Construcao de Projetos em Educacao Ambiental

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Construção de Projetos e

Educação Ambiental

Brasília-DF.
Elaboração

Aline Sabbi Essenburg


Rogério de Moraes Silva

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO................................................................................................................................... 5

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA...................................................................... 6

INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 8

UNIDADE I
PARA VER OU REVER........................................................................................................................... 11

CAPÍTULO 1
REVENDO ALGUNS FATOS HISTÓRICOS.................................................................................... 11

CAPÍTULO 2
CONCEITOS, OBJETIVOS E PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL.......................................... 13

UNIDADE II
NOÇÕES DE METODOLOGIA DE PESQUISA PARA COMPOSIÇÃO DE DIAGNÓSTICOS............................. 17

CAPÍTULO 1
ASPECTOS GERAIS DE METODOLOGIA DE PESQUISA................................................................ 17

CAPÍTULO 2
O PROCESSO DE PESQUISA.................................................................................................... 19

UNIDADE III
ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS................................................................................... 25

CAPÍTULO 1
ASPECTOS GERAIS DE ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS..................................... 25

CAPÍTULO 2
PROPOSIÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE PLANEJAMENTO................................................................. 27

CAPÍTULO 3
INDICADORES AMBIENTAIS PARA PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS EM EMPRESAS.......................... 33

UNIDADE IV
INTERFACE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CIDADANIA................................................................................. 36

CAPÍTULO 1
CIDADANIA LOCAL................................................................................................................ 36

CAPÍTULO 2
CIDADANIA GLOBAL.............................................................................................................. 39
PARA (NÃO) FINALIZAR....................................................................................................................... 43

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 45

ANEXO A
LEI NO 9.795, DE 27 DE ABRIL DE 1999................................................................................................ 47

ANEXO B
DECRETO NO 4.281, DE 25 DE JUNHO DE 2002...................................................................... 54
Apresentação
Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
O ambiente é um todo uno e, portanto, não divisível em partes isoladas.

A degradação ambiental está diretamente ligada à degradação das condições de vida do homem
contemporâneo. Os problemas ambientais não são problemas isolados, eles estão inseridos na rede
complexa da pós-modernidade, cuja melhor definição ainda é a crise, ou, o esgotamento dos modelos
modernos de ciência e de sociedade. Este diagnóstico torna evidente que o problema ambiental não
deve ser tratado isoladamente. A criação de projetos ambientais não pode esquecer que o homem
é parte do ambiente, e toda iniciativa preservacionista tem que envolver o homem, tanto como o
agente, como o próprio ambiente.

As mudanças que se fazem necessárias não apenas dizem respeito às respostas a antigas indagações,
como aquelas que passam a centralizar as preocupações contemporâneas de caráter científico
motivadas pelo avanço tecnológico, pela intensidade de novas demandas do conhecimento e pelas
revoluções no campo da informação, das telecomunicações, da biotecnologia. Para Leff (2003),
a crise ambiental é, sobretudo, um problema de conhecimento, em meio à complexidade do
mundo e do próprio ser, o que implica a necessidade de desconstruir e reconstruir o pensamento,
buscando entender as origens, compreender as causas e desvendar as certezas embasadas em falsos
fundamentos. Isso se faz fundamental, sobretudo quando se constata que o pensamento encontra-se
influenciado pelo comportamento humano, afetando as maneiras de pensar, que vão se direcionar
muito mais para aquilo que é considerado útil e material.

Para mudar atitudes e comportamentos não bastam informações, conceitos e tecnologias. É preciso
rever valores, mexer com sentimentos, promover a autoestima das pessoas e, então, devolver a elas
a autoria da própria história e a perspectiva de um futuro sustentável. Além de conceituar-se como
estudo científico das características da interação entre o homem e a natureza, a educação ambiental
é um processo no qual se valoriza o ambiente em que se vive, incorporando a dimensão histórica,
socioeconômica, política e cultural. Nesse processo contínuo, devem-se adquirir habilidades,
valores, experiências, conhecimentos e consciência ecológica, o que propicia ao indivíduo condições
para agir individual e coletivamente.

Diversos documentos e agendas têm sido elaborados, refletindo as preocupações com essas questões,
mas continua a existir um enorme distanciamento entre o plano das intenções e a efetivação das
ações necessárias e urgentes de serem implementadas. Desde a Conferência de Estocolmo, em
1972, destacando-se Tbilisi, em 1977, passando pelo Relatório Bruntland, em 1987, pela Rio-92 e
chegando à Lei nº 9.795/1999, que institui a Política Ambiental e normatiza a Educação Ambiental
em nosso País, temos constatado um descompasso entre o proclamado e o realizado no cotidiano
das práticas políticas, em seus diferentes níveis e locais de ação.

8
A Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental aos Países-Membros, realizada em
Tbilisi, na Geórgia, em 1977, considerava que as mudanças institucionais e educacionais necessárias
à incorporação da educação ambiental aos sistemas nacionais de ensino não deveriam basear-
se unicamente na experiência, mas também em pesquisa e avaliações que tivessem por objetivo
melhorar as decisões da política de educação. E assim recomendou aos governos:

»» que traçassem políticas e estratégias nacionais que promovessem os projetos de


pesquisa necessários à educação ambiental e incorporassem seus resultados ao
processo geral de ensino por meio dos cursos adequados;

»» que efetuassem pesquisas sobre:

›› metas e os objetivos da educação ambiental;

›› estruturas institucionais que influem nas necessidades ambientais;

›› conhecimentos e atitudes dos indivíduos, bem como os obstáculos que se opõem


às modificações dos conceitos, valores e atitudes das pessoas e que são inerentes
ao comportamento ambiental;

»» que pesquisassem as condições em que poderia fomentar o desenvolvimento da


educação ambiental.

A educação ambiental no Brasil segue uma série de princípios, formalmente reunidos num documento
denominado Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade
Global. Todavia, os projetos só funcionam de fato quando contam com educadores capazes de tocar
o coração de crianças, jovens ou adultos, de mostrar que eles têm poder para sacudir velhos hábitos
e de incentivar os brasileiros, mesmo os mais simples, a perceberem a riqueza da própria cultura
e do ambiente onde vivem. Aos poucos, com a autoestima elevada, eles aprendem a trabalhar de
forma mais sustentável e a promover a melhoria de qualidade vida com conservação ambiental.

Definir o objeto de estudo, delimitar a área de abrangência e, sobretudo, definir procedimentos


metodológicos passou a ser algo extremamente crítico nas ciências ambientais, uma vez que elas
abrangem ampla gama de objetos: rochas, solo, atmosfera, água, organismos vivos, as relações entre
esses fatores e as atividades humanas. Isso significa que as ciências ambientais envolvem tanto as
chamadas ciências físicas como as biológicas e sociais.

Objetivos
»» Adquirir noções de metodologia de pesquisa para a composição de diagnósticos em
educação ambiental.

»» Ampliar a compreensão de aplicação de técnicas científicas e proposição de projetos


para problemas ambientais.

»» Compreender a interface entre educação ambiental e cidadania local e global.

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10
PARA VER OU REVER UNIDADE I

CAPÍTULO 1
Revendo alguns fatos históricos

Para compreender o atual pensamento em torno da educação ambiental e as teorias vigentes, alguns
textos e eventos são elucidativos, como, por exemplo:

»» o livro “Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, uma obra narrativa sobre a crise
global. Neste livro, a autora afirma que o uso indiscriminado de agrotóxicos, além
de acarretar sérios riscos de câncer e outras doenças, prejudicaria o planeta a ponto
de os pássaros deixarem de cantar na primavera;

»» conclusões da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano


(CNUMAH), em Estocolmo, em junho de 1972, em que se evidenciou a
responsabilidade com relação à proteção e à melhoria do ambiente em toda sua
dimensão humana, em decorrência da qual todos os países membros começaram
a promover programas, visando a atingir tais objetivos. Uma resolução importante
da Conferência de Estocolmo foi a de que se deve educar o cidadão para a solução
dos problemas ambientais. Podemos então considerar que aí surge o que se
convencionou chamar de Educação Ambiental;

»» resultados do seminário de Tammi (Finlândia), que deu origem aos Princípios da


Educação Ambiental. Esse seminário considerou a educação ambiental não como
uma matéria separada do currículo escolar e sim como algo integrante e permanente
do currículo;

»» as conclusões do Encontro Internacional em Educação Ambiental, ocorrido em


Belgrado (Sérvia), iniciativa da UNESCO. Nesse encontro, foi criado o Programa
de Educação Ambiental (PIEA), que formulou alguns princípios orientadores, entre
eles, a educação ambiental continuada, multidisciplinar, integrada às diferenças
regionais e voltada para os interesses nacionais;

»» o relatório de Tbilisi (Geórgia), da Conferência Intergovernamental de Educação


Ambiental organizada pela UNESCO, em que se definiram os objetivos, as
características da Educação Ambiental, assim como as estratégias pertinentes

11
UNIDADE I │ PARA VER OU REVER

no plano nacional e internacional. Nessa conferência, decidiu-se que a Educação


Ambiental deve abranger pessoas de todas as idades e níveis de ensino;

»» a Lei Federal no 6.938/1981 sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins
e mecanismos de formulação e execução. Em um de seus princípios, a lei refere-
se à “inclusão da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino, inclusive a
educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa
do meio ambiente”;

»» as conclusões da Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento


Sustentável, a Rio-92, realizada no Rio de Janeiro em julho de 1992. A Rio-92,
em termos de Educação Ambiental, corroborou com as premissas de Tbilisi e
acrescentou a necessidade de concentração de esforços para a erradicação do
analfabetismo ambiental e para as atividades de capacitação de recursos humanos
para a área;

»» as conclusões da Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade:


Educação e Conscientização Pública para a Sustentabilidade, realizada em dezembro
de 1997, promovida pela UNESCO em Tessalônica (Grécia), nas quais foi conhecido
o desenvolvimento insuficiente da EA desde a Rio-92;

»» a Lei Federal nº 9.795/1999, que instituiu a Política Nacional de Educação


Ambiental (Anexo I), que estabelece os princípios, objetivos e finalidades da
educação ambiental, destaca a incorporação da especialização de educadores em
todos os níveis de ensino e aponta a educação ambiental como um componente
essencial e permanente da educação nacional.

»» o Decreto no 4.281/2002 (Anexo II) que regulamenta a Lei no 9.795/1999. Este


Decreto em seu Art. 1o diz que “a Política Nacional de Educação Ambiental será
executada pelos órgãos e entidades integrantes do SISNAMA, pelas instituições
educacionais públicas e privadas dos sistemas de ensino, pelos órgãos públicos
da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, envolvendo entidades não
governamentais, entidades de classe, meios de comunicação e demais segmentos
da sociedade”.

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CAPÍTULO 2
Conceitos, objetivos e princípios da
Educação Ambiental

Conceitos
O conceito de Educação Ambiental varia em interpretações, de acordo com cada contexto, conforme
a influência e vivência de cada um.

Na I Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental em Tbilisi, Geórgia, 1977, a


Educação Ambiental foi definida como uma dimensão dada ao conteúdo e à prática da Educação,
orientada para a solução dos problemas concretos do meio ambiente, por meio de enfoques
interdisciplinares e de uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade.

A definição oficial de Educação Ambiental, do Ministério do Meio Ambiente é:

Educação ambiental é um processo permanente, no qual os indivíduos


e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem
conhecimentos, valores, habilidades, experiências e determinação que os
tornam aptos a agir – individual e coletivamente – e resolver problemas
ambientais presentes e futuros.

De acordo com a Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999, art. 1o:

Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo
e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades,
atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de
uso comum ao povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

As definições de educação ambiental estão relacionadas com o processo evolutivo do conceito de


meio ambiente e a maneira como este é percebido ao longo dos tempos.

São várias as definições e todas se completam. De forma geral, Educação Ambiental pode
ser conceituada como um processo de ensino–aprendizagem em que o indivíduo adquirirá
conhecimentos e esclarecimentos sobre o meio ambiente, sua relação de interdependência e a forma
como essa relação o afeta, buscando promover sua sustentabilidade mediante ações educativas, de
informação e comunicação, visando a deixar um legado para gerações futuras.

