Grupo de Convivência para Idosos: o Papel Do Profissional de Educação Física e As Motivações para Adesão À Prática de Atividade Física

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Revista Brasileira de Ciências do Esporte% "
Resumo Texto (PT) # PDF
ARTIGO ORIGINAL • Rev. Bras. Ciênc. Esporte 42 • 2020 •
https://doi.org/10.1016/j.rbce.2019.02.001

$COPIAR
Grupo de convivência para idosos: o papel do
profissional de educação física e as motivações
para adesão à prática de atividade física$
Alisson Padilha de Lima

Rodrigo Britto Giacomazzi

Helenice de Moura Scortegagna

Marilene Rodrigues Portella

RESUMO
Este estudo teve por objetivo identificar a percepção de idosos de um grupo de convi-
vência acerca do papel do profissional de educação física e os motivos de adesão à
prática de atividade física. Foram feitas entrevistas individuais com 14 idosos que prati-
cam atividade física no grupo por no mínimo dois anos, foram analisados pela modali-
dade temática, identificou-se que os idosos outorgam ao professor um papel central no
grupo, que se estende para além da competência técnica, ao compreendê-lo como:
condutor do grupo, conhecedor dos idosos, promotor de saúde, articulador do grupo,
educador, comunicador, mediador de conflitos. A relação estabelecida com o profissio-
nal de educação física pode influenciar na motivação que permeia a adesão dos idosos
a prática de atividade física.

Palavras-chave:
Atividade motora; Educadores em saúde; Envelhecimento; Saúde do idoso

ABSTRACT
:
It aimed to identify the perception of the elderly of a coexistence group about the role of
the Physical Education professional and the reasons for adherence to the practice of
physical activity. Individual interviews were carried out with 14 elderly people who prac-
ticed physical activity in the group for at least two years, were analyzed by the thematic
modality, it was identified that the elderly give the teacher a central role in the group,
which extends beyond the technical competence, to the understand him as: group lea-
der, knowledgeable of the elderly, health promoter, group articulator, educator, commu-
nicator, conflict mediator. The relationship established with the physical education pro-
fessional can influence the motivation that permeates the adherence of the elderly to
the practice of physical activity.

Keywords:
Motor activity; Health educators; Aging; Health of the elderly

RESUMEN
Su objetivo era identificar la percepción de las personas mayores de un grupo de convi-
vencia acerca del papel del profesional de educación física y los motivos de adhesión a
la práctica de la actividad física. Los datos, que se analizaron según la modalidad te-
mática, se obtuvieron por medio de entrevistas individuales con 14 personas mayores
que practican actividad física en el grupo, por lo menos, desde hace 2 años. Se identifi-
có que al profesional de educación física se le atribuía un papel central en el grupo,
que iba más allá de la competencia técnica, lo cual revelaba sus cualidades como líder
del grupo, conocedor de las personas mayores, promotor de salud, articulador del gru-
po, educador, comunicador y mediador de conflictos. La relación establecida con el
profesional de educación física puede influir en la motivación que se expande a la
adhesión de las personas mayores a la práctica de la actividad física.

Palavras Chave:
Actividad motora; Educadores en salud; Envejecimiento; Salud de las personas
mayores

Introdução
Atualmente, os aumentos da expectativa de vida e do índice da população idosa se
constituem em uma conquista social, que tem despertado para a busca por avanços
tecnológicos e de melhorias na saúde e nas condições de vida que permitam garantir
aos idosos uma conjuntura adequada para promover sua autonomia, integração e par-
ticipação efetiva na sociedade, demandas para o envelhecimento saudável (
World Health Organization, 2015). O envelhecimento saudável é uma concepção ne-
cessária para a promoção da saúde e a prevenção de agravos, de doenças crônicas
não transmissíveis e de incapacidade funcional, o que tem repercutido em altos índices
de morbidade e mortalidade dos idosos nos países de média e baixa renda (
World Health Organization, 2015; Wu et al., 2015).
:
No que se refere à busca de um viver e envelhecer pautado na satisfação e no bem-
estar, exibe-se a prática de atividade física (AF), que, ainda, tem sido identificada como
insuficiente para a população idosa brasileira, pois, quanto maior a faixa etária, maior o
número de inativos fisicamente. Inatividade essa com repercussões significativas, reco-
nhecidas como um problema de saúde pública (Brasil, 2015).

