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Amado Timóteo

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Amado

Timóteo
Folha de rosto
Créditos

AMADO TIMÓTEO
Uma Coletânea de Cartas ao Pastor
Traduzido do original em inglês
Dear Timothy – Letters on Pastoral Ministry
Organizado por Thomas K. Ascol
Copyright © 2004 Founders Press

Copyright © 2005 Editora Fiel
eBook – Primeira Edição em Português: 2013
Produção de eBook: S2 Books

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão
Evangélica Literária

Proibida a reprodução deste livro por quaisquer meios, sem a permissão escrita dos
editores, salvo em breves citações, com indicação da fonte.


Presidente: James Richard Denham III
Presidente emérito: James Richard Denham Jr.
Editor: Tiago J. Santos Filho
Tradução: Maurício Fonseca S. Júnior
Caixa Postal 1601 Revisão: Ana Paula Eusébio e Marilene Paschoal
CEP: 12230-971 Capa e Diagramação: Edvânio Silva
São José dos Campos, SP
PABX: (12) 3919-9999 ISBN: 978-85-8132-046-5
www.editorafiel.com.br
Dedicatória

Dedicatória

aos pastores Ernest Reisinger e Bruce


Steward

e aos membros da Grace Baptist


Church, Cape Coral, Flórida
Índice

Índice
Capa
Folha de rosto
Dedicatória
Prefácio
Contribuidores
Capítulo 1 - Estabeleça prioridades (Tom Ascol)
Capítulo 2 - Tem cuidado de ti mesmo (Conrad Mbewe)
Capítulo 3 - Ame sua família (Tedd Tripp)
Capítulo 4 - Ame seu rebanho (Ted Christman)
Capítulo 5 - Memorize as Escrituras (Andy Davis)
Capítulo 6 - Ore sempre (Martin Holdt)
Capítulo 7 - Cultive a humildade (C. J. Mahaney)
Capítulo 8 - Seja corajoso (Bil Ascol)
Capítulo 9 - Faça o trabalho de um Evangelista (Mark Dever)
Capítulo 10 - Faça o trabalho pessoal (Fred Malone)
Capítulo 11 - Tenha cuidado da Doutrina (Raymond Perron)
Capítulo 12 - Continue estudando (Lingon Duncan)
Capítulo 13 - Aprenda com os Puritanos (I) (Joel Beeke)
Capítulo 14 - Aprenda com os Puritanos (II) (Joel Beeke)
Capítulo 15 - Pregue a Palavra (Roger Ellsworth)
Capítulo 16 - Adore em Espírito e em Verdade (Terry Johnson)
Capítulo 17 - Instrua outros homens (Steve Martin)
Capítulo 18 - Tenha interesse pelas nações (Phil Newton)
Capítulo 20 - Não negligencie o avivamento (Ray Ortlund, Jr.)
Capítulo 20 - Encontre um lugar para se fixar (Geoff Thomas)
Prefácio

Prefácio

Eu pensei que fosse uma piada cruel e sem graça. Eu devia estar metido
em algum tipo de conspiração cósmica para destruir toda minha felicidade e
punir cada uma das vezes em que fui rude ou áspero com algum pastor.
Como havia sido criado na igreja, já tinha visto um certo número de pastores
irem e virem em meus breves dezesseis anos. Era fácil para mim julgá-los
injustamente, exagerando seus erros, ignorando seus sacrifícios e imaginando
que de alguma forma eu sempre estaria imune às suas falhas.
Mas lá estava eu, tarde da noite, deitado em minha cama com o terrível
sentimento de que Deus me chamava para ser pastor. Nem sequer havia
terminado o colegial e minha vida já estava arruinada! Ou, pelo menos, assim
eu pensava. Durante os próximos cinco anos, visto que Deus confirmava cada
vez mais este chamado, por meio de sua direção e confirmação da igreja,
encontrei-me num crescente dilema. Aqui estava eu, muito cínico sobre o
ministério pastoral, mas convencido de que Deus dirigia minha vida
exatamente para esta vocação. Passei a procurar oportunidades de emprego
na área de trabalho social, pensando que ao caminhar nesta direção eu
pudesse satisfazer a minha profunda compulsão de ingressar no ministério.
Enquanto considerava a possibilidade de trabalhar com jovens
problemáticos, recebi um convite para pastorear a Rock Prairie Baptist
Church em College Station, no Estado do Texas. Após duas semanas de
grande distúrbio emocional e espiritual, finalmente aceitei o desafio. A data
era 31 de outubro de 1978, e marcou o início de mudanças com relação às
minhas atitudes para com pastores e o ministério pastoral. Não demorou
muito para que eu percebesse o quanto os vinha julgando de forma
pecaminosa. Se aquela igreja tivesse me julgado com a mesma medida, eu
certamente não teria permanecido nem dois meses. No entanto, eles foram
pacientes, amáveis e gentis comigo. Permitiram-me cometer erros conforme
ia crescendo no papel de pastor. Pela graça de Deus, foram muito
longânimos, enquanto suportavam minhas abundantes fraquezas. Por esta
razão, sempre terei um lugar especial em meu coração para aquela
congregação.
Conforme olho para trás e penso nos infortúnios que passei no início de
minha vida pastoral, imagino que muitos deles poderiam ter sido evitados,
caso eu tivesse recebido e atentado a bons conselhos. Embora seja verdade
que todo o direcionamento que um pastor precisa, a fim de estar preparado
para “toda boa obra”, pode ser encontrado nas Escrituras, não podemos negar
o valor de bons conselhos. Deus envia professores à sua igreja, e até mesmo
aqueles que foram chamados para pastorear seu rebanho precisam deles.
Louis McBurney resumiu isto de uma forma maravilhosa no título de seu
livro, datado de 1977, Todo Pastor Precisa de um Pastor.[1]
Pense na influência de Barnabé sobre Paulo. Enquanto todos estavam
céticos (se não amedrontados) com o antigo perseguidor, Barnabé o tomou
sob sua proteção, apresentou-o aos líderes da igreja e o ajudou a começar seu
trabalho no ministério (At 9.26-30; 11.25,26). O homem que se tornaria o
mais notável apóstolo do Senhor foi imensamente abençoado por ter os
conselhos de um experiente ministro, no começo de seu ministério.
Esta foi uma lição que Paulo jamais esqueceu, tanto que ele investiu boa
parte de sua vida em pastores que iriam servir as gerações futuras. Uma parte
significativa deste investimento veio na forma de cartas. As cartas de Paulo
para Timóteo e Tito servem como manuais do ministério pastoral
divinamente inspirados. Ainda que Paulo tenha indubitavelmente se
entregado ao ministério pessoal com aqueles homens, é a preservação destas
cartas a eles que tem servido tão bem à igreja através da História.
Escrever cartas é uma arte que está morrendo em nossos dias. Nesta
época de correio eletrônico e mensagens instantâneas, um número cada vez
menor de pessoas parece ter paciência ou disposição para compor cartas
inteligentes e significativas. No entanto, tais correspondências têm sido uma
bênção aos crentes de cada geração. Deus viu a necessidade de escrever uma
boa parte do Novo Testamento na forma de cartas. Além disso, pense em
quão mais pobre a igreja seria hoje sem as cartas do grande reformador
escocês, Samuel Rutherford, sobre as quais Spurgeon se referiu como “os
pensamentos mais próximos dos livros inspirados que poderiam ser
encontrados dentre todos os escritos de meros homens”.
Após convertido, o antigo traficante de escravos, John Newton, autor de
maravilhosos hinos tais como “Amazing Grace” (A Graça Eterna) e
“Glorious Things of Thee Are Spoken”, tinha como parte importante de seu
ministério o escrever cartas. “É a vontade do Senhor”, ele disse, “que eu
trabalhe muito por meio de cartas”.[2] Mediante a publicação destas cartas,
seu trabalho continua até os dias de hoje.
Então, conquanto a telefonia e a internet tenham mudado
significativamente o modo como nós nos comunicamos atualmente, acredito
que cartas bem escritas ainda podem oferecer encorajamento e conselhos de
uma forma útil e duradoura. O livro que você tem em suas mãos é um esforço
para provar esta crença. Este é um livro de cartas. Elas foram escritas por
experientes e ativos pastores a um outro pastor, jovem e inexperiente.
“Timóteo” é o nosso personagem. Ele tem vinte e seis anos de idade,
formou-se recentemente no seminário e iniciou o ministério em sua primeira
igreja há apenas seis meses. Ele e sua esposa, Mary, estão casados há quatro
anos, têm um filho de dois anos e estão esperando a chegada de mais um, em
breve. Foi pedido que cada pastor lhe oferecesse um conselho, com base em
um relacionamento de longa duração e no interesse sincero de vê-lo tendo um
bom início no ministério.
Os vinte capítulos que se seguem refletem a sabedoria coletiva de mais
de 480 anos de experiência pastoral. Cada contribuidor estava, na época em
que escreveram, servindo uma igreja local. O ministério pastoral é o chamado
deles. Suas contribuições foram feitas acerca de pregação, ensino,
aconselhamento e liderança, áreas concernentes ao trabalho pastoral. Este
fato rende credibilidade ao que eles escreveram.
Conquanto as cartas almejassem especificamente atingir jovens
pastores, o conselho que elas contêm pode se aplicar a ministros de todas as
idades e, na maioria dos capítulos, a qualquer cristão comprometido com a
Palavra. Os temas tratados não foram pautados por diferenças
denominacionais, e os contribuidores vieram de uma variada linha cultural e
confessional. Minha oração é para que os ministros cristãos, mediante a
leitura deste livro, sejam encorajados a aumentar a sua fidelidade.
Ken Puls e Barb Reisinger têm estado envolvidos na organização e
administração dos detalhes para esta publicação. A paciência, sugestões e
profissionalismo deles tornaram o livro muito melhor do que poderia ter sido
sem todos estes pormenores. Amy Arens, que agora é a esposa de seu próprio
pastor, Jason, pediu-me para contribuir em uma coleção de cartas de
encorajamento que ela lhe presenteou no dia de seu casamento, cinco anos
atrás, quando ele ainda era um seminarista. Aquilo plantou em mim a
semente para elaborar um livro com estas características. Como sempre,
minha maravilhosa esposa, Donna, me encorajou de incontáveis formas
durante o longo processo de transformar a idéia neste material impresso.
Durante os últimos dezoito anos tem sido minha alegria e privilégio
servir algumas das mais longânimes e graciosas pessoas na face da terra, na
Grace Baptist Church (Igreja Batista da Graça). O amor deles por mim fez
crescer meu próprio amor por outros pastores. Hoje, posso dizer que minhas
atitudes são exatamente o oposto daquelas que eu fomentava vinte e cinco
anos atrás. Fico maravilhado só de pensar que Deus me deu o privilégio de
servir uma igreja local como pastor. Aqueles pastores que serviram sua
geração e concluíram bem a sua obra são os meus heróis. Aqueles que com
tanta alegria perseveram na obra são os meus exemplos e me encorajam a
fazer o mesmo. E aqueles que estão apenas começando no ministério mantêm
acesa minha esperança para o futuro.
John Newton chamou o trabalho ministerial de “tristeza cheia de
alegrias”. Descobri muita verdade nestas palavras. Às vezes, os sofrimentos
são exacerbados pelo sentimento de solidão que geralmente acompanha um
pastor. Muitos pastores não têm um Paulo ou um Barnabé para apoiá-los nas
horas difíceis ou para ajudá-los a terem uma nova visão das alegrias do
ministério. Espero que este livro possa sinalizar aos rebanhos espirituais a
direção dos caminhos da alegria pastoral.
Deus colocou na congregação da Grace Baptist Church dois pastores
aposentados que têm sido uma fonte de bênçãos para mim em incontáveis
ocasiões. Seus conselhos, encorajamento e apoio têm me fortalecido em
muitas temporadas de imensas dificuldades. Para Ernie Reisinger e Bruce
Steward, e a todos os membros de nossa igreja, este livro é carinhosamente
dedicado.

Tom Ascol
Grace Baptist Church
Cape Coral, Florida
Reformation Day, 2003
Contribuidores
Contribuidores

ANDY DAVIS

Dr. Andy Davis tem servido como pastor da First Baptist Church,
Durham, Carolina do Norte, desde 1988. Nasceu em Boston, Massachusetts e
é doutor (PhD) em História da Igreja pelo The Southern Baptist Theological
Seminary (1998), e diplomado (MDiv) pelo Gordon-Conwell Theological
Seminary (1990) e (BSME) pelo M.I.T. (1984). Ele e sua esposa serviram
como fundadores de igreja em Tokushima, Japão, por dois anos (1993-1995)
com o International Mission Board. Antes disso, foi pastor da pequena
Southern Baptist Church em Topsfield, Massachusetts. Dr. Andy e sua
esposa, Christine, estão casados há quinze anos e têm quatro filhos.

BILL ASCOL

Bill Ascol está no ministério pastoral há vinte e cinco anos, em três


diferentes igrejas na Louisiana. É o pastor fundador da Heritage Baptist
Church em Shreveport, Louisiana, na qual vem servindo nos últimos onze
anos. Recebeu um diploma (BA) da Lamar University e outro diploma
(MDiv) do South-western Baptist Theological Seminary. Ele serve como
membro do Conselho Executivo da Louisiana Baptist Convention, e como
editor da Louisiana Inerrancy Fellowship LIFeLine. Também é o
coordenador da Southern Baptist Founders Youth Conference. Bill e sua
esposa, Karen, estão casados há vinte e nove anos e têm cinco filhos.

C. J. MAHANEY

C. J. Mahaney serve como pastor na Covenant Life Church em


Gaithersburg, Maryland. É um dos pastores fundadores e tem servido a igreja
desde sua organização em 1977. Também está na liderança do Sovereign
Grace Ministries, uma crescente família de cinqüenta e sete igrejas locais em
seis países. Além disso, ele serve no conselho do Christian Counseling and
Educational Foundation e no Council on Biblical Manhood and Womanhood.
É o autor do livro The Cross-Centered Life e contribuiu com dois volumes
publicados pela Crossway Books. Ele também editou e foi co-autor de quatro
livros da série Pursuit of Godliness, publicados pela Sovereign Grace
Ministries, que são: Why Small Groups?, This Great Salvation, How Can I
Change?, e Disciplines for Life. C. J. e sua esposa, Carolyn, têm dois filhos.

CONRAD MBEWE

Conrad Mbewe tem servido como pastor da Kabwata Baptist Church em


Lusaka, Zâmbia, desde 1987. Formou-se (BS) em engenharia de mineração
em 1984 pela University of Zâmbia. Também é um colunista do National
Mirror (um semanário nacional), escrevendo dois artigos por semana, desde
1992. Além disso, é o editor associado do Reformation Africa South, um
jornal teológico na África do Sul. Conrad é casado com Felistas e tem dois
filhos, uma filha biológica e uma adotiva. Foi preletor na 14ª Conferência
Fiel para Pastores e Líderes, no Brasil, em 1998.

FRED MALONE

Dr. Fred Malone está no ministério pastoral por quase trinta anos. Tem
servido como supervisor educacional de campo em três seminários e tem sido
o mentor de muitos seminaristas. Possui MDiv no Reformed Theological
Seminary, em Jackson, Mississipi (1974) e PhD no Novo Testamento pelo
Southwestern Baptist Theological Seminary (1989). Foi o pastor fundador da
Heritage Baptist Church em Ft. Worth, Texas (1981-92), e tem servido na
First Baptist Church, de Clinton, Louisiana, por mais de dez anos (1993 até
hoje). Ele é o autor de A String of Pearls Unstrung, The Baptism of Disciples
Alone, e também de muitos artigos. Atualmente serve como membro
fundador do conselho do Founders Ministries e curador do Southern Baptist
Teological Seminary e do Louisiana College. Também serve no Theological
Committee of the Association of Reformed Baptist Churches in America.
Fred e sua esposa, Debbie, são casados há trinta e seis anos e têm três filhos.

GEOFF THOMAS

Geoff Thomas é pastor da Alfred Place Baptist Church em Aberystwyth,


País de Gales, desde 1965. Formou-se (BA) pela Cardiff University, no País
de Gales, em 1961 e é diplomado (MDiv) pelo Westminster Seminary (1964).
Geoff é um famoso preletor de conferências e o autor de Ernest C. Reisinger,
A Biography (Banner of Truth) entre outros livros. Serviu como editor
associado do Evangelical Times por dez anos. Também é editor associado da
revista Banner of Truth, além de ser responsável pelo site da Banner of Truth.
Geoff e sua esposa, Iola, têm três filhas. Foi preletor nas 3ª e 13ª
Conferências Fiel para Pastores e Líderes, no Brasil, em 1987 e 1997.

JOEL BEEKE

Dr. Joel Beeke é presidente e professor do Systematic Theology and


Homiletics of Puritan Reformed Theological Seminary. Também é o pastor
da Heritage Netherlands Reformed Congregation em Grand Rapids,
Michigan, onde já tem servido por dezessete dos seus vinte e seis anos de
ministério pastoral. Dr. Joel também é editor da Banner of Sovereign Grace
Truth, presidente da Reformation Heritage Books e Inheritance Publishers e
vice-presidente da Dutch Reformed Translation Society. Já escreveu ou
editou mais de cinqüenta livros e tem contribuído com mais de 1500 artigos
para livros, jornais, periódicos e enciclopédias. Possui PhD em Teologia da
Reforma e Pós-Reforma pelo Westminster Theological Seminary. É
freqüentemente chamado para dar aulas em seminários e para falar em
conferências ao redor do mundo. Dr. Joel e sua esposa, Mary, tem sido
abençoados com três filhos.

LIGON DUNCAN

Dr. Ligon Duncan III foi nomeado pastor da histórica First Presbyterian
Church (1837), Jackson, Mississipi, em agosto de 1996. Ele é natural de
Greenville, Carolina do Sul, nasceu e foi criado num lar cristão. Formou-se
na Furman University, Greenville, South Carolina (BA); no Convenant
Theological Seminary, St. Louis, Missouri (MDiv, MA); e na University of
Edinburgh, Escócia (PhD). Ligon tem trabalhado no ministério do evangelho
por dezoito anos, e é o sexto pastor da First Presbyterian Church desde 1896.
Também é Professor Adjunto de Teologia no Reformed Theological
Seminary, onde serviu como presidente do Departamento de Teologia
Sistemática e dirigente da cátedra denominada Professor John R. Richardson.
Dr. Duncan serve também como membro do conselho da Alliance of
Confessing Evangelicals, presidente do Council on Biblical Manhood and
Womanhood, e é o diretor editorial da Reformed Academic Press. Ele e sua
esposa, Anne, têm dois filhos.

MARK DEVER

Dr. Mark Dever tem sido o pastor da Capitol Hill Baptist Church, em
Washington, DC, por nove anos. É natural do Kentucky e estudou na Duke
University, Gordon-Conwell Theological Seminary, The Southern Baptist
Theological Seminary e na University of Cambridge. É casado e tem dois
filhos. De 1995 até 2001 serviu no conselho do Founders Ministries.
Atualmente serve no conselho do Southern Baptist Theological Seminary e
também na Alliance of Confessing Evangelicals. É o autor de muitos livros e
artigos, incluindo Nine Marks of a Healthy Church. Dr. Mark serve como
fundador e conselheiro no IX Marks Ministries, um ministério para encorajar
o crescimento saudável das igrejas locais. Foi preletor na 12ª Conferência
Fiel para Pastores e Líderes, no Brasil, em 1996.

MARTIN HOLDT

Martin Holdt serve no ministério há trinta e sete anos, sete dos quais
envolvido na fundação de novas igrejas. Ele é o pastor da Constantia Park
Baptist Church, Pretoria, África do Sul, e apresenta um programa semanal de
rádio chamado “Truth for Today”. Também é o editor adjunto da
Reformation Africa South.

PHIL NEWTON

Dr. Phil Newton serve como pastor da South Woods Baptist Church em
Memphis, Tennessee, desde 1987, quando iniciou a igreja. Já está no
ministério pastoral por vinte e seis anos, tendo servido em igrejas no
Mississipi e no Alabama. É diplomado (BA) pela Mobile College (hoje,
University of Mobile), MDiv pela New Orleans Baptist Theological
Seminary, e DMin pelo Fuller Theological Seminary. É o autor do The Way
of Faith e contribuiu com os livros Reforming Pastoral Ministry (John
Armstrong, ed.), Reclaiming the Gospel and Reforming Churches (Tom
Ascol, ed.), além de muitos periódicos. Atualmente está trabalhando num
livro sobre presbíteros e liderança na igreja. Freqüentemente lidera viagens
missionárias internacionais, e também ensina missões no Crichton College
em Memphis. Ele e sua esposa, Karen, são casados por vinte e oito anos e
têm cinco filhos.

RAYMOND PERRON

Dr. Raymond Perron serve no ministério pastoral há vinte e seis anos.


Nasceu na Província de Quebec, Canadá. É diplomado (MDiv) pelo Toronto
Baptist Seminary e (PhD) em Teologia pela University Laval. Dr. Raymond
atualmente é missionário pela Association of Reformed Baptist Churches of
America. Iniciou uma igreja (Église réformée baptiste de la Capitale) em
Quebec City, em 1988, onde ainda é pastor. Também está trabalhando em um
outro projeto de fundação de igrejas em Montreal (Église Réformée Baptiste
de Montréal). Ele e sua esposa, Diane, são casados há vinte e três anos e têm
um filho.

RAY ORTLUND, JR.

Dr. Ray Ortlund, Jr. está no ministério pastoral há quinze anos. Durante
os últimos cinco anos tem servido como pastor da First Presbyterian Church,
em Augusta, Geórgia. Tem diplomas pelo Wheaton College, pelo Dallas
Theological Seminary, pela University of California e pela Aberdeen
University na Escócia. Durante seu ministério pastoral já serviu em três
igrejas. Também ensina no Trinity Evangelical Divinity School, em
Deerfield, Illinois. É autor de muitos livros, incluindo When God Comes to
Church, Let the Church Be the Church, e A Passion for God. Dr. Ray e sua
esposa, Anne, têm quatro filhos.

ROGER ELLSWORTH
Roger Ellsworth tem servido no ministério pastoral por trinta e oito
anos, quinze dos quais em seu pastorado atual, na Immanuel Baptist Church,
em Benton, Illinois. Também é o autor de vinte livros, incluindo The
Shepherd King, A Promise is a Promise, Be Patient, God Hasn’t Finished
with Me Yet, e The Guide to the Bible Book by Book. Roger e sua esposa,
Sylvia, têm dois filhos. Foi preletor na 15ª Conferência Fiel para Pastores e
Líderes, no Brasil, em 1999.

STEVE MARTIN

Steve Martin está no ministério pastoral desde 1970. Ele é o pastor


fundador da Heritage Church, em Fayetteville, Geórgia, onde tem servido nos
últimos quinze anos. Ele é diplomado (BA) pela Wabash College, em
Indiana, e (MA) pela Trinity Evangelical Divinity School. Serve como
presidente da Reformed Baptist Foreign Missions Committee of the
Association of Reformed Baptist Churches of America. Steve e sua esposa,
Cindy, são casados há trinta e um anos e têm dois filhos.

TED CHRISTMAN

Ted Christman é o pastor fundador da Heritage Baptist Church em


Owensboro, Kentucky, onde tem alegre e proveitosamente trabalhado desde
1973. Ted é formado (BA) pela Bob Jones University, e (MDiv) pelo Grand
Rapids Theological Seminary, e faz pós-graduação no Westminster
Theological Seminary na Filadélfia, Pensilvânia. É o autor de Forbid Them
Not: Rethinking the Baptism and Church Membership of Young People e
também de Daily Bible Reading Schedule, usado por cristãos em toda parte
dos Estados Unidos e também ao redor do mundo. Ele e sua esposa, Dianne,
têm dois filhos, também devotados ao Salvador.

TEDD TRIPP

Dr. Tedd Tripp é o pastor da Grace Fellowship Church, em Hazleton,


Pensilvânia, onde vem servindo como presbítero desde 1976 e como pastor
desde 1983. Dr. Tedd é graduado pelo Geneva College (BA em História),
pelo Philadelphia Theological Seminary (MDiv) e pelo Westminster
Theological Seminary (DMin) com ênfase em Aconselhamento Pastoral. Em
1979, ele e sua esposa fundaram a Immanuel Christian School onde Dr. Tedd
serviu como professor e administrador. Ambos ainda servem no conselho da
escola. Ele é o autor do famoso livro sobre a criação de filhos, Pastoreando o
Coração da Criança (Editora Fiel, São José dos Campos, SP). Durante os
últimos oito anos manteve um extenso ministério como preletor de
conferências e apresentador de seminários no tema “Pastoreando o Coração
da Criança”. Seus livros e outros materiais audiovisuais são usados por todo o
mundo. Dr. Tedd e sua esposa, Margy, são casados há trinta e cinco anos e
têm três filhos. Foi preletor na 10ª Conferência Fiel para Pastores e Líderes,
no Brasil, em 1994.

TERRY JOHNSON

Terry Johnson está servindo no ministério pastoral por vinte e um anos.


Desde 1987 tem servido como pastor da histórica Independent Presbyterian
Church, em Savannah, Geórgia. Se formou na University of Southern
Califórnia (AB em História). Fez seus estudos teológicos no Trinity College,
em Bristol, Inglaterra, onde estudou sob a orientação do Dr. J. I. Packer, e
também no Gordon-Conwell Theological Seminary, em South Hamilton,
Massachusetts, onde serviu como assistente do Dr. David Wells. Terry
Johnson é o editor e compilador do Trinity Psalter além de ter publicado os
livros Leading in Worship, The Pastor’s Public Ministry, The Family
Worship Book, When Grace Comes Home, Reformed Worship: Worship that
Is According to Scripture, When Grace Transforms: The Character of
Christ’s Disciples Envisioned in the Beatitudes, e When Grace Comes Alive:
The Lord’s Prayer Today. Terry e sua esposa, Emily, têm cinco filhos.

TOM ASCOL

Dr. Tom Ascol é o diretor executivo do Founders Ministries e editor do


Founders Jornal. É o autor de From the Protestant Reformation to the
Southern Baptist Convention: What Hath Geneva to do with Nashville? Ele
também contribuiu com alguns artigos para livros e jornais. Dr. Tom tem
vinte e cinco anos de experiência no ministério pastoral e tem servido como
pastor na Grace Baptist Church em Cape Coral, Flórida, durante os últimos
dezoito anos. Recebeu um diploma (BS) da Texas A&M University e dois
diplomas (MDiv e PhD) do Southwestern Baptist Theological Seminary. Dr.
Tom e sua esposa, Donna, estão casados há vinte e quatro anos e têm seis
filhos. Foi preletor nas 6ª e 12ª Conferências Fiel para Pastores e Líderes, no
Brasil, em 1990 e 1996.
Capítulo 1 - Estabeleça prioridades (Tom Ascol)

Capítulo 1

Estabeleça prioridades
Tom Ascol

Amado Timóteo,
Donna e eu estamos muito contentes por você e Mary terem se
estabelecido em seu novo ministério. É uma tremenda responsabilidade e
privilégio cuidar das almas do povo de Deus. Após vinte e cinco anos neste
ministério, ainda estremeço só de pensar na grandeza desta tarefa. Espero que
você não ache presunção minha lhe oferecer os conselhos de um “veterano”,
de pastor para pastor.
Um dos maiores desafios que encontrei em minha vida pastoral é manter
um equilíbrio adequado em minhas prioridades. Todo pastor precisa
desempenhar vários papéis, a fim de permanecer fiel a sua chamada. Você
deve ser um estudioso da Palavra de Deus e um homem de oração. Deve
liderar a sua igreja, trabalhar muito para pregar e ensinar a Palavra, de modo
que suas ovelhas estejam continuamente sendo transformadas na imagem de
Cristo, pela Palavra. Deve fazer o trabalho de um evangelista, e dedicar-se ao
trabalho pessoal com os membros individualmente. Tudo isto e muito mais
está incluído na obra de servir a Cristo como um pastor de almas.
Entretanto, todo pastor é muito mais que apenas um pastor. Ele é em
primeiro lugar, e principalmente, um discípulo. Normalmente, também é
esposo e, provavelmente, pai. Além disso, também pode assumir outras
tarefas relacionadas ao seu ministério. De que maneira todos esses
importantes papéis poderão ser completamente desempenhados sem que o
melhor seja sacrificado no altar daquilo que é bom? Na melhor das hipóteses,
é um imenso desafio.
Sempre pergunto às pessoas que aconselho: “Em ordem de prioridades,
para o que Deus chamou você?” É uma pergunta bastante esclarecedora,
porque conduz a pessoa a avaliar sua vida com base naquilo que é mais
importante. De tempos em tempos, faço esta pergunta a mim mesmo e vejo
que isto me ajuda a lutar por equilíbrio em minha maneira de viver. Eu lhe
encorajaria a parar e fazer aquela pergunta a você mesmo, e tornar isto uma
prática em seu ministério.

UM CRISTÃO
Para o que Deus me chamou? Primeiramente, Ele me chamou para ser
um sincero e dedicado seguidor de Jesus Cristo. Esta é uma verdade tão
básica que é fácil a tomarmos como garantida e esquecermos dela. Um dos
grandes perigos do ministério é o profissionalismo. Como você logo irá
descobrir, um pastor pode se tornar competente na realização do seu trabalho.
Assim como nas demais profissões, certas habilidades podem ser
desenvolvidas e aprimoradas no ministério do evangelho. Um pastor pode se
tornar tão proficiente em seu ministério público, que os outros o considerarão
alguém de muito sucesso.
Mas quando a mentalidade do “profissionalismo” conquista um pastor,
seu coração irá inevitavelmente começar a ser negligenciado. E o coração é a
ferramenta fundamental de qualquer pastor. Se você não está amando a Deus
com todo o seu coração, porque tem negligenciado as responsabilidades
básicas de um discípulo, não importa o quanto de “sucesso” profissional você
possa ter aparentemente. Na verdade, seu suposto sucesso será apenas uma
grande farsa.
Spurgeon nos conta de um pastor que “pregava tão bem e vivia tão mal,
que uma vez no púlpito, todos diziam que dali ele nunca deveria sair, mas
quando saía falavam que, para lá, ele nunca deveria voltar”.[3] Tal divisão da
vida pode ser aceitável em outras profissões, mas é inconciliável com o
cristianismo e, muito menos, com a fidelidade no ministério pastoral.
Muitos bons homens têm fracassado justamente em coisas tão básicas.
Na verdade, a grande galeria de pastores que caíram é um triste lembrete da
necessidade absoluta de fazer de nosso discipulado diário uma prioridade
máxima. Alguns dos momentos emocionalmente mais difíceis em meu
ministério foram feitos de notícias que chegavam dando conta de que um
outro irmão havia se desqualificado para o ministério pastoral por ter causado
sua própria ruína moral. Você ainda é jovem no ministério, mas não se
engane, estas notícias logo chegarão à sua porta. Homens que você conhece,
ou de quem já ouviu falar, cujos dons e virtudes julga serem muito superiores
aos seus próprios, serão pegos em pecados escandalosos.
Como isto acontece? Esteja certo de que não ocorre assim de repente.
Este tipo de pecado sempre tem uma história. E bem na raiz daquela história
está a negligência das disciplinas espirituais. Como disse “Cristão”, no livro
de Bunyan, um dos primeiros passos rumo à apostasia ocorre quando o
apóstata “vai abandonando gradualmente suas responsabilidades pessoais,
como Oração Particular, Vigilância, Tristeza pelo Pecado, o controle da
Lascívia, e outros”.[4]
Então, meu amado irmão, guarde seu coração. Vá à Palavra de Deus,
primeiro e principalmente como um crente. Lembre-se que antes de ser um
pastor, você é uma ovelha. Como um pastor, você precisa exatamente das
mesmas coisas que recomenda aos outros. Siga a sabedoria de Robert Murray
M’Cheyne, que disse: “Não são os grandes talentos que Deus abençoa, mas a
grande semelhança com Cristo. Um pastor que vive em santidade é uma arma
poderosa nas mãos de Deus”.[5]
Paulo disse aos anciãos efésios: “Atendei por vós”. Quando ele repetiu
esta admoestação a Timóteo, acrescentou que fazer isto é um ingrediente
essencial para salvar “tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (At 20.28, 1
Tm 4.16). Um pastor deve ter como prioridade a leitura, meditação e
memorização das Escrituras — para o bem de sua própria alma. Nós também
devemos orar pelo fruto do Espírito em nossas vidas. Qualquer coisa menos
do que isso, será uma prática espiritual incorreta.

UM ESPOSO
Após ser um cristão, Deus também chamou a mim (e a você) para ser
um esposo. Como você, fui abençoado com uma fiel e piedosa esposa. Minha
esposa, Donna, e eu tomamos nossos votos matrimoniais com muita
seriedade, o que significa que ela está acima de todos os outros para mim.
Depois de Jesus Cristo, ela é a minha maior prioridade.
A responsabilidade de um esposo é impressionante. Jesus Cristo, em seu
relacionamento com a igreja, tem de ser nosso modelo. Ser o cabeça do lar é
um grande desafio. Uma esposa cristã tanto deseja quanto precisa de uma
liderança espiritual de seu esposo. O chamado para ser um bom esposo inclui
prover tal liderança. Quanto à maneira de o homem se relacionar com sua
esposa, Cristo o chama a lutar contra a passividade autoprotetora e o
autoritarismo egoísta, pecados opostos mas igualmente mortais. Um esposo
passivo irá frustrar uma esposa que deseja ser liderada e pode inclusive
induzi-la a se tornar uma mulher dominadora. Um marido autoritário, por sua
vez, intimida sua esposa e pode muito bem sufocar o desenvolvimento de
seus dons espirituais.
Em Efésios 5, Paulo deixa claro que Jesus Cristo é o modelo, em nossas
atitudes como marido. Seu amor, sacrifício e cuidado por sua noiva devem
ser o padrão pelo qual você se relacionará com Mary. Ela precisa sentir-se
segura de seu amor. Ela precisa saber que é mais importante para você que
sua reputação ou o exercício de seus dons.
Uma esposa de pastor pode ter o papel mais difícil a desempenhar em
toda a igreja. Charles Spurgeon percebeu isto com sua perspicácia e ternura
características, dois anos antes de sua morte. Falando em um casamento, ele
disse:
Se eu fosse uma jovem, e estivesse pensando em casar-me, certamente não me
casaria com um ministro da Palavra, porque a posição de esposa de ministro é muito
difícil para qualquer mulher. As igrejas não pagam dois salários aos pastores casados,
um para o marido e outro para sua esposa; mas, em muitos casos, também procuram
pelos serviços da esposa, quer estejam pagando por isso ou não. Também é esperado que
a esposa de um pastor saiba tudo sobre a igreja, e, olhando por um outro prisma, não é
obrigação dela saber; no entanto, para algumas pessoas, ela é sempre culpada, tanto por
saber tudo ou por nada saber a respeito da igreja. Suas obrigações resumem-se a estar
sempre em casa para atender a seu marido e sua família, e estar sempre fora de casa,
visitando os membros da igreja, ou fazendo toda sorte de coisas por eles! Bem, é claro
que isto é impossível; ela não pode estar à disposição de todos, e nem espera-se que ela
agrade a todos. Seu marido não conseguiria fazer isto, e eu penso que ele seria um
grande tolo, caso o tentasse; também estou convencido de que, se o marido não pode
agradar a todos, muito menos o pode sua esposa. Certamente sempre haverá alguém
descontente, especialmente se este alguém tinha esperanças de se tornar esposa de
pastor. Dificuldades surgem continuamente até mesmo nas melhores igrejas; e, como
disse antes, a posição da esposa do pastor é sempre muito difícil. No entanto, penso que
se eu fosse uma jovem cristã, me casaria com um pastor cristão, caso eu conseguisse,
porque existiria aí uma oportunidade de se realizar tantas boas obras, ao auxiliá-lo em
seu serviço para Cristo. É uma grande ajuda para a causa de Deus manter o pastor em
boas condições para seu trabalho. É função da esposa cuidar para que ele não esteja
desconfortável em casa, a fim de que tudo lá esteja bem e livre de preocupações, e ele
possa dar o seu máximo na preparação da pregação. A mulher cristã que desta forma
ajuda seu marido a pregar melhor, é ela mesma uma pregadora da Palavra, ainda que
nunca fale em público, tornando-se então extremamente útil para a igreja de Cristo,
comprometida com o trabalho de seu marido.[6]

A esposa de um pastor vê todas as suas falhas e defeitos e ainda assim


deve receber a instrução da Palavra de Deus através dele, semana após
semana. Ela vive em uma vitrine. Expectativas irreais por parte da
congregação podem muitas vezes causar grande estresse à vida da esposa do
pastor. Comentários imprudentes, feitos com ou sem intenção de ofender,
podem magoá-la profundamente. E se, além destas e outras pressões, ela
sentir que seu esposo está sendo negligente com ela, o fardo pode se tornar
insuportável. Como esposo, é minha responsabilidade e privilégio assegurar
minha esposa de que ela é mais importante para mim do que qualquer outro
dos meus relacionamentos. Fui chamado para cuidar e tratar dela com
carinho; para ajudá-la a cumprir seu próprio chamado como uma mulher de
Deus.
Minha esposa precisa da segurança de que ela é mais importante para
mim do que meus ministérios na igreja. Quando esta mensagem é clara e
regularmente comunicada a ela, então as temporadas inevitáveis de maiores
demandas da igreja são mais facilmente transpostas.

UM PAI
A paternidade foi a terceira coisa para a qual Deus me fez. Donna e eu
temos seis filhos. Portanto, adquiri muita experiência na prática da
paternidade. Se as esposas de pastores estão constantemente sendo
observadas, muito mais os filhos deles se tornam passíveis de críticas. Com
freqüência, eles são sacrificados “por amor ao ministério”. Quando eu era um
jovem pastor, lembro-me de estar sentado em meu escritório, enquanto ouvia
um pastor aposentado cujo ministério bem-sucedido era aclamado por todos.
Ele me falou sobre muitas coisas maravilhosas que havia experimentado nas
igrejas em que servira ao Senhor. Finalmente, ele acrescentou: “Eu paguei
um preço elevado por meu ministério. Meus filhos não aprenderam o que
deveriam ter aprendido de seu pai, e hoje eles abandonaram o Senhor e a
igreja”.
Enquanto ele chorava, eu pensava em suas palavras. Naquela época,
meu único filho era ainda uma criança que estava aprendendo a andar. A
atração de necessidades que nunca se acabam e de oportunidades para
ministrar estava me tentando a negligenciar minha família por amor ao “meu
ministério”. Deus, porém, me fez lembrar que, em termos de prioridade, Ele
me chama para ser pai, antes de me chamar para ser um pastor. Meus filhos
precisam saber que, juntamente com minha esposa, são as pessoas mais
importantes de minha vida. Minha igreja também precisa saber disso.
Um pastor pode negligenciar seus filhos facilmente, ainda que sem
intenção e motivado por um conceito errôneo de que ele tem de estar sempre
pronto para ministrar a outras pessoas. Mesmo nos melhores momentos,
haverá algumas interrupções na vida familiar de um pastor. A sua chamada
envolve as 24 horas diárias. Se acontecer a morte ou um acidente trágico com
um dos membros da igreja, antes do pastor sair para levar seu filho a uma
pescaria, seus planos têm de ser necessariamente mudados. Ele deve estar
pronto para esperar tais exigências.
Por causa disso, todo pastor, que é pai, sempre enfrentará duas
tentações. A primeira tentação é a de esperar que seus filhos simplesmente
entendam as mudanças dos planos, da mesma maneira como seu pai a
entende. Um pastor sabe que, às vezes, é necessário interromper certos
planos, a fim de ministrar o evangelho a pessoas entristecidas. No entanto,
dependendo da idade, tudo o que seu filho compreende é que ele não pôde ir
pescar, porque outra pessoa necessitava e recebeu o tempo e a atenção de seu
pai. Timóteo, quando este tipo de situação surge, converse com seu filho,
mostre que você entende os sentimentos dele e procure compensá-lo de forma
razoável, intencional e em tempo oportuno.
A outra tentação é a de tornar-se tão dominado pelo sentimento de
culpa, por ter mudado os planos, que o pastor chega a permitir que seu filho o
manipule, levando a ações e decisões que, de outro modo, ele não seguiria
propositadamente. Exercer a paternidade motivado por sentimento de culpa
se tornou muito comum em nossa cultura, e infelizmente os pastores não
estão imunes a isso. Mas, devo confessar, é particularmente desestimulante
quando um pastor lida com seus filhos desta maneira. Os pastores têm de
separar, em sua agenda, tempo para os filhos e cumpri-lo rigorosamente.
Quando os planos que afetam nossos filhos tiverem de ser mudados, por
causa de emergências do pastorado, seja cuidadoso em compensá-los por
isso.

UM PASTOR
A quarta coisa à qual Deus me chamou foi para ser um pastor. Esta é a
minha chamada vocacional e ocupa a maior parte do meu tempo.
Constantemente, eu me admiro do fato de que Deus me deu o privilégio de
servi-Lo desta maneira. O ministério pastoral é a chamada vocacional mais
sublime do mundo. Minhas responsabilidades pastorais têm precedência
sobre quaisquer atividades que envolvam recreação ou não façam parte do
ministério. Tudo o que está envolvido no pastorear o rebanho de Deus (e a
Bíblia o descreve de maneira bastante compreensiva) constitui o meu dever.
Neste ministério, a minha tarefa mais importante é trabalhar fielmente na
pregação da Palavra e na oração. Todavia, essas duas atividades não devem
ser realizadas simplesmente em um nível de profissionalismo. Pelo contrário,
elas devem ser praticadas em meio à minha busca por santidade.
Existe uma solidão inevitável que acompanha o pastorado. A maior
parte do trabalho no ministério pastoral pode ser feita somente quando um
homem está sozinho com seu Deus. Sem esse período de intimidade com
Deus, o tempo gasto com as pessoas não terá muito valor. Em nossos dias,
existem milhares de “recursos” disponíveis aos pastores, para desviá-los da
árdua tarefa de estudar as Escrituras e orar. Sermões “poderosos” e
programas “garantidos” são constantemente oferecidos aos pastores com
intrépida fanfarrice. Um homem com um pouco de esperteza, com pouca
integridade e muitos recursos financeiros pode se manter bem suprido com
uma fonte inesgotável de tais recursos. Mas ele nega a sua chamada por viver
à custa do trabalho de outros, ao invés de fazer a obra de seu próprio
ministério.

UM AUXILIADOR
Além dessas quatro chamadas, em minha vida, também estou envolvido
em ajudar com outros esforços proveitosos. Meu trabalho no Founders
Ministries (editando a revista Founders Journal, publicando livros, etc.) e
meu envolvimento na associação de pastores de minha cidade são
importantes. Você provavelmente ainda não teve tempo para se envolver com
a associação de pastores de sua cidade. Espero que não negligencie isto. A
participação na associação de pastores não somente lhe será benéfica (ainda
que você não esteja muito interessado em alguns dos programas e planos
promovidos), como também vai ajudá-lo a reconhecer que Deus o capacitou
de formas que podem ser uma grande bênção na vida de outros pastores. Por
exemplo, Timóteo, aproveite-se do fato de Deus lhe ter dado tanto o desejo
quanto a possibilidade de comprar bons livros. Você pode ser uma grande
bênção para outros pastores (e suas congregações) simplesmente ao
aproveitar as oportunidades de recomendar bons livros. Não imagine que
todos estão familiarizados com os ótimos comentários, biografias
inspiradoras e bons textos teológicos como você está. Sem ser intrometido,
tente encorajar os outros a ler bons livros.
Não tenha dúvidas de que no tempo certo outras oportunidades para
ministérios mais abrangentes irão aparecer em sua vida. Espero que você
esteja aberto a estas oportunidades, e as veja como formas pelas quais pode
ser útil para o trabalho mais amplo do Reino. Mas, em termos de prioridade,
todas essas coisas ficam em um nível inferior às quatro coisas que já
mencionei. Procuro guardar isso em minha mente, a fim de poupar-me de
muitas dores e confusão.

MANTENDO O EQUILÍBRIO
Como essas prioridades funcionam? Bem, aqueles que me conhecem
sabem que não pratico sempre aquilo que escrevo. Embora meu desejo e
intenção sejam nunca me desviar dessas prioridades, muitas vezes já tive de
corrigir minhas atitudes no transcorrer dos anos. Entretanto, esse é o valor de
ter as prioridades definidas com clareza. Elas nos fornecem um mapa
confiável para fazermos os devidos ajustes. Cada prioridade se fundamenta
sobre a que a precedeu. Isto é, apenas quando sou fiel às prioridades
principais, posso trabalhar honestamente as seguintes, que têm importância
secundária. Quero ser fiel em meu trabalho no Founders Ministries. Mas eu
não o poderei ser, se realizar aquele ministério à custa de minhas
responsabilidades pastorais na Igreja Batista da Graça. Se o meu
envolvimento com o Founders Ministries ou qualquer outro ministério mais
abrangente estiver me impedindo de ser um fiel pastor na igreja que eu sirvo,
então precisarei me desvencilhar destes trabalhos.
Não é necessário que eu esteja envolvido em outros ministérios para que
cumpra minhas responsabilidades pastorais de forma fiel. Mas, não posso ser
um pastor fiel, se negligencio minhas maiores prioridades de cuidar de minha
esposa e meus filhos. Na verdade, de acordo com 1 Timóteo 3.4,5, um
homem está desqualificado para o ministério se tais negligências
caracterizam sua vida. Ele precisa ser um homem “que governe bem a própria
casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém
não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?)”.
Além disso, não posso ser um pai fiel, se falhar com minha esposa no
meu papel de marido. Pelo contrário, uma das melhores coisas que posso
fazer pelos meus filhos é amar da melhor forma possível a mãe deles. Não
importa o quão bem um homem pense que está se saindo como pai, se ele não
demonstrar o amor de Cristo pela sua esposa, estará na verdade fazendo um
grave desserviço aos seus filhos. Parece-me que se o inimigo não consegue
influenciar os pais a negligenciarem seus filhos, ele tenta-os a tornarem-se
superprotetores. Meus filhos precisam aprender o mais cedo possível que sua
mãe ocupa um lugar mais importante em minhas afeições do que eles. E fazer
isto não é desprezá-los. Pelo contrário, se torna a base para assegurar que eles
saibam o lugar que Deus lhes determinou que ocupassem no lar.
Como eu não posso ser um verdadeiro ajudador em ministérios fora de
minha igreja local, se eu não for um pastor fiel; e, não posso ser um pastor
fiel, se não for um pai responsável; não posso ser um pai responsável, se não
amar sinceramente minha esposa; então, também não poderei ser um marido
fiel, se negligenciar meu relacionamento com Cristo. Como já disse antes,
todo o resto provém desta raiz principal.
Todas estas prioridades se relacionam umas com as outras, como se
fossem diferentes níveis de uma pirâmide. Cada uma pode ser cumprida em
sua respectiva importância, contanto que eu as mantenha em seus devidos
lugares. Mas, quando uma prioridade inferior toma o lugar de uma mais
importante, estou me predispondo a uma vida instável. É espiritualmente
desastroso colocar a minha esposa acima do Senhor; ou meus filhos acima de
minha esposa; ou meus deveres pastorais acima de qualquer dos outros três.
Não é menosprezível para a igreja que, em suas prioridades, o lugar dela
venha depois de sua dedicação a Cristo e à sua família. Pelo contrário, a
igreja receberá mais do que ela necessita de você, quando ministra motivado
por um compromisso consciente com essas prioridades.
Como já mencionei, nem sempre consigo manter estas prioridades em
seu devido lugar, mas isto se tornou um claro objetivo em minha vida.
Recordando freqüentemente essas prioridades, serei mais capaz de
estabelecer e manter um equilíbrio em minhas obrigações. Talvez a atitude de
disciplina que facilita este equilíbrio é aprender a dizer não. Spurgeon
declarou que, para um pastor, aprender a dizer não é muito mais importante
do que aprender o latim! Ele tinha razão. Não importa quantas coisas o pastor
tente fazer, sempre haverá mais a ser feito. Algumas coisas boas que tentam
exigir a atenção do pastor não devem ser feitas, de modo que ele possa fazer
aquilo que é melhor e mais excelente. Quando o pastor tem de fazer estas
escolhas difíceis, deve fazê-lo baseado nas prioridades do seu chamado.
Então, ele pode descansar seu coração sabendo que agiu com fé,
fundamentado nas exigências que Deus tem feito para a sua vida.
Timóteo, eu oro para que Deus o ajude a permanecer firme em suas
prioridades, enquanto você ainda é jovem no ministério. Mando minhas
calorosas saudações para Mary e seu filhinho. Siga em frente com seu bom
trabalho.
Em Cristo,
Tom

PS — Eu muito lhe recomendo os seguintes livros:


1. Brothers, We Are not Professionals, John Piper (Nashville, TN:
Broadman & Holman Publishers, 2002).
2. The Christian Ministry, Charles Bridges (Edimburgo: The Banner of
Truth Trust, 1980).
3. Lições aos Meus Alunos, C. H. Spurgeon (Editora PES, São Paulo,
SP).
Capítulo 2 - Tem cuidado de ti mesmo (Conrad Mbewe)

Capítulo 2

Tem cuidado de ti mesmo


Conrad Mbewe

Amado Timóteo,
Estou bastante entusiasmado com o início de seu novo ministério
pastoral. Estive pensando muito sobre o que o Senhor pode ter reservado para
você. Lembro-me quando você tinha, há vários meses atrás, um bom número
de igrejas lhe chamando para assumir o cargo de pastor. Eu estava ansioso
por você, pois uma decisão errada poderia se mostrar muito custosa no
futuro. Estou contente que você finalmente tenha aceitado o convite da
Primeira Igreja Batista. Humanamente falando, eles possuem o melhor
ambiente para alguém que esteja começando no ministério. Durante estes
últimos seis meses, desde que começou no serviço do Senhor, você sempre
tem estado em minhas orações. Tenho orado para que o Senhor lhe dê um
ministério duradouro e que produza frutos em abundância. Conforme
prosseguia orando, sentia um peso crescendo em meu coração, indicando que
devia escrever-lhe algumas palavras de aconselhamento. Não fosse pelo fato
de que o conheço já há tantos anos, o que vou escrever-lhe poderia até
mesmo parecer presunção. Mas como nestes dez anos de relacionamento
nossa amizade tem crescido tanto e nos mantido tão próximos, duvido muito
que você se ofenda com sinceros e bem intencionados conselhos, em um
momento como este. Em algumas áreas serei muito pessoal, pois sei que você
será capaz de suportar minha praticidade naquele mesmo espírito no qual as
Escrituras dizem: “Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos
de quem odeia são enganosos” (Pv 27.6).
Conforme já disse antes, e não vou hesitar em dizer novamente: seu
nível de talento no manuseio da Palavra está muito acima da média dos
pregadores. Sua madura percepção espiritual, sua compreensão de toda a
esfera da doutrina cristã, a força de sua voz, seu conhecimento das Escrituras,
sua impecável e incomparável eloqüência; tudo se combina em um
maravilhoso banquete para os ouvintes sob seu ministério. Além disso, você
tem a grande vantagem de possuir um invejável amor pela leitura, de forma
que, em sua casa, seu rico depósito de informações está sempre sendo
abastecido. Estes fatos sem dúvida terão um papel muito importante ao longo
do tempo, em ajudá-lo a sustentar um ministério eficaz para a edificação do
povo de Deus na Primeira Igreja Batista e, até mesmo, além de suas
fronteiras.
Ainda assim, Timóteo, biblioteca e cabeça abastecidas não são o
suficiente. O futuro do ministério de qualquer pastor depende de como ele
próprio se desenvolve, especialmente em sua santificação pessoal. Por isto
que o apóstolo Paulo aconselhou o seu xará, dizendo: “Tem cuidado de ti
mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim,
salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (1 Tm 4.16). Nada é mais
importante no ministério pastoral do que este cuidado próprio. Tenho
freqüentemente o encorajado a ler o livro Lições aos Meus Alunos, volume 2,
[7] de Charles Haddon Spurgeon, que tem como título de seu primeiro
capítulo “A Auto-vigilância do Ministro”. Apenas no segundo capítulo, ele
começa a tratar de “O Chamado para o Ministério”. Parece-me que Spurgeon
sacrifica a ordem cronológica para o que ele viu ser a ordem de importância.
Ele incentiva os pastores a se assegurarem de que são verdadeiramente
convertidos, a manterem uma vitalidade espiritual e a desenvolverem um
bom caráter.
Não tenho tempo agora para lidar com tudo aquilo que se encerra na
frase do apóstolo Paulo “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina”, de forma
que, nesta carta, vou me limitar apenas à primeira parte, “Tem cuidado de ti
mesmo”. Este cuidado deve ser algo para a vida toda. É um cuidado que deve
assegurar o desenvolvimento adequado para sua vida, ao invés de um
desenvolvimento deformado, especialmente em se tratando de sua vida
espiritual. Timóteo, espero que você pese adequadamente o que tenho a lhe
dizer agora.
SEU CUIDADO PESSOAL PRECISA SER COMPLETO
Quando o apóstolo Paulo incitou seu amigo a cuidar de si mesmo, ele
não tinha apenas uma área da vida em mente. Ele queria que o jovem
Timóteo se assegurasse de um crescimento completo, abarcando sua vida
espiritual, física, emocional, intelectual e doméstica. Eu já lhe disse
anteriormente que um pregador não é de forma alguma um espírito
desencarnado. Por exemplo, uma vez que ele é afetado nas capacidades
físicas de seu ser, sua vida espiritual também será da mesma forma afetada.
Portanto, é responsabilidade de todo pregador assegurar que todo o seu ser
redimido submeta-se a um desenvolvimento positivo, que o acompanhe por
toda a vida. Certa vez, um pregador muito conhecido no Reino Unido foi
pedir conselhos ao Dr. Martyn Lloyd-Jones. Ele sentiu-se tão seco
espiritualmente que estava pensando seriamente em abandonar o ministério
pastoral. Sua vida de oração estava no nível mais baixo possível. Ele sequer
sentia amor pelas almas e se via como um completo hipócrita por ainda estar
no ministério. Quando o Dr. Martyn Lloyd-Jones ouviu tudo o que este
pregador tinha a dizer, aconselhou-o a tirar umas férias. O pregador,
lembrando-se deste evento, disse que ficou extremamente desapontado pelo
fato do Dr. Lloyd-Jones não lhe dar outro conselho, além de tirar férias. No
entanto, em respeito ao “doutor”, ele acatou a sugestão. Seu testemunho foi
que após aquele tempo de férias, não precisou voltar a falar com seu
conselheiro. O gozo espiritual havia voltado. Ele estava espiritualmente
alegre outra vez. A lição que aprendera foi muito simples — todas as áreas da
sua vida estão interligadas. Este homem havia negligenciado o descanso
físico e emocional, e isto teve um efeito visível em sua vida espiritual.
Portanto, procure balancear sua vida. A Bíblia diz: “Pois o exercício
físico para pouco é proveitoso, mas a piedade para tudo é proveitosa, porque
tem a promessa da vida que agora é e da que há de ser” (1 Tm 4.8). Não
negligencie coisas como descanso e exercícios, enquanto você continua com
o árduo trabalho do ministério. Na sua idade, isto pode até parecer
completamente desnecessário, mas se você estiver fazendo planos a longo
prazo, então, precisa correr como se estivesse numa maratona, e não como se
fosse correr os cem metros livre. O famoso Robert Murray M’Cheyne, da
Escócia, morreu em um sábado, dia 25 de março de 1843, com apenas vinte e
nove anos. Seu clamor, enquanto morria, era: “O Senhor me deu uma
mensagem e um cavalo. Matei o cavalo. Oh, o que devo fazer com a
mensagem agora?” Um tipo de vida equilibrado vai evitar este tipo de
confissão tão dolorosa no fim de sua vida!

TRÊS MINAS
Pensemos sobre o trabalho no ministério como um campo minado e
vejamos pelo menos três tipos de minas terrestres que têm causado os
maiores infortúnios — mulheres, dinheiro e fama. Portanto, mantenha
cuidado constante com estas três minas. Muitos bons homens começaram
seus ministérios de uma forma extremamente promissora, mas não foram
capazes de chegar muito longe justamente por terem pisado numa destas
minas e “explodido”. Eles acabaram sendo pegos com uma “mulher
estranha”, ou foram encontrados em sérios escândalos financeiros ou ainda
permitiram que sua boa reputação subisse à cabeça, e como a Bíblia diz: “A
soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda” (Pv 16.18 e 18.12).
Timóteo, eu clamo para que você esteja sempre alerta com relação a estes três
assuntos.
Por que há tantos homens que caíram justamente nestas áreas? Parece-
me que isto ocorre devido à falta de cuidado com os pecados do coração —
orgulho, inveja, ciúmes, luxúria, ganância, ira e preguiça. Não é de se
espantar que a História os tem apelidado de “os sete pecados capitais”! Muito
antes de se tornar visível que a vida e ministério de uma pessoa estão
afundando, já foi dada abertura ao seu coração para tornar-se uma verdadeira
cidadela de pecados. Portanto, guarde o coração, pois ele é o manancial da
vida. Ou então, como alguém sabiamente disse, o coração do pastor é o
coração de seu ministério.
De início, você pode se manter afastado fisicamente do adultério e
roubo. Mas se você permitir que seu ministério, aos poucos, transforme-se
numa propaganda de si mesmo, ou ainda deixar que seu coração fique
invejoso do ministério de outros homens, então não demorará muito para que
você esteja finalmente arruinado. Se você se permitir olhar para pessoas do
sexo oposto com sentimentos concupiscentes, mais uma vez esteja certo de
que anda perigosamente próximo da queda. Timóteo, estes são os pecados
que irão matar a espiritualidade e poder de seu ministério muito antes que
qualquer pecado público seja visível às outras pessoas. Não há dúvida de que,
para manter seu ministério vivo e ativo, ano após ano, você precisa se
exercitar na piedade.
Embora Spurgeon estivesse falando especificamente do primeiro tipo de
mina (mulheres), o que ele escreveu em seu primeiro estudo, no livro Lições
para os Meus Alunos se aplica a todos os outros:
A firmeza moral mais elevada deve ser laboriosamente mantida. Muitos que são
ótimos membros de igreja, não são qualificados para exercer o ofício na igreja. Tenho
opiniões muito rigorosas no que diz respeito a homens cristãos que caíram em pecados
de imoralidade; regozijo-me, quando eles são verdadeiramente convertidos e recebidos
de volta na igreja com um misto de esperança e cautela; mas, me pergunto se um homem
que caiu em pecados de imoralidade deveria ser prontamente restaurado ao púlpito.
Como John Angell James observou: “Quando um pregador da verdade parou no
caminho do pecado, ele jamais deveria abrir seus lábios novamente para toda a
congregação, até que seu arrependimento se tornasse tão notório quanto o pecado que
cometeu”. Deixe aqueles que foram tosquiados pelos filhos de Amom permanecerem em
Jericó até que suas barbas cresçam novamente… É triste dizer, mas a barba da
reputação, uma vez raspada, é muito difícil de crescer novamente. A imoralidade
pública, na maioria dos casos, ainda que motivo de profundo arrependimento, é sinal
fatal de que a graça ministerial nunca fez parte do caráter daquele homem. A esposa de
César deve estar acima de qualquer suspeita; e não deve haver qualquer tipo de rumor
negativo sobre a inconsistência ministerial no passado, ou, então, a esperança de ser útil
irá minguar. Dentro da igreja, estes que caíram devem ser recebidos como arrependidos,
e no ministério eles devem ser recebidos somente se Deus os colocar lá novamente;
minhas dúvidas não são sobre isso, elas são sobre se Deus alguma vez os colocou lá;
creio que deveríamos ser lentos em levar de volta ao púlpito, homens que, uma vez
tendo sido provados, mostraram ter pouca graça para suportar o teste crucial da vida no
ministério.

Para alguns trabalhos, escolhemos apenas os fortes; e quando Deus nos chama
para o trabalho ministerial, devemos nos empenhar em obter a graça que nos fortalecerá
e nos preservará para a nossa posição, e não sermos apenas meros principiantes que são
carregados pelos ventos das tentações de Satanás, para a difamação da igreja e nossa
própria ruína. Temos de estar sempre equipados com toda a armadura de Deus, prontos
para proezas jamais esperadas de outros: para nós a abnegação, paciência, perseverança,
longanimidade, devem ser virtudes corriqueiras; e quem é capaz de ser preparado desta
forma? Temos de viver muito perto de Deus, se quisermos ser aprovados em nossas
vocações.[8]

O DESENVOLVIMENTO DE UMA VIDA INTERIOR


A última frase de Spurgeon é a chave para o “tem cuidado de ti mesmo”.
O cultivar uma vida espiritual interior precisa ser através de uma vida muito
próxima de Deus. Lembre-se que a verdadeira espiritualidade nunca se
desenvolve pela simples resolução de ter uma maior espiritualidade.
Precisamos nos achegar para perto de Deus.
Você logo irá descobrir, se é que ainda não descobriu, que enquanto as
formas públicas da graça (como, por exemplo, os cultos na igreja) fazem
muito bem aos outros cristãos, aqueles que são pastores precisam dedicar
muito mais tempo às formas particulares e privadas da graça. Isto acontece
porque nós geralmente estamos tão preocupados com cada detalhe dos cultos
em nossas igrejas que acabamos por perder o benefício santificador do
seguinte mandamento: “Aquietai-vos e sabei que EU sou Deus”. Portanto,
para nós, o desenvolvimento de uma vida particular será o fruto de uma alma
que incansavelmente se recolhe para a leitura bíblica, oração, meditação e
outras formas privadas da graça.
Infelizmente, muitas vezes você perceberá que está usando suas
obrigações como desculpa para o seu afastamento destes exercícios
purificadores da alma. E, eu reconheço que algumas vezes será
inevitavelmente assim. Mas quando isto começa a acontecer, semana após
semana, esteja consciente de que você já iniciou o processo de queda e está
aniquilando o importante senso daquilo que sua vida particular deve ocupar
em seu ministério. Deus nunca desejou que isto funcionasse assim. Se o seu
lugar de oração secreta tem permanecido vazio já por algum tempo, então
volte o quanto antes à prática de seus exercícios devocionais! É no lugar das
orações em secreto que as verdades de Deus fundem-se em cada fibra de seu
ser. É lá que a graça é mantida viva. Você abandona aquele lugar secreto para
sua própria ruína.
Deixe-me ser bastante honesto com você, Timóteo. Embora
provavelmente você concorde com tudo o que eu disse até aqui sobre a
necessidade de se manter os exercícios espirituais necessários para nutrir sua
vida particular, você logo descobrirá ser uma verdadeira guerra praticar todas
estas coisas, ano após ano. Isto ocorre por causa da natureza caída, que nós
ainda carregamos conosco apesar da experiência poderosa que tivemos com a
salvação de Deus. Esta natureza luta contra tudo o que o seu novo homem
anela e anseia.
O grande puritano John Owen, cujas obras você precisa arranjar tempo
para ler, tratou deste assunto em Indwelling Sin in Believers (Pecado Inato
nos Crentes), que você pode encontrar no volume 6 de sua coleção Works
(Obras).[9] Freqüentemente tenho voltado a este livro, quando minha alma
encontra-se em perigo — uma experiência que pode ser mais bem descrita
como um filho da luz andando na escuridão. Ele escreveu sobre a aversão que
nós experimentamos como crentes aos exatos exercícios que sabemos
deveríamos praticar para nosso próprio bem espiritual. Quase se pode ouvir
os gemidos do coração de Owen, enquanto ele redigia as seguintes palavras:
Esta aversão e repugnância freqüentemente se mostram nas afeições. Haverá nelas
secreto esforço contra a convivência próxima e cordial com Deus, a menos que em sua
alma a mão do Senhor aja fortemente. Mesmo quando convicções, senso de nosso dever,
estima doce e verdadeira para com Deus e comunhão com Ele conduzem a alma a um
tempo de reflexão, se não houver o vigor e poder de uma vida espiritual em atividade
constante, as afeições demonstrarão aversão secreta para com os deveres; sim, às vezes,
haverá uma inclinação ao oposto disso, de modo que a alma preferirá fazer outra coisa e
envolver-se em qualquer distração (embora isto lhe seja prejudicial), em vez de preferir
aplicar-se vigorosamente naquilo que, o homem interior deseja ansiosamente.

A alma acha o momento de adoração particular fatigante, antes mesmo de


começar, e pergunta: “Quando vai acabar?” Porém, a hora de comunhão íntima é algo
que interessa diretamente tanto a Deus quanto à alma. E, é uma grande conquista
fazermos aquilo que desejamos, embora fiquemos muito aquém do que deveríamos.[10]

Toda vez que leio estas palavras meus olhos se enchem de lágrimas,
pois sei do que ele está falando.
Timóteo, preocupo-me não somente com o seu cultivar de uma vida
interior, mas também com sua persistência nestas santas tarefas até o fim;
apesar das lutas com o pecado inato. Assim, como o apóstolo Paulo, preciso
dizer:
Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna, para a qual também
foste chamado e de que fizeste a boa confissão perante muitas testemunhas. Exorto-te,
perante Deus, que preserva a vida de todas as coisas, e perante Cristo Jesus, que, diante
de Pôncio Pilatos, fez a boa confissão, que guardes o mandato imaculado, irrepreensível,
até à manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo (1 Tm 6.12-14).

Não é suficiente dar apenas alguns socos bem dados no começo da luta,
você precisa agüentar firme até o final. Você precisa guardar-se sem mácula
ou culpa “até a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo”. Em outras
palavras, até o apito final da luta! Você se sentirá conduzido a uma crescente
exaustão por manter esta franca devoção e altos padrões de piedade durante o
caminho. Será tentado a começar a brincar onde até os anjos temem pisar.
Para ceder a estas tentações você precisa meramente manter as aparências de
seu ministério, mas internamente terá perdido o poder e paixão que um dia já
teve.

CUIDADO COM AS MÁS COMPANHIAS


Além do cansaço provocado pela luta com a carne (isto é, a natureza
caída que ainda reside em nós), a outra fonte de fadiga é a má influência de
algumas pessoas, as quais você admira na obra do Senhor. Por esta razão, se
você intenta perseguir uma devoção única para com Deus, em um ministério
que irá durar por toda vida, deve tomar cuidado com as companhias que irá
manter em sua vida ministerial. O conselho do apóstolo Paulo se aplica tanto
aos descrentes quanto àqueles que estão na liderança da igreja, “Não vos
enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes” (1 Co 15.33).
O conselho de Paulo a Timóteo a este respeito é de vital importância. Ele
disse:
Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens
serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos
pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si,
cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que
amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge
também destes (2 Tm 3.1-5).

Há homens correspondentes a esta descrição trabalhando por aí nos


ministérios. Toda vez que você se encontra com eles, se sente como se
estivesse com a alma suja, pelo modo como eles falam e por suas atitudes.
Eles o fazem sentir como se você levasse o cristianismo e suas funções
ministeriais a sério demais, e o induzem a descuidar de sua vigilância própria.
Foge também destes, Timóteo. Faça isto antes que o efeito cancerígeno deles
espalhe-se muito rápido em sua alma!

DISCIPLINA NO TRABALHO
Dentre os “sete pecados capitais” listados anteriormente, o último que
mencionei foi a preguiça. Eu quero lhe falar alguma coisa sobre isso, porque
durante todos estes anos tenho observado algumas tendências em sua forma
de trabalhar, as quais precisam ser cuidadas, caso você espere ter um
ministério longo e frutífero na Primeira Igreja Batista. Como você já está
ciente, Timóteo, nós, pastores, não temos de apresentar relatórios de nossos
trabalhos da mesma forma que a maioria das pessoas em nossas congregações
têm de fazer. Não temos supervisores humanos a observar se estamos
cumprindo os horários, prazos, nosso nível de eficiência, etc. Então, é muito
fácil nos contentarmos apenas com a preparação dos estudos bíblicos e
sermões, e com uma ou outra visita. No entanto, o povo de Deus não é bobo.
É apenas uma questão de tempo para que nosso povo comece a fazer
perguntas bem sérias sobre o que exatamente fazemos o dia inteiro. Deixe-
me, então, oferecer-lhe alguns conselhos:
PASSE HORAS NO ESCRITÓRIO
Eu sei que provavelmente você estará trabalhando em sua própria casa.
Passar o dia fazendo aquilo que mais lhe agrada acabará se tornando uma
verdadeira tentação tanto para você quanto para sua esposa, Mary. Resista a
isso, determinando previamente algumas horas a serem cumpridas no
escritório, nas quais você irá se ocupar com trabalhos relacionados à igreja.
Os presbíteros devem ver que os assuntos relacionados à correspondência da
igreja, ministérios, reuniões e membros, são todos resolvidos bem antes do
prazo. Isto, no entanto, não acontecerá, se você não desenvolver uma
disciplina de estar no “escritório da igreja” (ainda que seja em sua própria
casa), enquanto os presbíteros estão em seus próprios locais de trabalho.
Resolva assuntos pessoais nos seus dias de folga. Recuse-se a solucioná-los
nos outros dias, e somente assim desenvolverá este hábito. Ajude sua esposa,
portanto, a aprender a planejar as compras, visitas, etc, da mesma forma que
as esposas dos presbíteros, visto que seus maridos além do trabalho na igreja,
trabalham tempo integral em empregos seculares. Sua família precisa
aprender a não entrar em seu escritório simplesmente para conversar durante
seu período de trabalho. Não permita que isto aconteça.
OBSERVE A PONTUALIDADE
Se existe uma área que tem sido de grande preocupação para mim, tem
sido sua falha em manter a pontualidade. Qualquer um pode afirmar que você
chega muito mais vezes atrasado do que no horário certo. Para mim, isto é
muito sério e pode arruinar seu ministério. Quando os membros perceberem
que você está sempre atrasado, eles vão ficar com uma impressão muito ruim
sobre sua autodisciplina. Será pior ainda para os presbíteros, que pensarão
que você simplesmente não leva seu trabalho e compromissos a sério. Então,
faça o melhor de si e seja pontual em todas as reuniões da igreja e em todos
os seus compromissos. Se você for errar, que seja por chegar cedo e não
tarde. É preferível estar adiantado a estar atrasado.
PLANEJE COM ANTECEDÊNCIA E TRABALHE ARDUAMENTE
Ao chamar a sua atenção para isto, estou meramente colocando diante
de você aquilo que irá contar a longo prazo num nível humano. Como
pastores, nós raramente temos alguém nos vigiando, para verificar quanto
trabalho foi feito. Nós podemos também nos apresentar com uma série de
desculpas por algum trabalho que não foi realizado. No entanto, no fim do
dia, é a obra do Senhor que irá sofrer as conseqüências. E o Senhor (que
realmente nos vigia para ver o quanto já foi feito) sabe que o trabalho não foi
realizado, por causa da nossa negligência. Para evitar este tipo de situação,
planeje todo o serviço em seus devidos departamentos. Coloque seu ano
diante de você, e depois o divida em meses e semanas. Mantenha uma lista de
“afazeres” ao seu lado, constantemente. Evite confiar apenas em sua
memória. Tome nota de tudo e risque-as de sua lista quando o trabalho já
tiver sido concluído. Guarde um dia na semana para revisar esta lista,
atualizando-a e certificando-se de que não deixou passar qualquer coisa
urgente ou importante. No tempo certo, seus esmerados esforços e trabalho
árduo serão evidentes a todos, por seus frutos.
Sem subtrair o valor da oração pessoal e do estudo bíblico, tenho certeza
de que uma das maiores razões pelas quais tantos ministérios pastorais
fracassam são os péssimos hábitos de trabalho. Os membros da igreja
começam a sentir que estão pagando seu pastor para trabalhar apenas no
domingo. Se você conseguir desenvolver de forma adequada os três assuntos
que acabei de tratar, tenho certeza de que você não fará parte daquela
categoria de fracassados. Mas, por favor, faça isto agora!
Deixe-me terminar com algumas palavras pungentes do livro de Richard
Baxter, O Pastor Aprovado:
Não se contentem em apenas estar num estado de graça, mas cuidem para que suas
virtudes sejam mantidas vigorosa e vividamente em prática, e que vocês preguem para si
mesmos os sermões que estudam, antes de pregarem a outros… Quando suas mentes
estão num estado santo e celestial, seu povo certamente irá tomar parte dos frutos que
surgirem… Ó, irmãos, cuidem, portanto, de seus próprios corações; afastem-se da
lascívia e das paixões, assim como das inclinações mundanas; mantenham uma vida de
fé, amor e zelo; familiarizem-se com Deus. Se não observar diariamente o seu coração,
se não reprimir a própria corrupção, a fim de andar com Deus — se você não fizer disto
um trabalho constante em sua vida, tudo dará errado, e você matará de fome os seus
ouvintes; ou, se você possui um falso fervor, não espere que uma bênção vinda lá do alto
resolva a situação. Mas acima de todas as coisas, esteja sempre em oração e meditação.
Então, você conseguirá o fogo celestial que queimará os seus sacrifícios…[11]

Amém, Baxter! Amém!

Bem, Timóteo, mais uma vez me alegro que Deus tenha aberto a porta
do ministério para você. Conhecendo a seriedade do seu lidar com as coisas
de Deus, eu sabia que não demoraria muito até que isto acontecesse. Mas
também sei outra coisa: não vai ser fácil. Porém, se foi o Senhor quem abriu
esta porta para você, o ministério certamente o deixará plenamente satisfeito,
apesar de todo o sangue, suor e lágrimas que serão derramados. Eu estarei
orando por você para que a graça de Deus se prove suficiente e para que, em
não muitos dias, a Primeira Igreja Batista possa ser um próspero centro de
cristianismo bíblico. Que o Senhor possa responder esta oração além daquilo
que possamos pedir ou até mesmo imaginar. Até lá, tem cuidado de ti.
Amém!

Carinhosamente, nos laços do evangelho,


Conrad

PS — Há alguns livros que gostaria de lhe recomendar enfaticamente.


Felizmente eles ainda não estão esgotados. Consiga uma cópia para você e
leia-os muitas vezes. Estes livros serão um verdadeiro fortificante para sua
alma.
1. O Pastor Aprovado, Richard Baxter (PES, São Paulo, SP). A primeira
parte deste poderoso livro é sobre nosso descuido como ministros. Somente
aquela parte já vale o preço do livro todo. É um clássico!
2. The Works of John Owen, Volumes 6 e 7 (reimpressão, Edimburgo:
The Banner of Truth Trust, 1967, 1965). Nestes dois volumes, eu destacaria o
trabalho de Owen em “The Mortification of Sin”, “Temptation”, “Indwelling
Sin in Believers”, e “Spiritual Mindedness”. Owen foi um verdadeiro médico
de almas e um mestre na teologia prática.
3. The Christian Ministry, Charles Bridges (reimpressão, Edimburgo:
The Banner of Truth Trust, 1980). A segunda e a terceira parte deste livro
lidam com as causas da ineficiência ministerial. É muito instrutivo notar que
quase todos os casos de ineficiência são devidos a uma falha no cumprimento
daquele mandamento: “Tem cuidado de ti mesmo”.
Capítulo 3 - Ame sua família (Tedd Tripp)

Capítulo 3

Ame sua família


Tedd Tripp

Amado Timóteo,
Muito obrigado por sua ligação na semana passada. Sou muito grato a
Deus por tudo estar indo bem com você neste início de seu ministério. Você e
Mary, e sua jovem família, são motivo de grande alegria para Margy e eu.
Nós os amamos e nos regozijamos no que o Senhor está fazendo em suas
vidas.
Estou contente em poder colocar no papel algumas idéias sobre a vida
familiar de um pastor. É um grande prazer saber que você está preocupado
em ser um homem de Deus, não apenas no púlpito e na vida ministerial, mas
também em sua própria casa.
Como você sabe, uma das qualificações para o ministério do evangelho
é ter uma vida familiar exemplar, sendo alguém “que governe bem a própria
casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém
não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?)” (1 Tm
3.4-5).
O lar é um microcosmo da igreja. As qualidades da vida espiritual que
dão credibilidade ao pastor em casa fornecerão a mesma medida de confiança
às pessoas que ele serve na igreja. A vitalidade espiritual que permite sua
família seguir com alegria sua liderança assegurará a igreja de que ela está
em boas mãos. A vida familiar é, no entanto, muito mais do que apenas um
local para mostrar habilidades pastorais. É a própria fornalha na qual estas
características são forjadas.
A qualidade de sua vida familiar ou irá lhe investir de credibilidade ou,
então, irá roubá-la de você. Você pode imaginar uma mulher na igreja tendo
confiança em um pastor cuja esposa é infeliz? As pessoas veriam um homem
como um seguro guia espiritual, se seus filhos fossem rebeldes e
incontroláveis ou tímidos e oprimidos? Cada vez que você prega a Palavra,
ou provê conselhos, ou ainda traz segurança e conforto para pessoas
perturbadas, a qualidade de sua vida familiar irá dar o peso necessário às suas
palavras. O objetivo da santidade na vida familiar não é a credibilidade, mas
sim a glória de Deus. Entretanto, as pessoas sob seu cuidado irão observar
atentamente sua vida familiar.
Um pastor ocupado freqüentemente se sente dividido entre as
necessidades de sua família e as necessidades da igreja. Se você pensar a este
respeito, verá que nunca há competição entre os chamados de sua vida
familiar e os chamados do ministério do evangelho. Você serve à Igreja ao
servir à família. Todo investimento feito no seu lar pagará os mais altos
dividendos para a igreja. Você estará mostrando às suas ovelhas como as
graças do evangelho repercutem em sua vida familiar.
Conforme tenho refletido sobre suas perguntas acerca da vida em
família, pensei em três assuntos importantes que podem ajudá-lo a organizar
seus pensamentos a respeito desta parte da vida: Seja um líder espiritual para
sua família. Seja um marido e um pai para sua família. Seja o protetor de sua
família.

