Monografia Ana

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 79

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO E EDUCAÇÃO SUPERIOR


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA - HDI

ANA MARIA FERREIRA DE OLIVEIRA

SOB O SIGNO DA CRUZ, A MALHADA VERMELHA


FLORESCE: a origem de Paripiranga nas memórias
paroquiais de (1840-1900)

Aracaju/SE
2016
ANA MARIA FERREIRA DE OLIVEIRA

SOB O SIGNO DA CRUZ, A MALHADA VERMELHA


FLORESCE: a origem de Paripiranga nas memórias
paroquiais de (1840-1900)

Monografia apresentada no curso de


graduação em História, da Universidade
Federal de Sergipe, como pré-requisito para
a obtenção do título de graduada em
História.

Orientadora: Prof.ª. MSc. Maria Nely S. Ribeiro

Aracaju/SE
2016
ANA MARIA FERREIRA DE OLIVEIRA

SOB O SIGNO DA CRUZ, A MALHADA VERMELHA FLORESCE: a


origem de Paripiranga nas memórias paroquiais de (1840-1900)

Monografia apresentada à Coordenação de


Prática de Pesquisa, designada pelo
Departamento de História da Universidade
Federal de Sergipe; como um dos pré-
requisitos para obtenção do título de graduada
em História.

Lagarto, 10 de setembro de 2016

EXAMINADORES

Profª. MSc. Maria Nely S. Ribeiro


UFS

Prof. MSc. Uílder do Espírito Santo Celestino


UFS
Aos meus pais, Maria Ferreira de Oliveira e Antônio Ferreira de
Oliveira; pela simples, porém rica educação e valores mim
dedicados. E mesmo desejando que eu seguisse outro destino,
compreenderam, e a seu modo, apoiaram minhas escolhas.

Aos meus irmãos e irmãs, que de inúmeras maneiras contribuíram


para a minha formação como pessoa e como profissional.

À Professora Anailta Dias Rabelo, por suas inesquecíveis aulas de


História; que despertaram em mim e em tantos outros, o amor pela
Historiografia. Obrigada por ser a inspiração dessa trajetória, como
exemplo de educadora e profissional dedicada a seu ofício.
AGRADECIMENTOS

A Deus, ser infinito que me guiou ao longo dessa jornada.


Aos orientadores: Professor Uílder do Espírito Santo Celestino, que de forma
muito competente e gentil, conduziu os processos finais de construção desse
trabalho; e à Profª. Maria Nely S. Ribeiro, por sua generosidade na partilha do saber.
Muito obrigada por me acolher como sua orientanda! A senhora é inspiração para os
que buscam o profissionalismo, o sucesso e a competência no universo da pesquisa
e produção científica. Seguirei seus ensinamentos.
A todos os professores, pelos momentos compartilhados nessa jornada de
construção de novos conhecimentos.
Aos amigos e colegas de trabalho, pelo incentivo e palavras de afeto, em
especial a Vanessa Nascimento Souza, pela amizade sincera, pelo companheirismo,
e por seu exemplo de superação que nos inspira a sermos e fazermos sempre o
melhor.
Ao Centro Universitário UniAGES, pela disponibilização de todo o acervo do
Laboratório de Ensino e Pesquisa em História, que foi fundamental no
desenvolvimento das pesquisas que culminaram a construção desse trabalho.
Às paróquias de Nossa Senhora do Bom Conselho em Cícero Dantas, e de
Nossa Senhora do Patrocínio em Paripiranga, que muito gentilmente permitiram
acesso ao acervo de manuscritos.
A todos que de forma direta ou indiretamente contribuíram para a realização
desta pesquisa, os meus sinceros agradecimentos!
“A incompreensão do presente nasce
da ignorância do passado”.

Marc Bloch
RESUMO

A cidade de Paripiranga localizada na mesorregião do Nordeste baiano, na


microrregião de Ribeira do Pombal; numa área fronteiriça com o estado de Sergipe;
surgiu como núcleo povoado em meados de 1846, com a construção da Capela de
Nossa Senhora do patrocínio, por iniciativa dos colonos locais. O presente trabalho
tem como proposta abrir uma discussão acerca dos processos históricos que
condicionaram o povoamento da cidade de Paripiranga, tendo como base de estudo,
as memórias paroquiais, registradas nos documentos das paróquias de Nossa
Senhora do Patrocínio em Paripiranga e a de São João Batista em Cícero Dantas,
uma vez que até o ano de 1888, as duas paróquias estavam unidas por questões
territoriais e administrativas. O resultado das pesquisas nos acervos documentais
das paróquias, Memoriais e Núcleos de Documentação da cidade e seus arredores;
na coleta de dados, pistas que sustentes as informações prévias, salientam a
importância e o papel da Igreja Católica nas atividades de ocupação da terra e na
formação dos núcleos de povoamento, como mediadora dos processos de
organização sociocultural e administrativa do lugar.

Palavras-Chave: Memórias Paroquiais. Povoamento. Paripiranga.


RESUMEN

La ciudad de Paripiranga ubicada en la región media de Bahía Noreste, en el micro


Ribeira de Pombal; en una zona fronteriza con el estado de Sergipe; Surgió como
centro del pueblo, a mediados de 1846, con la construcción de la Capilla de Nuestra
Señora de patrocinio por iniciativa de los colonos locales. En este trabajo se
pretende abrir un debate sobre los procesos históricos que han condicionado la
población de la ciudad de Paripiranga, con la base de estudio, los recuerdos
parroquiales, grabado en los documentos de las parroquias de Nuestra Señora del
Patrocinio en Paripiranga y San Juan Bautista en Cicero, ya que por el año 1888, las
dos parroquias estaban unidos por cuestiones territoriales y administrativos. El
resultado de la investigación en los fondos documentales en parroquias,
Monumentos y Centros de Documentación ciudad y sus alrededores; la recopilación
de datos, pistas que sustentes información previa enfatizar la importancia y el papel
de la Iglesia Católica en las actividades de ocupación del suelo y la formación de
núcleos de población, como mediador de la organización socio-cultural y
administrativa de los procesos lugar.

Palabras Clave: Memorias de la parroquia. Población. Paripiranga.


LISTA DE FIGURAS

1: Igreja de Nossa Senhora do patrocínio primeiros anos do século XX ................ 30


2: Mapa de limites da Paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio...........................23
3: Decreto de nomeação do Professor Marcionillo Pedreliano de Vasconcelos......38
4: Padre João de Matos Freire de Carvalho............................................................ 42

LISTA DE SÍGLAS

LEPH - Laboratório de Ensino e Pesquisa em História

UniAGES - Centro Universitário AGES

NEPH - Núcleo de Estudos em Pesquisa Histórica

LT - Livro de Tombo

LISTA DE FONTES

Jornal O IDEAL (1953-1960)


Arquivos da Paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio –
Paripiranga (1889-1945) Arquivos da Paróquia de Bom Conselho –
Cícero Dantas (1845-1945)
Acervo do Laboratório de Ensino e Pesquisa em História da UniAGES.
Acervo Digital da Biblioteca e do Arquivo Nacional – Relatórios dos Presidentes
de Província e do Conselho Interino de Estado.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 11

2 COM AS MÃOS NA TERRA E OS OLHOS VOLTADOS PARA O CÉU,


CONSTRÕE-SE A MALHADA VERMELHA. ........................................................... 14
2.1 A ocupação do sertão baiano no início do século XVIII............................ 14
2.2 O processo de povoamento de Paripiranga ............................................. 15

3 ASPECTOS CULTURAIS E ADMINISTRATIVOS DE MALHADA VERMELHA .

4 MATRIZ DE NOSSA SENHORA DO PATROCÍNIO: a igreja como centro da


vida cultural e instrumento de construção de identidade ................................... 30
4.1 Aspectos socioculturais de Malhada Vermelha ........................................ 39
4.2 Padre João de Matos e afirmação da força da Igreja da formação da
estrutura sociocultural de Paripiranga............................................................... 48

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 50

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 52

APÊNDICE ................................................................................................................ 55

ANEXOS ................................................................................................................... 76
11

1 INTRODUÇÃO

O estudo das memórias paroquiais registradas nos Livros do Tombo bem


como de outros documentos de registro interno, possibilita o contato com uma gama
de informações acerca dos processos administrativos e socioculturais que
conduziram o povoamento e formação de Arraiais e Vilas no sertão da Bahia. Em
Paripiranga, a forte influência da Igreja Católica na vida social e cultural dos
habitantes, resiste às complexidades inerentes ao tempo presente; como um forte
indício da atuação decisiva da Igreja na formação do Arraial de Malhada Vermelha 1,
que deu origem à cidade.
A paróquia é o espaço da sociedade onde se encontram registradas as
memórias culturais e religiosas dos pequenos Arraiais e Vilas que se formavam no
sertão baiano da segunda metade do século XVIII. Deste modo, os Livros do Tombo,
bem como todos os documentos paroquiais, constituem-se em fontes preciosas de
informação, dentro do processo de pesquisa científica. A carência de estudos
pautados em métodos científicos acerca das origens históricas de Paripiranga, que
se debrucem sobre os escritos das paróquias, e o descaso para com essas fontes,
são aspectos motivadores de pesquisa, e impulsionam o fazer historiográfico.
O recorte temporal em que se detém o estudo; compreende o período entre
1840-1900, correspondente à formação da povoação de Malhada Vermelha que deu
origem à cidade. Considera-se aqui, a necessidade de entendimento dos processos
históricos que condicionaram o surgimento da povoação; considerando o ano de
1840, como marco inicial de pesquisa, por se ratar do período que antecede à
construção da Capela de Nossa Senhora do Patrocínio; o que veio a ocorrer em
meados de 1846. Ao redor da capela desenrolaram-se os processos de
povoamento, organização social e administrativa de Paripiranga na segunda metade
do século XIX.
Assim como ocorreu com a maioria das cidades baianas e brasileiras, que se
formaram no período colonial; Paripiranga surgiu a partir de missões religiosas, com
intensa atuação da Igreja Católica nesse processo. O pároco assumia as funções de
líder religioso e político, sendo responsável pela demarcação dos limites de sua

1
Primeira denominação de Paripiranga no início do processo de povoamento, em decorrência da coloração avermelhada
das suas terras; ricas em ferro.
12

paróquia; que correspondiam aos limites da povoação e futuramente da cidade que


ali se desenvolvia. À medida que o interesse por história local vem se intensificando,
cresce também a procura por fontes que viabilizem o conhecimento do passado. Em
Paripiranga ainda não existem estudos mais aprofundados acerca de sua história; o
que se percebe é o esforço ufanista de alguns filhos da terra, em registrar suas
memórias, publicando-as para a posteridade; porém sem a preparação e o cuidado
necessário e exigido para as produções científicas.
O estudo dos LT, e a busca de informações acerca da formação territorial de
Paripiranga surgem como uma tentativa de contribuir para a iniciação científica, na
área da historiografia, tendo como foco o estudo e o conhecimento do passado de
cidade. Nesse sentido, os manuscritos do tombo interessam por traçarem perfil do
corpo eclesiástico e sua atuação essencial à configuração e organização da vida
paroquial e da vida social dentro dos “domínios” da paróquia.
As memórias fornecem alguns elementos diretos, relativos à natureza, à
expressão de conhecimentos, culturas, relações sociais e até políticas dos párocos
memorialistas; por cujas mãos nos aproximamos da paróquia, designadamente em
relatos sobre a sua origem, instrução e cultura; dignidades e benefícios, relações e
papéis político-sociais e até nível efetivo e afetivo de integração e empatia com as
comunidades que se formaram ao seu redor.
A envolvência que os párocos colocam na redação das memórias e
ultrapassam ou não uma resposta linear, é o resultado de muitos destes aspectos,
particular ou coletivamente considerados, mas também da sua adesão às tarefas
propostas. Tais relatos fornecem um conjunto de elementos que permitem fixar, à luz
das preocupações do clero, as paróquias nos seus quadros de vidas estruturais: a
aldeia (a comunidade de moradores ou vizinhos), com muitos dos elementos da sua
definição e identidade; as serras e os montes que a circundam e os rios que a
atravessam e interligam; onde se percebe a sociedade e seus processos históricos,
através do olhar da igreja. A paróquia não é um espaço quase exclusivo do poder e
ordem eclesiástica que se instala ativamente ao longo do tempo. A ordem e poder
da fé intentarão por todos os meios para estender suas influências e ordenamentos,
de modo que se constroem ali, ao seu redor, a freguesia civil.
A partir dos registros paroquiais, consciente ou inconscientemente, os
párocos fornecem muitos elementos para a fixação de identidades locais/paroquiais
e até regionais; expressas nas evocações das antiguidades da terra e seu
13

património; nos registros de traçados dos limites de seus domínios e, sobretudo, na


referência histórica ou memorialística ás figuras de alta representatividade social no
lugar No âmbito dos estudos acerca da formação de Paripiranga, tais aspectos
analisados nos registros do tombo, contribuem para o entendimento do município em
sua estrutura política, social e cultural; como uma cidade que nasceu da envolvência
social e irradiação geográfica de um grande caudal de gente, vindas das terras
vizinhas, que toma designações variadas, conforme a natureza e os objetivos; mas
que se mantêm unida por todos os elementos de religiosidade que contribuem para
a construção de uma identidade cultural sustentada nos laços da fé católica.
A pesquisa documental volta-se para a coleta e a análise de fontes escritas, e
atenta-se para a diversidade de registros manuscritos e impressos. No LT
encontram-se registros de atos, acontecimentos e procedimentos que compunham à
administração do núcleo religioso em estudo. A riqueza de detalhes, o capricho nos
registros; a “voz” e a letra do pároco estão muitas vezes compaginadas, em
referências diretas e indiretas, a respostas e sentimentos da comunidade no seu
conjunto. Elas volvem-se, deste modo, a apresentação das comunidades por si
próprias; comunidade da qual o pároco torna-se parte integrante, fundindo os
sentimentos e as referências comunitárias.
A pesquisa propiciou a coleta de dados mediante pesquisa junto ao acervo do
LEPH (Laboratório de Estudos e Pesquisas em História) da UniAGES, arquivos das
Paróquias de Nossa Senhora do Bom Conselho, e de Nossa Senhora do Patrocínio;
Relatórios de Trabalhos do Conselho Interino de Governo e Relatórios dos
Presidentes de Província da Bahia. De modo que a exploração e o confronto das
fontes conduziram a observação e identificação dos aspectos históricos que
envolvem povoamento e organização territorial do município de Paripiranga no
Período Imperial.
O desenvolvimento do estudo se deu a partir da análise dos escritos do LT e
demais documentos da Paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio, em Paripiranga,
se faz impulsionada pela busca por explicações e comprovações para os processos
históricos que condicionaram a formação do Arraial de Malhada Vermelha, bem
como o papel da igreja católica dentro desse processo; compreendendo o LT e os
demais escritos paroquiais, como importante registro documental do passado, e
considerando suas particularidades como resultado de impressões pessoais dos
padres, acerca da comunidade em que a igreja se insere.
14

2 COM AS MÃOS NA TERRA E OS OLHOS VOLTADOS


PARA O CÉU, CONSTRÕE-SE A MALHADA VERMELHA.

2.1 A ocupação do sertão baiano no início do século XVIII

O processo de ocupação do sertão baiano no qual se inclui Paripiranga se


deu pelo por consequência da distribuição de sesmarias e da prática da pecuária
extensiva; porém na região do Vaza-Barris, onde se localiza a cidade, o processo de
ocupação e exploração das terras sofreu alterações em decorrência dos aspectos
geográficos 2 e das ações da igreja católica.
Amorim (1996) 3 trata do monopólio da terra no Brasil, desde o processo de
povoamento, destacando os aspectos negativos desse processo no sertão baiano e
mais especificamente em Ribeira do Pombal. A prática da monocultura que castra as
forças produtivas e estimula o trabalho escravo. Esses aspectos são apresentados
na obra com causador de atraso cultural por provocar o encarceramento da grande
massa das populações rurais no sertão.
O universo rural em que cerca e sustenta as vilas surgidas no sertão baiano
onde a cana-de-açúcar constituiu a segunda fonte econômica, a primeira foi à
pecuária, é representado na obra de Amorim por Ribeira do Pombal; vila que se fez
e se sustentou à margem da riqueza e do poder dos senhores de engenho (os
coronéis); tendo como base de sustentação, o regime de grandes propriedades e
vastas plantações de cana-de-açúcar, onde a pecuária também tinha seu espaço
decisivo vital para o funcionamento da estrutura dos engenhos; uma vez que o
trabalho dos bois era fundamental no processamento e no transporte dos produtos
derivados da cana, bem como para a subsistência dos trabalhadores.
Em Caminhos Antigos e o Povoamento do Brasil Abreu (1930) redefine os
roteiros da época colonial mostrando como se dava a articulação das diversas
capitanias; retraça a configuração do território e abre novo campo para pesquisas
históricas. O autor traz novos conceitos e metodologia inovadora, das quais
comungam Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Jr; e provoca a
transformação do nosso olhar sobre a realidade do período.
2
Terras férteis para a prática da agricultura que aos poucos foi substituindo as pastagens e a prática da pecuária
3 AMORIM, Fernando. Memória histórica de Pombal. Ed. Art. Laros Serviços gráficos, ribeira do pombal/BA.
15

ARRAES (2012) 4 trata da urbanização do sertão nordestino entre os séculos


XVII e XIX, vinculando-a ao diálogo que chamado de curral de reses onde tece as
questões que envolvem o fenômeno urbano no interior do Nordeste açucareiro, no
que tange à atuação pecuária extensiva no processo de povoamento, garantia da
posse da terra e desenvolvimento de aglomerados urbanos que foram se formando
ao longo dos caminhos abertos pela pastagem do gado. Com o passar do tempo, as
essas trilhas passam a serem usadas pelas autoridades coloniais e clericais para
erguer aldeamentos missioneiros; que na visão do autor, corresponde aos Currais de
almas. Visando o bem material e espiritual da Igreja e da Ordem de Cristo e a
conversão dos nativos. Curral de almas busca esclarecer a ação da Igreja Católica,
unida ao Estado português, no que cerce a fixação e congregação tanto do índio
tapuia como dos sertanejos nômades (que "vadiavam" pelo território), primeiramente
em aldeamentos missioneiros, depois em núcleos urbanos estrategicamente locados
no território.

