecendo atendimento especializado nas áreas de Psiquiatria e Terapia Ocupacional.
Funciona todas as terças-feiras, no período da tarde, no segundo andar do Hospital das Clínicas
da UFPE. Os atendimentos são realizados de forma individual e em grupos de pacientes e
familiares.
RESULTADOS
Os pacientes atendidos no serviço chegam por demanda espontânea ou encaminhados
de outros serviços de emergência. Inicialmente, os pacientes e familiares passam pela triagem
com médico psiquiatra, terapeuta ocupacional, residentes e estagiários, podendo ser admitido
pelo serviço ou encaminhados para outros dispositivos da Rede de Atenção Psicossocial
(RAPS) como o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Hospital Ulisses Pernambucano
(HUP), ou, clínicas escolas e consultórios particulares que oferecem acompanhamento para
pessoas adoecidas.
Quando admitidos, os pacientes passam por avaliação cognitiva e ocupacional realizada
pela terapeuta ocupacional, utilizando a versão revisada do Exame Cognitivo de Addenbrooke
(ACE-R), para fins cognitivos, e utilizando o Questionário Ocupacional com o 1050ablete de
compreender o cotidiano do usuário e realizar orientações pertinentes para reestruturação da
rotina e resgate das ocupações significativas para o indivíduo.
Os atendimentos individuais acontecem semanalmente e duram cerca de 1 hora. Nestes
atendimentos são priorizados a escuta ampliada, acolhimento psicossocial e a orientação ao
indivíduo que esteja em primeiro episódio psicótico e seus familiares. A partir dos resultados
coletados nas avalições cognitivas e ocupacionais, o terapeuta ocupacional também oferece
estimulação cognitiva aos indivíduos com baixo score no ACE-R. Como estratégia para a
estimulação cognitiva, o terapeuta ocupacional faz uso de jogos digitais, utilizando o
1050ablete, jogos de tabuleiro e/ou atividades que estimulem as habilidades cognitivas
prejudicadas e aprimora as habilidades preservadas.
Além dos atendimentos individuais, são realizados, mensalmente, grupos com os
pacientes e com os familiares (separadamente), para que possam receber orientações quanto ao
diagnóstico e prognóstico, uso de medicamentos, retorno às ocupações desenvolvidas pelo
usuário ou pelo cuidador, entre outros temas sugeridos pelos participantes do próprio grupo.
DISCUSSÃO
1051
O diagnóstico e a intervenção precoce no primeiro episódio psicótico são pontos cruciais
para definir bom prognóstico ao paciente (ARAÚJO; GODOY; BOTTI, 2017). O esquema
medicamentoso indicado nessa situação age como estabilizador de sintomas, sendo necessário
orientações para uso adequado das medicações que devem ser mantidas por um período mínimo
de 1 a 2 anos. Entretanto, o tratamento farmacológico não é suficiente. A terapia individual e
de grupo, com pacientes e familiares, e a terapia ocupacional, são fundamentais para o retorno
as ocupações e possibilitar a inserção ou reinserção no mercado de trabalho (GOUVEA, et al,
2014).
Durante o PEP, o indivíduo apresenta ruptura das suas ocupações, dificuldades de
interação social e declínios cognitivos, que geram prejuízos na realização das suas atividades
de vida diária (AVD) e das atividades instrumentais de vida diária (AIVD). Quanto a atuação
da terapia ocupacional neste contexto, o profissional pode utilizar o Questionário Ocupacional
para identificar quebra da rotina e acrescentar ao plano de tratamento orientações em relação
ao uso do tempo e facilitar na organização da rotina, junto ao paciente (SOUZA, 2016).
Para avaliar aspectos cognitivos no acompanhamento ambulatorial, a terapeuta
ocupacional pode fazer o uso do ACE-R, instrumento padronizado breve e confiável, que avalia
habilidades como, orientação temporal e espacial, linguagem, fluência verbal, memória,
atenção e habilidade viso-espacial. O instrumento divide as habilidades em categorias e pontua
um score para facilitar na detecção de prejuízos cognitivos, que podem interferir diretamente
no desempenho do indivíduo nas suas ocupações (CARVALHO; CARAMELLI, 2007).
O enfretamento do diagnóstico e tratamento causa grande impacto na vida do paciente
e de seus familiares, que frequentemente assumem o papel de cuidado do ente adoecido, sendo
compartilhado entre eles os sentimentos de angústia, ansiedade, culpa e o isolamento, devido
ao estigma social que cerca o adoecimento psíquico. É papel do profissional, oferecer
acolhimento ao familiar desde o primeiro momento, possibilitando que os mesmos ultrapassem
as barreiras do preconceito e se reconheçam como facilitadores do processo de cuidado. O apoio
familiar neste contexto é capaz de diminuir os efeitos dos eventos estressores, recaídas e
promover melhorar no estado de saúde do seu familiar (FENDRICH, et al, 2018).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Primeiro Episódio Psicótico (PEP) é um período de muito sofrimento para o sujeito
adoecido e para seus familiares. Sendo assim, é fundamental que essa fase seja tratada de forma
1052
correta, fazendo-se necessário o acompanhamento de uma equipe multiprofissional durante
todo o processo. As ações desenvolvidas no ambulatório de PEP buscam oferecer tratamento
especializado no manejo da crise, manutenção das habilidades cognitivas e o retorno as
ocupações significativas para os mesmos, a fim de prevenir o agravo do quadro e possibilitar
melhor qualidade de vida aos pacientes e seus familiares. Os grupos com pacientes e familiares
é uma estratégia que possibilita vínculo entre os participantes e auxilia na relação terapeuta-
paciente, além de proporcionar alívio da sobrecarga dos familiares e desmistificação do estigma
que cerca o paciente, influenciando positivamente no seu tratamento.
A vivência no ambulatório de Primeiro Episódio Psicótico para o acadêmico vinculado
a disciplina de estágio supervisionado 1, é um importante momento de aprendizagem e
crescimento profissional, visto que a atuação com esse público deve ser conduzida de forma
pontual e o manejo realizado pelo Terapeuta Ocupacional deve considerar a demanda
apresentada por cada indivíduo, sua história de vida e de adoecimento, encarando o sujeito e
seus familiares como ativos no processo de tratamento e co-responsáveis no cuidado.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, L. M. C. de; GODOY, E. F. M; BOTTI, N. C. L. Situações presentes na crise de
pacientes psicóticos. Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 69, n. 2, p. 138-152, 2017.
CARVALHO, V. A; CARAMELLI, P. Brazilian adaptation of the Addenbrooke's Cognitive
Examination-Revised (ACE-R). Dement. neuropsychol. São Paulo, v. 1, n. 2, p. 212-216,
June 2007.
FENDRICH, L. et al. Intervenções familiares no primeiro episódio psicótico: facilitadores e
barreiras na perspectiva da equipe de saúde. Revista de Enfermagem e Atenção à Saúde, v.
7, n. 3, 2019.
GOUVEA, E. S. et al. Primeiro episódio psicótico: atendimento de emergência. Revista
Debates em Psiquiatria, v. 6, n. 16, p. 23, 2014.
LOUZÃ NETO, M. R. Manejo clínico do primeiro episódio psicótico. Brazilian Journal of
Psychiatry, v. 22, p. 45-46, 2000.
RIBEIRO, M.; MACHADO, A. A Terapia Ocupacional e as novas formas do cuidar em saúde
mental . Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, v. 19, n. 2, p. 72-
75, 2008.
1053
SOUZA, C. I. C. Contextualizando o desempenho ocupacional de pessoas em primeiras crises
do tipo psicótica. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Terapia Ocupacional).
Universidade de Brasília, Brasília, 2016.
1054
Reabilitação Psicossocial por meio de oficinas terapêuticas no centro de atenção diária da
unidade integrada de Saúde Mental da Marinha do Brasil
Fernanda Soares Dias
Luciene Evangelista Teixeira de Freitas
Elaine da Silva Lage
Andreia dos Santos de Freitas Jordes
Trata-se de um relato de experiência desenvolvido a partir da vivência profissional de equipe
que atua em um Centro de Atenção Diária (CAD), localizado no Rio de Janeiro, na Unidade
Integrada de Saúde Mental. Neste cenário, a equipe desenvolve as oficinas terapêuticas, um
espaço de reprodução de práticas preconizadas pela Reabilitação Psicossocial e desenvolvidas
por Terapeutas Ocupacionais. As oficinas terapêuticas estão consolidadas como recurso
terapêutico na instituição em tela, desde 1992, sendo incorporada às ações do CAD no ano de
2002, quando da inauguração do hospital dia. Neste contexto, o presente trabalho objetiva
descrever a oficinas terapêuticas, enfatizando os benefícios desta prática.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional; Saúde Mental; Reabilitação Psiquiátrica.
INTRODUÇÃO
Por longos anos, a única opção de tratamento às pessoas portadoras de transtornos
mentais consistiu na internação em Hospitais Psiquiátricos. A exclusão social e o sequestro da
cidadania foram legitimados pela interpretação da loucura como ameaça à segurança pública.
No Brasil, o cenário da assistência psiquiátrica, no final dos anos 1970, mostrou-se
extremamente crítico, com graves denúncias de violência e violação dos direitos humanos. A
partir dos anos 80, a crítica ao modelo de internação psiquiátrica ganhou expressividade no
cenário nacional culminando em importantes transformações sociais no modo de tratar a
“loucura”, mudanças essas que foram precursoras da Reforma Psiquiátrica.
Deste modo, a Reforma Psiquiátrica consiste em uma tentativa de humanizar a atenção
dada às pessoas com diferentes doenças mentais, com foco na promoção da saúde e na
Reabilitação Psicossocial. A consolidação da Reforma foi possível por meio da aprovação da
Lei nº 10.216, de 06 de abril de 2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas
1055
portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Neste
contexto, surgiram os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), serviço que institui as
principais estratégias da Reforma Psiquiátrica, que são de acolher os pacientes, promover a
reinserção em seu ambiente social e cultural e ampliar sua autonomia por meio do atendimento
multiprofissional.
Para atender as demandas da lei supracitada, a Marinha do Brasil inaugurou no ano de
2002, o Centro de Atenção Diária (CAD), da Unidade Integrada de Saúde Mental (UISM). O
CAD presta atendimento clínico e multidisciplinar, em regime de atenção diária, garantindo
cidadania e autonomia de pessoas com transtornos mentais, ancorados nos referenciais teóricos
da Reabilitação Psicossocial. O público alvo do serviço são usuários do Sistema de Saúde da
Marinha acima de 18 anos.
A Reabilitação Psicossocial no CAD é realizada por equipe multiprofissional,
destacando a atuação dos profissionais Terapeutas Ocupacionais que desenvolvem e
supervisionam diversas modalidades de Oficinas Terapêuticas. Segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS), a Terapia Ocupacional é a ciência que estuda a atividade humana e
a utiliza como recurso terapêutico para prevenir e tratar dificuldades físicas e/ou psicossociais
que interfiram no desenvolvimento e na independência do cliente para suas atividades de vida
diária, trabalho e lazer. É a arte e a ciência de orientar a participação do indivíduo em atividades
selecionadas para restaurar, fortalecer e desenvolver a capacidade, facilitar a aprendizagem das
habilidades e funções essenciais para a adaptação e produtividade, diminuir ou corrigir
patologias e promover e manter a saúde (CARLO; BARTALOTTI; MÂNGIA; NICACIO,
2001).
Considerando o exposto, o presente trabalho tem como objetivo relatar o funcionamento
das Oficinas Terapêuticas, nos moldes da reabilitação psicossocial, dentro de uma instituição
hospitalar militar.
METODOLOGIA
Trata-se de relato de experiência que visa descrever o trabalho desenvolvido no Centro
de Atenção Diária, situado na Unidade Integrada de Saúde Mental da Marinha do Brasil,
localizado no Rio de Janeiro. O trabalho é realizado através de Oficinas Terapêuticas,
coordenadas por quatro Terapeutas Ocupacionais. O público-alvo são pacientes com
transtornos mentais a maioria com diagnóstico de esquizofrenia.
1056
RESULTADOS
Os atendimentos diários são realizados por meio de oficinas terapêuticas com as
seguintes tematizações: cantina; costura; marcenaria; horta; cozinha; silk screen; fotografia;
leitura e informática e salão de beleza. O Terapeuta Ocupacional de referência, juntamente com
o paciente, avalia quais habilidades o indivíduo possui e necessitam ser aprimoradas, definindo
assim qual o interesse e a necessidade do paciente, por meio do Plano Terapêutico Singular
(PTS) que é reavaliado a cada seis meses.
Na oficina de cozinha são preparados bolos, pães, tortas, salgados, sobremesas e de
acordo com a demanda, pratos como arroz, carne, feijão, comidas comuns ao dia-a-dia, que
muitas vezes o paciente apresenta dificuldades na realização em sua rotina diária. No decorrer
da oficina, o profissional, juntamente com o paciente, trabalha a escolha da receita, separa os
ingredientes e utensílios a serem utilizados para a confecção do produto, além disso, o paciente
participa do controle da dispensa e da confecção da lista de compras.
Na oficina de marcenaria são desenvolvidas atividades de mosaico, onde os pacientes
escolhem o desenho a ser montado, cortam os azulejos, escolhem as cores a serem usadas,
colam os azulejos e finalizam o mosaico com o gesso. A atividade pode ser individual ou em
grupo.
A oficina de horta tem por objetivo, facilitar o acesso e o envolvimento dos pacientes
com técnicas de produção de hortaliças sem o uso de agrotóxicos. Os usuários plantam,
acompanham e cuidam do crescimento, colhem as hortaliças e vendem para os funcionários do
hospital.
Na oficina de costura são confeccionadas bolsas, fuxicos, tapetes, atividades com
diversos tecidos, além do conserto e ajuste de roupas de pacientes internados nas enfermarias e
de funcionários da UISM.
A cantina terapêutica realiza a comercialização de alimentos. Estimula a assiduidade,
manuseio com a moeda corrente, socialização, cuidados com higiene pessoal, material,
aparência e organização com o meio e si próprio. Na oficina de fotografia, os pacientes têm
contato com câmeras digitais, aprendendo seu funcionamento básico. Após certo domínio, o
Terapeuta juntamente com os pacientes escolhe que tipo de atividade será desenvolvida,
podendo ser individual ou em grupo. Todas as atividades propostas são seguidas de discussões
sobre as imagens produzidas.
A oficina de silk screen conta com máquinas de sublimação para estamparia de bonés,
canecas, bolsas, camisetas entre outros materiais. A oficina realiza também a silkagem dos
1057
uniformes dos pacientes da UISM, lençóis e demais itens utilizados nas enfermarias do hospital.
Na oficina de leitura e informática são desenvolvidas atividades de estimulação cognitiva
(memória, atenção, concentração e raciocínio lógico) com utilização de jogos educativos,
leitura e interpretação de textos, atividades voltadas para o mercado de trabalho como
confecção de currículos e atividades como a escrita e digitação de textos livres que favorecem
a autoexpressão.
A oficina de salão de beleza amplia potenciais de convívio interpessoal, busca a
readaptação do usuário, independência e autonomia no cuidado com seu corpo, incentiva
hábitos de higiene pessoal e contribui para a elevação da autoestima e o desenvolvimento de
suas potencialidades.
DISCUSSÃO
As oficinas são caracterizadas pelo Ministério da Saúde, (2004) como atividades grupais
destinadas a socialização familiar e social dos pacientes, a expressão de sentimentos e emoções,
ao desenvolvimento de habilidades, da autonomia e ao exercício da cidadania.
As Oficinas Terapêuticas mostram-se de suma importância por serem novas formas de
acolhimento, de convivência, de mediações do diálogo e de acompanhamento do sujeito. Desta
forma, cumprem a finalidade da Reabilitação Psicossocial ao favorecerem espaços de (ré)
construção de papéis sociais, intercâmbios e trocas com os espaços sociais externos ao CAPS,
articulando no primeiro momento dentro das oficinas para posteriormente transferi-las para seu
cotidiano (PITTA, 1996).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A equipe de Terapeutas Ocupacionais da Marinha do Brasil utiliza os conceitos da
Reforma Psiquiátrica e busca melhorar o atendimento aos usuários do CAD por meio de
Oficinas Terapêuticas com grupos abertos e heterogêneos. Criamos um espaço mútuo de trocas
e aprendizados, onde o paciente tem a oportunidade de aprender, aprimorar suas habilidades e
interagir criando vínculos, melhorando assim sua socialização, autoestima, independência e
autonomia.
As abordagens utilizadas incluem atividades próximas ao cotidiano que também
permitem que os pacientes tenham espaços para exteriorizar conflitos decorrentes de seu
contexto de vida. Observa-se que, algumas limitações apresentadas pelos pacientes são
1058
sintomas do próprio transtorno mental, outras, no entanto, são marcas latentes de vivências sob
o regime de internação ou de uma sociedade que o excluía e subjugava, negando a ele o direito
de expressar seus sentimentos e exercer sua cidadania, surgindo assim, angústias e “medo” em
verbalizar seus conflitos, já que sua vivência aponta que seu discurso era frequentemente
banalizado e desvalorizado.
No entanto, por meio das abordagens nas Oficinas Terapêuticas conseguimos observar
que esses sentimentos até então escondidos, vêm à tona de forma intensa dentro do espaço
terapêutico, permitindo ao Terapeuta Ocupacional proporcionar a estes pacientes a redescoberta
de si, auxiliando, portanto em sua reinserção social. Desta forma, as Oficinas Terapêuticas
representam um instrumento importante de ressocialização e reinserção social em grupos, na
medida em que propõem o trabalho, o agir e o pensar coletivos, conferidos por uma lógica
inerente ao paradigma psicossocial.
Constata-se, que o índice de reinternações dos pacientes que frequentam o CAD é baixo,
sugerindo que o acompanhamento diário dos pacientes por meio de Oficinas Terapêuticas é
eficaz, construindo uma ponte entre a internação e o futuro acompanhamento ambulatorial.
Conclui-se que, no contexto do CAD, a Terapia Ocupacional está atuando em
consonância com o preconizado pela profissão, incorporada a suas ações os conceitos da
Reabilitação Psicossocial, o que por meio do recurso das Oficinas Terapêuticas tem conseguido
evitar reinternações, ressignificar contextos de vida e reinserir indivíduos na sociedade.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Lei 10.216 de 06 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas
portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Diário
Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 2001.
CARLO MMP, BARTALOTTI CC, MÂNGLIA E, NICACIO F. Terapia Ocupacional:
tendências principais e desafios contemporâneos. Terapia Ocupacional no Brasil: fundamentos
e perspectivas. São Paulo: Plexus, 2001.
PITTA, A. M. F. O que é reabilitação psicossocial no Brasil, hoje? In: PITTA, A. M. F. (Org.).
Reabilitação psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1996.
SAÚDE MENTAL NO SUS: os centros de atenção psicossocial/Ministério da Saúde,
Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. –
Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
1059
A noção de corpo no Transtorno do Espectro Autista: possibilidades da Terapia
Ocupacional segundo os princípios da psicomotricidade
Aline Zulian
Richelliany Julião dos Santos Cardoso
Lilian Satiko Omura
Mariana Nicole Cassola Theobald
A criança com Transtorno do Espectro Autista apresenta prejuízo no desenvolvimento da noção
de corpo, essencial para o desenvolvimento motor, emocional e psicológico, e para a aquisição
de habilidades necessárias para o desempenho das atividades características da infância. Desse
modo, é importante que a noção de corpo da criança seja trabalhada e desenvolvida, e a
psicomotricidade fornece subsídios para a prática do terapeuta ocupacional. Objetivo:
Descrever e relacionar as principais atividades realizadas nos atendimentos de terapia
ocupacional aos princípios da psicomotricidade. Metodologia: Trata-se de um relato de caso
descritivo de uma criança de 6 anos, diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista, que
apresenta prejuízo no desenvolvimento da noção de corpo, e é acompanhada pela Terapia
Ocupacional, em atendimentos individuais de 45 minutos, realizados semanalmente. O relato
refere-se ao período entre março e junho de 2019. Resultados/Discussão: As atividades foram
estruturadas de acordo com os interesses da criança, de modo a desenvolver a noção de corpo.
Ao longo dos atendimentos observou-se melhora na atenção, na interação social e na escrita, o
que corroborou a influência deste fator psicomotor sobre o desenvolvimento de habilidades
superiores. Considerações finais: Foi possível observar os efeitos da intervenção no
desenvolvimento da noção de corpo e no desempenho ocupacional da criança, e propõe-se o
desenvolvimento de estudos mais aprofundados a respeito da abordagem psicomotora no
atendimento a esta população.
Palavras- chave: transtorno do espectro autista, terapia ocupacional, desenvolvimento infantil,
saúde mental.
INTRODUÇÃO
A criança com Transtorno do Espectro Autista apresenta dificuldade em compreender o
seu corpo como um todo, e, não possuindo um corpo vivenciado, acaba por não desenvolver de
1060
forma adequada o esquema corporal, essencial para a aquisição de outras habilidades
(FERNANDES, 2008).
A noção de corpo é a imagem estruturada e interiorizada formada a partir da recepção,
análise e armazenamento das informações proprioceptivas, táteis e sinestésicas do corpo, que
se constitui num marco de referência interna que precede todas as relações com o exterior e é a
base sobre a qual se constroem os processos psicológicos superiores (FONSECA, 1995). Para
Fonseca (2004), o esquema corporal e a imagem corporal são sinônimos de noção do corpo, já
que este representa o mapa do corpo, do Eu, em sua totalidade de dimensões, sendo estudado
sob várias perspectivas: neurológica, psicanalítica, fenomenológica e psicológica.
As alterações da noção de corpo na criança levam à dificuldade no desempenho das
atividades de vida diária, na aquisição de habilidades escolares, como escrita e leitura, e no
próprio brincar, principal papel ocupacional na infância. Assim, o desenvolvimento da noção
de corpo configura-se em um dos principais objetivos da terapia ocupacional, já que é um fator
base para a aquisição de competências e habilidades necessárias ao engajamento da criança nas
ocupações. A psicomotricidade, por sua vez, é uma abordagem multidisciplinar, cujo objeto é
o sujeito humano e suas relações com o corpo, que compreende a interação entre a motricidade
e o psiquismo, e busca a organização neuropsicomotora da noção de corpo, indispensável para
a integração, elaboração e expressão de qualquer ato intencional (FONSECA, 2004).
METODOLOGIA
Este estudo consiste em um relato de caso descritivo de uma criança de 6 anos, do sexo
feminino, diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista e acompanhada pela Terapia
Ocupacional, desde 2016. Os atendimentos, de caráter individual e com duração de 45 minutos
cada sessão, foram realizados semanalmente em ambulatório de referência em TEA, localizado
no estado do Paraná. O relato refere-se aos atendimentos compreendidos entre março e junho
de 2019, período correspondente ao estágio curricular desenvolvido no local. Os dados foram
levantados a partir dos registros de prontuário, e do plano de tratamento e material de estudo
elaborados pela estagiária.
Neste trabalho, as principais atividades realizadas durante as sessões serão descritas e
analisadas de acordo com os princípios da psicomotricidade, correlacionando-as com os
objetivos do atendimento da terapia ocupacional.
RESULTADOS
1061
B. fala algumas palavras e frases simples, apresenta ecolalia, evita contato visual, mas
aceita aproximação e contato físico, e quando nervosa ela se aperta ou aperta os pais. Ela é
independente no vestir, precisa de supervisão no banho e no uso do banheiro, escova os dentes
sozinha, e come com colher de forma independente. Ela gosta de desenhar, recortar e colar,
andar de bicicleta, brincar de bonecas, carrinho e música. B. iniciou o primeiro ano na escola
regular em 2018, e tem apresentado dificuldade em manter a atenção e o foco, e só realiza
atividades de registro com a interferência da professora ou do profissional de apoio; tem contato
com as outras crianças, mas não interage.
A principal queixa dos pais está relacionada à comunicação, ao fato de B. ser
“desorganizada, e à necessidade de que a criança desenvolva a noção de perigo.
No processo de avaliação realizado neste período, não foi aplicado instrumento de
avaliação padronizado, mas foram consideradas as informações contidas no prontuário e,
posteriormente, foi feita a observação clínica da criança, o que possibilitou levantar as seguintes
informações: confirmou-se dificuldade de interação social – evita contato visual e não
estabelece diálogo -, apesar de atender e compreender comandos simples; e observou-se
comprometimento da noção de corpo, do planejamento motor, e dissociação de movimento.
Com base nessas informações foi estabelecido como objetivo geral da intervenção:
melhorar a interação social, e promover maior independência nas ocupações – atividades de
vida diária e educação. E, no decorrer dos atendimentos, buscou-se alcançar os seguintes
objetivos específicos: criar vínculo terapêutico, aumentar o contato visual, fornecer estímulos
proprioceptivos, propiciar o aumento de tônus muscular, desenvolver a noção de corpo, o
planejamento motor e a coordenação motora grossa, aumentar o foco e o tempo de atenção nas
atividades, e ampliar o repertório do brincar e da comunicação.
As primeiras intervenções foram planejadas tendo como base as atividades comumente
utilizadas pela terapeuta ocupacional, preceptora de estágio, com o intuito de facilitar a criação
de vínculo. No decorrer dos atendimentos, foram propostas atividades dirigidas, estruturadas
de acordo com os interesses da paciente, com foco no desenvolvimento da noção de corpo,
considerando que o prejuízo nesse fator psicomotor está relacionado às principais demandas
levantadas no caso – dificuldade nas atividades de registro, falta de foco e atenção, e déficit na
comunicação verbal e não verbal.
• Descarga de peso sobre bola suíça: a criança deveria deitar-se sobre a bola suíça,
apoiando-se com as mãos no chão. Ao longo dos atendimentos foram adicionados
elementos na atividade, como: estimular a criança a se deslocar sobre a bola; e colocar
1062
argolas em uma garrafa, intercalando a mão direita e a esquerda.
• Pintura de rosto: a proposta era que a criança pintasse o rosto da estagiária e a estagiária
pintasse o rosto da criança.
• Circuito motor 1 – frutas: em um lado da sala foi montada uma mesa com utensílios de
cozinha e duas bonecas e, na parede oposta, foram coladas frutas. A criança deveria
buscar as frutas passando por um obstáculo de barbante e subindo na cama elástica.
• Circuito motor 2 – roupinhas: em um lado da sala foram coladas as figura de duas
meninas e do outro as roupinhas. A criança deveria buscar as roupinhas passando por
um caminho de pegadas, e voltar deitada de bruços sobre o skate.
• Circuito motor 3 – saia bailarina: a idéia era que a criança buscasse os enfeites
(flores/laços) espalhados pela sala – embaixo da mesa, em lugares altos, dentro do túnel
de tecido - para colocar na saia e, em seguida, vesti-la.
• Dança: foram realizadas diferentes propostas de dança – dança com imitação, em que a
criança imitava os movimentos feitos pela estagiária e propunha movimentações; dança
utilizando a bola suíça, em que se deveria dançar em dupla apoiando a bola com alguma
parte do corpo; e dança da cadeira, em que se deveria andar ao redor das cadeiras
enquanto a música toca, e sentar quando ela pára.
De modo geral, o plano de tratamento caracterizou-se como um norteador do
atendimento, mas a sua aplicação não ocorreu de forma rígida, e sim flexível, ou seja, a conduta
da estagiária e as atividades propostas sofreram modificações de acordo com a reação e o
comportamento da criança.
Durante a realização das atividades, para além das pistas verbais, observou-se, em
alguns momentos, a necessidade de se utilizarem pistas físicas e também visuais,
principalmente no que se refere à organização do corpo da paciente em relação a si, aos objetos
e ao espaço. Ao longo dos atendimentos, observou-se melhora nesses aspectos, e os pais
relataram melhora na grafia, contato visual mais frequente, e maior interação com pares. Além
disso, observou-se que a paciente passou a apresentar menor agitação motora durante os
atendimentos.
No caso descrito, os seguintes pontos favoreceram a resposta da paciente à intervenção:
a organização dos atendimentos de forma mais clara e estruturada favoreceu a colaboração da
paciente, e a antecipação das atividades através de cartões ajudou-a a controlar a ansiedade e a
se manter ou retomar a atividade proposta; fragmentar a atividade em etapas simples facilitou
a sua compreensão e participação; incluir durante o atendimento um momento para a realização
1063
de uma atividade escolhida pela paciente demonstrou ser uma estratégia positiva para criação
de vínculo e estímulo a comunicação, já que se configurou em um espaço para a expressão de
desejos; a utilização de elementos de interesse durante as atividades gerou maior envolvimento
da paciente na intervenção, colaborando para que fosse mantido o foco e a atenção por um
período maior de tempo.
DISCUSSÃO
Segundo Fonseca (1995), a noção de corpo é essencial tanto no desenvolvimento da
aprendizagem como da personalidade, pois além de envolver um processo perceptivo
polissensorial complexo, integra e armazena a síntese das atitudes e experiências afetivas
vivenciadas. O autor afirma que uma auto-imagem fraca, resultado da noção de corpo
desenvolvida pela criança, tem efeitos sobre a socialização e a aprendizagem, podendo levar,
por exemplo, à: distratibilidade, impulsividade cognitiva, problemas de orientação temporal e
espacial, hiperatividade, ansiedade excessiva, fraca discriminação direita-esquerda, fraca
sequencialização das atividades e da linguagem.
A dificuldade no planejamento motor apresentada pela paciente corrobora a idéia de que
a noção de corpo apresenta uma função integradora e, portanto, influencia todos os outros
fatores psicomotores – tonicidade, equilibração, lateralização, estruturação espácio-temporal, e
praxia global e fina -, alimentando áreas pré-motoras responsáveis pela planificação e
programação do movimento voluntário (FONSECA, 1995).
Em relação aos recursos utilizados na intervenção, destaca-se que os pontos que
favoreceram o engajamento da paciente no atendimento coincidem com alguns dos princípios
que, de acordo com Fonseca (1995), devem nortear a implementação de programas de
reabilitação psicomotora: o princípio da prontidão – a aprendizagem deve se iniciar pelos
interesses e motivações intrínsecas e extrínsecas; princípio do efeito – as tarefas utilizadas
devem estar de acordo com os níveis básicos adaptativos, aumentando a possibilidade de êxito;
princípio da estruturação - a aprendizagem deve ser estruturada em pequenos componentes de
dificuldade crescente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este caso possibilitou observar os efeitos da intervenção da terapia ocupacional no
desenvolvimento da noção de corpo e sua repercussão no desempenho de algumas atividades e
1064
comportamentos. Considerando, o período curto de atendimento apresentado, propõe-se um
estudo mais aprofundado, com avaliação e estrutura de intervenção que forneçam informações
mais específicas sobre os benefícios da abordagem psicomotora no atendimento a população
com transtorno do espectro autista.
REFERÊNCIAS
FERNANDES, F. S. O corpo no autismo. PSIC - Revista de Psicologia da Vetor Editora, v.
9, n. 1, São Paulo, jan/jun, 2008. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psic/v9n1/v9n1a13.pdf>. Acesso em: 14 junho 2019.
FONSECA, V. da. Manual de observação psicomotora: significação neurológica dos fatores
psicomotores. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
FONSECA, V. da. Abordagem multicomponencial. In:______. Psicomotricidade:
perspectivas multidisciplinares. Porto Alegre: artmed, 2004, p. 17-92.
1065
Reflexões das práticas de discentes acerca de idosos institucionalizados
Maria Aparecida de Souza
Ana Elizabeth Lins dos Santos
Hellem Da Silva Tenório
Janssen Macdowell Cavalcante da Silva
Millena Vanusa Cavalcante de Macêdo
Karoline Maria de Melo Ferreira
É notório o crescimento da população idosa e sua longevidade, que é uma conquista, porém nos
levam a muitos desafios. Existem idosos com sequelas de doenças crônicas, problemas sociais
e psicológicos, que perderam sua autonomia e dependência, ocasionando dificuldades nas
atividades cotidianas. Nesse processo, as famílias ficaram sem condições de cuidar de seus
familiares mais velhos, sendo necessário obter cuidados de outrem, ou de uma instituição de
longa permanência para idosos (ILPI). Trata-se de um relato de experiência de característica
descritiva, vivenciada através do módulo “Intervenção em Terapia Ocupacional no Adulto e
Idoso”, realizada em uma Instituição de Longa Permanência para idosos (ILPI) na cidade de
Maceió-Alagoas, onde residem cercade 50 idosos, com 60 anos ou mais. Os discentes tiveram
a oportunidade de realizar as seguintes atividades: coordenar grupos de atividades, criar e
aplicar recursos terapêuticos relacionando-os com o embasamento teórico, aplicar/analisar
testes de rastreio para cogniçãoe capacidade funcional. Observar/analisar o ambiente
institucional. As práticas favorecem um pensamento crítico e reflexivo dos acadêmicos diante
das situações vivenciadas e pelas condições de saúde e social desses idosos e do ambiente em
si. Com isso, possibilitou reflexões atinentes a nossa formação como terapeuta ocupacional
diante das necessidades de indivíduos institucionalizados. Nesse contexto, foi perceptível o
quão é necessário o aparato de uma equipe interprofissional, entre eles o terapeuta ocupacional.
No sentido do terapeuta ocupacional poder tornar o idoso mais autônomo e independente em
suas atividades cotidianas, através do estímulo e da reabilitação funcional e do incremento do
ambiente tornando-o mais dinâmico.
Palavras chaves: Idosos institucionalizados. Terapia Ocupacional. Práticas. Envelhecimento.
INTRODUÇÃO
1066
É notório que em nosso país, a população de idosos vem aumentando, isto acontece
devido à diminuição dos índices de mortalidade no Brasil, como também a atenuação de
doenças infecciosas. Deste modo, estes idosos passam para um nível de dependência,
dificuldade nas realizações de atividades de vida diária e assim, mostra-se a indispensabilidade
de um cuidado profissional, ou até mesmo o seguimento para instituições de longa permanência
para idosos (ILPI) (LINI et al, 2016).
Geralmente, idosos nas ILPs, demonstram sentimentos de insegurança e desconforto
e também desamparo potencializado, devido a distância da família e de amigos que sempre
estiveram presentes em suas vidas. Desta forma, a institucionalização é um grande desafio para
os internos, logo, esses precisam ser compreendidos pelos profissionais, pela família e pelo
próprio idoso, visto que a instituição é uma moradia e o lugar de convivência do mesmo
(BENTES et al, 2012).
Na velhice, acontecem os desgastes, as perdas e isso podem acometer diversos desafios
adaptativos, estas contrariedades acontecem em particular nas ILPI, visto que a falta de
socialização por conta do afastamento é uma fator implicante, porém, é comum também no
ambiente familiar. Logo, é necessário a observação dos lados, e o entendimento de que apesar
da falhas, estas instituições têm o intuito de proteção e cuidado, e devem ser concretizadas
positivamente (BENTES ET AL, 2012).
Segundo definição da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG):
As ILPIs são estabelecimentos para atendimento integral institucional,
cujo público alvo são as pessoas de 60 anos ou mais, dependentes ou
independentes, que não dispõem de condições para permanecer com
a família ou em seu domicílio. Essas instituições, conhecidas por
denominações diversas – abrigo, asilo, lar, casa de repouso, clínica
geriátrica e ancianato – devem proporcionar serviços na área social,
médica, de psicologia, de enfermagem, fisioterapia, terapia
ocupacional, odontologia, e em outras áreas, conforme necessidades
desse segmento etário. (SBGG, 2015).
Dessa maneira, a Terapia Ocupacional em Gerontologia tem como propósito favorecer
um desempenho ocupacional satisfatório, auxiliando o indivíduo na execução de tarefas e
papéis ocupacionais essenciais a uma vida ativa com o controlo de si e do ambiente, prevenindo
comprometimentos funcionais e promovendo a saúde (Drummond e Rezende, 2008). Cabe à
1067
Terapia Ocupacional identificar as competências que possam ser restauradas ou adaptadas e
promover intervenções, maximizando a independência e autonomia dos idosos dentro das
possibilidades individuais e dos recursos disponíveis.
Diante desse contexto, o objetivo principal deste estudo é descrever a vivência dos
discentes em um ambiente institucional para idosos e implementar atividades que possam
ajudar os idoso com dificuldades cognitivas, funcionais e sociais a estabelecer ou manter uma
vida mais significativa e produtiva dentro de seu ambiente social e cultural.
METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência de característica descritiva, realizados a partir de
práticas vivenciadas através do módulo de “intervenção em terapia ocupacional em adultos e
idosos” do curso de Terapia Ocupacional, ofertada em uma Instituição de Longa Permanência
para idosos (ILPI) na cidade de Maceió-Alagoas. A instituição tem 50 idosos residentes, na
faixa etária de 60 anos ou mais de idade.
As aulas práticas são coordenadas por um professor terapeuta ocupacional, que utiliza
esse espaço para a vivência dos discentes. O plano de aula se baseia na aplicação de testes de
rastreio da capacidade funcional, construção do plano de tratamento dos idosos,
análise/construção de recursos terapêuticos, observação do ambiente para modificações e ou
adaptações.
Sendo necessário observar: o idoso integralmente com suas capacidades e dificuldades
rotineiras, o trabalho desenvolvidos pelos cuidadores, intervir quando as famílias comparecem,
o espaço individual e coletivo dos idosos, e as relações interpessoais entre discentes, idosos e
equipe.
RESULTADOS
A partir das vivências foi perceptível a interação e maior sociabilidade dos acadêmicos
com os idosos residentes, tendo como mediação a proposta das atividades desenvolvidas,
gerando diálogo de confiança e empoderamento dos idosos. Durante o desenvolvimento das
atividades observamos as possibilidades e dificuldades dos residentes, e também seu desejo de
autonomia e independência em algumas atividades de vida diária.
Os discentes aplicaram testes de rastreio para verificar e estabelecer os parâmetros
para a reabilitação cognitiva, funcional e social desses idosos; realizaram seleção/criação e
1068
aplicação de recursos terapêuticos através das diversas modalidades de atividades propostas,
com o objetivo de melhorar suas atividades cotidianas.
Observamos e analisamos o ambiente institucional para possíveis
modificações/adaptações, para que o espaço se tornasse mais acessível e familiarizado pelo
idoso.Estimulamos atividades para estimular a deambulação, observar os espaços comuns,
como o jardim, para que eles tivessem melhor engajamento social e aumentasse suas redes de
contatos com os próprios residentes e todo pessoal da instituição. Ainda realizamos algumas
orientações de cuidados aos cuidadores formais.
Nesse contexto de institucionalização foi perceptível o quão é necessário o aparato de
uma equipe interprofissional, entre eles, o terapeuta ocupacional, devido à complexidade de
problemas físicos, psicológicos e sociais que esses idosos apresentam. Passar por essa vivência
nos ajuda a perceber e formar um olhar mais críticos sobre a carência e a vulnerabilidade no
qual esses residentes estão expostos, devido viverem neste contexto, longe dos seus familiares
e com a saúde precarizada.
DISCUSSÃO
Com essa vivência foi possível perceber as carências dos idosos residentes e, além
disso, a necessidade de uma equipe interprofissional, para que possam favorecer as demandas
dos residentes e possibilitar meios de empoderar um processo de promoção de saúde, tornando-
os mais saudáveis, autônomos e independentes.
Nesse sentindo, as práticas favorecem um pensamento crítico e reflexivo dos
acadêmicos diante da situação de saúde e social que esses idosos se encontram e do ambiente
em si. Por fim, essa vivência entre os discentes e idosos institucionalizados possibilita uma
proposta de troca de experiências e de construção de conhecimentos, que enriquece e
transforma a todos, e garante aos discentes uma melhor eficácia pessoal e profissional, nos
ajudando a formar parâmetros para incrementar a prática da terapia ocupacional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho buscou relatar a experiência vivenciada pelos discentes através do
módulo “Intervenção em terapia ocupacional em adulto e idoso” em uma Instituição de Longa
Permanência para Idosos. A partir dessa experiência é possível observar o processo ensino-
1069
aprendizagem da prática envolve diversos desafios, principalmente ao lidar com idosos
residentes em instituição, no qual demandam cuidados especiais.
Tal espaço gerou nos discentes inúmeros questionamentos, reflexões, percepção de
sentimentos e a repensar conceitos e valores, que contribuíram sem dúvida na nossa formação
acadêmica e pessoal.
Desse modo, a vivência prática de discentes do Curso de Terapia Ocupacional através
de uma institucionalização de idosos, possibilita uma proposta viável, que permite a troca de
experiências intergeracional, vivenciando espaços diferentes das práticas clínicas, buscando um
processo de construção de conhecimentos, que enriquecem e transformam os envolvidos.
REFERÊNCIAS
BENTES. et al. Oidoso nas instituições de longa permanência: uma revisão bibliográfica,
Aletheia no.3-39, Canoas dez. 2012
DRUMMOND, A. F; REZENDE, M. B (organizadoras) (2008). Intervenções da Terapia
Ocupacional. Belo Horizonte: Editora UFMG.
LINI, E. V. et al. Fatores associados à institucionalização de idosos: estudo caso-
controle. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, [S.L], v. 19, n. 6, p. 1004-1014,
2016/dez. 2018.
SBGG. Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Pensando em Alternativas. 29 abr.
2015. Disponível em: <http://www.sbgg-sp.com.br/pub/pensando-em-alternativas/>. Acesso
em: 07 jul. 2018.
1070
O papel da Terapia Ocupacional em um abrigo municipal de crianças e adolescentes em
vulnerabilidade social
Paula Ferreira
Jéssica Silva
Lucas Medeiros
Luana Holanda
O abrigo é uma instituição governamental, administrada pela Secretaria Municipal de
Assistência Social, voltado ao acolhimento de crianças e adolescentes em situação de rua, que
não convivem com os pais, e se encontrem em vulnerabilidade social, com o objetivo de
humanização e proteção temporária dessas pessoas em desenvolvimento. Trata-se de um relato
de experiência, cujo objetivo é descrever - através de uma vivência de estágio curricular
obrigatório do curso de Terapia Ocupacional de uma universidade pública de Alagoas -, como
se dá o papel do Terapeuta Ocupacional em um abrigo para crianças e adolescentes em situação
vulnerável. O estágio teve duração de quatro meses e no decorrer os estagiários desenvolveram
atividades com esse público com o propósito de trabalhar a socialização, educação em saúde,
consciência corporal, Atividades de Vida Diária (AVD) e Atividades Instrumentais de Vida
diária (AIVD). Os resultados apontam a falta da inserção das crianças e adolescentes nas
atividades básicas dentro da instituição. À vista do exposto, reconhece-se que o trabalho da
Terapia Ocupacional na saúde coletiva é baseado na interdisciplinaridade, focando no objetivo
de desenvolver a capacidade de ajudar pessoas na obtenção da qualidade de vida que precisam
e desejam ter, e não só ligado a aspectos biológicos. Ressalta-se a importância deste para a
formação acadêmica dos estagiários, uma vez que possibilitou, dentre outros, a buscar o
cuidado, respeito e acolhimentos às necessidades individuais, com o propósito de entender e
atender às demandas e limitações através da escuta qualificada.
Palavras-chave: Abrigo; Terapia Ocupacional; Vulnerabilidade Social.
INTRODUÇÃO
Trata-se de uma instituição governamental, administrada pela Secretaria Municipal de
Assistência Social. Fundada em 2005 por uma equipe de Psicólogos e Assistentes Sociais da
própria secretaria, acolhendo crianças e adolescentes de rua, que não conviviam com os pais,
1071
que se encontravam em vulnerabilidade social, com o objetivo de humanização e proteção
temporária. A equipe é formada por psicólogos, assistentes sociais, educadores sociais,
cozinheira, serviços gerais, motorista e coordenador.
A instituição atende crianças do sexo masculino de sete a dezessete anos em situação
de vulnerabilidade social e/ ou pessoal onde permanecem internas na instituição até serem
adotadas ou completarem a maior idade. Desenvolve ações de acolhimento como oferta de
alimentação saudável, cuidados pessoais, saúde, educação. Os abrigos são instituições
responsabilizadas com o cuidado de crianças e adolescentes, devendo primar pela
excepcionalidade e provisoriedade em sua aplicação e suprir as necessidades imediatas e
futuras, zelando pela integridade física e emocional do abrigado (BORBA E PALUDO, 2010).
O artigo 227 da Constituição Federal de 1988 dispõe sobre a proteção e defesa dos
direitos de crianças e adolescentes ampliando as responsabilidades para a família, sociedade
civil e Estado, em zelar e proteger tais direitos. A institucionalização de crianças e adolescentes
é uma das medidas protetivas preconizadas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
Lei 8.069 de 13 de Julho de 1990. Assim, a institucionalização em unidade de acolhimento está
inserida na assistência social e compreende o Serviço de Proteção Social Especial de Alta
Complexidade, sendo destinado às famílias e/ou indivíduos nos quais houve a violação de
direitos e os vínculos familiares rompidos.
