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Cli-CRC CLIMATOLOGIA

CLIMATOLOGIA

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CLIMATOLOGIA

CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD


Climatologia – Prof.ª Ms. Danúbia Caporusso Bargos
Prof. Luiz Ricardo Meneghelli Fernandes

Olá! Meu nome é Danúbia Caporusso Bargos. Sou mestre em Geo-


grafia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP e gradu-
ada em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP/Rio
Claro. Possuo experiência na área de Geografia com ênfase em Pla-
nejamento Urbano e Ambiental. Desenvolvo pesquisas relacionadas
a Qualidade Ambiental Urbana, Cartografia, Sensoriamento Remoto
e Geotecnologias.
E-mail: [email protected]

Meu nome é Luiz Ricardo Meneghelli Fernandes. Sou licenciado em


Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
(Unesp), no campus de Rio Claro. Atuo como professor da Educação
Básica nos níveis Fundamental e Médio e sou tutor do curso de Licen-
ciatura em Geografia, nas modalidades presencial e a distância, do
Centro Universitário Claretiano, além de ministrar aulas na Gradua-
ção. Atualmente, curso Pós-graduação em Ensino Superior.
E-mail: [email protected]

Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação


Danúbia Caporusso Bargos
Luiz Ricardo Meneghelli Fernandes

CLIMATOLOGIA

Batatais
Claretiano
2013
© Ação Educacional Claretiana, 2012 – Batatais (SP)
  Versão: dez./2013

551.6 B23c
  Bargos, Danúbia Caporusso
Climatologia / Danúbia Caporusso Bargos, Luiz Ricardo Meneghelli
Fernandes – Batatais, SP : Claretiano, 2013.
  218 p.

ISBN: 978-85-8377-080-0

1. Atmosfera. 2. Radiação solar. 3. Clima. 4. Circulação atmosférica.


I. Fernandes, Luiz Ricardo Meneghelli. II. Climatologia.

CDD 551.6

Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional


Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves

Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Dandara Louise Vieira Matavelli Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes Sônia Galindo Melo
Josiane Marchiori Martins
Talita Cristina Bartolomeu
Lidiane Maria Magalini
Vanessa Vergani Machado
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza Projeto gráfico, diagramação e capa
Patrícia Alves Veronez Montera Eduardo de Oliveira Azevedo
Rita Cristina Bartolomeu Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira Luis Antônio Guimarães Toloi
Raphael Fantacini de Oliveira
Bibliotecária Tamires Botta Murakami de Souza
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Wagner Segato dos Santos

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer
forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na
web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do
autor e da Ação Educacional Claretiana.

Claretiano - Centro Universitário


Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000
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SUMÁRIO

CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 9
2 ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO.............................................................................. 10
3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 25
4 E-REFERÊNCIA..................................................................................................... 25

Unidade  1 – ATMOSFERA TERRESTRE


1 OBJETIVOS........................................................................................................... 27
2 CONTEÚDOS........................................................................................................ 27
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE..................................................... 28
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................... 28
5 ATMOSFERA........................................................................................................ 29
6 BALANÇO DE RADIAÇÃO..................................................................................... 48
7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS............................................................................. 55
8 CONSIDERAÇÕES................................................................................................. 56
9 E-REFERÊNCIAS................................................................................................... 57
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 57

Unidade  2 – FATORES DE INFLUÊNCIA NO CLIMA


1 OBJETIVOS........................................................................................................... 59
2 CONTEÚDOS........................................................................................................ 59
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE..................................................... 60
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................... 61
5 ELEMENTOS DO CLIMA....................................................................................... 62
6 FATORES DO CLIMA............................................................................................. 71
7 TEMPO E CLIMA.................................................................................................. 82
8 ESCALAS DE ANÁLISE........................................................................................... 83
9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS............................................................................. 85
10 CONSIDERAÇÕES................................................................................................. 86
11 E-REFERÊNCIAS................................................................................................... 86
12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 87

Unidade  3 – CIRCULAÇÃO GERAL DA ATMOSFERA


1 OBJETIVOS........................................................................................................... 89
2 CONTEÚDOS........................................................................................................ 89
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE..................................................... 90
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................... 91
5 CIRCULAÇÃO GERAL DA ATMOSFERA.................................................................. 91
6 ESCALAS DE OBSERVAÇÃO.................................................................................. 101
7 EL NIÑO E LA NIÑA.............................................................................................. 106
8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS............................................................................. 109
9 CONSIDERAÇÕES................................................................................................. 110
10 E-REFERÊNCIAS................................................................................................... 110
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 111

Unidade  4 – ÁGUA NA ATMOSFERA E FORMAS DE PRECIPITAÇÃO


1 OBJETIVOS........................................................................................................... 113
2 CONTEÚDOS........................................................................................................ 113
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE..................................................... 113
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................... 114
5 A ÁGUA NA ATMOSFERA..................................................................................... 115
6 PRECIPITAÇÃO..................................................................................................... 121
7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS............................................................................. 127
8 CONSIDERAÇÕES................................................................................................. 128
9 E-REFERÊNCIA..................................................................................................... 128
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 128

Unidade  5 – TIPOS DE CLIMAS


1 OBJETIVOS........................................................................................................... 129
2 CONTEÚDOS........................................................................................................ 129
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE..................................................... 130
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................... 130
5 TIPOS DE CLIMA.................................................................................................. 131
6 CLASSIFICAÇÃO DE KÖPPEN................................................................................ 132
7 CLASSIFICAÇÃO DE THORNTHWAITE.................................................................. 134
8 CLASSIFICAÇÃO DE STRAHLER............................................................................. 137
9 CLIMOGRAMAS................................................................................................... 138
10 OS TIPOS CLIMÁTICOS DO BRASIL....................................................................... 140
11 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS............................................................................. 149
12 CONSIDERAÇÕES................................................................................................. 150
13 E-REFERÊNCIAS................................................................................................... 151
14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 151

Unidade  6 – CLIMA URBANO


1 OBJETIVOS........................................................................................................... 153
2 CONTEÚDOS........................................................................................................ 153
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE..................................................... 154

Claretiano - Centro Universitário


4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................... 155
5 CLIMA E CONSTRUÇÕES...................................................................................... 156
6 A CIDADE E O CLIMA........................................................................................... 159
7 TEXTO COMPLEMENTAR..................................................................................... 172
8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS............................................................................. 180
9 CONSIDERAÇÕES................................................................................................. 180
10 E-REFERÊNCIAS................................................................................................... 180
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 181

Unidade  7 – A UTILIZAÇÃO DO SENSORIAMENTO REMOTO NOS


ESTUDOS DO CLIMA URBANO
1 OBJETIVOS........................................................................................................... 183
2 CONTEÚDOS........................................................................................................ 183
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE..................................................... 183
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................... 184
5 O SENSORIAMENTO REMOTO COMO INSTRUMENTO PARA OS
ESTUDOS DE CLIMA URBANO............................................................................. 185
6 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS............................................................................. 196
7 CONSIDERAÇÕES................................................................................................. 196
8 E-REFERÊNCIAS................................................................................................... 197
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 197

Unidade  8 – OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DO TEMPO ATMOSFÉRICO:


PRINCIPAIS TÉCNICAS E INSTRUMENTOS
1 OBJETIVOS........................................................................................................... 199
2 CONTEÚDOS........................................................................................................ 199
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE..................................................... 199
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................... 201
5 A OBSERVAÇÃO DO TEMPO ATMOSFÉRICO........................................................ 201
6 TEXTO COMPLEMENTAR..................................................................................... 215
7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS............................................................................. 216
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................... 217
9 E-REFERÊNCIAS................................................................................................... 217
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 218

Claretiano - Centro Universitário


Claretiano - Centro Universitário
Caderno de
Referência de
Conteúdo

CRC
Ementa––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Atmosfera da Terra. Radiação solar e efeitos no planeta Terra. Fatores que in-
fluenciam o clima. Circulação atmosférica. Massas de ar. Classificações climáti-
cas. Clima Urbano. Escalas de Estudo do Clima Urbano. Sensoriamento Remoto
como Ferramenta para o Estudo do Clima Urbano.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

1. INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo ao Caderno de Referência de Conteúdo de
Climatologia!
No decorrer de nossos estudos, vamos entender algumas
das características mais marcantes da atmosfera terrestre e suas
consequências na manutenção das temperaturas, da pressão e da
umidade.
Conheceremos, ainda, o universo invisível de gases que nos
circundam e compreenderemos que, neste "mar de gases", os
raios solares incidem, são refletidos ou absorvidos, chegam até a
superfície e, finalmente, geram aquecimento, possibilitando que
haja vida em nosso planeta.
10 © Climatologia

Veremos, também, que a atmosfera possibilita a vida por


conter gases que são essenciais à manutenção de organismos,
como, por exemplo, os seres humanos. Compreenderemos, ain-
da, que, apesar disso, a própria humanidade vem desempenhando
papel fundamental para a alteração dessa esfera, causando pro-
blemas que podem ser de grande relevância para as alterações em
nível global.
Além disso, estudaremos o tempo e o clima, elementos fun-
damentais não só para entendermos o que vamos estudar neste
Caderno de Referência de Conteúdo, mas também para o foco de
estudo geral da Geografia, visto que eles têm influência direta na
existência dos vegetais, no intemperismo de rochas, nas dinâmicas
de transporte de material, no aproveitamento de solos agricultá-
veis e na ação do homem em diversos aspectos.
Após esta introdução aos conceitos principais deste Caderno
de Referência de Conteúdo, apresentaremos, a seguir, no Tópico
Orientações para estudo, algumas orientações de caráter motiva-
cional, dicas e estratégias de aprendizagem que poderão facilitar
o seu estudo.

2. ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO


Abordagem Geral
Prof. Luiz Ricardo Meneghelli Fernandes
Neste tópico, apresenta-se uma visão geral do que será estu-
dado neste Caderno de Referência de Conteúdo. Aqui, você entrará
em contato com os assuntos principais deste conteúdo de forma
breve e geral e terá a oportunidade de aprofundar essas questões
no estudo de cada unidade. Desse modo, essa Abordagem Geral
visa fornecer-lhe o conhecimento básico necessário a partir do
qual você possa construir um referencial teórico com base sólida
– científica e cultural – para que, no futuro exercício de sua profis-
são, você a exerça com competência cognitiva, ética e responsabi-
lidade social.
© Caderno de Referência de Conteúdo 11

A Climatologia, conforme Ayoade (1983), é o estudo cientí-


fico dos climas.
Você deve estar pensando que esse conceito é muito amplo,
então, vamos limitar um pouco sua abrangência, entendendo o
que é tempo e clima.

Tempo e clima
Tempo atmosférico é toda situação momentânea da atmos-
fera.
Se o dia está nublado pela manhã, podemos dizer que o tem-
po está chuvoso, mas, se o Sol aparece no final da tarde, por exem-
plo, dizemos que houve uma mudança de tempo.
O estudo das condições do tempo ao longo de 30 anos, no
mínimo, indica para o climatologista como é o clima de determi-
nado local.
Esse cientista vai analisar como é a quantidade de chuva de
um local, as médias térmicas, a quantidade de insolação, entre
outros elementos, determinando quais tipos de tempo são mais
constantes naquele local.
Os métodos científicos a que me referi no momento da defi-
nição de Climatologia têm a ver com essa análise de dados do tem-
po e contemplam técnicas estatísticas para descobrir informações
do clima a partir das condições momentâneas da atmosfera.
O cenário para o acontecimento desses fatos é a atmosfera,
esse mar de gases invisíveis que estão ao nosso redor.
Essa camada de gases se desprendeu da Terra no momento
da sua solidificação e permaneceu junto dela pela força da gravi-
dade.
Diferentes partes da atmosfera apresentam características
que também são diferentes. Dessa forma, podemos dividi-la em
camadas que somam um total de quatro:

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12 © Climatologia

1) Troposfera: que está em contato direto conosco, portan-


to, é a camada mais baixa.
2) Estratosfera: que está logo acima e que possui grande
parte do ozônio da atmosfera.
3) Mesosfera: que possui pressão baixíssima e está a mais
de 50km acima do solo.
4) Termosfera: que é a última e se estende até o momento
em que os gases se tornam tão rarefeitos que a atmosfe-
ra deixa de existir.
Observe a Figura 1.

Km Satélites
EXOSFERA
450 –

Auroras
polares 
TERMOSFERA
OU
IONOSFERA

Ondas de rádio

80 –
Raios
Aviões côsmicos MESOSFERA
supersônicos
50 –
Camada de ozônio ESTRATOSFERA
Explosões
Fenômenos atômicas
10 – atmosféricos Poluentes
TROPOSFERA
0–
Balões

Figura 1 Camadas da atmosfera.


© Caderno de Referência de Conteúdo 13

A troposfera é a camada que está em contato direto conosco.


Possui o maior volume de gases e quase a totalidade da água que
está na atmosfera.
Essa camada da atmosfera é a mais importante para nós,
pois, como dissemos, ela é que está em contato direto com a su-
perfície e é nela que acontecem os fenômenos meteorológicos de
que temos notícias em todos os meios de comunicação, bem como
vislumbramos no nosso cotidiano, como chuvas, raios, ventos, tro-
vões, entre outros.
Se pensarmos nesses eventos como um sistema, podemos
concluir que o principal fornecedor de energia é o Sol.
Esse astro emite uma série de raios que incidem na parte
mais externa da atmosfera.
Parte desses raios é refletida de volta para o espaço e parte
é absorvida pela própria atmosfera.
Metade da energia vinda do Sol e que chega ao nosso plane-
ta atinge a superfície da Terra e a esquenta.
Os raios que são absorvidos pelos gases da atmosfera so-
mam-se ao calor reirradiado pela superfície do planeta em forma
de calor e aquece a atmosfera, proporcionando calor suficiente
para a manutenção da vida.
O principal motivo para o aquecimento dos gases da atmos-
fera é a energia solar, que aquece as superfícies do planeta. As
mais diversas superfícies recebem a insolação e reagem a ela refle-
tindo ou absorvendo os raios solares nos vários comprimentos de
onda. Quando elas absorvem esses raios, aumentam sua tempera-
tura e transmitem esse calor para a atmosfera.
Quando sentimos calor em um dia de verão, por exemplo, é
sinal de que esses gases estão mais aquecidos.
Sem esses mecanismos, não teríamos as temperaturas ide-
ais que existem aqui na Terra.

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14 © Climatologia

Esse processo todo é chamado de "efeito estufa" e é benéfi-


co para a manutenção da vida na Terra.
O grande problema, segundo os cientistas que defendem a
hipótese do aquecimento global, é o lançamento exagerado de ga-
ses de efeito estufa, provocando uma situação fora do normal para
a atmosfera.
Agora que já vimos que o clima é a média de tempo em mais
de 30 anos, você pode imaginar a gravidade do que está sendo
afirmado sobre aquecimento global.
Outra indicação da influência dos raios solares na tempera-
tura do planeta são as baixas temperaturas em locais com maior
latitude – mais distantes da linha do Equador.
Nesses pontos, os raios do Sol incidem de maneira menos
perpendicular, não aquecendo a superfície de maneira tão eficaz
quanto nas áreas tropicais.
O resultado é que o ar da atmosfera também acaba ficando
mais frio, uma vez que ele é aquecido a partir da superfície, como
foi dito anteriormente.
Esse é um fator que influencia o clima de uma região, mas
ele não é o único.
Quem nunca observou cenas de um alpinista escalando uma
montanha com altitude elevada?
Ao se aproximar do topo, muitas vezes, é necessário usar um
tubo de oxigênio. Isso acontece porque o ar nesses locais é mais
rarefeito. Lembremo-nos de que ele está junto da Terra por força
da gravidade, então, concentra-se em locais mais baixos, com me-
nor altitude.
Se a concentração de gases é menor, a concentração de ga-
ses que absorvem e armazenam calor também é menor, justifi-
cando o frio no topo de uma montanha, mesmo que ela esteja em
uma área tropical.
Outros fatores importantes são: a presença de vegetação; a
distância de grandes massas de água, como oceanos; e a ação do
homem, é claro!
© Caderno de Referência de Conteúdo 15

A ação do Sol que acabamos de comentar também é muito


importante para o movimento do ar na atmosfera.
Quando o balonista resolve fazer um passeio, ele enche o ba-
lão com ar quente, aquecido por uma chama. Em maior tempera-
tura, o ar do balão fica menos denso em relação ao ar ao seu redor,
e isso faz com que ele suba. O mesmo ocorre com ar atmosférico
mais aquecido. Ele fica mais leve (menos denso), e a tendência é
subir. Ocupando seu lugar, vêm gases de outras partes.
Esse movimento do ar é também chamado de "vento" e é
motivado pelo aquecimento da superfície da Terra e pelo conse-
quente aquecimento da atmosfera.
Dizemos que os locais onde o ar está mais aquecido ocorrem
massas de ar ascendentes, que formam centros de baixa pressão.
Ao contrário, nos locais onde o ar frio desce, formam-se centros
de alta pressão.
As áreas onde o ar é mais frio são também chamadas de
"áreas de alta pressão". Nessas regiões, há a chegada de ventos
das partes mais altas da atmosfera, como foi dito há pouco. Esses
pacotes de ar estão em menor temperatura e maior densidade,
aumentando a pressão daquele local.
O contrário é válido para as áreas onde o ar atmosférico é
mais quente. São as áreas de baixa pressão, já citadas. O ar at-
mosférico nesses locais é mais quente e com menor densidade,
portanto, tende a subir.
Nessas áreas de baixa pressão, há tendência da chegada de
ar de outras partes da superfície do nosso planeta. Um exemplo
é quando a previsão do tempo indica que há um centro de baixa
associado à chegada de massas de ar úmido.
É muito importante saber que, geralmente, as áreas de baixa
pressão estão ligadas a lugares mais úmidos, enquanto as áreas de
alta têm menor umidade ou massas de ar mais secas. Por totais
pluviométricos, podemos entender a soma da água que precipitou
na localidade em questão em um dado espaço de tempo.

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16 © Climatologia

Aproveitamos este momento para mencionar sobre o con-


ceito de "massas de ar". As massas de ar são corpos de ar homo-
gêneos, ou seja, grandes pacotes de ar com características homo-
gêneas de temperatura e umidade.
Se disséssemos que as áreas onde o ar é mais aquecido pela
superfície da Terra são aquelas onde há maior incidência de raios
solares, é plausível pensar que regiões equatoriais têm ar mais
quente e, consequentemente, mais leve.
Nessas regiões, há movimentos ascendentes de ar que cau-
sam grandes quantidades de chuva, além de provocarem o movi-
mento de ar das latitudes mais elevadas em direção ao Equador.
Vimos, até agora, que a atmosfera tem uma série de gases
que são capazes de armazenar calor.
A umidade do ar pode ser responsável por manter a tempe-
ratura do ar.
O vapor d'água está bastante presente na nossa atmosfera.
Ao contrário do que estamos acostumados a pensar, ele não é visí-
vel, mas seus efeitos são muito importantes.
Quando vemos a água fervendo no fogão e há uma pequena
nuvem sobre a panela, somos induzidos a pensar, desde cedo, que
aquilo é o vapor d'água. Na verdade, é uma pequena quantidade
de água que se condensou e voltou ao estado líquido por se en-
contrar com o ar atmosférico mais frio.
É assim que também acontece na atmosfera.
Quando olhamos uma nuvem, é possível saber que se tra-
ta de uma porção de vapor d'água que se condensou. As nuvens
são compostas de pequenas gotículas de água que estão em sus-
pensão e que, dependendo das condições atmosféricas, podem se
precipitar, caindo na superfície.
As formas de precipitação são variadas no planeta Terra. Em
locais de clima mais quente, é comum que as pequenas gotículas
© Caderno de Referência de Conteúdo 17

de água que formam as nuvens se juntem em torno de um peque-


no núcleo, como uma partícula de poeira, e fiquem mais pesadas
durante a queda.
Em locais onde a temperatura pode ficar abaixo de 0 oC, o
vapor d'água pode formar pequenos cristais de gelo e precipitar-
-se, ou seja, formar a neve, mais comum em regiões de elevada
latitude ou elevada altitude.
Esses cristais de gelo são diferentes das chuvas de granizo
que observamos em faixas tropicais. Nessas últimas, as gotículas
de água são levadas para camadas mais elevadas da atmosfera por
correntes ascendentes de ar.
Você já sabe como é a temperatura da atmosfera quando su-
bimos em altitude. Por estar mais frio, essas gotas de água se con-
gelam, precipitando-se sob a forma de pequenas pedras de gelo.
Há outras formas de precipitação ou condensação conforme
alguns autores, como o nevoeiro. Ele também pode ser chamado
de "neblina", ou "cerração", e, na verdade, é como uma nuvem
mas baixa, ou seja, uma grande quantidade de pequenas gotículas
de água que estão em suspensão.
Muito provavelmente, sua origem está ligada à diminuição
da temperatura da atmosfera, que fez com que o vapor d'água se
condensasse. O mesmo pode acontecer apenas em superfícies
mais frias, como por exemplo, a lataria do carro. As superfícies
mais frias também fazem com o que o vapor d'água se condense.
Muitas vezes, também percebemos uma fina camada de go-
tinhas de água: é o orvalho. Em dias muito frios, o orvalho pode
até congelar, formando o que se chama de geada.
Para finalizar esta Abordagem Geral, vamos falar um pouco
sobre a influência da água na temperatura atmosférica.
É sabido por todos que, quando aquecemos a água, ela au-
menta sua temperatura até se evaporar. Quem nunca deixou aci-

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18 © Climatologia

dentalmente uma quantidade de água fervendo até que ela se


evaporasse toda?
Nessa situação, a água tirou calor da chama do fogão para
mudar de estado.
Podemos perceber que a água, sob forma de vapor, tem mais
calor armazenado que a água líquida, ou seja, ela usou calor para
mudar de estado e mantém esse calor enquanto está sob forma
de vapor.
Quando a água se condensa, ela libera o calor de volta para
a atmosfera. Esse mecanismo é bastante importante para o equilí-
brio das temperaturas da atmosfera. Graças a ele, ao se condensar,
a água libera calor para a atmosfera.
A água é, portanto, um grande regulador da temperatura da
atmosfera do planeta Terra, juntamente com outros gases de efei-
to estufa.
É muito importante perceber, ao longo deste Caderno de Re-
ferência de Conteúdo, que há um equilíbrio atmosférico que é cau-
sado por uma série de fatores, entre eles, o recém-citado efeito
estufa, a circulação geral da atmosfera, a presença dos oceanos.
É muito importante recorrer, além deste material, a leituras
complementares, que busquem esclarecer sobre estes conteúdos.
Bons estudos a todos!

Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados neste Caderno de Referência de
Conteúdo. Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos:
© Caderno de Referência de Conteúdo 19

1) Atmosfera: "A atmosfera é uma camada relativamente


fina de gases e material particulado (aerossóis) que en-
volve a Terra" (UFPR, 2012).
2) Chuva: "[...] forma de precipitação mais comum que re-
sulta do contato de uma nuvem saturada de vapor de
água com uma camada de ar frio" (FERRETI, 2009, p. 31).
3) Clima: clima possui uma abordagem mais ampla que
tempo. "O clima é a síntese do tempo num dado lugar,
durante um período de aproximadamente 30-35 anos. O
clima, portanto, refere-se às características da atmosfe-
ra, inferidas de observações contínuas durante um longo
período. O clima abrange um maior número de dados do
que as condições médias do tempo numa área. Ele inclui
considerações dos desvios em relação às médias (isto é,
variabilidade), condições extremas, e as probabilidades
de frequência de ocorrência de determinadas condições
de tempo" (AYOADE, 1983, p. 2). "O clima também pode
ser considerado como o conjunto dos fenômenos mete-
orológicos que caracterizam a condição média da atmos-
fera sobre cada lugar da Terra" (HANN apud MENDON-
ÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007, p. 14).
4) Climatologia: constitui o estudo científico do clima, tra-
tando dos padrões de comportamento da atmosfera em
suas interações com as atividades humanas e com a su-
perfície do Planeta durante um longo período de tempo
(MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA).
5) Elementos climáticos: "[...] os elementos climáticos são
definidos pelos atributos físicos que representam as pro-
priedades da atmosfera geográfica de um dado local. Os
mais comumente utilizados para caracterizar a atmosfe-
ra geográfica são a temperatura, a umidade e a pressão"
(MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007, p. 41).
6) Fatores climáticos: "[...] correspondem àquelas carac-
terísticas geográficas estáticas diversificadoras da paisa-
gem, como latitude, relevo, vegetação, continentalida-
de/maritimidade e atividades humanas" (MENDONÇA;
DANNI-OLIVEIRA, 2007, p. 41).

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20 © Climatologia

7) Granizo: "[...] forma-se devido às fortes correntes con-


vectivas no interior da nuvem cumulonimbus (nuvem
com mais de 1 quilômetro de altura), que transporta as
gotas de água condensada para camadas mais elevadas
e mais frias, nas quais ocorre o congelamento" (FERRETI,
2009, p. 32).
8) Meteorologia: "[...] ciência que trata da dimensão física
da atmosfera. Em sua especificidade ela aborda, de ma-
neira individualizada, fenômenos meteorológicos, como
raios, trovões, descargas elétricas, nuvens, composição
físico-química do ar, previsão do tempo, entre outros.
Dada a sua característica de ciência física, a meteorolo-
gia trabalha também com a concepção dos instrumentos
para a mensuração dos elementos e fenômenos, o que
possibilita o registro desses fenômenos" (MENDONÇA;
DANNI-OLIVEIRA, 2007, p. 14).
9) Neve: "[...] cristalização de vapor de água com tempe-
ratura baixa, próxima a 0 °C e umidade do ar acima de
80%" (FERRETI, 2009, p. 31).
10) Tempo: "[...] 'o termo 'tempo' (weather) tem relação com
o estado médio da atmosfera numa dada porção de tem-
po e em determinado lugar" (AYOADE, 1983, p. 2). "Dessa
forma, o tempo atmosférico pode ser entendido como o
estado momentâneo da atmosfera e do tempo atmosféri-
co" (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007, p. 13).

Esquema dos Conceitos-chave


Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais
importantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 2), um
Esquema dos Conceitos-chave. O mais aconselhável é que você
mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até mesmo o
seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você construir o
seu conhecimento, ressignificando as informações a partir de suas
próprias percepções.
É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos
Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações en-
© Caderno de Referência de Conteúdo 21

tre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais


complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você
na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de
ensino.
Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-
-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em
esquemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu co-
nhecimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pe-
dagógicos significativos no seu processo de ensino e aprendiza-
gem.
Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es-
colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas
em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda,
na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-
tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos
conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim,
novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem
pontos de ancoragem.
Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape-
nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci-
so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure
como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con-
siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais
de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei-
tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez
que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog-
nitivas, outros serão também relembrados.
Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você
o principal agente da construção do próprio conhecimento, por
meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas
e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tor-
nar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu conhe-
cimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, estabele-

Claretiano - Centro Universitário


22 © Climatologia

cendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com
o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do
site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/mapascon-
ceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 11 mar. 2010).

Maritimidade/ 
  Continentalidade 

Massas de ar  Ação antrópica 

Altitude  Fatores 
Latitude 
Climáticos 

Atmosfera

Elementos do 
clima 

Climatologia 

Figura 2 Esquema dos Conceitos-chave – Climatologia.

Como pode observar, esse Esquema oferece a você, como


dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais im-
portantes deste estudo. Ao segui-lo, será possível transitar entre
os principais conceitos e descobrir o caminho para construir o seu
processo de ensino-aprendizagem. Veja que o conceito de "fatores
climáticos" está relacionado com o conceito de "massas de ar",
uma vez que estas têm influência direta sobre o clima. Os fatores
climáticos, por sua vez, têm relação com a atmosfera da Terra, que
é o alvo de estudos da Climatologia.
© Caderno de Referência de Conteúdo 23

O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de


aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambien-
te virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como
àqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realiza-
das presencialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EaD,
deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio co-
nhecimento.

Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser
de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las com a prática do ensino de Climatologia pode ser
uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, median-
te a resolução de questões pertinentes ao assunto tratado, você
estará se preparando para a avaliação final, que será dissertativa.
Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus
conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática
profissional.

As questões de múltipla escolha são as que têm como respos-


ta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por
questões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos
matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada,
inalterada. Já as questões abertas dissertativas obtêm por res-
posta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso,
normalmente, não há nada relacionado a elas no item Gabarito.
Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus
colegas de turma.

Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.

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24 © Climatologia

Figuras (ilustrações, quadros...)


Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte-
grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra-
tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no
texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con-
teúdos estudados, pois relacionar aquilo que está no campo visual
com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual.

Dicas (motivacionais)
O estudo deste Caderno de Referência de Conteúdo convida
você a olhar, de forma mais apurada, a Educação como processo
de emancipação do ser humano. É importante que você se atente
às explicações teóricas, práticas e científicas que estão presentes
nos meios de comunicação, bem como partilhe suas descobertas
com seus colegas, pois, ao compartilhar com outras pessoas aqui-
lo que você observa, permite-se descobrir algo que ainda não se
conhece, aprendendo a ver e a notar o que não havia sido perce-
bido antes. Observar é, portanto, uma capacidade que nos impele
à maturidade.
Você, como aluno dos cursos de Graduação na modalidade
EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente.
Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor
presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri-
mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades
nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.
Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie
seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discuta
a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas.
© Caderno de Referência de Conteúdo 25

No final de cada unidade, você encontrará algumas questões


autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os
conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos
para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas,
pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-
cimento intelectual.
Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na
modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando
sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.
Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a
este Caderno de Referência de Conteúdo, entre em contato com
seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você.

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2001.
FERRETI, E. Geografia em ação: práticas em Climatologia. Curitiba: Aymará, 2009.
MENDONÇA, F.; DANNI-OLIVEIRA, I. M. Climatologia. Noções básicas e climas do Brasil.
São Paulo: Oficina de Textos, 2007.

4. E-REFERÊNCIA
UFPR – UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Departamento de Física da Universidade
Federal do Paraná. A atmosfera. Disponível em: <http://fisica.ufpr.br/grimm/aposmeteo/
cap1/cap1-2.html>. Acesso em: 19 nov. 2012.

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EAD
Atmosfera Terrestre

1
1. OBJETIVOS
• Conhecer a estrutura que compõe a atmosfera do nosso
planeta, sua composição e suas características.
• Compreender as consequências da radiação solar sobre
as diferentes camadas da atmosfera.
• Identificar as diferenças entre tempo atmosférico e clima.

2. CONTEÚDOS
• Atmosfera terrestre: composição, estrutura e caracterís-
ticas.
• Radiação solar.
• Balanço térmico.
28 © Climatologia

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
1) Busque entender a definição de atmosfera e sua impor-
tância para a existência e manutenção da vida na Terra.
Procure também outras definições de atmosfera e infor-
mações sobre camadas que a compõem.
2) Observe o papel da umidade do ar para os mecanismos
de manutenção da temperatura. Perceba que cada ca-
mada da atmosfera tem características específicas e bus-
que entender quais sãos as consequências dessas espe-
cificidades para a temperatura em cada camada e para o
clima no planeta.
3) É fundamental que você entenda e pesquise informa-
ções sobre o mecanismo de aquecimento da troposfera
e como ele está relacionado ao aquecimento das super-
fícies da Terra. Busque entender o que leva locais mais
impermeabilizados a terem maiores temperaturas do ar
atmosférico, lembrando sempre que a interação da su-
perfície/atmosfera está vinculada à radiação solar.
4) Busque mais informações sobre energia radiante, que
ajudem a entender como é o aquecimento da atmosfera
do planeta Terra.
5) Veja, nesta unidade, a Figura 2, que demonstra a traje-
tória da Terra em torno do Sol durante o ano. Tente en-
tender qual é a relação das posições retratadas na figura
com as variações das estações.
6) É importante que você relacione a Climatologia com ou-
tras ciências e outros segmentos científicos e tente ob-
servar no seu cotidiano como o tempo e o clima podem
estar presentes.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Nesta primeira unidade, estudaremos assuntos que são a
base para o entendimento dos elementos do clima e suas conse-
quências.
© U1 - Atmosfera Terrestre 29

A atmosfera, sua composição e suas características consti-


tuem o principal tema deste início de Caderno de Referência de
Conteúdo.
Além disso, vamos ver que os movimentos na atmosfera têm
chamado a atenção das pessoas durante milênios, especialmente
por estarem em contato constante com nosso planeta.
Bons estudos!

5. ATMOSFERA
A atmosfera da Terra, de acordo com Ayoade (2007), pode
ser descrita como uma fina camada de gases, sem cheiro, sem cor
e sem gosto, presa à Terra pela força da gravidade.
Essa camada, tão sutilmente presa a nosso planeta, é muito
importante para a Geografia. Para Ross, o espaço de vida dos se-
res humanos é muito claramente delimitado. Ele cita que: "Grigo-
riev, em 1968, denominou-o estrato geográfico terrestre e o definiu
como espaço limitado pela litosfera, como piso, e pela estratosfera,
onde está a camada de ozônio, como teto" (ROSS, 2001, p. 15).
Ross (2001) indica, no trecho citado, que a área onde está o
foco de estudo da Geografia é claramente relacionada à atmosfera.
Não é difícil pensar que é na atmosfera que todos os seres
vivos se relacionam, causando alterações no meio ambiente, em
especial, no homem. Essa informação também se legitima pelo
nosso cotidiano, em que os movimentos da atmosfera e sua pró-
pria existência são uma constante.
Como seria possível pensar nossa vida sem o ar que respira-
mos? O oxigênio e outros gases são fundamentais para a vida no
planeta e, por isso, é importante que saibamos mais sobre eles.
Ross (2001, p. 15) continua comentando que, na fina cama-
da indicada por Grigoriev, "[...] que vai da parte superior da crosta
terrestre até a baixa atmosfera, é onde o homem, bem como os
demais seres animais e vegetais, vive naturalmente".

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30 © Climatologia

É esse estreito intervalo, ainda conforme Ross (2001 p. 15),


"[...] o palco onde as sociedades humanas se organizam, se repro-
duzem e promovem grandes mudanças na natureza".
De acordo com Conti (1998), nossa atmosfera é peculiar e
bem diferente da atmosfera de outros planetas conhecidos pela
humanidade, sendo vital para a existência e manutenção da vida
na Terra. Sem essa camada, não haveria fenômenos climáticos:
A existência da atmosfera é vital para a manutenção da bioesfera
terrestre. É nela que se passam os fenômenos climáticos. Se não
existisse essa camada gasosa, não haveria vida na Terra, nem ocor-
reriam ventos, chuvas, nuvens e outros fenômenos meteorológi-
cos. A composição peculiar de nossa atmosfera torna a Terra muito
diferente dos demais planetas conhecidos. Sabe-se, por exemplo,
que as atmosferas de Júpiter e Saturno são compostas basicamente
de hidrogênio, hélio, amônia e metano. A Lua, nosso satélite natu-
ral, é desprovida de atmosfera (CONTI, 1998, p. 11).

Pela definição de atmosfera dada por Ayoade no primeiro


parágrafo deste tópico, a ausência de cheiro, cor e gosto da atmos-
fera não permite a sua percepção visual, mas ela está presente
em todas as áreas e é fundamental para a manutenção da vida no
nosso planeta.
Como essa camada de gases se mantém junto da superfície
do planeta, é uma questão relacionada à Física e à gravidade da
Terra.
A força gravitacional é uma propriedade fundamental da
matéria. Ela se manifesta em qualquer escala de grandeza. De
acordo com Ernesto e Marques in Teixeira (2000), Isaac Newton foi
quem descreveu os fenômenos gravitacionais nos quais as massas
de duas esferas com densidades uniformes se atraem, seguindo
variáveis de distância e de suas massas. Todas as partículas têm
força para se atraírem, mas aqueles corpos que têm maior massa
e estão mais próximos entre si exercem maior gravidade um ao
outro.
Conforme os mesmos autores, a aceleração da gravidade,
que depende da distância e da massa dos corpos, cria um campo
© U1 - Atmosfera Terrestre 31

de aceleração gravitacional que interage com a aceleração centrí-


fuga determinada pela rotação da Terra e compõe a aceleração da
gravidade ou apenas gravidade.
A gravidade, na acepção da Física, é:
4. força de atração mútua entre os corpos, originada pela gravita-
ção 5. força de atração que a Terra exerce sobre um corpo material
colocado sobre sua superfície, em seu interior ou em sua vizinhan-
ça (HOUAISS, 2009, n. p.).

Nós somos atraídos à Terra pela aceleração da gravidade, as-


sim como uma bola caindo durante um jogo de futebol, os materiais
de construção de um prédio e os gases que formam a atmosfera.
A atmosfera está em contato com a superfície do nosso pla-
neta por causa da ação da gravidade. Desde o momento da sua
formação que a atmosfera sofre essa força, o que não ocorre com
tamanha intensidade em outros planetas, como Marte, que con-
tam com uma atmosfera muito delgada (rarefeita), formada prin-
cipalmente de dióxido de carbono.
Em Marte, a atmosfera é bastante fria, o que não possibi-
lita a existência de água no estado líquido, pelo menos até onde
se sabe. É importante destacar que a atmosfera pouco densa e a
baixa umidade provocam uma grande amplitude térmica na super-
fície desse planeta. Apesar disso, há indícios de que a água líquida
já esteve presente em Marte, visto que há registros, como redes
de vales e canais secos de rios, além de rochas que demonstra-
ram evidências de terem sido arrastadas e desgastadas por cursos
d'água (PRESS et al., 2006).
A seguir, vejamos como foi a origem desses gases atmosféri-
cos que estão em contato direto conosco. Acompanhe.

Origem dos gases atmosféricos


No estudo da Geologia, é possível perceber que a água que
constitui a hidrosfera do nosso planeta teve origem no momento
em que a crosta se solidificava.

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32 © Climatologia

Para Karmann in Teixeira (2000), as formações da hidrosfera


e da atmosfera estão intimamente ligadas e têm relação com a
liberação de gases de um sólido ou líquido quando ele é aquecido
ou resfriado:
A origem da primeira água na história da Terra está relacionada
com a formação da atmosfera, ou seja, a desgaseificação do plane-
ta. Este termo refere-se ao fenômeno de liberação de gases por um
sólido ou líquido quando ele é aquecido ou resfriado. Este proces-
so, atuante até hoje, teve início na fase de resfriamento feral da Ter-
ra, após a fase inicial de fusão parcial. Nesse gradativo resfriamento
e formação de rochas ígneas, foram liberados gases, principalmen-
te vapor de água (H₂O) e gás carbônico (CO₂), entre vários outros,
como subprodutos voláteis da cristalização do magma. A geração
de água sob forma de vapor é observada atualmente em erupções
vulcânicas, sendo chamada de água juvenil, suportando o modelo
acima, sobre a origem da água. Logo surge outra dúvida: o volume
de água que atualmente compõe a hidrosfera foi gerado gradati-
vamente ao longo do tempo geológico ou surgiu repentinamente
num certo momento desta história? Os geólogos defendem a se-
gunda possibilidade. Existem evidências geoquímicas que supor-
tam a formação de quase toda a atmosfera e a água hoje disponível
nessa primeira fase do resfriamento da Terra; desde então, este
volume teria sofrido pequenas variações, apenas por reciclagem,
através do ciclo das rochas (KARMANN in TEIXEIRA, 2000, p. 114).

No caso da atmosfera, os gases desprenderam-se das rochas


que estavam se resfriando. E, na medida em que isso acontecia,
formavam-se as primeiras rochas ígneas (cristalização do magma),
que liberaram, principalmente, o vapor d'água e o gás carbônico
(CO2). Esse fenômeno é chamado de desgaseificação do planeta.
Graças à gravidade, ou aceleração da gravidade, é que a Ter-
ra reteve esses gases que formaram a atmosfera.
De acordo com Press et al. (2006, p. 33), a origem da atmos-
fera e dos oceanos está intimamente ligada à própria origem da
Terra. De acordo com as hipóteses indicadas pelos autores, "[...]
os planetesimais que se agregaram para formar nosso planeta ti-
nham gelo, água e outros voláteis".
© U1 - Atmosfera Terrestre 33

Além disso, os autores indicam a ligação desses elementos


químicos de forma diferente do que se observa majoritariamente
na atmosfera atual:
Originalmente, a água estava aprisionada (quimicamente ligada
com oxigênio e hidrogênio) em certos minerais trazidos pela agre-
gação dos planetesimais. De forma similar, nitrogênio e carbono
também estavam quimicamente ligados nos minerais. Quando a
Terra se aqueceu e seus materiais fundiram-se parcialmente, o va-
por d'água e outros gases foram liberados e levados para a super-
fície pelos magmas, sendo lançados na atmosfera pela atividade
vulcânica (PRESS et al., 2006, p. 33).

