Just in Time

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XIII SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006.

O sistema Just in Time: uma visão crítica de sua implementação

Pérsio Penteado Pinto Martins (UNIP) [email protected]


Leandro Antonio Moni Bidin (UNIP) [email protected]

Resumo
Enfocando o processo produtivo, o objetivo deste artigo é apresentar o sistema Just in
Time (JIT), tendo em vista, suas implicações na cadeia de suprimentos, bem como, apontar
e esclarecer pontos polêmicos atribuídos à sua implementação.
O artigo inicia com uma breve apresentação do sistema JIT e prossegue resgatando na
administração japonesa, a origem e essência desta filosofia. Identifica sob quais aspectos
o sistema JIT está alicerçado, também levantando os objetivos e vantagens da adoção de
tal sistema. No intuito de responder ao leitor, como agir durante a implementação do
sistema JIT, bem como, mantê-lo funcionando adequadamente, apresentam-se dez ações,
ou ferramentas fundamentais desta filosofia.
Por fim, uma visão crítica é inserida ao contexto, referente às implicações da
implementação do sistema Just in Time de forma fundamentalista, buscando esclarecer
pontos notadamente polêmicos e pretendendo-se eliminar eventuais falácias, criadas
através de erros de interpretação dos fundamentos da filosofia Just in Time.
A metodologia adotada é a revisão bibliográfica, principalmente, de artigos relacionados
ao tema. O tema justifica-se pela importância da filosofia Just in Time, no modelo de
gestão do processo produtivo e extensão de seus fundamentos de qualidade, melhoria
contínua de processos e de pessoas, organização e planejamento, para outras áreas das
empresas que optam por adotá-la como filosofia de trabalho. O Just in Time provoca a
mudança de mentalidade dos gestores do ocidente, modificando sua forma de fazer
negócios, aspecto que, talvez por si só, provoque interesse pelo tema.
Palavras-chave: Just in Time; Kanban; Cadeia de Suprimentos.

1. Introdução
O sistema Just in Time utilizado para controlar o processo de manufatura através do
sistema Kanban, originou-se nos supermercados norte-americanos onde os consumidores
encontravam o que precisavam, no momento em que precisavam e na quantidade desejada.
Por volta de 1953, foi aplicado por Taiichi Ohno, na Toyota, com a finalidade de reduzir
inventários, tempo de ciclo da produção, aumentar a velocidade da transferência de
informações e incrementar a produtividade buscando, desta forma, um sistema de
administração que pudesse coordenar a produção com a demanda específica de diferentes
modelos e cores de veículos, com o mínimo atraso.
Enfocando a administração da produção e tendo em vista toda extensão da cadeia
produtiva, o JIT adota uma visão estratégica em busca de vantagem competitiva, através da
otimização do processo produtivo. O sistema visa administrar a manufatura de forma
simples e eficiente, otimizando o uso dos recursos de capital, equipamentos e mão-de-obra.
O resultado é um sistema de manufatura capaz de atender às exigências de qualidade e
entrega, ao menor custo possível. Cabe destacar que JIT é muito mais uma filosofia que
necessariamente uma técnica, considerando o ambiente sistêmico e as inter-relações dos

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sub-sistemas nele contidos, através de uma visão holística. Sendo assim, torna-se
interessante um breve estudo da administração japonesa, no intuito de capturar a essência
deste conceito.

