ZANELLA, A. v. Vygotski Contexto, Contribuições À Psicologia e o Conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal. Itajaí Uni
ZANELLA, A. v. Vygotski Contexto, Contribuições À Psicologia e o Conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal. Itajaí Uni
ZANELLA, A. v. Vygotski Contexto, Contribuições À Psicologia e o Conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal. Itajaí Uni
Vygotski
Contexto, contribuições à psicologia
e o conceito de
Zona de Desenvolvimento Proximal
Itaiaí - 2007
1ª reimpressão
VI
UNIV/\LI
edl!ora
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Vygolski
ç""t •• to, "",,,Iribuiçõo. ~ p.lcologlo
e O conc.ito de
_ lono d. De,envolvim"nlo Prox!",ol
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psicologia, assim como toda e qualquer área
do conhecimento, resulta de um processo
histórico em que as condições para o seu
surgimento foram paulatinamente gestadas, No caso
desta ciência, as questões apontadas corno temáticas
de seu espectro de investigação já preocupavam
filósofos da Grécia antiga, persistiram por toda a
história da filosofia no decorrer dos séculos até o seu
reconhecimento como ciência independente, n'a
segunda metade do século XIX, N esse percurso, o
debate ganha destaque a partir do momento em que
a concepção epistemológica teocêntrica, predo-
minante na Idade Média, dá lugar ao pensamento
antropocêntrico, característico da MÇldemidade, Com
este foi possível o desenvolvimento da primeira das
duas condições apontadas por Figueiredo (1991a) para
o advento da psicologia ~omo ciência e profissão:
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Vygotski Vygotski
COJ1t""to, cont"buiçõ~. à p,kologia
Co"I","o, ~O:I~:~~~'j,p.icolo9ia
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9 " conc~lt" da
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quanto imaginava, muito menos controlador absoluto (
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Berço das revoluções da política, da indústria,
de seus próprios rumos. E quais são os fatores que da ciência e das artes, a Europa, gigante que compre- (
1.
1 levam a essa crise? O olhar sobre as condições sociais,
históricas e políticas que caracterizam o início do
endia um terço da raça humana, ocupava, no final do
(
I
século XIX e início do século XX, lugar de destaque
século XX, época -de consolidação da ciência
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psicológica, pode nos ajudar a entender essa crise:
no cenário mundial, subj ugando com sua política
econômica e a força de seus soldados a maior parte do
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marcam esse período o acirramento de contradições
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ommação de a Iguns países sobre
~ outros, a busca desenfreada pela expansão de
mundo. Vejamos um pouco desse cenário.
A Europa do início do século XX caracte.rizou-
se pelo ~~rtalecimento expansã~constante de alguni{
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(
'. 1. t .!! '-' territórios, a necessidade de preservação de fronteiras, 1m érios como o a emão e o austro-húngaro. A (
.~~ _) d ~ I' a luta por melhores condições de vida, o rompimento ec~nomia capitalista, que se disseminou por todos os
~ 2ít com tendências hegemônicas no campo das artes ... países europeus, começou a sofrer transformações já (
Um retrato ainda que breve desse cenário é o no final do século XIX, devido aos avanços que (
que o leitor irá encontrar neste primeiro capítulo, vinham sendo alcançados no processo de industria- (
contexto em que foram desenvolvidas muitas lização. Esses avanços, por sua vez, impulsionaram o
vertentes psicológicas, dentre elas a Histórico- (
desenvolvimento técnico-científico, a expansão dos
Cultural de Lev Semionovitch Vygotsb. meios de comunicação, a invenção de meios de (
transporte cada vez mais avançados e a concentração (
da produção e do capital, que resultaram na formação
1. Panorama Histórico e Político (
dos monopólios e cartéis.
Como resultante do processo de industrialização ( i
Talvez possa parecer estranho iniciar um texto e da formação dos monopólios, constata-se que, de (
do início do século XXI com destaque a um um modo geral, decaiu em muito a qualidade de vida
(
continente que antes do lançamento do "Euro" era dos cidadãos da época. As condições insalubres de
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Vygotski Vygotski
. Contomo, c""t,ibulçõe,,, p,lcologia Coolo.<lo, ~o~I~~~~~~~'d~ p,icoloslo
~ o conceilO de lono de D~,en~ol,imenloPr,,~ir'!1,,1
Zono de De •• n.,o/Yimenlo Pi'oximol
trabalho, as jornadas exaustivas, a remuneração à América Latina debater-se com a fúrla imperlalisra
inadequada e injusta levavam a inquietações populares americana.
por quase todos os países. As reivindicações de N essa perspectiva, o imperialismo constitui-se
melhores condições de trabalho e os sérios problemas como a fase mais elabórada do capitalismo, cujo
sociais com os quais a Europa de então se debatia resultado consiste na divisão dos diferentes territórios
despertou a atenção de políticos, intelectuais e mundiais entre as potências de vulto. É curioso
artistas. A deplorável condição de vida da maioria da constatar como as características que delimitavam o
população européia afligia não somente quem as imperialismo no início do século XX ainda hoje
enfrentava, mas muitos representantes de classes podem explicar muitos aspectos da política
sociais abastadas que se empenharam na luta por uma' internacional, como por exemplo a Guerra do Golfo,
sociedade mais justa e igNalitária. fenômeno dos anos 90.
Alheios a isso, os reais comandantes da política, .1 O imperialismo caracteriza-se pela concen-
a ~aber, os banqueiros e ricos industriais da época,
altavam-se e somavam forças no sentido de resolver
I tração exacerbada da produção e do capital que resulta
nos grandes monopólios. Para manter o domínio
os seus problemas de ordem completamente diversa: econômico e a concentração de riqueza, as grandes
a necessidade de encontrar novos mercados onde potências partilham economicamente o mundo,
pudessem aplicar o capital excedente bem como colocando sob seu domínio terrltórlos considerados
vender as mercadorias que não encontravam mais atrasados que, em razão dessa política, assim
vazão no mercado interno. Essa necessidade de permanecerão.
expansão levou as grandes potências européias _ , Constata-se, portanto, que ci início do século
Inglaterra, França, Alemanha, Rússia, Áustria- XX caracterizou-se, no plano das relações exteriores,
Hungria, Bélgica e Itália - a, juntamente com os por uma clara política anexionista. O capitalismo
Estados Unidos da América e o Japão, lançarem-se assumia uma nova faceta, a do imperialismo, e às
numa corrida desenfreada e sem limites visando a questões sociais sobrepunha-se a necessidade de
conquista de novas colônias. Estas serviriam concomi- expansão desenfreada. Como resultado desta corrida
tantemente como mercado para os produtos excedêí1- expansionista foi acirrada a rivalidade entre os países,
tes e fornecedoras de matérias primas, o que levou os o que levou o mundo a deparar-se com os horrores da
países do terceiro mundo a uma situação de completa Primeira Guerra Mundial.
.si!:pendência e paupenzaçao, tenomeho âõi1.i1C1õêlo' As razões apresentadas pelos capitalistas do
s_éculo XX com raízesem tempos remotos e que poder para justificar a intervenção e dàmínio sobre
sllbsiste ainda hoje. . outros povos variavam, indo desde razões filantrópicas
Essa política anexionista levou os países e humanitárias ao apelo nacionalista. ,As razões
europeus a promoverem uma verdadeira retaliação do e
filantrópicas humanitárias paut~m-se em u~a
continente africano. O continente àsiático também C'OOCepçaõClãssicadecuÍtw:a,ônde as manifestações
foi alvo dessa corrida imperialista européia, restando SImbol1cas, os ntos e costumes de povos c~sle~
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Vygotski
Conte>t!o, contribuições ã psicologia
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Vygotski
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"atrasados" deveriam ser suplantados pelos dogmas Podendo contar com as riquezas minerais dessas (
ao Cristianismo e os conhecimentos ci.eruífLcruLa duas novas colônias, a Alemanha desenvolveu-se
sereln transmitidos nas escolas. Somam~se a estas as (
rapidamente, o que colocou em risco o equilíbrio
fustiflcattvas raclalsque apregoavam a superioridade europeu e constituiu . .se numa ameaça às potências (
êCõnsequente dominação dos "bra~_emxelação da época. O desenvolvimento da esquadra marítima (
áos ""i'1ãQ:ljrancos" - africanos, asiáticos e alemã ameaçava a supremacia dos mares que até então
lâti:noatnettcanos (AQDINO et aI., 1983). (
pertencia à Inglaterra. Esta, devido à rivalidade
Concomitante a essas explicações, o início do industrial anglo-germânica, aproximou-~e da França. (
século XX foi marcado pór uma e1<ploração dos O império alemão, por sua vez, apoiado nos senti- (
sentimentos .nacionalistas, constituindo.-se estes como mentos nacionalistas, reivindicava para si, cada vez
(arma de manutenção da unidade dos impérios bem (
mais, uma maior parte das áreas subdesenvolvidas do
como justificativa de intervenção armada no caso de planeta, alegando ter sido injustiçado quando da (
recuperação ~de antigas colônias ou conquista de divisão do território mundial. (
novas. Isso foi uma característica comum a todos o~ Todo esse clima de tensão fez com que os país~ (
p'aíses da Europa, e exacerbou um movimento sem europeus tentassem seagrupar visando üma
PEecedentes na história da humanidade: o anti- cooperação mútua em caso de ata ues às suas sobe . . (
semitislUO.
'~ússia do início do século XX, por exemplo,
ranias. ssa busca de proteção levou à divisão da «
Eü'iõPa ;m dois grupos antagônicos, resultantes de «
governada por N icolau lI, os judeus sofriam toda sorte uma o ítica e a ian as O rimeiro ru o a.Tríplice
de limitações sociais. Visando fugir desse contexto Aliança, reunia a leman a a ustria-Hungna a (
de discriminação exacerbada, muitos procuravam áli . O segunclõFu formado em 1907, reunia a (
guarida na monarquia dual Austro-Húngara, instalada ranç, nglater a Rússia denominou-se Tríplice (
em 1867. Se, por um lado, encontravam nessa nova ntente. 1 ~.-se a es~grupo,
pátria o apoio do Império Habsburgo, esse apoio posteriormente'E'~a, a Sélvia e~
(
começava a esvaecer, já no final do século XIX, devido (
a pressões de políticos austríacos anti-semitas.
(
O acirramento desses sentimentos nacionalistas 1.1 A Primeira Guerra Mundial -
pautou-se em razões diferenciadas. fJi!ft~ esse (
1914-1918
sentimento foi despertado pelo desejo de vingança: o (
povo francês não conseguia esquecer a derrota contra
No dia 28 de junho de 1914 foi ~ssassinad~ (
a Alemanha no Marrocos, bem como a perda de
em Saravejo, capital da Bósnia, o sucessor do Império (
Alsácia e da Lorena, províncias ricas em reservas
Austro-Húngaro, Francisco Fernando. Seu tio, o
carboníferas e de ferro, anexadas à Alemanha a partir (
Imperador Habsburgo Francisco José, contava à época
da vitória desta última na guerra Franco-Prussiana de (
1870. com 85 anos de idade. O incidente serviu como
pretexto para uma agitação internacional que (
(
(
(
Vygotski Vygolski
Conta,'", con~ibuiçõe, à psicologia
• <> conc.no d. Conte,to, contribuiçõe, à p.icologio
Zon" d. Oe •• nv~vim.nlo_ p,,,.im,,l_ • o concoito d.
