Obras Literárias Trabalhos Feitos Por Alunos Eedim

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Amor de Salvação

Camilo Castelo Branco


Biografia do autor:
O romantismo consagra a imagem da mulher tradicional e a visão do verdadeiro amor como
destino fatal. Na literatura portuguesa, quem aparentemente mais contribuiu para isso foi
Camilo Castelo Branco, particularmente com seus romances Amor de Perdição e Amor de
Salvação.
Amor de Perdição, 1862, seu romance mais conhecido, e Amor de Salvação, 1864, foram
lançados como uma aparente continuação, portanto não confunda as duas obras.
Comparando-as, percebemos semelhanças e diferenças entre as quatro personagens
femininas fundamentais: Tereza e Mariana (Amor de Perdição); e Teodora e Mafalda (Amor de
Salvação).
São elas que realmente agem nos romances. Com elas notamos a presença de algumas
características comuns, se não a todas, a um grande número de obras camilianas,
características, como a presença do amor e do dinheiro, como grandes responsáveis pela ação
dos protagonistas.

O Tema
Camilo Castelo Branco pertence à Segunda fase do Romantismo português, chamada Ultra-
Romantismo – corrente literária da segunda metade do século XIX que leva ao exagero os
ideais românticos. Escreveu vários gêneros de novelas: satíricas, históricas e de suspense.
Mas foram suas novelas passionais – como Amor de Perdição e Amor de Salvação – que lhe
deram maior projeção dentro da literatura portuguesa.
Amor de Salvação é uma novela passional, considerada pela crítica uma das obras mais bem
acabadas do autor.
Sinopse
A história relata lembranças que são contadas ao narrador pelo protagonista, em uma noite de
Natal, após um reencontro entre os dois que não se viam há quase doze anos.
Afonso e Teodora foram prometidos um ao outro, por suas mães que eram amigas desde os
tempos em que estudavam num convento. Após a morte da mãe, Teodora vai para um
convento e tem como tutor seu tio, pai de Eleutério Romão. Teodora e Afonso estão sempre
em contato aguardando o tempo certo para casarem. Afonso resolve estudar fora por dois
anos. Teodora influenciada pela amiga Libana quer casar-se o mais rápido possível. A mãe de
Afonso, D. Eulália, pede-lhe para aguardar. Mas com a saída de Libana do convento Teodora
se desespera e resolve casar-se com seu primo, Eleutério,para libertar-se das grades do
convento.
Eleutério era o oposto a beleza de Teodora, era rude e vestia-se de forma hilariante. Apesar da
grande tentativa de seu tio, o padre Hilário, em ensinar-lhe a ler, nada conseguiu. Vencido pela
incapacidade de seu sobrinho, Padre Hilário desistiu afirmando que somente através de uma
fresta no cérebro, aberta a machado, seria possível tal façanha. Teodora viveu em pompas,
trajes de sedas, cavalos, bailes, etc., mas nunca esquecera Afonso, enviava-lhe cartas de amor
mas nunca obtivera resposta.
Afonso sofreu muito com a notícia do casamento de Teodora, pediu a mãe permissão para se
ausentar de Portugal. Contava sempre com o apoio e o consolo das cartas de sua mãe e sua
prima Mafalda, que o amava pacientemente. Após anos de amargura, sofrimento e luta
contendo-se diante das cartas de Teodora, para não fugir aos ensinamentos religiosos aos
quais sua mãe o educou, foi fulminado pela influencia do amigo José de Noronha que o
incentivou a escrever à Teodora. Relutou mas não conseguiu. A tal carta foi cair nas mãos de
Eleutério, leu mas nada entendeu. Pediu então a um amigo ajuda para interpretá-la. A carta
acabou sendo rasgada por Fernão de Teive, dando a desculpa de serem grandes sandices,
após junto com sua filha Mafalda, reconhecer as intenções do remetente, seu sobrinho Afonso
de Teive.
Não conformado Afonso parte ao encontro de Teodora. Eleutério quando os encontra juntos,
pede-lhes explicações. Teodora responde-lhe que é uma mulher livre a partir daquele
momento, e vai viver com Afonso. Passam momentos, ilusoriamente, felizes. Afonso abandona
até a sua própria mãe para viver ardentemente esta paixão que sempre o consumiu.
Sua mãe sempre afetuosa, apesar da grande tristeza, sustenta a vida luxuosa que Afonso tem
ao lado de Teodora .
Afonso quando fica sabendo da morte de sua mãe, através de carta escrita por Mafalda, se
desespera. Teodora tenta consolá-lo, mas ele sente em suas palavras ironia e sente nojo de
tamanho fingimento. Procura isolar-se de Teodora e dos amigos. Durante este período,
Tranqueira, velho criado da família, alerta-o sobre as intenções do amigo José de Noronha por
Teodora. No início se revolta contra o criado, mas acaba escutando-o e passa a observá-los.
Encontra umas cartas que confirmam as suspeitas. Certo dia os pega juntinhos com gestos de
muita familiaridade. Aborrece-se pede para que Noronha saia de sua casa.
Teodora dissimulada como sempre, tenta enganá-lo, mas ele atira-lhe as cartas. Teodora
desmaia enquanto Tranqueira derruba Noronha na cisterna para vingar seu patrão.

Afonso passa alguns dias fora de casa, quando retorna encontra uma carta de Teodora
informando os pertences que havia levado consigo. Apesar de traído sente saudade da
encantadora Teodora. Vende tudo e parte para Paris atrás de um amor que o salve.
Gasta tudo o que tem. Por fim, pede ao seu tio Fernão para comprar-lhe a casa onde viveram
seus pais e avós, pois não queria ofender a memória de sua mãe que o havia pedido, em carta
antes morrer que não a vendesse. Mafalda com seu coração generoso e cheio de amor pelo
primo, pede a seu pai que o atenda, e este assim o faz mas, com a condição de que a casa
continuaria sendo de Afonso. Afonso afunda-se cada vez mais em seus vícios e extravagâncias
a ponto de querer suicidar-se. Tranqueira, que nunca o abandonou, percebeu sua intenção e
disse-lhe severas palavras que o livraram de tamanha loucura. Mudou de vida, passou a
trabalhar e a estudar com apoio de seu criado.
Fernão de Teive adoece, e prestes a morrer pede ao padre Joaquim que vá a Paris entregar a
Afonso, os documentos de propriedade da casa a qual comprara, apenas com intuito de ajudar
o sobrinho. Após a morte de Fernão, Mafalda sentindo-se sozinha, resolve viajar com o padre
Joaquim para Paris com a objetivo de juntar-se as irmãs de caridade. Quando o padre Joaquim
encontra Afonso e conta-lhe da morte do tio, este chora e corre ao encontro da prima que ficara
em uma hospedaria.
Mafalda conta ao primo sua decisão, mas padre Joaquim pede-lhes, pelo amor de Deus, que
ao invés disso, casem-se. Afonso aceitou de imediato e agradeceu à Deus por ter ouvido os
pedidos de sua mãe. Afonso e Mafalda voltaram para sua cidade, casaram-se, tiveram oito
filhos e foram muito felizes.
Apesar do título “Amor de Salvação” a novela relata em quase toda sua extensão, um “amor de
perdição” entre Afonso de Teive e Teodora Palmira. Ao amor de salvação, Mafalda, são
dedicadas somente as ultimas páginas do romance.
Vida e morte Severina 1
Jose Lins do Rego
O retirante Severino deixa o sertão pernambucano em busca do litoral, na esperança de uma
vida melhor. Entre as passagens, ele se apresenta ao leitor e diz a que vai, encontra dois
homens (irmãos das almas) que carregam um defunto numa rede. Severino conversa com
ambos e acontece um denúncia contra os poderosos, mandantes de crimes e sua impunidade.
O rio-guia está seco e com medo de se extraviar, sem saber para que lado corria o rio, ele vai
em direção de uma cantoria e dá com um velório. As vozes cantam excelências ao defunto,
enquanto do lado de fora, um homem vai parodiando as palavras dos cantadores.. Cansado da
viagem, Severino pensa em interrompê-la por uns instantes e procurar trabalho. Ele se dirige a
uma mulher na janela e se oferece, diz o que sabe fazer. A mulher, porém é uma rezadeira. O
retirante chega então à Zona da Mata e pensa novamente em interromper a viagem. Assiste,
então, ao enterro de um trabalhador do eito e escuta o que os amigos dizem do morto. Por todo
o trajeto e em Recife, ele só encontra morte e compreende estar enganado com o sonho da
viagem: a busca de uma vida mais longa. Ele resolve se suicidar, como que adiantando a
morte, nas águas do Capiberibe.
Enquanto se prepara para o desenlace, conversa com seu José‚ mestre carpina, para quem
uma mulher anuncia que seu filho havia nascido. Severino, então, assiste à encenação
celebrativa do nascimento, como se fora um auto de Natal. Seu José tenta dissuadi-lo do
suicídio. A peça é apresentada com músicas de Chico Buarque de Hollanda.
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Vida e morte Severina 2