Dado o exposto, o objetivo desse trabalho é descrever, através de uma vivência de
estagio curricular obrigatório do curso de Terapia Ocupacional de uma universidade pública de
Alagoas, como se dá o papel do Terapeuta Ocupacional em um abrigo pra crianças e
adolescentes em situação vulnerável.
METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência, que ocorreu no estágio de saúde coletiva no abrigo,
onde a proposta de intervenções dos estagiários é de trabalhar por meio de atividades grupais
usando de ferramentas, atividades culturais, expressivas, corporais, lúdicas e de convivência
com objetivo de aumentar a participação social das crianças e adolescente, proporcionar um
maior controle e conhecimento das suas funções corporais (consciência corporal, coordenação
corporal, lateralidade), apresentar questões de educação em saúde para melhor qualidade de
vida dos mesmos, como também estimular as funções cognitivas tais como: atenção, foco,
concentração, percepção e memória.
1072
Além disso, foram realizados atendimentos individuais, com o objetivo de auxiliar em
demandas específicas de todas as crianças e adolescente, assim, essas atividades podem variar
de acordo com a demanda, podendo apresentar: estimulação cognitiva e física, intervenções
mais focadas nas demandas sócio-ocupacional e/ou emocionais.
RESULTADO
O estágio se iniciou no dia 26 de fevereiro e finalizou em 18 de junho de 2019, no
decorrer das visitas os estagiários desenvolveram atividades com as crianças e adolescentes
com o propósito de trabalhar a socialização, educação em saúde, consciência corporal
Atividades de Vida Diária (AVD) e Atividades Instrumentais de Vida diária (AIVD).
Com isso, foi possível notar a falta da inserção das crianças e adolescentes nas
atividades básicas dentro da instituição como: arrumar o quarto, lavar louças, cuidar dos
animais domésticos e do jardim. Ressaltamos a importância da inserção dos mesmos nessas
atividades, assim como reafirmamos a importância da participação nas atividades de vida diária
presentes na vida de cada um, fazendo com que as crianças e adolescente comecem a ter
responsabilidades consigo mesmo e com a instituição, além de preparar os mesmo para uma
vida fora do abrigo.
DISCUSSÃO
O estágio foi concluído por dois grupos de estagiários em dias alternados, junto à
orientadora. Segundo o Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (2015) a
atuação do Terapeuta ocupacional em um abrigo institucional é diversa, como: organização
cotidiana institucional, elaboração de projetos singulares de vida de forma dialogada,
desenvolver brincadeiras, jogos e atividades criativas como instrumentos importantes para
possibilitar a transformação de relações e de espaços indiferenciados em espaços de
acolhimento e de produção de vida, oferece atenção individualizada, de forma a contribuir para
a comunicação, expressão e elaboração de conflitos, lançando mão de atividades lúdicas,
artísticas, corporais, verbais, entre outras, promove atividades grupais que possibilitem o
resgate e o registro da identidade do sujeito, valorizando as singularidades e a história de cada
um, propõe e estabelece rotina rica em experiências e trocas, que favorecem o desenvolvimento
emocional, afetivo, intelectual e cidadão e promove experiências de atividades lúdicas que
auxiliem no desenvolvimento infantil, no caso de crianças acolhidas, entre outras.
1073
Desse modo, Almeida e Trevisan (2010), ressaltam a heterogeneidade das práticas e dos
recursos da Terapia Ocupacional que, apesar de compartilhados no trabalho em equipe, se
mostram pontuais ao auxiliar no processo de desinstitucionalização. A partir da identificação e
validação de potencialidades e interesses, da observação sistemática de seu cotidiano, do
fortalecimento de vínculos e contratualidade, possibilita-se o resgate da identidade abalada com
o processo de institucionalização.
No estágio foi proposto atividade psicomotoras, que consistia em um circuito com várias
etapas e barreiras e níveis de dificuldade, essa atividade teve como objetivo conhecer as
habilidades psicomotoras dos adolescentes no que refere à consciência corporal, coordenação
motora grossa e lateralidade.
Atividades expressivas, sobre preconceito e diversidades sociais, a estratégia utilizada
foi atividades de pintura, colagem e escrita, buscando dialogar com as crianças e adolescentes
a importância do sentimento de empatia. Segundo Souza e Silva (2015), se fazem importante
trabalhar questões sociais com crianças e adolescentes a fim de desenvolver uma
problematizarão e uma sensibilidade nas questões que se refere à etnia, sexualidade, deficiência,
vulnerabilidade social e econômica, com o objetivo de melhor a participação social, inclusão e
empatia e respeito pelo o outro.
Foi realizado a construção de um ECOMAPA, de acordo com Nascimento et al (2014),
o ECOMAPA é um recurso visual com o objetivo de apresentar os serviços existentes dentro
da comunidade e/ou território, desse modo, atividade teve como propósito a construção desse
recurso a fim de discutir as importâncias dos serviços existentes no território e sua
aplicabilidade na vida humana. Realizamos uma oficina de criação de brinquedos, nesse dia em
específico, foi criado junto com as crianças um jogo da memória e um jogo dos sete erros, com
o propósito de estimulação cognitivos tais como: memória, atenção, percepção e concentração.
Para finalizar foram realizados acolhimentos aos novos adolescentes que entravam no
lar acolher, segundo o Ministério da Saúde o acolhimento é uma diretriz da Política Nacional
de Humanização (PNH), que não tem local nem hora certa para acontecer, nem um profissional
específico para fazê-lo, assim, o acolhimento é uma postura ética que implica na escuta do
usuário em suas queixas, no reconhecimento do seu protagonismo no processo de vida e sua
história.
CONCLUSÃO
1074
Uma das áreas de atuação do terapeuta ocupacional é a saúde coletiva, o trabalho da
terapia ocupacional na saúde coletiva é baseado na interdisciplinaridade, focando no objetivo
de desenvolver a capacidade de ajudar pessoas na obtenção da qualidade de vida que precisam
e desejam ter, e não só combater doenças. Desse modo, a Terapia Ocupacional tem como
objetivo na saúde coletiva, promoção e prevenção de saúde, aumento de autonomia e
funcionalidade dos usuários, justiça ocupacional, qualidade de vida, treino de AVD E AIVD,
emancipação e participação social.
Visto isso, a presença do profissional da Terapia Ocupacional neste âmbito deve se
consolidar, pois uma abordagem interdisciplinar qualifica o trabalho e a intervenção. O
terapeuta tem a função, o cotidiano como especificidade, o que permite aos nossos pacientes
e/ou clientes uma melhor perspectiva de promoção e qualidade de vida.
Quanto a nós futuros profissionais, a comparação dos dados da literatura e experiência
real, nos estimulam a buscar o cuidado, respeito e acolhimentos às necessidades individuais,
com o propósito de entender e atender às demandas e limitações através da escuta qualificada.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, D.; TREVISAN, E. Estratégias de intervenção da Terapia Ocupacional em
consonância com as transformações da assistência em saúde mental no brasil. Interface, v.15,
n. 36, p.299-308, 2011.
BORBA, R.; PALUDO, S. A institucionalização de crianças e adolescentes e o direito à
convivência familiar e comunitária. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIII, n. 78, jul 2010.
Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.
php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8060>. Acesso em maio 2019.
BRASIL. Acolhimento. Brasília. Ministério da Saúde, Política Nacional de Humanização,
2008.
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília: Secretaria de Estado dos Direitos
Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente, 2002.
CREFITO – 2. Terapia Ocupacional na Assistência Social (SUAS). 2015.
NASCIMENTO et al. GENOGRAMA E ECOMAPA: Contribuições da enfermagem brasileira.
Texto Contexto Enferm, Florianópolis, v. 23n. 1, p. 211-20, 2014.
ROCHA, E. F.; PAIVA, L. F. A.; OLIVEIRA, R. H. Terapia ocupacional na Atenção Primária
à Saúde: atribuições, ações e tecnologias. Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Carlos, v. 20, n. 3, p.
351-361, 2012.
1075
SOUZA, F.; SILVA, I. A importância da literatura infantil com personagens negros: construção
de uma educação inclusiva das crianças negras na educação infantil. VII Fórum Internacional
de Pedagogia, Anais digitais, 2015.
1076
Reflexões sobre a clínica ampliada, demanda e desenvolvimento infantil na Atenção
Primária à Saúde
Camila Cristina Bortolozzo Ximenes de Souza
Larissa da Silva Suarez Salas
Eucenir Fredini Rocha
Este trabalho consiste em um estudo de caso contextualizado em uma disciplina de estágio
obrigatório do último período de graduação em terapia ocupacional, que tem como campo de
atuação um serviço de Atenção Primária à Saúde da periferia da cidade de São Paulo. Foi
encaminhada à Terapia Ocupacional uma criança - dado o nome fictício de Marcos - de três
anos que não falava. Caracterizada pela médica da família por timidez, o encaminhamento tinha
o objetivo de se aprofundar na demanda da escola de saber o que se passava com a criança.
Mas, seriam estes os objetivos que deveríamos traçar para os atendimentos? Ao longo de um
acompanhamento com estratégias para criar vínculo, avaliar desenvolvimento infantil,
conhecer o contexto e as relações dos diferentes sujeitos implicados na vida da criança, foi
criado um planejamento de avaliação abrangente, na qual se configura a clínica ampliada em
saúde, balizada pelas necessidades em saúde de marcos e sua família, com o necessário
desmonte de estereótipos e julgamentos baseados no censo-comum sobre o caso. Nesse
processo, a escolha de estratégias, recursos e tecnologias condizentes com as necessidades em
saúde de Marcos foram fundamentais para a clínica da terapia ocupacional. Identificou-se um
descompasso entre demanda da escola, avaliação da equipe e necessidade em saúde da família,
o que implicou em um trabalho no sentido de produzir diálogos e a escolha de tecnologias e
estratégias que dessem conta dessa complexidade, que pudessem contribuir para a resolução do
caso, validar sofrimentos e preservar direitos.
Palavras-chave: Desenvolvimento Infantil; Atenção Primária à Saúde; Sistema Único de Saúde;
Terapia Ocupacional; Demanda.
INTRODUÇÃO
Para se compreender o contexto da prática profissional do presente caso, faz-se necessário
uma breve introdução em relação ao campo profissional em questão. A Estratégia de Saúde na
Família (ESF), no Brasil, foi implementada como política nacional e marcada por uma trajetória
1077
de questionamentos e mudanças em relação a como deve ser executada. Em contraponto, mas
não obstante, o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) surgiu também como política
nacional, e visava a entrada de outros profissionais para melhorar a resolutividade dos serviços
com ESF e implementando práticas de matriciamento. Entretanto, o estudo de caso presente se
deu na composição do estágio de Terapia Ocupacional diretamente as equipe de ESF, e não
vinculada ao NASF, como medida a se garantir uma prática do Estágio Supervisionado que tem
como horizonte principal a Atenção Primária à Saúde (APS) Ampliada, considerando as
reclusas, limitações e alterações no modo de funcionar ao qual atualmente o NASF vem sendo
exposto principalmente após a publicação da nova Política Nacional de Atenção Básica (Brasil,
2017).
Em uma reunião de equipe, foi encaminhada ao estágio de Terapia Ocupacional uma criança
de três anos que não falava - dado o nome fictício de Marcos. Caracterizado pela médica da
família por timidez. Os motivos do encaminhamento realizado baseavam-se principalmente,
em um relatório escolar com queixas sobre o comportamento da criança.
O prontuário continha informações acerca de seu acompanhamento e o relatório escolar
anexado, que era caracterizado por queixas de dificuldade de escovar os dentes sozinho e
negação a intervenção de terceiros; ausência de contato visual com a professora, ausência da
fala, brincadeiras apenas com alguns brinquedos e interação em reserva. Entretanto, um dia
distraído, foi visto contando os degraus da escada. Desde abril de 2019 a escola tentava
desfraldá-lo sem sucesso. Além disso, o prontuário continha informações acerca de seu
nascimento: há registrado que a criança nasceu no hospital em um parto complicado, com
icterícia, desconforto respiratório e intervenção com equipamento respiratório. Ficou internado
em seus primeiros dias de nascimento. Na UBS está sendo acompanhado desde então com
cuidado médico. Há acompanhamento da evolução de seu peso e altura e diversos registros com
detecção de problemas respiratórios. Dia 09/03/16 aponta-se DNPM normal; dia 02/03/17 foi
orientado brincar com outras crianças, dia 16/05/17 foi levado à UBS pela mãe com a demanda
escolar. Questionada em uma consulta, a mãe pontua que não há problemas familiares. Há dois
registros de quedas da própria altura.
O estágio optou por iniciar os atendimentos com uma visita domiciliar com agente
comunitária de saúde, a estagiária e a supervisora de terapia ocupacional, ainda que Marcos não
apresentasse dificuldades em se locomover. Ao contrário de muitos critérios utilizados pelas
equipes, entende-se que as visitas domiciliares são importantes instrumentos para a
compreensão do cotidiano dos usuários, não apenas um recurso para facilitar o acesso de
pessoas com mobilidade reduzida.
1078
Ao longo do acompanhamento, até o momento, foram realizadas duas visitas domiciliares e
três atendimentos na Unidade Básica de Saúde (UBS).
Neste primeiro contato, conheceu-se Marcos - criança tímida e com fisionomia assustada,
que dizia “não” a qualquer convite para brincar junto, mas que aos poucos, abriu espaço para
contato e interação. Investiu-se no vínculo e no uso de atividades lúdicas. A mãe, também com
fisionomia assustada, trazia sua principal demanda “está tudo bem com meu filho?”.
Outro aspecto que chamou atenção foi a postura corporal da mãe em relação a sua auto-
proteção e proteção de Marcos, e gritos da avó de Marcos na casa ao lado com uma criança.
Naquele espaço, acolheu-se a mãe, iniciou-se uma avaliação de Marcos e vivenciou-se o
contexto da casa. A partir deste primeiro contato, foi tomada como necessária, uma segunda
visita domiciliar.
Neste segundo encontro Marcos reconheceu a equipe demonstrando o estabelecimento de
vínculo. Aprofundou-se na história da criança, da mãe, do pai, da família e da avó. Também
aprofundou-se no contexto, nas relações e no cotidiano de Marcos. Conheceu-se e conversou-
se com a avó, que nos relatou seus papéis ocupacionais principais e suas angústias relacionadas.
Foi apenas após esse primeiro movimento de tentar compreender sem julgar quem era
Marcos, porque a única coisa que dizia era “não”, compreender sua mãe e sua postura assustada,
compreender a avó que mostrava-se bastante ríspida, ou melhor, compreendendo-os para além
das demandas da escola e da médica de família pudemos iniciar novos diálogos com a equipe,
produzir leituras abrangentes e criar espaços de cuidado.
Na primeira visita domiciliar, em interação com a criança, pode-se avaliar os aspectos do
desenvolvimento da criança: atenção, memória, aprendizado, cognição, se Marcos conseguia
ou não ouvir, e se conseguia falar. Sendo todos correspondentes ao desenvolvimento normal
para a idade. Isso afastava as suspeitas da escola de que Marcos pudesse ter alterações de
desenvolvimento, inclusive relativas à presença de surdez, resultando nas dificuldades de
participação apresentadas na escola.
Mas, identificou-se e validou-se o sofrimento da família como um todo – Marcos, sua mãe
e avó, o que nos permitiu identificar e intervir sobre a dinâmica familiar, tirando de Marcos e
de sua possível timidez, como relatava a médica, a causa para os problemas de participação de
Marcos na escola. Em outras palavras, se Marcos tem dificuldades em participar e brincar com
os outros, este não é um problema individual e restrito à criança.
Neste caso singular, deu-se ênfase no conhecimento e avaliação dos aspectos ambientais e
relacionais. Nessa formulação, foi adotado principalmente Winnicott (1896-1971) como
referencial, com grande contribuição na relação mãe-criança.
1079
Identificou-se um contexto de violência verbal em sua moradia. A violência, tendo como
agente a avó, deixando marcas verbais, psicológicas e sociais, não sendo direcionada a criança
diretamente, mas à sua mãe, que apresenta grande sofrimento psicológico. O pai do menino
trabalha o dia inteiro, e pedia para não ser inserido no conflito. No atendimento na UBS, Marcos
mostrou-se mais extrovertido, e sua mãe, aberta ao vínculo e confiança, mas ainda com muito
medo em separar-se de Marcos, a permitir-lhe um caminho autônomo com desejos e
necessidades próprias e diversas das dela. Ao narrar as ações de Marcos, a mãe referia-se a ele
como “mãe”, e funcionava como a voz do menino. Somando-se a outros sinais, identificou-se
uma relação simbiótica por parte da mãe, e uma determinada angústia gerada na criança.
Essa dinâmica nos levou a propor situações de separação entre Marcos e sua mãe, em
cenários em que a mãe esteve ausente. Tais atividades provocaram angústia na mãe e
desinibição da criança, modificando seu modo de agir, de dizer de seus desejos e em seu modo
de brincar. A partir disso, Marcos começa a falar mais do que “não”. Passa a dizer frases
inteiras, a se relacionar com outras pessoas além da terapeuta e modificar a qualidade do contato
estabelecido (verbal, visual, corporal).
Além de adotar-se a posição de um corpo curioso, implicado na cena de cuidado no contato
com os sujeitos da ação, uma medida singular do caso, por parte da terapia ocupacional, foi de
acalmar e aproximar essa mãe, além de proporcionar um espaço onde ela possa se pensar e se
projetar no futuro como mulher inteira, e não apenas como mãe. Lembrando Winnicott (2005),
antes de interferirmos em uma relação familiar, devemos ter em mente o qual sensível e
primordial é a relação mãe-criança para o desenvolvimento humano; nota essa que torna-se
essencial para a prática de Estratégia de Saúde na Família, a qual acompanhamos a comunidade
e interferimos quando necessário. A necessidade em saúde aqui, é uma linha limítrofe entre
cuidado e caos. Para isso, foram utilizadas uma série de recursos profissional da terapia
ocupacional: conhecimento no desenvolvimento infantil, recurso lúdico, práticas de cuidado
em concordância com o Sistema Único de Saúde, conhecimento do corpo e terapêuticas,
desenvolvendo uma prática qualitativa, que exigiu um debruçamento, e formam um arcabouço
clínico para a formação de terapeutas ocupacionais.
Marcos está sendo acompanhado pelo estágio de terapia ocupacional por apresentar um fator
que pode indicar riscos em sua participação social. Identificou-se a demanda com origem no
contexto familiar e de moradia, com presença de sofrimento de sua mãe. A mãe passa a ser
fator fundamental no acompanhamento do caso. A família e seu contexto de moradia estão
sendo cuidados por outros membros da equipe, com compartilhamento de evoluções e
percepções da prática de saúde, com foco importante na avó, que está sendo acompanhada pela
1080
profissional de psicologia e foi encaminhada no Centro de Referência de Atenção Social
(CREAS), referente aos fatores que lhe geram angústia.
Nesse sentido, a terapia ocupacional adota a medida de continuidade no acompanhamento
da criança com a produção da relação de bons momentos com o meio, ou seja, que interajam
de forma a estabelecer vínculos positivos, desenvolvendo relações de confiança e de
exploração. A mãe é parte primordial desse processo, que teve como plano de ação atividades
e ações que promovam o seu protagonismo, participando desses encontros e sendo dada atenção
da equipe; rumando ao cuidado, visando a construção e implementação de projetos de futuro
para a mãe, para Marcos e para a avó.
Mas, uma das principais ações da terapia ocupacional neste processo, foi contribuir para que
a equipe pudesse ressignificar as necessidades da família de Marcos. Não eram necessidades
individuais – timidez – mas também não se tratava de incapacidades produzidas por patologias
– surdez ou autismo – como avaliava a escola.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017. Aprova a
Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para a
organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília, DF:
Ministério da Saúde, 2017.
WINNICOTT, D. W. (1896-1971). A família e o desenvolvimento individual. 3.ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2005.
1081
Impacto do processamento sensorial nos componentes de desempenho ocupacional em
crianças- Relato de Experiência.
Izabelle Wanessa Campos Galindo
Sabendo-se que aprendemos através de nossas experiências sensoriais e que estas ocorrem por
meio da interação com o ambiente, podemos afirmar que o processo de aprendizagem
dependerá da integridade e funcionalidade adequada do processamento sensorial, sendo este
um mecanismo neurofisiológico de processamento de informações sensoriais, que nos permite
reproduzir respostas adaptativas adequadas ao contexto. Quando a criança apresenta
dificuldade em alguma das etapas do processamento sensorial, pode-se observar um
comprometimento motor, cognitivo e comportamental. Este trabalho consiste em um relato de
experiência baseado nas observações da prática clínica correlacionando os resultados dos
instrumentos de avaliação: Perfil Sensorial 2 e a Escala de desenvolvimento do bebê e da
criança pequena- Bayley III, onde verificou-se um impacto do resultado do processamento
sensorial sobre os componentes de desempenho ocupacional motor e cognitivo. Contudo, tais
pontuações contribuem para uma melhor compreensão do desenvolvimento humano
fornecendo bases para fundamentar estratégias de avaliação e intervenção na prática clínica do
terapeuta ocupacional.
Palavras chave: Aprendizagem; Desenvolvimento infantil; Sensação; Terapia Ocupacional.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho baseia-se na Teoria de Integração Sensorial da terapeuta
ocupacional Ana Jean Ayres, que iniciou seus estudos sobre processamento sensorial nos anos
60, inicialmente para um público alvo com distúrbios/transtornos de aprendizagem, e
atualmente sua teoria e abordagem clínica expandem-se para diversas patologias, inclusive,
para crianças com diagnóstico médico neurotípico, mas que quando avaliados por um terapeuta
ocupacional certificado, possuem diagnóstico terapêutico ocupacional de Transtorno do
Processamento Sensorial (TPS).
Esta teoria enfatiza a capacidade da pessoa de processar as informações sensoriais do
corpo e integrá-las às informações sobre o que está acontecendo ao seu redor para que a pessoa
possa efetivamente atuar no ambiente (ROLEY e JACOBS, 2011). A Integração Sensorial (IS)
1082
se concentra principalmente em três sentidos básicos – tátil, vestibular e proprioceptivo, onde
os três não estão apenas interconectados, mas também estão conectados com outros sistemas
no cérebro.
Falhas ocorridas neste processamento afetam as habilidades do indivíduo de perceber e
de memorizar informações, de interpretá-las e/ou organizá-las, e, assim, revertem- se em
respostas inadequadas ou comportamentos ineficientes (MOMO, SILVESTRE e GRACIANI,
2012). Com isto o termo Transtorno do Processamento Sensorial (TPS) refere-se a quando
ocorre essa desorganização, e o processamento sensorial acontece de forma inadequada
(MOMO, SILVESTRE e GRACIANI, 2011).
Entendendo-se que a base para aprendizagem de habilidades motoras e cognitivas é o
processamento sensorial, e para que esta construção ocorra de maneira gradativa, é necessário
que o processamento das informações aconteça de maneira harmoniosa, favorecendo com que
o comportamento emitido seja adequado ao contexto, e a aprendizagem ocorra sem
intercorrências (MOMO, SILVESTRE e GRACIANI, 2011).
METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência baseado nas observações e descrições na prática
clínica com oito crianças na faixa etária de 21 a 38 meses, no período de outubro de 2018 a
maio de 2019. Utilizou-se do Perfil Sensorial 2 para avaliação do processamento sensorial e da
Escala de desenvolvimento do bebê e da criança pequena (Bayley III) para o desenvolvimento
cognitivo e motor.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Verificou-se nestas oito crianças que buscaram avaliação terapêutica ocupacional com
queixa de atraso do desenvolvimento, que seus desempenhos foram abaixo do esperado para
suas faixas etárias nas sub escalas: motora (grossa e fina) e cognitivo da Escala Bayley III,
sendo correlacionados aos resultados do Perfil Sensorial 2, observando-se que houve uma
relação em comum destas crianças, as quais sinalizaram dificuldades no processamento
sensorial nos sistemas tátil, proprioceptivo, vestibular e visual.
Como resultados de seus perfis sensoriais, as crianças observadas encontravam-se
dentro da classificação de Transtorno de Modulação Sensorial (um tipo específico englobado
1083
pelo Transtorno do Processamento Sensorial- que se refere à disfunção na capacidade de regular
e organizar a intensidade do estímulo) nos sistemas sensoriais descritos acima.
Tais observações na prática clínica com o público infantil confirmam que toda a
aprendizagem depende do desenvolvimento prévio de habilidades sensório-motoras necessárias
(Williams & Shellenberger, 1994), sendo o processamento sensorial a base para a progressão
do desenvolvimento das demais habilidades e competências no desenvolvimento infantil,
conforme sinalizadas abaixo (imagem 1).
Além dos autores da pirâmide de aprendizado outros pesquisadores também
consideram que crianças com pobre desenvolvimento sensório-motor podem ter dificuldades
com uma gama de atividades (Ayres & Robbins, 2005, Myers, 1995 apud O’Connor et. Al.,
2016). E essas dificuldades podem incluir:
• Habilidades precárias de Atividades de Vida Diária (AVD’s);
• Prejuízo na preensão manual;
• Desenhar e copia formas é difícil;
• Dificuldade para copiar material do quadro para o caderno;
• Escrita imatura;
• Desorganização espacial;
• Atraso nas habilidades motoras grossas: chutar / pegar uma bola, correr, pular, saltar;
• Má atenção, dificuldade em permanecer sentado por longos períodos de tempo;
• Ansiedade, medo do ambiente e imprevisibilidade, medo do fracasso;
1084
• Dificuldade em fazer e manter amizades – baixa auto-estima, insegura;
E para identificação de que o desenvolvimento do processamento sensorial é anterior
aos demais, inclusive ao motor, Jardim e Ferreira (2012) realizaram um estudo com crianças
com paralisia cerebral onde confirmam existir um impacto proporcional do processamento
sensorial no padrão funcional (autonomia pessoal, mobilidade, socialização e independência
funcional) destas crianças, corroborando assim com os achados deste estudo, os quais as
crianças observadas obtiverem scores abaixo do esperado nos componentes cognitivo e motor
em decorrência de apresentarem disfunções sensoriais.
CONCLUSÃO
As correlações clínicas observadas nos resultados dos instrumentos avaliativos Perfil
Sensorial 2 e Bayley III pontuadas neste trabalho apresentam-se como hipóteses a serem
testadas por meio de outras investigações científicas, que possibilitem estudos comparativos
em diferentes populações. No entanto, os resultados apresentados, que corroboram com os
achados de outros pesquisadores, contribuem para uma melhor compreensão do
desenvolvimento humano fornecendo bases para fundamentar estratégias de avaliação e
intervenção.
REFERÊNCIAS
Ayres & Robbins, 2005, Myers, 1995 apud O’Connor et. al. Facilitating children’s
sensorimotor* development in DEIS schools: Relevance and recommendations. In: Educational
Disadvantage Centre, DCU, 2016. Disponível em:
<www.dcu.ie/sites/default/files/edc/pdf/north_inner_city_task_force_appendix_c.pdf>.
Acesso em: 10 julho, 2019.
JARDIM, A. C. M. S. e FERREIRA, I. Impacto do processamento sensorial no perfil funcional
de crianças com Paralisia Cerebral. In Escola Superior de Saúde do Alcoitão, Santa Casa da
Misericórdia de Lisboa, 2012. Disponível em: <imgs.santacasa.viatecla.com/share/2013-
10/2013-10-10102254_f7664ca7-3a1a-4b25-9f46-2056eef44c33$$72f445d4-8e31-416a-
bd01-d7b980134d0f$$A0FD8780-95F5-4B80-BD7B-
C8AF1E26C0B1$$storage_image$$pt$$1.pdf >. Acesso em: 12 julho, 2019.
1085
ROLEY, S. S.; JACOBS S. E. Integração Sensorial. In: CREPEAU, E. B.; COHN, E. S.;
SCHELL, B. A. Willard & Spackman – TERAPIA OCUPACIONAL. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2011. p. 805-827.
MOMO, A. R. B.; SILVESTRE, C.; GRACIANI, Z. Atividades Sensoriais – Na clínica, na
escola, em casa. São Paulo, Memnon Edições Científicas, 2012.
MOMO, A. R. B.; SILVESTRE, C.; GRACIANI, Z. O processamento sensorial como
ferramenta para educadores: Facilitando o processo de aprendizagem. São Paulo, 3º edição,
Memnon Edições Científicas, 2011.
1086
Perspectivas de atuação do terapeuta ocupacional após o transplante renal: a experiência
em um hospital público
Flávia dos Santos Coelho
Aline de Nazaré Costa dos Santos
Priscila Monteiro de Almeida
O transplante renal possibilita a restauração da capacidade funcional dos pacientes com doença
renal crônica minimizando as limitações que a terapia dialítica causa à vida. Este estudo trata-
se de um relato de experiência da atuação do Terapeuta Ocupacional em um ambulatório de
pós-tranplante renal em um hospital público da cidade de São Luís do Maranhão. O objetivo
desta pesquisa foi descrever o serviço de Terapia Ocupacional implantado neste hospital e a
atuação junto à pacientes acompanhados no ambulatório multiprofissional. Após realização de
transplante renal os pacientes iniciam acompanhamento regular no ambulatório
multiprofissional no referido hospital, com equipe multidisciplinar. O resgate da autonomia e
independência também são aspectos advindos do acompanhamento terapêutico ocupacional. A
reinserção profissional e o resgate e/ ou (re) estruturação de novo projetos de vidas são aspectos
relevantes a serem destacados como resultados da intervenção do terapeuta ocupacional no
contexto do pós-transplante renal. Os ganhos terapêuticos diante da conduta assumida pelo
profissional nas estapas da intervenção extrapolam o contexto clínico de atuação e tem ação no
cotidiano e na estruturação do mesmo com benefícios para manutenção da saúde do paciente
com. Doença renal Crônica em tratamento de Transplante Renal.
Palavras-chave: Doença Renal Crônica. Terapia Ocupacional. Transplante Renal.
INTRODUÇÃO
O transplante renal possibilita a restauração da capacidade funcional dos pacientes com
doença renal crônica minimizando as limitações que a terapia dialítica causa à vida. Para
Simpson; Silva (2013) com relação à Doença Renal Crônica (DRC), o transplante renal pode
ser o único tratamento capaz de devolver totalmente a função dos rins, promovendo estabilidade
hidroeletrolítica e excretora endócrina.
Os autores também reiteram que essa modalidade de terapia substitutiva é indicada à
pessoas que tenham condições de se submeter à cirurgia do transplante e que não tenham
1087
contraindicações para o uso das medicações imunossupressoras. Além disso, promove melhor
qualidade de vida.
Neste contexto os principais objetivos da atuação do Terapeuta Ocupacional são
promover a habilidade de desempenho em atividades diárias; incentivar funções práxicas;
resgatar atividades sociais, reestruturar o cotidiano. Ressalta-se a atuação no contexto de
inclusão e reinserção profissional do paciente.
METODOLOGIA
Este estudo trata-se de um relato de experiência da atuação do Terapeuta Ocupacional
em um ambulatório de pós-transplante renal em um hospital público da cidade de São Luís do
Maranhão.
O objetivo desta pesquisa foi descrever o serviço de Terapia Ocupacional implantado
no hospital público e a atuação no contexto do Transplante Renal em pacientes acompanhados
no ambulatório multiprofissional.
Os dados como registros temporais e de evolutivos do serviço foram coletados na
própria instituição. Utilizou- se, portanto, dados secundários.
Essa coleta foi feita no ano de 2017 durante período de vivência prática em rodízio da
residência multiprofissional em saúde, na área de concentração de atenção à saúde renal, onde
foi feito o contato com o serviço de terapia ocupacional lotado no setor de cuidado do Rim do
hospital, onde são acompanhados os pacientes depois do transplante renal.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após realização de transplante renal os pacientes iniciam acompanhamento regular no
ambulatório multiprofissional no referido hospital, com equipe multidisciplinar. Cardoso
(2013) refere que o comprometimento das áreas do desempenho ocupacional em pacientes
renais é instalado durante a fase dialítica e perduram após a realização do transplante renal.
No serviço de terapia ocupacional são avaliados através de protocolo validado
denominado medida canadense do desempenho ocupacional (COPM) para verificar a
estruturação da rotina e identificar restrições nas áreas de autocuidado, produtividade e lazer.
O acompanhamento terapêutico ocupacional é feito através de atendimento individual.
Após identificadas as restrições no desempenho ocupacional são fornecidas orientações
conforme demanda observada, como por exemplo: técnicas de conservação de energia,
1088
simplificação de tarefas e estratégias mnemônicas para desenvolvimento de tarefas do
cotidiano.
Também são realizados encaminhamentos para cursos profissionalizantes, básicos e
técnicos (exemplo: fotografia, informática, panificação, de acordo com a área de interesse
levantada pelo cliente e disponibilidade de vagas ofertadas entre as instituições que formaram
vínculo institucional com o referido hospital e projeto.
Este serviço foi estruturado a partir da captação de empresas que são denominadas
empresas parceiras. A captação é feita através de visita previamente agendada com responsável
representante da empresa que recebe o profissional Terapeuta Ocupacional e adquire
conhecimento do projeto de capacitação profissional.
Essa fase é a de sensibilização, apresentação da proposta e contato para estabelecimento
do vínculo. Não é ofertada contrapartida do Hospital a empresa que é livre para aderir como
parceira e disponibilizar o quantitativo de vagas que analisar possível a fim de favorecer o
desenvolvimento do projeto.
A partir disto é feita a triagem dos pacientes, a partir do perfil ocupacional traçado na
avaliação inicial, e acompanhado nas consultas ambulatórias, é feito o contato com o paciente
a partir de uma lista de interesse onde este expressa o curso que desejaria realizar e outros a
partir do interesse e disponibilidade.
A empresa parceira disponibiliza a lista de datas e ofertas de curso e os pacientes vão
sendo informados para a realização dos mesmos. Emite-se um documento formal no qual o
paciente afirma ciência do encaminhamento ao curso e das informações necessárias para
1088ealiza lo. Este documento é emitido em duas, uma fica no serviço e a outra com o paciente,
e é mostrada quando iniciado o curso para a instituição parceira.
Durante a realização dos cursos os pacientes são acompanhados pela Terapeuta
Ocupacional do Serviço, ressalta se aqui que alguns são feitos em grupo e outros
individualmente o que requer um desdobramento e necessidade de adaptações do profissional.
Ao final do curso é entregue um certificado que fica em posse do paciente e outra via
que é direcionada para o serviço, como forma de registro, e fica disponível para consulta e
confirmação da presença do mesmo no curso para o qual foi encaminhado à importância de
ampliação do repertório ocupacional e engajamento ativo em atividades significativas do
repertório individual de ocupações de cada cliente, potencializando assim seu desempenho.
O resgate da autonomia e independência também são aspectos advindos do
acompanhamento terapêutico ocupacional. A reinserção profissional e o resgate e/ ou (ré)
1089
estruturação de novo projetos de vidas são aspectos relevantes a serem destacados como
resultados da intervenção do terapeuta ocupacional no contexto do pós-transplante renal.
O serviço de terapia Ocupacional apresenta relevância neste contexto de
acompanhamento uma vez que atua na vivência do processo de desenvolvimento de novos
projetos por parte do paciente, favorecendo o desempenho ocupacional e a adesão ao
tratamento.
Cardoso (2013) enfatiza que o sucesso das ações da Terapia Ocupacional poderá tornar
os transplantados renais mais produtivos e reintegrados à sociedade reduzindo o custo social de
seu tratamento.
A partir disto são possíveis a concretização de projetos que envolvam a geração de
renda, experiências autônomas de empreendimento, e formas de promoção do pertencimento
social destes usuários. E acerca disso Silva et al (2016) afirma que apesar das limitações
advindas do tratamento após o transplante renal experiências de reconstruções de rotina e
superação podem ser desenvolvidas pelas pessoas com Doença Renal Crônica.
Ao final de cada ano o serviço de Terapia Ocupacional do hospital junto com o suporte
e incentivo do mesmo organiza uma exposição com os produtos, objetos feitos durante os cursos
mediante uma seleção prévia, para que os pacientes socializem em seu próprio contexto de
tratamento como foi a experiência de participação nos cursos ofertados e os projetos
desenvolvidos a partir desses.
Pereira; Cardoso (2017) afirmam que através do transplante renal é possível o resgate
do bem estar físico e da inserção no contexto social da pessoa com Doença Renal Crônica, em
que o retorno à vida profissional e as outras atividades cotidianas se dão de forma gradativa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A perspectiva de atuação do Terapeuta Ocupacional no serviço de Transplante Renal
apresenta oportunidades de expansão para outras realidades que não somente a deste hospital
público.
Os ganhos terapêuticos diante da conduta assumida pelo profissional nas estapas da
intervenção extrapolam o contexto clínico de atuação e tem ação no cotidiano e na estruturação
do mesmo, com benefícios para manutenção da saúde do paciente com. Doença renal Crônica
em tratamento de Transplante Renal.
Admite se a experiência exitosa e o aperfeiçoamento do serviço desde sua implantação
assim como os desafios de manutenção do projeto que exigem desdobramentos e um olhar
1090
integral para o contexto da assistência, mas também do gerenciamento de serviços em Terapia
Ocupacional.
REFERÊNCIAS
SIMPSON, Clélia Albino; SILVA, Fernando de Souza. Trajetória de vida de transplantados
renais: apreendendo as mudanças ocorridas na vida dos pacientes. Cienc Cuid Saude, v. 12, n.
3, p. 467-474, 2013.
CARDOSO, Jordana Santos; CAVALCANTE, Milady Cutrim Vieira; DE MIRANDA, Ana
Teresa Mendes. A reabilitação profissional como proposta de intervenção da terapia
ocupacional no pós-transplante renal. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de
São Paulo, v. 24, n. 2, p. 162-167, 2013
SILVA, Vanina et al. História de Vida do Paciente Renal Crônico: a realidade pós-
transplante. CIAIQ2016, v. 2, 2016.
PEREIRA, Nathália Cristina Silva; CARDOSO, Jordana Santos. O retorno do paciente renal
crônico às atividades produtivas após o transplante renal. Revista de Terapia Ocupacional da
Universidade de São Paulo, v. 28, n. 2, p. 221-229, 2017.
1091
Prescrição, aquisição e uso de tecnologia assistiva por crianças e adolescentes com
deficiência física na percepção de seus cuidadores
Giovanna Gouvea de Jesus Celentano
Gerusa Ferreira Lourenço
Os recursos de tecnologia assistiva são usados a fim de melhorar o desenvolvimento de crianças
e adolescentes com alguma deficiência física, uma vez que favorecem funcionalidade e
participação em atividades. A presente pesquisa teve por objetivo mensurar o nível de satisfação
na perspectiva de seu cuidador acerca do recurso de tecnologia assistiva utilizado. Desta forma,
foi aplicado o Quebec User Evaluation of Satisfaction with Assistive Technology - B-QUEST
em formato de entrevista com 6 cuidadores de crianças com deficiência física em uma unidade
saúde-escola usuárias de recursos de tecnologia assistiva. Os resultados demonstram que os
recursos mais utilizados são, respectivamente, a Órtese de Membro Inferior, a Cadeira de Rodas
e as Órteses Manuais, e o maior nível de insatisfação com relação aos serviços de
acompanhamento está presente com acerca da Cadeira de Rodas, o que impacta negativamente
no nível de satisfação geral por esse recurso na perspectiva da família. Os achados trazem
informações importantes à prática da terapia ocupacional, tendo em vista o papel no processo
de prescrição e implementação desse tipo de equipamento.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional; Tecnologia Assistiva; Criança.
INTRODUÇÃO
O uso de recursos de tecnologia assistiva auxiliam a intervenção terapêutica-
ocupacional junto à crianças com deficiência física no sentido de promover a ampliação de sua
capacidade funcional e, consequentemente, sua participação em múltiplas atividades cotidianas
(COPLEY; ZIVIANI, 2004; COWAN; KHAN, 2005). Porém, o processo de tomada de decisão
acerca do melhor dispositivo e sua implementação no dia-a-dia dessa criança e de sua família
é complexo e requer atenção a variáveis relacionadas ao equipamento em si (tipos, custo,
ajuste), às atividades a serem realizadas, ao contexto onde o seu uso ocorrerá (rotinas e
espaços), como ainda fatores inerentes à criança (preferências, modo de ação, etc) (COOK;
POLGAR, 2013). Assim, os serviços de reabilitação quando prescrevem esses recursos,
precisam estar disponíveis para o acompanhamento e manutenção desse uso.
1092
A eficácia desse processo exige que se considere a melhora da função à luz de fatores
temporais, contextuais e de desenvolvimento, em conjunto de outras intervenções. Por isso é
fundamental a definição cuidadosa da população alvo e do contexto do desempenho. Com
crianças se torna especialmente difícil medir a eficácia de um recurso de tecnologia assistiva,
considerando o processo de desenvolvimento natural pelo qual ela passa (BENEDICT, 1999).
A satisfação de um usuário em relação ao seu recurso e a prestação de serviços de
tecnologia assistiva, pode ser compreendida como a percepção que ele possui, enquanto
consumidor, do impacto do uso deste recurso em sua vida cotidiana; ou seja, o grau que ele
considera que a tecnologia assistiva atinge o objetivo esperado ou desejado. É um fenômeno
considerado multidimensional, que requer para sua mensuração medidas qualitativas e
quantitativas (DEMERS; WEISS-LAMBROU, SKA 1996).
A literatura traz diversas escalas e instrumentos que abordam os aspectos específicos
do processo de aquisição e uso dos recursos de tecnologia assistiva, que podem servir para
indicar fatores e variáveis que estão funcionando como facilitadores ou barreiras para o uso
adequado destes equipamentos. Outras medidas também podem ser levantadas, como as de
capacidade funcional, qualidade de vida e participação, de modo que a partir destes parâmetros,
seja possível obter dados para que ocorram mudanças e ajustes na implementação, a fim de
melhorar a satisfação do usuário e de sua família, com os recursos de tecnologia assistiva que
lhe são indicados (COOK; POLGAR, 2013). Assim, com o interesse em investigar o impacto
do uso de recursos de tecnologia assistiva junto à crianças com deficiência física, o presente
trabalho traz um recorte especificamente acerca da satisfação de seus cuidadores sobre os
equipamentos em si e os serviços prestados para esse fim.
METODOLOGIA
Foi realizado um estudo exploratório descritivo, de cunho quali-quantitativo
(SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006). Após aprovação junto ao Comitê de Ética em
Pesquisa com Seres Humanos, à instituição e ao consentimento de todos os participantes, a
coleta de dados consistiu na aplicação de um instrumento de caracterização e do Quebec user
evaluation of satisfaction with assistive technology (B-QUEST) validado para o país
(CARVALHO; GOIS JUNIOR, SÁ, 2013) com seis pais/cuidadores de crianças e adolescentes
com deficiência física (4 com paralisia cerebral, 1 com mielomeningocele e 1 com acidente
vascular cerebral) que faziam uso de algum recurso de tecnologia assistiva, atendidas em uma
1093
unidade saúde-escola nos setores de fisioterapia e terapia ocupacional. Os participantes serão
identificados como C1 a C6.
O B-QUEST é uma escala likert de 12 itens, dividida em dois tópicos: questões
relacionadas à característica do recurso e os aspectos dos serviços prestados para aquisição e
acompanhamento. Cada item conta com uma escala de satisfação de 1 à 5, onde 1) insatisfeito,
2) pouco satisfeito, 3) mais ou menos satisfeito, 4) Bastante satisfeito e 5) Totalmente Satisfeito.
Ela deve ser aplicada exclusivamente para cada recurso de tecnologia utilizado pelo sujeito.
A análise dos dados foi realizada descritivamente para os dados da caracterização e
conforme as instruções para o instrumento B-QUEST, com atribuição dos scores de 1 a 5.
RESULTADOS
Os recursos de tecnologia assistiva mais utilizados pelos participantes da pesquisa
foram, respectivamente, órtese de membro inferior (utilizada por 5 participantes), cadeira de
rodas (utilizada por 4 participantes) e, por fim, a órtese manual (utilizada por 2 participantes).
Outros recursos de tecnologia assistiva foram mencionados pontualmente como o tutor e o
mobiliário adaptado. Conforme os escores obtidos, o recurso de tecnologia assistiva que obteve
o maior escore de satisfação foi a órtese de membro inferior (com um escore total de 4,47),
seguida pela órtese manual (com um escore de 4) e a cadeira de rodas (pontuando 3,73).
