Relatório Análise BRF
Relatório Análise BRF
Relatório Análise BRF
Leide Moreira
Leonardo Cunha
Renata Braga
VALOR DE MERCADO
R$25,2 bilhões
US$7,7 bilhões
COTAÇÕES
BRFS3 R$30,98
RELATÓRIO DE
BRFS US$9,49
FINANCEIRAS DA
1.333.701 ações em
tesouraria
BRF S.A.
Base: 22.02.2018
BRF S.A.
Análise elaborada com base nas Demonstrações Financeiras da BRF
R Jorge Tzachel -
dos anos de 2015, 2016 e 2017. Foram utilizadas, ainda, Fazenda, Itajaí, SC
+55 11 31931001
informações disponíveis nos Relatórios de Administração, nos
Formulários de Referência e no site de relação com investidores da
companhia. https://www.brf-
global.com/
1. Histórico da companhia
❖ Nos primeiros anos da década de 30, em Videira (SC), descendentes de duas famílias de
imigrantes italianos estabeleceram um pequeno negócio cujo crescimento deu origem a
um dos maiores complexos agroindustriais do mundo: a Perdigão.
❖ Já no início da década de 40, começa a história da Sadia. Fundada por Attilio Fontana,
em Concórdia (SC), a marca trouxe os seus valores de berço: respeito ao trabalho,
cuidado com a terra e valorização técnica.
❖ Em 1975, a Perdigão se torna pioneira na exportação de carne de frango do Brasil, o
destino foi a Arábia Saudita.
❖ Em 1990, a Sadia abre as portas para diversas localidades do mundo. Tóquio, Milão e
Buenos Aires foram as primeiras. Em 1998, a empresa ultrapassou US$ 1 bilhão de
faturamento e garantiu liderança absoluta no segmento de aves. A exportação atingiu a
meta de mais de 40 países.
❖ Em 2000, a Perdigão abre o primeiro escritório fora do Brasil, em Londres, na
Inglaterra. Nesse mesmo ano, a marca entra para o pregão das ações listadas nas bolsas
de Nova York e se torna a primeira empresa brasileira de alimentos presente em Wall
Street.
❖ Em 2009, as marcas anunciam o início do processo de associação para unificar as
operações das companhias, que passou a se chamar BRF Brasil Foods S.A.
❖ Em 2010, a BRF alcançou a marca de 22,7 bilhões de reais em vendas, sendo 40% delas
destinadas ao mercado exterior. Ainda, se torna a terceira empresa exportadora do
Brasil, sendo a maior exportadora de aves e líder na produção global de proteínas, com
9% da comercialização mundial.
❖ Em 2013, a nova marca é lançada. O empresário Abílio Diniz passa a fazer parte do
Conselho Administrativo da empresa.
❖ Em 2015, Pedro Faria assume como CEO global da companhia.
❖ Em 2017, a BRF lança a onefoods, subsidiária dedicada ao mercado halal. A empresa já
nasce como maior companhia halal de proteína animal do mundo.
❖ Ainda em 2017, a BRF anunciou a saída de Pedro Faria da presidência da companhia,
função que exerceu desde janeiro de 2015. José Aurélio Drummond tomou posse
oficialmente em dezembro de 2017 no cargo de Diretor Presidente Global.
Fonte: https://www.brf-global.com/sobre-brf/quem-somos-nossa-historia
2. Modelo de Negócios
A BR Foods S.A. (BRF) é uma multinacional brasileira que atua globalmente como
uma das maiores produtoras mundiais de alimentos. A companhia é detentora de um portfólio
abrangente e diversificado de produtos, sobretudo, há o foco na criação, produção e abate de
aves e suínos, industrialização, comercialização e distribuição de carnes in-natura, produtos
processados, massas, molhos, maioneses, vegetais congelados e derivados de soja. A BRF
tem intensa atuação nacional e presença em mais de 150 países, nos 5 continentes. Mais de
100 mil funcionários trabalham na companhia, que mantém mais de 50 fábricas em oito países
(Argentina, Brasil, Emirados Árabes Unidos, Holanda, Malásia, Reino Unido, Tailândia e
Turquia).