Severino é um retirante: ele é como muitos outros e que está partindo para o litoral, fugindo da
seca, da morte. A vida na Capital parece mais atraente, mais vida, menos severina. Em suas
andanças, entretanto, Severino se depara a todo momento não com a vida, mas sim com o que
já conhece como coisa vulgar: a morte e o desespero que a cerca .
Em seu primeiro encontro com ela, o retirante topa com dois homens carregando um defunto
até sua última morada. Durante uma conversa, descobre que o pobre coitado havia sido
assassinado e que o motivo fora ter querido expandir um pouco suas terras, que praticamente
não eram produtíveis .
O retirante segue sua viagem e percebe que na região onde se encontra, nem o rio Capibaribe
- seco no verão - consegue cumprir o seu papel. Severino sente medo de não conseguir chegar
ao seu destino. Escuta, então, uma cantoria e, aproximando-se, vê que está sendo
encomendado um defunto. Pela primeira vez, Severino pensa em interromper sua descida para
o litoral e procurar trabalho naquela vila. Ao dirigir-se a uma mulher, descobre que tudo que
sabe fazer não serve ali, e o único trabalho existente e lucrativo é o que ajuda na morte:
médico, rezadeira, farmacêutico, coveiro . E o lucro é certo nessas profissões, pois não faltam
fregueses, uma vez que ali a morte também é coisa vulgar.
Se não há como trabalhar, mais uma vez Severino retoma seu rumo e chega à Zona da Mata,
onde novamente pensa em interromper sua viagem e se fixar naquela terra branda e macia, tão
diferente da solo do Sertão. Mais do que isso: começou a acreditar que não via ninguém
porque a vida ali deveria ser tão boa, que todos estavam de folga e que ninguém deveria
conhecer a morte em vida, a vida severina _ . Ilusão de quem está à procura do paraíso: logo
Severino assiste ao enterro de um trabalhador de eito e ouve o que dizem do morto os amigos
que o levaram ao cemitério. Severino se dá conta que ali as privações são as mesmas que ele
conhece bem e que também a única parte que pode ser sua daquela terra é uma cova para
sepultura, nada mais.
O retirante resolve então apressar o passo para chegar logo ao Recife. Severino senta-se para
descansar ao pé de um muro alto e ouve uma conversa. É mais uma vez a morte rondando,
são dois coveiros que lhe dão a má notícia: toda a gente que vai do Sertão até ali procurando
morrer de velhice, vai na verdade é seguindo o próprio enterro, pois logo que chegam, são os
cemitérios que os esperam.
Severino nunca quis muito da vida, mas está desiludido: esperava encontrar trabalho, trabalho
duro mas agora - desespero! - já se imagina um defunto como aqueles que os coveiros
descreviam, faltava apenas cumprir seu destino de retirante.
Nesse momento, aproxima-se de Severino seu José, mestre carpina, morador de um dos
mocambos que havia entre o cais e a água do rio. O retirante, desesperançado, revela ao
mestre carpina sua intenção de suicídio, de se jogar naquele rio e ter uma mortalha macia e
líquida. Se José tenta convencer Severino que ainda vale a pena lutar pela vida, mesmo que
seja vida severina . Mas Severino não vê mais diferença entre vida e morte e lança a pergunta:
que diferença faria se em vez de continuar tomasse melhor saída:a de saltar, numa noite, fora
da ponte e da vida?
Da porta de onde havia saído o mestre carpina, surge uma mulher, que grita uma notícia. Um
filho nascera, o filho de seu José ! Chegam vizinhos, amigos, pessoas trazendo presentes ao
recém-nascido . Vêm também duas ciganas, que fazem a previsão do futuro do menino: ele
crescerá aprendendo com os bichos e no futuro trabalhará numa fábrica, lambuzado de graxa
e, quem sabe, poderá morar num lugar um pouco melhor.
Severino assiste ao movimento, ao clima de euforia com a vinda do menino. O carpina se
aproxima novamente do retirante e reata a conversa que estavam levando. Diz que não sabe a
resposta da pergunta feita, mas, melhor que palavras, o nascimento da criança podia ser uma
resposta: a vida vale a pena ser defendida.
Os Capitães da Areia
Jorge Amado.
O livro é dividido em três partes. Antes delas, no entanto, via uma seqüência de reportagens e
depoimentos, explicando que os Capitães da Areia é um grupo de menores abandonados e
marginalizados, que aterrorizam Salvador.
Os únicos que se relacionam com eles são Padre José Pedro e uma mãe-de-santo,
Don'Aninha. O Reformatório é um antro de crueldades, e a polícia os caçam como adultos
antes de se tornarem um.
A primeira parte em si, "Sob a lua, num velho trapiche abandonado" conta algumas histórias
quase independentes sobre alguns dos principais Capitães da Areia (o grupo chegava a quase
cem, morando num trapiche abandonado, mas tinha líderes).
Pedro Bala, o líder, de longos cabelos loiros e uma cicatriz no rosto, uma espécie de pai para
os garotos, mesmo sendo tão jovem quanto os outros, que depois descobre ser filho de um
líder sindical morto durante uma greve; Volta Seca, afilhado de Lampião, que tem ódio das
autoridades e o desejo de se tornar cangaceiro; Professor, que lê e desenha vorazmente,
sendo muito talentoso; Gato, que com seu jeito malandro acaba conquistando uma prostituta,
Dalva; Sem- Pernas, o garoto coxo que serve de espião se fingindo de órfão desamparado (e
numa das casas que vai é bem acolhido, mas trai a família ainda assim, mesmo sem querer
fazê-lo de verdade); João Grande, o "negro bom" como diz Pedro Bala, segundo em comando;
Querido- de- Deus, um capoeirista amigo do grupo, que dá algumas aulas de capoeira para
Pedro Bala, João Grande e Gato; e Pirulito, que tem grande fervor religioso. O apogeu da
primeira parte é dividido em, quando os meninos se envolvem com um carrossel mambembe
que chegou na cidade, e exercendo sua meninez; e quando a varíola ataca a cidade, matando
um deles, mesmo com Padre José Pedro tentando ajudá-los e se indo contra a lei por isso. A
segunda parte, "Noite da Grande Paz, da Grande Paz dos teus olhos", surge uma história de
amor quando a menina Dora torna-se a primeira "Capitã da Areia", e mesmo que inicialmente
os garotos tentem tomá-la a força, ela se torna como mãe e irmã para todos. (O
homossexualismo é comum no grupo, mesmo que em dado momento Pedro Bala tente impedi-
lo de continuar, e todos eles costumam "derrubar negrinhas" na orla.) Professor e Pedro bala
se apaixonam por ela, e Dora se apaixona por Pedro Bala.
Quando Pedro e ela são capturados (ela em pouco tempo passa a roubar como um dos
meninos), eles são muito castigados, respectivamente no Reformatório e no Orfanato.
Quando escapam, muito enfraquecidos, se amam pela primeira vez na praia e ela morre,
marcando o começo do fim para os principais membros do grupo. "Canção da Bahia, Canção
da Liberdade", a terceira parte, vai nos mostrando a desintegração dos líderes. Sem-Pernas se
mata antes de ser capturado pela polícia que odeia; Professor parte para o Rio de Janeiro para
se tornar um pintor de sucesso, entristecido com a morte de Dora; Gato se torna uma malandro
de verdade, abandonando eventualmente sua amante Dalva, e passando por ilhéus; Pirulito se
torna frade; Padre José Pedro finalmente consegue uma paróquia no interior, e vai para lá
ajudar os desgarrados do rebanho do Sertão; Volta Seca se torna um cangaceiro do grupo de
Lampião e mata mais de 60 soldados antes de ser capturado e condenado; João Grande torna-
se marinheiro; Querido-de-Deus continua sua vida de capoeirista e malandro; Pedro Bala, cada
vez mais fascinado com as histórias de seu pai sindicalista, vai se envolvendo com os
doqueiros e finalmente os Capitães de Areia ajudam numa greve.
Pedro Bala abandona a liderança do grupo, mas antes os transforma numa espécie de grupo
de choque. Assim Pedro Bala deixa de ser o líder dos Capitães de Areia e se torna um líder
revolucionário comunista.
Este livro foi escrito na primeira fase da carreira de Jorge Amado, e nota-se grandes
preocupações sociais. As autoridades e o clero são sempre retratados como opressores (Padre
José Pedro é uma exceção mas nem tanto; antes de ser um bom padre foi um operário), cruéis
e responsáveis pelos males.
Os Capitães da Areia são tachados como heróis no estilo Robin Hood. No geral, as
preocupações sociais dominam, mas os problemas existenciais dos garotos os transforma em
personagens únicos e corajosos, corajosos Capitães de Areia de Salvador.
Personagens
João Grande: Negro, mais alto e mais forte do bando. Cabelo crespo e baixo , músculos
rígidos, tem 13 anos. Seu pai, um carroceiro gigantesco , morreu atropelado por um caminhão,
quando tentava desviar o cavalo para um lado da rua. Após a morte de seu pai, João Grande
não voltou mais ao morro onde morava, pois estava atraído pela cidade da Bahia. Cidade essa
que era negra, religiosa , quase tão misteriosa como o verde mar. Com nove anos entrou no
Capitães de areia. Época em que o Caboclo ainda era o chefe. Cedo, se fez um dos chefes do
grupo e nunca deixou de ser convidado para as reuniões que os maiorais faziam para organizar
os furtos. Ele não era chamado para as reuniões porque ele era inteligente e sabia planejar os
furtos, mas porque ele era temido, devido a sua força muscular. Se fosse para pensar, até lhe
doía a cabeça e os olhos ardiam. Os olhos ardiam também quando viam alguém machucando
menores.Então seus músculos ficavam duros e ele estava disposto a qualquer briga. Ele era
uma pessoa boa e forte , por isso, quando chegavam pequeninos cheios de receio para o
grupo, ele era escolhido o protetor deles. O chefe dos capitães de areia era amigo de João
Grande não por sua força, mas porque Pedro o achava muito bom, até melhor que eles. João
Grande aprende capoeira com o Querido-de-Deus junto com Pedro Bala e Gato. João Grande
tem um grande pé, fuma e bebe cachaça. João Grande não sabe ler. João Grande ,era
chamado de Grande pelo professor, admirava o professor. O professor achava João Grande
um negro macho de verdade.
Dora: Morreu de uma febre muito forte, depois de se tornar esposa de Pedro Bala*. Morreu
como uma santa, pois havia sido boa. *Para ele, virara uma estrela.
Sem-Pernas: Morrera, se jogando de um penhasco (elevador), depois de muito correr fugindo
da polícia após um roubo. Ele preferira morrer do que se entregar.
Professor: Com seu dom de pintar, fora ao "Rio de Janeiro" tentar sucesso. Lá com os quadros
dos Capitães da Areia ficou famoso.
Boa-Vida: Era mais um malandro da cidade, que fazia sambas e cantava pelas ruas, nas
calçadas, nos bares, a "vagabundar".
Querido-de-Deus: Ensinava os meninos a lutar capoeira. Todos no trapiche o admiravam. Era
pescador.
Dalva: Era uma mulher de uns trinta e cinco anos, o corpo forte, rosto cheio de sensualidade. O
Gato a desejou imediatamente.
Pirulito: Garoto magro e muito alto, olhos encovados e fundos. Tinha Hábito de rezar.
Volta-Seca: Mulato sertanejo. Viera da caatinga. tinha como ídolo o cangaceiro Lampião.
O Gato: Candidato a malandro do bando, era elegante, gostando de se vestir bem. Tinha um
caso com a prostituta, Dalva, que lhe dava dinheiro, por isso, muitas vezes, não dormia no
trapiche. Só aparecia ao amanhecer, quando saía com os outros, para as aventuras do dia.
João-de-Adão: Estivador, negro fortíssimo e antigo grevista, era igualmente temido e amado
em toda a estiva. Através dele, Pedro Bala soube de seu pai.
Menino de Engenho
Escrito por José Lins do Rêgo