Dados importantes sobre durabilidade e peso foram amplamente mencionados pelos
participantes sobre as cadeiras de rodas utilizadas, e os aspectos conforto e facilidade de ajustes
para as órteses como itens que não atingiram o máximo em satisfação.
Outro componente importante para a satisfação são os serviços prestados para aquisição
e manutenção desse recurso, tais como o processo de entrega, os reparos e assistência técnica,
a qualidade dos serviços profissionais e os serviços de acompanhamento.
Sobre o processo de prescrição, aquisição e manutenção, a grande maioria dos recursos
foram prescritos por médicos (em especial ortopedistas e neurologistas), seguido por
fisioterapeutas. Sobre a aquisição, apenas dois recursos foram obtidos por recursos advindo do
serviço público, os demais foram comprados ou doados diretamente às famílias.
Os dados do B-QUEST indicam que os três recursos de tecnologia mais utilizados, os
serviços relacionados ao recurso “Cadeira de Rodas” obtiveram a menor média, totalizando um
escore geral de 3,18. Em segundo lugar, ficou a “Órtese Manual”, com um escore de 3,50 e em
primeiro, com o maior média de satisfação relacionada aos serviços, a “Órtese de Membro
Inferior”, com um escore de 4,3. De uma forma geral, as implicações disseram respeito às
1094
dificuldades acerca da entrega (citada por 3 cuidadores), para os reparos e assistência técnica
(também citados por 3 cuidadores) e por fim aos profissionais que acompanham o uso (citado
por 1 cuidador).
DISCUSSÃO
As pontuações obtidas demonstram a percepção dos cuidadores com os recursos de
tecnologia assistiva que seus filhos utilizam, de forma que refletem suas experiências pessoais
na vivência cotidiana com os recursos, desde aspectos como as dimensões e características
físicas, como peso, tamanho, facilidade para ajustar – até conforto e eficácia (uma vez que o
recurso não está sendo utilizado por eles diretamente). Além, dos serviços envolvidos no
processo de aquisição e manutenção dos recursos.
Os dispositivos obtiveram um alto índice de satisfação pelos cuidadores, o que indicam
que o processo de prescrição e ainda de qualidade dos equipamentos vem ao encontro da
expectativa da família. Porém, cabe destacar que o uso de recursos de tecnologia assistiva
parece ser restrito à prescrição médica e para fins de mobilidade e posicionamento.
Assim, de uma forma geral, não foi citado um número expressivo de dispositivos que
compõem o cotidiano dessas crianças e adolescentes, como potencialmente poderiam ser, tendo
em vista a gama de possibilidades e tarefas a serem aprimoradas com o seu uso, o que vai ao
encontro de estudos que indicam que ainda há barreiras a serem superadas. O estudo de Copley
e Ziviani (2004) aponta que a tecnologia assistiva auxilia as crianças com deficiências no acesso
e participação em seus ambientes escolares e também domésticos. Esses resultados no entanto
dependem de um processo de implementação dado de forma coordenada entre a avaliação e o
acompanhamento do uso, processo este que encontra barreiras como a falta de formação e apoio
da equipe, avaliação inadequada, financiamento insuficiente e também dificuldades na
aquisição e gestão do equipamento, como restrições de tempo.
Essas barreiras também foram mencionadas pelos participantes do estudo de Crippa e
colaboradores (2017) a partir do relato sobre a aquisição e uso de recursos de tecnologia
assistiva por 10 pais/cuidadores de crianças com paralisia cerebral em um município do interior
paulista, onde o baixo número de prescrições feitas pelos profissionais da reabilitação que
atuam com crianças com deficiência física parece ser um fator importante na ampliação de seu
uso. Inclusive no sentido de propiciar maior acesso aos equipamentos via serviços advindos das
políticas públicas de saúde do país (COWAN; KHAN, 2005).
1095
Ainda, como dados do estudo, outro aspecto importante é a necessidade de serviços de
assistência técnica e acompanhamentos sejam mais eficazes, visto que influem diretamente na
satisfação e consequente eficácia dos recursos de tecnologia assistiva. Em diversas entrevistas
foi relatada a dificuldade de realização de um reparo ou ajuste, que por muitas vezes acaba
sendo realizado pelo próprio cuidador – por conta da distância e burocracia para conseguir que
seja feito pela empresa responsável.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa possibilitou iniciar um estudo acerca da satisfação dos cuidadores
em relação aos recursos de tecnologia assistiva usados por crianças e adolescentes com
deficiência física e seus serviços relacionados. Considera-se que os dados levantados podem
contribuir com a produção de conhecimento sobre a área, especialmente para o alerta acerca da
necessidade de terapeutas ocupacionais ampliarem suas ações no processo prescritivo e de
acompanhamento desses dispositivos no cotidiano dessa população que tanto pode se beneficiar
com o seu uso.
REFERÊNCIAS
BENEDICT, R.E.; LEE, J.P.; MARRUJO, S.K.; FAREL, A.M. Assistive devices as an early
childhood intervention: evaluating outcomes. Technology and Disability, United States, v.11,
n.1-1, p79-90, 1999.
CARVALHO, K. E. C.; GOIS JUNIOR, M. B.; SÁ, K. N. Tradução e validação do Quebec
User Evaluation of Satisfaction with Assistive Technology (Quest 2.0). Revista Brasileira de
Reumatologia, v. 54, n. 4, p. 260-267, 2014.
COOK, A. M.; POLGAR, J. M. Cook and Hussey’s Assistive Technologies: Principles and
Practice. 3. Ed. Elsevier Health Sciences, 2013. 592 p.
COPLEY, J.; ZIVIANI, J. Barriers to the use of assistive technology for children with multiple
disabilities. Occupational Therapy International, Australia, v. 11, n. 4, p. 229-243, 2004.
COWAN, D. M.; KHAN, Y. Assistive Technology for children. Current Paediatrics. v. 15, p.
207-212, 2005.
CRIPPA, J. N.; GONÇALVES, A. G.; BARBA, P. C. S. D.; LOURENÇO, G. F.O acesso da
criança com paralisia cerebral aos recursos de tecnologia assistiva na percepção dos cuidadores.
Diálogos e perspectivas em educação especial, v.4, p.73 - 86, 2017.
1096
DEMERS, L.; LAMBROU, R. W.; SKA, B. Development of the Quebec User Evaluation of
Satisfaction with assistive Technology (QUEST). Assistive Technology: The Official Journal
of RESNA. v.8, n.1,p. 3-13, 1996.
SAMPIERI, R.H; COLLADO, C.F; LUCIO, P.B. Metodologia de pesquisa. 3ed. São Paulo:
McGraw-Hill, 2006
1097
Brincando com conTOs: Um cenário para o brincar na pedriatria de um Hospital
Universitário
Rahime Cristine do Rosário Sarquis
Adriana Lima
Ana Santos
Anderson Pinto
Janayna Andrade
Joana de Jesus
O processo de hospitalização pode trazer diversas rupturas no cotidiano, com consequências
para o indivíduo adoecido, bem como para seu seio familiar. No processo de internação,
crianças perdem contato com elementos essenciais ao seu desenvolvimento A fim de evitar
maiores danos relacionados a vivência no ambiente hospitalar, a Terapia Ocupacional busca
criar possibilidades para a minimização do processo de hospitalização, além de criar
possibilidades de continuidade do exercício das ocupações significativas e prazerosas. Trata-se
de um relato de experiência de Terapeutas Ocupacionais que realizam intervenções grupais,
envolvendo crianças internadas e seus acompanhantes em um Hospital Universitário. O projeto
utiliza como estratégias de trabalho: Músicas infantis, contação de histórias e atividades. As
intervenções têm possibilitado às crianças a expansão das suas potencialidades, desenvolvendo
a imaginação, a criatividade, a sociabilidade e o equilíbrio emocional, além do resgate do seu
contexto ocupacional. Ao brincar no hospital, utilizando como recursos a imaginação, a criança
altera o ambiente em que se encontra, aproximando-o de sua realidade cotidiana, o que pode
ter um efeito bastante positivo em relação a sua hospitalização. A Terapia Ocupacional por
meio do uso de ferramentas como o brincar e contos infantis, favorece a uma melhor adaptação
das crianças aos procedimentos que são submetidas, redução do estresse e ansiedade causados
por essas rupturas do cotidiano durante o processo de hospitalização.
Palavras-chave: Hospitalização; Pediatria; Processos Grupais; Terapia Ocupacional.
INTRODUÇÃO
1098
O processo de hospitalização pode trazer diversas rupturas no cotidiano, com
consequências para o indivíduo adoecido, bem como para seu seio familiar. No processo de
internação, crianças deixam para trás coisas comuns, no entanto, fundamentais ao seu
desenvolvimento: os pais, a casa, os irmãos, a escola, os amigos, os bichos de estimação, os
brinquedos (SOUSA, 2015).
Afim de evitar maiores danos relacionados a vivência no ambiente hospital, a Terapia
Ocupacional busca criar possibilidades para a minimização do processo de hospitalização, além
de criar possibilidades de continuidade do exercício das ocupações significativas e prazerosas.
A Terapia Ocupacional compreende o brincar como a principal ocupação da criança e
permeador de todo o seu cotidiano. Sendo assim, ele é utilizado não apenas como meio
terapêutico, mas como fim em si mesmo, buscando a experimentação do prazer, do agir
espontâneo e flexível para a criança (FONSÊCA; SILVA, 2015). Porém, na maior parte do
tempo de hospitalização, a criança fica restrita ao leito, submetida à vários procedimentos,
vivenciando uma rotina totalmente diferenciada da do seu cotidiano domiciliar e afastada dos
seus papeis ocupacionais, o que, para ela, pode gerar tensão e intensificar sua dor e sofrimento.
As atividades lúdicas são facilitadoras na intervenção com o público infantil e contribui
para um melhor, mais tranquilo e seguro esclarecimento do processo. Ao brincar de faz-de-
conta a criança utiliza sua imaginação, memória, percepção e criatividade, para representar a
realidade a seu modo. Quando a criança representa o que está acontecendo consigo por meio
do brincar, ela projeta algo palpável e visível, e quando projeta ela tem condições de sentir, ver
e tocar em algo concreto. A utilização desses recursos cria condições para a criança poder
entender e aceitar melhor o que está se passando com ela (OLIVEIRA, 2007).
Ao contar histórias além de melhorar a qualidade de vida da criança no período de
hospitalização, também contribui amenizando as repercussões físicas e psicológicas do
adoecimento e reduz impactos negativos da quebra do contexto sócio familiar e dos
procedimentos utilizados no tratamento (CASTRO et al., 2010).
Nesse contexto, promover o brincar, utilizando músicas, contação de histórias e o
envolvimento em atividades lúdicas, torna-se uma ferramenta inovadora e importante para
facilitar a reconstrução de novas visões da criança no processo de hospitalização. Por meio do
uso de tais atividades, a Terapia Ocupacional busca favorecer uma melhor adaptação das
crianças aos procedimentos que são submetidas e promover o movimento entre mundo real e
imaginário, auxiliando no enfrentamento do processo de hospitalização.
Além disso, de forma humanizada, continuar a estimular o desenvolvimento
neuropsicomotor das crianças internadas e ressignificar o cotidiano hospitalar, com o resgate
1099
das atividades significativas e prazerosas e assim minimizar os impactos que a hospitalização
pode gerar nas crianças.
METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência de Terapeutas Ocupacionais que realizam
intervenções grupais, envolvendo crianças internadas e seus acompanhantes em um Hospital
Universitário. Tais intervenções ocorrem desde outubro de 2018, uma vez/semana, no período
matutino, com duração de 50 minutos, num setting terapêutico, construído dentro de uma das
enfermarias pediátrica, chamado “tapete mágico”. A instituição conta com 2 enfermarias
pediátricas, num total de 10 leitos e não conta com Terapeuta Ocupacional no setor. O projeto
utiliza como estratégias de trabalho:
1. Músicas infantis;
2. Contação de história: contos clássicos, contos adaptados ou criados, com a
utilização de recursos visuais: livro, personagens confeccionados, objetos e/ou
adornos característicos dos personagens;
3. Atividade: planejadas em conexão ao conto utilizado e conforme objetivo do
dia. Estas são distribuídas em:
a) Atividade de Faz de Conta;
b) Atividade de Vida Diária;
c) Atividade Construtiva;
d) Atividade Temática.
RESULTADOS
De outubro de 2018 até junho de 2019, participaram do projeto 135 crianças internadas
na pediatria de um Hospital Universitário.
As intervenções têm possibilitado às crianças a expansão das suas potencialidades,
desenvolvendo a imaginação, a criatividade, a sociabilidade e o equilíbrio emocional, além do
resgate do seu contexto ocupacional. As atividades envolvendo crianças e acompanhantes,
geralmente mães, potencializam o vínculo afetivo entre eles e a ressignificação do processo de
hospitalização para ambos.
O espaço tem sido favorável para expressão de sentimentos tais como o medo, a saudade
de casa e da escola, a expectativa de alta, tanto das crianças quanto dos acompanhantes.
1100
DISCUSSÃO
Quando são proporcionadas à criança atividades lúdicas e espaços de brincar, ela
consegue enxergar o hospital em outra dimensão, passa a ter lembranças e relacioná-lo a
aspectos positivos, sendo transformado em local onde também se pode brincar. O hospital é
entendido assim, como espaço que gera sofrimento, medos e angústias, mas que também
proporciona a melhora, a cura e onde se pode brincar (SOUSA, 2015).
Estudos já demonstram que atividades prazerosas para crianças dentro do contexto
hospitalar geram inúmeros benefícios. Uma vez que há um alívio de sofrimentos e tensões que
são gerados pela hospitalização, deixando a criança mais calma, reduzindo os efeitos negativos
e ajudando no desenvolvimento da criança (GAMA et al., 2018).
Ao brincar no hospital, utilizando como recursos a imaginação, a criança altera o
ambiente em que se encontra, aproximando-o de sua realidade cotidiana, o que pode ter um
efeito bastante positivo em relação a sua hospitalização. Uma vez que esse momento não ficará
marcado apenas por procedimentos médicos e de equipe de enfermagem que são, muitas vezes,
dolorosos.
Em estudo realizado por Escobar et al. (2013), a partir do momento que participam das
brincadeiras, as crianças passam a comer, dormir e aceitar melhor os procedimentos realizados.
Que leva também a uma maior tranquilidade por parte dos pais, que passam a aceitar e a
participar mais do cuidado, refletindo na adesão de ambos ao tratamento.
Sendo assim, é possível afirmar ainda que atividades lúdicas dentro do ambiente
hospitalar pode proporcionar a oportunidade para criança reorganizar a sua vida, seus
sentimentos e diminuir a ansiedade podendo, também, ser utilizado para 1100juda-la a
reconhecer seus sentimentos, assimilar novas situações, compreender o que se passa no hospital
e esclarecer conceitos errôneos (SILVA; AGUIAR, 2006).
CONCLUSÃO
A criança enfrenta dificuldades com as experiências dolorosas e desagradáveis do
processo de hospitalização, dor representada pelas agulhas, cortes, medicações, dentre outros.
Desse modo, a Terapia Ocupacional por meio do uso de ferramentas como o brincar e contos
infantis, favorece a uma melhor adaptação das crianças aos procedimentos que são submetidas,
redução do estresse e ansiedade causados por essas rupturas do cotidiano, ao estimular a
1101
imaginação da criança promovendo o movimento entre mundo real e imaginário, auxiliando no
enfrentamento do processo de hospitalização.
REFERÊNCIAS
CASTRO, D. P. et al. Brincar como instrumento terapêutico. Pediatria, São Paulo, v. 32, n. 4,
p. 246-254, 2010.
ESCOBAR, E. M. A. et al. O uso de recursos lúdicos na assistência a criança hospitalizada.
Rev. Ciênc. Ext., v. 9, n.2, p.106-119, 2013.
FONSÊCA, M. E. D; SILVA, Â. C. D. Concepções e uso do brincar na prática clínica de
Terapeutas Ocupacionais. Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Carlos, v. 23, n. 3, p. 589-597, 2015.
GAMA, D. O. N. et al. A importância do lúdico no contexto da hospitalização infantil. Rev.
Enfermagem UFPE on line. Recife, v. 12, n. 12, p. 3484-91, dez., 2018.
OLIVEIRA, Vera Barros. O lúdico na realidade hospitalar. In: VIEGAS, Dráuzio.
(org.). Brinquedoteca hospitalar: Isto é humanização. Rio de Janeiro: Wak, p. 27-32, 2007.
SILVA, E. A; AGUIAR, O. X. A importância do brincar na pediatria em hospital geral. Rev.
científica eletrônica de Psicologia. Garça, v. 7, nov., 2006.
SOUSA, L. C. et al. O Brincar no Contexto Hospitalar na visão dos acompanhantes de crianças
internadas. Journal of Human Growth and Development, v. 25, n. 1, p. 41-49, 2015.
1102
Grupo de atenção à saúde do acompanhante hospitalar: dispositivo de cuidado da Terapia
Ocupacional
Rahime Cristine do Rosário Sarquis
Ana Santos
Anderson Pinto
Janayna Andrade
Crislaine Souza
Clara Ferreira
A condição de acompanhante gera ruptura do cotidiano habitual, mudanças na rotina familiar,
afetando o desempenho em suas ocupações. Iniciativas de suporte aos acompanhantes estão
alinhadas à Política Nacional de Humanização, a qual reafirma a importância da escuta e do
acolhimento nas práticas hospitalares. Assim, a Terapia Ocupacional promove um grupo
voltado aos acompanhantes dos pacientes a fim de incentivar o autocuidado e possibilitar um
espaço de expressão de sentimentos, além de ressignificar o processo do cuidado, auxiliando
na elaboração de estratégias que favoreçam seu desempenho ocupacional. Trata-se de um relato
de experiência de Terapeutas Ocupacionais que promovem um grupo terapêutico aos
acompanhantes dos pacientes internados em um Hospital Universitário. O grupo resulta num
espaço de reflexão, expressão e interação social. Os participantes trocam experiências e
descobrem estratégias para superar dificuldades de lidar com o cotidiano modificado. Do
período de janeiro a junho de 2019 participaram do grupo 232 acompanhantes. O acompanhante
do hospitalizado pode apresentar-se fragilizado na sua totalidade, decorrente dos longos
períodos assumindo esse papel, da privação de seu autocuidado, bem como do receio de
compartilhar sentimentos em relação ao doente. Assim, é necessário suporte não apenas para
cuidar do paciente, mas para promover a sua própria saúde e bem-estar. A Terapia Ocupacional,
vê dentro desse contexto, o acompanhante como público para seu atendimento, visto que, além
de déficits no seu desempenho ocupacional causados pela internação do seu familiar, vivencia
situações geradoras de estresse, medo, preocupação e tristeza que interferem no seu bem-estar.
Palavras-chave: Humanização da Assistência Hospitalar; Processos Grupais; Terapia
Ocupacional.
1103
INTRODUÇÃO
O cuidado é caracterizado como ato primário que se inicia com o cuidar de si próprio, a
partir da autonomia (CUNHA et al., 2016). A tarefa do cuidar pode levar os cuidadores a
negligenciarem o próprio cuidado (JORGE; TOLDRÁ, 2018). A pessoa que desempenha o
papel de cuidador também desempenha outros papéis ocupacionais na vida fora do hospital,
seja como trabalhador, estudante, dona de casa ou participante de eventos sociais (MAFRA,
2011).
As vivências dos cuidadores no hospital configuram-se como eventos estressantes, em
consequência da exposição a circunstâncias de fragilidade e vulnerabilidade podendo 1103eva-
lo ao adoecimento (CABRAL; PEREZ NUNES, 2015).
A rotina de uma família muda completamente quando um de seus membros está
internado. Além da preocupação constante com a saúde do ente querido, mãe, pai, irmãos e
outros familiares muitas vezes se revezam na tarefa de ser acompanhante. Em alguns casos,
uma única pessoa assume esse papel e acaba passando semanas, e até meses, “internada” junto
com o paciente (PROCHNOW, 2009).
Para o enfrentamento dessas dificuldades, relativas à integração da atenção e a
apropriação dos familiares sobre as orientações, a Política Nacional de Humanização – PNH
tem destacado a importância da transformação das ações em saúde, preconizando a superação
das fronteiras existentes entre os diferentes conhecimentos e, consequentemente, a atenção
integral (BRASIL, 2001).
Nesse contexto, a Terapia Ocupacional surge como área de conhecimento e produtora
de intervenções no campo da saúde, possuindo um repertório rico e variado de tecnologias, que
pode ser conjugado na produção de uma assistência humanizada direcionada às necessidades e
às culturas dos sujeitos de cuidado na hospitalização (JORGE; TOLDRÁ, 2018).
Terapeutas Ocupacionais podem realizar atendimento individualizado e condução de
um grupo, de acordo com os objetivos propostos aos sujeitos. Segundo Bastos (2010) os grupos
se caracterizam como um espaço de escuta onde o coordenador indaga, pontua, problematiza
as falas para dar oportunidade para seus integrantes pensarem, falarem de si e poderem elaborar
melhor suas próprias questões.
O espaço grupal possibilita também o exercício da escuta a tornando cada vez mais
apurada, auxiliando os coordenadores de grupos nas suas pontuações, sinalizações, na leitura
do implícito, do latente, favorecendo desta forma a elaboração de conflitos, a transformação de
1104
modos de posicionamento frente ao próprio sofrimento, possibilitando insights e
transformações significativas contribuindo para o processo de aprendizagem dos sujeitos
envolvidos (BARROS, 2010).
Diante desse contexto, propôs-se como dispositivo de cuidado ao acompanhante
hospitalar um grupo conduzido pela Terapia Ocupacional a fim de prestar escuta, cuidado e
suporte ao acompanhante. Este trabalho tem como objetivo relatar a experiência de Terapeutas
Ocupacionais no desenvolvimento do Grupo de Atenção à Saúde do Acompanhante Hospitalar.
METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência, descrevendo o desenvolvimento de um grupo de
atenção à saúde do acompanhante hospitalar, vivenciado pelos residentes e uma Terapeuta
Ocupacional do serviço no período de janeiro a junho de 2019.
O grupo possui como público alvo os acompanhantes dos pacientes que estão internados
nas enfermarias da Clínica Médica e Clínica Cirúrgica de um Hospital Universitário. O grupo
ocorre uma vez por semana, no período vespertino, com duração média de uma hora, em uma
sala de aula.
Inicialmente, os terapeutas ocupacionais vão em todas as enfermarias da Clínica Médica
e/ou Cirúrgica e convidam todos os acompanhantes a participarem do grupo, indicando local e
objetivo, assim, os acompanhantes que querem e podem, são conduzidos até a sala de aula.
Nesse espaço, acontece o grupo, distribuídos em quatro abordagens:
1. Grupo de Artes;
2. Grupo de Práticas Corporais;
3. Grupo Reflexivo;
4. Grupo de Atividades.
O grupo constitui-se num espaço de escuta, reflexão, expressão, interação social,
autocuidado e relaxamento. São grupos abertos, de caráter permanente, sendo abordadas
temáticas gerais, no qual os participantes têm a oportunidade de refletir sobre a própria vida e
assim elaborar estratégias para lidar com o cotidiano modificado e com o cuidado de si.
RESULTADOS
Os acompanhantes apresentam participação ativa tendo em média 10 a 15 participantes
por grupo, sendo a maioria mulheres, com diferentes vínculos com os pacientes, do período de
1105
janeiro a junho de 2019 participaram 232 acompanhantes dos pacientes da clínica médica e
cirúrgica.
É observado, em alguns casos, resistência em participar do grupo, pelo medo em sair e
deixar o paciente “sozinho”. Essas situações são abordadas e negociadas.
O grupo resulta num espaço de fala e escuta, reflexão, expressão e interação social,
tendo os participantes à oportunidade de trocar experiências e vivências, e descobrir estratégias
para superar dificuldades e lidar com o cotidiano modificado.
Além disso, observa-se melhoria na comunicação entre a equipe profissional e o
acompanhante; melhoria da condição emocional e da motivação do acompanhante além da
percepção da importância do cuidado de si.
DISCUSSÃO
O cuidado ao paciente hospitalizado requer muitos desafios, e já foi amplamente
pesquisado na literatura. Sabe-se o quanto ter alguém próximo age como fator potencializador
da recuperação do paciente. Assumir o papel de cuidador implica na construção e
ressignificação do vínculo com o sujeito de cuidado e, consequentemente, na elaboração de
um “eu” cuidador sensível às problemáticas do outro, ou melhor, um “eu” que se propõe a
sentir o processo de hospitalização e o sofrimento do familiar adoecido (JORGE, TOLDRÁ;
2018).
As percepções dos acompanhantes são diversas, sendo elas de cansaço, tristeza por
conviver de perto com o sofrimento, expectativas e incertezas frente ao tratamento e dúvidas
sobre o seu agir e fazer. Isso pode refletir diretamente na relação dos cuidadores com os
pacientes, com a instituição e com os próprios profissionais que os assistem. Logo, indicam que
essas pessoas precisam de ajuda não apenas para cuidar dos pacientes, mas também para
promover a sua própria saúde e bem-estar (JORGE; TOLDRÁ, 2018).
Deste modo, é viável a utilização de grupos, pela Terapia Ocupacional, uma vez que se
utiliza da atividade como objeto de trabalho, para condução desta abordagem. A utilização de
atividades no grupo possibilita criar meios de manejo do estresse vivenciado pelo familiar
acompanhante no ambiente intra e extra-hospitalar, além de permitir conhecer e intervir na
realidade vivida pelo participante do grupo (DAHDAHA et. Al, 2013).
Todo ambiente é preparado com objetivo de propor um espaço terapêutico, é nesse
setting que seus integrantes podem compartilhar suas experiências com a certeza de que são
profundamente compreendidos pelos outros (DAHDAHA et. Al, 2013). O mesmo autor define
1106
ainda que o familiar acompanhante do doente na hospitalização muitas vezes apresenta-se
fragilizado na sua totalidade, situação decorrente dos longos períodos sem revezamento com
outros familiares nesse papel.
O espaço grupal possibilita o contato e o reconhecimento do próprio fazer, seus limites
e facilidades; a observação do fazer do outro, a percepção de semelhanças e contrastes, e a
potencialização do fazer junto (SAMEA, 2008). A mesma autora afirma que “o espaço grupal
possibilita o contato e o reconhecimento do próprio fazer, seus limites e facilidades; a
observação do fazer do outro, a percepção de semelhanças e contrastes, e a potencialização do
fazer junto”.
Além desse fator o espaço grupal, conduzido pelo Terapeuta Ocupacional, possibilita o
exercício da escuta tornando-a cada vez mais apurada, auxiliando os coordenadores de grupos
nas suas pontuações, sinalizações, na leitura do implícito, do latente, favorecendo desta forma
a elaboração de conflitos, a transformação de modos de posicionamento frente ao próprio
sofrimento, possibilitando insights e transformações significativas contribuindo para o processo
de aprendizagem dos sujeitos envolvidos (BASTOS, 2010).
CONCLUSÃO
Na condição de hospitalização, diversas são as demandas elencadas por cuidadores,
tendo medos, angústias, frustrações. O do familiar acompanhante traz consigo algumas
implicações para a vida e para a saúde dessa pessoa, como a abdicação dos seus papéis
ocupacionais em detrimento do cuidado. Foi possível identificar a necessidade de ações de
saúde pautadas no bem-estar físico e mental deles. Deste modo, o cuidador passa a ser um
público alvo em potencial para a Terapia Ocupacional, visto que a profissão busca sempre ter
um olhar sensível a todas as necessidades do sujeito.
Diversos foram os benefícios, que resultam diretamente numa melhor assistência a
pessoa doente. É importante que todo hospital passe a observar a presença do familiar como
potencial para evolução do paciente.
REFERÊNCIAS
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Revista Psicólogo informação, São Paulo, v. 14, n. 14, jan/dez. 2010.
1107
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Humanização da Assistência Hospitalar – Brasília: Ministério da Saúde, 2001.
CABRAL, B. P. de A. L.; PEREZ NUNES, C. M. Percepções do cuidador familiar sobre o
cuidado prestado ao idoso hospitalizado. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade
de São Paulo, São Paulo, v. 26, n. 1, p. 118-127, abr. 2015.
CUNHA, M. das G. F. da; WANDERBROOCKE, A. C. N. S; ANTUNES, M. C. As
vulnerabilidades dos cuidadores de idosos hospitalizados. Bol. - Acad. Paul. Psicol., São
Paulo, v. 36, n. 91, p. 418-436, jul. 2016.
DAHDAH, D. F. et al. Grupo de familiares acompanhantes de pacientes hospitalizados:
estratégia de intervenção da Terapia Ocupacional em um hospital geral. Cad. Ter. Ocup.
UFSCar, São Carlos, v. 21, n. 2, p. 399-404, 2013.
JORGE, C. F.; TOLDRÁ, R. C. Percepção dos cuidadores sobre a experiência de cuidar dos
familiares e a relação com a equipe profissional no contexto da hospitalização. Revista de
Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 28, n. 3, p. 271-280, fev.
2018.
MAFRA, S. C. T. A tarefa do cuidar e as expectativas sociais diante de um envelhecimento
demográfico: a importância de ressignificar o papel da família. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol.,
Rio de Janeiro , v. 14, n. 2, p. 353-363, Jun, 2011 .
PROCHNOW, Adelina Giacomelli et al. Acolhimento no âmbito hospitalar: perspectivas dos
acompanhantes de pacientes hospitalizados. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 30, n. 1, p.
11, 2009.
SAMEA, M. O dispositivo grupal como intervenção. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo, v. 19,
n. 2, p. 85-90, maio/ago. 2008.
1108
Sistematização de experiências de trabalho interprofissional em um núcleo de estimulação
precoce
Andrezza Fernandes de Andrade
José Diego Bezerra Arraes
Débora Rocha Carvalho
Marilene Calderaro Munguba
Thiago Lima Martins
Ane Karoline Moraes de Matos
O estudo tem como objetivo sistematizar as experiências de trabalho de uma equipe
multiprofissional e interprofissional em um Núcleo de Estimulação Precoce. Realizou-se uma
pesquisa bibliográfica com abordagem qualitativa, associada a sistematização de experiências.
A vivência ocorreu no período de agosto/2016 a abril/2019 pela equipe de profissionais do
Núcleo de Estimulação Precoce (NEP) de uma Policlínica Regional em um município do
interior do estado do Ceará. A escrita aconteceu no mês de julho de 2019, e participaram os
profissionais que atualmente compõem a equipe do NEP, das áreas: Fonoaudiologia, Serviço
Social, Terapia Ocupacional, Fisioterapia e Psicologia. Para a coleta de informações, procedeu-
se a leitura e análise dos diários de campo dos profissionais da equipe. Identificou-se que, apesar
da equipe multiprofissional atuar de forma integrada, existem entraves externos que interferem
no acompanhamento e evolução da criança. Ainda que ao vivenciar desafios diários, obtém-se
excelentes resultados que influenciam diretamente na qualidade de vida da população assistida,
e que precisam ser mais propagadas, podendo este servir de base para estudos e intervenções
futuras em outras equipes de saúde. Conclui-se que a equipe multiprofissional deve atuar de
forma interprofissional para se atingir um olhar integral, assim como resultados eficazes no
atendimento da criança e sua família.
Palavras-chave: Equipe Interdisciplinar de Saúde; Equipe Multiprofissional; Estimulação
precoce.
INTRODUÇÃO
A integralidade, no SUS, é uma concepção difusa e complexa, extremamente
polissêmica e que requer várias formas de operacionalização no cotidiano das práticas
1109
(CARNUT 2017)1. A principal delas está inscrita na Constituição Federal de 1988, que relata
o ‘atendimento integral’ como a necessidade de compreender o indivíduo enquanto um todo
holístico, um ser biopsicossocial em sua essência (BRASIL, 1988)1. A atenção integral é, ao
mesmo tempo, individual e coletiva, inviabilizando, portanto, ações dissociadas, evidenciando,
assim, a necessidade de articulação entre a equipe multiprofissional (SOUZA et al. 2012)1.
Na perspectiva de proporcionar uma assistência integral ao indivíduo, justifica-se a
existência dos Núcleos de Estimulação Precoce, que se constituem como programas de
acompanhamento e intervenção clínico-terapêutica multiprofissional com bebês de alto risco e
crianças pequenas acometidas por patologias orgânicas, buscando o melhor desenvolvimento
possível, mediante mitigação de sequelas do desenvolvimento neuropsicomotor, e de efeitos na
aquisição da linguagem, socialização e estruturação subjetiva, contribuindo na estruturação do
vínculo mãe/bebê e compreensão e acolhimento familiar (BRASIL, 2016)1.
Extrapolar a lógica do trabalho uniprofissional, no Brasil, ainda é um desafio1. E
embora as discussões acerca da multiprofissionalidade e da interprofissionalidade venham se
acentuando nos últimos anos, este movimento ainda se mostra gradual quando o panorama
analisado passa a ser o componente prático (ARAÚJO et al., 2017)1. Assim, a atuação da equipe
multiprofissional da Policlínica Regional do Ceará emerge como alternativa para favorecer o
desenvolvimento de profissionais com habilidades para o trabalho em equipe.
O atendimento integral e multidisciplinar é o fator que fornece os melhores resultados.
Profissionais especializados estão prontos para atender as necessidades específicas de cada
criança e suas famílias, considerando os aspectos sociais, econômicos, culturais e psicológicos
criança, sendo que cada cooperador da equipe pode dar sua contribuição no tratamento. Partindo
desse pressuposto, o presente estudo tem o propósito de sistematizar as experiências de trabalho
de uma equipe multi e interprofissional em um Núcleo de Estimulação Precoce.
METODOLOGIA
Em termos metodológicos, e de acordo com as definições de pesquisa apresentados por
Severino (2016) 1, este trabalho refere-se a uma pesquisa qualitativa, associada a sistematização
de experiências, que segundo Holliday (2006) 1, corresponde a uma articulação entre a teoria e
a prática como possibilidade de análise crítica do processo de trabalho.
Desse modo, a vivência em pauta ocorreu no período de agosto/2016 a abril/2019, no
Núcleo de Estimulação Precoce (NEP), localizado em uma Policlínica que compõe a Rede de
Assistência à Saúde do estado do Ceará. Fundado em agosto/2016.
1110
Na construção dessa escrita, que ocorreu no mês de julho de 2019, participaram cinco
profissionais que trabalham juntos nas atividades do NEP, sendo três funcionários
(fisioterapeuta, fonoaudióloga e terapeuta ocupacional) e dois profissionais residentes
(fisioterapeuta e psicóloga) pela Escola de Saúde Pública do Ceará.
Para a coleta de informações, procedeu-se a leitura e análise dos diários de campo dos
profissionais da equipe (MINAYO, 2014) 1.
RESULTADOS
O trabalho interdisciplinar do NEP ocorre 03 (três) vezes por semana em que os
profissionais atuam de forma conjunta em horários pré-estabelecidos, com duração de 45
(quarenta e cinco) minutos cada atendimento para um grupo de 03 (três) crianças por vez. O
fluxo de atendimento no NEP acontece inicialmente através de um encaminhamento do pediatra
da Policlínica Regional ou médicos das Equipes de Saúde da Família, seguidos de triagem
realizada por um profissional da equipe, avaliação multiprofissional em conjunto,
identificando-se o perfil de acompanhamento da criança e sua família, bem como os objetivos
do tratamento precoce. O período da criança de acompanhamento pelo Núcleo ocorre até o
terceiro ano de vida, idade limite que caracteriza a intervenção precoce.
Em relação ao trabalho com as famílias, uma das atividades realizadas é um grupo
terapêutico, de periodicidade mensal, com os cuidadores das crianças que fazem estimulação
precoce no Núcleo. O grupo é conduzido por duas psicólogas e um fisioterapeuta com o
objetivo de proporcionar um momento de escuta e bem-estar por meio de metodologias ativas,
e ocorre no horário concomitante aos atendimentos das crianças para facilitar a participação
dos cuidadores.
Além disso, há atendimentos individuais por parte da equipe com a família. O
profissional do Serviço Social, por exemplo, acompanha a criança e sua família ao adentrar no
NEP, apresentando-lhes o serviço, seus direitos e deveres, orientações quanto aos benefícios
sociais, e ainda, assistência necessária para agilizar e garantir serviços de saúde e educação.
Outro ponto de destaque junto às famílias são as oficinas de acolhimento, integração e
orientações gerais realizadas como instrumentos para complementar a prática e os objetivos do
tratamento multiprofissional e interdisciplinar, alcançando ganhos afetivos, emocionais e
fisiológicos tão necessários ao crescimento e promoção da saúde das crianças e seus familiares.
Atividades alusivas a eventos sociais como festa junina, dia das crianças, confraternização
natalina, etc., também fazem parte do atendimento do NEP, como forma de trazer a criança e
1111
seus cuidadores para uma realidade inclusiva, demonstrando que todos podem se beneficiar do
social, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo, lúdico e emocional dos participantes.
Vale ressaltar ainda que a recém chegada deste NEP na microrregião de saúde o qual
faz parte, trouxe uma série de benefícios para a população assistida, bem como ao poder público
que o gerencia, visto que esse é um serviço especializado que poucos usuários tinham acesso
somente em clínicas particulares ou se dirigindo à capital do estado, com consequente
diminuição de gastos para garantir o tratamento em outros locais distantes dos municípios
beneficiados.
DISCUSSÃO
Diante disso, é perceptível que o trabalho interprofissional deve ocorrer para se atingir
um olhar integral da criança, visto que o desenvolvimento infantil é multidimensional e integral,
“que engloba o crescimento físico, a maturação neurológica, o desenvolvimento
comportamental, sensorial, cognitivo e de linguagem, assim como as relações socioafetivas”
(BRASIL 2016).
Para isso, a equipe do NEP se organiza de tal maneira a romper com o olhar estritamente
técnico, buscando cada vez mais um olhar que contemple os aspectos variados que acometem
aquela criança e sua família. Há momentos em que a equipe se reúne para discussão e estudo
de casos, e possível articulação com outros setores para atenção integral da criança, realizando
encaminhamentos qualificados para demais profissionais que compõem o quadro da Policlínica
Regional, sendo os mais frequentes oftalmologista, ortopedista, otorrinolaringologista,
cardiologista, nutricionista e enfermeiro, proporcionando um cuidado ampliado junto a essas
crianças e suas famílias.
Porém, esse trabalho para ser efetivado também encontra dificuldades, como:
encaminhamentos tardios das crianças, interferindo na sua evolução clínica e numa estimulação
adequada às aquisições do seu desenvolvimento; acesso logístico até a Policlínica Regional,
visto que a grande maioria dos usuários depende de transporte sanitário fornecido pelo
município de origem, resultando em faltas ao atendimento, o que prejudica o tratamento da
criança e sua família; o reduzido nível de conhecimento acerca do serviço de Estimulação
Precoce por parte da Atenção Primária à Saúde, já que é a porta de entrada do usuário no sistema
público de saúde, afetando o acesso dessa criança ao tratamento precoce.
Para minorar tais dificuldades, aponta-se como diferencial do trabalho dessa equipe,
uma articulação, sempre que possível, com atividades intersetoriais para dar maior visibilidade
1112
ao trabalho do Núcleo e sua importância no cuidado da criança e da família, citando-se visitas
realizadas nas secretarias de saúde dos municípios da microrregião o qual se localiza o NEP,
prestando esclarecimentos e orientação acerca do atendimento realizado no Núcleo,
aproximando gestores da dinâmica da estimulação precoce regional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ressalta-se com esse trabalho que a equipe em pauta realiza acompanhamento
terapêutico de forma integral e interdisciplinar. Apesar dos desafios vivenciados, essa equipe
interprofissional tem obtido importantes resultados que influenciam diretamente na qualidade
de vida da população assistida, carecendo de mais propagação, e podendo servindo de base para
estudos e intervenções futuras em outras equipes de saúde.
Identificou-se a relevância da atuação dessa equipe mediante visão holística, o que
possibilita a unanimidade da linha de tratamento e conhecimento de abordagens com o foco em
cada caso, objetivando, por meio da integração dos seus profissionais, o máximo de evolução
nos aspectos biopsicossociais da criança e seus familiares, fomentando uma prática libertadora,
pautada no trabalho vivo, vinculado às tecnologias leves que envolvem a saúde.
REFERÊNCIAS
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o setor saúde no Brasil. Revista saúde e debate. Rio de Janeiro, v. 41, n. 115, pág. 1177-1186,
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Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2016.
Disponível em:
1113
<http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/novembro/26/Diretrizes-de-
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SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 24. ed. rev. e atual. São Paulo: Cortez,
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HOLLIDAY, O. J. Para sistematizar experiências. 2. ed. Brasília: Ministério do Meio
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MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14. ed. São
Paulo: Hucitec, 2014.
1114
Terapia Ocupacional no cuidado ao cuidador familiar de pessoas hospitalizadas
Afonso Celso da Luz Cavalcante Júnior
Aline da Cruz Cavalcante de Pinho
O ato de cuidar de uma pessoa que se encontra adoecida e internada em um hospital é intenso,
muitas vezes estes cuidadores sofrem sobrecargas e sofrimentos físicos e emocionais, além de
sentimentos como preocupação, angústia, medo. A Terapia Ocupacional, por sua vez, pode
cuidar dessas pessoas através da realização de atividades, intervindo de forma a amenizar os
impactos negativos proporcionados por esta nova ocupação assumida, bem como favorecer a
qualidade de vida dessas pessoas. Diante disso, foi proposto com esse trabalho relatar
experiências de atendimentos e cuidados de terapia ocupacional com cuidadores de pessoas
hospitalizadas. Os atendimentos relatados se deram a partir de atendimentos terapêuticos
ocupacionais com cuidadores familiares de pessoas hospitalizadas em um hospital público de
Belém (Pará) que ocorreram no período de fevereiro a abril de 2018. A partir dos resultados
encontrados foi possível confirmar que os cuidadores necessitam de atenção e cuidados, pois
as vivências enfrentadas no cuidar lhes causam sensações negativas e muitas vezes dolorosas,
percebeu-se grande engajamento dessas pessoas nas atividades e houveram muitos relatos
positivos do quão bem aqueles momentos lhes faziam.
Palavras-chave: Cuidador; Terapia Ocupacional; Hospitalização.
INTRODUÇÃO
Quando uma pessoa da família adoece, este passa a ser dependente de um cuidador,
principalmente no processo de hospitalização, onde esta é vista como uma condição de grande
desamparo, tanto para o paciente quanto para o familiar, do modo que o processo de internação
não é optativo, e mesmo quando o é, são raras as orientações que auxiliam os pacientes e
familiares nesta vivência (ROCHA; MELLO, 2004).
No momento em que a família adentra ao hospital, passam a ser governadas por várias
normas e rotinas impostas pelos profissionais como uma forma de organizar o seu processo de
trabalho e harmonizar as funções dos diversos setores que co-habitam no hospital (CÔA,
PETTENGILL, 2012).
Também ocorre que as preocupações com a pessoa internada são constantes,
acompanhadas de medo, angústia e insegurança, as alterações na rotina podem fazer com que
1115
os membros da família, principalmente o cuidador principal, sintam-se vulneráveis diante do
sofrimento do outro e do papel que precisam assumir durante a internação e após a alta
hospitalar (ANDRADE, et al., 2009). Devido essa jornada, o cuidador pode apresentar redução
da qualidade de vida e piores níveis de bem-estar psicológico devido a uma combinação de
exigências físicas e sofrimento psicológico prolongado, podendo também haver sentimento de
perda antecipada (REZENDE, 2016).
De acordo com Dahdah e Carvalho (2014), a Terapia Ocupacional, com olhar para o
novo papel assumido pela pessoa que tornar-se cuidador, contribui no conhecimento e nas
habilidades para auxiliar as pessoas a se envolverem em atividades cotidianas ou ocupações
que queiram e necessitem fazer de maneira a apoiar a saúde e a participação. A intervenção da
Terapia Ocupacional no hospital tem como vértices principais: a promoção da qualidade de
vida, da ré-humanização das relações interpessoais e do ambiente hospitalar de pacientes e
familiares.
O Terapeuta Ocupacional pode utilizar-se de grupos ou realizar atendimento individual
voltado ao cuidador de uma pessoa hospitalizada, possibilitando um momento prazeroso em
que ele possa direcionar sua atenção também para si. Este profissional pode ajudar o cuidador
em seu autoconhecimento, autocuidado, e até despertando sensações e atividades novas
(TRIPICCHIO, 2014).
Deste modo, este trabalho tem como objetivo relatar experiências de atendimentos e
cuidados de terapia ocupacional com cuidadores de pessoas hospitalizadas, visto que, por mais
que cuidem, também necessitam ser cuidadas diante do sofrimento que este contexto e nova
ocupação assumida lhes proporcionam.
