Comportamento em Tempos de Pandemia

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Número do manuscrito 377 Artigo Original

As implicações da pandemia do COVID-19 na saúde


mental e no comportamento das crianças
The implications of the COVID-19 pandemic on children's
mental health and behavior
Ingrid Ribeiro Soares da-Mata
(Autor de Correspondência)

E-mail: [email protected]

Afiliação(ões): [1] - Universidade de Brasília, Acadêmica de Medicina - Brasília - Distrito Federal - Brasil

Letícia Silva Carvalho Dias


E-mail: [email protected]

Afiliação(ões): [1] - Universidade de Brasília, Acadêmica de Medicina - Brasília - Distrito Federal - Brasil

Celso Taques Saldanha


E-mail: [email protected]

Afiliação(ões): [2] - Universidade de Brasília/Hospital Universitário, Professor Assistente de Pediatria/Faculdade de


Medicina da UnB. - Brasília - Distrito Federal - Brasil

Marilucia Rocha de Almeida Picanço


E-mail: [email protected]

Afiliação(ões): [3] - Universidade de Brasília/Hospital Universitário, Professora Associada de Pediatria/Faculdade de


Medicina da UnB. (Coordenadora da Residência Médica em Pediatria/HUB/UnB). - Brasília - Distrito Federal - Brasil

Total: 4 Autores

RESUMO
Objetivos: Analisar qual a influência que a pandemia do COVID-19 trouxe para a saúde mental das crianças, além
das modificações comportamentais no âmbito psicossocial do desenvolvimento infantil

Métodos: É estudo de revisão bibliográfica de caráter descritivo, pela qual executou-se uma revisão sistematizada
nos bancos de dados: Scielo, Pubmed e Biblioteca Virtual da Saúde (BVS) no período de cinco anos entre 2015 a
2020 em línguas portuguesa e inglesa. Foram captados 122 artigos, dos quais 113 foram excluídos por não
cumprirem os critérios de inclusão propostos de modo que 9 estudos foram analisados. Além disso, foram
analisados 1 edição produzida pelo Comitê Científico do Núcleo Ciência pela Infância e a carta de Recomendações
do Conanda para a Proteção Integral a Crianças e Adolescentes do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos. Assim, ao final, foram analisadas 11 referências bibliográficas.

Resultados: Ficou evidenciado o quanto as crianças estão expostas diretas ou indiretamente pelas repercussões
da pandemia. Elas estão sujeitas a modificações estruturais na vida, tais como: isolamento social, restrição do
convívio social com familiares e amigos; mudanças na rotina escolar com redução da socialização, o que pode
gerar, conforme destacado pelos autores, modificações de humor, sintomas de estresse pós traumático, depressão
ou ansiedade, destacando-se ainda as crianças em luto pelos familiares.

Conclusão: Foi constatada pela revisão literária a incidência de prejuízos à saúde mental assim como desordens
no comportamento infantil.Dessa forma, ressalta-se os possíveis impactos ao desenvolvimento infantil e a
importância do cuidado das demandas infantis emergidas pela pandemia.

DESCRITORES: Saúde Mental. Criança. Isolamento Social. Psicologia da Criança. comportamento infantil.
Quarentena

ABSTRACT
Objective: To analyze the influence that COVID-19 pandemic brought to childrens mental health, in addition to
behavioral changes in the psychosocial context of child development.

Methodology: Descriptive bibliographic review study was carried out, by which a systematic review was carried
out on the databases: Scielo, Pubmed and Virtual Health Library (VHL) in the five-year period between 2015 and
2020 in Portuguese and English. 122 articles were captured, of which 113 were excluded for not meeting the
proposed inclusion criteria so that 9 studies were analyzed. In addition, 1 edition produced by the Scientific
Committee of the Science for Children Center and the letter of Recommendations from Conanda for the
Comprehensive Protection of Children and Adolescents from the Ministry of Women, Family and Human Rights
were analyzed. Thus, at the end, 11 bibliographic references were analyzed.

Results: It was evident how much children are directly or indirectly exposed by the repercussions of the
pandemic. They are subject to structural changes in life, such as: social isolation, restriction of social life with
family and friends; changes in the school routine with reduced socialization, which can generate, as highlighted by
the authors, changes in mood, symptoms of post-traumatic stress, depression or anxiety, with emphasis on
children in mourning for family members.

Conclusion: It was found by the literary review the incidence of damage to mental health as well as disorders in
child behavior. Possible impacts on child development and importance of taking care of the child demands arising
from the pandemic are highlighted.