SEJA UM LÍDER ESPIRITUAL


A passagem clássica a respeito deste chamado é Deuteronômio 6,
quando Moisés está dando aos homens uma visão a longo prazo. Seu foco
não é sobreviver e nem conseguir chegar ao fim da semana. Os chamados da
liderança espiritual são para que você, o seu filho e o filho do seu filho
conheçam e temam o Senhor (v. 2). Esta visão para três gerações o ajudará a
resistir às tentações de cair nas conveniências do momento. Como pais, temos
preocupações mais importantes do que unicamente o momento — nos
preocupamos com o lugar onde nossos netos estarão daqui a cinqüenta anos.
Naturalmente, sua liderança espiritual é imprescindível para a família.
Deuteronômio 6.5,6 deixa isto muito claro: “Amarás, pois, o Senhor, teu
Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas
palavras… estarão no teu coração”.
Sua família precisa ver as riquezas de seu caminhar espiritual um tanto à
parte de suas obrigações ministeriais. Sua alegria em Cristo, sua vitalidade
como homem de Deus, sua afabilidade face às oposições, seu foco claro na
graça de Cristo (não apenas por perdão, mas também por capacitação) será a
lente pela qual eles verão todos os seus esforços para ministrar a graça de
Deus a eles.
Compartilhe com sua esposa e seus filhos seu dia a dia. Na medida em
que você encontra conforto e forças em Cristo, deixe que eles o vejam lendo
e meditando na Palavra de Deus. Deixe que eles o observem como um
homem de oração e de humildes fraquezas diante de um Deus de força. Nada
irá prover sua família com tanto bem-estar quanto o seu amor e devoção a
Deus.
Um outro aspecto de grande importância na liderança espiritual é
retratar uma visão correta do mundo para seus filhos. Deuteronômio 6 fala
disso com bastante pungência. “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no
teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua
casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te” (Dt 6.6,7).
Seus filhos precisam entender a natureza da realidade. Por trás deste
mundo de imagens e sons há um mundo invisível de realidade espiritual que
dá sentido ao mundo que vemos, tocamos e com o qual lidamos. A árvore no
quintal que provê sombra e morada aos pássaros e esquilos, e também serve
para as crianças subirem e até construírem uma fortaleza, existe pela vontade
do Deus invisível. É sua criação. Ela existe como um hino de louvor à sua
criatividade, sabedoria e capacidade. Ele nos tem dado estas coisas para
nosso próprio deleite, para que possamos conhecê-Lo, adorá-Lo e deleitarmo-
nos nEle. Como você pode ver, Timóteo, ninguém consegue realmente
compreender a árvore sem antes observar o invisível naquilo que é visível.
Ajudar as crianças a entenderem a natureza da realidade requer
imaginação. Nossos filhos precisam enxergar aquilo que é invisível aos
olhos. Nós, cristãos, somos um povo cujo comprometimento com o mundo
invisível da realidade espiritual define nossas interpretações e respostas às
coisas que verdadeiramente podemos ver.
A palavra imaginação não é usada em Deuteronômio 6, mas o uso da
imaginação é essencial. Seu filho lhe perguntará: “Que significam os
testemunhos, e estatutos, e juízos que nós seguimos?” (veja Dt 6.20). Para
responder a esta pergunta, o pai precisa engajar a imaginação do filho em
eventos do passado, como a escravidão no Egito e a audaciosa e dramática
libertação através do braço forte de Deus. Estas histórias por acaso poderiam
ser contadas de forma a impressionar as crianças sem que fosse feito uso da
imaginação?
Desenvolver a imaginação de seus filhos irá ajudá-los a enxergar aquilo
que não é visível aos olhos. Eugene Peterson colocou este assunto da seguinte
forma:
A imaginação é a capacidade de fazer conexões entre o visível e o invisível, entre o céu
e a terra, entre o presente e o passado, entre o presente e o futuro.[12]

Pense nesta tarefa de ajudar as crianças a enxergarem a natureza da


realidade como instrução formativa. Você está dando a elas formas de pensar
e entender seu próprio mundo, de maneira enraizada na Bíblia. Nossos filhos
não vivem à parte dos eventos e circunstâncias da vida, mas vivem à parte
quanto à forma como interpretam e respondem a isto. A chave para a
interpretação é a pessoa e a existência do verdadeiro Deus que vivo está.
Passe algum tempo lendo a Palavra com eles todos os dias. Ajude-os a
enxergar as glórias e maravilhas de Deus. O Salmo 145 nos dá uma descrição
esplêndida deste aspecto da paternidade: “Uma geração louvará a outra
geração as tuas obras e anunciará os teus poderosos feitos. Divulgarão a
memória de tua muita bondade e com júbilo celebrarão a tua justiça” (Sl
145.4,7). Seus filhos são feitos à imagem de Deus. Eles foram criados para a
adoração; ajude-os a serem fascinados por Deus.
Naturalmente, você precisa ajustar o momento dos cultos domésticos de
acordo com as limitações físicas e intelectuais de seus filhos. Seja fiel no
culto doméstico e esteja certo de que este ato conecte seus filhos ao mundo
invisível da realidade espiritual. Aquilo que é invisível e eterno nos capacita a
interpretar corretamente o que vemos.

SEJA UM MARIDO E PAI


Tenho de lembrá-lo, Timóteo, que você deve renunciar sua vida em
favor de Mary. Em Efésios 5.25, Deus o chama para amar Mary com o
mesmo amor de auto-sacrifício que levou Jesus a entregar sua vida
livremente pela igreja.
Ao se tornar sua esposa, muitos desafios foram colocados diante da vida
de Mary. Ela está na berlinda. Há muitas expectativas sobre ela. As pessoas
olham para ela, esperando que ela entenda intuitivamente todas as suas
esperanças, medos e aspirações. Ela tem de estar sempre pronta a dar um
sábio conselho, ou apenas um ombro amigo. Outras mulheres pensam que ela
é um compêndio de dicas sobre uma vida de sucesso. Outras, olham para ela
a fim de receberem uma aprovação para as próprias vidas. Algumas irão
invejá-la e ignorá-la. E ela tem de estar pronta para a hospitalidade ao
primeiro soar da campainha. Qualquer interação com seu filho estará sujeita
ao escrutínio de algum olho analítico, seja de um imitador ou de um crítico.
Ela aceitou passar por todas estas pressões, quando se tornou a esposa de um
pastor.
Mary precisa de um marido. Ela precisa de um homem que seja casado
com ela, e não com a igreja. Ela foi criada para florescer sob os cuidados de
seu marido. Pedro, o apóstolo inspirado, diz que você deve cuidar dela —
viver a vida comum do lar, com discernimento. Pedro diz que, enquanto você
cuida de sua esposa, como a parte mais frágil, sua vida de oração prosperará.
Leia a Bíblia e ore com Mary todos os dias. Tome algum tempo do seu
dia para pastoreá-la. Dê-lhe oportunidades para falar com você sobre suas
preocupações, dúvidas e questionamentos, assim como também sobre seus
sonhos, objetivos e alegrias. Conheça estas coisas. Facilite a conversação,
deixando-a perceber que as coisas que importam para ela são também
importantes para você. Ajude-a a encontrar refúgio e esperança na graça de
Cristo. Ajude-a a lembrar que graça significa mais do que o perdão; também
significa capacitação.
Tenha prazer nela, elogie seu novo corte de cabelo ou o seu vestido
novo; separe um tempo todos os dias para olhar em seus olhos, como você
costumava fazer quando começaram a namorar. Expresse sua gratidão pela
maneira graciosa com que Mary recebe os convidados, fazendo-os sentirem-
se em família. Faça com que ela saiba o quanto você aprecia seus esforços
para tornar a casa mais bonita. Uma esposa é como uma amável flor. Ela irá
desabrochar em lindas cores, enchendo todo o lar com um delicioso aroma de
alegria, na medida em que você cria um ambiente encorajador ao
crescimento. Encha a sua vida com a luz do sol, ao se deleitar nela e regue-a
com um tratamento gracioso e orações. Enquanto cuida dela, você está
cuidando da igreja.
Quando Pedro falou sobre a esposa como a parte mais frágil, estava
declarando que Deus ordenou ao marido o trabalho pesado na vida familiar.
Ele não está falando apenas de carregar as compras e outras coisas mais
pesadas, mas sim que o homem deve ser aquele que carrega a
responsabilidade sobre seus ombros. Os pesos das preocupações familiares, a
educação das crianças, os cuidados e preocupações com a igreja, as lutas para
viver com o limitado salário de um pastor — todas estas coisas devem ser
suportadas pelo homem da casa. Ela irá, obviamente, ajudá-lo a levar estes
pesos, mas você é o responsável pelo trabalho pesado. A sobrecarga de estar
ciente do peso da vida não a esmagará, se ela souber que você, como um
homem valoroso, está suportando todos os fardos com seus ombros.
Eu sei que você já tem conhecimento destas coisas e está bem
fundamentado nestas verdades, mas assim como Pedro, eu o estimulo a
lembrar-se delas (2 Pe 1.12,13).
Ao amar e cuidar de sua esposa, você cria um ambiente seguro e estável
para seus filhos. Eu me lembro de minha filha, Heather, vindo até mim,
quando era apenas uma menininha. Ela disse: “Papai, eu estou feliz porque
você me ama”. Eu respondi brincando com ela, “Como você sabe que eu te
amo?” “Porque”, ela disse, com muito mais discernimento que o esperado de
uma criança de sete anos, “você ama a mamãe”. Oh, como seria bom poder
inculcar este discernimento na mente de todo marido e pai! Amar sua esposa
faz seus filhos sentirem-se amados.
Na verdade, o oposto também é verdadeiro. Amar seus filhos faz sua
esposa se sentir amada. Eu me lembro de uma noite quando as crianças ainda
eram pequenas, eu estava engatinhando no chão, brincando com elas.
Inesperadamente Margy apareceu atrás de mim e colocou seus braços ao
redor de meu pescoço dizendo: “Eu te amo tanto”. Eu respondi: “Eu também
te amo, mas, por que você está dizendo isto agora?” Ela disse: “Eu
simplesmente te amo”. Agora entendo o que a levou àquela demonstração
espontânea de carinho. Eu estava investindo minha vida nas crianças e isto
era um investimento que significava tudo para ela; então, isto a fez sentir-se
mais perto de mim.
Eu sempre fui fascinado por Efésios 6.4 colocar disciplina e educação
nas mãos do pai. Todos sabem que as mães passam muito mais tempo com os
filhos. Então, por que isto deveria ser identificado como um chamado dos
pais? As mães, obviamente, também são responsáveis pela disciplina e
educação dos filhos. Educar os filhos, no entanto, pode não ser tão natural
para os homens quanto o é para as mulheres, mas Deus diz que é sua
obrigação. O fato deste chamado ter sido designado aos pais, significa que
eles devem prover a liderança na educação dos filhos.
Você é o homem de Deus para a liderança na disciplina, correção e
motivação de seus filhos. Você tem o importante papel de dividir sua visão
desta tarefa com Mary. Você pode ser a referência dela para uma série de
questões e também o seu encorajamento, quando ela for tentada a ser muito
tolerante ou ainda muito dura. Você pode formar acordos de parceria com
Mary sobre quando e como disciplinar. É um chamado específico dos pais
assegurar que os filhos sejam criados na disciplina e instrução do Senhor.
Em Gênesis 18.19, Deus diz aos líderes do lar palavras que são tão
verdadeiras para nós, como eram para Abraão: “Porque eu o escolhi para que
ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o
caminho do Senhor e pratiquem a justiça e o juízo; para que o Senhor faça vir
sobre Abraão o que tem falado a seu respeito”. Deus irá cumprir todas as suas
promessas para Abraão, mas Ele irá fazê-lo no contexto da função de Abraão,
como alguém que é fiel a Deus.
Há muitas fases em nossas vidas. Você está na fase do novo ministério e
dos cuidados e preocupações com uma jovem família. Haverá outras fases, na
medida em que você e sua família amadurecem e envelhecem. É importante
que você seja um líder previsível, estável e íntegro. Sua esposa e filhos irão
se fortalecer ao vê-lo viver como um homem deslumbrado por Deus, sendo,
portanto, cheio de alegria e confiança em todas as fases da vida.

SEJA UM PROTETOR
O corpo humano é uma maravilha da sabedoria e criatividade de Deus.
O corpo nos provê com algumas analogias muito interessantes, para
pensarmos sobre alguns assuntos. A membrana de uma célula humana, por
exemplo, ao mesmo tempo em que está aberta àquilo que lhe é desejável,
também está fechada para tudo que não é. Você precisa criar “membranas”
como esta ao redor de sua família. Algumas das proteções que sua família
precisa são comuns a todas, enquanto outras são específicas à família de um
pastor.
Como em qualquer família, você precisa afastar as más influências da
cultura. Um de meus antigos professores do seminário, Dr. Robert K.
Rudolph, gostava de dizer: “Mentes abertas, assim como janelas abertas,
precisam de telas para manter os insetos do lado de fora”. Você precisa
proteger tudo aquilo que é bom e respeitável através de “telas” para o seu lar.
Agora, enquanto as crianças ainda são pequenas, é um bom tempo para você
e Mary desenvolverem padrões específicos que irão usar para filtrar o que
entra em sua casa. Obviamente, a cultura ímpia e anticristã que a mídia
comum oferece não deve ser trazida para dentro do lar.
Haverá ocasiões que você terá de regular inclusive o tipo de acesso que
algumas pessoas têm a seus filhos. Você terá de ser muito discreto e sábio
com relação a maneira de fazer isto, mas seus filhos (e até mesmo sua esposa,
algumas vezes) devem ser protegidos de algumas pessoas que Deus chamou
para estarem sob seu pastoreio. Se o propósito de alguém é malevolente, sua
família deve ser protegida. Felizmente, não haverá muitas ocasiões em que tal
proteção será necessária.
Você também tem de guardar um tempo para sua família, ou não terá
mais nenhum tempo junto deles. Esteja certo de organizar sua vida e seu
ministério de forma a garantir um tempo com sua família. Eles precisam de
tempo com você. Tempo para brincar e para os pequenos prazeres de estarem
juntos pensando, meditando ou até mesmo lendo um bom livro. É importante
que o papai esteja em casa investindo um tempo na vida familiar, e que abra
mão dele somente se houver uma emergência. Que você esteja em casa, com
o único propósito de desfrutar de sua família, sem nada mais em sua agenda.
Algumas destas proteções podem ser feitas apenas gerenciando bem a
sua rotina, e agendando horários quando não estará ocupado com a
congregação que você serve. É bom que suas ovelhas saibam que há ocasiões
nas quais é melhor que elas não liguem para você, e também outros
momentos nos quais as ligações são sempre bem-vindas. Claro que haverá
emergências como doença, morte e crises familiares que cancelarão sua
agenda, mas é um bom exemplo aos homens que você serve e um
encorajamento às esposas deles, saber que o pastor tem tempo junto de sua
família e o preserva.
É sábio que o pastor que tem filhos pequenos mantenha seu escritório de
estudos e aconselhamento no prédio da igreja. Se você trabalhar em casa,
estará sempre distraído e será pouco produtivo. Seus filhos não entenderão
por que o papai não “vem brincar”. Se você trabalhar no prédio da igreja,
quando estiver em casa, realmente estará “em casa”.
A casa de um pastor é por definição uma casa aberta. Você quer que sua
família tenha alegria em compartilhar a hospitalidade e use todos os seus
dons para ministrar a graça de Deus aos outros (veja 1 Pe 4.9,10). E
exatamente por esta razão, é importante que você proteja sua família de se
perder, enquanto ministra aos outros. Há uma preocupação óbvia aqui. Sua
casa deve ser aberta, a fim de que os outros possam se revigorar com a beleza
e alegrias de uma vida piedosa no lar. Ao mesmo tempo, sua família precisa
ter a ordem de uma rotina normal e previsível.
Se você conseguir manter um equilíbrio apropriado aqui, descobrirá que
a casa de um pastor pode ser um lugar maravilhoso para o ministério do
evangelho. Numa cultura em que a vida familiar vem desmoronando, as
pessoas estão sedentas por ver uma família na qual há alegria e amor por
Deus e pelos outros. Você pode encorajar seus filhos a terem um amor
sincero por usar sua casa e vida familiar como algo útil para ministrar aos
outros. Algumas das melhores lembranças de nossos filhos são de ocasiões
quando tínhamos convidados ao redor da mesa, e as pessoas desfrutavam não
apenas uma boa refeição, mas também de uma conversa espiritual amistosa.
Proteja sua família, guardando seu coração de querer agradar os
homens. A tentação será colocar as expectativas das pessoas de sua
congregação antes de sua esposa e filhos. Richard Baxter escreveu um
maravilhoso capítulo sobre os medos dos homens em Christian Directory
(Diretório Cristão)[13]. Ele mostra como é impossível agradar a todas as
pessoas. Você tem uma multidão para agradar e ao agradar alguém acaba
desagradando o outro. Através de várias páginas de grande utilidade, ele
mostra a impossibilidade de agradar aos homens e a liberdade de ter apenas
um a quem agradar — Deus.
Agradar os homens não é apenas impossível, Timóteo, mas é, também,
destrutivo a você próprio e à sua família. Você e Mary precisam se
comprometer, graciosamente, a recusarem que as pessoas que você serve
preparem a agenda de sua família, ainda que elas se esforcem para isto.
Proteja sua família de todos os desapontamentos e feridas do ministério.
Algumas das maiores tristezas do ministério pastoral são aquelas vezes em
que o pastor é acusado. Talvez suas boas obras de pastor sejam relatadas
como más. Ou, talvez, ele seja objeto de ataques ou cobranças falsas e
injustas. Você não irá servir no mesmo lugar por muito tempo, sem passar
por estes momentos de tribulação. Mas, lembre-se: você não precisa se
defender — seu Defensor é forte.
Sua esposa e seus filhos precisam de proteção durante estes tempos.
Eles saberão que você está passando pelo meio de uma tempestade. Eles
podem orar e se sensibilizar com isto. Mas, especialmente seus filhos, não
precisam ser arrastados por todos os seus estresses, desapontamentos, dores e
medos. Mary certamente precisará saber mais sobre a situação do que seus
filhos, mas, ainda assim, você poderá poupá-la dos detalhes mais sórdidos, os
quais apenas a impediriam de dormir à noite. A idéia aqui não é colocá-la
numa redoma, e lutar sozinho durante os períodos de provação. Vocês são
uma só carne e você não pode caminhar sozinho. Aprenda a ter Mary como
sua confidente, porém, sem fazê-la carregar os fardos.
Deus irá sustentá-lo durante estas provações. Depois da tempestade
sempre vem a bonança (veja Sl 66.10-12). Quando você passar são e salvo
pela tempestade, será uma bênção que sua esposa e filhos não tenham
detalhes para esquecer, ou lutas para destruir qualquer raiz de amargura que
tenha surgido.
É um trabalho maravilhoso — o ministério do evangelho. É claro que há
provações. Deus nunca nos deixa ir para muito longe, sem nos ajudar a ver
nossas próprias fraquezas e profunda necessidade de seu poder e capacitação.
E assim como Pedro diz, em 1 Pedro 1.6-9, mesmo quando nossa fé está
sendo testada por todo tipo de provação, nós também podemos ter uma
alegria que é inefável e gloriosa. Eu tive esta experiência ainda ontem.
Conforme colocava meus fardos diante do Senhor, fui tomado por um
incrível senso de estar sendo cuidado por Ele, e pela bondade e retidão ao
conhecê-Lo e servi-Lo. A alegria inefável e gloriosa é nossa, mesmo em meio
a provações. Que Deus poderoso nós servimos!
Oramos freqüentemente para que Deus continue abençoando a você e
toda a sua família.

Seguindo na graça,
Pastor Tedd Tripp
PS — Segue abaixo alguns títulos, cuja leitura irá encorajá-lo em seu
chamado como marido e pai:
1. Your Family, God’s Way, Wayne Mack (Phillipsburg, NJ:
Presbyterian & Reformed Publishing Co., 1991).
2. The Complete Husband, Lou Priolo (Amityville, NY: Calvary Press
Publishing, 1999).
3. Pastoreando o Coração da Criança, Tedd Tripp (Editora Fiel, São
José dos Campos, SP).
Capítulo 4 - Ame seu rebanho (Ted Christman)

Capítulo 4

Ame seu rebanho


Ted Christman

Amado Timóteo,
Calorosas saudações em nome de nosso Salvador! Foi maravilhoso
receber sua última carta. Dianne e eu nos regozijamos ao saber como o
Senhor está lhe estabelecendo, não apenas na comunidade em geral, mas
especialmente entre o seu próprio povo. Sua crescente utilidade para as almas
dos homens é assunto de freqüentes intercessões em nosso culto doméstico.
Sinta-se encorajado em saber que em várias ocasiões o Senhor tem trabalhado
em nossos corações a respeito de suas necessidades, de tal maneira que a
única forma de nos expressarmos é através das lágrimas e quebrantamento.
Quem dera estes corações errantes, insensatos e geralmente frios fossem
sempre gentis e quebrantados.
Por favor, expresse nossas mais profundas afeições a Mary. Ela é
verdadeiramente uma querida esposa e fiel companheira para você. Pensamos
sempre sobre os nossos primeiros anos no ministério, e os peculiares desafios
que eles trazem à, por vezes, solitária esposa do pastor. Por favor, assegure-a
de nosso amor e de nossas orações por ela.
Timóteo, quero lhe agradecer por compartilhar conosco a breve história
de sua igreja. Achei realmente muito interessante. Sou especialmente grato
por sua avaliação espiritual da congregação. Sei que este esforço tomou
muito do seu tempo, mas este é um exercício que você precisa praticar
continuamente. Ele o ajudará a discernir o senso de direção de Deus, tanto
para o presente quanto para o futuro de seu ministério. De minha parte, saber
alguma coisa sobre a situação de seu rebanho ajuda-me consideravelmente na
hora de lhe dar os conselhos que gostaria de dar-lhe.
Você me pediu para compartilhar alguns pensamentos sobre o assunto
do amor ao rebanho. Consenti alegremente, porque a sua preocupação é
nobre e cristã. Ao mesmo tempo, escrevo com humildade, porque sou
dolorosamente consciente de minhas próprias deficiências em amar o rebanho
como deveria. Na verdade, agradeço a você e ao Senhor pelo seu pedido. Isto
exigiu de mim uma revisão de todo o assunto sobre amar nossas ovelhas,
numa maneira que tem sido boa para minha alma e ministério. Que o Senhor
possa ajudar-me e iluminar nossas mentes, reacendendo o fogo da afeição em
nossos corações.
O que estou a ponto de compartilhar com você é o resultado de um
raciocínio particular. Simplesmente sentei com um bloco de papel e comecei
a escrever todos os pensamentos que vinham à minha mente sobre este
assunto. Obviamente, estes pensamentos eram aleatórios e diversos. Alguns
deles pareciam primários, enquanto outros eram claramente secundários.
Antes do que esperava, eu tinha mais de uma página cheia de idéias e
considerações — todas relacionadas de alguma forma a amar o seu rebanho.
Imediatamente, o desafio tornou-se o que fazer com tantos pormenores.
Minha decisão foi organizá-los em categorias lógicas e então arranjá-los em
uma ordem razoável para apresentação. Provavelmente estou sofrendo
daquela famosa doença ministerial conhecida como “Homiletiquite Pastoral
Aguda”, mas você também é pastor e deve ter um bocado desta mesma
enfermidade. Apenas peço que você tolere gentilmente minhas idéias gerais.
Pelo menos, não adicionarei um poema!
Ao pensar sobre o assunto do amor ao seu rebanho, me parece razoável
levantar cinco perguntas. De forma muito simples, elas são:

1 Por que esse amor é necessário?


2 Como esse amor se exterioriza?
3 O que esse amor deve superar?
4 Com quem esse amor deve assemelhar-se?
5 Onde estão os recursos necessários?
AME SEU REBANHO — POR QUE ISTO É NECESSÁRIO?
Permita-me começar com a primeira pergunta. “Por que isto é
necessário?”. Timóteo, estou completamente persuadido de que você ama
suas ovelhas. É evidente através daquilo que você faz por elas e até mesmo
pela forma que fala nelas. No entanto, é bom que nós dois pensemos
freqüentemente sobre como podemos sobressair ainda mais neste amor.
Deixe-me dar algumas coisas para você considerar.
De uma perspectiva negativa, deve ser dito que se nós não amamos
nosso rebanho, isto deve ser tomado como uma prova definitiva que Deus, o
Pai, não nos colocou como pastores de seu rebanho. E nem o Senhor Jesus
Cristo nos designou como dádiva para sua igreja. As Escrituras são muito
claras nesta questão. Para seu povo da Velha Aliança, Deus disse: “Dar-vos-
ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com conhecimento e
com inteligência” (Jr 3.15). Não preciso convencê-lo de que para ter um
coração segundo o coração de Deus é preciso, entre outras coisas, ter um
coração de amor. As implicações de não ter um coração de amor são mais
que óbvias.
Uma vez que os pastores são “dádivas” para a igreja (Ef 4.11), é
igualmente impensável que Ele colocaria como pastores aqueles que não
amam suas ovelhas. O mesmo Salvador que amou os seus até o fim (Jo 13.1),
implanta uma porção de seu DNA espiritual no coração de cada verdadeiro
pastor.
Além disso, se não amamos nosso rebanho, seremos profundamente
incapazes de exercer qualquer uma de nossas responsabilidades com o
motivo apropriado. Tudo quanto fizermos será superficial — serviço
mecânico de um mero profissional. Tenho certeza que você já aprendeu em
seu breve pastorado que preparar os sermões com muito estudo, pregar com
zelo e paixão, interceder fervorosamente em favor de suas ovelhas, exercitar
um cuidado genuíno pelos membros, oferecer uma liderança sábia e corajosa
aos diáconos e à congregação, etc. é um trabalho extremamente difícil que
exige muito de nós! Qual seria, então, o peso destes mesmos trabalhos para
um ministro que não possui o verdadeiro amor de Deus pelo seu rebanho?
Certamente, seu trabalho seria mundano, para dizer pouco, e estaria destinado
a se tornar absolutamente irritante. Esta talvez seja uma das razões principais
porque muitos pastores são arruinados, desligam-se do ministério e acabam
vendendo seguro de vida.
Falando de forma positiva, no entanto, possuir apenas um pouquinho do
coração de Deus, espontaneamente, energiza e motiva o pastor a seguir com
suas responsabilidades pastorais. Ao amar seu rebanho, ele anseia ajudá-los a
entender a verdadeira Palavra de Deus, que nos faz crescer em fé, nos
santifica, nos guia, nos conforta, e é capaz de transformar vidas. Portanto, ele
estuda laboriosamente para preparar seus sermões e os pronuncia com uma
medida de zelo e paixão.
Ao amar seu rebanho e ansiar pelo seu crescimento em graça, assim
como sua paz e alegria no Senhor, o pastor carrega fervorosamente seus
nomes em seu peitoral para o lugar santo, em sua intercessão sacerdotal. Ele
não pode fazer menos do que isso.
O pastor que ama suas ovelhas também se assegura de que sabe a
situação de suas almas, visitando suas casas e perguntando sobre sua saúde
espiritual. Ele as ama demais para conversar sobre futilidades. Ele se sente
compelido a fazer aquelas perguntas difíceis — as possivelmente
embaraçosas. Ele anseia saber sobre a regularidade de seus devocionais, seu
progresso na graça e a intimidade de seu caminhar com Deus. É
profundamente interessado no culto doméstico, na situação de seu casamento
e também se estão se beneficiando ou não dos meios públicos da graça. Ele
deseja saber como pode orar melhor por elas. Contudo, estas preocupações
práticas não são meramente quanto ao rebanho como um todo. Elas também
se aplicam a cada uma das ovelhas individualmente, incluindo os solteiros,
geralmente negligenciados, que lutam com seus desafios peculiares. Timóteo,
esteja certo disso. Este tipo de interesse deve estar profundamente enraizado
no solo do amor.
Um pastor que ama também entende a importância de que suas ovelhas
sejam persuadidas de seu amor por elas. Isto irá capacitá-las a prestar mais
atenção a suas exortações, tanto pública quanto privadamente. J. C. Ryle
disse: “Uma vez que você tenha certeza de que alguém o ama, irá ouvir
prontamente qualquer coisa que este alguém tenha a lhe dizer”.[14] Richard
Baxter colocou esta idéia da seguinte forma: “Quando as pessoas vêem que
você as ama sem qualquer pretensão, ouvirão qualquer coisa que você lhes
disser e carregarão qualquer coisa que você colocar sobre elas”.[15] Esta
persuasão do amor de seu pastor capacitará a congregação a submeter-se
mais docemente à sua liderança. Ela sabe que seu pastor a ama. Ela sabe que
ele quer somente o bem dela. Meu amado irmão, afirme freqüentemente seu
amor para o seu povo, tanto pública quanto individualmente; não apenas por
seu ministério fiel e corajoso, mas também através de palavras de carinho.
Freqüentemente, eles devem vê-lo olhando suas faces e escutá-lo dizendo:
“Eu verdadeiramente o amo em Cristo. Sou muito grato por você fazer parte
desta congregação”.

AME SEU REBANHO — COMO ISTO SE EXTERIORIZA?


Minha segunda pergunta é: “Como isto se exterioriza?” De certa forma,
já respondi esta pergunta. Ao procurar demonstrar o quanto o amor motiva e
energiza nosso trabalho ministerial, fiz referência à preparação diligente dos
sermões, pregação zelosa, intercessão fervorosa, cuidado genuíno e liderança
corajosa. Onde estes elementos estiverem faltando, não pode haver o amor
verdadeiro pelo rebanho. Por outro lado, é evidente que onde existe tal amor,
ele irá se manifestar através daquelas exatas responsabilidades. Em outras
palavras, o retrato do pastor que ama deve sempre ser pintado com as cores
brilhantes da diligência, amor, fervor, cuidado e coragem.
Há ainda outras atrativas nuanças que, da mesma forma, contribuem
para a elaboração de um retrato cativante do pastor que ama. Elas não se
referem tanto a suas funções ministeriais, e sim ao seu comportamento e
postura — a forma como se relaciona com suas ovelhas e conduz a si mesmo.
Estas cores primárias são a humildade e a ternura.
Para amarmos verdadeiramente nossos rebanhos da forma como Cristo
amou, nós temos de ser homens de genuína humildade, “manso e humilde de
coração” (Mt 11.29). Entre outras coisas, a graça da humildade irá nos tornar
mais acessíveis. Nosso amado Salvador era sempre acessível. Mestres em
Israel como Nicodemos, orgulhosos fariseus como Simão, coletores de
impostos e pecadores, ricos e pobres, cultos e ignorantes, e até mesmo
pequenas crianças viam o Senhor como alguém convidativo e acessível. É tão
triste que muitas ovelhas sintam-se apreensivas ao marcar uma reunião com
seu pastor! Em alguns casos, isto ocorre por serem tímidos e anti-sociais,
porém é muito comum tal dificuldade estar baseada em perceptível
distanciamento do pastor: “É difícil conversar com ele… Parece que ele
apenas está muito ocupado para desperdiçar seu tempo comigo… Ele me faz
sentir que tem ‘abacaxis maiores para descascar’… Eu sinto que sua mente
não está realmente focada em mim”. Estes são presságios e conclusões
desencorajadoras que um membro da congregação jamais deveria ter.
Referindo-se a pastores que se imaginam com algum tipo de
superioridade santificada, Spurgeon disse certa vez aos seus alunos, na
faculdade: “É isto que estou censurando, esta terrível dureza ministerial. Se
você se deixou contaminar por isto, eu lhe recomendaria ir e ‘se lavar no
Jordão por sete vezes’, e se limpar completamente disto, cada pequena
partícula”.[16] Neste mesmo texto, o famoso pastor londrino disse: “Livrem-
se das pernas-de-pau, irmãos, e andem com seus pés; retirem seu
eclesiasticismo e ataviem-se com a verdade”.[17]
Estas belas virtudes de humildade, mansidão e comunicabilidade devem
brilhar especialmente quando nossas ovelhas, ocasionalmente, vêm nos
advertir ou até mesmo nos corrigir. Irmão, um verdadeiro pastor que ama é
capaz de admitir diante de suas ovelhas que ele estava errado, talvez até
mesmo que ele pecou. Embora nosso Supremo Pastor nunca esteja errado e
jamais tenha pecado, para que nós sejamos como Ele em humildade, temos de
estar prontos a ser construtivamente criticados. A longo prazo, ganhamos
muito mais confiança de nosso povo nos humilhando diante deles, do que
sempre insistindo que estamos certos. Muitas vezes, temos admirado a
coragem de Priscila e Áquila por terem chamado Apolo, e, “com mais
exatidão, lhe expuseram o caminho de Deus” (At 18.26). Com que freqüência
valorizamos um eloqüente pregador por ser humilde o suficiente, a ponto de
se deixar corrigir por alguns leigos?
Uma outra virtude essencial para o pastor semelhante a Cristo é o afeto.
Amar nossas ovelhas requer que sempre planejemos e demonstremos uma
ternura genuína e uma simpatia pastoral. Elas precisam saber e sentir, quando
forem aliviar suas almas (seja pela confissão de um grave pecado, a admissão
de frieza espiritual, a revelação de um casamento instável ou o relato
angustiante da morte de um ente querido), que aquele a quem elas vêm em
busca de ajuda e direção, verdadeiramente se importa. Elas também precisam
sentir o mesmo interesse, se vieram compartilhar novidades tão felizes quanto
um noivado ou uma gravidez.
Timóteo, deixe-me reiterar. Suas ovelhas precisam saber e sentir além
de qualquer sombra de dúvida que você é gentil, amável, terno, amigável,
interessado, atencioso e afetuoso. Se elas duvidarem da realidade destas
virtudes, irão inevitavelmente duvidar de seu amor. Se duvidarem de seu
amor, sua efetividade ministerial será praticamente paralisada.
Conforme eu concluo a resposta de minha segunda pergunta, escute
mais uma vez o conselho de Charles Spurgeon. Ele disse:
Um homem precisa ter um grande coração, se tiver uma grande congregação.
Quando um homem tem um grande e amável coração, outros homens virão até ele, como
navios seguem para o ancoradouro, e sentem-se em paz, quando atracam sob o sotavento
de sua amizade. Tal homem é cordial tanto em particular quanto em público; seu sangue
não é frio e duvidoso, mas ele é tão caloroso quanto sua própria lareira.[18]

AME SEU REBANHO — O QUE ISTO DEVE SUPERAR?


Como você provavelmente descobriu, amar seu rebanho não é sempre
fácil. Às vezes, pode ser bem difícil. Este é um fenômeno que precisamos
entender. Quanto mais conscientes estivermos das dinâmicas que se opõe ao
abnegado amor pastoral, mais sucesso teremos em superá-las.
Parece-me que há inimigos de dentro e de fora que se levantam em
oposição ao tipo de amor pastoral que precisamos possuir. Estas “forças de
guerrilha” infiltradas estão enraizadas em nossos pecados remanescentes —
parcialidade, egoísmo, preguiça, orgulho, etc. Você pode imaginar o quanto a
nossa pecaminosidade se manifesta. Os cenários são praticamente ilimitados!
Um árduo dia de trabalho chegou ao fim. Você e Mary haviam planejado
uma noite fora, uma pequena “fugidinha” de casa. Já está tudo certo com a
babá que vocês arrumaram para cuidar de seu filho. Tudo parece ir bem, até o
telefone tocar. Timóteo, você pode terminar esta história. Poderia ser um
problema conjugal ou literalmente uma centena de outros assuntos. O
desfecho é que em muitos casos a situação é suficientemente séria a ponto de
você amavelmente deixar seus planos de lado e ministrar à ovelha que
pranteia. É apenas o amor de Cristo que impede o surgimento de
ressentimento, vence a carne e ternamente faz o sacrifício. Tempo e espaço
não irão me permitir comentar sobre as granadas destrutivas que a preguiça, o
cansaço, o desencorajamento, o ressentimento, o orgulho e a superficialidade
também lançam sobre nós. Tudo o que posso dizer, irmão, é que nós
precisamos lutar constantemente contra estes e ainda outros pecados
remanescentes, os quais procuram capturar e aprisionar nosso amor.
E além destes, há os inimigos de fora — a potencial tirania das
responsabilidades administrativas, o ritmo alucinante da vida, interrupções
inesperadas, etc. Adicione a estas forças de oposição aquelas ovelhas difíceis,
cansativas, desagradáveis, críticas, impacientes e carentes, que parecem
tomar tanto de nosso precioso tempo. Tentamos enfrentar as exigentes
circunstâncias da vida, priorizando nossas responsabilidades e gerenciando
nosso tempo da melhor forma possível, mas ainda assim estas inevitáveis
interrupções se colocarão no meio do caminho e poderão obstruir o amor que
nós tanto desejamos expressar. O desafio mais difícil de todos é: “Como você
pode amar os desagradáveis?” Deus tem sabiamente colocado alguns deles
em toda congregação. Embora eles sejam cansativos e, às vezes, frustrantes
para nós, eles também são preciosos para o Salvador. São os MDG de nosso
rebanho — aqueles “Meios Da Graça” que intencionam nos tornar mais
piedosos. Talvez você já tenha ouvido o ditado: “Viver lá em cima com os
santos que amamos... Oh, seria a glória! Viver na terra com os santos que
conhecemos... é outra história!” Amar tais ovelhas só é possível através do
tipo de amor que nosso Pastor possui por nós. Para obter tal força, precisamos
ir até o Forte! Este pensamento provê a continuação natural para a minha
quarta pergunta.

AME SEU REBANHO — COM QUEM ISTO DEVE


ASSEMELHAR-SE?
Quando pensamos sobre a qualidade do amor pastoral que desejamos, a
pergunta que naturalmente surge é: “Com quem isto deve assemelhar-se?”
Felizmente, não precisamos procurar muito para achar a resposta. O exemplo
máximo do perfeito amor pastoral é clara e indisputavelmente o Senhor Jesus
Cristo.
O apóstolo Paulo falou repetidas vezes sobre o amor de Cristo. Em
Efésios 3.19, ele descreve tal amor como o que “excede todo o
entendimento”. Talvez a característica central e mais ilustre deste amor
incompreensível seja a abnegação. Naquela mesma carta aos Efésios, o
apóstolo disse: “… Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela”
(Ef 5.25). Em Gálatas 2.20, Paulo falou de forma pessoal e carinhosa. Ele
disse: “… no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por
mim”. Referindo-se à sua própria bondade como pastor, o Senhor Jesus disse:
“Eu sou o bom pastor: O bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10.11).
Novamente, quando estava refletindo sobre a qualidade de seu amor, o
Salvador disse claramente: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar
alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (Jo 15.13).
Amado irmão, se a atitude mais cristã que um marido pode ter por sua
esposa é entregar sua vida por ela, então certamente a atitude mais cristã que
podemos ter por nossas ovelhas é entregarmos nossas vidas por elas. O amor
que precisamos cultivar é essencialmente sacrificial. O amor perfeito é aquele
do nosso Salvador. Conforme seguimos com nosso ministério e nos
empenhamos para crescermos em conformidade com Ele, “contemplando,
como por espelho” a glória de nosso Senhor, “somos transformados, de glória
em glória, na sua própria imagem” (2 Co 3.18); nós nos pareceremos mais
com Ele, e o nosso amor será mais parecido com o dEle. Se o nosso
ministério for prolongado pelo amor de Deus, acharemos mil maneiras de
entregar nossas vidas pelo rebanho, freqüentemente até o ponto da exaustão,
até o dia de nossa morte.
Uma outra virtude exemplificada no caráter de nosso Senhor é a
paciência. Toda vez que leio os evangelhos, fico pasmado pela forma tão
graciosa com que Ele suportou a descrença, ignorância, estupidez, ingratidão
e orgulho de seus discípulos. Em uma ocasião Ele teve de dizer aos doze: “…
há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido?” (Jo 14.9). Em
uma outra ocasião, Ele disse: “Ó néscios e tardos de coração para crer” (Lc
24.25). Freqüentemente, podemos vê-Lo lamentando ternamente: “Homem de
pequena fé, por que duvidastes?” (Mt 14.31). Até mesmo na véspera de sua
crucificação, quando seu coração estava pesado com a perspectiva do
abandono divino, seus discípulos, homens fracos, descrentes e de coração
insensível, “suscitaram também entre si uma discussão sobre qual deles
parecia ser o maior” (Lc 22.24). E como foi que aquele com quem nós
devemos nos assemelhar respondeu? Sempre, sempre, sempre com gentileza
e paciente serenidade. Timóteo, nossos discípulos não são diferentes daqueles
do Senhor. Eles, assim como seus pastores, também lutam com descrença,
ignorância, estupidez, ingratidão e orgulho. Nossa tarefa é ajudá-los a livrar-
se destes pecados com o amor paciente e longânimo que assemelha-se ao
amor do Senhor.

AME SEU REBANHO — ONDE ESTÃO OS RECURSOS


NECESSÁRIOS?
Amado irmão, chego agora a minha última pergunta: “Onde estão os
recursos necessários?” Quando você considera a necessidade de amar seu
rebanho, a aparência dele, o que ele precisa superar e a quem ele deveria
assemelhar-se, certamente você se junta a mim no mesmo sentimento de
incapacidade. Ao contemplar tais assuntos, nos vemos clamando
espontaneamente junto do apóstolo Paulo: “Quem, porém, é suficiente para
estas coisas?” (2 Co 2.16). Claro que a resposta é “Ninguém”! No entanto, o
mesmo apóstolo, apenas alguns versículos adiante, nos mostra qual é a nossa
verdadeira esperança. Ele diz: “… a nossa suficiência vem de Deus” (2 Co
3.5). A responsabilidade de amar nossas ovelhas de uma maneira que
realmente agrade ao Senhor é significativa. Às vezes, parece até mesmo
impossível. O fato que nos encoraja é saber que todos os recursos necessários
para se cumprir tão árdua tarefa estão prontamente disponíveis. Eles podem
ser encontrados no Deus trino das Escrituras. Nós, simplesmente, temos de
correr para a sua Palavra e seu trono.
No que diz respeito a sua Palavra, devemos procurar continuamente por
direção em suas sagradas páginas, quanto a como amar nosso rebanho. Neste
sentido, encontramos uma infinidade de preceitos, princípios e exemplos para
a nossa instrução, especialmente nas palavras e obras do Salvador. A vida e
ministério do apóstolo Paulo também são abundantes de conselhos úteis. O
livro de Atos e as epístolas nos revelam muito sobre o coração de um pastor
que ama. Sobre os preceitos morais de Deus foi dito: “A lei são os olhos do
amor, e sem ela, o amor é cego”. Isto também é verdade para o amor pastoral.
Sem os olhos das Escrituras, seu amor é cego. Você e eu não temos o direito
de amar as ovelhas de Cristo do jeito que nós acreditamos que elas devem ser
amadas. Temos a responsabilidade de amá-las da forma que o Grande Pastor
requer.
Além de nos curvarmos perante sua Palavra, também temos de nos
curvar continuamente em oração diante de seu trono. Lá, poderemos aprender
a próspera ocupação de pedir. Como você bem sabe, no Reino de Deus, os
pedintes tornam-se ricos.
Timóteo, já lhe falei do Deus triuno. Vou explicar melhor o que tinha
em mente. Deus, o Pai, dá os pastores de acordo com seu próprio coração (Jr
3.15). O exaltado Filho de Deus dá pastores para a igreja (Ef 4.11). Deus o
Espírito Santo constitui bispos (At 20.28). Nós simplesmente temos de nos
prostrar diante do trono gracioso deste Deus, e suplicar às respectivas Pessoas
da Trindade para nos moldar em tudo aquilo que precisamos ser. Ele, que
designa e constitui verdadeiros pastores, é capaz de fazê-los melhores
pastores — por exemplo, com mais amor. Diante de seu trono de graça,
temos de continuamente apresentar argumentos santos. Nós devemos clamar:
“Oh Deus, eu quero um coração mais parecido com o teu, para que possa
amar melhor tuas ovelhas. Peço-Te que me tornes semelhante a Ti mesmo!
Como poderás negligenciar o meu pedido?” Certamente, o Senhor irá se
agradar de tais orações! Ele, certamente, irá responder estas orações! John
Piper descreve graficamente a oração como “a junção da causa primária e
secundária”. Ele segue caracterizando-a como “a emenda de nosso fraco
arame com o raio dos céus”.[19] Com um recurso como este, de infinito
poder, que nós possamos estar fervorosos e freqüentemente clamando por tal
graça.
Irmão, agradeço-lhe por sua paciência em ler esta carta tão longa.
Confesso, no entanto, que sequer cheguei a arranhar a superfície. Também
sou dolorosamente consciente de minhas próprias falhas em amar meu
rebanho como deveria. Este pecado da omissão é um assunto de freqüente
confissão de minha parte. Concluindo, Timóteo, por favor, lembre-se a quem
nossas ovelhas pertencem. Eu digo “nossas ovelhas”, mas na realidade elas
não são nossas. Elas pertencem Àquele a quem nós temos o privilégio de
servir — o Grande Pastor. Esta é apenas mais uma razão muito séria porque
nós nunca, jamais, devemos nos aproximar como “senhores absolutos”
daqueles que nos foram confiados (1 Pe 5.3). Pelo contrário, com todo o
amor de Deus que nós pudermos adquirir, precisamos imitar o Senhor, de
quem foi dito: “Como pastor, apascentará o seu rebanho; entre os seus braços
recolherá os cordeirinhos e os levará no seio; as que amamentam ele guiará
mansamente” (Is 40.11).
Que o Senhor graciosa e abundantemente derrame em nossas
imerecedoras almas, quantidades cada vez maiores de seu próprio amor pelas
ovelhas. Por favor, comprometa-se comigo de pedir a Deus mais deste
maravilhoso dom. Timóteo, se você é capaz de receber uma última e breve
exortação de um pai espiritual, humildemente aceite esta. Ame seu rebanho!
Baxter disse: “Certifique-se de possuir terno amor em seu peito, e deixe que
as outras pessoas sintam isto em suas palavras e vejam isto em seu
comportamento. Deixe que elas vejam que você está disposto a dar e a ser
dado por elas”.[20]
Mande nossas calorosas lembranças para Mary e diga-lhe que estamos
orando por uma boa gravidez e um parto seguro de um outro saudável bebê.
Conforme você for nos informando de sua situação, continuaremos
intercedendo pelas bênçãos do Senhor em sua igreja. Eu humildemente lhe
peço que você se lembre do Heritage Ministry (Ministério da Herança) da
mesma forma. Até que nos correspondamos novamente, que “O Senhor te
abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha
misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o rosto e te dê a paz” (Nm 6.24-
26).

Um abraço carinhoso de seu irmão em Cristo,


Pastor Ted

PS — Você havia me perguntado sobre livros que pudessem ser úteis no


assunto de amor ao rebanho. Recomendo que você leia os seguintes títulos:
1. Lições aos meus Alunos, Charles H. Spurgeon (PES, São Paulo, SP).
2. O Pastor Aprovado, Richard Baxter ( PES, São Paulo, SP).
Capítulo 5 - Memorize as Escrituras (Andy Davis)

Capítulo 5

Memorize as Escrituras
Andy Davis

Amado Timóteo,
Não tenho palavras para lhe dizer o quanto fiquei feliz ao ouvir notícias
sobre o seu novo ministério como pastor! Lembro-me com carinho daqueles
tempos em que orávamos juntos, quando você ainda se perguntava, do fundo
de seu coração, se Deus estava ou não chamando-o para o ministério. Vê-lo
crescer, do incrédulo que você era quando nos conhecemos até o ponto que
você chegou hoje, é uma das maiores alegrias que já tive o prazer de
experimentar no ministério. Você certamente deve lembrar como estava
apreensivo ao confidenciar-se comigo em nossa primeira conversa, sem
sequer imaginar que algum dia eu seria um de seus melhores amigos.
Conforme a conversa foi avançando, nos assuntos de vida após a morte e do
sacrifício expiatório de Cristo pelos pecados, eu senti, como se o Espírito
Santo estivesse selecionando pessoalmente cada versículo das Escrituras
especialmente para você, como um hábil cirurgião selecionando cada um dos
instrumentos cirúrgicos, a fim de que Deus exortasse por meu intermédio
(veja 2 Co 5.20). E o mais impressionante era que eu havia deixado minha
Bíblia em casa de forma a ter de confiar apenas nos versículos que eu havia
memorizado, a fim de compartilhar com você. É exatamente sobre isso que
quero falar agora — o valor da memorização das Escrituras, em cada aspecto
de sua vida como um pastor.
Timóteo, anelo ver sua vida e ministério tendo valor completo para a
glória de Deus e para o crescimento de seu reino. Minhas maiores súplicas
em seu favor são que nunca se esqueça da importância central da Palavra de
Deus, tanto para você pessoalmente quanto para a igreja a qual está
pastoreando. A fim de manter-se espiritualmente saudável e proteger-se das
tentações e ataques do inimigo, você precisa continuamente saturar sua mente
na Palavra de Deus, de forma a escapar de todas as armadilhas que o inimigo
colocar sob seus pés. Um dos aspectos mais difíceis do ministério pastoral é
perceber o quão vital é para a igreja o seu caminhar com Cristo. Desta
maneira, você é um alvo estratégico e atrativo para o diabo. Se ele conseguir
arrastá-lo para baixo, muitos outros irão cair com você. Este é um paralelo
com a situação do rei Davi e do povo de Israel e Jerusalém. Quando Davi
pecou por fazer o recenseamento dos homens de combate em Israel, o povo
pagou o preço através de uma praga enviada pelas mãos do Senhor (1 Cr
21.14). Da mesma forma, quando Davi pecou ao cometer adultério com Bate-
Seba e quando confessou seu pecado no Salmo 51, estava muito preocupado
com a prosperidade de Jerusalém: “Faze bem a Sião, segundo a tua boa
vontade; edifica os muros de Jerusalém” (Sl 51.18). O pecado é um “luxo” ao
qual um pastor não pode dar-se — o preço para o seu povo é
inacreditavelmente alto. Portanto, quando o inimigo espreitar ao seu redor,
procurando destruir sua família, tudo o que você tem plantado no ministério,
e a sua própria vida também, lembre-se que nosso Senhor Jesus Cristo
respondeu ao diabo com trechos memorizados das Escrituras: “…Retira-te,
Satanás, porque está escrito…” (Mt 4.10).
Isto me leva a um outro aspecto de seu caminhar com Deus que será
fundamental para a frutificação de seu ministério pastoral: seguir a liderança
e orientação de Deus, através da obediência absoluta em um momento após o
outro. Os pastores estão constantemente sentindo a necessidade de orientação
em seus ministérios — “O que devo fazer agora, Senhor?” A resposta de
Cristo aponta o caminho. Enquanto estava no deserto, o diabo tentou Cristo:
“Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães”.
Jesus respondeu: “Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda
palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.3,4). Timóteo, por muito tempo
pensei que este versículo estivesse apenas me instruindo que eu precisava ter
um momento silencioso todos os dias. Mas, recentemente, descobri o
contexto daquela passagem no Velho Testamento, e acabei percebendo o
quão superficial era aquela minha aplicação. Jesus estava citando
Deuteronômio 8.3, e o contexto deste versículo é fundamental:
Cuidareis de cumprir todos os mandamentos que hoje vos ordeno, para que vivais,
e vos multipliqueis, e entreis, e possuais a terra que o Senhor prometeu sob juramento a
vossos pais. Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o Senhor, teu Deus, te guiou no
deserto estes quarenta anos, para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no
teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos. Ele te humilhou, e te deixou ter
fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem teus pais o conheciam, para
te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca
do Senhor viverá o homem (Dt 8.1-3).

Deus liderou Israel, passo a passo, pelo deserto, humilhando o povo e


levando-o a olhar para Deus em cada uma de suas necessidades e em todas as
circunstâncias, quer as boas ou as ruins. De fato, Deus treinou Israel a olhar
para sua boca e a viver e mover-se apenas mediante as palavras que saíssem
da boca de Deus. Isto foi igualmente salientado em seus deslocamentos de
um lugar para o outro, conforme eles seguiam a liderança de Deus através da
coluna de nuvem e de fogo:
Quando a nuvem se erguia de sobre a tenda, os filhos de Israel se punham em
marcha; e, no lugar onde a nuvem parava, aí os filhos de Israel se acampavam. Segundo
o mandado do Senhor, os filhos de Israel partiam e, segundo o mandado do Senhor, se
acampavam; por todo o tempo em que a nuvem pairava sobre o tabernáculo,
permaneciam acampados. Quando a nuvem se detinha muitos dias sobre o tabernáculo,
então, os filhos de Israel cumpriam a ordem do Senhor e não partiam. Às vezes, a nuvem
ficava poucos dias sobre o tabernáculo; então, segundo o mandado do Senhor,
permaneciam e, segundo a ordem do Senhor, partiam. Às vezes, a nuvem ficava desde a
tarde até à manhã; quando, pela manhã, a nuvem se erguia, punham-se em marcha; quer
de dia, quer de noite, erguendo-se a nuvem, partiam (Nm 9.17-21).

Então, de fato, o Senhor Jesus Cristo estava dizendo: “Satanás, eu não


irei comer a não ser ao comando do Senhor. Não vivo apenas de pão, mas de
cada palavra que sai da boca de Deus. Quando Deus der a ordem, irei comer
novamente!” Assim, obviamente, esperamos que Deus nos “dê a palavra”
para a direção de nossas vidas, unicamente através da Palavra escrita de
Deus. Mas este entendimento do contexto da citação de Cristo no Antigo
Testamento tem tornado a frase “toda palavra que sai da boca de Deus” muito
mais vívida em termos de obediência pessoal diária. Daqui virá a orientação
que você procura para cada aspecto de seu ministério.
A memorização das Escrituras é benéfica para a sua vida pessoal diante
de Deus. Ela também é benéfica para a saúde de sua família. Estou tão
contente por Deus estar abençoando a você e a Mary com outra criança! Ser
pai é ao mesmo tempo uma imensa alegria e um tremendo desafio. Mas
perceba que, parafraseando Jesus, “de quê valeria para um pastor ganhar uma
‘igreja de sucesso’ e perder sua família?” Ou, colocando isto de forma mais
bíblica, “… se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da
igreja de Deus?” (1 Tm 3.5). Sua esposa precisa de seu amor e dedicação
constantes, Timóteo. Memorizar Efésios 5 tem abençoado meu casamento
constantemente. Quando estou dirigindo para casa depois de um dia difícil na
igreja e meus olhos se voltam egoisticamente apenas para mim, o Espírito
Santo me traz novamente aquelas palavras das Escrituras em um chamado
estridente: “Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja
e a si mesmo se entregou por ela…” e também “Quem ama a esposa a si
mesmo se ama” (Ef 5.25,28). De fato, o Espírito diz: “Tire os olhos de si
mesmo, Timóteo, e ame a sua esposa”. Várias vezes Deus tem usado alguma
passagem que tenho memorizado para abençoar minhas orações com minha
esposa ou até mesmo como meio de liderança de Deus para mim, em meu
papel de cabeça espiritual no casamento. Esta disciplina também irá ajudar a
proteger seu casamento do incrível estresse associado ao ministério pastoral.
Da mesma forma, saturar sua mente com as Escrituras irá capacitá-lo a
ensinar seus filhos e discípulos de maneira adequada. Seus filhos são seus
primeiros discípulos — não os perca, enquanto procura ganhar o mundo para
Cristo. Novamente, a sabedoria de Deuteronômio guia sua paternidade como
o sacerdote de sua família:
Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu
Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que,
hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás
assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te (Dt 6.4-
7).

Timóteo, realmente não sei como você pode obedecer a este


mandamento de forma prática, se não se entregar à memorização. Para falar
delas quando estiver “assentado em tua casa, e andando pelo caminho”, você
precisa tê-las armazenadas em sua memória, ou, então, sempre carregar uma
Bíblia com você. Ainda mais impressionante é a palavra “inculcarás”. (Em
muitas outras versões: “ensines-as com persistência”.) Esta mesma palavra é
usada para a amolação da espada reluzente de Deus em Deuteronômio 32.41
e significa “afiar”. Você se lembra daquele acampamento de discipulado que
fizemos com alguns rapazes durante nosso estudo bíblico? Você se lembra
como Kevin pegou sua pedra de amolar e começou a afiar seu machado antes
de aprontar a lenha para usarmos? Ele esfregava a pedra contra a lâmina vez
após vez, sem parar, até a lâmina ficar afiada. É exatamente isto que acontece
com sua mente, quando você está memorizando versículos, repetindo-os vez
após vez. Não há um atalho para a perfeita memorização — é tão simples e
difícil quanto o repetir, vez após vez, dia após dia, mês após mês. É
exatamente isto que Deus quer que você faça com as mentes de seus filhos —
“afiar” a Palavra de Deus neles através da repetição.
Isto me lembra de uma outra ilustração naquele acampamento. Você se
recorda quando mandei que cada um de vocês pegasse uma pedra do rio e
outra da floresta? Vocês deveriam segurar a pedra da floresta em sua mão
esquerda e a pedra do rio em sua mão direita, de forma que todos pudessem
vê-las. Lembra-se da diferença mais imediata entre a pedra da floresta e a
pedra do rio? Steve disse: “Sim, a pedra da floresta está toda suja!” Então
mandei que todos vocês fossem lavar as pedras da floresta no rio — agora
elas estavam completamente limpas e livres de qualquer sujeira ou folhas.
Mas elas eram idênticas? Não! Timóteo, você foi o primeiro a ver a
diferença. A pedra da floresta era afiada, com pontas denteadas, enquanto a
do rio era perfeitamente lisa. Então eu disse para vocês colocarem suas
pedras da floresta no rio enquanto jantávamos — salsicha e feijão, se bem me
lembro. Após o jantar, vocês retiraram as mesmas pedras do rio e elas ainda
pareciam afiadas e ásperas. Vocês então puderam entender o que eu estava
querendo dizer — uma pedra da floresta só se torna perfeitamente lisa após
muitos anos de completa imersão nas corredeiras da montanha. Da mesma
forma, ocorre com sua mente e a Palavra de Deus. A santificação acontece
quando sua mente está totalmente imersa, dia após dia, mês após mês, ano
após ano, no fluxo constante de verdade das Escrituras. “E não vos
conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa
mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade
de Deus” (Rm 12.2). A memorização das Escrituras é uma das ferramentas
mais poderosas que Deus tem usado em minha vida para me purificar dos
desejos malignos e me santificar para a sua glória.
Agora, Timóteo, quero lhe falar sobre seu ministério público como
pastor. Eu o conheço bem o suficiente para entender o quanto você deseja ter
um ministério frutífero em sua nova igreja. Perceba que este desejo é piedoso
e abertamente comentado por Cristo em sua Palavra, conforme mencionarei
em breve. No entanto, até mesmo um piedoso desejo por frutos pode ser
transformado em desejo egoísta por um “império”. Evite entrar num jogo de
números, no qual você mede o “sucesso” pelo quanto os cultos têm crescido
desde que você chegou lá. Lembre-se que estamos procurando “fazer
discípulos de todas nações”, não apenas atrair uma multidão cada vez maior.
Contudo, desejar a salvação dos perdidos e o crescimento espiritual daqueles
já salvos são evidências da obra de Deus em seu coração. Anseie por frutos
— não apenas alguns, mas em abundância!
Como a memorização das Escrituras se relaciona a isto? Eu posso estar
sem muita base, mas acredito que Jesus podia estar com isto em mente (pelo
menos de alguma forma) quando disse aos seus apóstolos, na noite antes de
sua morte: “Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem
em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito. Nisto é glorificado meu Pai,
em que deis muito fruto; e assim vos tornareis meus discípulos” (Jo 15.7,8).
Obviamente, você se lembra da poderosa ilustração da videira e dos ramos,
que antecede este ensinamento. (A propósito, Timóteo, eu ainda tenho em
minha mesa aquele galho seco tirado de uma videira, como um motivador,
que me recorda que somente permanecendo em Cristo poderei produzir fruto.
Você deveria ter um em seu escritório também). Permanecer em Cristo
significa estar constantemente nos avaliando ou considerando ser enxertados
espiritualmente nEle, com sua seiva vivificante correndo em nós, através do
Espírito Santo. Unicamente desta forma você será capaz de produzir frutos
duradouros.
Acredito que Deus tem me mostrado o papel incrivelmente poderoso
que a memorização das Escrituras desempenha neste “permanecer” em
Cristo. Jesus disse: “Se permanecerdes em mim [por exemplo, através da fé
pessoal em mim, avivado pelo meu Espírito], e as minhas palavras
permanecerem em vós”, apenas assim vocês conseguirão produzir fruto
eterno através da oração em nome dEle. Eu poderia facilmente falar sobre a
importância da oração neste ponto, mas estou focando no conceito das
palavras de Cristo permanecerem em você. Dei uma olhada na versão em
grego, alguns minutos atrás, apenas para ter certeza, e a frase está no plural
— se as palavras de Cristo permanecerem em você, ou seja, seus
substantivos, verbos, adjetivos, orações subordinadas, etc. Todos estes devem
permanecer em você de momento a momento. E como isto poderia ser feito
melhor do que mediante a memorização? A memorização das Escrituras é um
caminho abençoado para a frutificação espiritual em seu ministério.
Esta é uma verdade maravilhosamente prática. Vamos dizer que é terça-
feira e você tem de visitar a Sra. Beecham, após sua operação de vesícula.
Conforme você está andando pela calçada que leva ao hospital, relembra
algum capítulo que estivera memorizando naqueles dias — talvez Filipenses
2, sobre a humildade de Cristo; ou então, 2 Coríntios 1, sobre como Deus nos
conduz através de terríveis provações, de forma que possamos confortar os
outros com o mesmo conforto que Ele usou para conosco. Então, quando
você se senta ao lado da cama da Sra. Beecham para falar com ela, a partir de
seu coração transbordante, sua boca começa a falar das Escrituras. Certa vez
alguém disse: “Quando tudo que você tem é um martelo, o mundo todo
começa a se parecer com um prego”. De uma certa maneira, você começa a
achar um uso prático para encorajamento e exortação em quase todas as
passagens das Escrituras que você memorizou. Quando você aconselhar, o
fará com “os oráculos de Deus” (1 Pe 4.11). Ouvi dizer que John Wesley
cavalgou mais milhas do que qualquer homem que já viveu neste mundo, e
em todo o tempo, ele estava lendo a Bíblia. Também foi dito sobre Bunyan
que sua mente estava tão cheia com as Escrituras que em suas veias tinha
circulação “biblínea”. Que seja assim com você!
Timóteo, quero ser muito claro sobre o que estou defendendo. Estou
exortando-o a memorizar livros inteiros da Bíblia, ao invés de apenas
versículos específicos. Muitas pessoas desenvolvem métodos de
memorização com “versículos chaves” escolhidos por elas. Memorizar
versículos é melhor que não memorizar versículo algum, porém, memorizar
capítulos e livros inteiros é muito melhor do que apenas alguns versículos
individualmente. Por quê? Por muitas razões:

1. Isto honra o testemunho que as Escrituras dão sobre si mesmas:


“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (2 Tm
3.16), e “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que
procede da boca de Deus” (Mt 4.4). Deus não desperdiça o seu
sopro, pois não há palavras supérfluas nas Escrituras. E você
descobrirá que alguns de seus momentos mais poderosos de
convicção, discernimento e encorajamento virão de textos
inesperados da Bíblia.

2. Uma vez que boa parte da Bíblia é escrita como um fluxo de


pensamento, com o autor expondo alguns pontos gerais, de
argumentação lógica, memorizar a passagem inteira possibilita um
entendimento maior da idéia central. Você não irá perder a floresta
pelas árvores. E nem as árvores pela floresta. Todo o livro de
Hebreus soará como uma única sinfonia da verdade, e cada verso
individualmente na seqüência de idéias tocará suas próprias notas
com uma nova claridade. Este benefício da “floresta e das árvores”
também irá ajudá-lo a construir uma teologia bíblica completa, sem
defeitos, e sistemática, ao mesmo tempo que lhe dará
entendimento, capacidade para pregar e ensinar versículos
individualmente da forma adequada.

3. Você estará menos propenso a usar versículos fora de seu contexto,


como resultado da memorização de todo o livro. Um dos
argumentos mais comuns usados pelas pessoas que se opõem a
você em uma discussão doutrinária é: “Você está tirando isto do
contexto!” Um trabalho cuidadoso no livro todo irá ajudá-lo a
evitar este tipo de erro.

4. Sua alegria continuará aumentando, assim como sua reverência à


miraculosa infinidade da verdade nas Escrituras, conforme você
descobre novas verdades dia após dia, mês após mês. A disciplina
de memorizar livros inteiros irá levá-lo a territórios nunca antes
desbravados, e, uma vez que “toda a Escritura é inspirada por Deus
e útil…” (2 Tm 3.16), você receberá benefícios desta jornada de
descobrimento. Imagine que um tio rico morreu e lhe deixou uma
antiga mina de prata já abandonada, perto de Tucson, Arizona.
Depois que você economizou dinheiro o bastante para o vôo até lá,
você pára numa casa de ferragens e compra uma lanterna e uma pá.
O atendente pergunta o que você vai fazer com aquilo e você lhe
conta. Ele ri e diz: “Já não sai prata daquele buraco há várias
décadas, se é que já houve alguma prata lá!” Então, você adentra
sua herança com ceticismo, afastando de seu caminho teias de
aranha e tábuas velhas. Agora imagine que você passou seis horas
vasculhando os túneis e não achou nada além de pedras e sujeira.
Você acha que entraria novamente naquela mina? Mas, suponha
que, ao invés disso, você achasse alguns túneis que nunca haviam
sido explorados. Você começa a cavar e depois de uma hora de
trabalho árduo seus esforços são recompensados com um brilho
inconfundível — um novo veio de prata! Quais as possibilidades de
você retornar com esforços renovados para explorar aquele túnel?
Você chegaria a esperar ainda um outro dia? Da mesma forma,
quando você memoriza passagens das Escrituras que normalmente
não escolheria — descobre coisas que não esperava, e seu amor e
alegria pela Bíblia sobem até os céus. Você nunca ficará estagnado;
e, ao contrário, será uma fonte de constante renovação para o seu
povo.

5. Finalmente, a memorização de porções maiores das Escrituras lhe


fornece mais prontamente ferramentas para o melhor estilo de
pregação — o expositivo. Timóteo, sei que você tem uma
disposição para a pregação expositiva e enxerga o perigo de seguir
um estilo meramente tópico. Você já acredita que a pregação,
semana após semana, através dos livros da Bíblia é a melhor forma
de evitar suas próprias “áreas de risco” e de protegê-lo das
chamadas “batatas-quentes” — assuntos controversos que ninguém
quer discutir. Como você bem lembra, nós falamos sobre o
exemplo de Paulo; ele não hesitou em proclamar ao seu povo toda
a vontade de Deus (At 20.27). Unicamente desta forma, podemos
ver a Palavra de Deus santificando plenamente o seu povo como
Deus quer. Você consegue ver o quanto a memorização de livros
inteiros irá lhe fornecer uma riqueza e profundidade para a sua
pregação, a qual poderia ser impossível sem ela? Você estará
expondo versículo após versículo, nos quais já meditou
profundamente, através de uma interminável repetição. Enquanto
você estiver pregando, seu povo será fartamente alimentado com
sua profunda meditação, enquanto você mostra coisas que eles
nunca haviam visto antes nas Escrituras, embora já tenham lido
aquelas passagens desde a infância. Eles não estarão recebendo
apenas palavras infantis, e certamente florescerão. Enquanto você
estiver pregando, o Espírito Santo mostrará outros versículos que
você já tem armazenado em sua mente e irá capacitá-lo a citá-los
com poder e precisão, porque os entende completamente. Quando
você estiver escrevendo seus sermões, terá sua própria
concordância de referência cruzada embutida em sua mente, que
lhe dará todo o suporte e profundidade que sempre desejou. A
memorização das Escrituras é um rico e poderoso aliado da
pregação expositiva. Por estas e outras razões, defendo a
memorização de extensas porções das Escrituras, ao invés de
versículos individuais.

Agora, se você perceber que sua memória não é boa o suficiente, se


surpreenderá ao descobrir como Deus é capaz de aperfeiçoar sua capacidade
de memória, conforme você praticar esta disciplina. Meu professor de
missões no Seminário Teológico Gordon-Conwell, Dr. J. Christy Wilson (que
já está ao lado do Senhor), certa vez contou uma história sobre um encanador
conhecido dele que tinha como único objetivo memorizar João 3.16. Ele tinha
tamanha dificuldade que, mesmo após passar três meses trabalhando
diariamente nisto, ainda assim não conseguia recitar o versículo todo sem
errar! O que é ainda mais impressionante, no entanto, é que este santo tão
persistente nunca desistiu, como a maioria de nós teria feito. Uma vez que ele
conseguiu ter sucesso em seu humilde objetivo, Deus o abençoou,
capacitando-o a memorizar mais de 2000 versículos das Escrituras nos cinco
anos seguintes! Deus estava apenas testando-o para verificar se ele
permaneceria fiel. E o Senhor tem poder sobre o seu cérebro, Timóteo.
“Então, [Cristo] lhes abriu o entendimento para compreenderem as
Escrituras” (Lc 24.45). Isto significa que Cristo realizou algo em seus
cérebros para que eles pudessem entender. Ele pode fazer a mesma coisa com
você, a fim de capacitá-lo a memorizar. Apenas seja fiel e trabalhe muito, e
Ele abençoará seus humildes esforços.
Timóteo, já tenho lembrado você acerca do valor da memorização das
Escrituras no evangelismo, desde a sua conversão, quando falei com você
pela primeira vez. Testemunhar provido de extensas porções memorizadas
das Escrituras dá liberdade e versatilidade para trazer todo conselho da
Palavra de Deus, a fim de influenciar a alma sofredora de um perdido. A
mesma coisa também é verdadeira nos aconselhamentos pastorais que você
fará. Muitos pastores abandonam a doutrina da suficiência das Escrituras,
quando chegam à área de aconselhamento de almas perturbadas. A
memorização das Escrituras irá ajudá-lo a enxergar que já “nos têm sido
doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade” (2 Pe 1.3), através
do conhecimento que as Escrituras nos têm dado do próprio Deus. A
psicologia mundana irá se revelar uma fraude feita por homens ao ser
comparada com os conselhos bíblicos. A memorização das Escrituras tem
enriquecido profundamente minha vida de oração, capacitando-me a orar,
usando as próprias palavras de Deus. E na área de mordomia do tempo, a
memorização das Escrituras é a melhor forma de remir “o tempo, porque os
dias são maus” (Ef 5.16). Timóteo, os dias voam rapidamente. Logo, você e
Mary estarão velhos e grisalhos. Logo, seus filhos estarão crescidos. Logo,
você estará diante de Cristo para dar-Lhe um relato de cada segundo que
passou na terra. Pense em todas as horas que você passa dirigindo,
caminhando, sentado, tomando banho, cortando a grama, se barbeando,
esperando seu vôo, etc. Preencha estes momentos com oração e com a
memorização das Escrituras, e você não se arrependerá de nenhum tique do
relógio usado na memorização, quando Cristo lhe chamar para dar conta de
sua mordomia.
Termino com uma incrível promessa de bênçãos, em cada área de sua
vida, por causa de seu comprometimento a esta disciplina:
Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no
caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer
está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada
junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não
murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido (Sl 1.1-3).

Timóteo, eu o amo no Senhor. Minhas orações são em seu favor, e que


Deus possa abençoá-lo ricamente em todos os dias de seu ministério. Sempre
serei seu amigo, eternamente seu irmão.

Para a glória do nosso Rei,


Andy

PS — Não conheço um livro dedicado à memorização das Escrituras,


além de meu próprio folheto: An Approach to the Extended Memorization of
Scripture (Um Método para a Memorização Extensiva das Escrituras). Outros
têm escrito habilmente sobre a disciplina espiritual da memorização. Dois
que eu recomendo são:
1. Spiritual Disciplines for the Christian Life, Donald Whitney
(Colorado Springs, CO: NavPress, 1991).
2. The Spirit of the Disciplines, Dallas Willard (São Francisco, CA:
Harper & Row, 1988).
Muitas pessoas lançam mão de métodos de memorização por tópicos, e
têm atingido grandes resultados. Mas, novamente, Timóteo, estou
defendendo a memorização de livros inteiros da Bíblia como orientação de
Deus.
Capítulo 6 - Ore sempre (Martin Holdt)

Capítulo 6

Ore sempre
Martin Holdt

Amado Timóteo,
Como você, comecei meu ministério quando estava com vinte e poucos
anos de idade, e eu estaria suavizando a realidade ao dizer que havia um certo
grau de medo e tremor diante da maravilhosa expectativa de ser pastor e
pregador da Palavra. Olhando para trás, agradeço a Deus pelos conselhos que
recebi de homens com mais tempo no ministério. Através deles, aprendi e
continuo a descobrir novas formas de compreensão sobre um ministério
eficiente. Aquilo que me foi passado por homens fiéis que deixaram um
legado de ministério frutífero tem sido de ajuda inestimável para mim, e eu
oro para que, conforme você se coloca no início de seu pastoreado, Deus
possa me usar para o seu benefício desta mesma forma.
Quando eu era um estudante de teologia do terceiro ano, ansiava por
saber se, quando formado, estaria na obra e serviço de Deus, desfrutando, no
sentido bíblico da palavra, de sucesso. Percebi que um certo pastor em nosso
país estava exercendo um ministério dirigido por Deus. Escrevi para ele e fiz
algumas perguntas relacionadas ao seu sucesso e ministério. Sua réplica
consistia em duas páginas e meia de lúcidos conselhos pastorais. Sua resposta
para a minha pergunta acerca da oração era modesta e humilde, mas indicava
uma coisa: a oração era o principal elemento de sua vida. Meus anos de
treinamento foram de valor inestimável; mas, muitas vezes, me questionava
por que não havia qualquer menção de teologia da oração. Na história do
presbiterianismo, toda a questão do pastor e seu comprometimento à oração
intercessora era parte integrante do culto de ordenação, particularmente
quando se tratava de falar ao homem sobre suas tarefas e responsabilidades
para com sua congregação. Tragicamente, a oração é uma parte subestimada
no chamado pastoral de nossos dias.
Lance sua mente por toda a extensão da história bíblica. Sempre há uma
certa quantidade de homens inspirados por Deus, o Espírito Santo, rogando
ao Deus vivo e implorando sua misericórdia em tempos de necessidade. Com
Abraão, por exemplo, o registro bíblico é claro. Ele compreendeu o papel que
a oração desempenhava em sua poderosa peregrinação. Deus lhe revelou o
segredo de seus propósitos; quando Ele fez isto, Abraão correu ao trono da
graça para implorar a misericórdia de Deus para com os justos de Sodoma.
Iria Deus, por amor de cinqüenta, quarenta, trinta ou ainda menos justos,
poupar aqueles que eram merecedores do castigo? Deus ouviu seu clamor e
lembrando-se de Abraão, livrou Ló.
A vida de Jacó nos ensina que, quando a aliança está em vigor, ainda
que o pecado floresça em abundância, a graça abundará ainda mais. Você
conhece uma oração mais comovente que aquela de Jacó, clamando: “Não te
deixarei ir se me não abençoares?” (Gn 32.26). Não estaria o autor das
Escrituras nos dizendo que temos em Jacó um homem que entendeu pelo
menos uma coisa; ou seja, que na providência de Deus, é impossível
considerar uma peregrinação de fé, se a oração intercessora não for uma
característica proeminente dela?
O que podemos dizer de Moisés? Deus chegou a falar que o povo
merecia julgamento imediato. Moisés, então, foi à frente e fez o seu apelo. Há
um argumento santo e muito conteúdo em sua oração. Ouça ele rogando:
“Deus, e quanto a tua reputação? O que dirão os pagãos? Como isso pode
acontecer?” (Veja Nm 14.13-16). Que santo respeito, que inquieto clamor,
quanta preocupação pela honra do Deus vivo! Ele fez isto aquela vez; porém,
também o fez outras vezes, enquanto ficava entre um povo ingrato e rebelde e
um Deus vingador do pecado. Aqui vemos um homem de Deus,
argumentando o caso com base no santo e gracioso nome de Deus, e Deus
lembrou-se da nação e a poupou.
Cada capítulo com história remissora retrata homens de oração. Veja o
exemplo de Neemias e os muros desmoronados de Jerusalém. Ele aparece
como um homem dado às súplicas intercessoras. Esdras também fez
exatamente o mesmo. Davi enfatizava a necessidade da oração. Todos os
profetas eram caracterizados como intercessores de primeiro escalão.
Considere o exemplo de Jesus. Tentamos nos desculpar de nossa
negligência com a oração por causa de nossa vida agitadíssima. Já existiu um
homem tão ocupado quanto Jesus? Você já se deu conta, Timóteo, do
momento em que se passam os acontecimentos de Marcos 1.35? Está escrito:
“Tendo-se levantado alta madrugada, saiu, foi para um lugar deserto e ali
orava”. O Santo Filho de Deus estava passando as primeiras horas da manhã,
antes do nascimento do sol, em proximidade de seu Pai celestial, renovando
seu vigor e suas forças espirituais, preparando-se para o dia que não tardava
em chegar.
Toda a vida de Jesus é entremeada de orações. Na medida que se
aproxima da cruz, Jesus leva seus discípulos com Ele. Novamente, Ele nos
ensina a necessidade da oração. Esta foi uma parte inseparável de sua
preparação para o batismo do sofrimento. Você já leu alguma coisa que
tocasse mais a alma que a oração sacerdotal proferida por Jesus? No
Getsêmani e na agonia da cruz, o Filho de Deus estava preocupado com a
comunhão com o Pai, até mesmo quando sua ira estava sendo despejada
sobre seu Filho amado, a fim de pagar os pecados de seu povo escolhido.
Ainda assim, Ele tinha disposição para orar! Timóteo, seria um tremendo
absurdo não enxergar a importância de caminhar nos passos dEle.
Atos 6 é uma passagem fascinante. Ela começa com estas palavras:
“Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve
murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam
sendo esquecidas na distribuição diária. Então, os doze convocaram a
comunidade dos discípulos e disseram: Não é razoável que nós abandonemos
a palavra de Deus para servir às mesas. Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete
homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais
encarregaremos deste serviço; e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e
ao ministério da Palavra” (ênfase minha — At 6.1-4).
Note, antes de tudo, o crescimento sem precedentes, da igreja trazendo
consigo uma demanda incomum pela atenção pastoral. A igreja estava se
multiplicando por causa de um ato de soberania de Deus. Com isto, surgiu
um problema pastoral inesperado, que ameaçava sair do controle. Alguns de
nós teríamos entrado em pânico. Os apóstolos, contudo, recusaram-se a
permitir que o assunto os envolvesse e consumisse o seu tempo. Eles
delegaram a responsabilidade.
Você pode imaginar uma liderança hoje com a atitude de confiar a
outros um assunto tão sério como aquele? A questão era literalmente pessoas
morrendo de fome! A primeira função ministerial, na consideração daqueles
homens, era a oração. Eles haviam aprendido bem. As duas funções do
ministério, oração e pregação, não podem ser separadas. Os pastores
precisam, invariavelmente, orar, assim como todas as outras pessoas. Eles
devem fazer aquilo que todos os cristãos fazem: começar o dia com oração,
programar-se a passar o dia com oração, e terminar o dia com oração, porém
eles precisam ir além disso.
As pessoas da igreja primitiva, de acordo com Atos 2.42, se entregavam
à oração. Mas os pastores as ultrapassavam. Eles se recusavam a assumir
qualquer responsabilidade na igreja local, ainda que nobre, a fim de buscar
um nível mais elevado no essencial ministério da oração. Calvino disse que
os pastores têm uma razão ainda maior para orar que qualquer outro, pois a
sua grande preocupação é a salvação comum da igreja. Neste ponto, o
exemplo de Moisés torna-se instrutivo para todos os pastores.
Enquanto as orações minguam, a descrença e o secularismo invadem a
igreja evangélica. Nossa única esperança hoje é renunciar às outras coisas e
voltarmo-nos à oração. Ela é a nossa obrigação comum, mas é
particularmente a obrigação daqueles que foram chamados ao ministério. No
Antigo Testamento, o povo esperava que seus líderes orassem. Samuel
considerava pecado a falta de oração pelo povo. Davi orou e a praga cessou.
Ezequias orou durante uma crise nacional, e Deus ouviu sua oração.
No entanto, Timóteo, estes santos do Antigo Testamento, apesar de toda
a sua diligência e fidelidade, não podiam orar como nós podemos hoje, com
nossa fé calcada no conhecimento de Jesus Cristo. Eles não podiam orar
como nós oramos com completa consciência dos privilégios gloriosos,
preparados para nós, em Hebreus 10.19-22:
Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de
Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne, e
tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus, aproximemo-nos, com sincero coração, em
plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com
água pura.