2. A administração japonesa
Segundo Ferreira (1997), a administração japonesa pode ser compreendida como
um modelo de gestão fortemente embasado na participação direta dos funcionários,
especialmente no tocante à produtividade e eficiência voltada para a tarefa, contrapondo-se
ao enfoque dado à linha gerencial das relações e desenvolvimento humanos, desenvolvida
principalmente pelos americanos.
A modernização do Japão remonta ao ano de 1868, época em que teve início o
período conhecido como restauração Meiji e durante o qual foi conduzido o processo de
industrialização do país. Os valores da sociedade japonesa, porém têm origem em épocas
anteriores, particularmente na era Tokugawa, entre 1615 e 1868. Foram estes valores que
moldaram a sociedade como um todo, inclusive o processo de industrialização e
conseqüentemente a forma de administrar os negócios no Japão.
A era Tokugawa resgatou o confucionismo como filosofia oficial, os elementos
básicos desta filosofia são: benevolência, adequação, sabedoria e obediência. Estes
fundamentos permitiram a formação de uma sociedade hierarquicamente orientada,
pregando a correta observância dos padrões nos relacionamentos sociais. O objetivo dos
líderes era a harmonia. A família era e continua sendo a unidade coletiva básica mais
importante, sendo que o coletivo prevalece sobre o individual; as ações e comportamentos
são julgados pelo que podem representar ao grupo. O bem e o mal são determinados pela
aprovação ou não da sociedade. É o medo da desonra ou rejeição pelo grupo que mantém
os padrões de comportamento.
O período da restauração Meiji inaugurou o processo de modernização do Japão,
mantendo porém os valores da sociedade. A revolução industrial no Japão durou cerca de
40 anos e teve como objetivo a defesa da nação contra o avanço dos colonizadores
europeus. Durante este período ascenderam ao poder os samurais, que na falta de atividades
militares, haviam tornado-se burocratas e adquirido experiência administrativa, transferindo
os valores de sua classe ao modo de gestão, como: compromisso com a educação,
responsabilidade social, auto-respeito e devoção à tarefa que deviam cumprir.
Apesar de seus valores culturais, o Japão adotou uma atitude imperialista predatória,
a partir de sua vitória nas guerras contra a China e contra a Rússia, no final do século VIII.
Tal postura culminou na participação da Segunda Guerra Mundial, causando a destruição
quase completa do país. Entretanto seus valores seculares continuaram permeando o
funcionamento da sociedade.
O fato é que apenas vinte e cinco anos após a derrota na Segunda Grande Guerra, o
Japão começou a invadir o mercado internacional com seus produtos mais baratos,
confiáveis e sem defeitos. Pela primeira vez uma nação oriental ameaçava a hegemonia
americana em alguns setores industriais, como: eletroeletrônicos e automobilísticos.
Em síntese, pode-se destacar algumas características fundamentais deste modelo de
gestão: administração participativa, planejamento estratégico visando otimizar os recursos,
visão sistêmica, supremacia do coletivo, busca da qualidade total, produtividade,

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flexibilidade, tecnologia e padronização, manutenção, limpeza e arrumação, relação de


parceria com fornecedores e distribuidores, confiança e responsabilidade.
São estes os fundamentos que modelam a filosofia Just in Time, bem como
caracteriza em linhas gerais a administração japonesa.

3. O sistema Just in Time


O sistema JIT esta sustentado fundamentalmente sobre três pilares básicos, que são:
a integração e otimização, a melhoria contínua e finalmente, o esforço em compreender e
responder às necessidades dos clientes.
O primeiro pilar visa reduzir ou eliminar funções e sistemas desnecessários ao
processo produtivos como: inspeção, retrabalho, estoques de matérias primas e estoque em
processo (WIP). Os defensores desta filosofia afirmam que muitas das funções
improdutivas existentes na cadeia de suprimentos são criadas devido à ineficiência ou
incapacidade de integração das atividades e otimização dos recursos, recomendando a
observância destas questões, logo na concepção de um novo produto. Considerando o
desenvolvimento conjunto de produtos em uma cadeia produtiva, Pires (2004), afirma que,
o envolvimento dos fornecedores desde os estágios iniciais do desenvolvimento de novos
produtos (Early Supplier Involvement) proporciona uma redução no tempo e nos custos de
desenvolvimento dos mesmos.
O segundo pilar, a melhoria contínua (kaizen), fomenta o desenvolvimento de
sistemas internos que encorajam a melhoria constante, não somente dos processos, mas
também da qualificação das pessoas, dentro da empresa. Esta mentalidade permite o
desenvolvimento das potencialidades e favorece o comprometimento de todos os
envolvidos, permitindo uma administração descentralizada, desenvolvida através de uma
base de confiança, transparência e honestidade nas ações.
O terceiro pilar é basicamente entender e responder às necessidades dos clientes.
Isto significa a responsabilidade de atender o cliente nos requisitos de qualidade do
produto, prazo de entrega e custo. O JIT enxerga o custo para o cliente através de uma
visão mais abrangente, isto é, a empresa JIT deve assumir a responsabilidade de reduzir o
custo total para o cliente, considerando a aquisição e uso do produto. Desta forma, os
fornecedores e distribuidores, devem também estar comprometidos com estas premissas, já
que a empresa fabricante é cliente dos seus fornecedores e distribuidores, e juntos,
compõem a cadeia produtiva.
Considerando estes três pilares e enfocando o processo produtivo, Lubben (1989)
afirma que, em síntese, a meta do JIT é desenvolver em sistema que permita a um
fabricante ter somente os materiais, equipamentos e pessoas necessários a cada tarefa.
A esta altura, talvez, o leitor esteja perguntando, como é possível tal façanha?
Busca-se esclarecer este questionamento, apresentando as ações empregadas pelo sistema
JIT e no tópico subseqüente, uma visão crítica das implicações destas ações, notadamente
polêmicas, tendo em vista sua implementação.