Objetivos
A Educação Ambiental tem como objetivo geral mostrar ao ser humano a complexa natureza do
meio ambiente, que resulta da interação dos seus aspectos biológicos, físicos, sociais e culturais.

13
UNIDADE I │ PARA VER OU REVER

Portanto, ela deve criar para o indivíduo e para a sociedade meios para entender como estes diversos
elementos se relacionam, e promover uma utilização mais reflexiva e consciente dos recursos
naturais atendendo as necessidades da humanidade.

O art. 5o da Lei no 9.795/1999 traz os objetivos fundamentais da Educação Ambiental:

I – o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente


em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos,
psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e
éticos;

II – a garantia de democratização das informações ambientais;

III – o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a


problemática ambiental e social;

IV – o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável,


na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da
qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania;

V – o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro


e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente
equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade,
democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade;

VI – o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia;

VII – o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e


solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade.

Apesar do tempo decorrido da Conferência de Tbilisi, muito das orientações consolidadas nesse
evento continua norteando a EA em várias partes do mundo. Uma dessas orientações diz respeito à
questão das finalidades da EA que são as seguintes.

»» Ajudar a fazer compreender, claramente, a existência da interdependência


econômica, social, política e ecológica nas zonas urbanas e rurais, pois facilita os
meios de interpretação, a fim de promover um uso mais consciente, ponderado e
cauteloso dos recursos naturais para a satisfação das necessidades humanas.

»» Proporcionar a todas as pessoas a possibilidade de adquirir os conhecimentos,


os sentidos dos valores, as atitudes, o interesse ativo, necessários para proteger
e melhorar o meio ambiente, divulgando informações sobre modelos de
desenvolvimento que não o prejudiquem.

»» Induzir novas formas de conduta nos indivíduos, nos grupos sociais e na sociedade
a respeito do meio ambiente, por meio da responsabilidade de cada um, envolvendo
uma coletividade em prol de uma qualidade do meio natural, social e cultural, sem
colocá-lo em risco.

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PARA VER OU REVER │ UNIDADE I

Todas essas finalidades devem ser adaptativas às diversas realidades socioculturais, econômicas e
ecológicas das sociedades, comunidades e regiões existentes em nosso planeta, principalmente as
metas do seu desenvolvimento.

Princípios
Vários autores enumeram os princípios básicos para se ter uma Educação Ambiental de qualidade.
Resumindo, são enumerados três desses, que abrangem todos os outros.

O primeiro princípio considera o meio ambiente em sua totalidade, respeitando os aspectos


naturais, os transformados, os tecnológicos, histórico-culturais. Na Conferência de Estocolmo foram
considerados apenas o ambiente, a fauna e a flora e os aspectos abióticos: como pH, temperatura,
salinidade e outros. Hoje são considerados meio ambiente os aspectos bióticos, abióticos, mais a
cultura humana como: tecnologia, construções, artes, religiões, o que leva a Educação Ambiental
a ter uma visão holística, isto é, uma área de abrangência integral, atribuindo uma importância
significativa a todos os aspectos da vida.

O segundo princípio aplica um enfoque multidisciplinar à Educação Ambiental, aproveitando


o conteúdo específico de cada disciplina, adquirindo uma perspectiva ampla. Pela própria
complexidade natural do ambiente e pelas suas múltiplas interações, a Educação Ambiental não
poderia estar relacionada apenas a uma disciplina, como era antes (associada a Ciências), mas deve
estar transversalmente em todas.

O terceiro e último princípio da Educação Ambiental concentra e examina as questões ambientais,


do ponto de vista local, regional, nacional e internacional de modo que os educandos consigam
identificar, além dos tipos de degradação, os tipos de conservação numa visão global. Infelizmente,
esse é um dos princípios que não é considerado na maioria das vezes em âmbito nacional, pois o que
se observa é que os únicos recursos de que dispõem os professores, são os livros didáticos. Esses,
por sua vez, não tratam de assuntos da realidade local, em que está inserida a escola. Os alunos
precisam conhecer primeiramente os problemas ambientais que os circundam, para depois ampliar
esse campo de visão, levando-os a perceber primeiramente o seu interior, em seguida o que está a
sua volta, como a sua família, sua escola, seu trabalho, e finalmente, sua rua, sua quadra, sua cidade,
sua região, seu país, até chegar à globalidade.

Para que haja uma Educação Ambiental de qualidade é necessário fomentar ações de cooperação,
entre todos os cidadãos, os grupos sociais e as instituições, pois todos os processos ecológicos se
interdependem numa teia de interações, e os homens não são os únicos beneficiários nem os donos
do planeta. Daí pensar-se em um desenvolvimento econômico e social, baseado em um novo modelo:
o sustentável, que é também um dos objetivos da Educação Ambiental. Dessa forma, os indivíduos
e a sociedade terão a sua percepção ampliada e internalizarão conscientemente a necessidade de
mudanças.

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UNIDADE I │ PARA VER OU REVER

Esses são alguns dos princípios da Educação Ambiental, que resultam numa ação prática, atuante,
que adota uma postura de tomada de decisões, ou seja, a proposta de um novo estilo de vida.

Nota-se que os objetivos, os princípios e as finalidades da Educação Ambiental têm muito em


comum, o que nos permite concluir que todos esses “conceitos” estão interligados e que a Educação
Ambiental só será efetiva quando todos os conceitos e ações forem aplicados de forma convergente.

16
NOÇÕES DE
METODOLOGIA
DE PESQUISA PARA UNIDADE II
COMPOSIÇÃO DE
DIAGNÓSTICOS

CAPÍTULO 1
Aspectos gerais de metodologia de
pesquisa

A crise ecológica é a crise do nosso tempo. O risco ecológico questiona o


conhecimento do mundo. Esta crise se apresenta a nós como um limite no real
que re-significa e re-orienta o curso da história: limite do crescimento econômico
e populacional; limite dos desequilíbrios ecológicos e das capacidades de
sustentação da vida; limite da pobreza e da desigualdade social. Mas também
crise do pensamento ocidental: da “determinação metafísica” que, ao pensar o
ser como ente, abriu a via da racionalidade científica e instrumental que produziu
a modernidade como uma ordem coisificada e fragmentada, como formas de
domínio e controle sobre o mundo. (ENRIQUE LEFF)

A atualidade, pautada em processos sociais democráticos, nos traz como desafio a emergência de um
novo paradigma de sociedade e cultura, o que implica mudança de mentalidade, que vai ocasionar
modificações nas relações sociais e nas formas de organização, requerendo novas respostas às
questões dos diferentes campos: político, social, econômico, ecológico, cultural e, sobremaneira, no
campo educativo, espaço político-pedagógico em que se trabalham mentalidades e posturas.

De acordo com os pressupostos descritos pela Educação Ambiental (organizados historicamente


através das diversas Conferências existentes, tais como: Conferência de Estocolmo, Conferência de
Belgrado, Conferência de Tbilisi, Conferência de Moscou e Rio-92), o planejamento das ações deve
ser do tipo participativo, ou seja, todos os sujeitos envolvidos devem contribuir de forma a facilitar
a compreensão e atuação sobre a realidade a ser explorada, tendo assim, no exercício da cidadania,
uma participação ativa na elaboração teórica e prática das ações para a superação dos problemas
diagnosticados.

17
UNIDADE II │ NOÇÕES DE METODOLOGIA DE PESQUISA PARA COMPOSIÇÃO DE DIAGNÓSTICOS

A metodologia participativa pressupõe que os conteúdos das diferentes áreas de conhecimento são o
ponto de partida para a reelaboração dos conceitos, de forma que o conhecimento reelaborado seja
aplicado à realidade com o intuito de transformá-la. Essa transformação se dá quando o equilíbrio
local é atingido em razão da modificação na relação homem-natureza, permitindo uma relação mais
integrada e uma abertura de consciência por parte dos sujeitos.

A educação ambiental toca o lado sensível das pessoas, valoriza o lado artístico normalmente
desvalorizado e é um desafio permanente, porque o processo precisa ser contínuo. O primeiro passo
é mostrar às pessoas que é possível, que elas podem transformar a própria imagem e ir galgando
patamares até se perceberem capazes de mudar atitudes para sobrevivermos todos e o planeta
também. Os mais diversos setores de uma região devem se reunir para discutir os problemas e
propor acordos e soluções.

Atualmente, os eventos que tratam da temática ambiental são importantes espaços de discussão e
realização de atividades formativas por meio de cursos, grupos de trabalhos, oficinas entre outros.
Lembrando que a educação ambiental deve estar presente em todos os ambientes: escolas, trabalho,
praças, família e comunidade.

O modelo de desenvolvimento econômico baseado na exploração dos recursos


naturais vem sinalizando para graves desequilíbrios no meio ambiente e para a
deterioração da qualidade de vida das pessoas.

Essa discussão, que envolve preservação ambiental, de um lado, e progresso econômico, de outro –
de crescimento infinito e associado à acumulação de capital –, abre campo para o questionamento
quanto à incorporação da questão ambiental na elaboração das estratégias corporativas,
influenciando nos processos decisórios das atividades econômicas e tornando-se, portanto,
imperativa para o desenvolvimento capitalista.

As empresas, ao se interessarem pelas questões ambientais, passam a incorporá-las em seus


planejamentos, em seus objetivos e até mesmo em suas filosofias corporativas, o que significa adotar
uma postura ecologicamente responsável.

É importante ressaltar que, mediante os esforços empreendidos na luta pela preservação ambiental,
por meio de instrumentos como os certificados ambientais, programas de educação ambiental,
investimentos em melhorias de processos, entre outros, propicia ganhos tanto para a sociedade, no
que concerne à melhoria de qualidade de vida, quanto para o meio ambiente, em face da preservação
ambiental.

O grande desafio da humanidade com a questão ambiental consiste em encontrar


a compatibilização da interferência econômica sobre as restrições ambientais, de
modo a assegurar o desenvolvimento econômico, sem afetar ou degradar o meio
ambiente, mas, preservá-la e renová-la, a fim de manter a sua biodiversidade,
garantindo, desse modo, o direito que as gerações futuras também possuem de dela
usufruir.

18
CAPÍTULO 2
O processo de pesquisa

A pesquisa em Educação Ambiental tem por finalidade o levantamento de diversas informações


sobre uma comunidade que apresenta deficiências, como por exemplo: falta de conhecimento da
importância da participação ativa do cidadão na sua comunidade; importância do meio ambiente
sadio, da reutilização de produtos passíveis de reciclagem, da geração de resíduos, do saneamento
básico, entre outros. E permite diagnósticos das necessidades educacionais para posteriormente
serem propostos projetos socioambientais que podem ser implantados efetivamente naquela
comunidade para o equacionamento ou amenização do problema.

Pode-se definir pesquisa como o processo que tem como objetivo proporcionar respostas aos
problemas propostos mediante procedimentos científicos. Uma atividade pode ser considerada
pesquisa:

a. se a finalidade é a produção de um novo conhecimento ou sua consolidação;

b. se é conduzida com rigor e perspectiva crítica, o que supõe uma certa distância
entre sujeito e objeto e, preferencialmente, uma confrontação de diversos olhares
em Educação Ambiental;

Pode-se também dizer que pesquisa nada mais é do que a operacionalização do método científico.
Como processo, a pesquisa envolve diferentes etapas intimamente relacionadas entre si:
planejamento, coleta de dados, análise e interpretação dos resultados e redação de
relatório.

O planejamento consiste na previsão das atividades a serem desenvolvidas ao longo do processo


de pesquisa, bem como na tomada de providências para que essas ocorram de maneira adequada. O
planejamento tem como finalidade fornecer respostas às questões: o que pesquisar, como, quando,
onde e por quê.

No planejamento procede-se às seguintes etapas: formulação do problema, construção


de hipóteses, operacionalização das variáveis, construção dos instrumentos de coleta
de dados, estabelecimento do cronograma de pesquisa, especificação dos recursos
humanos, materiais e financeiros requeridos etc. Todas essas etapas, por sua vez,
integrarão o projeto de pesquisa, que é o documento que apresenta as decisões a serem tomadas
ao longo da pesquisa.

