Parashat Bo - A Narrativa Por Trás Da História em Shemot
Parashat Bo - A Narrativa Por Trás Da História em Shemot
Parashat Bo - A Narrativa Por Trás Da História em Shemot
Shemot
Êxodo: A narrativa por trás da História
Tanto a Elefantina Estela quanto o grande Papyrus Harris, ambos
descrevem a guerra do faraó Set’nakh’t contra um usurpador Levantino
(ou seja, do Mediterrâneo), Irsu, em 1186 antes da Era Comum.
A leitura destas narrativas, em conjunto com a história de Maneto, sobre a
guerra contra Osarsef, nos proporciona um possível, contexto histórico,
para o que eventualmente se tornaria a narrativa bíblica do êxodo de Israel
do Egito.
Estudo do Prof. Israel Knohl, Universidade Hebraica de Jerusalém. – למודי תנך
מתקדמיםEstudos Bíblicos Avançados – A narrativa por trás da narrativa de Shemot
Tumba KV14 é um túmulo comum, usado originalmente por Tausert e depois reutilizados
e
prorrogado por Set’nakh’t.
Crédito da Imagem: Francesco Gasparetti / Flickr - Wikimedia.
É possível fazer um tour virtual na tumba KV14:
https://cuicui.be/egypt-tomb-of-taousert/
Êxodo – a versão de Maneto
A história do êxodo de Israel do Egito é contada em detalhes no livro de
Shemot.
[Este ensaio, pode ser considerada uma versão editada, da obra de Israel Knohl, ( ” איך
נולד התנ ךComo o
Tana’h nasceu) – Konneret, Zmora-bitan, Dvir, 2018]
Dentre as principais características da narrativa, temos que os israelitas
tinham sido escravizados pelos egípcios e forçados a trabalhar como
construtores. Eventualmente, um líder chamado Moshe, enviado por seu
estranho elohim sem imagem, HaShem, vence os egípcios por meio de uma
série de pragas, saindo do Egito com seu povo, e se dirigindo para
Kena’an.
Uma versão muito diferente desta narrativa, pode ser encontrada nos
escritos de uma personagem, que se acredita que tenha sido, um sacerdote
egípcio, do século III antes da Era comum, chamado, Maneto.
[Os escritos desta personagem foram perdidos, mas, algumas seleções foram
preservadas nas obras de
Josefo, que teria vivido no Primeiro Século; respondendo a algumas alegações de
Maneto, sobre Judeus, tal
como ele registrou discussões contra Apion, estudioso anti-Judeu]
A história de Maneto tem duas partes. Primeiro, ele conta a história de um
grupo chamado Hicsos, que veio de Kena’an. Eles invadiram o Egito, – למודי תנך
מתקדמיםEstudos Bíblicos Avançados – A narrativa por trás da narrativa de Shemot
foram expulsos, voltaram para Kena’an, e, finalmente, estabeleceram-se
em Jerusalém. Em outras palavras, os Hicsos – nesta versão - seriam os
israelitas / Judeus, no pensamento de Maneto.
Em seguida, ele diz que anos mais tarde, um faraó chamado Amenofis
queria se encontrar com os deuses.
[Estas primeiras palavras são, provavelmente, de uma versão confundida, com a versão
dos eventos durante
o reinado de Amen’hotep IV (meados de 1353-1336 antes da Era Comum), da décima
oitava dinastia; que
abandonou a maior parte dos deuses egípcios, em favor do deus-sol Aten, e mudou seu
próprio nome para
Ak’hen’aten, por isso.]
Seu conselheiro disse que, só se o Egito estivesse livre de leprosos, é que
ele seria capaz de ver os deuses. Amenofis então, reúne todos os leprosos
do Egito e os remove para uma cidade remota, Avaris, que anteriormente
tinha sido a capital dos Hicsos.
Os leprosos se rebelaram contra Amenofis e elegeram um sacerdote
leproso chamado Osarsef como líder. Osarsef já havia servido no templo
do deus-sol em Heliópolis (a bíblica cidade de “On”), e deu aos leprosos uma
nova religião, que era hostil à religião egípcia. Eles desprezaram os deuses
egípcios e animais sagrados, que eles abatiam, assavam e comiam.
Quando os leprosos foram atacados pelos egípcios, Osarsef enviou
mensageiros para o estrangeiro para recrutar uma milícia. Ele se
aproximou do Hicsos, em Jerusalém, e chegaram em milhares de Kena’an
para ajudar Osarsef e os leprosos. Neste momento, Osarsef teria mudado
seu nome a Moshe.
Juntos, os leprosos e os habitantes de Jerusalém formaram uma potência
militar que conquistou o Egito, saquearam os templos egípcios,
profanando os ídolos, matando e comendo os animais sagrados.
Eventualmente, Amenofis deixou Kush, onde tinha sido escondido de
Osarsef, com um enorme exército, voltando para o Egito.
Com seu filho Ramsés, ele luta contra as forças conjuntas dos leprosos e os
habitantes de Jerusalém e os persegue até as montanhas Sírias. – למודי תנך
מתקדמיםEstudos Bíblicos Avançados – A narrativa por trás da narrativa de Shemot
(Josefo, Contra Apion , 1: 26-7).
O que aprendemos com Maneto?
A história de Maneto não pode ser considerada relato histórico. Ele mistura
Hicsos com Israelitas, considera juntos Amenofis (IV) e Ramsés (III) que
não tinham nenhuma relação um com o outro (e o Egito nunca teve um Faraó, pai e
filho, com esses nomes), além de outros erros históricos. No entanto, vale a pena
analisar e resumir os contornos da sua narrativa.
De acordo com Maneto, um grupo de Levantinos no Egito assumiu o
poder sob um líder que se deu o nome de Moshe. Este líder ameaçou a
religião egípcia tradicional e se opôs ao culto de deuses egípcios e a
preservação de animais sagrados. Este grupo foi reforçado por pessoas que
chegam do norte (direção de Kena’an) e juntos, eles detiveram o poder
sobre o Egito, até que o Faraó Amenofis, auxiliado por seu filho Ramsés,
os expulsou.
Juntando-se com os Inimigos estrangeiros
A narrativa bíblica é muito diferente da de Maneto: Maneto descreve uma
campanha militar Levantina mal sucedida contra o Egito; enquanto que a
imagem dominante de Israel na história do Êxodo é a de escravos
miseráveis coagidos a trabalhar no Egito, e que conseguem escapar (como,
Shemot 14: 5). No entanto, uma série de versos em Shemot trazem um quadro
que é ressonante com a narrativa de Maneto. Por exemplo:
Um exército invasor - Como o estudioso suíço da Bíblia, Thomas Römer,
observou [no trecho, “Tracking some ‘Censored’ Moses Tradition”, em Hebrew Bible and –
למודי תנך מתקדמיםEstudos Bíblicos Avançados – A narrativa por trás da narrativa de
Shemot
Ancient Israel, 1 (2012)- cap 71] a ideia de elementos dissidentes no Egito se
unindo com pessoas de fora e atacando o Egito, é uma ideia recorrente,
como evidenciado nas palavras do Faraó no início do livro do Shemot:
ר אל עַ ֶּמ ֹו ִה ּנֵה עַ ם ְּב# אמ# # ַוֹּי
נֵי יְִׂש
ָר אֵ ל ַר ב ועָ צּום ִמ ֶּמ ּ : . #נּו א י הָ בָ ה נִ תחַ ְּכ
ָמה
נאֵ ינּו ונִ לחַ ם# ראנָה ִמ לחָ ָמה ונֹוסַ ף ַַּגם הּוא עַ ל ְׂש# ה והָ יָה ְּכ ִ י ִת ק# ן יִרְּב# לֹו ֶּפ
. עָ לָ ה ִמ ן הָ אָ רץ# ְָּב נּו ו
Shemot 1: 9:
...e disse a seu povo: Vejam, os descendentes de Israel tornaram-se um
povo muito numeroso e poderoso para nós. Venham, usemos de sabedoria
para lidar com eles. De outro modo, eles continuarão a multiplicar-se; e,
em caso de guerra, eles podem aliar-se a nossos inimigos, lutar contra
nós e deixar a terra de uma vez.
Do que o Faraó tinha medo, exatamente, a ponto de acusar que os israelitas
estavam prestes a literalmente “subir da terra”?
[Note que a frase aparece apenas mais uma vez, na Bíblia Hebraica, em Hoshea 2: 2 -
… ונִ קְּב
צּו ְּב
יהּוד ה ּובנֵי יְִׂש
ָ נֵי
עָ לּו ִמ ן הָ אָ רץ# אׁש אחָ ד ו# # מּו לָ הם ר# ָר אֵ ל ַיחָָּד ו וְָׂש
Então o povo de Iehudá e o povo de Israel serão reunidos; eles apontarão para si um
líder; e se levantarão da
terra...]
Qualquer que seja a interpretação da frase em Shemot, a narrativa deixa
transparecer que o Faraó estava com medo de que os Hebreus, que viviam
no Egito, iriam se unir com um grupo estrangeiro, quando houvesse uma
campanha militar contra o Egito. E foi este o ponto do argumento, ainda
que historicamente incorreto em quase todos os outros detalhes, que o
sacerdote egípcio Maneto descreveu.
[Römer, é que data a forma final do relato do Êxodo a um período posterior, concluindo
que, estas afinidades
literárias sutis, indicariam que o autor da narrativa, tomou emprestado estes detalhes de
Maneto. Outros
pesquisadores, imaginam que, Maneto é que conhecia o relato de Shemot, e teria sido
influenciado pela
narrativa. Uma terceira possibilidade, seria dizer que, ambos os textos foram produzidos
por alguém que
conhecia ambas as fontes, seja encarando-a de modo histórico ou literário. Seja como for,
a correlação entre
as narrativas, parece existir.] – למודי תנך מתקדמיםEstudos Bíblicos Avançados – A narrativa
por trás da narrativa de Shemot
Um grande líder - Moshe é descrito como sendo um homem importante e
respeitado no Egito:
־הוָה את חֵ ן הָ עָ ם ְּב# ַוֹּי ִ ֵֵּת ן י
צר יִם ַַּג #ם הָ ִא יׁש מׁש #ה ַּגָדֹול מ #אד ְּב
עֵ ינֵי ִמ ָ
א #רץ#
צר יִם ְּב .
ִמ ַ
עה ּובעֵ ינֵי הָ עָ ם# בד י פַ ר
ֵ ַעֵ ינֵי ע
Shemot 11: 3
Hashem tornou os egípcios bem-dispostos para com o povo. Além disso,
Moshe era considerado pelos servos do faraó e pela população um grande
homem na terra do Egito.
Egípcios com medo – A Escritura descreve como os egípcios com medo
dos israelitas e com esperança de que fossem embora:
לׁש ָּל
ַ למ הֵ ר
ַ צר יִם עַ ל הָ עָ ם
ַ חֱ זַק ִמ# וֵַּת
# ָָּל נּו ֵמ ִת ים- חָ ם ִמ ן הָ אָ רץ ְּכ ִ י אָ מרּו ְּכ
Shemot 12: 33
Os egípcios apressaram-se para mandar embora o povo de sua terra, pois
eles disseram: De outro modo, todos nós morreremos também.
Ouro e Prata - Em três lugares diferentes, o texto enfatiza como os
israelitas saíram do Egito levando ouro e prata de lá:
ּובנֵי יְִׂש
ָר אֵ ל עָ ְׂש ּו ְּכ ִ ד #בַ ר מׁש #ה ַוֹּי ִ ׁש
צר יִם ְּכ
אֲ לּו ִמ ֶּמ ִ ַ
לֵ י כ #סף ּוכלֵ י זָהָ ב #
ּוְׂש
ָמ ֹלת יב לו וַיהוָה נ ַָת ן את חֵ ן הָ עָ ם ְּב #
צר יִם ַוֹּי ַׁש
עֵ ינֵי ִמ ַ
ִא לּום וַינְַּצ
. : # לּו את
צר יִם
ָ ִמ
Shemot 12: 35
O povo de Israel fez o que Moshe disse – eles pediram aos egípcios joias
de prata e de ouro e roupas; – למודי תנך מתקדמיםEstudos Bíblicos Avançados – A narrativa
por trás da narrativa de Shemot
Armados – Se diz dos israelitas que, eles saíram do Egito como um
exército:
- מׁש ים עָ לּו בנֵי יְִׂש
ִ ֲוַח
# צר יִם
ָ רץ ִמ# ָר אֵ ל ֵמא
Shemot 13: 8
E o povo de Israel subiu armado da terra do Egito...
[Embora, tenhamos que admitir que, não é possível afirmar, com certeza, que o termo
חמשיםque aparece
ali, significa “armado”. Willian Henry Propp (Universidade de San Diego), autor de uma
tradução acadêmica
de Shemot 1-18, AB (New York: Doubleday, 1999), páginas 487-488, traduz o termo como
“resolutos”, e
“halot” como “alinhados para guerra”. Não obstante, os argumentos em favor de traduzir
com “armados” não
são menos convincentes, embora não sejam trazidos aqui.]
Aliados - Junto com os israelitas, um grande número de aliados seguem,
os quais – seguindo o paralelo do relato Akadiano Urbi, parecem ser
soldados mercenários.
[O termo das Escrituras, ערבe o paralelo Akadiano, fazem referências a esses
mercenários. Muitos
tradutores lidaram com isso, deste modo, como Wlther Zimmerli – Ezekiel 2, Neukirchen-
Vluyn, 1979,
página 725 – Moshe Greenberg, Ezekiel 21-37, AB, N. Y. 1997, páginas 621-2 – Moshe
Einfeld traduz “
” , ערב ערב רבcomo “misturada, misturada multidão”, na אנציקלופדיה מקראיתEnciclopédia
Bíblica,
volume 6, Jerusalém: Bialik, 1971, páginas 361-362 – Haim Tadmor, , אשור בבל
ויהודהAssíria, Babilônia
e Iehudá, ed. Mordechai Cogan; Jerusalém: Bialik, 2006, páginas 275-282].
אד# נה ְָּכ בֵ ד מ# אן ּובָ ָק ר ִמ ק# גַם עֵ רב ַר ב עָ לָ ה ִא ֵּתָ ם וצ# ו
Shemot 12: 38
Uma multidão misturada também subiu com eles, bem como animais em
grande número: rebanhos e gado.
Julgamento dos deuses - HaShem deixa claro a Moshe que não seriam
apenas os egípcios os atingidos, mas, os seus deuses também seriam
julgados:
ה ׁש# ַר יִם אעְֱׂש# ּוב ָכ ל אֱ ֹלהֵ י ִמ צ
פָ ִט ים אֲ נִ י י־הוָה – למודי תנך מתקדמיםEstudos Bíblicos Avançados – A narrativa por trás da
narrativa de Shemot
Shemot 12: 2
...executarei Meu juízo contra todos os deuses do Egito. Eu sou o HaShem.