Narrado na primeira pessoa, por Carlos Melo, é o primeiro livro do ciclo da cana- de- açúcar. O
que constatamos é que o biógrafo foi superado pela imaginação criadora do romancista. A
realidade bruta é recriada através da criatividade do gênero nordestino. É a história típica ,
natural e sem retoques de uma criança , Carlos , órfão de pai e mãe e que , aos oito anos de
idade, vem viver com o avô , o maior proprietário de terras da região- Coronel José Paulino.
Carlos é criado sem a repressão familiar e mesmo sem os cuidados e atenções que lhe seriam
necessárias diante das experiências da vida. Vê o mundo, aprende o bem e o mal e chega a
uma talvez precocidade acerca dos hábitos que lhe eram "proibidos", mas inevitáveis de serem
adquiridos. Pela ausência de orientação, torna-se viciado, corrompido aos doze anos de idade.
Além dos problemas íntimos do menino desorientado para a vida e para o sexo , temos a
análise do mundo em que vivia, visto por Carlos, que é a personagem narradora. Carlos vê o
avô como um verdadeiro Deus, uma figura de grandiosidade inatingível.
O Engenho é o mundo , um império, de onde o coronel José Paulino dirige, guia os destinos de
todos. E , em conseqüência , Carlos considera-se e é considerado pelos servos, escravos e
agregados o "coronelzinho" cujas vontades têm que ser rigorosamente realizadas. Descreve
com emoção a vida dos escravos, a senzala, o sofrimento e os castigos do "tronco" . Outra
cena a ser destacada é a "enchente" do rio, vista através dos sustos e admiração de Carlos.
Uma descrição de grandiosidade bíblica. Também vêm à tona as superstições e crendices
comuns entre as camadas populares, como a do "lobisomem". O romance se passa na região
limítrofe entre Pernambuco e Paraíba, o que é deduzido através das descrições de paisagem e
da vida dos engenhos de açúcar. São mostrados os bandidos , cangaceiros, comuns na
região , como única forma de reação social de um povo oprimido .
Personagens: Tia Maria- moça que, com ternura, amor, e carinho vai substituir a mãe na
memória de Carlos. Tio Juca- tio que , levando o menino da cidade para o engenho, apresenta-
lhe o mundo novo do engenho e também o próprio avô. Tia Sinhazinha velha de uns sessenta
anos despótica, que dirigia o engenho. Casada com um dos homens mais ricos da região, de
quem estava separada desde o começo do matrimônio, esta velha tirânica será o tormento da
vida do menino. As negras , os moleques, todos tinham que se submeter à sua dureza e
crueldade.

O Alienista
Escrito por Machado de Assis

O Doutor Simão Bacamarte, cientista de nomeada, monta, em Itaguaí, um hospício, a Casa


Verde, onde pretende executar seus projetos científicos. Pretende separar o reino da loucura
do reino do perfeito juízo, mas a confusão em que ambas se misturam acaba aborrecendo o
Doutor, que, para levar a efeito a seleção dos loucos, tem que saber o que é a normalidade.
Assim, qualquer desvio do que era o comportamento médio, a aparência pública, qualquer
movimento interior, que diferisse da norma da maioria era objeto de internação. O hospício é a
Casa do Poder, e Machado de Assis sabia disso muito antes da antipsiquiatria de Lacan e das
teses de Foucould.
No início, o projeto do Dr. Simão Bacamarte é bem recebido pela população de Itaguaí, mas a
aprovação cessa quando o médico passa a recolher na Casa Verde, pessoas em cuja loucura
a população não acredita. O barbeiro Porfírio lidera uma rebelião contra o hospício que é
sufocada.
Numa primeira etapa, são internados os que, embora manifestassem hábitos ou atitudes
discutíveis, eram tolerados pela sociedade: os politicamente volúveis, os sem opiniões próprias,
os mentirosos, os falastrões, os poetas que viviam escrevendo versos empolados, os vaidosos,
etc.
Para pasmo geral dos habitantes de ltaguaí, Simão Bacamarte, um dia, solta todos os
recolhidos no hospício e adota critérios inversos para a caracterização da loucura: os loucos
agora são os leais, os justos, os honestos etc.
A terapêutica para esses casos de loucura consistia em fazer desaparecer de seus pacientes
as "virtudes", o que o Dr. Simão Bacamarte consegue com certa facilidade. Declara curados
todos os loucos, solta-os todos e, reconhecendo-se como o único louco irremediável, o médico
tranca-se na Casa Verde, onde morre alguns meses
Iracema
Escrito por José de Alencar

Iracema é o segundo romance da trilogia indianista de Alencar, composta por O Guarani


(1857), Iracema ( 1865) e Ubirajara ( 1874); traz como subtítulo "Uma Lenda do Ceará" e era,
entre os três, o que Alencar considerava o mais perfeito, embora o primeiro, resultado de uma
crítica à Confederação dos Tamoios, de Gonçalves de Magalhães, o tivesse notabilizado.
Observe a abertura do livro e verifique por que Alencar foi chamado de "o poeta do romance".
Há, no trecho, musicalidade, cadência da poesia:
Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba;
Verdes mares, que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as
alvas praias ensombradas de coqueiros;
Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro
manso resvale à flor das águas.
Onde vai a afouta jangada, que deixa rápida a costa cearense, aberta ao fresco terral a grande
vela?
Onde vai como branca alcíone buscando o rochedo pátrio nas solidões do oceano?
Três entes respiram sobre o frágil lenho que vai singrando veloce, mar em fora.
Um jovem guerreiro cuja tez branca não cora o sangue americano; uma criança e um rafeiro
que viram a luz no berço das florestas, e brincam irmãos, filhos ambos da mesma terra
selvagem.
A lufada intermitente traz da praia um eco vibrante, que ressoa entre o marulho das vagas:
-Iracema !
O moço guerreiro, encostado ao mastro, leva os olhos presos na sombra fugitiva da terra; a
espaços o olhar empanado por tênue lágrima cai sobre o jirau, onde folgam as duas inocentes
criaturas, companheiras de seu infortúnio.
Nesse momento o lábio arranca d'alma um agro sorriso:
Que deixara ele na terra do exílio?
Uma história que me contaram nas lindas várzeas onde nasci, à calada da noite, quando a lua
passeava no céu argenteando os campos, e a brisa rugitava nos palmares.
Refresca o vento.
O rulo das vagas precipita. O barco salta sobre as ondas e desaparece no horizonte. Abre-se a
imensidade dos mares, e a borrasca enverga, como o condor, as foscas asas sobre o abismo.
Deus te leve a salvo, brioso e altivo barco, por entre as vagas revoltas, e te poje nalguma
enseada amiga. Soprem para ti as brandas auras; e para ti jaspeie a bonança mares de leite.
Enquanto vogas assim à discrição do vento, airoso barco, volva às brancas areias a saudade,
que te acompanha, mas não se parte da terra onde revoa.

O trecho que você acabou de ler é o primeiro capítulo do romance. Observe nele dois
aspectos:
1. A descrição exuberante da natureza brasileira ( ou cearense, como quis o autor ressaltar no
prólogo): verdes mares bravios/ alvas praias ensombradas de coqueiros, tipicamente
romântica;
2. Este capítulo, que abre o romance, sugere as personagens que habitarão as páginas
subseqüentes , sugere também uma grande tristeza quando o nome de Iracema é gritado pelo
eco, solitariamente. Tal capítulo é a continuidade do drama final vivido por Martim, o guerreiro
branco. Lá, saberemos que o primeiro capítulo é o último cronologicamente , o que, em termos
de estrutura romântica é um passo inovador.

Iracema é romance escrito em terceira pessoa, por um narrador predominantemente


observador, outro traço romântico, uma vez que as personagens, no Romantismo, estão
caracterizadas muito mais exteriormente, como se fossem apenas contorno. O primeiro
capítulo se assemelha a uma proposta do que se vai narrar e é no segundo que a história
realmente se inicia: Martim Soares Moreno, que historicamente inicia a colonização do estado
do Cera em 1603, encontra-se com Iracema, "a virgem dos lábios de mel", filha de Araquém,
da tribo dos Tabajaras, guerreiros das montanhas. Ela o flechara quando ele a surpreende no
banho. Depois, quebram juntos a flecha da paz e Iracema leva-o a conhecer sua tribo.
Apaixona-se pelo guerreiro branco, mesmo impedida disso porque era responsável pela feitura
das "ervas da Jurema". Araquém, pai de Iracema e pajé da tribo, recebe bem Martim,
imaginando que Tupã o tivesse trazido e lá ele permanece, também apaixonado por Iracema
até que indispõe-se contra o chefe da tribo de Iracema, Irapuã. Uma luta entre os dois é
interrompida quando chega Poti, também guerreiro branco , Antônio Felipe Camarão, liderando
uma horda de pitiguaras, os "senhores do litoral".
Iracema conduz os dois amigos a uma fuga, foge com Martim. Mas Irapuã, a quem a virgem
era prometida, persegue os três e os encontra. Trava com eles uma luta, apoiado pelos
tabajaras. Nesse combate, Iracema pede a Martim que não mate seu irmão Caubi; ela mesma
salva duas vezes a vida do guerreiro branco.
Depois de muito lutar, os pitiguaras vencem a luta porque os tabajaras debandam de medo, o
que deixa Iracema infeliz e envergonhada.
Iracema fica grávida de Martim. Ele passa a ser, pintado como um índio, Coatiabo, o guerreiro
pintado. Mas Martim sente uma grande nostalgia, uma grande saudade da pátria. Martim parte
para a guerra com Poti e Iracema fica sozinha, tornando-se, então, "mecejana", que quer dizer,
em tupi, "a abandonada". Dele, só guarda a seta e um ramo de maracujá, lembrança, saudade.
Retornam Poti e Iracema, mas precisam partir para outra luta. Iracema diz que vai morrer após
o parto. Os guerreiros partem para a guerra. Nasci Moacir ( que quer dizer, me tupi, "o filho da
dor"). Caubi, irmão de Iracema, vem vê-la: ela está doente e o leite se acaba.
Quando Martim retorna da luta, Iracema entrega-lhe o pequeno Moacir, símbolo da
miscigenação do branco com o índio, e, muito doente, morre. Ele a enterra sob um coqueiro e,
em companhia do filho e um cachorrinho do mato, parte para Portugal.
O coqueiro, onde está sepultada Iracema, "a virgem dos lábios de mel" que tinha os cabelos
"mais negros do que a asa da graúna", inicia-se a colonização do Ceará.