2.2 O processo de povoamento de Paripiranga

A evolução histórica de Paripiranga ocorre em vários períodos. O primeiro


período compreende a chegada dos índios primeiros habitantes da região, sendo
eles os Índios Tapuias, fundando nas Matas, o Aldeamento da “Cerca Verde”. O
segundo compreende a penetração dos colonos, com a distribuição de Sesmarias.
No século XVII, o senhor de terras e bandeirante Garcia de Ávila Pereira
amplia seus currais e obtém sesmarias que o tornaram o maior proprietário de terras
da colônia. Suas terras partiam da Bahia de Todos os Santos até o Ceará. Dominou
todo o sertão baiano, incluindo as terras que hoje correspondem ao município de
Paripiranga, mais ao sul.
Segundo Santana Jr. (2005), escritor local, o município de Paripiranga tem
sua origem histórica e social semelhante às cidades de sua vizinhança, seja no
estado de Sergipe, seja na Bahia, sendo que estariam todas ligadas culturalmente e

4
ARRAES, Damião Esdras A. Curral de reses, curral de almas: urbanização do sertão nordestino entre os séculos XVII e
XIX. Dissertação (Mestrado), Universidade de São Paulo / Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, 2012.
16

historicamente por um passado comum, tendo sua colonização intimamente ligada à


prática da pecuária extensiva no século XVIII, dada a ampliação das sesmarias
pertencentes aos D’Ávila:

O povoamento foi traçado em direção ao sertão, em diante continuaram os


colonizadores para o nordeste, sempre pelo impulso de seu espírito de
aventureiros, os criadores se haviam embrenhado nas matas a fim de
ocultarem as rezes das requisições flamengas, escarmentados que estavam
do desfalque de gado antes arrebanhado pelos emissários do Conde de
Bagnuolo. Essas matas, segundo documentação deixada por Lima Júnior,
Padre João de Matos e outros atestam a invasão holandesa ter chegado até
os municípios de Paripiranga, Agustina, Fátima, Cícero Dantas, Antas e
mesmo Jeremoabo 5.

No início do século XVII já começa a organização de alguns sítios e fazendas


de gado, espalhadas das matas de Coité para o sertão. Como a fama da fertilidade
das terras da região logo se espalhou, a cada ano, chegavam colonos dos mais
diversos cantos da Bahia, de Alagoas e do Sergipe. Dentre os colonos, destaca-se
na fundação da cidade de Paripiranga e no desenvolvimento da região, às famílias
Carvalho e Meneses; ambas de origem portuguesa, que alargam os seus domínios
para essas paragens segundo o trilho das moendas e do valor da terra.
Ao final de 1784. Nas Matas de Simão Dias, em seu Engenho Moendas,
morava o Capitão Manoel de Carvalho Carregosa, casado com dona Ana Francisca
de Meneses. Mais tarde, o seu filho, o Capitão Geraldo José de Carvalho, já
dispondo de prestígio social e fortuna, resolve estender o seu engenho para as
férteis terras de Malhada Vermelha.
Como afirma Amaral (1916) “Capitão Geraldo José de Carvalho havia
comprado aí uma porção de terras a Antônio de Souza Freire de Britto e Castro, da
Cidade da Bahia. Talvez seja o mesmo Alvará de Sesmaria de 1751, de Manuel de
Carvalho Carregosa, com uma légua de largo e três de comprido, no distrito de
Lagarto, do riacho Timbó em direção ao sertão”. Efetuada a compra, seu filho
Geraldo José de Carvalho, já casado, se estabelece a uma légua oriental da atual
cidade de Simão Dias, no lugar denominado Laranjeiras, onde faz engenho de
açúcar, com fazenda de gado mais ao poente, dele e de seu pai, no Curral Novo e
Mata da Moita. Outros seus parentes o acompanharam das Moendas para o sertão,
a explorar e cultivar as novas terras. Seu Primo José Victorino de Meneses localiza-
se então para o Ocidente, nas Matas do Coité.

5
SANTANA, Roberto Santos de. Adustina – Sua História. Aracaju. 2008. p.18.
17

Após se estabelecerem no local, mantiveram relações comerciais de produtos


agrícolas com as Vilas do Lagarto e Jeremoabo. Já nesta época à beira da estrada
entre Matas do Coité e Mata da Moita, achava-se um homem chamado Simão Dias,
que em pouco tempo se destacava como criador, produtor e comerciante. O
vaqueiro Simão Dias encontrava ali consumidores entre os que viajavam de Coité a
Lagarto para se sortirem dos gêneros mais necessários. A casa de vendagem do
Vaqueiro Simão era cercada de muitos vizinhos das matas do Coité, Curral Novo,
Mata da Moita e Laranjeiras, e logo começam eles a frequentara venda do Simão
Dias, garantindo uma grande movimentação de pessoas no local; que logo ficou
conhecido desde Lagarto a Jeremoabo. Aos poucos, surge a beira da venda do
Simão Dias, uma feirinha; amplamente frequentada pela população vizinha,
composta por empregados, roceiros, vaqueiros e descendentes de Manoel de
Carvalho Carregosa, todos já ali domiciliados com suas famílias e bens; além dos
passageiros em busca de descanso e de mantimentos que suprissem as principais
necessidades nas longas viagens.
Já estabelecido com o seu Engenho Santa Cruz, José Vitorino de Meneses vê
o fruto de o seu trabalho brotar nas matas do Coité. Mais ao norte, logo surge o
Engenho Coité de Joaquim José de Carvalho, sobrinho de Manoel de Carvalho
Carregosa. Assim, o “Ciclo da cana-de-açúcar”; chegou às matas de Simão Dias e
do Coité, pelas mãos dos Carvalho que investiram nas “fábricas”, composta pelo uso
de tração animal; tendo como instrumentos de trabalho apenas machado e o carro
de boi; onde o serviço era todo ele artesanal, desde a derrubada das matas virgens
até a edificação das casas de engenho, com suas moendas e caixarias, casas de
cozinhar. Tudo isso em locais mais distantes da costa.
O bom desempenho dos engenhos Santa Cruz e Coité atraíram a vinda de
maior número de colonos e a organização de vários sítios e fazendas e com a
fundação de mais um Engenho; dos Fraga Pimentel. Até que já no final do século
XVII um pequeno povoado começa a surgir nas imediações do riacho e do Engenho
Coité; à sombra de uma planta de mesmo nome. O surgimento de uma pequena
feira à margem da estrada Real, que contribuiu para o desenvolvimento econômico a
comunicação entre as povoações que surgiram na região.
O historiador Paripiranguense Cândido da Costa e Silva em sua obra Roteiro
de Vida e Morte, que consiste em um estudo sobre o a expansão do catolicismo no
sertão baiano; atesta que o povoamento de Malhada Vermelha teve início em
18

meados do XVII, por conta da expansão dos pastos para criação de gado e
concessão de sesmarias; quando as terras que hoje correspondem à cidade de
Paripiranga, passam a compor os domínios de Mathias Curvelo de Mendonça, por
concessão, de terras que englobam as chamadas Matas de Simão Dias:

A partir da trilha do gado, o rio se foi tomando uma risca por entre as
sesmarias, margeantes, desdobradas através de seus tributários de que o
rio do peixe é a expressão maior. Em começos do século XVII, alguns já
obtinham alvará de sesmarias, em que se pese quase nunca corresponder
ao título de posse uma presença desbravadora, o que se inclui, entre
outros, o ato de 20 de agosto de 1733, em que o Conde de Sabugosa
transfere para Mathias Curvelo de Mendonça, morador da Capitania de
Sergipe, a posse da “sesmaria de Legoa e meyo de terra pelo Ryo salgado
de vaza-barris a sima de comprido, e 1 delargo, P.ª Sertam, thé abara da
Tábua, cujas sehavião dado no ano de 609 a Bento da Costa machado”. O
primeiro agraciado lá não foi; é verdade, porém as terras de Paripiranga
àquela altura, já não se perdem por desconhecidas, de vez que alcançadas
nessas demarcações 6.

Dantas (2000) completa o que diz Silva (2008), em sua pesquisa de


doutorado sobre a ocupação do sertão de dentro baiano, onde destaca a
fundação e o desenvolvimento da cidade de Itapicuru e todas as terras que
correspondiam às suas divisas, que foram aos poucos, povoadas e exploradas
pela extensão da prática da criação de gado e o trabalho de catequese dos
padres.

A distribuição de sesmarias e a consequente expansão das boiadas,


não eram as únicas responsáveis pela incorporação do vasto sertão
baiano. Os Jesuítas continuavam, então, seu trabalho de catequese
indígena, mandando missionários também para aquelas bandas 7.

O favorecimento da pecuária que teve como complemento de vida, a


prática da policultura agrícola; ocasionou a expansão das possibilidades de
assentamento de populações e a viabilização da criação de gado na formação
de fazendas. Nesse processo, o vaqueiro torna-se a figura de maior
importância. Tanto que lhe é permitido adquirir uma terra para a fazenda, de
modo a garantir os cuidados necessários com a boiada, bem como a presença
portuguesa na terra.
Em outro trecho de sua obra, Dantas (2000) nos aponta que já em 1561,
a ocupação das terras correspondentes à região de Itapicuru até o Vaza-Barris
era uma preocupação do governo geral, dado os conflitos entre sesmeiros e

6
SILVA, Cândido da Costa e. Roteiro da vida e da morte: um estudo do catolicismo no Sertão da Bahia. 1882. Pag. 17.
7 DANTAS. Mônica Duarte. Povoamento e ocupação do sertão de dentro baiano: Itapicuru 1549-1822; p. 12.
19

missionários no trabalho de catequese dos índios bravios e considerados


indolentes de difícil “domesticação” para o trabalho escravo; e ainda a
proximidade destes com os franceses, ávidos pela posse da terra. Ao
considerar esses, os fatores que impulsionaram ações do Governo Geral, na
busca do povoamento, garantida da posse e produtividade da terra em
benefício da Coroa:

Em 1561, a atividade missionária dos inacianos já havia atingido a foz


do rio Itapicuru. Dali seguiram para o rio real. Região de Fronteira
entre Bahia e Sergipe Del Rei. Representava um incômodo constante
às autoridades colônias, já que eram povoadas não só por índios
“indolentes” como também amigos dos franceses. A inexistência de
povoamento português tinha, além de tudo, u outro inconveniente:
Tornava a área suscetível à formação de mocambos de escravos
fugidos das fazendas da Bahia. Pelos próximos 30 anos, jesuítas e
colonos e autoridades, tentariam sanar o problema 8.

Assim, foi no cenário descrito por Silva e Dantas, marcado pela eminente ameaça
de invasão dos franceses e da formação de mocambos; surgiram as povoações da
região do Vaza-Barris; entre elas, a de Malhada Vermelha, que, dada a fertilidade
das terras, aos poucos substituindo a pecuária pela lavoura, ao passo que o
incômodo “problema” com os nativos é solucionado com o uso da força.
Santana Jr (2005) em seu livro de memórias intitulado Meus Passos Pela
Vida; obra de cunho autobiográfico onde o autor suas observações e impressões
pessoais acerca da sociedade e da cultura local, e a memórias dos seus
antepassados, que lhe foram transmitidas oralmente, sobre as origens históricas de
Paripiranga; menciona a presença indígena, como primeiros habitantes desta terra,
sendo estes denominados Tapuias; um termo genérico que os índios de etnia Tupi
usavam para designar todos aqueles outros grupos que não falavam o idioma Tupi,
quase, portanto, na acepção de “bárbaros”, povos sem nome.
Os índios do interior baiano apresentavam particularidades em relação a
aqueles das tribos nas regiões litorâneas. Os nativos do sertão eram de tipo mais
baixo, tez mais acobreada, e pouco receptiva ao contato com a “civilização”. Por
desenvolverem língua considerada mais rude e diferenciarem-se dos grupos de
ramificação Tupi, foram denominados por estes, como Tapuias, que em uma
tradução livre para o português, significa índio bravio, índio do mato.

8
Id. Povoamento e ocupação do sertão de dentro baiano: Itapicuru 1549-1822p.01.
20

Na região de Jeremoabo havia as Tribos Muncurus, quase sempre em pé de


guerra, a ponto de o Governador Geral D. João de Lancastre ameaçar o chefe dos
Muncurus de mandar decapitá-los se a sua gente não sustasse os ataques
reiterados contra os Cariacás. A tribo residente nas imediações do Coité era
chamada de “Vermelhos”, e o aldeamento ali construído denominava-se “Cerca
Verde”. Eram estes remanescentes da tribo dos Tapuias, integrantes da Missão do
Jesuíta Gaspar Lourenço.
Ainda são muito escassas as informações acerca dos povos que habitaram
Paripiranga antes da chegada dos senhores de terras. Nos registros paroquiais
existem apenas menções à sua existência, e a relação conflituosa com os posseiros;
sem que haja qualquer aprofundamento que trate de sua origem, de seus aspectos
culturais, ou sobre o destino que tiveram após a tomada de suas terras. A dificuldade
em encontrar vestígios dificulta as pesquisas que contribuam na identificação dos
nativos de Paripiranga. Já em 1982, Cândido da Costa e Silva relata essa
dificuldade e apresenta algumas informações colhidas em suas árduas pesquisas
sobre o passado na cidade, quando trata dos primeiros anos da ocupação da terra:

É bem provável que na fase de ocupação do espaço pela pecuária,


os Kiriri do Coité se tenham refugiado em seus brejos de altitude, ou
melhor, no sítio onde hoje está concentrando o seu núcleo urbano.
Atestam as urnas funerárias (porrões de barro contendo ossos,
colares de dentes e artefatos plumários), indiscutíveis vestígios de
sua cultura, extraídos do ventre da terra ainda em 1972, por tratores
que executavam trabalhos de terra planagem em área do antigo
Engenho Coité. Daí são expulsos pela frente agrícola humanamente
mais compacta que se desdobra como momento segundo e mais
agressivo do povoamento, porque com propósitos mais definidos de
se fixar 9.

O autor afirma serem Kiriris os primeiros habitantes do Chamado Coité


(hoje Paripiranga), e aponta a existência de vestígios (os únicos encontrados)
que atestam sua passagem nas terras do Coité, bem como fornecem
informações acerca de sua cultura, e a imposição do poder daqueles que se
apossaram das terras; obrigando os indígenas a se afastarem para áreas mais
isoladas ou a lutarem pelo território até a morte.
O contato entre colonos e indígenas é narrado por João Batista de
Souza; um habitante de Paripiranga em 1953; que através de seu artigo
publicado no semanário O IDEAL, em que trata de suas memórias de
9
SILVA, Cândido da Costa e. Roteiro da vida e da morte: um estudo do catolicismo no Sertão da Bahia. 1982. p. 19.
21

juventude no final do século XIX; transcreve o depoimento de uma das


mulheres que compunham a expedição de exploração e povoamento das
terras que hoje correspondem ao município de Paripiranga:

Nasci nessa cidade e apenas contava como 15 anos de idade,


quando em 1899, a deixei. Dada a minha pouca idade, sem
conhecimento histórico, sem instrução, não pude pesquisar a data de
sua origem, os fatos que lhe sucederam, depois de perlustrada pelo
homem civilizado, até ser transformada em distrito e finalmente em
município. Mas na minha verde idade, conheci uma centenária,
ascendente da família Dória, que com 116 anos de idade naquela
época, contava ter sido uma das que primeiro pisaram terras de
Paripiranga, na companhia do capitão encarregado de perseguir e
expulsar, como o fês os índios selvagens do lugar. Começando logo
que chegou, a construção de um barracão, onde todos ficaram
alojados.
Dizia: - Eu tinha apenas 16 anos de idade, na época. Tudo aqui era
mata. Apenas habitada pelos bugres. Não longe do nosso
acampamento, foi encontrada uma lagoa oculta no meio da mata. É a
atual “Lagoa Escondida”.
Pela narrativa acima exposta, Paripiranga teve seus primeiros
habitantes naquele destacamento, isto é, em fins do século XVIII, em
1795, ou 1796. Chamou-se a princípio, “Malhada Vermelha” e
pertencia ao município de Itapicuru 10.

Ainda sobre a questão dos indígenas que habitaram as terras de


Paripiranga antes da chegada dos colonos, o autor, em suas pesquisas no
Jornal da cidade, intitulado O IDEAL, datado 1954, identificou relatos de
jornalistas e pesquisadores da época; como Francisco Silveira Déda, que
trazem informações acerca da presença de índios do grupo dos Tapuias, em
terras Paripiranguenses:

Tudo aqui era mata apenas habitada pelos bugres. Não longe do
nosso acampamento, foi encontrada uma lagoa oculta no meio da
mata. É a atua Lagoa Escondida. Pela natureza acima exposta,
Paripiranga teve os seus primeiros habitantes naquele destacamento,
isto é, em fins do século XVIII, em 1795 ou 1796. Chamou-se a
princípio “Malhada vermelha”, e pertencia ao município de Itapicuru.
A 25 de Outubro de 1831, sendo Jeremoabo elevada à categoria de
município, Malhada Vermelha foi incorporada a esse município.
Sempre crescendo, aumentando, em 1848, segundo testemunho do
Sr. José Rodrigues da Silva (Parente do nosso Valdomiro José de
Sousa) que, ficando órfão de pai e mãe, se incorporou aos seus
moradores. Malhada Vermelha, já era um povoado, com suas feiras
semanais regulares 11.

Os relatos contidos no jornal local sobre os índios que habitaram

10
SOUZA, João Batista de. Paripiranga: Especial para O IDEAL. O Ideal, ano II, nº. 66. P. 1-4. 01 de agosto de 1954.
Paripiranga, Bahia. Acervo do LEPH – UniAGES.
11 “O IDEAL” Ano II – de 01.08.54. Apud: SANTANA JR, Sebastião Araújo de. Meus passos pela vida. Aracaju. 2005; p 05.
22

Paripiranga nos períodos que antecede a chegada dos colonos; demonstram a


superficialidade dos registros e dos estudos acerca da cultura dos índios que
habitaram Paripiranga; bem como a relação destes com os colonos e o destino
que tiveram com o desenrolar do processo de ocupação da terra e organização
da povoação.
As fontes que informam sobre o destino dos Tapuias de Malhada
Vermelha, atestam pena sobre sua existência e resistência a presença e ás
investidas dos posseiros; indicando a ocorrência violência na relação entre
colonos e os nativos da terra; como relatado por Silva (1982) que ao mencionar
a questão indígena, oferece maiores detalhes acerca da presença e do trato
dados aos nativos pelos povoadores, destacando o teor violento das relações
estabelecidas com os índios, motivados sempre pela cobiça busca pela posse
das terras férteis da Chamada Malhada Vermelha:

Não vão além de imprecisas generalidades, embora procedentes, as


notícias acerca desses conflitos locais. Mesmo porque essa foi
sempre uma história menor, sem interesse algum para a história
oficial, quando muito no campo obscuro paras as façanhas dos
dominadores. Há, no entanto quem aponte o Capitão José Victorino
de Menezes como o responsável pela violência exercida sobre os
índios e retirantes, a fim de incorporar ao seu patrimônio as terras
privilegiadas do Coité. O elemento autóctone foi uma presença que
se esvaneceu nas retiradas ou se diluiu na miscigenação dos que se
integraram 12.