Abate de um carneiro - A parte fundamental da história bíblica é o abate
do carneiro, considerado animal sagrado, por causa da relação com os
deuses egípcios, Amun e Kh’num. O carneiro não era especial porque
representava algo em si mesmo, mas, porque simbolizava uma ruptura com
a idolatria egípcia. Moshe inclusive, observa a natureza problemática de
israelitas abaterem uma ovelha, depois do Faraó sugerir que eles
prestassem culto ao Hashem no próprio Egito:
צר יִם נִ זְַּב ח לַ י־הוָה אֱ ֹלהֵ ינּו
ַ א נָכֹון לַ עְֲׂש ֹות ְֵּכן ְּכ ִ י ֵּת ֹועֲבַ ת ִמ#ה ל# ר מׁש# אמ# # ַוֹּי
לנּו- א יִסק# עֵ ינֵיהם ול# צר יִם ל
ַ ח את ֵּת ֹועֲבַ ת ִמ# הֵ ן נִ זְַּב
Shemot 8: 22
Contudo, Moshe respondeu: Seria impróprio procedermos desse modo,
pois os animais que ofertamos para HaShem, nosso Elohim, são
abominações [caso ofertados] para os egípcios.
A imagem combinada desses versos, pinta um retrato que se sobrepõe com
a narrativa de Maneto; os israelitas seriam o grupo coeso, ao invés de
meros oprimidos, escravizados.
Com estes detalhes, temos já todos os elementos de uma batalha: soldados,
aliados estrangeiros, medo e respeito do adversário, um choque entre
religiões, e um líder poderoso de cada lado.
Além disso, qualquer narrativa sobre escravos fugidos, não tem paralelo
claro em fontes egípcias, enquanto que, o que está descrito nestes
exemplos, vistos como uma hostil rejeição ao Egito, da parte de um grupo
Levantino, teria mais de um indicativo. – למודי תנך מתקדמיםEstudos Bíblicos Avançados –
A narrativa por trás da narrativa de Shemot
Ainda mais significativo, seria considerar que, um desses incidentes
aconteceu no décimo segundo século antes da Era Comum, o momento
que se encaixaria bem, para o que temos de evidências arqueológicas,
sobre o aparecimento de colonos israelitas em Israel.
Localizar a Narrativa na Narrativa
No final da décima nona dinastia do Egito, após a morte de Seti II (neto do
famoso Ramsés II), um menino chamado Siptah (não sabemos com
certeza se ele era o filho de Seti II ou algum outro parente), teria sido
escolhido como o próximo Faraó, e colocado no trono pelo poderoso,
chanceler Levantino, Bay.
Siptah teria reinado por cinco ou seis anos (1197-1191 antes da Era
Comum), morrendo enquanto ele ainda era um adolescente. Depois disso,
Tausert, a esposa (e irmã) de Seti II, assumiria o trono por dois ou três
anos, (meados de 1190-1188 antes da Era Comum).
Após sua morte, a dinastia chegaria ao fim, e um novo Faraó, chamado
Set’nakh’t, que não fazia parte da família real anterior, assumiria o trono
que instituiria a vigésima dinastia.
Como muitas das mudanças no regime, esta mudança dinástica incluiu
conflito. Isto é descrito em dois documentos egípcios que narram a
ascensão dramática de Set’nakh’t e sua dinastia.
O monumento Set’nakh’t – למודי תנך מתקדמיםEstudos Bíblicos Avançados – A narrativa por
trás da narrativa de Shemot
O Faraó Set’nakh’t estabeleceu uma Estela (lápide cerimonial) no sul da
cidade de Yabe, ou Elefantina, a mesma cidade onde, muitos anos depois,
soldados israelitas viveram sob domínio Persa. A estela foi descoberta em
1971, e descreve como Set’nakh’t salvou o Egito de turbulências e
eliminou seus inimigos:
Este país estava em crise, o Egito tinha caído no esquecimento de deus ///
.... Os desordeiros antes dele, depois de seu termo ter tomado seus
corações, fugiram como bandos de aves de pequeno porte, quando um
falcão vem atrás deles; deixando para trás, ouro, prata e /// ... Eles tinham
aqueles, pagos aos Levantinos, dentre os líderes do Egito para atraí-los
como combatentes. Seus planos falharam e suas promessas ficaram
impedidas ....