A BRF possui mais de 30 marcas em seu portfólio, entre elas, marcas fortes
como: Sadia, Perdigão, Qualy, Chester®, Perdix, Paty e Banvit. A firma é responsável por
16,3% do market share global de comércio de aves. Do ponto de vista de produção, a empresa
tem 35 plantas em todas as regiões no Brasil e 47 centros de distribuição, 20 deles no Brasil e
27 no exterior. A BRF possui uma ampla rede de distribuição visando atender a
supermercados, lojas de varejo, atacadistas, restaurantes e outros clientes institucionais.
Pontos Positivos
• Detém marcas fortes;
• Melhora no mix de produtos ofertados;
• Arrojados investimentos em ampliação e diversificação;
• Atua de forma integrada com produtores de aves e suínos viabilizando melhor
monitoramento dos riscos inerentes ao processo produtivo;
• Estrutura logística integrada ao longo da cadeia produtiva, especialmente com centros
produtivos estrategicamente próximos a canais de escoamento da produção;
• Pulverização da base de clientes no exterior, tende a amenizar os riscos inerentes a
mercados específicos;
• Busca por descontinuação de linhas de produtos não rentáveis ao mesmo tempo em que
são incrementadas linhas de maior valor agregado.
Pontos Negativos
• Concorrência no mercado interno é grande;
• Desaceleração na demanda no mercado interno em função da piora dos indicadores
nacionais de desemprego e inadimplência;
• Tendências de elevação no custo aliadas com o arrefecimento no volume de vendas
poderão culminar em pressão na margem bruta no curto prazo;
• Envolvimento na Operação Carne Fraca porque a BRF não tomava todos os cuidados
sanitários necessários, visto que a empresa emitia pareceres positivos para lotes de carne
de frango com salmonela;
• A febre aftosa ainda não foi completamente erradicada do País e há risco da doença nos
frangos vendidos;
• Produtos alimentícios brasileiros ainda enfrentam algumas restrições sanitárias na
Europa e na Rússia;
• A concorrência no mercado interno aumentou após a JBS ter adquirido a Seara em junho
de 2013;
• Vários executivos desligados da BRF se empregaram na concorrência, aumentando a
inteligência de negócios dos concorrentes e diminuindo da BRF.
A BR Foods possui apenas ações ordinárias (ON) com direito de voto pleno, com Tag
Along de 100%. Além disso, a firma manteve em 2017 um nível de free float de 94,7%, acima
dos 25% exigidos para pertencer ao segmento de governança do "Novo Mercado". No que se
refere a sua estrutura de propriedade, os principais acionistas com direito a voto são
a Fundação Petrobras de Seguridade Social (Petros) com 11,4% das ações emitidas, Caixa de
Previdência do Banco do Brasil (Previ) com 10,7% e Tarpon Investimentos S.A. com
8,6%, Aberdeen Asset Management PLC com 5,1% das ações ao final de 2017. Pode-se
considerar que a BRF tem uma base de acionistas pulverizada, uma vez que 57,7% das ações
estão em posse de outros acionistas e, em geral, estão circulando no mercado. À vista disso,
podem haver problemas de agência decorrente da estrutura de capital pulverizada, ou seja,
desalinhamento de interesses e decisões dos gestores da companhia e dos fundos de
previdência e de investimento, que são seus principais acionistas.
O conselho de administração é integrado pelo Abílio dos Santos de Diniz (Presidente
do Conselho), Francisco Petros Oliveira Lima Papathanasiadis (Vice-Presidente) e mais 6
conselheiros independentes. O conselho tem idade média de 58 anos. Além disso, o tamanho
máximo do conselho é de 11 integrantes e os membros independentes têm mandatos de 2
anos. Mais recentemente, insatisfeitos com os métodos de gestão da BRF, os fundos de
previdência do Previ e Petros enviaram uma correspondência que foi destinada ao Conselho
de Administração da Companhia na qual convocaram uma Assembleia Geral Extraordinária
(AGE) com os objetivos: (i) destituição de todos os membros do Conselho de Administração
da Companhia; (ii) aprovação do número de 10 membros para compor o Conselho de
Administração; (iii) eleição de novos membros para ocuparem os cargos no Conselho de
Administração; e (iv) eleição do Presidente e do Vice-Presidente do Conselho de
Administração. Esse ato mostra o forte descontentamento dos principais acionistas em relação
à estratégia desenvolvida pela administração e os resultados que vêm sendo entregues.