4. As ações para implementar o Just in Time


Parecem evidentes as vantagens produzidas pelo sistema JIT, entretanto, para
alcançá-las, deve-se implementar algumas ações, que segundo seus defensores, criam as
condições básicas para o desenvolvimento e manutenção do sistema.

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4.1 Educação e Treinamento


É necessário estabelecer um programa de educação e treinamento em todos os
níveis da empresa. Cada aspecto do desenvolvimento do sistema JIT depende de pessoas
trabalhando de forma produtiva e integrada, continuamente, objetivando solucionar os
problemas, no momento da ocorrência, para baixar os custos e melhorar a qualidade.

4.2 Mudança de Mentalidade


Outra ação fundamental está na mudança de mentalidade. Antes do uso de
ferramentas técnicas, a implantação eficaz do JIT exige uma postura favorável à inovação,
requer mudar, e toda inovação ou mudança começa pela mente. Uma vez a alta gerência
tenha se tornado mais consciente, esta desenvolverá um senso mais apurado sobre o que há
de errado com o modelo atual. Este senso de mudança começa então a propagar-se para as
demais áreas da empresa.

4.3 Planejamento
O planejamento, destaca-se como ferramenta essencial para o sistema JIT, mais
precisamente, o ciclo de melhoria de Deming (1990), constituído por etapas contínuas de
planejamento (determinar objetivos e métodos de execução), execução, verificação
(verificar os efeitos dos métodos adotados) e ações corretivas ou de aprimoramento. Este
modelo de planejamento contínuo, também é conhecido pela sigla “PDCA”. Entretanto, o
êxito na implementação das ações planejadas depende, entre outros fatores, de um ambiente
organizado.

4.4 Organização do Trabalho


A organização do trabalho ou 5 “S” começa pela fábrica e estende-se por toda a
organização. Esta ferramenta faz parte do princípio da visibilidade, ou seja, tornar visíveis
os problemas onde quer que possam existir. O 5 “S”, são cinco palavras fundamentais deste
princípio da organização, que em japonês começam com “S”, conforme segue:
 Seiri (organização) – é o senso de utilização. Tudo o que não for necessário para
a atividade de produção no futuro próximo deve ser removido do local de
trabalho.
 Seiton (locação) – é o senso de ter tudo em seu devido lugar. Cada coisa deve
ter o seu lugar para que, sendo necessária, seja encontrada facilmente.
 Seizo (limpeza) – é o senso de que a limpeza é fundamental para a melhoria. Um
local de trabalho limpo transmite a mensagem de que ali se procura trabalhar
com qualidade.
 Seiketsu (padronização) – é o senso de conservação, pois a definição de padrões
é fundamental para a manutenção dos progressos alcançados pelo grupo.
 Shitsuke (disciplina) – é o senso de responsabilidade, Disciplina, neste caso, é
trabalhar consistentemente através de regras e normas de organização,
localização e limpeza.
Com impacto significativo na produtividade, qualidade e redução de custos, a
manutenção produtiva destaca-se, também, como uma ação fundamental para o JIT.

