ITU - Resumo Sanar

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SUMÁRIO

1. Definição e Epidemiologia....................................... 3
2. Classificação................................................................. 4
3. Fatores de risco e Agentes etiológicos.............. 6
4. Quadro clínico.............................................................10
5. Diagnóstico.................................................................12
6. Tratamento..................................................................15
7. Medidas preventivas com evidência.................18
Referências Bibliográficas .........................................20
INFECÇÃO TRATO URINÁRIO 3

1. DEFINIÇÃO E Pela sua abrangência no que tange


EPIDEMIOLOGIA idade, sexo, doenças associadas e fa-
tores de risco externos (cateterismo
A infecção do trato urinário (ITU)
vesical, por exemplo), há uma grande
pode ser definida como a presença
diversidade epidemiológica das ITU a
de um microrganismo patogênico
depender de cada um destes fatores.
na urina e, consequentemente, nas
No entanto, é mais comum em mu-
estruturas que compõem o apare-
lheres devido a menor extensão da
lho urinário – uretra, bexiga, rim ou
uretra feminina e sua proximidade
na próstata. Esta infecção ocorre tan-
com o ânus o que favorece a as-
to indivíduos hospitalizados, quanto
censão de patógenos pelo aparelho
naqueles que estão na comunidade,
urinário, sobretudo, naquelas com
representando o 2º sítio mais comum
vida sexual ativa, de modo que na
de infecção na população em geral
vida adulta as mulheres têm 50 vezes
e importante causa de internação
mais chance de adquirir ITU do que
hospitalar.
os homens sendo 30% sintomáticas
ao longo da vida. Porém, a incidência
de ITU aumenta nos homens acima
de 50 anos, relacionada a doenças
prostáticas.

Figura 1. Infecção do trato urinário (Fonte: https://


www.drjesuspires.com/infeccao-urinaria)
INFECÇÃO TRATO URINÁRIO 4

Figura 2. Epidemiologia da infecção urinária (MANUAL DE UROLOGIA, 2010).

Como é possível identificar na ima- realizar medidas profiláticas. Podem


gem acima, uma parcela relevante da ser classificadas quanto: ao sítio ana-
população pode desenvolver o qua- tômico, a provável origem do pató-
dro de bacteriúria assintomática, situ- geno, a presença ou não de compli-
ação que veremos com mais detalhes cação, a presença ou não de cateter,
a seguir, prevalente em grávidas e, no a presença ou não de sintomas e a
sexo masculino, mais frequente em recorrência do quadro.
idosos, cateterismo vesical. Quanto ao sítio anatômico pode ser
uma infecção do trato urinário bai-
2. CLASSIFICAÇÃO xo (cistites) ou do trato urinário alto
(pielonefrites). No que diz respeito
As ITU são classificadas em diferen- a origem do patógeno, este pode ser
tes categorias, o que contribui para advindo da comunidade caracterizan-
melhor compreensão do quadro clíni- do uma ITU comunitária ou hospitalar
co, tratamento a ser oferecido, prog-
nóstico, bem como se é necessário
INFECÇÃO TRATO URINÁRIO 5