Zona de Oe.emolvlmenlo Pro.lmol
terminou por desencadear a Primeira Grande Guerra. Rússia e à França, valeu-lhes a acusação, feita por
As razões do assassinato remetiam ao fato de que o vários historiadores, de que foram os responsáveis pelo
futura imperador austra-húngaro planejava, ao início da Primeira Guerra Mundial. Muito embora
assumir o governo, transformar a Monarquia Dual existam análises mais amplas que apontam as
numa Monarquia Tríplice com a anexação de uma contradições imperialistas entre a Inglaterra e a
unidade gue englobasse os eslavos (croatas, bosníacos, Alemanha, entre a Alemanha e a Rússia, entre a
eslovenos, etc.), o que vinha de encontro aos inte- França e a Alemanha e entre a Rússia e a Áustria
resses da Sérvia. Configurava-se assim uma grande como principais responsáveis pelo início da Primeira
conspiração ligada ao movimento secreto sérvio para Guerra Mundial, todas as potênCias imperialistas
assassinar o futuro imperador, conspiração essa que, tiveram parcela de 'responsabilidade com o desfecho
segundo historiadores, era do conhecimento do dramático da guerra, pois'eram movidas por um único
próprio governo desse país. desejÕ:ÜGe repartir novamente o mundo, cada qual
Contando com o apoio da Alemanha, o em seu próprio proveito. A culpa da guerra de 1914
governo de Viena enviou severa nota ao governo da éoube, assim, a todas as potências imperialistas e cabe,
Sérvia fazendo uma série de exigências, tais como a sênldúvida, aos alemães o mérito de tê-la iniciado-,-
"[... ]renúncia da Sérvia a toda e qualquer propaganda Os quatro anos que se seguiram ao incidente
contra o Império Austro-Húngaro, e que tal medida de Samvejo apresentaram ao mundo um espetáculo
f~sse controlada pelos seus agentes na Sérvia. Exigia, de terror nunca visto até então. Paulatinamente o
amda, que fosse a polícia austro-húngara autorizada a conflito foi alcançando dimensões cada vez maiores,
perseguir e castigar os assassinos do arquiduque" até envolver as grandes potências de todo o mundo:
(WEISS, 1969, p. 1154).
_ A Sérvia, por sua vez, respondeu às exigências A Inglaterra declara guerra à Alemanha, por causa
da Austria-Hungria pautando-se no apoio que recebeu da violação do tratado que assegurava a
por parte da Rússia e da França. Começavam as movi- neutralidade da Bélgica e, principalmente, por
mentações de tropas - em 28 de julho a Áustria decla- temer o aumento do poderio da frota naval alemã,
rava guerra à Sérvia. Em socorro a esta nação a Rússia, tão próxima de suas costas. O Japão também
tem~ndo o avanço do Império Austro- Húngaro, declara guerra à Alemanha, interessado em se
mOVlmentou suas tropas levando-as à fronteira da apoderar de concessões alemãs na China e em
Áustria e da Alemanha. Consequentemente, a ilhas do Pacífico. A favor da Alemanha, alinham-
se o Império Otomano e a Bulgária (temerosa do
Alemanha entrou no conflito e, após um ultimato de
domínio dos russos nos Balcãs) (MOTA, 1986,
desmobilização não atendido pela Rússia, declarou
p.285).
guerra a esta nação, no dia 01 de agosto de 1914. Dois
dias depois, a Alemanha declaqva guerra à França.
A Tríplice Entente, nesse ínterim, perdia os
O empenho com que os alemães envolveram-
esforços de guerra da Rússia. Devido aos graves
se prontamente no conflito, deClarando guerra à
conflitos sociais estoura,. em 1917, a Revolução
"
Vygotski VY90tski
Conte.to, c<m~ib"iÇÕ&s Q p,ôcolagia Conte.to, contribuições 11 p,ôcologio
(
e o conceito <la " o conc";to da
lona d.. Oe,e"_olvimenl<> ProllÍnl,,1 lona de Oe,envolvimenl" Pro<lmol
(
(
Socialista, o que levou a Rússia a retirar-se da Primeira se com questões internas sérias: a Rússia deparou-se
Guerra Mundial a partir do acordo de Paz de Brest-
(
com a queda da monarquia em março de 1917 e a
Litovsky, assinado, em separado, entre a União ascensão dos socialistas ao poder em novembro desse (
Soviética e a Alemanha, em março de@:§) mesmo ano; a França debatia-se com problemas no (
A Tríplice Aliança, por sua vez, contava front, pois as derrotas levaram as tropas a se (
basicamente com os esforços de guerra da Alemanha. amotinarem. A Inglaterra debatia-se com problemas
A Itália não quis participar inicialmente do conflito econômicos e sociais sérios. A Alemanha, por sua vez, (
por alegar que o acordo estabelecido Com a Alemanha via enfraquecer o seu poderio de guerra devido a (
e a Áustria-Hungria previa ajuda em caso de problemas tais como o esgotamento e a falta de (
intervenção estrangeira em um dos países da aliança, suprimentos enfrentados pelas tropas nos campos de
o que não foi o caso. Entretanto, no ano de 1915, a batalha. (
Itália entrou na guerra somando-se às forças da Com a entrada dos EUA na guerra, a situação (
Tríplice Entente, devido às promessas feitas pela praticamente se definiu - em novembro de 1918, a (
Inglaterra de expansão de seu domínio sobre colônias Alemanha depunha suas armas. Encerrava-se um
na África, pertencentes até então à Alemanha. período trágico da história da humanidade que deixou (
Até oano de 1917, apesar de algumas derrotas, seqüelas marcantes em toda a Europa: dez milhões de (
a Alemanha e o Império Austro- Húngaro acumula- mortes, problemas sociais seríssimos, econo'mia (
vam vitórias e avanços territoriais. Após 1918, a debilitada e, o pior, um tratado de paz pouco·
Alemanha passou a lutar sozinha, pois o Império democrático que lançou sementes de uma nova (
Austro-Húngaro se decompôs, sendo que cada nação discórdia, que culminou com a Segunda Guerra (
declarou sua independência. Dando prosseguimento Mundial, vinte anos mais tarde. Contribuíram com a (
ao conflito, a campanha marítima alemã entrou em deflagração desse novo conflito mundial as vivências
uma nova fase, de ataques submarinos indiscrimina- de quem foi para o front e deste saiu ileso, pois o
(
dos. O ataque a navios neutros levou à pique o navio sentimento de superioridade os levou a formar, (
inglês Lusitânia, que vinha de Nova Iorque à Ingla- segundo Hobsbawn (1995, p.34), "as primeiras fileiras (
terra com 188 passageiros norte-americanos. Esse da ultradireita do pós-guerra".
incidente mobilizou a opinião pública americana e, (
As§'t1Sêqüencras políticas\pa Primeira Guerra
somado a ameaça de derrocada dos negócios ingleses Mundial r~fletiram-se na queda do regime monárquico (
que envolviam interesses do outro lado do Atlântico, na maioria dos países europeus. O regime republicano (
levou os Estados Unidos da América a ingressar na ) foi instalado, e impérios tais como o Austro-Húngaro,
Primeira Guerra Mundial. (
,o Alemão o Russo e o Turco desapareceram. Houve,
A adesão dos EUA às potências da Tríplice (
Entente mudou os cursos do conflito. Deveu-se isto . a.y.l J'is. E..!}tret'!f.lro, a crise com~~ ~ EU!:QRa se (
ao fato de que a Europa como um todo se encontrava ! ,1jIf defron~clU a.l2.ósa Primeira GueITil.kY.O.uJ..mstaPLhdade
esfacelada, os países envolvidos no conflito debatiam- (
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==-=:-=~.= ---'
social e ao acirramento dos srnJ;.llJJentQs-de-mttaU;
. . (
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Vygotski <1 ~
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Conl""to, contribuições ã p.fccloglo
Vygotski
• " conceiro de Çoole.>;lo, C<lntrlouiçÔ.' 6 p.lcologio
lona de Oe •• nvol"imento Pr",fmol • o concailo d.
T~:
lon" de O•• on.oll'imenlo Pro.<lmol
, :;t ~:
~Üilidade e insegurança. O terreno encontrava-se financiado pelo capital estrangeiro a partir do final """ ~:
P!opício para o estabelecimento de ditaduras, o que do século XIX, originou uma nova classe social, o --<l I
acabou acontecendo em vários países: a EU(9Rll
proletariado urbano, cujas condições de vida sub- \~ 1~!
deparava-se com a crise do Estado Liberal.
Após a Primeira Guerra Mundial, o continente
h~manas o levavam a manifestar. . se constantemente, ~ i. '
solicitando de seu "paizinho" - o Czar - que melhor ~ t I
europeu nunca mais seria o mesmo. A sua hegemonia -
átentasse para as condições de vida de seu poYQ.
. 3 I
I
política, econômica e militar entrava em um processo
- O Czar, por sua vez, "Não conseguifido dominar ~ :.
de declínio, o que assinalava a emergência de uma as agitações nas universidades, nem encontrar uma f
nova potência mundial, os EUA. Os problemas sociais ; solução para evitar as primeiras greves nas fábricas,
enfrentados pela população européia agravaram-se i
.após o assassinato do ministro da educação Bogoliepov
com o conflito. O desemprego, o desabastecimento
crônico e as mudanças culturais decorrentes _a mulher
j (1901) e do mipistro do interior Sipiagin (1902),
decidiu encarregar seu homem forte, Pleve, da
seve seu pap<i soclalffiõâ1fíCaâo, as mtIuên;;-;;'s J pacificação do país" (GRUNWALD, 1978, p. 97) .
culturais de além-mar invaÕl'fãn'ic!eflhmvamente os A política adotada por Pleve pautava-se no
ambientes sociais e familiares - resultaram em uma processo de "russificação", o que levou muitas
nova ordem social, na qual a população queria, no populações pertencentes à Rússia a se revoltarem
período pós-guerra, pensar o menos pOsslvel. Os anos contra o czarismo.
]
gue se seguiram ao con lto oram e aparente ~ Para conter a onda de insatisfação popular, o
para esquecer os horrores da guerra a população governo czarista recorreu à velha fórmula do ape!9
européia iludia-se com a aparente conqll1sta aa ,i áos sentimentos nacionalistas: mobilizou a atenção
h~mon1a mundiãl.
- da opulação russa para 11m çQnfli~~nchútia -
ronteira c inesa, reivindicada tanto pela Rússia
quanto pelo Japão. Decorrente da ambição expan-
1.2 A Rússia e o Advento da sionista, a guerra Russo-Japonesa, iniciada em 1904,
Revolução Socialista teve a duração de dois anos. A Inglaterra entrou no
conflito apoiando o Japão, numa tentasiva de
A Rússia do início do século XX caracterizou- controlar a expansão do poderio russo na Asia. A
se por um processo que pouco a diferenciava dos países aliança obteve resultados positivos, o que levou à
vizinhos europeus: situações precárias de vida para a vitória japonesa sobre a frota russa. No tratado de
maioria da população, política anexionista, anti- paz, a Rússia foi obrig>;da a renunCiar às suas
semitismo, repressões às liberdades individuais. Sob pretensões territoriais na Asia.