Estude as orações de Paulo. Estude os detalhes. Estude a paixão, a


precisão, a ênfase, o coração pastoral. Conforme ele carrega no coração o
fardo das igrejas, sabe que, pela nomeação divina, seu mais alto chamado
como um humilde pastor do rebanho é invocar o Grande Pastor em favor das
ovelhas.
Não há nenhuma eficácia especial nas orações dos ministros. Somente
Cristo tem esta eficácia. A base de nossa oração é sempre, e deve ser sempre,
a obra mediadora de Cristo. Nosso trabalho como pastores não é apresentar
um sacrifício pelos homens, e sim persuadi-los a acreditar num Sacrifício já
oferecido. No entanto, é exatamente baseado nisto que nós rogamos a Deus
em favor dos homens.
Neste sentido, a oração é nosso trabalho mais importante. É um trabalho
árduo. É uma luta contra o adversário. É uma batalha contra a carne. É um
trabalho essencial. O ministro que não ora por seu rebanho não é ministro de
jeito algum. Ele é orgulhoso, porque faz seu trabalho como se pudesse obter
algum sucesso sem o poder de Deus. Ele não mostra misericórdia, porque não
é capaz de perceber que a maior necessidade de seu povo são os favores
divinos do Senhor sobre eles. Assegure-se disto, se ele não orar, pagará um
alto preço.
Considere as palavras sensatas de John Smith:
A oração é a vida e a alma da função sagrada: sem ela, não podemos esperar
qualquer sucesso em nosso ministério; sem ela, nossas melhores instruções são inférteis
e nosso trabalho mais penoso não produz efeito. Antes que lancemos terror sobre aqueles
que quebraram a lei, precisamos antes, assim como Moisés, passar muito tempo com
Deus em um lugar retirado. A oração freqüentemente alcança o sucesso para pequenos
talentos, enquanto que os maiores talentos sem oração são simplesmente inúteis e
perniciosos. Um ministro que não é um homem de piedade e oração, quaisquer que
sejam seus outros talentos, não pode ser chamado um servo de Deus; muito pelo
contrário, ele é na verdade um servo de Satanás, escolhido por ele pela mesma razão que
ele escolheu a serpente em tempos remotos, visto ser ela o mais sutil dos animais criado
pelo Senhor. Que monstro, oh, Deus, este tipo de pastor deve ser, este dispensador das
ordenanças do evangelho, este intercessor entre Deus e o seu povo, este reconciliador do
homem com o seu Criador, se ele não se enxerga como um homem de oração.

Deus freqüentemente dá bênçãos ao povo, em resposta à oração do


pastor. Nós devemos levar as suas necessidades até Ele; devemos lamentar
pelos pecados deles; devemos orar pela conversão dos pecadores e pela
edificação dos santos, e, ai de nós, se não o fizermos! Enquanto os ministros
precisam estar à frente do ministério da oração, todos quanto acreditam
precisam ter a mesma preocupação. Se a igreja deve, pelos planos de Deus,
florescer, os cristãos precisam aprender a orar.
Os ministros não seguem uma carreira. Um ministro é cativo do serviço
divino e não pode servir a Deus sem oração. Quando Paulo escreve aos
Romanos, ele quer que eles saibam disto (ver Rm 1.8). Seguindo a introdução
dele, e antes de adentrar o resto de sua carta para a igreja em Roma, ele faz
como um juramento, ao dizer: “Porque Deus, a quem sirvo em meu espírito,
no evangelho de seu Filho, é minha testemunha de como incessantemente
faço menção de vós em todas as minhas orações” (Rm 1.9). Ele faz este
juramento para assegurar aos crentes que estava trabalhando nisto. É a
primeira obrigação que ele menciona.
Devo expressar aqui que, em algumas ocasiões, já ouvi pregadores
criticando fortemente o que chamam de “oração lista de compras”. Se,
através disto, estão querendo dizer que ao orar não devemos exigir de Deus
coisas de uma lista, então, me identifico com essa aversão deles por este tipo
de oração. No entanto, creio, lembrando-me de dois exemplos do Antigo
Testamento, que é obrigação do pastor orar por toda a sua congregação de
forma nominal, isto é, lembrando-se de cada um individualmente. As
Escrituras falam que Arão carregava um escudo com os nomes dos filhos de
Israel em seu peito. Tome nota também do exemplo de Samuel, quando ele
disse: “Quanto a mim, longe de mim que eu peque contra o Senhor, deixando
de orar por vós” (1 Sm 12.23a). Tem sido de grande ajuda para mim, ter meu
livro pessoal de oração! Não há nada anormal nisto! É um caderno com um
bolso no lado de dentro da capa, no qual eu guardo um pequeno cartão branco
com itens em palavras curtas para oração, coisas como compromissos de
palestras, necessidades que logo passarão e outros assuntos assim. No resto
do livro, as páginas consistem em versos das Escrituras, os quais repito
durante minhas orações, visto que eles me ajudam a focar minha atenção em
Deus e em seus caminhos. Então, tenho na lista os nomes de todos os
membros da igreja que pastoreio e seus filhos, assim também outros pastores
e instituições pelas quais sinto necessidade de orar. Além disso, incluo nestas
páginas itens como as finanças da igreja, o louvor e adoração da igreja, e os
vários outros departamentos e atividades, como os jovens, por exemplo. Se
isto é uma “oração lista de compras”, então eu argumentaria que alguém que
vai às compras com uma lista, ao menos sabe o que quer comprar e não volta
para casa desapontado porque esqueceu de algo!
Há inúmeras coisas que são esperadas de um pastor. Se fizéssemos tudo
aquilo que é esperado de nós, certamente nunca iríamos orar. Se você voltar
para Atos 6, perceberá que quando aquela prioridade foi estabelecida, os
resultados foram fenomenais. Nosso ministério não se orienta por resultados,
mas quando pela vontade de Deus, estes homens fizeram aquilo que era a
obrigação deles, “crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava
o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé”.
Pode não ser sempre assim conosco, mas nosso trabalho nunca deixará de ser
abençoado. Nunca haverá um verdadeiro potencial evangelístico sem a
oração intercessora.
Timóteo, listei a seguir dez aspectos importantes da oração bíblica que
devem ser lembrados:

1. Necessidade. Deus não tem filhos mudos; muito menos, servos


mudos. Quando aquele fariseu dos fariseus, Saulo de Tarso, foi
convertido, ele imediatamente começou a orar. Quando o anjo
anunciou esta conversão para Ananias, a descrição principal dada
sobre Saulo foi: “Pois ele está orando”. É como se o anjo estivesse
dizendo: “Ele nunca fez isto antes”. Antes ele agia
impensadamente. Mas agora que havia experimentado o Espírito da
adoção e é um herdeiro de Deus e co-herdeiro junto de Cristo, está
orando e sua voz é escutada. Isto agora se tornou uma necessidade
para ele. Sem oração um homem não pode ser cristão.

2. Urgência. No momento em que uma alma recém-nascida começa a


apreciar as glórias de sua translação do reino das trevas para o
reino da Luz, ela também começa a enxergar o mundo como um
lugar no qual o nome de Deus está sendo desonrado. Ela, então,
implora urgentemente com as seguintes palavras: “Porventura, não
tornarás a vivificar-nos, para que em ti se regozije o teu povo?” (Sl
85.6), e “Já é tempo, Senhor, para intervires, pois a tua lei está
sendo violada” (Sl 119.126). A negação da autoridade e soberania
de Deus é um clamor para a ação divina. Você conhece algo tão
urgente?
3. Valorize a importância da oração. Nós somos impotentes sem ela.
Não chegamos a lugar algum sem ela. Nosso Senhor voltou do
Monte da Transfiguração para presenciar uma triste cena: um grupo
de discípulos impotentes diante da incrível necessidade humana.
Eles dizem a Jesus: “O que está errado?” Ele lhes responde que, em
essência, precisam aprender a orar. Como venceremos os
obstáculos? Nós, também, às vezes parecemos ficar impotentes
diante das necessidades humanas. Teríamos nós abandonado o
lugar secreto do Altíssimo para nossa própria perda e impotência
no púlpito? Que Deus nos desperte!

4. Impotência. No Salmo 50.7-12, Deus declara sua auto-suficiência.


No contexto, Ele nos ensina sobre nossa dispensabilidade e
impotência. Deus não precisa de nossas orações. Nós precisamos
dEle. Ele não precisa de nós! Uma vida de oração é o calvinismo
em sua melhor forma; é uma declaração simples, aberta e honesta
na presença de Deus, de total impotência. Se a salvação vem do
Senhor, e se as pessoas devem ser convertidas, isto deve ser pela
graça de Deus, pelo poder de Deus e através do evangelho. Nunca é
por causa de quem eu sou, e sim apesar de quem eu sou. A
propensão para o orgulho existe e irá nos arruinar, se não
estivermos sempre vigilantes. Se não orarmos, Deus não sofrerá
nenhuma perda quanto ao que fazer sobre a situação. Quando
Mordecai tentou convencer Ester da importância de sua
intervenção na crise nacional, a qual estava colocando em risco a
existência futura dos judeus, e quando ela estava mais preocupada
com sua própria preservação do que com qualquer outra coisa, a
mensagem dele equivalia a dizer: “Você já parou para pensar,
Ester, que você não é indispensável? Se você não fizer nada sobre
isto, o livramento virá de algum outro lugar. Deus não depende de
você. Mas, quem sabe? Talvez você tenha vindo ao reino para um
tempo como este? Por que não mostrar-se à altura da situação?”

Timóteo, se você e eu pararmos de orar, os planos de Deus irão


continuar. Ele ainda continuará construindo a sua igreja, os portões do
inferno não prevalecerão sobre ela, e todo homem, mulher e criança
destinados a serem trazidos para o reino de Deus serão trazidos. Mas eu
irei sofrer por minha falta de orações.

1. Constância. Paulo nos exorta em 1 Tessalonicenses 5.17 a orar


“sem cessar”. Davi orava sete vezes por dia; Daniel, três vezes por
dia. Lutero, ao encontrar um amigo na rua, diria: “Irmão, eu te
encontro orando?”

2. Conteúdo. Por que orações foram registradas nas Escrituras? Por


que o Espírito Santo considerou importante que tivéssemos colunas
e mais colunas das Escrituras Sagradas dedicadas às orações que
foram oferecidas por Daniel, Neemias, Paulo e Jesus Cristo? Ele
fez isto para que você e eu pudéssemos aprender a orar. Oh, que as
orações assumam um caráter mais bíblico! Oh, que as orações
sejam uma expressão da vontade de Deus, tal como é mostrado nas
Escrituras!

3. Importunidade. Isto é, entender a vontade de Deus e trazê-la diante


dEle para sua própria atenção, contínua e persistentemente. É dar a
Deus nenhum descanso até que Ele traga paz à Jerusalém. Afinal
de contas, é a vontade de Deus que sua Jerusalém, o corpo de
Cristo, seja resplandecente com a sua glória, e um louvor a Deus na
terra. Se a igreja não é aquilo a que foi chamada a ser, não
deveríamos nós implorar pela misericórdia de Deus para que o
corpo de Cristo seja feito uma honra ao seu nome neste pobre e
miserável mundo? Jesus não nos deu a parábola da viúva
importuna, nas palavras de Lucas 18.1, “sobre o dever de orar
sempre e nunca esmorecer”? Quão sério você é em sua
preocupação com a igreja de Deus?

4. Certeza. Isto significa fé. Não tem nada a ver com Deus nos dando
algum tipo de cheque em branco para o preenchermos. A fé é
fundamentada na vontade de Deus. A fé descobre o coração de
Deus nas páginas das Escrituras. A fé esforça-se por conhecer a
Deus. A fé concebe orações tocantes, como a de João 17. “Pai”,
orou Jesus, “a minha vontade é que onde eu estou, estejam também
comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me
conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo”. A fé
toma conhecimento desta expressão da vontade do Salvador e a
leva para Deus, vez após vez. Ela deposita esta vontade diante dos
pés dEle. A fé roga: “Pai, o seu povo, por quem Cristo orou,
precisa ser levado em asas de águias. Leve-os em segurança através
de sua jornada por este mundo perverso e hostil. Leve-os através
dos portões da morte e para dentro do lar eterno na glória”.
Martinho Lutero pode ter soado impudente na forma como orou,
quando se pôde ouvi-lo dizer: “Pai, que se faça a minha vontade,
porque eu sei que a minha vontade é a sua vontade”. Portanto, ele
tinha compreendido a vontade do Pai e expressava isto em sua
oração.

5. Extensão. Quando o crente tem uma mente que é capaz de alcançar


muito além dos limites das pequenas mentes dos homens, e olha
além do horizonte para enxergar e entender os propósitos gloriosos
de Deus na redenção, ele ora de acordo com estes propósitos de
Deus. “Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as
extremidades da terra por tua possessão” (Sl 2.8), diz o Pai para o
Filho. O crente aceita esta promessa em oração. Sua maior alegria e
seu maior prazer estão em saber que os rebeldes dobram os joelhos
diante do Filho de Deus, que eles tocam o cetro estendido a eles, e
que assim são salvos pela graça. O crente, de joelhos, anseia mais
que qualquer outra coisa — que Cristo possa ter um seguidor, um
seguidor que O adore. Ele espera que um seguidor admire a Jesus.
Todo intercessor pode se identificar com Spurgeon, sobre quem
Archibald Brown disse, certa vez: “Ele O amou, ele O adorou, ele
era nosso satisfeitíssimo cativo do Senhor”. Quando Paulo orou,
pensou grande. Veja sua oração em Efésios 3.14-21. Pense grande,
quando você orar!

6. Objetivo. O objetivo é a glória de Deus. “Santificado seja o teu


nome.” “Deixe que o nome de George Whitefield pereça”, disse
este homem, “mas que o nome de Cristo viva pelos séculos dos
séculos!” Quando o próprio Jesus levantou seus olhos aos céus, Ele
disse: “Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho
te glorifique a ti, e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com
a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (Jo
17.1,5). O crente responde imediatamente com um entusiástico:
“Assim seja”.

Concluindo, deixe-me fazer uma ou duas sugestões práticas. Eu fui


convertido sob o ministério do homem mais piedoso que já conheci. Seu
nome era Victor Thomas. Ele tinha, espiritualmente, os pés no chão, era um
exemplo de humildade e excepcional expositor da Palavra. Ele está no
paraíso agora. Um dia, quando estávamos a sós, ele disse: “Martin, sempre
que você puder, ore em voz alta”. Este conselho tão prático tem me ajudado
através dos anos. O próprio salmista disse: “Ao Senhor ergo a minha voz e
clamo, com a minha voz suplico ao Senhor”. Reconhecidamente, há um tipo
de oração que não é audível. Diz-se que Ana murmurou uma oração sincera e
inaudível. Também temos Neemias que não teve outra opção, senão fazer
uma oração silenciosa para o Deus dos céus, quando o rei lhe fez uma
pergunta e ele queria dar uma resposta sábia. Claro que haverá momentos em
que você também seguirá estes exemplos, mas precisará descobrir o que eu
mesmo aprendi, desde aquele primeiro conselho sobre oração, que verbalizar
e dizer em voz alta os seus pedidos a Deus é uma simples, porém
significativa, ordem bíblica.
Em Zacarias 8.20-23, nós lemos: “Assim diz o Senhor dos Exércitos:
Ainda sucederá que virão povos e habitantes de muitas cidades; e os
habitantes de uma cidade irão à outra, dizendo: Vamos depressa suplicar o
favor do Senhor e buscar ao Senhor dos Exércitos; eu também irei. Virão
muitos povos e poderosas nações buscar em Jerusalém ao Senhor dos
Exércitos e suplicar o favor do Senhor”. Aqui temos uma súbita
conscientização da incrível importância da oração intercessora. Com um
renovado senso de urgência, o povo começa a invocar a misericórdia de
Deus, e então, Zacarias continua: “Assim diz o Senhor dos Exércitos:
Naquele dia, sucederá que pegarão dez homens, de todas as línguas das
nações, pegarão, sim, na orla da veste de um judeu e lhe dirão: Iremos
convosco, porque temos ouvido que Deus está convosco”. Oh, que Deus
repita estas misericórdias novamente! Você pode imaginar, Timóteo, dez de
seus vizinhos implorando para que você os leve à igreja? Oh, que Deus nos
desperte! Nós temos a verdade. Não dizemos isto arrogantemente. As
palavras de Jesus para Pedro se aplicam a nós: “Bem-aventurado és, Simão
Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que
está nos céus”. Se queremos ver a Palavra de Deus adentrar poderosamente as
fortalezas do mal e do pecado, todos nós temos de levar a sério o assunto da
oração intercessora.
Eu termino citando um grande pastor americano de uma geração
anterior. Gardiner Spring disse:
Já se foi o tempo quando os pastores das igrejas americanas valorizavam o
privilégio da oração; eles não somente eram homens de oração, mas também oravam
freqüentemente com os outros e uns pelos outros. Suas recíprocas e fraternas visitas
eram consagradas e adocicadas pela oração, e também não era nem um pouco incomum
que eles se juntassem para passar dias inteiros em jejum e oração, para que as efusões do
Espírito de Deus viessem sobre eles e suas igrejas, e aqueles eram dias de poder, dias em
que o braço forte de Deus se mostrava e sua mão direita sustentava, nem era difícil ver
onde a imensa força do púlpito encontrava-se. E o mais fraco dentre eles, naquele dia,
será como Davi, e a casa de Davi será como Deus.

Que Deus seja conosco e nos desperte, e que Deus nos faça intercessores
para a sua glória, para a sua honra, para o bem-estar de sua igreja e para o
livramento das nações.

Soli Deo Gloria,


Pastor Martin Holdt

PS — Recomendo o mais entusiasticamente possível que você leia o


capítulo sobre “Oração Particular do Pregador”, no livro de C. H. Spurgeon,
Lições aos Meus Alunos.
Um pequeno livro escrito por Derek Thomas, chamado Praying the
Saviour’s Way (Fearn, Ross-shire: Christian Focus Publications, 2001), fala
sobre deixar que a oração de Jesus reconstrua a sua vida de oração. Este livro
é muito mais valioso do que poderia lhe dizer. Eu lhe estimulo a ler muitos
livros voltados ao assunto de oração, especialmente, o ensino das Escrituras
sobre este tema. Tais leituras devem acompanhar o estudo da Palavra de
Deus, que, certamente, é a parte mais importante do trabalho de um pastor.
Capítulo 7 - Cultive a humildade (C. J. Mahaney)

Capítulo 7

Cultive a humildade
C. J. Mahaney

Amado Timóteo,
Confio que você está maravilhado pela graça de Deus, enquanto
contempla a admirável cruz. Sou muito grato por sua última carta. É sempre
uma imensa alegria reconhecer a sua letra no envelope e depois ler sobre a
fidelidade de Deus agindo em sua vida, até mesmo em meio a tantos desafios.
Também lhe agradeço por compartilhar suas lutas íntimas comigo. Sinto-me
honrado em poder orar por você e oferecer-lhe algum conselho.
Antes mesmo do recebimento de sua carta, Timóteo, eu já estava
pensando em você. Creio que isso se deve às atividades associadas com o
aniversário de vinte e cinco anos da Igreja da Aliança da Vida. Nas últimas
semanas, estive olhando algumas fotos minhas de vinte e cinco anos atrás,
quando nós éramos apenas um pequeno grupo de pessoas se reunindo num
porão, e eu ainda tinha cabelos! Eu era praticamente da sua idade naquela
época, e ainda lembro tão bem como é ser um pastor de vinte e poucos anos,
com uma jovem família e uma pequena congregação.
Mas não são as similaridades entre nós dois o que mais me impressiona.
São as diferenças. Você possui muitas vantagens que eu não tive.
Diferentemente de mim há vinte e cinco anos, você possui pais na fé. Você
tem toda uma história de membresia em igrejas fortes e maduras, que têm
sido um modelo de tudo aquilo que significa ser uma representação do corpo
de Cristo em um determinado lugar. Mais importante do que isso, você
também tem um sólido entendimento das doutrinas bíblicas essenciais,
principalmente do glorioso evangelho de nosso Salvador. Estas eram coisas
pelas quais eu ansiava profundamente, quando tinha a sua idade. Quão
desafiador era, especialmente para um jovem pastor, seguir seu chamado sem
um homem mais experiente na fé, o qual pudesse caminhar ao seu lado e ser
seu próprio Paulo! Tendo de lidar com isto, fiz um compromisso logo no
início de meu ministério, como você sabe, de fazer tudo o quanto pudesse
para ajudar a preparar a nova geração de líderes, e Deus em sua misericórdia
me tem garantido estas oportunidades. Agora, quando observo jovens como
você, que estão cultivando ativamente estes relacionamentos, e sendo
beneficiados por eles, meu coração se enche de imensa alegria.
Houve recentemente um evento durante a celebração de nosso
aniversário, quando sua lembrança surgiu de forma clara em minha mente.
Um homem chamado Jim, novo na igreja, contou-nos como dias antes ele
ouvira Gary, um de nossos pastores, enumerar algumas das evidências da
graça de Deus, as quais estiveram presentes na Igreja da Aliança da Vida
desde seu início. Alguns anos atrás, Jim esteve numa igreja que,
tragicamente, sofreu uma séria divisão. Então, enquanto Gary falava sobre
aquelas evidências da graça de Deus, Jim prestava muita atenção, tentando
entender o que havia sido diferente nas duas igrejas — e por que elas tiveram
experiências tão distintas uma da outra.
Gary observou como no início de nossa igreja tínhamos um grande amor
pela Palavra de Deus. E Jim disse consigo mesmo: “Sim, nós também
tínhamos”. Gary falou em como amávamos Jesus Cristo e éramos
imensamente gratos por seu sacrifício substitutivo na cruz. E Jim pensou: “É
sim, nós também éramos assim”. Nós amávamos a graça e a adoração —
“Com certeza nós também”. Nós acreditávamos na importância dos
relacionamentos, e, mais uma vez, Jim pensou: “É, nós certamente também
dávamos importância a isto”. Finalmente, Gary observou como havia uma
ênfase na humildade, especialmente entre os líderes. E Jim pensou: “Hum...
não. Nós não éramos assim”.
Durante minha leitura bíblica nesta manhã, deparei-me com Isaías
66.1,2. Foi quando percebi que tinha de separar um tempo esta tarde para
escrever-lhe. Timóteo, esta é uma passagem que, pela graça, os líderes da
Igreja da Aliança da Vida têm procurado aplicar desde o início. Acredito que
ela irá ajudá-lo com os desafios pelos quais você está passando agora. Você
certamente já conhece esta passagem, mas, por favor, leia-a cuidadosamente:
Assim diz o Senhor: O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés; que
casa me edificareis vós? E qual é o lugar do meu repouso? Porque a minha mão fez
todas estas coisas, e todas vieram a existir, diz o Senhor, mas o homem para quem
olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra (Is 66.1,2).

Assim como você, meu amigo, os israelitas tinham uma série de


vantagens. Eles tinham uma identidade única. Eles tinham a Torá. Eles
tinham a Lei de Deus, a aliança e o templo. Mas lhes faltava humildade —
eles permitiram que o orgulho florescesse livremente. Então, Deus desviou a
atenção deles do templo e a direcionou para seus corações. Ele lhes mostrou
que a preocupação deles não deveria estar na grandeza exterior, mas sim na
interior. “… o homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito
e que treme da minha palavra.”
Timóteo, não estou dizendo que o considero um homem
surpreendentemente orgulhoso. Mas, eu penso que o orgulho está na raiz de
vários dos desafios que você descreveu para mim. Certamente, devido ao
pecado remanescente, todos nós somos inclinados ao orgulho. E como um
ministro do evangelho, o orgulho possui o potencial para se alavancar através
de seu ministério, fazendo estragos que podem se estender muito além de sua
própria família.
Talvez você já tenha lido o que Packer citou sobre o orgulho: “Em todos
os estágios do desenvolvimento de nossa vida cristã e em todas as esferas de
nosso discipulado cristão, o orgulho é o nosso maior inimigo e a humildade
nossa melhor amiga”.[21] O melhor que posso dizer é que o orgulho foi o
primeiro pecado — entre os anjos e entre os homens. Também parece que o
orgulho é a essência de todos os pecados, assim como é o pecado que Deus
considera mais ofensivo. Em Provérbios 6.16-19, o homem orgulhoso
encabeça a lista das sete coisas que Deus abomina. Quando se refere ao
orgulho, a Bíblia utiliza palavras como ódio, abominação e detestável.
Linguagem mais forte do que esta, Timóteo, simplesmente não existe.
Além das coisas que eu “odeio” bem humoradamente falando — coisas
como queijo ricota e os times esportivos profissionais de Nova York — eu,
com toda a seriedade, genuinamente odeio o aborto; genuinamente odeio o
racismo; genuinamente odeio o abuso de crianças. Mas coloque todos estes
sentimentos lado a lado com o supremamente puro, santo e inalterável ódio
que Deus tem pelo pecado de orgulho, e tudo isso parecerá uma pequena
aversão. É simplesmente impossível para nós expressarmos o quão
profundamente Deus detesta e abomina o orgulho.
Mas por que Deus odeia tanto assim o orgulho? Charles Bridges
resumiu isto muito bem: “O orgulho levanta o coração contra Deus. Ele
contende pela supremacia com Ele.”[22] O orgulho é uma atitude de auto-
suficiência e de independência para com Deus e de farisaísmo e superioridade
para com os outros. Ele rouba a honra e a glória devidas a Deus. Ele pode
tomar muitas formas, mas tem apenas um objetivo: auto-glorificação. Não é
de se admirar, portanto, que Deus se oponha aos soberbos (1 Pe 5.5).
Oh, quão terríveis são os perigos do orgulho! Eu já o vi destruindo
pastores, casamentos, famílias, relacionamentos, igrejas — tudo isto entre
crentes sinceros. Mas para todos os reais perigos provenientes do orgulho, há
também a rica promessa para a humildade. Pois o nosso Deus não apenas se
opõe veementemente ao orgulho; Ele aceita decisivamente a humildade. O
onisciente sabe de todas as coisas — nada escapa de sua vista — e ainda Ele
procura ativamente por uma coisa. Sua atenção está voltada especialmente
para a humildade: “… o homem para quem olharei é este”. O homem
humilde irá receber graça, e não oposição, porque sua motivação é glorificar
a Deus, e não a si mesmo. Deus sempre estenderá e manterá seu favor sobre o
homem humilde que busca a sua vontade.
Timóteo, durante a última década, tenho visto seu conhecimento e amor
pelas Escrituras crescerem em força e profundidade. Sei que você é capaz de
dar sermões precisos e eficazes sobre orgulho e humildade. Mas se você me
permitir que mudemos de assunto, gostaria de argumentar sobre um ponto
antes de seguir adiante.
Imagine certo número de igrejas, cada uma liderada por homens
chamados por Deus, dotados e comprometidos. Cada um deles valorizando
bastante as Escrituras e a sã doutrina, e devotados à centralidade do
evangelho. Sendo ainda cheias de crentes comprometidos, verdadeiros servos
que amam sinceramente o Senhor Jesus. Com o passar do tempo, algumas
destas igrejas prosperam, enquanto outras não. Por quê? Correndo o risco de
estar simplificando muito as coisas, eu diria que sei a resposta.
Muitas pessoas acreditam na Bíblia. Muitos pastores a conhecem
extremamente bem. Muitos reconhecem que ela é nosso único e inteiramente
confiável guia para a vida e fé. Mas igrejas fortes — isto é, igrejas nas quais
os membros estão crescendo em santificação e glorificando cada vez mais a
Deus, tanto em suas vidas públicas quanto privadas — são igrejas nas quais
os líderes não se limitam a meramente ensinar a sã doutrina. Eles também
lideram, e são verdadeiros modelos, na aplicação consistente da verdade
bíblica em toda a sua vida.
Eu afirmo isto com inteira confiança: daqui a uma década, seu
ministério terá frutificado na mesma medida que você tanto tenha ensinado as
Escrituras de forma apropriada quanto também a tenha aplicado de maneira
consistente — em sua própria vida, na vida de sua família, entre seus
companheiros presbíteros e na sua igreja. Igrejas eficazes são construídas não
somente através do ensino da verdade bíblica, mas também através da
aplicação dessa verdade, pela graça de Deus.
Quando Gary disse, “havia uma ênfase na humildade, especialmente
entre os líderes”, ele estava falando sobre a aplicação. A aplicação adequada
das Escrituras irá sempre enfatizar o enfraquecimento do orgulho (seu maior
inimigo) e o cultivo da humildade (seu melhor amigo). Estou convencido de
que isto é o que fez toda a diferença em nossa igreja. E fará toda a diferença
em sua igreja também.
Tratei de tudo isto, Timóteo, para que eu pudesse compartilhar com
você algumas formas específicas com as quais tenho procurado tremer diante
da Palavra de Deus. Certamente esta frase fala de algo muito além da simples
aquiescência. O homem orgulhoso pode respeitar a Palavra de Deus, pode
acreditar nela, e até mesmo ensiná-la, mas tremer diante da Palavra de Deus é
exclusividade dos humildes. Então, que passos práticos um pastor pode dar
para cultivar a humildade e desta forma tremer diante da Palavra de Deus?
Por muitos anos mantive uma lista de práticas. Elas derivaram das três
décadas que passei procurando crescer na graça. Algumas são itens de
específica aplicação diária — são coisas que eu realmente tento observar
todos os dias. Outros desses itens são áreas de ênfase e de aplicação regular e
consistente durante todo o ano. Na falta de um termo melhor, eu a chamo de
minha lista anual. São as coisas nas quais procuro dedicar grande parte de
minha atenção, para que meu caráter continue a ser informado sobre os
efeitos dominadores do orgulho e aqueles que induzem à humildade.
Não conheço nenhuma forma melhor de crescer em humildade do que
observar um conjunto de práticas concretas e tangíveis. Aqui estão aquelas
que, pela graça de Deus, têm provado sua eficácia para mim. Não estou
encorajando uma rigorosa imitação destas práticas. Eu as ofereço para
instigá-lo a considerá-las, de modo que você venha a desenvolver sua própria
lista. Mas para o bem de sua própria família, e de sua igreja, você deve ter
uma lista.
O primeiro item de minha lista anual é estudar os atributos de Deus.
Focando-me especialmente nos atributos incomunicáveis de Deus, aqueles
que não têm reflexo ou ilustração no homem ou em qualquer lugar da
criação. (Note como, em Isaías 66, Deus chama nossa atenção para sua
grandeza única e sem paralelos).
Considere, por exemplo, que Deus é infinito. Ele não tem limites, não
tem extremos. Ele também é onipresente. Ele não possui um centro, nenhum
ponto de concentração, nenhum lugar onde a sua essência está localizada,
pois Ele é completa e igualmente presente em todos os lugares — na criação
e muito além dela. The New Bible Dictionary diz: “Quando dizemos que
Deus é espírito infinito, nós estamos completamente fora do alcance de nossa
experiência”.[23]
Verdadeiramente, meu amigo, esta é a profundeza do mar teológico.
Este Ser infinito é auto-existente e auto-suficiente. Tudo na criação, desde
você e eu, até às criaturas celestiais, aos átomos de gás nas profundezas do
espaço, estão, para sua mera existência, momento a momento, sob completa
dependência da atenção sustentadora de Deus. Mas antes do tempo, e por
todo o tempo, e ainda fora do tempo, Deus sempre e unicamente depende de
si mesmo. Nós somos como a grama que murcha e seca, mas Ele sozinho tem
o poder da existência absoluta. Como Matthew Henry, escreveu: “O maior e
melhor de todos os homens no mundo tem de dizer ‘Pela graça de Deus eu
sou o que sou’. Mas Deus diz apenas — ‘Eu sou o que sou’ — e isso é mais
do que qualquer outra criatura, homem ou anjo, poderia dizer”.[24]
Tal contemplação irá inevitavelmente enfraquecer o seu orgulho.
Quanto mais você estiver consciente da diferença entre você mesmo e Deus,
mais você irá experimentar e expressar humildade. Quanta bondade de Deus
em nos oferecer em sua Palavra um vislumbre de sua imperscrutável
singularidade; uma ajuda infalível para a nossa humildade!
Em muitos dos itens destas listas, recomendarei alguma leitura
adicional. Quero identificar muitos dos livros que tiveram uma influência
profunda e duradoura em meu ministério e nesta igreja. De forma que, para
compreender melhor os atributos incomunicáveis de Deus, você deve ler, em
algum tempo, o capítulo 11 do livro de Wayne Grudem, Systematic Theology
(Teologia Sistemática), intitulado “The Character of God: Incommunicable
Attributes — How is God Different From Us?” (O Caráter de Deus:
Atributos Incomunicáveis — Como Deus se Difere de Nós?). Ou, então, você
poderia ler o capítulo equivalente no Bible Doctrine (Doutrina Bíblica), que é
a versão resumida daquele livro.
Em segundo lugar, nunca se desvie do caminho da cruz. Viva como
alguém que constantemente avista — e bem próximo — a cruz maravilhosa,
na qual o Príncipe da Glória morreu. Como eu disse antes, não posso fazer
nada além, e certamente também não posso fazer nada melhor, que chamar
sua atenção à centralidade do sacrifício do nosso Salvador.
Um amigo certa vez contou-me sobre uma oportunidade que ele teve de
entrevistar Carl Henry, um homem verdadeiramente humilde que, como você
bem sabe, é provavelmente o intelectual evangélico mais importante da
última metade do século vinte. Ele perguntou ao Dr. Henry, que já se
aproximava dos oitenta anos, como ele havia permanecido tão humilde por
tantas décadas. O Dr. Henry apenas respondeu: “Como alguém pode ser
arrogante quando se coloca ao lado da cruz?” Eu não tenho qualquer ilusão
de que meu caráter sequer se aproxime daquele do Dr. Henry, mas há um
livro que teve valor incalculável em ajudar-me a permanecer ao lado da cruz:
The Atonement, de Leon Morris.
Em terceiro lugar, estude as doutrinas da graça. Conforme você
mergulhar nos estudos da eleição, chamado, justificação e perseverança, será
lembrado de que tudo o que temos e tudo o que somos como cristãos começa
em Deus, termina em Deus e depende de Deus. Estas doutrinas tão ricas não
deixam qualquer espaço para autocongratulação. Mark Webb escreveu:
“Deus planejou a salvação de forma que nenhum homem possa se orgulhar
dela. Ele não apenas a preparou de um modo que o orgulho fosse
desencorajado ou mantido em níveis mínimos; Ele a planejou de tal forma
que o orgulho é absolutamente excluído. A eleição faz precisamente isto”.
[25]
A arrogância pessoal e uma verdadeira apreciação pela teologia
reformada não podem co-existir; a verdade expulsará o orgulho de seu covil.
Para mim, um livro muito útil nesta área tem sido a obra de Anthony
Hoekema, Saved by Grace (Salvo pela Graça).
Em quarto lugar, estude a doutrina do pecado. Eu li sobre uma placa que
estava no espelho do provador de uma loja, que dizia: “Objetos no espelho
podem parecer maiores do que eles realmente são”. Timóteo, quando você
permite que a doutrina do pecado instrua a sua autopercepção, esta não será a
sua experiência. Compreender a profundidade e a depravação do pecado em
nossas vidas, não permite que tenhamos uma percepção enfatuada de nós
mesmos.
A melhor forma de se preparar para o estudo do pecado é, em primeiro
lugar, estudar a santidade de Deus, pois somente nela podemos encontrar a
inexistência absoluta de pecado. Examine as Escrituras neste tópico, e
assegure-se de ler o livro The Holiness of God (A Santidade de Deus), de R.
C. Sproul. Então, quando você começar a estudar a doutrina do pecado
propriamente dita, você irá fazê-lo sob a perspectiva correta. E para sua
leitura neste momento, ninguém melhor que John Owen, especialmente em
Temptation and Sin, no volume seis de sua coletânea de trabalhos. Uma
versão resumida está disponível em um único livro, sob o título Sin and
Temptation. O livro The Enemy Within, de Kris Lundgaard, é essencialmente
uma interpretação simplificada e modernizada da obra de Owen, mas ainda
assim muito útil.
Em quinto lugar, ponha a doutrina do pecado em prática. Vendo que
todos os homens são pecadores, Mike Renihan observa: “Os pecadores
podem ser divididos em dois grandes grupos: aqueles que admitem seu
próprio pecado, e aqueles que não admitem. Dentre aqueles que admitem
serem pecadores, podemos ver dois outros grupos: aqueles que tomam
alguma atitude em relação a isto, e aqueles que nada fazem a respeito”.[26]
Timóteo, o pastor humilde é o homem que toma alguma atitude a este
respeito, especialmente através da confissão e da busca pela correção.
Não é difícil admitir nossa própria abrangente depravação. O difícil é
confessar uma área específica de depravação em nossas vidas. Obviamente,
todos nós precisamos primeiramente confessar os nossos pecados para Deus.
Mas também somos chamados a confessar os nossos pecados, conforme for
apropriado, aos irmãos. Você sabe o quanto recomendo que cada pastor, até
mesmo nas menores igrejas, tenha um grupo de homens com quem ele possa
se abrir. Deus certamente irá lhe enviar estes homens. Seu trabalho é
encontrá-los, chamá-los para lhe ajudar e ser transparente diante deles,
confessando os seus pecados livre e regularmente.
Deixe que estas confissões sejam completas e específicas, e não pré-
selecionadas e parciais. Confesse atos públicos de pecado e tentações
presentes, e deixe que a graça e o perdão sejam abundantes em sua vida. É
uma triste verdade que sempre que um pastor se desqualifica no ministério,
em razão de alguma falha pessoal de caráter, uma longa falta de confissão dos
pecados esteve, invariavelmente, presente.
Outro meio vital de aplicação da doutrina do pecado em sua própria vida
é o querer e o buscar a correção em determinadas áreas do caráter. A este
respeito, um pastor precisa ser gentilmente persistente, tanto em público
quanto em particular. Conseqüentemente, a maioria dos membros de sua
igreja deveriam sentir-se verdadeiramente à vontade para mostrar-lhe
qualquer situação em que você pareça ter agido de forma pecaminosa — ou
até mesmo, qualquer área em que você poderia estar fazendo um trabalho
melhor. Por acaso sua esposa, seus amigos ou até mesmo aqueles que servem
com você em sua igreja poderiam dizer que você pede ajuda sem dificuldade?
Alfred Poirier escreveu um artigo excelente neste assunto, intitulado The
Cross and Criticism (A Cruz e a Crítica).[27]
Os itens que acabei de citar ajudarão qualquer cristão a crescer em
humildade, mas os que estão alistados a seguir se aplicam especificamente a
pastores.

1. Estude diligentemente, mas reconheça suas limitações teológicas.


Enquanto seus filhos crescem, Timóteo, você será várias vezes
bombardeado com questões teológicas que simplesmente não é
capaz de responder. Nosso filho Chad, que recentemente fez nove
anos, faz muitas destas perguntas, e várias vezes eu simplesmente
tenho de dizer: “Eu não sei, filho”. (Na verdade, eu digo isto tão
freqüentemente que a esta altura ele pode estar pensando que não é
necessário saber muita coisa para se tornar um pastor). Os
membros da sua congregação também irão lhe fazer perguntas
difíceis. Sejamos apropriadamente influenciados pela estimativa de
Calvino de que até mesmo os melhores teólogos estão certos
apenas 80 por cento das vezes. Então, em meu melhor dia, qual terá
sido minha porcentagem? Metade disso? Além do mais, até onde
eu saiba, nunca tive algum pensamento original. Quando ensino ou
aconselho, estou me beneficiando dos trabalhos de homens
melhores e mais sábios que vieram antes de mim. Se hoje enxergo
alguma coisa, é apenas porque me apoio nos ombros deles — e
jamais gostaria de deixar em alguém uma impressão diferente
desta. Quando estiver instruindo ou aconselhando, a consciência de
suas limitações suavizará e fará humilde suas atitudes, tom de voz e
até mesmo suas conversas.

2. Logo antes de pregar, leia Spurgeon. Sempre que possível, tento


encontrar e ler na noite de sábado, algum sermão de Charles
Spurgeon no mesmo assunto ou texto que estarei pregando na
manhã seguinte. Spurgeon mostra como deveria ser a pregação, e o
lembra de que você não consegue pregar daquela forma. Ler o
Príncipe dos Pregadores sempre rebaixa minha opinião sobre meu
próprio sermão, e aumenta minha dependência de Deus.

3. Use em seus sermões e aconselhamento, ilustrações livres de


quaisquer méritos ou elogios sobre você mesmo. A preparação de
meus sermões não está completa, até que eu tenha conseguido
inserir uma confissão pessoal apropriada ou uma ilustração que me
traga humildade. Baseado nos comentários que tenho recebido ao
longo dos anos, estas são as coisas mais memoráveis que digo (o
que é por si mesmo bastante aviltante). Esta prática também
apresenta a todos os reunidos ali um exemplo desafiador de
humildade.

4. Reconheça sua relativa insignificância. Um pastor é um meio vital


da graça para a sua igreja e aos que ele serve. No entanto, ao
mesmo tempo, ninguém é insubstituível. Charles DeGaulle
observou isto: “Os cemitérios estão cheios de homens
indispensáveis”. Caso eu morresse antes de terminar esta carta, o
que aconteceria? Haveria alguma lamentação entre aqueles que me
amam. Mas em alguns meses este pranto teria praticamente
desaparecido. Em seis meses, para quase todos, eu não seria nada
além de uma doce memória, uma voz vagamente familiar guardada
em alguma fita velha e esquecida. Deus, em sua misericórdia e
amor pela igreja, consagraria ricamente meu substituto até que a
eficiência dele claramente sobrepujasse a minha. E quanto a mim,
não me importaria nem um pouco. Eu estaria no céu!

5. Prepare-se para ser substituído. Estou aqui apenas esquentando o


banco para alguma outra pessoa. O tempo pode ser incerto, mas um
dia certamente serei substituído. E você também. Nossa
substituição é inevitável. Você faria bem, se começasse desde
agora a preparar seu coração, a fim de que quando a mudança
aconteça você seja capaz de responder de uma forma que traga
glória para o nome de Deus e honra para a sua igreja.

6. Jogue futebol o mais freqüentemente possível, e assegure-se de


estar jogando com amigos que não hesitarão em fazer piadas das
terríveis jogadas que você certamente fará de tempos em tempos.
Esse é um bom esporte para exercitar a humildade.

Tenho de seguir adiante, bem rápido, agora, em minha lista diária (vou
levar a Carolyn para o nosso encontro semanal esta noite, e estou ávido em
completar alguns últimos preparativos). De manhã, esta lista me ajuda a
ajustar o clima para o dia. Ela me ajuda, durante o dia todo, a tirar vantagem
daqueles inúmeros momentos mundanos, que podem ser transformados em
meios de experimentar a graça de Deus. E também me ajuda a terminar o dia
completamente consciente de que sua graça faz todas as coisas boas
possíveis.
Primeiramente, comece o dia admitindo sua dependência de Deus, sua
necessidade de Deus, e sua confiança em Deus. Timóteo, estou me referindo
aos primeiros pensamentos do dia. Quando o despertador toca,
imediatamente procuro dirigir meu coração para Deus, expressando minha
dependência dEle. E, propositadamente, continuo a cultivar esta atitude,
conforme me preparo para o dia. Se eu não o fizer, meus pensamentos irão —
com toda a certeza — em direção à autodependência.
Em segundo lugar, enquanto você direciona seus pensamentos para
Deus, ajusta o tom para o dia todo, expressando gratidão a Ele. “A gratidão é
um solo no qual o orgulho dificilmente cresce”,[28] e a gratidão começa com
o evangelho. A melhor forma que encontrei para lutar contra o esquecimento
e a distração que tão facilmente minam nossa gratidão é — como Jerry
Bridges diz — pregar o evangelho para si mesmo todos os dias. Então
comece cada dia fazendo exatamente isto, e, então, direcione a sua gratidão
para Deus, por causa do evangelho.
Conforme o dia avança, proponha-se a reconhecer e expressar gratidão
pelos inúmeros “lembretes” que Deus coloca ao nosso redor, a fim de não nos
esquecermos de sua graça. Dizem que ao conhecer Matthew Henry as
pessoas logo se davam conta de que ele estava sempre alerta e era um grato
observador das respostas de oração. Eu quero ser como ele. A ingratidão é a
marca de um homem orgulhoso; porém, expressar gratidão consistentemente
é um golpe fulminante em minha arrogância autoglorificadora.
Em terceiro lugar, pratique as disciplinas espirituais todos os dias. Estou
convencido de que é sempre melhor fazer isto pela manhã, em parte porque
ajuda a ajustar o clima de dependência de Deus para o dia. A disciplina
espiritual é uma declaração aliada a uma demonstração diária de minha
necessidade de Deus e minha dependência dEle. Considero impressionantes
as palavras de Charles Hummel: “Quando falhamos em esperar, em orações,
pela direção e força de Deus, estamos dizendo com nossas ações, se é que já
não o fazemos com nossos próprios lábios, que não precisamos dEle”.[29]
Acredito que nossa inconsistência na prática das disciplinas espirituais não se
deve primeiramente a falta de autodisciplina, mas à presença de auto-
suficiência. Praticar as disciplinas espirituais é um meio de enfraquecer
diariamente a auto-suficiência orgulhosa e de cultivar a humildade.
Em quarto lugar, aproveite o tempo que você gasta no trajeto entre sua
casa e o escritório da igreja para memorizar e meditar nas Escrituras. Quando
William Wilberforce estava servindo na Câmara dos Comuns, ele usava sua
caminhada de quinze minutos, de sua casa ao Parlamento, para recitar de
memória todo o Salmo 119. Isto sim é um tempo bem gasto.
Em quinto lugar, quando, durante o dia surgirem problemas pesados
demais para você carregar, deposite-os diante do Senhor, que cuidará deles
por você. Onde existe preocupações e ansiedade, há o orgulho da auto-
confiança. O homem humilde, embora possa ser responsável por muitas
coisas, é livre de preocupações — ele é tranqüilo. Sua vida é caracterizada
pela alegria e paz, pois é impossível estar preocupado quando se confia no
Soberano.
Timóteo, nós não somos como furadeiras sem fio que são carregadas
apenas uma vez e passam o dia todo trabalhando. Eu não espero que o meu
devocional da manhã me sustente até às duas horas da tarde ou mesmo até às
onze horas da manhã. O dia todo, todos os dias, preciso ficar direcionando
meus pensamentos para Deus, permanecendo perto da cruz, sempre
oferecendo minha gratidão pelas inúmeras evidências da graça e colocando
minhas preocupações sobre Ele, que cuida de tudo para mim com tal
perfeição de amor e fidelidade.
Sexto, quando o dia de trabalho acaba, ao invés de simplesmente ir para
casa, aproveito a oportunidade para cultivar a humildade. Não importa o quão
“bem-sucedido” ou “mal-sucedido” eu tenha sido naquele dia (em minha
avaliação limitada), reconheço que Deus é o único que sempre completa
perfeitamente sua lista diária de afazeres, e confio tudo aquilo que não pude
concluir à sua guarda. Amanhã, eu voltarei e, por sua graça, tentarei de novo.
Então, ao fim do dia, procuro transferir toda a glória para Deus. O
puritano Thomas Watson escreveu: “Quando tivermos feito qualquer coisa
digna de elogios, devemos nos esconder sob o manto da humildade e
transferir a glória de tudo quanto fizemos a Deus”.[30] Grato por este tão
precioso conselho, uso alguns momentos à noite apenas para recapitular meu
dia. Para cada evidência de frutificação ou progresso que testemunhei ou
experimentei naquele dia, tento atribuir especificamente a Deus o fato
inegável de que Ele é o único responsável.
Como um pastor, posso ser um meio de graça na vida de outras pessoas,
mas não posso salvar ninguém! Não posso convencer ninguém do pecado ou
trazer uma alma ao arrependimento. Não tenho poder em mim mesmo para
realizar a santificação na vida de alguém. Nossas igrejas são testemunhos à
grandeza e graciosidade de Deus — não monumentos à nossa liderança e
pregação.
Em uma ocasião, quando Charles Spurgeon estava lecionando aos seus
alunos na Pastors College (Escola de Pastores), ele lhes disse: “Seu
ministério é pobre o suficiente. Todo mundo sabe disso, e você precisa ter
consciência disto mais que todos os outros”.[31] Será que ele estava dizendo
que aquela classe era particularmente incompetente? De forma alguma. Ele
estava informando-lhes que a pregação somente é eficiente, e sempre o é
porque Deus mantém a promessa de que sua Palavra não irá retornar vazia.
Isaías reconheceu isso ao dizer: “Senhor, concede-nos a paz, porque todas as
nossas obras tu as fazes por nós” (26.12), e isto, como The Expositor’s Bible
Commentary (O Comentário Bíblico Expositivo) observa, é “uma profunda
verdade, abençoadoramente destruidora do orgulho espiritual”.[32] Deus é o
motor primordial por trás de todos os meios da graça. Soli Deo Gloria!
Finalmente, antes de ir dormir à noite, reconheço que dormir é um dom
do Criador para suas criaturas. Eu não apenas vou dormir passivamente.
Aproveito esta oportunidade diária para enfraquecer o orgulho e cultivar a
humildade através do reconhecimento de que Ele não descansa e nem dorme.
Dormir, para mim, é um lembrete diário do quão longe estou da auto-
suficiência. Deixe-me colocar isto da seguinte forma: eu tenho uma
necessidade desesperadora, irreversível e fisiológica de passar uma parte
substancial de cada período de vinte e quatro horas em um estado de
incapacidade física e mental, totalmente indefeso e completamente inútil. Isto
não é cômico? Deus, então, usa este tempo para me fortalecer e me restaurar
para o dia seguinte — um dia no qual, invariavelmente, falharei em obedecê-
Lo inteiramente; ainda assim, Ele redimirá minhas ações para produzir uma
certa quantidade de frutos. Como isto não poderia produzir um senso de
humildade?
Então, aí estão, meu amigo — minha lista anual, minha lista diária e
algumas sugestões práticas. Nenhuma destas idéias é originalmente minha.
Qualquer traço de sabedoria que você possa achar nelas tem como fonte as
Escrituras e o discernimento de alguns professores muito mais talentosos e
maduros do que eu. Tudo o que fiz foi juntar a sabedoria de outros e passá-la
adiante. Oro para que estes pensamentos o inspirem a estabelecer seus
próprios padrões que irão servir-lhe pelo resto de sua vida, assim como estes
têm me servido.
Então, vamos nos devotar diariamente à aplicação das Escrituras, para
que possamos evitar os perigos do orgulho e experimentar a promessa da
humildade. E que o façamos motivados pela graça. Pois, por mais bem
intencionados que sejam nossos esforços, e por mais que enxerguemos a
graça de Deus trabalhando na santificação, não descansamos em nossas
próprias obras ou boas intenções, como se elas, algum dia pudessem nos
garantir alguma coisa diante de um Deus Santo. Não reivindicamos nenhum
mérito em tudo quanto fazemos. Pelo contrário, descansamos na obra
acabada do Salvador. Somos de Deus, e desfrutamos de seu favor, apenas
porque Outro cumpriu perfeitamente todos os justos requerimentos da lei.
Jesus Cristo é o Único que foi perfeitamente humilde, completamente
contrito de espírito e totalmente observador do que significa tremer diante da
Palavra de Deus. Descansamos nEle — em sua vida perfeita e em seu
sacrifício substitutivo pelos nossos pecados.
Escreva-me novamente, o quanto antes, Timóteo. Estarei esperando
ansiosamente notícias de como Deus em sua maravilhosa graça tem agido em
sua vida e através dela.

Com amor, por você e Mary, através de nosso glorioso Salvador,


C. J.

PS — Você me pediu uma lista de leituras recomendadas. Aqui estão as


fontes dos materiais que mencionei. Divirta-se!
1. The Discipline of Grace, Jerry Bridges (Colorado Springs, CO:
NavPress, 1994).
2. Systematic Theology, Wayne Grudem (Grand Rapids, MI: Zondervan,
1995).
3. Bible Doctrine, Wayne Grudem (Grand Rapids, MI: Zondervan,
1999).
4. Saved By Grace, Anthony A. Hoekema (Grand Rapids, MI: William
B. Eerdmans Publishing Company, 1989).
5. The Enemy Within, Kris Lundgaard (Phillipsburg, NJ: P&R
Publishing, 1998).
6. The Atonement: It’s Meaning and Significance, Leon Morris
(Downer’s Grove, IL: Inter-Varsity Press, 1983).
7. The Complete Works of John Owen, editado por William Gould
(reimpressão, Edimburgo, Escócia: The Banner of Truth, 1980).
8. Sin and Temptation, John Owen (reimpressão, Bloomington, MN:
Bethany House, 1996).
9. “The Cross and Criticism”, Alfred Poirier, (The Journal of Biblical
Counseling 17, no 3, 1999).
10. The Cross of Christ, John Stott (Downer’s Grove, IL: Inter-Varsity
Press, 1986).
11. The Holiness of God, R. C. Sproul (Carol Stream, IL: Tyndale,
1998).
Capítulo 8 - Seja corajoso (Bil Ascol)

Capítulo 8

Seja corajoso
Bil Ascol

Amado Timóteo,
Fiquei muito empolgado ao saber que você foi recentemente chamado
para assumir seu primeiro pastorado. Após vinte e cinco anos no ministério
pastoral, posso lhe dizer que nada há tão alegre e desafiador quanto o
pastoreio do rebanho de Deus, sobre o qual o Espírito Santo lhe fez um
supervisor. Liderar, alimentar e proteger o povo de Deus, enquanto seguimos
pela perigosa jornada deste mundo para o mundo que está por vir, irá
requerer uma grande quantidade de “coragem evangélica”. E por coragem
evangélica me refiro ao compromisso incondicional de ministrar o evangelho
com compaixão, a despeito das conseqüências e a qualquer preço. Gosto de
usar a palavra evangélica para qualificar a coragem, porque algumas formas
de coragem podem ter mais a ver com bravata do que com bravura, mais a
ver com gabarolice do que com ousadia. Tal tipo de coragem (se é que posso
chamá-la desta forma) pode ser prejudicial, ao invés de útil, se manifestada
na vida de um ministro do evangelho. A coragem que não é evangélica —
isto é, não guiada por motivos e desejos do evangelho — pode levar um
homem a lidar com o ministério pastoral como se fosse o presidente de uma
grande companhia, um comandante militar ou até mesmo um boiadeiro, ao
invés de um pastor. Estes modelos não são baseados na Palavra de Deus, e
contrariam o espírito e conduta expressos pelo apóstolo Pedro quando,
escrevendo como um presbítero, rogou aos seus colegas presbíteros que
fossem pastores fiéis sobre o povo de Deus, enquanto vivessem e
trabalhassem no meio deles (1 Pe 5.1,2).
Um dilema duplo que, por fim, um ministro do evangelho enfrentará é a
tentação de ser “muito permissivo” ou, então, “muito exigente”, enquanto
desenvolve seu trabalho no meio do povo de Deus. A tentação de ser “muito
permissivo” freqüentemente surge quando o ministro tem uma série de
benefícios colocados diante dele, com o requisito tácito de que, “tudo isto
pode ser seu, contanto que nós concordemos em alguns aspectos”. Acesso
para o pastor e sua família a piscinas particulares, quadras de tênis, casas de
campo, carros, e vários outros benefícios e oportunidades, podem obscurecer
o julgamento do ministro. Quando se torna necessário que se posicione em
favor da retidão, ele pode se ver diante da dura realidade de tornar-se
impopular para com aqueles que oferecem os benefícios. Uma falha por parte
do ministro, ao exercitar sua coragem evangélica face a esta tentação, pode
muito bem ter o efeito de rebaixá-lo ao nível de “entregador de sermões” e de
ser controlado pelos “poderosos” da igreja. Isto freqüentemente acaba por
encorajar alguns a seguir por caminhos pecaminosos, enquanto, ao mesmo
tempo, desencoraja aqueles mais espirituais que tinham esperança de que,
finalmente, um homem de Deus chegara entre eles, para proclamar a Palavra
de Deus de uma forma íntegra. É exatamente por isto que o apóstolo Paulo
adverte ao ministro para manter-se livre das coisas do mundo (2 Tm 2.3,4).
Uma das lições que seria prudente você aprender agora mesmo, Timóteo, é
que o espaço mais difícil que você terá de conquistar no ministério, é
exatamente aquele que você já teve e voluntariamente cedeu.
Igualmente perigosa é a tentação de ser muito exigente com o povo de
Deus. Novamente, é popular em alguns círculos evangélicos, nos dias de
hoje, a perspectiva de enxergar o pastorado da mesma forma que alguém
enxergaria a posição de presidente de uma grande companhia, um
comandante militar ou até mesmo um boiadeiro. Todos estes três diferentes
papéis têm seu lugar adequado no mundo, mas são desastrosos quando
implantados no ministério pastoral. O pastor que se coloca sob a influência de
qualquer uma destas atitudes ao ministrar, corre o risco de enxergar o povo
de Deus como fantoches a serem usados ou manipulados para fins geralmente
pouco nobres. O “presidente” pode usar o povo sob seus cuidados para
construir algo que se parece com seu próprio reino aqui na terra, não muito
diferente dos faraós no tempo das pirâmides. Ele pode ser exigente com seu
povo, enxergando-o como peças que podem ser sacrificadas pelo bem da
“causa”. O “comandante militar” é diferente do “presidente” apenas por seu
nível de atuação. Ele também é um autocrata; no entanto, justifica o sacrifício
do povo de Deus em razão de algo maior, a “vitória”. Autoritarismo, em sua
expressão máxima, pode levar a jornada conjunta de uma congregação a uma
marcha espiritual mortal, na qual os feridos são “executados” ao lado da
estrada durante a caminhada. As pessoas sob o laço do “boiadeiro” passam
um pouco melhor, sendo levadas, no entanto, para um fim trágico. Muito
freqüentemente estes infortunados modelos de ministério pastoral são
apresentados e aceitos só porque o pastor quer “bancar o tal”. O problema
com estes três métodos é que eles têm mais a ver com administração,
manobras e movimentação do que com a ministração exercida pelos pastores
do rebanho de Deus. Os pastores lideram, alimentam e protegem — tarefas
que muitas vezes não são cumpridas a contento nos ministérios do presidente,
do comandante militar e do boiadeiro. Timóteo, não permita que algum
especialista em ministérios, ainda que bem-intencionado, venha a ameaçá-lo
a adotar qualquer um destes estilos contemporâneos de ministério.
O desafio, ao que me parece, é encontrar um caminho intermediário,
entre estes dois abismos de ser muito “permissivo” ou muito “exigente”,
baseado na Bíblia, centrado em Deus, que exalte a Cristo e capacitado pelo
Espírito Santo. Ao ser permissivo você corre o risco de se tornar pouco mais
que a marionete da congregação. Ao ser exigente pode assemelhar-se ao papa
da igreja. Você precisa resistir aos esforços de qualquer um que possa levá-lo
ao abismo da rigidez, e, ao mesmo tempo, resistir à sua própria tentação de
pular no abismo da permissividade. Ambos os extremos devem ser evitados
no espírito de Jesus Cristo.
Algumas congregações, particularmente aquelas que experimentaram a
troca constante de pastor, em um curto espaço de tempo, tendem a enxergar
seu pastor como alguém que “contrataram”. Ele é empregado delas, listado na
folha de pagamento, e, portanto, sujeito à uma série de regras e expectativas
(quase sempre tácitas) que são muito diferentes das regras e expectativas sob
as quais os outros membros vivem. Por exemplo, espera-se que ele sempre
esteja presente nos cultos de domingo (de manhã e à noite), na reunião de
oração durante a semana, nas visitações, nos trabalhos diários da igreja, etc.
Para qualquer outra pessoa na congregação estas reuniões são oportunidades
opcionais. Por que isto acontece? “Porque”, eles dizem, “ele é pago para
fazer isto”. A mesma congregação que nunca aceitaria disciplinar um
membro em pecado, muitas vezes não pensaria duas vezes quando é sugerido
que o pastor seja forçado a deixar a igreja. Por que isto acontece? “Porque”,
eles argumentam, “nós o contratamos e também podemos despedi-lo”. Em tal
situação, o pastor tende a ser tratado como um contratado temporário. Ele
geralmente vive na residência pastoral e, portanto, pode enfrentar a pressão
para manter a “casa da igreja” e o “jardim da igreja” numa condição que
receberia a aprovação até mesmo do crítico mais mordaz.
Ele pode ser levado a sentir-se como um homem que vive e desfruta de
seu meio de vida, apenas porque os grandes chefões da igreja assim o
permitiram. Talvez o pastor seja colocado numa situação embaraçosa de ter
de ir até o tesoureiro da igreja, para perguntar quando ele pode esperar
receber o seu pagamento. Ele pode ter de receber a aprovação dos diáconos
para tirar um tempo livre, a fim de pregar numa conferência bíblica em outra
localidade, participar de uma conferência para o seu próprio fortalecimento
espiritual, ou simplesmente para tirar breves férias com sua família. Na
verdade, a votação de toda a igreja pode ser requerida antes que qualquer
destas programações sejam agendadas. Toda vez que ele é apresentado a
alguém na comunidade por um dos membros mais antigos da igreja, ele é
geralmente identificado como “o nosso pregadorzinho”, particularmente se é
jovem ou está apenas iniciando sua jornada no ministério pastoral. Isto pode
até parecer caricatura, mas, infelizmente, não é. Embora seja verdade que
nem todas as igrejas agem desta forma, há um número suficientemente
grande para causar preocupação e alarme. Eu oro para que a congregação à
qual você está ministrando não seja, nem um pouco, parecida com a que
acabei de descrever.
Quando qualquer uma destas características, senão todas, começam a se
manifestar no ministério pastoral de um homem, ele pode sucumbir à
tentação de sujeitar-se à vontade dos outros e viver uma vida ministerial de
frustrações, sentindo-se muito mais como um mercenário que está entre a
cruz e a espada. Muitos homens de Deus, no entanto, não desejam
simplesmente sucumbir a tal tipo de tratamento. Ao invés disso, eles resistem
a este degradante aspecto do ofício pastoral. E ao fazê-lo, há sempre o perigo
de reagir de forma prejudicial. Muito freqüentemente, em nome da
“coragem”, um ministro pode se revestir com ar de arrogância, seguindo
como alguém cujo ofício lhe autoriza a viver acima da concepção errada da
congregação a respeito de sua posição. Ele pode até mesmo se ressentir com
as atitudes negativas contra ele. Em um esforço para provocar o respeito que
as Escrituras dizem ser devido a um ministro do evangelho, ele pode começar
a exigir este respeito de forma semelhante a um tirano papista. Timóteo,
lembre-se sempre que todos nós somos fracas criaturas do pó, homens
suscetíveis às paixões do mundo, vulneráveis à possibilidade de tomar
atitudes impensadas, quando as coisas não acontecem do nosso jeito ou
quando não somos reconhecidos como aqueles que foram chamados por Deus
para pregar o evangelho. Porém, demagogia despótica por parte do pastor não
é a resposta adequada à aviltação proveniente dos membros da igreja contra o
ofício do pastor ordenado por Deus. Também deve ser dito que muito mais
danos e prejuízos foram causados às verdadeiras ovelhas de Jesus Cristo —
assim como contra a reputação do próprio Jesus Cristo — como resultado do
jactancioso uso de influência para benefício próprio, por parte de um pastor
ou grupo de presbíteros, do que como resultado de pastores sendo
depreciados, mal-tratados e pouco estimados. Na verdade, Timóteo, eu me
arriscaria a sugerir que é preciso muito mais coragem evangélica para
suportar tal vituperação daqueles que se intitulam povo de Deus, do que para
se levantar e acabar com os rebeldes e obstinados, em nome da defesa do
evangelho. O fato continua sendo, no entanto, que toda igreja na qual o
Senhor nos coloca para servir como pastores será uma igreja necessitada de
“reforma e de se tornar reformada”. Haverá vários aspectos do ministério que
precisarão ser reformados e restaurados à forma e padrão que reflita mais
precisamente o modelo colocado para as igrejas no Novo Testamento.
O que um ministro deve fazer, então, quando se encontra recentemente
chamado para uma igreja que precisa ser trazida à conformidade com os
diversos preceitos bíblicos? Timóteo, acredite quando lhe digo que seu
relacionamento pessoal com o Senhor Jesus Cristo, seu relacionamento
estável com sua esposa e sua família, seu conhecimento da sã doutrina e
teologia, suas competências exegéticas e pastorais, assim como suas
habilidades para lidar com o público e de se comunicar de modo eficaz,
devem ser todas sustentadas por uma coragem evangélica profundamente
enraizada — o compromisso incondicional de ministrar o evangelho com
compaixão, a despeito das conseqüências e do preço a ser pago. Enquanto
você estiver trabalhando neste seu primeiro ministério pastoral, quero animá-
lo a ter coragem evangélica para cultivar as vidas que você foi chamado a
servir, confrontar aqueles cujos pecados são destrutivos para eles próprios ou
para outros, e confessar suas faltas àqueles contra quem você pecou.

CORAGEM EVANGÉLICA PARA CULTIVAR AS VIDAS QUE


VOCÊ FOI CHAMADO A SERVIR
Em primeiro lugar, você deve sempre lembrar que Deus o chamou para
ser um pastor das ovelhas dEle — tanto aquelas que já estão seguramente
recolhidas na congregação quanto aquelas que Ele irá chamar no curso de seu
ministério. Além disso, as ovelhas sob os seus cuidados consistem em
pequenos cordeiros, ovelhas feridas, ovelhas maduras e ovelhas errantes,
todas elas com diferentes apetites no que diz respeito às refeições do
evangelho, com as quais você deseja alimentá-las. O pastor sábio irá sustentar
pacientemente suas ovelhas, alimentando-as com a verdade bíblica de acordo
com a capacidade delas em recebê-la. É preciso coragem evangélica para
cuidar das ovelhas em suas variadas situações, uma vez que você enfrentará
muitas tentações em suas tentativas de pastorear tal variedade de ovelhas.
Os pequenos cordeiros precisarão ser alimentados com o sincero leite da
Palavra (1 Pe 2.2). Eles precisarão de porções digestíveis das preciosas
verdades do amor de Deus pelos pecadores, mostradas na morte sacrifical e
suficiente de Jesus e sua ressurreição vitoriosa. Eles precisarão ser ensinados
sobre a simplicidade de caminhar pela fé no sangue e justiça de Jesus Cristo,
um sangue e uma justiça que constantemente os auxilia. Eles precisam
aprender que caminhar pela fé significa confiar nas promessas do evangelho
como se fossem dirigidas pessoalmente a eles. É importante que eles saibam
que esta fé em Jesus Cristo é mais poderosa e alegremente expressa, quando
produz frutos da disposição ao arrependimento e confissão dos seus pecados
às pessoas contra quem pecaram; como também os frutos da disposição de
perdoar, quando outros tiverem pecado contra eles. Há tantas “primeiras
lições” que os pequenos cordeiros precisam assimilar; porém, eles não podem
aprender todas de uma só vez. E nem mesmo irão, necessariamente, dominá-
las logo na primeira vez em que forem ensinadas. Cultivar uma “dieta”
saudável, que provocará apetite constante num jovem cristão, irá requerer
tanto paciência quanto indulgência. O ministro corajoso lutará contra a
tentação de se tornar impaciente ou desencorajado quanto ao progresso do
crescimento na graça na vida do pequeno cordeiro. Será necessária coragem
evangélica para continuar ministrando, a qualquer custo, o evangelho com
compaixão abastecida de compromisso incondicional, sem levar em
consideração as conseqüências.
Em qualquer congregação há ovelhas feridas — aquelas que foram
profundamente feridas por outras na congregação, ou ainda pior, feridas por
encontros anteriores com aqueles que serviam no papel de pastor das ovelhas
de Deus. Você não deve ficar surpreso, se estas ovelhas feridas tenham
aprendido a não confiar naquele que vem oferecer sua mão, para alimentá-las
com as palavras de vida e cura. Elas provavelmente estarão mais inclinadas a
permanecerem afastadas do ministério, ou pelo menos a tomar uma posição
de “esperar para ver” a respeito do valor e sinceridade de seu ministério.
Ainda, muita paciência será necessária para tolerá-las, enquanto que, ao
mesmo tempo, você lutará contra a tentação de considerar a hesitação delas
em se beneficiar com o seu ministério como uma rejeição pessoal a você —
ou ainda pior, ao evangelho. O tempo tem a propriedade de aparar todas as
arestas, e se pelo pastor forem abordadas de forma remissora, poderão tornar-
se seus grandes amigos no ministério.
Ao longo do tempo, todos passamos por alguma grande necessidade —
e também as ovelhas feridas. É freqüentemente no tempo de grande
necessidade que o pastor fiel recebe a permissão de Deus para exercitar o
decisivo cuidado pastoral na vida das ovelhas feridas. Uma experiência muito
dolorosa, no presente, pode fazer com que aquele membro da igreja
profundamente ferido deixe uma extrema dor do passado no esquecimento. É
neste ponto que o ministro do evangelho precisa encontrar coragem
evangélica em larga quantidade e se dispor a adentrar na ferida, mesmo
arriscando enfrentar, de início, rejeição por parte da ovelha ferida. Eu digo
“de início”, porque o coração de todas as ovelhas de Jesus bate no mesmo
ritmo do amor e misericórdia dEle — não importa o quão danificado ele
esteja — esta misericórdia irá finalmente se expressar àqueles que são
misericordiosos. Quando você provar a sinceridade de seu amor pelos
feridos, ganhará o direito de falar-lhes sobre as coisas eternas. Quando você
acumular este tipo de caução pastoral, irá ganhar não apenas seus ouvidos,
mas também seus corações.
Algumas das experiências pastorais mais aprazíveis ocorrem entre o
pastor e as ovelhas maduras — aquelas que demonstram um apetite saudável
pela Palavra de Deus e que manifestam apreciação genuína pela sã doutrina.
Idealmente, estas deveriam ser as líderes da congregação. São as ovelhas que
fazem as perguntas certas, chegam às conclusões corretas e exibem um
apetite crescente pela “carne” da Palavra. Elas não se cansam de ouvir (ou
contar) a “antiga história de Jesus e seu amor”. Geralmente demonstram um
“espírito bereano” em sua disposição para verificar se as coisas que
aprenderam sob seu ministério são ensinadas nas Escrituras (At 17.10,11).
Elas não têm medo das doutrinas bíblicas que não aprenderam anteriormente.
Elas simplesmente querem saber, “o que dizem as Escrituras?” As ovelhas
maduras estarão mais inclinadas a se preocuparem com a glória de Deus em
suas vidas e na vida da congregação, mesmo que não saibam como expressar
isto com precisão teológica. Elas terão um desejo de ver Jesus Cristo
exaltado, convencidas de que convém que Ele cresça e elas diminuam. Os
membros maduros da igreja são provavelmente aqueles que fielmente oram
juntos pelo progresso do evangelho através do ministério, e que darão graças
a Deus por ter lhes enviado um ministro fiel ao evangelho. Pode ser que você
pergunte: “Então, por que seria necessária coragem evangélica para ministrar
a ovelhas como estas?” A resposta se encontra na tentação de passar a maior
parte do seu tempo com elas, correndo o risco de negligenciar as
necessidades das outras. Não cometa este erro, pois os pastores devem
trabalhar para o “aperfeiçoamento dos santos, para o desempenho do seu
serviço” (Ef 4.12), e, além disso, devemos transmitir as coisas que vemos e
ouvimos a “homens fiéis e também idôneos para instruir a outros” (2 Tm
2.2). O trabalho do evangelho entre as ovelhas maduras é agradável, mesmo
quando o ministro se encontra legitimamente cansado. Uma outra tentação,
no entanto, é que o pastor seja suscetível a receber sobre si a glória que lhe é
dada pelos crentes maduros e fazer disto ocasião de orgulho, vanglória, e de
pensar mais de si mesmo do que convém. É também no meio deste grupo que
o ministro está mais propenso a “baixar a guarda” de forma inconveniente.
Pode acontecer que, alguns dos mais entusiasmados com seu ministério,
agora, sejam os que um dia lhe darão as costas e rejeitarão a verdade que
você expõe.
Alegre-se, Timóteo, se o Senhor se satisfaz em cercá-lo com um grupo
coeso de discípulos maduros, famintos pela Palavra e que se agarram a cada
vocábulo que você profere. Mas guarde seu coração, a fim de que não se
torne como o rei Davi que começou a acreditar em seu nome “nas colunas
sociais” (2 Sm 8.13; 11.1-2).
Talvez o grupo mais difícil ao qual um pastor terá de ministrar é aquele
formado pelas ovelhas errantes. Houve um tempo em que deram mostras de
ter interesse vital pelo cristianismo bíblico e pareciam querer crescer
sinceramente na graça, como discípulos do Senhor Jesus Cristo. Mas, agora,
abandonaram tudo isto. Talvez sua pecaminosidade se expresse na
negligência habitual dos encontros de estudos bíblicos, adoração ou outras
reuniões cruciais da igreja. Como cristãos professos, elas carregam o nome de
Jesus Cristo. Talvez tenham trazido vergonha ao nome de Cristo, por se
submeterem a um estilo de vida destrutivo que é, ao mesmo tempo, perigoso
para suas almas e escandaloso. Talvez tenham se tornado causadoras de
problemas, e disseminadoras de discórdias na congregação. Qualquer que
seja a natureza de seu pecado, a ovelha errante pode fazer com que o pastor,
que leva a sério sua responsabilidade de restaurá-las, tenha de pagar um alto
“preço” espiritual e emocional.
O pastor diligente pode descobrir, em suas tentativas de restaurar
aqueles que foram surpreendidos nalguma falta (Gl 6.1), que não está lidando
com uma ovelha verdadeira. Pode ser que aquela pessoa tenha “professado”
publica fé em Jesus Cristo, mas nunca tenha possuído a verdadeira fé
salvadora nEle (At 8.13-23). Isto pode não ser reconhecido imediatamente,
por isso o pastor precisa adentrar no assunto como alguém tentando recuperar
a outro que tem a presença do Espírito Santo em sua vida. Quando é
descoberto, no entanto, que a “ovelha errante” é na verdade um “bode”, ou
até mesmo um “lobo em pele de cordeiro”, então a missão muda de uma
disciplina corretiva e remissora de um discípulo inconstante, para um
testemunho evangelístico, a um membro da igreja ainda não convertido.
Muita coragem evangélica é necessária para esta tarefa, pois às vezes ela
pode ser insípida e resultar em difamação do caráter do pastor que ousou
empreender o resgate de acordo com o ensinamento bíblico. O membro
errante geralmente está muito propenso a “morder a própria mão que o
alimenta”, e não hesitará em macular a reputação daqueles que se
aventurarem a dizer-lhe que as coisas não estão bem com a sua alma.
Você precisará de grandes doses de coragem evangélica para se engajar
no ministério de recuperação das ovelhas errantes. As tentações são dobradas.
Primeiro, há a tentação de ser covarde e não tentar resgatar a ovelha errante.
As racionalizações para isto são muitas. Talvez esta pessoa seja muito
influente na igreja (ou, então, parente ou amigo próximo de alguém influente
na igreja) e você não quer aborrecê-la. Talvez você não queira correr o risco
de ofender pessoas devotas que podem não ter ainda o discernimento bíblico
para compreender o fato. Talvez você tema perder sua influência ou até
mesmo o seu ministério! É nesta situação que se torna importante lembrar
que a coragem evangélica é um compromisso incondicional para ministrar o
evangelho com compaixão, não importando as conseqüências e ou preço a ser
pago. Outra tentação é igualmente perigosa. Trata-se da tentação de lidar
rispidamente com as ovelhas errantes (ou bodes, ou ainda lobos na pele de
cordeiro), agindo como se o objetivo da disciplina corretiva fosse dar um fim
neles, lavando as mãos, e tendo mais nada a fazer com eles. Este tipo de
abordagem, contudo, desvirtua completamente o objetivo da disciplina
corretiva e remissora da igreja, e se torna uma ofensa não apenas na
congregação, mas no céu também.
Como o membro errante pode revelar-se não convertido, é bem possível
que ele profira ameaças contra o pastor. O perigo que o pastor enfrenta nesta
situação é o de partir para uma atitude de autodefesa. No entanto, o pastor é
colocado por Deus sobre o rebanho, para proteger as ovelhas daqueles que
podem dispersá-las e dilacerá-las — e não necessariamente para proteger a si
mesmo. (Esta é a razão pela qual uma diversidade de presbíteros pode ser um
ajuste abençoador numa igreja — mas isto é discussão para outra carta!). O
pastor deve estar disposto a entregar sua vida pelas ovelhas. Timóteo, se você
deparar-se ao desafio de resgatar uma ovelha errante, crie coragem
evangélica para empreender um grande esforço, de tal forma que guarde o
seu coração da covardia, da dureza e do sutil perigo de se tornar
autodefensivo.