quando o patógeno é adquirido em Fala-se em ITU associada a cateter


ambiente hospitalar. se refere àquela que ocorre em pes-
Ao longo do tempo a classificação de soas em uso de cateterismo do trato
ITU complicada tem sofrido algumas urinário ou que tenha feito uso de
modificações conceituais. Isso porque cateter nas últimas 48h, estes pa-
alguns autores consideram ITU com- cientes podem apresentar sintomas
plicada aquela infecção do trato tanto do trato urinário alto como bai-
urinário com repercussões sistêmi- xo, podendo haver além disso obstru-
cas que está associada a algumas ção do cateter. Já a classificação rela-
condições pré-existentes do indiví- tiva a recorrência determina que ITU
duo que podem resultar em maior (complicada ou não) que ocorre pelo
dificuldade no tratamento: anor- menos 3 vezes ao ano ou 2 episó-
malidades urológicas subjacentes dios nos últimos 6 meses. Para as
(nefrolitíase, estenoses, obstruções, infecções recorrentes, como veremos
etc.), doenças sistêmicas (diabetes a seguir, existem algumas medidas
mellitus, imunossupressão, insufici- de profilaxia que podem ser adotadas
ência renal crônica, transplante renal). de modo a reduzir esta frequência de
Porém, outros autores consideram episódios.
que ITU complicada seria aquela em
que há presença de sinais sistêmicos CONCEITO! ITU recorrente é aquela
(febre, calafrios, fadiga) associado ao que ocorre pelo menos 3 vezes ao ano
ou quando ocorre 2 episódios nos últi-
sítio de infecção no trato urinário in-
mos 6 meses.
dependente das condições clínicas
prévias do paciente, logo, por esta
definição, toda pielonefrite é consi-
dera uma ITU complicada e nem todo
paciente com condições clínicas pre-
existentes será classificado como ITU
complicada se não apresente sinais e
sintomas de infecção sistêmica. Aqui
usaremos a primeira definição por ser
a mais utilizada e difundida.

SE LIGA! ITU complicada pode ser, com


frequência, suspeitada em pacientes
que possuem febre sem sinais localiza-
tórios ou sepse de sítio desconhecido.
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MAPA MENTAL CLASSIFICAÇÃO

Presença de sonda
3 vezes ao ano ou 2
vesical ou uso nas
episódios em 6 meses
últimas 48h

ASSOCIADA
RECORRENTE
A CATETER
Dor lombar,
Disúria, polaciúria,
Giordano + febre,
dor suprapúbica
náuseas e vômitos

TRATO URINÁRIO TRATO URINÁRIO


BAIXO ALTO

ITU

COMPLICADA

Sintomas sistêmicos +
condições pré-existentes
(anormalidades
urológicas e
comorbidades)

3. FATORES DE RISCO E vistas anteriormente. Em seguida,


AGENTES ETIOLÓGICOS os patógenos gram-negativos mais
prevalentes são Klebsiella sp e Pro-
A ITU geralmente é causada por bac-
teus mirabilis. No entanto, em mu-
térias gram-negativas (BGN) originá-
lheres com vida sexual ativa o coco
rias da flora intestinal, de modo que a
gram-positivo Staphylococus sa-
Escherichia coli é o principal agente
prophyticus é o segundo patógeno
causador em todas as classificações
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causador de ITU e, em alguns casos,


patógenos menos frequentes tam- CONCEITO! As bactérias gram-negati-
bém podem estar presentes como a vas são as principais responsáveis pelas
ITU sendo a E. coli a principal respon-
Chamydia trachomatis, Ureaplasma
sável. O S. saprophyticus é o segundo
urealyticum, Neisseria gonorrhoeae mais prevalente em mulheres com vida
e herpes vírus. No contexto hospita- sexual ativa. E, em ambiente hospitalar
lar, deve-se atentar para a prevalên- deve-se atentar para a possibilidade de
infecção por Pseudomonas sp., Entero-
cia maior de Pseudomonas sp., Ente- coccus e S. aureus.
rococcus e Staphylococcus aureus.
Esses patógenos, na maioria das
infecções, acessam as estruturas Porém vale ressaltar que, não somen-
do aparelho urinário ascendendo a te a presença do patógeno resulta na
partir da uretra chegando até a be- ocorrência de ITU. Na fisiopatologia
xiga e parênquima renal. Além da via da doença correlacionam-se tanto a
ascendente, a via hematogênica, ape- virulência do patógeno quanto fato-
sar de não ser a principal é responsá- res predisponentes do hospedeiro
vel por uma parcela destas infecções que permitem então uma maior sus-
sobretudo em pacientes apresentam cetibilidade à ocorrência da doença.
obstrução ao fluxo urinário.

SAIBA MAIS!
Pacientes em uso de corticoides, quimioterapia ou que possuam patologias que deprimem
o sistema imunológico constituem grupo de risco para desenvolver ITU. Fonte: Medicina de
Emergências da USP, 2019.