[Esta tradução, segue Patrick Van Gils, “Sethnakht, a descendant of Ramses II?”, Varia
Aegyptiaca 2, Kleine
Berliner Schriften Zum alten Agypten Band 4, ed. Andreas Fingern e Christian Huyeng –
Nortested: Books
on Demand, 2014]
Vemos disso que os “desordeiros”, que viviam no Egito, contrataram
pessoas de fora para invadir, a fim de apoiar o seu domínio sobre o Egito, e
que Set’nakh’t, conseguiu até recuperar a prata e o ouro que eles estavam
usando para o pagamento. A outra afirmação da estela, teria sido sobre seu
segundo ano, em que Set’nakh’t teria eliminado do Egito os seus inimigos
e restaurado o culto apropriado:
Ano 2, segundo mês de Shomu, dia 10, não haviam mais adversários
contra Sua Majestade em qualquer território. Seus mestres vieram dizer a
Sua Majestade: “Seu coração está alegre, Senhor deste país! Que o que o
deus predisse aconteça! Seus inimigos, não estão mais na terra. Não há
poder de um exército ou carros, exceto a do seu pai Seth! '”... Todos os
templos estão abertos, e as ofertas estão prontas para os armazéns.
Este texto enfatiza como, durante o governo dos desordeiros e seus aliados
do Levante, o culto de deuses egípcios estava cancelado, e que Set’nakh’t
emoldura sua guerra ou rebelião, como uma campanha para restaurar as
oferendas aos deuses. Esta é uma reminiscência de ambas as narrativas, a – למודי תנך
מתקדמיםEstudos Bíblicos Avançados – A narrativa por trás da narrativa de Shemot
de Maneto e a descrição bíblica da guerra de HaShem contra os deuses
egípcios.
O documento não esclarece quem são esses “encrenqueiros”, nem por que
eles se sentiram confortáveis a ponto de se unirem com estrangeiros do
Levante para conquistar o Egito. Por sorte, podemos preencher isso com
outro documento que descreve esta mesma campanha.
O Grande Papiro de Harris
Com quarenta metros de comprimento, o Grande Papiro de Harris é o
maior papiro em existência hoje. É um documento de propaganda, escrito
durante o tempo de Ramsés III, o filho de Set’nakh’t, e um poderoso faraó
em seu próprio direito. O papiro fala da criação de uma nova dinastia de
Set’nakh’t num momento em que o Egito estava em um estado ruim:
Ouçam, para que eu possa torná-los conscientes das minhas bondades,
realizadas enquanto eu era rei do povo. A terra do Egito havia sido posta
de lado, com cada homem sendo seu próprio (padrão sobre o que é)
correto. Eles não tiveram porta-voz por muitos anos. A terra do Egito era
[constituída] apenas de funcionários e prefeitos, cada um matando seu
rival, tanto exaltados quanto humildes ( ANET , 260).
O estado do Egito só ficava pior, e, eventualmente, um homem Levantino
- sem nome - assume o poder:
Outras vezes veio depois nos anos vazios e um Levantino (kharu ) com
eles, um autoproclamado (Irsu) príncipe. Ele colocou toda a terra como
tributária, perante ele. Os que se juntavam a ele, faziam isso por que
temiam que sua propriedade fosse saqueada.
Este grupo, sob a égide de um homem descrito apenas como o Irsu (Irsu o
Kharru –, homem que fez a si mesmo), agia com desprezo para com os
deuses egípcios: – למודי תנך מתקדמיםEstudos Bíblicos Avançados – A narrativa por trás da
narrativa de Shemot
Eles tratam os deuses como as pessoas, e não faziam ofertas apresentadas
nos templos.
Num cenário assim, chega Set’nakh’t, que é descrito como o filho dos
deuses, para corrigir os erros do Egito e restabelecer a adoração dos deuses
egípcios:
Mas quando os deuses voltaram atrás, mostrando misericórdia, para
definir o direito à terra como seu estado normal, eles estabeleceram seu
filho, que tinha saído de seu corpo, para ser o governador da vida,
prosperidade e saúde em todas as terras, mediante seu grande trono ... o
Filho do Re: Set-nakh’t Merer-Re Meri-Amon - vida, prosperidade, saúde!
