Plantão Psicológico Nas Empresas - Uma
Plantão Psicológico Nas Empresas - Uma
Plantão Psicológico Nas Empresas - Uma
RESUMO
Segundo o Ministério da Saúde as doenças mentais estão entre as três primeiras causas
de afastamento no trabalho em nosso país, o que comprova como o trabalho tem impacto na saúde
do trabalhador. Desenvolver uma visão biopsicossocial do trabalhador é essencial para que
práticas preventivas sejam adotadas na Gestão das Pessoas. O Plantão Psicológico é uma prática
que pode contribuir para a promoção da saúde do trabalhador, auxiliando-o a lidar com as pressões
e incertezas que vivencia em seu cotidiano, um espaço em que possa expressar seus sentimentos,
se sentir acolhido. Este estudo teve por objetivo identificar o quanto as empresas conhecem e
oferecem a modalidade de atendimento Plantão Psicológico para seus trabalhadores, bem como
entender como foi a implantação e os resultados atingidos. O método utilizado foi a pesquisa de
campo, através de questionário enviado para 189 empresas, em que se obteve o retorno de apenas
29. Os resultados indicam que poucas empresas conhecem e oferecem este serviço aos seus
colaboradores; das empresas que oferecem o plantão psicológico, a maioria considera o programa
eficaz para promover a saúde do trabalhador. Sobre os benefícios após a implantação afirmam
que houve melhora na qualidade de vida do trabalhador e constatou-se redução dos conflitos
interpessoais.
PALAVRAS-CHAVE
Plantão psicológico; Saúde mental; Qualidade de vida no trabalho.
ABSTRACT
According to the Ministry of Health mental illness are among the first three causes of
work absence in our country, proving how the work has an impact on the workers’ health.
Developing a worker’s biopsychosocial view is essential if preventive practices are to be adopted
in People Management. The Psychological couseling is a practice that can contribute to the
worker’s health promotion, helping him to deal with the pressures and uncertainties in his daily
life, a space which he can express his feelings, feel welcomed. This study aimed to identify how
much the companies know and offer the modality of Psychological Service for their workers, as
well as to understand how the implantation and results were achieved. The method used was the
field survey, questionnaires were sent to 189 companies, however only 29 answered it. The results
indicate that few companies know and offer this service to their employees; the companies which
offer psychological counseling, most of them consider the program effective to promote worker
health. Regarding the post-implantation benefits, they affirm that there was an improvement in
the worker's quality of life and observed a reduction in interpersonal conflicts.
KEYWORD
Psychological duty; Mental health; Quality of life at work
Introdução
1
Docente de graduação e pós-graduação, consultora, Psicóloga e pós-graduada em Recursos
Humanos pela Universidade São Francisco, Mestre em Educação pela UNICAMP.
O trabalho ocupa um espaço muito importante na vida do homem, pois além da produção
de bens e riqueza é a maneira pela qual a pessoa se realiza e dá significado a sua existência.
Passamos nossa vida trabalhando, podemos arriscar dizer que os melhores anos e horas
de nossas vidas passamos no local de trabalho, logo, o trabalho tem um grande impacto na saúde
do trabalhador, e para ajudar a diminuir este impacto foram criadas Normas Regulamentadoras
que orientam as práticas dentro das organizações, conforme cita Limongi França (2007, p. 174).
Estas normas são cumpridas pelas empresas porque são obrigatórias, no entanto, o foco
das ações é direcionado à saúde física do trabalhador, bem como às condições físicas do trabalho.
No entanto, existem diversos fatores que afetam a saúde do trabalhador, como afirma
Limongi França (2007) os fatores que afetam a qualidade de vida no trabalho são: a supervisão,
as condições de trabalho, benefícios, salário e o trabalho em si, ou seja, muito mais que os aspectos
físicos, que são foco de ações por parte das empresas.
Outro ponto importante é que o cenário atual só intensifica este problema, porque as
organizações estão passando por transformações e mudanças constantes e neste contexto o
trabalhador sofre pressões e muitas vezes vive em um clima de insegurança e tensão, que pode
gerar doenças. Segundo o Ministério da Saúde as doenças mentais estão entre as três primeiras
causas de afastamento no trabalho em nosso país, o que reforça como de fato o trabalho tem
impacto na saúde do trabalhador e que hoje é um dos fatores de adoecimento do mesmo.
Algumas empresas, para diminuir o impacto das mudanças e pressões sobre a vida do
trabalhador, implantam programas de qualidade de vida, oferecendo um cardápio de atividades do
tipo antiestresse, como por exemplo: ioga, massagens terapêuticas, dança de salão etc., entretanto,
nem sempre são suficientes para ajudar o trabalhador a não adoecer, porque a Qualidade de Vida
no trabalho deve ser um conjunto de ações que envolvem a implantação de melhorias e inovações
gerenciais e tecnológicas sob o enfoque biopsicossocial do ser humano, conforme ressalta
Limongi França e Rodrigues (1997, p.12).
Dentro desse contexto o Plantão Psicológico é uma prática que pode contribuir para a
promoção da saúde do trabalhador, auxiliando-o a lidar com as pressões e incertezas que vivencia
em seu cotidiano, um espaço em que pode expressar seus sentimentos, se sentir acolhido, para que
seja capaz de repensar e rever algumas questões. Visto que, muitas vezes, a pessoa necessita de
ajuda para mudar ou retornar ao equilíbrio que havia antes do surgimento dos problemas em pauta.
