Quimica Ambiental - Aula 3

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Aula 3

QUÍMICA DA ÁGUA - PARTE II


META
Apresentar as variáveis físicas de qualidade da água;
Apresentar as variáveis químicas de qualidade da água;
Apresentar as variáveis hidrobiológicas de qualidade da água;
Apresentar as variáveis microbiológicas de qualidade da água;
Apresentar as variáveis toxicológicas de qualidade da água.

OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno deverá:
Definir as variáveis físicas de qualidade da água;
Entender as variáveis químicas de qualidade da água;
Compreender as variáveis hidrobiológicas de qualidade da água;
Entender as variáveis microbiológicas de qualidade da água;
Conhecer as variáveis toxicológicas de qualidade da água.

PRÉ-REQUISITOS
Oitenta créditos cursados.

Carlos Alexandre Borges Garcia


Elisangela de Andrade Passos
Química Ambiental

INTRODUÇÃO

Na aula anterior foi definido o ambiente hídrico e o ciclo da água. As


propriedades da água e seus usos diversos foram também apresentados. A
amostragem e plano de amostragem foram ainda abordados. Por fim, os
aspectos legais referentes à qualidade da água foram apresentados a partir
da Portaria do MS No 2.914 e da Resolução CONAMA No 357.
Nesta aula serão apresentadas as variáveis físicas, químicas, hidrobi-
ológicas, microbiológicas e toxicológicas de qualidade da água. Ao final
desta aula, você deverá compreender as diferenças entre essas variáveis e a
importância de cada uma.

VARIÁVEIS DE QUALIDADE DAS ÁGUAS

A água encontrada na natureza possui uma série de impurezas que de-


finem suas propriedades físicas (cor, odor, sabor), químicas (constituintes
orgânicos e inorgânicos) e biológicas (biota – fauna e flora). O processo
de avaliação da qualidade da água corresponde a um conjunto de medidas
físicas, químicas e biológicas, diretamente relacionadas com a proposta
de uso da água, ou seja, os parâmetros a serem medidos para avaliação da
qualidade serão escolhidos considerando o uso a ser dada a água.
Neste texto abordaremos de forma sucinta as variáveis de qualidade
físicas, químicas, hidrobiológicas, microbiológicas e toxicológicas.

VARIÁVEIS FÍSICAS

As variáveis de qualidade físicas são coloração da água, série de resíduos


(filtrável, não filtrável, fixo e volátil), temperatura da água e do ar e turbidez.
A cor de uma amostra de água está associada ao grau de redução de inten-
sidade que a luz sofre ao atravessá-la, devido à presença de sólidos dissolvidos,
principalmente material em estado coloidal orgânico (húmico e fúlvico) e
inorgânico (óxidos de ferro e manganês). Os esgotos sanitários apresentam,
predominantemente, matéria orgânica em estado coloidal, além de diversos
efluentes industriais, tais como efluentes de curtumes, de indústrias têxteis,
de celulose e papel, da madeira, etc. O maior problema de cor na água, em
geral, é o estético, já que causa um efeito repulsivo aos consumidores.
Os sólidos nas águas correspondem a toda matéria que permanece
como resíduo, após evaporação, secagem ou calcinação da amostra a uma
temperatura pré-estabelecida durante um tempo fixado. As operações de
secagem, calcinação e filtração definem as diversas frações de sólidos pre-
sentes na água (sólidos totais, em suspensão, dissolvidos, fixos e voláteis).
Os métodos empregados para a determinação de sólidos são gravimétricos,
utilizando-se balança analítica ou de precisão.

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Química da Água - Parte II Aula 3
Os corpos de água naturais apresentam variações sazonais e diurnas,
bem como estratificação vertical. Sendo assim, variações de temperatura é
parte do regime climático normal. A temperatura superficial é influenciada
por fatores tais como latitude, altitude, estação do ano, período do dia, taxa
de fluxo e profundidade. A elevação da temperatura em um corpo d’água
geralmente é provocada por despejos industriais e usinas termoelétricas.
A transparência pode ser medida facilmente no campo utilizando-
se o disco de Secchi. Este consiste em um disco circular branco ou com
setores brancos e pretos e um cabo graduado, que é mergulhado na água
até a profundidade em que não seja mais possível visualizar o disco. Essa
profundidade a qual o disco desaparece, e logo reaparece, é a profundidade
de transparência. A partir da medida do disco de Secchi, é possível estimar
a profundidade de penetração vertical da luz solar na coluna d’água.