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4.5 Manutenção Preventiva


O sistema JIT encara a manutenção como uma atividade que deve preservar as
máquinas, equipamentos e ferramentas, ajudar na qualidade dos produtos, aumentar a
participação dos operários e proporcionar redução de custos do processo produtivo. A
manutenção preventiva total (MPT) é um programa de manutenção, no qual, os operadores
participam ativamente na preservação das máquinas e equipamentos, com o objetivo de
garantir que o fluxo de produção seja suave e contínuo. A manutenção preventiva é
importante para preservar o equipamento e mais importante ainda para preservar a
qualidade.
4.6 Redução do setup time
A redução de setup é outra ação considerada importante; Harmon e Peterson (1991),
apresentam três razões para justificar a importância da redução de setup de máquina,
conforme segue:
1) Quando o custo de setup é alto, os lotes produzidos também são grandes, e o
investimento, resultante em estoques torna-se, da mesma forma, elevado. Entretanto, se o
custo de conversão é reduzido, torna-se possível produzir diariamente a quantidade
necessária com objetivo de reduzir o investimento em estoques.
2) Com técnicas de troca de ferramentas eliminam-se as possibilidades de erros na
regulagem dos instrumentos. Estes novos métodos de setup, portanto, reduzem
substancialmente os defeitos, ao mesmo tempo em que eliminam a necessidade de
inspeção.
3) Técnicas de conversão rápidas podem ser usadas para tornar disponível uma
capacidade adicional da máquina. Se as máquinas estão operando integralmente, a redução
de tempo de setup possibilitará um ganho de capacidade adicional, talvez evitando a
necessidade da compra de novas máquinas.

4.7 Produção Celular e Automação


Produção celular e operador polivalente são recursos empregados, também
objetivando a otimização dos recursos produtivos, através de mudanças promovidas no
arranjo físico disponível na fábrica. O arranjo físico, geralmente utilizado nas empresas que
adotam o sistema JIT é a célula de produção. Na produção celular as máquinas
normalmente ficam dispostas em forma de U, conforme ilustra a figura 1, permitindo o
desenvolvimento do trabalho em equipe. Um pequeno grupo de funcionários, trabalhando
juntos em espaço relativamente pequeno, tende a formar um sentido de equipe e promover
a colaboração mutua. Isso exige a multifuncionalidade dos operadores, ou seja, os
funcionários devem ser flexíveis e polivalentes para operarem várias máquinas próximas e
substituírem operadores ausentes. Esta flexibilidade permite a adaptação da produção à
variação da demanda, bastando para tanto a colocação na célula de um número maior de
trabalhadores, proporcional ao nível de produção desejada.

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Figura 1- Célula de produção com seis máquinas operadas por dois operadores
M1 M2

M3
OP2 OP2

M4
M6 M5

A otimização da produção celular terá sido completa se considerada outra ação;


Trata-se da automação de baixo custo, que significa adaptar acessórios aos equipamentos
existentes, visando aumentar a eficácia do conjunto homem-máquina, ou do emprego de
novas tecnologias que aumentem a eficiência da linha.

4.8 Qualidade Total


A qualidade total é tida como uma das ações mais importantes de um sistema JIT.
Significa agir através de todo um sistema estruturado, com objetivo de garantir a qualidade
de um produto para que o consumidor possa comprá-lo com total confiança, satisfação e
segurança. A filosofia JIT adota a visão sistêmica do empreendimento e considera que a
qualidade total deve estar presente a cada passo do processo, do planejamento de novos
produtos aos serviços de pós-venda.
Além disso, é um pressuposto básico da garantia da qualidade, o enfoque na
melhoria dos processos e não na inspeção do produto. Três atividades de garantia da
qualidade, presentes no processo JIT, têm conseqüência direta, não só na melhoria da
qualidade do produto, mas também na redução dos custos. Essas atividades são: os círculos
de controle da qualidade (CCQ), o autocontrole e o controle estatístico do processo (CEP).
Círculos de controle da qualidade são pequenos grupos que se dedicam à atividade
de controle da qualidade, dentro da mesma área de trabalho, como parte das atividades de
controle por toda a empresas. Estes grupos se reúnem periodicamente, de forma voluntária,
buscando através do diálogo e do uso de ferramentas de controle da qualidade, a melhoria
do processo produtivo e, ao mesmo tempo, perseguem o autodesenvolvimento e o
desenvolvimento mútuo. Com o mesmo objetivo e usando seus próprios conhecimentos
sobre o trabalho e os conhecimentos adquiridos em treinamentos, estes grupos investigam
as causas de problemas, propõem soluções e avaliam os resultados.
O autocontrole visa eliminar as atividades de supervisão e inspeção. A filosofia JIT
de produção considera que quem produz é responsável por garantir a qualidade dos
produtos, ou seja, a qualidade deve ser assegurada pela produção e não por um
departamento de inspeção. A concretização desta postura, diante do trabalho, só é possível
após a realização dos treinamentos adequados, que irão preparar os operários para executar
o autocontrole e a auto-inspeção do que eles produzem.

