Capítulo3 A Produtividade
Capítulo3 A Produtividade
Capítulo3 A Produtividade
3.1 INTRODUÇÃO
No nível estratégico, onde são definidas as políticas estratégicas de longo prazo da empresa,
o PCP participa da formulação do planejamento estratégico da produção, gerando um plano de
produção para determinado período (longo prazo) segundo as estimativas de vendas e a
disponibilidade de recursos financeiros e produtivos. A estimativa de vendas serve para prever os
tipos e quantidades de produtos que espera-se vender no horizonte de planejamento estabelecido. A
capacidade de produção é o fator físico que restringe o processo produtivo, e pode ser incrementada
ou reduzida, desde que planejada a tempo, pela adição de recursos financeiros. No planejamento
estratégico da produção o plano de produção gerado é pouco detalhado, normalmente trabalhando
com famílias de produtos, tendo como finalidade possibilitar a adequação dos recursos produtivos à
demanda esperada dos mesmos.
No nível tático, onde são estabelecidos os planos de médio prazo para a produção, o PCP
desenvolve o planejamento-mestre da produção, obtendo o plano-mestre de produção (PMP) de
produtos finais, detalhado no médio prazo, período a período, a partir do plano de produção, com
base nas previsões de vendas de médio prazo ou nos pedidos em carteira já confirmados. Onde o
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Capítulo 3 42
plano de produção considera famílias de produtos, o PMP especifica itens finais que fazem parte
dessas famílias. Ao executar o planejamento-mestre da produção e gerar um PMP inicial, o PCP
deve analisá-lo quanto as necessidades de recursos produtivos com a finalidade de identificar
possíveis gargalos que possam inviabilizar esse plano quando da sua execução no curto prazo.
Identificado os potenciais problemas, e tomadas as medidas preventivas necessárias, o PMP pode
ser implementado. Apesar de ser um plano de médio prazo, já a partir do estabelecimento do PMP o
sistema produtivo passa a assumir compromissos de fabricação e montagem dos produtos.
Planejamento Estratégico
da Produção
Plano de Produção
Avaliação de Desempenho
Departamento
Programação da Produção
•Administração dos Estoques
•Seqüenciamento
•Emissão e Liberação de Ordens
Ordens Ordens Ordens
Departamento de de de
de Compras Compras Fabricação Montagem
Pedido de Compras
Clientes
Figura 3.1 Visão geral das atividades do PCP (TUBINO, 1997 : 25).
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Planejamento e Controle da Produção JIT 43
seqüenciamento das ordens emitidas, de forma a otimizar a utilização dos recursos. Se o plano de
produção providenciou os recursos necessários, e o PMP equacionou os gargalos, não deverá
ocorrer problemas na execução do programa de produção seqüenciado. Dependendo do sistema de
produção empregado pela empresa, a programação da produção enviará as ordens a todos os setores
responsáveis (sistema empurrado) ou apenas à linha de montagem final dos produtos (sistema
puxado).
Essa visão geral das atividades desenvolvidas no âmbito do PCP está contida dentro de
qualquer sistema produtivo. Contudo, a forma como essas funções são implementadas e os
resultados efetivos alcançados estão intimamente relacionados com a filosofia de produção. Nos
sistemas convencionais, apesar do PCP desenvolver suas funções de planejamento,
acompanhamento e controle da produção, os resultados alcançados pelos setores produtivos ficam
muito aquém dos planejados, gerando um ciclo de replanejamentos intensos e metas não atendidas.
O reflexo disso pode ser medido pela volume de estoques em processo e os elevados lead times
produtivos. Como alternativa, muitas empresas buscam através da informatização do fluxo de
informações via softwares conhecidos como MRP II (Manufacturing Resource Planning),
atualmente evoluindo para ERP (Enterprise Resource Planning), a solução para seus problemas.
Infelizmente problemas estruturais dos sistemas de produção, como baixa confiabilidade dos
padrões de trabalho, lead times excessivos, grandes lotes de fabricação, quebras de máquinas,
atrasos de fornecedores etc., não podem ser solucionados pela simples aplicação de softwares.
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Capítulo 3 44
A Toyota Motors, precursora da produção JIT, trabalha como qualquer empresa baseada nos
três horizontes de planejamento e programação já descritos. Faz um plano de produção estratégico
com períodos anuais, um plano-mestre de produção com periodicidade mensal, e uma programação
de montagem diária. Contudo, como ela possui alta flexibilidade em seu sistema produtivo, o plano-
mestre de produção é subdividido em três planos com períodos de dez dias, sendo que cada um
deles é passado à Toyota Motors pelos revendedores, com base em seus estoques, com antecedência
de sete dias. A Figura 3.2 ilustra essa seqüência de etapas.
Consolidação
dos pedidos
diários
Dia
17 10 - 9 - 8 - 7 - 6 - 4 - 3 - 2 - 1 da
Montagem
A Toyota Motors emprega as informações desse plano de dez dias para revisar seu plano-
mestre mensal. A cada dia, com antecedência de quatro dias da data de montagem dos carros, os
revendedores enviam um pedido diário incluindo as especificações exigidas pelos clientes que não
fizeram parte dos carros solicitados anteriormente no plano de dez dias. Três dias antes da
montagem dos carros, o setor de vendas classifica e consolida os diversos pedidos dos revendedores
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Planejamento e Controle da Produção JIT 45
O que se observa com esse exemplo é que quanto maiores forem os horizontes dos planos e
programações de produção, maiores serão as chances de que a produção real não se nivele com a
demanda efetiva dos produtos. A flexibilidade do sistema produtivos da Toyota Motors permite que
apenas quatro dias antes da montagem final do produto, algumas modificações sejam feitas para
adequar à produção com a demanda real. Contudo, quando se fala em flexibilidade de um sistema
de produção JIT, ela deve ser entendida dentro de uma estrutura hierárquica de planejamento. Ou
seja, como qualquer sistema produtivo, a medida em que o momento de se efetivar a produção for
chegando, o nível de flexibilização do programa de produção vai se reduzindo. A Figura 3.3 procura
apresentar esse escalonamento da flexibilidade dentro do sistema de produção JIT, relacionando-o
com os diversos planos de planejamento e controle da produção.
No longo prazo, quando se elaboram os planos estratégicos de produção pode-se dizer que a
flexibilidade é total, pois tem-se tempo suficiente para alterar a forma e a capacidade produtiva do
sistema de maneira a atender à demanda agregada prevista. O sistema de produção JIT, conforme
apresentado no capítulo anterior, procura através da produção focalizada desenvolver uma estrutura
que permita de forma simples alterações em sua capacidade de produção, tanto em volume como
em variedade (mix) de produtos. É evidente que a flexibilidade total, da qual está se falando, não
significa a transformação de um sistema de produção de geladeiras em uma fábrica de fogões, por
exemplo, mas sim em recompor essa fábrica de geladeiras para a uma nova previsão de demanda
agregada por seus produtos.
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Capítulo 3 46
No médio prazo, uma vez estabelecida sua estrutura produtiva, os sistemas de produção
partem para a montagem de um plano-mestre de produção de produtos acabados baseado nas
previsões de médio prazo da demanda. Convencionalmente, as informações contidas no PMP são
usadas como ponto de partida para o início das atividades de montagem, fabricação e compras do
sistema produtivo, limitando a partir daí a flexibilidade do sistema. Nesse caso, o sistema produtivo
convencional está sendo acionado para atender as previsões de médio prazo, e a falsa flexibilidade
atribuída a esses sistemas são obtidas com base em grandes estoques de segurança. Nos sistemas de
produção JIT as informações do PMP não são empregadas para gerar um programa de produção,
mas sim, para organizar as variáveis estruturais do sistema produtivo JIT, quais sejam, os tempos de
ciclo e os níveis de estoques necessários para atender essa previsão de demanda. Dessa forma,
preserva-se no médio prazo a flexibilidade de se alterar o volume e o mix do programa de produção,
pois as ordens que autorizariam a montagem, fabricação e compras ainda não foram expedidas.
No curto prazo o sistema produtivo irá efetivar a produção a partir das ordens emitidas.
Nesse ponto existe uma grande diferença entre como isso é feito nos sistemas convencionais
(empurrando) e nos sistemas JIT (puxando), influenciando de forma direta a flexibilidade do
sistema. A Figura 3.4 ilustra essa diferença. Conforme pode ser visto nessa figura, empurrar a
produção significa elaborar periodicamente com base no PMP um programa de produção completo,
com ordens de montagem, fabricação e compras, e transmiti-lo aos setores responsáveis para que
iniciem suas funções. No próximo período de programação, em função dos estoques remanescentes,
programam-se novas ordens para atender a um novo PMP.
Programação da Produção
OC OF OF OM
Empurrar a produção
Programação da Produção
OM
Puxar a produção
Figura 3.4 Empurrar e puxar a produção (TUBINO, 1997 : 105).
Sendo assim, o sistema JIT de puxar a produção fornece de uma forma simples, no curto
prazo, flexibilidade de mix ao processo produtivo, pois os recursos só serão acionados na medida
em que a demanda por itens realmente se efetivar. Dessa forma, com o sistema produtivo
balanceado com tempos de ciclo e estoques em processo adequados, seria indiferente a uma célula
produzir uma peça do tipo “A” ou do tipo “B”, enquanto que nos sistemas convencionais estaria se
produzindo peças tipo “A” mesmo que a demanda de curto prazo fosse por peças do tipo “B”, pois
o programa foi elaborado no médio prazo quando a demanda prevista era por peças do tipo “A”. A
Figura 3.5 dá uma visão geral das atividades de PCP quando inseridas no sistema de produção JIT.
Planejamento Estratégico
da Produção
Departamento Plano de Produção
Avaliação de Desempenho
Acompanhamento e Controle da Produção
de Marketing
Previsão de Vendas
Planejamento-mestre
Pedidos em Carteira da Produção
Plano-mestre de Produção
Programação da Produção
•Programa de montagem final
•Cálculo do número de kanbans
•Emissão e Liberação de kanbans
Kanbans Kanbans Kanbans Programa
de de de de
Fornecedores Movimentação Produção Montagem
Clientes
Figura 3.5 Visão geral das atividades do PCP no sistema JIT (TUBINO, 1997 : 196).
Alguns críticos do sistema de produção JIT, até por não entenderem o inter-relacionamento
entre as diversas ferramentas operacionais do sistema, colocam que a flexibilidade do sistema de
puxar a produção fica bastante limitada quando as demandas são variáveis, e que nesse caso
sistemas de PCP baseados na lógica computacional do MRPII seriam mais eficientes. É obvio que
nenhum sistema produtivo está preparado para atender de forma eficiente demandas muito
variáveis, pois sempre haverá um período onde o programa de produção será emitido e “congelado”
para autorizar a produção (no caso dos sistemas empurrados), ou onde os estoques em processo
serão dimensionados para suportar a demanda futura (no caso dos sistemas puxados). O que os
sistemas convencionais fazem para administrar demandas variáveis é trabalhar com estoques altos,
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Capítulo 3 48
de forma a não necessitar produzir de imediato o que esta sendo consumido, fazendo com que seus
clientes, internos ou externos, sejam abastecidos a partir dos estoques.
Programação Programação ?
Programação Programação ?
Demanda Prevista
Demanda Real
Tempo
PMP Firme PMP Flexível
O princípio geral do sistema de produção JIT, como já foi colocado, é por um lado trabalhar
junto aos clientes externos no sentido de reduzir as incertezas da demanda (aumentando a área
correspondente à demanda real na Figura 3.7), e, por outro, aumentar a flexibilidade de seu sistema
produtivo, reduzindo os lead times, de forma que o período usado para compor o PMP fixo seja o
menor possível e sempre possa ser sobreposto à área firme da demanda. Agindo dessa maneira, o
sistema de produção JIT só autoriza a montagem de produtos que realmente estejam sendo
consumidos pelos clientes, evitando a formação de estoques excessivos de produtos acabados.
Por outro lado, nos sistemas convencionais de produção a parte firme do PMP precisa ser
emitida com uma antecedência muito grande para suportar os altos lead times internos e externos do
processo produtivo, fazendo com que a demanda usada para compor o PMP tenha forte influência
da parte prevista. Com isso, o sistema acaba planejando e autorizando a montagem de produtos que
não necessariamente serão consumidos pelos clientes. O excesso de produção causado pelo erro de
previsão acaba indo compor os estoques de produtos acabados. A longo prazo essa dinâmica faz
com que os responsáveis pelo PCP achem normal atender a demanda a partir dos estoques,
direcionando a produção do período apenas para recompor os estoques do sistema.
Tendo o PMP firme direcionado para atender a demanda real por seus produtos, o PCP nos
sistemas de produção JIT aciona apenas a linha de montagem final, fazendo com que os demais
processos produtivos do sistema de produção respondam em cadeia as solicitações de seus clientes,
dentro da lógica de programação puxada, já explicada anteriormente. Dessa forma, o PCP nos
sistemas de produção JIT emprega a parte variável do PMP apenas para organizar os recursos
produtivos em termos de ritmos de trabalho (tempo de ciclo) e estoques entre processos (kanbans)
que serão exigidos quando da implementação da parte fixa do PMP. Esses dois pontos serão
explicados a seguir.
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Planejamento e Controle da Produção JIT 51
O tempo de ciclo (TC) é o ritmo que deve ser dado ao sistema de produção para a obtenção
de determinada demanda dentro de um período de tempo, geralmente um dia. Para o cálculo do
tempo de ciclo emprega-se a Fórmula (3.1). Conforme pode ser visto nessa fórmula, a demanda
esperada por dia obtida do PMP entra no denominador dividindo o tempo disponível para a
produção diária. Convencionalmente, o conceito de tempo de ciclo é usado apenas nas linhas de
montagem, dado que nos processos repetitivos em lotes com layouts departamentais não há
condições de se manter um ritmo de trabalho homogêneo em todos os recursos. Já nos sistemas de
produção focalizada JIT, com o layout celular, é possível manter cada célula de fabricação
balanceada com o tempo de ciclo da montagem final. Conforme foi explicado no capítulo anterior, a
focalização da produção com células procura transformar processos intermitentes em um conjunto
de pequenos processos de fluxo contínuo, ligados entre si por estoques reguladores (kanbans).
Quanto melhor balanceados os processos entre si, menores os estoques reguladores do sistema.
TC = TP D (3.1)
TX = D TP (3.2)
Apesar do tempo de ciclo ser obtido de forma similar à taxa de produção (3.2), nos sistemas
JIT dá-se preferência ao emprego do conceito de tempo de ciclo, visto que a taxa de produção, por
ser expressa em unidades por dia, não limita o acionamento dos recursos produtivos, enquanto que
o tempo de ciclo obriga os operadores a manter um ritmo de trabalho homogêneo preestabelecido
pelo PMP. Por exemplo, uma taxa de produção de 15 peças por hora pode ser obtida produzindo-se
um lote de 15 peças a cada hora ou um lote de 60 peças a cada 4 horas. Contudo, um tempo de ciclo
equivalente de 2 minutos por unidade dá a medida do tempo preciso que cada operador dispõem
para a produção. Além disso, o emprego de operadores polivalentes nas células requer sua
distribuição com base no atendimento de determinado tempo de ciclo.
Com essa informação em mãos pode-se prever com tempo hábil qual serão os ritmos de
trabalho esperados para os próximos períodos. Caso a distribuição atual das tarefas não suportem
esse tempo de ciclo projetado algumas alternativas podem ser implementadas, por exemplo:
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Capítulo 3 52
Os estoques entre processos também são dimensionados com base na demanda esperada do
PMP. Dessa forma, os sistemas de produção JIT buscam um balanceamento integrado entre ritmos
de produção (tempo de ciclo) e estoques no sistema (número de kanbans). A Fórmula (3.3) é
empregada para dimensionar o número de cartões kanbans necessários para cada item do sistema
produtivo. No próximo capítulo o sistema kanban será detalhado. Nesse momento pretende-se
discutir apenas a relação entre os estoques e o PMP.
D D
N Tprod 1 S Tmov 1 S (3.3)
Q Q
Conforme pode ser visto na Fórmula (3.3), a demanda esperada por determinado item,
obtida pela “explosão” da demanda do produto acabado constante do PMP, entra no numerador para
o cálculo dos estoques totais necessários ao sistema de puxar a produção. Um dos erros mais
comuns cometidos por empresas que estão implantando o sistema de produção JIT consiste em não
redimensionar os seus níveis de estoques quando ocorrem mudanças nos patamares da demanda do
PMP. Nesse caso, se a demanda diminuir estoques ficarão ociosos, enquanto que se a demanda
aumentar, problemas de conexão entre os postos ocorrerão. Tendo em vista que a quebra de ritmos
de trabalho aparece de forma mais imediata do que estoques em excesso, essas empresas tendem a
superdimensionar seus níveis de estoques como forma de resolver o problema.
Um ponto muito importante dentro da elaboração do PMP em um ambiente JIT diz respeito
a forma como os produtos acabados são distribuídos nesse programa-mestre para atender a demanda
de produtos acabados. Isso é conhecido como produção nivelada (MONDEN, 1984 : 31) e será
discutido em particular a seguir.
Todo sistema de produção busca nivelar sua produção com a demanda de forma a acionar
seus recursos apenas na medida em que os clientes forem solicitando os produtos. Nesse aspecto, o
sistema de produção ideal é o processo contínuo, no qual consegue-se dar um ritmo de trabalho para
todo o sistema regulando o fluxo de materiais de acordo com a demanda. Infelizmente, a montagem
de processos contínuos tem seu campo de atuação restrito a produção em grande escala de produtos
homogêneos (refinarias, produtos químicos, energia elétrica etc.).
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Planejamento e Controle da Produção JIT 53
está baseada em duas das premissas básicas dos sistemas convencionais: custa caro a mudança de
modelos nas linhas de montagem convencionais, e os clientes são atendidos basicamente pelos
estoques de produtos acabados.