CORAGEM EVANGÉLICA PARA CONFRONTAR AQUELES


CUJOS PECADOS SÃO DESTRUTIVOS PARA ELES PRÓPRIOS
OU PARA OUTROS
Todo pastor que é digno de ser chamado assim deseja ter um ministério
cujo tom é principalmente pacífico e edificante. No entanto, a realidade do
pecado remanescente, o inevitável afloramento de pecados na vida da
congregação e a importância de desafiar os perdidos com as declarações do
evangelho de Jesus Cristo, significam que haverá ocasiões quando o tom do
ministério será o de confrontação evangélica. O ministro do evangelho
precisa estar disposto a confrontar seus ouvintes na pregação e no
aconselhamento, se for esperado que eles apliquem a Palavra a si mesmos.
A pregação confrontadora não é ralhar e intimidar o povo de Deus, e
muito menos transformar o púlpito num local de tirania e ameaças, no qual
um pregador afia seu novo machado ou censura seu mais recente inimigo. Ao
invés disso, pregação confrontadora é a pregação aplicável — inculcando as
declarações das Escrituras nos corações e mentes dos ouvintes. Muitos
pregadores são bastante habilidosos em passar para sua congregação o
sentido do texto. Porém, a exegese fiel deve ser entrelaçada com exortação
veemente. Quando Pedro pregou no Pentecostes, ele não somente contou à
multidão que a crucificação de Jesus Cristo era a forma previamente
planejada por Deus para salvar pecadores, mas também claramente contou a
seus ouvintes que suas próprias mãos pecaminosas haviam matado Jesus.
Esta proclamação confrontadora e aplicável foi usada pelo Espírito Santo
para tocar o coração de muitos, que inicialmente perguntavam como
poderiam ser libertos de seus pecados. Eles, enfim, vieram à fé em Jesus
Cristo (At 2.22-41). Será preciso coragem evangélica para pregar aos seus
ouvintes, de uma forma tal a afligir os que estão confortáveis e de confortar
os que estão afligidos em uma única mensagem. Você precisa subir ao
púlpito com a realidade ardente de que a primeira pessoa que tem de ser
percebida é o próprio Deus. Ele precisa ser agradado pelo seu trabalho,
mesmo que ninguém mais o seja. As tentações de furtar-se a tão privilegiada
tarefa são dobradas. Há a tentação de omitir as aplicações da pregação e
deixar que os ouvintes imaginem as implicações por si mesmos. Ao fazer
isto, o pastor pode estar alimentando o rebanho, mas não está liderando e nem
protegendo suas ovelhas. A outra tentação é, do púlpito, atacar os ouvintes
com palavras rudes num longo e enraivecido discurso. Conquanto seja
verdade que o próprio Jesus Cristo irou-se, foi uma ira justa (Mt 21.12,13).
Nossa raiva raramente é de tal nobre natureza. Lembre-se que a ira do homem
não produz a justiça de Deus (Tg 1.20).
A maioria das ocasiões que exigirão confrontação no ministério tem a
ver com aqueles que, como já observei nesta carta, caíram em negligência
grosseira ou num pecado destrutivo que, se deixado passar despercebido, irá
destruir a eles mesmos e a outras pessoas na congregação. Nenhum pastor
gosta de ir até um membro da congregação e confrontá-lo com seu erro. Na
verdade, fico até desconfiado de um pastor que encontre alguma alegria neste
tipo de tarefa, da mesma forma que ficaria desconfiado de um pai que anseia
ou, até mesmo, tira algum prazer do momento de bater no filho desobediente.
O Senhor Jesus Cristo, no entanto, nos chamou para irmos a tal pessoa e
contar-lhe sobre sua falta (Mt 18.15). Nós devemos fazer isto com um
espírito de brandura e humildade, não como quem procura briga, mas na
esperança de que Deus garanta àquele que errou, o arrependimento que leve a
um conhecimento mais profundo da verdade. As Escrituras comparam esta
tarefa ao resgate de um prisioneiro de guerra (2 Tm 2.24-26) que pode ou não
querer ser resgatado.
É necessário haver confrontação amorosa, na qual a repreensão
remissora é dada como um meio, esperançosamente abençoado por Deus,
para ajudar o desobediente a olhar para seus pecados, confessá-los e
arrepender-se deles, e, então, retornar e ser restaurado para a comunhão. Diz-
se que para o bom desenvolvimento de qualquer relacionamento é preciso
haver um cuidado tal pelo outro, a ponto de se poder confrontá-lo, quando ele
estiver em pecado. Novamente, isto demandará coragem evangélica, quando
o trabalho de ministério pastoral íntimo é feito objetivando a honra de Deus.
É exatamente por ser tão fácil deixar de falar individualmente com alguém e
confrontá-lo em seu pecado, que você precisará lutar contra a tentação de não
fazê-lo. Todas as desculpas do mundo que você possa juntar, para esquivar-se
deste trabalho, desvanecerão face às palavras de Jesus, que disse: “Se me
amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14.15). Também há a tentação
de confundir a confrontação amorosa com a condenação legal. Você não é o
juiz e o júri chamado por Deus, para executar uma sentença arbitrária
naqueles cujas vidas têm provado ser um triste desapontamento na jornada.
Você é um pastor indo até a ovelha desobediente, com a esperança de
recuperá-la para o rebanho. E, se durante este processo ela prova não ser
realmente uma ovelha, então, precisa ser amorosamente removida da
comunhão para que Deus seja glorificado por causa do nome de Cristo sobre
a congregação, do bem das ovelhas genuínas na igreja e para o bem da alma
da própria ovelha falsa, pois ela está enganada sobre sua própria condição
espiritual. Tudo isto, no entanto, deve ser feito na esperança de que o
testemunho do evangelho para esta pessoa desobediente, no final das contas,
produza frutos para a salvação de sua alma. Você precisa ter coragem para
pôr em risco o relacionamento e descansar na providência de Deus, quer a
ovelha errante volte ou não.

CORAGEM EVANGÉLICA PARA CONFESSAR SUAS FALTAS


ÀQUELES CONTRA QUEM VOCÊ PECOU
É importante que um pastor fiel tenha a coragem evangélica para fazer
uma avaliação honesta de si mesmo e de suas próprias faltas. Você precisa
fazer uma avaliação honesta de si mesmo, se quiser ser um pastor que
legitimamente tem o direito de falar para o povo sob os seus cuidados,
alimentando-os com a Palavra de Deus, para o sustento de suas próprias
almas, liderando-os, tanto por preceitos quanto por exemplos nos caminhos
da justiça e santidade, e protegendo-os do mundo, da carne e do inimigo. É
verdade que algumas pessoas tentarão tirar vantagem de sua predisposição
para assumir que você também é um pecador, salvo apenas pela poderosa
graça de Deus. Alguns podem inclusive considerar isto como uma fraqueza e
procurar tirar vantagem. A maioria, no entanto, se contentará em estar sendo
liderada por um pastor que reconhece ser também alguém que luta contra o
pecado remanescente (Romanos 7 não diminui a figura de Paulo; pelo
contrário, ajuda a nos identificarmos com ele). Eles podem se identificar com
tal atitude sua e acreditarão que você tanto se compadece quanto compreende
as suas lutas. Transparência e vulnerabilidade são marcas preciosas do servo
de Jesus Cristo.
O pastor sábio, quando seu pecado é trazido à sua atenção, estará
sempre pronto a confessá-lo, arrepender-se e demonstrar o poder do
evangelho para santificar os homens, ao trazer o fruto do arrependimento em
sua vida; ao mesmo tempo, sempre estará desejoso de perdoar aqueles que
pecam contra ele. É uma via de duas mãos. Primeiro, os pastores (assim
como todos os cristãos) precisam cultivar uma atitude contínua de perdão em
seus corações, prontos a expressar isto àqueles que pecaram ou que ainda vão
pecar contra eles. O Senhor Jesus Cristo demonstrou isto na cruz, quando
disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34). Ele não
estava formalmente perdoando todos aqueles que haviam participado de sua
crucificação; e sim, demonstrando um coração disposto a perdoar os que
tinham pecado contra Ele. (Na verdade, foi em Pentecostes que muitos
receberam o perdão por seus pecados — após os terem confessado e se
arrependido deles). O mártir Estevão mostrou em sua morte que havia
aprendido esta lição de seu Senhor, quando fez para Deus praticamente a
mesma declaração, enquanto seus acusadores o apredejavam até a morte (At
7.60). Esta atitude de perdão foi poderosamente usada por Deus para tocar o
coração de Saulo de Tarso, que foi grandemente comovido pelo que viu e
ouviu.
Além de um espírito pronto para perdoar, o pastor precisa estar pronto a
expressar perdão formal, quando a pessoa que tiver pecado contra ele vier
confessar o seu pecado com um coração arrependido. Falar palavras de
perdão seguidas por tangíveis evidências de perdão pode ser uma tremenda
lição objetiva sobre o poder reconciliatório do evangelho e a realidade do
amor incondicional de Deus. Nunca perca a oportunidade de experimentar a
reconciliação. Sua congregação será abençoada ao ter alguém diante deles,
mostrando a essência do que significa ser salvo pela graça.
Timóteo, eu provavelmente falei muito mais do que você gostaria de
ouvir sobre a vida no ministério, então vou terminar minha carta com esta
exortação das Escrituras, dita por Deus para seu servo, Josué:
Tão-somente sê forte e mui corajoso para teres o cuidado de fazer segundo toda a
lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a
esquerda, para que sejas bem-sucedido por onde quer que andares. Não cesses de falar
deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer
segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-
sucedido. Não to mandei eu? Sê forte e corajoso; não temas, nem te espantes, porque o
Senhor, teu Deus, é contigo por onde quer que andares (Js 1.7-9).

Timóteo, “o Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o


rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o rosto e te
dê a paz” (Nm 6.24-26).

Seu servo companheiro no evangelho.


Pastor Bill Ascol

PS — Quero encorajá-lo a ler alguns livros que espero possam fortalecê-


lo no seu ministério, como:
1. Too Great a Temptation, Joel Gregory (Irving, TX: Summit
Publishing Group, 1994).
2. Jonathan Edwards: A New Biography, Iain Murray (Edimburgo: The
Banner of Truth, 1987).
3. Biography of D. Martyn Lloyd-Jones, Iain Murray (Edimburgo: The
Banner of Truth, 1983, 1990).
4. Healing Spiritual Abuse, Ken Blue (Downers Grove, IL: Intervarsity
Press, 1993).
5. Shepherding God’s Flock, editado por Roger Beardmore
(Harrisonburg, VA: Sprinkle Publications, 1988).
6. O Pastor Aprovado, Richard Baxter (PES, São Paulo, SP).
Capítulo 9 - Faça o trabalho de um Evangelista (Mark Dever)

Capítulo 9

Faça o trabalho de um Evangelista


Mark Dever

Amado Timóteo,
É bom ouvir notícias suas novamente. Tenho certeza de que, pela graça
de Deus, você irá resistir a todas as tempestades que está enfrentando. As
dificuldades que você está encontrando para programar seu tempo com a
família, para as reuniões da diretoria, preparação das pregações e tantas
outras são completamente normais. Uma preocupação que você não
mencionou (que para ser honesto, me preocupou um pouco) foi o
evangelismo.
O verdadeiro evangelismo é uma das primeiras coisas a desaparecer,
quando você inicia o trabalho no ministério. Até então, você provavelmente
tinha um emprego secular ou estava na faculdade, e certamente costumava
estar ao redor de incrédulos sem revelar sua identidade cristã. Naturalmente
você teve tempo com incrédulos e não era alguém que se esquivava deles. Na
verdade, uma das coisas que me fez encorajá-lo a considerar o ministério foi
a preocupação evidente que você sempre teve pelo evangelismo. Lembre-se
que a preocupação pela salvação dos amigos foi uma das primeiras coisas que
lhe atraíram em sua esposa.
Quando se inicia no ministério, de uma hora para outra, você se torna
uma pessoa marcada por todo tipo de afazeres que exigem o seu tempo, desde
a preocupação com o seu cartão de visitas até o contato com seus colegas de
ministério. Você começa uma conversa com alguém no mercado ou no avião,
e tão logo ele descobre que você é um pastor (principalmente, se você for um
“pastor batista”) a conversa cessa rapidamente. Não quero desanimá-lo. Isto
pode até ser uma vantagem, se acontecer uma vez para cada cinco a dez
vezes, mas geralmente não é. Muito freqüentemente as pessoas descarregam
sobre você todas as experiências desagradáveis que tiveram com um pastor,
uma igreja ou até mesmo com algum parente cristão. Além de tudo isso, caso
sua igreja esteja apresentando um certo crescimento, você logo descobrirá
que o seu tempo está ainda mais escasso. Os membros da igreja têm uma
incrível facilidade para enxergar quando você deixa de fazer algo dentro da
igreja; eles geralmente não pensam se você está tendo oportunidades naturais
ou não de se encontrar com descrentes.
Eu acabei de reler o que escrevi para você, Timóteo, e senti que preciso
falar um pouco mais a este respeito. Eu geralmente sei que alguém não foi
chamado para o ministério, quando ele gosta de trabalhar somente com os
crentes e fazer coisas da igreja. Admiro a pessoa que se dá bem em um
ambiente de trabalho não-cristão, e que, por causa do reino de Deus, sente-se
chamada a estar na “retaguarda”, e passar sua vida suprindo as necessidades
daqueles que estão na frente de batalha do ministério. Como pastor, estou
numa posição que é, ao mesmo tempo, frustrante e privilegiada. Ela é
frustrante, porque realmente aprecio as oportunidades de passar algum tempo
com amigos, parentes e vizinhos incrédulos; por ser pastor, tenho de procurar
criar estas oportunidades intencionalmente. Mas minha posição também é
privilegiada, porque ao menos uma vez por semana posso me reunir (e me
parece que você disse ter duas reuniões semanais) com umas poucas centenas
de pessoas, preparando-os para compartilhar o evangelho com seus amigos e
famílias durante o resto da semana. Ser ministro da Palavra é um chamado
que tem o seu preço nas oportunidades de evangelismo pessoal, mas também
nos permite grandes oportunidades de encorajar outros.
Agora, tudo isto é apenas sobre o seu evangelismo pessoal. O cerne do
seu chamado de tempo integral é a ordem de espalhar o evangelho aos outros.
Boa parte das suas atividades no cumprimento deste mandamento será em
público. Timóteo, você tem uma oportunidade incrível na igreja, na qual
Deus o colocou para proclamar o evangelho. Não somente sua igreja e
vizinhança, mas toda a sua cidade precisa ouvir o evangelho. Há milhares e
milhares de pessoas, num raio de uma hora de carro do ponto onde você está,
que nunca consideraram cuidadosamente o evangelho. Você é apenas um
dentre um número relativamente pequeno de homens chamados para
proclamar o evangelho nessa região e você tem uma comunidade toda (sua
igreja), a qual está dispondo de uma parte de seus salários, para ajudá-lo no
desempenho em tempo integral desta função. Você é capaz de ver esse
privilégio?
Sempre achei impressionante refletir no fato de que Deus nos usa em
seus propósitos. Ele determinou que salvará o seu povo; podemos saber disto
através de Romanos 9; e, quando continuamos esta leitura e seguimos para
Romanos 10, vemos que este mesmo Deus determinou que não salvará o seu
povo sem que o evangelho seja pregado e isto requer que igrejas enviem
pregadores e estes proclamem a Palavra. É exatamente neste ponto que nós
entramos. Deus decidiu incluir-nos em seu plano de assegurar que Isabel,
Michael, Rachel, Andréa, Marilyn, João, José e tantos outros venham a
conhecê-Lo. Lembro-me de seu contentamento quando David se converteu,
durante o seu primeiro ano na faculdade. Aquilo ocorreu em parte por causa
de seu testemunho fiel, mas também porque ele foi convencido pelo Espírito,
ao ouvir as pregações do pastor em sua igreja. Timóteo, agora você é um
pastor para muitas outras pessoas.
Toda vez que você coloca seus pés no púlpito e prega um sermão, um de
seus alvos deve ser o de converter pecadores. Spurgeon escreveu um
maravilhoso sermão a este respeito, em seu livro Lições aos Meus Alunos,
Volume 1.[33] O título é: “Da Conversão como o nosso Objetivo”. Neste
texto, Spurgeon diz que “via de regra, Deus nos enviou como pregadores, a
fim de que, através do evangelho de Jesus Cristo, os filhos dos homens
pudessem se reconciliar com Ele”.[34] Ele reconhece que a glória de Deus é
nosso alvo principal, e que, às vezes, um ministério não é abençoado com
conversões, embora, normalmente, a pregação do evangelho tenha a intenção
de resultar na reconciliação de pecadores com Deus.
Algumas pessoas irão dizer-lhe que você só conseguirá ser evangelístico
em suas pregações, se terminar todos os seus sermões com um apelo para as
pessoas irem à frente. Certamente você entende o quão ridículo é o
pensamento de que isto seja necessário; certamente você também tem a
prudência pastoral para discernir quando e como ajuda sua congregação a
reconhecer a diferença entre um “chamado ao altar” e a conversão. A melhor
forma de fazer isto é simplesmente deixar claro, durante o curso normal de
sua pregação expositiva, a natureza da verdadeira conversão. Também fale e
ensine claramente qual é a finalidade do batismo numa igreja Neo-
Testamentária. E não tenha pressa em mudar práticas antigas, a menos que
você absolutamente tenha de fazê-lo. Ensine-os a querer mudanças em si
mesmos, antes de tentar conduzir a uma mudança a pessoa que ainda não
compreendeu a mensagem.
Esteja sempre, sempre convidando os pecadores a se arrependerem e
acreditarem nas boas novas, em cada sermão. Se os membros de sua igreja
ouvirem esta mensagem central nas suas pregações e virem-na sendo vivida
em sua vida, eles estarão mais abertos a ouvirem seus ensinamentos sobre
como evangelizar. Eles só precisam saber que não há desculpas para não
evangelizar. Aqui em nossa igreja, estamos vendo mais pessoas convertidas,
juntando-se à igreja agora que não fazemos mais apelos, do que quando
tínhamos esta prática.
Mas lembre-se sempre de pregar o evangelho em seus sermões. Você
pode pregar mais que isso, mas nunca menos. Lembro-me de estar pregando
um sermão em Eclesiastes alguns anos atrás, e, então, um bom amigo veio até
mim e disse que havia sido um sermão maravilhoso, a não ser pelo fato de
que nada do evangelho fora dito. Senti como se tivesse levado um soco no
estômago. Desde então, sempre tenho tentado ser melhor no que diz respeito
a manter a conversão dos pecadores como um dos principais objetivos de
meus sermões, mas não o único.
Agora, honestamente, Timóteo, cá entre nós, a conversão dos pecadores
tem sido um assunto a ocupar seus pensamentos, quando você subiu os
degraus do púlpito, nos últimos domingos? Sua mente estava sempre voltada
para Deuteronômio (eu me lembro de você ter dito estar pregando sobre os
Dez Mandamentos, nas manhãs de domingo, certo?), ou sua mente está
voltada em saber como o texto das Escrituras, no qual você está pregando,
pode ser preparado de forma a levar os homens e mulheres à Cristo?
Timóteo, eu estou particularmente preocupado sobre este assunto agora,
porque você é jovem em seu ministério. Você trabalha nele a menos de seis
meses, mas já está estabelecendo os padrões que seu povo irá conhecer e
esperar de você nos próximos anos. Seus sermões são do tipo que levariam as
pessoas a querer convidar seus cônjuges, vizinhos, ou amigos incrédulos para
ouvir?
Deixe esta última pergunta permanecer em sua mente. Quero que você
pense a este respeito, porque muitos pastores sentem que seu ministério de
alimentar as ovelhas nada tem a ver com o ministério de proclamar o
evangelho. Mas com certeza tem! Espero que você compreenda isto o quanto
antes em seu ministério. Lloyd-Jones, no livro Pregação e Pregadores,[35]
implora aos pregadores que sempre estabeleçam cultos evangelísticos, com
uma pregação especial no culto semanal da igreja. Não estou certo, se
concordo ou não com isto, mas penso ser verdadeiro o ponto de vista sobre a
necessidade de que o ensino faça parte de nosso evangelismo e de que a
pregação evangelística faça parte de nosso ensino.
Não podemos simplesmente nos afastar do evangelho! Timóteo, eu ouvi
você falar com paixão, no passado, sobre o evangelismo; hoje, ouço você
falar sobre fidelidade e sucesso de sua igreja; eu também espero ouvir você
falar sobre o privilégio e a necessidade de evangelismo como prioridade em
seu ministério. Irmão, se isto não for uma prioridade em seu ministério, não o
será em sua igreja também.
No verão passado, durante as férias, li as cartas de A. W. Pink.[36] Ele é
uma pessoa interessante, triste algumas vezes, mas felizmente sincero. Ele
estava refletindo sobre o estado da pregação do evangelho na Austrália, na
década de 1920, quando escreveu:
As condições religiosas gerais aqui são muito similares àquelas encontradas nos
EUA. A maioria das igrejas se encontra num estado lamentável. As que estão
absolutamente mundanas não sabem mais o que fazer para atrair as multidões. Outras
que embora ainda preservem uma aparência exterior de santidade não são capazes de
fornecer qualquer alimento substancial para a alma; e há pouca ministração de Cristo aos
corações, e pouca pregação da “sã doutrina”, sem as quais as almas simplesmente não
podem se fortalecer e firmar na fé. A maioria dos “pastores” convoca algum
“evangelista” profissional para ajudá-los, o qual por três a quatro semanas realiza uma
grande campanha e se assegura de trazer um número suficiente de “novos convertidos”,
para tomar o lugar daqueles que “apostataram”, desde a última vez que ele esteve em tal
igreja. Que farsa isto tudo é! Que reconhecimento de seu próprio fracasso! Imagine C.
H. Spurgeon precisando de algum evangelista para pregar o evangelho em seu lugar,
durante um mês a cada ano! Por que estes “pastores” bem pagos não atentam ao que diz
2 Timóteo 4.5 e eles mesmos não se encarregam do trabalho de evangelista, e desta
forma cumprem cabalmente o seu ministério?

A grande necessidade da Austrália, nos dias de hoje, é de homens enviados e


ungidos por Deus; homens que não deixarão de declarar todos os conselhos de Deus;
homens nos quais a Palavra de Cristo habite ricamente, de forma que possam dizer com
o apóstolo, “ai de mim, se não pregar o evangelho”; homens nos quais repousa o temor
de Deus a ponto de estarem livres do temor do homem. Irão os leitores cristãos em terras
distantes juntar-se a nós, em oração diária, para que o Senhor da seara levante e envie
trabalhadores para esta porção de sua vinha?[37]

Timóteo, esta não é apenas a necessidade da cidade de Sidney, na


Austrália, mas sim a necessidade de sua cidade também. Algo que todos estes
homens que mencionei — Spurgeon, Pink, Lloyd-Jones — tinham em
comum era paixão; uma paixão por Deus que se traduzia numa paixão para
que as pessoas viessem conhecê-Lo.
Uma das coisas mais frutíferas que você pode fazer é meditar no que
significa estar separado de Deus por causa dos seus pecados. Você se lembra
de como era antes de ser um cristão? Medite no pavoroso estado daqueles que
estão separados de Deus e perceba que imenso privilégio é poder contar às
pessoas as boas novas, de que há um meio de se receber o perdão pelos
pecados e, que elas podem receber um novo começo, um novo nascimento!
Às vezes, estas frases tornam-se corriqueiras para nós, mas me lembro de
uma pessoa que foi convertida há alguns anos, nos dizendo que, antes de ser
convertida, pensava que nós tínhamos alguns bons escritores na igreja, pois
todo o nosso material continha a imagem de “um novo nascimento” e de
“uma nova criação”. Timóteo, às vezes, nos esquecemos o quão
claustrofóbico e deprimente este mundo pode ser, para aqueles que não
conhecem a Deus e estão em inimizade com Ele. Faça amigos incrédulos e
ore para que Deus faça crescer em seu coração um amor por Ele.
Timóteo, o Deus que nós servimos é o Deus que deixou as noventa e
nove ovelhas para procurar uma única perdida. Derrame-se em oração em
Lucas 15; e peça a Deus para lhe dar um coração preocupado com os
perdidos, assim como aquela mulher, por sua moeda; como aquele pastor por
sua ovelha; e aquele pai, por seu filho. Ore para que as pessoas perdidas se
tornem preciosas para você. E se isto acontecer, certamente irá afetar a
maneira como você prepara e prega seus sermões. Afetará a forma como você
organiza sua agenda e a forma como você lidera sua igreja. Não há nada de
errado em ser reformado em sua teologia e bem planejado para o
evangelismo. A certeza da bênção de Deus deveria apenas nos encorajar a
sermos mais ousados no uso dos meios, e não nos tornarmos preguiçosos.
Evangelismo é o compartilhar do evangelho. Para fazer isto, Timóteo,
você deve antes conhecer esta verdade, e nem todos a conhecem. Isto coloca
uma responsabilidade especial sobre os ombros daqueles que a conhecem, e
especialmente daqueles que, como você e eu, foram chamados para este
ministério. Espero que você não tenha ficado com a idéia de que evangelistas
são apenas aquelas pessoas como Finney ou Moody, Graham ou Palau,
pessoas que trabalhavam tempo integral no evangelismo. No centro de nosso
ministério deveria estar o compartilhar do evangelho. Todos os pastores são
chamados para serem evangelistas. Na verdade, o evangelismo deve ser parte
central de nosso trabalho, e, às vezes, isto pode significar ensinar estas
verdades ao nosso povo. Mas Timóteo, que trabalho valioso é este! Os
estudiosos deixam um volume de páginas chamado de seu magnum opus —
sua grande obra. A grande obra de um pastor, o nosso magnum opus, deve ser
o grande número de pessoas evangelizadas por nosso ministério fiel. Oh,
irmão, bem cedo em seu ministério, faça do evangelismo uma prioridade em
suas orações e práticas, em suas pregações e na sua vida.
Estou servindo nesta igreja a oito anos, e não gostaria que você pensasse
que cheguei até aqui com tudo resolvido. Há apenas dois meses, estava
compartilhando com a congregação que eu sentia que estávamos falhando em
um ponto particular: no evangelismo. Não pretendo me apresentar a você
nesta carta como aquele que possui todas as respostas. Quero dizer que, pelo
menos, estou convencido de que isto deve ser uma preocupação central, tanto
para você quanto para mim, porque nós dois fomos chamados para sermos
ministros da Palavra de Deus.
Quanto a minha ida para pregar em sua igreja algum dia, se eu puder
fazê-lo, gostaria muito se fosse em algum evento evangelístico. Você é um
bom teólogo em ascensão e se saiu tão bem em grego, que imagino não poder
acrescentar muito além do que você já oferece a eles. Talvez eu possa me
encontrar com você e os líderes da sua igreja para falar sobre batismo,
congregacionalismo, disciplina e presbíteros — aquelas coisas sobre as quais
as pessoas sempre me pedem para falar. Mas, imagino, se não seria melhor
para nós escolhermos um assunto para eu falar num culto em local público,
no qual eu pudesse apresentar o evangelho. Sua congregação seria informada
sobre isto, e então poderiam orar e convidar amigos. Eu sei que não é muito,
mas poderia ser um começo para ajudá-lo a planejar mais intencionalmente o
evangelismo, colocando-o em prática. Você precisa ter algum ponto para
começar. Quando você me escrever novamente, quero que me conte sobre os
incrédulos com quem você compartilhou o evangelho recentemente e sobre
aqueles que o têm procurado para conhecer melhor o evangelho, após ouvir
sua pregação. Isto soa razoável para você?
Eu preciso concluir agora. Mande-me notícias suas, logo, especialmente
se for me contar sobre como está planejando fazer o trabalho de um
evangelista.

Com amor fraternal, como um


Cooperador no evangelho,
Mark

PS — Segue abaixo algumas sugestões:


1. Provavelmente o melhor livro para se pensar teologicamente sobre o
evangelismo seja Evangelism and the Sovereignty of God, J. I. Packer
(Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1961).
2. E uma leitura valiosa sobre como compartilhar o evangelho de uma
forma centrada em Deus é o maravilhoso livro de Will Metzger, Tell the
Truth (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1981).
3. Uma literatura evangelística amigavelmente reformada pode ser
encontrada na editora St. Matthias Press. Conheça mais sobre seu método de
apresentação do evangelho em Two Ways to Live.
4. Também há boas comparações de vários estudos bíblicos
evangelísticos no site do IX Marks Ministries.
Capítulo 10 - Faça o trabalho pessoal (Fred Malone)

Capítulo 10

Faça o trabalho pessoal


Fred Malone

Amado Timóteo,
Saudações em nome de nosso querido Senhor Jesus Cristo. Como você
está apenas iniciando seu primeiro pastorado, senti a necessidade de escrever-
lhe sobre a indispensabilidade, responsabilidade e utilidade de fazer o
trabalho pessoal em seu ministério.
Algumas vezes, as pessoas têm boas intenções em seus conselhos a
jovens pastores, mas acabam por negligenciar alguns princípios bíblicos
simples. Por exemplo, os apóstolos se consagravam à oração e ao ministério
da Palavra (At 6.4). Certamente esta deve ser a prioridade no ministério
pastoral. Todo o nosso conhecimento e forças vêm do estudo da Palavra de
Deus e da oração. Nosso ministério público na pregação da Palavra é a
fundação de tudo que fazemos. No entanto, nem o nosso Senhor e nem seus
discípulos negligenciaram o trabalho pessoal ao executar estas prioridades.
Não podemos permitir que os bem intencionados conselheiros de jovens
pastores cheguem a ponto de os chamarem a ignorar o trabalho pessoal com
vistas à prioridade do estudo e pregação da Palavra de Deus. Temos de fazer
ambas as coisas, como eu irei provar-lhe.
Uma outra voz que os jovens pastores freqüentemente escutam é aquela
dos pastores de igrejas grandes que geralmente dizem: “Não faço
aconselhamento. Não visito hospitais. Não tenho tempo para visitar as casas
das minhas ovelhas. Deixo que minha equipe esteja nesta frente do trabalho
pessoal”. Esta é a mentalidade de um executivo, porém, certamente, não é a
mentalidade de nosso Senhor, de seus apóstolos e dos grandes pastores
através da História Cristã. Podemos citar Bunyan, Spurgeon, Lloyd-Jones,
Baxter, M’Cheyne, Manley, Judson, Wayland, Chantry e muitos outros, cujos
ministérios foram marcados pelo alto nível da ministração pública da Palavra,
enquanto, ao mesmo tempo, dedicavam seu tempo e sua vida ao trabalho
pessoal. Não permita que modelos corporativos de ministério neguem a
clareza dos ensinamentos das Escrituras aos pastores, e nem os maravilhosos
exemplos de homens piedosos que literalmente morreram ministrando
individualmente.
Eu gostaria de esboçar para você a necessidade, a fundação e os claros
exemplos do trabalho pessoal nas Escrituras. Também vou listar algumas
sugestões que, penso, irão acentuar suas oportunidades de aplicar a Palavra
de Deus aos diferentes casos individuais dos homens.

O TRABALHO PESSOAL É ORDENADO POR DEUS


As epístolas pastorais de Paulo são cheias de ordens aos jovens Timóteo
e Tito, para fazerem o trabalho pessoal. Suas ordens foram para: “…
admoestares a certas pessoas…” (1 Tm 1.3); “…repreendas ao homem
idoso…aos moços…às mulheres idosas…às moças…” (5.1,2); “Exorta aos
ricos…” (6.17); “…transmite a homens fiéis…” (2 Tm 2.2); “…disciplinando
com mansidão aos que se opõem…” (2.25); “É preciso fazê-los calar…” (Tt
1.11); “Evita o homem faccioso…” (Tt 3.10). E, se estas ordens não forem
claras o bastante, lembre-se que Paulo devotou toda uma carta escrevendo a
uma pessoa apenas em favor de outra (Filemon). Paulo tanto ensinava quanto
demonstrava a necessidade dos pastores e presbíteros estarem envolvidos no
trabalho pessoal. Ele enfatizava esta necessidade, até mesmo no meio de
ordens para estudar e se apresentar a Deus aprovado, como obreiro que não
tem de que se envergonhar. Ele nunca tencionou que a prioridade do estudo e
da ministração pública fosse usada como desculpa para ignorar o trabalho
com pessoas individualmente.
Charles Bridges disse, em The Christian Ministry (O Ministério
Cristão), talvez o melhor livro já escrito neste assunto:
A pregação — a grande alavanca do ministério — deriva muito do seu poder da
conexão com o trabalho pastoral; e a freqüente disfunção entre eles é a causa principal
de nossa ineficiência… O trabalho pastoral é a aplicação pessoal do ministério do
púlpito às individualidades próprias de nosso povo… Por esta razão, precisamos estar
familiarizados com as suas circunstâncias, seus hábitos, seu caráter, a condição de seus
corações, necessidades específicas, e dificuldades… Os indolentes estão ociosos; os
autodependentes estão cedendo; os zelosos estão sob influência do orgulho espiritual; os
sinceros, apoiando-se em sua própria justiça; os normais, formais. Existem ainda os
questionadores, pedindo por direção; os tentados e perplexos, procurando por auxílio; os
aflitos, ansiando pelo conforto maravilhoso do evangelho; os pecadores convencidos de
suas faltas, que após uma cura superficial de suas feridas, estabelecem-se numa paz
ilusória; o professor, “que tens nome de que vives e estás morto”. Estes casos não
podem, em todos os seus detalhes e formas diversificadas, ser completamente tratados
do alto do púlpito. É, portanto, em seu caráter pastoral que o ministro vela por almas,
como quem deve prestar contas.[38]

Tais citações poderiam ser multiplicadas, se olhássemos para autores


como Matthew Henry, John Owen e ainda outros puritanos. No entanto, é
suficiente reconhecer que o trabalho pessoal é uma ordem de Deus nas
Escrituras. Afinal, o pastor foi incluído no padrão de Jesus para o julgamento:

Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber;


era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me
visitastes; preso, e fostes ver-me. Então, perguntarão os justos: Senhor,
quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te
demos de beber? …Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um
destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes (Mt 25.35-37, 40).

Timóteo, recebemos ordens para fazer o trabalho pessoal. Não seja


enganado, achando que o pastor está isento de tais ordens, simplesmente por
ser muito ocupado (Hb 13.17).

O TRABALHO PESSOAL REQUER BASE TEOLÓGICA


Paulo disse a Timóteo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina.
Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo
como aos teus ouvintes” (1 Tm 4.16). Embora sejamos encarregados de ter
cuidado com a pregação da sã doutrina, poderia estar mais claro que Paulo
também requer que você primeiramente aplique os ensinamentos da sã
doutrina em sua própria vida? Em outras palavras, certifique-se de que seu
próprio relacionamento com Deus e com Cristo é real, genuíno e
teologicamente são. Esta necessidade teológica é a base para toda a sua obra.
Por exemplo, se você pretende pregar a justificação somente pela fé em
Cristo unicamente, você mesmo compreende e vive nesta justificação? Você
se lembra diariamente da montanha de pecados que merece a ira de Deus?
Você diariamente procura refúgio no Cristo que subiu aos céus, e depende
apenas do sangue dEle derramado uma vez para sempre e, de sua justiça
imputada, para assegurar-lhe sua permanência em Deus? Você acredita que
seus “pecados cristãos” são lavados pelo sangue e justiça de Cristo, bem
como os seus “pecados pré-cristãos”? Você acredita que, mesmo em seu
melhor dia de ministração aos outros, as suas melhores obras ainda estão
misturadas com pecado e ignorância, precisando da expiação e justiça
imputada de Cristo, para serem sacrifícios aceitáveis diante de Deus? Você
depende diariamente da graça soberana e da justificação pela fé somente?
Como pode ver, Timóteo, para fazer o trabalho pessoal você precisa
acreditar que Deus realiza uma obra teológica pessoal em você. Você precisa
acreditar que é aceito e amado pela graça soberana, através da justificação
pela fé somente. Você precisa acreditar que o amor de Deus em Cristo é
imutável, constante e benevolente, até mesmo quando você cai em pecado.
De que outra forma você poderá dar às pecadoras ovelhas de Cristo a
impressão de que as aceita, ama e sofre por elas, quando caem em pecado?
De que outra forma você seria capaz de comunicar a graça, quando precisa
falar com elas, confrontá-las e trazer a correção amorosa sobre elas? Se você
pregar a justificação pela fé somente, primeiramente tem de vivê-la. Então,
você estará apto a ter um espírito de amor, perdão, paciência e perseverança
pelas pessoas em seu ministério.
Juntamente com a justificação, você também precisa prestar muita
atenção a si mesmo, no que diz respeito à santificação pela fé exercitada em
Cristo, na medida em que procura amá-Lo e respeitar os seus mandamentos.
Se a sua busca pela santidade se degenerar numa vida legalista, num
relacionamento com Deus baseado em obras, então, o seu ministério pastoral
irá refletir ao rebanho de Cristo um relacionamento reprovador, raivoso e
baseado em obras. Sim, a santificação dá atenção devida à lei de Deus (os
Dez Mandamentos e tudo o mais). No entanto, a santificação funciona através
da fé na graça justificadora do Senhor Jesus Cristo. Apenas os homens
justificados perseguem a santificação, sob a graça de Deus. Se um marido
não ama sua esposa como ele deveria, seu problema reside em seu
entendimento da justificação somente pela fé. Apenas pastores que praticam
tal santificação, como homens justificados, encontrarão a graça perseverante
para ministrar às teimosas ovelhas de Cristo.
Então, como você mesmo pode ver, o trabalho pessoal possui base
teológica, enraizada na justificação pela fé e na santificação pela fé em
Cristo, exercitada mediante a obediência aos mandamentos dEle. Certifique-
se de que compreende estas coisas, a fim de que possa ser gracioso em suas
ministrações e tão perseverante quanto Deus tem sido com você. “Regozijar-
se sempre no Senhor” significa acreditar na graça de Deus para com você, em
todo o tempo, e na justificação de Cristo, enquanto você persegue a
santificação. Somente isto irá capacitá-lo a compreender efetivamente a
condição espiritual daqueles a quem você ministra individualmente, de forma
que possa endireitar os seus equívocos no que diz respeito ao motivo e ao
poder de uma vida cristã — a graça incondicional de Deus em Cristo.

O TRABALHO PESSOAL TEM EXEMPLOS BÍBLICOS


Timóteo, seria ousadia, eu presumo, lembrar-lhe que o nosso Senhor
Jesus realizou o trabalho pessoal? Leia os evangelhos e veja-O ensinando a
Palavra de Deus às multidões. Mas não deixe de perceber que Ele separou
tempo para falar com uma mulher em um poço, com um jovem rico, um
Zaqueu desonesto e um Pedro traidor. Ele evangelizava os perdidos, visitava
os doentes, comia com os pecadores, amava aqueles que lhe viravam as
costas.
Até mesmo agora, sendo o Deus infinito, Ele ainda dá sua miraculosa e
completa atenção, a cada momento, para cada uma de suas ovelhas, como se
elas fossem a única por quem Ele morreu, ressuscitou e hoje reina. Ele não
cessou seu trabalho individual, simplesmente porque está exaltado nos céus.
Ao contrário, agora Ele o realiza com mais afinco. Não é no céu onde o
Noivo, mais uma vez, irá cingir-se e servir individualmente àqueles que Ele
ama (Lc 12.37)?
Lembre-se também do trabalho pessoal de Paulo, como um apóstolo e
pastor, em Éfeso. Por três anos, ele não deixou de anunciar-lhes coisa alguma
proveitosa e de ensinar-lhes publicamente e também de casa em casa (At
20.20), “todo o desígnio de Deus” (At 20.27). Ele não cessou de admoestar
cada um deles, com lágrimas. Na verdade, aos coríntios ele escreveu: “Quem
enfraquece, que eu não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu também
não me inflame?” (2 Co 11.29). Ele trabalhou a fim de apresentar todo
homem perfeito em Cristo, advertindo e ensinando a todo homem (Cl 1.28).
Isto é suficiente para revelar o coração pastoral de Paulo, não apenas como
um apóstolo para toda a igreja, mas como um servo de todos. Paulo
exemplificou o trabalho pessoal.
Como é triste ouvir pastores dizendo: “Estou comprometido apenas com
minha pregação e ensino público; todo o resto virá no momento certo — não
tenho tempo para cuidar de cada tropeço sofrido pelos santos”. Eles não
sabem, Timóteo, que cada fraqueza e pecado nos santos revela uma
compreensão errônea da graça de Deus e da justificação pela fé? O pecado
não pode ser mestre sobre você, pois você não está sob a lei, mas sim sob a
graça! Aquele tipo de trabalho pastoral é um trabalho teológico,
transformando mentes para pensar à partir do ponto de vista da graça, na qual
todo verdadeiro cristão permanece. Somente isto irá fazer nosso povo manter
a lei sob a graça, conforme nós clareamos o entendimento deles acerca do
evangelho.
Tanto o ministério de Jesus quanto o de Paulo foram cheios de trabalho
pessoal, com agendas muito mais lotadas do que as nossas. Eles enxergavam
cada alma feita à imagem de Deus como condenada ao inferno eterno, sob a
aliança da lei em Adão. Apenas uma mudança para a aliança da graça em
Cristo, o último Adão, poderia libertá-las da condenação eterna e do poder
diário do pecado. Eles enxergavam almas eternas com olhos de pastor. Nunca
pensavam na inconveniência de morrer para si mesmos, esgotando tempo,
energia e vida, a fim de infundir a vida eterna aos outros (2 Co 4). Eles eram
homens abnegados, que sacrificavam a si mesmos pela salvação e
santificação de outros. Eles ainda são exemplos bíblicos e modelos de
pastorado.
Timóteo, estude a vida de Cristo, e não somente sobre Cristo. Estude a
vida de Paulo, não apenas sua teologia. Você tem dois exemplos bíblicos
chamando-o para realizar o trabalho pessoal. Outros que seguiram suas
pegadas foram: Richard Baxter, em O Pastor Aprovado;[39] Charles
Bridges, em The Christian Ministry (O Ministério Cristão); D. Martyn Lloyd-
Jones, em Pregação e Pregadores;[40] e Charles Haddon Spurgeon, em Um
Ministério Ideal.[41] Todos eles aprenderam como aplicar a lei e o
evangelho apropriadamente, para cada necessidade individual: os agnósticos,
os ateus, os novos cristãos, os jovens cristãos, os cristãos maduros, os
hipócritas, os falsos convertidos, aqueles falsamente seguros, aqueles que
deveriam estar seguros, etc. Eles compreenderam que todos os homens vivem
sua própria teologia. Provocar uma mudança duradoura significa que o pastor
precisa ensinar, corrigir e aplicar a sã doutrina à sua teologia defectível para
que eles possam viver vidas piedosas e crescer em graça. Jesus e Paulo são
nossos exemplos.

O TRABALHO PESSOAL REQUER QUE VOCÊ SEJA PESSOAL


Deixe-me concluir, Timóteo, com algumas exortações específicas. Em
primeiro lugar, separe regularmente algumas horas para visitar o rebanho. Há
mil coisas importantes para fazer com o seu tempo. No entanto, o trabalho
perfeito de um pastor é impossível. Você não pode fazer tudo perfeitamente,
mas pode tentar fazer tudo vivendo sob a graça. Portanto, você precisa se
disciplinar para o propósito da piedade. Separe regularmente algumas horas
para visitar as viúvas, os doentes, os moribundos, os confusos, os solitários,
os ignorantes, assim como aqueles já mais maduros que podem acabar
cansando de fazer o certo. Não permita que as “engrenagens que estão
rangendo” impeçam-no de lubrificar as silenciosas. Se Cristo passa o dia
todo, todos os dias, com você, é muito que Ele lhe peça para passar
regularmente algum tempo com os amados dEle?
Em segundo lugar, examine o seu próprio coração à luz da justificação e
santificação, e ele se tornará um reservatório de aconselhamento para as
ovelhas de Cristo, nos caminhos secretos do pecado e de conforto do
evangelho. Não permita que o estudo acadêmico e a preparação dos sermões
se tornem um trabalho estéril. Bridges nos aconselha:

Como um velho pastor costumava dizer, um pregador possui três livros


para estudar — a Bíblia, ele mesmo e seu povo. Gillies’ Hist. Coll. Bishop
Burnet disse que “o erro capital na preparação própria de homens para o
ministério sagrado, é que eles estudam mais os livros que a si mesmos”.[42]
History of his Own Times (História dos seus Próprios Tempos).
Se Bunyan “pregou tocantemente o que eu senti”, você não deveria
fazer o mesmo?
Em terceiro lugar, passe tempo com as pessoas individualmente. Jesus
comeu, dormiu, caminhou, pescou, tomou café da manhã e aplicou
individualmente os seus ensinos a cada um dos discípulos. Não somos
executivos pragmáticos. Também não somos torres teológicas da verdade.
Igualmente, não somos comandantes de tropas. Somos pastores, pais na fé,
mães em dores de parto, irmãos numa família e servos de todos (Mt 20.28).
Pratique a hospitalidade. Pesque com os homens, enquanto pesca para os
homens. Lave os pés sujos individualmente, até mesmo os de Judas. Ame
como você tem sido amado. Perdoe como você tem sido perdoado. Sirva
como você tem sido servido.
Em quarto lugar, leia as biografias de grandes cristãos, para fortalecer o
seu trabalho individual com exemplos encorajadores de fé, incentivando
assim o seu povo a ler sobre as obras de Deus na vida de outras pessoas.
Focar-se completamente na teologia e esquecer de biografias, torna tanto o
pastor quanto o seu rebanho em crianças apáticas.
Em quinto lugar, faça grandes perguntas ao seu povo. “Como a vida de
Cristo e a sua obra redentora ajudam você a viver como um marido, uma
esposa, um pai, uma mãe, um filho, um membro da igreja? Qual você pensa
ser o grande objetivo de Deus para a sua vida? O que o paraíso significa para
você hoje? O que Cristo sente e pensa de você, quando você peca? Você acha
que Deus sente prazer em você?” Tais perguntas lhe dão uma pista do
entendimento que eles têm da justificação, santificação e do evangelho. Elas
levam as ovelhas de Cristo a pensar. Fazem com que procurem por respostas
em seus ensinamentos. E lhe darão conhecimento da verdadeira condição
espiritual de cada ovelha, o que direcionará seu ministério no púlpito e suas
aplicações para as necessidades reais do povo.
Finalmente, seja você mesmo. Não vista a “capa do profissional”. Pelo
contrário, vista apenas o manto do cristão praticante, que é honesto sobre
suas próprias lutas espirituais e os confortos que encontra em Jesus Cristo.
Tal sinceridade atrai os sinceros para o Salvador e dá a esperança de que
Cristo é suficiente. Em outras palavras, para realizar o trabalho individual
você precisa ser pessoal. Você precisa primeiramente sentir e, então, pregar
inteligentemente.
Concluindo, amado Timóteo, ame as ovelhas de Cristo, assim como Ele
tem amado você e a elas. Você somente precisa realizar tanto trabalho
individual quanto Ele realizou e ainda realiza. Você precisa abandonar todo
traço de egoísmo. Precisa viver em Cristo e regozijar-se sempre no Senhor.
Precisa lembrar-se de que Ele o carregou de volta da perdição, em seus largos
ombros, com alegria. Memorize 2 Coríntios 4, e ore para que Deus use a
verdade desta passagem para alargar seus ombros, o suficiente para
carregarem as ovelhas de Cristo à sua gloriosa presença, e apresentar cada
uma delas, sob o seu cuidado, completa em Cristo. Timóteo, faça o trabalho
pessoal.

Seu Paulo inferior,


Fred Malone

PS Novamente, Timóteo, encorajo-o a adquirir para a sua biblioteca e a


ler os livros já mencionados nesta carta:
1. O Pastor Aprovado, Richard Baxter, PES, São Paulo, SP.
2. The Christian Ministry, Charles Bridges (Reimpressão, Edimburgo:
The Banner of Truth Trust, 1980).
3. Pregação e Pregadores, Martyn Lloyd-Jones, Editora Fiel, São José
dos Campos, SP.
4. Um Ministério Ideal, C.H. Spurgeon, PES, São Paulo, SP.
Capítulo 11 - Tenha cuidado da Doutrina (Raymond Perron)

Capítulo 11

Tenha cuidado da Doutrina


Raymond Perron

Amado Timóteo,
Saudações calorosas em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, o único
Salvador dos eleitos de Deus! Eu creio que você e sua pequena família estão
indo bem, física e espiritualmente. Você sempre está em meus pensamentos e
orações. É fácil para mim imaginar o quão atarefado deve estar, devido às
responsabilidades com sua família, especialmente agora com a gravidez de
Mary, seu filho de dois anos e todas as demandas de um ministério pastoral
recém-iniciado.
Ao aceitar esta posição pastoral, uma nova missão, um novo trabalho, e,
até mesmo, uma nova vida se iniciou para você. Junto às novas
responsabilidades vieram novas promessas. Estas novas promessas serão
cumpridas através da perseverança. Compreendo que você ainda está
passando por um período de adaptação em seu ministério. Deve estar
sentindo-se esmagado com a imensa tarefa que repousa diante de você. Sem
qualquer sombra de dúvida, trabalhar com almas representa a tarefa mais
difícil de todas. Na verdade, é algo tão complexo que vai além do que se pode
calcular, desafiando as análises, como se fosse formado por todos os tipos de
crises existentes, impulsos incontáveis, paixões e emoções. Por isto,
“amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da
nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me
convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez
por todas foi entregue aos santos” (Jd 3). Meu apelo sincero a você, meu
amado amigo e irmão, é: Tenha cuidado da doutrina! Quando uso a palavra
doutrina, você certamente é capaz de entender que estou me referindo ao
sentido mais amplo de ensino, isto é, tanto a maneira quanto o assunto da
instrução dada.
Se eu tivesse de lhe pedir para escrever uma lista das coisas mais
importantes em sua vida e ministério, como seria esta sua lista? Que
categorias surgiriam conforme sua lista fosse tomando forma? A lista do
apóstolo Paulo se compunha de duas categorias, valores centrais e valores
doutrinários: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina” (1 Tm 4.16).
Nos dias de hoje, chegamos a um ponto no qual a doutrina não é mais
um assunto discutido, até mesmo entre muitos dos seguidores professos de
Cristo. Os dias em que linhas rígidas e firmes eram traçadas entre as pessoas,
com base em suas diferenças doutrinárias, ficaram no passado, foram
substituídas por uma ênfase na experiência. Porém, a experiência, à qual não
foi dado significado com embasamento na verdade, é a de estrutura mais
perigosa. Então, deixe-me chamar a sua atenção para a primazia da doutrina
e, conseqüentemente, a tarefa máxima de cuidar dela.
Em primeiro lugar, considere a importância da doutrina (ensino) na vida
e ministério de nosso Senhor Jesus Cristo. “Quando Jesus acabou de proferir
estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina [ensino]”
(Mt 7.28). “Então, entenderam que não lhes dissera que se acautelassem do
fermento de pães, mas da doutrina dos fariseus e dos saduceus” (Mt 16.12).
“E os principais sacerdotes e escribas ouviam estas coisas e procuravam um
modo de lhe tirar a vida; pois o temiam, porque toda a multidão se
maravilhava de sua doutrina [ensino]” (Mc 11.18; cf. Mt 22.33; Mc 1.27; 4.2;
12.38; Lc 4.32). O que dizem estes versículos? Nosso amado Senhor não
estava tentando instigar as exigências de seu tempo, transformando seus
sermões em exposições filosóficas, morais ou estéticas; muito menos estava
limitando sua apresentação da verdade, a fim de ir ao encontro das opiniões
ou fantasias de seus ouvintes. A verdade permanece a verdade, contanto que
seja dita em concordância com aquilo que Deus afirma ser a verdade. Apenas
o Onipotente tem autoridade para definir a doutrina, pois ela é originada em
sua mente. Assim, quando o Filho de Deus veio à terra, Ele praticou e
ensinou a doutrina de seu Pai: “O meu ensino [doutrina] não é meu, e sim
daquele que me enviou” (Jo 7.16). “Porque eu não tenho falado por mim
mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que
anunciar. E sei que o seu mandamento é a vida eterna. As coisas, pois, que eu
falo, como o Pai mo tem dito, assim falo” (Jo 12.49,50).
Sua missão, amado irmão, é ser um profeta do Senhor Jesus Cristo. Um
profeta não cria sua própria mensagem, e sim comunica fielmente a
mensagem que recebeu. E exatamente a mesma doutrina que era tão preciosa
ao coração de nosso Senhor precisa ser também preciosa para nós. Então,
cuida da doutrina e seja fiel ao ensinar tudo aquilo que Deus tem nos
entregue através de sua Palavra.
Em segundo lugar, considere a importância da doutrina na Igreja
Primitiva. Deixe-me, amado irmão, citar apenas um texto que mostra o lugar
da doutrina nos primeiros dias da igreja de Cristo. “E perseveravam na
doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações” (At
2.42; cf. 5.28). A primeira coisa em que perseveravam era na doutrina dos
apóstolos, este conjunto de crenças, este “sistema da verdade” que agora está
contido nas Escrituras. Quando olhamos para todas as exortações que o
apóstolo Paulo dirige a Timóteo e Tito, não podemos escapar da conclusão de
que a doutrina era a arma mais poderosa na luta pela verdade e contra a
falsidade. Por exemplo, “…apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina,
de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para
convencer os que o contradizem” (Tt 1.9). Esta é exatamente a mesma arma
que lhe foi dada. Então, mantenha-a afiada, cuide de sua doutrina!
Em terceiro lugar, considere a importância da doutrina para a sua
própria vida. A vida é uma peregrinação cheia de acontecimentos; nela,
experimentamos uma interminável sucessão de estações. Meu querido amigo,
deixe-me confessar-lhe que eu tenho experimentado uma superabundância de
diferentes estados de alma, desde a mais maravilhosa alegria até o mais
profundo desespero, do mais ardente entusiasmo ao mais escuro e mórbido
passivismo, conseqüência de uma perda de motivação. Em cada uma das
circunstâncias, a doutrina se mostrou uma poderosa defesa. Como eu estimo
as palavras do apóstolo: “A mim, não me desgosta e é segurança para vós
outros que eu escreva as mesmas coisas” (Fp 3.1). É tão necessário que nos
mantenhamos na sã doutrina, evitando a cilada de estar sempre procurando as
novidades!
Eu o conheço desde seus anos de adolescência — sua constância e
firmeza tem sido sempre de grande bênção para a minha alma. Contudo,
deixe-me lembrar-lhe que o tempo é capaz de erodir as mais altas montanhas.
Tenha cuidado da doutrina, a fim de estar certo de que ela não sofrerá a
erosão, causada pela passagem de anos de indisciplina.
A pressão da vida, as responsabilidades sempre crescentes de uma
família em desenvolvimento no topo de uma lista interminável de demandas
do ministério pastoral, as obrigações diárias de tomar decisões, poderiam te
levar à tentação de negligenciar o cultivo de sua doutrina. Cuide de si mesmo
e da doutrina!
Cansaço e desencorajamento formam um time poderosamente
destrutivo. Acontecerá muitas vezes que as circunstâncias de sua vida e
ministério estarão em desacordo com a sua doutrina. Esteja preparado para
ser firme — tenha cuidado da doutrina. Veja onde o apóstolo encontra
conforto em meio às mais terríveis situações da vida:
“Pelo que, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não
desfalecemos; pelo contrário, rejeitamos as coisas que, por vergonhosas, se ocultam, não
andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus; antes, nos recomendamos à
consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade. Mas,
se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto,
nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não
resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus. Porque
não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor e a nós mesmos como
vossos servos, por amor de Jesus. Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a
luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da
glória de Deus, na face de Cristo. Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para
que a excelência do poder seja de Deus e não de nós. Em tudo somos atribulados, porém
não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não
desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de
Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque nós, que
vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida
de Jesus se manifeste em nossa carne mortal. De modo que, em nós, opera a morte, mas,
em vós, a vida. Tendo, porém, o mesmo espírito da fé, como está escrito: Eu cri; por
isso, é que falei. Também nós cremos; por isso, também falamos, sabendo que aquele
que ressuscitou o Senhor Jesus também nos ressuscitará com Jesus e nos apresentará
convosco. Porque todas as coisas existem por amor de vós, para que a graça,
multiplicando-se, torne abundantes as ações de graças por meio de muitos, para glória de
Deus. Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se
corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia. Porque a nossa leve
e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda
comparação, não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem;
porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas” (2 Co 4.1-18).

Nesta passagem, encontramos o apóstolo enfrentando evangelhos falsos,


envolvido em uma incrível batalha espiritual, sentindo sua fraqueza humana,
sendo fortemente pressionado por todos os tipos de problemas, parecendo até
mesmo estar derrotado. Mas ele não desanimou! Por quê? Porque encontrou
conforto na sã doutrina.
Em quarto lugar, considere a importância da doutrina para o seu
ministério. Meu querido amigo, Deus tem lhe chamado para a tarefa mais
nobre de todas, ou seja, tomar conta de seu rebanho. Na verdade, “se alguém
aspira ao episcopado, excelente obra almeja”. A sã doutrina representa a
essência de seu cuidado por aqueles que estão sob seu ministério: “Atendei
por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu
bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu
próprio sangue” (At 20.28). Em seguida, o apóstolo escreveu sobre como os
lobos, até mesmo de dentro da igreja, virão e não pouparão o rebanho. Deixe-
me lembrar-lhe, Timóteo, que a forma mais eficiente de manter o rebanho a
salvo da astúcia e artimanhas dos lobos, e contra os mais variados ventos de
doutrinas mortais, é construir uma fortaleza de sã doutrina. “Tem cuidado de
ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim,
salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (1 Tm 4.16).
Considere o valor da alma humana! A alma — “a vida da vida”, como
alguém a descreveu — é capaz de uma infinidade de bem ou mal. A alma
possui uma incalculável potencialidade, tanto para o bem quanto para o mal,
estendendo-se na eternidade. Considere a importância do seu cuidado com tal
alma e as conseqüências de negligenciá-la. Tem sido dito que o valor de algo
é medido pelo preço que foi pago por ele. O custo das almas que nosso
Senhor confiou aos seus cuidados foi nada menos que o sangue do Filho
Eterno do próprio Deus. Então, quando você avaliar o valor das almas
confiadas a você, é preciso refletir não apenas no que elas são, ou no que elas
deveriam ser, mas também é necessário perceber o valor que o próprio Deus
depositou sobre elas.
Você certamente irá entender, amado amigo, que, se eu insisto tanto na
necessidade de cuidar da doutrina, é porque tantas circunstâncias e
adversários tentarão impedi-lo de fazê-lo. Então, deixe-me lembrar-lhe de
dois deles, a saber, a influência dos colegas e o relativismo desmedido.
Começo falando sobre o último deles, o relativismo. Este vício
abominável está sendo considerado uma virtude em nossos dias. Na verdade,
ser dogmático hoje é o pecado imperdoável, enquanto estar “aberto às
novidades” é a graça suprema, ainda que ao custo da verdade. Esteja
preparado para ouvir todo tipo de afirmações das mais absurdas possíveis,
tais como: “Não faz a menor diferença em que você acredita, contanto que
seja sincero”; ou, então: “Nós todos iremos para o mesmo lugar, no fim das
contas, apenas seguimos por estradas diferentes”. Nada poderia estar mais
distante da revelação de Deus que estes clichês insípidos. Um líder cristão
sabiamente advertiu: “Onde as Escrituras são ignoradas, Deus é ‘o Deus
desconhecido’” (At 17.23). Você também encontrará algumas pessoas
dizendo: “Não importa no que você acredita, contanto que tenha um
relacionamento pessoal com Jesus Cristo”. Você certamente concorda
comigo, que não contestaríamos a necessidade de tal relacionamento com
nosso Senhor; no entanto, a existência deste relacionamento, assim como sua
qualidade, depende da doutrina. Um relacionamento baseado em mentira é o
mais enganoso possível. Um verdadeiro relacionamento com Jesus deve ser
embasado na verdade. Apenas quando conhecemos a verdade, somos libertos
(Jo 8.32).
Se você olhar ao seu redor, logo reconhecerá que a maior preocupação
de nossas igrejas evangélicas contemporâneas são os sentimentos. Esta
preocupação se manifesta mais comumente durante as músicas e pregação na
igreja (com freqüência, identificadas erroneamente como “louvor e
adoração”). De forma que, após um culto, no qual foram cantados hinos
tradicionais, muitas pessoas podem chegar a você e perguntar por que não há
louvor e adoração na sua igreja. Para elas, se não experimentarem fortes
sensações de bem-estar, não houve nem louvor e nem adoração — como se a
adoração devesse consistir em estimular uns aos outros ao invés de proclamar
as virtudes e obras de Deus. Em segundo lugar, hoje em dia é comum ver
pessoas desejosas de falar da importância da teologia apenas da “boca para
fora”, enquanto os seus púlpitos “em sua maior parte já sucumbiram ao
triunfo do terapêutico”, como um teólogo contemporâneo colocou muito
bem. Na verdade, meu caro amigo, esteja preparado para enfrentar o fato de
que, de muitas formas, a psicologia tem tornado a mente evangélica cativa.
Como é importante lembrar-se de que a verdadeira “psicologia” (ciência da
“psique” [alma]) é a Palavra de Deus!
Você também terá de lidar com os falsos piedosos, que divorciaram a
verdadeira espiritualidade da teologia. Teologia é simplesmente aquilo que
nós sabemos sobre Deus. Como, então, alguém pode ter uma espiritualidade
autêntica sem o verdadeiro conhecimento de Deus? Se você almeja
desenvolver uma profunda espiritualidade no povo a quem está ministrando,
tenha cuidado da doutrina!
Deixe-me compartilhar com você alguns pensamentos sobre o segundo
obstáculo à sã doutrina: a influência dos colegas. A apóstolo Paulo adverte
sobre o que espera cada pregador do glorioso evangelho de nosso Senhor
Jesus Cristo:
Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-
ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos;
e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio
em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre
cabalmente o teu ministério (2 Tm 4.3-5).

Meu amado irmão, aqueles que são deste mundo não suportarão a sã
doutrina. Eles não quererão ouvir quando você pregá-la. Eles dirão que
aquela pregação já está ultrapassada e monótona. No mundo dos negócios,
quando você tem um produto que ninguém mais quer, é dito que você deve
mudá-lo e adaptá-lo ao gosto do consumidor. Mas esta não é a regra do
Reino; a verdade não é um produto que pode ser adaptado de acordo com as
fantasias do consumidor. A Palavra de Deus não é um produto desenvolvido
através de pesquisa; é a revelação de Deus. Mensageiros não editam ou
adaptam uma revelação; eles a proclamam. Então, o argumento do apóstolo é
este: o fato de que as pessoas não querem ouvir a mensagem é um indicador
certeiro de que precisam dela. Então, pregue a Palavra!
Permita-me alertá-lo, com base em minha própria experiência, que
tentarão seduzi-lo a adaptar a mensagem do evangelho, a fim de que mais e
mais pessoas sejam atraídas à igreja. Você encontrará no seu próprio coração
um desejo sutil de obter o sucesso aos olhos do povo. Além disso, fica tão
bem em nossos relatórios mensais um impressionante crescimento numérico.
Você também será tentado a espiritualizar sua motivação errada, dizendo que
está apenas procurando a melhor forma de promover o reino de Deus. Além
disso, não faltarão supostos conselheiros que o convidarão a olhar com que
velocidade a igreja do outro lado da rua está crescendo. Por que você não
deveria adotar a mesma estratégia? “Aqui está a forma de conduzir o
ministério, de uma maneira que será mais agradável aos anseios da maioria
do povo”. “Não estamos falando de mudar a mensagem, mas apenas de
suavizá-la um pouquinho, contando apenas a parte que elas querem ouvir, a
fim de ganhá-las para Cristo”. Isto não é sutil? Não lhe parece bom? Porém,
seguir estes conselhos representa uma negação daquilo que a Bíblia ensina
sobre nossos métodos de evangelismo. Seria adotar o antigo credo sofista:
homo censura — o homem é a medida de todas as coisas. Tenha sempre em
mente, caro amigo, que é a Palavra de Deus que realiza a obra de Deus. O
poder não está no semeador, mas na semente. Olhe para o nosso gracioso
Senhor. Ele nunca estava preocupado com números, mas sim obcecado pela
verdade. Seja seu imitador! Nunca se esqueça de que a igreja não é uma
reunião de pessoas que convencemos com argumentos humanos ou atraímos
por métodos mundanos. A igreja do Deus vivo é o pilar e fundação da
verdade. Então, tenha cuidado da doutrina!
Leve consigo estas últimas palavras de exortação de um velho amigo, o
qual já caminhou muitos quilômetros pela estrada em que você está apenas
iniciando. Faça do seu ensino algo visível para que os outros o compreendam
e o imitem, sendo reto em sua vida pessoal! Seja cuidadoso no cultivo de sua
própria vida espiritual, entregando-se à oração e ao estudo diligente e regular
da Palavra de Deus. Que as palavras do salmista sejam o testemunho do seu
próprio coração: “Quanto amo a tua lei! É a minha meditação, todo o dia! …
Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! Mais que o mel à minha
boca” (Sl 119.97, 103). Todos os tipos de atividades importantes e urgentes
constantemente tentarão competir com estas primeiras tarefas que são suas,
como um ministro da Palavra. Esteja sempre em guarda e prepare-se para
uma luta difícil e diária nesta questão! Cultive um companheirismo constante
e sistemático com a Bíblia! Refresque a sua mente através de confissões de fé
e livros sobre teologia sistemática! Aproveite ao máximo as oportunidades
para estar em comunhão com pessoas de pensamento semelhante.
Oh, meu mais amado jovem cooperador, pregue a Palavra! Pregue-a de
uma forma sã; pregue-a de uma forma fiel; pregue-a de uma forma
sistemática; pregue-a de uma forma expositiva; pregue-a doutrinariamente! A
doutrina elucida o texto e nos guia em sua exposição. Além disso, a doutrina
irá ajudá-lo a medir a retidão de suas conclusões exegéticas. Tenha cuidado
da doutrina! Viva-a e pregue-a!
Tenha certeza da minha afeição mais profunda por você. Transmita o
meu amor a Mary e ao seu querido filho. Não há palavras para dizer-lhe o
quão preciosos vocês são ao meu coração. Que o nosso Deus da Aliança
continue derramando sobre você as suas mais ricas bênçãos.

Coram Deo,
Raymond Perron

PS Permita-me recomendar-lhe três livros que têm sido muito preciosos


em meu próprio ministério:
1. The Precious Things of God, Octavius Winslow (reimpressão,
Pittsburgh, PA: Soli Deo Gloria, 1993).
2. The Christian Pastor’s Manual, editado por John Brown
(reimpressão, Pittsburgh, PA: Soli Deo Gloria, 1991).
3. The Christian Ministry, Charles Bridges (Carlisle, PA: The Banner of
Truth Trust, edição de 1997).
Capítulo 12 - Continue estudando (Lingon Duncan)

Capítulo 12

Continue estudando
Lingon Duncan

Amado Timóteo,
Já faz algum tempo que estou pensando em escrever-lhe. Espero que
você e sua amada esposa, Mary, estejam passando bem. Recentemente recebi
a boa notícia de que ela está grávida novamente. Isto deleita meu coração,
porque o Senhor está trazendo outra criança para este mundo, sob a
responsabilidade e cuidados de maravilhosos pais cristãos. Que este
pequenino possa vir a conhecer, amar e professar o Senhor o quanto antes e
andar com Ele sempre.
Timóteo, eu também tenho recebido notícias sobre o seu ministério e
sobre como a mão de Deus o tem abençoado. Isto é uma resposta de oração, e
nós agradecemos ao Senhor por fazer prosperar o seu trabalho. Uma das
minhas petições a seu favor era que o Senhor lhe outorgasse um povo que lhe
amasse e abraçasse o seu ministério. Em sua misericórdia, Ele escutou e
respondeu as minhas orações.
Saiba também que há um pastor presbiteriano, bem como sua
congregação, intercedendo por você e regozijando-se no fato de que Deus
colocou um jovem fiel, que crê na inerrância das Escrituras, pregador do
evangelho, batista, que se deleita na graça soberana de Deus e ama o seu
povo, numa congregação de crentes para ser o seu pastor.
Hoje, Timóteo, estou escrevendo para você com uma razão especial. Faz
algum tempo que estava querendo falar-lhe sobre este assunto, mas talvez ao
escrever isto tudo no papel eu consiga organizar melhor os meus
pensamentos. Quero exortá-lo no que diz respeito ao estudo pessoal. Você
sempre foi um bom aluno na escola e no seminário, e as suas pregações
carregam todas as marcas de um homem devotado aos estudos. Ainda assim,
as pressões do pastorado o desafiarão a este compromisso, então quero instá-
lo a continuar estudando.

A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO
Falando muito francamente, Timóteo, a maioria dos pastores
evangélicos não lê ou estuda muito nestes dias, e a maior parte das igrejas
não os encoraja a fazê-lo. Os membros da igreja e até mesmo pastores têm
muita dificuldade em compreender quanto tempo é necessário para se
preparar uma boa mensagem da Palavra de Deus, e, além disso, eles não
conseguem enxergar a importância do pastor estudar outros assuntos além
das pregações e devocionais. Há uma forte dose de anti-intelectualismo em
nossos círculos de convivência e isto acaba por desencorajar qualquer homem
disposto a fazer o trabalho árduo de desenvolver sua mente e expandir seus
conhecimentos.
Mas exatamente porque o nosso povo está mergulhado num mar de
informações triviais em nossos dias, eles precisam de um pastor com o
verdadeiro conhecimento, muito discernimento e uma aptidão para ver a
verdade. Este conhecimento precisa ser adquirido e estas qualidades
cultivadas, porém ambos requerem que você se torne um estudante
permanente. Este chamado para o estudo é, sem dúvida, completamente
bíblico.
A Bíblia enfatiza a importância de perseguir o verdadeiro conhecimento
de modo geral aos sábios e de modo específico aos pastores. Provérbios
15.14 diz que “o coração sábio procura o conhecimento, mas a boca dos
insensatos se apascenta de estultícia”. Provérbios 18.15 reitera este princípio
quando diz que “o coração do sábio adquire o conhecimento, e o ouvido dos
sábios procura o saber”. Provérbios 24.5 diz: “Mais poder tem o sábio do que
o forte, e o homem de conhecimento, mais do que o robusto”. Estes versos
me lembram um velho ditado: “Saber é poder”. Eu não preciso lhe dizer que
a literatura sábia da Bíblia é repleta de chamados ao crente para perseguir o
conhecimento. Mas a Bíblia não diz apenas isto. Ela enfatiza que os ministros
precisam perseguir o estudo da verdade.
Esdras 7.10 descreve este grande líder do Antigo Testamento da
seguinte forma: “Esdras tinha disposto o coração para buscar a Lei do
Senhor, e para a cumprir, e para ensinar em Israel os seus estatutos e os seus
juízos”. Assim como Esdras, Oséias lamentou a falta de líderes espirituais,
quando disse: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o
conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te
rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste
da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos” (Os 4.6). A
mesma aspiração e reclamação pode ser encontrada no último livro do Antigo
Testamento: “Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento,
e da sua boca devem os homens procurar a instrução, porque ele é
mensageiro do Senhor dos Exércitos” (Ml 2.7).
Mas é nas epístolas pastorais que encontramos algumas das palavras de
instrução e exortação mais diretas sobre o estudo ministerial. Paulo pôde
dizer para Timóteo: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro
que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2
Tm 2.15). Aqui nós temos uma diretriz apostólica a um jovem ministro para
estudar com um empenho e esforço equivalentes ao de um incansável
trabalhador braçal. O verdadeiro ministro é um trabalhador (Paulo realmente
gosta desta metáfora!). Ele trabalha muito em sua tarefa. O verdadeiro
ministro deve trabalhar duramente, dedicando-se aos estudos, a fim de
conhecer e pregar a verdade corretamente.
Além disso, Paulo dá a Timóteo um excelente exemplo de diligência nos
estudos, através de suas próprias práticas e prioridades. Pense em seu
extraordinário pedido, em 2 Timóteo 4.13: “Quando vieres, traze a capa que
deixei em Trôade, em casa de Carpo, bem como os livros, especialmente os
pergaminhos”. Pense neste pedido. Paulo está a apenas alguns meses da
morte. Ele já havia escrito quase todas as cartas do Novo Testamento. Tem
em seu passado toda uma vida de ministério. Apesar de tudo isso, o que ele
quer fazer? Estudar! O inverno está se aproximando e Paulo pede sua capa,
mas, ainda mais importante que isso, ele pede que lhe tragam seus livros e
pergaminhos. Embora estivesse quase no fim de sua vida, Paulo almeja
continuar aprendendo e crescendo através de leituras espirituais.
Ninguém jamais proferiu uma meditação pastoral mais pungente a
respeito deste pequeno versículo do que C. H. Spurgeon:
Como eles foram repreendidos pelo apóstolo! Ele foi inspirado, mas, ainda assim,
quer livros! Ele esteve pregando por pelo menos trinta anos, mas, ainda assim, quer
livros! Ele viu o Senhor, mas, ainda assim, quer livros! Ele teve uma experiência mais
ampla que a maioria dos homens, mas, ainda assim, quer livros! Ele foi arrebatado ao
terceiro céu, e ouviu coisas que eram proibidas ao homem pronunciar, mas, ainda assim,
quer livros! Ele escreveu a maior parte do Novo Testamento, e, ainda assim, quer livros!
O apóstolo disse a Timóteo e da mesma forma ele diz a todos os pregadores: “APLICA-
TE À LEITURA”.

O homem que nunca lê, jamais será lido; aquele que nunca cita, jamais será citado.
Aquele que nunca usa os pensamentos do cérebro de outros homens, prova que ele
próprio não tem cérebro. Irmãos, aquilo que é verdade aos ministros também é aplicável
a todo o nosso povo. Você precisa ler. Renuncie o máximo possível todo o tipo de
literatura superficial, mas estude o máximo possível as sólidas obras teológicas,
especialmente os escritores puritanos, e comentários da Bíblia. Estou completamente
persuadido de que a melhor forma de você gastar o seu tempo de lazer é lendo ou
orando. Assim você será capaz de extrair muitas informações dos livros, as quais depois
poderão ser usadas como verdadeiras armas a serviço de seu Senhor e Mestre. Paulo
clama: “Traga os livros” — junte-se a este clamor.