• Virulência: A mucosa vesical é bacterianas atuam melhorando


rica em mucina, substância que sua motilidade (flagelo), induzindo
visa dificultar a aderência das a formação de poros na membra-
bactérias na região. No entanto, a na celular (produção hemolisina),
virulência bacteriana ou capacida- conferindo resistência à fagocito-
de de adesão da bactéria, diz res- se (cápsula), produzindo determi-
peito exatamente a capacidade do nantes antigênicos (antígeno O) e,
patógeno em romper esta camada especialmente permitindo a ade-
de mucina e aderir à camada mu- são irreversível da bactéria aos
cosa ou célula urotelial. Para que componentes da célula epitelial
isto se concretize, as estruturas (fímbrias).
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pelve renal favorecendo o refluxo


vesicoureteral.

CONCEITO! O refluxo vesicoureteral


consiste no retorno da urina da bexiga
aos ureteres e até mesmo a pelve renal,
sentido este que não é o usual já que em
condições normais a urina sai do rim e
chega até a bexiga para ser excretada.

Quanto ao sexo masculino, este pos-


sui maior predisposição à infecção
quando na presença de prostatite
Figura 3. Estrutura da bactéria gram-negativa (MANU-
AL DE UROLOGIA, 2010) e obstrução ureteral por hipertrofia
prostática. E ainda, a realização de
intercurso anal também favorece o
• Sexo feminino: Como já foi dito, desenvolvimento de cistite no sexo
a uretra feminina além de mais masculino.
próxima do ânus é mais curta, o
que a ascensão das bactérias que
costumam estar presentes na re- • Obstrução do trato urinário: Fato-
gião retal como a E. coli. Além dis- res que interferem no fluxo uriná-
so, a atividade sexual pode favore- rio podem resultar em estase uri-
cer a entrada das bactérias e, o uso nária, favorecendo a proliferação
de espermicidas por alterarem o bacteriana e distensão vesical. Tais
pH e a flora do introito vaginal fatores podem ser desde estenose
está associado ao aumento das uretral, hipertrofia prostática até
infecções por E. coli e consequen- mesmo litíase e tumores no trato
temente da incidência de cistites. urinário.
Quanto às gestantes, alguns fa- • Bexiga neurogênica: Pacientes
tores são predisponentes pela fre- com lesão da medula espinhal,
quência de ITU sintomática ou não, esclerose múltipla e diabetes
são eles: modificação da posição mellitus costumam apresentar
da bexiga, aumento da capacidade ITU devido a disfunção motora da
vesical devido à redução do tônus bexiga gerando estase urinária e
da bexiga, relaxamento da mus- muitas vezes necessidade de ca-
culatura da bexiga e ureter, assim teterização favorecendo a possi-
como a dilatação deste último e da bilidade de proliferação e infecção
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de bactérias no trato urinário. Além o que pode acarretar em maior


disso, devido ao fato desses pa- incidência de nefrolitíase, geran-
cientes por vezes passarem muito do maior predisposição a ITU pelo
tempo acamados aumenta a pre- mecanismo obstrutivo.
disposição para reabsorção óssea

Hidronefrose

Litíase
Alterações na
motildade

Bexiga neurogênica

Causas infecção trato urinário.


Adaptado de Smart Servier

SAIBA MAIS!
A presença de diabetes mellitus (DM) acarreta em maior risco em desenvolver ITU compli-
cada, incluindo apresentações atípicas. Vários fatores estão relacionados a este maior risco:
controle glicêmico inadequado, duração da doença, microangiopatia diabética, disfun-
ção leucocitária secundária a hiperglicemia e vaginites de repetição. Além dos agentes
patogênicos já citados, pacientes com DM podem ter ITU causada por Acinetobacter spp.,
estreptococos do grupo B e cândida. Fonte: Medicina de Emergências da USP, 2019.
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FATORES DE RISCO E AGENTES ETIOLÓGICOS DAS INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO.

