Manual de Saneamento - Cap1
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1.1 Introdução
No período colonial brasileiro, que vai desde a sua descoberta até o começo do
século XIX, a economia era baseada na exploração dos recursos naturais. Poucos exemplos
existem sobre saneamento nas cidades. Os engenhos de moagem da cana de açúcar, pela
necessidade de água fez surgir os primeiros aquedutos rurais. As plantações de café, por
sua vez, exigiam a instalação de canalizações de água para a lavagem dos grãos.
A maior parte das vilas se instalava próximas a riachos, nascentes e ribeirões de onde
podiam extrair a água. O saneamento básico não estava entre as prioridades do governo.
A saúde era precária e as populações criavam alternativas para obter a água. Em 1723 foi
construído no Rio de Janeiro o primeiro aqueduto no Brasil que transportava água captada
no Rio Carioca até um chafariz no Largo da Carioca, o sistema foi ampliado, aperfeiçoado
e a partir de então, começou a ser adotado em outras cidades do país.
Com a chegada da Família Imperial ao Rio de Janeiro, em 1808, várias transformações
urbanísticas começaram a ocorrer na cidade e, consequentemente, em outras cidades brasileiras.
Os serviços de infraestrutura, de abastecimento de água e de esgotamento sanitário,
até meados do século XIX, não evidenciam nenhum modelo organizado de prestação de
serviços e as intervenções sanitárias não constituem políticas públicas ou ações duradouras,
ficando restritas a áreas isoladas.
A partir de meados do século XIX o Brasil passou por grandes mudanças, as populações
foram deslocadas das pequenas comunidades rurais para os centros urbanos em formação, o
que criou condições propícias às doenças epidêmicas. Os primeiros serviços de saneamento
no Brasil surgem como resposta à falta de infraestrutura urbana, em um modelo do qual
participavam o setor público e empresas privadas. Nos maiores centros urbanos do país, o
Estado muitas vezes delegou a prestação de serviços públicos a concessionárias estrangeiras,
principalmente inglesa, incluindo o abastecimento de água e o esgotamento sanitário. Essas
companhias, dirigidas por estrangeiros, importavam da Europa todo o material, a técnica e os
insumos necessários para a realização das obras, entra no país produtos industrializados para
saneamento, tais como as caixas d’água, canalizações, motores e os chafarizes em ferro fundido.
A partir da década de 1910 o Estado tem um papel mais centralizador e surgem
políticas sociais de âmbito nacional como resposta às diversas pressões populares por
melhorias na qualidade dos serviços prestados por empresas privadas. Os serviços pres-
tados por essas empresas tiveram um período de tempo variável e até meados do século
XX todas as concessões foram canceladas em função da falta de manutenção, ampliação
e da baixa qualidade dos serviços prestados.
Em 1942 destaca-se a inserção do setor saúde na política de saneamento, resultando
na criação do Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp), a partir de um programa de finan-
ciamento e assistência técnica do governo dos Estados Unidos, interessado em garantir
salubridade na exploração de materiais econômicos durante a Segunda Guerra Mundial. Nos
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Na década de 1960, o Sesp foi transformado em Fundação de Serviço Especial de
Saúde Pública (Fsesp), vinculada ao Ministério da Saúde e também a criação da Campanha
de Erradicação da Malária (CEM), independente do DENERu.
No ano de 1970, o Ministério da Saúde reorganizou-se administrativamente, criando
a Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam) (Figura1B), subordinada
à Secretaria de Saúde Pública. e incorporando o DENERu, a CEM e a Campanha de
Erradicação da Varíola. Também criou a Divisão Nacional de Epidemiologia e Estatística
da Saúde (Dnees), no Departamento de Profilaxia e Controle de Doenças.
No ano de 1990, as atribuições, o acervo e os recursos orçamentários da Sucam e
da Fsesp, passaram a denominar-se Fundação Nacional de Saúde (Funasa), bem como
incorporou o Programa Nacional de Imunizações, o Plano de Ação para Erradicação da
Poliomielite, o Programa Nacional de Zoonoses, o Sistema de Vigilância Epidemiológica,
o Sistema de Informações sobre Mortalidade, o Sistema de Laboratórios de Saúde Pública,
a Pneumologia Sanitária, a Dermatologia Sanitária e as atividades de informática do SUS,
desenvolvidas pela empresa de processamento de dados da Previdência Social (Dataprev)
(Figura 1C).
V B I QV E
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FUNDAÇÃO
SESP
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A B C
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O PNSR terá como objetivo promover o desenvolvimento de ações de saneamento
básico em áreas rurais com vistas à universalização do acesso, por meio de estratégias
que garantam a equidade, a integralidade, a intersetorialidade, a sustentabilidade dos
serviços implantados e a participação e controle social.
A Funasa é o órgão do governo federal responsável pela implementação das ações de
saneamento em áreas rurais de todos os municípios brasileiros, inclusive no atendimento às
populações remanescentes de quilombos, assentamentos rurais e populações ribeirinhas.