Os benefícios da prática de AF estão demonstrados na literatura nacional e internacio-


nal e são ressaltados pelas diretrizes de saúde, que recomendam pessoas acima de
60 anos praticar, em média, 150 minutos por semana de AF, de intensidade leve a mo-
derada, no sentido de fortalecimento muscular e redução do índice de inatividade física
(Lima et al., 2015; American, 2007; American, 2009; Keevil et al., 2016).

Contudo, o início e a adesão à prática de AF pelos idosos podem estar relacionados a


fatores como: promoção da saúde, bem-estar, gosto pela AF, socialização, entre outros
(Eiras et al., 2010). E os relacionados à qualificação profissional, inclusive a forma
como esses profissionais se relacionam e atendem seus alunos (Moreira et al., 2016).
Nessa perspectiva, vale resgatar a crise de identidade que o papel do profissional de
educação física enfrentou em período relativamente recente, o qual experimentou
transformações ao longo de sua trajetória histórica, passou da construção de uma ima-
gem de “disciplinador” do físico, do treinamento e do rendimento, em que a boa aula
exaure o aluno, para uma concepção de prática social, centrada em questões
pedagógicas.

Diante desse cenário, cabe ressaltar que as pessoas estão redescobrindo o valor dos
exercícios e da prática da AF, o que revela, segundo Santana et al. (2018, p. 55), a con-
quista de um espaço e a “imensurável importância que a educação física conseguiu ex-
por através de seus benefícios como contribuição para a manutenção da saúde”. Para
os autores, pensar na educação física requer, para além de conteúdos e estratégias,
que se considere a formação do profissional, que certamente irá “refletir sobre o grupo
ou indivíduo com o qual trabalha, a sociedade nos planos históricos, econômicos
culturais”.

Dessa forma, pela atual demanda de atentar à saúde da população idosa, o grupo de
convivência aliado à prática de atividade física é exemplo de proposição que corrobora
um modelo inovador de cuidado, pois a participação dos idosos nas atividades ofereci-
das tem se revelado uma opção eficaz quando se analisa a elevada relação custo/be-
nefício e a eficiência nos resultados obtidos (Both et al., 2011).

Considerando as características dos participantes nos grupos de convivência para ido-


sos, importante salientar que a prescrição de exercícios físicos deve ser procedimento
de responsabilidade prioritária do profissional de educação física, pois o tipo de ativida-
de física, sua intensidade, frequência, duração, seu modo e progressão precisam estar
adequados às preferências individuais e às limitações impostas pela idade. Assim, des-
taca-se a importância do profissional de educação física para o atendimento de acon-
selhamento, prescrição, acompanhamento, prevenção, motivação e promoção da saú-
de (Carvalho et al., 2017). No entanto, um alto percentual de idosos refere receber
:
aconselhamento do médico ou da enfermeira quanto à prática de atividades físicas. É
observado, ainda, que muitos idosos que praticam AF o fazem sem acompanhamento
diário do profissional de educação física (Carvalho et al., 2017; Coelho et al., 2017).

Em estudo com 383 idosos, atendidos por quatro Estratégias de Saúde da Família,
identificou-se que apenas 5,2% idosos receberam aconselhamento de um profissional
de educação física, resulta em tempo de exercício que aumenta até 45 minutos em to-
dos os dias, quando comparados com os demais que se exercitavam de 20 a 30 minu-
tos, de três a seis vezes por semana (Carvalho et al., 2017). Os autores evidenciaram
que as dificuldades encontradas pelos idosos para não praticarem exercício físico esta-
vam vinculadas à falta de estímulo.