Medição da transparência da água com disco de Secch.


Fonte: www. cmbconsultoria.com.br
Acessado em 03/01/2012

A turbidez de uma amostra de água é o grau de atenuação de intensidade


que um feixe de luz sofre ao atravessá-la, devido à presença de sólidos em
suspensão, tais como partículas inorgânicas (areia, silte, argila) e de detritos
orgânicos, algas e bactérias, plâncton em geral, etc.

VARIÁVEIS QUÍMICAS
As variáveis de qualidade químicas são oxigênio dissolvido, metais (alumínio,
bário, cádmio, cobre, cromo total, ferro total, manganês, mercúrio, níquel, po-
tássio, sódio, e zinco), pH, condutividade específica, fluoreto, cloreto, carbono

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Química Ambiental

orgânico dissolvido e absorbância no ultravioleta, demanda bioquímica de oxigênio


(DBO5,20), demanda química de oxigênio (DQO), fenóis, série de nitrogênio
(Kjeldahl, amoniacal, nitrato e nitrito), fósforo total, ortofosfato solúvel, série
de enxofre (sulfeto e sulfato), dureza, surfactantes, óleos e graxas, agrotóxicos,
hidrocarbonetos aromáticos polinucleares (HAP), potencial de formação de
trihalometanos e dureza.
A determinação de O2 é parte fundamental da avaliação da qualidade da
água, pois o oxigênio está envolvido ou influência quase todos os processos
químicos e biológicos no corpo d’água. Concentração abaixo de 5 mg L-1
afeta as comunidades biológicas e abaixo de 2 mg L-1 pode levar a morte
de muitos peixes. A medida de O2 pode ser usada para indicar o grau de
poluição por matéria orgânica. Os níveis de oxigênio dissolvido também
indicam a capacidade de um corpo d’água natural manter a vida aquática.
Os metais alumínio, bário, cádmio, cobre, cromo total, ferro total, man-
ganês, mercúrio, níquel, potássio, sódio, e zinco podem ser determinados
por técnicas espectroscópicas (absorção ou emissão atômica). Alguns desses
elementos são essenciais (ex. Cu, Zn, Fe) enquanto que outros são não
essenciais (ex. Cd, Pb, Hg). Na aula 09 este tópico será melhor abordado.
O pH é um parâmetro importante em muitos estudos no campo. Este
influencia diversos equilíbrios químicos que ocorrem naturalmente ou em
processos unitários de tratamento de águas, devido aos efeitos sobre a
fisiologia das diversas espécies. Além disso, contribui para a precipitação
de elementos químicos tóxicos como metais pesados. Pode, ainda, exercer
efeitos sobre as solubilidades de nutrientes. Os critérios de proteção à vida
aquática fixam o pH entre 6 e 9.
A condutividade é uma expressão numérica da capacidade de uma
água conduzir a corrente elétrica. Depende das concentrações iônicas e da
temperatura e indica a quantidade de sais existentes na coluna d’água, e,
portanto, representa uma medida indireta da concentração de poluentes.
Em geral, níveis superiores a 100 μ S cm-1 indicam ambientes impactados.
As descargas de esgotos sanitários nas águas superficiais são fontes im-
portantes de cloreto. Isto porque cada pessoa expele através da urina cerca
6 g de cloreto por dia, o que faz com que os esgotos apresentem concen-
trações de cloreto que ultrapassam a 15 mg L-1. Diversos são os efluentes
industriais que apresentam concentrações de cloreto elevadas como os da
indústria do petróleo, algumas indústrias farmacêuticas, curtumes, etc. Nas
regiões costeiras são encontradas águas com níveis altos de cloreto. Nas
águas tratadas, a adição de cloro puro ou em solução leva a uma elevação
do nível de cloreto, resultante das reações de dissociação do cloro na água.
O fluoreto livre, ou seja, disponível biologicamente, é encontrado na
natureza junto com outros minerais ou componentes químicos e água.
Traços de fluoreto são normalmente encontrados em águas naturais e con-
centrações elevadas geralmente estão associadas com fontes subterrâneas.