Segundo censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), em 2010 no Brasil, cerca de 29,9 milhões de pessoas residiam em
localidades rurais, totalizando aproximadamente 8,1 milhões de domicílios (Figura 2).
1.5 Conceitos
1.5.1 Saúde
A expressão “Saúde Pública” pode dar margem a muitas discussões quanto a sua
definição, campo de aplicação e eventual correspondência com noções veiculadas, muitas
vezes, de modo equivalente, tais como “saúde coletiva”, “medicina social, preventiva e
comunitária”, “higienismo” e “sanitarismo”.
Saúde Pública é “a ciência e a arte de prevenir a doença, prolongar a vida e promover
a saúde e a eficiência física e mental, através de esforços organizados da comunidade para
o saneamento do meio e controle de doenças infectocontagiosas, promover a educação
do indivíduo em princípios de higiene pessoal, a organização de serviços médicos e de
enfermagem para o diagnóstico precoce e tratamento preventivo das doenças, assim
como o desenvolvimento da maquinaria social de modo a assegurar, a cada indivíduo da
comunidade um padrão de vida adequado à manutenção da saúde”, conforme definição
clássica de Whislow (1920).
Nesse manual considera-se Saúde Pública como um domínio genérico de práticas
e conhecimentos, organizados institucionalmente, dirigidos a um ideal de bem-estar das
populações, em termos de ações e medidas que evitem, reduzam e/ou minimizem agravos
à saúde, assegurando condições para a manutenção e sustentação da vida humana.
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Os indicadores de saúde são definidos como medidas que resumem e expressam,
em linguagem matemática, a situação de saúde de uma população. A Organização Pan-
Americana de Saúde (OPAS) define indicadores de saúde como medidas-síntese que
contêm informação relevante sobre determinados atributos e dimensões do estado de
saúde, bem como do desempenho do sistema de saúde. Vistos em conjunto, devem refletir
a situação sanitária de uma população e servir para a vigilância das condições de saúde.
Os indicadores de saúde são, tradicionalmente, medidas que procuram sintetizar
o efeito de determinantes de natureza social, econômica, ambiental e biológica sobre o
estado de saúde de uma determinada população.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que os indicadores de saúde
observem não apenas o número de doenças e mortes, mas também as condições demo-
gráficas, alimentação, educação, trabalho, transporte, economia, habitação, saneamento
básico, vestuário, lazer, segurança social e liberdade humana. Esta recomendação da
OMS nos induz a conceber os indicadores de saúde como instrumentos complexos,
compostos por diferentes medidas que em conjunto indicariam o estado de saúde de um
determinado grupo humano.
1.5.4 Saneamento
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Nestas publicações o conceito de Salubridade Ambiental foi entendido como o estado
de higidez em que vive a população urbana e rural, tanto no que se refere a sua capaci-
dade de inibir, prevenir ou impedir a ocorrência de endemias ou epidemias veiculadas
pelo meio ambiente, como no tocante ao seu potencial de promover o aperfeiçoamento
de condições mesológicas favoráveis ao pleno gozo de saúde e bem estar.
f) Publicação atual
O saneamento básico, de acordo com a Lei do Saneamento, inclui o conjunto de
serviços, infraestruturas e instalações operacionais de: a) abastecimento de água potável,
b) esgotamento sanitário, c) limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos d) drenagem e
manejo das águas pluviais urbanas.
Desse conceito conclui-se que o homem e o meio possuem uma relação intrínseca
que pode ser mediada pelo campo do saneamento. A medida que o saneamento evolui
em conhecimento, tecnologia e investe na melhoria das condições sanitárias entende-se
que sem saneamento seria impossível desfrutar da qualidade de vida.
Salubridade ambiental pode ser definida como o estado de higidez em que vive a
população urbana e rural, tanto no que se refere a sua capacidade de inibir, prevenir ou
impedir a ocorrência de endemias ou epidemias veiculadas pelo meio ambiente, como
no tocante ao seu potencial de promover o aperfeiçoamento de condições favoráveis ao
pleno gozo de saúde e bem-estar.
O saneamento é um dos fatores de promoção de um ambiente salubre, que favorece
condições de sobrevivência, quando devidamente implantado e adequando às caracte-
rísticas locais.
Salubridade não é a mesma coisa que saúde, e sim o estado das coisas, do meio
e seus elementos constitutivos, que permitem a melhor saúde possível. Salubridade é a
base material e social capaz de assegurar a melhor saúde possível dos indivíduos. E é
correlativamente a ela que aparece a noção de higiene pública, técnica de controle e de
modificações dos elementos materiais do meio que são suscetíveis de favorecer ou, ao
contrário, prejudicar a saúde.
A salubridade ambiental é um fator importante para a promoção da saúde pública, a
identificação dos elementos que a compõe, principalmente nas áreas de ocupação espon-
tânea, torna-se de extrema importância, não só no sentido de caracterizar as condições
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de salubridade destas áreas e no estudo da relação saneamento e saúde, como também
para contribuir na definição de políticas públicas que promovam a sua melhoria.
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