A Produção Da Sociedade Pela Industria Cultural
A Produção Da Sociedade Pela Industria Cultural
A Produção Da Sociedade Pela Industria Cultural
Os "sujeitos" sequer organizam o que lhes é A demanda ainda não foi obedecida pela
oferecido, os seus "objetos", em uma unidade; simples obediência. A grande reorganiza-
ção do cinema pouco antes da I Guerra -
eles não se apreendem como estando em uma condição material de sua expansão - consis-
sociedade, a não ser pelo próprio consumo. Sua tiu exatamente na adaptação consciente às
atividade social, por excelência, passa a ser o necessidades do público registradas com
consumo; o valor de troca forma sua "sociedade" base nas bilheterias, necessidades que as
pessoas mal acreditavam ter que levar em
(...) as pessoas devem se orientar conta na época pioneira do cinema Ainda
pela unidade que caracteriza a produção. A hoje pensam assim os capitalistas da
função que o esquematismo kantiano ainda indústria cinematográfica (embora) se
atribuía ao sujeito, a saber, referir-se de baseiem mais nos êxitos
antemão à multiplicidade sensível aos finais do que na
conceitos fundamentais, é tomada ao sujei- sabedoria (...) A
to pela indústria cultural. É o primeiro verdade em tudo
serviço prestada por ela ao cliente isso é que o poder
(Adorno/Horkheimer, 1971: 112; da indústria
Adorno/Horkheimer, 1985: 117). cultural provém de
sua identificação
com a necessidade
Os consumidores não são influenciados,
produzida, não da
Tiller Girls, Berlim, República de Weimar, Foto de Stefan Lorant - Sieg Heil!.
necessidade de um mínimo de repulsa para
tornar consciente a sua irracionalidade.
Mediante a regressão se ratifica a recusa da
resistência. As massas tiram as consequên-
cias da impotência social completa frente à
monopolização, em que a miséria hoje se
expressa. Na adequação às forças produ-
tivas técnicas que o sistema lhes impõe
como progresso, os homens se convertem
em objetos que se deixam monopolizar sem
reclamar, regredindo assim para aquém da
potencialidade das forças produtivas
técnicas. Mas como, enquanto sujeitos,
constituem eles próprios ainda os limites da
reificação, a cultura de massa precisa
permanentemente submete-los em sua má
infinitude: o desesperançado esforço de sua
repetição é o único vestígio da esperança em
que a repetição é inútil, que os homens por
fim não podem ser dominados. (Adorno,
1981: 331)
instaura uma falsa experiência do trabalho vivo
A indústria cultural apresenta o esquema
como "objeto".
da identificação das massas como consumidores.
Adorno se refere enfaticamente a esta
No entanto o seu consumo, como vimos, é
relação entre ser social (sociedade vigente, onde
permanentemente contido. A má infinitude é
há o trabalho vivo) e indústria cultural que
justamente o coletivo “massa” em que a
reconstrói o trabalho vivo como objeto, sujeito
monopolização se expressa, a subtração ao uso,
sujeitado. Na Dialética Negativa, Adorno resume
convertido em promessa que não pode ser
exemplarmente a caracterização formativa da
satisfeita. A repetição da promessa é inútil, o
indústria cultural:
adiamento da fruição inevitável.
Na produção capitalista de mercadorias O espaço para uma ontologia filosoficamen-
se ocultava, como principal efeito ideológico do te legítima seria antes a construção da in-
dústria cultural, do que aquela do ser; bom
fetiche da mercadoria, que a força de trabalho dos
seria apenas aquilo que se subtrai à onto-
homens, o trabalho vivo, constituia efetivamente logia (Adorno, 1966: 128).
a fonte do valor. Na sociedade do capitalismo
avançado, há uma nova qualidade neste plano. Construção da indústria cultural caracte-
Não se oculta a efetiva fonte do valor, com o rizada negativamente em outra ocasião:
intuito de obnubilar o conflito de classes. Mas se O efeito conjunto da indústria cultural é o de
Referências: