Datum e Sistema de Referencia Geodesico - Explicacoes - Parte 1
Datum e Sistema de Referencia Geodesico - Explicacoes - Parte 1
Datum e Sistema de Referencia Geodesico - Explicacoes - Parte 1
1. INTRODUÇÃO
7. WGS84
1. INTRODUÇÃO
Os sistemas de referência, são utilizados para descrever as posições de objetos. Quando é
necessário identificar a posição de uma determinada informação na superfície da Terra são
utilizados os Sistemas de Referência Terrestres ou Geodésicos. Estes por sua vez, estão
associados a uma superfície que mais se aproxima da forma da Terra, e sobre a qual são
desenvolvidos todos os cálculos das suas coordenadas. As coordenadas podem ser apresentadas
em diversas formas: em uma superfície esférica recebem a denominação de coordenadas
geodésicas e em uma superfície plana recebem a denominação da projeção às quais estão
associadas, como por exemplo , as coordenadas planas UTM.
− A latitude geodésica é o ângulo contado sobre o meridiano que passa por P, compreendido
entre a normal passante por P e o plano equatorial.
− A longitude geodésica é o angulo contado sobre o plano equatorial, compreendido entre o
meridiano de Greenwich e o ponto P.
− A altitude elipsoidal corresponde a distância de P à superfície do elipsóide medida sobre a sua
normal (vide figura a).
Figura ª Latitude (ϕ) e longitude (λ) geodésicas
Os sistemas coordenados curvilíneos também podem ser representados no espaço 3-D através do
sistema cartesiano. O conjunto de formulações que fazem a associação entre estes dois sistemas
(geodésico e cartesiano) constam na Resolução da Presidência da República n° 23 de 21/02/89.
As superfícies mais utilizadas em geodésia como referência das altitudes são o geóide e o
elipsóide. Define-se por geóide a superfície equipotencial a qual se aproxima melhor do nível médio
dos mares, estendida aos continentes e por elipsóide a superfície matemática (representada por
uma elípse bi-axial de revolução – elipsóide), sobre a qual estão referidos todos os cálculos
geodésicos. Por questões de conveniência matemática e de facilidades de representação, utiliza-se
em algumas situações, a esfera como uma aproximação do elipsóide.
O conjunto de pontos ou estações terrestres formam as chamadas redes geodésicas, as quais vêm
a representar a superfície física da Terra na forma pontual [CASTAÑEDA, 1986]. O posicionamento
3D de um ponto estabelecido por métodos e procedimentos da Geodésia Clássica (triangulação,
poligonação e trilateração) é incompleta, na medida em que as redes verticais e horizontais
caminham separadamente. No caso de redes horizontais, algumas de suas estações não possuem
altitudes, ou as altitudes são determinadas por procedimentos menos precisos. Um exemplo de
DGH em uso no Brasil é o SAD69.
φ0 = Φ0 ; λ0 = Λ 0 ; h0 = H0
(1) Adoção de uma plataforma de referência que venha a representar a forma e dimensões
da Terra em caráter global. Estas plataformas de referência, os chamados Sistemas
Geodésicos de Referência – SGR, conforme abordado anteriormente, estão
fundamentados em um CTS (espaço abstrato), sendo portanto geocêntricos. Eles são
derivados de extensas observações do campo gravitacional terrestre a partir de
observações a satélites, fornecendo assim, o fundamento preciso para a organização de
toda informação pertinente à Terra [NIMA,1997]. Eles são definidos por modelos,
parâmetros e constantes (ex: um sistema de coordenadas cartesianas geocêntrico -
CTS e constantes do GRS80) [DGFI, 1998a]. De tempos em tempos é adotado um novo
SGR pela International Union of Geodesy and Geophysics - IUGG, sendo este baseado
nas últimas informações coletadas sobre o campo gravitacional terrestre. Atualmente o
SGR adotado pela IUGG é o GRS80 [TORGE, 1996]. Além das constantes geométricas
definidoras, os SGR modernos passam a ser definidos também por constantes físicas.
Considerando a Terra um corpo com rotação e massa, a melhor aproximação física é
definida através de quatro parâmetros, sendo eles: raio equatorial (o equivalente ao
semi-eixo maior do elipsóide de referência), constante gravitacional geocêntrica GM
(com ou sem atmosfera), o harmônico zonal de segunda ordem do potencial
gravitacional da Terra (J2), ou o achatamento terrestre (f) e a velocidade de rotação da
Terra (ω). Estas constantes estão implicitamente relacionadas às órbitas dos satélites,
que por sua vez são usadas para definir as coordenadas de pontos na superfície da
Terra.
O processo de estimativa das coordenadas dos pontos físicos com respeito a definição de um
determinado referencial é acompanhado pelo cálculo de uma rede que relaciona os pontos
levantados. O resultado, estabelecido através de um ajustamento de observações, é um conjunto
de valores de coordenadas para as estações que constituem a materialização do SGR.