FATORES
DE RISCO

Obstrução do
Sexo Feminino Bexiga neurogênica
trato urinário

Litíase, tumores, Diabetes, lesão


GESTANTE:
Uretra + curta e estenose ureteral, medula, esclerose→
modificações
próxima ao ânus hipertrofia prostática → DISFUNÇÃO MOTORA
anatômicas
ESTASE URINÁRIA DA BEXIGA → ESTASE

AGENTES
ETIOLÓGICOS

Virulência Principais patógenos Infecção nosocomial

Capacidade de adesão
E. coli, S. Pseudomonas sp.,
bacteriana.
saprophyticus, Enterococcus e
Fímbrias: adesão
Klebsiella sp S.aureus
irreversível

4. QUADRO CLÍNICO podemos elencar alguns sintomas


mais sugestivos de infecção do trato
O quadro clínico da ITU é variável
urinário baixo, configurando então as
como foi possível perceber quando
cistites, e, a partir de outros sintomas
citamos as diversas classificações
pensar no diagnóstico clínico de pie-
possíveis para o mesmo. No entanto,
lonefrites ou de ITU alto. Ao ter em
apesar da diversidade de sintomas
mente a anatomia do trato urinário,
INFECÇÃO TRATO URINÁRIO 11

fica um pouco mais simples ter em para o quadro clínico de pielonefri-


mente qual quadro clínico é mais su- te tais como febre, vômitos e náuse-
gestivo de uma condição ou outra. as. Além destes, o sinal de Giordano
(punho percussão da loja renal) positi-
vo, dor lombar. A pielonefrite pode ser
Cistite: oligossintomática, principalmente em
Sintomas de disúria (dor ou dificulda- grupos como as gestantes, havendo
de de micção) associado a polaciúria, também superposição com os sinto-
urgência miccional, dor em região su- mas de cistite. É importante avaliar o
prapúbica e hematúria. Idosos podem estado geral do paciente e considerar
ter apresentações atípicas como al- internação uma vez que haja sus-
teração do nível de consciência e/ou peita de pielonefrite complicada
alterações do comportamento. devido ao risco de progressão para
um quadro de sepse.

Pielonefrite:
É importante ressaltar que a sinais
e sintomas sistêmicos direcionam

Figura 4. Sinal de Giordano: Dor lombar a punho percussão da loja renal (Fonte: https://medpri.me/upload/texto/texto-
-aula-1124.html).
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ITU associada a cateter: 5. DIAGNÓSTICO


Nesta situação a febre é também um A avaliação por meio da anamnese
sinal comum, muitas vezes associa- e exame físico é fundamental para
da a desconforto no flanco ou supra- o diagnóstico. Inclusive, aqueles pa-
púbico, sensibilidade no ângulo cos- cientes que apresentam sinais e sin-
tovertebral e obstrução do cateter. tomas de cistite e que não apresen-
Pacientes com lesão medular podem tam nenhum fator de risco para ITU
apresentar sintomas inespecíficos e complicada, sequer necessitam ser
atípicos como espatiscidade, mal-es- avaliados por meio de exames com-
tar e letargia. Já indivíduos que reti- plementares para proceder com o
raram o cateter recentemente e evo- tratamento pensando naqueles pa-
luem com ITU costumam ter disúria, tógenos mais prevalentes que já co-
frequência e urgência. mentamos. Abaixo, segue em quais
situações deve-se solicitar urocultura
CONCEITO! ITU associada a cateter é para pacientes com cistite:
aquela que acontece em pacientes em
uso de cateterismo do trato urinário ou
que fizeram uso deste nas últimas 48h.

Dor abdomi-
Sintomas Sintomas sugestivos de Hematúria franca em
Febre nal, náuseas Imunossupressão
> 7 dias vaginite pacientes > 50 anos
e vômitos

Alterações urológicas, Internação


Diabetes Tratamento para ITU ITU sintomática
Gestação doença renal crônica ou hospitalar há
mellitus há 2 semanas recente
litíase renal 2 semanas

Tabela 1. Indicação de urocultura em pacientes com cistite (Fonte: Medicina de Emergências da USP, 2019).