Falar de planejamento é falar tanto da realidade atual como do futuro desejado,


assim como dos caminhos possíveis entre ambos.

19
UNIDADE II │ NOÇÕES DE METODOLOGIA DE PESQUISA PARA COMPOSIÇÃO DE DIAGNÓSTICOS

Formulação do problema
O primeiro passo a ser dado em qualquer pesquisa é constituído pela formulação do problema,
tarefa bem mais difícil do que geralmente se supõe. Considera-se problema tudo aquilo para o que
ainda não se tem uma resposta. Por isso sugere-se que estes:

»» sejam expressos de maneira clara, precisa e concisa;

»» sejam delimitados a uma dimensão viável. Isso significa que devem ser circunscritos
no tempo e no espaço;

»» sejam objetivos. No âmbito do social, os problemas costumam vir permeados de


valores.

Os problemas podem apresentar diferentes níveis de complexidade. Assim, pode-se definir que
alguns problemas condizem a pesquisas descritivas, que têm como objetivo a descrição das
características de uma população ou de um fenômeno.

Outros problemas condizem com pesquisas explicativas, que visam informar a respeito das
causas ou fatores que influenciam na ocorrência de determinado fenômeno.

Construção de hipóteses
Quando um problema é formulado de forma a conduzir à identificação dos fatores que o determinam
ou contribuem para sua ocorrência, torna-se necessário construir hipóteses. As hipóteses podem
ser entendidas como o estabelecimento de uma relação potencial entre duas ou mais variáveis.
Uma delas, conhecida como variável independente, é constituída pelo problema que está
sendo investigado. As outras, conhecidas como variáveis dependentes, são fatores capazes de
contribuir para a ocorrência do fenômeno.

Delineamento da pesquisa
A formulação do problema e a construção de hipóteses constituem uma etapa da pesquisa. Isso
significa que, nessas etapas, o trabalho é essencialmente de natureza conceitual. Após a sua
conclusão, entretanto, torna-se necessário confrontar esses conceitos com a realidade empírica. Daí,
então, procede-se ao delineamento da pesquisa, que pode assumir diferentes formas: pesquisa
experimental, levantamentos, estudo de caso, pesquisa-ação, pesquisa participante,
entre outros.

Pesquisa experimental
A pesquisa experimental exige a reprodução dos fenômenos em condições controladas, por
isso é pouco frequente no âmbito da educação ambiental. O grande número de variáveis a

20
NOÇÕES DE METODOLOGIA DE PESQUISA PARA COMPOSIÇÃO DE DIAGNÓSTICOS │ UNIDADE II

serem consideradas, o caráter histórico dos fatos sociais e, sobretudo, as implicações éticas da
experimentação tornam esse delineamento inviável na maioria dos casos.

Levantamentos
O levantamento caracteriza-se pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja
conhecer, constitui-se uma das modalidades mais utilizadas de pesquisa. De modo geral, os
levantamentos valem-se dos procedimentos de amostragem e utilizam técnicas padronizadas de
coletas de dados, como o questionário, a entrevista, a observação sistemática. Possibilitam
o conhecimento direto da realidade, a obtenção de dados com economia e rapidez e sua
quantificação.

Estudo de caso
O estudo de caso é caracterizado pelo estudo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir
seu conhecimento amplo e detalhado. Fundamenta-se na ideia de que a análise de uma unidade
de determinado universo possibilita a compreensão da generalidade deste ou, pelo menos, o
estabelecimento de bases para uma investigação posterior, mais sistemática e precisa.

Pesquisa–Ação

É um tipo de pesquisa social realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de
um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou
do problema estão envolvidos do modo cooperativo ou participativo.

Essa modalidade de pesquisa é considerada alternativa, pois não se enquadra como procedimento
rigidamente científico, de acordo com o modelo clássico de ciência. Mostra-se, no entanto, muito útil
para a pesquisa em educação ambiental, uma vez que, frequentemente, tem como objetivo a solução
de um problema prático ou o desenvolvimento de um projeto educativo. Além disso, a pesquisa–
ação, por requerer o envolvimento dos participantes representativos das organizações sociais ou da
comunidade, favorece o trabalho posterior de implementação das ações.

Nessa proposta o relacionamento entre os objetivos práticos (equacionamento do problema,


levantamento de soluções e proposta de ações correspondentes) e os objetivos de conhecimento
(obtenção de informações que seriam de difícil acesso por meio de outros procedimentos), são
referendados por procedimentos participantes. Essa proposta metodológica, quando bem conduzida
a partir de um amadurecimento contínuo, pode vir a alcançar, simultaneamente, a resolução de
problemas, a tomada de consciência e a produção de conhecimento.

Na pesquisa–ação, os pesquisadores reúnem dados, comprovações ou observações para denunciar


situações de injustiças, equívocos ou danos ambientais e apresentam propostas de mudanças.
Pesquisa–ação se orienta por um sistema de comunicação dialógica entre pesquisadores e grupo

21
UNIDADE II │ NOÇÕES DE METODOLOGIA DE PESQUISA PARA COMPOSIÇÃO DE DIAGNÓSTICOS

social para a produção de um novo tipo de conhecimento que favorece a orientação da ação em
um determinado contexto. Não existe um sujeito e um objeto de pesquisa, todos são sujeitos,
participando ativamente para um determinado fim.

Pesquisa participante
A pesquisa participante aparece associada a uma postura comprometida com a conscientização
popular. Responde especialmente às necessidades de populações que compreendem as classes
mais carentes nas estruturas sociais contemporâneas (operários, camponeses, agricultores e índios)
levando em conta suas aspirações e potencialidades de conhecer e agir. Esse tipo de pesquisa resgata
para a comunidade o poder de pesquisar a si mesma.

Os objetivos gerais para o planejamento participativo em Educação Ambiental são: participação


ativa dos sujeitos, unidade entre teoria e prática, realidade concreta como ponto de partida e a busca
por atingir o fim mais amplo da educação.

Na pesquisa participante, os pesquisadores estabelecem relações comunicativas com pessoas ou


grupos da situação investigada com o intuito de serem melhores aceitas.

Coleta de dados

Pesquisas em educação ambiental costumam valer-se de várias técnicas de coleta de dados. As


mais usuais são: a observação espontânea, participante ou sistemática; a entrevista, o
questionário, a história de vida, entre outros.

Observação

A observação pode ser entendida como o procedimento fundamental de coleta de dados em qualquer
pesquisa empírica. Os demais procedimentos nada mais seriam do que derivados da observação.
Para que seja entendida como procedimento científico, a observação precisa apresentar algumas
características: deve servir a um objetivo claro, ser planejada e executada de maneira sistemática e
ser submetida a controles.

Observação espontânea

O observador não se identifica perante os sujeitos envolvidos com o seu objeto de trabalho,
permanece alheio à comunidade, ao grupo ou à situação que pretende estudar, observa os fenômenos
que aí ocorrem. Apesar de sua informalidade, ela se coloca num plano científico, pois vai além da
constatação dos fatos, na medida em que é seguida de um processo de análise e interpretação. Sua
utilização é recomendada nas fases iniciais da pesquisa, com a finalidade de obter elementos para
sua delimitação e construção de hipóteses.

22
NOÇÕES DE METODOLOGIA DE PESQUISA PARA COMPOSIÇÃO DE DIAGNÓSTICOS │ UNIDADE II

Observação participante
O pesquisador participa da vida da comunidade, do grupo ou da situação. A observação é
pressupostamente assumida perante os sujeitos, que, por outro lado, podem modificar seus
comportamentos durante a observação do pesquisador. Nesse caso, ele assume até certo ponto,
pelo menos, o papel de um membro do grupo.

Observação sistemática
É frequentemente utilizada em pesquisas que têm como objetivo a descrição precisa dos fenômenos
ou o teste de hipóteses. Nas pesquisas desse tipo, o pesquisador sabe quais os aspectos da comunidade
ou grupo que são significativos para alcançar os objetivos pretendidos.

Entrevista
Pode-se definir entrevista como a técnica em que o observador se apresenta diante do investigado e
lhe formula perguntas, com o objetivo de obter os dados que interessam à investigação. A entrevista é,
portanto, uma forma de interação social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico
em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação.

A entrevista é uma das técnicas de coleta de dados mais utilizadas não apenas para o desenvolvimento
de pesquisas, mas também para fins de diagnóstico e orientação.

Questionário
Pode-se definir questionário como a técnica de investigação constituída por um rol de perguntas
apresentadas por escrito às pessoas que se deseja pesquisar.

História de vida
A história de vida constitui do relato pessoal de informantes sobre situações que passaram ao longo
de determinado período de tempo. Geralmente é usada em estudos de caso de base histórica, pois
possibilita o resgate cronológico de uma realidade social. Trata-se, por conseguinte, de uma técnica
de natureza essencialmente qualitativa, que costuma formar a base para delineamentos do tipo
estudo de caso.

Análise e interpretação dos dados


Após a coleta de dados, a fase seguinte da pesquisa é a sua análise e interpretação. Esses dois
processos, apesar de conceitualmente distintos, aparecem sempre estreitamente relacionados. A
análise tem como objetivo organizar e sumariar os dados de forma tal que possibilite o fornecimento
de respostas ao problema proposto para investigação. Já a interpretação tem como meta a procura

23
UNIDADE II │ NOÇÕES DE METODOLOGIA DE PESQUISA PARA COMPOSIÇÃO DE DIAGNÓSTICOS

do sentido mais amplo das respostas. Quando possível devem ser feitas comparações entre os
resultados obtidos e os reportados na literatura, sendo que as diferenças devem ser comentadas.

O aspecto mais crítico da análise costuma ser o tratamento estatístico dos dados. Ocorre com
frequência que o pesquisador, ao chegar a essa fase, não se encontra muito seguro sobre o que fazer.
E, como consequência, há relatórios de pesquisa em que a seção de análise dos dados é constituída
de tabelas com dados que não receberam nenhum tratamento analítico.

Relatório
O relatório constitui-se a finalização do trabalho de pesquisa e deve conter uma recapitulação
sintética dos resultados da pesquisa, ressaltando o alcance e as consequências de suas contribuições.
Deve conter uma correlação entre os objetivos propostos e as discussões dos resultados, com base
nas considerações teóricas.

A estruturação e a apresentação gráfica do relatório devem levar em consideração a natureza da


pesquisa e o público a que se destina. Para que possa cumprir seus objetivos, o relatório precisa ser
redigido em linguagem técnica. Isso significa que deve ser expresso em termos claros e precisos e
que as frases devem apresentar a maior concisão possível.

24
ELABORAÇÃO
DE PROJETOS UNIDADE III
SOCIOAMBIENTAIS

CAPÍTULO 1
Aspectos gerais de elaboração de
projetos socioambientais

Em uma dimensão maior, a Educação Ambiental vem despertar para a conscientização da capacidade
que temos de assumir estratégias de desenvolvimento diferente das que se tem hoje, uma estratégia
ética que integre crescimento econômico com justiça social que desencadeie num desenvolvimento
sustentável. Para isso é necessário relacionar e descobrir novas formas de lutar pela construção deste
projeto. A participação ativa dos sujeitos envolvidos no processo é fator fundamental na cobrança
dos órgãos controladores do serviço público para que os recursos e as políticas públicas se voltem
em benefício dos cidadãos e até possibilitem a ampliação dos direitos.

A Constituição Brasileira de 1988 incorporou em seu texto a Educação Ambiental, conforme o


art. 225, ressaltando a qualidade de vida como integrante da própria cidadania. Os Parâmetros
Curriculares Nacionais apresentam a questão ambiental como um dos temas transversais do
currículo do Ensino Fundamental, mas a sua efetivação no cotidiano escolar ainda deixa muito a
desejar e, em muitos casos, tem se limitado a ações isoladas e/ou a entendimentos parcializados
sobre a questão ambiental, orientados por uma visão excessivamente biologizada, dentro de uma
vertente ecológico-preservacionista, e/ou restrita a eventos comemorativos (dia da árvore, dia
do meio ambiente), ou ainda limitada à realização de algumas atividades práticas, denominadas
extracurriculares, eventuais (campanha do lixo, coleta para reciclagem, caminhadas ecológicas,
visitas, plantio de hortas etc.), sem a contextualização necessária e sem a internalização sobre o real
entendimento da problemática ambiental no cotidiano das comunidades escolares.