o domínio do Czar Nicolau lI, a Rússia, essa gigante Com a derrota da Rússia para o Japão ficou
territorial cuja economia pautava-se basicamenre na evidente que o regime monárquico; liderado pelo
agiicultura, iniciou o século XX sob a luz de protesros autoritarismo czarista, estava alheio aos problemas
e atos terroristas. O processo de· industrialização, sociais da população. A inco~petência e a 'corrupção
",
Vygolski Vygotski (,
COnklxrO, conlribulç"", 6 p,ke>Jogi<l
Con,,';!O, contribui""". â p'lcologlo
o "conc~ilo de
Zona do Oe •• nvohirnenk> Pro,imol e O <"",,,,,;10 00
Zonc de De.envolvlm .. nlo P,oximol ()
(
generalizadas que faziam parte do governo estavam apontou a necessidade de que a luta de classes fosse (
levando o país à catástrofe. À população, por sua vez, dirigida por;:;;npartido coeso e oranizado taré (
não era pennitido qualquer manifestação de oposição que tentou rea izar com a estruão do partido
ao regime, sendo 9S camponeses e operários vítimas bo c evique russo. O outro partido, o menchevique, (
de roda sorte de opressão. era liderado J2Q.!:--Ker-enskU.1.vov. Arribos os partidos «
CA guerra Russo-liíponesà}:ontribuiu, portanto, pregãv;;;;;:;:-;;omo ideal político a implantação do (
Rara o agravamento das crises jnternas e da insa .. socialismo em seu país, senao _que o g~s
...~- , ~,
(
tis facão pop.1!lJtr. As greves em Petrogrado, então diferenciava eram as estratégias para se chegar a essa
capital da Riíssia, tornavam-se cada vez mais fre- organização sócio-política. Os bolcheviques pregavam C
qüentes e envolviam um número cada vez maior de a necessidade de uma aliança entre operariado e (
cTclãaãos. Em janeiro de 1905J'.s:onteceu o episódio campesinato que desencadeasse um processo revo-
~ol"DominSO Sangrento'] fato que marcou defini- lucionário, cujo objetivo seria derrubar o Czar e
(
tivamente a história do pOyó DISSO. Nesse dia milhares também o capitalismo. Os mencheviques, por sua vez, (
de· manifestantes sem armas - mulheres, homens e pregavam uma transição mais gradual do capitalismo
crianças, muitos carregando o retrato do Czar _ C
ao socialismo defendendo, portanto, uma aliança com
marcharam até o Palácio de Inverno reivindicando a burguesia para que fossem alcançadas reformas C
melhores condições de vida para a população em geral, progressivas. . (
condições que a guerra tinha alterado e deteriorado Voltando ao movimento insurrecional de 1905, (
em muito. As tropas imperiais receberam os mani- este foi denominado pelos historiadores de "Ensaio
festantes com fogo - as armas dispararam em direção (
Geral", isto é, uma amostra do que viria .\1 ser
à população, levando à morte aproximadamente um consolidado com a revolução de 1917: a queda da (
milhão de pessoas. monarquia e a ascensão do povo ao poder. O resultado (
. Apesar de não terem participado ativamente imediato do movimento consistiu na descrença da
na organização desse movimento, os partidos russos (
população quanto às possibilidades de modificação
tinham seus quadros cada vez mais ampliados devido do "status quo" vigente a partir do governo monár- (
~
[JJ-: fn àd pa;ticliPaçã~ do prodletariadodurbdano. Nesse início quico. Os acontecimentos do Domingo Sangrento (
e secu o, a Situação os parti os e esquerda russos serviram para deteriorar a imagem do czarismo perante
(
. \ apresentava o seguinte quadro: o partido social a população russa. A lembrança dos milhares de
?emocrata dndiu-se e, em 1903, surgiram dois novos mortos, assassinados covardemente pelas tropas do (
/
partidos de orientação marxista, o partido bolchevique
..• ,'" ~
.<" .LO partido menchevique., Os bolcheviques eram:
liderados por Vladimir Ilitch Ulianov, mais conhecido
Czar, permaneceu na memória da população e foi
relembrada, principalmente, quando do momento da
(
(
revolução. .:
T"~ ~ por Lênin. Lênin foi, segundo Bottomore (1988, Os movimentos populares deste início de século (
j'J.k">"'" p.211), "o mais influente líder e teórico político do foram comandados, após 1905,~ov§que eram C
Jlv-"'" I'"" marxismo no século XX". Em suas obras, Lênin conselhos de representantes das Classes sociais (
[ . ~ ' " \I ";.I (
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Vygotski Vygotski
C"nte,t", contribUiçõe, 11 p,kol<>gio
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Zona de O•• envolvimenro fto!imal • o c,?"coito d•
Zono d. Oe,,,,,,,,,I,lmenlo Pro';"","
populares - operários, soldados e camponeses. Essas Com a entrada da Rússia na Primeira Guerra
manifestações demonstravam como a insatisfação Mundial, em 1914, o comando desta nação passou às
popular, decorrente das más condições de vida, mãos da Czarina Alexandra que, sob orientação de
aumentava sensivelmente. Em resposta a esses Rasputin, deu continuidade ao governo despótic? de
acontecimentos, o Czar Nicolau Il resolveu adotar N icolau 11. A nova administração desagradou amda
algumas medidas de caráter democrático: a principal mais a população russa. Devido à origem alemã da
delas foi a eleição da Duma, uma espécie de assembtéia Czarina, o povo sentia~-s~-0ntinuamente ameaçado,
legislativa nacional, cujos representantes pertenciam
tem:encIõpelõOestino do país; .
à burguesia liberal· russa. À Duma competia, entre . .. Com a participação do exérClto russo na
outras funções, a reforma constitucional e a concre-
tização de uma política. de relações exteriores. Além
~.: I·l Primeira Guerra Mundial, a situação no país agravou-
da criação da Duma, o Czar N icolau Il adotou outras
.i se. A crise do abastecimento nas cidades e as baixas
J
resoluções de ressonância política e social:
.,' '"
''ç-
(;f'''~'
cada vez mais freqüentes no front incomodaram a
população a tal ponto que as greves
\ uma constante. O povo não suportava malS ver seus
a ser pass~ram
Compromete-se a ampliar o sufrágio para camadas
mais extensas da população e a respeitar as
I. 'I::f" \.homens sendo cÍizimados pelas tropas alemãs,assim
i como não suportava maIS as enormes hlas entrentaaas
garantias individuais. Uma reforma agrária [...]
para se conseguir a cota diária de pã~
entrega terras da coroa aos camponeses e permite
Em 1917 a situação chegou a tal ponto que o
maior liberdade de vínculo com as comunas ...
povo saiu às ruas para protestar - protestar contra a
Algumas medidas relacionadas com a legislação
trabalhista - 10 horas de trabalho diário, permissão guerra e protestar contra o regime monárquico. O
de sindicatos e maior liberdade em caso de levante de mais de dois milhões de habitantes de
acidentes ou enfermidades [... ] (GONZÃLEZ, Petrogrado fez com que, no dia 15 de m'lrço de 191 7,
1986, p.20) . o Czar N icolau Il abdicasse do trono imperial em favor
de seu irmão Mikhail Romanov. No dia seguinte, este
Toda essa aparente abertura política, na novo impe;ador também abdicou, pondo fim à
verdade, não trouxe mudanças significativas para a dinastia dos Romanov e, consequentemente, ao
população russa. Isto porque o poder absoluto regime monárquico russo. .
continuava nas mãos do despotismo czarista, o quaL Esta revolução do início de 1917 fOI, na
após a insurreição de 1905, passou a contar com um concepção de Marabini, resultante do levante popular
novo mentor: o lendário Rasputim. Contratado pela frente aos desmandos do governo. Não exis1iam
czarina para tratar da hemofilia do príncipe herdeiro, mentores, não existiam heróis isolados. Houve um
este místico monge passou a fazer parte da corte e a único responsável: ~~
exercer grande influência sobre a vida da família
real, .decidindo, inclusive, os rumos políticàs da As centenas de milhares de homens. e mulheres
nação. que vão se agitar na ru~, J;lOS bulevares, nas praças,
Vygotski
COnlsxto, conlr;buiçô •• õ pslcologio
Vygotski
Conro..,c>, con~lbuiçõe,'" poicologio
(
e o<:on""lIo do • o conceito de
Zoao d. Do,onvclvimenlo Imdmol Zona de D~,"nvolvim"nlc Im.imol (
(
nas pontes, por motivos. contraditórios, externa resolveu continuar os esforços de guerra, o
freqüente . . mente essenciais, as vezes fúteis e
f
que desagradou mais ainda a opinião pública. Foram
mesmo c6micos, abalando todas as regras de enviados dois milhões e duzentos mil homens para o
(
sua vida cotidiana, tornar. . se. . ão atores de uma front, sendo que somente metade destes chegou ao (
espécie de tragédia coletiva, personagens à seu destino. O número crescente de desertores acabou
espera de um clarão, de um autor que, após tê . . agravando os problemas sociais, pois estes soldados
«
los ofuscado, os reuna num só conjunto, o de (
percorriam o país saqueando o comércio, interrom-
um nova peça" (MARABINI, 1989, p. 50).
~itatorial facista, de cunho nacionalis.ta--,,-auti- estendeu-se às organizações sindicais dos demais país~.s.
democrático, que se consolidou totalmenteJlpós J92~. Esta separação deveu-se a fotInas antagônicas d~e
Com o apoio da burguesia industrial e financeira, a . conceber as estratégias de,luta em prol da maioria da
ditadura fascista apresentava-se à população como população: se os socialistas assumiam um discurso cada
forma de conter o avanço comunista bem como o vez mais moderado, caracterizado tanto pela renúncia
declínio do sistema capitalista em favor das reivin- a-toda e qualquer ação revolucionária quanto pela
dicações sociais populares. Em contrapartida', a
população présenciava a ascensão ao poder de um
sistema político imperialista e anti-liberal.
polftica de colaboração com_partidos de direita, a
'"querda comunista mantinha-se fiel."[ ...WprincíQ.io
da luta de classes e à tomada do ~P1'[Qproletariado
\.(r
f'
Traçando um paralelo entre a Itália e a mediante uma revolução, mas incapaz de tentar essa
Alemanha nesse períódo, Lopez (1987) aponta a tomada de poder pela fQI.ça" (CROUZET,1977 , p.93).
semelhança entre os regimes fascista de Mussolini e Essas divergências foram agravadas em
nazista de Hitler, pois ambos consistiram em alterna- conseqüência dos rumos que a Rússia assumiu na
tivas extremas, marcadas pelo autoritarismo e
fanatismo, utilizadas pela burguesia para se manter
no poder.
conduta da sua política interna e externa na década de
vinte. Com a morte de Lênin em 1924, a Nova Política
Econômica implantada por este líder revolucionário foi
1
.\#( _~ A Espanha também conviveu, nos anos vinte,
co~ urna ditadura de extrema direita. No ano de 1923,
deixada de lado. Para sua sucessão, dois nomes eram 1
,\
ty,
Pnmo de Rlvera Instalou nesse país uma ditadura
fascista que foi derrubada somente no final da década,
cotados: Leon Trotski e josefStálin, Este último acabou
assumindo o poder e o mundo assistiu, estarrecido, ao
início de uma nova faceta da administração socialista, ~
t
em decorrência de manifestações populares. Com o a saber, um governo centralizador, repressivo e '):
final dos anos vinte findou também a monarquia autoritário. Como destaca Lopez (1987, p. 37), "[... ] a
espanhola - em 1931 o rei Afonso XIII abdicou do I3!.rtir do estalinismo, ficaram enterradas as eXQeriências
trono. democratizantes e até pequeno burg,~...sla
Nas duas outras grandes potências européias da éfervescente década de i92.Q"." ,- - --
época, França e Inglaterra, o quadro político da década Ao final dos anos vinte, portanto, os sonhos
de vinte caracterizou . .se por um revezamento no poder dourados eram implacavelmente deixados de lado: a
entre conservadores, de um lado, e trabalhistas de realidade impunha-se sobre as ilusões de forma
idéias socialistas por outro. Em ambos os países, determinante, o acirramento das animosidades
entret,anto, a crise econômica e social permitiu que, internacionais denunciava a fragilidadé da aparente
no final da década, os partidos conservadores de paz. O retomo ao conservadorismo político, o acirra- \
extrema direita se consolidassem no poder. menta dos movimentos anti-semitas, o declínio da
. ]:Rr sqa vez, a çisão entre...s.ocialistªs e corou . . democracia liberal apresentaram-se, enfim, c~mo fatos
nistas resultou da seRara~"na.RússiacloirlliJ.o determinantes de um sentimento geral de Incerteza, '
~ século, entre bQIc~q.ues-<l--m@nGh"",i'lu@sr-e de dúvida e de insegurança. '
"
Vygotski
Contmdo, c<>nlribuiçó •• 6 p,lC<ltogia
Vygotski (~
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lona de D•• onvd'timoOI<> P""xim,,1 Zo,,~ d. O••• nvoll'imenlo """'Imo! (
(
2. Panorama Artístico e Literário expressionistas apresentavam "... um caráter extre .. (
matnente emotivo e tenso, bastante visionário e um
(
As conturbações sociais do início do século XX pouco alucinado, traduzido pelas cores puras, pela
foram retratadas, com todos os seus nuances, pelás acentuação excessiva das formas e dos contornos do (
artistas europeus. Os conflitos econômicos, a miséria real num sentido irrealista, e pela disposição muito (
social, a emergência da desilusão com o ruir dos sonhos
pacifistas, levou a classe artística a consolidar uma
dinâmica e ritmada dos diversos pormenores"
(UPJOHN et aI., 1979, p.159).
.
verdadeira revolução .. pintores, escultores, músicos, A primeira exposição do pintor expressionista (
poetas e homens das letras expressaram em suas obras Oskar Kokoschka, realizada em Viena no ano de 1909, (
uma prafunda revolta contra o público burguês, contra retratou singularmente o impacto desse movimentô (
as convenções sociais, contra o otimismo e o raciona..
lismo. Ergueram, conjuntamente, a bandeira da livre
perante a opinião pública. Indignados com a audácia
das cores e o realismo das formas, os representantes .
expressão dos sentimentos, da possibilidade ilimitada da burguesia austra-húngara enfureceram-se, mostran- (
..
(I
do ato de criação. Cada artista, no seu campo de ~~ do um certo repúdio ao que de novo se apresentava.