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A teoria do controle estatístico do processo (CEP) foi desenvolvida na segunda


metade dos anos 20, pelo Dr. Walter A. Shewhart, da Bell Telephone Laboratories. Ele
analisou muitos processos diferentes e concluiu: todos os processos de manufatura exibem
variação. Indicou dois tipos de variação: uma variação estável, inerente ao processo, a qual
chamou de variação aleatória, cujas causas são acidentais e uma variação intermitente,
cujas causas são atribuíveis ou especiais. Concluiu ainda que, as causa especiais podiam ser
economicamente descobertas e eliminadas com um tenaz programa de diagnóstico, mas que
as causas aleatórias não podiam ser economicamente descobertas e não podiam ser
removidas sem que se fizesse mudanças básicas no processo.
Segundo Shewhart (1980), um processo estável, sem indicação de causa especial de
variação, é considerado “sob controle estatístico”; É um processo cujas variações são
aleatórias. Seu comportamento num futuro próximo é previsível, porém, o aparecimento de
uma mudança brusca, oriunda de causa especial, pode tirar o processo do estado de controle
estatístico.
A variação de qualquer característica da qualidade de um produto pode ser
quantificada através de amostragem retiradas nas saídas dos processos e pela estimação dos
parâmetros da sua distribuição estatística. As empresas JIT procuram treinar seus operários
no uso deste controle estatístico, em busca do pleno domínio sobre as causas especiais de
variação. Assim, a melhoria do processo pode ser realizada de maneira eficaz, na medida
do alcance e controle estatístico.

4.9 O Kanban
Finalmente, a ultima ação fundamental empregada na implantação do sistema Just
in Time, que cabe apresentar neste tópico, é o Kanban. O Kanban é uma ferramenta
gerencial de controle da produção através do uso de cartões, onde quem determina a
fabricação do lote de um centro produtivo é o consumo das peças realizado pelo centro
produtivo à jusante. A palavra Kanban, em japonês, possui vários significados, tais como:
cartão, símbolo ou painel. Em linhas gerais é um sistema de controle da produção cujo
objetivo é minimizar os estoques de material em processo (WIP), produzindo em pequenos
lotes somente o necessário e no tempo certo.
Tradicionalmente, o departamento de produção e controle distribui a montagem do
produto final em diversas ordens de serviço e envia uma programação para todos os centros
produtivos envolvidos. Estes centros executam as operações previstas e fornecem as peças
processadas para os centros posteriores. Este sistema é conhecido com “push system” ou
sistema de empurrar a produção. No sistema Kanban, segundo Huang & Kusiak (1996), a
produção é comandada pela linha de montagem final. A linha de montagem recebe o
programa de produção e, à medida que vai consumindo as peças necessárias, vai
autorizando, aos centros de produção à montante, a fabricação de um novo lote de peças.
Esta autorização é realizada através do cartão Kanban. Este é o “pull system” ou sistema de
puxar a produção.
O Kanban é um sistema de produção em pequenos lotes. Cada lote é armazenado
em containers padronizados, contendo um número definido de peças. Para cada lote
contido no container existe em cartão kanban correspondente. As peças, dentro dos
containers, acompanhadas do seu cartão, são movimentadas através dos centros produtivos,
até chegarem sob a forma de peça acabada após passarem pela linha de montagem final.