Neste sentido Doescher e Henriques (2012, p. 719) afirmam que além das características
necessárias para o terapeuta o plantonista necessita o saber e querer ouvir de forma paciente e
interessada, bem como o falar de forma compreensível e com amabilidade ao que procura o
plantão psicológico. As autoras reforçam o cuidado de não “classificar em categorias conceituais
ou quadro psicopatológicos”, pois as classificações contaminam a sua escuta. Elas sintetizam as
características do plantonista:
Assim sendo, o profissional que atua em Plantão Psicológico, de acordo com Rodrigues
e Candido (2010, p. 8), tem que se colocar disponível para estar ali e lidar com o inesperado,
pois é um espaço que a pessoa terá para buscar ajuda quando necessitar falar dos seus
sentimentos e do que se passa com ela.
De acordo com Ferrari e Gordono (2013), a atuação dentro das organizações tem
características específicas: os encontros variam entre um a três, com duração de tempo variável
de acordo com a necessidade do colaborador. O serviço de plantão psicológico desenvolvido na
empresa não tem número de sessões mínimas, tempo de duração, nem dias da semana e horários
de atendimento determinados, os colaboradores procuram os serviços de acordo com sua
necessidade, nos dias e horários em que o plantonista está na empresa.
Portanto, o psicólogo plantonista não está lá para resolver os problemas, mas sim acolher
a pessoa, por isso, a escuta é fundamental. Lidar com diferentes pessoas e necessidades variadas
também é uma realidade dos plantões, o profissional que atua nesta modalidade deve ter
consciência disso e estar preparado para o inesperado.
Método
Realizou-se uma pesquisa de campo, na qual foi elaborado um questionário através do
Google Formulários e enviado para 189 empresas através de e-mails e pelo Linkedin. A escolha
das empresas se deu pelo contato da pesquisadora com algum funcionário da empresa, na sua
maioria devido à relação professor-aluno em cursos de graduação e pós-graduação.
Resultados
O segmento das empresas respondentes são: 49% indústria, 41% serviços e 10%
comércio. Com relação ao número de funcionários 45% possuem acima de 401; 24% entre 201 a
400; 14% entre 101 a 200; e 17% de 01 a 50 colaboradores.
Das empresas que participaram da pesquisa 55% conhecem Plantão Psicológico e 45%
afirmam desconhecer esta modalidade de atendimento.
Apenas 24 % (7 empresas) oferecem este serviço aos seus trabalhadores, sendo que todas
as empresas que possuem o Plantão Psicológico têm acima de 401 funcionários, o que pode nos
indicar que as empresas de grande porte tendem a investir mais nos colaboradores.
Recursos Humanos
Qualidade de Vida
72%
Das 7 empresas que oferecem o Plantão Psicológico para seus funcionários, o programa
está vinculado ao departamento de Recursos Humanos em 72% (5); 14% (1) vinculado ao
departamento de Qualidade de Vida e 14% (1) a Medicina do Trabalho, departamentos que são os
responsáveis pela saúde do trabalhador e cuidado com as pessoas dentro das organizações.
Diretoria
25%
Medicina do
38% Trabalho
Qualidade de Vida
De 5 a 8 horas semanais
14,3% 14,3%
De 9 a 12 horas semanais
14,3%
Até 4 horas semanais
Acima de 12 horas
semanais
57,1%
14%
Com relação à eficácia do programa 85,7% (6) dos respondentes consideram que o
Plantão Psicológico é um programa eficaz para promover a saúde do trabalhador e apenas 14,3%
(1) respondeu de forma negativa.
Considerações Finais
Por este motivo adotar práticas que contribuam para a promoção da qualidade de vida
no trabalhado e preservação da saúde mental do trabalhador se faz necessário, e o plantão
psicológico pode ser uma destas práticas.
Mas como toda transformação começa de forma tímida e isolada, constatamos que
algumas empresas estão mudando o seu olhar sobre os seus colaboradores, e dentro das empresas
respondentes encontramos sete que oferecem o Plantão Psicológico, mesmo que com apenas 4
horas semanais de atendimento, devemos ficar otimistas, pois estas empresas não estão
preocupados apenas com o cumprimento das exigências legais necessárias pelas Normas
Regulamentadoras de Saúde e Segurança, elas estão procurando investir mais na saúde do
trabalhador.
Outro dado que nos remete a esta visão mais otimista é que das sete empresas, em duas
a proposta de implantação do Plantão Psicológico partiu da direção, o que reforça que o modelo
de gestão das empresas está se humanizando, mesmo que de forma tímida e pontual.
Também fica evidente a importância de divulgar esta modalidade de atendimento junto
às empresas, além de ampliar os estudos quanto aos benefícios deste serviço tanto para as
empresas como para os colaboradores. Fato este que pode criar mais oportunidades aos psicólogos
organizacionais.
Bibliografia
FURIGO, Regina Célia Paganini Lourenço et al. Plantão psicológico: uma prática que se
consolida. Boletim de Psicologia, São Paulo , v. 58, n. 129, p. 185-192, dez. 2008 . Disponível
em<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0006-
59432008000200006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 14 mar. 2018.
LIMONGI FRANÇA, Ana Cristina; RODRIGUES, Avelino Luiz. Stress e Trabalho: guia básico
com abordagem psicossomática. São Paulo: Atlas, 1996.