O Paulo aqui retratado é um exemplo de diligência. Ele está na prisão; ele não
pode pregar. O que ele irá fazer? Como não pode pregar, ele resolve ler. Igualmente
temos outro exemplo, quando lemos sobre os pescadores de antigamente e seus barcos.
Quando estavam fora de seus barcos, o que eles faziam? Remendavam suas redes. Então,
se a providência o deitou sobre um leito, doente, e você não pode mais ensinar sua classe
— se você não pode mais trabalhar para Deus em público, remende suas redes através da
leitura. Se você está impedido de realizar determinada ocupação, tente outra, e deixe que
os livros do apóstolo ensinem-lhe uma lição de diligência.[43]

Paulo passou sua vida inteira aprendendo, e você deveria fazer o


mesmo, Timóteo. Como o supervisor da minha tese de doutorado me disse,
certa vez, com um sorriso travesso e os olhos brilhando, “tempo que não é
gasto com leitura é tempo desperdiçado — ou quase!”

O QUE ESTUDAR
Agora preste atenção, pois saber o que estudar é algo de vital
importância, em dias como estes em que boa parte da literatura vendida como
cristã não passa de um grande disparate. Por isso você precisa ter o propósito
de ler sabiamente. A vida é muito curta para ser desperdiçada com leituras
rasas, sem substância. Naturalmente, você irá ler os comentários bíblicos ao
preparar as pregações, mas você precisa pensar em ler mais que apenas os
comentários. Os seguintes livros precisam ser parte regular de sua dieta. A
ênfase aqui é na piedade bíblica, nas doutrinas da graça, na visão bíblica da
igreja e do ministério, e no desafio de consagrar todo o seu coração (e não
apenas a mente) ao estudo ministerial: A Modern Exposition of the 1689
Baptist Confession of Faith (Uma Exposição Moderna da Confissão de Fé
Batista de 1689), de Sam Waldron;[44] The Religious Life of Theological
Students (A Vida Religiosa dos Estudantes de Teologia), de B. B. Warfield,
[45] que continua sendo relevante para ministros; Conhecendo a Deus, de J.
I. Packer,[46] um clássico devocional que deveria ser usado com freqüência;
O Pastor Aprovado, de Richard Baxter,[47] fundamental para se pensar mais
a respeito do cuidado pastoral; O Peregrino de John Bunyan,[48] todo
evangélico deveria ler este livro; Survey of the Bible (Visão da Bíblia), de
William Hendriksen,[49] uma gema rara que certamente lhe será de grande
ajuda ao buscar uma visão geral da Palavra, e também ao resumi-la, organizá-
la e memorizá-la; A Quest for Godliness (Uma Busca pela Piedade), de J. I.
Packer,[50] um conjunto brilhante de ensaios sob a visão puritana da vida
cristã; Redenção Alcançada e Aplicada, de John Murray,[51] o clássico
tratamento popular da ordo salutis; Christianity and Liberalism (Cristianismo
e Liberalismo), de J. Gresham Machen,[52] imprescindível para todos os
cristãos modernos; Santidade... Sem a Qual Ninguém Verá o Senhor, de J. C.
Ryle,[53] um dos grandes devocionais modernos; e No Place for Truth (Sem
Lugar para a Verdade), de David F. Wells,[54] um livro perturbador, porém
importante.
Em outras palavras, você deve estar preocupado em ler livros que
“saciem” sua alma — livros que irão aumentar o seu conhecimento, o seu
amor pelo Senhor e a sua confiança nas Escrituras. Você, certamente, acabará
lendo, de vez em quando, livros que não “saciam” a alma, mas não pode
permitir que a melhor espécie de livros esteja inteiramente ausente de seus
planos regulares de leitura. Além disso, você também gostará de ouvir alguns
CDs / fitas; as entrevistas de Mark Dever, do Center for Church Reform
(Centro para a Reforma de Igrejas), são magníficas; a Mars Hill Tape Library
(Biblioteca de Fitas Mars Hill), de Ken Myers, é estimulante e informativa, e
nossas próprias entrevistas da coleção “First Things” (Primeiras Coisas);
Fitas e CDs das Conferências Fiel podem ser úteis. Pegue o catálogo da The
Teaching Company (Companhia de Ensino) e ouça as melhores palestras de
universitários ao redor do país, a respeito de assuntos importantes. Você pode
ouvi-las, enquanto faz seus exercícios diários, enquanto está dirigindo para a
igreja ou voltando para casa, e até mesmo a caminho de uma visita. Vá a
conferências — não aquelas do tipo “como fazer”, mas àquelas que
alimentam sua alma e o façam pensar — as conferências da Banner of Truth,
do Founders, da Evangelical Theological Society, Conferência Fiel para
Pastores e Líderes, no Brasil, entre outras. Mantenha-se atualizado com
relação aos acontecimentos presentes (sempre dê uma olhada no New York
Times, leia a revista World e a Atlantic Monthly, e também visite o site Arts
and Letters Daily, ou o Ars Disputandi, ou ainda o Access Research Network
— todos eles podem ser facilmente encontrados com uma busca no Google,
na Internet); pense muito sobre a cultura (Phil Ryken traça um ótimo curso
neste assunto no livro This Is My Father’s World [Este é o Mundo de Meu
Pai]).[55]
Mas, acima de tudo, mantenha a resolução de ler e dominar
completamente os maravilhosos livros de sua herança Reformada. Nascido
Escravo,[56] de Lutero; Institutas da Religião Cristã,[57] de Calvino;
Institutes of Elenctic Theology (Institutas da Teologia Refutativa), de
Turrentin; Marrow of Theology (Essência da Teologia), de Ame; Reformed
Dogmatics (Teologia Dogmática Reformada), de Heppe; assim como as
obras de John Bunyan, John Owen, John Gill, John Dagg, C. H. Spurgeon e
Carl Henry. Leia os clássicos e leia as fontes primárias. Você pode muito
bem já ter encontrado com o famoso comentário de C. S. Lewis sobre isto, no
livro “On the Reading on Old Books” (Sobre a Leitura de Livros Antigos),
originalmente escrito como uma introdução do livro de Atanásio, On the
Incarnation (Na Encarnação). Seu conselho é muito sábio. Lewis disse:
Uma idéia muito estranha tem circulado de que, em qualquer assunto, os livros
antigos deveriam ser lidos apenas por profissionais, e de que os amadores deveriam se
contentar apenas com os livros modernos. Assim sendo, eu tenho percebido, como
professor de literatura inglesa, que se o aluno comum quer saber alguma coisa sobre o
platonismo, a última coisa que ele pensaria em fazer é pegar uma tradução de Platão da
estante da biblioteca e ler o Simpósio. Ele, ao invés disso, leria algum monótono livro
moderno, com dez vezes mais páginas, todo sobre os “ismos” e influências, e que apenas
a cada doze páginas faria alguma citação do que Platão realmente disse. O erro é
certamente interessante, visto que surge da humildade. O aluno está um tanto
amedrontado de se encontrar face a face com um dos grandes filósofos. Ele se sente
inadequado e pensa que será incapaz de entendê-lo. Mas, se apenas conhecesse o grande
homem por causa de seus grandes feitos, seria muito mais compreensível que seu
comentador moderno. Mesmo o mais simples dos alunos seria capaz de entender, se não
tudo, boa parte daquilo que Platão disse; dificilmente alguém entende alguns dos livros
modernos sobre o platonismo. Portanto, um dos meus maiores esforços como professor
sempre tem sido persuadir os mais jovens de que o conhecimento de primeira mão, não
só é algo mais valioso de ser adquirido que o conhecimento de segunda mão, como
também, é geralmente muito mais fácil e prazeroso.

A preferência equivocada pelos livros modernos e esta desconfiança pelos livros


antigos não se mostra mais presente em qualquer lugar do que na teologia. Onde quer
que você encontre um pequeno grupo de estudo de cristãos leigos, você pode estar quase
certo de que eles não estão estudando São Lucas, São Paulo, Santo Agostinho, Tomás de
Aquino, Hooker ou até mesmo Butler, mas sim Berdyaev, Maritain, Niebuhr, Sayers, ou,
ainda, a mim mesmo.

Isto me parece uma grande confusão. Naturalmente, uma vez que eu mesmo sou
escritor, não desejo que o leitor comum cesse de ler todo e qualquer livro moderno. Mas
se ele tivesse de ler apenas os livros modernos ou somente os livros antigos, eu lhe
aconselharia a ler os antigos. E lhe daria este conselho exatamente porque ele é um
amador e, como tal, muito mais desprotegido do que os especialistas, contra os perigos
de uma dieta exclusivamente contemporânea. Um novo livro ainda está em seu período
de experimentação, e o amador não está em posição de julgá-lo. Ele deve ser testado
pelo maravilhoso corpo do pensamento cristão através dos tempos, e todas as suas
implicações secretas (muitas vezes insuspeitadas pelo próprio autor) devem ser trazidas
à luz. Com freqüência, não pode ser completamente compreendido sem o conhecimento
prévio de muitos outros bons livros modernos. Se às onze horas você entrar no meio de
uma conversa que teve início às oito, provavelmente não compreenderá a real posição do
que está sendo dito. Observações que para você pareçam comuns, podem acabar
produzindo risos ou irritação nos outros participantes, e você não conseguirá saber o
porquê disto — a razão, obviamente, é que os estágios anteriores da conversa acabaram
dando a eles uma outra perspectiva. Da mesma forma, as frases de um livro moderno
que pareçam sem significado para você, podem estar relacionadas a algum outro livro;
desta forma, você pode acabar aceitando aquilo que teria rejeitado fortemente, caso
soubesse o seu verdadeiro significado. A única segurança é ter um padrão de
cristianismo claro, focado no núcleo do cristianismo (“mero cristianismo” como Baxter
dizia), que coloque as controvérsias do momento em sua perspectiva adequada. Tal
padrão pode ser adquirido somente nos livros antigos. É uma boa regra, após ler um
livro moderno, nunca ler outro, sem antes ter lido um livro antigo entre eles. Se isto for
muito difícil para você, tente ao menos ler um livro antigo a cada três livros modernos.

Cada época tem sua própria perspectiva, a qual é especialmente boa em enxergar
algumas verdades e especialmente sujeita a cometer determinados erros. Nós todos,
portanto, precisamos de livros que corrigirão os erros característicos de nosso próprio
período. Ou seja, precisamos dos livros antigos. Todos os autores contemporâneos
compartilham de certa forma da mesma visão contemporânea — mesmo aqueles, como
eu mesmo, que parecem se opor fortemente a ela. Nada me aflige mais, quando leio
sobre as controvérsias do passado, que o fato de que ambos os lados estavam geralmente
assumindo sem qualquer questionamento muitas coisas que hoje negamos
completamente. Eles pensavam que eram tão opostos uns aos outros como dois lados
podem ser, mas na verdade estavam o tempo todo unidos secretamente — unidos uns
com os outros e contra as eras passadas e as vindouras — por uma imensa quantidade de
suposições comuns. Podemos estar certos que a cegueira característica do século vinte
— cegueira sobre a qual a posteridade perguntará: “Mas como eles poderiam pensar
desta forma?”, repousa sobre algo que nós jamais suspeitaríamos, e acerca de alguma
coisa sobre a qual há uma concordância clara entre Hitler e o Presidente Roosevelt, ou
entre H. G. Wells e Karl Barth. Nenhum de nós pode escapar completamente desta
cegueira, mas certamente podemos aumentá-la, e enfraquecer nossa guarda contra ela,
caso leiamos apenas os livros modernos. Nas áreas onde eles são verdadeiros, apenas
nos darão verdades que nós já conhecíamos parcialmente. E nas áreas em que são falsos,
eles irão agravar ainda mais o erro com o qual já estamos perigosamente contaminados.
O único paliativo é manter a limpa brisa marinha dos séculos passados soprando em
nossas mentes, e isto só pode ser feito através da leitura de livros antigos. Não que haja
alguma mágica sobre o passado. As pessoas não eram mais inteligentes do que são hoje;
elas cometiam tantos erros quanto nós. Porém, não os mesmos erros. Elas não irão nos
engabelar nos erros que nós já estamos cometendo; e os seus próprios erros, estando
agora já claros e tangíveis a todos, não irão nos causar perigo. Duas cabeças pensam
melhor do que uma, não porque uma delas seja infalível, mas porque dificilmente elas
irão errar na mesma direção. Esteja certo de que os livros do futuro seriam um corretivo
tão bom quanto os livros do passado, mas infelizmente nós não podemos ter acesso a
eles.[58]

Então, uma forma de você evitar ser pego nas banalidades, trivialidades
e modas passageiras do “aprendizado” atual é interagindo com os melhores
pensadores do passado. Por trás do meu chamado para ler muito, lembro o
sábio conselho de Thomas Brooks: “Cristo, as Escrituras, o seu próprio
coração, e os artifícios de Satanás, são as quatro coisas principais que
deveriam ser mais estudadas e pesquisadas. Se alguém descarta o estudo, não
poderá estar seguro aqui, ou na vida futura. É meu dever como cristão, e
muito mais, visto que sou também um sentinela, fazer o meu melhor para
descobrir a plenitude de Cristo, o vazio da criatura, e os ardis do grande
enganador”.

COMO ESTUDAR
Meus comentários até agora indicam, obviamente, que a leitura deve ser
um aspecto de fundamental importância na continuidade de seus estudos
como ministro da Palavra. Isto é completamente apropriado, especialmente à
luz de nossa doutrina evangélica da revelação: Deus se comunica conosco
através de proposições. Mas deixe-me adicionar só mais um pouco sobre isto.
Há cinco maneiras principais com as quais nosso estudo contínuo será
auxiliado: leitura, reflexão, escrita, ensino e vivência. Não direi mais nada
sobre a leitura, pois minha ênfase nisto já foi evidente. No que diz respeito a
reflexão, eu apenas direi que você precisa ir até os puritanos para aprender a
prática deles sobre a reflexão cristã, ou meditação, a fim de obter o máximo
possível de sua leitura. Sobre escrever, deixe-me apenas dizer que não existe
uma disciplina mais adequada para forçar a mente a se organizar e comunicar
a verdade do que a de escrever. Se você não é capaz de comunicar uma
verdade, é porque você não a compreende. Se você não consegue comunicá-
la em mais de uma forma, é porque não a compreende. E, se você não
consegue comunicá-la claramente, é porque não a compreende. Quando
escrevemos, recebemos ajuda em todas estas áreas. Um lugar perfeito para
praticar esta habilidade é no jornalzinho de sua igreja. No que diz respeito ao
ensino, assim como a escrita, é um tremendo benefício para o autodidatismo.
Se você tiver ocasiões para praticá-lo, não perca a chance. Eu não estou
falando apenas de suas pregações regulares (que obviamente irão conter
algum componente de ensino) ou das oportunidades que surgem na Escola
Bíblica Dominical. Estou falando de contextos que o levem a transmitir as
verdades em um nível muito mais elevado — palestras para universitários,
alunos de seminário, locais públicos e afins. Quando você tiver estas
oportunidades, use-as.
Algo que desejo enfatizar, exatamente por ser de modo geral tão
negligenciado entre aqueles que são devotados ao estudo, é a relevância de
viver e aprender. Com isto eu quero dizer, por um lado, que você deve estar
constantemente se perguntando como o aprendizado está agindo em sua vida.
Por causa do meu aprendizado, estou amando mais a Deus, amando mais as
Escrituras, estou mais devoto a Cristo, mais comprometido com o ministério
do reino, mais piedoso, sou um pai e um marido cristão melhor, sou mais
amável com meus vizinhos, mais justo, misericordioso e humilde e estou
crescendo em graça? Jesus enfatizava regularmente em seus ensinos que as
nossas obras mostram o que nós realmente amamos e acreditamos.
Conseqüentemente, nossas atitudes, ações e prioridades na vida revelam os
segredos do coração. Se o seu aprendizado não está lhe ajudando em sua vida
e em seu pastorado, de acordo com a ênfase e o padrão bíblicos, então o seu
aprendizado está indo muito mal.
Quando falo na relevância de viver e aprender, por outro lado, quero
dizer que esta é a escola da experiência cristã sob a mão da providência, ou
seja, uma área de testes de todo o verdadeiro aprendizado. Especialmente as
providências sombrias de Deus — sofrimento, provações, testes, frustrações,
“perdas e cruzes”, como diziam os puritanos — revelam a extensão de nosso
aprendizado. Benjamin Disraeli, certa vez, disse: “Ver muito, sofrer muito e
estudar muito, são os três pilares do aprendizado”. Ele estava apenas ecoando
palavras de Lutero, também encontradas na Bíblia, que dizem: “Oração,
meditação e tentação (significando provações e testes) fazem o cristão”. Na
verdade, Lutero se expressou de maneira mais provocativa que esta, quando
disse que um pregador não é feito pela leitura de livros, e sim “vivendo e
morrendo e sendo amaldiçoado”. Em outras palavras, Deus forja os
pregadores em seu cadinho. Nunca se esqueça disto. Deus faz um ministro do
evangelho quebrando o coração daquela pessoa. Não foi isto uma das coisas
que Jesus quis dizer, quando nos chamou para tomar nossa cruz e segui-Lo?

QUANDO ESTUDAR
Agora, se pudermos retornar a um assunto relativamente comum, após
termos penetrado algumas áreas sérias, veremos quando o seu estudo está
sujeito a ser um desafio. O pastor dos dias de hoje é, por definição, pau para
toda obra. Muitas vezes ele é visto como presidente administrativo,
presidente executivo, trabalhador braçal, visitador oficial,
pregador/professor/conselheiro chefe, relações-públicas, representante oficial
da denominação na congregação local, entre outros. É categoricamente
impossível realizar um bom trabalho em todas estas áreas. Quando alguém
tenta fazê-lo, o estudo geralmente acaba sendo esmagado pela tirania da
urgência. De forma que você terá de planejar cuidadosamente quando estudar
e como proteger o tempo de estudo.
Os três maiores desafios serão como lidar com os diáconos, os outros
membros da igreja e sua família, no que diz respeito ao tempo e proteção do
seu estudo. Você precisará devotar algum tempo cultivando em seus diáconos
um senso de importância vital do seu tempo de estudo (se eles já não
apreciam sua significância). Fui abençoado com diáconos que compreendem
totalmente a importância de eu ter um tempo para estudar, mas nem todos os
ministros são tão afortunados. Se os seus diáconos não lhe derem qualquer
apoio neste sentido, ou forem simplesmente ignorantes de sua importância,
comece com aqueles que forem mais empáticos com você e passe a explicar-
lhes como você compreende o seu chamado e que coisas são necessárias para
cumpri-lo. Compare as coisas que eles têm de fazer em seu cotidiano
(incluindo o trabalho essencial dos bastidores, mas sem qualquer glamour)
com aquilo que você tem de fazer. Ajude-os a entender como eles são
beneficiados com o seu tempo gasto nos estudos. Então, explique e solicite a
ajuda deles na disponibilização e proteção de seu tempo de estudo. Eles
precisam ser os seus defensores nisto junto ao povo.
Com relação aos membros, quando eles ligam para você, intencionando
marcar uma reunião, até hoje encontrei apenas algumas poucas almas,
santificadas e graciosas o bastante, para se satisfazerem com uma secretária
respondendo: “Ele não está disponível agora, está estudando”. As pessoas
naturalmente pensam que a crise pela qual estão passando, naquele momento,
é mais importante que um livro velho e empoeirado que o pastor está lendo.
Elas se sentirão ofendidas por terem sido deixadas de lado por causa de seu
estudo. Então, eu sugiro que sua assistente proteja o seu tempo de estudo,
dizendo apenas: “Ele não está disponível no momento”. Desta forma, a
pessoa que está ligando não terá a oportunidade de julgar se o seu assunto
ultrapassa a sua necessidade de estudar.
Com a família é um assunto diferente. Minha esposa me ajuda
extremamente no ministério. Especialmente, quando se trata de
responsabilidades pastorais, tais como aconselhamentos de emergência ou
visitas em hospitais, ela é sempre muito adaptável quando tenho de tirar um
tempo para realizá-las, não importando o quanto possam ter arruinado nossa
programação familiar. No entanto, ela tem muitas dificuldades no que diz
respeito ao estudo. De forma que manter o equilíbrio entre o tempo familiar e
o de estudo pode ser um verdadeiro desafio para nós. Você precisará
trabalhar neste assunto, a fim de que sua esposa possa estar confortável com
o ritmo e volume de seu tempo de estudo, e, desta forma, apoiar o que isto
significa para a programação familiar.
É desnecessário dizer que o tempo de estudo não deve ser desperdiçado
com e-mails, salas de bate-papo, correntes de discussão (que, muitas vezes, é
apenas um aglomerado de ignorância), navegando na Internet ou repondo
tempo de negligência em outras importantes responsabilidades pastorais. Este
é um problema de muitos pastores, especialmente aqueles que são mais
introvertidos e tentam se esquivar das “responsabilidades com pessoas” no
ministério. Não vejo este problema em você, então, sigo adiante após
somente mencioná-lo.

POR QUE ESTUDAR


Você precisará estar consciente de suas próprias motivações para o
estudo. Muitos bons homens têm caído vítimas de falsas motivações, e assim
acabaram perdendo o verdadeiro benefício de um estudo continuado. Em
primeiro lugar, seu estudo continuado não deve ser motivado pelo desejo de
ganhar algum status. Muitos renomados seminários e instituições de ensino
atraem os pastores a fazerem um curso “avançado” que dificilmente seria
considerado avançado em padrões reais, simplesmente porque oferecem um
título de graduação ostentoso, possuindo na verdade um conteúdo
inexpressivo. Não caia vítima deste “golpe”. O objetivo do aprendizado é o
conhecimento, não o status.
Os britânicos têm uma atitude muito mais saudável que os americanos
quanto aos títulos de graduação acadêmica (embora eu creia que estamos
tendo um efeito nocivo até mesmo sobre eles nesta área). O grande F. F.
Bruce, por exemplo, tinha graduação equivalente à de universitário
americano (ele tinha um Scottish MA) e ainda assim foi devidamente
reconhecido como um grande erudito em seu campo de estudos. Sua falta de
um doutorado não fez a menor diferença. Ele tinha mais conhecimento do
que uma sala cheia de doutores. Eu, pessoalmente, não dou a menor
importância ao título que o homem tem. Se ele não possui o conhecimento
correto e útil, e um bom julgamento das coisas, é de pouco valor para a igreja
como um ensinador.
Uma motivação que deve impelir seus estudos é simplesmente o desejo
de aprender — aprender a verdade e adquirir o verdadeiro e útil
conhecimento. Há pouquíssimas ocasiões na vida em que não há problemas
em ser ganancioso; no que concerne ao aprendizado, devemos ser
“gananciosos” para aprender, porque a verdade vem de Deus e devemos ter o
desejo de conhecê-la. Além disso, devemos ser motivados a aprender, a fim
de sermos de alguma ajuda à igreja. Não é raro encontrar ministros cristãos
que, pelo muito estudar, consideram-se extremamente sofisticados e “acima”
da média dos freqüentadores da igreja. Tal tipo de atitude é inapropriada ao
extremo e, é interessante notar, geralmente não é vista naqueles que possuem
mentes realmente brilhantes. O ministro estuda precisamente para poder
ajudar o povo de Deus, por mais humilde que ele seja. Nós queremos
aprender a fim de sermos úteis à igreja.
Você deve ser motivado a aprender para ser útil a outros pastores e
igrejas. Torne-se um especialista em algo para que possa ajudar amigos
pastores às voltas com determinada área de conhecimento que eles não
conhecem tão bem quanto você. Talvez você se familiarize de tal maneira
com a melhor literatura acadêmica sobre o Islamismo, que não somente
poderá testemunhar como também ensinar o seu povo. Também poderá
ajudar outros pastores que não conhecem tanto quanto você sobre aquela que
é a principal rival religiosa do cristianismo no mundo. Ou, talvez, você se
torne um especialista nos puritanos, não apenas para ser edificado através
daquele excelente material, mas, também, a fim de livrar outros da
considerável e negativa mitologia que cerca este campo de estudos. Você
entendeu o que quero dizer. Esteja motivado a aprender para que seu
aprendizado possa abençoar a igreja como um todo.
Certamente, há muitas outras motivações para estudar além destas que
eu listei. Dei apenas sugestões.

QUAL O SEU ALVO AO ESTUDAR


Entre os seus objetivos ao estudar, obviamente haverá a glória de Deus,
seu crescimento pessoal na graça, a edificação de outros e o desenvolvimento
de suas próprias capacidades como professor e pregador. Relacionando-se a
este assunto, seria bom lembrarmos das três máximas de Herman Witsius (o
famoso pastor e teólogo holandês do século dezessete) que diziam: “Ninguém
ensina bem, sem que antes tenha aprendido bem”. “Ninguém aprende bem,
sem que antes aprenda a fim de ensinar.” E, “tanto aprendizado quanto ensino
são vãos e inúteis, sem que sejam acompanhados da prática”. Estas palavras
são dignas de apreciação, assim como o pequeno clássico de Witsius, On the
Character of a True Theologian (Sobre o Caráter do Verdadeiro Teólogo).
[59]
Além disso, deixe-me mencionar alguns bons objetivos para o seu
estudo. Uma meta apropriada para os estudos é adquirir a verdadeira e útil
informação, ou conhecimento. Em primeiro lugar, obviamente, você estará
preocupado em adquirir conhecimento que consista no conhecimento de Deus
revelado nas Escrituras. Mas você também irá desejar o conhecimento da
criação de Deus, incluindo nós mesmos, a época em que vivemos, o mundo e
nosso rebanho. A maior fonte deste conhecimento será, sem dúvida alguma, a
revelação especial, mas nosso estudo deverá incluir também questões da
revelação geral.
Um segundo objetivo de seu estudo será a aquisição da habilidade de
empregar o uso correto daquele conhecimento que você adquiriu estudando.
O tipo de conhecimento de Deus que pode ser ganho através do estudo em
livros não é um fim em si próprio, e sim um meio para um fim. E o fim é a
glória de Deus e a união com Ele, da qual fluirá o benefício desta comunhão
com Ele. Aprendemos sobre Deus, a fim de conhecê-Lo, isto é, entrar num
relacionamento e comunhão com Ele. Em outras palavras, o conhecimento
salvífico é o conhecimento da aliança — o conhecimento da comunhão e
companheirismo com o Deus vivo. O conhecimento com fins aplicativos é
um elemento essencial daquele conhecimento salvífico e, conseqüentemente,
imperativo em todo o caminhar espiritual do cristão. No entanto, ele não é o
único elemento do conhecimento salvífico, assim como não é o objetivo final
de nosso estudo. Que Deus possa garantir-lhe uma compreensão sólida das
verdades salvadoras, e também um entendimento correto de seus usos.
Um terceiro objetivo do estudo deve ser o desenvolvimento de sua
capacidade analítica. Você precisa desenvolver suas habilidades de
discernimento a ponto de ser capaz de sintetizar conhecimentos, engajar-se
em questões críticas e possuir um bom senso de julgamento. Pois, você será
um ponto de referência para o seu rebanho. Além disso, cada sermão ou lição
que você preparar irá requerer o seu discernimento e sua análise de elementos
como: texto (tanto no original quanto na tradução), ferramentas (dicionários,
comentários, léxicos e outras literaturas), contexto (quando e onde a lição
está sendo ensinada, quais eram as tendências significativas, assuntos,
pecados e preocupações daquela época) e da congregação (em que ponto eles
estão espiritualmente, do que eles precisam, etc.).
Uma quarta meta do estudo deve ser uma constante renovação do seu
desejo de aprender, obedecer, adorar e pastorear. Nós devemos estar sedentos
por conhecer a Palavra de Deus e o mundo de dEle (incluindo o seu povo e o
seu contexto). Nem todos seremos igualmente interessados nos mesmos
assuntos, mas cada um de nós deve estar faminto por um conhecimento muito
amplo de alguma coisa. Também devemos estar famintos para colocar este
conhecimento em ação a serviço da obediência. É verdade que algumas
pessoas mais voltadas à “prática” querem pular esta etapa de parar para
pensar e ir direto à ação, mas este tipo de zelo sem conhecimento é orgulhoso
e potencialmente destrutivo. Nosso coração tem de arder para adorar e
pastorear. Mas estes desejos precisam ser constantemente alimentados. O
estudo pode adicionar um pouco de lenha ao fogo de nossa devoção.
Um quinto aspecto de nosso objetivo em aprender deve ser o de nos
capacitarmos para a auto-crítica e desenvolvermos nossa habilidade de
exercitarmos corretamente o arrependimento. É um trabalho de suma
importância para o qual fomos chamados, e os perigos para nossas almas,
bem como para a nossa congregação, são muitos, caso sejamos descuidados
com a nossa vocação. Fomos chamados para sermos mordomos dos mistérios
de Deus, e um dia daremos conta de nossa conduta ao Todo-Poderoso. O
auto-exame espiritual e a autocrítica (evidências de um espírito contrito)
junto à sinceridade diante da repreensão por parte de outros são
absolutamente essenciais, se queremos evitar as armadilhas no ministério
cristão.
Finalmente, devemos almejar em nossos estudos o cultivo de uma
piedade ardente, completa, natural e prática. Esta piedade deveria ser
caracterizada pela reverência a Deus, amor ao próximo, seriedade de
propósito em seu chamado e determinação à santidade. Meu desejo é que
você seja (emprestando um apropriado resumo de David Wells) “centrado em
Deus nos seus pensamentos, temente a Deus em seu coração, e honre a Deus
em sua vida”.

O QUE VOCÊ FAZ COM OS SEUS ESTUDOS


O verdadeiro estudo do evangelho deve sempre nos levar à oração.
Quando estudamos algo que nos leva a compreender a grandeza de Deus e de
sua obra salvífica, isto deveria nos induzir a adoração, ação de graças e
louvor. Não devemos resistir ao impulso de orar durante nossos estudos.
Quando lemos alguma coisa que nos convence de culpa, devemos ser
impelidos a confessar o pecado em oração. Quando lemos algo que nos
lembra da terrível condição dos outros, devemos ser movidos a interceder por
eles. Quando lemos algo destruidor ou potencialmente danoso ao bem-estar
espiritual dos outros, devemos implorar a Deus que arranque todo o veneno,
que poupe as ovelhas descuidadas, que repreenda os falsos pastores, que
proteja os pastores fiéis e que poupe nossas próprias almas do contágio da
falsidade.
Todo o nosso estudo deve ser transformado em oração e servir ao
propósito da santificação — dos outros e de nós mesmos. Isto apenas nos
lembra, novamente, da importância de um conhecimento prático de Deus para
o nosso aprendizado teológico. Sem um conhecimento verdadeiro, salvador e
pactual de Deus, o estudo está destinado ao fracasso. Somente isto já é o
bastante para nos alertar da importância da oração e do Espírito Santo em
nosso estudo. Na oração, mostramos nossa mais profunda dependência de
Deus para a obtenção do verdadeiro conhecimento. Apenas através do
Professor, do Espírito Santo, é que conseguimos o verdadeiro conhecimento e
o verdadeiro conhecimento de Deus. Ambas as realidades devem permear
todo o nosso método de estudo. Esta é uma das razões para a profunda
verdade encontrada em Provérbios 1.7: “O temor do Senhor é o princípio do
saber”.
Timóteo, que Deus possa erguê-lo como um “homem poderoso” em
nossos dias, comprometido com a autoridade das Escrituras, firmemente
persuadido de suas grandes doutrinas, especialista em seu entendimento das
verdades do evangelho e com um desejo ardente de proclamá-las,
caracterizado pela piedade amorosa e pela santidade inabalável, devoto e
cuidadoso em suas obrigações pastorais e diligente para manter-se estudando,
a fim de mostrar-se como alguém aprovado, para que a igreja possa ser
erguida, suas paredes alargadas e Cristo glorificado.

Seu amigo,
Ligon Duncan
PS Timóteo, já mencionei um bom número de livros para você nesta
carta tão longa, porém, deixe-me sugerir apenas mais alguns que podem ser
especialmente úteis durante sua reflexão nesta questão sobre o estudo.
1. On the Character of a True Theologian, Herman Witsius
(reimpressão, Greenville, SC: Reformed Academic Press, 1994). Eu já
mencionei este pequeno clássico, mas é magnífico.
2. The Religious Life of Theological Students, B. B. Warfield
(reimpressão, Phillipsburg, NJ: P&R, 2001). Escrito para seminaristas mas
com uma aplicação vitalícia para os pastores.
3.An Introduction to Theological Studies, William Cunningham,
(reimpressão, Greenville, SC: Reformed Academic Press, 1994). Um clássico
que nos alerta das armadilhas escondidas no estudo e nos guia para um
aprendizado mais frutífero. Cunningham, além de outras coisas, (1) lembra-
nos da importância de um conhecimento prático de Deus para a obra
teológica; (2) esclarece-nos as diferentes áreas do estudo teológico, sua
significância e relação umas com as outras; (3) insta-nos sobre a importância
da oração e do Espírito Santo para a obtenção do verdadeiro conhecimento de
Deus; (4) mostra-nos a importância da meditação — reflexão considerada e
devota — para nosso crescimento na graça; (5) sugere-nos o papel
fundamental da experiência cristã em nossa formação para o ministério; (6)
aconselha-nos sobre a importância absoluta de dominar completamente as
línguas bíblicas e de estar inteiramente familiarizado com a nossa tradução da
Bíblia e (7) exorta-nos sobre a necessidade de descansar de nossos estudos
profissionais no dia do Senhor.
4. Patterns in History, David Bebbington (Downer’s Grove, IL: Inter-
Varsity Press, 1990). Irá introduzi-lo à prática da historiografia, importante
para os seus estudos continuados, mas raramente vista no seminário.
5. The Study of Theology, Richard Muller, (Grand Rapids, MI:
Zondervan, 1991). Praticamente um clássico moderno — será uma bênção
para as suas meditações na área de teologia sistemática.
Capítulo 13 - Aprenda com os Puritanos (I) (Joel Beeke)

Capítulo 13

Aprenda com os Puritanos ( I )


Joel Beeke

Amado Timóteo,
Você me perguntou em sua última carta: “Quando você se volta para o
passado e olha os seus vinte e cinco anos de ministério, qual a disciplina
espiritual facultativa de maior ajuda que você manteve para a sua própria vida
espiritual, para a sua pregação e para o seu ministério pastoral?” Eu respondo
sem hesitação: uma rígida dieta de literatura puritana.
Este contato com a literatura puritana tem sido uma tremenda bênção
para mim, espiritualmente falando, por mais de trinta e cinco anos. Quando o
Espírito Santo começou a me convencer da seriedade do pecado e da
espiritualidade da lei, aos meus quatorze anos, eu examinava as Escrituras e
devorava a literatura puritana da biblioteca de meu pai. Todas as noites, lá
pelas 11 horas, minha mãe dizia: “Luzes apagadas!” Depois que meus pais
apagavam a luz de seu quarto, eu ligava a minha novamente e continuava
lendo até meia-noite e meia ou uma hora da manhã. Com muita satisfação li
todos os títulos dos puritanos publicados pela Banner of Truth Trust, iniciei
uma biblioteca em nossa igreja, fundei uma organização sem fins lucrativos
chamada Bible Truth Books (Leitura Bíblica Verdadeira) e mais tarde, já
como um pastor, fundei a Reformation Heritage Books. Passei milhares de
horas com os escritores puritanos e vendi dezenas de milhares de livros
puritanos durante os últimos trinta e cinco anos. Por quê?
Em primeiro lugar, deixe-me explicar brevemente o que eu quero dizer
com o termo “puritanos”, e, então, lhe mostrarei como a leitura dos puritanos
pode ser tão proveitosa para você. Colocando de forma bem simples, o meu
uso da palavra puritano inclui não apenas aquelas pessoas que foram
expulsas da Igreja da Inglaterra, pelo Ato de Uniformidade, em 1662, mas
também aqueles na Grã-Bretanha e na América do Norte que, por muitas
gerações após a Reforma, trabalharam para reformar e purificar a igreja e
liderar o povo a uma vida bíblica e piedosa, coerente com as doutrinas
reformadas da graça.[60] O puritanismo se desenvolveu de pelo menos três
necessidades: (1) a necessidade pela pregação bíblica e ensino da sã doutrina
reformada; (2) a necessidade de uma piedade pessoal bíblica, que enfatizasse
a obra do Espírito Santo na fé e vida do crente, e (3) a necessidade da
restauração da simplicidade bíblica na liturgia, vestimentas e governo da
igreja, de forma que a vida bem organizada dela pudesse promover a
adoração do Deus trino, como prescrito em sua Palavra.[61]
Doutrinariamente, o puritanismo era um tipo amplo e vigoroso de calvinismo;
experimentalmente, era um tipo de cristianismo caloroso e contagiante;
evangelisticamente, era tanto suave quanto agressivo.[62] J. I. Packer
escreveu: “O puritanismo era, em seu âmago, um movimento de
reavivamento espiritual”.[63]
Quero escrever duas cartas dirigidas a você, Timóteo, sobre como, com
as bênçãos do Espírito, os puritanos podem ser proveitosos para você. Esta
primeira carta focalizará a forma como eles podem ser proveitosos para você
pessoalmente, enquanto a segunda se preocupará em como eles podem ser
proveitosos em sua pregação e ensino.[64]

MOLDE A SUA VIDA PELAS ESCRITURAS


Mais do que qualquer outro grupo de escritores na História da Igreja, os
puritanos nos mostraram como moldar completamente nossas vidas e
ministérios pelas Escrituras Sagradas.
Os puritanos eram pessoas do Livro vivo. Eles amavam, viviam e
respiravam as Escrituras, apreciando o poder do Espírito que acompanhava a
Palavra.[65] Consideravam os sessenta e seis livros das Escrituras como a
biblioteca do Espírito Santo, a qual havia sido graciosamente legada a eles.
Enxergavam as Escrituras como Deus falando-lhes, da mesma forma que um
pai fala com seus filhos. Eles viam a Palavra como a verdade na qual podiam
confiar e descansar por toda a eternidade. Viam as Escrituras como o poder
do Espírito, para renovar suas mentes e transformar suas vidas.
Os puritanos examinavam, ouviam e cantavam a Palavra com deleite, e
encorajavam outros a fazerem o mesmo. O puritano Richard Greenham
sugeriu oito maneiras de ler as Escrituras: com diligência, sabedoria,
preparação, meditação, conferência, fé, prática e oração.[66] Thomas Watson
providenciou inúmeros guias sobre como ouvir a Palavra. Venha até a
Palavra com apetite santo e coração pronto para aprender. Sente-se sob a
Palavra atenciosamente, receba-a com mansidão e misture-a com fé. Então,
retenha a Palavra, ore sobre ela, pratique-a e fale com outros sobre ela.[67]
“Terrível é a situação daqueles que vão para o inferno carregados de
sermões”, alertou Watson. Em contraste, aqueles que respondem às
Escrituras como uma “carta amorosa enviada a você por Deus”[68] irão
experimentar o seu poder caloroso e transformador.
“Alimente-se da Palavra”, o pregador puritano John Cotton exortou à
sua congregação.[69] O prefácio da Bíblia de Genebra contém uma
recomendação parecida, dizendo que a Bíblia é “a luz para os nossos
caminhos, a chave para o reino dos céus, nosso conforto na aflição, nosso
escudo e espada contra Satanás, o princípio de toda sabedoria, o vidro através
do qual podemos contemplar a face de Deus, o testemunho de seu favor, e a
única alimentação e sustento para as nossas almas”.[70]
Os puritanos apresentaram um forte encorajamento ao povo para que se
tornasse centrado na Palavra, tanto na fé quanto na prática. O livro Christian
Directory (Diretório Cristão) de Richard Baxter, nos mostra como os
puritanos consideravam a Bíblia um guia digno de confiança para toda a vida.
Todo caso de consciência era sujeito às diretrizes das Escrituras. Henry Smith
pregou para a sua congregação: “Nós sempre deveríamos colocar a Palavra
de Deus diante de nós como um guia, e acreditar em nada além do que ela
ensina, amar nada além do que ela prescreve, odiar nada além do que ela
proíbe, e fazer nada além do que ela ordena”.[71] Talvez John Flavel tenha
dito isto de maneira ainda melhor: “As Escrituras nos ensinam a melhor
forma de viver, a forma mais nobre de sofrer, e a forma mais confortável de
morrer”.[72]

ORE SEM CESSAR


Os puritanos nos mostraram a necessidade de sermos homens de Deus
devotos à oração. Eles eram realmente homens que se retiravam para orar.
Em seus aposentos — locais especiais, privados, dedicados à oração, que
poderiam ser seus próprios quartos, o sótão ou até mesmo num campo aberto
— eles levantavam suas vozes e clamavam ao Deus do céu por suas bênçãos
sobre eles mesmos e seus ministérios, suas famílias, igrejas e nações.
Diferentemente de muitos pastores de nossos tempos, a qualidade da
vida espiritual dos ministros puritanos parece ter sido uniformemente alta.
[73] Creio que os puritanos eram grandes pregadores em primeiro lugar, e
mais importante, porque eram também grandes peticionários que lutavam
com Deus pelas bênçãos divinas sobre a pregação deles. Richard Baxter
disse: “A oração precisa abranger tanto o nosso trabalho quanto a nossa
pregação; o pastor não prega ao seu povo sinceramente quando não ora por
eles com seriedade. Se nós não prevalecermos com Deus em dar-lhes fé e
arrependimento, não prevaleceremos com eles em acreditar e arrepender-se”.
[74] E Robert Traill escreveu: “Alguns pastores de poucos dons e talentos
obtêm mais sucesso do que alguns mais talentosos; não porque eles pregam
melhor, e sim porque oram mais. Muitos bons sermões são perdidos por falta
de muita oração durante o estudo”.[75]
Timóteo, suas orações particulares precisam temperar as suas
mensagens no púlpito. Leve em seu coração a admoestação de Richard
Sibbes: “Um ministro de Cristo freqüentemente se encontra na posição de
maior honra entre os homens pela performance de apenas metade de seu
trabalho [o ministério público], enquanto Deus o tem em grande desagrado
pela negligência da outra metade do trabalho [oração]” (veja At 6.4). Assim
como os puritanos, guarde ciosamente o seu tempo pessoal de devocional.
Estabeleça suas prioridades de acordo com as realidades espirituais, eternas.
Esteja convencido de que tão logo você cesse de vigiar e orar, estará
cortejando o desastre espiritual. Esteja dolorosamente consciente, como John
Flavel disse, que “um homem pode ser objetivamente um [homem] espiritual,
e ainda assim ser subjetivamente um homem carnal”.[76] Acredite, como
John Owen notou, que “nenhum homem prega bem um sermão, sem antes
pregá-lo para o seu próprio coração… Se a palavra não habitar com poder em
nós, ela não fluirá com poder de nós”.[77]
APRENDA A MEDITAR
Talvez não haja área onde os puritanos sejam de maior auxílio que em
oferecer um guia para o processo de meditação espiritual e bíblica. Eles
disseram para começar pedindo assistência ao Espírito Santo. Ore pelo poder
de encouraçar sua mente e de focar os olhos da fé nesta tarefa. Como
Edmund Calamy escreveu: “Eu gostaria que você orasse a Deus para que Ele
iluminasse o seu entendimento, vivificasse a sua devoção, enternecesse seus
sentimentos, e assim abençoasse aquela hora para você, para que pela
meditação das coisas sagradas você possa tornar-se mais santo, e ter sua
concupiscência mais mortificada, e suas graças incrementadas, sendo
mortificado para o mundo e a sua vaidade, e elevado aos céus e às coisas do
céu”.[78]
A seguir, os puritanos aconselhavam a leitura das Escrituras,
selecionando um versículo ou determinada doutrina sobre os quais meditar.
Esteja certo de escolher assuntos relativamente fáceis para meditar no início
de sua empreitada, eles advertiam. Por exemplo, comece com os atributos de
Deus, ao invés da doutrina da Trindade. E considere apenas um assunto por
vez.
Além disso, selecione assuntos que sejam mais aplicáveis às suas
circunstâncias presentes e que serão de maior benefício para a sua alma. Por
exemplo, se você está espiritualmente abatido, medite na disposição de Cristo
de receber pobres pecadores e perdoar a todos que vierem a Ele. Se sua
consciência lhe atormenta, medite nas promessas de Deus em dar graça aos
arrependidos. Se você está financeiramente aflito, medite na maravilhosa
providência de Deus àqueles em necessidade.[79]
Agora, memorize os versículos selecionados, ou algum aspecto do
assunto, para estimular a meditação, fortalecer a fé e servir como um meio de
direção divina.
A seguir, fixe seus pensamentos nas Escrituras ou em um assunto
bíblico, sem espreitar além daquilo que Deus revelou. Use a sua memória
para se focar em tudo que as Escrituras têm a dizer sobre o assunto.
Considere sermões passados e livros edificantes.
Use “o livro da consciência, o livro das Escrituras, e o livro da criatura”,
[80] conforme você considera os vários aspectos de seu assunto: seus nomes,
causas, qualidades, frutos e efeitos. Assim como Maria, pondere estas coisas
em seu coração. Pense em ilustrações, similaridades e opostos, a fim de
iluminar o seu entendimento e abrasar suas afeições. Então, deixe o
julgamento avaliar o valor daquilo em que você está meditando.
Aqui vai um exemplo do Calamy. Se você for meditar no assunto de
pecado, “comece com a descrição do pecado; siga para a distribuição do
pecado; considere a origem e a causa do pecado, os abomináveis frutos e
efeitos do pecado, as conseqüências e características do pecado em geral e do
pecado pessoal em particular, o oposto do pecado — graça, as metáforas do
pecado, os títulos dados a ele, [e] tudo o mais que as Escrituras dizem sobre o
pecado”.[81]
Duas advertências devem ser dadas. Em primeiro lugar, como Thomas
Manton escreveu: “Não prenda pelas regras dos métodos o espírito que é
livre. Deus nos chamou para a religião, não para a lógica. Quando os cristãos
se confinam a tais regras e prescrições, eles se restringem, e os pensamentos
pingam como de uma destilaria, e não jorram como em uma fonte”.[82] Em
segundo, se sua mente lançar-se em outras direções, aperte as rédeas, ofereça
uma rápida oração, pedindo a Deus por perdão e forças para se manter
focado; leia trechos apropriados das Escrituras novamente e prossiga.
Lembre-se, leitura bíblica, meditação e oração andam sempre de mãos dadas.
Quando uma disciplina esvaecer, volte-se para outra. Persevere; não se renda
a Satanás abandonando sua tarefa.
Depois disso, encoraje sentimentos como amor, esperança, coragem,
gratidão, zelo e alegria,[83] para glorificar a Deus.[84] Converse com sua
própria alma. Inclua reclamações sobre si mesmo em razão de seus defeitos e
fraquezas, e derrame diante de Deus os seus anseios espirituais. Acredite que
Ele irá lhe ajudar.
Paul Baynes, ao tratar a meditação como um “meio particular” da graça,
comparou-a primeiro com o poder da visão para afetar o coração, e depois
com o processo da concepção e do nascimento: “Agora observe como, após a
concepção, existem dores para dar à luz no devido tempo: então, quando a
alma, através do pensamento, concebe, logo as afeições são [afetadas], pois
as afeições despertam em um pensamento, assim como o fogo ao surgir uma
faísca na palha. As afeições são afetadas, a vontade é agitada e inclinada”.
[85]
Agora, seguindo o despertar de sua memória, julgamento e afeições,
aplique suas meditações a você mesmo, para despertar sua alma para o
trabalho e conforto, e para livrar sua alma do pecado.[86] Assim como
William Fenner escreveu: “Mergulhe em sua própria alma; antecipe e previna
seu próprio coração. Visite freqüentemente o seu coração com promessas,
ameaças, misericórdias, julgamentos e mandamentos. Deixe que a meditação
examine o seu coração. Leve o seu coração para diante de Deus”.[87]
Examine-se para o seu próprio crescimento na graça. Reflita sobre o
passado e pergunte: “O que tenho feito?” Olhe para o futuro, perguntando:
“O que estou decidido a fazer, pela graça de Deus?”[88] Não faça tais
perguntas legalisticamente, mas com santidade de emoção e olhando para a
oportunidade de um espírito que cresce em graça. Lembre-se: “As obras da
lei são nossa obrigação; a meditação é nosso prazer”.[89]
Siga o conselho de Calamy: “Se é para receber benefício através da
prática da meditação, você precisa alcançar os pequenos detalhes; e, então,
meditar em Cristo, aplicando-O à sua alma; e também medite sobre o céu,
aplicando-o à sua alma”.[90] Medite de dia e de noite (Js 1.8). Deixe que a
meditação e a prática, como duas irmãs, andem de mãos dadas. Meditação
sem prática apenas aumentará a sua condenação.[91]
Em seguida, transforme as suas aplicações em resoluções. “Faça com
que suas resoluções sejam firmes e fortes, não [meros] desejos, e sim
propósitos firmes, ou determinações”, escreveu Thomas White.[92] Faça das
suas resoluções compromissos de lutar contra suas tentações de pecar.
Escreva suas resoluções. E acima de tudo, tome a decisão de passar sua vida
“como alguém que tem meditado nas coisas santas e celestiais”. Confie a si
mesmo, sua família e tudo o mais que você possui às mãos de Deus com
“doce resignação”.
Conclua com orações, ações de graça e salmos. “A meditação é o
melhor início para uma oração, e a oração é a melhor conclusão para a
meditação”, escreveu George Swinnock. Watson disse: “Ore durante sua
meditação. A oração santifica a tudo; sem oração, ela não é nada, senão uma
meditação profana; a oração fixa a meditação na alma; a oração é o nó final
na meditação que não a deixa solta; ore para que Deus mantenha estas santas
meditações em sua mente para todo o sempre, e que o seu perfume possa
permanecer em seu coração”.[93]
Agradeça ao Senhor pela assistência na meditação, ou, então, como
Richard Greenham alertou, “nós seremos esbofeteados em nossa próxima
meditação”.[94]
As versões métricas dos Salmos são uma grande ajuda na meditação.
Sua forma métrica facilita a memorização. Como a Palavra de Deus, elas são
um assunto adequado para a meditação. Como uma “completa anatomia da
alma” (Calvino), elas fornecem material abundante e um guia para a
meditação. Como orações (Sl 72.20) e ações de graças (Sl 118.1), elas são um
veículo apropriado para a meditação e uma forma conveniente para concluí-
la. Joseph Hall escreveu que encontrou muito conforto em terminar sua
meditação elevando seu “coração e sua voz a Deus, cantando um ou dois
versos dos Salmos de Davi — um que responda nossa disposição e o assunto
de nossa meditação. Desta forma, o coração se fecha com muita doçura e
contentamento”.[95] John Lightfoot ainda disse: “Cantar em louvor a Deus é
a tarefa de maior meditação que qualquer um pode fazer em público. Ela
mantém o coração muito acima daquilo que é falado. A oração e o ouvir
passam rapidamente de uma frase para a outra; mas a música fica mais tempo
em nossas mentes”.
Finalmente, não mude muito rapidamente da meditação para o
engajamento com coisas deste mundo, para que, como Thomas Gouge
advertiu, “por meio disto, você não sufoque rapidamente aquela devoção
espiritual, irradiada em seu coração através daquele exercício”.[96] Lembre-
se que uma hora gasta em tal meditação é “mais valiosa que mil sermões”,
disse Ussher, “e isto não é uma degradação da Palavra, mas uma honra a ela”.
[97]

LIDE COM AS PROVAÇÕES COM UMA POSTURA CRISTÃ


Os puritanos nos mostraram como lidar com as provações. Considere os
irmãos escoceses Ebenezer e Ralph Erskine. Além das controvérsias
religiosas que minaram sua alegria no ministério por vinte e cinco anos, eles
também enfrentaram muitos reveses em suas vidas pessoais. Ebenezer
Erskine enterrou sua primeira esposa quando ela tinha trinta e nove anos de
idade; sua segunda esposa faleceu três anos antes de sua própria morte. Ele
também perdeu seis de seus quinze filhos. Ralph Erskine enterrou sua
primeira esposa quando ela tinha trinta e dois anos, e também nove de seus
treze filhos. Os três meninos que alcançaram a idade adulta ingressaram todos
no ministério, mas um deles ajudou a destituir seu próprio pai do cargo que
ocupava.
Os irmãos Erskine haviam entendido muito bem que Deus tem “apenas
um Filho sem pecado, mas nenhum sem aflição”, como disse um puritano.
Seus diários, algo tão típico dos puritanos, são repletos de submissão centrada
em Cristo em meio a aflição. Quando sua primeira esposa estava em seu leito
de morte e ele tinha acabado de enterrar vários de seus filhos, Ebenezer
Erskine escreveu:
Deus tocou minha família com o seu cajado, com a grande angústia de uma amada
esposa, sobre quem o Senhor colocou sua mão, e sobre quem sua mão ainda permanece
pesadamente. Mas que, ainda assim, eu possa exaltar as maravilhas de sua graça gratuita,
que me visitou novamente neste dia, sem que eu merecesse. Ele tem estado comigo tanto
em público quanto em particular. Eu pude sentir o delicioso aroma da Rosa de Sarom, e
minha alma foi restaurada com uma nova visão dEle, na excelência de sua pessoa, como
Emanuel, e na suficiência de sua justiça que dura para sempre. Minhas esperanças que já
esmaeciam foram revigoradas pela visão dEle. Meus grilhões são quebrados, e o fardo
da aflição feito leve quando Ele aparece… “Eis-me aqui; faça de mim como melhor lhe
parecer.” Se Ele me chamar para ir até as profundezas do Jordão, por que não, se esta for
sua santa vontade? Apenas esteja comigo, Senhor, e o teu bordão e o teu cajado me
consolam, então, não temerei ir pelo vale da turbulência, sim, pelo vale da sombra da
morte.[98]

Podemos aprender com os puritanos que precisamos de aflições para nos


tornarmos humildes (Dt 8.2), para nos ensinarem o que significa o pecado (Sf
1.12) e para nos levar a Deus (Os 5.15). “A aflição é o pó de diamante no
qual as jóias celestiais são polidas”, escreveu Robert Leighton. Timóteo, veja
o cajado divino da aflição como o seu meio de imprimir a imagem de Cristo
mais plenamente em você, para que você possa tomar parte de sua retidão e
santidade (Hb 12.10-11). Deixe que as provações levem-no a caminhar pela
fé e o afastem do mundo. Thomas Watson escreveu: “Deus tem o mundo
pendurado como um dente de leite, que facilmente pode ser arrancado, para
não mais incomodar”. Empenhe-se para que a graça permita a aflição elevar a
sua alma aos céus e calçar seu caminho para a glória (2 Co 4.7).
Se, neste momento, você estiver passando por profundas provações,
aprenda com os puritanos a não superestimar estas provações. Leia a obra de
William Bridge, A Lifting Up for the Downcast (Um Estímulo aos Abatidos);
o livro de Thomas Brooks, A Mute Christian Under the Rod (Um Cristão
Calado Sob o Cajado), e também A Bruised Reed (Um Junco Esmagado), de
Richard Sibbes. Lembre-se que a vida é curta e a eternidade dura para
sempre. Você é jovem, mas também para você, os puritanos dariam um
conselho muito acertado: Pense mais na coroa que está por vir e em sua
comunhão eterna com o Deus Trino, os santos e os anjos, que nas tribulações
temporais. Como John Trapp escreveu: “Aquele que corre para ser coroado
não precisa pensar muito no dia de adversidades”.
Você está aqui meramente como quem aluga; uma mansão o aguarda na
glória. Não se desespere. O cajado do Pastor está seguro em amorosas mãos
paternas, não em mãos punitivas de julgamento. Considere Cristo em suas
aflições — as dEle não eram maiores do que as suas, e não era Ele
completamente inocente? Considere como Ele persevera por você, como Ele
ora por você, como Ele lhe ajuda a cumprir os objetivos que preparou para
você. No fim, Ele será glorificado através de suas aflições. John Bunyan
disse, singularmente: “O povo de Deus é como sinos; quanto mais forte lhes
baterem, melhor será o som”.
Deus usará suas provações para torná-lo um pregador melhor, assim
como Ele fez com os puritanos. George Whitefield escreveu:
Pastores jamais escrevem ou pregam tão bem como quando estão sob a cruz; o
Espírito de Cristo e da glória descansam sobre eles. Foi isto, indubitavelmente, que
forjou os puritanos… esta luz brilhante e ardente. Quando foram banidos pelo terrível
ato de Bartolomeu [o Ato de Uniformidade de 1662] e despojados de suas
responsabilidades de pregar nos celeiros e campos, nas estradas e caminhos, de uma
maneira especial eles escreveram e pregaram como homens de autoridade. E mesmo
depois de mortos, continuaram falando através de seus escritos; e uma unção especial
está sobre eles, neste exato momento.[99]

Aquela “unção especial” a que Whitefield se refere é uma unção


experimental, cristocêntrica, que deriva do aprendizado da arte do
contentamento na escola da aflição. Sob a aflição, os puritanos
experimentaram rico contentamento espiritual e consolo em Cristo. O mesmo
deve ocorrer conosco, Timóteo. Leia a obra de Jeremiah Burroughs, The Rare
Jewel of Cristian Contentment (A Jóia Rara do Contentamento Cristão). Ele o
ensinará como transformar provocação em contentamento. Então, a próxima
vez em que você for esbofeteado no ministério por outras pessoas, Satanás ou
sua própria consciência, ao invés de reclamar, carregue estes sofrimentos até
Cristo e peça a Ele, através de seu Espírito, que santifique-os para que você
possa demonstrar contentamento espiritual diante do seu rebanho.
REPREENDA O ORGULHO
Os puritanos nos mostram como lidar com o orgulho no ministério.
Deus odeia o orgulho (Pv 6.16-17). Ele odeia os orgulhosos com todo o seu
coração, amaldiçoa-os com sua boca e os pune com sua mão (Sl 119.21; Is
2.12, 23.9). O orgulho foi o primeiro inimigo de Deus. Foi o primeiro pecado
no paraíso e o último que largaremos na morte. “O orgulho é a camisa da
alma, a primeira a ser vestida e a última a ser despida”, escreveu George
Swinnock.[100]
Como pecado, o orgulho é sem igual. A maior parte dos pecados nos
afasta de Deus, mas o orgulho é um ataque direto à pessoa de Deus. Ele eleva
nossos corações acima de Deus e contra Deus, disse Henry Smith. O orgulho
procura destronar Deus e entronar a si próprio.
Os puritanos não se consideravam imunes a este pecado. Vinte anos
após sua conversão, Jonathan Edwards ainda suspirava sobre as “insondáveis
e infinitas profundezas do orgulho” que remanescia em seu coração.
O orgulho destrói nossas obras. Richard Baxter disse: “Quando o
orgulho escreve o sermão, ele segue conosco até o púlpito, dá o tom da
pregação, tonifica nossa elocução, nos afasta daquilo que possa ser útil às
pessoas. Ele nos coloca em busca dos vãos aplausos de nossos ouvintes. Faz
os homens procurarem apenas seu próprio bem e a sua própria glória”.[101]
O orgulho é algo complexo. Jonathan Edwards disse que ele toma
muitas formas diferentes e cinge o coração como as camadas de uma cebola
— quando você puxa uma camada fora, há mais uma sob aquela.
Nós, pastores, sempre à vista de todos, somos particularmente
inclinados ao pecado do orgulho. Richard Greenham escreveu: “Quanto mais
piedoso um homem se torna, e quanto mais as graças e bênçãos de Deus estão
sobre ele, mais ele precisa orar, pois Satanás é o mais ocupado contra ele, e
ele torna-se o mais pronto a se encher de uma santidade vaidosa”.[102]
O orgulho se alimenta de quase tudo ao seu redor: uma boa medida de
capacidade e sabedoria, um único elogio, uma temporada de extraordinária
prosperidade, um chamado para servir a Deus numa posição de prestígio —
até mesmo a honra de sofrer pela verdade. “É difícil de matar de fome este
pecado, quando ele pode sobreviver de quase qualquer tipo de alimento”,
escreveu Richard Mayo.[103]
Os puritanos costumavam dizer que se nós pensamos estar imunes ao
pecado do orgulho, devemos nos perguntar: Quão dependente nós estamos
dos aplausos dos outros? Estamos nos preocupando mais com uma reputação
de santidade que com a própria santidade? O que os presentes e recompensas
recebidas de outras pessoas nos dizem sobre nosso ministério? Como nós
respondemos às críticas do povo em nossa congregação?
Um ministro piedoso luta contra o orgulho, ao passo que um pastor
mundano o alimenta. Cotton Mather confessou, quando o orgulho o encheu
de amargura e confusão diante do Senhor: “Eu me esforcei para enxergar o
meu orgulho como a própria imagem do diabo, contrária à imagem e graça de
Cristo; como uma ofensa contra Deus, e uma aflição ao seu Espírito; como a
mais irracional insensatez e loucura de alguém que não possui nada
singularmente excelente e que tem uma natureza corrupta”.[104] Thomas
Shepard também lutou contra o orgulho. Em seu diário, no dia 10 de
novembro de 1642, Shepard escreveu: “Mantive um jejum particular para
minha iluminação espiritual, a fim de ver toda a glória do evangelho… e para
vencer todo o orgulho remanescente em meu coração”.[105]
Você consegue se identificar com estes pastores puritanos em suas lutas
contra o orgulho? Você se importa o bastante com seus irmãos no ministério
a ponto de admoestá-los sobre este pecado? Quando John Eliot, o missionário
puritano, percebeu que um colega tinha uma visão muito elevada de si
mesmo, ele lhe disse: “Estude a mortificação, irmão; estude a mortificação”.
[106]
Com podemos lutar contra o orgulho? Nós compreendemos o quão
profundamente ele está enraizado em nós — e o quão perigoso ele pode ser
para o nosso ministério? Alguma vez nós nos censuramos, como o puritano
Richard Mayo fazia: “Deveria estar orgulhoso o homem que tem pecado
como tu tens feito, e vivido como tu tens vivido, e desperdiçado tanto tempo,
e abusado tanto da misericórdia, e se omitido tanto de suas tarefas, e
negligenciado tão maravilhosos recursos? — que tem entristecido o Espírito
de Deus, violado as leis de Deus, e desonrado o nome de Deus? Deveria estar
orgulhoso o homem, que possui tal coração como tu tens?”[107]
Timóteo, se você está disposto a matar o orgulho mundano e viver em
piedosa humildade, olhe para o seu Salvador, cuja vida, como Calvino disse,
“foi nada senão uma série de sofrimentos”. Em nenhum outro lugar a
humildade foi tão cultivada quanto no Getsêmani e no Calvário. Quando o
orgulho te ameaçar, considere o contraste entre um pastor orgulhoso e nosso
humilde Senhor. Cante junto de Issac Watts:

Olhando o lenho crucial,


Em que morreu da glória o Rei,
Às honras, vida mundanal
Desprezo eterno votarei. [108]

Aqui estão algumas outras formas para subjugar o orgulho, aprendidas


dos puritanos e seus sucessores:

Enxergue cada dia como uma oportunidade para esquecer de você


mesmo e servir aos outros. Abraham Booth escreveu: “Não se
esqueça que toda a sua obra é ministerial; não legislativa — que
você não é o senhor da igreja, mas um servo”.[109] O ato de servir
é inerentemente humilhante.
Procure um conhecimento profundo de Deus, de seus atributos e
sua glória. Jó e Isaías nos ensinam que nada é mais humilhante que
conhecer verdadeiramente a Deus (Jó 42; Is 6).
Leia as biografias de gigantes na fé, como Journals (Diário) de
Whitefield, A Vida de David Brainerd[110] de Jonathan Edwards,
e Early Years (Primeiros Anos) de Spurgeon. O Dr. Lloyd-Jones
disse: “Se aquilo não o trouxer à terra, então eu declaro que você é
nada mais que um profissional, e fora de qualquer esperança”.[111]

Lembre-se diariamente que “a soberba precede a ruína, e a altivez


do espírito, a queda” (Pv 16.18).
Ore por humildade. Lembre-se que Agostinho respondeu à
pergunta: “Quais são as três graças que um ministro mais
necessita?” dizendo, “Humildade. Humildade. Humildade”.
Medite muito sobre a solenidade da morte, a certeza do Dia do
Julgamento e a vastidão da eternidade.

CONFIE NO ESPÍRITO
Os puritanos demonstram sua profunda confiança no Espírito Santo em
tudo quanto eles diziam e faziam. Eles sentiam ardentemente a magnitude da
conversão e sua incapacidade para levar qualquer pessoa a Cristo. “Deus
nunca colocou sobre vós a responsabilidade de converter aqueles a quem Ele
vos enviou. Não; proclamar o evangelho é a vossa obrigação”, disse William
Gurnall, falando a pastores.[112] E Richard Baxter escreveu: “A conversão é
um outro tipo de trabalho que a maioria das pessoas desconhece. Não é um
assunto qualquer levar uma mente mundana ao paraíso e mostrar ao homem
as amáveis excelências de Deus; e ser tomado por tal amor por Ele, o qual
jamais poderá ser apagado; fazê-lo fugir em busca de refúgio em Cristo e
agradecidamente adotá-Lo como vida de sua alma; ter os próprios desígnios e
afeições de sua vida completamente mudados, a ponto do homem chegar a
renunciar tudo aquilo que acreditava lhe trazer felicidade, e colocar a sua
alegria onde jamais havia posto”.[113]
Os puritanos estavam convencidos de que tanto o pregador quanto o
ouvinte são totalmente dependentes da obra do Espírito para a regeneração e
conversão quando, como e em quem Ele desejar.[114] O Espírito leva a
presença de Deus ao coração dos homens. Ele persuade os pecadores a
buscarem a salvação, renova desejos corrompidos e faz as verdades
espirituais se enraizarem em corações endurecidos. Thomas Watson disse:
“Os pastores batem na porta do coração dos homens, o Espírito vem com a
chave e abre a porta”.[115] E ainda Joseph Alleine disse: “Nunca pense que
você é capaz de converter a si próprio. Se você tiver de ser salvificamente
convertido, não tenha esperanças de fazê-lo com suas próprias forças. Trata-
se de uma ressurreição dos mortos (Ef 2.1), uma nova criação (Gl 6.15; Ef
2.10), uma obra de absoluta onipotência (Ef 1.19)”.[116]
Especialmente um jovem pastor como você, Timóteo, precisa estar
persuadido de que o ato de regeneração do Espírito é, como John Owen
escreveu: “infalível, vitorioso, irresistível, e sempre eficaz”; ele “remove
todos os obstáculos, vence todas as oposições, e infalivelmente produz o
efeito pretendido”.[117] Todos as formas de agir que impliquem em outra
doutrina são antibíblicas. Packer escreveu: “Todos os artifícios usados para
exercer pressão psicológica, a fim de precipitar ‘decisões’, devem ser
evitados, pois são na verdade tentativas presunçosas de intromissão na obra
do Espírito Santo”. Tais pressões podem até mesmo ser danosas, ele continua
dizendo, pois conquanto “elas possam produzir um tipo de ‘decisão’ exterior
e visível, não trazem regeneração e mudança de coração, e quando as
‘decisões’ vão se desgastando, aqueles que as indicaram acabam ‘fechados ao
evangelho’ e hostis”. Packer conclui no estilo puritano: “O evangelismo
precisa ser concebido antes como um empreendimento a longo prazo, de
ensino paciente e instrução, no qual os servos de Deus buscam simplesmente
serem fiéis em levar a mensagem do evangelho e em aplicá-la às vidas
humanas, deixando para o Espírito de Deus o trabalho de inculcar a fé através
desta mensagem, de sua própria maneira e em seu próprio tempo”.[118]
Lembre-se, Timóteo, é o Espírito Santo que também irá abençoar a
pregação fiel tanto para a conversão de incrédulos quanto para o crescimento
da graça entre os crentes. Seja encorajado. A Palavra de Deus cumprirá os
seus propósitos através de seu Espírito (Is 55.10,11; Jo 3.8). O Westminster
Larger Catechism (O Catecismo Maior de Westminster) diz que o Espírito de
Deus faz “especialmente da pregação da palavra uma forma eficaz de
iluminar, convencer e humilhar os pecadores, de levá-los para fora de si
mesmos, e trazê-los para Cristo; de conformá-los à sua imagem, e dominá-los
à sua vontade; fortalecê-los contra as tentações e corrupções; de fazê-los
crescer na graça, e estabelecer os seus corações em santidade e conforto
através da fé para a salvação”.

VIVA EM DOIS MUNDOS


Os puritanos nos mostraram como viver a partir de um ponto de vista de
dois mundos. O livro de Richard Baxter, The Saint’s Everlasting Rest (O
Descanso Eterno dos Santos) é uma demonstração magnífica do poder que a
esperança do céu deveria ter para o direcionamento, controle e energização de
sua vida aqui na terra. Apesar de ter mais de 800 páginas, este clássico se
tornou leitura obrigatória nos lares puritanos, sendo excedido apenas por O
Peregrino, de John Bunyan, o qual, aliás, é uma prova alegórica do meu
argumento. O Peregrino, de Bunyan, está seguindo para a Cidade Celestial, a
qual sempre esteve em sua mente, com exceção de quando ele foi traído por
alguma forma de mal-estar espiritual.
Os puritanos acreditavam que você precisa ter o céu “em seus olhos”
durante toda a sua peregrinação nesta terra. Eles levavam muito a sério a
dinâmica de dois mundos, “agora/ainda não” do Novo Testamento,
reforçando que manter a “esperança da glória” diante de nossa mente nos
ajuda a guiar e manter nossas vidas retas aqui na terra. Para os puritanos viver
à luz da eternidade geralmente carregava consigo uma radical auto-negação.
Timóteo, recuse-se a se tornar egoísta, espiritualmente descuidado em seu
ministério, mas ao invés disso, negue-se a ceder ao que você não possa orar
ou perseguir à luz do imenso valor da eternidade. Como os puritanos, viva
nos termos do julgamento pré-estabelecido que a alegria do céu compensará
quaisquer perdas e cruzes, esforços e dores que nós precisemos enfrentar na
terra, se pretendemos seguir fielmente a Cristo. Considere a prontidão para
morrer como o primeiro passo do aprendizado da vida. Enxergue esta terra
como o camarim de Deus e o ginásio que o prepara para o céu.
Quando visitei a igreja de Robert Murray M’Cheyne, em Dundee,
alguns anos atrás, não pude deixar de notar uma grande pedra chata, colocada
na entrada do cemitério adjacente à igreja. Ajoelhei-me para limpar o pó e a
sujeira que cobriam uma única palavra entalhada no centro daquela pedra.
Passei meus dedos sobre aquela palavra: “Eternidade” era tudo o que dizia.
Não tive dúvidas de que M’Cheyne, permeado pelo espírito puritano, colocou
aquela pedra ali para que ninguém visitasse o cemitério sem considerar a
solene realidade do seu estado futuro.
Quando Jonathan Edwards tinha trinta anos de idade, escreveu em seu
diário: “Deus, grave a eternidade em meus olhos”. Amado Timóteo, faça
desta a sua oração diária: “Ó Deus Trino, grave a eternidade em meus olhos,
minha consciência, minha alma, minhas mãos e pés, meus cultos domésticos
e públicos, sim, todo o meu ser e ministério — cada sermão que eu pregar e
cada aula que eu der, cada visita pastoral que eu fizer e cada artigo que eu
escrever. Ajuda-me a pregar como um homem que está morrendo para
pessoas que estão morrendo. Ajuda-me a viver sempre à beira da eternidade
— com pés calçados, costas cingidas e o cajado pronto — preparado para
encontrar o Deus vivo a cada dia”.

CONCLUSÃO: IMITE A ESPIRITUALIDADE PURITANA


Há muito mais para se aprender com os puritanos, Timóteo — como
eles promoviam a autoridade das Escrituras, o evangelismo bíblico, a reforma
da igreja, a espiritualidade da lei, a luta espiritual contra o pecado inato, o
temor de filho que temos de ter por Deus, o terror do inferno e as glórias do
céu — mas esta carta já está bastante longa. Em uma palavra, Timóteo, eu lhe
aconselho, como aconselho a mim mesmo: Imite a espiritualidade puritana.
Façamos a nós mesmos perguntas como estas: Somos nós, como os puritanos,
sedentos para glorificar o Deus trino? Estamos motivados pela verdade
bíblica e pelo fogo bíblico? Estamos compartilhando a visão puritana da
necessidade de conversão e de ser revestido pela justiça de Cristo? Apenas ler
os puritanos não é suficiente. Um impulso de interesse pelos puritanos não é
a mesma coisa que um reavivamento do puritanismo. Nós precisamos, em
nossos corações, vidas e igrejas da disposição interior dos puritanos — a
piedade autêntica, bíblica, e inteligente que eles demonstraram.
Deixe-me desafiá-lo, Timóteo! Você viverá piedosamente em Cristo
Jesus como os puritanos? Você irá além do estudo de seus escritos, da
discussão de suas idéias, da lembrança de suas conquistas e repreensão de
suas falhas? Você obedecerá a Palavra de Deus no mesmo nível pelo qual
eles batalharam? Você irá servir a Deus como eles O serviram? Você viverá
com um olho na eternidade assim como eles? “Assim diz o Senhor: Ponde-
vos à margem no caminho e vede, perguntai pelas veredas antigas, qual é o
bom caminho; andai por ele e achareis descanso para a vossa alma” (Jr 6.16).

Carinhosamente, nos laços do Mestre,


Joel R. Beeke

PS Se você está começando a ler os puritanos, Timóteo, comece com


Heaven Taken By Storm, de Thomas Watson; The Fear of God, de John
Bunyan; Keeping the Heart, de John Flavel; e Precious Remedies Against
Satan’s Devices, de Thomas Brooks; e então siga para as obras de John
Owen, Thomas Goodwin, e Jonathan Edwards. Você pode encontrar o básico
sobre os livros puritanos, lendo o livro Meet the Puritans: A Guide to Modern
Reprints. Neste livro, Randall Pederson e eu damos um breve resumo de cada
título puritano que tem sido reeditado desde o ressurgimento da literatura
puritana na década de 1950, além de um resumo biográfico da vida de cada
autor puritano. Você também deveria ler A Guide to the Puritans, de Robert
P. Martin (Edimburgo: Banner of Truth Trust, 1997), no qual ele relaciona a
maioria das reedições puritanas, de forma que você pode achar rapidamente o
que os puritanos têm a dizer sobre qualquer assunto mais importante.
Para fontes secundárias que apresentem o estilo de vida e a teologia dos
puritanos, comece com Santos no Mundo: Os Puritanos como Eles
Realmente Eram, de Leland Ryken, Editora Fiel, São José dos Campos, SP;
The Genius of Puritanism, de Peter Lewis (Morgan, PA: Soli Deo Gloria,
1997) e Who are the Puritans? And what do they teach, de Erroll Hulse
(Darlington, Inglaterra: Evangelical Press, 2000). Então siga para A Quest for
Godliness: The Puritan Vision of the Christian Life, de James I. Packer
(Wheaton, IL; Crossway Books, 1990). Para uma bibliografia que contenha
numerosas obras puritanas ainda não relançadas, veja o meu livro The Quest
for Full Assurance: The Legacy of Calvin and His Successors (Edimburgo:
Banner of Truth Trust, 1999).
Uma boa fonte para a compra de livros puritanos com bons preços,
incluindo todos os listados acima, é o Reformation Heritage Books. Tolle leg!
Capítulo 14 - Aprenda com os Puritanos (II) (Joel Beeke)

Capítulo 14

Aprenda com os Puritanos ( II )


Joel Beeke

Amado Timóteo,
Espero que você tenha aproveitado minha última carta sobre o que
podemos aprender dos puritanos. Escrevo agora a segunda carta neste mesmo
assunto, focalizando em seu ministério de pregação e ensino. Que Deus possa
abençoá-lo graciosamente e fazer de você um habilidoso expositor de sua
preciosa Palavra.