Diante dessas evidências, pode-se inferir que um novo olhar, pensar e agir em saúde
origina novos modelos de atenção em saúde, o que requer readequação do modo de
intervir do profissional de educação física. As novas tendências suscitam um olhar que
ultrapasse os aspectos biológicos e tenha o sujeito, no âmbito individual ou coletivo,
como foco das ações, considere o reconhecimento do limite da ação única do profissio-
nal no ato de cuidar (Anjos e Duarte, 2009).

Assim, considerando que entre os deveres e responsabilidades que competem ao pro-


fissional de educação física está proporcionar aos seus beneficiários um estilo de vida
ativo com a prática regular de AF, através de uma educação efetiva para a promoção
da saúde e ocupação saudável do tempo de lazer (Conselho, 2013), e que ações cen-
tradas no sujeito exigem ir ao seu encontro, dar vez e voz a eles, este estudo teve por
objetivo identificar a percepção de idosos de um grupo de convivência acerca do papel
do profissional de educação física e os motivos de adesão à prática de AF.

MÉTODOS
Estudo exploratório e descritivo, de abordagem qualitativa, vinculado ao projeto inte-
grado “Cenários de cuidados de longa duração: possibilidades avaliativas, interventivas
e educacionais na atenção gerontológica”, aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa
da Universidade de Passo Fundo - CEP/UPF (parecer nº. 393/2011).

Participaram 14 idosos que praticam atividade física, mediada por um educador físico,
em um grupo de convivência de município localizado ao norte do Estado do Rio Gran-
de do Sul. Em um primeiro momento foi feito o convite aos idosos observando os crité-
rios de inclusão estabelecidos para este estudo, como ter idade igual ou superior a 60
anos e ser frequentador assíduo do grupo de convivência no mínimo por dois anos.
Como critério de exclusão considerou-se o comprometimento da capacidade cognitiva
para compreender e responder o questionário de pesquisa. Os idosos selecionados,
que aceitaram participar voluntariamente deste estudo, assinaram o Termo de Consen-
timento Livre e Esclarecido, atendendo à Resolução 466/2012, do Conselho Nacional
de Saúde, no que diz respeito às condutas éticas e morais de estudos com seres
humanos.
:
A estratégia usada para a coleta de dados foi entrevista individual, norteada pelas se-
guintes questões: 1) Qual o motivo de participar de grupo de atividade física? 2) Qual o
papel do profissional de educação física no grupo da terceira idade na sua compreen-
são? 3) O que significa participar desse grupo? As entrevistas foram feitas no próprio
local que o grupo de idosos usa para os encontros e para a prática de atividade física,
pelos pesquisadores. As informações foram registradas com auxílio de gravador e pos-
teriormente transcritas na íntegra, individualmente.

Os dados obtidos foram tratados por meio da técnica de análise de conteúdo, modali-
dade temática (Minayo, 2014), a partir de sucessivas leituras da transcrição das infor-
mações obtidas, com o intuito de conhecer a natureza do conteúdo delas e identificar
as unidades de significação. O que emergiu na voz dos idosos quanto à percepção
acerca do papel do educador físico (identificado pelos idosos como professor) e do mo-
tivo/significado da participação no grupo e prática de atividade física constituiu duas ca-
tegorias: o papel do professor no grupo de convivência e motivações de adesão à prá-
tica de atividade física: pessoais e recomendações.

Na apresentação dos resultados, alguns fragmentos dos relatos dos idosos necessita-
ram ser editados, com o cuidado de não alterar o seu conteúdo, assim como, no intuito
de auxiliar o entendimento pelo leitor, houve acréscimo de termos explicativos, entre
parênteses, neles. Respeitando o sigilo e o anonimato dos participantes, no fim dos
fragmentos das falas foi acrescida a anotação “P” que representa “Participante”, segui-
da de um número arábico que indica a sequência da entrevista feita.