No que se refere à risco dos preços de commodities, a BRF ainda está exposta
a volatilidade resultante das condições climáticas, rendimento de safra, custos com transporte
e armazenagem, política agrícola do governo e outros fatores. O preço dos suínos adquiridos
de terceiros está sujeito a condições de mercado e é influenciado por disponibilidade interna e
níveis de demanda no mercado internacional, dentre outros aspectos. A firma utiliza
instrumentos derivativos (termos) para principalmente proteger-se contra as altas dos preços
do milho, farelo, óleo de soja e suínos vivos.
Em relação ao risco de crédito, a BRF está sujeita ao risco de crédito relacionado com
as contas a receber de clientes, aplicações financeiras e contratos de derivativos. O risco de
crédito relacionado com as contas a receber de clientes é gerenciado ativamente com uso de
sistemas específicos. Ainda, destaca-se que a pulverização da carteira de clientes e concessão
de crédito a clientes com bons índices financeiros e operacionais, geram uma redução no
risco. Geralmente a Companhia não exige garantia para as vendas a prazo, todavia, possui
contratada apólice de seguro de crédito para mercados específicos. Já o risco de crédito de
aplicações financeiras e contratos derivativos estão limitados às contrapartes listadas abaixo e
é gerenciado conforme classificação de rating e concentração do portfólio da Companhia.
No tocante do risco de liquidez, a BRF busca minimizar os impactos causados por
eventos que possam comprometer o desempenho da Companhia sob a perspectiva de caixa. A
empresa modela os fluxos de caixa futuros dos 12 meses seguintes e quanto está em risco sua
liquidez e estabelece um valor mínimo de suas disponibilidades, que deve considerar
principalmente o faturamento médio mensal e EBITDA dos últimos 12 meses.
3. Modelo Contábil
4. Relatório da Auditoria
Pela análise geral do Balanço Patrimonial, nota-se aumento geral nos Ativos, sendo
que na Análise Vertical, o Ativo Circulante vem caindo em relação ao total dos Ativos, e o
Ativo Não Circulante vem aumentando em proporção devido a aumento progressivos desde
2015 nas Contas de Realizável a Longo Prazo, Imobilizado e Intangível.
Quanto às principais variações no Ativo Circulante, nota-se que o Contas a receber
teve variação relevante em 2017, indicando que possa ter havido aumento nos prazos de
recebimento. Nota-se, ainda, o aumento progressivo nas contas de estoques desde 2015.
Já no Passivo e Patrimônio Líquido, apesar do aumento da conta de estoques, a conta
de fornecedores teve certa estabilidade em 2017. A variação mais relevante refere-se a
Empréstimos e Financiamentos no Passivo Circulante. Essa mesma conta se manteve estável
no Passivo Não Circulante. Nota-se que os empréstimos e financiamentos são as contas mais
relevantes no Grupo, seguida de Fornecedores. Nota-se também aumento das provisões tanto
no curto prazo, como no longo prazo. O patrimônio líquido vem reduzindo, parte impactado
pelo prejuízo dos últimos dois anos, como nota-se pela Demonstração de Resultado.
Total
Var.
ano 2017 2016
Aves 6% 2.127 2.006
Suínos -8% 320 348
Processados 5% 2.119 2.017
Outras vendas 11% 353 317
Volume (ton.) 5% 4.919 4.688
1
Quando não especificado diferente, os valores estão em real e milhões.
Brasil e no exterior) e a média entre o saldo inicial e final do Contas a receber, sem abater as
deduções das perdas estimadas com crédito de liquidação duvidosa (segregada entre contas a
receber de clientes do Brasil e exterior). O prazo médio de recebimento total de todos os
clientes, considerando as vendas à vista e a prazo, foi de 33 dias em 2017 e de 31 dias em
2016 e 2015, como demonstra o gráfico a seguir. Na metodologia do cálculo foram utilizados
365 dias, a receita bruta e a média entre o saldo trimestrais do Contas a receber.
