Luciferianismo 3

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Fim do Talvez também te interesse

No dia seguinte, tive uma grande briga com a minha mãe, e aí me

tranquei no quarto e comecei a esculpir um pentagrama - o símbolo

da Igreja do Satã - no meu braço. Sangrou bastante, mas isso não

me impediu de continuar. Eu queria cicatrizar meu corpo para

sempre.
As pessoas interpretam isso de formas diferentes, mas para mim o

satanismo era sobre amar a si mesmo às custas dos outros. Em um

sentido filosófico, não tem muito a ver com "adoração ao diabo". A

maioria dos satanistas acredita em fazer tudo que estiver ao seu

alcance para conseguir aquilo que eles querem da vida. Ceder a

desejos como sexo, comida e bebida é algo encorajado. Isso gera

egoísmo dentro de você, que é o que te torna tão obscuro - tanto para

você quanto para os que estão ao seu redor. Colocar-se em primeiro

lugar o tempo todo e não se importar com os outros é algo solitário.

Mas, naquela época, eu sentia que o Deus cristão com o qual eu

cresci, que deveria ser bom, não parecia se importar com o meu

sofrimento. Eu estava me magoando, me rebelando com bebidas e

drogas. A marca do cristianismo suburbano dos meus pais não me

ofereceu nenhum consolo. Parecia que a solução era simplesmente

fingir que estava tudo bem; não havia espaço para trevas ou

controvérsias. Foi aí que eu rejeitei isso.

O satanismo me dominou. Virou minha vida. Eu desenhei o

pentagrama em todo lugar, nos meus livros da escola e no meu

corpo. Meus amigos e minha namorada estavam assustados - eles


achavam que eu estava indo longe demais. Eu era bem popular no

colégio e me vi totalmente sem amigos depois disso.

Eu costumava me cortar também de vez em quando. Chegava a

parar, mas começava a fazer isso de novo quando meu

relacionamento ficava mais conturbado.

Até que em uma noite eu sonhei que o diabo estava de pé na frente

da minha cama. Ele estava bem vestido, falava bonito, era como um

personagem do filme do Sherlock Holmes. Ele apenas ficou ali e

disse: 'você vai terminar suas provas e aí vai morrer'. Eu pensei:

'Caramba, isso é horrível!'. E a partir daí eu comecei a fazer acordos

com o demônio. Se eu roubasse alguma coisa, como uma bebida,

dos meus pais, se fosse sincero com as meninas com quem eu só

queria transar ou se fizesse as pessoas brigarem umas com as

outras, eu poderia continuar vivendo. Eu era uma pessoa bem

carinhosa até então, mas, a partir daí, me tornei um grande

manipulador.

Benedict Atkins
CRÉDITO,REBECCA HENDIN / GETTY / BBC THREE

Depois de um tempo, comecei a ter pesadelos terríveis e percebi que

estava ficando um pouco perturbado. Em determinado momento,

perguntei pra mim mesmo: 'Será que eu estou realmente

conversando com o diabo?'. Meu relacionamento com minha

namorada ficou destruído, eu me voltei contra a minha família e perdi

quase todos os meus amigos. Passei a me sentir totalmente isolado

e não tinha ninguém a quem recorrer, a não ser ao diabo. Aí minhas

provas acabaram, e eu continuei vivo. De repente, ficou muito claro

para mim: ele era um mentiroso.

A salvação veio de uma forma pouco provável. Uma amiga da minha

irmã, que por acaso era filha do vigário local, me convidou para um

festival cristão. Era um evento de uma semana no interior. Para ser

bem sincero, eu fui porque achei que poderia conhecer mulheres

bonitas lá. Mas fiquei surpreso ao ver que ali estava cheio de pessoas

que, como eu, estavam infelizes com o cristianismo tradicional.

Na última noite do festival, eu estava ouvindo uma palestra sobre

como reconhecer quando você chega ao fundo do poço, quando um

estranho se ofereceu para orar por mim. Eu não sabia o que dizer,
então concordei. Enquanto ele estava orando, senti uma paz inundar

meu corpo. Depois, o homem disse que, embora eu sentisse que não

havia esperança na minha vida, Deus tinha um plano para mim e

Satanás era um mentiroso.

Fui para casa me sentindo livre e otimista pela primeira vez em muito

tempo. Decidi dar uma nova chance ao cristianismo, mas não só

aceitando tudo sem questionar, como eu tinha aprendido antes.

Comecei a sair com algumas pessoas que eu conheci na igreja dos

meus pais, que, assim como eu, estavam interessadas em algo mais

do que apenas sentar ali por horas para ouvir os sermões

tradicionais.

Devagar, eu aprendi a não usar as pessoas pelo dinheiro ou pelo

sexo, como o satanismo havia me ensinado. No parque onde eu

andava de skate, rolava o papo de que eu tinha "nascido de novo".

Alguns amigos me apoiaram, mas ficou difícil continuar fazendo parte

de um cenário tão hedonista.

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