PREGUE A PALAVRA
Aprenda com os puritanos a moldar o conteúdo e método de todas as
suas pregações através das Escrituras. O “The Westminster Directory of
Public Worship” (Diretório de Culto de Westminster) diz sobre os ministros:
“De forma geral, o assunto de seus sermões deve ser algum texto das
Escrituras, expondo um dos axiomas da religião, ou, então, apropriado a
alguma ocasião especial, ou ainda acerca de um capítulo, salmo, ou livro das
Sagradas Escrituras, que ele considere adequado no momento”.[119] Edward
Dering colocou isto de forma bem sucinta: “O ministro fiel, assim como
Cristo, é aquele que prega nada além da Palavra de Deus”.[120] John Owen
concordou: “O primeiro e principal ofício de um pastor é alimentar o rebanho
através da pregação diligente da Palavra”.[121] Da mesma forma Miller
Maclure observou que, “para os puritanos, o sermão não está apenas ligado às
Escrituras; ele literalmente existe dentro da Palavra de Deus; o texto não está
no sermão, mas o sermão está no texto… Resumindo, ouvir um sermão é
estar na Bíblia”.[122]
A pregação puritana permite que as Escrituras ditem a ênfase de cada
mensagem. Os puritanos não pregavam sermões que fossem um tipo de busca
por equilíbrio entre várias doutrinas. Pelo contrário, eles deixavam o texto
bíblico determinar o conteúdo e ênfase de cada mensagem. Quando Jonathan
Edwards pregou sobre o inferno, por exemplo, ele não fez uma única
referência ao paraíso, e quando ele pregou sobre o céu, não falou do inferno.
[123]
Os puritanos pregavam o texto bíblico por inteiro, qualquer que fosse o
seu tema, assegurando-se de em tempo pregarem todos os principais temas
das Escrituras e, portanto, as principais doutrinas da teologia reformada.
Nada era deixado em desequilíbrio no conjunto total de seus muitos e longos
sermões. Na teologia propriamente dita, eles proclamavam a transcendência
de Deus, assim como a sua imanência. Na antropologia, eles pregavam sobre
a imagem de Deus, desde seu sentido mais restrito até o mais amplo. Na
cristologia, eles exibiam tanto o estado de humilhação quanto o de exaltação
de Cristo. Na soteriologia, eles se focavam tanto na obra de Deus quanto na
responsabilidade do homem, e sabiam exatamente quando destacar cada uma.
Na eclesiologia, eles reconheciam o alto chamado dos ofícios especiais
(ministros, presbíteros e diáconos), assim como os igualmente nobres
chamados dos ofícios gerais de todos os crentes. Na escatologia, eles
declaravam tanto as glórias do céu quanto os horrores do inferno.
Timóteo, aprenda com os puritanos, em seu estilo de vida e pregação, a
mostrar lealdade sincera à toda a mensagem da Bíblia. Seja um homem do
Livro vivo. Acredite na pregação. Nunca se esqueça que, quando você
proclama as Escrituras como um pregador legitimamente ordenado, Cristo
fala através de você, de forma que, por seu Espírito, a Palavra pregada é uma
Palavra viva. Isto torna o seu chamado tão significativo, que Henry Smith
pôde pregar para o seu rebanho: “Se vocês considerassem, meus amados, que
não podem nutrir sua vida espiritual exceto pelo leite da palavra, seria
preferível desejarem que seus corpos não tivessem almas, a que suas igrejas,
não tivessem pregadores”.[124]

CASE A DOUTRINA COM A PRÁTICA


Timóteo, deixe que os puritanos sejam seus mentores no casamento da
doutrina com a prática em sua pregação. Siga o exemplo deles, nestas três
formas:

Trate a sua mente com clareza. A pregação dos puritanos


considerava o homem uma criatura racional. Os puritanos amavam
e adoravam a Deus com suas mentes. Eles se recusavam a colocar a
mente e o coração um contra o outro, mas ensinavam que o
conhecimento era o solo no qual o Espírito plantava a semente da
regeneração. Eles enxergavam a mente como o palácio da fé. John
Preston escreveu: “Na conversão, a razão é elevada”. E Cotton
Mather disse: “A ignorância é a mãe não da devoção, mas da
heresia”. Desta forma, os puritanos pregavam que nós precisamos
pensar, a fim de sermos santos. Eles desafiavam a idéia de que
santidade é apenas uma questão de emoção. Eles argumentavam
com pecadores através daquilo que eles chamavam de “pregação
simples”, usando a lógica bíblica para persuadir cada ouvinte de
que era tolice não procurar servir a Deus, em virtude do valor e
propósito da vida e da certeza da morte e eternidade.

Deus nos deu mentes por uma razão, os puritanos ensinavam. É


crucial que nós ministros nos tornemos como Cristo na forma como
pensamos. Nossas mentes precisam ser iluminadas pela fé e
disciplinadas pela Palavra, e, então, devem ser colocadas a serviço de
Deus no mundo. Timóteo, seja desafiado pelos puritanos a usar o seu
intelecto para fazer avançar o reino de Deus. Sem um pensamento claro,
você nunca será capaz de alimentar o povo de Deus e nem de
evangelizar e se opor à cultura na qual você vive, trabalha e ministra.
Você se tornará vazio em si mesmo, não-produtivo e narcisista,
necessitando de um desenvolvimento de sua vida interior. Os puritanos
pregavam que uma mente débil não era um símbolo de honra. Eles
compreendiam que um cristianismo sem cérebro promovia na verdade
um cristianismo fraco. Um evangelho antiintelectualista gerará um
evangelho irrelevante que não vai além das “necessidades sentidas”. É
exatamente isto o que está acontecendo em nossas igrejas nos dias de
hoje. Perdemos nossa mente cristã, e durante a maior parte do tempo,
não vemos a necessidade de reavê-la. Não entendemos que onde há uma
diferença pequena entre os cristãos e não-cristãos naquilo que pensamos
e acreditamos, logo não haverá nenhuma diferença na forma como
vivemos.

Confronte a consciência diretamente. Os puritanos trabalharam


duro nas consciências dos pecadores como a “luz da natureza”
neles. Uma pregação clara nomeava pecados específicos e fazia
perguntas, a fim de inculcar a culpa daqueles pecados sobre as
consciências de homens, mulheres e crianças. Como um puritano
escreveu: “Nós temos de andar com o cajado da verdade divina e
derrubar com ele todos os arbustos atrás dos quais um pecador
esteja se escondendo, até que, assim como Adão, ele se coloque
diante de Deus em sua nudez”. Eles acreditavam que isto era
necessário, porque enquanto o pecador não saísse detrás daquele
arbusto, ele nunca poderia clamar a Deus para ser revestido com a
justiça de Cristo. Os puritanos pregavam com senso de urgência,
acreditando que muitos dos seus ouvintes estavam no caminho para
o inferno. Eles pregavam diretamente, confrontando seus ouvintes
com a lei e o evangelho, com morte em Adão e vida em Cristo.
Eles pregavam especificamente, levando o mandamento de Cristo a
sério “que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão
de pecados” (Lc 24.47).

Hoje, o evangelismo moderno está, em sua maior parte, com medo


de confrontar a consciência dos homens. Aprenda com os puritanos,
Timóteo, que estavam persuadidos de que o amigo que mais o ama irá
dizer-lhe as verdades sobre você mesmo. Assim como Paulo e os
puritanos, nós precisamos testemunhar, seriamente e com lágrimas, da
necessidade de “arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor
Jesus Cristo” (At 20.21).

Almeje o coração apaixonadamente. A pregação puritana era


afetuosa, zelosa e otimista. É incomum hoje encontrar um
ministério que tanto desenvolva a mente com matéria bíblica sólida
ao mesmo tempo que toque os corações com afetuoso calor; porém,
esta combinação era comum entre os puritanos. Eles não apenas
raciocinavam com a mente e confrontavam a consciência; eles
apelavam ao coração. Eles pregavam por amor à Palavra de Deus,
amor pela glória de Deus e amor pela alma de cada ouvinte. Eles
pregavam com uma calorosa gratidão pelo Cristo que os salvara e
fizera de suas vidas um sacrifício de louvor. Eles mostravam Cristo
em sua graça, esperando que os incrédulos invejassem aquilo que o
crente tem em Cristo.

ENFATIZE A PRÁTICA DA PIEDADE


Assim como Agostinho e Calvino, os puritanos enfatizavam a prática da
piedade (praxis pietatis), fluindo livremente da sã doutrina. O “The Directory
for Public Worship” (Diretório de Culto Público), na Confissão de Fé de
Westminster, resume o compromisso puritano para a aplicação santificada:
Ele (o pregador) não deve parar na doutrina geral, mesmo que não esteja muito
clara ou confirmada, e sim trazê-la para casa para uso especial, através da aplicação aos
seus ouvintes: ainda que fique provado que este trabalho seja grande dificuldade para ele
mesmo, requerendo muita prudência, zelo e meditação, e que para o homem natural e
corrupto será muito desagradável; contudo, ele ainda deve esforçar-se para fazê-lo de tal
forma que os seus ouvintes possam sentir a palavra de Deus viva e poderosa, e um juiz
dos pensamentos e intentos do coração; e, se qualquer incrédulo estiver presente, ele
poderá ter os segredos de seu coração manifestos, e dar glória a Deus.[125]

Acreditando que o caminho de Deus ao coração e vida passa pela mente,


os pregadores puritanos viam como as Escrituras e a teologia se relacionavam
com os problemas cotidianos. Eles não separavam o sagrado do secular. É
por isso que seus livros contêm tantos “usos”, pelos quais eles demonstravam
como aplicar o texto para o bem prático. O “Diretório do Culto Público”
identifica seis tipos de aplicação: instruções na doutrina verdadeira, refutação
das falsas doutrinas, exortações para o cumprimento dos deveres,
admoestações ao arrependimento, consolo aos aflitos e auto-exame a todos os
ouvintes.[126] Para falarmos de apenas uma destas aplicações, as exortações
incluem algumas das virtudes primárias, tais como intensos exercícios
pessoais e familiares na piedade, comprometimento sincero com a bondade e
a verdade, diligência no trabalho, exercício do amor fraternal, uso
responsável dos dons e tempo, rígida observância do Dia do Senhor, e, mais
importante de tudo, relacionamentos experimentais com Deus. Os puritanos
amavam a aplicação dos textos bíblicos a todas as áreas da vida, focalizando
tanto nas promessas de Deus quanto nas obrigações do homem.
Deixe que os puritanos lhe ensinem como empregar alguns destes
“usos”, em cada sermão, para os mais diferentes tipos de ouvintes. William
Perkins distinguiu sete tipos de ouvintes — quatro dos quais são incrédulos
(o ignorante e indócil; o ignorante, porém educável; aqueles que têm o
conhecimento, mas não se humilharam; e aqueles que já se humilharam, mas
ainda não foram trazidos à liberdade em Cristo); e três que já foram salvos
(aqueles que acreditam; aqueles que caíram; e os “mistos” — por exemplo,
pais, jovens e crianças na graça). Ele nos mostra em menos de vinte páginas
como aplicar nossos sermões para cada um destes tipos de ouvintes. Leia
estas páginas freqüentemente e examine os seus próprios sermões através
daqueles ensinos.[127]
Em resumo, pregação e teologia são meios para um fim — a
santificação. Os puritanos enxergavam a teologia essencialmente como algo
prático. William Perkins chamava a teologia de “a ciência de viver
abençoadamente para sempre”;[128] William Ames, “a doutrina ou ensino de
viver para Deus”.[129] Sinclair Ferguson escreveu: “Para eles, a teologia
sistemática é para o pastor o mesmo que o conhecimento de anatomia é para
o médico. Somente à luz de todo o corpo da divindade (como eles gostavam
de chamá-la) o ministro pode prover um diagnóstico, uma prescrição e,
finalmente, uma cura para a doença espiritual naqueles que foram
contaminados pelo corpo de pecado e morte”.[130]
Os puritanos, portanto, se regozijavam na pregação de todo o conselho
de Deus. A sua cristandade era completamente integrada em sua vida diária.
O seu estilo de vida era holístico, refletindo todo o evangelho em todos os
aspectos de suas vidas, tanto pessoal quanto pública. A sua visão de mundo
era bíblica — e incluía o trabalho e lazer, obrigações e diversões — almejava
por “santidade para o Senhor” e um fazer “tudo para a glória de Deus” (1 Co
10.31). Vá e enfatize da mesma forma, Timóteo.

PREGUE ATRAVÉS DA EXPERIÊNCIA


Os puritanos nos mostraram como promover a dimensão experimental
da pregação reformada. A pregação puritana explicava como um cristão
experimenta a verdade bíblica nesta vida. O termo experimental vem da
palavra em latim experimentum, que é derivada de um verbo que significa
“experimentar, testar, provar ou colocar sob teste”. O mesmo verbo também
pode significar “conhecer por experiência”, que originou a palavra
experientia, que significa “experimentação, prova” e “o conhecimento ganho
pela experiência”. Calvino usava ambas as palavras com o mesmo
significado, visto que da perspectiva da pregação bíblica, ambas indicam a
necessidade de examinar ou testar o conhecimento experimentado através do
padrão das Escrituras (Is 8.20).[131]
A pregação experimental enfatiza a necessidade de conhecer as verdades
da Palavra de Deus pela experiência. A pregação experimental busca explicar
em termos de verdade bíblica, como os assuntos devem se desenvolver e
como eles se desenvolvem na vida cristã e anela aplicar a verdade divina a
todo o espectro da experiência cristã, ou seja, em sua caminhada com Deus,
assim como em seu relacionamento com a família, a igreja e o mundo ao seu
redor. Podemos aprender dos puritanos sobre este tipo de pregação. Paul
Helm escreveu a este respeito:
A situação requer a pregação que irá cobrir todo o âmbito da experiência cristã, e
uma teologia experimental desenvolvida. A pregação precisa dar orientação e instrução
aos cristãos em termos de suas experiências verdadeiras. Ela não deve lidar com coisas
irreais ou tratar a congregação como se ela vivesse em um outro século ou em
circunstâncias completamente diferentes. Isto envolve compreender completamente a
nossa situação moderna e entrar com total afinidade nas experiências verdadeiras, as
esperanças e medos do povo cristão.[132]

A pregação puritana era marcada por uma aplicação discriminatória da


verdade para a experiência. A pregação discriminatória define a diferença
entre os incrédulos e os cristãos. A pregação discriminatória declara a ira de
Deus e a condenação eterna sobre os incrédulos e impenitentes. Da mesma
forma, ela oferece o perdão dos pecados e a vida eterna para todos aqueles
que aceitarem, através da fé verdadeira, a Jesus Cristo como Senhor e
Salvador. Este tipo de pregação ensina que, se a nossa religião não é
experimental, nós iremos perecer — não porque a experiência em si mesma
salva, mas porque Cristo que salva os pecadores precisa ser experimentado
pessoalmente como a Rocha sobre a qual nossa esperança eterna é construída
(Mt 7.22-27; 1 Co 1.30, 2.2).
Os puritanos tinham plena consciência do engano presente no coração
humano. Conseqüentemente, os evangelistas puritanos esforçavam-se
grandemente para identificar as marcas da graça que distinguem entre a igreja
e o mundo, entre os verdadeiros crentes e as pessoas que falsamente
professam sua fé; e, entre a fé salvífica e a fé temporária.[133] Thomas
Shepard em seu livro The Ten Virgins (As Dez Virgens), Matthew Mead em
The Almost Christian Discovered (Descobertos os Quase Cristãos), Jonathan
Edwards em Religious Affections (Afeições Religiosas), além de outros
escritores puritanos, ocuparam-se em estabelecer as diferenças entre os
impostores e os verdadeiros crentes.[134]
Os pregadores puritanos conheciam, nas palavras de Thomas Boston, “a
arte de pescar homens”. Entre seus ouvintes, eles almejavam tanto as
conversões imediatas como as em andamento. Eles acreditavam que o sermão
era um meio da graça e seria usado pelo Espírito para realizar a conversão e o
crescimento na graça. Conseqüentemente, anelavam lidar significativamente
com as lutas espirituais interiores. Sydney Ahlstrom escreveu: “Sem negar o
objetivo, o puro caráter gracioso dos atos redentores de Deus, eles também
desejavam dar lugar aos atos dispostos, conhecedores, arrependidos,
agradecidos e amorosos da pessoa humana… eles procuravam dar lugar na
economia da salvação para a subjetividade, pelos atos da consciência
humana”.[135] Isto explica a impressão de que os sermões deles eram
solidamente fundamentados na teologia calvinista e simultaneamente cheios
dos imperativos do evangelho bíblico e seus chamados para o arrependimento
e o crer.
Como isto difere da maioria das pregações contemporâneas! Nos dias de
hoje, a Palavra de Deus geralmente é pregada de uma forma que jamais
transformará qualquer pessoa, visto que nunca discrimina e nunca possui
aplicações. A pregação foi reduzida a uma palestra, um banquete aos desejos
e necessidades das pessoas, ou a uma forma de experimentalismo removido
dos fundamentos das Escrituras. Tal tipo de pregação falha em explicar as
Escrituras naquilo que os puritanos chamavam de religião vital: a maneira
como um pecador é despido de toda a sua justiça própria, é levado somente a
Cristo para a salvação, e achando alegria na obediência e confiança em
Cristo, encontra a praga do pecado inato, luta contra a apostasia e recebe a
vitória através de Cristo.[136]
Timóteo, quando a Palavra de Deus é pregada experimentalmente, o
Espírito Santo a usa para transformar homens, mulheres e nações. Este tipo
de pregação transforma, porque corresponde à experiência vital dos filhos de
Deus (Rm 5.1-11), explica claramente as marcas da graça salvífica no crente
(Mt 5.3-12; Gl 5.22-23), proclama o alto chamado dos crentes como servos
de Deus no mundo (Mt 5.13-16) e nos mostra o destino eterno dos crentes e
dos incrédulos (Ap 21.1-9).[137]

FOCO EM CRISTO
A pregação experimental dos puritanos focalizava na pregação de
Cristo. Como as Escrituras claramente mostram, o evangelismo precisa
testemunhar o registro que Deus tem dado sobre seu Filho Unigênito (At
5.42, 8.35; Rm 16.25; 1 Co 2.2; Gl 3.1). Os puritanos, desta forma, ensinaram
que qualquer pregação na qual Cristo não tem a preeminência não pode ser
válida como pregação. William Perkins disse que o coração de toda pregação
é “pregar a Cristo, através de Cristo, para a glória de Cristo”.[138] De acordo
com Thomas Adams, “Cristo é a soma de toda a Bíblia, profetizado,
simbolizado, prognosticado, exibido, demonstrado, encontrado em todas as
páginas, e quase todas as linhas, com as Escrituras sendo praticamente as
faixas que envolviam o menino Jesus”.[139] Pense em Cristo como sendo a
própria substância, essência, alma e escopo de todas as Escrituras”, disse
Isaac Ambrose.[140]
Assim como Paulo, os puritanos pregavam o Cristo crucificado. Packer
disse: “A pregação puritana orbitava em redor de ‘Jesus Cristo e este
crucificado’ — pois tal é o centro de toda a Bíblia. A comissão dos
pregadores é declarar todo o conselho de Deus; mas a cruz é o centro deste
conselho, e os puritanos sabiam que, se alguém que viajava pelo cenário das
Escrituras perdesse de vista o monte do Calvário, tal pessoa logo perderia o
seu rumo”.[141]
Os puritanos amavam a Cristo profundamente e escreveram muito sobre
a sua beleza. Note o que disse Samuel Rutherford: “Coloque toda a beleza de
dez milhões de mundos paradisíacos como o Jardim do Éden em apenas um;
coloque todas as árvores, todas as flores, todos os cheiros, todas as cores,
todos os sabores, todas as alegrias, todo o encanto, e toda a doçura em um.
Oh, que lugar maravilhoso e excelente seria este! E ainda assim seria menos
do que o maravilhoso e amado Cristo, como uma gota de chuva comparada a
todos os mares, rios, lagos, e fundações de dez mil terras”.[142] Thomas
Goodwin concluiu: “O céu seria inferno para mim, sem Cristo”.[143]

MANTENHA O EQUILÍBRIO BÍBLICO


Os puritanos nos mostraram como manter um equilíbrio bíblico
adequado em nossa pregação. Deixe-me apenas mencionar três formas
importantes:

Mantendo as dimensões objetivas e subjetivas do cristianismo. A


dimensão objetiva é o alimento da subjetiva; desta forma, a parte
subjetiva está sempre enraizada na objetiva. Por exemplo, os
puritanos afirmavam que o solo principal da segurança está
enraizado nas promessas de Deus; porém, estas promessas
precisam tornar-se crescentemente reais ao cristão, através das
evidências subjetivas da graça e do testemunho interior do Espírito
Santo. Sem a aplicação do Espírito, as promessas de Deus nos
levam ao auto-engano e presunção carnal. Por outro lado, sem as
promessas de Deus e a iluminação do Espírito, o auto-exame tende
a transformar-se em introspecção, escravidão e legalismo. O
cristianismo objetivo e subjetivo não podem ser separados um do
outro.

Precisamos buscar viver de uma forma que revele a presença interior


de Cristo, baseada em sua obra objetiva de obediência ativa e passiva. O
evangelho de Cristo precisa ser proclamado como verdade objetiva, mas
também deve ser aplicado pelo Espírito Santo e interiormente
apropriado pela fé. Nós, portanto, rejeitamos dois tipos de religião: uma
que separa a experiência subjetiva da Palavra objetiva, levando assim a
um misticismo antropocêntrico; e uma outra que presume a salvação no
falso fundamento da fé histórica ou temporária.[144]

Mantendo a soberania de Deus e a responsabilidade do homem.


Quase todos os puritanos enfatizavam que Deus é completamente
soberano e o homem, completamente responsável. Está além de
nossas mentes limitadas discernir como isto pode ser resolvido
logicamente. Quando Charles Spurgeon foi questionado sobre
como estas duas grandes doutrinas bíblicas poderiam ser
conciliadas, ele respondeu como um verdadeiro herdeiro dos
puritanos: “Eu não sabia que amigos precisavam de reconciliação”.
Ele prosseguiu, comparando estas duas doutrinas aos trilhos de
uma estrada de ferro sobre a qual o cristianismo corre. Assim como
os trilhos de um trem, que correm paralelos um ao outro, parecem
se juntar à grande distância, da mesma forma as doutrinas da
soberania de Deus e da responsabilidade do homem, que parecem
estar separadas uma da outra nesta vida, irão se juntar na
eternidade. Os puritanos concordariam sinceramente com isto.
Nossa tarefa, eles diziam, não é forçar a sua união nesta vida, mas
sim mantê-las em equilíbrio e viver de acordo com isto.
Precisamos, então, nos esforçar por um cristianismo experimental
que faça justiça a ambas as doutrinas, à soberania de Deus e à
nossa responsabilidade.
Rejeitando o arminianismo e o hiper-calvinismo. Falsos
convertidos se multiplicam nos dias de hoje através do
arminianismo superficial e métodos baseados numa simples
decisão, que tem dado surgimento à teoria do crente carnal, a fim
de acomodar os “cristãos” infrutíferos. Os puritanos combatiam o
arminianismo superficial através de sua soteriologia da graça
soberana. Os livros A Display of Arminianism (Uma Exposição do
Arminianismo) e The Death of Death in the Death of Christ (A
Morte da Morte na Morte de Cristo), de John Owen, salienta
poderosamente que a vontade caída do homem está sob o jugo da
escravidão.

Por outro lado, um número crescente de conservadores reformados


nos dias de hoje, indo muito além de Calvino, estão aderindo à idéia de
que Deus não oferece sinceramente a graça incondicional a todos os
ouvintes do evangelho. O resultado é que a pregação do evangelho está
sendo dificultada e a responsabilidade do homem posta de lado, se não
negada. Felizmente, nós somos libertos destas conclusões racionalistas e
hiper-calvinistas sobre as doutrinas da graça, quando lemos escritos
puritanos como Come and Welcome to Jesus Christ (Venha e Seja Bem-
Vindo a Jesus Cristo) de John Bunyan, The Redeemer’s Tears Shed
Over Lost Souls (As Lágrimas do Redentor Derramadas Pelas Almas
Perdidas) de John Howe, e o sermão de William Greenhill, “What Must
and Can Persons Do Toward Their Own Conversion” (O Que as
Pessoas Precisam e Devem Fazer em Busca de sua Própria Conversão).
[145]

Timóteo, se você pregar com um verdadeiro equilíbrio reformado,


algumas de suas ovelhas poderão chamá-lo de hiper-calvinista, e outros
podem chamá-lo de arminiano, mas a maioria irá enxergar que você está
sendo solidamente bíblico e reformado.

PERSEVERE NA CATEQUIZAÇÃO
Os puritanos nos mostram a importância de perseverar na catequização
do povo de sua própria igreja e também de seus vizinhos. Assim como os
reformadores, os puritanos eram catequistas. Eles acreditavam que a
mensagem do púlpito deveria ser reforçada pelo ministério pessoal chamado
de catequese — a instrução nas doutrinas das Escrituras utilizando os
catecismos. A catequização puritana era importante de várias formas:

Um grande número de puritanos procurou atingir crianças e jovens


elaborando catecismos, os quais explicavam as doutrinas cristãs
fundamentais através de perguntas e respostas apoiadas pelas
Escrituras.[146] John Cotton, por exemplo, intitulou o seu
catecismo como Milk for Babes, drawn out of the Breasts of both
Testaments (Leite para Bebês, tirado dos Seios de ambos os
Testamentos).[147] Outros puritanos incluíam no título de seus
catecismos expressões como “os pontos principais e
fundamentais”, “a soma da religião cristã”, “diversos assuntos” ou
“primeiros princípios” da religião e “o ABC do cristianismo”. Ian
Green mostra o alto nível de continuidade que existe nos
catecismos puritanos, em sua fórmula recorrente e tópicos como o
Credo dos Apóstolos, os Dez Mandamentos, a Oração do Senhor e
as ordenanças. Ele ainda sugere que não havia qualquer
discrepância significativa até mesmo entre a simples mensagem de
muitas obras elementares e o conteúdo mais exigente de catecismos
mais sofisticados.[148] Em vários níveis na igreja, como também
nos lares de suas ovelhas, os ministros puritanos catequizavam, a
fim de explicar os ensinamentos fundamentais da Bíblia, e ajudar
jovens a memorizarem a Bíblia, tornando os sermões e as
ordenanças mais compreensíveis, além de preparar crianças para a
confissão de fé, ensiná-las como defender a sua fé contra erros e a
fim de ajudar os pais a ensinar os seus próprios filhos.[149]
Catequizar estava relacionado a ambas as ordenanças. Quando o
Westminster Larger Catechism (O Catecismo Maior de
Westminster) fala de “aperfeiçoar” o batismo de alguém, ele se
refere a uma tarefa de instrução por toda a vida, na qual os
catecismos, como o Shorter Catechism (Catecismo Menor),
possuem um papel muito importante.[150] William Perkins disse
que os que não tinham memorizado o seu catecismo The
Foundation of Christian Religion (A Fundação da Religião Cristã),
deveriam fazê-lo, a fim de que “se preparassem para receber a Ceia
do Senhor com conforto”. E William Hopkinson escreveu no
prefácio de A Preparation into the Waie of Life (Uma Preparação
para os Caminhos da Vida) que ele trabalhou para conduzir os seus
catecúmenos “no uso correto da Ceia do Senhor, uma confirmação
especial das promessas de Deus em Cristo”.[151]
Catequizar aperfeiçoa o culto doméstico. Quanto mais os seus
esforços públicos para purificar a igreja eram subjugados, mais os
puritanos se voltavam ao lar como a fortaleza para a instrução e
influência religiosa. Eles escreviam livros sobre o culto doméstico
e a “ordem divina da autoridade familiar”. Robert Openshawe
iniciou o seu catecismo com um apelo àqueles que estavam
habituados a perguntar como se deveria passar as longas noites de
inverno: “Voltem-se ao cântico de salmos e ao ensino de sua
família e oração com ela”.[152] Na época da realização da
Assembléia de Westminster, por volta de 1640, os puritanos
consideraram a falta do culto doméstico e da catequização como
evidência de uma vida sem conversão.[153]
Catequizar era um prosseguimento para os sermões, além de uma
forma de alcançar os vizinhos com o evangelho. Segundo relatos,
Joseph Alleine dava prosseguimento ao seu trabalho de domingo
em outros cinco dias da semana, catequizando os membros da
igreja, bem como alcançando com o evangelho aquelas pessoas que
ele encontrava nas ruas.[154] Richard Baxter, cuja visão do
catecismo é exposta no livro O Pastor Aprovado, afirmou ter
chegado à dolorosa conclusão que “algumas pessoas, que tem sido
por tanto tempo ouvintes infrutíferos, têm obtido mais
conhecimento e remorso de consciência em meia hora de uma
conversa privada que em dez anos de pregação pública”.[155]
Baxter, então, convidava as pessoas à sua casa, todas as noites de
quinta-feira, para discutir e orar por bênçãos sobre os sermões do
domingo anterior.
Catequizar era muito útil para o propósito de examinar a condição
espiritual das pessoas e para encorajá-las e admoestá-las a
correrem para Cristo. Baxter e seus dois assistentes passavam dois
dias inteiros por semana catequizando as pessoas em suas casas.
Packer conclui: “Transformar a prática da catequização pessoal de
uma disciplina preliminar para crianças a um ingrediente
permanente no evangelismo e cuidado pastoral, para todas as
idades, foi a maior contribuição de Baxter para o desenvolvimento
dos ideais puritanos para o ministério”.[156]

As igrejas e escolas puritanas consideravam o ensino do catecismo tão


importante que algumas até mesmo ofereciam catequistas oficiais. Na
Cambridge University, William Perkins serviu como catequista no Christ’s
College e John Preston no Emanuel College. O ideal puritano, de acordo com
Thomas Gataker, era que a escola fosse uma “pequena igreja” e os seus
professores “catequistas particulares”.[157]
O ministério puritano, levado adiante pela pregação, admoestação
pastoral e catequização, tomava tempo e habilidades.[158] Os puritanos não
estavam procurando por conversões fáceis e rápidas; eles estavam
comprometidos na formação de crentes para a vida toda, cujos corações,
mentes, vontades e afeições fossem ganhos para o serviço de Cristo.[159]
O trabalho árduo dos catequistas puritanos foi grandemente
recompensado. Richard Greenham disse que o ensino do catecismo construiu
a igreja reformada e provocou sérios danos ao catolicismo romano.[160]
Quando Baxter se instalou em Kidderminster, em Worcestershire, era
possível que uma família em cada rua honrasse a Deus com o culto
doméstico; no fim de seu ministério naquele local, havia ruas nas quais todas
as famílias realizavam o culto doméstico. Ele poderia dizer que dos
seiscentos convertidos que foram trazidos à fé sob a sua pregação, nenhum
havia apostatado aos caminhos do mundo.
Timóteo, eu creio que já lhe dei razões suficientes para perseverar na
leitura dos puritanos. Ainda lhe aconselho a sempre ler ao menos um livro
puritano em seu devocional ou em seu tempo livre. Deixe os puritanos lhe
persuadirem pelo exemplo e prescrição para perseverar na piedade, na
pregação e na catequização, até mesmo quando você não puder encontrar
qualquer fruto. “Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias
o acharás” (Ec 11.1).

Carinhosamente, nos laços do Senhor,


Joel R. Beeke
Capítulo 15 - Pregue a Palavra (Roger Ellsworth)

Capítulo 15

Pregue a Palavra
Roger Ellsworth

Amado Timóteo,
Creio que esteja tudo bem com você. Certamente você e Mary estão
passando por dias empolgantes e desafiadores com um inquieto filho de dois
anos e mais um outro por vir. Desfrute estes anos, enquanto seus filhos são
ainda pequenos. Antes mesmo que você perceba, os anos já terão passado.
E, aí está você, nos primeiros meses de um novo pastorado! Isto também
é tanto empolgante quanto desafiador. Olho para você agora com muita
satisfação. Senti, desde a primeira vez que nos encontramos, quando você
ainda era um adolescente, que Deus tinha sua mão sobre você e o usaria de
uma forma maravilhosa. Eu continuo a acreditar nisto e certamente irei orar
para que isto se concretize em sua vida.
Não tenho a pretensão de lhe oferecer palavras de sabedoria em todos os
aspectos do pastorado. Há tanto sobre isto que não domino. Ainda estou
aprendendo, após todos estes anos. No entanto, enfatizo a importância das
palavras do apóstolo Paulo a Timóteo: “Prega a Palavra”. Nenhuma outra
tarefa é mais importante. Falhe aqui, e você terá falhado em sua tarefa
central.
Infelizmente, muitos têm falhado neste aspecto. Nos dias de hoje, há
entre os pastores um desejo tão forte de ver suas igrejas crescerem, que eles
estão dispostos até mesmo a abandonar a verdadeira pregação da Palavra de
Deus. No lugar dela, há uma pregação focalizada na “administração da vida”,
que se preocupa em mostrar como enfrentar a vida e os desafios que ela tem a
oferecer. Este tipo de pregação não confronta os ouvintes com o pecado, e
não pode, portanto, trazê-los à fé no Deus que salva dos pecados.
Eu certamente não tenho nada contra o crescimento da igreja, mas é
minha firme convicção de que a única coisa capaz de produzir o crescimento
verdadeiro e duradouro é a Palavra de Deus. Espero que esta também seja a
sua convicção.
Muitos asseguram a si mesmos de estarem pregando a Palavra de Deus.
Mas estão, na verdade, escolhendo textos da Bíblia, lendo-os para o seu povo
e construindo os seus sermões a partir deles. Mas a mera presença destes
elementos não produz uma pregação bíblica.
Os sermões que pregamos não podem meramente usar a Bíblia como um
trampolim. Nem mesmo extrair pontos do texto. Nossos sermões precisam
colocar diante de nosso povo a mensagem que o próprio Deus pretendia nos
passar, quando Ele inspirou os autores das Escrituras. Visto que Deus nos dá
luz e habilidade para discernir a sua Palavra, é nossa responsabilidade extrair
e expor a verdade do texto.
Diante do fato que a pregação da Palavra é algo tão vital, e por haver tal
escassez dela hoje em dia, eu ouso oferecer-lhe alguns princípios que têm
sido úteis para mim.
Em primeiro lugar, para pregar a Palavra de Deus, você precisa estar
convencido de que ela é realmente a Palavra de Deus. O homem que duvida
da divina inspiração das Escrituras jamais será capaz de pregar com
autoridade. Não poderá haver na pregação deste homem a frase: “Assim diz o
Senhor”, pois ele não está certo de que o Senhor tenha dito alguma coisa.
Para pregar bem, você precisa ser um homem de muita fé. Você precisa
ser um bom crente. O seu povo precisa ser capaz de enxergar em suas
pregações que o ensino das Escrituras é um deleite para a sua alma. Charles
Spurgeon costumava dizer: “Irmãos, sejam grandes crentes. Pouca fé lhes
trará a alma ao céu, mas muita fé trará o céu às suas almas”.[161]
Aprenda a deleitar-se na Palavra de Deus, de tal forma que seja visível a
todos que você possui o céu em sua alma. Você logo descobrirá que muitos
de seus ouvintes desejarão o mesmo para si.
Em segundo lugar, para pregar a Palavra de Deus você precisa ser
implacável consigo mesmo permitindo que ela fale. Muitos pregadores estão
prontos para defender a Palavra de Deus, até depararem-se a uma passagem
que diz algo que eles próprios não querem ouvir. A esta altura, eles dizem a si
mesmos que aquela passagem não pode significar aquilo que aparenta
significar. Repentinamente, eles estão engajados em fazer com que o texto
diga aquilo que acham que ele deveria dizer. Isto é especialmente verdade
naqueles textos que afirmam a soberania de Deus, a santidade de Deus, a
realidade do pecado, a certeza do julgamento e a exclusividade de Cristo
como Senhor e Salvador.
Um exemplo disto é o texto que fala sobre o barro e o oleiro, em
Jeremias 18.1-10. Como muitos não gostam do ensinamento de que Deus é
soberano e pode dispor de nós conforme Lhe agrada, os pregadores têm até
mesmo recorrido à idéia de que o barro está “desejoso” de ser moldado. O
ponto daquela passagem é justamente o contrário. O barro está nas mãos do
oleiro que dispõe dele como quer. O povo de Judá estava nas mãos de Deus
exatamente da mesma forma.
Pregadores que se recusam a deixar a Bíblia falar a sua própria
mensagem, geralmente o fazem porque temem ficar em descompasso com a
opinião popular. Eles estão demasiadamente preocupados com os resultados
da última pesquisa sobre a opinião do povo, e pouco preocupados em serem
fiéis a Deus e à sua Palavra. Possuídos por um medo mortal de estarem fora
de compasso com o pensamento contemporâneo, eles se achegam às suas
Bíblias com uma visão pré-concebida, e se afastam delas com mensagens que
são influenciadas por esta visão e por aquela que refletem os dogmas
politicamente corretos dos dias atuais.
Conquanto eu esteja dizendo que você deva ser implacável consigo
mesmo, devo lhe prevenir contra a prática comum da aliteração. É possível
que alguém se apaixone por ela de tal forma, que se torne mais focalizado
nisto do que no lidar honestamente com o texto. Se não formos cuidadosos,
podemos distorcer o que o texto na verdade diz, apenas para extrair dele
algum ponto que se encaixe em nosso esquema aliterativo. Não me oponho
ao uso da aliteração, se ela for natural e não tramada, mas nossa preocupação
principal deve ser extrair exatamente o que o texto diz. A verdade possui seus
próprios atrativos.
Em terceiro lugar, para pregar a Palavra de Deus você precisa manter
em mente que o seu tema principal é a graça redentora de Deus aos
pecadores, através da obra salvífica de seu Filho. Não pregaremos
verdadeiramente, se não pregarmos Cristo. Quando nos preparamos para
pregar, precisamos ter em mente que cada passagem das Escrituras possui
tanto um contexto imediato quanto um contexto mais amplo. O contexto
imediato pode ser qualquer um dentre uma grande variedade de coisas, mas o
contexto mais amplo sempre diz respeito ao plano de Deus para a redenção.
Portanto, mesmo quando pregamos sobre assuntos mais práticos como os
dons do Espírito, a mordomia cristã ou a vida em família, devemos sempre
fazê-lo da perspectiva da redenção. J. I. Packer disse corretamente que, “se o
expositor se encontra fora da visão do Calvário, isto mostra que ele perdeu
seu caminho”.[162]
Recomendo para a sua cuidadosa consideração as palavras de Michael
Horton:
Defendo o método “histórico-remissor” de pregação, o qual trata a Bíblia como a
revelação dos acontecimentos da redenção, ao invés de guia de princípios eternos… Ao
invés de tentar tornar a Bíblia relevante para o “ocupado cristão contemporâneo”, sugiro
que deixemos que a Bíblia nos cative, condene, justifique e liberte. Precisamos de
pregações mais focalizadas em Deus e naquilo que Ele fez, está fazendo e irá fazer na
História, e menos em nós mesmos e em como nós podemos ser felizes com a ajuda de
Deus.[163]

Aconselho também que você considere cuidadosamente estas palavras


de J. I. Packer:
A chave que abre o panorama bíblico é a percepção de que o verdadeiro assunto
das Sagradas Escrituras não é o homem e sua religião, mas sim Deus e sua glória; e disto
infere-se que Deus é o verdadeiro assunto de todos os textos, e precisa, portanto, ser o
verdadeiro assunto de todo sermão expositivo…[164]

Estas palavras sábias de homens igualmente sábios nos ajudarão a


lembrar que não somos chamados para sermos “tecnocratas da vida”, os quais
procuram aprimorar a vida por meio de técnicas e métodos de viver bem no
mundo. Fomos chamados pelo Deus eterno para pregarmos aos eleitos o
evangelho infindo de Jesus Cristo. Muitos daqueles que freqüentam igrejas
nos dias de hoje podem ouvir sermões, semana após semana, sem, no entanto,
ouvir qualquer coisa sobre a cruz de Cristo e as glórias da redenção.
Certifique-se de que seus ouvintes jamais possam dizer isto a seu respeito.
Aconselho-o também a pregar o Cristo que é poderoso para salvar o seu
povo de seus pecados. Rejeite o Cristo moderno que foi à cruz simplesmente
para demonstrar o seu amor pelos pecadores e pregue o Cristo que
verdadeiramente fez a expiação pelos pecados, recebendo sobre si mesmo a
punição pelos nossos pecados.
Ainda devo adicionar uma coisa. Não é o bastante manter o tema da
redenção sempre em vista. Precisamos falar sobre ela de tal forma que
transmitamos ao nosso povo a glória e a grandeza da redenção. Jamais
devemos falar da redenção como se estivéssemos lendo nossa lista de
compras. Packer escreveu sobre Martyn Lloyd-Jones: “… seu senso de
realidade espiritual lhe informava que grandes coisas precisavam ser ditas de
uma maneira que projetasse a grandeza delas”.[165]
Em quarto lugar, para pregar a Palavra de Deus, você precisa estudar
diligentemente. O ministério pastoral moderno é tal que você logo descobrirá
ser necessário lutar por tempo para estudar. Você perceberá que as demandas
sobre o seu tempo são numerosas. Será esperado que você pregue dois
sermões muito interessantes todas as semanas e que, também, providencie um
estudo bíblico igualmente interessante, no culto durante a semana. Você terá
de ministrar funerais e casamentos. Você terá de fazer freqüentes visitas em
hospitais e asilos, assim como visitar aqueles que demonstraram algum
interesse na mensagem do evangelho, os membros afastados da igreja e todos
que estão enfrentando algum tipo de crise.
Além de todas estas coisas, será esperado que você participe das
atividades denominacionais e dos eventos comunitários. E, sem importar o
quanto você se esforce para cumprir todas estas obrigações, pode ter certeza
que alguém em seu rebanho expressará a opinião de que você deveria estar
em algum lugar onde você não estava.
E, naqueles momentos em que você sentir que não pode mais
desperdiçar nenhum segundo, alguma alma bem-intencionada colocará a
cabeça para dentro da porta e dirá calmamente: “Você está ocupado? Só vai
levar um minuto”.
Você não pode permitir que a multidão de responsabilidades que
repousam sobre você o impeça de exercer aquela que é sua maior
responsabilidade, ou seja, alimentar o rebanho de Deus com a Palavra de
Deus. Isto requer tempo e você precisa encontrá-lo. Você pode achar
necessário, como muitos pastores, reservar determinadas horas para estudar
durante a semana, nas quais você não estará disponível para ninguém, exceto
em caso de emergência. Você pode achar necessário estudar bem cedo, de
manhã, a fim de preparar seus sermões.
A tentação de tomar atalhos estará sempre diante de você. Muitos
pastores rendem-se a esta tentação e regularmente oferecem ao seu povo
sermões da “Internet” ou sermões de algum pregador mais conhecido, que
eles ouviram numa fita. Insto que você resista a esta tentação, com todas as
suas forças. Deus não o colocou diante de sua congregação para pregar o
sermão que John MacArthur pregou para a congregação dele.
Quando o seu sermão é produto de seu próprio e diligente estudo, ele
traz consigo um selo de autenticidade, ou seja, a satisfação a você e a seus
ouvintes, algo que os sermões de “atalho” nunca poderão trazer.
Você não deve, no entanto, usar a séria responsabilidade de preparação
do sermão como desculpa para se trancar em sua sala de estudos. Você
precisa estudar a Palavra, mas também precisa estudar o seu povo. Este tipo
de estudo só pode ser feito, se você estiver entre eles e ministrando para eles.
Em quinto lugar, para pregar bem você precisa ter um tema claro que
seja apoiado por argumentos igualmente claros. Um sermão não é apenas um
comentário fluente em uma passagem das Escrituras. É, na verdade, a
descoberta do tema principal de uma determinada passagem, e a
demonstração de como aquela passagem desenvolve o tema. Eu sempre tento
me fazer duas perguntas sobre a passagem das Escrituras com a qual eu estou
lidando: “Sobre o que a passagem está falando?” e “O que ela diz sobre o
assunto?” Minha resposta para a primeira pergunta é o meu tema, e minhas
respostas para a segunda pergunta são os meus pontos e sub-pontos.
J. I. Packer chegou ao âmago desta questão com as seguintes palavras:
Um sermão é uma declaração única; portanto ele deve ter um único tema, suas
divisões (devem ser claramente marcadas, para ajudar o ouvinte a segui-las e lembrar-se
delas) precisam trabalhar como as partes de um telescópio: “cada divisão sucessiva…
deve ser uma lente adicional para trazer o assunto de seu texto mais próximo, e torná-lo
mais distinto”.[166]

Uma de minhas alegrias é o grupo de adolescentes, que lota as duas ou


três primeiras fileiras de bancos, com papel e caneta, esperando ansiosamente
que eu anuncie os pontos do sermão. Espero que o Senhor se agrade em lhe
dar a mesma alegria.
Esta alegria, no entanto, me coloca sob a pressão de assegurar que esses
pontos realmente estejam lá, que eles verdadeiramente desenvolvam o tema e
que sejam compreensíveis e fáceis de memorizar. Eu sempre posso dizer,
observando os rostos dos adolescentes, se o tema está sendo interessante e se
eles estão ansiosos pelos próximos pontos da pregação.
Em sexto lugar, para pregar bem a Palavra de Deus você precisa utilizar
uma linguagem que o seu povo seja capaz de compreender. Podemos
impressionar nossa congregação, quando nos referimos a algo a priori ou,
então, a um argumento ad hominem, mas a maioria deles não terá a menor
idéia do que nós estamos falando.
Geoffrey Thomas observou:
A Palavra de Deus não é uma espada nas mãos de um artista de circo, para ser
jogada para cima e depois pega, vez após vez, numa esplendorosa demonstração de
habilidade, de forma que após vinte minutos o espetáculo acaba e a platéia vai para casa
elogiando a qualidade do show. Esta espada se assemelha mais ao bisturi do cirurgião, e
os médicos da Palavra precisam cortar profundamente.[167]

Só poderemos atingir profundamente o coração do ouvinte, se formos


compreendidos. Ser compreendido é melhor do que ser impressionante.
Em sétimo lugar, para pregar a Palavra de Deus, você precisa empregar
os elementos da persuasão. Os pregadores reformados em sua doutrina
parecem ser inclinados a pregar de uma forma que mais se assemelha a um
mero compartilhamento de informações. Alguns pregadores dão a impressão
de que pregação expositiva nada mais é que tratar dos menores detalhes de
cada nuance das palavras do texto. Isto transforma a pregação num exercício
acadêmico. A verdadeira pregação não apenas coloca a verdade diante do
povo, mas também procura mostrar-lhe a glória daquela verdade e levá-lo a
aceitá-la.
Os maiores pregadores na história eram verdadeiros persuasores e
litigantes. Eles não tratavam de simplesmente jogar a verdade diante de seus
ouvintes e dizer: “Aí está”. Mas eles mostravam o quão vital ela era e
instavam-lhes a aceitá-la. Eu sugiro uma leitura dos sermões de Charles
Spurgeon e Martyn Lloyd-Jones para aprender a arte da persuasão.
Em sua biografia de Martyn Lloyd-Jones, Iain Murray compartilha estas
úteis palavras:
Expor não é simplesmente mostrar o sentido gramaticalmente correto de um
versículo ou passagem, e sim demonstrar os princípios ou doutrinas que as palavras
pretendem transmitir. A verdadeira pregação expositiva é, portanto, pregação
doutrinária; é uma pregação que transmite verdades específicas de Deus para o homem.
O pregador expositivo não é alguém que “compartilha os seus estudos” com outros, e
sim um embaixador e um mensageiro, transmitindo com autoridade a Palavra de Deus
aos homens. Este tipo de pregação apresenta um texto, e então, utilizando aquele texto
durante todo o discurso, há dedução, argumentação e persuasão, constituindo a
mensagem que carrega a autoridade da própria Escritura.[168]

Em oitavo lugar, para pregar a Palavra de Deus, você precisa confiar


que Deus usa a sua Palavra para realizar a sua obra. Deus prometeu que a sua
Palavra não retornará vazia, mas fará aquilo que Lhe apraz (Is 55.10,11). Ele
nos diz que a sua Palavra é “a espada do Espírito” (Ef 6.17). Ela é, na
verdade, “viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois
gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas”
(Hb 4.12). Além disso, ela é “apta para discernir os pensamentos e propósitos
do coração” (Hb 4.12).
Que ensinamentos maravilhosos são estes! Como seria penoso pregar
sem eles! Mas com eles, podemos pregar com confiança. Pode até parecer
que muitas vezes nossas pregações não estão atingindo qualquer objetivo —
isto é, estão caindo em ouvidos surdos — mas estes versos nos asseguram de
que este não é nosso caso. Deus realiza a sua vontade através da pregação
bíblica. Ele a utiliza para colocar uma canção nos corações aflitos, coragem
nos corações inconstantes, fé nos corações incrédulos e renovar a fé nos
corações perdidos. Não podemos ver tudo isto acontecendo, mas acontece
mesmo assim, e quando, finalmente, chegarmos à sua presença, o Senhor se
agradará em nos mostrar tudo o quanto Lhe aprouve fazer através de nossa
pregação.
Em nono lugar, para pregar bem, você precisa orar bem. Meus anos no
ministério me convenceram de que, conquanto a verdadeira pregação seja
algo difícil de alcançar, a oração genuína é mais difícil ainda. Creio que
Satanás, conhecendo muito melhor do que nós o valor da oração, se opõem a
nós neste ponto muito mais que em qualquer outro. Porém, precisamos orar.
A oração nos enche do poder de Deus contra Satanás. Ela nos leva além de
nossas preocupações com nossa própria pessoa e nos dirige para Deus, o
único capaz de nos dar suficiência para pregar. A oração é o canal que Deus
estabeleceu entre a sua suficiência e nossa deplorável inadequação.
Em décimo lugar, para pregar bem a Palavra de Deus você precisa
pensar naquilo que está fazendo. Depois de estarmos no ministério por algum
tempo, o perigo do profissionalismo se infiltra. E, com isto, apenas quero
dizer que podemos chegar ao estágio de produzir sermões em série com
muita facilidade. Podemos pregar estes sermões sem nos dar conta da
grandeza daquilo que estamos fazendo. O pregador precisa, portanto, estar
constantemente se lembrando de que ele está, nas famosas palavras de
Richard Baxter, “pregando como um moribundo para outros moribundos,
sem a certeza de pregar novamente”.[169]
Se este lembrete não nos libertar de sermos “produtores profissionais”
de sermões e nos levar a um senso crítico de urgência, provavelmente
estaremos além de qualquer tipo de ajuda.
Lloyd-Jones costumava dizer que a pior coisa que pode acontecer a um
pregador é pregar simplesmente porque foi anunciado que ele vai pregar.
[170] Que Deus nos livre desta armadilha!
Muito mais poderia ser dito, mas vou parar aqui. Não quero que você
seja desencorajado pela magnitude da tarefa, para a qual ninguém é
suficiente. Mas o Senhor é suficiente para nós, e Ele tem prazer em nos
abençoar e nos usar, ainda que sejamos nada além de frágeis vasos de barro.
Quando preparo meus sermões, tento manter em mente um momento em
particular, o qual ocorre todas as vezes que me coloco diante de minha
congregação. Toda vez que assumo o meu lugar no púlpito, percebo aquele
momento maravilhoso e ao mesmo tempo terrível (que costumo chamar
“momento do rosto erguido”), quando o povo olha para cima em minha
direção, com expectativa. É maravilhoso, porque eles estão me dizendo que
estão prontos para ouvir a mensagem de Deus durante a próxima hora. Mas
também é terrível, porque me faz perceber minha imensa responsabilidade.
Lá no fundo, vejo o rosto daquele que geralmente freqüenta os cultos,
mas que ainda não conhece a Cristo e, imediatamente à sua frente, o rosto
daquele que está sofrendo terrivelmente a perda de um ente amado. Lá
adiante, vejo o rosto daquele adolescente que está tentando definir o que
realmente importa em sua vida. À minha direita, no meio, vejo o rosto
daquela pessoa que nunca esteve numa igreja antes, mas que decidiu vir para
ver do que se tratam os cultos. E, bem na frente, vejo aquele membro fiel que
tenta encontrar forças para prosseguir.
Durante toda a semana estas pessoas ouvem o que as milhares de vozes
da sociedade têm a dizer. Porém, agora, elas vieram à igreja para descobrir o
que Deus tem a dizer. Eu fico lá, de pé, com seus olhos fitos em mim, e tremo
ao me dar conta de que estou posicionado entre o céu e a terra. Sussurro uma
oração para que Deus me ajude e, então, começo. Com a ajuda de Deus, o
sermão toma vida e aqueles rostos continuam erguidos. Alguns concordam
com a cabeça, e alguns olhos começam a brilhar. Quando deixo o púlpito,
tenho certeza de que aquela era a mensagem de Deus e o momento dEle. Eu
sei que aquelas pessoas ouviram do céu, e agradeço a Deus por Ele me ter
feito um pregador.
Minha oração é que você tenha muitas experiências como esta. Que
Deus o invista com poder durante a pregação, de forma que seu povo possa
até ficar sem alimento para seus corpos, mas jamais sem o alimento para suas
almas.

Carinhosamente,
Roger Ellsworth

PS Eu creio que os seguintes títulos poderão ser muito úteis no preparo


de sua pregação:
1. Pregação e Pregadores, Martyn Lloyd-Jones (Editora Fiel, São José
dos Campos, SP).
2. Between Two Worlds, John R. W. Stott (Grand Rapids, MI: William
B. Eerdmans Publishing Co., 1982).
3. The Preacher and Preaching, Samuel T. Logan, ed. (Phillipsburg, NJ:
Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1986).
4. The Supremacy of God in Preaching, John Piper (Grand Rapids, MI:
Baker Book House, 1990).
Capítulo 16 - Adore em Espírito e em Verdade (Terry Johnson)

Capítulo 16

Adore em Espírito
e em Verdade
Terry Johnson

Amado Timóteo,
Conduzir a igreja em sua adoração é a responsabilidade mais importante
que você terá como um ministro do evangelho. Mantenha isto em mente
durante todo o seu tempo de preparação e ainda pelos muitos anos de
ministério que o Senhor lhe dará. Você é um “ministro da Palavra e das
ordenanças”, como já disseram muitas gerações passadas de evangélicos. Sua
principal tarefa é conduzir o povo de Deus quando eles se reúnem
publicamente, a fim de ouvir a Palavra de Deus, lida, pregada, cantada e
orada, e a “palavra visível” (nomeação de Agostinho) — as ordenanças —
sendo administradas.
Você descobrirá que o pastorado é uma área em que há muito por fazer.
A demanda do seu tempo será intensa. Lute contra a tentação de se tornar
completamente envolvido em outros trabalhos, até mesmo outros trabalhos
importantes. A adoração vem em primeiro lugar, não apenas porque Deus
vem em primeiro lugar, mas também porque quase tudo o mais, incluindo a
percepção pública de sua eficácia, repousa sobre a sua habilidade de conduzir
os cultos de adoração. Não jogue esta responsabilidade nos ombros de outras
pessoas. “Grupos” de adoração e “líderes” de adoração jamais farão pelo
povo de Deus aquilo que só pode ser feito através da pregação e oração de
alguém que foi chamado, treinado, examinado e ordenado para fazê-lo. Sua
leitura e pregação das Escrituras irão alimentar o rebanho. Suas orações serão
exemplos de piedade, ensinarão ao seu povo como se dirigir a Deus e se
relacionar com Ele. Sua seleção de cânticos irá expor o seu povo às palavras
e frases com as quais se oferecerá louvores a Deus e se responderá às
provações da vida.
Estou indo à frente de mim mesmo. Estamos, hoje, no meio de “guerras
de adoração”. Igrejas, denominações, agências missionárias e até mesmo
famílias estão sendo divididas pela questão de como se deve adorar a Deus.
As tendências são claras o suficiente — as novidades são permitidas, a
tradição está fora de cogitação. Expressões contemporâneas de adoração
reúnem multidões afora, enquanto as formas mais clássicas ficam às traças,
ou pelo menos é assim que os campeões da inovação querem que nós
pensemos.
Estimulo você a pensar sobre as implicações de todo testemunho bíblico
a respeito de Deus e sua adoração, e particularmente João 4.7-24. Jesus provê
a comunidade cristã com aquelas coisas básicas que devem fazer parte de sua
adoração: “Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em
espírito e em verdade” (Jo 4.24).
Por conta de quem Deus é, somos obrigados a adorá-Lo (“importa que
os seus adoradores o adorem”) de forma consistente com dois princípios
fundamentais (“espírito e verdade”). Nós não estamos em liberdade para
adorar a Deus de qualquer outra forma, exceto a que Ele próprio ordenou.
Deus determina a adoração que Lhe agrada e tem liberdade para requerer de
nós qual forma deve ser usada e qual forma não deve ser usada. Às vezes,
tenho a impressão de que as decisões tomadas na adoração nos dias de hoje
são baseadas muito mais na percepção de alguém sobre o que poderia ser
mais “legal” ou “especial” ou, então, o mais barulhento possível, ou ainda
evocador de maior quantidade de lágrimas. Estes não devem ser assuntos que
ocupem sua atenção. Como um ministro da Palavra e das ordenanças, você
deveria estar fazendo duas perguntas fundamentais — o que é adorar a Deus
em espírito? E o que é adorar a Deus em verdade? Elas fornecem a estrutura
da adoração que agrada a Deus.

ADORE EM ESPÍRITO
O sentido da primeira afirmação, adore “em espírito” é claro o
suficiente. A mulher samaritana está discutindo sobre geografia, não é? (Jo
4.20). O debate entre os judeus e os samaritanos era sobre o lugar — qual
montanha, qual prédio, qual altar? “Espírito” faz um contraste com um lugar
físico. O lugar certamente era importante no Antigo Testamento. Jerusalém
era o lugar porque ali estava o templo e o altar e os sacerdotes que ofereciam
os sacrifícios, tudo pelo comando e instituição divinos. É por isso que as
palavras de Jesus no versículo 21 são provavelmente as palavras mais
revolucionárias de toda a Bíblia. “Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que
a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai.”
Jesus indica aqui uma descontinuidade radical com o Antigo
Testamento. Todos os fatores externos mencionados anteriormente eram
importantes até então, em aspectos que não são mais agora, na era do Novo
Testamento. Isto tem implicações importantes para os cultos de adoração.
Conduza uma adoração que seja espiritual. Deus sempre esteve
primeiramente preocupado com o espírito ou coração da adoração. “Tudo o
que há em mim bendiga ao seu santo nome” (Sl 103.1). “Limpo de mãos e
puro de coração” e “coração compungido e contrito” são posturas que fazem
parte da norma para adoração, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento
(Sl 24.4, 51.17). A ênfase da fala de Jesus precisa ser observada nessa
passagem. Esta ênfase é especialmente vista no caso do Novo Testamento.
Tanto a cidade, quanto o templo, os altares, os sacrifícios, os sacerdotes, e até
mesmo o incenso tinham sua importância simbólica. Eles eram todos
modelos de Cristo, cuja utilidade cessaria com a chegada do antítipo para o
qual todos eles apontavam, o Senhor Jesus Cristo (Hb 7-10). Não reintroduza
símbolos na adoração. Não tente avivar seus cultos com acessórios externos
como velas, incenso, figuras, imagens e ainda cruzes ou quaisquer outros
objetos santos que os liturgistas possam requerer. Toda a história do Antigo
Testamento mostra a propensão que uma adoração altamente simbólica tem
tanto para a mecanização da adoração (“formalismo”) quanto para a idolatria
(a adoração dos símbolos). Cada elemento da adoração deve ser espiritual,
visando o coração através da consciência.
Mantenha-o simples. Você já percebeu que não existe um outro livro de
Levítico no Novo Testamento? Não há um ritual pelo qual nos aproximemos
de Deus (por exemplo, voltar-se para o oriente, reverenciar, repetir a Oração
do Senhor, ajoelhar-se, etc.). Não há cerimônias, com exceção da Ceia do
Senhor e do Batismo. O seu culto deve ser simples, empregando aquilo que
os puritanos chamavam de “estilo singelo”. A leitura, a pregação, a oração e
os cânticos devem ser muito simples. O apóstolo Paulo dá alguma ênfase para
isto em seus escritos. Por exemplo, ele fala aos coríntios:
Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o
fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós,
senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu
estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem
persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa
fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus (1 Co 2.1-5).

Um estilo singelo, livre da ornamentação retórica ou excessiva, era


importante para o apóstolo Paulo. “Sabedoria de palavra” iria contradizer a
mensagem, e a cruz de Cristo “seria anulada” (1 Co 1.17). A forma de
apresentação precisa ser honesta e simples, autêntica em sua “fraqueza, temor
e grande tremor”, e livre de “linguagem persuasiva de sabedoria”. Seriedade,
sinceridade e pureza — “parentes próximos” da simplicidade — são cruciais
na liderança do culto de adoração. O apóstolo Paulo disse ainda: “Porque nós
não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus; antes, em
Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do
próprio Deus” (2 Co 2.17). Uma apresentação da verdade franca e sem
ornamentos é o único “estilo” (se devemos falar de estilos) que é compatível
com a simplicidade do evangelho. “Pelo que, tendo este ministério, segundo a
misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos; pelo contrário, rejeitamos as
coisas que, por vergonhosas, se ocultam, não andando com astúcia, nem
adulterando a palavra de Deus; antes, nos recomendamos à consciência de
todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade” (2 Co 4.1-
2). Aí está! Simplesmente “manifeste” a verdade e, por meio disso, apele “à
consciência de todo homem”.
Em outras palavras, Jesus está preocupado com o espírito interno de
adoração, e não com a forma externa, com exceção de que esta forma precisa
ser simples, visto que a simplicidade reforça a espiritualidade. Ele insiste que
o coração, ou espírito, de adoração, e não o lugar, o ritual, a cerimônia, o
drama teatral, a tecnologia ou o profissionalismo, é crucial. Nossa adoração
deve ser espiritual, simples, honesta, sem adornos, sincera e pura. Não a
tumultue com símbolos, rituais, cerimônias, complexidade ou sofisticação
desautorizada pela Palavra de Deus.
Esta espiritualidade e simplicidade também é a base da universalidade
da adoração. Por ela ser tão simples, consistindo apenas das Escrituras,
oração, cânticos e das ordenanças, pode ser conduzida em qualquer lugar,
seja no Alasca ou na Amazônia. Esta também é a base da comunhão dos
santos na adoração. Nossa comunhão é construída sobre aquilo que temos em
comum. Em qualquer lugar que formos, deveríamos saber essencialmente
aquilo que encontraremos quando entrarmos na assembléia dos santos.
Afaste-se das novidades, dos individualismos, das particularidades, do
inaudito, e foque-se naquilo que já foi testado e confirmado como verdadeiro,
universal e transcendente.
Mantenha-o reverente. O espírito de adoração, seu tom, seu humor, seu
clima, deve ser de reverência. Deus deve ser adorado com “reverência e santo
temor” (Hb 12.28). Conduza o culto com um ânimo adequado ao austero
assunto da adoração ao Deus Todo-Poderoso. Até mesmo quando você se
alegrar, que seja “com tremor” (Sl 2.11).

ADORE EM VERDADE
Você seguiu meu raciocínio até aqui? Então deixe-me seguir adiante.
Em segundo lugar, Jesus diz que temos que de adorar em “verdade”. Parece-
me que isto significa duas coisas.
Adore a Deus como Ele ordenou. Nós devemos adorar de acordo com a
verdade de Deus. Muitas pessoas estão fazendo tudo o quanto elas mesmas
querem na adoração. Deveríamos estar fazendo aquilo que Deus quer. O livro
fonte para descobrir a vontade de Deus é a Bíblia. A mulher samaritana
achava que era aceitável adorar a Deus nas montanhas de Samaria, de acordo
com os costumes dos samaritanos. Mas ela estava errada a este respeito. Jesus
diz para os samaritanos: “Vós adorais o que não conheceis” ao passo que
“nós [judeus] adoramos o que conhecemos” (Jo 4.22). A passagem inteira
assume que Deus não só pode como também nos diz o que “importa” que
façamos na adoração (Jo 4.24). Talvez eu já tenha dito o bastante sobre isto.
A adoração precisa ser cheia com a verdade. A adoração não somente é
ordenada pela verdade de Deus, mas também é cheia com a verdade de Deus.
O conteúdo de cada elemento é a Bíblia. Nós devemos seguir a fórmula
simples mencionada acima — leia a Palavra, pregue a Palavra, cante a
Palavra, ore a Palavra e administre a Palavra visível. Esta é a forma de honrar
a Deus, salvar pecadores, santificar os santos e adorar em verdade.
Aqui está o que eu gostaria de perguntar a todos os ministros do
evangelho:

Você acredita que o evangelho é o poder de Deus para a salvação?


(Rm 1.16)
Você acredita que nós nascemos de novo pela Palavra? (1 Pe 1.23-
25)
Você acredita que a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus? (Rm
10.17)
Você acredita que nós somos santificados pela verdade? (Jo 17.17)
Você acredita que a Escritura é viva e eficaz e mais afiada que
qualquer espada de dois gumes? (Hb 4.12)

Se você acredita nisso (e eu sei que você acredita), então deve estar
alarmado com as tendências dos últimos cem anos e especialmente dos
últimos trinta anos. Nós temos visto as Escrituras gradualmente, e agora mais
rapidamente, tomarem um papel reduzido na adoração cristã. Lê-se menos
(alguns versículos ao invés de alguns capítulos). Prega-se menos
(presenciamos a mudança de uma pregação expositiva para mensagens
tópicas). Canta-se menos (salmos métricos e hinários teologicamente ricos
são trocados por canções gospel e corais). Ora-se menos (com pouquíssima
oração durante os cultos em geral).
Sem sombra de dúvida, estas são as trajetórias do culto modernizado.
Elas representam um desastre absoluto no evangelicalismo, se aceitarmos a
suposição de que a Palavra possui o papel principal na conversão dos
pecadores e na santificação dos santos. Resista a estes modismos passageiros,
Timóteo. “Importa” que Deus seja adorado “em verdade”, disse Jesus. Confie
que Ele irá abençoar a sua Palavra quando for lida, pregada, cantada e orada.
Ela não retornará vazia; Ele prometeu (Is 55.11).

PROCEDIMENTOS
Espero que você não tenha se incomodado com os densos comentários
bíblicos e teológicos que fiz nesta carta. Mas, creio que eles foram
preliminares necessárias para o conselho prático que eu gostaria de lhe dar
agora.
Em primeiro lugar, permaneça centralizado em Deus todo o tempo.
Você está lá para ajudar a conduzir o povo à presença de Deus. Não os
desvie. Não permita que a sua ambição de ser apreciado, amado e admirado
se interponha no caminho. Não tente ser atraente, ou engraçado, ou
inteligente. Em poucas palavras, os cultos que você conduz não são sobre
você. Estou dizendo o óbvio? Como gostaria que sim! Mas apenas alguns
minutos assistindo a um canal cristão na TV, ou uma rápida visita a uma
típica mega-igreja já é o suficiente para confirmar que o evangelicalismo não
está acima do culto das personalidades. Fuja disto. Você afastará o povo de
Deus, se atraí-los para si mesmo. Deixe que tudo quanto você fizer seja
centralizado em Deus — a abertura do culto, o fim do culto, sua seleção de
cânticos, suas orações, sua pregação.
Em segundo lugar, seja cristocêntrico em sua adoração. Isto significa
que os grandes temas do pecado e redenção precisam ser proeminentes em
seus cultos, e até mesmo servir amplamente como estrutura deles.

Comece com louvores pelo Deus da Bíblia, Pai, Filho e Espírito


Santo, Criador, Sustentador e Redentor. “Entrai por suas portas
com ações de graças e nos seus átrios, com hinos de louvor” (Sl
100.4). Este louvor pode ser expresso também através de um
chamado para a adoração, um hino propriamente dito, uma oração
de invocação e louvor e uma afirmação confessional.
Mude aquela visão da glória de Deus expressa em seu louvor para
um tempo de confissão dos pecados (ver Is 6.1-6). Esta é uma
ordem lógica e dirigida pelo evangelho para a adoração.[171] Na
medida em que percebemos que Deus é absolutamente digno de ser
louvado naturalmente tomamos consciência de nosso pecado e da
necessidade de perdão. Avistar Aquele que é eterno nos faz lembrar
que somos finitos. Avistar Aquele que é Santo nos faz lembrar que
somos corruptos. Você pode usar os Dez Mandamentos como
preparação para confissão. Em suas orações leve o povo do
completo reconhecimento de seus pecados para a cruz e para
Cristo, que morreu “o justo pelos injustos” (1 Pe 3.18), que
“carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos
pecados” (1 Pe 2.24), “fazendo-se ele próprio maldição em nosso
lugar” (Gl 3.13), deu “a sua vida em resgate por muitos” (Mt
20.28), “no qual temos a redenção, a remissão dos pecados” (Cl
1.14).
Humildemente conduza os adoradores da confissão de seus
pecados para os meios da graça que Deus providenciou unicamente
para seus discípulos perdoados, desesperadamente necessitados de
perdão.
Leia a Palavra
Pregue a Palavra
Administre a Palavra viva, as ordenanças
Ore a Palavra

• Conclua com ações de graças e uma bênção, dando graças em nome de


Jesus por tudo o que é nosso em Cristo, visto que habitamos nEle (Jo
15.1ss.). Nossa aproximação de Deus em adoração é como a nossa
aproximação de Deus na conversão. Ao vermos quem é Deus em toda a sua
majestade, somos levados ao arrependimento e fé em Cristo e ansiosamente
suplicamos pela graça sustentadora, mediada pela Palavra e pelo Espírito.
Em terceiro lugar, seja centralizado na Bíblia. Isto implica em algumas
coisas com relação às suas escolhas. Você tem uma quantidade limitada de
tempo em adoração, geralmente de uma hora a uma hora e meia. Pense na
quantidade de tempo que deve ser dada a cada elemento — anúncios e
preliminares, oração, leitura bíblica, pregação, cânticos, e administração das
ordenanças. E não menos importante, dado os cinco ou dez minutos para
cantar, o quê você irá cantar? Dado os trinta ou quarenta e cinco minutos para
pregar, o que você irá pregar? Já tendo lembrado que nós somos santificados
pela verdade da Palavra de Deus (Jo 17.17), que a fé vem pelo ouvir da
Palavra de Deus (Rm 10.17), deixe-me explicar detalhadamente o que apenas
sugeri até aqui.
Ore com palavras da Bíblia — estude A Method for Prayer[172]
(Um Método para Oração), de Matthew Henry; A Guide to
Prayer[173] (Guia para Oração), de Isaac Watts; e Thoughts on
Public Prayer[174] (Pensamentos sobre a Oração Pública), de
Samuel Miller, e veja como as gerações anteriores de ministros
oravam. Suas orações eram ricas em linguagem bíblica e símbolos
bíblicos. Eles aprenderam a língua da confissão, através das
orações bíblicas de confissão; a linguagem de louvor, das
expressões bíblicas de louvor, e assim por diante. Nada irá tocar tão
profundamente o seu povo quanto ouvir o eco das Escrituras no
louvor, na confissão e nas petições de seu pastor. “De sorte que a fé
é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10.17 VRC).
Leia a Bíblia. Eu recomendo que você leia um capítulo de um livro
da Bíblia diferente daquele cujo texto é a base de sua pregação
naquele dia. Se você for pregar no Antigo Testamento, leia um
trecho do Novo Testamento. Se você for pregar no Novo
Testamento, leia um trecho do Antigo Testamento. “Até à minha
chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino” (1 Tm 4.13).
“De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”
(Rm 10.17 vrc).
Pregue a Bíblia. E, com isto, estou dizendo que você deve pregar
sermões expositivos seqüenciais. Pregue palavra por palavra,
versículo por versículo, livro por livro, e, assim, toda a Bíblia. Não
leia apenas o texto, ao pregar topicamente através dele. Pregue a
própria passagem, encontrando sua mensagem e aplicação no texto.
Seu melhor modelo nos dias de hoje provavelmente seja John
MacArthur, da Igreja Comunidade da Graça, no Sul da Califórnia,
e o finado James Montgomery Boice, da Igreja Presbiteriana na
Filadélfia. Seus escritos e gravações de áudio estão disponíveis.
Esta decisão de pregar expositivamente pode ser a decisão mais
importante que você terá de tomar. Você pregará a Escritura de
maneira temática ou se disciplinará para expô-la seqüencialmente?
Estou convicto de que uma vez que Cristo pode ser encontrado em
“toda a Escritura”, nós não conheceremos a Cristo plenamente a
não ser que preguemos por toda a Bíblia (Lc 24.27). Além do mais
o lectio continua nos mantém honestos. Assim, a pregação
expositiva seqüencial força o ministro a pregar o próximo texto,
seja ele qual for. Desta forma, é mais provável que preguemos
“todo o desígnio de Deus” através de um método expositivo
sistemático do que se escolhêssemos tópicos de acordo com nossa
própria percepção e desejos (At 20.27).
Cante a Bíblia. Cante poeticamente músicas apropriadas que sejam
ricas em conteúdo bíblico. Novamente, você tem uma quantidade
limitada de tempo. A decisão de cantar certa música é ao mesmo
tempo a decisão de não cantar uma outra. Faça a melhor seleção
possível para preencher o tempo disponível. Eu insto que você
reintroduza o hábito de cantar salmos métricos com a sua
congregação. Não há muito que discutir sobre isso em minha
opinião. Os salmos são o hinário de Deus. Eles foram escritos para
serem cantados. Nós temos de cantá-los. O que poderia ser mais
óbvio? Nossos ancestrais protestantes cantaram exclusivamente os
salmos por mais de 200 anos e predominantemente pelos 100 anos
subseqüentes. Apenas nos últimos 125 anos é que os salmos foram
sendo deixados de lado no louvor das igrejas, para detrimento dela
mesma. É tempo de trazê-los de volta. O Trinity Psalter[175]
(Saltério da Trindade) e também o Trinity Psalter Music
Edition[176] (Saltério da Trindade Edição de Música) são fontes
de valor inestimável, combinando as palavras de todos os salmos
com melodias conhecidas. Os CDs Psalms of the Trinity
Psalter[177] (Salmos do Saltério da Trindade) e Psalms of the
Trinity Psalter II[178] (Salmos do Saltério da Trindade II)
oferecem gravações maravilhosamente produzidas de cerca de
sessenta dos 150 salmos do Trinity Psalter (Saltério da Trindade).

No que diz respeito aos hinos, o século dezoito foi algo semelhante a
uma “era de ouro” da composição de hinos, apresentando gigantes como
Isaac Watts, Charles Wesley, John Newton, Augustus Toplady, William
Cowper e Philip Doddridge. Eles ditaram o ritmo para as gerações
seguintes. Faça amplo uso de seus hinos. Afaste-se do superficial,
repetitivo e banal. Lembre-se que não importa quando uma canção foi
escrita, mas sim a força de seu conteúdo e a adequação de sua música.
Nem todo gênero musical é apropriado para a adoração. Pergunte a si
mesmo sobre as letras das músicas — elas são bíblicas e teologicamente
sãs e maduras (1 Co 3.1; Hb 5.11-6.2)? E sobre a música, ela é cantável?
Ela é emocionalmente equilibrada? Ela é apropriada para a adoração do
Deus da Bíblia?

Em quarto lugar, em sua adoração, seja centralizado na igreja. A igreja


consiste em todo o povo de Deus, tanto jovens quanto idosos, ricos e pobres,
judeus e gentios. A verdadeira igreja transcende todas as divisões deste
mundo baseadas na cultura, raça, classificação étnica e faixa etária (Gl 3.28).
Da mesma forma deve ser a adoração. Eu sei que a tendência natural das
coisas é ir contra este pensamento. A teoria de hoje é de que cada sub-cultura
precisa de sua própria adoração expressa em seu próprio estilo de forma,
música e discurso. Pense comigo para onde isto nos levará. Inevitavelmente,
a igreja se dividirá em milhares de grupos de afinidades, cada um
demandando sua própria adoração, em seu próprio estilo cultural — cultos
presumivelmente para negros, brancos, mulatos, amarelos e vermelhos; para
adolescentes, solteiros, e, claro, para a “melhor de todas as idades”; para
aqueles que preferem jazz, rock, swing, música clássica, country, rap, etc.,
etc., etc. Aquele que deveria ser o tempo quando todos se tornassem um em
Cristo, será o dia da semana em que nós estaremos o mais divididos possível.
Esta é uma rua sem saída. Não entre nela.
Ao invés disso, considere que a igreja tem a sua própria cultura. Tem o
seu próprio tesouro de música que inclui contribuições de Bach, Handel,
Beethoven, Haydn e Mendelssohn. Ela possui um tesouro de letras que inclui
contribuições de Watts, Wesley, Newton, Havergal, Lutero, Calvino, e
muitos outros. Gradualmente adições são feitas a este tesouro através do
tempo. Algumas canções que encantaram toda uma geração ainda estão em
nosso meio, mesmo cem anos depois. Estas canções que perduram são
adicionadas ao tesouro. O tesouro consiste essencialmente em músicas e
letras que encantaram pessoas, independentemente de sua classe social, raça,
cultura e geração. Elas surgiram entre os galeses, franceses, alemães,
espanhóis, gregos, latinos e hebreus. Elas transcenderam o gosto local e se
tornaram universais. Foram aprovadas pelo teste do tempo. Quem não ama
“Graça Eterna”? Quem não se deleita ao cantar “Cantai que o Salvador
chegou”? O que estou dizendo é que você não deve selecionar um formato,
estilo de linguagem ou de música que agrade aos gostos de um grupo em
particular, excluindo desta forma todos os outros. Ao invés disso, prenda-se à
própria cultura transcendental da igreja, que embora não pertença a nenhum
grupo em particular, possui uma estética de apelo universal, e, portanto,
pertence a todos.[179] Não se desvie pelo pretexto de que o assunto aqui é
comunicação, como se o evangelho não possa ser compreendido, a menos
que seja envolvido pelas preferências culturais de cada um. Isto não é
verdade.

CONCLUINDO O ASSUNTO
Conduza a adoração da forma que eu a esbocei, e você talvez seja
criticado. “Você é só um apologista da adoração tradicional”, dirão os
opositores. “Você não se preocupa com aqueles que estão fora da igreja, com
os interessados, com os perdidos. Eles ficarão entediados e indiferentes com
o que você descreve.” Este é um desafio sério. Mas antes que você e eu nos
rendamos, vamos ver se entendemos corretamente as reclamações. Nós
dissemos que nossa adoração deve ser centralizada em Deus, em Cristo, na
Palavra e na igreja. É isto que eles estão dizendo ser evangelisticamente
insuficiente? O que nós descrevemos está impregnado com o evangelho dos
pés à cabeça, do início ao fim. Francamente, apenas aqueles que perderam a
confiança de que o próprio evangelho é o “poder de Deus para a salvação”
(Rm 1.16), de que “a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm
10.17 vrc), de que nós somos “santificados na verdade” (Jo 17.17), poderiam
chegar a uma conclusão destas. Eu não sei o que pensar daqueles que sentem
a necessidade de substituir a pregação bíblica, o cântico e a oração por teatro
e danças, shows e “entrevistas”. Isto nos sugere incredulidade, bem como
idolatria.
Quando o povo de Deus reverentemente adora a Deus, esperamos que o
resultado seja uma reunião significativamente diferente de qualquer coisa que
os incrédulos já tenham experimentado. Contudo, isto não deveria nos
preocupar, quando o culto é conduzido numa língua conhecida. Caso seja, o
apóstolo Paulo tem certeza de que o incrédulo, na presença de um culto
reverente, centralizado em Deus e Cristo, e cheio da Palavra, é por “todos
convencido e por todos julgado; tornam-se-lhe manifestos os segredos do
coração, e, assim, prostrando-se com a face em terra, adorará a Deus,
testemunhando que Deus está, de fato, no meio de vós” (1 Co 14.24-25).
Existem poucas igrejas que combinam a pregação bíblica com um culto
reverente. Algumas igrejas possuem a pregação, mas sua adoração sofre.
Algumas outras possuem a adoração, mas a sua pregação não apenas sofre, é
sofrível. Há uma demanda crescendo lentamente por igrejas que combinem
ambas, pregação e adoração. Combine-as e você não somente irá adorar
como Jesus diz que “importa” que adoremos, mas estará pronto para cuidar
dos necessitados que surgirem nos dias que se seguem.