O montante do saldo final dos estoques variou pouco¸ apenas 157 (3,3%), no ano de
2017, quando comparado com as variações em 2016 e 2015, de 759 (18,8%) e 1.092 (37,1%),
respectivamente. A variação no saldo final dos estoques teria sido maior em 2017 se não
tivessem sido reconhecidas baixas decorrentes da operação carne fraca. Em virtude da referida
operação foram reconhecidas perdas de 77 com estoques, provenientes de mercados externos
fechados e/ou produtos bloqueados. A Companhia ainda redirecionou parte dos estoques de
produtos acabados para utilização como matéria-prima, o que gerou uma provisão para ajuste
a valor realizável no montante de 206. Caso as baixas decorrentes da operação carne fraca não
tivessem sido reconhecidas, os saldos dos estoques teriam aumentado em 440 (9,2%). As
variações nos saldos da conta estoque e a sua representatividade nos ativos totais podem ser
verificadas na tabela a seguir.
Pode-se concluir, assim, que o aumento no saldo dos estoques em 2017 não foi
decorrente de uma redução nas vendas, mas sim de um aumento nas compras ou na
transferência de ativos biológicos para o estoque. Analisando as transferências feitas dos
ativos biológicos para os estoques em 2017, nota-se um aumento de 447 (12,6%). Os
investimentos em ativos biológicos foram maiores em 2017 e foi realizada uma transferência
maior do montante de ativos biológicos para os estoques.
O tempo de estocagem médio dos produtos acabados tem aumentado nos últimos anos.
Os estoques giravam, em média, a cada 36 dias (rotação de 10 vezes no ano) em 2015 e em
2017 passaram a girar, em média, a cada 45 dias (rotação de 8 vezes no ano). Tais indicadores
foram calculados considerando a média dos saldos trimestrais dos estoques de produtos
acabados, o custo dos produtos vendidos e 365 dias.
Os impostos sobre renda diferidos ativos aumentaram em 266 (24%). Esse aumento é
explicado principalmente pelo aumento nas provisões para riscos tributários, cíveis e
trabalhistas e na provisão para ajuste dos estoques. Nota-se que em 2015 houve um aumento
de 542 (76%) na conta impostos sobre renda diferidos ativos. Essa variação é decorrente
principalmente do aumento nas perdas estimadas em créditos de liquidação duvidosa e nos
prejuízos fiscais de IRPJ. As variações na conta impostos sobre renda diferidos podem ser
verificadas na tabela a seguir.
Os ativos imobilizados da BRF têm representado em média 27% dos ativos totais nos
últimos 4 anos. Percebe-se, então, que a companhia para operar necessita de um alto
investimento nos imobilizados. Para parte desses imobilizados, mais especificamente
edificações e benfeitorias e instalações, o investimento necessário para a sua reposição é mais
de longo prazo, já que a taxa de depreciação média é de 3,02% e 3,78%, respectivamente, e,
portanto, a vida útil média é de 33 e 26 anos. Contudo, para parte dos imobilizados, mais
especificamente máquinas e equipamentos e móveis e utensílios, o investimento necessário
para a sua reposição é mais de curto prazo. Esses imobilizados possuem taxa de depreciação
média de 5,93% e 8,05%, respectivamente, e, portanto, uma vida útil média de 17 e 12 anos.
Uma atenção deve ser dada ao custo de reposição desses imobilizado (máquinas e
equipamentos e móveis e utensílios), pois o montante do seu valor de custo em 2017 foi de
9.053, representando 49% do custo do total dos imobilizado.
Investimento em imobilizados
2.000
1.500
1.000
500
0
2015 2016 2017
-500
Adições Baixas
Em 2016, apesar do aumento verificado no valor total dos ativos intangíveis, esses
ativos sofreram uma redução de 855 em virtude de variação cambial. O aumento total de 525
(7,9%) nos ativos intangíveis em 2017 foi decorrente principalmente do reconhecimento das
marcas, no valor de 387, e do relacionamento com clientes, no valor de 404 oriundos das
combinações de negócios.