Acompanhando o povoamento de Paripiranga desde os seus primórdios


existe, pois, em nossa história, um verdadeiro ciclo de economia pastoril,
seguida do ciclo da Cana de açúcar e do café. A penetração de colonos no
nosso território concorreu ao estabelecimento de fazendas de gado.
Internavam-se os homens, com seus rebanhos. Gado que vivia à solta, em
criatório extensivo, feito para o sertão. Não era preciso, nem ainda disso se
cogitava o uso da cerca de arame para os currais; e pelo sertão, passavam os
tangedores dos Garcia D’Avila ou seus rendeiros; e mais tarde o
fracionamento dos latifúndios da Casa da Torre iria provocar querelas entre
herdeiros e Sesmeiros, questões que se haviam de projetar na divisão
administrativa da terra.
Silva (1982) destaca as forças do individualismo agrário como fator que
concorre para a mais forte apropriação privada da terra, dos recursos e da
12
Id. Roteiro da vida e da morte: um estudo do catolicismo no Sertão da Bahia. 1982. p. 09-11.
23

renda agrícola. É um envolvimento e concorrência vinda do capitalismo


comercial e da sociedade rentista que com o forte apoio das câmaras dos
concelhos põe em causa esta sociedade e economia agrária, tradicional, de
forte base social – comunitária. E sofre também a forte concorrência da
organização eclesiástico-paroquial, que na freguesia e igreja matriz quer
concentrar o essencial do funcionamento da vida social-paroquial à volta da
igreja e do pároco.
24

3 ASPECTOS CULTURAIS E ADMINISTRATIVOS


DE MALHADA VERMELHA

3.1 As certidões de nascimento da História

No início do século XIX, o Arraial de Malhada Vermelha 13 desenvolvia-se na


lavoura. Abatiam-se as matas para o arroteamento dos terrenos, e aos poucos,
erguia-se o Arraial a cada edificação construída. De modo que já pelo idos de 1840;
por necessidade e desejo de seus habitantes mais ilustres, representados pelo Major
José Antônio de Menezes (senhor do Engenho Santa Cruz), em solicitação ao
Vigário de Bom Conselho dos Montes do Boqueirão, se fez construir a Capela de
Nossa Senhora do Patrocínio.
Em finais de agosto de 1846, conclui-se a construção da Capela. Antes do
planejamento e execução da obra existiam algumas casas no espaço popularmente
denominado descida ao Tanque da Missão, hoje Rua Largo do Tanque; e muitas
outras espalhadas pelas Matas. Já nessa época, Paripiranga era conhecida como
Termo de Sabão e Coité; Distrito do Coité, pertencente à Freguesia de Jeremoabo,
Comarca de Monte Santo, Província da Bahia.
Pela organização política e administrativa da época (primeira fase do período
imperial), a igreja católica, religião oficial do Império como determinava a
constituição outorgada de 1824, ainda exercia influência decisiva em seu campo de
fé, e a figura do pároco era vista como autoridade local, a ponto de exercer
atividades admirativas e políticas; de modo que a ideia de laicidade do estado não
se fazia valer, tendo como previam as questões legislativas da nação.
A Constituição Imperial mostrou claramente a ligação entre o Estado e
Religião, e permitiu somente certa tolerância religiosa, já que a Igreja Católica
Apostólica Romana era a religião oficial do Império, com todos os benefícios
advindos dessa qualidade de Estado confessional. O primeiro documento
constitucional brasileiro, ao tratar de religião, previu o seguinte:

13
Primeira denominação dada a cidade de Paripiranga, no início do processo de povoamento, em decorrência das
condições geográficas do lugar e da coloração avermelhada de suas terras (SILVA, 1982, p. 05).
25

Art. 5. A Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião


do Imperio. Todas as outras Religiões serão permitidas com seu culto
doméstico, ou particular em casas para isso destinadas, sem fórma alguma
exterior do Templo 14.

A Constituição de 1824 deixa clara que, apesar da tolerância religiosa, com a


liberação do culto de outras crenças de forma discreta e particular, sem que
houvesse manifestação pública; o cidadão brasileiro que optasse por outra religião
sofreria forte discriminação. Também se percebe no texto do Art. 127; a
preocupação de garantir a fidelidade dos futuros governantes à religião católica,
mediante a prestação de juramento solene garantindo a continuidade da Igreja
Católica Apostólica Romana como religião oficial do Estado.
No campo administrativo, a influência da igreja se dava de tal forma que os
limites territoriais das povoações que se formavam, a exemplo de Patrocínio do
Coité, eram traçados pelos representantes diretos da igreja, no caso o Pároco.
Cabia ao Pároco, o registro para coleta de tributos, para condução dos fiéis nas
práticas da fé católica, e auxílio das autoridades nas questões político-
administrativas, que atestava o prestígio e a autoridade da igreja, como instância
mediadora das questões sociais; como mostra a transcrição feita do LT da paróquia
de Nossa Senhora do Patrocínio, de parte da ata escrita pelo Pároco João de Mattos
Freire de Carvalho, prestando contas a seus superiores de direito, sobre os limites
da paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio:

Certifico que, revendo o Livro do Tombo desta parochia, a folha 30


encontrei o seguinte lançamento feito por mim, a saber: “Limites da
Parochia do patrocínio do Coité, Cópia: “Lei de 22 de Maio de 1871, N.
1168. Francisco José da Rocha, Vice-Presidente da Província. Faço saber a
todos os seus habitantes que a Assembléia Provincial decretou e eu
sancionei a lei seguinte: Art. 1º Fica creada uma freguesia com
denominação de Nossa Senhora do Patrocínio do Coité, cuja matriz será a
capella de mesmo nome, desmembrada da Freguesia de bom Conselho dos
Montes do Boqueirão. Art. 2º A nossa Freguesia terá os limites seguintes:
Começará no rio Vasa-Barris no logar denominado barra do Riacho
Salgado; e d’ahi, dividindo-se com a freguesia de Sant’ Anna de Simão Dias
na pacochia de Sergipe, seguirá a Baixa da Ladeira Grande; e d’ahi rumo
direito ao Olho d’água do Coité, na ponta de baixo da Serra do mesmo
nome; e d’ahi a Lagoa das Antas, rumo direito ao Riacho Cahiçá no logar
denominado Olho d’água do Má-fim-tem; e por elle acima dividindo-se com
a mesma freguesia de Simão dias, até encontrar a freguesia de Nossa
Senhora dos Campos do rio Real da dita Província de Sergipe; e dividindo-
se com está freguesia até ás cabeceiras do referido Rio real na fazenda
chamada São Francisco; e d’ahi para o Umbuseiro inclusive; e d’ahi para a

14
ARQUIVO NACIONAL, Fundo DK - Constituições e Emendas Constitucionais do. Constituição para o Império do
Brasil. Rio de Janeiro. 1824. p. 07.
26

de João Viana de Andrade, de onde seguirá para o rio das Carahybas; e por
este abaixo, dividindo-se com a freguesia de São João Baptista d
Geremoabo, até ao rio Vasa-Barris no logar denominado Barra; e
atravessando o rio irá dividindo-se com a mesma freguesia de Geremoabo
até encontrar a freguesia de Santo Antônio e Almas, e dividindo-se com
esta até ao logar denominado Barra do Rio Salgado onde principia. Art. 3º
Revogam-se as disposições em contrário. 15

A influência da igreja na demarcação de terras era tal, que os limites das


paróquias correspondiam aos limites territoriais das povoações, pois estavam sob
influência da Igreja Católica, e todos os habitantes, considerados seus fiéis, já que o
Pároco acumulava as funções religiosas e político-administrativas.

FOTO 2: Mapa de limites da Paróquia de Nossa Senhora do patrocínio do Coité


FONTE: Livro do Tombo II. Acervo da Paróquia de N. S. do Patrocínio. Paripiranga. Bahia

No início do processo de ocupação das terras de Malhada Vermelha, a


desorganização era eminente; registram-se apenas a existência de algumas
habitações nas proximidades do Engenho Coité. Os conflitos de jurisdição entre a

15
PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DO PATROCÍNIO. Livro do Tombo II. 1897. Paripiranga. Bahia. p. 17-19 v. Acervo
Digital do LEPH - UniAGES.
27

Bahia e Sergipe, acontecidos no século XIX, que seguiram até meados do século
XX, promoveram transformações na organização territorial e político-administrativa
do lugar. Pois, foi à sombra pé do coité, à margem da Estrada Real 16, que surgiu por
iniciativa dos Carvalho, em meados de 810, o engenho e uma pequena feira, que
marcam os primeiros movimentos de formação de Paripiranga. Como o Engenho de
Coité ficava bem próximo da linha divisória, em redor dessa pequena povoação, eu
já era conhecida pelas das autoridades das duas jurisdições como Coité, e a
circulação de pessoas e mercadorias ente a Coité e Matas de Simão Dias era
intensa, tanto que os fiéis de Coité frequentavam a igreja de Snt’Ana, e nela
cumpriam todos os sacramentos da fé católica, por não haver ainda tempo religioso
erigido no lugar, e por ser esta, a igreja mais próxima.
A longa disputa de lideranças e pela posse da terra se acirrava ao longo do
tempo e à medida que desenvolvia-se a povoação. Confrontos estes, liderados pelos
moradores mais influentes, ávidos maior autonomia e afirmação do seu prestígio na
região; que, estimulados pelas altas autoridades baianas de Jeremoabo, temerosos
pela perda das terras sob sua jurisdição, travam uma intensa e nada amistosa
discussão com os religiosos e os políticos das Vilas de Lagarto e de Simão Dias; que
insistiam em anexar as terras do Coité aos limites de sua paróquia, uma vez que
atendiam aos anseios das almas cristãs dos moradores. Cândido da Costa e Silva
ressalta ser essa disputa “coisa que nunca preocupou o povo, sempre distantes das
esferas de decisão e estranho às sutilezas canônicas 17”. Cresce nesse embate, a
necessidade de definir e se fazer respeitar os limites paroquiais da povoação.
É nesse clima de ânimos asseirados que se ergue a Capela, custeada pelo
Major José Antônio de Menezes, apontado por Cândido da Costa e Silva como o
grande senhor de terras do Coité e responsável pela violência exercida contra os
índios da taba de “Cerca Verde”; muito respeitado e apoiado pelos demais homens
fortes do lugar, que viam na criação da Capela, a possibilidade de rompimento com
os laços religiosos que ligavam a povoação a Simão Dias e o fortalecimento dos
vínculos indenitários com o lado baiano, estando à dita capela vinculada à matriz de
Bom Conselho. O poder do Major é herança do seu pai, o Capitão José Victorino de
Menezes, que deixou ao filho como legado, terras, poder e influência política:

16
SILVA, Cândido da Costa e. Roteiro da vida e da morte: um estudo do catolicismo no Sertão da Bahia. p.18
17 Ibidem. p. 08-09
28

A força da terra lhe deu prestígio e fôlego para se impor aos mais fracos e
lhes propor as regras do jogo; bem assim, mais tarde, coadjuvando pelo
filho Major José Antônio de Menezes, a desafiar as lideranças políticas e os
vigários de lagarto e Simão Dias. Com o Apoio dos influentes de Jeremoabo
e Bom Conselho, particularmente o Coronel João Dantas dos Reis, dono da
Fazenda Caritá e político prestigioso em Salvador, ele se torna o preposto
dos interesses baianos, em cujo nome reivindica e faz reconhecida a linha
fronteiriça do seu território 18.

De acordo com a legislação brasileira de 1938 denomina-se cidade toda


aglomeração urbana que é sede de município; vila e povoado são núcleos de zonas
rurais, onde aparece um pequeno comércio e algumas indústrias, que aproveitam os
produtos primários da região. E dentro desse processo de organização social e
administrativa da povoação, destaca-se a figura do Padre Vicente Valentim da
Cunha, e seu incessante trabalho na busca por melhorias estruturais e espirituais
para o lugar. Em sua atuação como primeiro Intendente, o Pe. Vicente intensificou a
construção de reservatórios de água como o “tanque da missão”; atuou na
construção de cemitério, maior e mais organizado, com espaço para orações; deu
início à grande reforma da matriz, ampliando-a e dando início à construção das
torres, que foram concluídas pelo padre João de Matos Freire de Carvalho.
Desde medos do século XVIII, sérios conflitos se têm suscitado entre as
autoridades baianas e sergipanas. Em 21 de janeiro de 1863, Presidente da
Província da Bahia, oficiou ao governante de Sergipe Del’Rey, trazendo ao seu
conhecimento diferentes queixas aos agentes fiscais da Vila do Jeremoabo e Distrito
do Coité, contra o procedimento do coletor da Vila de Simão Dias, em relação aos
contribuintes. O então Presidente de Sergipe, Joaquim Jacinto de Mendonça,
encaminha correspondência ao então Inspetor da Tesouraria Provincial, Dr. Joaquim
José de Oliveira, recomendando-lhe que as correções necessárias e justas fossem
providenciadas.
Em ofício de 19 de julho de 1864, o Presidente da Província de Sergipe
remete cópia deste trabalho ao Exmo. Presidente da Bahia, em solução ao que ele
dirigiu em janeiro acima referido, enviando igualmente em ofício sob n° 47, de 03 de
setembro pretérito, o próprio original e documento, que o acompanharam à
Secretaria do Estado dos Negócios do Império, em observância, do aviso de 05 de
agosto do ano p. p., que pedia esclarecimentos acerca de uma representação que a
Assembleia Legislativa encaminhou à Câmara dos Deputados.

18
Id. Roteiro da vida e da morte: um estudo do catolicismo no Sertão da Bahia p. 8-9
29

Em pouco tempo, surge à perspectiva criação do município com uma


vereação encarregada de administrar os interesses da população, segundo as
faculdades constitucionais, ou leis orgânicas. Em 1886, por força da Lei Provincial de
n° 2.553, promulgada em 1° de maio, o Arraial de Coité torna-se município,
desmembrado do território de Bom Conselho, porém a lei só entra em vigor em 1° de
fevereiro de 1888. Na ocasião, como bem relata Francino Silveira Déda na crônica O
Município e sua Edilidade, publicada em 24 de maio de 1953:

[...] Não foi de meu tempo, mas parece que vejo os quatro garbosos
Tenentes e Alferes da “velha guarda” – José Cardoso dos Santos,
Presidente; Alexandre José Ribeiro, Vice P.; Ludjero de Souza Rocha e
Joaquim Norberto de Santana, enfiados em jaquetas de casinetas preta;
gravatas largas de laço; e botinas de elástico “banidas”, sentados em torno
de uma mesa tosca, em casa alugada por particulares, os quais,
simplesmente com suas presenças, oficializavam a instalação do novo
município, suas palavras e gestos eram ditadas e acenados por um moço
que beiradava a mesa, pronto para ser nomeado Secretário da nova
comuna, o que se dera da encomenda no mesmo dia e na cessão imediata;
era o politicastro ourives Jesuino José Vieira. A Camara se constituía de
mais 03 vereadores; eram Elpido Justino de Oliveira, Quintino Rodrigues
Guimarães, e João Antônio dos Anjos que embora sendo cidadãos
respeitáveis e independentes, não davam à vaidade de patentes fictícias e
como também eram homens de pouca ilustração e quisessem zelar pela
cartilha ourives Secretário, limitavam-se a não comparecer. 19

19
DÉDA, Francino Silveira. O Município e sua Edilidade. O IDEAL. Ano I. Nº 04. Pag. 02. 24 de maio de 1953.
Paripiranga. Bahia. Acervo do Laboratório de Ensino e Pesquisa em História da UniAGES.
30

4 MATRIZ DE NOSSA SENHORA DO PATROCÍNIO: a igreja


como centro da vida cultural e instrumento de
construção de identidade

Para Silva (1982) O Arraial, quase que por regra, inicia-se ao redor de
estruturas físicas e práticas agrícolas, e de uma ordem religiosa que assume as
funções espirituais, políticas e administrativas. Ela está, em geral, presente na
existência da capela para uso do lugar que é administrada em “padroado” comum
aos moradores, com maior ou menor presença do pároco. Nela se venera um santo,
particular padroeiro do lugar. Nela se levam a cabo atos de culto, eventualmente
missa dominical. Nela se suporta a instalação das espécies consagradas para levar
em viático aos moradores doentes e in “articulo mortis”20.

Servindo à política administrativa do Império, continuava e seu papel a


Igreja no Brasil. Através daquela, viabilizava-se a sua expansão. Dessa
empresa em comum decorria a necessidade de “distribuir representantes do
poder eclesiástico sempre que fosse necessário organizar um núcleo
populacional”. Suprindo essa carência, a freguesia torna-se uma unidade
base para o estado, e o setor institucional da Igreja se vê representado na
pessoa do Pároco, que se constitui em agente legitimador de sua
organização social. Seri estranho, portanto que o jogo de interesses
políticos não incidisse diretamente sobre esses atos 21.