METODOLOGIA
O trabalho se fundamenta em relatos de experiências construídos a partir de
atendimentos terapêuticos ocupacionais com cuidadores familiares de pessoas hospitalizadas
em um hospital público de Belém (Pará), ocorreram no período de fevereiro a abril de 2018. Os
atendimentos foram realizados individualmente e em grupo realizados no hospital, dentro das
enfermarias, bem como foram envolvidos nas atividades festivas referentes ao carnaval.
As atividades desenvolvidas foram: atividades expressivas, criativas, de lazer, como
confecção de diário, confecção de cartões e embalagens de presente, confecção de bijuterias,
decoração de garrafas de vidro, jogos de dama, baralho, cadernos de caça palavras, a confecção
de máscaras de carnaval e outros adornos referentes ao tema. Os atendimentos foram de acordo
1116
com demanda e necessidades apresentadas pelos cuidadores, e vale destacar que nestes dias os
pacientes internados não ficavam sem intervenção da terapia ocupacional.
RESULTADOS
Foram realizadas intervenções com cuidadores de pessoas hospitalizadas através de
atividades individuais e grupais. Como intervenção individual ocorreu a atividade de confecção
de diário, onde uma cuidadora solicitou afirmando que gostava de escrever e descrever os
momentos que vivia em sua vida, foi uma necessidade dela onde as demais cuidadoras da
enfermaria também se identificaram e quiseram também participar, deste modo, no dia seguinte
ocorreu um grupo para a realização desta mesma atividade.
Outro atendimento individual realizado foi com uma cuidadora que solicitou que
fizéssemos um cartão de presente para o seu filho, pois era aniversário dele e neste dia passaria
o dia inteiro no hospital cuidando de sua mãe, chegaria apenas a noite para entregar o presente
que lhe havia comprado. Então, foi proposta a confecção do cartão de presente bem como a
confecção da embalagem do presente personalizada, percebeu-se que este momento foi
importante e repleto de sentidos, possibilitando que fosse amenizada a angústia sentida por não
poder passar o dia do aniversário do filho ao lado dele.
O atendimento que proporcionou a confecção de bijuterias utilizando fios coloridos,
miçangas e fuxicos, aconteceu em grupo de cuidadores juntamente com seu familiar doente.
Esta possibilidade surgiu pela ideia de uma cuidadora, pois esta fazia em sua casa, apresentou
seu trabalho e então foi disponibilizado material para que ensinasse aos demais da enfermaria.
Esta atividade ocorreu em mais de um dia, por necessidade do grupo e foi bem aceito.
Observou-se grande interação entre as pessoas que participaram do grupo, gerando
engajamento e distração, e ao final o feedback foi positivo.
Os jogos, como damas e baralhos foram disponibilizados e utilizados em duplas, ora
com paciente com seu cuidador, ora entre cuidadores, eram recursos que ao final do
atendimento continuavam disponibilizados, assim como revistas de caça palavras, pois muitos
cuidadores afirmavam que ficavam ociosos em outros horários, esta queixa em geral vinham
dos cuidadores no qual seu familiar internado estava sem possibilidade de comunicar-se
verbalmente.
O mesmo ocorreu com os grupos realizados para as atividades temáticas do carnaval,
foram confeccionadas máscaras e outros adornos, como acessórios para a decoração da clínica,
ao final do atendimento os mesmos solicitavam que os materiais continuassem disponibilizados
1117
para que fizessem em outros horários. Percebeu-se que esses grupos possibilitavam a união
entre os cuidadores e havia muitas trocas entre eles, principalmente de experiências.
DISCUSSÃO
Deparar-se com situações novas e enfrentar o desconhecido causa receio,
principalmente quando os impactos afetam diretamente a qualidade de vida da pessoa doente e
de todos que o cercam envolvendo questões emocionais, físicas, sociais, espirituais. Além de
tudo, há a necessidade desta pessoa reconhecer-se como cuidador, estruturar-se dentro do
sistema familiar e aprender a lidar com o novo papel ocupacional assumido (CAVALCANTE,
2018).
É fundamental que os cuidadores tenham um espaço para verbalizar emoções e
1117rabalha-las, vivem um momento muito intenso, precisam entender as reações normais
nessas situações de estresse crônico. Conviver com o sofrimento do outro é desgastante, a
pessoa acaba por não ter tempo de cuidar de si mesmo ou das próprias coisas por ter que cuidar
do outro, e isso gera emoções ambíguas, conflitos emocionais (BIFULCO; CAPONERO,
2016).
Dessa forma, estes cuidadores necessitam de cuidados visto que em qualquer dimensão
da vida, ao lidar com o cuidado, é necessário olhar observar a experiência daquele que é
cuidado, e do cuidador, por pólos participantes diferentes, pois cada um tem sua singularidade
e são igualmente afetados pela especificidade e intensidade da relação. A sobrecarga sofrida
pelo familiar, além de ser intensa, causa consequências psíquicas, físicas e sociais (VIANNA;
SOUZA, 2014).
A Terapia Ocupacional, possuindo visão holística do homem, considera o indivíduo
como um todo e utiliza atividades como elemento orientador na estruturação do processo
terapêutico. Sempre visa melhoria da qualidade do viver do indivíduo. É fundamental sua
intervenção, pois é responsável por analisar e promover vida ocupacional na rotina da pessoa
nos mais diversos aspectos (ROCHA; MELLO, 2004).
Esses momentos tornam-se prazerosos, visto que o familiar que assume o papel de
cuidador da pessoa doente também é atingido pelos sofrimentos e mudanças significativas em
sua rotina. É necessária uma adaptação a esta nova função que será exercida, e por isto, este
cuidador pode desenvolver problemas emocionais, os impactos mais apresentados são insônia,
depressão, estresse, desânimo e doenças psicossomáticas (VOLPATO; SANTOS, 2007).
1118
CONCLUSÃO
Diante do que foi apresentado, observou-se que os atendimentos terapêuticos
ocupacionais aos cuidadores foram muito significativos, visto que possuem a necessidade de
expressarem seus sentimentos. As atividades proporcionadas aos cuidadores lhes permitiram
externalizar emoções, desviar, nem que por um momento, as preocupações ocasionadas pelo
momento vivenciado, assim como permitiram maior aproximação do cuidador com seu familiar
internado, principalmente quando ocorriam atividades que realizavam juntos.
Observou-se que os atendimentos individuais fortaleceram vínculos entre o profissional
e o cuidador, e estes se sentiram mais a vontade para apresentarem suas angústias, receios e
dúvidas. Os atendimentos em grupo favoreceram trocas afetivas, de experiências e
conhecimentos tanto a respeito de suas vivências como de habilidades. Estas práticas lhes
favoreceram para melhoria na qualidade de vida e bem estar físico e mental.
O profissional de Terapia Ocupacional tem os conhecimentos e recursos adequados e
necessários para que os impactos causados por esse momento de hospitalização sejam reduzidos
para o cuidador, desse modo é importante que se amplie o olhar e a atenção para estas pessoas
que realizam o cuidado e que precisam ser cuidados.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, L. M, et al. A problemática do cuidador familiar do portador de acidente vascular
cerebral. Rev. Esc. Enferm. USP 2009; 43(1):37-43.
BIFULCO, V. A.; CAPONERO, R. Cuidados Paliativos: conversas sobre a vida e a morte na
saúde. Barueri-SP: Manole, 2016.
CAVALCANTE, Aline da Cruz. Sobre as ocupações e a roda da vida de cuidadores
principais de pessoas em cuidados paliativos oncológicos. Monografia (Especialização em
Oncologia – Cuidados Paliativos. Hospital Ophir Loyola, Diretoria de Ensino e Pesquisa, 2018.
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[citado 2012 jul 11];45(4):825-32.
DAHDAH, D.F; CARVALHO, A.M.P. Papéis ocupacionais, benefícios, ônus e modos de
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1119
contexto da família. Cadernos de Terapia Ocupacional UFSCar, São Carlos. 2014;
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(Ribeirão Preto), v.49, n.4, p. 344-354, 2016.
ROCHA, E.F; MELLO, M.A.F. Os sentidos do corpo e da Intervenção Hospitalar. In: DE
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TRIPICCHIO, Gabriela. Terapia Ocupacional e o cuidador. 2014. Disponível em
https://tozando.blogspot.com/2014/07/terapia-ocupacional-e-o-cuidador.html. Acesso em 11
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VIANNA, M. L.; SOUZA, W. Qualidade de vida em cuidadores de pacientes em cuidados
paliativos. Pontifícia Universidade Católica do Paraná PPG Mestrado de bioética, 2014.
VOLPATO, F.S.; SANTOS, G. R. Pacientes oncológicos: um olhar sobre as dificuldades
vivenciadas pelos familiares cuidadores. Imaginario v.13 n.14 São Paulo jun. 2007.
1120
Campo hospitalar e ambiente de ensino para terapeutas ocupacionais
Lilian de Fatima Zanoni Nogueira
Soraya Diniz Rosa
MAria Aparecida Ramires Zulian
Tiago Rodrigo Biasoli
Maria Fernanda dos Santos
O ambiente hospital é campo para o ensino das relações inter e intradisciplinares, para pensar
o acolhimento e os processos preconizados na Política Nacional de Humanização contribuindo
para mudanças no cotidiano das práticas de saúde e para a geração de novos modos de gestão
e cuidado hospitalares. A atuação de terapeutas ocupacionais nessa área tem aumentado, em
relação à inserção profissional e áreas de intervenção. Este estudo, de natureza qualitativa,
descritiva e exploratória foi desenvolvido através do relato de docentes e estagiários do curso
de Terapia Ocupacional, por meio da atividade de supervisão docente e da elaboração de
relatórios sobre as intervenções num hospital público. Como resultados apontamos a integração
das áreas contribuiu para mudanças no cotidiano das práticas de saúde e para a geração de novos
modos de gestão e cuidado hospitalar. As ações da Terapia Ocupacional no hospital, embora
tenham sido planejadas e executadas em diferentes áreas, se comungaram no contexto teórico
sobre a compreensão do trabalho em saúde enquanto trabalho vivo. Entendemos o campo
hospitalar como um ampliado espaço de possibilidades de conhecimento e de aprendizagem ,
porém não deixa de ser um campo interdisciplinar que se compõe de inúmeros conflitos de
poder e de disputas. Entretanto, os terapeutas ocupacionais devem assumir o compromisso de
afirmar e impor a defesa da saúde como um bem social e, portanto, produz as necessidades da
maioria da população, refletindo sobre o cuidado a todos os trabalhadores em suas relações de
intersecção com os usuários.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional; Trabalho; Hospital; Saúde Mental; Graduação
INTRODUÇÃO
Na sociedade atual, a atuação de terapeutas ocupacionais na área hospitalar tem aumentado,
no que diz respeito à inserção profissional, bem como áreas de intervenção possível. Santos e
1121
De Carlo (2013) após análise de periódicos produzidos na vertente Terapia Ocupacional e
hospital demonstram que a atuação do profissional junto a pacientes hospitalizados
proporcionam “melhor enfrentamento da condição de internação, melhores níveis de
independência, funcionalidade e qualidade de vida, bem como podem facilitar a retomada da
vida cotidiana e participação social dos indivíduos” (p.99).
Uma universidade do interior de São Paulo, iniciou novo Projeto de práticas e estágios
supervisionados no contexto hospitalar referendado pela Política Nacional de Humanização
(Brasil, 2013) e pela Resolução COFFITO/2014.
São poucos os trabalhos que realizam discussão aprofundada sobre as bases teóricas e
metodológicas que dariam sustentação às práticas cotidianas para além do campo da doença. A
maioria das publicações, ainda que muito interessantes, abordam relatos de experiências da
intervenção no leito, do posicionamento adequado do corpo e membros, do controle de edemas,
da orientação de exercícios para movimentação passiva/ativa, das possibilidades de
mobilização, dos cuidados básicos em relação à doença. Também, temas relacionados à
integração e ajuda dos familiares em relação ao processo terapêutico.
Para a construção do Projeto levou-se em consideração o estudo realizado por Spink (1992)
sobre a cultura da instituição hospitalar, as expectativas que a sociedade coloca em relação ao
hospital e as necessidades reais do paciente internado. A autora, ainda na década de 1990, faz
um chamamento para a reconstrução da instituição hospitalar, que se construiu, historicamente,
como sendo o lugar científico para o estudo e a cura das doenças e, posteriormente, como o
lugar para seu tratamento.
Esse modelo, enraizado nos tempos atuais, sugere que a doença seja internada, deixando
para segundo plano o sujeito e suas angústias.
Na perspectiva do Sujeito, o Projeto objetivou contribuir para mudanças no cotidiano das
práticas de saúde e para a geração de novos modos de gestão e cuidado hospitalar.
METODOLOGIA
Este estudo, de natureza qualitativa, descritiva e exploratória foi desenvolvido a partir
do relato de docentes e estagiários do curso de Terapia Ocupacional de uma Universidade do
interior de São Paulo, por meio da atividade de supervisão docente e da elaboração de relatórios
sobre as intervenções num hospital público, localizado num município do interior do Estado de
São Paulo. Utilizou-se da análise documental e do relato oral como métodos de análise sobre
duas áreas de intervenção no hospital, sendo saúde do trabalhador e saúde mental.
1122
RESULTADOS
Com relação às ações em saúde do trabalhador, foi necessário realizar o diagnóstico situacional,
observando tanto as barreiras e limitações do espaço físico, quanto à vida ocupacional dos
trabalhadores que atuam junto aos pacientes em situação de internação, bem como seus
acompanhantes.
Apostou-se em diferentes estratégias para aproximação dos trabalhadores e apoiado nos
pressupostos teóricos de Lancman (2004) as atividades foram propostas como um meio de
promover maior percepção do cotidiano de trabalho individual e coletivo. O terapeuta
ocupacional, ao alargar seu campo de ação prevenindo e intervindo em situações concretas de
trabalho, inicia o reconhecimento de diversas características e saberes, o que o torna um
profissional essencial neste campo de atuação, tanto pela sua experiência particular no uso e no
estudo das atividades, quanto pela busca de uma compreensão mais global dos indivíduos.
Para a promoção da Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) foram realizadas as
seguintes ações: Análise do Cotidiano Laboral , englobando adequação do posto de trabalho
seguindo a NR17; utilização de recursos específicos tais como Quick Massage, Relaxamento e
Meditação, realização da Ginástica Laboral e , grupo terapêutico de apoio para diminuição da
sobrecarga provocada pelo trabalho. Também, discutiu-se à adaptação dos locais de
trabalho nas interações homem-máquina, além do uso das atividades de lazer, autoexpressivas,
lúdicas e de convivência que possam diminuir os riscos ou ocorrência de agravos.
As ações de Saúde Mental foram realizadas em parceria com o curso de Psicologia, que
a partir da análise dos problemas e das dificuldades encontradas no contexto institucional,
propôs-se construir espaços de encontro entre os sujeitos. Para tanto, foi preciso descobrir
possibilidades de ocupação nos diversos setores do hospital e, resistir as normas instituídas do
atendimento individualizado e exclusivo no leito do paciente.
De modo que, na perspectiva de dar visibilidade ao modelo de gestão do cuidado em
saúde, inventou-se uma atividade comemorativa ao “Dia da Mulher” para a ocupação de um
espaço central, mas de intersecção com diferentes alas. Espaço este já sugerido pelas duas
equipes (Terapia Ocupacional e Psicologia), mas justificado pela direção hospitalar como
impossível sua utilização por atrapalhar a organização das equipes médicas e de enfermagem.
Porém, a persistência resultou na experimentação desse espaço com a construção de uma sala
aberta para ser ocupada por pacientes, familiares, acompanhantes e trabalhadores do hospital,
1123
com a oferta de atividades de desenho, pintura e técnicas de manejo de fios, como crochê e
macramê.
Também, em duas enfermarias localizadas no andar superior, foi negociado o uso da
sala de enfermagem para o atendimento grupal de pacientes com maior dificuldade de chegar
até a Sala Aberta. Assim como, no setor de Oncologia, localizado num prédio ao lado do
hospital, as ações se deram na sala de quimioterapia com os pacientes e funcionários, de forma
coletiva e, na sala de espera ampliando a intervenção para familiares e acompanhantes.
DISCUSSÃO
As ações da Terapia Ocupacional no hospital, embora tenham sido planejadas e
executadas em diferentes áreas, se comungaram no contexto teórico sobre a compreensão do
trabalho em saúde enquanto trabalho vivo, como descreve Merhy (2005). Para o autor, na
micropolítica do processo de trabalho há uma disputa de forças instituídas e, portanto, se faz
necessário compreender o modo como os profissionais operaram suas ações, bem como os tipos
de disputas impostos no território e as “caixas de ferramentas utilizadas pelos seus
protagonistas, para dar sentido às suas ações de manutenção ou de superação de um certo
processo produtivo hegemônico” (p. 65). Ou seja, a disputa de poder está relacionada com os
núcleos de intervenções tecnológicas, sendo que o uso de saberes com intersecção partilhada
entre usuário e trabalhador propõe seguir as necessidades do usuário, pois há um jogo de
intencionalidades entre as duas partes.
De fato, os docentes buscavam compreender o modo de operar/expressar as
necessidades entre o trabalhador e o usuário, que na maioria das vezes eram reprodutores de
situações instituídas, como diz Baremblitt (2002) sobre os agentes e suas práticas, que podem
ser predominantemente conservadoras e a favor da exploração.
Assim, a reflexão sobre o que fazemos, ao que nos sujeitamos e somos sujeitados, como
nos reconhecemos no trabalho vivo e os nossos desafios diante da vida real dos serviços de
saúde possibilitaram a compreensão sobre a complexidade das ações no ato de cuidar das
pessoas.
Outra experiência relatada por Mei et. Al (2018) refere o uso ao de tecnologias leves no
ambiente hospitalar. Na experiência desses autores, que corrobora com o projeto aqui relatado:
a reorientação do cuidado também foi operacionalizada pela adoção das
tecnologias leves como norteadoras da prática. Isto se deu
1124
naturalmente, quando escolhido ampliar o local de intervenção dos
leitos hospitalares para outros espaços habitados por internos e
acompanhantes – espaços onde vida social possível para o momento da
internação era favorecida, clamando pelas tecnologias leves. (Mei, et.al,
2018 , p.19)
O enfoque do projeto no uso das tecnologias leves para o cuidado em saúde, está ligado
a nossa percepção das reais necessidades dos indivíduos e possibilidade de ação em busca de
uma assistência mais integral. Deleuze (2002) e Meihy (2005) já apontaram a potência que o
encontro proporciona no e ao outro, por isso a escolha dessa abordagem nos parece mais
adequada para que seja possível minimizar o sofrimento social e reconstruir a forma de
cuidado.
Estar hospitalizado gera uma ruptura incisiva no cotidiano dos
indivíduos, mas, em geral, entende-se que o próprio indivíduo precisa
elaborar e superar os conflitos gerados por esta condição; há uma sub-
valorização da rotina hospitalar como geradora de estresse, que acaba
por agravar o quadro clínico do indivíduo. Preocupar-se com a
reestruturação do cotidiano deste indivíduo e propor ações de
humanização hospitalar também são ações que podem ser realizadas
pelo terapeuta ocupacional, em conjunto com a equipe (Santos e De
Carl , 2013, p. 100).
O ambiente hospital é campo para o ensino das relações inter e intradisciplinares, para
pensar o acolhimento e os processos preconizados na Política Nacional de Humanização
contribuindo para mudanças no cotidiano das práticas de saúde e para a geração de novos modos
de gestão e cuidado hospitalares (BRASIL, 2013).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entendemos o campo hospitalar como um ampliado espaço de possibilidades de
conhecimento e de aprendizagem, porém não deixa de ser um campo interdisciplinar que se
compõe de inúmeros conflitos de poder e de disputas.
Podemos dizer que uma das disputas está entre a dimensão tecnológica, centralmente
organizada, em detrimento do núcleo do cuidado, o qual requer a intersecção de interesses e
1125
necessidades entre as partes, ou seja, entre trabalhador e usuário. Também, devemos analisar
que as ações dos outros profissionais não médicos, da equipe de saúde são subjulgadas e
sujeitadas, na maioria das vezes, à lógica dominante do poder da medicina e de seus operadores.
Com isso, não há como desconsiderar que os modos de organizar e atuar em saúde estão
sempre implicados em forças sociais e políticas, seja na forma gerenciada como parte do projeto
capitalista, que reduz a saúde como um bem de mercado, distanciando-se das realidades dos
usuários, da comunidade, dos trabalhadores e dos serviços; seja na sua forma atual hegemônica
da organização médica que se distancia da clínica viva, desconsiderando o contexto de vida,
das questões intrapsíquicas e do sofrimento social do sujeito em análise.
Entretanto, os terapeutas ocupacionais devem assumir o compromisso de afirmar e
impor a defesa da saúde como um bem social e, portanto, produz as necessidades da maioria da
população. Também, devem abarcar a dimensão cuidadora na produção dos atos de saúde,
desenhando cartografias para refletir com o coletivo que o cuidado deve pertencer a todos os
trabalhadores em suas relações de intersecção com os usuários.
No campo acadêmico, esses compromissos precisam ser colocados na agenda do debate
entre os vários campos do conhecimento, pois a universidade deve atender ao seu compromisso
social (Goergen, 2006) e assegurar a defesa do conjunto de bens sociais, dente eles a saúde
pública.
REFERÊNCIAS
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prática. Belo Horizonte: MG, Instituto Félix Guattari, 5ª ed.
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Nacional de Humanização – PNH. Brasília-DF, 2013.
1126
BRASIL, Portaria COFFITO nº 666 de setembro de 2002 - Dispõe sobre assistência
especializada por portadores de agravos à saúde determinados por sua atividade profissional,
acidente e/ou doença relacionadas ao trabalho.
BRASIL . Resolução COFFITO nº 459 de dezembro de 2015 – Dispõe sobre as competências
do terapeuta ocupacional na Saúde do Trabalhador, atuando em programas de estratégias
inclusivas, de prevenção, proteção e recuperação da saúde.
DELEUZE G. E.: filosofia prática. São Paulo: Escuta, 2002. 144p.
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GOERGEN, P. Universidade e Compromisso Social. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e
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MEI, Andre Eduardo et al. No microcosmo de um grande hospital, entre normas e brechas: Os
caminhos trilhados por um terapeuta ocupacional residente. Tempus Actas de Saúde Coletiva,
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MERHY E.E. Saúde: a cartografia do trabalho vivo. 2ª ed. São Paulo: Hucitec; 2005
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http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2014/setembro/23/Trabalho-em-Saude-
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SPINK, Mary Jane Paris. A Construção Social do Paciente Internado: Uma Análise
Psicossocial. Rev. de Psicologia Hospitalar do HC, v.2, n.2, 1992. p. 4-8.
1127
Reflexões a partir da experiência de atendimento em um CAPS II: relato de caso
Silvia Mitie Kanawa
Marina Ferreira D'Avanzo
Com os primeiros movimentos relacionados à assistência psiquiátrica brasileira surgindo na
década de 70, logo aparecem os CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), criados com o intuito
de substituir o modelo hospitalocêntrico, para um novo modo de cuidado em Saúde Mental,
com objetivos de prestar atenção humanizada, qualificada e de forma singular às pessoas com
transtornos mentais. Sendo o terapeuta ocupacional parte da equipe multiprofissional nestes
serviços, o objetivo do artigo é relatar a experiência vivenciada por uma aluna de Terapia
Ocupacional em um CAPS II Adulto da região Oeste de São Paulo, com uma usuária com
diagnóstico de transtorno delirante persistente. Tendo como principais objetivos a ampliação
do repertório ocupacional, aumento da autonomia e independência, protagonismo, reinserção
social, além de aumento de qualidade de vida, neste trabalho é descrito sobre o uso de diferentes
recursos terapêuticos utilizados para alcançar tais objetivos com esta usuária.
Palavras-chave: saúde mental, estágio clínico, terapia ocupacional
INTRODUÇÃO
Os primeiros movimentos relacionados à assistência psiquiátrica brasileira surgiram nos
anos 70, caracterizando a Reforma Psiquiátrica. Processo este, que teve como objetivo
reformular o modelo de atenção em saúde mental, principalmente através da extinção
progressiva dos hospitais psiquiátricos e da implantação dos serviços substitutivos, permitindo
oferecer reabilitação psicossocial aos portadores de transtornos mentais, com assistência
adequada em saúde, além de liberdade para usufruir de seus direitos civis (BRASIL, 2005).
Entre os serviços substitutivos, estabeleceram-se os Centros de Atenção Psicossocial
(CAPS), os Ambulatórios de Saúde Mental, os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT),
Serviços de Urgência e Emergência, além dos Leitos Psiquiátricos em Hospitais Gerais. Para a
elaboração deste artigo, destacam-se os CAPS, serviços abertos e comunitários ligados à
assistência aos portadores de sofrimento psíquico, com necessidades relacionadas a transtornos
mentais, como por exemplo: depressão, ansiedade, esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar,
transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno delirante persistente, etc (BRASIL, 2005).
1128
Mais especificamente sobre os CAPS II, há o atendimento de pessoas de todas as faixas
etárias e é indicado para municípios ou regiões de saúde com população acima de setenta mil
habitantes. A equipe multiprofissional mínima obrigatória desta modalidade de CAPS deve ser
composta por: 1 médico psiquiatra, 1 enfermeiro, 4 profissionais de nível superior (psicólogo,
assistente social, enfermeiro, terapeuta ocupacional, pedagogo ou outro profissional necessário
ao projeto terapêutico), e 6 profissionais de nível médio (técnico e/ou auxiliar de enfermagem,
técnico administrativo, técnico educacional, artesão). Os CAPS contam ainda com equipes de
limpeza e de cozinha (BRASIL, 2005).
As equipes técnicas devem organizar-se para acolher os usuários, desenvolver os
projetos terapêuticos, trabalhar nas atividades de reabilitação psicossocial e de reconstrução dos
laços sociais, familiares e comunitários, além de serem capazes de equacionar problemas
inesperados e/ou outras questões que demandem providências imediatas durante todo o período
de funcionamento da unidade. (BRASIL, 2005).
OBJETIVOS
Apresentar a experiência de atendimento de uma aluna do curso de Terapia
Ocupacional, em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), localizado no município de São
Paulo e, relatar a respeito dos procedimentos de Terapia Ocupacional.
MÉTODO
A estratégia metodológica consiste no relato de experiência, a partir da percepção da
aluna, dos relatos diários e das discussões em supervisão. O estágio curricular ocorreu em um
Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II), com frequência semanal e por um período de seis
meses.
RESULTADOS
E. sexo feminino, 47 anos, natural da Bahia, solteira e sem filhos, foi diagnosticada
com transtorno delirante persistente em 2017. Refere conviver com sintomas de depressão
desde 2012, mas que só iniciou tratamento em sua UBS de referência em 2015 a pedido de sua
irmã.
1129
As intervenções iniciais se voltaram ao levantamento de dados como a história de vida,
desejos e interesses, queixas, e também ao conhecimento de suas ocupações e papéis
ocupacionais, a fim de colher informações para nortear os objetivos dos próximos atendimentos
e também o estabelecimento de vínculo com a usuária.
Em sua primeira entrevista, E. traz questões referentes a sua queixa em não possuir
muito conhecimento e domínio em relação a escrita e leitura de palavras, apesar de há
aproximadamente um ano ter realizado aulas em um grupo para alfabetização, relata ainda ter
dificuldades no dia-a-dia por este motivo. Usuária exemplifica com situações como a leitura de
informações dos alimentos nos mercados, nos caixas eletrônicos dos bancos e também na leitura
dos nomes dos ônibus.
Visto que tal dificuldade se relacionava diretamente em seu cotidiano, interferindo em
suas atividades de vida prática (AVP´s) comprometendo também sua autonomia, independência
e autoestima, foi elaborado para o atendimento seguinte, a leitura, interpretação e escrita de
trechos mais importantes do conto “Branca de Neve”, como meio de avaliação de aspectos
cognitivos e análise do nível de aprendizado de leitura e escrita adquiridos previamente por E.
Ao longo dos atendimentos, a usuária foi evoluindo tanto na leitura, quanto na escrita,
sendo notável também uma maior agilidade para ambas ações. E. mostrou-se cada vez mais
participativa com a atividade, expressando emoções de felicidade e satisfação, e sendo
percebido e relatado por ela mesma sua melhora para essas atividades.
Após o término do conto em algumas semanas, foi realizada uma conversa sobre a
história em si, incluindo os personagens, os acontecimentos, trechos de preferência, o desfecho,
e a opinião de E. sobre o conto lido. A usuária descreve com coerência todos os trechos de “A
Branca de Neve” e relata que se encantou com o desfecho, pois gosta de temas relacionados ao
amor e ao romance.
É planejado para o próximo atendimento a leitura “Romeu e Julieta”, de William
Shakespeare, em uma versão resumida e adaptada para facilitar a compreensão e leitura. A
escolha desta história se deve ao fato de contemplar o gênero literário de preferência da usuária,
e também por ser uma história bastante famosa com uma temática adulta. Apesar da extensão
do texto, esta atividade foi realizada em apenas um atendimento, onde antes de iniciar a história,
foi realizada uma breve apresentação de quem foi e da importância de Shakespeare para a
literatura. Neste caso foi realizada apenas a correção e discussão oral da leitura feita. E.
menciona ter gostado bastante da história apesar do desfecho trágico, e aproveita para dar suas
opiniões sobre as relações amorosas no mundo real, mostrando-se cada vez mais engajada e
comunicativa nos atendimentos.
1130
Outro recurso utilizado com E. foi a música, já que usuária fez a observação de que
muitas canções referem-se ao amor também. Desta forma, faço uso desta fala para questioná-
la sobre seus gostos musicais e cantores preferidos, até que chegamos no nome de Luan
Santana. Assim, foram selecionadas 3 músicas deste cantor para a leitura, interpretação de texto
e reflexão sobre suas letras.
A medida com que usuária foi respondendo positivamente às intervenções, conversamos
sobre a realização de atividades com diferentes graus de dificuldade para aperfeiçoar seus
conhecimentos. Dentre as propostas sugeridas destaca-se: atividades de formação de frases,
sinônimos e antônimos, ditados, palavras cruzadas e caça palavras. Também foi conversado
sobre a importância da organização de todo o material utilizado nos atendimentos.
A fim de favorecer o processo de ensino-aprendizagem foi proposto a realização de
tarefas de casa, Também foi trabalhada a autorresponsabilidade em zelar pelos materiais
levados e sobre o cumprimento de prazos. Também foi introduzido um bloco de notas para E.
com a função de que ali fosse anotado qualquer dúvida em relação as atividades que viesse a
ter enquanto realizava as tarefas de casa. E. nunca atrasou nenhuma atividade, e gradativamente
foi aperfeiçoando sua habilidade de leitura e escrita.
DISCUSSÃO
Em relação ao Raciocínio Clínico em Terapia Ocupacional é importante ressaltar que o
terapeuta ocupacional preocupa-se com as subjetividades e particularidades de cada caso para
conduzir os diferentes processos terapêuticos, e que tem como objetivo principal possibilitar ao
usuário através do uso de diferentes recursos terapêuticos, a vivência de uma experiência tão
significativa que seja capaz de transformar seu modo de ver a vida e/ou de se ver no mundo
(MARCOLINO, 2014).
CONCLUSÕES
Com esta experiência, confirmou-se que os atendimentos de Terapia Ocupacional
contribuíram para a ampliação do repertório de atividades da usuária, aumentando também o
seu protagonismo, autonomia e independência e sua capacidade de desenvolver estratégias para
lidar com o próprio sofrimento. O acompanhamento em CAPS, pressupõe a inclusão de uma
abordagem de multimodalidade. O tratamento envolve não apenas a medicação, mas também
abordagens individuais, familiares, e educacionais. Através da interdisciplinaridade pode-se
1131
observar a eficiência da terapêutica, bem como a possibilidade de atenção integrada, e a ré-
inserção social da usuária, algo que só é possível trabalhando em equipe multiprofissional.
Desta forma, acompanhar esse processo propiciou a ampliação de reflexões a respeito
do impacto das ações de Terapia Ocupacional com usuários de CAPS, além de evidenciar a
importância de se ter um olhar focado em utilizar um meio (por exemplo, leitura e escrita) para
um fim que se relacione diretamente com aumento de autonomia, independência e qualidade
de vida para os usuários atendidos na Saúde Mental.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação Geral de Saúde
Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Documento apresentado
à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas.
OPAS. Brasília, novembro de 2005.
BRASIL, Ministério da Saúde. PORTARIA Nº 336, DE 19 DE FEVEREIRO DE 2002. 2002.
Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2002/prt0336_19_02_2002.html>. Acesso em:
20 jul. 2019.
BRASIL, Ministério da Saúde. Saúde mental: o que é, doenças, tratamentos e
direitos. Disponível em: <http://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/saude-mental>. Acesso em:
20 jul. 2019.
MARCOLINO, Taís Quevedo. Reflexões sobre a investigação do raciocínio clínico em terapia
ocupacional em saúde mental: o caso do Método Terapia Ocupacional Dinâmica. Cadernos de
Terapia Ocupacional da Ufscar, São Carlos, v. 22, n. 3, p.635-642, 2014. Editora Cubo
Multimidia. http://dx.doi.org/10.4322/cto.2014.086.
1132
Oficina do brincar na visão da Terapia Ocupacional: um relato de experiência
Karolyne Monteiro Borba
Maria Soraida Silva Cruz
Luanna Karine Pereira Bezerra
Juliana Gomes de Oliveira
Aneide Rocha de Marcos Rabelo
O brincar é um fator relevante, pois faz parte do cotidiano infantil e é por meio desta atividade
lúdica que a criança é estimulada a promover sensações e habilidades essenciais para o
desempenho ocupacional. E o terapeuta ocupacional é o profissional capacitado para trabalhar
esta ocupação. Esse relato tem como objetivo descrever as ações de uma Oficina do Brincar,
destinada a pacientes pediátricos e seus cuidadores e relatar a experiência de uma estagiária de
Terapia Ocupacional como parte da equipe de condução do grupo. Trata-se de um estudo de
caráter descritivo, do tipo relato de experiência vivenciada na Oficina do Brincar, em um Centro
Especializado em Reabilitação da cidade do Recife. Durante os encontros iniciais a equipe teve
que intervir diretamente, direcionando o brincar aos cuidadores e as crianças. Com a evolução
do grupo, foi perceptível o interesse, a interação entre todos presentes no grupo e também a
compreensão das atividades propostas. A Oficina do Brincar tem como objetivo atender as
crianças com alteração no desempenho do brincar. O grupo foi composto e conduzido por uma
equipe multidisciplinar, sendo os encontros planejados visando as atividades voltadas para o
brincar exploratório e funcional, assim como, o fortalecimento de vínculo e a participação dos
cuidadores. Diante da experiência relatada, pode-se enaltecer a atuação e as potencialidades do
terapeuta ocupacional como mediadores da estimulação do brincar como forma de promoção
do desenvolvimento e desempenho ocupacional infantil, possibilitando estimular habilidades,
independência e funcionalidade.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional; Desenvolvimento Infantil; Atividade; Grupo.
INTRODUÇÃO
O brincar é uma atividade lúdica importante para o desenvolvimento infantil, pois
favorece a aquisição de habilidades em todas as áreas do neurodesenvolvimento. É através do
brincar que a criança tem oportunidades de interagir e aprender com o ambiente físico e social
1133
que vive, contribuindo assim com o seu desempenho ocupacional (CAMPOS et al, 2017;
MARTINI, 2010). O brincar faz parte do cotidiano infantil, e é considerado uma atividade
simbólica, espontânea e livre, podendo ser expressada por imitações das atividades sociais dos
adultos (ALCÂNTARA; BRITO, 2012).
Por meio do brincar a criança experimenta sensações e sentimentos, sendo uma das
principais: o prazer. O prazer impulsiona a criança participar ativamente da brincadeira, assim
permitindo a criança vivenciar a atividade lúdica ao qual está inserida, despertando algumas
características exclusiva da brincadeira que são curiosidade, novidade, expressão, criatividade,
incerteza, descoberta e desafio. O brincar também proporciona a aquisição e evolução de
diversas habilidades cognitivas, sociais, comunicativas, autocuidado, solução de problemas e
funções sensório-motoras, que são essenciais para o desenvolvimento adequado da criança
(ZAGUINI et al, 2011; ZEN; OMAIRI, 2009).
O brincar é o principal papel ocupacional da criança e permeia o cotidiano, assim a
Terapia Ocupacional usa desta como recurso terapêutico a fim de favorecer o desenvolvimento
adequado, permitindo assim a aquisição das habilidades necessárias pertinentes a cada faixa
etária e o desempenho ocupacional. O terapeuta ocupacional é o profissional capaz de analisar
e avaliar o brincar como atividade aperfeiçoando para a aprendizagem de outros componentes
do desempenho. Na intervenção, o terapeuta ocupacional facilita o brincar, proporcionando a
criança experimentar e aproveitar a atividade lúdica (CAMPOS et al, 2017; ZAGUINI et al,
2011; MARTINI, 2010).
A partir do exposto, este trabalho objetiva descrever as ações de uma Oficina do Brincar,
destinada a pacientes pediátricos e seus cuidadores. Como também, objetiva relatar a
experiência de uma estagiária de Terapia Ocupacional como parte da equipe de condução do
grupo.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de caráter descritivo, do tipo relato de experiência vivenciada na
Oficina do Brincar, em um Centro Especializado em Reabilitação da cidade do Recife.
O grupo foi composto por cinco pacientes, com idade entre 2 e 4 anos, participantes da
Oficina do Brincar. O grupo é conduzido por uma equipe multidisciplinar, composto por duas
terapeutas ocupacionais, coordenadoras do grupo, e pelos residentes nas áreas de Terapia
Ocupacional, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Psicologia, visando promover uma visão holística
1134
do paciente. A inclusão destes participantes no grupo se deu através de encaminhamentos
quando observado a demanda de alteração no desempenho do brincar.
O grupo iniciou em março/2019 e possui encerramento deste ciclo, previsto para
julho/2019, totalizando 12 encontros semanais com duração de 60 minutos. Em conjunto com
a descrição das atividades efetivadas no grupo, realizaram-se pesquisas bibliográficas para
embasamento teórico das discussões pontuadas nesse relatório. As pesquisas se deram nas bases
de dados Scholar Google, SciELO e BIREME.
Todos os pacientes e seus respectivos cuidadores foram avaliados através de uma
anamnese semi-estruturada para coletar informações sociodemográficas, clínicas e
acompanhamentos terapêuticos no serviço. E também foram avaliados por instrumentos como
o AHEMD (Affordances in the Home Environment Motor Development) (SOARES et al, 2015)
e o Modelo Lúdico (ZEN; OMAIRI, 2009).
Apesar do grupo ser composto por uma equipe multidisciplinar, nesse estudo será
abordada a visão da estagiária do curso de Terapia Ocupacional na Oficina do Brincar.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Oficina do Brincar foi formada com o intuito de atender as demandas dos pacientes
pediátricos que foram relacionadas a alteração no desempenho do brincar, a fim de favorecer o
brincar exploratório e funcional, como também de facilitar a interação durante o brincar O
grupo foi composto de cinco crianças, todos do sexo masculino, com seus respectivos
cuidadores, ora mães e ora mães e pais. O número de participantes por encontro variava entre
três e cinco.
Os pacientes participantes do grupo foram selecionados por meio de encaminhamento,
a partir disto, os pacientes e os cuidadores passaram por avaliações para identificar aspectos
sociodemográficos, o comportamento lúdico no brincar e o desenvolvimento motor no
ambiente doméstico. Os encontros foram todos planejados previamente em conjunto com a
equipe multidisciplinar, a fim de abordar as principais atividades que envolvem o brincar
exploratório e funcional. Com isso, será exposto no quadro 1 o profissional responsável por
cada condução, a temática abordada e o objetivo de cada encontro.
Quadro 1 – Profissão responsável pela condução, temática e objetivos de cada encontro.
Condução Temática Objetivo
1135
Terapia “Dinâmica de apresentação: Apresentar os condutores e conhecer os
Ocupacional Avaliação” participantes. Avaliar as crianças.
Terapia “Observação do brincar entre Brincar livre entre os participantes
Ocupacional crianças e cuidadores” (crianças e cuidadores) sem interferência
dos condutores.
Psicologia “Brincar como formador de Discutir a importância do brincar como
vínculo” meio de construção afetiva na relação.
Fonoaudiologia “Brincar como estimulador Discutir a importância do brincar como
da linguagem e expressão” forma de comunicação verbal/não verbal.
Fisioterapia “Estimulando as etapas do Apresentar formas para estimular as
desenvolvimento no brincar” habilidades motoras através do brincar.
Terapia “Oficina de construção de Construir em conjunto brinquedos com
Ocupacional brinquedo” materiais recicláveis.
Terapia “Uso de materiais sensoriais Promover aos participantes experiências
Ocupacional na brincadeira” sensoriais táteis diversas.
Terapia “Comer brincando” Permitir as crianças terem experiências
Ocupacional gustativas e olfativas com diversos
alimentos.
Terapia “Brincar livre” Construir um painel com pintura livre
Ocupacional coletiva e banho de mangueira.
Terapia “Brincando com os sons ” Estabelecer relações com o brincar e os
Ocupacional instrumentos musicais.
Terapia “Brincando com histórias” Usar livros e narração de histórias como
Ocupacional recursos do brincar.
Terapia “Finalização do grupo” Construir um painel com fotos e palavras-
Ocupacional chave para os cuidadores relacionarem.
Nos primeiros encontros da Oficina do Brincar, foi observado que as crianças tiveram
dificuldade em iniciar e manter-se nas atividades. Pois as crianças não apresentaram interesse,
perdiam a atenção e não entendiam a função das atividades apresentadas. Como também, os
cuidadores apresentaram dificuldades em introduzir as crianças no brincar e não conseguiam
interagir com as mesmas, nem com os outros cuidadores. Durante os encontros iniciais a equipe
teve que intervir diretamente, direcionando o brincar aos cuidadores e as crianças. A partir do
sétimo encontro foi notório a evolução das crianças e dos cuidadores nas brincadeiras, foi
1136
perceptível o interesse, a interação entre todos presentes no grupo e também a compreensão das
atividades propostas. Deste encontro em diante, as crianças e os cuidadores passaram a
participar do brincar como esperado, com mais autonomia e foi observável a melhor interação
entre eles e com o brinquedo/atividade, assim percebendo-se o progresso no desempenho do
brincar dos pacientes e o fortalecimento do vínculo destes com os cuidadores durante a
brincadeira.
A literatura corrobora com os achados desta Oficina, expondo que o brincar é um ótimo
recurso terapêutico, bastante utilizado por terapeutas ocupacionais, que aponta trazer diversos
benefícios sobre o desenvolvimento infantil (SILVA; PONTES, 2013; SOUZA; MARINO,
2013). Como aponta Souza e Marino (2013), o brincar também é uma excelente estratégia para
fortalecer o vínculo cuidador e criança. E o brincar sendo considerada uma atividade lúdica é
capaz de estimular componentes necessários para um desenvolvimento adequado, assim,
permitindo um desempenho ocupacional pertinente à idade.
Por meio do estimulo do brincar, foi possível perceber a evolução dos participantes,
como também dos cuidadores. Como indica Silva e Pontes (2013), o brincar é utilizado como
meio e fim, pois além de apresentar um significado no momento em que é estimulado, também
facilita a aquisição de habilidades e componentes no futuro. Segundo estes mesmos autores, os
cuidadores são imprescindíveis durante o brincar, pois facilita o desempenho da criança em
várias situações (SILVA; PONTES, 2013).
CONCLUSÃO
Diante da experiência relatada, pode-se enaltecer a atuação e as potencialidades do
terapeuta ocupacional como mediador da estimulação do brincar como forma de promover o
desenvolvimento infantil e um incrementador de vínculo entre as crianças e os cuidadores.
A vivência na Oficina do Brincar possibilitou a visão da real necessidade da construção
de grupos para a promoção do desenvolvimento e desempenho ocupacional infantil por meio
do estímulo à interação social e fortalecimento do vínculo com os cuidadores, enquanto
realizavam atividades significativas, participativas, funcionais e lúdicas. Foi possível
contemplar neste grupo, enquanto prática da Terapia Ocupacional, o desempenho ocupacional,
enfatizando o brincar como a principal ocupação das crianças e que por meio desta tarefa é
possível estimular habilidades, independência e funcionalidade.