11. Análise das Provisões
A dívida bruta representou cerca de 45,2% dos ativos totais em 2017 e 44,2% e 37,6%
nos anos de 2016 e 2015, respectivamente. O nível de endividamento da BRF em relação ao
seu patrimônio líquido foi de 174,5% em 2017, indicando que para cada R$ 1,74 obtido de
terceiros a empresa possui R$ 1,00 de capital próprio. Esse nível de endividamento foi de
155,2% em 2016 e de 109,7% em 2015. Em comparação ao resultado, a relação dívida líquida
sobre EBITDA, ficou em 5,4x em 2017 e 3,5x e 1,6x nos anos de 2016 e 2015,
respectivamente. Assim como, sob a perspectiva da relação EBIT sobre despesa financeira, a
BRF ficou em 0,20 no ano de 2017 e 0,40 e 0,86, respectivamente, em 2016 e 2015. Tais
indicadores denotam que a companhia tem se financiado cada vez mais com capital de
terceiros nos últimos três anos.
Ao analisar a Demonstração do Fluxo de Caixa da BRF em 2017, nota-se um aumento
substancial na saída de caixa para pagar os próprios empréstimos e financiamentos e os juros.
Enquanto em 2016 houve um desembolso para tais pagamentos de 4.363, em 2017 foi de
10.370 (aumento de 138%). Em 2017, a companhia captou 9.698 em empréstimos e
financiamentos e pagou nesse mesmo ano de empréstimos e financiamentos e juros o valor de
10.370. Isso indica que a empresa captou recursos para liquidar suas próprias dívidas.
Considerando o alto índice de endividamento da companhia, vale destacar que a
empresa possui recursos disponíveis em caixa para liquidar as dívidas de curto prazo. No ano
de 2018, o valor de 5.031 dos empréstimos e financiamentos vencerá. A empresa possuía em
caixa e equivalente de caixa em 31/12/17 o valor de 6.011, o que indica que tinha caixa
suficiente para liquidar as dívidas do ano de 2018. Salienta-se, ainda, que a empresa possuía
em 31/12/17 o valor de 7.161 em fornecedores, mas não evidencia os prazos de pagamento
dessa conta. A BRF não possui qualquer cláusula restritiva (covenant) em seus contratos de
dívida.
Ademais, com o objetivo de analisar se o custo do endividamento gera uma
alavancagem favorável ou desfavorável aos acionistas, compara-se este custo com a
rentabilidade dos investimentos. O grau de alavancagem financeira (GAF) foi calculado
conforme a fórmula: 𝐺𝐴𝐹 = [𝑅𝑂𝐴 − (𝑅𝑂𝐴 − 𝐾𝑑)(𝑃⁄𝑃𝐿)]⁄𝑅𝑂𝐴.
Nesta perspectiva, verifica-se que o ROA2 foi de 1,9%, 5% e 13,3% em 2017, 2016 e
2015, respectivamente. Sendo assim, apura-se que o grau de alavancagem financeira é de
1,46; 0,04 e -5,43 nos anos de 2017, 2016 e 2015, respectivamente. Em outras palavras, em
2015 os acionistas aumentaram seu retorno em 1,46x em relação ao que os ativos conseguem
produzir (alavancagem favorável), mas nos dois últimos anos os acionistas obtiveram como
rentabilidade cerca de 0,04x e -5,43x menos a geração de rentabilidade dos investimentos
(alavancagem desfavorável).
Em vista disso, tais resultados sugerem que o endividamento da BRF se mostra
excessivo e tem penalizado os acionistas, uma vez que o retorno dos investimentos esteve
abaixo do custo da dívida nos últimos dois anos. A manutenção dessa dívida justifica-se
apenas se houver a expectativa de incremento das taxas de retorno dos ativos. A
administração admite publicamente que a alavancagem é demasiada e pretende nos próximos
exercícios direcionar parte dos fluxos de caixa gerados que seriam destinados para
investimento de capital para a gradual amortização da dívida. As agências de risco de crédito
avaliam que a qualidade creditícia de longo prazo da companhia ainda é saudável e atribuem o
rating de crédito em moeda nacional de AAA (Fitch e S&P) e de BBB- (S&P) e BBB
(Moody's e Fitch) em moeda estrangeira. Em outras palavras, as obrigações da dívida são
consideradas grau de investimento.