A atmosfera primordial era muito diferente da camada de


gases que conhecemos hoje e, provavelmente, tinha maior teor de
gases de efeito estufa, como o gás carbônico. No entanto, essa si-
tuação se alterou quando houve o aparecimento dos primeiros or-
ganismos que transformaram o gás carbônico em oxigênio (POPP,
2010).
A atmosfera como nós conhecemos atualmente é resultado
da ação dos organismos citados por Popp (2010). Esses organis-
mos têm capacidade de absorver gás carbônico e transformá-lo
em oxigênio. Essa transformação foi significativa para a atmosfe-
ra terrestre e para alterar as temperaturas atmosféricas do nosso
planeta.
A atual atmosfera da Terra é fundamental para a existência
de vida no planeta. Ao longo da história da humanidade, a compo-
sição da atmosfera pode ter causado a necessidade de mudança
nos hábitos de vida das pessoas, forçando migrações e adaptações
que geraram as sociedades atuais.
Brian Fagan é um antropólogo e arqueólogo inglês que de-
fende que as relações humanas com o ambiente natural e a mu-
dança climática sempre estiveram em fluxo:
Os últimos 15 000 anos proporcionaram muitos exemplos de mu-
danças climáticas como um actor histórico fundamental: as gran-
des secas no sudoeste asiático que precipitaram experiências com
o cultivo de gramíneas selvagens, a secagem progressiva do Saa-
ra que trouxe os criadores de gado para o Vale do Nilo, com suas

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34 © Climatologia

idéias muito próprias de liderança, e a vaga de efeitos do Período


Quente Medieval, que teve conseqüências muito diferentes na Eu-
ropa e na América (FAGAN, 2004, p. 14).

As sociedades humanas atuais estão cada vez menos sujeitas


às imposições da natureza, à medida que vamos desenvolvendo
técnicas e tecnologias mais modernas e mais capazes de transfor-
mar o meio a nosso favor, seguindo nossas vontades.
Apesar disso, a população mundial é bem maior atualmente
do que foi há 15.000 anos atrás, o que aumenta a necessidade de
recursos naturais. O uso mais intenso de tecnologias é outro fator
que faz com que a natureza tenha seus recursos mais utilizados:
Durante dezenas de milhares de anos as populações humanas eram
diminutas, e todos viviam da caça e da coleta de alimentos vege-
tais. A sobrevivência dependia da mobilidade e do oportunismo,
numa flexibilidade da existência quotidiana que permitia às pessoas
agüentar os golpes climatéricos – mudando-se, separando famílias
por novos territórios, ou regressando ao consumo de alimentos me-
nos desejáveis. Por volta de 10 000 a.C., quando a agricultura come-
çou, ancorando aos seus campos aldeias permanentes, as opções
permitidas pela mobilidade começaram a diminuir. Mais gente para
alimentar, maior densidade populacional: os riscos eram maiores, es-
pecialmente quando as comunidades se expandiam aos limites das
suas terras ou quando o gado excedia as pastagens. A única solução
era a mudança, a qual era bastante fácil quando existia muita floresta
inexplorada e solos férteis, e não havia vizinhos [...]. Os riscos aumen-
tavam ainda mais quando os agricultores acabavam por depender
de inundações ribeirinhas ou chuvas irregulares, e de sistemas de
irrigação que traziam a água vivificadora à terra de outro modo não
cultivável (FAGAN, 2004, p. 15).

No trecho anterior, é possível perceber como o autor de-


monstra a ideia de que, no início da ocupação humana, o menor
número de habitantes e a vastidão de terras plausíveis de cultivo
acenavam a possibilidade do uso dos recursos diferente do que
observamos hoje, mas especialmente a possibilidade de busca de
novas áreas diante das inadequações climáticas.
Com o aumento da população e da ocupação e o uso de mais
áreas, as possibilidades dos nossos antepassados ficaram mais res-
tritas:
© U1 - Atmosfera Terrestre 35

A solução mesopotâmica era a cidade, localizada perto de canais


de irrigação estratégicos que extraíam a água dos rios Tigre e Eu-
frates, mas mesmo essa resposta era desadequada perante acon-
tecimentos extremos como o El Niño, ou alterações bruscas para o
sul da Zona de Convergência Intertropical. De início os habitantes
dependiam de vizinhos e parentes; depois as autoridades redu-
ziam as rações; e rapidamente as pessoas começavam a morrer, e
a lei e a ordem soçobravam quando os habitantes das cidades se
dispersavam para o interior à procura de comida. A humanidade
havia transposto um limiar de vulnerabilidade de um mundo onde
os custos de agüentar as alterações climáticas eram infinitamente
maiores (FAGAN, 2004, p. 15).

Finalmente, Fagan indica que, com o crescimento da popu-


lação, sua concentração em núcleos urbanos (urbanização) e a ex-
pansão da Revolução Industrial por diversos países, a vulnerabili-
dade relatada no trecho anterior só aumentou. Aponta, também,
que mesmo toda a modernidade e sua tecnologia não são capazes
de diminuir nossa vulnerabilidade ante as alterações climáticas
mais radicais.
Isso é comprovado pelo fato de que, ao longo de sua história,
a humanidade apenas buscou proteção contra pequenas pressões
do clima, mais constantes do que grandes alterações.
Atualmente, vemos na mídia que são assunto constante as
alterações que a humanidade vem exercendo na atmosfera, colo-
cando elementos que não estavam presentes nos últimos milhares
de anos.
Para alguns autores, essas alterações causadas pelo homem
podem se somar ou influenciar as alterações normais do tempo e
do clima, provocando mudanças ainda mais drásticas nas socie-
dades, que podem ter dificuldades de continuar desempenhando
suas atividades econômicas rotineiras. Cabe ressaltar que essas
alterações ainda não são muito claras e que constituem teorias
elaboradas por um grupo de autores. Mesmo sendo bem-aceitas
no meio científico, essas teorias não podem ser admitidas como
verdades absolutas.

Claretiano - Centro Universitário


36 © Climatologia

Mas, afinal, como é a composição atual da atmosfera do nos-


so planeta? Vamos discutir essa questão a seguir.

Composição da atmosfera terrestre


Inicialmente, olhe para o céu e tente observar as diferenças
na composição da atmosfera. Fora a água, que pode estar presen-
te sob a forma de nuvens, e talvez a névoa formada por material
em suspensão como poeira, fumaça etc., será muito difícil identifi-
car outros elementos e impossível identificar diferentes gases. Isso
ocorre porque a atmosfera terrestre é uma mistura homogênea,
visto que não conseguimos distinguir diferenças entre os gases
que a constituem.
Apesar disso, de acordo com Mendonça e Danni-Oliveira
(2007), a composição e a proporção de gases não é a mesma em
todos os lugares e altitudes da atmosfera.
Para os mesmos autores, na superfície, até os primeiros 90
quilômetros de altura, há certa homogeneidade na distribuição
dos gases, e, até 25 quilômetros, há predomínio de nitrogênio e
de oxigênio. Além desses, há um conjunto de gases em menor pro-
porção, composto por argônio, dióxido de carbono, além do ozô-
nio e do vapor d'água.
De acordo com Barry e Chorly apud Ayoade (1983, p. 16),
"[...] a atmosfera seca e abaixo de 25 quilômetros de altura tem
aproximadamente 78% de seu volume correspondente a nitrogê-
nio e aproximadamente 20% correspondente a oxigênio.".
Para Ayoade (1983, p. 15):
A atmosfera pode ser descrita como uma camada fina de gases,
sem cheiro, sem cor e sem gosto, presa à Terra pela força da gravi-
dade. A atmosfera compreende uma mistura mecânica estável de
gases, sendo que os mais importantes são o nitrogênio, o oxigênio
o argônio, o bióxido de carbono, o ozônio e o vapor d'água. Outros
gases ocorrem em proporções muito pequenas e incluem o neônio,
o criptônio, o hélio, o metano, o hidrogênio etc. O nitrogênio, o
oxigênio e o argônio são constantes quanto ao volume, espacial e
temporariamente.
© U1 - Atmosfera Terrestre 37

Desse modo, podemos concluir que as concentrações de ga-


ses como o oxigênio são constantes na atmosfera do nosso plane-
ta, o que não vale para as concentrações de umidade.
A umidade está distribuída de maneira muito irregular na at-
mosfera e depende de vários fatores, como proximidade de mares,
rios, movimentos de massas de ar etc. As partículas em suspensão
estão localizadas nos primeiros quilômetros de altura da atmosfe-
ra e são de origem natural (cinzas, material do solo) e de origem
antrópica (poeira, cinzas de queimadas etc.). Já o ozônio está nas
altitudes, entre 20 e 30 quilômetros, em uma camada da atmosfe-
ra chamada "estratosfera", que conheceremos em seguida.
Conforme Ayoade (1983, p. 15):
O conteúdo de vapor d'água na atmosfera está estreitamente rela-
cionado com a temperatura do ar e com a disponibilidade de água
na superfície terrestre. Assim, nas latitudes médias é maior no ve-
rão do que no inverno, quando a capacidade da atmosfera para re-
ter a umidade é pequena. O vapor d'água também é quase ausente
a cerca de 10 – 12 quilômetros acima da superfície da Terra. Este
fato acontece porque o vapor d'água na atmosfera é fornecido pela
evapotranspiração de água da superfície terrestre e levado para as
camadas superiores pela turbulência, que é mais eficaz abaixo da
altitude de 10 quilômetros.

Além disso, outro fato que tem influência direta sobre a


composição da atmosfera terrestre é que ela é mantida junto ao
planeta Terra pela ação gravitacional, como vimos há pouco, o que
a torna mais densa nas proximidades da superfície e mais rarefei-
ta conforme aumenta a altitude (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA,
2007). É por causa disso, ainda de acordo com os autores, que, até
os seus primeiros 29 quilômetros, a atmosfera concentre 98% da
sua massa total, como foi dito.
Mendonça e Danni-Oliveira (2007) chamam os primeiros 90
quilômetros da atmosfera de "homosfera", pelo fato de os com-
ponentes gasosos nessa fatia da atmosfera serem praticamente
uniformes quanto à sua distribuição. Para eles, é nos primeiros 25
quilômetros da homosfera que encontramos a mistura de nitrogê-

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38 © Climatologia

nio, argônio, oxigênio e outros gases em menor proporção. Nos 65


quilômetros restantes, há predomínio de nitrogênio e de oxigênio.
Nessa afirmação, também podemos comprovar que a proxi-
midade com a superfície do planeta está relacionada com a maior
concentração de gases, bem como de partículas em suspensão. O
fato, como já foi dito, está relacionado com a ação gravitacional da
Terra.
Vejamos o que Mendonça e Danni-Oliveira afirmam sobre a
composição da homosfera, a camada da atmosfera que estamos
estudando até agora:
– O vapor d'água não se apresenta uniformemente distribuído, uma
vez que sua presença depende não só de uma superfície que forne-
ça água, mas também de uma série de outros fatores. Sua existên-
cia nos níveis inferiores da atmosfera (Troposfera, principalmente)
é de extrema importância para a manutenção da vida no Planeta.
– O material particulado de origem natural constitui-se de poeira,
cinzas, material orgânico e sal em suspensão no ar, proveniente do
solo, da atividade vulcânica, da vegetação e dos oceanos, respecti-
vamente. Já o de procedência das atividades humanas decorre da
utilização de combustíveis fósseis em indústrias e veículos, da quei-
ma de carvão mineral e orgânico para aquecimento e cozimento
domésticos, e de práticas agrícolas, como queimadas e adubação,
entre outros. Por serem ambos gerados na superfície, também se
concentram nos primeiros quilômetros da atmosfera, ou seja, na
parte baixa da atmosfera.
– O ozônio está presente de forma concentrada entre os 20 e 35
quilômetros de altitude (fazendo parte da Estratosfera). A proprie-
dade que os gases oxigênio e ozônio apresentam ao reagirem foto-
quimicamente nesses níveis, agindo como filtro ao absorverem a
maior parte das radiações ultravioletas, é o que garante a existên-
cia da vida na superfície nos moldes conhecidos hoje (MENDONÇA;
DANNI-OLIVEIRA, 2007, p. 28).

Vemos, por meio do trecho citado, que a parte da atmosfera


que está em contato conosco tem composição diferente daquelas
partes que estão em maiores altitudes. Essa condição é muito im-
portante para que haja vida no nosso planeta.
É muito importante também que você compare as coloca-
ções dos diversos autores aqui citados sobre o mesmo assunto.
© U1 - Atmosfera Terrestre 39

Sendo assim, vejamos o que Ayoade diz sobre a concentração de


material em suspensão e ozônio na atmosfera:
O ozônio está concentrado entre as altitudes de 15 e 35 quilôme-
tros da atmosfera. O conteúdo de ozônio da atmosfera é baixo so-
bre o Equador e alto na direção dos pólos, nas latitudes maiores
que 50o. O ozônio é formado quando, sob influência da radiação
ultravioleta, as moléculas de oxigênio se rompem e os átomos
separados combinam-se individualmente com outras moléculas
de oxigênio. Muito embora a ruptura das moléculas de oxigênio
usualmente ocorra na camada entre 80 e 100 quilômetros, a for-
mação de ozônio acontece na camada entre 30 e 60 quilômetros.
Isso ocorre por causa da densidade muito baixa da atmosfera a 80
a 100 quilômetros, fato que não estimula combinações entre o O
e o O₂, processo necessário para a formação do ozônio. Este, em
si mesmo, é instável, uma vez que pode ser destruído pela radia-
ção incidente ou pelos choques com o oxigênio monoatômico (O)
para recriar o oxigênio (O₂) [...] O modelo da distribuição do ozônio
dentro da atmosfera é considerado como sendo o resultado de al-
gum mecanismo de circulação, que transporta o ozônio para níveis
adequados onde sua destruição é menos provável e sua concentra-
ção é, desta forma, assegurada. Tais áreas estão concentradas na
atmosfera nas altitudes de 15 a 35 quilômetros acima da superfície
terrestre (AYOADE, 1983, p. 15-16).

Pela citação de Ayoade, podemos concluir que a formação


do ozônio é decorrente de mecanismos naturais e sua concentra-
ção na camada da atmosfera, localizada entre 15 e 35 quilômetros
da superfície, também o é. Apesar disso, a ação do homem pode
forçar a reação que gera o ozônio em locais próximos da superfí-
cie da Terra. Esse fenômeno decorre, supostamente, da ação de
poluentes emitidos por motores à combustão interna, conforme
coloca Ayoade:
A atmosfera contém quantidades variáveis, porém, significativas,
de aerossóis. Estes são partículas de poeira em suspensão, fumaça,
matéria orgânica, sal marinho, etc., que procedem tanto de fon-
tes naturais como daquelas construídas pelo homem. [...] O vapor
d'água, o ozônio, o bióxido de carbono e os aerossóis desempe-
nham papéis importantes na distribuição e nas trocas de energia
dentro da atmosfera e entre a superfície da Terra e a atmosfera.
Suas quantidades e padrões de distribuição dentro da atmosfera
devem, portanto, ser cuidadosamente estudados. Observações de
foguetes indicam que o nitrogênio, o oxigênio e o argônio estão
misturados em proporções constantes até uma altitude de 80 quilô-

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40 © Climatologia

metros, devido à constante agitação no interior da atmosfera. Con-


trariamente ao que se poderia esperar, não há separação dos gases
leves (como por exemplo, o hidrogênio e o hélio) daqueles mais
pesados da atmosfera por causa da constante mistura turbulenta
em grande escala da atmosfera. Contudo... as variações espaciais e
sazonais realmente ocorrem na distribuição dos aerossóis, bióxido
de carbono, vapor d'água e ozônio. Porque esses aerossóis e gases
absorvem, refletem e difundem tanto a radiação solar como a ter-
restre, a balança de calor do sistema terra – atmosfera e a estrutura
de temperatura da atmosfera são grandemente afetadas por suas
quantidades e distribuições dentro da atmosfera (AYOADE, 1983,
p. 17).

Acho que você também percebeu que a parte da atmosfe-


ra que está em contato conosco é bastante agitada. Esses movi-
mentos, juntamente com sua composição, resultam em algumas
situações que percebemos no nosso dia a dia e que estudaremos
a seguir.
Apesar de a atmosfera ter sua composição relativamente
homogênea nos seus primeiros 90 quilômetros, existe separação
dessa camada de ar que nos envolve. Nesse modelo de estrutura-
ção da atmosfera, o que é levado em conta é a sua variação vertical
de temperatura, dada pela interação de seus componentes com a
entrada de energia proveniente do Sol e a saída de energia prove-
niente da Terra (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007).
Os autores ainda colocam que essa variação de temperatura
possibilitou dividir a atmosfera em camadas diferentes das que vi-
mos anteriormente, que formam esferas concêntricas e com com-
portamentos térmicos distintos. Vejamos, no item seguinte, como
é feita essa classificação.

Camadas da atmosfera
As diferenças na composição e na temperatura da atmosfera
terrestre fazem com que, dentro dessa camada, haja subdivisões.
São camadas da atmosfera que variam de acordo com a altitude
e com a concentração de diferentes tipos de gases. Essas cama-
das são a troposfera, a estratosfera, a mesosfera, a termosfera e
© U1 - Atmosfera Terrestre 41

a exosfera. Vejamos, a seguir, de acordo com Ayode (1983), Men-


donça e Danni-Oliveira (2007), as características de cada uma des-
sas camadas:
1) Troposfera: é a camada que está em contato direto co-
nosco e que tem concentração de 75% da massa de ga-
ses da atmosfera e a totalidade de aerossóis (partículas
em suspensão) e de vapor d'água. É a camada na qual
ocorrem os fenômenos de tempo que podem ser senti-
dos pelos seres humanos. A tropopausa é a parte supe-
rior da troposfera, e a área de transição entre a tropos-
fera e a camada seguinte, a estratosfera; sua altura varia
entre 8 e 16 quilômetros.
2) Estratosfera: é a camada que contém a maior parte do
ozônio da atmosfera. Conforme aumenta a altitude nes-
sa camada, também aumenta a temperatura, principal-
mente pela presença do gás citado. A estratopausa é o
limite entre a estratosfera e a mesosfera.
3) Mesosfera: nessa camada, a temperatura diminui com
a altura, chegando até a 90oC negativos na sua área de
transição com a camada seguinte. Essa é a área com as
menores temperaturas da atmosfera e com baixíssima
pressão.
4) Termosfera: também chamada de "ionosfera", é a cama-
da acima da mesosfera na qual a temperatura aumenta
com o aumento da altitude, pela absorção da radiação
ultravioleta.
5) Exosfera: estima-se que essa camada esteja a uma alti-
tude de 500 a 750 quilômetros de altura, apesar de não
ter um limite superior bem definido, terminando quan-
do há total ausência de gases.
É importante destacar que a troposfera e a estratosfera for-
mam a atmosfera inferior. Depois da estratopausa, está a atmosfe-
ra superior, que termina quando os gases se tornam tão rarefeitos
que desaparecem, e, a partir daí, há o espaço.

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42 © Climatologia

Troposfera
Por meio das informações anteriores, é possível perceber
que a troposfera é a camada mais importante para nós. Nessa
camada, ocorrem fatos importantes que são sentidos pelos seres
humanos, como as chuvas, os temporais etc. É por esse fato que,
para Mendonça e Danni-Oliveira, essa é a camada da atmosfera
que é considerada a "camada da vida":
Em contato direto com a superfície e com ela interagindo intensa-
mente ao longo de seus 12 quilômetros de extensão (em média), a
troposfera constitui-se na base de todo o pacote gasoso que envol-
ve a Terra. É nesta camada que os fenômenos climáticos se produ-
zem, por isso, é o foco de interesse da Climatologia geográfica – já
que os atributos desses fenômenos configuram-se como objeto e
sujeito das ações engendradas pelas atividades humanas –, o que
permite qualificá-la como atmosfera geográfica.
É na Troposfera que se individualizam os elementos do tempo e do
clima. Embora possa ser considerada como uma interface entre o
Planeta e sua atmosfera devido às proporções de tamanho e ex-
tensão entre ambos, é na camada da atmosfera geográfica que os
fluxos de matéria e energia próprios do Sistema Terra-Atmosfera
ganham considerável complexidade, dada não só pelas interações
entre a superfície e a camada de ar sobrejacente, mas também pe-
las atividades humanas que nela se realizam.
[...] Assim, é nessa camada que a distribuição das superfícies oceâ-
nicas e continentais, as paisagens naturais e aquelas marcadas pe-
las concentrações urbano-industriais, e os sistemas de exploração
do solo irão influenciar, a partir da interação com a dinâmica pró-
pria da atmosfera, os fluxos de energia e matéria que se realizam
no Sistema Terra-Atmosfera (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007,
p. 31).

Nessa camada, então, ocorrem fluxos de energia entre a


superfície e a atmosfera que são fundamentais para a existência
das temperaturas atmosféricas que conhecemos neste momento
do nosso planeta e, por consequência disso, da existência de vida
como conhecemos agora. Sem essas relações entre a superfície e
a atmosfera, não seria possível que o ar atmosférico tivesse a tem-
peratura que conhecemos, como veremos a seguir.
© U1 - Atmosfera Terrestre 43

A constituição de gases da troposfera não é fato que por si


só possibilita a absorção de raios solares, provocando aumento da
temperatura até níveis adequados para a vida na Terra.
As temperaturas mais altas e mais baixas do ar atmosférico
que sentimos estão intimamente ligadas ao aquecimento da su-
perfície e, posteriormente, ao aquecimento do ar da troposfera.
Conforme colocam Mendonça e Danni-Olivera:
A variação térmica da Troposfera é extremamente peculiar, porque
depende da energia emitida pela superfície terrestre, não sendo
explicada exclusivamente pela relação direta com a energia solar
que a perpassa, como ocorre com as demais camadas da atmosfe-
ra. Isso significa que boa parte da radiação proveniente do Sol que
chega até o topo – Tropopausa – consegue atingir a superfície ter-
restre, uma vez que a Troposfera não é muito eficiente em absorver
essa radiação que, preferencialmente, dá-se no comprimento de
onda da luz visível.
No entanto, alguns de seus gases, como dióxido de carbono, vapor
d'água, amônia e outros, são extremamente eficazes na absorção
da radiação de ondas longas emitidas pela superfície da Terra, o
que explica o fato das temperaturas próximas a ela serem mais
elevadas (20oC em média) do que as registradas na Tropopausa
(-57oC em média), onde esses gases apresentam-se mais rarefeitos.
A esse fenômeno deu-se o nome de efeito estufa. O decréscimo
da temperatura na Troposfera a partir da superfície pode ser ex-
presso pelo gradiente térmico vertical médio, que é de 6,5oC/Km ou
0,6oC/100m (MENDONÇA; DANNI-OLIVERA, 2007, p. 31).

Pela leitura do trecho, podemos perceber que, na troposfera,


não há absorção direta dos raios solares. Na verdade, o que ocorre
é o aquecimento da superfície e, depois disso, o aquecimento do
ar feito pela própria superfície.
A relação entre a superfície e a atmosfera é fundamental
para a existência das temperaturas que temos na Terra atualmen-
te, que possibilitam a vida. Essa relação será analisada no item a
seguir.
Outro dado importante é que o limite entre uma camada e
outra não é muito exato e pode variar em alguns lugares do plane-
ta e de acordo com algumas situações, como o aumento da pres-
são etc.

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44 © Climatologia

Esse limite foi citado por Mendonça e Danni-Oliveira (2007)


no trecho anterior. Quando os dois autores fazem referência a uma
camada da atmosfera chamada de "tropopausa", na verdade, es-
tão falando do limite entre a troposfera e a estratosfera.
Por fim, vimos que, quando subimos em altitude na troposfera,
se diminui a temperatura do ar. Essa é uma relação muito importante
para os estudos deste Caderno de Referência de Conteúdo, pois justi-
fica a existência de diversos tipos de climas na superfície do planeta.
Esse gradiente de variação é chamado, como visto anterior-
mente, de gradiente térmico vertical médio e tem valor de 6,5oC/
km. Isso significa que, a cada quilômetro de altitude que subimos
na troposfera, em média, ocorre uma redução de 6,5oC na tempe-
ratura do ar.
Os dois autores justificam esse fato pela menor quantidade
de gases na atmosfera em maiores altitudes, os seja, o ar é mais
rarefeito.
Como vimos até agora, a troposfera constitui a camada mais
importante para os seres vivos e também para os nossos estudos
neste Caderno de Referência de Conteúdo. Ela também pode ser
considerada a camada na qual há vida, pois tem os recursos hídri-
cos necessários e está protegida da radiação solar nociva, que é
filtrada pela termosfera e pela estratosfera.

Sistema superfície-atmosfera
É importante relembrar que as camadas concêntricas que
vimos anteriormente têm diferença quanto ao comportamento
do calor. Para Mendonça e Danni-Oliveira (2007), essa variação de
temperatura vertical tem relação com a interação dos componen-
tes de cada camada com a entrada de energia proveniente do Sol
e a saída de energia proveniente da Terra.
Repare que há uma relação entre a energia que entra no sis-
tema da Terra e a que sai. A superfície do planeta é muito impor-
© U1 - Atmosfera Terrestre 45

tante nesse sistema, pois a sua interação com a atmosfera é funda-


mental para a manutenção da temperatura atmosférica da Terra.
Para Mendonça e Danni-Oliveira (2007), o sistema superfí-
cie-atmosfera corresponde à interface entre a superfície e a at-
mosfera que recebe radiação solar, transformando-a em calor jun-
to da superfície.
O calor na troposfera diminui à medida que subimos em alti-
tude. Isso ocorre porque, de acordo com Mendonça e Danni-Oliveira
(2007), a temperatura dessa camada depende da energia emitida pela
superfície terrestre. Para eles, uma parte da radiação proveniente do
Sol chega à tropopausa, atinge a superfície da Terra, mas tem compri-
mento de onda curto, que não é absorvido pelos gases da troposfera.
Por outro lado, a radiação com ondas longas emitida pela su-
perfície da Terra é absorvida por vários gases da troposfera, como
o dióxido de carbono e o metano.
Esses gases são gradativamente mais rarefeitos até a tropo-
pausa, justificando, dessa forma, a diminuição da temperatura em
locais com maior altitude, como alto de montanhas, por exemplo.
Mendonça e Danni-Oliveira afirmam:
O decréscimo da temperatura na Troposfera a partir da superfície
pode ser expresso pelo gradiente térmico vertical médio, que é de
6,5o C por quilômetro ou 0,6o C a cada 100 metros (MENDONÇA;
DANNI-OLIVEIRA, 2007, p. 57).

É muito importante percebermos a variação de temperatura


em diferentes camadas da atmosfera e tentarmos relacionar com
a composição de cada uma delas, vistas anteriormente.
Como foi escrito há pouco, a camada da atmosfera que está
em contato direto com os seres vivos, com a superfície da Terra,
é a troposfera. Por isso, ela é a camada mais importante para os
estudos da Geografia. A Figura 1 representa a variação de tempe-
ratura conforme a altura nas diversas camadas atmosféricas.

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46 © Climatologia

Fonte: Ayoade (2007, p. 20).


Figura 1 Estrutura da atmosfera de acordo com as mudanças de temperatura.

Por meio da Figura 1, é possível confirmarmos que a tropos-


fera, a camada atmosférica mais importante para nós em Geogra-
fia, realmente sofre decréscimo de temperatura quando subimos
em altitude. Como essa diferença ocorre é o que veremos no pró-
ximo tópico.

Tropopausa
Como dito anteriormente, a tropopausa é a camada de tran-
sição entre a troposfera e a estratosfera.
© U1 - Atmosfera Terrestre 47

Estratosfera
Estratosfera é a camada que, para Ayoade (1983), tem a
maior parte do ozônio que está na atmosfera. Outra característica
é que, quanto maior a altura dessa camada, maior será a tempera-
tura, como indicado pelo gráfico anterior. Justificando o fato, veja-
mos o trecho a seguir:
Devido à presença do ozônio nessa camada da atmosfera, a radia-
ção ultravioleta é absorvida ao promover a fotodissociação da mo-
lécula de ozônio, garantindo a manutenção do calor nessa porção
da atmosfera – as temperaturas variam em média de – 57oC em sua
base (cerca de 18 a 20Km) a 0oC no seu topo (Estratopausa, 50km
de altura) (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007, p. 30).

Essa informação pode ser confirmada pela leitura do gráfico


de Ayoade (1983).

Estratopausa
A estratopausa é a camada da atmosfera que está na transi-
ção da estratosfera para a mesosfera.

Mesosfera
Mesosfera é a camada da atmosfera terrestre que possui as
menores temperaturas.
Nessa camada, a regra de diminuição da temperatura é
a mesma que vimos para a troposfera. Conforme Mendonça e
Danni-Olivera (2007), apesar dessa camada estar ainda dentro da
homosfera, o ar é muito rarefeito (cerca de 0,1g/m³ de ar). Por isso,
há menor absorção dos raios solares, diminuindo sua temperatura.

Mesopausa
A mesopausa é a camada de transição entre a mesosfera e a
camada mais externa da atmosfera, a termosfera. Conforme Men-
donça e Danni-Oliveira:
Na zona que separa a Termosfera da Mesosfera, chamada de Meso-
pausa, registram-se os mais baixos valores de temperatura de toda

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48 © Climatologia

a atmosfera: -90oC a 80km de altura, podendo variar de 25oC a 30oC


para mais ou para menos (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007, n.
p.).

Termosfera ou ionosfera
A termosfera é a última camada da atmosfera e também
pode ser chamada de ionosfera.
A camada mais superior da atmosfera é a chamada Termosfera.
Encontra-se a 80km do solo, e seu topo está a cerca de 500km de
altitude. Inserida na Heterosfera, seus altíssimos valores de tem-
peratura (700oC a 200km de altura, por exemplo) decorrem da ab-
sorção de parcelas da radiação solar referentes aos raios X, gama e
ultravioleta efetuada pelos átomos de nitrogênio e oxigênio, que,
como conseqüência, são ionizados pela perda de elétrons. Por esse
motivo, a Termosfera é também chamada de Ionosfera. O termo
temperatura utilizado para expressar a energia na Termosfera não
tem a mesma conotação daquele que expressa o calor sensível que
os seres vivos detectam nos baixos níveis da atmosfera (MENDON-
ÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007, p. 30).

Exosfera
A exosfera não é citada por Mendonça e Danni-Olivera, po-
rém, aparece na obra de Ayade.
Para Ayoade (1983), essa é a última camada da atmosfera,
lugar onde os gases se tornam gradativamente mais rarefeitos até
o seu desaparecimento, quando a atmosfera deixa de existir e se
funde com o espaço exterior. Ainda de acordo com o autor, "[...]
os átomos de oxigênio, hidrogênio e hélio formam uma atmosfera
muito tênue e as leis dos gases deixam de ser válidas" (AYOADE,
1983, p. 22).

6. BALANÇO DE RADIAÇÃO
Para entendermos todos os fenômenos que vamos estudar, a
razão dos diferentes comportamentos da atmosfera em cada uma
das suas camadas, como vimos anteriormente, e também como
© U1 - Atmosfera Terrestre 49

funcionam alguns modelos de circulação de massas de ar no nosso


planeta, temos de entender um mecanismo de transferência e de
circulação de energia e de material que existe entre a superfície do
planeta Terra e a atmosfera que está em contato com ela.
A energia do Sol chega ao topo da atmosfera em uma quan-
tidade aproximada de 1,94 cal/cm²/min. Isso significa que, a cada
minuto, a Terra recebe no topo da exosfera 1,94 calorias em cada
centímetro quadrado. Como a variação dessa quantidade de ener-
gia é pequena ao longo do ano (menos de 5%), é chamada de
"constante solar" (CONTI; FURLAN in ROSS, 2001).
Ao longo desta unidade, vimos que, ao passar pelas diferen-
tes camadas da atmosfera, essa quantidade de energia é "filtrada"
pelos seus gases.
Ayoade (1983) afirma que a energia do Sol é responsável por
99,97% da energia que é usada para vários fins no sistema Terra-
-atmosfera. Ele chama a atenção para o fato de que a constante
solar apenas tem esse valor para locais onde os raios estão inci-
dindo com 90o, ou seja, perpendiculares à superfície da atmosfera.
Quando há incidência com essa angulação, há maior absorção de
calor pela superfície.
Em locais com maior latitude, ou seja, mais distantes do
Equador, onde há incidência de raios solares com menor inclina-
ção, há, também, menor quantidade de caloria do que aquela in-
dicada na constante solar.
Já para Mendonça e Danni-Oliveira (2007, p. 44):
A latitude do lugar, como também a época do ano, define o ângulo
com que os raios do Sol irão incidir sobre a superfície daquele lugar
(às 12h locais), o que implica a disponibilidade de energia de dado
local depender do ângulo com que a energia perpassa no Sistema
Superfície Atmosfera. Vale dizer que, quanto mais perpendicular-
mente incidir um feixe de raios solares, menor será a área da su-
perfície por ele atingida; assim, haverá uma maior concentração de
energia por unidade de área do que quando a incidência é oblíqua.
Como o processo de transferência de energia da superfície para o
ar é o principal responsável por seu aquecimento, a razão de aque-

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50 © Climatologia

cimento do ar será na mesma proporção da intensidade de energia


absorvida/refletida na superfície.

Para esses dois autores, então, os feixes de raio solar (com


uma quantidade de energia bem definida, a constante solar) irão
atingir a superfície da Terra de modo diferente de acordo com a
latitude. Em latitudes menores (mais próximas do Equador), um
feixe solar, por exemplo, incidindo de maneira perpendicular, aca-
bará aquecendo uma área menor da superfície da Terra.
O contrário acontece em locais com maiores latitudes (mais
distantes do Equador), onde os feixes de raios solares incidem de
maneira mais inclinada, tendo de aquecer uma área maior da su-
perfície da Terra e diminuindo sua capacidade de aquecimento da-
quela área.
É importante lembrar que os raios não incidem de maneira
perpendicular apenas na linha do Equador, porque sua incidência
varia durante o ano, de acordo com a translação da Terra. A faixa
do globo que recebe raios solares perpendiculares varia entre os
trópicos de Câncer (no Hemisfério Norte) e Capricórnio (no Hemis-
fério Sul).
Conforme Ayoade (1983, p. 230): "[...] a quantidade de ra-
diação solar incidente sobre o topo da atmosfera terrestre depen-
de de três fatores". São eles:
• período do ano.
• período do dia.
• latitude.
A inclinação de aproximadamente 23o do eixo de rotação da
Terra faz com que, em algumas épocas do ano, uma face do plane-
ta esteja voltada para o Sol. Nesse período, é verão no hemisfério
que recebe mais perpendicularmente os raios do Sol. Enquanto
isso, o outro hemisfério está recebendo menor radiação solar. É o
período de inverno. Portanto, as estações do ano são motivadas
pela translação do nosso planeta.
© U1 - Atmosfera Terrestre 51

O movimento de rotação também ocasiona variação da ra-


diação, graças ao movimento aparente do Sol, que faz com que al-
guns horários tenham maior exposição à radiação solar que outros
(insolação) e momentos com ausência dessa fonte de energia, ou
seja, durante a noite. Além disso, há épocas do ano em que, nas
latitudes maiores, há dias mais curtos e dias mais longos, determi-
nando que haja menores períodos de radiação em alguns lugares
e maiores em outros.
Veja a Figura 2, que demonstra a radiação solar em diferen-
tes épocas do ano, em pontos da Terra com latitudes diferentes.
Tente perceber os locais onde os raios solares incidem perpendi-
cularmente. Nesses pontos, é que as temperaturas serão maiores
pela ação da radiação solar, desde que não haja nenhuma outra
variável atuando.

Figura 2 Estações do ano de acordo com o posicionamento do eixo de rotação da Terra em


relação ao plano da sua eclíptica.

Os autores Mendonça e Danni-Oliveira (2007, p. 46) expli-


cam a Figura 2 dizendo que:

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52 © Climatologia

Como o eixo de rotação da Terra inclina-se com um ângulo de


23o27' em relação à vertical ao plano da órbita do Planeta (chama-
do de eclíptica), e como esse eixo aponta sempre para a mesma
direção, e ainda, como em cada dia do ano a Terra encontra-se em
determinada posição ao longo dessa órbita, a declinação do Sol es-
tará em seu topo mais meridional no paralelo de latitude 23o27' S,
no dia 21 ou 22 de dezembro.
Essa situação define o paralelo do Trópico de Capricórnio, o início
do verão para o hemisfério Sul (HS) e o início do inverno para o
hemisfério Norte (HN), que são denominados dia do solstício de
verão e dia do solstício de inverno, respectivamente. Portanto, a
concentração de energia nessa época do ano será maior no HS do
que no HN, bem como a duração dos dias, uma vez que este hemis-
fério estará voltado para o Sol.
Passados três meses, no dia 20 ou 21 de março, a declinação do Sol
estará exatamente sobre o paralelo de latitude que divide a Terra
em dois hemisférios – a linha do Equador –, de modo que latitudes
correspondentes em cada hemisfério apresentarão a mesma dis-
ponibilidade de energia [...] sendo a duração do dia igual à duração
da noite para qualquer ponto da Terra. Esse dia é definido como
equinócio e marca o início do outono no HS e o início da primavera
no HN.
No dia 21 ou 22 de junho, o Sol estará na sua posição aparente mais
setentrional, a 23o27' N, definindo o Trópico de Câncer e o dia do
solstício de inverno no HS e de verão no HN, apresentando agora
este as condições que o HS apresenta na ocasião de seu solstício
de verão.
A posição da Terra em sua órbita, que corresponde ao dia 22 ou
23 de setembro, traz para o HS o início da primavera e para o HN o
início do outono [...] caracterizando mais um equinócio.
Como fora da faixa Intertropical o Sol nunca coincidirá com a verti-
cal local, a distribuição de energia na Troposfera se diferencia latitu-
dinalmente, como representam as zonas climáticas, condicionadas
à distribuição de energia. Tais zonas são definidas pelos paralelos
de latitude em decorrência da energia que cada faixa recebe ao
longo do ano, como conseqüência da posição da Terra em sua ór-
bita ao redor do Sol.

Para Ayoade (1983, p. 27), outro fator relevante é a peque-


na variação que há na constante solar em alguns anos. Ainda de
acordo esse autor, a radiação solar que chega à atmosfera não é a
mesma que chega ao solo: "A atmosfera absorve, reflete, difunde
e reirradia a energia solar".
© U1 - Atmosfera Terrestre 53

Vale ressaltar que 18% da insolação é absorvida diretamente


pelo ozônio e pelo vapor d'água. Outro gás que absorve grandes
quantidades de insolação é o gás carbônico (CO2). A cobertura das
nuvens também pode diminuir a penetração da insolação, sendo
que aproximadamente 25% da radiação solar que atinge a Terra é
refletida de volta ao espaço pelas nuvens. Isso ocorre pelo elevado
albedo que alguns tipos de nuvens possuem (AYOADE, 1983).
Albedo é a capacidade que cada corpo (nuvens, solo, telha-
do etc.) tem de refletir a radiação ou, conforme indicado no site do
Observatório Nacional (2009), "[...] é a razão entre a quantidade
de radiação solar refletida pelo objeto e a quantidade total que ele
recebe".
Observe, na Figura 3, o comportamento da radiação solar na
atmosfera.

Figura 3 Radiação solar na atmosfera.