'l:-~
atuação, percebeu a necessidade de comunicar a sua
visão de mundo criando, para isso, a forma de expres- ~<;;;
Alguns anos mais tarde, um novo movimento
artístico eclodiu. Com o advento da Primeira Gue. rra ..
são que melhor a caracterizava. Desse modo, a revolta Mundial e opondo-se aos horrores decorrentes desta, (
contra as leis caracterizou-se, no campo das artes, pela um grupo de exilados de vários países fundou, em
Zurique, no ano de 1916, o movimento Daºaísta.Em
t
revolta contra o objeto do senso comum, a revolta
contra a uniformidade, contra a massificação das ~esse movimento concentrou-se em Paris, cid,1lde (
diversas formas de expressão humana. pólo das grandes manifesta ões artísticas da é oca.. t
Em cada grande centra cultural europeu esse revo ta inicial contra a carnificina, contra a de ra-
.
movimento de revolução das letras e das artes dação umana ue levou milhares de essoas aos
campos e atalha, estendeu-se a todas as manifes- .
°
consolidou-se, embora assumindo matizes diferentes.
sonho popular da revolução política e social se
universalizou através das obras de artistas hoje
taçoes artísticas e literárias que, de aI uma forma,
oram coniventes com o 'esperáculo de sangue. Ai;
C
(
renomados. Assim, na Alemanha do início do século
~o~expressionlsta, contragoD:a(j:%e
ossibilidades ilimitadas de criação e técnicas sur ia
o que o movia, sendo que ... qua uer coisa ue .
ao impressionismo ue objetivava, através da arte,
cl>ter um retrato fiel da rea i a e. o invés das
pu esse causar apop ex ia entre os amantes da arte
Burguesa convencional era dadaísmo acei ' 1"
..
(
paisagens harmônicas, os expressionistas retratavam
o mundo sob o prisma da subjetividade; expressavam,
HO BAWN, 1995, p.179).
Apesar dos ataques passionais e extremistas à .
através das cores e linhas, a diversidade e conturbação livre expressão característicos da época e a despeito C
dos sentimentos humanos. Influenciados pela de ter se desintegrado oito anos após sua emergência, (
arte e pelas idéias de Van Gogh e Gaugin, as obras os integrantes do movimento Dada deixaram uma
C
.
C
.
-----~~====- ... ,
Vygotski Vygotski
Conle.<lo, c:onlribuiçõ .. " p.icclogia Contoxto, <t>nt,ibulço.," p.icologio
e o cone.no do e o eOflcoilo d.
lona de D••• nvo/vimen!o Pro,imol lono d. D.,onvol,imonlo Prc<Ímol
contribuição artística marcante. Com as obras do capacidade da imaginação espontânea, não mediada
poeta romeno Tristan T zara e do alemão Hugo Bal!, por sistemas de controle racional, para extrair coesão
as produções artísticas do alemão Max Ernest e do do incoerente, e uma lógica aparentemente necessária
alsaciano Jean Arp, "Este moyjmento te..'iLe-<1- do visivelmente ilógico ou mesmo impossível"
vantagem de agitar pelo absurdo, pela ironia e elo ~ (HOBSBAWM, 1995, p.180).
sarcasmo, um certo numero e hábitos e de idéias pré- Outro movimento que influenciou a arte de
Cõi1celm'las, e SUSCitou algumas modificações radiéais Picasso foi o Fauvismo. O representante mais
na arte e na estética" (ibid, p. 196). eminente desse movimento, Henri Matisse, utilizou
Entretanto, o movimento artístico do início do em suas obras as principais caracteiísticas pelo qual
século que mais marcou o cenário mundial das artes o Fauvismo se projetou, ou seja, a pintura não
mod~oi, sem sobra de dúvida, o Cubismo. Iniciado como reprodução/imitação do real mas como meio
em~or Pablo Picas~o e seu amigo Georges ae expressa0 em que a utilização de linhas e core.!'
Braque, o Cubismo caracterizava-se pela apresentação ,c. era livre.
dos vol~mes no espaço em uma composição plana e Toda essa revolução artística, que expressava
compreendendo duas dimensões. Este movimento foi um profundo desejo de renovação, marcou também
responsável, também, pela introdução de diferentes as produções literárias do início do século. Antes
materiais e formas nas obras artísticas, como a colagem mesrrio de ec10dir a Primeira Guerra Mundial, o
e a utilização de números e letras. Com o passar dos movimento modernista já estava presente na
anos, o movimento cubista foi sendo modificado. literatura européia. Deste modo, mais do que qualquer
Sofreu, após a Primeira Guerra Mundial, a influência outra forma de expressão, a literatura caracterizou,::g;
de um novo~imento artístico, o Surrealismo. por apresentar os anseios da grande maioria da '\\)lo~
Surgido em 1924 com a publicação do Manifesto população: às denúncias das condTÇOeSae vida sub- ) ,..
Surrealista por reton, este movimentO" expressava o humanas - características dãSõbrãSélos russos Tolstói t
"[...] anseio dos~s artistas de criarem algo mais e DostoiéYski ,. acrescentavam . . se os sonhos revolucio.... ~ ~
real do que a própria realidade, quer dizer, algo de nários, a esperança da emergência de uma sociedade
maior significado do que a mera cópia daquilo que mais justa e igualitária.
vemos" (GOMBRICH, 1988, p. 470). Vários escritores manifestaram abertamente
Influenciados pela mágica da psicanálise esse desejo, sendo que muitos deles chegaram a
freudiana que trazia algum alento no sentido de participar dos movimentos revolucionários do início
remeter a impulsos inconscientes as barbáries do presente século. Foi o caso do' poeta russo
humanas, os surrealistas buscavam deixar o Maiacóvski, que retratou de forma singular os
pensamento fluir livremente, utilizando, para isso, o acontecim~ntos de outubro de 1917: "Sem olhar as
soI)o hipnótico como forma de fugir ao controle da estrelas, nosso guardas cercam o Palácio de Inverno
razão e alcançar uma autêntica aproximação com a subindo pelas ruas do bairro dos quartéis; colunas de
realidade: "O que contava era reconhecer a operários e marinheiros e mu'itos andrajos~s chegaram
Vygotski Vygotski
ConIOld", oontribui<;ôo. <'.I p.jC<ll"glo ,, p'lcologio
(
O" oonceilo da
lono da De •• nvolvim~nlo I'ro,imol
(
(
fazendo brilhar os fuzis como se juntassem as mãos na desilução. A guerra literalmente, um (
garganta do pescoço p~rfumado do Palácio de Invemo" período de grandes para a literatura européia:
(MAIACÓVSKI, in GONZÁLEZ, 1986, p. 75). morreram no front decorrência do caos social (
Esses mesmos acontecimentos foram vistos sob resultante das batalhas artistas promissores (
outro prisma pelos escritores revolucionários alemães. como o francês (
Rosa Luxemburgo, presa na época pelo govemo de Os escritores apesar do caos, conseguiram
seu país, deixou de lado o romantismo poético para produzir neSSa época, em suas obras toda (
analisar os fatos sob o prisma das liberdades individuais: a desilusão que se pelo mundo das artes em (
decorrência do de degradação humana que (
A revolução foi brilhante, tempestuosa e salvou a Europa Foi o caso do tcheco Franz
a honra dos socialistas ... Mas, se por um lado os cujas obras (
bolcheviques se prendem no critério das (
'nacionalidades descentralizadas, autodetermina-
das', por outro demonstram um frio desprezo pela (
XX, este
Assembléia Constituinte, o sufrágio universal, representante da austro .. húngara, autor
(
o
a liberdade de reunião e imprensa, em síntese, (
fantasmagórico e praticamente desconhecido
por todo o aparato de liberdades democráticas
em vida, escreveu o atualmente são consideradas (
básicas do povo, que, tomadas em conjunto,
verdadeiras obras da literatura mundial, como
constituem o 'direito à auto .. determinação' (
110 Processo" e "A
dentro da Rússia (ROSA LUXEMBURGO in
Dos que manter, nessa épo.ca t, o (
GONZÁLEZ, 1986, p. 78).
romantismo, o poeta alemão Herman (
Hesse, que criou onde a esperança alia-se
A denúncia de Rosa Luxemburgo confirmou- (
se nos anos seguintes, com os totalitarismos que aos movimentos e espirituais. Fazendo parte
do movimento publicou, em 1919, o (
tomaram conta da Alemanha e da URSS e
produziram conseqüências nefastas tanto econômicas (
quanto políticas, sociais e art(sticas, como nos (
esclarece Hobsbawn (1995, p.1S7): "Nem a [... ] o converteu.. se em anarquismo
vanguarda alemã , nem a russa, portanto, político de humanitários, a revolta do (
sobreViveram à ascensão de Hitler e Stalin, e_os dois adolescente em profecia apocalíptica de (
países, na ponta de tudo que era avançado e tábula rasa: assuma o poder político e
espiritual a juventude do mundo. A (
reconhecido nas artes da década de 20, quase
desapareceram do panorama cultural". mocidade recebeu Demian com a (
Para os demais países do continente europeu, mais , como mensagem de satlde (
os horrores da Primeira Guerra fizeram com que os espiritual is da doença da guerra
(CARPEAUX, . 966, p.3034). {
sonhos românticos cedessem lugar ao ceticismo e à
(
(
(
(
Vygotski Vygolski
Conleido, ~""lrib"t'iõo, à psicologia ConteXIO, conlriboiç6 •• " p.icol<>glo
.. " concello d.. • <> conceito d•
Zon~ <I. (}e,envolvimento I'ro>imol lono da Oe.envolvim.nto Pro.imol
erudita não poderia ter sido diferente. "Na música e macrocosmo" (SHORSKE, 1988,p. 330).
, I em outros setores, o tempo avançou sobre a etelnida. .
Entretanto, quando se fala em revolução da
de, a dinâmica sobre a estática, a democracia sobre a
hierarquia, o sentimento s.obre a razão" (SCHORSKE,
estética musical um outro nome é inevitavelmente
lembrado: Igor Stravinsky. Empregando com ousadia
1988, p. 324).
a dissonârtcia, este russo do início do século inovou
N as primeiras décadas do século XX houve uma
a; possibilldades de criação musical ao propor a
verdadeira revolução da estética musical liderada pelo
ampliação do sistema harmônico usual. Com muita
austríaco Schlienberg que, inspirado nos avanços
criatividade e liberdade de expressão, as obras de
firmados no século anterior por Richard Wagner,
Stravinsky caractecizam-se pelo uso simultâneo de
pregou a rejeição da tonalidade em favor da suprema-
duas ou mais tonalidades, bem como por uma variação
cia da dissonância. Criou o sistema <i2,decafônicq,
rítmica abundante.
impondo-se como músico audacioso que buscou, com
Estabelecendo um contraponto entre as obras
originalidade, estender a renovação artística para seu de Schlienberg e Stravinsky, constata-se que ambas
campo de trabalho. Acompanhando os avanços das contribuíram para a ampliação das possibilidades
artes quanto à ruptura das convenções, quanto à rejei-
harmônicas no processo de criação musical. Porém, \
ção da razão e de toda e qualquer teoria, Schlienberg enquanto Schoenberg propunha a atonalidade,
destaca a capacidade de ouvir, de olhar profundamente Stravinsky caracterizava-se or buscar a ampliação
para dentro de si mesmo como fonte inspiradora. do sistema harmônico normal, propon o o polTtõ-
I I Esta emancipação da dissonância, proposta por nalismo e a polirritm\a. Desta maneira, influenciado
Schlienberg, revolucionou o campo da música e sua pelo folclore russo, Stravinsky escandalizou o público
importância é sentida ainda hoje. Suas idéias foram de sua época pelo dinamismo e objetividade com que
compiladas e apresentadas ao público em 1911, concebia a arte musical. Utilizando-se de uma certa
quando da publicação de sua obra "Teoria da agressividade, sua obra é, hoje, considereda marco na
H~rmonia", e podem ser assim resumidas: história da produção artística musical: "[".] foi
Stravinsky quem primeiro revitalizou nosso senso
o compositor pode criar qualquer comunidade rítmico, dando à música européia o equivalente a uma
ou gnlpos de tons que quiser, ora rellnindo~os injeção hipodérmica rítmica. Desde então ela jamais
dentro de um espaço musical. circunscrito, ora voltou a ser a mesma" (COPLAND, 196~, p. 60).
•
I )
Vygotski
Conteido, conlr;bulsõ •• G p'fcol"IJlo
e """ncoito d.
Zona de De.envcl_lmenlo Pro,imol
.1
(I
• I
c
.'