Do ponto de vista da produção, a BRF vem reduzindo sua margem bruta chegando a
20,6% em 2017, comparado a 22,3% em 2016 e 31,3% em 2015. Tais margens de lucro bruto
são superiores a mediana dos seus concorrentes diretos (JBS, Marfrig, Minerva e M. Dias
Branco) de 16,5%, 16% e 17% nos respectivos anos anteriormente citados. A queda de
margens nos últimos anos na empresa deve-se ao menor crescimento da receita líquida em
2
O cálculo do ROA considera-se no numerador o NOPAT e no denominador o Capital Investido subtraído os
investimentos em outras sociedades e os ativos financeiros, visto que estes dois últimos ativos não
representam o resultado operacional proveniente da BRF.
comparação com o custo dos produtos vendidos. Este menor crescimento do faturamento tem
como principal causa a queda do preço médio dos produtos, apesar da maior quantidade
vendida de toneladas de produtos.
Quanto à estrutura de custos, verifica-se nos últimos 3 anos que, em média, cerca de
70,8% dos custos totais são correspondentes a matéria-prima e insumos, 14,9% corresponde a
salários e benefícios a empregados e 5,1% são atribuídos a depreciação. Dada à queda das
margens brutas, a administração pretende reduzir custos ao automatizar as plantas industriais
já construídas (maior eficiência) e reduzir os custos referentes a salários e benefícios a
empregados. Na figura a seguir pode ser visualizada a composição dos custos dos produtos
vendidos em 2017, 2016 e 2015.
Brasil
Var. ano 2017 2016
Aves 20% 454 377
Suínos 10% 108 98
Processados 3% 1560 1514
Outras vendas -100% 0 45
Volume (ton.) 4% 2122 2034
Em milhões
Aves 12% 2.697 2.410
Suínos 13% 792 699
Processados 1% 11.682 11.601
Outras vendas -83% 17 98
Receita Líquida 3% 15.189 14.808
Brasil
Var.
Em milhões ano 2017 2016
Receita Líquida 2,6% 15.189 14.808
Custos 3,5% 11.264 10.888
Lucro Bruto 0% 3.925 3.920
Margem Bruta -2% 25,8% 26,5%
No segmento OneFoods, que passou a corresponder a 20% da receita líquida frente
a 2016 que era de 18%, com aumento total no volume em toneladas de 17% e aumento na
receita de 7,5%, portanto em menor proporção em relação ao volume. Apesar do aumento
no volume de aves, a receita líquida se manteve estável. Nessa região não há vendas de
suínos.
OneFoods
Var. ano 2017 2016
Aves 14% 967 849
Processados 49% 113 76
Outras vendas -33% 2 3
Volume (ton.) 17% 1082 928
Em milhões
Aves 0% 5.557 5.542
Processados 42% 910 642
Outras vendas 9776650% 196 0
Receita Líquida 7,5% 6.697 6.227
Com isso, a margem bruta sofreu com queda agregada nos preços dos produtos
para exportação, devido a menor demanda no Egito decorrente do aumento dos estoques
locais, especialmente excesso de estoque ao longo do ano na região da Turquia e
enfraquecimento da demanda local, além de aumento de impostos de importação na
Arábia Saudita e impacto cambial. O aumento da receita líquida não proporcional aos
custos fez a margem bruta cair de 25,4% para 19,3% em 2017.
OneFoods
Var.
Em milhões ano 2017 2016
Receita Líquida 8% 6.697 6.227
Custos 16% 5.407 4.647
Lucro Bruto -18% 1.290 1.580
Margem Bruta -24% 19,3% 25,4%
International
Em milhões Var. ano 2017 2016
Receita Líquida -12% 8.497 9.636
Custos -10% 7.195 8.029
Lucro Bruto -19% 1.302 1.607
Margem Bruta -8% 15,3% 16,7%
Europa/Eurásia
Em milhões Var. ano 2017 2016
Volume (ton.) -8% 362 395
Aves -23% 68 88
Suínos -18% 84 103
Processados 3% 210 204
Receita Líquida -7% 3.533 3.800
Custos -8% 3.099 3.374
Lucro Bruto 2% 434 426
Margem Bruta 10% 12,3% 11,2%
A Ásia também sofreu com queda no volume em toneladas e na receita líquida de
vendas devido a “superoferta” de produtos na região e o elevado nível de estoque local que
contribuiu para uma queda significativa no Japão, como o custo caiu em menor proporção, a
margem bruta teve decréscimo de 19,9% para 17,8%.