REFERÊNCIAS
1137
ALCÂNTARA, D. B.; BRITO, C. M. D. Projeto brincar e contar: A terapia ocupacional na
atenção básica em Saúde. Cadernos de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São
Carlos, v. 20, n. 3, p. 455-461, 2012.
CAMPOS, S. D. F. et al. O brincar para o desenvolvimento do esquema corporal, orientação
espacial e temporal: análise de uma intervenção. Cadernos Brasileiros de Terapia
Ocupacional, v. 25, n. 2, p. 275-285, 2017.
MARTINI, G. O brincar na clínica da Terapia Ocupacional com crianças com deficiência física:
Relato de um caso. Revista ceto, v. 12, n. 12, p. 27-31, 2010.
REIS, L. A. et al. O uso do lúdico e do simbólico na Paralisia Cerebral. Revista Saúde.com, v.
3, n. 2, p. 10-18, 2007.
SILVA, C. C. B.; PONTES, F. V. A utilização do brincar nas práticas de terapeutas. Revista de
Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, v. 24, n. 3, p. 226-232, 2013.
SOARES, E. S. et al. Análise das oportunidades de estimulação motora em ambientes
domiciliares na região central do Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Educação Física e
Esporte, v. 29, n. 2, p. 279-288, 2015.
SOUZA, A. C.; MARINO, M. S. F. Atuação da Terapia Ocupacional com criança com atraso
no desenvolvimento neuropsicomotor. Cadernos de Terapia Ocupacional da Universidade
Federal de São Carlos, v. 21, n. 1, p. 149-153, 2013.
ZAGUINI, C. G. S. et al. Avaliação do comportamento lúdico da criança com paralisia cerebral
e da percepção de seus cuidadores. Revista Acta fisiátrica, v. 18, n. 4, p. 187-197, 2011.
ZEN, C. C.; OMAIRI, C. O Modelo Lúdico: Uma nova visão do brincar para a Terapia
Ocupacional. Cadernos de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos, v.
17, n. 1, p. 43-51, 2009.
1138
As potencialidades dos Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenis na atenção à crise
de crianças e adolescentes
Beatriz Rocha Moura
Thelma Simões Matsukura
Este estudo objetivou compreender as potencialidades dos Centros de Atenção Psicossocial
Infantojuvenis na atenção à crise de crianças e adolescentes sob a ótica de gestores e familiares.
Trata-se de um estudo qualitativo de caráter descritivo-exploratório. Participaram do estudo
seis gestores e doze familiares de crianças ou adolescentes vinculados a seis Centros de Atenção
Psicossocial Infantojuvenis da cidade de São Paulo. Na opinião dos gestores, o trabalho em
equipe é uma das principais potencialidades desses serviços na atenção às situações de crise, já
os familiares apontam o acolhimento, a intensificação do cuidado e a disponibilidade de
recursos como grandes potencialidades. Os resultados apresentam que os Centros de Atenção
Psicossocial Infantojuvenis se mostram alinhados as diretrizes da atenção psicossocial,
revelando um papel fundamental na atenção à crise de crianças e adolescentes.
Palavras-chave: intervenção na crise; Serviços de Saúde Mental; Políticas Públicas; Criança,
Adolescente.
INTRODUÇÃO
A atenção às situações de crise é um dos maiores desafios da Reforma Psiquiátrica
Brasileira, além de essencial para o cumprimento dos objetivos de um Centro de Atenção
Psicossocial, que é o de atender usuários em sofrimento psíquico intenso e evitar as internações
(BRASIL, 2004; PITTA, 2011).
A crise é uma experiência complexa, que envolve importante sofrimento psíquico,
associado a vivências de estranhamento, desorganização, desorientação e descontrole, entre
outras experiências dolorosas de difícil compreensão. As dimensões individuais e coletivas da
crise são indissociáveis, sendo seu sofrimento vivenciado por familiares, pessoas próximas e
profissionais envolvidos na assistência. O tema da crise torna-se ainda mais relevante quando
focalizamos a população 1138nfanto-juvenil, que além de mudanças e conflitos próprios dessa
1139
faixa etária, vivenciam um sofrimento psíquico intenso (PEREIRA; SÁ; MIRANDA, 2017,
DELL’ACQUA; MEZZINA, 1991).
Por essa complexidade é que os Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenis
(CAPSij) assumem um lugar essencial na atenção à crianças e adolescentes em sofrimento
psíquico intenso. Como um dispositivo de cuidado intensivo, de base territorial, os CAPSij
possuem recursos potenciais para acolher as situações de crise em seus locais de vida e em sua
rede de relações. Baseado em preceitos comunitários, interdisciplinares e intersetoriais, este
equipamento tem a possibilidade de ampliar a compreensão da crise para além de um fenômeno
individual, inserindo-a em uma história e incluindo o grupal e o coletivo em sua produção e
sustentação (BRASIL, 2004; PEREIRA; SÁ; MIRANDA, 2017, DELL’ACQUA; MEZZINA,
1991).
Na literatura nacional, a maior parte dos estudos publicados trata da atenção à crise em
CAPS Adulto (LIMA et al, 2012; FONTANELLE, 2010; WILLRICH et al, 2011; COSTA,
2006), apontando uma lacuna de estudos que abordem o tema especificamente nos serviços
CAPSij.
OBJETIVOS
Este estudo objetivou compreender as potencialidades dos Centros de Atenção
Psicossocial Infantojuvenil na atenção à crise de crianças e adolescentes, sob a ótica de gestores
e familiares.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de caráter descritivo-exploratório de natureza qualitativa1.
Participaram do estudo seis gestores de seis CAPSij do município de São Paulo e doze
familiares que vivenciaram mais de duas crises e que tinham vínculo de cuidado com a criança
ou adolescente. Todos os procedimentos adotados no estudo obedeceram aos Critérios da Ética
em Pesquisa com Seres Humanos conforme Resolução 466/2012.
Para a coleta de dados foi utilizado um questionário para os gestores e um roteiro de
entrevista semiestruturada para os familiares. Os dados obtidos pelos questionários foram
analisados por meio da etapa de Categorização da técnica de Análise de Conteúdo (BARDIN,
2016). Já para os dados obtidos nas entrevistas foi utilizado o Discurso do Sujeito Coletivo –
DSC (LEFEVRE; LEFEVRE, 2010).
1140
RESULTADOS
Os gestores de CAPSij, participantes do estudo, foram questionados sobre as
potencialidades do CAPSij frente às situações de crise. A principal potencialidade apontada
pelos gestores foi o trabalho em equipe.
A descrição sobre o trabalho em equipe, apresentada pelos gestores, englobou aspectos
essenciais para a construção de um trabalho coletivo, tais como a flexibilidade, disponibilidade,
adaptabilidade, proatividade, reciprocidade, interdisciplinaridade e integração. Apoio da equipe
e discussões constantes sobre manejo também foram citados, além de um atendimento
humanizado que possibilite adequações nos Projetos Terapêuticos Singulares a partir das
necessidades decorrentes das situações de crise.
Já os familiares apontaram o acolhimento, a intensificação do cuidado e a
disponibilidade de recursos como grandes potencialidades dos CAPSij.
O DSC 1, a seguir, ilustra sobre as principais potencialidades pela ótica dos familiares.
“Ah! Quando ele está meio assim, ou se acontecer algo em casa e, ele
ficar muito alterado, eu posso trazer ele aqui. Eu levava nos outros hospitais
que não era referência, mas agora eu entendi que se não tiver bem é pra
procurar o CAPS ou procurar o Hospital que trabalha junto [com o CAPS].
Uma vez ele quebrou um vidro com as mãos e ficou muito nervoso, eles levaram
ele pra uma sala e seguraram, a técnica falou: - Pode ir embora ele vai ficar
bem, nós vamos conversar com ele! - Eu fui embora, mas do outro lado da rua
eu escutava os gritos dele. Naquele dia eu fui embora muito deprimida. Aí, eu
liguei e ela falou: - Não. Ele já está bem! Já está bem, está brincando já comeu!
Não está mais em crise não. - Quando ele tá em crise eles pedem para ficar
trazendo aqui, três vezes por semana, às vezes a semana inteira. Quando deu a
crise nele, ele ficou vindo à semana toda. (...) E ajudou porque ele voltou
rapidinho. O médico disse que era de 30 a 45 dias para a mente dele voltar, e
ele voltou com 15 dias, então voltou rapidinho.” (DSC 1)
DISCUSSÃO
Conforme apresenta o DSC 1, os familiares, participantes do estudo, apontaram que as
principais potencialidades dos CAPSij são a intensificação das ações de cuidado no serviço;
1141
disponibilidade de recursos; acolhimento imediato às situações de crise e articulação com
outros serviços da rede
Já para os gestores as principais potencialidades do CAPSij se referem ao trabalho em
equipe. Compreende-se que estes resultados reforçam a essencialidade do componente humano
e técnico nesse trabalho, por meio da relação estabelecida entre os membros da equipe, da
clínica construída coletivamente e de seu consequente reflexo no cuidado ofertado aos usuários
e familiares.
Compreende-se que as descrições sobre o trabalho em equipe apresentada pelos
gestores, que englobou aspectos essenciais para a construção de um trabalho coletivo, estão
alinhadas as características descritas por Saraceno (2001).
Para o autor, um serviço de saúde mental integrado adota um estilo de trabalho com alto
consumo afetivo, intelectual e organizativo, onde os recursos se encontram permanentemente
disponíveis, as competências flexíveis e a organização orientada às necessidades do paciente e
não às do próprio serviço (SARACENO, 2001). Competências essas, essenciais para que se
garanta uma atenção à crise efetiva em um serviço de saúde mental territorial.
Os resultados também permitem antever que o acolhimento é estratégia diferencial
apontada pelos familiares, o que reforça a compreensão de que o mesmo é o conceito-
ferramenta mais potente da atenção psicossocial, que opera um deslocamento fundamental no
modo de cuidar de pessoas em sofrimento psíquico. O acolhimento atravessa os processos
relacionais em saúde, rompe com a supremacia das técnicas, cria atendimentos mais
humanizados e promove espaços de escuta qualificada, possibilitando a vinculação com usuário
e a responsabilização pelo cuidado (SILVEIRA; VIEIRA, 2005).
O acolhimento como uma das estratégias de atenção à crise possibilita o direcionamento
da atenção para as necessidades dos usuários, compreendendo a crise como um momento de
vida, inserida em um contexto relacional, social e histórico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados deste estudo revelam que os CAPSij vêm desempenhando um papel
fundamental na atenção à crise de crianças e adolescentes, ofertando estratégias de cuidado
alinhadas as diretrizes da atenção psicossocial.
Considerando a gravidade, intensidade e complexidade que as situações de crise
impõem aos usuários, familiares e comunidade, promover a atenção à crise num serviço de
1142
saúde mental territorial, como o CAPSij, é antes de tudo um compromisso ético em construir
um cuidado digno e em liberdade para os que mais sofrem.
Acredita-se que este estudo oferece um aprofundamento no conhecimento deste campo
e indica importantes elementos para que discussões e reflexões sobre a atenção à crise de
crianças e adolescentes possam ser feitas pelas equipes de CAPSij em seus cotidianos de
trabalho. Além de contribuir com futuros avanços nas políticas públicas de saúde mental
1142nfanto-juvenil.
Este estudo buscou compreender a perspectiva de gestores e familiares, sugere-se que
estudos futuros sejam desenvolvidos considerando a perspectiva dos profissionais e o
protagonismo das próprias crianças e adolescentes dos CAPSij.
REFERÊNCIAS
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Brasília, 2004.
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.
COSTA, M. S. Reforma Psiquiátrica, transformações e limites nos modos de lidar com as
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jantar. São Paulo: Ed. Autor, 1991. p. 53-79.
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de Atenção Psicossocial. Dissertação (Mestrado em Psicologia). Universidade Federal do
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LIMA, M.; JUCÁ, V. J. S.; NUNES, M. O.; OTTONI, V. E. Significados, signos e práticas
de manejo da crise em Centros de Atenção Psicossocial. Interface – Comunicação, Saúde e
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PEREIRA, M. O.; SÁ, M. C.; MIRANDA, L. Uma onda que vem e dá um caixote:
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1143
PITTA, A. M. F. Um balanço da reforma psiquiátrica brasileira: instituições, atores e
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SILVEIRA, D. P.; VIEIRA, A. L. V. Reflexões sobre a ética do cuidado em saúde: desafios
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1144
Atuação do terapeuta ocupacional na saúde mental da mulher: uma revisão integrativa
Marina Araújo Rosas
Julliana Alves Leão
Babuska Navacho De Azevedo Santos
As mulheres são mais predispostas ao sofrimento psíquico, quando comparadas aos homens,
estando vulneráveis a fatores estressores devido aos múltiplos papéis ocupacionais que
desempenham dentro da sociedade, sendo necessário compreender também que a saúde mental
das mulheres é afetada com mais intensidade devido as condições culturais e econômicas as
quais estão inseridas. Sendo assim, este estudo tem por objetivo identificar a atuação dos
profissionais de Terapia Ocupacional na saúde mental da mulher. Foi realizada uma revisão
integrativa nas bases de dados Web of Science, LILACS, PubMed e PsycINFO, incluindo
artigos que falassem sobre a saúde mental da mulher e atuação da Terapia Ocupacional. Os
resultados obtidos apontaram as dificuldades encontradas devido ao desgaste da saúde mental,
independência funcional, preconceito de gênero, adaptação cultural e atividades cotidianas. A
literatura traz que a Terapia Ocupacional apresenta estratégias que auxiliam o tratamento dessas
mulheres, utilizando de métodos preventivos, orientações e escuta terapêutica, prevenindo
agravos e promovendo a saúde mental. Como limitação do estudo, ficou evidente a baixa
produção na literatura científica a respeito da saúde mental da mulher sem que esta esteja
diretamente relacionada ao corpo como símbolo reprodutivo e inferioridade frente à sociedade
patriarcal.
Palavras-chave: Saúde da Mulher; Terapia Ocupacional; Saúde Mental; Mulher.
INTRODUÇÃO
O sofrimento psíquico feminino pode provir de questões sociais devido as condições
culturais e econômicas as quais estão inseridas, que acentuam a desigualdade de gênero, ainda
intrínseca na sociedade, atribuindo à mulher uma condição de inferioridade em relação aos
homens e conferindo desgaste emocional (BRASIL, 2004).
Outras morbidades relacionadas ao sofrimento psíquico prevalentes em mulheres, além
da depressão são: transtornos de ansiedade (fobia social), transtornos alimentares (anorexia e
bulimia nervosa), transtornos associados ao ciclo reprodutivo, transtornos mentais associados
1145
ao puerpério (maternity blues, depressão, psicose) e transtornos mentais associados a
perimenopausa e menopausa. Vale salientar que estas três últimas condições citadas são
restritas às mulheres, conferindo ao público feminino maior sensibilidade emocional devido
fatores também biológicos (DE ANDRADE; VIANA; SILVEIRA; 2006).
Dentro da pluralidade ocupacional feminina e da desvantagem cultural decorrente de
uma sociedade predominantemente patriarcal, o exercício de atividade laboral pode ser
considerado um estopim para o sofrimento psíquico proveniente da sobrecarga emocional que
emerge do preconceito sobre o papel da mulher na sociedade sendo ainda associada à restrição
funcional no lar, tendo oferta reduzida tanto de oportunidades quanto de salários ao se inserirem
no mercado de trabalho (AQUINO; MENEZES; MARINHO, 1995).
O terapeuta ocupacional não deve ser apenas um instrumento de intervenção para
controle e eliminação do mal-estar psíquico, mas também contribuinte para o exercício da vida
social e o respeito à individualidade, reduzindo obstáculos e identificando habilidades que
favoreçam a manutenção/recuperação da saúde humana (RIBEIRO, 2008). Na saúde mental da
mulher, especificamente, o terapeuta ocupacional é responsável por prevenir e reduzir
circunstâncias que favoreçam o agravo ou o surgimento de sintomas e transtornos psíquicos
que comprometam o exercício pleno da autonomia (FONSECA et al., 2014). Diante do exposto,
o presente artigo tem por objetivo identificar a atuação dos profissionais de Terapia
Ocupacional na saúde mental da mulher.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa, utilizando artigos publicados em periódicos
nacionais e internacionais disponíveis em língua portuguesa (Brasil) e inglesa sem delimitação
de tempo. A pergunta norteadora utilizada foi: Qual a produção científica sobre a Terapia
Ocupacional na saúde mental da mulher?
Para o levantamento dos artigos realizou-se a busca e pré-seleção nas seguintes bases
de dados: LILACS, PubMed, Web of Science e PsycInfo. Foram utilizados os descritores
DeCS/Mesh: saúde mental; saúde da mulher; mulher; Terapia Ocupacional. O estudo teve como
critérios de inclusão: artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais, nas línguas
portuguesa (Brasil) e inglesa; ter um terapeuta ocupacional como autor; que abordaram a saúde
mental da mulher e a Terapia Ocupacional e como critérios de exclusão: periódicos que
descreverem a amostra populacional com faixa etária menor que 18 anos de idade; artigos de
1146
revisão; anais de congresso e editoriais; pesquisas com modelo animal. Não foram utilizados
limitador temporal nem realizado pesquisa em literatura cinzenta.
RESULTADOS
A amostra final foi constituída, portanto, por 07 estudos que obedeceram aos critérios de
elegibilidade .Todos os resultados apresentavam em sua amostra mulheres adultas ou idosas,
com idades entre 18 e 67 anos. Entre as principais circunstâncias que as levaram ao desgaste da
saúde mental, as relações sociais fragilizadas e a dificuldade de identificar atividades
significativas foram citadas (FEJES; FERIGATO; MARCOLINO, 2016; KENNEDY;
FORTUNE, 2014). O preconceito sobre o gênero feminino também surge como potencial
agravo psíquico (CARDOSO; CAMARGO, 2015). Além disso, aspectos psicossociais, como a
escuta e o diálogo, são discutidos por Cruz e Guarany (2015) como competências da Terapia
Ocupacional dentro da saúde mental como abordagem eficaz na dissipação de fatores
estressores. Sendo assim, a Terapia Ocupacional também pôde ser fortemente associada à
adaptação ocupacional dentro do contexto cultural em estudos sobre imigrantes
(POOREMAMALI et al., 2011; NAYAR; HOCKING; WILSON, 2007). Por fim, a prevalência
de estresse e/ou Transtorno de Estresse Pós-Traumático é inversamente proporcional à
independência funcional em mulheres desabrigadas. Do mesmo modo, a capacidade de
executar atividades instrumentais de vida diária (AIVD), (DAVIS; KUTTER, 1998).
DISCUSSÃO
As relações sociais podem influenciar diretamente na saúde da mulher. Fejes, Ferigato e
Marcolino (2016) trazem que as relações interpessoais saudáveis são consideradas como
ocupações positivas. A família é a base social que principia todas as relações. É seu papel dar
suporte e apoio, favorecendo o bem estar físico, psíquico e social. Entretanto, a família também
possui potencial para contribuir com as dificuldades no enfrentamento de problemas (DE
SOUZA; BAPTISTA, 2017).
Tanto Fejes, Ferigato e Marcolino (2016) quanto Kennedy e Fortune (2014) destacam,
ainda, a importância do significado atribuído às atividades desempenhadas pela mulher,
garantindo que uma ocupação precisa possuir importância pessoal. A ausência de atividades
significativas apontada por Kennedy e Fortune (2014) torna o ócio presente. É a atividade com
1147
significado que melhora o desempenho ocupacional e favorece a qualidade de vida, objetivando
a autonomia e a independência de quem a projeta (PONTES; POLATJAKO, 2016).
O trabalho surge como uma das ocupações onde o gênero feminino sofre mais
preconceito. Cardoso e Camargo (2015) apontam que, além da necessidade constante de
comprovar qualificações, a mulher é julgada no contexto laboral por aspectos biológicos e
inerentes, como o climatério, compreendendo que manter-se no emprego durante esta fase da
vida acarreta em grande desgaste emocional, onde as normas de trabalho exigem habilidades
que podem ser afetadas já que os impactos trazidos afetam as demais relações.
Quando Cruz e Guarany (2015) se referem a diálogo e escuta, remete a atenção
psicossocial como abordagem da Terapia Ocupacional dentro da saúde mental da mulher,
utilizando, principalmente, tecnologia leve: método de cuidado cujos objetivos são a construção
de vínculo, o incentivo à autonomia e o acolhimento. Nesta proposição, os resultados de Cruz
e Guarany (2015) referem relatos de mulheres que se beneficiaram desta abordagem durante
tratamentos em saúde mental, apontando melhora significativa proporcionada pela escuta
terapêutica, ainda que de forma auxiliar ao tratamento medicamentoso.
Na saúde mental atrelada ao contexto social, Pooremamali et al. (2011) traz a Terapia
Ocupacional no processo de adaptação cultural na abordagem terapêutica sobre mulheres
imigrantes através da aquisição da independência. Sem suporte terapêutico ocupacional , Nayar,
Hocking e Wilson (2007) apontam a relação entre a mulher com uma nova cultura e
dificuldades significativas de adaptação, desencadeando eventos estressores que afetam seu
estado emocional. Reforçam a constante associação entre a mulher e o trabalho doméstico,
criticando a escassez de oportunidades de inserção no mercado de trabalho.
Ainda sobre contexto de vulnerabilidade, Davis e Kutter (1997) retratam que as mulheres
desabrigadas possuem sua independência comprometida, refletindo em diversos aspectos
contemplados nas atividades instrumentais de vida diária (AIVD). Estão mais suscetíveis à
violência física e sexual, além do convívio com drogas e grande prevalência de estresse e
transtorno de estresse pós-traumático.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante o decorrer do trabalho foi possível perceber dificuldades enfrentadas por
mulheres devido ao desgaste da saúde mental, independência funcional, preconceito de gênero,
adaptação cultural e atividades cotidianas. A Terapia Ocupacional nos estudos encontrados
apresenta estratégias que auxiliam o tratamento dessas mulheres, utilizando de métodos
1148
preventivos, orientações e escuta terapêutica, prevenindo agravos e promovendo a saúde mental
dessas mulheres.
REFERÊNCIAS
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cotidianas e nos papéis ocupacionais de mulheres no climatério. Cadernos Brasileiros de
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orientações e cuidados a gestantes de risco. Revista de Terapia Ocupacional da
Universidade de São Paulo, v. 26, n. 2, p. 201-206, 2015.
DAVIS, J.; KUTTER, C. J. Independent living skills and posttraumatic stress disorder in
women who are homeless: Implications for future practice. American Journal of
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FEJES, M. A. N.; FERIGATO, S. H.; MARCOLINO, T. Q. Saúde e cotidiano de mulheres em
uso abusivo de álcool e outras drogas: uma questão para a Terapia Ocupacional. Revista de
Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, v. 27, n. 3, p. 254-262, 2016.
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occupational perspective. British Journal of Occupational Therapy, v. 77, n. 6, p. 296-303,
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NAYAR, S.; HOCKING, C.; WILSON, J. An occupational perspective of migrant mental
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1149
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RIBEIRO, M. C.; MACHADO, A. L. A Terapia Ocupacional e as novas formas do cuidar em
saúde mental. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo, v. 19, n. 2, p. 72-75, maio/ago. 2008.
1150
Assistência Terapêutica Ocupacional ao Público Adolescente no Ambulatório de Terapia
Ocupacional: Relato de Experiência
Luanna Correia dos Santos
Vinícius Barbosa de Freitas Silva
Elisabeth Silva Paulino
Maria Gisele Cavalcanti de Oliveira
Maria Soraida Silva Cruz
Keise Bastos Gomes da Nóbrega
A adolescência é uma fase do ciclo de vida, marcada por transformações, que podem ser
acompanhadas de estigmas sociais, principalmente para aqueles que possuem alguma
incapacidade, constituindo diversos conflitos. Sendo assim, este trabalho destina-se a relatar a
vivência de discentes do curso de Terapia Ocupacional, no ambulatório de Terapia Ocupacional
com o público adolescente. As aulas práticas da disciplina “Terapia Ocupacional na
Adolescência” aconteceram no ambulatório de Terapia Ocupacional de um hospital
universitário do Recife. Participaram das intervenções 4 adolescentes, entre 13 e 19 anos de
idade. Os atendimentos eram semanais, facilitados por discentes e supervisionados por uma
docente da disciplina. Inicialmente foram feitas entrevistas com os adolescentes para criação
de vínculo, conhecimento dos diagnósticos e identificação das demandas. Observou-se que a
área de desempenho mais afetada era a de participação social. De acordo com as necessidades
apresentadas por eles, foram construídos os objetivos e metas. Ao final dos encontros, pôde-se
perceber evoluções no desempenho dos adolescentes, considerando suas singularidades,
contexto de vida e vivências. Apesar das limitações decorrentes das disfunções específicas de
cada um, precisaram ser vistos como adolescentes com toda a complexidade que envolve essa
fase. Sendo assim, conclui-se que a Terapia Ocupacional possui um olhar holístico, podendo
trabalhar com diversas questões que interferem nas ocupações, inclusive com o público
adolescente. Na experiência relatada, foi possível acompanhar a intervenção terapêutica
ocupacional com o público adolescente, enriquecendo o processo de formação acadêmica.
Palavras-chave: Adolescência; Assistência Ambulatorial; Terapia Ocupacional.
1151
INTRODUÇÃO
A adolescência se constitui como uma fase do desenvolvimento humano que, segundo
o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), vai dos 12 aos 18 anos de idade (BRASIL,
1990). Esse período da vida é marcado por diversas mudanças físicas, psicológicas e sociais
que variam de acordo com o contexto, período e ambiente em que o adolescente está inserido
(ABASSE et al. 2009).
Estima-se que no Brasil existam mais de 34 milhões de adolescentes, mas apesar da
quantidade significativa dessa população, há poucas políticas voltadas para essa faixa etária que
só ganhou uma relativa visibilidade devido ao conjunto de problemas sociais crescentes e
constantes nos dias atuais. A partir de então, diversas áreas de pesquisa têm se dedicado a
estudar as demandas da adolescência e a criar estratégias que proporcionem uma melhor
assistência tanto na promoção de saúde como na prevenção de morbimortalidades (BRASIL,
2017).
Esta fase da vida, considerada “problemática’ pela sociedade, vem acompanhada de
estigmas e preconceitos, que se acentuam quando o adolescente apresenta alguma incapacidade,
seja ela física, psicológica e/ou cognitiva (ABASSE et al, 2009). Existe uma tendência de
infantilização e superproteção, gerando afastamento social, maior dependência e baixa
autoestima dos adolescentes (CADORE; KRAHL, 2013).
Há de se pensar: como apresentar a estes indivíduos as mesmas oportunidades daqueles
considerados adolescentes típicos? Neste relato, objetiva-se descrever a experiência de
discentes na intervenção terapêutica ocupacional com o público adolescente, em um
ambulatório de Terapia Ocupacional.
METODOLOGIA
O trabalho trata de um relato de experiência das aulas práticas da disciplina “Terapia
Ocupacional na Adolescência”, que aconteceram no ambulatório de Terapia Ocupacional de
um hospital universitário do Recife. Participaram das intervenções de terapia ocupacional, 4
adolescentes, sendo 3 do sexo masculino e 1 do sexo feminino, entre 13 e 19 anos de idade. Os
atendimentos eram semanais, facilitados por discentes e supervisionados por uma docente da
disciplina. Aconteceram durante 30 minutos, individualmente, por seis encontros.
1152
No primeiro encontro todos os adolescentes foram submetidos a uma entrevista semi-
estruturada com o objetivo de avaliar e conhecer o paciente, sua família, seus contextos,
demandas e analisar habilidades, dificuldades, potencialidades para posterior construção do
plano de tratamento. Após cada atendimento, os adolescentes e seus acompanhantes recebiam
informações quanto ao processo de tratamento, com orientações para a continuidade do mesmo
nos outros contextos, como em casa e na escola. Ao final dos atendimentos, os discentes e
docente reuniam-se para discutir as intervenções, em forma de caso clínico, para proporcionar
o aprendizado coletivo.
RESULTADOS
Após a anamnese junto aos cuidadores verificou-se que a queixa principal apresentada
por A1, diagnosticado com Síndrome de Down, foi a dificuldade na escrita. Sendo assim, a
educação foi a área de desempenho ocupacional trabalhada durante os encontros. Na análise de
recursos audiovisuais disponibilizados pela responsável, do ambiente doméstico, foi percebido
boa postura durante a escrita e desempenho motor. No entanto, ele não compreendia letras e
números, não reconhecia, nem associava. A partir dessa demanda cognitiva, o objetivo geral da
intervenção foi estimular a melhor compreensão das letras para o engajamento na escrita. As
estratégias utilizadas foram a adaptação de algumas atividades escolares e apresentação das
primeiras vogais, “a”, depois, “e”, de forma dinâmica e em atividades significativas. As
estratégias foram repassadas para a família e encaminhadas para serem utilizadas na escola.
O adolescente A2, teve como principal demanda o desejo pela alimentação
independente, que não acontecia por causa da espasticidade, pois o mesmo teve o diagnóstico
de Paralisia Cerebral (PC). Com isso, entendeu-se que a área de desempenho ocupacional que
precisava ser trabalhada era das Atividades de Vida Diária (AVD), a alimentação. Durante a
análise da atividade de alimentação, percebeu-se que o adolescente apresentava dificuldades na
preensão, no posicionamento sentado, no alinhamento e nos movimentos de flexoextensão,
abdução, adução e prono-supinação dos membros superiores, que estão diretamente ligados à
hipertonia, uma das consequências da PC. O padrão flexor do punho também foi um
dificultador, além das dificuldades na mastigação e deglutição. Foram utilizadas atividades,
com totó, labirinto, e jogo de basquete adaptado juntamente com A1, que estimulavam a
realização de ações bimanualmente, uma habilidade requerida na alimentação.
O terceiro adolescente do sexo masculino (A3), tinha 15 anos, diagnosticado com
mielomeningocele e hidrocefalia, apresentava deformidades nos membros inferiores, que
1153
dificultavam a mobilidade, além de sofrimento mental e déficit cognitivo. Na anamnese,
identificou-se demandas de assistência nas AVD e na participação social, pois relatou que
queria ter muitos amigos, mas apresentava dificuldades de inclusão na escola, tanto por parte
dos colegas (sofria bullying), quanto pela acessibilidade do prédio. Inicialmente, foi definido
como objetivo de tratamento trabalhar habilidades processuais para início, sequenciamento e
finalização de atividades, pois foi percebido que este adolescente apresentava algumas
limitações cognitivas que dificultavam o desempenho das AVD. Porém, as sucessivas faltas
nos atendimentos dificultaram a sua evolução e a execução do seu plano de tratamento, que
tinha como objetivo, ampliar a sua participação social.
A adolescente do sexo feminino (A4), foi diagnosticada com depressão e Acidente
Vascular Cerebral (AVC), que deixou como sequela, uma hemiparesia no lado direito (seu lado
dominante). No primeiro encontro foi feita uma entrevista com a adolescente e sua mãe acerca
de dados pessoais, história clínica, habilidades e funções. Quando lhe perguntado qual seria sua
principal queixa, ela trouxe a dificuldade de realizar atividades manuais principalmente
escrever e maquiar-se pois, apesar de ser vaidosa, havia parado de se maquiar pela dificuldade
no membro superior direito. Além da entrevista, outras formas de avaliação foram utilizadas
como: teste de força e tônus, o estesiômetro, além de jogos como Twistter e Damas, para
verificar habilidades motoras, sensoriais, cognitivas e sociais. Foi identificado que a sua
participação social estava comprometida, pois não frequentava mais a escola, além da falta de
motivação para o autocuidado, e estavam ligados à sua autopercepção após a doença. Assim,
os atendimentos tiveram como objetivos, aumentar a autoestima e prevenir/minimizar agravos
no lado acometido. Uma das estratégias de intervenção utilizadas foi a automaquiagem. Ao
final dos atendimentos, foi percebido uma significativa melhora na adolescente, não apenas
com relação ao (ré)conhecimento de seu corpo e das mudanças causadas pela hemiparesia, bem
como, quanto ao aumento da autoestima, evidenciado através da sua vontade de comprar novos
produtos de maquiagem, de voltar a arrumar o cabelo e principalmente de voltar a se maquiar.
No último encontro, foi entregue uma cartilha com orientações baseadas no que foi trabalhado
durante os atendimentos para que a adolescente continuasse praticando em casa o que foi visto
durante o período de intervenção.
DISCUSSÃO
A partir dos resultados compartilhados, pôde-se perceber evoluções no desempenho dos
adolescentes, em diferentes aspectos, considerando suas singularidades, contexto de vida e
1154
vivência da adolescência. Apesar das limitações decorrentes das disfunções específicas de cada
um, precisam ser vistos como adolescentes, e em toda a complexidade que envolve essa fase,
de mudanças corporais, busca de identidade, autonomia e de novas descobertas (BONONI et
al., 2009).
A postura, a fala e o modo de interagir com os adolescentes foram fatores importantes
não só para a criação do vínculo, mas para a afirmação da identidade desses, pois a vida da
pessoa com deficiência, muitas vezes, passa a ser regida pela doença e pela rotina de consultas,
terapias e procedimentos (VIEIRA; LIMA, 2002). Portanto, precisam ser vistos como
indivíduos e como adolescentes, em toda a complexidade dessa fase.
Uma das dificuldades encontradas durante as intervenções foram as sucessivas faltas,
mais evidente em A3. Assim, destaca-se a importância implicar a família no processo de
tratamento. Sempre que possível se conversava e dava-se orientações aos familiares, após os
atendimentos, para que pudessem auxiliar seus filhos e entender os objetivos e metas traçadas
durante os atendimentos. Sabe-se que quando o adolescente recebe o diagnóstico, ainda na
infância ou na fase presente, toda a família passa pelo processo de luto e aceitação. Portanto,
faz-se necessário acolher esse núcleo social, favorecendo as relações intrafamiliares,
contribuindo para que o adolescente se aceite, seja compreendido pelos pais e visto pela
sociedade para além do diagnóstico (MIRANDA; RESEGUE; FIGUEIRAS, 2003).
CONCLUSÃO
A Terapia Ocupacional é uma profissão que possui um olhar holístico, podendo
trabalhar com questões motoras, cognitivas, sociais e mentais que interferem nas ocupações.
Na experiência relatada, foi possível acompanhar a intervenção terapêutica ocupacional nesses
diferentes âmbitos da complexidade humana. A diversidade de demandas e estratégias
permitiram variadas vivências de intervenções, que auxiliaram no processo de formação dos
discentes. É importante destacar a atuação do terapeuta ocupacional com o público adolescente
com alguma incapacidade, considerando que mesmo com suas limitações, também passam por
vivências e apresentam as modificações, próprias de qualquer jovem.
REFERÊNCIAS
1155
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da morbimortalidade por suicídio entre adolescentes em Minas Gerais, Brasil. Ciência &
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BONONI, B.M.; OLIVEIRA, A.C.V.; RENATTINI, T.S.M.; SANT'ANNA, M.J.C.;,
COATES, V. Síndrome de Down na adolescência: limites e possibilidades. Adolesc Saude,
v.6, n.2, p.51-56, 2009.
BRASIL. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
Brasília, DF, 16 jul. 1990.
CADORE, K.; KRAHL, S. Repercussões da sexualidade de adolescentes com deficiência
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sexualidade de adolescentes. Construindo equidade no SUS. Brasília, DF: OPAS, MS, 2017.
MIRANDA, L. P., RESEGUE, R., FIGUEIRAS, A. C. M. A criança e o adolescente com
problemas do desenvolvimento no ambulatório de pediatria. Jornal de Pediatria, v.79, n.3,
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VIEIRA, M. A., Lima R. A. G. Crianças e adolescentes com doença crônica: convivendo com
mudanças. Revista Latino-americana de Enfermagem, v.10, n.4, p. 552-602, 2002.
1156
Terapia Ocupacional e o Método Canguru na Amazônia: Um relato de experiência.
Jonatha Almeida Barros
Gabriela Ribeiro Barros De Farias
Isabel Cristina Santos Rodrigues
Juliana De Silva Lima
Karina Sebastiane Prestes Dos Santos
Izabella Garcia Travassos
Este trabalho apresenta um relato de experiência sobre a vivência de acadêmicos de Terapia
Ocupacional na segunda e terceira etapa do Método Canguru realizada em um Hospital de
Ensino na cidade de Belém. A atuação do terapeuta ocupacional nessa área se dá em contribuir
para o ganho de peso do recém-nascido prematuro após a sua saída da Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal ou da Unidade Cuidados Intensivos Neonatais. A vivência se deu a partir de
matéria Clínica em Terapia Ocupacional I, possui como objetivo a busca da identificação,
reconhecimento e compreensão da relação teórica – prática da intervenção terapêutica
ocupacional.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional; Método Canguru; Recém-Nascido Prematuro.
INTRODUÇÃO
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define como prematuridade todo o recém-
nascido (RN) com Idade Gestacional (IG) abaixo de 37 semanas a partir do primeiro dia do
ultimo período menstrual materno. A prematuridade e as condições a ela associadas contribuem
com elevados índices de mortalidade nos países em desenvolvimento. (OLIVEIRA et al., 2016;
VIANA et al., 2018)1, 1. O Método Canguru é um tipo de assistência neonatal voltada para o
atendimento do recém-nascido (RN) prematuro que implica colocar o bebê em contato pele a
pele com sua mãe. Esse método é aplicado em três etapas e traz inúmeras vantagens, além de
garantir calor e leite materno ao RN, promove o fortalecimento do vínculo mãe-bebê, condição
indispensável para a qualidade de vida e sobrevivência do RN. Assim, o Método Canguru
abrange questões como os cuidados técnicos com o bebê, o acolhimento à família, a promoção
do vínculo mãe filho, o aleitamento materno e o acompanhamento ambulatorial após a alta.
1157
(LAMY et al., 2005)1. A intervenção da Terapia Ocupacional na segunda e terceira etapa do
Método Mãe Canguru é baseada em realizar avaliações dos reflexos primitivos e estimulações
no RN e a partir disso orientar as mães no que elas devem fazer no tempo de permanência na
maternidade e em sua casa, facilitando a interação mãe-bebê, contato olho a olho, contato pele
a pele, destacando que as intervenções realizadas proporcionam sensações táteis, olfativas e
auditivas que fazem o bebê de baixo peso ter a sensação de estar no útero materno (SOUSA,
2015)1. Este trabalho tem como objetivo relatar a experiência da prática da Terapia
Ocupacional desenvolvida a partir do estágio curricular dos discentes do 2ºano do Curso de
Terapia Ocupacional da Universidade do Estado do Pará em um hospital no município de
Belém/Pará.
MÉTODO
A experiência relatada no presente trabalho é referente à matéria Prática Clínica I do
curso de Terapia Ocupacional, pelos discentes de Universidade Pública no 3° semestre,
realizada em uma Unidade Materna Infantil, localizada no centro de Belém, na segunda etapa
e na terceira etapa do método canguru. O período de realização das atividades deu-se entre
Abril e Junho de 2019. Trata-se de uma escrita descritiva, na medida em que irá se apresentado
a descrição da prática desenvolvida. Será dissertado com referencial teórico que aborda a
referida temática juntamente com a reflexão diante das vivências da prática.
RESULTADOS
As ações descritas no presente estudo retratam quanto à atuação da Terapia Ocupacional
no método canguru, mais precisamente na etapa dois e três no acompanhamento da mãe e
principalmente da criança com Baixo Peso. A segunda etapa é realizada na enfermaria canguru,
no qual ás mães ficam com os recém-nascidos assim que saem da UTIN ou da UCIN, no qual
os atendimentos foram realizados pelos alunos de Terapia Ocupacional uma vez por semana o
primeiro passo era ler o prontuário para conhecer o histórico sobre a mãe e filho, após isso
realizava orientação de técnicas para fazer o ninho, posturar o bebê dentro dele, a continuação
da posição canguru, a estimulação de vínculos, além de informar sobre os benefícios do método
para o prognóstico do bebê. Além disso, eram realizados grupos terapêuticos com as mães com
a finalidade de amenizar os efeitos da hospitalização nas mesmas, nos quais as dificuldades
encontradas pela equipe eram que a maioria das mães não conseguia realizar as atividades
1158
propostas por estarem acompanhadas dos seus filhos, porém nos demais momentos do
atendimento eram bastante receptivas e dispostas a aprender tudo o que fosse importante para
a saúde do bebê. Na terceira etapa os alunos realizavam avaliação dos reflexos do bebê, por
meio desse é averiguado se há possíveis atrasos em seu desenvolvimento, os reflexos avaliados
eram: Reflexo de Moro, pressão plantar, pressão palmar, ângulo dos pés, controle cervical e o
reflexo de marcha. Também nessa etapa realizava-se questionários aos pais para analisar se os
mesmo mantinham em seu lar o ninho, posicionamento correto durante o sono, aleitamento e
posição canguru, promovendo o desempenho contínuo de atividades que favoreçam o
desenvolvimento integral do bebê, dando ênfase na importância de sua manutenção. No mais,
se fosse necessário, era realizado o encaminhamento para outras instituições responsáveis pela
estimulação precoce ou por acompanhamento mais contínuo, tanto familiar quanto das crianças.
Essa necessidade surgia quando, por exemplo, o bebê apresentava quadro de hipotonia ou
hipertonia, atrasos no desenvolvimento motor, choro extremo, lateralidade da cabeça, mau
posicionamento e desorganização corporal, entre outros.
DISCUSSÃO
O recém-nascido prematuro pode apresentar alguns órgãos imaturos e dificuldades
fisiológicas que podem implicar em vários aspectos do seu desenvolvimento. Logo, promover
a postura no “ninho” é uma técnica que se utiliza tecido macio para confeccionar um círculo
(ninho), com medidas maiores que a do bebê, a fim de oferecer limites para o seu corpo, facilitar
a posição fetal em flexão e favorecer a organização neurocomportamental. O posicionamento
correto do prematuro de baixo peso usando rolos de tecidos auxilia no seu quadro clínico ao
promover a manutenção do tônus muscular, além de se apresentar como fonte de segurança, e
estimulação tátil (BRASIL, 2013)1. A posição canguru consiste em proporcionar ao
recém-nascido o contato direto e contínuo pele a pele com seus pais, favorecendo os vínculos
e a sensação de proteção. O contato precoce pele a pele entre a mãe e o bebê promove o senso
de controle e autoconhecimento, aumenta a confiança e facilita a criação de vínculos, um fator
que é extremamente positivo para o aleitamento materno e os demais cuidados. A partir dessas
premissas, esses focos devem ser realizados na segunda etapa, estágio esse denominado de “pré-
alta hospitalar”, ocorrido nos leitos de enfermarias canguru (BRASIL, 2013)5. A integração das
mães no cuidado efetivo com o bebê são maneiras de favorecer a relação mãe-filho, fator que
é essencial para o desenvolvimento físico e emocional do bebê, desta forma a execução do
Método Canguru possibilita o aumento do afeto entre mãe e filho, favorece o aleitamento
1159
materno, ajuda a estabilizar a temperatura corporal do bebê, diminui os níveis de infecções
cruzadas e o tempo de hospitalização (BRASIL, 2013)5. A terceira etapa, por sua vez, de acordo
com o Manual Técnico do Método Canguru (2013)5, se caracteriza pelo acompanhamento da
criança e da família no ambulatório e/ou no domicílio até atingir o peso de 2.500g, dando
continuidade à abordagem biopsicossocial que é preconizada desse o início da intervenção com
o baixo peso. Após o peso de 2.500g, o seguimento ambulatorial deverá seguir as normas de
crescimento e desenvolvimento do Ministério da Saúde. Dentro da terceira etapa, a Terapia
Ocupacional reafirma seu papel crucial no desenvolvimento neuropsicomotor infantil. É
realizada a avaliação dos reflexos e dos marcos do desenvolvimento, a fim de prevenir possíveis
futuros atrasos, frequentemente associados à prematuridade (ARAÚJO et al., 2013)1.
CONCLUSÃO
Visto que o método Canguru abrange os cuidados técnicos com recém-nascidos na
maternidade, abrangendo-se ao ambulatório na alta, a atuação dos discentes de Terapia
Ocupacional no método canguru através de aulas práticas possui grande importância para sua
formação profissional, ir além das teorias logo no segundo ano de curso. Sendo válido ressaltar
a importância do papel do terapeuta ocupacional na unidade neonatal para colaborar com a
neuro-organização e o desenvolvimento do bebê de baixo peso.