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Química da Água - Parte II Aula 3
Em locais onde existem minerais ricos em flúor, tais como próximos a
montanhas altas ou áreas com depósitos geológicos de origem marinha,
concentrações de até 10 mg L-1 ou mais são encontradas. A recomendação
é a ingestão de 1,5 mg dia-1 de fluoreto, o que para um consumo de água de
1,2 a 1,6 litros por dia, resulta em concentrações da ordem de 1,0 mg L-1.
A Portaria Nº 518 estabelece um valor máximo permitido para fluoreto de
1,5 mg L-1 na água potável.
O carbono orgânico dissolvido e absorbância no ultravioleta não estão
sujeitos à legislação, mas é importante que sejam rotineiramente avaliados
durante um determinado período, para que seja possível obter-se uma
correlação entre estes parâmetros com a concentração de compostos
precursores de trihalometanos. Isto poderá facilitar a detecção de pos-
síveis alterações na qualidade da água, com relação à presença desse tipo
de compostos.
A demanda bioquímica de oxigênio (DBO5,20) de uma água é a quan-
tidade de oxigênio necessária para oxidar a matéria orgânica por decom-
posição microbiana aeróbia para uma forma inorgânica estável. A DBO5,20
é normalmente considerada como a quantidade de oxigênio consumido
durante um determinado período de tempo, numa temperatura de incubação
específica. Um período de tempo de 5 dias numa temperatura de incubação
de 20°C é freqüentemente usado e referido como DBO5,20.
A demanda química de oxigênio (DQO) é a quantidade de oxigênio
necessária para oxidação da matéria orgânica através de um agente químico
(ex. dicromato). Os valores da DQO normalmente são maiores que os da
DBO5,20, sendo o teste realizado num prazo menor. O aumento da con-
centração de DQO num corpo d’água se deve principalmente a despejos
de origem industrial.
Os fenóis e seus derivados aparecem nas águas naturais através das
descargas de efluentes industriais. Indústrias de processamento da borra-
cha, de colas e adesivos, de resinas impregnantes, de componentes elétricos
(plásticos) e as siderúrgicas, entre outras, são responsáveis pela presença de
fenóis nas águas naturais.
Analiticamente, isto é, de acordo com a metodologia analítica reco-
mendada, detergentes ou surfactantes são definidos como compostos que
reagem com o azul de metileno sob certas condições especificadas. Estes
compostos são designados “substâncias ativas ao azul de metileno” (MBAS
– Metilene Blue Active Substances) e suas concentrações são relativas ao
sulfonato de alquil benzeno linear (LAS), que é utilizado como padrão na
análise.
Óleos e graxas, de acordo com o procedimento analítico empregado,
consiste no conjunto de substâncias que em determinado solvente consegue
extrair da amostra e que não se volatiliza durante a evaporação do solvente
a 100oC. Estas substâncias, ditas solúveis em n-hexano, compreendem