O planejamento de projetos em educação ambiental se apresenta com as seguintes características:


deve ter enfoque interdisciplinar e holístico, ser um ato político, facilitar a cooperação mútua e
equitativa nos processos de decisão, potencializar o poder das diversas populações na condução de
seus próprios destinos e na resolução de conflitos de maneira justa e humana. Deve ainda estimular
a adoção de projetos que formem sociedades socialmente justas, sustentáveis e ecologicamente
equilibradas.

25
UNIDADE III │ ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS

O planejamento de projetos não dispõe de fórmulas prontas para serem aplicadas com precisão em
momentos ou situações predeterminadas. Existe uma ampla gama de metodologias e estratégias,
cuja escolha e aplicação dependem das circunstâncias e dos interesses, em constante mutação.

A cada dia, as pessoas estão sempre planejando e tomando decisões sobre os


passos a serem seguidos, mesmo sem ter consciência disso, pois essa é uma atitude
racional, de indivíduos ou grupos buscando atingir seus objetivos.

26
CAPÍTULO 2
Proposição de estratégias de
planejamento

Construção de projetos em Educação


Ambiental
A construção de projetos em educação ambiental tem por finalidade estimular e fortalecer a
consciência crítica sobre a problemática ambiental e social, incentivar a participação comunitária
ativa, permanente e responsável do público, compreendendo a defesa da qualidade ambiental
como um valor inseparável do exercício da cidadania, e garantir a democratização das informações
ambientais dentre outros. Devem-se evidenciar aspectos técnicos e lógicos de elaboração e execução.

Projeto é um conjunto metodologicamente articulado entre um problema, o diagnóstico e a proposta


de intervenção e avaliação. Deve-se considerar que a precisão nas definições conceituais permite
esclarecer a interpretação do problema e suas possíveis soluções.

No processo de educação ambiental é necessário trazer para o projeto a opinião e a experiência de


lideranças locais, que conhecem muito melhor a comunidade e que por esta razão podem apontar
de forma muito mais eficiente os caminhos para o diálogo e a transmissão das informações. É
importante que, no processo educacional, haja uma equipe interdisciplinar, que envolva engenheiros,
construtores, educadores, biólogos, entre outros profissionais, e representantes da comunidade
que serão agentes ambientais. Se isso for feito, e de forma continuada, maior será a chance de a
população assumir um compromisso com o meio ambiente.

A metodologia adotada por educadores, pesquisadores ou voluntários para a elaboração de um


projeto é basicamente a mesma nas ciências naturais, sociais e humanas, variando essencialmente
no conteúdo. Essas variações demandadas são devidas às diferentes exigências da organização
financiadora.

Da concepção à execução do projeto, percebe-se a dinâmica de transformação que o envolve


dentro de uma cronologia estabelecida em seu planejamento. Outra noção de projeto é configurada
como um protocolo inicial de intenções que deverá esboçar o problema, apresentar um
diagnóstico das necessidades educacionais, a proposta de intervenção educacional e a
forma de avaliação, itens que serão executados dentro de um cronograma preestabelecido.
Deve ser constituído como um protocolo bem articulado, logicamente ordenado e coerente na relação
que existe entre sua justificativa e seu desenho metodológico, além de esboçar um planejamento que
permita vislumbrar as ações propostas e discutir a sua realização.

O campo teórico das questões ambientais, de forma mais precisa, tem sua especificidade na
educação ambiental. Espera-se que os que desejam construir um projeto tenham um domínio
razoável das discussões teóricas da área, conheçam tecnologias de intervenção, tenham noções de

27
UNIDADE III │ ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS

metodologia de pesquisa para a composição de diagnósticos e procurem participar de experiências


de intervenção para conhecer o trabalho na área e adquirir experiência. Enfim, espera-se que o
educador tenha conhecimentos mais sólidos dos referenciais teóricos e saiba articulá-los com as
observações realizadas.

Construir projetos não é uma questão exclusivamente técnica. Pelo contrário, o esforço de
compreensão dos fenômenos em sua totalidade é que permite criticar, rebater ou até mesmo
reforçar os posicionamentos dos educadores. Permite pensar de maneira ampliada, aprofundando
possibilidades de conhecer e intervir de forma ética e responsável, e realizar intervenções que
amadureçam não só o pensar e o agir de quem intervém, mas principalmente daqueles que recebem
os processos de intervenção.

Construção do projeto de intervenção


Os projetos surgem das mais variadas formas, mas o empenho pessoal de educadores nem sempre é
suficiente para poder desenvolvê-los em sua plenitude. Daí é importante pensar no desenvolvimento
deles inseridos em organizações que legitimem, divulguem e viabilizem sua execução.

Em trabalhos desse tipo é esperada a construção de uma relação dialógica como os mais
interessados nas intervenções, a população-alvo dos projetos. Sucessivas aproximações, sejam
elas realizadas diretamente por meio de contatos, conversas informais ou sistematizadas, sejam
indiretamente, buscando informações em fontes que possam esclarecer uma determinada realidade
de uma população, constituem os primeiros passos para o reconhecimento, de quem intervém,
da responsabilidade em responder por uma demanda particular e, a partir daí, transformar essa
demanda num problema que requeira soluções que se mantenham dentro dos parâmetros ditados
pelos princípios da vida pública. Cabe ao diagnóstico cumprir um papel fundamental que é indicar
com precisão e acuidade as necessidades demandadas pela população.

Fase diagnóstica
Nessa fase, procura-se levantar informações acerca das necessidades educacionais dos sujeitos
da intervenção. Tal tarefa só pode ser realizada se estiver estruturada na forma de pesquisa, isto
é, elaborada sob bases metodológicas e viabilizada por instrumentos de pesquisa que permitam
coletar as informações e analisá-las com a finalidade de produzir conhecimentos que levem a refletir,
posteriormente, sobre as possibilidades de concretizar uma proposta de intervenção educacional.

O diagnóstico permite pensar propostas bem elaboradas, envolvidas no conjunto de atividades que
promovem sucessivas aproximações e verificações junto à população, identificando sues anseios e
expectativas. Enfim, procura identificar demandas na medida em que se aproxima da população e
cria canais de diálogo com ela.

A exposição clara e precisa dos principais aspectos que envolvem o projeto só é possível de ser
realizada à medida que o diagnóstico aponte as possíveis hipóteses que expliquem um conjunto
de demandas e necessidades existentes num determinado contexto social. Intervir em educação

28
ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS │ UNIDADE III

ambiental requer, portanto, o mínimo de conhecimento entre pensamentos e práticas de um


determinado grupo social. Sem esses conhecimentos, entendidos como as vias de acesso à proposta,
não é possível encontrar soluções razoáveis aos problemas detectados. Enfim, a constatação de
um problema demandado só tem sua compreensão mais abrangente quando estiver envolvido em
análises que permitam compreendê-lo dentro de seu contexto social. Com base nelas, é possível
inferir hipóteses que expliquem uma determinada situação e indiquem caminhos possíveis à
continuidade do projeto.

Os conhecimentos sobre pesquisa dos que se propõem a intervir devem ser colocados em prática,
organizando processos de observação bem delineados em busca da compreensão das percepções e
concepções que permeiam o conjunto de representações existentes nos mais variados segmentos da
sociedade. Podem ser pensadas em linhas de pesquisas mais voltadas às metodologias qualitativas,
o que não exclui pesquisas cujas bases estão assentadas em métodos quantitativos.

Modelo de projeto
A proposta a seguir é uma sugestão de apresentação da sequência de tópicos considerados essenciais
à composição de um documento que deve explicitar com clareza e precisão os seguintes elementos:
a demanda e os demandantes; a problemática construída por meio de diagnóstico; as justificativas
teóricas e práticas da realização de uma intervenção; o modelo de intervenção, seus objetivos e os
recursos didáticos a serem mobilizados; a proposta de avaliação da intervenção; e, por fim, uma
projeção no tempo de sua execução, assim como os custos de sua realização.

Título
O título de um projeto deve ser conciso e expressar precisamente a natureza e o conteúdo do
relatório. Geralmente é a última parte a ser redigida no projeto, podendo ser esboçado logo no
início do trabalho. Contudo, não se pode esquecer que a construção de um projeto obedece a um
tempo determinado, que é aquele disponível à compreensão do problema detectado e, obviamente,
delimitado pelo planejamento. Portanto, o título pode e deve ser redigido por último na proposta
de intervenção.

Resumo
O resumo tem por finalidade traçar um panorama geral do projeto de intervenção. Deve ser um
texto conciso em que se destacam os elementos de maior interesse ou importância do trabalho, e
é indicado pela seguinte sequência: população-alvo, problema levantado, forma de realização do
diagnóstico e síntese dos resultados, características gerais da proposta de intervenção, além da
avaliação proposta pelo projeto.

Sua finalidade maior é facilitar o acesso dos leitores ao projeto. Assim como o título, o resumo
só é redigido no final da elaboração do projeto, ou seja, quando seu corpo estiver completo e o(s)
autor(es) puder(em) vislumbrá-lo em sua totalidade, resumindo-o em suas principais partes. Deve
ser redigido em um só parágrafo.

29
UNIDADE III │ ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS

Introdução

Consiste na apresentação do texto que dá suporte ao leitor sobre o assunto a ser tratado. Deverá
ser explicado do amplo para o específico, de forma clara a importância do projeto e o objetivo do
mesmo. É a parte do trabalho onde o assunto é apresentado como um todo.

O tema é o primeiro elemento dessa parte do projeto. É apresentado inicialmente, pois indica os
principais elementos envolvidos no trabalho, explicitando as variáveis observadas até o momento.
Abre caminho para apresentar o problema abordado pelo projeto. O tema destaca aquilo que se
observou e será fruto de intervenção futura, interesse maior do projeto; possibilita um entendimento
dos problemas concretos apontados pelos interessados na intervenção, mas construindo um percurso
que aponte um conjunto de problematizações que são conduzidas pelos autores no percurso de
elaboração do projeto.

Na sequência são indicados os principais conceitos que permitirão aprofundar o debate e


possibilitar um encaminhamento sustentado em conhecimentos já elaborados anteriormente. Este
é o momento de trazer à tona os posicionamentos teóricos assumidos pelos que têm a intenção de
elaborar o projeto, tarefa que só pode ser realizada mediante um levantamento bibliográfico, leituras
sistematizadas e sínteses produzidas anteriormente. O conjunto de pensamentos constituídos
no processo do trabalho intelectual tem por finalidade expor o problema de forma abrangente,
procedimento esperado dos que se propõem a pesquisar junto à população-alvo suas necessidades
em educação e possíveis soluções apresentadas pelo projeto.

Diagnóstico

O diagnóstico diz respeito aos levantamentos realizados cujo objetivo é conhecer uma dada realidade.
Levantamentos que têm por finalidade precisar e aprofundar o conhecimento sobre a população-
alvo, utilizando as técnicas de coleta de dados, conforme o tipo de problema observado.

A determinação do tipo de pesquisa a ser realizada deve ter por suposto a adequação da forma
mais apropriada de observação. Haverá, portanto, variação, já que os segmentos populacionais
demandam problemas muitas vezes distintos. Tem-se como prioridade um levantamento técnico
das reais condições e das possibilidades de viabilizar projetos técnicos na localidade.

É esperado que o diagnóstico possa conter o máximo de informações possíveis para se conhecer e
assim poder pensar uma possível intervenção.

Quanto aos recursos metodológicos a serem disponibilizados no desenvolvimento do diagnóstico, os


autores do projeto deverão ter a sensibilidade de perceber as qualidades do problema apresentado
como demanda. Isso significa ter tanto um conhecimento anterior sobre pesquisa (procedimentos,
definição do delineamento e escolha das técnicas) quanto o desenvolvimento de um acurado
e constante estado de observação permanente, tomando ciência dos detalhes que envolvem o
problema, recolhendo informações pertinentes ou mesmo utilizando o recurso da comparação com
casos semelhantes.