Por exemplo, admitindo-se um sistema de produção que trabalha 20 dias por mês, oito horas
por dia, com uma linha de montagem que produz três modelos de tamanhos diferentes (pequeno,
médio e grande), cujas demandas esperadas são de 1000 unidades do modelo pequeno, 800
unidades do modelo médio e 200 unidades do modelo grande. Para atender a demanda, a linha
necessita montar 100 produtos por dia (2000 unidades 20 dias) com um tempo de ciclo médio de
4,8 minutos por unidade (480 minutos 100 unidades). As ordens de montagem do PMP emitidas
pelo PCP muito provavelmente seriam de 1000 unidades do modelo pequeno, 800 do médio e 200
do grande. Dessa forma a linha de montagem passaria os primeiros dez dias montando o modelo
pequeno, os próximos oito dias montando o modelo médio e os últimos dois dias do mês montando
o modelo grande. Essa programação nivelada pela demanda mensal trás, pelo menos, dois grandes
problemas à eficiência do sistema.
O primeiro deles está relacionado com o efeito multiplicador que um PMP possui em um
sistema de empurrar a programação, visto ser ele o acionador dos demais processos internos e
externos ao sistema. No exemplo acima, quando o PMP projeta lotes de montagem de 100 unidades
dia do modelo pequeno durante dez dias, os demais processos ligados à montagem (submontagens,
fabricação de componentes e fornecedores externos) são programados para atender a essa demanda
em lotes iguais ao do produto acabado ou até maiores, levando-se em conta os altos custos de
preparação. A Figura 3.8 ajuda a ilustrar essa situação. Nessa figura pode-se ver que a montagem de
100 unidades do modelo pequeno no dia três do mês obrigou a programação de um lote de 200
unidades do subconjunto pequeno no dia dois, que, por sua vez, gerou a programação de lotes
econômicos de 500 unidades do componente X no dia um. E assim os estoques e os ritmos de
trabalho acabam sendo totalmente desvinculados da real demanda dos produtos acabados, gerando
muito estoque no sistema e baixa flexibilidade de resposta.
Para evitar a ocorrência desses problemas, os sistemas de produção JIT buscam nivelar a
produção com a demanda média diária, elaborando um PMP com lotes diários mistos. Como pré-
requisito é indispensável que a troca de modelos na linha de montagem e de ferramentas nas
máquinas seja feita de forma rápida e econômica. Esse ponto dos sistemas de produção JIT será
tratado em detalhe mais adiante. Logo, o PMP diário para o exemplo anterior seria de 50 unidades
do modelo pequeno (1000 20), 40 unidades do modelo médio (800 20), e 10 unidades do
modelo grande (200 20). A produção diária seria mantida em 100 unidades (50 + 40 + 10) como
no caso anterior. Quanto maior a flexibilidade da linha de montagem, menores poderão ser os lotes
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Capítulo 3 54
do PMP. Por exemplo, poderia ser planejado um ritmo de meio dia com lotes de 25/20/5 repetidos
duas vezes, ou ainda, ritmos de 48 minutos com lotes de 5/4/1 repetidos dez vezes ao dia.
Dessa forma, todos os dias estariam saindo da linha de montagem modelos pequenos,
médios e grandes que poderiam compor um pedido a ser entregue diretamente aos clientes (just-in-
time) sem a necessidade de recorrer aos estoques. Caso em determinada situação o cliente
resolvesse alterar seu mix de demanda mensal para, por exemplo, 500 unidades do modelo pequeno,
500 unidades do modelo médio, e 1000 unidades do modelo grande, o PCP nivelaria o PMP para
um ritmo diário de 25 unidades do modelo pequeno (500 20), 25 unidades do modelo médio (500
20), e 50 unidades do modelo grande (1000 20) de forma a acompanhar as necessidades atuais
do cliente. Caso os modelos tenham tempos de montagem muito distintos, uma mudança no mix do
PMP carretará falta, ou excesso, de tempo para os montadores poderem manter um tempo de ciclo
de 4,8 minutos por unidade. Nesse caso deve-se proceder a um novo balanceamento da linha com a
inclusão, ou exclusão, de montadores polivalentes.
Com a elaboração de um PMP com pequenos lotes diários mistos, todos as demais etapas do
sistema produtivo (submontagens, fabricação de componentes e fornecedores externos) seriam
acionadas, de acordo com a lógica de puxar a produção, segundo esse programa misto. Dessa forma
as etapas internas do sistema de produção e os fornecedores da cadeia produtiva também estarão
nivelados com as necessidades reais do cliente, evitando a formação de estoques. No próximo
capítulo será dado seguimento a esse assunto, apresentando o sistema de puxar de programação da
produção, conhecido como sistema kanban.
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