A influência da Igreja católica na formação das sociedades sertanejas na


região do sertão de dentro baiano, destacada por Silva (1982) se deu também no
processo de formação de Paripiranga, como instauradora da ordem espiritual,
cultural e administrativa. Porém o autor salienta que, como as populações sertanejas
construíram suas manifestações religiosas longe dos olhos da Igreja, dada as
dificuldades de acesso e à ausência frequente de párocos e demais ministros da
igreja; o sertanejo recriou o catolicismo de acordo com suas necessidades,
experiências e influências culturais. Assim, ao adentrar as terras do sertão baiano, a
Igreja, de algum modo, criou espaço para que as populações que ali se formaram
recriassem o catolicismo adaptando-o aos aspectos culturais que já traziam consigo.
Silva (1982) destaca ainda que a enorme profusão de capelas na paisagem
rural é naturalmente a expressão por excelência das formas de povoamento no lugar
20
De acordo com o Dicionário do Latim Essencial, a expressão significa Ponto de Morte - REZENDE, Antônio Martinez.
Dicionário do Latim Essencial. Autêntica. São Paulo. 2013. 512p.
21
Id. Roteiro da vida e da morte: um estudo do catolicismo no Sertão da Bahia. p.14
31

ou na aldeia e da sua constituição social e económica de base. À volta da capela, se


estruturarão ainda muitas vezes atos sociais importantes destas comunidades: a
festa devota e festiva ao santo e outros atos festivos e religiosos ao longo do ano, as
procissões, votos e romarias; a persistência no largo da capela, de comércio, feira e
mercado e também a realização de certos atos de divertimento profano.
Cândido da Costa e Silva como filho da terra, e estudioso do passado de sua
gente, nos apresenta as situações políticas, religiosas e sociais que condicionaram a
construção da capela de Nossa Senhora do Patrocínio, e a formação do Arraial de
Malhada Vermelha, que passa a integrar o território paroquial de Bom Conselho dos
Montes do Boqueirão (hoje Cicero Dantas); considerando que as relações de caráter
religioso não estavam de início, subordinadas aos limites paroquias, mas sim às
possibilidades de acesso do povo, que recorria capela mais próxima, gerando
confronto de interesses e influências entre poderosos do lado baiano, e políticos e
religiosos de Lagarto e de Simão Dias:

A disputa de liderança, a que nos referimos quando da formação do núcleo


urbano- rural, levam os homens fortes de coité a um confronto mais
agressivo com os párocos e políticos do lagarto e Simão Dias. E a
necessidade de apoio impõe aos contendores do lado baiano o empenho
em fazer respeitar os limites paroquiais, coisa que nunca preocupou o povo,
sempre distante das esferas da decisão e estranho às sutilezas canônicas.
É assim que se ergue a capela, vínculo com a freguesia de Bom Conselho e
sinal de identidade para os que estavam nesta “Rua de Nossa Senhora do
Patrocínio”. O Vigário Caetano Dias da Silva informa ao presidente da
província, em carta de 22 de junho de 1846, que “nas Mattas de Simão
Dias, desta Freguezia, achase o Major José Antônio de Menezes erigindo
uma Capella Filial”. Finalmente um lugar de culto aglutinado em derredor á
povoação, a vila, a cidade. Uma força centrípeta atraindo o disperso a
coesão 22.

Silva (1982) cita o caso de Malhada Vermelha (primeira denominação da


cidade de Paripiranga) e percebe a Paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio como
organizada em ordem de instalação das instituições essenciais à prática social e
religiosa dos mandamentos e ensinamentos da Igreja; bem com a prática social que
se regula pelas obras de caridade, pelo controle moral em que o desenvolvimento
confraternal é particular testemunha; E que se configuram nas preces e devoções
que atraiam os favores e proteção divina, contidos nas orações, cânticos e ritos, na
grande Invocação da Virgem e a mística da cruz; na devoção fervorosa pela busca
da proteção dos santos; a padroeira da paroquia e os demais de culto geral e local

22
Id. Roteiro da vida e da morte: um estudo do catolicismo no Sertão da Bahia. 1982. p. 18- 20.
32

mobilizam a comunidade pra a sua preparação para a vida espiritual, para a Morte e
a vida do Além, tendo a mística da cruz e todos os seus significados, como alimento
e sustentação na vivência cotidiana:

A vida dos cristãos sertanejos está alimentada em grande escala pela


mística da cruz, decorrente da perspectiva penitencial que orientou a
sua formação, reforçada pelo regime de privações e sofrimentos
constitutivos do seu mundo.... Não o bastante, a mensagem, atua
nessa mística um outro elemento, de peso não desprezível e sentido
afirmativo. Desempenha certa função encorajante nas dificuldades e
impasses. A força para persistir. Para esperar contra toda esperança.
Para lutar, não se entregando ao cansaço, ao desânimo, ao
desespero 23.

Os elementos citados pelo autor são perceptíveis no LT nº I, da


Paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio, onde encontram-se registros da
caminhada espiritual que busca a transmissão de valores de fé que a ligam à
realização do plano divino no território da sua comunidade paroquia, onde
elementos como o culto dos mortos, mas também dos santos, são atos
marcantes desta religiosidade local. As suas instituições sócio-religiosas são,
pois, elementos essenciais à constituição e realização de síntese de identidade
e transcendência superior deste corpo místico, que articula a vida terrena e
divina.
Cerqueira (1989) em sua obra “Bom Conselho dos Montes do
Boqueirão”, construída após pesquisa minuciosa de cinco anos acerca do
processo de formação territorial e organização social de Cícero Dantas, a
antiga cidade Bom Conselho dos Montes do Boqueirão; menciona aspectos
naturais, associado à cultura e à antiga denominação do lugar, e trata do
processo de ocupação das terras de Cícero Dantas, como resultado da prática
da pecuária extensiva e da ação dos padres representantes da Igreja Católica.
A participação da Igreja no processo de ocupação da terra e formação de
povoações é destacada no texto de da autora, quando do relato da construção
da capela sob a invocação de Nossa senhora do Bom Conselho que também
emprestou nome ao lugar.
A demolição e a reconstrução da Matriz são relatadas como fato de
grande importância da consolidação da estrutura sociocultural de Cícero
Dantas, recheada de lendas que mistura o catolicismo e as crendices

23
Id. Roteiro da vida e da morte: um estudo do catolicismo no Sertão da Bahia. 1982. p. 60.
33

resultantes do imaginário popular que se constroem a partir do encontro do


catolicismo com outras crenças. Um processo que se deu em toda a região,
como bem nos relata o caso de Malhada Vermelha, Cândido da Costa e Silva.
As relações da igreja com as autoridades locais e regionais, como
Cícero Dantas, e o Barão de Santa Rosa; bem como a função política exercida
pelos padres; que corroboram para entendimento da participação intensa da
Igreja em diversos aspectos da vida social, econômica, política e cultural dos
habitantes das vilas que se formaram no sertão baiano nos séculos XVII, XVIII
e XIX.
O progresso da povoação é crescente; e logo diversas casas vão
surgindo, mais ao Sul, formando-se um novo povoado, que em pouquíssimo
tempo já era conhecido das autoridades de Jeremoabo e Bom Conselho. O
Coité passa a ter seu Termo frequentado por sertanejos diversos que vinham
do sertão. Já em 1830 começa a surgir um novo Coité, arruado de casas
simples com feira, em prosperidade. Assim vai se constituindo a nova comuna,
os Termos de Coité e Sabão já em 1835 são reconhecidos como distritos da
Citada Vila de Jeremoabo, e passam a ter Juiz de Paz e Subdelegado
nomeados.
O Major José Antônio resolve assim construir uma capela, pois a capela
mais próxima existente era a de Sant’Ana, de Simão Dias, distante uma légua
e meia do povoado. Próximo à Capela já existia uma malhada 2423 edificada em
terrenos de coloração muito avermelhada, no local que hoje corresponde ao
Largo Dois de Julho; usada como abrigo para vaqueiros e gado vindos do
sertão. Com a construção da Capela, a povoação recebe o nome de Malhada
Vermelha, porém o nome Coité continuou a ser usado.

24
Barracão que servia como ponto de paragem e descanso para trabalhadores da agricultura, dos engenhos e vaqueiros
condutores dos rebanhos.
34

Foto 1: Igreja de Nossa Senhora do Patrocínio nos primeiros anos do século XX.
Fonte: Acervo Digital do LEPH – UniAGES, Paripiranga/BA

Antes da construção da capela já existia um pequeno cemitério na praça da


nossa matriz. Em agosto de 1846 o Vigário da Freguesia de Bom Conselho, território
ao qual estávamos incorporados, encaminha correspondência ao Presidente da
Província da Bahia, que dizia:

Illmº e Exmº Sr. – Em observancia ao officio de V. Exa.datado de 26 de


março do ano andante, cumpre-me responder que tendo-se esta matriz
arruinado no frontespicio, fendendo um dos campanários de cima abaixo,
tem-se- este separado da parede quase três pollegadas, e deste modo
puchando todo o frontespicio e parte do corpo da igreja, a ponto de vir
abaixo toda a obra a não acudir-se com diligencia a este reparo; tanto é a
ruína ameaçada que os fregueses temem já nella assistir os officios Divinos.
Agora pelo inverno mais se tem arruinado e cada vez mais vae exigindo
maior soma dispêndio pedreiros que só os há por aqui. Laranjeiras daqui
distante trinta e duas e com despeza de fazer acarretar o local que se há de
fazer daqui distante seis léguas e meia por não haver aqui pedras.
Quanto a ornamentos, que tanto cocorrem para o luzimento do culto Divino,
acha-se esta Matriz com um banco, e este velho que tendo então dois véus,
um branco e outro encarrado, com estes faço differença que me prescreve a
rubrica; por isso torna-se de grande necessidade dois ornamentos brancos,
um melhor para certos dias de publica festividades e outro para o
quotidiano; dois encarrados para os mesmos dias acima, um verde e um
roxo para os enterros de réquiem, cada uma destas cores ou ornamentos
com sua componentes dalmáticas, além de duas Capas de Aspergas, alvas
e outaras ornamentos necessários, tudo falta a esta pobre Matriz. Duas
Capelas filiaes tem esta Freguesia: uma de Santa Cruz defronte da Matriz
35

em um elevado monte, tendo sido fundada pelo fallecido Frei Apollino de


Toddy Missionario Capuchinho, sem dote algum e bastante arruinado. Nas
mattas desta Freguiesia, acha-se o Major José Antonio de Menezes,
erigindo outra, mas ainda não apresentou dote, o que pretende fazer e eu
exigirei, achando-se Ella pronta.

Deus guarde a V. Exa. Freguesia do Bom Conselho Dos Montes do


Boqueirão, 22 de junho de 1846. (Ass.) o Vigário Caetano Dias da Silva. 25

“Ao ter seu término de construção em agosto de 1846, a Capela recebe a


invocação de Nossa Senhora do Patrocínio do Coité”26. Novas construções vão
surgindo, era florescente o desenvolvimento do povoado, surgia assim à povoação
de Malhada Vermelha. Muitas construções surgiam em círculo à capela, o Major
José Antônio de Meneses constrói residência; mais ao norte, constrói também o
Capitão Joaquim José de Carvalho, Senhor do Engenho do Coité, casa esta que
depois de algumas modificações pertence ao Sr. Desembargador Dr. João Santa
Rosa, e em descida ao tanque da Missão já existia a Rua do Tanque.
Daí por diante começam a chegar novas famílias ao povoado, vindas de
várias regiões. Chegava de Estância o casal Francisco Garcia de Carvalho, Dona
Coleta Silveira Carvalho, Estanislau Garcia, Tertuliano Garcia de Carvalho e Floro
Garcia, e outros como o velho Nonô dos Anjos, aí juntando-se Garcia e Silveira
formaram a fusão dos Alves e Dias; nesta época aqui já estavam as famílias
Santana, Matos, Rabelo e muitas outras.
A região já dava conotação de um progresso florescente, muitos colonos
instalados em sítios e fazendas davam mais incremento à região, quando aqui
começaram a cultivar o rico produto que era o café A região se destacava
rapidamente com o plantio do café, que cada vez mais invadia as matas, o
progresso notável.
De imediato, como o progresso já era notado por todos; o proprietário do
Engenho Santa Cruz já era conhecido como Capitão José Vitorino de Meneses, e o
proprietário do Engenho do Coité, também como Capitão Joaquim José de Carvalho.
Este povoado não foi muito além, em decorrência de algumas inconveniências
trazidas pela política da época, com ressonância já aos problemas de jurisdição,
haja vista este arruada de casas simples estar muito próximo da linha que divide os
dois territórios, ou seja, Bahia e Sergipe.

25
PARÓQUIA DE CÍCERO DANTAS. Livro de Tombo Nº II, Compilação. p. 5 - 5 v. Acervo da Paróquia de Nossa
Senhora do Bom Conselho. Cícero Dantas. Bahia. p. 42
26 DÉDA, José de Carvalho. Simão Dias: Fragmentos de sua História. Aracaju: Livraria Regina. 1966. P, 25.
36

A Construção de Capelas nos mais longínquos cantos da província e o


aglomerado de fiéis que ao redor delas buscava proteção divina e sucesso na labuta
diária, na perspectiva de desenvolvimento social e econômico, esbarra nas
dificuldades estruturais. Os párocos nomeados muitas vezes rejeitavam a missão ou
demoravam-se por pouco tempo nas povoações, por não habituarem-se ás
condições de prática e vivência a qual eram submetidos. Numa situação em que os
limites paroquiais ainda não existiam e a população ainda dispersa, não permitia ao
pároco o conhecimento e o “controle” da sua paróquia e do seu “rebanho”.
Santana Jr (2005) citando mais um dos artigos da Coluna de Francino Silveira
Déda no Jornal O IDEAL, destaca ainda a participação do Pe. Vicente Valentim da
Cunha, como um dos responsáveis pelo “nascimento” da cidade:

Paripiranga carecia de progresso, salvo aqueles empreendidos e


executados pelo Padre Vicente Valentim da Cunha, que testemunho:
terraplanagem das ladeiras da “Escondida” e do “Tanque da Missão”, a
reconstrução do cemitério local e a construção da capela no seu interior e
de outros trabalhos que lhe dizem respeito”. “O PE. Valentim foi um grande
realizador, a quem essa cidade deve relevantes serviços”... “Em 1899,
deixando essa minha cara terra, não pôde acompanhar essa sua
evolução 27.

Na povoação de Malhada Vermelha, após a construção da Capela, a igreja


encontrou dificuldade em encontrar um padre que assumisse de forma permanente
os assuntos espirituais e administrativos do lugar. Silva relata em sua obra, como se
deu o processo de escolha do pároco e as dificuldades por ele enfrentadas:

Sem bens patrimoniais que cobrissem as necessidades do culto e do pároco


e a indigência de uma pobre capela, não atraía a nova paróquia, o interesse
dos presbíteros. O primeiro indicado recusou. O segundo esteve por dez
meses. Só em maio de 1873, abre-se o período dos dois paroquiatos que
serviram de referencial a este nosso estudo. Ambos formados no antigo
regime. O primeiro, Padre Vicente Valentim da Cunha, Originário do
Recôncavo baiano (Bom jardim – 1847), de família pobre, esteve á frente da
comunidade até 1894, quando a implantação da República lhe criou
dificuldades junto ás lideranças liberais, que o ameaçaram de expulsão,
montado de costas, em um lombo de boi. Temeroso da humilhação abrigou-
se em um sítio do líder conservado que discretamente lhe agenciou a
partida 28.

Desde o início do processo de ocupação da terra pelos colonos, a igreja se


fez presente em Paripiranga, seja através dos párocos de Sant’Ana de Simão Dias,
que insistiam e registrar as terras de Coité como parte abrangente de sua paróquia,

27 Id. Roteiro da vida e da morte: um estudo do catolicismo no Sertão da Bahia. 1882. p. 29


28 O IDEAL” Ano II – de 01.08.54). Apud: SANTANA JR, Sebastião Araújo de. Meus passos pela vida. Aracaju. 2005.
37

provocando o descontentamento e a ira dos senhores de terras da povoação e dos


poderosos de Jeremoabo; estes temerosos pela perda das valorosas terras que até
então estavam sobre sua jurisdição, e deste modo, pertencentes à província da
Bahia. Ou ainda pela atuação dos párocos enviados pela arquidiocese da Bahia,
logo que se concluiu a construção da Capela.
A convivência ente colonos e representantes da igreja nem sempre foi
harmoniosa nos tempos de Patrocínio do Coité. Os párocos relutaram e aceitar a
missão de conduzir “rebanhos de almas” em locais onde a população em geral era
pobre e vista como pouco civilizada aos olhos da arquidiocese dada as condições de
vida serem muito precárias, dada a não poderia prover a igreja dos de suas
necessidades consideradas vitais, de modo a garantir aos párocos o conforto e o
colhimento desejado.
A situação apresentada pelo autor no texto acima, se repetiu em outros
momentos com os padres enviados para o já distrito de Patrocínio do Coité, após a
partida do Padre Vicente Valentim, que mesmo após envio Arcebispo da Bahia de
monção de apoio por parte de facção política local, defendendo o seu paroquiado e
apelando junto ao bispo para o seu retorno; o padre Vicente permaneceu
distanciado do então distrito, e m seu lugar, foi enviado, como Vigário encomendado,
permanecendo por quatro anos, o Padre Delphim Antunes de Souza; que assim
como o Padre Vicente Valentim, teve que sair às pressas e às escondidas, por conta
de ameaças da população. O caso do padre Delphim é mencionado pelo jornalista
Francino Silveira Déda, em uma de suas crônicas de memórias publicada no jornal
O IDEAL de 1954:

Em tempos idos, existia na Freguesia de Nossa Senhora do Patrocínio do


Coité um Padre Hespanhol chamado Delfim; (por sinal o Padre que me
batizou). O velho cura, com seus hábitos e costumes civilizados da Velha
Hespanha. Com sua literatura bebida de Antônio Alarcon no estiudo sobre
os costumes ou no DON GONZALO GONZALEZ DE LA GONZALEZA,
novela de costumes de José Maria de Pareda, não se adaptava bem aos
costumes cá do sertão brasileiro, seguidos das tradições dos negros
africanos com uso e costumes Iorubanos e por vezes queria o velho Cura, a
fina força, por termo de uma vez a certos isos da terra. Anunciada um festa
em homenagem Padroeira dom logar, foram marcadas novenas e para
estas, designados os respectivos mordomos; havia, como de costume ainda
hoje, uma das noites de novena, mordomada, pelas moças e rapazes;
estes, naquela época pretendendo dar melhor brilho á sua novena,
encomendaram aos “Leites”, uns pretos zabumbeiros dos lados da “Lagoa
preta”, o toque da zabumba na gente da igreja, durante a solenidade, no dia
e na hora da novena. O vigário Hespanhol birriu com aquela solenidade
meio Nagô e firmara-se na sua resolução inabalável do zabumba não bater
na frente da igreja. Da sua vez, os mordomos do dia (moças e rapazes)
38

evoltaram-se contra o Padre e firmaram-se que o zabumba tocava, ou não


haveria festa. E nesse vai mais não vai, a população quase em peso ficou
ao lado dos mordomos e em gente à casa do Padre eram ditos impropérios
e alguns lembravam até aquela velha história de “montar padre em Boi”. O
Hespanhol assustara-se e sem ser visto, fugiu da Vila e veio para o
Engenho Baixão” deste Município; daí tomou condução até o Engenho
“Oteiros” no extremo deste município; e daí dizendo seguir para a Bahia,
não deu notícia. 29

O texto de Francino nos dá claros exemplos dos aspectos bastante singulares


do catolicismo implantado no sertão baiano e que se manifestou em Paripiranga, no
século XIX, com a incorporação de elementos e crenças oriundas das manifestações
africanas e indígenas, que de tão enraizadas na sociedade e nas crenças religiosas
na população como componentes de sua identidade enquanto povo, não admitem a
interrupção abrupta, ou a intromissão forçosa.
Desde a sua construção a Capela de Nossa Senhora do Patrocínio sofreu
grandes reformas, por conta do desenvolvimento da Vila e do crescimento da
população e do número de fiéis. Dentre essas reformas, destaca-se a de 1888, ano
em que a Vila de Patrocínio do Coité passa ser município. Como primeiro intendente
de Patrocínio do Coité, O vigário Vicente Valentim da Cunha deu início à ampliação
e construção das torres:

Em 1847 o nosso povoado era só um renque de casas em mau estado; logo


depois vamos encontrar, em 1872, a vila transformada, com a Praça da
Matriz rodeada de casas e mais duas ruas, a Rua do Carrapicho, em
descida ao Tanque da Missão, e Rua da Lama, reflexo palpável do surto de
desenvolvimento que invadiu a região. Quando a Freguesia foi criada, em
1871, tivemos a vinda do Padre Vicente Valentim da Cunha. O Padre
Vicente, tempos depois, tornou-se o primeiro intendente de Patrocínio do
Coité; com a emancipação político, em 1888, conseguiu recursos para
reconstrução da Igreja, reformas estas que só vieram ser efetivadas em
1903, já com o Padre Dr. João de Matos Freire de Carvalho. Segundo
dados históricos, a data que está gravada no alto da Igreja Matriz, com o
ano de 1888, homenageia o ano da nossa independência política, efetivada
em 1° de fevereiro de 1888, com a Eleição e posse da nossa primeira
Câmara e primeiro Intendente. Em toda a nossa história a Igreja Matriz de
Paripiranga teve seu papel importante para o desenvolvimento da
Comunidade 30.

A participação dos párocos na vida dos paroquianos se deu de forma tão


intensa, que os LT guardam registros de acusações e ameaças vindas de
personalidades influentes e grupos políticos da Vila, dirigidas aos párocos. Em um

29
DÉDA, Francino Silveira. Freguesia. O Ideal. ano II. nº 55. P. 3. De 16 e maio de 1954. Acervo do LEPH - UniAGES.
30 TRATADO DE LIMITES BAHIA/ SERGIPE. Correspondência oficial do Estado. 1916. P,
39

dos casos, o Padre João de Mattos Freire de Carvalho, escreve ao Arcebispo Primaz
da Bahia, informando a construção de uma residência particular na zona rural da
cidade; o que segundo ele, eram necessidade, “Pelas injustiças e perseguições a
que tenho sofrido na minha paróquia, vi-me obrigado a construir uma propriedade
rural em outra, distante uns quinze minutos de viagem...”31. O padre João de Matos
ao cita as condições conflituosas de seu relacionamento com os habitantes da
cidade, demonstra a situação conflituosa vivida pelos primeiros párocos, e justifica a
construção da propriedade fora dos limites da paróquia, como refúgio e medida de
segurança distante da situação conflituosa em que vivia na cidade. Porém as
indisposições entre os pároco e parte da população, não impediam a o crescimento
da fé entre os fiéis, que se faziam presentes em brande número em todos os ritos e
cerimoniais na matriz.

4.1 Aspectos socioculturais de Malhada Vermelha

O Povo de Paripiranga é de um modo geral, bastante religioso. Sempre


participando dos movimentos religiosos principalmente em momentos
comemorativos, como na quaresma, festa da Padroeira de Nossa Senhora do
Patrocínio e outras datas, sempre se vê nestas comemorações a integração dos
fiéis, que são pessoas da zona urbana e em maior parte da zona rural.
Até 1846, Coité tinha seu centro religioso na freguesia de Bom Conselho dos
Montes do Boqueirão (atual Cícero Dantas) hoje está eclesiasticamente subordinada
à Diocese de Paulo Afonso. Em 22 de junho de 1846, o vigário Caetano Dias da
Silva escrevia ao presidente da Bahia e comunicava que nas matas de Simão Dias
desta freguesia o Major José Antônio de Menezes está erguendo uma capela que
ainda não apresentou dote, e que pretende fazer achando-se ela pronta.
Quando a Capela foi construída os mesmos construtores mandaram vir da
Bahia sua primeira imagem, logo efetivada sua construção o primeiro a celebrar foi o
Padre Caetano Dias da Silva; vindo à sede da freguesia, grande número de fiéis
para assistir a primeira missa da Capela de Nossa Senhora do Patrocínio do Coité.

31
PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DO PATROCÍNIO. Livro do Tombo II. 1897. Paripiranga. Bahia. p. 11 v. Acervo
Digital do LEPH - UniAGES
40

Não se sabe a data desta missa. Com o passar dos anos e com o frequente
empenho do Padre Caetano Dias, a capela vai tomando um novo rumo, instituída a
Lei Imperial de 18 de setembro de 1850, sobre o registro imobiliário, a capela com o
empenho do Padre Caetano é a precursora para a organização do registro
imobiliário de Malhada Vermelha.
Em meio a tantas outras povoações surgidas a partir da ocupação do sertão
Baiano no início do século XIX; num processo marcado pela imposição da pecuária
extensiva, e pela violência no trato com indígenas; o Arraial de Malhada Vermelha
desenvolvia-se na lavoura. Abatiam-se as matas para o arroteamento dos terrenos,
e Erguia-se o Arraial a cada edificação construída, a cada melhoramento social
alcançado. De modo que já pelo idos de 1840; por necessidade e desejo de seus
habitantes, representados pelo Major José Antônio de Menezes, em solicitação ao
Vigário de Bom Conselho dos Montes do Boqueirão, se fez construir a Capela de
Nossa Senhora do Patrocínio.
Silva (1982) apresenta dados que sobre o povoamento de Malhada Vermelha
em meados do XVII, e descreve traços da população que habitou região de
Jeremoabo a qual Paripiranga pertencia no período, ao relatar a existência de
população muito pequena, em relação à áreas de terra, assim como o estado de
pobreza e servidão em que viviam:

Todos entregues á roça de mantimentos para a dieta ordinária, plantando a


mandioca, o milho, e o feijão; espalhando pequenso cafezais no sombreado
da mata ou no cinturão das árvores fruteiras adjacentes às moradiase
destinados ao consumo doméstico; aplicados à cultura da mamona para o
lume, e do algodão para roupa grosseira, e quando o comércio abriu
condições, passaram a fornecer para fora... Trata-se evidentemente de um
mundo rural, cujos limites naturais e sociais estiveram sempre agravados
pela peculiaridade ecológica e por instituições inadequadas. Uma população
que vive do campo ou em função dele. Os censos de 1872 e 1892 apenas
registram o cômputo geral, respectivamente 13. 034 e 17. 278
habitantes. 32

O contexto apresentado por Silva (1982) nos traz uma noção da precariedade
da vida da população de Paripiranga, no início de sua formação; em um ambiente
rural, desprovido das estruturas administrativas e sociais que permeiam o universo
urbano. Um ambiente em que as reformas educacionais promovidas pelo governo
ainda não haviam chegado, e a população vivia em condições de extrema
simplicidade e analfabetismo; uma vez que o conhecimento da leitura e da escrita

32
Id. Roteiro da vida e da morte: um estudo do catolicismo no Sertão da Bahia. 1882. p. 11-012.
41

era privilégio dos mais abastados donos de terras, que gozavam de condições
financeiras e base familiar que sustenta a formação educacional de sua prole; um
reflexo do que ocorria no grande sertão da Bahia Imperial.
O processo civilizatório que ali se desenvolvia e a situação de abandono
intelectual em que viviam os habitantes de Malhada Vermelha, fomentava a
necessidade de um sistema de instrução pública. Como o modelo de colonização
Portuguesa não contemplava grandes investimentos na educação dos colonos,
deixada a cargo da igreja católica desde o início da ocupação da terra; que apesar
da forte atuação os jesuítas, não abarcavam a todas as localidades; até meados do
século XVIII, o que se via nas pequenas povoações como Malhada Vermelha, onde
a presença da igreja se fazia através da figura do vigário, acumulando funções de
líder espiritual e político, sem que houvesse maior atenção à educação escolar; as
crianças eram iniciadas nas letras por professores leigos com instrução mínima, que
lecionavam em casa, a meninos e meninas cujos pais possuíam condições
financeiras para o financiamento das aulas; aos demais, restavam às lições que a
vivência social cotidiana lhes proporcionava.
As mudanças na instrução pública efetivadas pela Carta Régia de 06/11/1772,
e posteriormente a organização das Escolas Públicas Primárias, também tiveram
reflexo no já Distrito de Malhada Vermelha; que 1869, não possuía ainda uma escola
pública, e o ensino primário era ainda mínimo e continuava a cargo de educadores
leigos; havia uma escola pública na sede da Freguesia, em Bom Conselho, 15
léguas distante, como nos mostra o Francino Silveira Déda, em seus textos de
memórias, publicados no jornal local.

Em 1869, o Distrito de Malhada Vermelha não possuía ainda uma escola


pública, o ensino primário era em parte mínima ministrado por leigos; havia
uma escola pública na sede da Freguesia, a 15 léguas distante. Por isso,
em 15-2-1869, os Irmãos Paulo Cardoso de Menezes, Vitor Marculino de
Menezes e Lourenço Justino de Menezes, com apoio de Estanisláo Garcia
de Carvalho e outros, pediram ao Governo da Bahia a criação de uma
escola no Povoado Malhada Vermelha onde residiam e no pedido,
ofereciam uma casa pronta, com todos os utensílios necessários. Grande
gesto daqueles conterrâneos e parentes e afinal, veio à primeira escola
primária. 33

O cenário descrito por Déda (1953), caracteriza a realidade educacional de

33
DÉDA, Francino Silveira. As Escolas Primárias. O Ideal, ano I; nº 05; p, 04. Paripiranga, Bahia; 31 de maio de 1953.
Acervo do LEPH; UniAGES, Paripiranga/BA.
42

Paripiranga na primeira metade do Século XIX, onde o processo educativo de se


dava por iniciativas particulares, com aula ministradas por leigos em residências
cedidas por membros da população ou pelos próprios professores que ministravam
aulas em suas casas. Em suas crônicas recheadas de memórias da antiga Malhada
Vermelha ou da Villa de Patrocínio do Coité.
Como mencionado por Déda (1953), a instalação da Primeira escola pública
na povoação ocorreu em 15 (quinze) de fevereiro de 1869, por iniciativa de alguns
jovens como os irmãos Paulo Cardoso de Meneses, Victor Marcionillo de Meneses e
Lourenço Justiniano de Meneses, que dignaram-se em escrever ao Conselho
Municipal de Jeremoabo ao qual pertencia o Distrito, pedindo a criação de uma
escola onde residiam e no pedido, ofereciam uma casa pronta, com todos os
utensílios necessários; conforme ofícios transcritos abaixo:

Illmo. Srs. Presidente e Senadores da Câmara Municipal.

Os abaixo assinados moradores na povoação denominada Malhada


Vermelha, (Coité), compreensiva dos districtos do Coité e Sabão, na
Freguesia de Nossa Senhora do Bom Conselho deste município, convictos
de que a instrução pública é uma das necessidades mais palpitantes de que
devem curar as autoridades constituídas, como o primeiro complemento da
sociedade e felicidade dos seus membros, pois muita vez a ignorância é a
causa efficiente dos desvios do homem, que por ella não compreende os
deveres que tem consigo mesmo, para com seus semelhantes e para
consigo mesmo, para com seus semelhantes e com Deus, á esta
Illustríssima Câmara, como fiel e legítima representante de seus munícipes,
se dirigem, pedindo pelos termos competentes a criação de uma escola
primaria na referida povoação. Distando ela da sede da Freguesia 15
léguas, onde existe uma escola e sendo a sua população de muitos
habitantes, e absolutamente impossível que os abaixo assinados e mais de
famílias deem o devido ensino a seus filhos, que por essa forma ficam
privados desse beneficio tão salutar e eficaz, quanto necessário. Para
consecução desse fim, os abaixo assinados oferecem ao governo uma casa
pronta de todos os utensílios precisos para funcionar a escola e esperam
que esta Illustríssima Câmara, compenetrada do que vem eles expor, se
digne de fazer chegar esta sua solicitação no Exmo. Governo da Província
para prover essa necessidade tão urgente reclamada – Pede a V. S.
deferimento. 34

O ofício emitido pela Câmara de Jeremoabo em 18 e março de 1869,


transmitindo ao governo do Estado o pedido feito pelos habitantes do distrito de
Malhada Vermelha (Coité) a respeito da necessidade de construção de uma escola
para instrução da população, e informando a favor, por pertencer o distrito ao termo
da citada Villa, conforme Lei da Regência de 1831:

34LIMITES DO ESTADO DA BAHIA. Ofício nº 160. Imprensa Oficial do Estado. 1916. p. 404. Acervo do LEPH - UniAGES.
Paripiranga. Bahia.
43

Illmo. Exmo. Conselheiro, Presidente da Província

A Câmara Municipal desta Villa, acompanhando a justa solicitação de seus


munícipes os habitantes da Povoação de Malhada Vermelha (Coité), faz
chegar à alta presença de V. Ex.ª a inclusa petição em original que os
mesmos lhe dirigiram, afim de que V. Ex.ª se digne provê-la com a creação
de uma cadeira para o ensino público primário da referida povoação. Não
é preciso que esta Câmara mostre os resultados benéficos a salutares que
se colhem do ensino do povo e por isso, sem addir mais palavras. Requer e
pede a V. Ex.ª deferimento. 35

Durante décadas, dois mestres se destacaram na tarefa de iniciar as


crianças de Patrocínio do Coité no universo da Educação Formal. Pelou menos duas
gerações de coiteenses ou paripiranguenses tiveram acesso ao conhecimento das
letras através dos professores Marcionillo Pedriliano de Vasconcelos e do Professor
Francisco de Paula Abreu. Este último com grande participação na formação de uma
elite intelectual da cidade; colaborando nas discussões políticas e no
desenvolvimento da imprensa local.
Pela ausência de escolas de ensino secundário e de cursos
profissionalizantes; diversos jovens representantes dessas gerações, cujas famílias
possuíam situação financeira privilegiada; tiveram que completar seus estudos em
cidades vizinhas, ou até mesmo em outro estado; sendo que muitos deles
retornaram depois de formados, e substituíram seus mestres, dando início a um
novo ciclo de desenvolvimento do processo de desenvolvimento da educação formal
em Paripiranga.
Enquanto a população aguardava a chegada de um Mestre enviado pelo
governo da província, as aulas na nova escola eram ministradas pelos próprios
irmãos Menezes em residência da família. Finalmente em 1879, chega o tão
aguardado mestre, designado pelo estado, para a cadeira de escola primária do
sexo masculino criada para Malhada Vermelha.
Conforme consta no Relatório dos Trabalhos do Conselho Interino do
Governo da Província da Bahia – Dados da Secretaria Geral da Instrução Pública,
publicado em 31 de dezembro 1878, onde foi registrada a nomeação o Professor
Marcionillo Pedrilliano de Vasconcelos, para a cadeira de professor regente da então
Freguesia; que se tornou mestre de várias gerações; de Malhada Vermelha a
Patrocínio do Coité.
A escola pública, primeira existente na época, localizada na sede do

35
Id. Ofício nº 161. Imprensa Oficial do Estado. 1916. p. 406. Acervo do LEPH – UniAGES. Paripiranga, Bahia.
44

município, regida pelo Prof. Marcionillo a partir de 1879, veio curar os anseios
daqueles que tinham vontade de aprender. Marcionillo enfrentou problemas
estruturais, como falta de estrutura física adequada, já que não havia prédio público
com instalações específicas para funcionamento da escola; e as aulas continuaram
a ser ministradas em espaços cedidos e adaptados com mobilha alguns materiais
fornecidos pela população.

Tempos depois tivemos a permanência aqui por algum tempo do Frei Paulo.
Criada a Freguesia em 22 de maio de 1871, com as simpatias do Vice-Presidente da
província Francisco José da Rocha, que diz:

Faço saber a todos os seus habitantes, que a Assembleia Legislativa


Provincial decretou e eu sanciono a lei seguinte.

Art. 1°. Fica criada uma freguesia com a denominação de N. Senhora


do Patrocínio do Coité, cuja Matriz será a capela do mesmo nome,
desmembrada da freguesia do Bom Conselho dos Montes do
Boqueirão.

Palácio do Governo da Bahia, em 22 de maio de 1871. Francisco José da


Rocha 36

36
Id. Ofício nº 161. Imprensa Oficial do Estado. 1916. p. 406. Acervo do LEPH – UniAGES. Paripiranga, Bahia.
45

Com o desenvolvimento do Coité Malhada Vermelha era notada por todos,


não tardaria a Independência, várias lutas, no sentido de tornar a Capela
independente, criando-se a Freguesia não tardaria, e logo é criada a Freguesia de
Nossa Senhora do Patrocínio ao Padre Caetano Dias da Silva, o Padre Caetano viu
a Povoação nascer e foi ele o primeiro a celebrar na Capela de Nossa Senhora do
Patrocínio. Malhada Vermelha florescia o Progresso tomava novo rumo as lutas
políticas se organizavam, no sentido do desenvolvimento. Assim foram os primeiros
anos do nosso povoado, que nasceu da simplicidade colonial e foi agrupando
famílias oriundas de várias regiões, Jeremoabo, Lagarto, Estância e tantos outros
lugares.
Desde a sua construção a Capela de Nossa Senhora do Patrocínio vem
sofrendo grandes reformas, mas efetivamente veio sofrer a sua maior ampliação a
partir de 1888, com a instalação do município. Como primeiro intendente de
Patrocínio do Coité, O vigário Vicente Valentim da Cunha deu início à ampliação e
construção das torres. Esta grande obra veio se concretizar já no ano de 1903, com
o Padre Dr. João de Matos; daí por diante, a capela de Nossa Senhora do Patrocínio
foi tomando uma nova arquitetura; como nos mostram as correspondências enviadas
ao Governo do Estado, pelos representantes da administração pública de patrocínio
do Coité:

Em 1847 o nosso povoado era só um renque de casas em mau estado; logo


depois vamos encontrar, em 1872, a vila transformada, com a Praça da
Matriz rodeada de casas e mais duas ruas, a Rua do Carrapicho, em
descida ao Tanque da Missão, e Rua da Lama, reflexo palpável do surto de
desenvolvimento que invadiu a região. Quando a Freguesia foi criada, em
1871, tivemos a vinda do Padre Vicente Valentim da Cunha. O Padre
Vicente, tempos depois, tornou-se o primeiro intendente de Patrocínio do
Coité; com a emancipação político, em 1888, conseguiu recursos para
reconstrução da Igreja, reformas estas que só vieram ser efetivadas em
1903, já com o Padre Dr. João de Matos Freire de Carvalho. Segundo
dados históricos, a data que está gravada no alto da Igreja Matriz, com o
ano de 1888, homenageia o ano da nossa independência política, efetivada
em 1° de fevereiro de 1888, com a Eleição e posse da nossa primeira
Câmara e primeiro Intendente. Em toda a nossa história a Igreja Matriz de
Paripiranga teve seu papel importante para o desenvolvimento da
Comunidade 37.