30
ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS │ UNIDADE III

Para efeito de apresentação, o texto do projeto deve conter em linhas gerais a forma como o
diagnóstico foi realizado para, em seguida, serem apresentados os resultados atingidos com
o trabalho de pesquisa. A apresentação precisa ser criteriosa e estar em constante sintonia com
as perguntas iniciais que motivaram a pesquisa, já que a intenção é descrever em detalhes tudo
que possa elucidar dúvidas e viabilizar conhecimentos que definam as reais necessidades de uma
população investigada.

As conclusões do diagnóstico devem expor claramente, mas em linhas gerais, as conclusões


alcançadas pelos resultados. É na verdade, uma síntese dos resultados, só que construída de maneira
a viabilizar a indicação de uma ou mais hipóteses, ou seja, a construção de um pensamento hipotético
– fundamentado em evidências e pressupostos teóricos, que conduz o pensamento daqueles que
idealizaram o projeto a uma definição mais abrangente e precisa do problema investigado.

Tais conclusões permitem a passagem para a elaboração de uma outra etapa do projeto: a proposta
de intervenção educacional, desde que ela seja justificada.

Justificativa

Quando da elaboração de um projeto de intervenção, pressupõe-se que aqueles que demandam


expõem suas necessidades e sabem melhor que ninguém, o que realmente precisam para resolver
seus problemas. Por outro lado, aqueles que promovem a intervenção devem ter por princípio uma
postura ética em relação aos demandantes; isso pode ser alcançado por meio de atitudes responsáveis
atentas ao contexto maior que cerca e envolve um determinado seguimento da população. Respeito,
reconhecimento dos limites e potencialidades, entre outras atitudes, devem ser considerados.

Sendo as desigualdades sociais, muitas vezes, fator determinante em vários problemas enfrentados
pela população, os projetos precisam conter uma discussão sobre as relações sociais mais imediatas
daqueles que demandam.

Espera-se que a redação de um projeto de intervenção contenha uma justificativa prática, tópico
que tem por finalidade explicitar a importância social da realização do trabalho, indicando não só
possíveis aspectos positivos pressupostos pelos que elaboram o projeto, mas, fundamentalmente,
demonstrando ter sido incorporado por meio do senso crítico as contradições presentes entre
as partes envolvidas na formação do processo de intervenção. A justificativa estabelece um nexo
entre diagnóstico e a proposta de intervenção, demonstrando necessidades, conflitos e consensos
atingidos com o trabalho anterior.

A justificativa teórica vem fundamentar o pensamento reflexivo dentro do projeto.

Plano de intervenção educacional

O projeto educacional, como documento final que explicita e justifica as razões da intervenção, deve
apresentar um plano de intervenção estruturado metodologicamente.

31
UNIDADE III │ ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS

Inicialmente, explicitam-se os objetivos educacionais, indicando a finalidade que se quer atingir


no processo de intervenção. Os objetivos colocam os caminhos a serem seguidos num plano lógico
articulado com as considerações feitas antes, ou seja, o diagnóstico indica um ou mais problemas a
serem superados, os quais acabam por corroborar a justificativa que fornece as razões à intervenção.
Por sua vez, os objetivos educacionais poderão completar um ciclo iniciado dentro de um conjunto
de dúvidas que passam a constituir conhecimentos mais seguros e apropriados sobre o problema
inicial.

Para cada objetivo definido, uma ou mais estratégias devem ser estabelecidas. Indicar o tipo de
abordagem e os recursos humanos e materiais envolvidos permite estabelecer os meios necessários
para a realização dos objetivos.

A avaliação é um tópico fundamental em qualquer projeto de intervenção. A avaliação permite


compreender o processo, captando-o no momento da intervenção ou mesmo num tempo após a sua
realização. Permite rever posicionamentos, retomar questões importantes, compreender e aceitar a
necessidade de mudar os rumos da intervenção.

Custos
Nesse tópico, recomenda-se a utilização de planilhas de orçamento que, quando bem estruturadas,
não deixam dúvidas em relação aos custos que envolvem o projeto. É sempre bom lembrar que
os recursos humanos e materiais a serem disponibilizados constituem parte fundamental de sua
execução. O detalhe na apresentação e a justa adequação daquilo que realmente é necessário são
condições essenciais na formulação do quadro de custos.

Referências bibliográficas e anexos


Esses últimos tópicos encerram o documento denominado projeto, apresentando todas as fontes
que contribuíram com a formação de uma base de pensamentos na elaboração do projeto.

Por referências bibliográficas, compreende-se uma sequência de textos (artigos, livros, revistas,
apostilas etc.) citados no corpo do projeto. Apresentadas em ordem alfabética, as referências são
importantíssimas, pois informam ao leitor o conjunto de ideias e informações consideradas mais
importantes como formadoras do conjunto expresso no documento. Indica autores e conceitos,
pesquisas e resultados que perfazem a totalidade do projeto elaborado.

Por fim, os anexos devem obedecer a uma sequência de letras e são apresentados com última parte
do trabalho. Normalmente são apresentados no corpo do projeto pelo indicativo Anexo A, Anexo B,
e assim por diante, sem que as páginas estejam numeradas. Nos anexos podem ser lançados cópias
de documentos, cartas, questionários, enfim, tudo que for pertinente ao trabalho e que, obviamente,
tenha sido referido antes no corpo do texto.

32
CAPÍTULO 3
Indicadores ambientais para projetos
socioambientais em empresas

Os indicadores de desempenho das atividades de educação ambiental devem ser definidos com
base nos fundamentos da educação ambiental, que devem permear todas as atividades educativas,
e que visem, como fim, a melhoria da qualidade de vida. Sabe-se que é extremamente difícil definir
indicadores para atividades tão subjetivas como as de educação ambiental. Mas dependendo da
forma como são apresentados os indicadores, é possível medir e compreender as mudanças de
comportamentos e a incorporação de novos valores por funcionários ou por uma comunidade.

Buscando-se embasar melhor os trabalhos educativos no âmbito de uma empresa, é importante


conhecer a percepção ambiental dos funcionários da mesma. Neste sentido, pode ser realizada
uma pesquisa perceptiva junto aos mesmos. Podem ser levantados dados sobre a produtividade
científica-ambiental e, ainda, podem ser feitas sugestões para os indicadores de desempenho das
ações educativas.

Para verificar se as ações educativas então atingindo seus objetivos, torna-se necessário avaliar
especialmente as mudanças de opinião, e as mudanças de comportamento, que podem ser medidas
em termos de resultados quantitativos, por exemplo, no consumo de energia e água, na diminuição
de rejeitos gerados, no aumento de resíduos recicláveis e no aumento da reutilização de materiais.

Em ambientes das áreas de saúde, bem como os hospitalares, observa-se a necessidade de uma
educação ambiental mais direcionada, principalmente devido a grande quantidade de resíduos
gerados nesses locais. Parte desse entendimento de gerenciamento dos resíduos sólidos de saúde é
um passo fundamental para minimizar os impactos ambientais. Dessa forma, acredita-se que deve
haver uma sensibilização quanto a essa questão, sobretudo dos profissionais da área. Mudanças
de hábitos e de valores afim de que as atitudes humanas sejam voltadas para conservação e
sustentabilidade do meio ambiente em prol de um mundo melhor.

A educação ambiental na área de saúde pode determinar e avaliar os problemas ambientais de


modo integrado, interdisciplinar e global, avaliar também os danos causados ao meio ambiente que
afetam toda uma sociedade. Dessa forma, tem a função de incorporar novos e alterar velhos hábitos,
de forma a mostrar que dependendo do impacto ambiental causado, a atividade ou ação causadora
deve ser alterada de acordo com normas do Ministério da Saúde. Devido ao direcionamento do
gerenciamento de resíduos hospitalares foi necessária a implantação de um sistema que avaliasse
com mais atenção os trabalhadores da área de saúde, e nesse sentido, surge a biossegurança com
mais precisão nos ambientes hospitalares.

Para a demonstração do desempenho ambiental de uma empresa é preciso definir as variáveis a


serem medidas e os indicadores apropriados. Tais indicadores são, por um lado, um instrumento
condutor para se estabelecer objetivos, porém, o próprio sistema de monitoramento também deve
ser controlado e testado em sua eficiência. Especialmente os equipamentos de teste precisam

33
UNIDADE III │ ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS

ser conservados e calibrados. Para esta finalidade eles devem ser levantados e submetidos a um
procedimento de monitoramento de instrumentos de teste.

Somente através de um controle transparente e sistemático a direção da empresa pode saber se


os objetivos e disposições são alcançados e se a conformidade legal exigida pode ser assegurada.
Os desvios em face às exigências externas, como por exemplo, o não cumprimento de prescrições
legais, precisam ser reconhecidos rapidamente a fim de que se possa introduzir ações corretivas.
Mas os impactos ambientais relevantes também devem ser controlados para poder apresentar
comprovação de desempenho e demonstrar a conformidade com os objetivos autodefinidos.

Indicadores comunicam informações que podem ser simplesmente luzes acesas ou piscando
em um aparelho eletrônico, bem como tornar perceptível um conjunto de fenômenos que não é
imediatamente detectável.

De maneira geral, os indicadores são elaborados para cumprir com as seguintes funções: simplificar,
quantificar, analisar e comunicar. Os indicadores devem, portanto, permitir compreender
fenômenos complexos, tornando-os quantificáveis de maneira tal que possam ser analisados em um
dado contexto e assimilados por diferentes níveis da sociedade. No caso dos indicadores ambientais,
são utilizados para se obter uma visão da qualidade ambiental e dos recursos naturais, as tendências
de desenvolvimento e as respostas.

Os indicadores de desempenho das ações de educação ambiental devem ter como parâmetros os
fundamentos gerais da educação ambiental, que também devem orientar a definição das próprias
ações educativas. Estes fundamentos são:

1. Sensibilização e conscientização: conhecimento genérico que é transmitido


aos funcionários. Trata-se, em grande parte, da divulgação dos programas e das
atividades, bem como dos conceitos ambientais. É uma ação de envolvimento e
motivação das pessoas. É um dos fundamentos mais importantes, pois é “aqui que
se ganham ou que se perdem” as pessoas.

Estes conhecimentos visam despertar o interesse das pessoas, levando-as a se


sensibilizarem pelos programas ambientais e a se conscientizarem da necessidade de
mudarem seus comportamentos e valores.

2. Conhecimento e compreensão: entende-se como conhecimento específico,


geralmente para um público-alvo ou para um aspecto ambiental especial. Estes
conhecimentos são elaborados por técnicos das áreas específicas abordadas.

3. Habilidades: entende-se como as aptidões específicas adquiridas através dos


treinamentos. Não são, necessariamente, iguais para todos os funcionários, uma
vez que se referem a aspectos e públicos distintos.

4. Participação e ação: aqui se compreende o engajamento das pessoas nos


programas e nas ações educativas. Pode-se dizer que o objetivo educativo será
atingido de fato se as pessoas participarem espontaneamente. Porém, o fato delas

34
ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS │ UNIDADE III

participarem de qualquer forma, às vezes até por pressão, poderá trazer resultados
positivos, pois a repetição constante de um ato acaba gerando adaptação, e esta
poderá levar a uma mudança consciente de valores e comportamentos. Sem contar
que toda ação positiva gera resultados também positivos para a instituição.

5. Mudança de valores e comportamentos: este é o conjunto de indicadores


mais subjetivo de todos, pois dificilmente poderá ser medido numericamente – a
não ser pelos resultados obtidos nos programas implantados. Além disto, não se
refere apenas àquelas ações que objetivem resultados positivos para a instituição,
mas sim, refere-se à mudança consciente de cada indivíduo, passando a ter um
comportamento diferente na sua relação indivíduo-meio ambiente e sociedade-
meio ambiente. É aqui que realmente se pode atingir uma mudança na qualidade
de vida das pessoas.

Em todos os fundamentos apresentados sugere-se como uma das ações a aplicação de questionários.
Trata-se, na verdade, de dois conjuntos de questionários. Um deles, a ser aplicado antes da
implantação de qualquer programa ou ação. O outro deles, a ser aplicado após a implantação
dos programas e ações. Sugere-se sua aplicação anual ou bianual, para verificar a percepção dos
funcionários, a aceitabilidade dos programas e as mudanças ocorridas, especialmente as de valores
e comportamentos espontâneos e conscientes.