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Química Ambiental

ácidos graxos, gorduras animais, sabões, graxas, óleos vegetais, ceras, óleos
minerais, etc. Este parâmetro costuma ser identificado também por material
solúvel em hexano (MSH).
As principais fontes de nitrogênio para águas naturais são esgotos sani-
tários, efluentes industriais, matadouros, frigoríficos, curtumes, drenagem
de áreas agrícolas e solos e fertilizados. O nitrogênio pode ser encontrado
nas águas nas formas de nitrogênio orgânico, amoniacal, nitrito e nitrato.
As duas primeiras chamam-se formas reduzidas e as duas últimas, formas
oxidadas. Pode se associar a idade da poluição com a relação entre as for-
mas de nitrogênio. Ou seja, se for coletada uma amostra de água de um rio
poluído e as análises demonstrarem predominância das formas reduzidas
significa que o foco de poluição se encontra próximo. Se prevalecer nitrito
e nitrato, ao contrário, significa que as descargas de esgotos se encon-
tram distantes. A amônia ocorre naturalmente na água como produto da
degradação da matéria orgânica nitrogenada. Nos efluentes de esgotos
sanitários predomina o nitrogênio orgânico e o nitrogênio amoniacal. Por
essas características, o nitrogênio amoniacal é um útil indicador de poluição
orgânica por despejos domésticos. O nitrato é a forma comum de nitrogênio
combinado em águas naturais. O nitrito é rapidamente oxidado a nitrato;
A concentração de nitrito na água é normalmente baixa (< 0,001 mg L-1).
Elevada concentração de nitrito, geralmente está associada à qualidade
microbiana insatisfatória da água.
O fósforo aparece em águas naturais devido principalmente às descargas
de esgotos sanitários. Nestes, os detergentes superfosfatados empregados
em larga escala domesticamente constituem a principal fonte, além da
própria matéria fecal, que é rica em proteínas. Alguns efluentes industri-
ais, como os de indústrias de fertilizantes, pesticidas, químicas em geral,
conservas alimentícias, abatedouros, frigoríficos e laticínios, apresentam
fósforo em quantidades excessivas. As águas drenadas em áreas agrícolas e
urbanas também podem provocar a presença excessiva de fósforo em águas
naturais. Um dos problemas enfrentados com o descarte de efluentes nos
corpos d’água é a eutrofização (Figura a seguir ). O processo de eutrofização
consiste no excesso de nutrientes, sobretudo os nitrogenados e fosforados,
nas águas superficiais, o que promove um elevado crescimento de algas e
outras espécies vegetais aquáticas. A morte e o apodrecimento desta flora
aquática provocam um grande consumo do oxigênio dissolvido na água,
levando à mortandade de peixes por asfixia.

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Química da Água - Parte II Aula 3

Processo de eutrofização dos corpo d’água.


Fonte: http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONT1.html
Acessado em 03/01/2012

O sulfeto de hidrogênio (H2S) é um composto liberado em vários pro-


cessos industriais, tais como o de produção de celulose e papel, curtumes,
petroquímicas e cervejarias. Ele é altamente tóxico para a vida aquática,
mesmo em baixas concentrações. Também o é para a vida humana, podendo
causar até a morte. Além disso, suas propriedades corrosivas quando em
contato com metais e seu forte odor o tornam um subproduto indesejável.
O sulfato é um dos íons mais abundantes na natureza. Em águas naturais,
a fonte de sulfato ocorre através da dissolução de solos e rochas e pela oxi-
dação de sulfeto. As principais fontes antropogênicas de sulfato nas águas
superficiais são as descargas de esgotos domésticos e efluentes industriais.
Nas águas tratadas é proveniente do uso de coagulantes. É importante o con-
trole do sulfato na água tratada, pois a sua ingestão provoca efeito laxativo.
Os pesticidas podem ser constituídos por substâncias inorgânicas, como
enxofre, mercúrio, flúor, etc. Como esses pesticidas possuem toxicidade
muito elevada, foram substituídos pelos pesticidas orgânicos sintéticos,
classificados em clorados ou organoclorados, piretrinas, fosforados, cloro-
fosforados e carbamatos. Pesticidas clorados como o DDT, BHC, Aldrin,
Lindano, etc apresentam efeito residual longo. A maioria dos compostos
são hidrofóbicos, mas apresentam alta solubilidade em hidrocarbonetos e
gorduras. Na aula 10 este tópico será melhor abordado.
Os hidrocarbonetos aromáticos polinucleares são uma classe de com-
postos orgânicos semi-voláteis, formados por anéis benzênicos ligados de
forma linear, angular ou agrupados, contendo na sua estrutura somente
carbono e hidrogênio. Dos hidrocarbonetos aromáticos polinucleares,
dezesseis são indicados pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados
Unidos como sendo poluentes prioritários, que têm sido cuidadosamente
estudados devido à sua toxicidade, persistência e predominância no meio
ambiente. Na aula 10 este tópico será melhor abordado.
Atualmente, há a preocupação sobre a formação de compostos organo-
clorados leves (ex. clorofórmio) durante o processo de cloração, chamados