A festa da Padroeira Nossa Senhora do Patrocínio, é realizada no mês de

37
SANTANA JR, Sebastião Araújo de. Meus Passos pela vida: Autobiografia. Aracaju. Publicação Independente. 2005. P,
06.
46

novembro, e inicia sempre na penúltima Sexta-feira do mês, com o novenário e a


procissão no último domingo do mês. Também é realizada uma festa de largo, a
chamada festa profana, na última semana da festa, com grandes espetáculos de
artistas locais, regionais e nacionais.
A confirmar o que nos diz Silva (1982) acerca da reconstrução do catolicismo
presente na religiosidade do sertanejo; manifesta-se o folclore local, através dos
seguintes folguedos:
Roda de são Gonçalo, de cunho religiosos, realizado ao som de Caxias,
zabumbas, violas e outros instrumentos rústicos, em que um grupo de pessoas faz
rodeios diante de um altar armado no pátio de uma casa, em louvor a São Gonçalo;
reisados, conjuntos, denominados “Terros”, organizados com o concurso de moças e
rapazes, apresentando fantasias ricamente ornamentadas, dançam e cantam ao
som de bem arranjadas orquestras popular, exibindo-se de ordinários nas ruas e as
portas das casas residenciais, conhecida como banda de pífanos, os proprietários
das casas são provenientes avisados. No recinto das referidas casas apresentam
cantorias e bailados, saudando geralmente o “dono da casa”.
As manifestações culturais de Paripiranga constituem-se basicamente das
heranças deixadas por seus colonizadores, como também dos escravos e índios;
que são as tradicionais apresentações folclóricas e as demais manifestações
populares, sendo dessa maneira uma tradição; concebendo “O estudo das tradições
esclarece bastante as tradições humanas com o passado; isto porque toda tradição
inventada na medida do possível utiliza a história como legitimadora das ações e
como cimento da coesão grupal” 38.
As manifestações culturais verificadas no município estão intimamente
relacionadas às crenças religiosas com predominância dos rituais católicos; a
exemplo do “Natal”, que consiste em novenários em celebração aos padroeiros de
cada povoado, onde ocorrem missas nas capelas, e depois a celebração iniciam-se
as os shows de música no estilo festa de largo, com parque de diversões, vendas
bebidas e comidas típicas. Esses “natais” movimentam a economia e a vida social
da população e seus arredores. As celebrações do mês de junino estão entre as
mais concorridas no município.
As crenças e rituais que dirigidos a Santo Antônio, em que as pessoas

38 HOBBESBAWN, Eric. RANGER, Terence. A Invenção das Tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. p. 21
47

solteiras realizam visitas em 13 casas que tenha o Santo casamenteiro, acendendo


velas e fazendo preces, para conseguir um bom casamento. Nos festejos juninos,
geralmente as famílias se reúnem e suas casas, em volta das fogueiras de lenha
retirada dos das matas nos arredores, para dançar, saborear bebidas e comidas
caseiras, soltar fogos, travar as famosas guerras de Cravinotes¹; diferentemente do
são Pedro, quando as fogueiras são acesas em casas de viúvos, e ocorre a grande
festa de largo, com participação de grandes conjuntos musicais e no forró dita o
ritmo dos festejos. Na coluna de Francino Silveira Déda no semanário local da
década de 50, intitulado O Ideal, observa-se a seguinte nota sobre os festejos
populares:

(...) Com mixto de alegria e de saudade recordamos, vivamente, os festejos


populares que se faziam em honra de Santo Antônio, de S. João e de S.
Pedro – trindade querida do coração do povo – festejos cheios de
expressão e de poesia, repassados de acentos de sinceridade, de
animação de expontaneidade. (...) 39.

Percebe-se no texto acima extraído do jornal da década de 50, mas que trata
de memórias que remontam a épocas anteriores, quando as tradições culturais de
Paripiranga já estavam desde o seu processo de formação territorial, atreladas aos
ritos do catolicismo, porém recheadas de elementos agregados de outras culturas e
crenças. O texto do O IDEAL demonstra a riqueza cultural que há na história da
cidade. O mês de junho é um dos meses mais alegres e movimentados, em
comemoração aos santos da trindade católica; festejos que reúnem as famílias em
volta de fogueiras, comes e bebes fazem a alegria do povo, fogos, foguetes que
anunciam a solenidade do mês.
A nota do semanário O IDEAL citada acima, aborda a alegria da população
com as comemorações que envolvem aspectos do culto católico e da cultura pagã:
“(...) Era de ver a alegria e entusiasmo que reinava em tão sadias e agradáveis
reuniões familiares; velhos e moços entregavam-se aos ardores da folia ao som das
sanfonas, dos violões e dos pandeiros. (...)” 4038. Entre essas comemorações que
faziam a alegria da população, destacamos as procissões em homenagem à
padroeira Nossa Senhora do Patrocínio, em que os fiéis e devotos se reúnem na
praça da matriz e percorrem as principais ruas da cidade.
A devoção à padroeira Nossa Senhora do Patrocínio, é o ponto forte dos

39
DIAS, Antônio Conde. Festas Juninas. “O Ideal”, Ano II, nº 60, p. 01; 20 de junho de 1954. Acervo0 do LEPH; UniAGES.
40 Idem. p, 01.
48

festejos religiosos que ocorriam, e ainda ocorrem anualmente no mês de novembro,


mobilizando toda a população de modo a envolver todos os povoados nas noites dos
novenários em louvor à Senhora do patrocínio. Eram oito noites de novenas, sendo
que o último dia é dedicado à procissão. Com cortejo da imagem pelas principais
ruas da cidade seguida por uma multidão a entoar cantos de louvores à santa.

4.2 Padre João de Matos e afirmação da força da Igreja da


formação da estrutura sociocultural de Paripiranga

Personagem fundamental na consolidação do catolicismo e registro de


passagens históricas de Paripiranga o Padre Dr. João de Matos Freire de Carvalho
nasceu em 11 de outubro de 1865, na Fazenda Baixão, município de Simão Dias.
Tendo completado os estudos das primeiras letras em Lagarto. Completou sua
formação eclesiástica nos seminários da Bahia e de são Paulo; porém não recebeu
as ordens sacras por conta de sua pouca idade.
Após internato no Colégio Pio Latino-Americano, de Roma lhe é conferido o
subdiaconato, em 1887, nos anos seguintes, chega ao Diaconato e ao Presbiterato
pelas mãos do Cardeal Lucidio Maria Parochi, Vigário de S. Santidade, na Basílica
de São João de Latrão. Sempre muito dedicado aos estudos. Formou-se ainda em
Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Ao regressar no
ano de 1889, foi nomeado Vigário de Patrocínio do Coité em substituição ao Padre
Vicente Valentino da Cunha.
Como vigário de Paripiranga, durante 47 anos, de 1889 a 1946; consolidou a
catolicismo e a influência da igreja na cidade; sendo considerado por seus
paroquianos como sacerdote de elevada cultura, um orador sacro e um escritor
habilidoso dotado de vastos recursos intelectuais.
49

Imagem. Pe. Dr. João de Mattos Freire de Carvalho


Fonte. Arquivo da Paróquia de N. S. do Patrocínio;
Paripiranga; Bahia.

Graças às suas habilidades como escritor, é possível na atualidade, terá


acesso a informações acerca do passado da paróquia, e consequentemente na
fundação da cidade. São do Padre João de Matos, a maioria dos escritos dos LT, da
Paróquia de Nossa Senhora do patrocínio. Nas mais de 300 páginas escritas de
próprio punho, estão registrados os principais acontecimentos da paróquia, bem
como os primeiros registros de limites da cidade, com um mapa desenhado pelo
próprio Padre, dando conta dos seus domínios paroquiais. Mapa esse que foi usado
e publicado oficialmente pelo Dr. Braz do Amaral em 1916, como referência limítrofe
na questão territorial envolvendo Bahia e Sergipe.
50

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A evolução histórica de Paripiranga ocorre em vários períodos. O primeiro


período compreende a chegada dos índios, primeiros habitantes da região; sendo
eles os índios Tapuias, fundando nas Matas o aldeamento da “Cerca Verde”. O
segundo compreende a penetração dos colonos, com a distribuição de sesmarias.
A evolução histórica de Paripiranga perpassa pela vivência de índios tapuias
na região, até o final do século XVIII, quando foram expulsos pela ação forçosa dos
colonos e a distribuição de Sesmarias. No processo de ocupação e estruturação
social, destacam-se num primeiro momento, as forças da pecuária extensiva, que
cederam espaço para o individualismo agrário, como fator que concorreu para a
mais forte apropriação privada da terra.
Sofre também a concorrência da organização eclesiástico-paroquial, que visa
concentrar o essencial do funcionamento da vida social-paroquial à volta da igreja e
do pároco; o que se configura nas devoções e ritos que atraiam os favores e a
proteção divina; na grande invocação da Senhora do Patrocínio, que mobilizavam a
comunidade, tendo a mística da cruz e todos os seus significados, como alimento e
sustentação na vivência cotidiana.
A distribuição de sesmaria, que foi indicativa do avanço colonizador,
prossegue, sempre, seguidamente, até meados do século XVII. E com a invasão
holandesa os criadores se haviam embrenhado pelas matas a fim de ocultarem os
seus rebanhos, sendo elas, as matas de Simão Dias e do Coité, local desejado para
ocultarem as reses. Essas matas, segundo copiosa documentação apresentada por
Lima Júnior, como por João de Matos e outros historiadores e memorialistas,
atestam a invasão ter chegado até os municípios de Paripiranga e mesmo
Jeremoabo.
Lutas políticas davam mais incremento ao Arraial de Malhada Vermelha. O
desejo de Afirmação, rompimento com as influências dos párocos e dos políticos
sergipanos motivou a construção da Capela de Nossa Senhora do Patrocínio em
1846, financiada, financiada pelo mais importante senhor de terras do lugar, o major
José Antônio de Menezes, e contando com os incentivos das autoridades baianas,
ansiosas por garantir o território sob sua jurisdição.
51

No contexto das rusgas políticas, a Capela surge como instrumento de


firmação cultural, de fortalecimento do ideal de pertencimento. Tanto que, em pouco
tempo, é criado Arraial de Malhada Vermelho ainda mais forte e robusto em sua
estrutura, do que o primeiro surgido ao redor do Coité Velho. A capela proporcionou
aglomeração de pessoas, saberes, ações, valores e crenças que logo se
constituíram na Vila de Patrocínio do Coité. A chegada do Pároco Vicente Valentim
da Cunha; foi de extrema importância dentro desse processo. O Padre Vicente
desempenhou papel fundamental na emancipação política, tornando-se depois o
primeiro Intendente de Patrocínio do Coité; mesmo enfrentando problemas por ir
sempre de encontro aos interesses das autoridades políticas da Vila.
A influência da religião se fez presente em todos os aspectos de sua estrutura
administrativa e sociocultural; como fator determinante na construção de sua
identidade cultural. Um sentimento de identidade, que se construiu a partir da
aglutinação sutil, ainda que oficialmente negada, de hábitos e valores católicos e de
elementos culturais dos nativos e dos negros que deram ao catolicismo implantado
na cidade, e bem como em todo o sertão, aspectos singulares e de riqueza cultura
incalculável.
A influência da religião se fez presente nos monumentos construídos, com a
edificação da Capela no ponto mais alto da povoação; uma escolha repleta de
simbolismos, como forma de impor a presença e o controle sobre a vida espiritual e
social. Essa influência manifesta-se ainda nos festejos sempre em homenagem a
santos e ao cristo crucificado; nas crenças e nos valores sociais cultivados e
transmitidos no seio das famílias, através das quais aos poucos se constrói uma
estrutura social seletora e elitizada pelo poder advindo da pose da terra, a obtenção
do capital e pelos dogmas da igreja.
52

REFERÊNCIAS

AMARAL, Hermenegildo Braz do. História de limites- Bahia/Sergipe. Ed. 1916,


Arquivo Público, Salvador/BA.

AMORIM, Fernando. Memória histórica de Pombal. Ed. Art Laros Serviços


gráficos, ribeira do pombal/BA.

ARRAES, Damião Esdras A. Curral de reses, curral de almas: urbanização do


sertão nordestino entre os séculos XVII e XIX. Dissertação (Mestrado), Universidade
de São Paulo / Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, 2012.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 6023 –


Informação e Documentação - Referências - Elaboração. Rio de Janeiro: ABNT,
2002. 24p.

CARVALHO, Pe. João de Mattos Freire de. Anápolis: Conferência histórica no


Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Ed. Sampaio e Cia. Aracaju. 1922.

CERQUEIRA, Telma Antonieta Sousa. Bom conselho dos montes do Boqueirão:


Cícero Dantas. Salvador, Ba: Arco-Íris, 1989.

CONCEIÇÃO, Hélida Santos. Pedro Barbosa Leal e a Colonização do Sertão da


Bahia no Século XVIII. XXVII Simpósio Nacional de História ANPUH. Natal-RN.
2013.

DANTAS. Mônica Duarte. (Povoamento e ocupação do sertão de dentro baiano:


Itapicuru (1549-1822). Penélope, nº 23. USP. São Paulo. 2000. pp. 22.

SANTOS, Márcio Marcio Roberto Alves dos. Fronteiras do Sertão Baiano: 1640-
1750. Monografia (graduação). USP. São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas; São Paulo; 2010.

GONÇALVES, Osvaldo de Sales. Cicero Dantas-100 anos. Composição JB de


Brito, Ed. Emita- serviços gráficos, salvador/BA.
HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence. A Invenção das Tradições. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1987.

LIMA, Lana Lage da Gama. O Padroado e a Sustentação do clero no Brasil


Colonial.
SAECULUM-Revista de História. João Pessoa. Paraíba. Jan/Jun. 2014.

SANTANA, Roberto Santos de. Adustina – Sua História. Aracaju. J. Andrade. 2008.
250 p.

SANTANA JR, Sebastião Araújo de. Meus Passos pela vida: Autobiografia.
Aracaju. Publicação Independente. 2005. 278 p.
SILVA, Cândido da Costa e. Roteiro da vida e da morte: um estudo do
53

catolicismo no Sertão da Bahia. São Paulo: Ática, 1982. 88 p.

PINSKY, Carla; LUCA, Tania Regina de (Org.). O historiador e suas fontes. São
Paulo: Contexto, 2009. 366 p.

LISTA DE FONTES

PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DO PATROCÍNIO. Livro do Tombo II.


Paripiranga. Bahia. 1889.

PARÓQUIA DE BOM CONSELHO DOS MONTES DO BOQUEIRÃO. Livro do


Tombo.
Bom Conselho. Bahia. 1845.

LIMITES DO ESTADO DA BAHIA – Bahia e Sergipe. Imprensa Oficial do Estado.


Vol. I. Salvador. Bahia. 1916. Pag. 406. Of. Nº. 160

BIBLIOTECA NACIONAL. Relatório da Província da Bahia em Prol da Regência,


e Império de sua Magestade Imperial D. Pedro I e da Independência Política do
Brasil. Província da Bahia; Typographia Nacional; 1823. Acervo Digital da Biblioteca
Nacional. Hemeroteca Digital Brasileira. Acesso em15 de
janeiro de 2016.
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=130605&PagFis=5382&Pesq
=L
EIS%20E%20RESOLU%C3%87%C3%95ES%20DA%20ASSEMBL%C3%89IA%20
PROV INCIAL%20DA%20BAHIA.

ARQUIVO NACIONAL, Cêntro de Documentação e Informação do. Constituição do


Império do Brasil. Fundo: Constituições e Emendas Constitucionais. Cod: DK.
1824. 58 p.

SILVA, Cândido da Costa e. Roteiro da vida e da morte: um estudo do


catolicismo no Sertão da Bahia. São Paulo: Ática, 1982. 88 p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 6023 –


Informação e Documentação - Referências - Elaboração. Rio de Janeiro: ABNT,
2002. 24p.

SANTANA, Roberto Santos de. Adustina – Sua História. Aracaju. J. Andrade. 2008.
250 p.

JÚNIOR, Sebastião Araújo de Santana. Meus Passos pela vida: Autobiografia.


Aracaju. Publicação Independente. 2005. 278 p.

LIMA, Lana Lage da Gama. O Padroado e a Sustentação do clero no Brasil


54

Colonial.

SAECULUM-Revista de História. João Pessoa. Paraíba. Jan/Jun. 2014.

SOUSA. João Batista de. Paripiranga. O IDEAL. Ano II. nº 66. 1954. p 04. Acervo
Laboratório de Ensino e Pesquisas em História. UniAges, Paripiranga – BA.

O IDEAL” Ano II – de 01.08.54. Apud: SANTANA JR, Sebastião Araújo de. Meus
passos pela vida. Aracaju. 2005; p 05.

DÉDA, Francino Silveira. O Município e sua Edilidade. O IDEAL. Ano I. Nº 04. Pag.
02. 24 de maio de 1953. Paripiranga. Bahia. Acervo do Laboratório de Ensino e
Pesquisa em História da UniAGES.

DÉDA, Francino Silveira. As Escolas Pimárias. O Ideal, ano I. Nº 05. Pag. 04.
Paripiranga, Bahia. 31 de maio de 1953. Acervo do LEPH - UniAGES. Paripiranga.