Ainda assim, ressalta-se que nem sempre os resultados obtidos pelos indicadores serão imediatos,
pois a mudança de valores é um processo lento e que exige um trabalho educativo constante.

35
INTERFACE
EDUCAÇÃO UNIDADE IV
AMBIENTAL E
CIDADANIA

CAPÍTULO 1
Cidadania local

A educação é fundamental para diminuir as desigualdades sociais.

Historicamente o Brasil não registra processos significativos de participação da sociedade na


discussão dos problemas comum, na tomada de deliberações de alcance geral, nem em formas mais
simples de atuação política e social.

Foi apenas com o surgimento dos sindicatos e de outros tipos de organização dos trabalhadores,
que despertaram e cresceram as lideranças no seio dos diferentes grupos sociais, destacando-se
o meio operário, estudantil e universitário. Apenas em meados do século XX, poucos anos após
o término da Segunda Guerra Mundial, é que os ideais de reconstrução do mundo destruído pela
guerra incorporaram a luta pelo estabelecimento de uma nova relação de poder na sociedade.

A partir dos anos 1960, com a crescente conscientização das necessidades do meio em que viviam e
atuavam, essas lideranças passaram a um ativismo mais intenso. Nessa mesma década, porém, elas
começaram a ser drasticamente silenciadas pelo movimento político e militar e pelos regimes que
vigeram por duas décadas (1964-1985).

Coube aos incipientes movimentos ambientalistas levantar bandeiras de renovação que o regime
militar não podia simplesmente fazer baixar. Afinal, em todo o mundo havia um despertar da
consciência ecológica que serviu de respaldo, ainda que não intencional para esse tipo de movimento
apelidado de rebelião verde, da qual o Brasil começou a participar com certa timidez.

Hoje já se pode falar que existem formas e canais de participação da sociedade na condução de
seu próprio destino e no exercício cada vez mais requisitado da cidadania, por meio da prática de
seus direitos e deveres. Nesse cenário, surgiu a cidadania ambiental, fundamentada na Constituição
Federal de 1988, explicitada em outros documentos legais e doutrinários.

36
INTERFACE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CIDADANIA │ UNIDADE IV

Participar não significa apenas o quanto se toma parte, mas como se toma parte em uma intervenção
consciente, crítica e reflexiva baseada nas decisões de cada um sobre situações que não só lhe dizem
respeito, como também dizem respeito à comunidade em que se está inserido.

Todas as pessoas têm experiências anteriores e vivências que formam suas personalidades
psicossocioculturais como agentes transformadores da natureza e da cultura. Sua capacidade
criadora e suas potencialidades vão se tornando habilidades para intervir prontamente nos assuntos
a elas relacionados. A participação, então, permite a inclusão e constitui uma necessidade humana
básica e universal.

Políticas públicas, condições ambientais, qualidade de vida, capacitação das pessoas e grupos,
desenvolvimento de redes e cidadania requerem a conjugação de papéis doadores e receptores entre
diferentes dimensões de mundo (íntima, interativa, social e biofísica), em termos da diversidade e
reciprocidade próprias de um modelo ecossistêmico de cultura.

Nesse contexto, a educação ambiental tem um sentido fundamentalmente político, já que visa à
transformação da sociedade em busca de um presente e de um futuro melhor. É uma educação
para o exercício da cidadania, que se propõe a formar pessoas que assumam seus direitos e
responsabilidades sociais, a formar cidadãos que adotem uma atitude participativa e crítica nas
decisões que afetam sua vida cotidiana.

Cidadãos comprometidos na construção de uma sociedade multicultural e intercultural, pela abertura


e valorização das diferentes formas de conhecimento, e pela aproximação à realidade, que transcende
a racionalidade instrumental, entendendo-a como uma conquista sobre os próprios egoísmos, e os
dos demais, como uma construção da autonomia da pessoa no sentido de responsabilidade.

Os educadores ambientais devem integrar-se aos movimentos políticos e sociais que lutam por
uma vida melhor para todos, contribuindo humildemente nesse processo de diálogo permanente,
tentando gerar as bases de uma educação que se objetive na busca do outro, para construção de uma
pluralidade que fundamente o sentido ético da vida humana, e a presença constante da utopia e da
esperança.

A educação ambiental está cada vez mais associada aos processos sociais, sendo ela própria um
deles. Um enfoque centrado sobre o exercício pleno da cidadania tem alcance abrangente e, ao
mesmo tempo, profundo. Ela estabelece verdadeiros fóruns de discussão e denúncias, abatendo-se,
porém da ideologização dos seus princípios e práticas, porque sua missão é de outra natureza.

De nada adianta ficar falando de efeito estufa, camada de ozônio, matança das baleias, destruição
da Amazônia entre, outros assuntos, se cada realidade local não for considerada. Ali está a chance
imediata de fazer valer os seus direitos de cidadania, em busca da melhoria da qualidade de vida.
Ali no seu local, o indivíduo ou o grupo poderá avaliar a consequência de quem é responsável
pelo gerenciamento dos recursos financeiros e ambientais. Pode-se perceber se as decisões estão
corretas, quem se omitiu e de que forma as coisas poderiam e/ou deveriam ser feitas, para assegurar
um ambiente saudável para as gerações presentes e futuras.

37
UNIDADE IV │ INTERFACE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CIDADANIA

A Educação ambiental é uma educação para cidadania, não educamos ambientes, educamos pessoas
para relacionar os temas, ter abrangência, saber o que está acontecendo no mundo. E mudar atitudes.
A mudança de atitude, em casa, no local onde se mora, é o grande gargalo da educação ambiental.

O aprendizado deve-se concentrar nas condições ambientais atuais, nos problemas


que realmente afetam a comunidade, propondo ações concretas e práticas para
resolver os problemas. É muito importante que o indivíduo conheça seu próprio
ambiente e saiba analisá-lo, só assim será possível aumentar a qualidade de vida
através do exercício de cidadania (DIAS, 2004).

Nas escolas, os temas transversais podem ser trabalhados a partir de eixos temáticos e/ou projetos
escolares, pois permitem o exercício da cidadania, oportunizando o envolvimento dos alunos com as
temáticas comunitárias relevantes vinculadas ao cotidiano da sociedade em que vive, possibilitando
optar por diferentes situações, baseadas em valores tais como responsabilidade, cooperação,
solidariedade e respeito pela vida, integrando os conteúdos disciplinares e os temas transversais.

A Educação Ambiental talvez seja a tarefa mais importante do governo de uma


população local porque isso significa preparar gerações futuras para uma cidadania
ecológica mais efetiva. Significa mudar comportamento, abrir espaço no dia a dia
aos cidadãos para a preocupação com a preservação da natureza e com a qualidade
de vida e principalmente desenvolver uma formação profissional que se vincule à
preservação recuperação ambiental.

38
CAPÍTULO 2
Cidadania global

A globalização, impulsionada sobretudo pela tecnologia, parece determinar cada vez mais nossas
vidas. As decisões sobre o que nos acontece no dia-a-dia parecem nos escapar, por serem tomadas
muito distante de nós, comprometendo nosso papel de sujeitos da história. Como fenômeno e como
processo, a globalização tornou-se irreversível. Hoje estamos submetidos à globalização capitalista,
cujos efeitos mais imediatos são: o desemprego, o aprofundamento das diferenças entre os poucos
que têm muito e os muitos que têm pouco, a perda de poder e autonomia de muitos Estados e
Nações. Há então que distinguir os países que hoje comandam a globalização – os globalizadores
(países ricos) – dos países que sofrem a globalização, os países globalizados (pobres).

Dentro deste complexo fenômeno podemos distinguir também a globalização econômica,


realizada pelas transnacionais, da globalização da cidadania. Ambas se utilizam da mesma base
tecnológica, mas com lógicas opostas. A primeira é comandada pelo interesse capitalista; a segunda
globalização é a realizada através da organização da Sociedade Civil. A Sociedade Civil globalizada
é a resposta que a Sociedade Civil como um todo e as Organizações Não Governamentais (ONGs)
estão dando hoje à globalização capitalista. Neste sentido, o Fórum Global 92 se constituiu num
evento dos mais significativos do final de século XX: deu grande impulso à globalização da cidadania.

A noção de cidadania global (planetária) sustenta-se na visão unificadora do planeta e de uma


sociedade mundial. Ela se manifesta em diferentes expressões: “nossa humanidade comum”,
“unidade na diversidade”, “nosso futuro comum”, “nossa pátria comum”, “cidadania planetária”.
Cidadania Planetária é uma expressão adotada para expressar um conjunto de princípios, valores,
atitudes e comportamentos que demonstra uma nova percepção da Terra como uma única
comunidade. Frequentemente associada ao “desenvolvimento sustentável”, ela é muito mais ampla
do que essa relação com a economia. Trata-se de um ponto de referência ético indissociável da
civilização planetária e da ecologia. A Terra é “Gaia”, um superorganismo vivo e em evolução, o
que for feito a ela repercutirá em todos os seus filhos. As diferenças culturais, geográficas, raciais e
outras enfraquecem, diante do meu sentimento de pertencimento à Humanidade.

O processo de globalização sociedade civil possibilita novos movimentos sociais, políticos e


culturais, intensificando a troca de experiências de suas particulares maneiras de ser, questionando as
desigualdades no interior dos estados-nação. A questão fundamental colocada por esses movimentos
é a da reterritorialidade: uma cidadania global que supere as nacionalidades (e sobretudos os
nacionalismos), mas que, ao mesmo tempo, reconheça expectativas éticas, ecológicas, de gênero
etc. como constitutivas de um direito à institucionalidade como novos “estados-nação”. São novas
territorialidades que combinam os determinantes econômicos com os da etnicidade, de gênero etc.
A cidadania nacional perde o seu território de origem e aparece uma cidadania pluriterritorial. Este é
o espaço das ONGs e das estruturas intergovernamentais que tomam fatias de poder cada vez maior
do estado nação. O desafio que se coloca a essas novas territorialidades é o de fortalecimento da
perspectiva democrática no seio da própria sociedade civil. Muitos movimentos encontram formas
de legitimação de seus atos no plano internacional. Veja-se o exemplo do poderoso movimento

39
UNIDADE IV │ INTERFACE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CIDADANIA

ecológico Greenpeace. O Greenpeace faz campanhas de preservação da natureza em quase todo


o mundo. A World Wildlife Fund (WWF) é outro exemplo importante. Ela é uma das maiores
organizações em defesa da ecologia com mais de 4 milhões de membros e atividades em mais de cem
países. É maior do que algumas nações. Ainda para citar outro exemplo: o Earthwatch patrocina
pesquisas científicas em mais de cem países, incluindo saúde, arqueologia e sociologia.

A promoção da educação ambiental, por meio da resolução de problemas locais, foge da tendência
desmobilizadora da percepção de problemas globais, distantes da realidade local, e parte do
princípio de que é indispensável que o cidadão participe da organização e gestão de seu ambiente e
objetivos de vida cotidiana.

Cabe à educação ambiental, como processo político e pedagógico, formar para o exercício da
cidadania, desenvolvendo conhecimento interdisciplinar baseado em uma visão integrada de
mundo. Tal formação permite que cada indivíduo investigue, reflita e aja sobre efeitos e causas dos
problemas ambientais que afetam a qualidade de vida e a saúde da população. A interdisciplinaridade
visa à superação da fragmentação dos diferentes campos do conhecimento, buscando pontos de
convergência e propiciando a relação entre os vários saberes.

O desafio de uma cidadania ativa se configura como elemento determinante para constituição
e fortalecimento de sujeitos cidadãos que, conscientes de seus direitos e deveres, assumam a
importância da abertura de novos espaços de participação. A construção dessa participação, portanto,
será feita por meio da educação ambiental que possibilita as pessoas incorporarem conhecimentos,
valores, novas maneiras de ser, dentro de uma nova ética, tornando-as capazes de estabelecer uma
relação de causa e consequência dos problemas ambientais, discutir questões, fixar prioridades,
tomar decisões, exercer sua representatividade, buscando o desenvolvimento sustentável.