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Química Ambiental

trihalometanos (THMs). Dessa forma, torna-se necessária uma avaliação


do manancial em relação à quantidade de precursores destes compostos. A
utilização do potencial de formação de trihalometanos como um parâmetro
não específico da medida de precursores de THMs, pode ser usada para
comparar a qualidade de vários mananciais de água bruta com potencial para
abastecimento, com a possibilidade de produção de concentrações elevadas de
THMs em água tratada durante os processos de tratamento e na distribuição.
A dureza na água está relacionada à quantidade de cálcio e magnésio
existente na mesma. Quando em contato com sabão, a água dura não
faz espuma, pois os íons Ca2+ e Mg2+ reagem com o sabão e formam um
precipitado. O tratamento da água dura para a retirada de Ca2+ e Mg2+ é
conhecido por abrandamento ou amolecimento e consiste em fazer a água
atravessar uma resina que captura os íons Ca2+ e Mg2+, substituindo-os por
íons não prejudiciais ao homem, tais como o Na+ e o H+. Esse procedimento
é chamado de método da troca iônica.

VARIÁVEIS HIDROBIOLÓGICAS

As variáveis de qualidade hidrobiológicas são clorofila a, fitoplâncton,


zooplâncton e bentos.
A clorofila é um dos pigmentos, além dos carotenóides e ficobilinas,
responsáveis pelo processo fotossintético. A clorofila a é a mais comum das
clorofilas (a, b, c, e d) e representa, aproximadamente, de 1 a 2 % do peso
seco do material orgânico em todas as algas planctônicas e é, por isso, um
indicador da biomassa algal. Assim a clorofila a é considerada a principal
variável indicadora de estado trófico dos ambientes aquáticos.
A comunidade fitoplanctônica pode ser utilizada como indicadora
da qualidade da água, principalmente em reservatórios, e, a análise da sua
estrutura permite avaliar alguns efeitos decorrentes alterações ambientais.
Esta comunidade é a base da cadeia alimentar e, portanto, a produtividade
dos elos seguintes depende da sua biomassa. A presença de algumas espécies
em altas densidades pode comprometer a qualidade das águas, causando
restrições ao seu tratamento e distribuição. Atenção especial é dada ao grupo
das cianofíceas, também denominadas cianobactérias, que possui espécies
potencialmente tóxicas. A ocorrência destas algas tem sido relacionada a
eventos de mortandade de animais e com danos à saúde humana.
A comunidade zooplanctônica é formada por animais microscópicos
que vivem em suspensão, tais como protozoários, rotíferos, cladóceros e co-
pépodes os grupos dominantes no ambiente de água doce. São importantes
na manutenção do equilíbrio do ambiente aquático, podendo atuar como
reguladores da comunidade fitoplanctônica (utilizando-a como alimento)
e na reciclagem de nutrientes, além de servirem de alimento para diversas
espécies de peixes. O zooplâncton vem sendo avaliado como indicador da

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Química da Água - Parte II Aula 3
qualidade da água de lagos e reservatórios em diversos países e, apesar de
existirem algumas propostas de índices para esta comunidade, a maioria
deles não é diretamente aplicável nos ambientes aquáticos tropicais, onde
as espécies exibem diferentes sensibilidades e ocorrência.
A comunidade bentônica corresponde ao conjunto de organismos que
vivem todo ou parte de seu ciclo de vida no substrato de fundo de ambientes
aquáticos, como pode ser visto na Figura abaixo. Os macroinvertebrados têm
sido sistematicamente utilizados em redes de biomonitoramento em vários
países, porque ocorrem em todo tipo de ecossistema aquático. Estes exibem
ampla variedade de tolerâncias a vários graus e tipos de poluição. Têm baixa
mortalidade e estão continuamente sujeitos às alterações de qualidade do
ambiente aquático, inserindo o componente temporal ao diagnóstico. Como
monitores contínuos, possibilitam a avaliação a longo prazo dos efeitos
de descargas regulares, intermitentes e difusas, de concentrações variáveis
de poluentes, de poluição simples ou múltipla e de efeitos sinergéticos e
antagônicos de contaminantes.

Exemplo de uma comunidade bentônica.