Usualmente, é comum adotar uma única denominação para definição e materialização do sistema,
como é o caso do SAD69. Deste modo, vários ajustamentos de redes geodésicas podem ser
realizadas em um mesmo referencial definido com diferentes injunções, ou os mesmos dados
podem ser ajustados com respeito a várias definições.
A Rede Planimétrica do SGB foi submetida a vários ajustes, em função das necessidades
que eram envolvidas, principalmente no que diz respeito à definição de Sistemas Geodésicos.
Anterior a era dos computadores, estes ajustes eram feitos com calculadoras mecânicas ou até
mesmo fazendo uso da tábua de logaritmos. Um dos ajustamentos de importância realizados
nesta época foi o que definiu o Sistema Geodésico de Referência Córrego Alegre. Neste ajuste foi
adotado o método das equações de condições (método correlatos). A escolha do vértice Córrego
Alegre para ponto datum, bem como, do elipsóide internacional de Hayford para superfície
matemática de referência, foram baseadas em determinações astronômicas realizadas na
implantação da cadeia de triangulação em Santa Catarina. Verificou-se, na ocasião, que os
desvios da vertical na região tinham uma tendência para o leste, ou seja, constatando uma maior
concentração de massas a oeste e deficiência das mesmas a leste, concluindo que o ponto datum
a ser escolhido ficaria melhor situado na região do planalto. O posicionamento e orientação no
ponto datum, vértice Córrego Alegre, foram efetuados astronomicamente.
O sistema Astro Datum Chuá, com ponto origem no vértice Chuá e elipsóide de referência Hayford,
foi um sistema estabelecido segundo a técnica de posicionamento astronômico com o propósito de
ser um ensaio ou referência para a definição do SAD69. Ele desenvolveria o papel de um sistema
razoável a ser utilizado unicamente na uniformização dos dados disponíveis na época (o IBGE tinha
recém concluído um ajustamento da rede planimétrica referido a este sistema). Isso não
representaria ainda o sistema “ótimo” para a América do Sul, faltando ainda a boa adaptação
geóide-elipsóide para que as observações geodésicas terrestres pudessem ser reduzidas à
superfície do elipsóide. Sendo assim, na condição de um sistema provisório, as componentes do
desvio da vertical foram ignoradas, ou seja, foi assumida a coincidência entre geóide e elipsóide, no
ajustamento das coordenadas em Astro Datum Chuá.
6.3 SAD69
O SAD69 é um sistema geodésico regional de concepção clássica. A sua utilização pelos países
Sul-americanos foi recomendada em 1969 através da aprovação do relatório final do Grupo de
Trabalho sobre o Datum Sul-americano, pelo Comitê de Geodésia reunido na XI Reunião Pan-
americana de Consulta sobre Cartografia, recomendação não seguida pela totalidade dos países
do continente. Apenas em 1979 ele foi oficialmente adotado como sistema de referência para
trabalhos geodésicos e cartográficos desenvolvidos em território brasileiro.
(2) Ajustamento de uma rede planimétrica de âmbito continental referenciada ao sistema definido.
A rede planimétrica continental do SAD69 foi ajustada pela primeira vez na década de 60.
Neste ajustamento, cadeias de triangulação de vários países tiveram seus dados homogeneizados,
adotando-se o mesmo tratamento. Em função da extensão da rede e das limitações
computacionais da época, fez-se necessário dividir o ajustamento por áreas. Optou-se, então, pelo
método de ajustamento conhecido por “piece-meal”, no qual uma vez ajustada uma determinada
área, as estações das áreas adjacentes, comuns à ajustada, são mantidas fixas, de modo que
cada estação da rede só tenha um par de coordenadas correspondente. Este procedimento foi
mantido pelo IBGE no processo de densificação da rede planimétrica após a conclusão do
ajustamento em SAD69. Esta metodologia de densificação foi uma das causas do acúmulo de
distorções geométricas (escala e orientação) na rede planimétrica. Em alguns trechos da rede as
reduções das observações geodésicas ao elipsóide foram aplicadas através de dados obtidos por
mapas geoidais pouco precisos, pois eram os únicos existentes na época. Outro fato que não pode
ser ignorado é a diversidade de instrumentos e métodos utilizados no decorrer do estabelecimento
da rede, tornando complexa a análise da precisão das coordenadas das estações.
Tendo em vista todos os fatos abordados, aliados aos avanços tecnológicos emergentes,
constatou-se a necessidade de um reajustamento da rede, desta vez de forma global, abrangendo
todas observações disponíveis até então.