A urocultura é o exame que define o antibiótico elegendo para o trata-


diagnóstico de ITU devendo ser so- mento aquele mais adequado para o
licitada com antibiograma para ava- patógeno isolado em cultura. A coleta
liar o perfil de sensibilidade do res- da urocultura pode ser feita através
pectivo patógeno para os agentes do jato médio da urina após higiene
microbianos. O ideal é realizar a co- íntima da região. O resultado é posi-
leta da urocultura antes do início do tivo quando encontra-se uma con-
antibiótico empírico e, uma vez que tagem ≥ 105 Unidades Formadoras
se tenha o resultado do exame com de Colônia por mL (UFC/mL). Quan-
antibiograma é possível “descalonar” do a coleta da urocultura é realizada
INFECÇÃO TRATO URINÁRIO 13

por meio de punção suprapúbica pode-se considerar o diagnóstico na


ou quando é realizada em mulheres presença de 102 UFC/ml.
com sintomas altamente sugestivos,

Figura 5. Coleta jato médio da urina (Fonte: http://www.bioanalise.com.br/blog/orientacoes-sobre-sumario-de-urina-


-e-cultura-de-urina/ ).

Figura 6. Punção suprapúbica (Fonte: http://cuidarnaenferma-


gem.blogspot.com/2017/04/sondagem-vesical.html).
INFECÇÃO TRATO URINÁRIO 14

Vale ressaltar que, naqueles pacien- encaminhada para a cultura as bac-


tes em uso de cateter vesical, a cole- térias presentes no biofilme que se
ta da urina para urocultura jamais forma ao redor do cateter quando o
deve ser realizada a partir da bolsa mesmo já está na bexiga. No entanto,
coletora que armazena a urina. Ide- quando não é possível realizar a téc-
almente, deve-se retirar o cateter em nica acima, pode ser feita a coleta da
questão e tentar coletar a urina ob- urina para amostra através da porta
tendo uma amostra que correspon- do cateter destinada a aspiração, de-
deria ao “jato médio”. O ideal é que o vendo a mesma ser limpa antes do
cateter seja substituído antes de rea- procedimento, conforme vemos na
lizar esta coleta para evitar que seja imagem abaixo:

Figura 7. Coleta de amostra para


urocultura em paciente em uso de
sonda vesical (Fonte: SHAH et al,
2005).
INFECÇÃO TRATO URINÁRIO 15

O diagnóstico de bacteriúria assinto- em piúria. A presença de piúria é um


mática é exclusivamente microbiológi- achado universal tanto em casos de
co com base, portanto, no resultado da cistite, quanto nos de pielonefrite, logo,
urocultura. Esta condição costuma ser na ausência deste achado é importan-
comum em gestantes (aproximada- te pensar em diagnósticos alternativos
mente 10%), diabéticos e idosos, mas é para o quadro clínico do paciente.
indicado o tratamento de bacteriúria Quanto aos exames de imagem, os
assintomática apenas nas seguintes mesmos devem ser solicitados em
condições: gestantes, neutropênicos, caso de ausência de melhora da febre
transplantados de órgãos sólidos ou após 72h, ITU recorrente ou quando
pré-operatório de cirurgias urológi- se suspeita de complicações, como
cas ou colocação de próteses. por exemplo os abscessos. Pode ser
Pode também ser realizada, de forma solicitada ultrassonografia que per-
mais simples a análise da urina por mite visualização de cálculos, cistos e
meio do sumário de urina/urina tipo 1, abscessos. Ou tomografia que, apesar
com isso, alguns sinais sugerem infec- de ser menos solicitada também auxi-
ção no resultado: leucocitúria, nitrito po- lia na melhor visualização destes pro-
sitivo e hematúria. Quando a contagem cessos patológicos.
dos leucócitos está >10/mL fala-se

SAIBA MAIS!
A Sepse Urinária é uma disfunção de múltiplos órgãos com ameaça à vida causada por uma
resposta desregulada à infecção do trato urinário. O escore qSOFA deve ser realizado na ten-
tativa de identificar os pacientes com ITU que possuem maior probabilidade de progressão
para disfunção orgânica, este escore pontua de 0-3 sendo os parâmetros: PA sistólica ≤ 100
mmHg/ Glasgow < 15/ FR ≥ 22 ipm. Pacientes com ITU e qSOFA ≥ 2 devem seguir a inves-
tigação para sepse com coleta de urocultura e 2 hemoculturas, uso de antibiótico de amplo
espectro, dosagem de lactato, avaliação da necessidade de ressuscitação volêmica e droga
vasoativa.Fonte: European Association of Urology, 2018.