A reflexão crítica deve gerar a práxis, isto é ação–reflexão–ação; e a educação ambiental, ao formar
para a cidadania ativa e igualitária, vai preparar homens e mulheres para exigir direitos e cumprir
deveres, para a participação social e para a representatividade, de modo a contribuir e influenciar a
formulação de políticas públicas e a construção de uma cultura de democracia.

A educação ambiental, como processo de educação política busca formar para que a cidadania
seja exercida e para uma ação transformadora, a fim de melhorar a qualidade de vida da
coletividade.

Cidadania ambiental: capacidade de participar ativamente, resgatando os direitos e


promovendo uma nova ética capaz de conciliar a natureza e a sociedade.

Na visão desse processo, a cidadania global é considerada como um processo lento de construção,
inconcluso, na medida em que existem ainda muitos excluídos da globalização. À primeira vista parece
que hoje a cidadania, a tecnologia e a globalização estão caminhando juntas. Contudo, precisamos
distingui-las, analisando suas particularidades e especificidades, seus limites e possibilidades. Daí
a preocupação pedagógica em colocar ainda aqui algumas questões que todo educador deve levar
em conta ao propor-se educar para a cidadania global:

40
INTERFACE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CIDADANIA │ UNIDADE IV

1. Como construir uma cidadania planetária num país globalizado onde sequer foi
ainda construída a cidadania nacional?

2. Estaremos gestando uma “cultura global”, esmagando todas as culturas “particulares”


e “locais”?

3. Como seria uma “civilização da simplicidade”, da qualidade de vida, da sustentabilidade


e da igualdade?

Educar para a cidadania planetária implica muito mais do que uma filosofia educacional, do que o
enunciado de seus princípios. A educação para a cidadania global implica uma revisão dos nossos
currículos, uma reorientação de nossa visão de mundo da educação como espaço de inserção do
indivíduo não numa comunidade local, mas numa comunidade que é local e global ao mesmo tempo.

No livro O despertar da águia (Vozes, 1998) Leonardo Boff discute o tema da civilização
planetária que chegou no final do século XX com nome de mundialização e de globalização,
representando “indiscutivelmente uma etapa nova na história da Terra e do ser humano. Estamos
superando os limites dos estados–nações e rumando para a constituição de uma única sociedade
mundial que mais e mais demanda uma direção central para as questões concernentes a todo os
humanos como a alimentação, a água, a atmosfera, a saúde, a moradia, a educação, a comunicação
e a salvaguarda da Terra” (p. 38). E logo a seguir explica, apostando na “globalização cooperativa”
superando a atual fase da “globalização competitiva”, sob o signo da ética e do senso da compaixão
universal para “garantir o futuro do sistema-Terra”. Leonardo Boff acredita que estamos deixando
a “era do tecnozoico” e estamos entrando no “ecozoico”.“De uma civilização tecnológica que
tantos conhecimentos e comodidades nos trouxe, mas que, simultaneamente, tantas destruições e
ameaças produziu, estamos passando para uma civilização ecológica na qual a ciência e a técnica
são incorporadas num modelo de desenvolvimento que se faz com a natureza e nunca contra ela. A
relação inclusiva, a religação, o abraço, a reciprocidade, a complementaridade e a sinergia formam
os eixos articuladores da nova civilização” (p. 113). Estaríamos hoje no período da “passagem
civilizacional” do local para o global, da política nacional para a política planetária, do bem comum
humano para o bem comum planetário, da democracia para a biocracia, das sociedades nacionais
para uma única sociedade mundial... que constituem a “civilização planetária”.

A formação de uma cidadania ambiental é um componente estratégico do processo de construção da


democracia. A cidadania global não pode ser apenas ambiental já que existem agências de caráter
global com políticas ambientais que sustentam a globalização capitalista. Uma coisa é ser “cidadão
da Terra” e outra é ser “capitalista da terra”. A construção de uma cidadania global tem ainda um
longo caminho a percorrer no interior da globalização capitalista.

A cidadania global deverá ter como foco a superação da desigualdade, a integração da diversidade
cultural da humanidade e a eliminação das diferenças econômicas. Não se pode falar em cidadania
planetária ou global sem uma efetiva cidadania na esfera local e nacional. Uma cidadania global
é por essência uma cidadania integral, portanto, uma cidadania ativa e plena não apenas nos
direitos sociais, políticos, culturais e institucionais, mas também econômico-financeiros. Ela

41
UNIDADE IV │ INTERFACE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CIDADANIA

implica também na existência de uma democracia global. Portanto, ao contrário do que sustentam
os neoliberais, estamos muito longe de uma efetiva cidadania global. Ela ainda permanece como
projeto humano, inalcançável se for limitada apenas ao desenvolvimento tecnológico. Ela precisa
fazer parte do próprio projeto da humanidade como um todo. Ela não será uma mera consequência
ou um subproduto da tecnologia ou da globalização econômica.

42
Para (não) Finalizar

O modelo de desenvolvimento econômico vigente, baseado na exploração dos recursos naturais


vem cumprindo a sua função de materialização das necessidades e das expectativas de consumo da
sociedade. As empresas poluem e exploram o meio ambiente, sem a devida reposição, incentivando
o desperdício de energia e de materiais em nome do capitalismo de mercado. Isso já aponta sinais
de graves desequilíbrios advindos dessa expansão industrial.

A reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto marcado pela degradação permanente do meio
ambiente e do seu ecossistema, envolve uma necessária articulação com a produção de sentidos sobre
a educação ambiental. A dimensão ambiental configura-se crescentemente como uma questão que
envolve um conjunto de atores do universo educativo, potencializando o engajamento dos diversos
sistemas de conhecimento, a capacitação de profissionais e a comunidade como um todo numa
perspectiva interdisciplinar. Nesse sentido, a produção de conhecimento deve necessariamente
contemplar as inter-relações do meio natural com o social, incluindo a análise dos determinantes do
processo, o papel dos diversos atores envolvidos e as formas de organização social que aumentam
o poder das ações alternativas de um novo desenvolvimento, numa perspectiva que priorize novo
perfil de desenvolvimento, com ênfase na sustentabilidade socioambiental.

Pensar na realidade concreta projeta o homem para uma mudança de postura, possibilitando um
rever crítico de suas atividades, remetendo-o a um compromisso coletivo de responsabilidade com o
meio ambiente em que vive. Assim, entendendo que todas as pessoas são responsáveis pela garantia
ou melhoria da qualidade de vida, e conscientes de que o empenho dos indivíduos em favor dessa
qualidade depende da conscientização de cada um, considera-se de vital importância desenvolver
um trabalho voltado aos temas transversais, em que a comunidade escolar possa desenvolver a
capacidade de posicionar-se diante das questões que interferem na melhoria do meio ambiente.

Educação Ambiental foi concebida na vertente socioambientalista como uma proposta de uma
alternativa educacional complexa; fazendo uma análise histórica das situações ambientais como
produto do próprio processo histórico da humanidade; postula uma educação para a vida em toda
a sua diversidade e complexidade; propõe uma educação voltada para o futuro, porém firmemente
assentada nas análises do passado, capaz de pensar e construir uma utopia real ou realizável; visa
a uma educação efetivamente crítica, que deverá caminhar até a superação das contradições da
educação sistemática.

O ensino (tanto o formal quanto o informal), a consciência pública e o treinamento são processos
pelo qual o homem desenvolve as suas potencialidades. O ensino, em especial, tem a característica
de poder promover o desenvolvimento sustentável e de fazer com que o povo venha a abordar
questões relacionadas ao meio ambiente. Mesmo que o ensino básico sirva de fundamento para
o ensino em matéria de meio ambiente, este deve ser incorporado como parte do aprendizado.

43
PARA (NÃO) FINALIZAR

Sendo assim, para ser eficiente, o ensino sobre meio ambiente e desenvolvimento deve abordar a
dinâmica do desenvolvimento do meio físico e biológico e, principalmente, do socioeconômico e do
desenvolvimento humano. Para isso, deve integrar-se em todas as disciplinas e empregar métodos
formais e informais e meios efetivo de comunicação.

Os caminhos da pesquisa são vários. Da pesquisa bibliográfica, diagnóstica, etnográfica,


fenomenológica ou pesquisa-ação, até as teorias biorregionais, cada educador ambiental deve ter
a preocupação em renovar as esperanças para trazer a compreensão do sentido da integridade da
Educação Ambiental, inserida na subjetividade do mistério e da cultura dos grupos sociais e dos
sujeitos aprendizes. Assim, enquanto assumimos a personalidade de um educador que luta pela
natureza, o espírito de querer buscar novas formas para consolidar nossa identidade, na eterna
reinvenção da Educação Ambiental sempre deverá se manifestar.

44
Referências
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45
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capital. Rev. FAE, Curitiva, v.4, n.3, p. 25-36

46
ANEXO A
Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999

Dispõe sobre a Educação Ambiental, institui a Política Nacional de Educação


Ambiental e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta


e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I

DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Art. 1o Entendem-se por Educação Ambiental os processos por meio dos


quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e
sua sustentabilidade.

Art. 2o A Educação Ambiental é um componente essencial e permanente da


educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os
níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal.

Art. 3o Como parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito
à Educação Ambiental, incumbindo: Educação Ambiental 205 e 225 da
Constituição Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão
ambiental, promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e o
engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio
ambiente;

II – às instituições educativas, promover a Educação Ambiental de maneira


integrada aos programas educacionais que desenvolvem;

Educação Ambiental

IV – aos meios de comunicação de massa, colaborar de maneira ativa e


permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre meio
ambiente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação;

V – às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas,


promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à
melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre
as repercussões do processo produtivo no meio ambiente;

47
ANEXO

VI – à sociedade como um todo, manter atenção permanente à formação de


valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuação individual e coletiva
voltada para a prevenção, a identificação e a solução de problemas ambientais.

Art. 4o São princípios básicos da Educação Ambiental:

I – o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo;

II – a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a


interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o
enfoque da sustentabilidade;

III – o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter,


multi e transdisciplinaridade;

IV – a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais;

V – a garantia de continuidade e permanência do processo educativo;

VI – a permanente avaliação crítica do processo educativo;

VII – a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais,


nacionais e globais;

VIII – o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual


e cultural.

Art. 5o São objetivos fundamentais da Educação Ambiental:

I – o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente


em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos,
psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e
éticos;

II – a garantia de democratização das informações ambientais;

III – o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a


problemática ambiental e social;

IV – o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável,


na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da
qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania;

V – o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro


e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente
equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade,
democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade;

VI – o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia;

VII – o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e


solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade.

48
ANEXO

CAPÍTULO II

DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Seção I

Disposições Gerais

Art. 6o É instituída a Política Nacional de Educação Ambiental.

Art. 7o A Política Nacional de Educação Ambiental envolve em sua esfera de


ação, além dos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Meio
Ambiente – Sisnama, instituições educacionais públicas e privadas dos
sistemas de ensino, os órgãos públicos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e organizações não-governamentais com atuação
em educação ambiental.

Art. 8o As atividades vinculadas à Política Nacional de Educação Ambiental


devem ser desenvolvidas na educação em geral e na educação escolar, por meio
das seguintes linhas de atuação inter-relacionadas:

I – capacitação de recursos humanos;

II – desenvolvimento de estudos, pesquisas e experimentações;

III – produção e divulgação de material educativo;

IV – acompanhamento e avaliação.

§ 1o Nas atividades vinculadas à Política Nacional de Educação Ambiental serão


respeitados os princípios e objetivos fixados por esta Lei.

§ 2o A capacitação de recursos humanos voltar-se-á para:

I – a incorporação da dimensão ambiental na formação, especialização e


atualização dos educadores de todos os níveis e modalidades de ensino;

II – a incorporação da dimensão ambiental na formação, especialização e


atualização dos profissionais de todas as áreas;

III – a preparação de profissionais orientados para as atividades de gestão


ambiental;

IV – a formação, especialização e atualização de profissionais na área de meio


ambiente;

V – o atendimento da demanda dos diversos segmentos da sociedade no que


diz respeito à problemática ambiental.