Contos de Machado de Assis

A Cartomante Narra a história de Camilo, Vilela e Rita. Os dois primeiros eram melhores
amigos; a segunda era esposa do segundo e amante do primeiro. Quando Camilo começa
receber denúncias anônimas, diminui a freqüência das visitas ao amigo. Preocupada, Rita visita
uma cartomante, fato que faz Camilo rir. Quando Vilela chama Camilo a sua casa ele vai
preocupado, e passa antes na cartomante pensando que não tem nada a perder. Ela lhe
assegura que nada vai dar errado e ele chega despreocupado a casa de Vilela, onde encontra
Rita morta. Vilela então o mata.
A Causa Secreta Fala de dois homens que, após um salvar a vida do outro e passar-se algum
tempo, tornam-se sócios. Mas pouco a pouco um deles vai demonstrando tendências sádicas,
torturando animais, fato que atordoa a esposa. Quando ela morre, Fortunato, o sádico,
presencia o amigo beijar a testa da mulher e derreter-se em choro, saboreando o momento de
dor do amigo que lhe traía.
A Igreja do Diabo É uma nova idéia do diabo: fundar uma Igreja e organizar seu rebanho, tal
qual Deus. Após comunicar Deus de seu futuro ato, vai à Terra e funda com muito sucesso
uma Igreja que idolatra os defeitos humanos. Mas aos poucos os homens vão secretamente
exercitando virtudes, Furioso, o Diabo vai falar com Deus, que lhe aponta que aquilo faz parte
da eterna contradição humana.
Anedota Pecuniária É uma pequena crítica a ganância. Nela um homem "vende" suas
sobrinhas aos homens que as amam por causa de sua fascinação com o dinheiro.
A Sereníssima República É uma crítica ao processo eleitoral, feito como um discurso de um
cônego que afirma ter achado uma espécie de aranha que fala e criado uma sociedade delas,
uma república chamada Sereníssima República. Ele escolhe como sistema de eleição um
baseado no da República de Veneza, onde retirava-se bolas de um saco com o nome dos
eleitos. Este sistema vai sendo fraudado pelas aranhas, corrigindo-se, adaptando-se e
variando-se diversas vezes e de diversos modos, eternamente corrupto.
Capítulo dos Chapéus É um conto onde aparece a frivolidade e ostentação da época de
Machado. Mariana, após pedir ao marido que troque o seu simples chapéu, testemunha a
sociedade (na famosa rua do Ouvidor) e acaba pedindo que ele permaneça com seu chapéu.
D. Paula Conta sobre um casal que realiza uma separação temporária por ciúmes, com fundos,
do marido. O caso é mediado pela tia da esposa, Dona Paula, que quando descobre quem é o
outro, fica abalada. É o filho do homem com quem teve caso análogo, fato que deixa seus
sentimentos bem abalados em relação ao caso. Fulano Beltrão é um homem que vai aos
poucos se tornando mais um homem público que privado após receber elogios públicos e
acaba deixando seu dinheiro para a posteridade e não a família.
O Espelho Conta sobre um homem falando de sua opinião sobre a alma humana num grupo de
amigos que realizam discussões metafísicas. Ele descreve uma situação de sua juventude
onde, após ter sido engrandecido pelo recém-conquistado posto de alferes, encontra-se
sozinho. Solitário, passa a ter medo até a que um dia veste-se com seu uniforme de alferes e
encara o espelho, encontrando assim o outro lado de sua alma (sua opinião é que temos duas
almas, uma externa que nos vigia e a nossa que vigia o exterior). Isso retira-o da solidão.
Portanto, este conto envidencia o conflito entre a essência (a alma interior) e a aparência (alma
exterior).
Teoria do Medalhão É um pai aconselhando um filho no dia de seus 21 anos. Ele lhe diz que
um futuro lhe espera, que pode ter várias carreiras diferentes, mas que devia ter uma de
resguardo, preferencialmente a de medalhão. Para isto devia ter pouquíssimo conhecimento,
originalidade, ironia, gosto ou qualquer idéia própria. E nisso disserta sobre a necessidade do
filho de sempre manter-se neutro, usar e abusar de palavras sem sentido, conhecer pouco, ter
vocabulário limitado, etc. Ao final, é uma bela ironia machadiana sobre como encontram-se os
valores da sociedade de sua época.
O Enfermeiro Conta sobre um homem que, a beira da morte, conta um caso de seu passado.
Ele foi em 1860 ser enfermeiro de um velho e mau coronel, que acaba esganando alguns dias
antes de partir por não mais o suportar. Quando abre-se o testamento ele é declarado herdeiro
universal e distribui lentamente o dinheiro em esmolas. Enquanto isto se passa, vai lentamente
se convencendo de sua inocência, apoiado pela sociedade que odiava o velho e suas ações
que considera redentoras Pai Contra Mãe Cândido Neves, caçador de escravos fujões. Não o é
por opção, apenas o é porque não agüenta qualquer outro emprego. Casa e passa a adquirir
dívidas, com clientela cada vez menor; quando engravida a mulher, as dívidas aumentam.
Depois de despejados vão morar em um quarto emprestado e o menino nasce. Após ceder às
pressões da tia da esposa, Candinho vai por a criança na Roda dos enjeitados. Mas no
caminho captura uma escrava, recebendo uma gorda recompensa, mantendo assim a criança.
Mas a escrava estava grávida, e provavelmente abortou com os castigos recebidos, ficando a
vida do filho de Candinho em troca da de outra
Missa do Galo Fala de uma singular conversa entre uma senhora de 30 anos e um jovem 17,
que tinha que manter-se acordado para acordar o amigo para irem à missa do galo. Eles
conversam, ele apieda-se dela (o marido traía e ela resignava-se), admira-a e distrai-se. Por
fim o amigo lhe chama, já que já havia passado da meia-noite e ele nunca mais tem outra
conversa profunda com ela.
Macunaíma / MÁrio de Andrade

Não é uma leitura fácil. Trata-se de um livro "todo ele de segunda intenção", no dizer de seu
autor. Com absoluta liberdade de criação, Mário de Andrade (1893-1945) construiu uma
narrativa complexa, apoiada em vasta erudição folclórica, que, sob a aparência despretensiosa
do registro lingüístico predominantemente coloquial, articula um enorme volume de referências
culturais, históricas, geográficas, antropológicas, musicais, literárias etc. Mesmo para o leitor
experimentado, a compreensão da "fábula" macunaímica impõe a assessoria do Roteiro de
Macunaíma, de Manuel Cavalcanti Proença, Morfologia de Macunaíma,de Haroldo de Campos,
para ficarmos em apenas duas obras indispensáveis, mas fora do alcance do vestibulando.
Com isso, não se está dizendo que seja uma obra "impenetrável", ou que sua indicação seja
descabida, mas que se trata de um livro único, refratário a qualquer classificação, no qual cada
brasileiro encontrará muito de si mesmo, ou de pessoas que conhecemos, em inúmeros
episódios, nos provérbios, nas frases feitas, no "despropósito" de situações vividas pelo "herói
da nossa gente".
Macunaíma pertence à mesma safra das Memórias Sentimentais de João Miramar e de
Serafim Ponte Grande e compartilha com as duas experiências mais radicalmente inovadoras
da prosa oswaldiana o mesmo veio antropofágico, primitivista, crítico e libertário.
Macunaíma sai do paraíso amazônico do Uraricoera para conhecer todas as latitudes e
longitudes do país: é um olhar brasileiro sobre o Brasil; Miramar e Serafim viajam pela Europa:
são olhares brasileiros sobre as raízes cosmopolitas da nossa civilização. Os três livros
promovem uma revisão de valores desencadeada pelo choque entre momentos culturais
distintos: exercem, antropofagicamente, a crítica devoração dos valores civilizados.
Erudito e popular, vanguardista e primitivo, cubista e folclórico, heróico e picaresco; rapsódia,
romance, novela de cavalaria carnavalizada, romance de aprendizagem e fábula mítica;
desmitificação do herói, mitificação do anti-herói; cômico e trágico, delirante e realista,
nacionalista e crítico: todos esses elementos visam compor a síntese de um presumido modo
de ser brasileiro – polimorfo, plurirracial, multicultural –, desconstroem e reconstroem nossa
identidade étnica e cultural na busca do caráter nacional brasileiro.
Em sintonia com a corrente antropofágica do nosso primeiro modernismo, Mário de Andrade
retoma o pensamento selvagem e, desse ângulo mágico, primitivo, no qual "tudo vira tudo",
inverte a convenção: não é o civilizado que observa o comportamento do selvagem, é o
antropófago que canibaliza e interpreta o mundo que se diz civilizado. "Sou um tupi tangendo
um alaúde" (Mário de Andrade, "O Trovador", Paulicéia Desvairada).
No ano em que se comemora o quinto século do Descobrimento, com a proposição da leitura
de O Guarani, de José de Alencar, lado a lado com a de Macunaíma, o examinador deixa clara
a intenção de trazer à baila a questão da identidade nacional, através de dois dos diversos
rostos que a literatura brasileira criou na busca dessa identidade: Peri, Iracema, Leonardo
(ancestral de Macunaíma na dialética da malandragem), Policarpo Quaresma, Jeca Tatu,
Martim Cererê, João Miramar, Serafim Ponte Grande e tantos outros que são, cada um a seu
modo, "heróis da nossa gente".
Filho do medo da noite, concebido por uma índia tapanhuma no fundo do mato virgem do
Uraricoera; índio-negro que vira branco, a peitaria peluda, um corpanzil enorme e o rosto
infantil ("a carinha enjoativa de piá"), este é Macunaíma, irmão de Maanape, já velhinho, e de
Jiguê, "na força do homem". Gosta muito de "brincar" e não perdoa nem as cunhadas – Sofara,
Iriqui e Suzi; joga no bicho e quer levar vantagem em tudo; inteligente e preguiçoso, medroso e
afoito; imperador do Mato Virgem, casado com uma guerreira amazona, Ci, a Mãe do Mato,
que lhe dá, antes de morrer, a Muiraquitã, amuleto nacional, talismã da sorte, cuja recuperação
passa a ser o objetivo da vida de Macunaíma, sua grande aventura.
A muiraquitã é o seu "santo graal", por ela percorre todo o Brasil e vem a São Paulo enfrentar o
gigante Piaimã/ Venceslau Pietro Pietra. Vitorioso na sua "demanda", comete o erro fatal:
atraído pela Europa, cai nos braços de Dona Sancha, a "uiara enganosa", trai o compromisso
com a Vei-a-Sol (a mãe-natureza tropical), desarmoniza-se com seu universo, perde a
muiraquitã, adoece de todos os males, volta destronado para o Uraricoera devastado, vira um
"defunto sem choro" e se transforma na Ursa Maior, estrela distante, brilho inútil. Vai fazer
companhia para Ci, a Mãe do Mato, que se transformou na estrela Beta do Centauro e para
outras personagens que viraram astros do céu.
Virar astro, na cosmogonia indígena brasileira, significa virar tradição. Nas palavras de Mário
de Andrade: "vai ser astro, que é o destino fatal dos seres (tradição)", o que significa tornar-se
uma referência para o presente.Referência permanente, que fecundou o filme de Joaquim
Pedro de Andrade (1969), a montagem teatral de Antunes Filho (1978), e que desfilou na
Avenida, no carnaval de 1974, como samba-enredo da Portela, com o refrão: "índio, branco,
catimbeiro, / negro, sonso, feiticeiro, / mata a cobra e dá um nó".
Arquétipo e protótipo, Macunaíma é o barro amorfo, mas vital, no qual continuamos a modelar
nossa identidade, é a matéria-prima inesgotável para a reflexão do brasileiro sobre si mesmo,
sobre o que fomos, somos e seremos.
O Cortiço
Aluísio de Azevedo - Tendo como cenário uma habitação coletiva, o romance difunde as teses
naturalistas, que explicam o comportamento dos personagens com base na influência do meio,
da raça e do momento histórico
Ao ser lançado, em 1890, O Cortiço teve boa recepção da crítica, chegando a obscurecer
escritores do nível de Machado de Assis. Isso se deve ao fato de Aluísio de Azevedo estar
mais em sintonia com a doutrina naturalista, que gozava de grande prestígio na Europa. O livro
é composto de 23 capítulos, que relatam a vida em uma habitação coletiva de pessoas pobres
(cortiço) na cidade do Rio de Janeiro.
O romance tornou-se peça-chave para o melhor entendimento do Brasil do século XIX.
Evidentemente, como obra literária, ele não pode ser entendido como um documento histórico
da época. Mas não há como ignorar que a ideologia e as relações sociais representadas de
modo fictício em O Cortiço estavam muito presentes no país.

RIGOR CIENTÍFICO

Essa criação de Aluísio de Azevedo tem como influência maior o romance L’Assommoir, do
escritor francês Émile Zola, que prescreve um rigor científico na representação da realidade. A
intenção do método naturalista era fazer uma crítica contundente e coerente de uma realidade
corrompida. Zola e, neste caso, Aluísio combatem, como princípio teórico, a degradação
causada pela mistura de raças.
Por isso, os dois romances naturalistas são constituídos de espaços nos quais convivem
desvalidos de várias etnias. Esses espaços se tornam personagens do romance.

É o caso do cortiço, que se projeta na obra mais do que os próprios personagens que ali vivem.
Um exemplo pode ser visto no seguinte trecho:

“E durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de
gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida,
aterrado defronte daquela floresta implacável que lhe crescia junto da casa, por debaixo das
janelas, e cujas raízes, piores e mais grossas do que serpentes, minavam por toda a parte,
ameaçando rebentar o chão em torno dela, rachando o solo e abalando tudo.”

O narrador compara o cortiço a uma estrutura biológica (floresta), um organismo vivo que
cresce e se desenvolve, aumentando as forças daninhas e determinando o caráter moral de
quem habita seu interior.

NARRADOR
A obra é narrada em terceira pessoa, com narrador onisciente (que tem conhecimento de tudo),
como propunha o movimento naturalista. O narrador tem poder total na estrutura do romance:
entra no pensamento dos personagens, faz julgamentos e tenta comprovar, como se fosse um
cientista, as influências do meio, da raça e do momento histórico.

O foco da narração, a princípio, mantém uma aparência de imparcialidade, como se o narrador


se apartasse, à semelhança de um deus, do mundo por ele criado. No entanto, isso é ilusório,
porque o procedimento de representar a realidade de forma objetiva já configura uma posição
ideologicamente tendenciosa.

TEMPO
Em O Cortiço, o tempo é trabalhado de maneira linear, com princípio, meio e desfecho da
narrativa. A história se desenrola no Brasil do século XIX, sem precisão de datas. Há, no
entanto, que ressaltar a relação do tempo com o desenvolvimento do cortiço e com o
enriquecimento de João Romão.

ESPAÇO
São dois os espaços explorados na obra. O primeiro é o cortiço, amontoado de casebres mal-
arranjados, onde os pobres vivem. Esse espaço representa a mistura de raças e a
promiscuidade das classes baixas. Funciona como um organismo vivo. Junto ao cortiço estão a
pedreira e a taverna do português João Romão.O segundo espaço, que fica ao lado do cortiço,
é o sobrado aristocratizante do comerciante Miranda e de sua família. O sobrado representa a
burguesia ascendente do século XIX. Esses espaços fictícios são enquadrados no cenário do
bairro de Botafogo, explorando a exuberante natureza local como meio determinante. Dessa
maneira, o sol abrasador do litoral americano funciona como elemento corruptor do homem
local.

ENREDO
O livro narra inicialmente a saga de João Romão rumo ao enriquecimento. Para acumular
capital, ele explora os empregados e se utiliza até do furto para conseguir atingir seus
objetivos. João Romão é o dono do cortiço, da taverna e da pedreira. Sua amante, Bertoleza, o
ajuda de domingo a domingo, trabalhando sem descanso.

Em oposição a João Romão, surge a figura de Miranda, o comerciante bem estabelecido que
cria uma disputa acirrada com o taverneiro por uma braça de terra que deseja comprar para
aumentar seu quintal. Não havendo consenso, há o rompimento provisório de relações entre os
dois.

Com inveja de Miranda, que possui condição social mais elevada, João Romão trabalha
ardorosamente e passa por privações para enriquecer mais que seu oponente. Um fato, no
entanto, muda a perspectiva do dono do cortiço. Quando Miranda recebe o título de barão,
João Romão entende que não basta ganhar dinheiro, é necessário também ostentar uma
posição social reconhecida, freqüentar ambientes requintados, adquirir roupas finas, ir ao
teatro, ler romances, ou seja, participar ativamente da vida burguesa.

No cortiço, paralelamente, estão os moradores de menor ambição financeira. Destacam-se Rita


Baiana e Capoeira Firmo, Jerônimo e Piedade. Um exemplo de como o romance procura
demonstrar a má influência do meio sobre o homem é o caso do português Jerônimo, que tem
uma vida exemplar até cair nas graças da mulata Rita Baiana. Opera-se uma transformação no
português trabalhador, que muda todos os seus hábitos.

A relação entre Miranda e João Romão melhora quando o comerciante recebe o título de barão
e passa a ter superioridade garantida sobre o oponente. Para imitar as conquistas do rival,
João Romão promove várias mudanças na estalagem, que agora ostenta ares aristocráticos.
O cortiço todo também muda, perdendo o caráter desorganizado e miserável para se
transformar na Vila João Romão.

O dono do cortiço aproxima-se da família de Miranda e pede a mão da filha do comerciante em


casamento. Há, no entanto, o empecilho representado por Bertoleza, que, percebendo as
manobras de Romão para se livrar dela, exige usufruir os bens acumulados a seu lado.
Para se ver livre da amante, que atrapalha seus planos de ascensão social, Romão a denuncia
a seus donos como escrava fugida. Em um gesto de desespero, prestes a ser capturada,
Bertoleza comete o suicídio, deixando o caminho livre para o casamento de Romão.

ALEGORIA DO BRASIL
Mais do que empregar os preceitos do naturalismo, a obra mostra práticas recorrentes no Brasil
do século XIX. Na situação de capitalismo incipiente, o explorador vivia muito próximo ao
explorado, daí a estalagem de João Romão estar junto aos pobres moradores do cortiço. Ao
lado, o burguês Miranda, de projeção social mais elevada que João Romão, vive em seu
palacete com ares aristocráticos e teme o crescimento do cortiço. Por isso pode-se dizer que O
Cortiço não é somente um romance naturalista, mas uma alegoria do Brasil.

O autor naturalista tinha uma tese a sustentar sua história. A intenção era provar, por meio da
obra literária, como o meio, a raça e a história determinam o homem e o levam à
degenerescência. A obra está a serviço de um argumento. Aluísio se propõe a mostrar que a
mistura de raças em um mesmo meio desemboca na promiscuidade sexual, moral e na
completa degradação humana. Mas, para além disso, o livro apresenta outras questões
pertinentes para pensar o Brasil, que ainda são atuais, como a imensa desigualdade social.
O Crime do Padre Amaro
Eça de Queiroz

Nesse romance, de sua fase mais influenciada pelo naturalismo, Eça de Queirós ataca a
corrupção do clero e a hipocrisia da média burguesia portuguesa, questionando seus valores
morais
Publicado pela primeira vez em 1875, O Crime do Padre Amaro denuncia a corrupção dos
padres, que manipulam a população em favor da elite, e a questão do celibato clerical. É com
esse livro que Eça de Queirós inaugura, na prosa, a estética do realismo-naturalismo em
Portugal. A obra caracteriza-se pelo combate ao idealismo romântico que se estabelecia até
então, em prol de uma visão mais crítica da sociedade. Sua versão definitiva foi publicada em
1880.