Asia
Em milhões Var. ano 2017 2016
Volume (ton.) -5% 686 723
Aves -5% 475 501
Suínos -14% 61 71
Processados -22% 28 36
Outras vendas 5% 121 115
Receita Líquida -13% 4.116 4.749
Custos -11% 3.385 3.805
Lucro Bruto -23% 731 944
Margem Bruta -11% 17,8% 19,9%
Américas
Em milhões Var. ano 2017 2016
Volume (ton.) 13% 62 55
Aves 20% 55 46
Suínos 0% 2 2
Processados -17% 5 6
Receita Líquida 12% 356 319
Custos 21% 305 252
Lucro Bruto -24% 51 67
Margem Bruta -32% 14,3% 21,0%
ConeSul
Var. ano 2017 2016
Aves 20% 30 25
Suínos -8% 22 24
Processados 7% 155 145
Outras vendas -33% 2 3
Volume (ton.) 6% 209 197
Em milhões
Aves -15% 196 230
Suínos 31% 199 153
Processados 5% 1.409 1.348
Outras vendas 71% 58 34
Receita Líquida 5% 1.862 1.765
ConeSul
Em milhões Var. ano 2017 2016
Receita Líquida 5% 1.862 1.765
Custos 13% 1.615 1.428
Lucro Bruto -27% 247 337
Margem Bruta -31% 13,3% 19,1%
Outros segmentos corresponde a venda de ingredientes da BRF ingredientes,
rações, farinhas e bovinos, entre outros. Essa divisão mantém relevância no faturamento
corresponde a 3,7% das receitas líquidas: O aumento no volume foi considerável de 47%
no total principalmente referente a aves (267%) e outras vendas (50%), no entanto,
apresentou queda na receita líquida. Os custos caíram em maior proporção que as vendas,
e a margem bruta melhorou de 6,3% (2016) para 11,6% (2017).
Outros segmentos
Em milhões Var. ano 2017 2016
Aves 267% 11 3
Suínos 0% 23 23
Processados 0% 1 1
Outras vendas 50% 227 151
Volume (ton.) 47% 262 178
Receita Líquida -6% 1.225 1.297
Custos -11% 1.083 1.215
Lucro Bruto 73% 142 82
Margem Bruta 83% 11,6% 6,3%
Do ponto de visa operacional, a BRF manteve margens EBIT de 2,1%, 5,3% e 13,5%,
respectivamente, nos anos de 2017, 2016 e 2015, conforme pode ser verificado na tabela a
seguir. A mediana das margens de lucro operacional de seus concorrentes diretos foi de 6,8%,
7,2% e 8,2% nos respectivos anos anteriormente citados. Sendo assim, operacionalmente, a
BRF tem sido menos eficiente que seus pares, pelo menos nos últimos 2 anos.
Pelas tabelas abaixo, nota-se que a soma das despesas operacionais administrativas
e de vendas caíram em valores absolutos de R$5.543 (2016) para R$5.302 (2017), a
administração destaca maior gerenciamento e controle com implantação do orçamento
base zero.
Outro aspecto relevante é analisar o capital de giro líquido (CGL), e por consequência,
a necessidade de investimento em giro (NIG) e o saldo em tesouraria (ST). Para tanto, é
necessário avaliar os saldos dos ativos e passivos circulantes (diferença entre as contas resulta
no CGL); ativos e passivos circulantes operacionais (diferença entre as contas resulta no
NIG); e os ativos e passivos financeiros (diferença entre as contas resulta no ST). Mediante
esta análise, encontra-se que o CGL da BRF é de R$ 4.278 Milhões em 2017, R$ 6.253
Milhões em 2016 e R$ 7.559 Milhões em 2015. Este capital de giro líquido é composto por
NIG de R$ 3.070 Milhões em 2017, R$ 2.519 Milhões em 2016 e R$ 4.090 Milhões em 2015
e pelo ST de R$ 1.208 Milhões em 2017, R$ 3.734 Milhões em 2016 e R$ 3.469 Milhões em
2015.
Desta forma, observa-se que as firmas têm uma necessidade de investimento em
capital de giro (NIG) que é menor do que o capital de giro líquido (CGL) e, portanto, obtém-
se um saldo positivo de ST. Dadas estas considerações, nota-se que toda a demanda de
recursos para operação (NIG) é financiada com capital de longo prazo (não circulante). Deste
modo, infere-se que a entidade tem uma gestão de curto prazo conservadora, visto que há
certa folga financeira. Entretanto, devido ao dilema da liquidez e rentabilidade, a BRF poderia
conseguir maiores retorno ao investir na operação, se direcionasse uma parte destes recursos
para investimentos.
Análise de Capital de Giro 2015 2016 2017
Ativo Circulante 19.180 18.894 19.186
Passivo Circulante 11.621 12.640 14.908
Em uma análise geral, observa-se que nos últimos anos os fluxos de caixa
operacionais (FCO) são positivos, os fundos de caixa de investimento (FCI) negativos (em
magnitude próxima ou menor do que o FCO) e o fluxo de financiamento positivos (caso
desconsidere as recompras de ações). Dadas estas características dos perfis de fluxos de caixa,
interpreta-se que a BRF está na fase de crescimento moderado no ciclo de vida corporativo.
18. Análise da Rentabilidade
3
Estima-se o custo do capital próprio ao considerar a taxa de livre de risco norte-americana (Treasury Bond de
10 anos), prêmio de risco histórico norte-americano (S&P 500 versus Treasury Bond de 10 anos desde 1928 até
o anual atual), beta desalavancado do setor norte-americano (Food Processing) e o prêmio de risco país do
Brasil (EMBI+).
19. Análise Global da Rentabilidade
Por fim, têm-se como objetivo analisar as principais fontes de rentabilidade da BRF
nos últimos 3 anos. De forma abrangente, busca-se analisar conjuntamente a rentabilidade
operacional (ROA), dos investimentos societários, das aplicações financeiras e caixa (ativos
financeiros) e sobre o capital próprio (ROE). Para tanto, reorganiza-se a estrutura do balanço
patrimonial entre ativos (passivos) operacionais e capital investido na firma (passivo oneroso
e patrimônio líquido). Assim como, a demonstração de resultado com objetivo de segregar o
resultado dos ativos operacionais (NOPAT), dos investimentos em outras sociedades
(resultado de equivalência), dos ativos financeiros (receita financeira) e dos acionistas (lucro
líquido consolidado).
Entretanto, este rearranjo do resultado não é passível de ser reconciliável
analiticamente com a organização tradicional, uma vez que há formas diferentes de cálculo de
impostos de renda e contribuição social e outras diferenças devido ao modelo adotado. Em
ciência disto, utilizam-se ajustes de conciliação para conciliar o resultado obtido neste novo
arranjo com o imposto de renda apurado e lucro líquido consolidado obtidos no modelo
clássico de demonstração do resultado.
À vista disso, conforme evidenciado abaixo, observa-se que o ROA nos últimos 3 anos
decresceu 11,4 p.p., visto que a rentabilidade dos ativos era de 13,3% em 2015, 5% em 2016 e
1,9% em 2017. Conforme explicado anteriormente, esta drástica redução de ROA teve como
principal motivo a queda das margens de lucro operacional. Quanto à rentabilidade das
participações societárias em coligadas e controladas em conjunto, houve um aumento
considerável no retorno no ano de 2016, saindo de -31,7% em 2015 para 52% em 2016 e uma
redução em 2017, saindo de 52% em 2016 para 26,1% em 2017. Já o retorno sobre os ativos
financeiros da entidade cresceu 1,9 p.p., uma vez que tais aplicações renderam de forma
global aproximadamente 8,2% em 2015, 10,2% em 2016 e 10,1% em 2017.
Dadas essas considerações, nos últimos dois anos, observa-se que os ativos financeiros
(de menor risco) têm oferecido melhor rentabilidade do que a operação da companhia. Além
disso, o retorno das participações societárias em coligadas e controladas em conjunto cresceu
levemente e seu retorno não é substancial. A BRF poderia reavaliar o posicionamento
estratégico nesses investimentos. Além disto, conforme discutido anteriormente, verifica-se
nos últimos dois anos a rentabilidade dos acionistas (ROE) foi inferior auferida pelos ativos
(ROA), uma vez que as operações não têm remunerado acima do custo dos passivos onerosos
da companhia.
BP (R$ MM) 2015 2016 2017
Caixa e equival caixa 5.363 6.357 6.011
Aplicacoes financeiras 735 622 228
Ativos Financeiros 6.098 6.979 6.239