6. TRATAMENTO avaliar o estado geral do paciente, se


o quadro clínico é mais sugestivo de
Diante de um paciente em que há sus-
cistite ou pielonefrite e presença ou
peita de ITU por meio do quadro clíni-
não de sonda vesical. Vale ressaltar
co é preciso de antemão realizar trata-
que, pacientes com pielonefrite em
mento empírico até que se obtenha o
que não seja indicada internamento,
resultado da urocultura e antibiograma.
deve receber a 1ª dose do antibióti-
Para escolha do tratamento deve-se
co endovenoso ainda no serviço de
INFECÇÃO TRATO URINÁRIO 16

emergência, seguindo as outras do- a cateter, antes do início do tratamen-


ses ambulatorialmente. Além disso, to medicamentoso é recomendada a
é preciso escolher um antimicrobiano retirada da sonda vesical e avaliação
que concentre bem em via urinária. E se há persistência da bacteriúria após
ainda, é importante saber o perfil de 48h. Havendo persistência da bacte-
resistência ao sulfametoxazol+trime- riúria, o tratamento deve ser iniciado
tropim (SMX-TMP), pois o mesmo em com duração 10-14 dias com base
alguns locais apresenta alta resistên- na urocultura. Caso o paciente não
cia bacteriana, devendo ser utilizado possua infecção por gram-positivo o
apenas em locais onde a resistência tratamento pode ser feito com Cef-
seja < 20%. triaxone 2g/dia ou Ciprofloxacina 400
Atenção redobrada deve ser dada às mg, EV, 10/10h. Em caso de suspei-
mulheres com sintomas de ITU, de- ta de Pseudomonas deve-se utilizar
vendo-se realizar o teste do betahCG Ceftazidima 2g, 8/8h, já se houver
para confirmação de gravidez, pois suspeita de Enterococos pode ser uti-
o tratamento a ser realizado para lizada Vancomicina 1h, 12/12h. Caso
gestantes é diferenciado. não seja possível retirar a sonda
o tratamento deve ser iniciado de
Já no que diz respeito ao tratamento imediato de modo presuntivo.
dos pacientes com infecção associada

CISTITE
Nitrofurantoína 100mg, VO, 12/12h, 5 dias (1ª escolha!) ou
SMX-TMP 160-800mg, VO, 12/12h 3 dias (A depender da resistência local!) ou
Fosfomicina 3g, VO, dose única (Eficácia menor. Evitar se possível pielonefrite).

• Para homens o tratamento deve ter duração de 7 dias!


• Gestantes devem ter como opção: Cefalexina ou Amoxicilina por 7 dias.
• Idosos: Ciprofloxacina 250mg, VO, 12/12h, 3 dias.

PIELONEFRITE
Ciprofloxacina 440mg IV ou 550mg VO, 12/12h, 7 dias ou
Ceftriaxone 1-2g, IM ou IV, 1x/dia ou
Amicacina 15mg/kg IM ou IV.

VO= via oral, IM= intramuscular, IV= intravenoso.


INFECÇÃO TRATO URINÁRIO 17

FLUXOGRAMA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

Cistite Achados de gravidade?


SUSPEITA
DE ITU

Pielonefrite?

Neutropênico,
transplantados,
Disúria, polaciúria, Dor lombar, febre,
anormalidades
dor suprapúbica náuseas e vômitos
urogenitais,
comorbidades

Hemoculturas
Avaliar estado geral
TTO intravenoso
Possibilidade de (precisa internar?).
Hemograma, eletrólitos,
gravidez? Urina 1
função renal.
Urocultura
USG vias urinárias.

SIM NÃO

Não solicitar exames!