Ele se tornou Khepri-Seth, quando se enfureceu. Ele foi trazido para
colocar em ordem toda a terra, que se rebelava. Ele matou os defeituosos
de coração que estavam no Egito. Ele limpou o grande trono do Egito.
Se combinarmos o que está escrito nestas duas fontes egípcias, sendo que a
primeira, foi literalmente composta no ano após os eventos que
supostamente ocorreram, e se combinarmos isso, com o que mais sabemos
sobre esse período via arqueologia, poderíamos oferecer um esboço mais
ou menos realista, do que aconteceu no final de a dinastia XIX e o início
da dinastia XX.
Combinando as duas narrativas
Começando com o reinado de Seti II, e por todo o período dos reinados de
Siptah e Tausert, o Egito estava em declínio. Quando Tausert morreu sem
um herdeiro claro, cerca de 1188 antes da Era Comum, o Egito colapsou
em conflitos internos. Então alguém de origem Levantina (kharu), referido – למודי תנך
מתקדמיםEstudos Bíblicos Avançados – A narrativa por trás da narrativa de Shemot
apenas como o Irsu “o homem que fez a si mesmo”, assumiu o governo no
Egito.
Este homem desprezava os rituais egípcios e as oferendas aos deuses
egípcios, foi proibida. Ele trouxe aliados do Levante, isto é, de algum lugar
na Síria ou do Líbano - ou de Kena’an – os quais, foram pagos com prata e
ouro.
Então, Set’nakh’t, fundador da vigésima dinastia, lutou contra os
estrangeiros e seus aliados Levantinos, que tinham tomado todo o país e
conseguiu enfim, expulsá-los e restabelecer o culto de deuses egípcios.
A identidade de Irsu
Quem é esse tal de Irsu? Estudiosos, por muito tempo, assumiram que Irsu
deve ter sido Bay, o poderoso chanceler Levantino que colocou Siptah no
trono. A teoria era de que, uma vez que Siptah e depois Tausret morreram,
Bay, que era o homem mais poderoso do Egito na ocasião, decidiu tomar o
trono para si mesmo, e começou a fazer reformas de acordo com as suas
próprias preferências religiosas.
Atualmente sabemos que isso seria impossível, uma vez que Siptah, no 5º
ano de seu governo, executou o próprio Bay como traidor.
Deste modo, Bay não poderia ter sido Irsu, que usurpou o trono alguns
anos após o período que se atribui para a morte do próprio Bay.
Em vez disso, a nova sugestão seria a de que Irsu deveria ser identificado
com o real Moshe, e que a história bíblica, conteria neste caso, a peça que
faltava, para explicar a ascensão de Irsu ao poder.
[O professor Israel Knohl, não teria sido o primeiro a ver tal analogia, entre estas duas
fontes egípcias, sobre
a ascensão de Set’nakh’t e a narrativa do Tana’h, particularmente, pela menção de ouro e
prata, no
monumento de Yabe, e o relato dos utensílios de ouro e prata, levados dos egípcios pelos
israelitas nas
vésperas do êxodo (Shemot 11: 2, 12: 35). Especialmente, isso foi visto nos trabalhos de
Avraham Malamat,
“The Exodus: Egyptians Analogies” nas edições: E.E. Frerichs and L.H. Lesco de “Exodus
– The Egyptians
Evidence” (Bristol, CT, 2016) página 36. Note porém, que estes estudiosos não
mencionam conexão com a
narrativa de Maneto.] – למודי תנך מתקדמיםEstudos Bíblicos Avançados – A narrativa por
trás da narrativa de Shemot
O Moshe da Torá e o Irsu de
Set’nakh’t
Como seria a narrativa, considerando tudo isso?
Bem, de acordo com Shemot 2, Moshe é um líder israelita, mas, foi
adotado pela filha do Faraó e cresceu no palácio.
A figura da filha de Faraó é provavelmente baseada em Tausert, que foi,
provavelmente, a filha de Faraó Merenptah, antes que ela se tornasse a
esposa de seu meio-irmão, Faraó Seti II.
Seti II e Tausert, aparentemente, tinham uma filha que morreu em sua
infância, e não tiveram nenhum outro filho.
Moshe é, de fato, um nome egípcio e, de acordo com Shemot, foi dado a
ele por sua mãe adotiva, e assim mantido.
O nome significa simplesmente “filho” em Egípcio, e é incomum, uma vez
que não é precedido pelo nome de um deus egípcio, como ilustrado em
nomes como Ra’msés (filho de Rá, o deus do sol), Tut’més (filho de Tot,
deus da sabedoria), Ah’mose (filho de Iah, deus da lua), etc.
Moshe seria, portanto, um filho de ninguém…
Isso se encaixa bem com Papyrus Harris chamando o usurpador “o homem
que fez a si mesmo”, ou seja, um filho de ninguém.
Embora Moshe tenha sido criado no palácio, ele seria um Levantino (um
Hebreu/ um israelita) um estrangeiro, como é Irsu o Kharu. Esta dupla
identidade ajudaria a explicar a ascensão de Irsu.
Quando Tausert morreu sem um herdeiro, Moshe / Irsu viu-se como a
pessoa apropriada para assumir e ascender ao trono dos Faraós. Para fazer – למודי תנך
מתקדמיםEstudos Bíblicos Avançados – A narrativa por trás da narrativa de Shemot
isso, ele recrutou seu povo que vivia como estrangeiros, e dominaram no
Egito trazendo reforços do exterior, a quem pagaram com ouro e prata.
Um conflito pelo poder entre as forças opostas no Egito se seguiu. Moshe
e os seus homens perderam o conflito, sendo expulsos do Egito e partiram
para Kena’an. Isso também nos daria um ano específico para o êxodo de
acordo com esta narrativa, o ano de 1186 Antes da Era Comum, o segundo
ano do reinado do faraó Set’nakh’t.
Duas versões da história
A guerra de Irsu e Set’nakh’t teria sido traumática para todos os
envolvidos, e cada grupo se lembrava de maneiras muito diferentes.
Do ponto de vista egípcio, um grupo de estrangeiros que vivem entre eles,
que desprezavam seus deuses e abatiam animais sagrados, tentou tomar
todo o país, chegando até mesmo a pagar estrangeiros, para invadirem o
Egito. Eles foram bem sucedidos por um tempo, mas, um poderoso general
egípcio liderou um contra-ataque e, finalmente, teria vencido Irsu e sua
Kharu para fora da terra. A ordem e a adoração apropriada terai sido
restaurada, e o vencedor se torna o próximo Faraó.
Os israelitas também se lembravam da história. Na sua perspectiva, os
egípcios tinham dominado, escravizado e maltratado de forma
imensamente desumana, aproveitando-se de sua condição de estrangeiros.
Eventualmente um campeão surgiu, Moshe, que havia sido criado no
palácio egípcio. Ele causou danos sobre os egípcios e seus deuses, em
resposta a como eles trataram seu povo. – למודי תנך מתקדמיםEstudos Bíblicos Avançados
– A narrativa por trás da narrativa de Shemot
Ele ordenou a seu povo a se lembrarem disso, abatendo um carneiro no
aniversário da saída do Egito, abatendo um animal que era considerado,
sagrado, para os egípcios.
Por isso, ele restabeleceu a adoração adequada do seu próprio elohim, o
HaShem. Ele marchou com os israelitas e os seus aliados, para fora da
terra do Egito com ouro, prata, armas e prestígio. A partir deste evento, a
história do Pessach nasce no seio do povo israelita.