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Com base neste sistema são criados dois tipos de cartões, um deles denominado Kanban de
produção e o outro Kanban de transporte.
O Kanban de produção dispara a produção de um pequeno lote de peças de
determinado tipo, em determinado centro produtivo. Não existe um modelo padronizado de
cartão, mas geralmente contém as seguintes informações: estágio da operação, produto
(descrição e número), quantidade de produtos a serem transportados, tamanho do lote a ser
produzido, local de armazenagem, número do cartão e nível de estoque. O movimento dos
cartões torna as informações palpáveis e de fácil entendimento. Nenhuma operação de
produção é autorizada sem que haja um Kanban de produção.
O Kanban de transporte autoriza a movimentação do material pela fábrica, do centro
de produção origem ao centro de produção destino, que irá utilizar os componentes. Este
cartão contém, em geral, as mesmas informações do Kanban de produção, acrescentado da
indicação do centro de produção destino.
O Kanban preenche determinadas funções dentro do processo de produção tais
como, visibilidade (a informação e o fluxo de material são combinados e movem-se com
seus componentes), produção (controlando a produção em seus estágios indicando o tempo,
quantidade e tipo de componente a ser produzido) e inventário (como medida de nível de
inventário através do número de cartões em vez de controlar quantidades de componentes,
controla-se numero de Kanbans).
Atualmente, este sistema é informatizado, sendo que, a informação é processada e o
resultado é visualizado através de painéis distribuídos nas várias células de fabricação,
possibilitando que a evolução da produção possa ser acompanhada por todos.
Este sistema, amplamente utilizado no segmento automotivo, está derivando para
uma nova condição denominada Just in Time seqüenciado, onde não só pequenos lotes dos
diversos modelos são gerenciados, mas o atendimento conforme a linha de montagem,
adequando os diversos modelos de peças aos variados tipos de veículos. Este processo tem
como base um armazém próximo à linha de produção, onde diversos fornecedores mantêm
estruturas de armazenagem e de pré-montagem, onde os estoques são formados pelos itens
genéricos, sendo adequados aos modelos dos veículos conforme solicitação do mix de
produção.
Os produtos, objeto da aplicação deste conceito, geralmente são itens de alto valor
agregado e com nível de complexidade alto. Exemplos deste processo são: os painéis dos
automóveis (onde uma variedade de instrumentos opcionais, podem ser agregados ao
modelo básico de painel), o conjunto de suspensão (especifico para cada determinado
modelo), os pára-choques (que também são adequados a cada modelo de veiculo
produzido).
Este procedimento proporciona uma maior flexibilidade da linha de montagem, pois
os produtos são entregues no modelo correto, acompanhando a seqüência de montagem da
fábrica e atendendo às diversas variabilidades de modelos projetados.
Observa-se que a implementação deste sistema, nas montadoras de veículos, implica
na redução efetiva dos estoques, pois os componentes só são faturados para a montadora
quando entregues na linha de montagem do produto, com os opcionais montados. Outro
fato identificado, trata-se da substituição da área de armazenagem por uma área de pré-
montagem do fornecedor, resultando na redução dos custos inerentes, bem como na
transformação de áreas antes improdutivas, em áreas agregadoras de valor ao produto.

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Outros custos inerentes à área tais como movimentação, transporte interno, mão de
obra terceirizada para recebimento, armazenagem, separação e abastecimento também são
divididos eqüitativamente, reduzindo os custos da operação como um todo.
A alternativa para redução de custos, encontrada por estas montadoras, decorre da
aproximação por parte das empresas produtivas parceiras, que produzem conforme a
seqüência da linha de produção, e utilizam veículos especiais, os quais se transformam em
armazéns provisórios, sem necessidade de área especifica para armazenagem. O ponto de
descarga fica ao lado do ponto de uso, evitando movimentações desnecessárias ao longo do
processo, alguns exemplos são bancos e vidros.
A utilização de sistemas de comunicação integrados, permite a visualização
eficiente do fluxo de montagem e dos modelos a serem produzidos, de forma a tornar
eficiente a aplicação do sistema Just in Time em processos de fabricação, conforme citados,
com conseqüente redução dos níveis de estoque e custos de áreas sub-utilizadas.
As aplicações do sistema JIT descritas acima, utilizam-se basicamente do Kanban
como ferramenta para solicitar as necessidades aos diversos participantes do processo, e
tornando visíveis as necessidades, bem como a urgência dos componentes, tendo em vista o
controle visual permitido pelo Kanban.
O sistema JIT está concentrado no controle da produção pela utilização do Kanban
como ferramenta básica de controle da mesma, entretanto, o JIT pode ser aplicado nas áreas
de controle de qualidade, compras, lay-out do processo de fabricação, mão de obra
multifuncional, padronização dos processos, manutenção e produção mais linear sem
grandes variações de forma a permitir ganhos efetivos em todos os processos associados à
maior eficiência do processo produtivo.
Em síntese, pode-se destacar dez ações fundamentais para implementação do
sistema Just in Time, conforme segue:
 Educação e treinamento.
 Mudança de mentalidade.
 Planejamento (PDCA).
 Organização do trabalho (5 “S”s).
 Manutenção preventiva total (MPT).
 Redução do setup time.
 Produção celular e operador polivalente.
 Automação.
 Qualidade Total (CCQ, Autocontrole, CEP).
 Sistema Kanban.
Como já dito anteriormente, alguns aspectos decorrentes da implantação do sistema
JIT geram polemica e falácias que pretende-se esclarecer no tópico abaixo, entretanto, de
maneira nenhuma deve-se desconsiderar o mérito das ações aqui apresentadas, no alcance
da vantagem competitiva, principalmente no tocante à qualidade e eficiência da cadeia
produtiva, nem tão pouco, desconsiderar o valor atribuído à filosofia Just in Time, como
modelo de gestão.