§ 3o As ações de estudos, pesquisas e experimentações voltar-se-ão para:

49
ANEXO

I – o desenvolvimento de instrumentos e metodologias, visando à incorporação


da dimensão ambiental, de forma interdisciplinar, nos diferentes níveis e
modalidades de ensino;

II – a difusão de conhecimentos, tecnologias e informações sobre a questão


ambiental;

III – o desenvolvimento de instrumentos e metodologias, visando à participação


dos interessados na formulação e execução de pesquisas relacionadas à
problemática ambiental;

IV – a busca de alternativas curriculares e metodológicas de capacitação na


área ambiental;

V – o apoio a iniciativas e experiências locais e regionais, incluindo a produção


de material educativo;

VI – a montagem de uma rede de banco de dados e imagens, para apoio às


ações enumeradas nos incisos I a V.

Seção II

Da Educação Ambiental no Ensino Formal

Art. 9o Entende-se por educação ambiental na educação escolar a desenvolvida


no âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e privadas,
englobando:

I – Educação básica:

a) Educação Infantil;

b) Ensino Fundamental e

c) Ensino Médio;

II – Educação superior;

III – Educação especial;

IV – Educação profissional;

V – Educação de jovens e adultos.

Art. 10. A Educação Ambiental será desenvolvida como uma prática educativa
integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino
formal.

§ 1o A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica


no currículo de ensino.

50
ANEXO

§ 2o Nos cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas voltadas ao aspecto


metodológico da educação ambiental, quando se fizer necessário, é facultada a
criação de disciplina específica.

§ 3o Nos cursos de formação e especialização técnico-profissional, em todos


os níveis, deve ser incorporado conteúdo que trate da ética ambiental das
atividades profissionais a serem desenvolvidas.

Art. 11. A dimensão ambiental deve constar dos currículos de formação de


professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas.

Parágrafo único. Os professores em atividade devem receber formação


complementar em suas áreas de atuação, com o propósito de atender
adequadamente ao cumprimento dos princípios e objetivos da Política
Nacional de Educação Ambiental.

Art. 12. A autorização e supervisão do funcionamento de instituições de ensino


e de seus cursos, nas redes pública e privada, observarão o cumprimento do
disposto nos arts. 10 e 11 desta Lei.

Seção III

Da Educação Ambiental Não-Formal

Art. 13. Entendem-se por educação ambiental não-formal as ações e práticas


educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões
ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio
ambiente.

Parágrafo único. O Poder Público, em níveis federal, estadual e municipal,


incentivará:

I – a difusão, por intermédio dos meios de comunicação de massa, em espaços


nobres, de programas e campanhas educativas, e de informações acerca de
temas relacionados ao meio ambiente;

II – a ampla participação da escola, da universidade e de organizações


não-governamentais na formulação e execução de programas e atividades
vinculadas à Educação Ambiental não formal;

III – a participação de empresas públicas e privadas no desenvolvimento de


programas de educação ambiental em parceria com a escola, a universidade e
as organizações não-governamentais;

IV – a sensibilização da sociedade para a importância das unidades de


conservação;

V – a sensibilização ambiental das populações tradicionais ligadas às unidades


de conservação;

51
ANEXO

VI – a sensibilização ambiental dos agricultores;

VII – o ecoturismo.

CAPÍTULO III

DA EXECUÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Art. 14. A coordenação da Política Nacional de Educação Ambiental ficará a


cargo de um órgão gestor, na forma definida pela regulamentação desta Lei.

Art. 15. São atribuições do órgão gestor:

I – definição de diretrizes para implementação em âmbito nacional;

II – articulação, coordenação e supervisão de planos, programas e projetos na


área de educação ambiental, em âmbito nacional;

III – participação na negociação de financiamentos a planos, programas e


projetos na área de educação ambiental.

Art. 16. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, na esfera de sua


competência e nas áreas de sua jurisdição, definirão diretrizes, normas e
critérios para a educação ambiental, respeitados os princípios e objetivos da
Política Nacional de Educação Ambiental.

Art. 17. A eleição de planos e programas, para fins de alocação de recursos


públicos vinculados à Política Nacional de Educação Ambiental, deve ser
realizada levando-se em conta os seguintes critérios:

I – conformidade com os princípios, objetivos e diretrizes da Política Nacional


de Educação Ambiental;

II – prioridade dos órgãos integrantes do Sisnama e do Sistema Nacional de


Educação;

III – economicidade, medida pela relação entre a magnitude dos recursos a


alocar e o retorno social propiciado pelo plano ou programa proposto.

Parágrafo único. Na eleição a que se refere o caput deste artigo, devem ser
contemplados, de forma equitativa, os planos, programas e projetos das
diferentes regiões do País.

Art. 18. (VETADO)

Art. 19. Os programas de assistência técnica e financeira relativos a meio


ambiente e educação, em níveis federal, estadual e municipal, devem alocar
recursos às ações de Educação Ambiental.

CAPÍTULO IV

DISPOSIÇÕES FINAIS

52
ANEXO

Art. 20. O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de noventa dias de
sua publicação, ouvidos o Conselho Nacional de Meio Ambiente e o Conselho
Nacional de Educação.

Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.


Brasília, 27 de abril de 1999; 178o da Independência e 111o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Paulo Renato Souza

José Sarney Filho

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 28/4/1999

53
ANEXO B
Decreto no 4.281, de 25 de junho de
2002

Regulamenta a Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a Política


Nacional de Educação Ambiental, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o


art. 84, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei no 9.795,
de 27 de abril de 1999, DECRETA:

Art. 1o A Política Nacional de Educação Ambiental será executada pelos órgãos


e entidades integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA,
pelas instituições educacionais públicas e privadas dos sistemas de ensino, pelos
órgãos públicos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, envolvendo
entidades não governamentais, entidades de classe, meios de comunicação e
demais segmentos da sociedade.

Art. 2o Fica criado o Órgão Gestor, nos termos do art. 14 da Lei no 9.795, de
27 de abril de 1999, responsável pela coordenação da Política Nacional de
Educação Ambiental, que será dirigido pelos Ministros de Estado do Meio
Ambiente e da Educação.

§ 1o Aos dirigentes caberá indicar seus respectivos representantes responsáveis


pelas questões de Educação Ambiental em cada Ministério.

§ 2o As Secretarias-Executivas dos Ministérios do Meio Ambiente e da Educação


proverão o suporte técnico e administrativo necessários ao desempenho das
atribuições do Órgão Gestor.

§ 3o Cabe aos dirigentes a decisão, direção e coordenação das atividades do


Órgão Gestor, consultando, quando necessário, o Comitê Assessor, na forma
do art. 4o deste Decreto.

Art. 3o Compete ao Órgão Gestor:

I - avaliar e intermediar, se for o caso, programas e projetos da área de educação


ambiental, inclusive supervisionando a recepção e emprego dos recursos
públicos e privados aplicados em atividades dessa área;

II - observar as deliberações do Conselho Nacional de Meio Ambiente -


CONAMA e do Conselho Nacional de Educação - CNE;

54
ANEXO

III - apoiar o processo de implementação e avaliação da Política Nacional de


Educação Ambiental em todos os níveis, delegando competências quando
necessário;

IV - sistematizar e divulgar as diretrizes nacionais definidas, garantindo o


processo participativo;

V - estimular e promover parcerias entre instituições públicas e privadas, com


ou sem fins lucrativos, objetivando o desenvolvimento de práticas educativas
voltadas à sensibilização da coletividade sobre questões ambientais;

VI - promover o levantamento de programas e projetos desenvolvidos na área


de Educação Ambiental e o intercâmbio de informações;

VII - indicar critérios e metodologias qualitativas e quantitativas para a


avaliação de programas e projetos de Educação Ambiental;

VIII - estimular o desenvolvimento de instrumentos e metodologias visando o


acompanhamento e avaliação de projetos de Educação Ambiental;

IX - levantar, sistematizar e divulgar as fontes de financiamento disponíveis


no País e no exterior para a realização de programas e projetos de educação
ambiental;

X - definir critérios considerando, inclusive, indicadores de sustentabilidade,


para o apoio institucional e alocação de recursos a projetos da área não formal;

XI - assegurar que sejam contemplados como objetivos do acompanhamento e


avaliação das iniciativas em Educação Ambiental:

a) a orientação e consolidação de projetos;

b) o incentivo e multiplicação dos projetos bem sucedidos; e,

c) a compatibilização com os objetivos da Política Nacional de Educação


Ambiental.

Art. 4o Fica criado Comitê Assessor com o objetivo de assessorar o Órgão


Gestor, integrado por um representante dos seguintes órgãos, entidades ou
setores:

I - setor educacional-ambiental, indicado pelas Comissões Estaduais


Interinstitucionais de Educação Ambiental;

II - setor produtivo patronal, indicado pelas Confederações Nacionais da


Indústria, do Comércio e da Agricultura, garantida a alternância;

III - setor produtivo laboral, indicado pelas Centrais Sindicais, garantida a


alternância;

55
ANEXO

IV - Organizações Não-Governamentais que desenvolvam ações em Educação


Ambiental, indicado pela Associação Brasileira de Organizações não
Governamentais - ABONG;

V - Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB;

VI - municípios, indicado pela Associação Nacional dos Municípios e Meio


Ambiente - ANAMMA;

VII - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC;

VIII - Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, indicado pela Câmara


Técnica de Educação Ambiental, excluindo-se os já representados neste
Comitê;

IX - Conselho Nacional de Educação - CNE;

X - União dos Dirigentes Municipais de Educação - UNDIME;

XI - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis


- IBAMA;

XII - da Associação Brasileira de Imprensa - ABI; e

XIII - da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Estado de Meio


Ambiente - ABEMA.

§ 1o A participação dos representantes no Comitê Assessor não enseja qualquer


tipo de remuneração, sendo considerada serviço de relevante interesse público.

§ 2o O Órgão Gestor poderá solicitar assessoria de órgãos, instituições e pessoas


de notório saber, na área de sua competência, em assuntos que necessitem de
conhecimento específico.

Art. 5o Na inclusão da Educação Ambiental em todos os níveis e modalidades


de ensino, recomenda-se como referência os Parâmetros e as Diretrizes
Curriculares Nacionais, observando-se:

I - a integração da educação ambiental às disciplinas de modo transversal,


contínuo e permanente; e

II - a adequação dos programas já vigentes de formação continuada de


educadores.

Art. 6o Para o cumprimento do estabelecido neste Decreto, deverão ser criados,


mantidos e implementados, sem prejuízo de outras ações, programas de
educação ambiental integrados:

I - a todos os níveis e modalidades de ensino;

II - às atividades de conservação da biodiversidade, de zoneamento ambiental,


de licenciamento e revisão de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras,

56
ANEXO

de gerenciamento de resíduos, de gerenciamento costeiro, de gestão de recursos


hídricos, de ordenamento de recursos pesqueiros, de manejo sustentável de
recursos ambientais, de ecoturismo e melhoria de qualidade ambiental;

III - às políticas públicas, econômicas, sociais e culturais, de ciência e tecnologia


de comunicação, de transporte, de saneamento e de saúde;

IV - aos processos de capacitação de profissionais promovidos por empresas,


entidades de classe, instituições públicas e privadas;

V - a projetos financiados com recursos públicos; e

VI - ao cumprimento da Agenda 21.

§ 1o Cabe ao Poder Público estabelecer mecanismos de incentivo à aplicação de


recursos privados em projetos de Educação Ambiental.

§ 2o O Órgão Gestor estimulará os Fundos de Meio Ambiente e de Educação,


nos níveis Federal, Estadual e Municipal a alocarem recursos para o
desenvolvimento de projetos de Educação Ambiental.

Art. 7o O Ministério do Meio Ambiente, o Ministério da Educação e seus órgãos


vinculados, na elaboração dos seus respectivos orçamentos, deverão consignar
recursos para a realização das atividades e para o cumprimento dos objetivos
da Política Nacional de Educação Ambiental.

Art. 8o A definição de diretrizes para implementação da Política Nacional de


Educação Ambiental em âmbito nacional, conforme a atribuição do Órgão
Gestor definida na Lei, deverá ocorrer no prazo de oito meses após a publicação
deste Decreto, ouvidos o Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA e o
Conselho Nacional de Educação - CNE.

Art. 9o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.


Brasília, 25 de junho de 2002, 181o da Independência e 114o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Paulo Renato de Souza

José Carlos Carvalho

57

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