HEADINGS: mental health. social isolation. Psychology, Child. Coronavirus Infections. Quarantine. Child

Fonte de financiamento: Não

Conflito de interesses: Não

É Ensaio Clínico? Não

Data de Submissão: Tuesday, June 30, 2020

Decisão final: Thursday, July 16, 2020


Introdução
Em dezembro de 2019, foi relatado o primeiro caso de Sars-Cov-2 em Wuhan,
China. Este agente viral é um betacoronavírus que faz parte do mesmo subgênero da
síndrome respiratória aguda grave (SARS). Há apontamentos de que a
transmissibilidade da doença ocorre principalmente pelas gotículas da saliva, por
aerossóis de secreções respiratórias e pelo ar.1
Devido a sua alta taxa de transmissibilidade e gravidade da doença, desde seu
surgimento, a rotina da população tem sido modificada, seguindo as recomendações da
Organização Mundial da Saúde (OMS) que buscam diminuir a sua propagação e reduzir
a taxa de contaminação. Dentre as intervenções de saúde pública, destacam-se
principalmente o isolamento e o distanciamento social, pois evitam a disseminação do
novo coronavírus e o crescimento exponencial dos novos casos da doença. 2,3
O isolamento social apontado como a medida mais efetiva implica em
mudanças abruptas e inesperadas à realidade das famílias brasileiras, uma vez que
apresenta repercussões abrangentes como suspensão das atividades de creches, escolas;
restrição do comércio; alteração da jornada de trabalho; utilização da modalidade de
home office.2,3
Por conseguinte, ao isolamento social, a decaída da economia, o desemprego, a
instabilidade econômica, o medo, a incerteza são fatores que juntos podem acarretar
mudanças e prejuízos à saúde mental e ao comportamento psicossocial de crianças,
adultos e idosos.2,3,4
Diante dessa conjuntura, deve-se atentar em especial para que as necessidades
das crianças emergidas no contexto da pandemia sejam atendidas. Considerando-se que
o perfil geral da criança saudável requer basicamente consultas de rotina, imunizações e
não demanda maiores cuidados de saúde, é fundamental destacar o risco de se tornarem
menores os cuidados das demandas das crianças emergidas do contexto da pandemia,
nesse momento em que os profissionais da saúde se apresentam diante de novas e
graves demandas de uma doença, com alta taxa de mortalidade, cuja fisiopatologia,
tratamento e epidemiologia ainda não estão bem esclarecidos.5
Neste tocante, dentre as principais mudanças observadas no comportamento
infantil, podem-se citar dificuldade de concentração, alteração no padrão do sono e da
alimentação, maior apego aos pais ou aos responsáveis, irritabilidade, medo, solidão,
tédio e maior tempo de exposição às telas. Diante disso, é essencial a observação do
modo como a criança se apresenta, expressa seu emocional e se comporta na rotina
diária no sentido de que seja possível ofertar cuidados voltados à amenização e à
prevenção dos impactos das implicações da pandemia ao desenvolvimento dos infantes
e comprometimento do desenvolvimento humano a curto e longo prazo.4,6
No que tangue ao desenvolvimento humano, é suma relevância destacar que o
desenvolvimento infantil depende de vários fatores, como o meio ambiente, a natureza
psicossocial e emocional da ambiência da criança agregado a uma maturação do sistema
nervoso central hígido7. Nesse viés, o desenvolvimento infantil é a dinâmica que vai da
concepção que cinge inúmeros aspectos, desde o “crescimento físico, maturação neural,
comportamental, cognitivo, social e afetivo da criança” como cita a Organização
Mundial da Saúde (OMS).
Portanto, é necessário ponderar o contexto da vida da criança, pois o meio de
vivência influenciado pela situação de isolamento pode influenciar o desenvolvimento
global infantil, principalmente nos menores de três anos, cujo cérebro está
amadurecendo rapidamente com a formação de novas conexões e sinapses.7 Diante
disso, é necessário compreender como a vida das crianças têm sido afetadas direta ou
indiretamente durante essa pandemia.
Nesse sentido, o objetivo principal deste estudo é analisar qual a influência que
a pandemia do COVID-19 trouxe para a saúde mental das crianças, além das
modificações comportamentais no âmbito psicossocial do desenvolvimento infantil.
O presente trabalho visa contribuir com a comunidade cientifica a partir de
informações publicadas na literatura sobre a importância de identificar e manejar
adequadamente comportamentos decorrentes da mudança de rotina com o objetivo de se
evitar classificá-los como patológicos; a relevância da identificação de surgimento e ou
piora de comportamentos psicossociais que podem ser reacionais ao momento de
isolamento social vivenciado pela criança e as estratégias possíveis voltadas a
proporcionar melhores condições de vivência para as crianças em isolamento social.4
Método
Foi realizado um estudo de revisão bibliográfica de caráter descritivo, pela qual
executou-se uma revisão sistematizada nos bancos de dados: Scielo, Pubmed e
Biblioteca Virtual da Saúde (BVS) no período de cinco anos entre 2015 a 2020 em
línguas portuguesa e inglesa. Para tanto utilizou-se os seguintes descritores em
português, saúde mental, criança, isolamento social e covid; psicologia da criança;
angústia infantil e covid, comportamento infantil; quarentena e covid. Em inglês,
utilizou-se: mental health, child, social isolation and covid; child psychology; infantile
and covid distress, infantile behavior; child behaviour, quarantine and covid. Os
critérios para inclusão dos artigos foram: artigos originais que usassem os temas do
estudo como, saúde mental da criança, comportamento infantil e isolamento social,
quarentena e desenvolvimento infantil e as Normas de órgãos oficiais como o
Ministério da Mulher, família e Direitos Humanos. Foram excluídas as publicações
repetidas nas bases de dados.
Categorizou-se os artigos pelas palavras chaves e descritores. O método
utilizado para a leitura dos artigos foram: leitura, exploração de cada artigo, análise e
interpretação. Para a idade das crianças, foi considerado o Estatuto da Criança e do
Adolescente do Brasil (ECA), segundo o qual a criança é a pessoa até doze anos de
idade incompletos.8
Foram captados 122 artigos, dos quais 113 foram excluídos por não cumprirem
os critérios de inclusão propostos de modo que 9 estudos foram analisados. Além disso,
foram analisados 1 edição produzida pelo Comitê Científico do Núcleo Ciência pela
Infância e a carta de Recomendações do Conanda para a Proteção Integral a Crianças
e Adolescentes do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Assim, ao
final, foram analisadas 11 referências bibliográficas.
Resultados e Discussáo
Diante do contexto da pandemia do Covid-19, é de suma importância o olhar
atento às crianças no tange à adaptabilidade às novas restrições de ordem de saúde
pública; ao comportamento; à saúde mental; à rotina. Os dados principais dos estudos
revisados são apresentados na Tabela 1

Tabela 1 – Características dos artigos incluídos no artigo

Estudo Ano Tema Descritores Média das Total de


Idades participante
Eisenstein E, Pfeiffer L, Gama 2019 “#Menos Telas Internet; Criança; a b

MC, Estefenon S, Cavalcanti #Mais Saúde” Desenvolvimento


SS, Silva EJC, et al.12 infantil; Exposição
infantil à tela.
Figueiras AC, Souza ICN, Rios 2005 “Manual de Desenvolvimento c b

VG, Benguigui Y. Organização vigilância do infantil


Panamericana de Saúde.7 desenvolvimento
infantil no contexto
da AIDPI.”
Liu, Jia Jia; Bao, Yanping; 2020 “Mental health Saúde Mental; 10,5 320
Huang, Xiaolin; Shi, Jie; Lu, considerations for Criança; Quarentena
Lin.10 children quarantined
because of COVID-
19.”
Ministério da Saúde (BR), 2020 “Crianças na Crianças na c c

Fundação Oswaldo Cruz,Saúde pandemia COVID- pandemia Covid-


Mental e Atenção Psicossocial 19.” 19; Fiocruz
na Pandemia COVID-19.2 Brasília; Agência
Fiocruz de
Notícias; Criança;
Infecções por
Coronavirus

Dalton L, Rapa E, Stein A. 2020 “Protecting the Saúde Mental; e d

Lancet Child Adolesc Health.9 psychological health Criança; Infecções


of children through por Coronavirus;
effective Comunicação
communication
about COVID-19.”
Golberstein E, Wen H, Miller 2020 “Coronavirus Saúde Mental; 11,5- d 55 milhões - d
BF5 Disease 2019 Criança; Infecções
(COVID-19) and por Coronavirus
Mental Health
for Children and
Adolescents.”
Ministério da Mulher, da 2020 “Recomendações do Proteção; Criança; c

Família e dos Direitos CONANDA para a Infecções por


Humanos (BR), Conselho proteção integral a Coronavirus
Nacional dos Direitos da crianças e
Criança e do Adolescente.14 adolescentes durante
a pandemia do
COVID-19.”

Núcleo Ciência pela Infância 2020 “Repercussões da Desenvolvimento e e

[Internet]3 Pandemia de infantil; Infecções


COVID-19 no por Coronavirus
Desenvolvimento
Infantil.”
Jiao WY, Wang LN, Liu J, 2020 “Behavioral and Betacoronavirus, 10,5 320
Fang SF, Jiao FY, Pettoello- emotional disorders Child, China,
Mantovani M, et al.4 in children during Coronavirus
the COVID-19 Infections;
epidemic.” complications,
Coronavirus
Infections;
psychology,
Humans, Mood
Disorders; etiology,
Pandemics,
Pediatrics,Pneumoni
a, Viral;
complications,
Pneumonia, Viral;
psychology, Problem
Behavior,
Psychological
Distress, Resilience,
Psychological
Saúde Mental;
Comportamento
Infantil; Criança;
Infecções por
Coronavirus
Saúde emocional e
comportamento de
crianças associados
ao contexto de
COVID-19.
Deslandes Suely Ferreira, 2020 “O uso intensivo da Internet; Violência; e d

Coutinho Tiago.6 internet por crianças Criança; Infecções


e adolescentes no por Coronavirus
contexto da COVID- Uso de internet por
19 e os riscos para crianças e
violências adolescentes
autoinflingidas.” associados ao
contexto de COVID-
19.
Eisenstein Evelyn, et al.11 2020 “A violência contra Violência doméstica; e d

mulheres, crianças e Quarentena;


adolescentes em Infecções por
tempos de pandemia Coronavirus
pela COVID-19.”
a
Artigo leva em conta o que diz o ECA; b Artigo usa a amostragem geral da população de crianças e adolescentes da
população brasileira;
c
Manual do Ministério da Saúde/Legislação; d Referência não expõe quantidade de amostragem de participantes; e
Artigo não explicita idade dos participantes

As crianças estão inseridas em um contexto de vivência em que as redes


midiáticas e os diálogos sociais apresentam como assunto mais predominante o cenário
atual da Covid-19 ao passo que os esforços globais voltam-se para promoção de
políticas para contenção da disseminação do novo coronavírus; para pesquisas
direcionadas ao entendimento da fisiopatologia do SARS-COV-2; para pesquisas
voltadas ao desenvolvimento de propostas terapêuticas como novos medicamentos,
vacinas, anticorpos; para divulgação e informação da população acerca da
epidemiologia da doença.9
Além disso, a vivência pelos infantes de alterações na rotina de diária marcadas
pela permanência nos ambientes domésticos com suspensão de visitas a espaços físicos
como escolas, creches, casa de familiares e amigos, atividade de lazer e de exercício
físico é um fator de risco para a saúde mental e física nesse momento extraordinário.4
Nesse âmbito, é significativa a ressalva de que as crianças são observadoras ao
contexto de vivência e sensíveis ao comportamento psicossocial dos pais e dos
cuidadores de modo que as mudanças elencadas ao Covid-19 podem ser percebidas
pelos infantes, inclusive aqueles de menor idade (a partir de 2 anos) consoante estudo de
pesquisadores estadunidenses de modo que elas podem apresentar preocupação,
ansiedade, estresse.9
Entende-se ainda que o contexto familiar é importante para o desenvolvimento
das crianças e que um dos fatores dependentes é a boa condição psicossocial, sanitária e
econômica, como destaca o Comitê Científico Núcleo Ciência pela Infância.3 Com as
medidas profiláticas sendo tomadas, existem efeitos colaterais agravantes, como
aumento da taxa de desemprego, cortes salariais e queda na demanda dos serviços
informais tornando a obtenção de renda mais difícil, os quais representam aumento da
vulnerabilidade familiar.3
Ainda relacionado à conjuntura familiar, o aumento do estresse das crianças
pode também estar relacionado a situações de suspensão do contato físico com
cuidadores ou pais com suspeita de Covid-19, com diagnóstico positivo para Covid-19,
com histórico de óbitos ocorridos durante o período da pandemia. Estas realidades
podem promover uma percepção de ansiedade, insegurança, medo e falta de
acolhimento essencial para viver esse momento. O impacto da separação da vivência
diária com os pais e os cuidadores pode comprometer o desenvolvimento da saúde
mental infantil a longo prazo no período pós pandemia de modo que a incidência de
transtornos mentais, ideação suicida e suicídios pode aumentar.9
A iminência de sentimentos de incerteza e insegurança advindos do contexto
da pandemia pode abalar a estrutura familiar de modo a implicar riscos ao
desenvolvimento infantil. Nesse sentido, a vivência de dificuldades e estresse por um
longo período pelos adultos pode prejudicar a capacidade de dar suporte e apoio às
crianças, o que pode acarretar prejuízos ao desenvolvimento a nível sistêmico assim
como o desenvolvimento ou piora de quadros de ansiedade, depressão e estresse.9
Por não requererem cuidados especiais, os profissionais de saúde podem
esquecer de verificar a saúde mental, e de acordo com pesquisadores, a maioria dos
transtornos mentais são iniciados ainda na infância.5
Na pandemia do COVID-19, podem piorar as taxas dos transtornos mentais na
infância, pois as crianças enfrentam também os medos e as inseguranças do isolamento
físico e social, além disso pesquisas apontam que crianças nesse período estão
apresentando estresses psicológicos, tais como: ansiedade, depressão, letargia, interação
social prejudicada e apetite reduzido.4
O distanciamento social e as alterações da psicologia infantil marcadas por
estresse psicológico, ansiedade, medo, preocupação têm acentuado ou feito surgir
adversidades funcionais ou comportamentais nas crianças, como mostra os dado do
Comitê Científico Núcleo Ciência pela Infância: 36% de dependência excessiva dos
pais; “32% de desatenção; 29% de preocupação; 21% de problemas no sono; 18% de
falta de apetite; 14% de pesadelos; e 13% de desconforto e agitação”.3
Como o distanciamento social e o isolamento social são medidas profiláticas
para evitar a propagação em massa do vírus, verificam-se o fechamento de escolas e a
adaptação do modelo educacional na modalidade de ensino à distância.11 Estas condutas
são importantes para conter a disseminação do novo coronavírus, uma vez que embora
estudos apontem que crianças e adolescentes têm uma probabilidade menor de serem
sintomáticos ao vírus, eles são transmissores do agente etiológico da Covid-19.5
Uma vez que o fechamento das escolas é um desafio para as famílias
encontrarem uma forma de conseguir lidar com a disponibilidade e/ou condição
adequada para garantir o estudo das crianças, constata-se um risco maior de prejuízo à
formação educacional infantil. Além disso, faz-se essencial ressaltar que, na primeira
infância, não é recomendado o ensino a distância, por questões de saúde e pedagógicas e
de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o uso de telas não é
recomendado para menores de dois anos e para as crianças com idade entre 2 e 5 anos é
indicado o máximo uma hora por dia. Outrossim, a aplicação do ensino à distância para
criança contraria a Base Nacional Curricular Comum, visto que a qual reforça a ideia de
que a criança aprende por meio de experiências lúdicas, concretas e interativas, e
vitalmente isso não é possível.3,11
Ainda pode-se levar em consideração que nem todas as crianças terão acesso a
esse tipo de ensino uma vez que de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD) (2017) “apenas 31% dos estudantes do ensino fundamental da rede
pública têm acesso a computador/tablet e acesso com banda larga”. Posto isto, crianças
que vivem numa família em situação de pobreza além de sofrerem com as faltas de
recursos adequadas ainda passam pelas aflições comuns de toda a sociedade.3
O uso da tecnologia pode ser um grande aliado no que tangue ao isolamento
social favorecendo a manutenção das redes sociais outrora estabelecidas pelo contato
face a face de modo que as crianças podem ser sentir mais acolhidas ao conversar com
parentes e amigos. É de mister importância a ressalva de que a utilização da internet
deve ser monitorada pelos responsáveis de maneira a assegurar a qualidade dos
conteúdos acessados. A necessidade de ocupação do tempo sem um planejamento
prévio da rotina das crianças pode culminar com o aumento do tempo de tela e por
consequência verificam-se os riscos de excesso de exposição pessoal, de participação de
“desafios perigosos” os quais podem representar riscos à saúde do infante; de exposição
à violência infantil.6,12
Nesse sentido, conforme estudo de pesquisadores ingleses, a comunicação
efetiva dos pais e dos cuidadores com as crianças baseada na idade e na capacidade de
compreensão particular do infante mostra evidências positivas. Nesses âmbitos, estudos
apontam a importância para a saúde e o bem estar da criança proporcionados por
diálogos que buscam escutar e entender os sentimentos e a percepção infantil da doença
do Covid-19 acerca de assuntos como transmissão do vírus. Uma vez que
principalmente as crianças pré escolar apresentam um conhecimento mais fantasiado,
uma interpretação pessoal infantil pode repercutir com uma manifestação de estresse
emocional marcado pelo medo desnecessário.9,10
Conclusão
Por longo tempo, é possível que os efeitos gerados da pandemia persistirão no
Brasil e serão refletidos no quantitativo e no qualitativo da morbimortalidade, da saúde,
do desemprego, no desenvolvimento infantil, em especial em relação a parte da
população menos favorecida.
Neste estudo de revisão, ficou demonstrado o quanto as crianças estão expostas
diretas ou indiretamente por toda a situação que a pandemia implicou ao mundo. Elas
estão tendo que lidar com modificações estruturais na vida, tais como: isolamento social
onde não veem seus avós ou amigos, mudanças na rotina escolar sem possibilidade de
socialização, o que pode gerar, conforme destacado pelos autores, modificações de
humor, sintomas de estresse pós traumático, depressão ou ansiedade, e destacando-se as
crianças que terão de lidar com o luto dos familiares.
A comunicação familiar apresenta efeito de amenizador dos medos e das
inseguranças que podem as crianças estar sofrendo, ou seja, é necessário que os pais e
os cuidadores também se conscientizem e saibam entender que esse é um processo
delicado e novo para esse século, tornando-se importante a abertura de fala para que as
crianças possam externar seus sentimentos.
Fica evidente no estudo a necessidade que a equipe de saúde mental, os
pediatras, a equipe de saúde multiprofissional sejam capacitados para conseguirem
atender as demandas na busca da redução de danos as crianças.
Outrossim, é de extrema importância que a sociedade esteja atenta à qualquer
suspeita de violência e se posicione frente à tomada de demandas cabíveis, pois a
garantia da direito à vida, à saúde, à condições de vida adequadas para o
desenvolvimento infantil e de suas potencialidade é um dever de todos, como
ressaltado nas recomendações do CONANDA para a proteção integral a crianças e
adolescentes durante a pandemia COVID-19.14

Referências
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6. Deslandes Suely Ferreira, Coutinho Tiago. O uso intensivo da internet por
crianças e adolescentes no contexto da COVID-19 e os riscos para violências
autoinflingidas. Ciênc. saúde coletiva [Internet]. 2020 June [cited 2020 June 23] ;
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7. Figueiras AC, Souza ICN, Rios VG, Benguigui Y. Organização Panamericana
de Saúde. Manual de vigilância do desenvolvimento infantil no contexto da AIDPI.
Washington, DC: OPAS; 2005.
8. Brasil. Lei nº. 8069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e Adolescente.
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10. Liu JJ, Bao Y, Huang X, Shi J, Lu L. Mental health considerations for children
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11. Eisenstein Evelyn, et al. A violência contra mulheres, crianças e adolescentes em
tempos de pandemia pela COVID-19: Panorama, motivações e formas de
enfrentamento. Caderno de Saúde Pública [Internet]. 2020 [cited 2020 Jun 8];:1-6. DOI
https://doi.org/10.1590/0102-311X00074420. Available from:
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
311X2020000400505&tlng=pt
12. Eisenstein E, Pfeiffer L, Gama MC, Estefenon S, Cavalcanti SS, Silva EJC, et
al. #MENOS TELAS #MAIS SAÚDE. Manual de Orientação: Grupo de Trabalho
Saúde na Era Digital (2019-2021) - Sociedade Brasileira de Pediatria [Internet]. 2019
[cited 2020 Jun 8];:1-11. Available from:
https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/_22246c-ManOrient_-
__MenosTelas__MaisSaude.pdf
13. Da Silva, Amanda Mota; Halvantzis, Diessika Helena Costa; Rocha,
Jana Cristina Santos Freire; Cardoso, Sofia de Oliveira. Recomeçar:
Promovendo a saúde mental pós-pandemia para crianças, adolescentes,
adultos e idosos. 1. ed. [S. l.]: Ebook, 2020. 28 p. E-book.
14. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (BR), Conselho
Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Recomendações do CONANDA
para a proteção integral a crianças e adolescentes durante a pandemia do COVID-19.
Brasília: Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, 2020.
Anexos
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