ROMANCE DE TESE
O Crime do Padre Amaro é o primeiro romance de Eça. Em vez da subjetividade romântica, os
autores do realismo-naturalismo, como o próprio nome da escola literária indica, buscavam
retratar a realidade de forma objetiva.
Naquela época (segunda metade do século XIX), o Ocidente vivia um período de grandes
transformações, com a Segunda Revolução Industrial. O cientificismo passou a predominar,
com novas correntes filosóficas e teorias, entre as quais o positivismo de Comte, o
determinismo de Taine, o evolucionismo de Darwin e o socialismo científico de Marx e Engels.
Essa perspectiva racionalista e materialista leva os intelectuais a estudar o impacto social da
industrialização e do liberalismo.
Passam a ser discutidas as desigualdades que essas mudanças trouxeram para a sociedade,
como o surgimento de uma nova classe que é oprimida pela burguesia: o proletariado.
Daí a substituição do romance de entretenimento pelo romance de tese, que visa a descrever e
a explicar os problemas sociais sob a luz das novas idéias. Neles há a crítica, muitas vezes
feroz, às instituições que servem de base para a sociedade burguesa, como o Estado, a Igreja
e a família.
Portugal, que muito tempo antes havia deixado de acompanhar o progresso de outras nações
européias, passa nesse momento a servir de palco para a mobilização de jovens que ansiavam
por mudanças radicais. É nesse contexto que Eça de Queirós começa a se destacar. Em sua
fase realista-naturalista, inspirado pelos franceses Gustave Flaubert e Émile Zola, escreve
romances como O Crime do Padre Amaro e O Primo Basílio, que buscam atacar a corrupção
do clero e a hipocrisia da média burguesia portuguesa.

NARRADOR
A narrativa é em terceira pessoa e o narrador tem onisciência, ou seja, conta a história com
conhecimento dos pensamentos e das ações dos personagens. Isso facilita o processo de
distanciamento entre o autor e a obra. Apesar disso, é possível perceber a antipatia que Eça
sente por vários dos tipos retratados, em especial os padres e as beatas, por causa da ironia e
dos adjetivos rudes, muitas vezes grosseiros, que utiliza em suas descrições. Isso é revelador
de uma postura anticlerical, comum entre os escritores realistas.

TEMPO E ESPAÇO
A maior parte da narrativa concentra-se em uma província chamada Leiria, sede do bispado
para onde o padre Amaro consegue transferência. O tempo compreende os anos de 1860 a
1870, aproximadamente, e se desenvolve de forma cronológica, linear, com eventuais voltas ao
passado, quando o autor, após apresentar alguns dos personagens, conta a história de Amaro
e de como ele se tornou padre.

ENREDO
Após perder os pais, que serviram à marquesa de Alegros, Amaro cai nas graças da mulher,
que o toma como agregado, planejando criá-lo para o sacerdócio. Isso acaba se efetivando,
apesar da ausência de vocação e de interesse do jovem, que, desde cedo, possuía uma índole
libidinosa. Triste e resignado, Amaro se ordena padre, sempre tentando conter os fortes
impulsos sexuais que sente.
Embora temesse a Deus e fosse devoto, odeia a vida eclesiástica que lhe fora imposta. Depois
de exercer seu ofício em uma província interiorana, consegue, por influência da condessa de
Ribamar – filha de sua protetora, a marquesa –, mudar-se para Leiria.Nesse ponto, Eça
descreve como os interesses do clero estão atrelados aos interesses políticos. É o marido da
condessa quem intervém junto a um ministro para solicitar ao bispo a transferência de Amaro,
apesar de sua pouca idade, para a sede do bispado.

Em Leiria, o jovem padre aceita a sugestão do cônego Dias para morar em um quarto alugado
na casa da senhora Joaneira – com quem Dias mantinha um caso –, auxiliando, em troca, nas
despesas da casa. O quarto de Amaro fica exatamente embaixo do de Amélia, filha da dona da
casa. Já no primeiro contato, Amaro e Amélia sentem forte atração mútua, que se desenvolve
aos poucos e provoca o desinteresse da moça por João Eduardo, de quem era noiva.

O fato que desencadeia a ofensiva de Amaro sobre Amélia é algo que o jovem padre
presencia: certo dia, ao chegar à residência da senhora Joaneira, encontra-a na cama com o
cônego Dias. A partir daí, apesar de ter mudado de casa, Amaro vai perdendo os escrúpulos e
se deixa levar pela atração sexual, seguindo o exemplo de seu antigo mestre.
O autor, além da crítica feroz que desfere contra o clero, toca também em outro tabu da época:
a sexualidade.

É comum que os escritores vinculados à corrente naturalista, como era Eça na época em que
escreveu esse romance, dêem ênfase ao erotismo que domina os personagens. Isso faz parte
de sua caracterização, como apregoa o determinismo de Taine, segundo o qual os seres
humanos são submetidos ao condicionamento pela herança, pelo meio social e pelo contexto
histórico, que regem seu comportamento. Isso significa que, embora os personagens tentem,
num primeiro momento, se prender a um padrão moral mediado pela consciência, acabam
agindo pelos impulsos naturais de sobrevivência da espécie, principalmente o desejo sexual.

João Eduardo, enciumado, publica anonimamente no jornal local um artigo em que denuncia a
imoralidade de alguns padres de Leiria, especialmente de Amaro. Esse fica indignado e passa
a evitar Amélia — pensa até mesmo em abandonar o sacerdócio. No entanto, os padres
descobrem o autor do texto polêmico e levam João Eduardo a deixar a cidade.

GRAVIDEZ E MORTE
É nesse momento que, no auge do desejo, Amaro e Amélia trocam o primeiro beijo. Para
facilitar a sedução, Amaro se torna o confessor de Amélia, o que revolta João Eduardo,
levando-o a dar um soco no pároco na rua. Após retirar a queixa contra seu agressor e ser
visto como um santo pelas beatas (entre as quais Amélia), Amaro conduz a jovem para seu
quarto e os dois têm a primeira relação sexual.

A nova criada do padre, Dionísia, alerta para o perigo dessa exposição e lhe recomenda que
ache um local secreto para os encontros amorosos. A solução é a casa do sineiro da igreja, o
Tio Esguelhas, deficiente que vive com uma filha, Antônia, a Totó. A desculpa para os
encontros é a preparação de Amélia para se tornar freira e também ler textos religiosos a Totó.

O fascínio que Amaro exerce sobre Amélia é cada vez maior, até que ela começa a ter crises
de consciência. A pedido da senhora Joaneira, o cônego Dias investiga o caso e fica sabendo,
por meio de Totó, o que ocorria entre seu pupilo e a moça. Após uma discussão e trocas de
acusações entre os dois, porém, o cônego e o padre passam a se tratar como sogro e genro.

Amélia então engravida, o que leva Amaro ao desespero. Com o cônego Dias, decidem casá-la
com João Eduardo quanto antes. Ela se revolta com a idéia, mas acaba aceitando, o que faz
com que o padre amante sinta ciúme. Para consolá-lo, decidem, então, continuar os encontros
amorosos após o casamento.

O ex-noivo de Amélia, contudo, não é encontrado, o que os leva a buscar outra solução, já que
fica cada vez mais difícil ocultar a gravidez. A histeria da moça aumenta, até que optam por
enviá-la ao subúrbio para cuidar de dona Josefa, beata enferma irmã do cônego, enquanto os
outros passam uma temporada na praia.

Entristecida por se separar da mãe e pelo abandono de Amaro, que permanece em Leiria,
Amélia fica angustiada e entra em profunda crise. A situação é agravada pela censura de dona
Josefa. A jovem encontra consolo então no bom abade Ferrão, um dos poucos personagens
apresentados como íntegros na narrativa. Ele ouve a confissão de Amélia e a aconselha a
superar a atração que ainda sente pelo padre. Amaro, ao saber disso, cego de desejo e ciúme,
procura mais uma vez Amélia, que não resiste e se entrega novamente. O abade, por outro
lado, tenta inutilmente unir a moça com o reaparecido João Eduardo, ainda apaixonado por ela.

O momento do parto se aproxima, e Amaro é aconselhado por Dionísia a enviar o bebê a uma
“tecedeira de anjos”, mulher que mata recém-nascidos indesejados. Nasce a criança, que o pai
leva à ama encarregada de fazer com que desapareça, em troca de pagamento.

Amélia não resiste e, pouco tempo depois, sofre de convulsões e morre. Amaro, triste por
causa da morte da amante, tenta recuperar o filho, mas é tarde. A criança já havia sido morta.
Traumatizado, ele sai de Leiria e é transferido. Em Lisboa, buscando de novo a ajuda do conde
de Ribamar, reencontra o cônego Dias. Ambos concluem que o remorso sentido pelo caso
havia sido superado. Afinal, “tudo passa
OBRA LITERÁRIA DO QUINHENTISMO:
A CARTA / AUTOR: PERO VAZ DE CAMINHA

A carta que Pero Vaz de Caminha escreveu para D. Manuel, o rei de Portugal na época
do descobrimento do Brasil, relata com detalhes a chegada dos portugueses no Brasil, como
foram os primeiros contatos destes com os indígenas e, a partir desta carta, podemos perceber
as intenções portuguesas quanto à nova terra e, o que seria dela depois de então.
A partida frota portuguesa de Belém-Portugal ocorreu no dia 9 de março, a chegada às
canárias no dia 14 do mesmo mês, e no dia 22 chegaram à ilha de São Nicolau. No dia 21 de
abril, toparam com sinais de terra, o que eles chamam de botelho, espécie de ervas compridas.
No dia seguinte, houveram vista de terra, que foi chamada de Terra De Vera Cruz, a
qual tinha um monte alto, que recebeu o nome de o Monte Pascoal. Avistaram os primeiros
habitantes da terra, os quais eram, de acordo com a descrição de Caminha, pardos, um tanto
avermelhados, de bons rostos e narizes, nus, traziam arcos e setas, o beiço de baixo furado
com um osso metido nele, cabelos corredios e corpos pintados.
Com eles tentaram estabelecer um primeiro contato, o que foi uma surpresa, pois um
deles começou a apontar para o colar de ouro do capitão da frota e, em seguida, para a terra,
como se quisesse dizer que naquela terra havia ouro. A mesma coisa ocorreu com o castiçal
de prata e o papagaio. Ao verem coisas que não conheciam, faziam sinais, dando-se a
entender que queriam propor uma troca.
Conclui-se então, que desta forma começou a troca de ouro, prata e madeira, por
quinquilharias vindas da Europa. Os portugueses traziam os indígenas para as embarcações, a
fim de estabelecer um melhor contato com os indígenas.
No início, eles mostraram-se muito esquivos, mas com o passar dos dias, passaram a conviver
mais com os portugueses e, até mesmo, à ajudá-los no que precisavam e levá-los às suas
aldeias.
Os portugueses realizaram uma missa, construíram uma enorme cruz. Tudo para
mostrar aos nativos a acatamento que tinham pela cruz, ou melhor, pela religião. Desde já,
possuíam a vontade de convertê-los à igreja, tendo em vista, sua inocência, já que faziam tudo
o que os portugueses faziam ou mandavam...
A intenção de dominá-los é facilmente observada na seguinte passagem : "Contudo, o
melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente
Dom Casmurro
Machado de Assis

Nesta obra as personagens são apresentadas a partir das descrições de seus dotes físicos
Temos, portanto, a descrição, funcional, bastante comum no Realismo.