1160
A Cromoterapia como Tratamento Não Farmacológico no Manejo da Dor Psíquica em
Paciente Internado em Enfermaria de Psiquiatria: Relato de Caso
Babuska Navacho
Julliana Alves Leão
Naianna Ribeiro Mocelin dos Santos
Gabriela Leticia Oliveira Silva Cavalcanti
Agindo conforme preconiza a Organização Mundial de Saúde, o Ministério da Saúde do Brasil
vem incorporando ao quadro de oferta do Sistema Único de Saúde as Medicinas Tradicionais e
Complementares. Entre estas práticas, a Cromoterapia elenca as práticas, consistindo numa
técnica milenar que objetiva a harmonização do corpo nos níveis físico e espiritual, salientando
o potencial de cura. Com o objetivo de apresentar a Cromoterapia como manejo não
farmacológico do sofrimento psíquico em paciente internado numa enfermaria de saúde mental,
o corrente trabalho trata de um relato de caso de um paciente psiquiátrico internado em contexto
de enfermaria de saúde mental com hipótese diagnóstica de personalidade histriônica ou quadro
de mania. Um levantamento teórico foi realizado na base de dados PubMed com a finalidade
de fomentar a pesquisa. O manejo não farmacológico do sofrimento mental pôde ser adotado
como terapia complementar ao tratamento, atenuando as sensações algozes e acentuando a
capacidade de auto controle. Sendo assim, a Cromoterapia, bem como as demais práticas
integrativas, mostra-se eficiente como terapia adjuvante ao tratamento do paciente psiquiátrico.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional; Saúde Mental; Cromoterapia; Terapia pela Cor.
INTRODUÇÃO
Agindo conforme preconiza a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Ministério da
Saúde do Brasil vem incorporando ao quadro de oferta do Sistema Único de Saúde (SUS) as
Medicinas Tradicionais e Complementares, consideradas práticas integrativas reconhecidas
como alternativas ou adjuntas à manutenção da saúde. Entre as vinte e nove terapias alternativas
inclusas até o presente momento, a Cromoterapia compõe o ainda seleto grupo (BRASIL,
2018).
Literalmente uma terapia que utiliza as cores no processo de cura de doenças, a
Cromoterapia consiste numa técnica milenar que objetiva a harmonização do corpo nos níveis
1161
físico e espiritual, salientando o potencial de cura. Sendo a cor seu principal recurso de
tratamento, o espectro cromático é utilizado através de sua vibração energética, através de
meditação, visualização, bastões cromáticos e outras formas de trabalho, promovendo efeitos
positivos sobre a desarmonia física-espiritual que, por ventura, provoque qualquer forma de
adoecimento (BRASIL, 2018). Em contextos hospitalares, a Cromoterapia pode ser realizada
com liberdade, visto que não há demanda obrigatória de material físico, sendo conduzida
plenamente em prol de pacientes internados.
Em saúde mental, onde as reações emocionais e afetivas são convertidas em sintomas e
bases para averiguar as respostas terapêuticas, as cores são evidenciadas como vigorosas
interferências (positivas ou negativas) no estado de humor e agindo sobre a dor psíquica.
Estudos mostram que a exposição excessiva ao azul, por exemplo, é hipoestimulante, sendo
eficiente no tratamento da mania bipolar mas prejudicial ao paciente deprimido. Os efeitos
contrários (acentuação da mania bipolar e melhora do ânimo) podem ser ocasionados pela
exposição excessiva ao vermelho (HAN; LEE, 2017).
Valendo-se das premissas supracitadas, a proposta de agregar a Cromoterapia aos
métodos convencionais no tratamento de paciente psiquiátrico em contexto de enfermaria visou
facilitar a condução terapêutica dentro da condição do internamento, assumindo o objetivo de
atenuar o sofrimento psíquico, definido, por sua vez, como uma sensação algoz que desencadeia
alterações físicas e psíquicas, sendo uma experiência variável e subjetiva, podendo ou não ser
passível de identificação da origem (SOUZA; FORGIONE; ALVES, 2016).
OBJETIVO
Apresentar a Cromoterapia como manejo não farmacológico do sofrimento psíquico em
paciente internado numa enfermaria de saúde mental.
METODOLOGIA
Trata-se de um relato de caso de paciente com hipótese diagnóstica de personalidade
histriônica ou quadro maniatiforme com sintomas acentuados de angústia e ansiedade que foi
submetido à técnica de Cromoterapia com meditação/visualização de cores e estimulação de
pontos de pressão. A experiência ocorreu durante cumprimento de estágio curricular obrigatório
de Terapia Ocupacional na enfermaria de saúde mental de um hospital de alta complexidade,
1162
na cidade do Recife, sendo possível a aplicabilidade da técnica pela habilitação/titulação da
própria estagiária na referida terapia.
Um levantamento teórico foi realizado na base de dados PubMed com a finalidade de
fomentar o corrente trabalho.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
N.C., 26 anos, deu entrada na enfermaria de saúde mental com agitação psicomotora,
instabilidade emocional (choro fácil) e discurso incoerente. É usuário do CAPS de seu território,
e mostrou-se interessado em se internar por sentir “uma raiva incontrolável”, acompanhada da
vontade de agredir seu genitor (sic). Sua hipótese diagnóstica é de transtorno de personalidade
histriônica ou comportamento decorrente de um quadro maniatiforme (hipomania). Foi
admitido na enfermaria no dia 27 de setembro de 2018. Neste mesmo dia, dirigiu-se à estagiária
de Terapia Ocupacional queixando-se de angústia e solidão, sendo, portanto, convidado para
sua primeira intervenção terapêutica ocupacional, aceitando a proposta espontaneamente.
Aplicada atividade semi estruturada e de cunho expressivo-reflexivo, os mesmos sinais afetivos
negativos, como: raiva, solidão, melancolia e ansiedade, foram evidenciados, reforçando todas
as queixas outrora feitas por N.C. durante a triagem e para com os demais profissionais
componentes da equipe. Posteriormente, N. C. solicitou uma nova sessão, avaliando
positivamente a experiência.
Considerando o contexto do internamento e a já iniciada terapêutica medicamentosa, o
manejo não farmacológico do sofrimento mental pôde ser adotado como terapia complementar
ao tratamento, atenuando as sensações algozes e acentuando a capacidade de auto controle de
N.C. Sendo assim, a terapeuta conduziu uma sessão desta prática integrativa com N.C.
utilizando como recursos o estímulo auditivo com música de relaxamento em tom Mí (nota
musical referente ao chakra do plexo solar, associado ao estômago, órgão de referência à
ansiedade, e à cor amarela) e a meditação/visualização – através da imaginação de paisagens e
elementos da natureza – das cores verde (equilíbrio), azul (calma) e amarelo (auto-cura) em
concomitância com o estímulo dos pontos de pressão referentes ao: fígado (raiva), pulmão
(tristeza), estômago (ansiedade) e rim (medo), auxiliando no controle das emoções de
referência. Ao fim da sessão, N.C. relatou sentir calma e paz, demonstrando através de inalação
profunda, bocejo e hipotensão que seu corpo estava relaxado. Por demanda do paciente, a
terapeuta desenhou alguns dos pontos de pressão estimulados e foram dadas orientações de
como o próprio paciente poderia estender o cuidado sobre si dentro da mesma prática.
1163
Estudos realizados por Yoshizumi, Asis e Luz (2018) corroboram com a proposta
terapêutica adotada neste caso, evidenciando que o estímulo de pontos de pressão durante a
prática da Cromoterapia promove resultados positivos contra transtornos de ansiedade e fobias,
além de concordarem que consiste numa técnica de fácil aplicação, mesmo que em contexto
hospitalar.
Han e Lee (2017) explicam que o amarelo é responsável pelo revigor e o azul está ligado
ao desestímulo, enquanto que o vermelho está mais associado à hostilidade. Em relação a N.C.,
esta premissa justifica a conduta terapêutica através do estímulo com a cor amarela para o
autocuidado, em concomitância com o azul, buscando a pacificidade, visto que o paciente
referia raiva e ansiedade, evitando os estímulos com cores como o vermelho, que poderiam
potencializar estas emoções negativas. Além disso, a cor verde, promotora do equilíbrio, propõe
a neutralidade entre as cores conflitantes.
Visto que a possibilidade diagnóstica de N.C. poderia ser de quadro atual de mania,
caracterizado por um estado de humor eufórico, a cor azul foi assumida como indispensável
durante esta intervenção, visto que estudos evidenciaram a melhora de pacientes em mania
bipolar quando expostos a estímulos desta cor (HENRIKSEN et al, 2016).
CONCLUSÃO
A Cromoterapia, bem como as demais práticas integrativas, mostra-se eficiente como
terapia adjuvante ao tratamento do paciente psiquiátrico. Visto que os recursos das terapias
alternativas buscam o equilíbrio corpo-mente e suas sessões são voltadas à harmonia física-
psíquica, os efeitos sobre sintomas do sofrimento mental, como ansiedade e depressão, podem
ser alcançados de forma acurada quando tais terapias aliam-se ao tratamento convencional.
Por utilizar as cores como ferramenta de tratamento, as possibilidades na elaboração de
sessões de Cromoterapia num contexto de enfermaria são vastas e independem de instrumentos
complexos impossibilitados de acessar o setor. Sendo assim, o tratamento com cores demonstra
sua eficácia não apenas por seus resultados, mas também por sua aplicabilidade, que perpassa
por pinturas/desenhos até banhos de luz e utilização de elementos naturais, como pedras e
cristais.
REFERÊNCIAS
1164
BRASIL. Ministério da Saúde: portaria n° 702, de 21 de março de 2018. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2018/prt0702_22_03_2018.html. Acesso em: 12
out 2018.
HAN, S.; LEE, D. The effects of treatment room lighting color on time perception and
emotion. Journal of Physical Therapy Science, v. 29, n. 7, p. 1247-1249, 2017.
HENRIKSEN, T. E. G. et al. Blue‐blocking glasses as additive treatment for mania: a
randomized placebo‐controlled trial. Bipolar disorders, v. 18, n. 3, p. 221-232, 2016.
SOUZA, L. P. M.; FORGIONE, M. C. R.; ALVES, V. L. R. Técnicas de relaxamento no
contexto da psicoterapia de pacientes com queixas de dor crônica e fibromialgia–uma
proposta. Acta Fisiátrica, v. 7, n. 2, p. 56-60, 2000.
YOSHIZUMI, A. M.; ASIS, D. G.; LUZ, F. A. Auricular Chromotherapy in the Treatment of
Psychologic Trauma, Phobias, and Panic Disorder. Medical Acupuncture, v. 30, n. 3, p. 151-
154, 2018.
1165
Oficina Terapêutica com Grupo de Idosos em um Nasf-Ab do Município de Maceió-Al –
Relato de Experiência
Amanda Karol Da Silva Generino
Míriam de França Chagas
Isabella Calheiros da Silva
A transição demográfica da população brasileira tem se tornado um desafio a saúde pública,
fazendo-se necessário a implantação e implementação das políticas públicas, para garantir o
envelhecer integrado a sociedade, independente e com qualidade de vida. Para isto, o Ministério
da Saúde preconiza a saúde do idoso como área estratégica, direcionadas aos profissionais da
Atenção Básica, a qual se insere o Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica,
composto por uma equipe multiprofissional, que se insere o Terapeuta Ocupacional,
desenvolvendo ações e estratégias de promoção, manutenção e recuperação da capacidade
funcional. Foi realizado o convite ao grupo de idosos que realizam atividades de práticas
corporais pela equipe do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica da cidade de
Maceió- Alagoas, tendo seis participantes. A oficina utilizou materiais de baixo custo e
recicláveis, e após a confecção, realizou-se o exercício prático seguindo as orientações das
facilitadoras do grupo. Como produto palpável desta oficina terapêutica teve-se as garrafas com
argolas e as letras do alfabeto, para estimulação motora e percepto-cognitiva. Além disto,
também foi observado maior interação entre os participantes do grupo. As oficinas terapêuticas
tem como objetivo desenvolver o aspecto da auto expressão dos indivíduos valorizando a sua
singularidade, a qual esta pode ser expressiva, de linguagem, físicas e de arte livre. Conclui-se
que a oficina terapêutica contribuiu de maneira significativa para o processo de interação social
e de desenvolvimento da capacidade criativa dos mesmos, contribuindo para o processo de
ressignificação de objetos recicláveis para recursos terapêuticos.
Palavras-Chave: Atenção Básica; Envelhecimento saudável; Terapia ocupacional.
INTRODUÇÃO
Nos últimos os anos a transição demográfica tem se tornado um grande desafio para o
Sistema Único de Saúde sendo necessária implantação e implementação de políticas públicas
de saúde mais eficazes.
1166
Diante disto se faz altamente necessário conhecer o processo do envelhecimento da
população, buscando opções para garantir a este grupo populacional a integração social e
econômica de forma independente e autônoma com qualidade de vida (MIRANDA,MENDES
E SILVA, 2016; BRASIL, 2010).
A saúde da pessoa idosa é uma das áreas estratégicas preconizadas pelo Ministério da
Saúde dirigidas aos profissionais que compõe a Atenção Básica. Neste contexto, insere-se o
Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (Nasf-AB), composto por
profissionais que desenvolvem ações de forma interdisciplinar, dentre eles, o Terapeuta
Ocupacional que atua em programas de promoção, proteção e recuperação da saúde, prevenção
e cura de doenças.
Oferece também atividades de inclusão social, educação e reabilitação (BRASIL 2002).
A atuação da terapia ocupacional no Nasf-AB, tem dentre outros objetivos, colaborar na
interação social com atividades que promovam a sociabilidade e a participação e inclusão social
da pessoa, família, grupos e comunidade.
Além disso, promover oficinas terapêuticas, culturais, expressivas, corporais, lúdicas e
de convivência (ROCHA; PAIVA; OLIVEIRA, 2012). No grupo voltado à atenção à saúde da
pessoa idosa, o terapeuta ocupacional junto à equipe interdisciplinar desenvolvem atividades
que tem como objetivo vivenciar ações de cuidado integral onde são envolvidas ações e
estratégias que visam à promoção, manutenção e recuperação da capacidade funcional, com
práticas motoras e cognitivas.
Nesta perspectiva, este trabalho traz um relato de experiência sobre a realização de uma
oficina terapêutica conduzido pela terapeuta ocupacional do Nasf-AB e por estagiárias de
terapia ocupacional, juntamente com pessoas de um grupo de idosos com o objetivo de
confeccionar recursos a serem usados em atividades de práticas corporais e psicomotoras.
METODOLOGIA
Dentre um grupo de idosos onde são desenvolvidas atividades de práticas corporais
facilitadas por uma equipe de Nasf-AB do Município de Maceió-AL, foi realizado um convite
para participação livre e espontânea de uma oficina terapêutica para confecção de recursos
terapêuticos a serem utilizados posteriormente em atividades práticas de objetivos motores e/ou
cognitivos. Aceitaram participar e compareceram seis usuários(as).
O local de desenvolvimento da oficina foi na Associação de Moradores localizada no
território de abrangência da ESF e que o Nasf-AB oferece apoio. Para confecção dos recursos
1167
foram apresentados os materiais e instrumentos a serem manuseados: tesouras, cola branca,
colas coloridas, fitas adesivas coloridas, tecidos, E.V.A., tinta guache, glíter, piloto permanente
e materiais recicláveis, como garrafas PET e tampinhas das respectivas garrafas.
Foram descritos e explicados os objetivos da oficina terapêutica, assim como os
objetivos dos recursos que seriam confeccionados. A oficina foi planejada com a realização de
atividade semi-estruturada, com confecção de recursos previamente estabelecidos: Garrafas
com argolas e Letras do alfabeto.
Após a etapa de confecção dos recursos, os participantes foram convidados a realizar
exercícios práticos utilizando-os, seguindo as orientações das facilitadoras. No término da
oficina, cada participante teve a oportunidade de verbalizar sobre a realização desta, o que foi
significativo ou importante para si.
RESULTADOS
Os recursos confeccionados foram garrafas com argolas, com objetivos de serem
trabalhadas várias possibilidades de práticas corporais, como o treino da coordenação motora e
psicomotricidade; e letras do alfabeto com objetivos de serem trabalhados os aspectos percepto-
cognitivos. Embora os recursos a serem confeccionados tenham sido indicados previamente,
cada participante era livre para utilizar os materiais a sua escolha, tendo a possibilidade de
depositar no recurso a disposição de materiais e cores de seu jeito, modo e personalidade,
levando, portanto, a criação de recursos com cores diferentes e características singulares.
Durante a realização da oficina, foi observado que foram envolvidas: a interação entre os
participantes; criatividade; expressão de sentimentos; coordenação motora, atenção e
concentração.
DISCUSSÃO
As oficinas terapêuticas tem por objetivo buscar o lado criativo de cada participante, e
além disso, construir a valorização dos aspectos saudáveis de cada indivíduo (FARIAS, et al,
2016). Vale ressaltar que as atividades terapêuticas podem ser expressivas, de linguagem,
físicas e de arte livre, e que devem possibilitar a estimulação de motricidade, afeto, autoestima,
interação grupal e assim sucessivamente (KANTORKI, et al, 2011). A prática do terapeuta
ocupacional no grupo é de potencializar efeitos terapêuticos, possibilitar a troca de experiência,
1168
socialização, aumento da auto-estima, estimulação dos aspectos cognitivos, senso de utilidade
e capacidade e assim sucessivamente (MENEZES, 2008).
CONCLUSÃO
Conclui-se que a oficina foi de suma importância, pois os idosos interagiram, se
expressaram, foram criativos e inovadores com as artes, confeccionaram os recursos que irão
utilizar em atividades futuras e vão passar a dar mais valor aos objetos, visto que os mesmo
foram produzidos por eles. Além disso, os recursos foram feitos de materiais recicláveis e os
usuários levaram de suas casas (garrafas PET e as tampas das garrafas).
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas e Estratégicas. Atenção à saúde da pessoa idosa e envelhecimento / Ministério
da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas,
Área Técnica Saúde do Idoso. – Brasília , 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Diretrizes do NASF: Núcleo de Apoio a Saúde da Família. Brasília: Ministério da
Saúde, 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Atenção
Especializada e Temática / DAET Coordenação Saúde da Pessoa Idosa / COSAPI –
BRASÍLIA, 2014.
FARIAS, I.D., et al. Oficina terapêutica como expressão da subjetividade. Rev. Eletrônica
Saúde Mental Álcool Drog. PEPSIC. V. 12, n.3, set., 2016.
KANTORSKI, L. P. et al. A importância das atividades de suporte terapêutico para o cuidado
em um Centro de Atenção. Rev. Enferm. Saúde. Pelotas, v. 1, n. 1, p. 4-13, 2011.
MENEZES, A. H. T. Confecção de brinquedos: uma alternativa de atividade na Terapia
Ocupacional junto à população idosa. Lins, SP, 2008.
MIRANDA, G. M. D.; MENDES, A. C. G.; SILVA, A. L. A. O envelhecimento populacional
brasileiro: desafios e consequências sociais atuais e futuras. Rev. bras. geriatr. gerontol., Rio
de Janeiro , v. 19, n. 3, p. 507-519, 2016.
1169
ROCHA, E.F.; PAIVA, L.F.A.; OLIVEIRA, R.H. Terapia ocupacional na Atenção Primária à
Saúde: atribuições, ações e tecnologias. Caderno de Terapia Ocupacional. UFSCar, São
Carlos, v. 20, n. 3, p. 351-361, 2012.
1170
Sofrimento psíquico e vulnerabilidade social: visão dos adolescentes e educadores
Marina Araújo Rosas
Manuella Fernandes Ferreira De Macedo
Juliana Da Silva Cajueiro
Bruna Olivia Santos Da Silva
Mayara Silva Gadelha
Keise Bastos Gomes Da Nóbrega
A adolescência, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente é caracterizada como o período
entre 12 e 18 anos. Devido ao seu estado de sujeito em desenvolvimento, o adolescente carrega
consigo uma condição intrínseca de vulnerabilidade. Método: Trata-se de um estudo de
abordagem quantitativa, corte transversal e descritivo, com adolescentes de ambos os sexos, 12
a 18 anos incompletos, e com educadores. Os instrumentos utilizados foram o Questionário de
Capacidade e Dificuldades e questionários sociodemográficos. Resultados: Constatou-se que
mais da metade da amostra, ou seja, 56,67% dos adolescentes apresentaram escore total
“normal”, já os escores “limítrofe” e “anormal” somados, totalizaram 43,33%, o que indicaria
possibilidades de problemas de saúde mental. Sendo os maiores índices de “anormalidade” para
os problemas de hiperatividade e comportamento pró-sociais.Também verificou-se que esses
problemas estão interferindo de forma negativa nas amizades, na vida cotidiana e escolar.
Conclusão: Adolescentes em vulnerabilidade social estão sujeitos a problemas de saúde mental,
mostrando assim a necessidade da promoção da saúde mental e prevenção de agravos que
poderiam se estender para vida adulta.
Palavras-chave: adolescência, educadores, vulnerabilidade social, saúde mental.
INTRODUÇÃO
A adolescência, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é caracterizada
como o período entre 12 e 18 anos. A fase da adolescência está relacionada com as mudanças
que ocorrem fisicamente durante a puberdade, entretanto, essas alterações não transformam por
si só o adolescente. Nesse processo apresentam-se também outras importantes mudanças, mais
diversas e menos visíveis, como as cognitivas, emocionais, sociais e de perspectiva sobre a vida
(PATIAS, et. Al. 2011; FERREIRA, FARIAS, 2010).
1171
Devido ao seu estado de sujeito em desenvolvimento e as alterações que acontecem nessa
fase, o adolescente carrega consigo uma condição intrínseca de vulnerabilidade. Entre os
diversos tipos de vulnerabilidade que o adolescente está sujeito, em destaque encontra-se a
vulnerabilidade social, que tem uma definição multidimensional o que qualifica a realidade de
sujeitos, grupos ou lugares em condição de debilidade, seja por aspectos biológicos,
epidemiológicos, sociais e/ou culturais. Esses motivos tornam as pessoas mais expostas a riscos
e a condições significativas de desagregação social, o que pode interferir na forma de viver e
adoecer e consequentemente na qualidade de vida, necessitando assim de proteção e cuidados
físicos, morais e psíquicos (SOBRAL, et. Al. 2015; FONSECA, et. Al. 2013).
São inúmeros os aspectos relacionados aos riscos para o adoecimento psíquico. Problemas
de saúde mental na adolescência implicam em altos custos sociais e econômicos, uma vez que
constantemente evoluem para situações de maior incapacidade em fases posteriores da vida. A
proteção da saúde mental do adolescente tem início com os pais, a família, a escola e a
comunidade (UNICEF, 2011).
Vale ressaltar que dentro desse contexto uma figura de referência para esses adolescentes
são os educadores. E é nesse cenário que se insere o papel desse educador e seu compromisso
com a educação. A busca por um entendimento maior sobre os problemas e dificuldades
enfrentados por esses adolescentes precisa ser incorporada por esses educadores, para que sejam
capazes de contribuir de fato na sua prevenção (SOUTO, TERRA, SOCCOL, 2012). Diante
disso, o objetivo do presente trabalho foi identificar a presença de sofrimento psíquico de
adolescentes em situação de vulnerabilidade social a partir da visão dos adolescentes e
educadores.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de abordagem quantitativa, corte transversal e descritivo, com
adolescentes e educadores que fazem parte da Organização Não Governamental (ONG). A
pesquisa envolveu adolescentes de 12 a 16 anos incompletos (foi restringida a esse público
devido à idade limite imposta pelo instrumento utilizado) que são assistidos pela ONG, como
também os educadores vinculados à mesma instituição.
A coleta de dados, a aplicação do questionário estruturado e o instrumento Questionário de
Capacidades e Dificuldades (SDQ-Por) ocorreu durante o período de julho a agosto de 2017,
após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética - UFPE, com parecer de número 2.106.776,
na ONG. Os dados foram analisados descritivamente, através de tratamento estatístico com
1172
auxílio do Software Microsoft Office Excel (2010), e posteriormente expostos através de
frequência simples. As informações do SDQ-Por, foram tratadas e analisadas a partir das as
cinco subescalas que compõem o instrumento, pontuadas e analisadas separadamente. Em
seguida, obteve-se a pontuação total de dificuldades, para a classificação em uma das três
categorias: normal, limítrofe e anormal. Os resultados foram discutidos com base em
levantamentos bibliográficos.
RESULTADOS
A amostra foi composta por 30 adolescentes, de ambos os sexos. Todos os entrevistados
estavam inseridos na escola, e a maioria dos adolescentes frequentava o ensino fundamental II,
e pertenciam a famílias nucleares e reconstruídas, sendo a mãe e o pai as figuras mais frequentes
como responsáveis. O nível socioeconômico das famílias era predominantemente baixo, com
83,33% com renda de um salário mínimo. Também participaram 4 educadores do sexo feminino
e 3 do sexo masculino, a idade variou entre 21 e 69 anos. A maioria tinha o nível técnico e/ou
superior completo, em relação à profissão todos se consideram educadores, quanto ao tempo de
trabalho na ONG foi entre 1 e 11 anos e as funções exercidas variaram entre professor de
música, de judô, de informática e de reforço escolar.
Mais da metade da amostra, ou seja, 56,67% dos adolescentes apresentaram escore total
“normal”, já os escores “limítrofe” e “anormal” somados, totalizaram 43,33%, o que indicaria
possibilidades de problemas de saúde mental. Considerando apenas os totais de “anormal”, a
subescala relacionada à hiperatividade obteve o maior escore, com 26,6%, enquanto nos totais
de “normal” o destaque foi para o comportamento pró-social (90%) e problemas de conduta
(76,7%). É importante ressaltar que há uma porcentagem significativa de casos na situação
“limítrofe” nas subescalas de problemas de relacionamento com colegas, hiperatividade e
sintomas emocionais.
A maioria dos adolescentes em situação de vulnerabilidade social apresentados nesse estudo
não obtiveram indícios de sofrimento psíquico segundo rastreio do Questionário de Capacidade
e Dificuldades (SDQ-Por) nas versões dos adolescentes e educadores. Entretanto, quando
consideradas as subescalas, os maiores índices de “anormalidade” foram para os problemas de
hiperatividade e comportamento pró-sociais e com maior expressividade no sexo feminino.
Foram identificados também alguns fatores de risco como: a baixa renda, o desemprego, a baixa
escolaridade dos pais e por vezes pertencer a famílias nucleares e reconstruídas. Porém, essas
1173
adversidades englobam problemas bem maiores dentro do contexto social, envolvendo fatores
políticos, ambientais, biológicos, epidemiológicos, sociais e/ou culturais.
Quanto ao SDQ-por, na versão para educadores, obteve-se uma amostra de 162
questionários, respondidos por sete educadores. O total das dificuldades revela uma
concordância entre o resultado dos adolescentes e educadores, visto que a para maioria dos
professores, 53%, estão na faixa normal, 25% limítrofe e 22% anormal.
DISCUSSÃO
O SDQ trata-se de um breve questionário de rastreio para problemas de saúde mental,
proposto para avaliar o comportamento de crianças e adolescentes dos 4 aos 16 anos. É
composto por 25 itens dispostos aleatoriamente, dividido em cinco subescalas: sintomas
emocionais, problemas de conduta, hiperatividade, problemas de relacionamento com colegas
e comportamento pró-social (SAUR, LOUREIRO, 2012). Vale ressaltar que o instrumento deve
ser utilizado para rastreio de problemas de saúde mental juvenil (STIVANIN, SCHEUER,
JUNIOR, 2008; LEIRIA, 2013).
Em relação à escolaridade, todos os adolescentes entrevistados são estudantes, sendo este
um pré-requisito para manter-se vinculado à instituição. Este fato, segundo Pessalacia,
Menezes e Massuia (2010), é um fator de proteção, visto que a escola é um lugar para adquirir
habilidades cognitivas, sociais e de redução das vulnerabilidades que os adolescentes podem
estar sujeitos.
Quanto ao nível socioeconômico, reforça-se a ideia de que o contexto ao qual está inserido
esse adolescente é um fator de risco para desenvolver ou não problemas relacionados à saúde
mental, a situação socioeconômica, especialmente a renda e pertencer a regiões menos
favorecidas é uma variável que pode estar ligada a saúde mental dos adolescentes. Ou seja,
indivíduos vulneráveis socialmente estão propensos a estarem vulneráveis psiquicamente
(MATSUKURA, FERNANDES, CID, 2012).
Na adolescência, a família pode atuar como um fator de proteção para que haja resistência
e enfrentamento apropriado diante das situações de risco (CID, 2015; ABAID, 2013).
Neste estudo observou-se uma taxa de prevalência de 20% dos adolescentes com escore
“anormal” para a saúde mental. Esse resultado mostra um índice em consonância com os de
outros estudos nacionais e internacionais, os quais têm indicado taxas de prevalência variando
de 10% a 25% (CID, MATSUKURA, 2014).
1174
CONCLUSÃO
A atenção à saúde mental do adolescente ainda é um desafio, existe a necessidade de
obtenção de informações mais precisas sobre as condições associadas aos problemas de saúde
mental na adolescência, principalmente em relação aos escolares, partindo deles a maioria dos
encaminhamentos para o atendimento psicológico nos serviços de saúde. O conhecimento sobre
o impacto desses transtornos na vida do adolescente é essencial, pois permite a identificação do
problema de saúde mental e as demandas de intervenção. Assim sendo, consideramos que é
preciso proteger e fortalecer um desenvolvimento que está em constantemente ameaça e
oferecer condições para o enfrentamento mais justo nas questões que se colocam no cotidiano
de cada um.
REFERÊNCIAS
ABAID, J.L.W. Entre risco e proteção: ajustamento psicossocial de adolescentes em
acolhimento institucional. 2013. 167p. Tese (Doutorado em psicologia) Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, 2013.
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1176
Academia da Memória: relato de experiência de um grupo de promoção de saúde
Raíssa Herold Matias Richter
Camila Cristina Siquieri
Considerando as Práticas Integrativas e Complementares e a Política Nacional de Atenção
Básica, foi criada a Academia da Memória no Centro de Práticas Naturais de São Mateus. Trata-
se de um dispositivo grupal que tem por objetivo estimular as diversas habilidades cognitivas
de adultos e idosos do território, além de promover a interação social, a capacidade para
contratualidade e o desenvolvimento de espaço de pertencimento. Trata-se de um relato de
experiência profissional, que descreve como o grupo Academia da Memória vem se
desenvolvendo no Centro de Práticas Naturais de São Mateus a partir da ótica das
coordenadoras do grupo. São realizadas atividades direcionadas diversas por meio de recursos
como leitura e escrita, música, dança, práticas corporais, jogos, vídeos, rodas de conversa e
orientações. Desde sua criação, vem sendo observado a melhora da autopercepção e atenção
dos participantes, a apropriação do espaço do grupo para desenvolvimento de novas habilidades
e aprendizado, a promoção de interação social e contratualidade entre os participantes. O grupo
Academia da Memória vem contribuindo para a promoção da saúde e prevenção de agravos à
saúde dos usuários, e para o fortalecimento da Atenção Básica no SUS.
Palavras-chave: Memória. Promoção da saúde. Práticas Integrativas e Complementares.
Terapia Ocupacional. Sistema Único de Saúde.
INTRODUÇÃO
A Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo vem desenvolvendo esforços para a
criação e manutenção dos Centros de Práticas Naturais (CPNs) nos últimos anos, com o objetivo
de difundir as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) no contexto do Sistema
Único de Saúde (SUS).
Hoje existem 6 tipos destes equipamentos em São Paulo, onde são oferecidas práticas
da medicina tradicional chinesa, homeopatia, medicina antroposófica, recursos terapêuticos
como a fitoterapia, as práticas corporais e meditativas.
1177
Segundo a Área Técnica da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, houve um
aumento significativo (217%) do número de Unidades de Saúde que oferecem práticas
corporais, meditativas e atividades físicas nos últimos anos.
Em São Mateus, bairro localizado na cidade de São Paulo, a maior parte dos usuários
do CPN é constituída pela população adulta e idosa, sendo que queixas relacionadas a prejuízos
na memória são comuns. A causa disto pode estar em diversos fatores: processo de
envelhecimento normal do ser humano, desenvolvimento de quadros de demência ou de
problemas psicológicos, cotidiano com pouca oferta de atividades ou situações recorrentes de
estresse.
Para responder esta demanda, desenvolveu-se a Academia da Memória, que propõe-se
a ser um grupo que atua nos campos da prevenção de agravos e da promoção, manutenção e
recuperação da saúde baseada em modelo de atenção humanizada e centrada na integralidade
do indivíduo, caminhando no mesmo sentido da Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares (BRASIL, 2006), da Política Nacional de Atenção Básica (BRASIL, 2012) e
da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (2006), baseando-se nos princípios do SUS de
integralidade do cuidado, universalidade, equidade e participação social.
Desta forma, o objetivo deste trabalho foi descrever como vem se desenvolvendo o
grupo Academia da Memória no CPN São Mateus.
METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência profissional, descrito pelas coordenadoras do
grupo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O grupo Academia da Memória foi criado em agosto de 2017 e vem se desenvolvendo
constantemente até a atualidade. Inicialmente teve a coordenação unicamente da terapeuta
ocupacional e atualmente conta com duas profissionais na coordenação, sendo uma terapeuta
ocupacional e outra assistente social. Ambas são responsáveis pela condução do grupo e
formulação das atividades desenvolvidas, cada uma contribuindo de acordo com sua
especificidade profissional, numa vertente interdisciplinar.
1178
O grupo é aberto e indicado principalmente para pessoas idosas, que apresentem ou não
alterações de memória. A maioria dos participantes é idoso, porém há adultos que também
frequentam este grupo. A maioria é do sexo feminino.
Atualmente o grupo acontece duas vezes por semana e tem duração de 1 hora.
Inicialmente o grupo contava com cerca de 8 participantes e hoje conta com cerca de 20 – o
que demonstra crescimento e interesse da população pela temática da memória.
Este grupo tem três grandes objetivos: 1. Estimular as habilidades cognitivas dos
participantes de atenção, concentração, memória de curto e longo prazo, memória
procedimental, memória semântica, autopercepção, comunicação, linguagem, raciocínio
lógico, aprendizagem e criatividade; 2. Promover a contratualidade, interação e participação
social; 3.Desenvolver-se enquanto espaço de vinculação e pertencimento.
No grupo são realizadas atividades direcionadas, utilizando-se de recursos audiovisuais,
leitura, escrita, música, dança, jogos, vídeos, atividades corporais e outras, além de rodas de
conversa e orientação.
As intervenções são feitas por meio de atividades grupais e/ou atividades individuais
em contexto grupal à fim de trabalhar com diversas possibilidades.
Livros e artigos científicos da área de neurociência, terapia ocupacional, práticas
integrativas e complementares em saúde e saúde pública respaldam teórico-metodologicamente
a condução deste grupo.
Mais do que exercitar as funções cognitivas…
Com dois anos de existência da Academia da Memória no CPN São Mateus é possível
refletir que não se trata exclusivamente ou até prioritariamente de “treinar as funções
cognitivas”. A característica da contratualidade, da participação social, da possibilidade de
vinculação e pertencimento, especialmente na velhice, é imprescindíveis para a real promoção
de saúde dos usuários do grupo.
Camargo, Telles e Souza afirmam que as pessoas idosas “[…] vem buscando novos
modos de viver e se relacionar, conduzidos para um envelhecimento com engajamento e opções
motivadoras […]” (2018, p. 367) e destacam que as PICS tem se estabelecido como um
caminho potente para esta demanda.
Observa-se, portanto, que a Academia da Memória vem se constituindo com atividades
que tem buscado responder a estas demandas, o que está além da função da memória, numa
compreensão mais reducionista. O que se quer pontuar com este trabalho é que o treino da
memória se desenvolve por meio de atividades direcionadas, que são realizadas sim no contexto
1179
do grupo, mas também por meio do estimulo à participação social dos usuários – este fator é
tão importante quanto.
Outro aspecto relevante é que o grupo Academia da Memória, apesar de ser aberto e ter
participantes flutuantes, conta com usuários assíduos que tem criado uma rede de vinculação
importante. Não se trata de um agrupamento de pessoas, mas sim um coletivo que se reconhece
no outro e nas propostas de cuidado ofertadas neste contexto.
A aprendizagem requer afeto, segundo Paulo Freire, o que é válido para contextos da
infância e também da velhice, pois aprender é um exercício constante na vida do ser humano.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se que a experiência da Academia da Memória no contexto do CPN São
Mateus vem acontecendo de forma positiva, com vinculação/afeto e com participação social
relevante dos usuários, ampliando as formas de desenvolver cotidianos saudáveis e promover
saúde em meio às Práticas Integrativas e Complementares, além de contribuir para o
fortalecimento do SUS e da Atenção Básica.
REFERÊNCIAS
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Política Nacional de Atenção Básica / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2012. 110 p. : il. – (Série E.
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Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS - PNPIC-SUS /
Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. -
Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 92 p. - (Série B. Textos Básicos de Saúde).
CAMARGO, T. C. A.; TELLES, S. C. C.; SOUZA, C. T. V. A (re)invenção do cotidiano no
envelhecimento pelas práticas corporais e integrativas: escolhas possíveis, responsabilização e
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<https://doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAO1238>. Acesso em 10 jun 2019.
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2006. Disponível em
1180
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_cuidado_pessoa_idosa_sus.pdf>.
Acesso em 23 jul 2019.
Prefeitura Municipal de São Paulo. Secretaria Municipal de Saúde. Área Técnica da
Secretaria Municipal da Saúde. Disponível em:
<http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/atencao_basica/index.php?p=1936
>. Acesso em 10 fev 2018.
1181
‘’ A gente a acolheu!’’, oficina da memória com idosos: um relato de experiência
Manuela Martins da Silva
Larissa Conceição
Maria Gisele Cavalcanti
Fernanda Dias
Flaviana de Cássia
Érica Verônica
O processo de envelhecimento inicia em todo ser humano a partir de seu nascimento, porém a
sociedade nota-o apenas na fase da velhice. A memória é uma das funções cognitivas mais
importantes, permitindo ao cérebro receber, armazenar, processar e recuperar informações no
momento e de forma apropriada. Diante deste contexto, objetiva-se compreender a relevância
da Oficina da memória para idosos. Trata-se de um relato de experiência desenvolvido por
discentes, do curso de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Pernambuco, durante
o cumprimento de práticas curriculares na disciplina de Terapia Ocupacional e Envelhecimento
Nos cinco primeiros encontros a docente ministrou os encontros com o auxílio das discentes e
da monitora da disciplina. Os idosos demonstraram grande entusiasmo durante os encontros,
participando ativamente dos mesmos. As conduções demandavam das alunas um planejamento
de atividades que fossem lúdicas e descontraídas, mas com o objetivo de trabalhar os
componentes cognitivos. Ressalta-se que as atividades da oficina da memória podem apresentar
mudanças no cotidiano dos idosos, melhorando as habilidades cognitivas e favorecendo o
desempenho na realização das atividades diárias. A estimulação cognitiva pode melhorar
significativamente a qualidade de vida dos idosos, visto que a realização de algumas atividades
cotidianas depende da integridade dessas habilidades.
Palavras-chave: Envelhecimento; Memória; Terapia Ocupacional.
INTRODUÇÃO
O envelhecimento é compreendido como um processo complexo, orgânico, progressivo,
natural, individual e não patológico do desenvolvimento de um organismo maduro, evoluindo
conforme o avançar do tempo e notado pela sociedade na fase da velhice (BRASIL, 2006).
Entre as alterações ocorridas no envelhecimento, temos as mudanças físicas, hormonais,
1182
emocionais, socioeconômicas e principalmente perdas cognitivas, de memória e alterações
neurológicas que podem acarretar mudanças no desempenho ocupacional (SATO; BATISTA;
ALMEIDA, 2014).
O envelhecimento atual faz parte da realidade social, devido ao crescimento populacional
desse grupo etário no Brasil e no mundo, expressados nas pirâmides etárias dos países. Isso
ocasiona a necessidade de criação de políticas sociais, de saúde e educação para atender a
população idosa, proporcionando maior qualidade de vida, participação social, proteção,
segurança e cuidados necessários (ARAÚJO et al, 2012).
A memória é uma das funções mais importantes e envolve basicamente três processos
neurológicos: o processamento, o armazenamento e a evocação da informação, ou seja, as
informações chegam pelos canais sensoriais e são enviadas ao cérebro para as áreas
responsáveis, onde ficam armazenadas e podem ser convocadas de acordo com a necessidade
(PEREIRA, 2012).
Outras habilidades como atenção, linguagem, ritmo e relações sociais também podem
ser diminuídas naturalmente ou prejudicadas por consequência de patologias como a Doença
de Alzheimer ou outro tipo de demência, trazendo comprometimentos no cotidiano dos idosos.
É função do terapeuta ocupacional na gerontologia, trabalhar as necessidades do idoso nas
Atividades de Vida Diária (AVD) e relações sociais prejudicadas por questões cognitivas e de
memória, com intervenções através de treinos cognitivos como os realizados nas Oficinas da
Memória (SATO, 2014).
As Oficinas da Memória são realizadas com o objetivo de estimular a memorização,
atenção, associação, cálculo, entre outros, e esclarecer os participantes acerca do funcionamento
de suas funções cognitivas criando, juntamente com os idosos, estratégias para melhorar ou
manter o desempenho da memória (ALMEIDA, 2007). Assim, o objetivo deste trabalho é
relatar a vivencia em uma Oficina da Memória com os idosos e a compreender seus benefícios,
através da experiência dos discentes do curso de Terapia Ocupacional da Universidade Federal
de Pernambuco.
METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência desenvolvido por discentes e docente do curso de Terapia
Ocupacional, da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, durante o cumprimento de
práticas curriculares na disciplina de Terapia Ocupacional e Envelhecimento I. Os encontros
contavam com cerca de dez idosos, cinco discentes, uma docente e uma monitora da disciplina.
1183
Foram realizados dez encontros semanais, nas quintas-feiras, no Departamento de Terapia
Ocupacional, com duração de três horas. O público alvo era o idoso, a partir de 60 anos, com
queixas simples de esquecimentos diários, porém sem diagnóstico de demência.
RESULTADOS
O espaço foi organizado com cadeiras em círculo, facilitando a comunicação,
concentração e interação do grupo entre si e a equipe. Com o tempo, percebeu-se a formação
de um bom vínculo entre os participantes, porém alguns comportamentos competitivos foram
observados.
Durante as atividades da Oficina, foi observado que dois integrantes necessitavam de
maior atenção e acompanhamento constante, para que conseguissem acompanhar as atividades
no tempo do grupo. Esses idosos também apresentavam mais dificuldade na atenção,
concentração e memória de curto prazo.
Os cinco primeiros encontros foram facilitados pela docente com o auxílio das
discentes e a monitora da disciplina. As atividades tinham como principal foco estimular as
habilidades processuais estudadas pela Terapia Ocupacional como: memória, atenção,
concentração, linguagem, cálculo, entre outras. Nos últimos cinco encontros, as alunas foram
facilitadoras e seguiam o raciocínio já vivenciado nos encontros anteriores, trazendo atividades
diferenciadas, porém com os mesmos objetivos: estimular as funções cognitivas, já citadas
anteriormente.
As práticas foram bem aceitas pelos idosos, que demonstraram grande entusiasmo e
engajamento durante os encontros. As conduções demandavam das alunas um planejamento de
atividades que fossem lúdicas e descontraídas, mas com o objetivo de trabalhar os componentes
cognitivos.
A criação de vínculo, entre todos, foi observada desde os primeiros encontros e
permaneceu durante toda a Oficina. Observou-se que os idosos sentiam confiança e desejo de
compartilhar suas experiências, inclusive de outras fases da vida. Provavelmente, a
disponibilidade e acolhimento, tanto dos participantes como dos facilitadores contribuiu para a
boa interação de todos.
DISCUSSÃO
1184
Ressalta-se que os objetivos da oficina da memória podem apresentar alterações no
cotidiano desses idosos, melhorando as habilidades cognitivas e favorecendo o desempenho na
realização das atividades diárias. Araújo et al. (2012) referem que essas atividades favorecem
práticas de leitura, raciocínio lógico, atenção, concentração, registro, aprendizado de técnicas
de memorização, oferecendo mudanças positivas na realização de atividades significativas no
cotidiano do idoso.
Com o aumento das redes de comunicação entre os idosos e a própria comunidade,
observou-se que a participação em atividades de grupo favorece um maior contato com as
pessoas, facilitando assim a interação social. A troca de saberes facilita uma influência mútua
positiva entre os idosos, se estendendo desde as experiências pessoais até os seus próprios
direitos (BATISTA; FARIAS; GOMES, 2017).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A estimulação cognitiva, compreendendo todos os componentes cognitivos, contribui
significativamente na qualidade de vida dos idosos, visto que os processos para a realização de
algumas atividades cotidianas dependem intrinsicamente de tais habilidades. Proporcionar aos
idosos um espaço terapêutico onde eles se sintam compreendidos e devidamente orientados
diminui significativamente os danos ocasionados pelo processo natural do envelhecimento.