Ayoade (1983) afirma que superfícies secas e claras têm


maior albedo que as superfícies úmidas e mais escuras. Além disso,

Claretiano - Centro Universitário


54 © Climatologia

o albedo de cada superfície diferente está relacionado com com-


primentos de onda também diferentes. Por exemplo, sabemos que
uma blusa azul tem aquela cor porque reflete luz no comprimento
de onda do espectro visível referente ao azul. Veja, a seguir, um
texto sobre essa questão:

Céu azul–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Ayoade (1983) é um importante autor para o assunto estudado. Para ele, a inso-
lação também pode ser difundida por partículas que estão na atmosfera, e essa
difusão pode ser voltada tanto para o espaço quanto para a superfície da Terra.
As partículas pequenas refletem comprimentos de onda também pequenos (po-
demos perceber esse efeito no céu quando o tempo está claro e o céu, azul).
Quando há muitas partículas em suspensão, como neblina, poeira, poluição, a
luz do céu é resultado da difusão de comprimentos de onda maiores e mais va-
riados, de forma não seletiva. A difusão resulta em cor branca.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

De acordo com Mendonça e Danni-Oliveira (2007), existe um


balanço de radiação entre a superfície da Terra e a baixa atmosfe-
ra que constitui um sistema aberto chamado sistema superfície-
-atmosfera (SSA). Esse balanço é calculado pela diferença entre a
radiação solar (entrada de energia) e a reirradiação do solo (perda
de energia). De toda a radiação que incide sobre a superfície da
atmosfera, 47% são absorvidos e reirradiados pela superfície do
planeta, e o restante é absorvido pelas camadas da atmosfera ou
reirradiado para o espaço.
Essas ondas são reirradiadas pela superfície da Terra sob a
forma de ondas longas e são forçadas a retornar por ação de gases,
aerossóis e nuvens presentes na troposfera. A esse fenômeno, dá-
-se o nome de efeito estufa (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007).
Os principais agentes do efeito estufa são o gás carbônico
e as nuvens. Esse fenômeno é natural e muito conveniente para
manter as temperaturas da Terra como conhecemos hoje, permi-
tindo a existência de vida no nosso planeta.
© U1 - Atmosfera Terrestre 55

7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar
as questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nesta
unidade, ou seja, das características da atmosfera do nosso plane-
ta.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades em
responder a essas questões, procure revisar os conteúdos estuda-
dos para sanar as suas dúvidas. Esse é o momento ideal para que
você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Edu-
cação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma
cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas desco-
bertas com os seus colegas.
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) A camada da atmosfera terrestre que está em contato direto com os seres
humanos e possui a maioria dos gases concentrados é a:
a) atmosfera.
b) troposfera.
c) estratosfera.
d) mesosfera.
e) termosfera.
2) Para Mendonça e Danni-Oliveira (2007), há grande diferença de temperatu-
ra entre as diversas camadas da Terra, inclusive em uma mesma latitude. O
fato teria ligação com:
a) a energia do sol.
b) a concentração de gases.
c) a distância do Sol.
d) a variação da constante solar.
e) nenhuma das anteriores.
3) Ayoade (1983) ressalta que 18% da insolação é diretamente absorvida pelo
ozônio e pelo vapor d'água. Assinale a alternativa que indica outro gás que
absorve insolação e que é muito comum na atmosfera da Terra, ligado à
respiração de animais:
a) gás hélio.
b) nitrogênio.
c) gás metano.

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56 © Climatologia

d) gás carbônico.
e) monóxido de carbono.
4) Em montanhas elevadas, há menor temperatura, relacionada a:
a) ar mais rarefeito.
b) menor presença de raios solares.
c) concentração elevada de CO₂.
d) distância das partículas de O₃.
e) nenhuma das anteriores.
5) Você espera que haja queda de temperatura à medida que aumenta a alti-
tude? Justifique.

6) Qual é a influência da rotação e da translação da Terra para o clima de de-


terminada localidade?

7) Quais características do clima do lugar onde você mora estão relacionadas


com a latitude do seu município?

8) Durante o equinócio, a inclinação do eixo de rotação da Terra tem alguma


influência sobre as temperaturas da sua superfície? E durante o solstício?

9) Nos meses de junho e julho, qual hemisfério da Terra terá maiores tempe-
raturas? Quais são os motivos? E durante os meses de dezembro e janeiro?
Por quê?

8. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, conhecemos a atmosfera do nosso planeta,
as camadas que a compõem e o comportamento da radiação em
cada uma delas.
Essas são algumas das informações fundamentais para com-
preender como funcionam alguns elementos climáticos que vere-
mos mais adiante.
Na próxima unidade, veremos como a variação de radiação
na atmosfera determina as diferenças de temperatura e pressão
que causam alguns movimentos de gases.
Até lá!
© U1 - Atmosfera Terrestre 57

9. E-REFERÊNCIAS

Lista de figuras
Figura 2 Estações do ano de acordo com o posicionamento do eixo de rotação da Terra
em relação ao plano da sua eclíptica. Disponível em: <http://fisica.ufpr.br/grimm/
aposmeteo/cap2/Image189.jpg>. Acesso em: 26 nov. 2012.
Figura 3 Radiação solar na atmosfera. Disponível em: <http://fisica.ufpr.br/grimm/
aposmeteo/cap2/Image108.jpg>. Acesso em: 26 nov. 2012.

Site pesquisado
ON – OBSERVATÓRIO NACIONAL. Home page. Disponível em: <http://www.on.br/
glossario>. Acesso em: 24 maio 2009.

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. Rio de Janeiro: Bertrand do
Brasil, 1983.
CONTI, J. B. Clima e meio ambiente. São Paulo: Atual, 1998.
FAGAN, B. O longo verão, como o clima mudou a civilização. Lisboa: Edições 70, 2004.
HOUAISS, A. (Ed.). Dicionário eletrônico Houaiss. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. 3CD-
ROM.
MENDONÇA, F.; DANNI-OLIVEIRA, I. M. Climatologia – noções básicas e climas do Brasil.
São Paulo: Oficina de Textos, 2007.
POPP, J. H. Geologia geral. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2010.
PRESS, F. [et al.]. Para entender a Terra. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006.
ROSS, J. L. S. Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 2001.
TEIXEIRA, W. et al. Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2000.

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EAD
Fatores de Influência no
Clima

2
1. OBJETIVOS
• Identificar e compreender os elementos climáticos.
• Identificar e compreender fatores que influenciam o cli-
ma.
• Perceber a diferença entre tempo e clima.
• Compreender que alterações climáticas podem variar de
acordo com a escala em que ocorrem.

2. CONTEÚDOS
• Temperatura atmosférica.
• Elementos do clima.
• Fatores climáticos.
• Zonas climáticas da Terra.
• Tempo e clima.
• Escalas de análise de clima.
60 © Climatologia

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
1) Para aproveitar melhor esta unidade, você deve se lem-
brar de como é composta a atmosfera da Terra e qual a
sua importância para a vida no planeta. Além disso, é
fundamental buscar entender os mecanismos que regu-
lam o clima na troposfera, a camada da atmosfera que
está em contato com os seres vivos.
2) Observe como a radiação solar é relevante para o clima
da Terra. Busque entender como o Sol emite energia
para o planeta Terra e como essa energia se comporta.
3) Para observar o Abrigo de Stevenson e outros apa-
relhos de medição do tempo, visite o site disponível
em: <http://www.meteopt.com/forum/instrumentos-
-meteorologicos/estacao-meteorologica-da-granja-do-
-marques-forca-aerea-portuguesa-28-06-2009-a-3507.
html>. Acesso em: 26 nov. 2012.
4) Tente sempre relacionar os assuntos estudados nesta
unidade com a sua realidade, por exemplo, buscando
perceber quais são os fatores climáticos que influenciam
mais o local onde vive, qual é a altitude do seu municí-
pio, se há proximidade com o oceano, se existe grande
ação humana alterando as condições climáticas etc.
5) Para continuar com os estudos deste Caderno de Refe-
rência de Conteúdo, é fundamental que você compreen-
da a diferença entre tempo e clima.
6) Utilize mapas e figuras encontradas em livros e na in-
ternet, bem como a Figura 2 usada nesta unidade, para
visualizar as zonas climáticas do globo. Busque entender,
dessa forma, como a latitude é importante para a defini-
ção dos tipos de climas no mundo.
7) Tente sempre relacionar as zonas climáticas estudadas
com o seu local de moradia, correlacionando mapas de
clima, zonas climáticas e políticos. Durante o exercício
do magistério, será muito importante relacionar diferen-
tes tipos de mapas dessa forma.
© U2 - Fatores de Influência no Clima 61

8) Tente relacionar tipos de climas com vegetações, bus-


cando mapas de tipos de vegetações em livros e na in-
ternet.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Como vimos na unidade anterior, a temperatura atmosférica
varia de acordo com a quantidade de radiação solar que incide
em cada local da superfície da Terra e de acordo com o comporta-
mento dos gases atmosféricos (diferentes em partes diferentes da
atmosfera terrestre).
Para Mendonça e Danni-Oliveira (2007), a troposfera é a ca-
mada da vida, pois é nela que os sistemas de vida do nosso planeta
se inserem. É também por esse motivo que é chamada de "atmos-
fera geográfica" por esses autores.
É fundamental também lembrar que, na troposfera, a va-
riação de temperatura sofre influência da variação dos materiais,
visto que as temperaturas, nessa camada, são decorrentes da pro-
pagação de ondas longas da superfície, o que, para Mendonça e
Danni-Oliveira (2007), é chamado de "sistema superfície-atmos-
fera" (SSA). Materiais diferentes absorvem e propagam ondas de
maneira diferente (albedo). Essas diferenças são fundamentais
para haver as variações de temperatura que observamos em um
dado local na mesma hora do dia, por exemplo.
Para começar esta unidade, convidamos você a pensar sobre
o conceito de temperatura atmosférica e sobre os movimentos de
massas de ar que a variação de temperatura ocasiona. Ao tentar
entender o que está sendo dito aqui, é possível fazer uma analogia
com uma panela com líquido sendo esquentado.
Nesse exemplo, as partes mais quentes do líquido se tornam
menos densas e sua tendência é ascender em relação ao restante
com menor temperatura. Do mesmo modo, na atmosfera, a ten-
dência é que locais mais aquecidos pela ação do Sol tenham ar

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62 © Climatologia

mais leve e ascendente. Essa reação bem simples é a chave para


entender o que será discutido nesta unidade.
O vento também é uma consequência desses movimentos,
visto que, grosso modo, o ar se move dos locais com menor tem-
peratura para os de maior temperatura, onde o ar é ascendente.

5. ELEMENTOS DO CLIMA
Em um dia de verão extremamente quente, temos a sen-
sação térmica de calor. Mas o que está quente em um dia como
esse? Os gases da atmosfera ao nosso redor – mais especificamen-
te, os gases que compõem a troposfera.
Vimos, na Unidade 1, que, na atmosfera, alguns lugares pos-
suem temperatura mais elevada, dependendo do comportamento
e da quantidade de gases presentes, assim como a radiação solar
incidente. Outros fatores também influenciam a temperatura at-
mosférica, como veremos a seguir.

Elementos climáticos
Vejamos agora alguns dos elementos climáticos mais impor-
tantes de acordo com os autores citados no material. Repare que
esses elementos climáticos são referentes às características da at-
mosfera em dado local, de acordo com variáveis da geografia do
local, chamadas de "fatores climáticos".
A temperatura atmosférica é um dos elementos climáticos
que, para Mendonça e Danni-Oliveira (2007, p. 41), são atributos
físicos que representam as propriedades da atmosfera geográfica
de um dado local.
Ainda de acordo com os dois autores citados, os elementos
climáticos mais comuns são:
• temperatura;
• umidade;
• pressão.
© U2 - Fatores de Influência no Clima 63

Repare que os elementos climáticos são atributos que, ao


serem analisados, podem indicar informações sobre as caracterís-
ticas do tempo atmosférico e do clima em uma localidade.
Saber sobre os elementos climáticos, portanto, é saber sobre
as condições da atmosfera em algum momento. Essa informação
é cada vez mais útil para a humanidade, que busca planejar suas
ações, desde as mais simples, como um final de semana prolonga-
do, até atividades econômicas a longo prazo, construções e obras
de engenharia, plantio e colheita de safras, entre outras.
Nos telejornais, ao ver um boletim de previsão do tempo, es-
tamos vendo uma previsão de como será a situação dos elementos
climáticos nos próximos dias.
A sequência mais comum dos elementos climáticos em uma
dada localidade pode revelar como é o clima dessa dada localida-
de. A análise dos dados de precipitação, temperatura e pressão
podem revelar períodos caracterizados por chuvas intensas (esta-
ções chuvosas) e meses em que há mais seca.
O ritmo em que essas médias ocorrem pode revelar quais
são os padrões mais comuns na localidade em questão, bem como
indicar anomalias nas sequências mais comuns. Essas alterações
indicam possibilidades de novos estudos, buscando evidências de
fatos que ajudam no progresso do conhecimento em climatologia
e nos padrões da atmosfera.
Os dados sobre os elementos do clima são colhidos em esta-
ções meteorológicas, como será visto em uma das unidades adian-
tes.
A manutenção e o uso correto dessas estações é fundamen-
tal, portanto, para a obtenção de dados confiáveis e de sequências
corretas de dados, muito úteis à climatologia.
De acordo com Mendonça e Danni-Oliveira (2007), no Bra-
sil, até os anos de 1970, os elementos e fenômenos atmosféricos
eram mensurados por aparelhos fabricados em países de clima

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64 © Climatologia

temperado, o que prejudicava a precisão dos dados obtidos, visto


que estamos em um país com clima tropical.
Procurando entender a sequência de situações dos elemen-
tos climáticos, Carlos Augusto Figueiredo Monteiro fez, no final
da década de 1960, uma proposta de análise rítmica dos tipos de
tempo da atmosfera (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007, p. 20).
Conforme Inês Moresco Danni-Oliveira, observar as varia-
ções dos elementos climáticos aponta variações anuais e particu-
laridades que podem ser consideradas em sucessivos anos:
A metodologia de Análise Rítmica parte de três grandes princípios.
Um primeiro refere-se a noção de ritmo climático, "expressão dos
estados atmosféricos", que abrange tanto os eventos habituais
quanto aquelas "variações e desvios que geram diferentes graus
de distorções até atingirem padrões extremos" (MONTEIRO apud
DANNI-OLIVEIRA, 2005, n. p.).
[...]
Um segundo diz respeito à noção de regime dos elementos climá-
ticos que apontam, por meio do ritmo, as variações anuais expres-
sas em suas particularidades mensais; consideradas em sucessivos
anos. E um último que busca o entendimento dos eventos climá-
ticos habituais e excepcionais (estes muitas vezes considerados
como regra devido a suas recorrências) nas suas inter-relações com
a superfície terrestre e a sociedade no âmbito de seus impactos e
da dinâmica atmosférica que os geram (MONTEIRO apud DANNI-
-OLIVEIRA, 2005, n. p.).

Dessa forma, Monteiro apud Danni-Oliveira (2005) indica


o uso de três características determinantes da sua metodologia.
A primeira diz respeito aos estados da atmosfera, tanto comuns
quanto extremos. A segunda característica da metodologia é refe-
rente ao ritmo propriamente dito das situações climáticas.
O ritmo, aqui, é entendido como a periodicidade, como a
série de fenômenos que ocorrem com certa regularidade. Esses
fenômenos são referentes aos estados atmosféricos mais comuns
em uma dada localidade onde a metodologia será usada. Além
disso, as particularidades são observadas, bem como suas sequ-
ências, com finalidade de obter informações sobre a periodicida-
© U2 - Fatores de Influência no Clima 65

de, buscando chegar a um resultado conclusivo sobre a frequência


mais comum dos elementos climáticos.
A terceira característica diz respeito ao entendimento dos
eventos, seja os mais comuns, seja os eventos de tempo extremos,
bem como suas consequências para as sociedades relacionadas
aos locais de ocorrência.
Esse aspecto dá caráter muito geográfico à metodologia de
Monteiro, pois relaciona situações climáticas aos seres humanos
e ratifica o que foi dito em outros momentos do material sobre a
troposfera: é a camada mais relacionada com a vida na Terra.
Além desses aspectos, Monteiro apud Danni-Oliveira (2005)
coloca que é preciso ter uma periodicidade bem definida para que
a metodologia seja válida. Sem a obtenção correta dos dados, a
metodologia não pode ser aplicada e se torna inválida.
Uma vez que os dados sejam obtidos corretamente, são for-
mulados gráficos que, comparados, podem demonstrar o compor-
tamento dos elementos do clima de forma que leve a conclusões
sobre as situações mais típicas e sobre a presença de eventos ex-
tremos, que mais tarde podem ser alvo de outros estudos.
Complementando as análises de dados de estações meteo-
rológicas, há o uso de imagens de satélites, que podem dar uma
noção espacial maior sobre os tipos de tempo e clima.
Conforme a análise rítmica proposta por Monteiro, é possí-
vel definir a tipologia do clima de uma localidade através da obser-
vação diária dos elementos climáticos.
É muito importante a periodicidade da coleta dos dados. Em
estações meteorológicas, os dados sobre os elementos do clima
devem ser colhidos três vezes ao dia, todos os dias do ano.
Uma coleta de dados feita equivocadamente pode compro-
meter a análise dos dados, inviabilizando uma pesquisa que se
fundamente na metodologia da análise rítmica.

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66 © Climatologia

Temperatura atmosférica
A questão agora é definir o que é a temperatura da atmos-
fera.
Para Ayoade (1983), essa definição passa pela noção de mo-
vimento de moléculas: quanto maior a agitação destas, maior a
temperatura. Ele também deixa claro que a temperatura se mo-
vimenta de um corpo para outro – o corpo mais quente oferece
calor para o corpo mais frio.
A temperatura pode ser definida em termos de movimentos de
moléculas, de modo que quanto mais rápido o deslocamento mais
elevado será a temperatura. Mais comumente, ela é definida em
termos relativos tomando-se por base o grau de calor que um cor-
po possui. A temperatura é a condição que determina o fluxo de
calor que passa de uma substância para outra. O calor desloca-se
de um corpo que tem uma temperatura mais elevada para outro
com temperatura mais baixa. A temperatura de um corpo é deter-
minada pelo balanço entre a radiação que chega e a que sai e pela
sua transformação em calor latente e sensível [...] A temperatura
de um corpo é, portanto, o grau de calor medido por um termôme-
tro (AYOADE, 1983, p. 50).

Por essas definições, podemos concluir que, quanto maior


for o grau de agitação de um grupo de moléculas, maior será sua
temperatura. Além disso, fica claro, nos comentários de Ayoade
(1983), que as massas de ar podem trocar calor entre si e que ele
sempre passa de um corpo mais quente para um mais frio.
Se um bolo recém-tirado do forno fica exposto ao ambiente,
a tendência é que ele esfrie com o passar do tempo. O que ocor-
re nessa situação, na verdade, é o equilíbrio da temperatura do
alimento e do ar que o circunda. O mesmo vale para diferentes
massas de ar presentes na atmosfera.
Outro ponto-chave do trecho são os comentários sobre calor
latente e sobre calor sensível.
De acordo com o site Cepa (2012), o calor latente seria uma
quantidade de calor fornecida ou retirada de um corpo sem modi-
ficar sua temperatura, mas provocando mudança de estado físico.
© U2 - Fatores de Influência no Clima 67

O calor sensível é a quantidade de calor que provoca variações de


temperatura no corpo, sem mudar seu estado físico.
De acordo com Halliday et al. (2006), cada material tem uma
proporção entre a quantidade de calor que recebe e o aumento
da sua temperatura. Sendo assim, diferentes materiais teriam que
receber maior ou menor quantidade de calor para ter um aumen-
to específico de temperatura. A essa quantidade de calor, dá-se o
nome de capacidade calorífica.
Apesar de a capacidade calorífica ser constante nos mate-
riais (o mesmo material tem a mesma capacidade calorífica), se a
massa do material for maior, a quantidade de calor para seu aque-
cimento também tem que ser maior. A isso, dá-se o nome de calor
específico (HALLIDAY et al., 2006).
Por exemplo, o calor específico do ar é de 0,24 cal/g.oC. Isso
significa que, para variar em 1oC, 1g de ar da atmosfera necessita
de 0,24 calorias. Isso faz com que alguns materiais, como o asfalto,
aqueçam mais rapidamente que a água, por exemplo.
Ao longo deste material, é importante que você perceba que
o calor da superfície é fundamental para o aquecimento da tropos-
fera, visto que as temperaturas do ar atmosférico são influencia-
das pelas temperaturas da superfície.
Para Mendonça e Danni-Oliveira (2007), a temperatura do
ar é a medida do calor sensível nele armazenado. Mas de onde
provém a energia para aquecer as superfícies dos continentes, dos
mares e a troposfera?
É o Sol que fornece a maior parte da energia que aquece a
atmosfera. O valor em calorias que é emitido pelo Sol é relativa-
mente constante ao longo do tempo, sofrendo pequenas variações
em anos específicos. Essas variações podem alterar as condições
de tempo em determinados lugares, como provocar mais neve em
invernos do hemisfério norte ou mais secas em áreas semiáridas.
Conforme Ayoade (1983, p. 23):

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68 © Climatologia

O Sol fornece 99,97% da energia que é utilizada para vários fins


no sistema Terra-atmosfera. A cada minuto o Sol irradia cerca de
56 X 10² (dez elevado a 26 = arrumar), da qual a Terra intercepta
apenas 2,55 X 10¹0 calorias. Embora isto represente somente meio
milionésimo da energia solar total emitida para o espaço, calcula-se
que seja 30 mil vezes maior que o consumo total anual de energia
do mundo.
O Sol, uma esfera gasosa luminosa, apresenta em sua superfície
uma temperatura de 6.000oC e emite energia em ondas eletromag-
néticas, que se propagam à razão de aproximadamente 299.300
quilômetros por segundo. A energia que se propaga radialmente
a partir do Sol leva 9 1/3 minutos para percorrer cerca de 150 mi-
lhões de quilômetros, a distância entre a Terra e o Sol. Embora a ra-
diação solar se propague através do espaço sem perda de energia,
a intensidade da radiação diminui inversamente ao quadrado das
distâncias do Sol.

Pelo trecho citado, é possível perceber quão importante o


Sol é para o sistema Terra. Sem essa fonte de energia, não seria
possível haver vida neste planeta. Além disso, estamos à distância
ideal do Sol.
Como é possível perceber, há diminuição da radiação à me-
dida que a distância do Sol em relação a algum ponto qualquer
aumenta. Sendo assim, a distância da Terra em relação ao Sol, na
ordem de 150 milhões de quilômetros, é ideal para que não che-
gue aqui nem pouca energia solar, causando frio constante, nem
muita energia solar, o que, obviamente, causaria condições inade-
quadas para a existência de vida.
A velocidade indicada no trecho refere-se à velocidade
de propagação da luz no espaço. Costuma-se aproximá-la para
300.000 quilômetros por segundo. A distância que a luz percorre
em um ano é chamada de ano-luz (CORDANI in TEIXEIRA, 2008).
Fica claro também como é insignificante a quantidade de
energia que atinge a Terra diante da quantidade que é emanada
pela nossa estrela. Ayoade também demonstra como a radiação
emitida é relativamente constante.
© U2 - Fatores de Influência no Clima 69

Para Conti e Furlan in Teixeira (2008), a energia do Sol chega


ao topo da atmosfera em uma quantidade estimada em 1,94cla/
cm²/minuto. Essa quantidade de energia é constante, variando em
cerca de 5% ao longo do ano. Por esse motivo, ela é chamada de
constante solar.
Ayoade (1983) chama a atenção para o fato de haver varia-
ção de radiação solar sobre o topo da atmosfera de acordo com o
período do ano, o período do dia e a latitude.
A temperatura de um corpo, ou mesmo da atmosfera, pode
ser medida por um termômetro. É convenção mundial que, em
uma estação meteorológica, esse termômetro esteja dentro de um
abrigo com paredes de madeira, pintadas de branco, e a 1,5m aci-
ma do chão (coberto por grama), conforme Figura 1. O nome que
se dá a essa "casinha" é "Abrigo de Stevenson" (AYOADE, 1983).

Figura 1 Abrigo para termômetro (Abrigo de Stevenson).

Ainda conforme Ayoade (1983), várias escalas são usadas


para medir a temperatura atmosférica:
1) Celsius: usada na maioria dos países.
2) Fahrenheit: tem sua conversão para Celsius expressa
pela equação:

Claretiano - Centro Universitário


70 © Climatologia

5
C = ( F – 32 ) ,
9
onde C representa graus Celsius e F, graus Fahrenheit.
3) Kelvin: também chamada "escala absoluta". Nessa esca-
la, o valor 0 (zero) é a temperatura em que o gás deixaria
de exercer qualquer pressão. O 0 (zero) corresponde a
-273oC.
A indicação das temperaturas atmosféricas dadas em grau
Celsius, Fahrenheit ou Kelvin, de um dia, um mês ou um ano po-
dem ajudar a entender como se comportou a atmosfera em um
desses períodos.
Dessa forma, podemos calcular a média térmica do período,
as temperaturas máxima e mínima e a amplitude térmica. De acor-
do com Mendonça e Danni-Oliveira (2007), podemos definir cada
um dos itens a seguir:
• temperaturas máxima e mínima: correspondem ao maior
e menor valores registrados no período considerado;
• amplitude térmica: diferença entre a máxima e a mínima
temperatura do período considerado;
• média térmica diária: soma da temperatura às 9 horas
com o dobro da temperatura às 21 horas, mais a máxima
e mais a mínima do dia. O resultado dessa soma deve ser
dividido por 5.

Pressão atmosférica
A pressão atmosférica nada mais é do que o peso do ar so-
bre determinado ponto da superfície da Terra. Ela é resultado da
ação da gravidade sobre os gases, atraindo-os, como já foi dito,
para a superfície, e fazendo com que tenham um peso (AYOADE,
1983).
Esse peso varia de acordo com a altitude: quanto maior a
altitude, menor é a pressão atmosférica. Para Ayoade (1983), a
© U2 - Fatores de Influência no Clima 71

pressão atmosférica diminui logaritmicamente com o aumento da


altitude. Esse fato está relacionado a outro: a maior parte dos ga-
ses que compõem a atmosfera está próxima da superfície, uma vez
que estes são atraídos por gravidade até ela.
A pressão também pode variar com o aumento ou a dimi-
nuição da temperatura, com o teor de vapor d'água no ar e com as
variações de gravidade.

Umidade do ar
A umidade do ar está relacionada com a presença do va-
por d'água na atmosfera, o que pode acontecer de várias formas,
como veremos na unidade seguinte.

6. FATORES DO CLIMA
Os elementos climáticos podem se manifestar por meio de
precipitações, ventos, nebulosidade, entre outros, e sua grande
variação ao longo da atmosfera da Terra deve-se à ação de fato-
res climáticos ou mecanismos de controle climático (MENDONÇA;
DANNI-OLIVEIRA, 2007).
Ayoade (1983) indica que diversos fatores influenciam a
temperatura da superfície da Terra em localidades diferentes, ou
seja, locais diferentes têm manifestações diferentes dos elemen-
tos climáticos:
A temperatura do ar varia de lugar e com o decorrer do tempo em
uma determinada localidade. A distribuição da temperatura numa
área é normalmente mostrada por meio de linhas isotérmicas, en-
quanto a variação da temperatura em escala temporal é mostrada
em gráficos. Vários fatores influenciam a distribuição da temperatu-
ra sobre a superfície da Terra ou parte dela. Eles incluem a quantia
de insolação recebida, a natureza da superfície, a distância a partir
dos corpos hídricos, o relevo, a natureza dos ventos predominantes
e as correntes oceânicas (AYOADE, 1983, p. 52).

Ayoade (1983), ao comentar sobre o uso de gráficos para de-


monstração da temperatura em escala temporal, faz-nos lembrar

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72 © Climatologia

o uso da análise rítmica, como vimos há pouco. Além disso, ele


comenta que a variação da temperatura na superfície da Terra tem
relação com alguns fatores, chamados fatores do clima.
De acordo com Mendonça e Danni-Oliveira (2007), os con-
troles climáticos ou fatores do clima correspondem às caracterís-
ticas geográficas estáticas diversificadoras da paisagem, ou seja,
eles são características de uma paisagem e que causam alterações
no clima. São eles:
1) latitude;
2) altitude;
3) vegetação;
4) relevo;
5) maritimidade e continentalidade;
6) atividades humanas (ação antrópica).
Para Ferreti (2009), os fatores climáticos são as característi-
cas do espaço geográfico que controlam ou influenciam a variação
dos elementos climáticos. Dessa forma, é plausível notar que tipos
de tempo e de clima podem ocorrer em um determinado local e
não em outro, uma vez que a superfície da Terra tem, em cada
local, suas especificidades.

Latitude
A latitude, como vimos na unidade anterior, altera a quanti-
dade de energia que entra no sistema superfície-atmosfera. Quan-
to maior a latitude, menor a quantidade de energia e, consequen-
temente, menores as temperaturas.
De acordo com Dias e Silva apud Cavalcanti (2009), nosso
planeta passa, ao longo de sua órbita ao redor do Sol, por diferen-
tes exposições à radiação solar, definindo as estações do ano.
Reveja a Figura 2 da Unidade 1, que demonstra o ângulo de
inclinação da Terra (23o23'). Essa inclinação faz com que as áreas
que recebem maior insolação (radiação solar) sejam aquelas entre
© U2 - Fatores de Influência no Clima 73

os trópicos (de Câncer, no hemisfério norte, e de Capricórnio, no


hemisfério sul, e cujas latitudes são 23o23'N e 23o23'S, respectiva-
mente).
Dessa forma, conforme Mendonça e Danni-Oliveira (2007 p.
42), a "[...] Latitude do lugar, como a época do ano, define o ângulo
que os raios do Sol irão incidir sobre a superfície daquele lugar".
Para Dias e Silva apud Cavalcanti (2009), o maior ou menor
aquecimento das superfícies tem relação com a inclinação dos
raios solares incidentes. Para eles, quanto mais próximo de uma
incidência vertical, maior a taxa de aquecimento da superfície.
Quanto mais perpendiculares os raios solares estão incidin-
do, maior será a insolação ou sua intensidade. Esse é o caso, por
exemplo, do solstício de verão no hemisfério sul, quando os raios
solares incidem de maneira perpendicular sobre o Trópico de Ca-
pricórnio. Dizemos, então, que os raios solares estão na sua posi-
ção de zênite, ou seja, incidindo com ângulo de 90o na superfície
(MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA 2007).
Na situação anterior, a latitude está determinando que a
temperatura seja mais elevada. Esse é o motivo de haver menores
temperaturas em latitudes maiores. Essa regra é válida desde que
não haja um outro fator de influência climática atuando.
Podemos analisar o motivo dessa ocorrência pela quantida-
de de energia que chega ao solo, que é constante (constante solar);
quanto maior a área iluminada e aquecida pela constante, menor
será a temperatura, ao passo que uma área menor, iluminada pela
mesma quantidade de calorias, terá uma temperatura maior.
O raciocínio envolvido é simples. O sol emite uma quanti-
dade de energia que é constante. Se essa energia é "usada" para
aquecer uma área pequena, ela será capaz de gerar mais calor nes-
sa pequena superfície. Se essa quantidade de energia é "usada"
para aquecer uma área grande, essa superfície não terá a tempe-
ratura tão elevada quanto a área menor, aquecida por ela.

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74 © Climatologia

Não podemos nos esquecer de que os hemisférios do glo-


bo, dada sua inclinação do eixo de rotação e sua esfericidade, tem
seus solstícios em épocas do ano diferentes. Dessa forma, quando
é verão no hemisfério norte (nos meses do meio do ano), é inverno
no hemisfério sul e vice-versa.
Ayoade (1983) afirma que a latitude é o principal fator de-
terminante da quantidade de insolação que determinado lugar
recebe. Já a altitude é um fator que, quanto maior, faz com que a
temperatura diminua.
Vale ressaltar que, se não houver ação de nenhum outro fa-
tor do clima mais forte que a latitude, ela será a mais relevante.
Dessa forma, deve-se sempre pensar, em primeiro lugar, na lati-
tude, ao buscar entender o clima de alguma localidade no globo.
Caso outro fator seja mais forte na localidade que estamos obser-
vando, pode haver alteração do clima.

Altitude
Conforme foi comentado na Unidade 1, a maior quantidade
dos gases da atmosfera está nas áreas próximas da superfície. Por
conta disso, a troposfera, camada mais baixa, possui a maior parte
dos gases atmosféricos. Esse fato ocorre, conforme já foi comenta-
do, pela ação da gravidade, que atrai os gases para a Terra.
Dessa forma, quanto menor a altitude, maior é a concen-
tração de gases, inclusive dos chamados "gases de efeito estufa",
como o CO2 (dióxido de carbono), por exemplo.
Por ter essa maior concentração de gases de efeito estufa, as
áreas com menor altitude apresentam maiores temperaturas em
relação àquelas com maiores altitudes. Esse é o principal efeito da
altitude como fator climático.

Relevo
O relevo faz com que massas de ar tenham maior ou menor
dificuldade de fluir por continentes. "A posição do relevo favorece
© U2 - Fatores de Influência no Clima 75

ou dificulta os fluxos de calor e umidade entre áreas contíguas",


conforme Mendonça e Danni-Oliveira (2007, p. 47).
Além disso, nas latitudes mais altas (extratropicais), a orien-
tação das vertentes é muito importante para a insolação; por
exemplo, no hemisfério sul, vertentes voltadas para o Norte terão
mais insolação durante o inverno, enquanto as vertentes inclina-
das para o Sul terão mais sombras (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA,
2007).
Relevos mais elevados podem impedir a passagem de algu-
mas massas de ar, causando seca, quando impedem a passagem
de massas úmidas vindas do oceano, por exemplo. Eles também
podem impedir a passagem de massas de ar mais frias, vindas de
latitudes maiores, impedindo a queda de temperatura muito gran-
de durante o inverno, por exemplo. Dessa forma, o relevo é um
fator que determina as características do clima de uma localidade.
Por outro lado, o relevo pode funcionar como um corredor,
favorecendo a passagem das massas de ar, como, por exemplo,
nos Estados Unidos, onde a posição das cadeias montanhosas (na
direção Norte-Sul) faz com que as massas de ar fluam com mais
facilidade pelo território.
Além disso, relevos mais altos terão influência da altitude,
diminuindo a temperatura, como vimos anteriormente.

Maritimidade e continentalidade
Na Unidade 1, vimos que a composição da atmosfera e a
quantidade de aerossóis presentes também alteram a temperatu-
ra, além do albedo e do calor específico da superfície.
Sobre isso, Ayoade (1983, p. 38) diz que:
[...] se o albedo for elevado, menos radiação será absorvida pela
superfície para elevação da sua temperatura, e se o calor específico
da superfície for alto, mais energia terá que ser absorvida pela su-
perfície para aumentar a temperatura.

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76 © Climatologia

Podemos concluir, então, que a natureza dos materiais que


cobrem a superfície tem influência na quantidade de radiação que
é absorvida ou refletida, influenciando, também, o clima.
O calor específico da água é mais elevado que o da superfície
continental (terra). No geral, a água absorve cinco vezes mais calor,
a fim de aumentar a sua temperatura em quantidade igual ao au-
mento de massa aproximada de solo seco (AYOADE, 1983).
Dessa forma, as superfícies com menos recursos hídricos,
como os sedimentos que compõem os desertos, esquentam mais
de forma mais rápida, porém, igualmente, perdem calor.
Como a troposfera é aquecida a partir do solo, nesses luga-
res, será possível observar o aumento da temperatura atmosférica
mais rapidamente durante o dia, assim como uma brusca dimi-
nuição da temperatura durante a noite. Observe que a atmosfera
tanto esquenta quanto esfria com facilidade nesse caso.
Em locais com grande quantidade de água, próximo de oce-
anos e mares, o aumento da temperatura é mais lento. Dessa for-
ma, há menor variação entre as temperaturas máxima e mínima
do dia, mês ou ano, uma vez que a água irá demorar mais para
aquecer e também demorar mais para esfriar. Consequentemente,
o calor dessas superfícies demorará mais para esquentar a tropos-
fera e, ao manter-se quente, também irá transmitir calor para ela.
Os dois exemplos citados ilustram os efeitos da maritimida-
de e da continentalidade.
A maritimidade é a influência que a proximidade do mar ou
do oceano causa no clima, diminuindo a amplitude térmica anual
e aumentando a umidade.
Ao contrário, a continentalidade é o fator climático ocasio-
nado pelo aumento da distância dos mares e oceanos. Esse fator
climático faz com que a amplitude térmica do local que sofre sua
influência aumente e a umidade atmosférica diminua.
© U2 - Fatores de Influência no Clima 77

Vegetação
A vegetação tem influência no clima de um local à medida
que aumenta a umidade do solo (que fica com menor albedo), co-
laborando para a elevação da umidade do ar, que implica diminui-
ção da temperatura. Além disso, as copas das árvores diminuem
a incidência de raios solares, colaborando para a diminuição da
temperatura (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007).
É importante perceber que, no caso de locais com maior pre-
sença de vegetação, o albedo é menor, porém isso não significa
aumento da temperatura, como vimos em exemplos anteriores,
mas exatamente o contrário.
Nesses locais, a radiação solar é absorvida pela água e não
é refletida de volta para a atmosfera (menor albedo), porém esse
calor é usado para a mudança de estado da água. No caso da água
líquida, a absorção levará à evaporação.
É interessante perceber que a água, então, não contribui
para o aumento da temperatura desse local, pelo contrário, ela
absorve radiação solar, provocando a evaporação.

Atividades humanas
As atividades humanas são responsáveis pela alteração da
composição dos gases atmosféricos, alterando a radiação absor-
vida e refletida pela atmosfera (como vimos na Unidade 1). Para a
alteração das quantidades naturais de gases na atmosfera, damos
o nome de poluição atmosférica.

Interpretação da influência dos fatores climáticos


De acordo com a latitude, Mendonça e Danni-Oliveira (2007)
indicam, na Figura 2, os tipos de clima relacionados.

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78 © Climatologia

Fonte: Mendonça e Danni-Oliveira (2007, p. 46).


Figura 2 Zonas climáticas da Terra.

A análise da Figura 2 é muito relevante para entender o que


foi discutido até aqui. Nela, estão indicadas as principais zonas cli-
máticas, de acordo com Mendonça e Danni-Oliveira (2007).
A primeira análise que podemos fazer é a observação de
que a latitude é fundamental para a determinação dessas zonas
climáticas, confirmando sua importância como principal fator de
influência no clima. Caso não haja outros fatores alterando o clima
em dada localidade, ele seguirá as características e denominações
indicadas na Figura 2.
Muitos locais da Terra têm influência de fatores como conti-
nentalidade, maritimidade e, especiamente, relevo; apesar disso,
as zonas climáticas descritas na figura são válidas.
© U2 - Fatores de Influência no Clima 79

Ainda de acordo com a Figura 2, a região equatorial localiza-


-se desde a linha do Equador até 10o de latitude norte e até 10o de
latitude sul. Nessa faixa, as temperaturas são muito elevadas, por
conta do ângulo de incidência dos raios solares.
Os raios solares incidem nessa faixa de maneira perpendicu-
lar em mais de uma ocasião ao ano, e, como eles nunca são muito
inclinados, essa faixa recebe uma insolação capaz de aquecer as
superfícies, suficiente para que o calor delas mantenha as tempe-
raturas atmosféricas elevadas.
Além disso, na faixa equatorial, o ar mais quente tende a ele-
var-se, o que leva umidade para camadas mais frias da atmosfera
(de maior altitude), onde o vapor d'água se condensa, causando
instabilidade e chuvas.
Podemos concluir, então, que o clima das localidades próxi-
mas do Equador é quente e úmido.
A faixa seguinte, chamada de tropical, estende-se desde os
dez graus de latitude norte ou sul até os trópicos de Câncer e de
Capricórnio, localizados nos hemisférios norte e sul, respectiva-
mente, nas latitudes 23o30' Norte e 23o30' Sul.
Essa é também a faixa onde há possibilidade de incidência
de raios solares com 90o de inclinação em períodos específicos do
ano, ou seja, é a faixa onde há incidência de raios solares perpen-
diculares à superfície.
Como já foi dito, os raios com essa inclinação causam maior
aumento da temperatura da superfície, e essa, consequentemen-
te, causa aumento da temperatura do ar na troposfera. Sendo as-
sim, nessa faixa, predominam os climas quentes, com variações
de umidade que obedecem a outros fatores climáticos, como a
continentalidade ou a maritimidade.
Para refletir, temos que lembrar que outros fatores climá-
ticos podem causar influência nesses locais, sendo possível, por
exemplo, a existência de uma cadeia montanhosa que, além de
influenciar a passagem das massas, terá menores temperaturas.

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80 © Climatologia

Por conta dessa variação de fatores, o clima tropical pode ter


variações, inclusive nas suas denominações.
A faixa de transição entre a faixa tropical e a temperada é
chamada de subtropical. Por influência dos ângulos de incidência
dos raios solares, que são mais inclinados, as superfícies esquen-
tam menos e transmitem menos calor para a troposfera. Os climas
subtropicais, portanto, têm invernos mais amenos, ou seja, com
temperaturas mais baixas.
A partir daí, temos a chamada faixa temperada do globo,
indicada, na Figura 2, como faixa de médias latitudes. Essa zona
varia de cerca de 35o de latitude norte ou sul até cerca de 55o de
latitude também norte ou sul.
Na faixa temperada ou de latitudes médias, nunca há inci-
dência de raios solares perpendiculares, em nenhuma época do
ano. Sendo assim, a superfície sempre recebe raios com alguma
inclinação, que esquentam menos o solo, os telhados etc. Nova-
mente, como já foi dito, esse calor é transmitido para os gases da
troposfera, aquecendo-os.
Você já deve ter percebido que, como as superfícies se aque-
cem muito pouco, o ar da troposfera também não ficará muito
quente.
Nessas faixas do globo, as quatro estações do ano são muito
bem definidas. Os verões são quentes, os invernos são bem rigo-
rosos. Na primavera, as temperaturas estão subindo e algumas ve-
getações se tornam novamente verdejantes; já no outono, há uma
queda paulatina da temperatura e alguns vegetais perdem as folhas.
A noção das quatro estações definidas como indicado ante-
riormente, que, muitas vezes, recebemos desde criança, se aplica
mais às faixas temperadas do que à zona tropical onde vivemos.
A noção de Natal e final de ano com neve, amplamente vin-
culada à mídia, também se aplica mais às faixas temperadas, com
© U2 - Fatores de Influência no Clima 81

presença de precipitação sob forma de neve no inverno, o que não


ocorre em locais na faixa tropical, salvo muito altos, onde há a in-
fluência do fator altitude.
Além disso, ao pensar nesse clima, estamos pensando em
localidades no hemisfério norte, onde o inverno é no final do ano,
ao contrário do hemisfério sul, que passa por essa estação no pe-
ríodo do meio do ano.
Nas faixas temperadas, como não poderia deixar de ser, há
a influência de outros fatores climáticos além da latitude, o que
provoca variações do clima temperado e mesmo a existência de
outros tipos climáticos.
É comum o clima variar pela influência da maritimidade ou da
continentalidade, o que causa a ocorrência de climas com menores
amplitudes térmicas e com maior umidade, além de outros climas
com maiores amplitudes ao longo do ano, e com menor umidade,
existindo, inclusive, climas secos, mesmo em faixas temperadas.
A proximidade de desertos também exerce influência nessa
faixa do globo, ocasionando a existência de climas específicos des-
sas regiões, com invernos chuvosos e frios e verões secos e quen-
tes, influenciados pelas massas de ar quentes e secas provenientes
dos desertos.
As zonas subártica e subantártica são, novamente, faixas de
transição entre os climas temperados e as regiões de climas mais
frios, polares.
Na zona ártica e na zona polar norte, bem como na zona an-
tártica e na zona polar antártica, há incidência muito perpendicular
dos raios solares, o que causa pouco ou quase nenhum aquecimen-
to das superfícies. Consequentemente, os climas nesses locais são
muito frios e há predomínio de precipitação sob forma de neve.
Em alguns locais, a vegetação aparece apenas em algumas
épocas específicas do ano, quando o gelo derrete, abrindo a chan-
ce de o solo ficar exposto e de a vida vegetal ocorrer.

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82 © Climatologia

Uma curiosidade dessas áreas é que, pela inclinação do eixo


de rotação da Terra, durante o verão, os dias são muito longos,
culminando com o dia do solstício de verão, quando há 24h de Sol.
O oposto ocorre no inverno, quando, no solstício, há a noite
mais longa do ano, com duração, também, de 24 horas.
Esse fenômeno soa estranho para nós, porque vivemos mais
próximos do Equador, onde a diferença entre as horas do dia com
Sol e as horas de noite é pequena.
A partir dessa análise rápida sobre as zonas climáticas des-
critas na Figura 2, é possível perceber como a latitude exerce sua
influência e por que ela é um fator tão importante para a determi-
nação dos climas no nosso planeta.
No tópico seguinte, veremos que a atmosfera tem variações
diárias e que não podemos considerá-las mudanças do clima de
determinado lugar. Na verdade, há uma denominação correta para
esse tipo de variação, conforme veremos a seguir.

7. TEMPO E CLIMA
Vimos o que é a temperatura da atmosfera e percebemos
que ela se altera de acordo com alguns fatores.
Essa é a hora de refletir sobre a escala temporal dessas alte-
rações, que podem ser em diversos anos ou até em alguns minutos.
Para as situações da atmosfera que mudam em poucas ho-
ras, damos o nome de tempo atmosférico.
Por tempo, entende-se o estado médio da atmosfera em
uma dada porção de tempo e em determinado lugar (AYOADE,
1983).
Pensando nessa definição, podemos compreender que o
tempo atmosférico pode mudar várias vezes ao dia. Quando o dia
amanhece chuvoso, o tempo atmosférico está chuvoso. Pela tarde,
© U2 - Fatores de Influência no Clima 83

a chuva pode cessar, o Sol aparecer, e dizemos que o tempo mu-


dou, está ensolarado.
Sendo assim, é correto afirmar que o tempo mudou se, por
exemplo, o dia começou chuvoso e, durante a tarde, a chuva ces-
sou e o Sol apareceu.
Exemplos como esse são comuns no nosso cotidiano e, nesse
caso, é certo dizer que o tempo muda, porém seria incorreto afir-
mar que o clima mudou em uma situação como a desse exemplo.
O tempo atmosférico ou tempo meteorológico, então, é um
estado momentâneo da atmosfera em um local qualquer. Ele é di-
nâmico, ou seja, pode sofrer alterações rápidas durante o tempo
cronológico e no espaço geográfico (FERRETTI, 2009).
Já o clima não é variável dessa forma. Ele não sofre altera-
ções momentâneas e demora muitos anos para ser determinado,
pois, como afirma Ayoade (1983, p. 2), "[...] clima é a síntese do
tempo num dado lugar durante um período de aproximadamente
30-35 anos".
De acordo com o mesmo autor, para concluir como é o clima
de uma localidade, as características da atmosfera devem ser ob-
servadas continuamente por um longo período de tempo. Ayoade
(1983) afirma que "[...] o clima lida com generalização, enquanto o
tempo lida com eventos específicos".
Essa generalização faz referência ao que é costumeiro, ao que
é mais comum de acontecer no clima de um local. Digamos que tem
relação com a média o comum de estados de tempo atmosférico em
uma localidade em um período de, no mínimo, 30 anos.

8. ESCALAS DE ANÁLISE
Agora que vimos que deve haver uma escala de análise gran-
de para estabelecer o clima de uma localidade, vamos pensar na
escala espacial de eventos da atmosfera.

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84 © Climatologia

Vamos refletir sobre o exemplo que vimos da vegetação, que


faz com que as temperaturas sejam mais amenas ao seu redor. É
fato que, em áreas mais florestadas, há menor temperatura, pe-
los fatores já citados, mas até qual distância haverá diminuição da
temperatura por causa das árvores de um bosque? E se estivermos
falando de uma floresta um pouco maior?
Essas questões são pertinentes para aqueles que querem
estudar o clima de uma cidade, de um bairro ou, até mesmo, de
parte de um conjunto de casas. Elas têm relação com a escala que
estamos trabalhando, a escala de clima ou escala climática. É pos-
sível indicar três escalas importantes, definidas a seguir por Men-
donça e Danni-Oliveira (2007):
• macroclima: referente a grandes áreas de todo o planeta
Terra (como as zonas climáticas da Figura 2). A unidade
escalar, neste caso, é da ordem de milhões de quilôme-
tros quadrados. É subordinada à circulação geral da at-
mosfera (que veremos na unidade seguinte);
• mesoclima: relacionada a regiões pertencentes aos conti-
nentes (como grandes florestas e desertos);
• microclima: é a mais imprecisa de todas as escalas. Pode
variar de alguns centímetros quadrados até alguns me-
tros quadrados. As construções e o uso do solo podem
ser exemplos de fatores que alteram o microclima. O mi-
croclima é o mais alterado no caso de alguma alteração
da cobertura vegetal local, de presença de materiais com
menor albedo e que provocam aumento da temperatu-
ra da troposfera em consequência disso. O asfalto é um
bom exemplo dessa alteração de microclima. Superfícies
asfaltadas, por serem mais escuras e possuírem menor al-
bedo, esquentam mais. Esse calor, como foi amplamente
discutido até aqui, é transmitido para os gases da tropos-
fera que causam o efeito estufa. Por conta desse processo
envolvendo o sistema superfície-atmosfera, o microclima
de locais onde há mais asfalto, bem como outros mate-
© U2 - Fatores de Influência no Clima 85

riais com baixo albedo ou mesmo que possuem maior


calor específico, é alterado, ficando com maiores tempe-
raturas que o normal.
Com as escalas de observação finalizamos nossas considera-
ções sobre o comportamento da temperatura na atmosfera da Terra.

9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Quais são as diferenças entre os fatores do clima e os elementos climáticos?

2) Enumere os elementos climáticos e busque informações de como eles são


aferidos.

3) Toda a energia do Sol que chega ao topo de atmosfera é absorvida por cor-
pos na superfície do planeta? Justifique.

4) Converter as temperaturas a seguir em oC para oF e vice-versa. Lembre-se de


C ( F − 32 )
usar a fórmula 5 = 9 , onde oC representa o valor em graus Celsius e oF
representa o valor em graus Fahrenheit.
a) Quanto é a temperatura de 29oC em oF? Demonstre seus cálculos.
b) Qual é a temperatura, em oC, de 95oFahrenheit? Demonstre seus cálculos.
5) Quais são as características de um local que levam à variação da pressão
atmosférica? Justifique.

6) Pense em cada fator do clima e explique como eles influenciam o clima de


determinada localidade.

7) Por que há uma tendência de diminuição da temperatura com o aumento


da latitude?

8) Quais os motivos de o aumento da altitude levar à diminuição da tempera-


tura?

9) Como o relevo pode influenciar no clima? A relação do relevo com o clima é


exatamente a mesma relação da altitude com o clima? Por quê?

10) Qual é a importância da vegetação para a temperatura de um local? Quais


são os efeitos climáticos que uma área com mais vegetação sofre? Justifique.

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86 © Climatologia

11) Separe o globo em zonas climáticas e explique as características climáticas


de cada uma dessas zonas a partir do Equador.

12) Faça um paralelo entre as zonas climáticas do exercício anterior e as possí-


veis vegetações encontradas em cada uma delas.

13) Conceitue tempo atmosférico e clima.

10. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, discutimos o que é temperatura atmosférica
e como ela é medida, bem como os outros elementos que, junta-
mente com a temperatura, são responsáveis pelas dinâmicas do
tempo e do clima.
Vimos, também, alguns fatores que causam alteração dos
elementos climáticos. Eles são os fatores do clima.
Vimos que, conforme a latitude, um fator do clima muito im-
portante, podemos dividir o globo terrestre em faixas, indicadas
pela Figura 2, de Mendonça e Danni-Oliveira (2007).
Por fim, entendemos o que é tempo e clima, dois conceitos
muito importantes para a Climatologia, e discutimos algumas es-
calas de análise.
Na Unidade 3, vamos entender como funciona a dinâmica
da atmosfera que causa efeitos muito relevantes na maior das es-
calas que acabamos de ver, a macroclimática. É a circulação geral
da atmosfera.
Bons estudos e até lá!

11. E-REFERÊNCIAS

Figura
Figura 1 Abrigo para termômetro (Abrigo de Stevenson). Disponível em: <http://thumbs.
dreamstime.com/thumblarge_422/1248448189tL3m2f.jpg>. Acesso em: 22 nov. 2012.
© U2 - Fatores de Influência no Clima 87

Site pesquisado
CEPA – CENTRO DE ENSINO E PESQUISA APLICADA. Home page. Disponível em: <http://
www.cepa.if.usp.br> Acesso em: 23 out. 2012.

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. Rio de Janeiro: Bertrand do
Brasil, 1983.
DANNI-OLIVEIRA, I. M. A utilização da internet como suporte a análise ritmica: uma
proposta de aula prática. In: X ENCONTRO DE GEÓGRAFOS DA AMÉRICA LATINA, 20 a 26
de março de 2005. São Paulo: FFLCH – Dpto. de Geografia/Universidade de São Paulo,
2005. v. 1.
DIAS, M. A. F. S.; SILVA, M. G. A. J. S. Para entender tempo e clima. In.: CAVALCANTI, I. F.
A. Tempo e clima no Brasil. São Paulo: Oficina de Textos, 2009.
FERRETTI, E. Geografia em ação, práticas em climatologia. Curitiba: Aymará, 2009.
HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de Física 2: gravitação, ondas e
termodinâmica. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
MENDONÇA, F.; DANNI-OLIVEIRA, I. M. Climatologia. Noções básicas e climas do Brasil.
São Paulo: Oficina de Textos, 2007.
TEIXEIRA, W. et al. Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2000.

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EAD
Circulação Geral da
Atmosfera

3
1. OBJETIVOS
• Conhecer as causas e consequências dos movimentos da
atmosfera terrestre.
• Entender os modelos de circulação.
• Conhecer alguns sistemas formadores de tempo.
• Refletir sobre a influência dos movimentos da atmosfera
nos mais diversos níveis de escala (macro, meso e micro).

2. CONTEÚDOS
• Movimentos verticais e horizontais da atmosfera.
• Escala de análise da circulação geral da atmosfera.
• Massas de ar.
• Sistemas produtores de tempo.
• El Niño e La Niña.
90 © Climatologia

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
1) Antes de iniciar os estudos desta unidade, é muito impor-
tante que você tenha em mente a composição de cada
camada da atmosfera da Terra, bem como suas caracte-
rísticas, uma vez que vamos estudar os movimentos que
ocorrem na atmosfera, sempre com destaque para a tro-
posfera, que é a camada mais próxima de nós e onde os
fenômenos interessantes para a Geografia acontecem.
2) Busque lembrar-se dos motivos que levam ao aqueci-
mento do ar na troposfera, a relação entre a radiação
solar e a maior ou menor temperatura. Saber sobre a
temperatura na troposfera será fundamental para en-
tender como o vento se movimenta.
3) Lembre-se dos movimentos que a Terra desenvolve ao
longo de sua trajetória, especialmente o movimento de
rotação, que tem grande influência sobre o movimento
dos ventos.
4) Observe que a pressão atmosférica pode variar de acor-
do com a altitude (menor altitude, maior pressão atmos-
férica; maior altitude, menor pressão atmosférica) e que
ela também pode variar de acordo com a temperatura,
formando centros de alta e de baixa pressão.
5) Estude atentamente a força de Coriolis e observe como
ela atua na circulação geral da atmosfera.
6) Relacione o conteúdo estudado com situações atípicas,
principalmente os fenômenos El Niño e La Niña. Entenda
como eles acontecem e como alteram a circulação dos
ventos em todo o planeta.
7) Busque informações em livros e em sites sobre o assun-
to, além de figuras e esquemas que sejam ilustrativos e
que ajudem a compreender o assunto.
© U3 - Circulação Geral da Atmosfera 91

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Até o momento, aprendemos, nas outras unidades, como se
comporta a radiação nas diferentes camadas da atmosfera da Ter-
ra e como alguns fatores podem modificar o clima do planeta.
Nesta unidade, vamos ver como o calor, a diferença de pres-
são e outros fatores contribuem para o movimento do ar na at-
mosfera.
Discutiremos um assunto de fundamental importância para
o entendimento dos mecanismos do clima no mundo – a circula-
ção da atmosfera.
É importante buscar entender as figuras desta unidade, bem
como buscar outras em diferentes mídias, que possam ajudar a
sanar as suas dúvidas sobre o assunto.
Bons estudos!

5. CIRCULAÇÃO GERAL DA ATMOSFERA

Movimentos verticais e horizontais


Para Mendonça e Danni-Oliveira (2007, n. p.), a circulação
geral da atmosfera é:
[...] o conjunto dos movimentos atmosféricos que, na escala plane-
tária, determina zonas climáticas e, nos diferentes lugares do pla-
neta, define tipos de tempos.
Já é possível perceber que a importância da Circulação Geral da
Atmosfera é tão grande quanto a importância das Zonas Climáticas,
definidas pelas diferenças de radiação recebida nas várias latitudes
do globo. Além disso, há relação entre esses dois assuntos, como
veremos já.

Que a atmosfera da Terra não é estática não é nenhuma no-


vidade para nós, porém, pelo trecho citado, podemos perceber
que seu movimento é fundamental para a formação dos tipos de
clima.

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92 © Climatologia

A circulação geral da atmosfera é responsável pelo aumento


ou pela diminuição da umidade de um local, por exemplo.
Para Ayoade (1983), os movimentos de circulação da atmos-
fera podem ser divididos em movimentos verticais e movimentos
horizontais, que sofrem influência dos quatro fatores a seguir:
1) força do gradiente de pressão;
2) força de Coriolis;
3) aceleração centrípeta;
4) força de fricção (ou atrito).
A força do gradiente de pressão é o principal fator de movi-
mento horizontal da atmosfera. Observe as Figuras 1 e 2.

Pressão Alta
maior densidade

Figura 1 Movimento do local de alta pressão para o de baixa pressão.

Figura 2 Esquema do movimento do local de alta pressão para o de baixa pressão.


© U3 - Circulação Geral da Atmosfera 93

Como é possível ver nas Figuras 1 e 2, o ar movimenta-se


(vento) de um local da atmosfera onde há alta pressão para outro
local onde há baixa pressão.
Geralmente, as áreas de baixa pressão são aquelas que têm
maiores temperaturas atmosféricas. Basta lembrar-se do balão:
sempre que alguém quer praticar o balonismo, tem de aquecer o
ar preso dentro do balão, deixando-o menos denso (mais leve) que
o ar que está ao redor, na atmosfera; dessa forma, o balão sobe.
Essa regra também é válida para a atmosfera. Locais com ar
mais aquecido e menos denso têm predomínio de ar em ascensão.
Esses locais geralmente são considerados locais de baixa pressão.
Repare que, nesse caso, o motivo que faz com que esses lo-
cais sejam considerados de baixa pressão é o fato de o ar estar
mais quente e mais leve. Não há relação entre essa situação e os
locais mais elevados, onde sabemos que o ar atmosférico é mais
rarefeito e, por isso, mais leve, determinando que a pressão at-
mosférica seja mais baixa.
As áreas de alta pressão atmosférica seriam aquelas que
possuem ar atmosférico mais frio, portanto, mais pesado. Geral-
mente, essas massas de ar são provenientes de locais mais eleva-
dos, onde, conforme estudado na Unidade 1, o ar atmosférico é
mais frio, especificamente na troposfera.
Também é válido comentar que esses locais onde a pressão
atmosférica é maior não têm relação com os locais da superfície da
Terra com baixa altitude, onde vimos que a pressão atmosférica é
realmente mais elevada.
No caso das Figuras 1 e 2, a menor temperatura faz com que
a densidade do ar seja maior em comparação com o ar em volta,
e, por isso, podemos dizer que ele é mais pesado.
Já é possível começar a concluir que as diferenças de tem-
peratura em locais de mesma altitude podem formar centros com
maior e com menor pressão. Esses centros de alta e de baixa pres-
são são responsáveis pelo movimento do ar.

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94 © Climatologia

Mendonça e Danni-Oliveira (2007, n. p.) afirmam que "[...]


as áreas de baixas latitudes recebem mais energia do que perdem
por emissão para o espaço e, nas latitudes médias e altas, observa-
-se o contrário". Dessa forma, podemos concluir que há um movi-
mento de ar na atmosfera em direção ao Equador, visto que o ar,
nessa região, fica mais quente, menos denso e sobe. O lugar dele
é ocupado por ar vindo de outras latitudes (mais elevadas). Esses
ventos são chamados de ventos alíseos.
Nas latitudes próximas do Equador, a radiação solar incide
de forma mais perpendicular; por isso, essas áreas são mais aque-
cidas que outras. O calor da superfície da Terra é transmitido para
a atmosfera, a troposfera se aquece e o ar tende a subir.
Da mesma forma que o ar mais denso, proveniente das áreas
de alta pressão, se dirige para as áreas de baixa pressão na Figura
1, o ar da atmosfera, em nível global, move-se das áreas de maior
latitude para as proximidades do Equador, onde a pressão é me-
nor.
Esses são fatos ligados ao primeiro fator indicado por Ayo-
ade (1983): a força do gradiente de pressão, visto que o ar mais
quente (mais leve) sobe em altitude e seu lugar é ocupado por ar
vindo de outras latitudes (maiores).
Outro fator que desempenha alterações no movimento do
ar é a rotação da Terra. A rotação faz com que tanto o planeta
como a atmosfera se movimentem no sentido Leste-Oeste. Apesar
disso, a atmosfera tem um atraso em relação ao planeta, chamado
momentum, conforme Ayoade (1983).
Esse fato determina que, em locais com menores latitudes,
os ventos alíseos sigam a região do Equador, porém com pequeno
desvio para leste, como mostra a Figura 3.
© U3 - Circulação Geral da Atmosfera 95

Fonte: Mendonça e Danni-Oliveira (2007, p. 86).


Figura 3 Circulação geral da atmosfera.

Na Figura 3, está indicada a direção dos ventos no Equador


(como foi dito anteriormente) e próximo das altas latitudes (perto
dos polos). Essa última está relacionada com a continuidade dos
processos de movimento do ar das áreas de alta pressão para as
de baixa pressão.
Mendonça e Danni-Oliveira (2007) indicam que estes são
centros atmosféricos de ação ou áreas que exercem controle cli-
mático do planeta. Para os autores, esses centros são conhecidos
como de alta pressão (anticiclonais), onde há divergência de ar, e
de baixa pressão (ciclonais).
Repare bem no que foi dito no parágrafo anterior: os centros
de alta e de baixa pressão são áreas que exercem controle climá-
tico no planeta. A distribuição dessas áreas é fundamental para a
distribuição da umidade no planeta. Quando há alteração de suas

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96 © Climatologia

posições, como, por exemplo, quando ocorre o El Niño, a distribui-


ção das chuvas e das áreas mais secas no globo terrestre muda.
Observe a Figura 4, que demonstra o movimento horizontal
do ar em um centro de alta pressão atmosférica e em um de baixa
pressão atmosférica, respectivamente:
Ciclone Anticiclone

Fonte: Ross (2001, p. 94).


Figura 4 Centros de alta e de baixa pressão.

Tanto o centro de baixa pressão quanto o de alta, represen-


tados na figura anterior, poderiam se formar apenas sobre uma
área no hemisfério norte, visto que o centro de baixa pressão rece-
be ventos no sentido anti-horário e o centro de alta pressão rece-
be ventos no sentido horário. No hemisfério sul, esse sentido seria
invertido nas duas situações.
Conforme Conti e Furlan in ROSS (2001), nas baixas latitudes,
na altura do Equador, configura-se a zona de convergência inter-
tropical (ZCIT), e, nas faixas de latitude entre 25° e 35° estão os
anticiclones subtropicais.
A zona de convergência recebe esse nome pelo fato de ser
uma área em que há chegada de ar em movimento, visto que é
uma área de baixa pressão. O movimento que acontece nessa área
© U3 - Circulação Geral da Atmosfera 97

de baixa pressão é similar ao movimento que ocorre na área de


baixa pressão da Figura 1, porém o movimento de rotação da Terra
faz com que haja desvio da trajetória do vento, como comentado
anteriormente.
Mendonça e Danni-Oliveira (2007) dizem que a ZCIT rece-
be ventos vindos dos trópicos carregados de umidade (adquirida
quando passam sobre oceanos) e que essa zona também pode ser
chamada de "zona de calma equatorial", ou "doldruns" (quando o
encontro dos alíseos ocorre em latitude maior que 10o).
Para os mesmos autores, a distribuição da pressão da atmos-
fera é, em grande parte, influenciada pela latitude, pelo relevo e
pela diferente repartição entre terras e águas na superfície do pla-
neta.
Você já percebeu que a influência da rotação da Terra é mui-
to importante nos movimentos do ar que estamos estudando aqui.
Ela pode fazer com que o ar em movimento desloque sua trajetó-
ria no sentido horário ou anti-horário, dependendo do hemisfério
em que está ocorrendo.
A força de Coriolis discrimina como há a influência da rota-
ção da Terra nos movimentos dos ventos. Vejamos:

A força de Coriolis–––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A força de Coriolis foi descrita matematicamente, pela primeira vez, pelo cientista
francês Gaspard de Coriolis, em 1835, e demonstrada pelo meteorologista
americano William Ferrel, em 1856. Por causa da rotação da Terra, há um
aparente desvio dos objetos que se movem, inclusive o ar, para a direita de sua
trajetória de movimentação no hemisfério norte, e para a esquerda, no hemisfério
sul, se olhado por qualquer observador sobre a superfície da Terra (adaptado de
AYOADE, 1983, p. 74).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Para Ferretti (2009), devido à força de Coriolis, há um apa-


rente desvio dos objetos que se movem no ar para a direita no he-
misfério norte e para a esquerda no hemisfério sul. Dessa forma,
o ar, que se move devido ao gradiente de pressão, também sofre
esses desvios.

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98 © Climatologia

A força de Coriolis, portanto, justifica a direção dos ventos


que vimos na figuras anteriores. Ainda conforme Ayoade (1983), a
força de Coriolis tem seu efeito máximo nas proximidades dos po-
los e tem seu efeito diminuído conforme diminui a latitude, sendo
nula na região equatorial.
A força de fricção tem relação com atrito do ar em movi-
mento com a superfície da Terra. Dessa forma, nas proximidades
da superfície, há uma influência da velocidade e da direção do
movimento horizontal do vento. Os obstáculos que a superfície
oferece, como o relevo, são os responsáveis por essa influência,
reduzindo a velocidade dos ventos e até mesmo diminuindo a in-
fluência da força de Coriolis (FERRETTI, 2009). A fricção, portando,
atua no sentido contrário ao dos ventos e diminui sua velocidade.
Vale salientar que o grande responsável pelo movimento dos
ventos é a diferença do gradiente de pressão entre pontos diferen-
tes da atmosfera, junto à superfície da Terra. Os fatores que acaba-
mos de ver exercem influência sobre esses movimentos.
Seguindo essas variáveis, é possível estabelecer alguns pa-
drões para a circulação em larga escala na atmosfera, formulando
modelos de circulação geral que devem considerar particularida-
des como as diferenças térmicas entre superfícies da Terra (como
superfícies continentais e oceânicas); variações na topografia; e
transformações de energia de uma forma para outra, dentro de
diferentes escalas de movimento (AYOADE, 1983).
Ayoade (1983) afirma que um dos primeiros modelos de
circulação da atmosfera foi desenvolvido por George Hadley em
1735. Nesse modelo, é indicado o movimento dos ventos alíseos
na altura do Equador.
Em 1856, Hadley propôs um modelo mais completo, con-
templando as elevadas latitudes, como está indicado na Figura 5.
© U3 - Circulação Geral da Atmosfera 99

Fonte: Mendonça e Danni-Oliveira (2007, p. 87).


Figura 5 Célula de Hadley (indicada pela letra H), de Ferrel (indicada pela letra F) e polar
(indicada pela letra P).

Na Figura 5, observamos os movimentos verticais na atmos-


fera em duas estações diferentes do ano. Repare que, durante o
verão no hemisfério sul, há um deslocamento do centro de baixa
pressão para o Sul; durante o verão no hemisfério norte, esse des-
locamento ocorre na direção desse hemisfério.
No esquema da Figura 5, que indica a ação das células de
Hadley (representada pela letra H), Ferrel (representada pela letra
F) e polar (representada pela letra P), podemos perceber que os
"[...] deslocamentos verticais são responsáveis pela formação de
nuvens" (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007, p. 84).

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100 © Climatologia

Esses esquemas, portanto, estão demonstrando como o ar


se movimenta verticalmente na atmosfera, sempre levando em
conta uma escala geográfica bastante grande, global. É importante
somar esses modelos ao modelo de circulação geral da atmosfera
que aparece na Figura 3.
Os mecanismos demonstrados nesses modelos são muito
importantes para a dinâmica da água na atmosfera, que será as-
sunto da próxima unidade.
Antes disso, vamos ver como pode ser a escala de análise
dos acontecimentos na atmosfera. Os modelos que vimos até ago-
ra indicam movimentos em grande escala, em nível global. Veja-
mos os outros.
Ainda de acordo com Mendonça e Danni-Oliveira (2007), é
na latitude da zona de convergência intertropical que as células de
Hadley se individualizam, acontecendo o mesmo com as células de
Ferrel na altura das frentes polares.
Finalmente, podemos concluir que, em escala planetária, os
ventos possuem uma dinâmica motivada pelos fatores expostos
(especialmente pressão atmosférica).
De acordo com Ferretti (2009, p. 42), os ventos planetários
ou constantes são aqueles que sopram o ano todo e que afetam
grandes áreas. Conforme a autora, podemos denominar esses
ventos de três maneiras:
• ventos alíseos: são aqueles que, como vimos, sopram dos
trópicos em direção ao Equador, local onde sofrem aque-
cimento e ascendem, gerando os ventos contra-alíseos,
que sopram em sentido contrário, em maiores altitudes;
• ventos polares: são aqueles que sopram dos polos em di-
reção a latitudes menores;
• correntes de jato (jet-stream): são formados em áreas de
contato de massas de ar quente com massas de ar frio.
Nesses locais, o vento adquire velocidade maior. As faixas
© U3 - Circulação Geral da Atmosfera 101

onde o jet-stream ocorre podem chegar a milhares de qui-


lômetros de comprimento, centenas de quilômetros de
largura e alguns quilômetros de espessura. Um avião que
esteja em uma corrente de jato, no sentido favorável da
corrente, ganhará velocidade e economizará combustível;
ao contrário, se uma aeronave estiver contra o sentido de
uma corrente de jato, ele terá sua velocidade diminuída e
gastará mais combustível (AYOADE, 1983).
Para Ferretti (2009), há ventos que são continentais e peri-
ódicos, como os ventos de monções na Ásia, que variam sazonal-
mente (monções de inverno e monções de verão), e as brisas, que
variam durante o dia e a noite. Há, também, ventos que são locais,
ou seja, ocorrem em determinados lugares e são gerados pela in-
fluência do terreno, como o mistral, que sopra no sul da França.
Além disso, as diferenças de pressão e de temperatura po-
dem fazer com que o vento sopre em uma escala muito pequena,
como em nossa casa, bairro etc.
Vejamos, agora, as escalas de observação que podem ser
usadas nos estudos no caso da circulação de ar.

6. ESCALAS DE OBSERVAÇÃO
Na unidade passada, vimos que pode haver várias escalas de
análise do clima e de circulação da atmosfera.
Vamos ver essas escalas, de acordo com Barry e Chorley
(1976) apud Ayoade (1983):
• circulação primária (circulação geral da atmosfera): é
aquela que acontece em larga escala, em nível global. Ela
é fundamental para a manutenção dos climas do mundo
e é distribuída de acordo com a latitude, assim como as
zonas climáticas que vimos na Unidade 2;

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102 © Climatologia

• sistemas circulatórios secundários: estão inseridos den-


tro da escala superior (primária);
• sistemas circulatórios terciários: têm escala ainda menor
e relação com ventos locais, brisas terrestres ou mari-
nhas. São controlados por fatores locais.

Massas de ar
Para os autores Hare (1963) apud Ayoade (1983, p. 99):
"Uma massa de ar pode ser definida como um grande corpo de ar
horizontal e homogêneo deslocando-se como uma entidade reco-
nhecível e tendo tanto origem tropical quanto polar".
De acordo com a definição adotada por Ayoade (1983), po-
demos entender que uma massa de ar nada mais é que um gran-
de pacote de ar com características homogêneas de temperatura,
umidade etc.
Ainda conforme a mesma definição, essas massas podem ser
originadas em locais de clima frio (polar) ou de clima quente (tro-
pical). Ayoade (1983) afirma que podem ser locais de formação de
massas:
1) planícies árticas, cobertas por neve;
2) oceanos subtropicais e tropicais;
3) deserto do Saara;
4) interior de continentes (Ásia, Europa e América do Nor-
te).
Ayoade (1983) explica que, quanto mais tempo a massa de
ar ficar sobre o seu local de origem, mais ela vai ser influenciada
por suas características. Dessa forma, se uma massa de ar está se
formando sobre uma região tropical e úmida, ela vai se tornar uma
massa quente e úmida e, quanto mais tempo ela ficar sobre esta
região, maior será a umidade do ar da massa e maior será também
sua temperatura.
© U3 - Circulação Geral da Atmosfera 103

As massas de ar são transportadas para vários locais do glo-


bo, seguindo os condicionantes da circulação geral da atmosfera
que vimos há pouco.
Conforme Ferretti (2009), as principais massas relacionadas
com a circulação atmosférica são:
• Massas polares (P): são formadas nas regiões polares,
tanto ártica quanto antártica, e podem ser continentais
ou marítimas, ou seja, podem se formar tanto sobre áreas
continentais quanto superfícies onde há mar.
• Massas tropicais (T): são formadas em latitudes próximas
de 30o, tanto no hemisfério norte quanto no hemisfério
sul. Quando são continentais (formadas sobres superfí-
cies continentais), geralmente são secas; quando são ma-
rítimas (formadas sobre superfícies oceânicas), são úmi-
das.
• Massas equatoriais (E): são formadas na zona equatorial,
possuem elevadas temperaturas e baixas pressões. Tam-
bém podem ser continentais ou marítimas.
As massas de ar e seus encontros umas com as outras são
aspectos da atmosfera terrestre que formam situações momentâ-
neas, muitas vezes gerando instabilidade.
Esse é o assunto que vamos ver no próximo tópico.

Sistemas produtores de tempo


Para Ayoade (1983, p. 98), os sistemas produtores de tem-
po "[...] são sistemas de circulação acompanhados por padrões e
tipos característicos de tempo". Sendo assim, alguns sistemas at-
mosféricos são condicionantes de determinados tipos de tempos.
Em algumas situações, os sistemas determinam um tipo de
evento. Eles podem ser resultado do encontro de duas massas de
ar com características diferentes, modificações das temperaturas de
massas de ar, presença de cadeias montanhosas, entre outros fatores.

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104 © Climatologia

Ayoade (1983) indica alguns sistemas formadores de tempo


na região intertropical do globo terrestre.
Um desses sistemas são as chamadas "depressões frontais"
que seriam células de baixa pressão e que formam depressões na
ordem de mais de 1000 quilômetros (AYOADE, 1983, p. 103). Elas
envolvem encontro de massas de ar com diferentes condições de
temperatura e umidade, que, por essa diferença, formam frentes,
que podem ser frias ou quentes.
As frentes quentes, conforme o autor, representam um es-
corregamento de ar quente (menos denso) sobre o ar frio, mais
denso. Já as frentes frias estão ligadas às áreas onde há ascensão
forçada do ar quente, provocada pela entrada de uma massa de
ar frio.
Essas frentes são formadas porque duas massas de ar, ao se
encontrarem, não se misturam livremente e tendem a conservar
suas características físicas (se são úmidas, frias, quentes etc.). O
resultado disso é a formação de frentes ou descontinuidades nas
áreas de encontro. Conforme a frente avança, ela causa certas mu-
danças nas propriedades do ar que está sobre a região, havendo
efeito sobre o tempo atmosférico (FERRETTI, 2009).
Uma curiosidade é notar que as frentes quentes se movem
em uma velocidade da ordem de 50 a 80 quilômetros por hora e as
frentes frias são mais rápidas (AYOADE, 1983).
Outro fator de formação de tempo ligado à pressão atmos-
férica são os anticiclones. Ao contrário das depressões, os anti-
ciclones são geralmente formados em áreas de alta pressão at-
mosférica e, conforme Ayoade (1983), podem ser estacionários
ou móveis. Esses últimos podem ser considerados formadores de
tempo atmosférico.
Outro fator importante na formação de tempo atmosférico
são os ciclones tropicais. Para Ayoade (1983, p. 112):
[...] um ciclone tropical é um centro ciclônico quase circular com
pressão extremamente baixa, no qual os ventos giram em espiral
© U3 - Circulação Geral da Atmosfera 105

[...] diâmetro varia de 160 a 650 quilômetros e a velocidade de 120


a 200 quilômetros por hora.

A formação desses eventos, conforme o autor, está ligada a


grandes áreas oceânicas, com elevada temperatura, força de Co-
riolis suficiente para causar circulação em vórtice do ar, baixo cisa-
lhamento do vento, ou seja, pouca quebra na direção dos ventos
(AYOADE, 1983).
Também os furacões se formam em locais de baixo cisalha-
mento de vento, porém, de acordo com Ayoade (1983), com vór-
tice extremamente intenso, de pequena extensão territorial (ge-
ralmente 0,5 quilômetro), que se estende abaixo de uma nuvem
tempestuosa. As tempestades são comuns no mundo todo e mais
intensas nas faixas tropicais. Elas "[...] são fenômenos meteoroló-
gicos altamente localizados, pois seus diâmetros são geralmente
menores que 25 quilômetros" (AYOADE, 1983, p. 120).
Ainda conforme o mesmo autor:
As tempestades desenvolvem-se em lugares onde há massa de ar
úmidas, quentes e instáveis em camadas verticais consideráveis
[...]. A maior parte das tempestades são de origem convectiva e
resultantes de intenso aquecimento solar, porém algumas são cau-
sadas por brisas marítimas e terrestres (AYOADE, 1983, p. 122).

Podemos perceber que a maior quantidade de água na at-


mosfera determina ocorrência das tempestades; por isso, elas são
mais comuns em áreas mais quentes do globo. Para que ocorra
esse tipo de evento, é necessária a presença de grande quantidade
de nuvens.
Além de chuva, as tempestades geralmente são acompanha-
das por raios e trovoadas. O acontecimento destes está ligado a
descargas elétricas, conforme afirma Ayoade (1983, p. 122):
O raio é o clarão de luz que acompanha uma descarga de eletri-
cidade atmosférica, ao passo que o trovão é o barulho resultante
do súbito aquecimento e da repentina expansão do ar ao longo da
trajetória do raio. A origem do raio ainda não é completamente
conhecida. Nós sabemos que a superfície da Terra apresenta car-
ga negativa, enquanto a atmosfera superior tem carga positiva [...]

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106 © Climatologia

Numa nuvem de trovoada, cargas positivas e negativas tendem a se


concentrar em lugares diferentes a medida que as gotas de chuva e
os cristais de gelo se fracionam em gotículas ou fragmentos meno-
res, possuindo cargas diferentes. Quando uma diferença potencial
maior que 100 milhões de volts ou mais é atingida, há uma descar-
ga de faísca entre os centros da carga.

A maneira como Ayoade (1983) expõe a formação de raios


e trovões deixa claro o modo da sua formação, resultado da dife-
rença de cargas elétricas entre dois pontos, sendo eles duas partes
das nuvens de uma tempestade ou uma parte da nuvem e o solo.
O trovão que ouvimos durante esses temporais é resultado da ex-
pansão muito rápida do ar pelo seu aquecimento, onde passa o
raio.

7. EL NIÑO E LA NIÑA
Percebemos, no item anterior, algumas das células de circu-
lação atmosféricas que têm grande influência sobre o clima em
nível mundial.
Outro fator muito importante para alterações de tempo at-
mosférico, bem como de clima, é a oscilação sul. Esse fenômeno
é causado pelo equilíbrio entre as pressões atmosféricas sobre o
oceano Pacífico.
Para Molion (1989), as águas do Pacífico ocidental são, nor-
malmente, mais quentes que as águas do Pacífico oriental. Isso
faz com que a pressão atmosférica seja menor na região ocidental
(formando um centro de baixa pressão) e maior na região oriental.
A essa diferença de pressão atmosférica, dá-se o nome de
índice de oscilação sul. Por essa diferença de pressão, o ar da por-
ção ocidental tem uma tendência a subir na atmosfera, deixando
a região bastante úmida e voltando com menor umidade para a
região oriental. A esse tipo de fenômeno, dá-se o nome de célula
de circulação de Walker (MOLION, 1989).
© U3 - Circulação Geral da Atmosfera 107

Ainda de acordo com Molion (1989), nas ocasiões em que


essa diferença de pressão existe, os ventos que sopram de leste
para oeste no Pacífico (ventos alíseos) são mais fortes, provocando
maior transporte de águas para a região oeste.
Como a água transportada está na superfície, ela é mais
aquecida, provocando maior precipitação na parte ocidental do
oceano. O contrário é observado na região oriental do Pacífico,
onde as águas frias vêm de camadas baixas (que recebem menos
insolação), trazendo mais nutrientes, mais peixes e deixando o li-
toral mais seco, por serem mais frias e, consequentemente, provo-
carem menor evaporação.
O afloramento das águas mais frias do fundo do oceano re-
cebe o nome de "ressurgência" (MOLION, 1989).
Nos anos em que os ventos alíseos sopram com menor in-
tensidade, o transporte de águas e a ressurgência diminuem e as
águas de superfície próximas à costa oeste da América do Sul fi-
cam mais quentes. Esse aquecimento incomum recebe o nome de
El Niño (MOLION, 1989, p. 26).
Molion (1989) indica que o El Niño provoca uma elevação
excepcional da temperatura do Pacífico oriental e causa anomalias
climáticas no mundo todo, como elevação dos totais pluviométri-
cos no Brasil em mais de 300% em algumas regiões.
Em anos que o índice de oscilação sul é maior que o normal,
estamos passando pelo fenômeno oposto ao El Niño: o La Niña.
Nessa situação, conforme Molion (1989, p. 27), "[...] o gradiente
horizontal de pressão mais forte intensifica os ventos alísios, a res-
surgência aumenta e as águas de superfície do Pacífico Oriental e
Central ficam mais frias que o normal".
Quando o autor fala sobre gradiente horizontal de pressão,
ele está se referindo à diferença de pressão que existe entre o Pa-
cífico oriental e o ocidental, que, no caso do La Niña, é maior, in-
tensificando os ventos alísios.

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108 © Climatologia

Nessas situações, os totais pluviométricos sofrem redução


em diversos lugares do Brasil, como em São Paulo, que sofreu re-
dução de 88% dos índices pluviométricos no ano de 1985, ano de
anti-El Niño ou La Niña (MOLION, 1989).
Esse é um aspecto muito interessante em Climatologia e que
tem relação direta com o nosso cotidiano. É mais um convite a
pensarmos que a Geografia e a Climatologia estão acontecendo no
nosso lugar e que têm influência direta na nossa vida.
Para ter uma ideia melhor das áreas de ocorrência dos fenô-
menos El Niño e La Niña, observe a Figura 6.

Figura 6 Circulação geral da atmosfera e células de Hadley, Ferrel e polar.

Repare que a região equatorial do oceano Pacífico é a área


de destaque de ocorrência dos fenômenos.
© U3 - Circulação Geral da Atmosfera 109

A Figura 6 mostra as condições normais de circulação. Nesse


caso, os ventos que constituem a célula de Walker movimentam a
água mais quente do oceano para a região ocidental do Pacífico,
nas proximidades da Austrália, e há ressurgência na costa da Amé-
rica do Sul. As feições de relevo submarino foram desconsideradas
e a área dos fenômenos foi destacada para tornar a figura mais
didática.

8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Quais são as diferenças entre os movimentos horizontais e verticais da at-
mosfera?

2) O que é a chamada força de Coriolis? Como ela altera a movimentação dos


ventos?

3) Como a força do gradiente de pressão determina que o ar se movimente?

4) O que são as áreas de alta pressão (anticiclonais) e de baixa pressão (ciclo-


nais)?

5) Como você descreveria as células polar, de Hadley e de Ferrel?

6) O que são os chamados ventos alíseos? Como eles se comportam na atmos-


fera?

7) O que são os doldrums?

8) O que são as massas de ar e como elas podem ser formadoras de condições


específicas de tempo atmosférico?

9) Busque informações na mídia que confirmem a importância dos fenômenos


El Niño e La Niña para as condições de tempo atmosférico no mundo e no
Brasil. Quais são as consequências desses fenômenos para o nosso país? E
para a região onde você vive?

10) Analise as condições de tempo atmosférico apresentadas nas previsões dis-


poníveis na mídia em geral. Quais são os sistemas formadores de tempo
envolvidos nas condições demonstradas?

Claretiano - Centro Universitário


110 © Climatologia

9. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, entendemos como funcionam alguns meca-
nismos que regem a dinâmica da atmosfera. Eles são fundamentais
para compreender como funcionam os movimentos na troposfera,
que é a camada mais próxima dos seres humanos.
Consequentemente, para entender o mundo de ar ao nosso
redor, temos que compreender a dinâmica das camadas mais ele-
vadas, nem sempre próximas dos seres humanos, já que percebe-
mos, nesta unidade, que a circulação de ar está interligada.
Perceba que a ação da rotação da Terra e a movimentação do
ar por diferença de pressão e temperatura são muito importantes.
Além disso, vimos alguns dos fatores que geram tempo na
atmosfera e a escala de análise e atuação deles.
Na próxima unidade, veremos como é o comportamento da
água na atmosfera, outro fato importante para a existência das
condições climáticas como conhecemos hoje em dia.

10. E-REFERÊNCIAS

Lista de figuras
Figura 1 Movimento do local de alta pressão para o de baixa pressão. Disponível em:
<http://www.escolanautica.com.br/coluna/ensinando_parte_08.htm>. Acesso em: 24
out. 2012.
Figura 2 Esquema do movimento do local de alta pressão para o de baixa pressão.
Disponível em: <http://www.escolanautica.com.br/coluna/ensinando_parte_08.htm>.
Acesso em: 24 out. 2012.
Figura 6 Circulação geral da atmosfera e células de Hadley, Ferrel e polar. <http://www.
fas.org/irp/imint/docs/rst/Sect14/FIG07_006.jpg>. Acesso em: 26 nov. 2012.

Sites pesquisados
FONDEAR. Las células atmosféricas. Disponível em: <http://www.fondear.org/infonautic/
Mar/Meteo/CelulasConvectivas/Celulas.htm>. Acesso em: 24 out. 2012.
© U3 - Circulação Geral da Atmosfera 111

UFRGS – UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Home page. Disponível em:
<http://www.ufrgs.br/geociencias/cporcher/Atividades%20Didaticas_arquivos/Geo02
001/Ciclo%20Hidrologico.htm>. Acesso em: 24 out. 2012.

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. Rio de Janeiro: Bertrand do
Brasil, 1983.FERRETTI, E. Geografia em ação: práticas em climatologia. Curitiba: Aymará,
2009.
MENDONÇA, F.; DANNI-OLIVEIRA, I. M. Climatologia. Noções básicas e climas do Brasil.
São Paulo: Oficina de Textos, 2007.
MOLION, L.C.B., 1989: ENOS e o Clima no Brasil. Ciência Hoje. v. 10, n. 58, p. 23-29.
ROSS, J. L. S. Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 2001.

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EAD
Água na Atmosfera
e Formas de
Precipitação
4
1. OBJETIVOS
• Perceber a importância da água na atmosfera para a regu-
lação da temperatura do planeta e manutenção da vida.
• Conhecer e identificar diversas formas de precipitação.

2. CONTEÚDOS
• Importância da água na atmosfera.
• Umidade do ar.
• Formas de precipitação.
• Nuvens.
• Tipos de chuva.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
114 © Climatologia

1) Para o estudo desta unidade, é importante que você se


lembre do conteúdo da primeira unidade, quando estu-
damos as diferentes camadas da atmosfera e vimos que
a troposfera é a que tem a grande maioria dos gases,
assim como é a mais importante para a vida na Terra.
Veremos, agora, como a água atua na atmosfera e as
consequências dessa atuação para a nossa vida.
2) Fique atento para perceber a diferença entre vapor
d'água e da água líquida em suspensão na atmosfera.
3) Lembre-se do que foi estudado anteriormente sobre ca-
lor latente e calor sensível e perceba como os dois con-
ceitos estão presentes nos estudos desta unidade, à me-
dida que discutimos sobre a mudança de estado da água
e as mudanças de temperatura que ela sofre.
4) Lembre-se do que foi estudado sobre as massas de ar e
as frentes para relacionar com o assunto desta unidade.
5) Busque sempre relacionar, como foi dito em outras uni-
dades, os conteúdos estudados com seu cotidiano.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, vimos como funciona a circulação geral
da atmosfera, assim como alguns mecanismos que formam condi-
ções de tempo muito específicas.
Os sistemas produtores de tempo e as formas como o tempo
se comporta deixaram claro, desde a Unidade 1, a grande importân-
cia que a água tem na atmosfera terrestre em suas diversas formas.
Vimos também, na primeira unidade, que a água não é uma
substância muito abundante na atmosfera se comparada com as
quantidades dos outros componentes, como Nitrogênio. Apesar
disso, ela é, com certeza, um dos mais importantes para a regula-
ção das temperaturas atmosféricas e, consequentemente, para a
manutenção da vida no nosso planeta. Fique atento para perceber
essa importância nesta unidade.
Bons estudos!
© U4 - Água na Atmosfera e Formas de Precipitação 115

5. A ÁGUA NA ATMOSFERA
Para Ayoade (1983, p. 128), "[...] o vapor d'água representa
apenas 2% da massa total da atmosfera e 4% do seu volume". Ape-
sar disso, ele afirma que esse é o componente atmosférico mais
importante para a determinação do tempo e do clima.
Mendonça e Danni-Oliveira (2007, p. 58) afirmam que "a
água é uma substância tão imprescindível à vida quanto o oxigê-
nio" e que "sua concentração no ar corresponde a umas das fases
do ciclo hidrológico".

Umidade do ar
A água contida na atmosfera, como foi dito anteriormente,
representa uma parte do ciclo hidrológico, portanto, sua quanti-
dade pode variar de acordo com diversos fatores; ora a atmosfera
pode ter mais água sob forma de vapor ou de pequenas gotículas
em suspensão, ora ela pode ter uma menor quantidade de água
nesses estados (aumento da água no estado sólido).
A água está distribuída na atmosfera e na parte superficial
da crosta terrestre. Podemos considerar que essa parte superficial
da crosta em que a água está inserida chega até cerca de 10 qui-
lômetros abaixo da interface atmosfera/crosta. Toda a água conti-
da nessa faixa constitui a hidrosfera do nosso planeta (KARMANN,
2008 apud TEIXEIRA, 2000).
Repare que a água do vapor d'água presente na atmosfera,
de reservatórios como oceanos, lagos, geleiras, lençóis freáticos,
aquíferos, entre outros, são parte da hidrosfera.
De acordo com Mendonça e Danni-Oliveira (2007), a água
pode estar presente na atmosfera em seus três estados físicos: só-
lido, líquido e gasoso.
As transformações de um estado para o outro representam
grande movimentação de energia. Essa movimentação tem rela-

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116 © Climatologia

ção com o calor latente, que, como vimos, tem relação com a mu-
dança de estado da água, neste caso.
No estado gasoso, as moléculas de água não são visíveis a
olho nu, como se pensa algumas vezes. Mendonça e Danni-Oliveira
(2007) indicam um exemplo bem elucidativo, que é o do bico da
chaleira.
A impressão que temos desde muito cedo, quando crianças,
é de que a pequena nuvem que se forma quando a água está fer-
vendo é o vapor d'água, quando, na verdade, é uma quantidade de
vapor que se condensou na temperatura ambiente e formou pe-
quenas gotículas de água que estariam em suspensão. Da mesma
forma, uma nuvem também é um conjunto de partículas minúscu-
las de água líquida em suspensão.
Ayoade (1983) afirma que o vapor d'água presente na at-
mosfera é a origem de todas as formas de precipitação e conden-
sação. Além disso, ele indica que a quantidade de vapor d'água
em certo volume de ar é a indicação da capacidade potencial da
atmosfera de produzir alguma precipitação.
Ainda conforme Ayoade (1983, p. 138), "[...] o termo usa-
do para descrever a quantidade de vapor d'água na atmosfera é
umidade". O autor ainda coloca que esse termo não pode ser usa-
do para descrever outras formas de água que estão na atmosfera
(como líquida e gelo). Dessa forma, podemos afirmar que a umida-
de do ar tem relação exclusivamente com a quantidade de vapor
d'água presente em certa unidade de volume do ar.
Outra característica do vapor d'água é a sua capacidade de
colaborar com a manutenção da temperatura da atmosfera terres-
tre. Para Houghton (2004, p. 29), o efeito estufa natural do planeta
Terra ocorre devido ao vapor d'água e ao dióxido de carbono pre-
sentes na atmosfera. De acordo com o mesmo autor, a quantidade
de vapor na atmosfera depende mais da temperatura da superfície
dos oceanos, o que confirma as indicações de Mendonça e Danni-
-Oliveira (2007) sobre a participação do ciclo hidrológico na manu-
tenção do vapor d'água na atmosfera.
© U4 - Água na Atmosfera e Formas de Precipitação 117

O fato de o vapor d'água colaborar com o aquecimento da


atmosfera é justificado por Ayoade (1983), pela sua capacidade de
absorver tanto a radiação solar quanto a terrestre. Dessa forma,
de acordo com o autor, esse gás desempenha um papel de regula-
dor térmico do sistema Terra-atmosfera.
Quando o ar recebe vapor d'água, ele se torna:
[...] mais leve que o ar mais seco, ou menos denso. Isso ocorre por-
que o vapor não é agregado ao volume de ar já existente, de modo
que as moléculas de vapor substituem as moléculas de ar. O ar mais
leve tem tendência a ascender na troposfera (MENDONÇA; DANNI-
-OLIVEIRA, 2007, p. 59).

Sendo assim, o ar mais úmido tem uma tendência natural de


ascender e, por conta disso, pode chegar às partes mais frias da
troposfera, onde sofre condensação e forma nuvens:
Como a densidade da água é menor que a do ar seco, consideran-
do duas caixas contendo o mesmo volume de ar, a mais leve será
aquela preenchida com ar úmido. Essa propriedade do ar úmido é
importante para ajudar a explicar o fato de ele possuir tendência
a ascender na troposfera (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007, p.
59).

Quando o início do ciclo hidrológico acontece e as moléculas


de água passam do estado líquido para o gasoso, elas consomem
energia, que será liberada novamente para a atmosfera quando o
vapor se condensar, voltando ao estado líquido, ou seja, a vapori-
zação consome calor (calor latente) e, quando a água sob forma de
vapor sofre condensação, tornando-se líquida, esse calor é devol-
vido à atmosfera.
A energia que foi devolvida para a atmosfera quando a água
se condensa na situação citada anteriormente se chama calor sen-
sível. É o calor que podemos sentir, que está presente nas molécu-
las de ar atmosférico. Quando ele fica "aprisionado" nas moléculas
de vapor d'água, dizemos que é calor latente, que fica acumulado
na água até que ela perca energia e volte ao estado líquido.
Ayoade (1983, p. 128) afirma sobre isso que a água possui
calor latente e que essa energia é liberada quando a água se con-

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118 © Climatologia

densa. Quando o calor que estava "armazenado" nas moléculas de


vapor d'água (calor latente) volta para a atmosfera, dizemos que
ele voltou a ser calor sensível, esquentando a atmosfera.
Para termos uma ideia do calor envolvido, conforme Men-
donça e Danni-Oliveira (2007, p. 59):
[...] para que a água, em seu estado líquido, passe para o estado ga-
soso há um consumo de energia por parte das moléculas de água,
na ordem de 600 calorias por grama [...] Este calor fica retido nas
moléculas (calor latente) até que a água volte a ser líquida.

Podemos entender, então, que a água, ao mudar de estado


líquido para gasoso (evaporação), resfria a atmosfera.
O contrário também é verdadeiro, e, quando a água volta
ao estado líquido (condensação), ela libera calor, esquentando a
atmosfera na mesma ordem do valor de calorias retiradas para a
evaporação.
Esse é o motivo, por exemplo, de a água da moringa de barro
estar sempre fresca. A água penetra nos poros da cerâmica e, em
contato com a atmosfera, evapora, "roubando" o calor do ar ao
seu redor (calor sensível), assim como do reservatório de água.
O mesmo acontece com nosso corpo quando nadamos e sa-
ímos da água: mesmo em um dia de Sol e calor, costumeiramente,
sentimos frio ao sair da água, pois ela está "roubando" calor do
nosso corpo para mudar de estado (evaporar).
Para Mendonça e Danni-Oliveira (2007, p. 60), assim como
a perda do calor latente, a presença de núcleos de condensação é
fundamental para que a água passe do estado gasoso para líquido
e, consequentemente, à formação de nuvens, orvalho e nevoeiro.
Conforme os autores:
O processo inverso ao da evaporação, tão importante quanto ela, é
chamado de condensação e corresponde à passagem da água em
seu estado gasoso para o líquido, mediante a perda do calor latente
de evaporação e a presença de núcleos de condensação, resultan-
do na formação de nuvens, orvalho e nevoeiro. A energia liberada
para o ambiente quando ocorre a condensação é aquela que dele
© U4 - Água na Atmosfera e Formas de Precipitação 119

foi absorvida pela evaporação, e envolve as mesmas 600 cal/g de


água. Portanto, a condensação, ao transformar calor latente em ca-
lor sensível, estará aquecendo o ar (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA,
2007, p. 60).

Esses núcleos de condensação são pequenas partículas que


estão em suspensão no ar atmosférico, que podem ser de poei-
ra, sal marinho etc. (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007). Sendo
assim, o vapor d'água tem de encontrar pequenas partículas em
suspensão para formação de gotículas de água.
Além disso, para que haja condensação, conforme os mesmo
autores, o ambiente tem de ser mais frio que a própria molécula,
e, quando essa condição é atendida, dizemos que a "temperatura
do ar atingiu seu ponto de orvalho".
Vejamos, a seguir, algumas indicações sobre as maneiras de
medir a quantidade de água presente no ar atmosférico.
Mendonça e Danni-Oliveira (2007) indicam diferentes fato-
res que podem ser usados: pressão de vapor, umidade absoluta,
umidade específica, razão de mistura e umidade relativa. O último
é o mais usual e mais comum de ser visto em diversas formas de
mídia, como, por exemplo, em boletins de previsão do tempo. Ve-
jamos cada um desses termos conforme os dois autores:
1) Pressão de vapor: refere-se ao peso do vapor d'água ao
nível do mar. É dado em milibar (mb). A máxima pressão
de vapor seria aquela em que um pacote de ar com uma
dada temperatura estará sempre saturado, ou seja, com
o máximo de vapor d'água possível. O ar saturado se-
ria aquele que está com a quantidade máxima de vapor
d'água possível.
2) Umidade absoluta: representa o peso do vapor d'água
em certo volume de ar. Ele é dado em gramas por metro
cúbico e também varia de acordo com a temperatura do
ar (aumentando quando a temperatura também aumen-
ta). O ar mais quente é mais capaz de manter uma maior
quantidade de vapor d'água.

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120 © Climatologia

3) Umidade específica: é a razão entre o peso do vapor


d'água e o peso do ar, ou seja, quantas gramas de água
existem em um número determinado de gramas de ar.
Essa forma de mensuração é muito próxima da razão de
mistura.
4) Razão de mistura: é muito parecida com a umidade es-
pecífica. Na razão de mistura, considera-se a relação en-
tre a quantidade de vapor em gramas existente em um
quilograma de ar sem o peso do vapor (ou seja, conside-
rando o ar completamente seco).
5) Umidade relativa: é a mais usada, como já foi dito, e é
referente à porcentagem de vapor d'água presente no
ar em relação à máxima quantidade de vapor que o ar
naquela temperatura pode sustentar.
O ponto em que a água não seria mais sustentada no ar at-
mosférico é o chamado ponto de orvalho, como já foi dito. Quanto
maior a umidade relativa, mais próximo do ponto de orvalho está
o ar atmosférico.
Podemos fazer a seguinte pergunta: quanto vapor d'água
essa quantidade de ar, a essa temperatura, é capaz de sustentar
sem que ela sofra condensação? Essa quantidade, quando expres-
sa em porcentagem, é a umidade relativa.
Para Ayoade (1983, p. 143), a umidade relativa seria a "[...]
razão entre o conteúdo real de umidade de uma amostra de ar e
a quantidade de umidade que o mesmo volume de ar pode con-
servar na mesma temperatura e pressão quando saturado". Ele
também indica que a umidade relativa é dada em porcentagem.
É importante lembrar desse detalhe, pois ela estará sempre pre-
sente nos noticiários de TV e nas previsões de tempo em jornais e
revistas.
Vamos ver, agora, algumas das condições mais comuns em
que a temperatura ambiente atinge o ponto de orvalho, possibili-
tando a condensação da água e, consequentemente, a precipita-
ção.
© U4 - Água na Atmosfera e Formas de Precipitação 121

6. PRECIPITAÇÃO
De acordo com Ayoade (1983 p. 159), "[...] precipitação é
usada para qualquer deposição em forma líquida ou sólida e deri-
vada da atmosfera". Tentando entender a definição do autor, de-
vemos pensar que a precipitação ocorre sempre que a água que
está na atmosfera sob forma de vapor se transforma e cai na su-
perfície, seja em forma de chuva, granizo ou neve.
Vejamos como esse processo tem início com a formação das
nuvens.

Nuvens
De acordo com Ayoade (1983, p. 149, grifo nosso):
As nuvens são agregados de gotículas d´água muitíssimo pequenas,
de cristais de gelo, ou a mistura de ambos, com suas bases bem aci-
ma da superfície terrestre. As nuvens são formadas principalmente
por causa do movimento vertical de ar úmido, como na convecção,
ou em ascensão forçada sobre áreas elevadas, ou no movimento
vertical em larga escala, associado a frentes e depressões.

A escolha da definição de Ayoade (1983) para abrir este tó-


pico não foi ao acaso. O autor indica, de maneira bem completa, o
que é uma nuvem. Vamos pensar um pouco sobre o conceito dito
por ele.
Como vimos a pouco, o vapor d'água não pode ser visto
por nós na atmosfera, portanto, as nuvens, como as percebemos
olhando para o céu, são pequenas partículas de água que já sofre-
ram condensação.
Para Mendonça e Danni-Oliveira (2007, p. 70), a diferença
entre a gota de chuva e a gota de água em uma nuvem decorre
apenas da diferença de tamanho, sendo as primeiras maiores. O
mesmo é válido, conforme os autores, para as partículas de neve,
que são aglomerados de pequenos cristais de gelo.

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122 © Climatologia

A neve é constituída de cristais de gelo hexagonais que caem


individualmente ou agrupados. Eles se formam em baixas tempe-
raturas, em camadas mais altas da troposfera. Para chegarem ao
solo, é necessário que a temperatura entre seu local de formação
e o solo seja inferior a 0oC (CUADRAT; PITA, 1997).
Além da água líquida e dos flocos de neve, outra forma de
precipitação é o de pedras de gelo ou pelotas de gelo, o chamado
granizo. Esse tipo de precipitação é formado em grandes nuvens
quando correntes de ar convectivas levam parte da água líquida
para partes mais altas da nuvem com temperatura abaixo de 0oC,
congelando essas gotas (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007).
Portanto, a origem das pedras de granizo está ligada a violen-
tos movimentos de convecção, ascendentes e descendentes, no
interior das nuvens de tempestade. Elas são formadas pelo acrés-
cimo crescente de gelo, muitas vezes tendo uma estrutura pareci-
da com a de uma cebola, em camadas concêntricas que revelam
detalhes da sua formação. As camadas mais opacas correspondem
a fases de rápido congelamento e, geralmente, contêm pequenas
bolhas de ar. Já as camadas de gelo transparente estão mais rela-
cionadas ao congelamento mais lento, em áreas da nuvem com
alta concentração de água (CUADRAT; PITA, 1997). Observe, na Fi-
gura 1, os vários tipos de nuvens.
© U4 - Água na Atmosfera e Formas de Precipitação 123

Fonte: Ayoade (1983, p. 150).


Figura 1 Tipos de nuvens.

Tipos de chuva
Para Mendonça e Danni-Oliveira (2007), as chuvas podem
ser classificadas de acordo com sua gênese, sendo:
1) Convectiva: quando uma porção de ar úmido é aquecida
e sobe adiabaticamente, atingindo camadas mais frias
nas quais o vapor d'água se condensa e as nuvens são
formadas, o ar pode chegar ao seu ponto de saturação.
Dessa forma, no caso da chuva convectiva, o ar sobe na

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124 © Climatologia

atmosfera, chegando a locais onde a temperatura é mais


baixa. Nesses locais, o vapor d'água presente no ar con-
densa-se, formando nuvens. Quando Mendonça e Dan-
ni-Oliveira indicam que o ar ascende adiabaticamente,
significa que não há troca de calor com o meio durante a
ascensão do pacote de ar em questão.
2) Orográfica ou de relevo: neste tipo de chuva, o ar é for-
çado a ascender por conta de uma barreira orográfica.
Ao subir, próximo a encostas, o ar úmido é resfriado,
condensando o vapor d'água que gera precipitação.
A chuva orográfica ou de relevo é muito comum em áre-
as onde há trechos de serras, como na serra do Mar, no
estado de São Paulo. Nesses locais, um pacote de ar é
forçado a ascender seguindo o relevo e, por conta dis-
so, chega a locais mais frios da troposfera. Ao diminuir a
temperatura, de forma parecida com o que acontece na
chuva convectiva, há condensação do vapor d'água e as
nuvens são formadas.
3) Frontal: relacionada com o encontro de massas de ar,
quando o ar mais quente e úmido ascende por cima de
uma "rampa" formada pela massa de ar mais fria. Como
o próprio nome já diz, a chuva frontal está relacionada
com sistemas frontais, ou seja, situações de encontro de
massas de ar. Como a massa de ar fria é mais densa, esta
permanece junto da superfície, forçando a ascensão do
pacote de ar estacionário e mais quente. Novamente, ao
ascender esse pacote de ar, esfria, e o vapor d'água nele
contido se condensa.
As correntes marinhas também são responsáveis por varia-
ções de precipitação, deixando o litoral mais úmido, especialmen-
te nos locais em que há presença de correntes quentes (com maior
evaporação) ou o ar está mais seco (nos litoriais banhados por cor-
rentes frias). Sobre isso, Mendonça e Danni-Oliveira (2007) ainda
indicam que há maior quantidade de precipitações na parte orien-
tal dos oceanos, pela maior presença de ventos quentes e úmidos
provenientes dos oceanos, que, em suas áreas orientais, também
têm águas mais quentes.
© U4 - Água na Atmosfera e Formas de Precipitação 125

Sobre a precipitação em nível mundial, vejamos a Figura 2.

Figura 2 Distribuição das precipitações sobre a superfície da Terra.

As áreas com cores mais fortes no mapa são aquelas com


maior ocorrência de precipitação no globo terrestre. A leitura do
mapa indica nitidamente que algumas das regiões com grande plu-
viosidade são aquelas próximas das áreas equatoriais. Esse fato se
deve às elevadas temperaturas dessa faixa do globo e à ocorrência
dos ventos alíseos, que levam umidade em direção ao Equador,
conforme foi visto na unidade sobre circulação geral da atmosfera.
Sobre isso, Ayoade (1983) afirma que a evaporação é maior
sobre os oceanos que sobre as massas continentais e maior tam-
bém nas baixas latitudes. Há de se notar que, sobre os oceanos,
diferentemente do que ocorre sobre os continentes, a evaporação
nas áreas equatoriais é ligeiramente menor. Os motivos são as áre-
as de doldrums, com ventos menos intensos que aquelas com pas-
sagens de ventos alíseos; a saturação do ar (que já está bastante
úmido) e a menor insolação por causa da elevada quantidade de
nuvens (AYOADE, 1983, p. 138).
Ao pensarmos nessas informações, fica mais claro entender
as quantidades de precipitação indicadas nos mapas.

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126 © Climatologia

Outro aspecto relevante é o que explica a elevada quantida-


de de precipitação em alguns pontos de médias latitudes. Esses
locais constituem áreas de convergência de sistemas subpolares
(MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007).
Por meio da Figura 2, também é possível perceber que as
correntes marítimas quentes estão mais presentes nas partes oci-
dentais dos oceanos. Esse fato é explicado, em parte, pela ação
da força de Coriolis, que já foi mencionada neste material. Graças
a isso, as áreas banhadas por essas correntes apresentam maior
precipitação, como já foi dito, em relação às áreas banhadas por
correntes frias.
Vejamos, agora, alguns tipos de precipitação causados pelas
situações comentadas anteriormente.

Outros tipos de precipitação


Conforme alguns autores, o orvalho, a neblina e a geada
também podem ser classificados como formas de precipitação.
Para Mendonça e Danni-Oliveira (2007), esses eventos po-
dem ser considerados como formas de condensação. Ayoade
(1983) afirma o mesmo. Vejamos:
1) O orvalho seria a condensação do vapor d'água sobre
uma superfície que teve sua temperatura resfriada (AYO-
ADE, 1983). O orvalho forma-se em horas próximas do
amanhecer, quando geralmente o ar registra sua tem-
peratura mínima e deixa superfícies frias cobertas por
pequenas gotas de água (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA,
2007). O orvalho nada mais é que aquele conjunto de
pequenas gotículas de água que encontramos sobre
superfícies como o vidro do carro ao amanhecer, por
exemplo.
2) A geada é o congelamento do orvalho em dias com tem-
peratura muito fria.
3) O nevoeiro, que também pode ser chamado de "nebli-
na", ou "cerração", é muito parecido com uma nuvem.
© U4 - Água na Atmosfera e Formas de Precipitação 127

Sua origem pode estar relacionada com diversos proces-


sos, como, conforme Mendonça e Danni-Oliveira (2007):
a) Nevoeiro de radiação: formado em noites de céu
limpo, quando o ar se resfria, condensando o vapor
d'água contido.
b) Nevoeiro frontal: relacionado com a chegada de
frentes frias.
c) Nevoeiro por advecção: quando há chegada de uma
quantidade de ar frio sobre superfícies líquidas, fa-
zendo com que o vapor incorporado pelo ar se con-
dense. É muito comum ver esse tipo de nevoeiro nas
proximidades de represas e lagos ao amanhecer, es-
pecialmente nos meses mais frios.
d) Nevoeiro de evaporação: quando a água evapora de
uma superfície líquida e quente e se condensa em
seguida, ao entrar em contato com o ar mais frio.
Nesse caso, o nevoeiro acontece sobre as superfí-
cies dos lagos, rios etc.
e) Nevoeiro orográfico: ligado a vertentes, assim como
a chuva orográfica. O ar é forçado a ascender e se
resfria, condensando o vapor d'água presente.
Como já foi citado antes, o vapor d'água não é visível, sendo
os nevoeiros constituídos por pequenas gotas de água em suspen-
são. A condensação do vapor d'água que originou estas gotículas
está relacionada à diminuição da temperatura do ar atmosférico.

7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Q
uando o tempo está seco e o céu não apresenta nuvens, as noites são mais
frias. Quando, ao contrário, o céu está nublado, a tendência é de que as noi-
tes sejam mais quentes. Quais são as causas dessas duas situações?
2) O que é calor latente? E calor sensível?
3) A condensação da água absorve ou emite calor? Por quê?
4) O que é a hidrosfera? Onde ela está presente?

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128 © Climatologia

5) Como você definiria a umidade relativa do ar? Como explicaria isso a seus
alunos do primeiro ano do Ensino Médio?
6) Quais são as diferenças entre neve e granizo?
7) Explique os principais tipos de chuvas.

8. CONSIDERAÇÕES
Esta unidade foi dedicada ao conhecimento e à compreen-
são da presença da água na atmosfera, sua importância e, tam-
bém, suas formas de precipitação.
Como vimos no início da unidade, esse elemento não é o
mais abundante de todos na atmosfera, mas é, com certeza, um
dos mais importantes para a existência de vida no nosso planeta.
É fundamental que este aprendizado seja um conhecimento
constante na sua vida acadêmica e, também, no seu futuro profissional.
A próxima unidade trata de algumas classificações climáti-
cas. Nela, todo conhecimento adquirido no material será usado
para perceber as características de cada tipo de clima, conforme
as nomenclaturas que serão indicadas.
Bons estudos e até lá!

9. E-REFERÊNCIA
Figura 2 Distribuição das precipitações sobre a superfície da Terra. Disponível em: <http://
www.citi.pt/citi_2005_trabs/antonio_carvalho/Precipitacao.htm>. Acesso em: 6 nov. 2012.

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. São Paulo: Bertand Brasil, 1983.
CUADRAT, J. M.; PITA, M. F. Climatología. Madri: Cátedra, 1997.
HOUGHTON, J. T. Global warming: the complete briefing. Cambridge: Cambridge
University Press, 2004.
MENDONÇA, F.; DANNI-OLIVEIRA, I. M. Climatologia: noções básicas e climas do Brasil.
São Paulo: Oficina de Textos, 2007.
TEIXEIRA, W. et al. Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2000.
EAD
Tipos de Climas

5
1. OBJETIVOS
• Conhecer os tipos de classificações climáticas.
• Conhecer a nomenclatura dos climas e os climogramas de
diferentes lugares do Brasil e do mundo.
• Perceber como fatores climáticos influenciam climas de
diferentes localidades no nosso país.
• Perceber variações nas classificações climáticas de dife-
rentes autores.
• Estabelecer ligações entre os tipos climáticos apresenta-
dos e o local onde o aluno vive, relacionando o conteúdo
estudado com o cotidiano para, mais tarde, aplicar nas
aulas.

2. CONTEÚDOS
• Classificação climática de Köppen.
• Classificação climática de Thornthwaite.
130 © Climatologia

• Classificação climática de Strahler.


• Domínios climáticos mundiais.
• Os tipos climáticos do Brasil.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
1) Observe que há mais de uma maneira de classificação
climática. Perceba qual delas faz mais sentido em sua
opinião.
2) Para o estudo desta unidade, é muito importante que
você tenha em mente as informações sobre tempo e cli-
ma que foram estudadas em outras unidades. Releia-as,
se for necessário.
3) Busque entender o que são os climogramas e perceba
que eles são constituídos de um gráfico de colunas, que
é sempre relacionado ao total de precipitação de uma
localidade, dado em milímetros (mm), e de um gráfico
de linhas, que sempre demonstra as médias térmicas
mensais da mesma localidade, geralmente em graus Cel-
sius (oC).
4) Aproveite o conteúdo apresentado nesta unidade para
entender mais sobre o clima da localidade em que vive.
Para isso, reveja os mapas climáticos do Brasil.
5) Além dos mapas que são mostrados aqui, busque mais
informações, outros mapas em outras fontes, construin-
do sua visão sobre o clima no país e no mundo.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Como vimos na unidade anterior, a água é um importante
componente da atmosfera. O vapor d'água, com outros gases, re-
cebe a energia proveniente do Sol. Eles se comportam de diferentes
maneiras, formando as situações de tempo e de clima no mundo.
© U5 - Tipos de Climas 131

Vimos, também, que vários fatores, como pressão, latitude


e continentalidade, influenciam a atmosfera, alterando o tempo
atmosférico e, consequentemente, o clima.
Nesta unidade, vamos tratar de algumas das nomenclaturas
dos diversos tipos de climas e quais são suas características.
Bons estudos!

5. TIPOS DE CLIMA
Oferecer uma maneira de classificar os tipos de clima não é
tarefa fácil.
É necessário obter considerável quantidade de dados (que
são provenientes de estações meteorológicas) e transformar esses
dados em médias que indiquem o tipo climático de algumas loca-
lidades.
Além dessas dificuldades, muitas vezes, os pesquisadores
defrontam-se com a falta de dados provenientes das estações.
Muitas delas não estão em operação adequada ou falta pessoal
qualificado para coleta de dados.
Vimos, na Unidade 2 deste material, a diferença entre tempo
e clima.
É válido lembrar que, de acordo com Mendonça e Danni-Oliveira
(2007), não há dois lugares no mundo com climas idênticos. Apesar
disso, é possível estabelecer áreas com relativa homogeneidade de
condições dos elementos climáticos. Essas áreas são chamadas de
regiões climáticas.
Não podemos deixar de lembrar, também, que o clima é a
síntese do tempo em um dado lugar durante um período de, apro-
ximadamente, 30-35 anos, conforme disse Ayoade (1983).
Sendo assim, para entender um tipo de clima e suas carac-
terísticas, torna-se necessário recorrer aos dados gerados diaria-

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132 © Climatologia

mente, em busca de um padrão, ou seja, de algumas característi-


cas mais comuns ao longo de um tempo mínimo de 30 anos, para
só então ser proposta uma classificação climática.
É gerado, durante este período de tempo, um grande volu-
me de dados, uma vez que as leituras dos aparelhos de uma esta-
ção são feitas diariamente, três vezes por dia.
Por esse motivo, a primeira finalidade de estabelecer as clas-
sificações climáticas é ordenar o grande volume de dados. Além
disso, é possível recuperar e usar os dados de maneira mais rápida,
se for estabelecida uma classificação, além de facilitar a comunica-
ção entre cientistas da área (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007).
Conforme os mesmos autores, podemos contar mais de 200
esquemas de classificação climática, porém, a maioria é conside-
rada apenas empírica ou analítica, ou analítico-separativa. Entre
os vários modelos do último tipo, dois têm destaque: Köppen e
Thornthwaite.
Em 1918, Köppen fez a primeira tentativa de classificação cli-
mática relacionando temperatura, pluviosidade e distribuição da
vegetação. Vejamos, a seguir, como foi sua proposta.

6. CLASSIFICAÇÃO DE KÖPPEN
Köppen determinou cinco letras maiúsculas (A, B, C, D e E)
para denominar cinco grandes grupos climáticos, tendo como base
grandes áreas, conforme sua latitude.
Essas letras do alfabeto se referem, de acordo com Mendon-
ça e Danni-Oliveira (2007), a:
A – Climas tropicais chuvosos.
B – Climas secos.
C – Climas temperados chuvosos e moderadamente quentes.
D – Climas frios com neve – floresta.
E – Climas polares.
© U5 - Tipos de Climas 133

Cada uma das faixas climáticas recebe letras adicionais, indi-


cando algumas características específicas. Veja o Quadro 1.

Quadro 1 Classificação de Koppen.


A – Climas tropicais chuvosos
Af Clima Tropical Chuvoso de Floresta
Aw Clima de Savana
Am Clima Tropical de Monção
B – Climas secos
BSh Clima Quente de Estepe
BSk Clima Frio de Estepe
BWh Clima Quente de Deserto
BWk Clima Frio de Deserto
C – Climas temperados chuvoso e moderadamente quente
Cfa Clima úmido em todas as estações, verão quente
Clima úmido em todas as estações, verão moderadamente
Cfb
quente
Clima úmido em todas as estações, verão moderadamente
Cfc
frio e curto
Cwa Chuva de verão, verão quente
Cwb Chuva de verão, verão moderadamente quente
Csa Chuva de inverno, verão quente
Csb Chuva de inverno, verão moderadamente quente
D – Climas frios com neve − floresta
Dfa Clima úmido em todas as estações, verão quente
Dfb Clima úmido em todas as estações, verão frio
Clima úmido em todas as estações, verão
Dfc
moderadamente frio e curto
Dfd Clima úmido em todas as estações, inverno intenso
Dwa Chuva de verão, verão quente
Dwb Chuva de verão, verão moderadamente quente
Dwc Chuva de verão, verão moderadamente frio
Dwd Chuva de verão, inverno intenso
E – Climas polares
ET Tundra
EF Neve e gelo perpétuos
Fonte: Mendonça e Danni-Oliveira (2007, p. 120).