Contextualização da época machadiana

O plano econômico: em meados do Séc. XIX, as nações enpinalistas européias sobretudo


Inglaterra e França, detinham o controle militar, administrativo, comercial e financeiro no mundo
e seu principal objetivo era criar consumidores para seus produtos. O Brasil, na 2ª metade do
Séc. XIX, consolidava o Império, alicerçando na escravidão, e teve uma relativa modernização.

O Rio de Janeiro, a capital do Império, sede da oligarquia cafeeira do Vale do Paraíba


sustentado na mão-de-obra escrava, é o cenário principal dos romances de Machado de Assis.

O plano abolicionista: abolicionista e republicana, a Guerra do Paraguai, o ocaso do império, o


fim da escravidão (1888) e do império (1889), são os principais fatos políticos em que conviveu
Machado de Assis e que repecurtem na sua produção literária e visão de mundo.

O plano ideológico: ao final do Séc. XIX predomina, no Brasil, um torto e mal disfarçado
racismo e a conceituação do trabalho manual como algo indigno. A visão do mundo é
predominante do modelo europeu colonizado.

As personagens principais são :

• Capitu, "criatura de 14 anos, alta, forte e cheia, apertada em um vestido de chita, meio
desbotado. Os cabelos grossos, feitos em duas tranças, com as pontas atadas uma à outra, à
moda do tempo, ... morena, olhos claros e grandes, nariz reto e comprido, tinha a boca fina e o
queixo largo ... calçava sapatos de duraque, rasos e velhos, a que ela mesma dera alguns
pontos". Personagem que tem o poder de surpreender : "Fiquei aturdido. Capitu gostava tanto
de minha mãe, e minha mãe dela, que eu não podia entender tamanha explosão". Segundo
José Dias, Capitu possuía "olhos de cigana oblíqua e dissimulada", mas para Bentinho os olhos
pareciam "olhos de ressaca"; "Traziam não sei que fluido misterioso e energético, uma força
que arrastava para dentro, com a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca".

• Bentinho, também protagonista, que ocupa uma postura de anti-herói. Não pretendia ser
padre como determinara sua mãe, mas tencionava casar-se com Capitu, sua amiga de
infância. Um fato interessante é que os planos, para não entrar no seminário, eram sempre
elaborados por Capitu.

As personagens secundárias são descritas pelo narrador :

• Dona Glória, mãe de Bentinho, que desejava fazer do filho um padre, devido a uma antiga
promessa, mas, ao mesmo tempo, desejava tê-lo perto de si, retardando a sua decisão de
mandá-lo para o Seminário. Portanto, no início encontra-se como opositora, tornando-se
depois, adjuvante. As suas qualidades físicas e espirituais...

• Tio Cosme, irmão de Dona Glória, advogado, viúvo, "tinha escritório na antiga Rua das Violas,
perto do júri... trabalhava no crime"; "Era gordo e pesado, tinha a respiração curta e os olhos
dorminhocos". Ocupa uma posição neutra : não se opunha ao plano de Bentinho, mas também
não intervinha como adjuvante.

• José Dias, agregado, "amava os superlativos", "ria largo, se era preciso, de um grande riso
sem vontade, mas comunicativo ... nos lances graves, gravíssimo", "como o tempo adquiriu
curta autoridade na família, certa audiência, ao menos; não abusava, e sabia opinar
obedecendo", "as cortesias que fizesse vinham antes do cálculo que da índole". Tenta, no
início, persuadir Dona Glória à mandar Bentinho para o Seminário, passando-se, depois, para
adjuvante.

• Prima Justina, prima de Dona Glória. Parece opor-se por ser muito egoísta, ciumenta e
intrigante. Viúva, e segundo as palavras do narrador : "vivia conosco por favor de minha mãe, e
também por interesse", "dizia francamente a Pedro o mal que pensava de Paulo, e a Paulo o
que pensava de Pedro".

• Pedro de Albuquerque Santiago, falecido, pai de Bentinho. A respeito do pai o narrador coloca
: "Não me lembro nada dele, a não ser vagamente que era alto e usava cabeleira grande; o
retrato mostra uns olhos redondos, que me acompanham para todos os lados..."

• Sr. Pádua e Dona Fortunata, pais de Capitu. O primeiro, "era empregado em repartição
dependente do Ministério da Guerra" e a mãe "alta, forte, cheia, como a filha, a mesma cabeça,
os mesmos olhos claros". Jamais opuseram-se à amizade de Capitu e Bentinho.

• Padre Cabral, personagem que encontra a solução para o caso de Bentinho; se a mãe do
menino sustentasse um outro, que quisesse ser padre, no Seminário, estaria cumprida a
promessa.

• Escobar, amigo de Bentinho, seminarista, "era um rapaz esbelto, olhos claros, um pouco
fugitivos, como as mãos, ... como tudo".

• Sancha, companheira de Colégio de Capitu, que mais tarde casa-se com Escobar.

• Ezequiel, filho de Capitu e Bentinho (Será ?). Tem o primeiro nome de Escobar (idéia de
Bentinho, em colocar o mesmo). Vai para a Europa com a mãe, sendo que mais tarde, já moço,
volta ao Brasil para rever o pai. Morre na Ásia.

Através das descrições que se faz das personagens, percebe-se um fato comum: os olhos, tão
bem explorados por Machado de Assis, como nos exemplos
Amor de Perdição – Camilo Castelo Branco
ANÁLISE DA OBRA

INTRODUÇÃO
Camilo Castelo Branco pertence à Segunda fase do Romantismo português, chamada Ultra-
Romantismo – corrente literária da segunda metade do século XIX que leva ao exagero os
ideais românticos. Escreveu vários gêneros de novelas: satíricas, históricas e de
suspense.Nesta novela passional, de temática romântica exemplar,considerada uma espécie
de Romeu e Julieta lusitano, o escritor levou às últimas conseqüências a idéias de que o
sentimento deve sobrepor-se à vida e à razão. O livro trata do amor impossível e discute a
oposição entre a emoção e os limites impostos pela sociedade à realização da paixão.
Segundo o autor, Amor de Perdição foi escrito em 15 dias em 1861, quando ele estava preso
na cadeia da Relação, na cidade do Porto, por ter-se envolvido em questões de adultério.
A ação se passa em Portugal, no século 19. Tem um narrador em primeira pessoa, que não
participa dos acontecimentos, mas conhece os fatos passados por “ouvir falar” e “por pesquisar
em documentos”.
O narrador diz contar fatos ocorridos com seu tio Simão. Residentes em Viseu, duas famílias
nobres, os Albuquerques e os Botelhos, odeiam-se por causa de um litígio em que o
corregedor Domingos Botelho deu ganho de causa contrário aos interesses dos primeiros.
Simão é um dos cinco filhos do corregedor.

TEMA: O narrador-autor de Amor de Perdição conta fatos reais, romanceados a partir dos
relatos de uma tia que o criou. Novela passional, se passa em Portugal, no século XIX, fase
final do absolutismo, quando a Corte portuguesa experimentava as conseqüências das
invasões francesas determinadas por Napoleão. A obra tem uma única trama central – a infeliz
história de amor entre Teresa e Simão, repleta de desavenças, infortúnios, crimes, mortes,
fugas e tentativas de rapto -, em torno da qual se movimentam as demais personagens.

SINOPSE
A história se desenvolve em torno do amor impossível dos jovens Simão e Teresa,
separados por rivalidades entre suas famílias – os Albuquerque e os Botelho, moradores da
cidade de Viseu, em Portugal, e inimiga por questões financeiras.
Lá, adota os ideais igualitários da Revolução Francesa e acaba preso durante seis
meses por badernas e arruaças. Quando sai da cadeia, volta a Viseu, onde conhece e se
apaixona por Teresa, sua vizinha que tem 15 anos e é filha de uma família inimiga da sua. Com
o objetivo de separar Simão e Teresa, o pai da moça ameaça mandá-la para o convento,
enquanto Domingos Botelho envia Simão de volta a Coimbra. Uma velha mendiga faz o papel
de pombo-correio do casal, levando as cartas trocadas entre os dois jovens apaixonadas.
Movido pelo amor a Teresa, Simão decide se regenerar e estudar muito. A irmã caçula
de Simão – Ritinha – faz amizade com Teresa. O pai da heroína quer casá-la com o primo
Baltasar Coutinho – ordem que a moça se nega a cumprir. As intenções do pai de sua amada
fazem Simão retornar clandestinamente para Viseu, hospedando-se na casa do ferreiro João
da Cruz, antigo conhecido da família Botelho. Simão combina encontrar-se às escondidas com
Teresa no dia do aniversário da moça, mas o encontro é transferido porque Teresa é seguida.
Na data combinada, Simão vai ao encontro marcado levando consigo o ferreiro João da
Cruz e outros amigos. Depara-se com Baltasar que, na companhia de alguns criados, fora até o
local para matar Simão. Na briga, dois dos criados de Baltasar são mortos. Ferido, Simão
convalesce na casa de João da Cruz. Mariana, filha do ferreiro apaixonada por Simão,
empresta a ele suas economias para que vá atrás de Teresa, dizendo que o dinheiro pertence
à mãe do próprio Simão.
No dia previsto para que Teresa mude de convento, Simão decide raptá-la. Dá-se um
novo confronto com Baltasar Coutinho, que leva um tiro na testa e morre. Simão entrega-se à
polícia e dispensa a ajuda da família para sair da cadeia. Levado a julgamento, é condenado à
forca. Enquanto isso, Mariana enlouquece de amor e a saúde de Teresa definha no convento.
Na cadeia, Simão passa os dias lendo e escrevendo cartas. João da Cruz é assassinado pelo
filho do criado de Baltasar Coutinho.
Mariana, que estava na cidade do Porto, volta a Viseu para tomar posse da herança,
confiada a Simão. Tardiamente, o pai de Simão pede que sua pena seja comutada em dez
anos de prisão, mas o filho rejeita a ajuda paterna. Prefere o desterro para as Índias. Na data
em que a nau dos condenados parte, Teresa morre no convento. Ao saber da morte de sua
amada, Simão adoece, vindo a falecer no décimo dia de viagem.
Quando seu corpo é jogado ao mar, Mariana que o havia acompanhado, lança-se da
proa, suicidando-se abraçada à mortalha do amado.