O Ideal. Ano II, nº 60, p. 01,20 de junho de 1954. Paripiranga. Acervo do LEPH -
UniAGES. O Ideal. Ano II, nº 60, p. 01,20 de junho de 1954. Acervo do LEPH -
UniAGES.

ARQUIVO NACIONAL, Fundo DK - Constituições e Emendas Constitucionais do.


Constituição para o Império do Brasil. Rio de Janeiro. 1824.
55

APÊNDICE
56

TRANSCRIÇÕES

SOUZA, João Batista de. Paripiranga: Especial para O IDEAL. O Ideal. An0 II,
nº. 66. P. 1-4. 01 de agosto de 1954. Paripiranga, Bahia. Acervo do LEPH –
UniAGES.

Paripiranga: Especial para O IDEAL

A Hipótese de que foram precisos quatro milhões de anos para o macaco se


transformar em ser humano, repele a natureza nega a evolução histórica dos
povos. Não nega, porém, a do homem gigante, nossos primitivos e de outros
animais inferiores. Provaram-na as pirâmides do Egito, o Colosso de Rodes e
outras maravilhas da antiguidade. O mastodonte, o megatério, além de muitas
outras de que trata a Paleontologia. Daí o homem gigante e não o homem macaco,
que como ficou dito acima, repele a natureza, nega a evolução histórica dos povos.
Mas o homem foi evoluindo no sentido de conservação da sua espécie, e, no
princípio, embora habitante das florestas, alimentava-se de erva e carne de
outros animais, tinha a compreensão de um ser pensante e depois, em número
sempre crescente, foram se agrupando em aldeias, tribos, nações. Aí, já não era
mais o homem errante. Era o estado precisando de leis para governar os povos. E
assim, eis hoje as nações divididas em estados autônomos políticos e econômicos e
estes em municípios autônomos administrativamente.
Paripiranga sem dúvida seguiu a lei evolutiva da natureza. Nasci nessa
cidade e apenas contava como 15 anos de idade, quando em 1899, a deixei. Dada
a minha pouca idade, sem conhecimento histórico, sem instrução, não pude
pesquisar a data de sua origem, os fatos que lhe sucederam, depois de
perlustrada pelo homem civilizado, até ser transformada em distrito e finalmente
em município. Mas na minha verde idade, conheci uma centenária, ascendente da
família Dória, que com 116 anos de idade naquela época, contava ter sido uma
das que primeiro pisaram terras de Paripiranga, na companhia do capitão
encarregado de perseguir e expulsar, como o fês os índios selvagens do lugar.
57

Começando logo que chegou, a construção de um barracão, onde todos ficaram


alojados. Dizia:

- Eu tinha apenas 16 anos de idade, na época. Tudo aqui era mata. Apenas
habitada pelos bugres. Não longe do nosso acampamento, foi encontrada uma
lagoa oculta no meio da mata. É a atual “Lagoa Escondida”.
Pela narrativa acima exposta, Paripiranga teve seus primeiros habitantes
naquele destacamento, isto é, em fins do século XVIII, em 1795, ou 1796.
Chamou-se a princípio, “Malhada Vermelha” e pertencia ao município de
Itapicuru.
A 25 de outubro de 1831, sendo Geremoabo elevado a á categoria de
município, “Malhada Vermelha” foi incorporada a esse novo município. Sempre
crescendo, aumentando, em 1818, segundo o testemunho de meu avô paterno,
José Rodrigues da Silva, que ficando órfão de pae e mãe, se incorporou aos seus
moradores, indo os seus dois irmãos mais velhos morara na antiga província de
Alagoas, onde fundaram o Arraial de “Água Branca”.
Hoje município, “Malhada Vermelha” já era um povoado com as suas feiras
semanais regulares. Todavia, como se vê do nosso conterrâneo e ilustre Cronista
Francino Silveira Déda, no seu artigo, “Escolas primárias”, publicado nas colunas
dêsse órgão de 31 de maio de 1953. Em “Malhada Vermelha” não havia uma só
escola pública, senão muitos anos depois, graças à influência dos irmãos Paulo
Cardoso, Vitor Marcolino, Lourenço Justino de Menezes, apoiados por Estanisláu
Garcia de Carvalho e outros moradores do lugar, que a 15 de fevereiro de 1869,
no sentido de dirigirem um pedido ao presidente da província.
Pela lei provincial nº. 1.168. de 22 de maio de 1871, “Malhada Vermelha”
elevada a categoria de distrito ou freguesia, tomou o nome de Nossa Senhora do
Patrocínio do Coité.
Em 9 de junho de 1875, Bom Conselho elevado à categoria de município,
para este novo município passou Paripiranga.
A lei provincial nº. 2.553, de 1 de maio de 1886 o elevava a categoria de
município, instalada e a 1º de fevereiro de 1888. E Finalmente pelo Decreto nº.
12.978, de 1º de junho de 1944, foi elevada à categoria de comarca, data que,
segundo presumo, passou a denominar-se Paripiranga.
58

São estes os dados históricos que conheço do meu torrão natal. A outros
filhos daí, mais cultos, mais competentes, e mais inteligentes, entrego a tarefa de
completá-la de corrigirem algumas falhas deste meu artigo.
Sirvo-me de artigo d’O Ideal para concluir este meu artigo. Isto porque, no
meu tempo de menino, Paripiranga parecia de progresso, salvo aqueles
empreendidos e executados pelo dinâmico padre Vicente Valentim da Cunha, que
testemunho: Terraplanagem das ladeiras da “Lagoa Escondida” e do “Tanque da
Missão”; e a reconstrução da Capela, no seu interior e outros trabalhos que lhe
dizem respeito. O Padre Vicente Valentim foi um grande realizador a quem essa
cidade deve relevantes serviços. M 1899, deixando essa minha cara terra, não
pude acompanhar a evolução do seu progresso, embora com a frente virada para
ela. Hoje, acompanhando os artigos publicados nesse semanário, posso afirmar
que Paripiranga, colocado no vigésimo oitavo lugar entre os 150 dos outros
municípios do estado; é uma cidade civilizada, com uma plêade de homens
ilustres, cultos, inteligentes; ruas bem traçadas; praças importantes, qual a
“Praça da Bandeira”; próprios para a sua administração, mercado; edifícios para
a cadeia pública, cinema, hospital, correios e telégrafos; uma igreja católica; um
templo adventista e um posto médico, etc.
É que os seus últimos governantes, entre os quais, dinâmico Jonathans
Lima, deram o exemplo do padre Vicente Valentim da Cunha. Tenho fé nos
homens da minha terra, principalmente nos que enfeixam nas suas mãos os
poderes públicos, que, como outros do passado, hão de trabalhar pelo seu
engrandecimento. Congratulo-me com os meus conterrâneos.
Paripiranga, uma palavra de origem tupi-guarani – pari-cercado – piranga
– vermelho.

Ponta Porã, 24/6/54.


59

DÉDA, Francino Silveira. O Município e sua Edilidade. O IDEAL. Ano I. Nº 04.


Pag. 02. 24 de maio de 1953. Paripiranga. Bahia. Acervo do Laboratório de Ensino e
Pesquisa em História da UniAGES.

O MUNICÍPIO E SUA EDILIDADE

Em épocas remotas, os moradores dos Burgos, se constituíram em


sociedade civil, e daí surgiu o Município, com magistrado próprio, e assembleia
comunal, segundo Cícero a primeira cidade que se constituiu em município foi
“Tusculum”, situado nuns relevos conhecidos por “CollesTusculam”, depois
arrazados pelos Romanos em 1191. No local fica hoje a cidade de “Frascati”, na
Itália, perto da qual, e uma cratera existem os restos de “Tusculum”.
Daí surgiu por tanto a ideia de Município, com uma vereação encarregada
de administrar os peculiares interesses da respectiva circunscrição, segundos as
faculdades constitucionais ou leis orgânicas.
Os tempos se foram passando, e um dia Patrocínio do Coité também
constituído em sociedade civil, instalou seu município, independente do de Bom
Conselho dos Montes dos Boqueirões, com os limites da antiga Freguesia de N. S.
do Patrocínio. Em 1. de fevereiro de 1888; não foi de meu tempo, mas parece que
vejo os quatro garbosos Tenentes e Alferes da “velha guarda” – José Cardoso dos
Santos, Presidente; Alexandre José Ribeiro, Vice P.; Ludjero de Souza Rocha e
Joaquim Norberto de Santana, enfiados em jaquetas de casinetas preta; gravatas
largas de laço; e botinas de elástico “banidas”, sentados em torno de uma mesa
tosca, em casa alugada por particulares, os quais, simplesmente com sua
presenças, oficializavam a instalação do novo município, sua palavras e gestos
eram ditadas e acenados por um moço que beiradava a mesa, pronto para ser
nomeado Secretário da nova comuna, o que se dera da encomenda no mesmo dia e
na cessão imediata; era o politicastro ourives Jesuino José Vieira. A Camara se
constituía de mais 3 vereadores; eram Elpido Justino de Oliveira, Quintino
Rodrigues Guimarães, e João Antônio dos Anjos que embora sendo cidadãos
respeitáveis e independentes, não davam á vaidade de patentes fictícias e como
60

também eram homens de pouca ilustração e quisessem zelar pela cartilha ourives
Secretário, limitavam-se a não comparecer. Seguiram-se outras Camaras e uma
delas eu posso informar o seguinte: Um Fiscal de Rendas Municipais certo dia
entrou no Talho, diriiu-se ao Vereador presidente do Conselho que ali vendia
carne verde e cobrando-lhe cicença do dia, cobrava-lhe também dez tostões do
imposto de sua casa de farinha, Santos Deus!... Alarmou o Vereador em plena
feira; - “Quem já “viu” falar em imposto de casa de farinha?”... O fiscal era um
mocinho metido a discutir e não era se não o velho rabiscador desta crônica, que
respondera: - Perdão Sr. Ferreira da Costa. O Sr. Não é o próprio presidente do
Conselho que decretou a lei? “Não sei disso” replicou furioso o Edil e continuou:
vou perguntar ao compadre Justino e lhe respondo depois.
Não houve tréplica, o velho Justino Virgens, era homem probo honrado,
chefe político local, de reconhecido mérito e caráter invejável pagou os dez tostões
pelo seu amigo e tudo estava acabado... Hoje, Paripiranga tem um Conselho à
altura: sua vereação atual é composta homens capazes e ali se discute com
segurança os interesses vitais do município.
Alí está á palavra dócil, convincente e insinuante do Edil Sebastião Araújo,
atrevéz de um rizo amável que convence. Alí está um neto de João Antônio dos
Anjos um dos primeiros Vereadores do Municipio, desde a instalação é o Edil
Deoclecino Dias que ao contrário do avô homem simples, é o edil neto homem
sabe justificar sempre os seus votos conscientes. Ali está o Vereador Justino
Virgens honrando o nome do seu velho pai, referido linhas atrás. E vamos
recordar que li está também o anãozinho de corpo e gigante de alma, o Edil
Analdino Carvalho que de quando em quando, firma-se nas plantas dos pés e
levanta-se com ênfase, veementes protestos contra o executivo por não ter
cumprido até hoje a lei que manda adquirir a Praça de Esportes e com galhardia
defende a necessidade da prática do “Foott-Ball Association”; de sua vez o Edil
Elson Correia de supercílios fechados, e cílios longos que se enrolam pela
pálpebras, com um fragmento de papel rolando nas pontas dos dedos olha para
seus pares estarrecidos Pedro Rabelo, Paulo Dias e Ribeiro Santiago e fica
apensar consigo mesmo: - Será o Orlando “Ponto de Ouro” meia esquerda do
Flamengo, protestando contra o agressor Haldway de Montevideu, ou será
61

mesmo o colega Analdino quem fala?! A verdade é que Paripiranga tem hoje uma
Camara de Vereadores que não se deixa levar por simples insinuações de
Secretarios encomendados nem os seus membros assinam de “cruz”. E, eu de
longe, recordando o progresso de meinha terra.

S. DIAS, SE. 5/53


62

Ideal. Ano II. DÉDA, Francino Silveira. Das margens do Itapicurú ao vale do
Irapiranga. O Nº 78. Pag. 03. 23 de maio de 1955. Paripiranga. Bahia. Acervo do
Laboratório de Ensino e Pesquisa em História da UniAGES.

DAS MARGENS DO ITAPICURÚ AO VALE DO IRAPIRANGA

Instituída nas cousas do passado, procurando a cepa pela raiz, vamos topar
com o tronco do velho Itapicurú e esgravetando o pé da cêpa, vamos encontrar o
seguinte sobre Paripiranga antes de ser Malhada Vermelha.
Corria ano de 1648 e pessoas que foram em busca de trabalho à região
marginal do rio Itapicurú de Cima, alí erigiram uma ermida e vieram ao local
moradores de outras paragens; dada porém a infertilidade das terras, só
cinquenta anos depois, era criada alí, freguesia de N. S. de Nazareth do Itapicurú
de Cima, e naquela freguesia estavam encravadas as terras da nossa região que
mais tarde seria o distrito de Malhada Vermelha, hoje cidade de Paripiranga.
Naquela Freguesia, e lá para os lados do sertão. Estava, a alguns anos depois,
edificada também uma Capela de Senhora de Brotas que foi arruinada e
desaparecida, mas, depois algum tempo, foi edificada naquelas imediações, a
margem do Rio Jeremoabo, a Capela de São João Batista de Jeremoabo do Sertão
de Cima.; a qual, por alvará de sua Real majestade, foi em 1718, desmembrada
da Freguesia de Itapicuru, ficando independente e a nossa região, ainda sem
povoamento, por força daquele Alvará, passou a pertencer à Freguesia de
Jeremoabo e esta tinha apenas três povoações; a da sede, a de Massacará, aldeia
dos índios cahimbés e Cariris e a de Sacos dos Morcegos, aldeia também de índio
cariris. A nova Freguesia de Jeremoabo era 80 léguas de nascente ao poente e 30
léguas de norte ao sul e o grau de educação e incultura de sua gente e o atrazo da
Freguesia a que pertencíamos era de tal modo, que dizia o padre Januário José de
Souza Pereira, 6º pároco daquela freguesia: - “Em todo o Estado do Brasil, não há
Freguesia de peor nome que esta do Jeremoabo; de tal sorte que deu seu nome e
ouvido com temos em todas as partes. Os naturais e moradores saindo fora, negão
a pátria e freguesia; os bons de envergonhados e os maus por temos de seus
malefícios”.
63

Era a freguesia a que pertencíamos que recebia acusação tão humilhante;


e, ainda nos diz o Padre Januário, que, o primeiro Pároco da Freguesia de
Jeremoabo, ao deixa-la para sempre, tivera a seguinte expressão:
- “No Jeremoabo nenhum instante queria estar, ainda que por isso
merecesse o ser Pontífice”. Mas finalmente, cá para os lados da fronteira com a
Freguesia de Nossa S. da Piedade de Lagarto, mais ou menos em 1800, foi
iniciado o povoado na região do Vale do Irapiranga ou Vaza-Barris, e montado um
engenho naquela divisa; o Engenho Coité. Alí também a perversidade dos
habitantes era a mesma de toda a Freguesia, do que nos dá notícia quela devassa
no referido Engenho em 1828 de que já falamos em outra crônica.
Dentro da freguesia de Jeremoabo já havia também em 1817, uma outra
capela e povoação sob a invocação de N. S. do Bom Conselho, a qual em 1918, era
ereta em Freguesia independente da de Jeremoabo e a nossa região ficou a
pertencer a esta última com a denominação de Freguesia de N. S. do Bom
Conselho dos Montes do Boqueirão; até que mais ou menos em 1840, o saudoso
Major José Antônio de Menezes, edificou para nós uma Capela sob a invocação de
N. S. do Patrocínio, já no Distrito de Malhada Vermelha. A política do distrito era
feita na Freguesia de Bom Conselho, onde tínhamos os nossos representantes,
éramos então, de Jeremoabo apenas jurisdicionados pela Comarca e
politicamente também ainda não tínhamos nos desagarrado dos males da antiga
Freguesia, que nos dá notícias o ofício do Dr. Caetano Vicente de Almeida Junior,
Juiz de Direito de Jeremoabo, em 20 de dezembro de 1860.
Em resumo, em 1871, já com a nova Igreja em bôa ordem, fomos agraciados
também com a elevação a Freguesia, desmembrada da de Bom Conselho; e, 1866,
elevada a categoria de Vila; daí progredimos como Município e termo de
Patrocínio do Coité, e depois Vila Município e Termo de Paripiranga e por decreto
numero 12.978 de 1º de junho de 1944, elevada a categoria de Comarca; já agora
com os nossos costumes marais, cívicos e políticos bem diferentes dos primórdios
da freguesia e bem podemos hoje nos envaidecer de ser , talvez entre todas as
localidades hoje constituídas dentro da velha e vasta freguesia do Itapicurú , a
nossa, a mais florescente, a de futuro mais promissor. E foi assim, que passamos
das Margens do Itapicuru, ao Vale do Irapitanga. S. Dias-SE-5/1955
64

PAROQUIA DE NOSSA SENHORA DO BOM CONSELHO. Livro de Tombo II.


Decretos oficiais de criação de todas e cada uma das Paróquias limítrofes de Bom
Conselho. p. 11-11V. Cícero Dantas. Bahia. Acervo do LEPH – UniAGES.
Paripiranga. Bahia.

Decretos oficiais de criação de todas e cada uma das Paróquias limítrofes de


Bom Conselho – Cumbe, Ribeira, Geremoabo e Paripiranga - conforme
pesquisas do M. Renato Galvão no Arquivo Público da Bahia.

Lei nº. 1175 de 22 de março de 1872 criando a Freguesia de Massacará.