Fonte: http://www.jornaljovem.com.br/edicao17/antartida_pesquisas_bentos.php
Acessado em 03/01/2012

VARIÁVEIS MICROBIOLÓGICAS

As variáveis de qualidade microbiológicas são coliformes termotolerantes,


cryptosporidium sp e Giardia sp.
As bactérias do grupo coliforme são consideradas os principais indica-
dores de contaminação fecal. O grupo coliforme é formado por um número
de bactérias que inclui os gêneros Klebsiella, Escherichia, Serratia, Erwenia
e Enterobactéria. As bactérias coliformes termotolerantes reproduzem-se

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Química Ambiental

ativamente a 44,5ºC. O uso dessas bactérias para indicar poluição sani-


tária mostra-se mais significativo que o uso da bactéria coliforme “total”,
porque as bactérias fecais estão restritas ao trato intestinal de animais de
sangue quente. A determinação da concentração dos coliformes assume
importância como parâmetro indicador da possibilidade da existência de
microorganismos patogênicos, responsáveis pela transmissão de doenças
de veiculação hídrica, tais como febre tifóide, febre paratifóide, desinteria
bacilar e cólera.
As doenças parasitárias representam uma parcela significante de casos
de morbidade e mortalidade e, a Giardia lamblia e Cryptosporidium parvum
estão entre os protozoários capazes de causar diarréias graves tanto em
indivíduos imunocompetentes quanto imunodeficientes. A partir da década
de 80, a preocupação com estes protozoários aumentou principalmente em
relação aos casos de criptosporidiose. Dentre os vários modos de trans-
missão destas duas protozooses, a veiculação hídrica tem sido considerada
a mais importante, sendo implicada na ocorrência de mais de 100 surtos
de gastroenterite por Giardia e Cryptosporidium, de acordo com relatos nos
Estados Unidos, Canadá e países da Europa nos últimos 25 anos.

VARIÁVEIS TOXICOLÓGICAS

As variáveis de qualidade toxicológicas são ensaio de toxicidade aguda


com a bactéria luminescente – V. fischeri (Sistema Microtox), ensaio de
toxicidade aguda/crônica com o microcrustáceo Ceriodaphnia dúbia, ensaio
de toxicidade aguda/crônica com o anfípodo Hyalella azteca e ensaio de
genotoxicidade.
Os ensaios de toxicidade aguda com a bactéria luminescente consistem
na determinação de efeitos tóxicos causados por
um ou por uma mistura de agentes químicos, sendo
tais efeitos detectados por respostas fisiológicas
de organismos aquáticos. Portanto, os ensaios
ecotoxicológicos expressam os efeitos adversos,
a organismos aquáticos, resultantes da interação
das substâncias presentes na amostra analisada.
O sistema microtox é comercializado e pode ser
adquirido para execução dos testes citados (Figura
ao lado).
O ensaio de toxicidade aguda/crônica com o
microcrustáceo Ceriodaphnia dúbia é utilizado para
avaliar a ocorrência de efeitos tóxicos, agudos ou
crônicos, em corpos d’água para os quais está pre-
vista a preservação da vida aquática. O resultado
Teste Microtox. Fonte: http://www.drugtesting.net.au do ensaio é expresso como agudo (quando ocorre
Acessado em 03/01/2012

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Química da Água - Parte II Aula 3
letalidade de número significativo de organismos, dentro do período de 48
horas) ou crônico (quando ocorre inibição na reprodução dos organismos,
dentro do período de sete dias). A amostra é considerada não tóxica caso
não haja detecção de qualquer dos efeitos tóxicos.
O ensaio de toxicidade aguda/crônica com o anfípodo Hyalella azteca
é utilizado para avaliar a ocorrência de efeitos tóxicos, agudos ou crônicos,
em sedimentos coletados em recursos hídricos para os quais está prevista a
preservação da vida aquática. O resultado do ensaio é expresso como agudo
(quando ocorre letalidade de número significativo de organismos, dentro
do período de 10 dias) ou crônico (quando ocorre inibição do crescimento
de um número significativo de organismos, dentro do período de 10 dias).
A amostra é considerada não tóxica caso não haja detecção de qualquer
dos efeitos tóxicos.
Os ensaios de genotoxicidade medem a capacidade de um composto ou
mistura de causar dano ao material genético. Danos genéticos não reparados
geram mutações nos organismos expostos as quais podem causar doenças
como câncer, anemia, distúrbios cardiovasculares e neurocomportamentais,
além de doenças hereditárias.