Garantir esses espaços maximiza a autonomia do idoso e possibilita um envelhecimento ativo
e saudável fazendo com que estereótipos negativos sejam diminuídos. Diante disso, as práticas
de Oficina da Memória, proporcionam aos alunos uma real experiência e aprendizagem sobre
os benefícios das atividades em grupos com idosos, fundamentados nas publicações científicas
sobre o tema.
Enfim, as atividades desenvolvidas promoveram o crescimento pessoal, de participantes
e facilitadores, através do respeito ao ritmo e potencial de todos. Ficou evidente o total
engajamento dos idosos a cada encontro, podendo ser atribuído às estratégias de cada atividade
e dinâmicas elaboradas e apresentadas, promovendo assim um maior interesse para dar
continuidade à oficina.
REFERÊNCIAS
1185
ALMEIDA, M. H. M., BEGER, M. L. M., WATANABE, H. A. W. Oficina de memória para
idosos: estratégia para promoção da saúde. Interface - comunicação, saúde, educação. v. 11,
n.22, p.271-280, mai/ago 2007.
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ARAÚJO, P. O., SILVEIRA, E. C., RIBEIRO, A. M. V. B., SILVA, J. D. Promoção de saúde
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BATISTA, F. E. A.; FARIAS, R.C.P; GOMES, A. O. Grupo de convivência como instrumento
de inserção social de idosos: o caso do PMTI de Viçosa-MG, 2017.
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pessoa idosa. Brasília, 2006.
PEREIRA, Z. M. F. Treino Cognitivo em Idosos sem Demência. Bragança, 2012. Dissertação
(Mestrado em Envelhecimento Ativo). Instituto Politécnico de Bragança, Escola Superior de
Saúde de Bragança.
SATO, A. T., BATISTA, M. P. P., ALMEIDA, M. H. M. Programas de estimulação da
memória e funções cognitivas relacionadas”: opiniões e comportamentos dos idosos
participantes. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo. v.25, n.1, p.
51-59, 2014.
1186
Terapia Ocupacional na saúde da mulher no programa pré natal da unidade materno-
infantil do marco em Belém-PA: um relato de experiência
Amanda Gabrielle do Vale Neves Machado
Ana Carolina Souza da Silva
Ana Clara Santos Padilha
Bianca Matos da Cruz
Rosane Maria Carneiro dos Santos
A melhoria da saúde materno-infantil no Brasil se deu a partir dos avanços de políticas públicas
do Sistema Único de Saúde. Nesse contexto, o trabalho possui o intuito de relatar a experiência
de acadêmicas do curso de Terapia Ocupacional da Universidade do Estado do Pará no
programa saúde da mulher, sobretudo no setor de pré-natal da Unidade Básica de Saúde do
Marco. A partir de informações trocadas durante conversas com as participantes, observamos
o surgimento de dúvidas quanto ao autocuidado e à saúde mental desse público. Assim, houve
a necessidade de criar um grupo de gestantes, na unidade, com temáticas relacionadas às
técnicas posturais e de relaxamento, atividades expressivas e de corporeidade, orientações para
Atividade de Vida Diária e Atividade Instrumental de Vida Diária, visando à promoção do
desempenho ocupacional adequado e a educação em saúde sobre sintomatologias comuns do
período gestacional. Durante as práticas desenvolvidas, notamos a relevância da atuação do
profissional terapeuta ocupacional na Atenção Básica em razão do retorno positivo do grupo de
gestantes. Portanto, a realização desses grupos foi de suma importância, devido garantir uma
abordagem integral e o trabalho grupal é uma estratégia educativa pela sua ocorrência a partir
dos contatos entre as participantes de forma dinâmica e reflexiva. A prática oportunizou as
acadêmicas vivencia profissional e capacitação de suas habilidades, além de despertar o olhar
humanizado para o serviço em saúde e notar a importância da Atenção Primária.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional; Atenção Primária à Saúde; Saúde Materno-Infantil;
Gestantes.
INTRODUÇÃO
A melhoria da saúde materno infantil no Brasil se deu a partir dos avanços das políticas
públicas por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), que visam à atenção integral a saúde da
1187
mulher nos períodos de pré-natal, puerperal e até os dois anos de vida da criança. Logo, tem-se
o intuito de reduzir a mortalidade e morbidade materno-infantil, visto que por meio dos
procedimentos do pré-natal é possível identificar riscos de saúde não somente para mãe, mas
também para o bebê e assim fazer os encaminhamentos necessários (TOMASI ET al., 2017).
Dessa forma, foi criado o programa Rede Cegonha a fim garantir o planejamento
reprodutivo, a humanização do parto e o direito da criança a um desenvolvimento saudável
(BRASIL, 2017).
Diante do exposto, é necessária uma equipe multiprofissional para atender essa
demanda, no qual surge a necessidade da Terapia Ocupacional, que atua nesse setor com o
objetivo de criar estratégias terapêuticas ocupacionais por meio de atividades individuais ou
grupais a fim de promover prevenção, educação em saúde, empoderamento da mulher e
abordagens corporais com o intuito de potencializar o cotidiano e proporcionar um melhor
desempenho ocupacional para as gestantes (FERIGATO; SILVA; AMBROSIO, 2018).
Nesse sentido, o objetivo desse trabalho é relatar a experiência de acadêmicas de Terapia
Ocupacional no programa saúde da mulher no setor de pré-natal da Unidade Básica de Saúde
do Marco.
METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência vivenciado durante as aulas práticas da disciplina
Clínica em Terapia Ocupacional I, por discentes do segundo ano do curso de Terapia
Ocupacional da Universidade do Estado do Pará (UEPA). As aulas práticas ocorriam
semanalmente, todas às terças-feiras pela manhã, no período de fevereiro a junho de 2019. A
prática era desenvolvida na Unidade de Atenção Materno Infantil, no serviço de referência do
setor de Ginecologia no programa de pré-natal, que se localiza no bairro do Marco em Belém -
Pará.
Essa prática foi o primeiro contato das discentes com a saúde da mulher e da criança,
em que houve a aplicação prática do conteúdo teórico que era ministrado em sala de aula. Dessa
maneira, durante os cinco meses na unidade foram abordados temas relacionadas à saúde da
mulher, gravidez e desenvolvimento infantil. No primeiro momento, fazíamos salas de espera,
onde eram abordados temas relacionados ao período gestacional como a importância do
aleitamento materno, vínculo mãe-bebê, mitos e verdades sobre a gravidez e a importância dos
testes de triagem e das vacinas.
1188
A partir das trocas de experiência e informação durante as conversas com as gestantes,
observamos que elas possuíam muitas dúvidas quanto ao autocuidado, descanso, sono e
adequação de postura durante a gestação. Além de questões relacionadas à saúde mental.
Portanto, constatamos que havia a necessidade de criar um grupo de gestantes na
unidade, o qual foi formado pelas gestantes que eram convidadas da sala de espera e outras que
foram chamadas a participarem e que já estavam inseridas no programa pré-natal.
Os atendimentos do grupo foram realizados no Laboratório de Motricidade Humana da
Universidade do Estado do Pará. As principais temáticas trabalhadas durante os encontros
foram baseadas a partir das necessidades relatadas por elas como técnicas de posturas e
relaxamento, atividades expressivas e corporeidade, orientações sobre Atividades de Vida
Diária (AVD’s) e Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD’s) para promoção do
desempenho adequado durante suas ocupações cotidianas e educação em saúde por meio de
rodas de conversas sobre os sintomas mais comuns do período e orientações para as queixas
mais frequentes como inchaços e lombalgia.
RESULTADOS
A partir da definição do lugar para a vivência prática, Unidade de Saúde do Marco
programa de pré-natal, foi observada a realidade do local e percebeu-se que Terapia
Ocupacional está conquistando seu espaço na Unidade.
Nessa perspectiva, ainda tem-se a falta de salas, recursos e materiais adequados e
específicos de Terapia Ocupacional para as gestantes, bem como a escassez de literatura nessa
área, esperando-se então que com as aulas e o espaço que vem sendo conquistado, possamos
demonstrar e oportunizar um melhor cenário de atendimento e intervenção do profissional de
Terapia Ocupacional neste programa. Acreditamos que com os resultados, ocorra uma melhora
dos atendimentos e das práticas desenvolvidas pelos acadêmicos e também pelos profissionais
de Terapia Ocupacional na Unidade de Saúde.
A Terapia Ocupacional na Atenção Primária tem como principal foco a promoção de
educação em saúde, buscando prevenção e fornecimento de orientações sobre diversas
temáticas necessárias no período da gravidez e após o parto.
Assim, verificou-se que a Terapia Ocupacional é de suma importância na Unidade,
entretanto não é reconhecida como uma profissão necessária no período pré-natal, tanto pelos
usuários quanto pela equipe multiprofissional, cenário este que vem sendo mudado pelo
desenvolvimento das aulas práticas.
1189
Sendo assim, durante as vivências desenvolvidas na sala de espera e nos atendimentos
grupais, observou-se a relevância da atuação deste profissional na Atenção Básica em razão do
retorno positivo do grupo de gestantes, haja vista que as usuárias relataram uma melhora na
qualidade de vida após a participação no grupo.
No mais, verificou-se que as gestantes possuíam muitas dúvidas quanto às mudanças
corporais e ocupacionais ocorridas no período da gestação.
As participantes queixavam-se de lombalgias, edemas nos joelhos e nos pés, assim
como, tinham dúvidas em relação a suas ocupações diárias como: cozinhar, dormir, praticar
atividades físicas, entre outras.
Dessa forma, as atividades planejadas tinham o intuito de minimizar os diversos
incômodos no corpo, ocasionados pelas alterações hormonais e pelo ganho de peso, além de
oferecer orientações sobre as AVD’s e AIVD’s. Com isso, essas atividades e orientações,
serviram para que as participantes alcançassem um bem estar, reduzindo o estresse e as
controlando as dores, também permitiu um melhor desempenho nas tarefas que exerciam.
No decorrer das sessões muitas relataram melhoras na autoestima, no descanso e sono,
na respiração e em suas AVD’s e AIVD’s. Nos dias de atendimento em grupo observamos a
satisfação de todas, pela participação ativa delas nas atividades propostas. Portanto, o trabalho
do Terapeuta Ocupacional é importante na saúde materno-infantil, para auxiliar e ajudar da
melhor forma as gestantes e seus bebês.
Nesse sentido, as estagiárias analisaram o andamento das sessões e foram capazes de
constatar que o acolhimento e o esclarecimento de dúvidas de forma acessível, promoveram
confiança e engajamento por parte das gestantes.
DISCUSSÃO
Sabendo-se que pode produzir sentidos particulares, gestar e criar uma criança são sempre um
momento de notoriedade na vida das mulheres. Refere-se a um processo que produz mudanças
corporais, psíquicas e ocupacionais, assim requer quase sempre uma adaptação.
Dessa maneira, a gravidez e a maternidade constituem uma vivência que é a um só
tempo corporal e sociocultural, fazendo com que seja preciso ponderá-las dentro de cenários
existenciais, das noções do corpo e de outros (FERIGATO; SILVA; AMBROSIO, 2018).
Dentro dessa perspectiva, o grupo de gestantes formado por usuárias do programa de
pré-natal, iniciou a partir de demandas relacionadas a mudanças corporais, já que se entende
que na gestação a mulher passa por diversas transformações tanto no âmbito corporal quanto
1190
no emocional (REBERTE; HOGA, 2005). Questões relacionadas a dores no corpo e dificuldade
em AVD’s e AIVD’s foram bem evidenciadas nos relatos das gestantes.
Dentro disso, percebe-se que a realização de grupos de gestantes é considerável, pois
garante uma abordagem integral, visto que na gestação o trabalho corporal pode auxiliar na
conscientização e sensibilização do próprio corpo, este que se encontra em acentuado processo
adaptativo.
Além disso, o trabalho grupal pode ser empregado como estratégia do método
educativo, pois a concepção deste ocorre a partir dos contatos entre seres humanos de forma
dinâmica e reflexiva (REBERTE; HOGA, 2005).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Participar da prática no programa pré-natal oportunizou as acadêmicas a vivencia
profissional e desenvolvimento e capacitação de suas habilidades, além de despertar o olhar
humanizado para o serviço em saúde e notar a importância da Atenção Primária.
Entretanto, atuação da Terapia Ocupacional é nova na unidade do Marco, portanto ainda
está caminhando para firmar o seu espaço, que já notamos ser de grande relevância e
necessidade.
Dessa forma, durante o estágio houve grande dificuldade com as salas próprias para a
realização dos atendimentos, haja vista que ainda não existe um setor especifico de Terapia
Ocupacional no local, mesmo possuindo demanda para tal, porém isso não invalidou a prática
desenvolvida nos espaços anexos pertencentes à universidade.
No mais, embora a Atenção Básica venha mostrando suas conquistas, ainda são visíveis
à falta de conhecimento dessa prática e do conceito da Atenção Primária à Saúde e do seu papel
pra o nosso desempenho ocupacional adequado, pois ainda é muito forte a mentalidade da
medicina curativa, em detrimento de práticas preventivas de saúde.
Portanto, é essencial fomentar os conhecimentos acerca da valorização da Atenção
Básica e da Terapia Ocupacional nesse serviço para a melhor atuação na saúde individual e
coletiva das gestantes na unidade.
REFERÊNCIAS
1191
BRASIL. Ministério Da Saúde. Sobre o Programa. [S. l.], 16 maio 2017. Disponível em:
http://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/rede-cegonha/sobre-o-programa/. Acesso em: 3
jul. 2019.
FERIGATO, S. H.; SILVA, C. R.; AMBROSIO, L. A corporeidade de mulheres gestantes e
a terapia ocupacional: ações possíveis em Atenção Básica em Saúde. Cad. Bras. Ter. Ocup.,
São Carlos, v. 26, n. 4, p. 768-783, 2018. ISSN 2526-8910. DOI: https://doi.org/10.4322/2526-
8910.ctoAO1173. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S252689102018000400768&lng=p&
nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 6 jul. 2019.
Reberte, l. M.; hoga, l. A. K. O desenvolvimento de um grupo de gestantes com a utilização
da abordagem corporal. Revista Texto contexto enferm 2005 abr-jun; 14(2):186-92. Issn
0104-0707. Doi: http://dx.doi.org/10.1590/s0104-07072005000200005.
Tomasi, e. Et al.
Qualidade da atenção pré-natal na rede básica de saúde do Brasil: indicadores e
desigualdades sociais. Cadernos de Saúde Pública, [s.l.], v. 33, n. 3, p.1-11, 2017.
FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00195815. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/csp/v33n3/1678-4464-csp-33-03-e00195815.pdf. Acesso em: 12 jul.
2019.
1192
Complexidade da Prática de Terapeutas Ocupacionais em Núcleo Ampliado de Saúde da
Família e Atenção Básica (NASF-AB)
Rodrigo Alves Dos Santos Silva
Fátima Correa Oliver
O objetivo deste trabalho foi analisar a complexidade da prática de terapeutas ocupacionais em
NASF-AB. Pesquisa realizada de abordagem qualitativa por meio da Teoria Fundamentada nos
Dados. A construção de dados qualitativos se deu por meio de entrevistas intensivas, com oito
terapeutas ocupacionais de NASF-AB de capitais e regiões metropolitanas do nordeste e
sudeste. A análise foi guiada pelas três etapas de codificação inicial, focalizada e teórica. Neste
trabalho é apresentada uma categoria “complexidade da prática de terapeutas ocupacionais em
NASF-AB”. Os principais achados estão descritos em quatro subcategorias que envolvem
desafios relacionados a: - Estrutura dos serviços de Atenção Primária à Saúde (APS), o
desmonte do SUS e a vulnerabilidade social e violência envoltos no território da APS; -
Realização de práticas interprofissionais no NASF-AB; - Núcleo da terapia ocupacional na
APS; - Falta de clareza, segurança e legalidade para realizar algumas práticas de terapia
ocupacional no NASF-AB. Esses desafios expressam a complexidade de realizar o trabalho na
APS, em especial, para terapeutas ocupacionais, já que seus profissionais relatam dificuldade
na clareza do núcleo da área e de segurança para realização das ações, o que também influencia
a participação nas práticas interprofissionais e no reconhecimento das suas práticas pelas
equipes. A complexidade apontada favorece a continuidade de uma inserção incipiente da área
no NASF-AB, além de provocar o baixo reconhecimento de suas ações, o que requer maior
investimento da categoria em sistematizar, detalhar e fortalecer a atuação na APS.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional; Atenção Primária à Saúde; Sistema Único de Saúde.
INTRODUÇÃO
É necessário o fomento de estudos e de publicações sobre os desafios para a prática de
terapeutas ocupacionais na Atenção Primária à Saúde (APS) (DONNELLY et al. 2016).
Essa compreensão pode favorecer a da inserção de terapeutas ocupacionais na APS
brasileira, em especial no Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB)
1193
de forma mais efetiva e, principalmente, possibilitar o aumento de oferta de cuidado aos
usuários e de apoio às equipes de Saúde da Família, no Brasil. Nesse sentido, o objetivo deste
trabalho foi analisar a complexidade da prática de terapeutas ocupacionais em NASF-AB.
METODOLOGIA
Esta pesquisa foi realizada a partir de uma abordagem qualitativa por meio da Teoria
Fundamentada nos Dados (TFD) ou Grounded Theory. A TFD busca explicar e descrever o
processo de uma experiência comum e reunir conhecimentos a partir dos dados construídos por
meio de seus métodos para formular teorias (CHARMAZ, 2009).
A construção de dados qualitativos se deu por meio de entrevistas intensivas, com oito
terapeutas ocupacionais do NASF-AB elencados a partir do banco de dados coletados junto de
105 terapeutas ocupacionais que participaram do estudo de caracterização das ações
profissionais na APS no Brasil (SILVA; OLIVER, 2019).
Como critérios de relevância para a entrevista foram considerados os terapeutas
ocupacionais que atuavam no NASF-AB em capitais e regiões metropolitanas do sudeste e
nordeste, onde se concentrava a maior parte dos profissionais e que tinham maior tempo de
atuação na APS nessas regiões, no ano de 2016.
Os dados construídos pelas entrevistas intensivas foram registrados por meio da
gravação de áudio, transcritos e analisados a partir da codificação inicial, codificação focalizada
e codificação teórica (CHARMAZ, 2009). Após a análise foram construídas quatro categorias
teóricas e neste trabalho será apresentada apenas a categoria: a complexidade prática de
terapeutas ocupacionais em NASF-AB e suas respectivas subcategorias.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de
São Carlos (CEP/UFSCar), segundo CAAE de nº 68134317.0.0000.5504.
RESULTADOS
A complexidade da prática de terapeutas ocupacionais em NASF-AB pode ser
apreendida por meio das subcategorias: 1 - Desafios que envolvem a estrutura dos serviços de
Atenção Primária à Saúde (APS), o desmonte do SUS e a vulnerabilidade social e violência
envoltos no território da APS; 2 - Desafios de realizar práticas interprofissionais no NASF-AB;
3 - Desafios do núcleo da terapia ocupacional na APS; 4 - Falta de clareza, segurança e
legalidade para realizar algumas práticas de terapia ocupacional no NASF-AB.
1194
Em relação aos Desafios que envolvem a estrutura dos serviços de APS, o desmonte
do SUS e a vulnerabilidade social e violência envoltos nos territórios da APS as profissionais
consideraram:
Precarização da APS [demissão de equipes ESF e NASF-AB] e
dificuldade de articular as ações NASF-AB com a ESF - desafio –
rotatividade profissional de trabalhadores da ESF [Participante 6 - Rio
de Janeiro].
Principais dificuldades é o recurso, recursos matérias e insumos para
realizar o trabalho [...] além da dificuldade de realizar ações
longitudinais e comunitárias [Participante 1 - Salvador].
Esses desafios do nível assistencial da APS se somam ao desmonte do SUS
considerando:
Fechamento do NASF-AB [Participante 6 - Rio de Janeiro].
Obrigação de Metas [trabalho na Organização Social (OS)]
[Participante 5 - São Paulo - zona sul].
A gente tem desafio muito grande agora, essencialmente agora, de
desmonte mesmo da atenção básica e do SUS [Participante 2 - Recife].
Além desses desafios enfrentados pelo SUS e pela APS, os territórios das regiões
metropolitanas em que os profissionais realizam suas práticas convivem com a vulnerabilidade
social e violência.
[O contexto de trabalho da APS] temos violência e vulnerabilidade
social da população [Participante 8 - São Paulo - zona norte].
Quanto aos Desafios de realizar práticas interprofissionais no NASF-AB percebe-se
que mesmo que o dispositivo do NASF-AB seja um fomentador de prática interprofissional
devido sua característica de serviço de apoio, ainda:
1195
Existem tensões e desafios do trabalho interprofissional com a equipe
[ESF] [Participante 1 - Salvador].
[Tem sido um desafio] o não reconhecimento da especificidade da TO
dentro das equipes de ESF e NASF-AB [Participante 8 - São Paulo -
zona norte].
No que diz respeito aos Desafios do núcleo da terapia ocupacional na APS houve a
indicação da:
Necessidade de fortalecimento da formação graduada [terapia
ocupacional] voltada para APS e para a categoria profissional
[participante 1 - Salvador].
Além disso, considerou-se a importância da sistematização teórico-prática e de
indicadores da efetividade da prática da terapia ocupacional no NASF-AB.
Falta de sistematização da terapia ocupacional na APS [Participante 4 -
Maceió].
O desconhecimento da terapia ocupacional por parte de usuários, profissionais da APS
e gestores faz com que exista a necessidade permanente de demonstrar “o que o terapeuta
ocupacional faz no NASF-AB”.
Necessidade de explicar à equipe de ESF sobre o que é a profissão
terapia ocupacional [Participante 4 - Maceió].
[Dificuldade de reconhecimento da terapia ocupacional do NASF-AB
pelos usuários] - a minha paciente, ela mesma já me fez essa pergunta
“o que é a TO”? - “eu sei que você me faz bem, você me ajudou, mas o
que é que é isso?” [...] [existe também] a não compreensão da terapia
ocupacional pela gestão da APS [Participante 8 - São Paulo - zona
norte].
1196
Um outro desafio que tem prejudicado a inserção e empregabilidade é a diminuição do
número de terapeutas ocupacionais atuando em NASF-AB.
Demissão de terapia ocupacional dos serviços NASF-AB [Participante
6 - Rio de Janeiro].
Em relação à Falta de clareza, segurança e legalidade para realizar algumas práticas
de terapia ocupacional no NASF-AB as terapeutas ocupacionais relataram necessidade de
melhor se prepararem também para lidar com algumas condições clínicas específicas.
Eu sinto vontade de estudar [...] pessoa com deficiência visual [...] não
é uma prevalência, mas tem, principalmente, voltada pra diabetes,
voltada para doença crônica; eu não tenho tanto domínio que eu gostaria
de ter mais é em hanseníase [3] [Participante 3 - Região metropolitana
- Recife].
Já no uso de determinadas abordagens as profissionais relataram dificuldades como:
Falta segurança e conhecimento para realizar o acolhimento, triagem e
encaminhamento na reabilitação física [Participante 8 - São Paulo -
zona norte].
DISCUSSÃO
Os Desafios que envolvem a estrutura dos serviços de APS, o desmonte do SUS
identificados têm relação, principalmente, com financiamento insuficiente e desarmonia da
gestão com o modelo de atenção centrado na APS (ARANTES; SHIMIZU; MERCHÁN-
HAMANN, 2016). Quanto à vulnerabilidade social e violência constituintes de territórios de
regiões metropolitanas em que se realiza APS, o papel da educação permanente em serviço se
torna imprescindível também para terapeutas ocupacionais, de maneira a fortalecer a construção
de saberes com aqueles que já se encontram inseridos na proposta do NASF-AB (REIS;
VIEIRA, 2013).
1197
No que diz respeito à prática interprofissional no NASF-AB, as terapeutas ocupacionais
alegaram que os profissionais da APS não reconhecem a terapia ocupacional no contexto do
trabalho interprofissional, o que requer o uso de estratégias de fortalecimento da comunicação
da área profissional considerada enquanto núcleo de conhecimento, que integra positivamente
a prática interprofissional.
Em relação à falta de clareza, segurança e legalidade para realizar algumas práticas de
terapia ocupacional percebe-se dificuldade colocada pela interpretação reducionista tanto das
equipes como do núcleo da terapia ocupacional sobre as diretrizes do NASF-AB, que pode
fragilizar as ações reais desenvolvidas pelas equipes de apoio e pelos terapeutas ocupacionais
em particular (REIS; VIEIRA, 2013).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os desafios apontados podem favorecer a continuidade de uma inserção incipiente da
terapia ocupacional na APS e, em especial no NASF-AB, o que pode provocar o baixo
reconhecimento das possibilidades de ações nesse nível assistencial.
Há necessidade de um esforço significativo da categoria profissional para o
enfrentamento dos desafios apontados, apoiado tanto pela reflexão sobre a prática realizada
pelos profissionais como pelo fomento de outros estudos sobre os desafios da terapia
ocupacional na APS e no NASF-AB.
REFERÊNCIAS
ARANTES, L. J.; SHIMIZU, H. E.; MERCHÁN-HAMANN, E. Contribuições e desafios da
Estratégia Saúde da Família na Atenção Primária à Saúde no Brasil: revisão da literatura.
Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 5, n. 21, p. 1499-1509, 2016.
CHARMAZ, K. A construção da teoria fundamentada: guia prático para análise qualitativa.
Porto Alegre: Artmed, 2009.
DONNELLY, C. A. et al. Occupational therapy in primary care: results from a national survey.
Canadian Journal of Occupational Therapy, Toronto, v. 83, n. 3, p. 135-142, 2016.
REIS, F.; VIEIRA, A.C.V.C. Demandas, construções e desafios vivenciados por terapeutas
ocupacionais na atenção primária à saúde. Rev Bras Promoc Saude, Fortaleza, v. 26, n. 3, p.
356-364, 2013.
1198
SILVA, R. A. S.; OLIVER, F. C. Identificação das ações de terapeutas ocupacionais na atenção
primária à saúde no Brasil. Rev. Interinst. Bras. Ter. Ocup. Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p. 21-
36, 2019.
1199
Terapia Ocupacional e o cuidado humanizado a crianças e adolescentes: experiência no
contexto de uma brinquedoteca hospitalar
Paula Natanyele Santos de Almeida Ferreira
Alexandra Lucena
Estefane Lima
Sarah Moreira
O cuidado prestado à criança e ao adolescente vem ganhando novas dimensões nos últimos
anos a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), criado em 1990, que luta pela
proteção integral à criança e ao adolescente. Com as melhorias do cuidado prestado, alguns
dispositivos de atenção foram criados, um deles são as brinquedotecas hospitalares, estas devem
ser asseguradas dentro de espaços de saúde para que funcionem em regime de internação
pediátrica de acordo com a lei 11.104/2005. O objetivo deste trabalho consiste em discutir sobre
a importância da brinquedoteca hospitalar dentro de unidades de internação pediátricas para
que o cuidado seja efetivo e integral às crianças e adolescentes, bem como a relevância da
atuação da terapia ocupacional dentro desses espaços. Trata-se de um relato experiência sobre
as vivências em uma brinquedoteca hospitalar a partir de um projeto de extensão universitária.
Na vivência, foram encontradas contribuições ao processo de aprendizagem, estabelecimento
de estratégias coletivas para lidar com o tratamento e enfrentar o adoecimento, pois
reestabelecer saúde infanto-juvenil requer extrapolar o tratamento biológico, uma vez que a
brinquedoteca conduz para um tratamento humanizado e na perspectiva de clínica ampliada.
Dessa forma, a brinquedoteca inserida no ambiente hospitalar é fundamental, pois consegue
minimizar os impactos negativos, regatar a sociabilidade e também fortalecer os vínculos entre
família, paciente e equipe, fazendo com que o tratamento não seja visto apenas sob a óptica
biológica, mas considerando todo o conjunto de aspectos biopsicossociais do paciente.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional; Brinquedoteca hospitalar; Tecnologias leves.
INTRODUÇÃO
O cuidado prestado à criança e ao adolescente vem ganhando novas dimensões nos
últimos anos a partir do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) criado em 1990, que luta pela
1200
proteção integral à criança e ao adolescente. Com isso, alguns dispositivos de atenção foram
criados, um deles são as brinquedotecas hospitalares, estas devem ser asseguradas dentro de
espaços de saúde para que funcionem em regime de internação pediátrica, questão referida pela
lei 11.104/2005. A instalação de brinquedotecas objetiva tornar a criança um parceiro ativo em
seu processo de tratamento, aumentando a aceitabilidade em relação à internação hospitalar, de
forma que sua permanência seja mais agradável, conforme explicitado na mesma lei.
Conforme Nunes e colaboradores (2013), ‘’O terapeuta ocupacional possui função
relevante no contexto pediátrico já que ele tem competências para atuar em cada etapa do
desenvolvimento da criança‘’. A brinquedoteca se caracteriza como um espaço estimulador de
capacidades cognitivas, sociais, afetivas, motoras e outros, provido de brinquedos e jogos
educativos destinados a estimular a criança e seu acompanhante a brincar; é possível perceber
que a Terapia Ocupacional está intrínseca as propostas do espaço.
A partir do que foi supracitado, o objetivo deste é discutir sobre a importância da
brinquedoteca hospitalar dentro de unidades de internação pediátricas para que o cuidado seja
efetivo e integral às crianças e adolescentes, bem como a relevância da atuação da terapia
ocupacional dentro desses espaços. Este apontará quais os benefícios são visíveis nesse público
mencionado, a partir de vivências em uma brinquedoteca hospitalar construída e dirigida
através da equipe interprofissional e de um projeto de extensão universitária.
METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência, classificado como um tipo de estudo/pesquisa que
permite descrever uma experiência que possa contribuir de forma relevante para sua área de
atuação. Como também, as considerações e impressões sobre que a vivência proporcionou.
Para auxílio no embasamento teórico desse relato de experiência universitária foram
utilizados artigos encontrados na base de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS),
ScientificElectronic Library Online (SciELO) e Revista de Terapia ocupacional, a partir dos
Descritores em Saúde (DeCS): Terapia Ocupacional; brinquedoteca hospitalar; tecnologias
leves.
Neste estão sendo descritas vivências em uma brinquedoteca hospitalar a partir do
Projeto de Extensão “Território Encantado de Crianças e Adolescentes: tecnologias leves e o
cuidado multiprofissional em saúde em uma brinquedoteca hospitalar”, a qual está inserido no
setor pediátrico de um hospital universitário de ensino de assistência, localizado em um
município do estado de Alagoas. A terapeuta ocupacional e a psicóloga do setor são
1201
responsáveis técnicas desse ambiente e coordenadoras do projeto de extensão. Nesta são
proporcionados cuidados as crianças e adolescentes que se encontram no processo de
hospitalização por meio de vivências lúdicas, objetivando o desenvolvimento infantil e a
promoção de saúde por meio de práticas interdisciplinares humanizadas com base nos
princípios do Sistema Único de Saúde, a fim de garantir um cuidado integral na saúde pediátrica
e remover os impactos causados pelo processo de hospitalização.
O projeto de extensão universitário supracitado, que proporciona esse ambiente de
prática e experiência acadêmica, está vinculado a uma universidade pública do estado de
Alagoas, que dispõe um processo seletivo para que acadêmicos de cursos da saúde e educação
possam contribuir dispondo de 04 (quatro) horas semanais para exercer atividades nessa
brinquedoteca hospitalar, juntamente a seus preceptores.
Com o intuito de aprimorar e difundir as práticas educativas, são feitas também
capacitações com os extensionistas e profissionais do setor, assim como eventos científicos
sobre a temática, em que todos integram a comissão de organização para promover aptidão na
área.
RESULTADOS
No espaço da brinquedoteca são ofertados, todos os dias, diversos tipos de atividades
livres e estruturadas, que na maioria das vezes surgem a partir das demandas colhidas.
Atividades estruturadas se referem ao cinema, oficinas terapêuticas, grupo de educação
em saúde, brincar de médico, contação de história, a comemoração de datas festivas e o dia do
irmão onde os irmãos tem a possibilidade de ir visitar, visto que essas crianças e adolescentes
passam muito tempo internados e não só precisam, como também sentem a necessidade de
manter o vínculo familiar independente das circunstâncias.
Atividades livres se referem ao brincar com os brinquedos e jogos existentes no espaço.
Muitas crianças trazem idéias das atividades que elas gostariam de realizar, como e quando;
esses desejos são sempre levados em conta, para que o ambiente seja construído em parceria
e autonomia e que seja prazeroso para todos.
Por meio do desenvolvimento dessas atividades foi possível observar melhora do humor
e da interação social dos frequentadores desse espaço lúdico, que aderem mais facilmente ao
tratamento proposto, tornam-se mais colaborativos e menos hostis aos procedimentos invasivos
e dolorosos. Tornando-se agentes ativos do seu próprio cuidado em saúde.
1202
DISCUSSÃO
Camargo e Costa (2010) apontam que a brinquedoteca hospitalar é importante e o lúdico
deve ser o eixo no qual se assentam as atividades desenvolvidas, permitindo que crianças,
adolescentes e acompanhantes ressignifiquem esse momento de hospitalização. Assim, a
atividades desenvolvidas nesse projeto tem possibilitado a desconstrução da hospitalização
como algo negativo, dando a esses sujeitos elementos para que se possa entender esse ambiente
também como propulsor de experiências positivas, proporcionar interação, socialização,
diversão, bem como possibilitar a melhora em seu estado clínico (CUNHA & SILVA, 2012).
Angelo & Vieira (2010) constataram que a brinquedoteca e o brincar como
proporcionador de momentos de alegria e satisfação, além do breve esquecimento de sua
condição de saúde; auxilia no fortalecimento de aspectos de cidadania, socialização e interação
entre os envolvidos no ambiente.
Como um incentivo a mais que ratifica o destaque desse trabalho, reconhece-se o
impacto positivo que uma brinquedoteca hospitalar traz à vida de uma criança ou adolescente
no processo de hospitalização; assim como as atividades desenvolvidas por acadêmicos da
Terapia Ocupacional nesse espaço se mostra de grande valia, uma vez que os benefícios notados
não são apenas de cunho acadêmico, como também social. Nesse contexto, as discussões
mostraram o quanto a instalação de um espaço lúdico como este é capaz de ressignificar o
processo de internação na vida de uma criança que geralmente é associada a um processo
doloroso e traumático.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O brincar no contexto hospitalar surge como instrumento válido de humanização e
auxilia nas inter-relações. Considera-se que a brinquedoteca hospitalar é fundamental para
minimizar os impactos negativos, resgatar a sociabilidade e fortalecer a conexão entre família,
paciente e equipe, fazendo com que o tratamento assuma uma efetiva oferta de saúde
biopsicossocial. Nesse sentido, o Terapeuta Ocupacional que atua em contextos hospitalares
visa, entre outros, promover aptidões pautadas na concepção de integralidade e humanização
da atenção à saúde.
Por fim, acredita-se que este espaço possa incentivar mais acadêmicos a possuir essa
vivência construtiva em termos de aprendizagem e formação profissional durante o processo
de graduação em ciências da saúde, assim como identifica-se que este torna-se válido na
1203
contribuição para o aumento da produção científica/literária de experiências exitosas acerca
dessa temática.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente: lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, e legislação
correlata [recurso eletrônico]. – 9. ed. – Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara,
2010. 207p. – (Série legislação; n. 83). VersãoAtualizada 2012. ISBN 978-85-736-5984-9.
Disponível em: <http://www.crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/ publi/camara/
estatuto_crianca_adolescente_9ed.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2019.
Lei Orgânica n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre ascondições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organizaçãoe o funcionamento dos serviços correspondentes e
dá outras providências.Diário Oficial da União. Brasília, DF, 19 set. 1990a. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l8080.htm>. Acesso em: 25 mar 2019.
NUNES, Caroline Jonas RezaghiRicomini et al. A importância da brinquedoteca hospitalar e da
Terapia Ocupacional sob a óptica da equipe de enfermagem de um hospital público do Distrito
Federal/The importanceof hospital playroomandOccupationalTherapyfromthe perspective
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CAMARGO, Janira Siqueira; COSTA, Leila Pessoa da. POSSIBILIDADES E LIMITES DA
BRINQUEDOTECA HOSPITALAR. Extensão em Foco, [s.l.], n. 5, p.1-7, 30 jun. 2010.
Universidade Federal do Parana.
de Angelo, T. S., & Vieira, M. R. R. (2010). Brinquedoteca hospitalar: da teoria à
prática. Revista Arquivos de Ciências da Saúde, 17(2), 84-90.
CUNHA, G. L.; SILVA, L. F. Lúdico como Recurso para o Cuidado de Enfermagem Pediátrica
na Punção Venosa. Rev. Rene, v.13, n.5, p.1056-1065, 2012.
1204
Experiência do residente de Terapia Ocupacional durante prática externa em um
programa de Residência Multiprofissional Integrada em Saúde
Raquel Wyara Feitoza Lima
Tatiana Lins Carvalho
Jamylle Silva De Brito
O Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Saúde do Hospital das Clínicas
(PRMIS/HC) - UFPE surgiu em 2010 com a primeira seleção e atende à mudança do perfil de
assistência hospitalar valorizando o trabalho interdisciplinar no atendimento pré, intra e pós-
hospitalar. No presente relato, contudo, a instituição escolhida para a prática externa no
PRMIS/HC, foi o Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) por seu reconhecimento
formativo e assistencial no Estado. O trabalho tem como objetivo descrever as atividades
desenvolvidas e a experiência vivenciada por uma residente do Programa de Residência
Multiprofissional Integrada em Saúde, com área de concentração Saúde da Mulher durante o
seu rodízio externo no Hospital Universitário Oswaldo Cruz, corroborando com os objetivos
previstos pela residência. O presente trabalho trata-se de um relato de experiência de caráter
descritivo, referente à prática realizada em Agosto de 2017. Parte opcional, integrante ao
rodizio externo do Programa de Residência Multiprofissional Integrado em Saúde- Saúde da
Mulher do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco- HC-UFPE. A
residente teve a oportunidade de atuar nos setores de atendimentos a adultos e a pessoas idosas,
sendo estes: Ambulatório de reabilitação e estimulação cognitiva; Ambulatório de ELA;
Ambulatório Saúde Mental; Enfermaria de Geriatria; Enfermaria de Neurologia; NAISCI. O
presente rodízio externo possibilitou o crescimento profissional e pessoal da residente, visto os
diferentes setores em que foi possível atuar e as diferentes práticas e rotinas presentes nos
mesmos.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional; Multiprofissional; Residência
INTRODUÇÃO
O Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Saúde do Hospital das
Clínicas (PRMIS/HC) – UFPE surgiu em 2010 com a primeira seleção e atende à mudança do
perfil de assistência hospitalar valorizando o trabalho interdisciplinar no atendimento pré, intra
1205
e pós-hospitalar. (EBSERH, 2017). A residência se caracteriza como uma modalidade de ensino
de pós-graduação “Latu Sensu”, destinada aos profissionais de Enfermagem, Farmácia,
Fisioterapia, Nutrição, Psicologia e Terapia Ocupacional. A finalidade é formar profissionais
para o SUS capazes de desenvolver trabalho com perspectiva multi e interdisciplinar, que
contribuam para a assistência à saúde de qualidade (UPENETE,2017).
O Programa tem duração de 24 meses, sendo 2 deles destinados a descanso. Dentro da
grade curricular, existe o rodizio externo, que deve ser realizado para atender as especificidades
de formação do residente na área de especialidade do programa, com duração de 30 dias, o
residente escolhe uma instituição de ensino para realização da prática, mediante um termo de
aceite pela instituição.
No presente relato, contudo, a instituição escolhida para a prática externa no
PRMIS/HC, foi o Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) por seu reconhecimento
formativo e assistencial no Estado. O HUOC tornou-se campo para formação e
desenvolvimento do conhecimento, estágio e pesquisa das Faculdades de Ciências Médicas,
Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças, do Instituto de Ciências Biológicas –
ICB, da Escola Superior de Educação Física – ESEF e da Faculdade de Odontologia de
Pernambuco–FOP e outras instituições de ensino superior e técnico da região (UPE, 2017).
O atendimento prestado à população mobiliza unidades e equipes nas áreas de Medicina,
Enfermagem, Farmácia, Odontologia, Nutrição, Serviço Social, Psicologia, Fisioterapia e
Terapia ocupacional. Na unidade de Terapia Ocupacional, os setores envolvidos na prática
externa foram: Ambulatórios de reabilitação cognitiva, Saúde Mental e Esclerose Lateral
Amiotrófica (ELA), as enfermarias de Geriatria e Neurologia, e o Núcleo de Articulação e
Atenção Integral à saúde e cidadania da pessoa idosa (NAISCI).
Desta forma, o seguinte trabalho tem como objetivo descrever as atividades
desenvolvidas e a experiência vivenciada por uma residente do Programa de Residência
Multiprofissional Integrada em Saúde, com área de concentração Saúde da Mulher durante o
seu rodízio externo no Hospital Universitário Oswaldo Cruz, corroborando com os objetivos
previstos pela residência, de formar profissionais capazes de desenvolver trabalho com
perspectiva multiprofissional e interdisciplinar que contribua para a construção de uma
assistência à saúde de melhor qualidade.
METODOLOGIA
1206
O presente trabalho trata-se de um relato de experiência de caráter descritivo, referente
à prática realizada em agosto de 2017. Parte opcional, integrante ao rodizio externo do
Programa de Residência Multiprofissional Integrado em Saúde- Saúde da Mulher do Hospital
das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco- HC-UFPE.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Ambulatório de reabilitação e estimulação cognitiva: O Terapeuta Ocupacional
(T.O) tem como objetivo nesse espaço realizar anamnese, avaliação funcional com foco nos
componentes cognitivos, entender o ambiente e a rede familiar da pessoa idosa, para então
traçar o plano de atendimentos e iniciar a reabilitação. Os atendimentos duram entre 30 e 45
minutos, e podem ser estendidos também aos familiares/cuidadores, englobando orientações
acerca da estruturação da rotina, adequação ambiental e manejo de comportamento da pessoa
idosa.
Os diagnósticos prevalentes no ambulatório na época foram: demência vascular, doença
de Alzheimer, depressão, comprometimento de memória semântica. Independente do
diagnóstico, o objetivo do terapeuta ocupacional é aumentar a funcionalidade e a habilidade do
individuo no desempenho das Atividades de vida diária (AVD), bem como promover a
independência, reduzir a sobrecarga do cuidador e, por fim, melhorar a qualidade de vida
(KUMAR et al., 2014).
Além do atendimento individual podem ser realizados atendimentos em grupo, tanto
com diagnósticos de demência quanto com déficits motores como no caso do Parkinson. Esta
abordagem tem como objetivos: interação social, estimulação cognitiva, apoio mutuo, reflexões
sobre memória e componentes que a afetem como atenção.
Os atendimentos em grupo ofereceram muitos benefícios, e são bem avaliados pelos
pacientes/acompanhantes. Eles visam promover a normalização/relativização das
problemáticas; o estimulo das competências de comunicação; o ajustamento da rede de suporte
social, e a reabilitação cognitiva ou estimulação cognitiva a depender das necessidades do
paciente (LOUSA, 2016).
Ambulatório de ELA: O ambulatório acontece na quinta-feira pela manhã, composto por uma
equipe interdisciplinar, na época eram atendidos em média 6 pacientes. A equipe estava
composta por: médica neurologista, duas terapeutas ocupacionais, fonoaudióloga, psicóloga e
fisioterapeuta. Apoio do programa de residência em Cuidados Paliativos do hospital, com
1207
suporte do nutricionista e odontólogo, e o assistente social pode ser solicitado do próprio
hospital, quando necessário.
O T.O, neste ambulatório, tem o objetivo de minimizar as dificuldades encontradas nas
suas atividades básicas de vida diária, orientar quanto à realização das mesmas utilizando
técnicas de conservação de energia, realizar a adequação ambiental e atender demandas como
alterações de comportamento e humor, das pessoas com diagnóstico de ELA, corroborando
com os aspectos descritos na literatura (ABRELA, 2019).
Ambulatório Saúde Mental: Os atendimentos ocorrem nas segundas e quintas à tarde,
individuais e em grupo. O T.O, sendo um dos profissionais da equipe multidisciplinar do
Sistema Único de Saúde trabalha questões específicas e coletivas, no atendimento individual
ou em grupo. A atividade terapêutica possibilita o resgate da autoestima, autoconfiança,
valorização enquanto sujeito, e busca identificar atividades significativas, criar práticas que
conduzam a desinstitucionalização, favorecendo a autonomia, e consequentemente a inclusão
do sujeito estigmatizado pela doença mental em seu próprio território (ALVAREZ; MARTINS,
2012).