Urina 1 TTO: Nitrofurantoína TTO: Ciprofloxacina
Urocultura por 3 dias 14 dias, 1ª dose na
BetahCG Se homem: tratar Emergência ou internar.
por 7 dias

Sem melhora após


TTO: Cefalexina
72h de TTO?
por 7 dias
ITU recorrente?

Exame de imagem

Diagnóstico e tratamento da ITU. Le-


genda: TTO= tratamento; USG= ultras-
sonografia (Com base no Medicina de
Emergência da USP, 2019. Adaptado.)
INFECÇÃO TRATO URINÁRIO 18

7. MEDIDAS PREVENTIVAS semana ou Nitrofurantoína 50mg/


COM EVIDÊNCIA dia ou Cefalexina 250mg/dia.
Algumas medidas atualmente pos- • Profilaxia pós-coito: igual aos an-
suem evidências para profilaxia de tibióticos utilizados na profilaxia
ITU direcionada para aqueles pacien- geral;
tes, principalmente mulheres, que • Profilaxia em gestantes: Nitrofu-
possuem ITU recorrente (> 3 episó- rantoína 50-100mg ou Cefalexina
dios em 1 ano ou > 2 episódios em 6 250-500mg pós-coito ou antes de
meses), são elas: dormir. Se fator de risco para pie-
• Ingestão oral de fluidos com lonefrite: usar profilaxia desde a
frequência; 1º ITU da gestação;
• Aumentar a frequência de micções • Uso de creme vaginal com estró-
(a cada 2-3h); geno para mulheres na menopau-
sa com ITU recorrente;
• Evitar uso de espermicidas como
método anticoncepcional; • Retirada precoce de sonda vesicais;
• Profilaxia medicamentosa: SMZ- • Evitar cateterização vesical.
-TMP 200mg/40mg 1x/dia ou 3x/
INFECÇÃO TRATO URINÁRIO 19

ALTA Mulheres Litíase, estenose


(pielonefrite): Giordano (principalmente: vida ureteral, hiperplasia Diabetes
positivo, dor lombar, febre sexual ativa e gestantes) prostática

RECORRENTE:
3 vezes ao ano ou 2
FATORES DE RISCO
episódios em 6 meses

ASSOCIADA A CATETER: CISTITE: Nitrofurantoína ou


Presença de sonda vesical SMX-TMP por 3 dias.
ou uso nas últimas 48h Se homem: tratar por 7 dias.

COMPLICADA: Anomalias PIELONEFRITE: Ciprofloxacina


CLASSIFICAÇÃO TRATAMENTO
urológicas ou comorbidades ou Ceftriaxone por 7-14 dias.

SE SONDA: Retirar e avaliar


BAIXA após 48h → se não melhorar o
(cistite): disúria, polaciúria, dor quadro, iniciar ATB.
suprapúbica, hematúria
PROFILAXIA EXAMES

Aumentar ingesta de líquidos. Não pedir se: cistite em


Urina1/ Sumário mulher sem fator de risco
para complicação.
Não usar espermicida.

Estrógeno vaginal para mulheres menopausadas. Urocultura SE ASSINTOMÁTICA,


Bacteriúria: ≥ 105 UFC SÓ TRATAR SE:
Neutropênicos, gestantes, pré-
Evitar cateterização vesical e retirar o mais breve possível. operatório de cirurgia urológica
USG OU TC: ou colocação de prótese,
se não houver melhora transplantados órgãos sólidos.
Antibióticos. após 72h de ATB.
INFECÇÃO TRATO URINÁRIO 20

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
NETO, R.A.B & LEVY, A.S.S. Infecção do trato urinário in: Medicina de emergência: aborda-
gem prática. 13. ed.,rev.- Barueri [SP]: Manole, 2019.
UROLOGIA FUNDAMENTAL. São Paulo: Planmark, 2010.
MARTINS, A. & MACEDO, E. Infecções do trato urinário in: Clínica Médica, volume 3. 1ª
Edição. Editora: Manole, 2009.
EUROPEAN ASSOCIATION OF UROLOGY. Pocket Guidelines. Versão para língua portu-
guesa (Brasil). Edição 2018.
INFECÇÃO TRATO URINÁRIO 21

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