Como o SAD69 é o referencial oficialmente adotado no Brasil, neste reajustamento foram
mantidos os mesmos parâmetros definidores e injunções iniciais do primeiro ajustamento. Sendo
assim, forçosamente deve-se manter a mesma denominação para o sistema de referência SAD69
na sua nova materialização após o reajustamento.
Além das observações GPS, as referentes à rede clássica também participaram do reajustamento,
formando uma estrutura de 4759 estações contra 1285 ajustadas quando da definição do SAD69. A
Tabela d mostra uma comparação entre as observações utilizadas no ajustamento das duas
materializações do SAD69 (a original e a atual, concluída em 1996).
Uma informação importante fornecida pelo reajustamento foi o erro absoluto ou o desvio padrão
das coordenadas. Na Tabela e, são apresentados valores médios dos erros das coordenadas
(segundo a estrutura à qual pertence a estação correspondente), obtidos após o reajustamento.
Hoje em dia, todos os usuários que solicitam informações ao BDG (Banco de Dados Geodésicos)
do IBGE recebem, além das coordenadas das estações, os seus respectivos erros.
Precisão Estações GPS Estações da rede
clássica
Planimétrica 10 cm 40 a 70 cm
(horizontal)
Altimétrica 10 a 30 cm -
(vertical)
Tabela e. Valores médios dos desvios padrão das coordenadas após o reajustamento.
O reajustamento de uma rede geodésica causa a mudança das coordenadas das estações como
resultado combinado de dois efeitos:
(1) O impacto da mudança do referencial (definição/origem). Este é um efeito que não altera a
forma da rede e pode ser estimado através da transformação de similaridade, desde que o
relacionamento entre a definição dos referenciais novo e antigo seja conhecida em termos das
translações, rotações e escala.
(2) O impacto da inclusão de novas observações e uma metodologia de ajustamento mais rigorosa
altera a geometria (forma) da rede. No caso da rede brasileira, esta mudança permitiu detectar
distorções existentes antes do processo de reajustamento. Estas distorções não podem ser
estimadas através de uma simples transformação de similaridade.
A estimativa das distorções de uma rede requer a análise das diferenças entre as coordenadas de
suas estruturas antiga e nova. Na Figura l são apresentadas informações importantes para uma
análise inicial sobre o comportamento das diferenças entre as coordenadas antigas e novas, ao
longo da rede planimétrica, estas diferenças estão representadas na forma vetorial, para uma
melhor visualização do seu comportamento no contexto nacional. Na Figura m elas são
quantificadas segundo o espaçamento de 30 segundos.
10 m
20 m
30 m
40 m
50 m
60 m
ESCALA 1: Deslocamento em mm
1000000 0.02
500000 0.04
250000 0.08
100000 0.15
50000 0.3
25000 0.6
10000 1.5
5000 3.0
2000 7.5
1000 15.0
Tabela m: Efeito das distorções em diferentes escalas considerando a distorção máxima - 15m - , segundo a
escala da carta.
7. WGS84
O advento dos satélites artificiais, há mais de 35 anos, possibilitou o desenvolvimento
prático dos sistemas de referência geocêntricos, como por exemplo o WGS84 e o ITRFyy em suas
mais diversas realizações e densificações.
O primeiro refinamento foi obtido através de uma nova materialização do sistema, desta
vez com 32 estações (10 estações DoD correspondentes à rede de referência WGS84 original
(GPS) e mais 22 estações pertencentes a rede IGS) [SWIFT,1994]. Esta solução recebeu a
denominação de WGS84 (G730) (época de referência 1994,0) e foi utilizada nas órbitas
operacionais dos satélites GPS de 29 junho de 1994 à 29 de janeiro de 1997. A letra G significa que
neste refinamento foi utilizada a técnica GPS e ‘730’ se refere a semana GPS desta solução.
O segundo refinamento foi um trabalho que envolveu três instituições: NIMA, NASA
Goddard Space Flight Center (GSFC) e Ohio State University. O resultado foi o desenvolvimento de
um novo modelo global do campo gravitacional terrestre, o EGM96. Uma nova materialização da
rede terrestre de referência WGS84, recebeu a denominação WGS84 (G873), referida a semana
GPS 873 (época de referência 1997,0). Esta versão foi implementada no segmento de controle
operacional em 29 de janeiro de 1997, sendo utilizada até o presente momento.
Na TABELA 2 pode ser visto em linhas gerais as diferenças entre as versões do WGS84.
TABELA 2
Versão Sistema utilizado na Número de estações Modelos Períodos de
materialização utilizadas na gravitacionais Utilização
materialização da Terra
WGS84 TRANSIT(NSWC 9Z-2 ) 10 WGS84 01/01/1987 à
01/01/1994
WGS84(G730) GPS 10 WGS84 02/01/1994 à
28/09/1997
WGS84(G873) GPS 12 EGM96 a partir de
29/09/1997