RESULTADOS
Participaram desta pesquisa 14 idosos, 86% do sexo feminino, a escolaridade foi de
86% para o ensino fundamental incompleto, média de 65,43 ± 5,11 anos e tempo de
participação no grupo de convivência de 13,21 ± 8,26 anos.

O papel do professor no grupo de convivência, apresentado na &Figura 1, expres-


sa a compreensão dos idosos quanto ao professor ter um papel central no grupo, reve-
la o reconhecimento dos idosos acerca da importância desse profissional na condução
dele.

O papel de centralidade do professor no grupo, segundo a percepção dos idosos, é


constituído por ações que se imbricam de forma a obter complementaridade e sinergia
entre si. Os participantes deste estudo outorgam ao professor um papel que se esten-
de para além da competência técnica, ao compreendê-lo como: condutor do grupo, co-
nhecedor dos idosos, promotor de saúde, articulador do grupo, educador, comunicador,
mediador de conflitos.

Nesse sentido, o professor foi reconhecido como condutor do grupo, por 86% dos
idosos, ao demonstrar uma atitude confiante e dinâmica, responsável por despertar a
motivação dos participantes para aderirem ativamente às propostas de AF, a partir da
compreensão de que serão beneficiados de forma geral em sua saúde e bem-estar.
:
(O professor) É muito importante pra nós, ela é nota dez. Sem esses profissionais, o
que seria da terceira idade? Esse profissional foi ótimo pra nós. (P9)

(O professor) é muito bom, muito responsável também, mas é muito importante que
existem esses profissionais pra nos ajudar na física, porque a gente sem uma física,
sem um movimento desse a gente fica atrofiado. (P3)

No decorrer da AF, para todos os 14 idosos, o reforço positivo do professor se faz im-
portante para a sua identificação como promotor da saúde, considerando que, ao
cumprir esse papel, recruta os idosos para que se esforcem ao máximo, no sentido de
alcançar sempre os melhores resultados.

É maravilhosa essa professora, ela puxa a gente, a gente faz as físicas bem puxadi-
nhas, isso faz muito bem pra mente e para todo corpo, principalmente pra mente, por-
que tem que prestar atenção nos exercícios da cabeça aos pés. (P13)

Ah o trabalho dela é muito bom né [...] tem que ter a companhia do profissional se não,
tu não consegue fazer. (P4)

Os idosos (12 participantes) também reconhecem o professor como articulador do gru-


po na sua função de educador e comunicador. A partir dessa percepção, todos os 14
participantes da pesquisa destacaram a importância de esse profissional ser conhece-
dor dos idosos, enquanto um profissional capacitado para trabalhar com a terceira ida-
de, de mediar conflitos e de acolher e incentivar a participação.

Ela é profissional sobre a terceira idade, geriátrica né? É própria para as pessoas com
mais idade do que eu, ela começou este ano a trabalhar com a gente [...] aumentou
mais gente da terceira idade depois que ela começou a dar aula. (P11)

O papel dela é muito bom, por máximo que ela sofra um pouco com a gente, porque a
gente não faz tudo o que ela pensa, por que a gente dói dum lado, dói do outro, eu te-
nho desgaste do joelho não posso fazer o que fazia, eu tava fazendo terapia e física,
não posso nem caminhar, aí optei pela física, aí aqui eu faço conforme posso, ela mes-
ma fala ‘a gente faz como pode’, ela não obriga a gente fazer igual os mais novos fa-
zem né. (P8)

O papel é fazer a ginástica pra nóis, o papel é comunicar entre nóis, conversar com
nóis, e tem diferença sim ter ela entre nóis. (P2)

Diante do exposto, se torna evidente a presença do profissional de educação física


como mediador na prática de atividade física nesse grupo de convivência.