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134 © Climatologia

7. CLASSIFICAÇÃO DE THORNTHWAITE
Outra classificação climática utilizada até os dias de hoje foi
publicada por C. W. Thornthwaite em 1933 e alterada em 1948.
Esta é parecida com a classificação de Köppen, porém com uso de
valores absolutos que delimitam cada tipo climático.
Nesta classificação, a evaporação potencial, a precipitação e
o relacionamento entre as variáveis servem de base para quatro
critérios de classificação, conforme Ayoade (1983):
1) adequação da umidade;
2) eficiência térmica;
3) distribuição sazonal da adequação da umidade;
4) concentração no verão da eficiência térmica.
Com base nessas variáveis, Thornthwaite estabelece suas
classificações, como indica o Quadro 2.

Quadro 2 Classificação de Thornthwaite.

TIPO DE UMIDADE CLIMÁTICA ÍNDICE DE UMIDADE


A – Perúmido 100 e acima
B4 – Úmido 80 até 100
B3 – Úmido 60 até 80
B2 – Úmido 40 até 60
B1 – Úmido 20 até 40
C2 – Subúmido chuvoso 0 até 20
C1 – Subúmido seco -33,3 até 0
D – Semiárido -66,7 até -33,3
E – Árido -100 até -66,7
Fonte: Ayoade (1983, p. 237-238).

Repare que, quando Thornthwaite usa valores negativos para


o índice de umidade de um local, ele está considerando locais onde
há déficit de umidade. Nesses locais, é mais comum que a evapo-
transpiração leve vapor d'água para a atmosfera e que ele permane-
ça nela em vez de cair sobre forma de chuvas, por exemplo.
© U5 - Tipos de Climas 135

Nessas situações, dizemos que a evapotranspiração poten-


cial é maior que a evapotranspiração real, ou seja, o ar tem mais
possibilidade de receber vapor d'água e manter o mesmo do que
realmente ele está recebendo.
Explicando de outra forma, a evapotranspiração real é o
que realmente evapora no local e a evapotranspiração potencial
é o que evaporaria no local desde que fosse possível, desde que
houvesse umidade suficiente. Por exemplo: se há uma evapotrans-
piração potencial de 1.000 milímetros, com as chuvas, reservas e
plantas do local, há apenas 500 milímetros disponíveis para a eva-
potranspiração. Podemos afirmar, então, que a evapotranspiração
real foi de 500 milímetros, mesmo havendo possibilidade de o ar
comportar 1.000 milímetros.
Os valores do excedente hídrico e do déficit hídrico, bem
como os valores de evapotranspiração potencial e real, são leva-
dos em conta na classificação de Thorthwaite. Com a utilização
desses dois índices, somados a alguns critérios adicionais, Thor-
thwaite estabeleceu 120 tipos climáticos possíveis; destes, apenas
32 puderam ser expressos no mapa-múndi (AYOADE, 1983).
A classificação de Thorthwaite é bastante pautada no crité-
rio da umidade e das suas potencialidades, como foi comentado
anteriormente, porém, ele ainda leva em conta algumas particu-
laridades, como a adequação da umidade em algumas épocas do
ano, conforme mostra o Quadro 3:

Quadro 3 Climas úmidos.


ADEQUAÇÃO SAZONAL DE UMIDADE
Clima úmido (A, B ou C2) Índice de aridez
r – pouco ou nenhum déficit hídrico 0 – 10
s – déficit moderado de verão 10 – 20
w – déficit moderado de inverno 10 – 20
s 2 – grande déficit de verão Acima de 20
w 2 – grande déficit de inverno Acima de 20
Fonte: Ayoade (1983, p. 238).

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136 © Climatologia

Quanto à classificação dos climas secos, segue a classificação


abaixo, também de acordo com algumas variações, como visto no
Quadro 3.

Quadro 4 Climas secos.


Climas secos (C, D ou E) Índice de umidade
d – pequeno ou nenhum excedente de
0 até 16,7
água
s – excedente moderado de inverno 16,7 até 33,3
w – excedente moderado de verão 16,7 até 33,3
s 2 – grande excedente de inverno Acima de 33,3
w 2 – grande excedente de verão Acima de 33,3
Fonte: Ayoade (1983, p. 238).

Dessa forma, o nome de um tipo climático, conforme Thor-


thwaite, é composto das letras que designam suas características,
tanto letras maiúsculas quanto letras minúsculas. Por exemplo,
B2r seria um clima úmido, com índice de umidade entre 40 e 60 e
com pouco ou nenhum déficit hídrico.
Diferentemente das classificações de Köppen e Thorthwaite,
algumas classificações seguem caráter genético, principalmente
depois dos estudos feitos durante a Segunda Guerra Mundial.
Surgiram correntes de pensamento que tentavam tratar
o clima com uma perspectiva dinâmica, tendo como unidade de
análise o tempo meteorológico (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA,
2007).
Seguindo este pensamento:
A circulação e a dinâmica atmosférica constituem a base genética
dos climas, pois têm a origem dos fenômenos climáticos como fun-
damentos do critério classificatório. O sistema genético proporcio-
na uma explicação dos sistemas classificados, por meio qualitativo,
e por isso é denominado sistema climático explicativo-descritivo,
ao contrário do sistema climático empírico-quantitativo, em que a
análise é fortemente baseada em expressões numéricas ou mate-
máticas (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007, p. 125).
© U5 - Tipos de Climas 137

Sendo assim, os sistemas de classificação genéticos são mais


pautados em dados climáticos qualitativos, referentes a situações
de tempo, como entradas de massas de ar etc.
Um dos sistemas genéticos mais simples e famosos foi pro-
posto por Strahler no século 20. É o que estudaremos no próximo
tópico.

8. CLASSIFICAÇÃO DE STRAHLER
Para Ayoade (1983, p. 227), a classificação climática de
Strahler divide os climas da Terra da seguinte forma:
Os climas do mundo são classificados em três divisões principais
– os climas das latitudes baixas, os das latitudes médias e os das
latitudes altas. Estas três divisões estão subdivididas em 14 regiões
climáticas, as quais se acrescenta o clima das terras altas, onde a
altitude surge como controlador dominante.

De acordo com Ayoade (1983) e Mendonça e Danni-Oliveira


(2007), a classificação genética para os climas proposta por Strah-
ler divide os globos nas seguintes faixas:
1) Climas das latitudes baixas (controlados por massas
equatoriais e tropicais):
a) equatorial úmido;
b) litorâneo com ventos alíseos;
c) desértico tropical de estepe;
d) desértico da consta ocidental;
e) tropical semiúmido.
2) Climas das latitudes médias (controlados por massas
tropicais e polares):
a) subpolar úmido;
b) marítimo da costa ocidental;
c) mediterrâneo;
d) desértico e de estepe de latitude média;
e) continental úmido.

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138 © Climatologia

3) Climas das latitudes altas (controlados por massas de ar


polares):
a) continental subártico;
b) marítimo subártico;
c) tundra;
d) calota de gelo;
e) climas de terras altas (ocorre nas principais áreas,
com elevadas altitudes).
A classificação climática de Strahler é muito simples e bas-
tante usada, inclusive, para delimitar os principais domínios climá-
ticos do mundo, como indicam Mendonça e Danni-Oliveira (2007)
e como veremos adiante.

9. CLIMOGRAMAS
Os climas de uma dada localidade podem ser representados
por um tipo de gráfico que indica precipitação e temperatura. Es-
ses gráficos são chamados de "climogramas" e são formados por
um gráfico de colunas e um de linha, dispostos juntos.
Nesses gráficos, a temperatura (média térmica mensal) apa-
rece indicada por linhas e o total de precipitação de cada mês é
indicado por colunas. As temperaturas devem sempre ser repre-
sentadas por linhas, não importa o climograma, e as temperaturas,
sempre representadas por colunas.
Percebemos, então, que os climogramas, na verdade, são
compostos de dois gráficos, um de linha e um de coluna, dispostos
juntos, como já foi dito.
Cada mês do ano tem sua temperatura média e seu total
pluviométrico indicados. Observando o climograma da Figura 1, é
possível ver que fevereiro, por exemplo, é representado pela letra
f apenas, e que, nesse mês, a temperatura fica entre 22oC e 23oC e
o total de precipitação é de 175mm.
© U5 - Tipos de Climas 139

Figura 1 Climograma de clima tropical continental.

Repare que, no climograma anterior, a temperatura é indi-


cada do lado esquerdo, em graus Celsius (oC), e a precipitação é
indicada do lado direito, em milímetros (mm). Os meses do ano
estão indicados na base do gráfico, apenas pela letra inicial.
É fundamental que você seja capaz de elaborar e interpretar
climogramas ao término desta unidade. Eles aparecem com frequ-
ência nos materiais didáticos usados nos Ensinos Fundamental e
Médio, bem como em questões de vestibulares e concursos.
O climograma traz informações importantes sobre o clima
de uma localidade. O exemplo anterior demostra que esse tipo cli-
mático tem baixa pluviosidade nos meses do meio do ano, além
das temperaturas serem menores nesse mesmo período.
Como as médias térmicas são menores em maio, junho e ju-
lho, podemos concluir que esses são os meses de inverno e que,

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140 © Climatologia

portanto, a localidade que tem esse tipo de clima está no hemis-


fério sul. Os meses mais chuvosos são os do início e final de ano.
Nesse período, as temperaturas também são maiores. Dessa for-
ma, podemos perceber que o verão é chuvoso nesse tipo de clima,
o que é uma característica importante do clima tropical.
Ao ler um climograma, portanto, é possível obter as princi-
pais informações sobre o clima da localidade em questão, geral-
mente um município.

10. OS TIPOS CLIMÁTICOS DO BRASIL


O Brasil é um país tropical, ou seja, é um país cuja maior par-
te de seu território se encontra na faixa intertropical do planeta. A
faixa denominada "intertropical" compreende a área que se esten-
de entre os trópicos de Capricórnio e de Câncer, configurando-se
como a área que recebe a maior intensidade de radiação solar em
todo o planeta.
Dessa forma, devido à sua localização, o Brasil apresenta
uma considerável variedade de tipos climáticos, o que reflete, de
certa maneira, na formação de um rico e diversificado mosaico de
paisagens naturais (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007).
No Brasil, a distribuição das temperaturas segue o padrão
latitudinal de distribuição de energia e das zonas climáticas do
globo terrestre. Isso porque o país não apresenta nenhuma feição
topográfica capaz de influenciar de forma acentuada o clima no
território.
De acordo com Mendonça e Danni-Oliveira (2007, p. 141):
[...] a variabilidade térmica do espaço brasileiro, retratada por meio
de seus valores médios anuais, expressa também a importante
ação do relevo e da dinâmica das massas de ar que nele atuam.

Conforme os mesmos autores, dentre os principais fatores


que determinam os tipos climáticos no Brasil, merecem destaque:
© U5 - Tipos de Climas 141

1) Configuração geográfica: o território brasileiro possui


uma feição semelhante a um triângulo, onde a maior ex-
tensão longitudinal se dispõe nas proximidades da linha
do Equador e sofre um afunilamento em direção ao Sul.
2) Maritimidade/continentalidade: tanto o litoral quanto
a parte continental do país apresentam uma considerá-
vel extensão.
3) Altitude do relevo: o país não apresenta regiões de ele-
vadas altitudes. São mais comuns as altitudes modestas,
expressas em cotas relativamente baixas (os pontos ex-
tremos atingem cerca de 3.000 metros).
4) Extensão territorial: o território brasileiro apresenta
uma área de cerca de 8.511 milhões de km2, localizan-
do-se entre 5°16'20" de latitude norte e 33°44'32" de
latitude sul e 34°47'30" e 73°59'32" de longitude oeste
de Greenwich, disposta, em sua grande maioria, no he-
misfério sul.
5) Formas de relevo: presença de grandes compartimentos
de serras, planaltos e planícies que formam verdadeiros
corredores naturais para o desenvolvimento dos siste-
mas atmosféricos em grandes extensões, principalmen-
te de movimentação Norte-Sul.
6) Massas de ar e frentes: o território brasileiro recebe a
influência de cinco grandes massas de ar (Figura 2).
a) Massa equatorial atlântica (mEa): quente e úmida,
domina a parte litorânea do Nordeste e parte da
Amazônia. Em alguns períodos do ano, tem seu cen-
tro de origem no oceano Atlântico.
b) Massa equatorial continental (mEc): quente e úmi-
da, origina-se na parte ocidental da Amazônia, des-
locando-se para as porções Nordeste e Sul do país
no verão e para a porção Nordeste da Amazônia no
inverno.
c) Massa tropical atlântica (mTa): quente e úmida,
tem origem no oceano Atlântico, próximo ao trópi-
co de Capricórnio. Tem forte influência no clima do
litoral brasileiro.

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142 © Climatologia

d) Massa tropical continental (mTc): quente e seca,


origina-se na depressão do Chaco (parte da Argen-
tina e do Paraguai) e atinge uma área limitada do
território brasileiro. Influencia o clima na região Sul
e Centro-Oeste do país.
e) Massa polar atlântica (mPa): fria e úmida, origina-
-se no oceano Atlântico ao Sul do Brasil. Interfere no
clima do país em períodos de inverno, provocando
chuvas e quedas de temperatura.

Figura 2 Massas de ar que atuam no Brasil.

Massas de Ar––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Conforme Hare apud Ayoade (1983, p. 99), "[...] uma massa de ar pode ser defi-
nida como um grande corpo de ar horizontal e homogêneo deslocando-se como
uma entidade reconhecível". Pode originar-se tanto nos trópicos como nos polos,
em áreas onde existem condições que favoreçam o desenvolvimento de vastos
corpos de ar horizontais e uniformes.
À medida que uma massa de ar se afasta de sua região de origem, ela sofre
tanto modificações térmicas quanto dinâmicas. Essas modificações podem ser
influenciadas pela natureza da superfície sobre a qual a massa de ar se move
ou pelo resfriamento e/ou aquecimento adiabáticos que ocorrem em seu meio
(AYOADE, 1983, p. 99-101).
Quando duas ou mais massas de ar com características diferentes se encon-
tram, é formada uma frente. As frentes são as zonas-limites ou de transição que
separam massas de ar de propriedades diferentes, podendo ser quentes ou frias
(AYOADE, 1983, p. 99-101, grifo nosso).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
© U5 - Tipos de Climas 143

Para Mendonça e Danni-Oliveira (2007, p. 150), existem cin-


co grandes compartimentos climáticos no Brasil:
Os cinco tipos climáticos do país detêm um elevado grau de ge-
neralização dos elementos climáticos, notadamente suas médias
em relação à considerável extensão dos territórios aos quais são
atribuídos. Esses grandes domínios abarcam uma infinidade de
subtipos climáticos particulares, que, uma vez analisados, permi-
tem conhecer a diferenciação interna de cada um dos grandes tipos
apresentados.

Isso quer dizer que, em uma escala, esses cinco grandes


compartimentos climáticos seriam, na verdade, cinco macrotipos
climáticos. Estes poderiam, ainda, para uma aproximação à reali-
dade climática do Brasil, receber uma classificação em subtipos.
Veremos, a seguir, os cinco macrotipos climáticos do
Brasil e seus diferentes subtipos, de acordo com Mendonça e
Danni-Oliveira (2007):

Primeiro: clima equatorial


O clima equatorial é predominante na porção Norte do Bra-
sil, compreendendo os Estados do Amazonas, Pará, Acre, Rondônia,
Amapá, parte de Mato Grosso e Tocantins, área que coincide com a
floresta Amazônica. É controlado por sistemas atmosféricos tropicais
e equatoriais, sendo esses últimos a massa equatorial continental,
a massa equatorial atlântica e a zona de convergência intertropical.
Esse clima pertence ao Grupo I da classificação climática de
Strahler (clima de latitudes baixas).
As temperaturas médias anuais desse tipo climático são de
24°C e 26°C, o que o caracteriza como um clima quente. Os valores
de temperatura mais baixos são registrados nas regiões serranas,
enquanto os mais elevados são registrados ao longo do vale do rio
Amazonas.
Embora a área compreendida pelo clima equatorial seja
considerada de expressiva homogeneidade térmica em termos de
pluviosidade, é nessa região onde se registram os mais expressi-

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144 © Climatologia

vos totais pluviométricos, distribuídos heterogeneamente, tanto


espacial quanto temporalmente.
É essa variabilidade de pluviosidade ao longo do ano que
permite a identificação de três subtipos do clima equatorial:
• o clima equatorial sem seca ou superúmido;
• o clima equatorial com subseca – um a dois meses secos;
• o clima equatorial com subseca – três meses secos.

Segundo: clima tropical-equatorial


Distribui-se por parte das regiões Norte (Centro-Norte do
Estado do Tocantins) e Nordeste (praticamente todo o Estado do
Maranhão, parte dos Estados do Piauí, Bahia, Pernambuco, Paraí-
ba, Rio Grande do Norte e todo o Estado do Ceará).
O clima tropical-equatorial é considerado um clima quente
e, assim como o clima Equatorial, pertencente ao Grupo I da clas-
sificação climática de Strahler (clima de latitudes baixas).
Na porção do extremo Norte da região com clima tropical-
-equatorial, a atuação da zona de convergência intertropical tem
relevante importância para determinação desse tipo climático, en-
quanto, na porção centro-sul dessa região, essa importância é trans-
ferida para as massas de ar equatorial continental (mEc), equatorial
atlântica (mEa), tropical atlântica (mTa) e polar atlântica (mPa).
Esse tipo climático apresenta uma expressiva variabilidade
térmica e pluviométrica, que se dá tanto espacial quanto tempo-
ralmente.
A influência do relevo da porção oriental da região e a ex-
pressiva continentalidade no sentido Leste-Oeste e da zona de
doldrums ao Norte contribuem para que esse macrotipo climático
apresente quatro subtipos de clima a ele associados:
• clima tropical-equatorial com quatro a cinco meses secos;
• clima tropical-equatorial com seis meses secos;
© U5 - Tipos de Climas 145

• clima tropical-equatorial; o clima tropical-equatorial com


sete a oito meses secos;
• clima tropical-equatorial com nove a onze meses secos.

Terceiro: clima tropical litorâneo do Nordeste oriental


O clima tropical litorâneo do Nordeste oriental predomina
em uma faixa de terras que se estende do litoral atlântico oriental
do Nordeste até algumas centenas de quilômetros em direção ao
interior.
A forte influência das massas de ar úmidas, vindas do ocea-
no Atlântico (massa equatorial atlântica, massa tropical atlântica e
massa polar atlântica) e da zona de convergência intertropical, dá
origem a um tipo climático peculiar nessa porção do país.
O clima tropical litorâneo do Nordeste oriental pertence aos
climas do Grupo I da classificação de Strahler. A particularidade
da região com esse tipo climático é definida pela formação de um
clima úmido quente, litorâneo, que se distingue dos climas mais
secos da região.
Outros elementos característicos desse macrotipo climático
são: a elevação da temperatura durante todo o ano, com pequena
queda nos meses de inverno, e a concentração de chuvas entre o
final do verão e o inverno, com grande destaque para o outono.
As temperaturas médias registradas na região onde predo-
mina o clima tropical litorâneo do Nordeste oriental oscilam en-
tre 23°C e 26°C, e as médias máximas podem atingir 30°C, com
máximas absolutas de até 42°C, e as mínimas 18°C, com mínimas
absolutas de 10°C. A pluviosidade média anual situa-se entre cerca
de 700 a 2.500mm, e seis meses apresentam expressiva redução
no volume de chuvas.
Os três subtipos do clima tropical litorâneo do Nordeste
oriental são:

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146 © Climatologia

• com 5 a 7 meses secos;


• com 3 a 5 meses secos;
• com 1 a 3 meses secos.

Quarto: clima tropical úmido-seco ou tropical do Brasil Central


O clima tropical úmido-seco, ou tropical do Brasil Central,
predomina no Centro-Oeste brasileiro, em áreas do domínio mor-
foclimático do cerrado. Caracteriza-se por ser uma área de transi-
ção climática e de paisagem. Sofre influência das cinco massas de
ar que exercem influência no clima do país.
Tal influência contribui para a existência de uma multiplici-
dade de tipos de tempo durante o ano. E os quentes e úmidos
ocorrem de maneira concentrada no verão, enquanto os quentes
e secos ocorrem especialmente no inverno.
O clima tropical úmido-seco ou clima do Centro-Oeste do
Brasil foi denominado, por Monteiro (1968), "clima tropical alter-
nadamente úmido e seco".
A área onde predomina o clima úmido-seco no país apresen-
ta características próprias, embora apresente diferenciações em
sua extensa área de domínio. Por isso, é considerada uma grande
área de transição entre os climas predominantemente quentes e
úmidos ao Norte e subtropical úmido ao Sul.
Uma das características mais evidentes e comuns a todos os
subtipos desse macrotipo climático é a sazonalidade térmica e plu-
viométrica. Nos períodos mais quentes do ano, observa-se uma
concentração das chuvas, enquanto, nos menos quentes, se nota
a redução da pluviosidade.
Os subtipos climáticos do clima do Centro-Oeste do Brasil
são:
• clima tropical do Brasil central sem seca;
• clima tropical do Brasil central com um a três meses secos;
© U5 - Tipos de Climas 147

• clima tropical do Brasil central com quatro a cinco meses


secos;
• clima tropical do Brasil central com seis a oito meses secos.

Quinto: clima subtropical úmido


O clima subtropical úmido predomina na região Sul do Brasil.
É controlado, principalmente, pelas massas de ar tropicais (massa
tropical atlântica − mTa e massa tropical continental − mTc) e pola-
res (massa polar atlântica − mPa). A influência da massa equatorial
continental nesse macrotipo climático se dá, particularmente, na
caracterização da estação de verão.
Uma das características mais marcantes do clima da porção
Sul do país é a regularidade da distribuição pluviométrica, associa-
da às baixas temperaturas do inverno. Tal característica resulta da
associação entre a localização e o relevo da área e a atuação dos
sistemas atmosféricos intertropicais e polares.
Enquanto a variabilidade pluviométrica se apresenta regular,
a variabilidade térmica da região é bastante acentuada, tanto espa-
cial quanto temporalmente. As médias anuais oscilam entre 14°C e
22°C, mas podem cair para cerca de 10°C nas partes mais elevadas,
onde ocorre queda de neve no inverno. No verão, as temperaturas
médias são mais elevadas, com variação entre 26°C e 30°C, e, nos
vales interioranos, as temperaturas absolutas podem atingir 40°C.
Os dois subtipos do clima subtropical-úmido são: o clima
subtropical-úmido, com invernos fresco e frio, e o clima subtropi-
cal-úmido, com inverno frio.
O mapa da Figura 3 mostra os principais tipos de climas do
Brasil (segundo Mendonça e Danni-Oliveira, 2007), bem como as
massas de ar que atuam em áreas específicas do país.

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148 © Climatologia

Linha do Equador

Massa de ar equatrorial
continental (MEC)
Massa de ar equatrorial
atlântica (MEA)
Massa de ar tropical
atlântica (MTA) Trópico de
Capricónio
Massa de ar tropical 23° 26'
continental (MTC)
Massa de ar polar
atlântica (MPA)
Equatorial
1a- sem seca ou superúmido Tropical Úmido-Seco ou Tropical do Brasil Central
1b- com seca – 1 a 2 meses secos 4a- com 4 a 5 meses secos
1c- com subseca – 3 meses secos 4b- com 6 a 8 meses secos
4c- sem seca
Tropical Equatorial 4d- com 1 a 3 meses secos
2a- com 4 a 5 meses secos
2b- com 6 meses secos Subtropical Úmido
2c- com 9 a 11 meses secos 5a- com inverno fresco a frio
Tropical Litorâneo do Nordeste Oriental 5b- com inverno frio
3a- com 5 a 7 meses secos
3b- com 3 a 5 meses secos
3c- com 1 a 3 meses secos
Fonte: adaptado de Mendonça e Danni-Oliveira (2007, n. p.).
Figura 3 Domínios climáticos do Brasil e principais subtipos.

É importante ressaltar que, além da classificação proposta


por Mendonça e Danni-Oliveira (2007), existem outras classifica-
ções para os tipos de clima do Brasil.
Em geral, para se classificar um tipo de clima, são conside-
rados, principalmente, os elementos temperatura, umidade, plu-
viosidade, atuação das massas de ar e das correntes marítimas e a
pressão atmosférica.
© U5 - Tipos de Climas 149

Dessa forma, as faixas de tipos climáticos estabelecidas em


determinada classificação coincidem com as faixas de outra clas-
sificação.
Para confirmar essa afirmação, tente fazer uma compara-
ção entre as faixas climáticas estabelecidas para o Brasil conforme
duas classificações diferenciadas, observando a Figura 4.

Figura 4 Brasil – tipos climáticos.

11. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS


Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:

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150 © Climatologia

1) Quais são as diferenças entre as classificações climáticas apresentadas nesta


unidade?

2) Você seria capaz de explicar quais são os critérios levados em conta para
estabelecer um tipo de clima?

3) Qual tipo climático é mais adequado para a região em que você vive?

4) Levando em conta mais de um modelo de classificação climática, pense so-


bre quais são os tipos climáticos mais adequados para o local onde você
mora.

5) Como você faria um esboço do climograma da localidade onde vive? Onde


buscaria os dados?

6) Como você faria uma aula sobre climogramas para alunos do 6º ano do En-
sino Fundamental?

7) Enumere os principais tipos climáticos do Brasil, conforme Mendonça e


Danni-Oliveira.

8) Quais são os principais fatores que determinam os tipos climáticos no Brasil?


Cite e explique cada um.

9) Como cada massa de ar atua no território brasileiro? Quais são as suas ca-
racterísticas?

10) Como você trabalharia o uso de mapas climáticos em sala de aula?

11) Tente fazer, à mão livre, um esboço de um climograma. A linha do gráfico


representaria as temperaturas médias mensais e as colunas representariam
os totais pluviométricos. Em seguida, analise as características do clima re-
presentado.

12. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, conhecemos as principais classificações cli-
máticas de acordo com diferentes critérios. Todas estas, apesar
de muito diferentes, ainda são muito importantes para trabalhos
científicos e indicações climáticas internacionais.
No nosso cotidiano, conhecemos mais as classificações ge-
néticas, como a de Strahler, que é uma das principais desse tipo. É
fundamental notar a percepção das diferentes faixas de latitude,
como vimos na Unidade 2, lembrando da intensidade dos raios so-
© U5 - Tipos de Climas 151

lares incidentes em cada uma delas, bem como dos outros fatores
que alteram o clima.

13. E-REFERÊNCIAS

Lista de figuras
Figura 1 Climograma de clima tropical continental. Disponível em: <http://
professormarcianodantas.blogspot.com/2011/06/tipos-de-clima.html>. Acesso em: 24
out. 2012.
Figura 2 Massas de ar que atuam no Brasil. Disponível em: <http://blogdogeohistoria.
blogspot.com/2009/06/massas-que-atuam-no-brasil.html>. Acesso em: 24 out. 2012.
Figura 4 Brasil – tipos climáticos. Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.
br/alfa/climas-do-brasil/imagens/tipos-de-clima.gif>. Acesso em: 26 nov. 2012.

Site pesquisado
CIS HISTÓRIA E GEOGRAFIA: A CASADINHA QUE DÁ CERTO. Massas de ar que atuam no
Brasil. Disponível em: <http://blogdogeohistoria.blogspot.com/2009/06/massas-que-
atuam-no-brasil.html>. Acesso em: 24 out. 2012.

14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. Rio de Janeiro: Bertrand do
Brasil, 1983.
MENDONÇA, F.; DANNI-OLIVEIRA, I. M. Climatologia: noções básicas e climas do Brasil.
São Paulo: Oficina de Textos, 2007.

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EAD
Clima Urbano

6
1. OBJETIVOS
• Explorar as particularidades que envolvem o estudo do
clima urbano.
• Reconhecer as consequências das atividades antropogê-
nicas para o clima das cidades.
• Compreender a escala de estudo do clima urbano.

2. CONTEÚDOS
• Noções gerais sobre o clima urbano.
• Os estudos de clima urbano.
• Ilhas de calor e comportamento térmico.
• Inversão térmica.
154 © Climatologia

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
1) É importante que você fique atento aos conceitos de-
senvolvidos nas unidades anteriores. Tenha em mente
a diferença fundamental entre tempo e clima e entre
as escalas de estudo do clima. Se necessário, retorne às
unidades anteriores para fixação desses conceitos.
2) Antes de iniciar a unidade, é importante salientar que
inúmeros estudos têm sido desenvolvidos com o intui-
to de se compreender a dinâmica climática das áreas
urbanas. No entanto, muitos deles têm se dedicado ao
estudo das ilhas de calor. É necessário lembrar que as
ilhas de calor não são as únicas alterações no microcli-
ma urbano e que nem todas as alterações são negativas.
As mudanças na velocidade e direção dos ventos, por
exemplo, podem ser aspectos positivos nas cidades. Ve-
remos mais detalhes ao longo desta unidade.
3) Para aprofundar os seus conhecimentos sobre o clima
urbano, vale a pena ler os seguintes livros:
• Ilhas de calor nas metrópoles, que é fruto da pesquisa
de umas das cientistas pioneiras no assunto. Nesse
livro, a geógrafa Magda Adelaide Lombardo descreve
sua pesquisa realizada na metrópole paulista no ano
de 1985 e nos oferece subsídios para a compreensão
do fenômeno das ilhas de calor.
• Clima urbano, livro organizado por Carlos Augusto
Figueiredo Monteiro e Francisco Mendonça. O livro
traz, além de um capítulo escrito pelo próprio Carlos
Augusto Figueiredo Monteiro, pesquisador conheci-
do pelo desenvolvimento da Teoria do Sistema Clima
Urbano e considerado um dos "pais" da climatologia
urbana brasileira, quatro capítulos referentes ao es-
tudo do clima de quatro cidades de diferentes regiões
do país. Traz, também, um artigo sobre o panorama
© U6 - Clima Urbano 155

dos estudos de clima urbano no Brasil, escrito por


Francisco Mendonça.
4) Com o advento da informática, o acesso à informação
foi facilitado e possibilitou-nos o conhecimento de ques-
tões importantes com grande rapidez. Aproveite a tec-
nologia que lhe é oferecida e busque materiais, como
trabalhos acadêmicos, documentários e filmes, que pos-
sam subsidiar o seu processo de aprendizagem sobre o
tema clima urbano.
5) Aproveite o conteúdo apresentado em cada unidade
do Caderno de Referência de Conteúdo de Climatologia
para o estudo da Unidade 6. Discuta os pontos que julgar
mais importantes com seus colegas e tutor e amplie seus
horizontes teóricos.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Nas unidades anteriores, estudamos alguns aspectos gerais
sobre a atmosfera terrestre que nos ajudaram a compreender a
dinâmica climática do nosso planeta.
Vimos que os elementos climáticos mais comuns são a tempe-
ratura, a umidade e a pressão e que estes podem sofrer variação de
acordo com a influência dos chamados "fatores climáticos". Discuti-
mos a importância da compreensão das camadas mais distantes da
troposfera para o entendimento do movimento do ar na atmosfera.
Além disso, estudamos o importante papel da água na at-
mosfera para a regulação da temperatura e para a manutenção
da vida em nosso planeta, além das características de cada tipo
climático.
Agora chegou a hora de mudarmos de escala na análise do
clima e tratarmos diretamente do meio em que vivemos: a cidade!
Vamos ver, nesta unidade, os principais aspectos relaciona-
dos ao clima urbano e compreender o nosso papel na manutenção
da temperatura no planeta.
Vamos em frente?

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156 © Climatologia

5. CLIMA E CONSTRUÇÕES
A interferência e as mudanças no meio ambiente, causadas
pela humanidade, vêm sendo realizadas há alguns séculos.
A expansão das áreas urbanas e o excesso de atividades hu-
manas, como o uso dos recursos naturais e o descarte de materiais
no meio ambiente, inclusive na atmosfera, impactam o clima local.
Desde a Pré-história, o homem vem criando novas formas
de alterar o ambiente natural, a fim de produzir espaços para sua
sobrevivência. Embora nem sempre a preocupação predominante
tenha sido com a construção de cidades em harmonia com a natu-
reza, pode-se dizer que essa preocupação sempre esteve presente
nas mais diversas culturas.
Conforme Barbirato et al. (2007, p. 9), as antigas culturas
greco-romanas merecem destaque pela "[...] produção de espaços
criados a partir da capitação do genius loci, ou seja, do espírito do
lugar que lhe confere o sentido e o significado".
De acordo com esses mesmos autores, o famoso arquiteto
Vitrúvio, que viveu no século 1º d.C., já se preocupava com o clima
e com a orientação dos edifícios:
No seu tempo, a preocupação com a higiene e o conforto veio mo-
dificar mais ainda o traçado da cidade romana, sugerindo que as
ruas pequenas ou vielas fossem orientadas no sentido de conter os
desagradáveis ventos frios e os infecciosos ventos quentes. Histori-
camente, as cidades gregas eram implantadas em função do Sol, de
modo que as suas edificações pudessem estar voltadas para as ruas
orientadas a leste-oeste. Os romanos, do mesmo modo, garantiam,
através de leis, como o Código de Justiniano, o direito ao acesso e
aquecimento pelo sol (BARBIRATO et al., 2007, p. 9).

Nas cidades do mundo islâmico, cujo clima é quente e seco,


o traçado de ruas estreitas e edificações de vários andares "[...]
mostrava a resposta inteligente à necessidade de sombreamento
neste tipo de clima" (adaptado de BARBIRATO et al., 2007, p. 10).
© U6 - Clima Urbano 157

Já nas cidades medievais, era possível identificar a procura


pela proteção contra os ventos do inverno, que era realizada evi-
tando-se a construção dos chamados "túneis de vento", ou seja,
evitava-se a construção de ruas retas e largas. Além de irregula-
res e estreitas, as ruas na cidade medieval apresentavam, em sua
maioria, curvas abruptas e ruas sem saída, com o intuito de mini-
mizar a força do vento.
Atualmente, o planejamento e a construção das edificações
e das cidades em geral não têm levado em consideração as condi-
ções climáticas.
A partir da Revolução Industrial, iniciada no século 18, as ci-
dades passaram por um processo de transformação sem prece-
dentes.
Embora tenha trazido o desenvolvimento técnico e tecnoló-
gico, a Revolução Industrial foi a grande responsável pelo aumento
populacional e pelo processo de urbanização em muitos países.
De acordo com Sechi e Amorim (2005, n. p.), o êxodo rural,
provocado principalmente pela mecanização da agricultura com a
substituição da força humana pela máquina, é um dos motivos do
crescimento das cidades.
Do ponto de vista ambiental, o processo de urbanização cau-
sou, há alguns séculos (e ainda causa), uma série de danos ao meio
natural, tais como o desmatamento para a obtenção de matéria-
-prima e os espaços para a expansão das cidades ou da atividade
agrícola; a poluição dos recursos hídricos e do ar; a degradação
dos solos; a redução da biodiversidade, dentre outros. Ainda de
acordo com o autores:
A expansão urbana associada ao planejamento ineficaz fez com
que houvesse a degradação do ambiente com interferências na
qualidade de vida. As cidades possuem características específicas
tais como: diferenciados usos e ocupações do solo, modificações
climáticas e ambientais, que acabam por gerar um ecossistema
próprio dos centros urbanos (SECHI; AMORIM, 2005 n. p.).

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158 © Climatologia

De acordo com Lombardo (1985), as condições climáticas de


uma área urbana extensa e de construção densa são totalmente
distintas daquelas dos espaços abertos circuncidantes, podendo
haver diferenças de temperatura, de velocidade do vento, de umi-
dade e de pureza do ar. Dessa maneira, o desenho físico urbano
pode ter forte repercussão nas condições climáticas locais.
Para percebermos como essa afirmação pode ser verdadei-
ra, basta fazermos a comparação entre uma cidade densamente
construída, verticalizada e habitada, e outra que preserva caracte-
rísticas diferenciadas. Observe as Figuras 1 e 2.

Figura 1 Vista parcial da cidade de São Paulo (SP).


© U6 - Clima Urbano 159

Figura 2 Vista parcial da cidade de Batatais (SP).

Conforme Lombardo (1995), o aumento da temperatura nas


cidades decorre não apenas da variabilidade natural, mas também
da atividade antropogênica.
Mendonça (2000, p. 168) afirma que, de maneira geral, as
atividades socioeconômicas urbanas são "fatores de formação do
clima urbano". A intensidade do adensamento, seja humano e/ou
urbano, e a localização geográfica da cidade desempenham forte
influência em tal formação.
Considerando as afirmações sobre as alterações causadas
pela atividade humana, percebemos que nós, enquanto socieda-
de, temos responsabilidade pelas alterações observadas nas cida-
des.

6. A CIDADE E O CLIMA
Atualmente, a ação antrópica sobre o clima vem sendo dis-
cutida nas mais diferentes escalas, sendo este um dos campos

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160 © Climatologia

mais consolidados da Climatologia. De interesse não só dos habi-


tantes das cidades, o clima urbano constitui um claro exemplo de
mudança climática não intencional, consistindo em um dos pro-
blemas mais relevantes atualmente.

Os estudos de clima urbano


Visando à compreensão da organização climática típica das
cidades, os estudos de clima urbano abrangem não apenas o enfo-
que do clima local (microclima), mas expandem-se a níveis regio-
nais (mesoclimas) e globais (macroclimas).
Vale ressaltar que, nessa última, principalmente por meio
da queima de combustíveis fósseis, os efeitos da ação antrópica
no ambiente urbano tem colaborado com a elevação dos níveis
de poluição do ar. O dióxido de carbono liberado pelas atividades
humanas e o desflorestamento ambiental causam o efeito estufa,
aquecendo a atmosfera (CORSON, 1993 apud COLTRI, 2006).
Dessa forma, para alguns pesquisadores, os climas da Terra
podem ser afetados pelas alterações dos elementos ou processos
que envolvem o clima urbano. As populações são atingidas de for-
ma significativa pelas alterações climáticas, pois ecossistemas na-
turais sofrem modificações, além do aumento da frequência de
eventos extremos, como furacões, ciclones, ondas de calor e der-
retimento de geleiras.
Conforme Monteiro e Mendonça (2003), o clima urbano é
um sistema complexo, adaptativo e aberto que, ao receber energia
do ambiente maior no qual se insere, a transforma substancial-
mente, a ponto de gerar uma produção exportada ao ambiente.
Uma das teorias mais aceitas para a explicação das relações
existentes entre as variáveis dos aspectos do clima local e regional
é a Teoria do Sistema Clima Urbano (SUC), proposta por Monteiro,
em 1976:
O S.C.U. visa compreender a organização climática peculiar da cidade
e, como tal, é centrado essencialmente na atmosfera que, assim, é
© U6 - Clima Urbano 161

encarada como operador. Toda ação ecológica natural e as associa-


ções aos fenômenos da urbanização constituem o conjunto comple-
xo sobre o qual o operador age. Por isso, tudo o que não é atmos-
férico e que se concretiza no espaço urbano, incluindo o homem e
demais seres vivos, constitui elementos do sistema, estruturando-se
em partes que, através de suas reações, definem atributos especiais.
Assim, esse conjunto complexo e estruturado constitui o operando
do sistema. Pela sua natureza é um tipo especial de operando, que
não é estático ou passivo (MONTEIRO, 2003, p. 21).