Carinhosamente,
Terry

PS Aqui estão alguns livros, além daqueles aos quais já me referi, que
sinceramente recomendo que você leia:
1. With Reverence and Awe, D. G. Hart e John R. Muether (Phillipsburg,
NJ: P&R Publishing, 2002).
2. Leading in Prayer, Hughes Oliphant Old (Grand Rapids, MI:
Eerdmans, 1995).
3. Worship That Is Reformed According to Scriptures Guides to the
Reformed Tradition, Hughes Oliphant Old (Atlanta, GA: John Knox Press,
1984).
4. O’ Come Let Us Worship, Robert Rayburn (Grand Rapids, MI: Baker
Book House, 1980).
Capítulo 17 - Instrua outros homens (Steve Martin)

Capítulo 17

Instrua outros homens


Steve Martin

Amado Timóteo,
Saudações de Atlanta! Já faz algum tempo desde a última vez em que
lhe escrevi. Espero que você esteja bem e próximo de Cristo. Aqui faz um
belo dia de fim de inverno que alegraria qualquer um por, em janeiro, estar
em Atlanta e não em Mineápolis! Mas onde quer que estejamos, se estamos
com Cristo é o melhor lugar. Se você está caminhando com Cristo, então
ocupa o melhor lugar possível para você.
Estava refletindo sobre nossas interações durante os últimos meses, e
meus pensamentos se voltaram para uma área na qual acredito que você ainda
possa crescer e se desenvolver como pastor. Você tem se esforçado para ser
um obreiro fiel, lidando corretamente com a Palavra da Verdade. Você parece
zelar diligentemente pelo seu próprio coração e doutrina. Que o Senhor seja
louvado por sustentá-lo e fortalecê-lo neste sentido. Mas para ser um pastor
fiel, você precisa adicionar à sua visão não apenas o cuidado e alimentação de
sua própria alma, de sua família e da família da igreja em geral; você também
precisa se focar em outros homens da igreja para nutrir e instruí-los nas
coisas de Deus.
Por que instruir outros homens? Em primeiro lugar, algumas
necessidades das igrejas cristãs só podem ser supridas quando instruímos
outros homens. A necessidade urgente, em todas as gerações, é que sejam
levantados homens piedosos para servirem em suas casas, na igreja local e no
amplo trabalho do reino de Deus.
Precisamos de homens que conduzam nossas famílias cristãs. De
Gênesis até Apocalipse, a Palavra de Deus reforça inúmeras vezes a
importância do marido e do pai no lar. Homens que não são bons maridos e
pais deixam um legado de mediocridade espiritual e desastres atrás deles.
Pastor após pastor com quem conversei reclamaram da falta de homens
piedosos, homens em crescimento, homens que pudessem liderar em suas
casas e também fora delas. Você mesmo pode já ter clamado a Deus: “Onde
estão os homens de Deus?” A necessidade urgente em família após família,
igreja após igreja, é por homens piedosos que conduzam amorosamente suas
esposas e filhos nas coisas de Deus. Se o marido se importa mais em ganhar
dinheiro e progredir profissionalmente do que com o destino eterno de sua
esposa e filhos, então a família logo irá mostrar os efeitos da idolatria do
trabalho, sucesso e da chamada “boa vida”.
A cultura secular ao nosso redor tem estado sob o julgamento de Deus,
de acordo com Romanos 1.18-32, por algum tempo. Temos sido levados para
uma condição ímpia de estupidez e cegueira moral e espiritual. Não podemos
deixar de ver, muito menos resolver nossos verdadeiros problemas nacionais.
Qualquer leitor mais sensível ficaria biblicamente deprimido ao ver a
reportagem de capa de uma revista nacional atestar: “Homens e Mulheres —
São Diferentes?” Contudo, esta é apenas uma pequena batalha na longa
guerra de três décadas para obscurecer ou esclarecer a masculinidade, a
feminilidade e a família. A guerra tem produzido milhões de fracassos nos
casamentos e famílias, e tem causado quase que uma revolta cultural e
degeneração global.
Conforme a cultura americana tem estado bem no meio de uma batalha
pelo casamento e pela família, as igrejas não se silenciaram. Pastores e
teólogos têm identificado os inimigos e alertado as igrejas. Mas a necessidade
ainda se encontra em instruir homens para serem solteiros bíblicos, maridos
bíblicos, pais bíblicos e idosos bíblicos. Nós não podemos ter por certo que a
conversão supre o homem de tudo quanto ele precisa saber sobre a
masculinidade, casamento, criação dos filhos e liderança. Pode ter havido um
tempo, algumas décadas atrás, quando uma família começava a freqüentar a
sua igreja, era convertida e já começava com o pé direito. Havia muito mais
graça comum na cultura americana naqueles dias do que há hoje. Nós não
podemos mais esperar que muito, ou algum, conhecimento da posição bíblica
sobre a masculinidade, casamento, criação cristã dos filhos e envelhecimento
entre nossas famílias, venha até nós do mundo. Infelizmente, muitas igrejas
têm permitido que a cultura dite os seus pontos de vista sobre questões de
gênero sexual, casamento e família. Não podemos ser passivos, mas
precisamos nos tornar pró-ativos no ensino destas coisas ao nosso povo.
Precisamos instruir os homens da igreja nestas áreas.
Em segundo lugar, precisamos de homens de Deus para liderar nossas
igrejas. Esta sempre tem sido a forma de Deus em usar os homens. A. W.
Tozer diretamente disse: “Deus o Espírito Santo não enche os duvidosos”. O
clamor das igrejas ao redor do mundo é por homens, homens piedosos,
homens que exerçam sua liderança tanto em suas casas quanto na igreja.
Muitas igrejas são funcionalmente lideradas por mulheres. Certa vez, quando
perguntado porque existiam tão poucos homens nas igrejas britânicas, o
pastor londrino Martyn Lloyd-Jones respondeu: “É porque há muitas
mulheres nos púlpitos”. Se os próprios pastores não forem homens
verdadeiramente bíblicos, homens de Deus, eles não irão atrair outros
homens. Um famoso evangelista desafiou os homens de uma grande igreja
batista aqui em Atlanta quando disse: “Vocês trabalham, sonham e suam para
colocar a Coca-Cola no mapa de todo o mundo. Mas têm uma visão muito
míope e quase nenhuma energia por Jesus Cristo, a fim de espalhar a sua
fama por todo o mundo!” E este evangelista estava certo. Freqüentemente
jovens executivos e homens de outras profissões estão muito mais
preocupados em dedicar suas vidas a seus trabalhos e carreiras do que
desejosos de ter, dentro da igreja, semelhança com Cristo. Michael Cassidy,
um missionário na África do Sul, falou de homens que “abandonavam suas
pequenas ambições”. Há muito mais na vida para homens cristãos do que
dinheiro, fama e poder. Nossas famílias e nossa igreja precisam de uma
liderança masculina à semelhança de Cristo. Elas não precisam de homens de
sexualidade confusa e prioridades desprezíveis, que dão a Cristo, sua família
e sua igreja apenas os restos de suas vidas. A esterilidade de tantas vidas
atarefadas nos dias de hoje silenciosamente prega que os homens precisam
mudar.
E não seja muito precipitado para ouvir àqueles que dizem que a vida é
muito difícil em nossos dias e que o tempo é muito precioso para os homens
abdicarem de sua perseguição desvairada pela segurança financeira e sucesso
pessoal para servir a Cristo em suas igrejas. A vida sempre foi difícil desde a
Queda. Pelo suor de seu rosto, o homem deve trabalhar entre cardos e
abrolhos no campo, negócios, indústria e tecnologia. Quando é que foi fácil e
prazeroso para o homem prover as necessidades de sua família?
Mas Deus dá os homens às igrejas como presentes que têm graça o
suficiente para satisfazer, através dos mananciais da Salvação, a sede de sua
própria alma, de sua família e também de outros em sua igreja local. Nosso
Senhor prometeu a seus ouvintes que ir a Cristo engrandece um homem,
magnifica suas habilidades e multiplica sua vida. O Cabeça da igreja
exclamou às multidões sedentas no dia do banquete, registrado em João 7.37-
38: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz
a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva”. O verso 39 diz ao leitor
que Jesus estava se referindo ao Espírito Santo, que ainda seria dado em sua
plenitude no Pentecoste. Nosso Senhor estava dando uma ilustração mental
da vida expansiva que o Espírito Santo iria criar dentro de cada coração
regenerado. Ele não estava prometendo uma gota, copo ou balde da água viva
do Espírito. Ele prometeu um rio! Certamente um coração tão extenso tem
uma inundação para outros. Mais tarde, em João 10.10b, quando comparava o
seu ministério — como o Bom Pastor de suas ovelhas — com o ministério
dos mercenários, os fariseus e os saduceus, nosso Senhor disse: “Eu vim para
que tenham vida e a tenham em abundância”. A palavra abundância significa
“mais que o necessário”. Significa que você tem mais do que precisa.
Homens que nasceram de novo têm a capacidade de olhar além de si próprios
e dar aos outros. Homens que nasceram de novo e foram instruídos para
serem bíblicos, canalizam suas vidas abundantes no leito designado pela
Palavra de Deus. A regeneração produz vida e energia. A Bíblia provê as
diretrizes para aquilo que a pessoa regenerada deve ser e fazer. Homens que
foram salvos e instruídos são uma poderosa fonte para o bem em sua igreja
local.
E em terceiro lugar, nós precisamos de homens para levar o reino de
Deus além da igreja local. Em Mateus 9.35-38 nosso Senhor exortou seus
discípulos (e nós também) a orar ao “Senhor da Seara”, a fim de que mande
trabalhadores aos campos. A seara é grande, mas os trabalhadores são
poucos. Para que um homem deixe sua igreja, sua cultura e os confortos do
“conhecido”, algo maior que a persuasão humana e motivação é necessário.
A autoridade divina precisa chamar o homem e compeli-lo a ir. É por isto que
nós precisamos orar por estes homens divinamente chamados, a fim de que
eles reconheçam o chamado de Deus sobre suas vidas e para que respondam
fielmente a este chamado com obediência ativa. Infelizmente poucos bons
homens estão se tornando pastores para pregarem o evangelho em suas casas.
Infelizmente poucos bons homens estão se tornando missionários plantadores
de igrejas em outros países. Mulheres estão preenchendo o vácuo deixado nos
seminários e no campo missionário. Onde estão os homens? Nós pastores
temos de orar pelos homens da igreja para que o Senhor da seara chame-os,
em cada igreja, à prontidão em abandonar suas ambições mesquinhas e
egoístas, e tornarem-se zelosos por Cristo, pela unção do Espírito na pregação
do evangelho, zelosos pela colheita dos seus eleitos e pela expansão da glória
de Deus por toda a terra.
Instruir homens não é opcional para um pastor. Em Mateus 28.19-20,
nosso Senhor ordenou que seus apóstolos (e através deles as igrejas de todas
as gerações vindouras) fossem por todo o mundo e fizessem discípulos. O
imperativo foi “fazei discípulos”. Os outros verbos no período eram
explicativos. É apenas indo, batizando no nome da Trindade e ensinando
todas as coisas que Jesus ensinou, que o fazer discípulos é executado. Tomar
a iniciativa e ir em busca dos perdidos com o evangelho, batizando aqueles
que respondem com arrependimento e fé, e, então, ensinar-lhes “todas as
coisas que vos tenho ordenado”, preenchem a descrição do ofício do
discipulado. O Senhor não estava interessado em borrifar o evangelho sobre
as massas antes que o “arrebatamento secreto” ocorresse, e sim em criar
cristãos duradouros — discípulos bíblicos.
Jesus quer decididos que se tornem discípulos. Timóteo, muito do
evangelismo dos últimos cem anos tem sido do tipo raso, superficial, que
busca induzir a uma decisão visível, mas não toma tempo para fazer
discípulos. Tristes estudos têm mostrado que as estratégias de evangelismo na
América, as quais chegam às pessoas com abordagem minimalista, contam
com apenas nove décimos de um por cento dos supostos convertidos em
igrejas locais após um ano. Se seguíssemos a ordem de nosso Senhor e não
almejássemos decisões, e sim a formação de discípulos, quão diferentes
nossas igrejas seriam, e quão diferente a cristandade também seria.
Paulo mandou que seu jovem assistente fizesse discípulos. Em sua
última carta, com todos os assuntos importantes que ele queria deixar muito
claros na mente de Timóteo, Paulo enfatizou a instrução de discípulos. Em 2
Timóteo 2.2, Paulo escreveu: “E o que de minha parte ouviste através de
muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos
para instruir a outros”. Nesta frase está contido o caráter de um ministério
fiel: Homens discipulando homens que, em troca, discipulam outros homens.
A tocha da verdade precisa ser passada adiante de geração em geração de
cristãos, através dos homens pela instrução fiel de discípulos. Nosso Senhor
salvou Paulo e de maneira única fez a mensagem clara para ele. Este, em
troca, discipulou o jovem Timóteo, como seu filho espiritual. Timóteo, em
seguida, devia despejar a verdade em vasos fiéis, homens que encontrariam
outros homens fiéis a quem confiar a verdade. Quatro gerações de homens
fiéis — Paulo, Timóteo, “homens fiéis” e “outros”.
Nós não precisamos animar ou de alguma forma melhorar um fraco
evangelho. Nós precisamos ensinar e pregar fielmente o evangelho bíblico e
nos assegurar de que determinados homens fiéis transmitirão o evangelho
inalterado à próxima geração. Esta é a forma de desenvolver uma igreja
biblicamente. Terminar os seus dias como um homem fiel não é pouca coisa.
As epístolas pastorais, e, até mesmo todo o Novo Testamento, expõem a
“fidelidade” como modelo. “Fidelidade” não é brandura nem o menor
denominador comum cristão, é, sim, lealdade com o evangelho bíblico. O
apóstolo Paulo não encheu sua última carta para o seu escolhido e amado
assistente com palavras superficiais e bajuladoras. Umas das coisas
fundamentais e mais importantes para um pastor que deseja ouvir o Senhor
dizer, “Muito bem, servo bom e fiel”, é discipular homens fiéis que por sua
vez estarão ensinando a outros a verdade bíblica, sem qualquer adulteração,
poluição ou diminuição.
Tanto a última ordem do Senhor à sua igreja, quanto a última ordem do
grande apóstolo de Cristo a seu assistente, nos dizem para fazermos
discípulos em nossos ministérios. E as Escrituras também nos dão muitos
exemplos sobre a instrução de homens.
O método de Deus, o Filho, para estabelecer seu reino sobre a terra era
derramar sua vida e ensinamentos sobre doze homens. Ele sabia que seu
ministério terreno era temporário. Ele falou repetidas vezes de sua partida
iminente. A cruz e a ressurreição, os quarenta dias de aparições e, então, a
ascensão o retiraria de cena. O que seria deixado com a igreja para compensar
a perda de seu Líder? Por causa de seus esforços em discipular homens, a
igreja foi deixada com doze líderes cheios do Espírito, os quais logo se
espalhariam e expandiriam o alcance do ministério de Cristo, realizando
coisas ainda maiores do que aquelas que o próprio Senhor Jesus realizara em
seu ministério na terra.
Em Lucas 6.40, Jesus ensinou um princípio importante sobre seu
ministério entre os homens: “O discípulo não está acima do seu mestre; todo
aquele, porém, que for bem instruído será como o seu mestre”. Cristo sabia
que Ele havia escolhido e instruído pessoalmente aqueles doze homens, ainda
que um deles fosse cair e se tornar o filho da perdição. Muitas pessoas
seguiram nosso Senhor como discípulos, em um sentido mais amplo deste
termo. Dentre este grande grupo, Jesus escolheu doze para um ensinamento
mais especializado e comissionado; estes se tornariam apóstolos. Dentre os
doze, havia um círculo de três apóstolos vistos mais freqüentemente com
Jesus — Pedro, Tiago e João. Conforme você lê os relatos dos evangelhos,
tome nota do tempo especial que o Senhor passou com estes três. E mesmo
entre os três, Ele era especialmente próximo de João, o discípulo que Jesus
amava. Mas perceba também que nos evangelhos, nosso Senhor comissionou
outros setenta discípulos para expandir o evangelho, pregando e
comprovando que o reino de Deus estava sobre eles. Se você ler os
evangelhos, marcando as vezes que nosso Senhor esteve com os doze, os três
ou até mesmo os setenta, é revelador o quão comprometido Ele estava em
instruir aqueles homens como forma de continuar a expandir o seu ministério.
Mas o exemplo do nosso Senhor não é o único no Novo Testamento.
Considere Barnabé. Um verdadeiro “filho do encorajamento”, como significa
o seu nome, ele parecia ter um dom especial ao reconhecer homens em
desenvolvimento e transformá-los em ferramentas úteis nas mãos do
Salvador. Quando inicialmente as igrejas desconfiavam de Saulo de Tarso e
de sua recente conversão, foi Barnabé quem o tomou sob sua proteção e
concedeu-lhe credibilidade (cf. At 4.36-37; 8.1-3; 9.1-30, e 13.1-13). Não
demora muito no relato de Atos para que “Barnabé e Saulo” se tornem “Saulo
e Barnabé” (cf. 13.2 e 13.13). Também é possível que você observe um dos
homens instruídos por você, lhe exceder em utilidade ao Mestre. Lembre-se
que isto não é uma ameaça, e sim um sinal das bênçãos divinas em seu
ministério.
O ministério discipulador de homens, exercido por Barnabé, não foi
limitado a Paulo. Veja como ele ajudou João Marcos. Depois que Marcos
desertou a primeira viagem missionária, Barnabé lhe deu outra oportunidade,
ainda que isto significasse sua separação de Paulo. João Marcos foi salvo e
mais tarde ajudou seu tio, Pedro, em seu ministério. Muitos estudiosos, como
você sabe, acreditam que o evangelho de Marcos é na verdade o evangelho
de Simão Pedro revisado por João Marcos, como seu secretário. Mais tarde, o
próprio Paulo pediu ajuda a Marcos, aplaudindo a sua utilidade. Então, as
treze cartas de Paulo e o evangelho de Pedro foram escritos por homens que,
em determinado momento, foram vistos com desconfiança para o trabalho no
ministério, mas que vieram a ser de valor inestimável após o discipulado com
Barnabé. Em outras palavras, o Espírito Santo inspirou mais da metade do
Novo Testamento de forma a ser escrito por homens que Barnabé havia
discipulado!
Paulo também exemplifica o treinamento de outros homens. Os registros
do Novo Testamento revelam que Paulo alistava homens onde quer que ele
fosse, e a implicação disso deixa muito claro que ele os estava discipulando:
Silas (At 15.40), Timóteo (At 16.1,3), Áquila e Priscila (At 18.18), Erasto (At
19.22; Rm 16.23), Sópatro de Beréia (At 20.4), Aristarco e Secundo, de
Tessalônica (At 20.4), Gaio, de Derbe (At 20.4), Tíquico e Trófimo, da Ásia
(At 20.4) e Lucas, o médico (note as porções do livro, Atos dos Apóstolos,
escrito por Lucas, em que ele usa “nós”). Paulo era um grande pregador do
evangelho e professor das Escrituras, mas também era um grande
discipulador de homens.
Então, quando Paulo admoesta Timóteo para que este discipule homens,
em 2 Timóteo 2.2, está apenas defendendo aquilo que ele próprio praticou. E
perceba também o conteúdo de seu discipulado: “O que de minha parte
ouviste através de muitas testemunhas”. Ele está se referindo ao evangelho. É
isto que ele deve transmitir a outros. Independentemente de qualquer outra
coisa que o discípulo possa saber, ele precisa ter um claro conhecimento do
conteúdo do evangelho.
Tendo ele mesmo provado ser um servo fiel, Timóteo também foi
incumbido de transmitir estas verdades do evangelho para “homens fiéis”. É
preciso ser alguém fiel. É preciso instruir homens fiéis. Timóteo deveria se
assegurar de que a próxima geração de líderes na igreja seria composta de
homens fiéis, que também permaneceriam dentro de padrões estabelecidos
nas Escrituras. “Homens fiéis” eram homens que mantinham o padrão
intacto, que não aparavam as pontas do padrão das palavras sãs. É
fundamental que cada geração de pregadores receba o verdadeiro evangelho.
Manter o evangelho inalterado e sem qualquer modificação nem
diluição é muito difícil. Conquanto a palavra fiel possa parecer fora de moda
e fraca, assim como a palavra bíblica submisso, isto não é verdade. É
necessário que os homens a quem foi incumbida a comissão sagrada se
mostrem fiéis (1 Co 4.1-2). Pastores cristãos querem que a palavra “fiel”
esteja escrita em suas lápides, e não as palavras “inovador”, “criativo”, ou
ainda “ele superou seus limites”. Estes termos são deixados para as biografias
dos liberais, dos hereges e dos heterodoxos. Os pastores bíblicos querem
ouvir o nosso Senhor dizer, no Dia do Julgamento: “Muito bem, servo bom e
fiel!”
Alguns grupos da cristandade se orgulham de sua “sucessão apostólica”.
Bem, a verdadeira “sucessão apostólica” é a transmissão fiel do evangelho de
um homem para outra geração de homens fiéis. A fidelidade destes homens é
vista em sua fiel aderência à verdade do evangelho, assim como na sua fiel
transmissão da verdade para uma outra geração de “homens fiéis e também
idôneos para instruir a outros”.
As habilidades de ensino reportadas aqui não se referem
necessariamente àqueles com aprendizado formal em métodos educacionais.
Um claro entendimento da verdade e um desejo pessoal de pregar e ensinar a
outros é o que está em vista. Um homem não precisa necessariamente ir a um
seminário para receber estas verdades e tê-las firmemente escondidas em seu
coração e mente. A “sucessão apostólica” de Deus é um homem fiel
discipulando outro homem fiel no evangelho inalterado. Multiplicar homens
fiéis é o método que Deus tem honrado através dos séculos. Antes do Novo
Testamento ter sido completo, era especialmente crucial que a verdade do
evangelho e os detalhes das Escrituras não se perdessem. A Palavra de Deus
precisava se manter livre de qualquer erro. Ainda hoje, há validade neste
processo. O evangelho ainda está sendo perdido pela infidelidade do homem.
Impostores e charlatões ainda são uma praga na igreja, com seu evangelho
“light” e sua jornada pelos caminhos da heresia. O preço por manter a
verdade e manter a igreja na verdade é a vigilância perpétua em guardar o
evangelho e confiá-lo a homens fiéis.
Seu principal objetivo deve ser instruir pessoas para serem homens de
Deus à semelhança de Cristo. Se ele é casado, então, ser um homem de Deus
envolve ser um marido à semelhança de Cristo. Se ele é pai, então, isto
também inclui criar seus filhos com amor e fidelidade.
A masculinidade bíblica não deve ser entendida como algo intrínseco ao
homem. Paulo disse ao jovem Tito que instruísse aqueles sob sua liderança
com a sã doutrina a este respeito — homens cristãos, idosos e jovens, devem
agir desta forma (Tt 2.1-2, 6-8, 11-14). Paulo diz ao jovem Timóteo que
ensine aqueles sob sua liderança, a forma como os homens cristãos devem se
portar na igreja local (1 Tm 2.8-15). Após vinte e cinco anos de movimento
feminista em nossa sociedade, na ímpia e insensata deturpação dos desígnios
de Deus para o homem e a mulher, as igrejas têm incorporado pessoas que
não compreendem nem se empenham em ser exemplos de homens e mulheres
bíblicos. A Palavra de Deus ensina que os maridos e pais cheios do Espírito
exibem características muito claras de acordo com Efésios 5.16 6.4. A
Palavra de Deus ensina que os maridos e pais cheios do Espírito exibem
características facilmente identificáveis, de acordo com Colossenses 3.16-21.
Note que as mesmas características são ensinadas em ambas as passagens,
revelando dois lados de uma mesma moeda. A Palavra de Deus ensina que os
homens cristãos que são solteiros precisam aprender a canalizar sua energia
em objetivos santos e edificantes, de acordo com 1 Coríntios 7.6-9. Uma
igreja ortodoxa com uma confissão de fé ortodoxa e um púlpito ortodoxo que
não possui homens fiéis personificando estas verdades ortodoxas e, por sua
vez, ministrando a partir da sua vida para suas esposas e filhos, não é uma
igreja saudável. É uma igreja fraca e doente que apenas possui o nome de
ortodoxa.
Se você não instruir homens para serem realmente homens, e homens de
Deus, você terá falhado em confiar os tesouros da Palavra a homens fiéis. Se
os homens de sua igreja e os seus casamentos são bíblicos (não perfeitos, mas
fiéis às normas das Escrituras), então você terá uma fundação segura sobre a
qual formar homens fiéis. Mas homens que abandonam suas casas à própria
sorte não podem ser incumbidos da liderança da igreja. A Escritura proíbe
homens que não são fiéis em casa de multiplicar a sua mediocridade na
igreja. Instrua os homens a conhecerem a Cristo e O amarem, e que amem
suas esposas e filhos por causa de Cristo. Seu sucesso em casa é a sua
credibilidade com os outros. Se um homem não é capaz de lidar com quatro
pessoas, por que confiar que lidará bem com quarenta? A sabedoria bíblica
diz: “Não! Deixe-o aprender a lidar bem com quatro, para depois lhe dar os
quarenta”.
Alguns dos homens que você treinar para serem homens de Deus,
maridos e pais fiéis, podem acabar se tornando presbíteros da igreja local.
Homens fiéis são a espinha dorsal espiritual de qualquer congregação. Paulo
dá instruções bem simples sobre aqueles que são qualificados para serem
presbíteros e sobre as funções do presbítero. As instruções de Paulo sob a
inspiração do Espírito quanto aos qualificados para serem
presbíteros/supervisores/pastores são muito claras quando comparamos 1
Timóteo 3.1-7, Tito 1.5-9 e Atos 20.17-35. Presbíteros devem ser homens de
Deus aprovados pelo teste do tempo, que possam cuidar do bem-estar do
rebanho de Deus, como homens que prestarão contas a Deus por esta
confiança sagrada (Hb 13.17). Você está buscando a formação de homens
que irão alimentar, guardar e guiar o rebanho com a Palavra de Deus, sob a
autoridade de Jesus Cristo, o Supremo Pastor.
Alguns dos homens que você treinar podem vir a se tornarem diáconos.
Os diáconos são vistos no Novo Testamento como assistentes dos presbíteros
na ministração ao rebanho de Deus. Suas qualificações foram listadas por
Paulo em 1 Timóteo 3.8-13. Paulo não acredita que devemos adivinhar ou
ficar na escuridão no que diz respeito às qualificações necessárias para a
liderança na igreja local. Ele cita cada qualificação para nós. Lucas registrou
a forma como as necessidades do ministério cresceram na igreja primitiva, de
tal modo que uma ordem de sacerdotes foi criada na igreja local para atender
às necessidades físicas. Estes “protodiáconos” em Atos 6.1-6 liberaram os
apóstolos e presbíteros da igreja em Jerusalém para o ensino e oração. É isto
o que diáconos fiéis e piedosos fazem nos dias de hoje. Desta forma, você
estará buscando a formação de homens que irão ajudar os presbíteros no
servir ao rebanho.
A igreja de Jesus Cristo sempre precisa de piedosos pastores e
missionários plantadores de igrejas. Apenas Deus, soberanamente, os equipa
e chama. Mas Ele não faz isto a partir de um vácuo. Ele geralmente pratica
sua obra soberana em congregações locais, onde homens jovens receberam o
conhecimento de Cristo e a glória de pregar o seu evangelho. Como
mencionei anteriormente, a comissão de nosso Senhor como registrada em
Mateus 28.19-20, jamais foi rescindida. Da mesma forma, quando o Mestre
disse aos apóstolos em Atos 1.8 para esperarem pelo Espírito Santo, Ele
prometeu-lhes que o Espírito os capacitaria a serem suas testemunhas “até
aos confins da terra”. O mundo ainda precisa do evangelho. Nem todos os
eleitos de Cristo já foram recolhidos ao aprisco. Nós ainda temos muitas
obras sacrificiais a realizar “para que também eles obtenham a salvação que
está em Cristo Jesus, com eterna glória” (2 Tm 2.10). Deus o Espírito Santo
ainda capacita homens sobrenaturalmente, transformando-os em testemunhas
da verdade de Cristo e do evangelho da “ruína pela queda, salvação pelo
Filho e regeneração pelo Espírito Santo”. Ele ainda está compelindo homens
a deixarem o lar e a família para irem até a última floresta, a última favela, a
última cidade, o último vale, o último ermo congelado e o último vizinho do
lado de sua casa. Alguns dos homens em nossas igrejas podem ser chamados
para levar o evangelho ao exterior e plantar igrejas, onde nenhuma existia até
então. Vamos fazer a nossa parte para nos assegurarmos de que bons homens
estão sendo treinados e disponibilizados para o chamado do Senhor.

REUNINDO HOMENS PARA O DISCIPULADO


Reunir homens precede o instruí-los. Parece óbvio, mas nós precisamos
manter isto em mente. E para reunirmos corretamente estes homens,
precisamos tomar uma série de medidas. Em primeiro lugar, temos de orar.
Eu disse anteriormente que o Senhor Jesus falou especificamente ao seu
povo, em Mateus 9.35-38, para orar sinceramente ao Senhor da seara, a fim
de que Ele envie trabalhadores à sua seara. Deus levanta homens. Podemos
trabalhar até não agüentarmos mais, mas sem oração isto não redunda em
fidelidade, é apenas uma atividade carnal. Deus pode trazer homens do meio
do nada e também de debaixo do seu nariz. Bem no início do meu ministério,
eu precisava aprender duas lições. A primeira era orar sem cessar. A segunda
era trabalhar arduamente. Ambas encerram o ministério cristão. Eu passei
meses, de setembro até março, trabalhando do amanhecer ao anoitecer. Eu
trabalhava para estar em contato e conhecer muitos jovens homens. Mas
conquanto as perspectivas fossem muitas, não via onde “meus homens”
estavam. Então, comecei a orar com determinação. João 15.16 é a primeira
coisa que me vem à mente: “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo
contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis
fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai
em meu nome, ele vo-lo conceda”. Então, pude ver muito claramente que o
soberano chamado de Deus aos homens tinha ligação com minha oração por
eles. Conforme comecei a orar seriamente, naquela mesma semana Deus
levantou os homens que se tornariam a coluna de sustentação do meu
primeiro ministério. Apenas Deus pode dar frutos duradouros. Apenas o
Senhor da seara soberanamente escolhe e chama os homens. E em resposta às
orações, Ele capacita suas igrejas a reconhecerem os futuros líderes que Ele
mesmo chamou.
Em segundo lugar, você precisa plantar amplamente. Jesus pregou para
imensas multidões e convidou aqueles que sabiam estar cansados e
sobrecarregados com seus pecados a chegarem a Ele (Mt 11.28-30). E
aqueles eficazmente chamados, compareceram. É um erro plantar
limitadamente e esperar uma mega-colheita em um pequeno pedaço de terra.
Quanto mais você plantar, mais homens o Senhor levantará. Além de pregar
no Dia do Senhor, aproveite oportunidades para pregar em organizações
comunitárias, formaturas, prisões, asilos, bases militares e onde quer que a
oportunidade surja. Também promova ocasionalmente na igreja ou na casa de
alguém reuniões de homens para, por exemplo, assistir a um filme e analisar
suas implicações bíblicas.
Você também pode oferecer coisas que requeiram um pouco mais de
compromisso. Por trinta anos, eu também tenho liderado reuniões de homens.
Marque-as bem cedo de manhã, durante a semana (por exemplo, das 6h às
7h) ou aos sábados de manhã. Deixe-as abertas a todos os homens da igreja.
Faça convites de forma pública e clara. Então, ore e veja quem o Senhor traz.
Pedir que saiam da zona de conforto natural do domingo de manhã, domingo
à noite, e quarta-feira à noite, mostra se o crescimento espiritual e utilidade
na obra de Deus é importante para eles. Exorto também particularmente
alguns homens, os quais acredito estarem pouco desenvolvidos, a virem nas
reuniões. Eles já ouviram o convite público. Então, eu os convido em
particular. O Senhor separará aqueles que forem infiéis nas pequenas coisas
ou que não demonstrarem fome e sede de justiça.
Em terceiro lugar, identifique claramente aqueles com os quais você
usará mais do seu tempo para treiná-los. Você precisa tomar todo o cuidado
possível aqui. Nosso Senhor passou uma noite inteira em oração antes de
escolher os doze. Se você tiver uma única chance de derramar sua vida em
alguns homens, quais você irá escolher? Escolher sem cuidado e
erroneamente significa desperdiçar o seu precioso tempo. Cometa este erro
algumas vezes e você corre o risco de desperdiçar a sua vida. Mantenha os
marcos bíblicos da fidelidade diante de você, enquanto ora pelos seus
homens. Quem parece estar verdadeiramente faminto e sedento pela justiça?
Quem está regularmente pobre de espírito e buscando em primeiro lugar o
reino de Deus e a sua justiça? Quem é fiel no pouco (Lc 16.10)? Quem tem
um coração voltado para Deus e vontade de aprender? Quais homens
perseguem a santidade? Quais homens cuidam da glória de Cristo? Quais
homens são zelosos por Cristo em seu testemunho? Quais homens andam tão
próximos de Cristo que sua vida transborda primeiramente sobre seus
familiares, e depois, sobre os outros?
Em quarto lugar, teste-os. Dê-lhes tarefas para realizarem, que
requeiram fidelidade e humildade. Peça-lhes que façam coisas detestáveis à
carne. Os egos carnais querem fazer coisas carnais “importantes”, e não
coisas do dia-a-dia, coisas que requerem fidelidade. Aqueles que não
aparecerem para os treinos também não jogam quando for pra valer! Os
homens não deveriam pensar que podem ser infiéis nas pequenas coisas e
ainda assim serem chamados para as “grandes coisas”. Também dê aos
homens algumas tarefas que testem seu caráter. Leve-os para testemunhar.
Leve-os com você quando for pregar em algum lugar e peça-lhes para darem
um testemunho. Faça com que eles se identifiquem publicamente com Cristo
e sua causa. Isto irá ajudá-los a construir algumas pontes psicológicas e
também a fixar o evangelho em suas mentes. Verifique se eles podem dar
aula, confiando-lhes um pequeno grupo para liderar e ensinar durante um
período limitado de tempo. Quando este tempo acabar, peça relatório sobre a
experiência e dê suas opiniões. Se ninguém aprendeu ouvindo-os, eles
provavelmente não têm o dom do ensino. Isto não significa, no entanto, que
eles estão perdidos para o reino, mas sim que você precisará aprender mais
sobre suas forças e fraquezas.
Em quinto lugar, desafie-os pessoalmente. Nosso Senhor desafiou
homens a segui-Lo com a promessa de que Ele os ensinaria a se tornarem
“pescadores de homens” (Mt 4.19). Nós não deveríamos fazer menos que
isso. Paulo podia desafiar homens e igrejas a segui-lo, assim como ele
imitava Cristo (1 Co 4.6, 11.1). Fazendo isto, deixamos claro a cadeia de
comandos e o alvo que é o reino de Cristo e nós, como pastores, sob sua
autoridade. Jamais deveríamos ser autoritários, e sim deveríamos exercer
autoridade bíblica, pedindo claramente aos homens que nos sigam, assim
como nós seguimos a Cristo. Nunca seja vago ou nebuloso, antes seja claro e
correto. “É por aqui que estou indo. Eu acredito que Deus tem trabalhado em
seu coração para seguir esta estrada ao meu lado, ministrando aos outros.
Quero que você me siga, assim como eu sigo a Cristo. Você virá comigo?”
Ofereça-lhes uma visão de onde você deseja ir e ore para que o Senhor
trabalhe em seus corações.
Em sexto e último lugar, identifique-os publicamente. No contexto de
sua igreja local, explique publicamente que foi pedido ao João que ensine na
Escola Dominical e ao Zé que conduza um pequeno grupo de estudo. Toda
autoridade é delegada, vindo, da parte do Pai, de cima para baixo. Seu povo
precisa saber que aqueles homens estão ocupando suas novas posições,
porque lhes foi delegada autoridade pelos presbíteros. As pessoas não
deveriam ter de tentar adivinhar “quem nomeou fulano para ser nosso
professor”. A resposta deve vir muito diretamente — você nomeou!

INSTRUINDO OS HOMENS QUE VOCÊ REUNIU


Uma vez que Deus tenha dado os homens em quem você deve investir a
sua vida, você precisa ser fiel para liderá-los e instruí-los. Em primeiro lugar,
instrua-os através do exemplo. A encarnação do Senhor Jesus Cristo é uma
grande razão para um exemplo piedoso como a base da instrução dos
homens. Nosso Senhor não jogou sermões lá dos céus e nem um manual de
amor sacrificial por Deus e pelos homens. Ele se tornou a ilustração viva,
capaz de falar mais que dez mil palavras. Nosso Senhor conscientemente agiu
de tal forma a deixar para seus discípulos, e a nós hoje, exemplos para seguir.
João 13.1-5 é o grande exemplo do “maior amor”. Pedro jamais poderia se
esquecer do exemplo do nosso Senhor naquela noite, e ainda em outras vezes,
de forma que ele exorta seus leitores a seguirem o exemplo específico de
Cristo de sofrer com mansidão (1 Pe 2.21-23) e de servir aos outros ao invés
de dominar sobre eles (1 Pe 5.1-5). O apóstolo Paulo ensinou muito em sua
pedagogia sobre o papel de ser um exemplo. Ele usou a palavra traduzida
como “exemplo”, (modelo, padrão) para ilustrar verdades espirituais. Ele
exortou Timóteo, mesmo sendo este bastante jovem, a ser um “exemplo” ao
povo, na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza (1 Tm 4.12).
Admoestou os coríntios a lembrarem-se do tipo de exemplo que ele havia
lhes dado e os desafiou a imitar seu padrão de fidelidade de vida (1 Co 4.14-
17, 10.31-11.1). Ele elogiou a igreja em Tessalônica por ser um exemplo às
outras igrejas (1 Ts 1.7) e mais tarde usou a si mesmo como um exemplo do
princípio de que, se um homem não quer trabalhar por sua comida, ele
também não deve ser ajudado pela igreja (2 Ts 3.9-10). Alertou os filipenses
a manterem o seu olhar fixo sobre aqueles que “andam segundo o modelo que
tendes em nós” (Fp 3.17). Instruiu o jovem pastor Tito a ser um exemplo para
os crentes em Creta (Tt 2.7). Usou uma forma argumentada da palavra
exemplo, quando escreveu para Timóteo, dizendo-lhe que Jesus era o
protótipo ou supremo exemplo que nós devemos seguir (1 Tm 1.16).
O poder de um exemplo não pode ser exagerado. O antigo provérbio:
“Eu não consigo ouvir o que você diz, porque as suas ações falam alto
demais”, ainda é verdadeiro nos dias de hoje. Se a sua vida e conduta repelem
os outros, se sua vida fala uma mensagem diferente daquela proferida em
seus sermões, se você não está de alguma forma personificando aquilo que
professa e prega, não pode ensinar aos outros — com exceção da hipocrisia.
Este tipo de pessoa é o que chamamos de alguém que não pratica o que fala.
A Bíblia não ensina nem espera perfeição deste lado do céu, mas ela exalta a
fidelidade. A fidelidade é o cumprimento da mordomia, bem como a
conformidade com um código ou padrão. Se eu sou um pastor que não confia
em Deus, se sou conhecido por estar sempre envolvido com muitas tarefas, se
eu reclamo o tempo todo sobre as dificuldades da vida e do ministério, se não
conduzo e amo minha família, então, eu sou um péssimo exemplo e preciso
me arrepender.
Martyn Lloyd-Jones estava certo, quando disse que era pecado um
pastor deixar de expressar sua confiança em Deus. Homens que obviamente
conhecem a Deus e que estão seguindo avidamente a seu Filho e
conscientemente dependem de seu Espírito e sua Palavra, serão atrativos aos
outros e causarão impacto neles. Anelo produz mais anelo. Se você está com
o coração pesado pelos perdidos e testemunha como estilo de vida, seus
homens seguirão seu modelo. Se você colocar toda a sua vida diante da
providência de Deus, no mesmo padrão de Romanos 8.28, seus homens
seguirão seu modelo. Se você se arrependeu completamente de todos os seus
pecados, seus homens seguirão seu modelo. Você não pode levar seus
homens por caminhos que você mesmo não trilhou. E, se o Senhor o está
ensinando, você precisa repassar estas lições aos seus homens.
Em segundo lugar, você deve instruir outros homens com a sã doutrina.
Ensine a Bíblia aos seus homens. A cristandade no ocidente é fraca, porque
não possui mais uma estrutura de suporte, um esqueleto. É, na verdade, um
evangelho totalmente sem estrutura. Ela não ensina mais as doutrinas centrais
da Palavra de Deus. E antes que comecemos a balançar nossas cabeças em
desaprovação aos outros, precisamos ser cuidadosos para não cairmos no
mesmo erro de alguns de nossos antepassados, que pensavam ser suficiente
prender-se a apenas alguns princípios. O grande campeão da Bíblia e da fé
protestante histórica no início do século vinte, J. Gresham Machen, disse
certa vez algo no sentido de que não usava o termo “fundamentalista” para
descrever a si mesmo, porque o “fundamentalismo” era uma rocha muito
pequena para ele se segurar, enquanto as grandes ondas de incredulidade se
lançavam contra a igreja. Ele era um genuíno confessionalista de sangue
puro. Apresente seus homens às confissões históricas das igrejas protestantes.
Lembre-se que você está ensinando a verdade para santificá-los, não
para torná-los espertos. Nada é mais repugnante que um calvinista professo,
cuja vida é consumida pela busca de “semi-pelagianistas” reais ou
imaginários com quem duelar. A verdade é dada para nos tornarmos como
Cristo, e não para nos posicionarmos no topo do Monte da Vanglória, para
derramar escárnio nos nossos irmãos com menos conhecimento da teologia
bíblica. Paulo alertou a congregação coríntia, muito talentosa e instruída,
porém pecaminosa, de que “o saber ensoberbece, mas o amor edifica” (1 Co
8.1). Se mantivermos claro em nossa mente que estamos “ensinando-os a
guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mt 28.20), poderemos
evitar os perigos da “religião quimérica” e ser verdadeiramente “calvinistas
empíricos”.
Não negligencie uma arma fundamental no seu arsenal — bons livros.
Os protestantes sempre foram os campeões na arte de ler e escrever (um
espírito bereano), exatamente em razão da primazia da Palavra de Deus e do
sacerdócio de todos os crentes. Ter a Bíblia e o grande legado dos escritos
teológicos e devocionais dos protestantes e não usá-los é um verdadeiro
pecado! Assegure-se de que seus homens leiam os melhores livros dos
melhores autores. Depois da Bíblia, seus homens deveriam se tornar amantes
dos melhores livros.
Inicie introduzindo-os aos bons autores, os quais colocam “o pote de
biscoitos onde qualquer criança possa alcançá-lo”. Até os que não são bons
leitores podem se tornar grandes leitores, quando são espiritualmente
motivados e expostos a um bom material. Comece com Peter Jeffrey, Jerry
Bridges, Martyn Lloyd-Jones, James Boice, R. C. Sproul, Don Whitney,
Richard Belcher, John Blanchard, Sinclair Ferguson, James Packer, John
MacArthur e outros autores contemporâneos similares a estes, que avivam a
verdade e que são bíblica e historicamente fiéis. Você não concordará com
tudo que cada um destes autores diz, mas sem ser excessivamente crítico,
diga a seus homens onde você discorda e por quê. Isto irá ajudá-los a
aprender mais sobre o discernimento, e a saber que nenhum homem, nem
mesmo você, é perfeito.
Devolva-lhes sua maravilhosa herança protestante, apresentando-lhes à
riqueza da proveitosa literatura que nos foi entregue. Encoraje-os a ler as
obras mais acessíveis dos reformadores (Martinho Lutero, João Calvino), dos
puritanos (Thomas Watson, Thomas Brooks, John Bunyan e Richard Sibbes),
Jonathan Edwards, Charles Spurgeon, dos escritores da antiga Princeton
(Alexander, os Hodges e Warfield) e dos fundadores da Convenção Batista
do Sul (Dagg, Boyce, Mell, Broadus, Manly, entre outros). Encoraje-os a ler
sobre a História da Igreja e ainda biografias (os escritos de Iain Murray são
particularmente úteis aqui).
Em terceiro lugar, instrua-os falando a verdade em amor. Com isto,
quero dizer que você deveria se tornar o encorajador deles quando precisarem
de um, e seu exortador (ambos de forma gentil, porém firme), se houver
necessidade de exortação. A admoestação de Paulo, em Efésios 4.15,
“seguindo a verdade em amor”, significa literalmente “verdadeando em
amor”. Nossos homens precisam viver a verdade irredutível e a sensibilidade
delicada do amor. Você também precisa ser um homem que recebe bem a
exortação e a admoestação, sem rebelar-se ou tornar-se defensivo. Você
precisa ser um homem que recebe encorajamento e não age como se sempre
estivesse no controle de tudo.
Em quarto lugar, instrua seus homens tanto no fazer (com eles) quanto
no delegar (para eles). Anteriormente, eu já disse que você precisa testar seus
homens, dando-lhes algumas tarefas. Você deveria sempre ser o exemplo,
aquele que está fazendo o que deve ser feito. Leve-os com você para olharem
e aprenderem. De preferência, nunca faça algo sozinho, mas sempre leve um
de seus homens com você. Jesus fez isto. Paulo fez isto.
Quando estiverem juntos, no carro, a caminho do lugar onde você for
falar, ore sobre este compromisso, explique de que forma você toma decisões
a respeito do que pregar ou como você discerne as coisas e, então, discuta
toda a mensagem e acontecimentos, e se regozije (ou lamente) no caminho de
volta para casa. Pense no modo como o nosso Senhor falava às multidões ou
a uma pessoa no meio do caminho, e, também como, discutia os eventos
passados com seus homens. Ou, quando você tiver uma oportunidade
espontânea de aconselhar alguém com um problema muito complicado,
permita que seu companheiro finja ser uma “mosquinha na parede”, e, em
silêncio, aprenda.
Jesus não era o tipo de teólogo que se protegia dentro de uma redoma.
Ele não era o tipo de general que lidera todo o seu exército da retaguarda.
Pastores bíblicos conduzem suas ovelhas aos pastos verdejantes e águas
calmas andando à sua frente e liderando-as. Da mesma forma devemos agir.
Precisamos levá-los aonde queremos que eles cheguem. Não os mande
testemunhar, mas leve-os para testemunhar. Não delegue simplesmente, leve-
os junto de você. Não diga apenas para seus homens orarem, ore junto deles.
Em quinto lugar, instrua seus homens em diferentes estilos. As igrejas
possuem muitos lugares onde os homens podem servir. Deixe que eles
experimentem várias coisas diferentes, ainda se falharem, contudo, não
permita que um homem constantemente falho permaneça sempre na mesma
responsabilidade. Encontre-se com ele, converse sobre os motivos do
fracasso. Dê-lhe outras coisas para fazer. Um homem pode não ter dons que o
tornem um líder público; e este é o tipo de homem que fica mais nos
bastidores. Mas se alguma vez ele tiver de conduzir uma reunião pública, irá
admirar mais aquele homem que possui este dom de liderança. Da mesma
forma, o homem com dons públicos deveria aprender a sentar-se nas últimas
cadeiras e ministrar na quietude da obscuridade por algum tempo. Ele irá
estimar muito mais aquele irmão cujos dons não são públicos, mas que são
igualmente necessários para que todo o corpo funcione bem.
Bem, irmão, já me alonguei por demais e testei sua paciência. Ainda
poderia dizer outras coisas, mas já lhe dei o bastante para ruminar (e espero,
não para lhe sufocar). Que o Senhor lhe dê sabedoria para utilizar seu tempo
com as melhores coisas, e não apenas com as boas coisas. Olhe para o seu
Senhor e Ele guiará os seus passos.

Seu irmão, cooperador e companheiro de peregrinação


na estrada para a Cidade Celestial,
Steve Martin
PS Tomei a liberdade de sugerir onde você pode conseguir mais ajuda.
Estes homens escreveram mais coisas do que eu serei capaz de aprender
sobre a instrução de homens.
1. The Training of the Twelve, A. B. Bruce (Grand Rapids, MI: Kregel,
1971).
2. The Master Plan of Evangelism, Robert Coleman (Grand Rapids, MI:
Fleming H. Revell Co., 1994).
3. Christ’s Call to Discipleship, James Montgomery Boice (reimpressão,
Grand Rapids, MI: Kregel, 1998).
4. Following the Master: A Biblical Theology of Discipleship, Michael
J. Wilkins (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1992).
5. The Lost Art of Disciple Making, Leroy Eims (Grand Rapids, MI:
Zondervan, 1978).
Capítulo 18 - Tenha interesse pelas nações (Phil Newton)

Capítulo 18

Tenha interesse
pelas nações
Phil Newton

Amado Timóteo,
Saudações no nome maravilhoso do Senhor Jesus Cristo! Sou muito
grato pela nova porta de ministério que o Senhor abriu para você. Pastorear
uma congregação de crentes se mostrará desafiador e também gratificante. O
Senhor o tem preparado para esta situação e sei que você será fiel ao
chamado de Deus em sua vida, para “pastorear o rebanho de Deus que há
entre vós”.
Você provavelmente já está começando a sentir que servir como um
pastor irá demandar o seu tempo e a sua energia. Estou plenamente certo de
que você tem surpresas todos os dias! Como sempre, quero que saiba da
minha prontidão para lhe ajudar de toda forma que eu puder.
Você ficará atarefado com muitas coisas, na medida em que for
conhecendo melhor a sua congregação — ministrando-lhe em tempos de
necessidade e crises, preparando semanalmente sermões e estudos bíblicos,
organizando os ministérios da igreja, reunindo-se com comitês e líderes, e,
ocasionalmente, “apagando pequenos incêndios”. Mas como pastor e amigo,
quero lembrar-lhe de uma área que pode ser facilmente deixada fora do
caminho agitado da vida pastoral — a saber, missões. Eu sei que você irá
observar diligentemente a ênfase de nossa denominação em missões, mas isto
pode ser feito quase que inconscientemente. Pastores tendem a relegar o
trabalho de missões às agências missionárias das denominações ou às
organizações para-eclesiásticas, mas você deve enxergar este trabalho como
seu trabalho, levando o seu rebanho a ter paixão pelo mundo. A igreja local
precisa ser a plataforma de lançamento para as missões globais. Como pastor
de uma igreja local, você é a chave para o lançamento de missões na sua
congregação.
Sem dúvida, você está lidando com pessoas ocupadas e preocupadas.
Elas enfrentam uma rotina diária, lutam com o trânsito, vão e voltam do
trabalho, levam as crianças da escola para os esportes e para a aula de música
e quase não encontram tempo para os cultos na igreja! E neste processo elas
provavelmente acabam não prestando muito atenção aos eventos mundiais, a
não ser no caso de sentirem que estes eventos causarão algum tipo de efeito
em suas vidas diárias. Assim, enquanto elas estão correndo agitadamente, o
mundo ao seu redor definha na escuridão do pecado. Centenas de cristãos são
massacrados na Somália e na Nigéria. Um culto é selvagemente atacado no
Paquistão. O trabalho missionário é reprimido em todos os continentes.
Muitos países islâmicos proíbem qualquer tipo de evangelismo, sob a pena de
prisão e até morte. Terremotos, enchentes, furacões, fome e doenças
assoladoras dizimam centenas de milhares. Enquanto isso, os membros da
sua congregação correm o dia todo, desatentos e indiferentes a tudo, exceto à
previsão do tempo, às competições e às notícias políticas. Você leva a eles o
desafio das missões globais e, então, vozes se levantam: “Por que nós
precisamos ir a algum outro lugar? Nós temos um monte de almas perdidas
bem aqui em nossa cidade. Por que desperdiçar tanto tempo e dinheiro para ir
até pessoas que não estão interessadas?” Outros podem ainda contestar que as
missões pertencem aos profissionais, e não aos despreparados membros da
igreja; então, deixa para lá.
A sua convicção deve ser baseada na Palavra de Deus, a fim de que você
conduza seu povo no campo das missões globais. É interessante notar que a
igreja do primeiro século pode ter tido preocupações semelhantes. O primeiro
grande trabalho missionário registrado no livro de Atos não foi
cuidadosamente planejado, mas sim resultado da perseguição contra a igreja.
Uma vez que a perseguição atingiu a igreja após o apedrejamento de Estevão,
ela começou a se dispersar, e por toda parte em que iam pregavam a Palavra.
O termo que Lucas usa para “pregando a palavra” (At 8.4) vem da mesma
raiz que a palavra “evangelho”. Eu gosto de pensar nisto como: “eles estavam
anunciando as boas novas” ou, então, que “eles estavam evangelizando”. A
perseguição levou a proclamação espontânea do evangelho para fora da vida
familiar de Jerusalém. “O sofrimento da igreja é usado por Deus para
reposicionar as tropas missionárias em lugares que elas não teriam ido de
outra forma”, como John Piper expressou em Let the Nations Be Glad!
(Deixe as Nações Serem Felizes).[180] Nosso grande Soberano trouxe a
perseguição para levar a igreja além de suas fronteiras, e por todo o mundo.
Mais importante ainda, é que não foram missionários profissionais que se
dispersaram por todo o mundo, mas a igreja como um todo. Eles logo
abraçaram o desafio missionário como sua própria causa.
Para a nossa própria vergonha, os cristãos das áreas mais escuras do
mundo ainda parecem ser os mais animados em contar aos outros as boas
novas. A perseguição traz à tona o melhor que podemos fazer, enquanto
nossa liberdade parece ser o criadouro ideal para a complacência. Não
podemos permitir que isto nos desencoraje ou nos afaste das missões globais.
Que possamos aprender de nossos irmãos e irmãs que vivem em terras onde
existem muitas dificuldades.
O desafio que todos nós como pastores temos de enfrentar continua:
“Como podemos ajudar nossa igreja a desenvolver um coração que ama o
mundo perdido?” Isto começa com você! Pense nos missionários que já
passaram por sua igreja, os quais você já ouviu falando do trabalho que
realizam. Você consegue esquecer da visão apaixonada de Daniel pelas
missões globais, particularmente entre os grupos de pessoas que ainda não
foram alcançadas? Você consegue esquecer aquela noite em que Paul
Ndungu respondeu suas perguntas sobre o trabalho dele com a tribo dos
Maasai, no Quênia? Você lembra do testemunho de nosso amado amigo
Philippe sobre a evangelização dos universitários pós-modernos, na França?
Ou que tal aquele domingo, quando tivemos pastores de uma dezena de
países em nosso culto e, depois, em nossas casas para o jantar? Você
consegue esquecer de suas feições e de suas histórias? Você consegue
esquecer dos muitos que têm sofrido imensamente pelo evangelho?
Eu sou quase levado às lágrimas, e, certamente, à oração, quando me
recordo da conversa que tive com David, o plantador de igrejas liberiano que
está tentando alcançar os refugiados da Libéria, Serra Leoa e Burkina Faso.
Fico perplexo com minha própria complacência quando considero pastores
como N. N. e Moses, em Gana, e Raymond, na Nigéria e a forma como eles
levaram o evangelho às vilas muçulmanas, arriscando suas vidas por amor
das preciosas almas que vivem na escuridão.
Lembro-me de sua primeira e curta viagem missionária — você era
apenas um adolescente. Eu observava, enquanto você trabalhava com um
tradutor para comunicar a existência de Deus a um estudante universitário
ateu. Você suportou o seu escárnio e pacientemente respondeu suas
perguntas. Embora ele nunca tenha acreditado em qualquer uma das coisas
que você lhe disse, você continuou orando por ele durante meses, após nosso
retorno.
Este entusiasmo precisa ser comunicado a sua congregação. Eles
precisam enxergar em você um homem com o mundo no coração. Assim
como John Wesley, que disse: “O mundo é a minha paróquia”, você precisa
sentir o peso das nações sobre os ombros. Enquanto você constrói sua própria
congregação na mais santa fé, precisa do mesmo modo olhar para o trabalho
mais amplo do reino de Deus até os confins da terra.
Tudo começa ao vermos que nosso Deus é um Deus missionário. Sua
promessa para Abraão, “em ti serão benditas todas as famílias da terra”,
demonstra que a preocupação divina não era por uma única família ou nação,
e sim pelo mundo (Gn 12.3). John Stott disse que esta expressão mais do que
qualquer outra mostra que o Deus vivo da Bíblia é um Deus missionário.
[181] As Escrituras demonstram os feitos de Deus através de Cristo, para
redimir os homens “de toda tribo, língua, povo e nação” (Ap 5.9).
Você pode fazer crescer o amor de sua congregação pelas nações,
através de uma exposição fiel da Palavra de Deus. Conforme você seguir o
seu ensino, indo de uma passagem para a outra, irá justamente confrontar o
mandamento missionário para o povo de Deus. Explique isto e aplique com
paixão. Siga por passagens como Gênesis 12, 17 e 22. Pregue nos Salmos,
especialmente os Salmos messiânicos 2 e 110, assim como os Salmos reais
do 93 ao 99. Interprete os inúmeros textos missionários em Isaías, nos
capítulos 40 a 66. Estude o pequeno livro missionário de Jonas, e siga para a
promessa da terra ser cheia com o conhecimento de Deus, em Habacuque
2.14. Os evangelhos demonstram a paixão de Cristo por todos os povos.
Lucas dá numerosos exemplos de Jesus lidando com os gentios (ou os
povos). Os prólogos de João e Romanos provêem motivação missionária.
Pregue no livro de Atos, e, ao fazê-lo, ensine sua congregação a pensar
missionariamente. As epístolas dão exemplos claros da mensagem do
evangelho sendo aplicada em ambientes missionários. Apocalipse é um
extraordinário livro missionário, especialmente nos capítulos 4 e 5.
Deixe-me lhe dar algumas idéias que têm me ajudado a pregar a
mensagem missionária da Bíblia. Em primeiro lugar, conforme você expõe o
texto, estará mostrando o mandamento missionário dentro de um contexto
bíblico. Desta forma, você jamais irá chegar ao ponto de manipular o povo de
Deus ou de realizar truques para motivar-lhes a promover missões. Você
estará anunciando a Palavra eterna que se torna a nossa maior motivação.
Mostre à igreja que o ministério de missões é chamar as nações para adorar a
Deus de forma que sua glória seja manifestada por toda a terra. John Piper
explica que a adoração “é o combustível e o objetivo em missões. É o
objetivo porque em missões nós simplesmente almejamos trazer as nações ao
gozo ardente da glória de Deus. O objetivo das missões é a alegria dos povos
na grandeza de Deus”.[182]
Em segundo lugar, prove através das Escrituras que missões são
fundamentais para uma verdadeira igreja Neo-Testamentária. João Calvino
descreveu uma igreja Neo-Testamentária como aquela que possui a exposição
fiel das Escrituras, o uso correto das ordenanças e a disciplina de seus
membros. No entanto, penso que precisamos adicionar que uma igreja Neo-
Testamentária precisa ter um coração missionário. Isto faz parte da paixão
que jorra através da leitura de todo o livro de Atos; as missões estão lá do
início ao fim. Mais que qualquer outro, o livro de Atos ilustra as dinâmicas
das missões como uma parte natural do ministério da igreja.
Em terceiro lugar, exorte a congregação para um envolvimento total em
missões. Nem todos serão capazes de viajar em missões de curta duração ou
de estar envolvidos em missões vocacionais. Mas todos podem orar,
encorajar e ofertar. No famoso livro de William Carey, An Enquiry into the
Obligations of Christians, to Use Means for the Conversion of the Heathen
(Um Estudo nas Obrigações dos Cristãos, Referente ao Uso dos Recursos
para a Conversão de Pagãos), ele chama atenção para aquilo que as igrejas
podem fazer no trabalho com missões: “Uma das primeiras e mais
importantes daquelas tarefas que são incumbidas a nós é a oração unida e
fervorosa”. Ele explica: “Não podemos, no entanto, nos contentar apenas com
a oração, sem nos empenharmos no uso dos recursos para a obtenção daquilo
pelo que oramos”.[183] Em outras palavras, oração conduzirá à ação. Ele,
então, propõe que seja formada uma associação para avaliar o caráter
daqueles que “iriam”, em resposta à oração pelas nações. Finalmente, ele
exorta todas as igrejas a estarem envolvidas no sustento da obra missionária
conforme a graça que Deus derramar sobre elas. Carey escreveu: “Se as
congregações abrissem a oportunidade para a arrecadação de recursos, à
partir de um centavo ou mais por semana, de acordo com as suas
circunstâncias, e utilizassem esses recursos para a propagação do evangelho,
muito poderia ser arrecadado”.[184]
Nós seguimos este padrão em nosso programa “Dois por Oferta”,
pedindo que nossa congregação dê dois dólares por pessoa cada semana, a
fim de sustentar missões de curta duração através de nossa igreja, além da
contribuição regular. Conforme você pregar suas mensagens missionárias na
igreja, dê-lhes responsabilidades particulares à luz da Palavra de Deus:
oração, oferta, encorajamento de outros no trabalho, e assim por diante. Isto
não significa que cada um vai achar seu próprio nicho em cada área, mas sim
que todos podem e devem fazer alguma coisa pelo trabalho de missões, pois
este é o espírito da igreja Neo-Testamentária.
Orações regulares por missionários e pelos povos do mundo precisam
ser parte tanto de sua disciplina pessoal quanto da igreja. Encorajo-o a
desenvolver uma ampla lista de contatos internacionais, tanto de missionários
quanto de crentes nacionais. Providencie nomes, endereços e e-mails, para os
membros da congregação estabelecerem contato e orarem (por motivo de
segurança, forneça apenas o primeiro nome daqueles em países fechados ou
com dificuldades). Ore por aqueles missionários e crentes nacionais durante
seus cultos e encontros de oração. Leia suas cartas para a congregação, a fim
de ajudá-los a perceber o senso de batalha que eles enfrentam e as vitórias
que estão sendo ganhas pelo evangelho.
Descobrimos importante uso do livro de Patrick Johnstone, Operation
World (Operação Mundo)[185] como uma fonte para a publicação de um
resumo regular do trabalho missionário e necessidades globais, em nosso
jornalzinho semanal. Durante minhas orações pastorais, conduzo a igreja em
oração pelo país que foi identificado naquele determinado domingo.
Geralmente conheço algum missionário ou crente nacional daquele país, de
forma que minha oração acaba tomando um caráter mais pessoal. Isto permite
que sua igreja se familiarize com os povos e países (de Andorra à Zâmbia),
compreenda as complexidades religiosas das nações, e se solidarizem com os
problemas políticos, econômicos e espirituais que eles enfrentam. Isto os fará
ver que o nosso Deus é como um Deus missionário, que se preocupa com os
povos do mundo. Além disso, quando os diferentes grupos de povos são
identificados facilita a focalização da sua oração e seu possível envolvimento.
Você precisa também conduzir sua igreja a adotar um determinado grupo
étnico ainda não alcançado. Você pode descobrir mais sobre eles através da
International Mission Board’s (Comitê de Missões Internacionais).
Como você já sabe, eu amo ler biografias de missionários. Tantas vezes
fui encorajado e inspirado, enquanto via como o Senhor trabalhava em suas
vidas, mesmo nas situações mais difíceis. Isto tem me ajudado a enxergar as
coisas por uma perspectiva melhor! Descobri que tais biografias fornecem
amplo material ilustrativo, não apenas quando nos referimos a questões
missionárias, mas também em outros contextos expositivos. Isto ajuda a sua
congregação a se familiarizar com nomes como William Carey, Adoniram
Judson, Hudson Taylor, Jim Elliot e Nate Saint. Recomende estes livros à sua
igreja. Talvez você até consiga disponibilizar algumas cópias para
empréstimo ou compra. Você inclusive poderia pedir ajuda a alguns membros
para escrever resumos das biografias missionárias para a publicação no
jornalzinho da igreja.
Algum tempo atrás, eu presumia que a maior parte dos membros de uma
igreja conheciam os nomes de Carey, Judson e Taylor, mas descobri, quando
lecionava um curso introdutório sobre missões numa faculdade local, que
estes missionários pioneiros eram estranhos para muitos estudantes cristãos.
Eu inclusive ouso dizer que você provavelmente encontrará a mesma
compreensão empobrecida em sua própria congregação. Fiz com que a
biografia de William Carey escrita por Timothy George, Faithful Witness:
The Life and Mission of William Carey, (Testemunha Fiel: A Vida e Missão
de William Carey), fosse leitura obrigatória para meus alunos, e poderia ser
uma boa idéia pelo menos fornecer algumas cópias deste excelente livro para
a liderança de sua congregação. É claro que você não pode obrigá-los a ler,
assim como eu posso em sala de aula, mas você certamente pode exortar
estes líderes a crescerem em seu entendimento da história das missões através
da leitura deste livro. Talvez você pudesse iniciar a sua reunião de diáconos
ou a reunião do comitê de missões com uma discussão de quinze minutos no
livro Faithful Witness (Testemunha Fiel), ou John Paton: An Autobiography
(John Paton: Uma Autobiografia)[186], ou, ainda, Through Gates of Splendor
(Pelas Portas do Esplendor).[187] Desta forma, você estará ajudando a
liderança de sua congregação a pensar missionariamente, usando um material
histórico para fazer surgirem idéias, visando o desenvolvimento de uma
igreja com o coração voltado para missões. Como um de nossos presbíteros
expressou: “Uma educação missionária leva a uma consciência missionária”.
Quero desafiá-lo a fazer de missões uma área de estudo por toda a vida.
Nos últimos duzentos anos, as fronteiras missionárias têm se estendido para
quase todos os cantos do mundo. Desde os primeiros anos da “Baptist
Missionary Society” (Sociedade Batista Missionária) e da “The Society for the
Propagation of Christian Knowledge” (Sociedade para a Propagação do
Conhecimento Cristão), centenas de organizações missionárias têm surgido.
Muitas delas poderão ser suas boas parceiras, enquanto você prepara sua
congregação a se mobilizar pelas missões. Mas você precisa se lembrar
sempre que nenhuma organização pode substituir a igreja local como a
plataforma de lançamento de missões. As igrejas produzem o pessoal que irá
finalmente trabalhar em uma missão. Você precisa apreciar o papel de ser
alguém que equipa missionários para o campo. Eu nunca me esquecerei de
um veterano líder de missões, que contou à nossa congregação o quanto ele
valorizava o treinamento feito pelas igrejas, até mais do que o treinamento
feito pelos seminários, a fim de prepararem seus missionários. Ele fez o apelo
de que treinemos nosso povo teologicamente e os ensinemos a serem
“homens de igreja” que saberão como desenvolver congregações
biblicamente sãs. Os seminários jamais foram planejados para substituir a
igreja local na preparação de homens e mulheres no ministério; eles existem
para suplementar a igreja. Se você pretende ser eficaz tanto no treinamento de
missionários de carreira quanto no preparo obreiros em missões de curta
duração, em sua congregação, então você precisa perseguir uma vida de
estudos missionários.
Você iniciará este papel compreendendo a base teológica para o trabalho
missionário. Foi isto que impeliu William Carey, Andrew Fuller, John
Sutcliff e John Ryland Jr. à frente do movimento missionário moderno: o
primeiro como “o missionário” e os outros três como a base de suporte.
Todos estes pastores do século dezoito eram teólogos pastorais que lutavam
com sua compreensão da Palavra de Deus e suas implicações na vida
congregacional. Suas convicções teológicas os capacitavam a enfrentar
corajosamente a passividade missionária entre os batistas ingleses. Estas
mesmas convicções da Palavra de Deus os sustentaram durante os dias de
trevas da fraca sociedade missionária. Timothy George explica a base
teológica para o livro de William Carey, Enquiry (Indagação), que se tornou
o esboço principal para o movimento missionário moderno: “Conquanto o
seu plano fosse um chamado para a ação, baseado na compaixão genuína
pelos perdidos, ele era fundamentado em algo ainda mais profundo; a saber, o
caráter do próprio Deus — eterno, santo, justo, amoroso, e compassivo”.
[188] Para Carey e seus amigos, a teologia os motivava para a ação
missionária.
Conquanto eu esteja recomendando a leitura de livros que tratem de
estratégias missionárias, sua fundação precisa sempre estar numa base
teológica claramente articulada para missões. Uma vez que a fundação é
posta sobre as Escrituras, você pode analisar uma a uma das muitas questões
referentes às estratégias que confrontam os missionários. Você será capaz de
discernir aquelas estratégias que são apenas superficiais e manipuladoras, e
que não deixam resultados duradouros.
Em termos de estudo de estratégias missionárias, ainda estou
maravilhado sobre o quão atualizados são para os nossos tempos os livros de
Carey, Enquiry (Estudo) e depois Serampore Compact of 1805 (Tratado de
Serampore de 1805). Carey expôs uma visão clara para o envolvimento da
igreja local em missões. O Tratado esboça os “grandes princípios” que
dirigiram o próprio Carey, além de Joshua Marshman e William Ward (O
Trio de Serampore) e outros envolvidos em seu trabalho missionário. Ele
trata primeiramente de sua base teológica nas “gloriosas doutrinas da graça
soberana” como a motivação para “persuadir o homem a se reconciliar com
Deus”. Eles avaliavam o valor da alma humana, a importância de pesquisar
sobre uma determinada cultura para entender a melhor forma de se comunicar
com eles, abstendo-se de coisas que possam impedir culturalmente o
evangelho de ser testemunhado, viver com o povo ao invés de isolado dele,
manter a centralidade do Cristo crucificado em sua pregação e exercer
paciência com a população local. Sua seção sobre o trabalho diligente com os
novos convertidos mantém-se em aguçado contraste com a presunção tão
comumente caracterizadora das missões modernas. Eles procuravam
fomentar o desenvolvimento de lideranças locais, salientar a tradução das
Escrituras nos diferentes dialetos, e educar habitantes locais, a fim de que eles
pudessem ler a Palavra de Deus. A vida devocional pessoal do missionário
deve ser cultivada regularmente. “Finalmente, deixe-nos entregarmo-nos
completamente à esta causa gloriosa”, eles concluíram, com uma dedicação
tamanha a ponto de sacrificarem suas vidas pelo evangelho em terras
estrangeiras.
Descobri ser muito útil inserir estratégias missionárias onde quer que
fosse apropriado em meus sermões. A igreja precisa aprender a pensar
missionariamente, se quer possuir uma paixão ardente por missões globais.
As estratégias são na verdade aplicações de seu entendimento teológico de
missões. Então, é correto que você ajude sua igreja a compreender a natureza
prática da doutrina bíblica, até mesmo na obra missionária.
Mas além de estudar missões, você também precisa acompanhar as
notícias ao redor do mundo. Isto realmente o ajudará a sintetizar seus estudos
missionários e teológicos em situações da vida real. Você precisa conhecer o
mundo. Tenha um mapa mundi ou um globo sempre à vista, de forma que
fique familiarizado com os cantos mais distantes do mundo. Leia sobre
nações, populações, conflitos civis, religiões do mundo, mudanças políticas
globais, questões econômicas, desastres naturais, tendências sociais e
sofrimento humano. De certa forma, você precisa se tornar um “demógrafo-
teológico” — estudando os povos do mundo, compreendendo as suas
culturas, sentindo o sofrimento de seus lamentos, e, ainda assim,
comprometido sempre com a sua necessidade pelo evangelho. Ore tão
freqüentemente quanto lê. Uma vez que você comece a pesquisar sobre o
mundo, descobrirá que tendemos a possuir uma visão míope com relação ao
resto do mundo. Somos terríveis em geografia e sempre tendemos a saber
ainda menos sobre os diferentes povos, culturas, sofrimentos ao redor do
mundo e as necessidades espirituais. Conforme você investiga o mundo,
precisará interceder por nações e populações em particular. Inclua este tipo de
oração em suas orações pastorais diante da igreja, de forma que a
congregação comece a pensar e orar além das paredes do templo.
Você pode começar sua pesquisa do mundo pela leitura de um bom
jornal diário, focando nas notícias mundiais. Adicione a este outras
publicações, como WORLD, National Geographic, U.S. News & World
Report, Comission; e também faça uma assinatura do Compass Direct para
informações atualizadas nas dificuldades dos cristãos ao redor do globo.
Pesquisas pela Internet irão render mais informações do que você possa
assimilar, de forma que você jamais ficará sem material para estudar o mundo
a partir de um ponto de vista cristão / missionário.
Finalmente, não há nada como visitar uma localidade no exterior para
ajudá-lo a fomentar o seu entendimento de missões e intensificar a sua paixão
por missões. Recomendo que você estabeleça uma visita com um amigo
missionário ou um pastor local. Planeje a sua viagem com bastante
antecedência. Pesquise sobre o país, os grupos de populações, pano de fundo
religioso e trabalhos missionários em preparação. Descubra de que forma
você pode ser útil àqueles que irá visitar. Entenda que você não poderá
substituí-los durante a sua breve estada, mas pode ser um ajudante para eles.
Você estará indo lado a lado, de mãos e coração unidos com eles, em seu
trabalho. Tão logo você chegue, tome um tempo para ouvi-los e aprender
deles. Faça muitas perguntas, não apenas aos seus anfitriões, mas também aos
moradores locais que encontrar. Faça um trabalho de imersão em sua cultura.
Entre na pele deles, ainda que por apenas uma semana. Sinta o fardo que eles
carregam pelos perdidos em sua comunidade. Conheça as pessoas a quem os
missionários ou lideranças cristãs locais ministram. Compreenda a dinâmica
de exercitar um ministério de evangelização naquela cultura em particular.
Então, traga tudo isto de volta para casa.
Lembro-me um casal idoso em Sommiere, França, que visitei muitas
vezes, durante minhas viagens de ensinamento missionário naquela região. O
missionário me pediu para ir visitá-los com um outro casal. Seguimos por
aquela cidade tão antiga, que não tem nenhum trabalho evangélico, dirigindo
pelas ruas estreitas até que chegamos a uma pequena casa em construção. Os
sorrisos eram abundantes, enquanto andávamos até a porta! Uma vez que eles
não falavam inglês e eu não falava francês, dependíamos de nossos tradutores
para nos ajudarem. As traduções foram feitas em inglês precário, mas os
nossos corações se comunicavam. Fizemos perguntas sobre a sua saúde,
conversamos sobre seus filhos e netos. Eles também nos perguntaram sobre
nossas famílias e igreja. Conversamos sobre Cristo, o evangelho e a igreja do
Senhor Jesus Cristo. Então, cantamos juntos — em inglês e francês. Eu abri
as Escrituras, expus brevemente um Salmo e conduzi o pequeno grupo em
oração, enquanto meu amigo traduzia para a edificação daquele casal idoso.
Nossos anfitriões trouxeram suco e brioches para apreciarmos. Despedimo-
nos com os tradicionais beijinhos no rosto e uma satisfação de haver entrado
em suas vidas — e eles, nas nossas. Retornei à sua casa em outras ocasiões.
Tem sido muito bom levar jovens de nossa igreja comigo para visitação. Eles
agora são parte da lembrança que me vem à mente, quando eu penso na
França.
Lembranças parecidas vêm à tona também quando penso na Rússia —
comendo uma sopa de galinha muito suspeita, juntamente com três alunos,
enquanto conversávamos sobre a importância da sã doutrina e da fidelidade
no ministério; Albânia — onde gravei em minha mente os olhares
inexpressivos de um povo que sofreu privações de todo o tipo, durante
quarenta anos; Brasil — onde preguei o evangelho numa plataforma ao ar
livre, enquanto milhares de pessoas passavam apressadamente e poucas
paravam a fim de ouvir; e Itália — onde um homem de meia idade, que tinha
indagações sobre o evangelho, ouviu minha pregação sobre a suficiência de
Cristo e comentou: “Você disse aquilo para mim”.
Nada tem sido mais compensador do que levar outras pessoas comigo
nestas viagens missionárias de curta duração. Tão logo os membros da igreja
enxergam pessoalmente uma outra cultura, e sentem o impacto da
comunicação intercultural do evangelho, eles têm uma atitude completamente
diferente com relação às missões globais. Não tenho de convencê-los de que
a igreja precisa exercitar o seu cuidado pelas nações. Tenho apenas de
equipá-los e mobilizá-los à ação. Eles entendem o poder do evangelho de
Cristo, que destrói toda barreira para transformar vidas em todas as culturas e
uni-las no corpo de Cristo.
Sim, Timóteo, o seu desafio é enorme; mas o Senhor da igreja é maior
ainda. Seja fiel na jornada como um bom mordomo do evangelho, através da
multiforme graça de Deus.