5. Visão crítica da implantação do sistema JIT


Segundo Carvalho (2005), ao projetar um novo produto, deve-se analisar o nível de
previsibilidade da demanda, a qual este produto destina-se, qual a característica do produto

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(inovador ou funcional) e qual o nível de serviço ideal para melhor atender esta demanda.
Estes fatores, irão determinar o sistema mais adequado para cadeia de suprimentos. As
questões relativas ao processo produtivo e aos níveis de estoque estarão subordinadas a
estes aspectos. Desta forma, cabe maior detalhamento sobre estes aspectos, no intuito de
fornecer os subsídios necessários para tomada de decisão, com implicação direta, no
modelo de gestão estratégica da cadeia de suprimentos. O que pretende-se esclarecer, é que
nem tudo pode ou deve ser just in time, mesmo adotando tal filosofia.
O nível de previsibilidade da demanda é, na maioria dos casos, variável, sendo
representado pelo fluxo de pedido, que determina quando uma atividade de fluxo de
material (aquisição de matéria prima, manufatura e transporte) deve iniciar, e é composto
de pedidos firmes mais pedidos previstos (Carvalho 2005).
Tendo em vista a cadeia de suprimentos, Carvalho (2005) afirma que, o ciclo
completo, ou lead time do pedido, é formado pelo tempo do fluxo de informação, à
montante da cadeia de suprimentos, mais o tempo de preparação, incluindo o setup time,
mais o fluxo do produto, à jusante da cadeia, em direção ao cliente. Segundo Arntzen &
Shumway (2002), a previsibilidade da demanda e o ciclo do pedido determinam se deve
ser produzido para estoque, através de processo empurrado, atendendo à previsões (BTF),
ou, produzir contra pedido (BTO), através do processo puxado. Esclarecendo: no modelo
feito para estoque, o fluxo de pedido encontra o fluxo de material ao nível do produto final,
já no modelo feito por pedido, o fluxo de pedido encontra o fluxo de material antes do nível
do produto final, modelo este, defendido no sistema JIT. Independentemente do processo
adotado, torna-se importante a visibilidade da demanda por todas as etapas da cadeia
produtiva (fornecedores nível 1, fornecedores nível 2, fábrica, distribuidores e varejo), com
intuito de melhor preparar-se para atendimento da demanda e evitar análises subjetivas
quanto ao giro de estoque. A baixa visibilidade da demanda ao decorrer da cadeia
produtiva, tradicionalmente implica no efeito “chicote”. Este efeito é extremamente
indesejável, principalmente pelos fornecedores mais à montante da cadeia, devido aos
elevados níveis de estoque; os quais estes fornecedores acabam por arcar. Por vezes, na
tentativa de ajustes dos níveis de estoque, sem a nítida visibilidade da demanda, os
fornecedores, principalmente de nível 1, acabam por reduzir seus estoques, ao ponto da
ruptura, comprometendo sensivelmente o desempenho da cadeia produtiva, bem como, o
nível de serviço.
Outro aspecto relevante, trata da identificação da característica do produto, quanto a
ser funcional ou inovador. Produtos funcionais destinam-se a demandas previsíveis e têm
seu ciclo de vida útil longo, e produtos inovadores, demandas variáveis e ciclo de vida
curto (Christopher & Towill 2000).
Segundo Simchi-Levi (2000), produtos funcionais demandam sistemas produtivos
enxutos, como é o JIT, tendo como aspectos qualificadores: a qualidade, o lead time e o
nível de serviço, e como aspecto ganhador de pedidos, o custo. Sendo novamente, neste
caso, o sistema JIT, altamente indicado. Já produtos inovadores requerem sistemas
produtivos ágeis, tendo como aspectos qualificadores: a qualidade, o custo e o lead time, e
como aspecto estratégico e ganhador de pedidos, o nível de serviço. O nível de serviço
representa o valor percentual atribuído a probabilidade de atendimento de um pedido.
Combinado com a variabilidade da demanda (desvio padrão) e o tempo de reposição ou