Pelo panorama artístico e literário da Europa APÍTULO I I (I
no início do século XX aqui apresentado, ainda que
sinteticamente, é possível compreender a conturbação
das 'idéias e sentimentos qlre cara'cterizavam a ( i
com~nidade européia de então. A ilusão cedia (,
definitivamente lugar à realidade: esta impunha-se e
(
era recriada das mais variadas formas, fugindo-se dos
convencionaltsmos, dos padrões, da monotonia. A (,
.'.1.i
livre expressão, pelo menos nesse campo da manifes- (I
tação humana, estava definitivamente assegurada. A PSICOLOGIA NO INíCIO
DO SÉCULO XX E AS CONTRIBUiÇÕES
DE VYGOTSKI:
um breve retrato
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Conlexlo, coolriooiçÔ<l' Il p'lcolOlJlo
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Vygolski Vygotski
Conlexl<J, contribuições õ psicologia
e" concoito de
Conte.I;', contrlbuiçõe." p.icologio '
ao conc .. ito do
(
Zono <la D",enyoMm ... t<> Pro,imof Zona do D.sonvolvimento Proxi"",1 '
(
psíquico, dá" alma, da consciência, do comportamento, Descartes, posto que sua obra marc·a o início da idade
(
enfim, uma ciência que buscasse explicar ou descrever moderna no que tange à produção do conhecimento. (
o homem (sujeito genérico) em seus aspectos mais As contribuições de Descartes ao desenvolvi- (
particulares e característicos. Um retrato desse mento do conhecimeplO científico são importantes
(
processo, ainda que breve, será aqui apresentado, posto na medida 'em que' favorecem a s';peração da
que nos permite entender a contribuição de Vygotski estagnação das ciênqias imposta pela Igreja. Esta (
para o desenvolvimento da ciência psicológica. 01
procurava vincurar saber à crença e, consequen- (
t~ente, o conhecim9nto era tido COmd}lma questão
(
de fé. A experimenta\,1ão clentífica acerca do próprio
1. A EMERGÊNCIA PSICOLOGIA DA homem ficava impossibilitada, posto que este era feito (
CIENTíFICA - breves apontamentos "à imagem e semelliança de Deus" e, portanto, (
inacessível à explic~ç~o objetiva.
históricos (
A superação de$se impasse foi possível a partir
da filosofia de Descartes, pois este propunha a cisão (
A histórica da psicologia enquanto ciência,
de todos os fenômenbs em dois grandes grupos:" os (
como já foi apontado, data da segunda metade do
fenômenos físicos, pJsíveis de explicação causal; e
século XIX, o que a caracteriza como uma ciência (
os fenômenos psíqui~s, inacessíveis às explicações
jovem, em franco processo de desenvolvimento. Mas (
objetivas e sujeitos, po~tanto, às descrições subjetivas.
o pensar psicológico, a reflexão sobre os fenômenos
Segundo Lúria (197~, p.2), o dualismo cartesiano (
desta natureza data da civilização grega, quando esse
implica que "[ ... ] todo, os processos físicos, incluindo- (
pensamento fazia parte da filosofia. Como esclarece
se o comportamento rnimal, estão subordinados às
Figueiredo (1991a, p.12), "[ ... ] todos os grandes
,., leis da mecânica, ao pqSSO que os fenômenos psíquicos (
sistemas filosóficos desde a antigüidade incluíam
noções e conceitos relacionados ao que hoje faz parte devem ser considerad~s como fonuas do espírito, cuja (
do domínio da psicologia científica, como o compor- fonte de conhecimento pode ser encontrada apenas (
tamento, o 'espíritO' ou a 'alma' do homem", na razão ou na intuição".
Devido ao faro de estar inicialmente imbricada Constituía-se a~sim um terreno propício para (
com a filosofia, a compreensão da situação da psicologia o desenvolvimento d~, estudos sobre o homem, posto (
atual necessita de referências a essa fase anterior do que a partir da idade mpderna houve uma significativa (
seu desenvolvimento. Para o presente estudo não se ref.
mudança no que se ere ao lugar que este ocupa no
(
faz necessário retomar toda a história da psicologia, mundo: "Há agora um grande valorização do homem
visto que isso pode ser encontrado em vasta bibliografia e, ao mesmo tempo, a idéia de que ele tem que buscar (
uma formação, ele ~eve se constituir enquanto
(ver RUBINSTEIN, 1972; JAPIASSÚ, 1977;
FIGUEIREDO, 1991a e 1991b; SANTI, 1998). humano. Se o homeln não nasce com seu destino
«
predestinado, ele deve se formar, educar. Nasce a (
Interessa-nos, pois, o desenvolvimento da psicologia
a partir da contribuição do filósofo racionalista necessidade do 'cuidado de si'" (SANTI, 1998, p.11) (
{
«
(
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Vygotski
Vygolski
C""I • .,o, Conlribulçõ ... 11 p'lcologlo
• <I conc.i1o de Conlo<1o, conlribuiçõ., 11 p'lcologla
lona <l. O •• envdvimenlo P,o>dmcl • c <0"00;10 de
lono d. O••• nl'<llvimenlo Proximol
a
É assim atendida primeira das duas condições ..trl!exões filosóficas deviª-º- à naturezayubj etiva lio
·apontadas por Figueiredo (1991a) para o surgimento seu objeto de eSJ:.lillo.
da psicologia enquanto ciência e profissão, apresen- Como conseqüência, a psicologia dividiu-se em
tadas no capítulo 1 - a idéia de subjetividade priva- dois grandes grupos: 1) a psicologia naturalista ou
tizada. O retrato apresentado no capítulo anterior, fisiologista que, segundo Lúria, procurava reduzir os
por sua vez, com os graves conflitos sociais e econô~ processos psíquicos a esquemas reflexos para poder
micos, acirramento de animosidades, necessidade de estudá-los objetivamente e, portanto, explicá-los; e 2)
ampliação de territórios, defesa de fronteiras, formação a psicologia subjetiva, de cunho idealista, que
de monopólios, sobreposiç·ão da realidade desigual aos propunha que "[... ] a vida psíquica devia ser entendida
sonhos utópicos, enfim, fatores que desembocaram como manifestação de um mundo subjetivo especial,
na primeira guerra mundial, engendraram sentimentos que podia ser revelado somente na auro-observação,
de incerteza, dúvida, ·insegurança e desilusão. sendo inacessível à análise científica objetiva ou à
Constituiu-se assim um cenário profícuo para a crise explicação" (LÚRIA, 1979, p. 2).
da subjetividade - segunda condição, de acordo com Essa cisão ficou conhecida como a "crise da
Figueiredo (1991a) - que levou à emergência da psicologia", e tentativas foram feitas visando a
ciência psicológica, os quais entendemos também superação desse impasse. Apesar de diversas escolas
como fundamentais para sua consolidação e da psicologia terem surgido no final do século XIX e
reconhecimento. É assim estabelecido um campo de início· do século XX propagando uma suposta
saber responsável pelo cuidado, pelo testabelecimento superação dessa "crise", nenhuma delas foi capaz de
no homem das ilusões que o permitam planej ar seu fugir desse esquema dicotômico: ou são psicologias
próprio futuro - o universo Psi. que propõem uma análise mecanicista dos processos
Com relação à diversidade de orientações psicológicos superiores nos moldes do esquema
teórico-metodológicas que caracteriza a psicologia, estímulo-resposta, ou são psicologias de cunho
anteriormente referida, esta encontra ·suporte na idealista, que não conseguem dar conta de conjugar
separação proposta por Descartes entre fenômenos às suas descrições a base fisiológica, material do homem.
físicos e psíquicos, o que a influenciou profundamente. Esta cisão é admitida por vários epistemólogos,
As tentativas de reconhecê-la enquanto ciência como Hilton Japiassú (1977, p. 42): "[ ... ] a psicologia
independente empurravam-na para direções diame- ainda hoje oscila entre duas correntes: uma, mais
tralmente o),] stas: or um lado buscava-se aproximá- filosófica, utilizando os modelos explicativos
Ia das ~ncias natural posto que estas eram hennenêuticos ou interpretativos; outra, propriamen ..
reconheCidas pela objetividade e precisão na te científica, tomando de empréstimo às ciências
construção de seus conhecimentos. Por outro lado, o naturais seus modelos explicativos".
fato de considerar-se as manifestações psíquicas Essa situação de diversidade da psicologia já era
enqu?nto fenômenos subjetivos, enquanto manifes- uma constante, portanto, no início do século xx. O
tações da alma, mantinha a psicologia próxima das próprio Wundr, criador do primeiro laboratório de
.,
Vygotski
Contetdo, contribut,..,., à l',kolOlJia
«
o " <oncoito do
lono do Oo,onvol';monlo Pr""imol
(
(
psicologia na Universidade de Leipzig, na Alemanha, uma, nem o ideal!sm.o da psicologia filosófica C
puderam à idéia da unidade da
apontou, quando da publicação do texto "Uma
Introdução à Psicologia", em 1911, a existência de natureza e da humana, isto é , à verdade «
duas psicologias: "[ ...] uma psicologia 'individual', a ou realidade de o homem é, antes de tudo, (
um ser físico e mas que a natureza do (
que se aplica a metodologia experimental, e uma
próprio homem é produto da história.
psicologia étnica, assentada em material filológico e (
antropológico e, portanto, a que se aplicam os
procedimentos das· ciências histórico--culturais" Para Rubinstein, crise da Psicologia resulta
portanto de uma co:ncl~pç:ão de natureza humana
«
(FIGUEIREDO, 1987, p. 46). (
Dividindo-se entre tendências opostas, a independente da h ia. Sua superação, em
decorrência, é com uma fundamentaçã'p (
psicologia do início do século XX tinha como
principais representantes da corrente idealista os
teóricos da Gestalt e os fenomenologistas. A
s. epistemológica que
histórico e social.
o homem enquanto
Leontiév (1978, p. 151):
(
(
tendência materialista, por sua vez, encontrou nos
(
psicólogos soviéticos do final do século XIX os seus
mais eminentes representantes. Pertencendo a essa
o;~f;.~~~;;~~~~~~
e~
nem o
orientar a pesquisa (
tendência e pautando-se nos avanços do materialismo mon'p;ro a criar uma ciência única
(
.;. soviético, o .aluericano Watson destacou--se pela homem. Este problema só
(
criação do Behaviorismo Metodológico, escola que a base de uma concepção
propunha, como objeto de estudo da psicologia, a 1m,MH'" que estenda a explicação (
análise do comportamento humano estritamente científica e ista tanto aos fenômenos
l~rlôrnelnO!;sc)ci:üs . Existe uma
(
observável. Um outro sistema teórico dessa época que
ainda hoje suscita interpretações diversas é a Psicanálise mundo que responde a este (
ILlC)SOtl\l. do materialismo dialético.
Freudiana, o que dificulta qualquer classificação. (
Muitas razões foram apontadas como (
explicativas para a não superação, pela psicologia,
dessa "crise" na qual ainda hoj e se depara. Os 2. o DESENVO IMENTO DA (
psicólogos soviéticos, que propagam o mérito de terem PSICOLOGIA SSA NO FINAL (
conseguido superar esse impasse, apontam razões DO SÉCULO E INíCIO DO (
diversas que explicam os malogros anteriores, como
nos aponta Rubinstein (1972, p. 129):
SÉCULO XX (
,
(
[... ] a inevitabilidade do conflito que continua A aceitação da filosofia materialista dialética
enquanto suporte para 'a construção de uma nova (
á existir entre a psicologia naturalista e a
filosófica deve-se às posições de partida da psicologia ganhou de~taque na URSS após os (
primeira. Nem o naturalismo mecanicista de acontecimentos de outubro de 1917. Com o advento
(
(
62 (
(
Vygotski Vygolski
COfIIe.<lo, ç""lribvi~e, à psicologia ç"",te,to, <Qí1~ib"l"õe, 11 p.icologio
a <> conceito d. • o c","coitedo
Zono de D.'.i..oI.imenlo PrcJdrn<>l lo"od. O.,en,d'olmentQ PfO>lmcl
- da revolução socialista a psicologia social progressista publicada em 1866, onde buscou vincular o psíquico
- entendida enquanto psicologia fundamentada nos à natureza, numa tentativa de superar a influência
pressupostos do materialismo histórico e dialético - idealista que considerava o psíquico como entidade
encontrou um campo profícuo para desenvolver-se. abstrata, inacessível à análise obj eriva. Cole e
Antes disso, o desenvolvimento da psicologia sovié- Scribner, na introdução que fizeram à edição do livro
tica apresentava características que a aproximavam de Vygotski "A Formação social da Mente",
da psicologia ocidental, ou seja, a separação entre esclareceram a importância do trabalho de Sétchenóv:
dois grupos distintos de estudos: os de caráter
mecanicista e os de cunho idealista. Setchenóv, que havia estudado com alguns dos
A psicologia de cunho mecanicista tinha um I' :
mais eminentes fisiologistas europeus, contribuiu
espaço muito grande nO)'el1 - .o científico soviético para a compreensão dos reflexos sensorimotores
devido aos avanços da(fi~iolo ia ue, j á no século simples usando a técnica da preparação neuro-
XIX, pesquisava a base material da atividade nervosa muscular isolada. Setchenóv estava convencido
superior. Os fisiológicos soviéticos mundialmente que os processos por ele observados em tecidos
conhecidos, como Setchenóv e Pavlóv, desenvol- isolados de rã eram, em princípio, os mesmos que
veram seus trabalhos seguindo as idéias filosóficas de ocorrem no sistema nervoso central dos organis . .
Chernishevski, considerado por Rubinstein como um mos intactos, inclusive nos seres humanos ...
materialista "pré .. marxista": Mesmo na ausência de evidências diretas para
essas especulações, as idéias de Setchenóv
[... ] o significado das suas idéias consiste em sugeriram as bases fisiológicas para a ligação entre
que ele, que se aproximou da psicologia a partir o estudo científico natural de animais e os estudos
de posições materialistas, não tentou, como filosóficos humanos anteriores" (COLE;
sucede com freqüência nos repres~ntantes do SCRIBNER in VYGOTSKI, 1984, p.3);
materia.. lismo vulgar e mecanicista, reduzir a
psicologia à filosofia. Pelo contrário, defendeu As linhas de investigação apontadas por
abertamente a criação de uma psicologia Setchenóv exerceram influência direta sobre as
verdadeiramente científica (RUBINSTEIN, investigações experimentais da psicologia russa,_
1972, p. 146). principalmente após os trabalhos de seu discípulo
Pavlóv. Conhecido no ocidente pela sua teoria de
Outro filósofo que influenciou o trabalho de estímulos condicionados que influenciou fortemente
Setchenóv e Pavlóv foi o revolucionário democrata o desenvolvimento da psicologia, Pavlóv manteve-
Dcibliúbov, que buscou combater o dualismo se, apesar disso, fiel ao seu projeto de fisiólogo. Babkin,
psicoÚsico orientando o pensamento social niSSO para aluno de Pavlóv, escreve que
uma.concepção de homem indivitível e unitária.
Setchenóv tomou-se conhecido internacio- Pavlóv nunca negou que a psicologia fosse uma
nalmente com sua obra "Os Reflexos do Cérebro", aproximação legítima à compreensão do mundo
"
u
1
•
Vygotski Vygolski
Conte.l<>, <onlribuiçôe' 11 p.lçologio ContlOOo, conlribui~o.., 11 p.kologia
e oconceltod. 1 e o cooe.lto de
Zona d. Desenvolvimento Pr",lmQI lon de De,envolvimonto Proximgl
(
(
interno do homem, mas defendeu veemen~ Ressalta~se, ent etanto, que ° representante mais
temente o direito da fisiologia, com seus métodos eminente da corrent idealista na psicologiê russa foi (
objetivos, estudar nos animais as manifestações
do que comumente se chamava vida 'psíquica',
ou, para usar um termo mais moderno, sua
Chelpanov, catedráti, o da Universidade de Moscou.
Chelpanov fundou, e· 1912, o Instituto de Psicologia
de Moscou, entidade tie viria a desempenhar um papel
•C
conduta" (PAVLÓV in SIGUÁN, 1987, p.26). decisivo no desenve>l imento da psicol8gia soviética. C
N a melhor tradição id alista, Chelpanovpropunha que (
As contribuições de Pavlóv tiveram tratamento
diferenciado na psicologia ocidental e na psicologia
soviéti~a. No ocidente, a sua visão de conduta foi
"[...1a 'psicologia pro ria-mente dita' devia estudar as
leis da alma, que se se'I' em do funcionam~nto cereb~l,
mas não se confunderlt com ele e tem entidade própna
•
(
absorvida enquanto resultado do pareamento de [...1 Para ChelpanJ[" o método fundamental da (
estímulos incondicionados com outros - aleatórios - psicolàgia devia ser instrospecção 'experimental'" (
que produziam, desse modo, respostas condicionadas. (RIVIÉRE, 1985, p. 3).
Entre os soviéticos, no entanto, a teoria de Pavlóv Chelpanovem regava, em seus experimentos, (
foi difundida de outra forma: enquanto duplo sistema os pressupostos da te ria psicológica alemã do século (
.
i'
de simlÍs. Ou seja, o estímulo condicionado é; na
verdade, a representação de um evento e envolve,
passado, cujomaiorrpresentantefoi W. Wundt. Para (
••
Chelpanov, o enfo : e materialista da menfe era
enquanto representação, as funções psicológicas inútil, o que refletia c ramente o dualismo psicofísico
superiores. Ressaltar essas diferenças na interpretação na medida em que ,erpetuava a separação "entre
das contribuições de Pavlóv é importante na medida
em que possibilita a compreensão dos avanços
posteriores da psicologia soviética, principalmente a
cérebro e mente. '
Tal posiciona nto suscitou críticas por' parte
dos psicólogos materi ,listas. A crítica mais acirrada à
••
introdução da idéia da mediação na conduta humana.
Opondo-se a essa corrente materialista
desenvolveu-se, com grandes repercussões por toda a
corrente idealista : m psicologia e, portanto, à
Chelpanov, foi feita p. r Bekhterev, acentuando ainda
mais a polêmica entr as duas correntes.'Bekhterev já
(•
URSS, a corrente idealista em psicologia. No ano de vinha se preocupa, do em superar a "crise da (
1885 foi fundada a Sociedade de Psicologia de psicologiaJt , prop::mdo: para isso, uma nova ciência .. a (
Moscou, cujos principais representantes eram reflexologia - pautad~: segundo ele, nos pressupostos (
•
Lopatine e Trubzkoi, entre outros. Essa tendência da teoria marxista. {\ reflexologia propunha-se a
idealista na psicologia russa acentuou-se após os estudar os fundame~os da conduta, porém suas
acontecimentos do "Domingo Sangrento", em 1905, explicações sobre as fo as mais complexas de compor- (
quando a população desiludiu-se com as possibilidades tamento era esquemát: ca e retórica na medida em que (
de mudanças na sociedade russa e com a forma através os reduzia à mera somtde reflexos (KOZULIN, 1994).
da qual os dirigentes políticos encaminhavam as (
Várias restriçõ s foram feitas à reflexologia,
reivindicações sociais. na medida em que' sta era encarada como um (
•
(
(,
(
Vygotski Vygotski
ContQxto, conlribul,õe'''' p,lcologlo tonho,lo, conl,lboi,õ., 11 p.icalogio
• o conceito d. • o coo«ilo d•
Iono do De,en",Mmenlo Pro,imol Zonode D."nvdvimonlo Prm:;rr.ol
.materialismo mecanicista e vulgar por apresentar uma realizado na URSS. Entretanto, a partir dessa data,
visão extremamente causal e linear das funções os rumos do desenvolvimento da psicologia soviética
psicológicas superiores do homem. Apesar de ter foram definitivamente alterados. Com a revolução
propagado a importância do marxismo enquanto socialista consolidada, ocorreu em Moscou, em 1923,
filosofia orientadora da construção de uma nova o I" Congresso Pan-Russo de Psiconeurologia. Esse
psicologia, as idéias de Bekhterev, na verdade, não evento foi de grande importância porque consistiu
davam conta de explicar a complexidade e desenvol- em espaço onde a manifestação dos conflitos
vimenro das funções psicológicas superiores em uma existentes entre as principais correntes da psicologia
perspectiva dialética. Isto porque a visão de homem pode acontecer. A palestra mais significativa foi
que o materialismo mecanicista comporta é a de ser proferida por Komilov, discípulo de Chelpanov. Em
reativo, isto é, _________
o homem é encarado como.QIganísmo seu pronunciamento, intitulado "Psicologia Contem-
. a. - ~-------
que mer"mente reage2?s estímulos d.º--IU.eio. Esta porânea e Marxismo", Komilov opôs-se à psicologia
concepção contrapõe-se, portanto, à visão de homem idealista por seu caráter individualista e por não consi-
enquanto sujeito histórico, ativo - modificador do derar a contribuição da filosofia marxista para a
contexto que o abriga ao mesmo tempo em que é por construção de uma nova psicologia. Opôs-se; conco-
este modificado -, defendida pela filosofia materialista mitantemente, à reflexologia de Bekhterev, pela forma
dialética. mecanicista com que tratava as questões psicológicas,
Após a Revolução Socialista de 1917, o debate reduzindo os processos psíquicos aos fisiológicos.
entre as diferentes tendências da psicologia ficou, de . A "Psicologia Marxista" proposta por Komilov,
uma certa forma, latente, sem se manifestar. A revista denominada reactologia', reconhecia o papel dos
da Sociedade de Psicologia de Moscou teve sua processos sociais no comportamento individual,
publicação suspensa e Chelpanov deixou a direção propunha que a dialética fosse levada ao campo da
do instituto até 1921, ano em que foi restituído ao psicologia e "[...] sugeria que a reação, definida como
cargo. a resposta do organismo a estímulos tanto físicos como
Como conseqüência dos ideais da Revolução sociais, deveria ser considerada como unidade
de 1917, os psicólogos soviéticos passaram a reavaliar metodológica da investigação psicológica"
seus pontos de vista, principalmente nos aspectos (KOZULIN, 1994, p.84).
referentes à aplicabilidade dos conhecimentos que
dispunham. Assim, criticavam tanto o idealismo de [ Komilov enunciou quaiS seriam, em seu entender, os prindpios
Chelpanov quanto o reducionismo de Bekhterev, de uma psicologia marxista: "Manter o monismo materialista, ou
alegando que suas respectivas abordagens não seja, reconhecer a natureza exclusivamente material do homem,
indicavam como lidar com os complexos problemas mas ao mesmo tempo afirmar a especificidade dos processos
psíquicos e sua irredutibilidade aos proéessos fisiológicos,
sociais enfrentados pela comunidade soviética. Paralelamente, abandonar o 'individualismo' t(pico da psicologia
'Em decorrência de todo esse contexto, até o clássica e reconhecer o papel dos processos sociais no
ano de 1923 nenhum congresso de psicologia foi comportatnentoindividual" (SIQUÁN, 1987, p.IO) .
.,
Vygolski Nygotski (
Conl.>!", conkibui~õe' .;, p,rcologio CO"~'O, l'f::::::::::O:.:,,'m'~'o
.. o eon~Qilo do
(,
cie:~;:,'~:~';~'::IOgia
Zona do Ooo.n\lOI'<I",,,,,'" p'""lmo'
indicavam o caminho para a construção de uma nova Juntamente com Lúria e Leontiév, jovehs
psicologia, "[ ... ] fundada sobre uma concepção pesquisadores do Instituto de Psicologia de Moscou,
verdadeiramente histórica do psiquismo humano, da Vygotski incumbiu-se da tarefa de elaborar uma nova
mesma forma como Marx desenvolveu uma análise' . psicologia, fundamentada epistemologicamente nos
da sociedade capitalista como produto de um processo princípios do materialismo histórico e dialético. Essa
histórico" (DUARTE, 2000, p.15). tarefa transformou-se em seu projeto de vida:
Essa perspectiva histórica está no cerne da
psicologia de Vygotsh Para este autor, o homem é Pessoas como Vygotski e seus colegas dedicavam
um ser eminentemente social, pois é a partir das cada hora de suas vidas a tomar real o novo estado
relações estabelecidas com outros que paulatinamente socialista, que o primeiro grande experimento
constrói suas característic;1s singulares e constitui . . se baseado nos princípios marxista . . leninistas, triun . .
enquanto sujeito, ou seja, enquanto alguém que, ao fasse ... Ainda que a psicologia soviética padecesse
mesmo tempo em que é marcado pelo contexto social mais tarde a imersão em um clima político dogmá. .
tíco ... Vygotski morreu antes que essa situação se
e histórico em que se insere, é capaz de regular sua
convertesse em um fato que impregnasse sua vida.
própria conduta e vontade, de reconhecer-se
Sua crença nos princípios marxistas era honesta
enquanto ser resultante da história e, ao mesmo
e profunda (WERTSCH, 1988, p. 28).