O sistema proposto por Monteiro pode ser divido em três sub-


sistemas: o termodinâmico, o físico-químico e o hidrometeórico.
O destaque do subsistema termodinâmico é para os estudos
de ilhas de calor e ilhas de frescor urbanas, conforto e desconforto
térmico da população e inversão térmica. O segundo (físico-quími-
co) é voltado para a análise dinâmica do ar e suas interações com
a cidade, destacando a poluição do ar, as chuvas ácidas, a relação
entre as estruturas urbanas e os ventos.
Já o subsistema hidrometeórico se relaciona ao estudo das
precipitações urbanas e seus impactos, tais como, por exemplo, os
processos de inundação nas cidades.

Estudos de clima urbano–––––––––––––––––––––––––––––––


Os estudos relativos ao ambiente climático urbano realizados entre os anos 1980
e 2000, principalmente, foram notadamente influenciados pelo Prof. Carlos Au-
gusto Figueiredo Monteiro, que acabou "fundando" uma "escola brasileira de cli-
matologia urbana".
Para o autor, aproximadamente 55 estudos desenvolvidos sobre algumas cida-
des brasileiras, com destaque para São Paulo, foram desenvolvidos com aplica-
ções das concepções do Sistema Clima Urbano (SCU), apresentado por Montei-
ro, na década de 1970 (MENDONÇA, 2000).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Clima urbano
Para Lombardo (1995), superfícies irregulares que alteram a
movimentação do ar e o sistema de escoamento da água da chuva
resultam da implantação das construções e do arruamento e, por
consequência, o efeito de resfriamento do ar urbano pela evapo-
ração é diminuído, facilitando a concentração de material particu-

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162 © Climatologia

lado no ar.
Para essa autora, a cidade atua como fator modificador do
clima regional, criando condições especiais concretas:
A atividade humana gerida no contexto da cidade, como a inten-
sidade de veículos, a concentração industrial, o adensamento de
edificações, processo de verticalização, e o asfalto de ruas e aveni-
das, a diminuição de áreas verdes, criam condições específicas de
padrões de uso do solo urbano. Estas características influem dire-
tamente na composição química da atmosfera, como também no
balanço térmico e hídrico, portanto concretiza-se considerando a
comparação da cidade com seu entorno próximo e como também
pelas diferenças objetivas das feições identificáveis no contexto
interno da cidade; tanto pelas características topográficas do sítio
quanto pelas diferenças produzidas pela estrutura urbana (LOM-
BARDO, 1995, p. 29).

De forma simplificada, podemos então dizer que a cidade,


enquanto ambiente construído, altera a circulação do ar e o ciclo
da água, além de emitir uma imensa quantidade de calor, devido,
principalmente, à liberação de gases pelos veículos e pelas indús-
trias. Mas como podemos definir o clima urbano?
Vejamos, a seguir, o que dizem alguns estudiosos dedicados
ao estudo da climatologia urbana.
O clima urbano é, de acordo com Lombardo (1985, p. 22):
[...] um sistema que abrange o clima de um dado espaço terrestre
e sua urbanização. É um mesoclima que está incluído no macrocli-
ma e que sofre, na proximidade do solo, influências microclimáticas
derivadas dos espaços urbanos.

Para Oke (1979), o clima da cidade deve ser compreendido


considerando-se duas escalas: a camada intraurbana (Urban
Canopy Layer) e a camada limite superior (Urban Boundary Layer),
conforme a Figura 3.
© U6 - Clima Urbano 163

Fonte: Oke (1976, n. p.) adaptado por Carvalho (2001, n. p.).


Figura 3 Camada limite superior e camada intraurbana.

A camada intraurbana é a camada que compreende desde


a superfície do solo até aproximadamente o nível médio das co-
berturas das edificações. Sua produção se dá a partir de processos
localizados nas ruas entre os prédios, ou seja, pelos processos em
microescala.
Já a camada limite superior corresponde ao nível médio dos
telhados, até a área de influência da cidade na atmosfera, variando
de acordo com o tipo de tempo. Trata-se de uma camada limite de
escala mesoclimática, cujas características são determinadas pela
presença da malha urbana.
Monteiro (1976) afirma que o clima urbano é um mesoclima
inserido em um contexto macroclimático e composto por diversos
microclimas. Além disso, o clima urbano abrange aspectos de ur-
banização, como crescimento e cultura da população, economia
e expansão das cidades, materiais das construções, verticalização
das moradias, conforto e bem-estar do cidadão, entre outros.
Nesse sentido, muitas variáveis afetam o clima de uma ci-
dade e, para que o mecanismo do clima urbano seja entendido,
é preciso considerar a cidade como "[...] um sistema aberto por
onde circulam fluxos de energia, sofrendo processos de absorção,
difusão e reflexão" (CONTI, 1998, p. 43). Veja um exemplo na Fi-
gura 4.

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164 © Climatologia

Fonte: Conti (1998, n. p.).


Figura 4 Radiação direta e radiação refletida nas zonas rural e urbana.

Para compreendermos melhor esse processo, Conti (1998)


explica-nos que a incidência da radiação solar sofre alterações
devido à concentração de poluentes e micropartículas suspensas.
Essa incidência produz a radiação difusa, que caracteriza a
atmosfera das cidades.
A radiação difusa absorve uma parte significativa da energia
oriunda da radiação solar, principalmente na faixa do ultravioleta,
e a transforma em calor latente, uma forma de energia que não
pode ser medida, mas que está presente em gases, como no vapor
d'água, por exemplo. Veja a Figura 5.

Fonte: Conti (1998, n. p.).


Figura 5 Circulação atmosférica em área urbana.
© U6 - Clima Urbano 165

Quando a camada da atmosfera atravessada pela radiação


solar é mais espessa, tem-se uma maior absorção de energia e se
inicia o esboço de uma anomalia térmica que caracteriza a atmos-
fera das cidades em relação às áreas vizinhas.

Principais aspectos do clima urbano–––––––––––––––––––––


a) o Clima Urbano é uma modificação substancial de um clima local, não
sendo possível ainda decidir sobre o ponto de concentração populacional
ou densidade de edificações em que esta notável mudança tem início;
b) admite-se que o desenvolvimento urbano tende a acentuar ou eliminar as
diferenças causadas pela posição do sítio;
c) da comparação entre a cidade e o campo circundante emergiram os se-
guintes fatos fundamentais:
I. a cidade modifica o clima de alterações em superfície. Ela tem formas
mais complexas, apresentando grandes superfícies horizontais e verti-
cais, que respondem diferentemente, tanto à radiação solar quanto ao
regime de ventos;
II. a cidade tem muitas fontes adicionais de calor, resultantes das atividades
antropogênicas. Além disso, dos distintos materiais que compõem suas
variadas superfícies, quase todas têm boa condutividade térmica e capa-
cidade calorífica, provocando o aquecimento dos ambientes para onde
flui o calor;
III. o aumento na produção local de calor é complementado por modificações
na ventilação, na umidade e até nas precipitações, que tendem a ser mais
acentuadas. Através dos sistemas de escoamento e da impermeabilidade
do solo, a água é rapidamente removida, reduzindo o efeito de resfria-
mento do ar urbano através da evaporação. Por um outro lado, a concen-
tração de material particulado no ar altera a incidência da energia radiante
do solo, bem como propicia o surgimento de nuvens e facilita a formação
de núcleos de condensação;
IV. a maior influência manifesta-se através da alteração da própria compo-
sição da atmosfera, atingindo condições adversas na maioria dos casos
(LOMBARDO, 1995, p. 30).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Ilhas de calor e comportamento térmico


A alteração das características térmicas da superfície terres-
tre é uma das transformações mais importantes causadas pela ur-
banização.
Conforme Lombardo (1985), o espaço urbano é constituído
principalmente por diversos materiais que possuem diferentes
propriedades físicas e térmicas, pelo calor e pelos resíduos pro-

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166 © Climatologia

duzidos pelas atividades antropogênicas, além da modificação da


rugosidade superficial. A autora entende que:
Com a expansão das cidades, modifica-se substancialmente a pai-
sagem natural. A grande concentração de áreas construídas, par-
ques industriais, adensamento populacional, pavimentação asfálti-
ca, associados à concentração de poluentes, criam condições para
alterar o comportamento da baixa troposfera (camada limite), em
ambientes urbanos (LOMBARDO, 1985, p. 23).

As propriedades térmicas dos materiais constituintes da


superfície do solo possuem a capacidade de moldar as variáveis
microclimáticas de tal forma que se torna possível a definição de
regiões mais quentes, com limites definidos, que as separam de
seus arredores. Essa anomalia térmica é chamada de ilha de calor
(IC). Observe essa anomalia térmica na Figura 6.

Figura 6 Perfil de uma ilha de calor. 1 – Área residencial suburbana; 2 –


Parque; 3 – Área urbana residencial; 4 – Centro; 5 – Comercial; 6 – Área
suburbana residencial; 7 – Rural.

A ilha de calor configura-se, conforme Lombardo (1985, p.


77), "[...] como um fenômeno que associa os condicionantes de-
rivados das ações antrópicas sobre o meio ambiente urbano", em
termos de formas de uso da terra e dos condicionantes do meio
físico e seus atributos geoecológicos.
Freitas e Lombardo (2008) explicam-nos que a intensidade
da ilha de calor é maior no sentido das áreas centrais para as áreas
periféricas. Isso devido ao fato de que, nas áreas centrais, se con-
© U6 - Clima Urbano 167

centram os principais fatores de formação das ilhas de calor (aden-


samento das edificações, tráfego intenso de veículos automotores,
atividades industriais etc.). Na Figura 7, veja como o mapa da cida-
de de São Paulo confirma essa tese.

Figura 7 Mapa de temperatura aparente predominante da superfície alvo de registro no


município de São Paulo (3 set. 1999).

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168 © Climatologia

Com o aumento das temperaturas nas cidades, ocorre não


somente a ilha de calor, mas também o aumento da absorção do
vapor d'agua e a consequente diminuição da umidade relativa do
ar, além da modificação das correntes de vento na cidade. Nesse
sentido, de acordo com Lombardo (1985, p. 26):
No verão, principalmente em áreas próximas a corpos d'água, altos
valores de pressão de vapor, conjuntamente com o aumento da ra-
diação de ondas longas, produzem a sensação desconfortável de ar
quente e úmido. A ilha de calor pode modificar as correntes de ven-
to na cidade, mas essa implicação deve ser analisada também com
o tipo de tempo, a posição orográfica, a estrutura das condições e o
sítio urbano. As cidades, em época de calmaria, recebem ventos da
periferia em direção ao centro, aumentando, assim, a possibilidade
de concentração de poluentes no ar.

De acordo com Carvalho (2001), os efeitos mais relevantes do


vento no meio urbano (velocidade e direção) são causados, princi-
palmente, pela rugosidade da superfície edificada e pelas ilhas de
calor. Essa mesma autora nos explica que a superfície construída
da cidade constitui uma face áspera para o vento.
Dessa forma, os elementos das cidades, com suas alterações
de forma, orientação e altura, representam, de acordo com Car-
valho (2001, p. 93), uma "superfície de fricção na camada limite
urbana, provocando a diminuição do fluxo de ar" e alterando sua
direção, uma vez que este passa a circular entre os edifícios.
A Figura 8 ilustra o esquema dos fluxos de ar sobre o centro
da cidade.

Fonte: Garcia (1999) apud Carvalho (2001, n. p.).


Figura 8 Representação esquemática dos fluxos de ar sobre o centro da cidade.
© U6 - Clima Urbano 169

De acordo com Lombardo (1985, p. 26), as ilhas de calor


podem causar um aumento da precipitação em áreas urbanas. A
autora afirma que "[...] o efeito da rugosidade das construções, o
ar quente descendente e o aumento dos núcleos de condensação
devido à concentração de aerossóis" pode provocar um aumento
de 5 a 10% na quantidade de precipitação nas áreas urbanas. Por
outro lado, o efeito da geada pode ser reduzido em até 25%.
As condições ideais para o desenvolvimento da ilha de calor
são condições de estabilidade, com céu claro e calmaria, propi-
ciando a ocorrência de movimentos convectivos do ar. Esses fa-
tores devem ser aliados ao fator topografia e poluição, para que
se obtenham condições propícias para sua formação (LOMBARDO,
1985).
Oke (1979) sumarizou os fatores responsáveis pela formação
das ilhas de calor e os subdividiu em mecanismos da camada limite
superior e mecanismos da camada intraurbana. Para esse autor, os
principais mecanismos que afetam a camada limite superior são:
1) calor antropogênico: proveniente dos telhados, da aglo-
meração de telhas e chaminés;
2) calor percorrido: proveniente da camada dossel;
3) calor excedente do ar, pelo processo de convecção;
4) fluxo de radiação de onda curta que converge com a po-
luição do ar.
De acordo com o mesmo autor, a camada intraurbana é mais
afetada pelos mecanismos de:
1) calor antropogênico das construções;
2) alta absorção de ondas curtas pelas construções;
3) decréscimo do fluxo de ondas longas perdidas;
4) alto armazenamento de calor pelos materiais de cons-
trução civil (armazenam calor durante o dia e o liberam
no período noturno);
5) excesso de calor sensível pela diminuição do fluxo de ca-
lor latente;

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170 © Climatologia

6) convergência do calor sensível pela redução da velocida-


de do vento.

Inversão térmica
Vimos que as ilhas de calor são fruto das alterações no am-
biente urbano provocadas pelas atividades do homem. Mas elas
não são o único problema relacionado ao comportamento térmico
nas áreas urbanas.
Outro problema que se liga diretamente às alterações da
temperatura nas cidades é a inversão térmica.
De acordo com Conti (1998), a inversão térmica é uma situ-
ação transitória, que pode ser causada pelo super resfriamento da
superfície (inversão por radiação), por um núcleo de anticiclone
(inversão por corrente descendente) ou pela entrada de uma fren-
te fria (inversão frontal).
Outro elemento importante que pode ser considerado cau-
sador da inversão térmica é o sítio urbano. As cidades que se si-
tuam em fundos de vales ou depressões "[...] tendem a ser afetas
pelas inversões de fundo de vale, causadas pela descida de ar frio
durante a noite" (CONTI, 1998, p. 45, grifo do autor).
A inversão térmica ocorre principalmente nos grandes cen-
tros urbanos, onde há um elevado nível de poluição e quando há
uma inversão das camadas de ar quente e fria.
Mas como ocorre essa inversão?
Para compreendermos corretamente essa questão, é perti-
nente que voltemos ao processo natural de aquecimento e subida
do ar.
Normalmente, o solo é aquecido pelas radiações solares.
Uma vez aquecido, o solo tende a aquecer o ar das camadas mais
baixas da atmosfera. Como estão mais quentes, essas camadas de
ar ficam menos densas e tendem a subir, formando correntes de
convecção do ar. Vale lembrar que essas correntes tendem a carre-
© U6 - Clima Urbano 171

gar consigo os poluentes do ar e estes, por sua vez, irão se disper-


sar nas camadas mais altas da atmosfera.
A inversão térmica ocorre principalmente em dias frios de
inverno, quando a formação de frentes frias é maior. As camadas
de ar frio, por serem mais pesadas, ficam abaixo das camadas de
ar quente e retêm os poluentes. O ar quente, mais leve, fica em
uma camada superior, impedindo a subida do ar frio e a dispersão
dos poluentes nas camadas mais altas da atmosfera.
A Figura 9 ilustra os dois momentos em que há um fluxo
normal de subida do ar para as camadas mais altas da atmosfera,
quando há a inversão térmica.

Figura 9 Comparação entre o fluxo normal de subida do ar para as camadas mais altas da
atmosfera e do processo de inversão térmica.

É importante lembrar que, como no inverno as chuvas são


mais escassas e a dispersão dos poluentes é ainda mais dificultada,
o problema da inversão térmica é agravado.
Esses poluentes acabam criando uma "névoa" sobre a cida-
de, prejudicando a saúde da população e causando doenças respi-
ratórias, alergias, agravamento de doenças cardíacas, entre outras.

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172 © Climatologia

A inversão térmica termina quando há um deslocamento ho-


rizontal da camada de ar frio que permite a descida do ar quente.

7. TEXTO COMPLEMENTAR
No livro intitulado Clima urbano, o geógrafo Francisco Men-
donça dedicou um capítulo ao estudo do clima urbano no Brasil.
Os trechos a seguir, extraídos do referido livro, trazem, de
forma sucinta, um panorama do estudo do clima urbano no país.

O estudo do clima urbano no Brasil––––––––––––––––––––––


No Brasil, cujo processo de urbanização se deu de maneira muito rápida, desi-
gual, bem como destituído de perspectivas de planejamento, o desenvolvimento
das cidades resultou na formação de espaços eivados de consideráveis dispa-
ridades sócio-econômicas e de elevada degradação sócio-ambiental; nestes, a
deterioração da atmosfera é, de maneira geral, apenas mais um testemunho da
relação predatória entre cidade e natureza [...] Dos três campos do estudo do
clima urbano preconizados por Monteiro (1976) – constituintes do que ele chama
SCU (Sistema Clima Urbano) – o termo-dinâmico é aquele sobre o qual a maioria
dos estudos foi realizada; evidencia-se neste particular, a similaridade com os
países desenvolvidos, nos quais também se observa a maior preocupação com
as condições térmica e higrométricas da cidade. [...] A preocupação com a que-
da da qualidade ambiental das grandes cidades brasileiras, fato que se tornou
mais evidente a partir da década de 1960, foi o principal fator a impulsionar o
surgimento de estudos relacionados ao clima urbano no Brasil. Foi, entretanto,
a partir da década de 1970, que a pesquisa em climatologia urbana registrou os
primeiros estudos de caso; daquela fase inicial para os dias atuais se observa
um grande avanço [...] A cidade de São Paulo aparece como sendo aquela sobre
a qual os estudiosos do clima urbano dedicaram-se de maneira mais expressiva,
seja por se caracterizar como a maior aglomeração urbana do Brasil, seja por se
configurar num dos mais degradados ambientes urbanos da nação; alia-se tam-
bém a estes fatos a maior concentração de instituições de ensino e pesquisas
voltadas a esta temática. [...] O estudo do ambiente atmosférico urbano no Brasil
evidencia um desenvolvimento considerável, seja por possuir uma proposição
teórica e metodológica de significativa originalidade, seja pela multiplicidade de
experiências realizadas através de diferentes estudos de caso. As técnicas em-
pregadas neste campo do conhecimento refletem tanto a manutenção de proce-
dimentos tradicionais quanto avançados de pesquisa. [...] O momento presente
configura-se numa fase em que a climatologia brasileira dispõe de uma original
e sólida proposta teórico-metodológica para o estudo da atmosfera urbana em
sua interação com a sociedade citadina, já testada em várias experiências sobre
diferentes realidades em todo o país (MENDONÇA, 2003, p. 179-189).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
© U6 - Clima Urbano 173

A vegetação é considerada um dos elementos mais impor-


tantes das cidades devido aos efeitos benéficos que ela traz ao
homem. As massas vegetais, como fator climático local, são res-
ponsáveis pela imposição de condições climáticas aos locais onde
se inserem, trazendo relevantes benefícios para o processo de
amenização do clima das cidades.
O tópico a seguir é dedicado à compreensão das principais
funções que a vegetação exerce na manutenção do clima urbano.

A vegetação e a cidade
Vários estudiosos têm enfatizado a relevância da vegeta-
ção no ambiente urbano como ferramenta utilizada no exercício
do controle e da prevenção das consequências adversas do clima.
Dentre eles, pode-se citar: Bach (1970), Bernatzky (1982), Lombar-
do (1985), Cavalheiro (1992), Nucci (2002), entre outros.
A vegetação presente na área urbana contribui para o con-
forto ambiental, propiciando agradáveis condições de conforto
para os habitantes das cidades.
Por isso, conforme Barbirato et al. (2007), é muito importan-
te que a vegetação seja aproveitada de maneira racional e inteli-
gente nas cidades, pois será possível obter melhores e mais con-
fortáveis condições microclimáticas na área urbana.
Para refletirmos sobre a veracidade dessa afirmação, ob-
serve os dois grupos de imagens a seguir. A Figura 10 ilustra as
diferenças entre a ausência e a presença de vegetação na área ur-
bana em forma de desenho, enquanto a Figura 11 traz imagens
das cidades de São Paulo (SP) e de Maringá (PR), que apresentam
grandes contrastes em relação à presença de vegetação em suas
áreas urbanas.

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174 © Climatologia

Fonte: Carvalho (2001, n. p.).


Figura 10 A − Esquema representativo da ausência de vegetação na área urbana. B −
Esquema representativo da presença de vegetação na área urbana.

Figura 11 A − Cidade de São Paulo (SP), proximidades da Avenida Paulista. B − Cidade de


Maringá (PR), proximidades do Parque do Ingá.
© U6 - Clima Urbano 175

É bem provável que a área da Figura 11A apresente tempe-


raturas e índices de umidade do ar diferentes dos da Figura 11B,
devido à distribuição da vegetação nesses locais.
Vamos, a partir dos próximos pontos a serem estudados, en-
tender os motivos dessas diferenças.

O papel da vegetação na manutenção do clima urbano


A vegetação tende a contribuir para a manutenção e o con-
trole do comportamento térmico nas áreas urbanas.
Sua utilização pode ser considerada para o controle da radia-
ção solar, dos ventos, da umidade do ar, da poluição atmosférica e
sonora, da erosão do solo e do consumo de energia elétrica, além,
é claro, de contribuir para o embelezamento da paisagem urbana.
A explicação que Barbirato et al. (2007) apresentam é que a
vegetação, que possui menor capacidade e condutividade térmica
que os materiais das edificações das cidades, pode controlar a ra-
diação solar direta até que esta chegue ao solo.
Com isso, o calor irradiado é diminuído, sendo também re-
duzida a temperatura do ar que está mais próximo. Por sua vez, as
folhas das plantas possuem baixo índice de reflexão, absorvendo a
radiação solar incidente.
Ainda conforme os autores, temos que a radiação absorvida
pode alcançar altos valores em função da folhagem, da espessura
e da extensão das copas das árvores. Uma parte da energia é refle-
tida e o resto é absorvido pela própria árvore, a fim de ser utilizada
nos processos de transpiração e fotossíntese.
A Figura 12 ilustra o efeito da vegetação arbórea na tempe-
ratura do ar no período diurno e noturno. Observe.

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176 © Climatologia

Fonte: adaptado de Barbirato et al. (2007, n. p.).


Figura 12 Representação do efeito de grupos arbóreos na temperatura do ar nos períodos
diurno e noturno.

De acordo com Mascaró apud Carvalho (2001, p. 113):


A composição de grupamentos arbóreos constituídos por espécies
de diferentes portes contribui para a redução da temperatura do
ar; as várias camadas de copa ampliam a absorção da radiação solar
e a estratificação da temperatura do ar sob a vegetação. O contro-
le da radiação solar, associado ao aumento da umidade do ar, faz
com que a variação da temperatura do ar seja menor, reduzindo a
amplitude térmica sob a vegetação, sendo maior durante o verão,
pois a densidade foliar e a evapotranspiração das plantas são mais
intensas. A amplitude térmica sob grupamentos é sempre menor
que sob as árvores isoladas.

Nesse sentido, os parques urbanos (que apresentam grande


densidade de vegetação, especialmente arbórea) encontrados em
inúmeras cidades no Brasil e no mundo são, de maneira geral, áre-
as com menores temperaturas que aqueles com menores índices
de vegetação.
Eles se apresentam, conforme Garcia (1997) apud Carvalho
(2001), como "ilhas de frescor" dentro do microclima urbano, que
podem ser identificadas nos mapas de isotermas de inúmeras ci-
dades que apresentam ilhas de calor. As ilhas de frescor apresen-
tam-se, sobretudo, desenhadas mediante linhas concêntricas com
um valor decrescente até o núcleo.
A redução da temperatura nesses parques é sentida, "[...]
sobretudo, com ventos fracos ou em calmaria, em noites limpas ou
com escassa nebulosidade, quando a ilha de calor está bem desen-
volvida" (GARCIA, 1997 apud CARVALHO, 2001, n. p.).
© U6 - Clima Urbano 177

A influência da vegetação presente nesses parques não se


dá apenas onde eles se localizam, mas, de acordo com Carvalho
(2001, p. 140), pode ser detectada a centenas de metros além de
seus limites, "[...] seguindo a direção dominante do vento, criando
verdadeiras 'correntes de ar fresco' que se estendem pelos bairros
edificados próximos".
Para comprovar a relação entre a presença de vegetação e a
redução da temperatura, observe os mapas de temperatura apa-
rente de superfície e de distribuição da vegetação no município de
São Paulo (Figura 13).

Figura 13 Comportamento térmico em relação à distribuição da vegetação no município


de São Paulo.

As áreas verdes, tanto do entorno quanto da área urbana,


não só contribuem para a manutenção do clima local, como exer-
cem influência também no clima da região e na redução da veloci-
dade dos ventos.
Em relação à formação das ilhas de calor, Lombardo (1985)
constatou que, quando são identificados altos índices de vegeta-
ção urbana, o fenômeno é menos intenso.
Conforme Barbirato et al. (2007, p. 113), a incidência dos
ventos sobre a vegetação do tipo arbóreo reduz as diferenças de
temperatura e umidade relativa do ar entre áreas com incidência
de sol e áreas sombreadas. Dessa forma, a vegetação pode contri-

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178 © Climatologia

buir para o "[...] efeito de canalização dos ventos, proporcionando


o resfriamento das superfícies além de atuar como moderadora da
velocidade" desses ventos.
Ainda de acordo com os autores, pode-se destacar, dentre
os efeitos de barreira desempenhados pela cobertura vegetal, os
efeitos de:
1) obstrução: a vegetação atua bloqueando o fluxo do ar;
2) deflexão: a atuação da vegetação dá-se no desvio do flu-
xo do ar e de sua velocidade;
3) filtragem: de acordo com a permeabilidade da barreira,
a vegetação atua reduzindo a velocidade dos ventos;
4) condução: a vegetação contribui para a modificação da
velocidade do vento e direciona o fluxo do ar.
A Figura 14 ilustra a diferença entre os efeitos de barreira
produzidos pela vegetação na cidade:

Fonte: adaptado de Carvalho (2001, n. p.).


Figura 14 Representação esquemática dos efeitos da vegetação na alteração da velocidade
e direção dos ventos.

Além de ser eficiente no controle da velocidade e direção


dos ventos nas cidades, a vegetação também contribui para a ma-
nutenção da qualidade do ar.
Em geral, a vegetação absorve os gases poluentes dispersos
na atmosfera (como o gás carbônico, por exemplo) e ainda libera
oxigênio para ela por meio da fotossíntese.
Suas folhas colaboram também na interceptação dos mate-
riais particulados presentes no ar e dos diversos tipos de precipi-
tação (chuva, geada, granizo, neve, orvalho). Para Carvalho (2001,
© U6 - Clima Urbano 179

p. 122): "Folhas, galhos, ramos, troncos e cascas podem segurar e


filtrar as precipitações".
Nessa perspectiva, Carvalho (2001, p. 124) explica-nos que:
As plantas bloqueiam e filtram a radiação solar, bloqueiam corren-
tes de ventos, transpiram água no ar atmosférico e reduzem a eva-
poração do solo, constituindo um microclima embaixo da árvore,
de umidade e temperatura controlados. As taxas de alta umidade e
baixa evaporação agem para estabilizar a temperatura, mantendo-
-a mais baixa que a do ar circundante durante o dia e fazendo com
que ela não aumente durante a noite.

O sombreamento causado pela copa das árvores contribui,


também, para a redução do consumo de energia elétrica, espe-
cialmente nos períodos de verão, pois o uso de condicionadores
de ar em locais que dispõem desse sombreamento acaba sendo
reduzido.
De acordo com Garcia (1999) apud Barbirato et al. (2007),
o plantio de árvores próximo às edificações pode contribuir para
uma redução de 15% a 35% dos custos de condicionamento do ar
no verão. À noite, o sombreamento produzido pelas árvores tam-
bém colabora com a diminuição das trocas por radiação das super-
fícies edificadas.
Segundo Barbirato et al. (2007, p. 110):
Em regiões de climas com diferenças sazonais acentuadas, o em-
prego de espécies arbóreas de folhas decíduas, é importante pelo
sombreamento que proporciona no verão, com a copa cheia, e a
permeabilidade à radiação solar no inverno, com a ausência de fo-
lhas.

Além da influência no comportamento térmico das cidades,


outro aspecto que merece importância com relação à presença de
vegetação nas cidades é o fato de estas contribuírem diretamente
para a saúde física e mental da população.
De acordo com Santos e Nucci (2009, p. 81), espaços plane-
jados com o auxílio da vegetação, "[...] especialmente com cober-
tura arbórea, podem melhorar a qualidade do ambiente urbano e
melhorar também a saúde física e emocional de seus residentes".

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180 © Climatologia

8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Estabeleça, de forma sistematizada, as relações entre o processo de urba-
nização e suas consequências na dinâmica climática das áreas urbanas, as-
sim como a importância da preservação e manutenção da vegetação para o
equilíbrio do comportamento térmico nas cidades.

2) Qual a importância da abordagem do tema "clima urbano" para sua forma-


ção e prática profissional?

9. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, tivemos contato com estudos relacionados
ao clima urbano e, como você pôde perceber, o clima urbano é
muito influenciado pela ação antrópica.
Vimos, também, que a ação do homem pode até mesmo de-
sencadear situações muito específicas, como as ilhas de calor e a
inversão térmica, que são problemas ambientais.
Nesse sentido, o sensoriamento remoto é uma ferramen-
ta importante para obter informações sobre o clima nas cidades,
como veremos na próxima unidade.

10. E-REFERÊNCIAS

Lista de figuras
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– Cidade de Maringá (PR), proximidades do Parque do Ingá (sem escala). Disponível em:
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Figura 13 Comportamento térmico em relação à distribuição da vegetação no município
de São Paulo. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Mapa-da-cidade-
de-sao-paulo-ilhas-de-calor.jpg>. Acesso em: 24 out. 2012.

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áreas públicas e áreas verdes: diagnóstico e propostas. 181 f. Dissertação (Mestrado em
Ecologia e Recursos Naturais). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos (SP), 1996.
SANTOS, D. G.; NUCCI, J. C. Paisagens geográficas – um tributo a Felisberto Cavalheiro.
Campo Mourão: Fecilcam, 2009.
EAD
A Utilização do
Sensoriamento Remoto
nos Estudos do
Clima Urbano 7
1. OBJETIVOS
• Conhecer as principais ferramentas do sensoriamento re-
moto para os estudos do clima urbano.
• Explorar as potencialidades do sensoriamento remoto
nos estudos do clima urbano.

2. CONTEÚDOS
• Noções básicas da utilização do sensoriamento remoto
nos estudos do clima urbano.
• Imagens de satélite como ferramentas para os estudos do
clima urbano.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
184 © Climatologia

1) Para o estudo desta unidade, é imprescindível que você


tenha em mente conceitos importantes que foram de-
senvolvidos na unidade anterior. Se necessário, retorne
às unidades anteriores para a fixação desses conceitos.
2) Para ampliar os seus conhecimentos sobre o uso do sen-
soriamento remoto nos estudos do clima urbano, vale a
pena buscar trabalhos acadêmicos que estejam direta-
mente relacionados ao tema. Busque também materiais
que abordem a utilização do sensoriamento remoto de
maneira mais ampla, pois estes podem apoiar o aprimo-
ramento dos seus conhecimentos sobre esse tema. Para
isso, sugerimos a leitura do livro Imagens de satélite
para estudos ambientais, escrito por Tereza G. Floren-
zano, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE).
3) Aproveite o conteúdo apresentado nesta unidade. Com
o intuito de ampliar seus horizontes teóricos, procure
discutir com seus colegas e tutor os pontos que julgar
mais importantes. Lembre-se de que você é o grande
responsável por sua formação.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Até o momento, exploramos uma série de elementos para
compreensão da dinâmica climática na atmosfera, sendo que, nas
últimas unidades estudadas, nossa atenção foi voltada para o en-
tendimento do clima nas áreas urbanas.
Vimos que, nas cidades, as atividades humanas, o excesso de
edificações e a ausência de vegetação configuram um microclima
local: o clima urbano.
Além disso, vimos que a vegetação desempenha um impor-
tante papel de regulação e equilíbrio do comportamento térmico
nas cidades.
A partir de agora, veremos como o sensoriamento remoto se
apresenta como uma importante ferramenta de auxílio nos estu-
dos do clima urbano e vamos nos familiarizar com a sua utilização.
© U7 - A Utilização do Sensoriamento Remoto nos Estudos do Clima Urbano 185

Bons estudos!

5. O SENSORIAMENTO REMOTO COMO INSTRUMEN-


TO PARA OS ESTUDOS DE CLIMA URBANO
Uma das ferramentas mais utilizadas nas últimas décadas
para o estudo do clima urbano é o sensoriamento remoto (SERE),
definido por Florenzano (2002, p. 9) como "[...] a tecnologia que
permite obter imagens e outros tipos de dados da superfície ter-
restre através da captação e do registro da energia refletida ou
emitida pela superfície".
Sendo assim, podemos considerar que o sensoriamento re-
moto se apresenta com uma tecnologia que permite o estudo de
um alvo (uma cidade, por exemplo), sem que seja estabelecido um
contato direto com ele.
Essa afirmação nos faz refletir sobre quão importante pode
ser o uso do sensoriamento remoto nos estudos relacionados às ci-
dades, seja ele pelos aspectos visíveis, seja pelos invisíveis a olho nu.
Vamos compreender, a seguir, os motivos dessa importância.
Conforme Ideião et al. (2008), os conceitos geográficos de
lugar, localização, interação homem/meio, região e movimento
podem ser articulados a partir da análise e interpretação das ima-
gens geradas pelos sensores orbitais.
De acordo com Florenzano (2002), as imagens de satélite
apresentam-se como recursos que permitem a determinação das
configurações do planeta, de um país, Estado, região ou localidade.
Dessa forma, os aspectos ligados à urbanização, tais como a
localização do sítio, os limites e a expansão, além do processo de
conurbação urbana, podem ser facilmente identificados em ima-
gens de satélite.
Por meio da interpretação dessas imagens, é possível iden-
tificar e mapear, também, todas as áreas verdes de uma cidade

Claretiano - Centro Universitário


186 © Climatologia

que, posteriormente, pode oferecer os dados necessários para a


quantificação dessas áreas e o cálculo de índices de áreas verdes
para uma cidade.
Buscando o conhecimento da realidade espacial das cidades,
inúmeros trabalhos vêm sendo desenvolvidos na atualidade.
A Figura 1 ilustra a potencialidade do uso de imagens de
sensores orbitais para os estudos que visam o conhecimento da
expansão urbana nas cidades. Neste caso, foi selecionada a cidade
de Taubaté (SP).
Já estudamos que as diversas transformações ocorridas na
superfície terrestre, como os desmatamentos, a urbanização e as
mudanças das formas de uso e ocupação da terra, podem afetar,
de diferentes modos, o microclima nas cidades.
Uma vez que as imagens de satélite nos fornecem dados da
espacialização destes e de outros fenômenos, podemos então con-
tar com um valioso instrumento para o estudo do clima urbano.
© U7 - A Utilização do Sensoriamento Remoto nos Estudos do Clima Urbano 187

Figura 1 A – Imagem do satélite Landsat 5 (1986). B – Imagem do satélite CBERS (2006).


Sem escala.

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188 © Climatologia

Como estudar o clima a partir das imagens de satélite?


Conforme Florenzano (2002), partindo-se de satélites me-
teorológicos, pode-se obter dados que, em conjunto com infor-
mações oriundas de outras fontes, são utilizados na previsão do
tempo, no estudo do clima e de outros fenômenos da atmosfera.
Nessa perspectiva, é importante ressaltar que os fenômenos
da atmosfera podem ser entendidos uma vez que sejam conside-
rados os conceitos de clima e de tempo. Conforme Florenzano
(2002, p. 55):
O tempo refere-se ao estado da atmosfera de um determinado
momento e lugar, enquanto o clima refere-se às condições médias
da atmosfera num determinado lugar. Estas condições médias são
resultantes da observação dos sucessivos estados de tempo por um
longo período.

Por meio da identificação da cobertura de nuvens em uma


imagem gerada pelo sensor de um satélite meteorológico, os es-
pecialistas podem "[...] estimar uma precipitação, delimitar as
áreas com ocorrência de precipitação e mapear áreas com chuvas
intensas" (FLORENZANO, 2002, p. 56).
As informações sobre a direção e a velocidade dos ventos
podem ser obtidas por meio da observação do deslocamento de
nuvens em uma sequência de imagens de satélites. É por meio
desses dados e informações que os meteorologistas podem co-
nhecer e realizar as previsões do tempo.
As imagens captadas pelos sensores dos satélites meteoroló-
gicos cobrem áreas extensas, inclusive as de difícil acesso, como as
oceânicas, com disponibilidade de imagens em curtos intervalos
de tempo. Tal fato também tem grande contribuição para que os
especialistas realizem as previsões do tempo.
Além disso:
As informações de sensoriamento remoto via satélite fornecem os
dados de observação com alta freqüência temporal e alta resolução
espacial que cobrem uma imensa área e podem ser usados para
complementar as áreas com poucos dados de medições em campo
disponíveis (IDEÃO, 2008, p. 16).
© U7 - A Utilização do Sensoriamento Remoto nos Estudos do Clima Urbano 189

Entenda, no texto a seguir, como funciona um satélite mete-


orológico.

Satélite meteorológico–––––––––––––––––––––––––––––––––
Um satélite meteorológico é um tipo de satélite artificial que é primariamente usa-
do para monitorar o tempo e o clima da Terra. Esses satélites, porém, veem muito
mais do que nuvens e formações de nuvens. Luzes das cidades, queimadas,
efeitos de poluição, aurora, tempestades de raios e poeira, superfícies cobertas
por neve e gelo, os limites das correntes oceânicas etc. são outros tipos de infor-
mações ambientais coletadas através dos satélites meteorológicos. Observe, na
Figura 2, algumas imagens captadas por satélite.

Figura 2 América do Sul – Imagem do satélite GOES (12/06/2010). A – 21h30. B – 21h45.


C – 22h00. D – 22h30. Sem escala.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

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190 © Climatologia

As imagens de satélite e os estudos do clima urbano


Até o momento, vimos que os satélites meteorológicos nos
fornecem imagens cuja interpretação permite a previsão e o co-
nhecimento das condições do tempo e da atmosfera nas escalas
macro e mesoclimática.
A partir de agora, veremos como os demais satélites podem
nos auxiliar para o estudo das condições e do tempo em uma esca-
la menor: a do microclima.
Para isso, vamos retomar alguns elementos e conceitos im-
portantes para compreendermos a utilidade do sensoriamento re-
moto no estudo do clima urbano.
Primeiramente, precisamos lembrar que a energia utilizada
em sensoriamento remoto é a radiação eletromagnética e que
essa energia é propagada por meio de ondas eletromagnéticas a
300.000km por segundo aproximadamente, ou seja, a velocidade
da luz.
Já sabemos que o espectro eletromagnético representa a
distribuição da radiação eletromagnética por regiões, conforme
o comprimento e a frequência da onda. Dessa forma, ele abarca
desde curtos comprimentos de onda de alta frequência até longos
comprimentos de onda de baixa frequência.
Devemos nos lembrar de que o olho humano enxerga a ener-
gia (luz) eletromagnética na região do visível, o que nos permite a
distinção das cores desde o violeta até o vermelho.
Para o estudo do tempo e do clima, precisamos avançar e
entender um pouco melhor outra região do espectro eletromag-
nético: a região do infravermelho.
De acordo com Florenzano (2002), a radiação do infraverme-
lho (aquela do calor) é subdividida em três regiões: infravermelho
próximo (0,7µm – 1,3µm) médio (1,3µm – 6,0µm) e distante ou
termal (6,0µm – 1.000 µm).
© U7 - A Utilização do Sensoriamento Remoto nos Estudos do Clima Urbano 191

Para compreensão da distribuição dessas faixas no espectro


eletromagnético, observe a Figura 3.

Figura 3 Espectro eletromagnético.