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ressuprimento, o nível de serviço, influencia a necessidade em manter estoques reguladores


ou também chamados de estoques de segurança.
A título de reflexão, vale destacar que o excesso de estoque é mensurável, já a falta,
não é; no mercado de produtos inovadores, arriscar-se, adotando um sistema extremamente
enxuto e eficiente, pode significar perda de market share e prejuízos no tocante a imagem
da marca, considerando os níveis de serviço e expectativa quanto à velocidade de
atendimento, desta demanda específica.
Enfocando o método do lote econômico de compra (Economic Order Quantity –
EOQ), segundo Slack (1997), o primeiro conceito que surge é o ponto de reposição. Toda
vez que determinada quantidade de um item é retirada do estoque, verifica-se a quantidade
remanescente, se esta for menor que uma quantidade predeterminada, chamada ponto de
reposição, é disparado um novo pedido para reposição deste estoque, considerando o tempo
de reposição estimado para determinado item. Este tempo, que o fornecedor leva para
entregar determinado item ou pedido, é chamado de tempo de reposição.
Cabe a gestão, trabalhar no sentido de tornar a demanda o mais estável possível,
com objetivo de reduzir a necessidade de estoques reguladores. Sendo assim, deixar o
estoque ir a zero, como fundamentalmente é pregado no sistema JIT, torna-se
extremamente arriscado, dado que, situações reais são cercadas de aleatoriedades. A
solução então, é manter um estoque de segurança, mesmo que pequeno, para que o sistema
não pare frente a incertezas de fornecimento ou oscilações bruscas na demanda.
O método do lote econômico auxilia na decisão de quanto comprar, lote de compra
(fornecimento / reposição), que implica no quesito lote de fabricação. Este método equilibra
os custos de colocação do pedido (custo de setup + custo de se fazer o pedido), e o custo de
manutenção dos estoques (armazenagem, capital de giro e custo de oportunidade).
Considerando a demanda estável, custo fixos para colocação do pedido e custo linear para
o estoque, pode-se empregar a formula, que segue: LE = √(2 x Cf x D)/ Ce. Sendo, Cf o
custo fixo do pedido, D a demanda anual e Ce o custo de estoque, (Ford W. Harris apud
Carvalho 2005).
Aplicando este método à cadeia de suprimentos, o custo fixo da cadeia será igual a
soma dos custos de pedido do comprador com o custo fixo do vendedor, já o custo com
estoque permanece sendo o custo com o estoque do comprador. Baseando-se neste método
pode-se afirmar que a redução do tamanho do lote de fabricação depende do custo fixo
atribuído ao custo do setup. A redução deste custo pode ser promovida pelas técnicas
sugerias no tópico anterior e também através da postergação das diferenciações do produto,
técnica conhecida como postponment.

6. Conclusão
O JIT como filosofia pode ser estendida a cadeia de suprimentos, no intuito de
alcançar eficiência e qualidade. Entretanto, destacou-se a importância da adequação desta
filosofia às operações e objetivos da empresa. O emprego fundamentalista do conceito pode
representar impacto adverso aos objetivos da empresa, principalmente no tocante ao tipo de
produto, refletindo no descontentamento da demanda e conseqüente perda de market share,
decorrente da possível redução do nível de serviço, tratando-se de produtos inovadores
frente à ausência de estoques. Outro aspecto importante a ser observado, no momento da
implantação do sistema JIT reside na preparação dos funcionários, tal como, do ambiente

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XIII SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006.

de trabalho, por meio da adequação das rotinas e processos existentes, com objetivo de
favorecer o entendimento e valorização desta filosofia e também materializar seus
benefícios no menor intervalo de tempo possível; Para tal, apresentou-se as principais ações
necessárias à implantação do Just in Time.

7. Bibliografia
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