As motivações de adesão à prática de AF: pessoais e recomendações, apresenta-


das na &Figura 2, estão intimamente relacionados às questões pessoais/sociais e de
saúde, expressas nas possibilidades de convivência; de cultivo de amizade; de com-
partilhar problemas; de praticar atividade física e pela proposta ser encaminhada por
um profissional dedicado, considerando-se as recomendações médicas e as observa-
das na mídia.
:
Dentre as motivações pessoais de adesão ao grupo, a possibilidade de ter um espaço
de convivência como interface para o cultivo de amizades (antigas e novas), para a so-
ciabilização de problemas e situações comuns do cotidiano da vida, assim como para a
busca pelo ser saudável por meio da prática de atividade física, é vista por todos os 14
idosos deste estudo como uma oportunidade única, da qual devem se apropriar para
um bem viver. Destaca-se como uma das grandes motivações dos idosos para partici-
par das atividades grupais “se encontrar com os amigos”, ter “tempo dedicado” para “o
lazer”, para a “a parceria”, entendem o grupo como forma de “não só ficar velho e ficar
sentado”.

É uma forma de a gente se juntar uma com a outra, de ter amizade, antigamente a
gente só lidava dentro de casa e era, te digo, escrava só de jardim doméstico [...] foi
uma grandeza, porque não tinha isso antigamente, morava na colônia era uma vida
triste era só trabalhar e cuidar dos filhos. (P5)

[...] a gente viaja com os companheiros, tem amizade como uma irmandade [...]. (P7)

A oportunidade de sociabilização é um aspecto importante, presente na fala dos ido-


sos, identificada por meio de situações que permitam dialogar com seus pares e com-
partilhar vivências acerca das dificuldades e das felicidades apresentadas no curso da
vida.

[...] é um momento que a gente se encontra, que pode se encontrar com todos, a gente
tem que ter um dia para a gente sair, para distrair, tem que ter um direito da gente tam-
bém [...]. (P10)

[...] é bom para a saúde da gente a convivência com as pessoas [...] tenho paz, para
vir, é superbom, a gente proseia depois faz exercício. (P6)

Chama atenção que, entre as motivações pessoais de adesão à prática de atividade


física, a importância dada ao professor pelo grupo reforça o papel a ele atribuído pelos
idosos, pois todos os idosos que participaram deste estudo referiram “se não tivesse
professor a gente não vinha”. Essa expressão revela e consolida a importância do pa-
pel do professor no grupo, evidenciada pelos idosos, vale ressaltar que esse professor
foi identificado por eles como capacitado para atuar em grupos de convivência da ter-
ceira idade. Essa percepção sugere a avaliação dos idosos ser essencialmente positi-
va neste estudo.

O profissional é uma pessoa trilegal e que bom que existe esse profissional pra dar ati-
vidade pra gente, e se não tivesse eu não vinha [...] eu ia fazer outra atividade. (P6)

As motivações de adesão dos idosos deste estudo à prática de atividade física estão
também focadas nas recomendações médicas e na divulgação dessas pela mídia, que
populariza as informações. Considerando o que já está documentado na literatura e o
observado na prática, os profissionais de saúde têm recomendado esse tipo de inter-
venção para estimular que cada vez mais se adote um estilo de vida saudável. Assim,
com relação à percepção dos idosos acerca da importância e dos efeitos benéficos da
participação nas atividades físicas, mediadas por um professor, pode-se avaliar, a partir
:
das falas da maioria dos participantes, que se encontra atrelada ao reconhecimento da
comunidade científica e ao propalado pelos meios de comunicação como resposta ao
apelo social por melhor qualidade de vida.