Calorosamente,
Pastor Phil

PS A propósito, além dos livros Let the Nations Be Glad! e The


Supremacy of God in Missions, de Piper; Operation World , de Johnstone; e
Faithful Witness : The Life and Mission of William Carey, de George; deixe-
me recomendar mais alguns títulos que serão valiosos recursos para você:
1. No início do século vinte, o missionário anglicano Roland Allen
escreveu o livro Missionary Methods: St. Paul’s or Ours? (reimpressão,
Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans Publishing Co., 2002). Ele
demonstra que nossa estratégia missionária precisa ter uma clara base bíblica.
2. Perspectives on the World Christian Movement, editado por Ralph
Winter e Steve Hawthorne, 3ª edição (Pasadena, CA: William Carey Library,
1999), contém 124 ensaios no vasto campo das missões globais. Você pode
não concordar com todo o conteúdo, mas certamente encontrará um material
útil para estimular o seu pensamento em missões.
3. Hudson Taylor: God’s Man in China, Dr. e Sra. Howard Taylor
(Chicago, IL: Moody Press, 1965); Through Gates of Splendor, Elisabeth
Elliot (reimpressão, Wheaton, IL: Tyndale House Publishers, Inc., 1981) e
Autobiography (Autobiografia), John Patton (reimpressão, Edimburgo: The
Banner of Truth Trust, 1994), são livros que irão influenciar sua mentalidade
missionária e, provavelmente, mantê-lo encantado com suas histórias
fascinantes.
Capítulo 20 - Não negligencie o avivamento (Ray Ortlund, Jr.)

Capítulo 20

Não negligencie o avivamento


Ray Ortlund, Jr.

Amado Timóteo,
Vibro ao acompanhar o seu progresso no ministério. Deus tem colocado
a mão sobre você, meu amigo. Espero que, pela fé, você esteja desfrutando de
um senso do favor de Deus através da obra consumada de Cristo na cruz.
Deixe o sorriso de Deus encorajá-lo, incentivá-lo e energizá-lo para o seu
serviço. Radie esta graça aos outros — eles também precisam dela. Nós
somos todos tão fracos e precisamos de forte encorajamento.
Agora, conforme você caminha por estes primeiros anos formativos do
seu ministério, você sem dúvida está consciente de que há basicamente duas
formas de procedimento no pastorado. Por um lado, você pode trabalhar por
um pagamento mensal. Pode organizar uma rotina previsível na igreja,
mantendo os vários grupos da igreja satisfeitos, traçando sempre um caminho
intermediário seguro em toda controvérsia, protegendo cuidadosamente o seu
emprego, e assim em diante. Por outro lado, você pode servir o glorioso
Senhor. Seguindo a sua Palavra, você poderá alcançar muito mais pela fé.
Pode ser um homem de convicções. Pode moldar o seu ministério através da
Bíblia. Pode trabalhar pelo favor eterno das almas de seu povo e pela
destemida expansão do evangelho, no seu campo de trabalho. Basicamente,
há estas duas formas de se realizar o ministério pastoral. Eu sei que você
continuará a esforçar-se para obter um ministério moldado à semelhança de
Deus, qualquer que seja o custo.
Se o objetivo fosse ser condescendente a fim de, meramente, se fazer
agradável aos homens, o seu ministério seria mais fácil. Seus padrões
incorretos seriam sempre a popularidade, tranqüilidade, controle, paz a todo
custo, seguindo sempre o caminho de menor resistência. Você então aspiraria
o respaldado lugar de um “cara realmente legal”, como disse um autor
contemporâneo.
Porém, uma vez que você tenha determinado agradar a Deus em
primeiro lugar e acima de todas as coisas, o seu caminho será mais difícil.
Naturalmente, você quer ganhar o afeto das pessoas. Você ama pessoas e
aprecia sua companhia, como realmente deveria. Você quer que elas o amem,
por causa de Jesus. Paulo disse: “Assim como também eu procuro, em tudo,
ser agradável a todos” (1 Co 10.33). Que declaração arrebatadora de seu
generoso desejo de ouvir, ajustar, ceder e adaptar-se! Paulo tentou fortemente
não afastar as pessoas. Ele queria ganhar um ouvinte, por amor ao Senhor.
Então, moldou suas estratégias de forma a voar sob os seus radares, desarmar
os seus preconceitos e ser agradável a elas. “Assim como também eu
procuro, em tudo, ser agradável a todos.” Você também seja assim, Timóteo,
e isto está certo. Jamais se torne um homem mesquinho, irritável e egoísta.
Paulo não era. Seu ministério era tão aprazível que deliciava as pessoas,
porque ele vivia como um servo à semelhança de Cristo, por amor ao
evangelho.
Também é verdade que caso você, assim como Paulo, mire bem alto, a
sua visão desafiará as pessoas. Você as motivará. Poderá fazê-las sentirem-se
desconfortáveis. Elas podem até mesmo se sentir ameaçadas em
determinados momentos. Você irá inevitavelmente (algumas vezes você nem
perceberá que está fazendo isto) desafiar aspectos de sua igreja, os quais
algumas pessoas prefeririam não tratar. Então, em sua caminhada com Deus,
você assumirá riscos. Irá desconsiderar os seus próprios interesses em prol do
avanço do evangelho. E em nenhuma outra área isto é mais verdadeiro que no
avivamento.
Mencionei anteriormente as palestras de J. I. Packer, as quais ouvi
quando ainda era um seminarista. E uma de suas frases simplesmente não me
permitia relaxar: “Não negligencie a dimensão de um avivamento em seu
ministério”. Você sabe, Timóteo, alguns homens negligenciam. Eles nem
sequer pensam em termos de avivamento. Isto jamais lhes passa pela cabeça.
Estão focados no sermão do próximo domingo e nas conferências
missionárias do ano seguinte. O seu pensamento é limitado aos programas de
sua igreja. Jamais lhes ocorre que o momento máximo de qualquer igreja é
quando Deus manifesta sua presença como uma erupção. Seu poder e
santidade, cancela eventos no calendário da igreja e estabelece Ele próprio
como o centro da fascinação reverente de uma igreja. Deus é
maravilhosamente capaz de visitar o seu povo.
Eu me lembro quando era um menino, Timóteo, no início da década de
1960 (talvez eu tivesse onze ou doze anos, não me lembro exatamente),
sentado na igreja, em um domingo de manhã, enquanto meu pai pregava. Ele
estava apenas proclamando uma mensagem bíblica com seu típico jeito tão
cativante. Não estava tentando incitar qualquer resposta incomum nas
pessoas. Ele nunca o fez. Conforme me lembro, eu rabiscava com um lápis
em um jornalzinho, sem prestar muita atenção, quando algo aconteceu.
Percebi que um dos homens no coral, Ed Fisher, levantou-se de sua cadeira
na galeria do coral atrás do púlpito, e, silenciosamente, sem tentar chamar
atenção para si mesmo, desceu à mesa da Ceia, na frente, e ajoelhou-se
reverentemente em oração. Ed era um homem de Deus, não um excêntrico.
Ele tinha credibilidade. Mas Deus estava falando com ele de uma forma
muito poderosa através do sermão de meu pai, e ele foi compelido pelo
Espírito Santo a responder de alguma maneira. Então Leta, sua esposa — a
fiel e zelosa Leta! — também no coral, levantou-se de seu lugar e se juntou a
Ed em oração, lá na frente. Agora, imagine você, Timóteo, que nós não
costumávamos fazer este tipo de coisa em nossa igreja. Nós éramos uma
igreja tranqüila, de classe média alta, formada por arquitetos, cientistas,
médicos e outros. Esta era a histórica Lake Avenue Congregational Church of
Pasadena (Igreja Congregacional da Avenida Lake, em Pasadena). Timóteo,
nós éramos muito respeitáveis! Mas Deus veio até nós naquele dia com uma
visita memorável de sua presença salvífica. E para o meu espanto, por toda
parte da igreja, cada vez mais e mais pessoas começavam a ir silenciosamente
em frente à mesa da Ceia, ajoelhando-se em oração e tratando com Deus.
Meu pai não estava pedindo para elas fazerem aquilo. Ele estava tão
surpreendido como qualquer outro ali. Na verdade, conforme ele foi se dando
conta de que Deus estava se manifestando de uma forma especial, ficou sem
saber o que fazer. Inicialmente ele apenas continuou pregando. Mas quando
se tornou claro que Deus estava direcionando o culto, meu pai se afastou do
púlpito e permaneceu calado, em oração. O organista teve o discernimento de
começar a tocar de uma forma apropriada e não intrusiva. Todos estavam
calados. Mas Deus veio até nós, trazendo ao ministério normal tamanha
demonstração de seu poder que nós, simplesmente, não poderíamos
prosseguir da forma costumeira. E, de fato, Timóteo, isto aconteceu
novamente em outras ocasiões, e nunca foi orquestrado por homens. Isto me
fez pensar em 1 Reis 8.10-11, quando os sacerdotes não podiam continuar
sua ministração “porque a glória do Senhor enchera a Casa do Senhor”.
Esta foi a experiência de apenas uma igreja. Mas isto não foi a salvação
da lavoura — não resolveu todos os nossos problemas. Não estabeleceu uma
nova tradição de “chamados ao altar”, e nem distraiu a igreja dos esforços
tradicionais da pregação semanal, aconselhamento, ensino, encorajamento e
assim por diante. A liderança da igreja continuou levando o navio num curso
reto, simples e bíblico. Mas o avivamento também é bíblico. E estas
experiências da presença avivadora de Deus, através e de acordo com sua
Palavra, nos marcou como igreja. Nós sabíamos que havíamos entrado numa
inovação irreversível. Sabíamos que havia mais para nós em Cristo do que
havíamos compreendido, e nossos corações se abriram para este “mais” que
Ele queria nos dar. Aqueles foram anos de abundante frutificação para a
Igreja da Avenida Lake; a até os dias de hoje, fico comovido quando penso
no que Deus realizou naqueles dias. Enquanto eu viver, jamais ficarei
satisfeito em simplesmente “participar da igreja”. Eu quero ver o Senhor
visitar o seu povo com nada menos que misericórdias avivadoras.
Sei que o seu coração também anseia por avivamentos. Juntos, estamos
orando por um grande avanço do evangelho em nossa geração. Não estamos
satisfeitos com a mediocridade atual da igreja evangélica. Não podemos
suportar a existência, se o nome de Jesus não for honrado, amado, desejado e
obedecido mais e mais, além de onde podemos enxergar. Anelamos por um
espírito de arrependimento para quebrantar nossas igrejas superficiais e
narcisistas, juntamente a um espírito de fé para enchê-las com o Espírito
Santo. Oramos pelo privilégio de reviver o livro de Atos em nossos tempos
— um derramamento maciço do Espírito, de forma que a Palavra atravesse
como um raio, da igreja para o mundo, mudando a face de nossa geração, de
acordo com as promessas da Palavra profética de Deus.
Mas nem todos se sentem desta forma. Alguns cristãos simplesmente
não sentem aquele fogo intenso queimando em seus corações. E quando eles
o encontram em outros, alguns não compreendem e talvez nem gostem. Você
ficará surpreso, Timóteo, em como cristãos de bom coração, sinceros, podem
resistir a um avivamento. Você irá ouvir suas defensivas: “O que você quer
dizer quando fala que nós precisamos de um avivamento? Pastor, você está
dizendo que nós não temos orado o bastante? Está dizendo que há alguma
coisa errada conosco? Está dizendo que Deus não nos tem abençoado durante
todos estes anos? Está invalidando tudo o que nós temos sido e feito? Isto
implica que nós não temos o coração voltado para o evangelismo? O que
você quer dizer, quando fala que nós precisamos de um avivamento? Nós já
estávamos servindo ao Senhor muito antes de você aparecer aqui! E se você
está pensando que vai mudar a nossa igreja, saiba que nós gostamos dela
exatamente do jeito que está, e muito obrigado”.
Timóteo, esta é a igreja — a igreja como ela é, com todos os seus
medos, seu orgulho e relutância. Estas são as pessoas necessitadas que Deus
ama e quer acordar para uma nova percepção de quem Ele é, um novo desejo
por sua glória, uma nova abertura para a sua vontade governadora. E Ele quer
fazer isto através da sua influência. Você não pode fazer um avivamento
acontecer. Somente Deus pode. Mas Ele pode usá-lo para os seus propósitos
de despertamento. Então, de que forma você pode se apresentar útil a Ele
para um ministério que Ele pode realizar com o seu santo poder?
Muito poderia, e deveria, ser dito neste momento. Mas, me contentarei
com o curto espaço desta carta para propor três coisas que você deveria ter
muito claro em mente.
Em primeiro lugar, conduza o seu povo espiritualmente. Você não está
lá apenas para dirigir os programas da igreja. Sabiamente organizados, tais
artifícios institucionais têm o seu uso. Mas alguns pastores parecem não
compreender que uma igreja não é o equivalente religioso para a Associação
Cristã de Moços. Nem está lá apenas para encher a cabeça das pessoas com
mais e mais informação bíblica. Algum tempo atrás, depois de um culto, uma
irmã sábia, porém frustrada, se aproximou de seu pastor-professor — e eu
enfatizo aqui o professor — com o seguinte pedido: “Pastor, leve-nos até
Jesus!” Agora, Timóteo, este é o seu grande privilégio e responsabilidade.
Domingo após domingo, leve o seu povo pela mão, por assim dizer; traga-os
à presença do seu Senhor e os deixe lá. Use os cultos semanais para um
envolvimento de mente e coração com o Deus vivo. Use a sua pregação para
conduzir o povo através da Palavra ao Senhor revelado nela. Use a sua oração
para demonstrar o quão real Deus é, através de Cristo, para nós pecadores.
Não é seu trabalho proteger o povo do Deus vivo, mas sim trazê-lo à sua
presença. Nossa tendência constante é de cair numa rotina religiosa
apressada, correndo de uma atividade à outra, sem orar ou pensar naquilo que
estamos fazendo. Então, se o Senhor realmente se manifesta, nós mesmos
podemos ser pegos tão de surpresa que estragamos o momento com alguma
observação estúpida. Então eu insto que você, Timóteo, lute e ore, a fim de
que possa permanecer espiritualmente acordado. Onde quer que você esteja,
esconda-se em Cristo, e conduza o povo a viver lá também. Coisas
maravilhosas e surpreendentes podem acontecer quando nossas Bíblias e
nossos corações estão completamente abertos diante de Deus.
Em segundo lugar, pregue o evangelho esperançosamente. Através de
Cristo e por causa de seu nome, você foi chamado para pregar a graça de
Deus aos pecadores. Que alegria! E Ele está sempre pronto a derramar seu
Espírito sobre você, momento após momento, num frescor contínuo para o
propósito da salvação. Que fonte! Martyn Lloyd-Jones concluiu suas
preleções no Seminário Teológico de Westminster, em 1969, perguntando:
O que, então, devemos fazer a este respeito? Há apenas uma conclusão óbvia.
Busque-O! Busque-O! O que nós podemos fazer sem Ele? Busque-O! Busque-O
sempre! Mas vá além de buscá-Lo; espere-O. Você espera que alguma coisa aconteça,
quando se levanta para pregar no púlpito? Ou você simplesmente fala a si mesmo:
“Bem, eu já preparei o meu sermão, o qual explicarei agora; alguns deles irão gostar e
outros não”? Você está esperando que seu sermão seja o ponto decisivo na vida de
alguém? Você está esperando que alguém tenha uma experiência máxima? É isto que a
pregação deveria fazer. É isto que você encontra na Bíblia e na história subseqüente da
igreja. Busque o poder dEle, espere o poder dEle, anele o poder dEle.[189]

A maior batalha em seu ministério será travada no seu interior, enquanto


você luta para manter-se esperando a bênção de Deus, face aos seus próprios
pecados e aos pecados dos outros. O único remédio contra o desespero no
ministério é o evangelho. Continue pregando o evangelho para você mesmo
em primeiro lugar. Continue lembrando a si mesmo de que Deus ama os
pecadores, Deus trabalha com os pecadores. Encoraje a si mesmo sabendo
que a Palavra do Senhor veio a Jonas uma segunda vez (Jn 3.1). E através de
Jonas — até mesmo Jonas! — a palavra transformou uma cidade ímpia. Não
somos você e eu tão inadequados e problemáticos como Jonas? Mas Aquele
que nos enviou é “Deus clemente, e misericordioso, e tardio em irar-se, e
grande em benignidade, e que te arrependes do mal” (Jn 4.2). Alguém disse
incisivamente: “Deus não escolhe os capacitados; Ele capacita os
escolhidos”. Então, Timóteo, deixe que o mistério de sua graça sustente as
suas expectativas, face aos argumentos plausíveis para desistência de si
mesmo e dos outros.
Em terceiro lugar, aceite o sofrimento humildemente. Vamos encarar a
realidade. Não são muitos os cristãos que ardem em aspirações espirituais
heróicas. Muitos dos nossos melhores crentes tendem a ficar absorvidos com
o churrasco do próximo fim de semana, a pescaria do mês que vem, ou a
aposentadoria do próximo ano, muito semelhantes às preocupações do
mundo. Como resultado disto, meu caro, você pode acabar sendo mal
interpretado, temido e rejeitado por alguns cristãos. Exatamente por estar
vivendo corajosamente para o Senhor, você pode ser visto como inimigo. E
no fim das contas, de certa forma, você o é. Ao direcionar-se para o triunfo
de Cristo somente, você está, mais do que pretendia ou imaginava, se
colocando contra os ídolos que dominam o caráter de algumas igrejas.
Agora, se você descobrir ser contrário a algo, seja tão honesto e
imparcial sobre o assunto quanto puder. Pergunte a si mesmo se é falta sua.
Pode ser que sim, ao menos em parte. Você mesmo pode precisar arrepender-
se de alguma coisa. Então, esteja aberto. Acautele-se do poder endurecedor
da sua própria auto-justiça.
Mas pode acontecer de não ser falta sua. O conflito pode ter surgido
porque você está obedecendo a Deus — como fizeram os apóstolos e tantos
outros que sofreram perseguição. Agora, meu irmão, quando você é injuriado
por amar a retidão, peça ao Senhor para manter três coisas claras diante de
você. A primeira, você tem uma grande recompensa no céu. De sua própria
forma modesta, você se identificou com o nobre exército dos mártires e com
o seu próprio Senhor crucificado. Desfrute deste privilégio. Permaneça firme.
Confie que o Senhor vai tomar conta de você. A segunda coisa, o cargo
pastoral na igreja onde você serve merece proteção contra a depreciação por
parte de pessoas bem-intencionadas, mas incompreensivas. Desligue-se
psicologicamente do cargo pastoral que você ocupa, e por amor àquela igreja
e a seu próximo pastor, tente — tanto quanto você possa, sem complicar as
coisas no futuro — guardar intactas a autoridade e honra do cargo. E a
terceira coisa, sua própria pessoa, reputação e sentimentos são sacrificáveis.
Meu amado irmão, sua própria vida é sacrificável por amor a Jesus.
Obviamente os seus diáconos devem construir uma espécie de muralha
protetora ao seu redor. Mas quer eles o ajudem ou abandonem, não contra-
ataque os seus detratores meramente pelo desprezo e ataques pessoais.
Mesmo sendo tão difícil, você precisa dar a outra face. Frederick William
Faber disse isto claramente em um de seus hinos: “Aprenda a perder com
Deus”.
Você sabe do evangelho que é a cruz que triunfa. É a morte que leva à
vida. É a vergonha que leva à honra. É o sacrifício que herda abundância.
Nos caminhos de Deus — quão estranhos, quão contra-intuitivos são seus
caminhos e experimentados apenas quando confiamos nEle, mais do que
confiamos em nossos próprios instintos, auto-preservadores mas destrutivos
— você tem uma razão para aceitar a adversidade com humildade. Sua
humildade foi ordenada por Deus para penetrar as consciências e acordar os
corações sonolentos. Ao seguir o Jesus crucificado, você se tornará um
agente do avivamento para o Cristo ressurreto. Ele lhe dará esta certeza.
Então, não perca o ânimo. Quando você está fraco é que está forte.
Agora, Timóteo, mantenha seus olhos seguramente fixos naquilo que
somente Deus pode fazer. Molde o seu ministério pelos critérios estimulantes
das Escrituras. Não é isto a aventura, o mistério, o romance do ministério do
evangelho? E durante o caminho, não abandone os seus princípios. Quando
você tiver que se posicionar sozinho, uma consciência limpa e fortes
princípios são boas companhias. E, melhor ainda, existe um Amigo que é
mais chegado que um irmão. Que Ele possa preservá-lo e enriquecê-lo em
toda a graça, de forma que sua vida declare eloqüentemente para a sua
geração o poder avivador de Deus, para a glória dEle, sua alegria e salvação
das nações.

Seu irmão em Cristo,


Ray Ortlund, Jr.

PS Para estudos mais profundos sobre avivamento, sugiro os seguintes


livros:
1. Comece com Edwards. Ninguém pensa tão cuidadosa e
proveitosamente sobre avivamento como ele. Leia Thoughts on the Revival,
Jonathan Edwards. Você pode achá-lo no The Works of Jonathan Edwards, 2
vols., (reimpressão, Edimburgo: The Banner of Truth Trust, 1979).
2. Depois de Edwards, por que não tentar os sermões de Martyn Lloyd-
Jones sobre avivamento? Leia a coleção de seus sermões, intitulada Revival,
(reimpressão, Westchester, IL: Crossway Books, 1987). Se você ainda não se
apaixonou por Lloyd-Jones, eu espero que se apaixone. Revival é o Doutor
em seu melhor.
3. Finalmente, eu espero que você me perdoe por sugerir meu próprio
livro, When God Comes to Church, (Grand Rapids, MI: Baker Books, 2000).
Trabalhei muito com o texto bíblico para expor e defender o verdadeiro
avivamento. Mas há tantos outros livros maravilhosos neste tema. Oh,
gostaria que nós todos pudéssemos tirar um ano de folga só para ler!
Capítulo 20 - Encontre um lugar para se fixar (Geoff Thomas)

Capítulo 20

Encontre um lugar para se fixar


Geoff Thomas

Amado Timóteo,
Parabéns pelo seu primeiro ministério! Acredito que você aceitou o
chamado para este pastorado com tal senso de admiração, que qualquer igreja
lhe pediria para estar sob seu pastorado. Eu era muito mais confiante do que a
maioria dos jovens, quando comecei em 1965, mas as décadas seguintes
foram uma viagem para a fraqueza.
O ministério do evangelho em tempo integral ainda é um oásis
protegido. Somos poupados de muitas das tensões e tentações que os homens
a quem ministramos encontram todos os dias. Eles trabalham com suas
mentes e corpos neste mundo maligno, e generosamente nos dão o seu
dinheiro suado para que passemos nossos dias — pense nisto — na quietude
dos nossos estudos, na Bíblia, no evangelismo e pastoreando o povo de Deus.
Espero que você nunca se junte àqueles ministros que ficam por aí,
murmurando com os irmãos sobre as supostas dificuldades de ser um
pregador. Que vida maravilhosamente privilegiada nós levamos! Espero que,
se você acredita ser da vontade de Deus que você passe o resto de sua vida
tomando conta desta congregação, você o faça alegremente e agradecido ao
Senhor ao fim de cada dia por tamanha bênção.
Há uma rica variedade no trabalho do ministro. O professor de
seminário ensina um segmento teológico limitado das disciplinas religiosas,
geralmente a uma faixa etária específica de homens entre vinte e um e vinte e
quatro anos. Ele tem de escrever e publicar artigos acadêmicos para manter o
seu contrato. Tem de trabalhar com colegas que possuem a mesma
capacidade intelectual que ele mesmo. Há documentos para acertar, exames
para marcar, alunos problemáticos a serem procurados, jovens negligentes a
serem confrontados e colegas ambiciosos com quem trabalhar. Muito do seu
trabalho é desconhecido e não recebe as orações das igrejas. Seus pais nunca
o vêem no trabalho! Que trabalho unilateral ele realiza!
O pastor, por outro lado, geralmente trabalha em sua própria casa. Ele
está em seu escritório, com sua esposa passando de um cômodo a outro, e
seus filhos pedindo para entrar e vê-lo. Charles Hodge colocou a maçaneta da
porta de seu quarto de estudos num nível mais baixo para que seus filhos
pudessem entrar no escritório e conversar com ele a qualquer momento. Há
enorme liberdade a respeito dos livros da Bíblia que ele escolhe estudar e
pregar. Há os chamados para visita no hospital e aos doentes e idosos em suas
casas. Há evangelismo de todos os tipos, aconselhamento, preparação do
jornalzinho da igreja, trabalhos com os líderes piedosos da congregação,
conversas pré-nupciais e os funerais com conversas privilegiadas com viúvas
e os filhos do falecido. Há também as piedosas senhoras idosas com quem
conversar. Quando o telefone ou a campainha tocam, o que será que a pessoa
deseja? Não há qualquer riqueza no trabalho pára-eclesiástico que possa ser
comparado ao trabalho do pastor. Digo-lhe que você precisa agradecer ao
Senhor todos os dias por colocá-lo no ministério. Quem, chamado por Deus
para esta obra, poderia desejar alguma outra coisa?
Há uma imensa diferença entre a sua oportunidade anterior de ser um
pregador itinerante — visitando novas congregações onde ninguém lhe é
familiar — e o seu ministério atual, agora fixo, atrás de um único púlpito,
para pregar a um mesmo povo, semana após semana. Porém, aquelas
primeiras experiências de encontrar novas congregações deveriam ser
repetidas no decorrer da vida. Há poucos tônicos tão garantidos para o
coração de um pregador, quando ele está desencorajado com um milhão de
pequenas preocupações, como o tirar uma folga e pregar a uma congregação
distante. É como visitar uma cidade desconhecida e procurar a praça, as
casas, igrejas e lojas. Tudo é novo e fascinante, diferente de uma congregação
onde os olhos das pessoas estão em você. As multidões andam pelas ruas, e
há certa solenidade no cenário, que alguém pode perder de vista em sua
própria congregação. Ele vê aquela alvoroçada comunidade e pensa na
aflição de Outro, que certa vez contemplou outra cidade, e, então, relembra as
palavras dEle: “Larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a
perdição, e são muitos os que entram por ela” (Mt 7.13). O quão seriamente
deveríamos estar pregando o evangelho.
Mas tais visitas devem ser ocasionais. Um ritmo constante de viagens
para encontrar novas pessoas e a formação consciente de uma boa primeira
impressão podem deturpar completamente o nosso senso de humanidade.
Muitos grandes pregadores têm sido inseparavelmente associados com os
lugares onde trabalharam e onde, talvez, viveram como pastores a sua vida
inteira. Em muitos casos, suas cidades eram ligadas aos seus nomes, como se
fossem parte verdadeira deles mesmos. Chrysostom de Constantinopla,
Agostinho de Hipona, Calvino de Genebra, Baxter de Kidderminster, Bunyan
de Bedford, Rowland de Llangeitho, Jay de Bath, M’Cheyne de Dundee,
Spurgeon do Metropolitan Tabernacle, Lloyd-Jones da Westminster Chapel,
Chantry de Carlisle. Em meu país natal, Gales, com nossa escassez de
sobrenomes, uma grande quantidade de tais associações se tornaram
históricas e levaram os galeses a identificarem o homem com o lugar e o
lugar com o homem.
No Novo Testamento havia tanto um dinamismo quanto uma
estabilidade sobre a liderança na igreja. Os pregadores estavam
continuamente em viagens, alcançando novas áreas com o evangelho, com
pouco controle aparente ou ajuda financeira necessária para a semeadura e
irrigação. Mas também havia pastorados no Novo Testamento: João em
Éfeso, Tiago em Jerusalém e Tito em Creta. Eles estabeleceram igrejas
através da pregação. O ministério regular de pregação não precisa de defesa.
Seus registros históricos são sua melhor defesa. Quem teria ouvido de lugares
em meu próprio país como Llangeitho, Trefeca, Talsarm, Bala e Clynog, se
não fosse pelas extraordinárias mudanças ocorridas nestas comunidades,
através de pregadores que viveram lá? Não podemos perder a confiança no
poder da Palavra de Deus pregada e no ofício do ministro.
Através de longos pastorados, pregadores se tornaram ricos no
conhecimento dos caminhos de Deus com o homem e da própria natureza
humana. Philips Brooks apresenta três regras aos alunos, introduzindo-as com
a devida solenidade:
Eu imploro que você se lembre delas e as aplique com toda a sabedoria que Deus
lhe dá. Em primeiro lugar, tenha o mínimo de congregações que você puder. Segundo,
conheça a sua congregação o melhor possível. Em terceiro lugar, conheça a sua
congregação tão completa e profundamente que ao fazer isto chegue ao ponto de
conhecer a humanidade.[190]

Dr. James Stalker falou sobre suas próprias experiências neste sentido:
Foi-me motivo de alegria, quando fui ordenado, para estar ao lado… de um santo e
idoso ministro. Ele era um competente erudito, e tinha a reputação de ter sido, quando
mais jovem, um pregador poderoso e popular. Mas não era a estes talentos que ele devia
a sua influência sem par. Ele andava pela cidade, com seus cabelos brancos e postura um
tanto calma e digna, como uma presença santificada. A sua simples passagem pela rua
era um tipo de bênção, e as pessoas, conforme olhavam para ele, falavam sobre ele com
carinhosa veneração. As crianças ficavam orgulhosas quando ele colocava a mão em
suas cabeças, e estimavam muito as doces palavras que ele lhes falava. Em funerais e
outras cerimônias de solenidade doméstica, a sua presença era procurada por pessoas de
todas as denominações. Nós, que trabalhávamos ao lado dele no ministério, sentíamos
que a sua existência na comunidade era uma demonstração irresistível da cristandade e
uma torre de força para toda a boa causa. Porém, ele não havia conquistado esta posição
de influência por seus brilhantes talentos, ou grandes conquistas ou por impulso de sua
ambição; ele era singularmente modesto, e teria sido o último a dar crédito a si mesmo
de metade do bem que realizou. Todo o mistério repousa exatamente aqui, em que ele
vivera na cidade por quarenta anos uma vida sem culpa, e era conhecido por todos como
um homem piedoso e de oração. Ele era bondoso o bastante para me honrar com a sua
amizade; e o seu exemplo imputou, com profundidade, em minha mente estas duas
convicções — que algumas vezes é muito mais proveitoso passar a vida toda em um
único pastorado, e que a principal qualificação para o ministério é a piedade.[191]

O homem a quem ele se referia era um certo James Black de Dunnikier,


e pouca coisa, além deste parágrafo escrito por Stalker, é conhecida sobre
este homem ou ainda o lugar onde ele trabalhou. Dunnikier é muito pequena
para aparecer em qualquer mapa britânico. Black era um soldado daquele
exército de homens santos que têm servido o Senhor em comunidades
obscuras, modesta e humildemente, sem esperar qualquer outra recompensa,
senão o imenso privilégio de ter tão maravilhoso Mestre quanto o nosso
Cristo.
O perigo da imagem descrita acima é o romantismo. Onde estão as
bestas selvagens? O Senhor Jesus enviou os seus discípulos adiante como
ovelhas no meio dos lobos. Paulo pregou a Palavra publicamente, mas
também de casa em casa. Ele falou nas casas e também ao ar livre. Ele foi
cercado por amigos que choravam e o apreciavam, mas também por
multidões que o apedrejavam. Viver numa pequena comunidade por muitos
anos, amado por todos os homens e então morrer com as palavras: “Ele foi
um velho amigo muito legal”, como epitáfio é um risco de completa traição
do seu chamado. Há o risco de tal vida não ser abençoada para ninguém.
“Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos
perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e
exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram
aos profetas que viveram antes de vós” (Mt 5.11-12).
Certamente James Black não apenas confortou e exortou, mas também
às vezes manifestou a ira da reprovação. Ele teria que viver retamente, se
quisesse ser tão fiel quanto o seu Senhor que denunciou os fariseus e o rei.
Quando Stalker chegou em sua primeira igreja perto de Dunnikier e observou
Black, aprendeu uma grande verdade: Tudo no pregador deve pregar, não
apenas sua língua, mas também gestos, maneiras, vestimentas, andar e
conversas. Ao fim de sua vida Black tinha, pelo Espírito de Cristo,
desenvolvido um desembaraçado instinto e discernimento para seguir o
Salvador. Havia o comentário que ele fornecia, através de seu próprio
caminhar com Deus, tudo o que Dunnikier podia ler, sendo ele mesmo o
último a saber. Quer o ministério de alguém em uma determinada
comunidade seja longo ou curto, deve ser caracterizado por uma firmeza
cristã de caráter, superando o medo tímido dos homens, o serviço aos homens
e também a caça à popularidade. Quanto mais podada for a videira, mais
frutos ela produz. As pessoas da comunidade, conforme vão conhecendo o
pastor, estão sempre prontas para usar os defeitos dele como folhas da
figueira para cobrir a sua própria nudez. Os pecados do pastor são os maiores
em toda a igreja, porque são os que mais atrapalham o bom curso da Palavra
de Deus. Quanto mais os erros do pastor forem apaziguados diante da
comunidade, mais desinteressante a vida cristã aparecerá. Mas quão poderosa
é a força de um caminhar santo.
O ministro deveria pregar de três formas: com o coração, com a boca e
com a vida. A vida precisa provar aquilo que a boca fala, e a boca precisa
falar aquilo que o coração sente. Foi dito sobre os reformadores que “a
verdade não apenas era ouvida deles, mas resplandecia neles”. Richard
Baxter alerta os homens em seu livro O Pastor Aprovado:
Uma palavra orgulhosa, grosseira ou arrogante, uma contenção desnecessária, uma
ação cobiçosa, podem cortar a garganta de muitos sermões… É um erro palpável para
muitos ministros, que fazem tal diferenciação entre a sua pregação e a sua vida; que
estudam muito para pregar corretamente, mas estudam pouco, ou nada, para viver
corretamente. A semana inteira parece pouco tempo para estudar aquilo que se vai falar
durante duas horas; mas uma hora parece uma eternidade para estudar como viver
durante a semana… Oh, prestem atenção, irmãos, em cada palavra que vocês falarem,
em cada passo que vocês derem, pois carregam a Arca do Senhor — a vocês foi confiada
esta honra!… Observem a vocês mesmos, pois o sucesso de todo o seu trabalho depende
muito disso.[192]

Como os pastores encontram um lugar para se fixarem é um completo


mistério para mim. Se alguma vez a soberania de Deus se torna evidente, é na
maneira e época em que se recebe o chamado de uma igreja. Eu tenho visto
homens santos, que considero serem os mais brilhantes para pregação e
pastoreio, trabalharem por vários anos como carteiros, professores e
bombeiros enquanto esperam ser chamados a pastorear. Alguns jamais se
tornam pastores, e passam toda a vida achando que a profissão seguida era,
na realidade, sua segunda melhor escolha. Já outros homens, com muito
menos discernimento, pesos-penas teológicos, têm garantida a segurança do
púlpito, antes mesmo de terminarem o seminário. A facilidade nas
circunstâncias não são uma confirmação segura de que um homem foi
chamado para o trabalho com o evangelho. Quando o desertor Jonas, em
rebeldia contra Deus, chegou em Jope, encontrou um navio prestes a zarpar
para Társis. Lá havia uma cabine disponível, e Jonas tinha dinheiro para
pagar a passagem. Para ele isto tudo era uma confirmação de que suas
próprias idéias de ministério em Társis eram inspiradas por Deus, mas na
verdade, ele estava fugindo do Senhor. Os testes da providência não devem
ser interpretados como orientação divina recusando os nossos desejos ou
abrindo portas para nós. Nós realmente desejamos este trabalho? Temos um
bom entendimento bíblico do que isto requer? Temos os dons intelectuais,
morais, teológicos e amorosos para este trabalho? Os homens a quem
respeitamos nos instam a considerar este como o nosso próprio chamado
divino? Temos alguma idéia esquisita? O ministério não é lugar para os
excêntricos, por mais ortodoxos que sejam.
Então, espere pacientemente em Deus. Temos o mesmo Pai celestial.
Ele não dá dons para depois deixá-los enferrujar ou atrofiar por falta de uso.
Não há razão para você não pregar até o fim da sua vida. Você pode até não
ter um trabalho regular, uma casa pastoral e um salário, mas não há nada que
lhe impeça de pregar de inúmeras formas. Esteja envolvido com sua igreja
local. Coloque-se sob o melhor ministério que conseguir. Mostre um
contentamento invejável. Corte madeira e tire água, se esta for a vontade de
Deus para você. Aceite as oportunidades que o Senhor der a você, através de
sua igreja. O evangelismo de pessoa a pessoa é muito eficiente. A pergunta
que os pregadores mais escutam é: “Você pode recomendar um pastor para a
nossa igreja?”
Eu vivo nesta pequena cidade de 15.000 habitantes desde 1965. Sempre
senti que comecei já no topo e não poderia pensar num lugar melhor para ser
um pastor e pregador. Aberystwyth é a capital cultural do País de Gales.
Aberystwyth fica no meio do caminho entre o norte e o sul do país, por isso
acabou se tornando a sede da Biblioteca Nacional do País de Gales e da
primeira universidade galesa, que hoje tem em torno de 8.000 alunos. Trata-
se de uma comunidade bilíngüe, e nós somos uma família que fala o galês.
Situa-se no Mar da Irlanda e é um lugar maravilhoso para se viver. Deus me
deu um lugar ao sol. Chorei quando soube que a igreja havia me chamado e
aceitei o convite naquela mesma semana. Ambos os lugares onde minha
esposa e eu passamos a infância ficavam a apenas algumas horas para o norte
e para o sul. Uma noite de sábado, depois que eu já estava aqui há alguns
meses, fui à costa norte para falar na Bangor University Christian Union. Na
manhã seguinte, fui para Aberavon, na costa sul de Gales, e preguei em
Sandfields, onde o Dr. Lloyd-Jones havia sido pastor durante as décadas de
1920 e 30. Eu podia falar em qualquer lugar do país e voltar para casa ainda
na mesma noite. Eu não estava interessado em outro lugar, e nunca recebi um
convite formal para pastorear em outro lugar durante todos estes anos. Se
tivesse iniciado meu ministério em outra cidade, eu talvez não ficasse por
tanto tempo. Nunca fiquei buscando a atenção de outras igrejas, apenas para
dizer à minha congregação que estava sendo apreciado em algum outro lugar.
Quando estava com quarenta anos, sentia-me impaciente, preso naquela
comunidade por uma esposa e três filhas e outros membros da família que
jamais sonhariam em viver em outro lugar. Foi uma breve crise da meia-
idade. As igrejas britânicas precisavam de homens para pregar todo o
conselho de Deus em congregações locais como a nossa, para mostrar que
elas poderiam ser reformadas e ouvir com amor as doutrinas da graça, ser
comunidades unidas e felizes, servindo o Senhor de toda a terra. Deus, no
entanto, me manteve aqui.
É possível se manter robusto mesmo num longo ministério. A tentação,
após mudar para uma nova igreja, é pregar os mesmos sermões que já foram
pregados previamente no púlpito anterior. Isto raramente pode ser feito, se o
pastor está confrontando uma amada congregação por muitos anos. Eu me
comprometi a pregar em toda a Bíblia enquanto estivesse aqui. Obviamente,
falhei. Sempre há desafios que um pastor deve enfrentar — novos livros
fascinantes que são publicados e precisam ser lidos, sem contar os clássicos
que permaneceram não lidos. Há várias séries a serem pregadas nos
domingos e diferentes grupos aos quais falar — crianças, transeuntes ao ar
livre, grupos em casas, um grupo cristão numa fábrica, pessoas numa refeição
informal, reunião de homens, reunião matinal de oração, reuniões de
estudantes — a lista é interminável. Alguns podem se sentir mais à vontade
em algumas situações do que em outras.
Quanto mais tempo você passar numa igreja, mais resoluto deveria ser
em freqüentar as conferências de pastores. Conforme sua reputação for
crescendo, você pode contribuir apenas estando entre aqueles homens.
Nenhum pastor deveria ir a conferências apenas para falar nelas. Ele deve ir
para aprender também. Não deve ser do tipo que pensa: “Eu tenho algo a lhe
ensinar, mas você não tem nada para me dar”. Conferências são importantes
para encontrar os seus irmãos de ministério. As mensagens são um bônus.
Elas devem estimular e encorajar você em seus trabalhos. Freqüentar algumas
das conferências disponíveis, tanto locais quanto em outros países, será de
grande ajuda para você.
Há desafios e perigos que são inerentes à permanência numa igreja por
muitos anos. A congregação que você pastoreia muda constantemente. As
populações são dinâmicas. Novos rostos aparecem e novos problemas surgem
nas vidas daqueles que têm sentado por muito tempo aos seus pés. O falecido
Bernard J. Honeysett recentemente observou em sua autobiografia:
John Kemp foi um dos cinco pastores que conheci pessoalmente, que exerceram
seus pastorados por mais de cinqüenta anos. No caso de Stanley Delves, de
Crowborough, seu predecessor também havia permanecido por mais de cinqüenta anos,
de forma que os dois juntos somavam mais de um século de pastorado naquela igreja. Eu
ainda observei que, quando os homens permanecem por tanto tempo, eles podem, ainda
que involuntariamente, se tornar ditadores. Uma geração cresce sob o seu ministério e
cuidado pastoral, e a sua palavra pode se tornar lei. Eu soube de um caso, no qual um
encontro da igreja foi mencionado e o pastor disse: “Eu direi a época em que teremos a
reunião da igreja”. Algumas vezes tais líderes não tomam qualquer precaução quanto ao
futuro, e terminam, em alguns casos, em situações muito tristes.[193]

Um pastor pode ser resgatado da tirania pelo autocontrole e integridade,


e também pelo cuidado e amizade dos seus colaboradores. Há discernimento
suficiente no sacerdócio entre todos os crentes, nas igrejas evangélicas, para
acionar um alarme, quando um ministro começa a ter atitude centralizadora
ao conduzir as coisas como se fossem “orquestras de um homem só”. Boas
revistas cristãs trazem outras informações e idéias à congregação. O pastor
começa a convidar jovens homens para pregar regularmente no púlpito,
especialmente quando está pensando em ir embora.
Os benefícios de permanecer numa comunidade por décadas são
inúmeros. Muitos na congregação são seus melhores amigos. Alguns vieram
à fé através da sua pregação. Você pode ter batizado alguns pais e depois seus
filhos, na geração seguinte. Pode conhecer a cidade e como as coisas
funcionam nela. Ainda que não conheça homens importantes pessoalmente
(já que eles estão sempre mudando), você conhece o escritório do editor do
jornal local, do chefe de polícia, as personalidades da rádio local, os diretores
das escolas, as estruturas políticas, os líderes de negócios e suas reuniões, a
casa funerária, os clérigos e suas teologias. Você saberá como contatar estas
pessoas, onde elas estão indo, como se aproximar delas, para servir o
evangelho de Jesus Cristo. Eu posso andar no centro de nossa cidade hoje e a
maioria das pessoas é estranha para mim. Posso ficar na fila dos correios e
conhecer apenas algumas daquelas pessoas que esperam comigo, mas
conheço os funcionários atrás do balcão. Eles sabem quem eu sou. Já tenho
convidado alguns deles para nossas reuniões, e a um deles, dado uma cópia
de O Peregrino, de John Bunyan. O mesmo acontece com os caixas do
supermercado, meu mecânico, encanador, eletricista e barbeiro (com quem
sempre tenho turbulentos debates eclesiásticos. Ele é um jovem católico
romano, filho de um siciliano, e sempre me pergunta em voz alta, quando eu
entro em seu salão: “Como está o reverendo hoje?”). Podemos manter
reuniões ao ar livre durante as feiras de inverno e durante os desfiles no
verão, e temos crédito com a polícia. Nossas próprias filhas, tendo passado
por todo o sistema educacional na língua galesa, têm um grande círculo de
amizade, e através destes contatos, conhecemos um amplo número de pais,
cumprimentando-os na cidade toda semana, e, agora, discutindo sobre os
netos e suas preocupações. Um mês após minha chegada na cidade, eu estava
presente na inauguração do novo hospital, em novembro de 1965. Desde
aquele tempo, tenho orado em todas as enfermarias e, praticamente, em todas
as camas, embora conheça poucos funcionários, por estarem constantemente
sendo transferidos.
Nestes dias, tenho descoberto menos assuntos raros sobre os quais
escrever nas colunas do jornal local, do que quando eu acabara de chegar e
era um pouco “cabeça-quente”. Com exceção de uma viúva, somos as
pessoas mais velhas em nossa rua e tentamos ser bons vizinhos, embora eu
esteja sempre viajando de carro. Se eu caminhasse (como minha esposa faz),
encontraria mais pessoas. De forma que estar numa mesma comunidade por
tanto tempo traz estes benefícios óbvios de influência e presença. Alguma
credibilidade é dada à fé cristã histórica. Quando cheguei, uma religião vaga
dominava a comunidade. A vinda de uma universidade a uma comunidade
causa enorme influência racionalista nos púlpitos. Acreditava-se que todos os
clérigos pensavam as mesmas coisas, e todos nós éramos considerados
apoiadores do movimento ecumênico. Agora eles entenderam que há alguns
entre nós descontentes com a religião ecumênica e nossa posição é
relutantemente respeitada, ainda que muitos não a aceitem.
Quando um ministro deveria abandonar seu púlpito para aceitar uma
outra posição qualquer? Deixe que ele espere calmamente por um chamado.
Se ele estiver desassossegado em sua igreja atual será feliz em outro lugar?
Que igreja sensata sequer sonharia em chamar o Rev. Rolling Stone — que
jamais passou mais que alguns anos em qualquer lugar? Apenas as
congregações mais imaturas poderiam ser indiferentes a isto e emitir um
chamado. Quando os pregadores mudam para outro lugar, todas as suas
características os acompanham. Muito freqüentemente, o problema não está
nos diáconos ou na congregação; está nas tensões não resolvidas em nossos
próprios corações. Em qualquer tempo que um homem se mude, ele acabará
realizando na próxima igreja exatamente o mesmo trabalho desempenhado na
antiga; pregando as Escrituras e pastoreando aqueles que escutam. Alguém
terá de fazer estes trabalhos na antiga igreja. Se estamos cansados disto e
queremos uma mudança externa, será que algum dia chegaremos a entender o
significado do trabalho pastoral?
Onde quer que nós formos, certamente estaremos trocando um punhado
de problemas por outro. Um salário mais alto, uma reputação melhor e uma
posição aparentemente mais fácil não são boas razões para uma mudança.
Nem mesmo um maior número de pessoas — diante do trono do julgamento
será suficiente prestar contas a Deus dos que o escutam agora, ao invés de
mais mil pessoas. Deveríamos ir porque em nossa igreja os perversos estão
tornando difícil a vida para nós? Isto é questionável. Deveríamos permitir que
eles tomem posse da igreja, enquanto abandonamos nossos amigos e aqueles
que nos têm apoiado, deixando-os à mercê dos que lutam contra o Deus da
graça? Existe ainda o princípio de tirar a poeira dos pés e seguir em frente. Se
a maioria nos rejeita, devemos aceitar sua decisão com tristeza e dignidade.
Até mesmo Jonathan Edwards foi rejeitado por sua própria congregação e,
diferentemente de nossa igreja, o seu povo havia conhecido tempos
poderosos de restauração vindos da presença do Senhor. É espantoso como
qualquer um de nós sobrevive neste clima de tão altas expectativas que têm
sido oferecidas às congregações pelos especialistas em crescimento de
igrejas.
Talvez haverá muitas tensões com um grupo substancial de pessoas na
congregação impossibilitando um ministério abençoado e um outro pastor
ortodoxo poderá realizar aquilo que está se provando difícil para você fazer.
Todo pregador impaciente para ir embora, pensa consigo mesmo: “Eu não
posso levá-los mais adiante”. Por que não? Você também não é um homem
em crescimento? Eles devem crescer com você. Mas toda igreja passa por
diferentes estações, desde o desalento do inverno ao surgimento de nova vida
na primavera, e a nossa saída não é garantia de avanço do evangelho. Não
faltarão baboseiras religiosas para usar como sua razão de ir embora. Há uma
luta em todo canto. Esta é uma boa luta da fé. O futuro é tão brilhante quanto
as promessas de Deus. Uma coisa que podemos saber com certeza é que
todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus.
Se um pregador pretende aceitar um chamado, precisa estar evidente
para todos que em comparação à sua atual situação, o novo ministério é uma
esfera mais estratégica e seus dons poderão ser mais usados para o benefício
maior da igreja de Cristo. Paulo tinha as grandes cidades como alvo para o
seu ministério. Mesmo sendo evidente que as vantagens da mudança irão
promover o evangelho, os membros da sua congregação atual poderão ficar
inflexíveis e ressentidos com relação ao seu desejo de deixá-los, sem pensar
no bem maior do grande testemunho de Jesus Cristo. De forma que sua
partida pode não ser tão amigável. Claro que um pastor espera alguma
tristeza mútua em qualquer partida. Mas seria impensável para Spurgeon ter
permanecido o “Pastor dos Brejos” no campo em Waterbeach, quando a
Igreja de New Park Street, em Londres, o estava chamando. O chamado da
igreja em si mesmo, acompanhado por um voto entusiástico de
encorajamento de muitos dos seus amigos mais respeitados, terá grande peso
em sua decisão de ir.
Entretanto, Timóteo, você não deveria pensar em se mudar, visto que
acabou de iniciar o seu primeiro pastorado. Construa uma igreja feliz, que
ama todo o conselho de Deus. Não almeje nada menos que isto. Este é o
objetivo do Novo Testamento.

Com todas as bênçãos,


Geoff Thomas

PS Um livro que eu recomendo a você é a biografia, em dois volumes,


do Dr. Martyn Lloyd-Jones, de Iain Murray, D. Martyn Lloyd-Jones: The
First Forty Years 1899-1939, (Edimburgo: The Banner of Truth Trust, 1982)
e D. Martyn Lloyd-Jones: The Fight of Faith 1939-1981, (Edimburgo: The
Banner of Truth Trust, 1990). Estes dois volumes nos dão um relato
emocionante de um ministério de trinta anos no coração de Londres pelo
maior pregador do século vinte.
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povo de Deus, a Igreja.
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[1] Every Pastor Needs a Pastor (Waco, Word Books, 1977).
[2] Veja The Works of John Newton (reimpressão, Edimburgo, The Banner of Truth Trust, 1985), vol.
1.
[3] Charles H. Spurgeon, Lições aos Meus Alunos, PES, São Paulo, SP.
[4] John Bunyan, O Peregrino, Editora Fiel, São José dos Campos, SP.
[5] Andrew Bonar, Memoir and Remains of Robert Murray M’Cheyne, reimpressão, Grand Rapids,
MI: Baker, 1978, 258.
[6] Spurgeon’s Sermons Preached on Unusual Occasions, Houston, TX: Pilgrim Publications, 1978,
248.
[7] C. H. Spurgeon, Lições aos Meus Alunos, PES, São Paulo, SP.
[8] Idem.
[9] The Works of John Owen, ed. William H. Gould, vol. 6,1853; reimpressão, Edimburgo: The Banner
of Truth Trust, 1981.
[10] Idem, 183-184.
[11] Richard Baxter, O Pastor Aprovado, PES, São Paulo, SP.
[12] Eugene Peterson, Subversive Spirituality, Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans Publishing
Co., 1994, 132.
[13] Richard Baxter, Christian Directory, reimpressão, Ligioner, PA: Soli Deo Gloria, 1994, 183-195
[14] J. C. Ryle, The Christian Leaders of England in the 18th Century, Popular Edition,1902, 55.
[15] Richard Baxter, O Pastor Aprovado, PES, São Paulo, SP.
[16] C. H. Spurgeon, Lições aos Meus Alunos, PES, São Paulo, SP.
[17] Idem.
[18] Idem.
[19] John Piper, Brothers, We Are Not Professionals, Nashville, TN: Broadman and Holman
Publishers, 2002, 58.
[20] Richard Baxter, O Pastor Aprovado, PES, São Paulo, SP.
[21] J. I. Packer & Loren Wilkinson, eds., Alive to God, Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1992,
119.
[22] Charles Bridges, The Commentary on Proverbs, reimpressão, Carlisle, PA: The Banner of Truth
Trust, 1968, 228.
[23] J. D. Douglas, et al., (eds.), New Bible Dictionary, Wheaton, IL: Tyndale House Publishers Inc.,
1962, 427.
[24] Matthew Henry, Commentary on the Whole Bible, vol. 1, Old Tappan, NJ: Fleming H. Revell
Company, n.d., 284 [ xodo 3.14].
[25] Mark Webb, “What Difference Does It Make?”, Reformation & Revival Journal 3, no. 1 (Winter
1994).
[26] Mike Renihan, “A Pastor’s Pride and Joy”, Table Talk 53 (July 1999).
[27] Alfred Poirier, “The Cross and Criticism”, The Journal of Biblical Counseling 17, no. 6. Este
artigo está incluso no livreto, Words that Cut (Billings, MT: Peacemaker Ministries, 2003).
[28] Michael Ramsey, The Christian Priest Today, Londres: SPCK, 1972, 79.
[29] Charles E. Hummel, Tyranny of the Urgent, Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1967.
[30] Thomas Watson, A Body of Divinity, Carlisle, PA: The Banner of Truth Trust, 1992, 17.
[31] Charles Spurgeon, Lições aos Meus Alunos, PES, São Paulo, SP.
[32]The Expositor’s Bible Commentary, ed. Frank E. Gaebelein, vol. 6, Grand Rapids, MI: Zondervan
Publishing House, 1986, 165.
[33] C. H. Spurgeon, Lições aos Meus Alunos, PES, São Paulo, SP.
[34] Idem.
[35] Martyn Lloyd-Jones, Pregação e Pregadores, Editora Fiel, São José dos Campos, SP.
[36] A. W. Pink, Letters of A. W. Pink, Edimburgo: Banner of Truth Trust, 1978.
[37] Iain Murray, Arthur W. Pink, Edimburgo: Banner of Truth Trust, 1981, p. 42.
[38] Charles Bridges, The Christian Ministry, reimpressão, Edimburgo: The Banner of Truth Trust,
1980, 343-344. Bridges faz referência ao texto de Hebreus 13.17 como algo muito adequado para
todos os pastores de igrejas de qualquer tamanho. Sua obra sobre o trabalho pastoral inclui
ilustrações de como ministrar para cada um desses tipos de homens. Vale a pena estudá-las, a fim de
ampliar a aplicação da Palavra de Deus no púlpito para uma variedade de ouvintes — uma área
negligenciada pela homilética nos dias de hoje.
[39] Richard Baxter, O Pastor Aprovado, PES, São Paulo, SP.
[40] Martyn Lloyd-Jones, Pregação e Pregadores, Editora Fiel, São José dos Campos, SP.
[41] C. H. Spurgeon, Um Ministério Ideal, PES, São Paulo, SP.
[42] Esta frase é a razão pela qual o autor acredita que pastores deveriam ensinar seminaristas em
preparação para o ministério, quer sendo uma espécie de mentor na igreja ou instruindo nas salas de
aula dos seminários. Pastores bastante experientes podem aplicar o conhecimento dos livros no
coração dos estudantes, em todos os seus trabalhos escolares, melhor que os possíveis grandes
acadêmicos. Nós precisamos de Paulos nas salas de aula, não Gamaliéis. Se os ministros não
pensam pastoralmente em cada assunto, como podemos preparar outros ministros com disposição
para pensarem assim em todas as questões teológicas? Estudar os livros, sem estudar pastoralmente
o seu coração, irá resultar em uma mente acadêmica que tem dificuldade em aplicar pastoralmente a
Palavra de Deus, no púlpito e na vida particular.
[43] C. H. Spurgeon, Sermon nº 542: “Paul His Cloak and His Books”, em Metropolitan Tabernacle
Pulpit, vol. 9, Londres, Inglaterra: Passmore & Alabaster, 1882, pp. 668-669.
[44] Sam Waldron, A Modern Exposition of the 1689 Baptist Confession of Faith, Darlington,
Inglaterra: Evangelical Press, 1989.
[45] Benjamin B. Warfield, The Religious Life of Theological Students, reimpressão, Phillipsburg, NJ:
P&R, 2001.
[46] J. I. Packer, Conhecendo a Deus, Editora Cultura Cristã, São Paulo, SP.
[47] Richard Baxter, O Pastor Aprovado, PES, São Paulo, SP.
[48] John Bunyan, O Peregrino, Editora Fiel, São José dos Campos, SP.
[49] William Hendriksen, Survey of the Bible, reimpressão, Darlington, Inglaterra: Evangelical Press,
1995.
[50] J. I. Packer, A Quest for Godliness: The Puritan Vision of the Christian Life, Wheaton, IL:
Crossway Books, 1990.
[51] John Murray, Redemption Accomplished and Applied, Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1955.
[52] J. Gresham Machen, Christianity and Liberalism, Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1923.
[53] J. C. Ryle, Santidade... Sem a Qual Ninguém Verá ao Senhor, Editora Fiel, São José dos Campos,
SP.
[54] David F. Wells, No Place for Truth, Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1993.
[55] Phil Ryken, This is My Father’s World, Phillipsburg, NJ: P&R, 2002.
[56] Martinho Lutero, Nascido Escravo, Editora Fiel, São José dos Campos, SP.
[57] João Calvino, As Institutas, PES, São Paulo, SP.
[58] C. S. Lewis, God in the Dock, reimpressão, Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans Publishing,
1994, pp. 200-207.
[59] Herman Witsius, On The Character of a True Theologian, reimpressão, Greenville, SC: Reformed
Academic Press, 1994.
[60] Richard Mitchell Hawkes, “The Logic of Assurance in English Puritan Theology”, Westminster
Theological Journal 52 (1990): 247. Em casos de tentativas e dificuldades em definir o puritanismo,
veja os livros de Ralph Bronkema, The Essence of Puritanism, Goes: Oosterbaan and LeCointre,
1929; Leonard J. Trinterud, “The Origins of Puritanism”, Church History 20 (1951): 37-57; Jerald
C. Brauer, “Reflections on the Nature of English Puritanism”, Church History 23 (1954): 98-109;
Basil Hall, “Puritanism: The Problem of Definition”, em G. J. Cumming, ed., Studies in Church
History, vol. 2 (Londres: Nelson, 1965), 283-96; Charles H. George, “Puritanism as History and
Historiography”, Past and Present 41 (1968): 77-104; William Lamont, “Puritanism as History and
Historiography: Some Further Thoughts”, Past and Present 42 (1969): 133-46; Richard Greaves,
“The Nature of the Puritan Tradition”, em R. Buick Knox, ed., Reformation, Conformity and
Dissent: Essays in Honour of Geoffrey Nuttall, Londres: Epworth Press, 1977, 255-73; D. M.
Lloyd-Jones, “Puritanism and Its Origins”, The Puritans: Their Origins and Successors
(Edimburgo: Banner of Truth Trust, 1987), 237-59; James I. Packer, “Why We Need the Puritans”,
em A Quest for Godliness: The Puritan Vision of the Christian Life, Wheaton, IL: Crossway Books,
1990, 21-36; Joel R. Beeke, The Quest for Full Assurance: The Legacy of Calivin and His
Successors (Edimburgo: Banner of Truth Trust, 1999), 82 em diante.
[61] Peter Lewis, The Genius of Puritanism, Hayward Health, Sussex: Carrey, 1975, 11 em diante.
[62] Sidney H. Rooy, The Theology of Missions in the Puritan Tradition: A Study of Representative
Puritans: Richard Sibbes, Richard Baxter, John Eliot, Cotton Mather, and Jonathan Edwards,
Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1965, 310-28.
[63] De acordo com a introdução de Packer no livro de Leland Ryken, Santos no Mundo: Os Puritanos
Como Realmente Eram, Editora Fiel, São José dos Campos, SP.
[64] Alguns dos meus conselhos foram adaptados de meu livro Puritan Evangelism: A Biblical
Approach, Grand Rapids, MI: Reformation Heritage Books, 1999.
[65] Ver Joel R. Beeke e Ray B. Lanning, “The Transforming Power of Scripture”, em Sola Escriptura:
The Protestant Position of the Bible, ed. Don Kistler, Morgan, PA: Soli Deo Gloria, 1995, 221-76.
[66] “A Profitable Treatise, Containing a Direction for the reading and understanding of the holy
Scriptures”, em H[enry] H[olland], ed., The Works of the Reverend and Faithfull Servant of Iesus
Christ, M. Richard Greenham (1599; reimpressão, New York: Da Capo Press, 1973), 389-97. Cf.
Thomas Watson, “How We May Read the Scriptures with Most Spiritual Profit”, em Heaven Taken
by Storm: Showing the Holy Violence a Christian is to Put Forth in the Pursuit After Glory, ed. Joel
R. Beeke, 1669; reimpressão, Pittsburgh, PA: Soli Deo Gloria, 1992, 113-129.
[67] Idem, 16-18, e Thomas Watson, A Body of Divinity, 1692; reimpressão, Londres: Banner of Truth
Trust, 377-79.
[68] Idem, 379. “There is not a sermon which is heard, but it sets us nearer heaven or hell” (John
Preston, A Pattern of Wholesome Words, citado em Christopher Hill, Society and Puritanism in Pre-
Revolutionary England, 2ª ed. New York: Schocken, 1967), 46.
[69]Christ the Fountain of Life, Londres: Carden, 1648, 14.
[70]Geneva Bible, 1599; reimpressão, Ozark, MO: L. L. Brown, 1990, 3.
[71] “Food for New-Born Babes”, em The Works of Henry Smith, ed. Thomas Smith, Edimburgo:
James Nichol, 1866, 1:494.
[72] Citado em I.D.E. Thomas, The Golden Treasury of Puritan Quotations, Chicago, IL: Moody Press,
1975, 33.
[73] Ver Benjamin Brook, The Lives of the Puritans, 3 vols., 1813; reimpressão, Pittsburgh, PA: Soli
Deo Gloria, 1994; William Barker, Puritan Profiles, Fearn, Ross-shire: Christian Focus, 1996.
[74] Richard Baxter, O Pastor Aprovado, PES, São Paulo, SP.
[75]The Works of the late Reverend Robert Traill, 1810; reimpressão, Edimburgo: Banner of Truth
Trust, 1975, 1:246.
[76]The Works of John Flavel, 1820; reimpressão, Londres: Banner of Truth Trust, 1968, 5:568.
[77]Works of John Owen, 9:455, 16:76.
[78] Edmond Calamy, The Art of Divine Meditation, Londres: for Tho. Parkhurst, 1680, 172.
[79] Idem, 164-68.
[80]The Works of George Swinnock, reimpressão; Edimburgo: Banner of Truth Trust, 1998, 2:417.
[81] Calamy, The Art of Divine Meditation, 178-84. Cf. Thomas Gouge, Christian Directions, shewing
How to walk with God All the Day long, Londres: R. Ibbitson e M. Wright, 1661), 70-73.
[82]The Works of Thomas Manton, Londres: James Nisbet & Co., 1874, 17:281.
[83] Richard Baxter, The Saint’s Everlasting Rest, reimpressão integral, Ross-shire, Scotland: Christian
Focus, 1998, 579-90.
[84] Jonathan Edwards, Religious Affections, reimpressão, Londres: Banner of Truth Trust, 1959, 24.
[85] Paul Baynes, A Help to True Happinesse, Londres, 1635.
[86]The Works of William Bates, reimpressão, Harrisonburg, VA: Sprinkle, 1990, 3:145.
[87] William Fenner, The Use and Benefit of Divine Meditation, Londres: for John Stafford, 1657, 16-
23.
[88] James Ussher, A Method for Meditation, Londres: for Joseph Nevill, 1656, 39.
[89]The Works of William Bridge, reimpressão, Beaver Falls, PA: Soli Deo Gloria, 1989, 3:153.
[90] Calamy, The Art of Divine Meditation, 108.
[91]The Sermons of Thomas Watson, reimpressão, Morgan, PA: Soli Deo Gloria, 1995, 269, 271.
[92]A Method and Instructions for the Art of Divine Meditation, Londres: for Tho. Parkhurst, 1672, 53.
[93] Idem, 269.
[94]The Works of the Reverend and Faithfull Servant of Iesus Christ M., Richard Greenham, Londres:
Felix Kingston, 1599, 41.
[95]The Art of Meditation, reimpressão, Jenkintown, PA: Sovereign Grace Publishers, 1972, 26-27.
[96]Christian Directions, shewing How to walk with God All the Day long, 70.
[97] Ussher, A Method for Meditation, 43.
[98] Donald Fraser, The Life and Diary of the Reverend Ebenezer Erskine, Edimburgo: William
Oliphant, 1831, cap. 6.
[99]Works, Londres: for Edward e Charles Dilly, 1771, 4:306-307.
[100] Thomas, Puritan Quotations, 224.
[101] Richard Baxter, O Pastor Aprovado, PES, São Paulo SP.
[102]The Works of Greenham, 62.
[103] Cf. William Greenhill, Puritan Sermons: 1659-1689: The Morning Exercises at Cripplegate,
Wheaton, IL: Richard Owen Roberts, 1981, 3:378-93.
[104] Charles Bridges, The Christian Ministry, 1830, reimpressão, Londres: Banner of Truth Trust,
1959, 152.
[105]God’s Plot: Puritan Spirituality in Thomas Shepard’s Cambridge, ed. Michael McGiffert,
Amherst: University of Massachusetts Press, 1994, 116-17.
[106] Citado em Bridges, The Christian Ministry, 128.
[107]Puritan Sermons, 1659-1689, 3:390.
[108] Hinário das Igrejas Batistas do Brasil, 3º ed. 2001, Rio de Janeiro, RJ.
[109] Abraham Booth, “Pastoral Cautions”, em The Christian Pastor’s Manual, ed. John Brown
(reimpressão, Pittsburgh, PA: Soli Deo Gloria, 1990), 66.
[110] Jonathan Edwards, A Vida de David Brainerd, Editora Fiel, São José dos Campos, SP.
[111] Martyn Lloyd-Jones, Pregação e Pregadores, Editora Fiel, São José dos Campos, SP.
[112] William Gurnall, The Christian in Complete Armour, 1662, reimpressão, Londres: Banner of
Truth Trust, 1964, 574 (segunda paginação).
[113] Richard Baxter, O Pastor Aprovado, PES, São Paulo, SP.
[114] J.I. Packer, A Quest for Godliness, 296-99.
[115]The Select Works of Rev. Thomas Watson, New York: Robert Carter & Brothers, 1856, 154.
[116] Joseph Alleine, Um Guia Seguro para o Céu, PES, São Paulo, SP.
[117]Works of John Owen, 1850; reimpressão, Edimburgo: Banner of Truth Trust, 1976, 3:317 em
diante.
[118] J.I. Packer, A Quest for Godliness, 163-64.
[119]The Westminster Confession of Faith, Inverness: The Publications Committee of the Free
Presbyterian Church of Scotland, 1985, 379.
[120]M. Derings Workes, 1597; reimpressão, New York: Da Capo Press, 1972, 456.
[121]The Works of John Owen, ed. William H. Goold, 1853; Londres: Banner of Truth Trust, 1965,
16:74.
[122] Miller Maclure, The Paul’s Cross Sermons, 1534-1642, Toronto: University of Toronto Press,
1958, 165.
[123] Cf. The Wrath of Almighty God: Jonathan Edwards on God’s Judgment Against Sinners, ed. Don
Kistler, Morgan, PA: Soli Deo Gloria, 1996; The Works of Jonathan Edwards, 2:617-41; Jonathan
Edwards on Heaven and Hell, de John H. Gerstner, Grand Rapids, MI: Baker, 1980.
[124] James Nichol, The Works of Henry Smith, ed. Thomas Smith, Edimburgo, 1866, 1:495.
[125]Westminster Confession of Faith, 380.
[126] Idem.
[127] William Perkins, The Art of Prophesying, 1606; editado e reimpresso, Edimburgo: Banner of
Truth Trust, 1996, 56-73.
[128] John Legate, The Works of William Perkins, Londres, 1609, 1:10.
[129] William Ames, The Marrow of Theology, ed. John D. Eusden, 1629; Boston, MA: Pilgrim Press,
1968, 77.
[130] Sinclair Ferguson, “Evangelical Ministry: The Puritan Contribution” em Compromised Church,
ed. Wheaton, IL: Crossway Books, 1998, 266.
[131] Willem Balke, “The Word of God and Experientia according to Calvin”, em Calvinus Ecclesiae
Doctor, ed. W. H. Neuser, Kampen: J. H. Kok, 1978, 20-21; cf. Calvin’s Commentary on Zechariah
2:9.
[132] Paul Helms, “Christian Experience”, Banner of Truth, No. 139, Apr. 1975:6.
[133] Thomas Watson, The Godly Man’s Picture, 1666; reimpressão, Edimburgo: Banner of Truth
Trust, 1992, 20-188, mostra as vinte e quatro marcas da graça para auto-exame.
[134] Thomas Shepard, The Parable of the Ten Virgins, 1660; reimpressão, Ligonier, PA: Soli Deo
Gloria, 1990; Matthew Mead, The Almost Christian Discovered; Or the False Professor Tried and
Cast, 1662; reimpressão, Ligonier, PA: Soli Deo Gloria, 1988; Jonathan Edwards, Religious
Affections, New Haven, CT: Yale University Press, 1959.
[135] “Theology in America”, The Shaping of American Religion, ed. James Ward Smith e A. Leland
Jamison, Princeton, NJ: Princeton University Press, 1961, 240.
[136] Joel R. Beeke, Jehovah Shepherding His Sheep, Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1982, 164-203, e
Backsliding: Disease and Cure, Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1982, 17-32.
[137] Veja o Heidelberg Catechism para uma declaração confessional reformada que facilite a pregação
experimental. Isto é evidenciado pela (1) exposição do Catecismo em um esboço (miséria,
livramento e gratidão) que é verdadeiro à experiência dos crentes, (2) sua aplicação da maioria das
doutrinas diretamente à consciência e lucro espiritual dos crentes, e (3) o seu caráter pessoal e
carinhoso, no qual o crente é regularmente endereçado na segunda pessoa.
[138]Works of Perkins, 2:762.
[139]The Works of Thomas Adams, 1862; reimpressão Eureka, CA: Tanski, 1998, 3:224.
[140]Works of Isaac Ambrose, Londres: for Thomas Tegg & Son, 1701, 201.
[141] J.I. Packer, A Quest for Godliness, 286.
[142] Citado por Don Kistler, Why Read the Puritans Today, Morgan, PA: Soli Deo Gloria, 1999, 4.
[143] Idem, 3.
[144] Joel R. Beeke, Quest for Full Assurance: The Legacy of Calvin and His Successors, Edimburgo:
Banner of Truth Trust, 1999, 125, 130, 146.
[145] John Bunyan, Come and Welcome, reimpressão, Choteau, MT: Gospel Mission, 1999; John
Howe, Redeemer’s Tears, Grand Rapids, MI: Baker, 1989; William Greenhill, Puritan Sermons:
1659-1689: The Morning Exercises at Cripplegate, Wheaton, IL: Richard Owen Roberts, 1981,
1:38-50.
[146] Ver George Edward Brown, “Catechists and Catechisms of Early New England”, D.R.E.
dissertation, Boston University, 1934; R.M.E. Paterson, “A Study in Catechisms of the Reformation
and Post-Reformation Period”, M.A. thesis, Durham University, 1981; P. Hutchinson, “Religious
Change: The Case of the English Catechism, 1560-1640”, Ph.D. dissertation, Stanford University,
1984; Ian Green, The Christian’s ABC: Catechisms and Catechizing in England c. 1530-1740,
Oxford: Clarendon Press, 1996.
[147] John Cotton, Milk for Babes, drawn out of the Breasts of both Testaments, Londres, 1646.
[148] Ian Green, The Christian’s ABC, Oxford: Claredon Press, 1996, 557-70.
[149] Cf. W.G.T. Shedd, Homiletics and Pastoral Theology, 1867; reimpressão, Londres: Banner of
Truth Trust, 1965, 356-75.
[150] A Assembléia de Westminster desejava estabelecer apenas um catecismo e uma única confissão
de fé tanto para a Inglaterra quanto para a Escócia, mas uma verdadeira infinidade de catecismos
continuou sendo escrita mesmo depois que os padrões de Westminster haviam sido estabelecidos.
Veja J. Lewis Wilson, “Catechisms, and Their Use Among the Puritans”, em One Steadfast High
Intent, Londres: Puritan and Reformed Studies Conference, 1966, 41-42.
[151] William Hopkinson, A Preparation into the Waie of Life, with a Direction into the righte use of
Lordes Supper, Londres, 1583, sig. A.3.
[152] Robert Openshawe, Short Questinons and Answeares, Londres, 1580, A.4.
[153] Wilson, “Catechisms, and Their Use Among the Puritans”, 38-39.
[154] C. Stanford, Joseph Alleine: His Companions and Times, Londres, 1861.
[155] Richard Baxter, Gidlas Salvianus: The Reformed Pastor: Shewing the Nature of the Pastoral
Work, 1656; reimpressão New York: Robert Carter, 1860, 341-468.
[156] J.I. Packer, A Quest for Godliness, 305.
[157] Thomas Gataker, David’s Instructor, Londres, 1620, 18; veja também B. Simon, “Leicestershire
Schools 1635-40”, British Journal of Educational Studies, Nov. 1954: 47-51.
[158] Thomas Boston, The Art of Manfishing: A Puritan’s View of Evangelism, introd. J. I. Packer,
reimpressão Fearn, Ross-shire: Christian Focus, 1998, 14-15.
[159] Thomas Hooker, The Poor Doubting Christian Drawn to Christ, 1635; reimpressão Worthington,
PA: Maranatha, 1977.
[160] Richard Greenham, A Short Forme of Catechising, Londres: Richard Bradocke, 1599
[161] Ernest W. Bacon, Spurgeon: Heir of the Puritans, Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans
Publishing Co., 1968, 114.
[162] J. I. Packer, Collected Shorter Writing of J. I. Packer, vol. 3, United Kingdom: Paternoster Press,
1999, 274.
[163]“An Interview with Michael Horton,” no. 8, em The Discerning Reader, ed. David Barrett, et al.,
Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1995, 4.
[164] J.I. Packer, Shorter Writing, 3:274-5.
[165] Idem, 3:282.
[166] Idem, 3:271.
[167] Samuel T. Logan, Jr., ed., The Preacher and Preaching, Phillipsburg, NJ: Presbyterian and
Reformed Publishing Co., 1986, 377.
[168] Iain Murray, D. M. Lloyd-Jones, vol. 2, Edimburgo: The Banner of Truth Trust, 1990, 261.
[169] Citado em Martyn Lloyd-Jones, Pregação e Pregadores, Editora Fiel, São José dos Campos, SP.
[170] Idem.
[171] Para saber mais sobre uma ordem de culto orientada pelo evangelho, aconselho a leitura dos
meus livros Leading in Worship, Oak Ridge, TN: Covenant Foundation, 1996, 15; e The Pastor’s
Public Ministry, Greenville, SC: Reformed Academic Press, 2001, 10-15.
[172] Matthew Henry, A Method For Prayer, 1716; reimpressão, Greenville, SC: Reformed Academic
Press, 1994.
[173] Isaac Watts, A Guide to Prayer, 1715, reimpressão, Edimburgo: The Banner of Truth Trust,
2001.
[174] Samuel Miller, Thoughts on Public Prayer, 1844, reimpressão, Harrisonburg, VA: Sprinkle
Publications, 1985.
[175]Trinity Psalter, Pittsburgh, PA: Crown and Covenant, 1994.
[176]Trinity Psalter Music Edition, Pittsburgh, PA: Crown and Covenant, 2000.
[177]Psalms of the Trinity Psalter CD, Savannah, GA: IPC Press, 1999.
[178]Psalms of the Trinity Psalter II CD, Savannah, GA: IPC Press, 2002.
[179] Veja o meu livro Reformed Worship: Worship That is According to Scripture, Greenville, SC:
Reformed Academic Press, 2000, 9-13.
[180] John Piper, Let the Nations Be Glad! The Supremacy of God in Missions, Grand Rapids, MI:
Baker Books, 1993, 96.
[181] Ralph Winter e Steven Hawthorne, eds., Perspective on the World Christian Movement 3rd
edition, Pasadena, CA: William Carey Library, 1999, 9.
[182] John Piper, Let the Nations Be Glad!, 11.
[183] Citado em Timothy George, Faithful Witness: The Life and Mission of William Carey,
Birmingham, AL: New Hope Publishers, 1991, E.52, E.54.
[184] Idem, E.56-57.
[185] Patrick Johnstone e Jason Mandryk, Operation World, 21st century edition, United Kingdom:
Paternoster Lifestyle, 2001.
[186] James Paton, ed., John G. Paton Autobiography, reimpressão, Edimburgo: The Banner of Truth
Trust, 1994.
[187] Elisabeth Elliot, Through Gates of Splendor, reimpressão, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, Inc., 1981.
[188] George, Faithful Witness, 58.
[189] D. Martyn Lloyd-Jones, Pregação e Pregadores, Editora Fiel, São José dos Campos, SP.
[190] Philips Brooks, Lectures on Preaching, (dadas no Yale College em 1877; publicadas por James
Robinson em Manchester, 1899), 190.
[191] James Stalker, The Preacher and his Models, Londres, Hodder & Stoughton, 1891, 57-58.
[192] Richard Baxter, O Pastor Aprovado, PES, São Paulo, SP.
[193] Bernard J. Honeysett, The Sound of His Name, Edimburgo, The Banner of Truth Trust, 1995, 51.

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