Enfermaria de Geriatria: Localiza-se no segundo andar do Pavilhão Ovídio
Montenegro (POM), composto por 9 leitos. O fluxo de internação se faz pelo Ambulatório do
próprio serviço, ou por meio da central de regulação de leitos. Os atendimentos aconteciam nas
segundas e sextas pela manhã, sendo possível acompanhar em média 6 pessoas idosas por
semana. Os diagnósticos observados foram: Doença de Alzheimer, Síndrome da Fragilidade,
Neurosifilis, Infecção Urinária com manifestação de delirium hipoativo; Infecção respiratória,
Demência Vascular com manifestação de delirium hipoativo.
A pessoa idosa hospitalizada necessita da assistência de uma equipe multiprofissional
integrada e conhecedora das principais ferramentas de rastreio para a identificação do declínio
funcional, possivelmente presente na admissão ou no decorrer do período de internação, e o
T.O, é um dos profissionais preparados para realizar a avaliação funcional da pessoa idosa
(PEREIRA et al, 2014).
Dentre as ações realizadas pela T.O, está a avaliação informal da realização das
atividades básicas de vida diária; Checagem da orientação temporal e espacial, Mobilidade ou
restrição ao leito; e atenção ao cuidador. Nesse cenário foram feitas orientações quanto: à maior
participação do idoso na realização das suas ABVD, sendo ele dependente, ou supervisão das
ABVD sendo a pessoa idosa independente; hidratação da pele e mudança de decúbito pra evitar
lesão por pressão; mobilidade funcional; estimulação senso-perceptiva; e importância da troca
de cuidador devido à sobrecarga emocional e física.
1208
Enfermaria de Neurologia: A Enfermaria localiza-se no terceiro andar do Pavilhão Ovídio
Montenegro (POM), é de caráter investigatório e têm 12 leitos, composta por uma equipe
multidisciplinar que presta assistência integral ao paciente.
O T.O nesta enfermaria tem como objetivos: melhorar a qualidade de vida das pessoas
por meio da redução das suas limitações, barreiras arquitetônicas, sociais e comportamentais;
viabilizar a vivência do ciclo de vida em que o paciente se encontra; promover o uso de
adaptações, orientar posturas e movimentos mais adequados para possibilitar a realização das
atividades tornando-as possíveis de serem desempenhadas (CANIGLIA, 2005).
NAISCI: Fica localizado no segundo andar do Pavilhão Ovídio Montenegro (POM). Foi criado
em 2006, é destinado a pessoas idosas, pacientes, profissionais e estudantes. Tem como objetivo
desenvolver uma Política Institucional Emancipatória, realiza atendimentos em grupos, com
envolvimento de políticas e articulação externa e interna. Os projetos desenvolvidos pelo
NAISCI são: Escola do Estatuto; Envelhecimento ativo; Idoso conectado; Grupo de estudos
sobre envelhecimento humano na perspectiva da totalidade social; Curso de Fotografia e Ciclo
de Educação continuada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente rodízio externo possibilitou o crescimento profissional e pessoal da
residente, visto os diferentes setores em que foi possível atuar e as diferentes práticas e rotinas
presentes nos mesmos.
REFERÊNCIAS
ABRELA. Terapia Ocupacional, orientação clínica. Acesso em: 24 de julho de 2019
Disponível: https://www.abrela.org.br/terapia-ocupacional-orientacao-clinica/
ALVAREZ, C. R.S. T; MARTINS, M. B. d. S. A Terapia Ocupacional e suas possíveis
contribuições na Saúde Mental Coletiva. VITTALLE, Rio Grande, v.24, n. 2, pág. 63-68, 2012.
CANIGLIA, M. Terapia ocupacional: um enfoque disciplinar. Belo Horizonte: Arte & Prosa.
2005.
EBSHER. Ministério da Educação: Residências em Saúde. Acesso em :24 de julho de 2019;
Disponível em: http://www.ebserh.gov.br/web/hc-ufpe/residencia-multiprofissional
KUMAR, P., et al.Novel occupational therapy interventions may improve quality of life in older
adults with dementia. International Archives of Medicine, v. 7, n.38, 2014.
1209
LOUSA, E, F, C. Benefícios da Estimulação Cognitiva em Idosos: Um Estudo de Caso.
Dissertação apresentada ao ISMT para obtenção do grau de Mestre em Psicologia Clínica Ramo
das Terapias Cognitivo Comportamentais. Coimbra, setembro,2016. Busca em 03 de Set
as11:59 Disponível em:
http://repositorio.ismt.pt/bitstream/123456789/682/1/DISSERTA%C3%87%C3%83O.pdf
PEREIRA et al. Funcionalidade global de idosos hospitalizados. Rev. Bras. Geriatr.
Gerontol., Rio de Janeiro, 2014; 17(1):165-176.
RAMOS, L.R et al. Perguntas mínimas para rastrear dependência em atividades da vida diária
em idosos. Rev. Saúde Pública [online].v.47, n.3, p.506-513. ISSN 1518-8787,2013.
UPENET. Informações Gerais dos Programas de Residência em Área Profissional de Saúde.
Acesso em: 24 de julho de 2019; Disponível em:
http://www.upenet.com.br/concursos/17_residencia_saude_17/arquivos/informacao_program
a.pdf
1210
Idosos em processo de luto: atuação da Terapia Ocupacional no âmbito da Atenção
Primária em Saúde
Karem Harumy Yamamoto Santana
Bárbara Barros De Brito
Samantha Hanna Seabra Castilho Simões
O processo de envelhecimento para a população idosa influencia diretamente em sua qualidade
de vida, visto que, frequentemente, é visualizado enquanto um período de perdas na vida.
Nesse sentido, o sujeito costuma enfrentar processos de luto, podendo repercutir
negativamente em suas ocupações, a partir de alterações em diversos aspectos, como
emocional e social. O trabalho foi desenvolvido em uma Unidade de Saúde da Família, durante
a disciplina de Prática Social e Comunitária II, do curso de Graduação em Terapia Ocupacional
na Universidade do Estado do Pará. As acadêmicas realizaram avaliação e intervenções
terapêuticas ocupacionais junto a um casal de idosos com o suporte da professora, através de
visitas domiciliares semanais, sendo acompanhadas por uma agente comunitária de saúde. Os
idosos apresentaram melhora na interação social, ressignificação do processo de luto e de suas
ocupações e fortalecimento de vínculos. Diante disto, destaca-se a importância de intervenções
terapêuticas ocupacionais durante o processo de luto, a promoção do fortalecimento de
vínculos, companheirismo e afeto entre o casal de idosos atendidos. Além disso, ressalta-se
que a atuação do terapeuta ocupacional na comunidade possui múltiplas contribuições, através
de atendimentos domiciliares, ações com a equipe multiprofissional, grupos de atividades de
promoção de saúde, dentre outros. A Terapia Ocupacional pode contribuir na assistência a
usuários que não podem ou têm dificuldades de se deslocar à unidade, como a população idosa,
realizando atendimento domiciliar, e quando associada ao ensino, colabora na formação
pessoal e profissional de acadêmicos.
Palavras-Chave: Terapia Ocupacional; Atenção Primária à Saúde; Visita Domiciliar; Luto.
INTRODUÇÃO
O processo de emvelhecimento humano se intensifica durante a velhice, visto que é a
fase em que ocorrem as principais perdas, como o decréscimo da função muscular, afetando
diretamente a realização das atividades do cotidiano, diminuindo a independência funcional e
1211
consequentemente a qualidade de vida do idoso. Diante disso, considera-se que é neste período
da vida, que se enfrentam os principais processos de luto, visto que o luto é entendido como
um processo de elaboração diante de qualquer perda significativa. A pessoa enlutada, pode
experimentar sentimentos negativos, sendo capaz de manifestar-se no meio social e em
atividades ocupacionais cotidianas, logo, a maneira de lidar com esse processo pode ser de
modos variados, modificando a qualidade de seu viver (SOUZA; CORRÊA, 2009).
Buscando garantir atenção integral à população idosa, em 2006, é aprovada a Política
Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, a qual trouxe um olhar voltado à garantia de uma atenção
integral para essa população, enfatizando o envelhecimento saudável e ativo, e fortalecendo o
destaque social das pessoas idosas no Brasil (BRASIL, 2006; BISPO et, al, 2012).
A Atenção Primária à Saúde (APS) é compreendida como uma estratégia de organização
para atender de forma regionalizada, contínua e sistemática à maior parte das necessidades de
uma população. Segundo Arantes et al. (2016), o marco mais importante da APS ocorreu por
meio da implantação do Programa Saúde da Família (PSF), influenciado por abordagens
internas e externas de cuidados primários, apresentando-se como uma proposta mais abrangente
de APS.
Diante disso, foi criada a Estratégia Saúde da Família (ESF), que busca proporcionar
saúde à família, dentro de sua abrangência. Segundo Malta et al. (2016), ela tem papel
fundamental no primeiro contato, a longitudinalidade e na coordenação do cuidado, devendo
operar como base de estruturação das redes de atenção, com suporte dos serviços de apoio
diagnóstico, assistência especializada e hospitalar.
Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) foram criados em 2008, pelo
Ministério da Saúde, compostos por equipe multiprofissional, cujo um dos objetivos se refere
a resolutividade e inserção da Estratégia de Saúde da Família (ESF). O terapeuta ocupacional,
como possível integrante dessa equipe, possui uma relevante atuação com a comunidade, pois
constitui-se de um profissional de formação interdisciplinar, na qual deve incentivar a prática
de ações individuais e coletivas, atuando não apenas com os indivíduos que necessitam de
atendimento, mas em conjunto com a família, considerando sempre as necessidades da
comunidade e da população que reside (JARDIM et al., 2008).
O terapeuta ocupacional pode atuar por meio de intervenções em saúde, educação e na
esfera social, além de utilizar tecnologias para a emancipação e autonomia da população seja
devido comprometimento físico, sensorial, mental, psicológico e/ou social, sejam permanentes
ou temporários. Através das intervenções, com o uso de atividades, é possível realizar uma
construção complexa e contextualizada do processo terapêutico.
1212
METODOLOGIA
O trabalho foi realizado na disciplina de Prática Social e Comunitária sendo componente
curricular do Curso de Graduação em Terapia Ocupacional, ofertado na Universidade do Estado
do Pará (UEPA) no 4º semestre. O local de prática foi a Unidade de Saúde da Família Paraíso
Verde, situado no município de Belém do Pará, Brasil.
Foram feitas, inicialmente, aulas de orientação com conteúdo referente à Atenção
Primária em Saúde (APS), Atenção Básica em Saúde, Estratégia de Saúde da Família (ESF),
Núcleo de Saúde da Família (NASF), equipe multiprofissional de saúde para construir uma
base teórica anterior à realização no campo de prática. Em seguida, o grupo visitou a unidade e
conheceu os profissionais atuantes, sendo enfermeiras, médica, odontóloga, agentes
comunitários de saúde (ACS), entre outros. As acadêmicas realizaram quatro visitas
domiciliares, com duração média de cinquenta minutos, no período de dez de setembro à
primeiro de outubro, acompanhadas pela ACS responsável pelo território. Teve-se como
público alvo um casal de idosos, os quais apresentavam limitações para se deslocarem até a
Unidade.
Na primeira sessão realizou-se anamnese e avaliação em ambos. A partir disso foi
construído um plano de intervenção conjunto a partir de demandas específicas, como o papel
de cuidador e acometimento das sequelas de AVE, as perdas ocupacionais e o processo de luto.
As intervenções desenvolvidas variaram entre técnicas manuais e corporais, que tiveram como
objetivo a expressividade e a ressignificação dos sentimentos, em sua maioria por conta do luto
que os pacientes vivenciaram. Portanto, foram realizadas atividades individualizadas e
significativas, para que cada idoso manifestasse seu processo de luto, assim como atividades
em conjunto para fortalecer o vínculo entre o casal.
RESULTADOS
Diante das intervenções realizadas no ambiente domiciliar do casal de idosos, pela dupla
de acadêmicas, constatou-se a importância de intervenções que visassem a ressignificação do
processo de luto, exposto pelo casal. Além disso, notou-se a necessidade da promoção do
fortalecimento de vínculo, companheirismo e afeto entre o casal de idosos, visto que durante
alguns atendimentos a relação expressou-se fragilizada
1213
Ao início de todos os atendimentos, era verificada a pressão arterial (PA) dos idosos,
visto que ambos eram hipertensos e o assunto explanado remetia a emoções que poderiam
elevar sua (PA). Assim como, eram realizados relaxamentos através do controle de
respiração/percepção corporal e alongamentos corporais. Foram executadas atividades com
técnicas manuais e expressivas, como a confecção de objeto religioso, decoração de cartaz,
pintura em tecido/papel, plantar sementes e danças. Destaca-se que as atividades foram
propostas a partir de interesses referidos pelos sujeitos.
DISCUSSÃO
O terapeuta ocupacional é um profissional capacitado para ter sua atuação baseada na
comunidade, com indivíduos que possuem demandas relacionadas ao desempenho ocupacional
das suas atividades cotidianas. A Terapia Ocupacional possui ações essencialmente preventivas
e interventivas, por meio das atividades significativas para o cliente buscando a eficácia da
realização, de forma que o usuário desempenhe suas ocupações de forma independente e
autônoma (CABRAL; BREGALDA, 2017). O profissional de Terapia Ocupacional é
qualificado para desempenhar intervenções na saúde mental e em atendimentos em grupos e
individuais, com capacidades específicas para atuação a saúde integral da pessoa idosa
(ROCHA et al., 2012). Portanto a Terapia Ocupacional é responsável pela promoção de
autonomia e independência de qualquer indivíduo.
Com o envelhecimento populacional e o aumento da expectativa de vida, elevam-se os
índices de doenças, principalmente as crônicas. É durante a velhice que surgem as principais
perdas físicas, redução da função muscular, dificuldades em realizar tarefas do cotidiano,
diminuição da capacidade de resolução de problemas e entre outros fatores que influenciam
diretamente na qualidade de vida do idoso. Para Souza e Corrêa (2009), é durante esse período
que se elabora os mais variados processos de luto, visto que este trata-se de uma elaboração
singular, diante de qualquer perda significativa, geralmente associado a perda de alguém com
vínculo familiar, no entanto, todas as perdas que presentes são envelhecer também geram o
processo de luto.
O indivíduo enlutado, muitas vezes não percebe que passa por esse processo, mesmo
que se manifestando de forma negativa, no seu meio social, em atividades do cotidiano e
influenciando diretamente na sua qualidade de vida. Portanto, destaca-se a importância do
terapeuta ocupacional, junto a pessoa enlutada para que suas ocupações diárias sejam mantidas
e realizadas de modo satisfatório.
1214
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma das contribuições da Terapia Ocupacional na Atenção Primária em Saúde é a
atuação com a população idosa, através de visitas domiciliares, logo que esta, assim como
alguns outros, pode possuir dificuldades em locomover-se à unidade para o atendimento. Este
profissional pode desempenhar função na promoção de qualidade de vida, autonomia e
independência, no desempenho ocupacional e nas atividades cotidianas para a promoção de
saúde integral à pessoa idosa. Notou-se também a colaboração das atividades terapêuticas
realizadas na ressignificação do processo de luto e no fortalecimento de vínculo. Ressaltando-
se a devida importância da intervenção terapêuticas diante à perdas durante o processo de
envelhecimento, dentre elas as perdas ocupacionais.
A Prática neste campo contribuiu de maneira significativa tanto na formação pessoal e
profissional das acadêmicas, aumentando o embasamento teórico sobre as áreas do campo
social, da atenção primária à saúde, da gerontologia e da saúde mental, quanto na colaboração
para a rede de assistência em saúde, fomentando a conscientização sobre a importância da
integralidade no atendimento e a atuação dos profissionais em saúde para a promoção da
qualidade de vida e bem estar da população.
REFERÊNCIAS
ARANTES, L. J. et. al. Contribuições e desafios da Estratégia Saúde da Família na Atenção
Primária à Saúde no Brasil: revisão da literatura. Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, n. 5 pp.
1499-1509, 2016. Disponível em: <www.scielosp.org/>. Acesso: 06/10/2018.
BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria nº 2.528 de 19 de outubro de 2006. Aprova a Política
Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2006/prt2528_19_10_2006.html>. Acesso em:
23 jul. 2019.
BISPO, E. P. F. et. al. Avaliação da Capacidade Funcional de Idosos Cadastrados na Estratégia
da Saúde da família na Comunidade do Pontal da Barra, Maceió-AL. Cad. Ter. Ocup.
UFSCar, São Carlos, v.20, n.1, p.81-87, 2012.
CABRAL, L. R. S.; BREGAL M. M. A atuação da Terapia Ocupacional na atenção básica à
saúde: uma revisão de literatura. Cad. Ter. Ocup. UFScar, São Carlos, v. 25, n. 1, p. 179-
189, 2017.
1215
JARDIM, T. A. de. et al. A terapia Ocupacional na Estratégia de Saúde da Família- evidências
de um estudo de caso no município de são Paulo. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo, v.19, n.
3, p. 167-175, set/dez.2008.
MALTA, D. C et. al. A Cobertura da Estratégia de Saúde da Família (ESF) no Brasil, segundo
a Pesquisa Nacional de Saúde, 2013. Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, n. 2, pp. 327-338, 2016.
ROCHA, E. F. et al. Terapia Ocupacional na Atenção Primária à Saúde: atribuições, ações e
tecnologias. Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Paulo, v. 20, n. 9, p.351-361, set.2012.
SOUZA, A. M.; CORRÊA, V. A. C. Compreendendo o Pesar do Luto nas Atividades
Ocupacionais. Revista do Nufen, v. 01, n. 02, pp. 131-148, ago/nov.2009. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rnufen/v1n2/a09.pdf>. Acesso:06/10/2018.
1216
Sistematizando orientações terapêuticas ocupacionais para cuidadores e pacientes pós-
AVC: um relato de experiência
Mariana Lima da Silva Lousada
Sabe-se que a expectativa de vida no Brasil e no mundo vem aumentando progressivamente.
Assim, frente ao envelhecimento da população, surge a maior possibilidade do surgimento de
um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Este envolve sintomas que vão desde a diminuição de
força e sensibilidade em um dos lados do corpo até dificuldade para falar e perda de visão.
Assim, o AVC pode acarretar alterações físicas, cognitivas e comportamentais. O que exige
cuidados de uma equipe multiprofissional, que envolve o terapeuta ocupacional e um cuidador
bem orientado. Assim, este relato de experiência tem o objetivo de sistematizar as orientações
terapêuticas ocupacionais ofertadas à cuidadores formais e informais de pacientes pós-AVC no
contexto hospitalar e domiciliar. Trata-se da experiência de uma empresa do Nordeste brasileiro
que oferta serviços para adultos e idosos. Os achados deste trabalho apontaram o surgimento
de três protocolos: orientações para cuidadores de pacientes acamados acometidos de AVC;
orientações para pacientes acometidos de AVC e orientações com atividades do dia a dia para
membro superior. As orientações terapêuticas ocupacionais ofertadas foram direcionadas para
a funcionalidade do paciente, utilizando recursos e atividades do próprio dia a dia. Recomenda-
se a criação de materiais de apoio para orientação do cuidador de pacientes pós-AVC.
Palavras-chave: Acidente Vascular Cerebral; Cuidadores; Educação em Saúde; Reabilitação.
INTRODUÇÃO
Sabe-se que a expectativa de vida no Brasil e no mundo vem aumentando
progressivamente. Assim, frente ao envelhecimento da população, os agravos e doenças
crônicas não transmissíveis (DCNT) ganham espaço nas estatísticas como as principais causas
de morte e, dentre essas doenças, está o Acidente Vascular Cerebral (AVC) (ALMEIDA, 2012).
O AVC pode ser descrito como comprometimento neurológico repentino, não
traumático, resultante da obstrução ou ruptura de um vaso sanguíneo cerebral, de etiologias
diversas, a saber: malformação arterial cerebral, hipertensão arterial, cardiopatia,
tromboembolia (BRASIL, 2013).
1217
Segundo o Ministério da Saúde, este obteve incidência anual de 108 casos por 100 mil
habitantes, apresentando-se como a primeira causa de morte e incapacidade no Brasil (BRASIL,
2013).
Os sintomas do AVC isquêmico podem envolver: diminuição de força e sensibilidade
em um dos lados do corpo, dificuldade para falar e perda de visão. Enquanto o hemorrágico, o
mais grave, além dos sintomas acima, ocorre também alteração no nível de consciência
(PACHECO, 2013). Assim, ele pode acarretar alterações físicas, cognitivas e comportamentais
(PACHECO, 2013).
Ainda sobre as alterações causadas por esta afecção neurológica, estas influenciam
negativamente na qualidade de vida dos indivíduos acometidos, tendo em vista que estes
tendem a apresentar dificuldade para executar suas atividades cotidianas de forma
independente, necessitando assim do acompanhamento de uma equipe multiprofissional, o que
inclui o terapeuta ocupacional.
Assim, este relato de experiência tem o objetivo de sistematizar as orientações
terapêuticas ocupacionais ofertadas à cuidadores formais e informais de pacientes pós-AVC no
contexto hospitalar e domiciliar.
METODOLOGIA
Trata-se da experiência de uma equipe de terapeutas ocupacionais de uma empresa do
Nordeste brasileiro que presta cuidados a adultos e idosos no contexto hospitalar, domiciliar e
consultório.
Utilizou-se o acervo das orientações ofertadas pelos profissionais em seus relatórios
terapêuticos ocupacionais apenas para cuidadores formais e informais de pacientes dependentes
e semi-dependentes pós-AVC no período de janeiro de 2018 a junho de 2019.
Os dados coletados foram tabulados no Microsoft Office Excel e, posteriormente
analisados pelos autores desta pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Sabe-se que a reabilitação pós-AVC deve ser iniciada precocemente, pois o tempo de
sequela pode influenciar o desempenho das atividades funcionais, visto que, a regeneração
neuronal ocorre de forma mais intensa nos primeiros seis meses pós-lesão (CECATTO, 2012).
1218
O que reforça a importância de um cuidador bem orientado, ainda no momento da
hospitalização, pois isso influencia o prognóstico funcional do paciente (CECATTO, 2012).
Para que esta orientação ocorra da melhor forma, torna-se necessário uma formação,
ainda no período da graduação, com a aquisição das habilidades técnicas em consonância com
as habilidades de comunicação, comportamental e social direcionadas para a melhor
reabilitação de todo e qualquer paciente (OTANI, 2013).
Dentro deste contexto, foi realizado um estudo de coorte longitudinal prospectivo e
multicêntrico para determinar a satisfação tanto dos pacientes pós-AVC, quanto dos seus
cuidadores sobre a informação recebida e a acessibilidade à equipe de reabilitação, apontou em
suas considerações aspectos positivos com relação ao tratamento de reabilitação16. No entanto,
a formação do cuidador foi um aspecto que precisa melhorar no que diz respeito à captura das
demandas dos mesmos (IGBY, et al 2009).
Em estudo qualitativo com indivíduos que sofreram AVC e doze cuidadores, com o
objetivo de analisar as experiências destes ao receberem intervenções educativas da equipe de
saúde sugere o reforço da comunicação clara e objetiva ao fornecer orientações e uma
abordagem que envolva mais elementos do ponto de vista teórico (CESAR; SANTOS, 2005).
Para o presente estudo, as orientações foram fornecidas por meio de três protocolos com
pequenos textos e imagens ilustrativas. A seguir, a o título de cada um deles com a divisão por
sessões:
1. Orientações para cuidadores de pacientes acamados acometidos de AVC:
posicionamento no leito; facilitação da mobilidade funcional no próprio leito;
importância da estimulação sensorial e do posicionamento adequado no leito para
as atividades de vida diária (AVD), especialmente comunicação funcional e
alimentação.
2. Orientações para pacientes acometidos de AVC: manutenção da capacidade
funcional; fatores de segurança no dia a dia; importância da estimulação sensorial e
do posicionamento adequado durante as AVD; recursos facilitadores para as
atividades cotidianas.
3. Orientações com atividades do dia a dia para membro superior: importância da
estimulação sensorial e do posicionamento adequado durante as AVD; uso de
atividades bimanuais; recursos terapêuticos do dia a dia.
1219
CONCLUSÃO
As orientações terapêuticas ocupacionais ofertadas foram direcionadas para a
funcionalidade do paciente, utilizando recursos e atividades do próprio dia a dia. Recomenda-
se a criação de materiais de apoio desta natureza, pois podem facilitar o trabalho das equipes
multidisciplinares, melhorar o prognóstico funcional dos pacientes e diminuir a sobrecarga dos
cuidadores.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, S.R.M. Análise epidemiológica do Acidente Vascular Cerebral no Brasil.
RevNeurocienc. v.20, n.4, p. 481-482, 2012.
BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes de atenção à reabilitação da pessoa com Acidente
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CECATTO, R.B. Acidente Vascular Encefalico: Aspectos Clinicos. In: Cruz, D.M.C. Terapia
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1220
Gerontologia e atendimento domiciliar: vivências em uma disciplina aplicada.
Beatriz do Nascimento Silva
Camila Evelyn Chagas Ferreira
Hanna Joane de Araújo Souza
Juliana Ferreira Mendonça
Ayslan Ayala Costa e Silva
Mayara Vieira Damasceno
O processo de envelhecer traz modificações consideráveis no funcionamento do ser humano,
seja ele neuronal, na funcionalidade e ou nos sentidos da visão, audição, paladar, tato, olfato,
vestibular e propriocepção. Consequentemente, com a presença das alterações decorrentes do
envelhecimento, alguns idosos necessitam de cuidados de terceiros, que na maioria dos casos é
alguém da família que reorganiza sua vida para assumir a função de cuidador. A partir disto, a
Terapia Ocupacional atua junto ao idoso e do seu cuidador(a) através da elaboração de
estratégias, modificações ambientais e uso de tecnologias assistivas que promovam maior
independência e autonomia, ampliando a qualidade de vida e bem estar da família. O objetivo
desta escrita é relatar a vivência de atendimentos domiciliares com idosos e seus respectivos
cuidadores, como experiência prática de uma disciplina aplicada à gerontologia, assim como,
explanar o processo de aprendizagem durante a prática. A partir desta experiência, pode-se
entender a atuação da Terapia Ocupacional, por meio de atendimentos individuais, utilizando-
se de estratégias que promovessem maior qualidade de vida, ampliação da autonomia e
independência. Assim como, foi possível observar as demandas de cada família, com foco no
idoso e no cuidador, que apesar de vivenciarem processos semelhantes apresentam demandas
e singularidades próprias, proporcionando ao terapeuta ocupacional em formação
possibilidades concretas de atuação para ressignificação dos clientes atendidos em suas
atividades e ocupações.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional; envelhecimento; cuidadores; formação profissional;
ensino.
INTRODUÇÃO
1221
Envelhecer é um processo natural e universal de degradação de um organismo maduro,
próprio a todas as espécies, tornando o idoso menos capaz de manter a homeostase do corpo
frente ao estresse do meio ambiente.
A entrada nessa faixa etária traz muitas modificações ao ser humano, como redução do
número de neurônios e sinapses, além de lapsos de memória, menor velocidade de raciocínio,
dificuldade de locomoção e equilíbrio (CANÇADO, 1994).
Consequentemente, com a presença das alterações decorrentes do envelhecimento,
muitos idosos necessitam de cuidados de terceiros, que na maioria dos casos é alguém da
família que reorganiza sua vida para assumir a função de cuidador. Essa relação traz
implicações para este sujeito, que abdica de suas necessidades para atender as necessidades do
idoso, podendo causar prejuízos a sua saúde física, mental, psicológica, social e financeira
(MONTEIRO, 2015).
Diante disso, a Terapia Ocupacional pode atuar junto ao idoso através da elaboração de
estratégias, modificações ambientais e uso de tecnologias assistivas que promovam maior
independência, autonomia e diminuição dos riscos de quedas.
O terapeuta ocupacional auxilia também o cuidador a partir de uma escuta de suas
demandas, no treinamento e orientações acerca do cuidado com o idoso e minimização da
sobrecarga (ALMEIDA, 2016).
Nesse sentido, o objetivo desta escrita é relatar a vivência de atendimentos domiciliares
com idosos e seus respectivos cuidadores, como experiência prática de uma disciplina aplicada
à gerontologia em uma universidade pública, assim como, explanar o processo de aprendizagem
durante a prática.
METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência, durante uma disciplina prática, vivenciado em
atendimentos domiciliares à idosas com dificuldade de locomoção, assim como sua principal
cuidadora, que com a chegada das limitações pelo envelhecimento deixaram de ser beneficiadas
diretamente de vários serviços os quais faziam parte.
A disciplina tinha entre seus objetivos discutir e vivenciar a intervenção da Terapia
Ocupacional com idosos e cuidadores em seus domicílios buscando promover autonomia e
independência na realização das ocupações.
1222
Foram realizados dez encontros, uma vez por semana com duração de 40 min, no
período de março a junho de 2019, sempre acompanhadas por uma docente terapeuta
ocupacional e monitor da disciplina.
As práticas ocorreram em três diferentes residências. Todas as visitas iniciavam pela
explicação da proposta da disciplina, seguia com instrumentos avaliativos para nortear a
demanda e a partir disto, as intervenções continuavam. Para facilitar o acolhimento e a criação
de vínculo, o grupo se dividia entre os atendimentos, ora parte com a idosa, ora com o cuidador,
sempre com supervisão.
A partir desta experiência, pode-se entender a atuação da Terapia Ocupacional, por meio
de atendimentos individuais, utilizando-se de estratégias que promovam maior qualidade de
vida, ampliação da autonomia e independência.
Sejam elas a educação em saúde, com orientações diretivas e singulares, organização da
rotina, valorização da autoestima, modulação sensorial, estimulação cognitiva, indicação de
recursos de Tecnologia Assistiva e treino de Atividades de Vida de Diária foi possível melhorar
a qualidade de vida das idosas e cuidadoras acompanhadas, assim como, acrescentar
conhecimento práticos para a área de Terapia Ocupacional aplicada à Gerontologia, entendendo
esta, como desafiante para o crescente número da população que se encontra no processo de
envelhecimento.
Após a avaliação das demandas da Família 1, que tinham como observações
dificuldade de locomoção, com acentuado comprometimento de memória a curto e longo prazo,
alteração na orientação temporal, apresenta dependência na realização de AVD’s verificou-se
a necessidade de trabalhar a estimulação da memória por meio de recursos visuais com temática
religiosa por ser algo significativo para a idosa.
Em relação a cuidadora principal, tentou-se realizar educação em saúde, tendo em vista
que a mesma se encontrava sobrecarregada e em processo de adoecimento ao negligenciar seu
próprio autocuidado. Como estratégia, foi realizada uma organização da rotina, para resgatar e
incentivar as atividades de autocuidado, principalmente em relação a perna edemaciada e a
rotina alimentar.
Além disso, foram dadas orientações para a cuidadora sobre a importância da
participação mais ativa da idosa na realização de suas AVD’s, visando o aumento da
independência e autonomia nas ocupações.
Para ambas foi utilizado o calendário mensal estratégia para auxiliar a orientação
temporal. No que diz respeito a Família 2, inicialmente buscou-se realizar atividades com
alimentos, possibilitando experiências sensoriais táteis e olfativas principalmente para resgatar
1223
e incentivar as vivências na cozinha, pois a principal queixa era o baixo rendimento Atividades
Instrumentais de Vida Diária (AIVDs), como cozinhar.
Foi observada autoestima comprometida e discursos negativos. Também se trabalhou a
autoestima, usando como estratégia o incentivo a realização/conclusão da atividade e feedback
positivo. Já para a cuidadora, foram dadas orientações sobre a valoração do lazer e autocuidado
na manutenção da saúde mental e alívio do estresse, pois são atividades rotineiramente
abandonadas frente a significativa quantidade de horas gastas no cuidar.
Em relação a Família 3, foi confeccionada uma cartilha de orientações com informações
sobre posicionamento no leito, postura do cuidador na mudança de decúbito, calçados fechados
e com antiderrapantes que minimizam o risco de queda, dicas de alterações ambientais para
prevenção de quedas, formas de estimulação cognitiva. Suas queixas permeavam a limitação
por um quadro de osteoporose, hipertensão, dificuldade auditiva em ambos ouvidos e histórico
de queda frequente.
Para a cuidadora, foram elaborados cartões de saúde emocional direcionadas para o
reconhecimento da autoestima como fator primordial da melhora do seu bem-estar e
desempenho ocupacional adequado.
DISCUSSÃO
O perfil das idosas e cuidadoras assistidas pela Terapia Ocupacional, durante o tempo
da disciplina, demonstraram ser bastante diferentes entre si e necessitaram de estratégias
distintas para seu sucesso.
Percebeu-se que em comum, as idosas tinham um declínio na funcionalidade, que ocorre
primeiramente nas Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD), por serem mais
complexas, e então atingem as Atividades Básicas de Vida Diária (ABVD) (ALMEIDA;
BATISTA, 2016).
No atendimento domiciliar de idosos pela Terapia Ocupacional, percebeu-se um
comprometimento funcional tanto físico quanto cognitivo, necessitando de estimulações em
todas as áreas. Em seu estudo, Bernardo e colaboradores (2018) relatam a eficácia da utilização
de estimulação sensorial, modificação ambiental, treino e adaptação de AVD e estimulação
cognitiva.
Estratégias também utilizadas nesse estudo.Para Loureiro (2011), ao surgir uma
demanda cognitiva “deve-se estimular o que estiver conservado, compensar o que foi perdido
1224
e desenvolver potenciais remanescentes”, e isto foi levado em consideração durante a
intervenção.
A segunda idosa atendida apresentava comprometimento da visão. Por si só, a
deficiência visual cria obstáculos na vida do idoso e compromete o olhar sobre si mesmo, na
perspectiva de pessoa capaz de realizar suas ocupações, o limitando.
O terapeuta ocupacional intervém nesse cenário de forma a capacitar o idoso a realizar
suas ocupações com o melhor uso das suas capacidades remanescentes, melhorando assim sua
qualidade de vida e autoestima (MONTEIRO, 2010).
Desta forma, foi realizado o treino da AIVD cozinhar, correlacionando o benefício
descrito por Monteiro (2010), de diminuir a dependência desta idosa para com sua cuidadora,
aumentar sua autonomia, tudo a partir de suas capacidades remanescentes, estimulando sua
autoestima. Em relação à idosa acamada que foi atendida, é importante ressaltar que o tempo
em repouso pode trazer declínios ainda maiores para sua funcionalidade.
A literatura traz como malefícios o aumento da dependência, perda da autonomia e a
imobilização como uma experiência bastante desagradável para a idosa. Sabe-se que a
imobilização por vezes é necessária para a melhora do quadro clínico, mas a qualidade do
posicionamento no leito é uma questão que precisa ser observada (CAZEIRO; PERES, 2010).
Diante das comorbidades apresentadas pela idosa 3, como osteoporose, hipertensão,
refluxo, risco de quedas, entre outros, uma estratégia bastante eficaz foi o uso de dispositivos
de Tecnologia Assistiva.
Estes servem como auxílio para minimizar efeitos decorrentes do quadro clínico e do
ambiente. Estudos trazem diversos benefícios pelo uso da TA, como maior independência,
melhora da qualidade de vida, menos energia gasta para a realização de uma tarefa, seja ela
uma AVD ou AIVD, dentro ou fora de casa (ANDRADE; PEREIRA,2009).
Além da entrega de alguns dispositivos de TA feitos à idosa, o treino destes materiais
foi feito juntamente com a cuidadora principal. Em seu estudo, Andrade e Pereira (2009)
relatam que os idosos têm mais satisfação ao utilizarem dispositivos de TA quando os
cuidadores se mostram física ou verbalmente envolvidos.
Por fim, é importante destacar a importância do cuidador na atenção às idosas assistidas
em domicílio, pois cuidar é sinônimo de zelo e é necessário bastante afeto para exercer esse
papel ocupacional.
Os indivíduos organizam seu tempo e sua rotina baseando-se nos papéis ocupacionais
que lhe cabem e, é necessário entender que o cuidar é um papel, mas que este interfere em todos
1225
os outros e precisa ser olhado com delicadeza, para que o cuidador não anule suas necessidades
pessoais em detrimento do outro (BARROZO, 2015).
CONCLUSÃO
A partir do presente estudo, foi possível observar as demandas de cada família, com
foco no idoso e no cuidador, que apesar de vivenciarem processos semelhantes apresentam
demandas e singularidades próprias.
Nesse contexto, o terapeuta ocupacional se insere proporcionando autonomia e
independência para o idoso, de modo que este ressignifique suas atividades e ocupações. Além
disso, o olhar voltado para o cuidador é essencial, tendo em vista que muitos negligenciam suas
ocupações e param de dar sentido à vida.
Além disso, é necessário que durante o processo de intervenção se tenha materiais
concretos que facilitem o idoso/cuidador a absorver as informações como os cartões de
autoestima e as cartilhas de orientações, que trazem maior clareza para os idosos e cuidadores
a longo prazo.
Sobre o processo de aprendizagem, entre docente, monitor e discentes, as intervenções
serviram para a construção e soma do olhar para a família e para além dela, entendendo a
dinâmica singular e a rotina para traçar as melhores estratégias. Também possibilitou ao grupo
o amadurecimento de postura enquanto terapeutas em formação para lidar com os imprevistos,
em relação a família, ausência de paciente, o luto, a aceitação e não aceitação por parte das
pessoas beneficiadas.
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2010, v. 18, n.2, p. 149-167
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percepção. 2010. Dissertação (Mestrado em Terapia Ocupacional) - Instituto Politécnico do
Porto. Escola Superior de Tecnologia da Saúde, Porto, 2010.
1227
Terapia ocupacional em um uma enfermaria pediátrica: visão de estagiárias neste
contexto
Maria José Gugelmin de Camargo
Caroline Valdovski Lourenço
Camilla Maria Magalhães Azevedo
Janaína Vivian de Jesus
O ambiente hospitalar é estressante, ainda mais quando se trata de crianças em internamento
devido a patologias graves. Os tratamentos invasivos, as dores, a quebra da rotina, o
afastamento de casa, da escola, dos colegas e dos familiares, a alimentação diferenciada, assim
como o impedimento de sair da cama e deambular livremente são estressores que causam um
grande sofrimento psicológico, emocional e físico. Por esta razão, faz-se necessário que uma
equipe multiprofissional realize um atendimento integral a essas crianças, dentro dela os
profissionais da Terapia Ocupacional estão aptos a proporcionar, através do brincar
significativo e de qualidade, um melhor enfrentamento da hospitalização, diminuindo o impacto
do internamento e ressignificando seu cotidiano, dando a ela mais qualidade ao internamento e
contribuindo de maneira efetiva ao seu tratamento. Metodologicamente, este trabalho foi
realizado através da observação e vivência de estágio no primeiro semestre de 2019 na ala
pediátrica de um hospital universitário.
Palavras chave: Criança Hospitalizada, Cuidado da Criança, Hospitalização, Terapia
Ocupacional.
INTRODUÇÃO
No processo terapêutico ocupacional que se dá na enfermaria pediátrica e o contexto
que o envolve, se faz necessário planejar, direcionar, aplicar e refletir sobre a intervenção de
imediato, portanto, o raciocínio clínico predominante nos atendimentos é o interativo, que
consiste em motivar o cliente a realizar a atividade a partir da compreensão dos gostos e dos
fatores que o cercam (SHELL, 2011).
Quando uma criança precisa ser hospitalizada suas reações variam de acordo com seu
estágio de desenvolvimento e de diversos fatores, tais como a idade, o afastamento de
1228
familiares, a vivência anterior em ambiente hospitalar, o apoio dos familiares e o tempo de
internamento (CRUZ et al., 2006),
O autor ressalta, também, que com a hospitalização, o menor, pode ser vítima de um
atraso em seu desenvolvimento, pois a hospitalização pode interferir na independência do
paciente que, por muitas vezes, é impedido de obter controle do seu próprio corpo e é afastado
do convívio familiar, social e escolar.
A hospitalização infantil provoca um grande sofrimento, e por esta razão faz- se
necessário que profissionais da terapia ocupacional propiciem à criança um melhor
enfrentamento da situação, diminuindo o estresse causado por ela, aproximando-a de sua rotina
e ressignificando seu cotidiano. O atendimento de terapia ocupacional tem por objetivo geral,
engajar o paciente em atividades significativas a fim de facilitar o processo de enfrentamento
dos fatores que envolvem adoecimento e sua hospitalização, assim como proporcionar uma
melhor qualidade de vida diante do internamento (KUDO; BARROS; JOAQUIM, 2018).
Da mesma forma, a companhia do cuidador e responsável de referência é de extrema
importância no ambiente hospitalar, pois sua ausência é sentida de modo acentuado pela criança
(TAKATORI; OSHIRO; OTASHIMA, 2004).
METODOLOGIA
O presente estudo utiliza um método exploratório, em um marco temporal de março a
junho de 2019, sendo desenvolvido através da observação de estagiárias, na ala pediátrica de
um hospital universitário do sul do Brasil. As crianças observadas pelas estudantes possuem de
02 a 17 anos de idade, sendo elas acometidas por doenças crônicas graves. As observações
aconteciam durante a intervenção, todas as terças feiras no período da tarde, sob supervisão de
uma professora.
RESULTADOS
O ambiente hospitalar é caracterizado por estresses e alterações situacionais do paciente,
sendo de grande rotatividade, por esta razão não há uma avaliação estruturada, a mesma é feita
concomitantemente com a intervenção de maneira observacional prática, rápida e objetiva,
exigindo um raciocínio clínico intuitivo.
Com base na observação realizada, foi possível constatar que o terapeuta ocupacional
intervém realizando atividades voltadas à rotina da criança, como recurso para minimizar os
1229
impactos de tratamentos invasivos e da hospitalização de curta/média/longa permanência,
quebra de rotina, perda do papel ocupacional, a retomada de autonomia e independência,
trabalhando com atividades lúdicas para otimizar o entendimento da criança em relação à
hospitalização e assim proporcionar métodos de enfrentamento e compreensão de sentimentos.
Giardinetto et al. (2009) afirma que o terapeuta ocupacional dentro do ambiente
hospitalar busca promover, através do brincar, a saúde e a qualidade de vida da criança, pois é
através do brincar que a criança desenvolve os aspectos motores e cognitivos, aprende regras,
se socializa e se comunica, tornando-a como a principal ocupação da criança. O profissional de
terapia ocupacional utiliza o brincar como recurso para trazer o contexto da criança para o
hospital e fomentar seu desenvolvimento no ambiente hospitalar, além de objetivar a
diminuição dos impactos causados pela hospitalização.
DISCUSSÃO
Durante o processo de intervenção foi possível observar a importância das atividades
lúdicas e do brincar, assim como as fases do desenvolvimento das crianças, as dificuldades
causadas pelo internamento e o quanto este afeta de maneira negativa o desenvolvimento
esperado. Além de atrasos sociais e educacionais, como o afastamento da escola e da família.
Realizamos, quando necessário, adaptações nas atividades e jogos, modificando as
regras de acordo com o estágio de desenvolvimento do paciente, graduando a atividade de
acordo com o seu conhecimento sobre o mesmo e avançando de acordo com o entendimento,
facilitando assim a compreensão e um melhor engajamento proporcionando resultado
satisfatório.
Durante todas as intervenções notou-se uma mudança no comportamento dos pacientes
e seu acompanhante, quando ambos se apresentavam tristes e acanhados, muitas vezes
demonstrando sentimento de medo ou ansiedade, e após o atendimento de terapia ocupacional
os mesmos mostravam-se mais felizes e dispostos, ou seja, vivenciamos e testemunhamos como
e quanto terapia ocupacional proporciona um melhor enfrentamento da hospitalização, pois
seus resultados são visíveis e palpáveis logo ao final da intervenção.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível identificar através das brincadeiras e dos jogos, as potencialidades dos
pacientes, e presenciar as mudanças comportamentais positivas durante o período de
1230
atendimento. O vínculo criado, favoreceu o engajamento tanto da criança e do cuidador, quanto
das acadêmicas no processo.
O terapeuta ocupacional atua como facilitador na promoção de autonomia do público
infantil, favorecendo o engajamento em atividades lúdicas e no brincar, com o objetivo de
amenizar impactos da hospitalização e diminuir ou extinguir possíveis atrasos do
desenvolvimento que possam estar aparentes.
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