LEIA MAIS

O artigo intitulado “Caracterização da qualidade da água do


açude Buri–Frei Paulo/SE” e é sugestão de leitura para melhorar
a compreensão do tema variáveis de qualidade da água. Este está
disponível na plataforma. Em seguida, faça um resumo sucinto
das principais idéias do texto

CONCLUSÃO

Nesta sessão foram apresentadas a definição e importância das


variáveis físicas, químicas, hidrobiológicas, microbiológicas e toxicológicas
de qualidade da água. Os parâmetros medidos para avaliação da qualidade
são escolhidos considerando o uso a ser dada a água.

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Química Ambiental

RESUMO
O processo de avaliação da qualidade da água corresponde a um con-
junto de medidas físicas, químicas e biológicas, diretamente relacionadas
com a proposta de uso da água. As variáveis de qualidade da água são físicas,
químicas, hidrobiológicas, microbiológicas e toxicológicas. As variáveis de
qualidade físicas são coloração da água, série de resíduos (filtrável, não fil-
trável, fixo e volátil), temperatura da água e do ar e turbidez. As variáveis de
qualidade hidrobiológicas são clorofila a, fitoplâncton, zooplâncton e bentos.
As variáveis de qualidade microbiológicas são coliformes termotolerantes,
cryptosporidium sp e giardia sp. As variáveis de qualidade toxicológicas são
ensaio de toxicidade aguda com a bactéria luminescente – v. fischeri (sistema
microtox), ensaio de toxicidade aguda/crônica com o microcrustáceo cerio-
daphnia dúbia, ensaio de toxicidade aguda/crônica com o anfípodo hyalella
azteca e ensaio de genotoxicidade.

ATIVIDADES

No monitoramento da qualidade da água são avaliados o máximo pos-


sível de variáveis. Contente sobre esse tema.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES


Monitoramento significa a avaliação e o acompanhamento de uma
dada situação, a partir de dados medidos por instrumentos. Muitas
vezes inicia-se a prática da coleta de dados sem que se saiba para
que, onde e como esses dados serão utilizados. Deve ser lembrado
que o número de dados a serem coletados pode ser bastante grande,
devido ao expressivo número de poluentes em contato com o meio
ambiente, levando a um custo significativo a operação de uma rede de
monitoramento da qualidade da água.
O sistema de monitoramento cujo objetivo é o de fiscalizar obediência
as padrões de qualidade de água estabelecidos por lei devem ter como
característica básica a localização das estações de amostragem em
pontos estratégicos, onde a probabilidade de violação do padrão é
maior. Os pontos de coleta de água em uma rede de monitoramento
são estabelecidos principalmente para verificar o impacto que as
fontes de poluição apresentam em relação à água. Por isto, é normal a
escolha de um ponto branco, isto é, um local que não sofreu impacto
de atividades humanas.

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Química da Água - Parte II Aula 3

AUTO-AVALIAÇÃO

Consigo definir as variáveis físicas de qualidade da água?


Sou capaz de entender as variáveis químicas de qualidade da água?
Consigo compreender as variáveis hidrobiológicas de qualidade da água?
Sou capaz de entender as variáveis microbiológicas de qualidade da água?
Sinto-me capaz de conhecer as variáveis toxicológicas de qualidade da água?

PRÓXIMA AULA

Na próxima aula iremos abordar acerca da Química da Atmosfera –


Parte I

REFERÊNCIAS

BAIRD, C. Química Ambiental. 2a ed. Porto Alegre, Bookman, 2002.


ROCHA, J.C.; ROSA, A.H.; CARDOSO, A.A. Introdução à Química
Ambiental. 1a ed. Porto Alegre, Bookman, 2004.
MANAHAN, S.E., Fundamentals of Environmental Chemistry, 2a ed.
Florida: Lewis Publishers, 2001.
CETESB, Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental.
Relatório de qualidade das águas interiores do estado de São Paulo,2003 /
CETESB. – - São Paulo : CETESB, 2004.
CHAPMAN, D. (ed) . Water Quality Assessments. Chapmam & Hall, 1992.
P. R. BARRETO, C. A. B. GARCIA. Caracterização da qualidade da
água do açude Buri–Frei Paulo/SE. Scientia Plena, 6, 097201, 2010.

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