João Antônio de Anjo Freitas Henriques, presidente da Província da Bahia, faço
saber a todos os habitantes que a Assembléia Legislativa Provincial decretou e eu
sancionei a lei seguinte:
Art. 1 – Fica creada em matriz a capela de S. S. da Trindade de Massacará
desmembrada da paróquia de S. S. Coração de Jesus de Monte Santo, a cujo
termo fica pertencendo.
Art. 2º - A nova Freguesia terá os limites seguintes: com a paróquia de Monte
Santo dividir-se-á pelas fazendas riacho, Limoeiro, Giboia, (Ilegível), seguindo
pelas Fazendas Curral Falso, S. Gonçalo, Fazendinha, Pe. Domingos, Engeitada,
Horas, poços, Tromba, Hacaty, Bôa Esperança, Salobo, Cacimba Bendegó de
Cima, Riacho das Perdas, Comboio e Caiquí inclusive; d’ hai rumo direito á
Fazenda Canabrava de Pedro Pereira Alcântara. Com a Freguesia de S. João
batista de Jeremoabo: pelas Fazendas sítio Bom Jardim, Logradouro e daí rumo
direito ao riacho do Vigário seguindo pela estrada real até a Fazenda Canudos,
inclusive todas as moradas que estiverem edificadas no terreno, com Bom
Conselho, pelas Fazendas Curralinho, Maria Preta, Quixaba, Sobrados, e tronco.
Com a Freguesia de Santa Teresa de Pombal com a Fazenda Boqueirão; com a
Freguesia de Sant’ Ana de Tucano; pelas fazendas salgado, Varzea do Burro,
Serra Vermelha, e carnayba, inclusive, ainda seguirá em linha reta para a s
fazendas Brejinho e Tanquinho.
Art. 3º - Revogam-se as disposições em contrário.
Mando, portanto a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da
65

referida Lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como
nela de contém.
O Secretário desta Província faça imprimir, publicar e correr.
Palácio do Governo da Bahia, 22 de março de 1872 – 51º da Independência e
do Império.
Nesta Secretaria do Governo da Bahia foi publicada a presente lei em 22 de
março de 1872 – O Secretário Paulino Nogueira Borges da Fonseca. Reg.
Fls. 145 v. do liv.7 das Leis e Resoluções da Assembleia Legislativa
Provincial da Bahia.
Secretaria do Governo da Bahia 22.
III. 1872 Altino Rodrigues Pimentel
Chefe da 5ª Sessão
Vide vol. 17 – Pgs. 9 a 11 – Leis e resoluções provinciais – Arquivo Público –
Gabinete do B. Diretos.
N. B. 1 lei 2. 152 de 18 de maio de 1881 transferiu a sede de Massacará para
Cumbe – Vol. 25 das leis e Resoluções – Arquivo público – Pgs. 25 -.
66

PAROQUIA DE NOSSA SENHORA DO BOM CONSELHO. Livro de Tombo II.


Limites da Paróquia de Pombal - Lei nº 51 – de 21 de março de 1837. p. 12-12v.
Cícero Dantas. Bahia. Acervo do LEPH – UniAGES. Paripiranga. Bahia.

LIMITES DA PARÓQUIA DE POMBAL


Lei nº 51 – de 21 de março de 1837

Francisco Souza Paraíso, Presidente da Província da Bahia, faço saber a todos os


seus habitantes que a Assembléia Provincial decretou e eu sancionei a lei
seguinte:
Art. 1º- Fica, digo, o município da vila de Pombal compreenderá o da à vila de
Mirandela que deixa de existir e o seu termo atual começará a leste pela fazenda
Caraçá inclusive, e seguirá a sul á Ribeira – Pau Grande – Compreenderá esta a
capela de N. Senhora do Amparo até o Rio Itapicurú, e abranger a fazenda
denominada Itapicurú do Sr. Gonçalo, onde fará pião. E dai partindo pelo deserto
que fica entre Pombal e Tucano, sem compreender alguma das fazendas
pertencentes a esta freguesia, até a fazenda Salgada, inclusive, e pelas fazendas
Rabo de arraia, Tapera e Serra vermelha, (que lhe ficam pertencendo, e servirão
de limite pra a vila de Jeremoabo, e Freguesia do Bom Conselho); aí fará pião e
tornará pelas fazendas Massaranduba e cajazeira, compreendendo-as até a
fazenda Caraçá, onde começou. Excetuando o distrito da freguesia de Mirandela,
todo o mais terreno neste artigo fará parte da freguesia de santa Igreja de
Pombal.
Art. 2º - O termo da freguesia da vila de Soure começará na fazenda Bury,
inclusive, a quem do rio Itapicurú, seguindo por este abaixo a Barra do
carrapatinho e subindo pelo Riacho deste nome, compreendendo ambas as suas
margens; até a fazenda Paiaiá, donde seguirá pela estrada velha do Tôpo da
Catinga, que se dirige para Inhambupe, até o lugar denominado Serra Maria
(sem compreender as fazendas Mocambo e Contendas, de Itapicurú), e dai
procurando a estrada da fazenda Alagoinhas, inclusive, compreenderá as
fazendas Baixa Grande e Tanque, voltando ao Bury.
(Leis Principais da Bahia – Arquivo Público Vol. 30 Págs. 166).
N. B. Os Limites do Pombal sofreram alteração em 1818 e 1853 com a criação da
67

Paróquia de Ribeira – Vide este volume págs. 10.


68

PAROQUIA DE NOSSA SENHORA DO BOM CONSELHO. Livro de Tombo II.


Paripiranga – Criação da Freguesia de Patrocínio do Coité. p. 13-13V. Cícero
Dantas. Bahia. Acervo do LEPH – UniAGES. Paripiranga. Bahia.

- PARIPIRANGA –

Criação da Freguesia de Patrocínio do Coité


– Lei nº. 1168 de 22 de maio de 1871.

Francisco José da Rocha, Vice Presidente da Província - faço saber a todos os seus
habitantes que a Assembleia Legislativa Provincial decretou e eu sanciono a lei
seguinte:
Art. 1º - Fica criada uma freguesia com a denominação de N. Senhora do
patrocínio do Coité, cuja (sede) matriz será a capela do mesmo nome
desmembrada da paróquia de Nossa Senhora do Bom Conselho dos Montes do
Boqueirão.
Art. 2º - A nova freguesia terá os limites seguintes: Começará no Rio Vasa-Barris,
no lugar denominado Barra do Riacho Salgado e dai dividindo-se com a Freguesia
de Santana de Simão Dias pela Paróquia de Sergipe, á baixa da Ladeira Grande e
dahi, rumo direito ao Olho D’água do Coité na ponta de baixo da mesma Serra e
dahi à Lagoa das Antas, rumo direito ao Riacho Caiçá no lugar denominado Olho
D’água do Má-fim-tem e por ele (abaixo); acima divide-se com a freguesia de
Nossa Senhora dos Campos do Rio Real, da adita paróquia de Sergipe; dividindo-
se com esta freguesia até as cabeceiras do referido Rio Real na fazenda chamada
São Francisco, e dahi para o Umbuzeiro, inclusive e dahi para a Fazenda João
Vieira de Andrade, donde seguirá para a o Rio Carahyba e, por este abaixo
dividindo-se com a Fazenda de São João Batista de Geremoabo até o Rio Vasa-
Barris, no lugar denominado Barra e Atravessando o rio irá dividindo-se com a
mesma freguesia de Geremoabo até encontrar com esta o lugar denominado
Barra do Rio Salgado onde principia.
Art. 3º - Revogam-se as disposições em contrário. Mandamos, portanto a todos os
habitantes e autoridades as quais o conhecimento e a criação da referida lei
pertencer, que a cumpram façam cumprir tão inteiramente como nela se contém -
69

O Secretário desta Província a faça imprimir, publicar e correr – Palácio do


Governo da Bahia, 22 de maio de 1871, 50ano da independência e do Império
(lugar do selo).
Ass. Francisco José da Rocha.

Nesta Secretaria do Governo da Bahia foi publicada a presente lei em 22 de maio


de 1871.

O Secretário Manoel Jesuíno Ferreira.

Registrada a fls. 141 V, do Liv. VII das Leis e Resoluções da Assembleia


Legislativa Provincial da Bahia, 22 de maio de 1871 – Altino Rodrigues
Pimentel, chefe da 5ª sessão.

(Vide Arquivo Público Vol. VI. Págs. 101 – Gabinete do B. Diretos do


Arquivo Público – Leis e Resoluções da Assembleia Legislativa Provincial da
Bahia).
70

PAROQUIA DE NOSSA SENHORA DO BOM CONSELHO. Livro de Tombo II.


Freguesia da Ribeira. p. 13-14. Cícero Dantas. Bahia. Acervo do LEPH –
UniAGES. Paripiranga. Bahia.

5.1.1 - FREGUESIA DE RIBEIRA –

- Lei nº 244 de 29 de maio de 1848 – decreto de criação: Vol. V. Págs. 5: -


Joaquim José Ribeiro de Vasconcelos, presidente da província da Bahia -
Faço saber a todos os seus habitantes que a Assembleia Legislativa
Provincial decretou e eu sancionei a lei seguinte:
Art. 1º - Fica erecta em freguesia no município de Pombal a capela de Nossa
Senhora do Amparo da Ribeira do Pau Grande com esta mesma invocação.
Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrário – Mando portanto a todos
aas autoridades a quem o conhecimento e execução da referida resolução
pertencer que a cumpram 4 façam cumprir, tão inteiramente como nele se
contém – O Secretário desta ´província faça imprimir, publicar e correr –
Palácio do Governo da Província da Bahia, 3 de maio de 1853, 32º da
independência e do império (lugar do Selo).
Ass. João Maurício Vanderlei – Nesta Secretaria do governo da Bahia foi
publicada a presente Resolução em 9 de maio de 1853 – O Secretário Luiz
Maria Alvares Falcão Muniz Barreto - Regs. Fls. 230 do liv. 4 das leis e
Resoluções da Assembleia Legislativa Provincial – Secretaria do Governo da
Bahia, 10. V. 1953. Firmino (ilegível) – Secretário de Chefe da 2ª sessão –
(Vide Vol. 7º e 8º. Págs. 36 – Arquivo público - Coleção das Leis e resoluções
provinciais).
- Modificações outras: A Lei: 2030 de 21 de julho de 1880 dizia no art. 1º:
Fica revogada a lei nº. 173 de 3 de maio de 1853 que alterou os limites entre
as freguesias de Nossa Senhora da Ribeira do pau Grande e Santa Tereza
do Pombal (Vide Vol. 24 da Coleção de Leis e Resoluções de Arquivo Público
71

da Bahia – Págs. 124).


A Resolução 2319 de 23 de junho de 1882 assim estabeleceu: art. 1º A Lei
Provincial nº. 473 de 8 de maio de 1853 que marcou os limites da freguesia
de Nossa Senhora da Ribeira do Pau Grande, fica em inteiro rigor; e
revogada a Lei Provincial nº. 2030 de
21 de julho de 1880 (vide Arquivo Público, Coleção de Leis e Resoluções da
Assembleia Legislativa provincial Vol. 26 Págs. 67).
72

PAROQUIA DE NOSSA SENHORA DO BOM CONSELHO. Livro de Tombo II.


Processado completo sobre a criação a freguesia do Bom Conselho dos Montes do
Boqueirão. p. 14-15. Cícero Dantas. Bahia. Acervo do LEPH – UniAGES.
Paripiranga. Bahia.

Processado completo sobre a criação a freguesia do Bom Conselho dos Montes do


Boqueirão, segundo documentos autênticos do Volume V; das Págs. 265 a 369 das
Memórias Históricas e Políticas da Bahia de I. Accioli e Braz do Amaral –
Imprensa Official do estado da Bahia – 1937 – 1937.
- Nota 68 –
Eram as freguesias durante o período colonial creadas pelo rei e para dar uma
idéia do processo eu era preciso a fim de chegar a ser uma realidade a reunião de
um certo número de fiéis sob a direção espiritual de uma sociedade eclesiástica
como é uma paróquias, cria-se como foi erecta a freguesia do Bom Conselho no
sertão da Bahia.
Tribunal da mesa da consciência e Ordens, livro VII Registro de Consultas - 7- El
-11.
Nº. 715. Consulta para a erecção da freguesia na capela de nº 1. Do Bom Conselho
no Arcebispado da Bahia. Resolução. Como parece. Palácio da Bôa Vista 27 de
Setembro de 1814, com Rubrica de S. Majestade.
Senhor a esta Mesa de Consciência e Ordens chegou uma representação ao
Reverendo Arcebispo Eleito da Bahia com data de dois de agosto de mil oitocentos
e quinze, expondo a Vossa Majestade.
Senhor a esta Mesa de consciência e Ordena chegou uma representação ao
Reverendo Arcebispo Eleito da Bahia com data de dois de agosto de mil oitocentos
e quinze expondo a Vossa Magestade. Desejando os seus esforços para conseguir
a tranquilidade e bem espiritual dos moradores da capela de Nossa Senhora do
Bom Conselho dos Montes do Boqueirão, filiaes da Matriz de São João Batista de
Jeremoabo no Sertão de baixo, poem na Ougusta presença de Vossa Magestade a
sua representação que não deixará de obter o fim a que os mesmos moradores de
propõem, tanto pela muita justiça que lhes assiste, como pelo grande interesse se
Vossa Magestade ao bem Espiritual de seus vassalos. Estes povos atraídos pela
73

fertilidade do lugar denominado Buqueirão passaram a fixar ali a suas


residências, o que tem crescido tanto que se acha o número de habitantes exceder
a três mil. Distada sua matriz dezoito léguas e sofrerão por muitos anos um total
abandono, e desamparo, porque os seus párocos só apareceram de quatro a quatro
nos a fazer algumas desobrigas pelas casas e isto com tanta rapidez, que não só
não desobrigaram a todos, como nem ainda lhes prestavam o Posto Espiritual de
que se seguiam morrerem as crianças sem batismo, e os adultos sem outros
sacramentos; depois do que, sendo pároco da freguesia de Jeremoabo o zeloso
eclesiástico Antônio Carneiro, que vendo que pela sua avançada idade e falta de
operários que lá mandasse, não podia socorrer aqueles miseráveis, recorreu o
Reverendo Arcebispo da Metrópole Dom Frei Antônio Corrêa, que lhe enviou o
Padre Frei Apolonio de Todi, missionário Capuchinho, não só a prestar-lhes as
instruções necessárias, pareceu também conferiu-lhes o sagrado crisma, as
dispensas matrimoniaes de que necessitavam e esta foi a feliz época em que estes
povos principiaram a conhecer Deus e a praticar os deveres do cristianismo,
conduzidos pelo zelo e atividade deste missionário o qual tendo se demorado
naquele lugar por três anos, se recolheu depois naquela cidade da Bahia a tratar
da sua saúde arruinada e com a sua ausência começaram de novo estes povos a
padecer necessidades pela grande distância em que ficaram da sua matriz.
Quinze anos depois seu sucessor Dom Frei José e Santa Eclesiástica,
compadecido das contínuas súplicas e do desamparo em que se achavam aqueles
povos, lhes tornou a enviar o mesmo frei Apolonio de Todi, insinuando-lhe
puzesse todos os esforços a ver se concluia o poder edificar naquele sertão uma
casa de oração, mas sim mas sim uma capela magnífica, residindo ali até o
presente, ocupado não só na morigeração do povo, porém ainda, no aumento da
povoação que tem crescido consideravelmente depois de terem edificado a capela
passaram a procurar um capelão a quem deram selario para assim terem
sacerdote que os socorresse nas suas necessidades espirituais visto que o bom
missionário cansçado de trabalhos e cheio de anos os pretendia deixar e recolher-
se a descansar no seu hospício, mas não aconteceu como julgavam.
O pároco atual daquele lugar que os sempre abandonou e nunca os conheceu
como ovelhas, levado então do espírito da ambição, passa a proibir ao Padre
74

capelão a administração dos sacramentos sem sua licença por escrito, exigindo
por elas esportulas consideráveis, sem atenção á pobreza, e que ele sendo
reverendo representante e informado de tal proceder, passara logo a autorizar ao
capelão para administrar aqueles povos todos os sacramentos, e ainda assistir a
celebração dos matrimônios todos as vezes que se fizesse necessário na ausência
do pároco, recebendo tão somente as expostulas dobradas exorbitantes; sem que
ele tivesse por elas o menor incômodo. Mas que nada disto fôrce bastante; os
males continuam o pároco cheio de ambição e avareza, recusa entrar nos seus
deveres, assim, tendo muito em vista a comodidade e bem espiritual daqueles que
fazem uma parte do seu rebanho, que lhe foi conferido ao seu cuidado, passava a
representar a V. Magestade que esta Capela de N. Sª. Do Bom Conselho tem toda
a capacidade para se erigir Matriz, tanto pela grande povoação que a cerca, coo
pela imensidade de povos que se acham espalhados por aquelas matas, tornando-
se para esse fim tão somente tão somente uma pequena parte das freguesias
confiantes, o que lhes não faz detrimento, visto que pela distância os respectivos
párocos, não podem socorrer os seus habitantes como confessa o paroco do
Itapicuru de Cima e se vê da sua carta n. No Caso, pois que V. Magestade se
digne a erigir a dita capela em Matriz vem a ficar com vinte e duas léguas de
comprimento e treze de largo, como fazia ver pela demarcação descrita no mapa
do padre missionário que juntamente apresentava a V. Magestade no documento
n. Ultimamente unindo êle. Reverendo Arcebispo Eleito, suas suplicas as
daqueles miseráveis povos passava a implorar a V. Magestade o remédio dos seus
males que só poderiam terminar com a ereção daquela capela em Matriz.
Continuou-se vista ao Procurador Geral dar providencia ao objeto proposto pelo
Reverendo Arcebispo Eleito da Bahia, quanto é a necessidade dos povos
habitante, e aplicada à capela aqui mencionada para se crear a freguesia na
forma requerida, no que convenho. Mandou esta mêza que o mesmo Reverendo
Arcebispo Eleito e Vigário Carticular da Bahia informasse quaes deveriam ser os
limites da nova freguesia e o numero dos moradores que lhes ficaria
pertencendo, ouvidos os párocos confiantes por escrito a que em lugar d’ele
Reverendo Arcebispo Vigário Capitular então falecido, respondeu o Vigário
Capitular Arcebispo Borges Leal – o procurador dos habitantes daquele lugar
75

instou e requereu se procurasse entre os papéis do falecido Arcebispo assim a


ordem e V. Magestade. Como as informações que já lhe tinham vindo dos párocos
e achando-se tudo junto me requer remeta tudo a V. Magestade com brevidade, e
por essa rasão remeto às mesmas três informações vindas ao arcebispo dois
vigários de Jeremoabo e Itapicurú, como a do padre capelão, residente da capela;
sendo necessário a minha informação digo que a do Padre Capelão Manoel de
Barros, é a mais curial e mais própria para a demarcação da nova freguesia,
segundo me informa pessoa, que andou por aquelas freguesias. Tomou-se a dar
vista o Procurador Geral das Grandezas que finalmente respondeu.
Conformando-me com a informação do Padre Capelão Manoel de Barros -
76

ANEXOS
77
78
79

Você também pode gostar