Para mim é importante para a saúde, o lazer, a companhia das colegas, a parceria que
tu faz [...] é bom para a saúde, é muito bom o companheirismo das pessoas, eu viria
mesmo se o médico não mandasse, é muito bom. (P4)

[...] o doutor quer que eu faça física porque eu preciso [...]. (P14)

Nós, na idade que temos, tem que fazer exercício se não a gente vai atrofiando tudo e
com o tempo a gente não anda mais e nem movimenta mais. (P13)

[...] significa muita coisa: sair, desestressar, passear [...]. (P11)

DISCUSSÃO
O profissional de educação física, ao ministrar aulas nos grupos de convivência e pro-
por a AF, tem função primordial na adesão de idosos em programas de AF, seus méto-
dos de promoção e incentivo motivacional podem influenciar significativamente na ado-
ção de um estilo de vida saudável e ativo na velhice.

Quanto às competências do profissional de educação física se podem destacar dirigir e


avaliar AF, desportivas e similares, é o especialista no conhecimento da AF, motricida-
de humana, nas suas diversas manifestações e objetivos, de modo a atender às dife-
rentes expressões do movimento humano presentes na sociedade, considerando o
contexto social e histórico-cultural (Conselho, 2002).

O reconhecimento do papel de centralidade do profissional de educação física no gru-


po de convivência, pelos idosos, confirma a necessidade de incremento na inserção
desse profissional como mediador junto aos grupos da terceira idade, o que encontra
consonância em estudos como o de Salin et al. (2011), no qual se considerou que, para
os idosos, o acompanhamento de um professor é uma forma de incentivo para a práti-
ca das atividades e para a participação dos encontros do grupo.

Conforme estudos de Brandão e Garces (2015) e Santana et al. (2017), que certificam o
profissional de educação física como o maior colaborador para melhoria da qualidade
de vida do idoso ao promover sua autonomia, capacidade funcional e cognitiva, no
sentido de possibilitar uma atitude positiva, para um envelhecimento ativo e bem-
sucedido.

Com relação às motivações pessoais de adesão à prática de atividade física, os ido-


sos, entre outras, referiram o profissional de educação física como condutor. Nesse
sentido, pode-se valer da compreensão de Rezer et al. (2011) sobre o trabalho do do-
cente, na qual o trabalho docente se constitui um processo de sedução; exige que o
professor tenha “para-si” consciência da importância de seu próprio trabalho, como
possibilidade de que esse significado seja partilhado com os alunos, passo importante
para uma confluência de sentidos.
:
O engajamento de idosos em grupos de convivência, aliado a prática de AF, é elemen-
to essencial para um estilo de vida saudável, melhor percepção de saúde, socialização,
ocupação do tempo livre, ganho na independência funcional, novas amizades, preven-
ção dos riscos de mortalidade e morbidades (Both et al., 2011; Benedetti et al., 2012;
Azevedo Filho et al., 2018).

No entanto, a permanência do idoso no grupo, para Ribeiro et al. (2012), ultrapassa a


vontade própria, depende de toda a interação que faz com o ambiente, sejam os cole-
gas com suas semelhanças ou os profissionais responsáveis pelas aulas. Daí percebe-
se a importância das atividades físicas em espaços que proporcionem ao idoso o con-
vívio social e a interação com outras pessoas, melhorem sua autoestima e a represen-
tação de si mesmo.

A indicação médica para a adesão de idosos aos projetos que propõem prática de ativi-
dade física, identificada neste estudo, também foi evidenciada em estudo semelhante,
Cavalli et al., 2014, por haver forte identificação de atividade física com saúde. A ativi-
dade física é muito importante para a qualidade de vida dos idosos, pois, ao melhorar
os índices de saúde dessa população, favorece a manutenção de uma vida ativa e
independente.

Estudos apontam os benefícios da prática de atividade física para os idosos em dife-


rentes dimensões, Martín-Albo et al. (2012); Coelho et al. (2017); Lini et al. (2016);
Lima et al. (2018) afirmam melhorias na área psicossocial, na qual podemos destacar a
diminuição do estresse, da ansiedade, da depressão, aumento da autoconfiança, auto-
estima, socialização, diminuição dos riscos de demências e melhorias das condições
de saúde cognitiva dessa população.