PERSONAGENS - As personagens do Romantismo vivem em conflito com a sociedade, que


impõe limites à realização de seus desejos. No caso de Amor de Perdição, o obstáculo a ser
superado é a família, tanto da de Teresa quanto a de Simão. As personagens do Realismo
vivem em contradição consigo mesmas e com a sua visão do mundo

TEREZA é a heroína romântica, a frágil opõe-se firmemente ao destino que a família quer lhe
impor Mas se vê obrigada a cumprir as ordens do pai, o dominador TADEU ALBUQUERQUE.
Obstinada e apaixonada, luta para não se casar com o primo BALTAZAR COUTINHO e troca
cartas com SIMÃO, na tentativa de acalmar a chama da paixão. Marginalizada e enclausurada
num convento, reflete a fé na justiça divina e as injustiças cometidas em função dos
preconceitos da época, que se interpunham entre ela e a felicidade não realizada.

MARIANA é a amante silenciosa. Mulher mais velha, de 24 anos, criada no campo, Mariana
pertence a uma classe social mais popular. Dela o narrador diz ter “formas bonitas” e um rosto
“belo e triste”, para realçar a grandeza de seu amor-renúncia. O desprendimento que mostra -
mando Simão em silêncio e, por isso, ajudando-o a se aproximar da felicidade pela figura
representada pela figura de Teresa – faz parte do ideário romântico. Abnegada e fiel, Mariana
jamais diz uma palavra e controla obstinadamente seu ciúme. Na história de Camilo Castelo
Branco, é a personagem que mais sofre no romance. Pode-se dizer que a obra existe uma
tríade romântica – Simão, Mariana e Teresa. Os três nunca se realizam sentimentalmente e
têm um final trágico.

JOÃO DA CRUZ, o camponês rústico. Personagem popular, é um camponês que se transforma


no protetor do jovem Simão quando este volta à cidade de Viseu, atrás de Teresa. A princípio,
cuida do jovem em retribuição ao pai de Simão, que outrora o livrara de uma complicação
judicial. Mas depois acaba gostando tanto de Simão a ponto de matar para defender o rapaz.

BALTASAR COUTINHO, o burguês interesseiro. É o primo de Teresa, rapaz sem moral e sem
brios, que não ama a moça, mas está disposto a recorrer a quaisquer expedientes para vencer
a disputa com Simão. Faz o contraponto com o herói, na medida em que ambos vêm de
famílias abastadas. Mas enquanto Simão se move pelos mais nobres sentimento, Baltasar é
norteado por intenções medíocres.

TADEU DE ALBUQUERQUE, o autoritário pai de Teresa, que a todo o momento toma o


destino da moça nas mãos, sem respeitar seus sentimentos. Por uma rivalidade particular com
a família de Simão, decide impedir a felicidade da filha, criando vários empecilhos para afastá-
la de seu amor.

MANUEL BOTELHO, o desmiolado e jovem irmão de Simão – que inicialmente critica o


protagonista por sua vida desordenada – envolve-se com uma mulher casada na época em que
vai morar com Simão na cidade de Coimbra. Arrependido, confirma sua dependência familiar
quando pede ajuda aos pais para devolver aos Açores a mulher casada com quem havia
fugido.

Biografia

Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (1825 - 1890) teve uma vida que pode ser confundida
com uma de suas próprias novelas, ou seja, uma vida dramática e tão cheia de atribulações
que chega a espelhar as histórias que escreveu.
Nascido em Lisboa a 16 de Março de 1825, na freguesia dos Mártires, Camilo ficou órfão de
mãe aos dois anos e de pai aos dez, passando a ser criado por uma tia e uma irmã. Aos 16
anos casou-se com Joaquina Pereira e, dois anos depois, em 1843, matricula-se na Faculdade
de Medicina, porém, não conclui o curso. A partir de 1848, passa a viver do jornalismo e a
freqüentar a boêmia.
Quando completa 21 anos, rapta Patrícia Emília e vai viver com ela na cidade do Porto.
Logo depois é acusado e preso por bigamia. Depois de conseguir a liberdade, Camilo tem
alguns amores passageiros até encontrar, por volta de 1856, Ana Plácido, a "mulher de sua
vida". Essa nova relação amorosa, no entanto, não é nada tranqüila, uma vez que Ana é
casada com Pinheiro Alves, um rico comerciante local.

Na impossibilidade de concretizar o seu amor, Camilo busca refúgio na religião e ingressa no


Seminário do Porto, porém passa a ter um caso amoroso com a freira Isabel Cândida. Camilo
permanece nesse seminário por dois anos e, depois de tentar
o suicídio, consegue viver junto à sua amada, que abandona o marido para viver com o
escritor. Logo depois o casal é preso pelo crime de adultério. Os dois são julgados,
absolvidos e vão morar em Lisboa.
Camilo e Ana têm dois filhos com problemas de saúde e, por isso, enfrentam sérios problemas
financeiros. Para garantir a sobrevivência da família, Camilo passa a escrever por encomenda,
tornando-se o primeiro escritor português a viver exclusivamente da literatura. Em 1888 Ana e
Camilo finalmente se casam. Ainda nesse ano o escritor começa a sentir os primeiros sintomas
de cegueira, causada por uma sífilis crônica. Em 1890, a novela da vida de Camilo chega ao
fim.
Ele suicida-se com um tiro de pistola em 1º de junho.
O fato de ter de sobreviver da literatura fez com que Camilo Castelo Branco concentrasse seus
esforços na produção de novelas (narração, usualmente curta, ordenada e completa, de fatos
humanos fictícios, mas, por via de regra, verossímeis). Isso se deu porque esse gênero literário
agradava ao novo público consumidor, tornando-se assim de fácil consumo.

Obras literárias

Dentre a vasta obra composta por Camilo Castelo Branco podemos encontrar novelas de
terror, satíricas, históricas e as passionais. Essas últimas compõem o gênero que mais
caracteriza o ultra-romantismo português. Nelas são apresentadas personagens que, devido os
obstáculos encontrados para a realização do amor, tornam-se verdadeiros mártires desse
sentimento. As obras que merecem maior destaque são:
Carlota Ângela (1858), Amor de Perdição (1862);O Irônico Coração (1862);
Cabeça e Estômago (1862);Amor de Salvação" (1864) A Queda dum Anjo (1866),
A Doida do Candal (1867), Novelas do Minho (1875-77),Eusébio Macário (1879),
A Corja (1880), A Brasileira de Prazins(1882) Os Brilhantes do Brasileiro
Coisas que só eu sei . Uma Praga Rogada nas Escadas da Fôrca

FICHA TÉCNICA

Estilo: pertence à época romântica

Gênero: novela passional

Foco Narrativo: Embora na Introdução narrador e autor se confundam, os


fatos são narrados em 3ª pessoa.

Tempo e Espaço: Portugal (Viseu, Coimbra e Porto), século 19.

Personagens: Simão Botelho, Teresa Albuquerque, Mariana, Baltasar,


Domingos Botelho, Tadeu Albuquerque, João da Cruz, D. Rita Castelo Branco

*Fontes de Consulta
http://www.bibvirt.futuro.usp.br/textos/biografias/autores/camilo_castelo_branco
www.mundocultural.com.br
WWW. O Estado de São Paulo a seus assinantes.
http://www.portrasdasletras.com.br
A MORENINHA
Joaquim Manoel de Macedo

O engenheiro Jorge está casado com a loira Luísa há três anos. Levam uma vida
agradavelmente medíocre e sem desassossegos. Têm duas criadas: uma cozinheira, Joana; e
uma criada de dentro, Juliana. Esta cuida das roupas, dos quartos e é quem põe a mesa. Vive
ressentida com a vida, nutrindo grande ódio pelas patroas. O marido parte a serviço para o
Alentejo, deixando a mulher entregue a um grande tédio, que é quebrado pela visita do primo
Basílio. Este já tinha sido namorado de Luíza e partira para tentar a sorte. Ficara rico e metido.
Agora volta e procura seduzir a prima. Juliana, pressentindo o envolvimento dos dois, fica
atenta, até que consegue provas comprometedoras e passa a fazer chantagem com a patroa.
Basílio, covardemente, inventa compromissos urgentes e parte. Jorge volta e encontra a
mulher muito mudada. É que ela está nervosa porque não sabe o que fazer para conseguir o
dinheiro para pagar a chantagem. A tensão aumenta a ponto dela suplicar a ajuda de
Sebastião, que procura atemorizar Juliana com a presença de um policial. Ameaçada de
prisão, a criada devolve as cartas, sofrendo nesse momento uma parada cardíaca que lhe tira a
vida. Abalada com tudo, Luísa adoece gravemente e, durante sua inconsciência, o marido abre
uma carta vinda de Paris para ela. Era de Basílio e falava dos encontros no Paraíso. Jorge
sofre muito, mas procura conter-se, pois o médico lhe dissera que Luísa não podia ser
contrariada. Quando Luísa melhora, insiste com o marido para que lhe diga por que anda tão
aborrecido. Ele mostra-lhe a carta, provocando uma nova crise, da qual ela não consegue
recuperar-se. Após sua morte, Basílio reaparece em Lisboa e fica sabendo pelo vizinho do que
aconteceu. Não demonstra qualquer tipo de abalo. Apenas se queixa ao amigo Reinaldo que,
não esperando por isso, não tivera o cuidado de trazer de Paris nenhuma amante para fazer-
lhe companhia.

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