tempo, seu produtor. -""f"
"
Vygotski Vygotski
Coote.lo, oonhibviçõ .. , ã p.icologio Conte.,o, C<ln~ibvi'iÕ<"" p.kologio
(
Go <<>ocoilo de 9 ., <""'coilo d.
lono d. [)g'.Mol~imonto /'ro,imol lo"" do O.,en.ol.im.,,", Pro.imol
(
(
o que sim pode ser buscado previamente nos a especificidade do ser humano como um ser
(
mestres elo marxismo não é a solução da questão, histórico, social e cultural, por possuir essas três
e nem mesmo uma hipótese de trabalho (porque c~racterístJcas: a de ser uma atividade conscien. . (
estas são obtidas sobre a base da própria ciência), temente dirigida por uma finalidade previamente (
mas o método de construção. Não quero receber estabelecida ná consciência, a de ser uma
de lambuja, pescando aqui e ali algumas citações, atividade mediatizilda pelos instrumentos e a de (
o que é a psique, o que desejo é apreender na ser uma atividade que se materializa em um (
global idade do método de Marx como se constrói produto social, Ull) produto que não._ é mai.~ um (
a ciência, como enfocar a análise da psique objeto inteiramente natural, um produto q~le é
(
·,
"
(VYGOTSKI, 1996, p.395). uma objetivação da atividade e do pensamento
do ser humano (DUARTE, 2000, p.20S). (
Para Vygotski a psicologia deveria consistir na
(
ciência capaz de explicar como as características Seguindo o referencial marxista apresentam-se,
singulares humanas, os processos psicológicos, são portanto, três aspectos fundamentais da atividade (
produzidos a partir das relações sociais, isto é, do humana: a) o fato de ser orientada por um objetivo, (
convívio com outros indivíduos da espécie humana, b) de fazer uso dos instrumentos de mediação e c) de
(
capazes de elaborar cultura e fazer história. A análise produzir algo que se constitui como elemento:'da
da psicologia do seu tempo, no entanto, não o satisfez, cultura, seja caracterizado por uma existência física (
posto a forma dicotômica com que estas trabalhavam ou simbólica, e que consiste na objetivação do ser (
a relação sujeito/sociedade, priorizando ora um ou ora humano'.
(
outro pólo que, para o auror, estão inexoravelmente Uma das caract~rísticas que demarcam a
relacionados. especificidade da atividade humana - o seu caráter (
Em uma perspectiva dialética, a cultura resulta mediado - é aspecto de c'rucial importância em toda a (
da atividade humana conjunta; por sua vez, as obra de Vygotski que merece ser aqui desenvolvido.
(
características singulares de cada indivíduo em Isso porque via atividade instrumental o homem, ao
particular também resultam da atividade social, posto transformar o meio físico e social em que se encontra, (
que por seu intermédio o homem se objetiva e também se transforma. A atividade instrumental é (
concomitantemente se subjetiva, ou seja, constitui . . entendida, portanto, como unidade que preserva as
(
se enquanto sujeito. propriedades do todo numa perspectiva dialética, isto
O conceito de atividade/ação utilizado por é, compreende tanto O indivíduo quanto o meio físico- (
Vygotski está diretamente relacionado ao conceito social, em interação recíproca. t
de trabalho humano tal como proposto na teoria
(
marxista:
(
[... ] o' trabalho é, para Marx, uma atividade que Uma discussão mais aprofundada desta questão pode ser (
distingue O ser social do ser natural, isto é, define encontrada em Zanella {s/d}.
(
(
c
(
Vygotski Vygolski
--
Conrnxlo, conhibuiç<i •• ~ p'lcologi .. «mlo,lo, m"lribuj~Ô<I' /, p.icologla
• '" concello eI. • '" conc.llo d•
Zono ele De,envol.imento Pro,lmol Zono d. Do •• nvolvimonlo Pro,imol
,
Os instrumentos mediadores a que se refere existência simbólica" (PINO, 1995, p.33). Como
Vygotski são por sua vez produtos da atividade social destaca Pino ([991, p.34), "[ ... ] os signos são sinais
humana, historicamente construídos. Com essa que remetem ao objeto sinalizado em virtude,
condição entende-se que os mesmos não são herdados, unicamente, da relação artificial e variável que o
mas ativamente tornados próprios por cada novo homem estabelece entre eles". Os signos, portanto,
integrante da cultura através das relações que são produções sociais que se caracterizam pela
estabelece com os muitos outros com os quais convive .. generalização: no caso da linguagem oral, . por
Estes instrumentos podem ser de duas naturezas: exemplo, esta só se constitui enquanto signo se fizer
a) física, como no caso de ferramentas, que modificam sentido para o outro, se for partilhada. Essas
o meio físico e o sujeito da ação; e b) representacional, características diferenciam o signo do sinal: este
que seriam os signos, os quàis incidem e modificam a mantém uma relação invariante entre o objeto
relação do homem consigo mesmo e com os outros sinalizado e o que o homem interpreta, o que pode
homens. ser exemplificado com O ditado "onde há fumaça
Com relação aos signos, Vygotski destaca que (sinal), há fogo".
é objetivo destes: A atividade caracteristicamente humana, pois,
é sempre e necessariamente mediada, o que demarca
[... ] governar os processos de atuação, alheia a relação indireta que estabelecemos com a realidade:
ou própria, do mesmo modo que está dirigida de acordo com a perspectiva vygotskiana, o nosso
a técnica a governar os processos da natureza. contato com o mundo físico e social não é dlreto, é
Como exemplos de ferramentas psicológicas e de na verdade marcado por aquilo que slgnlflcamos desse
seus sistemas complexos podem servir: o idioma, próprlo mundo, slgnificação essa igualmente marcada
as clistintas formas de numeração e cálculo; os pelas nossas experlências, posslbilidades, enfim, pela
recursos mnemotécnicosj a simbologia algébrica; nossa história de vlda.
as obras de arte; a escritaj os esquemas; os diagra. . A significação, entendida enquanto proprie-
mas, os mapas, os desenhos; todas as formas
dade do signo - aquilo que o signo significa para os
possíveis de signos convencionais
sujeitos em relação - remete aos sentidos e slgnificados
(VYGOTSKI, 1987a, p.182)
por este veiculado. A diferença entre estes é explicada
por Vygotskl ([99Ib, p.333) da seguinte forma: "[... ]
O destaque dado por Vygotski aos signos
o sentido da palavra é a soma de todos os eventos
enquanto mediadores da atividade e constitutivos das
psicológlcos evocados em nossa consciência graças à
caractedsticas especificamente humanas é reco~
nhecido como contribuição ímpar para a psicologia. \ palavra. O slgnificado é só uma dessas zonas do
\ sentido, a mais estável, coerente e precisa".
Estes caracterizam-se pelo fato de representarem
Sendo o significado a zona mais estável dos
alguma coisa, em uma relação· convencional,
sentidos, depreende-se o seu caráter compartilhado,
socialmente estabelecida, o que possibilita ao homem
o que possibilita a comunicação humana. A dimensão
"[ ... ] conferir ao real outra forma de existência: a
"
Vygotski Vygotski (
Conle.,,,_ ~on~lbojç"".lI p.kolo9jO
Conl.<lo, con~ih"içiiQ' o p,kol"llio • o coneeilo d.
o o <oocello d.
lono ele O•• an.ol.im.nlo f'ro>lmol lona d. D~'~o'iOlvlmelllo f'fo"rn~1 (
(
dos sentidos, porém, é livre, plural, liberta de qualquer "[... ] ao desenvolvimento cultural, o que conhecemos (
amarra ainda que socialmente produzida, posto que como o domínio de melos externos da conduta cultural (
os homens trazem inexoravelmente a marca do e do pensamento, ou o desenvolvimento da linguagem,
contexto sócio-histórico, econômico e político no qual do cálculo, da escrlta, da pintura, etc." (VYGOTSKI, (
se inserem e participam ativamente. José Saramago 1991c, p.34). Através da apropriação da cultura são (
nos apresenta um retrato poético das diferenças entre . modificadas as funções psicológicas e suas
(
sentido e significado, que vale a pena aqui apresentar: interrelações, o que permite ao homem modificar
significativamente as relações que estabelece com a «
[... ] sentido e significado nunca foram a mesma realidade física e social, bem como consigo mesmo. «
coisa; o significado fica . . se logo por aí, é direto,
literal, explícito, fechado em si mesmo, unívoco,
Os processos mentais superiores, portanto,
resultam de atividades humanas significativas «
por assim dizer, ao passo que o sentido não é capaz (KOZULIN, 1994, p.114), e a diferença destes em (
de permanecer quieto, fervilha de sentidos segun- relação às funções psicológicas elementares reside (
dos, terceiros e quartos, de direções irradiantes no fato de serem inexoravelmente mediados (
que se vão dividindo e subdividindo em ramos e semioticamente.
ramilhos,' até se perderem de vista, o sentido de Somam-se ao uso de signos mediadores outras (
cada palavra parece-me com uma estrela quando características das funções psicológicas superiores: estas (
se põe a projectar marés vivas pelo espaço fora, obedecem à auto-regulação (diferenciam-se, pois, das
ventos cósmicos, perturbações magnéticas,
(
funções elementares, sujeitas ao controle do meio),
aflições (SARAMAGO, 1997). são conscientemente ativadas e tem uma natureza (
eminentemente social, posto que pressupõetn a (
É, pois, a atividade instrumental, ou seja, ativi~ existência de ferramentas psicológicas, utilizadas para (
dade mediada pelo uso de ferramentas, sejam estas de o controle da atividade tanto do sujeito empreendedor
natureza material ou representacional, que se cons .. da ação quando dos demais sujeitos envolvidos. (
titul, para Vygotskl, como a categorla de mediação O processo de formação das funções psicológicas (
queposslblllta ao homem, partindo de sua base superiores e da consciência, que resulta do movimento (
material, fllogenétlca, constituir o seu psiqulsmo, as entre as esferas interpsicOlógica e intrapsicológica,
suas funções pslcológlcas superiores. esclarece o vetor do desenvolvimento humano na
(
Vygotski utlllza a expressão "funções psicoló- concepção de Vygotski: o indivíduo já nasce um ser (
gicas supertores" para designar as funções social e, paulatinamente~ a partir da apropriaÇãodãS (
caracteristicamente humanas, como o pensamento 'SIgníflcaçoes produzidas nas refaçõ~~, constitui-
deliberado, a atenção voluntária, a linguagem, as quals
se dlferenciam das "funções pslcológlcas elementares",
se enquanto. sujeito, ou seja, aI uém c!j]Jaz de regular,
(
vo untariamente, sua conduta: "[ ... ] o vefõr (
presentes predominantemente nos momentos iniciais
do desenvolvimento humano. Para este autor, o
fundamental do desenvolvimento é o deficldo pela
. intenõnzaçao °oos mstrumentos e dos signos, pelã
«
concelto Função Pslcológlca Superior está relacionado
--------- (
(
(
(
(
& ili~
Vygotski Vygotski
Con~Jdo. conl,ibuiçõe. à p.icologr" Conle1<l0, <en~ib"içõe." p.imloglo
." conrnllode e O coneeile do
Zono de O.... nvol.lmenlo PrQ,amal _ Zon~ d._Oe.en'l<llvimenlo Pro,imol
"
Vygolski (
Conwxtc>, "onlrlbviçô.. " p.icologla
• o 0>0«110 do
Zona de O.,,,,,voIvimenlo /'truimal (
(
A linguagem é t· o antiga quanto a consciência . . (
estabelecido, de tal mediação. A palavra, na verdade,
a linguagem é consciência real, prática, que
a despeito de conter um significado mais estável, (
.
.~'
compreende vários sentidos, conforme anterionnente
existe para os Ql tros homens e, portanto, existe
também para mi mesmo; e a linguagem nasce, (
referido, por vezes ligados às d'iversidades lingüísticas
como a consciê da, da carência, d~~d,f
e sociais. (
de intercâmbio c. m outros homens ... A consciên. .