A radiação na região do infravermelho termal constitui-se


essencialmente na radiação que é emitida da superfície do plane-
ta na forma de calor. E é nessa região que devemos focar nossas
atenções.
Sabemos que as cidades apresentam temperaturas médias
maiores que aquelas apresentadas nas áreas rurais devido à utili-
zação de grandes quantidades de combustíveis fósseis em aquece-
dores, automóveis e indústrias, e que, dessa forma, elas se trans-
formam em potentes fontes de calor (LOMBARDO, 1985).
Outra questão importante com relação ao comportamento
térmico nas cidades é que as temperaturas diminuem no sentido
do centro para as periferias.
A temperatura de superfície é de primordial relevância para o
estudo da climatologia urbana, de acordo com Voog e Oke (2003),
ou seja, a radiação na região do infravermelho termal (aquela do
calor) apresenta-se como um dos objetos essenciais para o estudo
do clima urbano.
Para o estudo do comportamento térmico nas cidades, é
necessário captar esse tipo de radiação. Para isso, são utilizados
satélites que possuem bandas espectrais capazes de capturar essa
região específica do espectro eletromagnético. O satélite Landsat

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192 © Climatologia

7 é um deles.
As imagens captadas pelos sensores hiper ou multiespec-
trais, na região do infravermelho termal, permitem uma análise
detalhada da distribuição espacial da temperatura radiante da su-
perfície das cidades e apresentam-se como um importante instru-
mento para a análise do clima urbano.
Em uma frequência de tempo sincronizada, é possível, por
meio desse instrumento, obter uma grande quantidade de dados
de temperatura de uma cidade inteira ou de uma área específica
qualquer dela.
Mas como são as imagens da banda termal de um satélite?
Conforme Ideião et al. (2008, p. 8), as imagens termais são
compostas por uma matriz de pixels em tons de cinza. Nas imagens
da banda termal, os tons de cinza mais escuros correspondem às
áreas de maior temperatura da superfície registrada pelo sensor,
em oposição aos tons mais claros.

O uso da cor em imagens de satélite–––––––––––––––––––––


Florenzano (2002, p. 20) explica-nos que as imagens obtidas por sensores ele-
trônicos em diferentes canais "[...] são individualmente produzidas em preto e
branco. A quantidade de energia refletida pelos objetos vai determinar a sua re-
presentação nessas imagens em diferentes tons de cinza, entre o branco (quan-
do refletem toda a energia) e o preto (quando absorvem toda a energia). Ao
projetar e sobrepor essas imagens, através de filtros coloridos, azul, verde e
vermelho (cores primárias) é possível gerar imagens coloridas. [...] Nas imagens
coloridas, a cor de um objeto vai depender da quantidade de energia por ele
refletida, da mistura de cores (segundo o processo aditivo) e da associação das
cores com as imagens".
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Observe a Figura 4. Trata-se de uma imagem termal da re-


gião do Estado do Rio de Janeiro gerada pelo satélite Landsat (ban-
da 6 – infravermelho termal).
© U7 - A Utilização do Sensoriamento Remoto nos Estudos do Clima Urbano 193

Figura 4 Imagem termal. Sem escala.

Ao analisarmos essa imagem, percebemos que nossa capa-


cidade de identificação das diferentes tonalidades do cinza é limi-
tada. Ou seja, o olho humano não é capaz de distinguir todos os
256 níveis de cinza.
Em uma interpretação rápida dessa imagem, identificarí-
amos os tons de cinza mais claros e os mais escuros com maior
facilidade, enquanto seríamos incapazes de identificar todas as to-
nalidades médias.
No entanto, não podemos nos esquecer de que as imagens
de satélite são formadas por uma matriz de pixels em tons de cinza
e que, a cada pixel que compõe uma imagem, é associado um nú-
mero digital (ou DN – número digital de cada pixel).
Dessa forma, para que seja possível interpretar corretamen-
te uma imagem da banda termal, é necessário realizar uma con-
versão por meio da utilização de modelos dos níveis de cinza em
valores de temperatura (°C).
Analise a Figura 5 e note como a visualização das diferenças
de temperatura ao longo do município de Juiz de Fora (MG), após
a conversão dos DNs em valores de temperatura, é mais fácil.

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194 © Climatologia

Figura 5 A – Imagem termal do satélite Landsat 5, banda 6, 02/08/2007. B – Imagem


após processamento para conversão dos DNs em valores de temperatura. C – Mapa do
comportamento térmico de Juiz de Fora (MG).

Inúmeros pesquisadores têm utilizado as imagens termais


para comparar e relacionar o comportamento térmico com as di-
ferentes formas de uso da terra, seja por meio da utilização de
mapas de uso da terra, seja da interpretação de composições colo-
ridas a partir de diferentes bandas de um satélite.
Nas últimas décadas, inúmeros trabalhos têm sido desenvol-
vidos sobre o clima das cidades a partir da utilização de imagens
termais (aquelas captadas na região do infravermelho termal).
Essa tecnologia vem sendo amplamente utilizada não so-
mente pela facilidade de visualizar a espacialidade do compor-
tamento térmico nas cidades, mas também devido à escassez de
informações sobre a temperatura em pontos localizados e pelo
preço de aquisição das imagens, que podem ser gratuitas.
© U7 - A Utilização do Sensoriamento Remoto nos Estudos do Clima Urbano 195

Obtenção de imagens de satélites––––––––––––––––––––––––


As imagens de alguns satélites, como o Landsat e o CBERS, por exemplo, são
disponibilizadas gratuitamente no Brasil por meio do site do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE). Veja as imagens no seguinte endereço eletrônico:
<http://www.dgi.inpe.br/CDSR/. Acesso em: 20 jun. 2013>.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Conforme Voogt e Oke (2003), o sensoriamento remoto tem


sido bastante utilizado nos estudos sobre áreas urbanas, para clas-
sificação de formas de uso da terra, para fornecer dados de entra-
da para modelos de trocas atmosféricas e de superfície urbana e
para avaliação do fenômeno das ilhas de calor.
Ideião et al. (2008) elencou alguns dos importantes traba-
lhos sobre clima urbano, desenvolvidos a partir da utilização de
imagens de satélite. Conforme a autora:
A utilização de imagens com resolução espacial considerada "mé-
dia", tais como imagens termais obtidas a partir do Landsat TM /
ETM + (120m/60m), ASTER (15m/30m/90m) foram amplamente
empregadas para estudar a temperatura intra-urbana e suas va-
riações e relacioná-los com características da superfície. Carnahan
& Larson (1990) usaram o Landsat TM (banda espectral termal –
120m de resolução espacial) para observar em "meso-escala" a
temperatura e as diferenças entre as zonas urbanas e rurais em
Indianápolis. [...] Nichol (1994) utilizou dados de TM termal para
estudar microclimas habitacionais, em Singapura. Weng (2001,
2003) examinou a superfície terrestre, seus padrões de tempera-
tura e relação com a cobertura vegetal em Guangzhou, na China
e nos aglomerados urbanos na Zhujiang (Rio das Pérolas) Delta,
China. [...] Outros estudos também têm usado alta resolução es-
pacial (10m), com imagens do ATLAS (Advanced Thermal and Land
Applications Sensor) para avaliar o efeito da ilha de calor urbano no
período diurno e noturno em diversas cidades encontrando bons
resultados nos dados de calor urbano, bem como alguns padrões
de ilhas de calor (IDEIÃO et al., 2008, p. 4).

Um dos primeiros trabalhos que se utilizaram do sensoria-


mento remoto para mapeamento das ilhas de calor no Brasil foi
realizado em 1985 pela geógrafa Magda Adelaide Lombardo. Em
sua pesquisa sobre a metrópole paulistana, a referida pesquisado-
ra destacou a utilização de dados de sensoriamento remoto como
técnica fundamental para a execução do trabalho.

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196 © Climatologia

Apesar de todo avanço tecnológico e das técnicas de senso-


riamento remoto para investigação do clima urbano, Voogt e Oke
(2003) consideram que ainda é necessário progredir na:
• determinação adequada da radiação;
• melhoria da compreensão das relações entre as tempera-
turas de superfície, do ar e do balanço energético;
• melhoria da validação dos parâmetros dos sensores ter-
mais.

6. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Ao final desta unidade, é importante que você procure de-
bater e comentar com seus colegas e com seu tutor as questões
que tratam da utilização do sensoriamento remoto nos estudos
de clima urbano. Se encontrar dificuldades, procure realizar uma
revisão do conteúdo apresentado para aprimoramento dos seus
conhecimentos.
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Acesse o link <http://satelite.cptec.inpe.br/acervo/goes_anteriores.jsp> e
tente visualizar as imagens do satélite Goes. Procure exercitar sua sensibili-
dade visual para compreender os deslocamentos das massas de ar sobre o
Brasil nas últimas horas. Discuta suas percepções com seus colegas.

2) Diante do que lhe foi apresentado nesta unidade, você concorda que as fer-
ramentas do sensoriamento remoto, em especial as imagens de satélite, são
importantes para o estudo do clima urbano? Por quê?

7. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você obteve noções básicas da utilização do
sensoriamento remoto nos estudos do clima urbano.
Além disso, percebeu como as imagens de satélite podem
ser usadas para o estudo do clima urbano.
© U7 - A Utilização do Sensoriamento Remoto nos Estudos do Clima Urbano 197

Na próxima unidade, você conhecerá outros instrumentos


utilizados para análise do clima.

8. E-REFERÊNCIAS

Lista de figuras
Figura 1 A – Imagem do satélite Landsat 5 (1986). B – Imagem do satélite CBERS (2006).
Disponível em: <http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2007/trabalhos/humanas/inic/
INICG00910_01O.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2012.
Figura 2 América do Sul – Imagem do satélite GOES (12/06/2010). A – 21h30. B - 21h45.
c) 22h00. D – 22h30. Sem escala. Disponível em: <http://satelite.cptec.inpe.br/acervo/
goes_anteriores.jsp>. Acesso em: 14 jun. 2010.
Figura 3 Espectro eletromagnético. Disponível em: <http://www.uefs.br/disciplinas/
exa524/2_aula_SR.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2012.
Figura 4 Imagem termal. Disponível em: <http://www.dsr.inpe.br/selper/image/
portugues/cadpor2.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2012.
Figura 5 A – Imagem termal do satélite Landsat 5, banda 6, 02/08/2007. B - Imagem
após processamento para conversão dos DNs em valores de temperatura. C - Mapa do
comportamento térmico de Juiz de Fora (MG). Sem escala. Disponível em: <http://www.
geo.ufv.br/simposio/simposio/trabalhos/resumos_expandidos/eixo1/049.pdf>. Acesso
em: 20 nov. 2012.

Sites pesquisados
BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Divisão de Satélites e Sistema
Ambientais (DSA). Banco de dados de imagens. Disponível em: <http://satelite.cptec.
inpe.br/acervo/goes_anteriores.jsp>. Acesso em: 20 nov. 2012.
BORGES, V. V.; ZAIDAN, R. T.; MARTINS, L. A. Mapeamento, zoneamento e análise por
sensoriamento remoto do município de Juiz de Fora, MG. Disponível em: <http://www.
geo.ufv.br/simposio/simposio/trabalhos/resumos_expandidos/eixo1/049.pdf>. Acesso
em: 20 nov. 2012.
DIVISÃO DE SENSORIAMENTO REMOTO. Imagens de satélite. <http://www.dsr.inpe.br/
selper/image/portugues/cadpor2.pdf>. Acesso em: 18 jan. 2013.

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, K. C. S. et al. Uso de imagens de satélites de alta e baixa resolução em áreas
urbanas. XI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e VII Encontro Latino
Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba, 2007.
FLORENZANO, T. G. Imagens de satélite ara estudos ambientais. São Paulo: Oficina de
Textos, 2002.

Claretiano - Centro Universitário


198 © Climatologia

IDEIÃO, S. M. et al. Geotecnologias na determinação da temperatura de superfície e


espacialização da pluviometria no Estado da Paraíba. In: IX SIMPÓSIO DE RECURSOS
HÍDRICOS DO NORDESTE, 2008, Salvador. Anais... Salvador: s.n., 2008, n.p.
LOMBARDO, M. A. Ilha de calor nas metrópoles. São Paulo: Hucitec, 1985.
VOOGT, J. A.; OKE, T. R. Thermal remote sensing of urban climates. Remote Sensing of
Environmet, v. 86, p. 370-384, 2003.
EAD
Observação e Análise
do Tempo Atmosférico:
Principais Técnicas
e Instrumentos 8
1. OBJETIVOS
• Conhecer as principais técnicas e instrumentos para ob-
servação e análise do tempo atmosférico.
• Explorar a utilização de instrumentos simples para a ob-
servação e análise do tempo atmosférico.
• Reconhecer a importância da medição dos elementos at-
mosféricos para compreensão dos tipos de clima.

2. CONTEÚDOS
• Observação do tempo atmosférico.
• Observações instrumentais e não instrumentais.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
200 © Climatologia

1) Ao iniciar o estudo desta unidade, sugerimos que você


tenha em mente que, para a Climatologia, assim como
para outras áreas do conhecimento que podem traba-
lhar com diferentes aspectos do mundo real, as técni-
cas e instrumentos específicos para medição de deter-
minados elementos exercem um papel fundamental na
obtenção e sistematização de dados e informações para
o estudo a que se propõem. Considere que o conteúdo
desenvolvido nesta unidade pode ter grande relevância
para o aprofundamento de seus conhecimentos sobre
Climatologia e para o aprimoramento de sua prática
para o ensino de Geografia.
2) Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante ter
em mente que a Climatologia sofreu forte influência dos
avanços tecnológicos das últimas décadas. O desenvol-
vimento de instrumentos digitais e de grande precisão
para medição dos elementos atmosféricos impulsionou
os estudos e contribuiu para a compreensão da dinâmi-
ca climática nas mais diferentes escalas. No entanto, é
preciso ressaltar que os instrumentos e as técnicas mais
simples também são importantes e podem ser de gran-
de valia para o estudo do clima.
3) Você pode encontrar uma série de livros e materiais que
tratam das técnicas e instrumentos para observação e
análise do tempo. Sugerimos aqui a leitura do capítulo
8 do livro Praticando Geografia – técnicas de campo e
laboratório, organizado pelo geógrafo Luis Antonio Bit-
tar Venturi, docente na Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Nesse
livro, você encontrará, além de técnicas de campo e la-
boratório em Climatologia, uma série de outras técnicas
para os estudos de diversos elementos relacionados à
Geografia.
4) Explore o conteúdo apresentado nesta unidade. Busque
conhecer os principais instrumentos e técnicas para ob-
servação e análise dos elementos atmosféricos. Se você
não tiver a oportunidade de visitar uma estação mete-
orológica, utilize a internet e procure sites que tratam
da questão. Um site que pode ser bastante útil para
© U8 - Observação e Análise do Tempo Atmosférico: Principais Técnicas e Instrumentos 201

aprimorar seus conhecimentos sobre a observação dos


elementos atmosféricos é o do Instituto Nacional de Me-
teorologia (INMET), disponível em: <http://www.inmet.
gov.br/html>. Acesso em: 22 nov. 2012.
5) Procure conversar com seus colegas sobre as principais
técnicas e instrumentos para observação e análise dos
elementos atmosféricos. Caso encontre dificuldades,
procure revisar o conteúdo proposto e seguir as orienta-
ções fornecidas no início desta unidade.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Esta é a última unidade do Caderno de Referência de Conte-
údo de Climatologia.
Ao longo do desenvolvimento deste estudo, tentamos for-
necer os conceitos iniciais que servirão de base para que você se
sinta estimulado a pesquisar e a aprofundar seus conhecimentos
sobre Climatologia.
Tentamos abordar o clima desde a meso até a microescala
de estudos. Isso se fez importante para que pudéssemos compre-
ender a importância e influência da dinâmica climática na manu-
tenção da vida dos seres no planeta Terra, em especial a do ser
humano.
Nesta unidade, abordaremos os aspectos relacionados à ob-
servação e análise dos elementos atmosféricos. Descobriremos
como isso pode ser simples e como nós mesmos podemos desen-
volver técnicas e instrumentos para estudar o clima e as mudanças
do tempo.
Vamos em frente?

5. A OBSERVAÇÃO DO TEMPO ATMOSFÉRICO


O tempo atmosférico é um objeto de interesse para o ho-
mem há muito tempo, pois as condições atmosféricas influenciam

Claretiano - Centro Universitário


202 © Climatologia

diretamente as atividades humanas em suas mais diversas for-


mas. A maneira como o homem vive, principalmente o que veste
e como se abriga, é determinada, em grande parte, pelo tempo
atmosférico (AYOADE, 1983).
Até por volta do século 5 a.C., o homem considerava que os
fenômenos do tempo eram controlados pelos deuses. Esse pen-
samento perdeu força quando os gregos começaram a fazer as
primeiras observações meteorológicas, conferindo ao estudo do
tempo um caráter mais científico.
Desde os primitivos cata-ventos e medidas de chuva elabo-
rados pelos gregos, o desenvolvimento das observações meteoro-
lógicas percorreu uma longa trajetória. Conforme Ayoade (1983),
o desenvolvimento das ciências atmosféricas teve de esperar pela
revolução tecnológica do período do Renascimento:
Em 1593, Galileu inventou o termômetro e em 1643 o princípio do
barômetro de mercúrio era descoberto por Torricelli, um dos discí-
pulos de Galileu. No ano de 1832 foi inventado o telégrafo e os da-
dos do tempo puderam, desta maneira, ser reunidos a partir de um
grande número de postos localizados separadamente, em questão
de minutos após as observações serem feitas. Desde então, maio-
res desenvolvimentos técnicos na instrumentação das observações
do tempo e na transmissão e análise dos dados meteorológicos
têm desempenhado papéis vitais no desenvolvimento da meteoro-
logia e climatologia modernas (AYOADE, 1983, p. 5).

Uma das atividades mais importantes da observação do tem-


po atmosférico é a medição ou a medida dos elementos atmosfé-
ricos. Essas medições podem ser realizadas em locais chamados
"postos", ou "estações meteorológicas".
De acordo com Ayoade (1983), os tipos de estação meteo-
rológica podem ser reconhecidos dependendo do número de ele-
mentos meteorológicos medidos, da frequência da medição e da
condição do observador meteorológico, profissional ou amador.
Essas estações podem ser sinóticas, agrícolas, climatológicas ou
pluviométricas, conforme o Quadro 1.
© U8 - Observação e Análise do Tempo Atmosférico: Principais Técnicas e Instrumentos 203

Quadro 1 Tipos de estação meteorológica.


São estações controladas por observadores profissionais em
tempo integral e que mantêm uma observação meteorológica
contínua, fazendo observações instrumentais horárias dos
Sinóticas
elementos do tempo. Essas observações propiciam as informações
para a compilação de cartas sinóticas ou mapas meteorológicos
usados na previsão do tempo.
São controladas por observadores em tempo parcial, fazendo
pelo menos duas observações instrumentais diárias dos principais
elementos do tempo atmosférico. A evaporação, as temperaturas
Agrícolas
da grama rasteira e do solo, a radiação solar são, também,
usualmente medidos em vista de sua importância óbvia para a
agricultura.
São controladas por observadores em tempo parcial, realizando
Climatológicas apenas uma ou duas observações instrumentais diárias de
temperatura, umidade, precipitação e vento.
São postos controlados por observadores em tempo parcial, que
Pluviométricas
fazem leituras diárias apenas de precipitação.
Fonte: Ayoade (1983, p. 181).

Em uma estação meteorológica padrão, devem ser encon-


trados os seguintes instrumentos meteorológicos (AYOADE, 1983,
p. 182):
1) 1 ou 2 abrigos de Stevenson (Stevenson's screens), con-
tendo termômetros de bulbo úmido e bulbo seco, ter-
mômetro de máxima e de mínima, termógrafo, um hi-
drógrafo, barógrafo ou barômetro aneroide;
2) pluviômetro autográfico;
3) pluviômetro comum;
4) tanques de evaporação, usualmente tanques classe A;
5) grimpa;
6) anemômetro de cuba;
7) registrador de brilho solar;
8) equipamento medidor de radiação, como o integrador
de radiação Gunn-Bellani ou o Eppley pireliômetro.
Em geral, a observação do tempo atmosférico exige dedica-
ção e pontualidade por parte do observador. Além de serem pre-
cisas essas observações, elas precisam ser realizadas em horários
específicos.

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204 © Climatologia

Em uma estação sinótica, por exemplo, as observações são


feitas em horários fixos, sendo que as principais horas sinóticas
internacionalmente realizadas são meia-noite, seis horas da ma-
nhã, meio-dia e seis horas da tarde, tempo médio de Greenwich
(AYOADE, 1983).
As observações do tempo atmosférico podem ser classifica-
das em duas categorias principais: as observações instrumentais e
as observações não instrumentais.

Observações não instrumentais


As observações não instrumentais são aquelas cuja utiliza-
ção de instrumentos artificiais é dispensada. Conforme Ayoade
(1983), essas observações dependem da capacidade, do treina-
mento e do julgamento do observador, uma vez que estas são exe-
cutadas visualmente, ou seja, as observações não instrumentais
são aquelas realizadas a partir do instrumental sensorial próprio
do ser humano.
De acordo com Azevedo (in VENTURI, 2005, p. 132), "[...]
sempre usamos nosso próprio aparelho sensorial para obter infor-
mações do mundo externo e os instrumentos nada mais são que a
extensão do nosso aparelho sensorial".
Nessa perspectiva, a utilização de instrumentos artificiais de-
pende das hipóteses em investigação. Azevedo (in VENTURI, 2005)
dá-nos alguns exemplos.
Para esse autor, qualquer pessoa pode ser capaz de determi-
nar a direção do escoamento do ar com a precisão de dez graus de
azimute (ângulo entre uma direção qualquer e a direção norte no
sentido horário), a partir da sensibilidade natural das faces e das
palmas das mãos:
Se o escoamento puder ser sentido na altura da cabeça, a pessoa
deve permanecer ereta e relaxada, olhando para o horizonte. Con-
centrando-se no rosto, deve prestar atenção no frescor causado
pelo fluxo de ar nas faces. Com atenção, deve girar o corpo de for-
ma a perceber o fluxo vindo de sua frente. Como a direção tende a
© U8 - Observação e Análise do Tempo Atmosférico: Principais Técnicas e Instrumentos 205

variar pela turbulência natural desse tipo de escoamento, deve-se


procurar a direção que seja percebida como a predominante. [...]
O mesmo pode ser feito com a palma da mão aberta, voltada para
frente, com o braço estendido e com os dedos entreabertos. Com
treinamento é possível perceber a direção de um fluxo de ar com
velocidade 20 cm/s ou maior (AZEVEDO in VENTURI, 2005, p. 132-
133).

A velocidade do escoamento do ar também pode ser


estimada sem a utilização de instrumentos artificiais. No entanto,
essa é uma tarefa um pouco mais difícil, que consiste na observação
do efeito do escoamento do ar nos objetos que se encontram no
entorno do observador.
Para isso, pode-se padronizar o procedimento a ser realizado
por cada observador, mesmo que este não tenha sido treinado
intensivamente. Uma das técnicas mais utilizadas para esse fim é a
utilização da escala de Beaufort, que é uma escala que quantifica a
intensidade dos ventos, considerando sua velocidade e os efeitos
resultantes no mar e em terra, como mostra o Quadro 2.
Outro elemento a ser observado a partir do instrumental
sensorial humano é a nebulosidade.
Para Azevedo (in VENTURI, 2005), o registro e a observação
da nebulosidade devem levar em consideração três elementos es-
senciais.
Inicialmente, deve-se classificar a altura em que se encon-
tram as nuvens (altas, médias ou baixas). Em seguida, as nuvens
devem ser classificadas com base em suas formas e aspectos. Por
último, deve-se estimar quanto da abóboda celeste é coberta por
elas. Conforme Azevedo (in VENTURI, 2005, p. 135):
Em geral, registra-se a nebulosidade de baixo para cima – registra-
-se a tipologia e distribuição da nebulosidade baixa, em seguida
média e finalmente alta. A estimativa de cobertura é feita tomando
como referência a nebulosidade visível; não é inferida a cobertura
que está no próximo nível, mesmo que seja evidente que há sobre-
posição. A soma das coberturas em cada nível será, no máximo, a
cobertura total. O método mais simples de avaliação da obstrução
da abóboda pela nebulosidade é a classificação em oitavas do céu.

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206 © Climatologia

Imagina-se a abóboda celeste dividida em oito gomos e avalia-se


visualmente a proporção ocupada por nuvens. Registra-se o nume-
rador da proporção.

Quadro 2 Escala de Beaufort para estimativa da velocidade do


vento.

Fonte: CBVM (2012).

Observações instrumentais
As observações instrumentais são aquelas que dependem
de instrumentos artificiais para sua realização.
Conforme Ayoade (1983), os instrumentos de observação do
tempo atmosférico são de dois tipos: os registradores e os não re-
gistradores.
© U8 - Observação e Análise do Tempo Atmosférico: Principais Técnicas e Instrumentos 207

A diferença entre um tipo de instrumento e outro é que os


registradores têm dispositivos que fornecem valores contínuos
dos elementos meteorológicos sob a forma de um gráfico, en-
quanto os não registradores necessitam de leituras em momentos
predeterminados.
Para Azevedo (in VENTURI, 2005), as observações do tem-
po atmosférico podem ser realizadas por meio de instrumentos
simples, analógicos padronizados ou digitais. Esse mesmo autor
nos dá alguns exemplos de instrumentos simples de observação
do tempo, como o da biruta de canudinho.
A biruta de canudinho é um instrumento simples para a ob-
servação do escoamento do ar, muito sensível e de grande utilida-
de para observar o escoamento do ar próximo à superfície, espe-
cialmente quando a velocidade é baixa e/ou quando se investiga
as linhas de fluxo do ar no entorno ou entre obstáculos.
Sua construção é bem simples e consiste basicamente em
um canudo de refresco com uma pá de papel em forma de tra-
pézio, grampeada em uma extremidade e com um prego de cons-
trução na outra.
No ponto de equilíbrio do instrumento, é necessário espetar
um alfinete (com a ponta enrolada com o auxílio de um alicate
com de ponta fina), que servirá de argola para a amarração de uma
linha bem fina (fio de nylon, utilizado para pesca) com um metro
de comprimento, conforme a Figura 1.
Além da biruta de canudinho, é possível ainda construir, de
maneira bem simples, outro tipo de biruta para observação do es-
coamento do ar acima da superfície.
Para construção desse instrumento, são necessários um pe-
daço de arame que seja firme e um metro e meio de tecido TNT
(tecido não tecido). O tecido deverá ser cortado de forma que uma
das extremidades fique maior que a outra, como no formato de
um coador.

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208 © Climatologia

Uma vez recortado, o tecido deve ser costurado pelas late-


rais. Uma das extremidades deve permanecer sem costura, en-
quanto, na outra, é necessário fazer uma barra, na qual será colo-
cado o arame, conforme a Figura 2.

Fonte: adaptado de Azevedo (in VENTURI, 2005, n. p.).


Figura 1 Esquema representativo da biruta de canudinho.

Figura 2 Biruta de TNT.

A biruta deve ser colocada sobre uma base em um local


aberto, de livre circulação do vento. Para identificação da direção
em que se está circulando o ar, pode-se utilizar uma rosa dos ven-
tos junto à biruta.
© U8 - Observação e Análise do Tempo Atmosférico: Principais Técnicas e Instrumentos 209

Outro instrumento simples de observação do tempo atmos-


férico é o pluviômetro de garrafa PET (politereftalato de etileno).
O pluviômetro é o instrumento utilizado para medir o total
de chuva durante determinado intervalo de tempo em uma região
específica.
Para construir um pluviômetro simples, é preciso utilizar
uma garrafa PET de dois litros, um recipiente graduado em milili-
tros e uma caneta de retroprojetor.
A garrafa PET deverá ser cortada a, aproximadamente, oito
centímetros abaixo do gargalo, de forma que tenhamos duas par-
tes da garrafa, uma que servirá de funil e outra que servirá de co-
letor. A parte da garrafa que armazenará a água da chuva deverá
conter a escala de cinco em cinco mililitros.
Para a construção dessa escala, basta colocar, com o auxílio
do copo graduado, cinco mililitros de água na garrafa, marcando a
escala com a caneta de retroprojetor. Esse procedimento deverá
ser repetido quantas vezes forem necessárias até que o recipiente
esteja inteiramente graduado, conforme a Figura 3.

Figura 3 Pluviômetro de garrafa


PET.

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210 © Climatologia

O pluviômetro deve ser colocado a, aproximadamente, um


metro da superfície, em um local plano e aberto, onde a chuva
possa cair sem obstáculos. Um mililitro de chuva caída por metro
quadrado corresponde a 10,2mL recolhidos na garrafa PET.
Embora existam alguns instrumentos para a observação do
tempo atmosférico que são de fácil construção, há alguns elemen-
tos que exigem a utilização de instrumentos mais sofisticados para
sua medição. Para isso, existem os instrumentos analógicos padro-
nizados e os digitais.
Como exemplos de instrumentos analógicos padronizados,
podemos citar o psicrômetro e o heliógrafo analógicos, que são
instrumentos facilmente encontrados em estações meteorológi-
cas. As principais características desses instrumentos são:
• Heliógrafo: são instrumentos registradores das horas
de brilho solar. Consistem em uma lente esférica que é
ajustada de forma que, na distância focal, há um semia-
nel metálico com um trilho, no qual deve ser inserida a
fita heliográfica. Na presença da radiação solar direta, a
luz que se concentra traça um rastro que queima a fita,
indicando, em uma escala, o número de horas de brilho
solar (Figura 4).
• Psicrômetro: são instrumentos utilizados para avaliação
da quantidade de vapor d'água contido na atmosfera, ou
seja, para medição da umidade relativa do ar. São apare-
lhos constituídos, basicamente, por dois termômetros,
sendo um de bulbo seco e o outro de bulbo úmido, colo-
cados um ao lado do outro (Figura 5).
Veja, nas Figuras 4 e 5, a imagem desses dois aparelhos.
© U8 - Observação e Análise do Tempo Atmosférico: Principais Técnicas e Instrumentos 211

Figura 4 Heliógrafo.

Figura 5 Psicrômetro.

Além dos aparelhos mostrados, há os instrumentos regis-


tradores analógicos com pena e tambor, como o Termohigrógrafo
(Figura 6). Esses instrumentos consistem em um tambor envolvido
por um papel estampado com um diagrama, que gira em torno de
seu eixo a partir do impulso de um cronômetro mecânico à corda
ou eletromecânico. Com a movimentação do tambor, uma pena
metálica conduz a tinta através de um capilar, traçando a curva no
diagrama.

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212 © Climatologia

Figura 6 Termohigrógrafo.

Apesar da eficiência de alguns instrumentos analógicos para


observação do tempo atmosférico, houve, nas últimas décadas,
um grande avanço na observação instrumental dos atributos cli-
máticos, devido ao barateamento e à massificação de tecnologias
digitais.
De acordo com Azevedo (in VENTURI, 2005), os instrumen-
tos digitais utilizados em Climatologia podem ser classificados em
dois tipos: instrumentos digitais portáteis e instrumentos digitais
fixos.
Os instrumentos digitais fixos são aqueles que são normal-
mente instalados, agrupados e conectados a um único sistema de
alimentação e armazenamento de dados, chamado de "Estação
Meteorológica Automática" (EMA).
© U8 - Observação e Análise do Tempo Atmosférico: Principais Técnicas e Instrumentos 213

A EMA é uma estação composta por um conjunto de senso-


res que possibilita a coleta automatizada de dados meteorológi-
cos, segundo um intervalo de tempo estabelecido. Veja a Figura 7.

Figura 7 Exemplo de uma estação meteorológica automática, composta por: termómetro,


higrómetro, anemómetro, cata-vento, pluviômetro e piranômetro.

Os instrumentos digitais portáteis são aqueles que podem


ser transportados com facilidade e não necessitam ser fixados em
um local específico para sua utilização.
O corpo dos medidores digitais portáteis contém, normal-
mente, as baterias, o circuito eletrônico e o visor. Conforme Aze-
vedo (in VENTURI, 2005, p. 144-145):
Em geral, possuem o transdutor [dispositivo que transforma um
tipo de energia em outro] num elemento sensor separado por um

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214 © Climatologia

cabo de um metro. Isto permite que o sensor seja posicionado o


mais longe possível do corpo do observador, com um braço esten-
dido, enquanto com a outra mão o visor é colocado numa posição
adequada para sua leitura. No caso de grandezas em que a radia-
ção solar seja relevante, deve-se atentar para a posição do sensor
em relação ao sol e ao observador [...]. Ao final de uma jornada de
trabalho de campo, o instrumento deve ser testado e limpo imedia-
tamente, as baterias devem ser removidas e sua tensão medida e
anotada. Esta rotina evita que o instrumento seja guardado ligado,
o que ocorre com muita freqüência, sobretudo em trabalhos de
campo longos e/ou que exigem esforço físico.

Atualmente, há, no mercado, inúmeros instrumentos digitais


que medem várias grandezas relacionadas ao tempo atmosférico,
inclusive de forma simultânea. Alguns desses instrumentos podem
medir simultaneamente temperatura, umidade relativa, velocida-
de do vento, como é o caso do termo-anemo-manômetro da Figu-
ra 8.

Figura 8 Termo-anemo-manômetro digital


portátil.

É importante ressaltar que a mais importante de todas as re-


gras para utilização em um campo de instrumentos para medição
dos elementos atmosféricos é "[...] jamais usar um instrumento
© U8 - Observação e Análise do Tempo Atmosférico: Principais Técnicas e Instrumentos 215

sem ter se familiarizado com seus mecanismos, peculiaridades,


funcionamento, limites e uso" (AZEVEDO in VENTURI, 2005, p.
146). Dessa forma, podem ser evitados problemas, dúvidas e per-
da de tempo nas atividades de medição em campo.

6. TEXTO COMPLEMENTAR
Vimos que a observação do tempo atmosférico pode ser re-
alizada de diversas maneiras, partindo da simples observação do
instrumental sensorial próprio do ser humano até a utilização de
instrumentos analógicos ou digitais que nos permitem a medição
de elementos atmosféricos com maior precisão.
A seguir, temos a descrição, conforme o Instituto Nacional
de Meteorologia (INMET), dos principais instrumentos de medi-
ção utilizados em Climatologia. Observe, atentamente, a função
de cada um dos instrumentos listados:
• anemógrafo: registra continuamente a direção (em graus) e a
velocidade instantânea do vento (em m/s), a distância total (em
km) percorrida pelo vento com relação ao instrumento e as ra-
jadas (em m/s);
• anemômetro: mede a velocidade do vento (em m/s) e, em al-
guns tipos, também a direção (em graus);
• barógrafo: registra continuamente a pressão atmosférica em
milímetros de mercúrio (mm Hg) ou em milibares (mb);
• barômetro de mercúrio: mede a pressão atmosférica em colu-
na de milímetros de mercúrio (mm Hg) e em hectopascal (hPa);
• evaporímetro de piche: mede a evaporação em mililitro (mL)
ou em milímetros de água evaporada, a partir de uma superfí-
cie porosa, mantida permanentemente umedecida por água;
• heliógrafo: registra a insolação ou a duração do brilho solar, em
horas e décimos;
• higrógrafo: registra a umidade do ar, em valores relativos, ex-
pressos em porcentagem (%);
• microbarógrafo: registra continuamente a pressão atmosférica
em milímetros de mercúrio (mm Hg) ou em hectopascal (hPa),
em uma escala maior que a do barógrafo, registrando as meno-
res variações de pressão, o que lhe confere maior precisão;

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216 © Climatologia

• piranógrafo: registra continuamente as variações da intensida-


de da radiação solar global em cal.cm².mm¹;
• piranômetro: mede a radiação solar global ou difusa em cal.
cm².mm¹;
• pluviógrafo: registra a quantidade de precipitação pluvial (chu-
va) em milímetros (mm);
• pluviômetro: mede a quantidade de precipitação pluvial (chu-
va) em milímetros (mm);
• psicrômetro: mede a umidade relativa do ar de modo indireto,
em porcentagem (%). Compõe-se de dois termômetros idênti-
cos, um denominado termômetro de bulbo seco e outro com o
bulbo envolvido em gaze ou cadarço de algodão mantido cons-
tantemente molhado, denominado termômetro de bulbo úmi-
do;
• tanque evaporimétrico classe A: mede a evaporação em milí-
metros (mm) em uma superfície livre de água;
• termógrafo: registra a temperatura do ar em graus Celsius (°C);
• termohigrógrafo: registra, simultaneamente, a temperatura
(°C) e a umidade relativa do ar (%);
• termômetros de máxima e mínima: indicam as temperaturas
máxima e mínima do ar (°C) ocorridas no dia;
• termômetros de solo: indicam as temperaturas do solo, a diver-
sas profundidades, em graus Celsius (°C) (INMET, 2012).

7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Tente construir uma biruta de TNT ou de canudinho. Elabore um pequeno
relatório descrevendo sua atividade e os resultados alcançados com essa
experiência.

2) Pesquise e discuta com seus colegas as vantagens e desvantagens da utili-


zação de instrumentos digitais e analógicos para a medição dos elementos
atmosféricos.
© U8 - Observação e Análise do Tempo Atmosférico: Principais Técnicas e Instrumentos 217

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste Caderno de Referência de Conteúdo, você teve a opor-
tunidade de refletir sobre a camada atmosférica que está em con-
tato com o nosso planeta. Como você pôde perceber, essa camada
não é estática, e seus movimentos tem influência direta na vida
dos seres humanos. Por conta disso, é fundamental que você bus-
que sempre entender os fenômenos meteorológicos e as técnicas
envolvidas para a sua análise.

9. E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 2 Biruta de TNT. Disponível em: <http://estgioensinomdio.blog.terra.com.
br/2009/06/>. Acesso em: 25 jun. 2010.
Figura 3 Pluviômetro de garrafa pet. Disponível em: <http://estgioensinomdio.blog.
terra.com.br/2009/06/>. Acesso em: 25 jun. 2010.
Figura 4 Heliógrafo. Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/1/15/Heliografo.jpg>. Acesso em: 22 nov. 2012.
Figura 5 Psicrômetro. Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/
thumb/a/a0/Psicrometro.jpg/164px-Psicrometro.jpg>. Acesso em: 22 nov. 2012.
Figura 6 Termohigrógrafo. Disponível em: <http://www.ineter.gob.ni/Direcciones/
meteorologia/Red%20Meteorologica/termohigrografo.htm>. Acesso em: 25 jun. 2010.
Figura 7 Exemplo de uma estação meteorológica automática, composta por: termómetro,
higrómetro, anemómetro, cata-vento, pluviômetro e piranômetro. Disponível em:
<http://www.esac.pt/estacao/instrumentos.htm>. Acesso em: 20 nov. 2012.
Figura 8 Termo-anemo-manômetro digital portátil. Disponível em: <http://www.
romiotto.com.br/termo-anemometro.htm>. Acesso em: 20 nov. 2012.

Sites pesquisados
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE VELA E MOTOR (CBVM). Disponível em: <http://www.
cbvm.org.br/programa/automatic_site/index.php?id=106&idioma=0>. Acesso em: 20
nov. 2012.
ESCOLA SUPERIOR DE AVIAÇÃO CIVIL (ESAC). Visita virtual à estação agro-meteorológica
da ESCAC. Disponível em: <http://www.esac.pt/estacao/instrumentos.htm>. Acesso em:
20 nov. 2012.
INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA (INMET). Instrumentos Meteorológicos
Disponível em: <http://www.inmet.gov.br/html/informacoes/sobre_meteorologia/
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Claretiano - Centro Universitário


218 © Climatologia

OFICINA DE APRENDIZAGEM. Disponível em: <http://estgioensinomdio.blog.terra.com.


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RO MIOTTO. Disponível em: <http://www.romiotto.com.br/termo-anemometro.htm>.
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10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
1983.
AZEVEDO, T. R. Técnicas de campo e laboratório em Climatologia. In: VENTURI, L. A. B.
(Org). Praticando Geografia – técnicas de campo e laboratório. São Paulo: Oficina de
Textos, 2005.

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