De acordo com Schoffen e Santos (2018), a inserção dos idosos em grupos de convi-
vência é uma necessidade para eles se manterem inseridos socialmente, pois envelhe-
cer de maneira saudável é não ter apenas uma boa saúde, mas são vários fatores que
contribuem para se sentirem ativos. Os grupos podem funcionar como rede de apoio
que mobiliza as pessoas na busca de autonomia, na melhoria da autoestima, na resis-
tência e na diminuição da vulnerabilidade. É uma possibilidade de viver a velhice de
forma livre e responsável, assim como de ter o direito a optar por um conjunto de ativi-
dades sociais mais adequados, a sua carência e ausência de um projeto de vida (
Both et al., 2011).

As motivações de adesão dos idosos aos grupos de convivência estão bem documen-
tadas por estudos que, de forma semelhante, seguiram esse questionamento (
Moura e Souza, 2015). Assim, diante do exposto, se pode evidenciar a importância da
intervenção de um profissional de educação física, especialista na área, em um grupo
de convivência para idosos.

Conforme a resolução 046/2002 do Conselho, 2002, o profissional de educação física


é especialista em AF, nas suas diversas manifestações: ginásticas, exercícios físicos,
desportos, jogos, lutas, capoeiras, danças, recreação, reabilitação, ergonomia entre
outras. Além de ter o direito de intervenção dirigido a indivíduos ou grupos alvo de dife-
:
rentes condições corporais e com necessidades de atendimentos especiais, com o uso
de diagnóstico próprio e definição de procedimentos adequados para ministrar, orientar
e planejar ações que visem a melhorar a saúde e a qualidade de vida do ser humano.

CONCLUSÕES
A busca dos idosos por espaços que promovam saúde e bem-estar é crescente. Gru-
pos de convivência com programas de atividade física são reconhecidos como opção
para um viver e envelhecer qualificado. Neste estudo pode-se identificar que a motiva-
ção que permeia a adesão dos idosos a prática de atividade física, bem como sua per-
manência no grupo, perpassa a relação estabelecida com o profissional de educação
física - reforça a importância de seu papel como mediador do grupo - e a interação com
os demais idosos que participam. A adesão dos idosos se fortalece com a percepção
dos benefícios, físicos, sociais e, consequentemente, emocionais que essa participa-
ção permite.

Conhecer o papel do profissional de educação física na perspectiva do usuário, diante


do serviço ofertado, contribui para a construção da identidade do profissional de edu-
cação física junto aos idosos e a sua importância frente à sociedade.

Os resultados encontrados levam a reflexões e questionamentos acerca do processo


de formação do profissional de educação física, no que diz respeito à preparação pro-
fissional para atuar junto ao público idoso, considerando os fatores decorrentes do pro-
cesso de envelhecimento humano e suas especificidades. Nota-se a importância de in-
cremento na capacitação desse profissional para trabalhar com as demandas inerentes
ao segmento idoso da população, em consonância com o fenômeno social contempo-
râneo do envelhecimento populacional e seu apelo por uma vida com mais saúde e
participação.

O fato de o profissional de educação física ter um papel central no grupo revela as


suas qualidades como educador e suscita para o desafio na responsabilidade de aliar
conhecimento científico às habilidades de um educador e promotor de saúde, para a
conquista de estilo de vida saudável com melhoria na qualidade de vida, diante de uma
perspectiva da longevidade.

Recomenda-se que novos estudos focalizem essa temática em diferentes populações,


para que possa servir de parâmetros e identificar a responsabilidade social no exercí-
cio profissional da educação física.

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Datas de Publicação
» Publicação nesta coleção
06 Jul 2020
» Data do Fascículo
2020

Histórico
» Recebido
03 Set 2018
» Aceito
12 Fev 2019

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