Quanto à essa polêmica, cabe ressaltar que, para
cia, portanto é ~s e.o início um rod~tã:'l, C
Vygotski, os signos constituem-se como categoria de econtinuará se -do enquanto existirem home-ns
mediação na transformação das funções psicológicas C
(tvrA'"RX;E LS, 1989, p. 43).
elementares em funções psicológicas superiores, na (
medida em que estão incorporados à atividade prática. Assim, ao postular a gênese social da (
Mesmo antes de se apropriar da linguagem, esta consciência, Vygotsk~.fundamenta-se na concepção (
constitui-se como categoria de mediação na medida de homem do materi lismo histórico e dialético: o
em que a criança, desde que nasce, está inserida em (
homem entendido ô quanto sujeito da história,
um contexto simbólico, pois constitui-se como determinante e deter,minado pelo contexto que o (
".. .'objeto do discurso do outro'. Desde o início, ela é cerca. Na concepção dialética marxista "[H'] os (
'sujeito' de ações significantes para o outro, o que a indivíduos fazem-se uns aos outros, tanto física quanto
insere irremediavelmente no circuito do simbólico". espiritualmente, mas não se fazem a si mesmos l!,,] as (
(PINO, 1992, p. 36). circunstâncias fazem os homens assim como os (
Portanto, na perspectiva de Vygotski, a homens fazem as circunstâncias" (ibid, p. 55) (
consciência é semioticmnente estruturada, pois resulta Com essa perspectiva, Vygotski proqirava
da apropriação das significações produzidas em claramente superar tentativas de redução da (
contextos interpsicológicos, a partir da atividade consciência a simples copexões de reflexos que, uma {
instrumental dos sujeitos em relação. As significações, vez instalados, assim permaneciam. Por outro lado, (
por sua vez, referem~se a "... 0 que as coisas querem contrapunha-se às perspetivas idealistas que cindiam
dizer, aquilo que alguma coisa significa. Como as coisas a consciência de sua base material, pois no seu (
não significam por si só, e nem tão pouco significam entender a psique "[ ... ] não deve ser considerada como (
a mesma coisa para indivíduos diferentes, depreende- uma série de processos especiais que existem em algum (
se que a significação é fenômeno das interações, sendo, lugar na qualidade de complementos acima e aparte
pois, social e historicamente produzida" (ZANELLA, dos cerebrais, mas como expressão subjetiva desses (
1997, p.67). mesmos processos, como uma faceta especial, uma (
Propagando que os principais signos utilizados característica qualitativa especial das funções (
pelos homens em suas diferentes atividades são os superiores do cérebro" (VYGOTSKI, 1991a, p.100)
linguísticos, Vygotski estabelece uma ponte entre a O estudo da consciência - assim concebido - (
linguagem e a consciência, que encontra claras deveria superar a análise de funções psicológicas (
referências na filosofia marxista: isoladas, visto pressupor a presença de interrelação (
(
(
(
Vygolski Vygotski
Conte.!o, ~ootrib"'ç"" ~ psicologia Co"'''''o, contrlbul,ca' à p.icologla
G .1&
o conceifo e o concailo d.
lon" de De,,,,,,,,I.imenlo ""lÔmo! Zona d... D.,on"dvlm.nlo Proximal__
dinâmica e dialética entre estas, assim como a base método da "dupla estimulação". O objetivo des~e
afetivo-volitiva que as origina e transforma. A análise ~étodo consIs.tia~em~recon&trJ,)ir ex~almeme
por elementos, isto é, de funções isoladas, não o~essos ckg~ne~e.Lf0.J:.maç_ã~e transform..,gç-ªº.4.a.s
permitiria ao pesquisador compreender o caráter f~ psicológicas_,,- da'<';'CCflsciência, para então
dinâmico do funcionamento psicológico humano. poder explicar cientificamente a mig=-so.ciaLe
Para tomper com essas fragmentações, Vygotski ~dohQmeme
propunha que os fenômenos fossem estudados Nesse sentido, Vygotski tentava-elaramente
conjuntamente, para que fosse possível observar sua trazer, para o campo da psicologia, a perspectiva
interação no processo de desenvolvimento humano. dialética, pois " ... a abordagem dialética, admitindo a
Desse modo, Vygotski visava superar a forma tradi- influência da natureza sobre o homem, afirma que o
cional de análise dos fenômenos, ou seja, aquela que homem, por sua vez, age sobre a natureza e cria, através
os via como partes estanques de uma estrutura das mudanças provocadas por ele na natureza, novas
--"-
organizadora estática. condições naturais para sua existência" (ENGELS in
Todas essas contribuições de Vygotski para o VYGOTSKI, 1984, p. 70).
campo da psicologia, inegavelmente originais no As funções psicológicas superiores só poderiam
contexto científico da sua época, o levaram a criar ser explicadas, portanto, através da análise do curso
um novo método de investigação devido à sua do des~nvolvimento destas. Para estudá-lo, fazia-se
concepção acerca do processo de constituição do necessário criar situações experimentais onde o sujeito
sujeito: se defrontasse com problemas de difícil resolução que
o obrigassem a fazer uso de elementos neutros
[...] o estudo histórico significa simplesmente a enquanto signos mediadores da sua atividade, Nesse
utilização da categoria de desenvolvimento na sentido, para se estudar o curso do desenvolvimento
investigação dos fenômenos. Estudar algo de uma função psicológica superior, qualquer que fosse
historicamente quer dizer estudá .. lo e~ movi . . ela, a situação investigada deveria oferecer ao sujeito
I mento. Esta é a exigência fundamental do método
dialético. Abarcar na investigação o processo de
o máximo de oportunidades para que este Se envol-
vesse em atividades as mais variadas possíveis, posto
I~
s
desenvolvimento de alguma coisa em todas as suas
fases e mudanças - desde que surge até que
que o foco de análise centra-se na atividade do sujeito
e em seus signos mediadores.
desapareça .. é o que significa, em essência, O método genético-experimental pode ser
~
descobrir sua natureza, descobrir sua essência, já melhor compreendido a partir dos seus três princípios
que. 'só em movimento, o corpo mostra o que básicos, a saber:
é'" (VYGOTSKI, 1987b, p.74) I) Analisar processos e não objetos- ênfase em
que as funções psicológicas superiores sejam analisadas
P~ra estudar, portanto, a gênese social da no processo do seu desenvolvimento, pois são resul-
.consciência e das funções psicológicas superiores, tantes deste, e não apenas em termos de r,esultados,
Vygotski criou o "método genético-experimental" ou de possibilidades de atuação in,dependente do sujeito,
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Vygolski ygot'ki (
COnle,dQ, <o~lribui~õe,'" p'lcologia Conte><!o, ~Ibolçõe, ~p.icologiQ
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11) Explicação x descrição - buscar a explicação com que estes, em sua (unçãO de significação, sejam
(
(
das formas superiores do comportamento humano apropriados. N o enta~to, mais do que se apropriar
deixando de lado práticas meramente descritivas, pois das mediações social ente produzidas, o homem é (
segundo Vygotski estas não revelam as relações produtor ativo de nov s mediações,o que remete ao {
dinâmicas subjacentes ao fenômeno que está sendo papel ativo do sujeito.
(
investigado: "[ ...] explicar significa estabelecer uma Por sua vez, con ber a origem social dos signos
conexão entre vários fatos ou vários grupos de fatos, remete à concepção d. ciência de Vygotski, onde é (
explicar é referir uma série de fenômenos a outra" rejeitada a POSSibilida1. de neutralidade. por parte do (
(VYGOTSKI, 1996, p.216) experimentador be como do ambiente de (
IlI) O problema do comportamento fossilizado investigação. As possí eis contribuições do experi-
- a pesquisa psicológica constantemente se defronta mentador bem como s estímulos do ambiente de (
com o problema da análise de comportamentos investigação podem se utilizados pelo suj eito como (
fossilizados, isto é, comportamentos que "perderam instrumentos que permItem a este exercitar o domínio (
sua aparência original, e sua aparência externa nada sobre si mesmo e, conAequentemente, desen~olver
nos diz sobre a sua natureza interna" (VYGOTSKI, se em direção a forma~ mais complexas de atuação e {
1984, p.73). interação com o meio.; (
cern~
A análise das funções psicológicas superiores (
requer, portanto, que o pesquisador transforme "".a Em suma: VygJtski trouxe para o da
coisa em movimento, a fossilização eln proces . . psicologia a noção 4e homem histórico, que se «
so"(VYGOTSKI, 1987b, p.1l3) para que estas constitui enquanto suJeito a partir das relações que (
possam ser explicadas. estabelece com outrosihomens. Pautado na filósofia
marxista, o autor tentou explicar como as funções
«
Posto que o método genético-experimental psíquicas superiores dq homem se originam e desen- (
procura traçar a origem e o desenvolvimento dos volvem em contextosisociais específicos, P sendo a «
processos psicológicos superiores, faz-se necessário
considerar que o desenvolvimento do indivíduo, na
característica definidora destas a mediação semiótica.
Muitas das conÇribuições de Vygotski para a
«
(
perspectiva de Vygotski, é caracterizado pelo uso de psicologia não se apr~sentam de forma acabada e,
signos, instrumentos estes que o permitem regular a necessário destacar, a leitura de seu legado requer o (
sua própria conduta e a dos outros. Através do método conhecimento do em que sua obra foi (
genético-experimental o investigador procurará, cunhada, seus interlocutores e o léxico
(
portanto, estudar quais são e como o sujeito faz que a caracteriza. são poucas as leituras de
uso de variados signos na execução de tarefas Vygotski que, ao esses aspectos, caem «
diversificadas. em um discurso por expressões próprias da (
Os signos estão presentes no contexto social, a reflexologia e por uma compreensão
(
posição ativa do sujeito perante situações variadas faz mecanicista de seus I . Seguindo outra
(
Vygotski
ConlnxlD, conlribul~Ô<!. 6 p.lcDlogio
!~· · '·
;;1~':
fi'•.IT··o: . Vygotski
Conle,lo, 'contribui,6os ir p.icol"'IJlo
a o conceilo de
'o:
Zona de De'.h,olvimento PrOlCimol Zono d. ~e~.~:f:i~.~io l',o~mol
'~r
_. i
vertente, há também leituras da perspectiva mecanicista, o ;homem que Vigotski nos
vygotskiana que a aproximam de teorias liberais e pós- apresenta é um ser concreto que, cdando suas
modernas, como analisa Duarte (2000). próprias condiç5~,s de existência, faz~se na
Com leituras mecanicistas ou idealistas de história ao mesmo tempo que faz essa história.
Vygotski perde-se o que muitos estudiosos de sua obra Um homem qu'e, armado do domínio da I ,
reconhecem como relevante contribuição para o tecnologia e do poder da palavra, assume, para
desenvolvimento da psicologia, a saber, a dimensão o bem ou para o mal, o controle da sua própria
histórica que explica a constituição do psiquismo evolução. Por isso mesmo, essa visão do homem
humano e suas transformações em decorrência das veicula também uma concepção ética, uma vez
mudanças nos.contextossoclaís: .". que implica a responsabilidade de construir uma
ordem social capaz de assegurar a todos os
J ..]o mais importante é que introduziu, na homens um presente e um futuro dignos desse
mesmo homem (PINO, 2000, p.8).
í
I
/ investigação psicológicos concreta, a idéia da
historicidade da natureza do psiquismo humano
e da reorganização 'dos mecanismos naturais dos Por fim, cabe destacar que os trabalhos de
' processos psíquicos no decurso da evolução sócio~ Vygotski, ao abrirem caminho para uma série de
histórica e ontogênica. Vygotski interpretava essa pesquisas na área da psicologia, fazem com que este
reorganização como o resultado necessário da autor seja reconhecido como fundador de uma nova
apropriação pelo homem dos produtos da cultura psicologia, denominada histórico-cultural. A despeito
\ ,humana no decurso dos seus contatos com os seus do debate atual acerca' da concretização ou não de
.I
ie~lhantes (LEONTIÉV, 1978, p. 153). uma terceira via em psicologia pelos russos, via esta
"----
Sob a ba~e-'dess"''Pe'rspectiva encontra-se a
I
que supera O dualismo psicofísico, vários estudiosos
reconhecem que a contribuição de Vygotski no campo
concepção de homerp como social e histórico, o que da psicologia é de fundamental importância. Na
significa um importante pressuposto para investi- verdade, ela constitui uma das mais relevantes
gações e intervenções que partam do princípio de que aplicações da teoria marxista ao estudo da gênese e
a realidade resulta da ação de sujeitos concretos que desenvolvimento das funções psicológicas
coletivamente organizam o seu viver. Desse modo, ° caracteristicamente humanas, que possibilita a
que hoje se apresenta é resultado da história dos compreensão das relações sujeito e sociedade como
próprios homens, sendo que estes tem, por sua vez, a mutuamente constitutivas.
responsabilidade de manter ou transformar o contexto
no qual se inserem. A esse respeito Pino (2000)
esclarece:
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